revista dos bancários 09 - jul. 2011

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Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br DOS Bancários Revista Ano I - Nº 9 - Julho de 2011 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco QUEM NÃO CONHECE PERNAMBUCO, ACHA QUE NOSSO ESTADO É SÓ CALOR. MAS EM MUITAS CIDADES DO AGRESTE E ATÉ DO SERTÃO O FRIO É O CLIMA PREDOMINANTE QUE FRIO!

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Nesta edição: Reportagem “Pernambuco também tem frio” fala das cidades que registram temperaturas baixíssimas nesta época do ano. Leia também: Preparativos para a Campanha Nacional dos Bancários entram na reta final; A Suape que ninguém vê: badalado complexo portuário tem inúmeros problemas; Artur Henrique, presidente da CUT, fala sobre as mobilizações do segundo semestre e sobre as lutas da central.

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Page 1: Revista dos Bancários 09 - jul. 2011

Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br

DOS BancáriosRevista

Ano I - Nº 9 - Julho de 2011 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

QUEM NÃO CONHECE PERNAMBUCO, ACHA QUE NOSSO ESTADO É SÓ CALOR. MAS EM MUITAS CIDADES DO AGRESTE E ATÉ DO SERTÃO O FRIO É O CLIMA PREDOMINANTE

QUE FRIO!

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2 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Opinião Editorial

>>O clima começa esquentar para os bancários, com o início da Campanha Nacional

Tempo e temperatura

O inverno chegou, mas para a maioria dos moradores de Pernambuco, a nova esta-ção significa apenas um refresco no for-te calor que é marca registrada do nosso

estado. Enquanto o Sul e Sudeste do Brasil sofrem com temperaturas inferiores a 10º nos últimos dias, por aqui os termômetros giram em torno dos 25º. É possível até pegar uma praia, enquanto paulistas, pa-ranaenses e gaúchos andam encapotados de casacos.

Mas quem não conhece Pernambuco acha que nossos estado é só calor. Muitos brasileiros não sabem que aqui também faz frio – e muito. Ga-

ranhuns, Gravatá, Pesqueira, Triunfo e muitas outras cida-des registram temperaturas baixíssimas. Nesta edição da Revista dos Bancários, mostra-mos um pouco dessas cidades que formam o circuito do frio pernambucano. Também entre-vistamos alguns bancários que

moram nesta região e que juram não trocar esse friozinho gostoso por nenhuma cidade quente.

E por falar em temperatura, o clima já está es-quentando para os bancários. A categoria está finali-zando os preparativos para mais uma campanha sala-rial, que chamamos de Campanha Nacional porque nossas reivindicações não são meramente salariais.

Durante o mês de julho, uma série de encontros e conferências vai definir a pauta de reivindicações dos bancários, que será entregue aos bancos na primeira quinzena de agosto. As negociações devem começar logo em seguida, e aí é lutar para pressionar as insti-tuições financeiras e garantir mais conquistas.

Lutar também é preciso para os trabalhadores do complexo portuário de Suape. A mídia e o go-verno mostram todo o lado positivo do empreendi-mento, mas se esquecem de revelar os problemas que o porto tem trazido para os trabalhadores e para os moradores da região.

Enfim, esta edição tem um pouco de tudo, da luta dos trabalhadores a dicas de passeio, de cul-tura e de turismo. Uma edição especial que marca os primeiros seis meses da Revista dos Bancários.

DOS BancáriosRevista

Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00Fone: 3316.4233 / 3316.4221Correio eletrônico: [email protected]ítio na rede: www.bancariospe.org.br

Presidenta: Jaqueline MelloSecretária de Comunicação: Anabele SilvaJornalista responsável: Fábio Jammal MakhoulConselho editorial: Josenildo dos Santos (Fio), Geraldo Times, Tereza Souza e Jaqueline MelloRedação: Fabiana Coelho e Fábio Jammal MakhoulProjeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno LombardiFoto da capa: Arte sobre foto de Ivaldo BezerraImpressão: NGE GráficaTiragem: 10.000 exemplares

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Índice

Circuito do Frio

Campanha Nacional

Os perigos de Suape

Entrevista: Artur Henrique

Bancário artista

Dicas Culturais

Conheça Pernambuco

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 3REVISTA DOS BANCÁRIOS 3

Pernambuco é terra de muitas faces. Sua diversidade não se marca apenas nos ritmos e manifestações culturais.

Quem não conhece bem o estado, fica surpreso em descobrir que este mesmo lugar, cujo sol queima com tanta intensidade, também tem seus cantinhos de frio. A partir do mês de julho, cidades como Garanhuns, Pes-queira, Gravatá, Taquaritinga do Nor-te e Triunfo mostram a todos, com as festividades do chamado Circuito do Frio, os encantos de um clima bem di-ferente do que se costuma pensar do estado. E os bancários que moram ou se instalam por lá garantem: não tro-cam sua terra por nenhum outro lugar.

Luiz Gonzaga Menezes é um exemplo. Está em Gravatá há 10 anos, onde trabalha na agência do Banco do Brasil. Sua terra natal nada tem de fria. Muito pelo contrário: nasceu em Petrolândia, sertão do São Francisco. E, em seus 29 anos de banco, passou por muitas cidades – Custódia, Arco-verde, Santa Maria da Boa Vista. Mas garante: gosta mesmo é do friozinho de Gravatá. “Já chegaram a me cha-mar para trabalhar em Petrolina. Eu não quis ir por causa da quentura”, conta o bancário.

Capa Circuito do FrioIv

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>>PESQUEIRA, NESSA ÉPOCA DO ANO, FICA ENCOBERTA PELA NEBLINA

Pernambucotambém tem frioBancários de Garanhuns, Pesqueira, Triunfo ou Gravatá não trocam sua cidade por lugar nenhum

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4 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Em Gravatá, as festividades do Circuito do Frio chamam-se “Festa da Estação”, geralmente no início de agosto. Luiz Gonzaga conta que seu município já chegou a abrir o circui-to e, embora não deixe de participar da festa, acredita que as atrações já foram melhores. Atualmente, é Gara-nhuns quem abre o ciclo, com o Fes-tival de Inverno, que este ano será de 14 a 23 de julho.

Quem mora em Garanhuns é a bancária Verônica de Oliveira, que há 21 anos trabalha na Caixa Econô-mica Federal. Natural do município

de Calçado, na região próxima, ela convive com este clima desde que nasceu. Seus filhos, de 18 e 21 anos, estudam no Recife. Mas Verônica não tem nenhuma vontade de sair de sua terra. Ela, que acompanhou todos os festivais, conta que a cidade vira uma festa em meados de julho. “No banco, nem tanto. O movimento até diminui um pouco porque o pessoal da cidade fica todo envolvido com o festival”, informa Verônica.

A mesma coisa acontece em Pes-queira durante a Festa da Renascença. Edgeuza Torres, bancária do BNB,

conta que o movimento em sua agên-cia não é tão diferente. Mas a cida-de muda muito. “A gente fica até de madrugada curtindo a programação. Meus familiares vêm todos para cá”, diz a trabalhadora. Assim como Ve-rônica, Edgeuza também já nasceu em clima frio. Natural de Garanhuns, ela confessa: “Até nas férias, eu pre-firo viajar para as Serras Gaúchas. E adoro Pesqueira. O cenário é lindo, o clima é agradável e até as pessoas fi-cam mais bonitas,vestidas de bota e casaco”.

Rejane Santos Melo trabalha no

Capa Circuito do FrioIv

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EM TRIUNFO, NO SERTÃO, É COMUM ANDAR AGASALHADO COM ROUPA DE FRIO

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 5

Capa Circuito do Frio

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GARANHUNS É CONHECIDA NO BRASIL INTEIRO PELO CLIMA FRIO EM PLENO AGRESTE PERNAMBUCANO

Banco do Brasil há 29 anos. Nasceu em Princesa Isabel. Mas, desde criança, mora em Triunfo. Ela conta que gosta tanto da cidade que até na hora de escolher o lugar onde os filhos iam estudar levou o clima em consideração: “Preferimos Campina Grande justamente porque o clima é um pouco mais parecido. E também porque é mais calmo que o Recife”, diz. O marido, que nasceu e se criou em Triunfo, também é bancário e foi recentemente transferido para Riacho das Almas. “Ele sente muita falta daqui”.

Em Triunfo, a programação do Circui-to do Frio ocorre na Festa do Estudante, no final do mês de julho. “As pousadas ficam cheias e o movimento no banco também aumenta”, conta Rejane. E completa: “Te-mos outros eventos também, como o Fes-tival de Cinema. E a cidade é linda, com muitas atrações turísticas. Não tenho von-tade nenhuma de sair daqui”.

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 7

Mês de definições

Os bancários realizam em julho uma série de encontros e conferências para definir, no dia 31, a pauta de reivindicações que será entregue aos bancos no início de agosto

Falta muito pouco para os bancários definirem a pauta de reivindicações para a Cam-panha Nacional 2011. Durante este mês de julho, a categoria realiza uma série de congressos e conferências para construir a minuta que deve ser entregue aos bancos no dia 9 ou 10 de agosto. A partir daí, começam as negociações e a mobilização dos

bancários para pressionar as instituições financeiras e garantir, assim, mais um ano de vitórias.“Como sempre as negociações com os bancos não serão fáceis”, avalia a presidenta do

Sindicato, Jaqueline Mello. Para ela, a mobilização e pressão dos bancários será, de novo, fundamental para conquistar as reivindicações. “Os bancários formam uma das categorias mais organizadas e fortes do Brasil. Consequentemente, estamos entre os trabalhadores que mais têm direitos no país. Mas nada disso veio de graça. Os bancos sempre tentam diminuir nossos direitos e só não conseguem graças à nossa força. Portanto, os bancários devem se preparar para o enfrentamento da Campanha deste ano, que em agosto já estará nas ruas”, explica Jaqueline.

Mas até que a Campanha esteja nas ruas, os bancários ainda têm uma longa jornada pela frente. No dia 2 de julho, o Sindicato de Pernambuco realiza um Encontro Estadual com os trabalhadores para discutir as reivindicações que devem ser contempladas na pau-ta. Nos dias 15 e 16, é a vez dos bancários do Nordeste realizarem a Conferência Regional para alinhavar as discussões realizadas em cada estado. Para finalizar o debate e fechar a pauta de reivindicações, a categoria realiza, entre os dias 29 e 31 de julho, a Conferência Nacional dos Bancários, que reúne representantes dos trabalhadores do Brasil inteiro.

“Na Conferência Nacional, cada estado ou região vai levar as reivindicação definidas pelos bancários para serem debatidas. Os pontos em comuns entram automaticamente na minuta. Já as questões que não forem consenso serão debatidas para verificar se elas são realmente impor-tantes para a categoria”, detalha Jaqueline.

Mobilização Campanha Nacional

>>

<<“Não são só os bancários que correm risco de morte nos bancos. Os clientes também estão à mercê dos bandidos. Por isso, essa luta é de toda a sociedade”

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As reivindicações dos bancários de Pernambuco serão debatidas no dia 2 de julho (veja o resultado em www.bancariospe.org.br). Para balizar as discus-sões, o Sindicato realizou uma consulta com os trabalhadores entre os meses de maio e junho. Entre as principais demandas estão aumento real de salário, PLR maior e o fim do assédio moral e das metas abusivas.

Ao todo, o Sindicato ouviu 1.113 bancários em diferentes agências e de-partamentos dos bancos no estado inteiro. “O resultado da consulta mostra

algumas diferenças entre os bancos, mais especificamente, entre públicos e privados. Mas há coisas que não mudam: o fim das metas abusivas e combate ao assédio moral, por exemplo, é citado como prioridade pela maioria dos fun-cionários em todas as instituições”, explica Jaqueline.

Segundo a consulta, 72,96% garante que aumento real é prioridade. Mais de 34% dos bancários preferiram não apontar um percentual de reajuste. A maioria, entretanto, sugere um valor que varia entre 7,5% a 13%.

Para os bancários dos bancos públicos, a valorização do piso aparece como segunda prioridade enquanto nos privados os trabalhadores apontam o 14º sa-

lário. No Banco do Brasil e BNB merecem destaque também a reivindicação de melho-rias no Plano de Cargos, Carreiras e Salários.

No que diz respeito à remuneração indire-ta, a cesta-alimentação é citada como priori-dade pela maioria dos trabalhadores ouvidos: 68,28%. Exceção é o Bradesco, onde o auxí-lio-educação é a demanda número um, citada por 53,28% dos funcionários. “Vale lembrar que o Bradesco é o único entre os grandes bancos que não paga uma bolsa de estudos para os bancários”, comenta Jaqueline.

Quanto à remuneração variável, a melho-ria na PLR (Participação nos Lucros e Resul-tados) é a principal reivindicação, segundo 85,62% dos consultados. A diferença entre bancos públicos e privados aparece na segun-da opção. Enquanto no BB, Caixa e BNB os funcionários querem negociar a remuneração total, nas empresas privadas eles brigam para que a PLR não seja descontada dos programas de remuneração específicos.

<< Salários maiores

>>“O Sindicato dos Bancários de Pernambuco foi fundamental para que a lei de segurança fosse aperfeiçoada. É uma entidade que eu respeito muito”

ENTREGA DA PAUTA DE REIvINDICAçõES SERá NA PRIMEIRA QUINzENA DE AGOSTO

>>

Mobilização Campanha Nacional

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Um ponto de consenso entre to-dos os trabalhadores de instituições financeiras é a urgência em acabar com as metas abusivas e com o as-sédio moral. Estes dois pontos sur-gem como prioridades, citados res-pectivamente por 58,13% e 49,24% dos que responderam a consulta. Há algumas variações de um banco para outro, mas em todos são estas as principais demandas no que se refere a saúde e condições de trabalho. No entanto, nos bancos privados outro ponto merece destaque: a luta pela segurança e por um adicional de ris-co de vida. No Bradesco e Itaú, por exemplo, estas questões são citadas como prioridade por quase 40% dos ouvidos.

No quesito emprego, 51,66% ci-taram a garantia da jornada de seis horas para todos e 47,17% a ratifica-ção da Convenção 158 da OIT, que proíbe demissão sem justa causa. Mas há outras demandas. Na Caixa e no BNB, por exemplo, a maior preo-cupação é com a necessidade de mais contratações, citada respectivamente por 52,33% e 51,43%. No Bradesco, depois da assinatura da Convenção 158, a prioridade é com a garan-tia de igualdade de oportunidades (34,31%).

“A consulta também revela da-dos preocupantes. Nas principais instituições financeiras que atuam em Pernambuco o índice de afas-tamento por doença varia de 12%

a 31%. E um percentual de 13% a 29% dos bancários já usou ou usa medicamento controlado”, ressalta Jaqueline.

Para a presidenta do Sindicato, o dado mais importante da pesqui-sa também indica que a Campanha Nacional 2011 tem tudo para ser vi-toriosa para os bancários. “Pergunta-mos sobre a disposição dos trabalha-dores para a Campanha Nacional que vem aí. E 84,01% garante que está disposto à lutar. Para eles, as princi-pais estratégias de pressão ainda são a greve e as assembleias. Se essa dis-posição se traduzir em mobilização, como ocorreu no ano passado, tudo indica que teremos mais conquistas este ano”, finaliza Jaqueline.

Mobilização Campanha Nacional

Muito além da parte financeira

PRESSÃO DOS BANCáRIOS GARANTIU UM GRANDE ACORDO NA MESA DE NEGOCIAçÃO, NO ANO PASSADO

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A Suape que ninguém vêPor trás do maior empreendimento de Pernambuco, existe uma história que não se conta. A história de um Estudo de Impactos Ambientais cheio de falhas; da ausência de contrapartidas sociais que sustentem o fluxo migratório para a área; de péssimas condições de trabalho e de muitos riscos para os empregados e para a população

“Ninguém é contra o desenvolvimento. O que queremos é que os investimentos não sirvam apenas para elevar o PIB, mas se convertam em melhorias para a sociedade e para o trabalhador”. A fala, da secretária de Saúde da CUT (Cen-tral Única dos Trabalhadores em Pernambuco), Lindinére Jane, define o que

está faltando nos empreendimentos de Suape. Segundo a professora Idê Gurgel, chefe do

Departamento de Saúde Coletiva do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, já existem no local mais de 20 mil trabalhadores e a perspectiva é de que a população da área cresça cerca de dez vezes. No entanto, a infra-estrutura do entorno não está projetada para acompanhar este cresci-mento. “Hoje, por conta do fluxo migratório, já se verifica o crescimento nos índices de prosti-tuição e gravidez indesejada. Se nada for feito, as expectativas são de que imensos bolsões de

pobreza se formem na região”, diz Idê.Aline Gurgel, coordenadora do Cerest (Centro de Referência em Saúde do Tra-

balhador de Jaboatão), conta que Ipojuca é, hoje, o município com o terceiro maior PIB estadual e um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano. “A cobertura de esgoto é de apenas 30%.

<<Está em xeque o modelo de desenvolvimento que gera riqueza mas não garante qualidade de vida para a população

>>

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Trabalho decente Desenvolvimento

Atualmente, já foram aterrados vá-rios manguezais e muitas áreas de arre-cifes de coral já foram impactadas pelo movimento dos navios. Segundo Aline Gurgel, o Estudo de Impactos Ambien-tais é frágil e a falta de uma linha de base é um dos problemas: “Não existe um estudo que retrate as condições atu-ais do meio ambiente e da saúde da po-pulação. Ou seja, quando esta situação for alterada, não vai ter como responsa-bilizar a administração portuária pelos problemas”, explica.

Não são apenas os manguezais, es-tuários e espécies marinhas que estão ameaçados. Em Suape, vários proces-sos produtivos convivem em uma única região: refinaria, três estaleiros e uma unidade de beneficiamento de coque.

O coque reúne os subprodutos mais tóxicos do petróleo e é usado como combustível e matriz energética. Sua queima libera metais pesados, cujos re-síduos são lançados pelo ar, pelo solo e

pelos efluentes líquidos. Em longo prazo, este processo

pode destruir belezas naturais, como as praias do litoral sul. “Isso aconte-ceu em Camaçari, na Bahia, depois da instalação do Complexo Petroquímico. O que era um paraíso, hoje tem apenas uma lama preta”, conta Idê. Pode, tam-

bém, aumentar os índices de câncer e de doenças hematológicas, que variam de anemias a leucemias. Sem falar nas doenças crônicas que só são percebidas depois. “Nosso medo é que Suape se

converta em uma nova Cubatão, que de Vale Verde passou a ser conhecida como Vale da Morte”, lembra Idê. Se-gundo ela, os riscos existem. E o pior: a infra-estrutura de saúde não está prepa-rada para acidentes ou explosões, nem para lidar com as doenças que podem surgir.

<< Cubatão pernambucana

>>Suape pode destruir belezas naturais, como as praias do litoral sul, e transformar a região num “vale da morte”, como ocorreu em Cubatão, em São Paulo

A taxa de analfabetismo é de 20%. O que vai ser da cidade se outros 30 mil habitantes chegarem sem que sejam feitos investimentos sociais?”, questiona Aline.

Está em xeque o modelo de desenvolvimento adotado, não apenas em Suape, mas em vários empreendimentos que gera riqueza para os estados mas não garante qualidade de vida para a população. “Na Praia do Paiva, construiu-se con-domínios de luxo para pessoas ricas. Mas, os pequenos são expulsos de sua terra e desprovidos de sua subsistência, como aconteceu com o pessoal de Tatuoca”, diz Idê. A comunidade da Ilha de Tatuoca era formada por pescadores e lavadeiras

que, há cerca de 200 anos, viviam em uma área hoje ocupada pelos empreendimentos portuários. Expulsos, foram trans-feridos para conjuntos habitacionais. “São pessoas que têm um vínculo com a praia, que vivem do mar. Como é que fica a subsistência, a identidade destas pessoas?”, questiona Idê Gurgel.

Os impactos das obras de Suape repercutem em outros pescadores, além dos de Tatuoca. Pernambuco, hoje, está im-portando caranguejo do Rio Grande do Norte e Sergipe. A presença de peixes também diminuiu. E as perspectivas para o meio-ambiente são desanimadoras.

>>

OPERáRIOS ORGANIzADOS PELA CUT já LUTAM POR MELHORES CONDIçõES DE TRABALHO

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Trabalho decente Desenvolvimento

A família de Genivaldo José da Silva sabe disso. Ele era marinhei-ro de convés e prestava serviço em um dos navios afretados à Petrobras. Foi atingido pela corda de atracação e lançado contra as ferragens, em setembro do ano passado. No mo-mento do acidente, não havia médi-cos ou enfermeiros no terminal. Nos últimos quatro anos, ele foi o quarto trabalhador morto em acidentes no Complexo Industrial e Portuário de Suape.

Todas as vítimas eram terceiri-zadas, como são a maioria dos con-tratados. Suas histórias trouxeram

à tona as condições de trabalho no empreendimento. “Os levantamentos oficiais não identificam riscos. Mas eles avaliam apenas as questões bu-rocráticas. Não discutem jornada ou forma de organização do trabalho”, afirma Lindinére, da CUT-PE.

Segundo ela, o que se sabe é que todos os empregados fazem hora ex-tra e trabalham por metas. A pressão é grande e quem reclama é demiti-do, sem que sejam observados direi-tos trabalhistas, como a estabilidade para doentes ocupacionais. Dirigen-tes sindicais sofrem restrições para entrar no local, assim como a Vigi-

lância em Saúde do Trabalhador. As condições de alojamento tam-

bém são precárias, inclusive com registros de intoxicação alimentar. “Atraídos pelas promessas de gran-des salários, muitas pessoas vem de longe e se afastam das famílias para trabalhar em jornadas longas e sem ofertas de lazer”, denuncia Idê. Tanto ela, como Aline e Lindinére, acreditam que ainda há tempo para minimizar os danos. “Mas é preciso fazer algo agora porque, se medidas não forem tomadas, as perspectivas são desastrosas”, avalia Aline.

Os custos do trabalho

SINDICATO PROMOvEU MANIFESTAçÃO POR MELHORES CONDIçõES DE TRABALHO EM SUAPE, NO FINAL DE ABRIL

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 13REVISTA DOS BANCÁRIOS 13

Milhares de trabalhado-res tomaram as ruas das principais cidades bra-sileiras, no dia 6 de ju-

lho, para exigir mudanças que trans-formem o Brasil num país mais justo. O Dia Nacional de Mobilização or-ganizado pela CUT e movimentos sociais agitou a população, inclusive no Recife, com passeatas, protestos e paralisações em empresas de to-dos os setores e no serviço público. Abaixo, o presidente da CUT, Artur Henrique, fala sobre a luta dos tra-balhadores para o segundo semestre.

CUT NA vANGUARDATemos assistido recentemente

tentativas de algumas centrais sin-dicais de pegar carona nas mobiliza-ções da CUT. Talvez o único ponto em que temos consenso entre as cen-trais seja a redução da jornada de trabalho para 40 horas. A CUT, por exemplo, é a única que defende e luta pelo fim do imposto sindical.

TRABALHO DECENTEQueremos garantir, com a luta do

segundo semestre, a implementação da agenda do trabalho decente, com

mais e melhores empregos, por igual-dade de oportunidades entre homens e mulheres, contra a precarização e a terceirização, pela redução da jorna-da de trabalho para 40 horas sem re-dução de salário; e pelo fim do fator previdenciário.

TERCEIRIzAçÃOTemos uma posição muito clara

em relação à terceirização: ela é res-ponsável pelo aumento das mortes, acidentes de trabalho e de doenças profissionais e vem sendo utilizada pelo capital para precarizar as con-dições de trabalho, reduzir custos, enfraquecer o movimento sindical criando milhares de sindicatos de gaveta. Por tudo isso, propusemos um projeto de lei, apresentado pelo deputado federal Vicentinho (PTSP), regulamentando a terceirização.

FIM DO FATOR PREvIDENCIáRIO

Milhões de trabalhadores aguar-dam as discussões sobre o fim do fa-tor previdenciário para decidir o que fazer de suas vidas: se aposentam ou se esperam o resultado das negocia-ções. Enquanto isso, a tábua de ex-

pectativa de vida do IBGE vai sendo alterada a cada ano e, assim, aumenta o tempo necessário para que as pes-soas se aposentem. Em lugar de in-dicar propostas concretas e viáveis, como a CUT fez ao apresentar para o debate o Fator 85/95, em 2009, as outras centrais repetem o mantra do “fim do fator previdenciário” sem di-zer como isso pode acontecer.

EDUCAçÃODefendemos a implementação do

Plano Nacional da Educação com a destinação de 10% do PIB brasilei-ro para a educação; a ampliação da educação no campo e a qualificação profissional com participação dos trabalhadores. Esta é uma luta que a CUT e suas entidades têm levado adiante sem o real envolvimento das outras centrais.

REFORMA POLÍTICA E TRIBUTáRIA

Lutamos por uma reforma política que amplie a democracia direta e que fortaleça a democracia representativa e por uma reforma tributária que seja progressiva com base na renda e no patrimônio.

Entrevista Artur Henrique

O Brasil precisa de mais mudançasPARA ARTUR HENRIQUE, OUTRAS CENTRAIS PEGAM “CARONA” NAS MOBILIzAçõES DA CUT

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14 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Cultura Bancário artista

F ábio, funcionário do Ban-co do Brasil em Floresta, é um dos irmãos Vilarim, que tocam forró pé-de-serra e

mantém agenda cheia nos meses de junho e julho. Um talento que vem de berço. Os avôs e tios tocavam vio-lão e sanfona. A tia era professora de música e grande incentivadora. “O interesse pela música é herança de família. Depois, eu fui me aperfei-çoando: aprendi violão, percussão, teclado”, conta Fábio.

O que começou como mero passa-tempo acabou ganhando corpo. Virou uma segunda profissão. Hoje, Fábio e os irmãos já têm carteira da Ordem dos Músicos e recebem convites durante o

ano inteiro para tocar em vários mu-nicípios do estado. Mas é mesmo no mês de junho que o grupo é mais re-quisitado. “Quase sempre eu tiro férias neste período para poder dar conta das apresentações”, conta Fábio.

Os shows não se restringem a Floresta. Em Recife, por exemplo, já foram mais de dez apresentações na Sala de Rebôco. Os irmãos Vila-rim também já tocaram em Tacaratu, Triunfo, Petrolina, Arcoverde, Serra Talhada e chegaram até a Bahia. Fora do período junino, já têm apresenta-ções marcadas em Água Preta e na festa de aniversário de Floresta.

Embora Fábio afirme que a pro-dução ainda é caseira, o grupo mostra

que tem fôlego também para atuar nos bastidores. Já são três CDs gravados, todos eles com o autêntico forró pé-de--serra, muitas músicas de Luiz Gonza-ga, da nova geração de forrozeiros e também composições próprias.

“Os Irmãos Vilarim e o Forró Nú-mero 1” existe há mais de dez anos e não é formado apenas pela família. Outros amigos tocam sanfona, baixo, cavaquinho, flauta, violão e bateria. Fábio responde pela zabumba. Bancá-rio há 24 anos, ele já aprendeu a con-ciliar as duas atividades. E os filhos, de 16, 13 e 9 anos começam a colocar em prática o talento que corre em suas veias. Uma delas já toca teclado e ou-tra está aprendendo violão.

Talento em famíliaCARTAz DOS IRMÃOS vILARIM DO SHOw NA AABB: O BANCáRIO É O PRIMEIRO DA ESQUERDA

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Cultura Dicas

Teatro pra meninadaEVENTOS

Conferência de criatividade

Vai até o fim do mês o 8º Festival de Teatro para Crianças. O evento traz para os palcos e praças do Recife 20 espetáculos de todo o país. Serão onze peças nordestinas, seis do Sudeste e três do Sul. Há espetáculos com palhaços, bonecos, teatro de sombras, clássicos e até teatro para bebês. Todos cuidadosamente escolhidos dentre um total de 159 inscritos, do país inteiro. As apresentações ocorrem nos teatros Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu), Barreto Júnior (Pina), Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro) e Santa Isabel. Haverá, ainda, apresentações gratuitas em praças. Confira:www.teatroparacrianca.com.br

7 contos & uns trocadosO novo livro do poeta Samuca Santos é a 2ª

parte de uma trilogia que será finalizada com o livro Vinteum. Samuca fez parte do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco e tem outros quatro livros publicados.

Disse me disseEsta dica vai para a meninada. Em seu mais

recente livro, o escritor Luciano Pontes traz po-esias muito divertidas e brinca com o som das palavras. As belas ilustrações de Elma Neves completam o encantamento.

LivrosRECOMENDADOS

Quem gosta de arte, design, quadrinhos, cinema e animação não pode perder o Pixel Show 2011, que acontece no Centro de Convenções nos dias 16 e 17 de julho. O Pixel Show reúne pro-fissionais das áreas de ilustração, games, concept art, design, animação, cinema, intervenção urbana, fotografia, novas mí-dias, charges, cartoons, artes plásticas e tecnologia. Palestras, workshops, feira de arte, exposições, festival de animação e ses-sões de live painting com artistas consagrados são parte da pro-gramação. Veja os detalhes em: www.pixelshow.com.br/recife. Ao lado, imagem do grafiteiro Crânio, que está entre os palestrantes.

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 16

Turismo Conheça Pernambuco

Oásis no SertãoTRIUNFO

Triunfo é um oásis no meio do Sertão. Impossível sair da cidade mais alta de Pernambuco sem a impressão de estar em outro lugar. Lá, águas não faltam e o clima da serra chega a baixar a 8 graus nas noites

de inverno. É um lugar onde a natureza conspira a favor: são mirantes, cachoeiras, grutas e o belíssimo açude João Barbo-sa Sitônio, localizado no centro da cidade. Junte-se a isto as calçadas de paralelepípedos, as antigas construções datadas do século XIX, os seculares conventos e igrejas, a história do cangaço e a simpatia de um povo muito hospitaleiro.

Com tantas atrações, é preciso no mínimo três dias para curtir a cidade. Um deles deve ser reservado para os passeios pelo centro: andar de pedalinho no açude, subir e descer de teleférico até o Hotel do Sesc, passear calmamente pelas ruas e visitar o Museu do Cangaço e o Teatro Guarany, inaugurado em 1922 e construído com rocha e óleo de baleia. Se for um sábado, é bom dar uma passadinha na feira. Convém, ainda,

visitar o Engenho São Pedro e provar da cachaça, da rapadura de todos os sabores ou mesmo do sorvete de rapadura.

Para os outros dias, há duas rotas rurais, que podem ser feitas com ajuda de um condutor local. Uma delas é para o Pico do Papagaio, distante oito quilômetros do centro. Trata--se do ponto mais alto de Pernambuco, com 1.260 metros, de onde se avista seis cidades do vale do Pajeú. O passeio inclui a passagem pela Cacimba de João Neco e Furna dos Holande-ses. A outra rota, imperdível, tem como destino a Cachoeira do Pingas, distante seis quilômetros do centro.

Convém avisar que dirigir para Triunfo durante a noite não é prudente. A altitude, de 1004 metros, enche a paisagem de névoa e embota a visão. Isso vale, principalmente, para quem optar por fazer o trajeto mais curto, entrando no povoa-do de Sítio dos Nunes até a cidade de Flores e passando pelo imponente portal da cidade. A outra opção é seguir até Serra Talhada e, depois, pela PE-360.