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AMBIENTE revista do meio Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental ano IV • dezembro 2009 27 Rogerio Ruschel e o business do bem Acesse: www.portaldomeioambiente.org.br A questão da favelas do Rio Análise do Código Florestal É agora ou nunca! Cop 15 Projeto sem fins lucrativos Distribuição gratuita A Groenlândia está derretendo

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Edição 27 da Revista do Meio Ambiente

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dez 2009 revista do meio ambiente

nesta edição

RedaçãoTv. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - 24370-290 Niterói, RJ - Tel.: (21) [email protected] anunciar(21) 2610-7365/2610-2272 celular: (21) 7883-5913 ID 12*88990 [email protected] Produção gráfica Projeto gráfico e diagramação: Estúdio Mutum • (11) 3852-5489 [email protected]ário: Rodrigo Oliveira da Silva [email protected]ão: Gráfica MEC (21) 7872-9293 - Maurício CabralWebmaster: Leandro Maia [email protected]

Os artigos e reportagens assinadas expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia.

Fontes MistasA Revista do Meio Ambiente é impressa em papel ecoeficiente couché da Votorantim Celulose

e Papel - VCP produzido com florestas plantadas de eucalipto, preservando matas nativas. A Unidade Florestal da VCP Capão Bonito conquistou, em setembro de 2005, o certificado FSC (Forest Stewardship Council), que atesta o manejo ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável da floresta, bem como o cumprimento das leis vigentes.

Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental - organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, dedicada à democratização da informação ambiental com a proposta de colaborar na formação e mobilização da Cidadania Socioambiental planetária através da edição e distribuição gratuita da Revista do Meio Ambiente, Portal do Meio Ambiente e do boletim digital Notícias do Meio Ambiente (CNPJ 05.291.019/0001-58)www.portaldomeioambiente.org.brFundador da Rebia e EditorVilmar Sidnei Demamam BernaEscritor e jornalista - Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e Prêmio Verde das Américas Tel.:(21) 2610-7365 • [email protected] www.escritorvilmarberna.com.brAssessoria técnica ambientalGustavo da S. D. BernaBiólogo marinho pós graduado em meio ambiente na Coppe/UFRJ e especializado em resíduos sólidos(21) 7826-2326 • [email protected] Inês Santos de OliveiraBióloga com pós-graduação em meio ambiente na COPPE/UFRJ e especialização em resíduos sólidos [email protected]ário em administração Leonardo da D. Berna fotografia e infra-estrutura (21) 7857-1573 • [email protected] Pessoa jurídicaA Rebia mantém termo de parceria com OSCIP para a administração financeira de seus veículos de comunicação e projetos. Dados para o cadastro da REBIA: Associação Ecológica Piratingaúna - CNPJ: 03.744.280/0001-30 – Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - bairro Ano Bom - Barra Mansa, RJ CEP: 27.323.300 Representante: Presidente Eduardo Augusto Silva Wernech Tels: (24) 3323-4861 (ACIAP) [email protected]

EspecialA questão da favelas do Rio Entrevista com Zygmunt Baumanpor Agência Notisa

EntrevistaRogerio Ruschell e o business do bempor Vilmar Sidnei Demaman Berna e Adalberto Marcondes

PesquisaA Groenlândia está derretendopor Ricardo Mioto

10 • Emissão de CO2 no Brasil13 • Prazo para desmatar mais14 • Escolas neutras em carbono20 • Indústria poluidora banca campanha21 • Lixo eletrônico em excesso22 • A mulher nas mudanças climáticas23 • Beleza por uma causa28 • Agroecologia mudando vidas29 • Mídia impressa é insustentável31 • Descobertas novas espécies de peixes32 • Construir com consciência33 • O mais alto arranha-céu “verde”34 • Animais à beira da extinção35 • Como fotografar a natureza38 • Conama e áreas contaminadas39 • Imazon, Minc e o desmatamento40 • Ecoturismo reduz pobreza na BA41 • Fórum de Mudanças Climáticas42 • Floresta em pé gera trabalho e renda44 • O encanto dos orixás46 • Espaço infantil

Matéria de capaEntenda a Cop 15por Thays Prado, edição de Mônica Nunes

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36 Meio ambiente urbanoUm veículo para cada dois habitantes no Brasilpor Mariana Oliveira

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ArtigoÉ preciso mudar o Código Florestalpor Luiz Prado

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Toda escolha traz consigo ônus e bônus. A de-cisão do Governo Brasileiro em investir na exploração do petróleo do pré-sal, tem bônus de encher os olhos de qualquer um: geração de riquezas e empregos, melhor posicionamen-to do Brasil enquanto potência mundial, com maior poder de decisão política, geração de im-postos que trarão mais dinheiro para os esta-dos e municípios investirem em melhor qua-lidade de nosso povo, etc. Entretanto, também traz ônus, como colocar o Brasil entre os vilões do aquecimento global e na contramão da his-tória, num momento em que a sociedade mun-dial discute novos modelos energéticos rumo a uma sociedade de baixo carbono.

O grande vilão do aquecimento global, os EUA, já anunciou que nos próximos dez anos estará investindo em energia solar, eólica, bio-massa, para se livrar da dependência do petró-leo. O Governo Brasileiro está decidindo exata-mente o contrário, apostando que, daqui a uma década, quando a exploração do petróleo do pré-sal estiver chegando ao mercado, encon-trará um mundo ainda carente de petróleo. Será? A idade da pedra não acabou por falta de pedras! Assim como a idade do petróleo não irá acabar por falta de petróleo! Em quan-to tempo o petróleo continuará custando caro o bastante que justifique o investimento para tirá-lo de onde está, diante de um Planeta cada vez mais aquecido?

Será que a nova sociedade de baixo carbo-no estará disposta a continuar correndo riscos com o uso de combustível comprovadamente

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Campo de Jubarte (ES): Presidente Lula e o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, com óleo extraído da camada pré-sal nas mãos

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aquecedor do nosso Planeta? Os oceanos estão aumentando de nível, ainda discretamente, mas cuja tendência é só crescer na próxima década, por conta do derretimento do gelo nos pólos e pela expansão da própria massa líquida, mais aquecida. E quando este aumento dos oceanos começar a atingir mais fortemente as cidades, e forçar sua infra-estrutura, obrigando os governos a investirem mais e mais dinheiro de impostos para manter o mar afastado? A riqueza trazida pelo petróleo do pré-sal valerá a pena?

A decisão de usar o petróleo do pré-sal precisa ser acompanhada de um pla-nejamento e um compromisso com investimentos de parte dos lucros para mitigar os danos que o aquecimento global trará para as cidades, principal-mente com o aumento do nível dos oceanos. A Holanda já gasta hoje milhões de dólares de seus contribuintes para manter o mar afastado. Estaremos nos encaminhando para um cenário parecido? Se tomamos a decisão por aumen-tar o ‘cobertor’ de gases de efeito estufa sobre o Planeta, também precisamos estar preparados para as suas conseqüências, evitando a lógica de capitalizar os lucros do petróleo pré-sal e socializar seus prejuízos para os contribuintes!

Também é importante planejar o investimento para neutralizar o carbo-no que será emitido com o uso desse petróleo. Só plantar milhões e milhões de árvores não será suficiente, embora será importante principalmente para reconstituir áreas degradadas de propriedades rurais e unidades de conservação, formar corredores florestais entre ilhas de florestas. Existem outros projetos que podem capturar mais gases aquecedores do planeta, como, por exemplo, transformar os mais de 3.600 lixões a céu aberto que existem no Brasil em aterros sanitários com redes de recolhimento do gás metano, investir em novas rações que diminuam o arroto do gado, investir em novas tecnologias limpas que resultem na diminuição ou neutralização das emissões de carbono, etc.

Esperamos que o Fundo de Mudanças Climáticas, proposto pelo Minc e aprovado pelo Lula, caminhe nesta direção. Segundo o Ministro, serão desti-nados 10% do lucro do setor petrolífero para este fundo, cerca de R$ 1 bilhão ao ano, dinheiro que incidirá desde agora para quem já atua na área, mas que ganhará mais recursos com a exploração do petróleo do pré-sal.

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e o meio ambiente

Nem empresas, nem governos, nem consu-midores ou cidadãos querem que novos aci-dentes ambientais como o vazamento de óleo na Baía da Guanabara, em janeiro de 2000, voltem a acontecer, mas enquanto nos-sa decisão for pelo uso do petróleo, esta é uma possibilidade bem concreta. Na ocasião, reco-lhemos centenas animais cheios de óleo, com a ajuda de mais de 200 voluntários ambientais, leitores e parceiros que atenderam a nossa convocação para, em vez de continuarem como passivos observadores do desastre, decidissem colocar a ‘mão na massa’. Esses bravos colabo-radores fizeram a diferença no resgate e recu-peração dos animais vítimas daquele enorme desastre ambiental, que de outra forma esta-riam condenadas à morte, embora a taxa de mortalidade ficasse em torno de 50%!

Saímos mais fortalecidos e maduros deste tris-te episódio. A própria Petrobrás, responsável di-reta pelo vazamento, investiu na modernização de suas instalações, no treinamento de seu pes-soal, na aquisição de tecnologias ambientais para a prevenção de acidentes ambientais. Pelo nosso lado, descobrimos que não bastava ter boa vontade ambiental e disposição para o tra-balho voluntário! Descobrimos que estávamos completamente despreparados para a tarefa, além de não dispor dos equipamentos necessá-rios. Criamos o então IBVA – Instituto Brasileiro de Voluntários Ambientais que mais tarde foi redenominado para dar origem à REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental.

Na ocasião, o presidente da Petrobrás desceu de helicóptero junto a uma de nossas equipes de voluntários, no manguezal de Magé, onde nos esforçávamos para resgatar as aves cheias de óleo, e viu nossas dificuldades, de capacita-

ter aprendidOLições que deveríamos ter

ção e de equipamentos. Comprometeu-se em nos ajudar. Encaminhamos, a seu pedido, um projeto que visava capacitar e mobilizar os vo-luntários ambientais através da realização sis-temática de mutirões ecológicos. Conseguimos que a Petrobrás nos financiasse três mutirões, o que permitiu treinar e mobilizar mais de 500 jovens voluntários. Recolhemos mais de 6 tone-ladas de lixo flutuante na Baía de Guanabara, retiramos mais de 5 toneladas de areia e lixo do riacho formado após a Cascatinha da Floresta da Tijuca, e mais de 3 toneladas de lixo lança-dos por banhistas no rio que nasce na Reserva Biológica do Tinguá, na Baixada Fluminense. Tentamos renovar o patrocínio com a Petrobras, mas infelizmente, talvez pela mudança na pre-sidência da empresa, não obtivemos mais su-cesso. Uma pena, pois hoje teríamos um enor-me contingente de voluntários ambientais ca-pacitados na prática para agir em novos casos de acidentes ambientais, que nenhum de nós quer que aconteça, mas que é certo acontecer enquanto a opção for pelo uso do petróleo.

Estas fotos foram tiradas em janeiro de 2000, por ocasião do vazamento de óleo na Baía de Guanabara. Eu republico agora como um alerta sobre as conseqüências de nossas escolhas F

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Não é exagero. De acordo com o 4º relató-rio do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, órgão que reúne os mais renomados cientistas especializados em clima do mundo, – publicado em 2007, a temperatura da Terra não pode aumentar mais do que 2º C, em relação à era pré-industrial, até o final deste século, ou as alterações climáticas sairão completamente do controle.

Para frear o avanço da temperatura, é necessá-rio reduzir a concentração de gases de efeito es-tufa na atmosfera, já que são eles os responsá-veis por reter mais calor na superfície terrestre. O ideal é que a quantidade de carbono não ultra-passasse os 350ppm, no entanto, já estamos em 387ppm e esse número cresce 2ppm por ano.

Diminuir a emissão de gases de efeito estufa implica modificações profundas no modelo de desenvolvimento econômico e social de cada país, com a redução do uso de combustíveis fósseis, a opção por matrizes energéticas mais limpas e renováveis, o fim do desmatamento e da devastação florestal e a mudança de nossos hábitos de consumo e estilos de vida. Por isso, até agora, os governos têm se mostrado bem menos dispostos a reduzir suas emissões de carbono do que deveriam.

No entanto, se os países não se comprome-terem a mudar de atitude, o cenário pode ser desesperador. Correremos um sério risco de ver: • a floresta amazônica transformada em savana • rios com menor vazão e sem peixes• uma redução global drástica da produção de alimentos, que já está ocorrendo • o derretimento irreversível de geleiras• o aumento da elevação do nível do mar, que faria desaparecer cidades costeiras• a migração em massa de populações em regiões destruídas pelos eventos climáticos • o aumento de doenças tropicais como dengue e malária.

COP-15: é agora ou nunca!Apesar de a UNFCCC se reunir anualmente

há uma década e meia, com o propósito de encontrar soluções para as mudanças climá-ticas, este ano, a Conferência das Partes tem importância especial. Há dois anos, desde a COP-13 em Bali (Indonésia), espera-se que, finalmente, desta vez, tenhamos um acordo climático global com metas quantitativas para os países ricos e compromissos de re-dução de emissões que possam ser mensu-rados, reportados e verificados para os paí-ses em desenvolvimento.

A Convenção vai trabalhar com o princípio das responsabilidades comuns, porém dife-renciadas. Isso significa que os países indus-trializados, que começaram a emitir mais cedo e lançam uma quantidade maior de CO2 e outros gases de efeito estufa na atmos-fera em função de seu modelo de crescimen-to econômico, devem arcar com uma parce-la maior na conta do corte de carbono. Por isso, a expectativa é de que os países ricos assumam metas de redução de 25% a 40% de seus níveis de emissão em relação ao ano de 1990, até 2020.

Os países em desenvolvimento, por sua vez, se comprometem a reduzir o aumen-to de suas emissões, fazendo um desvio na curva de crescimento do “business as usual” e optando por um modelo econômico mais verde. É isso o que fará com que Brasil, Índia e China, por exemplo, possam se desenvol-ver sem impactar o clima, diferentemente do que fizeram os países ricos.

Para mantermos o mínimo controle sobre as consequências do aquecimento global, a concentração global de carbono precisa ser estabilizada até 2017, quando deve começar a cair, chegando a ser 80% menor do que em 1990.

Saiba o que será negociado na 15ª Conferência das Partes, da ONU, entenda os diferentes interesses em jogo, a posição dos países em relação aos principais assuntos que envolvem o aquecimento global e a importância desse encontro para o planeta. É o destino da civilização humana que está em jogo em Copenhague

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Organizações como a CAN – Climate Action Network, constituída por cerca de 365 ONGs, que se articulam para que os objetivos da Convenção sejam cumpridos, e a campanha internacional Tck Tck Tck estão empenhadas em fazer pressão e evitar que isso aconteça.

Ainda corre-se o risco de a COP-15 terminar sem acordo nenhum ou com propostas bem inferiores ao que seria necessário para con-trolarmos o aquecimento global, o que seria uma verdadeira tragédia para todos os povos. Infelizmente, muitos especialistas não têm se mostrado esperançosos com Copenhague, já que os países desenvolvidos vêm apresentan-do números inferiores ao esperado.

Há quem acredite que a mudança em relação às emissões de carbono não virá de uma dis-cussão internacional como essa e, sim, da so-ciedade civil, dos setores privados, de cidades que se virem ameaçadas pelas alterações do clima. Até dezembro, nos resta apoiar aos di-versos movimentos de diferentes setores, que têm encaminhado propostas ao governo para contribuir com as decisões internacionais, cobrar de nossos representantes e torcer. Fontes: Publicações da ONG Vitae Civilis: “Antes que seja tarde: a urgência de uma resposta negociada entre nações para os desafios de mudança do clima” e “Panorama dos atores e iniciativas no Brasil sobre mundanças do clima” e palestras.

COP-15 http://en.cop15.dkClimate Action Networkwww.climatenetwork.orgTck Tck Tckhttp://tcktcktck.org

Protocolo de Kyoto – Parte 2Engana-se quem pensa que as decisões to-

madas na COP-15 substituirão o Protocolo de Kyoto. Na realidade, paralelamente à Confe-rência, mas no mesmo espaço, é realizada a 5ª Reunião das Partes do Protocolo de Kyoto, que deve defi nir quais serão as metas para os países do chamado Anexo I, para o segun-do período de compromisso do documento, que vai de 2013 a 2017. Várias das reuniões que ocorrem nos quinze dias de encontro servem, ao mesmo tempo, aos dois eventos.

Até 2012, os países desenvolvidos signatários do Protocolo, devem reduzir suas emissões em 5,2%. Espera-se que os Estados Unidos, que se re-cusaram a ratifi car o documento, tenham uma postura diferente, agora sob a gestão Obama.

Quem participa e quais são os riscos desta COPNormalmente, as Conferências das Partes

acontecem durante duas semanas. Os minis-tros de cada país costumam chegar só depois da primeira semana e a discussão ganha for-ça – mesmo! – apenas nos últimos dias ou ho-ras. Participam da Conferência, com poder de voto, os Estados Nacionais que são signatá-rios da Convenção e/ou do Protocolo de Kyoto, por meio de suas delegações. Outros países po-dem participar do encontro como observadores, assim como as ONGs. Os observadores podem se manifestar nas reuniões formais por meio de propostas escritas, que são lidas ao público, mas não têm poder de decisão.

Os chefes de estado não participam, obrigato-riamente, da COP, mas seria desejável que eles comparecessem para dar peso à Convenção. Há uma grande expectativa de que o presidente norteamericano Barack Obama esteja presen-te, o que faria com que muitos outros também aparecessem por lá. No entanto, corre-se o risco de que, assim como aconteceu em 1997, na defi -nição do Protocolo de Kyoto, esses chefes de Es-tado se reúnam a portas fechadas e negociem sozinhos, invalidando a Convenção e tornando o processo menos democrático e transparente.

Há quem acredite que a mudança em relação às emissões de carbono não virá de uma discussão internacional como essa e, sim, da sociedade civil, dos setores privados, de cidades que se virem ameaçadas pelas alterações do clima

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Ação do WWF em Copenhague

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Cada brasileiro é responsável pela emis-são de 10 toneladas de gás carbônico (CO2) por ano, em média. O número é duas vezes maior do que a média mundial. Os dados são da Rede-Clima, ligada ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Somos o país em desenvolvimento com a maior média mundial”, disse Carlos Nobre, um dos coordenadores da Rede-Clima, ao partici-par de comissão geral na Câmara para discutir a Conferência das Nações Unidas sobre Mudan-ças Climáticas (COP-15). O encontro foi realizado em dezembro, em Copenhague (Dinamarca).

A meta é de que a média mundial de emissão de CO2 seja de 1,2 tonelada por ano até 2050, para que a temperatura global não aumente 2 graus Celsius (°C). “Ela já subiu 0,8°C nos últimos 100 anos. Falta 1,2°C. Já chegamos mui-to próximo do limite”, disse Carlos Nobre.

Na avaliação do diretor executivo da Con-federação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho Fernandes, a estratégia brasi-leira para reduzir a emissão de gases de efeito

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Brasil acima da média mundial em

Brasileiro emite por ano 10 toneladas de CO2, informa Inpe

estufa deve partir de dois pontos básicos: do uso de uma matriz energética limpa e da redução do desmatamento, principal fonte de emissão de CO2 no país.

“Temos de buscar o abatimento das emis-sões que seja o mais barato. O Brasil tem con-dições de implantar mitigação de baixo custo. O combate ao desmatamento deve ser a deci-são número um”, defendeu.

O embaixador extraordinário para Mudan-ças Climáticas do Ministério das Relações Ex-teriores, Sérgio Serra, disse que a meta brasi-leira de redução de gases de efeito estufa fo-ram recebidas com tranquilidade na reunião que antecedeu a COP-15.

“Acho que daqui até Copenhague vamos ter de fazer muitas consultas para saber o que se espera, mas o Brasil está muito tran-quilo. O anúncio dos números foi muito bem recebido”, afirmou.

A meta brasileira de redução dos gases é de 36,1% a 38,9%, até 2020. Fonte: Envolverde/Agência Brasil, edição de Juliana Andrade

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O desmatamento é a principal fonte de emissão de CO2 no País

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Comentário do editorNão há jeito melhor de tornar uma lei inócua que fazê-la geral demais, como é o nosso Código Florestal. Segundo, não é desrespeitando direitos que se asseguram direitos. Se queremos os direitos do meio ambiente preservados – e queremos – temos de assegurar os direitos dos pequenos, médios e mesmo grande produtores rurais, definindo claramente regras e mecanismos para: a) informar adequadamente sobre as novas regras, o que pode e o que não pode; b) capacitar, treinar, educar para as novas regras; c) incentivar quem faz certo; d) punir quem faz errado, nesta ordem, e não na ordem contrária, como é hoje, onde o que existe praticamente é só punição (polícia/controle)! Vilmar S. D. Berna – escritor e ambientalista, editor da Revista e do Portal do Meio Ambiente

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Finalmente, o debate sobre o Código Florestal ameaça sair do velho e surrado chavão de um embate entre “ambientalistas bons” X “rura-listas maus”. A coisa começou a mudar quando os pequenos produtores começaram a se fazer ouvir. Afinal, são eles que produzem a quase totali-dade dos alimentos que consumimos. E eles mandaram essa mensagem claramente através de suas cooperativas e associações. Hoje, estima-se que 2,5 milhões de pequenas propriedades se tornarão economicamente inviáveis se o Código for aplicado como está.

O Código Florestal brasileiro tem duas falhas principais: (a) tratar um país de dimensões continentais como se as mesmas regras pudessem ou devessem ser aplicadas igualmente em todas as regiões e (b) desconside-rar a ocupação humana pré-existente.

As grandes ONGs ditas ambientalistas – que quase nunca informam as suas fontes de recursos financeiros – são divertidas. Elas agora pressionam para que o Código não seja alterado por Medida Provisória. Para quem não conhece bem o tema, as muitas alterações feitas por essa via contribuíram enormemente para os impasses atuais. É só passar os olhos no texto que está no link www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4771.htm para ver as Medidas Provisórias que o tornaram mais restritivo.

Recentemente, Marco Aurélio Garcia, ministro do STF, debatendo o assunto afirmou o óbvio: a lei não pode retroagir de maneira a prejudicar ninguém, ainda que o respeito ao meio ambiente seja um princípio constitucional.

Logo depois, declarações mais precisas: o ministro Herman Benjamin, do STJ, afirmou claramente num encontro promovido pelo Ministério Públi-co Federal que é preciso promover uma reforma do Código Florestal para incorporar todos os pontos positivos de um debate que já dura há mais de dez anos: não se trata de permitir a devastação de florestas, mas de, entre outras coisas: (a) dar tratamento diferenciado ao rural e ao urbano,

já que não faz sentido juntar o urbano e o rural, (b) dar tratamento diferenciado ao pequeno e ao grande produtor, (c) ampliar o uso de ins-trumentos econômicos para estimular a pro-teção ambiental e (d) fortalecer a gestão esta-dual, sem o que, nenhuma especificidade re-gional poderá ser tomada em consideração.

De fato, a aplicação do Código Florestal ao meio urbano é uma “doutrina” que ultrapassa as fronteiras do mero bom senso e da observa-ção. Ou alguém pensaria em impor o conceito de faixa marginal de proteção a Paris, Londres, Nova York, Washington DC, Bonn, e centenas de outras cidades onde a as margens sempre per-maneceram estáveis em decorrência de obras de contenção e a água dos rios apresenta exce-lente qualidade depois de décadas de trabalho.

Há muitas outras coisas no Código que pre-cisam ser modificadas. Não há sentido, por exemplo, ter faixas marginais de proteção idênticas para rios na Amazônia, onde as pla-nícies de alagamento podem atingir quilô-metros durante os longos períodos de cheias, de um lado, e rios em regiões onde isso não acontece. E, mesmo na Amazônia, há cidades, e há populações ribeirinhas que ao longo de milênios ali vivem e se adaptaram hídrico. Há rios e rios, ocupações passadas, regimes de chuvas, hidrologia e geologia altamente variáveis, e nem tudo pode ou deve ser deci-dido de Brasília, por regras genéricas.

Sobre a questão das reservas legais – originá-ria da percepção da necessidade de ter reservas de madeira para uso como combustível e na construção, mas depois arbitrariamente trans-formadas num tributo indireto – já há mais

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Os xingamentos e posições dogmáticas precisam ser definitivamente superados porque o Código contém muitos dispositivos que nada contribuem para a proteção ambiental e que desconsideram a realidade Ca

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Apesar da boa intenção do título – Programa Mais Ambiente –, o decreto recém-editado pelo governo acaba por promover, na prá-tica, uma anistia ampla, geral e irrestrita a todos os que desrespeitaram a legislação ambiental até agora. Entre as muitas cau-sas do desmatamento, uma das mais fortes é a impunidade. E, lamentavelmente, o de-creto acaba por lhe dar alento, favorecendo sem distinção quem desmatou nos últimos 15 anos. E que poderá continuar a desmatar hoje, sabendo que, se aderir ao programa, não pagará multa pela área desmatada.

Tal decisão compromete as iniciativas de regu-larização ambiental dos Estados que não cria-ram a “suspensão de multas”. Além disso, vai na contramão do STJ, que vem julgando em favor da obrigatoriedade dos produtores de recuperar as áreas desmatadas acima do permitido, mesmo quando isso ocorreu antes da compra do imóvel rural. Talvez esse seja o problema. Desde 2004, quando começou a ser implementado o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, o Estado brasileiro vem ampliando a sua capacidade de fiscalização. Com isso, o desmatamento vem caindo ano a ano, o que é bom para a sociedade, mas incomoda alguns.

Segundo a Confederação da Agricultura e Pecu-ária (CNA), a maior parte dos proprietários rurais não deverá aderir ao programa, na expectativa de que o Código Florestal seja alterado em 2010. Opi-nião compartilhada pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Para ele, apesar do novo pra-zo, o agricultor, o pecuarista e o próprio governo terão dificuldades para cumprir as “exigências”.

Ganhar tempo, nesse caso, não significa mais prazo para o agricultor adequar-se às leis am-bientais, o que seria desejável se não fosse desnecessário, pois o Código Florestal já contem-pla essa situação. Na prática, está dada a senha para a bancada ruralista manter a pressão para desmontar a legislação ambiental, duramente conquistada após a Constituição de 1988.

Ao ceder, mais uma vez, o governo perde a oportunidade de caminhar na direção correta. E coloca sob forte suspeita o compromisso anun-ciado de reduzir o desmatamento em 80% na Amazônia e em 40% no cerrado – pontos cen-trais da meta de redução de emissões de gases-estufa apresentada agora em Copenhague.

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pontos de consenso do que de divergência. A reserva legal poderá ser feita em outra ba-cia e somada às áreas de preservação perma-nente. A única questão pendente é simples: se as áreas de reserva legal são de interesse social e podem ser constituídas em outros lo-cais – onde a terra tem menor potencial pro-dutivo –, por que fazer com que os produtores paguem por isso, e não a sociedade? A mera demarcação das reservas legais e das áreas de preservação permanente é demasiadamente cara para os pequenos produtores rurais.

Finalmente, os topos de morro e todas as áreas acima de 1.800 metros. Aí, a mera bobagem abunda, transborda, mas ao mes-mo tempo demonstra como a improvisação na redação do texto legal pode ter impactos graves sobre o Direito. Em primeiro lugar, por que 1.800 metros? O aeroporto de La Paz, na pequena cidade de El Alto, está situado a 4.061 metros de altitude! La Paz, com mais de 1,6 milhões de habitantes, está a 3.660 metros de altitude. E é longa a lista de cida-des, da América Latina ao Tibet.

Além do que, há “morros” de todos os for-matos – com amplas extensões planas no “topo” até topos com declividades acentua-das –, morros com as mais diversas forma-ções geológicas, nas mais diversas altitudes e regimes pluviais. Essas tolices absolutas merecem ser simplesmente retiradas do Có-digo Florestal, em lugar do atual papo furado de permitir que se mantenham nas encostas as culturas agrícolas “já consolidadas” – mais um conceito jurídico indeterminado. Se exis-tissem razões para a proteção genérica dos “topos de morro” como áreas de preservação permanente, não teríamos o Pelourinho e ainda menos o Cristo Redentor e o bondinho do Pão de Açúcar.

Já é hora dos produtores rurais, dos pre-feitos, dos pesquisadores da Embrapa, dos agrônomos, da comunidade científica e dos ambientalistas que discordam de muitos dispositivos do Código se expressar de ma-neira sistemática e organizada.

Não são poucos os pesquisadores e agrôno-mos de melhor nível que já demonstram que a conservação dos solos e das águas pode e deve ser feita através de técnicas de conserva-ção dos solos, nas quais o Brasil é líder mes-mo sem apoio do governo. Eles já demonstra-ram, também, que essas técnicas neutralizam as emissões de carbono da atividade rural. Agora, a FAO chama a atenção para que é pre-ciso estar atento para a segurança alimentar e para a importância dessas técnicas no com-bate às mudanças climáticas.

A impunidade ganhou mais tempo. Mesmo com a previsão legal de prazo de até 30 anos para recuperar áreas de preservação permanente e da reserva legal já desmatadas, o governo deu mais três anos para que os proprietários façam a regularização ambiental de suas áreas sem serem incomodados pela fiscalização

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1412200906.htm

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Na próxima década 2010-2020 enfrentare-mos o desafio de preparar as comunidades escolares para um ajuste de conduta em busca da sustentabilidade e da construção de uma sociedade de baixo carbono.

Todo Plano Pedagógico deverá apresentar es-tratégias metodológicas que abordem de for-ma didática e atualizada os temas associados à ecoeficiência e ao consumo sustentável. Os diretores, coordenadores e outros profissionais líderes educacionais precisarão também assu-mir o posto de “líderes pela sustentabilidade”.

Assim como o crack, o álcool, o preconceito, a violência, a intolerância e a depressão, os efei-tos das mudanças climáticas são evidentes em nosso cotidiano. Todas essas enfermidades ro-deiam os jovens comprometendo o seu futuro. Essa realidade obrigará a escola a combinar conteúdo programático com objetivos de ensi-no e desenvolvimento de competências e habi-lidades para a práxis escolar dos seus alunos.

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esCOlas neutras em CarbOnO:O homem já percebeu que o seu compor-

tamento frente aos recursos naturais é in-coerente. As questões ambientais estão pre-sentes em todos os meios de comunicação. Já surge um esforço de indivíduos em trilhar caminhos que garantam qualidade de vida sem degradar o ambiente.

As previsões anunciadas a partir da década de 60 pelos ambientalistas eram chamadas de apocalípticas e inconsistentes. Hoje, verifi-camos a necessidade de um processo de cons-cientização para se viver com qualidade, res-peito pelos serviços ambientais, valorização cultural e justiça social.

O modelo de vida das sociedades no plane-ta, em especial as urbanas, tem mostrado re-sultados devastadores. A questão mais urgen-te, entretanto, é que os problemas globais têm efeitos locais imediatos e imensuráveis. E nós, no Brasil, teremos esses efeitos potencializa-dos com o aquecimento global, tais como o surgimento de novas doenças tropicais, a den-gue ganhando força, secas provocando fome e problemas renais, enchentes favorecendo a leptospirose, aumento de ocorrências cardio-vasculares e doenças respiratórias.

Tivemos um colapso planetário, porém o ho-mem já provou que consegue respostas rápi-das para os problemas socioambientais que ele próprio cria.

Um caminho é a escola assumir mais um compromisso ético: hastear a bandeira da sus-tentabilidade com programas transdisciplina-res de Educação Ambiental. Assim, podemos iniciar a trajetória para a construção de uma sociedade saudável.

A verdadeira escola verdeO primeiro passo para a escola demonstrar

respeito à natureza por meio da consciência ambiental é compensar as emissões de car-bono de todo o seu funcionamento. Ou seja, dar exemplo fazendo o seu ‘dever de casa’.

Essa atitude precisa ser imediata. Quando to-das as escolas de todos os municípios compen-sarem as suas emissões e cumprirem um Plano Pedagógico de eficiência energética e ajuste de conduta socioambiental, estaremos iniciando a reconstrução social com equilíbrio ecológico.

Plano Pedagógico deverá apresentar estratégias metodológicas que abordem os temas associados à ecoeficiência e ao consumo sustentável

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Primeiro a escola, célula-tronco da socieda-de. Depois, virão os outros setores. Exemplo disso já existe. Somente em Niterói, há o pio-neirismo de uma escola (pública), um museu e uma editora neutros em carbono. A orga-nização não-governamental PRIMA, sediada em Niterói, é responsável pela metodologia e desenvolve projetos em todo o país, não somente em instituições e empresas, como em eventos e até com artistas. O cantor Ney Matogrosso, por exemplo, acaba de lançar um CD ‘neutro em carbono’ aplicando essa mesma metodologia.

Os instrumentos necessários para essa bus-ca devem subsistir na autotransformação, nas relações interpessoais e na (re)ligação do ho-mem com a natureza. Todos esses podem ser frutos da Educação Ambiental.

O fato de plantar árvores para que sequestrem os GEE’s – Gases do Efeito Estufa emitidos como forma de compensação ambiental, é estratégi-co e emblemático. O plantio sempre desperta no aluno e no professor a alegria e satisfação de, efetivamente, colaborar com a natureza e com a vida humana. Porém, a escola pode adotar ou-tras medidas mitigadoras, como a reciclagem do óleo de cozinha, a substituição de lâmpadas comuns por leds, a diminuição do consumo de carne, instalação de painéis solares, etc.

Todos nós contribuímos diariamente com o aumento do aquecimento global, pois to-dos nós emitimos carbono para a atmosfera em nossas atividades. A diferença é que uns adotam medidas de recuperação e mitigação. Outros, porém, tem um discurso com enorme distância da sua prática.

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O plantio sempre desperta no aluno e no professor a alegria e satisfação de, efetivamente, colaborar com a natureza e com a vida humana

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Quem conhece o trabalho de Rogerio Ruschel reconhece um visionário – mas ele foi con-siderado maluco quando abriu mão de uma carreira de sucesso como executivo de uma multinacional de propaganda para “ser fe-liz” e “salvar o planeta”, no fi m dos anos 80.

Publicitário e jornalista, foi o primeiro con-sultor especializado em negócios sustentá-veis do Brasil – que chama de “business do bem”– ao associar valores de marketing e comunicação a programas de sustentabilida-de. Professor universitário por quase 20 anos, foi o realizador do primeiro curso sobre meio ambiente para formadores de opinião e autor do primeiro dicionário de termos ambientais para jornalistas brasileiros – trabalho encarta-do na Revista Imprensa em 1991 e que, tradu-zido para o inglês, foi distribuido para os jor-nalistas que cobriram a ECO-92. E, é claro, foi também o criador do primeiro programa de pós-graduação brasileiro sobre o assunto, na ESPM-SP, onde lecionava, em 1995.

Como jornalista foi pioneiro ao publicar uma revista eletrônica que associa susten-tabilidade e negócios – a Business do Bem – enviada gratuitamente a 360.000 leitores. Autor do primeiro livro de meio ambiente com preços populares, vendido em bancas – o Guia Ruschel de Ecologia, de 1992, é autor, co-autor ou editor de outros 7 livros.

busine� d o bemNesta entrevista, realizada de maneira com-

partilhada por dois de seus amigos, Vilmar Berna, diretor da REBIA e Dal Marcondes, di-retor da Envolverde, Ruschel conta um pouco de sua história que se renova com a propos-ta de que empresas devem ser generosas para serem mais sustentáveis, porque, segundo ele, a Generosidade é o quarto elemento do triple bottom line. Confi ra a seguir.

Vilmar Berna: Você criou a Ruschel & Asso-ciados em 1989. Como não existia nada seme-lhante por aqui, qual foi sua referência?Rogerio Ruschel: No fi m da década de 1980 empresários e ambientalistas estavam em la-dos opostos – e o relacionamento entre eles era de franca hostilidade. Raríssimas empresas consideravam questões ambientais no modo de produção (lembro da Natura) e pouquíssi-mas ONGs tinham alguma estrutura operacio-nal organizada (como a SOS Mata Atlântica). Como circulava nestes dois “mundos” anta-gônicos, achei que poderia ajudar a encon-trar pontos de convergência entre eles e criei a Ruschel & Associados em outubro de 1989 com uma Missão simples e ao mesmo tem-po pretensiosa: levar a mensagem dos valores ambientais para o mundo corporativo e os va-lores corporativos para o universo ambiental.VB: E deu certo?RR: Acho que sim, porque nestes 20 anos pude colaborar com grandes corporações como Vale do Rio Doce, Volkswagen, Bayer, Votorantim, Bradesco, Unibanco, Bahia Sul, Walmart, Coi-mex, PriceWaterhouseCoopers, International Paper, Acisa e SBS; com Ongs como WWF, Fun-dação Martius de Cultura, Fórum Iberoameri-cano de Ecoturismo (Fibe) e SOS Mata Atlânti-ca; com organizações do poder público como os governos do Ceará e Tocantins e Sabesp – além de projetos para organizações internacionais como Usaid, Bid e Centro Europeu de Forma-ção Ambiental e Turística (Cefat). Acho que fui o pioneiro a traduzir para uma lógica de mercado a boa vontade teórica de iniciativas “eco-eco – ECOnômicas e ECOlógicas” e como não desisti – e agora o assunto está na moda – creio que posso considerar que deu certo.

Rogerio Ruschel: 20 anos fazendo o “business do bem”

Na idéia de lucros crescentes,

a generosidade se encaixa na

expansão da frase de São Francisco

– infelizmente deturpada pela

bandidagem política – ‘é dando

que se recebe’

20 anos de

Rogerio Ruschel apresenta Relatório sobre Embalagens em Um dos Diálogos para a Sustentabilidade do Walmart

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Dal Marcondes: Nos últimos 20 anos houve mudanças na percepção deste novos valores? RR: Graças à mobilização de lideranças da sociedade civil, empresas e governantes, ti-vemos mudanças importantes na percepção destes valores nos últimos 20 anos – e conti-nuamos evoluindo, devagar mas para a fren-te. Há 20 anos a economia era um ciclo fecha-do, com decisões sem participação da socie-dade civil; neste ambiente não importava às empresas o que acontecia antes e depois do processo produtivo, industrial. Hoje a econo-mia funciona em ciclo aberto, onde as em-presas têm que se responsabilizar pelo que acontece antes do processo produtivo (o per-fi l e volume de energia, a procedência de in-sumos e matérias-primas, a pegada ecológi-ca dos fornecedores, se existe trabalho escra-vo no fornecedor, etc.) e depois do processo produtivo (se o frotista regula os caminhões, se as embalagens têm destino controlado, se o produto dá defeito provocando recalls, etc.)VB: Por que o País precisa do marketing am-biental? Só o jornalismo ou a educação am-biental já não são sufi cientes para promover as mudanças para a sustentabilidade? RR: Educação forma, jornalismo informa, ma-rketing promove – estes são os focos destas atividades. São papéis diferentes, embora seja desejável ter uma educação que forme e pro-mova mudanças, um jornalismo que informe e eduque, um marketing que promova e infor-me. O verdadeiro marketing ambiental deve-ria contribuir com estes outros papéis. VB: Quanto evoluiu o marketing ambiental nestas duas décadas? RR: O marketing é uma ferramenta da socie-dade capitalista e vem evoluindo dentro dela e de acordo com ela. Por força da inércia, se a sociedade evolui, as ferramentas de marketing tendem a evoluir na mesma direção, porque são caudatárias. Uma empresa pode fazer um anúncio para vender um produto ruim ou uma iniciativa inteligente – a ferramenta é a mes-ma, o objetivo é espetacularmente diferente. O que eu penso que seja o “business do bem” é ir além desta inércia – é buscar na generosidade de quem faz a gestão de uma empresa um ato

busine� d o bem

Comissão Julgadora do Prêmio von Martius de Sustentabilidade de 2005. Há 10 anos Ruschel coordena este concurso da Câmara Alemã, que já avaliou quase 2.000 cases

propositivo que transcenda a inércia. Por exem-plo: abrir mão de uns 0,002% do lucro para in-vestir em inovação que construa sustentabili-dade, sabendo que esta inovação vai recompen-sar a empresa com ganhos, em futuro breve. DM: Explique o que é o “business do bem”?RR: Business do Bem é como chamo a inicia-tiva de promover negócios sustentáveis, ditos win-win, em que todos os lados ganham: ven-dedor, comprador e os ambientes social, eco-nômico e natural. O business do bem utiliza as ferramentas convencionais do marketing (as conhecidas variáveis controláveis e incon-troláveis) mas parte de um pressuposto forte-mente diferente: a generosidade. Generosida-de é aquela característica do ser humano de perceber o todo, de abrir mão nem que seja de um pouquinho do “eu” para contribuir com o “nós”. Mas só animais da espécie homo sapiens podem ser generosos. Empresas não são gene-rosas, mas sim, executivos que as comandam. Sem um certo grau de generosidade nenhuma empresa vai encontrar um “racional de merca-do” para buscar a sustentabilidade, fazer negó-cios sustentáveis ou business do bem.DM: É possível ser generoso e ao mesmo tem-po ter lucros?RR: Evidentemente. Para atrair investidores as empresas precisam ser mais confi áveis em ter-mos de governança, melhor dirigidas em termos de posicionamento para o futuro, com menos problemas trabalhistas – com menos riscos. Este é o retrato de uma empresa que busca a susten-tabilidade socioambiental – e para isto ela vai ter que ser generosa em algum momento. Me responda: você investiria seu dinheiro (ou re-comendaria para seu fi lho trabalhar) em uma empresa má afamada, com dezenas de proces-sos trabalhistas, equipamentos antiquados, in-terdições das autoridades de meio ambiente ou saúde – ou em uma empresa séria, ética, que tem o respeito da imprensa e que atrai talentos?

20 anos debusine� d o bemDaqui a alguns anos vai se realizar esta profecia: as empresas generosas de agora serão as lideres do futuro

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DM: O mundo da publicidade e do marketing está em profunda transformação de valores. Não basta mais parecer, é preciso ser. O que ganham as empresas que buscam transformar seus valores em direção à sustentabilidade?RR: Uma pesquisa feita no Canadá pelo The Natural Step identifi cou que adotar valores de sustentabilidade fornece à empresa um au-mento potencial de lucro de 38% e um poten-cial benefício de produtividade de 8% – assim, na ponta do lápis. Minhas pesquisas nestes 20 anos me permitiram elencar 30 benefícios que estão apresentados na edição 5 da revis-ta eletrônica Business do Bem (www.ruscheleassociados.com.br/revista/interface.html). Sabemos que para adotar a sustentabilidade uma empresa precisa investir em inovação e relacionamentos, e abrir mão de pequenas coi-sas até que estes investimentos retornem como benefícios. Como empresas não tomam deci-sões – e sim pessoas dentro delas – este gestor vai ter que ser generoso para construir a sus-tentabilidade. E aí está outro benefício: executi-vos podem redescobrir que são seres humanos e não centros de custo ou comedores de bônus. VB: Até onde a opinião pública pode confi ar no marketing e na publicidade? E como ela pode se defender do mau marketing e fortale-cer o bom marketing?RR: Até o ponto em que a informação pesso-al permita fazer uma avaliação consistente. Empresas com boa reputação são mais confi -áveis porque não podem correr o risco de per-dê-la, mas mesmo estas devem ser perma-nentemente monitoradas. O melhor remédio para se defender do mau marketing é a infor-mação – e lendo publicações especializadas, de preferência, porque se aprofundam mais nos temas que abordam. E divulgar os sem-vergonha. A melhor receita para fortalecer o bom marketing é prestigiar o bom produto e divulgar o marketing do bem. DM: O que falta para que o marketing e a pro-paganda deixem de ser associados ao consu-mismo insustentável, e passem a ser vistos como ferramentas que podem ajudar a socie-dade a consumir de maneira responsável?RR: Consumo consciente é uma das tendên-cias inevitáveis dos próximos anos – ou déca-das – e já que falei em tendências, anote que outra é o crescimento da cidadania política, da valorização do voto consciente, de ferra-mentas de controle da gestão pública porque a ética está sendo corroída e estamos próxi-mos da ruptura. Mas respondendo sua per-gunta: pesquisas mostram que mesmo aque-les brasileiros que querem adotar comporta-mento de consumo mais responsável não

sabem como fazê-lo, não tem dinheiro ou não estão corretamente informados. VB: Uma empresa precisa ser 100% limpa antes de anunciar suas conquistas socioambientais?RR: Não existe e nunca vai existir uma “empre-sa 110% limpa”, porque ela sempre vai ter uma pegada ecológica, por menor que seja. Pesso-almente entendo que as empresas devem di-vulgar suas conquistas socioambientais para incentivar outras organizações, mas em um contexto de honestidade, ética e referenciada por benchmarking “do bem”. A comunicação correta de ações sustentáveis é aquela que se manifesta essencialmente por ações concretas e não por peças publicitárias. Exemplo de má comunicação: investir R$ 50.000,00 em aju-dar meninas adolescentes a evitar a gravidez precoce e fazer uma campanha publicitária de R$ 100.000,00 para comunicar isto – deveria ser o contrário. Exemplo de boa comunicação: di-vulgar a causa que está apoiando e prover edu-cação e participação para o leitor/consumidor.VB: Existe algum boicote deliberado nas agên-cias de propaganda contra as mídias ambien-tais? Ou a razão de suas difi culdades fi nancei-ras para se manterem está em outro lugar?RR: O boicote das agências de propaganda não é intencional – é operacional, institucional e fi nanceiro. Operacional porque dá muito tra-balho operar com midas ambientais; institu-cional porque nem todas são confi áveis e pou-quíssimas fornecem informacões que permi-tam as agências inclui-las em seus planos de midia com argumentos aceiteaveis pelo clien-te; fi nanceiro porque a remuneração das agên-cias é diretamente proporcional ao valor in-vestido pelo cliente – assim, torrar 10 milhões da verba da Petrobras em uma rede de televi-são é mais confi ável, dá muito menos trabalho e muito mais lucro do que investir os mesmos 10 milhões em centenas de pequenas mídias (até porque vai correr o risco de boa parte des-tes recursos simplesmente não se realizarem). Falta informação e generosidade às agências de propaganda. E compreensão do mercado por parte das midias ambientais.DM: Sua empresa é o resultado de muito talento e rios de suor. Porque vale a pena continuar?RR: Porque escolhi ser feliz e sustentar minha família fazendo negócios que sejam éticos, ho-nestos e bons para todos os envolvidos. E tam-bém porque o mundo precisa do suor de todos – e só posso falar em meu nome, oferecer o meu trabalho. E continuo porque me dá prazer o que faço e conviver e aprender com quem está na mesma trilha de suor, como vocês dois.

entrevista: Rogerio Ruschel

Vilmar Berna e Rogerio Ruschel apadrinhando a Rede de Coalização do Sul da Bahia – Justo e Sustentável, movimento pró-sustentabilidade em Ilhéus (setembro de 2009)

Dal Marcondes, Marina Lavoratto e Rogerio Ruschel no lançamento do livro “BenchMais”

Leia a entrevista na íntegra no www.portaldomeioambiente.org.br

Escolhi ser feliz e sustentar minha família fazendo negócios que sejam éticos, honestos e bons para todos os envolvidos

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Um grupo de 38 empresas, pertencentes a áreas da indústria que emitem grande quan-tidade de gases-estufa, contribuíram R$ 60,8 milhões para campanhas políticas nas elei-ções de 2006 no Brasil.

Os doadores pertencem a 12 associações na-cionais representando indústrias de grande intensidade de carbono (ou seja, que produzem grande quantidade de gases do aquecimen-to global), como agronegócio, energia, carne, papel e celulose, cimento, mineração, óleos vegetais e siderurgia.

Em parte porque não existem regulamenta-ções para o emprego de lobby no Brasil, não se pode estimar se essas contribuições de campanha estão ligadas à legislação sobre a mudança climática. Mas elas são capazes de abrir portas. O financiamento vindo das indústrias intensivas em carbono ajudou a eleger metade da comissão da Câmara dos Deputados que está considerando mudan-ças no Código Florestal.

Nesse caso, após intensa disputa, os depu-tados ruralistas conseguiram eleger Moacir Micheletto (PMDB-PR) como presidente da comissão. Sua proposta é deixar a legislação ambiental a cargo de cada Estado. Entre os financiadores de Micheletto estão a Bunge Alimentos (com contribuição de R$ 70 mil) e a produtora de carne Marfrig (R$ 30 mil).

A comissão conjunta de mudança climática, criada em março deste ano para discutir leis sobre o tema, tem menos membros financia-dos por indústrias de grande intensidade de carbono. Apenas 11 de seus 44 membros rece-beram doações desses setores da economia. Ao todo, 25 dos 27 partidos políticos do país foram agraciados com essas contribuições em 2006. A maior concentração foi para o PSDB e o Democratas (então PFL), que respon-dem por 38% das doações totais. Junto com o PMDB, esses dois partidos de oposição per-fazem 54% do montante.

Dos 719 candidatos que receberam dinhei-ro dessas empresas, mais da metade (51,3%) é composta por políticos dos Estados, como go-vernadores e deputados estaduais. Parlamen-tares federais correspondem a 48% da soma. Mas o presidente Lula também está entre os que receberam doações.

Mais de um terço do dinheiro (37%) foi con-tribuído pela indústria do aço, encabeçada pela Gerdau, com quase R$ 11 milhões. Mais de um quarto (26%) veio de membros da in-dústria de papel e celulose, em especial da Aracruz. Já a Bunge, que está fazendo lobby intenso em nível internacional pela aprova-ção de leis mais tímidas sobre mudança cli-mática, seria a sexta maior doadora se tivesse repartido suas contribuições entre suas duas divisões, a de alimentos e a de fertilizantes.

Ambiente favorávelEm entrevistas, funcionários do governo e

especialistas dizem ter dificuldade de citar empresas que tenham um lobby ativo em relação à mudança climática no Brasil. Um ex-assessor do governo para assuntos ener-géticos, que pediu para não ser identificado, afirma que o lobby nessa área no Brasil é pouco visível porque tudo já favorece as in-dústrias poluidoras no país.

“Em Copenhague, vamos ver a indústria americana do carvão, por exemplo, distri-buindo abertamente folhetos em favor de seus interesses. As indústrias brasileiras não farão o mesmo porque não precisam”, decla-rou o especialista.

Apesar disso, associações da indústria estão se posicionando sobre as negociações interna-cionais do clima, algumas pressionando con-tra metas de redução de emissões que afetem setores específicos da economia brasileira.

Uma das principais é a Confederação Na-cional da Indústria (CNI). Para a entidade, le-var metas a Copenhague atrapalharia o cres-cimento econômico e seria só uma forma de “mostrar ativismo”. Os industriais reclamam que as necessidades do setor não estão sen-do ouvidas o suficiente no debate sobre as mudanças climáticas.

“Não houve discussão, principalmente com o setor privado, para o Brasil se envolver com uma meta mais geral”, diz o diretor executi-vo da CNI, José Augusto Fernandes. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) diz temer que a adoção de metas sem contrapartida dos países ricos trave a compe-titividade do Brasil. Fonte: Folha de S. Paulo, 23-11-2009

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Há mais de dez anos tem crescido enormemente o uso de dispositivos eletrônicos portáteis, como computadores, telefones celulares e tocado-res de música (primeiramente CD e, depois, arquivos digitais). Um dos resultados, que a princípio não parecia preocupante, é o acúmulo de lixo.

Eletrônicos hoje representam o tipo de resíduo sólido que mais cresce na maioria dos países, mesmo nos em desenvolvimento. Um dos grandes problemas de tal lixo está nas baterias, que contêm substâncias tóxicas e com grande potencial de agredir o ambiente.

Em artigo publicado na edição de 30/10, da revista Science, pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, comentam o problema e a ausência de políticas adequadas de reciclagem.

“O pequeno tamanho, a curta vida útil e os altos custos de reciclagem de tais produtos implicam que eles sejam comumente descartados sem muita preocupação com os impactos adversos disso para o ambiente e para a saúde pública”, apontam os autores.

em exCessOLixo eletrônico

Em artigo na Science, pesquisadores destacam falta de políticas eficazes para lidar com os equipamentos eletrônicos descartados, que têm componentes danosos à saúde humana e ao ambiente

Eles destacam que tais impactos ocorrem não apenas na hora de descartar os equipamentos eletrônicos, mas durante todo o ciclo de vida dos produtos, desde a fabricação ou mesmo antes, com a mineração dos metais pesados usados nas baterias. “Isso cria riscos de toxi-cidade consideráveis em todo o mundo. Por exemplo, a concentração média de chumbo no sangue de crianças que vivem em Guiyu, na China, destino conhecido de lixo eletrônico, é de 15,2 microgramas por decilitro”, contam.

Segundo eles, não há nível seguro estabe-lecido para exposição ao chumbo, mas reco-menda-se ação imediata para níveis acima de 15,2 microgramas por decilitro de sangue.

Os pesquisadores estimam que cada resi-dência nos Estados Unidos guarde, em média, pelo menos quatro itens de lixo eletrônico pe-quenos (com 4,5 quilos ou menos) e entre dois e três itens grandes (com mais de 4,5 quilos). Isso representaria 747 milhões de itens, com peso superior a 1,36 milhão de toneladas.

O artigo aponta que, apesar do tamanho do problema, 67% da população no país não co-nhece as restrições e políticas voltadas para o descarte de lixo eletrônico. Além disso, se-gundo os autores, os Estados Unidos não con-tam com políticas públicas e fiscalização ade-quadas para a reciclagem e eliminação de subs-tâncias danosas dos produtos eletrônicos.

Os pesquisadores pedem que os governos dos Estados Unidos e de outros países colo-quem em prática medidas urgentes para li-dar com os equipamentos eletrônicos descar-tados. Também destacam a necessidade de se buscar alternativas para os componentes que causem menos impactos à saúde humana e ao ambiente. Fonte: O artigo The electronics revolution: from e-wonderland to e-wasteland, de Oladele Ogunseitan e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

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As dinâmicas populacionais, e em especial o papel das mulheres, são elementos funda-mentais para o estabelecimento de um acor-do efetivo e de longo prazo para enfrentar as mudanças climáticas. Apesar disso, têm sido amplamente ignorados no debate sobre como resolver os problemas da elevação dos mares, secas, derretimento de geleiras e condições meteorológicas extremas, conclui o Relatório sobre a Situação da População Mundial 2009, divulgado pelo UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas.

Intitulado “Enfrentando um mundo em tran-sição: mulheres, população e clima”, o Relató-rio propõe um novo foco para o debate sobre a mudança do clima, das discussões técnicas sobre tecnologias “verdes” e corte de emissões de carbono para as realidades de como os se-res humanos – desde indivíduos até a popula-ção mundial como um todo –, tanto infl uen-ciam quanto são afetados pelo aquecimento da atmosfera da Terra.

O Relatório trata das complexas relações en-tre população e mudanças climáticas, indicando que o crescimento populacional é um dos fato-res que contribuem para o volume de emissões totais. Segundo o documento, essa infl uência é maior quando o consumo médio per capita de energia e de materiais é mais elevado – ou seja, nos países desenvolvidos. Com algumas exce-ções, as emissões per capita continuam signifi -cativamente mais altas nos países desenvolvi-dos do que nos países em desenvolvimento.

população

ameniza mudanças climáticasEntre outras conseqüências, o estudo aponta

para o risco do aumento das migrações por fa-tores climáticos e pede aos governos que pla-nejem com antecedência para garantir a redu-ção de riscos, preparação e gestão de desastres, bem como a realocação de pessoas.

MulheresO Relatório demonstra que, em escala mun-

dial, os pobres estão em situação mais vul-nerável aos efeitos das alterações climáticas: como são mais propensos a depender da agri-cultura para viver, por exemplo, estão mais sujeitos a perder seus meios de subsistência quando ocorrem secas ou chuvas em excesso. E por viverem em áreas marginais, estão mais vulneráveis a desabamentos e inundações.

As mulheres, que são a maioria dos 1,5 bilhão de pessoas que vivem com 1 dólar ou menos por dia, sofrem também as piores consequên-cias das mudanças climáticas. Elas têm meno-res oportunidades de emprego e renda, menor mobilidade e estão mais expostas aos desas-tres naturais, além de terem maior probabili-dade de perder a vida em situações relaciona-dos às condições meteorológicas extremas.

O Relatório mostra que os investimentos que permitem às mulheres e meninas empoderar-se – especialmente educação e saúde – fortale-cem o desenvolvimento econômico e reduzem a pobreza, com impactos positivos sobre o cli-ma. As meninas com mais acesso à educação, por exemplo, tendem a ter famílias menores e mais saudáveis quando adultas.

O Relatório argumenta que a luta da comu-nidade internacional contra a mudança climá-tica terá maiores chances de ser bem sucedi-da se as políticas públicas, programas e trata-dos levarem em consideração as necessidades, direitos e potencialidades das mulheres.

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As mudanças climáticas são um

problema humano provocado pela

atividade humana. Embora sejamos

afetados por elas e tenhamos que

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esse processo(Harold Robinson, representante do UNFPA no Brasil)

Para obter o relatório: www.unfpa.org.br/novo/index.php?option=com_content&view=article&id=179&Itemid=4

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dez 2009revista do meio ambiente

ameniza mudanças climáticas

Dinâmica populacional é peça chave na solução para o clima, diz Relatório do UNFPA

Em novembro, a brasileira Larissa Ramos, de 20 anos, desbancou 80 con-correntes e foi coroada Miss Terra 2009. O concurso internacional realizado nas Filipinas tem como lema ‘Belezas por uma causa’ e pretende conscienti-zar sobre a poluição do meio ambiente e os efeitos da mudança climática.

Além de ter se tornado porta-voz da Fundação Miss Terra e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Larissa receberá US$ 20 mil. Em entrevista ao G1, por e-mail, a estudante de biologia nasci-da em Manaus diz que tem muitas responsabilidades e compromissos e que, em relação a namorados, seu “coração está tranquilo”.G1 - Como começou sua carreira? Larissa Ramos - Aos 16 anos entrei em curso de modelos para corrigir minha postura, pois em minha região não são comuns mulheres altas. A partir daí fiz vários trabalhos como modelo.G1 - O que pretende fazer agora?Larissa: Como Miss Terra 2009, tenho muitas responsabilidades e com-promissos. Ainda não sei qual será minha agenda a partir de hoje, mas quero aproveitar ao máximo esse momento especial em minha vida.G1 - Como foi a competição? Você achava que ia vencer?Larissa: Eram 80 mulheres lindas, com belezas diferentes, foi muito di-fícil. Me preparei por um ano para esse momento. Cheguei às Filipinas segura e confiante, mas sou uma pessoa muito pé no chão e realista, prefiro ter surpresas a decepções.G1 - Você poderia contar um pouco dos bastidores do concurso? As meni-nas estavam muito nervosas? Como foi o período nas Filipinas?Larissa: O Miss Terra é um concurso com muitos patrocinadores e por esse motivo tínhamos sempre algo a fazer, foi um mês intenso. As meni-nas estavam sempre nervosas, fomos avaliadas a cada minuto, mas isso se tornava ainda maior quando tínhamos desfiles e pré-seleções.G1 - O que mais chamou sua atenção no país?Larissa: A atenção e a receptividade do povo filipino, são todos simpá-ticos e divertidos.G1 - Você tem namorado?Larissa: Meu coração no momento está tranquilo.G1 - Na sua opinião, o que o Brasil poderia fazer para diminuir a poluição? Larissa: Existem vários projetos no Brasil para reduzir a poluição, mas te-mos que colocá-los em prática. A conscientização da população e o incen-tivo às pesquisas para novos projetos também devem ser feitos. Como es-tudante de biologia, posso falar que no Brasil existem milhares de jovens que estão dispostos a fazer a diferença, mas precisamos de incentivo para que muitos projetos bons possam ser colocados em prática.G1 - Alguém que se preocupe com o meio ambiente chamaria mais sua atenção do que um homem que não liga para isso?Larissa: Com certeza. O que mais chama minha atenção é a inteligência, e um homem inteligente se preocupa com o meio ambiente.

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A brasileira Larissa Ramos é coroada a nova Miss Terra 2009

“As mulheres podem ter um papel significa-tivo na construção de sociedades mais resilien-tes, capazes de enfrentar os desafios que virão, se tiverem igualdade de oportunidades de par-ticipação. Esse é um direito básico que precisa ser reconhecido, respeitado e promovido”, conclui o Representante do UNFPA, Harold Robinson.

O lançamento oficial do Relatório aconteceu em 18/11 em mais de 120 capitais pelo mundo intei-ro. No Brasil, a solenidade aconteceu em Brasília, na Universidade de Brasília (UnB). O Represen-tante do UNFPA no Brasil, Sr. Harold Robinson, e a Representante Auxiliar, Taís de Freitas Santos, apresentaram a temática e os novos dados.

Após o lançamento, especialistas debateram o documento na mesa-redonda “Mulher, Popu-lação e Clima”. Estiveram presentes o represen-tante do Instituto Nacional de Pesquisas espa-ciais (INPE), Celso Von Randow; o representan-te dos Núcleos de Estudos de População (NEPO) e Meio Ambiente (NEPAM) da Unicamp, Daniel Hogan; o diretor do Instituto de Gestão das Águas e do Clima da Bahia (INGÁ), Júlio Rocha; a direto-ra do Centro de Estudos Avançados Multidisci-plinares da UnB, Ana Maria Nogales; e a repre-sentante da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), Hildete Pereira de Melo.

Sobre o UNFPAO Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) é o organismo da ONU responsável por questões populacionais. Trata-se de uma agência de cooperação internacional para o desenvolvimento que promove o direito de cada mulher, homem, jovem e criança a viver uma vida saudável, com igualdade de oportunidades para todos; apóia os países na utilização de dados sóciodemográficos para a formulação de políticas e programas de redução da pobreza; contribui para assegurar que todas as gestações sejam desejadas, todos os partos sejam seguros, todos os jovens fiquem livres do HIV/Aids e todas as meninas e mulheres sejam tratadas com dignidade e respeito. Veja mais em www.unfpa.org.br.

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Em entrevista concedida à Agência Notisa, o professor Zigmunt Bauman trata da questão das favelas do Rio de Janeiro

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dez 2009revista do meio ambiente

Nossa intenção foi interrogar se, para o so-ciólogo polonês, haveria ligações entre os conceitos que descreve no seu livro Moder-nidade e Holocausto e o contexto da cidade. Basicamente, Bauman mostra no livro que o Holocausto, tal como outros genocídios leva-dos a cabo no mundo contemporâneo, não é uma deformidade da História, mas sim um mecanismo inerente à Modernidade, espe-cialmente organizado de forma fabril para dar conta de “limpezas” consideradas necessárias e organizadas pelos Estados.

Agência Notisa: A situação das favelas brasi-leiras pode ser comparada com o Holocausto, de alguma maneira?Zygmunt Bauman: Não, colocar o fenômeno das favelas na mesma categoria do Holocausto faria sua compreensão, assim como sua profi -laxia, mais ao invés de menos difícil. Holocaus-to (de judeus, ciganos, armênios na Turquia, tutsis em Ruanda) foi um meio desenvolvido e aplicado para aniquilar populações inteiras, homens e mulheres, idosos e jovens – grupos considerados ‘vazios’ de usos positivos, quando em interferência com o modelo de ordem so-cial, que se presumia dever ser entranhado e reforçado. As favelas, multiplicadas e vivendo um ‘inchaço’ desde os anos 70 nas grandes ci-dades do Brasil – passaram de cerca de 60 fave-las no Rio de Janeiro em 1940 para um número que se alega ser de 600 hoje – pelo infl uxo mas-sivo de populações rurais sem terra, expropria-das ou desempregadas (predominantemente do nordeste do país), encontraram sua posição indispensável na totalidade do sistema social vigente, praticam uma série de funções sociais para as quais são, até agora, insubstituíveis, e até onde eu sei, não existem projetos que vi-sem à exterminação de seus habitantes in to-tum, tampouco há um grupo poderoso o sufi -ciente para compor e sustentar tal desígnio.

Para começar, as favelas servem como ‘lixei-ra’ para o grande número de indivíduos ‘re-dundantes’, comprimidos de outras partes do país, onde seus tradicionais modos de vida foram destruídos, que procuraram chances de reconstruir suas vidas nas cidades gran-des, mas para os quais os poderes do Estado não possuem provisões sociais para oferecer, ou planos para provê-los no futuro próximo. A notória ‘informalidade’ da vida dentro des-ses meios, pairando constantemente à beira da ilegalidade, atua “como uma alternativa” para as agências do Estado, que não são há-beis o bastante para assumir a responsabili-dade pela sobrevivência dos empobrecidos,

exilados e redundantes.Mesmo sem declarar isto abertamente, agências estatais devem estar confortáveis com a capacidade de as populações das favelas de “cuidarem dos assuntos com as próprias mãos” – por exem-plo, montar seus barracos com materiais instáveis, encontrados ao acaso ou roubados, na falta de projetos de habitação planejados e construídos por autoridades estaduais ou municipais para acomodá-los. Na verdade, as consequências potencialmente desastrosas da escassez de serviços médicos públicos são ao menos, em pequena parte, mitigadas pela pre-sença de redes informais/ ilegais de patrões e clientes.

O vácuo político-social criado no interior desses meios pela saída em re-tirada de instituições estaduais ou municipais, sua relutância ou inabilida-de de adentrar e (para todos os intentos e propósitos práticos) verdadeira suspensão aí das leis do país, assim como a incapacidade de o Estado de fazê-las obrigatórias, foi prontamente preenchido por poderosos impérios do tráfi co de drogas – para os quais as favelas, na condição de que a presen-te situação se perpetue, se tornaram rapidamente indispensáveis: de fato, principais enclaves no país – uma vasta rede de postos avançados. Esses impérios, fazendo com que o Rio se tornasse um elo crucial na rota da circu-lação da maconha e da cocaína, têm agora investido na meta de preservar as favelas e seus mecanismos de auto-reprodução. Com tais objetivos em mente, o Comando Vermelho e seus competidores emergentes/alternati-vos, como, por exemplo, o Terceiro Comando, assumiram, mesmo que de forma deformada, a ‘lei e a ordem’ e as funções de prover serviços sociais, que as agências estatais abandonaram ou falharam em assumir.

É claro que, muitas das funções decisivas para levantar as populações das favelas acima do círculo vicioso de pobreza, exclusão e ‘invalidez’ social, como, por exemplo, a educação – 25% dos moradores jovens das favelas não possuem qualquer instrução, e somente 1% alcançou o nível superior – caíram como baixas colaterais dessa mudança de poder.

Na falta de todo e qualquer constrangimento legal – muito menos um controle estatal efetivo – sobre a atividade dos conglomerados do tráfi co de drogas, as favelas se tornaram o palco favorito onde é encenado o ajuste de contas entre grupos concorrentes. Como resultado, a taxa de homicídios (composta de vítimas de confl itos intragangues, clientes não confi áveis e vítimas acidentais) é consideravelmente maior do que nos distritos ‘melho-res’, de classe média do Rio, o que constitui a principal circunstância respon-sável por tornar a favela, nas mentes da classe média, um sinônimo de vio-lência desenfreada, e que reduz ao mínimo tolerável a comunicação entre regiões pobres e afl uentes da cidade, não obstante sua proximidade física.

Por último, mas não menos importante, as relações entre policiais e ‘com-panhias que trafi cam drogas’ são, na feliz expressão de Bernardo Sorj (ver seu Confronting Inequality in the Information Society, UNESCO: Brazil 2003), “nem guerra nem paz”. Por um lado, como Sorj aponta, “a polícia represen-ta o principal inimigo do tráfi co de drogas, assassinando centenas de seus membros e empregados a cada ano”. Por outro, todavia, “a polícia partici-pa dos vastos lucros do comércio das drogas, seja pela venda de armas, li-bertando trafi cantes e ‘chefes’ mediante pagamento, ou aceitando subor-nos para permitir a passagem de cargas”. Esse amor e ódio entre os dois principais ‘agentes do terror’ acrescenta ao estigma a imagem de favelas como teatro de violência genocida; ao mesmo tempo, no entanto, também adiciona a ‘funcionalidade’, verdadeira indispensabilidade, para as favelas na manutenção do atual sistema de poder brasileiro. Permitam-me acres-centar, a polícia brasileira possui um longo histórico de tratamento brutal contra os pobres do país, alcançando tempos distantes, desde bem antes da relativamente nova proliferação das favelas; estas não deram origem à brutalidade – ela foi somente reforçada sobre diferentes fontes e ganhos corruptos. A brutalidade policial é concebida para ser espetacular, não para

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apenas a ressalva de que ao invés de defender a cidade e seus habitantes contra os inimigos de fora, são construídas para manter os residen-tes da cidade do lado de fora. Entre as inven-ções citadas por Flusty, está o “espaço escorre-gadio” – “um área que não pode ser alcançada, porque seu acesso é contorcido, prolongado ou porque faltam caminhos para a abordagem”, o “espaço espinhoso” – “um espaço que não pode ser confortavelmente ocupado, defendi-do por detalhes como chuveiros automáticos para extinção de incêndios montados em pare-des, para expulsar vadios, ou bordas inclinadas para impedir que pessoas se sentem”; e “espa-ços agitados” – “áreas que não podem ser utili-zadas sem vigilância devido ao controle ativo de patrulhas móveis e/ou tecnologias remotas ligadas a estações de segurança”.

Os ‘aprimoramentos’ descritos por Steven Flusty são manifestações high-tech da cons-tante mixofobia (receio de estar na presença física de descoonhecidos), uma das reações mais comuns à incompreensível, arrepiante e enlouquecedora variação de tipos e estilos de vida humanos que esbarram em seus ombros nas ruas das cidades contemporâneas e em seus ‘ordinários’ (leia-se: não protegidos por ‘espaços interditivos’) bairros.

A mixofobia se manifesta em uma pulsão em direção a ilhas de similaridade e mesmice en-tre o mar de variedade e diferenças. As razões para a mixofobia são banais – fáceis de com-preender, se não necessariamente fáceis de es-quecer. Como Richard Sennett sugere, “o sen-timento de ‘nós’, que expressa o desejo de ser similar, é uma maneira que os homens encon-tram de evitar a necessidade de olhar mais pro-fundamente para dentro de cada um”. Esse sen-timento promete algum conforto espiritual: a perspectiva de tornar a convivência mais fácil, fazendo redundantes os esforços para enten-der, negociar e se comprometer.

Escolher a opção de fuga solicitada pela mi-xofobia tem uma consequência insidiosa e de-letéria própria: quanto mais auto-perpetuan-te e auto-afi rmada for a estratégia, mais é ine-fetiva. Os estranhos parecem ainda mais as-sustadores conforme se tornam ‘alienígenas’, pouco familiares e incompreensíveis e quan-do a comunicação mútua que poderia fi nal-mente assimilar a ‘estranheza’ para a sua pró-pria vida-mundo desaparece ou nunca surge, em primeiro lugar. O ímpeto para um ambien-te homogêneo e territorialmente isolado pode ser engatilhado pela mixofobia; mas, praticar a separação territorial é o cinto de segurança e a fonte de alimento dela.

ser particularmente bem-sucedida em comba-ter crimes e corrupção e sim para convencer a população de seu poder coercitivo potencial e atemorizá-los à obediência silenciosa.AN: A população das áreas das favelas está sendo tratada como ‘o outro’, de acordo com o seu conceito sobre aquele que é estranho, in-desejável, estrangeiro etc.?ZB: Sim, os residentes das favelas estão confi -gurados na variação brasileira de um problema muito mais universal da vida urbana: a criação da imagem do ‘outro’ na forma do estranho, ou desconhecido. Não importa o que aconteça com as cidades em sua história, uma caracte-rística permanece constante: as cidades são es-paços onde estranhos se movem ou permane-cem em lugares próximos uns dos outros. Esta presença de estranhos em todos os espaços, constantemente dentro do alcance e da linha de visão, insere uma grande dose de ‘incerteza perpétua’ para todos objetivos dos habitantes; essa presença é uma fonte de ansiedade prolí-fi ca e inesgotável, e de uma agressividade que normalmente permanece dormente, mas que de tempos em tempos entra em erupção.

O ‘outro’ também fornece uma saída conve-niente –e prática – para o medo inato do des-conhecido, do incerto e do imprevisível. Afas-tando os ‘estranhos’ para longe de nossas ca-sas e ruas, o apavorante fantasma da incerteza é, mesmo que por apenas um momento, exor-cizado: o horrível monstro da insegurança é queimado em efígie. Mas, apesar desses exor-cismos, nossa moderna vida líquida permane-ce teimosamente incerta, errante e capricho-sa; o alívio tem vida curta, e esperanças liga-das aos mais fi rmes alicerces são derrubadas assim que surgem.

O ‘estranho’ é, por defi nição, um agente movi-do por intenções que podem ser, na melhor das hipóteses, adivinhadas – mas das quais nun-ca se pode ter certeza. Mesmo quando não se comportam agressivamente ou ressentidos de forma explícita, estranhos provocam descon-forto: sua mera presença torna torturante a ta-refa que já é desanimadora, de prever efeitos de uma ação e suas chances de sucesso. E mesmo o dividir espaço com estranhos, viver na proxi-midade de estranhos (que via de regra não são convidados ou bem-vindos), é a condição que os habitantes das cidades sentem como difícil, e mesmo impossível de se esquivar.

As invenções arquitetônicas/urbanísticas lis-tadas e nomeadas pelo jovem crítico de arqui-tetura e urbanística americano, Steven Flusty, são os equivalentes aprimorados das torres, fossos e ameias das paredes das cidades; com

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e vigor da vida urbana. Se trancar em uma comunidade murada para afastar os receios, é como retirar a água da piscina para ter certeza de que as crianças vão aprender a nadar em total segurança. AN: A parcela de nossa população que “não se importa” com o que ocor-re dentro das favelas pode estar contribuindo, mesmo que inconsciente-mente, para uma forma de democídio (assassinato perpetrado pelo Esta-do contra pessoas em geral)?ZB: A capitulação tipicamente brasileira da separação espiritual entre es-tranhos, o preconceito mútuo, a desconfi ança e a inimizade é o “medo do ‘morro” e o “desdém por aqueles aqui de baixo” – os “residentes do asfalto”.

Oscar Newman, um urbanista e arquiteto americano, sugeriu, em 1972, em um artigo com um título auto-explicativo – Espaço defensável, pessoas e design na cidade violenta – que o remédio preventivo contra o medo da violência urbana é a demarcação clara de limites – uma ação que desenco-rajaria ações invasivas de estranhos. A cidade é violenta e repleta de perigos porque – assim dizem Newman e seus apóstolos – está cheia de estranhos. Quer evitar infortúnios? – diz Newman: mantenha os estranhos a uma dis-tância segura. Torne seu espaço compacto, brilhantemente iluminado, fácil de ser observado, possível de ser visto “através de” e seus medos irão desa-parecer, você saboreará, fi nalmente, o maravilhoso gosto da segurança...

Em uma das mais afi adas oposições imagináveis à opinião de Newman estão as recomendações postas no papel por Jane Jacobs: é precisamente na multidão das ruas da cidade e na profusão de estranhos ao redor que encontramos socorro e nos libertamos do medo que exala a cidade, aquele “grande desconhecido”. A palavra que defi ne esse elo, diz ela, é confi ança. A confi ança na reconfortante segurança das ruas da cidade é destilada da multiplicidade de encontros e contatos rápidos nas calçadas... O sedimento e traço duradouro de contatos públicos casuais é um tecido de malhas de união-em-público compostas por respeito e confi ança civis. A falta de con-fi ança é um desastre para uma rua de cidade – conclui Jacobs.

Há a falta de comunicação e de laços que compartilham vidas na ausência de confiança; e a falta de confiança leva à indiferença moral – despreocupada com o que acontece com ‘eles’, os que estão ‘lá fora’, não importa o quão atroz e repelente possa soar, se aplicado a ‘nós’ ou a ‘pessoas como nós’. A premonição de Jacobs pode assim se comprovar certa, se nada for feito para impedi-la.

Mas algo está sendo feito, mesmo se o que foi feito até agora ainda não seja o bastante para cortar o nó górdio fi rmemente amarrado durante dé-cadas, se não séculos. Veja por exemplo o Viva Rio, a maravilhosa iniciativa de resistência à violência, com a introdução de escolas em distritos ante-riormente privados de instituições educacionais, incentivando trocas hu-manas entre “favela e asfalto”, empréstimos de baixos interesses, para en-corajar pequenos negócios dentro das favelas etc., objetivos levados brava-mente e com sucessos que não podem ser considerados insignifi cantes.

Para citar Sorj, o Viva Favela não tem intenção explícita “de mudar a manei-ra como a mídia retrata as favelas, para criar novas histórias que não se con-centram simplesmente no assunto da violência, mas quer mostrar a plena realidade da vida nas favelas – sua riqueza humana e cultural e os esforços da maioria de seus habitantes para levarem uma vida com dignidade.

Pequenos passos, talvez, que não sopram forte o bastante para quebrar a armadura do ressentimento mútuo e a indiferença moral lançada e reforça-da por anos entre os moradores “do morro” e “do asfalto” do Rio de Janeiro – mas mesmo assim um início. A escolha é, afi nal, entre erigir paredes de pedra e aço, ou desmantelar as cercas espirituais. E por favor, tomemos nota de que cada uma das duas escolhas opostas, uma vez tomadas, tendem a desenvol-ver capacidades autopropulsoras e “auto-intensifi cantes”.

Uma vasta maioria de pesquisadores concor-da que o principal motivo que leva pessoas a se trancarem dentro das paredes e circuitos fe-chados de televisão de uma ‘comunidade mu-rada’ é –consciente ou inconscientemente, de forma explícita ou tácita – seu desejo de man-ter a ‘fera longe de casa’, o que pode ser tradu-zido como manter os estranhos à distância.

O revés, todavia, é que há mais de uma razão para se sentir inseguro. Sejam críveis ou fanta-siosos, os rumores sobre os números crescen-tes de crimes e de assaltantes ou predadores sexuais preparando emboscadas e esperando por uma ocasião para atacar se traduzem em apenas uma dessas razões. Afi nal de contas, nos sentimos inseguros porque nossos empregos, e por consequencia por nossos salários, posições sociais e dignidade, estão sob ameaça. Nós não estamos seguros contra a ameaça de sermos tornados ‘redundantes’, excluídos e despejados, perdendo a posição que amamos e acredita-mos ter herdado, e que seria nossa para sem-pre. Tampouco as parcerias que gozamos estão infalíveis e seguras: podemos sentir tremores subterrâneos e esperar terremotos. Em geral, seria evidentemente tolo acreditar que todas essas ansiedades bem ou mal-fundadas pode-riam ser armazenadas e postas em animação suspensa uma vez que nos cercássemos com paredes, guardas armados e câmeras de tv.

Mas o que dizer sobre aquela (aparentemen-te razoável) primeira razão para optar por uma ‘comunidade murada’ – distante dos medos de abordagens físicas, violência, assaltos, roubos de carro e mendigos importunos? Não vamos ao menos dar atenção a esse tipo de medo? In-felizmente, mesmo nesse front, os ganhos di-fi cilmente justifi cam as perdas. Como é indi-cado pela maioria dos observadores atentos da vida urbana contemporânea, as probabili-dades de ser assaltado ou roubado podem cair uma vez que se está atrás dos muros, – a per-sistência do medo, no entanto, não.

Atrás de muros, a ansiedade cresce, ao invés de se dissipar – e o mesmo se passa com a de-pendência do estado mental dos residentes nos ‘novos e avançados’ dispositivos de alta tecnologia, comercializados na promessa de manter riscos, medos e perigos fora de jogo. Quanto mais um indivíduo se cerca com es-ses dispositivos, maior é o medo que algum deles ‘pare de funcionar’. E quanto mais esse alguém se preocupa com a ameaça esprei-tando em cada estranho, mais a “tolerância e apreciação pelo inesperado retrocede”, e me-nos esse alguém é capaz de confrontar, ma-nusear, gozar e apreciar a vivência, variedade Leia a entrevista na íntegra no www.portaldomeioambiente.org.br

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Antonio Diniz, José Abel da Silva e Elizio Saturnino da Silva moram no Alto Sertão da Paraíba, região com pouca água e muitas necessidades. Em suas pequenas propriedades familiares, no entanto, a situação é bem diferen-te. Por onde olham, há fartura e organização. Os três passearam felizes da vida na Biofach 2009, em São Paulo, observando o crescente mercado da agricultura orgânica e da agroecologia.

“Isso aqui é uma maravilha”, diz Elizio da Silva, da Serra do Mocó. Os três integram o sistema Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), uma tecnologia social de-senvolvida pelo Sebrae e parceiros, que reúne técnicas simples de produção agroecológica e de promoção do desenvolvimento sustentável. Funciona com um galinheiro no centro, uma horta ao redor, um quintal agroecológico e um sistema de irrigação por gotejamento.

“Antigamente eu trabalhava só na pesca e vi-via no meio do mundo. Hoje eu vivo mais per-to da minha família e posso cuidar da minha propriedade. Agora também comemos me-lhor e o que sobra complementa a renda com os peixes que eu pego”, diz José Abel da Silva, de Sumé. Orgulhoso, ele afirma ter tirado da terra recentemente um pé de alface com mais de 1,1 quilo de peso.

Elizio também é só elogios ao projeto. Segun-do ele, não há desperdício, já que as verduras

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Modelo de Sistema de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS)

Cerca de R$ 20 milhões já foram investidos pelo Sebrae no projeto que tem 7.000 unidades de produção no País

não aproveitadas vão para as galinhas e o es-terco delas vai para a horta. “Falta agora um poço artesiano. Tenho apenas um pequeno poço, mas a água é insuficiente para tudo”.

Já Antonio diz que a vida melhorou bastan-te. “Vendi 40 quilos de quiabo no São João e na Semana Santa. Tiro uma faixa de R$ 40 a R$ 50 por semana. Crio porcos e galinhas”, afirma o agricultor.

O Sebrae já investiu no projeto cerca de R$ 20 milhões em 7 mil unidades de produção. Como o da Paraíba, onde o Sebrae estadual está in-vestindo cerca de R$ 1,8 milhão, há casos exito-sos em todo o País. No interior do Amazonas, por exemplo, sargentos do exército estão en-sinando moradores a plantar alface, coentro, cebolinha, pimentão e couve-flor e a formar a produção agroecológica integrada.

No Rio de Janeiro, a Petrobras e a Fundação Banco do Brasil lançaram o programa em março com o objetivo de implantar 200 PAIS em mu-nicípios próximos ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em construção em Itaboraí.

Em João Pinheiro, município da região noro-este do Estado de Minas Gerais, algumas uni-dades do PAIS estão trabalhando e vendendo o excedente da produção de frutas, verduras e legumes para as escolas públicas da região. Fonte: http://www.jornalonorte.com.br/2009/11/01/economia2_0.php

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dez 2009revista do meio ambiente dez 2009revista do meio ambiente

comunicação ambiental

Já falo que jornal em papel é antiecológico há algum tempo e agora o doutor em com-putação pela Universidade de Kent Silvio Meira fez semelhante declaração para o respeitável site Comunique-se. E a reper-cussão está sendo ótima.

Não dá para insistir com impressos que utili-zam quilos e quilos de papel para levar informa-ção a uma ou poucas pessoas diante do avanço da comunicação digital que pode ser acessada por milhares ou milhões de pessoas, hoje, e en-quanto estiver disponibilizada na rede. E o me-lhor ainda: grátis, já que ninguém quer pagar por informação diante de inestimável quantidade disponível e grande quantidade com qualidade.

Um jornal de grande capital no domingo pode pesar 2 quilos de papel, com muita propaganda desinteressante e tinta. Considerável problema de meio ambiente se levarmos em conta as ma-térias primas utilizadas – papel e tinta. O que não ocorre na mídia pela internet.

O paradigma mudou e há muito tempo. Em-presas insistem, mas o tempo vai moldando o antigo modelo de negócio movido a papel. E não adianta também a mídia impressa querer manter os lucros do passado que foi em cima de monopólios e da restrição imposta pela dis-tância. No impresso só quem podia ter acesso ao papel tinha a informação e o impresso só chegava até um determinado limite na cidade, na zona rural, no Estado ou no país. E no outro dia virava lixo e muito lixo de jornal até mes-mo jogado pelas ruas. O que ainda acontece.

Outros países só recebiam a informação im-pressa de grandes veículos de comunicação dias depois quando a notícia estava velhinha, velhinha. Os pequenos jornais dificilmente chegavam a outras nações. E recuperar infor-mações era uma difi culdade até para quem co-lecionava as principais matérias recortadas e coladas em mais uma folha de papel A4. Para ter acesso a elas os veículos cobravam caro pe-las cópias diferentemente do que faz hoje, por exemplo, a Revista Veja que disponibiliza 40 anos de informação para quem quiser acessar seu acervo digital na internet.

insustentáveisVeículos de comunicação em papel são

O paradigma do jornal ou da revista de papel mudou, há muito tempo. Viva a internet e os novos meios de transferência de informação!

Agora, a informação fl ui pelo Twitter en-quanto piscamos uma vez os olhos ou em poucos minutos em sites de grandes veículos de comunicação ou um atualizado blog. Uma mensagem no Twitter de Barack Obama pode chegar a mais de 2,5 milhões de seguidores em menos de 1 segundo. E se todos não lerem al-guém vai ver a informação que causa impacto e ela será repercutida na imprensa e conheci-da pela massa pouco tempo depois.

Podemos até ver muitas imagens pelo You Tube bem antes de qualquer veículo de comu-nicação publicá-la. Como ocorreu com a divul-gação de imagens de celular do asteroide que explodiu na Indonésia no dia 8 de outubro e já foi imediatamente para a internet. Só 20 dias depois a Nasa confi rmou que era um asteroi-de. Na TV só saiu horas depois, no jornal im-presso no outro dia pela manhã.

Veículos de comunicação impressa precisam encontrar mais formas de obter lucro e não mais serem ecologicamente insustentáveis. Mas também não é cobrando dos leitores que vão se manter como empresas bem-sucedidas. As propagandas rebocaram a mídia impressa durante décadas e devem continuar tendo im-portante participação.

Com a facilidade das comunicações digitais o leitor não se mostra nem um pouco interessado em pagar essa conta. A não ser que alguém apre-sente alguma magnífi ca nova fórmula de cobrar informação de internauta que tem todas infor-mações “entrada franca” ao seu alcance com apenas alguns cliques ou um rápido download.

E os novos tempos são muito importantes para a democratização da informação. Viva a internet, os atuais e os novos meios de trans-ferência de informação que devem ainda ser criados. Viva a era digital.

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O degelo está se acelerando na segunda maior massa de gelo do mundo, a Groenlândia, que nos últimos nove anos perdeu 1,5 trilhão de toneladas de água – o suficiente para ele-var o nível do mar em mais de 4 milímetros. O número é apontado em um estudo publica-do na edição de hoje da revista “Science”, lide-rado por Eric Rignot, geocientista da Nasa.

“Nenhuma notícia boa por aqui. Sinto muito”, disse o cientista em entrevista à Folha. Segun-do ele, a aceleração do derretimento se verifica desde 2006 em um nível sem precedentes. Isso pode ser apenas uma oscilação normal – em al-guns anos o gelo derrete mais, em outros menos. Mas, se for uma tendência, trata-se de mais um sinal de que o planeta está esquentando rápido.

Jefferson Simões, glaciologista da Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul, diz que não se trata de mero acaso. “É preciso ver que esse não é um estudo isolado, existem várias outras evidências científicas, tudo vai se somando.”

Os números, de qualquer forma, impressio-nam. Nesta década, as regiões que mais derre-teram, aquelas próximas ao oceano, chegaram a perder mais de uma tonelada de água – uma caixa d’água cheia – por metro quadrado por

ano. Outro dado novo é sobre o destino do gelo perdido. Cerca de metade dele se transforma em icebergs, perdendo contato com a Groenlândia. A outra metade se torna lagos de água líquida sobre a superfície de gelo, dizem os cientistas.

Além de servir como sinal de aquecimento, o derretimento do gelo tem uma consequên-cia imediata: a elevação do nível dos mares. E, com isso, o alagamento de regiões litorâneas.

Se a Groenlândia derretesse por completo, os oceanos subiriam sete metros – uma ca-tástrofe global para áreas costeiras. Nem os pesquisadores mais pessimistas, entretanto, acreditam que isso acontecerá. O estudo na “Science” pode forçar uma revisão das pre-visões de 2007 do painel do clima da ONU (o IPCC) sobre o assunto, dizem os cientistas.

Estimava-se que os mares, na pior das piores hipóteses, subiriam no máximo 58 centímetros até 2100. “Levando em conta o novo cenário, eu diria que existe uma real possibilidade de ultra-passarmos esse valor”, diz Jonathan Bamber, físi-co da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e um dos coautores do estudo. “O valor da ONU é muito pequeno. Infelizmente, o gelo está derre-tendo rápido. Eu estou preocupado”, diz Rignot.

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Falta a AntártidaPara ter certeza que não estavam cometen-

do erros, os cientistas utilizaram dois métodos diferentes. Um deles usou dados obtidos em solo, outro, via satélite, e os resultados esta-vam de acordo um com outro.

Para saber com precisão o que vai aconte-cer com o planeta no futuro, será necessário fazer algo similar com a Antártida. Apesar de o continente gelado ter 90% do gelo mundial – e, portanto, ser muito mais decisivo do que a Groenlândia –, sabe-se relativamente pouco sobre o degelo por lá.

Ainda não existe para a Antártida um estu-do como este que sai agora na “Science”, diz Simões. “É o único local onde ainda não está clara a situação, ela é a grande incógnita.” Os cientistas sabem que a península Antártica está passando por um aumento de temperatu-ra e que vem perdendo gelo. Mas ainda é difícil quantificar. “Sabemos que a região mais central e alta está tranquila, estável, se alguém falar que está mudando é bobagem. O nosso receio é que os derretimentos que estão ocorrendo no norte da Antártida se espalhem”, diz Simões. Fonte: Folha Online Ambiente

O derretimento do gelo tem uma

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LONDRES – Cientistas que trabalham na costa da Nova Zelândia conse-guiram fotografar peixes que habitam regiões profundas do oceano, 7.560 metros abaixo da superfície. É a primeira vez que se vê peixes vivos em tamanha profundidade no hemisfério sul.

As criaturas, de aparência estranha e coloração rosada, foram fotografa-das quando nadavam na Fossa de Kermadec, uma vala situada no fundo do mar perto da costa neo-zelandesa.

A equipe de pesquisadores vinha estudando a área com uma sonda subma-rina construída para suportar grande pressão. No ano passado, a mesma equi-pe registrou a presença de peixes a 7.700 metros – a maior profundidade em que peixes foram filmados até hoje, segundo a equipe. Os animais haviam sido encontrados na Fossa do Japão, no Oceano Pacífico, ao norte do Equador.

Aparência semelhante As duas expedições integram o projeto Hadeep, que tenta expandir o co-

nhecimento sobre a vida nas fossas oceânicas, as regiões mais profundas do mar. Os peixes encontrados no mar profundo perto da Nova Zelândia têm aparência muito semelhante à daqueles encontrados no ano passado: de cor rosa pálida, com corpos arredondados e caudas longas – mas tratam-se, na verdade, de espécies diferentes. Os habitantes da Fossa Kermadec são de uma espécie conhecida como Notoliparis kermadecensis, enquanto os da Fossa do Japão são da espécie Pseudoliparis amblystomopsis.

O pesquisador Monty Priede, diretor do Oceanlab, da University of Aberdeen, na Escócia, responsável pelo projeto Hadeep, disse: “O que nos

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Pela primeira vez, mini-submarino registra peixes vivos em fossa na costa da Nova Zelândia, a 7,6 mil metros de profundidade

Fontes: BBC Brasil (http://www.bbc. co.uk/portuguese/ciencia/ 2009/11/091113_peixes_profundidade_rw.shtml) e Estadão Online Ciências (http://www.estadao.com.br/ noticias/geral,peixe-raro-e-fotografado-a-76-mil-metros-de-profundidade,465859,0.htm)

intriga é que cada uma das fossas parece ter sido colonizada por esses peixes, apesar de es-tarem em hemisférios diferentes. Presumimos que (evoluíram) a partir de ancestrais seme-lhantes (que habitavam) regiões mais rasas. Essas espécies nunca são encontradas fora das fossas – são regiões muito isoladas. Você pode imaginar as fossas como se fossem ilhas”.

Os peixes foram fotografados com o uso de um mini-submarino acoplado com uma câmera, conectado a um barco e controlado a partir da superfície. O submarino foi carrega-do com peixes podres, para atrair os animais do fundo do mar e permitir que eles fossem fotografados e estudados.

Mas diferentemente de 2008, neste ano a equipe de cientistas não conseguiu filmar os peixes (apenas fotografou), porque o subma-rino principal, que levava o equipamento de vídeo, foi perdido durante a operação.

Alan Jamieson, da empresa Oceanlab, que coordena o projeto, disse que ficou “devasta-do” com a perda do equipamento, avaliado em 150 mil libras (cerca de R$ 430 mil).

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fotografados a 7.650 m de profundidade

Sem consenso O debate sobre quais seriam as espécies de peixes a viver nas maiores profundidades do oceano divide especialistas. Em 1960, os pesquisadores Jacques Piccard e Don Walsh baixaram a 10.910 metros na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos. Em seu livro Seven Miles Down, Piccard disse ter visto um tipo de peixe. Mas especialistas dizem que a 10 mil metros de profundidade, a pressão faria com que as janelas se curvassem, tornando difícil a visão do lado externo. O recorde oficial do peixe encontrado à maior profundidade é do Abyssobrotula galatheae, localizado no fundo da Fossa de Porto Rico, em 1970, a uma profundidade de mais de 8.370 metros. Os pesquisadores tentaram retirar o peixe para estudá-lo, mas ele morreu antes de chegar à superfície. A descoberta da equipe da Oceanlab tem o recorde para o peixe de maior profundidade estudado vivo. O pesquisador Monty Priede disse esperar que mais peixes possam ser eventualmente vistos a profundidades ainda mais altas.

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*Autor de Ecologizar; Tesouros da Índia para a civilização sustentável; Ecologizando a cidade e o planeta.

Como despertar a consciência ecológica em engenheiros, arquitetos e urbanistas e demais profissionais que constroem o ambiente? Aven-tamos sete possibilidades para responder a esta questão:1. Regulamentar: incluir nos códigos de obras, de edificações urbanas, nos editais e termos de referência para contratação de projetos e de obras, dispositivos que obriguem ou induzam a adoção de projetos ecologicamente susten-táveis, a exemplo do que vem sendo feito em alguns países europeus.2. Criar incentivos econômicos para estimu-lar o uso de tecnologias, materiais, processos e práticas de construção ecológicas e criar pe-nalizações econômicas para práticas não ecoló-gicas, que levam a alto consumo de energia ou a alta emissão de carbono.3. Influenciar o mercado: o marketing, a publici-dade e a propaganda atuam sobre o inconscien-te e excitam o desejo de consumo. Eles também podem promover o desejo por saúde ambien-tal, bem como a redução da demanda por bens cujo processo de produção é destrutivo, degrada-dor, poluidor, emissor de gases de efeito estufa. Divulgar, premiar e valorizar as boas práticas que levam a um ambiente sustentável. 4. Mudar a formação no nível básico: tanto nas escolas como fora delas, explicitar os im-pactos causados pela atividade humana em cada profissão, de forma que cada profissional esteja ciente de sua responsabilidade pessoal para o bem estar global. 5. Formar pessoas com valores ecológicos: con-solidar uma ética ecológica, na qual a noção de bem estar e de interesse pessoal seja expandi-da, tornando-se culturalmente aceita a idéia de que o bem estar do ambiente e o bem estar coletivo são pré-requisitos para o bem estar in-dividual. Ainda que as pessoas continuem a se mover por motivos individuais e pessoais, eles estão colocados numa escala que se aproxima do interesse publico e coletivo.6. Mudar a formação nas escolas de arquite-tura e de engenharia: ensinar a arquitetura e a engenharia sustentáveis, o ecodesign e o urbanismo ecologicamente responsável, ade-quados para uma sociedade com baixa emis-são de carbono.7. Desenvolver e aplicar indicadores para avaliar em que medida o ambiente construído atende a critérios de sustentabilidade e de res-ponsabilidade ecológica. Promover a certificação ecológica de edificações e espaços construídos.

Que outras ações podem despertar a consci-ência ecológica em arquitetos, urbanistas, en-genheiros, administradores e demais profissio-nais que projetam e constroem o ambiente?

O que faz um arquiteto projetar prédios que exigem uso intensivo de ar condicionado, que demandam alto consumo de energia, desadaptados do ambiente natural, num clima tropical, num design que desperdiça recursos naturais e que provoca a emissão intensa de gases de efeito estufa?

Resposta: a) Inconsciência sobre os impac-tos do seu projeto. (b) Inconsciência ecológica. c) Ganância: quanto mais caro o projeto, maior a remuneração do arquiteto. d) atendimento a demandas de clientes inconscientes e) outros.

Qualquer que seja a resposta a essa questão, ela é relevante, pois o projeto e a construção do habitat humano e toda a cadeia produtiva da construção civil demandam muitos recur-sos naturais e provocam impactos ambientais e emissão de gases de efeito estufa. O IPCC – Painel intergovernamental de mudanças cli-máticas identificou nesse setor grandes possi-bilidades para colaborar para reduzir as emis-sões de gases de efeito estufa.

Como despertar a consciência ecológica em quem projeta e constrói o ambiente?

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Um dos edifícios mais altos do mundo – o Taipei 101, com 509 metros de altura e 101 andares – deve passar por uma extensa reforma no va-lor de US$ 1,8 milhão (cerca de R$ 3,09 mi), para se tornar o arranha-céu ecológico mais alto do mundo.

A administração do prédio, um marco de Taiwan, espera receber um cer-tificado do programa americano Liderança em Design de Energia e Meio Ambiente (LEED, na sigla em inglês), o maior programa de certificados deste tipo e também o que mais cresce.

A corporação financeira de Taiwan, proprietária do prédio, anunciou o investimento nos próximos 18 meses para cortar o uso de energia e de água e diminuir as emissões de carbono em até 10%.

Para isso, deverão ser instalados novos e mais eficientes sistemas de energia e encanamento. A administração também pretende encorajar as 10 mil pessoas que trabalham no prédio a reciclar, manter o ar-condicio-nado a uma temperatura de 26 graus e usar o transporte público.

A administração também vai pedir aos ocupantes que comprem comida nos arredores, para cortar a emissão de carbono das entregas de refeições.

A vice-presidente assistente do Taipei 101, Kathy Yang, disse que o proje-to deve gerar uma economia de US$ 615 mil (cerca de R$ 1,06 milhão) por ano e atrair como novos locatários empresas que desejam ser ambiental-mente responsáveis.

“É realmente importante para a indústria da construção olhar para a questão ambiental, levá-la a sério”, disse Yang. “Então, queremos mostrar para o mundo que mesmo um edifício alto como o nosso pode começar a fazer isso, que podemos fazer o melhor para nos tornar um edifício ‘verde’.”

Como se fossem cidades verticais, os arranha-céus do mundo estão entre alguns dos maiores poluidores em zonas urbanas.

Construído em 2004, o Taipei 101 já foi projetado com algumas caracte-rísticas de respeito ao meio-ambiente. O prédio coleta água da chuva, que é usada nas descargas e para regar seu jardim, e suas janelas, de duas fo-lhas de vidro, ajudam a evitar que o calor do exterior entre no edifício.

Há cerca de 3.500 prédios em todo o mundo com certificado de ambien-talmente responsável, mas a administração do Taipei 101 espera que ele seja o primeiro arranha-céu a obter o documento. Fonte: BBC Brasil

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Devido a perdas de habitats, a degradação, a super exploração, a poluição e as mudanças climáticas, 36% das 47.677 espécies cataloga-das pela União Internacional pela Conserva-ção da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) correm o risco de desaparecerem da superfí-cie terrestre. Os novos números sobre o cenário atual de animais e plantas ameaçados foram divulgados em 3/11 em tom de alerta devido ao ritmo das perdas. “As evidências científi cas de uma crise séria de extinção estão aumentan-do”, disse a diretora do grupo de Conservação de Biodiversidade da IUCN, Jane Smart.

Os anfíbios são os mais ameaçados, com 1895 (30%) das 6285 espécies conhecidas incluídas na “Lista Vermelha”, como a instituição chama o rol com animais e plantas em risco de extin-ção. Entre os peixes de água doce, 37% estão ameaçados. “As criaturas que vivem em água fresca vem por um longo tempo sendo negli-genciadas. Neste ano, adicionamos novamen-te um grande número delas na Lista Vermelha e confi rmamos o alto grau de ameaça a muitos animais que vivem em água fresca e plantas”, afi rma o vice-diretor do Programa de Espécies da IUCN, Jean-Christophe Vié.

Ele explica que isto refl ete o estado das águas, incluindo rios, lagoas e lagos, afetados pela poluição e perda de áreas alagáveis. “Há uma urgência em aumentarmos nossos esforços. Ainda mais importante é começar a usar esta informação com o objetivo de explorar os re-cursos hídricos de forma inteligente”, alertou.

Entre os mamíferos conhecidos, 21% estão em risco de sumir; entre os pássaros, 14%; entre as plantas, 70%; entre os répteis, 28%, e entre os invertebrados, 35%. Mais de 2,8 mil espécies foram adicionadas na lista deste ano (em 2008 eram 44.838).

Um roedor das montanhas de Madagascar (Voalavo antsahabensis), ameaçado pela quei-ma na agricultura, aparece pela primeira vez na lista. Entre os répteis, estão 165 espécies endê-micas das Filipinas, incluindo o lagarto Panay Monitor, também em risco por causa da agricul-tura e corte de árvores, além de servir como fon-te de proteína para humanos. No Brasil, 212 (5%) das 4.196 espécies catalogadas pelo IUCN estão sob o risco de extinção, sendo 68 criticamente ameaçadas. Ao todo, 10 já estão extintas.

Uma espécie de sapo, chamada Kihansi Spray Toad (Nectophrynoides asperginis), que vivia ex-clusivamente nas cachoeiras Kihansi, na Tanzâ-nia, passou a ser considerada extinta em áreas

selvagens. O animal havia entrado na lista de ameaçados devido à construção de uma repre-sa, que removeu 90% do fl uxo original de água. Posteriormente, uma doença causada por fun-gos teria sido a responsável pela extinção.

Entre as plantas, o IUCN chama a atenção para os efeitos das mudanças climáticas sobre uma espécie de bromélia encontrada nos An-des do Peru e da Bolívia, que continua na lista de ameaçadas. A Puya raimondii é a maior bro-mélia conhecida, podendo alcançar 3 metros de altura, e produz sementes uma única vez em 80 anos. As mudanças climáticas estariam en-fraquecendo sua habilidade de fl orescer. Além disso, indivíduos jovens também estariam sen-do comidos pelo gado criado solto na região.

Ano Internacional da BiodiversidadeEm janeiro será lançado o ano internacio-

nal da Biodiversidade, mas Jane ressalta que as análises do IUCN mostram que a meta de redução de perda de biodiversidade para 2010 não será alcançada. “Está na hora dos gover-nos levarem a sério a preservação de espécies e garantirem que seja uma prioridade em suas agendas para o próximo ano”, declara.

A diretora do Programa de Espécies da WWF Internacional, Amanda Nickson, alerta para as relações entre perda de biodiversidade e o aque-cimento global. Para ela, a meta da Convenção de Diversidade Biológica das Nações Unidas su-bestimou os impactos crescentes das mudan-ças climáticas. “Com as negociações cruciais do clima em Copenhague se aproximando e o Ano Internacional da Biodiversidade em 2010, este é um chamado para que os líderes mundiais acordem”, afirma Amanda.

E o estudo da IUCN é apenas uma amostra do impacto da humanidade sobre outras vidas. Apesar do total de espécies da Terra ainda ser uma grande incógnita, cientistas estimam que existam 1,8 milhão e a vasta maioria ainda nem foi catalogada. E mesmo entre aquelas listadas pela IUCN, 14% não tem informação sufi ciente para fazer um julgamento preciso da sua situa-ção. “Pela nossa experiência sabemos que ações de conservação funcionam. Não vamos espe-rar até que seja tarde demais e vamos começar a salvá-las agora”, disse o gerente da Unidade da Lista Vermelha da IUCN, Craig Hilton-Taylor.

IUCN inclui mais 2,8 mil espécies na chamada ‘Lista Vermelha’, na qual 36% dos animais e plantas já estudados aparecem como ameaçadas de desaparecem, dando uma amostra de um cenário que pode ser ainda mais preocupante

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Conheça os animais catalogados na Lista Vermelha em: http://www.iucnredlist.org

Pena da Arara Azul (Lears Macaw), uma das espécies brasileiras em risco na lista da IUCN

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Ao completar 45 anos e ilustrar mais de 2.600 livros com imagens de fauna, flora e paisa-gens, o fotógrafo paulistano Fabio Colombini partilhou sua experiência profissional na fotografia de natureza, e lançou o livro Foto-grafia de Natureza Brasileira – Guia prático por Fabio Colombini, pela Editora Photos.

“Este primeiro guia brasileiro de fotografia de natureza não tem a pretensão de ser com-pleto, mas nele apresento, acima de tudo, mi-nha visão e caminhada de 22 anos de atuação profissional exclusivamente com a natureza, da qual sinto-me aprendiz e responsável. Para mim, fotografar não é um ato mecânico, pois envolve muitas sutilezas e desafios” .

Visando contribuir com a cultura fotográfica brasileira e preencher uma carência do merca-do editorial, o guia é voltado para todos aque-les que se interessam pela fotografia de natu-reza, com o objetivo de incentivar novos talen-tos profissionais e amadores.

Num total de 180 imagens, a obra destaca a importância da fotografia ambiental enquan-to instrumento de educação, preservação e conscientização ecológica. Apresenta propos-tas e comentários do autor sobre equipamen-tos, técnicas, composição e arte. Também traz informações sobre trabalho em campo, com-portamento, dificuldades, temas fotográficos, biomas brasileiros e mercado profissional, com dicas para iniciar na carreira fotográfica.

Com formato 17,5 x 25,5 cm, capa dura, im-presso em papel couché 115 gramas e 248 pá-ginas, o guia foi lançado no dia 25 de novem-bro, com distribuição nas principais livrarias

do País, como FNAC, Livrarias Curitiba, Livra-ria da Travessa e Saraiva. O valor de capa será de R$ 125,00. Também estará à venda no site da Editora Photos www.editoraphotos.com.br, ou pelo 0800 643 5386.

Autodidata ambientalO fotógrafo formou-se em arquitetura pela

Universidade de São Paulo, cursando publicida-de e propaganda na Escola de Comunicações e Artes da USP. Autodidata em fotografia, profis-sionalizou-se há 22 anos, realizando produções especializadas em natureza e registrando a rica biodiversidade da fauna e da flora brasileiras. Possui um amplo acervo fotográfico em seu próprio banco de imagens, sendo representado nos EUA pela agência Animals Animals.

Dentre os prêmios recebidos, merecem des-taque o da Organização dos Estados America-nos (OEA), o da Fundação SOS Mata Atlântica, o World Calendar Awards (Illinois, EUA) – calendá-rio Amazônias e Mata Atlântica, e do National Geographic Channel (Concurso Momentos In-críveis). Suas imagens compõem o acervo do Ins-tituto Moreira Salles e do Instituto Itaú Cultural. Integra o Conselho Superior Consultivo da Asso-ciação de Fotógrafos de Natureza (AFNATURA), e participa de ONGs ambientais e médicas.

Conheça um pouco mais sobre o autor no site www.fabiocolombini.com.br.

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um veíCulOpara cada dois habitantes15 das maiores cidades têm um veículo para cada dois habitantes: Curitiba, Ribeirão Preto e Goiânia têm, proporcionalmente, maiores frotas. SP tem um veículo a cada 1,8 habitante. Rio tem 1 para cada 3 pessoas

Em 15 das maiores cidades do País, a quantida-de de veículos corresponde a quase metade da população, ou seja, um carro para cada dois habitantes, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e do Institu-to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento foi feito em todas as capitais e nas cidades com mais de 400 mil habitantes - ao todo são 58 municípios. A reportagem uti-lizou os dados mais recentes da frota nacional (referentes a maio de 2009) e da estimativa populacional do IBGE (realizada neste ano).

Quatro cidades têm um veículo para cada 1,6 habitante: Curitiba (PR), Goiânia (GO), São José do Rio Preto e Ribeirão Preto (SP).

Florianópolis (SC), Campinas e Santo André (SP) têm um veículo para cada 1,7 habitante. A capital paulista tem um para cada 1,8 habitante.

Caxias do Sul (RS), Santos, São Bernardo do Campo (SP) e Londrina (PR) tem um veículo para cada 1,9 habitante. Joinvile (SC), Palmas (TO) e Sorocaba (SP) têm exatamente um veí-culo para cada dois moradores.

As capitais Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) e Porto Alegre (RS), por exemplo, registram um veículo para pouco mais de dois habitantes.

Transporte público como soluçãoPara Maurício Broinizi, coordenador-execu-

tivo do Movimento Nossa São Paulo, entidade que atua pela redução do uso de veículos na capital paulista, é preciso considerar que par-te dos veículos informados pelo Denatran não está mais em circulação.

“Os Detrans (Departamentos Estaduais de Trânsito) têm grande dificuldade em dar bai-xa nos veículos fora de circulação. Ainda assim, um veículo a cada dois habitantes é muita coi-sa. Se considerar a população total, não somen-te a adulta que tem carta de motorista, temos um número exagerado de automóveis.”

Broinizi afirma que a única solução para redu-zir a quantidade de automóveis em circulação é a melhoria do transporte público coletivo.

“Em São Paulo, o metrô está abarrotado no horário de pico. Os ônibus estão mal avalia-dos. O transporte público coletivo, que está ro-dando com sua capacidade máxima, é a úni-ca solução para esta questão. As pessoas têm o direito de ter carro, o grande problema é usar como meio de transporte. E complica o siste-ma viário da cidade, que não suporta a frota que tem. É preciso solução que atraia o usuário para o transporte público.”

O coordenador do Movimento Nossa São Paulo disse que a cidade de Curitiba (PR) é um exemplo de que a quantidade de carros pode ser

O grande número de carros nas ruas de São Paulo aponta para deficiências no transporte público

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contornada com oferta de transporte público. “Em Curitiba, por mais que o número de car-ros por habitante seja mais elevado, não se utiliza o carro como transporte diário. Em São Paulo, tem uma classe média que vê o trans-porte público como ruim. E, de fato, não ofe-rece um bom serviço. Em Curitiba aconteceu o contrário. A cidade foi exemplo para várias outras do mundo e o transporte público é visto pela população de outra forma.”

O advogado Marcelo Araújo, especialista em trânsito e assessor jurídico do Conselho Esta-dual de Trânsito (Cetran) do Paraná, concorda que, em Curitiba, o fato de existir um veículo para cada 1,6 habitante não acarreta influên-cia negativa no trânsito local.

“Há um número alto de locadoras que regis-tram os veículos na cidade por conta do IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículo Auto-motor) mais barato. Além disso, nem todos os veículos estão circulando. Tem muitas pessoas com mais de um veículo e não sai com todos ao mesmo tempo.(...) Em Curitiba você tem um trânsito que em alguns lugares e horários se torna problemático, mas não significa um trân-sito parado, como em São Paulo.”

Taxa baixaA cidade do Rio de Janeiro, a segunda mais

populosa do país, tem um índice de 3,2 pessoas para cada veículo. Mas, na avaliação do profes-sor Paulo César Ribeiro, do Programa de Enge-nharia de Transportes da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ), a proporção deve subir em alguns anos.

“Essa taxa que é mais baixa do que em ou-tras capitais em alguns anos deve alcançar ta-xas como a de São Paulo. Hoje o trânsito flui, mas tem ficado cada vez mais congestionado. O horário de pico se ampliou e o trânsito tem se espalhado por mais ruas. E isso deve pio-rar.” Ribeiro também avalia que a única solu-ção é o investimento em transporte público de qualidade para que as pessoas optem por deixar o carro em casa.

O especialista em trânsito Cyro Vidal, que foi diretor do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de São Paulo por dez anos e participou da elaboração do Código Brasileiro de Trânsito, acrescenta ainda que não se pode deixar de lado a discussão sobre a substituição da frota antiga. “E aí vem a dificuldade porque eles (poder pú-blico) não sabem o que fazer com esses veículos antigos, mas é preciso discutir o problema.” Fonte http://g1.globo.com/Noticias/Carros/0,,MUL1361733-9658,00-DAS+MAIORES+CIDADES+TEM+UM+VEICULO+PARA+CADA+DOIS+HABITANTES.html

Essa semana, a REBIA recebeu a nova moto da Honda, a Lead para testar por uma semana. Deixei a minha XT 660 descansando na gara-gem da redação e tive a oportunidade de ro-dar bastante com a Lead para testar essa bela moto. Por onde passa arranca olhares curiosos pelo seu belo visual. A moto é excelente den-tro da proposta, deslocamento urbano. Enfim, uma boa moto urbana para ser usada no dia a dia de um trânsito cada vez mais caótico!Pontos fortes: Econômica e dentro da atual lei de emissão de poluentes para motocicletas além do ruído baixíssimo do motor injetado, a nova Lead 110 vai ser uma boa opção para o transporte urbano diário. Bem fácil de pilotar e muito confortável vai bem no trânsito das grandes cidades. Porta-luvas e o bagageiro gi-gante com capacidade, para até dois capacetes, são muito úteis. Os faróis cumprem seu papel. O freio a disco dianteiro é outro ponto positivo. Em relação ao consumo calculei 40 km por li-tro, um resultado muito satisfatório.Pontos fracos: Se o asfalto for liso, ela roda ex-tremamente suave, porém com muitos bura-cos senti um pouco de trepidação excessiva. Ao passar por irregularidades no asfalto senti um barulho na frente. Com 2.000 km, a Lead apre-sentou esse barulho. Senti falta de um relógio digital no painel, um sistema anti-furto, um pe-dal para partida se faltar bateria e o mais im-portante: o famoso “descanso lateral”, pois foi muito ruim ter que colocá-la no descanso cen-tral toda vez que tive de parar a moto.

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Santo André (SP) 376 mil

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Florianópolis (SC) 232 mil

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Londrina (PR) 264 mil

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dez 2009 revista do meio ambiente

Após sete anos de tramitação no Conama, foi aprovada em 26/11 resolução estabelecendo as diretrizes para o gerenciamento ambien-tal de áreas contaminadas, definindo como medir os níveis de contaminação, responsa-bilizando as empresas poluidoras. A medida traz, ainda, os procedimentos que devem ser adotados para a descontaminação. Pelo menos 1500 áreas já mapeadas pelo Ministério da Saú-de como solos contaminados, com conseqüên-cias para a degradação ambiental e riscos para a saúde pública, serão atingidas pela norma.

O Ibama deverá criar e gerenciar um ban-co de dados com todas as informações dispo-níveis sobre as áreas contaminadas no País, além de fiscalizar, juntamente com os de-mais órgãos ambientais competentes, a apli-cação das medidas de descontaminação, que serão responsabilidade legal de quem as cau-sou. Quem poluiu terá que apresentar um plano para a despoluição, que será submeti-do à aprovação do órgão ambiental estadual, municipal ou federal de acordo com o caso.

A resolução define os solos passíveis de mo-nitoramento em cinco categorias, que exigi-ram providências que vão desde a identifica-ção das fontes poluidoras. Além de resíduos químicos, como metais pesados – chumbo, níquel e mercúrio – a resolução abrange tam-bém substâncias consideradas cancerígenas em altas dosagens, presentes em pesticidas, herbicidas e defensivos agrícolas. As áreas poluídas por substâncias consideradas can-cerígenas só serão consideradas dentro dos níveis de tolerância aceitável quando regis-trarem apenas um caso de câncer em cada 100 mil habitantes.

A secretária-executiva do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que presidiu os dois dias de reuniões do Conama, elogiou o empe-

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nho dos conselheiros na aprovação da propos-ta, que segundo ela, era um dos maiores passi-vos a cargo do Conselho. A qualidade ambien-tal no País já conta com marcos legais definidos para a água e o ar e ganha agora um conjunto de normas que vai nortear os critérios de quali-dade ambiental do solo, explicou a secretária.

A partir de processos de fiscalização ou de-núncias, os órgãos ambientais devem investi-gar as áreas suspeitas de contaminação, que serão submetidas a uma avaliação preliminar para aferir a qualidade do solo. Caso seja cons-tatado o impacto ambiental e avaliado consi-derado de risco para a saúde, com a presença de substâncias químicas em fase livre, separa-da da água, as áreas serão declaradas conta-minadas e exigidas providências para a des-contaminação. O Ibama deverá ser comunica-do pelo órgão competente para incluir a área em seu banco de dados.

Outra determinação da resolução prevê que os órgãos ambientais competentes implan-tem programas de monitoramento da qua-lidade do solo e das águas subterrâneas na área de empreendimentos potencialmente poluidores e nas que estiverem em processo de descontaminação. A resolução traz, em seu anexo, tabelas de valores de referência em qualidade e prevenção e investigação que de-verão ser observados pelos estados na classi-ficação da qualidade do solo e determinação das áreas de risco.

A resolução tem caráter nacional, uniformi-za os procedimentos a serem adotados pelos órgãos ambientais competentes, em todos os estados e municípios, para determinação da qualidade do solo, níveis de contaminação e medidas de gestão das áreas contaminadas. Fonte: www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=ascom.noticiaMMA&idEstrutura=8&codigo=5373

A norma estabelece como medir níveis de contaminação, responsabilizando as empresas poluidoras. Ibama terá banco de dados com informações de solos poluídos em todo o País

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Conama aprova medidas para gestão de

Além de resíduos químicos, como metais pesados

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dez 2009revista do meio ambiente

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, contestou em nota divulgada em 26/11, os da-dos de desmatamento da Amazônia em ou-tubro, publicados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). “A tendência de queda no desmatamento con-tinua”, afirma o ministro.

“Contrariamente ao que foi divulgado pelo Imazon, os dados preliminares fornecidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e os nossos trabalhos de campo sinalizam para a continuidade, em outubro, da redução do desmatamento na floresta. E, seguramente, no período de agosto/2009 a julho/2010, teremos outra vitória, reduzindo o desmatamento ainda mais”.

O Imazon, que utiliza uma metodologia dife-rente do Inpe para classificar o desmatamento nas imagens de satélite, registrou um acumu-lado no período de agosto a outubro de 2009

dados do Imazon sobre desmatamentominC COntesta

de 682 km² devastados, enquanto no mesmo período do ano anterior havia encontrado 525 km². Isso representa um aumento de 30%.

Ainda segundo a nota de Minc, o “Inpe, em função da forte cobertura de nuvens, ainda não divulgou os dados relativos a outubro”. O Imazon, por sua vez, afirma que “havia pouca cobertura de nuvens na região e por isso foi possível monitorar 87% da Amazônia Legal”.

De acordo com o ministro do Meio Am-biente, o Inpe fornecerá os números do des-matamento a cada dois ou três meses, como costuma fazer nesta época mais chuvosa do ano. “Embora não tenhamos as informações do Inpe, a diretoria de proteção ambiental do Ibama, em seu trabalho de monitoramento e combate ao desmatamento, nos informa que em outubro, e até mesmo nos primeiros dias de novembro, a tendência de queda continua sendo verificada.

O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), operado pela ong Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), organização que faz um levantamento paralelo ao oficial da devastação na região amazônica, registrou a destruição de 194 km² de floresta em outubro, o equivalente a cer-ca de cinco vezes o Parque Nacional da Tijuca (RJ). O instituto detectou ainda 104 km² de degradação florestal (destruição parcial da mata) na região.

Os dados, divulgados em 26/11, mostram que a devastação acumulada de agosto a outubro os três primeiros meses do calendário do desma-tamento foi de 682 km², 30% maior do que no mesmo período do ano passado (agosto a outubro), quando a soma foi de 525 km².

Na comparação com outubro de 2008, quando o levantamento do Imazon registrou 102 km² de derrubada, houve aumento de 90%. No período, 13% do território estavam cobertos por nuvens e os satélites consegui-ram observar 87% da área.

O Pará foi responsável por 87 km² de desmate (45% do total registrado em outubro), Mato Grosso derrubou 43 km² (22%), seguido por Rondônia, com 25 quilômetros a menos de florestas no período (13% do desmate do mês).

A estimativa do Imazon é feita paralelamente aos números oficiais, calcu-lados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que ainda não divulgou os dados de outubro. Há duas semanas, o Inpe anunciou a taxa anual de des-matamento da Amazônia Legal, medida de agosto de 2008 a julho de 2009, quando a floresta perdeu 7.008 km², menor resultado dos últimos 21 anos.

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dez 2009 revista do meio ambiente

Em oito anos do Projeto Tamar de conser-vação de tartarugas marinhas na região, a renda familiar triplicou. Entre 1999 e 2007, saltou de US$ 300 para US$ 900. Antes, água encanada e a eletricidade não chegavam a nenhuma das casas da área, no município de Mata de São João. Agora, a água atende a 95% dos domicílios e todos os domicílios contam com luz elétrica. Ligado ao Ministério do Meio Ambiente, o Projeto Tamar trabalha com pes-quisa e ações educativas para preservação das tartarugas. Em meados dos anos 80, passou a receber turistas interessados em observar os animais. Os incentivos ao turismo ecológico se transformaram em uma alternativa econômi-ca para os trabalhadores, destaca o antropólo-go David Ivan Fleischer, autor do estudo.

Ivan Fleischer aponta que, antes do turismo, a renda das famílias da Praia do Forte vinha da pesca e que, mal orientados, os pescadores eram uma ameaça às tartarugas. Segundo ele, ape-nas a existência de uma lei ambiental de prote-ção não bastaria. “A incapacidade de adaptação a regras ambientais faz com que os pescadores abandonem seus modos de vida tradicionais”, afirma. Porém, com as iniciativas de preserva-ção, pescadores foram contratados para ajudar

Projeto de preservação fez renda de pescadores triplicar em 8 anos; população passou a contar com água encanada e energia elétrica

a encontrar ninhos de tartarugas e, como resul-tado, os projetos ganharam importantes aliados para a conservação, diz o pesquisador. “Por meio de treinamento e capacitação, comunidades lo-cais foram capazes de passar de uma economia de subsistência para uma economia bem suce-dida e orientada para serviços”, conclui ele.

O levantamento, intitulado Conservação e Ecoturismo no Brasil e no México (http://www.ipc-undp.org/pub/IPCOnePager94.pdf) anali-sou, além do Projeto Tamar, na Bahia, o Centro Mexicano de la Tortuga, na região de Oaxaca. No México, a lei contra a caça de tartarugas é de 1992, mais recente que a do Brasil, de 1980. No mesmo intervalo de oito anos, com a atuação de projetos semelhantes ao Tamar, a renda na praia de Mazunte cresceu 17%, de US$ 600 para US$ 700. Assim como na Bahia, nenhuma das casas tinha energia elétrica ou água encanada; em 2007, todas já possuíam a estrutura.

As praias brasileira e mexicana também con-quistaram melhorias em saúde e educação. Em ambas, três escolas foram construídas no perío-do. Praia do Forte ganhou um hospital e Mazunte passou a contar com uma clínica médica. Fonte: http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=3308&lay=pde

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Com o objetivo de qualificar os dirigentes do País nas discussões acerca das alterações do clima, foi criado no ano 2000 o Fórum Brasi-leiro de Mudanças Climáticas. O grupo nas-ceu da necessidade de internalizar a discussão que há algum tempo já vinha ocorrendo em âmbito internacional, a fim de preparar os in-terlocutores brasileiros – presidente da Repú-blica e seus ministros – para que participem das negociações externas sobre a questão.

Inspirado nessa iniciativa, cinco anos mais tarde o estado de São Paulo lança o Fórum Pau-lista de Mudanças Climáticas Globais e de Bio-diversidade – em uma ação que busca fomen-tar, em âmbito local, a discussão sobre as altera-ções do clima, suas conseqüências e sua relação com o tema da biodiversidade. Sinteticamente, o Fórum Paulista – do qual atualmente sou se-cretário executivo – objetiva articular os dife-rentes atores da sociedade para que tratem o tema de forma sistematizada e plural. A idéia é capacitar formuladores de políticas e forma-dores de opinião, de modo a garantir que o es-tado possa lidar com os desafios das alterações climáticas com objetividade e consistência.

Entre os avanços já alcançados pelo grupo está a participação no processo de formula-ção da Política Estadual de Mudanças Climá-ticas – ação que objetiva constituir um arca-bouço formal de abordagem do tema, definin-do linhas gerais que devem ser seguidas, bem como instrumentos de implementação.

Algumas iniciativas de reaplicação dessa fer-ramenta já vêm sendo testadas em outros es-tados da federação, tais como no Amazonas, em Minas Gerais e na Bahia – além de outros, ainda que de forma mais tímida. O importante, no entanto, é perceber o interesse em articular os atores relevantes em cada região, adotando estratégias para que o tema possa ser incorpo-rado pelos dirigentes locais e pela sociedade.

As especificidades das políticas públicas Não raramente, a visão dos governantes bra-

sileiros caminha em compasso com seus hori-zontes eleitorais, prejudicando ainda a prioriza-ção de medidas de longo prazo. Nesse sentido, o estabelecimento de políticas públicas – nas dife-rentes esferas e em quaisquer campos – consti-tui uma medida indispensável para que as ações e as estratégias possam ser operadas de maneira sistêmica, ou seja, não dependendo de vincula-ção a programas de governo específicos.

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No caso das mudanças climáticas, as políticas públicas devem ser operadas a partir de estra-tégias sólidas de atuação, além de considerar as especificidades de cada região e estado – já que as causas e conseqüências do problema variam em seu cerne. A título de exemplo, vale destacar que as emissões de uma cidade como São Paulo têm em sua origem o setor de transporte; já em um município com vocação agrícola, o problema costuma resultar das mudanças no uso do solo.

A atenção a essas especificidades também se faz necessária quando se discute as potenciais conseqüências das mudanças climáticas: en-quanto as cidades litorâneas, por exemplo, sofre-rão com o aumento do nível do mar, aquelas que contam com portos poderão ter suas economias drasticamente afetadas e as que dependem do ciclo hidrológico reinante poderão sofrer com muita seca ou mais abundância de chuva.

Articulando estratégias A criação de fóruns estaduais e municipais

para a discussão do tema constitui, portanto, um instrumento importante para desenhar po-líticas concretas e direcionadas. Mesmo com os avanços já operados por algumas localidades, esses esforços ainda são minoritários e esbar-ram na pouca sensibilização para o tema.

Por sua complexidade e alcance, o problema requer soluções integradas e inovadoras, o que pode ser fomentado por intermédio de políti-cas públicas mais responsáveis. Nesse sentido, é imprescindível que todos os atores estejam engajados: o poder público na formulação e im-plementação de políticas consistentes; o setor empresarial na identificação e proposição de iniciativas inovadoras; e a sociedade civil orga-nizada exercendo pressão em todas essas esfe-ras. Articulação e trabalho parecem ser a receita para que municípios, estados e nações possam enfrentar os desafios das mudanças do clima. Fonte: http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/content/hora-de-agir

Feldman foi deputado federal por três mandatos consecutivos e relator da Lei de criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. De 1997 a 2002, participou como membro oficial da delegação brasileira nas Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas

Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade busca fomentar, em âmbito local, a discussão sobre as alterações do clima, suas conseqüências e sua relação com o tema da biodiversidade

reduz pobreza no litoral da BA

O estabelecimento de políticas públicas – nas diferentes esferas e em quaisquer campos – constitui uma medida indispensável para que as ações e as estratégias possam ser operadas de maneira sistêmica, ou seja, não dependendo de vinculação a programas de governo específicos

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dez 2009 revista do meio ambiente

“Já vi macaco cair de árvore, mas eu não caio!” Assim diz Dona Maximina com as mãos cheias de sementes,e debruçada tran-quilamente sobre um galho, na copa de um pé de “falso barbatimão”, de nome cienti-fico Cácia leptófila. Maximina Aparecida de Queiroz com 54 anos escala árvores de até 40 metros de altura em busca de sementes de espécies nativas que vendidas, ajudam no sustento da família. Não é fácil, segundo ela, “colher sementes não é pra quem pensa no dinheiro, é pra quem faz de coração. O jovem não quer entrar na mata, é preciso gostar, co-nhecer a planta, aprender a identificar e a trabalhar com a semente.” Dona Maximina e sua companheira de trabalho, Claudete, caminham de cinco a dez quilômetros para encontrar determinadas espécies.

Na maioria das árvores as sementes se en-contram nas copas, então é preciso escalar, em até oito metros elas não usam equipa-mentos, acima disso, sobem com o auxílio de uma corda e equipamentos de escalada. Mui-tas árvores estão cobertas de espinhos e isso dificulta muito, principalmente o manuseio do podão, uma ferramenta que corta a ponta do galho, onde geralmente encontram-se as sementes. “Não podemos colher tudo o que a árvore produz, temos que deixar a maior parte. A semente precisa cumprir o seu papel: se perpetuar e alimentar os bichos.”

E finalmente a etapa de beneficiamento, nome usado no processo, entre colher e deixar em ponto de germinação. Cada espécie de semente recebe um determinado tratamento até chegar ao viveiro. Lavagem, secagem, no sol, na sombra, descascar, limpar, armazenar, embalar, etc.

Das árvores da Mata Atlântica na região da bacia do Alto Paranapanema entre as cidades de Capão Bonito, Ribeirão Grande e Guapiara no interior paulista, trinta e dois coletores

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Senhoras de 54 anos e mais 29 pessoas escalam árvores de até 40 metros para coletar sementes que vendidas ajudam no sustento da família. A prática é uma opção de renda pra moradores de área rural que vivem próximo das matas

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Seu Zé Ferreira idealizou o trabalho de coleta ao ajudar no plantio de mudas para recuperação de uma área de compensação ambiental

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garantem uma boa parte da renda familiar. A prática é uma opção aos moradores de áreas rurais, próximos às matas, e lucram em torno de um salário mínimo por mês, dependendo da dedicação, podem faturar muito mais. A ideia nasceu há cinco, Seu Zé Ferreira presta-va serviços à Bio Flora, empresa de reflores-tamento, ajudava no plantio de mudas para recuperação de uma área de compensação ambiental da Cimento Ribeirão em Ribeirão Grande. Curioso, Seu Zé questionou a origem das sementes, procurou o Engenheiro Flores-tal e a Associação Ecoar Florestal, que forneceu as mudas nativas, e demonstrando conheci-mento no assunto, ofereceu algumas semen-tes e a sugestão foi aprovada.

A Associação Ecoar Florestal, organização não governamental atua a 13 anos em conser-vação florestal e em projetos sócio-ambientais, visando a geração de renda para o proprietá-rio rural. Com apoio da Votorantim Celulose e Papel, trabalha junto com o grupo para a sustentabilidade da Rede Comunitária de se-mentes nativas. E também ajudam no prepa-ro e na estrutura dos coletores, com cursos de capacitação, uso do GPS, beneficiamento e escalada. Hélio Porangaba, um dos técnicos da ONG afirma que mais de 180 espécies são

coletadas durante o ano, e comercializadas com a finalidade de reflorestamento. Há apro-ximadamente cinquenta clientes cadastrados, dentre eles, a SOS Mata Atlântica, a VCP Papel e Celulose, Iandebo e a própria Ecoar com seu viveiro de mudas. No geral são ONGs, minera-doras ou grandes agricultores, empresas que buscam uma forma de adequação ambiental. As sementes são usadas na recuperação de áreas degradadas e restauração florestal.

Novas comunidades interessadas em par-ticipar do projeto procuraram a Ecoar, Hélio lamenta não ter apoio empresarial, sendo uma oportunidade de responsabilidade sócio-ambiental preparar novos grupos de coletores. O investimento com os cursos, ferramentas e principalmente os equipamentos de escalada é muito alto.

Uma possível parceria com a IPEF, Institu-to de Pesquisas de Estudos Florestais, que tra-balha com pesquisas florestais, planejamento, comercialização de mudas e sementes, prome-te amenizar alguns desses problemas, a ONG dispõe-se de logística e de tecnologias de bene-ficiamento. Espera-se o aumento de clientes e consequentemente, o crescimento da rede de coletores, dando oportunidade às comunidades vizinhas que tenham interesse e vocação.

Não podemos colher tudo o que a árvore produz, temos que deixar a maior parte. A semente precisa cumprir o seu papel: se perpetuar e alimentar os bichos (Dona Maximiana)

COORDENADOR DO CURSO: Gustavo Berna, biólogo marinho pós-graduado em meio ambiente pela COPPE/UFRJ e especializado em resíduos sólidos. Coordenador da Comissão de Meio Ambiente da ALERJ – Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

INVESTIMENTO à vista R$ 450,00 ou em três parcelas de R$ 160,00, sendo a primeira no ato da inscrição.

FORMA DE PAGAMENTO depósito na conta do banco ITAÚ ag. 6030 c/c 07794-2 (favorecido Gustavo Berna – CPF 086.571.957-80) ou pagamento em dinheiro ou cheque no ato da inscrição

INSCRIçõES PELO E-MAIL [email protected]

MAIS INFORMAçõES (21) 7826-2326 (11605*1)

Durante o curso, que terá início na Quinta-feira à noite, terminando no Domingo à tarde, teremos dinâmicas, palestras com: • Vilmar Berna (Prêmio Global da ONU)• Prof. Mauro Guimarães da UFRRJ, • Prof. José Mauro Farias da CEDERJ • Prof. Alexandre Pedrini da UERJ• Prof. Ricardo Harduim, da OSCIP PRIMA • Cel. Comandante do Batalhão de Policia Militar Florestal e de Proteção do Meio AmbienteEstão incluídas caminhadas, visitação da cidade e alimentação.

Público-alvo Professores/as da Rede de Ensino do Município, Alunos de Graduação, Técnico de Meio Ambiente, Biólogos, Geógrafos, membros de Organização Não Governamental

IV CursoProfessor-Pesquisador nas asas

da educação ambiental

Período de 29 a 31/01/2010local Nova Friburgo (RJ)

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dez 2009 revista do meio ambiente

Quando atinge grau elevado de complexi-dade, toda cultura encontra sua expressão artística, literária e espiritual. Mas ao criar uma religião a partir de uma experiência pro-funda do Mistério do mundo, ela alcança sua maturidade e aponta para valores universais. É o que representa a Umbanda, religião, nasci-da em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1908, be-bendo das matrizes da mais genuina brasilida-de, feita de europeus, de africanos e de indíge-nas. Num contexto de desamparo social, com milhares de pessoas desenraizadas, vindas da selva e dos grotões do Brasil profundo, desem-pregadas, doentes pela insalubridade notória do Rio nos inícios do século XX, irrompeu uma fortíssima experiência espiritual.

O interiorano Zélio Moraes atesta a comu-nicação da Divindade sob a figura do Caboclo das Sete Encruzilhadas da tradição indígena e do Preto Velho da dos escravos. Essa revela-ção tem como destinatários primordiais os hu-mildes e destituídos de todo apoio material e espiritual. Ela quer reforçar neles a percepção da profunda igualdade entre todos, homens e mulheres, se propõe potenciar a caridade e o amor fraterno, mitigar as injustiças, con-solar os aflitos e reintegrar o ser humano na natureza sob a égide do Evangelho e da figura sagrada do Divino Mestre Jesus.

O nome Umbanda é carregado de significa-ção. É composto de OM (o som originário do universo nas tradições orientais) e de BANDHA (movimento inecessante da força divina). Sin-cretiza de forma criativa elementos das várias tradições religiosas de nosso pais criando um sistema coerente. Privilegia as tradições do Candomblé da Bahia por serem as mais popu-lares e próximas aos seres humanos em suas necessidades. Mas não as considera como en-tidades, apenas como forças ou espíritos pu-ros que através dos Guias espirituais se acer-cam das pessoas para ajudá-las. Os Orixás, a Mata Virgem, o Rompe Mato, o Sete Flechas, a Cachoeira, a Jurema e os Caboclos represen-tam facetas arquetípicas da Divindade. Elas não multiplicam Deus num falso panteismo mas concretizam, sob os mais diversos no-mes, o único e mesmo Deus. Este se sacra-mentaliza nos elementos da natureza como

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Orixásnas montanhas, nas cachoeiras, nas matas, no mar, no fogo e nas tempestades. Ao con-frontar-se com estas realidades, o fiel entra em comunhão com Deus.

A Umbanda é uma religião profundamen-te ecológica. Devolve ao ser humano o senti-do da reverência face às energias cósmicas. Renuncia aos sacrifícios de animais para res-tringir-se somente às flores e à luz, realidades sutis e espirituais.

Há um diplomata brasileiro, Flávio Perri, que serviu em embaixadas importantes como Paris, Roma, Genebra e Nova York que se deixou en-cantar pela religião da Umbanda. Com recursos das ciências comparadas das religiões e dos vá-rios métodos hermenêuticos elaborou perspica-zes reflexões que levam exatamente este título O Encanto dos Orixás, desvendando-nos a ri-queza espiritual da Umbanda. Permeia seu tra-balho com poemas próprios de fina percepção espiritual. Ele se inscreve no gênero dos poetas- pensadores e místicos como Alvaro Campos (Fernando Pessoa), Murilo Mendes, T. S. Elliot e o sufi Rumi. Mesmo sob o encanto, seu estilo é contido, sem qualquer exaltação, pois é esse rigor que a natureza do espiritual exige.

Além disso, ajuda a desmontar preconceitos que cercam a Umbanda, por causa de suas ori-gens nos pobres da cultura popular, esponta-neamente sincréticos. Que eles tenham pro-duzido significativa espiritualidade e criado uma religião cujos meios de expressão são pu-ros e singelos revela quão profunda e rica é a cultura desses humilhados e ofendidos, nossos irmãos e irmãs. Como se dizia nos primórdios do Cristianismo que, em sua origem também era uma religião de escravos e de marginaliza-dos, “os pobres são nossos mestres, os humil-des, nossos doutores”.

Talvez algum leitor/a estranhe que um teó-logo como eu diga tudo isso que escrevi. Ape-nas respondo: um teólogo que não consegue ver Deus para além dos limites de sua religião ou igreja não é um bom teólogo. É antes um erudito de doutrinas. Perde a ocasião de se en-contrar com Deus que se comunica por outros caminhos e que fala por diferentes mensagei-ros, seus verdadeiros anjos. Deus desborda de nossas cabeças e dogmas.

Leonardo Boff é autor de Meditação da Luz.

O caminho da simplicidade. Vozes 2009

A Umbanda é uma religião

profundamente ecológica. Devolve

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Renuncia aos sacrifícios de animais para restringir-se

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dez 2009 revista do meio ambiente

GerarVárias formas deMuita energia…

Você já parou para pensar o quanto somos depen-dentes de energia? Ligar a televisão, o computador, sair com o carro, etc. Haja energia para tudo isso!

A forma de energia que mais utilizamos é a elé-trica, mas existem várias formas de gerar energia... Algumas prejudicam bastante o meio ambien-te, outras não. O modelo de energia que não polui o meio ambiente é chamado de modelo “limpo”, isto é, que não polui.

Vamos então conhecer as diversas formas de gerar energia:

Começando pela energia hidráulica, que aprovei-ta a força das quedas d’água para gerar energia. É a mais utilizada atualmente na maioria dos pa-íses, mas também é a mais cara e que exige mais mudanças ambientais, pois para sua produção é necessária a construção de hidroelétricas.

O biogás, que é um gás natural, também é fonte de energia. É produzido durante o processo de de-composição que certos tipos de bactérias realizam a partir de resíduos orgânicos, como esterco, palha, bagaço de vegetais e lixo. O gás produzido pode ser usado como combustível para fogões, motores ou mesmo para turbinas que gerem eletricidade.

Outra forma de gerar energia é através do sol. A energia solar é considerada uma fonte de energia inesgotável e uma das formas de obtê-la é através do coletor solar, um dispositivo responsável pela absor-ção e transferência da radiação solar para um fluido (geralmente a água) sob forma de energia térmica.

Existe também a energia eólica, que é a energia obtida pela força dos ventos. Esse tipo de energia é considerada uma das mais competitivas, pois seu custo é relativamente baixo, e o retorno acon-tece a curto prazo.

Existe também a energia obtida através do pe-tróleo e carvão, mas os produtos residuais durante sua utilização eliminam gases poluentes no meio ambiente, portanto, apesar de serem formas de energia muito utilizadas até o momento, existem várias pesquisas que buscam fontes alternativas de energia, como as mencionadas anteriormente. fontes: http://smartkids.com.br/especiais/energias.htmle http://www.sitedecuriosidades.com/ver/motor_a_ar:_a_revolucao.html

energia

espaço infantil

Motor movido a ar! Isso é possível? Parece que sim... O francês Guy Nègre já criou o MDI “MiniCat”, movido à ar

comprimido. O motor tem a capacidade de movimentar um carro a uma velocidade de até 110/130 km/h, com um custo R$ 6,00

(seis Reais) a cada 250/300 km corridos, e, além do mais, tem a vantagem

de não poluir a atmosfera.

As primeiras rodas hidráulicas foram construídas há cerca de 2 mil anos.

As correntes dos rios as movia, e assim levavam água aos campos e colocavam

os moinhos para moer os grãos.

A energia nuclear é gerada a partir de um metal raro chamado urânio.

Os resíduos deste metal são altamente prejudiciais à saúde, por isto são

depositados debaixo da terra.

Os primeiros automóveis foram construídos por Daimler e Benz na Alemanha, entre 1885

e 1886. Tinham um novo tipo de motor, o motor de combustão interna.

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dez 2009revista do meio ambiente

Resposta: horizontal: hidroelétrica, combustão e vapor / vertical: solar e eólica

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Gerar

Quais são as formas de gerar energia?

O primeiro motor inventado foi a máquina a vapor, criada em 1777. Quem nunca ouviu falar em Maria

Fumaça? Durante muitos anos os trens eram movidos a máquinas a vapor.

Solar ChallengerEm 1981, o primeiro avião

tendo energia solar como fonte, atravessou o Canal da Mancha.

energia

Motor movido a ar! Isso é possível? Parece que sim... O francês Guy Nègre já criou o MDI “MiniCat”, movido à ar

comprimido. O motor tem a capacidade de movimentar um carro a uma velocidade de até 110/130 km/h, com um custo R$ 6,00

(seis Reais) a cada 250/300 km corridos, e, além do mais, tem a vantagem

de não poluir a atmosfera.

A energia nuclear é gerada a partir de um metal raro chamado urânio.

Os resíduos deste metal são altamente prejudiciais à saúde, por isto são

depositados debaixo da terra.

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