revista de guimarães...126 revista de gvimarÃb5 i i i i .i i de que se exone1'o.u em 1880. em...

29
Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: [email protected] URL: www.csarmento.uminho.pt Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/ Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO (HUMÍLIMO PREITO DA REVISTA DE GUIMARÃES) COM ALGUMAS CARTAS INÉDITAS A MARTINS SARMENTO E REVERENDO OLIVEIRA GUIMARÃES. (sem indicação de autor) Ano: 1946 | Número: 56 Como citar este documento: (sem indicação de autor), À Memória de Sousa Viterbo (humílimo preito da Revista de Guimarães) com algumas cartas inéditas a Martins Sarmento e Reverendo Oliveira Guimarães. Revista de Guimarães, 56 (1-2) Jan.-Jun. 1946, p. 122-149.

Upload: others

Post on 27-Feb-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho

Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: [email protected] URL: www.csarmento.uminho.pt

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO (HUMÍLIMO PREITO DA REVISTA DE GUIMARÃES)

COM ALGUMAS CARTAS INÉDITAS A MARTINS SARMENTO E REVERENDO OLIVEIRA

GUIMARÃES.

(sem indicação de autor)

Ano: 1946 | Número: 56

Como citar este documento:

(sem indicação de autor), À Memória de Sousa Viterbo (humílimo preito da Revista de

Guimarães) com algumas cartas inéditas a Martins Sarmento e Reverendo Oliveira

Guimarães. Revista de Guimarães, 56 (1-2) Jan.-Jun. 1946, p. 122-149.

Page 2: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

Á memória de Sousa Viterbo (humílimopreíto da REVISTA DE GVIMARÃES)

| |

l I c 0 m

Algumas cartas inéditas a Martins Sarmento e Rev.'I° Oliveira Guimarães

I 1

Essa i I

«O moinho podia ser o emblema da minha he ráldica. Meu Avô materno era moleiro. Se algum aspirante a fidalgo existe na minha família, que me perdoe esta revelação indiscreta.››

ê E logo acrescenta : «Quando eu era criança lembra-me ter ido com

minha família passar um domingo nos arredores do Pôrto em visita a um moinho. O sítio onde fosse não me recordo; debalde tenho procurado evocar o seu nome, porque desejava agora visita-lo outra vez para cotejar a impressão antiga. O que sei é que nunca se varreu da minha memória o quadro fantástico, que então presenceei e que ainda vive estampado na minha retentivo, como um desenho de Gustavo Do ré na atmosfera nevoenta de Londres. Tinha o quer que fosse de um castelo medieval; e a água passando por baixo das pontes, lá no fundo, produzia um ruído lúgubre, que estonteava com uma atracção fatal. melopeia sinistra ouço-a frequentes vezes, involuntà- riamente, sem mesmo cuidar no passado, mas em vez de me atemorizar, deleita-me, porque me parece uma canção do bon vieux temps embalando melancólica- mente tidas as recordações da minha infância››. I

Estas palavras, que recortamos do curioso estudo -Os Moín/zos-(*) marcam o homem e definem-lhe o carácter. Ao brazonar-se com o labor mui humilde,

I

Page 3: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

I 1

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 123

transforma em farinha substancial no pão-nosso de

I

.)

rude e ingrato, da sua ascendência pelo Avô materno, O insigne, O verdadeiramente grande estudioso, traba- lhador e erudito Sousa Viterbo tomava O próprio emblema de sua vida canseiroso e obscura: Tal como no moinho, em seu rodar contínuo e gemente, se

1

cada dia a alimentação do homem, o grão que da terra germinou ao suor do cavador; em sua inteli- gência, proficuamente cultivada nO zelo de altos senti- mentos estéticos, morais e patrióticos, pelo moer do estudo vigilante, recolhido, amoroso, quisi místico, floresceram e dela jorraram variados, inúmeros etodos magníficos ensinamentos, que, reconstituindo as por- fías de gerações extintas e esquecidas, vieram enrique- cer de precioso sustento espiritual o nosso património e a alma das gerações vindouras.

«O moinho podia ser o emblema da minha he- ráldican.

Seduzira-o, por forma a perdurar-lhe viva na me- mória do coração, aquela paisagem da infância, já afastada no roteiro do tempo, do rústico moinho, erguido, por entre os alcantis e as numerosas som- bras dos pinhais, como velho castelo, enquanto as águas das levadas sussurravam ou estertoravam suas mágoas. . - .

«Na extrema raiana (escreve' Vítor Ribeiro (~) do velho distrito do Pôrto, sobranceira à confluência do Ave com o Vizela, à beira da estrada que vem de Santo Tirso, coleando o pitoresco Outeiro de Burgães, de onde se dislruta o panorama encantador da for- mosa ribeira do Ave, depara-se a modesta igreja matriz

I neiras, onde o sino plangente chama as devoções os católicos da terra descendentes dos antigos vassalos dos monges bentos de Santo Tirso. Foi ati,. naquela boa terra minhota, que nasceram e viveram os avós paternas de Sousa Viterbo. . . João de Sousa, o avô, pequeno lavrador, isto é, na linguagem do Minho, trabalhador ou cultívador dos campos, casado com María Rosa, vivia ali em Rebordões, e de seu enlace aldeão resultou um filho único Henrique de Sousa, que, muito pequeno, veio para o Perto servir como mariano numa retrozaria do Largo de S. Domin-

de Rebordões (H) com singelo campanário de duas si-

i

Page 4: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

s ‹ .1; iuzvxsn De ovxwlmzs \

E 124 r

gos» «para mariano numa loja de sirgueiro de ves- timentas sacras, diz Sousa Viterbo de Lourenço Dias, personagem do conto judas Vingador (número do Natal de 1889 do Comércio do Perto) em que reen- carna a figura do Pai. Ali casou Henrique de Sousa com Maria Marques da Nova. «Os pais da noiva (continua Vítor Ribeiro) eram António da Fonseca e Silva e Maria Marques da Nova, ambos naturais de Valongo, onde eram abastados moleiros, e conhecidos, à moda da província, por pitorescas e populares al- cunhas de António Lélé e Maria Chalupa... Os moinhos da família de Maria Marques da Nova cha- .mavam-se os moinhos do Salto".

Ora foi na casa do retrozeiro e sirgueiro da Loja do Cantinho, ao Largo de S. Domingos, que, a 29 de Dezembro de 1845, nasceu Sousa Viterbo. Foram pa- drinhos do baptizado dois considerados valores-o Doutor Francisco Pedro de Viterbo, médico e primeiro director da Escola Médica do Pôrto e o Dr. Inácio António Marques de Paiva Neto, famoso jurisconsulto, que muito alumiou os primeiros passos da vida inte- telectual do afilhado.

-Traceja-se em poucas linhas a notícia biográfica (*). Aprendeu as primeiras letras na aula do Figueiredo, à rua das Taipas. «O bom.do sírgueiro do Largo de S. Domingos pôs cedo o pequeno aos estudos (vai contando o Dr. A. de Magalhães Basto). Mas parece .que cedo também começou a recear.que ele não viesse a dar grande coisa na vida, pois, com grande desgasto, descobria que o seu Francisco, com pouco mais de dez anos, fazia versos !. . . (Poeta, naquele tempo, era para muito boa gente sinónimo de lunático, de doido). E quanto a estudar, o demónio do rapaz estudava o menos possível! O que lhe valia era a sua viva inte- ligência e excelente memória. Na aula de Latim do Padre Dionísio levou muitos bolos. Mas também os deu quando sabia mais que os outros-porque no sistema pedagógico da escola velha (recorda-lo-ia mais tarde.Viterbo com saudade), o aluno que emendava regia com a palmatória, nas mãos do colega emen- dado, no compasso musical do hora-horae e do laudo- -laudas" .~.. Concluídos os estudos secundários feitos de mistura com muitos versos líricos que foi publi-

Page 5: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 125

cando nos jornais do Pôrto e em alguns de Coimbra e Lisboa -

Não fera creancinha E amara-a doida rente ! Tem lábios de rainha E beijos de inocente !

Que bem que lhe não fica O seu andar tão nobre I Se ela não Íôsse rica i

E se eu não fosse pobre. . . z Il i

I

(Archivo Popular, de I87¡).

lamente à custa do seu trabalho I

- e tendo hesitado no curso superior a seguir, Sousa Viterbo acabou por se fixar e escolher o curso de medicina. Matriculou-se, em dois anos seguidos, no primeiro ano da Escola Médico-Cirúrgica do Pôrto, mas em 1871 partiu para Lisboa, lá se formou- intei-

. - - e por lá se con- servou sempre. Lá casou em 1877 (e desse casamento nasceu uma filha- D. Sofia Clementina Leite de Sousa Viterbo); lá viveu, lá morreu e lá está sepultado no Cemitério dos Prazeres» (5).

Antes de se matricular em medicina, Sousa W- verbo frequentou o Seminário Episcopal do Pôrto : 1864-1807. Fez os três anos do curso de seminarista, encerrando o exame do terceiro ano com aprovação e nota de bom. Tinha vinte e dois anos. Era poeta - nascera poeta, O estudo, embora contrariado, mas ~de que sairia com ensinamentos proveitosos --é das sementes o germinar - , acendera-lhe o próprio amor do estudo. A vida eclesiástica não lhe sorria. E no seu carácter, como no dos pais, havia uma herdada, estrutural honradez. E seu primeiro sinal dela é o próprio destino em que se pretende orientar, seguir e viver a vida. Em 1869, matriculou-se no primeiro ano da Escola Médica do Pôrto, que perdeu por faltas. Voltou em 1870, mas não chegou a fechar matrícula. Com vinte e cinco anos vai para Lisboa. Entoo fre- qüenta com zelo e aproveitamento, na capital, a Escola Médica. Termina o curso com o Acto grande em 28 de Julho de 1876 (G), Logo a seguir, é nomeado Fa- cultativo Naval, com exercício no Hospital da Marinha,

I /

I

Page 6: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I

I I

.I

I

de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D. Sofia Virgínia Leite Por decreto de 23 de Junho de 1881 é nomeado Professor interino da 3.' cadeira auxiliar do Curso de Belas Artes; em 1897, é chamado a substituir, em seus impedimentos, o Professor da 2.a cadeira, acumulando-a com a regência da 3.", até que, em 1901, é nomeado Professor efectivo da l4.a cadeira -.- História da Arquitectura.

E se, assim, o trânsito da vida pode resumir-se em breves linhas, mais fácil ainda, até para quem o não conheceu pessoalmente ou jamais o viu, mas com ele trava intimidade através da sua vasta obra magní- fica, seria delinear-lhe o perfil com, até, a mesma exactidão do perfeito retrato psíquico e moral. Sen- tem-se como se vêem, com indesmentida veracidade, seu viver amoroso e obscuro, a singeleza do trajo, a franqueza aberta do trato, o extremoso afecto do lar, as longas horas de vigília, o labor tornado em hábito, a investigação corroenta como vício orgânico, o maior escrúpulo, a maior probidade, a modéstia natural e couraça contra as perversas tentações da ambição, estonteio do aplauso adjectival da crítica, os fumos nicotinosos da gloriola vulgar. Logo nos atrai e do- mina, como predominante do seu carácter, a verda- deira paixao, mas consciente e iluminada pela cultura, à terra e à gente portuguesa. E' ele próprio quem se desenha nestas belas palavras, ,que sao também lição profícuo :

. «A linguagem é o espelho onde nitidamente se vem reflectir o estado de alma de um povo, o grau da sua cultura intelectual, o seu carácter enfim. Não se faz um detido exame linguístico para se reconhecer que duas poderosas civilizações, sobrepondo-se quisi consecutivas, exerceram alta influência. na esfera da actividade mental portuguesa. Uma delas, a romana, a-pesar-de mais antiga, foi a que deixou mais pro- fundos e indestrutíveis vestígios. A língua latina é a base fundamental e assimiladora do nosso organismo glótico. A língua arábico, representante da civilização muçulma não modificou a estrutura do nosso idioma,

_mas aumentou-lhes consideravelmente o vocabulário, *sobretudo no que diz respeito às indústrias, em que

Page 7: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

I

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 127

ela foi eminente, como a tapeçaria, a cerâmica, o fa- brico das armas e das sedas.

Nas canções de D. Dinis e dos trovadores, seus companheiros, nas magoadas estrofes de Cristal, na prosa melódica da Menina e Moça, nas EfzdeChas de Camões, nas formosas serranilhas de Robrigues Lobo, nos idílios de Quita, nas carinhosas liras da Marília de Dirceu, naslmil páginas enfim do vasto Cancioneiro formado por todos os nossos poetas, desabrocha me- lancölicamente a flor da saudade, impregnando-as do seu perfume etéreo." Em tida a nossa literatura o espírito aventuroso e guerreiro aparece estreitamente ligado, como num grupo de Lacoonte, a paixão amo- rosa. Os Lusíadas, que é a bíblia da nossa nacionali- dade, é o poema que melhor exprime este conjunto, que mais acentuadamente simboliza os sentimentos e as tendências predominantes da alma portuguesa. Ao ruído das batalhas, ao trovejar das tempestades, às imprecações e vaticínios funestos do Adamastor, suce- dem-se os episódios mais lancinantes, como o naufrágio de Sepúlveda e a morte trágica de Dona Inês de Castro, cujos lamentos se hão-de repercutir indefenidamente, como a expressão mais sincera e maviosa dal der humana.

O sentimentalismo é a nota predominante do nosso temperamento e por isso não admira que a nossa língua seja tão rica em frases afectuosas e deli- cadas. Sob o ponto de vista subjectivo, nada temos que invejar às outras literaturas, como o demonstra a exuberância da nossa poesia lírica" (7).

Noutro lugar diz, também: ‹‹Percorrendo, ainda que oficialmente, o nosso vocabulário, ver-se-á que não foi pouco intensa e perdurável a influência da civili- zação arábico no nosso meio social. Muitos objectos de uso comum conservam, na sua designação, a marca da fábrica que os produziu, o nome do operário que os fabricou. Assim o albornoz recorda-nos o algibebe, o azulejo o ceramista, a aldrava o cerralheiro, a alcatifa, o tecelão de tapetes. O alfageme de Santarém faz-nos pensar na lendária espada do Condestável. Na imagi- nosa linguagem do povo há duas comparações pitores- cas que bem demonstram a qualidade do papel que desempenhava o mouro . l a vida -doméstica. De um

` I 1 1

Page 8: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

1 J I r* c

F i 128 Rfivrsn' DE GVIMARÃES

I I

Í I

ln

homem muito laborioso costumava dizer-se: aquilo é um moura-leva a vida a mourejar» (**). e

Também ele queimou a chama do alento vital mourejando duramente, como o rude lavoirante da gleba, a escavar nos geies dos tombos e chancelarias, entre o vasto entulho dos falsos cronistas, Os veios puros da séria documentação histórica para iluminar da morte à continuidade e união da consciência nacio- nal o fadigoso trânsito das gerações nos tempos idos.

E logo, em sua estrutura psicológica, outro sentido amor o domina e prende indissolúvel - o da. família, o do lar doméstico. Moço ainda, ao descrever o ior- moso quadro em que o célebre flamengo Teníers se pinta junto de sua família a tirar doces harmonias do seu violoncelo, talvez a ver «perpassar diante dos olhos, a par com as ondas sonoras, as ondas coloridas dum quadro que principia a debochar-se no seu pen- samentov, Sousa Viterbo escreve com enlevado enter- necimento: «A arte no seio da família! o que há de mais nobre no que há de mais santo» (9)! Noutro passo, ao descrever o quadro de Leiweber-«A primeira valsa»-(*°), diz, ele que nos vinte e poucos anos andava então: «Não sei se passarei de celibatário, mas se lograr a ventura de chegar a avô, afianço desde já que aprenderei a tocar qualquer instrumento separa entreter a pequenada. Se não tiver vocação filarmó- nica, se as minhas faculdades musicais (") se esquivarem à própria gaita de fole, faço-me artista de realejo. Deve ser indubitavelmente uma cousa para invejar a felicidade dos velhos, quando a alegria da infância os rodeia. Os cabelos estrigados sao as flores brancas da cabeça, os pequerruchos são as flores vermelhas da vida. Quando às vezes atravessava os campos, os campos risonhos da minha província, muitas vezes me quedava atrás de alguma parreira a observar um quadro curioso. . .›› E o seu olhar de saüdade- da infância despreocupada e da linda terra natal-evo- cava o crepúsculo de um dia de trabalho, quando os pais voltam do monte de cortar lenha e vêm encon- trar, junto de casa, os filhos em pulos he roda à velhinho avó, sentada no preguiceiro dedaixo de fron- doso carvalho.

'Este carinho dedicado à. família em que, da sua I

*

I 1

\

Page 9: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 129

2

exilado, o moço ainda estudante, estuava e emocionan- temente descrevia, com as mais fundas raízes pela herança do sangue cravadas em seu temperamento, se eram o indício de vocação natural, continham a sina feliz da sua vida, que a viveu no santo e puro e reca- tado amor do lar. Quando, mais tarde, com O mais árduo trânsito dela já percorrido em contínuos e porfia- 'dos trabalhos, a luz dos olhos se lhe apagou, queimada pelo estudo e pela doença, lúgubre, na triste noite da cegueira, foi a bendita luz da afeição da filha devota` Idíssima quer o conduziu pelo resto do caminho a percorrer, até o derradeiro instante do alento, e lhe iluminou as longas horas de mais fadigosas jorna- das, na incessante elaboraçâode novas e constantes produções, sabre as fontes de elementos, com inesgo- tável paciência investigados e recolhidos durante ou- tros anos.

Mas, a mesma paixão do estudo e dos livros, das meditadas leituras, das benedictinas peregrinações, também essa a revelara cedo: ao escre,ver o artiguinho para acompanhar uma gravura de Pedroso, com a reprodução? do quadro --O Bibliófilo-de M. Bordalo Pinheiro, sai-lhe espontâneamente a confissão - «Está no interior do seu mundo: ide perturbar-lhe aquele silêncio e ter-lhe-eis arrancado a felicidade. e Como Pitágoras, tem o ouvido afeiçoado para as músicas misteriosas. O grande filósofo- grego afigurava-se-lhe ouvir a harmonia das esferas, êle também ouve um concerto a ressoar entre as paredes escuras do seu quarto; cada livro é 'um instrumento da grande or- questra; de cada filha sai uma nota que só ele com- preende. .Vive solitário e vive entre amigos. Não descerra os lábios e mudamente palestra em tidas as línguas. Discursam com ele os velhos e os moços, os vivos e os mortos, os mortos principalmente. . . . . Evoca os grandes espíritos e sente-se face a face com os génios. E' um seu familiar, como que a sua alma é feita da alma de todos eles. . . . Umas vezes é como o alquimista. Lida, afadiga-se, tressua, julga ter des- coberto um tesouro, encontra na biblioteca dum mos- teiro um manuscrito extraordinário; a letra está quisi consumida, a traça rendilhou-0, mas aquilo é uma perfeita maravilha, que se torna preciso restituir ao

l I

l

I

I

i

Page 10: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

130 RzvIsrm' DE GVIMARÃES I I

garatujas»

seu primitivo valor. Depois de esforços inauditos de paciência, depois de gastar dias e noites "a advinham

(H) Com tão diligentes e aturadas pesquisas, em que

só O consciente do propósito deliberado espertína em acuidade a paciência para a exaustiva fadiga, e no sólido fundamento da vasta documentação recolhida, construiu Sousa Vitelo a sua obra de polígrafo emi- nente, prolongando, em diversos e os mais desencon- trados aspectos, a vida real e vivida através os séculos da história da terra portuguesa e do povo lusíada. Levou, assim, a verdadeira ciência histórica, com me- ticuloso trabalho de austera probidade, ao estudo de figuras, sítios, costumes e acontecimentos, que, a par dos vulgarmente e sempre aduzidos e concatenados em relações históricas de feitos e reinados, são também a expressão de antanho e, muitas vezes pequeninos e obscuros, nem por isso menos deixam a própria essência do nosso passado. Além do vocatório es- pontâneo, quisi diríamos orgânico, que tal empresa requere e exige, do engenho imaginativo para colorir a letra apagada e muda do pergaminho, da cultura autênticamente erudita para, em tão variados campos, dominar ou integrar-se no respectivo ambiente e dar sentido aos factos, teve, devia ter Sousa Viterbo, como auxiliar indispensável, uma pronta retentivo firme, leal, certa e segura. Ela com certeza o guiou, quando lhe faleceu a luz dos olhos, pela grande biblioteca, onde, na estante das células, armazenara os livros e os manuscritos de leituras e cópias.

Ao referir-se a Fr. Francisco de Santo Agostinho de Macedo (‹‹Archivo Historico Portuguezv, vol. VIII, pág. 198), cuja portentosa erudição, considerada ainda superior à do grande Lope de Vega, mas sem a cinti- lante imaginação criadora deste admirável escritor, por aqueles anos de Seiscentos se tornou famosa, dotado de tal memória «que foi o pasmo de naturais e estranhos, Viterbo não se esconde a exaltar, talvez por bem sentida gratidão: «A memória é uma das faculdades mais importantes e engenhosas do espírito, e tanto que, na frase de um homem ilustre, o saber consiste apenas em recordar. O cérebro é como uma fornalha, que está. continuamente ardendo e que, se

Page 11: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

1 À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 131

I I

não for alimentado com igual constância, decerto se aniquilará, consumindo se a si próprio. E' bem de ver que o forneiro deve ser escrupuloso, não só na escolha dos materiais que lança na fornalha, como também na maneira de os aproveitar economicamente, extraindo-lhes as substâncias úteis e regeitando as escórias. Não é este um trabalho que se faça ao acaso, antes com muita ordem e criterioso método para que a memória não seja apenas uma loja de ferro velho, onde tidas as cousas se misturam num acervo pito- resco, mas estéril e incómodo. O verdadeiro erudito não é o que sabe muito, atabalhoadamente, mas sim o que sabe bem e expõe com clareza O resultado do seu estudo indefesso, da sua assimilação constante, das suas bem acertadas operações intelectuais» (13),

Aqui ficam definidas por ele próprio suas acen- tuadas características de estudioso-investigação me- tódica e vigilante; selecção reflectida e apurada; bom ordenamento do material recolhido; austera probidade científica no historiar dos factos, no descrever dos costumes, na biografia das personagens; sentido do valor efectivo da obra a produzir, sempre atento à utilidade do conhecimento que dele resulta; poderosa faculdade de memória, bem ordenada e catalogada como os livros na estante da biblioteca, erudição só- lida, profuso e vasta.

E como . não há dois sem três, Sousa Vitelo era. . . Mas, perdãolz Sousa Viterbo trouxera no sangue, herdara da ânsia inquieta do moinho a tornar em farinha branca e fina os loiros grãos do milho, na corrente das águas claras da levada, nascera com aquela vaga e inquieta melancolia que marca a inclinação para os sentimentos estéticos. O alar da imaginação pelo azul; a .dolorosa e deliciosa perturbação ante o encanto da paisagem ; a harmonia do contorno estatuário; a me- Iodia rítmica do som; o perturbador inebriamento da mulher, com a sua doce beleza, .e do amor, com seus mistérios sombrios: eram, nele, congénitos, espontâ- neos, naturais - o seu modo de ser psíquico. Não acendia preces às Musas para que elas lhe dessem em versos medidos e em acertadas rimas a expressão do .que se lhe agitava no espírito em motivos de poesia 1 inspirava-o o mesmo bater do coração. A poesia in-

Page 12: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

132 ä

I I:

¡ I

I REVISTA' DE GVIMARÃES ¬

terror, não a de escola, factura, tema ou= propósito. Ela andava no ar, nas gerações ainda românticas daquele tempo, na hora de crise alvoraçada e interrogativa da mocidade. E' em verso que, precoce, inicia a carreira literária, com várias composições em jornais. E' um poema- O Anjo do Pudor-0 seu primeiro livro , são de versos os seus livros de estudante (**).

H E T A I R A S

Vós envolveis o corpo nas roupagens mais finas, elegantes, caprichosas , vedes passar, alegres, volup tuosas, do amor fidalgo as lubricas imagens. I

Adormeceis nas flaccidas carruagens, murchaes no seio as pudibundas rosas, e queimaes essas bicas sequiosas nas bicas femínis dos louros pagens.

Tendes tudo; os theatros, a riqueza, as noites de delírio e morbideza, todas as tentações, todos os brilhos !

E só não tendes nas esmereis pombas, ó Versus das esplendidas Sodomas, uma gata de leite para os filhos 1

Das Harmonias Fia/ztásticas, O soneto. O grande Camilo, no Cancioneiro Alegre (vol. I, segunda edição, pág. 285), inclue Sousa Vitelo na galeria de poetas portugueses e brasileiros: HE' médico, como Júlio Diniz, e também do Pôrto, donde os poetas, que lá nao morrem como o rouxinol da Menina e Moça, alam-se para outras montanhas como as cotovias quando ouvem crocitar o corvo na escarpa da serra. Viterbo, se quisesse estabelecer-se na rua de Santo António ou Clérigos, com écri/zs de chitas ou efeitos de guia-percha, poderia sustentar a sua primazia entre os poetas do Norte, sustentando-se a si da percen- tagem da chita e do cauchu, porém, na qualidade de médico, a reputação que lhe cabe como poeta, consti- tuí-lo-ia na posição de considerar-se o representante

terbo, em Lisboa, de vez em quando, abria as fadas das vítimas do Ceara na Praça Nova. Sousa Vi-

Page 13: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

I |

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO .133

Triste coisa* Vinte

da sua mocidade a porta! do seu gabinete, e para !não as espavorir escondia a canastra dos ossos. Depois, quando entendeu que era preciso respeitar' os costu- mes, pensou no mais sumário expediente para de uma vez se calar. Em vez de encerrar Os ouvidos como os legendários flautas à insídia das sereias, casou. E depois, nunca mais cantou. . mulheres colaboram em trezentos páginas de versos in-8.° francês. Depois, vem uma só que aspira todos os aromas dessas flores até lhes fenecerem as pétalas. E o poeta vai secando como a flor, e torna-se fruto sem aroma. Tal é Viterbo, o médico, o gentilíssimo poeta que foi.-› .E transcreve a poesia - A's Senhoras Fidalgas da Confraria de S. Tartufo-,šde pungente sarcasmo e por isso de eSpecial relevo para o ator- mentado génio do romancista.

As palavras de Camilo mostram o estimativo ^ Mas não

foi, por certo e até! bem seguramente, o casar-se que lhe estancou a veia lírica, nem o trânsito da moci- dade para anos de mais estio. O amor não conhece

'idades

apreço, em que tinha Viterbo como poeta.

I Uma questão na verdade Só definir-te não posso : Se há-de ser o amante moço, Se já crescido na idade.

I

i

| ¡

Arde o moço mais violento, Mas com chama mais segura : Arde Q velho, e mais lhe dura O fogo quanto mais lento :

I

Um se muda mais íàcilmente, Outro é firme até à morte ;` Se ama o primeiro mais forte, O segundo mais prudente.

como já escrevia Teodoro de Sá Coutinho. Nem a idade mina e seca a poesia no coração do artista. Vítor Hugo, o nosso João de Deus foram poetas até à morte: devia ser ainda um verso, e sentido e magis- tral, talvez, em espumada evocação da mocidade, o último soluço que expirou em seus lábios. E Sousa

I

Page 14: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

I .| ¿

134 I Rzvlsn De OVIMARÃ!:S I I i

l Viterbo encontrara na família novas fontes de ins- piração. '

1

A lei inexorável do ter de viver, formar-se, sus- tentar-se só à custa do' seu trabalho, essa, deve ser essa imperiosa e iniludível necessidade que, coagindo-o a outras canseiras, a novas íolrmas de actividade, o distraíram não de ser poeta, mas de se deixar apenas conduzir pelo cultivo da poesia, que não era, aliás, a feição predominante do seu espírito. Camilo, tal mesma aponta na sua nota, sabia a triste, e até por 'vezes como degradante, miséria do nosso escritor. E então, poetas? Ainda hoje são almas penadas, entre tantas outras, as esguios sombras do grande Bocage, do epígramático To lentino :

I .1

I .

I ã

1 i

A ocupação de poeta é nobre por natureza ; mas todo o ofício tem ossos, e o s deste são a pobreza.

Tomaz Pinto Brandão passara os anos a chorar-se

que tendo mercês, e Estado estou morrendo de fome.

I I

_i Ou o Oarçao I

¬ I

I 1

I I

Mas de poeta, amigo, só me resta desastres e misérias : filhos rotes. . . ,

Versos bem conhecidos, aliás, de t ida a gente. Em Sousa Viterbo o sentimento estético, delicado, intenso e puro, estava tão profundamente arreigado, integrado na própria essência, um poeta durante a vida 'inteira, embora só, de certa altura, apenas pudesse consagrar à poesia furtivos mas

lvoluptuosos instantes. E' com uma poesia que estreia Ia colaboração nas Artes e Letras- O Banquete dos -Deuses-(n.° Õ, de 1872) :

que devia ser, e foi,

f c I

à

{ 1 1 I

i

Quando Vénus o cinto desprendia, quando~ mostrava os seios palpitantes resceudendo finíssima ambrosía

I

i

i

I i

l I

.

I

Page 15: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

. . . . . . . . . .

!

1 135 À MEMÓRIA DE SOUSA V1TERBO'

I

I todos então saudavam delirantes essa filha da vaga gemedora, a formosura que os fazia amantes.

! I

Cambaleando, os deuses vinolentos abraçavam-se ás deusas fatigadas e dormiam HOS seios opulentos.

! i

Mas no entanto, nas sombras condensadas, ouvia~se um roido ensurdescente,

! a musica debil das gargalhadas.

Era um caótico audaz, voz inclemente, era um hymno de guerras implacaveis, um grito de vingança omnipotente.

Eram filhos da terra, miseraveis, que saiam das lobregas ruínas sem ter do lar os gosos inefáveis.

Tinham no rosto a escuridão das minas, sorriam ferozmente, como escravos pisados pelo pé das Messalinas.

I . I .

I I

I

i I I I

l 4

E' do mesmo ano (1872) a poesia- O cachimbo ido Sultão-, publicada no ano 2.° da mesma revista (vol. II, Março de 1873, pág. 34):

‹ 'I

z

Tinha o sultão uma escrava | que era o lyrio matinal,

que mais aroma exalava no seu palacioireal.

e no 3.° ano (1874, n.° 4, pág. 51), os versos - Ou das 1

Ó ondas que passaes, ondas do mar dourado, ondas de fogo e luz, ondas de tentação, não me deixeis perdido, absorto, abandonado, levae-me corpo e alma em vosso turbilhão.

I

Harmonias Farztásticas apareceram em edição pou- co antes de Sousa Viterbo se formar. Sua actividade literária era, todavia, solicitada para outro rumo, donde pudesse auferir o necessário para custear essa mesma

1 ¡ ,

Ii .

r

Page 16: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

136 I i ! l .

. l i ¡ REVISTAS DE GVIMARÃES I I

I F I

I

r ha* F

4 . 2 formatura. Em 'l'8õ7, lera redactor doá=semanário Mocidade (de que apenas saíram 12 números), tendo como colaboradores Alberto Pimentel, Alexandre da Conceição, Guilherme Braga, Pinto ldelAlmeida, e ou- tros. Para o jornal do Porto entrara para colaborar com joão de Oliveira Ramos na revista do estrangeiro, e, já matriculado na Escola Médica de Lisboa, Man- dava artigos para esse mesmo jornal- «servindo-lhe a remuneração desse trabalho para auxiliar as despesas da sua formatura» - ("5), e, além dessa, outras colabo- rações literárias que, por essa época, praticava.

De que não divórcio entre a Poesia e a Medi- cina, como ele Sousa Viterbo o escreveu também ao referir-se ao : Doutor Manhaus e outros' colegas de outros séculos, há sobejas. provas '-e exemplos em alguns médicos quer foram. e são, altíssimos poetas. Mas é inegável os confronto díssidioSo entre os natu- rais arrebatos, os abstractos devaneios, as perturbadas comoções de um moço poeta e o frio objectivismo do escolar de cirurgia, que vai ao teatro anatómico palpar a morte na dissecação dos cadáveres e assiste, nas en- fermarias do hospital, ao espectáculo do evoluir da doença em luta contra a vida. Este seco materialismo, esta patente e dura objectividade dissabora a fantasia, algema o espírito, sarcasmo das ilusões doces, ama- viadas no ritmo verbal. Sousa Viterbo tinha,' em sua frente, duas obrigações: a de estudare a de poder estudar ; duas tarefas: a de formar-se e a de se custear a formatura. Assim criou, e maravilhosamente ada- ptado conseguiu desenvolver, o hábito de estudar, concretamente, as coisas positivas da vida, e o hábito de escrever metodicamente. esmagadora, mas iniludível. O seu coração, esse é que superou o amargo transe, por espinhoso em idade que não conheceu folgaria. Gostava da poesia, como ser artista, e esse afecto manteve e nesse credo mor- reu, pois, como diz um zoutro médico, e distinto, o Dr. Hernâni Monteiro :

Era a lição da realidade,

Quando a vida com artes de Megera Nos crava'as suas garras e nos suga O sangue ef a carne, tenta-nos a Fuga, ‹

E ao IIOSSO ouvido o Sonho diz:~Espera! (16)

1

I I

Page 17: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 137

Sousa Viterbo ouvia o sonho, deixava que a musa, nos intervalos do seu extenuantíssimo lavor, lhe to- casse a fronte e se reclinasse sabre o seu peito. Sob o pseudónimo David Rosa, começou a publicar, desde 1904 até 1910, no Diário de Notícias, toadas populares, que foram piedosamente recolhidas no livro póstumo Ultimos versos :

Puzeste na tua porta Fechadura de segredo z Dizem agora as vizinhas Que te vem tardio o medo.

Fõste acusar-me á Justiça, Foi injusta a accusação, Pois quando tentei roubar-te Já não tinhas coração.

Eu sou a ponte de pedra Tu és O rio que passa : A minha grande firmeza E' causa á minha desgraça.

Juraste por escritura Entregar-me o coração ; Assignaste-a na areia. . . Lá se foi a obrigação.

O' roseira, ó roseírinha, Roseira de um só botão, Queira Deus que desabroches Dentro do meu coração.

Não me mandes, desdenhosa, Ser ermitão no deserto ; Quanto mais de ti me afasto Mais de ti me sinto perto. (U)

s

Cego, doente, alquebrado, sob o peso e no tor- mento de porfiada labuta mental, a poesia florescia ainda assim no seu esperto gentil. Por vezes, o desa- lento, o cansaço, a msatlsíação, a dúvida e incerteza

. O 1

so têm aqueles que VIVCITI a vlda e caro lhe pagam o de se valeria a pena viver ou ter vivido, e que, afinal

Í

Page 18: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

38 REVISTA DE OVIMARÃES

seu tributo,.como' ele sente neste soneto, escrito Benfica, em 1906 1

em

D E S C A N S O E T E R N O |.

Ah I comO bom dormir ! E como é triste Que venha tarde O sorno derradeiro 1 Pois o gôso supremo e verdadeiro só no descanso eterno é que consiste.

De que nos serve andar de lança em riste A combater sem trégua o mundo inteiro, Qual ontrOcervantino cavaleiro, Que de loucas emprezas não desiste ?

Se tudo neste Mundo é illusorio, Para que estar em lucra permanente, Transformando a existencia em purgatorio P

Accusem-me de espírito doente I. . . Não quero ser O fumo do incensorio, Mas cinza glacial, cinza imanente. (nó)

E

Mas. . . dizia o genial Camilo: «Ser ‹‹poeta›› não é ser nietrificador, alinhador de compassadas sílabas, mestre de pausas, e infatigável esmerilhador de COI]- soantes. O poeta raras vezes faz versos; e, se os faz, além dos vinte e cinco anos, é infecundo, porque então lhe entrou na alma a noite do desengano, apagados os alvores da estrela, que lhe pronunciara um dia ma- gnífico.» (Duas horas de leitura).

Viterbo em parte confirma e em outra desmente a asserçao romântica: com ser poeta, não lavrou na poesia a marca do seu talentoso e real valor; e, se fez versos, na mocidade, por não sentir apagados os cin- tilos da estrela espiritual, ainda os arpeou vida fora : a própria noite do fatalíssimo desengano, que llle havia de trazer a cegueira, nem essa O prostrou, que a ven- ceu ainda a trabalhar mais e sempre.

Ao engodarern-no, rapazio, as letras feiticeiras dos livros, donde se desprende para certas almas, condenadas ao martírio dos labores intelectuais, o veneno euleante e corrosivo, ele ouvia, naquele Pôrto de então, os ecos funéreos de Soares de Passos, a voz

i

Page 19: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

J

À MEMÓRIA DE soUsA VITERBO 139

n

de bronze de Herculano, O remocado lirismo de Gar- reti, O prestígio de Castilho e sentia como andavam cativas as atenções em joão de Lemos, Gomes de Amo- rim, Mendes Leal, Bullzâo Palo. No Panorama, a narrativa histórica moldava-se no ressurgir fiel e colo- rido. de figuras, costumes, acontecimentos, com o mesmo Herculano e, depois, com Rebelo da Silva. E, no / o r a l do Parlo, um moço escolar de medicina, e distinto, e doente, criava um novo romance, emi- nentemente nacional -cílio Dinis, com as Pupilas do Sr. Reitor.

O jornalismo atraía como, ou tanto, a simpatia de uma linda rapariga, que se deseja ver, com quem ape- tece conversar, ter intimidade. Era, com o botequim, a boemia do espírito, em que os literatos faziam, com voluptuosos ousios de aventura, a sua iniciação. Vi- terbo enamorou-se, sorriu, entregou ao jornalismo a sua primeira carta de namôro-e manteve-se-lhe fiel até à morte. Leal ao primeiro amor das letras, ingénuo e puro. Mas convicto e profundo. Um outro distinto jornalista, jayme de Faria, traçara assim o perfil de Viterbo no labutar da imprensa: «Pode dizer-se que a carreira jornalística do Dr. Sousa Vzierbo começou no mesmo _/or/zal do Pôrio» (onde Alexandre da Con- ceição se referira em elogiosa crítica ao seu primeiro livro, o poema Anjo do Pudor) «para onde entrou a título de colaborar com joão de Oliveira Ramos na revista estrangeira. Depois passou a redactor politico do jornal, e, quando to para Lisboa matricular-se na Escola Médica ainda exerceu por algum empOas iun-` iões de articulista no referido periódico, servindo-lhe a remuneração desse trabalho (is) para auxiliar as des- pesas da sua formatura. Foi director político do ƒornal da Manhã, do Pôrto, enquanto propriedade de Eduardo Carmo, e nas páginas literárias dos números de se- gunda-feira publicou muitos artigos asssinados com o seu nome e com os pseudónimos do Curioso alfarra- bista e David Rosa. Escreveu no Comercio Portuguez e Progresso Comercial, dos quais foi, durante tida a sua existência, correspondente diário político noti- cioso em Lisboa, e redigiu por alguns meses, durante a ausência de Luciano Cordeiro no Brasil, o Commercio' de Lisboa, assim como cerca de dois meses. o jornal

Page 20: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

140 REVISTA DE OVIMARAES

Dr. Alfredo «E' principalmente em artigos jornalísticos - e

nomeadamente na colaboração assídua, durante longos anos, nos editoriais do Diário de Notícias--, artigos que, reunidos em volume, formariam um vasto corpo de doutrina do melhor e mais salutar apostolado- que se encontra a obra do evangelizador e do propa- gandista. Era ali que ele sem cessar lançava em mi- lhares de cérebros as sementes e os incentivos de tanta aspiração legítima, de tanto ideal generoso, de tanta reivindicação justa." . .. «Moderado nas apreciações, claro e límpido no raciocínio, primoroso no estilo despido de enfáticos refolhos, uma ou outra vez ser- vindo-se da ironia para castigar defeitos ou corrigir ridículos. . . v (is

do Commercio, durante uma estada em Paris do Dr. Eduardo Burnay. Actualmente, O Dr. Sousa Vi- terbo é redactor efectivo do Diário de Notícias de Lisboa, onde ficou substituindo, pela sua morte, Eduardo Coelho na secção Assumpto do dia, na qual publica artigos doutrinários, de política imparcial, sem feição partidária» (20),

Da sua colaboração no Diário de Notícias fala o da Cunha :

) E, com grata piedade e saudosa recordação, o

Dr. Alfredo da Cunha reúne, de facto, em volume alguns desses artigos, cem artigos sôbre- arte; indús- tria; teatros; educação; educação da mulher e femi- nismo; indigência e beneficência; comemorativos ; festivos; necrológicos; doutrinários, noticiosos e lite rários (22),

(Concluí .no próximo íasc.).

EDUARDO D'ALMEIDA.

N O T A S

(I) Sousa Viterbo - Archeologia Industrial Portuguesa. Os Moinhos. Lisboa, Imprensa Nacional, 1896.

E' um estudo extraído do Archeologo Português, II, n.°$ 8 e 9, Agasto e Setembro de 1896.

O exemplar traz a dedicatória manuscrita: «Ao Ex."1° Sr. F. Martins Sarmento o1't.° Sousa Viterbo-.

Page 21: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

à MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 141

Não resisto a transcrever mais estes períodos illiciais: ‹E' com profunda saudade que vejo desaparecer pouco a pouco os vestígios da nossa indústria caseira. A máquina vai triturando tudo no seu movimento vertiginoso, sem que mão piedosa se lembre de apanhar esses restos, humildes mas gloriosos, depositando-os depois em sítio, onde possam ser cuidadosamente estudados e onde a curio- sidade lhes preste merecido culto. Existe a arqueologia da arte, por que não há-de existir a arqueologia da indústria?. . . O Museu que realizasse semelhante ideia (a ,de reunir ‹todos os processos e todos os instrumentos e aparelhos seguidos e adoptados desde os tempos mais remotos até nossos dias›) seria a escola mais instrutiva do mundo›.

Nesse trabalho, colige dados, informações e documentos sabre 0 aperfeiçoamento por nacionais dos motores hidráulicos e de outra natureza, com algumas notícias relativas a moageiros e moendeiros, referentes aos séculos XVI, XVII e XVIII. .

(2) Vítor Ribeiro-Sousa Vitelo e a sua Obra--Notas biográficas - Lisboa, 1913.

I

(3) Freguesia de Rebordões (Concelho de Santo Tirso). Orago - Sant'lago. População - 2.282 habitantes (510 fogos). Aldeias que constituem a freguesia - Aldeia Nova, Boavista,

Cancelo. Carreiró, Cima de Vila, Igreja, Eirado, Fonte, For telas, Freitas, Honra, Lage, Lago da Igreja, Loureiro, Moutinho, Mourizes, Padrão, Olhô, Ponte, Quinta, Quintães, Ribas, Ribeiro, Rosadouro, Santosinhos, Souto e Vergadela.

Rios-A freguesia é limitada ao Norte pelo Rio Ave e ao nascente pelo Rio Vizela.

Serras - A freguesia está situada na encosta norte do Monte Córdova.

Principais distâncias quitométricas-Santo Tirso, sede do concelho, fica a 3 quilómetros. As estações do caminho de ferro mais próximas são a de Caninos, a meio quilómetro, e a de Ne- grelos, a um quilómetro de distância, se tanto.

Escolas-Possue a freguesia 3 escolas oficiaís e um pasto escolar. Duas escolas estão instaladas em edifício próprio, cons- truído por subscrição pública, e a terceira e o pasto escolar fun- cionam em edifícios arrendados. Actualmente (1946) existem 4 escolas, 2 do sexo feminino e 2 do sexo masculino. Duas funcionam no edifício construído por subscrição pública e outras duas num edifício construído pela junta, com a comparticipação da Câmara. Só o pasto escolar é que funciona em edifício arrendado.

Serviço de correio--A entrega da correspondência é feita por um distribuidor de Santo Tirso. Existe na freguesia um marco postal.

Indústrias locais - Fiação, tecidos, fundição de ferro e metal e serralharia.

Fábricas ._ Existe uma de fiação, da firma Araújo, Gonçal- ves 8: C."-, L.", no lugar de Freitas; outra de tecidos, a «Fábrica de Rebordões-, da firma Nogueira, Machado e C.°, L.", no lugar de

I

I

Page 22: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

Mourizes; e outra de fundição de serralharia mecânica, da firma Carvalho sé Irmãos, 1-.3, no lugar da Ponte.

A importante ‹Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela, L.=›, ainda tem uma pequena par te dos seus vastos edifícios dentro dos limites desta freguesia. Actualmente (1946) existem mais: Uma fá- brica de tecidos, a «Fábrica de Tecidos do Cancelo de Joaquim Carvalhal, no lugar de Cancelo, uma serralharia mecânica, de Joa- quim Monteiro, llo lugar de Santosinhos; e diversas fábricas de tecidos sob o regimen caseiro.

Principais produtos agrícolas - Milho, centeio e o afamado vinho verde da região.

Agências de seguros-Existem as das companhias ‹Garantia› e «A Mundial-, a cargo do negociante José Luís Fernandes.

Templos-Possue a freguesia uma ampla igreja, de linhas airosas e modernas, construída por subscrição aberta entre os seus

142 Rflvxsrà' DE ovxmARÃzs

'll

J

Antiga igreja marfriz de Rebørdões

I

habitantes. A antiga igreja está hoje transformada em salão de ca- tequese e de festas, tendo-lhe sido apeada a torre.

Factos da história da freguesia -_ A freguesia de Rebordões encontra-se situada numa região pedregosa e bravio. EtimolOgica- mente, 0 seu nome, Rebordões, significa :lugar silvestre e agro›. O Padre Carvalho, na sua ‹Corografia-, diz que Rebordões foi «Abadia que apresenta o Mosteiro de Santo Thyrso com reserva, deu-lh'a Gil Martins, filho de Martim Fernandes de Sa, no ano de 122Ó›, e Pinho Leal, no «Portugal antigo e modernos, acrescenta que Rebordões foi «honra e vila›. A atestar, talvez, a veracidade desta afirmação, ainda hoje existem na freguesia os lugares da ‹Honra› e de ‹Cinla de Vila›. Como quer que seja, vê-se que Re- bordões é povoação muito antiga. No princípio do século XVIII tinha 90 vizinhos, segundo afirma Alberto Pimentel no ‹Sai1ÍO Thyrso de Riba d'Ave›. Num dos livros antigos do Arquivo Paro- quial lê-se, com data de 22 de Junho de 1812, o seguinte : «Esta freguesia tem este anuo 140 fogos. Aldeias chamadas lugares 20,

r uma casa. algumas das quais tem so Esta freguesia pertence ao Concelho de Refolos de Rlba d'Ave, governo secular e correrão ao Porto›.

\

Page 23: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 143

Vultos ilustres - Resídiu aqui durante muitos anos, no lugar de Santosinhos, com sua filha Claire Wilson de Resende, o ilustre pintor Francisco José Resende, professor da Academia Portuense de Belas Artes. Ainda há poucos anos se podiam ver diversos de- senhos e pinturas suas nas paredes da casa que habitou, entre as quais um retrato de sua filha ma de m ois elle Claire. Estas pinturas e retrato desapareceram quando a casa foi mandada calar por um dos seus possuidores. Na Casa Arinaberro, n0 lugar de Freitas, também existiam desenhos seus, hoje igualmente desaparecidos.

Outras observações-Perto do local onde o rio Vizela é absorvido pelo Ave, ligando esta freguesia à de Bairro, do concelho de Famalicão, existe uma linda e interessante ponte românica. No Monte do Carvalinho, de onde se avista um soberbo e vasto pano‹ rama, há uma airosa capelinha dedicada a S. João. Existe hoje (1946) um Pôsto Telefónico Público, ligado à rede de Santo Tirso, bem como alguns telefones particulares, uns ligados à rede de Santo Tirso e outros à de Negreios.

Contrariando o que acima se diz sabre a origem da palavra Rebordöes, há quem afirme que eia provém do facto de na freguesia haver, em tempos, nuiitos castanheiros ‹rebordões› ou ‹rebordâos› (castanheiros bravos, não enxertados).

Esta preciosa nota foi elaborada pelo ilustre cavalheiro Sr. Luís Pinheiro da Costa e foi-nos gentilmente cedida pelo nosso distinto amigo Sr. Barão de Monte Córdova.

(4) Eis as Notas biográficas, conforme o Boletim da Asso- ciação dos Archeologos Portugueses (5.fl Série, Tomo XII, n.° 8, Out. a Dez. de 1911), nalgumas datas em discordância com as que adiante apontanios, mais confiados nas averiguações posteriores de Vítor Ribeiro (obra citada) : «Nasceu Francisco Marques de Sousa Viterbo no Pôrto a 29 de Dezembro de 1845. Iniciou as suas publi- cações poéticas em 1862, 11a Grinalda. Cursou o Seminário, a Es- cola Médica do Pôrto e a de Lisboa, até 1876. Casou em 1876, com D. Sofia Virgínia Leite de Sousa Viterbo. Sócio da Sociedade de Ciências Médicas em 1877; carta de curso em 1880. Vai a Londres em 1881, encarregado da Exposição Portuguesa de Arte, tendo auxiliado em 1880 os trabalhos de trasladação dos ossos de Vasco da Gania. E' nomeado professor de 3.a cadeira da Escola de Belas Artes, em decreto de 23 de Junho de 1881. Colabora no centenário de Calderon (1881) e faz parte da Comissão para a Exposição de Arte Ornamental, elaborando parte do Catálogo, em 1882. Fre- qüenta os arquivos, retinindo elementos documentais, de 1881 a 1898. Redactor do ‹Diário de Notícias› desde 1883, sendo antes redactor efectivo e correspondente do «Jornal do POrto» (1886), da ‹Independência Portuguesa» (Pôrto, 1887), do «Comércio Portu- guês» (Pôrto, 1877-84), do «Jornal da Manhã› (Perto, 1884), do «Cruzeiro=- (Rio de Janeiro, 1881), do ‹Primeiro de ]armeiro› (Pôrto, 1888), etc. Sócio do Instituto de Coimbra, 1891, da Associação de Arqueólogos, 1894, da Academia das Ciências, 2_a classe, 1891 ; honorário do Instituto de Coimbra, 1899; da Academia Real de História, de Madrid, em 1899; honorário e de mérito dos Arqueó- logos, com a medalha de prata, 1901-1903-1906; membro da Co- missão do Centenário Columbino, 1892. Encarregado de escrever

Page 24: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

144 REVISTA DE OVIMARÃES 'l

o Dicionario dos Architectos, em 1901. Enfermo desde 1898, depois cegou completamente, entregando-se às suas publicações numerosas, até que faleceu em 29 de Dezembro de 1910, na Rua da Escola Po- litécnica n.° 43, 2.°›. .

Martinho da Fonseca, a completar a notícia de Inocêncio (Dic. 9.°, pág. 341), acentua com justiça que Sousa Viterbo ‹era um erudito, e foi o maior investigador do seu tempo, como o atesta a obra que nos legou›, apresenta um desenvolvido registo dessa obra tão vasta de verdadeiro polígrafo. Dá~o como nascido em 29 de Dezembro de 1846. (Apontamentos ao Dicionário Bibliográfico Português de Inocêncio Francisco da Silva -Coimbra, Imprensa da Universidade, 1927, pág. 143). São nada menos de 156 as obras registadas e algumas em vários volumes ! Isto, afora a sua colabo- ração. constante e variada, em vários jornais, pois Viterbo foi, também, verdadeira e fervorosarnente, jornalista. Vítor Ribeiro, no seu já mencionado estudo, o mais completo, carinhosamente elabo- rado, inserira, igualmente, uma larga relação da obra viterbiana.

(õ) O. A. de Magalhães Basto: No Centenário de Sousa Viterbo- Portuense ilustre, in «O Tripeiro›, 8, Ano I, Dezem- bro-1945.

(G) A ‹Tese inaugural, apresentada e defendida perante a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, Julho de l87Ó› intitulava-se - «Da irritabilidade. Ligeiras considerações sabre esta propriedade da matéria viva› - Lisboa, Tip. Lisbonense, 1876.

No ano seguinte traduziu o livro de A. Debay-~ rzflygiene e physiologia do casamento. Historia natural do homem Ie mulher casados» - Lisboa, Typ. Lisbonense, 1877.

Para a história da medicina em Portugal, 011 sabre médicos portugueses, elaborou e publicou :

- «Notícia de alguns médicos portugueses ou que exerceram a sua profissão em Portugal São cinco séries: quatro no ‹]orna da Sociedade das Sciências Médicas de Lisboa›, e a quinta nos «Ar- chivos da História de Medicina Portuguesa»-Lisboa, Imprensa Nacional, 1893-1895¬ 1895-1898; Porto, Typ. da Enciclopedia Portuguesa, 1895.

-«Cirurgião do Infante D. Henrique» --PôrtO, ‹Archivos da Historia da Medicina Portuguesa», 1895. - «Os Hospitaes em Lisboa. Hospital dos incuraveis› - Pôr- to, «Archivos de Historia de Medicina Portugueza>›, 1895.

-- ‹J. J. de Sousa Martins. O artista da palavra» -Lisboa, Separata do ln Memoriam, 1904. - «Poesias avulsas do Dr. Miguel da Silveira» - Coimbra, Imprensa da Universidade, 1906.

-‹Médicos poetas. Dr. Braz Nunes Manhaus› --Lisboa, Typ. A. de Mendonça, 1907.

E' uma separata da ‹Medicina Contemporânea›, n.° 34 do 25.° ano e refere-se a vários médicos poetas do século XVII - os Drs. Miguel da Silveira, Fernando Cardoso, Estêvão Rodrigues de Castro e Manuel Bocarro Francez, todos cristãos-novos, com p e c a de hebraisantes. Estuda, depois, a vida e obra de Manhaus. Há, na Sociedade, um exemplar oferecido pelo autor ao seu amigo Abade de Tàgilde.

Page 25: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 145

E

- ‹Tres medicos poetas. (Dr. Domingos Pereira Bracamonte, Dr. João Sucarello Claramonte e Dr. Fernando Cardoso)» Lis- boa, «Archivo Historico Portuguez››, 1908.

«O Dr. Ambrosio Nunes» - Pôrto, «Archivos de Historia da Medicina Portugueza››, 1910.

- ‹ A princesa D. Isabel-¬ A sua ama. A sua doença. O Dr. Antonio Mendes» - «Archivo Historico Portuguez», 1910.

Há, nas páginas onde evoca esta «Pobre crença !›, ‹elegante, donairosa, com as graças de uma parisiense, ternperadas docemente pela mais afectuosa delicadeza», filha única, herdeira presuntivo da coroa, em quem «as enganosas promessas de subir os degraus do trono não passaram de uma ilusão cruel até que a doença as apagou para sempre na sombra do túlnulo», verdadeiro, piedoso, sentido enternecimento. Sente-se estremecer, na inteligência do historiador, a alma do poeta, velada pelo cepticismo do médico. - -Médicos poetas» - (Obra póstuma) _ Porto, Typ. da ‹Enciclopedia Portugueza Ilustrada››, 1911.

- ‹ O Licenciado Aleixo de Abreu. O cirurgião Francisco de Sousa e seu genro Luiz Marinho de Azevedo» _(Obra pós- tuma) - Porto, Typ. da «Encicopedia Portugueza›, 1912.

-Um caso teratologico» - Porto, Tip. da «Enciclopedia Portugueza», 1918.

(7) Sousa Viterbo- Artes Indusfriaes e Industrias Portu. goesas - Industrias Textis e congeneres -Coimbra, Imprensa da Universidade, 1904. (E' separata do vol. 51 do ‹‹Instituto›).

Magnífico trabalho sabre tecelagem nacional, que a disfasia de Bragança, terminada a luta pela restauração, toma a peito defender e promover em seu desenvolvimento, sobretudo nos rei- nados de D. Pedro Il, D. João V e D. José, em que apresenta estudos, como sempre fartamente documentados com espécies iné- ditas do Livro da Ordem de Cristo, das Chancelarias de D. Afonso V, D. Manuel, D. João II, D. João III, D. Sebastião, D. Henrique, Filipes, D. João IV, altamente ilucidativos sabre uma das mais tra- dicionais e arreigadas de nossas actividades manufactureiras e in- dustriais. São preciosas indicações sabre a cultura e fiação do algodão, os panos do Fundão, os panos meirinhos de Vila do Conde e de Sarzedas, os panos da terra de Arronches, a tecelagem de Lamego, o fabrico dos panos de lã, os panos de Alcobaça, os de Arganil, os de Aviz e os de Viana do Castelo; a cultura e fiação da Sda, em cujas empresas tomou parte saliente o Duque de Guima- rães, da Casa de Bragança, e os torcedores de seda; a indústria do linho; a indústria dos lambris; os texilheiros, tecedeiras, pisoeiros; cobertores de papa, estamenhas e guardalates e as saragoças de Castelo de Vide; moinhos de buréis, os veludos: com notas bio- gráficas de muitos que exerceram essas artes com marcado relevo.

O exemplar é oferecido «ao digno e ilustrado Abade de Tàgilde-.

goesas Separata Rev.d0

I

(s) Sousa Viterbo _ Artes lnduslriaes e Industrias Portu- - Tapeçaria - Coimbra, Imprensa da Universidade, 1902. do vol. 49 do ‹instituto››. (Exemplar oferecido ao

Oliveira Guimarães pelo autor). Acentua que já se referira à tapeçaria no seu livro Artes

Page 26: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

146 REVISTA DE OVIMARÃES

e Artistas em Portugal, mas, no decorrer de posteriores investiga- ções, novas espécies encontrara país vem muito antes do século XVI e nele se exercitava uma raça cuja habilidade, neste ramo de trabalho, era proverbial. Raros vestígios nos restam da arte e da indústria muçulmana, mas esses, em conjunto com lições de documentos. provam o trabalho produ- zido nas mourarias e a perícia dos artistas na ourivesaria, escultura em marfim e gravura em pedras finas. Em Lisboa, havia oficinas, de carácter prático e educativo, e oficinas de tapeçarias, que remon- tavam porventura à conquista pelos árabes da monarquia goda. D. Manuel, expulsando, no século XV, lTlOllI'OS e judeus, com pre- juízo e gravíssimo dano de nossas actividades económica e indus- trial. Havia mouros como tapeceiros e esteireiros da Casa Real»

O estudo é consagrado a apontamentos, com a cópia exacta de várias peças documentais inéditas e preciosas para a nossa his- tórla industrial e actividade económica de alguns tapeceiros, tape- ceiros reais e esteireiros mouros, extraídas das chancelarias de D. Afonso V, D. Manuel, D. João 111, D. Sebastião, D. Henrique e dos Filipes, que nos revelam o carinho e a persistência do nosso labor na fabricação de tapetes, indústria essa que ainda hoje, e muito acentuadamente, tem em Portugal verdadeiros cultores e exí- mios artistas.

«O fabrico dos tapetes no nosso

(H) Teniers e a Familia, artigo em Artes e Letras, 2.° ano, 1873, pág. 26;

(10) Artigo em Artes e Letras, Terceira Série, 1874, pág. 22.

. (") O seu amor pela música e sentido da arte e da beleza da música traduziu-a, pelo menos, Viterbo, como precioso musicó- grafo. Desta faceta do se11 espírito culto e aspecto do seu infatigável e operoso labor se ocupou o Sr. Conde de Campo Belo em confe- rência realizada no Palácio de Cristal, por iniciativa dos serviços culturais da Câmara Municipal do Pôrto, sob a Presidência do nosso ilustre conterrâneo Dr. Luís de Pina, em Maio deste ano de 46. Entre outras, à história da música se dedicam estas obras de Sousa Viterbo :

- ‹A Livraria de musica de D. João IV e o seu Index› - Lis- boa, Academia Real das Sciencias, 1900 ;

- ‹Os Mestres da Capela Real 11 os reinados de D. João Ill e D. Sebastião› - Lisboa, «Archivo Hist. Portuguez›, 1907 ;

«Jaime de la Téy Sagan› - Lisboa, «Arte Musical›, 1907 ; -- «Mestres da Capela Real desde o dominio Filipino (inclu-

sive) até D. José 1. - Lisboa, ‹Arch. Hist. Portuguez›, 1908 ; - «Músicos de apelido Palacios» -Lisboa, «A Arte Musi- cal›, 1908 ,

‹Príncipes portuguezes apaixonados pela musica» -Lis- boa, «A Arte Musical›, 1908 ;

‹Tangedores da Capela Real - - Lisboa, ‹A Arte Musical›, 1908 ; ‹Curiosidades musicas› .

Manuel Rodrigues Coelho»

Lisboa, «A Arte Musicalz-, 1809 . . 1 - ‹A Ordem de Chrísto e a musica religiosa nos nossos domifi

mos ~ultramarinos› - Coimbra, Tip. da Universidade, 1911,

Page 27: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 147 \¡

- ‹A Ordem de Christo e a musica sagrada nas suas igrejas do continente» - (Obra póstuma) -- Coimbra, Imprensa da Uni- versidade, 1911 ; - «Subsídios para a historia da musica em Portugal. A mu- sica sagrada em varias terras do reino- - ... (Obra póstuma) - Lisboa, Tip. do Comercio, 1911; .

«A Ordem de Santiago e a musica religiosa nas igrejas per- tencentes à mesma Ordem» - - (Obra póstuma) - Coimbra, Imprensa da Universidade, 1912 ; - ‹O Rei dos charanlelas e os charalnelas-mores›- -(Obra póstuma) - Lisboa, ‹A Arte Musical›, 1912.

(1*) O Bibliophílo, in «Artes e Letras›, 2.° 'ano, 1873, pág. 51.

No seu valioso contributo para o número especial da Revista de Guimarães à memória de Martins Sarmento (MCM), ao versar da Poesia e da Arqueologia, Sousa Viterbo exprime-se desta arte : «Existe uma grande afinidade entre a Poesia e a Arqueologia, e alguns dos nossos arqueólogos foram priinitivamente poetas, dedi- lharam primeiramente a lira antes de manejareni os instrumentos exploradores, balbuciaram a linguagem das TIll11S3S antes de inter- pretarem os arabescos das inscrições» Cita o exemplo de Her- culano, o autor da História de Portugal e da Harpa do Crente. ‹Efectivamente o estudo do passado levanta no nosso espírito, por mais frios e impossíveis .que sejamos, um mundo de ideias repas- sadas de saudade. Desfilam a nossos olhos desluinbrados visões misteriosas, como que ventos passar as raças extintas, que apre- sentam ao nosso exame os vestígios da sua civilização. Dir-se-ia a revista nocturna fantasiada pelo poeta. Parece que assistimos com Carlos Magno ao desfilar dos seus paladinos, ou com Napoleão à continência da sua guarda imperial» E conclue, referindo-se a Sarmento : moldes da ciência, são outras tantas elegias do passado, cordas de uma lira, onde vêm suspirar as gerações extilltas.=› (pág 80).

Durante dezassete anos, na plenitude da vida, sobretudo no período que lhe decorre dos 36 aos 53 anos, Sousa Viterbo, perfei- tamente integrado na sua missão de professor e com dar à sua caneta de jornalista a árdua tarefa de ensinar e ilustrar o povo, procede, com meticulosa cautela, à rebusca, estudo, análise e esco- lha dos abundantes materiais com que s11bsta11tivava a sua produção científica e havia, nas horas torturadas da cruel doença e da amarga escuridão construir obra sólida e perdurável. E' então que Pedro de Azevedo, como diz no elogio do académico, o encontra na Tôrre do Tombo, vergado sabre os Livros das Chancelarias, sozinho, alheado, muito longe do mundo actual, como perdido na vertigem

.das cidades passadas, cujas sombras de figuras extintas e mortos feitos e olvidados costumes lhe adejavarn na imaginação e ele, através aquelas tão ensarilhadas e quisi indecifráveis letras desbotas, com o insulo de sua alma ardente evocava à vida e erguia na história, a esquecida, a ignorada história dos grandes trabalhadores obscuros, ou dos poetas um dia célebres e já desconhecidos, músicos que arroubaram com suas melodias, cujo próprio eco amorteceu na dis- tância dos séculos, pintores, artistas, artífices. . .

‹OS seus estudos arqueológicos, embora fundidos em

Page 28: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

148 REVISTA DE OVIMARÃES

(13) Fr. Francisco de Santo Agostinho de Macedo «Archivo Historico Portuguez 1900. -

Lisboa,

O Anjo do Pudor-Poema -Porto, Tip. Pereira da Silva, 1870, Rosas e Nuvens - Poesias lyricas - Porto, Imp. Por- tuguesa, 1870; A Mulherde Cesar-Porto, Imp. Portuguesa, 1874;

- (Obra póstuma) -- .

( 1 4 )

Ultimos versos Lisboa, 1912.

(15) Encyclopedia Portugueza, dirigida pelo Dr. Maximiano Lemos, vol. Xl, pág. 311.

(16) De um soneto, publicado na Minta (Braga, fase. 2.°, 1945, pág. 124) nó artigo A Poesia e os Homens de Ciência por António Ferreira, o ilustre magistrado escritor.

Ao Sr. Dr. Narciso de Azevedo, meu bom amigo e ilustre publicista, deixo consignado aqui o meu grato reconheci- mento pela paciente amabilidade que me dispensou na colha de elementos para esta parte da evocação de Sousa Wferbo.

(H)

(1*) Em complemento à nota (6).d3 pág. 144: . Sousa Viterbo aprazia-se, também, na carinhosa evocação dos

antigos cultores da Musa ou dos que se dedicaram a estudos com a poesia relacionados.

Várias das suas obras o confirmam : *

- ‹A Fonte dos Amores - (Florilegio poetico)=› 7" Lisboa, Im- prensa Nacional, 1889 , _ ‹Frei Bartholomeu Ferreira -- (Apontamentos para o estudo litterario do primeiro censor de Camões)› - Pôrto, Círculo Camo- neano, 1889, .

- ‹Manllel Correia Montenegro - (Um corrector de Camões)› - Coimbra, Imprensa da Universidade, 1890 ; _ «António Figueira Durão - (Um preto a Camões)› . Pôr-

to, Círculo Camoneano, 1891 ; ‹Camões em Hespanha=› -Fôrto, Círculo Canioneano, 1891 ,

- ‹Fr. Bartholomeu Ferreira, o primeiro censor dos Lusíadas - Subsídios para a historia iteraria do seculo XVI em Portugal» Lisboa, Imprensa Nacional, 1891 ; -_ «Poesias de auctores portugueses em livros de escriptores hespanhoes - (Resenha bibliographica)» - Coimbra, Imprensa da Universidade, 1891 ; ` - «Uma carta de Wiliani Julius Mikle - (Offerta da sua tra- dução dos "Lusíadas" ao Marquez de Ponlba1)» - Pôrto, Tip. de ]. da S. Mendonça, 1893 ; - «Joaquim Correia da Serra» - Lisboa, ‹Rev. Militar», 1893 ;

‹Estudos sabre Sá de Miranda» : I - «Os filhos do cónego Gonçalo Mendes» - Coimbra, Imp.

da Universidade, 1895, .

1I'- «A família do poeta. Vária» --Coimbra, Imp. da Uni- versidade, 1896 ;

III - «Mem de Sá. A sua descendência. Outras informações» -~ Coimbra, Imp. da Universidade, 1896.

‹João Pinto Delgado» - lmpr. da Universidade, 1897 ;

i

Page 29: Revista de Guimarães...126 REVISTA DE GVIMARÃB5 I I I I .I I de que se exone1'o.u em 1880. Em 1877, com 32 anos, casa com uma senhora pernambucano, de ascendência portuguesa, D

À MEMÓRIA DE SOUSA VITERBO 149

› . s. . Llsboa, ‹Archlvo Hlstorlco

.

-¬‹Garrett em Belenl» -Coimbra, Imprensa do Conimbri- cense, 1900 : - «Gil Vicente. Dois traços para a sua biografia» -- Lisboa, ‹Archivo Historico IS*ortuguez», 1903 ;

‹O Theatro na côrte de D. Filipe II (Duas cartas de D. Ber- narda Coutinllo)› - Lisboa, ‹Arch. Hist. Portuguüv, 1903 ' -_ ‹Dois poetas seiscentistas› - Portuguez», 1906 ;

‹Poesias avulsas de Afonso Ribeiro Pegado» - Lisboa, ‹Ar- chivo Historico Portuguez», 1906 ;

‹Poesias avulsas do dr. Miguel da Silveira» --Coimbra, Imp. da Universidade, 1906 ; - ‹Medicos poetas. Dr. Braz Nunes Manhans› - Lisboa, ‹Medicina Contemporanea», 1907 (Vide nota 6, a pág. 144) ;

‹'[rez medicas poetas (Dr. Domingos Pereira Bracanionte, Dr. João Sucarello Claramonte e Dr. Fernando Cardoso» - Lisboa, ‹Archivo Hist. Portuguez-, 1908 (Vide nota 6, a pág. 145) ,

‹Dois poetas de appelido Camara. Ainda o poeta Sucarellow Lisboa, ‹ArcI1ivo Historico Portnguez›, 1908 , _ ‹UIysseia» - - . Lisboa, ‹Arte MnsicaI››, 1909 ,

- ‹Noticia acerca da vida e obras de João Pinto Delgado» - Lisboa, Tip. da Academia, 1910 ,

«Santa Isabel e a poesia. Subsídios para a formação d'unl seu cancioneiro» - (Obra póstuma) H Coimbra, Imprensa da Uni- versidade, 1913 ,

«Poetas do seculo XVIII» ...-. L.isboa, ‹Archivo Historico Portnguez», 1914 ;

«A Iitteratnra Iiespanhola em Portugal» - Lisboa, Imprensa Nacional, 1915.

« (W) Foi nos jornais que Sousa Viterbo começou a ganhar a vida. E' também jayme de Faria que assim o conta: ‹O primeiro dinheiro que Sousa Viterbo ganhou pelas letras proveio-lhe do Pyrilampo, filha satírica que há cerca de quarenta anos deu muito que falar no Pôrto. Verificando que tinham aceitado Ilhal artigo que para ela escrevera, apresentou-se 11a redacção, onde se encontrou com Mendes de Carvalho, um grande excêntrico, que lhe ofereceu dum refresco de vinho com morangos que estava a tomar e lhe deu dez ou quinze tostões. O moço literato quando se viu nó rua com tão insólita fortuna no bolso, pulava de contente. Era a glória pecuniá- ria, que nunca ele se viu tão r i co › Como isto parece de nós, hoje, tão imensamente distante. . .

I (20) ‹Encylopedia Portugueza l¡lustrada›- sob a direcção do

Dr. Maximiano de Lemos - | vol. Xl, pág. 311 e seg.

(21) Dr. Alfredo da Cunha - ‹Elogio de Sousa Viterbo-, na ‹Associação dos Arqueologos Portugueses›, em 31 de Dezembro de 1911.

. (22) ‹Cem artigos de jornal insertos no "Diario de Noticias" de Lisboa e pela empreza deste jornal publicados em homena- gem ao seu extinto colaborador. Com um prefacio› -Lisboa, Typ. Universal, 1912. .