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1 Revista de Direito AgrÆrio Revista de Direito AgrÆrio MinistØrio do Desenvolvimento AgrÆrio Instituto Nacional de Colonizaçªo e Reforma AgrÆria Incra Ano 16 Nœmero 13 Brasília 1 o Semestre/ 2000

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Revista de Direito Agrário

Revistade

Direito Agrário

Ministério do Desenvolvimento AgrárioInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

Incra

Ano 16Número 13

Brasília1o Semestre/ 2000

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Revista de Direito Agrário

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Revista de Direito Agrário

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIOInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra

Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável - CNDRSAssessoria de Comunicação Social

Ministro do Desenvolvimento AgrárioRaul Belens Jungmann Pinto

Secretário ExecutivoJosé Abrão

Secretário de Agricultura FamiliarNelson Borges Gonçalves

Presidente do IncraFrancisco Orlando Costa Muniz

Secretário Executivo - CNDRSLuiz Fernando de Mattos Pimenta

Secretário Executivo do Banco da TerraMax Bezerra

Procurador-Geral do IncraSebastião Azevedo

Coordenadora de Comunicação Socialdo Ministério do Desenvolvimento Agrário

Flávia Pires Torreão

Chefe da Comunicação Social do IncraErnesto Lincoln Marinho Magalhâes

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Revista de Direito Agrário

Conselho Editorial

Hélio Roberto Novoa da CostaLúcia Maria Pierdona GirardiWellington dos Mendes Lopes

Revista de Direito Agrário -Ano 16. Número 13. 1º Semestrede 2000. Brasília - Incra

1. Direito Agrário - Periódicos.I Brasil. II

Lopes, Wellington dos Men-des (dir)

CDD 340.05

CDU 347.247(05)

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Revista de Direito Agrário

Apresentação

Em um ambiente democrático, é imprescindível incentivar a discussão e disseminar o conheci-mento. Com esse objetivo, decidimos lançar a nova Revista de Direito Agrário. A publicação é destinadaa estudantes e profissionais que, ao lidar com esse fértil campo do Direito, enfrentam o desafio de estarsempre atualizados.

A proposta é acolher nas páginas da revista diferentes pontos de vista. Nesse sentido, como o leitorpoderá facilmente perceber, as portas estão e estarão sempre abertas para colaborações do Brasil e doexterior que reflitam as diferentes tendências da área.

É inconteste a autonomia do Direito Agrário, que começa pela particularização da agricultura dochamado mundo rural, uma espécie de contraponto histórico, econômico e cultural ao mundo urbano.Entre os seus princípios se destaca a função social da terra, a proteção da pequena e média propriedadese a preservação do meio ambiente.

No momento em que surgem novas relações jurídicas oriundas de fenômenos como a globalizaçãoe a regionalização, bem como uma terceira geração de direitos fundamentais, como por exemplo, odireito a um meio ambiente ecologicamente sustentável, é evidente que o Direito Agrário há de semodernizar, atualizar seus principais institutos. Para isso, nada melhor do que o debate acadêmico ecientífico dos agraristas. Esta é a razão da existência da revista.

Finalmente, ao reativarmos esta publicação, estamos prestando, também, uma homenagem aFernando Pereira Sodero, pioneiro do jus-agrarismo no Brasil, e a todas aqueles que vêem a questãoagrária como uma das principais preocupações da sociedade e do governo.

Raul Jungmann

Ministro do Desenvolvimento Agrário

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Revista de Direito Agrário

REVISTA DE DIREITOAGRÁRIO

ANO 16 - NÚMERO 131o SEMESTRE DE 2000

Publicação Semestral do Mi-nistério do DesenvolvimentoAgrário e do Instituto Nacio-nal de Colonização e ReformaAgrária - INCRA.

Editada pela Coordenadoriade Comunicação SocialDiretor- ResponsávelWellington dos Mendes LopesEditor-ChefeIgor GermanoRedação e AdministraçãoSBN Ed. Palácio do Desenvol-vimento - 20o andarCEP: 70.057-900 Brasília-DFTels: 411-7160/ 411-7139Fax: 326-3583

Artigos e contribuições para arevista podem ser enviadospara o endereço acima ou viaInternet. Os textos devem terno máximo 15 laudas, em es-paço 1,5. Os artigos devemconter notas de rodapé e bi-bliografia.

Esta edição pode seracessada pela Internet, noendereço: www.incra.gov.br

Os artigos assinados são deinteira responsabilidade dosseus autores.

A Revista de Direito Agrário volta a ser editada com cara

nova, mas com o mesma filosofia: divulgar trabalhos de interesse

na área. A publicação segue três objetivos principais. Primeiro, busca

impulsionar o ensino do Direito Agrário no Brasil. Segundo, tenta

contribuir para a capacitação e atualização dos profissionais que

atuam nesse campo jurídico. Finalmente, mas não menos impor-

tante, visa estimular o debate sobre o tema, abrindo espaço para

todas as correntes do Direito Agrário. Como as idéias são nossa

matéria-prima, a revista depende da colaboração de pessoas inte-

ressadas em disseminar seus artigos e pontos de vista. Aguarda-

mos, portanto, colaborações para os próximos números. Em tem-

po: a versão eletrônica da revista pode ser acessada no endereço

www.incra.gov.br .

Nota do Editor

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Revista de Direito Agrário

ARTIGOS

O IMÓVEL RURAL E O ESTRANGEIRO

Olavo Acyr de Lima Rocha........................................................................... 09

LA FUNCION ECONOMICO-SOCIAL Y AMBIENTAL DE LA PROPRIEDAD

Enrique Ulate Chacón ............................................................................. 23

COBERTURA FLORÍSTICA E PERÍCIA JUDICIAL NA DESAPROPRIAÇÃO AGRÁRIA

Getúlio Targino Lima ................................................................................. 51

A AUTONOMIA MUNICIPAL E O ASPECTO ESPACIAL DO IPTU E DO ITR

Cristiano de Castro Dayrell ......................................................................... 59

COMPETÊNCIA: AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA

Débora Vasti S. Bomfim ............................................................................... 71

A COMPANHIA FAMILIAR GALEGA E A MODERNIZAÇÃO DO DIREITO AGRÁRIO NA GALÍCIA

Isabel Espín Alba.......................................................................................... 81

EL OBJETO DEL DERECHO AGRARIO: REFLEXIONES ACTUALES SOBRE SU DOGMÁTICA

Alfredo Massart ....................................................................................... 103

PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL

Ari Ferreira de Queiroz....................................................................... 119

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................ 139

LEGISLAÇÃO .................................................................................................. 159

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Revista de Direito Agrário

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Revista de Direito Agrário

(*) Procurador do Incra, ex-procurador Regional do Incra no Estado de São Paulo, Mestre e Doutor em Direito, professor deDireito Agrário na Universidade de São Paulo (USP), ex-professor de Direito Agrário na Faculdade de Direito de Itu, São Paulo.

O IMÓVEL RURAL E O ESTRANGEIROOlavo Acyr de Lima Rocha (*)

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Revista de Direito Agrário

O Estrangeiro no Brasil

1.

Se volvermos os olhos parao passado poderemos constatarque o estímulo ou desestímulo àvinda de estrangeiros para o Bra-sil obedeceu a um movimentopendular.

Nos dois primeiros séculosdo povoamento de nosso paíspelos portugueses a política doReino mostrou-se bastante libe-ral no que diz respeito à admis-são de estrangeiros no Brasil.Mesmo porque o critério luso naseleção dos imigrantes era maisde natureza religiosa que nacio-nal. Se fosse cristão (só os católi-cos eram considerados tal) eraaceito. A nacionalidade tinha im-portância secundária. 1

Aliás, como mostrou GIL-BERTO FREIRE2, o portuguêssempre se mostrou receptivo aoestrangeiro. As portas de Portu-gal sempre estiveram largamen-te abertas para o elementoalienígena.

A respeito, lembra aindaeste Ilustre sociólogo brasileiro

ser possível que essa aptidão sejaresultado de intercâmbio manti-do desde tempos longínquos en-tre as populações integrantes doterritório lusitano. O contato dosportugueses com os mouros ecom as populações negras daÁfrica de certo modo estimuloua versatilidade do português emsua aproximação para com asraças exóticas.3

Como também frisa CAIOPRADO JUNIOR4 na obra e localreferidos, até princípios do séculoXIX, o branco que integrou a po-pulação brasileira provinha quaseque exclusivamente de Portugal.

Sabemos também que, de1580 a 1640 quando Portugal eEspanha estavam sob um mesmomonarca, espanhol, a vinda deespanhóis para o Brasil foi esti-mulada. É assinalado ainda queo monarca espanhol D. Felipe IIIpor Alvarás e Carta de Lei de1.605 (18.03) repetindo gesto deseu pai, monarca anterior, proi-biu a ida de navios e pessoas es-trangeiras aos portos do Reino dePortugal, às conquistas do Brasil,Minas e Outros. Lei posteriorobrigava inclusive o retorno dosestrangeiros já moradores dos

lugares referidos na lei anterior.Chegava a prescrever pena demorte para quem desobedeces-se a lei, como estrangeiros.

No período iniciado a par-tir de 1580 fecharam-se as portasdo Brasil a estrangeiros. Vieramem maior número os espanhóis.

Com o sucesso das guerrasda restauração contra espanhóise holandeses, abriu-se o Brasilaos estrangeiros, inclusive aosingleses e holandeses depois detratados com eles celebrados,estes últimos após a paz de Haia(1661) podendo comerciar emesmo estabelecer-se no Brasil,com algumas restrições.

Com a descoberta do ouroem nosso país teve início umperíodo de restrições ao acessode estrangeiros ao Brasil paraevitar o desvio de proveitos quenão fossem para a metrópole.

Durante um século, então,a vinda de portugueses para oBrasil se intensificou de tal ma-neira que muitas leis foram fei-tas para, como se dizia, impedirao máximo o despovoamento dePortugal.

1 É o que podemos ler em CAIO PRADO JUNIOR, na obra �Formação do Brasil Contemporâneo�, Livraria Martins Editora, .São Paulo. 1942, p. 80.2 FREIRE, G. �Casa Grande e Senzala�, 5ª Ed. Rio de Janeiro. Livraria José Olimpio, vol. 1, 19463 Op. cit. pp. 85-86.4 Op. cit. p. 80

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Por Decreto de25.11.1808, D. Pedro I assegu-rou a concessão de sesmarias aosestrangeiros residentes no Brasil.

E, em 28.01.1808 antes,portanto, do Decreto de D.Pedro, D. João VI assinara atooficializando a Abertura dos Por-tos brasileiros às �nações amigas�o que muito favoreceu a expan-são mercantil britânica.

A concessão de Sesmarias,como se sabe, foi suspensa porD. Pedro I, em 17.07.1822.

Com a proclamação da in-dependência, cuidou-se de ela-borar lei que viesse a resolver, deuma vez por todas, o problemadas terras no Brasil, eriçado dedificuldades, que se havia bus-cado contornar com Alvará doPríncipe Regente, de 5.10.1795regulando fora das Ordenaçõesdo Reino as concessões desesmarias no País. Passou a serchamado de Lei de Sesmarias.

Com o advento da Lei nº601 de 18.09.1850, já sob o im-pério de D. Pedro II, seu art. 17fixou preceito de grande alcance:

�Art. 17. Os estrangeiros quecomprarem terras, e nelas se es-

tabelecerem, ou virem à sua cus-ta exercer qualquer indústria noPaís, serão naturalizados, queren-do, depois de dois anos de resi-dência pela forma por que o fo-ram os da Colônia de SãoLeopoldo, e ficarão isentos do ser-viço militar, menos do da GuardaNacional dentro do município�.

Tal Lei, no seu art. 18, alu-diu à importação de colonos es-trangeiros livres para estabeleci-mentos agrícolas ou dirigidospela administração pública asse-gurando-se-lhes emprego tãologo desembarcassem.

Antes mesmo da Lei 601/1850, a Constituição Imperial de25.03.1824 afirmava que a leiseria igual para todos, quer pro-teja quer castigue e recompen-sará em proporção dos mereci-mentos de cada um (art. 13).

Foram sancionadas, então,leis dispondo sobre a naturaliza-ção de estrangeiros.

O País buscava atrair imi-grantes estrangeiros livres emsubstituição ao braço escravo.

De 1850 a 1888, quandose deu a abolição da escravaturapela Lei Áurea, 882.176 imigran-

tes haviam ingressado no Paísconforme notícia de ALDAIRLANDO, MARLY E ELIANECRUXEN BARROS.5

Condições adversas de tra-balho entre nós, de semi-escra-vidão nas lavouras de café do Es-tado de São Paulo, despertaraminiciativas em países estrangeirosno sentido de restringir e mesmoimpedir a imigração, inicialmen-te para São Paulo e depois parao resto do País. A Alemanha pelorescrito de Heydt, em 1859, se-guida pela França em 1876, In-glaterra em 1875 e Itália em1895, proibiram a vinda de seusnaturais para o Brasil.

O Brasil e as Leis a elerelativas

2.

Mas, abolida a escravaturaem 1888, leis foram elaboradasvisando a imigração. A exemplo,o Dec. nº 528 de 28.06.1890.Com a Constituição republicanade 24.02.1891 e a transferênciadas terras devolutas para os Esta-dos, a estes passou a interessardiretamente as mesmas terras etambém a política imigratóriasendo que a referida Constitui-ção republicana de 1891, em seu

5 Na obra �A Colonização Alemã no Rio Grande do Sul�, Ed. Movimento, Porto Alegre, 1976.

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Revista de Direito Agrário

art. 69 e § 4º, representou esfor-ço constitucional no sentido defavorecer a naturalização para osestrangeiros existentes no País em15.11.1889 e que não declaras-sem, dentro do prazo de seismeses da entrada em vigor daConstituição, o ânimo de conser-var a nacionalidade de origem.Era a grande naturalização.

Outros textos de legislaçãoordinária trataram da imigração.Sem se falar nos que fixaram res-trições à concessão de terras. É ocaso do Decreto nº 19.924 de27.04.1931 vedando a conces-são de terras devolutas a estran-geiros não domiciliados na loca-lidade, sem autorização do go-verno federal. Ainda o Dec. Leinº 406, de 04.05.1938 e o Dec.-Lei nº 1.164, de 18.03.1939. Taltexto alude à concessão de ter-ras na faixa de fronteira, vias decomunicação e indústrias. A fai-xa de fronteira foi estabelecidaem 150 quilômetros ao longo dafronteira de território nacionalcom os países estrangeiros. Essaconcessão não poderia ser feitasem prévia audiência do Conse-lho de Segurança Nacional. Ou-trossim, de ressaltar o Decreto-Lei nº 1.202 de 08.04.1939 e oDec. Lei nº 1968, de 17.11.1940também sobre a faixa de frontei-ra de 150 quilômetros já referi-da. Ainda, o Decreto-Lei nº

2.009 de 09.12.1940, organizan-do núcleos coloniais não só a na-cionais como a estrangeiros. E oDecreto-Lei nº 2.610 de20.09.1940 bem como o Decre-to-Lei nº 3.059, de 14.02.1941,sobre Colônias Agrícolas Nacio-nais. Ainda o Decreto-Lei nº3.266 de 12.05.1941 e o Decre-to-Lei nº 4.504 de 22.06.1942,sobre núcleos coloniais e núcle-os coloniais agroindustriais. Tam-bém o Decreto-Lei nº 6.430 de16.04.1944 sobre indústrias, co-mércio e terras na faixa de fron-teira. Outrossim, o Decreto-Leinº 3.438, de 17.07.1941. Não hácomo esquecer ainda o Decre-to-Lei nº 9.760 de 05.09.1946,dispondo sobre os bens imóveisda União, notadamente seu arti-go 205, cuidando de faixa defronteira, da costa marítima e defortificações militares.

Sobre os portugueses te-mos o Decreto nº 37.681, de01.08.1955.

Mais proximamente, a Leinº 2.597, de 12.09.1955, regu-lamentada pelo Decreto nº39.605 de 16.07.1956 dispondotambém sobre a faixa de frontei-ra, a qual foi revogada pela Leinº 6.634, de 02.05.1979.Masantes desse texto, regulamenta-do pelo Decreto nº 85.064, de26.08.1980 tivemos o Decreto-

Lei nº 1.164, de 01.04.1971 de-clarando indispensável à segu-rança nacional e ao desenvolvi-mento nacional as terrasdevolutas situadas na faixa de100 quilômetros de largura decada lado do eixo de rodovias naAmazônia Legal, alterado peloDecreto-Lei nº 1.243 de30.10.1972 e regulamentadopelo Decreto nº 71.615, de22.12.1972. E também o Decre-to-Lei nº 941, de 13.10.1969sobre o estrangeiro no Brasil,revogado pela Lei nº 6.815,de 19.08.1980, o Estatuto doEstrangeiro.

O que é Amazônia Legalfoi definido pela Lei nº 5.173, de27.10.1966 que dispôs sobre oPlano de Valorização Econômi-ca da Amazônia, criando a Su-perintendência do Desenvolvi-mento da Amazônia (SUDAM) eextinguindo a Superintendênciade Valorização da Amazônia(SPVEA).

Em seu artigo 2º estabele-ceu:

�A Amazônia, para os efeitos des-ta Lei, abrange a região compre-endida pelos Estados do Acre,Pará e Amazonas, pelos Territóri-os do Amapá, Roraima eRondônia e ainda pelas áreas doEstado de Mato Grosso, a norte

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do paralelo de 16º, do Estado deGoiás a norte do paralelo de 13ºe do Estado do Maranhão a oes-te do meridiano 44º.�

Tal região abrange 4,9 mi-lhões de quilômetros quadrados,dos 8,5 milhões que constituemo território nacional.

Nessa área, pois, conformeo Decreto-Lei n 1.164/71 a aqui-sição de imóveis rurais por es-trangeiros dependeria, nos ter-mos da lei, de autorização doentão Conselho de SegurançaNacional.

O mesmo não aconteceria,obviamente, em relação ao res-tante do território nacional comexceção da chamada faixa defronteira, e outras áreas restritas,incluídas em leis especiais, vistoque a aquisição da propriedaderural era livre.

As Restrições Gerais àAquisição de Imóvel Ruralpor Estrangeiro

3.

Contudo, a aquisição degrandes glebas por estrangeiros,principalmente nas áreas aindapouco povoadas do Brasil,notadamente por estrangeiros

não residentes no Brasil, em al-guns casos estimulados pela le-gislação do imposto de renda deseus respectivos países, passou apreocupar o governo brasileiro.Por outro lado, estelionatários in-ternacionais passaram atransacionar com estrangeiros,inclusive no exterior, áreas denosso território das quais nãoeram proprietários e nem possui-dores, puramente fictícias, ouentão vendiam a mesma área,ainda que documentada, a inú-meras pessoas, simulando inclu-sive o recolhimento de tributosa órgãos governamentais como oextinto IBRA, hoje Incra.

Havia necessidade de porcobro a essa situação resguardan-do os interesses da nação brasilei-ra quanto a uma ocupação des-controlada de seu território porestrangeiros, coibindo-se, ainda, aação de escroques internacionais.

Daí, o Ato Complementarnº 45, de 30 de janeiro de 1969que tratou especificamente doassunto fixando em seu artigo 1º,que a aquisição de propriedaderural no território nacional so-mente poderá ser feita por bra-sileiro ou por estrangeiro residen-te no País, excepcionando-se à hi-pótese de aquisição ou transmis-

são �mortis causae�, isto é, porefeito do direito sucessório. Foi oque prescreveu o § único, do ar-tigo 1º, desse Ato Complementar.

Para os efeitos do Ato pas-sou a considerar-se como residen-te no País o estrangeiro que nelepossuísse permanência definitiva,conforme estabeleceu seu artigo2º, enquanto o artigo 3º deixoufixado que lei especial determi-naria as condições, restrições, li-mitações e demais exigências aque ficaria sujeita a aquisição deimóvel rural por pessoa estrangei-ra, natural ou jurídica tendo emvista a defesa da integridade doterritório nacional, a segurança doEstado e a justa distribuição dapropriedade.

Contemporaneamente, amatéria relativa ao imóvel rurale ao estrangeiro teve, no que dizrespeito ao seu tratamentolegislativo, preferência do con-gressista brasileiro pela soluçãodicotômica. Como ressalta PON-TES DE MIRANDA6, o controlepelo Estado de algumas ativida-des econômicas comportaria, doponto de vista legislativo, três so-luções: a proibição, salvo autori-zação ou concessão; a permis-são, salvo proibição; ou ainda, apermissão mediante simples exa-

6 MIRANDA, P. �Comentários à Constituição de 1967�, Edição Revista dos Tribunais, Tomo VI, 1968, p. 4

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Revista de Direito Agrário

me dos pressupostos.

Em se tratando da aquisi-ção de imóveis rurais por estran-geiros estabeleceu-se, desdelogo, a proibição para os não re-sidentes ou domiciliados no Bra-sil. Mas, ao mesmo tempo, fixou-se a permissão para os aqui resi-dentes ou domiciliados, condici-onada, porém, ao atendimentode pressupostos ou requisitos fi-xados na lei, e nos limites tam-bém por ela estabelecidos. Naprimeira hipótese, a da proibiçãopor estrangeiros residentes oudomiciliados no exterior, ela tam-bém não é absoluta pois compor-ta exceção, como veremos.

No que concerne à segun-da hipótese, de maior alcance naprática, a aquisição de imóveisrurais por estrangeiros se encon-tra sob o regime de regulação,isto é, disciplinada por lei. Porisso mesmo, quando se diz quese precisa de autorização ou con-cessão, para alguma atividade,não há proibição da atividade aatividade (posterius) sem a auto-rização ou concessão é que evi-dentemente infringiria a lei, con-forme ensinamentos do saudosoPONTES DE MIRANDA.7

Após o Ato Complementar

nº 45, foi sancionado o Decre-to-Lei nº 494, de 10 de marçode 1969. Em 10 de outubro domesmo ano, veio à luz o Decre-to-Lei nº 924 dispondo a respei-to da matéria. O primeiro Decre-to-Lei deveria ter sido regula-mentado pelo Executivo no pra-zo de trinta dias. Entretanto, istonão se deu e o referido diplomafoi revogado pela Lei nº 5.709,de 7 de outubro de 1971.

Também essa lei previu suaregulamentação, no prazo de no-venta dias, por Ato do Executi-vo, conforme seu artigo 19. Aregulamentação, contudo, sóveio em 26.11.1974 com o De-creto nº 74.965.

Face às normas dessa legis-lação, só o estrangeiro residenteno Brasil e a pessoa jurídica es-trangeira autorizada a aqui fun-cionar podem adquirir imóvel ru-ral em nosso país, equiparando-se à pessoa jurídica estrangeira,a pessoa jurídica brasileira daqual participem, a qualquer títu-lo, pessoas estrangeiras, físicas oujurídicas, que tenham a maioriado seu capital social e residamou tenham sede no exterior. No-vamente se excepcionou para oscasos de transmissão do imóvelrural por direito sucessório

�mortis causae�.

Nesses casos, cessam asrestrições legais. Mas, nesse as-pecto, a Lei nº 5.709/71 foi mo-dificada pela Lei nº 6.572, de30.09.1978 em seu artigo 1º, §2º. Com sua nova redação diz eleque: �As restrições estabelecidasnesta lei não se aplicam aos ca-sos de sucessão legítima, ressal-vado o disposto no artigo 7º�. Talalteração objetivou evitar queproprietários estrangeiros deimóveis rurais por testamentopossam transferi-los a outros es-trangeiros, pessoas físicas ou ju-rídicas, quando não tenham her-deiros legítimos.

As aquisições de imóveisrurais em área indispensável à se-gurança nacional dependeriamde prévio assentimento da Secre-taria do Conselho de SegurançaNacional repetindo-se, nessepasso, a nossa tradição jurídica elegislativa inclusive de raiz cons-titucional. A matéria acima abor-dada foi tratada respectivamen-te nos artigos 1º e 7º, da Lei nº5.709/71 e 1º e 2º do Decretonº 74.965/74.

Admitia a Lei nº 5.709, noentanto, que o estrangeiro, pes-soa física que pretendesse imigrar

7 Op. cit. p.5.

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Revista de Direito Agrário

para o Brasil poderia, ainda emseu país de origem, celebrarcompromisso de compra e ven-da de imóvel rural, desde que,dentro de três anos contados dadata do contrato, viesse a fixardomicílio no Brasil e explorar oimóvel (Art. 2º e §§ da Lei nº5.709/71 e 6º do Decreto nº74.965/74). Com o descum-primento pelo compromissáriocomprador de qualquer das con-dições estabelecidas na lei, repu-tar-se-á absolutamente ineficaz ocompromisso de compra e ven-da, sendo-lhe defeso adquirir,por qualquer modo, a proprie-dade do imóvel. Neste caso ca-berá ao promitente vendedorpropor ação para declarar a ine-ficácia do compromisso, estandodesobrigado de restituir a impor-tância que recebeu docompromissário comprador. Esseartigo prevê ainda a prorrogaçãodo prazo mediante audiência doMinistério da Agricultura, se oadquirente já tiver implantado noimóvel projetos de culturas per-manentes. Essa disposição cons-tava do § 3º, do artigo 2º da Leie § 3º, do artigo 6º do Decretoregulamentador. Mas foi revoga-do pela Lei nº 6.815, de19.08.1980, conhecida comoEstatuto do Estrangeiro.

O objetivo da Lei nº 5.709/71 era certamente o de não cri-

ar obstáculos à imigração de agri-cultores estrangeiros para o Bra-sil, inclusive a dirigida, de resul-tados tão positivos para o País emépocas pretéritas cuidando-se,ainda, de evitar fraude à lei. Averdade, porém, é que essa ver-tente imigratória deixou de exis-tir já há algum tempo e a letra daLei nº 5.709.71 tornou-se mortapela ausência de candidatos, imi-grantes agricultores de naciona-lidade estrangeira.

Como já referido inicial-mente, estrangeiro, pessoa físicaou jurídica, não pode adquiririmóvel rural sem prévia autoriza-ção governamental. A exceção dizrespeito à pessoa física que venhaa adquirir seu primeiro imóvelrural não ultrapassando sua áreaa três módulos de exploração nãodefinida. Neste caso não depen-derá de autorização.

Os módulos de exploraçãoindefinida constam de tabela ela-borada pelo Instituto Nacional deColonização e Reforma Agráriacomo decorrência do SistemaNacional de Cadastro Rural es-tabelecido na Lei nº 5.868, de12.12.1972, em regra baixadapor Portaria do Ministério de Es-tado da Agricultura.

A Lei nº 5.709/71 não ha-via fixado expressamente a res-

trição em questão, isto é, a rela-cionada com a aquisição condici-onada à autorização prévia aindaque o imóvel não ultrapassasse atrês módulos, na hipótese de oadquirente estrangeiro já ter umimóvel rural, isto é, ser proprietá-rio de imóvel rural. Esta restriçãofoi acrescentada pelo Decreto nº74.965/74. Anteriormente a leiestabelecia, no artigo 3º § 1º, quea aquisição por pessoa física serialivre se o imóvel não tivesse áreasuperior a três módulos de explo-ração não definida. Assim, pelomenos teoricamente, um estran-geiro poderia comprar vários imó-veis até de três módulos de explo-ração não definida em área contí-gua ou mesmo de um só proprie-tário, através do processo dedesmembramento ou deloteamento, tangenciando o pro-pósito da lei. Agora só poderá ad-quirir livremente o primeiro imó-vel até três módulos. Poderia sedizer, então, que o decreto ape-nas explicitou aquilo que a lei im-plicitamente já disciplinava. A par-tir de então, isto é, da aquisiçãodo primeiro imóvel passará a de-pender de autorização governa-mental, através do Incra, órgãoentão vinculado ao Ministério daAgricultura e hoje ao Ministério doDesenvolvimento Agrário. É o quedecorre do disposto no artigo 7º,§ 3º, do Decreto nº 74.965/74.

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Revista de Direito Agrário

Prescreve ainda a lei que aaquisição de imóvel rural por pes-soa física estrangeira não poderáexceder a 50 módulos de explo-ração indefinida. Só o Presidenteda República, ainda assim ouvidoo Conselho de Segurança Nacio-nal, poderá aumentar tais limites,conforme dispõe o artigo 3º § 3ºda Lei nº 5.709/71 e artigo 7º, §5º do Decreto nº 74/965/74.

De se destacar aqui que oConselho de Segurança Nacionalfoi extinto e surgiu o Conselhode Defesa Nacional e a Secreta-ria de Assuntos Estratégicos(Constituição Federal de5.10.1988 - artigo 91, Decreto99.180, de 15.03.1990, Lei 8.028,de 12.04.1990, Decreto nº99.244, de 10.01.1990, Lei8.183, de 11.04.1991 e Decre-to nº 893, de 12.08.1993 e ain-da o Decreto nº 99.373 de04.07.1990 os quais tratam des-ses dois órgãos). A Lei nº 8.183/91 no seu art. 4º atribui à Se-cretaria de Assuntos Estratégicosexecutar as atividades perma-nentes necessárias ao exercíciode competência do Conselho deDefesa Nacional.

No caso das pessoas físicas seo imóvel for de área superior a 20módulos, a aprovação do projetode exploração também é necessá-ria, para a autorização da aquisição.

Ainda, em se tratando depessoa física, a aquisição por es-trangeiro de área entre três e cin-qüenta módulos dependerá deautorização do Instituto Nacionalde Colonização e Reforma Agrá-ria (Incra) e, segundo a lei, doentão Conselho de SegurançaNacional, através de sua secreta-ria, quando situado o imóvel emárea considerada de segurança.

Para tanto o interessado for-mulará requerimento ao Incraprestando as informações cons-tantes do artigo 9º do Decreto74.765 e bem assim juntando osdocumentos ali mencionados,isto é, se possui ou não outrosimóveis rurais; se com a aquisi-ção suas propriedades não ultra-passarão 50 módulos de explora-ção indefinida, em área contínuaou descontínua e a destinação aser dada ao imóvel através do pro-jeto de exploração se sua área forsuperior a 20 módulos.

O interessado deverá do-cumentar sua residência no ter-ritório nacional; a área total domunicípio onde se situa o imó-vel adquirendo, a soma das áre-as transcritas em nomes de es-trangeiros no município por gru-pos de nacionalidade e quais-quer circunstâncias das mencio-nadas no artigo 5º, do mesmodecreto. Estas se referem à im-

possibilidade de pessoas da mes-ma nacionalidade serem propri-etárias, em cada município, demais de 40% do limite fixado nocaput do artigo, isto é, um quar-to da superfície total do municí-pio. Essa restrição consta do arti-go 12, da Lei nº 5.709/71 e res-pectivos parágrafos. Isto significaque a área de um município nãopoderá ser ocupada por estran-geiros, além de um quarto ou25% (vinte e cinco por cento).

Por sua vez, pessoas físicasou jurídicas de uma mesma na-cionalidade não poderão ocuparárea que exceda 40% de umquarto da área comunal. Outracircunstância aludida no artigorefere-se às aquisições liberadas,isto é, quando se tratar do únicoimóvel da pessoa física estrangei-ra, com área não superior a trêsmódulos ou, ainda, objeto decompra e venda, contrato depromessa de venda e compra,cessão, ou promessa de cessão,através de escritura públicaou instrumento particularprotocolado na circunscriçãoimobiliária competente e cadas-trado no Incra, antes de 10 demarço de 1969, isto é, antes doDecreto-Lei nº 494, primeiro di-ploma a estabelecer restriçõesmais amplas à aquisição de imó-veis rurais por estrangeiros, apóso Ato Complementar nº 45, an-

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teriormente aludido.

Resguarda-se com isso, odireito adquirido e o Ato Jurídi-co Perfeito, nos termos do artigo5º, inciso XXXVI da ConstituiçãoFederal em vigor e 153 § 3º daConstituição vigente quando doadvento da lei, bem como doartigo 6º, da Lei de Introduçãoao Código Civil - Dec. Lei nº4.657 de 04.09.1942.

Quanto às restrições deocupações por estrangeiros aci-ma dos percentuais referidos,calculados com base na área desuperfície dos municípios, asmesmas são postergadas se o es-trangeiro, pessoa física, for casa-do com brasileiro ou brasileira,ou tiver filhos brasileiros, confor-me o mesmo artigo 12, § 2º, itemIII, da Lei nº 5.709/71.

O artigo 4º da lei fixou ain-da que nos loteamentos ruraisefetuados por empresas particu-lares de colonização, a aquisiçãoe ocupação de no mínimo 30%da área total será feita obrigato-riamente por brasileiros.

Por sua vez, as pessoas ju-rídicas estrangeiras só poderãoadquirir imóveis rurais destinadosà implantação de projeto agríco-la, pecuário, industrial, ou decolonização desde que vincula-

dos aos seus objetivosestatutários. Tais projetos deve-rão ser aprovados pelo Ministé-rio da Agricultura, ou pelo Mi-nistério da Indústria e Comércio,neste último caso se o caráter doprojeto for industrial. Há sempreque ouvir o órgão federal com-petente, para o desenvolvimen-to regional, que atua na área.

As pessoas jurídicas estran-geiras, nos termos do artigo 1º dalei, se constituídas como socie-dade anônima deverão ter suasações na forma nominativa des-de que se dediquem aloteamento rural, explorem áre-as rurais e sejam proprietários deáreas rurais não vinculadas àssuas atividades estatutárias.

As já existentes deveriamcomunicar ao Ministério da Agri-cultura, no prazo de seis mesesdo início da vigência da lei, istoé, 7.10.71, as relações de áreasrurais de sua propriedade ou ex-ploração ficando irregulares senão convertessem emnominativas suas ações e sujei-tas ainda à dissolução, na formada lei, por iniciativa do Ministé-rio Público. Esse prazo seria detrês anos, se as empresas conces-sionárias de serviço público tives-sem imóveis não vinculados aosfins da concessão. Essa obrigaçãopoderia ser obviada se, no mes-

mo prazo de três anos, a empre-sa concessionária viesse a alienaros imóveis em referência.

As aquisições de imóveisrurais por estrangeiros observa-rão obrigatoriamente a forma deescritura pública dela devendoconstar os requisitos constantesdo artigo 9º da lei e 10º do regu-lamento, isto é, referência dodocumento de identidade, pro-va de residência no território na-cional, autorização do órgãocompetente, ou assentimentoprévio da Secretaria do Conse-lho de Segurança Nacional. Istose for pessoa física. Para as jurí-dicas, a referência ao ato que con-cedeu autorização para aquisição,documento comprobatório desua constituição e licença parafuncionamento no Brasil.

Os Cartórios de Registro deImóveis manterão cadastro espe-cial dessas aquisições, em LivroAuxiliar de Aquisição de ImóveisRurais por pessoas estrangeiras,deles devendo constar os docu-mentos e referências, sendo osdocumentos os relacionados noartigo 10 da lei e 15 do regula-mento, isto é, menção ao docu-mento de identidade das partescontratantes ou dos atosconstitutivos, se pessoas jurídicas,memorial descritivo do imóvelcom área, características, limites

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e confrontações, a autorização doórgão competente, quando for ocaso e as circunstâncias mencio-nadas no § 2º, do artigo 12, dalei, e 5º, do regulamento, a quejá nos referimos anteriormente.

Obviamente, no que dizrespeito ao Registro de Imóveis,tais exigências têm por objetivocontrolar as aquisições tendo emvista os limites de ocupação porestrangeiros e por nacionalidadesde estrangeiros, relativamente àárea dos municípios. O Decreto74.965/74 fornece ainda os ele-mentos e o Modelo do Livro Auxi-liar de Aquisição de Terras por es-trangeiros, na conformidade dodisposto no seu artigo 15 § único.

Ainda com vistas ao con-trole dessas aquisições bemcomo das providências a cargo dosCartórios de Registro de Imóveisdeverão eles trimestralmente re-meter às Corregedorias de Justiçados estados a que estiverem subor-dinados e à repartição estadual doIncra, as relações de aquisições deimóveis rurais por estrangeiros,com os dados obrigatórios que de-verão constar do registro.

O art. 13 da Lei nº 5.709 e17 do Regulamento referem-se àmodificação do conceito de Em-presas Particulares de Colonização,do artigo 60, da Lei nº 4.504, de

30.11.1964, o Estatuto da Terra.

É vedado, pelo artigo 14 dalei, a doação a qualquer título,de terras da União ou dos Esta-dos a pessoas físicas ou jurídicasestrangeiras, salvo os casos pre-vistos na legislação de núcleoscoloniais, tendo em vista agricul-tores estrangeiros imigrantes.

De se destacar, ainda, porforça do artigo 15, da Lei nº5.709/71, que quaisquer aquisi-ções de imóveis rurais que vio-lem suas prescrições são nulas depleno direito, ficando o tabeliãoque lavrar a escritura e o oficialdo Registro de Imóveis quetranscrevê-la sujeitos à responsa-bilidade civil pelos danos acar-retados aos contratantes, semprejuízo da criminal por prevari-cação ou falsidade ideológica. Oalienante fica obrigado a restituiro preço ao adquirente do imó-vel. Quanto aos serventuários,sujeitos ficam, ainda, como de-corre das normas que regulamsuas atividades a procedimentosadministrativos e correcionais.

Finalmente, resguardou aLei nº 5.709/71, as autoriza-ções concedidas com base noDecreto-Lei nº 494/69 e 924/69, em estudos e processosconcluídos, cujos projetos te-nham sido aprovados pelos ór-

gãos competentes. Respeitou-semais uma vez o direito adquiri-do, eis que aperfeiçoado na vi-gência da lei anterior.

O conceito de pessoajurídica estrangeira na Leinº 5.709/71 e o artigo 171,incisos I e II da Constituiçãode 1988. A EmendaConstitucional nº 6, de15.08.1995.

4.

Com o advento da Consti-tuição Federal de 05 de outubrode 1988 foi lançado no artigo171, incisos I e II conceitos no-vos em relação à empresa brasi-leira, ou, pelo menos no enunci-ado do inciso II.

Segundo o inciso I, empre-sa brasileira é a constituída sobas leis brasileiras e que tenhamsua sede e administração no País.

Por sua vez, o inciso II alu-diu como sendo empresa brasi-leira de capital nacional aquelacujo controle efetivo esteja emcaráter permanente sob atitularidade direta ou indireta depessoas físicas domiciliadas e re-sidentes no País ou de entidadesde direito público interno, enten-dendo-se por controle efetivo daempresa a titularidade da matériade seu capital votante e o exercí-

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cio, de fato e de direito, do poderdecisório para gerir suas atividades.

Ora, para a Lei nº 5.709/71consoante se vê de seu artigo 1ºe § 1º pessoa jurídica estrangeiraé não só a pessoa jurídica estran-geira ainda que autorizada a fun-cionar no País como a pessoa ju-rídica brasileira, da qual partici-pem, a qualquer título pessoas es-trangeiras física ou jurídicas quetenham maioria do seu capital so-cial e residam ou tenham sede noexterior. Intérpretes entenderamentão que a segunda vertente depessoa jurídica prevista no § 1º, doartigo 1º, da Lei nº 5.709/71 po-deria ser abrangida pelo conceitode empresa brasileira expresso noinciso I, do artigo 171 da Consti-tuição. Como conseqüência dei-xaria ela de ser considerada estran-geira para os fins de aquisição deimóveis rurais. Desde, naturalmen-te, que tal pessoa jurídica tivessesede e administração do País.

Nosso entendimento, nainterpretação conjunta dos doistextos nos levava a crer que a dis-posição da Lei nº 5.709/71 sub-sistia para os efeitos decondicionar a aquisição de imó-veis rurais por tais pessoas, à pré-via autorização governamental. Eisto porque a Lei nº 5.709/71 re-conhecida expressamente a natu-reza de pessoa jurídica brasileira

aquela mencionada no § 1º, deseu artigo 1º. Apenas, para os efei-tos relativos à aquisição de imó-veis rurais ela seria equiparada àspessoas jurídicas estrangeiras. Istoé, necessitaria de aprovação pré-via, de autorização do Poder Pú-blico, eventual pretensão de ad-quirir imóvel rural em nosso país.

Sucede, porém que o arti-go 171 da Constituição de 1988foi revogado pela Emenda Cons-titucional nº 6, de 15.08.1995afastando o interesse prático dequalquer discussão a respeitodessa matéria. Como conseqüên-cia, a nosso ver, subsiste na ínte-gra o preceituado no artigo 1º, §1º da Lei nº 5.709/71.

É oportuno, no ensejo, evi-denciar que o artigo 190 daConstituição Federal de 1988 es-tabeleceu que a lei regulará e li-mitará a aquisição ou o arrenda-mento de propriedade rural porpessoa física ou jurídica estran-geira e estabelecerá os casos quedependerão de autorização doCongresso Nacional.

Essa nova lei ainda não foiaprovada. Mas, curiosamente, oartigo 23 da Lei nº 8.629, de 25de fevereiro de 1993, ao regula-mentar dispositivos constitucio-nais relativos à Reforma Agráriaprescreveu que o estrangeiro no

país e a pessoa jurídica autoriza-da a funcionar no Brasil só po-derão arrendar imóvel rural naforma da Lei nº 5.709/71. E, noseu § 1º aplicar-se ao arrenda-mento rural todos os limites, res-trições e condições aplicáveis àaquisição de imóveis rurais porestrangeiros, constantes da refe-rida lei no caput deste artigo (sic).

Finalmente, no § 2º esta-belece competir ao CongressoNacional autorizar tanto a aqui-sição ou o arrendamento alémdos limites de área e percentualfixados na Lei nº 5.709, de 7 deoutubro de 1971, como a aqui-sição ou arrendamento, por pes-soa jurídica estrangeira, de áreasuperior a 100 (cem) módulos deexploração indefinida.

As restrições à aquisição deimóveis rurais por estrangeiros fo-ram, por assim dizer, ampliadaspelo texto constitucional e esten-didas também ao arrendamentode imóveis rurais.

AQUISIÇÃO VEDADA PORLEI, A �CONTRÁRIO SENSU�

Quando:1 - O estrangeiro, pessoa

natural ou física, tiver domicíliono exterior e não no Brasil.

2 - A pessoa jurídica estran-geira tiver sede no exterior.

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Revogado o Art. 2o da Lei n. 5.709/71 pela Lei n.6.815, de 19.08.1980 - Estatuto do Estrangeiro. OConselho de Segurança Nacional foi substituído peloConselho de Defesa Nacional e Secretaria de As-suntos Estratégicos.

AQUISIÇÃO DE IMÓVEL RURAL POR ESTRANGEIROSAQUISIÇÃO PERMITIDA POR LEI NAS SEGUINTES HIPÓTESES:

AQUISIÇÃO DE IMÓVEL RURAL POR ESTRANGEIROSAQUISIÇÃO PERMITIDA POR LEI NAS SEGUINTES HIPÓTESES:

1. Pessoas naturais ou físicas (domiciliadas no Brasil)ou em vias de para cá emigrar

1 - Aquisição livre se for o primeiro imóvel rural,desde que não ultrapasse a três módulos de explo-ração indefinida (Art. 3º, § 1º da Lei nº 5.709/71 eart. 7º, § 1º, do Decreto nº 74.965/74).

2 - Aquisição livre em caso de sucessão legítima(Art. 1o §2o da Lei e do Decreto com a alteração daLei n. 6.572 de 30.09.1978)

Lei n. 5.709 de 07.10.71 3 - Aquisição dependente de autorização do Incrase tiver área entre três (3) e cinqüenta (50) módulosde exploração não definida, e da Secretaria do Con-selho de Segurança Nacional , se situada em áreade segurança (Art. 3o § 2o e 7o da Lei e 7o § 2ocom Art. 2o do Decreto)

Decreto n. 74.965 de 26.11.74 4 - Aquisição condicionada, por estrangeirodomiciliado no exterior que pretenda emigrar parao Brasil dentro de três (3) anos a partir do compro-misso de compra e venda, que se reputará comple-tamente ineficaz caso não ocorra (Art. 2o da Lei e6o do Decreto).

Observações

2- Aquisição dependente de autorização quando apessoa jurídica organizada no Brasil tenha mais de50% de seu capital oriundo de pessoa jurídica es-trangeira ou de pessoas físicas estrangeirasdomiciliadas no exterior. O projeto agrícola, pecu-ário, de colonização ou industrial, deverá estar vin-culado aos seus objetivos estatutários. (Art. 1o daLei e 11 do Decreto).

2. Pessoas Jurídicas 1- Aquisição dependente de autorização se autori-zada a pessoa jurídica estrangeira a atuar no Brasil.

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LA FUNCION ECONOMICO-SOCIAL Y AMBIENTALDE LA PROPIEDAD

(Las nuevas limitaciones agroambientales en la legislación y la jurisprudencia)

Enrique Ulate Chacón (*)

(*) Professor da Pós-Graduação em Direito Agrário e Ambiental na Universidade de Costa Rica

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�Como parte de la funcióneconómica y social, laspropiedades inmuebles debencumplir con una funciónambiental� (Ley deBiodiversidad, artículo 8).

1.

El Fundamento Constitucio-nal del Derecho de Propiedad.Propiedad como Institución y comoderecho subjetivo. Principios y va-lores constitucionales que informanel instituto de la propiedad. Lafunción económica, social yambiental en la Constitución Políti-ca.

Desde el siglo pasado,nuestro Constituyente se ha preo-cupado por regular el Instituto dela Propiedad como uno de losderechos fundamentales del SerHumano. La propiedad fue la má-xima expresión en el ámbito de lalibertad económica del ciudadano.Se concibió como un derecho sa-grado, absoluto e inviolable.

Sin embargo, desde laConstitución de 1821, seestablece la posibilidad deimponer limitaciones a través dela Ley. Ello fue evidente con lapromulgación de la legislaciónespecial agraria. Lo cierto es quenuestro Constituyente nunca seocupó de indicar cuál sería el

contenido mínimo o esencial delderecho de propiedad. Es al le-gislador a quien correspondeestablecer dicho contenido mí-nimo y esencial, a través de laslimitaciones al derecho, y es alTribunal Constitucional, a quienle corresponde ejercer el controlde esa facultad legislativa, paraevitar que por la vía de laslimitaciones de prive del dominioa los titulares.

El artículo 45 de laConstitución Política de CostaRica, es la norma que hacereferencia explícita al Derechode propiedad. Tal normadispone: �La propiedad esinviolable; a nadie puedeprivarse de la suya si no es porinterés público legalmentec o m p r o b a d o , p r e v i aindemnización conforme a la ley.En caso de guerra o conmocióninterior, no es indispensable quela indemnización sea previa. Sinembargo, el pago corres-pondiente se hará a más tardardos años después de concluidoel estado de emergencia.

Por motivos de necesidadpública podrá AsambleaLegislativa, mediante el voto delos dos tercios de la totalidad desus miembros, imponer a lapropiedad limitaciones de interéssocial.�

Como lo ha dicho en for-ma reiterada la Jurisprudencia,los dos párrafos de la normaconstitucional, se originaron enmomentos históricos diferentes:uno influenciado por losprincipios y valores del EstadoLiberal, y otro influenciado porlos derechos económicos ysociales propios del Estado Soci-al de Derecho.

Ahora bien, la preguntaque nace de inmediato es: Setrata de una sola propiedad opuede admitirse diversos tipos depropiedades. Indudablemente,la distinta naturaleza y función delos bienes, nos impone ladistinción entre diversos tipos depropiedades.

Sin duda alguna, laConstitución Política reconoce,como en la mayoría deConstituciones modernas, lapropiedad como Institución. Ycomo tal, es una sola.

Sin embargo, respecto delderecho de propiedad comoderecho subjetivo hoy sedistinguen �las propiedades�, apartir de la doctrina italiana delProf. Salvatore Pugliatti, pues sinduda difieren en su función y ensu estructura.

La función de la propiedad,

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está referida a la utilidad socialdel bien, a su diversa naturalezaproductiva: así podríamos hablarde naturaleza agrícola, ganadera,forestal, urbana, etcétera. Y laestructura, referida al conjuntode derechos y obligaciones delpropietario los cuales, van a di-ferir dependiendo de la funciónque le venga asignada al bien. Enotros términos, los derechos yobligaciones de un titular de unterreno forestal, son distintos a losderechos y obligaciones del titu-lar de un inmueble ubicado enzona urbana.

Hoy esa tesis es comparti-da por la más sobresalientedoctrina, tanto nacional comointernacional, y también por loscriterios vertidos por laJurisprudencia.

Para nadie es un secretoque el Derecho de propiedad,como derecho subjetivo, entrañaun conjunto de derechos ydeberes, facultades y obli-gaciones para su titular, que vienesiendo moldeados por lalegislación especial agraria,atendiendo a la naturaleza de losbienes sobre los cuales recaiga,y a los nuevos principios y valo-res que van moldeando el enteroordenamiento jurídico.

2.

La función económica y so-cial en la legislación agraria pro-mulgada antes de la reforma delartículo 50 Constitucional. Laprevalencia de la funcióneconómico y social, motivadapor el fomento a la producción,la equidad en la distribución dela tierra.

El Código Fiscal, la Ley deTerrenos Baldíos1, la Ley deInformaciones Posesorias y la Leyde Tierras y Colonización, fue laprimer normativa de ocuparse deuna regulación en el uso racio-nal de los recursos naturales, paraconservarlos. Pero tambiénpropiciaron la ocupación,titulación y destrucción de losbosques.

En la segunda mitad de éstesiglo, prevalecieron el interés enla producción y la explotación dela tierra, lo cual venía justificadopor la imposición de la funcióneconómica y social de lapropiedad agraria.

En efecto, la doctrinaagraria costarricense ya se habíamanifestado por una culturaagraria tendiente a poner aproducir la tierra para cumplir

con su destino económico: �...Latierra multiplicó su feracidad conel auxilio de la mecanización yla técnica, que supone el usocreciente de ciertos bienesmuebles... . Pero si la tierra com-parte su importancia con el ca-pital mueble agrario, perdiendosu primacía, ha adquirido unnuevo relieve como asiento delos bienes que constituyen laexplotación agropecuaria... .Dichos bienes son consideradospropiedad agraria en su aspectoeconómico, en cuanto a instru-mentos o medios de producciónagropecuaria, y en su aspectosocial, relativo a su control y a ladistribución de sus beneficios...La propiedad agraria, se carac-teriza por la exigencia individualy social de la necesariadestinación a la producción, parapreservar la calidad y lacapacidad productiva del bien.La exigencia social de laproducción se hace más obvia enlas normas que autorizan laexpropiación de los bienesagrarios no utilizados en laexplotación o empleados defici-entemente y en las que vedan olimitan las formas indirectas detenencia y explotación...�2

La misma Ley de TerrenosBaldíos permitió la adquisición

1 Ley de Terrenos Baldíos No. 13 del 10 de enero de 1939. Derogada por la Ley de Tierras y Colonización No. 2825.

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de tierras por particulares, hastaun máximo de 30 hectáreas.Quedó prohibido, salvo ese caso,cerrar con cercas los terrenosbaldíos propiedad del Estado,derribar montes o establecer enellos construcciones o cultivos oextraer leña, madera u otrosproductos. Con ello era eviden-te la intención de nuestro legis-lador de conservar los recursosforestales.

La Ley de Tierras yColonización de 1961, reguló lafunción económica y social de lapropiedad con mayorprevalencia que la ambiental.Ello era una exigencia cultural, engarantizar no solamente el�acceso� real a la propiedad, através de la intervención del Ins-tituto de Tierras y Colonización,sino también exigir que secumpliera con el destinoeconómico de los bienesproductivos (entre otros, artícu-lo 1, 2 y 5).

La doctrina patria afirmóque �A partir pues, de lapromulgación de la Ley deTierras y Colonización es ilegal laocupación de tierras del Estado.Pero las comenzadas antes de su

vigencia son lícitas, dentro de loslímites y condiciones establecidaspor la Ley General de TerrenosBaldíos u otras cualesquiera vi-gentes al iniciarse la ocupación ysirven a los efectos de laprescripción positiva�.3

Fue así como en la Ley deTierras y Colonización, junto a lafunción económica y social, sedictaron una serie dedisposiciones tendientes a con-servar los recursos naturales (ar-tículo 1 inciso...). En particular,se establecía que las tierras queno tuvieren implantado elrégimen de conservación y usoadecuado de las reservas que enellas existían de recursosnaturales renovables de la naciónestaban incumpliendo la funciónsocial de la propiedad.4

Sin embargo, su aplicacióndesmedida, por la cultura que leera inherente, en cuanto a lafunción económica y social,llevaron al ejercicio abusivo delderecho de propiedad. Por ellotambién se advierte que �Laapropiación indebida de tierrasen las reservas nacionales porparticulares adquiere caracteresalarmantes cuando es realizada

por propietarios de latifundioscon el fin de aumentar su cabiday más aún si el propósito que sepersigue se limita a acaparartierras sin cultivarlas.�5

El legislador impuso a lapropiedad, en particular a lapropiedad agraria una serie delimitaciones dirigidas a cumplir sufunción económica y social. LaLey de Tierras y Colonizaciónhace referencia expresa a ambasfunciones.6 Por un lado, leimpone la obligación al Estado dedotar a personas que carecen detierras o las poseen en forma in-suficiente, de las tierras suficien-tes para su desarrollo individualy social (artículo 2).

También se establece laobligación de poner a producir latierra, pues el incumplimiento deesa función económicoproductiva implicaría eventual-mente la expropiación de lastierras que se encuentran incul-tas, abandonadas, explotadasindirectamente, o insuficiente-mente explotadas. Y castiga elejercicio antieconómico de terre-nos aptos para la agricultura des-tinados a la ganadería (artículo144).

2 BARAHONA ISRAEL, Rodrigo. Derecho Agrario, San José, Universidad de Costa Rica, 2ª edición, 1982, página 228-229.3 Ibid, página 231.4 Ley de Tierras y Colonización, artículo 153 inciso 4.5 BARAHONA ISRAEL, op. cit., página 235.6 Ley de Tierras y Colonización, artículos 6; 21 inciso 1; 58, 142, 144, 150.

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Pero también se le imponea los beneficiarios del Instituto deDesarrollo Agrario, como una desus obligaciones la conservaciónde los recursos naturalesrenovables, pues la falta a estasdisposiciones pueden implicar larevocatoria de la parcela.

Por otra parte, la Ley deTitulación Múltiple de Tierras7

sujeta a las fincas tituladas, alimitaciones agroambientalesimpuestas por la Ley de Aguas8,pues se excluyen del dominioprivado las aguas, álveos o caucesy vasos de las aguas que sean dedominio público; y se imponeservidumbre de uso público so-bre las riberas de los ríos nonavegables.

Otras limitaciones conten-didas en dicha Ley están vincu-ladas con la Ley General deCaminos y la prohibición de des-truir bosques y arboledas quecontengan especímenes vege-tales o animales que estén enproceso de extinción en el país.9

La Ley Forestal de 196110

también impuso importanteslimitaciones a la propiedadagraria tendientes a someter

obligatoriamente al régimenforestal aquellos bosques y terre-nos que el Poder Ejecutivoconsiderase indispensables paraestablecer en ellos zonasprotectoras, reservas forestales,reservas nacionales y reservas bi-ológicas. En caso de negativa delos propietarios procedería laexpropiación.11

En efecto, a partir de lapromulgación de dicha Leycomienza a manifestarse conmayor profundidad la funciónambiental de la propiedad. Secontemplan políticas deconservación, forestación yreforestación de los bosques yterrenos, y de promoción, pormedio de incentivos, a laactividad forestal.

El Patrimonio forestal delEstado les constituyen las reser-vas nacionales, las reservasforestales, los parquesnacionales, los viveros forestalesdel Estado, las zonas protectorasy las reservas biológicas.

�Cuando la conservacióndel bosque y de los terrenosforestales está inspirada en el pro-pósito de proteger los suelos, o

de mantener y regular el régimenhidrológico, el clima o el medioambiente, las áreas destinadas aesos fines se denominan zonasprotectoras. En ellas se detieneel proceso de erosión de lossuelos, ya que las raíces de losárboles sujetan y retienen la capavegetal y las hojas que caencubren el suelo por donde correel agua, evitando así que arrastrelas partículas de la tierra.

Las zonas protectoraspueden estar situadas enpropiedad estatal o en propiedadprivada. En una y otra se prohibelas labores agrícolas queimpliquen la destrucción de lavegetación.

El mantenimiento yregulación del régimenhidrológico es otra función im-portante de los bosques. Por ellohan merecido un tratamientodetallado en la Ley Forestal, lacual declara zonas forestales lasque bordean manantiales y unapequeña franja de la ribera de losríos, arroyos, lagos, lagunas oembalses naturales. Dentro de lasreservas nacionales, son áreasprotectoras una ancha franja auno y otro lado de las riveras de

7 Ley de Titulación Múltiple, No. 5064 del 22 de agosto de 1972.8 Ley de Aguas, No. 276 del 15 de agosto de 1942, artículos 72 y 73.9 Ley de Titulación Múltiple, artículo 5 inciso c).10 Ley Forestal No. 4465 del 25 de noviembre de 1969.11 Ley Forestal, artículo 2 inciso b, 71 y 72.

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los ríos, y una amplia a uno y otrolado de la depresión máxima delas cuencas hidrográficas.

La función de los bosquesen relación con las aguas es tanimportante que puedetrascender del ámbito nacional,como sería el caso de un río quecorre por varios países.�

3.

La Jurisprudencia Constitu-cional, respecto de la normativaagroambiental, antes de la refor-ma al artículo 50 de laConstitución Política. El dinamis-mo de la propiedad. Laslimitaciones y el contenido mí-nimo en el ejercicio del derechode propiedad.

Desde hace muchos años,la Doctrina ha distinguido entrelímites y limitaciones delderecho de propiedad, en elcontexto del contenido de esederecho. Según ALBALADEJO,el contenido normal del Derechode propiedad debe enmarcarsemediante la indicación de loslímites del dominio. Estospueden establecerse por razonesde interés privado, o por razonesde interés público, siendo estosúltimos los predominantes. Porejemplo los establecidos en laLey de Aguas o en la Legislación

especial agraria o ambiental.

Nuestra Jurisprudenciapatria hizo la distinción entre loslímites y limitaciones al Derechode propiedad. Considera laslimitaciones al derecho depropiedad originados en elinterés social, del cual habla elartículo 45 párrafo segundo dela Constitución Política. Identifi-cando dicho concepto con losproblemas de las clases sociales,con las medidas necesarias paramejorar las condicioneseconómicas de las clases y lograrla convivencia humana, orienta-do por el bien común y la justiciasocial.

La Jurisprudencia emana-da, en aquél entonces de CortePlena, conociendo como Tribu-nal Constitucional, señaló muyclaramente el principio de lafunción económica social de lapropiedad, como una restricciónimpuesta a la propiedad conefectos generales.Específicamente, en el ámbito dela propiedad forestal, laJurisprudencia estableció laimportancia de las limitacionesdesde el punto de vistaambiental: �El concepto clásicode propiedad que la tenía comoabsoluta y sin límites, ha variadonotablemente, permitiendoahora que se impongan

�limitaciones de interés social�,conforme lo autoriza el párrafosegundo del artículo 45, con locual ha sido posible que el legis-lador estableciera, como funciónesencial del Estado, la de �velarpor la protección, aprove-chamiento, conservación y fo-mento de los recursos forestalesdel país� (artículo 1º de la LeyForestal), función que se cumplecon la serie de restricciones quela citada Ley impone a laexplotación de los bosques. Dela misma norma constitucional seconcluye que esos límites no sonun desconocimiento del derechode propiedad, como lo alega elrecurrente, sino una limitantepara lograr el cumplimiento defines superiores, más importantesque los estrictamente individualesen favor del propietario, sean losde la comunidad y de las futurasgeneraciones que deben contarcon recursos forestales, incluso enprotección del ambiente y lasanidad... Es cierto que se le halimitado en su ejercicio, enprotección de los interesesforestales del Estado queprocuran la conservación de lospequeña franja de la ribera de losríos, arroyos, lagos, lagunas oembalses naturales. Dentro de lasreservas nacionales, son áreasprotectoras una ancha franja auno y otro lado de las riveras delos ríos, y una amplia a uno y otro

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lado de la depresión máxima delas cuencas hidrográficas.

La función de los bosquesen relación con las aguas es tanimportante que puedetrascender del ámbito nacional,como sería el caso de un río quecorre por varios países.�12

3.

La Jurisprudencia Constitu-cional, respecto de la normativaagroambiental, antes de la refor-ma al artículo 50 de laConstitución Política. El dinamis-mo de la propiedad. Laslimitaciones y el contenido mí-nimo en el ejercicio del derechode propiedad.

Desde hace muchos años,la Doctrina13 ha distinguido en-tre límites y limitaciones delderecho de propiedad, en el

contexto del contenido de esederecho. Según ALBALADEJO,el contenido normal del Derechode propiedad debe enmarcarsemediante la indicación de loslímites del dominio14 . Estospueden establecerse por razonesde interés privado, o por razonesde interés público, siendo estosúltimos los predominantes. Porejemplo los establecidos en laLey de Aguas o en la Legislaciónespecial agraria o ambiental.

Nuestra Jurisprudenciapatria hizo la distinción entre loslímites y limitaciones al Derechode propiedad15 . Considera laslimitaciones al derecho depropiedad originados en elinterés social, del cual habla elartículo 45 párrafo segundo dela Constitución Política.16 Iden-tificando dicho concepto con losproblemas de las clases sociales,con las medidas necesarias paramejorar las condiciones

económicas de las clases y lograrla convivencia humana, orienta-do por el bien común y la justiciasocial.17

La Jurisprudencia emana-da, en aquél entonces de CortePlena, conociendo como Tribu-nal Constitucional, señaló muyclaramente el principio de lafunción económica social de lapropiedad, como una restricciónimpuesta a la propiedad conefectos generales. Específi-camente, en el ámbito de lapropiedad forestal, laJurisprudencia estableció laimportancia de las limitacionesdesde el punto de vistaambiental: �El concepto clásicode propiedad que la tenía comoabsoluta y sin límites, ha variadonotablemente, permitiendoahora que se impongan«limitaciones de interés social»,conforme lo autoriza el párrafosegundo del artículo 45, con lo

12 BARAHONA ISRAEL, op. cit., página 706.13 ALBALADEJO, Manuel. Derecho Civil, Tomo III, Derecho de bienes, Barcelona, 8ª edición, 1994, páginas 259 a 262.14 �A veces el límite consiste en que el propietario no puede hacer algo; otras en que tiene el deber de hacerlo, quitándosele así la libertad de omitirlo (porejemplo, la de no revocar la fachada del inmueble o la de no cultivar la finca rústica)... Como los límites del dominio constituyen régimen normal del mismo, nihace falta un acto especial para imponerlos a cada cosa en particular, ni hay que probarlos... sino que basta invocar (cuando proceda) la norma jurídica que losestablece. Por el contrario, tratándose de limitaciones han de establecerse por un acto especial relativo a la cosa de cuya propiedad se trata, y, como sonexcepcionales, han de ser probadas, pues, en otro caso, la propiedad se presume libre de ellas.� BID, página 262.

15 �Tradicionalmente se han usado como sinónimos �límites� y �limitaciones�, pero ya hoy día se hace la diferencia entre ambos términos, para entender como�límites� los que son impuestos por la ley en forma generalizada sin referirse a una cosa o a un propietario individualizados, se aplican a todos los que están enuna misma situación; mientras que las �limitaciones� por regla general son impuestas voluntariamente por los propietarios, aunque sea con base en la ley, ysiembre para casos concretos... Pero nótese que la votación de dos tercios no constituye autorización para imponer toda clase de limitaciones a la propiedad,pues el texto se refiere únicamente a las de �interés social� (Corte Plena, Sesión Extraordinaria, del 25 de marzo de 1983)16 Corte Plena, Sesión Extraordinaria del 16 de junio de 1983.17 Corte Plena, Sesión Extraordinaria del 25 de marzo de 1982.

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cual ha sido posible que el legis-lador estableciera, como funciónesencial del Estado, la de «velarpor la protección, aprove-chamiento, conservación y fo-mento de los recursos forestalesdel país» (artículo 1º de la LeyForestal), función que se cumplecon la serie de restricciones quela citada Ley impone a laexplotación de los bosques. Dela misma norma constitucional seconcluye que esos límites no sonun desconocimiento del derechode propiedad, como lo alega elrecurrente, sino una limitantepara lograr el cumplimiento defines superiores, más importantesque los estrictamente individualesen favor del propietario, sean losde la comunidad y de las futurasgeneraciones que deben contarcon recursos forestales, incluso enprotección del ambiente y lasanidad... Es cierto que se le halimitado en su ejercicio, enprotección de los interesesforestales del Estado queprocuran la conservación de losrecursos naturales y la sanidadambiental; pero ello está permi-tido por la norma constitucionalque el propio recurrente estimalesionada..IX. La Ley Forestal pre-tende proteger los recursosnaturales, circunstancia que

incide en la organización de laproducción. Los recursoshidrológicos, los cambiosambientales, la sanidad del lugarson factores que influyen en laproducción agropecuaria y seencuentran directamente relaci-onados con los recursos forestalesde la zona; por ello lasregulaciones sobre explotaciónforestal no lesionan sino que, porel contrario, afirman la garantíaconstitucional del artículo 50, encuanto dispone que el Estadodebe organizar la producción. X.Con la Ley Forestal no se le estáimpidiendo al recurrente laposibilidad de lograr trabajo, ho-nesto y útil, con el que procurepor la subsistencia y bienestar deél y de su familia. Es indudableque el derecho que otorga el ar-tículo 56 de la Constitución Polí-tica no es irrestricto, pues seencuentra sometido a las leyes yreglamentos respecto a lamodalidad y condiciones deejercerlo. Así el señor ElizondoVillegas puede dedicarse a la agri-cultura si ése es su deseo; peroen ejercicio de tal derecho no lees lícito actuar contra lalegislación vigente que protege losrecursos forestales y regula laproducción agrícola...�.18

La Sala Constitucional, apartir del año 1990, reconocemás claramente el carácterdinámico del derecho depropiedad, y la posibilidad deimponer dentro de su estructura-conjunto de derechos yobligaciones del propietario-limitaciones de interés social,para evitar el ejercicio antisocialo abusivo de ese derecho que noes ilimitado. 19

Dentro de dicho contextoreconoce, implícitamente, laexistencia de propiedadesespeciales, con particularidadesdistintas atendiendo a lanaturaleza del bien de que se tra-te, y su función específica:

�El poder del propietariosobre la propiedad está determi-nado por la función que éstacumpla. El objeto del derecho depropiedad ha sufrido trans-formaciones importantes.Actualmente, no sólo se tutela elderecho de los propietarios, sinotambién diversos interesesgenerales o sociales quecoexisten con aquél. El derechoobjetivo enmarca del contenidode los derechos subjetivos. Cadaobjeto de derecho implica unapeculiar forma de apropiación.

18 Corte Plena, sesión extraordinaria celebrada el l7 de mayo de l98419 Sala Constitucional, No.5305-93.

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Así por ejemplo las facultades deldominio relativas a un fundoagrícola son muy distintas de lascorrespondientes a una fincaubicada en el sector urbano deintensa utilización.�20

Dichas limitaciones, segúnla Sala Constitucional, deben serrazonables y no vaciar elcontenido del derecho, puespasaría a ser una privación totaldel mismo. 21

4.

Las consecuencias de lafunción económica y social. Lacultura agraria tradicional y elejercicio abusivo del derecho depropiedad, en detrimento de lanaturaleza, la calidad de vida yla propia existencia humana.

El ejercicio de la funcióneconómica y social de lapropiedad, sin considerar laambiental, fue algo normal den-tro de la cultura agrariaimperante. Se titularon grancantidad de terrenos. Los Bancosdel Estado propiciaron, con elfinanciamiento, el desmonte y ladestrucción del bosque para au-mentar la frontera agrícola, a tra-

vés de actividades agrícolas yganaderas, con mínimasprácticas de recuperación desuelos y áreas devastadas.

La propiedad agraria recaíasobre un bien esencialmente denaturaleza productiva. Pero sehizo caso omiso a los mandatosdel legislador en conservaradecuadamente los recursosnaturales, lo que implicaba for-mas distintas de ejercicio de laactividad agraria. Pero el aumen-to de la población, las escasastécnicas en la producción agraria,la dependencia de losagroquímicos por la pérdida defertilidad del suelo, y la mismacultura agraria fueron minandola destrucción de nuestrospreciados recursos, con el escasocontrol Estatal.

Pero no existían criteriosclaros para poner coto alejercicio abusivo y antisocial dela propiedad, pues la mayoría delas normas han protegido y pro-piciado el ejercicio egoísta de esederecho, y la explotación desme-dida de los recursos naturales.

Si bien es cierto el Legisla-dor desde hacía muchos años

venía procurando que, a travésde claras limitacionesagroambientales, se propiciaraun desarrollo sostenible, no essino cuando los Derechos Huma-nos de la Tercera Generación quese da un cambio culturaltrascendental para el enteroordenamiento jurídico.

En el medio costarricense,ya la más destacada doctrinaambientalista, ha mostrado granpreocupación, por la falta de unatesis jurisprudencial - en elámbito constitucional- en cuantoa los límites agroambientales quedeben o no ser indemnizadas, loque puede constituir un obstácu-lo para una política ambientalorientada al desarrollosostenible.22

Por lo anterior, elestablecimiento de los límitesagroambientales de lapropiedad, en el ámbito de sufunción económica, social yambiental, es fundamental paraalcanzar verdaderamente undesarrollo sostenible, ponde-rando los valores y principiosconstitucionales que deben ori-entar este modelo dedesarrollo.

20 Sala Constitucional, No. 5097-93 de las 10:24 horas del 15 de octubre de 1993.21 Sala Constitucional, No. 5097-93.22 CABRERA MEDAGLIA, Jorge. �La Jurisprudencia de la Sala Constitucional en materia ambiental�. En: Gestión Ambiental Municipal, San José, Colegio deAbogados, 1995, página 157.

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5.

El rol de la Jurisprudenciaen la delimitación de la funcióneconómica, social y ambiental dela propiedad. Los principiosdesarrollados en el ámbitojurisprudencial sobre la funciónecológica y el ejercicio abusivodel derecho de propiedad.

La Jurisprudencia patriahace una clara distinción entrelos diferentes tipos de propiedad,siguiendo la tesis dePUGLIATTI.23 Si bien es cierto sedefine a la propiedad agrariacomo esencialmente posesiva,como una propiedad deactividad empresarial tendientea lograr el mejor destinoproductivo del bien24, también seimpone el interés de conservarla.

En el ámbito del ejerciciodel derecho subjetivo, para pro-teger su derecho se le exige alpropietario que �... la ejerciócumpliendo con el destinoeconómico del bien, que ejercióen ella actos posesoriostendientes a cultivarla ymejorarla, y que sobre el bien

desarrolló una actividad agrariaempresarial, entendiéndose portal una actividad econó-micamente organizada con el finde la producción de animales ovegetales, con el uso de los re-cursos naturales...�.

Bajo esa concepción, cla-ramente nuestra Jurisprudenciaintegra la función ambiental,como parte de la económica y lasocial cuando expresa: �Hoy esteprincipio ha evolucionado y sele identifica como el principioeconómico social de lapropiedad, en cuanto el mismose desdobla en dos: 1) Por unaparte denominado función sub-jetiva, y se refiere a lasobligaciones del propietario conla propiedad, las cuales podríansintetizarse en su deber de culti-var el bien productivo de que espropietario, cumpliendo así conel fin económico del bien: de serproductivo o de aptitudproductiva; también tiene laobligación de mejorar supropiedad con el objeto de queaumente la producción yproductividad, debe respetar eladecuado mantenimiento y

desarrollo de un ambienteecológicamente equilibrado, ytratándose de algunaspropiedades particulares cumplircon todas las obligaciones que lanormativa especial le impone; 2)La función objetiva es laobligación del Estado de dotar atodos los sujetos que no tenganbienes productivos, o los tenganen forma insuficiente, y ellostengan capacidad paradesarrollar una actividad empre-sarial, con esos bienes para quepuedan los sujetos incorporarseal proceso productivo,desarrollándose humanamenteen los planos social y económico.La primera es la funciónbásicamente económica, la se-gunda es sobre todo social...� 25

En dicha sentencia, se evi-dencia una clara tendenciajurisprudencial, reiterada enmuchas otras26, de introducir,como parte de la misma funcióneconómica y social, la funciónambiental para alcanzar eldesarrollo sostenible.

Pero es en el ámbito de lapropiedad forestal, como

23 PUGLIATTI, Salvatore. La proprietá nel nuevo Diritto. , Milano Editores Giuffré, 1964, 309 p.24 �La más productiva entre las cosas es la tierra, la cual de sus frutos y productos espontáneamente, pero de ella, de la tierra, el hombre civil vive, no yasolamente recogiendo sus productos espontáneos, sino fecundándola con su obra. La natural potencialidad productiva de la tierra deviene en producción actual,por el trabajo del hombre. Con el trabajo la tierra se humaniza, deviene espiritual posesión y propiedad del hombre, no cosa, no natural, dominada por el casoo por la causalidad, sino nutrida por el hombre que la cuida, la cultiva; entre en el ámbito no solo de los intereses humanos y de los motivos de acción delhombre, sino también en los fines de los valores, deviene base del consorcio humano, sede y cuna de la sociedad de los hombres, reguladas por las leyes del vivirsocial, por el derecho� PUBLIATTI, op. cit., página 203.25 Sala Primera de la Corte, No. 230 de las 16 horas del 20 de julio de 1990.

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propiedad limitada, en donde haalcanzado un mayor desarrollojurisprudencial el principio de lafunción ecológica de lapropiedad. Particularmente nosreferimos a las limitaciones quesufre el titular de un terreno quese ha declarado zona protectorabajo el régimen forestal, y recla-ma sin éxito su derecho a serindemnizado.27

La Sala Primera se refirióhace varios años al Derecho Eco-lógico, y la función ambientalinherente a la propiedad, cuyosprincipios son consagrados engran cantidad de normas y trata-dos internacionales: �...Elhombre tiene la responsabilidadespecial de preservar y adminis-trar juiciosamente el patrimoniode la flora y fauna silvestres y suhabitad, que se encuentranactualmente en grave peligro poruna combinación de factoresadversos. En consecuencia, alplanificar el desarrolloeconómico debe atribuirseimportancia a la conservación de

la naturaleza, incluidas la flora yla fauna silvestres... . Los recur-sos no renovables de la tierradeben emplearse en forma quese evite el peligro de su futuroagotamiento y se asegure quetoda la humanidad comparte losbeneficios de tal empleo... .Deberían destinarse recursos a laconservación y mejoramiento delmedio, teniendo en cuenta lascircunstancias... . A fin de lograruna más racional ordenación delos recursos y mejorar así lascondiciones ambientales, los Es-tados deberían adoptar unenfoque integrado y coordinadode la planificación de sudesarrollo con la necesidad deproteger y mejorar el medio hu-mano en beneficio de supoblación... . Todos los países,grandes o pequeños, debenocuparse con espíritu decooperación y en pie de igualdadde las cuestiones internacionalesrelativas a la protección ymejoramiento del medio...�. Porsu parte en la �Declaración so-bre el Derecho al Desarrollo� se

proclama: �El derecho humanoal desarrollo implica también laplena realización del derecho delos pueblos a la libredeterminación, que inclusive,con sujeción a las disposicionespertinentes de ambos pactosinternacionales de derechos hu-manos, el ejercicio de su derechoinalienable a la plena soberaníasobre todas sus riquezas y recur-sos naturales...�.28

En efecto, el peligro quecausaba el ejercicio antisocial delderecho de propiedad, sinrespetar su función ambiental,llevó a nuestros tribunales, areplantear los viejos criteriosjurisprudenciales en torno a latutela de la propiedad, paraexigirle a los poseedores ypropietarios el cumplimiento dela triple función: económica,social y ambiental o ecológica.

La Sala Constitucional haacogido recursos de amparofrente a actividades agrarias o deotra naturaleza, abusivas de par-

26 En igual sentido, Sala Primera de la Corte, No. 241 de las 16:25 horas del 27 de julio de 1990, No. 50 de las 14:20 horas del 5 de agosto de 1993.27 Aquí puede disiparse el primer problema en relación con la tesis de la actora de haber sufrido una limitación en sus derechos de goce y disfrute de la fincaafectada como zona protectora, la cual al haber sido declarada como reserva forestal -y con base en el pronunciamiento de la Procuraduría- no se le siguió eltrámite de compra o expropiación correspondiente, de donde el Decreto Nº 12608-A resulta inconstitucional e ilegal. Ello no es así pues lo constituido fue unazona protectora y no una reserva forestal. Sería indemnizable si el bien se destina a reserva forestal pero no lo es si se le declara dentro de una zona protectora.El artículo 45 de la Constitución Política distingue dos situaciones distintas: procede la indemnización cuando hay expropiación, pero no debe mediar indemnizaciónsi se establecen limitaciones a la propiedad. En el régimen forestal, cuando se le declara de orden público, se está en presencia del conocido fenómeno de los�límites administrativos a la propiedad privada� (GIANNINI, Massimo Severo. Il beni pubblici, Librería Ricerche, Roma, l963). El Decreto Ejecutivo Nº 12608-A sometió a régimen forestal obligatorio tanto a los bienes públicos como privados ubicados dentro de la �Zona Protectora El Rodeo�, declarando inalienablesy no susceptibles de inscripción en el Registro los de las reservas nacionales. Ese era el trato jurídicamente posible para los distintos tipos de bienes, enconsecuencia la finca de la actora se afectó con una limitación de interés social. Sala Primera de la Corte, No. 189 de las 14:20 horas del 30 de octubre de 199128 Sala Primera de la Corte, No. 189 de las 14:20 horas del 30 de octubre de 1991

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te de los propietarios que,irrespetando los límitesagroambientales impuestos porel legislador, pongan en peligrolos bienes o recursos naturales yla vida humana.

Así, se han protegido losrecursos forestales, frente aactividades que produzcan la talaindiscriminada de árbolesaledaña a una Reserva Forestal,con motivo de una actividad mi-nera, estableciendo comocánones de orden constitucionalla protección y preservación, asícomo la explotación racional delos recursos naturales.29

Las actividades privadas,ejercidas dentro del ámbito deejercicio del derecho depropiedad y de la libertad deempresa, deben respetar loslímites agroambientales, y parti-cularmente el interés colectivo.Esa situación es aplicable a lasactividades agrarias productivasde cría de animales o cultivo de

vegetales, pues no puedenejercitarse en daño a la salud oal medio ambiente. Ello seríapermitir el abuso del derecho. Asílo ha establecido también la SalaConstitucional, cuando señala:�Por otra parte, si bien es ciertoque el Estado debe respetar elderecho de los individuos altrabajo y a la empresa privada,también lo es que debe velar porel bienestar de la comunidad.Cualquier persona puedededicarse a la cría de animalescomo negocio, siempre y cuandono amenace con ello la salud ola seguridad de las personas,debiendo evitar que laexplotación empresarial seconstituya en foco de infecciónu ocasione contaminaciónambiental. La Salud Pública y laprotección del medio ambienteson principios tutelados tanto enel ámbito constitucional (artícu-los 21, 74 y 89 de la Carta Mag-na), como a través de lanormativa internacional.�30

La Jurisprudencia Constitu-cional fue delineando las basespara incorporar los principios delDesarrollo Sostenible como mo-delo31, para reorientar en su jus-to equilibrio todas aquellasactividades productivas, entre laactividad agraria, que atentabancontra el ambiente y ponían enpeligro el equilibrio ecológico, lalibertad de empresa y la defensade la salud de los consumidores.

Esta nueva orientación dela jurisprudencia, sobre elfenómeno agrícola, reconoce ladependencia del ciclo biológico(propio de la actividad agraria),con la utilización de los recursosnaturales, vinculándoloestrechamente con el conceptode desarrollo sostenible.32

6.

El impacto de la reformaconstitucional de los artículos 46y 50, en la nueva legislaciónagraria y ambiental. Hacia una

29 Sala Constitucional, No. 2233-93.30 Sala Constitucional, No 741 de las 10:55 horas del 13 de marzo de 1992. En el caso concreto se estableció que ordenar el cierre definitivo o el traslado deuna porqueriza por razones de salud, contaminación ambiental u otra, implicaría una privación total del derecho de propiedad, por lo que se debe indemnizaral recurrente.31�Se debe tomar en consideración que la protección del medio ambiente y la promoción del desarrollo económico no son desafíos independientes �dice laSala-. El desarrollo no puede subsistir en un ambiente de deterioro de la base de recursos y no se puede proteger cuanto los planes de crecimiento constante-mente hacen caso omiso de ello. Es preciso optar por el desarrollo sostenible, el cual satisface las necesidades del presente sin comprometer nuestracapacidad para hacer frente a las del futuro. Este desarrollo significa reconocer que si deseamos tener acceso continuo a los recursos que posibilitan la viday si hacemos expandir los beneficios del progreso industrial, tenemos que estar conscientes de las implicaciones y limitaciones que supone tomar ese derrotero�.Sala Constitucional, Sentencia No. 4423-93.

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nueva cultura agraria orientadapor el modelo del desarrollosostenible de las actividadesagrarias. La función ecológica dela propiedad como catalizadordel ejercicio de la propiedad,cumpliendo con su destinoeconómico y social.

Cuando se consagranexpresamente en nuestraConstitución Política el derechofundamental de todo ciudadanoa un ambiente sano yecológicamente equilibrado -Ar-tículo 50-33 y se establece elderecho de los consumidores ala protección de la salud, ambi-ente, seguridad e intereseseconómicos -artículo 46-34,surgen nuevos principios y valo-res constitucionales queimpregnan la legislación especial.

Es importante integrar, através de la interpretación cons-titucional (sistemática, material yevolutiva), todas aquellas normas

dedicadas a tutelar las relacioneseconómicas, con los principios yvalores del desarrollo sostenible.

La libertad de iniciativaeconómica privada supone, en elámbito de la iniciativa privada delempresario agrario35, el derechode elegir la actividad agraria (ar-tículo 56), la libertad de contra-tar libremente para el ejercicio ola constitución de la empresaagraria (artículo 46), la libertad decirculación territorial de los bienesagrarios vegetales o animales; elderecho de formar asociacionesagrarias (artículo 25), el derechoa gozar de la propiedad agrariaproductiva en funcióneconómica, social y ambiental(artículo 45), la libertad decompetencia, el derecho subjeti-vo de acceder al mercado y per-manecer en él (artículo 46).

Pero todas las mani-festaciones de la libertad de ini-ciativa económica en el ámbito

de la actividad agraria, y en elejercicio de la propiedad debenestar en función de los principiosconstitucionales consagrados enlos artículos 50 y 69 de laConstitución Política, es decir elfomento del desarrollo sosteniblea través de la actividadproductiva, garantizando ladistribución equitativa de laproducción y el derecho a unambiente sano y ecológicamenteequilibrado.

Como son disposiciones deorden constitucional, que noestablecen una normativa distin-tiva para lo agrario, se entiendeque las empresas agrarias y lospropietarios de inmueblesquedan afectas al cumplimientode dichas obligaciones.36

Las exigencias de los con-sumidores dentro mercadoagroalimentario van dirigidos aconsumir productos agrarios(vegetales o animales), sometidos

32 �Nuestro país ha dependido y seguirá dependiendo, al igual que cualquier otra nación, de sus recursos naturales y su medio ambiente para llenar lasnecesidades básicas de sus habitantes y mantener operando el aparato productivo que sustenta la economía nacional, cuya principal fuente la constituye laagricultura y, en los últimos años, el turismo, especialmente en su dimensión de ecoturismo. El suelo, el agua, el aire, los recursos marinos y costeros, losbosques, la diversidad biológica, los recursos minerales y el paisaje conforman el marco ambiental sin el cual las demandas básicas- como espacio vital,alimentación, energía, vivienda, sanidad y recreación- serían imposibles. De igual modo, nuestra economía también está íntimamente ligada al estado delambiente y de los recursos naturales; así, por ejemplo, tanto la generación de divisas por explotación agrícola y turística, como el éxito de importantesinversiones en infraestructura dependen, en última instancia, de la conservación de aquellos. Las metas del desarrollo sostenible tienen que ver con la supervivenciay el bienestar del ser humano y con el mantenimiento de los procesos ecológicos esenciales, es decir, de la calidad ambiental y de la sobrevivencia de otrasespecies. Hablar de desarrollo sostenible en términos de satisfacción de las necesidades humanas presentes y futuras y del mejoramiento de la calidad de vidaes hablar de la demanda de los recursos naturales en el ámbito individual y de los medios directos o de apoyo necesarios para que la economía funcionegenerando empleo y creando los bienes de capital, que a su vez hagan posible la transformación de los recursos en productos de consumo, de producción y deexportación�Sala Constitucional, (Sentencia No.3705 de las 15:00 horas del 30 de julio de 1993).33 Reformado por Ley No. 7412 del 24 de mayo de 1994.34 Reformado Por Ley No. 7607 del 29 de mayo de 1996.35 MORALES LAMBERTI, Alicia. Introducción al Derecho Agrario Ambiental (Nacional y Regional), Argentina, 1ª. Edición, Editora Córdoba, 1996, pág. 49-51.

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a procesos de producción,agroindustria o agrocomer-cialización con el mínimo desustancias contaminantes quepuedan afectar la salud. Por ellose exigen aspectos de calidadhigiénico-sanitarias adecuadastanto en el proceso productivo,como en los procesos sucesivosde manipulación de losproductos agrarios.

La actividad agraria empre-sarial debe basarse en técnicasmás naturales y menosartificiales. La disminución delriesgo biológico, propio de laactividad productiva no debe iren detrimento de la salud de losconsumidores. La actividadagroambiental debe reconciliarsecon la naturaleza en aras degarantizar un ambiente sano a losconsumidores. En ello juega unrol fundamental el hecho técni-co de la agricultura, para buscarprocesos productivos yagroindustriales menos nocivospara la salud y el ambiente.

Toda actividad agrariabasada en métodos artificiales,con sustancias químicas tóxicasdaña la salud y el medio am-biente. Por ello se impone el

cumplimiento de los principiosconstitucionales, que protegenlos derechos del consumidor,a favor de la salud y la vida hu-mana.

La doctrina a profundizadosobre el tema de la función ecoló-gica37, como cualidad inescindiblede la función social, pero hace unaclara distinción entre una y otra.La función ecológica surge del im-pacto del Medio Ambiente con unfundamento ético, dentro de losDerechos Humanos de la Tercerageneración. Se busca proteger losintereses colectivos, y sobre todose basa en la solidaridad, paraproteger la salud y el ambientesano y ecológicamente equilibra-do.

La función social es insufi-ciente para lograr los propósitosde los nuevos valores queimpregnan la sociedad. Nosolamente se requiere cumplircon el destino económico de losbienes. Es necesario proteger losintereses ecológicos yambientales.�La función socialpor tanto suministra el esquemadogmático, la base jurídica a par-tir de la cual, la función ecológicatransforma el derecho de

propiedad en un derecho al usolimitado del propio bien de for-ma que no lesiones el Medio Am-biente. Utilizando sinónimos pro-cedentes de las cienciasexperimentales diríamos que lafunción ecológica es el cataliza-dor que transforma el régimennormal del dominio en algo dis-tinto que llega a configurarlo ydarle una forma bien precisa nola que proyecta el titular sobre sucosa, sino la forma que éstaadquiere por el uso de ella másadecuado al Medio Ambiente,uso que incluye la propiaactividad productiva del agricul-tor.�38 En ese sentido, el autor con-sidera, que la formación de unanueva cultura agraria, portadorade dichos valores, es sumamen-te importante para el de lafunción social y ambiental de lapropiedad.39

Por lo anterior, es necesarioprofundizar, sobre cómo se vienemanifestando esa funciónambiental en el seno de lapropiedad, cuáles obligacionesviene imponiendo el legislador alos propietarios de terrenos, paralograr la conservación de losmismos, así como larecuperación de los degradados.

36 Ley de Promoción de la competencia y defensa efectiva del consumidor, artículo 28.37 DELGADO DE MIGUEL, Juan Francisco. Derecho Agrario Ambiental (Propiedad y Ecología). Navarra, Editorial Aranzadi, 1992, 647 p.38 DELGADO DE MIGUEL, op. cit., página 81.

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Las limitaciones agro-ambientales de la propiedad,alcanzan gran cantidad de aspec-tos en el ejercicio de actividadesproductivas y en el ámbito de laconservación de los recursosnaturales, la Biodiversidad, el usoy conservación de suelos, laprotección del bosque y losecosistemas, el uso y control delos plaguicidas y productos desíntesis química, el controlfitosanitario y sanitario animal yvegetal, los desechos agrícolas, laconservación de las aguas, lautilización y manejo de aguasresiduales en agricultura, larecuperación de suelos y cuencashidrográficas, etcétera. En el pró-ximo apartado, haremosreferencia solo a algunas dedichas limitaciones.

7.

Las nuevas limitacionesagroambientales impuestas por ellegislador al ejercicio de lapropiedad.

Dentro del contexto de losprincipios y valores cons-

titucionales descritos, comienza adictarse gran cantidad de leyesagroambientales, que no solomarcan la consolidación de unmodelo de desarrollo sostenible,sino que además, imponen unaserie de limitaciones agro-ambientales a la propiedad y lalibertad de empresa, buscandoconsolidar también una nuevacultura agraria y ambiental o eco-lógica.

La Ley Orgánica del Ambi-ente40 establece la obligación delEstado de propiciar un desarrolloeconómico y ambientalsostenible, lo que implica,necesariamente imponer límitesambientales al ejercicio de lasactividades económicasproductivas y al ejercicio delderecho de propiedad.

Pero para que esos límitestengan una verdadera aplicación,es necesario un cambio cultural.De la cultura agraria tradicional,en donde solo importaba loeconómico, debe pasarse a unacultura ambiental oagroambiental para el desarrollosostenible.41

Entre los límites más impor-tantes impuestos a la propiedad,para garantizar la funcióneconómica, social y ambiental,pueden destacarse los siguientes:

a.El ejercicio de todaactividad agroambiental, quepueda alterar o destruir elemen-tos del ambiente, requierenecesariamente de unaevaluación de impactoambiental, cuya aprobacióndebe ser previa al proyecto.42

También se exige la evaluacióncuando por obras oinfraestructura puedan afectarserecursos marinos, costeros yhumedales.43

b. El ordenamiento ter-ritorial, para equilibrar eldesarrollo sostenible, implica lareubicación territorial de lasactividades productivas, lo quepodría significar límites impor-tantes al derecho de propiedad,pues deben tomarse enconsideración, entre otros aspec-tos, los recursos naturales, lasactividades económicas predo-minantes, la capacidad de uso delos suelos y la zonificación por

39 DELGADO DE MIGUEL, op. cit., página 85.40 Ley Orgánica del Ambiente, No. 7554 del 4 de octubre de 1995.41 Ley Orgánica del Ambiente, artículos 12, 13, 14, 15 y 16.42 Ley Orgánica del Ambiente, artículo 17 y siguientes. Existe responsabilidad, directa y solidaria, del interesado, el autor del estudio y quienes lo aprueben, siaún con la evaluación se causan daños al ambiente. Por ello se exigen garantías de cumplimiento y funcionamiento a las obligaciones ambientales que debaasumir el interesado (artículo 20 y 21).43 Ley Orgánica del Ambiente, artículos 40, 43, 44.

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productos y actividadesagropecuarias, en razón deconsideraciones ecológicas yproductivas.44

c. El Poder Ejecutivo estáfacultado para incluir dentro delas áreas silvestres protegidas lasfincas de particulares necesariaspara el cumplimiento de lafunción ambiental, o crear lasservidumbres legales para laprotección ecológica. En los ca-sos donde la Ley exijaindemnización, los particularespueden someterse voluntaria-mente al régimen forestal, casoen el cual la propiedad quedaafectada en el Registro Público.45

d. Están prohibidas lasactividades orientadas ainterrumpir los ciclos naturalesde los ecosistemas dehumedales, que puedan provo-car su deterioro y laeliminación.46

e. Las actividades pro-ductivas deben evitar lacontaminación del agua, dartratamiento a las aguas

residuales, impedir o minimizarel deterioro o contaminación decuencas hidrográficas, así comodel suelo.

f. La agricultura orgánica47,como forma de ejercicio deactividades agrarias sostenibles,implica una forma decumplimiento de la funcióneconómica, social y ambiental,pues se exige una certificaciónambiental de los productosorgánicos que se hayan obtenidosin aplicar insumos o productosde síntesis química.48

g. El crédito ambiental: estádestinado a financiar los costosde reducción de lacontaminación en procesosproductivos. Cuando implican eluso del suelo se requiere un plande manejo y uso de tierras deconformidad con la capacidadde uso.49 Indudablemente, laestructura de la propiedad y sufunción está condicionada, eneste caso por el elementoambiental, requerido en elejercicio empresarial.

La Ley Forestal50, orientadapor los principios constitucionalesde uso adecuado y sostenible delos recursos naturales renovables,establece regulaciones en cuantoa la conservación, protección yadministración de los bosquesnaturales, y por la producción,a p r o v e c h a m i e n t o ,industrialización y fomento delos recursos forestales, buscandola incorporación de los particu-lares al ejercicio sostenido deactividades silviculturales.

Si bien es cierto, elMinisterio del Ambiente está fa-cultado para crear áreas silvestresprotegidas en terrenos privados,ello requiere indemnización, sal-vo que el propietario decidasometerse voluntariamente alrégimen forestal.

La Ley prevé dos claroslímites, en interés de las áreasprotegidas:

a.�Tratándose de reservasforestales, zonas protectoras yrefugios de vida silvestre y encaso de que el pago o la

44 Ley Orgánica del Ambiente, artículos 28, 29 y 30.45 Ley Orgánica del Ambiente, artículo 37.46 Ley orgánica del Ambiente, artículo 45.47 �Se entenderá por agricultura orgánica la que emplea métodos y sistemas compatibles con la protección y el mejoramiento ecológico sin emplear insumos oproductos de síntesis química...� (Artículo 73).48 Ley Orgánica del Ambiente, artículos 74 y 75.49 Ley Orgánica del Ambiente, artículo 113.50 Ley Forestal, No. 7575 de 5 de febrero de 1996, reformada por leyes No. 7609 de 11 de junio de 1996, 7761 de 2 de abril de 1998 y 7788 de 30 de abrilde 1998.

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expropiación no se hayaefectuado y mientras se efectúa,las áreas quedarán sometidas aun plan de ordenamientoambiental que incluye laevaluación de impactoambiental y posteriormente, alplan de manejo, recuperación yreposición de recursos.�51 Locual constituye un claro límitepara el cumplimiento de lafunción ambiental de lapropiedad.

b.�Cuando, previajustificación científica y técnicade interés público, se determinemediante ley que el terreno esimprescindible para conservar ladiversidad biológica o los recur-sos hídricos, quedará constituidauna limitación a la propiedad queimpedirá cortar árboles y cambi-ar el uso del suelo. Estarestricción deberá inscribirsecomo afectación en el RegistroPúblico.�52 Como se observa, nose trata de un límite irrazonable.Por el contrario el propietariopodría ejercer su actividadsiempre y cuando sea compatiblecon la función ambienta que, por

naturaleza, viene asignada alinmueble, para conservar re-cursos hídricos o diversidad bi-ológica.

El Título III de la Ley, refe-rido a la propiedad forestal pri-vada, como propiedad especial,establece un conjunto dederechos y obligaciones para lospropietarios de bosques quecondicionan el cumplimiento dela función ambiental, atendiendoa la naturaleza del bien:

c. No es permitido a los ti-tulares cambiar el uso del suelo,ni establecer plantacionesforestales. Sin embargo, laAdministración Forestal del Esta-do puede otorgar permiso pararealizar obras complementarias ala actividad agroforestal, siemprey cuando la corta del bosque sealimitada, proporcional yrazonable.53

d. El aprovechamiento delbosque solo se puede realizar siel propietario cuenta con un plande manejo que contenga el im-pacto que pueda ocasionar al

ambiente, según criterios desostenibilidad científica.54

e. El pago por serviciosambientales55, constituye unade las manifestaciones más mo-dernas de ejercicio de lafunción ambiental, pues elpropietario se compromete aconservar el bosque por un pe-ríodo no inferior a los veinteaños, para recibir el Certifica-do de Conservación del Bos-que. También lo recibe lospropietarios que deseensometer su inmueble a laregeneración del bosque, paraáreas que por su estado deteri-orado y necesidadesambientales, deben convertirseal uso forestal. Las afectacionesy limitaciones, así como los in-centivos se inscribe en el Regis-tro Público como afectación ala propiedad.56

f. Las plantaciones fores-tales, incluidos sistemasagroforestales y árboles plantadosindividualmente, no requierenpermiso de corta, transporte,industrialización ni exportación,

51Ley Orgánica del Ambiente, artículo 37, en relación con el artículo 2 de la Ley Forestal. Dicha reforma fue introducida por la Ley de Biodiversidad, en elartículo 14.52 Ley Forestal, artículo 2 párrafo segundo.53 Ley Forestal, artículo 19. Cuando sea necesario, se exigiría evaluación de impacto ambiental.54 Ley Forestal, artículo 20.55 La Ley define los servicios ambientales como: �Los que brindan el bosque y las plantaciones forestales y que inciden directamente en la protección y elmejoramiento del medio ambiente. Son los sguientes: mitigación de emisiones de gases efecto invernadero (fijación, reducción, secuestro, almacenamiento yabsorción), proteción del agua para uso urbano, rural o hidroeléctrico, protección de la biodiversidad para conservarla y uso sostenible, científico y farmacéutico,investigación y mejoramiento genético, protección de ecosistemas, formas de vida y belleza escénica natural para fines turísticos y científicos.

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salvo cuanto exista plan de ma-nejo derivado de un contratoforestal con el Estado.57

g. Todo propietario tieneprohibiciones de cortar o elimi-nar árboles en las áreas deprotección establecidas por Leypara las nacientes permanentes,ríos, lagos y manantiales.58

h. Está prohibido realizarquemas en terrenos forestales, nialedaños, sin obtener el permisorespectivo de la AdministraciónForestal del Estado.59

i. Como parte de la funciónambiental, los inmueblessometidos voluntariamente alrégimen forestal o dedicados aesa actividad, gozan de unaprotección especial respecto deinvasiones, pudiendo solicitar laprotección inmediata de las au-toridades de policía.60

j. El crédito forestal, se con-solida como instituto para fi-nanciar a pequeños y medianosproductores, mediante créditos yotros mecanismos de fomento del

manejo de bosques, procesos dereforestación, viveros forestales,sistemas agroforestales, recu-peración de áreas denudadas. Elfinanciamiento comprende,además, el pago de los serviciosambientales que brindan losbosques y plantacionesforestales. La tierra con bosquey los árboles en pie serviráncomo garantía de dichos cré-ditos, quedando anotadascomo afectaciones a lapropiedad.61

La Ley de ProtecciónFitosanitaria62 tiene como pro-pósitos generales, proteger a laactividad agraria de cultivo devegetales, por los perjuicios cau-sados por las plagas, queamenacen la seguridad alimen-taria y la actividad económica. Elmanejo integrado de plagas, enel ámbito del desarrollosostenible, implica la utilizaciónde nuevas formas de producciónagraria, como la agriculturaorgánica, que permitan el controlde plagas sin deteriorar el medioambiente.63

Lógicamente, el cumpli-miento de los objetivos de la Ley,dependerá del compromiso delos productores y poseedores deinmuebles dedicados aactividades agrarias, en cumplircon los límites impuestos por elpropio legislador, a saber:

a. Los propietarios u ocu-pantes de predios tienen laobligación de poner en prácticalas medidas técnicas necesarias -establecidas por el ServicioFitosanitario del Estado- paracombatir las plagas y evitar sudiseminación.64

b. Cuando el propietario uocupante, a cualquier título nocombata las plagas deimportancia económica ocuarentenal, el ServicioFitosanitario puede disponer laejecución de los trabajosnecesarios y la destrucción sinninguna responsabilidad, de losfocos de infección.65

c. También están obligados,los propietarios u ocupantes deinmuebles, a tratar, procesar o

56 Ley Forestal, artículo 22, 25, 68 y 69.57 Ley Forestal, artículo 28.58 Ley Forestal, artículo 33 y 34.59 Ley Forestal, artículo 35.60 Ley Forestal, artículo 36.61 Ley Forestal, artículos 46, 48 y 49.62 Ley de Protección Fitosanitaria, No. 7664 del 8 de abril de 1997.63 Ley de Protección Fitosanitaria, artículos 1 y 11.64 Ley de Protección Fitosanitaria, artículo 14.65 Ley de Protección Fitosanitaria, artículo 15.

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destruir los rastrojos, desechos yresiduos, de acuerdo con lasmedidas técnicas que se dicten.66

La Ley de Salud Animal67,también está orientada a laprotección sanitaria de lasespecies animales, en el ámbitode la actividad productiva y surepercusión directa en la saluddel hombre. Por ello, elMinisterio de Agricultura, a tra-vés de las autoridades sanitarias,puede tomar las medidasnecesarias para controlar el bro-te de enfermedades que ponganen peligro la salud pública o lasalud animal.

Dichas medidas incidendirectamente en actividadesesencialmente agrarias de críade animales, pues pueden con-sistir en:

a. El sacrificio68, aislamiento,la retención o el tratamiento deanimales o la destrucción porincineración o desnaturalizaciónde los productos o subproductoso desechos que se consideren unpeligro de contagio o de difusión

de enfermedades o decondiciones morbosas, similares,en perjuicio de la salud públicao la salud animal. Las autorida-des están facultadas para reali-zar inspecciones dentro de lapropiedad privada en procurade lograr los propósitos previs-tos, y los dueños de los fundosestán obligados a permitir suentrada.69

b. Todo propietario, u ocu-pante a cualquier título estáobligado a combatir por supropia cuenta las plagas yenfermedades de combate par-ticular obligatorio que sepresenten en sus fincas.70

La Ley de Uso, Manejo yConservación de Suelos71, es defundamental importancia parael cumplimiento de la funcióneconómica, social y ambientalde la propiedad. Se pretendelograr el manejo, conservacióny recuperación de suelos en for-ma sostenible, integrada con losdemás recursos naturales, lo-grando una participación másactiva de las comunidades y los

productores, e impulsando laimplementación y control deprácticas mejoradas en los sis-temas de uso, para evitar laerosión y degradación del recur-so.72

Se plantea la agroecología,como una forma de lograr laconvergencia entre los objetivosde la producción agrícola y laconservación de los recursossuelo y agua.

La Ley plantea un conjuntode limitaciones agroambientales,para lograr cumplir con los obje-tivos señalados:

a. En áreas críticas decuencas o subcuencas (congravedad en degradación delsuelo y su entorno, comolimitante a cualquier actividad),sean de dominio público o pri-vado, los dueños de terrenosdeben aplicar forzosamente to-das las medidas y prácticas queconlleven la recuperación delsuelo y preservación del ambien-te en general.73

66 Ley de Protección Fitosanitaria, artículo 20.67 Ley de Salud Animal, No. 6243 de 2 de mayo de 1978, reformada por Ley No. 7472 de 20 de diciembre de 1994.68 Como el caso de la fiebre porcina o la cigatoca negra.69 Ley de Salud Animal, artículo 7.70 Ley de Salud Animal, artículo 8.71 Ley de Uso, Manejo y conservación de suelos, No. 7779 de 30 de abril de 1998.72 Ley de Suelos, artículo 1 y 6.73 Ley de Suelos, artículo 16 y 20.

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b. El otorgamiento de cré-ditos en dichas áreas, exigen unestudio de impacto ambientalorientado a la actividadagroecológica, con prácticasagronómicas adecuadas para elbuen manejo y conservación delrecurso suelo.

c. Las concesiones paraaprovechamiento de aguasdeben incluir la obligación delusuario de aplicar las técnicasadecuadas de manejo, para evi-tar la degradación del suelo.74

d. La construcción de obrasde infraestructura vial, debe sercoordinada, para proteger lossuelos de los efectos nocivos delas escorrentías.75

e. La práctica de quemaspara fines agrícolas o similares, enterrenos de aptitud agrícola,deben cumplir con los requisitosrespectivos del Reglamento paraquemas agrícolas, con laautorización respectiva.76

f. Toda adjudicación deterrenos que realice el Institutode Desarrollo Agrario, tendrá

como limitación que el uso delterreno no puede ir en contra desu capacidad de uso, cuyoincumplimiento se convierte encausal para revocarla.77

g. En general, toda activi-dad que implique riesgo decontaminación de los suelos,debe basarse en una planifi-cación que evite o minimice elriesgo de contami-nación de talrecurso.78

h. Como obligaciones de losparticulares se establecen entreotras: Fomentar, contribuir yejecutar todas las prácticas yactividades necesarias para el ma-nejo, conservación y recupe-ración de suelos; es un derechoobligación vigilar y controlar elcumplimiento de la legislación enmateria de suelos; prevenir ladegradación de los suelos quepueda ser causada por las aguas,para lo cual deberán aplicarse to-das las prácticas que aumenten lacapacidad de infiltración en sus ter-renos o la evacuación de aguassobrantes hacia cauces naturales;prevenir o impedir lacontaminación de acuíferos y ca-

pas de agua subterránea; permitirel ingreso de técnicos autorizadospara verificar el mantenimiento delas prácticas de manejo,conservación y recuperación desuelos.79

i. Crédito agroambiental:Como complemento de ese con-junto de obligaciones, seestablecen sistemas especiales decréditos para actividadesagropecuarias, con el fin dedesarrollar estudios básicos deimpacto ambiental y prácticas demanejo, conservación yrecuperación de suelos, comoparte de la actividad productiva.80

Quizás se han menciona-do las limitaciones más importan-tes, establecidas por el Legislador,para el cumplimiento de lafunción ambiental de lapropiedad. Podría determinarsemuchas más en otras leyesespeciales, tales como la Ley deAguas, Ley General de Salud, Leyde Quemas controladas, Ley deAviación Civil -sobre las reglas deaviación agrícola -, entre otras,que están fuera del alcance deésta investigación.

74 Ley de Suelos, artículo 23.75 Ley de Suelos, artículo 24.76 Ley de Suelos, artículo 24.77 Ley de Suelos, artículo 27, y Ley de Tierras y Colonización, artículo 69 párrafo final.78 Ley de Suelos, artículo 32.79 Ley de Suelos, artículoo 41 a 45.80 Ley de Suelos, artículo 50.

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8.

Límites agroambientales,función ambiental de lapropiedad, y responsabilidad pordaño ambiental.

Es evidente que todos loslímites agroambientales a lapropiedad, tienen comofinalidad preservar el ambientecon el ejercicio de actividadesagrarias sostenibles, y por ellouna de las notas comunes, quese observa en toda la legislaciónes la responsabilidad objetiva pordaño ambiental.

La normativa constitucio-nal y legal, a tenido unaevolución impresionante enmateria de responsabilidad pordaño ambiental:

a. Constitución Política: �Todapersona tiene derecho a un am-biente sano y ecológicamenteequilibrado. Por ello está legitima-da para denunciar los actos queinfrinjan ese derecho y para re-clamar la reparación del dañocausado... La Ley determinará lasresponsabilidades y sancionescorrespondientes� (Artículo 50).

b. Ley Orgánica del Ambiente:�Quien contamine el ambiente ole ocasiones un daño seráresponsable...� (Artículo 2 inciso

d). �En cualquier manejo yaprovechamiento de aguasusceptibles de producircontaminación, la responsabilidaddel tratamiento de los vertidoscorresponderá a quien produzcala contaminación�(artículo 66). �Eldaño o contaminación al ambi-ente puede producirse porconductas de acción u omisión yles son imputables a todas laspersonas físicas o jurídicas que larealicen� (artículo 98). �Solidari-amente también responderán lostitulares de las empresas o lasactividades donde se causen losdaños, ya sea por acción o poromisión�. Igual responsabilidadcorresponderá a los profesionalesy los funcionarios públicos quesuscriban una evaluación de im-pacto ambiental contra lasdisposiciones técnicas imperanteso no den el seguimiento debidoal proceso originado en un dañoal ambiente o a la diversidad bi-ológica.� (Artículo 101).

c. Ley Forestal: �...cuanto se tra-te de personas jurídicas, laresponsabilidad civil se extenderáa sus representantes legales.Asimismo, tanto las personas físi-cas como jurídicas seránresponsables, civilmente, por eldaño ecológico causado, deacuerdo con lo que establece elartículo 1045 del Código Civil.�(Artículo 57). �Se le concede

acción de representación a laProcuraduría General de Repúbli-ca, para que establezca la accióncivil resarcitoria sobre el dañoecológico ocasionado alpatrimonio natural del Estado.�(Artículo 59, segundo párrafo).

d. Ley de Protección Fitosanitaria:�Quienes realicen investigación,experimentación, movilización,liberación al ambiente,importación, exportación,multiplicación y comercializaciónde vegetales o de los organismoso productos referidos en el artí-culo 41, serán responsables de losdaños y perjuicios queocasionasen a la agricultura, elambiente y la salud humana yanimal.�(Artículo 31). �Quienesimportan, fabriquen, formulen,reenvasen, reempaquen,distribuyan, almacenen, trans-porten, vendan y apliquensustancias químicas, biológicas oafines para uso agrícola, estaránobligados a resarcir los daños yperjuicios que, con sus accionesu omisiones ocasionen a la agri-cultura, la ganadería, la saludhumana y el ambiente� (artículo32).

e. Ley de Uso, Manejo yConservación de Suelos: �Quiencontamine o deteriore el recursosuelo, independientemente de laexistencia de culpa o dolo o del

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grado de participación, seráresponsable de indemnizar, en lavía judicial que corresponda, y dereparar los daños causados alambiente y a terceros afectados.�(Artículo 52).81

9.

El impacto de la funciónambiental en los institutos vincu-lados a la propiedad agraria, y sudesarrollo en la jurisprudencia delos Tribunales agrarios.

Uno de los temas más con-trovertidos, en materia delimitaciones a la propiedad, parael cumplimiento de su funciónambiental, es el de la posesión ytitulación de bosques y terrenosubicados en áreas protegidas.

El tratamiento de estetema, en el ámbito de laprotección posesoria, de lapropiedad privada y de lausucapión ha sido objeto deanálisis y discusión, tanto endoctrina como en jurisprudencia.El tema de la posesión ecológica,no es de pacífica aceptación. Sehan dado diversos planteamientosdoctrinales y la jurisprudenciaexige demostrar el cumplimiento

81 �Corresponderá a los Tribunales Agrarios conocer y resolver, definitivamente, los asuntos originados en la aplicación de la presente ley.� Ley de Suelos, artículo 56.82 Ley de Informaciones Posesorias, artículo 7. Reformado por Ley Forestal, No. 7575 del 5 de febrero de 1996.83 Sala Primera de la Corte, Sentencia No. 189 de las 14 horas veinte minutos del 30 de octubre de 1991

de la función ecológica para pro-teger la posesión y propiedad.

Todo se origina en laaplicación del artículo 7 de la Leyde Informaciones Posesorias, queen la actualidad establece:

�Artículo 7 - Cuando elinmuebleal que se refiera lainformación esté comprendidodentro de un área silvestre pro-tegidas, cualquiera que sea sucategoría de manejo, el titulantedeberá demonstrar ser el titularde los derechos legales sobre laposesión decenal, ejercida por losmenos con diez años deantelación a la fecha de vigenciade la ley o decreto en que se creóesa área silvestre.

Las fincas ubicadas fuerade esas áreas y que contenganbosques, sólo podrán ser titula-das si el promovente demuestraser el titular de los derechoslegales de posesión decenal,ejercida por lo menos durantediez años y haber protegido eserecurso natural, en el entendidode que el inmueble tendrá queestar debidamente deslindado ycon cercas o carriles limpios...�82

La función ecológica incideen la solución de conflictosagrarios específicos, pues se le damayor importancia a aquellasactividades productivassostenibles. Dentro de dichocontexto, la Jurisprudencia havenido jugando un papelprotagónico en la búsqueda delequilibrio entre agricultura ymedio ambiente.

La Sala Primera admitió laexistencia del Derecho ecológi-co y su objeto83: la protección delos recursos naturales. En ellaestableció que la propiedadforestal es limitada, y en caso decreación de una Zona Protectorano es necesaria laindemnización, pues elpropietario puede continuar conel ejercicio de una actividadagroforestal, conservando yprotegiendo el recurso boscoso.

En la sentencia No. 51 delas 15 horas 15 minutos del 25de mayo de 1995, la Saladesarrolló nuevamente el temade la propiedad forestal, y aplicóal caso concreto el instituto de laposesión ecológica. Se trató deun conflicto de mejor derecho deposesión, en una área declarada

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contrarios a la función ecológicade conservación de los recursosnaturales para mantener elequilibrio de los ecosistemas enla Reserva Forestal de la CordilleraVolcánica de Guanacaste�.84

En otras sentencias85 la Saladesarrolló el tema de laresponsabilidad objetiva porquemas que afectan lasactividades agrarias y los recur-sos naturales. El problema debeenfrentarse - afirma la Sala- nosolo en el ámbito agrario sinotambién ecológico en cuanto ala protección de los recursosnaturales. Los incendioscontaminan el medio ambiente,destruyen los habitad yecosistemas. El desarrollo de losprincipios generales del DerechoAgrario y del Derecho ambiental,entonces, deben orientarse haciala preservación de la naturalezapara permitir el desarrollosustentable, aún cuando no exis-

como Reserva Forestal. Se dijo:�La falta de entrega de una par-cela no es motivo suficiente parapretender el mejor derecho deposesión. Lo más importantehubiera sido la conservación delrecurso forestal... se exigió unaposesión agraria efectiva e inclu-so la demostración de actosposesorios encaminados a laconservación del bosque. Esteaspecto no fue demostrado porel recurrente, al contrario seconvirtieron terrenos de aptitudforestal en potreros... Es decir, apesar de la limitación existentecon fines de conservación losposeedores siguieron explotandoel bosque. Evidentemente, lostrabajos realizados no tendían alejercicio de una posesión forestalconforme a la naturaleza del bien.Al contrario deforestaban parasembrar. Hicieron caso omiso alas limitaciones y siguierondestruyendo el bosque. Sus actosposesorios son, en consecuencia,

ta suficiente legislación encargadade resolver tan grave problema.

En fallos más recientes, elTribunal Superior Agrario haplanteado los nuevos institutosagroambientales para la soluciónde casos concretos86, vinculandola empresa agroambiental, conlos contratos como forma deejercer la posesión ecológica y asícumplir la función ambiental dela propiedad forestal: �Pero elelemento más importante quecalifica la �función Ecológica� enla propiedad agraria de la actoralo es la existencia de un contratoagroambiental... mediante el cualse busca propiciar un plan demanejo forestal sobre la base dela regeneración natural...Mientras la actora ha demostradoel ejercicio de actos posesoriostendientes a cumplir la funciónecológica del fundo en conflicto,el demandado al contrario ha pro-piciado poner en peligro la

84 Sala Primera de la Corte, No. 51 de las 15 horas 15 minutos del 25 de mayo de 199585 Sala Primera de la Corte, No. 112 de las quince horas cuarenta minutos del 11 de octubre de 1995 y la No. 113 de las quince horas cincuenta minutos delmismo día.86 Entre otras, véase los siguientes fallos dictados por el Tribunal Superior Agrario, en su competencia agroambiental:-No. 12 de las 9:10 horas del 17 de enero de 1997 (Reivindicación en un área protegida, donde los demandados en lugar de proteger el recurso forestal,procedieron a quemar para sembrar).-No. 77 de las 9:10 horas del 12 de febrero de 1997 (Conflicto de mejor derecho de posesión en una Reserva Forestal, en donde el actor ejerce su posesión conun contrato agro-ambiental para proteger el bosque),-No. 154 de las 9:20 horas del 4 de abril de 1997 (La actora es una empresa agroambiental, y cumple la función ecológica de la propiedad, a través de uncontrato con la Fundecor);-No. 721 de las 11:40 horas del 7 de noviembre de 1997 (Conflicto de mejor derecho de posesión en una Reserva Forestal de Golfo Dulce, no se demuestra laposesión �ecológica�, calificada antes de la creación del área silvestre protegida, por lo que se niega a ambas partes del derecho);-No. 113 de las 14:50 horas del 20 de febrero de 1998 (se otorga el Derecho de propiedad en un área protegida, porque se demostró la posesión decenalanterior y la protección del recurso forestal);-No. 147 de las 15:15 horas del 27 de febrero de 1998 (Se ampara �indirectamente- la posesión �ecológica� ejercida por una Ong, en un terreno adquirido paraconformar un corredor biológico, frente a un conjunto de poseedores en precario que pretenden derechos de posesión).

47

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actividad de conservación del bos-que�. (Voto No. 154 de las 9:20horas del 4 de abril de 1997).

�Una de las formas medi-ante las cuales puede desplegarsela posesión ecológica es median-te la contratación agroambiental.Se trata de un instituto nuevo,cuyo perfil debe observarse bajolos principios del DerechoAgrario y Ambiental... Entende-mos por empresa agroambientalaquella dedicada a la producciónagraria sostenible, explotaciónsustentable del ambiente,protegiendo, conservando ymejorando racionalmente los re-cursos naturales renovables. Esdecir, su fin no solamente está vin-culado con el desarrollo sostenible,sino también con la conservaciónde los ecosistemas y el equilibrioecológico. Indudablemente,cualquier contratación que realicendichas empresas con ese fin, seráde naturaleza agroambiental.�(Voto No. 77 de las 9:10 horas del12 de febrero de 1997).

Sin duda alguna, losTribunales Agrarios en Costa Ricahan asumido el reto histórico desalvar la Naturaleza. Han idoestableciendo, en laadministración de la justiciaagroambiental, criteriosjurisprudenciales y principiosgenerales aplicables a casos con-cretos, para lograr un equilibrioentre la actividad productiva y laprotección del medio ambiente,en el ámbito del desarrolloagrario sostenible.

En tres fallos muy recientes,el Tribunal Agrario ha ido incor-porando el criterio de la funciónambiental, para resolver casosconcretos, a través de laslimitaciones agroambientalesestablecidas por algunas Leyesespeciales.En relación con el temade aguas de dominio público(T.S.A. No. 770 de las 10:40 ho-ras del 13 de noviembre de 1998).

En un voto, también muyreciente, el Tribunal destacó las

limitaciones agroambientales parael ejercicio de actividadesproductivas que contaminen elambiente o pongan el peligro lasalud humana, echando mano alos principios y valoresconstitucionales. En el caso con-creto rechazó la tutela interdictalque planteó un poseedor de unagranja porcina que funcionaba enun centro de población sinpermisos, y que las autoridades deSalud ordenaron desalojar.87

En una situación idéntica, unposeedor de una plantación deplátano hizo caso omiso a lasrecomendaciones impartidas porlas Autoridades del Ministerio deAgricultura, encargadas del controlfitosanitario, por lo cual ordenaronla destrucción de la plantación,pues ponía en peligro la actividadproductiva de las plantacionesvecinas y constituía un riesgo parala propagación de la enfermedad.El poseedor planteó un interdictoagrario, alegando la perturbaciónde su actividad productiva, el cual

87 �IV. No lleva razón el recurrente en sus agravios. Nuestro Legislador, desde hace muchos años, ha venido imponiendo una serie de límites agroambientales aactividades productivas, con el fin de proteger la salud de las personas y el medio ambiente sano y ecológicamente equilibrado. La actividad productiva, de cualquieranaturaleza que sea, debe ejercitarse dentro de un marco de respeto a la vida y existencia humana. Los límites a dichas actividades productivas están enmarcadas dentrode claros principios constitucionales donde, si bien se garantiza la propiedad privada y la libertad de empresa, dichos derechos deben ser ejercidos dentro del marcoglobal del ordenamiento jurídico, respetando sobre todo los intereses públicos o el interés de la colectividad Por eso se han creado una gran cantidad de Instituciones(MAG, MINAE, MS, entre otros), que ejercen un control sobre las actividades productivas dañinas al medio ambiente. Con ello se pretende evitar, de alguna manera, elabuso del derecho - prohibido por el artículo 22 de nuestro Código Civil -, al ejercitar la propiedad o posesión sobre actividades agrarias productivas, desatendiendolos principios fundamentales de la Constitución Política... Las actividades agrarias, sean de cría de animales o cultivos de vegetales, están sujetas a dichas disposiciones...Entre otras, sino se acatan las disposiciones o se desarrolla una actividad agraria productiva sin la debida autorización, puede ordenarse la clausura o cierre formal delestablecimiento o instalación. Pero ello es una atribución, como se ha indicado, que corresponde a las Autoridades Administrativas correspondientes. Si se acogiera, enese sentido, la tesis del demandante había que ordenar la restitución del bien al accionante para que éste siga ejerciendo una actividad agraria, que en principio, segúnconsta en autos, se ha demostrado causa daños a la salud y pone en peligro el ambiente. Ello sería contrario a los principios y valores superiores protegidos a nivelConstitucional, en materia agroambiental.� (T.S.A., No. 771 de las 10:40 horas del 13 de noviembre de 1998)

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fue desestimado, considerando elinterés colectivo. (T.S.A., No. 301de las 10:30 del 7 de mayo de1998).

10.

La función ambiental de lapropiedad en la Ley deBiodiversidad. Las limitacionesagroambientales reafirmadas enla nueva Ley. Implicaciones jurí-dicas.

La máxima reafirmación dela función ambiental de lapropiedad, cuyo fundamentoconstitucional es ya indiscutible,se encuentra en la recién promul-gada Ley de Biodiversidad88.

Esta Ley responde alcompromiso asumido por CostaRica, en el ámbito mundial, deconservar la diversidad biológi-ca, los recursos genéticos, lasespecies y los ecosistemas, den-tro del marco del desarrollosostenible89.

Se proyecta dentro delmarco del Convenio sobre la

Biodiversidad Biológica, y va masallá -siguiendo el mismoconvenio- de la conservación,pues se regula la utilizaciónsostenible de los recursos bioló-gicos, se incorporan normas so-bre el acceso a los recursos ge-néticos, y se pretende lograr unadistribución equitativa de loscostos y beneficios derivados dela utilización del material gené-tico90, el acceso a la tecnología yla biotecnología.

El artículo 8 de la Ley in-corpora en forma expresa lafunción ambiental de lapropiedad en su texto: �Comoparte de la función económica ysocial, las propiedades inmueblesdeben cumplir con una funciónambiental.�

El legislador no hizo otracosa que reconocer un principioque tenía un sólido fundamentoconstitucional, y un desarrollo ennuestra Jurisprudencia. Sin em-bargo, era imprescindible reafir-mar no-solo el principio, sinotambién las limitacionesagroambientales a la propiedad,

en aras del alcanzar unverdadero desarrollo sostenibleen la utilización de los recursosde la diversidad biológica.

Es muy importante señalar,que la pérdida de la diversidadbiológica se debe, sobre todo, afactores económicos, especial-mente al reducido valor que sele asignaba y las funciones eco-lógicas, tales como la protecciónde cuencas hidrográficas, el ci-clo de los nutrientes, el controlde la contaminación, laformación de suelos, lafotosíntesis y la evolución. Losrecursos biológicos y ladiversidad de los sistemas que losmantienen, constituyen el funda-mento esencial del desarrollosostenible. Por otro lado, hoy sesabe de la importancia que tienela diversidad genética en elejercicio de actividadesproductivas sostenibles.

�Los seres humanos llevanmiles de años utilizando y enalgunos casos incrementando ladiversidad genética, especial-mente en agricultura. Así como

88 Ley de Biodiversidad, No. 7788 de 30 de abril de 1998.89 La Ley Orgánica del Ambiente, en el capítulo IX, introdujo tímidas regulaciones sobre el tema de la diversidad biológica, que vinieron a constituir el marcogeneral para la nueva Ley, pues lo que se pretendía fundamentalmente era dar cumplimiento a los postulados del Convenio, porque no solo se declara lasoberanía del Estado sobre la diversidad biológica, sino también el interés público de las actividades destinadas a conservar, mejorar y recuperar la diversidadbiológica para asegurar su uso sostenible (artículo 46 y 47).90 Ley de Biodiversidad, Artículo 1 y 3. El ámbito de su aplicación no alcanza el material bioquímico y genético humano, regulado por la Ley de Salud, ni elintercambio de recursos bioquímicos y genéticos ni al conocimiento asociado resultante de prácticas, usos y costumbres, sin fines de lucro, entre los pueblosindígenas y las comunidades locales (artículo 4).

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la diversidad genética permite alas especies sobrevivir, los sereshumanos, especialmente las co-munidades indígenas y locales, sehan basado en la diversidad ge-nética para crear un amplio es-pectro de cultivos, animales ymicrobios, genéticamente diver-sos, que han facilitado susupervivencia. Los agricultoreshan domesticado animales silves-tres, mejorándolos para lograr ca-racterísticas deseables tales comotamaño, grosor de su abrigo oenfermedades. Igualmente, losagricultores han domesticadocientos de especies de plantasque, a lo largo del tiempo, hanmejorado para crear decenas demiles de variedades con carac-terísticas deseables tales comocolor de semillas, sabor, tamañode los frutos o resistencia a lasenfermedades. Los mejoradoresmodernos también se apoyan ydependen de la diversidad gené-tica.

Por estas razones, laefectiva conservación de la

diversidad genética debe irmucho más allá de la simpleconservación de especies: no re-sulta suficiente conservarpoblaciones viables de especies,en la medida que dichaspoblaciones pueden no tener ladiversidad genética necesariapara su propia supervivencia nipara la de los seres humanos91.�

Era imprescindible integrarla conservación con el usosostenible de la Biodiversidad92,la participación activa de lossectores sociales, para garantizaruna sostenibilidad social,económica y cultural, a través dela formación de la cultura yconciencia ambiental93.

También era imprescindiblelograr la consolidación del Siste-ma Nacional de Areas deConservación94, creando sistemasde incentivos y retribución deservicios ambientales para laconservación95, el uso sostenibley los elementos de laBiodiversidad, pues solo de esa

91 UICN, Centro de Derecho Ambiental. Guía del Convenio sobre la Diversidad Biológica, Edición en español, 1996, página 27.92 Por �utilización sostenible� se entiende la utilización de componentes de la diversidad biológica de un modo y a un ritmo que no ocasiones la disminucióna largo plazo de la diversidad biológica, con lo cual se mantienen las posibilidades de ésta de satisfacer las necesidades y las aspiraciones de las generacionesactuales y futuras. UICN, página 28.93 Ley de Biodiversidad, artículo 10 incisos 1, 2 y 3.94 Ley de Biodiversidad, artículos 22 al 44.95 Ley de Biodiversidad, artículo 37.96 �Cada área de conservación es una unidad territorial del país, delimitada administrativamente, regida por una misma estrategia de desarrollo y administración,debidamente coordinada con el resto del sector público. En cada uno se interrelaciona actividades tanto privadas como estatales en materia de conservación sinmenoscabo de las áreas protegidas.� Ley de Biodiversidad, artículo 28, párrafo segundo.

manera se podría garantizar elcumplimiento de la funciónambiental de la propiedad públi-ca y privada.

Las Areas de Conservación96,cuya competencia territorialalcanza todo el territorio tanto enáreas protegidas, como en áreasprivadas de explotacióneconómica, tienen la difícil tareade aplicar la legislaciónagroambiental, en especial, laLey Orgánica del Ambiente, LaLey Forestal, la Ley deConservación de la Vida silves-tre y la Ley de Creación delServicio de Parques Nacionales.

La función ambiental de lapropiedad, para proteger a laBiodiversidad, exige que lasactividades humanas se ajustena las normas científicas y técni-cas emitidas por el Ministerio delAmbiente y entes públicos com-petentes para el mantenimientode los procesos ecológicos vitales,tanto dentro y fuera de las áreasprotegidas, pero especialmente

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97 Ley de Biodiversidad, artículo 49 y 50.

en aquellas actividades relacio-nadas con asentamientos huma-nos, agricultura, turismo eindustria u otra que puedaafectar dichos procesos97.

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COBERTURA FLORÍSTICA E PERÍCIA JUDICIAL

NA DESAPROPRIAÇÃO AGRÁRIA

(*) Advogado, Mestre em Direito Agrário, professor emérito da Universidade Federal de Goiás e professor de Direito Agrário eProcessual Civil no Curso de Pós-Graduação da UFGO.

Getúlio Targino Lima (*)

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Não se pode deixar de re-conhecer que, num evento comoo presente, não pode deixar deser considerado o básico princí-pio da objetividade, a remir otempo, sempre escasso, e aviabilizar resultados concretos osquais possam ser manejados apóso evento com alguma perspecti-va de efetiva realização.

Inobstante isto, no entan-to, é de se convir que não é ca-bível, pura e simplesmente, tra-zer proposições, como verdadesacabadas, sem uma demonstra-ção de seu assento lógico jurídi-co, de seu acerto científico e dajusteza de seu propósito.

Assim, embora o carátereminentemente prático e objeti-vo do tema, a enfocar a indeni-zação que o Poder expropriantevem sendo condenado a pagarao proprietário expropriado dacobertura florística existente noimóvel objeto da açãodesapropriatória, conforme visto-rias judicialmente produzidas,tem-se que, introdutoriamente,relembrar alguns princípios, con-ceitos e realidades.

A propriedade agrária, in-contestavelmente, tem seus con-tornos específicos e bem deline-ados, parecendo-nos verdade in-contestável que o título dominial,

com significação e valor para fi-nalidades registrárias e de publi-cidade, é insuficiente paralegitimá-la, o que ocorre atravésda posse, materializada na ativi-dade agrária. Sem isto, o merotítulo se afigura como privilégioincontestável.

É que está consagrada aidéia de que o imóvel rural é bemde produção, de sustentação davida não podendo, por isto mes-mo, receber proteção absolutaque se irradie totalmente do do-cumento que lhe define a pro-priedade, mas, isto sim, do exa-to e correto cumprimento desuas finalidades natural, social eeconômica, o que se concretizacom a atividade agrária sobre eleexercida a qual, de sua vez, tra-duz a posse agrária. Esta, assim,não se instaura por ficção senãoatravés de trabalho.

Exatamente dentro destaperspectiva e acorde com estepensamento, a Constituição Fe-deral garante o direito de propri-edade (art. 5º, inciso XXII), aten-ta a uma concepção ocidental deque o direito à propriedade pri-vada dos bens de produção éinerente à personalidade huma-na, mas, no mesmo artigo einciso subseqüente impõe: �apropriedade atenderá à sua fun-ção social� (art. 5º, inciso XXIII).

Observe-se o caráter imperativoda norma, que não abre ensejoa uma faculdade ou mencionaum dever de caráter moral, masimpõe uma obrigação.

Daí o entendimento deque a função social não é ape-nas um objetivo a ser atingidopela propriedade, mas um pres-suposto que lhe configura fei-ção completa e lhe assegura,em plenitude, os direitos decor-rentes.

Tanto nos parece verdadei-ra esta afirmação que a CartaMagna, ao tratar da ordem eco-nômica, lhe declara as finalida-des, resguardando expressamen-te a observância de princípios(art. 170 e incisos de I a IX daConstituição Federal), dentre osquais, lado a lado, se colocam apropriedade privada e a funçãosocial da propriedade.

Impunha-se, portanto, quea Carta Magna identificasse, emseu próprio texto, em que con-sistia o cumprimento da funçãosocial da propriedade, o que fi-cou expresso no art. 186, incisosI a IV, assim: �Art. 186 - A funçãosocial é cumprida quando a pro-priedade rural atende, simultane-amente, segundo critérios e grausde exigência estabelecidos emlei, aos seguintes requisitos:

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I - aproveitamento racionale adequado;

II - utilização adequada dosrecursos naturais disponíveis epreservação do meio ambiente;

III - observância das dispo-sições que regulam as relações detrabalho;

IV - exploração que favo-reça o bem estar dos proprietári-os e dos trabalhadores�.

Com esta redação, a Cons-tituição prestou sua homenagemao Estatuto da Terra, que em suasalíneas �a� até �d� do § 1º do art.2º, dizia o mesmo, no distanteano de 1964.

Somente para consolidarmais ainda a idéia de que a fun-ção social está na base e na fina-lidade da propriedade agrária, oart. 2º do Estatuto da Terra já di-zia: �Art. 2º - É assegurada a to-dos a oportunidade de acesso àpropriedade da terra, condicio-nada pela sua função social, naforma prevista nesta lei.�

Tem-se, então, que o pro-prietário de imóvel rural que nãoo leva ao cumprimento de suafunção social agride a lei, tantoconstitucional quanto infracons-titucional, perdendo diversas

franquias que o direito de pro-priedade oferece ao seu titular,até porque o mesmo está condi-cionado, na linguagem do Esta-tuto da Terra, ao atendimento dafunção social e é princípio cons-titucional expresso o respeito aeste desiderato.

Tais considerações são fei-tas para que se possa afirmar,com segurança, que a desapro-priação se constitui numa pena-lidade, e a mais grave, que seimpõe ao proprietário desidioso,descumpridor de sua obrigação,que não leva o bem imóvel deque é proprietário aoatingimento de sua função soci-al, base e finalidade do instituto.

Acresça-se mais que, na hi-pótese deste estudo, trata-se dedesapropriação por interesse so-cial e não apenas isto, mas parafins de reforma agrária.

Não é demais que se rea-firme que a reforma agrária tementre seus objetivos o de promo-ver a melhor distribuição da ter-ra, mediante modificação no re-gime de sua posse e uso, a fimde atender, entre outros fins, oda justiça social, enquanto prin-cípio a nortear a propriedade.

Sendo assim, temos de re-conhecer a timidez de nosso tex-

to constitucional, ao dispor so-bre a desapropriação, por estemotivo e com esta finalidade,subordinando-a a prévia e justaindenização em títulos da dívidaagrária, garantida a preservaçãode seu valor real, e pagas asbenfeitorias úteis e necessáriasem dinheiro (art. 184, § 1º daConstituição Federal).

E se este texto constitucio-nal revela certa tibieza, pior senos afigura o texto da Lei Com-plementar n.º 76/93 ao admitirvistoria judicial, superposta à ad-ministrativa, cujo laudo acompa-nha a inicial da açãoexpropriatória, sem maiores pre-ocupações em lhe determinarparâmetros, modos proce-dimentais, limites e finalidades.Neste ponto, desconhece sim-plesmente o disposto no art. 9ºda Lei Complementar n.º 76/93.De outra parte, peritos e assisten-tes ficam, desta forma, soltosquanto ao fazer do laudo, queacaba abrangendo limites quelhe não seriam próprios (como,por exemplo, a avaliação da co-bertura florística, mesmo quan-do natural, separadamente daterra, em si), vindo a lei a decla-rar, ainda, que: �ao fixar o valorda indenização, o juiz conside-rará, além dos laudo periciais,outros meios objetivos de con-vencimento, inclusive a pesqui-

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sa de mercado� (art. 12, § 1º).

Chega-se a uma conclusãoprática inarredável: a desapropri-ação, de pena que devia ser, setransforma, não raras vezes, emalto negócio, assegurada ao pro-prietário expropriado até a pes-quisa de mercado, como se fos-se um vendedor comum, em si-tuação normal de particular paraparticular.

Todos estes elementos de-vem ser considerados, para quese tirem conclusões a respeito daindenização da coberturaflorística.

Tal cobertura, geralmentecapa arbórea do solo, nele se in-tegra e dele é parte própria, mor-mente se se tratar de coberturanatural.

O que a Constituição Fe-deral garante, e já garante de-mais, é o pagamento do valor daterra nua, desvestida dasbenfeitorias úteis e necessárias,que são pagas à parte, exatamen-te porque seu valor tem que serestabelecido em separado, paraser resgatado em dinheiro.

Não fosse a reserva consti-tucional, quanto a diversidade daforma de pagamento, asbenfeitorias seriam avaliadas

dentro do conjunto total da ter-ra desapropriada, o que é usualnos negócios desenvolvidos en-tre particulares.

Quando um fazendeiro re-solve vender seu imóvel, indica-lhes as benfeitorias não para queas mesmas sejam pagas à parte,pelo comprador, mas para que oalqueire do mesmo seja mais va-lorizado, em razão da presençados melhoramentos.

Com efeito, uma coisa écomprar uma fazenda �ainda aser constituída�. Outra diferenteé comprar um imóvel rural já cer-cado, com os currais prontos, aspastagens formadas, a casa sedeedificada, bem como as casasdos peões, os depósitos de ma-teriais, etc. Naturalmente, estaúltima terá o hectare ou oalqueire avaliado por muito maisdo que a primeira, ainda nãobeneficiada.

Ora, se assim ocorre comas benfeitorias, nas transaçõescomuns, muito mais ocorre coma cobertura florística, seja naturalou decorrente de florestamentoou reflorestamento.

O entendimento diverso,como vem acontecendo comcerta e importante área do Po-der Judiciário, implica em privi-

légio ao proprietário relapso oqual, repita-se, acaba se benefi-ciando com cálculos que trans-formam seus imóveis mal usados,às vezes totalmente abandona-dos, em verdadeiras fontes deenriquecimento, alcançandopreços que jamais seriam atingi-dos em venda normal.

Assim, em matéria de co-bertura florística, algumas consi-derações a mais têm que serapresentadas, a fim de que o as-sunto seja melhor analisado, sobuma ótica mais abrangente.

De princípio, embora a ju-risprudência esteja admitindo avistoria da cobertura florística,apartadamente da vistoria da ter-ra em si, a verdade é que, em setratando de cobertura florísticanatural, sequer se haverá de fa-lar em sua consideração comoelemento de elevação de preçoou de pagamento apartado. Nes-te caso, a floresta natural se cons-titui parte integrante do solo enão decorreu da intervenção oudos gastos do proprietário parasua constituição, como em casosde seringais e castanhais na re-gião Norte do País, por exemplo.Concluindo, não existe sofismacapaz de transformar coberturaflorística natural em benfeitorias,estas sim de pagamento garanti-do pela Constituição.

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O tema tem recebido ma-nifestações variadas, mas pare-cem-me extremamente oportu-nas as ponderações manifestadaspelo engenheiro agrônomo doIncra Judah Janes Maia Barbosa,transcritas em trabalho inédito doDr. Sebastião Azevedo, verbis:

�Na avaliação de imóveis,qualquer que seja, rural ou ur-bano, quando se utiliza o méto-do comparativo ou direto, o va-lor da avaliação surge por com-paração de preços de imóveis se-melhantes ao avaliado, ou seja,as amostras são homogeneizadasnos seu diversos aspectos, antesque se dê um tratamento estatís-tico aos valores encontrados.

No caso dos imóveis rurais,os peritos, ao realizarem suaspesquisas para comparação depreços, sempre usam valores demercado da região ou informa-ção de órgãos técnicos que tam-bém baseiam suas informaçõesno mercado de terras da região.Estas informações, portanto, sur-gem de ofertas ou vendas deimóveis nunca homogeneizados.O máximo que se discriminanestas pesquisas são a localiza-ção e o uso dos solos, tais como:Terras de Pastagem, Terras deCampo, Terras de Lavoura, Ter-ras de Matas, etc... No caso daslavouras, a aptidão agrícola dos

solos está relacionada com o uso,que irá determinar o valor das ter-ras, sem que a cobertura influen-cie este valor, mas no caso da�Pastagem� e �Mata� o valor doimóvel trás sempre embutido nospreços o valor da sua cobertura.

No caso das pastagens for-madas ou implantadas, os órgãosde pesquisa como a EMATER,BASA, F.G.V., entre outros, usamsubtrair o valor da terra nua. Noentanto, no caso da coberturaflorística (Mata ou Cerrado), estacobertura permanece comocomponente básico do preço,mesmo em alguns casos em quea cobertura oferece a opção doextrativismo. Isto ocorre aindacom mais validade nas áreas deFronteira agrícola (Amazônia eCentro-Oeste), onde as ofertasde terras e imóveis sempre citama cobertura florística existente,como parte do negócio. São es-ses valores, portanto, que fazema média dos valores da terra nuadessas regiões.

Erra, portanto, o perito ouavaliador ao usar o método com-parativo ou direto, com valoresde imóveis de uma região, oucom tabela de preços médiosdesta mesma região para a terranua, e depois avaliar em separa-do a cobertura florística. O me-lhor exemplo para se tirar dúvi-

da é uma simples pesquisa depreços das terras com pastagemformada, para se ver que essesvalores estão sempre acima dasáreas com matas ou coberturaoriginal. No entanto, ao se con-siderar o valor �potencial�madereiro em separado, os imó-veis passam a ter valores absur-dos, sem nenhuma conotaçãocom o mercado de terras da re-gião, seja com qualquer cober-tura, ou mesmo combenfeitorias. Ou seja, se a cober-tura com matas (mesmo conside-rando a existência de madeiranobre na área) tivesse o valor pre-tendido pelos seus postulantes, omercado indicaria ser esta a op-ção mais valorizada. Entretantoisto não ocorre; analisando da-dos da F.G.V., e de outros órgãospara diversos anos de pesquisade mercado, para as regiões Nor-te e Centro-Oeste, as terras comcobertura florística original estãocom seus preços sempre abaixodas terras de lavouras e de pas-tagens formadas, e em algunscasos até mesmo das terras decampo ou pastagem nativa.

O que ocorre portanto éuma avaliação de um valor �po-tencial� e não real; é como ava-liar uma mina de calcário, ape-nas pelo valor da estimativa deexploração, sem considerar osvalores e os custos desta explo-

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ração, que, na maior parte dasvezes inviabiliza esta exploração.Tanto é verdade que grande par-te das madeiras são simplesmen-te queimadas na formação depastagens ou inundadas eapodrecidas no caso de barra-gens hidrelétricas. E por quê?Pelo fato de que o real valor des-tas terras e do imóvel como umtodo está ligado a rendimentofundiário que este irá proporci-onar através da exploração, sejapor lavouras anuais, perenes, ex-ploração pecuniária ou mesmoreflorestamento; isto é, o valorreal de mercado. Já o indicativoda cobertura vegetal só em ca-sos excepcionais serve comoparâmetro para avaliação em se-parado do valor do imóvel; nomais das vezes é citada apenascomo um fator a mais para defi-nir o valor da terra nua.

Para um cálculo em sepa-rado, o avaliador teria que usaro Método Indireto ou do Rendi-mento Econômico de cada com-ponente do imóvel e aplicar umfator de deflação para cada umdestes componentes em funçãodo uso, desgaste oudepauperação. Neste caso, nãocabem as avaliações ditasexpedidas e de precisão normal,e sim uma de precisão rigorosaem que se determinasse atravésde parâmetros técnicos e econô-

micos o valor do rendimentofundiário de cada classe de terraque compõe o imóvel (com suadestinação e aptidão prevista -lavouras, pastagens, refloresta-mento, lazer, etc.). Capitalizan-do estes rendimentos ehomogeneizando depois em re-lação aos fatores determinantesde mercado, tais como: acesso,localização tamanho do imóvel,ocupações, etc. A esta renda daterra poderia se acrescentar, sefosse positivo, um provável valorcomercial da cobertura florística.Dizemos se fosse positivo, porquena maior parte das vezes o valordata derrubada e retirada da co-bertura, só é compensatória quan-do seguida de um plantio de la-vouras anuais para cobrir os gas-tos com a derrubada, na chama-da �lavoura de abertura.�

Penso desnecessárias con-siderações sobre se a dita flores-ta está ou não sendo exploradapelo proprietário, uma vez que,indenizado pela terra, cujo valorjá engloba fatores como sua qua-lidade, localização e cobertura,não haveria como se pretender,a não ser por motivos meramen-te especulativos e sem qualquerrespeito à finalidade da desapro-priação e, principalmente, à suacausa, avaliação apartada eacrescida ao valor retrocitado.

Em se tratando de cobertu-ra florística decorrente da atuaçãodo homem (florestamento ou re-florestamento), ainda aí a avalia-ção far-se-á englobadamente,devendo o perito considerar fa-tos como: a possibilidade da ex-ploração da referida cobertura;o fato de estar o proprietário ex-plorando ou não a mesma e orespeito a regras de direitoambiental que determinem aextensão obrigatória de cobertu-ra florestal nos imóveis, confor-me sua localização. Por este últi-mo dado, por exemplo, podeocorrer que o proprietário expro-priado, inclusive, já tenha explo-rado parcela superior a de quepoderia dispor e mesmo assimainda aparecer, no laudoavaliatório, menção da existên-cia de parte de matas compostasde madeiras de lei a serem inde-nizadas pelo Poder expropriante.Em suma, ao agente agressor domeio ambiente, pelo desma-tamento desordenado, ainda sepagaria indenização pelo míni-mo que restou de cobertua flo-restal na área expropriada, oueste mínimo ainda estaria a in-fluir na valorização do hecta-re de terra, o que é rematadoabsurdo.

Em nenhuma hipótese, to-davia, se pode falar em indeni-zação de cobertura florística em

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dinheiro, mas sempre em TDAs,isto porque a benesse constituci-onal (aliás, injustificada paraquem realmente deseja uma re-forma agrária) só se estende abenfeitorias úteis e necessáriasnão valendo o sofisma de que asmatas são indispensáveis para oresguardo do habitat natural dafauna ou para a conservação dosrecursos e mananciais da terra.Porque isto não implica em tê-las como benfeitorias mas sim emdestacar a obrigação que todoproprietário tem, não apenaspara com o trecho de terras sobseu domínio mas para com a pró-pria natureza, na medida em quea lei lhe impõe comportamentosque resguardem e resgatem asobrevivência humana e animal.

Não se tratam de atos demelhoramento praticados peloproprietário. Trata-se do cumpri-mento de obrigações sem asquais o proprietário se desvestedos poderes que lhe seriam ine-rentes em razão do título.

Não se indeniza o merocumprimento da obrigação, prin-cipalmente quando a razão doato expropriatório foi o fato de oproprietário não haver cumpridoas obrigações outras que lhecompetiam, enquanto senhor dobem imóvel.

Fica, por sem dúvida, umaincômoda parceria entre o com-portamento ilegal e o prêmio porele, transformando-se, na maiorparte das vezes, a desapropria-ção, de pena em prêmio. Em inú-meros casos, o vantajoso negó-cio tem o agravante deinviabilizar cada vez mais as de-sapropriações dentro de um pla-no diretor convenientemente es-tudado, à falta de condições paraa indenização, restando ao órgãoexecutor deste trabalho o peno-so e inglório papel de apagadorde incêndios, já que não se podequalificá-lo de corpo de bombei-ros, ante a manifesta falta de con-dições para o desempenho nor-mal desta tarefa.

Concluo reconhecendoque, nos termos da Constituiçãoem vigor, não é possível se deixarde vistoriar e avaliar, separada-mente, as benfeitorias úteis e ne-cessárias, em face da garantia deseu pagamento em dinheiro, masentendo que o que a Constitui-ção deveria ter garantido, era,quando muito, a indenização,sem as benesses deste pagamen-to separado e em dinheiro.

Em arremate, em razão dotão propalado direito a uma jus-ta indenização, bandeira tão agi-tada, apenas lembro que a justa

indenização de que fala o textoda Carta Maior é garantia deambas as partes, seja do expro-priado, seja do expropriante.

O expropriado tem o direi-to de receber indenização queseja justa e o expropriante tem odireito de pagar apenas o queseja justo. Quando absurdoscomo os que estão ocorrendocom certa freqüência vierem aacontecer, estampando-se cálcu-los que afinal atribuam ao bemexpropriado valores que jamaisalcançariam, mesmo no merca-do normal, cessa toda matemá-tica, todo cálculo, toda aritméti-ca, ou, como o vate lusitano:�cessa tudo que antiga musa can-ta�. Eis que outro valor muitomaior se alevanta, qual seja o dojusto, mesmo porque se é inad-missível tirar-se do bolso do pro-prietário, indenizando-o pormenos, mais ainda o será, tirar-se do bolso do povo, indenizan-do-o por mais.

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A AUTONOMIA MUNICIPAL E O ASPECTO

ESPACIAL DO IPTU E DO ITR

Cristiano de Castro Dayrell (*)

(*) Advogado, especialista em Direito Tributário pela Universidade Católica deGoiás e Doutorando em Direito Público pela Universidade de Extremadura (ES).

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1.

A AUTONOMIA MUNICIPAL

O princípio da autonomiamunicipal vem insculpido nosarts. 18, 29 e 30 da ConstituiçãoFederal de 1988. O primeiro es-tabelece a competência do Mu-nicípio para sua organização po-lítico-administrativa (capacidadede auto-administração). O se-gundo estabelece a competênciapara a criação de sua Lei Orgâ-nica (art. 29) e, destarte, lheatribui a capacidade de auto-organização e de autogo-verno(eletividade de prefeito e verea-dores). O último estabelece com-petências legislativas exclusivas esuplementares (art. 30) e,consequentemente, a capacida-de normativa própria.

Conseqüência do aludidoprincípio reside no fato de quenenhuma outra pessoa pode le-gislar sobre os assuntos atribuí-dos exclusivamente ao Municí-pio pela Constituição. Assim,não há que se falar em superi-oridade das leis federais ou es-taduais sobre as leis municipais.Aliás, o saudoso mestre HelyLopes Meirelles é enfático emsua festejada obra �Direito Mu-

nicipal Brasileiro� acerca danão existência da comentadasuperioridade ao afirmar que�impropriamente se diz que oMunicípio está subordinado àUnião e ao Estado-membro.Não ocorre tal subordinação. Oque existe são esferas própriasde ação governamental, que de-crescem gradativamente daUnião para o Estado-membro edo Estado-membro para o Mu-nicípio. Não há, pois, submissãodo Município ao Estado ou àUnião, porque nenhuma dessasentidades pode substituir o go-verno local na solução de casosafetos à administração munici-pal; o que há é respeito recípro-co pelas atribuições privativasde cada qual�.1

Mais adiante pondera omestre que �Se a União ou o Es-tado-membro, extravasando doslimites de sua competência, inva-dir a órbita privativa da adminis-tração municipal, pode o Muni-cípio recorrer ao Judiciário, paracompelir o poder federal ou es-tadual a recolher-se aos lindesque a Constituição lhe assinala�2.A competência municipal éconferida diretamente pelaConstituição de sorte que nãoseria admissível que uma lei

infraconstitucional pudesse terforça para revogar norma expres-sa na Magna Carta.

Com efeito, a ConstituiçãoBrasileira discrimina as compe-tências da União, Estados e Mu-nicípios de sorte que cada qualtem a atribuição de atuar na suaárea delimitada. Quando umanorma é emitida pela União, nãohá que perquerir se esta é ou nãosuperior à norma do Municípioou do Estado. Deve-se, sim, ve-rificar se tal norma foi editada ounão dentro do âmbito de suacompetência. Se sim, a referidanorma é válida. Se não, por nãoencontrar pertinencialidade lógi-ca com a Constituição, tal nor-ma, por ser inconstitucional,deve ser expulsa doordenamento jurídico.

Aliás, quando fala-se emcompetência, necessário érelembrar a doutrina germânica,que a define como sendo aomesmo tempo uma delegação euma delimitação de atribuições.Em outras palavras, quando aConstituição outorga a compe-tência exclusiva para uma pessoade direito público interno acer-ca de uma matéria qualquer, aomesmo tempo, ela exclui que

1 Direito Municipal Brasileiro, 6ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, 1993, p. 82.2 Op. Cit., p. 82.

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qualquer outra pessoa tenha a le-gitimidade de dispor sobre aque-le tema. Outra não poderia ser aconclusão, pois soaria deverasabsurdo que a União, por exem-plo, pudesse usurpar os poderesque a Constituição lhe conferiu,legislando sobre assuntos decompetência exclusiva dos Mu-nicípios. Conforme dito, não setrata de superioridade de uma leisobre a outra, e sim, de compe-tência atribuída pela Constitui-ção. Ou se é competente para edi-tar a norma ou não. Assim, o Mu-nicípio é tão competente para le-gislar quanto a União ou os Esta-dos. Entretanto, cada qual dentrodas competências outorgadas pelaConstituição. Qualquer extra-polação aos limites impostospelo Texto Magno deve serrepelida pelo ordenamento ju-rídico.

2.

A COMPETÊNCIA DAUNIÃO, DOS ESTADOS EDOS MUNICÍPIOS PARALEGISLAR SOBRE DIREITOURBANÍSTICO

Até agora falamos em com-petência exclusiva atribuída a pes-soa jurídica de direito público in-terno. Entretanto, existem algu-mas matérias reguladas no art. 24da Constituição que são de com-petência concorrente da União,

dos Estados e do Distrito Fede-ral. Entre elas, encontramos acompetência concorrente destesentes federados para legislar so-bre Direito Urbanístico.

A autonomia dos entes quecompõem uma Federação pres-supõe a repartição de competên-cias. Agora, a forma que estascompetências são repartidas de-pende da investigação das nor-mas que compõem uma Fede-ração. Ou seja, não existe umadefinição universal acerca da for-ma de repartição de competên-cias. Nos Estados Unidos, porexemplo, os Estados-membrostêm competência para legislarsobre Direito Civil e Direito Pe-nal. No Brasil, esta competênciaé exclusiva da União. Nem porisso, este ou aquele país deixamde ser Federações. À evidência,a decisão sobre como serão re-partidas estas competências é po-lítica, ou melhor, em geral, a As-sembléia Constituinte é quemdecide politicamente como se-rão repartidas as competências.Quanto maior a concentração decompetências atribuídas à União,maior é a centralização do país.Quanto menor esta concentra-ção, mais descentralizado ele é.

As competências são distri-buídas de forma exclusiva ouconcorrente. A primeira forma

tivemos a oportunidade deesclarecê-la em linhas anteriores.A segunda, por sua vez, ocorrequando a Carta Magna atribuicompetências para mais de umente federado para legislar sobrea mesma matéria. A competên-cia para legislar sobre DireitoUrbanístico, repita-se, é concor-rente, ou seja, o art. 24, I da CF,atribuiu à União, aos Estados eao Distrito Federal competênciapara legislar concomitantementesobre esta matéria. Porém, o § 1ºdo art. 24 da CF tratou de imporlimites à atuação legislativa daUnião ao estatuir que �No âmbi-to da legislação concorrente, acompetência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.�Assim, em decorrência da auto-nomia dos Estados-membros, alegislação federal que trata dematéria de competência concor-rente não pode entrar nos por-menores e peculiaridades dosobjetos normados, devendo, tão-somente, editar normas geraisque valham para todo o territó-rio nacional. Hely LopesMeirelles é enfático ao afirmarque �O que a Constituição Fede-ral atribui à União é a faculdadede legislar sobre normas gerais. Le-gislar é editar regras gerais de con-duta; não é intervir executivamen-te nas entidades federadas, impon-do padrões estandardizados nosmais mínimos detalhes.� 3

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Surge, então, um outroproblema. Qual o limite para aedição das �normas gerais� semferir-se o princípio da autonomiados Estados? Sacha CalmonNavarro Coelho adverte que�Embora a teoria das normas ge-rais situe bem a questão docompartilhamento de competên-cias (verticalizadas) nos Estadosfederais, afirmando que a normageral possui eficácia forçada (loide cadre), sempre sobrará umazona cinzenta na delimitação dasfronteiras objetivas da norma ge-ral, o ponto além do qual nãopodem passar, sem ferir a com-petência das pessoas políticas.Alfim e ao cabo, somente a con-tribuição da doutrina e da juris-prudência, ao longo do tempodepurativo, trará solução a estetormentoso problema�4. Concor-damos com a posição do feste-jado mestre. Se é assim, o pro-blema é ainda maior quando setrata de Direito Urbanístico. Istoem razão do pouco trato dosdoutrinadores acerca desta ma-téria. Cumpre ressaltar, que, emgeral, nas faculdades de Direitopor todo o Brasil não se estudaDireito Urbanístico como �ramo�didaticamente autônomo do Di-reito, e sim, como �ramo� do

Direito Administrativo. Nestemesmo diapasão, são raríssimasas obras que tratam do tema. Ali-ás, isto levou José Afonso da Sil-va a iniciar sua obra �Direito Ur-banístico Brasileiro� afirmandoque �O Direito Urbanístico é umanova disciplina jurídica em fran-ca evolução�5. Ora, se os proble-mas relativos às �normas gerais�hão de ser resolvidos com basena doutrina e jurisprudência e seo Direito Urbanístico brasileiro éapenas um embrião que há dedesenvolver-se para tornar-seconsistente e respeitado, imagi-ne-se quantos problemas irãosurgir com a experiência jurídi-ca desta matéria.

De mais a mais, o proble-ma se agrava quando fazemosuma análise sistemática da Cons-tituição. Isto porque além dacompetência concorrente acer-ca da matéria em tela, existemdispositivos constitucionais (arts.21, IX, XX; 24, I, § 1º; 25, § 3º;30, VIII, e 182) que atribuemcompetências exclusivas em ma-térias específicas de Direito Ur-banístico para União, Estados e,o mais importante, para os Mu-nicípios. Assim, a União, além dacompetência de instituir �normas

gerais� de Direito Urbanístico,tem, também, competência para�elaborar e executar planos naci-onais e regionais de ordenação doterritório�, bem como para �ins-tituir diretrizes para o desenvol-vimento urbano, inclusive habita-ção, saneamento básico e trans-portes urbanos�. Os Estados-membros, por sua vez, têm com-petência para �mediante lei com-plementar, instituir regiões metro-politanas, aglomerações urbanase microrregiões, constituídas poragrupamento de Municípioslimítrofes, para integrar a organi-zação, o planejamento e a exe-cução de funções públicas de in-teresse comum�. Já os Municípi-os têm competência para �pro-mover, no que couber, adequa-do ordenamento territorial, medi-ante planejamento e controle douso, do parcelamento e da ocu-pação do solo urbano�. E mais, oart. 182 da CF estatui que a polí-tica de desenvolvimento urbanoserá executada pelo poder públi-co municipal, inclusive com a ela-boração obrigatória de plano di-retor para Municípios com maisde vinte mil habitantes.

Infere-se, pois, que o Mu-nicípio tem a competência para

3 Ob. Cit., p. 388.4 Comentários à Constituição de 1988, 6ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 1996, p. 138.5 Direito Urbanístico Brasileiro, 2ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, 1995, p. 15.

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traçar as metas urbanísticas (pla-no diretor) no que se refere aocrescimento e planejamento dasua área urbana. Nem poderiaser de outra forma. Seria umdespautério se a União ou os Es-tados-membros pudessem inter-ferir na política de desenvolvi-mento urbano de um Município.Ora, os problemas relativos aocrescimento urbano municipaldevem ser resolvidos pelo pró-prio Município, mesmo porque,cada cidade tem seus problemaspeculiares. A solução a ser dadapara um Município A não podenem deve ser a mesma dada aoMunicípio B. As diferenças regi-onais, os diferentes sistemas viá-rios, o maior ou menor númerode áreas destinadas aos parquesindustriais variam de um Muni-cípio para o outro. Seria absur-do que um Município eminen-temente agrícola destinasse me-tade de sua área para a instala-ção de parques industriais. Poroutro lado, não haveria nada deinconveniente se um Municípioindustrial viesse a destinar estamesma proporção de sua áreapara esta mesma destinação. In-fere-se, pelo exposto, que só opoder público municipal temcondição de avaliar e decidir so-bre a melhor forma de tratar coma política de desenvolvimento eexpansão urbana que ocorre em

seu território. O legislador cons-titucional, ciente das enormes di-ferenças existentes entre os mu-nicípios até mesmo de uma mes-ma região, a nosso ver, tratoubem a matéria de política dedesenvolvimento e expansão ur-bana, atribuindo a competênciaaos Municípios para legislar so-bre o tema.

3.

A COMPETÊNCIAMUNICIPAL PARADELIMITAR A SUA ZONAURBANA

Há tempos as doutrinascivilista e agrarista brasileira vêmdiscutindo acerca da distinçãoentre imóvel urbano e imóvelrural. O Estatuto da Terra e, pos-teriormente, o art. 4º da Lei nº8.629/93, elegem o critério dadestinação para a caracterizaçãodo imóvel como rural ou urba-no, ou seja, se o imóvel é desti-nado à moradia, comércio ouindústria, é urbano, se destina-do à atividades agropecuárias, érural. O art. 32 do Código Tribu-tário Nacional, por sua vez, ele-ge o critério da localização, ouseja, se o imóvel está localizadodentro do perímetro urbano eleé urbano, caso contrário é rural.Por outro lado, o § 1º deste arti-go condiciona a exigência do

IPTU à existência de dois melho-ramentos entre os cinco discri-minados neste mesmo parágra-fo, quais sejam: meio-fio ou cal-çamento, com canalização deáguas pluviais; abastecimento deágua; sistema de esgotos sanitá-rios; rede de iluminação públicae escola primária ou posto desaúde a uma distância de trêsquilômetros do imóvel. O § 2ºdeste artigo afirma que a lei mu-nicipal pode considerar urbanaáreas urbanizáveis ou de expan-são urbana, desde que constan-tes de loteamento aprovados pe-los órgãos competentes, destina-dos à habitação, à indústria ouao comércio, mesmo que locali-zados fora das zonas definidas noparágrafo primeiro.

Primeiramente, fixaremosos pontos de partida de nossapesquisa para que ao final pos-samos concluir, coerentemente,nosso entendimento. O termoDireito é utilizado para definir-se tanto as normas postas de umdeterminado ordenamento jurí-dico quanto a Ciência que des-creve as prescrições contidas na-quelas normas. Percebe-se a am-bigüidade do referido termo umavez que o seu conteúdo semân-tico indica dois objetos totalmen-te distintos. O primeiro - o Di-reito Positivo - constitui-se dasnormas válidas de um

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ordenamento jurídico em umdeterminado tempo e espaço. Osegundo - a Ciência do Direito -é a ciência que tem por objetivodescrever as normas válidas deum dado ordenamento jurídico.Fácil é perceber que a linguagemutilizada pelo primeiro(prescritiva) é diferente da utili-zada pelo segundo (descritiva).Destarte, os princípios lógicosusados pelo Sistema do DireitoPositivo não são cabíveis para ainvestigação da Ciência do Direi-to e vice-versa. Daí ser incabívelafirmar que uma norma é verda-deira ou falsa, como, também,seria inconcebível dizer que umatese doutrinária é válida ou in-válida.

Por outro lado, toda lingua-gem tem um objeto. A linguagemsocial utilizada em um determi-nado país (idioma) tem por ob-jeto os acontecimentos naturaisque ocorrem no �mundo davida� percebidos pelosinterlocutores. A linguagem dodireito positivo tem por objeto alinguagem social. E a linguagemda Ciência do Direito(Dogmática Jurídica) tem porobjeto a linguagem do direitopositivo. Relevante ressaltar quetoda linguagem de sobrenível éredutora da linguagem objeto,

vez que se assim não fosse nãohaveria necessidade da sua exis-tência. Paulo de Barros Carvalhoé esclarecedor �u�ametalinguagem é sempre reduto-ra da linguagem-objeto de que seocupa. E isso significa, em outrostermos, que a linguagem do di-reito positivo reduz as complexi-dades da linguagem social que lheserve de objeto�6. Existem even-tos que são eleitos pelo legisla-dor como relevantes para o Di-reito. Dessa sorte, as normas pos-tas imputam conseqüências casoocorra no mundo real um even-to hipoteticamente previsto. Exis-tem, destarte, outros eventosque não importam ao Direito.Daí a redutibil idade dasobrelinguagem do direito po-sitivo sobre a linguagem sociala qual aludimos.

De outra sorte, cumpre es-clarecer que a linguagem utiliza-da pelo legislador nem sempre éa mais exata. Mesmo porque,além deste não ser jurista por for-mação, as próprias expressõescontidas nas normas postas sofremmutações semânticas e pragmáti-cas ao longo do tempo. Toda ex-pressão em linguagem é, pelomenos em termos, vaga e ambí-gua. Assim sendo, não podemosapressadamente chegar à conclu-

são sobre a natureza jurídica deum objeto sem analisarmos as nor-mas que cercam todo oordenamento jurídico. Somente aconstrução de uma interpretaçãosistemática poderá dar-nos umasolução juridicamente correta.

As normas constantes emum ordenamento jurídico, con-soante a doutrina de Kelsen, sãoescalonadas. Ou seja, as normasinferiores encontram seu funda-mento de validade nas normassuperiores até o encontro da�norma fundamental� que é ofundamento de validade dopróprio ordenamento jurídico.Assim, a Constituição é o pon-to de partida para a investiga-ção de qualquer doutrina comfins científicos.

Analisemos primeiramenteo critério da destinação para acaracterização do imóvel comourbano ou como rural defendi-do pelos estudiosos do DireitoAgrário. Paulo Tormim Borgescom base no Estatuto da Terraassevera �Teremos, assim, comoimóvel urbano, qualquer que sejaa sua localização, aquele destina-do ao comércio, à indústria, à re-creação ou atividades tais comohospitalar, escolar, etc.�7 Entre-tanto, com a máxima vênia, não

6 Direito Tributário: Fundamentos Jurídicos da Incidência, 2ªed., São Paulo, Saraiva, 1999, p. 94.

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podemos concordar com tal en-tendimento pelos motivos a se-guir expostos.

Conforme já demonstrado,é o Município quem tem com-petência para delimitar sua áreaurbana. Hely Lopes Meirellesafirma com muita propriedadeque �A lei municipal é que decla-ra e delimita o perímetro urba-no, para todos os fins administra-tivos, urbanísticos e tributários.�8

A Constituição foi quem deu estaincumbência ao Município. Se-ria deveras absurdo, repita-se,admitir-se que uma leiinfraconstitucional tivesse o con-dão de alterar a Carta Magna.Ora, se é o Município, através deseu plano diretor, que deve ins-tituir a política de desenvolvi-mento e expansão urbana, bemcomo prescrever as exigênciaspara que a propriedade urbanacumpra sua função social, nãopaira dúvidas acerca da compe-tência do Município para delimi-tar a sua área urbana. Qualquerinterpretação divergente da oraexposta fere frontalmente o prin-cípio da Autonomia dos Municí-pios. Este também é o entendi-mento de Sandra Lopez Barbon:

�Parece claro que o legis-

lador, ao fixar área de sua com-petência por imposição de lei, es-tabeleceu também a área decompetência da União pois, pri-meiramente, o Município mani-festa sua competência para de-pois a União realizar suas deli-mitações, reverenciando a auto-nomia municipal, ou seja, a de-finição já elaborada pela lei mu-nicipal.�9

Daí não podermos concor-dar com os agraristas que afir-mam que a propriedade é ruralem razão de sua destinação. Talentendimento não encontra gua-rida em nossa Constituição mor-mente em razão do princípio daAutonomia Municipal. Sob outraótica, é fácil verificar a improce-dência dos agraristas com umexemplo prático. Imagine-se umimóvel que esteja dentro da zonaurbana delimitada pela lei mu-nicipal mas que explore ativida-de agrícola. Pergunta-se: pode-ria a União desapropriar ditoimóvel para fins de reforma agrá-ria em razão deste ser improdu-tivo? A resposta é logicamentenegativa. Isto em razão do imó-vel localizado dentro do períme-tro urbano ter sua função socialcumprida de acordo com as di-retrizes estabelecidas em seu pla-

no diretor conforme reza o art.182, § 2º da Constituição Federal.Assim, por mais um motivo, o cri-tério da destinação do imóvel nãoencontra guarida em nossa Mag-na Carta para definir-se a nature-za jurídica como urbana ou rural.

4.

DO CRITÉRIO ESPACIAL DAREGRA-MATRIZ DEINCIDÊNCIA DO ITR E DOIPTU

Segundo a doutrina dePaulo de Barros Carvalho, a re-gra-matriz de incidência tributá-ria é formada pela hipótese epelo seu conseqüente. Na hipó-tese encontramos os critériosmaterial, espacial e temporalpara a identificação do fato jurí-dico-tributário. No conseqüenteencontramos o critério pessoal(sujeitos ativo e passivo) e crité-rio quantitativo (base de cálculoe alíquota) que identifica a rela-ção jurídica a ser formada quan-do da ocorrência de um eventono mundo real que contenha ascaracterísticas da hipótese de in-cidência prevista hipoteticamen-te. O critério espacial, que nosinteressa no presente estudo, en-contrado na hipótese de incidên-cia, indica os possíveis locais de

7 Institutos Básicos de Direito Agrário, 6ª ed., São Paulo, Saraiva, 1991, p. 31.8 Ob. Cit., p. 69.9 Do IPTU, Belo Horizonte, Del Rey, 1995, p. 49.

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ocorrência do fato jurídico-tribu-tário. Daí a necessidade de es-clarecermos a natureza jurídicado imóvel para sabermos qualdos impostos deve incidir.

O art. 32 do Código Tribu-tário Nacional delimita o aspec-to espacial da regra-matriz doIPTU, e, por exclusão, do ITR, daseguinte forma:

�Art. 32. O imposto, de com-petência dos Municípios, sobre apropriedade predial e territorialurbana tem como fato gerador apropriedade, o domínio útil ou aposse de bem imóvel por nature-za ou por acessão física, comodefinido na lei civil, localizado nazona urbana do Município.

§ 1º. Para efeitos deste im-posto, entende-se como zonaurbana a definida em lei muni-cipal, observado o requisito mí-nimo da existência de melhora-mentos indicados em pelo me-nos dois dos incisos seguintes:

I - meio-fio ou calçamen-to, com canalização de águaspluviais;

II - abastecimento de água;

III - sistema de esgotos sa-nitários;

IV - rede de iluminação pú-blica, com ou sem posteamentopara distribuição domiciliar;

V - escola primária ou pos-to de saúde a uma distância má-xima de 3(três) quilômetros doimóvel considerado.

§ 2º. A lei municipal podeconsiderar urbanas as áreasurbanizáveis, ou de expansãourbana, constantes deloteamentos aprovados pelos ór-gãos competentes, destinados àhabitação, à indústria ou ao co-mércio, mesmo que localizadosfora das zonas definidas nos ter-mos do parágrafo anterior�.

À primeira vista, o CódigoTributário Nacional elegeu o cri-tério correto para a incidência doIPTU. Isto em razão do caput doartigo citado prescrever queincide o citado tributo sobre osimóveis localizados na zona ur-bana do Município. Entretanto,a qualificação urbanística do solourbano compreende a zona ur-bana, a zona de expansão urba-na e a zona urbanizável. Assim,somente será considerada rurala zona que estiver fora destaszonas citadas. Cumprecolacionar entendimento de JoséAfonso da Silva:

�É imprescindível, contu-do, firmar a tese de que, no inte-rior do perímetro urbano, todoo solo e toda a zona qualificam-se como urbanos do ponto devista urbanístico, não sendo cor-reto, como fez a lei de uso e ocu-pação do solo de Belo Horizon-te, incluir dentro dele também osolo ou zona de expansão urba-na. É que a fixação do períme-tro urbano já confere ao respec-tivo solo a qualificação urbanís-tica, de sorte que se supõe quetodo ele está vocacionado apreencher todas as funções ur-banas, observadas as diretrizesdo plano diretor e as limitaçõesdo direito de construir�.10 (osgrifos não são do autor)

Assim, não há sentido emsomente considerar-se urbanauma área que esteja na zona ur-bana do Município. A zona deexpansão urbana, por exemplo,tem qualificação urbanística poisjá está sujeita as limitações dodireito de construir, bem comodeve cumprir a função socialestabelecida no plano diretor doMunicípio. Isto por uma razãoóbvia, tal zona é fruto de plane-jamento municipal para expan-são populacional, vez que a mes-ma será no futuro as novas vilasou os novos bairros do Municí-

10 Ob. Cit., p. 155.

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pio. Dessa sorte, desde já estásujeita as exigências do DireitoUrbanístico (direito de construire função social) sob pena do pla-nejamento urbanístico municipalnão lograr êxito. A zonaurbanizável, por sua vez, quecompreende �a área programa-da para o exercício de uma oumais funções urbanas elementa-res, fora do perímetro urbano ede expansão urbana�,11 como écaso dos núcleos recreativos,também, tem qualificação ur-banística pela mesma razão retro ex-posta: está sujeita às regras de DireitoUrbanístico. Hely Lopes Meirelles aodiscorrer sobre a zona de expansãourbana afirma o seguinte:

�Essas zonas, ainda que naárea rural, devem ser desde logodelimitadas pelo Município esubmetidas às restrições urbanís-ticas do Plano Diretor e às nor-mas do Código de Obras para assuas edificações e traçado urba-no. Inútil seria aguardar-se a con-versão dessas zonas em áreasurbanizadas, para, depois,sujeitá-las aos regulamentosedilícios e às regras urbanísticasque condicionam a formação dacidade. O Município deve orien-tar e preservar o desenvolvimentode seus aglomerados urbanos a fimde obter no futuro, cidades, vilas

e bairros funcionais e humanos,com todos os requisitos que pro-piciam segurança, estética e con-forto aos habitantes. Isto se conse-gue pela antecipação das exigên-cias urbanísticas para as zonas deexpansão urbana, que são as ma-trizes das futuras cidades�.12

Ora, se as áreas de expan-são urbana e urbanizáveis estãosujeitas às normas de Direito Ur-banístico, tais como o direito deconstruir e o cumprimento dafunção social estabelecida noplano diretor, não há como ne-gar-lhes a natureza jurídica deurbanas. São urbanas e devemestar sujeitas ao Imposto sobrePropriedade Predial e TerritorialUrbana - IPTU - e não ao Impos-to Territorial Rural - ITR.

Por outro lado, o parágra-fo primeiro do artigo 32 do CTNcondiciona a exigência do IPTUà existência de pelo menos doismelhoramentos dentre os cincoque o próprio parágrafo discrimi-na. Ora, se a Constituição atri-bui competência ao Municípiopara delimitar suas zonas urba-na, de expansão urbana eurbanizável, bem como para exi-gir imposto sobre a propriedadepredial e territorial urbana, nãohá como admitir que uma lei

infraconstitucional possa alteraro disposto na Carta Magna im-pondo condições que esta nãoimpôs. Convém relembrarmosque a competência impositiva,como qualquer tipo de compe-tência (ver item 1), é ao mesmotempo uma delegação e umadelimitação de atribuições, desorte que lei complementar nãotem o condão de alterar compe-tência atribuída diretamente pelaCarta Magna. Esta deve apenasdispor sobre conflitos de compe-tência nos termos do art. 146, Ida CF, não podendo, destarte,alterar competência constitucio-nalmente prevista. Relevante oescólio de Roque AntônioCarraza:

�Se, porventura, uma pes-soa política pretender, por meiode norma legal ou infralegal, di-latar as raias de sua competên-cia tributária, de duas, uma: ouesta norma invadirá seara imuneà tributação ou vulnerará com-petência alheia. Em ambos os ca-sos será inconstitucional.

Amílcar de Araújo Falcão,meditando sobre o assunto,averbou: �A competência (tribu-tária) é, por isso, matéria de di-reito estrito e, como tal, inalterá-vel. É ainda Forsthoff quem o afir-

11 Ob. Cit. p. 157.12 Ob. Cit., p. 70.

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ma, ao asseverar que o titular deuma competência não podetransferir ou alterar poderes oufaculdades que se integram den-tro da competência�.

Os limites que a Constitui-ção traçou para que as pessoaspolíticas tributassem não podemser deslocados nem pelo Código Tri-butário Nacional (ou normas jurí-dicas que lhe façam as honras), nempor leis ordinárias, decretos, porta-rias, atos administrativos etc�.13

Repita-se, a Constituiçãoatribuiu competência ao Muni-cípio para delimitar suas zonasurbana, de expansão urbana eurbanizável, bem como para exi-gir o IPTU sobre os imóveis situ-ados nestas zonas. O parágrafoprimeiro do art. 32 do CTN ferefrontalmente tais dispositivos poralterar a competência constituci-onal dos Municípios, impedindoa exigência do IPTU sobre áreasque não tenham pelo menos doismelhoramentos dentre os cincoque este parágrafo discrimina.Ora, se o imóvel está sujeito àslimitações de Direito Urbanístico,ele é, juridicamente, urbano. Nãohá como admitir-se que incidasobre o mesmo Imposto sobrePropriedade Rural. Lei algumapode alterar a competência atri-

buída ao Município para tributarpropriedade urbana, sob pena deinvasão de competência.

A nosso ver, a solução doproblema acerca da tributaçãodo IPTU de áreas sem a mínimainfra-estrutura, de lege ferenda,está na promulgação de uma leinacional estabelecendo normasgerais de Direito Urbanístico, in-clusive prevendo condições paraos Municípios instituírem áreasde expansão urbana eurbanizáveis. Solução interessan-te seria a instituição de um pra-zo limite para a construção deobras de infra-estrutura. Entretan-to, tal solução somente seria pos-sível com a edição da lei citada.Relevante lembrar que referida leideverá dispor sobre normas ge-rais, não podendo, destarte, en-trar nos pormenores atinentes àsparticularidades dos Municípios.

Por outro lado, o parágra-fo segundo do artigo do CTN emtela, ao condicionar à aprovaçãode loteamentos pelos órgãoscompetentes para a incidênciado IPTU, também, a nosso ver,não encontra respaldo na Mag-na Carta. Isto porque osloteamentos só podem serconstruídos nas áreas do Muni-cípio já definidas como zonas

urbana ou de expansão urbana.Assim, primeiro a lei municipalconsidera aquele solo como ur-bano (zonas urbana ou de expan-são urbana) e, destarte, impõe aslimitações do direito de construir,bem como condiciona à propri-edade o cumprimento da funçãosocial previsto em seu plano di-retor, para depois ser possível oseu loteamento. Dessa sorte, sãoas previsões das zonas urbana, deexpansão urbana e urbanizávelem lei municipal que dão a qua-lificação urbanística ao solo, enão o loteamento, como quer oCódigo Tributário Nacional. Re-levante a transcrição, mais umavez, do eminente José Afonso daSilva:

�O Código Tributário Na-cional, como já observamos, estápreocupado, ao estabelecer oconceito de zona urbana,urbanizável e de expansão urba-na, com o imóvel objeto de tri-butação; por isso é que só admi-te considerar urbanas áreasurbanizáveis, ou de expansão ur-bana, as constantes deloteamentos aprovados pelos ór-gãos competentes, destinados àhabitação, à indústria e ao co-mércio. Ora, do ponto de vistaurbanístico, essas limitações sãoinaceitáveis. O Município pode,

13 Curso de Direito Constitucional Tributário, 7ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, 1995, p. 344.

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e talvez até deva, estabelecerzonas de expansão urbana, bemcomo zonas urbanizáveis, antese independentemente de qual-quer loteamento, porque este sódeve ser possível nas zonas jádefinidas como de destinaçãourbanística, e não o contráriocomo ocorre na concepção doCódigo Tributário Nacional (...)

Os loteamentos seguem aconfiguração urbanística dazona. Não são os loteamentosque dão configuração urbanís-tica ao solo. Esta que é �prius�em relação àqueles, porque sóo solo planejado para funçõesurbanas deve ser objeto deloteamento. Fora disso é desor-dem urbanística, é permitir ocrescimento desordenado dascidades, vilas e povoações.� (osgrifos não são do autor)

Outro não poderia ser oentendimento, haja vista que éo Município quem tem compe-tência para elaborar o seu pla-nejamento urbanístico (art. 30,VIII da CF). Seria descabido con-cluir, como quer o CTN, que so-mente com a aprovação doloteamento de uma área, estapassaria a ter qualificação urba-nística. Ora, mesmo antes doloteamento, tal área, por fazerparte da zona de expansão ur-

bana ou zona urbana do Muni-cípio, já sofria as limitações deDireito Urbanístico (direito deconstruir e cumprimento da fun-ção social constante no planodiretor), de sorte que já era, juri-dicamente, imóvel urbano. Des-sa sorte, mesmo antes doloteamento, sobre dita área deveincidir o IPTU. Destarte, caso aUnião exija ITR sobre imóveisnão loteados da zona de expan-são urbana de um Município,estará invadindo a competênciaimpositiva deste, uma vez que, apretexto de tributar imóvel rural,estará tributando imóvel urbano.

5.

CONCLUSÕES

1. A Constituição Federaldiscrimina competênciasnormativas exclusivas à União,aos Estados e Distrito Federal eaos Municípios.

2. As leis municipais, noque concerne às normas edita-das com base em competênciaexclusiva, não podem ser limita-das por lei federal ou estadual.

3. A União, os Estados e oDistrito Federal têm competên-cia concorrente para legislar so-bre Direito Urbanístico.

4. Os Municípios têm com-petência para elaborar planeja-mento e controle do uso, doparcelamento e da ocupação dosolo urbano; política de desen-volvimento e expansão urbana,inclusive com a obrigatoriedadede elaboração de plano diretorpara cidades com mais de vintemil habitantes (art. 182 da CF).

5. O Município é quemtem competência para definir anatureza jurídica do imóvelcomo urbano.

6. O solo é qualificadocomo urbano quando está sujeitoàs normas de Direito Urbanístico.

7. Os imóveis situados naszonas urbana, de expansão ur-bana e urbanizável têm nature-za jurídica de urbanos justamen-te por estarem sujeitos à legisla-ção urbanística.

8. Destarte, o IPTU incide so-bre os imóveis localizados nas zo-nas urbana, de expansão urbana eurbanizável e o ITR sobre os imó-veis localizados na Zona Rural, in-dependentemente da destinação doimóvel, da infra-estrutura da regiãoou da aprovação de loteamento porórgão competente.

14 Ob. Cit., p. 154.

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COMPETÊNCIA: AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO

PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA (*)

Débora Vasti S. Bomfim(**)

(*) Palestra proferida no I Ciclo de Debates do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, em Mato Grossodo Sul, em 29.04.98

(**) Procuradora do Incra em Brasília-DF

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1.

BREVES NOÇÕES DEDIREITO AGRÁRIO EREFORMA AGRÁRIA

Inicialmente precisaremostrazer algumas noções básicas so-bre a matéria antes deadentrarmos no tema da compe-tência quando da propositura doprocesso expropriatório.

A primeira delas refere-seao Direito Agrário. O art. 22,incisos I e II, da Constituição Fe-deral vigente, dispõe que com-pete privativamente à União le-gislar sobre direito agrário e de-sapropriação. Por direito agráriotemos como precisa e objetiva adefinição de JOÃO BOSCOMEDEIROS DE SOUSA, que � éo ramo autônomo da ciência ju-rídica que, composto de normase institutos oriundos do direitopúblico e do direito privado, ob-jetiva a regulamentação de direi-tos e obrigações concernentes àpropriedade, posse e uso da ter-ra e à atividade rural, visando ajustiça social�1 . Completando alição, arremata dizendo que �ocorreto é entender o direito agrá-rio como instrumento para a re-alização da reforma agrária, en-tre outros objetivos�.2

É necessário certo cuidadopara não confundir reforma agrá-ria, assunto em alta não só nomeio jurídico como na mídia,com Direito Agrário. Pode-se di-zer, com perfeita segurança, quea reforma agrária depende daaplicação do Direito Agrário paraa sua realização. As normas jurí-dicas traçadas por este último éque vão tornar possíveis o usoracional da terra, disciplinar o tra-balho do homem sobre a terra,assegurando o desenvolvimentoeconômico, político e social doPaís com a implantação da refor-ma agrária.

A reforma agrária, no dizerdo mestre RAFAEL AUGUSTO DEMENDONÇA LIMA, �se carac-teriza pela modificação da estru-tura agrária por meiosinstitucionais, isto é, com a mu-dança dos institutos jurídicos queregulam a utilização da terra ru-ral e dizem respeito à atividadeagrária e à estrutura agrária� .3

Estabelece o eminente pro-fessor a distinção entre reformaagrária e revolução agrária. A pri-meira é institucional, conformejá exposto, e a segunda se dáquando as instituições existentessão destituídas pela força com ointuito de criar-se novas institui-

ções a exemplo do que ocorreuno México, em 1910, e naRússia, em 1917.

Pode-se dizer que a refor-ma agrária no Brasil tem comoponto de apoio a Lei n. 4.504 de30.11.64, conhecida como Esta-tuto da Terra, que em seu art. 1º,§1º, fornece a conceituação deReforma Agrária: �considera-seReforma Agrária o conjunto demedidas que visem a promovermelhor distribuição da terra,mediante modificações no regi-me de sua posse e uso, a fim deatender aos princípios de justiçasocial e ao aumento de produti-vidade.�.

Surge, nesse panorama, afigura da desapropriação parafins de reforma agrária, de quetrata o art. 184 da ConstituiçãoFederal (desapropriação por in-teresse social) a ser efetivada nasáreas tidas como prioritárias dareforma agrária.

2.

A AÇÃO DEDESAPROPRIAÇÃO PARAFINS DE REFORMA AGRÁRIA

O instituto da desapropri-ação tem sido objeto de não

1 in Direito Agrário - Lições Básicas, Ed. Saraiva. 2. ed., 1987 p. 1.2 op. cit. p. 23 in Direito Agrário - Estudos, Livraria Freitas Bastos S.A., Rio de Janeiro, 1977, p. 54

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poucas polêmicas.

Para alguns trata-se de ummeio de negação da proprieda-de pelo Poder Público. Ficamoscom o entendimento do profes-sor PAULO TORMINN BORGESde que �ao contrário, é confis-são de respeito ao direito de pro-priedade, pelo reconhecimentode que o Poder Público só podesubtrair a propriedade ao parti-cular obedecendo a regras jurí-dicas precisas�.4

E continua, afirmando quea desapropriação não atinge o di-reito de propriedade na sua ca-racterística mais marcante que éo valor econômico do bem. Sus-tenta, ainda, haver uma permu-ta de valores substituindo-se obem primitivo (objeto do direitode propriedade) por outro bem,o preço em dinheiro ou equiva-lente.

No Brasil a desapropriaçãotem merecido a devida atençãoe destaque de nossos legisladores,haja vista que todas as Constitui-ções mencionaram explicitamen-te o instituto. Mas somente coma Constituição de 1946 é que sur-giu a figura da desapropriação porinteresse social, infelizmente in-

cubada em estado latente até1962, com o advento da Lei n.4.132 de 10.9.62, definidora dashipóteses de desapropriação porinteresse social.

Desde então o institutoveio avançando gradativamenteaté alcançar o nível atual previs-to no art. 184 da Carta Magnaque prevê a desapropriação porinteresse social, para fins de re-forma agrária, do imóvel que nãoesteja cumprindo sua função so-cial, mediante prévia e justa in-denização em títulos da dívidaagrária, indenizando-se em di-nheiro as benfeitorias úteis e ne-cessárias.

A desapropriação é ato decompetência da União, regidoem sua substância e seus efeitospelo direito público. Essa com-petência foi delegada pela Uniãoao Incra - Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária,Autarquia Federal vinculada aoMinistério do DesenvolvimentoAgrário, através do art. 2º doDecreto-Lei n. 1.110 de 9.7.70,que criou o órgão, e Lei nº 8.629,de 25.2.93, art. 2º §§ 1º e 2º. OIncra é o órgão executor da re-forma agrária no Brasil e o dacolonização oficial, além de ser

fiscal da execução da coloniza-ção particular.

O Decreto Presidencial quedeclara o imóvel de interesse so-cial para fins de reforma agráriaautoriza o Incra a promover a de-sapropriação do imóvel rural,ação que tem procedimento con-traditório especial, de rito sumá-rio, estabelecido pela Lei Comple-mentar n. 76, de 6.7.93.

Concluindo, a ação de de-sapropriação tem natureza de di-reito real imobiliário, sendo umadas modalidades especiais deperda da propriedade imobiliá-ria (art. 590 do CC) e uma dasformas de aquisição pelo PoderPúblico, na forma prescrita pe-las leis especiais que regem amatéria.

3.

CONCEITOS BÁSICOSDE JURISDIÇÃO ECOMPETÊNCIA

Trazendo à memória algunsconceitos primários, temos queJURISDIÇÃO é a atividade oufunção exclusiva do Estado, atra-vés da qual declara o direito emconcreto, eliminando a lide emantendo a ordem pública. Tem

4 in Institutos Básicos de Direito Agrário, Ed. Saraiva, 10. ed., 1996, p. 61

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como princípios a investidura,indelegabilidade e aderência aoterritório.

Para o conceito de compe-tência ficamos com a lição doMin. ATHOS GUSMÃO CAR-NEIRO de que �é a jurisdição namedida em que pode e deve serexercida pelo Juiz�.5

A competência éestabelecida por critérios que adeterminam e, segundo a dou-trina, são o objetivo, o funcio-nal e o territorial.

A primeira regra, dentro docritério objetivo , é que a com-petência pode se dar em razãoda matéria e do valor da causa,nestes casos regidas pelas leis deorganização judiciária, consoan-te o art. 91 do CPC.

O critério funcional, tam-bém denominado hierárquico,subdivide-se em horizontal e ver-tical, sendo que o primeiro tratada competência no tocante àsfases do procedimento e o segun-do refere-se aos graus de jurisdi-ção (instâncias).

O último critério, oterritorial, encontra-se vincula-do à área da jurisdição e divide-

se em foro comum e foros espe-ciais.

A competência territorial étratada nos artigos 94 a 101 doCPC. O art. 94 estabelece o de-nominado �foro geral�, em regra,o foro do domícilio do réu, comocompetente para processar asações fundadas em direito pes-soal ou real sobre bens móveis.Afasta-se a aplicação dessa regraquando incidirem normas refe-rentes aos foros especiais.

Isto se dá porque os forosespeciais, aqueles dos arts. 95 a101 do CPC, afastam as regrasgerais de competência, tanto asprincipais quanto as subsidiárias.

Quanto ao interesse pode-mos classificar a competência emabsoluta e relativa. Na primei-ra prevalece o interesse público,indisponível e na qual não cabea eleição de foro. Na competên-cia relativa tem-se predominan-te o interesse das partes, sendodisponível o foro competente elícita a eleição de foro em cláu-sula contratual.

A competência territorial oude foro (art. 94 CPC), a compe-tência em razão do valor da cau-sa (art. 91 do CPC) e a compe-

tência em razão da situação doimóvel (2ª parte do art. 95 doCPC) são competências relativas.

De competência absolutatemos a competência em razãoda matéria ou objetiva (certascausas que em decorrência desua natureza estão afetas à Justi-ça Especializada), competênciaem razão da pessoa (liga-se aatributo pessoal do litigante,como ex. art.109, I, da CF), acompetência em razão da situ-ação do imóvel (art. 95, CPC,quanto às ações fundadas emdireito real sobre imóveis, cujolitígio recaia sobre direito de pro-priedade, vizinhança, servidão,posse, divisão e demarcação deterras e nunciação de obra nova),competência funcional e a com-petência em razão valor da cau-sa, neste último quando se tratarde competência �do menos parao mais�, conforme o magistériodo Min. ATHOS GUSMÃO CAR-NEIRO, ou seja, a �competênciado juiz de menor �alçada� nãopode ser prorrogada para abran-ger causa de maior valor� 6.

As regras de competênciaque nos interessam no presenteestudo são as estabelecidas emrazão da matéria, da pessoa eda situação do imóvel.

5 in JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA, Ed. Saraiva, 4. ed.,São Paulo, 1991, p. 456 in op. cit. p. 62

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4.

O ART. 126 DACONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição Federal, noTítulo IV - Da Organização dosPoderes, Capítulo III - Do PoderJudiciário, Seção VIII - Dos Tri-bunais e Juízes dos Estados, dis-põe, no art. 126, verbis:

Para dirimir conflitosfundiários, o Tribunal de Justiçadesignará juízes de entrância es-pecial, com competência exclu-siva para questões agrárias.

Parágrafo único. Sempreque necessário à eficiente pres-tação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio.

O eminente processualistae professor Min. ATHOSGUSMÃO CARNEIRO ensinaque �por questões agrárias, e atétendo em vista as motivações eprecedentes da norma, deve-seentender aquelas questões vincu-ladas à �reforma agrária�, àredistribuição e distribuição deterras, e às desapropriações parafins de reforma agrária (Consti-tuição, Título VII, Capítulo III)7� ,e continua afirmando que � não

serão conflitos fundiários, para osfins do art. 126 da ConstituiçãoFederal, as questões sobre domí-nio, posse ou uso de imóveis ru-rais que não tenham origem ematos ou fatos vinculados à refor-ma agrár ia, nem as açõesde u sucap ião p ro l abore(CF, art. 191)�.8

Após uma análise maisacurada do artigo, não resta ou-tra alternativa que não a de dis-cordar, com o devido respeito,da explanação nesta seara, feitapelo Min. ATHOS GUSMÃOCARNEIRO.

Em primeiro lugar, o art.126 da Constituição Federal re-fere-se a TRIBUNAIS DE JUSTI-ÇA, portanto, Tribunais estadu-ais, conforme consta no título daSeção VIII.

A desapropriação por inte-resse social para fins de reformaagrária é de competência daUnião (art. 184 da CF) delegadaao Incra, órgão executor,autarquia federal que goza daexclusividade de foro a que alu-de o art. 109, I, da Constituição,devendo a ação de desapropria-ção, obrigatoriamente, ser ajui-zada perante a Justiça Federal,

em obediência ao comandoconstitucional e à Lei Comple-mentar n. 76/93, art. 2º, § 1º.

A se esposar o entendimen-to do Min. ATHOS GUSMÃOCARNEIRO forçoso seria reco-nhecer a existência de conflitoentre os dispositivos 126 e 184 eseguintes da Constituição Fede-ral, estando estes últimos sob oTítulo (VII) DA ORDEM ECONÔ-MICA E SOCIAL, Capítulo (III) DAPOLÍTICA AGRÍCOLA EFUNDIÁRIA E DA REFORMAAGRÁRIA, estes sim, referentes àdesapropriação, por interessesocial, objetivando a reformaagrária no País.

Em segundo lugar, é de seadotar, em parte, o entendimen-to do Juiz Federal e professor daUniversidade Federal do RioGrande do Norte, EDILSON PE-REIRA NOBRE JUNIOR, de queo art. 126 é disposição não auto-aplicável �a depender a produçãode seus efeitos de normatividadeintegrativa, cuja edição competeao órgão de cúpula do Judiciáriolocal, enquanto este não a editar,continuará competente a JustiçaFederal para apreciar as ações dedesapropriação para finsagraristas�.9

7 in op. cit. p. 89-908 in op. cit. p. 909 in Desapropriação para Fins de Reforma Agrária, Revista de Direito Agrário, MAARA e INCRA, Ed. Especial, Ano 10, n. 12, 2. semestre de 1994, p. 96

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Foi dito que é de se adotar,em parte, o entendimento aci-ma, quanto à não auto-executoriedade do dispositivo,porque mesmo que venha nor-ma infraconstitucional a comple-mentar o comando constitucio-nal, tenho que irá prevalecer so-bre essa norma inferior o art. 184da Constituição Federal.

Conclui-se, pois, que osconflitos fundiários e questõesagrárias mencionadas no art. 126da Constituição Federal não po-dem ser os vinculados à reformaagrária devendo, ao contrário doafirmado pelo Min. AthosGusmão Carneiro, versar sobrequestões de domínio, posse e usode imóveis rurais, litígios quedevem ter origem em fatos ou-tros sem qualquer relação com areforma agrária.

Somente como apêndice epara reforçar a idéia contida noart. 126, há mais de setenta e cin-co anos houve, conforme noti-ciou o professor RAYMUNDOLARANJEIRA, � a primeira tenta-tiva de implantação de uma �ju-dicatura agrícola� entre nós,quando a Lei Estadual de 10 deoutubro de 1922, regulamenta-da pelo Decreto n. 3.548, de 12de dezembro de 1922, criou

�Tribunais Agrários� para o Esta-do de São Paulo� 10 , com com-petência para interpretação eexecução dos contratos de loca-ção de serviços agrícolas.

Restou a idéia, pelo cons-tituinte, de o Tribunal de Justiçadesignar juízes de entrância es-pecial, pressupondo-seespecializados em questões agrá-rias, com competência exclusivapara essa matéria, a qual deve serexercida além dos limites de suacomarca sempre que houver ne-cessidade de sua presença no lo-cal do litígio objetivando umaprestação jurisdicional mais efici-ente (parágrafo único do art. 126).

5.

FORO PRIVILEGIADO DAUNIÃO ART. 109 DA CF/88ART. 99, I E II, DO CPC

Da leitura do art. 99, I, doCódigo de Processo Civil tem-secomo competente o foro da Ca-pital do Estado para as causas emque a União for autora, ré ouinterveniente. É o denominadoforo privilegiado.

Entretanto, deve-se combi-nar ou, usando da técnica,compatibilizar o artigo acima ci-tado com o art.109, I, da Consti-

tuição Federal. Trata-se de umacompetência ratione personae.

Assim, o art. 99, e incisos,do CPC não subsistem diante daincompatibilidade com a Cons-tituição Federal. A conclusão aque se chega, tendo-se em con-ta o comando constitucional éque tanto a Seção Judiciária daCapital quanto a do interior doEstado são competentes em ra-zão da pessoa para processar ejulgar as ações em que a Uniãoe o Incra forem autoras, rés, as-sistentes ou opoentes, excetuan-do-se as causas ali previstas.

Note-se que o artigo emcomento, da Constituição Fede-ral, não incluiu em nenhum mo-mento a obrigatoriedade da açãoser proposta na Capital do Esta-do, de onde se vê a falta de har-monia do art. 99, I e parágrafoúnico do CPC, com o dispositi-vo constitucional, o qual inclusi-ve abre oportunidade deaforamento da ação pela Uniãona seção judiciária do domicíliodo réu (§ 1º), bem como que asações intentadas contra a União se-jam aforadas na seção judiciária dodomícilio do autor, onde ocorreu ofato ou ato que originou a deman-da ou onde esteja situada a coisa ou,ainda, no Distrito Federal.

10 in Propedêutica do Direito Agrário, LTr, 2.ed., SP, 1981, p. 143

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Havendo conflito entre alei anterior e a nova ordemconstitucional, prevalece o co-mando desta última, não se po-dendo ter como vigente a regrado art. 99 do CPC em choquecom o art. 109 da ConstituiçãoFederal.

6.

FORO �REI SITAE�ART. 95DO CPC

O art. 95 do Código deProcesso Civil estabelece o foroda situação da coisa como ocompetente para as ações funda-das em direito real sobre imóveis.No magistério de Moacyr AmaralSantos, �a determinação da com-petência em razão da situação dacoisa, ou, mais precisamente, emrazão da situação do imóvel, criao chamado forum rei sitae, he-rança romana, da época imperi-al� 11. É competência territorial eespecial. Esta competência, ab-soluta e, portanto, indeclinável,tem como razão de ser a neces-sidade do juízo de ficar próximodo bem imóvel, objeto do litígio,a fim de que as diligências pro-cessuais se realizem com aceleridade, efetividade e econo-mia devidas.

A regra comporta exceçãonos casos em que mesmo se tra-tando de ações reais imobiliári-as, o litígio não recaia sobre di-reito de propriedade, vizinhan-ça, servidão, posse, divisão e de-marcação de terras e nunciaçãode obra nova, podendo o autoroptar pela eleição do foro oupelo foro do domicílio do réu,conforme autorização contidano art. 111 do CPC.

Nos casos previstos no art.95 do CPC, no dizer de ARRUDAALVIM, �é imprescindível a pro-ximidade da coisa ao juízo�.12

A competência estabe-lecida no art. 95 do CPC, por serabsoluta e improrrogável, temcomo pena para a infringência daregra a nulidade dos atos decisórios(art. 113, parág. 2º, CPC).

Que a Justiça Federal écompetente para processar e jul-gar as causas em que a União esua entidade autárquica, nestecaso o Incra, sejam autoras, rés,assistentes ou opoentes, excetu-ando-se as causas de falência,acidente de trabalho, as sujeitasà Justiça Eleitoral e do Trabalho,o comando contido no art. 109,I, da CF não deixa dúvidas.

A questão para a qual sebusca uma solução é a seguinte:existindo uma Seção Judiciáriada Justiça Federal na Capital doEstado, com uma vara especi-alizada em matéria de naturezaagrária, designada por Provimen-to do Conselho da Justiça Fede-ral, e Seções Judiciárias no inte-rior, em cujas circunscrições sesituam os imóveis objeto de açãode desapropriação, qual dosjuízos será o competente parao processamento da açãoexpropriatória ?

Essa questão tem suscita-do controvérsias e consequente-mente conflitos negativos decompetência entre os doisjuízos. Ajuizada a ação de de-sapropriação na Vara Especi-alizada da Capital, o Juiz Fede-ral declara-se absolutamente in-competente, por entender quecompetente é o foro �rei sitae�e remete o feito à Vara Federaldo interior, em cuja circunscri-ção se situa o imóvel objeto dademanda.

Se o Incra, ao revés, ajuizaa ação na Vara Federal do interi-or do Estado, foro da situação dacoisa, o juiz declina de sua com-petência, remetendo o feito ao

11 in Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol. I, 12.ed., Ed. Saraiva, SP, 1985, p. 23612 in Manual de Direito Processual Civil, Vol. I, Parte Geral, 4. ed., RT, p. 151

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Juiz Federal da vara especializa-da em questões agrárias na Ca-pital do Estado.

Instaura-se, então, o con-flito negativo de competência.Qual dos foros será o competen-te para processar e julgar a açãode desapropriação para fins dereforma agrária ?

Vejamos, agora, como seestabelece a competência para areferida ação de desapropriação.

7.

FORO COMPETENTEPARA A AÇÃO DEDESAPROPRIAÇÃO PARAFINS DE REFORMA AGRÁRIA

Como exposto anterior-mente, a ação de desapropriaçãoé ação real imobiliária, sendouma das modalidades especiaisde perda da propriedade imobi-liária (art. 590 do CC) e, do ou-tro lado, modo de aquisição dapropriedade pelo Poder Público,na forma estabelecida na Cons-tituição Federal e na lei especial.

Que as autarquias federaisgozam, por extensão e no quecouber, dos privilégios de que é

detentora a União também nãoresta a menor dúvida.

O parágrafo 3º do art. 184da Constituição Federal diz quecabe à lei complementar estabe-lecer o procedimento contradi-tório especial, de rito sumário,para o processo judicial de de-sapropriação.

Esta Lei Complementar é an. 76 de 6 de julho de 1993. En-tretanto, no art. 2º, parágrafo 1º,somente dispõe que a ação dedesapropriação será processadae julgada pelo juiz federal com-petente.

Levando-se em conta que�pelo princípio da recepção asleis anteriores à nova ordemconstitucional que não conflitamcom o Direito vigente sãorecepcionadas, estabelecendo aconvivência entre o Direito an-terior e o atual� 13, temos que seencontra em plena vigência oparágrafo 4º do art. 19 da Lei n.4.504 de 30.11.64 - Estatuto daTerra, que dispõe, verbis:

Art. 19 A desapropriação far-se-á na forma prevista na Constitui-ção Federal, obedecidas as nor-mas constantes da presente lei.

§ 4º. O foro competentepara desapropriação é o da situ-ação do imóvel.

Invocando, novamente, oprofessor Paulo Torminn Borges,�o Estatuto da Terra é a lei agrá-ria fundamental. Em seus 128artigos ele fixa os rumos básicosdo relacionamento entre a terrae o homem, procurando prote-ger este e aquele�14. Como o tex-to legal que trata da desapropri-ação por interesse social para finsde reforma agrária, devidamen-te atualizado pelas leis posterio-res, a saber, a Lei Complementarn. 76/93 e a Lei n. 8.629/93,trouxe já resolvida a questão dacompetência para o processoexpropriatório.

Importante trazer à lume alição de LEANDRO PAULSEN deque �a competência é matéria re-servada à lei e que, por isso, nãopodem, normas de cunhoinfralegal, baixadas pelo Conse-lho da Justiça Federal ou pelosTribunais Regionais Federais,modificar a competênciaterritorial fixada nos termos daConstituição e do Código de Pro-cesso Civil.�15

13 in A Constituição na Visão dos Tribunais - Interpretação e Julgados Artigo por Artigo, TRF 1º Reg., - Gabinete da Revista, Vol. 2, 1997, arts. 44 a 169, p. 83814 in op. cit. p. 1315 in Desapropriação e Reforma Agrãria, Ed. Livraria do Advogado, 1997, p. 145

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E prossegue, entendendoque normas infralegais que atri-buam a uma única vara federalna Capital do Estado a compe-tência para o processamento ejulgamento dos processos versan-do sobre matéria agrária, retiran-do a competência das varas dointerior, são inválidas.

Há que se concordar,sem restrições, com esseposicionamento. A uma porqueo foro �rei sitae� para a ação dedesapropriação foi estabelecidopor lei, no Estatuto da Terra, queapesar de em muitos artigos re-ferir-se à Constituição de 1946,foi recepcionado porque nãoconflitante com o atual coman-do constitucional - art. 184 - nemcom a Lei Complementar n. 76/93 que o regulamenta.

A duas pela ausência delógica, dentro do nossoordenamento jurídico, em se re-tirar a competência do foro �reisitae� quando coincidente coma Subseção Judiciária Federal,onde obrigatoriamente devemser processados os feitos daUnião e da sua autarquia execu-tora - o Incra - conforme estabe-lecido no art. 109, I, da Consti-tuição Federal.

Existe, sim, uma harmoni-zação entre a Constituição e as

leis complementares em especi-al, o mesmo não se podendo di-zer quanto ao Provimento doConselho da Justiça Federal, in-vocado pelos juízos suscitantespara afastar a competência doforo �rei sitae�. Conforme já dito,tais provimentos não têm o po-der de derrogar disposição lite-ral de lei, o que somente se dápelo poder competente e comnormas de escala hierárquica su-perior ou da mesma escala quan-do incompatíveis expressa ou ta-citamente, naqueles casos previs-tos no art. 2º da Lei de Introdu-ção ao Código Civil (Decreto-Lein. 4.657 de 4.9.42).

A especialização da varapara matéria de natureza agráriana Capital só opera seus efeitosna seção judiciária respectiva,não tendo o poder de deslocar acompetência do foro da situaçãodo bem expropriando quandohouver sede de Vara Federal nointerior do Estado.

Portanto, quer pelo estabe-lecido no art. 95 do CPC, querpelo art. 19, parágrafo 4º da Lein. 4.504, de 30.11.64, o forocompetente para o aforamento eprocessamento da ação de desa-propriação é o foro �rei sitae�,quando coincidir com uma seçãojudiciária federal, por força docomando constitucional (art. 109,

I). Assim, o foro federal da capitalé absolutamente incompetentepara conhecer da matéria, salvose inexistente seção judiciária fe-deral no interior do Estado.

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A COMPANHIA FAMILIAR GALEGA E A

MODERNIZAÇÃO DO DIREITO AGRÁRIO

NA GALÍCIA (*)

Isabel Espín Alba (**)

(*) O presente trabalho foi realizado no quadro do Projeto de Pesquisa �A Nova Lei do Direito Civil da Galícia (Lei4/1995, de24 de maio): incidências nas relações jurídicopatrimôniais dos galegos residentes na Galícia e no exterior�, financiado pelaJunta da Galícia (XUGA 20205B97), cujo pesquisador principal é o Prof. Dr. José Manuel Lete del Río, catedrático de DireitoCivil.(**) Catedrática de Direito Civil da Universidade de Santiago de Compostela

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1.

Considerações preliminares

A presente contribuiçãopretende oferecer algumas idéi-as com o objetivo de refletir so-bre o futuro do Direito agrárioautônomo galego, adotandocomo ponto de partida uma ins-tituição de origem consuetudiná-ria fortemente marcada, a com-panhia familiar galega, atualmen-te regulada nos artigos 100 a 111da Lei 4/1995, de 24 de maio, doDireito Civil da Galícia (L.D.C.G.).

A promulgação daL.D.C.G. gerou uma série de ex-pectativas no que se refere aoque poderia significar a consa-gração de instrumentos jurídicosde procedência consuetudinária,alguns já compilados e outrosnão, adaptados à especificidadeda atual problemática agrária naGalícia. No entanto, vicissitudestécnico-jurídicas, cuja explica-ção não tem cabimento nestaapresentação, resultaram emuma lei prenhe de figuras dedu-tivas, sem qualquer ou commuito pouca virtualidade práti-ca, em contradição com os prin-cípios elementares de um Direi-to Civil moderno.

Na verdade, a L.D.C.G.conserva determinadas institui-ções que têm origem no seio deuma sociedade rural com perfisdeterminados: pequena propri-edade fragmentada, alta pressãodemográfica, cultivos tradicio-nais, escassa mecanização, rela-ções sociais próximas ao servilis-mo, etc. Mas estamos diante damesma sociedade rural que deuorigem a instituições como aagra, a vilar, a veciña ou a com-panhia familiar galega? A respos-ta é definitivamente não. Os in-dicadores macroeconômicos se-guem apontando para uma soci-edade eminentemente rural, po-rém o panorama jurídico do Di-reito agrário moderno naGalícia, e em toda a Europa, estáenriquecido por um quadroconstitucional e comunitário,que nos obriga a levar em consi-deração a nova realidade docampo europeu: baixa natalida-de, maior produtividade das ex-plorações agrárias, uma relaçãomais dinâmica entre os concei-tos sítio/exploração agrária/pro-dutividade, a diminuição dopeso político dos agricultores, anecessidade de uma política demeio ambiente, uma maior de-manda por produtos de qualida-de, etc. Continua a existir em

nossa Comunidade Autônomauma importante fragmentaçãoda terra, paliada em certa medi-da por políticas de concentraçãode propriedade e o incentivo aoassociativismo, porém não pode-mos mais falar de uma socieda-de rural com altos índices de na-talidade e exportadora de gran-des contingentes de mão deobra. A realidade social edemográfica galega é outra, pormais que herdeira da anterior, equalquer instituição que queiramanter-se vigente deve apontara essa realidade e não refletir es-quemas passados.

De fato, quando se avan-ça desde um conceito clássi-co do Direito agrário, parauma perspectiva mais dinâmi-ca, de um autêntico Direitoagroalimentar1 , surge para o le-gislador galego um desafio desuperação e atualização.

Pois, precisamente pelaevidência deste desafio, a Admi-nistração Autônoma galega e oParlamento da Galícia, levaramadiante, com maior ou menorsorte, ao longo dos últimos anos,uma série de iniciativasnormativas absolutamente deacordo com as diretrizes da Polí-

1 Cfr. por todos, A.BALLARÍN MARCIAL, �Do Direito Agrário ao Direito Agroalimentar�, Estudos de Direito civil em homenagem ao professor Dr. José Luis LacruzBerdejo, vol. 1o, Barcelona, 1992, pp. 155 a 190.

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tica Agrária Comum e na linhada lei estadual de modernizaçãodas explorações agrárias2. O nú-cleo das atuações políticas elegislativas na Galícia selocomove cada vez mais em di-reção à empresa agrária, e a suanecessidade de uma adaptaçãoàs políticas do meio-ambiente ede segurança alimentar.

De modo que nos encon-tramos com situações tão contra-ditórias como uma inoperanteregulação da companhia famili-ar galega na L.D.C.G. diante defórmulas societárias próprias dasmais modernas tendências doDireito agrário, como é o casodas cooperativas agrárias, cober-tas pela Lei 5/1998, de 18 de de-zembro, das Cooperativas daGalícia (L.C.G.). 3

De fato, e aproveitando areferência a estes dois textos

legislativos, fica evidente que opróprio legislador galego conhe-ce tal contradição, já que, depoisde recolher uma fórmula decompanhia familiar de corte ar-caico, tenta a posteriori, no sen-tido da L.C.G., dar-lhe uma pos-sibilidade de projeção jurídica eeconômica, admitindo que acompanhia familiar galega sejasócia de uma cooperativa agrá-ria (artigo 111.2.L.C.G.).

2.

Visão crítica daregulamentação dacompanhia familiargalega na L.D.C.G. 4

I - A casa e a companhiafamiliar galega.

A companhia familiar éuma das instituições a serviço dacasa, cuja origem histórica é co-

mum localizar nas sociedadestáci tas agr ícolas da IdadeMédia.5

Com um indiscutível reco-nhecimento por parte da doutri-na civilista mais tradicional6 , suaraiz eminentemente consuetudi-nária lhe atribuiu contornos quefizeram com que durante bastan-te tempo sequer se reconheces-sem seus efeitos pelos tribunais.7

Mas para entender o sentido ealcance da companhia familiargalega é preciso analisá-la desdesua perspectiva de instrumentopara a conservação da casa. Emtorno a este desígnio de conser-vação giram uma série de insti-tuições familiares e sucessórias.Para proteger e conservar a casase criam, modificam ou extin-guem situações jurídicas que fa-zem do Direito civil da Galíciaum Direito próprio.

2 Basta citar, entre outras, a Lei 13/1989, de 10 de outubro, de Montes vecinales em mão comum e seu Regulamento aprovado pelo Decreto 260/1992, de 4de setembro, e o recente Decreto 330/1999, de 9 de dezembro, pelo qual se estabelecem as Unidades mínimas de cultivo para o território da ComunidadeAutônoma da Galícia.3 Não se pode estar alheio às dificuldades das empresas familiares agrárias. A superação deste modelo de produção é uma realidade, mas na Galícia ainda ébastante forte a presença do fator familiar na constituição de empresas, com variadas formas jurídicas. Inclusive a Lei de 9 de junho de 1997, da família, dainfância e da adolescência, da Galícia, em sede de medidas de proteção da família, recolhe em seu artigo 12, que a junta da Galícia dispensará um tratopreferencial às explorações familiares rurais, articulando programas com tendência à modernização de sua estruturas e além disto coadjuvando na compensaçãodos danos produzidos pelos riscos inerentes a suas atividades e fomentando o uso de formas de previsão de tais riscos.4 Sobre os aspetos mais concretos da regulamentação da companhia familiar galega, Cfr. I.ESPIN ALBA, �Comentários aos artigos 100 a 111 da Lei de Direito Civilda Galícia�, Comentários ao Código Civil e às Compilações Judiciais (dir. M.Albaladejo García e S.Díaz Alabart), Madri, 1997, t.XXXII, vol 2o , pp. 693 a 743.5 Para a evolução histórica da instituição Cfr. os trabalhos de G.BUJAN, Estudo jurídico sobre o contrato de companhia de família, Oronse, 1887, A.HERVELLAFERREIRA, as comunidades familiares e a companhia galega, Monforte, 1898, A.GARCIA RAMOS, Estilos consuetudinários e práticas econômico familiares emarítimas da Galícia, Madri, 1909.6 Cfr. J.CASTAN TOBEÑAS, Direito civil espanhol comum e judicial, t. IV, 15o ed., Madri, 1993, pp. 623 a 639.7 Por mais que não se afirme sua existência, em várias ocasiões o Supremo Tribunal se manifestou no sentido de que não se pode provar suficientemente ocostume de estabelecer sociedades familiares tácitas na Galícia, e que portanto não se podiam aplicar seus efeitos. Cfr. SSTS 2.1.1884, 15.12.1875 e22.5.1886.

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Dentre as virtudes destetipo de sociedade familiar era co-mum apontar a vocaçãovertebradora do patrimônio fami-liar, já que o protege da nefastadivisão de sucessivas parcelas eproporciona a convivência fami-liar ao redor da casa paterna8.Parafraseando L.MARTIN-BALLESTERO COSTEA ao refe-rir-se à casa aragonesa9, no con-ceito clássico de conservação ín-tegra do patrimônio da casa, tra-duzido na nomeação de um sóherdeiro, substrato da compa-nhia galega, pode-se observarcomo a economia e a idéia decasa se conjugam e como a po-breza do solo ou de umpatrimônio foi o pressuposto in-dispensável para a subsistênciado regime particular da famíliagalega. De fato, em suas origens,a companhia familiar esteve as-sociada a um quadro de forteimigração, uma alta taxa de na-talidade, a falta de capitais naagricultura, um minifundiarismoimprodutivo e endêmico10. Dis-põe o artigo 9 da L.D.C.G. que a

casa paterna e seus anexos cons-tituem um patrimônio indivisível.

Por mais que não seja re-fletido na literalidade do precei-to, a casa tem um claro elemen-to pessoal, subjetivo, de unida-de familiar construído exatamen-te ao redor do patrimônioindivisível. Em resumo, trata-sede um conceito que parte deuma base territorial, mas que al-cança um forte conteúdo pesso-al e familiar. De modo que a casavai além do dado objetivo dolocal onde se encontra. Está in-tegrado não somente por ele-mentos reais como por elemen-tos que são inerentes ao elemen-to subjetivo dos parentes quedecidem compartilhar a mesa.

Do mesmo modo comoem outras regiões foreiras, a casagalega tem personalidade própriaque se diferencia dos demaismembros que integram seu ele-mento pessoal, individualizadafrente a terceiros por um nome,quase sempre um nome de fa-

mília perpetuado ao longo dasgerações e que sequer coincidecom o que leva a família atual.

É o resultado da adminis-tração levada a cabo por seus vá-rios pais ao longo dos anos, sím-bolo de prestígio social dentro daparóquia. De tal maneira, queem determinado momento, acasa, com abstração das pesso-as, individualiza-se e se distinguedas demais de modo inconfun-dível.

A casa paterna (ou pater-nal) é aquela na qual vive o pai(ou patriarca), chefe ou fundadorde uma família e na qual nasce-ram e se criaram todos os filhos,por mais que estes já não mais vi-vam nela e que se encontrem se-parados por conseqüência de ca-samentos criadores de novas famí-lias ou por outras circunstâncias. 11

O designado pai é o res-ponsável pela direção e adminis-tração da casa. Como é lógico,é um esquema tradicional de no-

8 A Exposição de Motivos da Compilação de 1963 mantinha que �A Companhia Familiar Galega� serviu tradicionalmente e serve até hoje para estreitar os laçosfamiliares, impedir a emigração, promover a poupança, melhorar o cultivo das terras, tornando mais próspera e florecente a agricultura do país...�. Na vigenteL.D.C.G. não se dá nenhuma justificação para sua regulamentação.9 L.MARTIN BALLESTERO COSTEA, A casa no Direito aragonês, Zaragoza, 1944, p. 75.10 Este quadro foi superado em seus aspectos mais negativos pela atual realidade jurídica e econômica do campo galego. No entanto, acredito que isto nãojustifica a eliminação da regulamentação da casa na L.D.C.G.. Na idiossincrasia do povo galego a casa continua sendo o pilar básico de muitas estruturaseconômicas e sociais. Mesmo assim, as vigentes instituições sucessórias da L.D.C.G. somente se podem compreender desde a perspectiva da conservação dacasa. Por tudo isto defendo o caráter de norma interpretativa e integradora do artigo 9 L.D.C.G., Cfr. I.ESPIN ALBA, �Comentários aos artigos 9 a 13 da Lei deDireito Civil da Galícia�, Comentários ao Código Civil e Compilações judiciais (dir. M.Albaladejo García e S.Díaz Alabart), Madri, 1997, t. XXXII, vol 1o ,especialmente pp.88 a 190.11 E. RODRIGUEZ GONZÁLEZ, voz �Casa Patriarcal�, do Dicionário Enciclopédico Galego-Castelhano, Vigo, 1958.

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meação de herdeiro único atra-vés da melhoria de lavrar e pos-suir, com o apoio normalmenteda prática de �casar-se para acasa�. Durante um certo núme-ro de anos deverão conviver namesma casa mais de um casal: odos pais e o do filho que se �casapara a casa�. Aqui existiriam ospais: um em exercício e outropotencial. De fato, a idéia quepulsa nesta instituição é a de queo pai (que por sua vez no passa-do foi instituído por seu pai) vátransmitindo pouco a pouco asfaculdades de representação e decomando, enfim, a autoridade,a seu filho. De qualquer manei-ra, esta transmissão não é totalaté o falecimento de ambos oscônjuges.

Como contrapartida de suanomeação, ao herdeiro normal-mente se lhe limita as faculdadese direitos de ordem patrimonial,no sentido de que se deve man-ter íntegro o patrimônio, garan-tir o cuidado dos pais em suavelhice, zelar pelo bem-estar dosirmãos solteiros que convivam nacasa, etc.

A eleição do patriarca tem,além da vertente econômica dacontinuidade da exploração fa-miliar, um destacado aspectomoral, pois o parente escolhidoserá o representante da casa. De

fato, quando se fala de �casar-separa a casa�, nos referimos a umpacto que transcende a decisãode assumir a continuidade da ex-ploração de um conjunto debens. O casal que se forma as-sume a obrigação de manter, ese for o caso ampliar, o prestígioque a casa vinha adquirindo aolongo de gerações. Daí que aeleição deveria recair sobre omais apto a manter o prestígio dacasa, conservando-a e aumen-tando-a.

Neste ponto já se podemencontrar dificuldades na horade descrever o núcleo pessoal deuma casa, posto que a composi-ção do grupo de parentes, queem muitos casos dá origem auma verdadeira companhia fa-miliar galega, varia bastante deacordo com os usos e os costu-mes das diferentes comarcas.

Os autores descrevem, nor-malmente, o modelo da Altamontanha que é a região, quepor suas características, melhorassimilou a formação tácita decompanhias familiares e na qualtemos:

a) Os �senhorios maiores�que corresponde ao casal que étitular do local onde fica a casa,composto de um filho ou filhaque em seu dia foi escolhido

como pai para dar continuidadeà casa. A figura do �patrão� oudo �senhor da casa�, era geral-mente masculina.

b) O pai, nomeado pelos�senhores maiores� para dar con-tinuidade à casa. Geralmenteessa eleição vem apoiada poruma melhoria nos bens, refleti-da por via testamentária ou poracordos matrimoniais. É fre-qüente que o filho ou parenteescolhido se case para a casa eque assim, durante um períodode tempo, convivam na mesmacasa dois casais, e que pouco apouco irão transmitindo as facul-dades de direção e de represen-tação da casa do pai ao filho.

Tradicionalmente aparecea figura da viúva do pai, do �pa-trão� como um elemento pesso-al da casa. No caso de faleci-mento do chefe da comunidadefamiliar, ela atua como adminis-tradora. De qualquer maneira,esta etapa de �regência�, comoprefere denominá-la PAZ ARES,que antecede a incorporaçãototal do novo pai como titular eadministrador do patrimônio fa-miliar, era muitas vezes simbóli-ca, posto que, geralmente, a viú-va delegava suas faculdades aonovo pai, que passava a exercerde modo notório a direção e ad-ministração da casa12. Junto com

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estes elementos pessoais básicos,é freqüente que à comunidadefamiliar se acrescentem outrosparentes como os irmãos do pai.Com relação a estes herdeiroslegítimos que não foram escolhi-dos pelos pais para continuarcom a exploração do patrimôniofamiliar, cabe observar que quan-do abandonam a casa, normal-mente são separados, ou sejapaga-se-lhes sua porção da legí-tima em numerário (Cfr. Arts. 134e 135 L.D.C.G.).

Agora, no que diz respeitoaos elementos objetivos do con-ceito de casa, o elemento realbásico é o denominado localonde fica a casa, que, nos termosdo artigo 50 L.D.C.G. se definecomo o conjunto que forma umaunidade, compreendendo a casade trabalho, as edificações, asdependências e os terrenos, pormais que não sejam lindeiras.Inclui, de qualquer maneira,todo tipo de gado, maquinaria,implementos agrícolas e instala-ções que constituam uma unida-de orgânica de exploração agrá-ria, florestal ou mista.

São bens que formam emconjunto uma unidade de ex-

ploração agrária. É �...uma uni-dade de destino exteriorizada napermanência dos mesmos emuma casa e uma família duranteum tempo, pelo menos suficien-te para que objetivamente e aoexterior possa considerá-loscomo um apoio físico da manu-tenção e da sustentação dosmembros de uma casa.13 Comobem indica a STS de 25 de abrilde 1916,�... a especial conforma-ção da propriedade galega, cons-titui o lugar onde fica a casa, nãoum conjunto homogêneo ouuma comunidade de diferentesfazendas compreendidas dentrode uma delimitação ou períme-tro comum a todas elas e, por-tanto, lindeiras entre si, senão umconjunto ou uma reunião de fa-zendas dispersas, localizadas emum mesmo local ou em vários,que não formam um todoindivisível, regidas para a explo-ração agrícola por uma mesmamão, seja a pessoa individual deum lavrador ou uma entidadecoletiva�. Também é precisomencionar a STS de 19 de maiode 1951 sobre a validade e efici-ência da disposição atribuída porum galego �...que desejandoconservar inteira a exploração detodos os bens da propriedade, é

vontade de dito atribuinte queditos bens sejam atribuídos aofilho primogênito...�. Não entrao Supremo Tribunal na análise dese o referido conjunto de bensconstituía ou não um local ondefica a casa, �já que o testador nãofaz a adjudicação distingindo seformam ou não parte do conjun-to, senão que simplesmente atri-bui todos os bens com base nafaculdade que lhe confere o arti-go 1056 do Código Civil para cons-truir uma exploração agrícola�.

Mais recentemente, o Su-premo Tribunal, em sentença de29 de novembro de 1993, tevea oportunidade de destacar queo pressuposto analisado tinhacomprovado que o arrendamen-to em litígio compreendia todoo conjunto que forma o localonde fica a casa, �com as parti-cularidades que apresenta, pró-prias do Direito histórico do paísgalego, que não só há de ser res-peitado e atualizado como tam-bém reforçado pela urgente ne-cessidade de vitalizar sua agricul-tura, destinada desde sempre adesempenhar papel primordialno desenvolvimento econômicoe social da Galícia.

12 J.C. PAZ ARES, Instituições a serviço da casa no Direito Civil da Galícia, Salamanca, 1964, p.33.13 L.MARTIN-BALLESTERO COSTEA, op. cit. p. 100.

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II - Alcance do conceito decompanhia familiar galega naL.D.C.G.: elementos pessoais ereais.

Até aqui já se percebe omarcado caráter patriarcal dainstituição, na qual o senhor dacasa e o pai assumem a chefiafamiliar, muito distante do prin-cípio de igualdade jurídica entreo homem e a mulher que noquadro constitucional orienta aregulação das instituições famili-ares e sucessões na ordem jurí-dica espanhola, comum e autô-noma. É muito criticável que estesistema arcaico se encontre re-produzido, sem maiores matizes,na L.D.C.G. vigente, de formamuito concreta em seu artigo104. Uma coisa é que se con-servem e desenvolvam institui-ções de profundo enraizamentoconsuetudinário, e outra é quese reproduzam suas formulaçõestradicionais na lei sem fazer umamínima revisão constitucional deseu conteúdo.

Para entender esta críticainicial, vejamos como o legisla-dor descreve a companhia fami-liar galega.

Desde o ponto de vista sub-jetivo, a companhia familiar gale-

ga se constitui entre lavradorescom vínculos de parentesco (art.100 L.D.C.G.). É assim essencial acondição de lavrador e parente.

No que diz respeito à con-dição de agricultor, se justificapela própria causa da constitui-ção deste tipo de comunidadefamiliar. O legislador é muito cla-ro, e nisto coincide plenamentecom o que é a origem consuetu-dinária da figura, ao descreverque os que decidem viver juntoso fazem para explorar em co-mum as terras, o local onde ficaa casa ou explorações pecuáriasde qualquer natureza. Não setrata unicamente de conviver emuma mesma casa e de pôr emcomum bens e lucros, senão queestes devem necessariamentedestinar-se à exploração da casa.

Como D.GARCIA RAMOS,acredito que o essencial é o exer-cício habitual da agricultura, enão requisitos de caráter admi-nistrativo como a alta naSeguridade Social14. Agora, estainterpretação não restritiva dacondição de lavrador não deveconduzir a um abandono da ne-cessidade do exercício habitual.É possível, e além disso as neces-sidades econômicas podem obri-gar, que algum membro da co-

munidade familiar exerça umaatividade profissional fora doâmbito da exploração familiar.Isto em si mesmo não significauma ruptura em sua condição demembro da companhia familiargalega, sempre que não impliqueno abandono da convivência �demesa� e da participação nas ta-refas de exploração agrícola.

Sobre este último aspecto,nas proporções da Lei do Direi-to Civil da Galícia de 21 de abrilde 1993 e de 22 de junho de1994, estabelecia-se que �se ad-mitirá constituída a companhiapelo fato de conviverem emmesa e toalha de mesa para ex-plorarem em comum os bensobjetivos daquela, por mais quealguns dos membros tenhamalém desta outra atividade ouocupação�. A retirada da refe-rência à possibilidade de que al-gum sócio tenha, além desta,outra atividade ou ocupação,não deve ser interpretada comouma proibição para o desempe-nho de ditas atividades. Simples-mente se deixa no texto vigentea idéia central de que têm de serlavradores, com uma dedicação,ainda que mínima, ao cuidadoda exploração familiar, de modoque a avaliação de se as ativida-des realizadas fora do âmbito da

14 D.GARCIA RAMOS, �a Companhia familiar galega na vigente Lei de Direito Civil da Galícia�, em Direito Civil da Galícia (Comentários á Lei 4/1995 de 24 demaio) (coord. Barreiro Prado e outros), p. 320.

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casa desvirtuam ou não a com-panhia familiar galega será umaquestão casuística, que em casode conflito será decidida pelosTribunais em cada situação con-creta.15

De qualquer maneira, eainda comparando o conteúdodo vigente artigo 100 L.D.C.G. ede seus correspondentes nasmencionadas Proporções de Lei,na L.D.C.G. a convivência é umelemento essencial da compa-nhia familiar que não se presu-me pelo simples fato de viver jun-tos, é necessário que se separemtodos os mecanismos da colabo-ração na exploração do lugaronde ficam a casa e os demaisbens sociais.

De fato, além da condiçãode agricultor e parente, é ele-mento essencial o viver �emmesa e toalha de mesa�, que,mais que a necessidade de com-partilhar um espaço físico, repre-senta nas raízes consuetudinári-as da instituição, e garantir oapoio mútuo, a divisão de tare-fas e lucros na exploração agrí-cola, e em última instância a so-brevivência da casa. Nesta linha,não é preciso que todos vivamno mesmo edifício, podendo vi-

ver cada casal e seus filhos sol-teiros em casas diferentes, masdentro da mesma exploraçãoagrária.

No que diz respeito ao pa-rentesco, seguindo as pautasconstitucionais de igualdade defiliação, esta pode ser de ordemmatrimonial ou extra-matrimoni-al, ou ainda adotiva. Assim mes-mo, pode ser um parentesco porafinidade, como o que nasceentre cunhados, ou entre sogrose noras e genros. Por mais quese desse com freqüência a elei-ção do filho homem maior, o cri-tério da primogenitura masculi-na não é decisivo, posto que nãoparece ter existido nunca qual-quer inconveniente em casaruma filha para a casa. Isto se en-tende facilmente, porque o im-portante numa instituição queserve a casa não é a perpetuida-de de um nome de família, se-não que o poder conservar emelhorar o nome da casa. Alémdisto, e já vimos que o nome peloque é conhecida a casa nemsempre corresponde ao nome defamília concreto, senão que é fre-qüente a denominação de umapodo, normalmente relaciona-do com um ofício ou precedên-cia, de tal maneira que é comum

que uma pessoa se apresente emdeterminadas zonas rurais daGalícia como �Fulano da casa deTal�. Portanto, resulta mais im-portante escolher um descen-dente ou parente capaz de ad-ministrar corretamente a casa,conservando-a e melhorando-apara as gerações futuras. Mes-mo assim, dentro da análise doelemento subjetivo da constitui-ção da companhia familiar gale-ga, é necessário que seus sóciostenham a capacidade geral doCódigo Civil para contratar, semnenhuma especialidade. Nocaso dos menores emancipados,cabe perguntar-se se é necessá-rio o complemento de capacida-de ou o consentimento dos pais(ou de seu procurador, na faltados dois) para levar a cabo oacréscimo de bens à sociedadefamiliar, em aplicação do artigo323 do Código Civil.

A questão está em determi-nar se o acréscimo de bens imó-veis, estabelecimentos mercantisou industriais ou objetos de ex-traordinário valor, é um ato dealienação ou de gravame (ônus).Entre os que entendem que oacréscimo é um ato de mera co-municação de bens que não im-plica nenhuma perda econômi-

15 Cfr. a STSJG de 23.1.96 na qual um dos extremos que alegava a parte que negava a existência de uma companhia familiar era precisamente o fato de que ogenro que conviveu com a demandante não desempenhava labores agrícolas na exploração familiar, senão que se dedicava como mecânico dono de umaoficina. Alegação que parece não ter sido levada em consideração pelo Supremo Tribunal.

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ca para o menor, e os que defen-dem que se trata de um ato detransferência, posto que os benssaem do patrimônio do sócio paraintegrar-se ao patrimônio da so-ciedade, fico então com as con-clusões de F. CAPILLA RONCERO,que opta pela necessidade docomplemento de capacidade,fundamenta seu raciocino na aná-lise de se o ato de acrescer com-porta a transcendência patri-monial suficiente para merecerser incluída entre aqueles que fi-cam de fora do alcance das for-ças do menor emancipado. Oautor entende de forma corretaque é mais prudente assimilar asociedade aos atos de alienaçãoou de gravame do artigo 323 doCódigo Civil.16

No que diz respeito à figu-ra do ausente, incluído no casode falta não declarada, expres-samente prevista na L.D.C.G. -ar-tigos 6 a 8 -, não tem sentido suainclusão em uma companhia fa-miliar galega, cujo fim é exata-mente conviver na mesma casa,participando da exploração dolugar onde fica a casa. De fato,uma das causas de modificaçãoda companhia familiar galega,expressa no artigo 106. bL.D.C.G., é precisamente a au-sência, por mais de um ano, não

motivada pela gestão social.

Por último, a companhiafamiliar galega normalmente estaformada por mais de um casal,principalmente no caso do �ca-samento para a casa�. Pois bem,não é demais relembrar que oscônjuges de cada casal contra-tante, a não ser que tenham acor-dado um regime diferente ao dasociedade de lucros, em geralcontratam em nome da socieda-de conjugal. De modo que, porexemplo, o acréscimo de bensque são de lucro se faz em nomeda sociedade.

No que diz respeito ao as-pecto real da constituição dacompanhia, não é imprescindí-vel que todos os sócios aportembens para poderem integrar-se àsociedade, o que se explica pelaespecial natureza familiar destacomunidade. De fato, pode sercomum que os que menosaportam sejam os que mais re-cebam em termos de cuidadospessoais, assistência médica,apoio na velhice, etc.

Apesar de que esteja pre-vista a possibilidade de aportarbens pertencentes a todos ou aqualquer um dos sócios, o ele-mento real básico para a consti-

tuição da companhia familiar éo lugar onde fica a casa. A pró-pria finalidade da constituição dacompanhia familiar é de preser-var e aumentar este patrimôniofamiliar. Mas, a que título seaportam os bens imóveis, de fatoo lugar onde fica a casa, à com-panhia familiar galega?

Adiantando o que veremosquanto às formas de constituiçãoda companhia familiar galega esua natureza jurídica, o usual énão deixar uma constância escri-ta dos acréscimos e do regimeque devem seguir durante a vi-gência da sociedade familiar, cri-ando uma situação de fato quese prolonga no tempo, muitasvezes ao longo das gerações. Asituação típica se apresenta coma apresentação inicial do lugaronde fica a casa, cujo domíniocorresponde aos �senhores mai-ores�, e vai ampliando-se a ex-ploração com as melhorias, fru-tos, etc.

Desde uma perspectiva deregistro, o artigo 8.2. da Lei Hi-potecária, em combinação como artigo 44 de sua regulamenta-ção, permite que se inscrevacomo uma só fazenda, sob omesmo número, o lugar ondefica a casa.17

16 F.CAPILLA RONCERO, �Comentários aos artigos 1665 a 1708�, Comentários ao Código Civil e às Compilações judiciais , (dir.M.Albadalejo), t. XXI, vol 1o ,Madri, 1986, pp. 52 a 56.

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São bens sociais da compa-nhia, nos termos do artigo 102L.D.C.G.:

1- Os aportados pelos só-cios e os adquiridos a título one-roso por conta do capital co-mum, enquanto dure a compa-nhia.

2- Os frutos, rendas, lucrose juros recebidos ou devidos du-rante o mesmo tempo, proce-dentes dos bens sociais.

3- As edificações, recons-truções, plantações e qualquertipo de melhoria feita nos benssociais.

4- Quaisquer outros que aspartes concordem.

III-Formas de constituição

Independentemente dapostura que se adote com respei-to à natureza jurídica da compa-nhia familiar galega, a vontadelivremente expressada pelos fa-miliares lavradores que decidemconviver e formar uma verdadei-ra comunidade familiar, é o fru-

to do nascimento da instituição.Daí tem cabimento localizar oestudo da companhia familiargalega em contratos, por maisque indiscutivelmente se trate deuma modalidade contratual pe-culiar na qual se misturam ele-mentos econômicos, familiares ehereditários.

Na linha da liberdade deforma para a contratação em ge-ral, e mais importante aindanuma ordem jurídica de profun-das raízes consuetudináriaslindeiras como a galega, o legis-lador optou por não exigir a for-ma escrita como requisito de va-lidade da constituição de umacompanhia familiar. Sob estaperspectiva, é aceitável a decisãodo legislador de eliminar o requi-sito da forma escrita para a cons-tituição de companhias familia-res, presente na Compilação de1963, derrogada.18

A companhia familiar gale-ga constitui-se por qualquer umdos meios ou formas admitidosem direito. A forma escrita nãose impõe, por mais que a consti-

tuição terá necessariamente dedocumentar-se no momento emque qualquer um dos contratan-tes o solicite.

Agora, a prática demostrouque o nascimento de companhi-as familiares é alheio a pactosexpressos, surgindo em situaçõescomo o fato de �casar-se para acasa�. Como de forma corretadiz D. GARCIA RAMOS, o mo-delo de companhia familiar queexiste na realidade galega se re-flete na prática notarial e judici-al, revela a inexistência de casosde constituições escritas, e noentanto, demostra a existência decompanhias familiares derivadasde pactos hereditários e familia-res, da suposta forma de �casar-se para a casa�, ou então consti-tuídas tacitamente pela convi-vência entre familiares lavrado-res que põem em comum seuspatrimônios para veicular umaexploração agrária.19

De modo que temos as se-guintes possibilidades de consti-tuição da companhia familiargalega:

17 Dispõe o art. 44.2. RH que �os cortejos, fazendas, labores, masías, dehesas, cercas, torres, casarias, granjas, lugares, casales , cabanas ou outras propriedadesanálogas que formem um corpo de bens dependentes ou unidos com um ou mais edifícios e uma ou várias partes do terreno, com vegetação ou sem ela, pormais que não estejam lidando entre de si com o edifício, e de forma que neste caso haja unidade orgânica de exploração ou que se trate de um edifício deimportância a qual estejam subordinadas às fazendas ou às construções�.18 Mas este primeiro passo positivo, que pode vir a deixar entrever uma regulamentação mais próxima à realidade da figura, desvaneça-se, porque no quesucede o legislador se limitou a reproduzir o texto da derrogada Compilação, sem perfilar uma forma de constituição da companhia que desse um autênticoapoio jurídico a suas relações internas e externas tornando viável e atraente a recuperação da figura.19 D.GARCIA RAMOS, loc. Cit., pp. 314 a 317.

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a- Companhia familiar ga-lega formalizada por escrito, sejapor meio de escritura pública,seja por documento privado;

b- Companhia familiar ga-lega constituída com base em umsuposto �casamento para a casa�.

c- Companhia familiar ga-lega constituída tacitamente porparentes, que sejam lavradores,e que decidam viver em �mesa etoalha de mesa�, �cunca enmano�, para explorar em con-junto terras, o lugar onde fica acasa ou explorações pecuárias dequalquer natureza pertencentesa todos ou a alguns dos reunidos.Situação de convivência que nãose supõe.

Resulta indiscutível que oscamponeses galegos nunca cons-tituíram formalmente �compa-nhias familiares�. E parece quesequer quando o fizeram de for-ma tácita, como resultado daconvivência em �mesa e toalhade mesa�, tiveram a consciênciade que aquilo era uma comuni-dade que juridicamente se pudes-se diferenciar das relações de pa-rentesco de pessoas que convivi-am ajudando-se mutuamente.

A questão crucial surgequando se quer romper a convi-vência, negando qualquer tipo

de participação patrimonial re-sultado deste ato de compartilharmesa e toalha de mesa. Em ou-tras palavras, no momento emque os filhos ou familiares quededicaram anos de suas vidas àexploração familiar, solicitam oreconhecimento de uma partici-pação econômica. É o proble-ma clássico da ruptura de qual-quer situação de fato, mas que ocaso da companhia familiar ga-lega vem acompanhada de todauma carga ideológica e cultural,que quis identificar, nesta formade convivência de um grupo fa-miliar, o verdadeiro espírito e oprópria centralidade de um Direi-to civil próprio do povo galego.

Isto representa uma pesa-da carga sobre uma figura quenão foi nada mais que a expres-são jurídica da necessidade hu-mana de juntar esforços para so-breviver de uma maneira maisdigna. Em uma família de oito,dez filhos, proprietária de umaextensão de terras reduzida,pressionada por uma série decargas reais e fiscais, a decisão erasimples: ou se vivia da terra ouse dividia o patrimônio e nin-guém vivia da terra. Ficava-setentando preservar o patrimôniofamiliar e na medida do possívelaumentando-o, enquanto aosdemais lhes correspondia procu-

rar formas alternativas de sobre-vivência fora do lar familiar namigração ou �casando-se emoutra casa�.

Preservar a companhia fa-miliar galega como uma institui-ção jurídica com estes mesmosperfis, próprios de uma econo-mia de subsistência,descapitalizada e fechada ao ex-terior, sem levar em considera-ção qual a verdadeira realidadesocial e jurídica da ComunidadeAutônoma galega atual, é sinal deque se perdeu uma oportunida-de irrecuperável de melhor arti-cular um Direito civil próprio daGalícia, por meio fundamental-mente de um tratamento espe-cífico dos aspetos familiares ehereditários do Direito civil ga-lego, sem preocupar-se com ovolume das instituições civis tra-tadas, senão pela adequação dasmesmas às necessidades jurídicaspróprias da Comunidade Autô-noma galega.

Neste ponto, a regulamen-tação de uma �companhia fami-liar galega� poderia ter tido cabi-mento como uma fórmulaassociativa aplicada à agricultu-ra, para cujo funcionamento ti-vesse sido necessário articular umautêntico sistema de constituiçãoe publicação para a proteção das

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relações internas dos sócios, eexternas frente a terceiros. Seriauma fórmula associativa a mais,como o podem ser as socieda-des de responsabilidade limita-da ou cooperativas, porém comum especial caráter familiar. Eseu sucesso dependeria das van-tagens fiscais e sociais que acom-panhariam sua regulamentação,e da proteção jurídica, em espe-cial no que diz respeito à ordemde registro, que se prestaria aoterceiro que negociaria com acompanhia. Como tantas outrasfiguras jurídicas modernas, teriasua base em antigas práticas con-suetudinárias, mas completa-mente adaptada aos temposmodernos.

Se a intenção do legisladorfoi de oferecer uma forma jurí-dica de organização familiar ba-seada em uma tradição consue-tudinária mas com vocação decontinuidade no futuro, fracas-sou em sua tentativa, já que, éinegável, comprova-se com aanálise do articulado, que nãoconseguiu proporcionar uma fór-mula societária de acordo comas necessidades de proteção dotráfico jurídico de bens, dos ter-ceiros que negociam com a so-

ciedade, de costas para as atuaisnecessidades de crédito agrícolae de integração nas estruturasagrárias, de acordo com as dire-trizes comunitárias. De tal ma-neira que é difícil que um grupofamiliar escolha conscientemen-te a companhia familiar galegacomo forma de organizar a ex-ploração agrária do lugar ondefica a casa.

De tudo que foi dito atéagora, acredito que a vocação dotratamento legislativo que se deuà companhia familiar naL.D.C.G. é seu fim, já que a rea-lidade jurídica destas sociedadesfamiliares tácitas corresponde asituações de convivência famili-ar que de fato em um determi-nado momento se rompem.20

IV- Natureza Jurídica

A origem apontada dacompanhia familiar galega ( tam-bém denominada sociedade fa-miliar galega) nas sociedades fa-miliares tácitas da Idade Médialiga este tema ao contrato de so-ciedade. �A companhia familiargalega, como suas irmãs da pe-nínsula, a sociedade familiarasturiana, e a lionesa, não me-

nos do que a que passou ao Có-digo Civil Português, constituemuma interessante sobrevivênciadas sociedades tácitas agrícolas,tão freqüentes na Idade Média,e que talvez tenham ligaçõescom as primitivas associações fa-miliares que foram em todos ospovoados, inclusive em Roma, oponto de partida do contrato desociedade...�.21 De fato, é curi-oso observar como o germe doatual contrato de sociedade, oconsortium romano era um agru-pamento familiar (os herdeiros,morto o pater famílias), com umamarcada finalidade econômicade evitar a fragmentação dopatrimônio familiar, e a políticade manutenção do território fa-miliar.

A idéia de sociedade, commaiores ou menores matizes, noschegou por meio do próprio le-gislador que reiteradamente re-fere-se aos sócios com o objeti-vo de fazer alusão aos membrosda companhia22 e a regulariza-ção dos bens sociais 23. Inclusiveafirma expressamente no art.105.1.que é faculdade do pai ou,em seu caso, do sócio adminis-trador a direção e representaçãoda sociedade.

20 Cfr. artículos 110 e 111 L.D.C.G. para as normas de liquidação.21 J.ARIAS RAMOS- �As origens do contrato de sociedade: �consortium�, �societas��, RDP, 1972, em especial p. 146.22 Cfr. os arts. 102.1, 103.3, 105, 106 a) e e), 107.2, 108, 109 1), 2) e 3), 110 e 111 L.D.C.G.23 Cfr. arts. 102, 103.2, 4 e5, 111 L.D.C.G..

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É claro que se trata de umafigura de negócios na qual osmembros põem em comum di-nheiro, bens ou indústria. Mes-mo assim, constitui-se um fundosocial com os acréscimos dos só-cios.24 No entanto, é discutívelque o resultado final seja a re-partição de lucros. A companhiafamiliar tem como função a con-servação do patrimônio familiare a garantia de uma vida dignapara os membros da comunida-de, por isto, em última instânciaé necessária uma gestão corretaque não provoque perdas; masdaí a falar-se de uma finalidadede lucros com o objetivo de re-partir entre os sócios, seria umexagero. Assim existe umaffectio, mas com uma qualifica-ção diferente à affectio societatis,posto que o elemento econômi-co de cooperação ou colabora-ção ativa está matizado pela so-lidariedade familiar.

Concordamos com J.CASTAN TOBEÑAS quando eledestaca a impossibilidade deaplicar as estreitas normas docontrato de sociedade contidasno Código Civil a uma institui-ção de marcado caráter familiare agrário como é o caso da com-panhia familiar galega.25

A especialidade da institui-ção se reflete no próprio conteú-do dos artigos 110 e seguintes daL.D.C.G. que descrevem umasituação jurídica complexa naqual se misturam obrigações ali-mentícias, acréscimos patrimo-niais, relações agrárias, etc., cujabase encontra-se em preceden-tes do que até então tinha sidoum costume e alguns usos difun-didos em algumas regiões do ter-ritório galego. Aqui as normasgerais do contrato de sociedadedeveriam ter uma aplicação limi-tada a situações concretas. Emtodo caso, a finalidade e a estru-tura da companhia familiar gale-ga, segundo aparece configura-da na L.D.C.G. assimila-se maisà idéia de uma sociedade uni-versal de lucros, que segundo oart.1675 do Código Civil com-preende tudo o que venham aadquirir os sócios através de suaindústria ou trabalho enquantodure a sociedade. Os bens mó-veis ou imóveis que cada sóciopossui na hora da assinatura docontrato continuam sendo dedomínio particular, passando so-mente à sociedade o usufruto�.É interessante levar em conta ofato de que, no Direito comum,existe a presunção do art. 1676do Código Civil, segundo a qual

o �contrato de sociedade univer-sal assinado sem determinar suaespécie somente constitui a so-ciedade universal de lucros�, quese justifica pelo caráter menosagravante para as partes que têmas sociedades universais de lucroem relação com as sociedadesuniversais de bens.

Porém o acréscimo do ca-ráter de sociedade universal delucros não soluciona por comple-to a questão da natureza da com-panhia familiar, posto que a re-gulamentação de 1995 não es-tabelece claramente os temaschave como a representação e aresponsabilidade patrimonial dasociedade. A atuação no tráficojurídico de bens se complica nahora da regulamentação naL.D.C.G. na qual se reconhecematé três formas de constituição dacompanhia familiar, e em nenhu-ma delas parece estar soluciona-do o problema do acréscimo depessoa jurídica; sequer naquelascompanhias constituídas sob for-ma escrita o tema está resolvido,posto que fica claro como se es-tabelece a publicação dos pac-tos.26

Com relação ao acréscimode pessoa jurídica pela aplicação

24 Cfr. artigos 102, 104, L.D.C.G.25 J.CASTAN TOBEÑAS, op. cit. p. 637.

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dos artigos 1167 e 1669 a con-trário sensu, parece existir umacerta uniformidade doutrináriana hora de relacionar o acrésci-mo da pessoa jurídica com apublicação de fato da situaçãosocial. Quer dizer, que quandoas relações societárias começama refletir-se externamente crian-do uma aparência de sociedadeque possa ser comprada por ter-ceiros, o que se pode denomi-nar, em palavras de F. CAPILLARONCERO �consciência geral daexistência da sociedade�.27

Neste aspecto, poder-se-iamanter a tese contrária, defen-dida por C. PAZ ARES, no senti-do de que o momento do acrés-cimo da pessoa jurídica coinci-de com a manifestação da von-tade que dá origem ao fenôme-no societário, e não com o mo-mento posterior de sua publica-ção, posto que enquanto ele-mento estrutural do negócio, apessoa jurídica deve vincular-secom seu momento de constitui-ção, que é o da manifestação devontade28. É uma idéia muito

atraente, principalmente parafins de acréscimo de pessoa ju-rídica a determinadas associa-ções, que permitiria, nas pala-vras do autor, que uma associa-ção constituída com a vocaçãode participar no tráfico, mascom um acordo expresso de nãoinscrever-se, possa usufruir apartir do momento contratualda pessoa jurídica geral que sereconhece as sociedades civis.No entanto, no nosso modo dever as coisas, deixar claras as téc-nicas de proteção da aparênciaem conseqüência de terceirosde boa fé que assinam contra-tos com as sociedades, a longotermo prejudica a instituiçãoque aparentemente se quer pro-teger. De fato, se não se pro-porciona uma proteção adequa-da ao terceiro contratante cria-se uma desconfiança generaliza-da em relação às figurassocietárias que não têm umainequívoca pessoa jurídica, di-ferente da dos sócios em parti-cular. Se não se negocia comessas sociedades civis por temoràs conseqüências patrimoniais,

acabamos prejudicando o quequeríamos favorecer.

Se centramos o tema emtorno das companhias familiaresconstituídas de forma tácita, asque ainda têm algum reflexo naprática, pode-se observar comodita modalidade em geral temuma origem mais complexa quea fórmula contratual que o legis-lador descreve para as compa-nhias constituídas de forma es-crita, posto que além da relaçãocontratual que se estabelece como acréscimo dos elementos reaise pessoais para a sua constitui-ção, o ponto de partida da con-vivência entre os parentes é nor-malmente um acordo familiar e,freqüentemente sucessório.

Nesta suposição o carátersecreto dos acordos frente a ter-ceiros pode ser mais evidente. Aquestão poder-se-ia solucionar seentendêssemos L. DIEZ PICAZOe A. GULLON quando estes di-zem que a publicação dos acor-dos que fizeram os sócios ao con-tratar em nome da sociedade, de

26 De qualquer maneira, por mais que a simples formalização em documento público, privado do contrato de constituição da companhia familiar galega nãosignifique em si que publicação do acordado, nos pode levar à presunção de que nestes casos, a vontade dos sócios será de dar publicação de seus acordos,inclusive juntando-se a algum tipo de sociedade. É o caminho que oferecido no artigo 111.2 da L.C.G.. O que acontece é que neste caso se desnaturacompanhia familiar galega como uma instituição. Mas o certo é que sem um sistema registral de publicação, os acordos, por mais que estejam refletidos em umaescritura pública, não tem a capacidade para proteger terceiros. Neste sentido, L.DIEZ PICAZO e A.GULLON nos recordam que �não deve-se identificar-se apublicação da sociedade com o mero fato de que se haja constituído por escritura pública, que pode ser perfeitamente desconhecida pelo terceiro. O protocolode cada cartório não é um Registro Público, encontra-se submetido ao segredo como princípio geral. Além do que, para que o terceiro pudesse ter acesso a eleé imprescindível como mínimo que este conheça em que cartório foi constituída a sociedade� (Sistema de Direito Civil, vol II, 7a ed., Madri, 1995, p.519).27 F.CAPILLA RONCERO, loc. cit, p.55.28 C.PAZ ARES, �Comentários ao artigo 1669�, Comentário do Código Civil do Ministério da Justiça, Madri, t. II, 1993, pp. 1354 a 1366.

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tal maneira que uma sociedadeteria às vezes caráter de pessoajurídica e outras não. �Na ver-dade, o simples fato de que umdos sócios contrate em seu pró-prio nome os terceiros, e inclusi-ve o fato de que esta seja a for-ma habitual de contratação, nãoparece que isto permita por si sóque a disposição seja aplicável,pois a contratação em nome pró-prio (e por conta alheia) seja umadas formas de trabalhar do repre-sentante. Uma sociedade podeusufruir de pessoa jurídica e, noentanto, contratar um de seus só-cios em seu próprio nome e nãono nome da sociedade (vide Art.1689 CC).

Parece por isto que a idéiade uma contratação em nomepróprio é usada pelo artigo comouma conseqüência necessária do�segredo dos acordos� 29. Dequalquer maneira, como vere-mos ao comentar os artigos 104e 105 L.D.C.G., a representaçãoem nome da casa ou no interes-se da mesma, tem um quadromuito limitado na prática dascompanhias familiares, quase

sempre relacionado à compra evenda de bens móveis de cará-ter agrícola e semoventes.

Mesmo assim, esta posturapoderia levar a uma acentuadainsegurança jurídica, de modoque não está errado relembrarcom J. M. LETE DEL RIO, queuma entidade social abstrata, quenão constitui uma realidade físi-ca, precisa manifestar-se diantede terceiros por meio de umapublicação especial, que é a ins-crição em Registro público.30

No caso de que a compa-nhia familiar galega atue comouma sociedade civil sem pessoajurídica, no que esteja previstonos costumes e na Lei civil gale-ga31 , de acordo com o dispostono artigo 1669.2. do Código Ci-vil, devem-se lhe aplicar as nor-mas relativas à comunidade debens (artigos 392 e seguintes doCódigo Civil). De qualquer ma-neira, a qualificação de socieda-de irregular aplicável à compa-nhia familiar, e portanto, à possí-vel aplicação analógica das dis-posições do Código Civil em

matéria de comunhão de bens,não significa que deixe de seruma autêntica sociedade, postoque, como o mostra L.DIEZPICAZO, a qualificação de umarealidade jurídica como socieda-de é prévia ao atributo de pes-soa jurídica.32

De qualquer maneira,compartilho a opinião deV.GUTIERREZ ALLER de que tal-vez fosse mais adequado estabe-lecer um regime econômico fa-miliar de comunidade de lucrose despesas familiares para os queconvivam em uma mesma casa.33

Nos aproximaremos, indepen-dentemente das distâncias, a umesquema similar ao do regimeeconômico matrimonial de soci-edade de lucros, na qual se fixa-riam os bens privativos e os lu-cros, as regras de contribuição àscargas, representação da socie-dade, extinção e liquidação damesma, e como aspectotranscendental, os reflexosregistrais de sua existência34.Para J.M.LETE DEL RIO, precisa-mente o caráter familiar da com-panhia familiar galega permitirá

29 L.DIEZ PICAZO e A.GULLON, op. cit., pp. 518 e 519.30 J.M.LETE DEL RIO, Direito de Obrigações, vol.III, 3a ed., Madri, 1999, pp. 333 e 334. Este ponto se aproxima da postura anteriormente referida, a que aorelacionar os artigos 1669 e 1670, lembra que a adoção da forma mercantil implica a necessidade de uma escritura pública e de uma inscrição no RegistroMercantil, de tal maneira que o 1669 CC estaria consagrado somente à pessoa jurídica das sociedades civis com forma mercantil, e não de qualquer tipo desociedade civil (F.CASTRO E BRAVO. A pessoa jurídica, Madri, 1981, pp. 281 a 283).31 Cfr. artigos 100.3 e 3.1 L.D.C.G.32 L.DIEZ PICAZO, Os Fundamentos do Direito Civil, t.III, Madri, 1993, p. 907.33 V.GUTIERREZ ALLER, �Apresentação� ao Direito de Sucessões da Galícia (Comentário ao Titulo VIII da Lei de 24 de maio de 1995), Madri, 1996, p. 22.

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a aplicação analógica das normasda sociedade de lucros.35

De qualquer maneira, aqualificação de sociedade uni-versal de lucros permite a apli-cação analógica das normas dasociedade de lucros, quandoocorram lacunas legais, pois secumprirá com os requisitos doartigo 4.1. do Código civil, prin-cipalmente a identificação derazão, pois trata-se de duas situ-ações jurídicas que refletem co-munidades familiares.36

De tudo o que foi dito, efazendo uma interpretaçãointegradora dos artigos 100 a 112L.D.C.G., pode-se identificar operfil de uma sociedade univer-sal de lucros. Esta é a situaçãodoutrinária mais aceita e a quemais obedece ao tipo planejadopelo legislador.

Por exemplo, dificilmente

se adquiriram bens imóveis comcaráter social durante a vigênciada companhia familiar galega. Opatrimônio que deve permane-cer indivisível, antes e depois daconstituição da companhia fami-liar galega, é sempre em nomede um único titular, o pai e seucônjuge (na medida em que sejaum bem com fins de lucro), queo transmitem melhorado ao fi-lho. Assim, chama a atençãoM.ARTIME PRIETO como nassociedades familiares constituí-das tacitamente, a situação sub-jetiva revela basicamente a exis-tência de dois casais na casa, eque �os bens de cada indivíduo,pertencentes às duas sociedadesconjugais, se trabalham por to-dos indiferentemente, os frutossão comuns e em comum sãorecolhidos e consumidos, e emcaso de desmanche da socieda-de fami l ia r se adjudica acada casamento a metadedos lucros�.37

Na regularização da com-panhia familiar galega pela com-pilação de 1963, e que pratica-mente se repete na vigenteL.D.C.G., ressaltava MENENDEZ-VALDES GOLPE que não existiaapoio normativo que permitissemanter que com os acréscimosnascessem direitos reais sobre osbens explorados conjuntamentea favor da companhia familiargalega ou de seus participantes.38

De qualquer maneira, não sepode deixar de levar em contaque já não estabelece comoconteúdo fundamental da compa-nhia familiar �a percepção em co-mum dos frutos, a manutenção dacasa e cargas familiares, e a distri-buição dos frutos na data e encer-ramento da vida em comum�.39

Nesta linha de aconteci-mentos, os usos e costumes nes-ta matéria, revelados nos estudosdoutrinários e nos casos litigio-sos que chegaram aos Tribunais,

34 Tradicionalmente se vem considerando a sociedade de lucros como uma modelo de comunidade de tipo germânico, na qual nenhum dos membros tem odireito verdadeiro a uma quota indivisível, e carecem da possibilidade de exercer a ação de divisão da coisa comum. Deste modo, V.GUILARTE GUTIERREZ � �Anatureza da atual sociedade de lucros�, ADC, 1992, pp.925 e ss, considera o esquema da comunidade de tipo germânico incompatível com a regularizaçãovigente da sociedade conjugal, �extremamente dissociativa e na mesma prima capacidade individual dos cônjuges tanto no aspeto da gestão como no daresponsabilidade patrimonial�. De qualquer maneira, depois de Reforma de 1981, junto com a veracidade desta tese tradicional, alguns autores se encarrega-ram de aplicar à sociedade de lucros o regime da comunhão ordinária, ou em todo caso, posturas intermediárias nas quais se separa lucros e posse dos bens delucro. Buscando o referido entendimento intermediário, Vid. Os trabalhos de P.BENAVENTE MOREDA- Natureza da sociedade de lucros. Legitimação individualdos cônjuges, Madri, 1993 e J.VALLET DE GOYTISOLO- �Em torno a natureza da sociedade de lucros�, Estudos de Direito Civil em homenagem ao Professor Dr.José Luis Lacruz Berdejo, vol. 1o , Barcelona, 1992, pp. 809 a 841.35 J.M. LETE DEL RIO, �A companhia familiar galega�, Manual do Direito Civil Galego ( J.M. Lete del Río e outros), Madri, 1999, p.150.36 J.L.LACRUZ BERDEJO, Elementos do Direito Civil, t.II, vol. 3o , Barcelona, 1979, p.263.37 M.ARTIME PRIETO, �O acordo de casar-se para a casa e a família no direito consuetudinário da Galícia�, Fórum Galego, 1968, p. 438.38 E.MENENDEZ-VALDES GOLPE, As particularidades do direito patrimonial no nordeste da Espanha, diante da Compilação galega e o Código civil, Becerreá,1964, pp.80 a 88.39 Cfr. artigo 48 da derrogada Compilação do Direito Civil da Galícia.

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aproximam a companhia famili-ar galega a uma sociedade parti-cular como a descrita no artigo1678 do Código Civil.

Se recorremos à jurisprudên-cia do Supremo Tribunal em ma-téria de sociedades particulares,nos encontramos com vários ca-sos de sociedades, nas quais pes-soas unidas por vínculo de paren-tesco decidem explorar conjunta-mente uma fazenda40. Nas pala-vras de F.CAPILLA RONCERO, asexplorações agrícolas em sentidoamplo �constituem o casoarquetípico das sociedades civisparticulares�41. Mas em todo caso,ao ser uma sociedade sem caráterde pessoa jurídica, haverá que se-guir lhe considerando uma socie-dade irregular.

Tudo o que foi dito a respei-to da pessoa jurídica prova que olegislador não teve o devido cui-dado em precisar os extremos dasrelações externas da sociedade.De qualquer maneira, não quere-mos magnificar o tema de atribui-ção de pessoa. É discutível que atenha, e em todo caso poder-se-ia dizer, parafraseando L.DIEZ

PICAZO e a GULLON que algu-mas vezes sim e outras não. Maseste ponto não é o mais importan-te, porque reconhecer a pessoajurídica da companhia familiarpela atuação do sócio administra-dor em nome da sociedade (re-presentação direta) em nome pró-prio mas por interesse da socieda-de (representação indireta), istonão resolve o problema da prote-ção dos terceiros que fazem ne-gócios com a sociedade familiar.Existem formas societárias ou co-munitárias sem caráter de pessoajurídica e que estão dotadas deapoio legal para dar publicação deseus atos.42 E o legislador galego,reproduzindo quase literalmente omodelo falido de 1963, ficou ameio caminho em sua tentativa,sem dar uma resposta adequadaao mencionado problema.

V- Administração da com-panhia familiar galega

O artigo 104 L.D.C.G. de-termina que corresponde à ad-ministração da companhia ou àpessoa que determine o contra-to de constituição. Em tudo oque não foi previsto no contra-

to, assim como nas companhiasconstituídas tacitamente,corresponderá sucessivamenteao pai, à sua viúva ou a quem deforma notória a exerça.

Uma nota de caráter cons-titucional pode ser feita a respei-to da referência discriminatóriaà �viúva� do pai, fazendo suporque os pais na Galícia sempre sãohomens. Por mais que historica-mente a companhia familiar ga-lega tenha sido uma instituiçãoeminentemente patriarcal, naqual a chefia familiar era sempremasculina, e o papel da viúva dopai era o de uma �regência� atéque o novo pai recebesse defini-tivamente o patrimônio familiar,não se pode transferir este esque-ma, sem mais, à L.D.C.G. desco-nhecendo seu quadro constitu-cional. São faculdades do pai ou,em seu caso, do sócio adminis-trador, nos termos do artigo 105L.D.C.G.:

1. A direção e a represen-tação da sociedade.

2. A aquisição em nomedela e a obrigar-se em seu nome.

40 SSTS 11.5.71, 24.5.72, 15.5.73, 30.3.74, 7.10.76, 2.6.81. De qualquer maneira, em muitos dos casos descritos nestas sentenças tratam-se de sociedadesdedicadas à atividades mercantis.41 F.CAPILLA RONCERO, loc. cit., p. 147.42 De fato, o atributo de pessoa jurídica não é condição imperdoável para a construção de um esquema comunitário eficaz, com projeção frente à terceiros. Cfr.o caso da comunidade de proprietários na Lei de Propriedade Horizontal de 1960, a qual se lhe estrutura em diversos órgãos, com uma adequada representaçãoorgânica, e que no entanto carece de uma pessoa jurídica.

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3. Dispor dos semoventese bens móveis sociais.

É difícil acreditar que umlavrador se apresente diante deuma entidade bancária para so-licitar um crédito agrícola como�pai que quer solicitar um cré-dito para incrementar a explo-ração agrária do lugar onde ficaa casa, em nome de uma com-panhia familiar galega�. Prova-velmente o fará, mas em nomepróprio, oferecendo como ga-rantia bens de sua posse, inde-pendentemente de depois que-rer reverter o solicitado à comu-nidade familiar. Fora o orça-mento da comercialização debens moveis ou semoventes emalgumas feiras e mercados, a re-presentação da companhia fa-miliar galega pelo pai sócio ad-ministrador carece devirtualidade prática. Uma soci-edade sem caráter de pessoajurídica que lhe permita refletirde forma registral a posse de fa-zendas, somente poderia mani-festar-se pela aquisição dos bensimóveis em regime decotitulariedade, mas é significati-va a constância registral da possede cada sócio a respeito de suaquota, mas não a da entidade abs-trata �companhia familiar galega�.

C. A tentativa derevitalização da companhia fa-miliar galega na Lei de Coope-rativas da Galícia.43

Depois de uma visão tãocrítica com relação à virtualidadeprática da companhia familiargalega, tal como aparece regula-mentada na L.D.C.G., não sepode deixar de fazer alusão aopropósito legislativo de encontra-lhe a esta sociedade familiar umacausa de atuação no mercadopor meio de sua incorporaçãoem condição de sócio de umacooperativa agrária.

Nesta linha, o artigo 112.1L.C.G. prevê que �poderá sersócio de uma cooperativa agrá-ria a companhia familiar galega,constituída formalmente e devi-damente documentada, que fi-gure como unidade econômicaúnica, e a todos os efeitos consi-derados na presente lei com aconsideração de sócio único,constituída pelas pessoas e emconsonância com o estabelecidona Lei de Direito Civil da Galícia,que regerá, como Direito suple-tivo da presente Lei, em quantoresulte da aplicação da socieda-de cooperativa e seus sócios.

Independentemente doque foi dito no parágrafo anteri-or, os estatutos poderão estabe-lecer, com caráter geral, a formaem que os membros da comuni-dade familiar vinculados à explo-ração agrária do sócio ou quemconviva com ele possam benefi-ciar-se das atividades e serviçosque a cooperativa desenvolva oupreste�.

Parece um fato indiscutí-vel que exista uma política deincentivo do cooperativismo nacomunidade autônoma galega.Na Galícia se deram as diretri-zes da evolução legislativa e so-cial das cooperativas no mun-do. A regulamentação das co-operativas em geral abandonouo caráter precário, marginal eaficionado que poderia ter emsuas primeiras manifestações,para ser um valor de referênciaem muitas atividades empresa-riais. Em alguns setores agrári-os muito concretos, como o daprodução láctea, a formula co-operativa vem desempenhandoum importante papel no desen-volvimento do setor, contradi-zendo a realidade que repre-senta a indiscutível falta de tra-dição acionária no campo ga-lego.44

43 Para uma visão geral a respeito da L.C.G. Cfr. J.A.GÓMEZ SEGADE e outros, Estudos sobre a Lei de Cooperativas da Galícia, Santiago de Compostela, 1999.

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agrícola, pecuária ou florestal ouque esteja relacionado direta-mente com as mesmas(art.111.1.L.C.G.).45

O artigo 111.4.L.C.G.viabiliza a possibilidade de quea cooperativa agrária possa, comcaráter acessório e subordinado,proporcionar bens e serviçospara consumo de seus sócios edos familiares que convivam comeles até 50% da atividade princi-pal que a mesma realize comseus sócios 46, produzindo osbens e serviços que proporcio-nem ou adquirindo-os de tercei-ros. Desde uma perspectivacontábil, o fornecimento destesbens e serviços terá a considera-ção de operações societárias in-ternas, resultando a mesma coo-perativa assim como seus sócioscomo consumidores diretos.

A cooperativa agrária estáautorizada a realizar atividades eserviços cooperativos com tercei-

De fato, o enfoque daL.C.G. aproxima-se de uma vi-são empresarial do fenômenocooperativo. É muito interessan-te o dado de que a L.C.G. exigepara a constituição e o funcio-namento de uma cooperativa umcapital social mínimo de 500.000pesetas, e assim como acontecenas sociedades de responsabili-dade limitada, deve estar total-mente desembolsado desde suaconstituição (art.5.1). Por coo-perativas agrárias, o legisladorentende aquelas que integram atitulares de explorações agríco-las, pecuária ou florestais, quetem por objetivo a realização detodo tipo de operações encami-nhadas ao melhor aproveitamen-to das explorações de seus sóci-os, de seus elementos ou com-ponentes e da cooperativa e amelhoria da população agrária ede desenvolvimento do meio ru-ral, assim como a atender aqualquer outro fim ou serviçoque seja próprio da atividade

44 Além das indiscutíveis vantagens da produção e da comercialização de produtos baixo formulas cooperativas em si mesmos, une-se o incentivo da Adminis-tração pública. Cfr., p. ex., entre muitas medidas administrativas, Ordem de 2 de junho de 1999 da Chancelaria da Agricultura, Pecuária e Política Agro alimentar,pela qual se regulariza a concessão de ajudas para o fomento e desenvolvimento do cooperativismo agrário na Galícia.

45 Mesmo assim, o mesmo artigo 111.1 da L.C.G. dispõe que as explorações agrárias de seus sócios deveram estar dentro do âmbito territorial da cooperativa,estabelecido de acordo com o estatuto.46 Quando por circunstâncias excepcionais não imputáveis à cooperativa, tal limite supõe uma diminuição da atividade que ponha em perigo sua viabilizaçãoeconômica, poderá ser autorizada pela autoridade administrativa competente para superar dito limite de operações com terceiros por um prazo não superior aum ano e até uma quantia fixada pela autorização em função das circunstâncias que venham a acontecer.47 A disposição Adicional Segunda da L.D.C.G. determina que �a cada cinco anos, como um máximo, sem prejuízos da iniciativa parlamentar correspondente,a Mesa do Parlamento da Galícia designará uma comissão, composta por membros dos diversos grupos parlamentares da Câmara, a fim de elaborar um relatórioabrangente das dificuldades e dúvidas que se observem na aplicação dos preceitos da presente Lei e daquelas normas que se estimem necessárias para aconservação, modificação e desenvolvimento das instituições de direito civil próprio da Galícia�.

ros não sócios, enquanto se res-peite um limite máximo de 50%do total das operações realizadaspelos sócios para cada tipo de ati-vidade desenvolvida pela coope-rativa (art.111.7.L.C.G.).47

Agora, por esta via, pode-ria a companhia familiar galegaconstituída culminar aspiraçõesde projeção no mercado. É, as-sim mesmo, uma maneira degeneralizar a constituição formalde companhias familiares, postoque como já se havia apontadoanteriormente, na Galícia nuncaexistiu dita prática.

Mas assumir a condição desócio de uma cooperativa agrá-ria é uma solução que não passapela regulamentação mais dinâ-mica das relações internas e ex-ternas dos sócios da companhiafamiliar, já que não altera o tra-tamento dispensado pelos artigos100 a 111 da L.D.C.G. .

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Em suma, admitir que acompanhia familiar galega sejasócia de uma cooperativa agrá-ria é uma opção legislativa váli-da e que permite às companhiasfamiliares que existam de modoa atuar no mercado agrário deforma efetiva, mas isto não eli-mina os problemas intrínsecos desua regulamentação inoperantena L.D.C.G.. De modo que, tal-vez aproveitando o atual mo-mento em que se está levando acabo um processo de atualizaçãodo texto da L.D.C.G., poder-se-ia caminhar um pouco além eprover este tipo de sociedade fa-miliar de um caráter de pessoajurídica própria.

4.

Conclusões:

1. O desafio daintegração na União Européiaestá levando a profundas mudan-ças estruturais na agricultura ga-lega, que se traduzem em umadiminuição do número de explo-rações, um aumento da superfí-cie das mesmas, uma melhoriana estrutura produtiva, e um au-mento da qualidade dos produ-tos.

2. Formulas jurídicastradicionais como a companhiafamiliar galega foram mantidas

pelo legislador galego naL.D.C.G. de 1995, sem a neces-sária adaptação às referidas mu-danças estruturais do setor agrá-rio galego.

3. Em uma tentativa dedar alguma virtualidade práticaà instituição, a L.C.G. de 1999,estabelece que poderá ser sóciode uma cooperativa agrária acompanhia familiar galega, cons-tituída formalmente e devida-mente documentada.

4. Mesmo reconhecen-do as dificuldades pelas quaisatravessam as várias fórmulas deempresas familiares, acredito quese poderá ir além e dotar a com-panhia familiar galega de um es-tatuto jurídico mais dinâmico ede acordo com os desafios doDireito agroalimentar moderno.

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EL OBJETO DEL DERECHO AGRARIO: REFLEXIONESACTUALES SOBRE SU DOGMÁTICA

Alfredo Massart (*)

(*) Catedrático de Direito Agrário Comparado e Secretário Geral da UMAU (Pisa, Itália).

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La enseñanza de AntonioCarrozza, que en su vida trabajópor el Derecho agrario, estarásiempre viva en mis palabras ydedico estas reflexiones a suaugusta memoria.

1.

Consideracionespreliminares sobre elplanteamiento histórico dela dogmática agrarista.

En primer lugar, en esteCongreso de ilustres juristas tengoque subrayar mi contribucióncomo docente universitario, esdecir, con la toga de un investi-gador y cultor que va a labúsqueda de los aspectosdogmáticos y de los principios dela enseñanza universitaria. Porlo tanto, no hablaré en estaintervención de los aspectosprácticos de la aplicación delderecho, sin olvidar su primariae innegable importancia, pero eneste caso le daré mayor énfasis alos aspectos de la construcciónde la teoría general del Derechoagrario, es decir, su dogmática.Dejo de tratar, en esta sede, losaspectos de la didáctica, porqueeste argumento constituye eltema de la Mesa redonda, en lacual, seguramente, la enseñanzauniversitaria será tratada con la

amplitud necesaria.

Considerando que elDerecho agrario nació en Italia,según lo expuesto también porel colega Luna Serrano en su dis-curso académico, hace algunosinstantes, y considerandoademás que siempre al maestroAntonio Carrozza le gustaba re-petir �el Derecho agrario, comociencia jurídica en el mundo,habla italiano�, lamento queningún representante de Univer-sidades italianas haya sidoinvitado a discutir en la Mesa re-donda de este Congreso. Perome parece conveniente entrar,directamente �in medias res�, esdecir, al análisis de los problemasinstitucionales.

Ahora bien, me parece bas-tante obvio anticipar que estaexposición, frente a colegas dela materia agrarista provenientesde más de cuarenta Países, podráparecer por un lado no tansatisfactoria, es decir, objetiva-mente no comprensiva de todaslas posiciones de quienes meescuchan; y, por otro lado,podría parecer muy influencia-da y caracterizada por la doctrinade mi país, en la cual me he ali-mentado y me he formado,como la mayoría de los queestamos en este auditorio.

Todos nosotros somosdeudores de la enseñanza denuestros maestros y padres his-tóricos del Derecho agrario. En-tre los que me escuchan, estáncolegas pertenecientes a las dosmás importantes familias yconcepciones del Derecho: Ci-vil law y Common law. Mecomprenderán mejor los de laprimera familia, aunque noquiero olvidar el aporte (sobretodo en los últimos tiempos) quehan dado y están dando los ju-ristas del Common law, aldesarrollo del Derecho agrariocomo ciencia jurídica en sus aspec-tos generales. Indudable-mente,estamos en una fase de integraciónentre sistemas jurídicos.

No sé si tendré suficientetiempo para hacer observacionesy tratar sobre la actual fase de losestudios de Derecho agrario com-parado, me parece correctosubrayar que ya existen signos evi-dentes y tangibles del fenómenode �osmosis� entre juristas proce-dentes de diversas familias jurídi-cas, produciéndose un granenriquecimiento recíproco.

El Derecho agrario comociencia jurídica, aunque se con-sidere no existente en algunosPaíses (es decir, que no se haproducido oficialmente sunacimiento) (como por ejemplo

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en Grecia, Canadá, Marruecos oJapón: para citar continentes di-versos y tan lejos entre sí!), o noha sido introducido comomateria, con la dignidad que lecorrespondería, en las Facultadesde derecho (como por ejemploaquí en España, con la únicaexcepción de la Universidad deLa Rioja; en Francia se encuentrasobre todo en el Posgrado), perolo cierto es que el Derechoagrario, para la mayoría denosotros, se acerca a los cienaños. Si es casi centenario; y, porlo tanto, es muy normal que unadisciplina avanzada en los años,comience a interrogarse sobre supropio pasado, pero, sobre todo,con relación a sustransformaciones de contenido ysu propia evolución dogmáticahacia el futuro.

Uno de los primeros que seha puesto a reflexionar en unsentido histórico evolutivo sobreestos temas (si bien recuerdo,porque no quiero olvidarninguno) fue Michele Giorgianni,en la década de los sesenta, enun famoso estudio que hoy díaes un clásico, intitulado Elderecho agrario entre el pasadoy el porvenir. A este aporte, lesiguieron otros brillantes autores,entre los cuales en primer lugarPaolo Grossi y Natalino Irtiquienes trataron sobre el

nacimiento de nuestra disciplinay sobre las dos Escuelas delderecho agrario.

Periódicamente, el tema delos nuevos contenidos y del mé-todo de estudio del Derechoemerge notablemente (en Italia,y más en general en Europa, cadadiez - quince años): recuerdoúltimamente, por orden detiempo, el Congreso de Pisa de1985, cuyas memorias contienenla relación magistral de AgustínLuna Serrano. En aquellaocasión se trató y discutió sobre��Métodos y contenidos delDerecho agrario moderno�(Giuffrè, Milano, 1986). Si bienel mérito organizativo y logísticode este Evento, por una serie decircunstancias favorablescorrespondió al suscrito, elverdadero inspirador y artífice deesta �nueva� reflexión sobre elstatus del Derecho agrario fue An-tonio Carrozza. En efecto, el pro-pulsor de la �relectura científica�de todo el Derecho agrario, connotables reflexiones sobre ladogmática agrarista, fue AntonioCarrozza, desde principio de losaños �70 en su libro Problemigenerali e profili di qualificazionedel diritto agrario ( Giuffrè, Milano).

Algunos años antes, el ilus-tre Maestro de todos nosotros,advertía la necesidad de un

reexámen completo delcontenido del Derecho agrario yadvertía la necesidad de re-ela-borar la doctrina agrarista(dogmática) a la luz de una nuevavisión critica. Fue en ese momen-to que Él enunció la famosateoría que los alumnos llamamosdel �Ciclo biológico� o de la�Agrariedad�, la cual todavía hoy,como en aquellos años, si bienencuentra algunas criticasresiduales animadas con unespíritu polémico y constructivoque enriquece el debate, debodecir que al transcurrir de losaños ha sido siempre divulgada,conocida y cada día mas apreci-ada y aceptada también en opor-tunas sedes, por el legislador degrandes Países, hasta llegar a laley francesa No.88 de 1988 yposteriores modificaciones has-ta hoy, que la ha acogido inte-gralmente; circunstancia ésta quesignificó para el Prof. Carrozza elreconocimiento de la �LaureaHonoris Causa�, por parte de laUniversidad de Nantes

En los últimos años,también en Italia, se inspiraronen esta teoría varias leyesespeciales: sobre acuicultura,sobre el cultivo de hongos (setas)aun cuando sean producidos eninvernaderos sin tierra, sobre lacrianza de ciertos animales(perros, caballos, etc.).

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No cabe duda que en elmarco del Derecho agrario y desu dogmática el genio de Anto-nio Carrozza ha traído unaoleada de novedades quecontribuyo de maneradeterminante en lacaracterización y el desarrolloulterior de nuestra disciplina.

En aquellos años (y no sonmuchos para quienes tienen lastemples grises... era el año1986) fui invitadoacompañando a mi Maestro, enColombia, ciudad de Cartagenade Indias a un Seminario inter-nacional sobre �Evolución delDerecho agrario en Europa yAmérica latina�, junto al cole-ga y amigo Ricardo Zeledón,donde por primera vez hemoshablado del nacimiento delDerecho agrario �moderno� yde �Internacionalización� delDerecho agrario (no se hablabatodavía de globalización) con laanuencia de Carrozza: enefecto, en esa misma época, aEl le agradaba repetir continu-amente en sus lecciones yhablaba del �derecho agrarioque no se encuentra todavía enlos libros� y se refería al �obje-to del derecho agrario y susnuevos confines�. El objeto es,efectivamente, el contenido dela disciplina que nos ocupa.

Carrozza estaba preocupa-do y a su vez complacido; preo-cupado porque desaparecíaninstitutos clásicos que habíanconformado la historia delderecho agrario (por ejemplo, loscontratos de aparcería, o las co-operativas agrícolas, etc.) era unespectador atento y palpitantepor su temor a la reducción delespacio de los contenidos quesiempre habían sido considera-dos típicos del derecho agrario(por ejemplo en Italia se asistía ala reducción de todos los contra-tos agrarios al esquema delarrendamiento de fundos rústi-cos, perdiéndose la pluralidad deestos contratos por la cancelaciónlegislativa de muchos esquemastradicionales). Ad abundantiamañadiré que también el capítulodel crédito agrario y fundiario,prácticamente ha desaparecidode los manuales luego de lareciente reforma italiana del sis-tema bancario que ha dejado�neutro� todo tipo de crédito, demanera que el crédito agrario haperdido su especificidad. Y losejemplos podrían continuar...

Al mismo tiempoCarrozza, con muchaanticipación respecto a otros co-legas agraristas, se mostrabacomplacido en la exploración denuevos espacios; y estimuladoa re-diseñar los confines del

derecho agrario individualizandoel núcleo central de su objeto ycontenido, poniendo de relievelos nuevos �objetos� o�materiales de estudio�,expresión esta última que usópara referirse por primera vez alderecho agro-ambiental. Ensuma, como Él decía en muchasoportunidades, en cierto modo�... el derecho agrario debe serreescrito�. Ello no significa, ab-solutamente, que todo elpatrimonio del pasado deba serdesechado, como algunos juris-tas un poco superficiales podríansugerirlo: si así fuese �... secorrería el riesgo de desechar,con el agua sucia, también elniño!, que es una expresiónpropia de mi País.

Con su muerte nos hadejado prematuramente cuandoestaba en pleno explandor inte-lectual y en medio camino desus reflexiones innovadoras.

Pese a ello, formados porSu enseñanza, nosotros alumnosy herederos suyos, que hoy tra-tamos de seguir Su testimonio ensu adorada Universidad de Pisa,estamos perfectamente consci-entes que se ha abierto unanueva era muy compleja y difícilde describir y sistematizar (seacomo cultores, sea comoenseñantes universitarios), pero

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al mismo tiempo estamos segu-ros de que los mejores resulta-dos se obtendrán buscando, enprimer lugar, luces sobre loscontenidos nuevos de la discipli-na. Es decir, los �objetos�!. Y, almismo tiempo, aplicando aquelmétodo de investigación y declasificación, no para ladisgregación del derecho agrarioo que evidencie la falta de ins-trumentos frente a los nuevosescenarios mundiales yglobalizados (lo que significaríalimitarse a declarar la muerte dela disciplina agrarista por causade nuestra negligencia, culpa, oincapacidad) sino que nosconduzca a una constructivaconsolidación, aunque seanecesario renovar las bases deledificio del derecho agrario.

Todos los presupuestosexisten para enfrentarse a nuevasrealidades, no solo a mi modo dever el problema, sino de la granmayoría de los colegas agraristasaquí presentes, con quienes hetenido la oportunidad de consul-tar y compartir en muchas ocasi-ones. Esta certeza en el corazónme fortalece en las ideas quequiero exponer a continuación.

2.

El carácter �anfibio delderecho agrario entre lo publico

y lo privado. Algunas reflexionessobre el �derecho agrario priva-do� y sus institutos

Uno de los aspectos quedebemos dejar fundamental-mente muy claro es que elderecho agrario mantiene validasrazones de su existencia comorama del derecho. Nuestroderecho manifiesta cada día massu carácter �anfibio�, es decir,dotado en parte de elementosdel derecho privado y, en parte,de elementos del derecho publi-co. Para los juristas occidentalesdel civil law, es decir de matrizlatina, es notorio que el derechoagrario nació dentro del derechocivil y, paulatinamente, ha adqui-rido su propia �especificidad� ysu �autonomía�, que justamenteha sido definida con una ciertarelatividad porque se trata de unaautonomía que nunca ha sidoabsoluta.

En efecto, tan solo para darun ejemplo, la categoría de loscontratos agrarios tiene suespacio dentro de la teoría ge-neral del contrato, cuyos esque-mas y metodología deinvestigación se aplican tambiénal contrato agrario, aunque, porsu parte, el contrato agrario re-viste indudables característicaspropias. Así, los conceptos decausa, de duración, los proble-

mas de la forma contractual, etc.,son elementos del negocio jurí-dico aplicables siempre.

Otro caso: el institutoagrario de la propiedad fundiariaque evolucionó en el de lapropiedad agraria, con todas lasespecificaciones consecuentes ala aceptación de la teoría deSalvatore Pugliatti (sobre lamultiplicidad de las propiedades:y la propiedad �agraria� es unade estas!). El �nuevo� instituto dela propiedad agraria encuentrasus raíces en el derecho privado,aunque se haya destacado bas-tante del derecho civil en senti-do estricto.

Lo mismo ocurre a propó-sito del instituto del trabajo agrí-cola, capítulo no menos impor-tante del derecho agrario, seaque se trate de trabajo subordi-nado (peones, obreros yempleados de la agricultura) seaque se trate, especialmente, detrabajo autónomo, el cual seidentifica (o casi) con el institutode la empresa (en este casoagraria).

Ahora bien, el contratoagrario, la propiedad agraria, eltrabajo agrícola, la empresaagraria, etc., son institutos típicosy calificativos del derecho agrarioprivado, pero debemos subrayar

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que si el contrato y la propiedadson temas del derecho civil, eltrabajo subordinado y la empre-sa son el objeto especifico delderecho del trabajo y delderecho comercial, y por lo tan-to fuera del derecho civil.

Reconozco que elconcepto de empresa comoactividad productiva es típica delordenamiento jurídico italiano.Pero, aunque sea típico delderecho italiano, este concepto�de hecho� ha sido exportado yadoptado también por aquellosPaíses que siguen fundando suscódigos, en algunos casos vetus-tos, sobre la teoría de los actosde comercio: la doctrina en estoPaíses, y también lajurisprudencia, utilizan cada díamás conceptos como los deexplotación, explotatión, empre-sa, entreprise, hacienda, y asísucesivamente.

Todos estos grandes temasdel derecho agrario, y otros queintencionalmente no mencionoen esta sede, constituyen todavíahoy el núcleo central del derechoagrario privado. (Podría agregarel tema del estudio del productoagrícola, pero prefieromencionarlo en un momentosucesivo). Se trata de aspectosque la doctrina, que indaga yconstruye la �dogmática�, consi-

dera perfiles del derecho priva-do, todavía hoy temas de granvalidez y actualidad.

Señalado este primerpunto, aún imprescindible (porlo menos a mi modo de ver),debemos inmediatamente ycontemporáneamente evidenci-ar que la naturaleza que hemosllamado �anfibia� del derechoagrario, presenta también unaversión de derecho publico, detrascendental importancia (comolas dos caras de la mismamedalla). Máxime que en estemomento se tiene la impresión,por una cantidad de razonescontingentes (ambientalismo,globalismo, internacionalizaciónde los mercados, etc.), que estaversión �publicista� esté abarcan-do espacios cada vez mayores,dejando un poco en la sombrala hermana �privatista�.

3.

Sigue: El derecho agrarioen sus perfiles�publicistas�.

Los argumentos a favor deuna supuesta �publicización� delderecho agrario, desde hace variosanos, son muchos y variados. Enparticular en estos últimos tiempos,en los cuales el intercambio cien-tífico con los colegas docentes y

cultores publicistas se hace masestrecho y los fenómenos de�osmosis�, desde el derecho ad-ministrativo, en todas sus sub-áre-as, hasta el derecho agrario, sonmas frecuentes que en el pasado,pasado que ya nos había habitua-do al eclecticismo (basta pensar enel histórico capítulo de la reformaagraria o de las reformas agrarias!).

Igualmente se asiste a nu-merosos y siempre másfrecuentes aportes del derechointernacional público a través delas nuevas �fuentes� del derechoagrario, constituidas por los tra-tados (internacionales) entre Pa-íses de una misma área, sinotambién, mas frecuentemente,en el ámbito mundial.

El nuevo orden económicomundial - que, recordémolo, seencuentra in fieri porque aun nose ha formalizado y se asemeja aun magma volcánico enmovimiento- a hecho resurgir anuestra atención un tema muyarraigado a todos los �juristas -romanistas�, es decir el tema delas fuentes del derecho agrario,que parecía un poco relegado,con motivo, probablemente, dela continua especialización de lasmaterias y, específicamente, dela excesiva desmembración delas ramas del derecho.

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Los procesos económicosvigentes hoy dan a luz un nuevocuadro normativo de referenciaque está cambiando nuestros an-teriores esquemas, es decir, losesquemas habituales deliusagrarista. Existe un nuevopluralismo de las fuentes delderecho (basta pensar enaquellas internacionales, enaquellas comunitarias y enaquellas que siguen siendo inter-nas a los Estados) que haproducido una indudable ola re-volucionaria de la mismajerarquía de las fuentes. Existeun desorden normativo difusoporque en muchos casospareciera que también los códi-gos civiles no valgan mas ytambién pareciera que hasta lasConstituciones de los Estados nosean suficientes y pierden su va-lor (Jannarelli), degradadosjerárquicamente por unanormativa globalizada y por lasreglas del mercado mundial.

El agrarista, más que en elpasado (pero, en todo caso, conmenos traumas que el �civilistapuro�), está hoy día obligado aponerse en relación y colaborarcon los juristas de otras discipli-nas, aumentando el eclecticismodel cual antes hablaba. E leclecticismo debemosentenderlo también fuera delcampo del derecho, si queremos

dominar la realidad fenoménica:por lo tanto, tenemos queextender la colaboración hastalos marcos científicos de los eco-nomistas, de los politólogos, delos geógrafos, de los arquitectos(ambientalistas y paisajistas), delos sociólogos, de los agrónomos,etc., sin tener miedo - como notuvieron miedo ni Bolla niCarrozza - de contaminar el mitode la pureza del derecho. Meagrada citar aquí entre los cole-gas y Maestros que compartenesta nueva línea, sobre todo alamigo Luis Lorvellec, ...y natural-mente otros, en mi País comoAntonio Jannarelli y, el gran his-tórico florentino del derecho,Paolo Grossi, el cual, por primeravez, afronto estos problemas. Portanto, poniendo como base lanueva realidad económico - ju-rídica, es decir, partiendo de loespecífico nuevo, debemos llegarhasta la Teoría general, hasta ladogmática agrarista de hoy quees el umbral del tercer milenio:Todo esto, a mi juicio, se podráalcanzar cuidando, como untesoro, nuestro patrimonio gené-tico, el D.N.A. de todos nosotrosjuristas.

Los politólogos y econo-mistas subrayan la existencia deuna notable diversidad deldesarrollo o gradualidad distintade desarrollo entre los muchos

Países de las distintas áreas delmundo; es decir, entre el norte yel sur del globo terrestre, perotambién entre este y oeste. En lamisma Europa el derecho agrariose presenta, por así decir,�pluralísta�, sobre todo desde laóptica de la doctrina, quetambién presenta ángulos diver-sos y perspectivas distintas entrenosotros los agraristas. (Porejemplo, los franceses son máspragmáticos, los italianos másdogmáticos o teorizantes, los in-gleses con sus características, y asílos españoles, los alemanes,etc.!). Pese a ello, el Derecho�comunitario� esta atravesandoy permeando de modo uniformetodos los ordenamientosnacionales de los Paísesmiembros, emanando cotidiana-mente paquetes poco orgánicosde normas (en Costa Rica se diría�combos�) elaboradas por losorganismos de la Unión Europea.

En un Congreso pisano so-bre �Introducción al estudio delderecho agrario comunitario�(mayo, 1992) se puso de relieve,de manera muy clara, que en elderecho comunitario, y nosolamente en su parte agrarista,están casi ausentes (rectius,parecen ser ausentes) los institu-tos considerados en su sentidoclásico y tradicional. Creo queesto, en gran parte, se debe,

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primeramente, a la gran afluenciaen escena de conceptos yprincipios de carácterecónomico-mercantilista (consus propias nociones, quecuando existen son obviamentepoco jurídicas) consecuentes conla gran atención que se ha puestosobre las leyes del mercado (enel ámbito de la Unión Europea yde las negociaciones de libre co-mercio del GATT); en segundolugar, los institutos están ausen-tes, con motivo de loscompromisos que operan en elámbito de política comunitariaentre institutos del civil law e ins-titutos del common law, enmuchos casos creando untercium genus, híbrido, que nosatisface a los juristas de estasgrandes familias del derecho:basta pensar en la figura (o insti-tuto) del set aside (obligación deno cultivar y producir) o enaquella de las cuotas lecheras, opensar en la normativacomunitaria que implicaría dejarciertas producciones típicastradicionales o bien que no sefacilite su comercio (pienso en laproducción de quesos franceseshechos basándose en lechecruda, o bien, en algunos alimen-tos agrícolas italianos preparadosdesde hace siglos con sistemastradicionales). Estos problemas sesolucionan produciéndose uncirculo vicioso.

En la parte del derechoagrario que llamamos público,además, tenemos que conside-rar que en mi País, Italia, con laactuación del ordenamiento re-gional y luego con la abolicióndel Ministerio de la Agriculturacambió todo el mapa (elorganigrama) de las competen-cias de la administración publi-ca encargada del Gobierno dela agricultura (Organos públi-cos). También en España, las Co-munidades autónomas presen-tan el mismo fenómeno dedescentralización administrativay política: me corresponde, porotra parte, añadir que ladescentralización de los pode-res, que siempre se presentacomo la panacea para resolvertodos los problemas y los males,sobre todo en el sector agrícola,puede conducir a un exceso denormativas de difícil encua-dramiento y clasificación. Entodo caso, en Italia, las Regionesno tienen competencia para le-gislar, directamente, sobre as-pectos que afectan los derechossubjetivos de los ciudadanos. Elcaso español es distinto; asícomo el alemán.

Considerando que estamosen un Congreso Mundial de laU.M.A.U. debe recordarse quelas novedades en el sectorpublicista, si son grandes y evi-

dentes en todos los Estados, loson todavía mas profundas en losEstados ex-socialistas, en loscuales han sido demolidas, com-pletamente, las estructuras deviejos aparatos administrativos,pero no han sido hasta hoyresueltos los graves problemas dela innovación (pienso sobre todoen los amigos y colegas rusos!):en estos casos hablar dedesregulación es un puro eu-femismo!

Es seguro que losordenamientos jurídicos, los ju-ristas y, por consiguiente,nosotros jusagraristas, debemosresponder al desafío global yconducir a la agricultura y suordenamiento jurídico al nivel delos problemas que nos presentaun futuro que ya ha comenzado,porque el �mercado globalizado�requiere de reglas comunes. Paralograr eficazmente este objetivo,debemos valorizar mas elderecho comparado y, particular-mente, en nuestro caso, elfortalecimiento y la enseñanzadel derecho agrario comparado,buscando solucionesmetodológicas comunes. De esamanera lograremos ventajas se-guras a favor de la dogmáticaagrarista y, consecuentemente, afavor de nuestra enseñanzauniversitaria como docentes.

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Después de este diagnósti-co de la situación actual delderecho agrario, y no sinexcusarme con todos Ustedespor la apresurada y, ciertamente,incompleta panorámica de losproblemas de la dogmática denuestra disciplina, siendo eltiempo tirano, me hago lapregunta: ¿cómo enfrentar eldesafío dogmático ymetodológico que nos espera?.

Personalmente, como lohabrán entendido, prefieroenfrentarme a �lo moderno�conservando, en cuanto seaposible, el uso del instrumentaljurídico (como diría un conser-vador iluminado) que ha dadobuen resultado y que no me pa-rece necesario desechar toutcourt, apriorísticamente, ennombre de la manía de lo nuevoo del modernismo a toda costa.

Enseguida daré soloalgunas indicaciones de mi mo-desto modo de ver las cosas, notanto para demoler todo y luegoreconstruir ex novo la dogmáticaagrarista, sino para �modernizar�donde sea necesario (tambiénprofundamente) nuestra materiacomo ciencia jurídica.

4.

Importancia del hechopolítico y del hecho técnicocomo elementos básicos delmétodo jurídicoiusagrarista: as fuentespotencialmente normativassegún el pensamiento deAntonio Carrozza.

El tema de las �fuentes�sigue siendo también en elderecho agrario el punto de par-tida sea de la construcción cien-tífica, sea de la actividaddidáctica. Las fuentes ocupan elcapitulo primero de cualquierManual de derecho agrario. Con-siderando esto, el contenido�nuevo�, hoy día, coloca al estu-dioso delante de una realidadnormativa que es consecuenciade la evolución de la realidadpolítica y económico-social (re-cordamos que los Padres delderecho agrario hablaban de lo�real� y de lo �factual�, valorizan-do la economía).

La gran mayoría de lanormativa más reciente que mo-difica el derecho agrario (utilizointencionalmente el termino ge-nérico �normativa� para nodetenerme en las distintastipologías: leyes, reglamentoscomunitarios, tratados, acuerdos,declaraciones, etc) pone alexegeta de frente al llamado

�hecho político� que AntonioCarrozza ya en los anos 1970/71había indicado, paralelamente al�hecho técnico�, como los doselementos básicos de calificacióndel derecho agrario.

El hecho político fue indi-cado por Carrozza como el alamarchante del derecho agrario,mientras que el hecho técnicoconstituye el núcleo esencial máspermanente.

La adopción de políticas yde estrategias nuevas en la agri-cultura, últimamente, ha puestola atención en todos los Paísessobre la �producción� (como re-sultado de la actividad agraria) ylas modalidades de laproducción misma, pero sobretodo se centra la atención en latransformación de los productosagrícolas, en los mercados de losproductos de la agricultura, en laproblemática jurídica de laalimentación, en la tutela bioló-gica y ambiental, hasta la tuteladel ciudadano como consumidorfinal y beneficiario de losservicios nuevos ofrecidos por laagricultura a la sociedad (auncuando se deba pagar por ello).

Este perfil del derechoagrario moderno, que me permi-to denominar �mercantilista�,por un lado, renueva cierto

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interés por el concepto dederecho de la economía, del cualse ha hablado mucho en mi Paísen los anos �60 y �70 y que enpoco tiempo ha caído en el olvi-do (recuerdo la creación de unaCátedra a finales de la década de1970, del Profesor Mario Longoen la Universidad de Torino); porotro lado, este perfilmercantilista, subraya algunosaspectos de la época actual quevive el derecho agrario y, en par-ticular tres aspectos:

1° punto. La atención porel mercado trae comoconsecuencia la valorización, obien, le da mayor importancia alas actividades conexas que a lasfases de la actividad decultivación y crianza (que vandesde el nacimiento de la empre-sa agrícola hasta la cosecha de losproductos). Noto una cierta�mortificación científica� de lasllamadas actividades agrícolasprimarias o agrícolas en sí mismas(es decir ex se, como afirmabanE. Bassanelli, Romagnoli yCarrozza).

2° punto. Esta visiónmarcadamente mercantilistaacerca el derecho agrario haciael derecho comercial (o mercan-til e industrial), sobre todo si con-sideramos, además del perfil dela venta de los productos agríco-

las, muchas veces transformados,el gran rol que asumió el perfilnormativo (aduanas, aranceles,incentivos, etc) para la fijación deprecios de los productos enlos mercados regionales ointernacionales.

La búsqueda y la adopciónde formulas asociativas para latransformación, a costos másbajos y para la comercializaciónde los productos así elaborados,que contienen un auspiciadovalor añadido respecto alproducto agrícola originario (seavegetal o animal), confirman queel camino de alejamiento delderecho agrario parece dirigirse,paulatinamente, hacia la costadel derecho comercial (que essiempre derecho privado!). Lainscripción en un registro deempresas agrícolas, hoy díaobligatorio para ser empresario-actor y para gozar de losbeneficios comunitarios; laobligación de llevar contabilida-des (solo por ejemplo, en laproducción de aceite de oliva, devino, etc.) que antes no estabaprevista; el instituto de la quiebracon referencia a las empresasagrícolas comienza a surgir en lalegislación de algunos Estados.Todos estos ejemplos, entre otros,son síntomas de un cambio enlos institutos tradicionales delderecho agrario.

3° punto. Es prácticamenteun corolario de los dos primeros!Si es justo que se hable muchodel mercado de los productosagrícolas, una seria reflexión yuna seria profundización seimpone sobre el concepto y lanoción jurídica de productoagrícola. Se sigue utilizando re-petidamente esta expresión demanera acrítica, pero faltanestudios profundizados ad hoc;es decir, me parece que ladogmática agrarista haprácticamente olvidado, concierta responsabilidad, este argu-mento que, por el contrario,debería ser consideradointeresante tanto por el civilista(de los frutos hasta los productos),como por el comercialista enrelación con los fines de la em-presa (�bienes-productos� y�servicios�), pero sobretodotambién debería interesar anosotros los agraristas (para unateoría de los productos vegetalesy los productos zootécnicos).Los estudios civilistas sobre los�frutos de las cosas� son unpatrimonio jurídico ya adquiridoe indiscutible, pero si los consi-deramos con relación a laactividad empresarial agrícolason insuficientes, porque no sevaloriza adecuadamente lagestión de la empresa y no seconsidera, en absoluto, laactividad agraria.

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Prosiguiendo en lareflexión sobre este punto (y loharemos, con mayorprofundidad, en otra ocasión) notenemos que olvidar que�producto� es una palabra oexpresión que forma parte delléxico económico y delmarketing, mas que del derechocivil!.

Es importante y, yo diría,fundamental que hoy la doctrinaagrarista se ocupe del productoagrícola, considerando que eneste momento le corresponde ellugar de un capitulo central denuestra disciplina. Sin embargo,estoy convencido que tambiénpara el derecho comunitarioeuropeo y para la política agrí-cola comunitaria (P.A.C.) el mar-co de todo el cuadro (la cornisa)es la empresa. (Así también JoséM. De La Cuesta, en Pisa!). Y enesta dirección tenemos quedesarrollar, en el futuro, laprofundización del estudio denuestra disciplina, que debe serconsiderada en su núcleo esencialcomo el derecho de laproducción agrícola, producciónque consiste en seres vivientesanimales o vegetales.

En suma, viejos y nuevosinstitutos deben ser tratados so-bre el mismo plano, consideran-do sus distintos roles sistemáticos,

y con igual dignidad. Por lo tan-to, me corresponde subrayar contranquilidad que tienen el mismoderecho de asilo, dentro del ob-jeto del derecho agrario, tanto losfactores publicistas, comoaquellos referidos al cuadroprivatista de la empresa.

Ahora nos ocuparemosbrevemente del hecho técnico,que constituye según elpensamiento de Carrozza unfactor que estimula y condicionatoda la normativa agrarista,debiendo ser considerado nocomo tal, en sí mismo, sino, me-diante la intermediación de lasfuentes jurídicas, es decir, pormedio de su �juridización� quelo incorpora dentro de las nor-mas. En efecto, la agronomía yla ciencia biológica, en general,con sus ciclos, con sus riesgos ycon sus leyes naturales (es decirel hecho técnico) constituyen unprius respecto al derecho, sonfuentes pre-jurídicas o meta-ju-rídicas que no tienen por símismas un valor normativo, sinoque lo adquieren mediante laemanación del derecho positivo(Lo mismo ocurrió con elDerecho marítimo en el pasadoy hoy, me parece, que sucedacon la materia ambiental).

En tal propósito, decíacasi textualmente Carrozza

(traduciendo sus palabras) que:�Se debe rechazar el valorinmediatamente normativo delhecho técnico, y más en generalde la naturaleza de los hechos yde las cosas, aún admitiendo lanecesidad de incluir (en un sen-tido amplísimo e impropio) lafuerza normativa de los hechosy de las cosas, entre los elemen-tos que concurren a producir elderecho agrario�. Es claro queaquí Carrozza se refería sobretodo a la fase de la producción,o de la crianza, como Él lallamaba, más que a la fase delmercado (fase del mercado que-como antes indicaba- a mimodo de ver es más neutra ymenos agrarista)

Por otra parte, yaprovechando de su paciencia,queridos colegas y amigoscongresistas, quiero subrayar queen mi criterio personal (conside-rando modestamente el valor demi pensamiento) debe ponersede relieve, en cuanto al hechotécnico, que no solo vale la par-ticular naturaleza de los bienes(seres vivientes animales ovegetales, según Carrozza), o dela tierra misma (para los colegasmás �tradicionales�) entendidacomo res frugifera, según Bolla,sino que en el centro de lareflexión está la manera deejercer la actividad empresarial,

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actividad de la cual estos bienesson los productos básicos.

En muchas oportunidadesla naturaleza ha estado relegadaa un segundo plano (bajo larazón política), y el juicio políti-co prevaleció sobre lotecnológico, de modo despro-porcionado, y en muchos casosel legislador y el economista hanelaborado normas agrariasdejando de lado al iusagrarista,que ha permanecido fuera de lapuerta, con insuficienteprotagonismo. La historia estállena de verdaderos fracasos, loscuales se han producidosucesivamente a políticas agrariasimpulsadas muchas veces pormotivos ideológicos!.

Si se fuerza demasiado, tar-de o temprano la naturaleza serevela! y luego, como ocurreactualmente, es necesariocontener las actividadesempresariales parando ladegradación o, en el peor de loscasos, se debe curar laenfermedad (como en el caso deldaño ambiental). Comoconsecuencia de lapreocupación generada por elmaltrato de la naturaleza(también en la agricultura), porun lado se comenzó a hablarmucho de producción biológica,de agricultura biológica y de

biotecnología, por otro lado haproducido un redescubrimientodel ambiente y de la necesidadde introducir políticas másrigurosas para la tutela de la saludy del medio ambiente. Pese atodo esto, para el derecho agrarioel capitulo fundamental siguesiendo la empresa, con todas susfunciones, poderes ylimitaciones.

Lo anterior permite afirmarque el hecho político y el hechotécnico, relacionado con lanaturaleza, son los dos pilaresfundamentales del derechoagrario.

La empresa agraria comoestructura, que consideramosarquitectónicamente la cornisade los institutos del derechoagrario, deberá renovarse,adaptarse y ampliarse,posiblemente también median-te la fusión de empresas existen-tes (por ejemplo, pasado de unaempresa unifamiliar a empresasplurifamiliares..., si se quiere máscapitalistas!). Lo que sí es ciertoes que el futuro corresponderá aaquellas empresas originadas porla iniciativa de los mismos agri-cultores, deseosos no tanto desobrevivir sino de prosperar enun sistema jurídicosupranacional, cada día más detipo neoliberal (del cual no se

deben excluir necesariascorrecciones, pero jamás basadoen un sistema planificado oimpuesto).

A la administración públi-ca nacional y supranacional lecorresponderá la tarea de remo-ver los obstáculos financieros,psicológicos, organizativos, buro-crático-administrativos, etc. y lecorresponderán tareas de incen-tivos diversos a favor de los agri-cultores, así como el control;pero, como he indicado, el puntomedular, la célula del sistemaagrícola sigue siendo el institutode la empresa agraria.

5. Derecho agrario, Etica,Naturaleza y Ambiente: �obje-tos� de la nueva óptica de estudiode la disciplina.

En su actual configuracióneste és el �nuevo� capitulo quese impone en la escena delderecho agrario, o rectius és elcapítulo que interesa mucho mastambién a nosotros los agraristas,pero en realidad no es exclusivode nuestra disciplina, con moti-vo de su interdisciplinariedad.

Todos nosotros conocemosque la ciencia de hoy día incidey controla mas que ayer lanaturaleza, y que sobre todo, elhombre desenvuelve una pene-

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trante acción en la evolución dela naturaleza (desde el paisajeque nos circunda, hasta lasmodificaciones de las especiesanimales) controlando o inten-tando experimentalmente decontrolar las leyes bioquímicasde la reproducción de lanaturaleza misma. Ha aumenta-do el poder de la acción huma-na de �cambiar� la naturaleza y,consecuentemente, ha aumenta-do la responsabilidad ética ymoral, antes que jurídica, delhombre y en nuestro caso,primeramente, del agricultor yposteriormente de todos aquellosque operan en el marco de laagricultura en sentido amplio(como espacio rural).

En la visión del mundooccidental (que yo obviamenteconozco mejor) la naturalezahasta hoy ha desenvuelto un rol�instrumental� para el hombre y,en consecuencia, todos los obje-tos que forman parte de lanaturaleza estaban a su servicio.En muchos casos el hombreabus-o de su utilidad.

Hoy los filósofos que seocupan de ética ambiental, ycomienzan a ocuparse de estotambién los filósofos del derecho,manifiestan, no tanto unainversión de tendencia, sino laintención de considerar la

naturaleza con un rango de va-lor en sí mismo, es decir, de unvalor moral autónomo, como sifuese transformada en un nuevo�sujeto filosófico�, abandonandola posición antropocentricaoccidental. Diremos,inmediatamente, que existenotras posiciones intermedias ymenos distanciadas, pero estareferencia sirve para demostrar yconfirmar que el debate científi-co existe y que es muy fuertetambién en las sedes pre-juridicas. En efecto, nuestra sedejurídica, nuestra óptica deiusagraristas no puede permitirsedejar de considerar la visión y laproblemática más general deltema natural-ambientalista.

Y debemos, si se quiere,preguntarnos (y digo estoprovocativamente) si después deafirmarse y consolidarse elpositivismo, estamos asistiendo auna revancha póstuma (o revival)del jusnaturalismo y a unareaparición del fantasma de UgoGrozio.

Desde el punto de vista sis-temático pienso que la dogmáticaagrarista, habiéndose enriquecidapor dos importantes temas entreellos convergentes, como lo sonla salud y el ambiente, debe abrirdos nuevos �recipientes� paraabrir espacio a estos nuevos �ob-

jetos�. Estos nuevos recipientes,a mi modo de ver, son 1) el agro-alimentario y 2) el espacio rural,es decir, las relaciones de la agri-cultura con el territorio.

La renovada y crecienteatención por el tema de la saludtambién por parte de laComunidad internacional (queen menor medida ya existía enlos países más desarrollados)obligan hoy día al cultor delderecho agrario a ocuparse yprofundizar sobre el tema de losproductos agrícolas alimentariosy no alimentarios, de la agricul-tura biológica y de los productosbiológicos, de la agroindustria, dela calidad de los productos, delas biotecnologias y de laingeniería genética (que será tra-tado como argumento No. 2 deeste Congreso), de lasdenominaciones de origen ysellos verdes, de la tutela del con-sumidor, el cual constituye él ul-timo anillo de la cadena, captu-rando también el perfil de lapublicidad de ciertos productosprovenientes de la agricultura.(Este conjunto de argumentos in-tegra el derecho agroalimentarioque constituye parte del sistemaorgánico del derecho agrario).

Sobre el último punto re-cordado, la publicidad, meinteresa subrayar que después de

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un curso como profesor visitan-te impartido por nuestro Presi-dente de honor Luis Lorvellec enla Escuela Santa Ana de Pisa (y aél se atribuye el mérito) hemosiniciado una investigación confi-ada a la Doctora Alessandra DiLauro que esta evidenciandocomo los mensajes publicitarioscondicionan profundamente elconcepto que el consumidorretiene como �de calidad� y,también, inciden sobre su mismo�gusto�.

En Italia se está ejercitandouna política de los Organos com-petentes que, a varios niveles,con reglamentos ministeriales,normas regionales, circulares, yotras fuentes menores delderecho (...hasta llegar a los co-mités de las producciones -llamados en italiano disciplinari-) valorizan la cultura de las(antiguas o típicas) resetasculinarias y del gurmet, según lasdirectrices nutricionales que losexpertos y médicosnorteamericanos han llamadoDieta-mediterránea. Fórmulaque parece alargar la esperanzade vida!

Por consiguiente, todo esteinteresantísimo y fascinante ins-trumental jurídico yo loincorporaría bajo el marco o ca-pítulo de los �productos agríco-

las�, obviamente en la parte quees de nuestra competencia.

En conjunto con nuestroamigo Lorvellec, creemos que eltema de la interconexión y de laauxiliariedad entre empresas queparticipan en el procesoproductivo que desemboca en elmercado, debe modernamenteexaminarse según el criterio de la�filière� (o cadena productiva)como nuevo instituto del derechoagrario. Este instituto se basa encategorías de los productos (porejemplo, cadena de los cereales,cadena del aceite, cadena delcafé, etcétera). Agrego, a mi modode ver, que no es el mercado elque califica como �agrícola� unproducto, sino, por elcontrario,...es el producto agríco-la quien califica al mercadomismo, por naturaleza neutro, enun mercado de productos agrí-colas. Estoy seguro que los cole-gas Costato, Germanò y Ulate,mejor que mí, profundizarán estetema, sobre el cual el gran deba-te está abierto.

Para concluir, algunasconsideraciones sobre el espaciorural: sus relaciones con la nueva�ruralidad� y el desarrollo delterritorio. Aquí no cabe duda queel perfil publicista prevalece,también respecto a la centralidadde la empresa.

Al respecto, todos nosotroshemos sido participes deCongresos organizados por elComité Europeo de DerechoAgrario (CEDR) y otros congresosinternacionales enLatinoamérica, incluso de lamisma U.M.A.U. Será suficienterepasar las paginasfundamentales escritas por losmas destacados colegas en eltema ambiental, como C.Rodgers, J. Hudault, Delgado deMiguel, A. Abrami, L. Francario,J. Cabrera Medaglia y R. Zeledón,entre otros de Latinoamérica,que han sido pioneros y hanintroducido este tema bajo lareflexión de los agraristas.

Las políticas orientadas aldesarrollo rural sostenible y a latutela del territorio pasan a tra-vés del estudio y profundizacióndel derecho agroambiental. Enefecto, el derecho agrario estainteresado, como muchas otrasramas del derecho, en el estudioy aplicación de la normativadirigida a la protección del medioambiente. Se trata de normasjurídicas transversales que, enmayor o menor medida,interesan a todas las disciplinas,tanto en el plano interno comointernacional.

Me opongo, absolutamen-te, a identificar el derecho agrario

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con el derecho ambiental y, aúnmas, a considerar el derechoagrario como parte de loambiental, a lo cual nocorresponde, a mi modo de ver,una verdadera y autónoma ramadel derecho en sentido clásico(sobre este tema podremos,eventualmente, discutir en eldebate).

Esta parte del derechoagrario referida al ambiente comoespacio rural, desde el punto devista sistemático, sugiere lainclusión en este marco, enprimer lugar, del Derecho forestalen su mayor parte, y de otros ins-titutos derivados de laconcepción �plurifuncional� de laagricultura, es decir, la teoría delos servicios como productos agrí-colas sui generis (que la doctrinalatinoamericana llama serviciosambientales de la agricultura).

Dentro de esta nuevaconcepción de la agricultura ydel espacio rural tenemos queincluir el tema de la protecciónde bienes como el paisaje, losbosques, y otros bienesculturales, como podrían ser áre-as de mercados (en muchos paí-ses Arabes) y áreas arqueológicas,etc. También la figura jurídica (noes un instituto) del Set aside (esdecir obligación de no cultivar latierra), típico de la Unión

Europea, pasó a ser un proble-ma del espacio rural.

Como se observa, los temasde la nueva dogmática agraristason muchisimos, en gran parteaún no resueltos. Termino aquí ymuchas gracias por escucharme.

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PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA PEQUENA

PROPRIEDADE RURAL

Ari Ferreira de Queiroz (*)

(*) Juiz de Direito, diretor do Foro da Comarca de Trindade, professor de Direito Constitucional da Universidade Católica deGoiás e da Escola Superior da Magistratura, doutorando em Direito Público pela Universidad del Museo Social Argentino, emBuenos Aires, e mestrando em Direito do Estado pela Universidade de Franca -SP.

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1.

Direito ou garantia fun-damental

A primeira referência cons-titucional ao direito de proprie-dade na Constituição em vigoraparece no art. 5º, caput, comoum consectário do princípio daigualdade, nos seguintes termos:�Todos são iguais perante a lei,sem distinção de qualquer natu-reza, garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentesno País a inviolabilidade do direi-to à vida, à liberdade, à igualda-de, à segurança e à propriedade,nos termos seguintes�. É possívelque a inserção da propriedadeno rol dos direitos fundamentaisencontre suas raízes na origemdos próprios direitos fundamen-tais, especialmente nos primeirostextos que começaram a reco-nhecer aos homens certos direi-tos hoje tão elementares, masque ao tempo em que se cogitaeram impensáveis. De fato, aMagna Carta, escrita em maio de1215 e efetivada em 1225, pelorei João Sem-Terra, embora dealcance restrito aos �homens li-vres�, reconheceu de forma ex-pressa o direito de ter bens, comose infere do art. 39: �Nenhumhomem livre será detido nem pre-so, nem despojado de seus direi-

tos nem dos seus bens, nem de-clarado fora da lei, nem exilado,nem prejudicada a sua posição dequalquer outra forma; tampoucoprocederemos com força contraele, nem mandaremos que ou-trem o faça, a não ser por um jul-gamento legal de seus pares epela lei do País�. Na mesma es-teira, mas ampliando o direitopara todos, a Declaração Funda-mental dos Direitos do Bom Povode Virgínia, de 1776, dizia: �Quetodos os homens são, por natu-reza, igualmente livres e indepen-dentes, e têm certos direitos ina-tos, dos quais quando entram emestado de sociedade, não podempor qualquer acordo privar oudespojar seus pósteros e que são:o gozo da vida e da liberdadecom meios de adquirir e possuira propriedade e de buscar e ob-ter felicidade e segurança�. Porconseguinte, aqui aparece de for-ma expressa a propriedade comosendo um direito inato, ou seja,um direito natural extensivo atodas as pessoas, independentede sua origem ou qualquer ou-tra condição. No Brasil, as cons-tituições pretéritas também cui-daram do direito de proprieda-de, nos seguintes termos:

Constituição de 1824: �Art. 179:A inviolabilidade dos direitos ci-vis e políticos dos cidadãos brasi-leiros, que tem por base a liber-

dade, a segurança individual e apropriedade, é garantida pelaConstituição do Império, pelamaneira seguinte�:

Constituição de 1891: �Art. 72.A Constituição assegura a brasi-leiros e a estrangeiros residentesno País a inviolabilidade dos di-reitos concernentes à liberdade,à segurança individual e à propri-edade, nos termos seguintes�:

Constituição de 1934: �Art. 113.A Constituição assegura a brasi-leiros e estrangeiros o direito à li-berdade, à subsistência, à segu-rança individual e à propriedade,nos termos seguintes�:

Constituição de 1937: �Art. 122.A Constituição assegura a brasi-leiros e estrangeiros residentes noPaís o direito à liberdade, à sub-sistência, à segurança individuale à propriedade, nos seguintestermos�:

Constituição de 1946: �Art. 141,§ 1º. A Constituição assegura abrasileiros e estrangeiros residen-tes no País a inviolabilidade dosdireitos concernentes à vida, à li-berdade, à subsistência, à segu-rança individual e à propriedade,nos seguintes termos�:

Constituição de 1967: �Art. 150,§ 1º. A Constituição assegura a

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brasileiros e estrangeiros residen-tes no País a inviolabilidade dosdireitos concernentes à vida, à li-berdade, à subsistência, à segu-rança individual e à propriedade,nos seguintes termos�:

Constituição de 1969: �Art.153, § 1º. A Constituição asse-gura a brasileiros e estrangeirosresidentes no País ainviolabilidade dos direitosconcernentes à vida, à liberda-de, à subsistência, à segurançaindividual e à propriedade, nosseguintes termos�:

Todos os dispositivos men-cionados cuidam dos direitos egarantias fundamentais, sendo osequivalentes respectivos do art.5º da atual Constituição. Ne-nhum deles, porém, enfrentou aquestão, que ainda hoje continuapendente, de saber se a proprie-dade é direito ou garantia fun-damental. Aliás, fazer a distinçãoentre direitos e garantias funda-mentais é tema que ainda des-perta alguns debates entre os es-tudiosos, a exemplo de Rui, paraquem os primeiros se caracteri-zam por serem normas mera-mente dispositivas, ao passo queas garantias seriam disposiçõesassecuratórias. No tocante à pro-

priedade, a discussão tem rele-vo em face da redação do art.5º, caput1, que se refere à garan-tia do direito de propriedade, eao seu inciso XXII, que tem dis-posição assecuratória clássica,usando o termo �é assegurado2�para se referir ao que não é, efe-tivamente, uma garantia, mas,sim, um direito. De fato, não segarante o direito de proprieda-de simplesmente dizendo que �éassegurado�. A dicção do dispo-sitivo traduz inequivocamente osimples reconhecimento de queao homem, entre tantos outrosdireitos fundamentais, o Estadolhes reconhece também o depropriedade por ser inerente àsua natureza. Embora não possaser desprezada a liçãobarbosiana, é certo que há níti-da distinção entre os direitos egarantias fundamentais, mas quenão podem ser resolvidas sim-plesmente pela forma como seencontram redigidos os respec-tivos textos. Há, pois, disposiçõesconstitucionais escritas como sefossem assecuratórias, que naverdade traduzem simples direi-tos, enquanto há outras que, adespeito de afirmarem um direi-to, normas definem, efetivamen-te, garantias fundamentais. Emsuporte do que pretendo escla-

recer, trago a lume dois disposi-tivos constitucionais, ambos doart. 5º:

Inciso XXXIV: �são a todosassegurados, independentemen-te do pagamento de taxas: a) odireito de petição aos poderespúblicos em defesa de direitos oucontra ilegalidade ou abuso depoder; b) a obtenção de certi-dões em repartições públicas,para defesa de direitos e escla-recimento de situações de inte-resse pessoal�;

Inciso XXVIII - são assegu-rados, nos termos da lei: a) a pro-teção às participações individu-ais em obras coletivas e à repro-dução da imagem e voz huma-nas, inclusive nas atividadesdesportivas; b) o direito de fisca-lização do aproveitamento eco-nômico das obras que criarem oude que participarem aos criado-res, aos intérpretes e às respecti-vas representações sindicais eassociativas.

A alínea �a� do primeirodispositivo cogita do �direito depetição� e o segundo assegura odireito de fiscalização do apro-veitamento econômico de obrasintelectuais. Seria o primeiro, de

1 Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidadedo direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:2 �é garantido o direito de propriedade�;

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fato, um direito, enquanto o se-gundo seria uma garantia? A res-posta é negativa para ambos,porque não tem nenhum o valordo direito de petição se não forpara a defesa de direitos ou con-tra ilegalidade ou abuso de po-der, enquanto que o direito defiscalizar não é direito, mas a ga-rantia de um direito. Fiscaliza-separa ter certeza de que o direitosobre a obra intelectual está sen-do respeitado. Enfim, podem serapontadas as seguintes distinçõesentre os direitos e garantias fun-damentais:

a) os direitos se refletem pelasdisposições meramentedeclaratórias contidas no tex-to constitucional. Como nor-mas, existem independente-mente de garantias. Assim, édireito de todos ter uma Ad-ministração Pública que res-peite as leis e as instituições doEstado;

b) as garantias refletem disposi-ções assecuratórias do mesmotexto, e só se justificam emface da potencialidade de des-respeito aos direitos. Assim, sea Administração Pública, porseus agentes, não respeita asleis ou as instituições do Esta-do e lesa direitos individuais,o lesado pode, para restaurarseu direito, valer-se da garan-tia do mandado de segurança;

c) nem sempre os direitos e asgarantias se expressam por dis-positivos próprios, sendo atécomum estarem confundidosnum mesmo dispositivo legal.De qualquer forma, pode-seafirmar que as garantias ou di-reitos são as prerrogativas quetêm o indivíduo em face doEstado e se lhe assentam numnon facere, isto é, são limita-ções impostas aos governantesem beneficio das pessoas, osverdadeiros destinatários detais garantias e direitos;

d) todo o rol do art. 5º é, em es-sência, de direitos individuaisou coletivos, porque as garan-tias também são direitos fun-damentais;

e) todavia, alguns destes direitosservem para dar eficácia a ou-tros, por isso são mais que di-reitos, são garantias;

f) outros, por fim, por represen-tarem verdadeiros dogmasconstitucionais direcionadoresde toda atividade pública, sãomais que direitos e garantias,são mesmo princípios, comoo contraditório, a ampla defe-sa, a presunção de inocência,o devido processo legal e o juiznatural.

É claro, pois, que a propri-edade em si não é garantia, mas

apenas um direito fundamental,para cuja proteção são destina-das certas garantias, como aimpenhorabilidade daquela quefor considerada pequena, por lei,ou a certeza de que a desapro-priação somente será admitidaquando se fundar em critérios denecessidade ou utilidade públi-ca, ou interesse social, sempremediante procedimento contra-ditório com ampla defesa, e coma garantia da justa e prévia inde-nização em dinheiro, ressalvadosapenas os casos previstos na pró-pria Constituição e que mais adi-ante abordarei.

2 .

Pequena propriedade rurale sua proteção

2.1 - Noções

Em pelo menos dois dispo-sitivos constitucionais há expres-sa referência à pequena propri-edade rural, ambos remetendoà lei ordinária a tarefa deexplicitar o que se entendercomo tal. Seria o imóvel comárea menor que 10 hectares? Ouseria aquele com área de até ummódulo? Se fosse esta a respos-ta, outra pergunta deveria ser for-mulada: o que se entender pormódulo e qual a sua dimensão?

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Os dispositivos constitucionaissão os seguintes:

�Art. 185. São insuscetíveis de de-sapropriação para fins de refor-ma agrária:

I - a pequena e média pro-priedade rural, assim definida emlei, desde que seu proprietárionão possua outra�;

�Art. 5° omissis...

XXVI - a pequena propriedaderural, assim definida em lei, des-de que trabalhada pela família,não será objeto de penhora parapagamento de débitos decorren-tes de sua atividade produtiva,dispondo a lei sobre os meios definanciar o seu desenvolvimento�.

Regulamentando oart.185, foi editada a lei 8629/93, que de forma expressa dá oconceito do que sejam a peque-na e a média propriedade rural,respectivamente aquela entre 1(um) e 4 (quatro) módulos fiscais,e de 4 (quatro) a 15 (quinze)módulos. Sob esta ótica, o pro-blema está resolvido, na medidaem que não há mais o que dis-cutir: os imóveis com até 15módulos fiscais não podem serdesapropriados para fins de re-

forma agrária, vez que a ementada lei reguladora se refere ex-pressamente ao art. 185, CF. To-davia, duas perguntas principaisremanescem, uma delas aindasem resposta conclusiva:

a) qual a extensão de um módulofiscal e qual a relação com omódulo rural?

b) o conceito de pequena pro-priedade, dado pela lei 8629/93 se aplica ao art. 5°, XXVI,para fins de impenhora-bilidade?

É sobre estas perguntas quepasso a discorrer a seguir, a co-meçar por distinguir os módulosrural e fiscal.

2.2 - Módulo rural e fiscal

Não é difícil de se respon-der, embora não seja fácil se ex-plicar, o que sejam módulos ru-ral e fiscal, nem tampouco espe-cificar a dimensão de um e deoutro. De fato, o estatuto de ter-ra (lei 4504/64), define o módulorural3 e assim considera a propri-edade familiar:

�O imóvel rural que, dire-ta e pessoalmente, explorado

pelo agricultor e sua família, lhesabsorva toda a força de trabalho,garantindo-lhes a subsistência eo progresso social e econômico,com área máxima fixada pararegião e tipo de exploração, eeventualmente trabalhado comajuda de terceiros�.

Em outros termos, pode-sedizer que o módulo rural é amenor parcela de fracionamentodo solo rural, levando-se em con-ta vários critérios objetivos quepermitiriam ao trabalhador daliextrair o seu sustento e o de suafamília, absorvendo-lhe toda aforça própria de trabalho. Porconseguinte, o tamanho domódulo rural deverá levar emconta, em síntese, a produtivida-de e os custos de produção emcada região do País. Cabe aoIncra fixar, para cada município,a dimensão do módulo rural, ali-ás, como sempre foi feito4. Ocor-re que na mesma lei, porém, apa-rece o termo �módulo fiscal�,unidade usada para servir debase para o cálculo do ITR, e,que, logicamente, não sendomódulo rural, não pode ser con-fundido com este. O que seja omódulo fiscal é definido pelo art.4º do decreto 84685, de06.05.80:

3 art. 4º, II e III.4 Art. 5º, lei 4504/64.

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�O módulo fiscal de cadamunicípio, expresso em hectares,será fixado pelo Incra, através deInstrução Especial, levando-seem conta os seguintes fatores: a)o tipo de exploração predomi-nante no município; I -hortifrutigranjeira; II - cultura per-manente; III - cultura temporá-ria; IV - pecuária; V - florestal; b)a renda obtida no tipo de explo-ração predominante; c) outrasexplorações existentes no muni-cípio que, embora não predomi-nantes, sejam expressivas em fun-ção da renda ou da área utiliza-da; d) o conceito de �proprieda-de familiar�, constante do art. 4º,item II, da lei 4504, de 30 de no-vembro de 1964, § 1º. Na de-terminação do módulo fiscal dacada município. O Incra aplica-rá metodologia, aprovada peloMinistro da Agricultura, que con-sidere os fatores estabelecidosneste artigo, utilizando-se dosdados constantes do Sistema Na-cional de Cadastro Rural, § 2º.O módulo fiscal, fixado na for-ma deste artigo, será revisto sem-pre que ocorrerem mudanças naestrutura produtiva, utilizando-seos dados atualizados do SistemaNacional de Cadastro Rural�.

A distinção é relevante emface da diferença de extensão deum para outro. Para citar apenasum exemplo, no município de

Hidrolândia, na região da Gran-de Goiânia, um módulo ruralmede 3 hectares, enquanto queo módulo fiscal mede 12 hecta-res. A implicação é enorme, por-que, a se adotar o número demódulos rurais, imóvel pequenonaquele município seria o que ti-vesse até 12 hectares, enquantoque pelo conceito adotado pelalei 8629/93, que se refere aomódulo fiscal, passa para 48 hec-tares! Seria de se perguntarquantas pessoas, neste País, emregião valorizada e próxima degrande centro, teriam um imó-vel rural com área de 48 hecta-res. Certamente, a resposta seriaa de que, de todos os proprietá-rios rurais, bem poucos não seri-am considerados pequenos.

Sem embargo, não há mui-to o que discutir diante da clare-za do texto da lei 8629/93, pois,para fins do art. 185, CF, é pe-queno o imóvel rural com até 4,e, entre 4 e 15 módulos fiscais, émédio. Parece-me, porém, comoadiante explicarei, que, para finsdo art. 5º, XXVI, CF, ainda nãofoi fixado o que seja pequenapropriedade rural.

2.3 - Proteção constitucionalda pequena propriedaderural

2.3.1 - Noções

Definido o que sejamódulo rural e módulo fiscal,sendo certo que o primeiro con-ceito é utilizado para se definir apropriedade familiar nos termosdo art. 4º, II e III, do Estatuto daTerra, e que o segundo é unida-de de medida para fins de cál-culo do ITR, insta considerar taismedidas para fins de proteçãoconstitucional da pequena pro-priedade rural, haja vista que tan-to o art. 5º, XXVI, como o art.185, ambos da Constituição Fe-deral, a ela se referem, mas am-bos clamam por uma leiregulamentadora. Partindo-se doque dispõe o art. 5º, § 1º, CF, deque as normas definidoras dedireitos e garantias fundamentaistêm aplicação imediata, o quedispensa lei, e que aimpenhorabilidade do imóvelpequeno é garantia fundamen-tal, tem-se um pequeno proble-ma, qual seja, como dar aplica-ção à garantia se ainda não hálei definindo o que seja peque-na propriedade rural. Paraincrementar a discussão, há a lei7513/86, que acrescentou oinciso X ao art. 649, CPC, dispon-do sobre a impenhorabilidade doimóvel de até um módulo, semespecificar se se trata de módulorural ou módulo fiscal. Por outrolado, regulamentando o art. 185,

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CF, veio a lei 8629/93, que seutilizou do conceito de módulofiscal para garantir a impossibili-dade de desapropriação do pe-queno e médio imóvel rural. É,pois, com estas variáveis que pas-so a analisar duas garantias cons-titucionais da pequena proprie-dade rurais, quais sejam, a im-possibilidade de desapropriaçãoe a impenhorabilidade.

2.3.2 - Impossibilidade dedesapropriação porinteresse social

Dispõe, inicialmente, oart. 5°, XXIV, CF, que �a lei esta-belecerá o procedimento paradesapropriação por necessidadeou utilidade pública, ou por in-teresse social, mediante justa eprévia indenização em dinheiro,ressalvados os casos previstosnesta Constituição�. Portanto,considerando que a proprieda-de não é direito absoluto, o Po-der Público poderá retirá-lacompulsoriamente do proprie-tário, quando julgar relevantepor questão de necessidade ouutilidade pública, ou mesmo porinteresse social, sempre pagan-do ao expropriado valor justo,prévio e em dinheiro, ressalva-

dos os casos previstos na própriaConstituição.

A desapropriação é, pois,uma das formas mais drásticas eusuais de intervenção do Estadona propriedade privada e pode-ria representar uma contraditio inadjecto se não fosse a previsãoconstitucional, porque, de fato,inicialmente, o texto fundamen-tal diz garantir o direito de pro-priedade, o que não basta paraque o direito de propriedade es-teja realmente protegido.

Sem embargo da desapro-priação por necessidade ou uti-lidade pública, que pode incidirsobre qualquer bem, mesmo queseja produtivo, é essencial con-siderar as peculiaridades da de-sapropriação por interesse soci-al. Desde que precedido de pa-gamento prévio, justo e em di-nheiro, é lícito à União desapro-priar, por necessidade ou utilida-de pública, qualquer bem, gran-de, médio ou pequeno, produti-vo ou improdutivo, rural ou ur-bano, móvel ou imóvel, único doproprietário, ou apenas um en-tre muitos.

Durante os debates consti-tuintes, até se chegar à redação

do atual dispositivo, discutiu-sequais seriam os imóveis que po-deriam ser desapropriados parafins de reforma agrária, e se con-cluiu desde logo que o pequenoe o médio seriam insuscetíveis detal forma de intervenção. Logomais, por pressão dos �com-ter-ra�, convencionou-se tambémque a propriedade produtiva, dequalquer tamanho que fosse, nãoseria desapropriada para fins dereforma agrária. A questão é, decerta forma, lógica: de nada adi-anta desapropriar uma pequenaou média propriedade de umapessoa para passar à outra, por-que não resolve o problema agrá-rio do País e gera um desgastepolítico considerável; por outrolado, de nada adianta, e nem jus-to é, tirar-se a grande proprieda-de de quem produz, só porque égrande, e passar para quem, tal-vez, nunca tenha produzido enem saiba como fazê-lo.

Assim, por interesse socialsomente poderá ser desapropri-ado o imóvel rural que não cum-pre a função social5, caso emque o pagamento da indeniza-ção, a despeito de ser prévio eem valor justo, não será em di-nheiro, mas, sim em títulos dedívida agrária resgatáveis em até

5 Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, medianteprévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo anode sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.

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22 anos, porque o prazo de 20anos começa a ser contado apartir do segundo ano de suaemissão.

A finalidade do dispositi-vo constitucional é expressa: ti-rar o imóvel rural de quem tem,mas não cumpre a função soci-al da propriedade, para passarpara quem não tem e quer tra-balhar a terra para dali tirar osustento seu e de sua família.Prova maior disso é que o be-neficiado com a terra adquiridacom a reforma agrária não po-derá negociá-la pelo prazo de10 anos6. Resolvidas tais ques-tões de pronto no texto consti-tucional, incumbiu-se o legisla-dor ordinário de regulamentaro que se entender por pequenae média propriedade rural(art.185, CF), e a tarefa foi cum-prida com a edição da já citadalei 8629/93, para quem é pe-queno o imóvel com até 4, eacima disto até 15 módulos fis-cais, é médio, sendo ambosinsuscetíveis de desapropriaçãopara fins de reforma agrária.

Enfim, quanto à desapro-priação, pode-se dizer que, sen-do para fins de necessidade ouutilidade pública, qualquer imó-

vel, produtivo ou improdutivo,rural ou urbano, pequeno, gran-de ou médio, único do proprie-tário ou apenas um entre mui-tos, pode ser desapropriado, masa indenização deverá ser paga àvista e em dinheiro. Se, porém,a desapropriação se fundar eminteresse social, para fins de re-forma agrária, não há comoincidir sobre qualquer proprieda-de produtiva, e nem tampoucosobre a pequena e a média, pro-dutiva ou não, desde que seja aúnica de que disponha o propri-etário. Não importa nem mesmose o proprietário a mantém pormero deleite, para fins-de-sema-na, ou com intenção produtiva.O que lhe garante a impossibili-dade de desapropriação é o fatode ser pequena ou média e ser oúnico imóvel rural do proprietá-rio. Aliás, dando correta aplica-ção à garantia constitucional,decidiu o STF que em caso deherança, se a área que couber acada herdeiro for menor que di-tos módulos, ficará imune à de-sapropriação para fins de refor-ma agrária, ficando o julgado as-sim ementado:

EMENTA: Desapropria-ção - Enquadramento do imó-vel como revelador de peque-

na ou média propriedade - Su-cessão �mortis causa�. Abertaa sucessão, o domínio e posseda herança transmitem-se,desde logo, aos herdeiros le-gítimos e testamentários - arti-go 1.572 do Código Civil. Daía insubsistência de decretopara fins de desapropriação,no qual restou considerado oimóvel como um todo, olvi-dando-se o estatuto da terra -lei n. 4.504, de 30 de novem-bro de 1964, no que, median-te o preceito do par. 6. do ar-tigo 46, dispõe que, no caso deimóvel rural em comum, porforça de herança, as partes ide-ais para os fins nele previstossão consideradas como se di-visão houvesse. Propriedadesdiversas enquadradas comomédias por não suplantar,cada qual, considerada de persi, o teto de quinze módulosfiscais - Inciso III do artigo 4ºda lei 8629/93. MS-22045/ES,relator Ministro Marco Aurélio,DJ -30-06-95.

Trata-se, pois, de garantiaconstitucional absoluta, que pro-tege não apenas o proprietáriooriginal, mas também os seusherdeiros.

6 Art. 189. Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazode dez anos. Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estadocivil, nos termos e condições previstos em lei.

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2.4.1 - Noções

Outra proteção constituci-onal da pequena propriedade ru-ral é a garantia da impenho-rabilidade, cujo tema ainda temsuscitado debates por pelo me-nos duas questões: primeiro,porque o art. 5°, XXVI, CF, clamapor uma lei que defina o que seentender por pequena proprie-dade rural7; segundo, porquedispõe o § 1º do mesmo artigoque �As normas definidoras dosdireitos e garantias fundamentaistêm aplicação imediata�. Comoconciliar os dois dispositivos, sea pequena propriedade éimpenhorável, mas o seu concei-to depende de lei? Como daraplicação ao dispositivo se o art.5º, § 1º, estabelece que as nor-mas que definem direitos e ga-rantias fundamentais têm aplica-ção imediata, isto é, independemde lei? Poderia ser utilizado oconceito de pequena proprieda-de dado pela lei 8629/93,regulamentadora do art. 185,que trata da reforma agrária, paraconsiderar impenhorável o imó-vel com até 4 módulos fiscais?Por outros termos, a lei a que se

refere o art.5°, XXVI, poderia sera própria lei 8629/93, ou have-ria necessidade de se editar ou-tra? Neste caso, poderia ser to-mado o conceito dado pelo art.649, X, CPC, que declara abso-lutamente impenhorável o imó-vel rural que, sendo o único deque disponha o devedor, tenhaárea de até um módulo?8

2.4.2 - O inciso X do art. 649,CPC, e o art. 5º, XXVI, CF

Penso que para responderas perguntas formuladas no tó-pico anterior é preciso ver a his-tória. O inciso X foi inserido noart. 649 do CPC pela lei 7513,de 09.07.86, época em que osbrasileiros menos avisados aindaviviam iludidos com o �sucesso�do Plano Cruzado9. Todavia,àquela altura dos acontecimen-tos muitos pequenos agricultores,que haviam tomado emprésti-mos em bancos para custear suaslavouras confiando na �inflaçãozero� se viam de uma hora paraoutra tendo seus bens penhora-dos porque não podiam pagar asdívidas. A lei 7513 foi a primeiratábua de salvação dos pequenos

proprietários, e na sua esteira éque veio o texto constitucional,que, embora seja de 05.10.88,começou a ser elaborado quan-do da eleição do CongressoConstituinte, em 15.11.86, em-bora os trabalhos, de fato, te-nham começado mesmo após aposse dos eleitos, em 01.02.87,sendo que ainda os primeirosmeses foram gastos com a elabo-ração e aprovação do regimentointerno da Assembléia NacionalConstituinte. Pois bem. Eleito eempossado o Congresso Consti-tuinte, o quadro econômico doPaís era negro, com a inflaçãomensal subindo vertiginosamen-te e já alcançando a casa dos40% ao mês, o desemprego emalta e as greves, no campo e nacidade, assolando o País de Nor-te a Sul. Era preciso fazer algo.Então, a Assembléia NacionalConstituinte, verdadeiro e únicoagente do Poder Constituinte,que é ilimitado, houve por bemdeclarar a impenhorabilidade dapequena propriedade rural, cujoconceito seria dado por lei, des-de que a dívida fosse oriunda desua atividade produtiva, exigên-cia que não havia sido feita pela

7 XXVI - A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitosdecorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;8 Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: X. O imóvel rural, até um módulo, desde que este seja o único de que disponha o devedor, ressalvada a hipotecapara fins de financiamento agropecuário.9 Primeiro plano econômico lançado pelo governo Sarney em fevereiro de 1986, que prometia inflação zero, e que sucumbiu logo após as eleições daquelemesmo ano, quando o partido que estava no poder, o PMDB, esmagou os demais elegendo 22 governadores.

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lei 7513/86. Portanto, para oconstituinte a garantia daimpenhorabilidade pressupõeapenas que se trate de pequenapropriedade rural e que a dívidaseja decorrente de sua própriaatividade produtiva, sem se per-quirir se é a única de que dispõeo devedor e se é, ou não, traba-lhada pela família, fugindo, pois,até mesmo dos parâmetros utili-zados para torná-la insuscetívelde desapropriação para fins dereforma agrária, bem como daregra abraçada pelo art. 649, X,CPC. De fato, para que o peque-no imóvel rural não esteja sujei-to à desapropriação para fins dereforma agrária, é necessário queo bem seja o único imóvel ruralque integre o seu patrimônio,regra que foi copiada, em parte,do art. 649, X, CPC, segundo oqual, para não se sujeitar à penho-ra o imóvel rural não pode termais que um módulo e ser o úni-co de que disponha o devedor.

Em resumo, segundo o art.649, X, o imóvel com área de atéum módulo, quando for o únicode que disponha o devedor, éimpenhorável, salvo quandodado em hipoteca para fins definanciamento agropecuário.Não se perquire, porém, a ori-gem da dívida, como se decor-re, ou não, da atividade produti-va do devedor, ou se foi contraí-

da com o tratamento de doen-ças, ou a passeio, ou por outrascausas. O imóvel de até um (1)módulo é impenhorável somen-te por ser imóvel de apenas ummódulo e ser o único bem dodevedor, o que bastou ao legis-lador para excluí-lo do rol dosbens penhoráveis e incluí-lo jus-tamente no dos impenhoráveisde forma absoluta, o que impor-ta dizer que não poderá ser pe-nhorado nem mesmo comanuência do devedor.

Por seu turno, a garantiaconstitucional não tem este al-cance, limitando-se à dívida con-traída em benefício da atividadeprodutiva do próprio imóvel, queseja trabalhado pela família dodevedor, tenha ele somente esteou mais imóveis, o que levainexoravelmente à conclusão deque o art. 649, X, não regulamen-ta o art. 5°, XXVI, CF, nem foi porele revogado. Ambos protegema pequena propriedade rural,mas partem de premissas dife-rentes. Aliás, nem teria sentidoconcluir de modo diverso, por-que, como foi visto, o imóvel ru-ral de até um módulo é, somen-te por este fato e por ser o únicodo devedor, impenhorável, inde-pendente da natureza ou origemda dívida, enquanto que a garan-tia constitucional somente pro-tege a pequena propriedade tra-

balhada pela família contra a pe-nhora por dívidas decorrentes desua atividade produtiva.

Se isto é certo, o mesmonão se pode dizer sobre qualmódulo se refere o art. 649, X,CPC, ou seja, se se cuida domódulo rural ou do módulo fis-cal. Tomando-se como exemploo mesmo município doHidrolândia, onde o módulo ru-ral mede 3 hectares e o fiscal, 12,se tomarmos em conta este últi-mo, seria impenhorável o imó-vel com até 12 hectares, o queeqüivaleria a considerarimpenhorável o imóvel com até4 módulos rurais. É aceitável esteponto de vista, haja vista que omódulo rural é a menor unida-de de parcelamento do solo, ouseja, nenhum imóvel rural podeser dividido em porções meno-res que um módulo rural,porque cada qual devecorresponder, pelo menos, à pro-priedade familiar (art. 4º, II e III,lei 4504/64). A questão foi en-frentada pelo Tribunal de Justiçade Goiás e recebeu decisão con-trovertida, como se vê dos se-guintes julgados da primeira eterceira câmaras cíveis:

EMENTA: �Agravo de ins-trumento. Penhora. Área inferi-or a um módulo fiscal.Impenhorabilidade. O imóvel

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rural de área até um módulo fis-cal, assim fixado pelo Incra, nãopode ser objeto de penhora des-de que seja o único de que dis-ponha o devedor, só pode seronerado pela hipoteca em facede financiamento agropecuário(inteligência do art. 649, X doCPC). Agravo provido. TJGO, Pri-meira Câmara Cível, DJ n 12188de 17/11/95 p 8, acórdão de 31/10/95, relator Des. Arivaldo daSilva Chaves�.

EMENTA: �Impenho-rabilidade de imóvel rural. Distinçãoentre módulo rural e módulo fiscal.Agravo improvido. A impenhora-bilidade do imóvel rural de que tra-ta o art. 649, I, do Código de Pro-cesso Civil, com a redação da lei7.513/86, é estabelecida pela áreado módulo rural, idêntica à fraçãomínima de parcelamento, e nãopelo módulo fiscal, figura criada paradefinir o cálculo da ITR e utilizávelpara o conceito de pequena propri-edade nos termos da Lei 8.629/93.Improvido por unanimidade. TJGO,Terceira Câmara Cível. DJ n 12232de 22/01/96 p 5, acórdão de 05/12/95, relator Des. Jamil Pereira deMacedo�.

Para o primeiro julgado, omódulo fiscal é o que define aimpenhorabilidade do art. 649,X, CPC, ao passo que para o se-gundo, é o módulo rural. Ne-

nhum dos dois julgados, porém,cogitou de distinguir um e outromódulos e nem se preocupou demedir as conseqüências das po-sições que adotaram. Parececerto, porém, que se deve con-siderar impenhorável o imóvelcom até um módulo fiscal, nãoo rural, porque seria o mesmoque nada, haja vista que não há,sob o manto da legislação em vi-gor, imóvel menor que esta fra-ção. Portanto, tenho que o imó-vel mencionado no art. 649, X,CPC, é aquele com até ummódulo fiscal, o que pode repre-sentar algo como até 4 módulosrurais, ou mais, dependendo daárea que for fixada pelo Incrapara cada um em cada região.

2.4.3 - O art. 5º, XXVI, CF, ea lei 8629/93

Restando claro que o art.649, X, CPC, não regulamenta oart. 5º, XXVI, CF, voltamos à per-gunta inicial, qual seja, se podeser utilizada a lei 8629/93 paradefinir o imóvel impenhorável.Sobre esta questão, os tribunaisjá se debruçaram algumas vezes.Para demonstrar o pomo da con-trovérsia, relato caso concretoocorrido na comarca deHidrolândia quando fora penho-rado um imóvel com pouco maisde 28 hectares e cujo proprietá-

rio requereu a declaração deimpenhorabilidade, sendo o pe-dido denegado. Para se ver livreda arrematação, entrou comagravo de instrumento e, em se-guida, com o mandado de segu-rança 5.770/-8/101, relator o i.desembargador Jales Ferreira daCosta, para receber o efeitosuspensivo. Concedida a liminarpelo E. TJGO, prestei as informa-ções de estilo nos seguintes ter-mos:

�Em outubro de 1989 foiprotocolada nesta Comarca acarta precatória acima, de cita-ção, penhora, avaliação e praça,tendo a constrição judicial reca-ído sobre uma gleba de terras de5 alqueires e 63 litros. Posterior-mente, ao serem julgados impro-cedentes os embargos do deve-dor, em 02/03/94 o credorreapresentou a carta e pediuprosseguimento à execução, comavaliação e venda judicial da re-ferida gleba. Feita a avaliação,embora regularmente intimado,o devedor-impetrante não se ma-nifestou sobre ela, e, pelo des-pacho de fs. 36-verso, de 06/04,aceitei o valor e designei praçapara os dias 16 e 27 de maio úl-timo, sendo o devedor intimadoem 18/04/94, mesma data dajuntada aos autos. Em 12/05/94,por novo procurador, o devedorargüiu nulidade da penhora (re-

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alizada em 1989), ao argumentode que a lei 8009/90 impede querecaia em bem de família, alémdo que o art. 5, XXVI da CF esta-belece que a pequena proprie-dade rural, definida em lei, nãoserá objeto de penhora para pa-gamento de débitos decorrentesde sua atividade produtiva, des-de que trabalhada pela família.Em 16/05 juntou cópia deacórdão proferido no Agravo deInstrumento nº 7841-6/180, daComarca de Jussara, em que foiRelator o Des. Jales Ferreira daCosta, que considerouimpenhorável área menor que 4módulos fiscais, embora, aotranscrever a ementa, tenha oprocurador se referido a módulosrurais, coisas absolutamente dis-tintas, porque, nesta Comarca, omódulo fiscal é de 35 hectares,enquanto o módulo rural é de 3hectares. Pelo despacho de fs. 71indeferi o pedido por considerarque a lei 8009/90 não se aplicaao caso, e também porque nãoconsiderei como pequena a suapropriedade, de 5 alqueires e 63litros, além do que não fez pro-va de que o imóvel seja traba-lhado pela família e que a dívidafosse decorrente de sua própriaatividade produtiva. Mantive arealização da praça, mas na pri-meira não houve licitante. Em fs.73/75, com certidões que procu-ram demonstrar que a gleba é

seu único bem, o devedor, antesda segunda praça, insistiu emque tem ela menos de 4 módulosrurais e, fundado na lei 8629/93,pediu mais uma vez a suspen-são. Antes que o pedido fosseapreciado, foi concedida aliminar no referido Mandado deSegurança, a que ora respondo,e considero a questão até singe-la, embora interessante.

DO DIREITOCORRETAMENTE APLICÁVEL

Pois bem. Primeiramente,insisto em que a lei 8009/90 nãose aplica ao caso, posto que des-tinada a resguardar a residênciafamiliar, e não área de terras. Seassim fosse, ninguém, nem mes-mo os grandes latifundiários, des-de que residentes no latifúndio,poderiam sofrer constrição judi-cial para pagamento de suas dí-vidas. Definitivamente, entendoque a lei 8009 só se aplicaria, sefosse o caso, à casa e móveisonde o devedor resida, mas nãosobre a área de terras, vez quetrata-se de bem divisível. Mes-mo silente a lei a respeito, ahermenêutica jurídica conduz aoentendimento de que não seaplica a todo o imóvel rural, atéporque seus dispositivos são no

sentido da habitação e não deprodução. Assim, o caput do art.1º., o art. 4º e, em especial, o §2º deste artigo este sim destina-do a imóvel rural, especificandorestringir-se à moradia. Tambémo inc. VII do art. 3º, que fala emfiança, quando, no caso,analogicamente, o impetranteestá sendo executado na condi-ção de avalista. Também não seaplica ao caso a lei 8629/93, vezque editada para regulamentar aConstituição Federal na parterelativa a reforma agrária, maisespecificamente a desapropria-ção para este fim, conforme sevê da sua ementa: �Dispõe so-bre a regulamentação dos dispo-sitivos constitucionais relativos àreforma agrária, previstos no Ca-pítulo III Título VII, da Constitui-ção Federal.�

Efetivamente, a lei 8629/93estabelece que o imóvel entre 1e 4 módulos fiscais é considera-do pequena propriedade rural,mas deixa claro que é para os finsda presente lei (art. 4.) e não se-rão objetos de desapropriaçãopara fins de reforma agrária.Veja-se que a lei maior, e estaque a regulamenta, apenas o ex-clui, inclusive, da desapropriaçãopara fins de reforma agrária, masnão impede que seja por interes-se ou necessidade públicos. Ora,módulo fiscal é medida de ex-

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tensão para fins tributários e nãoagrários. Para este, a medida é omódulo rural, fixado pelo Incrapara cada região, e que é o quese denomina também de fraçãomínima de parcelamento dosolo. Segundo a tabela de fs. 80dos autos (anexa), nesta Comarcao módulo fiscal é de 35 Ha, en-quanto o módulo rural é de 3,0Ha. Por conseguinte, 4 módulosfiscais totalizam 140 Ha, o queé um absurdo considerar comopequena propriedade, para finsde impenhorabilidade. Se assimfosse, nesta Comarca, como deresto na maioria das regiões pro-dutivas do País, dificilmente te-ríamos algum imóvel ruralpenhorável, posto que a grandee esmagadora maioria reside nafaixa até 30/50 ha. Portanto, nãohá outra interpretação a ser fei-ta, senão a de que a lei 8629/93só se destina a regulamentar oart. 185, I da CF, e não o art. 5,XXVI. O primeiro refere-se à de-sapropriação para fins de refor-ma agrária, (não se referindonem mesmo à despropriação porinteresse ou necessidade públi-cos) e dela exclui os imóveis ru-rais de até 4 módulos fiscais (140ha); o segundo se refere àimpenhorabilidade de pequenapropriedade, mas a lei necessá-ria ainda não foi editada, e, cer-tamente, quando o for, será em

módulos rurais, que servirá tam-bém para limitar o parcelamentodo solo. Esta é a expressão utili-zada pelo Estatuto da Terra edemais leis agrárias. Resumindo,a área do impetrante é de 5alqueires e 63 litros. Cadaalqueire corresponde a 48.400m2, ou 80 litros. O hectaremede 10.000 m2. Assim, a áreado impetrante equivale a 28,01hectares, o que, para os padrõesbrasileiros , jamais pode ser con-siderada pequena propriedade,sob pena de se tutelar os mauspagadores, ou, o que é muitopior, restringir o acesso aos mei-os de financimento aos bons pa-gadores, porém, que tenhamapenas o seu imóvel de até 140ha, porque nenhuma banco con-cederá o crédito se não houverlastro para garantir o pagamen-to.

AS PROVAS QUE OIMPETRANTE NÃO FEZ, EQUE SÃO ESSENCIAIS PARAA EFETIVAÇÃO DALIQUIDEZ E CERTEZA DOSEU ALEGADO DIREITO

Por fim, além de não serpequena propriedade, oimpetrante não fez nenhumaprova de que o imóvel seja ex-plorado (só) pela própria sua fa-mília. Pelo contrário, informa-

ções fidedignas do Avaliador edo Oficial de Justiça destaComarca, que lá estiveram pormais de uma vez cada um, é deque ele tem empregado como,pelo menos, tirador de leite efabricante de queijo. A explora-ção só pela família é requisitoconstitucional exigido pelo art. 5,XXVI da CF, cuja falta afasta oimpetrante do pretendido favorlegal-constitucional, destinadomesmo só aos pequenos. Tam-bém não fez prova de que a dí-vida seja decorrente de sua pró-pria atividade produtiva. Tam-bém pelo contrário, pela petiçãode fs. 12/13, e pelo Adendo defs. 11 e 16, a dívida fora contra-tada por Indústria e Comércio deTijolos Dois Irmãos Ltda, tendoo impetrante e outros comoavalista, e, nesta qualidade, é queestá sendo executado, isto é,como coobrigado. Assim, mesmoque se lhe aplicasse a lei 8009/90, não seria contemplado como benefício porque ao fiador(porque não dizer, analogica-mente, o avalista) não se apro-veita (art. 3, VII).

A CONCLUSÃO FINAL

Por conseguinte, e em re-sumo, a gleba de terras não é pe-quena propriedade rural, nem é

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explorada pela família, e nemtampouco e muito menos a dívi-da é decorrente de sua própriaatividade produtiva, sendo, naverdade, avalista de dívida deatividade comercial de indústriacerâmica, e o coobrigado nãopode fugir à sua responsabilida-de. Ao teor do exposto, tenhocomo absolutamente improce-dente a alegação de nulidade dapenhora, razão porque conside-ro correta a decisão de ter man-tido a praça. Restrito ao assunto,e certo de ter prestado estas in-formações com base nos ditamesdo direito e da justiça, valho-medo ensejo para ratificar a VossaExcelência meus protestos deconsideração e respeito�.

No mérito, porém, o TJGOacabou por dar provimento aoagravo de instrumento, enten-dendo que é impenhorável oimóvel rural com até quatromódulos fiscais, sem nem mes-mo ter considerado que no casoconcreto a dívida era decorren-te de atividade industrial do de-vedor, não de atividade produti-va do imóvel.

2.4.4 - Posição atual do STJ

Passados quase 12 anos devigência da Constituição atual, écerto que ainda não foi editadalei regulamentando o art. 5º,

XXVI, CF, o Colendo STJ tem de-cidido que a lei 8629/93 deve seraplicada à espécie, sendo, pois,de se considerar impenhorável oimóvel rural com até um módulofiscal, desde que seja trabalhadopela família do devedor e que adívida seja oriunda de sua ativi-dade produtiva:

EMENTA: Execução de tí-tulo extrajudicial. Módulo rural.Penhora. Precedentes da Cor-te. 1. Na linha de precedentesda Corte não vulnera lei fede-ral a �decisão que se utiliza doconceito de pequena proprie-dade, assim como definido naLei nº 8629/93, para conside-rar impenhorável área ruralcom 19 hectares�, nem queafasta o imóvel rural a que serefere o art. 649, X, do Códigode Processo Civil, do conceitode fração mínima deparcelamento. No caso, sendoa área menor de 13 hectares,impõe-se a impenho-rabilidade. 2. Recurso conheci-do e provido. STJ, RESP149363/PR. Recurso especial.Fonte DJ de 12/04/1999p.:144. Terceira Turma. RESP149363/PR, relator MinistroCarlos Alberto Menezes Direi-to, Terceira Turma

Em outro julgado, tambémda Terceira Turma, decidiu o

Colendo Superior Tribunal deJustiça que o módulo a se referiré o fiscal:

DECISÃO: (...) Quanto àpenhora, de fato �o ato jurídicopraticado pelo agravante, nenhu-ma garantia de hipoteca possuiem seu favor, eis que a fração daárea hipotecada é inferior aomódulo rural�, isto porque, se-gundo consta, �o auto de penho-ra foi lavrado sobre área de ape-nas 3,0 ha (constituída dentro deum todo maior de 80.000 m²),não perfaz o módulo fiscal daregião suficiente para contemplara pretensão do agravante depenhorabilidade sobre o imóvelrural do agravado, ainda que hi-potecada a área através da notade crédito rural�. Daí a corretaincidência do art. 4º, § 2º da Leinº 8.009/90. Nego provimentoao agravo de instrumento. Publi-que-se. DJ 11/02/2000, p.00144, Relator Ministro NilsonNaves, Terceira Turma�.

Por fim, em voto vencedordo Ministro Ruy Rosado deAguiar, a Quarta Turma do mes-mo Tribunal houve por bem en-tender que a expressão �módulorural� do art. 649, X, não se rela-ciona com o conceito de fraçãomínima de parcelamento, doque pode-se deduzir que seaproximou do conceito de

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módulo fiscal. O julgado ficouassim ementado:

EMENTA: modulo rural.Impenhorabilidade. Execução. Oimóvel rural impenhorável, deaté um modulo, a que se refereo artigo 649, x, do CPC, é o quetem as dimensões mínimas queassegurem ao pequeno agricul-tor e a sua família condições desobrevivência, não se confundin-do com o conceito de fraçãomínima de parcelamento. Tra-tando-se de norma protetiva dopequeno produtor, deve ser in-terpretada em favor dele. Resp66672/rs; Recurso Especial1995/0025449-2, DJ 30/10/1995, p. 6774, Quarta Turma.

Em síntese, pois, para o STJ,não havendo lei regula-mentadora do art. 5º, XXVI, oparâmetro para se utilizado parase definir qual o imóvel ruralimpenhorável é o mesmo da lei8629/93, que se vale do concei-to de módulo fiscal, não demódulo rural.

2.4.5 - Posição atual do STF

Por ser matéria de índoleconstitucional, a questão nãopoderia ficar afastada de apreci-ação pelo STF, e, realmente, foiapreciada e decidida por mais deuma vez. Uma das decisões foi

a tomada pelo MinistroSepúlveda Pertence, ao relatar oRE 136.753-RS, em 13.2.97.S,conforme notícia veiculada noinformativo 59, onde consta:

�Não ofende o art. 5º,XXVI, da CF decisão que, em faceda não edição da lei regula-mentadora nele mencionada,aplica analogicamente a defini-ção de �propriedade familiar�,constante do art. 4º, II, do Esta-tuto da Terra (Lei 4504/64), con-ferindo, desse modo, plena efi-cácia à norma constitucional�

Para o Ministro, pois, omódulo a prevalecer é o rural,utilizado pelo Estatuto da Terrapara conceituar a propriedadefamiliar. Todavia, em 1998 amesma corte voltou a apreciar aquestão, agora na pena do Mi-nistro Marco Aurélio Melo, aojulgar agravo de instrumento in-terposto contra decisão do pre-sidente o TJPR, que negara segui-mento a recurso extraordinário:

�Penhora. Pequena propri-edade rural. Definição. Agravodesprovido. O recurso extraordi-nário cujo trânsito busca-se al-cançar foi interposto, comalegada base na alínea �a� dopermissivo constitucional, contraacórdão proferido pelo Tribunalde Alçada do Estado do Paraná,

assim sintetizado: �Impenho-rabilidade. Pequena propriedaderural. Definição de módulo rural.Incidência do art. 649, X, do CPC.Apelação improvida. O módulodo imóvel rural referenciadocomo impenhorável, segundo oinciso X do art. 649 do CPC, nãose confunde com fração mínimade parcelamento de solo, reser-vada esta a desmembramento damenor parte possível da área agrí-cola, tendo aquele sua dimensãodefinida segundo fatores especí-ficos de apuração, entre os quaisse enfeixam o de localização, tipode cultura e espécie de explora-ção rural incidente sobre o imó-vel, definidos através da comple-xa lei agrária (folha 23)� Articula-se com o malferimento do artigo5º, inciso XXVI, da Carta Políticada República, insistindo-se napossibilidade de penhorar-se agleba em questão. Alude-se aofato de não encontrar justificati-va plausível para os parâmetrosutilizados pela Corte de origemrelativamente à fixação domódulo mínimo da pequenapropriedade rural a ser protegi-do. Sustenta-se ainda haveremsido desprezados os demais re-quisitos previstos no preceitopara ter-se por impenhorável oimóvel (folha 29 à 34). O Juízoprimeiro de admissibilidade dis-se da falta de prequestionamento(folha 37 à 41). O especial simul-

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taneamente interposto teve amesma sorte do extraordinário,seguindo-se a protocolação deagravo, não conhecido no âm-bito do Superior Tribunal de Jus-tiça (folha 44). Conforme certifi-cado à folha 43-verso, não foiapresentada contraminuta. Rece-bi os autos em 22 de junho de1998. 2. Na interposição desteagravo foram observados os pres-supostos de recorribilidade quelhe são inerentes. A agravanteprovidenciou o traslado das pe-ças mencionadas no artigo 544,§ 1º, do Código de Processo Ci-vil, e os documentos de folhas10, 11, 44 e 45 evidenciam a re-gularidade da representação pro-cessual e do preparo. Quanto àoportunidade, a decisão atacadafoi veiculada no Diário de 12 deagosto de 1997, terça-feira (fo-lha 43), ocorrendo a manifesta-ção do inconformismo em 22imediato, sexta-feira (folha 3), e,portanto, no prazo assinado emlei. A norma evocada pela agra-vante implica garantia constitu-cional da parte contrária ao dis-por que: �A pequena proprieda-de rural, assim definida em lei,desde que trabalhada pela famí-lia, não será objeto de penhorapara pagamento de débitos de-correntes de sua atividade produ-tiva, dispondo a lei sobre os mei-os de financiar o seu desenvolvi-mento�. Pois bem, cumpre, en-

tão, perquirir o que se entendecomo pequena propriedade ru-ral. A lei 8629, de 25 de feverei-ro de 1993, define-a com basena área compreendida entre ume quatro módulos fiscais e muitoembora tal diploma diga respei-to à desapropriação-pena do ar-tigo 185 da Constituição Fede-ral, iniludivelmente, fixa osparâmetros concernentes à pe-quena propriedade, e esta nãopode ser considerada de formadistinta, tendo em conta tratar-se de desapropriação ou penho-ra. É que está prevista em ummesmo diploma, ou seja, naConstituição Federal e, por issomesmo, deve ter definição úni-ca. Tenho como aplicável à es-pécie a citada lei, não conferin-do à referência à desapropriaçãoeficácia restritiva. De qualquermodo, mesmo que não se adoteessa óptica, há de distinguir-seentre pequena propriedade emódulo rural mínimo, definidopela legislação competente. Acoincidência não é necessária. Asregras concernentes às posturasmunicipais podem direcionar demaneira a chegar-se a extensãomenor que a definidora da pe-quena propriedade. E isto ocor-re no tocante ao Município deMoreira Sales, no que viabilizadodesmembramento a desaguarem três hectares, havendo pro-priedade de cinco hectares. No

artigo 4º da lei 4.504, de 30 denovembro de 1964 - estatuto daterra -, alude-se ao módulo ru-ral, definindo-se como proprie-dade familiar o imóvel que, di-reta e pessoalmente exploradopelo agricultor e sua família, ab-sorva-lhes toda a força do traba-lho, garantindo-lhes a subsistên-cia e o progresso social e econô-mico, com área máxima fixadapara cada região e tipo de explo-ração e, eventualmente, traba-lhado com a ajuda de terceiros.Ora, como salientado pela Cor-te de origem, as normas de re-gência revelam que, em se tra-tando da cultura de algodão, omódulo rural no Município deMoreira Sales alcança vinte hec-tares. Assim sendo, a área doagravado, possuindo 12,10 hec-tares, surge como impenhorável.A agravante, por atuar no meiorural, deveria ter conhecimentodesses parâmetros. Mostra-seconsentâneo com a regra consti-tucional o enfoque dado à con-trovérsia pelo Juiz Relator, Dr.Ronald Moro. O provimento ata-cado mediante o extraordinário,lavrado com estrita observânciada estrutura que lhe é própria,com fundamentação elogiável,presta homenagem à garantiaconstitucional que, repita-se, mi-lita não a favor do credor, masdo devedor, sendo excepcionala articulação de violência pelo

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primeiro. 3 - Por tais, conheçodo pedido formulado neste agra-vo, mas a ele nego acolhida. 4 -Publique-se. Brasília, 24 de agos-to de 1998. Ministro Marco Au-rélio�

Portanto, para a Corte Mai-or do País o imóvel rural de até 4módulos fiscais, não módulo ru-ral, é impenhorável, vez que,adotando uma linha conceitualunitária, aplica-se a lei 8629/93para regulamentar o art. 5º, XXVI,CF. Todavia, insisto, parece queo respeitável Ministro tambémnão se atentou para a diferençanecessária entre módulos rural efiscal, tanto que dá aplicação àlei 8629/93, que se utiliza do úl-timo conceito, mas faz referên-cia a um trecho do julgado re-corrido que se refere ao módulorural, dizendo que �como sali-entado pela Corte de origem, asnormas de regência revelam que,em se tratando da cultura de al-godão, o módulo rural no Muni-cípio de Moreira Sales alcançavinte hectares�.

3.

Síntese conclusiva

De tudo quanto foi expos-to, é possível sintetizar que:

a) a pequena ou a média propri-

edade rural, definida pela lei8629/93, desde que seja oúnico imóvel rural de que dis-ponha o proprietário, não po-derá ser desapropriada parafins de reforma agrária, mes-mo quando não cumpra a suafunção social, ao contrário dagrande propriedade, que nãopode ser desapropriada se forprodutiva;

b) a garantia constitucional, po-rém, não impede a desapro-priação de nenhum imóvelpor necessidade ou utilidadepública, casos em que a inde-nização deverá ser paga à vis-ta, em valor de mercado e emdinheiro, ao contrário do imó-vel que for expropriado parafins de reforma agrária, quan-do a indenização, a despeitode ser à vista e em valor demercado, será feita em títulosde dívida agrária, resgatáveisem até 20 anos, o que podelevar a até 22 anos, haja vistaque o prazo tem início no se-gundo ano de sua emissão;

c) a lei 8629/93, embora especí-fica para regulamentar o art.185, CF, que trata da desapro-priação da fins de reformaagrária, é aplicável ao art. 5º,XXVI, CF, pelo que o imóvel ru-ral com até 4 módulos fiscais,não rurais, é considerado pe-

queno para fins deimpenhorabilidade;

d) o fato ser pequeno o imóvelde até 4 módulos fiscais nãobasta para torná-lo imune àpenhora, sendo essencial quea dívida seja decorrente de ati-vidade produtiva do devedore que seja ele trabalhado pelafamília, o que exclui a garan-tia quando se tratar de imóveldo tipo fim-de-semana ouquando a dívida for de outranatureza;

e) o art. 649, X, que tambémcogita da impenhorabilidadedo imóvel de até um módulo,embora não especifique se fis-cal ou rural, deve ser interpre-tado sistematicamente, comouma unidade do sistema, peloque aplica-se a primeira uni-dade de medida, isto é, deveser entendido como imóvel deaté um módulo fiscal;

f) por outro lado, mesmo que setrate de imóvel de até ummódulo fiscal, é certo que oart. 649, X, CPC, não é a nor-ma regulamentar do art. 5º,XXVI, CF, nem com ela é in-compatível, vigendo, pois, osdois, cada qual com um cam-po de alcance;

g) para o art. 649, X, CPC, é

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impenhorável qualquer imóvelde até um módulo fiscal, des-de que seja o único de que dis-ponha o devedor, qualquerque seja a dívida, e seja ele ex-plorado pela família, ou mes-mo não explorado, ressalvan-do-se apenas a hipoteca parafins de financiamentoagropecuário, enquanto que oart. 5º, XXVI, CF, protege ape-nas a propriedade pequenaque, explorada pela família,tenha contraído dívidas parasua própria atividade;

h) enfim, a distinção bási-ca entre o art. 649, X, CPC, e oart. 5º, XXVI, CF, é que este es-pecifica a dívida que não podesujeitar o imóvel à penhora, des-de que tenha até 4 módulos fis-cais, embora não seja o único doproprietário, enquanto queaquele exclui da penhora o imó-vel de até um módulo fiscal,qualquer que seja a dívida, des-de que seja o único bem do de-vedor.

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JURISPRUDÊNCIA

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LEGISLAÇÃO

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LEI N. 8.629, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1993,

com as alterações da Medida Provisória n. 2.027-39, de 1o de junho de 2000.

Dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III,Título VII, da Constituição Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º - Esta Lei regulamenta e disciplina disposições relativas à reforma agrária, previstas no Capítulo III, Título VII, daConstituição Federal.

Art. 2º - A propriedade rural que não cumprir a função social prevista no art. 9º é passível de desapropriação, nostermos desta Lei, respeitados os dispositivos constitucionais.

§ 1º - Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que nãoesteja cumprindo sua função social.

§ 2o  Para os fins deste artigo, fica a União, através do órgão federal competente, autorizada a ingressar noimóvel de propriedade particular para levantamento de dados e informações, mediante comunicação escrita aoproprietário, preposto ou representante.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

§ 3o  Na ausência do proprietário, do preposto ou do representante, a comunicação será feita mediante edital,a ser publicado, por três vezes consecutivas, em jornal de grande circulação na capital do Estado de localizaçãodo imóvel.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

§ 4o  Não será considerada, para os fins desta Lei, qualquer modificação, quanto ao domínio, à dimensão e àscondições de uso do imóvel, introduzida ou ocorrida até seis meses após a data da comunicação para levanta-mento de dados e informações de que tratam os §§ 2o e 3o.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

§ 5o  No caso de fiscalização decorrente do exercício de poder de polícia, será dispensada a comunicação deque tratam os §§ 2o e 3o.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

§ 6o  O imóvel rural objeto de esbulho possessório ou invasão motivada por conflito agrário ou fundiário decaráter coletivo não será vistoriado nos dois anos seguintes à desocupação do imóvel.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

§ 7o  Na hipótese de reincidência da invasão, computar-se-á em dobro o prazo a que se refere o parágrafoanterior.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

§ 8o  A entidade, a organização, a pessoa jurídica, o movimento ou a sociedade de fato que, de qualquerforma, direta ou indiretamente, auxiliar, colaborar, incentivar, incitar, induzir ou participar de invasão de imóveis

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rurais ou de bens públicos, ou em conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo, não receberá, a qualquertítulo, recursos públicos.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

§ 9o  Se, na hipótese do parágrafo anterior, a transferência ou repasse dos recursos públicos já tiverem sidoautorizados, assistirá ao Poder Público o direito de retenção, bem assim o de rescisão do contrato, convênio ouinstrumento similar.� (NR)

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

Art. 2o-A.  Na hipótese de fraude ou simulação de esbulho ou invasão, por parte do proprietário ou legítimo possui-dor do imóvel, para os fins dos §§ 6o e 7o do artigo anterior, o órgão executor do Programa Nacional de Reforma Agráriaaplicará pena administrativa de R$ 55.000,00 (cinqüenta e cinco mil reais) a R$ 535.000,00 (quinhentos e trinta e cinco milreais) e o cancelamento do cadastro do imóvel no Sistema Nacional de Cadastro Rural, sem prejuízo das demais sançõespenais e civis cabíveis.

Parágrafo único.  Os valores a que se refere este artigo serão atualizados, a partir de maio de 2000, no dia 1o de janeirode cada ano, com base na variação acumulada do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna - IGP-DI, da FundaçãoGetúlio Vargas, no respectivo período.� (NR)

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000.

Art. 3º - (Vetado).

§ 1º - (Vetado).

§ 2º - (Vetado).

Art. 4º - Para os efeitos desta Lei, conceituam-se:

I - Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine oupossa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial;

II - Pequena Propriedade - o imóvel rural:

a) de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais;

b) (Vetado);

c) (Vetado).

III - Média Propriedade - o imóvel rural:

a) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais;

b) (Vetado).

Parágrafo único. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e a média propriedaderural, desde que o seu proprietário não possua outra propriedade rural.

Art. 5º - A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel rural que não cumpra sua função social, importaprévia e justa indenização em títulos da dívida agrária.

§ 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

§ 2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União apropor ação de desapropriação.

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§ 3º - Os títulos da dívida agrária, que conterão cláusula assecuratória de preservação de seu valor real, serão resgatá-veis a partir do segundo ano de sua emissão, em percentual proporcional ao prazo, observados os seguintes critérios:

I - do segundo ao décimo quinto ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área de atésetenta módulos fiscais;

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

II - do segundo ao décimo oitavo ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área acima desetenta e até cento e cinqüenta módulos fiscais; e

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

III - do segundo ao vigésimo ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área superior a centoe cinqüenta módulos fiscais.� (NR)

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

Art. 6º - Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultanea-mente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente.

§ 1º - O grau de utilização da terra, para efeito do �caput� deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitentapor cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total doimóvel.

§ 2º - O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e seráobtido de acordo com a seguinte sistemática:

I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices derendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogê-nea;

II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais - UA do rebanho, peloíndice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homo-gênea;

III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamenteutilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração.

§ 3º - Consideram-se efetivamente utilizadas:

I - as áreas plantadas com produtos vegetais;

II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixadopelo Poder Executivo;

III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento estabelecidospelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental;

IV - as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com o plano de exploração e nas condiçõesestabelecidas pelo órgão federal competente;

V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas permanentes,tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas, mediante documentação e Anotação de Respon-sabilidade Técnica.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

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§ 4º - No caso de consórcio ou intercalação de culturas, considera-se efetivamente utilizada a área total doconsórcio ou intercalação.

§ 5º - No caso de mais de um cultivo no ano, com um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-seefetivamente utilizada a maior área usada no ano considerado.

§ 6º - Para os produtos que não tenham índices de rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada com essesprodutos, com resultado do cálculo previsto no inciso I do § 2º deste artigo.

§ 7º - Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso fortuitoou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão competente,deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de eficiência na exploração, exigidos para a espécie.

§ 8º - São garantidos os incentivos fiscais referentes ao Imposto Territorial Rural relacionados com os graus de utilizaçãoe de eficiência na exploração, conforme o disposto no art. 49 da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964.

Art. 7º - Não será passível de desapropriação, para fins de reforma agrária, o imóvel que comprove estar sendo objetode implantação de projeto técnico que atenda aos seguintes requisitos:

I - seja elaborado por profissional legalmente habilitado e identificado;

II - esteja cumprindo o cronograma físico-financeiro originalmente previsto, não admitidas prorrogaçõesdos prazos;

III - preveja que, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável do imóvel esteja efetiva-mente utilizada em, no máximo, 3 (três) anos para as culturas anuais e 5 (cinco) anos para as culturaspermanentes;

IV - haja sido aprovado pelo órgão federal competente, na forma estabelecida em regulamento, no míni-mo seis meses antes da comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o do art. 2o

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

Parágrafo único. Os prazos previstos no inciso III deste artigo poderão ser prorrogados em até 50% (cinqüenta porcento), desde que o projeto receba, anualmente, a aprovação do órgão competente para fiscalização e tenha sua implantaçãoiniciada no prazo de 6 (seis) meses, contado de sua aprovação.

Art. 8º - Ter-se-á como racional e adequado o aproveitamento de imóvel rural, quando esteja oficialmente destinado àexecução de atividades de pesquisa e experimentação que objetivem o avanço tecnológico da agricultura.

Parágrafo único. Para os fins deste artigo só serão consideradas as propriedades que tenham destinados às atividades depesquisa, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável do imóvel, sendo consubstanciadas tais atividades emprojeto:

I - adotado pelo Poder Público se pertencente a entidade de administração direta ou indireta, ou empresasob seu controle;

II - aprovado pelo Poder Público, se particular o imóvel.

Art. 9º - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo graus e critériosestabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

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IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

§ 1º - Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e de eficiênciana exploração especificados nos parágrafos 1º a 7º do art. 6º desta Lei.

§ 2º - Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz respeitan-do a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade.

§ 3º - Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do meio natural eda qualidade dos recursos ambientais na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da proprieda-de e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas.

§ 4º - A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis trabalhis-tas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que disciplinam os contratos de arrendamento eparceria rurais.

§ 5º - A exploração que favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o atendi-mento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança do trabalho e nãoprovoca conflitos e tensões sociais no imóvel.

§ 6º - (Vetado).

Art. 10 - Para efeito do que dispõe esta Lei, consideram-se não aproveitáveis:

I - as áreas ocupadas por construções e instalações, excetuadas aquelas destinadas a fins produtivos, comoestufas, viveiros, sementeiros, tanques de reprodução e criação de peixes e outros semelhantes;

II - as áreas comprovadamente imprestáveis para qualquer tipo de exploração agrícola, pecuária, florestalou extrativa vegetal;

III - as áreas sob efetiva exploração mineral;

IV - as áreas de efetiva preservação permanente e demais áreas protegidas por legislação relativa à conser-vação dos recursos naturais e à preservação do meio ambiente.

Art. 11.  Os parâmetros, índices e indicadores que informam o conceito de produtividade serão ajustados, periodica-mente, de modo a levar em conta o progresso científico e tecnológico da agricultura e o desenvolvimento regional, pelosMinistros de Estado do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura e do Abastecimento, ouvido o Conselho Nacional de PolíticaAgrícola.� (NR)

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

Art. 12.  Considera-se justa a indenização que reflita o preço atual de mercado do imóvel em sua totalidade, aíincluídas as terras e acessões naturais, matas e florestas e as benfeitorias indenizáveis, observados os seguintes aspectos:

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

I - localização do imóvel;

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

II - aptidão agrícola;

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

III - dimensão do imóvel;

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

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IV - área ocupada e ancianidade das posses;

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

V - funcionalidade, tempo de uso e estado de conservação das benfeitorias.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

§ 1o  Verificado o preço atual de mercado da totalidade do imóvel, proceder-se-á à dedução do valor dasbenfeitorias indenizáveis a serem pagas em dinheiro, obtendo-se o preço da terra a ser indenizado em TDA.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

§ 2o  Integram o preço da terra as florestas naturais, matas nativas e qualquer outro tipo de vegetação natural,não podendo o preço apurado superar, em qualquer hipótese, o preço de mercado do imóvel.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

§ 3o  O Laudo de Avaliação será subscrito por Engenheiro Agrônomo com registro de Anotação de Responsa-bilidade Técnica - ART, respondendo o subscritor, civil, penal e administrativamente, pela superavaliação com-provada ou fraude na identificação das informações.� (NR)

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

Art. 13 - As terras rurais de domínio da União, dos Estados e dos Municípios ficam destinadas, preferencialmente, àexecução de planos de reforma agrária.

Parágrafo único. Excetuando-se as reservas indígenas e os parques, somente se admitirá a existência de imóveis ruraisde propriedade pública, com objetivos diversos dos previstos neste artigo, se o poder público os explorar direta ou indireta-mente para pesquisa, experimentação, demonstração e fomento de atividades relativas ao desenvolvimento da agricultura,pecuária, preservação ecológica, áreas de segurança, treinamento militar, educação de todo tipo, readequação social e defesanacional.

Art. 14 - (Vetado).

Art. 15 - (Vetado).

Art. 16 - Efetuada a desapropriação, o órgão expropriante, dentro do prazo de 3 (três) anos, contados da data deregistro do título translativo de domínio, destinará a respectiva área aos beneficiários da reforma agrária admitindo-se paratanto formas de exploração individual, condominial, cooperativa, associativa ou mista.

Art. 17.  O assentamento de trabalhadores rurais deverá ser realizado em terras economicamente úteis, de preferên-cia na região por eles habitada, observado o seguinte:

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

I - a obtenção de terras rurais destinadas à implantação de projetos de assentamento integrantes doprograma de reforma agrária será precedida de estudo sobre a viabilidade econômica e a potencialidadede uso dos recursos naturais;

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

II - os beneficiários dos projetos de que trata o inciso anterior manifestarão sua concordância com ascondições de obtenção das terras destinadas à implantação dos projetos de assentamento, inclusive quan-to ao preço a ser pago pelo órgão federal executor do programa de reforma agrária e com relação aosrecursos naturais;

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Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

III - nos projetos criados será elaborado Plano de Desenvolvimento de Assentamento - PDA, que orienta-rá a fixação de normas técnicas para a sua implantação e os respectivos investimentos;

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

IV - integrarão a clientela de trabalhadores rurais para fins de assentamento em projetos de reformaagrária somente aqueles que satisfizerem os requisitos fixados para seleção e classificação, bem como asexigências contidas nos arts. 19, incisos I a V e seu parágrafo único, e 20 desta Lei;

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

V - a consolidação dos projetos de assentamento integrantes dos programas de reforma agrária dar-se-ácom a concessão de créditos de instalação e a conclusão dos investimentos, bem como com a outorga doinstrumento definitivo de titulação.� (NR)

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 18 - A distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária far-se- á através de títulos de domínio ou de concessão deuso, inegociáveis pelo prazo de 10 (dez) anos.

§ 1o  O título de domínio de que trata este artigo conterá cláusulas resolutivas e será outorgado ao beneficiáriodo programa de reforma agrária, de forma individual ou coletiva, após a realização dos serviços de medição edemarcação topográfica do imóvel a ser alienado.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

§ 2o  Na implantação do projeto de assentamento, será celebrado com o beneficiário do programa de reformaagrária contrato de concessão de uso, de forma individual ou coletiva, que conterá cláusulas resolutivas, estipu-lando-se os direitos e as obrigações da entidade concedente e dos concessionários, assegurando-se a estes odireito de adquirir, em definitivo, o título de domínio, nas condições previstas no parágrafo anterior, computadoo período da concessão para fins da inegociabilidade de que trata este artigo

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

§ 3o  O valor da alienação do imóvel será definido por deliberação do Conselho Diretor do Instituto Nacionalde Colonização e Reforma Agrária - INCRA, cujo ato fixará os critérios para a apuração do valor da parcela a sercobrada do beneficiário do programa de reforma agrária.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

§ 4o  O valor do imóvel fixado na forma do parágrafo anterior será pago em prestações anuais pelo beneficiáriodo programa de reforma agrária, amortizadas em até vinte anos, com carência de três anos e corrigidas moneta-riamente pela variação do IGP-DI.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

§ 5o  Será concedida ao beneficiário do programa de reforma agrária a redução de cinqüenta por cento dacorreção monetária incidente sobre a prestação anual, quando efetuado o pagamento até a data do vencimentoda respectiva prestação.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

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§ 6o  Os valores relativos às obras de infra-estrutura de interesse coletivo, aos custos despendidos com o planode desenvolvimento do assentamento e aos serviços de medição e demarcação topográficos são consideradosnão reembolsáveis, sendo que os créditos concedidos aos beneficiários do programa de reforma agrária serãoexcluídos do valor das prestações e amortizados na forma a ser definida pelo órgão federal executor do programa.

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

§ 7o  O órgão federal executor do programa de reforma agrária manterá atualizado o cadastro de áreas desa-propriadas e de beneficiários da reforma agrária.� (NR)

Redação dada pela MP 2027-39, de 1º de junho de 2000

Art. 19 - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou ambos, independente-mente de estado civil, observada a seguinte ordem preferencial:

I - ao desapropriado, ficando-lhe assegurada a preferência para a parcela na qual se situe a sede do imóvel;

II - aos que trabalham no imóvel desapropriado como posseiros, assalariados, parceiros ou arrendatários;

III - aos que trabalham como posseiros, assalariados, parceiros ou arrendatários, em outros imóveis;

IV - aos agricultores cujas propriedades não alcancem a dimensão da propriedade familiar;

V - aos agricultores cujas propriedades sejam, comprovadamente, insuficientes para o sustento próprio e ode sua família.

Parágrafo único. Na ordem de preferência de que trata este artigo, terão prioridade os chefes de família numerosa, cujosmembros se proponham a exercer a atividade agrícola na área a ser distribuída.

Art. 20 - Não poderá ser beneficiário da distribuição de terras, a que se refere esta Lei, o proprietário rural, salvo noscasos dos incisos I, IV e V do artigo anterior, nem o que exercer função pública, autárquica ou em órgão parestatal, ou o quese ache investido de atribuição parafiscal, ou quem já tenha sido contemplado anteriormente com parcelas em programa dereforma agrária.

Art. 21 - Nos instrumentos que conferem o título de domínio ou concessão de uso, os beneficiários da reforma agráriaassumirão, obrigatoriamente, o compromisso de cultivar o imóvel direta e pessoalmente, ou através de seu núcleo familiar,mesmo que através de cooperativas, e o de não ceder o seu uso a terceiros, a qualquer título, pelo prazo de 10 (dez) anos.

Art. 22 - Constará, obrigatoriamente, dos instrumentos translativos de domínio ou de concessão de uso cláusula resolutóriaque preveja a rescisão do contrato e o retorno do imóvel ao órgão alienante ou concedente, no caso de descumprimento dequaisquer das obrigações assumidas pelo adquirente ou concessionário.

Art. 23 - O estrangeiro residente no País e a pessoa jurídica autorizada a funcionar no Brasil só poderão arrendar imóvelrural na forma da Lei nº 5.709, de 7 de outubro de 1971.

§ 1º - Aplicam-se ao arrendamento todos os limites, restrições e condições aplicáveis à aquisição de imóveis ruraispor estrangeiro, constantes da Lei referida no �caput� deste artigo.

§ 2º - Compete ao Congresso Nacional autorizar tanto a aquisição ou o arrendamento além dos limites de área epercentual fixados na Lei nº 5.709, de 7 de outubro de 1971, como a aquisição ou arrendamento, por pessoajurídica estrangeira, de área superior a 100 (cem) módulos de exploração indefinida.

Art. 24 - As ações de reforma agrária devem ser compatíveis com as ações de política agrícola, e constantes no PlanoPlurianual.

Art. 25 - O orçamento da União fixará, anualmente, o volume de títulos da dívida agrária e dos recursos destinados, no

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exercício, ao atendimento do Programa de Reforma Agrária.

§ 1º - Os recursos destinados à exceção do Plano Nacional de Reforma Agrária deverão constar do orçamento doMinistério responsável por sua implementação e do órgão executor da política de colonização e reforma agrária,salvo aqueles que, por sua natureza, exijam instituições especializadas para a sua aplicação.

§ 2º - Objetivando a compatibilização dos programas de trabalho e propostas orçamentárias, o órgão executor dareforma agrária encaminhará anualmente e em tempo hábil, aos órgãos da administração pública responsáveispor ações complementares, o programa a ser implantado no ano subseqüente.

Art. 26 - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais, inclusive do Distrito Federal, as operações de trans-ferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária, bem como a transferência ao beneficiário do programa.

Art. 26-A.  Não serão cobradas custas ou emolumentos para registro de títulos translativos de domínio de imóveisrurais desapropriados para fins de reforma agrária.� (NR)

Redação dada pela MP 2.027-39, de 1/6/2000

Art. 27 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 28 - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 25 de fevereiro de 1993, 172º da Independência e 105º da República.

ITAMAR FRANCO

Lázaro Ferreira Barbosa

D.O.U. 26/02/1993

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DECRETO No 3.509, DE 14 DE JUNHO DE 2000.

Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas doInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, e dá outras providências

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição,

D E C R E T A :

Art. 1º Ficam aprovados a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das FunçõesGratificadas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, na forma dos Anexos I e II a este Decreto.

Art. 2º Em decorrência do disposto no artigo anterior ficam remanejados, na forma do Anexo III a este Decreto, osseguintes cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS e Funções Gratificadas - FG:

I - da Secretaria de Gestão, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, provenientes de órgãos extintos daAdministração Pública Federal, para o INCRA, dois DAS 101.5; vinte e dois DAS 101.4; doze DAS 102.2; e trezentos e setentae dois DAS 102.1; e

II - do INCRA para a Secretaria de Gestão, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, vinte e quatro DAS101.3; setenta e nove DAS 101.2; cento e quarenta e nove DAS 101.1; cinco DAS 102.3; quinhentas e vinte e nove FG-1; ecento e dez FG-2.

Art. 3º Os apostilamentos decorrentes da aprovação da Estrutura Regimental, de que trata o art. 1º, deverão ocorrer noprazo de vinte dias, contado da data de publicação deste Decreto.

Parágrafo único. Após os apostilamentos previstos no caput deste artigo, o Presidente do INCRA fará publicar, no DiárioOficial da União, no prazo de trinta dias, contado da data de publicação deste Decreto, relação nominal dos titulares doscargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, a que se refere o Anexo II, indicando, inclusive,o número de cargos vagos, sua denominação e respectivo nível.

Art. 4º O Regimento Interno do INCRA será aprovado pelo Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário e publicadono Diário Oficial da União, no prazo de noventa dias, contado da data de publicação deste Decreto.

Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 6º Ficam revogados o Decreto nº 966, de 27 de outubro de 1993; o Anexo LVI ao Decreto nº 1.351, de 28 dedezembro de 1994; o Decreto nº 1.889, de 29 de abril de 1996 e o Decreto nº 3.291, de 15 de dezembro de 1999.

Brasília, 14 de junho de 2000; 179º da Independência e 112º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSOMartus TavaresRaul Belens Jungmann Pinto

Publicado no D.O. de 15.6.2000

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ANEXO 1

ESTRUTURA REGIMENTAL DO

INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA

CAPÍTULO I

DA NATUREZA, SEDE E COMPETÊNCIA

Art. 1º O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, autarquia federal, vinculada ao Ministério doDesenvolvimento Agrário, criada pelo Decreto-Lei nº 1.110, de 9 de julho de 1970, alterado pela Lei nº 7.231, de 23 deoutubro de 1984, dotada de personalidade jurídica de direito público, com autonomia administrativa e financeira, com sedee foro em Brasília, Distrito Federal e jurisdição em todo o Território Nacional.

Art. 2º O INCRA tem os direitos, competências, atribuições e responsabilidades estabelecidos na Lei nº 4.504, de 30 denovembro de 1964 (Estatuto da Terra) e legislação complementar, em especial a promoção e a execução da reforma agrária eda colonização.

CAPÍTULO II

DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

Art. 3º O INCRA tem a seguinte estrutura organizacional:

I - órgãos colegiados:

a) Conselho Diretor;

b) Comitê de Decisão Intermediária; e

c) Comitês de Decisão Regional;

II - órgãos de assistência direta e imediata ao Presidente:

a) Gabinete; e

b) Procuradoria Jurídica;

III - órgãos seccionais:

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Revista de Direito Agrário

a) Superintendência Nacional de Gestão Administrativa; e

b) Auditoria;

IV - órgãos específicos singulares:

a) Superintendência Nacional de Gestão Estratégica; e

b) Superintendência Nacional do Desenvolvimento Agrário;

V - órgãos descentralizados:

a) Superintendências Regionais; e

b) Unidades Avançadas.

CAPÍTULO III

DA DIREÇÃO E NOMEAÇÃO

Art. 4º O INCRA será dirigido por um Conselho Diretor composto pelo Presidente, três Diretores-Executivos, umSuperintendente Nacional e um representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

§ 1º O Presidente, os Diretores-Executivos, os Superintendentes Nacionais e o Procurador-Geral serãonomeados pelo Presidente da República, por indicação do Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrá-rio.

§ 2º A nomeação do Procurador-Geral deverá ser precedida da anuência do Advogado-Geral da União.

§ 3º Os demais cargos em comissão e funções gratificadas serão providos mediante ato do Presidente doINCRA.

CAPÍTULO IV

DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

Art.5º O Conselho Diretor, constituído de sete membros, terá a seguinte composição:

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Revista de Direito Agrário

I - membros natos:

a) o Presidente do INCRA, que o presidirá;

b) os Diretores-Executivos; e

c) o Procurador-Geral;

II - membros designados:

a) um dos Superintendentes Nacionais, em caráter de rodízio; e

b) um representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, designado pelo Ministro de Estado;

Art. 6º O Comitê de Decisão Intermediária terá a seguinte composição:

I - um Diretor-Executivo em caráter de rodízio, que o coordenará;

II - os três Superintendentes Nacionais; e

III - um representante da Procuradoria Jurídica.

Art. 7º O Comitê de Decisão Regional, em sua respectiva região será composto:

I - pelo Superintendente Regional, que o coordenará;

II - pelos chefes de divisão; e

III - pelo Procurador Regional.

CAPÍTULO V

DA COMPETÊNCIA DAS UNIDADES

Seção I

Dos Órgãos Colegiados

Art. 8º Ao Conselho Diretor compete:

I - deliberar sobre as propostas dos Planos Nacional e Regionais de Reforma Agrária, a serem submetidos à instânciasuperior;

II - aprovar a proposta orçamentária anual do INCRA, e solicitações de créditos adicionais;

III - aprovar a programação operacional anual do INCRA, e suas alterações, com detalhamento das metas e recursos;

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Revista de Direito Agrário

IV - aprovar as normas gerais que tratem de:

a) aquisição e desapropriação de imóveis rurais;

b) transações e celebrações de acordos de composição amigável, visando a eliminação de pendências judiciais;

c) seleção e cadastramento de famílias candidatas ao assentamento;

d) elaboração e consolidação de projetos de assentamento;

e) fornecimento de bens, prestação de serviços e celebração de contratos, convênios, ajustes e outros instrumentos congêneres;e

f) procedimentos e atos administrativos e de funcionamento do INCRA;

V - dispor sobre as Superintendências Nacionais e Regionais e Unidades Avançadas;

VI - autorizar o Presidente a adquirir bens imóveis, inclusive, para a instalação de seus serviços, bem como conceder ealienar os que forem julgados desnecessários a tal finalidade;

VII - apreciar e aprovar as contas e balanços gerais do INCRA;

VIII - conhecer dos relatórios mensais de avaliação de desempenho da Instituição e sobre eles deliberar; e

IX - apreciar assuntos que lhe forem submetidos pelo Presidente ou por qualquer dos demais membros.

Art. 9º Ao Comitê de Decisão Intermediária e aos Comitês de Decisão Regional compete:

I - aprovar procedimentos, atos normativos e operacionais;

II - encaminhar ao Conselho Diretor, para deliberação, procedimentos, atos administrativos e operacionais que ultra-passem suas alçadas de decisão;

III - propor e fundamentar para apreciação do Conselho Diretor, normas gerais que tratem de alterações e simplifica-ções de procedimentos operacionais, normas e regulamentos, com vistas ao aprimoramento e agilização do processo detomada de decisão; e

IV - Apreciar outros assuntos que lhes forem submetidos pelo Conselho Diretor.

Parágrafo único. O Regimento Interno do Conselho Diretor, a ser aprovado pelo próprio Conselho, disporá sobre suaorganização e funcionamento, bem como do Comitê de Decisão Intermediária e dos Comitês de Decisão Regional.

Seção II

Dos Órgãos de Assistência Direta e Imediata ao Presidente

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Art. 10. Ao Gabinete compete:

I - assistir ao Presidente em sua representação política e social e incumbir-se do preparo e despacho do seu expedientepessoal;

II - planejar, coordenar e supervisionar às atividades de comunicação social, apoio parlamentar, e ainda a publicação,divulgação e acompanhamento das matérias de interesse do INCRA; e

III - supervisionar e coordenar as atividades de assessoramento ao Presidente.

Art. 11. À Procuradoria Jurídica compete:

I - representar judicial e extrajudicialmente o INCRA;

II - exercer as atividades de consultoria e assessoramento jurídicos aos órgãos do INCRA, aplicando-se, no que couber,o disposto no art. 11 da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993; e

III - promover a apuração da liquidez e certeza dos créditos, de qualquer natureza, inerentes às atividades do INCRA,inscrevendo-os em dívida ativa, para fins de cobrança amigável ou judicial.

Seção III

Dos Órgãos Seccionais

Art. 12. À Superintendência Nacional de Gestão Administrativa compete coordenar e supervisionar a execução dasatividades relacionadas com os Sistemas Federais de Planejamento e de Orçamento, de Administração Financeira, de Conta-bilidade, de Organização e Modernização Administrativa, de Administração dos Recursos de Informação e Informática, deRecursos Humanos e de Serviços Gerais, no âmbito do INCRA

Art. 13. À Auditoria compete:

I - assessorar o Conselho Diretor para o cumprimento dos objetivos institucionais, avaliando o nível de segurança equalidade dos controles, processos, sistemas e gestão;

II - prestar apoio aos órgãos de Controle Interno e Externo da União no campo de suas atribuições;

III - planejar, acompanhar e controlar o desenvolvimento de auditorias preventivas e corretivas, inclusive, nos órgãos eunidades descentralizadas; e

IV - subsidiar as Superintendências Nacionais na proposição de padrões, sistemas e métodos de avaliação e acompa-nhamento da qualidade e produtividade das atividades do INCRA, bem assim, nas ações voltadas para a modernizaçãoinstitucional.

Seção IV

Dos Órgãos Específicos Singulares

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Art. 14. À Superintendência Nacional de Gestão Estratégica compete:

I - definir diretrizes, objetivos e estratégias de atuação do INCRA;

II - atuar proativamente na pesquisa e disseminação de novas práticas organizacionais que proporcionem a melhoriacontínua da qualidade, eficiência e produtividade do INCRA;

III - analisar cenários e tendências da ambiência externa e interna que impactam o direcionamento estratégico doINCRA;

IV - promover, acompanhar e coordenar a definição de diretrizes estratégicas e a elaboração dos planos de curto, médioe longo prazo das ações de reforma agrária, disponibilizando sistemas de cobrança de resultados gerenciais, garantindo oalcance dos objetivos da Instituição;

V - incorporar e disseminar o pensamento estratégico moderno, práticas de gestão inovadoras e bem sucedidas, internae externamente;

VI - sistematizar e disponibilizar as informações gerenciais do INCRA, mediante tratamento dos dados fornecidos pelossistemas de informação, visando dar suporte ao processo decisório no planejamento;

VII - definir diretrizes para elaboração dos planos de desenvolvimento de recursos humanos, bem como promover,acompanhar e avaliar as ações de capacitação, assegurando o direcionamento estratégico do INCRA;

VIII - promover a articulação institucional visando a estruturação orçamentária dos programas, ações, atividades, proje-tos e operações especiais que comporão o orçamento do INCRA;

IX - propor políticas e diretrizes no âmbito do desenvolvimento agrário;

X - desenvolver estudos e pesquisas visando o aprofundamento da realidade agrária do País;

XI - implementar no âmbito do INCRA as diretrizes, políticas, objetivos e estratégias do Governo Federal, do Ministériodo Desenvolvimento Agrário e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural;

XII - coordenar, supervisionar e controlar as atividades relacionadas ao planejamento, desenvolvimento, implantação emanutenção de redes de comunicação; e

XIII - buscar novas tecnologias para modernização do órgão, bem como desenvolver sistemas para automatização desuas atividades.

Art. 15. À Superintendência Nacional do Desenvolvimento Agrário compete:

I - coordenar, normatizar e supervisionar as atividades de aquisição, desapropriação e incorporação ao patrimônio do INCRA,das terras necessárias às suas finalidades, bem como a discriminação, a arrecadação e a incorporação ao patrimônio público de terrasdevolutas federais, a regularização fundiária de suas ocupações, a titulação de imóveis e o controle do arrendamento e aquisição deimóveis rurais por estrangeiros;

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Revista de Direito Agrário

II - supervisionar as atividades de assentamento de famílias e de promoção do acesso à terra, compreendendo, inclusi-ve, a implantação e consolidação de projetos, em atendimento aos programas de reforma agrária e colonização;

III - coordenar, normatizar e supervisionar o Sistema Nacional de Cadastro Rural assim como promover a sua integraçãocom outros sistemas nacionais de cadastro de terras;

IV - coordenar, normatizar e supervisionar as atividades de suporte tecnológico zelando por sua constante atualização;

V - monitorar os Projetos de Assentamento visando a elaboração de diagnósticos de seu desempenho;

VI - desenvolver, acompanhar e supervisionar projetos especiais mantendo sua articulação com as políticas do Ministé-rio de Desenvolvimento Agrário e Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural;

VII - promover estudos e diagnósticos sobre a estrutura fundiária nacional, mercados de terras, sistemas de produção ecadeias produtivas visando dar suporte às ações de reforma agrária;

VIII - gerenciar o ordenamento territorial do País;

IX - desenvolver e monitorar mecanismos de obtenção de terras;

X - promover estudos para elaboração e revisão do zoneamento agrário e definição de índices técnicos agropecuáriospara a classificação da produtividade de imóveis rurais; e

XI - promover a fiscalização de imóveis rurais quanto ao seu uso e exploração agropecuária; e

XII - coordenar e supervisionar tecnicamente as Superintendências Regionais na execução das atividades finalísticas.

Seção V

Dos Órgãos Descentralizados

Art. 16. Às Superintendências Regionais compete coordenar e executar as atividades de suas respectivas unidades, naárea de sua atuação, definidas no Regimento Interno do INCRA.

Art. 17. Às Unidades Avançadas compete a execução das atividades finalísticas e outras específicas definidas no Regi-mento Interno do INCRA.

CAPÍTULO VI

DAS ATRIBUIÇÕES DOS DIRIGENTES

Seção I

Do Presidente

Art. 18. Ao Presidente incumbe:

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I - representar o INCRA, ativa e passivamente, em Juízo, por meio de procuradores, ou fora dele, na qualidade de seuprincipal responsável;

II - dirigir, orientar e coordenar, por intermédio dos órgãos estruturais e de acordo com a regulamentação em vigor, ofuncionamento geral do INCRA em todos os setores de suas atividades, zelando pelo fiel cumprimento da política geral traçadae dos planos, programas e projetos da Entidade;

III - convocar, quando necessário, as reuniões do Conselho Diretor e presidi-las;

IV - firmar, em nome do INCRA, contratos, convênios, acordos, ajustes e outros instrumentos similares, bem assimdocumentos de titulação de imóveis;

V - aprovar projetos de reforma agrária e de colonização;

VI - praticar todos os atos pertinentes à administração orçamentária, financeira, contábil, de patrimônio, de material ede serviços gerais, na forma da legislação em vigor e determinar auditorias e verificações periódicas nessas áreas; e

VII - estabelecer normas regulamentares e praticar os demais atos pertinentes à organização e ao funcionamento doINCRA, nos termos do Regimento Interno.

Parágrafo único. Os dirigentes do INCRA terão substitutos indicados no Regimento Interno, ou, no caso de omissão,previamente, designados por seu Presidente e assumirão automaticamente e cumulativamente, o exercício do cargo ou funçãode direção, nos afastamentos ou impedimentos legais ou regulamentares do titular e na vacância do cargo.

Seção II

Dos Diretores-Executivos

Art. 19. Aos Diretores-Executivos incumbe:

I - promover maior interação com o Congresso Nacional, por meio das Comissões da Câmara dos Deputados e doSenado Federal, no processo de formulação e implementação das políticas e matérias de interesse do INCRA;

II - apoiar as Superintendências Regionais na promoção de uma maior integração entre o INCRA e os Estados, Municí-pios e entidades não governamentais inseridas no processo de implementação da reforma agrária;

III - apoiar as Superintendências Regionais no incentivo à participação das esferas estadual e municipal na identificaçãode prioridades para a reforma agrária e na solução de conflitos em áreas de risco;

IV - diagnosticar, em sua área de atuação, as causas e propor soluções para os diversos problemas com os quais conviveo INCRA, que comprometam o seu desempenho frente a sua missão de executar a Reforma Agrária;

V - propor estratégias de envolvimento e comprometimento das esferas governamentais, no âmbito regional e estadual,de modo a integrar as diversas políticas e ações do INCRA, indispensáveis ao avanço e consolidação do Programa de ReformaAgrária;

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Revista de Direito Agrário

VI - promover a imagem do INCRA junto à sociedade local, estadual, regional e nacional, divulgando seus programas,projetos e ações;

VII - apoiar as Superintendências Regionais na busca de cooperação/parcerias com organizações governamentais e nãogovernamentais, visando o atingimento das metas definidas para sua área de atuação;

VIII - subsidiar a Superintendência Nacional de Gestão Estratégica com informações e proposições de alternativas paraformulação de diretrizes e políticas a serem definidas para o INCRA;

IX - subsidiar o Presidente do INCRA, como Conselheiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural e do Conse-lho Curador do Banco da Terra, de informações e proposições de políticas e diretrizes a serem apresentadas à consideraçãodesses Conselhos;

X - dar suporte à integração das políticas de agricultura familiar e de reforma agrária; e

XI - exercer outras atividades que lhe forem cometidas pelo Presidente do INCRA.

Parágrafo único. As áreas de atuação de cada Diretor-Executivo serão definidas no Regimento Interno do INCRA.

Seção III

Dos Demais Dirigentes

Art. 20. Ao Chefe de Gabinete, ao Procurador-Geral, ao Auditor-Chefe, aos Superintendentes Nacionais, aos Superin-tendentes Regionais e aos demais dirigentes, incumbe planejar, dirigir, coordenar e orientar a execução das atividades dasrespectivas Unidades e exercer outras atribuições que lhes forem cometidas pelo Presidente do INCRA.

CAPÍTULO VII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSlTÓRlAS

Art. 21. Os órgãos descentralizados ficam sujeitos à orientação técnica e normativa dos Diretores-Executivos, das Supe-rintendências Nacionais, da Auditoria e da Procuradoria-Geral.

Art. 22. As normas de organização e funcionamento dos órgãos e unidades integrantes da Estrutura Regimental doINCRA serão estabelecidas no Regimento Interno.

Art. 23. No prazo de noventa dias o INCRA promoverá a realização de estudo detalhado visando diagnosticar a neces-sidade da manutenção das Unidades Avançadas na Estrutura Regimental.

Art. 24. Os casos omissos e as dúvidas suscitadas na aplicação da presente Estrutura Regimental serão dirimidos peloPresidente do INCRA, ad referendum do Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário.

181

Revista de Direito Agrário

DAS/FG

101.6102.4101.4102.1

101.4102.2101.4101.2102.1

101.5

101.4102.2102.1

101.5102.2101.4102.2102.1

101.4102.1

101.4102.1

101.4102.1

101.5102.2102.1

CARGO/FUNÇÃO

No

DENOMINAÇÃOCARGO/FUNÇÃO

PresidenteAssessor EspecialGerente EstratégicoAuxiliar

ChefeAssistenteChefeChefeAuxiliar

Diretor-Executivo

Auditor-ChefeAssistenteAuxiliar

Procurador-GeralAssistenteSubprocurador-GeralAssistenteAuxiliar

Coordenador-GeralAuxiliar

Coordenador-GeralAuxiliar

Coordenador-GeralAuxiliar

Superintendente NacionalAssistenteAuxiliar

UNIDADE

GABINETE

Assessoria de Comunicação SocialDivisão

AUDITORIA

PROCURADORIA JURÍDICA

Coordenação-Geral Agrária

Coordenação-Geral Trabalhista

Coordenação-Geral de Assuntos JurídicosAdministrativos

SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DEGESTÃO ADMINISTRATIVA

a) QUADRO DEMONSTRATIVO DOS CARGOS EM COMISSÃO E DAS FUNÇÕES GRATIFICADAS DO INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRAa) QUADRO DEMONSTRATIVO DOS CARGOS EM COMISSÃO E DAS FUNÇÕES GRATIFICADAS

DO INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA

182

Revista de Direito Agrário

101.4101.2102.1

101.4101.2102.1

101.4101.2102.1

101.4101.2102.1

101.5102.2102.1

101.4102.1

101.4102.1

101.4102.1

101.5102.2102.1

101.4101.2102.1

101.4101.2102.1

101.4102.1

137

135

134

121

112

13

11

13

112

1310

1411

12

Coordenador-GeralChefeAuxiliar

Coordenador-GeralChefeAuxiliar

Coordenador-GeralChefeAuxiliar

Coordenador-GeralChefeAuxiliar

Superintendente NacionalAssistenteAuxiliar

Coordenador-GeralAuxiliar

Coordenador-GeralAuxiliar

Coordenador-GeralAuxiliar

Superintendente NacionalAssistenteAuxiliar

Coordenador-GeralChefeAuxiliar

Coordenador-GeralChefeAuxiliar

Coordenador-GeralAuxiliar

DAS/FG

CARGO/FUNÇÃO

No

DENOMINAÇÃOCARGO/FUNÇÃO

UNIDADE

Coordenação-Geral de Recursos HumanosDivisão

Coordenação-Geral de Recursos MateriaisDivisão

Coordenação-Geral de FinançasDivisão

Coordenação-Geral de ContabilidadeDivisão

SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DEGESTÃO ESTRATÉGICA

Coordenação-Geral de Planejamento

Coordenação-Geral de Políticas Agrárias

Coordenação-Geral de Informática

SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DODESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

Coordenação-Geral de Monitoração eControleDivisão

Coordenação-Geral TécnicaDivisão

Coordenação-Geral de Projetos Especiais

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Revista de Direito Agrário

DAS/FG

CARGO/FUNÇÃO

No

DENOMINAÇÃOCARGO/FUNÇÃO

UNIDADE

SUPERINTENDÊNCIAS REGIONAISSuperintendência Regional (Tipo I e II)Superintendência Regional (Tipo III)

Procuradoria Regional

Divisão

UNIDADE AVANÇADAGrupamentoGrupo

22780293487207

443911

Superintendente RegionalSuperintendente RegionalAuxiliarChefeAuxiliarChefeAuxiliar

ExecutorChefeChefe

101.4101.3102.1101.2102.1101.2102.1

101.2101.1FG-1

184

Revista de Direito Agrário

CÓDIGO DAS- UNITÁRIO

QTDE. VALOR TOTAL QTDE. VALOR TOTAL

SUBTOTAL 1

FG-1FG-2

0,310,24

DO INCRA P/ A SEGES/MP (b)DA SEGES/MP P/ O INCRA (a)

REMANEJAMENTO DE CARGOS

4,943,081,241,111,00

1,241,111,00

DAS 101.5DAS 101.4DAS 101.3DAS 101.2DAS 101.1

DAS 102.3DAS 102.2DAS 102.1

SUBTOTAL 2TOTAL (1+2)SALDO DO REMANEJAMENTO (a-b)

Fonte: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/decreto/D3509.htm

--

29,7687,69

149,00

6,20--

272,65

163,6526,40

190,39463,04

-

--

2479

149

5--

257

529110

639896

-

9,8867,76

---

-13,32

372,00

462,96

--

-462,96- 0,08

222---

-12372

408

--

-408

- 488

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Revista de Direito Agrário

PROJETO DE LEI

Altera dispositivos das Leis nos 4.947, de 6 de abril de 1966, 5.868, de 12 de dezembro de 1972, 6.015, de 31 dedezembro de 1973, do Decreto-Lei no 1.989, de 28 de dezembro de 1982, da Lei no 9.393, de 19 de dezembro de 1996, edá outras providências.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1o  Os arts. 20 e 22 da Lei no 4.947, de 6 de abril de 1966, passam a vigorar com as seguintes alterações:

�Art. 20.  Ingressar e permanecer sem autorização dos seus órgãos competentes, em terras da União, dos Estados, doDistrito Federal e dos Municípios, ou de suas entidades vinculadas.

Pena: detenção de seis meses a três anos, ou multa.

§ 1o  As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço, quando houver a intenção de ocuparas terras a que se refere o caput.

§ 2o  As penas cominadas neste artigo não se aplicam à ocupação de boa-fé e comprovadamente decaráter sócio-econômico, assim entendidas as situações previstas no art. 102 da Lei no 4.504, de 30 denovembro de 1964 e no art. 29 da Lei no 6.383, de 7 de dezembro de 1976, respeitada a propriedadefamiliar, desde que não ocorra em área de floresta primária ou de preservação permanente.� (NR)

�Art. 22.  

§ 3o  A apresentação do Certificado de Cadastro de Imóvel Rural - CCIR, exigida neste artigo e nosparágrafos anteriores, far-se-á, sempre, acompanhada da prova de quitação do Imposto sobre a Proprieda-de Territorial Rural - ITR, correspondente aos últimos cinco exercícios, ressalvados os casos de inexigibilidadee dispensa previstos no art. 20 da Lei no 9.393, de 19 de dezembro de 1996.

§ 4o  Dos títulos de domínio destacados do patrimônio público constará obrigatoriamente o número deinscrição do CCIR, nos termos da regulamentação desta Lei.

§ 5o  Nos casos de usucapião, o juiz intimará o INCRA do teor da sentença, para fins de cadastramentodo imóvel rural.

§ 6o  Além dos requisitos previstos no art. 134 do Código Civil e na Lei no 7.433, de 18 de dezembro de1985, os serviços notariais são obrigados a mencionar nas escrituras os seguintes dados integrantes doCCIR:

I - código do imóvel;

II - nome do detentor;

III - nacionalidade do detentor;

186

Revista de Direito Agrário

IV - denominação do imóvel; e

V - localização do imóvel.

§ 7o  Os serviços de registro de imóveis ficam obrigados a encaminhar ao INCRA, mensalmente, asmodificações ocorridas nas matrículas imobiliárias decorrentes de mudanças de titularidade,desmembramento, parcelamento, loteamento, remembramento, retificação de área, reserva legal e parti-cular do patrimônio natural e outras limitações e restrições de caráter ambiental, envolvendo os imóveisrurais, inclusive os destacados do patrimônio público.

§ 8o  O INCRA encaminhará, mensalmente, aos serviços de registro de imóveis, os códigos dos imóveisrurais de que trata o parágrafo anterior, para ser averbados de ofício, nas respectivas matrículas.� (NR)

Art. 2o  Os arts. 1o, 2o, 3o e 8o da Lei no 5.868, de 12 de dezembro de 1972, passam a vigorar com as seguintesalterações:

�Art. 1o  

§ 1o  As revisões gerais de cadastros de imóveis a que se refere o § 4o do art. 46 da Lei no 4.504, de 30de novembro de 1964, serão realizadas em todo o País nos prazos fixados em ato do Poder Executivo, parafins de recadastramento e de aprimoramento do Sistema de Tributação da Terra - STT e do Sistema Nacio-nal de Cadastro Rural - SNCR.

§ 2o  Fica criado o Cadastro Nacional de Imóveis Rurais - CNIR, que terá base comum de informações,gerenciada conjuntamente pelo INCRA e pela Secretaria da Receita Federal, produzida e compartilhadapelas diversas instituições públicas federais e estaduais produtoras e usuárias de informações sobre o meiorural brasileiro.

§ 3o  A base comum do CNIR adotará código único, a ser estabelecido em ato conjunto do INCRA e daSecretaria da Receita Federal, para os imóveis rurais cadastrados que permita a sua identificação e ocompartilhamento das informações entre as instituições participantes.

§ 4o  Integrarão o CNIR, as bases próprias de informações produzidas e gerenciadas pelas instituições participan-tes, constituídas por dados específicos de seus interesses, que poderão por elas ser compartilhados, respeitadas asnormas regulamentadoras de cada entidade.� (NR)

�Art. 2o  

§ 3o  Ficam também obrigados todos os proprietários, os titulares de domínio útil ou os possuidores aqualquer título a atualizar a declaração de cadastro sempre que houver alteração nos imóveis rurais, emrelação à área ou à titularidade, bem como nos casos de preservação, conservação e proteção de recursosnaturais.

§ 4o  Quando duas ou mais áreas rurais contíguas, pertencentes ao mesmo proprietário, constarem dematrículas autônomas, ou de transcrições anteriores à Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, ou seencontrarem registradas por ambos os sistemas, poderá o INCRA notificar o proprietário para proceder àunificação das matrículas no registro de imóveis.� (NR)

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Revista de Direito Agrário

�Art. 3o  

Parágrafo único.  Os documentos expedidos pelo INCRA, para fins cadastrais, não fazem prova de propriedade ou dedireitos a ela relativos, ainda que neles constem referências a termos de reconhecimento, cartas de sentença, ou qualqueroutro documento originário do Poder Público.� (NR)

�Art. 8o  

§ 3o  São considerados nulos e de nenhum efeito quaisquer atos que infrinjam o disposto neste artigo,não podendo os serviços notariais lavrar escrituras dessas áreas, nem ser tais atos registrados nos Registrosde Imóveis, sob pena de responsabilidade administrativa, civil e criminal de seus titulares ou prepostos.

� (NR)

Art. 3o  Os arts. 169, 176 e 225 da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passam a vigorar com as seguintesalterações:

�Art. 169.  

II - os registros relativos a imóveis situados em comarcas ou circunscrições limítrofes, que serão feitos em todas elas,devendo os Registros de Imóveis fazer constar dos títulos registrados tais ocorrências;

� (NR)

�Art. 176.  

II - ...........................................................................................................................................

3. a identificação do imóvel, que será feita mediante:

a) se rural, o código do imóvel, os dados constantes do CCIR, a denominação e a indicação de suas características,confrontações, localização e área;

b) se urbano, indicação de suas características e confrontações, localização, área, logradouro, número e sua designa-ção cadastral, se houver.

§ 3o  Nos casos de desmembramento, parcelamento ou remembramento de imóveis rurais, a identifica-ção prevista no § 1o, II, 3, �a�, será obtida a partir de memorial descritivo, assinado por profissionalhabilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, contendo as coordenadas dosvértices definidores dos limites dos imóveis rurais, geo-referenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro ecom precisão posicional a ser fixada pelo INCRA.� (NR)

�Art. 225.  

§ 3o  Nos autos judiciais que versem sobre imóveis rurais, a localização, os limites e as confrontaçõesserão obtidos a partir de memorial descritivo assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação

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Revista de Direito Agrário

de Responsabilidade Técnica - ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dosimóveis rurais, geo-referenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional a ser fixadapelo INCRA.� (NR)

Art. 4o  O art. 2o do Decreto-Lei no 1.989, de 28 de dezembro de 1982, passa a vigorar com as seguintes alterações:

�Art. 2o  A Taxa de Serviços Cadastrais, prevista no art. 5o do Decreto-Lei no 57, de 18 de novembro de 1966, com aalteração do art. 2o da Lei no 6.746, de 10 de dezembro de 1979, será devida nos valores abaixo:

a) R$ 2,00 (dois reais) para os imóveis rurais com área até vinte hectares;

b) para os imóveis rurais com área acima de vinte hectares e até mil hectares, ao valor referido na alínea anterior,acrescentar-se-ão R$ 2,00 (dois reais) para cada cinqüenta hectares ou fração excedente;

c) para os imóveis rurais com área acima de mil hectares, ao resultado obtido na forma da alínea anterior, acrescentar-se-ão R$ 2,00 (dois reais) para cada mil hectares ou fração excedente.� (NR)

Art. 5o  O art. 16 da Lei no 9.393, de 19 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte alteração:

�Art. 16.  

§ 3o  A Secretaria da Receita Federal, com o apoio do INCRA, administrará o CAFIR e colocará as infor-mações nele contidas à disposição daquela Autarquia, para fins de levantamento, pesquisas e proposiçãode ações administrativas e judiciais.

§ 4o  Às informações a que se refere o parágrafo anterior aplica-se o disposto no art. 198 da Lei no 5.172,de 25 de outubro de 1966 - Sistema Tributário Nacional.� (NR)

Art. 6o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, PL-L4997(4)

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