revista de ciências da saúde nova esperança

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1 João Pessoa-PB v. 8 n. 1/2 p. 1-106 Jun./dez. 2010 Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança Escola de Enfermagem Nova Esperança Ltda. CEM

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Page 1: Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança

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João Pessoa-PB v. 8 n. 1/2 p. 1-106 Jun./dez. 2010

Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança

Escola de EnfermagemNova Esperança Ltda.

CEM

Page 2: Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança

2

ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR

Diretora-Presidente daEntidade MantenedoraKátia Maria Santiago Silveira

Diretor Vice-PresidenteJoão Fernando Pessoa Silveira

Diretor da FACENEEitel Santiago Silveira

Diretora da FAMENEKátia Maria Santiago Silveira

Coordenadora doCurso de Enfermagem - FACENENereide de Andrade Virgínio

Coordenadora doCurso de Medicina - FAMENEGladys M. Cordeiro da Fonseca

ÓRGÃOS DE APOIO ADMINISTRATIVO

Secretaria GeralCarolina Santiago Silveira Polaro AraújoTesourariaAlexandre Henrique Santiago SilveiraRecursos HumanosTatiana (?)Comitê de Ética em Pesquisa Facene/FameneRosa Rita da Conceição MarquesNúcleo de Pesquisa e Extensão AcadêmicasOriana Deyze Paiva Correia LeadebalBibliotecaJanaína Nascimento de Araújo - CRB 15/103Liliane Soares da Silva Morais - CRB 15/487

Revista de Ciências da SaúdeNova Esperança - Semestral

Tiragem: 300 exemplares

EditorEdielson Jean da Silva Nascimento

CONSELHO EDITORIAL Clélia Albino Simpson – UFRN-RN Homero Perazzo Barbosa – FACENE/FAMENE-PB Iara de Morais Xavier – UnB-DF Iolanda Beserra da Costa Santos – UFPB-PB Jackson Roberto G. S. Almeida – UNIVASF-PE José Augusto Peres – UnP-RN Josean Fechine Tavares – UFPB-PB Katy Lísias Gondim Dias – FAMENE-PB Liana Clébia Soares Lima de Morais – UFPB-PB Lucindo José Quintans Júnior – UFS-SE Marcos Antonio Jerônimo Costa – FACENE-PB Marcos Antonio Nóbrega de Sousa – UEPB-PB Maria Júlia Guimarães de O. Soares – UFPB-PB Marta Miriam Lopes Costa – UFPB-PB Regina Célia de Oliveira – UnP-PE(?) Rinaldo Henrique Aguilar da Silva – Famema-SP Roque Marcos Savioli – INCOR/FMUSP-SP Simone Carneiro Maldonado – UFPB-PB

CAPALuiz de Souza Soares

DiagramaçãoMagno Nicolau

EdiçãoIdeia Editora [email protected]

A partir do triênio 2007/2009 a Revista de Ciências daSaúde Nova Esperança obteve o Qualis “B5”, pelaCapes, para as áreas de Enfermagem e Medicina.

Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança. v.8 n. 1/2. João Pessoa: Faculdade de Enfermagem NovaEsperança – FACENE, 2010.

v.: il.;

SemestralISSN 1679-1983

1. Ciências da Saúde - Periódico I. Título.

CDU – 61(05)

Av. Frei Galvão, 12Gramame - João Pessoa - Paraíba - Brasil

CEP: 58.067-695 - Telefone: (83) 2106-4791Site: www.facene.com.br

E-mail: [email protected]

Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança -ISSN 1679-1983

A Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança éafiliada à Associação Brasileira de Editores Científicos -ABEC.

Impressa no ano de 2011.

Page 3: Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança

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SumárioSumário

EDITORIAL, 5

ARTIGOS ORIGINAIS

PERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO EM PROFISSIONAIS DEENFERMAGEM EM INSTITUIÇÃO HOSPITALAR PÚBLICA, 7Ylka Crispim de Almeida RodriguesAnne Jaquelyne Roque BarrêtoMatheus Figueiredo Nogueira

A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO SIMPLES DAS MÃOS EM AMBIENTEHOSPITALAR, 17José Firmino Oliveira JúniorKhivia Kiss da Silva BarbosaJogilmira Macêdo SilvaFabiana Ferraz Queiroga FreitasDaniela Karina Antão

ATITUDES RELIGIOSAS DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM FRENTE AOPACIENTE CRÍTICO, 24Glauciele Barbosa Pereira MedeirosPaulo Emanuel SilvaEdnice Fidelis Anisio

RELAÇÃO TREINADOR-ATLETA: PERCEPÇÃO DOS COMPORTAMENTOS DELIDERANÇA E COESÃO POR EQUIPES DE VOLEIBOL DE PRAIA, 36Felipe Brandão dos Santos OliveiraMaria do Socorro Cirilo de SousaGilmário Ricarte BatistaJefferson da Silva Novaes

CONTROLE SOCIAL: CONHECIMENTO DOS USUÁRIOS DE UMA UNIDADE DESAÚDE DA FAMÍLIA, 43Ariano Suassuna dos SantosAnne Jaquelyne Roque Barrêto

PROPOSTA DE UM PLANO DE CUIDADOS DE ENFERMAGEM PARA CLIENTESCOM SÍNDROME DE FOURNIER, 53Khivia Kiss da Silva BarbosaJogilmira Macêdo SilvaEdna Silva GrangeiroFabiana Ferraz Queiroga FreitasGerlane Ângela da Costa Moreira

Page 4: Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança

4

ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO

ABORDAGEM LITERÁRIA SOBRE A CRIPTOCOCOSE, 59Layanne Cabral da Cunha AraujoPaola Sysnanda Alves de MirandaMabel Soares de AlmeidaMaria do Livramento Ferreira Lima

ESTUDO COMPARATIVO DE CORTES CORONAIS NEUROANATOMICOS COMRESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA – IMPORTÂNCIA DO ACERVO DECORTES ENCEFÁLICOS DA FAMENE NA PROPEDEUTICA DA MONITORIA DENEUROANATOMIA, 65Arlindo Ugulino NettoLuiz Gustavo Correia BarrosStênio Abrantes Sarmento

SAÚDE MENTAL: O NORMAL E O PATOLÓGICOÀ LUZ DE FOUCAULT E CANGUILHEM, 71Vilma Felipe Costa de MeloCletiane Medeiros AraújoSaulo Felipe Costa

ARTIGOS DE REVISÃO

ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS DA CÁRIE DENTAL – UMAREVISÃO DA LITERATURA, 82Pablo Guilherme CaldarelliRegina Lúcia dos Santos

O PROFISSIONAL DE SAÚDE FRENTE À IMINÊNCIADA MORTE EM PACIENTE TERMINAL, 86Patrícia Geysiane Santos dos AnjosPoliana Lira CavalcantiTatiane Guedes Ferreira Cordeiro Edvânia Bento Costa

COMUNICAÇÃO BREVE

RECONSTRUÇÃO DO LIGAMENTOPATELOFEMORAL MEDIAL: UMA TÉCNICA SIMPLES USANDO PONTOSISOMÉTRICOS, 93Rosalvo Zósimo Bispo JúniorCezar Teruyuki KawanoAlexandre Takayuki Soejima

Normas, 99

Page 5: Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança

5

A educação brasileira é foco de diversasdiscussões há vários anos, no entanto,recentemente, a cultura tem modificadohábitos e comportamentos em nossos alunosno que se referem à busca de conhecimentose de resolução de problemas. Como osestudos pedagógicos e científicos exigemnovas maneiras de olhar o mundo, a fim dedesenvolver indivíduos críticos e capazes dediscernimento, os aprendentes estão seaprofundando cada dia mais em conteúdose saberes que seriam vistos apenassuperficialmente. Não é mais suficiente aformação num curso superior, com umdiploma que traria boas oportunidades deemprego e garantia de sucesso e desegurança. Atualmente, o profissional devese manter em constante formação eatualização dos seus conhecimentos, querseja em projetos de pesquisa, extensão e pós-graduação.

Sendo assim, as pesquisas científicassão primordiais para que sejam realizadoslevantamentos de dados, reflexões sobrerecentes descobertas, revisão de literaturaespecífica de cada área, análise de gruposcomunitários ou regionais, estudos de casoou de campo, levando-se em consideração ocontexto em que serão estudados, ascondições econômicas e educacionais dosindivíduos envolvidos nas pesquisas, entreoutros aspectos relevantes.

Especificamente na área da saúde eafins, devido às constantes descobertas eatualizações, associadas às tecnologias,fazem-se necessárias frequentes publicaçõescientíficas, uma vez que é imprescindível aoprofissional de saúde oportunizar a cons-trução do seu conhecimento a partir darealidade e compreender fundamentos quedelimitam a pesquisa, em todos seusaspectos, seja quanto às implicações éticasque envolvem seres humanos, seja na seleçãode amostra para coleta de dados, sempreacompanhando as rápidas mudançasocorridas no campo da ciência.

Diferentes tipos de pesquisa, comoestudos bibliográficos, documentais,

Editorial

A PESQUISACIENTÍFICA NA

FORMAÇÃO DOPROFISSIONAL

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6 Editorial

observacionais e experimentais, do tipoexploratório e descritivo, com abordagemquantitativa e/ou qualitativa, mantêm ainformação sempre atualizada e permitemque outros profissionais, pesquisadores,professores e alunos tenham conhecimentodo que está sendo estudado. Portanto, aRevista de Ciências da Saúde NovaEsperança, mantida pela FACENE/

FAMENE, procura atender esta demanda,associando a teoria à prática, em prol da va-lorização e disseminação das pesquisas cien-tíficas, cujo objetivo é alcançar qualidade ecompromisso com a saúde do nosso país.

Cyelle Carmem Vasconcelos Pereira(Mestre em Letras pela UFPB.

Escritora. Professora de Língua Portuguesa)

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7

RESUMOA Saúde do Trabalhador constitui um campo na área da Saúde Coletiva em plena construção, cujo objetoestá centrado no processo saúde-doença dos trabalhadores dos diversos grupos populacionais em suarelação com o trabalho. No que diz respeito aos acidentes de trabalho (ATs) que atingem os trabalhadoresdas unidades hospitalares, vale destacar que estes são ambientes complexos que apresentam elevadosnúmeros de riscos para os seus profissionais. O presente estudo teve como objetivos conhecer os tipos deacidentes do trabalho de enfermagem e investigar a adesão pelo profissional de enfermagem ao usoregular de EPI’s em uma instituição hospitalar pública do município de Cabedelo-PB. Trata-se de umestudo de campo com abordagem quantitativa, cujos dados foram coletados através de entrevistaestruturada com a utilização de um questionário. Constituíram-se sujeitos do estudo 20 trabalhadores deenfermagem, sendo 4 (20%) enfermeiros, 15 (75%), técnicos de enfermagem e 1 (5%) auxiliar de enfermagem.Nos resultados, verificou-se quanto à caracterização da amostra, uma maioria no sexo feminino (90%); afaixa etária que prevaleceu foi de 30 a 39 anos (50%). Em relação ao tipo mais comum de AT, o estudoidentificou que os acidentes ocorreram geralmente durante o descarte do material perfuro-cortante(agulhas). Quanto às ações de orientação à prevenção de acidentes de trabalho desenvolvidas na instituição,dos 45% (9) profissionais que informaram receber algum tipo orientação de prevenção contra acidentes detrabalho, 56% (5) informaram que o meio mais utilizado para orientação foi através de palestras. Éimportante ressaltar que as ocorrências de ATs derivam de complexas inter-relações e não devem seranalisados de forma isolada, como evento particular, mas através do estudo do contexto dos processos detrabalho e produção, das formas como o trabalho é organizado e realizado, bem como das cargas detrabalho presentes no dia adia dos trabalhadores.Palavras-chave: Acidentes de Trabalho. Recursos Humanos de Enfermagem no Hospital.

Artigo OriginalPERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO EM

PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM EM INSTITUIÇÃOHOSPITALAR PÚBLICA

Ylka Crispim de Almeida Rodrigues1

Anne Jaquelyne Roque Barrêto2

Matheus Figueiredo Nogueira3

1 Enfermeira. Graduada pela Faculdade de Enfermagem Nova Esperança-FACENE.2 Enfermeira. Mestranda em Saúde Pública pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista emAdministração em Serviços de Saúde e de Enfermagem. Professora da Faculdade de Enfermagem NovaEsperança – FACENE e da Universidade Federal de Alagoas-UFAL Endereço: Rua Edgar CavalcantiPedroza, nº 100, Água Fria, CEP.: 58077-290 – João Pessoa-Paraíba. Tel (83) 8114.4259. E-mail:[email protected] Enfermeiro, FSM/Cajazeiras - PB. Especialista em Saúde da Família, FSM/Cajazeiras - PB. Mestre emEnfermagem na Atenção à Saúde, UFPB/João Pessoa - PB. Professor da Faculdade de Enfermagem NovaEsperança – FACENE/João Pessoa - PB. E-mail: [email protected]

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O trabalho é definido como todo aquele que, executando um esforço físico ou intelectualno desempenho de uma atividade ou de uma profissão, realiza um empreendimento,

promove uma obra, ou obtém um resultado, tendo em mente satisfazer uma necessidadeeconomicamente útil1.

O trabalho em saúde produz um resultado: os atos de saúde. A expectativa é a satisfaçãode uma necessidade do usuário. Esse processo tem como objetivo a produção da saúde, o

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que não é, necessariamente, alcançável.Causar um impacto positivo sobre a saúde(individual e coletiva) pode muitas vezesrepresentar um desafio. O trabalho em saúdeé coletivo e a enfermagem representa umaparcela desse trabalho1.

Para o trabalho de enfermagem, assimcomo o trabalho em saúde, integra aprestação de serviço à saúde como parte dosetor terciário da economia brasileira. Nomomento, diferencia-se do mesmo setorterciário de prestação de serviço, na medidaem que lidam com um objeto humano, comousuários, individualmente ou em gruposociais e populações, que trazem aos serviçosde saúde demandas relacionadas ao pro-cesso saúde-doença, expressas como neces-sidades ou problemas de saúde.2

Nesse sentido, entende-se que o pro-cesso de trabalho de enfermagem particu-lariza-se em uma rede ou subprocessos quesão denominados cuidar, gerenciar, pesqui-sar e ensinar. Nesses diferentes processos, ostrabalhadores de enfermagem inserem-se deforma heterogênea e hierarquizada, expres-sando a divisão técnica e social de trabalho2.

O enfermeiro, assim como qualqueroutro trabalhador da saúde, está exposto adiferentes e potenciais riscos em seu ambien-te de trabalho, que podem ser de ordembiológica, infecciosa, parasitária e psicoló-gica. Esses acidentes e contaminações podemser evitados desde que sejam seguidas asdevidas normas e precauções. Enfatiza-seainda o cuidado especial que deve ser dadoao lixo destinado a materiais perfurocortan-tes e com o uso de coletores apropriados3.

Tradicionalmente, no Brasil, as políti-cas de desenvolvimento têm se restringidoaos aspectos econômicos, sendo traçados demaneira paralela ou pouco articulada comas políticas sociais, cabendo a esta últimaarcar com o ônus dos possíveis danos gera-dos sobre a saúde da população, dos traba-lhadores e a degradação ambiental4.

Cabe ao Estado garantir os direitosbásicos de cidadania, necessários à formu-lação e à implementação das políticas e açõesdo governo e que devem ser norteadas porabordagens transversais e intersetoriais.Nessa perspectiva, as ações de segurança esaúde do trabalhador exigem uma atuaçãomultiprofissional e interdisciplinar, capaz decontemplar a complexidade das relações deprodução, consumo, ambiente e saúde4.

Em 2005 o Ministério da Saúde apro-vou a Portaria nº. 1.125/GM (06.06.2005)que instituiu a Política Nacional de Saúdedo Trabalhador em todos os níveis deatenção do SUS. A presente política tem porfinalidade a promoção da melhoria daqualidade de vida e da saúde da população,mediante a articulação e integração dasações de governo no campo das relações deprodução de consumo e saúde5.

A Rede Nacional de Atenção Integralà Saúde do Trabalhador (RENAST) écomposta por 150 Centros Estaduais eRegionais de Referência em Saúde doTrabalhador e por uma rede de 500 serviçosmédicos e ambulatoriais de média e altacomplexidade. Uma das principais diretrizesdesta política responde pela execução deações curativas, preventivas, de promoção ede reabilitação à saúde do trabalhadorbrasileiro6.

Assim, o interesse em desenvolver esteestudo surgiu a partir dos estágios acadê-micos do Curso de Graduação em Enfer-magem, onde foi observada a ausência dautilização das medidas de prevenção pelosprofissionais de enfermagem, estando expos-tos aos fatores de risco e susceptíveis à ocor-rência de acidentes de trabalho. Portanto,diante desse fato, surgiram os seguintesquestionamento: quais os acidentes detrabalho mais recorrentes a atingir osprofissionais de enfermagem? Em quemedida os profissionais de enfermagemutilizam os equipamentos de proteçãoindividual (EPI’s)?

Este trabalho é relevante tendo em vistao prejuízo social e econômico causado por umacidente de trabalho no campo individual ecoletivo. É necessário conhecer os tipos deacidentes de trabalho que a enfermagem estáexposta, da mesma forma que reconhecer osmotivos que os levam a não fazer usoconstante dos EPI’s. Para responder aosquestionamentos levantados foram traçadosos seguintes objetivos: conhecer os tipos deacidentes do trabalho de enfermagem einvestigar a adesão pelo profissional deenfermagem ao uso regular de EPI’s.

PERCURSO METODOLÓGICO

Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva com abordagem quantitativa. O

PERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO

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estudo foi realizado em um hospital públicoestadual situado no município de Cabedelo- PB.

A amostra foi constituída por 20profissionais de enfermagem (enfermeiros,técnicos e auxiliares de enfermagem) quetrabalham no referido hospital e que aceita-ram participar da pesquisa.

A coleta de dados foi iniciada no mêsde fevereiro de 2008, após a aprovação juntoao Comitê de Ética da Faculdade de Enfer-magem Nova Esperança (Protocolo nº 02/2008) e autorização da Secretaria Municipalde Saúde. O instrumento utilizado foi umquestionário contendo questões referentes àcaracterização dos sujeitos participantes doestudo, bem como questões pertinentes aosobjetivos norteadores da pesquisa. Todas asentrevistas foram realizadas no próprio localde trabalho dos profissionais de enferma-gem.

Os dados foram tabulados, conso-lidados e analisados através de estatísticasimples, e expostos em tabelas para uma me-lhor compreensão dos resultados alcançados.

Todo o estudo foi norteado pelasResoluções 196/96 do Conselho Nacional deSaúde e 311/07 do Código de Ética dosProfissionais de Enfermagem7,8.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Caracterização dos sujeitos do estudo

Para conhecer o perfil dos sujeitos queparticiparam voluntariamente da pesquisa,os dados obtidos foram analisados segundoas variáveis: sexo, faixa etária, categoriaprofissional, tempo de formação e tempo deatuação na instituição, conforme Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição percentual dos sujeitos da pesquisa segundo sexo, faixa etária, categoriaprofissional, tempo de formação e tempo de atuação na instituição.

Sexo Nº %

Masculino 02 10Feminino 18 90

Faixa etária Nº (20) %20 a 29 anos 06 3030 a 39 anos 10 5040 a 49 anos 03 1550 a 59 anos 01 05

Categoria profissional Nº (20) %Enfermeiro 04 20Técnico de enfermagem 15 75Auxiliar de enfermagem 01 05

Tempo de formação Nº (20) %1 a 3 anos 02 104 a 5 anos 04 206 a 10 anos 09 4511 a 20 anos 03 15Acima de 20 anos 02 10

Tempo de atuação na instituição Nº (20) %< 1 ano 06 301 a 3 anos 04 204 a 6 anos 05 257 a 10 anos 02 1011 a 20 anos 03 15

Total 20 100

Fonte: Hospital Público Estadual. Cabedelo - PB. Fevereiro, 2008.

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10

De acordo com o sexo, o grupo apre-sentou um número superior de mulheres,peculiar da profissão, sendo 90% (18) dosexo feminino e 10% (02) do sexo masculino.Nos últimos anos, houve um crescimento nonúmero de profissionais do sexo masculinonos quadros de enfermagem; entretanto,talvez por tradição ou pelo estereótipo quese criou em torno da profissão, esta é, ainda,uma atividade profissional realizada predo-minantemente por mulheres9.

Quanto à distribuição por faixa etáriados participantes da pesquisa, 50% (10) estãona faixa etária de 30 a 39 anos; seguidos por30% (06) de 24 a 29 anos; 15% (03) dos 40 a49 anos; e 5% (01) dos 50 a 59 anos. No queconcerne à categoria profissional, ficouevidente que 20% (04) são enfermeiros; 75%(15) técnicos de enfermagem; e 05% (01)auxiliar de enfermagem.

Em relação ao tempo de formação,observa-se que 45% (09) encontra-se com 6a 10 anos, 20% (04) de 4 a 5 anos, 15% (03)de 11 a 20 anos, 10% (02) de 1 a 3 anos e 10% (02) acima de 20 anos de formação. A

variação etária e as diferenças entre o tempode experiência profissional, em muito cola-boraram para a discussão do tema proposto,já que o impacto do desgaste da função,vivenciado pelos trabalhadores com maiortempo de profissão, era bem maior. Grandeparte dos sujeitos possuía tempo entre 6 a10 anos de trabalho, ou seja, 45% (9) dosentrevistados.

Identificou-se ainda que 30% (06) dosentrevistados trabalham menos de 01 ano nestainstituição; seguido de 25% (05), de 4 a 6 anos;20% (04), de 1 a 3 anos; 15% (03), de 11 a 20anos e 10% (02), de 7 a 10 anos. Contudo, essetempo refere-se ao tempo de trabalho comoprofissional no hospital em estudo, e nãonecessariamente na unidade assistencial emque cada um representou no momento dacoleta dos dados, visto que, segundo os própriosentrevistados, há uma rotatividade internaentre as unidades assistenciais.

Os participantes do estudo, segundo acategoria profissional, atuavam em dife-rentes setores do hospital, sendo 30% (06)na urgência; 25% (05) na clínica médica;

Tabela 2: Distribuição percentual dos sujeitos da pesquisa, segundo caracterização dos acidentes detrabalho.

Acidentes de trabalho Nº (20) %Sim 09 45Não 11 55

Últimos seis meses Nº (09) %Sim 02 14Não 07 86

Tipos de objeto Nº (09) %Perfurante 08 89Cortante 00 00Contundente 01 11

Instrumento causador Nº (09) %Agulha 08 89Maca 01 11

Local do corpo Nº (09) %Mãos/dedos 08 89Braço 01 11

Frequência dos acidentes de trabalho Nº (09) %1 vez 05 562 vezes 01 113 vezes 02 22Mais de 3 vezes 01 11

Total 09 100

Fonte: Hospital Público Estadual. Cabedelo - PB. Fevereiro, 2008.

PERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO

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15% (03) na clínica cirúrgica; 10% (04) obser-vação e maternidade; 5% (02) na pediatria ebloco cirúrgico. Apesar dos participantes nãorepresentarem todas as unidades existentesno hospital, a maioria deles já havia tra-balhado em diversos setores, o que fez comque as vivências de outras realidades que nãoestavam ali representadas fossem trazidas àdiscussão.

Caracterização dos acidentes de trabalhoem enfermagem

Os resultados alcançados a respeitodos acidentes de trabalho (AT) ocorridosentre os profissionais de enfermagem, noexercício da profissão, estão apresentadosem quatro tabelas para melhor compreensãodos dados. A primeira refere-se às caracte-rísticas dos acidentes de trabalho, a segundasobre a causa do AT e das atitudes tomadasapós o evento, a terceira aborda as medidasde prevenção utilizadas pelos profissionaisde enfermagem para prevenção de AT, e aquarta refere-se ao conhecimento do traba-lhador acerca de acidente de trabalho.

De acordo com a Tabela 2, 45% (09)dos profissionais de enfermagem distribuídosentre enfermeiros, técnicos e auxiliares jásofreram algum tipo de acidente de trabalho- AT, enquanto 55% (11) nunca sofreunenhum tipo de acidente de trabalho. Umadas principais consequências dos acidentesde trabalho em instituições hospitalares, sãoas condições inseguras de trabalho10. Dessesacidentes de trabalho 14% (02) ocorreramnos últimos seis meses e 86% (07) não.

Pode-se observar que o instrumentocausador de acidentes mais comum é do tipoobjeto perfurante. A principal causa deacidentes de trabalho em profissionais desaúde está relacionada ao uso de materialperfurocortante. Nesta pesquisa, a maioriados profissionais de saúde relatou ter sofridoacidente com esse tipo de material, ou seja,89% (08) perfurante e 11% (01) con-tundente. As principais causas notificadasde acidente de trabalho ocorridos são comperfurocortantes e desses, a maioria com osprofissionais de enfermagem10,11.

Observa-se que a maioria dos inciden-tes foi causado por agulhas 89% (08),enquanto 11% (01) por macas. Tais acidentesrepresentam, como causa principal, o ma-nuseio de agulhas e cateteres12. Esse tipo de

acidente representa uma carga mecânica,isso porque ocorre manipulação com mate-riais perfurantes, cortantes ou pontiagudos,quedas, trombadas e agressões2. As cargasmecânicas estão presentes nas atividadesmuitas vezes agressivas, no transporte deequipamentos e materiais, na utilização demacas, camas e cadeiras, pisos inadequadose nas más-condições de instalações. Trazemcomo consequência as contusões, preensãodos dedos das mãos, perfurações com agu-lhas, fraturas e cortes. No entanto, podemosafirmar que 100% dos acidentes ocorridosnesse estudo foi do tipo “causa mecânica”.

A localização do corpo mais afetadoentre os que sofreram AT foram as mãos/dedos, com 89% (08). Isso se dá pelo fato daenfermagem, principalmente técnicos eauxiliares de enfermagem, assumir umalinha de frente junto aos pacientes, ou seja,são esses trabalhadores que mantêm umcontato mais próximo e contínuo naassistência ao paciente, portanto, estão maisexpostos a alguns tipos de cargas, especial-mente aquelas relacionadas ao manuseio dematerial perfurocortante, ocasionando maiorrisco desse tipo de acidente nas mãos/dedosdos profissionais de enfermagem.

A Previdência Social registrou maioríndice de acidentes típicos com os dedos emãos4. Já um estudo realizado em 2002 comtrabalhadores de enfermagem em um hospi-tal universitário constatou que as lesões porperfurações foram as que vitimaram commais frequência, estando ligadas ao manu-seio de agulhas tanto na assistência diretaaos paciente quanto às tarefas de preparode material e descarte. No determinadoestudo, do total de 349 participantes, 48,4%(169) foram vitimados por agulhas12. Por-tanto, podemos observar que as perfuraçõesexpressam maior risco de acidentes detrabalho na enfermagem em relação a outrostipos de acidentes. Nesse sentido, cabe tantoà equipe de enfermagem quanto à gestãohospitalar disparar ações preventivas quepossibilitem segurança no desenvolvimentodo trabalho de enfermagem.

Dos entrevistados que já sofreramalgum tipo de acidente de trabalho, 56% (05)sofreram uma única vez, 11% (01) até 02vezes, 22% (02) 03 vezes enquanto 11% (01)acima de 03 vezes. Vale salientar que a exis-tência de acidentes de trabalho pode contri-buir para uma sobrecarga física, cognitiva e

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psíquica do trabalhador com graves reper-cussões sobre a saúde. Esses incidentespodem ser considerados eventos de pequenaproporção, mas que podem resultar emmaiores danos ao profissional13.

De acordo com os entrevistados, 45%(04) dos acidentes de trabalho ocorreramdevido ao descarte do material perfu-rocortante; 22% (02) durante a administraçãode medicamento injetável; 11% (01) nomomento da punção venosa periférica; 11%(01) pelo encapamento inadequado deagulhas; e 11% (01) outros, definido neste casopor uma contusão ocasionada por macaocorrida no momento da condução do pacientepara outro setor hospitalar.

Como estratégia, para evitar esse tipode acidente com agulhas, os profissionaisdevem ter um cuidado especial, não reenca-pando as mesmas, como qualquer outroinstrumento perfurocortante, devendo serdesprezadas em recipientes apropriados.Para estimular o descarte de agulhas imedia-tamente após o seu uso, existe a recomen-dação para colocar recipientes para descartede materiais perfurocortantes próximos aosleitos dos pacientes.

Embora 45% (09) dos entrevistadostenham sido vítimas de AT, 100% alegaram

não haver necessidade de sutura local. Issose dá pelo fato da maioria dos casos apre-sentarem uma pequena perfuração local. Noentanto, a gravidade do acidente não estárelacionada ao tamanho da ferida, mas àpossibilidade de adquirir infecçõestransmitidas pelo sangue, a exemplo do HIVe hepatites virais.

A importância desses acidentes extra-pola a ocorrência da simples lesão, e adquiremaior gravidade quando contaminados comsangue ou secreções. A Organização Mun-dial da Saúde afirma que anualmente ostrabalhadores em saúde sofrem aproxima-damente 16.000 infecções pelo vírus dahepatite C (HCV), 66.000 infecções ao vírusda hepatite B (HBV) e 1.000 infecções peloHIV14.

Apenas 11% (01) necessitou deafastamento das atividades pela gravidadeda contusão sofrida. Os demais participantesdo estudo, 89% (08), relataram que o inci-dente foi de pequena gravidade, sem neces-sidade de intervenção das atividadesprofissionais.

Na análise da Tabela 3, pode-se obser-var que os participantes da pesquisa atri-buíram ao sono 33% (03), e à falta de atenção67% (06), como as principais causas de aci-

Tabela 3: Distribuição percentual dos entrevistados segundo a causa do AT e das atitudes tomadas apóso acidente.

Situação do Acidente Nº (09) %Encapamento de agulha 01 11Administração de injetável (durante) 02 22Punção venosa periférica 01 11Descarte do pérfuro-cortante (durante) 04 45Outros (maca) 01 11

Necessidade de sutura Nº (09) %Sim 00 00Não 09 100

Necessidade de afastamento Nº (09) %Sim 01 11Não 08 89

Causas do Acidente de Trabalho Nº (09) %Sono 03 33Falta de atenção 06 67

Realização de notificação Nº (09) %Sim 05 56Não 04 44

Total 09 100

Fonte: Hospital Público Estadual. Cabedelo - PB. Fevereiro, 2008.

PERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO

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dentes de trabalho. Geralmente os acidentesde trabalho são atribuídos a várias causas,além das citadas pelos participantes dapesquisa, como a excessiva jornada de traba-lho, a prática de hora extra e as precáriascondições de segurança no trabalho.

Em relação à constatação desses aci-dentes, 56% (05) foram notificados, en-quanto 44% (04) dos participantes da pes-quisa alegaram a não realização da notifi-cação do incidente de trabalho. Essa infor-mação é importante, uma vez que todos osacidentes de trabalho deverão ser notifi-cados, de acordo com a Política Nacional deSaúde do Trabalhador.

A não notificação dos ATs é uma prá-tica usual entre os trabalhadores brasileiros.Grande número de trabalhadores da saúdenão notifica o acidente de trabalho, por meioda Comunicação de Acidente de Trabalho(CAT), tanto devido ao desconhecimento danecessidade desse tipo de registro, quanto aoexcesso de procedimentos burocráticos, entreoutros motivos.

O baixo índice de notificação dosacidentes causados por materiais perfu-rocortantes é bastante significativo, issoporque os profissionais da equipe de saúdedão pouca importância para esse tipo deacidente, apesar do constante risco. Dentreos motivos, destacam-se: a percepção de quea lesão é pequena e a crença de que não irácausar danos para a sua saúde15.

Na Tabela 4 observa-se que por pouconão alcançamos os 100% (20) quanto afrequência do uso de EPIs. Os dados indicamque 95% (19) alegaram a adesão ao uso,enquanto 5% (01) não aderiu ao uso.

Ao serem questionados acerca do usode medidas de segurança houve o predo-mínio, nas respostas, da utilização de luvasdurante os procedimentos.

A adesão ao uso de EPIs está inti-mamente relacionada à percepção que osprofissionais têm acerca dos riscos a queestão expostos e da susceptibilidade a essesriscos. No entanto, os profissionais bana-lizam os riscos, não sabendo, em sua maioria,identificar as consequências decorrentes dainobservância do uso de medidas deprevenção.

No que concerne ao conhecimentoacerca da Comissão Interna de Prevençãode Acidentes (CIPA), apenas 45% (09) dosprofissionais conhecem ou sabem de sua

existência na instituição, outros 30% (06)alegaram não ter CIPA na instituição,enquanto 25% (05) não sabem da existênciada mesma. Com isso, pode-se perceber queo conhecimento dos profissionais relacio-nados à existência e importância da CIPAainda passa despercebido.

A CIPA tem como objetivo a preven-ção de acidentes e doenças decorrentes dotrabalho, de modo a tornar compatível, per-manentemente, o trabalho com a preser-vação da vida e a promoção da saúde dotrabalhador. A CIPA reúne um grupo deempregados em evidência, que são mantidospor força de lei pela empresa, exercendo umpapel fundamental na prevenção dosacidentes de trabalho14.

A definição de acidente de trabalho dosprofissionais participantes da pesquisa passaa ser quase incomparável com a definiçãoda Organização Mundial da Saúde. Isso sedá pela falta de informação e conhecimentodos mesmos. Muitos dos profissionais têm emmente que acidente de trabalho é aquele queocorre apenas no local de trabalho, ou seja,internamente. A falta de informação sobreuma simples definição pode deixar muitosprofissionais fora do conhecimento de seusdireitos.

Assim, acidente de trabalho é umtermo que se refere a todos os acidentes queocorrem no exercício da atividade do traba-lhador, no percurso de casa para o trabalhoou na vinda do trabalho para casa16. Oseventos que contribuem diretamente para aocorrência de um agravo também sãoconsiderados como acidentes de trabalho.Um acidente de trabalho pode causar morteou lesão que provoque a redução temporáriaou permanente da capacidade para otrabalho.

Quanto às medidas que devem seradotadas para a prevenção de ATs, 30% (06)mencionaram o uso de EPIs; 30% (06) maioratenção durante os procedimentos; 20% (04)realização de treinamentos frequentemente;e 20%(04) realização de palestras. Noentanto, pelo simples fato dos profissionaisterem em mente que o mais importante parasua segurança é o uso de EPIs e atençãodurante os procedimentos, verificamos ointeresse com a prevenção dos acidentes.

A prevenção dos ATs na equipe deenfermagem deve ser objetivo também daentidade da classe, dos sindicatos, dos

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gestores dos serviços públicos, das escolas deenfermagem e, sobretudo, dos usuários dosserviços de saúde, para que assim osprofissionais tenham capacidade de realizarum trabalho de qualidade, com responsa-bilidade e competência técnica. Portanto, aresponsabilidade pela prevenção de ATs nãodeve ser atribuída única e exclusivamente aotrabalhador, pois se faz necessário observaro processo de trabalho em que ele estáenvolvido9.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se por acidente de trabalhoaquele que decorre do exercício profissionale que causa lesão corporal ou perturbaçãofuncional, que provoca perda ou redução,permanente ou temporária, da capacidadepara o trabalho. Sabe-se que os trabalhadoresda saúde que atuam na área hospitalar estãoexpostos a inúmeros acidentes de trabalho,principalmente aqueles causados por mate-

Tabela 4: Distribuição percentual dos sujeitos da pesquisa segundo as medidas de prevenção de acidentesde trabalho utilizados.

Uso regular das EPIs Nº (20) %Sim 19 95Não 01 05

Tipos de EPIs utilizados Nº (20) %Luva 20 100Gorro 00 00Óculos 00 00Máscara 00 00

Total 09 100

Fonte: Hospital Público Estadual. Cabedelo - PB. Fevereiro, 2008.

Tabela 5: Distribuição percentual dos sujeitos da pesquisa segundo conhecimento sobre acidente detrabalho.

Conhecimento da CIPA Nº (20) %Sim 09 45Não 05 25Não ter na instituição 06 30

Orientações recebidas sobre AT Nº (20) %Sim 09 45Não 11 55

Tipos de informações Nº (09) %Palestras 05 56Cartazes 02 22Ofícios em quadro de avisos 01 11Reuniões 01 11

O que considera AT Nº (20) %Não responderam 02 10Erros durante o procedimento 03 15Incidente dentro da instituição 04 20Contusões, ferimentos ocorrido no horário de trabalho 04 20Tudo que prejudica a saúde 07 35

Medidas de prevenção de AT Nº (20) %Atenção durante os procedimentos 06 30Palestras 04 20Treinamentos 04 20Uso de EPIs 06 30

Fonte: Hospital Público Estadual. Cabedelo - PB. Fevereiro, 2008.

PERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO

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riais perfurocortantes e fluidos biológicos.Nos últimos tempos tem aumentado a preo-cupação com acidentes causados por essetipo de material, devido ao risco de o traba-lhador contrair a Síndrome da Imunodefi-ciência Adquirida (AIDS) e o vírus da hepa-tite B e C.

A impressão inicial do acidente típicoem hospital é de que se configuraria comoaquele acidente que ocorre no manuseio deinstrumentos perfurocortantes. Quanto àscaracterísticas dos acidentes com esse tipode material se verificou que os que maiscausaram acidentes foram as agulhas, e quea região do corpo mais atingida foi o dedo.Aliado a este resultado, identificou-se, nohospital estudado, que esses acidentesestavam associados ao manuseio ina-dequado do material perfurocortante, sejapelo descarte do material no preparo damedicação, ou ainda na administração domedicamento por via parenteral.

Os dados obtidos neste estudo revela-ram aspectos importantes dos riscos a queestão expostos os trabalhadores de enfer-magem na manipulação de materiaisperfurantes e cortantes, oferecendo subsídiospara que sejam implementados programasde orientação e qualificação permanentes daequipe de enfermagem.

Diante desta problemática, há que sebuscar todas as estratégias preventivas possí-veis que possam contribuir para a prevençãode ATs e promoção à saúde do trabalhadorde unidades hospitalares. Estratégias estasque devem ser institucionalizadas e trabalha-das com o fortalecimento das ComissõesInternas de Prevenção de Acidentes (CIPA),assim como todas as demais estruturas orga-nizacionais que se encarregam de educaçãoe vigilância em saúde na instituição, como oDepartamento de Educação Continuada,entre outros existentes na estrutura do hospi-tal.

Com base nos resultados, faz-se neces-

sária a realização de qualificação dos traba-lhadores recém-admitidos e também dosmais antigos, especialmente durante odescarte do material utilizado e na atividadede administração de medicamentos; sugeriraos órgãos encarregados das ações deeducação continuada, como a CIPA, CCIHe outros setores responsáveis pelas atividadesde educação permanente, para melhororientarem os interesses em relação tanto àprevenção quanto aos aspectos legais rela-cionados as ocorrências; criar um espaço dediscussão dos trabalhadores a respeito dosATs, como outros agravos à saúde, visto quea participação dos profissionais na análisedos processos de trabalho em que estãoinseridos é fundamental para implementaçãode medidas preventivas; que sejam reali-zados cursos sobre as Normas Regulamen-tadoras de Acidentes de Trabalho, a fim deque os trabalhadores tenham conhecimentosobre os direitos e deveres no exercício daprofissão.

É importante a elaboração e efetuaçãode programas de qualificação que abordema questão dos acidentes e exposição a mate-rial biológico, esclarecendo os profissionaisde enfermagem sobre a importância da noti-ficação, a busca pelo atendimento médico,sensibilizá-los sobre a eficácia da vacina deprevenção contra hepatite B e C e esclarecersobre a utilização de EPIs e precauções-padrão, utilizando a educação permanenteem saúde como eixo norteador desseprocesso.

O sucesso de qualquer programaeducativo está diretamente relacionado àparticipação do profissional.

Diante do exposto, faz-se necessáriorefletir sobre a saúde e as práticas dos profis-sionais de saúde, com o intuito de estabelecerum local de trabalho seguro, capaz de pro-teger esses trabalhadores dos potenciaisriscos à sua saúde.

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REFERÊNCIAS

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8. Conselho Federal de Enfermagem. Código deética dos profissionais de enfermagem –Resolução COFEN 311 de 08 de fevereiro de2007. Rio de Janeiro: Cofen; 2007.

9. Almeida MCP, Rocha SMM. O Trabalho deEnfermagem. São Paulo: Cortez; 1997.

PROFILE OF WORK ACCIDENTS IN NURSING IN A PUBLIC HOSPITAL

ABSTRACTThe Worker’s Health constitutes a field in the area of the Collective Health in the middle of the construction,whose object is centered in the workers’ of the several population groups process health-disease in yourrelationship with the work. In what he/she concerns the work accidents (ATs) that reach the workers ofthe units hospitalares, it is worth to detach that these are ambient complex that present high numbers ofrisks for your professionals. This study aimed to know the types of occupational accidents and investigatenursing adherence by nursing staff to regular use of PPE’s in a public hospital in the city of Cabedelo-PB.That research is treated of a field study with quantitative approach of data, collected through interviewstructured through a questionnaire. They were constituted subject of the study 20 sickbay workers, being4 (20%) male nurses, 15 (75%), sickbay technician and 1 (5%) auxiliary of sickbay. Result was verifiedwith relationship to the characterization of the sample, a majority in the feminine sex (90%); the age groupthat prevailed was from 30 to 39 years (50%). in relation to the type more common of AT, the studyidentified that the accidents usually happened during the discard of the perforation-sharp material(needles). with relationship to the orientation actions the prevention of work accidents developed in theinstitution, of the 45% (9) professionals that informed to receive some type prevention orientation againstwork accidents, 56% (5) it informed that the half more used for orientation it was through lectures. It isimportant to point out that the occurrences of ATs flow of complex interrelations and it should not beanalyzed in an isolated way, as private event, but, through the study of the context of the work processesand production, in the ways as the work is organized and accomplished, of the loads of work presents inthe workers’ day by day.Key-Words: Wok accidents. Hospital. Nursing.

10. Barbosa DB, Soler Z. Afastamentos do trabalhona enfermagem: ocorrências com trabalhadoresde um hospital de ensino. Rev Latino-amEnfermagem. mar-abr 2003; 11(2):177-83.

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PERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO

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RESUMOA higienização das mãos consiste em um procedimento necessário antes e após a realização de cuidadosde saúde, com o intuito de prevenir qualquer tipo de contaminação ao paciente. Este trabalho teve comoobjetivo investigar a importância da higienização simples das mãos pela equipe de enfermagem. Trata-sede uma pesquisa do tipo exploratório-descritiva, com abordagem quantiqualitativa. A amostra foi compostapor 12 profissionais de enfermagem que atuavam em um hospital filantrópico no município de JoãoPessoa. Utilizou-se a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo para a análise dos dados qualitativos. Comoresultado identificamos que 41,7% são técnicos de enfermagem, os demais, enfermeiros; há predominânciado sexo feminino; a maioria dos participantes tem de 36 a 40 anos; 33,3% trabalham na assistência hámais de 5 anos; 50% não têm atualização em biossegurança e os 50% têm. Diante do questionamento:Qual a importância da higienização simples das mãos pela equipe de enfermagem?, tivemos como ideiacentral: diminuir os microrganismos e ajudar na prevenção da infecção hospitalar. Percebemos que osprofissionais de saúde pesquisados reconhecem a higienização simples das mãos como um ato realizadopara prevenir ou reduzir as infecções hospitalares e relatam a técnica correta.Palavras-chave: Lavagem das mãos. Infecção hospitalar. Enfermagem.

Artigo OriginalA IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO SIMPLES DAS

MÃOS EM AMBIENTE HOSPITALAR

José Firmino Oliveira Júnior1

Khivia Kiss da Silva Barbosa2

Jogilmira Macêdo Silva3

Fabiana Ferraz Queiroga Freitas4

Daniela Karina Antão5

1 Enfermeiro. Graduado pela Faculdade de Enfermagem Nova Esperança (Facene).2 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem doCentro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG.3 Enfermeira. Mestre em Terapia Intensiva. Docente da Faculdade de Enfermagem e Medicina NovaEsperança (Facene/Famene).4 Enfermeira. Especialista em Unidade de Terapia Intensiva. Professora das Faculdades de Enfermageme de Medicina Nova Esperança (Facene/Famene). Endereço: Av. Pombal, n. 630, aptº 203, Ed. Zênite –Manaíra. Cep: 58038241 – João Pessoa-PB. Tel.: (83) 96341221. E-mail: [email protected] Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Docente da Facene.

INTRODUÇÃO

Sendo um dos principais objetivos da saúde pública no Brasil, o controle de infecções é uma meta a ser cumprida por nós, profissionais da área de saúde, pois tão antiga quanto

necessária, a história da profilaxia tem se mostrado atual no combate à infecção, tendo em vistaque a história dos hospitais é a própria história da assistência; a infecção hospitalar é a própriahistória dos hospitais. Como toda história, tem seu início marcado por uma série de fatos que, deuma maneira ou de outra, mudaram as vidas das pessoas, da sociedade e do mundo1.

Infecção é o processo pelo qual microrganismos patôgenos vivos entram no corpo dohospedeiro sob condições favoráveis ao seu crescimento e, pela produção de toxinas, podemagir agressoramente nos tecidos do hospedeiro2.

Infecções nosocomiais ou infecções hospitalares são infecções adquiridas pelo pacientedurante a hospitalização, com confirmação de diagnóstico pela evidência clínica ou

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laboratorial. Os agentes infecciosos podemoriginar-se de fontes endógenas, de umtecido para outro no paciente (autoinfecção)ou de fontes exógenas, quando adquiridasde objetos ou outros pacientes dentro dohospital (infecção cruzada). Infecções noso-comiais, que são às vezes referidas comoinfecções adquiridas no hospital, podem nãotornar-se aparentes até depois de o pacientesair do hospital2.

Hoje sabemos que as principais in-fecções hospitalares são transmitidas atravésdas mãos. Desde então, esse procedimentotem sido recomendado como medida primá-ria no controle da disseminação de agentesinfecciosos.

As mãos são hoje a principal via detransmissão de microrganismos. Num am-biente hospitalar, as roupas de cama, as gra-des da maca e até as maçanetas das portasdos banheiros podem estar contaminados.A higienização constante das mãos dos pro-fissionais é, portanto, mais que uma necessi-dade.

A finalidade da higienização simplesdas mãos é remover os microrganismos quecolonizam as camadas superficiais da pele,assim como o suor, a oleosidade e as célulasmortas, retirando a sujidade propícia à per-manência e à proliferação de microorganis-mos2.

O combate à infecção começa com ahigienização das mãos. Diferentes microrga-nismos como bactérias, fungos e vírus cau-sam infecção. São combatidas cepas comoa influenza causadora da pneumonia;proteus, causador da infecção urinária;shigella, que causa diarreia; escherichia coli,causadora da diarreia e infecção no tratourinário; staphylococus, causador de furún-culo; streptococus, que causa inflamação nagarganta; haemophilus, causador da con-juntivite; klebsiella, causador de infecção emsítio cirúrgico; clostridium difficile, que causacolite; pseudomonas aerogenosa, causadora deinfecções em feridas, entre outros micror-ganismos.

No entanto, o grupo patógeno que sedestaca é o das bactérias que compõem aflora humana e que normalmente nãotrazem risco a indivíduos saudáveis, devidoa sua baixa virulência, mas que podemcausar infecção em indivíduos com estadoclínico comprometido, sendo denominadaspor isso como bactérias oportunistas.

Este estudo justifica-se pelo fato dechamar atenção para um ato simples quepode vir a diminuir o tempo de hospitali-zação dos pacientes, diminuir os custos parao hospital, evitando o sofrimento das pes-soas. Observamos a necessidade de chamara atenção de todas as pessoas que trafegamem ambiente hospitalar sobre a importância,a eficácia e o baixo custo da higienizaçãosimples das mãos, reduzindo o tempo deinter-namento e gastos, poupando osprofissionais e a população de sofrimentos,buscando melhores condições de trabalhoaos profissionais.

Este estudo teve por objetivo investigara importância da higienização simples dasmãos pela equipe de enfermagem segundoa fala dos mesmos.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem quanti-qualita-tiva, desenvolvido em um hospital filantró-pico do município de João Pessoa, compostopor 12 profissionais de enfermagem, que apósaceitação assinaram o Termo de Consenti-mento Livre e Esclarecido.

Os dados quantitativos foram analisa-dos através de softwares estatísticos, paraposterior apresentação em gráficos e tabelas.Para a análise dos dados qualitativos utiliza-mos a técnica de análise do Discurso doSujeito Coletivo (DSC) de Lefèvre; Lefèvre3,servindo assim para discussão dos resultados,à luz da literatura pertinente.

As ideias centrais e ancoragens e assuas correspondentes expressões-chave se-melhantes compõem-se em um ou váriosdiscursos-síntese que são os Discursos doSujeito Coletivo (DSC). Expressões-chave(ECH) são pedaços, trechos do discurso, quedevem ser destacadas pelo pesquisador, e querevelam a essência do conteúdo do discursoou teoria subjacente.

A pesquisa foi realizada levando emconsideração os aspectos éticos em pesquisaenvolvendo seres humanos, preconizadopela Resolução CNS/MS n. 196/96, notocante aos aspectos éticos que tratam daspesquisas envolvimento seres humanos4,assim como a Resolução Cofen n. 311/2007que institui o Código de Ética dosProfissionais de Enfermagem5.

A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO SIMPLES ...

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A presente pesquisa foi desenvolvidaapós aprovação do Comitê de Ética emPesquisa da Facene/Famene, e do local dapesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise da caracterização sociode-mográfica observada no presente estudoapresentou várias categorias profissionais,com predomínio de auxiliares e técnicos deenfermagem com 84,4%; e enfermeiros eparticipantes que não informaram suacategoria somaram 16,6%.

Conforme a Lei Nº 7.498, de 25 dejunho de 1986, que dispõe sobre a Regula-mentação do Exercício da Enfermagem, aEnfermagem é exercida privativamente peloEnfermeiro, pelo Técnico de Enfermagem,pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira,respeitados os respectivos graus de habi-litação6.

Quanto ao gênero, houve predominân-cia do sexo feminino com 91,7% e omasculino com 8,3%. Uma nota divulgadapelo presidente do Cofen conclui que onúmero de homens que cursam a graduaçãoem enfermagem gira em torno de 20%7.

Em relação à faixa etária houve varia-ção do índice de 16,6% para idade entre 21a 30 anos; 33,3% para 31 a 35 anos; 41,7%para 36 a 40 anos; e 8,4 % para 41 a 45 anos.A maioria dos participantes da pesquisa temidade média de 36 a 40 anos. Santos8 comen-ta que nesta faixa etária observam-se profis-sionais jovens em plena fase de produção,de construção familiar, com expectativas deprogressão intelectual, social e ascensãofuncional.

Quanto ao estado civil 75% eram

solteiros e 25% casados. O estado civil é umasituação jurídica de uma pessoa em relação aoutra, a construção da família na sociedade,consi-derando nascimento, filiação e sexo.

Já na religião observou-se que houveigualdade entre a religião católica e evangé-lica. Os dados questionam o que afirma oIBGE (2003) que a religião católica é apredomi-nante no Brasil 9.

Os valores obtidos para renda familiarvariaram entre 16,7% até um salário mínimo;41,7% até dois salários mínimos; 8,3% paraaté quatro salários mínimos; 8,3% para maisde quatros salário mínimos; e 25% não infor-maram. Identificamos que 41,7% (a maioria)dos participantes do estudo tem renda de até2 salários mínimos (em torno de R$ 1.020,00).

Percebemos que o valor do saláriomínimo atual (R$ 510,00) não é suficientepara atender às necessidades de uma famí-lia10.

Para o tempo de trabalho na assistên-cia, os dados apontam variação entre 25%dos participantes, que possuem menos de umano na assistência; 25% mais de um ano adois anos; 16,6% com mais de dois anos atéquatro anos; 33,4% com mais de cinco anos.

Propõem a hipótese de que trabalha-dores com mais tempo de serviço e experiên-cia podem se sentir mais seguros e de certaforma negligenciar certas precauções no cui-dado aos pacientes, por confiar demasiada-mente em sua destreza, acidentando-sealgumas vezes11.

Foi observado o mesmo índice de 50%para profissionais que participaram ou nãoda capacitação em biossegurança; o códigode ética dos profissionais de enfermagemorienta que estes devem aprimorar seusconhecimentos técnicos, científicos eculturais que dão sustentação à sua prática5.

Quadro 1 – Qual a importância da higienização simples das mãos pela equipe de enfermagem?

Dados relativos aos objetivos do estudo

Ideia central Discurso do sujeito coletivo

Diminuir os microrganismos e ajudar “É de grande importância, porque é através das mãosna prevenção da infecção hospitalar. que o índice de infecção é grande. Já foi constatado

isso, então, quanto mais você lavar as mãos, menos riscosvocê corre de pegar uma infecção e transmiti-la para outraspessoas [...]” (Profissional 4)”.[...] “Tem o objetivo de evitar contaminação diretamente paracom a equipe de enfermagem e principalmente para ospacientes”. (Profissional 2).

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O discurso do sujeito coletivo apresen-tado no Quadro 1 nos remete à ideia central“Diminuir os microrganismos e ajudar naprevenção da infecção hospitalar”.

Os discursos demonstraram que osparticipantes valorizaram a lavagem dasmãos como um procedimento capaz deprevenir a infecção.

No Brasil, estima-se que três a 15% dospacientes sob hospitalização adquireminfecção hospitalar e que, destes, cinco a 12%morrem em consequência disso. Estudosacerca dos processos de disseminação dospatógenos apontam as mãos dos profis-sionais da saúde como reservatório demicrorganismos responsáveis pela infecçãocruzada12.

Desse modo, a pele das mãos abrigaprincipalmente duas populações de mi-crorganismos: os pertencentes à microbiotaresidente e à microbiota transitória. A micro-biota residente é constituída por microrga-nismos de baixa virulência, como estafi-

lococos, corinebactérias e micrococos, poucoassociados às infecções veiculadas pelas mãos.

É mais difícil de ser removida pelahigienização das mãos com água e sabão,uma vez que coloniza as camadas maisinternas da pele. A microbiota transitóriacoloniza a camada mais superficial da pele,o que permite sua remoção mecânica pelahigienização das mãos com água e sabão,sendo eliminada com mais facilidade quandose utiliza uma solução antisséptica.

O discurso do sujeito coletivo apresen-tado no Quadro 2 nos remete a ideia central“Antes e após qualquer procedimento”. Talideia corrobora com o que orienta os estu-diosos da área.

A Agência Nacional de VigilânciaSanitária (Anvisa)1 orienta que a higienizaçãosimples das mãos deve ser realizada quando:as mãos estiverem visivelmente sujas oucontaminadas com sangue e outros fluidoscorporais, ao iniciar o turno de trabalho,após ir ao banheiro, antes e depois das

Quadro 2 – Com que frequência deve ser realizada a higienização simples das mãos?

Antes e após qualquer procedimento. “Ao chegar e ao sair, porque ao chegar você está trazendoalguma bactéria e ao sair também [...]”. (Profissional 2).“[...] principalmente para poder manusear o outro pacientepara evitar outras doenças”. (Profissional 12).“[...] e todas as vezes que for fazer um procedimento”.(Profissional 1).”[...] “tanto no hospital quanto fora”. (Profissional 10).“[...] para evitar, como eu disse, que leve uma patologia aoutra pessoa”. (Profissional 8).

Quadro 3 – Descreva como deve ser realizada a técnica da higienização simples das mãos.

Utiliza água e sabão líquido, “Abre a torneira, coloca sabão nas mãos[...]”.friccionando todas as partes das mãos, (Profissional 7).depois pega o papel toalha enxuga “[...] faz a fricção de 40 a 60 segundos”.com a torneira aberta e fecha com o (Profissional 10).mesmo papel toalha. “[...] utilizando sabão, de preferência líquido, com as mãos

voltadas para cima e deixando a água rolar até ocotovelo”.

(Profissional 1).“[...] friccionando a mão por parte, friccionando os dedos,dorso da mão, palma da mão, os punhos, e interdigitais”.(Profissional 3).“[...] depois pega o papel toalha enxuga, com a torneiraaberta, e fecha com o mesmo papel toalha”.(Profissional 8).”[...] a gente não usa toalha comum não, porque a toalhacomum retém as bactérias. [...] é sempre usado papeltoalha pois você usou, enxugou, descartou”.(Profissional 10).

A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO SIMPLES ...

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refeições; antes do preparo de alimentos; an-tes do preparo e manipulação de medica-mentos, nas situações onde será necessário apreparação alcoólica, ou seja, antes e apósqualquer procedimento.

O discurso do sujeito coletivo apresen-tado no Quadro 3 foi “descreva a técnica dahigienização simples das mãos”.

O procedimento da técnica da higieni-zação simples das mãos é, na maioria dasvezes, inadequado pelo esquecimento dealgumas etapas desse procedimento, pelasobrecarga de serviço, havendo preocupaçãocom a quantidade e não com a qualidade.Recomenda-se a fricção de cada região damão por cinco vezes, por ser este o necessáriopara a remoção da microbiota transitória.Entretanto, quando se utiliza um tempoinferior a 10 segundos, não se garanteminimamente a fricção de todas as regiõespelo número recomendado, ficando assimcomprometida a higienização simples dasmãos1.

Vale ressaltar os dispositivos da Porta-ria n. 518/GM13, de 25 de março de 2004,que estabelece os procedimentos relativos aocontrole e à vigilância da qualidade da águaem serviços de saúde. Percebemos que a águautilizada nestes serviços deve ser livre decontaminantes químicos e biológicos. Os re-servatórios devem ser limpos e desinfetados,com realização de controle microbiológicosemestral.

Nos serviços de saúde, recomenda-seo uso de sabão líquido, tipo refil, devido aomenor risco de contaminação do produto.Esse insumo está regulamentado pela resolu-ção Anvisa n. 481, de 23 de setembro de 1999.Recomenda-se que o sabão seja agra-dávelao uso, possua fragrância leve e não ressequea pele14.

A adição de emolientes à sua formu-lação pode evitar ressecamentos e derma-tites. A compra do sabão padronizado pelainstituição deve ser realizada segundo osparâmetros técnicos definidos para o produ-to e com a aprovação da Comissão de Farmá-cia e Terapêutica (CFT) e da Comissão deControle de Infecção Hospitalar (CCIH)1.

A Norma Regulamentadora 32 – NR32- Segurança e Saúde no Trabalho emServiços de Saúde orienta que todo localonde exista possibilidade de exposição aoagente biológico deve ter lavatório exclusivopara higiene das mãos, provido de água corrente,

sabonete líquido, papel toalha descartável elixeira provida de sistema de abertura semcontato manual15.

Os quartos ou enfermarias destinadosao isolamento de pacientes portadores dedoenças infectocontagiosas devem conterlavatório em seu interior e uso de luvas nãosubstitui o processo de lavagem das mãos, oque deve ocorrer, no mínimo, antes e depoisdo uso das mesmas11.

A Anvisa14 orienta como deve serrealizada a técnica da higienização simplesdas mãos. O profissional deve abrir a tornei-ra e molhar as mãos, evitando encostar-se àpia. Aplicar na palma da mão quantidadesuficiente de sabão líquido para cobrir todasas superfícies das mãos (seguir a quantidaderecomendada pelo fabricante). Ensaboar aspalmas das mãos, friccionando-as entre si.Esfregar a palma da mão direita contra odorso da mão esquerda entrelaçando osdedos e vice-versa. Entrelaçar os dedos efriccionar os espaços interdigitais. Esfregaro dorso dos dedos de uma mão com a palmada mão oposta, segurando os dedos, commovimento de vai-e-vem e vice-versa.Esfregar o polegar direito, com o auxílio dapalma da mão esquerda, utilizando-semovimento circular e vice-versa.

Em seguida friccionar as polpasdigitais e unhas da mão esquerda contra apalma da mão direita, fechada em concha,fazendo movimento circular e vice-versa.Esfregar o punho esquerdo, com o auxílioda palma da mão direita, utilizando movi-mento circular e vice-versa. Enxaguar asmãos retirando os resíduos de sabão. Evitarcontato direto das mãos ensaboadas com atorneira. Secar as mãos com papel-toalhadescartável, iniciando pelas mãos e seguindopelos punhos. Desprezar o papel-toalha nalixeira para resíduos comuns.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A infecção hospitalar (IH) representaimportante problema de saúde pública, tantono Brasil quanto no mundo, e constitui riscoà saúde dos usuários dos hospitais que sesubmetem a procedimentos terapêuticos oude diagnóstico. Sua prevenção e controledependem, em grande parte, da adesão dosprofissionais da área da saúde às medidaspreventivas16.

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A legislação brasileira, por meio daPortaria n. 2.616, de 12 de maio de 1998, eda RDC n. 50, de 21 de fevereiro 2002 esta-belece as ações mínimas a serem desenvol-vidas com vistas à redução da incidência dasinfecções relacionadas à assistência à saúdee às normas e projetos físicos de estabele-cimentos assistenciais de saúde.

A higienização simples das mãos seconsolida como o maior desafio com vistas àredução da incidência das infecções relacio-nadas à assistência à saúde.

As infecções hospitalares são associa-

das à baixa adesão dos profissionais da áreada saúde à higienização das mãos2.

Neste estudo percebemos que osprofissionais de enfermagem reconhecem ahigienização simples das mãos como um atorealizado no intuito de prevenir ou reduziras infecções hospitalares, ou seja, eles re-conhecem a importância do procedimento,sabem qual a frequência ideal e relataramtambém a técnica corretamente, entretanto,nos questionamos se realmente existe aadesão a esta recomendação na prática.

THE IMPORTANCE OF SIMPLE HAND HYGIENE IN HOSPITAL ENVIRONMENT

ABSTRACTHand hygiene is a necessary procedure before and after the performance of health care in order to preventany contamination to the patient. This study aimed to describe the importance of simple hygiene of handsby the nursing staff. This is an exploratory research, descriptive, with quanti. The sample consisted of 12nurses who worked in a charity hospital in the city of Joao Pessoa. We used the technique of collectivesubject discourse for the analysis of qualitative data. As a result, we identified that 41.7% are technicians,nurses, other nurses, there is predominance in females, with most participants from 36 to 40 years, 33.3%work in service for over 5 years, 50% did not has update on biosafety and 50% have. Faced with thequestion: What is the importance of Sanitation single hand by the nursing staff? We had as Central idea:Reduce the microorganisms and assist in the prevention of nosocomial infection. We realize that healthprofessionals recognize the simple washing of hands as an act performed to prevent or reduce hospital-acquired infections and report the correct technique.Keywords: Handwashing. Hospital infection. Nursing.

REFERÊNCIAS

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2. Richtmann R. Cadeia epidemiológica dainfecção neonatal. Diagnóstico e prevenção deinfecção hos-pitalar em neonatologia. SãoPaulo: APECIH; 2002.

3. Lefèvre F, Lefèvre AMC. O discurso do sujeitocoletivo: um enfoque em pesquisa qualitativa(des-dobramento). 2ª ed. Caxias do Sul, RS:USS; 2005.

4. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução 196 de10 de outubro de 1996: diretrizes e normasregulamentadoras de pesquisas envolvendoseres humanos. Brasília: CNS/ME; 1996.

5. Conselho Federal de Enfermagem. COFEN.Resolução nº 311/2007. [acesso em: 2010 Ago.05]. Disponível em: http://site.portalcofen.gov.br/

6. Brasil, Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986.Regulamenta o exercício profissional deenfermagem e outras providências. Publicadano Diário Oficial da União (DOU) em26.06.86.Seção I - fls. 9.273 a 9.275.

7. Conselho Federal de Enfermagem. COFEN.[acesso em: 2010 Ago. 05]. Disponível em:http://site.portalcofen.gov.br/

8. Santos AAM. Higienização das mãos nocontrole das infecções em serviços de saúde.RAS. 2002;4(15).

9. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística. Censo Demográfico 2003.www.ibge.gov.br

A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO SIMPLES ...

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10. Brasil. Constituição Federal do Brasil. 9ª ed.São Paulo: Ícone; 1988. Artigo 7 de 05 deoutubro de 1988. Capítulo dos direitos sociais.

11. Gir E. et al. Biossegurança em DST/AIDS:condicionantes da adesão do trabalhador deenfermagem às precauções. Rev. Esc. Enferm.USP. 2004 ;38(3):245-253.

12. Scheidt KLS, Carvalho M. Avaliação práticada lavagem das mãos pelos profissionais desaúde em atividades ludicoeducativas. Rev.enferm. UERJ.2006;14:221. [acesso em 2010Ago. 02]. Disponível em:http://www.portalbvsenf.eerp.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-35522006000200011&lng=pt&nrm=isso

13. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria Nº 518/GM em 25 de março de 2004. [acesso em: 22010Ago. 05]. Disponível em: http://dtr2001.saude. gov.br/sas/PORTARIAS/Port2004/GM/GM-518.htm

14. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacionalde Vigilância Sanitária. Resolução nº. 481, de23 de setembro de 1999. Estabelece osparâmetros de controle microbiológico paraos produtos de higiene pessoal, cosméticos eperfumes conforme o anexo desta resolução.Diário Oficial [da União da RepúblicaFederativa do Brasil], Brasília, DF, 27 set.1999.

15. NR 32. Segurança e saúde no trabalho emserviços de saúde. [acesso em: 2010 Ago. 15].Disponível em http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_32.pdf

16. Lacerda RA. Infecção hospitalar e sua relaçãocom a evolução das práticas de assistência emsaúde. Controle de infecção em centrocirúrgico: fatos, mitos e controvérsias. SãoPaulo: Atheneu; 2003.

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RESUMOO ser humano é dotado de sentimentos e emoções, o que o torna sensível ao sofrimento alheio. E o “serenfermeiro” sente-se ainda mais desafiado, pois ele estará no papel de cuidador da pessoa que sofre.Diante desse contexto, pretendeu-se com este estudo verificar as atitudes religiosas dos profissionais deenfermagem que trabalham em Unidade de Terapia Intensiva frente ao paciente crítico. Trata-se de umestudo exploratório descritivo com abordagem quantitativa, e teve como objetivos caracterizar a amostraquanto ao sexo, faixa etária, categoria profissional, tempo de atuação e religião, e avaliar como osprofissionais de enfermagem lidam com as questões religiosas ou espirituais frente ao paciente crítico. Aamostra constituiu-se por 10 profissionais de enfermagem, sendo todas do sexo feminino, e a maioria detécnicas de enfermagem; estão em uma faixa etária de 24 a 44 anos de idade e a religião predominante é aevangélica. Através dos dados, foi possível identificar o perfil religioso dos participantes e as formascomo enfrentam as situações consideradas difíceis frente ao paciente crítico. Ficou clara a correlação entreo grau de profundidade de atuação do profissional frente ao paciente que necessita de uma atenção maiore o envolvimento em práticas religiosas como forma de bem-estar para o profissional e o paciente.Palavras-Chave: Religião. Religiosidade. Espiritualidade. Saúde. Enfermagem.

Artigo OriginalATITUDES RELIGIOSAS DE PROFISSIONAIS DEENFERMAGEM FRENTE AO PACIENTE CRÍTICO

Glauciele Barbosa Pereira Medeiros1

Paulo Emanuel Silva2

Ednice Fidelis Anisio3

1 Enfermeira Graduada pela Faculdade de Enfermagem Nova Esperança.2 Enfermeiro; Especialista em Administração em Serviços de Saúde e de Enfermagem; Especialista emMetodologia em Ensino Superior; Mestre em Ciências das Religiões; Docente Facene.3 Enfermeira. Psicopedagoga clínica e institucional. Mestre em Ciências das Religiões. Docente daFaculdade de Enfermagem Nova Esperança (Facene).

INTRODUÇÃO

O ser humano é dotado de sentimentos e emoções, o que o torna sensível ao sofrimentoalheio. E o “ser enfermeiro” sente-se ainda mais desafiado, pois ele estará no papel de

cuidador da pessoa que sofre. O ato de cuidar do outro envolve atenção, responsabilidade,respeito, limite e até mesmo o medo; é a compreensão do outro em sua totalidade.

Para Boff1:33 “cuidar é mais que um ato; é uma atitude”. No entanto, vale ressaltar queantes de cuidar dos pacientes, os enfermeiros necessitam compreender a si próprios e suasnecessidades. Ou seja, “Conhece-te a ti mesmo”, como diz a expressão gravada no portal deentrada do oráculo de Apolo, na cidade de Delfos, o mais famoso templo da Grécia, ressaltadapor Sócrates (469-399 a.C.)2. Isto é, tenta conhecer o teu eu, para que assim possas entenderum pouco da complexidade do outro.

De acordo com Menzies3, o serviço de enfermagem sofre impacto total, imediato econcentrado do estresse que advém do cuidado dos doentes, sendo que o contato constantecom pessoas fisicamente doentes ou lesados; a incerteza no restabelecimento do paciente; ocuidar e lidar constantemente com doenças incuráveis; o confronto com o sofrimento, amorte e a execução de tarefas repulsivas, acaba gerando conflito sentimental para a equipe.

Portanto, o conflito se estabelece não só pela dificuldade em assistir o homem comoum todo dinâmico e integrado, mas também pela necessidade de se proteger da ansiedade

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que todo contexto de trabalho traz junto aoser enfermo, principalmente quando seestabelece uma relação afetiva com o mesmo.

O cuidar envolve desafios que abor-dam parâmetros pessoais, profissionais,institucionais, religiosos ou inerentes à espiri-tualidade humana. Neste sentido, Boff1

afirma que tal ato significa derrubar a dita-dura da racionalidade fria e abstrata paradar lugar ao cuidado. E enfrentá-lo significaenvolver-se e importar-se com os resultadosdas ações realizadas, especificamente quan-do o cuidado tem por constante a possibili-dade da morte próxima, fato que o profissio-nal de enfermagem na maioria das vezesvivencia no seu dia a dia a depender da clien-tela assistida por ele, requer do profissionalum suporte que necessita ser desenvolvido.

Nesse relacionamento, o enfermeirobusca um envolvimento emocional que viseas funções terapêuticas onde ele reconheceo fato de que é um elemento participante dorelacionamento, mas ao mesmo tempo estáconsciente de seus sentimentos e de suasemoções que estão presentes naquela situa-ção.

Ao avaliarmos o conceito que devedirimir o atendimento do profissional paracom o paciente, fica claro que o envolvi-mento deve ocorrer de forma madura,profissional, com limites a serem obedecidoscomo especifica Travelbee4, pois vários sãoos fatores que podem afetar a capacidadedo enfermeiro de se comprometer de formamadura e emocional, portanto, os requisitosprévios incluem o conhecimento e a acei-tação de si mesmo como entidade distinta ea capacidade concomitante para perceber osoutros como seres humanos únicos.

Nesse meio termo existe uma variávelque está presente em situações que envolvema morte ou doenças graves, variável confi-gurada na questão da religiosidade ou daespiritualidade inerente ao ser humano.Atkinson e Murray5 afirmam que as crençasreligiosas de alguém fornecem força,tranquilidade interior e fé, com as quais seluta para contornar os problemas da vida.Assim o apoio espiritual pode fornecer umabase para que alguém viva a sua vida, o queinclui rituais, orações, exercícios espirituais,certos princípios, conduta diária, e assim pordiante.

Lidar com questões espirituais repre-senta um desafio para a enfermagem, porque

o profissional acabará se envolvendo emocio-nalmente com o paciente. Um enfermeiroterá mais sucesso em ajudar seus pacientesa alcançar resultados desejáveis de saúdedepois de aprender a apoiar a espiritualidadedestes e de suas famílias, tanto fisicamentecomo mentalmente6.

Na nossa contemporaneidade, aenfermagem passa por uma fase de transiçãomarcada pelo conflito entre velhos preceitose novos valores. Kurcgant7, em comentárioa respeito do modo de atuação da enfer-magem aponta que os efeitos do taylorismo,na fase remota, conduziu a profissão àprática fragmentada e impessoal no aten-dimento. É importante salientar que o termotaylorimo se refere ao modo tarefeiro dosoperários executarem sua mão de obra noprocesso de produção.

Já Trevizan8 acrescenta que atuaçõesdesse tipo geraram a possibilidade de frustra-ção do pessoal e a má qualidade da assistên-cia. Pois os velhos preceitos representadosprincipalmente pelos preconceitos em rela-ção ao envolvimento emocional com o pa-ciente constituem tanto pontos de referênciaquanto focos de oposição para uma geraçãonova que busca um equilíbrio entre a formade ensinar e a forma de assistir o ser humano,que permita também não se anular comopessoa nesse processo. Por outro lado, é algonovo e angustiante, pois essa mudançaimplica na valorização e interpretação nãosó de órgãos e sistemas, mas também nasrelações interpessoais. Isso implica em fugirum pouco da atuação instrumental e abrircaminho para a área da assistência, cujoterreno é novo e desconhecido – o terrenodas emoções e da espiritualidade.

Por acreditar que na condição de enfer-meiros podemos ser não apenas cuidadoresdo físico, mas também do espiritual, ointeresse no presente estudo surgiu pelanecessidade de saber como os profissionaisexercem seu lado religioso mediante asdificuldades do cotidiano, ou melhor, noambiente de trabalho.

Por acreditarmos que o profissional deenfermagem vivencia a problemática levan-tada neste estudo em um ambiente cujospacientes por eles atendidos estejam emcondições na qual se necessita de um apoiopsicológico e/ou espiritual mais acentuado,optamos por realizar este estudo comprofissionais de enfermagem que trabalham

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em Centro de Terapia Intensiva, paraatravés dos dados levantados buscar meios,para instituirmos mais o assunto abordadoneste ambiente de trabalho.

OBJETIVOS

· Caracterizar a amostra do estudoquanto ao sexo, faixa etária, cate-goria profissional, tempo de atuaçãoe religião.

· Avaliar como os profissionais deenfermagem lidam com as questõesreligiosas frente ao paciente crítico.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa exploratória,com abordagem quantitativa. Para Costa etal9, a pesquisa exploratória tem comoobjetivo identificar e construir hipóteses quepossam ser úteis a estudos futuros. Gil10

afirma que esse tipo de pesquisa favoreceráa uma visão geral, do tipo aproximativo,acerca de um determinado problema.

No que se refere à abordagem quanti-tativa podemos destacar o que argumentaRichardson apud Costa et al9, ao afirmar queessa abordagem se caracteriza pelo empregoda quantifi-cação tanto das modalidades decoleta de informações, quanto no tratamentodelas por meio de técnicas estatísticas, desdeas mais simples, como percentual, média,desvio padrão, às mais complexas, comocoeficiente de correlação, analise deregressão etc.

A pesquisa foi realizada em um Centrode Terapia Intensiva (CTI) do hospitalprivado Dom Rodrigo, situado no municípiode João Pessoa, Estado da Paraíba. A escolhadesse local deveu-se pelo fato do hospitalpossuir pacientes que estão em um estadode saúde mais debilitado, requerendo doprofissional uma assistência mais acentuada.E dessa forma, os entrevistados tiveram umrespaldo maior para responder às questõesinerentes aos objetivos deste estudo.

A população deste estudo foi consti-tuída por todos os profissionais deenfermagem que trabalham no Centro deTerapia Intensiva (CTI) do hospital DomRodrigo. Para Marconi e Lakatos11, popula-ção é o conjunto de seres animados ou

inanimados que apresentam pelo menosuma característica em comum.

A amostra foi constituída por dezprofissionais de enfermagem que concor-daram em participar do estudo, assim quetomaram conhecimento do mesmo e de seusobjetivos. Para Gil10, esse tipo de amostra nãoé composto de qualquer rigor estatístico,onde o pesquisador seleciona os elementosque terá acesso, admitindo que estes possamrepresentar o universo.

Foram utilizados dois instrumentos:um roteiro de entrevista, que foi estruturadocom questões referente às condiçõessocioeconômicas dos profissionais queaceitaram participar do estudo, e umquestionário adaptado da Escala de AtitudeReligiosa proposto por Panzini12. Valeressaltar que a coleta de dados foi realizadaapós a aprovação do projeto pelo Comitê deÉtica e Pesquisa – (CEP), e foi encaminhadoum ofício à direção do hospital em estudo,comunicando a pretensão da pesquisa.

Este trabalho foi realizado com basenos aspectos éticos em pesquisa envolvendoseres humanos, preconizados pela Reso-lução CNS/MS n. 196/96 Art. II: Dosaspectos éticos que trata do envolvimento deseres humanos em pesquisa13, como tambémo que rege a Resolução 311/2007 doConselho Federal de Enfermagem14, que tratado código de ética dos profissionais deenfermagem.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste tópico encontram-se apre-sentadas as características dos participantesdo estudo, no que se refere aos dadossocioeconômicos e às características religiosas.

De acordo com a Tabela 01, pode-seperceber que 100% da amostra são do sexofeminino. Quanto à faixa etária, observa-se que10% da amostra correspondem aos participantescom idade < de 24 anos; 50% correspondem aosparticipantes com idade de 24 – 33 anos; 30%correspondem às idades entre 34 – 44 anos e 10%corresponde aos participantes com > 44 anos.

No que diz respeito à profissão, 30%da amostra correspondem à profissão deenfermeira, e 70% correspondem à profissãode técnica de enfermagem. De acordo comaprimoramento nos estudos, qualificadocomo pós-graduação, 30% apresentaram

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esse tipo de estudo e 70% apresentaram nãopossuir, e quanto ao tempo de atividadeprofissional, 70% a amostra corresponde aum tempo de exercício < 10 anos; 20%correspondem a um tempo > de 10 anos deexercício enquanto que 10% referiram nãose lembrar do tempo de ativi-dade emexercício profissional. É importante salientarque o percentual de entrevistadas queafirmou ter pós-graduação pertence aouniverso das enfermeiras, já o maiorpercentual apresentado afirmando não terpós-graduação corresponde ao universo dastécnicas de enfermagem, que por nãopossuírem graduação, consequentementenão poderão fazer pós-graduação.

Quanto às características dos entrevis-tados no que concerne ao sexo, os dadosrevelam uma predominância no sexo femi-nino, o que indica de acordo com Campos eOguisso15, que ainda predomina na enfer-magem a figura feminina como maioria entrea categoria. O autor enfatiza que isso vemenraizado na história da enfermagem

brasileira, haja vista que uma das primeirasque se destacou foi Ana Nery, que construiusua história em cima da enfermagem.

Entretanto, o autor em foco afirmaque, na história da enfermagem há umretrocesso com a identificação da profissãocomo eminentemente feminina, não sendoincomum encontrar textos acadêmicos,publicitários, jornalísticos com imagemexclusivamente feminina ou que transmitamque a enfermagem como ação prática só épraticada por mulheres, relatando represen-tações da enfermagem que definem a profis-são como própria do universo feminino, istointerferiu valiosamente na formação daidentidade profissional, pois

as primeiras enfermeiras eram selecionadaspelo sexo (feminino), cor (branca), idade(jovem), culta e de aparência saudável, oque caracteriza uma determinação paraexercício de forma discriminatória, pois nãoadmitiam homens e nem tampouco mulheresnegras15:87.

Tabela 01 – Dados relacionados à caracterização da amostra.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nº %

SEXOMasculino 00 0,0Feminino 10 100,0

Total 10 100,00

FAIXA ETÁRIA< de 24 anos 01 10,024 – 33 anos 05 50,034 – 44 anos 03 30,0> 44 anos 01 10,0

Total 10 100,00

PROFISSÃOEnfermeira 03 30,0Técnica de Enfermagem 07 70,0

Total 10 100,00

PÓS-GRADUAÇÃOSim 03 30,0Não 07 70,0

Total 10 100,00

TEMPO DE ATIVIDADE< de 10 anos 07 70,0> de 10 anos 02 20,0Não lembra 01 10,0

Total 09 100,00

Fonte: Pesquisa direta, João Pessoa, 2009.

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O primeiro homem a cursar a enfer-magem foi Benoni de Souza Lima, na Escolade Enfermagem da USP, em 1918; e aprimeira mulher negra foi Josephina de Melo,também na Escola de Enfermagem da USP,em 1943. A enfermagem no Brasil veio pelaimplantação da Cruz Vermelha Brasileira efoi instalada em fins de 1908, tendo comoPresidente Oswaldo Cruz, com isso teve dezanos de uma profissão unicamente femininaque coibia os valores machistas de ingres-sarem na profissão do cuidado assistencial15.

No que se refere à faixa etária, pode-se perceber que trata-se de um grupo emplena fase de produção e reprodução. Talsituação é referida pelos indicadores demo-gráficos do Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística – IBGE16, quando destaca osegmento etário de 15 a 64 anos como poten-cialmente produtivo.

De acordo com a Tabela 02, pode-seevidenciar que 100% da amostra afirmamseguir um tipo de religião. Quanto à denomi-nação praticada, 40% afirmam ser da reli-gião católica e 60% refere acompanhar areligião evangélica.

Esses dados mostram que no Brasilimperam as religiões que tiveram como raiz

o cristianismo, cujo termo pode ser entendidocomo “o conjunto de igrejas, comunidades,seitas e grupo, assim como de ideias e con-cepções, que se referem às palavras daqueleque costuma ser reconhecido como o funda-dor dessa religião: Jesus de Nazaré”17:60.

Silva18 acrescenta que esse fato ficouenraizado no imaginário popular, repercu-tindo na concepção de que o cristianismoteve uma origem sólida, no sentido de secompreender que o mesmo não “nasceu donada”, devendo-se levar em consideraçãoque, na autocompreensão cristã, Jesustambém foi visto como fundador no sentidode pessoa sempre presente na comunidade,e dessa forma funda continuamente suaigreja.

Os gráficos a seguir estão relacionadosàs respostas dos participantes, quanto às ati-tudes religiosas dos profissionais, vale ressal-tar que as perguntas foram extraídas de umaescala de atitude religiosa, que foi adaptadopara a população que fez parte desse estudo.

4.2 Atitudes religiosas dos profissionaisentrevistados

De acordo com o Gráfico 01, no que

Tabela 02 – Características religiosas.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nº %

POSSUI RELIGIÃOSIM 10 100,0NÃO 00 0,0Total 10 100,00RELIGIÃOCatólica 04 40,0Evangélica 06 60,0Total 10 100,00Fonte: pesquisa direta, João Pessoa, 2009.

Gráfico 01: Distribuição da amostra (n 10), diante do questiona-mento: Ao sair para o trabalho você ora pedindo força para enfrentaro dia a dia?

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diz respeito ao questionamento: “Ao sairpara o trabalho você ora pedindo força paraenfrentar o dia a dia?”, pode-se evidenciarque 20% da amostra responderam “orar umpouco”; 10% responderam “orar mais oumenos”; enquanto 70% responderam “orarbastante”.

No contexto das religiões, de acordocom Sanchez e Nappo19, existe um consensode que as orações frequentes proporcionambem-estar, os autores acrescentam que asreligiões incentivam essa prática como um dosartifícios no controle da depressão, sugerindoque seus adeptos orem no mínimo ao acordar,pedindo proteção para o dia e antes de sedeitar, agradecendo a proteção recebida.

Nesse sentido, de acordo com ospressupostos dos autores citados, para todasas religiões, a prece, ou oração, seria a formade contato direto com Deus, como um diálo-go entre pai e filho. Assim, os autores em focoenfatizam que a oração também promove afé; ameniza o peso de lutas solitárias e permite“sua” intervenção protetora frente aos“espíritos do mal” ou o “diabo”.

Dessa forma, podermos inferir que oenfrentamento das dificuldades, a partir daperspectiva espiritual apoiado na fé, acabaproporcionando afastamento natural deatitudes contrárias à moral difundida pelareligião, além disso, o fato de se contar coma ajuda irrestrita de Deus gera um amparoconstante, conforto e bem-estar.

No Gráfico 02, apresentam-se ospercentuais das respostas dos participantes

quando questionadas sobre pedir proteção deDeus para lidar com os pacientes, nessesentido, pode-se evidenciar que 10% daamostra responderam pedir “um pouco” deproteção para lidar com os pacientes; 10%revelaram pedir “mais ou menos” proteção deDeus para lidar com os pacientes; 50%descreveram pedir “bastante” proteção paraDeus ao lidar com os pacientes, enquanto 30%responderam pedir “muitíssima” proteção.

Os dados apresentados revelam que asentrevistadas estão em busca da presença deDeus para ajudá-las no dia a dia, o que nosfaz reportar para o campo das repre-sentações sociais, em que estudiosos comoMoser; Mulder; Trout20 afirmam que osignificado da presença de Deus pode estaraliado ao fato de que a fé ou a crença em algose torna verdadeiro, nesse sentido, pode-seinferir que as pessoas realmente acreditamque Deus está a seu lado como um ser quasevisível. Acerca da concepção de crença, paraos autores supracitados, pode-se ancorar naafirmativa de que uma crença é direcionadasempre a um determinado estado de coisas,dessa forma, a crença está imbuída de pro-priedades, e em virtude dessa propriedade, acrença é intencional e, de um modo maisabrangente, ela tem significado.

Portanto, a partir do enfoque de que acrença possui uma característica intencional,Silva18 acrescenta que as crenças podem servistas como representativas, já que funcio-nam como uma estratégia pelas quais seretratam o mundo e a forma como ele é visto,

Gráfico 02: Distribuição da amostra (n. 10), diante do questionamento: vocêpede proteção de Deus para lidar com os pacientes?

Gráfico 03: Distribuição da amostra (n. 10), diante do questionamento: pedeajuda de Deus para saber agir diante das pessoas?

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Gráfico 04: Distribuição da amostra (n 10), diante do questionamento: Procurater uma ligação maior com Deus?

Gráfico 05: Distribuição da amostra (n 10), diante do questionamento: Procurair a uma casa religiosa de oração?

representando a configuração do contextoque direciona ao transcendente.

De acordo com o Gráfico 03, no que dizrespeito à ajuda que os participantes pedem aDeus para tomar suas atitudes, pode-se perceberque 20% responderam pedir “mais ou menos”ajuda para agir diante das pessoas; 40% daamostra responderam pedir “bastante” ajudapara saber agir diante das pessoas, e 40%responderam pedir “muitíssima” ajuda.

A ajuda que os participantes pedem aDeus, representada nos dados acima, revelamser bastante expressiva, no sentido daconfiguração de uma autoafirmação ou de umautofortalecimento. Alguns autores co-mungam dessa afirmação, quando inferem que

a compreensão e a observação dacomplexa relação entre mente, corpo,espírito e processo de cura poderãoajudar a enfermeira a proporcionarsuporte emocional ao paciente21:160.

Os profissionais de saúde e em especialos(as) enfermerios(as) devem lembrar que oseu suporte emocional será lembrado evalorizado pelo paciente e por qualquerpessoa que observa seu trabalho, indepen-dentemente do nível de experiência técnicaque o(a) enfermeiro(a) possa demonstrar.Assim, o uso de estratégias espirituais deenfrentamento pode aumentar o autofortale-cimento, isso implica dizer, de acordo comTeixeira e Lefévre21, que o cuidado holísticoincorpora a facilidade de várias estratégias

espirituais de enfrentamento para a proteçãoe a total integridade dos pacientes, na per-cepção tanto de pacientes como de cuida-dores, os cuidados espirituais são bem-vindose as enfermeiras deveriam ser sensíveis nooferecimento dessa prática. Esses argu-mentos podem explicar a necessidade dosentrevistados em pedir a ajuda de Deus parasaber agir diante das pessoas.

No Gráfico 04, pode-se evidenciar que10% dos entrevistados apresentaram ter “umpouco” de ligação com Deus; 40% daamostra revelaram ter “bastante” ligaçãocom Deus e 50% responderam ter “muitís-sima” ligação com Deus.

Diante dos percentuais apresentados,pode-se perceber que os participantes do estudoprocuram ter uma ligação com o transcendenteno sentido de se acreditar em algo superior.Nesse contexto, Teixeira e Lefévre21, enfatizamque “crer em alguma coisa”, fortalece anecessidade de “acreditar em Deus”, para oenfrentamento das adversidades, no entanto,torna-se necessário ter uma fé crescente e queesta fé esteja presente na vida diária e nãoapenas em situações de risco ou fraqueza.

Os autores, em uma investigação reali-zada sobre as perspectivas religiosas das en-fermeiras, mostraram que 100% das entre-vistadas afirmaram que a sua crença estavabaseada num poder mais alto, e que o forta-lecimento profissional por meio da religiãose torna útil nas relações com o paciente.

Quando perguntados acerca da pro-cura por casas religiosas para oração, o Grá-

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fico 05 demonstra que, 10% não frequentamcasas religiosas; 10% responderam que vão“um pouco” a um templo religioso; 30% res-ponderam ir “mais ou menos”; 30% daamostra responderam ir “bastante” a umtemplo religioso, e 20% responderam ir“muitíssimo”.

Esses dados apontam percentuaisbastante significativos, pois aos somarmos ospercentuais das respostas dos participantesque responderam “mais ou menos”,“bastante” e “muitíssimo”, teremos um totalde 80% dos participantes que frequentamtemplos religiosos, valendo ressaltar que,nesse contexto, os mesmos podem serrepresentados por igrejas, sinagogas, casasde candomblé, entre outros.

Sanchez e Nappo19 dizem que apesarde particular em conteúdo e intensidade, afé é desenvolvida nos cultos religiosos, ondeos líderes religiosos defendem argumentossobre seu potencial de cura, de bem-estar ede salvação. Assim, a fé é moldada pelo con-teúdo do culto, sendo assim, entre evangé-licos, é comum os cultos terem um tempodedicado ao testemunho de fé, quandoalguém que recebeu uma dádiva de Deus,por ação de sua fé, relata sua história. Inde-pendentemente da religião, a fé é tratadacomo elemento-chave da vida espiritual oureligiosa, razão pela qual os encontros emlocais específicos, que podem ser denomi-nados de instituições, casas ou locais paraencontro de orações, assumem fundamentalimportância.

A reunião religiosa que congrega seusseguidores na instituição chama-se culto noevangelismo, missa no catolicismo e evan-gelho no espiritismo; apesar de diferentesnomes e dinâmicas, têm o objetivo de divul-gar o conhecimento da religião.

Os cultos evangélicos neopentecostaise as missas da Renovação CarismáticaCatólica são semelhantes, cujos elementos-chave são o contato entre seus membros e oslouvores. Os presentes são convidados apronunciar frases de encorajamento ao seu“vizinho de poltrona” e a realizar preces deintervenção a outras pessoas.

No Espiritismo, as reuniões de evan-gelhos são dirigidas por um palestrante queexpõe um tema, faz uma oração de agrade-cimento, pedido e/ou louvor e uma preceintercessória, chamada de “vibração”, todoo processo é silencioso, sem cânticos, sacra-mentos ou liturgias19.

De acordo com o Gráfico 06, pode-seevidenciar que 70% da amostra “não buscam”proteção de entidades espirituais; 10%revelaram procurar “mais ou menos” proteçãode entidades espirituais; 10% da amostraresponderam procurar “bastante” proteção deentidades espirituais e 10% revelaram procurar“muitíssima” proteção de entidades espirituais.

A busca de proteção através de entidadesespirituais depende do contexto religioso em quecada indivíduo esteja inserido, por exemplo, nareligião católica e na umbanda os seus adeptoscostumam orar diante de imagens consideradassagradas, já na tradição dos evangélicos nãoexiste adoração a santos ou a imagens. Nesteestudo ressalta-se que a maioria dos entrevistadosé de evangélicos, nesse sentido, os dadosapresentados no Gráfico 06 configuram osindivíduos que não veneram imagens, buscandosua proteção diretamente com Deus.

Quando questionado sobre seu pensa-mento diante de um paciente crítico, de acordocom o Gráfico 07, 50% dos participantes doestudo responderam que pensam “muitíssimo”diante de uma situação crítica, que fizeram omelhor que puderam e entregam a situação aDeus; já os outros 50% pensam “bastante” quefizeram o melhor que puderam e entregam asituação a Deus.

Esses dados podem se tornar bastanteperigosos se levarmos em consideração o quediz Lara Junior22, quando afirma que religiãoé sinônimo de alienação, pois as pessoas queagem no cotidiano, utilizam as representaçõessociais religiosas, representações estas que asimpedem de serem livres e atuantes, porquedependem da divindade para saber o que deveser feito. Outros autores também corroboramcom essa afirmação ao dizerem que

a Religião é um fenômeno de alienação,porém secundário: é uma conse-quência, uma projeção ideológica daalienação social, sendo que a formamais corrente dessa alienação é a ideiade dependência do transcendente23:162.

Portanto, nessa maneira de pensar, asações das pessoas estão presas à vontade dadivindade, e, portanto, elas não irão tentarmudar nenhum aspecto do cotidiano, poisacham que Deus “quis assim”. Segundo LaraJunior22, as pessoas que agem motivadas poruma representação religiosa estarão fadadasà alienação, pois não são livres o suficiente

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Gráfico 06: Distribuição da amostra (n 10), diante do questionamento: Busca proteção de entidadesespirituais (santos, espíritos, orixás, etc.)?

Gráfico 07: Distribuição da amostra (n 10), diante do questionamento: Diante de um paciente crítico vocêpensa: “Fiz o melhor que pude e entreguei a situação a Deus”.

para perceber a realidade como realmentese apresenta, assim sendo, as representaçõesreligiosas são como um falseamento darealidade para que a pessoa possa suportaras dificuldades da existência humana.

De acordo com o Gráfico 08, pode-seperceber que 30% dos participantes buscam“muitíssimo” ver como Deus poderia atuardiante das doenças e pede fortalecimentodiante da situação; os outros 70% buscam“bastante” evidenciar como Deus poderiaatuar diante das doenças.

Esses dados revelam a total confiançaque a amostra do estudo deposita em Deus,como se houvesse uma ligação com ele.Martins24 argumenta que a religião ligahumanos e divindades porque organiza oespaço e o tempo. Portanto, os seres humanosprecisam garantir que a ligação e a orga-nização sejam de tal forma que possamvivenciar a experiência com o sagrado.

No entanto, Martins24 acrescenta que,influenciados pela cultura, os indivíduosbuscam a experiência e a manifestação dosagrado, que, por sua vez, demonstra seupoder sobrenatural e mágico, e a magia estárepleta de religião e a religião de magia, e asduas manifestam-se de acordo com a cultura,pois a magia está na raiz da cultura, como

estrutura básica do pensamento e dodesenvolvimento humano.

No Gráfico 09, pode-se evidenciar que40% dos participantes sentem “bastante” queDeus atua junto com eles e os outros 60%afirmam que sentem “muitíssimo” que Deusatua junto com eles.

Silva18, em uma análise sobre Deuscom portadores de HIV, destaca que osparticipantes do estudo percebem Deuscomo um amigo, com o qual se pode “contara qualquer momento”. Nesse sentido, pode-se inferir que os participantes da presentepesquisa revelam também que podem“contar” com Deus quando necessitarem.

É interessante ressaltar, de acordo comDyer25, que é apenas através da psiquehumana que podemos estabelecer que “Deusage sobre nós”, o autor enfatiza que esse con-ceito diz respeito não apenas às experiênciasoriginadas na própria psique, mas às expe-riências externas que são processadas porela.

Quando questionados sobre a crençaem milagres, o Gráfico 10 revela que 10%dos participantes acreditam “mais ou me-nos” em milagres; 10% afirmam acreditar“bastante” em milagres, enquanto 80%acreditam “muitíssimo” em milagres.

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Gráfico 08: Distribuição da amostra (n. 10), diante do questionamento: Buscaver como Deus poderia estar atuando na situação de lidar com tantas doençase pede para que ele o fortaleça nessa situação?

Gráfico 09: Distribuição da amostra (n. 10), diante do questionamento: Senteque Deus atua junto a você?

Gráfico 10: Distribuição da amostra (n. 10), diante do questionamento: Acreditaem milagres?

Os milagres tornam-se um mistério queninguém consegue explicar, nesse sentido,

“este mistério de preparar-se e jamaisse encontrar com a totalidade doprojeto é que nos move e impulsionapara vivermos essa causa tão humanae tão repleta de realizações”26:71.

Portanto, de acordo com o autor emfoco, esse prazer de saber, sentir e fazer éque chama-se de mistério, e é esta força quenos move em busca da construção da inter-minável utopia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após as análises dos dados, comoforma de resultado, foi expresso através detabelas e gráficos que a totalidade do sexodos entrevistados é da classe feminina, suafaixa etária na maioria está compreendidaentre 24 e 44 anos de idade, como se tratade uma pesquisa envolvendo a equipe deenfermagem, como forma de representação,foi evidenciado que em sua maioria sãotécnicas de enfermagem, assim como nãopossuem titulação além da formação neces-sária para atuar no campo de trabalho e quede forma amiúde fica claro que o tempo de

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serviço dessas profissionais está compreen-dido em sua maioria com um tempo inferiora 10 (dez) anos de atuação.

Outro aspecto a ser considerado, sãoas características religiosas dos profissionaisenvolvidos; fator essencial para avaliação dapesquisa, onde com um número bem elevadoficou demonstrado que os profissionais en-volvidos eram evangélicos; significando dizerque nesse contexto apresentado, imperou areligião que teve como raiz o cristianismo.

Também em contraste com tais evidên-cias, ficou clara a correlação entre o grau deprofundidade de atuação do profissionalfrente ao paciente que necessita de umaatenção maior e o envolvimento em práticasreligiosas como forma de bem-estar para oprofissional e o paciente.

Dessa forma, no que concerne ao to-cante desse assunto, tal nota mostra a corre-lação entre o profissional de enfermagem,religião, religiosidade e a espiritualidadedentro de sua atuação profissional, onde ficaexpresso que por ainda não ser adequada-

mente “robusto” em suas provas e relações,este constitui, sem dúvida, um amplo epromissor campo de investigação.

Portanto, expressamos de forma clara econcisa que existe a necessidade de maiorinvestigação acerca do tema abordado, baseadaprincipal-mente no impacto das intervenções debase religiosa do profissional de enfermagem juntoao paciente crítico, onde tal fator atuará para asatisfação e possível melhora do paciente.

Dessa forma, faz-se ainda relevantepara a comprovação desse paradigma a utili-zação de um adequado método científico eo emprego dos princípios da medicina basea-da em evidências para avaliação crítica daliteratura e a condução de estudos, fator quepoderá certamente prover o caminho quemoverá as hipóteses do promissor trabalhoao comprovado e que consolidarão o para-digma necessário para a modificação da per-cepção e conduta dos profissionais atuaisante a correlação entre as atitudes religiosasdos profissionais de enfermagem frente aopaciente.

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ATTITUDES OF RELIGIOUS FACE OF PROFESSIONAL NURSING PATIENT CRITICAL

ABSTRACTThe human being is endowed with feelings and emotions, which makes it sensitive to the suffering ofothers. And “being a nurse” feels even more challenging because it is the role of caregiver of the personwho suffers. Given this context, it was intended with this study to verify the religious attitudes of nursingstaff working in the Intensive Care Unit opposite the critically ill patient. This is an exploratory study witha quantitative approach, aimed to characterize the sample by gender, age, professional category, length ofperformance and assess how religion and nursing staff dealing with religious or spiritual issues facingthe patient critical. The sample consisted of 10 nursing and most practical nurses and all females, are inan age group 24-44 years of age and is the predominant religion of the Gospel. Through the data, it waspossible to identify the religious profile of the participants and the ways they face the difficult situationsconsidered front of the critically ill patient. There is a clear correlation between the depth of professionalperformance in front of the patient that needs greater attention and involvement in religious practices asa form of welfare for both professionals and patients.KEYWORDS: Religion. Religiosity. Spirituality. Health. Nursing.

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RESUMOO objetivo desta pesquisa é analisar e comparar a percepção do atleta em relação ao comportamento deliderança e coesão do treinador, durante o período de competição do Circuito Banco do Brasil de Voleibolde Praia 2009. O estudo comparativo utilizou uma amostra a partir da colocação final das duplas, quetotalizaram 10 (N=20), sendo 5 de alta e 5 de baixa qualificação esportiva, divididas em: G1 (n=10) médiade idade 28±3 anos, primeiros colocados e G2 (n=10) 20±3 anos, últimos colocados. Aplicou-se a Escala deComportamento do Treinador – Percepção Atleta sob 5 dimensões: treinamento físico, habilidades técnicas,incentivo psicológico, estabelecimento de metas e relacionamento com o treinador. Utilizou-se o SPSS 14.0para estatística inferencial (Mann-Whitney U) e nível de significância de 5%. (p<0,05). Encontrou-se diferençassignificativas entre o G1 e G2 no treinamento e condicionamento físico (p=0,000), nas habilidades técnicas(p=0,004), na preparação mental (p=0,033), nas metas a serem alcançadas (p=0,033) e na percepção doatleta com relação ao treinador (p=0,001). A percepção do atleta em relação ao comportamento de liderançae coesão do treinador apresenta-se melhor na equipe de alta qualificação desportiva do Voleibol de PraiaBrasileiro, classificadas até o quinto lugar.Palavras-chave: Liderança. Motivação. Medicina do comportamento.

Artigo OriginalRELAÇÃO TREINADOR-ATLETA: PERCEPÇÃO DOS

COMPORTAMENTOS DE LIDERANÇA E COESÃO POREQUIPES DE VOLEIBOL DE PRAIA

Felipe Brandão dos Santos Oliveira1

Maria do Socorro Cirilo de Sousa2

Gilmário Ricarte Batista3

Jefferson da Silva Novaes4

1 Mestre em Medicina do Esporte e Doutorando em Ciências do Desporto. Professor do Centro Universitáriode João Pessoa – UNIPÊ/PB e da Faculdade de Medicina Nova Esperança – FAMENE. Endereço paracorrespondência: Rua Jacinto Dantas, 94, apt. 404 – Manaíra - João Pessoa – Paraíba – Brasil. Cep: 58038-270. Tel: (83) 9332-0344/8801-0008. E-mail: [email protected] Pós-Ddoutora em Ciências do Desporto (UTAD, Portugal). Docente da Universidade Federal da Paraíba– UFPB.3 Doutor em Ciências da Saúde (UFRN). Docente da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE/PE.4 Pós-Doutor em Educação Física (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Portugal). Docente daUniversidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/RJ.

INTRODUÇÃO

No processo do treinamento desportivo, especificamente do voleibol de praia, percebe-seque a relação treinador-atleta é fator preponderante no desempenho profissional.

Entende-se que a conduta social, profissional e o comportamento de ambos são determinantesda performance esportiva e profissional1,2. A ação pedagógica estabelecida deve abrir umespaço de reflexão para intervenção, de forma recíproca entre as partes envolvidas.Caracterizar melhor os ambientes afetivos que surgem nas situações de treino desportivo, noâmbito da psicologia desportiva, tem sido objeto de pesquisa, principalmente pelas lacunasapresentadas no conhecimento produzido nesta área3.

No contexto de treinamento, as funções do treinador se convergem para formaçãotécnica, pedagógica e psicológica dos praticantes. O comportamento adotado nestaconvivência pode ser fator positivo ou negativo de impacto, tanto sobre o desempenho dosatletas, quanto do próprio treinador. Entretanto, o controle e o conhecimento dos aspectosque afetam a díade treinador-atleta deverão ser, prioritariamente, considerados pelo treinador1.

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Este deve conduzir os treinamentos naperspectiva de melhorar a relação com osatletas, tornando-a saudável e produtiva4,pois tendem a permanecer entre 4,5 ou maishoras por dia, ao longo de meses e anos, emsua companhia5.

Desse modo, o objetivo desta pesquisaé analisar e comparar a percepção do atletaem relação ao comportamento de liderançae coesão do treinador durante o período decompetição do Circuito Banco do Brasil deVoleibol de Praia - 2009. Visto que a lideran-ça “é um processo que inclui influenciar osobjetivos da tarefa e as estratégias de grupoou organização, influenciando as pessoas naorganização a implementarem as estratégiase alcançar os objetivos, influenciar a manu-tenção e identificação do grupo, e influenciara cultura das organizações”. E liga-se direta-mente com a coesão, pois esta reflete a forçade união entre os membros do grupo. Aorigem deste termo, segundo Carron3, vemda palavra do latim cohaesus, que significamanter-se fiel ou permanecer unido.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados como critérios deinclusão a inscrição dos atletas na Confe-deração Brasileira de Voleibol e a partici-pação no Circuito Banco do Brasil de Vôleide Praia – 2009. Neste estudo comparativo,o universo foi de atletas federados partici-pantes do Circuito Banco do Brasil de Volei-bol de Praia – 2009. A amostra foi selecio-nada a partir da colocação final das duplasque totalizaram 10 duplas (N=20) de voleibolde praia, sendo 5 de alta e 5 de baixaqualificação esportiva, divididos em 2 grupos:G1 (n=10) média de idade 28 ± 3 anos,primeiros colocados e G2 (n=10) média deidade de 20 ± 3 anos, últimos colocados.

A coleta realizou-se em conformidadecom a assinatura do Termo de Consen-timento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordocom a Resolução 196/96 do ConselhoNacional de Saúde, sob aprovação do Comitêde Ética em Pesquisa do Centro Universitáriode João Pessoa (UNIPÊ), de parecer número16/09, durante a permanência dos atletas naarena, antes dos jogos e na ausência dotreinador, na última etapa do Circuito doBanco do Brasil de Voleibol de Praia - 2009.

Utilizou-se o questionário com a Escala

de Comportamento do Treinador - Per-cepção Atleta (ECT-A), elaborado e validadopor Moraes et al6. O ECT-A é constituído de12 questões demográficas e 41 distribuídasem cinco dimensões: treinamento e condicio-namento físico, habilidades técnicas, prepa-ração mental, estabelecimento de objetivos erelação treinador-atleta (reforço pessoalpositivo e reforço pessoal negativo).

A análise dos dados realizou-se emarquivo de programa Statistical Package forSocial Sciences – SPSS for Windows (versão16.0), para retirada de estatística descritivade média, desvio-padrão, valor máximo emínimo e inferencial com teste não para-métrico para amostras independentes deMann-Whitney U, com nível de significânciade 5% (p<0,05). Ainda na tentativa demelhor elucidar as relações existentes entreas variáveis, utilizou-se o método estatísticode estudo da proporcionalidade, e paratransformar os valores em um único inter-valo, utilizou-se a seguinte equação (valorobservado – menor valor observado) / (maiorvalor observado – menor valor observado)citado em Moreira Dantas7 e Diaz et al8.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pode-se observar a média de idade e odesvio padrão do grupo de alta qualificação(G1) e o de baixa qualificação (G2), amboscompostos por 5 duplas de vôlei de praia;observa-se também o tempo que estão trei-nando, juntamente com seu treinador; ashoras de treinamento semanal; e os anos deprática que ambos os atletas possuem. Essasquestões constam na primeira parte do ques-tionário contido na Escala de Comporta-mento do Treinador – Visão Atleta (ECT-A),relacionado a Experiência no Esporte (Tabela1).

O teste de Mann-Whitney U paraamostras independentes foi aplicado paraverificar significância entre os grupos estuda-dos (G1 e G2) no que se refere às questõesrelacionadas com os 5 blocos do questionário(Figura 1). No conjunto de questões (Q1 aQ7) relacionadas com o programa de treina-mento e condicionamento físico, pode-seobservar diferenças significativas no compor-tamento dos sujeitos da “Relação Treinador-Atleta no Q1 (p = ,001), Q3 (p = ,001), Q4 (p= ,005), Q5 (p = ,005) e Q6 (p =, 000).

RELAÇÃO TREINADOR-ATLETA...

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Na segunda dimensão, relacionada àshabilidades técnicas, nota-se em relação aofeed-back a mesma situação em ambos osgrupos, ou seja, indícios que demonstramcoesão entre o técnico e os atletas.

Entretanto, a Q8 apresenta diferençassignificativas (p=0,004) com valores mais baixospara o G2, indicando que há insegurança efalta de compromisso com relação à orientaçãoque seus respectivos treinadores lhes oferecem,fator primordial na aprendizagem e fixaçãodos exercícios (Figura 2), visto que o treinadortem um papel importante na condução dostreinamentos, devendo saber a melhor ma-neira de ter uma relação saudável e produti-va com os seus atletas.

No que diz respeito à preparaçãomental, componente da terceira dimensão,observa-se uma igualdade no compor-

tamento dos sujeitos na “Relação Treinador-Atleta”, exceto nas Q16 (p = ,033) e Q18 (p= ,044) que há uma preparação e umincentivo com relação ao apoio e a ajudamental, ou seja, um trabalho de motivaçãoque os treinadores realizam com seus atletasno G1. Na verificação das Q16 e Q18 do G2,pode-se perceber que o atleta indicadespreparo, falta de motivação e de interessepor parte dos treinadores. Treinadores comessas características, inconscientemente,reforçam o despreparo mental dos atletas, oque poderá influenciar consideravelmenteseus resultados finais em competições9

(Figura 3).No que se refere à quarta dimensão

analisada, objetivos (metas) a serem alcan-çados, observa-se que existem diferençassignificativas no comportamento dos sujeitosnos diferentes níveis de qualificação espor-

Tabela 1 – Idade dos atletas, tempo de treinamento com seus treinadores, horas de treino semanal e anosde práticas dos atletas.

Variáveis G1 (n=10) G2 (n=10)

ì ± s Mín - Máx ì ± s Mín - Máx

Idade (anos) 28,20 ±3,76 23 - 34 20,90 ±3,51 16 - 26Tempo de Treino com o Treinador 5,10 ±1,85 3 - 9 2,00 ±0,81 1 - 4Horas de Treino Semanal 45,00 ±7,07 30 - 50 10,40 ±5,54 5 - 20Anos de Prática 11,70 ±6,20 5 - 24 7,90 ±4,77 1 - 15

Legenda: µ - Média da Idade; s- Desvio Padrão; G1- Grupo de Alta Qualificação; G2- Grupo de BaixaQualificação

98%

58%

47% 45%

88%

42%

90%

52%

95%

55%

92%

42%

58%

42%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

PRO

POR

ÇÃ

O

Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7

QUESTÕES

G1 G2

Figura 1: ECT-A das questões referentes do treinamento e condicionamento físico dosatletas.* p<0,05Legenda: G1 – Alta Qualificação; G2 – Baixa Qualificação.

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tiva, nos Q22 (p= ,001), Q24 (p= ,005), Q25(p= ,005), Q26 (p= ,001) e no Q27 (p= ,001).No G2 o atleta demonstra um sentimento dedescaso do treinador relacionado ao estabe-lecimento de objetivos (metas), não existindo,dessa forma, uma coesão suficiente para queocorra uma melhoria na “Relação Treinador-Atleta” (Figura 4).

Segundo a literatura sobre o tema,Palma16 afirma que as equipes coesas apre-sentam uma maior facilidade de comuni-cação eficaz, aceitam com maior facilidadeas normas de funcionamento em grupo, têmmaior confiança face às expectativas de êxitode grupo, e em situações esportivas decooperação ativa relacionam-se com os bonsresultados da equipe.

Analisando a quinta dimensão (Figura5), que trata da percepção que o atleta temcom relação ao seu treinador, pode-se cons-tatar que existem diferenças significativas nocomportamento dos sujeitos na relação nosQ28 (p= ,015), Q30 (p= ,031), Q31 (p= ,003),Q33 (p= ,026), Q34 (p=,016), Q37 (p= ,001),Q38 (p= ,001), Q39 (p= ,013) e no Q41 (p=,002).

DISCUSSÃO

De uma forma geral, no caso do G1,pode-se atentar para a confiança que estegrupo demonstra e deposita em relação aseus treinadores, acatando suas decisões semse preocupar com processo de treinamento eseu sucesso, apenas executando-o. Essesachados corroboram estudos realizados porLopes10, quando o mesmo afirma que a con-fiança no programa de treinamento e condi-cionamento físico são questões fundamentaispara o sucesso do grupo.

No que se refere ao G2, observa-se quehá insegurança em relação ao treinamentoapresentado pelos seus treinadores. Pode-secitar como um dos fatores desencadeadoresda insegurança, o pouco tempo de relaçãotreinador-atleta. Segundo Carron11, issopoderá ser um fator primordial para oinsucesso de uma equipe.

De acordo com Cartwright12, a fragili-dade com relação à confiança, deve-se aodesconhecimento de diferentes aspectos davida do grupo (idade do grupo, tempo deconvivência com o treinador, coesão, entre ou-

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G1 G2

Figura 2: ECT-A dasquestões referentes àshabilidades técnicas dosatletas.* p<0,05Legenda: G1 – AltaQualificação; G2 –Baixa Qualificação.

Figura 3: ECT-A dasquestões referentes aotreinamento mental dosatletas.* p<0,05Legenda: G1 – AltaQualificação; G2 –Baixa Qualificação.

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tros) serem extraordinariamente complexos,mas embora a relação entre a liderança dotreinador e a realização do grupo sejacomplexa, existem ainda boas razões paraconsiderá-las em conjunto, pois a ausênciadesses fatores comprometerá o sucesso daequipe.

O atleta inseguro, segundo Deliberalli9,não consegue conviver consigo mesmo. Estásempre num estado de angústia, por issotende a ter dificuldade em absorver infor-mações quando para ele passadas. É umestado de pré-ocupação permanente e aí nãosobra tempo de viver em harmonia. A coesãoé um aspecto essencial no estudo das habili-dades técnicas e, talvez, o baixo desempenhodo G2 nos resultados finais das competiçõesesteja relacionado com essa deficiência.

Consequentemente, os resultados dascompetições ficam comprometidos, desesta-bilizando o desempenho maior a ser alcan-çado por qualquer equipe17. Conforme

Turman18, apesar da relação causal entrerendimento e coesão ser mais forte que arelação contrária, não está ainda claramenteindicando o fluxo causal e que variáveiscomo o tipo de tarefa e a motivação dosmembros podem alterar essa relação, não sóquando a coesão influencia o resultado daperformance, mas quando a segundainfluencia a primeira.

Costa et al13 afirmam a existência deelementos morais, regras ou “normas” deconduta, impondo obediência aos seusmembros, ideia que evoluiu até se considerarque é a própria estrutura do grupo que vaiorganizar um conjunto de regras e papéis quecriam as relações no grupo.

Segundo Costa14, os membros do grupodividem responsabilidades e estabelecem expec-tativas, atitudes e linhas de comunicação, para alémde regras nele estabelecidas ou normas formais einformais. Estas últimas são tão poderosas como asoutras, mas não são expressas, evoluindo do

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ÇÃ

O

Q28 Q29 Q30 Q31 Q32 Q33 Q34 Q35 Q36 Q37 Q38 Q39 Q40 Q41QUESTÕES

G1 G2

Figura 4: ECT-A das questõesreferentes ao estabelecimentodas metas.* p<0,05Legenda: G1 – Alta Qualifi-cação; G2 – Baixa Qualifi-cação.

Figura 5: Treinador principal* p<0,05

Legenda: G1 – Alta Qualificação; G2 – Baixa Qualificação.

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processo de grupo. Os próprios papéiscomportamentais e sociais são aprendidos em cons-tante mudança, incluindo atitudes e valores, masque devem partir de todos envolvidos, e não apenasdos atletas.

Na opinião de Miranda15, um dosfatores responsáveis pela manutenção de umnível ótimo de motivação é a capacidadepsíquica das pessoas para a realização datarefa ou do treinamento proposto (atletas,no caso do esporte e demais pessoas no casodo exercício físico).

A capacidade para a execução de umatarefa é verificada na medida em que aatividade a ser realizada é mantida por umdeterminado período de tempo. Nessacapacidade psíquica para a tarefa, há osfatores intervenientes externos (estruturainformativa das tarefas a serem realizadas eas características do meio de convivência) einternos (nível de desem-penho, estabilidadeemocional e características individuais).

É notório que a existência de variáveismoderadoras como a satisfação, o tipo detarefa, a motivação ou o nível competitivoassumem esse patamar de grande importância.

Lopes10 afirma que o treinador deveaparecer como um bom motivador; ter umprojeto ambicioso, ver com amplitude, emlongo prazo, permanecendo lúcido; sabercomunicar a sua confiança e o seu entu-siasmo; valorizar a pessoa; insistir nosaspectos positivos, apoiar-se no prazer, ondese forja o sucesso futuro, pois não há sucessosem paixão. Essas questões podem ser fatoresprimordiais no processo de fortalecimento daconfiança entre treinador e atletas19.

Atualmente, o desporto de alto nívelestá extremamente competitivo, os atletas etreinadores procuram constantemente estarfamiliarizados e abolir qualquer tipo de fatornegativo da relação, para que o processo e aconvivência em equipe possam fluir normal-mente e com sucesso14. Já Starkes20 concordaque os atletas atropelam, machucam, agri-dem, pressionam, prejudicam intencional-mente outros atletas com o objetivo deganhar ou de ter sucesso. Essa característicade agressividade deve existir no atleta de altorendimento, para que o mesmo possa obtera determinação para conquistar seusobjetivos.

Estudo de Gomes21 afirma que mem-bros de uma equipe devem defender uns aos

outros e partilhar objetivos comuns. Bemcomo desenvolver sentimentos de atraçãointerpessoal, linhas de comunicação esentimentos de identidade coletiva. Castro etal22 consideram que num grupo existe umatroca recíproca de influências, o que leva aacreditar que, o que distingue um grupo deum conjunto de indivíduos é o fato de quenum grupo existe uma identidade coletiva,um sentimento de partilha, formas estrutu-radas de interação e comunicação, interde-pendência pessoal e na tarefa, um sentimentode destino comum e a percepção de unidadedo grupo.

CONCLUSÃO

O estudo com base na amostrapermitiu concluir que a percepção do atletaem relação ao comportamento de liderançae coesão do treinador durante o período decompetição do Circuito Banco do Brasil deVoleibol de Praia de 2009 apresenta-se me-lhor na equipe de alta qualificação despor-tiva do Voleibol de Praia Brasileiro, classifi-cada até o quinto lugar.

Considerou-se que as dimensões lide-rança, treinamento e condicionamento físico,coesão, habilidades técnicas, incentivo psico-lógico e estabelecimento de metas e objetivosapresentaram maiores proporções neste gru-po, do que no de baixa qualificação despor-tiva. Por último, essas dimensões de gruporefletem a vital interação dinâmica associadaao estado de membro em grupos maduros.

Os membros de uma equipe comuni-cam no que respeita a preocupações sociaise das tarefas, estabelecem objetivos pessoaise coletivos para além de relações causaisquanto ao sucesso e fracasso da equipe.Recomenda-se que outros estudos sejam rea-lizados, observando a relação entre atletas-atletas e atletas-líderes de equipes, relacio-nando-a aos seus respectivos treinadores,utilizando-se uma grande variedade deesportes.

Agradecimentos

Agradecemos ao professor Ms. LucianoMeireles de Pontes pelas sugestões textuais ede normalização realizadas no manuscrito.

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RELATION BETWEEN COACH-ATHLETE: PERCEPTION OF BEHAVIOUR OF LEADERSHIP ANDCOHERENCE (CO- OPERATION) AT BEACH VOLLEYBALL TEAMS

ABSTRACTThe objective of this research is to analyze and to compare the perception of the athlete in relation with theleadership behavior and cohesion of the trainer during the period of competition of the Circuit Bank ofBrazil de Volleyball Beach 2009. The comparative study, approved for the Committee of Ethics in Researchof the University Center of João Person, it used a sample from the final rank of the pairs, that had totalized10 (N=20), being 5 of high and 5 of low esportiva qualification, divided in: G1 (n=10) average of age 28±3years, first placed and G2 (n=10) 20±3 years, last placed. It was applied Scale de Comportament of theTrainer - Perception Athlete under 5 dimensions: physical training, abilities techniques, psychologicalincentive, establishment of goals and relationship with the trainer. The SPSS 14.0 for inferencial statistics(Mann-Whitney U) and level of significance of 5% was used. One met significant differences between the G1and G2 in the training and physical conditioning (p=0,000), in the abilities techniques (p=0,004), in themental preparation (p=0,033), in the goals to be reached (p=0,033) and in the perception of the athlete withregard to the trainer (p=0,001). The perception of the athlete in relation to the leadership behavior andcohesion of the trainer, is presented better in the team of high porting qualification of the Brazilian VollleyballBeach, classified until the fifth place.Key - word: Leadership. Motivation. Behavioral Medicine.

REFERÊNCIAS

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RESUMOA participação popular na organização do SUS é a expressão mais viva da participação da sociedade nasdecisões tomadas pelo Estado no interesse geral, ou seja, da participação popular no exercício do poderpolítico. Este estudo tem como objetivo identificar o conhecimento da população a respeito dos direitos àparticipação e a assistência à saúde. O método adotado foi do tipo exploratório com abordagem quantitativa.Estudo realizado em uma Unidade de Saúde da Família, no município de João Pessoa/PB. A amostra foicomposta por 30 usuários da referida USF, com faixa etária acima de 21 anos, sendo a coleta de dadosrealizada no período de março de 2007. Percebe-se que em relação ao conhecimento dos usuários arespeito da participação da sociedade nas decisões das políticas/programas do SUS apenas 27% disseramque sim, sendo realizados em reuniões no Conselho Municipal de Saúde, e na própria Unidade de Saúdeda Família do bairro. Sobre a participação do usuário no planejamento/reunião da equipe de saúde83,3% disseram que não, e dos que participaram, foi através de reuniões e palestras na USF. A respeito doconhecimento deles sobre o que é controle social no SUS, apenas 26,7% mencionaram que sim e 50%afirmaram saber o que é conselho de saúde. O que chama atenção é que 86,7% nunca participaram denenhuma reunião realizada na USF e não têm conhecimento de como participar. No entanto, 80%afirmaram saber onde reivindicar melhorias de assistência à saúde e apenas um entrevistado mencionouo conselho de saúde. Assim, a equipe de saúde da família precisa desenvolver ações sistemáticas notocante ao empoderamento sobre o significado de controle social e cidadania com a população local.Palavras-chave: Participação comunitária. Serviços de Saúde.

Artigo OriginalCONTROLE SOCIAL: CONHECIMENTO DOS USUÁRIOS

DE UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Ariano Suassuna dos Santos1

Anne Jaquelyne Roque Barrêto2

1 Enfermeiro. Graduado em enfermagem pela Faculdade de Enfermagem Nova Esperança - FACENE.2 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal daParaíba. Professora da Faculdade de Enfermagem Nova Esperança – FACENE e da Universidade Federalde Alagoas-UFAL. Endereço: Rua Edgar Cavalcanti Pedroza, nº 100, Água Fria, CEP.: 58077-290 – JoãoPessoa-Paraíba. Tel (83) 8114.4259. E-mail: [email protected]

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A participação social foi institucionalizada no decorrer das modificações na relação entreEstado e sociedade na década de 80, período de democratização do Estado brasileiro.

Na área da saúde, essa participação foi concebida como controle social, ou seja, como controleque a sociedade deve ter sobre as ações do Estado e, consequentemente, sobre os recursospúblicos, colocando-os na direção dos interesses da coletividade.

A participação popular na organização do SUS é a expressão mais viva da participaçãoda sociedade nas decisões tomadas pelo Estado no interesse geral, ou seja, da participaçãopopular no exercício do poder político. A participação da sociedade nos atos de gestão dosadministradores públicos decorre do conceito do que seja Estado Democrático de Direito, noqual emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos pelo voto direto1:244.

Nessa área, constituíram-se dois canais de participação – a conferência e o conselho –regulamentados na Lei 8.142/90, que estabelece como papel do conselho deliberar sobre apolítica de saúde, inclusive sobre os aspectos econômicos e financeiros. Essa atribuição legalintegra as discussões apresentadas em um estudo do controle social sobre o fundo públicoda saúde, por meio dos conselhos, que são, atualmente, uma realidade no Brasil2.

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Essa nova visão da participação,denominada de participação social, aopretender dar conta das relações entre oconjunto dos segmentos sociais e o Estado,não se apresenta propriamente como pro-posta de um sujeito social específico, e simtransformando-se em um modelo ideal derelação Estado-sociedade. Vale salientar quea participação dos cidadãos é a garantiaconstitucional de que a população, atravésde suas entidades representativas, partici-pará do processo de formulação das políticasde saúde e controle de sua execução, emtodos os níveis, desde o federal até o local.

O interesse em desenvolver partiu daexperiência vivenciada junto a uma Unidadede Saúde da Família, no município de JoãoPessoa, onde foi observada a fragilidade deconhecimento dos usuários em relação aosdireitos à assistência de saúde garantida porLei. Partindo dessa observação, foi levantadoo seguinte questionamento: Qual o entendi-mento da população sobre os direitos àparticipação e à assistência à saúde garan-tida por Lei?

Essa pesquisa é relevante tendo emvista que para se constituir um Sistema Únicode Saúde (SUS) que venha a ser resolutivo,de qualidade e gratuito existe a necessidadeda população se empoderar deste conheci-mento e participar de forma ativa dessaconstrução.

Assim, este estudo tem como objetivoidentificar o conhecimento da população arespeito dos direitos à participação e a assis-tência à saúde.

PERCURSO METODOLÓGICO

O estudo é do tipo exploratório comabordagem quantitativa, onde propor-cionou condições de ter uma visão da reali-dade local e com isso fazer uma investigaçãomais detalhada para obtenção de dadosconfiáveis.

O estudo foi realizado em uma Unida-de de Saúde da Família (USF), localizada emum bairro no município de João Pessoa/PBque dá cobertura a 1.409 famílias resi-dentesem sua área de abrangência. Essa unidadede saúde foi escolhida por ser uma dasprimeiras a serem implantadas no municípiode João Pessoa, bem como possuir umapopulação com um nível de escolari-dade

acima da média municipal. Essa USF é umadas 57 equipes de saúde pertencentes aoDistrito Sanitário III. O referido Distrito dácobertura a uma população em torno de 170mil pessoas.

O universo deste estudo foi compostopor todos os usuários que residem na áreade abrangência da Unidade de Saúde daFamília (USF), localizada em um bairro domunicípio de João Pessoa-PB e que buscaramos serviços de saúde dessa unidade nosúltimos 02 (dois) anos.

Para definição da amostra foramadotados os seguintes critérios de inclusão:ter idade igual ou superior a 21 anos; serresidente da área de abrangência da USF;estar presente na USF no momento da coletade dados; aceitar participar da pesquisa apóso esclarecimento da mesma e assinar oTermo de Consentimento Livre e Esclarecido(TCLE). A partir da utilização desses crité-rios, a amostra foi composta por 30 usuáriosda referida unidade de saúde.

Para o alcance dos objetivos propostosfoi utilizado como instrumento de coleta dedados um questionário, contendo perguntasabertas, dividido em duas partes: a primeiracom questões para caracterização da amos-tra e a segunda com questões norteadorassobre o tema, com o intuito de identificar oconhecimento da população acerca dos seusdireitos à participação e assistência à saúde.

A coleta de dados ocorreu no períodode março de 2007, em dias úteis, nos turnosmanhã e tarde, na referida unidade desaúde, após aprovação do Comitê de Éticada Faculdade de Enfermagem NovaEsperança-FACENE (Protocolo nº 38/2007)e da autorização da Secretaria Municipal deSaúde de João Pessoa-PB.

Para análise dos dados foi utilizadaa estatística simples (número absoluto epercentual). Os dados foram tabulados,apresentados em gráficos e analisados àluz da teoria pertinente sobre o tema, como intuito de melhor responder ao objeto doestudo.

A pesquisa foi realizada em confor-midade com a Resolução nº 196/196 doConselho Nacional de Saúde, sobre pesquisaenvolvendo seres humanos, bem como aResolução 311/2007 sobre o Código de Éticados Profissionais de Enfermagem.

CONTROLE SOCIAL...

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APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOSDADOS

Primeiramente foram apresentados osdados de caracterização dos participantesque fizeram parte da amostra. A seguir,apresentação e discussão das questões rela-cionadas ao conhecimento dos participantessobre os direitos de assistência à saúde e àparticipação popular no SUS.

De acordo com o Quadro 1, a análisedos dados referentes à faixa etária, 33% dosentrevistados encontram-se entre 20 a 24anos; 23% entre 40 a 49 anos; 20% entre 30a 39 anos; 10% têm de 50 a 59 anos; 7% têmde 25 a 29 anos; e 7% têm acima de 60 anos.

Em relação ao grau de escolaridade,foi verificado que a maioria (43,3%) tem oensino médio completo; 20% têm nívelsuperior completo; 20% o superiorincompleto; 13,3% o ensino fundamentalcompleto; e 3,3% o ensino médio incompleto.Referente ao tipo de moradia, 63% residemem casa, e 37% residem em apartamento.

Um aspecto importante abordado foicom relação à renda familiar; 40% têm renda

familiar entre 1 a 2 salários mínimos; 23,3%entre 2 a 3 salários mínimos; 20% entre 3 a 5salários mínimos; 16,7% de 5 a mais saláriosmínimos. Como observa-se no Quadro 1 aseguir.

O Gráfico 01 retrata o conhecimentodos usuários em relação aos direitos àassistência à saúde, 70% dos entrevistadosdisseram que sim, que têm conhecimento, e30% responderam que não. Dos que respon-deram sim, 90% têm conhecimento emrelação à assistência curativa, a exemplo deconsultas, medicamentos e exames; e apenas10% mencionaram ter conhecimento sobreassistência preventiva. Isso nos remete àrealidade da população que ainda é des-conhecedora dos princípios e das diretrizesque regem o SUS.

Em resumo, a maioria não tem conhe-cimento do direito de atenção universal,integral e não dá ênfase em ações de pro-moção e proteção da saúde, exatamente oque a Legislação Brasileira hoje em vigorpropõe para o SUS.

O Artigo 43 da Constituição Federalestabelece a gratuidade das ações e dos

QUADRO 1: Distribuição percentual dos participantes da pesquisa segundofaixa etária, escolaridade, moradia e renda familiar. João Pessoa-PB, 2007.

FAIXA ETÁRIA Nº %20 – 24 10 33,325 – 29 02 6,7030 – 39 06 20,040 – 49 07 23,350 - 59 03 10,060 + 02 6,70

ESCOLARIDADE Nº %Analfabeto 00 00Ens. Fundam. Incompleto 00 00Ens. Fundam. Completo 04 13,3Ens. Médio Incompleto 01 3,4Ens. Médio Completo 13 43,3Superior Incompleto 06 20,0Superior Completo 06 20,0

MORADIA Nº %Casa 19 63,3Apartamento 11 36,6

RENDA FAMILIAR Nº %< 1 salário mínimo 00 001 a 2 salário mínimo 12 402 a 3 salário mínimo 07 23,33 a 5 salário mínimo 06 205 e mais salário mínimos 05 16,7

TOTAL 30 100,0

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serviços de saúde no âmbito do SUS. Essedispositivo explicitou uma garantia consti-tucional, decorrente do acesso universal eigualitário aos serviços e ações de saúde. OArtigo 196 da Carta de 1988 estabelece comodever do Estado a prestação de assistência àsaúde. Qualquer contraprestação exigida docidadão será indevida, por ferir o manda-mento constitucional.

Sendo a saúde um direito do cidadãoe dever do Estado, esse direito há de sersatisfeito sem nenhum entrave, empecilho ouexigência, nem depende da ocorrência decondicionantes para o seu exercício1:236.

Os princípios do SUS, aqui entendidosenquanto direitos de todos, constitucional-mente garantidos, para que sejam imple-mentados, necessitam ser divulgados demodo a torná-los conhecidos da populaçãoe dos profissionais de saúde. As dificuldadesencontradas pelos usuários no acesso aoatendimento que busca para tratar seusproblemas de saúde, além de retardarem oseu processo de recuperação de saúde,contribuem também, por vezes, paraimpossibilitar a obtenção da recuperaçãoprevista.

O conhecimento dos direitos dosusuários é essencial para o desenvolvimentode uma consciência democrática, responsá-vel, reflexiva do cidadão, tanto no papel decliente quanto no de profissional de saúde3.

Observa-se no Gráfico 02 o conheci-mento dos usuários a respeito da partici-pação da sociedade nas decisões das políti-cas/programas do SUS: 73% responderamdesconhecer a forma de participação, e 27%disseram que têm conhecimento a respeito.Dos que responderam ter conhecimento,mencionaram que essa participação se dáatravés de reunião no Conselho Municipalde Saúde, e em reuniões na própria Unidadede Saúde da Família (USF) do bairro.

A participação da população porprincípios de solidariedade social tem sidotratada na literatura como participaçãocidadã. Esse tipo de participação não se definecomo simplesmente apoiando ou lutando con-tra o Estado, mas incorporando uma conce-pção de Estado que contém interessescontraditórios, constituindo direito de todos oscidadãos e segmentos sociais buscarem formasde fazer representar no interior do aparelhoestatal, procurando legitimar seus interesses4.

O tema da participação é uma lente

que possibilita um olhar ampliado para ahistória. O resgate dos processos departicipação leva às lutas da sociedade paraacesso aos direitos sociais e à cidadania. Aparticipação é, também, a luta por melhorescondições de vida e por benefícios àpopulação. Vai além do aceso coletivo àtomada de decisões como tradicionalmentese tem entendido, como o controle sobre aprópria e o próprio projeto de vida, mediantea intervenção em decisões, iniciativas egestões, que afetam o entorno vital onde talsituação e projetos se desenvolvem5.

Nesse sentido, a participação cidadãcaracteriza-se pela substituição da categoriacomunidade ou povo, pela sociedade comocategoria central. Este conceito está funda-mentado na universalização dos direitossociais, na ampliação do conceito de cidada-nia e em uma nova compreensão do caráterdo Estado, remetendo à definição das priori-dades nas políticas públicas com base em umdebate público6.

Essa participação foi instituída naConstituição Federal de 1988 e na Lei Orgâ-nica da Saúde 8.142/90 onde a “partici-pação da comunidade” se efetiva mediantea sua integração em órgãos colegiadosdecisórios, como são os conselhos de saúde,quando o povo, com assento nesses colegia-dos, participa da formação dos comandoslegais imperativos, da construção de reali-dades exigidas pelo bem comum, enfim,desempenhando com o Estado, o papel quea este cabe constitucionalmente no regimedemocrático3.

O Gráfico 03 refere-se ao questiona-mento sobre a participação do usuário noplanejamento/reunião da equipe de saúdesobre o atendimento no SUS. Dos entrevis-tados, 83,3% afirmaram nunca ter partici-pado de uma reunião, entretanto, 16,7%verbalizaram que já participaram dessasreuniões na Unidade Saúde da Família (USF).Dos que afirmaram ter participado,informaram que foi através de reuniões epalestras na USF. Dos que afirmaram a nãoparticipação nas reuniões realizadas pelaequipe de Saúde da Família (SF), menciona-ram como causa a falta de convite, e outrospor não terem interesse de participar dasdecisões de saúde na unidade.

Percebe-se que os usuários não sãoconhecedores da importância do poder deação, e a influência que a participação lhes

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70%

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Gráfico 01: Distribuição percentual do conhecimentodos usuários entrevistados a respeito dos seus direitosa saúde. Residentes na área de abrangência de umaUSF no município de João Pessoa/PB, mar. 2007.

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Gráfico 02: Distribuição percentual do conhecimentodos usuários entrevistados a respeito da participaçãonas decisões das políticas/programas de saúde (nívellocal). Residentes na área de abrangência de uma USFno município de João Pessoa/PB, mar. 2007.

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Gráfico 03: Distribuição percentual do conhecimento dos usuários entrevistados segundo aparticipação do planejamento/reunião do atendimento junto à equipe de saúde. Residentes naárea de abrangência de uma USF no município de João Pessoa/PB, mar. 2007

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proporciona, ajudando-lhes a mudar arealidade dos serviços prestados pelo poderpúblico. Esta questão nos remete à anterior,só que desta vez focada para a participaçãoem nível local, na própria USF e fica per-ceptível a não participação desses usuáriosnas ações realizadas na equipe de SF ao qualeles pertencem.

A Estratégia Saúde da Família (ESF)pauta-se, dentre outras diretrizes, no traba-lho da equipe multiprofissional e na parti-cipação da comunidade adscrita nasdecisões, planejamento e ações da equipe desaúde. Entende-se que ambas as diretrizesestão relacionadas à medida que decorreme expressam as relações entre a populaçãode referência e o serviço e a equipe de traba-lho, bem como em um plano ainda maismicroscópio, as relações entre trabalhadorese usuários.

Ambas as propostas de participaçãosocial e do trabalho em equipe supõem umprocesso de democratização das instituições.Na perspectiva da atenção integral à saúdee da democratização das relações de trabalhoe de interação trabalhador e usuário, a popu-lação, os grupos sociais e os usuários sãoconcebidos como partícipes dos processos efaz-se necessário aprofundar a compreensãosobre sua participação6:4.

Observa-se no Gráfico 04 o conhe-cimento dos entrevistados acerca do que éControle Social em Saúde. Observa-se que73,3% disseram não ter conhecimento e26,7% afirmaram saber o que é controlesocial. Os que disseram ter conhecimentorelataram que seria o controle das ações dosgestores pela população. Segundo o Minis-tério da Saúde, controle social é entendidocomo o controle do Estado pelo conjunto dasociedade organizada em todos os segmen-tos sociais. Evidentemente, esse controledeve visar ao benefício do conjunto da socie-dade, e deve ser permanente6.

A forma pela qual a sociedade procuraexercer sua cidadania constitui modalidadeprópria de regulação, que pode ser enten-dida como controle social. O controle socialimplica, portanto, submeter o poder dosagentes políticos à regulação da sociedade,corrigindo eventuais desvios e responsa-bilizado os que se utilizaram indevidamentedo poder que lhes foi outorgado pelasociedade7. O controle social e a participaçãocidadã confundem-se, porque ambos procu-

ram conquistar direitos sociais e partilhamdos mesmos valores. No entanto, a parti-cipação cidadã está centrada na busca daequidade social, da universalização dosdireitos e da solidariedade. Por outro lado, ocontrole social constitui-se em mecanismo devigilância de agentes e instituições políticasque atuam nas estruturas do poder. Setradicionalmente o controle social era vistocomo o aumento da capacidade deinfluência da sociedade sobre o Estado, hojepassa a ter duplo caráter: aperfeiçoar osmecanismos de controle da sociedade sobreo Estado e inventar formas de controle dasociedade sobre a própria sociedade8.

Na prática, o controle social na saúdeabrange todos os mecanismos que, dealguma forma, controlam, interferem efiscalizam as decisões dos governos no setor.O controle social não é algo que a sociedadebrasileira assuma como seu, há vitórias ederrotas. É uma luta que ainda está para serganha na sociedade9.

De acordo com o Gráfico 05, emrelação ao questionamento do conhecimentodo usuário sobre o que é conselho de saúde,observa-se que 50% dos entrevistadosafirmaram ter conhecimento sobre oconselho de saúde e que 50% disseram nãosaber o que é.

É fundamental que a população tenhaconhecimento sobre o que é conselho de saúde,pois este significa uma conquista democráticada sociedade, e tem como objetivo assegurar àpopulação uma atenção à saúde voltada pararesolução de suas necessidades, considerandoos direitos de cidadania, da interssetorialidadedas ações e serviços, da defesa da vida e dasaúde, tendo como princípios norteadores oacesso universal e equitativo em todos os níveisde complexidade assistencial à saúde, tanto nocampo individual quanto do coletivo, princi-palmente nos grupos expostos a riscos espe-cíficos.

Contudo, sem a clareza do significado desseobjetivo, e consequentemente compromisso, ocontrole social fica fragilizado e refém das pres-sões estreitas de tendências e grupos, bem comoda sociedade e do governo, distanciando-se daconcretização de uma sociedade mais justa eigualitária, onde a construção de sujeitos cidadãosdeveria ser seu objetivo maior10.

O Gráfico 06, mostra uma realidade deo quanto a população e em especial os usuá-rios entrevistados, mesmo tendo conheci-

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Gráfico 04: Distribuição percentualdo conhecimento dos usuáriosentrevistados sobre o conhecimentodo que é Controle Social. Residentesna área de abrangência de uma USFno município de João Pessoa/PB,mar. 2007.

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Gráfico 05: Distribuição percentual doconhecimento dos usuários entrevistadossobre Conselho de Saúde. Residentes naárea de abrangência de uma USF nomunicípio de João Pessoa/PB, mar. 2007.

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Gráfico 06: Distribuição percentual doconhecimento dos usuários entrevis-tados que relatam sobre a participaçãode uma reunião do Conselho de Saúde.Residentes na área de abrangência deuma USF no município de JoãoPessoa/PB, mar. 2007.

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mento do que seja Conselho de Saúde, nuncaparticiparam de nenhuma reunião. Osresultados são os seguintes: 86,7% respon-deram que nunca participaram, e apenas13,3% mencionaram ter participado dealguma reunião no Conselho Municipal deSaúde. A maioria dos que nunca partici-param, afirmam não terem conhecimentosobre onde e quando ocorrem essas reuniões.

Esses mecanismos de democracia sãorelativamente recentes, os conselhos e confe-rências foram instituídos em 1990. Passados19 anos de sua criação, os conselhos de saúdeconseguiram se organizar no Brasil, masainda enfrentam dificuldades relacionadasà estrutura física, equipamentos e orçamen-to, o que limita sua autonomia.

Nos conselhos de municípios com maisde 100 mil habitantes, grande parte dosconselheiros usuários representa associaçõesde moradores e bairros (21%), sindicatos(20%), portadores de deficiência e patologia(12%) ou grupos religiosos (9%). Mas há quemse queixe de que os conselhos não garantem aparticipação efetiva dos movimentos sociais9.

Foi observado que mesmo sabendo daexistência dos conselhos de saúde, aparticipação fica prejudicada pelo fato deser tudo muito centralizado nos represen-tantes sociais, e a população em geral nãotem oportunidade de participar. Informaçãoe comunicação são fatores essenciais paraconstrução e implementação de um sistemade saúde básico, principalmente quando eleobjetiva fortalecer a participação popular,reconhecendo sua importância no campo docontrole social a equipe de saúde da família

se configura como peça importante nesseprocesso de empoderamento da cidadania.

O Gráfico 07 mostra que das pessoasentrevistadas, 80% disseram saber ondereivindicar melhorias, e 20% disseram nãosaber. Entre os que afirmam saber, a maio-ria mencionou que é na Secretaria Municipalde Saúde, e o restante imagina ser nosseguintes lugares: Diretoria da Unidade deSaúde, Ministério da Saúde e Distrito Sani-tário de sua área. Apenas uma pessoa citouo Conselho Municipal de Saúde e o MinistérioPúblico.

Em geral, o caminho não é fácil erequer uma grande disposição. Mas vale apena, pois ao reivindicar o cumprimento dalei, você busca resolver o seu problemapessoal, e também contribui para a melhoriados serviços e ações de saúde para toda acomunidade11.

Conselhos e as conferências são osbraços mais conhecidos do controle social,mas o processo ainda abarca iniciativas decaráter coletivo e individual, como conselhoslocais ou conselhos gestores, fóruns de traba-lhadores, Ministério Público, ouvidorias,gestão participativa, pressão popular sobreo Congresso, entre outras11.

Diante das respostas, ficou evidenteque a maioria, mesmo sabendo, nunca feznenhuma reivindicação ou reclamação nosreferidos órgãos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo possibilitou obter infor-

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Gráfico 07: Distribuiçãopercentual do conhecimento dosusuários entrevistados quemencionam sobre o conheci-mento para reivindicação demelhorias no atendimento naassistência à saúde. Residentesna área de abrangência de umaUSF no município de JoãoPessoa/PB, mar. 2007.

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mações o conhecimento da populaçãopesquisada acerca dos direitos de assistênciaà saúde e a sua participação nas decisões depolíticas públicas de saúde.

A percepção inicial sobre a impor-tância do tema proposto foi em muito expan-dida, ao vivenciar a experiência de exercitara escuta dos depoimentos, que expressarama verdade acerca do tema pesquisado.

Percebe-se que em relação ao conhe-cimento dos usuários a respeito da partici-pação da sociedade nas decisões das políti-cas/programas do SUS apenas 27% disse-ram que sim, sendo realizados em reuniõesno Conselho Municipal de Saúde, e naprópria USF do bairro. Sobre a participaçãodo usuário no planejamento/reunião daequipe de saúde 83,3% disseram que não edos que participaram foi através de reuniõese palestras na USF. A respeito do conhe-cimento deles sobre o conhecimento do queé controle social no SUS apenas 26,7%mencionaram que sim e 50% afirmaramsaber o que é conselho de saúde. O que cha-ma atenção é que 86,7% nunca participaramde nenhuma reunião realizada na USF e nãotêm conhecimento como participar. No

entanto, 80% afirmaram saber onde reivin-dicar melhorias de assistência à saúde. Oslocais mencionados foram a SecretariaMunicipal de Saúde, Ministério da Saúde,Distritos Sanitários e apenas um único entre-vistado mencionou o Conselho de Saúde.

Assim, espera-se que este estudocontribua para que as equipes de Saúde daFamília reconheçam essa fragilidade napopulação assistida e desenvolvam ações quecontribuam para a construção do conheci-mento da população acerca dos seus direitose deveres, sobretudo no que se refere amobilização desta para participação ativanos processos decisórios tanto na USF quantoem outras esferas de decisão do SUS.

Um dispositivo importante nesse pro-cesso seria a instituição de Conselhos Locaisde Saúde com a participação efetiva dosusuários atendidos na área de abrangênciada USF. Esse conselho possibilitaria ocompartilhamento das responsabilidades edecisões sobre as necessidades de assistênciade saúde da população, bem como da(re)organização dos serviços de saúde noâmbito local.

SOCIAL CONTROL: THE KNOWLEDGE OF A FAMILY HEALTH UNIT USERS

ABSTRACTPopular participation in SUS organization is the civil society most vivid expression participation indecisions taken by the state in general or popular participation in the political exercise power. This studyaims to identify the population’s knowledge about their rights on participation and health care. Themethod used was an exploratory quantitative approach. The study was conducted at the USF FamilyHealth - Banking in João Pessoa - PB. The sample consisted of 30 USF users , aged above 21 years, and thedata were collected from March 2007. We can see that in relation to the users knowledge regarding civilsociety participation in policy decisions / SUS programs only 27% have said yes, and in meetings in theMunicipal Health Unit itself and Family Health (USF) in the neighborhood. About user participation inplanning / team meeting health 83.3% said no and that was attended by meetings and lectures at USF.Regarding about their knowledge of what is social control in SUS only 26.7% said yes and 50% said theyknow about the board of health. The odd thing is that 86.7%have never attended any meeting at USF andhave no knowledge on how to participate of it. However 80% claim that they have known whereimprovements in health care and only one interviewee mentioned the board of health. So the family healthteam need to develop systematic actions with regard to the empowerment of the social control significanceand citizenship with the local population.Keywords: Community participation. Health Services.

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REFERÊNCIAS

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10. Brasil. Ministério da Saúde. A prática docontrole social: Conselhos de Saúde eFinanciamento do SUS. Brasília, 2003.

11. IDEC. Defesa do consumidor. Os SUS pode serseu melhor plano de saúde. São Paulo, 2003.

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RESUMOEsse estudo teve o objetivo construir um plano de cuidados para clientes portadores da Síndrome deFournier. Trata-se de uma pesquisa documental retrospectiva, realizada na Clínica Integrada da Mulher,no município de João Pessoa-PB, como amostra seis prontuários. Para coleta de dados foi utilizado uminstrumento estruturado baseado no modelo conceitual de Horta. Neste estudo foram estabelecidos 07diagnósticos de enfermagem, sendo 07 (100%) reais e nenhum (0%) de risco, pertencendo 01 ao domíniode conforto, 02 ao de segurança/proteção, 02 ao domínio autopercepção, 01 ao domínio percepção/cognição e 01 ao enfrentamento/tolerância ao estresse. Entende-se que o plano de cuidados elaboradoneste estudo contribuirá de forma significativa na promoção de uma melhor qualidade de vida dosportadores da referida Síndrome, visto que possibilitará a equipe de enfermagem exercer sua função deforma fundamentada e planejada cientificamente no atendimento às necessidades do paciente.Palavras-chave: Síndrome de Fournier. Plano de Cuidados. Enfermagem.

Artigo OriginalPROPOSTA DE UM PLANO DE

CUIDADOS DE ENFERMAGEM PARA CLIENTESCOM SÍNDROME DE FOURNIER

Khivia Kiss da Silva Barbosa1

Jogilmira Macêdo Silva2

Edna Silva Grangeiro3

Fabiana Ferraz Queiroga Freitas4

Gerlane Ângela da Costa Moreira5

1 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem doCentro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG.2 Enfermeira. Mestre em Terapia Intensiva. Docente das Faculdades de Enfermagem e de Medicina NovaEsperança (Facene/Famene).3 Enfermeira graduada pela Faculdade de Enfermagem Nova Esperança (Facene).4 Enfermeira. Especialista em Unidade de Terapia Intensiva. Professora das Faculdades de Enfermageme de Medicina Nova Esperança (Facene/Famene). Endereço: Av. Pombal, n. 630, aptº 203, Ed. Zênite –Manaíra. Cep: 58038241 – João Pessoa-PB. Tel.: (83) 96341221. E-mail: [email protected] Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem doCentro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG.

INTRODUÇÃO

Em 1883, o dermatologista francês Jean Alfred Fournier descreveu cinco casos de gangrenagenital espontânea, apresentadas em indivíduos aparentemente sadios, que de repente

passaram a apresentar mal-estar geral, febre, dor na genitália externa, edema e vermelhidão.Havendo ainda de comum entre os casos a rápida progressão, a falta de causa aparente(atribuída ou associada) ao sexo1.

A determinação do nome dessa síndrome pode variar de acordo com a região em queela se desenvolve, recebendo o nome de Síndrome de Fournier, quando o processo infecciosoacomete a região perineal. Também é conhecida como fascite necrosante do períneo, gangrenaescrotal, celulite necrosante sinérgica, gangrena sinérgica, gangrena idiopática, gangrenafulminante2.

O conhecimento sobre a Síndrome de Fournier, além de ser importante no contexto dasaúde do indivíduo, tem relevância psicossocial por ser também considerada uma doençaestigmatizante. A doença está associada a deformidades físicas com tumores, feridas e até

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necrose. Esse tipo de doença pode provocardiversas reações nas pessoas, como a rejeição,o medo, trazendo ainda mais sofrimento aoindivíduo acometido por esse mal.

Essa patologia ocorre mais frequen-temente em homens, de todas as idades,podendo acometer também em mulheres. Adoença, embora ocorra principalmente emindivíduos do sexo masculino na proporçãode 10 para 1, não é restrita aos indivíduosjovens, afetando todas as faixas etárias, commédia das idades ao redor dos 50 anos3. Apredisposição à gangrena de Fournier estáassociada a estados de imunossupressão,doenças crônicas, alcoolismo, senilidade,obesidade, anormalidades no sistema uroló-gico e doenças colo-retais4.

A base do tratamento é o diagnósticoprecoce e o desbridamento agressivo. Éimportante salientar, ainda, que, mesmo comdesbridamento extenso e antibioticoterapiaadequada, os índices de óbitos permanecemelevados, o que levou alguns autores a tentaridentificar e validar fatores que possampredispor à maior mortalidade3.

Nesse contexto, vale ressaltar o papelda Enfermagem no processo de cura dessaenfermidade, haja vista que os enfermeirostêm buscado prestar uma assistência comqualidade, levando o cliente à recuperaçãoda saúde ou melhora nas condições de vida,por meio de cuidar pautado em princípioscientíficos e efetivado pelo Processo deEnfermagem.

Esse processo é compreendido comométodo que requer pensamento crítico e criativopara desenvolver uma assistência de qualidadee uma boa relação custo/benefício, sendo res-paldado legalmente por meio da Lei nº 7498/865, que regulamenta o exercício da profissãode Enfermagem e da Resolução COFEN nº 358/20096, que dispõe sobre a Sistematização daAssistência de Enfermagem e a implementaçãodo Processo de Enfermagem em ambientes,públicos ou privados, em que ocorre o cuidadoprofissio-nal de Enfermagem.

Desenvolvemos esta proposta buscan-do trabalhar com o Processo de Enfermagemde forma que a implementação desse modelonão seja predeterminado, pois assim não háa garantia de maior qualidade na assistênciaem saúde, mas para iniciar um trabalhoorganizado e sistematizado, pautado emteorias de Enfermagem, visando a melhoriana qualidade da assistência de enfermagem,

bem como a credulidade no serviço da enfer-magem com maior autonomia nas atividadesdo enfermeiro.

Portanto, esse estudo tem o objetivo deconstruir um plano de cuidados para clientesportadores da Síndrome de Fournier, o quecertamente contribuirá na fundamentaçãoe aplicação do Processo de Enfermagem parapacientes portadores dessa síndrome.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa documentalretrospectiva7, definida como sendo aquelaque utilizam documentos que não receberamnenhum tratamento analítico, tais como osdocumentos conservados em órgãospúblicos e instituições privadas, e os docu-mentos de segunda mão, que de algumaforma já foram analisados.

A pesquisa foi realizada no Serviço deArquivo Médico (SAME) da Clínica Inte-grada da Mulher, no município de JoãoPessoa-PB. Teve como foco todos os prontu-ários do referido setor, e como amostra 06(seis) prontuários, selecionados de acordocom os critérios que se seguem: ter descriçãono prontuário o diagnóstico confirmado deSíndrome de Fournier; ter sido assistido pelomenos dois dias após diagnóstico pelaEnfermagem; ter ortografia legível.

Para coleta de dados foi utilizado uminstrumento estruturado baseado no modeloconceitual de Horta8. O procedimento decoleta ocorreu da seguinte forma: seleção dosprontuários; leitura prévia e criteriosa dosprontuários; preenchimento do instrumento;leitura seletiva para a identificação dascaracterísticas definidoras comuns aos porta-dores da síndrome em foco; leitura interpre-tativa para identificar os diagnósticos deenfermagem, com auxílio da AmericanNursing Diagnosis Association – NANDA(2010/2011)9; elaboração dos resultadosesperados, a partir do Nursing OutcomesClassification – NOC10 e a determinação dasintervenções de enfermagem para cadadiagnóstico identificado, utilizando aNursing Interventions Classification – NIC11;síntese e discussão dos resultados.

É importante destacar que a pesquisaapenas foi iniciada na instituição hospitalarapós encaminhamento e aprovação doprojeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

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Facene/Famene, autorizando o seudesenvolvimento. Porém, não foi necessáriaa utilização do Termo de ConsentimentoLivre e Esclarecido, haja vista que se tratoude uma pesquisa documental retrospectiva.

Vale ressaltar também que o posiciona-mento ético dos pesquisadores com relaçãoao desenvolvimento da investigação foi nor-teado pelas diretrizes e normas que regula-mentam pesquisas envolvendo seres huma-nos, estabelecidas na Resolução nº 196/9612

do Conselho Nacional de Saúde, em vigorno país, bem como o que preceitua a Reso-lução COFEN nº 311/200713, que institui oCódigo de Ética dos Profissionais de Enfer-magem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados foram dispostos emquadros e discutidos à luz da literatura perti-nente. Sendo assim, os diagnósticos de enfer-magem identificados, baseados na NANDA(2010/2011)9, estão expostos no Quadro 01,bem como os resultados esperados e inter-venções, com auxílio da NOC10 e da NIC11,respectivamente.

Neste estudo foram estabelecidos 07diagnósticos de enfermagem, sendo 07(100%) reais e nenhum diagnóstico de enfer-magem de risco, pertencendo 01 ao domíniode conforto; 02 ao de segurança/proteção;02 ao de domínio autopercepção; 01 ao dedomínio percepção/cognição; e 01 ao deenfrentamento/tolerância ao estresse;, sendo01 de conforto físico; 01 de lesão física; 01termorregulação; 01 de imagem corporal; 01de cognição; 01 de autoconceito e 01 derelações de enfrentamento.

Quanto aos resultados esperados deenfermagem foram identificados 09, sendo03 pertencentes ao domínio de saúdefisiológica, 04 ao de saúde psicossocial e 02ao de conhecimento e comportamento,sendo 01 da classe de integridade tissular,01 da regulação metabólica, 01 da respostaimunológica, 01 do bem-estar psicológico, 02da adaptação psicossocial, 01 do autocon-trole, 01 de comportamento de saúde e 01de conhecimento em saúde.

Em relação às intervenções deenfermagem foram estabelecidos 09, sendo03 do domínio fisiológico básico; 05 docomportamental; e 01 do segurança, e destes

01 é da classe da promoção do confortofísico; 01 do controle da pele; 01 da facilita-ção do autocuidado; 01 do educação dopaciente; 01 da promoção do conforto psico-lógico; 03 da assistência ao enfrentamento e01 do controle de riscos.

A Síndrome de Fournier, por ser umadoença infecciosa grave com evoluçãorapidamente progressiva e potencialmentefatal, deve ser considerada uma emergência.Nesse sentido, pode-se afirmar que a imple-mentação do processo de enfermagem faz-se necessário, haja vista a gravidade dessasíndrome, bem como o alto índice de suspei-ção dos casos, o que torna imprescindível odiagnóstico precoce, tratamento imediato eagressivo. Para tanto, a assistência de enfer-magem deve ser sistematizada e direcionadaao atendimento das necessidades afetadasde cada paciente.

Segundo Alfaro-Lefreve14, o processoé composto por cinco fases, a investigação,o diagnóstico de enfermagem, o planeja-mento, a implementação e a avaliação. Sen-do assim, este estudo focalizou suas açõesna construção de um plano de cuidados parapacientes com a referida síndrome, queresultou na identificação de diagnósticos deenfermagem baseados nos sinais e sintomascomuns da doença, no estabelecimento dosresultados esperados e na elaboração dasintervenções de enfermagem.

Nesta pesquisa, os diagnósticos deenfermagem identificados foram construídoscom base nas seguintes característicasdefinidoras: febre, lesão, queixas de dor ealterações psicológicas (preocupação, baixaautoestima etc.). Em seguida, os resultadosesperados foram estabelecidos de acordocom os diagnósticos, e por fim, foram defini-das as intervenções. Com isso, é possívelobservar que o plano de cuidados construídomostra a preocupação no atendimento dasnecessidades fisiológicas, psicológicas eespirituais, demonstrando a amplitude docuidado de Enfermagem quando direciona-do pelo Processo de Enfermagem.

A qualidade da assistência de enfer-magem prestada encontra-se diretamenterelacionada à qualidade das informaçõescoletadas, o que resultará em diagnósticos eintervenções melhor elaborados e mais ade-quados à situação vivenciada, e a avaliaçãodas respostas do cliente à terapêuticaimplementada será muito mais segura e

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confiável, o que vem corrobora com a rele-vância do plano de cuidados construído15.

Nesse sentido, faz-se necessárioressaltar a importância da construção deprotocolos de assistência de enfermagemvoltados às respostas do paciente as inúmerassíndromes existentes, bem como o contínuoacompanhamento e utilização de diferentesestratégias para a eficiência do Processo deEnfermagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando as complexas implica-ções físicas, emocionais e espirituais que aSíndrome de Fournier acarreta aos pacientes,aliadas às esperanças de cura e à signifi-cância do plano de cuidados de enfermagemé que resultou neste estudo, que foidirecionado para contribuir na promoção deum melhor nível de bem-estar aos portadoresda referida síndrome. Em decorrência disso,espera-se que as vidas dessas pessoas sejammodificadas, conforme seu organismo reagea esses processos, pelo estímulo a enfrentara doença, pela educação para o autocuidadoe pela prevenção de complicações, tudo issoa partir da atuação comprometida e huma-nizada da equipe de enfermagem que osassiste, através da Sistematização da Assis-tência de Enfermagem.

A Sistematização da Assistência de

Enfermagem é uma forma de organizar aspráticas do cuidado, baseado nos interesses,necessidades reais/potencias e valores docliente, da família e comunidade. Ou seja,consiste em um método de trabalho quepossibilita que a enfermagem exerça suafunção de forma fundamentada cientifica-mente e planejada no atendimento àsnecessidades do paciente.

A implantação da SAE15 tem demons-trado potencialidades e dificuldades nosserviços de saúde, uma vez que faz parte dareorganização e sistematização das práticasem saúde. O cenário nacional vivenciou umamudança paradigmática do modo de pro-duzir saúde, que é iniciada com o movimentoda Reforma Sanitária na década de 1970 eque culmina com a criação do Sistema Únicode Saúde (SUS). Logo, obtiveram-se avançossignificativos na propositura, porém, essamudança depende de muitos esforços dosatores envolvidos nos diversos cenários dosserviços, academia e comunidade para quesua construção cotidiana ocorra.

Nesse sentido, pode-se afirmar queessa pesquisa vem contribuir na implantaçãoda Sistematização do Cuidado de Enfer-magem, ao construir um referencial queaborda os aspectos importantes relacionadosà Síndrome de Fournier, as principaisnecessidades apresentados pelos pacientesem tratamento e uma proposta de planoassistencial para os mesmos.

SUGESTION FOR A PLAN OF NURSING CARE FOR CLIENTS WITH SYNDROME FOURNIER

ABSTRACTThis study aimed to build a plan of care for clients suffering from Fournier’s syndrome. This is a retrospectivedocumentary research, conducted at the Integrated Clinic of Women in the city of Joao Pessoa, as sixsample records. To collect data we used a structured instrument based on the conceptual model of Horta.This study established 07 nursing diagnoses, and 07 (100%) real and none (0%) at risk, 01 belong to therealm of comfort, the 02 security / protection, 02 the perception domain, the domain 01 perception /cognition 01 and the coping / stress tolerance. It is understood that the care plan developed in this studywill contribute significantly in promoting a better quality of life of patients of this syndrome, as it willenable nursing staff to perform its function in a reasoned and scientifically designed to meet the needs ofpatient.Keywords: Fournier’s syndrome. Care Plan. Nursing.

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PROPOSTA DE UM PLANO DE CUIDADOS DE ENFERMAGEM

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RESUMOA criptococose é uma doença oportunista causada pela levedura Criptococcus neoformans, que pode serencontrada no ambiente através dos excrementos de aves. Tem como principal fator de risco a baixaimunidade celular, acometendo principalmente os pacientes imunodeprimidos. A infecção atingeinicialmente o pulmão e pode sofrer disseminação sistêmica, atingindo o sistema nervoso central. Oindivíduo infectado pode apresentar meningite, pielonefrite, lesões cutâneas, alterações mentais e dapersonalidade. O diagnóstico é baseado em achados microscópicos, através dos exames direto, histológicose cultura, o tratamento é à base de antifúngicos.Palavras-chave: Criptococcus. Infecção pulmonar. Criptococose. Imunodeprimidos.

Artigo de AtualizaçãoABORDAGEM LITERÁRIA SOBRE A CRIPTOCOCOSE

Layanne Cabral da Cunha Araujo1

Paola Sysnanda Alves de Miranda2

Mabel Soares de Almeida2

Maria do Livramento Ferreira Lima3

4 Aluna do curso de Biomedicina das Faculdades Integradas de Patos. Autora correspondente. Endereço:Rua Antônio Félix, nº 464, Bairro Vitória, Patos/PB. CEP: 58706-110. Tel: (83) 88529177. E-mail:[email protected] Aluna do curso de Biomedicina das Faculdades Integradas de Patos.6 Professora das Faculdades Integradas de Patos. Doutora em Biologia de Fungos pela UniversidadeFederal de Pernambuco.

INTRODUÇÃO

A criptococose é uma doença oportunista causada pelo fungo Criptococcus neoformansque pode ser encontrado no ambiente em excretas de aves, principalmente de pombos.

São disseminados pelo ar, causando contaminação por via respiratória. Inicialmente instala-se no pulmão, podendo invadir o sistema nervoso central1.

O principal fator de risco para a infecção é o comprometimento da imunidade celular,por isso, é comum a infecção em imunodeprimidos2,3. É a micose mais frequente em pacientescom a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) e representa importante causa demorte4. Pode ocorrer também em pacientes leucêmicos, transplantados, portadores de tumoressólidos, pacientes em uso prolongado de antibióticos e imunossupressores5,6 com sarcoidose,diabetes mellitus, hepatite crônica e cirrose7,8.

Biologia do Microrganismo

C. neoformans foi descrito em 1894 por Otto Busse e Abraham Buschke, isolado de umalesão na tíbia9, seu estudo teve início na Itália após Sanfelice registrar o primeiro isolado apartir de suco de pêssego, denominando-o de Sacharomyces neoformans10. No mesmo ano foiisolada a levedura em um paciente, sendo denominada de Sacharomyces hominis. Apósconstatação de ausência de ascósporos, característico do gênero Sacharomyces, as levedurasforam classificadas no gênero Criptococcus11.

O C. neoformans, pertence à classe Basidiomycetes12, é uma levedura arredondada

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encapsulada, a forma varia de esférica aoval, geralmente com único brotamento, otamanho varia de 4 a 10µm de diâmetro. Otamanho da cápsula é determinado porcaracterísticas genéticas, condições de culti-vo e ambientais. Cepas com pouca cápsulaapresentam de 2 a 5µm, as muito encapsu-ladas apresentam 80µm de diâmetro. Acápsula é rica (glicoronoxilomanana) im-portante fator de virulência9.

São conhecidas três variedades daespécie: grubii (sorotipo A), neoformans(sorotipos D e AD) e gatti (sorotipos B e C).As infecções mais comuns são causadaspelos sorotipos A e D2. A var. neoformans éencontrada em excretas de pombos, e temdistribuição mundial. Já a var Gatti édistribuída em regiões de clima tropical esubtropical, sendo encontrada nos eucaliptos13,14.

C. neoformans é um patógeno intra-celular facultativo, apresenta alguns fatoresde virulência: cápsula polissacarídica,melanina e algumas enzimas. Esses fatoressão importantes para sobrevivência do pató-geno no ambiente e o protege da respostaimune do hospedeiro. Pode sobreviver dentrode macrófagos, contribuindo para infecçõescrônicas e latentes15,16.

A cápsula impede a fagocitose ebloqueia a quimiotaxia de neutrófilos e mo-nócitos, células com cápsulas densas resistemà fagocitose. Outro fator de patogenicidadeé a produção de fenol oxidase, quando cresceem meio aquoso contendo extrato de batata,cenoura, determinadas sementes e em meiosque contém tirosina e ácido clorogênico.Atuando sobre os mesmos por oxidaçãoproduz pigmento tipo melanina, dando àscolônias coloração escura, não observada emoutras leveduras. A melanina é produzida apartir do composto difenólico presente nomeio, através da ação da lacase (fenolo-xidase)17,18,19. Quando a levedura está mela-nizada, é menos susceptível aos efeitos daluz ultravioleta em estudos in vitro. Amelanina tem efeito protetor para o fungo,contribuindo para sua sobrevivência noambiente20. No hospedeiro, funciona comoantioxidante que protege o fungo da morteintracelular pelos fagócitos21.

O trabalho teve por objetivo abordar,de forma multidisciplinar, a biologia, mani-festações clínicas, métodos de diagnóstico etratamento das infecções causadas pelalevedura encapsulada C. neoformans.

Manifestações clínicas

Entre as principais manifestações clíni-cas da doença destacam-se as respiratórias,acometimento do Sistema Nervoso Central(SNC) e infecções cutâneas, ósseas e arti-culares.

O pulmão é o principal alvo dainfecção, causando a pneumonia cripto-cócica que evolui de forma prolongada e opaciente geralmente é insensível à dor. Ainfecção é mais grave em pacientes imuno-deprimidos, geralmente é acompanhada poroutros fungos, por Pneumocystis carinii ecitomegalovírus. Já o paciente imunocom-petente pode não apresentar sintoma22,23 .

O SNC é o mais acometido, atingindoparticularmente as meninges e o parênquimacerebral. As principais manifestações clínicassão cefaleia, meningite, envolvimento dosnervos cranianos e invasão do córtex, levan-do a hidrocefalia. A febre é baixa e o pacienteapresenta também rigidez na nuca, o que étípico de irritações das meninges23,24.

O curso da neurocriptococose pode seragudo ou insidioso; seu aparecimento está ligadoà Síndrome da Imunodeficiência Adquirida(SIDA), terapêutica de patologias hemato-lógicas malignas, entre outras doenças. Já ocurso crônico observa sintomatologia discreta25.A sintomatologia pode ser inespecífica,constando de cefaleia, náuseas, vômitos, fadiga,irritabilidade, sonolência, confusão mental,alterações comportamentais, sinais focais,comprometimento motor26.

De modo geral, a sintomatologia variadesde manifestações de infecção aguda, comtosse, febre, insuficiência respiratória, prin-cipalmente em indivíduos com SIDA ou deinfecção crônica, com presença de nódulos,cavidades, derrame pleural e linfoadeno-patia27.

As infecções cutâneas provocam lesõesna pele, geralmente o fungo chega até a pelepor disseminação hematogênica, apresentandomanifestações clínicas polimorfas. O pacientepode apresentar pápulas, vesículas herpeti-formes, celulites/abscesso ou úlceras. Existemainda relatos de casos de criptococosesimulando queloide Essas lesões geramulcerações, onde fica o fungo 28.

O Criptococcus pode promover tambéminfecções ósseas e articulares. Quando en-tram na circulação, ao sair do trato respira-tório, migram para a medula espinhal, onde

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podem gerar lesões osteolíticas e abscessosno tecido, produzindo exsudato com grandequantidade do fungo, as articulações sãomenos envolvidas23. A infecção pode acome-ter o sistema genitourinário, ocasionandopielonefrite, sendo que é raro. E também podeenvolver a próstata, nesse caso, o pacienteimunodeprimido é fonte de recidiva1.

As lesões de molusco contagioso,histoplasmose e infecção fúngica porPenicillium marneffei são mais frequentes eminfecções cutâneas disseminadas. Já asmanifestações de ulcerações e celulite sãomais comuns na criptococose cutâneaprimária18.

Diagnóstico laboratorial

O diagnóstico laboratorial é baseadonos achados microscópicos, os examesrealizados são exame direto, histológico,isolamento através da cultura, e ainda asoromicologia. As características morfoló-gicas do Cryptococcus são elementos esféricosou ovais, com ou sem brotamento, diâmetrode 4 a 20µm, envolvidos por uma cápsulagelatinosa. Muitas vezes essas característicasnão são encontradas, o que dificulta odiagnóstico. Portanto, é preciso realizartécnicas laboratoriais mais específicas29.

As amostras utilizadas para o examesorológico são urina, líquor, soro; o métodopara realizar o exame é aglutinação em partí-culas de látex e ELISA. O exame histológicoé baseado na amostra de tecidos, que podemser coradas através do PAS (Ácido Periódicode Shift), azul alciano, metenamina argên-tica, Masson-Fontana e por mucicarmim deMayer30. Amostras de líquor, exsudato,líquido sinovial e fragmentos de tecidospodem ser semeados em meio de cultura semadição do ciclo-heximida. Muitos isolados deC. neoformans são sensíveis a este antifún-gico31,1.

Podem ser utilizadas também técnicasmoleculares, porém as aplicações sãorestritas ao diagnóstico clínico. Essas técnicassão utilizadas em estudos epidemiológicos,na identificação da variedade, do sorotipo edas variações do microrganismo32. Aoutilizar a técnica de PCR (Reação em Cadeiada Polimerase) no diagnóstico clínico,verifica-se que a técnica é mais sensível eespecífica que a cultura e o exame direto, oque a torna uma ferramenta promissora parao diagnóstico33.

Os pacientes com infecção pelo HIV ecom criptococose pulmonar quase sempreapresentam antígenos criptocóccicos séricospositivos7. Assim sendo, a análise de antíge-nos torna-se um exame de screening inicialem pacientes imunocomprometidos comaspectos atípicos da doença. Essa positivi-dade no nível sérico está associada à disse-minação sistêmica com maior risco deevoluir com o acometimento do SNC34.

O estudo com o líquor e o teste de pun-ção lombar também auxilia no diagnóstico,excluindo o comprometimento do SNC35,36.A técnica de detecção do antígeno criptoco-cóccico é a aglutinação do látex37. A provado látex tem valor auxiliar, permitindoavaliar a gravidade da infecção, variandosua sensibilidade e especificidade, que geral-mente são altas, não descartando hipótesesde falso positivo e falso negativo38,39.

O diagnóstico da criptococose cutâneapode ser realizado por meio de cultura utili-zando aspirados de lesões cutâneo-mucosas,secreções traqueais, secreções prostáticas,urina, fezes, líquido cefalorraquidiano (LCR).Inoculando esse material em agar glucosesabourand acrescido de cloranfenicol, ouágar BHI acrescido de sangue, incubando a30°C (30-37°C) entre dois a cinco dias40. Acultura e o exame histopatológico sãoconsiderados métodos de grande sensi-bilidade e especificidade41.

O exame direto consiste na pesquisado patógeno no material suspeito, como se-creções de lesões cutâneo-mucosas, escarro,glânglios, pus e outros42. No diagnóstico daneurocriptococose os exames de imagem(Tomografia Computadorizada, Ressonân-cia Nuclear Magnética) não especificam aetiologia da lesão, fazendo com que odiagnóstico só seja possível pelo achado dolíquor, através da coloração com tinta-indiana ou pela biópsia de peça cirúrgicacom coloração por metenamina de prata ouPAS25. A biópsia, cultura de tecido ousorologia são os métodos mais confiáveispara diagnóstico43.

Um grupo de pesquisadores da Facul-dade de Medicina do ABC paulista, verificouatravés da prova de reação em cadeia dapolimerase (PCR), na meningite criptocócica,seu grande valor de diagnóstico, comsensibilidade de 92,9%, superior à cultura85,7% e a prova de tinta 76,8%17. Podem serrealizados também alguns exames comple-

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mentares, como: hemograma: para avaliarleucócitos e linfopenia, como fator predispo-nente; exame de LCR: podendo haveraumento da pressão inicial, pecilocotose dis-creta com linfócitos, proteinorraquia mode-rada e hipoglicorraquia; e provas radioló-gicas: pulmões e aparelho osteoarticularprincipalmente para excluir acometimentosistêmico44.

Tratamento

O tratamento da criptococose é feito abase da anfotericina B (fungistático extraídodo Streptomyces nodosus), a qual trata todasas formas da doença, desde pneumonia ameningite10. A droga age na membranacelular do fungo formando poros e canais,aumentando a permeabilidade da mem-brana, levando a um desequilíbrio osmótico,e posteriormente morte celular. Pode serusado também o fluconazol e itraconazol45.

A terapia com anfotericina B tem sidocombinada com flucitosina, devido a suatoxicidade, principalmente para os rins. Essacombinação reduz sua dosagem e duraçãodo tratamento46,47, e é bastante vantajosa,devido às diferenças nas farmacocinéticas emecanismos de ação que resultam em siner-gismos. Porém, a flucitosina pode causar efei-tos adversos como leucopenia e distúrbiosgastrointestinais em paciente com SIDA12.

A anfotericina B tem sido administradaintraventricularmente, devido à sua baixapenetração no SNC. Quando acontecemcomplicações, é preciso adicionar outrasdrogas como fluconazol ou flucitosina, estaapresenta excelente penetração no SNC10. Otratamento para pacientes com SIDA emeningite criptococócica é realizado emduas fazes: na fase de indução, o paciente étratado com anfotericina B, associada à

flucitosina, e na fase de manutenção, opaciente recebe fluconazol46,48.

O voriconazol, nova droga derivadado fluconazol, tem demonstrado eficácia invitro contra o C. neoformans e alcançam bonsníveis no SNC49,50. Apesar de o tratamentoser bem sucedido com a anfotericina, fluci-tosina e fluconazol, existe alguma resistênciadireta. A flucitocina tem mostrado resis-tência primária para a maioria dos isoladosde C. neoformans. E o fluconazol, vorico-nazol tem aumentado a resistência secun-dária, devido ao maior uso dessas drogas51.Fluconazol é o mais utilizado na terapia demanutenção de pacientes com SIDA,podendo ocorrer recidivas da menin-gitedurante o tratamento52. A excisão cirúr-gicapode ser uma alternativa de tratamento,quando a lesão é localizada e bem delimitadana pele, osso ou SNC e lesão única maior de3 cm44.

CONCLUSÃO

A criptococose ocorre em todo omundo. Estudos epidemiológicos são deextrema importância, pois a presença ubíquado patógeno no ambiente indica que ainfecção no homem é adquirida de fontesambientais. No Brasil, acompanha a distri-buição da SIDA. Nas regiões sul e sudesteestão concentrados o maior número de casos,sendo endêmica no norte e nordeste do país.É essencial que a população esteja devi-damente informada sobre medidas profilá-ticas, como o controle de portadores, evitan-do a disseminação do fungo. E em casossuspeitos da doença procurar atendimentomédico, para que possa ser identificada etratada, de forma rápida e eficaz.

LITERARY APPROACH ON CRYPTOCOCCOSIS

ABSTRACTCryptococcosis is an opportunistic infection caused by Cryptococcus neoformans, which can be found in theenvironment through the excrements of birds. Its main risk factor is the low cellular immunity, affectingespecially immunosuppressed patients. The infection initially affects the lungs and can suffer systemicspread, reaching the central nervous system. The infected person may have meningitis, pyelonephritis,skin lesions, mental and personality changing. The diagnosis is based on microscopic findings, throughthe direct examination, histology and culture, antifungal is used as a treatment.Keywords: Criptococcus, Lung infection, Cryptococcosis. Immunosuppressed.

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ABORDAGEM LITERÁRIA

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RESUMOAs imagens obtidas por intermédio do exame de ressonância nuclear magnética (RNM), por apresentaremmaior capacidade de demonstrar as mais variadas estruturas do cérebro e por proporcionarem umademonstração de mínimas alterações na maioria das doenças com maior facilidade, têm sido largamenteutilizadas para o diagnóstico da maior parte das afecções neurológicas. A interpretação de exames porimagem, qualquer que seja o método radiológico empregado, requer o mínimo conhecimento anatômicoda estrutura abordada. Este trabalho tem como objetivo detalhar os métodos de preparação de peçasencefálicas em cortes coronais, visando estabelecer um estudo comparativo entre o material que compõeo acervo do laboratório da Faculdade de Medicina Nova Esperança com exames de RNM disponíveis naliteratura, ressaltando a importância que o estudo destes cortes neuroanatômicos representa para qualquerinstituição de ensino médico. Para o estudo, foi utilizado um encéfalo fixado em formol a 10% sem técnicade coloração específica. Esta peça foi então seccionada através de cortes coronais seriados de espessurade, aproximadamente, 10 mm conforme preconizado pela literatura. Diferentemente do que defendemalguns autores, a preparação de peças anatômicas encefálicas formolizadas sem coloração já é satisfatóriapara a comparação destes cortes com imagens de RNM de crânio. Observou-se que, ao se realizar acomparação de peças anatômicas com filmes radiológicos de RNM de crânio, é possível uma simplificaçãodo trabalho de quem interpreta as imagens radiológicas, pois permite que se forme uma imagem maisclara mentalmente e ainda pode-se correlacionar tridimensionalmente com mais precisão. Além disso, olaudo radiológico é emitido com mais clareza topográfica e bem fundamentado ajudando no planejamentodo tratamento.PALAVRAS-CHAVE: Monitoria. Ressonância nuclear magnética. Peças encefálicas. Corte coronal. Laudoradiológico.

Artigo de AtualizaçãoESTUDO COMPARATIVO DE CORTES CORONAIS

NEUROANATOMICOS COM RESSONÂNCIA NUCLEARMAGNÉTICA – IMPORTÂNCIA DO ACERVO DE CORTES

ENCEFÁLICOS DA FAMENE NA PROPEDEUTICA DAMONITORIA DE NEUROANATOMIA

Arlindo Ugulino Netto1

Luiz Gustavo Correia Barros2

Stênio Abrantes Sarmento3

4 Graduando em medicina e monitor bolsista de Neuroanatomia da Faculdade de Medicina Nova Esperança(Famene) – João Pessoa, PB – Brasil. Autor correspondente. Contato: Praça Vilagran Cabrita, 49, Jardim 13de Maio. 58025-470 – João Pessoa-PB. Tel.: (83) 3225-7434. [email protected] Graduando em medicina e monitor bolsista de Neuroanatomia da Faculdade de Medicina Nova Esperança(Famene) – João Pessoa, PB – Brasil.6 Neurocirurgião. Doutor em Neurologia e professor da Faculdade de Medicina Nova Esperança (Famene)– João Pessoa, PB – Brasil.

INTRODUÇÃO

Ao contrário da maioria dos órgãos do corpo, o cérebro não é constituído somente porum ou alguns tipos de tecidos, e sim, por numerosos componentes teciduais, cada um

dos quais com importância funcional e suscetibilidade diferente a vários processos mórbidos.Há alguns anos, apenas os anatomistas e neurocirurgiões conseguiam detalhar a

neuroanatomia em seres humanos. No entanto, ocorreram mudanças cruciais que fizeram

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com que os radiologistas e médicos tambémnecessitassem do domínio da anatomia dosistema nervoso central. Dentre tais mudan-ças, o advento da tomografia computado-rizada (TC) e em seguida o surgimento daressonância nuclear magnética (RNM),incluindo mais recentemente as de altocampo (3,0 TESLA) foram as mais expres-sivas1.

A excepcional resolução de contraste,a capacidade multiplanar, a possibilidade deajustar o exame, a possibilidade de enfatizaras diferentes características teciduais(aquisições em T1, T2, FLAIR) tornam aressonância nuclear magnética (RNM) atécnica de escolha para a atual avaliaçãodiagnóstica da maioria dos pacientes comafecções neurológicas2. Trata-se de técnicade exame não invasivo cuja imagem éformada a partir da interação de algunsprótons com um magneto potente, o que épossível graças a certos prótons sensíveis aomagnetismo e capazes de entrar emressonância.

Ao serem posicionados em um campomagnético muito potente, uma parcela desseselementos alinha-se na direção do campo,assumindo um movimento com direção evelocidade conhecidas3, disponibilizadocaptação desses dados por receptores espe-ciais e a formulação de imagens nos maisdiversos planos.

Além disso, o exame de ressonânciamagnética é seguro e não apresenta compli-cações ou efeitos colaterais. As únicas possí-veis contraindicações para o exame de RMsão próteses metálicas, marca-passo car-díaco, clipes metálicos intracranianos (paraaneurisma), devido à possibilidade dedescolamento de partes ferro magnéticas emum campo magnético potente como o de umsistema de RNM3.

As imagens de RNM têm maior capa-cidade de demonstrar diferentes estruturasno cérebro e têm facilidade em demonstrarmínimas alterações na maioria das doenças.As alterações morfológicas são mais facil-mente avaliadas do que na TC, bem comohá maior sensibilidade para doenças des-mielinizantes e processos infiltrativos. Étambém possível avaliar estruturas comohipocampos, núcleos da base e cerebelo (oqual é de difícil avaliação na TC), cujo estudotorna-se necessário em alguns casos parapesquisa de transtornos mentais4.

A interpretação de exames por ima-gem, qualquer que seja o método radiológicoempregado, requer o mínimo conhecimentoanatômico da estrutura estudada.

Contudo, muitas escolas de medicinaainda não ministram a detalhada neuroana-tomia seccionada, de tal forma que o profis-sional médico que inicia o seu treinamentoem neurorradiologia precisa conhecer oureaprender os parâmetros básicos da neuro-anatomia5. Segundo Miranda et al (2004), noprimeiro ano da carreira de medicina, osdocentes se preocupam em conscientizarestudantes sobre a importância da anatomiahumana para o futuro dos graduandos;contudo, estas bases anatômicas são poucovalorizadas pelos profissionais em treina-mento6.

O Laboratório de Anatomia daFaculdade de Medicina Nova Esperança,João Pessoa-PB, dispõe de um acervo depeças neuroanatômicas quantitativamenteexpressivo. Deste acervo, estão disponíveiscortes coronais cujo estudo constitui umaimportante base de conhecimento no que dizrespeito à interpretação de exames porimagem de RNM durante e depois dagraduação.

Este trabalho tem, pois, o objetivo dedetalhar os métodos de preparação de taispeças e estabelecer um estudo comparativoentre o material que compõe este acervo eexames de RNM disponíveis na literatura,ressaltando a importância que a confecção,preservação e estudo de cortes encefálicosrepresenta para qualquer instituição deensino médico.

MATERIAL E METÓDOS

Para a realização da presente pesquisa,foi utilizado 1 (um) encéfalo humano obtidono Laboratório de Neuroanatomia da Facul-dade de Medicina Nova Esperança – FA-MENE – João Pessoa, PB. O encéfalo utili-zado não apresentava lesões traumáticas,nem antecedentes de enfermidades transmis-síveis. Não foram critérios de exclusão o sexoe a idade.

A peça anatômica encefálica foicolocada em solução fixadora de formol a10%, sem técnica de coloração específica e,em seguida, precedeu-se da retirada do courocabelo com a utilização de materiais cirúrgicos

ESTUDO COMPARATIVO DE CORTES CORONAIS

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adequados (tesoura de METZENBAUMcurva e reta, cabo de bisturi no4 etc.). Ocrânio foi cortado a partir de uma linha quevai da glabela à protuberância occipitalexterna, passando pela sutura escamosa,com serra.

A manutenção da integridade dahipófise e infundíbulo foi objetivo destadissecção. Posteriormente, foram retiradascuidadosamente todas as meninges e osvasos da superfície do encéfalo. Os encéfalosforam então seccionados através de cortescoronais seriados de espessura de aproxima-damente 10mm, apoiando-se o materialsobre superfície plana, com auxílio deinstrumento laminar-cortante, devidamenteafiado, através de um único movimento,conforme preconizado pela literatura7,8,9.

Os pontos anatômicos de corte selecio-nados para estudo foram determinados apartir da análise estatística de trabalhosrecém-publicados na área de neuroana-tomia e neurorradiologia. Meneses et al10

descrevem os “cortes clássicos” no estudo daneuroanatomia, justificado, pois, porevidenciarem as mais importantes forma-ções de substância cinzenta e de substânciabranca. Os pontos clássicos de corte sugeridosão: (1) comissura anterior, (2) fascículomamilo-talâmico, (3) núcleo rubro e substân-cia negra.

A preparação das peças visou a preser-var as características básicas de visualizaçãodas seguintes estruturas:

1. Fibras associativas inter-hemisfé-ricas na substância branca: comissuraanterior, fascículo mamilo-talâmico (feixe deVicq d‘Azyr), fórnice (corpo e coluna), Corpocaloso (rostro, joelho, tronco e esplênio),cápsula interna (joelho, perna anterior,perna posterior, parte retrolenticular esublenticular), cápsula externa, cápsulaextrema, coroa radiada.

2. Núcleos de substância cinzenta:corpo amigdaloide, núcleo caudado,claustrum, putâmen, globos pálidos,substância inonimada (núcleo basal deMeynert), subtálamo (núcleo subtalâmico),corpo geniculado lateral.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diferentemente do pensamento dealguns autores10, a preparação de peças

anatômicas encefálicas formolizadas semcoloração já fornece um bom detalhamentode núcleos de substancia cinzenta e substân-cia branca. Ainda que a coloração forneçauma maior diferenciação entre substanciabranca e substancia cinzenta, por meio dométodo puro e simples da formolizaçãoconseguimos evidenciar as estruturas maisimportantes do ponto de vista de diagnosticosindrômico em neurorradiologia.

Outro fator que limita uma preparaçãotécnica de cortes encefálicos com corantes éo custo relativamente mais alto associado àsdificuldades rotineiras dessa prática (utiliza-ção de materiais pouco acessíveis, tais comoautoclaves, dentre outros) com relação àtradicional técnica de formalização.

As imagens radiológicas, mesmo sendoobtidas por exames modernos e de alta defi-nição, não apresentam características fide-dignas como as obtidas por meio de umaautópsia cerebral, por exemplo. Cita-se,assim, as imagens radiológicas de fossaposterior obtidas por TC, que são obscure-cidas por artefatos ósseos. Daí a importânciade se conhecer a detalhada anatomia realde cortes encefálicos em peças cadavéricaspara que só então – depois de compará-lascom imagens obtidas por exames de RNM –se estabeleçam conclusões acerca da estru-tura que se pretende analisar.

A comparação estabelecida entre oscortes recém-preparados e as imagensradiológicas de RNM (Figuras 1 a 6) demons-tra a importância do conhecimento da anato-mia encefálica seccionada em peças cada-véricas reais. Essa abordagem comparativapossibilita, então, para o estudante de neuro-anatomia, entender melhor as imagensradiológicas quando o mesmo for submetidoà disciplina de Radiologia e Diagnóstico porImagem, no que diz respeito às afecçõesneurológicas.

CONCLUSÃO

Quando se realiza a comparação dasfotografias de peças anatômicas com filmesradiológicos de RNM de crânio, ocorre umasimplificação do trabalho de quem éresponsável pela interpretação das imagensradiológicas, pois permite que se forme umaimagem mais clara mentalmente e aindapode-se correlacionar tridimensionalmente

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Figura 1. Corte coronalpré-caloso de Jakob, emnível do Joelho do Cor-po caloso. Na imagem,se observa JCc. Joelhodo corpo caloso; NC.Núcleo Caudado; Li.Límen da ínsula; CF.Corno Frontal; SL. Sul-co Lateral; CR. CoroaRadiada.

Figura 2. Corte ântero-capsular de Jakob.Identificam-se TCc.Tronco do corpo calo-so; CNc. Cabeça doNúcleo caudado; PAc.Perna anterior dacápsula interna; SP.Septo pelúcido; PUt.Putâmen; GP. GloboPálido; QO. QuiasmaÓptico.

Figura 3. Cortegenículo-capsular deJakob. Descrevem-se,TCc. Tronco Corpocaloso; CNc. Cabeçado Núcleo caudado;PUt. Putâmen; III.Terceiro ventrículo;Cl. Claustrum; TO.Trato óptico; CA.Corpo amigdaloide.

Figura 4 . Cortepóstero-capsular deJakob. Têm-se, TCc.Tronco do corpocaloso; CNc. Corpodo Núcleo cauda-do; AI: Aderênciaintertalâmica; Cm.Corpo mamilar; JCi.Joelho da cápsulainterna; PUT. Putâ-men.

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com mais precisão. Além disso, o laudoradiológico é emitido com mais clarezatopográfica e bem fundamentado, ajudandono planejamento do tratamento.

Portanto, apenas por meio de um deta-lhado conhecimento anatômico associado auma manipulação cotidiana de quaisquerque sejam os cortes encefálicos – que cons-tituem, de fato, os objetivos da monitoria emneuroanatomia, vigente no laboratório da

FAMENE –, que se é possível uma maior faci-lidade em reconhecer parâmetros radioló-gicos da RNM de crânio e uma mais efetivaobjetividade na elaboração de diagnósticosneurológicos. Daí a importância da introdu-ção ao estudo de cortes encefálicos em peçasencefálicas reais (cadavéricas), ainda no âm-bito da graduação, em qualquer instituiçãode ensino médico.

Figura 5. Corteretrolenticular deJakob. TCc. Troncodo corpo caloso;TA. Tálamo; AI.Aderência interta-lâmica; CNc. Corpodo Núcleo cauda-do; Cf. Corpo doFórnice.

Figura 6. Corte retro-caloso de Jakob. CE.Cerebelo (Vérmis –Lóbulo Central); CR.Coroa Radiada; PM.Pedúnculo Cerebelar;CO. Corno Occipital.

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COMPARATIVE STUDY OF CORONAL NEUROANATOMIC PIECES BY MAGNETICRESONANCE IMAGING – IMPORTANCE OF FAMENE‘S COLLECTION OF BRAIN‘S CORONAL

CUTS TO THE NEUROANATOMY MONITORING‘S METHODOLOGY

ABSTRACTThe images obtained through magnetic resonance imaging (MRI) have been widely used for diagnosis inmost of neurological disorders because they are more able to demonstrate many different brain structuresand provide a demonstration of minimal changes in most of the diseases more easily. The interpretationof imaging requires minimal anatomical knowledge structure studied whatever the radiological methodwas used. This paper aims at detailing the methods of preparation of coronal brain sections, to establisha comparative study of the material available in the collection of the Faculdade de Medicina NovaEsperança‘s Anatomy Laboratory with MRI tests spare in the literature, emphasizing the importance ofthe neuroanatomical study of these cuts for any institution of medical education. For this study, we useda brain fixed in formalin 10% non-specific staining. This brain was then sectioned through the coronalseries of thickness of approximately 10 mm as recommended by the literature. In contrast to the opinion ofmany authors, the preparation of anatomical specimens formalin non-specific staining brain is useful forthe comparison of these cuts with images of MRI features. It was observed that it is possible to streamlinethe work of those who interprets the radiological images when performing a comparison of anatomicalspecimens with radiological films of head MRI. In addition, the radiological diagnosis is made with moreclarity and well-reasoned topographic helping in treatment planning.KEYWORDS: Monitoring. Magnetic resonance imaging. Brain pieces. Coronal cuts. Radiologicaldiagnosis.

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RESUMOO tema saúde tem sido analisado desde a Antiguidade, no entanto, nem a filosofia, nem a ciência alcançaramum conceito de aceitação universal para a questão. A discussão epistemológica sobre o assunto, intensaentre os pensadores contemporâneos, sequer alcança o consenso de que saúde seja um conceito passível deser definido em termos objetivos, na esfera do campo científico, ou se apenas constitui em experiênciavivencial de natureza individual e subjetiva, não redutível ao campo científico, onde o imperativo dageneralização é mandatário. Se isso acontece com a questão da saúde em geral, quando se trata da saúdemental, surgem complicações adicionais. Na prática, o estado de saúde mental também é definido, talcomo em outras áreas, pela ideia antiga de ausência de doenças, ou ausência de transtornos mentais, masnão se diz, popularmente ou no meio médico, que a pessoa que não apresente transtornos seja uma pessoamentalmente sadia. Detectam-se tais transtornos pelo comportamento divergente do padrão normal, ouseja, fora do que é estabelecido como normalidade no âmbito social e cultural. Nesse ponto é que surgeuma questão importante para o debate filosófico: normalidade poderia ser considerada igual a saúde? Ese o padrão normal de comportamentos e atitudes de uma dada sociedade for doentio? E se a sociedadefor doente? Definir o que é normal e diferenciá-lo do que é patológico pode ser algo de extrema complexidade,independendo do ângulo de aproximação que se utilize, sendo o entendimento dificultado devido amuitos dos termos usualmente utilizados em tais definições carecerem de um sentido universal no que serefere ao seu uso e a sua aceitação. Todavia, através desse esforço analítico, o presente artigo buscadiscutir com mais profundidade os conceitos de normalidade e patologia recorrendo aos autores, Foucaultem torno da ideia de necessidade social de normas, e Canguilhem a partir da discussão epistemológica denormal e patológico que, desde sua tese de doutorado, é considerado referência sobre o assunto.Palavras-chave: Saúde mental. Loucura. Filosofia foucaultiana.

Artigo de AtualizaçãoSAÚDE MENTAL: O NORMAL E O PATOLÓGICO

À LUZ DE FOUCAULT E CANGUILHEM

Vilma Felipe Costa de Melo1

Cletiane Medeiros Araújo2

Saulo Felipe Costa3

1 Psicóloga, mestre e doutoranda em filosofia pela UFPB. Professora da FACENE/FAMENE. R. Ana daSilva Simão, Nº267, Ernesto Geisel. João Pessoa, Paraíba, CEP: 58075-660. Tel. (83)[email protected] Mestranda em Ciência Política pela UFPE. Bolsista da CAPES. Tel. (83)[email protected] Mestrando em Relações Internacionais pela UEPB e em Ciência Política pela UFPE. Bolsista da CAPES.Tel. (83)9103-6102. [email protected].

INTRODUÇÃO

O tema saúde tem sido analisado desde a Antiguidade, no entanto, nem a filosofia, nema ciência alcançaram um conceito de aceitação universal para a questão. A discussão

epistemológica sobre o assunto, intensa entre os pensadores contemporâneos, sequer alcançao consenso de que saúde seja um conceito passível de ser definido em termos objetivos, naesfera do campo científico, ou se apenas constitui em experiência vivencial de naturezaindividual e subjetiva, não redutível ao campo científico, onde o imperativo da generalizaçãoé mandatário. Se isso acontece com a questão da saúde em geral, quando se trata da saúdemental, surgem complicações adicionais.

Na prática, o estado de saúde mental também é definido, tal como em outras áreas,

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pela ideia antiga de ausência de doenças, ouausência de transtornos mentais, mas nãose diz, popularmente ou no meio médico, quea pessoa que não apresente transtornos éuma pessoa mentalmente sadia. Os transtor-nos mentais não são passíveis até hoje dediagnósticos por exames laboratoriais ou dequalquer outro tipo. Detectam-se taistranstornos pelo comportamento divergentedo padrão normal, ou seja, fora do que éestabelecido como normalidade no âmbitosocial e cultural.

Nesse ponto é que surge uma questãoimportante e que raramente é abordada coma seriedade necessária. Normalidade poderiaser considerada igual à saúde? E se o padrãonormal de comportamentos e atitudes deuma dada sociedade for doentio? E se a socie-dade for doente? Através desses exemplos,aliás nem um pouco raros, em que a norma-lidade é patológica, como é possível se veri-ficar constantemente, pode-se levantar apossibilidade de que: ser normal não é similara ser sadio, porque a normalidade pode serdoentia.

Nesse sentido, dada a sua significância,torna-se relevante analisar conceitualmentea questão do normal e do patológico. Poden-do ser esta considerada a questão básica,inicial e fundadora não apenas quando setrata da loucura, mas de qualquer área deatuação, pois trata-se também de umaquestão universal, visto que, de formaexplícita ou implícita, é essa consideraçãoque instrui os critérios para se definir, emqualquer que seja a área da atividade huma-na, o que é normal, o que não é, e em meioao que não é normal encontra-se o que épatológico. Sendo após tal julgamento quese dão os esforços na procura de restaurar oque é considerado social ou pessoalmentecomo indesejável.

Portanto, a relevância para este estudoestá na discussão dos conceitos de norma-lidade e patologia contidos na sua formu-lação teórico-metodológica. Definir o que énormal e diferenciá-lo do que é patológicopode ser algo de extrema complexidade,independendo do ângulo de aproximaçãoque se utilize, sendo o entendimento dificul-tado devido a muitos dos termos usualmenteutilizados em tais definições carecerem deum sentido universal no que se refere ao seuuso e a sua aceitação. Para se examinar asdefinições de normalidade e patologia com

mais profundidade, faz-se necessáriorecorrer aos autores Foucault1, em torno daideia de necessidade social de normas, eCanguilhem2, a partir da discussãoepistemológica de normal e patológico que,desde sua tese de doutorado, é consideradoreferência sobre o assunto.

Clarificando conceitos

Desde a década de 70, a OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS) conceitua saúdecomo um estado de pleno bem-estar físico,mental e social, que segundo Karl Jaspers,médico e filósofo notável, tal saúde nãoexiste, afirmando que de acordo com esteconceito, todos os seres humanos estão dealguma forma doentes em todos momentos.Tal definição, além de utópica e irrealista,como indica Jaspers, é mais complexa do queparece, eis que nesse conceito a ideia de“bem-estar social” interliga explicitamenteas noções de saúde individual e saúdecoletiva e, a partir daí, recoloca-se a questãoda saúde das sociedades: qual é apossibilidade de atingir-se a saúde individualquando se vive no seio de uma sociedadedoente em si mesma?

Todavia, o patológico se define, emprimeira instância, como posição contráriaà normalidade, ou seja, o que é patológiconão é normal. Essa aparente obviedade, sobcerto aspecto conceitual repetitivo, e pormuitos, acatado como explanação conclu-siva para caracterização do estado de pato-logia, serve unicamente para demonstrar quesem uma definição do que é o normal, nãose pode cogitar de saber o que venha a ser opatológico, a não ser por juízo de valor. Noentanto, definir o que é normal não esgotaráo problema, pois ainda se fará necessárioconsiderar tudo aquilo que, embora nãosendo normal, não se caracterizará comopatológico (consideração que novamenteintroduzirá a necessidade de uso de juízosde valor). Portanto, pode-se observar quefugir do padrão de normalidade não é con-dição suficientemente necessária para secaracterizar o estado de patologia.

Foucault1 em Os Anormais, exemplificaa necessidade mostrada pela sociedade eminstauração de normas, colocando quedevido à “velha fórmula do Código Penal,artigo 64: não há crime nem delito, se oindivíduo estava em estado de demência no

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momento do seu ato”1:30, onde o papel dopsiquiatra não poderia ser o de definir aresponsabilidade jurídica do criminoso, esim, o de constatar se existe nele anomaliasmentais que possam ser relacionadas à infra-ção em questão. Para isso é instaurada “umatécnica de normalização que doravante teráde se ocupar do indivíduo delinquente”1:31.

Foucault ressalta, assim, a emergênciana criação das técnicas de normalizaçãopara o exame psiquiátrico. Nesse sentido, oque define determinados padrões como sen-do os considerados normais é a prevalênciade sua ocorrência em determinadas popu-lações, situando-se em equidistância doscasos extremos. Ou seja, algumas vezes onormal é exatamente o que ocorre com maisfrequência na sociedade.

A própria definição de normalidade apartir da frequência de determinados fatos,ou condições, observados em certas popu-lações, já introduz o conceito de que aquiloque é normal em dadas sociedades pode serentendido de forma diferente em outras, apartir de diferenças culturais, o que se acen-tuará a partir do momento em que a ideiade normal seja entendida como juízo devalor. O que não é normal, não é necessa-riamente patológico; pode ser meramente a-normal: pouco frequente ou menos frequentedo que o padrão. Pode-se considerar agravidez gemelar como exemplo de exceçãoà regra estatística; embora não seja habituala gravidez de gêmeos, jamais poderá serconsiderada patológica.

De qualquer maneira, a própria supre-macia da valorização da norma já induz oentendimento da expressão ‘anormal’ peloviés da patologia. Frequentemente, entende-se anormal como deficiente ou patológico.

Quando se refere à loucura, é neces-sário observar que “quando o patológicoentra em cena, a criminalidade, nos termosda lei , deve desaparecer”1:39. Através disso,fica claro que, ao menos na psiquiatria jurí-dica, o patológico precisa ter entendimentobem definido, pois o fato de reconhecer umindivíduo infrator como louco é determinar“sua soltura, no sentido jurídico do ter-mo”1:40.

Em sua tese, Canguilhem2 opta por seater apenas ao estudo das doenças somáticase inicia desmontando o dogma, bastantedifundido no século XIX, de que haveria umaidentidade real dos fenômenos vitais normais

e patológicos e que as diferenças entre umestado e outro seriam apenas quantitativas,dogma esse que influenciou significativa-mente a Psicologia.

Na primeira parte de sua tese,Canguilhem levanta a seguinte questão:“Seria o patológico apenas uma modificaçãoquantitativa do estado normal?” Nessa parteele desenvolve um trabalho de história daciência com o objetivo de analisarcriticamente uma concepção acerca dasrelações entre o normal e o patológico quefoi hegemônica no século XIX e que tomavao patológico como uma mera variaçãoquantitativa do normal.

Essa concepção quantitativa autorizauma confiança na capacidade deintervenção e resolução do médico, mas aoestabelecer uma linha de continuidade entreo normal e o patológico, para melhorconhecer no intuito de agir melhor, arriscaa perder qualquer especificidade que oúltimo pudesse ter. São examinados algunsautores cuja relevância para esta concepçãoé assinalada, sendo que dois deles serãopersonagens frequentes também em outrostrabalhos de Canguilhem: Comte e ClaudeBernard.

É na segunda parte de sua tese queCanguilhem apresenta e justifica as suasposições na questão do normal e dopatológico. Ele realiza isso inicialmente pormeio de uma série de contrastes queapresentam a utilidade metodológica depermitir destacar a dimensão avaliativa equalitativa do que se denomina normal e, porconseguinte, patológico.

Através de uma análise semântica dotermo “normal”, Canguilhem demonstrauma ambiguidade no seu uso. Ele tanto podeser usado como se referindo a um fato, tendoum uso descritivo, como pode ser utilizadocomo se remetendo a um valor, tendo umemprego avaliativo. Ou melhor, “normal” éaquilo que é como deve ser, neste caso seriaum valor; ou normal é aquilo que se encontramais frequentemente ou está na média, seriaum fato.

Essa duplicidade de usos é uma fonteusual de mal entendidos, na medida em queos usos se confundem numa mesmacircunstância de emprego do termo normal,sem que aqueles que o empregam se dêemconta disso.

A argumentação de Canguilhem vai se

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desenvolver no sentido de colocar comoprimeiro uso do termo normal o uso avalia-tivo, que é incompatível com uma posiçãoquantitativa, como aquela examinada por elena primeira parte de sua tese. Uma con-cepção quantitativa, de continuidade e ho-mogeneidade entre o normal e o patológico,é descritiva na medida em que deve poderinformar o quanto de afastamento da posi-ção normal caracteriza o patológico.

O que Canguilhem demonstra é queesse grau de afastamento, mesmo que men-surado de forma científica e precisa, é apenasuma medida, e só pelo recurso a um valor éque se pode avaliar a partir de qual medidade afastamento do normal ingressamos nopatológico.

Dessa forma, Canguilhem retoma ainversão realizada na ordem das derivaçõesno que diz respeito à relação entre ciência etécnica ao discutir a concepção de Leriche,de que não há nada na ciência que antes nãotenha aparecido na consciência, de certomodo justifica tal colocação quando eleafirma:

É certo que, em medicina, o estadonormal do corpo humano é o estadoque se deseja restabelecer. Mas seráque se deve considerá-lo normalporque é visado como fim a seratingido pela terapêutica, ou, pelocontrário, será que a terapêutica o visajustamente porque ele consideradocomo normal pelo interessado, isto é,pelo doente? Afirmamos que asegunda relação é a verdadeira2:96.

Dessa forma, o primeiro fato para aexistência da medicina advém da experiênciado ser humano que considera como pato-lógicos certos estados, apreendidos sob aforma de valores negativos. Canguilhemconsidera que a atividade terapêutica, elabo-rada e desenvolvida pelos seres humanos detodas as culturas e épocas consiste numamanifestação específica de um efeito próprioda vida. Segundo Foucault, a normalizaçãotem um poder próprio que interfere tanto nosaber médico, como no poder judiciário, seconstituindo uma instância de controle doque é anormal:

Na medida em que constitui omédico-judiciário como instância decontrole, não do crime, não da

doença, mas do anormal, do indi-víduo anormal, é nisso que ele é aomesmo tempo um problema teórico epolítico importante1:52-53.

Foucault, referindo-se à Canguilhem,coloca que a norma não se define como umalei natural, e sim pelo papel de exigência ede coerção que ela é capaz de exercer ondeé aplicada:

A norma é portadora de umapretensão ao poder. A norma não ésimplesmente um princípio, não énem mesmo um princípio de inteli-gibilidade; é um elemento a partir doqual certo exercício do poder se achafundado e legitimado1:62.

Canguilhem afirma que a técnica vitalnão é considerada normativa por analogiacom as técnicas humanas de restauração donormal, pelo contrário, é por ser atividadede informação e assimilação que a vida éconsiderada a matriz de toda a atividadetécnica humana. Isto porque a vida nãoconhece indiferença, a vida é polaridadedinâmica, normal ou patológico, e um efeitoespontâneo dessas características, do qual amedicina nada mais é do que uma extensão,é o de lutar contra tudo que constitui obstá-culo à sua manutenção e ao seu desenvol-vimento.

Em última análise, o valor funda-mental é a própria vida. É a vida que tornao normal biológico um valor e não um fatode realidade estatística.

A evolução da anatomia patológicalevou à fisiologia, de modo que aclassificação nosográfica encontrouum substrato na decomposiçãoanatômica. Essa evolução resultouna formação de uma teoria das rela-ções entre o normal e o patológico,segundo a qual os fenômenospatológicos nos organismos vivosnada mais são do que variaçõesquantitativas, para mais ou paramenos dos fenômenos fisiológicoscorrespondentes2:22.

Na França, esse dogma foi exposto,segundo condições e objetivos bem dife-rentes por Augusto Comte e Claude Bernard.Na doutrina de Comte, baseada no prin-cípio de Broussais, o interesse se dirige do

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patológico para o normal, com a finalidadede determinar especulativamente as leis donormal, sendo a doença vista como dignade estudos sistemáticos na medida em quesubstitui uma experimentação biológicamuitas vezes impraticável, principalmenteno homem.

Para Claude Bernard, cujas conclusõesforam baseadas em uma vida inteira dedi-cada à experimentação biológica, o interessese dirige do normal para o patológico, coma finalidade de uma ação racional sobre asdoenças. “Em Comte, a afirmação da iden-tidade permanece puramente conceptual,enquanto Claude Bernard tenta precisar essaidentidade numa interpretação de caráterquantitativo e numérico”2:22.

Se o que motiva o pai da medicinaexperimental é a cura das doenças, a ambiçãoque anima o criador da doutrina positivista é atentativa de além de codificar os métodoscientíficos, elevar sua compreensão nosológicaà categoria de axioma geral, que poderiainclusive ser estendido ao âmbito social:

O regime enciclopédico o estenderásobretudo às funções intelectuais emorais, às quais o princípio deBroussais ainda não foi condigna-mente aplicado [...] além de sua eficáciadireta para as questões biológicas, eleconstituirá, no sistema geral daeducação positiva, uma vantajosapreparação lógica aos processosanálogos para com a ciência final. Poiso organismo coletivo, em virtude desua complexidade superior, comportaperturbações ainda mais graves, maisvariadas e mais frequentes que as doorganismo individual. Não tenhomedo de assegurar que o princípio deBroussais deve ser estendido até esseponto, e já o apliquei nesse campo paraconfirmar ou aperfeiçoar as leissociológicas2:29.

O objetivo de Comte, ao estabelecer essaanalogia e propor a ampliação do alcance doprincípio de Broussais, provavelmente, eradefender sua doutrina política e provar que

a terapêutica das crises políticas consisteem trazer as sociedades de volta à suaestrutura essencial e permanente, em sótolerar o progresso nos limites devariação da ordem natural definitiva pelaestática social2:42.

Canguilhem, citando Claude Bernard,levanta a questão de que o estado patológicopode ser apenas uma modificação quanti-tativa do estado normal: “O calor animalmórbido e o calor fisiológico só diferem por seugrau, e não por sua natureza”2:49. Porquesegundo ele, “os fenômenos patológicos sãoidênticos aos fenômenos normais correspon-dentes, salvo pelas variações quantitativas”2:17.

A febre pode ser usada em caráterilustrativo da investigação naturalista rela-cionada à questão do normal e do patoló-gico. Pois, mesmo que se considere a febrecomo um sinal reativo normal e salutar doorganismo em determinadas situações nasquais se mobilizam suas defesas e sendonormal que pessoas sadias por vezes apre-sentem febre, não se pode desconsiderar ocaráter patológico de certas febres quepodem apresentar resultado mortal.

Então, pode-se afirmar que a febre é umareação orgânica normal, porém, dependendode seu grau de intensidade pode matar. Assim,Canguilhem coloca a visão de que a patologiapossa residir na intensidade quantitativa dofenômeno que altera a sua natureza: “A distin-ção entre o normal e o fisiológico e o anormalou patológico seria portanto uma simplesdistinção quantitativa, se nos prendermos aostermos de excesso e falta”2:34.

Como observado, o pensamentopositivista exerceu enorme influência nasconcepções modernas sobre patologia, pois,a partir do conhecimento alcançado pelamedicina sobre a relação saúde-doença,desenvolveram-se diferentes teorias. Em suatese, Canguilhem coloca que Comte estabe-leceu a base positivista conceitual para asanálises sobre a normalidade e patologia, àmedida que entendia que a doença e a saúdesão regidas por leis semelhantes:

O estado patológico em abso-luto nãodifere radicalmente do estado fisio-lógico, em relação ao qual ele sópoderia constituir, sob um aspectoqualquer, um simples prolongamentomais ou menos extenso dos limites devariações, quer superiores, quer infe-riores, peculiares a cada fenômeno doorganismo normal, sem jamais poderproduzir fenômenos realmente novosque não tivessem de modo nenhum,até certo ponto, seus análogos pura-mente fisiológicos2:31.

Canguilhem assinala contra a formu-

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lação de Comte, o fato de esta não oferecerexemplos da medicina e de, ao buscar definiro que é normal, referir-se ao conceito deharmonia, que é um conceito qualitativo,estético e moral.

Além desse fato, ao definir o patológicocomo mais ou menos que o normal, nãoprecisa as noções de excesso e de falta, atri-buindo ao normal um valor, de modo que onormal passa a ser normativo, fazendo comque “um ideal de perfeição paire sobre essatentativa de definição positiva”2:36.

Ou seja, para Canguilhem, a tentativade tornar a patologia e consequentementesua terapêutica integralmente científica, sóteria sentido se fosse possível dar-se umadefinição puramente objetiva do normalcomo um fato, e, além disso, traduzir qual-quer diferença entre o estado normal e o pa-tológico em termos de quantidade, exigênciasque nem a doutrina de Comte nem a deBroussais cumpriram, como coloca Cangui-lhem: “deve-se constatar que nem Broussaisnem Comte preencheram essas duas exigên-cias que parecem inseparáveis da tentativaa qual ligaram seus nomes”2:36.

No entanto, a perspectiva estabelecidapor Claude Bernard, que parte do pressu-posto de que uma terapêutica eficaz supõeuma patologia experimental que não sesepara de uma fisiologia, traz para sustentarseu princípio geral de patologia, ao contráriode Broussais e Comte, argumentos contro-láveis, protocolos de experiências e, princi-palmente, métodos de quantificação dosconceitos fisiológicos. Porém, ainda existeambiguidade em seu pensamento, pois, con-funde qualitativo com quantitativo, confusãoque é instrutiva, uma vez que levantaquestões como:

O conceito de doença será o conceitode uma realidade objetiva acessívelao conhecimento científico quan-titativo? A diferença de valor que oser vivo estabelece entre sua vidanormal e sua vida patológica seriauma aparência ilusória que o cientistadeveria negar? Se esta anulação de umcontraste qualitativo é teoricamentepossível, é claro então que é tambémlegítima; e se não é possível, o proble-ma de sua legitimidade é supérfluo2:53.

Portanto, uma saúde perfeita nãoocorre, senão como um conceito normativo

de um tipo ideal. Afirmar que a saúdeperfeita não existe é simplesmente dizer queo conceito de saúde não é o de uma existên-cia, mas sim o de uma norma cuja função ecujo valor é relacionar esta norma com aexistência a fim de provocar a transformaçãodesta. Porém, isso não expressa que oconceito de saúde seja um conceito vazio.

Canguilhem afirma que entre o estadonormal e o patológico há diferenças qualita-tivas que não devem ser traduzidas apenasem diferenças quantitativas, defendendo acolocação de que o estado patológico não éum simples prolongamento quantitati-vamente modificado do estado fisiológico, écompletamente diferente.

Foucault coloca a visão dos anormais(dentre eles o louco) como monstros huma-nos e que todas as técnicas judiciárias oumédicas que vão girar em torno da anomaliano século XIX mudaram, ao longo do tempo,passando o anormal a ser visto como: “nofundo um monstro cotidiano, um monstrobanalizado. O normal vai continuar sendo,por muito tempo ainda, algo como ummonstro pálido”1:71.

Canguilhem coloca que a necessidadede restaurar a sequência entre a saúde e adoença é tal que, no limite, a noção de doen-ça se desvaneceria. É a partir do patológicoque se decifra o ensinamento da saúde. Como advento da fisiologia, a doença deixou deser objeto de angústia para o homem são ese tornou objeto de estudo para o teórico dasaúde.

Portanto, o fato patológico só pode serentendido como alteração do estado normal,ao nível de totalidade orgânica e, quando setrata do homem e de sua totalidade indivi-dual consciente, em que a doença se tornauma forma de mal. Abre-se então umdescompasso entre o plano da fisiologia e oplano do homem concreto - havendo o riscode a fisiologia fazer uma mistura ilegítimado cálculo abstrato das identidades e a apre-ciação concreta das diferenças, daí a impor-tância da clínica. Ser doente é, realmente,para o homem, viver uma vida diferente,mesmo no sentido biológico da palavra. Adoença é uma forma diferente de vida.

É de um modo bastante artificial,parece, que dispersamos a doença emsintomas ou a abstraímos de suascomplicações. O que é um sintoma,

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sem contexto, sem pano de fundo? Oque é uma complicação, separadadaquilo que a complica? Quandoclassificamos como patoló-gico umsintoma ou um mecanismo funcionalisolado, esquecemos que aquilo queos torna patológicos é sua relação deinserção na totalidade indivisível deum comportamento individual. De talmodo que a análise fisiológica defunções separadas só sabe que estádiante de fatos pato-lógicos devido auma informação clínica prévia; poisa clínica coloca o médico em contatocom indivíduos completos e concretose não com seus órgãos ou suas fun-ções. A patologia, quer seja anatômicaou fisiológica, analisa para melhorconhecer, mas ela só pode saber que éuma patologia - isto é, estudo dos me-canismos da doença - porque recebeda clínica essa noção de doença cujaorigem deve ser buscada na experiên-cia que os homens têm de suasrelações de conjunto com o meio2:65.

O desencontro entre a doença sentidapelo doente e a doença tal como entendidapelo médico ficará mais esclarecido naconcepção de Leriche, que leva em conta aopinião do doente, definindo saúde como “avida no silêncio dos órgãos e doença comoaquilo que perturba os homens no exercícionormal de sua vida e em suas ocupações esobretudo aquilo que os faz sofrer”2:67.

Em outros termos, saúde é a in-consciência do corpo, uma vez que lembra-mos de determinado órgão de nosso corpoapenas quando este começa a doer. Assimsendo, pode-se dizer que, a consciência docorpo é despertada pelos limites impostos àsaúde, ou seja, pela doença, seus sofrimentose suas dores. Este é um entendimento queCanguilhem endossaria, na medida em queesta é uma definição de doença que derivado doente e não do médico.

Canguilhem coloca que, ao definir adoença por seus efeitos, Leriche abriu ca-minho para que o plano da ciência abstratapela esfera da consciência concreta fosseabandonado. A doença seria então um fatoque ocorre ao nível do todo individualconsciente, e é um fato que as análises deLeriche tornaram possível qualificar comocomportamentos.

Para Canguilhem, a diferença entre aconcepção de Leriche e a de seus antecessores

é que o primeiro partiu da técnica clínica ecirúrgica geradas pelo estado patológico, umavez que Comte defendia a independência dabiologia teórica em relação à medicina e àterapêutica, enquanto Claude Bernard, mesmopartindo inicialmente da clínica, não dava aofato patológico a mesma importância teóricaque a explicação fisiológica.

Leriche se opõe a tal colocação, paraele a fisiologia é o conjunto das soluções dosproblemas levantados pelas doenças dosenfermos. O campo de possibilidades dafisiologia só seria exposto pela doença. Asdoenças seriam virtualidades da fisiologia,que só poderiam ser conhecidas partindo-seda experiência da doença.

Há em nós, a cada instante, muitomais possibilidades fisiológicas doque a fisiologia nos faz crer. Mas épreciso a doença para que elas nossejam reveladas2:80.

Para Canguilhem, mesmo nos casos emque as doenças podem ser detectadas antesde qualquer sintoma apresentado pelo doente,o diagnóstico só seria possível a partir damanifestação dos sintomas apresentados naclínica. Quem determina o valor da doença éo doente e não um julgamento médico quefaz do normal biológico um conceito de valor.

Do ponto de vista da ciência, o médico tratados fenômenos vitais, mas a definição do que édoença parte muito menos destes, do que da apre-ciação dos doentes e das ideias dominantes domeio social. Para exemplificar, Canguilhem citaJaspers: “É o médico que menos procura o sentidodas palavras saúde e doença”2:93.

A ocorrência patológica apenas podeser assim compreendida ao nível da tota-lidade orgânica como também da expe-riência que os indivíduos têm de suas rela-ções de conjunto com o meio. Para Cangui-lhem, o conceito de normalidade que amedicina e a fisiologia estariam utilizando,seria um julgamento de realidade.

Assim, a medicina só existe porque hápessoas que se sentem doentes e não comoum conjunto de procedimentos criados parainformar aos indivíduos que eles estãodoentes. Este aspecto do debate remete maisprecisamente a uma das séries de questõesque percorrem toda a tese de Canguilhem,aquela que se refere à relação das ciências edas técnicas.

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Embora seja menos explicitamentefocalizada do que a outra – a das normas edo normal – o problema das ciências e dastécnicas acompanha toda esta parte daargumentação de Canguilhem, na medidaem que este afirma que a terapêutica ou atécnica, decorre muito mais de uma condiçãovivencial, corporificada, e que só secundaria-mente é recuperada e organizada peloconhecimento, que é a ciência. Ou, como elemesmo coloca, não se deve ignorar o fato deque:

As ocasiões de renovação e deprogresso teórico são encontradaspela consciência humana no seucampo de atividade não-teórica,pragmática e técnica. Recusar àtécnica qualquer valor próprio fora doconhecimento que ela consegueincorporar é tornar ininteligível oritmo irregular dos progressos dosaber2:79.

Porém, Canguilhem não concorda comeste aspecto do pensamento de Leriche. Noentanto, logo em seguida ele será recuperadocomo um aliado no esforço de encontrar umaconcepção qualitativa de saúde e doençacomo a mais apropriada. Isto se dá peloexame que aquele faz da experiência da dor.

Se Comte, segundo Canguilhem,estabeleceu os pilares de uma concepção,Durkheim3 construiu uma outra forma dedistinção entre normalidade e patologia.Toda a linha deste autor se pauta na premis-sa fundamental de que, a partir da observa-ção, a sociedade demarca duas ordens defatos bastante diferentes: os que realmentesão, os que devem ser e aqueles que deveriamser diferentes do que realmente são, osfenômenos normais e os fenômenos patoló-gicos.

Essas constatações levam Durkheim aestabelecer critérios que possam definir osdois estados e, para isso utiliza-se da oposi-ção saúde-doença, sobre a qual desenvolveuma teoria. Segundo ele, o critério utilizadopara a determinação da doença é o sofri-mento e a dor. No entanto, ele acha essecritério insuficiente, na medida em quereconhece que os estados de sofrimento, porexemplo: fome e fadiga, são normais. Umaoutra forma de se encarar a doença, paraeste autor, seria a da perturbação da adapta-ção do organismo ao meio, o que, para ele,

no mínimo seria duvidoso, pois, nesse caso,seria necessário estabelecer princípios quedefinissem o fato de que um determinadomodo de adaptação é mais perfeito do queoutro.

Esse princípio, entretanto, poderia serestabelecido em relação às possibilidades desobrevivência, sendo definindo como estadosaudável aquele em que as possibilidades devida fossem maiores, e como estado doentioo que diminuísse essas possibilidades. Entre-tanto, Durkheim contesta também talconcepção, alegando que uma série defenômenos, como a morte necessária nareprodução de algumas espécies inferiores ea velhice, não podem ser considerados comopatológicos.

Durkheim considera que tanto osfenômenos biológicos quanto os sociológicospodem ser reduzidos a dois tipos básicos:aqueles que são comuns a toda espécies e osfenômenos excepcionais, que além deocorrerem em menor quantidade, muitasvezes chegam a durar a vida inteira doindivíduo. Fundamentando-se nesses doistipos de fenômenos básicos, normais eexcepcionais, ele estabelece um tipo médio,que serve como norma genérica da espécie:

O ser esquemático que resul-taria daunião num mesmo ser, numa espéciede individualidade abstrata, dascaracterísticas mais frequentes daespécie e das formas mais frequentesdestas características, poder-se-áafirmar que o tipo normal se confundecom o tipo médio, e que qualquerdesvio em relação a este padrão desaúde é um fenômeno mórbido3:114.

Após definir o parâmetro de normali-dade, Durkheim afirma que a qualidade dofenômeno, seja normal ou patológico, temde ser vista em relação à sua frequência.Estabelece, então, três critérios para essadiferenciação:

1° Um fato social é normal para umtipo social determinado, consideradonuma fase determinada de desen-volvimento, quando se produz namédia das sociedades desta espécie,consideradas numa fase correspon-dente de desenvolvimento; 2°- Osresultados do método precedentepodem verificar-se mostrando que ageneralidade do fenômeno está

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ligada às condições da vida coletivado tipo social considerado; 3°- Estadiversificação é necessária quandoum fato diz respeito a uma espéciesocial que ainda não cumpriu umaevolução integral3:118.

Foucault4 coloca que, há muito tempoa doença ou fato mórbido, tornou-se lugarcomum para a Sociologia e para a patologiamental, à medida que só tem realidade evalor no interior de uma determinada cultu-ra, que a reconhece como tal. Entretanto, elealega que esta relatividade do fato mórbidonem sempre é explicada de forma clara. Eele cita como exemplo Durkheim, alegandoque este tentava explicar a doença atravésde uma concepção ao mesmo tempoevolucionista e estatística.

Nesse sentido, seriam consideradospatológicos, numa sociedade, os fenômenosque, afastando-se da média, marcassem asetapas superadas de uma evolução anteriorou anunciassem as próximas fases de umdesenvolvimento iniciado. A esse respeito,Durkheim, nas ‘Regras do Método Socioló-gico’, chega à definição do fato mórbido, apartir do estabelecimento do ser esquemá-tico, num tipo médio da espécie: “qualquerafastamento deste plano de saúde é umfenômeno mórbido”3:114.

Para Foucault, a concepção durkhei-miana encara a doença sob um aspecto aomesmo tempo negativo e virtual:

Negativo, já que é definida em relaçãoa uma média, a uma norma, a um‘pattern’, e que neste afastamentoreside toda a essência do patológico:a doença seria marginal por natureza,e relativa a uma cultura somente àmedida em que é uma conduta que aela não se integra. Virtual, já que oconteúdo da doença é definido pelaspossibilidades, em si mesmas nãomórbidas, que nela se manifestam:para Durkheim, é a virtualidadeestatística de um desvio em relação àmédia4:73.

Contrapondo-se a essa perspectiva,Foucault não analisa a doença apenas pelo

seu viés negativo, ao contrário, ressalta as-pectos positivos que subjazem aos negativos,afirmando que:

de fato a doença apaga, massublinha, abole de um lado paraexaltar do outro, a essência da doençanão está somente no vazio criado,mas também na plenitude dasatividades que vêm preenchê-lo4:24.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base em tais afirmações, pode-seperceber um jogo de complementaridade noqual a negatividade se afirma na presençado seu contrário e circunscreve uma lógicaprópria. Isto é, retomando às fases anterioresda evolução, a doença faz desaparecer asaquisições recentes e redescobre as formasde conduta ultrapassadas.

A doença apresenta-se não como umretrocesso, mas como um processo ao longodo qual se desfazem as estruturas evolutivas.Nas formas mais benignas, há dissolução dasestruturas recentes e, no término da doençaou no seu ponto extremo de gravidade, dasestruturas arcaicas.

Para Foucault, portanto, a doença nãoé um déficit que atinge radicalmente umaou outra faculdade, havendo no absoluto domórbido, uma lógica que é preciso desra-dicalizar, pois ela é, em última instância, aprópria lógica da evolução normal.

Foucault visualiza o patológico ou adoença não como uma essência contra anatureza da normalidade, mas como sendoa própria natureza dessa normalidade, emum processo invertido, o qual se apoia numasociedade que não se reconhece como seupróprio artífice.

As ideias foucaultianas não permitemnegar que as sociedades produzem o contexto dadoença mental e do doente, respaldada em análisesmédicas e paramédicas, conferindo-lhesrespectivamente, o sentido de desvio ouanormalidade e o status de excluído, diferente ouinsano. Projeta suas mazelas na doença do outroe não aceita qualquer vestígio de positividade.

Pode-se observar que, as teorias posi-tivistas postuladas por Comte e Durkheimtiveram por base a biologia, por entenderem

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que esta já teria alcançado um alto nível decerteza na designação do normal e do pato-lógico. No entanto, através da comparaçãocom Canguilhem, é possível verificar até queponto o estritamente biológico poderespaldar a caracterização da doença comoum desvio de um padrão mais frequente e,portanto, mais saudável.

O fato de um ser vivo reagir, através dadoença, a uma lesão ou uma infestação podeser interpretado no sentido de que a vida nãoé indiferente às condições nas quais ela épossível, que a vida é polaridade, eexatamente por isso, posição inconsciente devalor, em suma, que a vida é na realidade umaatividade normativa. Dessa forma, o conceitode normal ultrapassa a mera designação defenômeno frequente, à medida que:

Uma norma só é a possibilidade deuma referência quando foi instituídaou escolhida como expressão de umapreferência e como instrumento deuma vontade de substituir um estadode coisas insatisfatório por um estadode coisas satisfatório2:79.

Para Canguilhem, a norma é a refe-rência de uma ordem possível, que permite,ou exige, uma contestação para se fazernorma. Outro conceito a observar, com aevolução do conhecimento científico, é o daexcepcionalidade, segundo a qual o fenô-meno deixa de ser doença para ser conside-rado uma condição. No entanto, doença ou

condição, a excepcionalidade continuasendo patológica, determinada pelo desvioda média e tendo como paradigma as con-dições de vida coletiva.

Alguns autores acreditam que a solu-ção poderia estar na distinção entre anoma-lia (compreendida como desigual ou irregu-lar) e anormalidade, que implicaria referên-cia a um valor. Neste sentido, a anomalia seriaqualquer particularidade que se diferenciassedos traços comuns da espécie. Em relação àsanomalias, Canguilhem coloca:

Não se pensa nas simples variaçõesque são apenas desvios estatísticos;mas nas deformidades nocivas oumesmo incompatíveis com a vida, aonos referirmos à forma viva ou aocomportamento do ser vivo, não comofato estatístico, mas a um tiponormativo de vida2:106.

Assim, mesmo do ponto de vistaestritamente biológico, a patologia não seconfigura como um desvio da média, mas sereporta a valores determinados pelo próprioato de viver. Se, do ponto de vista estrita-mente biológico, o conceito positivista depatologia não se sustenta, muito mais sepode dizer com relação à excepcionalidade,à medida que ela é determinada não pelasimples diferença biológica, mesmo quandode origem orgânica, mas porque influi natotalidade do homem enquanto indivíduo emembro de um determinado grupo social.

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MENTAL HEALTH: THE NORMAL AND PATHOLOGICALLIGHT FOUCAULT AND CANGUILHEM

ABSTRACTThe health issue has been discussed since antiquity, however, neither philosophy nor science have reacheda concept of universal acceptance to the question. The epistemological discussion on the subject, intenseamong contemporary thinkers, even reaching the consensus that health is a concept that can be defined inobjective terms, in the sphere of science, or if it is only in living experience of the individual and subjectivenature, not reducible to the scientific field, where the imperative of generalization is representative. If thishappens with the issue of health in general when it comes to mental health arise further complications. Inpractice, the mental health status is also defined, as in other areas, the old idea of the absence of illness orabsence of mental disorders, but does not say, popularly or in the medical, the person who does notsubmit disorders a person is mentally healthy. These disorders are detected by the divergent behavior ofthe normal pattern, ie, outside of what is established as normal in the social and cultural. At this pointthere is an important issue for philosophical debate: normality could be considered equal to health? Andif the normal pattern of behavior and attitudes of a given society is sick? And if the society is sick? Definingwhat is normal and to differentiate it from what is pathological can be something of extreme complexity,regardless of the angle of approach we use, the understanding being hampered due to many of the termscommonly used in such settings they lack a universal sense in which refers to its use and acceptance.However, through this analytical effort, this article discusses in depth the concepts of normality andpathology using the authors, Foucault in need around the idea of social norms, and Canguilhem from theepistemological discussion of normal and pathological, since his doctoral thesis, is considered a referenceon the subject.KEYWORDS: Mental health. Madness. Foucault’s philosophy.

REFERÊNCIAS

1. Foucault M. Os anormais. Tradução de EduardoBrandão. São Paulo: Martins Fontes; 2002.2. Canguilhem G. O normal e o patológico. 5ª ed.Tradução de Maria Thereza R. C. Barrocas. Rio deJaneiro: Forense Universitária; 2002.

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3. Durkheim E. As regras do método sociológico. 2ªed. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura.São Paulo: Abril Cultural; 1983. (Série OsPensadores)4. Foucault M. Doença mental e psicologia. Rio deJaneiro: Tempo Brasileiro; 2000.

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RESUMOEmbora marcantes descobertas, nas recentes décadas, tenham ampliado o conhecimento sobre osmecanismos biológicos envolvidos na cárie dental, ainda resta muito a ser aprendido. A doença émultifatorial, de maneira que as áreas que necessitam explorações mais profundas englobam desde afísica e a química dos tecidos mineralizados passando pelos processos biológicos de adaptação ematuração, até fatores que afetam os hábitos pessoais do hospedeiro. Apesar disso, já existe um corpo deconhecimento bem estabelecidos advindos das experiências clínicas e de pesquisas, que permite aoprofissional da área tratar o assunto em bases lógicas e confiáveis. Dessa forma, o presente trabalho temcomo objetivo, através de uma pesquisa exploratória, em livros e em artigos de periódicos, realizar umarevisão da literatura existente a respeito dos principais aspectos microbiológicos e bioquímicos relacionadoscom o início e a progressão da doença cárie. Assim, certificou-se a importância dos conhecimentos sobreo tema proposto para a prevenção e o tratamento clínico conservador.Palavras-Chave: Cárie dentária. Microbiologia. Bioquímica.

Artigo de RevisãoASPECTOS MICROBIOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS DA

CÁRIE DENTAL – UMA REVISÃO DA LITERATURA

Pablo Guilherme Caldarelli1

Regina Lúcia dos Santos2

3 Acadêmico da 4ª Série do Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Londrina – UEL. Endereço:Rua Juiz de Fora, 230 – Londrina-PR. CEP: 86062-680. e-mail: [email protected] – tel.: (43) 3328-8395/991216454 Professora Doutora Associada C do Departamento de Microbiologia da Universidade Estadual deLondrina – UEL.

1 INTRODUÇÃO

A cárie dental é uma decomposição lenta do dente resultante da perda de cristais dehidroxiapatita, essa dissolução da matriz mineralizada faz com que ocorra uma redução

da integridade estrutural do dente. A natureza bacteriana desse processo pode resultar numainfecção crônica do elemento dental, com eventual perda deste e do suporte ósseo alveolar1.

Os conhecimentos atuais suportam a teoria “placa-hospedeiro-substrato”, em que acárie, uma doença infecto-contagiosa de caráter crônico, causada pelo processo dedesmineralização da superfície dental por ácidos orgânicos provenientes da fermentaçãodos carboidratos da dieta, apresenta uma etiologia bacteriana interdependente de (1) sistemasde defesa do hospedeiro, (2) fatores da dieta e (3) microrganismos. Este conceito foi propostopor Paul Keyes na década de 1960 e, em 1988, Ernest Newbrum acrescentou um quartofator à esta teoria – o tempo – que deve ser considerado em qualquer discussão sobre aetiologia da cárie, modificando assim o diagrama de Keyes 2,3.

Dessa forma, considerando a indispensável participação dos microrganismos noprocesso de iniciação e progressão da doença, o presente trabalho terá como objetivo realizar,de maneira sucinta, uma revisão sobre os principais aspectos microbiológicos e bioquímicosenvolvidos com a cárie dental, fazendo, dessa forma, uma apresentação de uma base lógica

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para a prevenção e o controle clínicoconservador.

2 METODOLOGIA

Para se alcançar o objetivo proposto,elaborou-se uma pesquisa exploratóriaatravés de um levantamento bibliográfico noacervo da Biblioteca da Universidade Esta-dual de Londrina, de obras que se tratassemda temática em questão, e em uma Base deDados em Saúde, LILACS, utilizando-se aspalavras-chave. Foram identificadas 36obras, em idioma português, relacionadascom o tema proposto, sendo: 24 entre livrose capítulos de livros e 12 artigos de periódicosda Base de Dados. Dessa forma, pôde-severificar textos relacionados ao tema que jáforam publicados, e conhecer a maneiracomo esse assunto foi abordado e discutidoem estudos anteriores.

3 REVISÃO DA LITERATURA

A relação entre cárie dental e bactériaé discutida há muito tempo, onde relatosapontam que, em 1683, Antony VanLeeuwenhoek descreveu, através do uso deuma lente de aumento, a presença “animá-culos” em um material esbranquiçado, comconsistência de manteiga, encontrado sobreseus dentes quando estes não eram limpos 4.No entanto, a era científica no estudo dadoença cárie teve início em 1890, com osestudos de Miller, isolando, corando eidentificando bactérias nos laboratórios deRobert Koch5.

Seguindo nesta mesma linha de estu-dos, avaliando clinicamente seus pacientes,também em 1890, Black chamou o acúmulode substância do tipo gelatinosa de “placamicrobiana”, e isolou estreptococos destaplaca, quando o açúcar estava presente nomeio de crescimento6.

De acordo com diversos autores, umgrande número de evidências, tanto in vivoquanto in vitro, demonstram que as cáries sóocorrem se houver microrganismos. Primei-ro, animais germ-free somente desenvolvemcáries na presença de bactérias; segundo,bactérias orais podem desenvolver desmi-neralização do esmalte in vivo, e terceiro,estudos histológicos demonstraram bactérias

no interior do esmalte e da dentina nas lesõescariosas1.

Para examinar essa questão, primeirohá que se considerar que existem três tiposdistintos de cárie: cárie de esmalte, dedentina e de superfície radicular. A cárie deesmalte pode ainda ser dividida em cárie desuperfície lisa e de sulcos e fissuras. A lesãode superfícies lisas tem uma microbiologiabem caracterizada; os microrganismosencontrados com maior frequência nesse tipode lesão são os cocos facultativos Gram-positivos, especificamente Streptococcusmutans e S. salivarius7.

Diversas evidências apontam para o S.mutans como agente etiológico primário paraesse tipo de lesão cariosa. Tal micro-organismo fermenta os açúcares produzindoácido lático, que tem sido apontado como oresponsável pela dissolução da matriz doesmalte. O S. mutans também é um grandeprodutor de dextrana extracelular insolúvel,que permite a adesão das bactérias na super-fície do dente. Além do mais, ele apresentaalta afinidade pelos constituintes salivarespresentes na película que recobre assuperfícies do esmalte dental8,3.

As cáries de sulcos e fissuras são ostipos mais comuns de lesões nos humanos.Das diversas espécies bacterianas isoladasdessas lesões, as mais encontradas são S.mutans, S. Sobrinus e relacionados com aprogressão da doença os lactobacilos7.

As cáries de dentina exibem algumasdiferenças na ecologia microbiana relacio-nadas à sua localização. O crescimento dosmicrorganismos ocorre num ambiente muitomais anaeróbico e seus nutrientes são deri-vados do próprio dente. Os patógenosencontrados com maior frequência nessaregião são os lactobacilos9.

A lesão de superfície radicular tambémse inicia com a colonização da película ligadaao cemento, só que por uma microbiota quese difere, um pouco, daquela presente naslesões da superfície lisa. Amostras bacteria-nas da placa de cáries cementárias revelamgrande número de Actinomyces sp., incluindoA. viscosus, A. naeslundiia e A. odontolyticus10.No entanto, estudos mais recentes indi-caram que o papel que esses microrganis-mos desempenham é menor do que odescrito, além de enfatizarem a importânciado S. mutans e dos lactobacilos nas cáriesradiculares 11.

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Quanto aos aspectos bioquímicos dacárie dental, para Cury, em 2001, os fatoresresponsáveis pelo desenvolvimento da cáriedental são: o acúmulo de bactérias sobre osdentes e a ingestão frequente de açúcar.Assim, toda vez que açúcar é ingerido, pene-tra na placa dental onde é convertido emácido, provocando uma queda instantâneado pH. Atingido os pHs críticos para esmalte(5,5) ou dentina (6,5), esses perdem cálcio(Ca++) e fosfato (PO4

—-) sofrendo desmine-ralização. O pH permanece crítico por umtempo que varia de 20 minutos a horas, eentão retorna ao normal. O tempo parahaver a reversão do pH depende da formacomo o açúcar é ingerido em que período dodia, sendo também relevante a ação dasaliva12.

Logo, a cárie dental pode ser definidacomo um processo de dissolução do esmaltee da dentina, causada por ação bacterianana superfície do dente e mediada por umfluxo físico-químico de íons dissolvidos emágua. Esse mecanismo se desenvolve da se-guinte maneira, quando o equilíbrio mineralda placa está em sua face de desmineraliza-ção o esmalte ou a dentina libera íonsminerais para o lado da placa.

Pela inversão fisiológica do equilíbriopara o lado da remineralização, os íons quepermanecem na lesão ou que possam sertraduzidos de volta à mesma são depositadosna forma de sais minerais menos solúveis queos originais, que tornam o esmalte ou adentina mais resistente a um ataque dedesmineralização subsequente.

Se a soma dos efeitos de reminera-lização se tornarem iguais ou maiores do quea soma dos episódios de ataque, a lesãocariosa residual conterá substância dentáriaalterada e restos de outros materiais, porémo processo carioso terá sido interrompido ea lesão não progredirá. O esmalte ou adentina poderá ser, então, considerado comotendo se adaptado ao meio cariogênico13,14.

Dessa maneira, lesões cariosas de es-malte que tenham as superfícies clinicamenteintactas podem ser interrompidas e, muitasvezes, tornarem-se altamente resistentes aataques subsequentes. Tal adaptação doesmalte em locais de cárie incipiente podeser intensificada se o ataque cariogênico éminimizado por uma redução adequada nafrequência da ingestão de açúcar, ou se forinstituída a remoção diária e meticulosa daplaca.

A adaptação do esmalte também podeocorrer na presença de placa e frequênciamoderada de ingestão de açúcar, se os íonsfluoretos tiverem presentes. Da mesma ma-neira, na dentina, em circunstâncias selecio-nadas, a lesão não progredirá e as bactériasremanescentes morrerão aos poucos, umavez que a superfície do esmalte tenha sidoselada por restauração ou por selante queservirá de barreira entre o ataque carioso eos tecidos suscetíveis13,12.

Depois que a cobertura de esmaltetenha sido removida ou perdida, a cárie dedentina poderá interromper sua progressãoespontaneamente com a exposição à saliva.

Esse processo poderá ser incrementadocom a terapia pelo flúor, com o intuito dereduzir a solubilidade dentinária, ou pelaeliminação de açúcar na dieta, pelo prazonecessário para que se reduza o ataquecarioso a um nível menor do que a capaci-dade de remineralização do hospedeiro.Independente dos mecanismos de superfíciedescritos, a dentina é ainda capaz derespostas adicionais que são mediadas pelapolpa6,12.

4 RESULTADOS

Assim, esta revisão da literaturapermite afirmar que a cárie é uma doençainfecto-contagiosa, caracterizada por umadissolução dos componentes do esmalte e dadentina, sendo mediada por uma dinâmicade fluxo de íons presentes na saliva. Alémdisso, é importante ressaltar que se trata deum processo multifatorial, ou seja, para ainstalação da doença é necessária a interaçãode fatores como: o hospedeiro (dente e sali-va), a microbiota (placa bacteriana), osubstrato cariogênico (carboidratos fermen-táveis) e o fator tempo.

Através de estudos microbiológicos,relatados no presente trabalho, podemosassegurar, também, que a bactériaStreptococcus mutans é considerada oprincipal agente associado com o início e aprogressão da lesão cariosa, embora não sejao único envolvido no processo, uma vez queos lactobacilos desempenham importantepapel na progressão da cárie, mas não emsua etiologia.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dessa forma, conhecendo alguns dosprincipais aspectos microbiológicos ebioquímicos relacionados com início e aprogressão da cárie dental, podemos inferirque, sendo um processo infecto-contagioso,

a prevenção, a diminuição desta conta-minação e o seu controle químico-mecânico,através de uma correta higiene oral, utili-zação de fluoretos e outros meios, devem serfocos de preocupação, quando os objetivossão o controle e a eliminação da doença.

MICROBIOLOGICAL AND BIOCHEMICAL ASPECTS OFDENTAL CARIES – A LITERATURE REVIEW

ABSTRACTAlthough remarkable discoveries in recent decades, have expanded knowledge about the biologicalmechanisms involved in dental caries, there is still much to be learned. The disease is multifactorial, sothat the areas that need deeper explorations range from physics and chemistry of mineralized tissuesthrough the process of biological adaptation and maturation up to factors that affect the personal habitsof the host. Nevertheless, there is already a well established body of knowledge, reported in this studyoriginated from clinical trials and research, which allows the healthcare professional treating the subjectin logical bases and reliable. This paper aims, through an exploratory, in books and periodicals articles,to review the existing literature regarding the main aspects of microbial and biochemical parametersrelated to the onset and progression of dental caries. Thus, it was certified the importance of the knowledgeon the topic proposed for the prevention and conservative clinical treatmentKeywords: Dental Caries. Microbiology. Biochemistry.

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RESUMOO tema que se descortina ainda é rodeado de estigmas visto que a morte ainda gera ansiedade à maioriadas pessoas, e por isso algumas pessoas não se sentem a vontade para falar sobre o assunto. Porém,mostra-se extremamente relevante, quando analisado o impacto social da morte e as repercussões causadaspelo temor desta, na vida do paciente tido como terminal, bem como na vida dos que o cercam. O profissionalde saúde necessita compreender a morte enquanto parte da condição de se estar vivo, sem tentar superá-la nem encará-la como um desafio, para, assim, conseguir trabalhar com paciente frente à iminência demorte. Esta pesquisa tem como escopo a discussão da importância da conscientização do profissional desaúde quanto ao processo de morte, com o intuito de evitar o sofrimento psíquico e emocional dos familiares,dos pacientes em fase terminal e dos próprios profissionais, permitindo também maior aprofundamentosobre essa temática. Optou-se por uma revisão bibliográfica através da consulta em base de dados, livrose artigos publicados. Torna essencial compreender, avaliando essa difícil missão do profissional da áreade saúde, de conviver diariamente com a real possibilidade da morte. Geralmente, o profissional consideraque sua tarefa terminou quando nada mais pode fazer pela unidade orgânica viva, mas é exatamente essaa ocasião para nos lembrarmos que, diante de uma pessoa e diante da experiência–limite da existência,têm-se muito a fazer. É de suma importância que todo o profissional esteja preparado quando assiste opaciente terminal, tendo por meta a visão integrada do homem.Palavras-chave: Morte. Profissionais de saúde. Paciente terminal.

Artigo de RevisãoO PROFISSIONAL DE SAÚDE FRENTE À IMINÊNCIA

DA MORTE EM PACIENTE TERMINAL

Patrícia Geysiane Santos dos Anjos1

Poliana Lira Cavalcanti2

Tatiane Guedes Ferreira Cordeiro3

Edvânia Bento Costa4

5 Fisioterapeuta graduada pelo UNIPE/PB; Pós-graduanda em Fisioterapia Cardiorrespiratória – Fac.Redentor/PE; e-mail: [email protected] Fisioterapeuta graduada pelo UNIPE/PB; Pós-graduanda em Fisioterapia Cardiorrespiratória- Fac.Redentor/PE; e-mail: [email protected] Fisioterapeuta do Complexo Hospitalar de mangabeira Tarcísio Burity. Especialista em Unidade deTerapia Intensiva pela Redentor/PE. Sanitarista e especialista em Saúde da Família pela FIP/PB. e-mail:[email protected]. R. Major Salustino Ribeiro, 189 b. Tambauzinho. Cep: 58042-090. João Pessoa–PB. Tel:(83)8812.3666.8 Fisioterapeuta gestora do Centro de Atenção Integral à Saúde – Cais Magabeira. Especialista em Saúdeda Família pela FIP/PB. Especialista em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde. email:[email protected].

INTRODUÇÃO

Diante de nossas experiências vivenciadas em um serviço de Home Care e em Unidade deTerapia Intensiva (UTI) foi possível observar a angústia dos profissionais de saúde

essencialmente cuidadores, em assistência aos pacientes crônicos graves, geralmente idosose com sequelas, sendo que a maior parte desses tem comorbidade, entendida como a presençasimultânea de múltiplas doenças crônicas sem prognóstico favorável.

Contemporaneamente existe bastante exigência quanto aos profissionais de saúde,requerendo mais do que um conjunto de conhecimentos técnico-científicos, ele será parte“integrante” da família convivendo com seus anseios e medos diariamente. É essencial, porexemplo, que este tipo de profissional possua equilíbrio emocional suficiente, a fim de que

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possa equacionar o binômio habilidadesversus atitudes relacionais desenvolvendocompetência interpessoal conjuntamentecom a capacidade de liderança valorizando,assim, o seu desenvolvimento espiritual que,em alguns momentos, perpassa até mesmoo foro religioso que se torna baliza dedesenvolvimento profissional.

Diante desse contexto, será que osprofissionais de saúde, essencialmente oscuidadores, estão preparados espiritual-mente para lidar com esses doentes econviver diariamente com seus familiarescom o intuito de minimizar o sofrimentopsíquico e emocional dos mesmos e até dopróprio profissional?

O presente artigo tem por escopo adiscussão, com base na literatura pesquisadasobre a morte, o paciente terminal e de comoo profissional de saúde enfrenta a morte deseus pacientes descortinando com esteestudo a postura que o profissional deveapresentar perante o ser doente.

O fim da vida pode ser visto como ummistério ou como um absurdo inaceitável.Pode até ser tratado como um tabu, assuntodo qual a maioria das pessoas não gosta defalar, evitando a todo custo. Mas, seja comofor, aceitemos isso ou não, a morte é um fato,uma realidade inflexível. E que vem paratodos nós, por mais que queiramos nosesconder dela1,2.

A aproximação da morte e a doençaem fase terminal não é apenas um fatobiológico, mas abarca a dimensão social.Cada cultura e sociedade, na sua evoluçãohistórica, exprime formas diferentes de vidaque traduzem e espelham as concepçõeshegemônicas da morte3. O processo demorrer é caracterizado como um momentode dor e sofrimento, vivido de forma única,singular e subjetiva4.

O tema morte na Antiguidade eraencarado com naturalidade. Entretanto, nosdias de hoje a morte é um assunto proibidoe negado, o que faz com que tal tema sejarepelido de nossas mentes, e que prevaleçaa lei do silêncio5.

Nesse sentido, Maranhão7 e Marcílio8

argumentam que, há cerca de cinquenta anos,o homem alterou significativamente sua visãode morte, podendo-se considerar que houveuma abrupta ruptura da história e umarápida mudança em relação aos pensamentose sentimentos inerentes a ela. Acabaram-se

os rituais de despedida nos leitos, o momentode acerto de contas com a vida, a presençado sacerdote para dar a extrema-unção, ascrianças foram afastadas do cenário dovelório, e privadas de viverem o luto e não seouviu mais falar dos testamentos 1,7,9.

Historicamente a morte passou a ser eum fracasso para o profissional de saúde.Saiu dos domicílios, rodeada pelos familiares,adentrando os hospitais, que estão cada vezmais preparados com alta tecnologia paratratar o enfermo1,2,9,10.

A morte é agora institucionalizada emedicalizada. Encontram-se nos hospitaisaparelhos de alta tecnologia que sãoutilizados para manter o organismo dopaciente em funcionamento e os profissionaissão treinados para manipulá-los, porém sempreparo para assistir às reais necessidadesdo paciente e de sua família.

Nas palavras de Maranhão7, a tecno-logia prolonga a vida dos doentes, mas não osajuda no processo de morrer, sendo o doenteterminal marginalizado socialmente, porquedeixou de ser funcional. Segundo Campos11 éesperado que o hospital atenda à populaçãode forma rápida e eficiente, utilizando-se derecursos técnicos de alta tecnologia,promovendo a cura e a promoção da saúde.

Na Antiguidade, o hospital era o localreservado para tratar pessoas portadoras dedoenças contagiosas, isolando-as do restanteda população, considerando-as como umaespécie de depósito em que se aglomeravamdoentes, destituídos de recursos; com intençãomais social do que terapêutica11. Hoje em dia,cabe ao hospital proporcionar a manutençãodo bem-estar físico, social e mental dohomem11. Ao citar Lima Gonçalves, Campos11

salienta que o hospital representa a batalhado homem contra a morte, tendo por objetivoreabilitar e promover saúde.

A maior parte dos profissionais desaúde “aprende” que o paciente no hospitalnão deve saber que vai morrer e ocultar deleque seu estado é grave e que irá morrer, éconsiderado um ato de piedade5.

Devemos levar em consideração que acomplexidade das várias facetas da perda eda dor é indefinível. Partindo do pressupostoque cada indivíduo sofre diferente e é umsofrer único, cabe aos profissionais da áreada saúde interagir e estabelecer empatia comos pacientes do sofrer, essencialmenteaqueles que considerados terminais.

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O paciente em estágio terminal temíntima relação com aqueles com doençascrônicas, visto que toda doença crônica traz aperda da condição de sadio para o indivíduo.Em toda perda que nos acontece, é necessárioum processo elaborativo, que também éacompanhado por um enlutamento, ou seja,o luto pela perda da saúde. Tal luto pode sermais difícil para algumas pessoas do que aperda de um parente ou da própria vida.

O processo de perda também pode serconceituado em três tarefas distintas, ou seja,que a perda seja cognitivamente aceita; quea perda seja emocionalmente aceita e que osmecanismos internos da pessoa e o mundoexterno sejam alterados para se harmoni-zarem à nova realidade12.

Mas quem é o ser terminal? Este é umconceito que gera grande controvérsia,entretanto, diversos autores, consideramcomo paciente terminal aquele que vaimorrer num período relativamente curto detempo, independente das ações médicas quesão colocadas em prática. Mas comoenfrentar essa realidade tão temida? Comoamenizar o sofrimento destes pacientes e suasfamílias, bem como dos profissionais quelidam diretamente com esses temores? Comoassegurar uma despedida ao doente e ajudara família a enfrentar a perda.

O paciente em iminência de morte éaquele que está em fase terminal de umadoença, onde o esperado passa a ser o óbito,independentemente da terapêutica utiliza-da, sendo esta neste momento mais paliativae não tendo a expectativa de cura13,14.

A psiquiatra suíça Elizabeth Kubler-Ross foi pioneira no trabalho com pacientesem iminência de morte. Ela começou abuscar compreensão sobre o processo demorte e morrer na década de 60 do séculopassado. Em seu trabalho “Sobre a Morte eo morrer”4, descreve as fases vivenciadaspelos pacientes sem possibilidades terapêuti-cas e as preocupações expressas em relaçãoàs suas mortes. Segundo a autora, emboracada paciente passasse por momentos distin-tos, eles acabavam vivendo de forma seme-lhante, o que foi denominado de “estágiosde morrer”.

Ao se descobrirem vítimas de doençasgraves, ou ameaça de morte, mesmo aspessoas mais fortes e bem informadas, sãocolhidas por graus diversos de angústia,dúvidas e desespero. Percorre, então, cada

uma à sua maneira, fases que podem levarou ao enfrentamento e à colaboração ou àdesistência4.

Sabemos que muitas vezes o profis-sional de saúde encontra-se despreparadopara lidar com a morte de seus pacientes,pois este acontecimento é contrário ao seupoder de cura.

Essa realidade nos leva a repensar anecessidade de humanização dos hospitais,para que este profissional seja preparadopara lidar não só com os medos, frustraçõese ansiedades de seus pacientes e familiares,mas principalmente com os seus sentimentosde impotência, para que assim seja capaz deadotar atitudes humanas que garantam adignidade do paciente e uma vida com amelhor qualidade que as circunstânciaspermitam, independentemente do tempoque resta.

É importante que o profissional desaúde saiba reconhecer essas reações, quepodem ser observadas não só no paciente,mas também em seus familiares, e que essasnão ocorrem necessariamente em umaordem exata, e assim, podem avançar parao estágio seguinte ou regredir, podendotambém permanecer em um mesmo estágiodurante todo o processo do adoecer4.

Todas essas defesas devem sertrabalhadas, visando a resgatar a autonomiado paciente, e juntamente com a família,buscar realizar as melhores atitudes atravésda luta pelo tempo e qualidade de vida,dentro de uma nova condição de ser de umavida o mais próximo possível danormalidade.

Para o profissional de saúde é deextrema importância conhecer os estágiospelos quais os pacientes em iminência demorte passam, pois assim ele pode melhorcompreendê-los, planejando a assistênciaque lhes será prestada, buscando auxiliá-losem suas reais dificuldades.

De posse do conhecimento dessesestágios, torna-se muito mais cômodo parao profissional de saúde lidar com o turbilhãode sentimentos que afloram nessas situações,ajudando-o na compreensão e na transitorie-dade dos mesmos, bem como respeitar cadamomento vivido pelo paciente, sem julgá-loe sem lhe impor sua perspectiva4,5.

Kovács2 menciona que os médicos sãotreinados apenas para curar, e na tentativade burlar o medo da morte, despersonalizam

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o paciente, transformando-os em órgãos,ossos, sangue etc. Siqueira-Batista eSchamm14 comentam que, desde cedo, oestudante de medicina é moldado para vera morte como “o maior dos adversários”,que deverá ser sempre combatido e, sepossível, vencido, graças à melhor ciência,ou competência, disponível.

Kovács1 afirma que o papel daenfermeira é assistir ao doente, promovendosua recuperação, ajudando-o a fazer o queele não tem condições de realizar só, apesardesse profissional receber apenas treina-mentos técnicos e práticos, a diferença básicaentre as outras pessoas em geral e os profis-sionais da área da saúde, médicos, enfer-meiras e psicólogos, é que na vida desses, amorte faz parte do cotidiano e pode se tornarsua “companheira” diária de trabalho.

Segundo Chiattone5, a equipe de saúdeque atua junto aos pacientes fora de possi-bilidades terapêuticas, deve ser caracterizadapelo apoio, compreensão e principalmentepela capacidade de perceber as diferentessituações pelas quais passam esses pacientes.Assim, Chiattone15 afirma que o enfoqueideal ao paciente doente, seja agudo, crônico,terminal ou gravemente enfermo deve partirde um ponto de vista holístico, global e inter-disciplinar, considerando que é impossívelconsiderar esse evento como um processofisiológico à parte, sem relação com o serdoente, com o seu ambiente, com a doençaque encaminha para a morte, com as intrica-das relações familiares e com o complexoambiente médico e humano em que érealizado o tratamento.

Em nossa cultura, onde a morte é en-tendida como perda irreparável, defron-tar-se com esse assunto é por demaisdesconfortável, apesar de ser inevitável,pois na realidade hospitalar, por muitasvezes, o médico defronta-se com a decisãoa respeito da manutenção ou não da vidaou sobrevida de pacientes sem prognósticode cura14, e talvez um dos assuntos maiscontroversos e, portanto, polêmicos naprática médica seja a situação limítrofe emque o médico vive, para que decida sobrea manutenção da vida, de forma artificial,do pacientes em iminência de morte10. Poisa família, com medo de perder o doente,responsabiliza os médicos pelas suas vidas.

Esses por sua vez, preparados para curare manter vivos seus pacientes, acabamdeci-dindo sozinhos sobre o seu destino, ouseja, manter o corpo vivo, conforme avontade da família, ou desligar osaparelhos quando avaliam a ausência derecursos para a recuperação da vida1,2.

Em um estudo para verificar as atitu-des de médicos, enfermeiros e técnicos deenfermagem no que concerne à morte e àrecusa ou suspensão de tratamentos fúteisou inúteis, observou-se uma tendência dessesprofissionais de saúde se sentirem angus-tiados ao falar sobre a morte, principalmentede seus pacientes, terem dificuldade deaceitá-la e concluíram que o tema devereriaser mais debatido16.

No livro “Morte e DesenvolvimentoHumano”, Kovács1 ressalta que trabalharcom o sofrimento ou a perda de significadoda existência dos pacientes pode despertarnos profissionais as mesmas vivências,ferindo o seu narcisismo e sua onipotência,colocando-o diante do incompleto e do nãoterminado. A autora menciona que o mé-dico, muitas vezes, não se permite conheceros seus sentimentos em relação à morte, oque pode ser observado pelo fato delesdelegarem a outras pessoas os cuidados quedevem ser dispensados aos pacientes naiminência de morte.

O atendimento a pacientes terminais,ou melhor, em pessoas perto do final de suasvidas, pode representar uma situação deextrema dificuldade para os médicos17, ape-sar do fato da morte ser um evento inexorá-vel para os seres vivos. Portanto, os profissio-nais da saúde devem entender que a morteé uma consequência natural da vida e nãoum fracasso do tratamento médico.

Nesse sentido, Angerami 18 concordacom Maranhão7 e ressalta que humanizar ascondições de vida do doente terminal éacima de tudo buscar uma congruênciamaior em todo o seio da sociedade, harmo-nizando a vida e a morte de maneira indisso-lúvel. Somente assim poderemos asseguraraos nossos descendentes a condição de umamorte e vida dignas. A morte precisa servista como sendo um processo onde aesperança se funde com uma perspectivaexistencial sem exclusão de qualquer umadas possibilidades de existência.

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MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo representa uma pesquisade revisão literária, onde foram utilizadasfontes como artigos de periódicos, revistasespecializadas, livros, teses, e bases de dadoson line, entre os meses de maio de 2009 adezembro de 2009. Para isto foram utilizadasas seguintes palavras-chave: morte,profissionais de saúde, paciente terminal.

Após levantamento bibliográfico,realizou-se a leitura exploratória do materialencontrado. Com isso, pôde-se obter visãoglobal do conteúdo do material, conside-rando-o de interesse ou não à pesquisa.

Ao final, foram delimitados os textosa serem interpretados, bem como realizadaa análise e síntese integrativa para estabe-lecer relação aberta com o texto, permitindoque ele se revelasse em suas intenções.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ser humano sente a morte como umainimiga ou adversária e tenta, a todo custo,vencê-la. Nessa luta, tem conseguido, comos avanços tecnológicos, prolongar a vidacom qualidade. O desenvolvimento tecno-científico permitiu a cura de pacientesconsiderados anteriormente irrecuperáveis,entretanto, em muitos casos, permitiutambém o prolongamento do morrer3.

Conforme Siqueira-Batista eSchramm14 o estudante de medicina émoldado para combater com todas as forçasa morte. Por se tratar de uma questão tãodelicada, o profissional de saúde precisaestar preparado para enfrentar a morte,quando esta for inevitável, uma vez quequando se aproxima o momento final da suaocorrência, o papel fundamental do profis-sional consiste em assegurar ao paciente umamorte menos sofrida, mais serena, e umapreparação adequada, não só para ele, massobretudo para a família, ou seja, deveráajudar o seu paciente a morrer humana-mente, enquanto ajuda a viver um poucomais, de forma respeitosa e caridosa, aotempo em que deve ser solidário na dor e nodesespero da família que sofre.

Acredita-se que a filosofia dos cuida-dos paliativos possa ser adotada com ointuito de mudar a realidade da assistênciaaos pacientes em iminência de morte. Essa

modalidade de cuidado pode proporcionarreflexões e aproximar o profissional doprocesso de morte e morrer de uma formamais natural e com menos impacto14.

Em muitos casos, o profissional julgaque sua tarefa terminou quando nada maispode fazer pela unidade orgânica viva. Masé exatamente esta a ocasião para lembrarque, além dos aspectos biológicos que condi-cionam a fatalidade do fim do organismo,estamos, sobretudo neste momento, diantede uma pessoa e diante da experiência–limiteda existência. Essa dimensão propriamentehumana do paciente aparece, então, comuma nitidez e uma força por vezes atéinibidoras.

Não é possível uma relação de fami-liaridade com a morte. Por mais que seconviva com ela, a morte só parece naturalpara quem a define apenas como o términoobjetivo das funções vitais. Mas essa termina-lidade no ser humano não é somente acessação da funcionalidade bio-psíquica: éa consciência do fim da vida que traz, sejaqual for a maneira como se interpreta asituação, algo de angústia e de mistério, deprofunda intimidade consigo mesmo e deinevitável solidão18.

O profissional “treinado” pra curar esalvar vidas sente-se angustiado ao reconhe-cer que a sua profissão lhe obriga a convivercom a morte. Embora seja reconhecida adificuldade dos profissionais da saúde, deaceitarem a terminalidade das doenças e ainutilidade de certos tratamentos, é essencialque estes profissionais aceitem a morte dopaciente sob seus cuidados17.

Há então a necessidade de encaminharos profissionais de saúde e educação parauma formação que lhes permita enfrentar oprocesso de morte com uma melhor prepa-ração para contribuir e amenizar o sofri-mento diante desse fenômeno19.

Há diversas maneiras de enfrentar amorte e seu significado, tanto para os profis-sionais de saúde, como para os familiares. Amaneira mais confortante é através dacrença em um novo começo ao partir desseplano, através da religião. De acordo comBoff20, a espiritualidade é algo muitoimportante e amplo no que se refere a umadeterminada prática religiosa, na suaessência, consiste na busca de um sentidomaior de transcendência da vida.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os profissionais de saúde precisamcompreender a morte como um aconteci-mento factível e como uma questão existen-cial pertinente a todos. Eles necessitam seraparados para vencer o medo que sentem, aaceitá-la e, assim, aprender a trabalhar comos pacientes que estão em iminência demorte de maneira harmoniosa e com menosreceios, para conseguirem ajudá-los nas suasnecessidades14.

Cabe destacar a importância destetrabalho, o qual visa a proporcionar maiordiscussão sobre o tema da morte, tentandominimizar os seus pontos controversos,

direcionando sua abordagem para umenfoque centrado no ser doente e na adoçãode medidas que diminuam o impacto na vidadeste indivíduo, proporcionando-lhe umamelhor qualidade de vida durante seusúltimos momentos. Além disso, compre-ender a temática e revelar a difícil tarefa deprestar assistência a um paciente crônicograve em sua iminência de morte.

É essencial que todo o profissional desaúde esteja preparado emocionalmente eespiritualmente quando assiste o pacientecrônico provido de incapacidades e depen-dência, tendo por meta uma visão integradado homem.

THE HEALTH PROFESSIONAL FRONT THE IMPENDING DEATH TERMINAL IN PATIENT

ABSTRACTThe theme that unfolds is still surrounded by stigma since the death still causes anxiety for most people,so some people do not feel comfortable to talk about it. But it shows extremely relevant when analyzing thesocial impact of death and the repercussions caused by this fear, in life the patient had terminal as well asthe lives of those around them. Health professionals need to understand death as part of the condition ofbeing alive, without attempting to overcome it or see it as a challenge, so get to work with the patient facingimminent death. This research has the scope to discuss the importance of awareness of health professionalsabout the dying process, in order to avoid mental suffering and emotional relatives of terminal patientsand their own professional system, allowing greater depth about this theme. We opted for a reviewthrough consultation in the database, published books and articles. Therefore it becomes essential tounderstand it, this difficult task of evaluating health care professional to live daily with the real possibilityof death. Generally, the profession believes that his task ended when nothing else can do for organic unityalive, but this is exactly the occasion to remind us that, before a person before the limit-experience thatthere have been plenty to do. It is critical that all professionals are prepared when attending the terminalpatient, with the goal of integrated vision of man.Keywords: Death; Health professionals; Terminal patiente.

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RESUMOEste trabalho teve como objetivo apresentar uma técnica cirúrgica simples para a reconstrução do ligamentopatelofemoral medial, usando enxerto autólogo do tendão do semitendinoso, permitindo assim, umamelhor estabilização da articulação patelofemoral, em alguns casos de luxação recidivante da patela.Indicamos a reconstrução do ligamento patelofemoral medial toda vez que houver comprovadamentedois ou mais episódios de deslocamento lateral da patela em pacientes com anatomia óssea normal.Reconstruindo-se a principal estrutura estabilizadora retinacular medial, a partir do enxerto autólogo dotendão do semitendinoso, descrevemos esse procedimento cirúrgico na tentativa de restrição dodeslocamento lateral da patela, sendo uma tendência atual no tratamento da luxação recidivantepatelofemoral. Uma avaliação preliminar da utilização deste procedimento cirúrgico demonstra ser umatécnica simples, com mínima agressão tecidual e, portanto, uma opção viável, necessitando, contudo, deseguimento e avaliação de resultados para futuras conclusões.Palavras-Chave: Ligamentos. Lesões. Procedimentos Cirúrgicos Operatórios. Métodos.

Comunicação BreveRECONSTRUÇÃO DO LIGAMENTO

PATELOFEMORAL MEDIAL: UMA TÉCNICA SIMPLESUSANDO PONTOS ISOMÉTRICOS1

Rosalvo Zósimo Bispo Júnior2

Cezar Teruyuki Kawano3

Alexandre Takayuki Soejima4

1 Trabalho realizado na Faculdade de Medicina Nova Esperança - Famene e na Universidade Federal deCampina Grande – UFCG, Paraíba, Brasil.2 Doutor e Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela FMUSP. Membro Titular da Sociedade Brasileira deOrtopedia e Traumatologia – SBOT e Sociedade Brasileira de Artroscopia - SBA. Professor Adjunto daUnidade Acadêmica de Medicina do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de CampinaGrande – UFCG. Professor Adjunto da Faculdade de Medicina Nova Esperança – FAMENE. Endereçopara correspondência: Avenida Frei Galvão, 12, Bairro Gramame, João Pessoa-PB – CEP: 58067-695.Brasil. Telefone: (+55 83) 2106-4777. e-mail: [email protected] Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela FCM-SCM-SP. Membro Titular da Sociedade Brasileira deOrtopedia e Traumatologia – SBOT, Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho - SBCJ e Sociedade Brasileirade Artroscopia - SBA.4 Médico Ortopedista e Traumatologista. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia eTraumatologia - SBOT.

INTRODUÇÃO

O ligamento patelofemoral medial (LPFM) é uma banda de tecido retinacular conectandoo epicôndilo medial do fêmur à borda medial da patela1. Sua função primária é prevenir

o deslocamento lateral da mesma2,3. Para luxação recidivante da patela, que é refratária aotratamento conservador, intervenção cirúrgica é comumente recomendada2,5,6.

Mais de uma centena de técnicas cirúrgicas foram descritas para o tratamento daluxação recidivante patelar2,4,5,7, como a liberação retinacular lateral e os realinhamentosproximal, distal e combinado. Contudo, não existe um consenso a respeito da melhor técnicaa ser utilizada na reparação das estruturas relacionadas com o fenômeno da luxaçãorecidivante da patela, pois diversos fatores anatômicos estão envolvidos nessa instabilidadearticular: desde as alterações de partes moles até as anormalidades ósseas.

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A determinação da isometricidadeestática e dinâmica a ser adotada nessasreconstruções, parece ser importante. Re-criar a isometricidade do ligamento originalpode ajudar a aperfeiçoar a estabilidadearticular durante todo o movimento.2

Indicamos a reconstrução do liga-mento patelofemoral medial toda vez quehouver comprovadamente dois ou maisepisódios de deslocamento lateral da patelaem pacientes com anatomia óssea do joelhonormal.

O objetivo deste estudo é presentaruma técnica cirúrgica simples para areconstrução do ligamento patelofemoralmedial, usando enxerto autólogo do tendãodo semitendinoso, permitindo assim, umamelhor estabilização da articulação patelo-femoral, em alguns casos de luxaçãorecidivante da patela.

TÉCNICA CIRÚRGICA

A artroscopia é realizada, sendoavaliadas as superfícies da articulaçãopatelofemoral e os possíveis recessossinoviais. Realiza-se, posteriormente, aliberação retinacular lateral do joelho viaartroscópica.

O substituto do LPFM é um enxertoduplo do tendão do semitendinoso, retiradopor uma incisão longitudinal de 3,0 cm deextensão, medial à tuberosidade anterior datíbia, com o auxílio de um extrator de tendão(Figura 1). Separa-se a porção muscular dotendão e, posteriormente, dobra-se o mesmoem duas partes iguais. Realiza-se um chuleiocom fios de #1 Vicryl® por 3,0 cm nas duasextremidades. O comprimento mínimonecessário do enxerto duplo recomendado éde 11,0 cm.

A reconstrução do LPFM é realizadaatravés de duas incisões de 3,0 cm deextensão: uma na borda medial da patela,que deve ir até o nível subperiostal e a outrana região do epicôndilo medial do fêmur(Figura 2).

Ambos os pontos de fixação óssea tentamrecriar a isometricidade do ligamento original,segundo Steensen et al2. Realiza-se a dissecçãoacima da cápsula articular com uma pinçaromba unindo-se as duas incisões, para facilitara passagem do enxerto (Figura 3).

O túnel patelar deve ser realizado

passando-se inicialmente um fio guiametálico em um ponto localizado próximo àmetade do comprimento e da largura dapatela. Com uma broca canulada de 5.0 mm,penetra-se 25 mm no osso. O túnel femoral,na porção súpero-posterior ao epicôndilomedial é realizado utilizando-se uma brocacanulada de 8.0 mm com a extensão de 35mm.

O enxerto é passado pela dissecçãorealizada sobre a cápsula e fixado inicial-mente na patela com parafuso de interfe-rência de 20X7 mm. Realiza-se um pré-tensionamento de 25 ciclos de flexo-extensãodo joelho, com a finalidade de diminuir aviscoelasticidade do enxerto e sua adaptaçãona amplitude de 0-110 graus8, sendo a suafixação no fêmur realizada a 30° de flexão,4

utilizando-se parafuso de interferência detamanho 30X9 mm (Figura 4). Cuidadofundamental deve ser tomado para que oenxerto não fique muito tenso, causandohiperpressão medial patelar.

No pós-operatório, o joelho é imobi-lizado em uma órtese extensora por 03semanas, sendo permitida a carga parcialcom o auxílio de muletas, exercícios isomé-tricos e crioterapia local. Após esse período,o paciente é encaminhado para a fisioterapiapara treino de marcha (carga total), ganhode mobilidade articular e força muscular,sendo a prática de esportes permitida após06 meses da cirurgia.

COMENTÁRIOS

Estudos biomecânicos9-12 têm demons-trado que o LPFM é o maior restritor para odeslocamento patelar lateral.

Técnicas abertas tradicionais de rea-linhamento proximal requerem considerávelexposição. Já as cirurgias artroscópicas sãominimamente invasivas, mas não podemproporcionar visualização adequada do liga-mento patelofemoral, que é uma estruturaextra-articular13. Decidimos, então, buscaruma técnica cirúrgica “intermediária” derealinhamento proximal (partes moles):aberta, porém, com pequenas incisões econsequente agressão tecidual menor.

Apesar da importância do LPFM notratamento da luxação patelar recidivanteser bastante reconhecida3-6,9-16, existempoucos estudos2,17 publicados a respeito da

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Figura 1. Desenho esquemático mostrando a retirada dotendão do semitendinoso com um extrator.

Figura 2. Desenho esquemático demonstrando asduas pequenas incisões cutâneas na região medialdo joelho.

Figura 3. Desenho esquemático. Notar a dissecção acimada cápsula articular, unindo-se as duas incisões.

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melhor localização dos pontos de fixação doligamento a ser reconstruído. A isometrici-dade é um conceito que determina quaislocais de inserção ligamentar que mantêmconstante o comprimento do ligamento du-rante o movimento articular. Teoricamente,poderia prevenir a falha da reconstruçãoligamentar por distensão ou ruptura.

O conceito da reconstrução do LPFMtão próximo do original parece superar adiscussão do melhor enxerto a ser utilizado.

Nesse contexto, a aplicação da isometri-cidade durante a sua reconstrução podeajudar a otimizar2 a estabilidade da articu-lação patelofemoral.

Uma avaliação preliminar da utili-zação deste procedimento cirúrgico demons-tra ser uma técnica simples, com mínimaagressão tecidual e, portanto, uma opçãoviável, necessitando, contudo, de seguimentoe avaliação dos resultados para futurasconclusões.

RECONSTRUCTION OF THE MEDIAL PATELLOFEMORAL LIGAMENT:A SIMPLE TECHNIQUE USING ISOMETRIC POINTS

ABSTRACTThe aim of this study is to present a simple surgical technique for reconstructing the MPFL, using anautologous graft from the tendon of the semitendinosus muscle adopting isometricity, thus enablingbetter stabilization of the patellofemoral joint in some cases of recurring luxation of the patella. Werecommend reconstruction of the MPFL whenever two or more episodes of lateral dislocation aredemonstrated in patients with normal knee bone anatomy. This is a current trend in treating recurringpatellofemoral luxation in these patients. Preliminary evaluation from using this surgical procedure hasshown it to be a simple technique with minimal tissue aggression. It is therefore a viable option, althoughthe results need to be followed up and assessed in order to reach future conclusions.Key Words: Ligaments. Knee. Injuries. Surgical Procedures Operative. Methods.

Figura 4. Desenho esquemático mostrando afixação patelar e femoral do enxerto, segundopontos isométricos.

RECONSTRUÇÃO DO LIGAMENTO

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Resumo em Língua Estrangeira

1. Como elemento pós-textual, deve vir no final do trabalho, antes das referências.Aceita-se o resumo em inglês Abstract, ou em espanhol Resumen, ou em francêsRésumé. Segue os mesmos padrões do Resumo na versão em português e deveser absolutamente fiel ao original.

2. As palavras-chave em língua estrangeira, a saber, em inglês Keywords; emespanhol Palabras clave: e em francês Mots-clés seguem, obrigatoriamente, asmesmas orientações da versão em português.

NORMAS ESPECÍFICAS PARA OS TEXTOS

1. Artigos Originais: são trabalhos resultantes de pesquisa original, de naturezaquantitativa ou qualitativa. Sua estrutura deve apresentar necessariamente os itens:Resumo, Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão, Conclusão,Resumo em língua estrangeira e Referências Bibliográficas (apêndices e anexossão opcionais). Máximo de 15 laudas.

Itens que compõem esta seção

Introdução: deve estabelecer com clareza o objetivo do trabalho e sua relaçãocom outros trabalhos no mesmo grupo. Extensas revisões da literatura não serãoaceitas, devendo ser substituídas por referências aos trabalhos ou fontes maisrecentes, onde tais revisões tenham sido apresentadas. Deve esclarecer: a) anatureza do problema cuja resolução se descreve no artigo; b) a essência doestado da arte no domínio abordado (com referências bibliográficas); e c) o objetivodo artigo e sua relevância (justificativas) para fazer progredir o estado da arte.

NORMAS

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Material e Métodos (quando a pesquisa envolve seres humanos): descreverprocedimentos, apresentar as variáveis incluídas na pesquisa, determinar ecaracterizar a amostra, detalhar técnicas e equipamentos novos, indicarquantidades exatas, referenciar os métodos e as técnicas utilizadas, incluindométodos estatísticos, de modo a permitir reprodutividade. Recomenda-se evitardescrições extensas de métodos rotineiros. Não devem ser utilizados nomescomerciais, nomes pessoais ou iniciais de pacientes, fotos que o exponham esimilares, nem seus números de registro hospitalar.

Resultados: todos os resultados devem ser apresentados em sequência lógicano texto, e exclusivamente neste item, de maneira concisa, fazendo, quandonecessário, referências apropriadas a tabelas que sintetizem achadosexperimentais ou figuras que ilustrem pontos importantes. Orienta-se evitarsuperposição de dados como textos e como tabelas. Destaque apenas para asobservações mais importantes, com um mínimo de interpretação pessoal. Utilizargráficos simples e de fácil compreensão. Sempre que necessário, os dadosnuméricos devem ser submetidos à análise estatística.

Discussão: deve restringir-se aos dados obtidos e aos resultados alcançados,enfatizando os novos e importantes aspectos observados e discutindo asconcordâncias e divergências com outros achados já publicados. Comunicaçõespessoais ou publicações de caráter restrito devem ser evitadas como provas deargumento. Hipóteses e generalizações não baseadas nos dados do trabalhodevem ser evitadas. As limitações do trabalho bem como suas implicações parafuturas pesquisas devem ser esclarecidas.

Conclusões: deve-se apresentar o conjunto de conclusões mais importantes,evitando detalhes não pertinentes, retomando os objetivos do trabalho. Asconclusões podem também ser incluídas no item “discussão”; neste caso, não hánecessidade de repeti-la em itens à parte.

Agradecimentos (opcional): quando desejados devem ser apresentados no finaldo texto, breves e diretos, mencionando-se os nomes de participantes quecontribuíram, intelectual ou tecnicamente, em alguma fase do trabalho, mas nãopreencheram os requisitos para autoria. Devem constar de parágrafo à parte,colocado antes das Referências.

Ilustrações: tabelas, figuras e fotos devem estar inseridas no corpo do textocontendo informações mínimas pertinentes àquela ilustração (Por ex. Tabela 1;Figura 2; etc.), inseridas logo após serem mencionadas pela primeira vez no texto.As tabelas devem estar formatadas como a tabela clássica 1 do Word. Os gráficosdevem ter boa definição. As fotos devem ser escaneadas com 300 ou mais DPI esalvas no formato TIFF ou BMP e lado maior igual a 18 cm. As ilustrações e seustítulos devem estar alinhados à esquerda e sem recuo. O tamanho máximopermitido é de uma folha A4. Devem ser encaminhadas com as autorizações parareprodução de material publicado anteriormente, de ilustrações que podemidentificar pessoas e para transferência de direitos autorais e outros documentosque se façam necessários.

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Referências

o As Referências deverão ser reunidas no final do trabalho, citadas somente asobras utilizadas no texto, em ordem numérica, e ordenadas segundo asequência de aparecimento no texto, no qual devem ser identificadas pelosalgarismos arábicos respectivos sobrescritos. Para listar as referências, nãose deve utilizar o recurso de notas de fim ou notas de rodapé do Word.

o As referências devem estar de acordo com as especificações dos RequisitosUniformes para Originais Submetidos a Periódicos Biomédicos, conhecidocomo Estilo de Vancouver, elaborado pelo Comitê Internacional de Editores deRevistas Médicas – ICMJE (http://www.icmje.org). Para maiores esclarecimentossobre o Estilo de Vancouver, ver o item “Estilo de Vancouver: exemplos de comoreferenciar”.

o Para citações diretas de referências bibliográficas devem-se usar aspas nasequência do texto, de acordo com o Estilo de Vancouver, atribuindo a cadaautor um número que o identifique.

o As citações de falas/depoimentos dos sujeitos de pesquisa deverão serapresentadas entre aspas.

2. Artigos de revisão: são trabalhos que têm por objetivo apresentar síntese eanálise crítica da literatura levantada. Esta deve ser atualizada, referenciada e adiscussão atual e pertinente. Deve incluir com clareza a delimitação do problema,dos procedimentos adotados e conclusões. Sua estrutura deve apresentarnecessariamente os itens: Resumo, Introdução, Material e Métodos, Resultados eDiscussão, Considerações Finais, Resumo em língua estrangeira e ReferênciasBibliográficas. Deverão ter no máximo 50 citações de referências bibliográficas,organizadas em espaço simples. No máximo 10 laudas.

3. Artigos de Atualização ou Divulgação: são trabalhos que têm por objetivo adescrição e/ou interpretação sobre determinado assunto, considerado relevanteou pertinente na atualidade. No máximo 10 laudas.

4. Comunicações breves/Relatos de caso/experiência: se caracterizam pelaapresentação de notas prévias de pesquisa, relatos de caso ou experiência, deconteúdo inédito ou relevante, devendo estar amparada em referencial teóricoque dê subsídios a sua análise. No máximo 10 laudas.

5. Resenhas: apresentação e análise de livros publicados na área da saúde ouáreas afins. Serão aceitas para apreciação resenhas de livros publicadosrecentemente no Brasil ou no exterior. Os textos das resenhas deverão serconfigurados da seguinte maneira: a) Referências completas do livro; b) Nome doautor da resenha; c) Instituição de origem; d) Texto analítico. No máximo 3 (três)laudas.

6. Relatório de pesquisa: texto original e sucinto de pesquisas realizadas na áreada saúde ou áreas afins (no máximo 4 laudas).

7. Resumos de pesquisa: em nível de especialização, de mestrado ou doutorado:texto original da monografia, dissertação ou tese com no máximo 1 (uma) laudaou contendo 250 palavras.

NORMAS

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ESTILO DE VANCOUVER: EXEMPLOS DE COMO REFERENCIAR

1 LIVROS E MONOGRAFIAS CONSIDERADOS NO TODO

Um autor (pessoa física) – de um até seis autoresBlack GJ. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. 4ª ed. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan; 2002.

Mais de seis autoresCosta SS, Cruz OLM, Oliveira JAA, Lima AS, Mariante AR, Crespo NA, et al.Otorrinolaringologia: princípios e prática. 2ª ed. il. Porto Alegre: Artmed; 2006.

Organizador, editor, coordenador ou compilador como autorMcCloskey JC, Bulechek GM, organizadoras. Classificação das intervenções deenfermagem (NIC). 3ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2004.

Autores corporativos (órgãos governamentais, associações, ONGs etc.)Comissão Social do Episcopado Francês. SIDA: a sociedade em questão. Tradução deEphraim F. Alves et al. Petrópolis; 1996.

Entrada pelo título, quando não há autoriaDiagnóstico de enfermagem da NANDA: definições e classificações – 2007-2008.Tradução de Regina Machado Garcez. Porto Alegre: Artmed; 2008.

Indicação do tradutorSmeltzer SC, Bare BG. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 9ªed. Tradução de Isabel C. F. da Cruz et al. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.

Dicionário e obras de referências similaresHouaiss A, Villar MS. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva;2009. Com a nova ortografia da língua portuguesa.

Teses, dissertações e trabalhos de conclusão de cursoImperiano RL. Ser mãe: vivência da maternidade em profissionais do sexo: [trabalho deconclusão de curso]. João Pessoa: Faculdade de Enfermagem Nova Esperança; 2006.

Trabalhos apresentados em eventos científicos e publicados em anaisTegazzin V. Anestesia em doenças neuromusculares. Anais do V Simpósio Brasileiro deHipertermia Maligna; 2005 Out 7-8; Associação Paulista de Medicina. São Paulo: Unifesp/EPM; 2005. p. 10-1.

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2 CAPÍTULO OU PARTES DE LIVROS E MONOGRAFIAS

Maranhão EA, Silva FAM, Lamounier JÁ, Sousa EG. Medicina. In: Haddad AE, PierantoniCR, Ristoff D, Xavier IM, Giolo J, Silva LB, organizadores. A trajetória dos cursos degraduação na saúde – 1991-2004. Brasília (DF): INEP; 2006. p. 277-309.

Artigo em periódico

Autor(es) (pessoa física) – até seis autoresJesus ES, Augusto MAO, Gusmão J, Mion Júnior D, Ortega K, Pierin AMG. Profile ofhypertensive patients: biosocial characteristics, knowledge, and treatment compliance.Acta Paul Enferm. 2008;21(1):59-65.

3 DOCUMENTOS EM SUPORTE ELETRÔNICO

(CD-ROM, DVD...)Prado FC, Ramos J, Ribeiro do Valle J. Atualização terapêutica: manual prático dediagnóstico e tratamento [monografia em CD-ROM]. São Paulo: Artes Médicas; 1996.

Artigos de periódicosGonçalves LC, Silva MRG, Peracoli JC, Silveira LVA, Padovani CR, Pimenta WP.Prevalência de hipertensão arterial em mulheres com passado de distúrbioshiperglicêmicos na gestação. Arq Bras Endocrinol Metab [periódico na internet]. 2005Abr [acesso em 2008 Ago 15]; 49(2): [número de páginas aproximado 6 p.]. Disponívelem: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302005000200013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Os textos deverão ser enviados à Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança,Faculdades Nova Esperança - Facene/Famene (aos cuidados do Editor da Revista),localizada na Avenida Frei Galvão, 12, Gramame - João Pessoa-PB. CEP: 58067-695.Fone (83) 2106-4791. E-mail: [email protected].

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