revista comércio e serviços

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ANO 20 • Nº 12 • DEZ/2010 • JAN/2011 www.fecomercio.com.br / www.twitter.com/fecomercio publicação da federação do comércio de bens, serviços e turismo do estado de são paulo Criatividade e inovação mudam a forma de presentear: agora, em vez de produtos, a tendência é oferecer experiências PRESENTES PARA VIVER COM RETORNO Todo lixo produzido tem que ser também recolhido COMPRAS COLETIVAS Sites oferecem até 90% de desconto e viram febre 9 771983 139001 00012

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Revista feita para a Fecomercio

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ANO

20 •

Nº 12

• DE

Z/20

10 •

JAN

/201

1

www.fecomercio.com.br / www.twitter.com/fecomercio

publicaçãoda federação do comércio de bens, serviços e turismo do estado de são paulo

Criatividade e inovação mudam a forma de presentear: agora, em vez de produtos, a tendência é oferecer experiências

Presentes Para viver

Com retornoTodo lixo produzido tem que ser também recolhido

ComPrAS CoLetIVASSites oferecem até 90% de desconto e viram febre

9771983

139001

00012

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Inovação Por Yara verônica Ferreira

ExpEriência Embalada para prEsEntEinspirada nos vale-presentes, a nova tendência em serviços, vinda da europa, é proporcionar um momento especial a quem se quer agradar

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dez/10 – jan/11 Comércio & Serviços 43

otimistas com a movimentação desse novo nicho, empresas do setor estimam crescimento acima de 100% ao ano

uem não gostaria de proporcionar momen-tos de alegria inesque-cíveis a alguém? ou ser o privilegiado a desfrutar um delicioso

jantar preparado por um renomado chef, ou quem sabe relaxar durante uma massagem com óleos quentes, voar de balão, saltar de paraquedas e ter muitos outros prazeres inusi-tados? pois há um novo negócio no mercado que oferece tudo isso, tem movimentado a europa e vem ga-nhando cada vez mais espaço no Brasil: a experiência como presente.

a estimativa é que essa nova forma de presentear tenha movimentado 300 milhões de euros na França, se-gundo a uFc que choisir, uma asso-ciação de consumidores da europa ocidental, criada em 1951. no Brasil, por ser um nicho de negócios recen-te, “ainda não há histórico para uma análise mercadológica consistente”, diz João vianna, diretor da smartbox, líder e pioneira do mercado europeu. ainda assim, ele acredita que o fatura-mento do setor venha duplicando ano a ano. Jorge nahas, ceo da o melhor da vida, faz uma projeção de mercado com base no volume de vendas da sua empresa e na estimativa do que as concorrentes movimentam. “acredito que vendemos, juntas, cerca de r$ 20 milhões a r$ 30 milhões. para 2015, imagino que possamos chegar nos r$ 450 milhões”, diz, otimista.

cristina reis, diretora geral da a vida é bela, vê o futuro ainda mais colorido. de forma genérica, ela es-tima que o mercado brasileiro de

experiência como presente cresça cerca de 200% ao ano, até 2012. an-dre susskind, sócio-diretor da viva! experiências, não arrisca uma proje-ção, mas conta que apenas nos três primeiros meses de operação, o que pensava alcançar em termos de fatu-ramento foi, na realidade, dez vezes maior. em 2010, as expectativas de-vem ser novamente superadas. “no início do ano prevíamos vender 20 mil caixas de experiências. mas no fim do primeiro semestre, já tínhamos atingido 50% dessa estimativa. con-siderando que no segundo semestre temos datas muito representativas, como o natal, a estimativa deve ser superada”, conta.

o natal, sem dúvidas, é a melhor data para as vendas dos presentes. mas o dia das mães e dos namo-rados não ficam por menos. em a vida é bela, os kits de spa são os mais procurados, aparecendo como fortes concorrentes também os kits de hotelaria e de aventura. “devido à agitação do nosso cotidiano, todas as experiências que englobam na sua essência as vertentes relaxamento e bem-estar estão sendo super requi-sitadas.”, explica cristina. a procura por esses produtos também pode es-tar relacionada ao perfil do público, afinal, 65% dos clientes da empresa são mulheres.

Já na viva! experiências, uma das linhas que mais sai é a de degustação. nessa categoria, disputam o primeiro lugar o bacalhau e a cerveja, mas os apaixonados por brigadeiros, vinhos e as famosas tapas espanholas não ficam por menos.

q

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Inovação

histórico profissional: “trabalhei numa empresa que buscava premiar seus funcionários com esse tipo de brinde e não conseguíamos parceiros. tudo isso fez com que o empresário fosse pesquisar o assunto. “muitas pessoas já estão no limite de satisfação com os bens materiais que possuem e dese-jam ‘algo mais’”, explica.

desse “algo mais”, que se revela no dia a dia dessas empresas, cristina também entende: “o negócio é trans-mitir emoções, oferecendo sensações únicas, momentos inesquecíveis e realizando sonhos, sempre materia-lizados em presentes.”

e se a “alma do negócio” é a emo-ção, nada melhor que se inspirar em uma bela história de amor, como fez o português antónio quina. encantado com o personagem guido, do filme a vida é bela, que usava a imaginação para que seu filho pequeno não vi-venciasse os terrores de um campo de concentração, deu o mesmo nome do filme à empresa, fundada em

“muitas pessoas já estão no limite da satisfação com os bens materiais que possuem, e desejam

‘algo mais’, diz andre susskind

>As origensé difícil dizer de quem foi a ideia ori-ginal de oferecer experiências. o con-ceito da smartbox, por exemplo, foi difundido pelo francês pierre edouard stérin, depois de conhecer o sistema de vale-presente criado pelos belgas Bru-no spaas e marc verhagen, da empresa turística Weekendesk. stérin adquiriu, então, a licença do conceito criado pela Weekendesk e começou seu próprio negócio na França, em 2003.

nahas conta que testemunhou o boom desse mercado na europa em 2002. “estive na França, vivi quatro anos na austrália, visitei outros países e pude acompanhar muitas empre-sas aproveitando esse tipo de pre-sente para motivar suas equipes ou

fidelizar seus clientes, fora as pessoas que compravam no varejo.” quando voltou ao Brasil, em 2005, lançou o melhor da vida, sendo pioneiro no mercado brasileiro. Hoje, ele enfrenta a concorrência da pioneira da europa, a smartbox, que entrou no Brasil no fi-nal de 2008; da a vida é bela, que teve sua origem em portugal; e da brasi-leira viva! experiências, que também teve inspiração europeia.

susskind,desta última, lembra que foram dois fatos coincidentes que o fizeram apostar no novo negócio. “pri-meiro, um amigo francês comentou sobre essa febre que crescia na França e em outros países da europa. e, à noi-te, vi uma reportagem na tv sobre o tema”, relembra. Havia ainda o próprio

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>administrando experiências

portugal, em 2002, tendo aterrisado no Brasil em 2009.

>Experiência como incentivoum público que descobriu e tem inves-tido nessa nova forma de presentear é o mercado corporativo. no o melhor da vida, esse número chega a 80%. lá, as opções de experiências perso-nalizadas, além das 25 mil opções já formatadas, são o grande chamariz para este público. mas ele ainda criou um produto específico para as empre-sas, o experience marketing. assim, após cinco anos de atuação no Brasil, o melhor da vida deixou de fazer as 50 ligações diárias, como estratégia de venda do início. Hoje, o mercado já reconhece a empresa e, graças às indi-cações, são fechados contratos anuais com clientes corporativos.

ana lúcia regueira, consultora de marketing da Formaplas, fabricante especializada em soluções de móveis planejados de alto padrão, já utilizou a experience marketing. “a ideia foi

sair do lugar comum, criando formas diferentes e inovadoras de reconhe-cimento, premiação e incentivo, não apenas para a equipe comercial, mas também para nossos parceiros, que interferem diretamente nos resulta-dos da empresa”, diz.

o famoso boca a boca também foi decisivo no sucesso da viva! experi-ências, conforme conta susskind. “os presenteados tornam-se comprado-res e, assim, a cadeia de consumidores vai crescendo. em datas comemorati-vas, vendemos dez vezes mais caixas e, quando passam as comemorações, o número de vendas nunca retorna ao que era.”

na viva! experiências, o público corporativo representa 60% do fa-turamento. ela oferece um serviço exclusivo a esse mercado: caixas customizadas, personalizadas com a linguagem da marca da empresa. também disponibiliza um relatório de como os funcionários e parceiros aproveitaram a experiência. “para

O negócio é um só: vender experiências como presentes. Mas a forma de atuação é diversificada. As europeias A vida é bela e Smartbox mantiveram o modelo operacional de suas matrizes, utilizando-se de parceiros locais. A primeira comercializa suas experiências em pontos de venda, que também desempenham o papel de divulgar o produto, enquanto a segunda utiliza também o e-commerce, assim como a Viva! Experiências, que já conta com 16 pontos de venda, devendo chegar a 25 até o final do ano. O Melhor da Vida, por sua vez, atende o varejo, exclusivamente, pelo site. Segundo Nahas, os contratos com os fornecedores proporcionam uma margem de entre 15% e 30% para a empresa. “Essa variação depende muito do lucro da própria prestadora de serviço de cada experiência”, explica o executivo.Enfim, esse nicho de mercado funciona como um agente duplo: para os clientes, ele busca prestadores de serviços de qualidade, que possam oferecer uma experiência verdadeiramente especial; e aos prestadores de serviços, ele faz um trabalho de divulgação, levando novos clientes a conhecer os serviços oferecidos.

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o empresário é importante saber o perfil de seu funcionário ou parceiro, principalmente para medir o grau de satisfação com a própria empresa.”

a tesla, da área de tecnologia, está na lista dos clientes corporativos. Há três meses ela passou a propiciar ex-periências na data de aniversário de seus clientes. “além de ser original e criativa, essa opção não tem risco de erro. estamos tendo ótimo feedback”, afirma a coordenadora de marketing sabrina gonçalves. “é uma forma de mostramos que estamos antenados com as datas comemorativas e que nossos clientes são muito importan-tes para nós. isso valoriza a parceria”, acrescenta.

a vida é bela deu início à comercia-lização ao público corporativo quando o proprietário antónio quina perce-beu que presentes como tvs, laptops etc, já não surtiam mais efeito para incentivar colaboradores. Hoje eles disponibilizam propostas de premia-ção que acrescentam a emoção das experiências na estratégia de marke-ting dos clientes corporativos.

>O prazer nos detalhesse o boca a boca é uma das ferramen-tas mais efetivas neste tipo de negó-cios, a fidelização dos clientes passa a ser ainda mais estratégica. todos os representantes das empresas exigem um rigoroso compromisso de quali-dade e excelência. eles chegam até a provar as experiências. com esses cuidados, a incidência de reclamações é quase zero. “quando temos conhe-cimento de alguma incidência junto ao cliente ou ao parceiro, providen-ciamos de imediato uma alternativa que esteja ao nível das expectativas”, garante cristina.

patrícia manente marinho de mou-ra já conhecia a fórmula de se ganhar experiência como presente, mas foi surpreendida pelo marido ao receber um smartbox cozinhas do mundo. “o cardápio era variado e quando disse-mos que éramos da smartbox, eles se ofereceram para elaborar um prato

especial. degustamos uma entrada de muito bom gosto a base de peixe, um risoto feito com linguiça toscana e alho poró e uma sobremesa deliciosa.”

na a vida é bela o produto é re-presentado por um vale-presente acompanhado de um livro que traz todas as experiências disponíveis. depois, é só o presenteado agendar sua experiência diretamente com o parceiro, que disponibiliza o serviço. Já andre, da viva! experiências, criou caixas para representar o presente. “se as pessoas recebessem em for-ma de papel, perderia metade da

produtos exclusivos tÊm transformado os clientes empresariais em público principal

Inovação

emoção. do ponto de vista estraté-gico e comercial, tinha que ser um produto, um material palpável, ainda mais para exposição nos pontos de venda.” outra diferença é que quem escolhe a experiência a ser vivida é o próprio presenteado e quem faz o agendamento é a viva! experiências. “assim, podemos manter um estreito contato com nossos clientes e parcei-ros”, justifica andre.

caixas ou vales são o de menos, quando se pode viver o presente. todos os sentidos são agraciados e a lembrança que fica é perene.

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jUn/jUL 09 Comércio & Serviços 47

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Negócios Por Luiza sodré

champagne, drinks, petis-cos e manobrista. parece uma festa, mas é o comér-cio atacadista. os mimos são prática comum nos

Jardins e no itaim, onde o atendimento vip é o que atrai compradores de todo o Brasil, como iza da Fonte, que vem do recife e diz ser “tratada como rainha”.

o itaim é o intermediário entre a sofisticação dos Jardins e o comércio atacadista popular e tradicional do Bom retiro e do Brás. lá, há facilidades como manobrista, ar condicionado e

cada vez mais proFissional, e soFisticado, o comércio atacadista se moderniza, contriBuindo para o sucesso dos clientes

dElicadEza no atacado

carregadores. “a gente não perde tem-po; estaciona o carro na porta e nem se preocupa com zona azul. é um luxo que vale a pena”, diz iza.

assim como muitos lojistas do Bra-sil, ela faz suas compras acompanha-da de uma assessora, que fica à sua espera já no aeroporto. essa é outra novidade na evolução do atacado.

a nova profissão já conta até com uma representação, a aramesp, (as-sociação dos representantes e asses-sores de moda do estado de são pau-lo), fundada em 2001. Hoje, reúne 65

representantes comerciais autônomos. “muitas assessoras fazem parcerias com as empresas, que, então, repassam uma comissão a elas”, diz adriana pe-rini, uma das associadas da aramesp.

o trabalho da assessora inclui, por exemplo, dar dicas sobre o que deve ser comprado em maior quantidade, o que vende mais, o que “encalha”, entre outros segredos. mas, se mesmo com o auxílio da assessora, houver algum erro na compra, a cliente do itaim não ficará no prejuízo. isso porque lá a tro-ca vem sendo viabilizada. de acordo

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com a gerente da creare, daniela Wolf, a cliente que compra no itaim está dis-posta a pagar mais, mas também exi-ge mais. “um dos pontos que minhas clientes sempre destacam é a possibili-dade de troca”, justifica daniela.

iza da Fonte confirma. para ela, esse é um modelo a ser ampliado nas lo-jas do Bom retiro: “Fiz uma compra e gastei r$ 2.800. voltei no dia seguinte para trocar algumas peças, mas a loja não trocou”.

o Bom retiro também surpreende com lojas modernas e vitrines bem planejadas – por vezes semelhantes às da rua oscar Freire. as roupas seguem as tendências da moda e, de certa for-ma, poderiam estar, e às vezes estão, nos melhores shoppings.

com relação ao atendimento, tam-bém há comerciantes que esperam os clientes com café da manhã. de fato, o

Bom retiro de hoje não é mais o mes-mo centro atacadista de dez anos atrás, época em que os comerciantes se preocupavam apenas em oferecer preços baixos. ali, a diversidade de co-leção e a qualidade dos produtos são algumas das características principais das lojas. e os produtos chegam a ser 40% mais baratos. “Há cerca de dez anos, iniciou-se um processo de mo-dernização. o objetivo é ir revitalizando todo o entorno. Hoje temos ruas mo-dernas e lojas que oferecem produtos de qualidade e reconhecimento inter-nacional”, comenta marcelo matoso azevedo, presidente da câmara de dirigentes lojistas do Bom retiro.a região reúne 1.200 lojas, que atin-gem um faturamento anual de r$ 2 bilhões – 50 mil empregos são gerados diretamente e outros 30 mil indireta-mente. “o bairro não para de crescer e de se modernizar”, diz matoso, con-tando que 70 mil pessoas circulam diariamente por ali e, no final do ano, o movimento cresce 50%.

>Precauçãoa evolução contrasta com alguma burocracia. uma das mais contro-versas é a restrição a clientes novos. soa absurda, mas acontece: “Há lo-jas que não aceitam clientes que não tenham comprovantes de compras anteriores”, conta a assessora adriana perini. nesses casos, a sua função é mais uma vez valorizada: “consegui-mos fazer com que a lojista compre, pois a loja já nos conhece”.

a empresária vicky orttiz, da con-fecção vicky, confirma: “as assessoras têm um papel fundamental para lojas maiores, que são procuradas por um grande número de clientes. elas nos dão confiança”, diz.

marcelo azevedo explica que cada empresa tem seu critério de venda: “as lojas de atacado, na maioria das vezes, vendem somente com pagamentos

em cheques e consultam o spc. além disso, pedem indicações de outras empresas onde o cliente compra”. em geral, a primeira compra é feita com pagamento à vista.

a Jianny collection, no Bom retiro, pede comprovante de três lojas onde o cliente comprou há menos de um ano para a venda pré-datada. o valor das compras deve ser igual ou superior a r$ 200 e é necessário ter cnpJ. contu-do, as vendedoras ainda garantem que a Jianny é uma das que menos impõe pré-requisitos.

de fato, no Bom retiro, pouquíssimas lojas aceitam pagamento em cheque na primeira compra e poucas o aceitam. “o cartão de crédito nos ajuda nesta ba-talha”, enfatizam as vendedoras da diva couture. a loja só aceita pagamento em cartão ou dinheiro e, ainda, mínimo de 15 peças, pagamento da primeira com-pra à vista e apresentação do cnpJ. na nutrisport, o controle também é rígi-do: a lojista deve apresentar cadastro de lojista, além de cinco informações

comerciais de lojas que comprovem que a cliente irá revender as roupas. se a cliente for aprovada nessa primeira triagem, são permitidas vendas no car-tão. depois de um período, dependendo do valor, poderá parcelar a compra em até quatro vezes.

>Cadastro únicoantigo reduto de judeus, árabes, armê-nios, gregos e italianos, o Bom retiro hoje tem 60% de sua população com-posta por coreanos. com um número cada vez menor de residências, o bairro mescla as indústrias de confecções e tecelagens ao comércio de atacado.

de acordo com a assessora de moda solange rocha, no bairro, as lojas con-sultam o cadastro do cliente para con-ferir se já é “assíduo” da região. se não houver, no mínimo, três contatos de compras anteriores, só é aceita a com-

pra à vista. no Brás, além de consultas ao scpc e serasa, muitas lojas aceitam apenas cartão de crédito.

se, por um lado, as exigências podem desanimar os compradores, por outro, garantem também o sucesso deles: muitos atacadistas fazem o mapea-mento dos compradores para evitar que sejam vendidas as mesmas peças em lojas próximas. “é uma forma de cuidar de toda a cadeia”, defende azevedo.

Marcelo Matoso Azevedo, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro

muitos atacadistas mapeam seus compradores para evitar que sejam vendidas as mesmas peças em lojas próximas

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Capa Por deniLson oLiveira

trocar éo mElhornEgócio

28 Comércio & Serviços fev/mar 2011

redes de permutas entre empresas são opções para quem Busca oportunidades sem mexer no caixa

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empresários modernos po-dem fechar bons negócios sem necessariamente de-sembolsar dinheiro. o es-cambo, também chamado de

permuta, deixou de ser uma transa-ção do passado e ganhou novos con-tornos para atender a uma demanda de empreendedores que passaram a utilizá-lo como uma forma eficiente para atender a necessidades mútuas.

com esse propósito, uma agência de publicidade que precise de um móvel para escritório pode pagá-lo com a produção de uma campanha. o fabricante de móveis para escri-tório, por sua vez, pode adquirir tí-quetes de refeição de um restaurante para os seus funcionários trocando-os por mesas ou cadeiras, e assim por diante. Já na área de prestação de ser-viços, o conserto de equipamentos eletrônicos, como computadores ou máquinas de fotocópias, pode ser trocado pelo serviço de limpeza ou de segurança de empresas espe-cializadas. ou seja, fazer um bom negócio pode ser mais fácil do que se imagina.

e é esse modelo de negócio, batiza-do de permuta B2B, que tem ajudado principalmente pequenos e médios empresários a reduzir o estoque e a utilizar a completa capacidade de pro-dução para viabilizar investimentos sem comprometer o fluxo de caixa. “toda empresa tem capacidade de produção ociosa. com a permuta é possível agregar novos clientes e obter produção e serviços sem impactar o caixa”, diz marco del giudice, geren-te comercial da tradaq, uma rede de permuta, criada há 10 anos.

já existem empresas especializadas em intermediar a troca entre empresários. assim, é possível a realização de permutas multilaterais a partir de pontuação

o principal papel de empresas como a tradaq é intermediar a tro-ca entre os empresários, com a van-tagem de permitir a realização da permuta multilateral, ou seja, duas instituições não precisam, necessa-riamente, trocar produtos e serviços entre si. elas podem acumular bônus e trocá-los por outros itens que su-pram suas necessidades.

para isso, cada serviço ou produto oferecido pelas empresas vale pontos. esses pontos tornam-se uma espécie de moeda virtual, e os empresários podem acumulá-los e trocá-los pela prestação de serviço de qualquer em-presa atendida pela rede. por exem-plo: um hotel que tem baixo índice de ocupação pode “vender” diárias. em troca, recebe créditos em uma moeda alternativa, com a qual pode comprar qualquer produto ou serviço disponibilizado por outras empresas da rede. “quanto maior o número de companhias na rede, maior a liqui-dez”, diz del giudice, que atualmente trabalha com 1.200 empresas, com-cinco mil produtos catalogados, em são paulo e campinas. “em breve, va-mos expandir nossos negócios para o rio de Janeiro”, completa.

outra rede de permuta, um pou-co mais recente, é a clube prorede. Fundada em 2004, ela opera nos estados do rio de Janeiro, minas gerais e santa catarina, com cer-ca de 400 empresas associadas. a rede também ajuda as empresas a escoarem estoques que os canais convencionais não absorvem mais a preço de mercado, oferecendo uma alternativa, complementar ou não, a políticas de desconto. assim como

fev/mar 2011 Comércio & Serviços 29

Page 12: Revista Comércio e Serviços

Capa

na tradaq, a venda é revertida em créditos que ficam armazenados na conta corrente do cliente no sistema. esses créditos podem ser utilizados para comprar inúmeros produtos e serviços disponíveis na rede.

“a modalidade de escambo por meio das redes é crescente. a permu-ta será um meio de pagamento com-plementar ao dinheiro e cada vez mais representativo na economia brasileira e mundial”, argumenta o diretor exe-cutivo da prorede, marcio lerner.

mas não é apenas a simples troca de produtos e serviços que a partici-pação desse tipo de rede gera como vantagem. os associados também passam a ter mais visibilidade diante de eventuais clientes, com os quais podem estabelecer relacionamentos comerciais futuros em dinheiro vivo.

Diretor-técnico do Sebrae-SP,

Carlos Alberto dos Santos.

Segundo ele, a permuta

não deve ser o coração do

negócio

> como funciona1. InscrIção: o empresário se inscreve em uma intermediadora de permutas; é preciso ser pessoa jurídica.

2. Transações: as empresas de intermediação anunciam aos demais associados o novo participante; produtos e serviços que ele deseja permutar ficam disponíveis na rede.

3. crédITos: as transações são feitas mediante aprovação da intermediadora e quitadas com créditos. Cada intermediadora usa uma nomenclatura para seus créditos, mas em geral um crédito equivale a R$ 1.

4. cobrança: As empresas de intermediação de permutas cobram um percentual sobre cada transação. Em média, o empresário paga cerca de 10% cada vez que transacionar um produto ou serviço na rede.

a argentina é o país com mais redes de trocas no mundo, com cerca de 3 milhões de usuários entre produtores e consumidores

30 Comércio & Serviços fev/mar 2011

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“a permuta ajuda a otimizar a parte ociosa do cliente e estimula novos negócios que não aconteceriam de outra forma”, opina nádia nunes, diretora comercial da permute, rede com 600 empresas associadas.

entre as vantagens da adesão a essa modalidade comercial, ná-dia menciona o fato de não existir inadimplência, bem como o fato de a permuta, por si só, ser uma espécie de desconto chamado lucro margi-nal. é uma forma de comprar sem gastar dinheiro, já que as compras são pagas com o próprio serviço da empresa. ela acrescenta um ponto crucial: a preservação do fluxo de caixa, acompanhada da exposição da marca a um número grande de novas empresas. “na permuta, você consegue a venda mais fácil e utiliza o crédito na aquisição de produtos que iria comprar, deixando de gas-tar”, ressalta.

>Eu recomendo!entre os que já participaram des-

se tipo de negociação e aprovaram o negócio está sérgio ambrosino, da rede de móveis global mobilínea. ao

colocar no mercado uma nova linha de cadeiras para escritório, ele não incluiu na planilha de custos os gas-tos com o coquetel de lançamento. para isso, recorreu a uma das empre-sas associadas a uma rede de per-mutas e, assim, não desembolsou nenhum real com a festa. “o dinheiro fica guardado”, conta o empresário.

a academia de ginástica compa-nhia atlética também está entre as empresas clientes da tradaq. de acor-do com o presidente da rede, richard Bilton, a academia enxergou nesse modelo de negócio uma oportunidade de parceria que poderia render ótimos frutos às partes envolvidas. “nossa en-trada na rede propiciou a matrícula de novos clientes, gerando mais volume a ambas as empresas”, frisa.

Já a diretora de marketing do es-paço de eventos vila dos ipês, Flávia abramovay, troca o aluguel do salão, na vila leopoldina, em são paulo, pe-los serviços de uma gráfica. “em algu-mas épocas do ano não temos mui-tos eventos e nós aproveitamos para conquistar novos clientes com essas trocas”, diz ela, que sempre recorre à permuta para adquirir material de

> Mercado de escambo é alternativa para crescer sem envolver dinheiro

No início da civilização não havia moeda e praticava-se o escambo, simples troca de mercadoria por mercadoria, sem equivalência de valor. No Brasil colonial, escambo significava a exploração dos índios, que trocavam objetos de pequeno valor, como espelho, talheres ou escovas, por mão de obra. O principal serviço feito pelos índios era cortar árvores de pau-brasil e carregar os troncos até as caravelas portuguesas.Quando não existia a moeda, era comum a permuta de mercadorias. Um agricultor oferecia parte de sua produção em troca de outros alimentos, por exemplo. Alguns produtos começaram a valer mais que outros, como o sal, que ajudava na conservação dos alimentos, e o gado, que servia para locomoção.Já na modernidade, segundo o economista Cláudio Raza, pós-graduado em Gestão de Pessoas para Negócio, surgiu no Canadá o mercado de permuta de produtos no ano de 1982, a partir das muitas experiências anteriores de trocas. Desde então, a ideia se expandiu em todo o planeta, como ocorreu na Argentina, que é o país com mais redes de troca no mundo, com cerca de três milhões de usuários, sejam produtores ou consumidores. Na Austrália constroem-se até casas com esse sistema. Segundo a International Reciprocal Trade Association (IRTA), entidade sem fins lucrativos que promove a permuta no mundo, só nos Estados Unidos as trocas comerciais movimentam US$ 10 bilhões ao ano.

fev/mar 2011 Comércio & Serviços 31

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escritório. “o crescimento da nossa empresa se deve, em grande parte, a essa prática, porque nós economiza-mos e podemos investir dinheiro em outros setores”, diz.

>Opinião de especialistaso professor de empreendedorismo

do insper, marcos Hashimoto diz que o escambo é indicado principalmen-te para as pequenas empresas que têm pouca capacidade de alavanca-gem financeira. “as pequenas preci-sam sacrificar um pouco a margem de lucro para fazer a troca, mas no fim os ganhos compensam”, afirma o professor. antes de fechar negócio, é importante conferir se há proporção entre o valor dos serviços prestados. “qualquer distorção pode gerar per-das e problemas de relacionamento”, explica.

Já o diretor-técnico do sebrae-sp, carlos alberto dos santos, ressalta que aderir a uma economia não mo-netária é uma “estratégia defensiva que não deve ser o objetivo de nenhu-ma empresa”. a meta, reforça, deve ser a boa gestão financeira.

“sem prejuízos de alternativas pontuais, como a permuta, a estra-tégia não pode ser se afastar da eco-nomia monetária, do dinheiro”, pon-dera. ou seja, as permutas servem para gerir o excedente de produto ou capacidade de produção ociosa, mas não como o coração do negócio.

Capa

> vantagens da permuta

comprar sem desembolsar dinheiro, trocando

o que se tem pelo que é necessário;

reduzir a capacidade ociosa e estoques parados;

multiplicar a força de vendas;

premiar os funcionários sem desembolsar dinheiro;

economizar mais;

comprar com desconto equivalente ao lucro marginal da sua venda;

financiamento fácil;

linha de crédito para comprar o que precisa;

oportunidade de fazer negócios com novas empresas;

recuperar crédito;

pagar credores;

divulgar produtos e serviços para empresas associadas;

maior liquidez nos negócios.

as permutas b2b têm ajudado na

redução de estoques e na viabilização de

investimentos

32 Comércio & Serviços fev/mar 2011

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dez/10 - jan/11 Comércio & Serviços 33ago/Set 2010 Comércio & Serviços 33

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36 Comércio & Serviços oUt/nov 2010

com novos comportamentos, aspirações e integrantes, a nova classe c cHama atenção do mercado e impõe grandes desaFios ao vareJo: entendê-la, agradá-la e atender Àssuas expectativas

Uma qUEstão dE classE

Economia Por deniLson oLiveira

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oUt/nov 2010 Comércio & Serviços 37

a classe c consumirá em 2010 cerca de r$ 428 bilhões em produtos e serviços. a classe a não passará dos r$ 216 bilhões

com uma renda mensal familiar de r$ 4,5 mil, a esteticista cleide lopes, de 58 anos, e suas filhas alessan-

dra, 37, e vanessa, 32, se permitem alguns luxos: tv por assinatura na sala, computador com internet e algumas peças de marca em seus guarda-roupas. “com esse dinheiro, podemos ter um certo conforto”, ga-rante cleide, que recentemente pre-senteou as filhas com celulares mais modernos. “meu próximo passo é me agradar com uma bolsa de grife. se a grana que eu juntar não der, compro outra, mas de luxo”, brinca.

cleide e suas filhas representam bem a nova classe média brasileira. “Hoje, mesmo quem não tem um salário astronômico passou a con-sumir produtos que antes eram ex-clusivos das classes mais altas. são milhões de pessoas entrando num novo patamar do mercado de consu-mo”, garante o consultor econômico miguel adre andrés.

e é por esse motivo que a nova clas-se média passou a ser a menina dos olhos do comércio e da indústria, já que, segundo estimativas, a classe c consumirá em 2010 cerca de r$ 428 bilhões em produtos e serviços (para se ter ideia, a milionária classe a não passará dos r$ 216 bilhões).

empresas dos setores automobi-lístico, imobiliário, de cosméticos e de bebidas já investem para elevar o padrão de seus produtos e atender de forma diferenciada os consumidores

Renato Meielles acha que a classe D vai consumir mais que a classe B

emergentes do país. “quem não in-vestir nesse consumidor vai perder espaço. vejo que há um movimento de alguns setores para levar a essa base da pirâmide diferentes formas de ter acesso a produtos aos quais antes não tinham”, afirma carlos Ferreirinha, presidente da mcF, uma das principais consultorias do setor de luxo do Brasil. “estamos vivendo em um mundo emergente, em que a base de consumidores novos para produtos sofisticados está explodindo em todas as regiões do mundo e, principalmen-te, no Brasil”, diz ele. “se as empresas não olharem de forma criteriosa e es-tratégica para esse público, perderão a

chance de vender para essa base, que fará a diferença nos próximos anos.”

para se aproximar desse consumidor, grandes marcas de perfumes e cosmé-ticos, por exemplo, abriram corners de vendas em lojas de departamento, como a renner, ou em supermercados, como nos hipermercados extra.

o mundo fashion, antes praticamen-te restrito aos mais abastados, também já inclui essa nova classe média. isso porque, percebendo o desejo de ascen-são dos emergentes, grandes redes têm contratado renomados estilistas para assinar coleções exclusivas que ficarão disponíveis a preços populares nas suas araras. alexandre Herchcovitch, rei-naldo lourenço, isabela capeto e amir slama foram alguns nomes difundidos pela c&a. a mais recente parceria da cadeia de lojas foi com o estilista sergio K. para se ter ideia, uma camisa polo da marca masculina não sai por menos de

r$ 200 em sua loja na rua oscar Freire. Já na c&a, o modelo que leva a marca K+ era vendido a r$ 69,90.

“no geral, as parcerias trazem um resultado positivo para os estilistas que embarcam em coleções popu-lares, já que seus nomes ficam mais conhecidos e, por consequência, suas marcas mais valiosas. vale destacar que, embora essas coleções tenham preços mais acessíveis, o valor da mar-ca não diminui. também é uma forma de tanto marcas quanto consumido-res mostrarem que determinados produtos não precisam ficar atrela-dos a somente uma classe social”, diz o consultor miguel adre andrés.

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38 Comércio & Serviços oUt/nov 2010

Unidade das Lojas Renner, onde

grandes marcas de perfumes e cosméticos

abriram corners de vendas

Economia

a Kopenhagen, tradicional marca de chocolates finos do grupo crm lançou uma segunda marca – cacau Brasil – a preços mais populares, para bater de frente com a concorrente ca-cau show, que só na capital paulista possui 131 lojas. Juntas, as marcas

da crm somam 91 lojas na cidade de são paulo (74 da Kopenhagen e 17 da cacau Brasil) e um faturamento em 2009 de r$ 175 milhões, contra r$ 275 milhões da cacau show.

de olho nessa nova fatia de con-sumidores, as companhias aéreas

também estão travando uma dis-puta. a última novidade na briga para abocanhar a classe c é a venda de passagens fora de lojas próprias, aeroportos ou internet. enquanto a tam planeja vender seus bilhetes em quiosques montados na rede de lojas casas Bahia, a azul contra-ataca com a criação em estandes em supermercados.

com o aumento da massa salarial e a migração de muitos cidadãos das classes d e e para a classe c, as via-gens passaram a integrar a cesta de compras dos brasileiros. outra prova disso é que a operadora de viagens cvc estima embarcar 2,5 milhões de pas-sageiros até o final de 2010. uma ele-vação significativa, se considerarmos que, em 2009, 2 milhões de brasileiros viajaram por meio da operadora.

o desejo de ascensão dos emergentes fez com que grandes redes contratassem renomados

estilistas para assinar coleções exclusivas

aLis

son

Lou

bak

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“é uma meta ambiciosa, mas possí-vel. e temos certeza de que grande par-te desses novos turistas virá da classe c. o brasileiro já descobriu o quanto é bom viajar, tanto que, atualmente, ele não espera sobrar dinheiro para viajar, já inclui a viagem em seu orçamento regular”, afirma o diretor-presidente da operadora, valter patriani.

ele conta ainda que, embora mui-tos acreditem que a população de classe c viajaria mais se o prazo de financiamento fosse maior, isso não é verdade. “Já trabalhamos com pa-cotes que poderiam ser pagos em 24 ou 36 meses, mas esses pacotes não foram vendidos, e a explicação é simples: o trabalhador tira férias uma vez por ano e é nessa época em que ele viaja. então, o que ele faz? ele contrata o pacote em dez vezes sem entrada, usa o abono das férias para pagar os gastos que terá na viagem e começa a pagar o pacote no primeiro mês após a sua volta. como são dez parcelas, a última fica para um mês antes do novo período de férias, o que permite que ele viaje novamente.”

ainda com relação a viagens, uma pesquisa realizada pela ponte estraté-gia apontou que destinos mais sofisti-cados fazem parte dos anseios da nova classe média. na lista de destinos da classe c, agora figuram Florianópolis, Fernando de noronha e disney. “eles estão descobrindo que podem ir a lugares que antes só sonhavam”, diz andré torretta, diretor da consultoria.

> O luxo também tem espaçoo mercado de luxo no Brasil deve avançar 23% neste ano e faturar r$ 15,1 bilhões. a expansão esperada é o triplo do que deve crescer o piB do país neste ano 7%, na previsão dos mais otimistas.

o resultado é apontado na pesquisa “o mercado do luxo no Brasil”, realiza-da pelas consultorias mcF e gFK Brasil com 95 empresas, nacionais e interna-cionais, ouvidas entre janeiro e março.

mesmo sob impacto da crise fi-nanceira mundial, essas empresas faturaram, juntas, r$ 12,3 bilhões no

ano passado – o que correspondeu a 12% de incremento sobre o ano de 2008. cada consumidor gastou, em 2009, r$ 2.726 por compra.

"o setor deve ter, em 2010, o me-lhor resultado dos últimos cinco anos", diz carlos Ferreirinha, da mcF.

o crescimento recorde esperado se deve em parte ao fato de o Brasil

entre as cias aéreas, a última novidade na briga pela classe c é a venda de passagens fora de lojas próprias, aeroportos ou internet

ter sofrido de forma menos intensa os reflexos da crise mundial. ele é resultado, ainda, de investimentos feitos há dois anos (por indústria, va-rejo e setor de serviços) e do aumen-to de consumidores nesse segmento, afirma Ferreirinha.

“o brasileiro voltou a comprar, mais consumidores têm acesso a bens

A CVC estima embarcar 2,5

milhões de passageiros até o

final de 2010

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Economia

de luxo, e as grifes estrangeiras estão expandindo seus negócios no país. o Brasil está na mira dos grupos inter-nacionais”, afirma.

gastronomia, hotelaria, spas e re-sorts de alto padrão devem despontar com força neste ano. "quem deve sus-tentar o crescimento do mercado é o setor de serviços, que traduz de forma eficiente o luxo", diz Ferreirinha. as in-dústrias de beleza e automobilística e o segmento de incorporação imobiliária também terão destaque.

o grupo francês de luxo lvmH, dono da louis vuitton, anunciou, no início de julho, a compra de 70% do site brasi-leiro de cosméticos sack's. nos planos do grupo, estão a abertura de lojas, a

partir de 2011, e a eventual fabricação nacional de marcas consagradas da sephora.

Já os shopping centers investem não só na criação de serviços diferencia-dos mirando as classes a e B, como de concierges para acompanhar e fazer serviços para o consumidor mais exi-gente, mas também na expansão para outras regiões.

até 2014, o grupo iguatemi vai abrir cinco shoppings. em março deste ano, inaugurou um estabelecimento no distrito Federal. “as grandes marcas se surpreenderam com os resultados acima do esperado nas vendas em Bra-sília. a cidade tem a renda per capita mais alta do país e havia uma demanda

reprimida por lojas com o perfil das que existem nos shoppings do grupo”, diz cristina Betts, vice-presidente de Finanças do iguatemi.

em salvador, a JHsF, dona do shop-ping cidade Jardim, já anunciou um megaempreendimento com prédios residenciais e comerciais, além do shopping Bela vista.

ainda segundo a pesquisa realizada pela mcF e a gFK Brasil, na avaliação das empresas, excluindo são paulo e rio de Janeiro, as cidades mais promis-soras para a expansão do mercado do luxo são Brasília (53%), porto alegre (7%), curitiba (7%), salvador (6%), reci-fe (4%), Belo Horizonte (4%) e ribeirão preto (3%).

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oUt/nov 2010 Comércio & Serviços 41

essa promessa de bons resultados justifica o crescimento no número de lojas previsto para 2010. de acordo com os executivos entrevistados, o au-mento de unidades será pulverizado entre são paulo (+54%), rio de Janeiro (+39%), Brasília (+39%) e Belo Horizonte (+31%), além de porto alegre, goiânia, curitiba e ribeirão preto, que reforçam suas respectivas posições como nichos providenciais para o mercado do luxo.

> Classe D também mostra as garrasoutra pesquisa, da empresa data po-pular, mostra que o total do consumo da classe d vai ultrapassar o da classe B neste ano. enquanto a classe d deve consumir r$ 381 bilhões, a B deve ser responsável por r$ 330 bilhões. “é a primeira vez que a classe d passa a ser o segundo maior estrato social em termos de consumo”, afirma o só-cio diretor do data popular e respon-sável pelos cálculos, renato meirelles.

de oito categorias de produtos ava-liados pelo instituto de pesquisas, em quatro delas o potencial de consumo da classe d supera o da B para este ano. são elas: alimentação dentro do lar (r$

68,2 bilhões); vestuário e acessórios (r$ 12,7 bilhões); móveis, eletrodomésticos e eletrônicos para o lar (r$ 16,3 bilhões); e remédios (r$ 9,9 bilhões).

em artigos de higiene, cuidados pessoais e limpeza do lar, os poten-ciais de consumo das classes d e B são idênticos (r$ 11 bilhões). os gastos da classe B são maiores que os da d em itens diferenciados: a alimentação fora do lar; lazer, cultura e viagens e despesas com veículo próprio.

de acordo com o estudo, uma das razões para a expansão do consumo da classe d é o aumento do número de famílias no grupo, com cerca de 800 mil novas a cada ano. para o data po-pular, a classe d deve comprar neste ano 39% dos computadores vendidos e 40% das geladeiras, além de contri-buir com 25% das matrículas de novos alunos em escolas particulares.

a dança das cadeiras das classes sociais no ranking do potencial de consumo reflete, segundo meirelles, as condições favoráveis da macroecono-mia para as camadas de menor renda, isto é, o aumento do salário mínimo, benefícios sociais, como o Bolsa Famí-lia, e a geração de empregos formais.

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Economia Por Marcus LoPes

não é rEal, mas valE

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nada de dólar, euro ou mes-mo real. no Jardim maria sampaio, na zona sul de são paulo, a moeda forte é o sampaio. no outro ex-

tremo da capital paulista, no Jardim Filhos da terra, zona norte, o comér-cio gosta de receber em apuanãs. Já no conjunto residencial palmeira, em Fortaleza (ce), é difícil encontrar quem não tenha uns palmas na carteira para fazer as compras.

sampaio, apuanã e palma são três das 51 moedas paralelas ao real que cir-culam oficialmente no Brasil. criadas por bancos comunitários instalados em comunidades carentes, o objeti-vo das moedas sociais é estimular e desenvolver a economia local, em es-pecial o comércio. com apoio da secre-taria nacional de economia solidária (senaes), vinculada ao ministério do

trabalho e emprego, os bancos confec-cionam as cédulas apenas em gráficas autorizadas pelo instituto palmas, de Fortaleza, que coordena a rede de ban-cos comunitários espalhados pelo ter-ritório nacional. os valores dos bilhetes variam entre 0,50 e 10.

todas as notas em circulação são numeradas, atreladas ao real e, a exem-plo das notas de reais, possuem com-ponentes de segurança, como marca d’água, fios de segurança e código de barras, para evitar falsificações.

o Banco central, que por meio da se-naes acompanha o trabalho dos bancos comunitários, estuda a possibilidade de imprimir as moedas sociais na casa da

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criadas com o oBJetivo de estimular e desenvolver a economia local de comunidades carentes, as moedas paralelas ao real mostram o poder de consumo das classes sociais menos Favorecidas e movimentam o comércio local

circulam oficialmente no brasil 51 moedas paralelas ao real, que estimulam e desenvolvem a economia local

moeda, o que aumentaria a qualidade e a segurança do material circulante. “a impressão das cédulas no Banco central seria um avanço gigantesco para todos nós”, afirma Joaquim melo neto, coordenador-geral do instituto palmas, uma espécie de Banco central na logística de operação adotada pelas entidades comunitárias. melo neto ex-plica que há um código de conduta das instituições e um encontro anual, que reúne todos os bancos comunitários associados à rede.

segundo ele, o mecanismo de fun-cionamento é muito simples. para con-seguir as moedas sociais, a pessoa vai até o banco comunitário do bairro e troca seus reais pela moeda social que circula na região. a cotação é sempre de um para um (um palma ou apuanã equivale a um real).

o lastro da moeda é feito pela

própria instituição, que é mantida e gerida pela comunidade, por meio de uma associação de moradores. o lastreamento é garantido pelos reais trazidos pelos “clientes” ou convênios com prefeituras, instituições governa-mentais e empresas, como a petrobras. o dinheiro em reais é depositado nas instituições oficiais, como o Banco do Brasil, que também oferece parceria e apoio logístico às comunidades.

os comerciantes são outros parcei-ros importantes para o sucesso das moedas paralelas. além de aceitá-las como meio de pagamento, o comércio local concede descontos (no mínimo 5% sobre o preço total), o que as torna

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Economia

o primeiro banco comunitário do país, localizado no conjunto palmeira, na periferia de Fortaleza. na época, o bairro tinha cerca de 25 mil habitan-tes, dos quais 90% ganhavam até um salário mínimo.

o Banco palmas começou com r$ 2 mil doados por uma organização não-governamental (ong) do ceará. Hoje, segundo levantamento do ins-tituto, cerca de r$ 5 milhões já foram emprestados pelas 51 instituições a ju-ros subsidiados ou mesmo zero, bene-ficiando milhares de famílias carentes.

“é uma metodologia simples, barata e de controle social local, com um efeito imediato no combate à pobreza com desenvolvimento”, diz melo. segundo ele, o índice de inadimplência também é muito baixo: cerca de 2,5% do total de empréstimos, em média.

a ideia deu tão certo que em mui-tos locais surgiram outros “produtos”, como cartão de crédito e até crédito habitacional.

é o caso do Banco Bem, de vitória (es), que fornece linhas de crédito para a construção da casa própria a 0,75% de juros ao mês, mais barato do que um banco convencional. criada em 2005, a

instituição – que possui convênios com a prefeitura de vitória e petrobras – já emprestou mais de r$ 575 mil, bene-ficiando 590 famílias de oito comuni-dades da região. desse total, r$ 292,9 mil são créditos habitacionais, grande parte para a construção e reforma das casas. o número de parcelas para quitar a dívida é definido conforme a disponi-bilidade financeira da pessoa, em um prazo máximo de 24 meses e com limite de crédito de r$ 5 mil.

atualmente, o Banco Bem atende uma população de cerca de 30 mil pessoas. segundo a psicóloga leonora mol, coordenadora da ong ateliê de ideias, que engloba o Banco Bem, mui-tas pessoas recebem parte dos seus rendimentos, como o Bolsa Família, na moeda local, o bem.

“o bem vale mais do que o real, pois os comerciantes dão descontos na compra”, justifica leonora. ela lembra que o papel do banco vai muito além do econômico. “ele fomenta a organi-zação da sociedade, permitindo que as pessoas se tornem peças importantes nas decisões comunitárias”, explica.

se nos bancos tradicionais a inadim-plência é um problema sério, nos

Em Maracanaú, no Ceará, a

moeda circulante é o maracanã

– moeda oficial do Banco

Comunitário do Distrito de

Pajuçara, o Paju

além de aceitar as moedas paralelas, os comerciantes locais

concedem descontos, fidelizando sua

clientela

valiosas e disputadas pelos moradores. assim, mais que colaborar para o siste-ma, os pequenos varejistas fidelizam sua clientela e valorizam a região onde estão instalados.

a qualquer momento o dinheiro pode ser trocado por reais e vice-versa, seja nos bancos comunitários ou mes-mo no comércio, já que o dinheiro pa-ralelo tornou-se corriqueiro e muitas vezes as pessoas nem carregam reais na carteira quando estão no bairro.

“o grande objetivo é estimular a produção e o consumo local”, explica melo, que em 1997 fundou o palmas,

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oUt/ nov 2010 Comércio & Serviços 31

comunitários, que não visam o lucro, a questão é tratada de outra maneira. “como o banco é gerido pela própria comunidade, primeiro vamos até a pessoa para ver o que está acontecen-do e o que a levou a não pagar a dívida, antes de cobrar”, explica leonora.

no bairro granja portugal, em For-taleza (ce), um dos grandes objetivos do Banco riosol é fortalecer o pequeno comerciante. “visamos proporcionar

Em Vitória, o Banco Bem atende cerca de 30 mil pessoas, oferecendo créditos e oportunidades

o palmas, primeiro banco comunitário do país, começou com r$ 2 mil doados. hoje, mais de r$ 5 milhões já foram emprestados

comunitários, que não visam o lucro, a questão é tratada de outra maneira. “como o banco é gerido pela própria comunidade, primeiro vamos até a pessoa para ver o que está acontecen-do e o que a levou a não pagar a dívida, antes de cobrar”, explica leonora.

no bairro granja portugal, em For-taleza (ce), um dos grandes objetivos do Banco riosol é fortalecer o pequeno comerciante. “visamos proporcionar

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32 Comércio & Serviços oUt/ nov 2010

condições financeiras, através do cré-dito produtivo, para que os pequenos comerciantes aqui da área possam crescer. quando eles crescem, o comér-cio se fortalece”, explica o gerente do riosol – que opera com a moeda rios – cristiano alves.

ainda no ceará, a população de maracanaú faz suas compras em maracanãs, a moeda oficial do Banco comunitário do distrito de pajuçara, o paju. além dos maracanãs, que fazem sucesso entre os 50 mil habitantes de pajuçara, o banco também auxilia pe-quenos empreendedores a alavancar o seu negócio. “Já temos mais de 330 empreendedores beneficiados, entre pequenos comerciantes, sacoleiros, serviços etc. muitos deles não teriam condições de conseguir empréstimos em um banco comum”, explica o co-ordenador do banco paju, Francisco eudásio alves da silva.

segundo ele, mais de r$ 500 mil já foram emprestados desde 2006, lastre-ados por convênios com a prefeitura de maracanaú e o governo do estado, além de instituições privadas e, claro, dos pró-prios clientes que, quando recebem o seu salário correm ao banco para trocar pelas cédulas verdinhas com a imagem do maracanã, que, não é apenas o fa-moso estádio de futebol. maracanã é uma ave da família dos papagaios que vive na região norte do Brasil,cujo nome em tupi-guarani significa’’ave solene’’, por causa da sua rara beleza.

Economia

produtos como cartão de crédito

e até crédito imobiliário

já foram criados em algumas instituições

>coLeÇÕes

As moedas sociais já despertam a atenção dos numismatas, os colecionadores de cédulas e moedas de todo o País. “Todo e qualquer papel que represente valor interessa aos colecionadores e, a bem da verdade, não está fácil conseguir exemplares dessas moedas paralelas. As cédulas são muito interessantes e, assim como o dinheiro de todos os países, nos transmitem um pouco da cultura do local onde está circulando”, explica o delegado Manoel Camassa, que coleciona e comercializa moedas e cédulas antigas.Camassa lembra que a circulação de dinheiro paralelo ao oficial não é novidade no Brasil. “Até os anos 40 do século passado o comércio utilizava cédulas particulares para dar de troco, o que tinha a vantagem adicional de conseguir o retorno do cliente para resgatar o valor numa nova aquisição. Era muito comum também os fazendeiros pagarem os empregados com dinheiro particular, praticamente obrigando-os a fazerem suas compras e a gastarem seus salários – a preços bem mais altos, diga-se de passagem – no próprio local de trabalho”, acrescenta.Delegado especializado em casos envolvendo dinheiro falso da Polícia Civil de São Paulo, Camassa alerta e dá dicas aos bancos comunitários. “Para evitar falsificações, a cédula distribuída pelos bancos comunitários tem que ser impressa em papel de segurança (tipo papel moeda) e, se possível, estar presente a marca d’água (aquela imagem que se vê colocando a cédula contra a luz), sendo que um código de barras também é muito interessante, além do que é imprescindível a numeração da série e da cédula”, diz o delegado. “Como as cédulas circulam em pequenos municípios, não atendidos pela rede bancária, e são utilizadas para pagamentos no mercado local, não se tem ainda notícias de falsificações”, completa.

Algumas cédulas de moedas paralelas circulantes no País

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