revista brasil feito a mão - 9ª edição

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Revista Brasil Feito a Mão - 9ª Edição Instituto Centro Cape

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CENTRO CAPE MINAS GERAIS

Rua Grão Mogol, 662 - Sion

CEP 30310-010 - Belo Horizonte - MG

Tel. 55 31 3282 8313 Fax 55 31 3282 8301

CENTRO CAPE DISTRITO FEDERAL

SCN, Quadra 5, Bloco A, sala 212

Ed. Brasília Shopping

CEP 70710-500 - Brasília - DF

Tel. 55 61 328 0621 Fax 55 61 328 5802

www.centrocape.com.br

[email protected]

55 31 3281 6820

Edição e projeto editorial / Ediction and editorial projectInstituto Centro Cape e Central Mãos de Minas

Editor / EditorDaniel Barcelos

Colaboradores / ColaboratorsGustavo Abreu ReisJader RezendeJanaína de OliveiraThiago BernardoJamile HallackPriscila Avelar

Fotografia / PhotographyJoão Marcos RosaMarcus DesimoniDivulgação ICCAPEDivulgação Diomar Dantas / Raimundo Lima

Revisão / RevisionJoão José Pinheiro Pinto

Tradução de textos / TranslationLuiz Augusto Ferreira Araújo / Supernova SCI

Diagramação e arte / Diagramming and graphic artsRubem Filho

Gráfica / Printing companyDifusora Editora Gráfica

Tiragem / Drawing5.000 exemplares

Distribuição gratuita / Costless Distribution

Editorial / Editorial 2

Artigo / Article 3

O mapa da arte / The map of art 5

Artesanato: matéria prima / Handicraft: raw material 17

Projetos / Projects 22

Mercado externo / Foreign market 23

Entrevista / Interview 27

Eu faço / I make 32

Feiras e eventos / Fairs and events 38

Onde encontrar / Where to find 40

Fotos da capa: João Marcos Rosa

Page 4: Revista Brasil Feito a Mão - 9ª Edição

Uma vez perguntei a um artesão, que fazia enta-lhes em madeira, como é que ele conseguia a sua matéria prima.

Ele então respondeu: “Só uso árvores mortas, que estão caídasno chão... Tem um fazendeiro que me deixa entrar nos seus campose pegar estas árvores”.

“Ahhh... que bom!”, respondi aliviada.Passado um tempo, conversando com outro artesão, ele me

afirmou que aquele primeiro só usava árvore morta, sim, mas que,quando ia buscar uma que estava caída, dava um jeito de “matar”uma árvore que estava sã. Assim, daí a seis meses, quando precisassenovamente de madeira, aquela arvore já estaria no chão. Erecomeçava o ciclo...

Fiquei muito assustada com a história, pois multipliquei ovolume de madeira que aquele artesão usava por outras centenasde artesãos que precisam da madeira e poderiam utilizar o mesmoexpediente. Cheguei a números enormes.

Começamos, então, a fazer uma campanha para que os artesãosusassem somente madeira certificada ou de reflorestamento. Nãoconseguimos, ainda, convencer 100% deles. Mas, acredito que jáconscientizamos uns 30% a 40%, que já sabem da importânciado uso de madeira legalizada.

Agora, contamos com a ajuda da SOS Mata Atlântica, doIBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis) e da Prefeitura de Belo Horizonte, que irãoceder madeiras apreendidas e de poda de árvores urbanas paraque possamos atingir o dobro de artesãos. Estes passarão a fixar ocarbono – que estas árvores aprisionaram durante o seu crescimento– em lindíssimas peças artesanais, evitando quesua queima, como lenha para pizzarias erestaurantes, libere o CO

2 na atmosfera e con-

tribua com o aumento do aquecimento global.O reaproveitamento de madeira da cons-

trução civil ou demolição de casas também temsido uma grande fonte do artesão, que a trans-forma em mesas, armários, cadeiras e bancos.

É o artesanato consciente de seu papelenquanto defensor de nosso meio ambiente.

I once asked and artisan, a wood carver, about howhe managed to obtain his raw material.

He answered: “I only use dead trees, after they’ve fallen to theground… There’s a farmer who lets me go into his property andgather them.”

“Ohhh… good!”, I replied in relief.After a while, while talking to another artisan, he asserted it

was a fact that said artisan did only use dead trees, but wheneverhe set out to gather a dead, fallen tree, he managed to “kill” anotherhealthy tree. So, after about six months, when he needed lumberagain, that tree would already have fallen to the ground. Andthis cycle would continue…

I was very frightened by this story, because I couldn’t help tomultiply the amount of wood used by that artisan by hundreds ofother artisans who also needed lumber and could do the same.The results were staggering.

We then started a campaign encouraging artisans to onlyuse certified or reforestation lumber. We still haven’t managed toconvince them all. But I believe we’ve raised awareness for about30% to 40%, who now know about the importance of usinglegalized lumber.

Now we’re also being supported by SOS Mata Atlântica(Brazilian environmental NGO), IBAMA (Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, BrazilianInstitute of Environment and Renewable Natural Resources) andthe Belo Horizonte City Hall, which will donate apprehendedlumber, trimmed and cut down urban trees in order to help us

reach twice as many artisans. Thus, said trees’accumulated carbon will be fixed on beautifulhandicraft pieces, avoiding their use inburning processes, such as in restaurant ovens,and the release of CO

2 into the atmosphere,

which would contribute to global warming.Recycled lumber from construction or de-

molition sites has also been another importantlumber source for artisans, who can transformthem into tables, wardrobes, chairs and ben-ches. This is how the handicraft communitytakes charge of its environmental protectionrole.

Editorial

TÂNIA MACHADO

Presidente do Instituto Centro Cape / President of Instituto Centro Cape

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artigo / article 3BRAZIL MADE BY HAND

No ano passado, o Ibama(Instituto Brasileiro do Meio Ambientee dos Recursos Naturais Renováveis)apreendeu 184.743 metros cúbicos demadeira ilegal serrada e em tora, o su-ficiente para encher 9.238 caminhões.A apreensão em áreas desmatadas, ser-rarias e estradas é um golpe no bolso doinfrator, que perde a principal fonte decapitalização. Mas, não restitui o dano:milhares de árvores tombaram, a grandemaioria na Amazônia.

O cerco à destruição da floresta éprioridade no Ibama, tanto que a últimataxa de desmatamento teve queda recorde em 20 anos demonitoramento e permaneceu em 7.008 km2. Ainda queinadmissível, o índice representou uma redução de 45%em relação ao período anterior.

A mão da fiscalização é pesada. Mas, aliado ao processode combate a ilícitos ambientais, o Ibama tem ajudado atrazer benefícios sociais à população, destinando a madeiraapreendida a programas e projetos de órgãos públicos,prefeituras, governos e entidades de parceria.

Órgãos públicos conseguem instalações melhores.Hospitais ganham camas novas. Cidades recebem paradasde ônibus e praças públicas, brinquedos. Há casos até dedependentes químicos em tratamento construírem lixeiraspúblicas. Tudo com a madeira apreendida e destinada deforma clara e transparente.

O uso nobre do produto do crime pode se estender amãos artesãs e servir de instrumento de cidadania. Souentusiasta da idéia de parcela da madeira apreendida sertransformada em caixinhas, máscaras, brinquedos, u-tensílios domésticos, artesanato, biojóias e objetos de

Instrumento de

CIDADANIAAn instrument for citizenship

Last year, Ibama (InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis, Brazilian Institute ofEnvironment and Renewable NaturalResources) apprehended 184,743 cubicmeters of illegal lumber, combiningboth logs and sawn wood, enough to fill9,238 trucks. Apprehensions in de-forested areas, lumber mills and roadsare a hard blow to the transgressors’pockets, blocking their main capi-talization source. However, the damageis done: thousands of trees have fallen,the majority in the Amazon Rainforest.

Stopping the rainforest’s destruction is Ibama’spriority, being that the latest deforestation rate presentedthe record reduction in 20 years of monitoring, resultingin 7,008 km2. Although still inadmissible, this indexrepresented a 45% reduction compared to the precedingperiod.

Inspections have been conducted with an iron fist.Moreover, in addition to fighting environmental ille-galities, Ibama has brought social benefits to the populationby supplying apprehended lumber to social projects andprograms in public organizations, municipalities, go-vernments and partner entities.

This enables public organizations to improve theirfacilities. Hospitals are supplied with new beds. Citiesare equipped with bus stops, public squares and childrenparks. There are even examples of chemically dependantpatients building public trash cans. All made possiblethrough the clear and transparent handling of apprehendedlumber.

Thus, crime products may serve noble purposes in

ROBERTO MESSIAS FRANCO

Presidente do Ibama / President of Ibama

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4 artigo / article

decoração. Fonte de renda e, ao mesmo tempo, um meiode expressão de cultura.

E por que não usar essa matéria-prima para fabricaçãode móveis? Uma aplicação possível é agregar o reapro-veitamento de madeira ao programa Minha Casa, MinhaVida, financiador da construção de um milhão de novascasas e apartamentos para população com renda familiarde até dez salários mínimos. Essas pessoas precisarão demóveis para mobiliar a nova moradia.

A madeira apreendida também tem sido matéria-prima em oficinas de presídios. O criminoso aprende umofício, fabricando móveis, fazendo artesanato e, em con-trapartida, ganha redução da pena. A cada dois dias naoficina, um dia a menos na cadeia. O trabalho eleva a au-to-estima e profissionaliza o presidiário, preparando ocaminho de volta ao convívio em sociedade.

Brasil afora, árvore cortada ilegalmente tem sidoaproveitada como matéria-prima de peças utilitárias eobjetos de arte.

the artisans’ hands, serving as instruments for citizenship.I’m an enthusiast towards the idea of transforming partof the apprehended lumber into boxes, masks, toys, houseutensils, handicraft, bio jewelry and decoration objects.They represent income sources and are also a means ofcultural expression.

And why not use this raw material in furnituremanufacturing? One possibility is to include lumber re-distribution into the Programa Minha Casa, Minha Vida (MyHouse, My Life Program - federal housing program),which is financing the construction of one million newhouses and apartments for families with incomes belowten minimum wages. These families will need furniturefor their new houses.

Apprehended lumber has also served as raw materialin penitentiary workshops. This enables offenders to learna trade by manufacturing furniture and working withhandicraft; in return, their sentences are reduced. Twodays in the workshop result in one less day in prison. Thework professionalizes the inmates and elevates their self-esteem, paving the way for their return to society.

All throughout Brazil, illegally cut trees are beingused as raw material for practical products and art objects.

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O Homem das Velhas

Escultor de Juazeiro do Norte extrapola os personagens e retrata situações do cotidiano das nordestinas

POR / BY Gustavo Abreu FOTOS / PHOTOS Divulgação

A sculptor from Juazeiro do Norte, Ceará State, Brazil, who extrapolates characters and picturesday-to-day situations in the lives of nordestinas (women from northeastern Brazil)

omapa da arte / tthe map of art 5BRASIL FEITO A MÃO

Beatas, rendeiras, rezadeiras, mulherescom menino nos braços, zangadas, alegres: “Eu procurorepresentar as velhas nordestinas de todas as maneiras”,conta o escultor Diomar Freitas Dantas, ou Diomar DasVelhas. “Esse apelido, (os clientes) me colocaram por causadas velhas que eu faço de madeira”. Ele é conhecido noBrasil, em alguns países da Europa e nos Estados Unidospela habilidade de transformar uma arvorezinhadifícil e esgalhada – a imburana – em gruposde senhoras nordestinas. E é neste ponto quemora a peculiaridade das esculturas desseartesão de 37 anos de idade e muito bom deprosa.

Das Velhas nasceu em Acopiara e semudou para Juazeiro do Norte, no sul doCeará, região do Cariri. Quis o destino queele fosse morar vizinho ao mestre Nino, umhomem de poucas palavras que esculpia animaisem madeira. “Seu Nino era uma pessoa tran-quila e eu pedi pra ele me emprestar as ferra-mentas, que eu queria fazer esculturas também;mas ele falou que, se eu quisesse fazer, era pracomprar as ferramentas e a madeira. Na reali-dade, eu comecei fazendo pássaros. Ele diziapara fazer bichos, pois era o que o pessoal gos-tava: os americanos gostavam de elefante, ma-caco e passarinho”, começa Diomar.

Do Cariri para o Mundo

Antes de seguir é bom frisar: Juazeirodo Norte é muito conhecida pelo artesanatoem madeira faz tempo, principalmente na

The artisan of elderly women

Devout women, embroiders, worshipers,women with children on their arms, angry and happywomen: “I try to represent elderly nordestinas in all si-tuations”, says Diomar Freitas Dantas, or Diomar “DasVelhas” (“of Old Ladies”, in a free translation). “They(the customers) gave me this nickname because of theelderly women I carve out of wood.” He is known through-

out Brazil, in a few European countries and in theUnited States for his ability to transform a dif-ficult and lopped off tree, the imburana, intogroups of elderly nordestinas. This ability is e-xactly what makes this 37 year old and veryfriendly artisan’s sculptures so peculiar.

Das Velhas was born in Acopiara and movedto Juazeiro do Norte, southern Ceará State, inthe Cariri region. Plain fate caused him to livenext door to Mestre Nino, a man of few wordswho sculpted animals on wood. “Mr. Nino wasa peaceful person, one day I asked him to lendme his tools because I also wanted to sculpt,but he said that if I wanted to sculpt I shouldbuy the tools and the wood. I actually startedoff making birds. He told me to make animals,because that’s what people liked: the Americansliked elephants, monkeys and birds”, says Diomar.

From Cariri to the World

Before moving on, it’s important to pointout that: Juazeiro do Norte has been very

popular for its handicraft for quite a while,mainly in Europe. In the 60’s, Mestre No-

za’s exposition of the Via Sacra in xylograph

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6 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO

Europa. Na década de 60, uma exposição da Via Sacra emmatrizes de xilogravuras do mestre Noza fez muito sucessoem Paris e chamou atenção para o trabalho feito na regiãodo Cariri cearense. No começo, Noza resolveu esculpiruma imagem de uma das figuras mais conhecidas donordeste e mostrou o trabalho para o próprio home-nageado: Padre Cícero, que achou graça da representação;e mestre Noza passou a atender milhares de encomendas.As obras mais famosas dele são a Via Sacra (uma coleçãode 15 gravuras), os Doze Apóstolos (13 pranchas) e A Vidade Lampião (22 pranchas), que renderam fama in-ternacional para o artesanato da região. O mestre semprefoi considerado o grande artista popular do Cariri e foicom o nome dele que batizaram a sede da Associação doArtesão de Padre Cícero: Centro de Cultura Popular Mes-tre Noza.

Estilo Das Velhas

E Diomar Freitas continua a própria história: “Aí, eufui fazendo (os pássaros), muitos, mas fui procurar a minhaárea. Comecei a fazer várias mulherzinhas separadas e opessoal foi gostando. De repente, pensei: vou fazer elasjuntas; vamos ver se eles vão gostar...” Foi tiro certeiro:um ano depois de começar o aprendizado com mestreNino, Diomar passou a apostar num tema diferente eencontrou o caminho do próprio trabalho. Ele diz que asvelhas gostam de andar juntas e passou a esculpi-las emgrupos: beatas em roda, rendeiras ou um grupo de reza.“Aí, os clientes foram gostando e começaram a me chamarde o Homem das Velhas”, assina. Seu Nino morreu nofinal da década de 90 e direcionou Diomar na lida com oserrote, machadinha, formão e goiva: “Ele não dava aula,não; resumia as palavras dele a poucas e respondia comcalma”, explica o artista.

Cor, tratamento, humor

A madeira do artesanato na região do Cariri é aimburana (Amburana cearensis), também chamada de am-burana ou cerejeira. É típica da vegetação caatinga, detronco fino, comprido e cheio de ramas; cresce até os 4metros de altura, mas é difícil encontrar espécimes muitograndes. São os próprios fazendeiros do Cariri que for-necem a madeira para o artesanato em Juazeiro.

matrixes was very successful in Paris and brought attentionto handicraft works from the Cariri region. Early in hiscareer, Noza decided to sculpt a statue depicting one ofthe most popular personalities in northeastern Brazil; hethen showed his work to the man himself: Padre Cícero(an important and loved priest from northeastern Brazil)enjoyed his depiction and Mestre Noza started to getthousands of orders. His most famous pieces are the ViaSacra (a collection of 15 engravings), the Twelve Apostles(13 slabs) and The life of Lampião (22 slabs), which madethe regional handicraft internationally famous. MestreNoza was always considered a great popular artist inCariri, and the headquarters of the Associação do Artesão dePadre Cícero (Padre Cícero Artisan Association) werenamed after him: Centro de Cultura Popular Mestre Noza(Mestre Noza Popular Culture Center).

“Das Velhas” style

Diomar Freitas follows up on his own life story: “ThenI kept making them (birds), many of them, but I waslooking for my own style. I started to make women, andpeople liked them. Suddenly, I thought: I’m making themtogether; let’s see if they’ll like it…” His idea hit thebullseye: a year after starting to learn from Mestre Nino,Diomar dedicated himself to a different theme and foundhis own path. He says that the elderly women like to betogether, so he started sculpting them in groups: devoutones in a circle, embroiders or worshipping groups. “That’swhen the customers really started to like them and startedcalling me Das Velhas”, says Diomar. Mestre Nino died inthe end of the 90’s, after teaching Diomar how to handlethe saw, the hatchet, the chisel and the gouge. “He nevertaught classes; he always summarized what he had to sayinto a few words, very calmly”, explains the artist.

Color, handling, humor

The wood used in the Cariri regional handicraft is theimbuana (Amburana cearensis), also called amburana orcherry tree. It’s a typical tree in the caatinga vegetation,having a thin, long trunk and many branches; it can reachup to 4 meters in height, but finding large specimens isn’tcommon. The local farmers themselves supply wood forthe artisans in Juazeiro. While preparing their fields, they

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o mapa da arte / the map of art 7BRAZIL MADE BY HAND

Durante o preparo da roça, eles catam os troncos jásecos ou restos de raízes para vender na cidade. “Dá traba-lho encontrar uma imburana reta de 2 metros; quandoela tem 70, 80 centímetros, já começa a encher de ramas.E ela só serve para o trabalho depois de morta: a imburanaverde não funciona para esculpir. Outro tipo de madeiraa gente não trabalha. Se for uma encomenda, trabalhogrande, a gente usa o cedro, mas tem de ter certi-ficado e autorização do Ibama (Instituto Brasi-leiro do Meio Ambiente), pois é uma madeiraem extinção”, explica Diomar Das Velhas.

A princípio, Diomar pintava as escul-turas com tinta a óleo, mas o excesso debrilho fez o artesão mudar para a látex.“Eu gosto muito do colorido, mas quandoé pra deixar na cor da madeira é só pas-sar uma cera pra dar um pouco de bri-lho na peça. Não precisa tratamento, aimburana dura muito e dá pra tra-balhar em qualquer lugar”, detalha.“Na realidade, eu sou meio maluco,faço escultura em todo canto; se euestou no Centro de Cultura, es-tou trabalhando; venho pra casa,trago pra fazer; quando estouaborrecido de fazer em casa tam-bém, me sento embaixo de um pé-de-árvore na praça e começo a fa-zer também. Os colegas da cida-de até brincam: lá vem o Das Ve-lhas, doido, fazer bagunça aí...”, con-ta o escultor.

De uns tempos pra cá, “quando agente já está com a continha meio gor-da, porque dá muito trabalho...”, o DasVelhas começou a fazer peças eróticas: “elassão mais de sacanagem, mesmo”, tripudiaDiomar, “às vezes, eu coloco na frente da minhacasa; ou quando eu vou pra feira, no meio demuitas pessoas, eu faço só pra sacanear. Faço três,quatro personagens juntos, em posições bem eróticasmesmo; eu gosto de fazer esculturas que eu nunca fizantes. Dá muito trabalho”, desafia a si mesmo. E pontuacom o vigor de quem ainda tem muito a fazer.

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8 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO

Legado

Diomar de Freitas Dantas, o Das Velhas, já lapidaquatro aprendizes e dá oficinas de restauração de peças noPonto de Cultura Mestre Noza. E surpreende quando falada própria arte para os meninos que “adquire aqui ou ali”:“Já tem um que quer cobrar a escultura mais caro que eu,que fala que não é lixador não, que é artista! Eu falo praele que dinheiro acaba, mas a arte não. É assim que eupenso: um elogio, aquele tanto de gente olhando o trabalhoda gente... eu engrandeço demais!”, ensina o mestre.

Serviço e mais informações:Centro de Cultura Popular Mestre Noza

Rua São Luiz, s/nº (Antigo Quartel), CentroJuazeiro do Norte (CE): 55 88 3511 3133

gather dry stems or root remains in order to sell them intown. “It’s hard to find straight, 2 meter imburanas; at 70to 80 centimeters they start growing several branches.And they can only be worked on after they’re dry: greenimburanas are no good for sculpting. And we don’t workwith other types of wood. When it’s a large order weeven use cedar, but always certified and authorized byIbama (Brazilian Institute of Environment and RenewableNatural Resources), because it’s an endangered species”,explains Diomar Das Velhas.

At first, Diomar painted the sculptures with oil paint,but the excess glow made him change to latex paint. “Ilike colors, but when I want to keep the wood’s own color,I only need to apply some wax in order to put some glowon the piece. There’s no need to treat the wood, becausethe imburana lasts very long and can be handled anywhere”,says the artisan. “Actually, I’m a little crazy, I sculpt prettymuch anywhere; if I’m at the Culture Center, I’m wor-king; then I come home and bring something with me;when I’m bored of working at home, I just sit under atree at the town square and start working there. Hiscolleagues are humorous about him: here comes DasVelhas, crazy guy, there’s going to be a mess...”, says thesculptor.

Lately, “since our account has been gaining some

weight, because we’ve worked so much…”, Das Velhasstarted making erotic pieces: “they’re really only meantto mess with people”, jokes Diomar, “sometimes I putthem in front of my house; or when I’m at a fair, I putthem among several people, it’s for the fun of it. I’ve ma-de three, four characters together, in indeed very eroticpositions; I like to sculpt things I’ve never sculpted before.It’s a lot of work”, says Diomar, challenging himself anddemonstrating the vitality of someone who still has muchto accomplish.

Legacy

Diomar de Freitas Dantas, known as Das Velhas, isalready teaching four apprentices, other than ministeringrestoration workshops at the Ponto de Cultura Mestre Noza(Mestre Noza Cultural Place). He makes a surprising sta-tement when talking about his own art to the boys hesays to have “run into here or there”: “One of them wantsto charge even more than I do for a sculpture, he says he’san artist, not a sander! I tell him that money goes away,but not art. That’s how I feel: those compliments, all thosepeople looking at our work… it’s very dignifying!”, saysthe teacher.

Services and more information:Centro de Cultura Popular Mestre Noza(Mestre Noza Popular Culture Center)

Rua São Luiz, s/nº (Antigo Quartel), CentroJuazeiro do Norte, Ceará State, Brazil: 55 88 3511 3133

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POR / BY Priscila Avelar FOTOS / PHOTOS João Marcos Rosa

o mapa da arte / the map of art 9BRAZIL MADE BY HAND

“Não adianta utilizar madeira não-certificada na produção das peças, pois a questão ambientalé um fator que ganha cada vez mais importância. Osclientes estão levando isso em conta e, se não tiver cer-tificado, eles não compram.” Essa é a principal questãoque Márcio Geraldo Luzia da Silva – mais conhecido comoMárcio Julião – frisa para se obter êxito no artesanato,principalmente para exportação.

Morador da cidade de Prados (MG) e uma das re-ferências na região quando o assunto é artesanato, MárcioJulião tem a madeira como matéria-prima de suas obras

Arte, História eMeio AmbienteArt, History and Environment

“There’s no point in using uncertifiedwood when making pieces, given that the environmentalissue becomes more important each day. The customersare taking this into consideration and won’t buy themwithout a certificate.” For Márcio Geraldo Luzia da Silva,better know as Márcio Julião, this is the primary issue forbeing successful in handicraft, mainly when exporting.

As a resident of Prados, Minas Gerais State, Brazil,and a regional reference when it comes to handicraft,Márcio Julião uses wood as raw material in his artworkand therefore thinks it deserves special attention. Given

PradosMinas Gerais, Brasil

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10 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO

e por isso dedica atenção especial a ela. Com as questõesclimática e ambiental cada vez mais em voga, Julião jápercebeu que, utilizando madeira legalizada, ele valorizao seu produto, além de, claro, contribuir para a preservaçãodo planeta.

Assim, as madeiras utilizadas pelo artesão são, com-provadamente, de origem legal, vindas do estado de Ron-dônia, no norte do país. As espécies mais apreciadas porMárcio são o angelim, a garapeira, o cumari e a canela.

Sempre atento às “evoluções” do mercado e em buscade agregar qualidade ao seu trabalho, Márcio Juliãoacrescentou mais um diferencial: ainda pensando napreservação ambiental, ele fez sua primeira compra demadeiras ecologicamente corretas. Essas madeiras têmorigem a partir de árvores de reflorestamento, de controleambiental ou poda, o que significa dizer que, a partir deagora, sua matéria-prima legal será certificada.

Orgulhoso de seu ofício, tem no sangue o dom daarte. Isso porque, há cerca de 300 anos, seus antepassadosformavam uma das primeiras famílias a habitar a regiãoonde hoje se localiza a cidade de Prados. Segundo ele,foram os primeiros a explorar o artesanato por ali.

Fundado no século XVIII, por volta de 1704, o lugarejopertencia à Vila São José Del Rei, atual município deTiradentes. Era um ponto de apoio para tropeiros ebandeirantes, que na época partiam das regiões costeiraspara o interior do Brasil, em busca do ouro recémdescoberto. Julião diz sentir-se parte da história da cidadepor descender dos precursores de uma atividade que,atualmente, é forte referência do local. “São mais de 700famílias espalhadas pela cidade que tiram seu sustentoatravés do artesanato”, orgulha-se.

the increasing public attention to climatic andenvironmental issues, Julião has realized that his productgains value through the use of legalized lumber, besides,off course, contributing to the planet’s preservation.

Thus, this artisan’s lumber is legally certified, comingfrom proven sources in the Rondônia State, northernBrazil. Márcio’s preferred species are angelim, garapeira,cumari and cinnamon.

By keeping current with market “evolutions” andseeking to improve his work’s quality, Márcio Julião hasachieved a competitive edge to his work: further wishingto contribute in environmental preservation, he has pur-chased his first batch of ecologically correct lumber. Thislumber comes from reforestation, environmental controlor trimmed trees, which means that, other than beinglegal, his raw material is also certified.

Julião is proud of his trade and carries an artistic giftin his blood. About 300 years ago, his ancestors were amongthe first families to settle on the region which is now thecity of Prados. According to Julião, they were the firstcraftsmen in the region.

Founded in the 18th century, around 1704, the villagewas part of Vila São José Del Rei, which became the Ti-radentes municipality. The village supported cattlemenand bandeirantes (Portuguese scouts in colonial Brazil), whocame from coastal regions towards the center of Brazilsearching for gold. Julião feels he is part of the city’shistory, given that his ancestors have pioneered an activitywhich is currently a local reference. He proudly statesthat “more than 700 families in the city earn their livingthrough handicraft.”

Member of a very large family, Márcio had a humblechildhood. Now married and father of one, he representsthe fifth generation of “Julião” artisans. By watching his

father, Márcio began what hecalls “playing artisan” at

the age of 6.

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o mapa da arte / the map of art 11BRAZIL MADE BY HAND

Nascido em uma família numerosa, Márcio teve umainfância humilde. Casado e pai de um menino, é repre-sentante da quinta geração de “Juliões” artesãos. Espe-lhando-se no pai, Márcio começou o que chama de “brincarde artesão” aos 6 anos de idade.

Em pouco tempo, seu dom foi aflorando e ele, cadavez mais, entregava-se à arte. Por escolha própria, es-tudou apenas até a quarta série, dedicando todo seu tempoa pesquisas que trouxessem o aprimoramento de seu ofício.Desde então, não largou mais o engenho de esculpir eseguiu lutando para ter seu trabalho reconhecido.

Atualmente, tem um ateliê no qual trabalham trêspessoas. Especializado em madeira, o processo de pro-dução artesanal passa por quatro etapas: na primeira, usauma motosserra para o corte da tora; daí vem a mo-delagem, com o emprego de lixas grossas para desgastare dar forma à madeira; o terceiro passo é garantir aconservação da peça (para isso, costuma usar formol) e,por último, é feito o acabamento com lixas finas, que dãobrilho às peças.

His gift quickly sprung and his commitment to artgrew each day. By his own choice, he left school after fi-nishing the fourth grade and became fully dedicated tothe improvement of his trade. He’s been focused on thesculpting trade ever since, working hard in order to gainrecog-nition.

Today, Julião has his own studio and employs threepeople. Given his expertise and focus on wood, his han-dicraft production process has four stages: The first stageconsists on using a chainsaw for log cutting; the modelingstage comprises the use of thick sandpaper in order toabrade and shape the wood; the third stage guarantees thepiece’s conservation (usually using formalin) and, lastly,the finishing stage consists on using thin sandpaper, shiningthe piece’s surface.

As a passionate artisan, Julião comments that he’snever had nor wanted another profession, for being an ar-tisan brings many rewards. “It’s very gratifying to see mywork being recognized”, says Julião. As a hobby, Julião hasa small cattle herd and demonstrates his passion for

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12 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO

Apaixonado por seu trabalho, comenta que nunca tevenem quis outra profissão, pois ser artesão traz muitas re-compensas. “Ver meu trabalho reconhecido é muitogratificante”, ressalta. Apenas como distração, Márcio criaalgumas cabeças de gado e exalta a sua paixão pelos ani-mais. “Também tenho umas duas vaquinhas no quintal decasa para tirar leite. É sempre bom estar perto dos bichos”.

Muito conhecido pela sua arte, atribui a fama queconquistou à diversidade das peças que produz. São es-culturas humanas, arte sacra, bichos e até figuras da mi-tologia grega. “Meu diferencial são as novas formas queprocuro esculpir. Hoje em dia os clientes tanto brasileirosquanto estrangeiros querem coisas diferentes, e é isso queeu procuro fazer”.

Márcio trabalha com a ideia de seus clientes, dandoum ar de exclusividade a cada peça, esculpindo de acordocom o pedido de cada um. A maior procura atualmente épelas esculturas de leões, leoas e panteras, que medemalgo em torno de 2m e custam aproximadamente R$5,5mil. No geral, os preços de suas peças podem variar deR$600 a R$45 mil, e os tamanhos, de 80 cm a 4 m. Masele garante que outros tamanhos e preços podem sernegociados.

Entre suas criações mais recentes, duas têm roubadoa cena e chamado a atenção de clientes e turistas: umcentauro com quase 3 metros de altura, e uma família deleões, de 5 metros (leão, leoa e dois filhotes).

animals. “I also have a couple of milking cows in mybackyard. It’s always nice to be around wildlife.”

Very well known for his art, Julião attributes his fameto the diversity of his pieces. There are human sculptures,sacred art, animals and even Greek mythology sculptures.“My differentiating factor is that I always try to sculptnew shapes. Nowadays, the customers, either Brazilianor foreign, are always looking for new things, and that’swhat I try to offer them”, clarifies the artisan.

Márcio works based on this idea and provides uniquefeatures to each piece, sculpting them according to eachcustomer’s request. Currently, the highest demands arefor lion, lioness and panther sculptures, which measureup to 2 m and cost approximately R$5,500 (~US$3,000).Generally, his pieces may vary from R$600 to R$45,000(~US$350 to US$25,000) in price and from 80 cm to 4 min size. Although he guarantees that other sizes and pricescan always be negotiated.

Amid his latest creations, two have been the mostpopular amongst customers and tourists: a centaurmeasuring almost 3 meters high and a family of lionsmeasuring 5 meters (a lion, a lioness and two cubs).

A preocupação com a origem das matérias primas vem ganhando destaque entre os artesãosde Prados. Um exemplo é o ateliê “Artesanato 5 Irmãos”. Como o próprio nome diz, a oficina éformada pelos cinco irmãos Andrade: Juca, Gilberto, Joaquim, Benedito e Sebastião. SegundoJuca, toda a madeira utilizada na fabricação das peças é certificada e vem do Acre ou doAmazonas. Hoje, a família emprega aproximadamente 30 pessoas, e cada um é responsável pelaspróprias peças. “Trabalhamos em uma espécie de ateliê onde também vendemos as peças, pois dessaforma os turistas podem acompanhar o processo de fabricação”.

The concern towards raw material sources has increased among the artisans of Prados. The“Artesanato 5 Irmãos” studio is an example. As the name states (“5 Brothers Handicraft”, in a freetranslation), the studio was founded by five “Andrade” brothers: Juca, Gilberto, Joaquim, Beneditoand Sebastião. According to Juca, all raw material used in piece manufacturing is certified,coming from the Acre or Amazonas States. The family currently employs approximately 30people, and each person is responsible for his own work. “We both work and sell the pieces in thestudio so the tourists can see the manufacturing process.”

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o mapa da arte / the map of art 13BRAZIL MADE BY HAND

POR / BY Jamile HallackFOTOS / PHOTOS João Marcos Rosa

Um Divino Ofício

Capricho e beleza são características mar-cantes do trabalho do artesão Josias Cardoso. Especializadona produção de Divinos, ele transforma madeira em peçasde diferentes tamanhos e cores. A pomba branca que, deacordo com a Bíblia é símbolo do Espírito Santo, já con-quistou as prateleiras da loja de decoração Tok & Stok, 16estados brasileiros e também Portugal e Estados Unidos.

A história do artesão Josias Cardoso dos Santos co-meçou em 1985 quando, morando em Governador Va-ladares (MG), fazia artigos de arte popular. Os primei-ros trabalhos foram feitos em lápis de escrever, apro-veitando a madeira e o grafite. Posteriormente, sem ne-nhuma formação acadêmica ou cursos técnicos, ele passoua produzir pequenas peças em madeira que lhe renderamprêmios: o troféu Destaque do Ano, referente à Cultura,homenagem oferecida pela FUNSEC (Fundação Serviçode Educação e Cultura, de Governador Valadares) e o se-gundo lugar no Primeiro Festival Cenibra de ArtesPlásticas.

Attention to detail and beauty are sig-nature characteristics in Josias Cardoso’s handicraft.Specialized in making Divine Holy Spirit sculptures, hetransforms the wood into pieces of different sizes andcolors. The white dove, which symbolizes the Holy Spiritaccording to the Bible, has already reached the shelves ofthe Tok & Stok decoration store, besides 16 Brazilian States,Portugal and the United States.

Josias Cardoso dos Santos began his work as an artisanin 1985, making folk art pieces, when living in Go-vernador Valadares, Minas Gerais State, Brazil. His firstworks were made with pencils, using their wood andgraphite. He later began to make small wooden pieces,without ever having received an academic education nortechnical training, and won the following awards: thecultural Destaque do Ano (the Year’s Most OutstandingArtisan) trophy, awarded by FUNSEC (Fundação Serviço

A Holy Craft

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14 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO

Ao se mudar para Belo Horizonte (MG), em 1992,seu envolvimento com a arte se deu quando foi contratadopara restaurar peças antigas e danificadas pelo tempo naloja Antiquário. “Este trabalho me deu aperfeiçoamento.Aprendi muitas técnicas restaurando santos”, lembra Josias.

Em 1995 mudou-se para Lagoa Dourada (MG), ondefundou a empresa familiar Artesanato Irmãos Cardoso,produzindo artigos, também em madeira, com a qualidadee a tradição do artesanato mineiro. Porém, por diferençasde ideais e vontades, os irmãos se separaram, obrigandoJosias a seguir com seus sonhos sozinho. Montado um ate-liê em casa, ele passou a produzir vinte peças por mês evendê-las aos clientes que apareciam em sua porta. “Foidifícil no começo. Quando o cliente queria galinha d`an-gola, eu tinha Divinos, quando queria Divinos, eu tinhagalinha d`angola. Eu não tinha muita organização na época”,explica o artesão.

de Educação e Cultura, Educational and Cultural ServicesFoundation from Governador Valadares) and the secondplace in the Primeiro Festival Cenibra de Artes Plásticas (FirstCenibra Plastic Arts Festival).

After moving to Belo Horizonte, Minas Gerais State,Brazil, in 1992, his involvement in the artistic industrywas reestablished when he was hired as an antique anddamaged piece restorer at the Antiquário store. “This jobgave me the opportunity to improve my skills. I learnedmany restoration techniques”, says Josias.

In 1995, he moved to Lagoa Dourada, Minas GeraisState, Brazil, where he founded his family companyArtesanato Irmãos Cardoso, which made wooden pieces res-pecting the tradition and quality of the Minas Geraishandicraft. However, due to their differences in idealsand visions, the brothers decided to work separately andJosias was forced to chase his dreams on his own.

No ano de 2003 surgiu a inspiração para produzir apenasDivinos Espíritos Santos feitos em cedro. O envolvimentocom arte sacra, do período em que trabalhou comrestauração de imagens e quadros religiosos e as demandasde mercado aumentaram o interesse de Josias em produzirapenas os Divinos. Nesse mesmo ano, levado pelo Sebrae,ele participou da sua primeira Feira Nacional deArtesanato, onde suas peças ganharam visibilidade ecomeçaram a conquistar mais clientes. E não foi só omercado que Josias conquistou, não. Em uma das feiras deque participou, ele conquistou o coração da artesã Marileneda Silva, que também expunha seu trabalho.

After assembling a studio in his house, he startedmaking twenty pieces a month and selling them tocustomers who came to him. “It was hard at first. Whenthe customer wanted galeenies, I had Divines, when hewanted Divines, I had galeenies. I wasn’t very organizedat the time”, explains the artisan.

In 2003, he became exclusively involved in makingDivine Holy Spirits on cedar. His involvement with sacredart, from when he restored religious sculptures andpaintings, and the market’s demands contributed to hisdecision of working exclusively with Divines. In the sameyear, sponsored by Sebrae, he participated in his first Feira

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o mapa da arte / the map of art 15BRAZIL MADE BY HAND

A partir daí ele não parou mais! Participou de todasas feiras seguintes. E não só da Feira Nacional, mas tam-bém de eventos em Brasília e Rio de Janeiro. “As feirassão sempre um cartão-de-visita para a gente. É uma opor-tunidade de fazer contatos com várias pessoas e empresas,além da realização de vendas imediatas”, ressalta Josias.

Com o crescimento dos pedidos, em 2003 ele criou aDivino Ofhício, uma oficina montada no município de La-goa Dourada. Especializada em Divinos, utiliza apenas ma-deiras (cedro) de origem comprovadamente legal, com-pradas de serrarias da cidade e de São João Del Rey (MG).Em 2005, a oficina foi registrada como empresa e a uniãode Josias e Marilene, oficializada. Além de marido e mu-lher, eles se tornavam sócios.

Hoje a Divino Ofhício conta com sete funcionários,treinados por Josias. Os produtos conquistaram, em 2008,o Selo IQS de qualidade, que levou organização para aempresa e aumentou a qualificação da produção e das peças.A madeira não utilizada é totalmente reaproveitada: tudoo que não serve para Josias é enviado para outro artesão– Geraldo – que vive na vizinha cidade de Prados, outropólo mineiro de produção artesanal. Este transforma ospequenos pedaços em miniaturas de frutas ou em chaveiros,que o próprio Josias comercializa.

Nacional de Artesanato (National Handicraft Fair), wherehis pieces gained visibility and started to attract morecustomers. And Josias didn’t only conquer his share of themarket. In one of the fairs, he also conquered the heart ofMarilene da Silva, an artisan who was also exposing herwork.

From that point on, he just kept going! He par-ticipated in all subsequent fairs. Not only in the NationalFair, but also in other events in Brasília and Rio de Janeiro.“The fairs are always good display opportunities for us.One has the chance to make contacts with several peopleand companies, besides making immediate sales”, saysJosias.

Once his requests increased, he created the DivinoOfhício studio, in 2003, in the Lagoa Dourada municipality.The studio specializes in Divines and only uses wood(cedar) from legally proven sources, bought from lumbermills in São João Del Rey, Minas Gerais State, Brazil. In2005, the studio was registered as a company and Josiasand Marilene were officially married. Other than husbandand wife, they became partners as well.

Today, Divino Ofhício has seven employees who havebeen trained by Josias. Their products earned the IQSquality label in 2008. The label organized the company,also improving their production and quality. All rejectedlumber is reused: all spared materials from Josias’ studioare sent to another artisan, Geraldo, who lives in theneighboring city of Prados – another handicraft productioncenter in the Minas Gerais State. Geraldo turns thesesmall scrap pieces into miniature fruits or key chains, alsocommercialized by Josias.

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16 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO

Secretário de Cultura

Deixando todos os seus funcionários beminstruídos, Josias não participa mais daprodução dos Divinos. Após realizar algunscursos, agora ele apenas administra sua em-presa, que tem crescido a cada dia. Seu desafioagora é maior: além de administrar a SantoOfhício, ele agora tem que cuidar da cultura de LagoaDourada. Josias passou de artesão a Secretário de Culturado município.

Desde janeiro de 2009, quando assumiu o cargo, Josiasvem tentando levar o perfil de sua empresa para a admi-nistração pública e converter a notoriedade do artesanatolocal em fomento ao turismo em sua comunidade. “No la-do político, preciso me aperfeiçoar mais. Não sou tão po-lítico assim”, brinca Josias ao explicar que está procurandoadequar sua vida pessoal à política.

Secretary of Culture

Due to his well instructed employees,Josias has stopped working on the productionof Divines. Having taken a few courses, hecurrently manages the company, which hasgrown more each day. He now faces agreater challenge: besides managing Santo

Ofhício, he must also take care of the cultural scene inLagoa Dourada. Josias has gone from artisan to municipalSecretary of Culture.

Since January 2009, when he took office, Josias hastried to apply his company’s profile into public admi-nistration and use the prominent local handicraft scenarioto encourage tourism in the community. “From a politicalpoint of view, I need to improve myself. I’m not thatpolitical”, says Josias, smiling, while explaining his attemptto adapt his personal life to his political life.

Madeira e Bordados

Além de felicidade, Marilene trouxe crescimento para a empresa de Josias. Artesã há vinte anos, Marilene Alair da Silvacomeçou a bordar por necessidade. Com uma filha recém-nascida nos braços, ela usou suas habilidades como alternativa derenda e começou a vender as peças bordadas. Assim, ela conseguiu pagar as consultas médicas, o enxoval do bebê e garantir osustento das duas.

A união com Josias tornou-a sócia da Divino Ofhício, e a empresa passou a produzir também toalhas de mesa e banho,panos de prato e muitas outras peças bordadas por Marilene e mais cinco funcionários ensinados pela artesã. “Quando as pessoasviam que a Divino Ofhício também produzia peças bordadas, elas achavam estranho e ficavam assustadas de ver madeira ebordado juntos. Aqui na empresa estes são setores interligados”, explica Josias. Dentro desta sociedade, incentivada pela filha,Marilene criou o projeto Bordando História. No intuito de aumentar as vendas, ela passou a bordar toalhas com temas infantis.“Isso traz pureza ao meu trabalho”, ressalta a esposa de Josias.

Wood and embroidery

Other than happiness, Marilene has brought growth to Josias’ company. Having been an artisan for 20 years, MarileneAlair da Silva started to work with embroidery for financial needs. Having a newborn to take care of, she used her skills toearn a second income and started selling her embroidered pieces. Through these efforts, she managed to pay all medical bills,buy the baby’s layette and provide for both of them.

Her marriage with Josias made her a partner in Divino Ofhício and the company started making table and bath towels,kitchen towels and many other embroidered pieces, all made by Marilene and five other artisans under her council. “Whenpeople realized that Divino Ofhício also made embroideries, they though it was weird and were stunned to see wood andembroidery in the same place. In our company, these sectors are interconnected”, explains Josias. Marilene also created theBordando História (Embroidering History) project, inspired by her daughter. Aiming to increase sales, she started to embroidertowels with child themes. “They convey a certain purity to my work”, says Josias’ wife.

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BRAZIL MADE BY HAND artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 17

Ao chegar à oficina do artesão EduardoEleutério, na região do bairro de Santa Teresa em BeloHorizonte (MG), a primeira coisa que se percebe é operfume de madeira, a matéria prima com a qual trabalha.Um amontoado de pedaços de galhos, troncos retorcidos,toras de tamanhos diversos, muitos ainda com cascas,outros em que já se pode perceber alguma intervençãodo artesão. Máquinas. Várias máquinas e ferramentas di-versas, serras e lixas de todos os tipos. E apenas um ho-mem trabalhando. “Já tive algumas pessoas trabalhandono processo de lixamento das peças, mas é muito difícilensinar este processo”, conta. Vendo as peças em diferentesestágios de produção é que se tem noção do trabalho e daarte que envolve seu artesanato.

Eduardo veio de Fortaleza (CE), no início da décadade 80. Naquela época vendia o artesanato vindo do Cearáem uma loja – a Canoa Quebrada – na região da Savassi.“Depois de um tempo, comecei a perceber que as peçasnão tinham um acabamento refinado. Foi quando resolvieu mesmo produzir meu artesanato”. E passou a fazerseus pássaros de madeira. Certa vez, participou de umafeira na Itália e lá se interessou por um objeto, chamado“caixa segredo”, por se tratar de uma peça que “esconde”pequenas gavetas em seu interior. “Um Italiano memostrou como fazer e resolvi produzir”. Assim nascia oartesanato que hoje é sucesso no Brasil, Estados Unidos eEuropa.

NaturezaViva

Aproveitamento de madeira de podas garante boadestinação ao material. Para além do ornamental,um artesanato ecológico

POR / BY Thiago BernardoFOTOS / PHOTOS Marcus Desimoni

Stirring Life

Well employed trimmed wood. Beyond theornamental into ecological handicraft.

When arriving at Eduardo Eleutério’s han-dicraft studio, in the Santa Teresa neighborhood, BeloHorizonte, Minas Gerais State, Brazil, the overall firstimpression comes from the wood’s scent. One sees a heapof branch segments, twisted stems, logs in all sizes, somestill unpeeled, others already being worked on by theartisan. One sees machines. Several machines and tools,saws and sandpapers of all kinds. All this and only one manat work. “I’ve had a few people work for me in the sandingprocess, but it’s very hard to teach the process”, says theartisan. By seeing the pieces in their different productionstages, one can notice the dedicated work and the artinvolved in this handicraft.

Eduardo came from Fortaleza, Ceará State, Brazil, inthe beginning of the 80’s. At that time, he used to sellhandicraft from Ceará in a store – Canoa Quebrada – inthe Savassi region. “After a while, I began to notice thatthe finishing on those pieces wasn’t refined. That’s whenI decided to make my own handicraft.” He began makingwooden birds. At a certain point, when in Italy for a fair,he became interested in an object called “the secret box”,

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18 artesanato: matéria prima / handicraft: raw BRASIL FEITO A MÃO

Suas peças são feitas tanto com o formato original dotronco ou galho, como também em formas desenvolvidaspelo próprio artesão. “Essas, são peças com design”, ex-plica. “As caixas segredo são cerca de 80% de minha pro-dução”. Mas, Eduardo produz também gamelas, árvoresornamentais, cachepôs, porta velas, e algumas mesas decentro, que na maioria das vezes são pedidos de amigosou arquitetos que, conhecedores do trabalho dele, enco-mendam peças exclusivas ao artesão.

“Não gosto muito de fazer peças exclusivas. Muitasvezes criamos algo bacana, o comprador acaba virando‘dono’ da peça e não posso fazer o mesmo trabalho paraoutras pessoas”.

Matéria-prima reutilizada

Toda a matéria prima utilizada no trabalho de EduardoEleutério vem da poda e corte de árvores das ruas da re-gião metropolitana de Belo Horizonte. “Eu não corto ne-nhuma árvore e acho isso um crime. A maior parte doque eu pego seria transformada em carvão, despejando

for it “hides” small drawers in its interior. “An Italian taughtme how they were made and I started production.” Thiswas the beginning of a work which is currently recognizedin Brazil, the United States and Europe.

His pieces are made both by taking advantage of thewood’s original shape or by carving his own inventedshapes. “These pieces are designed”, explains Eduardo. “Thesecret boxes represent about 80% of my production.”However, Eduardo also makes troughs, ornamental trees,cachepots, candle holders and center tables, which aremostly ordered by friends or architects who know hiswork and request exclusive pieces. “I don’t enjoy makingexclusive pieces that much. We often create very nicepieces, but the buyer sort of “owns” the design and I can’tmake them again for other people.”

Reused raw material

All raw material used in Eduardo Eleutério’s workcomes from trimmed and cut down trees within BeloHorizonte’s metropolitan area. “I don’t cut down trees; I

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BRAZIL MADE BY HAND artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 19

carbono na atmosfera. Meu trabalho acaba sendo um fi-xador de carbono”, afirma, demonstrando sintonia com asquestões ecológicas da atualidade. Segundo ele, cerca desetenta árvores são podadas ou cortadas diariamente. “Epodem ser em maior número durante o período de chuvas”,completa.

As madeiras utilizadas são de espécies variadas. Man-gueiras correspondem à maior parte de sua matéria pri-ma. Jabuticabeiras, além de suas preferidas, são as “quemais vendem e exportam”. Até mesmo os eucaliptos que,após recolhidos, passam até cinco anos secando. “É precisosecar a madeira para retirar dela toda a resina”, explica.Segundo o artesão, é a resina que provoca imperfeiçõesde encaixe nas peças, empena as mesas e deforma os tra-balhos. “Essas peças que você vê no mercado com racha-duras grandes são frutos de trabalhos feitos em madeiraainda molhada”. Em alguns casos, as peças de Eleutériotambém acabam rachando, mesmo com bastante tempode secagem. Nesses casos, quando é possível, o artesãousa técnicas de marchetaria para solucionar o problema.

Produção, exportação emuita criatividade

Eduardo Eleutério chega a produzir em torno de 300peças por mês, podendo chegar a 400, dependendo da de-manda. Trabalhando somente com vendas por atacado,Eleutério antigamente exportava 90% de sua produção.“Hoje essa proporção se inverteu. Vendo quase 90% aquino Brasil, para lojas e atacadistas revendedores”. O artesãoconta que a crise financeira internacional o atingiu emcheio. “Agora estou retomando as exportações. E isso ébom, pois as vendas entre os meses de janeiro e março

think it’s a crime. Most of what I gather would be turnedinto coal, releasing carbon into the atmosphere. My workturns out to be a carbon credit”, states Eduardo, de-monstrating to be in sync with current ecological issues.According to him, about seventy trees are trimmed orcut down each day. “And that can even increase during therainy season”, adds the artisan.

He uses several species of wood. Mango trees re-present the majority of his raw material. Jaboticaba trees,besides being his favorites, also “sell and export more”.He even uses eucalyptus trees, which take up to five yearsto dry after being cut down. “The wood must be dry soyou can take all the resin out of it”, explains Eduardo.According to the artisan, the resin is responsible forimperfections in the pieces’ fitting, besides bending anddeforming them. “Those cracked pieces you sometimessee for sale are the result of working on wet wood.” Insome cases, even Eleutério’s pieces crack, despite theirlong drying period. In such cases, when possible, theartisan applies marquetry techniques in order to solvethe problem.

Production, exportation andlots of creativity

Eduardo Eleutério makes around 300 pieces a month,being able to make up to 400, depending on the demand.By only working with wholesale, Eleutério used to export90% of his production. “Today, this proportion’s beeninverted. I’m selling almost 90% here in Brazil, to storesand wholesale resellers.” The artisan says that theinternational financial crisis hit him hard. “I’m just resu-ming my exportations. And that’s good, because almost

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20 artesanato: matéria prima / handicraft: raw BRASIL FEITO A MÃO

são quase todas para o exterior”, explica Eduardo, quetem um custo fixo diário de R$ 190,00. “O custo das má-quinas e principalmente das serras e lixas é bastanteelevado”.

Eduardo é também uma espécie de “Professor Pardal”.Muitas de suas máquinas foram adaptadas ou desenvolvidaspor ele. “Vou a muitas feiras, não só de artesanato, mastambém de maquinário. Outro dia fui até Porto Alegre(RS) só para ver as novas máquinas no mercado”. Nãoraro, o artesão tem uma idéia de um corte ou de umapeça diferente e tem que, literalmente, criar as ferramen-tas para viabilizar a produção.

Além de trabalhar com cortes arredondados e preci-sos, Eduardo Eleutério diz que seu artesanato é uma“lapidação da madeira”. “Algumas peças são lixadas comseis lixas diferentes”, explica sobre o que diz ser o mo-mento mais difícil no processo de produção. Em suas peçasnão é aplicado nenhum tipo de verniz. Mesmo assim, obrilho dos objetos chega a impressionar. “O segredo é sa-ber o momento de passar de uma lixa para outra”.

Como quase todo artesanato, o valor de suas peças écalculado pelo trabalho que cada objeto exige. Até umdetector de metais é utilizado por ele. “Muitos pedaçosde madeira têm pregos antigos, já engolidos pelo tronco.Se uma serra destas encontra um prego estraga a peça, amáquina e pode até ocorrer um acidente” diz o artesão,que chega a trabalhar das seis da manhã à meia noite. “Emesmo assim não dou conta dos pedidos”.

Com peças que custam de R$24,00 a R$390,00 (foraas encomendas, que podem chegar a R$4.000,00), EduardoEleutério vai construindo seu nome no mercado – o quepara ele é o mais importante no trabalho do artesão.Objetos de beleza única, como cada tocoou tora de madeira que deixade virar carvão para em-belezar residências,escritórios, e até mu-seus.

A única Tora queEduardo não corta,não lixa nem lapida ésua rottweiler, fielcompanheira e guardiãde sua oficina.

all sales between January and March are usually exports”,explains Eduardo, who has a daily overhead of R$190.00(~US$110.00). “My expenses with machinery, saws andsandpapers are quite high.”

Eduardo is also a “Gyro Gearloose” of sorts. He hasadapted or developed several machines himself. “I attendseveral fairs, both handicraft and machinery fairs. I wentto Porto Alegre, Rio Grande do Sul State, Brazil, theother day just to check new machines coming into themarket.” The artisan often has ideas for different cuts orpieces and literally creates the necessary tools in orderto make production viable.

Besides working with rounded and accurate cuts,Eduardo Eleutério says his handicraft can be called “finewood cutting.” “Some pieces are sanded with six differentsandpapers”, explains Eduardo, saying this is the mostchallenging moment in his production process. His piecesdo not receive any kind of varnish. Still, their glow isvery impressive. “The secret is in knowing when to gofrom one sandpaper to another.”

As in most handicraft works, his prices are calculatedbased on the work put into each object. He even uses ametal detector in his process. “The wood is often incrustedwith old nails, enveloped by the trunk. If you run into oneof these nails with a saw, it can ruin the piece, the machineand it may even cause an accident” says the artisan, whosometimes works from 6 AM to midnight. “Even so,sometimes I can’t attend to all requests.”

Having pieces which vary from R$24.00 to R$390.00(~US$14.00 to US$220.00, besides custom ordered pie-ces, which may cost up to R$4,000.00 (~US$2,300.00)),Eduardo Eleutério has been carving his name on the mar-ket – which, according to him, is what’s most important

for an artisan’s work. Objects of unique beauty, stumpsand logs that were supposed to be turned into

coal become beautiful ornamentsin houses, offices and even

museums.The only Tora (“log”, in

Portuguese) Eduardowon’t cut, sand or carveis his pet rottweiler, afaithful companion and

guardian of the studio.

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22 projetos / projects BRASIL FEITO A MÃO

O Instituto Centro Cape, a Central Mãosde Minas e o Banco BMG firmaram parceria para lançarum site, nos Estados Unidos, que irá vender no varejo osprodutos artesanais de 15 comunidades mineiras de baixarenda. Previsto para ser inaugurado até o mês de maio, osistema irá funcionar dentro dos parâmetros do ComércioJusto – modalidade internacional de negócios que privilegiacadeias produtivas socialmente justas e ambientalmenteequilibradas. O Banco BMG, que patrocina a iniciativa,está presente em todos os Estados brasileiros e tem sedestacado por contribuir com o desenvolvimento socialdo país ao se voltar para o financiamento do consumo.

O nome escolhido para o site brinca um pouco com atradição mineira. “Why Us?”, além do significado em inglês(por que nós?), contém um fonema que remete à maismineira das expressões: “uai”. E o Us (nós) faz alusão àsigla internacional US (de United States). A distribuiçãodos produtos será feita a partir de Nova Jérsei, através daWorldwide – uma empresa que já atua na exportação deartesanato brasileiro desde 2007.

As comunidades contempladas estão sendo escolhidaspor critérios que levam em conta a correta destinaçãodos os recursos (diretamente para os artesãos, sem a exis-tência de intermediários), a qualidade dos produtos e seusimpactos ambientais. A idéia é elevar a renda mensal des-ses artesãos, de 50 reais por mês para, pelo menos, umsalário mínimo (R$ 510,00).

Essas 15 comunidades também passarão por umtreinamento de preparação para o mercado, princi-palmente sobre o valor de seu trabalho para além da merasobrevivência. Estão previstas melhorias tecnológicas, dedesign e até de embalagem, paraque consigam atingir o mercadocom o mínimo de interferênciade terceiros. Dependendo dos re-sultados nos seis primeiros me-ses, já está previsto um aumentono número de comunidadesparticipantes.

Instituto Centro Cape, Central Mãos deMinas and the BMG bank have signed a partnership inorder to develop a website, hosted in the United States,focused on selling handicraft products from 15 low inco-me communities from the Minas Gerais State, Brazil.Scheduled to be inaugurated in May, the system will followFair Trade parameters – an international business approachwhich benefits socially correct and environmentallybalanced commodity chains. The BMG Bank, our sponsorin this initiative, operates in all Brazilian States and hasstood out due to its contributions to the country’s deve-lopment through consumption financing.

The website’s name was conceived with the MinasGerais tradition in mind. “Why Us”, besides its directmeaning, carries the word “Why”, which issues the exactsame phoneme as the popular local expression: “uai”. Andthe word “Us” also refers to the international US acronym,meaning United States. The products will be distributedfrom New Jersey, through Worldwide – a company thathas exported Brazilian handicraft since 2007.

The participant communities are being chosen throughselect criteria, which include proper resource allocation(directly allocated to the artisans, without middlemen),product quality and environmental impact. The idea is toelevate these artisans’ incomes from R$50.00(~US$28.00) a month to, at least, the Brazilian minimumwage (R$510.00, ~US$290.00).

These 15 communities will also receive training inorder to be prepared for the market, mainly focusing onvaluing their work so it may yield more than mere survi-val. Technological, design and packaging improvements

have been planned in order tohelp them reach the marketthrough minimal third partyinterventions. More communi-ties will be included in the pro-ject depending on the first se-mester’s results.

WHY US?

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mercado externo / foreign market 23BRAZIL MADE BY HAND

Madeirareciclada,

vida renovada

POR / BY Janaína Oliveira FOTOS / PHOTOS João Marcos Rosa

Recycled wood,

renewed life

De ajudante de pedreiro a exportador, artesão do interior de Minas mudou o rumo de sua vida comreaproveitamento de material. Respeito ao meio ambiente ajuda na conquista de mercado

From bricklayer assistant to exporter, this artisan from the Minas Gerais State countryside has changed hislife through recycling. Environmental responsibility yielding market recognition

Nascido e criado num lugarejo conhe-cido como Bichinho, distrito de uma cidadezinha chama-da Prados (quase um quintal da histórica Tiradentes, emMinas Gerais), o artesão Almir Antônio de Paula, 43 anos,jamais imaginou que sua arte atravessaria o Oceano Atlân-tico, passaria pelo Mar Mediterrâneo e chegaria a Israel.Pois, pelo menos uma vez a cada dois meses, ele despachapeças de mobiliários e adornos, em geral feitas de madeirareciclada com detalhes de ferro, tudo desenhado e cons-truído em sua oficina, direto para o país dos judeus. “Nuncapensei que um dia estaria tão bem quanto estou hoje.Quando acho que realizei um sonho, acontece uma novarealização”, conta, orgulhoso, acrescentando que suas pe-ças já foram até tema de reportagem de uma emissora detelevisão daquele país.

Born and raised in a small village

known as Bichinho, within the district of another smalltown called Prados – practically in the backyard of histo-rical Tiradentes, Minas Gerais State, Brazil – Almir An-tônio de Paula, 43 years old, had never imagined that hisart would cross the Atlantic Ocean and the MediterraneanSea, all the way into Israel. At least once every couple ofmonths he ships furniture and decoration pieces, generallymade out of recycled wood and iron detailing, designedand built in his studio, straight to the Jewish country. “Inever thought I’d ever be as well off as I am today. WhenI think a dream just came true, something else happens”,proudly says the artisan, adding that his pieces have eveninspired a television newscast in an Israeli televisionnetwork.

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24 mercado externo / foreign market BRASIL FEITO A MÃO

Bichinho,Minas Gerais, Brasil A história, revela, começou com a visita de um bra-

sileiro casado com uma israelense que, em uma curtapassagem por Bichinho, durante as férias, conheceu seutrabalho e se encantou. Na primeira leva, o fre-guês comprou o equivalente a R$ 300. “Ele foi emboracom o mostruário e pouco tempo depois ligou contandodo sucesso. Fez novas encomendas e não parou mais”. Hoje,entre 40% e 50% de toda sua produção tem como destinoos contêineres dos navios. Mais de 50% de seu faturamentotambém vem de lá, justo uma terra cuja gente, no Brasil,tem fama de “segura”. “Eles podem até ter fama de pão-duro, mas esse é o meu melhor cliente”, brinca.

A preferência da clientela estrangeira é por moldurasde espelho, armários com portinha de bonecos e galinhasde chapinha. Para dar conta da demanda, Almir contratoumais gente e chamou para trabalhar em seu negócio boaparte da família. A esposa Marilene e as filhas Marluce,de 15 anos, e Milena, de 12, ajudam na pintura e na pátina,assim como o sobrinho Paulo Ricardo. Outros dois so-brinhos – Rafael e Diego – também cumprem expedi-ente. Até Felipe, o namorado da filha mais velha, aprendeu

According to Almir, it all started when he was visitedby a Brazilian who was married to an Israeli woman.During their brief passage through Bichinho, she saw hiswork and became fascinated. The first time around, thecustomer bought the equivalent to R$300 (~US$170).“She took the entire collection and called a few days latertelling me about its success. She kept making morerequests and never stopped”, says Almir. Today, 40% to50% of his production goes straight to the ships’ containers.More than 50% of his billing also comes from said country,which, in Brazil is known for being “financially skeptical”.“People may even say they’re known to be cheap, butthey’re my best costumers”, says Almir, playfully.

Foreign customers prefer mirrored frames,wardrobes with doll doors and plate chickens. In order tohandle this demand, Almir hired more people and askedmost of his family to work in his business. His wife,Marilene, and his daughters, Marluce, 15 years old, andMilena, 12 years old, help with painting and patina, asdoes his nephew Paulo Ricardo. He also has two othernephews working for him. Even Felipe, his olderdaughter’s boyfriend, has learned the trade helps around.

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mercado externo / foreign market 25BRAZIL MADE BY HAND

o ofício e já colabora. O artesão ainda conta com a ajudado soldador César e do marceneiro Vilmar, muito inte-ligentes, segundo ele. “A vida inteira fui empregado. Agorasou patrão. E isso é bom demais”, vibra.

Apesar de ensinar a arte e dar emprego para tantagente, Almir confessa: “Nunca tive curso. Aprendi sozi-nho. Fazendo”. E se engana quem pensa que a inspiraçãoveio de grandes mestres. ”Na verdade, minha influênciaé de um cunhado que era caminhoneiro e virou artesão”,revela ele, que cria e desenha as peças que comercializa.

He also counts on César, a welder, and Vilmar, a carpenter,who are very intelligent, as he points out. “I’ve been anemployee my entire life. Now I’m the boss. And this isamazing”, says Almir.

Although teaching his art and employing so manypeople, Almir confesses: “I’ve never had a formal edu-cation. I learned everything by myself. In practice.” Thosewho might think his inspiration came from the greatmasters are mistaken. “Actually, I was influenced by abrother in law who was a truck driver and became an

Almir Antônio tinha outro ganha-pão. Filho mais velhode nove irmãos, aos 12 anos começou a trabalhar comopedreiro, seguindo os passos do pai. “Minha mãe eradoméstica e eu tinha que ajudar os dois no sustento dafamília”, lembra. Nos canteiros de obra passou a maiorparte da sua vida até que, em 2001, um problema noligamento do joelho o atingiu, impedindo-o de trabalharpor 11 meses. “Tenho meus filhos e não podia ficar parado.Então tive a ideia de começar a mexer com papel machêe modelagem. Comecei por acaso, pegando umas peças

artisan”, reveals Almir, who creates and designs his ownpieces.

Almir Antônio used to do something else for a living.The eldest of nine brothers, he started working at age 12as a bricklayer, following his father’s footsteps. “My motherwas a maid and I had to help them provide for the family”.He spent most of his life in construction sites, until, in2001, a knee ligament injury kept him from working for11 months. “I had to provide for my children, so I couldn’tstand still. Then, I had this idea of working with paper

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em Prados para melhorar, e, quando vi, já estava produ-zindo molduras, quadros, bonecas e galinhas”. Com o pri-meiro dinheiro que entrou, comprou ferramentas me-lhores e abriu uma oficina na garagem da casa da sogra.Mais grana no caixa e, novamente, investimentos em ins-trumentos de trabalho e máquinas. Hoje, já tem sedeprópria, onde fabrica molduras para espelho (a grande,com 22 bonecos, custa R$ 220), cabeceiras de cama, ga-linhas de chapinha (entre R$ 25 e R$ 30), paneleiros,porta-xícaras, aparadores, tamboretes e armários (comportinha de bonecos, sua marca registrada, são vendidosentre R$ 700 e R$ 800) – tudo feito de madeira reapro-veitada, prática que faz questão de seguir.

“A gente não tem muito estudo, mas não quer con-tribuir para o desmatamento ou para a destruição do meioambiente”, diz. A matéria-prima vem de longe, do Paranáe até do Pará, mas, segundo ele, a espera compensa. “Alémde ser mais ecológica, a madeira reciclada não empena esai até mais barata”. Explica como recicladas as madeirasoriundas de demolições, que ele reutiliza em suas obras.Tal origem acaba sendo, também, uma espécie de dife-rencial perante o público: garante uma aparência específicae ainda soma um apelo ecológico muito valorizado emnossos dias.

Seu único pesar é não poder compartilhar o sucessocom os pais, já falecidos. “Tenho certeza de que ficariammuito felizes”, lamenta o artesão, que já exportou seutalento para o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e SãoPaulo, além de Israel. Perguntado se tem vontade deconhecer o país onde vive seu melhor freguês, ele nãohesita: “Esse negócio de cidade grande ou exterior não écomigo, não. Gosto mesmo é daqui, de ficar na roça,criando”.

mâché and modeling. I started at random, getting somepieces in Prados and improving them; suddenly I wasalready making frames, canvasses, dolls and chickens”, saysthe artisan. He bought better tools with his first incomeand organized a small studio in this mother in law’s garage.Once more money came in, he made new investmentson tools and machinery. Today, he has his own shop, wherehe manufactures mirror frames (the large size, with 22dolls, costs R$220 (~US$125)), bed headers, plate chickens(from R$25 to R$30 (US$15 to US$20)), pot cabinets,cup holders, cupboards, stools and wardrobes (with dolldoors, his trademark, sold for R$700 to R$800 (US$400to US$450)) – all made from recycled wood, which heinsists on.

“We haven’t studied much, but we don’t want tocontribute to deforestation or to the destruction of theenvironment”, says Almir. The raw materials come fromfar places, such as the Paraná and the Pará States, but,according to him, they’re worth the waiting. “Besidesbeing more ecological, recycled wood doesn’t bend and ischeaper”, explaining that any lumber gathered fromdemolitions, which he reuses in his work, is referred toas recycled. Said source is also a differentiating factor forthe public: it provides a specific look and adds an ecologicalappeal, which is very valued nowadays.

His only regret is not being able to share his successwith his parents, who have passed away. “I’m sure theywould be very happy”, mourns the artisan, who hasexported his work to the Rio Grande do Sul, the Rio deJaneiro and the São Paulo States, besides Israel. Whenasked if he’s interested in seeing the country where hisbest costumer lives, he doesn’t even hesitate: “This bigcity or foreign country thing isn’t my turf. This is what Ireally like, to stay in the countryside and work on mycreations”.

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entrevista / interview 27BRAZIL MADE BY HAND

Entrevista / Interview

Mario Cezar

Mantovani

Um dos principais temas da agenda inter-nacional nos dias de hoje, a ecologia nunca esteve tão emvoga. Expressões como ‘aquecimento global’ e ‘desen-volvimento sustentável’ são ditas e ouvidas com a mesmanaturalidade em todas as classes sociais, em todos os con-tinentes, independentes de regimes de governo e sistemasfinanceiros. Cada vez mais evidentes, os impactos da açãohumana no planeta retornam às populações mundiais sobforma de desertificações e inundações, escassez e des-perdício, sem respeitarem fronteiras nem hemisférios. Eo tema concerne a todas as atividades econômicas, inclusiveo artesanato.

Nesta edição dedicada ao artesanato em madeira, arevista ‘O Brasil Feito a Mão’ procura retratar casos derespeito ao meio ambiente e traz para a conversa umadas mais respeitadas instituições brasileiras no âmbito dapreservação da natureza: a Fundação SOS Mata Atlântica.Criada em 1986, a organização é uma entidade apartidáriae sem fins lucrativos que, nas palavras do próprio site dainstituição, visa “promover a conservação dos ricos pa-trimônios natural, histórico e cultural existentes nosremanescentes de Mata Atlântica, assim como valorizaras comunidades que os habitam”.

Na entrevista a seguir, Mario Cezar Mantovani, diretorda SOS Mata Atlântica, fala sobre artesanato, sustentabi-lidade e legislação ambiental. Confira.

Among the main subjects on today’sinternational agenda, ecology has never been so popular.Expressions such as “global warming” and “sustainabledevelopment” are naturally said and heard throughout allsocial levels and all continents, independently of theirgovernments or financial systems. The human impact onthe planet is becoming more evident each day, affecting

the populations through desertification processes, floods,shortages and waste, neither respecting borders norhemispheres. Said theme concerns all economic activities,including handicraft.

In this issue, which is dedicated to wood handicraft,the “O Brasil Feito a Mão” (“Handmade Brazil”) magazineseeks to present cases of environmental respect and toinclude one of the most respected Brazilian environmentalpreservation institutions in this discussion: the FundaçãoSOS Mata Atlântica (SOS Atlantic Forest Foundation, in afree translation). Created in 1986, this organization is apolitically impartial and non-profit entity which, accordingto the institution’s website itself, aims to “promote theconservation of our great natural, historical and culturalresources within the remaining Atlantic Forest, as wellas valuing their local communities.”

In the following interview, Mario Cezar Mantovani,the director of SOS Mata Atlântica, discusses handicraft,sustainability and environmental legislations. You’rewelcome to read it.

Diretor da Fundação SOS Mata AtlânticaDirector of SOS Atlantic Forest Foundation

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28 entrevista / interview BRASIL FEITO A MÃO

Quando se fala em artesanato, é comum imaginar pequenasproduções, muitas vezes familiares, e de caráter secundário oucomplementar no que diz respeito à renda dessas famílias. En-tretanto, eventos como a Feira Nacional de Artesanato, que reú-nem milhares de artesãos, e a própria existência de publicaçõescomo esta revista “O Brasil Feito a Mão”, são indicadores de queessa é uma atividade econômica grande, que gera muitos recursosfinanceiros e, por outro lado, consome também muitos recursosnaturais. Como você vê o artesanato do ponto de vista de umaeconomia ambientalmente sustentável?

Mantovani - Nosso entendimento é de que não existenenhuma atividade mais próxima do meio ambiente queo artesanato. Ele representa o ponto de mutação onde aintervenção humana e a natureza com seus recursos inte-ragem para transformar em vida.

O Artesanato tem a dimensão humana, capaz detransformar os recursos, nos reciclar reciclando, construireconomias solidarias, promover culturas, entender o ciclosda natureza, perpetuar e aperfeiçoar para futuras gerações,revelar historias e mais um milhão de outras caracterís-ticas que, somadas, sintetizam o sentido de sustentabili-dade. Escolhemos esse caminho do artesanato paraentender o meio ambiente e, com isso, contribuir com aconstrução de uma nova sociedade em que o meio am-biente não dissocia as realidades.

Você acredita no artesanato como uma atividade que pode ajudara dar melhor destinação aos resíduos sólidos produzidos nos grandescentros? Ele pode chegar a absorver uma boa parte do nosso lixo?

Mantovani - A Política Nacional de Resíduos Sólidos,aprovada recentemente, incorpora esse conceito e avançano entendimento das responsabilidades compartilhadasquando se trata do nosso lixo. Todos temos nossa parte nasua gestão. Mas um fato ligado à realidade tirou da invi-sibilidade os catadores, que na busca da sobrevivência diáriamostravam a importância de se reciclar.

O artesanato ‘gritava’ com seus ‘fazimentos’, entreoutras vozes, e isso quebrou um círculo vicioso das em-preiteiras, da corrupção, do descarte na natureza, de con-taminação das águas e muito mais, que estava se per-petuando por mais de dezoito anos. E agora o lixo seconsagra como nobre matéria prima.

When it comes to handicraft, we generally think of smallproductions, often within families, having a secondary or comple-mentary role concerning the family’s income. However, eventssuch as the Feira Nacional de Artesanato (National HandicraftFair), which gathers thousands of artisans, and publications suchas the “O Brasil Feito a Mão” (“Handmade Brazil”) magazineindicate its importance as an economic activity which generatessignificant financial resources and, on the other hand, consumesa great volume of natural resources. How do you perceive handi-craft from the environmentally sustainable economy point of view?

Mantovani - Our understanding is that no activities areas closely knit to the environment as handicraft. Itrepresents a turning point in which human interventionand natural resources interact, bringing pieces to life.

Handicraft contains a human aspect which enables usto transform resources, to recycle by recycling ourselves,build solidary economies, promote culture, understandthe nature’s cycles, perpetuate and perfect processes forfuture generations, tell our stories and a million othercharacteristics that, combined, synthesize the meaning ofsustainability.

We’ve chosen to approach handicraft in order tounderstand the environment and, thereby, contribute tothe formation of a new society in which the environmentshall not dissociate realities.

Do you believe handicraft can help, as an activity, to better allocatesolid residues generated by large urban areas? Could it absorb asignificant portion of our waste?

Mantovani - The recently approved Política Nacional deResíduos Sólidos (National Policy for Solid Residues) incor-porates this concept and provides a better knowledge ofshared responsibilities concerning our waste. We all haveour parts to play in its management. This scenario,combined with our social reality, brought our “garbagepickers” into the spotlight, who demonstrated theimportance of recycling while striving for their keep.

Handicraft had been “screaming out” though its“undertakings”, among other voices, breaking the viciouscircle that included contractors, corruption, environmentalwaste, water contamination and so forth, which had lastedfor more than eighteen years. Now, waste is being con-sidered a noble raw material.

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entrevista / interview 29BRAZIL MADE BY HAND

Você visitou a XX Feira Nacional de Artesanato, em Belo Hori-zonte, no ano passado. Qual foi a sua impressão, enquanto ambien-talista, sobre o evento e os artesãos?

Mantovani - Minha escolha de vida como ambientalistatem origem no artesanato. Não naquele produto encontra-do numa banca, mas na visão de convivência com a natu-reza, cosmopolita quando se pensa em ter o que se precisasem agredi-la, mas convivendo com ela. Conceito ampliadono mais forte dos temas relacionados ao meio ambiente:o consumismo. O artesanato é um antídoto para a armamais poderosa contra a natureza, na humanidade que hojeconsome o equivalente a dois planetas e meio em recursosnaturais.

A feira é um alento, a prova de que a criatividade su-pera muitas dificuldades. Acompanho há algum tempo eme renovo a cada edição nas minha crenças, e que somadasa sua organização, beleza, participação, interação, cultura,musica, comidas, cores, formam um turbilhão de fragmen-tos materializados em coisas que dão sentido ao gostar.

Os artesãos são a concretude de tudo que está expostoe a cada edição conheço um pouco mais de cada um e suacriação. Uma lição de vida que se encerra em cada objeto.Quero sempre me tornar um aprendiz e tenho muito oque fazer.

De que maneira o artesanato em madeira pode contribuir para omeio ambiente? E em que casos ele pode ser prejudicial?

Mantovani - A madeira é um dos aspectos mais evidentesda interação da natureza com o artesanato. Parece um en-canto na matéria prima e nas sensações. Seu aproveita-mento, sendo resultado de outras transformações, não pre-judica. E se tiver a origem controlada pode ainda ser umindutor no uso e na proteção das florestas. Exigir garan-tias de extração sustentável, reaproveitamentos e plantiospara manutenção da atividade passa a ser o melhor caminho,e a sociedade está escolhendo esta opção.

O atual Código Florestal brasileiro foi elaborado em 1965. Quaissão as grandes defasagens dele em relação à atual realidade doplaneta?

Mantovani - O Código ainda é atual, mas pode e deveser alinhavado e somado às legislações posteriores, taiscomo a Lei das Águas, Lei da Agricultura Familiar, Código

Last year, you attended the 20th National Handicraft Fair in BeloHorizonte, Minas Gerais State, Brazil. As an environmentalist,what was your impression of the event and the artisans?

Mantovani - My choice of being an environmentalist isrooted in handicraft. Not on the product itself, but on thevision towards our coexistence with nature, which isentirely cosmopolite and focuses on preventing damagesand collaborating with nature in order to obtain our needs.This concept can be magnified when it comes to one ofthe main causes of environmental issues: consumerism.Handicraft is an antidote to the most powerful weaponagainst nature, the humanity’s current natural resourceconsumption, equivalent to two and a half planets.

The fair is a breath of fresh air, proving that creativitycan overcome many obstacles. I’ve been following thefair for some time now, and my beliefs are renewed eachyear; the combination between its organization, beauty,participants, interaction, culture, music, food and colorsforms a vortex of fragments, materialized on pieces whichjustify our appreciation.

The artisans are the ones who make everythingpossible, and I learn more about each of them and theircreations each year. There’s a life lesson hidden in eachpiece. I’ll never stop learning from them and there willalways be work to be done.

How can wood handicraft contribute to the environment? Andhow can it also be harmful?

Mantovani - The wood is one of the most evident aspectsof the interaction between nature and handicraft. It’s acharming raw material and delights the senses. When wellemployed and benefited through transformations, it doesno harm. In addition, forests can be better protected andemployed through controlled wood sources. The best so-lution towards maintaining this activity is in establishingand demanding certificates for sustainable extraction,reemployment and planting; and society is making thatchoice.

The current Código Florestal brasileiro (Brazilian Forest Code)was elaborated in 1965. What are its greatest discrepancies con-cerning the planet’s current situation?

Mantovani - The Code is still current, but it can and

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30 entrevista / interview BRASIL FEITO A MÃO

“No activities are as closely knit to the environment as handicraft”

Agrícola, Lei dos Crimes Ambientais, Lei da Biodiver-sidade, Política Nacional de Clima, entre outras. Essas mu-danças são aceitas pelos ambientalistas e ainda são aquelasprevistas no Projeto de Lei 6424/2005 do deputado JorgeKhoury (que trata da recomposição de reservas legais).

Quais são os principais alvos de polêmica nas discussões sobre onovo código?

Mantovani - As principais polêmicas não são relativas aoCódigo Florestal, como já disse, mas aquelas resultantesde um golpe preparado por parte da Bancada Ruralista.Eles perderam em quase todas as legislações citadas e,por não se adequar à legislação atual, querem dar um ‘passamoleque’ na sociedade, que ao longo dos anos conquistouum marco legal e socioambiental fantástico, que coloca oBrasil na Vanguarda e na modernidade. Nós, que semprefomos a reboque dos movimentos globais, agora temos aoportunidade de ser referência e não podemos ser des-truídos por interesses de grupos que não aceitam as regras.Então, o que essa parte dos ruralistas quer é acabar com alegislação ambiental. Não está mais em discussão o códigoflorestal... Todas as demandas são no sentido de desmontedo nosso marco legal e, pior, arrastaram setores da

must be adjusted and combined to posterior legislations,such as the Water Law, the Family Agriculture Law, theAgricultural Code, the Environmental Crimes Law, theBiodiversity Law, the National Climate Policy, amongothers. These changes are accepted by envi-ronmentalists,as well as those provisioned in the Law Project 6424/2005 by Congressman Jorge Khoury (about the re-arrangement of legal reserves).

What are the most controversial issues concerning the new code?

Mantovani - The main controversies don’t concern theForest Code, as I’ve mentioned, they concern a deceitfulaction by the Bancada Ruralista (congressmen involved indefending specific rural interests). They’ve lost in practi-cally all mentioned legislations and, due to their dis-satisfaction with the current legislation, want to “fool”this society which has, throughout the years, conquered afantastic legal and socio-environmental landmark, takingBrazil to this issue’s forefront and into modernity. We,who have always only followed global actions, now havethe opportunity to be a worldwide reference and can’t bedestroyed by the interests of specific groups who won’tabide by the rules. What the “ruralists” want is to extinguish

“Não existe nenhuma atividade mais próxima do meio ambiente que o artesanato”

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entrevista / interview 31BRAZIL MADE BY HAND

economia com alegações de que o meio ambiente atrapalhao desenvolvimento. E sabemos que não é a lei (que atra-palha o desenvolvimento), mas a falta de governabilidade,de recursos e de vontade política por parte do Executivoem todos os níveis de governo. Infelizmente, uma práticanacional que precisa ser revertida com a participação e ascobranças por parte da sociedade.

Qual é a sua opinião sobre elas?

Mantovani - A nossa opinião é que esse grupo de depu-tados ruralistas entrou numa luta suicida e quer arrastarmais setores para legitimar sua insanidade, com um agra-vante: por serem perdedores, buscaram se esconder naincompetência dos executivos e agredir a legislação am-biental, para garantirem que suas derrotas sejam acober-tadas e que possam continuar com esse discurso para con-seguirem votos em suas bases. Um oportunismo doentioe desespero de causa.

Com a promulgação da Lei da Mata Atlântica (Lei No 11.428/06) em 2006, e o posterior advento do Decreto da Mata Atlântica(Decreto No 6660/08) em 2008, abriu-se um debate entre rura-listas e ambientalistas. Novamente a discussão vem à tona com aquestão do novo Código Florestal. É possível chegar a um consensoque agrade aos dois lados? Foi possível no caso da Mata Atlântica?

Mantovani - O Caso da Lei da Mata Atlântica é exemplar.Uma lei construída pela sociedade, que reconheceu nadestruição desse bioma as fragilidades da nossa sociedadeem administrar os bens culturais, sociais, econômicos eambientais, e reagiu conquistando a proteção na Consti-tuição, na Lei, e a regulamentação dos estágios sucessionaisda floresta nos 17 Estados, em seus Conselhos Estaduais eno Conselho Nacional de Meio Ambiente, na mais fieltradução das conquistas sociais. Mobilização... mobilização,conhecimento – com o Atlas da Mata Atlântica –, per-severança, luta.

Não se pode misturar essa conquista da Lei da MataAtlântica com a picaretagem desse grupo de ruralistas,que querem usar o código para destruírem esses avançostambém. Vai além, é a legislação que estão tentando ferirde morte.

the environmental legislation. The Forest Code isn’t beingdiscussed anymore… All demands seek to dismantle ourlegal landmark; what’s even worse is that they drag afew sectors of the economy by claiming that the envi-ronment is a barrier to development. And we know thatit’s not the law (that is a barrier to development), butthe lack of governance, resources and political will bythe Executive power in all governmental levels. Unfor-tunately, this is a common national practice that needs tobe changed through society’s participation and control.

What’s your opinion about them?

Mantovani - Our opinion is that this group of “ruralist”congressmen have entered in a suicidal struggle and wantto drag other sectors with them in order to legitimatetheir insanity, having an aggravating circumstance: forbeing losers in their cause, they’ve sought refuge in theexecutives’ incompetence, attacking the environmentallegislation in order to cover up their defeats and sustaintheir position so they can get more votes from their po-litical bases. This demonstrates their sickly opportunismand desperation.

The promulgation of the Atlantic Forest Law Ner 11.428/06 in2006 and the subsequent Atlantic Forest Decree Ner 6660/08 in2008 started an intense debate between “ruralists” and envi-ronmentalists. This discussion is coming up once again due to thenew Forest Code. Is it possible to reach a consensus which pleasesboth sides? Was this possible in the Atlantic Forest discussion?

Mantovani - The Atlantic Forest case is exemplary.Through this law, which acknowledged this biome’s des-truction, our society recognized its weaknesses concerningthe management of cultural, social, economic and environ-mental assets, and reacted by guaranteeing their Consti-tutional protection, through laws, and regulating the fo-rest’s successional stages in all 27 states, their State Coun-cils and in the National Environmental Council, repre-senting an enormous social achievement. Mobilization…mobilization, knowledge – through the Atlantic ForestAtlas -, perseverance, struggle. One can’t mix the AtlanticForest Law achievement with the deceptions perpetratedby this “ruralist” group, who want to use the code todestroy these achievements as well. Even worse, they’retrying to deliver a deadly blow to the legislation.

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32 eu faço / I make BRASIL FEITO A MÃO

POR / BY Jader RezendeFOTOS / PHOTOS Divulgação

O

Santeiro

do

Piauí

The Saint

Carver

from Piauí

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eu faço / I make 33BRAZIL MADE BY HAND

Ao contrário do maior nome do barrocolatinoamericano – Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho(1730-1814) – que iniciou sua vida artística ainda menino,observando o trabalho do pai, também entalhador, umdos mais importantes santeiros do Piauí – RaimundoFerreira Lima, o Mestre Dim – não teve a mesma com-preensão e carinho quando criança. Sua mania de esculpirsantos em pedaços de madeira debaixo de uma árvore nofundo do quintal de casa, era severamente punida pelo paicom surras de rédea de cavalo. Como se não bastasse, aspequenas peças eram queimadas na fogueira, para queficasse bem claro que aquilo “era coisa de gente do mato,que não tinha o que fazer”.

Descendente de negros e índios, segundo entre seteirmãos, o pequeno Dim passou a infância ajudando o pai,um carroceiro que recolhia o que pudesse aproveitar delixo jogado nas ruas de Teresina (PI). Naquela mesma car-roça, também transportavam mudanças. A mãe fazia asua parte, trabalhando como empregada doméstica.Na escola, Dim ficava encantado com imagens dasobras de Aleijadinho publicadas em livros de história.O pai pretendia que ele se formasse em medicina ouengenharia. “Coisas que eu nem sabia o que era”,lembra. Mas o que ele queria mesmo era serartista.

Hoje, aos 45 anos, Mestre Dim é reconhecidointernacionalmente por sua arte. Iniciou sua car-reira em 1981, sob a tutela do célebre MestreDezinho, outro importante santeiro conterrâneo.Dois anos depois, foi premiado no IX Salão deArtes Plásticas do Piauí. Já mostrou suas obras nosmais importantes salões de artesanato do país etambém do exterior, como na Espanha, Portugal,Itália e Estados Unidos, onde fez uma exposiçãoindividual em 2004. Atualmente, trabalha comcrianças e adolescentes no Projeto Cravo, da Se-cretaria de Assistência Social e Cidadania do Go-verno do Piauí.

Casado há 18 anos com a auxiliar de labo-ratório Janiery Sousa, Mestre Dim planeja umfuturo melhor para sua família. “Não quero quemeu filho passe pelas dificuldades que eu passei.Acho que ele não vai seguir meus passos”.

Mestre Dim confessa um grande desejo: co-nhecer as igrejas barrocas de Minas Gerais e ver

As opposed to the most notorious

name in the Latin American baroque scenario, AntônioFrancisco Lisboa, better know as Aleijadinho (1730-1814)– who began his artistic life as a boy, watching his father’scarving work – one of the most notorious saint carvers inthe Piauí State, Brazil, Raimundo Ferreira Lima, knownas Mestre Dim, did not experience the same compre-hension and care as a child. His insistence in sculptingsaints on wooden pieces under a tree in his backyard wasseverely punished by his father, who beat with horse reins.As if that was not enough, the small pieces were burnedon the ground so it would be clear that “those were thingsfor savages, who didn’t have anything else to do.”

Having descended from African-Americans and Na-tive-Americans, and being the second among sevenbothers, little Dim spent his childhood helping his father,who conducted a cart gathering any reusable garbage from

the streets of Teresina, the capital of Piauí. He alsoused the same cart to transport furniture. His motherdid her part, working as a maid. At school, Dim wasfascinated by pictures of Aleijadinho’s works in his

history books. His father wanted him to becomea doctor or an engineer. “I didn’t even know whatthose things were”, remembers Mestre Dim.What he really wanted was to become an artist.

Today, at age 45, Mestre Dim’s art has in-ternational projection. He began his career in1981, tutored by the famous Mestre Dezinho,another important saint carver in the region.

Two years later, his work was awarded in the IXSalão de Artes Plásticas do Piauí (4th Plastic ArtsExposition of Piauí). He has displayed his piecesin the country’s most important handicraft ex-positions, as well as in Spain, Portugal, Italy andthe United States, where he held an individualexposition in 2004. He currently works with chil-dren and teenagers in the Projeto Cravo (CarnationProject), sponsored by the Secretaria de AssistênciaSocial e Cidadania do Governo do Piauí (Secretariatof Social Assistance and Citizenship of the PiauíState Government).

Having been married for 18 years with Ja-niery Sousa, a laboratory assistant, Mestre Dimplans a better future for his family. “I don’t wantmy son to go through what I’ve been through.

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34 eu faço / I make BRASIL FEITO A MÃO

de perto as obras de quem o inspirou. “Já arrumei a malavárias vezes para ir a Minas, mas sempre acontecia umimprevisto, alguma atividade aqui no meu Estado que meimpedia de realizar esse sonho. Na primeira vez fui es-colhido pela Secretaria de Ação Social para abrir os cursosdestinados a menores carentes. Depois, ia para uma feirada Mãos de Minas; fui sorteado com a passagem, mas umturista comprou minhas peças e eu não podia viajar semelas. Mas eu não desisto, um dia vou ver de perto todaessa riqueza que Aleijadinho nos deixou de herança”,confia.

Outro grande anseio de Mestre Dim é ver sacramen-tado um processo que se arrasta há pelo menos dois anos:a inclusão da arte santeira do Piauí no Livro de Registrose Saberes do Ministério da Cultura. Dessa forma, acredita,o artesanato piauiense ganharia maior visibilidade, alémde gerar propostas de políticas públicas para fomentar odesenvolvimento dessa arte tão peculiar de seu Estado.“Seria a realização de um sonho daquele menino que

I don’t think he’ll follow my footsteps”, says Mestre Dim.He confesses one wish: going to Minas Gerais’ ba-

roque churches and seeing the art that inspired him upclose. “I’ve packed my bags for the trip to Minas severaltimes, but something always came up, such as activitiesin my State which prevented me to indulge that dream.The first time around, I was chosen by the Secretaria deAção Social (Secretariat of Social Action) to minister work-shops for poor children. Then, I was going to a Mãos deMinas fair; I had been awarded with plane tickets, but atourist bought my pieces and I couldn’t go without them.But I won’t give up, one day I’ll see this magnificent he-ritage Aleijadinho has left us”, says Dim, confident.

Mestre Dim also has another great wish, the for-malization of a process which has been taking place for atleast two years: the inclusion of the Piauí saint carvingarts in the Livro de Registros e Saberes do Ministério da Cultura(Registry and Knowledge Ledger of the Ministry ofCulture). He believes that the Piauí handicraft would gainmore visibility through this process and that it would enablepublic proposals for the development this State’s peculiarart. “It would be that boy’s dream coming true, a boywho learned his trade under a guava tree, next to a toilet,with bugs biting on his ankles and getting beat by his father,a boy who had no perspective or encouragement besidesthat from God and all saints, from all angels and all souls”,says Mestre Dim. “It would be a victorious coronation,for I never thought I could get this far. We, the Piauíartisans, are optimistic that this will work out.”

Tell us about your childhood. I was born at home, in Teresina, on June 15th, 1965. It

all happened so fast that there was no time to go to ahospital. My grandparents played the baião (popularBrazilian dance and rhythm) and other concertina rhythmsin local parties. My mother was raised as a maid in severalhouses, she had lost her parents when she was 4 years oldand spent her entire life being humiliated by everyone.Her dream was to have her own home. One day she movedto Teresina and got a job at the Army’s Engineering andConstruction Battalion. My father has never wanted herto work, but she’s always been a fighter, as an African-American nordestina (person from northeastern Brazil),she’s faced all challenges with her head held high.

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eu faço / I make 35BRAZIL MADE BY HAND

aprendeu debaixo de um pé de goiaba, perto de umaprivada, apanhando de ‘rei’ e com as muriçocas mordendoas canelas, sem nenhuma perspectiva, sem nenhumincentivo de ninguém, só de Deus e de todos os santos, detodos os anjos e de todas as almas”, diz. “Seria a coroaçãode uma glória, pois nunca acreditei que pudesse chegartão longe. Nós, artesãos do Piauí, preferimos acreditarque isso venha a dar certo”.

Fale um pouco de suas origens. Nasci em casa, em Teresina, no dia 15 de junho de

1965. Tudo aconteceu tão rápido que nem deu tempo deme levarem para a maternidade. Meus avós eram toca-dores de baião e outras festas de sanfona. Minha mãe foicriada nas casas como doméstica, sendo humilhada por tu-do e por todos, pois ela não tinha mãe nem pai desde os 4anos de idade. O sonho dela era ter uma casa. Até que umdia ela veio morar em Teresina e conseguiu um empregono Batalhão de Engenharia e Construção do Exército. Meupai não queria que ela trabalhasse, mas como ela é umaguerreira, nordestina e negra, enfrentou tudo de cabeçaerguida.

Como era a relação com sua mãe?

Quando eu era menino eu dizia para ela que iria ser

grande. Eu subia em cima das mesas, do fogareiro e dizia:Mamãe eu vou ser grande, vou ser importante. O em-prego da minha mãe no quartel era de lavar roupa daquelasmulheres operadas de parto. Eu costumava ajudar minhamãe aos sábados e domingos, e ficava olhando para aquelesbisturis no meio do sangue. Pegava alguns escondido elevava para casa para fazer esculturas no fundo do quintal.Papai, quando via, me batia, mas não adiantava. Dizia queeu deveria mesmo era estudar.

E a escola?

Estudei até o Ensino Médio. Eu mesmo pagava meucolégio, mas como tenho sorte ganhei várias bolsas, daFAE e do MEC, e assim foi melhor para mim porquepoupava dinheiro. Meus irmãos também completaram oEnsino Médio.

How was your relationship to your mother? When I was a small boy, I told her I was going to be

“big”. I climbed on the tables, on the stove, and said:Mommy, I’m going to be “big”, I’m going to be important.My mother’s job at the army was to wash clothes for wo-men who had given birth. I used to help her on Saturdaysand Sundays, and always stared at the scalpels amid all theblood. Sometimes I snuck a few and took them home tomake sculptures in the backyard. My father hit me whenhe caught me, but that didn’t work. He said that I had tofocus on studying.

What about school?

I studied until finishing Middle School. I paid for mystudies myself, but I’m also lucky, so I got several scholar-ships, from FAE and MEC (Brazilian educational ins-titutions), which was good because then I could save somemoney. My brothers also finished Middle School.

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36 eu faço / I make BRASIL FEITO A MÃO

Você começou a trabalhar cedo, ainda menino? Era lavador de carro no centro da cidade. Acordava às

4 horas para vender jornal com amigos. Naquela época sóhavia dois jornais no Piauí. Acordávamos cedo para sermosos primeiros a receber os jornais. Vendia também din-din, que é a mesma coisa que picolé. Catava osso velho evidro velho para vender. Trabalhava ainda de ajudante depedreiro, até que um dia vi o Mestre Dezinho na televisão.Até os 17 anos foi assim.

Quem é Mestre Dezinho?

Um artesão do Piauí. Depois de ver a entrevista dele

na TV, fiz uma peça em casa e levei para ele ver. Ele disseque não dava para eu trabalhar, pois já tinha muita genteajudando. Mas eu não desisti. Três meses depois eu voltei.Só que dessa vez fiz um anjo quase parecido com o dele,que tem lá na Igreja da Vermelha. Quando ele viu, mandoueu entrar. Depois de um ano fui premiado como um dosmelhores artesãos do Piauí.

O que mudou em sua vida depois doreconhecimento de seu trabalho?

Me senti como gen-

te. Minha mãe, AveMaria, ficou muitoalegre! Meu pai, queme batia, também fi-cou muito alegre. Comecei a sairem jornais, televisão. As pessoas domeu bairro me viam com outrosolhos. Antes me viam como ummarginal. Depois, todo mun-do queria aprendercomigo.

Did you start working early, as a young boy?

I used to wash cars downtown. I woke up at 4 AM tosell newspapers with some friends. There were only 2newspapers in Piauí at that time. We woke up early sowe’d be the fist ones to get the newspapers. I also sold“din-din”, which are the same as popsicles. I picked oldbones and glass from the street so I could sell them too. Ialso worked as a bricklayer assistant, until I say MestreDezinho on television one day. That was my life until theage of 17.

Who is Mestre Dezinho? He’s an artisan from Piauí. After seeing his interview

on TV, I carved a piece at home and brought it to him. Hesaid I couldn’t work for him, because he already had toomany assistants. But I didn’t give up. I went back threemonths later. But this time around, I’d carved an angelthat looked like one of his, the one displayed at the Igrejada Vermelha (Vermelha Church). When he saw that, he tookme in. After a year, I was awarded as one of the best ar-tisans in the Piauí State.

What changed in your life after your workgained recognition?

I felt like a real person. My mother

was extremely happy! My father, whoused to beat me, was also very happy. Iappeared on newspapers and on tele-vision. The people in my neighborhoodlooked at me differently. They used tolook at me like I was a criminal. After

that, everyone wanted to learn fromme.

Do you usually work a lot?

I work from 6 AM to 11:20 AM,when I take a break to get

some rest. I start againat 1:30 PM and

work until theend of the

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eu faço / I make 37BRAZIL MADE BY HAND

Costuma trabalhar muito? Trabalho das 6 horas da manhã até às 11h20, quando

paro pra descansar. Volto às 13h30, continuo trabalhandoaté o final da tarde e dou aulas como voluntário. Até empresídio de menores infratores eu dei aula. Ainda dou, seme chamarem.

Como comercializa suas obras?

Vendo de todo jeito: para o exterior e até para pessoashumildes, que pagam em até quatro vezes. Só não possodar de graça. Pergunto para onde vai cada uma delas. Tenhoum caderno onde anoto tudo.

Por quanto vende?

De R$ 25 até R$ 20 mil. As de 15 centímetros custamR$ 25, por exemplo. As maiores, dependendo dos temas,custam mais caro. Que matéria prima utiliza?

Cedro, pedra, buriti, raízes e couro. As madeiras sãorestos que eu encontro na beira dos rios. Acho que asmãos foram feitas pra construir e não para destruir.Quando eu vejo alguma raiz que parece um pássaro oualgum animal, procuro resgatar para fazer meu trabalho.Uso também madeira de reflorestamento, com etiquetado Ibama, pois não quero contribuir com o desmatamento.

Quando sua escola começou a funcionar?

Em 1989, no fundo do quintal da minha casa. Em 1992consegui um espaço em um complexo escolar do MonteCastelo e, em 2006, no dia 18 de maio, registramos emcartório como Conselho de Jovens Artesãos do Piauí. Jápassaram por lá cerca de 400 alunos. Atualmente atendo 25crianças e adolescentes.

Qual a sua próxima meta?

Estou lutando para conseguir patrocínio de uma

exposição individual fora do Piauí. Como você já viu, eunão desisto facilmente e vou conseguir.

afternoon, and I also teach classes as a volunteer. I’ve eventaught in penitentiaries for young transgressors. I’ll stilldo it if called upon.

How do you sell you pieces?

I sell them in all possible ways, sending them to foreign

countries or selling them to humble people, who can payin four installments. The one thing I can’t do is give themaway. I always ask where each one is going. I write eve-rything down in my notebook.

What are the prices?

From R$25 to R$20,000 (~US$15 to US$12,000).

The ones measuring 15 centimeters cost R$25 (~US$15),for example. The bigger ones are more expensive, de-pending on their theme.

What do you use for raw material?

Cedar, stone, moriche palm, roots and leather. Allthe wood comes from remains found on river banks. I be-lieve our hands were made to build and not to destroy.When I spot interesting roots, having bird or animalshapes, I try to collect them so they can be used in apiece. I also work with reforestation lumber, certified byIbama, because I don’t want to be an enabler of de-forestation.

When did you start your own school?

In 1989, in my backyard. Then, in 1992, I was able touse a room in the Monte Castelo school complex and, onMay 18th, 2006, we got registered at the notary’s office as“Conselho de Jovens Artesãos do Piauí” (“Young ArtisanCouncil of Piauí”). We’ve already taught about 400 students.I’m currently teaching 25 children and teenagers.

What’s your next goal?

I’m trying to find a sponsor for an individual expositionoutside Piauí. As you’ve noticed, I don’t give up easilyand I know I’ll get it.

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38 feiras e eventos / fairs and events BRASIL FEITO A MÃO

XIV EXPOSIÇÃO DE ARTESANATO E ENCONTROINTERNACIONAL DE NEGÓCIOS DO NORDESTE28 a 30 de abril de 2010Alimentos e bebidas, confecções, artesanato, móveis, floricultura,cosméticos e saneantes. Com cerca de 250 expositores, será abertaao público das 8 às 18 horas.Promoção: SEBRAE/CE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas EmpresasLocal: Centro de Negócios SEBRAE – Fortaleza – CESite do evento: www.ce.sebrae.com.br

E-mail do evento: [email protected]

3º SALÃO INTERNACIONAL DO ARTESANATO5 a 9 de maio de 2010Artesanato em geral. Com cerca de 500 expositores, será aberto aopúblico das 14 às 22 horas nos dias úteis e das 10 às 22 horas nosábado e domingo.Promoção: Rome Feiras e Promoções Ltda.Local: Pavilhão de Exposições Expobrasília – Brasília – DFSite do evento: www.salaodoartesanato.com.br

E-mail do evento: [email protected]

FEIARTE Edição Paraná24ª Feira Internacional de Artesanato

14 a 23 de maio de 2010Produtos de origem artesanal, decoração, vestuário, utilidadesdomésticas, tapetes, acessórios e complementos de moda, comidastípicas, brinquedos, calçados, bebidas, etc. Com cerca de 250 ex-positores, será aberta a empresários das 15 às 22 horas nos diasúteis, das 14 às 22 horas nos domingos.Promoção: Diretriz Empreendimentos S/A.Local: Centro de Exposições de Curitiba - Parque Barigui - Curitiba - PRSite do Evento: www.feiartepr.com.br

E-mail do evento: [email protected]

MÃOS E ARTE Edição Maringá2ª Feira Nacional e Internacional de Artesanato

4 a 13 de junho de 2010Decoração artesanal, moda, jóias e semi-jóias, acessórios, mó-veis,gastronomia, artesanato em geral. Com cerca de 150 expositores,

será aberta ao público das 15 às 22 horas.Promoção: Red Comunicações e Eventos Ltda.Local: Sociedade Rural de Maringá – Maringá – PRSite do evento: www.redproducoes.com.br

E-mail do evento: [email protected]

3ª FEIRA JUNINA DE ARTESANATO DE MS4 a 30 de junho de 2010Artesanato tradicional, trabalhos manuais, peças utilitárias edecorativas. Com cerca de 70 expositores, será aberta ao públicodas 10 às 17 horas nos dias úteis e das 13 às 17 horas no sábado.Promoção: Fundação de Cultura do Mato Grosso do SulLocal: Mezzanino do Memorial da Cutura e Cidadania (FCMS)– Campo Grande - MSSite do evento: www.fundacaodecultura.ms.gov.br

E-mail do evento: [email protected]

FEIARTE Edição Rio Grande do Sul23ª Feira Internacional de Artesanato

11 a 20 de junho de 2010Produtos de origem artesanal, decoração,vestuário, utilidadesdomésticas, tapetes, acessórios e complementos de moda,comidastípicas, brinquedos, calçados, bebidas, etc. Com cerca de 240 ex-positores, será aberta a empresários das 13 às 21 horas.Promoção: Diretriz Empreendimentos S/A.Local: Centro de Exposições FIERGS – Porto Alegre – RSSite do evento: www.feiarters.com.br

E-mail do evento: [email protected]

MEGA ARTESANAL 201010ª Feira do Setor de Artes e Aretsanato no Brasil

30 de junho a 4 de julho de 2010Artesanato, lançamentos e variedades de marcas e produtos paraartesanato, cursos, demonstrações, etc. Com cerca de 340 expositores,será aberta a empresários das 11 às 19 horas.Promoção: Mazzotti Feiras e Congressos Ltda.Local: Centro de Exposições Imigrantes – São Paulo – SPSite do evento: www.megaartesanal.com.br

E-mail do evento: [email protected]

Feiras e Eventos

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feiras e eventos / fairs and events 39BRAZIL MADE BY HAND

XIV EXPOSIÇÃO DE ARTESANATO E ENCONTROINTERNACIONAL DE NEGÓCIOS DO NORDESTE28 to 30 April, 2010Food and drinks, clothing, handicrafts, furniture, floriculture,sanitizing and cosmetics. With approximately 250 exhibitors, openfrom 8 to 18 hours.Promotion: SEBRAE / CEVenue: Centro de Negócios SEBRAE - Fortaleza - CEEvent website: www.ce.sebrae.com.br

E-mail: [email protected]

3º SALÃO INTERNACIONAL DO ARTESANATO5 to 9 May, 2010Handicrafts. With about 500 exhibitors, will be open to the pu-blic from 14 to 22 hours on weekdays and from 10 to 22 hourson Saturday and Sunday.Promotion: Rome Feiras e Promoções Ltda.Venue: Pavilhão de Exposições Expobrasília - Brasília - DFEvent website: www.salaodoartesanato.com.br

E-mail: [email protected]

FEIARTE Edição Paraná24th International Crafts Fair

14 to 23 May, 2010Handicrafts, decorations, clothing, housewares, rugs, fashion acces-sories, typical food, toys, footwear, beverages, etc.. With about 250exhibitors will be open to entrepreneurs from 15 to 22 hours onweekdays, from 14 to 22 hours on Sundays.Promotion: Diretriz Empreendimentos S / A.Venue: Centro de Exposições de Curitiba – Parque Barigui - Curitiba - PREvent Site: www.feiartepr.com.br

E-mail: [email protected]

MÃOS E ARTE Edição Maringá2nd National and International Handicrafts Fair

4 to 13 june 2010Handcrafted decor, fashion, jewelry and semi-jewels, accessories,furniture, food, handicrafts. With about 150 exhibitors, opens tothe public from 15 to 22 hours.

Promotion: Red Comunicações e Eventos Ltda.Venue:Sociedade Rural de Maringá - Maringá - PREvent website: www.redproducoes.com.br

E-mail: [email protected]

3rd JUNE HANDICRAFTS FAIR OF MS4 to 30 June, 2010Traditional crafts, handicrafts, decorative and utilitarian pieces.With about 70 exhibitors, will be open to the public from 10 to17 hours on weekdays and from 13 to 17 hours on Saturday.Promotion: Fundação de Cultura do Mato Grosso do SulLocation: Mezzanine of the Memorial da Cultura e Cidadania(FCMS) - Campo Grande - MSEvent website: www.fundacaodecultura.ms.gov.br

E-mail: artesanato.fcms @ hotmail.com

FEIARTE Edição Rio Grande do Sul23rd International Handicrafts Fair

11 to 20 June, 2010Products of handicraft, decoration, clothing, housewares, rugs,fashion accessories, typical food, toys, footwear, beverages, etc..With about 240 exhibitors, will be open to entrepreneurs from13 to 21 hours.Promotion: Diretriz Empreendimentos S / A.Venue: Centro de Exposições FIERGS - Porto Alegre - RSEvent website: www.feiarters.com.br

E-mail: [email protected]

MEGA ARTESANAL 201010th Fair of the Arts and Handicrafts

Sector in Brazil

30 June to 4 July, 2010 Handicraft, launches and variety of brands and products forhandicrafts, workshops, demos, etc.. With about 340 exhibitors,will be open to entrepreneurs from 11 to 19 hours.Promotion: Mazzotti Feiras e Congressos Ltda.Venue: Centro de Exposições Imigrantes - Sao Paulo - SPEvent website: www.megaartesanal.com.br

E-mail: [email protected]

Fairs and Events

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Onde Encontrar

Diomar Freitas Dantas(Página 5 / Page 5)

Juazeiro do Norte (CE)Tel. 55 88 3511 3133 / 55 88 9987 9898

Márcio Julião(Página 9 / Page 9)Prados (MG)Tel. 55 31 3353 6867

Josias Cardoso dos Santos e Marilene Alair da Silva(Página 13 / Page 13)

Lagoa Dourada (MG)Tel. 55 32 3363 1650 / 55 32 3371 9500 / 55 32 9936 8208

Eduardo Eleutério de Albuquerque(Página 17 / Page 17)Belo Horizonte (MG)Tel. 55 31 3075 0906 / 55 31 9959 8997

Almir Antônio de Paula(Página 23 / Page 23)

Prados – Distrito de Bichinho (MG)Tel. 55 32 3353 7090 / 55 32 9918 7012

Raimundo Ferreira Lima (Mestre Dim)(Página 32 / Page 32)Teresina (PI)Tel. 55 86 3222 9639 / 55 86 9975 6114 / 55 86 3274 9472 / 55 86 8858 [email protected]

Where to find

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