revista agente social fundação banco do brasil

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Uma parceria editorial

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Revista desenvolvida pela Andreato Comunicação e Cultura para a Fundação Banco do Brasil

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Page 1: Revista Agente Social Fundação Banco do Brasil

Uma parceria editorial

Page 2: Revista Agente Social Fundação Banco do Brasil

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Page 3: Revista Agente Social Fundação Banco do Brasil

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os sete anos de vida, o AlmAnAque BrAsil de CulturA PoPulAr é, sem dúvida alguma, um

verdadeiro sucesso de público. Sua proposta inova-dora de unir a agilidade de textos curtos e curiosos ao resgate da memória nacional, em uma publica-ção com o estilo dos saudosos almanaques, é reco-nhecidamente um êxito junto ao fiel público leitor – composto sobretudo dos passageiros nacionais e internacionas da companhia aérea TAM, mas tam-bém de assinantes e de usuários de centenas de bi-bliotecas públicas de todo o País.

Com um projeto editorial centrado nas coisas boas do Brasil, o AlmAnAque dá luz à nossa cultura de variadas formas: iniciativas bem-sucedidas, perfis de personalidades, fatos históricos, curiosidades, lendas e festas populares, entre tantos outros temas relacionados com a riqueza do País.

A equipe do AlmAnAque considera de fundamental importância o trabalho da Fundação Banco do Brasil. Com o propósito de mobilizar e gerir ações de trabalho e renda, a Fundação vem implementando projetos es-senciais para a promoção da cidadania, o desenvolvi-

mento sustentável, a qualidade de vida e a auto-estima de diversas comunidades espalhadas pelo País.

Ao longo de sua história, o AlmAnAque BrAsil sempre compartilhou desses mesmos ideais. Foi por isso que, a partir de maio de 2005, passou a realizar, em uma ação conjunta, um trabalho de disseminação, valo-rização e estímulo da criatividade e capacidade do povo brasileiro. Trata-se da parceria editorial Agen-te Social – uma seção mensal, disposta em duas pá-ginas da revista, que trouxe reportagens sobre as transformações sociais ocasionadas pela aplicação de tecnologias sociais em diferentes comunidades carentes brasileiras, do Rio Grande do Sul ao Pará; de Minas Gerais ao Piauí; de Goiás ao Maranhão.

Esta revista que você tem em mãos apresenta 12 edicões dessa seção exclusiva, publicadas entre maio de 2005 e abril de 2006 no AlmAnAque BrAsil. São o resultado dessa parceria e, ao mesmo tempo, exemplos de iniciativas simples, mas com alto poder de transformação da vida das pessoas envolvidas.

Boa leitura.

DISSEMINANDO CAMINHOS ESOLUÇÕES TRANSFORMADORAS

Agente Social

A

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4

Editorial

HISTÓRIAS DE UM BRASIL PROFUNDO

D

Elifas Andreato Diretor Editorial do AlmAnAque BrAsil

esde o lançamento do AlmAnAque BrAsil, em 1999, eu sabia que ele poderia ter um papel importan-

te na divulgação de ações sociais espalhadas pelo País. A seção Agente Social, fruto de uma parceria entre a revis-ta e a Fundação Banco do Brasil, foi, sem dúvida, um dos exemplos mais bem sucedidos nessa direção. Não apenas por sua abrangência ou pelo sucesso que fez entre os leito-res, mas também pela realização pessoal de cada um dos en-volvidos no projeto – eu incluído entre esses entusiastas.Ao longo de 12 meses, percorremos o Brasil de ponta a pon-ta. Pará, Paraíba, Rio Grande do Sul, Minas, Goiás, Piauí, Ma-ranhão. Nos deparamos com personagens incríveis, gente que acredita na força de seu trabalho e que luta, coletiva-mente, para superar situações adversas. Conhecemos e re-velamos iniciativas pequenas, soluções produtivas simples,

mas de grande impacto sobre a vida das pessoas envolvidas.Se a missão desse AlmAnAque é descobrir o Brasil para os brasileiros, como sempre defendemos, esta foi uma via-gem proveitosa. Uma parceria que certamente contribuiu para novos olhares sobre o País. Olhares sobre histórias e personagens de um Brasil profundo que, com nossa mo-desta contribuição, sempre buscamos trazer à tona.É também esta parte da missão da Fundação Banco do Brasil, que, apostando na disseminação de tecnologias so-ciais, tem transformado a vida de muita gente. É exemplo de atuação que desejamos sinceramente que seja seguido por outras instituições. Nosso patrono, Câmara Cascudo, tinha razão quando dizia que não há investimento melhor do que em nossa gente. Afinal, o melhor produto do Brasil sempre será o brasileiro.

TRANSFORMAR A REALIDADE

A

Jacques de Oliveira Pena Presidente da Fundação Banco do Brasil

cada ação que desenvolvemos aqui na Fundação Banco do Brasil, uma nova parceria é estabelecida

para a promoção da inclusão e da transformação social. E, a cada intervenção social, uma comunidade é mobilizada para atuar como protagonista de sua própria mudança histórica. Se-ja na área de educação – com os programas de complementa-ção escolar de crianças e adolescentes ou de alfabetização e de inclusão digital de jovens e adultos –, seja na área de geração de trabalho e renda ou na disseminação e reaplicação de tecno-logias sociais – com investimentos direcionados a empreendi-mentos econômicos e solidários –, a Fundação Banco do Brasil dá sua contribuição para a construção de um País mais justo. Desde 2003, a partir dos direcionadores do Programa Fome Zero do Governo Federal enfocados nas políticas estruturais de geração de trabalho e renda para trabalhadores de assenta-mentos da reforma agrária, quilombolas e catadores de mate-

riais recicláveis, por exemplo, a nossa intervenção social é con-tinuamente aprimorada e incorpora abordagens que valorizam as dimensões humana, econômica, cultural e ambiental. Nosso trabalho é o de promover a mobilização das pessoas, articular parcerias, além de multiplicar soluções sociais para alcançar a melhoria da qualidade de vida para todos, construindo o desen-volvimento econômico e social de forma solidária e sustentável.A empreitada que fizemos com a equipe do AlmAnAque BrA-sil, percorrendo muitos lugares do País e mostrando um Bra-sil que está em transformação, foi mais uma dessas parcerias vitoriosas para apresentar um pouco do que as comunidades são capazes de fazer para mudar suas vidas. Nesta revista, são mostradas algumas iniciativas e tecnologias sociais que estamos desenvolvendo com inúmeras organizações, empresas e gover-nos, demonstrando também que é possível uma nova relação social, com maior distribuição de renda e eqüidade.

Page 5: Revista Agente Social Fundação Banco do Brasil

5BB Educar

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Programa AABBComunidade

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Cooperativas de processamentode açaí

19Estações Digitais

15

Tecnologia Alternativa para Produção de Borracha na Amazônia

11

Minifábricas de processamento de castanhas de caju

07

Programa 1 Milhãode Cisternas

31Projeto PROMEL

35

Produção de derivados do coco de babaçu

47Projeto Catabahia

51

Projeto UrucuiaGrande Sertão

39

Projeto de Captação de Águas Superficiais de Chuvas em Barraginhas

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Índice

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Com produção anual de 200 mil toneladas, o Brasil é o terceiro

maior exportador de castanhas de caju do mundo. Mas o desperdício

é grande. Perdem-se 90% da polpa e um terço da castanha. E caem

por terra muitas possibilidades de superação da fome e de geração de

emprego e renda. Afinado com os objetivos do Programa Fome Zero,

foi criado o projeto das minifábricas de processamento de castanhas

de caju, abrindo novo horizonte para os trabalhadores rurais.

Cinco Estados são atendidos: Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí

e Rio Grande do Norte. Estão sendo implantadas ou revitaliza-

das 50 unidades, assim como cinco centrais de classificação e

seleção de castanhas. Outras 10 unidades para produzir deri-

vados da polpa serão instaladas. O investimento chega a 45 mi-

lhões de reais. O projeto aposta na organização dos agricultores

e, principalmente, confia no potencial deles para construir jun-

tos o sonho possível: a auto-sustentabilidade de suas comunida-

des. A meta é gerar 5.800 novos postos de trabalho diretos e in-

diretos e aumentar a renda média mensal dos agricultores em,

pelo menos, 520 reais.

Minifábricas de Processamento de Castanhas de CajuZé Lourenço, Ceará maio de 2005

Page 8: Revista Agente Social Fundação Banco do Brasil

A

Minifábrica de caju abre caminho para o pequeno crescer

O negócio ia falir, quando a Fundação Banco do Brasil e seus parceirosentraram com recursos e cursos de capacitação. Pronto: mais de 50 unidades

como esta vão surgir, gerando trabalho e renda para os agricultores.

CASA DO ASSEnTAMEnTO zé LOUREnçO

ETAPAS DO PROCESSAMEnTO: DESCASqUE DA CASTAnhA, SECAGEM, LiMPEzA, SELEçãO E PESAGEM PARA A vEnDA. 5.800 POSTOS DE TRABALhO EM CinCO ESTADOS.

TExTO: ROSAnGELA GUERRA. FOTOS: iOLAnDA hUzAk.

fumaça branca que sai da chaminé não tem nada a ver com a eleição do no-

vo papa. É sinal de que está a todo vapor a minifábrica de beneficia-mento da castanha de caju da As-sociação Comunitária Construto-res da Paz. “Dá muito orgulho na gente”, emociona-se o trabalhador rural Antônio Freire, enquanto quebra as cascas das castanhas.Tecnologia social desenvolvida pela Embrapa do Ceará, e re-aplicada pela Fundação Banco do Brasil e vários parceiros, a minifábrica foi inaugurada em abril de 2003. Fica no Assen-tamento Zé Lourenço, em Chorozinho, a 64 quilômetros de Fortaleza, Ceará. Ali vi-vem 71 famílias, gente que já migrou para São Paulo, mas resolveu voltar à terra natal com esperança de dias melhores.O assentamento, com 1.915 hectares, tem solo arenoso e seco como o de uma praia ensolarada, do jeito como cajueiro gosta. As famílias moram em casas caiadas, com

cisterna para recolher água da chuva. Dividiram fraternalmente o cajual, com árvores imensas, algumas com 40 anos.No final da década de 1990, a pro-dução começou a cair, denunciando a falta de poda e dos “tratos cultu-rais”. Mas não era só isso.“De outubro a dezembro a gente

trabalhava na colheita e vendia a castanha in natura para atra-vessadores. O resto do ano era sem trabalho e sem renda”, lem-bra Reginaldo Sales, um dos primeiros líderes da comunidade.Junto com outros moradores, Reginaldo fez as contas e viu

que valia a pena investir na minifábrica. Assim, poderiam agregar valor ao produ-to, além de gerar emprego na comunida-de. Com dinheiro do próprio bolso, ba-talharam para comprar algumas máqui-nas. Em vão. Depois de quatro meses a minifábrica já não funcionava. Faltavam planejamento para estocar a castanha, financiamento e experiência.

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Com produção anual de 200 mil toneladas, o Brasil é o ter-ceiro maior exportador de castanhas de caju do mundo. Só ficamos atrás da Índia e do vietnã. Mas o desperdício por aqui ainda é grande. Perdem-se 90% da polpa e um terço da castanha. Assim, caem por terra muitas possibilidades de superação da fome, de geração de emprego e renda.Afinado com os objetivos do Programa Fome zero, o pro-jeto das minifábricas foi desenhado pela Fundação Ban-co do Brasil em parceria com Embrapa, Sebrae, Banco do Brasil, Telemar e Conab, além de outros agentes locais.no Ceará, Bahia, Maranhão, Piauí e Rio Grande do norte estão sendo implantadas ou revitalizadas 50 unidades, assim como cinco centrais de seleção de castanhas. Ou-tras dez unidades para produzir derivados da polpa serão instaladas. O investimento chega a 15 milhões de reais.O projeto aposta na organização dos agricultores e em seu potencial para construir juntos o sonho possível: a susten-tabilidade de suas comunidades. A meta é gerar e manter 5.800 novos postos de trabalho e aumentar a renda men-sal dos agricultores.

Tecnologia Social dá PrêmioP E R I S C Ó P I O

AnTôniO E FAMÍLiA: ORGULhO.

Sonho possível

Para viajantes europeus do século 16, os cajuais sem fim do litoral brasileiro eram uma visão do paraíso. Índios do interior guerreavam com os que viviam na costa pela posse temporária dos cajuais na época da frutificação. O nome vem do tupi acaiu: noz que se produz. não demorou para que as naus portuguesas levassem mudas para Goa, na Índia, e para países africanos como Angola, Moçambi-que e quênia. O caju conquistou o mundo.

A Fundação Banco do Brasil, em parceria com a Petrobras, deu a partida para a terceira edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. A iniciativa tem como objetivo identificar soluções de transformação social, que apresentem resultados comprovados e possam ser reaplicadas em escala. Até junho poderão ser inscritas tecnolo-gias que tragam soluções nas áreas de educação,

saúde, energia, habitação, geração de renda, meio ambiente, alimentação, recursos hídricos e direitos da criança e adolescente.Oito prêmios, cada um no valor de 50 mil reais, serão entregues às entidades vencedoras. Podem participar instituições sem fins lucrativos – ongs, prefeituras, uni-versidades, entre outras – e empresas. inscrições até 30 de junho no sítio www.fundacaobancodobrasil.org.br.

CRiAnçADA viSiTA A MiniFÁBRiCA.

Festa para os olhos

...que aquilo que comumente se acredi-ta ser a fruta – a parte carnosa da qual se extrai o suco – é apenas o pedúncu-lo, espécie de haste inchada que sus-tenta o verdadeiro fruto, a castanha?

MiniFÁBRiCA DE ChOROzinhO: COnSTRUçãO DO SOnhO DE SUSTEnTABiLiDADE DE 71 FAMÍLiAS.

VoCê sABiA...

O projeto ganhou vida nova quando a Fundação Banco do Brasil e seus parceiros injetaram recursos pa-ra equipar a minifábrica, investir na plantação de mudas e no trato dos cajueiros, e oferecer cursos de ca-pacitação para que os trabalhadores aprendessem sobre cooperativismo. A idéia é que os pequenos produto-res se tornem exportadores, esco-ando a produção para uma coope-

rativa, que negocie o produto no mercado interno e externo.

Exemplo para o futuroHoje, a minifábrica tem capacidade para beneficiar 208 to-neladas de castanhas por ano. A renda familiar só não atin-giu a meta porque a safra do ano passado foi prejudicada por uma chuva fora de hora. Animados, os trabalhadores se alegram com a visita dos alunos da escola do assentamento e mostram as etapas do beneficiamento. As castanhas se trans-formam em amêndoas grandes e alvas, como americanos e eu-ropeus apreciam. “É bom que as crianças vejam o que estamos conseguindo. No futuro, são elas que vão tocar esse barco”, diz Cleonilson de Araújo, coordena-dor da minifábrica.

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Pesquisadores do Laboratório de Tecnologia Química da Uni-

versidade de Brasília (UnB) desenvolveram o projeto Tecbor –

Tecnologia Alternativa para Produção de Borracha na Amazônia.

Em vez de colher o látex e vender a borracha bruta, a tecnologia

possibilita aos seringueiros beneficiar a seiva das árvores e agre-

gar valor ao que vendem, empregando técnicas e materiais sim-

ples e de baixo custo. O produto final é uma placa de borracha

colorida, vendida por um preço até três vezes maior.

Em 2001, o projeto recebeu o troféu de excelência em Tec-

nologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. No ano seguin-

te, graças à parceria entre a UnB, o Ministério Extraordinário

de Segurança Alimentar e a Fundação Banco do Brasil, a téc-

nica passou a ser disseminada entre associações, comunidades

e grupos de seringueiros. Hoje, as unidades de processamento

funcionam em 10 municípios do Acre, Amazonas, Pará e Rondô-

nia, beneficiando cerca de 420 famílias.

Tecnologia Alternativa para Produção de Borracha na AmazôniaSantarém, Pará junho de 2005

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E

Guardiães da floresta revitalizamtradição secular da borracha

Não é preciso muito. Para os pesquisadores, uma idéia nova, alguma ciência e persistência. Para os povos da floresta, instrumentos, capacitação e organização. Junte-se visão estratégica e poder de articulação para os parceiros do projeto, e pronto: uma atividade fadada à decadência

passa a gerar trabalho mais qualificado e lucrativo para muita gente.

O CORTE DA SERinGUEiRA E AS ETAPAS DE PROCESSAMEnTO DA FOLhA SEMi-ARTEFATO; iMPREGnAnTE MAU ChEiRO E ASPECTO GROSSEiRO DãO LUGAR A UM MATERiAL LiMPO E BOniTO.

Texto: João Rocha. Fotos: iolanda huzak.

hORA DA PESAGEM: REMUnERAçãO TRêS vEzES MAiOR.

dinelson, Sueli, Júlio, Djalma. Celso, Benedito, Assunção. Di-do, Elias. Suas mulheres e seus

maridos. Seus filhos, pais e avós. Tantos outros. Faz tempo que estão lá, embre-nhados na Floresta Amazônica, morada da maior biodiversidade do planeta. O sol ainda nem surgiu e eles já enve-redam pelas trilhas que levam aos se-ringais. Há décadas o ritual se repe-te, atravessa gerações. Sangram serin-gueiras em busca do incessante látex que se transformará na borracha usa-da no mundo todo.No Brasil, a atividade começou nos úl-timos anos do século 19. Houve perío-dos áureos, com apogeu durante a Se-gunda Guerra Mundial. O País transformou-se no maior produ-tor mundial de borracha natural. Mas logo ficou para trás.Sucessivos governos não deram importância ao trabalho des-sa gente. O que era um mercado farto para os seringueiros se tornou cada vez menos atraente. Trabalha-se muito, recebe-se

pouco. Não restam alternativas senão buscar sustento em outras paragens, ou mesmo dedicar-se a atividades muitas vezes prejudiciais à floresta.

Tecnologia socialBuscando contrariar a sina que se re-pete há décadas, pesquisadores do La-boratório de Tecnologia Química da Universidade de Brasília (Unb) desen-volveram o projeto Tecbor – Tecno-logia Alternativa para Produção de Borracha na Amazônia. Trata-se de idéia simples. Em vez de colher o lá-tex e vender a borracha bruta, os se-ringueiros beneficiam a seiva das ár-vores e agregam valor ao que vendem,

empregando técnicas e materiais simples e de baixo custo. O produto final é uma placa de borracha colorida, vendida por um preço três vezes maior. O impregnante mau cheiro e o aspecto grosseiro – fruto de processamento natural por bac-térias – dão lugar a um material limpo e bonito.

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SERinGUEiROS DE SURUCUÁ: “JUnTOS, TEMOS FORçA PARA SEGUiR ADiAnTE.”

Prêmio distribui 400 mil reais a soluções transformadoras

P E R I S C Ó P I O

Seguem até 30 de junho as inscrições para o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, que visa identificar e selecionar soluções reaplicáveis de transformação social.Oito prêmios no valor total de 400 mil reais serão dis-tribuídos nas áreas de alimentação, educação, ener-gia, meio ambiente, geração de renda, saúde, habi-tação, agricultura familiar, recursos hídricos e direitos

da criança e do adolescente. Podem participar ongs, prefeituras, universidades e empresas. As iniciativas que atenderem aos requisitos necessários serão certi-ficadas e passarão a compor o Banco de Tecnologias Sociais, onde já estão cadastradas mais de 200 ex-periências bem-sucedidas em diversas áreas. A ceri-mônia de premiação acontece em 24 de novembro. inscrições: www.fundacaobancodobrasil.org.br.

DiDO E FAMÍLiA: “DÁ GOSTO TRABALhAR ASSiM.”

LÁTEx ESCORRE PELA SERinGUEiRA.

“Essa gente é muito importante. São verdadeiros guardiães da flo-resta. É preciso garantir-lhes tra-balho e renda para que não aban-donem seus postos”, defende o professor Floriano Pastore, coor-denador e idealizador do Tecbor.As placas de borracha – ou FSAs (folhas semi-artefato) – podem ser vendidas diretamente à indús-tria. Ao dispensar intermediários que ficam com parte substancial dos lucros, as FSAs valorizam o ofício dos seringueiros. Satisfei-tos, eles vêem o fruto do traba-lho transformar-se em apoios pa-

ra mause (mouse pads) e outros produtos.Desde 2003, graças a parceria entre a UnB, Ministério de Se-gurança Alimentar, Ibama e Fundação Banco do Brasil, a téc-nica é disseminada entre grupos de seringueiros. Hoje, há unidades de processamento em dez municípios do Acre, Ama-zonas, Pará e Rondônia, envolvendo 420 famílias. O custo to-tal de implantação por unidade é de 3,5 mil reais. Em 2005, a Fundação Banco do Brasil planeja investir 1,5 milhão de reais em projetos com trabalhadores agroextrativistas.

Orgulho e renda“Dá gosto trabalhar assim”, diz Donildo dos Santos, o Dido, se-ringueiro da pequena Jamaraquá, comunidade encravada na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará. Assim como o pai, a vida inteira ele trabalhou nos seringais. No início de 2004, aprendeu a produzir as FSAs e passou a tocar, junto com vizinhos, a uni-dade construída por eles mesmos.“Antes a gente tra-balhava o mês intei-ro para conseguir 100 reais, e quando

dava. Hoje, dá para ganhar até 300”, conta. “A vida não está garantida, mas dá para criar um pouco melhor as crianças”, emenda Djalma, outro que aderiu à tecnologia social.Satisfação semelhante se observa na margem oposta do exten-so Rio Tapajós. Uma hora e meia de barco conduz a Surucuá, uma das 64 comunidades da Reserva Extrativista Tapajós-Ara-piuns. Sete das 91 famílias decidiram aplicar a nova técnica. Construíram um barracão, fizeram o curso de treinamento e receberam kits com o material: calandras, baldes, bandejas, medidores, espátulas, insumos. “Começamos agora, mas já dá para ver os resultados”, diz o orgulhoso Júlio, enquanto posa ao lado do resultado da primeira semana de trabalho.

Comunidade pede para trabalhar unida

Em Surucuá, os pesquisadores da UnB se surpreenderam com um pedido dos seringueiros. A orientação era para que as famí-lias produzissem separadamente. Cada uma deveria processar o látex que colheu e receber pela produção. O grupo pediu para produzir em conjunto e repartir igualmente a remuneração.“Sempre quisemos trabalhar o látex de um jeito diferente. Agora que surgiu a chance, não queremos perdê-la. Pensamos: isso aqui não é uma comunidade? Então vamos trabalhar juntos”, lembra o seringueiro Elias. “Há muito tempo aprendemos que não dá para esperar nada de ninguém. Se a gente não se juntar e encontrar o caminho para nossos problemas, seremos sempre mais fracos. Juntos, temos força para seguir adiante.”

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Estações DigitaisCocalzinho de Goiás, Goiás julho de 2005

As Estações Digitais fazem parte do Programa de Inclusão Di-

gital da Fundação Banco do Brasil, executado em parceria com

organizações sociais de todo o País. Essas organizações, já atuan-

tes em suas comunidades, respondem pela escolha de jovens que

participam de um ciclo intenso de debates e formação sobre ci-

dadania, educação ambiental, liderança, sustentabilidade, prá-

tica de projetos e modelos de redes, além de noções de infor-

mática. De volta às suas cidades, eles têm a tarefa de multiplicar

conhecimentos e direcionar as atividades das Estações Digitais

para as necessidades locais. Iniciado em 2004, o programa já es-

truturou 166 estações.

O próximo passo do Programa de Inclusão Digital é a concre-

tização do maior Centro de Recondicionamento de Computado-

res do País – o CRC do Gama, no Distrito Federal – com objetivo

de democratizar o acesso às tecnologias de informação, por meio

da distribuição de equipamentos de informática recondicionados

a escolas públicas, ONGs e bibliotecas. O projeto irá possibilitar

também a realização de cursos de capacitação que vão de infor-

mática básica a montagem e configuração de computadores para

comunidades de baixa renda.

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S

Estação Digital espalha-se Brasil afora

Programa desenvolvido em parceria com ongs de todo o País leva informática a lugares onde até geladeira é raridade. E potencializa ações capazes de mudar as comunidades.

Texto: Juliana Winkel. Fotos: iolanda huzak.

ESTAçãO DiGiTAL: TECnOLOGiA COMO CAMinhO PARA TRAnSFORMAR A COMUniDADE.

ADRiAnA (à DiREiTA) EM UMA DAS OFiCinAS DE CAPACiTAçãO.

olidão, cidade de 5 mil habitantes, fica no inte-rior de Pernambuco, a

300 quilômetros do Recife. Vive a realidade do campo. Depen-dendo das chuvas, a renda da lavoura permite comprar algum bem de consumo – televisões e antenas parabólicas fazem mais sucesso até do que geladeiras. O povo de Solidão gosta de se informar. Mas os computado-res são raros.“Antigamente, só na prefeitura se podia ter acesso à internet. Mas a conexão cai toda hora”, diz Adriana de Lima Gomes, jo-vem voluntária de uma estação digital recém-aberta na cidade.Apoiados por duas associações comunitárias, ela e outros jo-vens administram o espaço, organizam cursos de informática e atendem à população sedenta pela web em banda larga.“A procura é enorme. Até o pessoal da prefeitura vai à estação. Por isso, precisamos colocar mais computadores.”Adriana foi uma das jovens escolhidas para passar uma semana em Brasília, participando de capacitação para se tor-nar educadora social. O curso faz parte do programa Estação Digital, desenvolvido pela Fundação Banco do Brasil e executado em parceria com organizações comunitárias. Jovens de todo o País participam de oficinas e debates sobre cidadania, liderança, sustentabilidade, informática. De volta a suas cidades, têm a tarefa de multiplicar

conhecimentos e direcionar as atividades das estações para as necessidades locais. Passados seis meses de implantação, em que recebem suporte da Funda-ção, os educadores sociais são encorajados a buscar parcerias para manter o projeto.

Avidez por informaçãoIniciado em 2004, o programa já pôs em funcionamento 72 esta-ções digitais. Até o final de 2005,

espera-se que outras cem estejam em operação.“As pessoas são ávidas por informação”, diz Cecília Leite, coordenadora da ong Mediateca, parceira da Fundação Ban-co do Brasil na idealização e execução do programa. “No curso, elas passam a ver a tecnologia como um caminho pa-ra a transformação da comunidade e como um meio para valorizar sua própria riqueza cultural”, afirma. “A informa-ção não é um fim, mas um meio para o desenvolvimento“,

completa Germana Macena, uma das coordenadoras do projeto dentro da Fundação Banco do Brasil.Junto com os cursos de informática, nascem oficinas de arte, debates sobre saúde e cidadania, mobilizações para resolver questões do município, alter-nativas de geração de renda.É o que acontece em Cocalzinho de Goiás, 12 mil habitantes, a 100 quiômetros de Brasília. Inaugurada em fevereiro, a Es-tação Digital da cidade tem 200 alunos

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Prêmio de Tecnologia Social: inscrições prorrogadas

P E R I S C Ó P I O

Foram prorrogadas até 17 de julho as inscrições para o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Oito prêmios, cada um no valor de 50 mil reais, serão distribuídos a iniciativas capazes de gerar soluções na área social, com potencial para reapli-cação em outras regiões. Serão premiados projetos nas áreas de alimentação, educação, energia, meio ambiente, geração de renda, saúde, habitação, agri-

cultura familiar, recursos hídricos e direitos da crian-ça e do adolescente. Os projetos de destaque passa-rão a compor o Banco de Tecnologias Sociais, que já conta mais de 200 experiências bem-sucedidas em diversas áreas. A cerimônia de premiação será realizada em 24 de novembro. Ongs, prefeituras, uni-versidades e empresas podem participar. inscrições: www.fundacaobancodobrasil.org.br.

DOnA DEUSA nA RÁDiO viTóRiA.

ESTAçãO DE COCALzinhO: ACESSO à inTERnET, AULAS DE ARTE E inFORMÁTiCA.

Construtores de conhecimento

vAGnER (AO CEnTRO): 4 MiL ALUnOS E 22 ESTAçõES ESPALhADAS POR GOiÁS E MinAS.

vALPARAÍSO: O MOviMEnTO nãO PÁRA.

– a maioria com bolsas providas por organizações comunitárias e empresas da região.“Aqui temos um meio de acesso à internet, além de ser ponto de encontro das pessoas. Muitas preferem contribuir com a Esta-ção a pagar para ter internet em casa”, afirma Deuselina Teles, coordenadora da Estação.Dona Deusa, como é conhecida, é figura atuante. Há dois anos, fechou a churrascaria que co-

mandava para se dedicar à causa social. No amplo espaço on-de funcionava o restaurante está instalada a Estação, além de um ateliê de artes onde crianças aprendem pintura e desenho. Os temas das aulas de informática – artes, saúde, medicina natural e reaproveitamento de alimentos, entre outros – são discutidos e divulgados pela Rádio Vitória, estação comunitá-ria cuja concessão Deusa conseguiu após um ano de reivindi-cações e viagens quase diárias a Brasília.“A rádio é uma escola para sonhadores. Aqui falamos sobre prevenção à natalidade, saúde da mulher, cidadania, educa-ção. Tudo de forma leve, com muita música. O importante na rádio é a liberdade de expressão”, conclui, numa filosofia co-mum a todos os projetos do espaço.

Vagner Nascimento, 18 anos, desde os 12 atua em projetos sociais. Ele é coordenador da ong Programando o Futuro, com sede em Valparaíso de Goiás, a 40 quilômetros da capital federal. Escolhida como organização-piloto para a implanta-ção do programa Estação Digital, a ong coordena 22 unidades espalhadas por Goiás e Minas Gerais. Já formou cerca de 4 mil alunos. “O acesso à informática tem de ser irrestrito, como a alfabetização. Senão, vira uma peneira social.”Para divulgar os cursos e as instalações, voluntários distribuem “vales-internet” gratuitos, que dão direito a uma hora de uso da rede – o que torna o local sempre movimentado. Parcerias com escolas municipais possibilitam aos estudantes o acesso aos computadores, nem sempre presentes em sala de aula. Os próximos passos são cursos específicos para pessoas com defi-ciência visual e mental.“A cultura de nossa sociedade não está acostumada a atuar com prevenção de problemas, mas sim a apagar incêndios”, diz Vagner. “Aqui, procura-mos mostrar que o cidadão é co-autor e construtor do pró-prio conhecimento.”

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A paraense Igarapé-Miri, a 130 quilômetros de Belém, abri-

ga a maior produção mundial de açaí. De lá saem 300 tonela-

das do fruto por mês. Dos 58 mil habitantes, cerca de 30 mil vi-

vem nas comunidades ribeirinhas, em casas de palafita, a maio-

ria sem energia elétrica. Em 1996, as comunidades passaram a

se organizar, criaram associações, fizeram reuniões e decidiram

explorar melhor os açaizais. Com o auxílio do Programa Pobreza

e Meio Ambiente na Amazônia (Poema), comunidades mirienses

formaram uma cooperativa de colheita de açaí. A Coopfruit deu

um salto em 2001. Conseguiu incentivo para montar fábrica de

processamento de açaí, produção e congelamento de polpa. Com

investimento da Fundação Banco do Brasil, em 2003 recebeu ma-

quinaria nova para lavar, selecionar, despolpar, refinar, pasteuri-

zar, embalar e estocar. O preço pago pela lata de açaí saltou de 1

para 6 reais. Hoje a cooperativa exporta a polpa congelada para

todo o Brasil, Austrália, Suíça e Estados Unidos.

Cooperativasde processamentode açaíIgarapé-Miri, Pará agosto de 2005

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A

Diamante negro de Igarapé-Miri para o mundo

Riqueza vegetal abundante no município paraense, o açaí sempre criou alguma renda. Mas era pouco valorizado. Com incentivo, virou produto lucrativo para as comunidades ribeirinhas.

Texto: Mariana Proença. Fotos: iolanda huzak.

AçAÍ: EM iGARAPé-MiRi, nO PARÁ, A MAiOR PRODUçãO MUnDiAL DO FRUTO.

COOPERADA COLhE AçAÍ EM nAzAREzinhO.

paraense Igarapé-Miri, a 130 quilômetros de Belém, abriga a maior

produção mundial de açaí. Por onde a gente anda, vê as pal-meiras na paisagem. Saem 300 toneladas do fruto a cada mês. Mas ainda não é possível ver na cidade o retorno de tanta rique-za. Dos 58 mil habitantes, cer-ca de 30 mil (54%) vivem nas comunidades ribeirinhas, em palafitas, a maioria sem energia elétrica. Vida simples. Na cidade, os problemas são maiores: de-semprego, violência, falta de estrutura.Tanta dificuldade e tanto potencial. Em 1996, comunidades passaram a se organizar, criaram associa-ções, fizeram reuniões e decidiram ex-plorar melhor os açaizais. A ação ganhou muitos braços: de um lado, o incentivo do governo municipal e do federal; de outro, a Universidade Federal do Pará (UFPA), que encomendou aos técnicos diagnóstico das necessidades comunitárias. Início de investimento no desenvolvimento susten-tável da região.O resultado alcançado revelou que o princi-pal problema da população de Igarapé-Miri era a quantidade de açaí colhido. Durante anos, as comunidades colhiam e vendiam a preço baixo; pouca procura para muita produção. Ribeirinhos chegavam a voltar do porto e jogar fora toda a colheita.

União traz resultadosEm 1999, com o apoio do Pro-grama Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia (Poema), comuni-dades mirienses formaram uma cooperativa de colheita de açaí. A intenção era unir os ribeiri-nhos com o objetivo de garantir a compra da produção por me-lhor preço. A Cooperativa Agroin-dustrial de Trabalhadores e Pro-dutores Rurais de Igarapé-Miri (Coopfruit) deu um salto em 2001.

Conseguiu incentivo para montar fábrica de processamento de açaí, produção e congelamento de polpa.Com investimento da Fundação Banco do Brasil, em 2004 a coo-

perativa recebeu maquinaria nova, para lavar, selecionar, despolpar, refinar, pasteurizar, embalar e estocar. Além disso, a polpa do açaí já sai da fábrica com a embalagem do com-prador, o que valoriza ainda mais o produto. O consultor na área de pesquisa e produção de açaí da Embrapa, Raimundo Frazão, diz:“Esse equipamento que temos é um dos melhores da região, nem em Belém existe tão alta tecnologia.”Durante a safra, são produzidas 4 toneladas e meia de polpa por hora. De uma ponta a outra, tudo é bem organizado. Hoje, os ribeirinhos nem precisam sair de casa para levar açaí ao porto da cidade. Diariamen-te, colhem o fruto; e, em cada uma das 17 comunidades, elegem um coordenador

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Das comunidades para as telas

P E R I S C Ó P I O

A Fundação Banco do Brasil, em parceria com a Tv Câ-mara, apresenta a série de documentários Brasileiros. O projeto tem como objetivo mostrar histórias de pessoas que, com tecnologias simples e força de vontade, trans-formaram suas vidas e as de suas comunidades.O primeiro episódio conta a história dos habitantes de Riacho Fundo ii e Recanto das Emas, em Brasília. Mais de 100 famílias que formaram cooperativa de coleta e

reciclagem de lixo mostram as mudanças na qualidade de vida com a criação do projeto. O segundo episódio, que vai ao ar em agosto, retrata o sistema Mandalla de Produção Permacultural, projeto inovador de irrigação que ganhou o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social e será reaplicado em diversos Estados brasileiros. horários de exibição em www.fundacaobancodobrasil.org.br.

Uma comunidade que participa do projeto é a Associação de Mulheres de igarapé-Miri. Com 234 sócias, surgiu com o objetivo de ajudar as mulheres da região a tirar docu-mentos e lutar pelos próprios direitos:“Temos de nos preparar para fazer a nossa parte”, alerta Raimunda da Costa Almeida, a Raimundinha, uma das fundadoras. “Temos de acreditar no nosso trabalho.”Desde 2003, 27 mulheres participam, e pretendem au-mentar esse número. Muitas sofreram preconceito dos maridos: eles achavam que não ia dar certo.“no começo, ele não gostava que eu saísse, mas agora mudou porque viu que deu certo”, lembra Odiléia Correia Lobo, a vanda, da região de Furo do Seco Dentro.Para muitas dessas mulheres, a discussão do movimento foi o que de mais importante aconteceu na vida delas, porque desenvolveu um lado forte que não conheciam. A Associação de Mulheres é uma das mais organizadas. Tem balança própria, que pesa o açaí na casa de ca-da uma, e o leva até o porto, onde outras cooperadas o transportam e entregam na fábrica.O açaí é a principal matéria-prima da associação, mas a habilidade para fazer o artesanato é outra opção durante a entressafra. Prova de que ainda há produtos nativos ricos em oportunidades na região.

E para as mulheres, nada? Tudo!responsável que retira dos 277 cooperados as rasas [alquei-res] de açaí. Entregam na fábrica da cooperativa e recebem no ato o dinheiro. Diz Pedro Cardoso, da Associação de Morado-res e Produtores Rurais de Nazarezinho do Meruú:“Hoje o açaí não falha, as pessoas se dedicam ao cultivo, o preço está equilibrado. Era um sacrifício, hoje dá para guardar um dinheiro.”

Austrália, Suíça, Estados UnidosAtualmente, o preço da cooperativa é fixado: em média, 6 reais por lata de 14 quilos. Antes, o preço não chegava a 1 real. E os ribeirinhos agora têm garantia de que venderão todo o açaí colhido. A produção da fábrica não pára; 50 funcionários se revezam nas máquinas para dar conta do trabalho. De lá sai o açaí congelado e embalado para todos os Estados brasileiros, e Austrália, Suíça, Estados Unidos.A sensação do momento, que bate recorde de vendas, é a com-binação de açaí com guaraná, banana, mel ou acerola feita já nas máquinas da cooperativa. Esses energéticos, ricos em cál-cio, ferro, proteínas e vitamina C, têm feito sucesso Brasil afora e são requisitados também no exterior.A cooperativa tem investido ainda na qualidade. Ministra cur-sos de formação para todos os cooperados, em parceria com a UFPA, o Poema e órgãos governamentais. Preocupa-se com os açaizais; o manejo consiste em cortar os coqueiros mais altos e deixar os menores crescer, o que aumenta a produção. O objetivo é diminuir cada vez mais o período da entressafra.

Hoje, quase não há intervalo, graças a esse cuidado.Outras medidas contribuem para a qualidade do açaí da coopera-tiva: uso de luvas, lonas; e, para o corte, seleção dos cachos mais maduros – totalmente pretos. As iniciativas trazem benefício para as comunidades e aumentam ain-da mais o valor do açaí miriense:“É o nosso diamante negro”, de-fine Antônio Braga de Oliveira, de Nazarezinho.EMBALAGEM DE AçAÍ.

RAiMUnDinhA (à DiREiTA): “TEMOS DE ACREDiTAR nO nOSSO TRABALhO.”

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Programa AABB ComunidadeErechim, Rio Grande do Sul setembro de 2005

Criado há 18 anos pela Federação Nacional das AABB (Fenabb),

o Programa Integração AABB Comunidade, inspirado no Estatuto

da Criança e do Adolescente, recebe jovens pertencentes a famí-

lias de baixa renda com idade entre 7 e 17 anos. A partir de 1996,

com a parceria da Fundação Banco do Brasil, o programa atingiu

412 cidades de todo o País. Hoje envolve cerca de 54.200 crian-

ças e adolescentes e conta com mais de 3.800 educadores sociais.

Por meio de atividades educativas, esportivas e lúdicas, o progra-

ma valoriza o trabalho de equipe e coloca o aluno como sujeito de

seu desenvolvimento.

As atividades desenvolvidas para complementação escolar

utilizam a pedagogia dos direitos e introduzem projetos como o

Olhos N’água, que visa sensibilizar as crianças e jovens para a

questão do meio ambiente e da água, e o Alimentação Sustentável,

que capacita merendeiras e educadores do programa com obje-

tivo de estimular as comunidades a preparar alimentos de baixo

custo e alto valor nutritivo.

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O

Programa abreapetite de ir à escola

Princípios do Programa Integração AABB Comunidade: permanência na escola, lazer e cidadania. Graças à participação da sociedade e às parcerias locais, o programa já chega a 412 municípios.

Texto: Angela Pinho. Fotos: iolanda huzak.

EREChiM: O DiA COMEçA CEDO PARA AS CRiAnçAS ATEnDiDAS PELO PROGRAMA.

relógio marca 7h55. O ônibus da prefeitura percorre o bairro de

casas de madeira ou alvenaria, telhados de amianto, até che-gar ao ponto mais alto. É a rua da Escola Municipal de Ensino Fundamental Cristo Rei, mais conhecida por Caic, por fazer parte do antigo projeto dos Cen-tros de Atenção Integral à Crian-ça e ao Adolescente. Arquitetura moderna. Em frente do portão, 30 crianças da 1ª e 2ª séries do ensino fundamen-tal, vestidas de azul e amarelo, desmancham ruidosamente as rodas de brincadeiras e, orientadas pela educadora Queli, fa-zem fila para entrar no ônibus. As mais novas ficam rondando, esperando o dia de fazer parte do grupo.Na sede da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), o café-da-manhã já está pronto. Depois da refeição, as crianças escova-rão os dentes e conversarão com os educadores sociais. Vão dis-cutir desde postura em sala de aula até problemas na família e na comunidade. Então, divididos em grupos, seguirão para as aulas de educação física e artes. À tarde, será a vez dos alunos da 3ª à 8ª séries, que vão à escola de manhã.É mais um dia do Programa Integração AABB Comunidade em Erechim, norte do Rio Grande do Sul. Criado há 18 anos pela Federação das AABB (Fenabb), o programa, com inspiração no Estatuto da Criança e do Adolescente, recebe jo-vens de famílias de baixa renda com ida-

de entre 7 e 17 anos. Das qua-tro cidades-piloto na década de 1980, espalhou-se por 412 mu-nicípios do Brasil. Hoje, 3.871 educadores atendem 54.146 crianças e adolescentes.

Educação para mudarA idéia surgiu em 1987. Um gru-po da Fenabb resolveu abrir o espaço das AABB, pouco usa-do pelos funcionários do ban-co nos dias de semana, para um

trabalho social. O programa oferecia principalmente atividades esportivas a jovens de quatro cidades – Erechim (RS), Cristali-na (GO), Quixadá e Quixeramobim (CE). Objetivo: estimular a permanência de crianças de famílias de baixa renda na escola. Além disso, até 25% das vagas são reservadas a jovens que não estavam na escola, sob a condição de que se matriculem.Deu certo. Hoje, conta Jeferson Luís Zardo de Oliveira, presi-dente da AABB de Erechim, “é o programa que mantém a Asso-ciação viva”. Bom para a entidade e para as comunidades.

A AABB de Erechim atende hoje 300 crianças do bairro de Cristo Rei. Oferece aula de teatro a um grupo de 12 alunos. “As mudanças são evidentes”, diz Nilson Pallaro, atual coordenador pedagógico e professor de educação física no progra-ma há nove anos. “No início, chegava aqui menina grávida, criança com o nariz se-co de tanto cheirar cola de sapateiro. Ho-je, não existe mais isso. O objetivo princi-pal não é criar grandes talentos, mas sim DEPOiS DAS REFEiçõES, UMA JORnADA DE ATiviDADES.

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Ceará inaugura mais minifábricas de castanha de caju

P E R I S C Ó P I O

Em agosto, o projeto de minifábricas de castanha de caju, desenvolvido pela Fundação Banco do Brasil em parceria com entidades públicas e privadas, ganhou no-vo fôlego. Foram inauguradas unidades de beneficiamen-to em mais sete cidades cearenses, além de nova central de seleção, classificação e exportação de castanha.Agora são nove os municípios do Estado participantes do projeto: Aquiraz, Aracati, Barreira, Chorozinho, Gran-

ja, icapuí, Ocara, Pacajus e Tururu. Além do Ceará, onde só neste ano serão investidos cerca de 2,3 milhões de reais, o projeto está presente também na Bahia, Piauí e Rio Grande do norte. O objetivo do programa é capacitar pequenos produtores para trabalhar de maneira qualificada com toda a cadeia produtiva, garantindo mais renda e o sustento das comu-nidades. Saiba mais: www.fundacaobancodobrasil.org.br.

desenvolver valores”, explica. O professor de teatro Adriano Massa-ro completa: “Se a gen-te revelar um grande ar-tista, ótimo. Mas o im-portante é desenvolver a auto-estima, a capaci-dade de comunicação, a expressão corporal e as emoções das crianças.”Os resultados agradam aos pais, sempre a par de tudo. Andréia Paula dos Santos – mãe de Luana, há cinco anos no pro-

grama – notou que a menina melhorou sua capacidade de traba-lhar problemas: “Ela era muito fechada. Hoje, se acontece algu-ma coisa, vem contar. E só falta nas atividades se estiver doente.”O programa abriu aos jovens outras perspectivas. Itacir Cabral, 16 anos, participou do AABB Comunidade por quatro anos. Foi ven-dedor de canetas e funcionário de padaria até ser indicado para trabalhar no Banco do Brasil da cidade. “Quando comecei, per-di muito amigo por ciúme”, conta. Agora, pensa em seguir carrei-ra no Banco. Sobre o programa, diz: “A coisa mais importante que aprendi é que é preciso ter responsabilidade em primeiro lugar.” Elias da Silva, que participa das atividades há sete anos, concor-da. Filho de pai carpinteiro, gosta tanto do projeto que quer ser professor de atividades artísticas. Ana Barki Garcia, diretora do Cristo Rei, não esconde a satisfação: “O progra-ma melhorou a apren- dizagem, a disciplina e, principalmente, a vontade de ir à escola. Acabo de receber uma aluna de outra esco-la que mudou para o Cristo Rei só porque queria participar.”

“Qualquer município pode fazer isso”, diz prefeito

RESULTADO: MAiS DE 54 MiL CRiAnçAS ATEnDiDAS.

MAiOR APREnDizAGEM E vOnTADE DE iR à ESCOLA.

PARCERiAS GARAnTEM O CRESCiMEnTO DO PROGRAMA.

A partir de 1996 o AABB Comunidade entrou em nova fase. Ao es-tabelecer parceria com a Fundação Banco do Brasil, o programa ganhou amplitude tanto em número de crianças atendidas quanto em qualidade. Os educadores passaram a receber treinamento do Núcleo de Trabalhos Comunitários da Pontifícia Universidade Ca-tólica de São Paulo. Foram introduzidas atividades lúdicas. Orien-tação: ensinar por meio de brincadeiras, valorizar o trabalho de equipe e colocar o aluno como sujeito de sua formação.O programa cresce graças a parcerias como essa. Além da Fe-nabb, participam as Superintendências Estaduais e agências do Banco do Brasil e parceiros locais – ongs, empresas e prefei-turas. Em Erechim, oito empresas contribuem, doando, cada uma, um salário mínimo, o que paga o salário dos educadores sociais, do coordenador pedagógico e despesas extras.E o mais importante: o programa tornou-se parte das polí-ticas públicas do município. Desde 2001, ele integra o Pro-grama de Educação em Tempo Integral da prefeitura, que envolve cerca de 2.200 crianças em atividades fora do ho-rário de aula. A prefeitura fornece professores, transporte e alimentação às crianças. “Se os recursos para educação são limitados, nós podemos fazer parcerias. Qualquer municí-pio pode fazer isso”, diz o prefeito Eloi João Zanella.

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BB Educar Vale do Gurutuba, Minas Gerais outubro de 2005

A região do vale formado pelos rios Salinas e Gurutuba, norte

de Minas, abriga pelo menos 27 comunidades remanescentes de

quilombos. São cerca de seis mil pessoas espalhadas por 47 mil

hectares. Os indicadores sociais eram alarmantes. A renda das

famílias não ultrapassava os 180 reais mensais. O analfabetismo

atingia 58% dos quilombolas.

Em 2005, junto com ações para geração de trabalho e renda e

com o apoio de uma rede social formada por funcionários volun-

tários do Banco do Brasil e diversas associações da região, foi im-

plantado o programa BB Educar. Quarenta e sete pessoas da pró-

pria comunidade foram capacitadas para alfabetizar. Passaram a

receber o investimento social da Fundação Banco do Brasil, que

viabilizou também a construção de salas de aula. O início das au-

las mostrou o tamanho do interesse: 450 alunos inscritos, de to-

das as 27 comunidades. O principal pressuposto da metodologia

de ensino: planejar atividades de aprendizagem que valorizam a

realidade dos alunos – cultura, identidade e problemas locais.

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M

Da luta contra a escravidãoà luta contra a exclusão

Captação e distribuição de água, 25 salas de alfabetização de jovens e adultos: primeiros passos para melhorar as condições de vida e preservar a cultura do povo quilombola do norte mineiro.

Texto: Angela Pinho. Fotos: iolanda huzak.

vALE DO GURUTUBA: RESGATE DA AUTO-ESTiMA E DOS DiREiTOS DOS qUiLOMBOLAS.

ALFABETizAçãO DE PAi PARA FiLhO; DE nETOS PARA AvóS.

uitos anos antes de Santo Fernandes de Souza nascer, sua

avó prometeu: se tivesse filho cantador, faria a folia de reis pe-lo resto da vida. Morreu festei-ra. E o filho, por sua vez, passou a musicalidade ao seu menino. Santo aprendeu a bater no tam-bor que leva às batucadas.Francisco Ferreira do Nasci-mento, 85 anos, também gosta-va de participar do batuque na festa de Nossa Senhora da Saú-de que, todo setembro, atrai 20 mil pessoas a Jacaré Grande, município de Janaúba, Minas. Foi Miguilina, sua bisavó, que cedeu à igreja a primeira estátua da santa. Até hoje ele conta, indignado e lastimoso, que as terras da igreja construída por seu avô foram tomadas à força por fazen-deiros bem no meio da festa.

Condenados à secaAs famílias de Francisco, de Santo e de muitos outros construí-ram a história dos 6 mil habitantes hoje espalhados por 47 mil hectares do norte mineiro. Há séculos, seus antepassados se embrenharam no cerrado e se estabeleceram no vale for-mado pelos Rios Salinas e Gurutuba. A região abriga hoje 27 comunidades re-manescentes de quilombos.Na década de 1950, o Estado exterminou a malária na região. Os gurutubanos re-sistiam à doença, por isso viviam em paz. Com o fim da malária, fazendeiros toma-ram suas terras e os expulsaram para lo-

tes às margens dos rios. Muitos fugiram para as cidades.

Identidade quilombolaA história mudou em 2003. Gra-ças a estudo antropológico, des-cobriu-se que os gurutubanos eram quilombolas. Agências do Banco do Brasil, as Superinten-dências Estadual e Regional, os Comitês de Solidariedade de Be-lo Horizonte e Serra Geral e a Fundação Banco do Brasil co-meçaram a atuar. Junto com a Associação Quilombolas do Gu-

rutuba e outras organizações populares, distribuíram alimen-tos, roupas e sementes; doaram moto para a associação; e enca-minharam lista de reivindicações a prefeituras e ministérios.Os indicadores sociais eram alarmantes. A renda mensal das famí-lias, em média com sete pessoas, era de 180 reais. Só na comuni-dade de Pacuí, em 2003, a taxa de mortalidade infantil era de 150 a cada mil nascidos vivos, quando a média nacional era de 27. Muitos quilombolas nem sabiam que faziam parte do mesmo po-vo. “Era preciso resgatar a auto-estima e o reconhecimento dos

direitos deles e preservar a cultura”, diz Rosângela D’Angelis Brandão, geren-te de expediente do Banco do Brasil de Janaúba e uma das principais responsá-veis pelo trabalho com os quilombolas.Surgiu a idéia de implantar um progra-ma de educação. O analfabetismo atingia 58% dos quilombolas. A Fundação Ban-co do Brasil já tinha, desde 1992, expe-riência na área: o programa BB Educar, de alfabetização de jovens e adultos.

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LOGO DE inÍCiO, 450 ALUnOS inSCRiTOS.

DERnivALDO E OS AvóS: vER PARA LER.

Fim do jarro na cabeça

EnFiM, ÁGUA à MãO: ChEGADA DOS PRiMEiROS CAnOS FOi EMOCiOnAnTE.

Tecnologia social e mobilização comunitária na tevê

P E R I S C Ó P I O

Estréia em 1º de outubro o programa Mobilização Bra-sil, uma parceria entre a Fundação Banco do Brasil e a emissora educativa TvE. A série vai divulgar soluções simples e criativas implementadas por comunidades de todo o País para solucionar seus problemas.As transmissões acontecem aos sábados, às 8 horas, pela TvE/Brasil, no Rio de Janeiro; pela Tv Cultura, em São Paulo; e pelas demais afiliadas da Associação

Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Comu-nitárias (Abepec) no restante do País.A cada programa, reportagens sobre tecnologias so-ciais, entrevistas em estúdio e agenda de eventos dos movimentos sociais. Estão previstos 52 programas de 26 minutos cada um. O primeiro da série mostrará a atuação da Articulação no Semi-árido Brasileiro (ASA) no combate à falta de água.

“A gente assinava com o dedão”Um dos primeiros a se interes-sar pelo curso foi Marciano Fernandes Souza, 85 anos, avô de Dernivaldo Fernandes Lima, presidente da Associação. Mas não enxergava bem. Exames mostraram que 302 pessoas da

comunidade precisavam de óculos e 36 tinham catarata. Havia outros problemas: a necessidade de buscar água ocupava horas de cada dia dos gurutubanos; na colheita, os jovens tinham de realizar trabalhos em fazendas da região; algumas comunidades não tinham espaços adequados para as aulas.Primeiro atacou-se a questão da água [veja boxe ao lado]. Em se-guida, 47 pessoas do quilombo foram treinadas para alfabetizar, re-cebendo bolsa da Fundação Banco do Brasil, que viabilizou também a construção de algumas das salas de aula. Funcionários do Banco doaram armações de óculos e a Fundação providenciou as lentes.O início das aulas mostrou o tamanho do interesse: 450 alunos ins-critos, das 27 comunidades. O método: usar temas da realidade dos alunos – cultura, identidade, questões locais. São 25 turmas, tios tendo aula com sobrinhos, avôs e avós com netos, pais com filhos.“Meu sonho era que eles tivessem dado aula para mim, mas fico fe-liz de poder ensinar a eles”, diz Adauto Quaresma Franco, 17 anos, filho e professor de Lio-bino Quaresma que, orgulho-so do filho, explica por que faz o curso: “Os brancos nos da-vam documentos e a gente as-sinava com o dedão. Nossas terras foram tomadas porque ninguém sabia ler.” José Qua-resma Franco, 65 anos, seu ir-mão, arremata: “A pessoa que não sabe ler tem de ir pela ca-beça dos outros. Quero pensar pela minha cabeça.”

ironicamente, um dos maiores problemas daquele povo escondido às margens dos Rios Gurutuba e Salinas era água. nestor Ramos Pereira, de 60 anos, lembra que ti-nha de ir ao rio diversas vezes por dia. “E levava pelo me-nos uma hora cada vez”, diz.A situação se agravou no final da década de 1970. De-vido à construção de barragens e a projetos de irrigação de grandes fazendas, os rios secaram: trágico para uma população que sempre viveu da agricultura. Em 2005, a Fundação destinou 377 mil reais para a captação e dis-tribuição de água e ações de geração de renda. Segundo Rosângela, gerente de expediente do Banco do Brasil de Janaúba, a chegada dos primeiros canos foi emocionan-te. “As pessoas traziam enxadas, queriam abrir os poços na mesma hora”, conta.Os novos poços possibilitarão muito mais do que fazer hortas e usar água tratada: os moradores deixarão de viver o dia em função da sobrevivência. Ou, nas sábias palavras do jovem presidente da Associação quilombo-las do Gurutuba, Dernivaldo: “A chegada da água permite que a gente possa pensar em coisas que não o peso do jarro que a gente carrega na cabeça.”

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Para aliviar o problema da água do Semi-Árido brasileiro, sur-

giu em 1999 o Programa 1 Milhão de Cisternas, criado e execu-

tado pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). Com capa-

cidade para 16 mil litros, cada uma das cisternas abastece uma

família de cinco pessoas por até oito meses, melhorando a quali-

dade de vida nas comunidades. É a representação da independên-

cia dos carros-pipa, do fim das caminhadas em busca de água,

da diminuição de doenças, da geração de emprego e renda. A

tecnologia de Cisternas de Placas Pré-Moldadas foi finalista do

Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social na edi-

ção de 2001 e é mais uma solução pertencente ao Banco de Tec-

nologias Sociais.

Programa 1 Milhãode Cisternas Cajazeiras, Paraíba novembro de 2005

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Água potável cai do céuno Semi-Árido

O Programa 1 Milhão de Cisternas, desenvolvido pela ASA e apoiado pela Fundação Banco do Brasil, chega a 11 Estados brasileiros que enfrentam seca. Com 106 mil reservatórios construídos até

agora, revoluciona a vida dos sertanejos com solução simples: o armazenamento da água da chuva.

Texto: Mariana Proença. Fotos: iolanda huzak.

CiSTERnA nO qUinTAL: 16 MiL LiTROS, ABASTECiMEnTO PARA OiTO MESES.

rticular é unir, man- ter contato para reali-zar algo. No Semi-Ári-

do, é sinônimo de sobrevivência. Enfrentar seca e sol quase o ano inteiro é coisa para guerreiros. A região compreende parte dos nove Estados do Nordeste mais Minas e Espírito Santo. Por lá, chove pouco e em períodos de-terminados. Para aliviar a falta d’água, surgiu em 1999 a Articu-lação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), união de organizações que congrega 750 entidades em 900 municípios. A ASA gerou frutos e, por meio de programas de formação e mo-bilização, vem conquistando resultados expressivos. O principal projeto, o Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC), estabeleceu em 2003 a meta de construir 1 milhão de reservatórios de água. Até agora, já construiu 106 mil. Cada cisterna atende a uma fa-mília. Feita de placas de concreto, guarda água da chuva que cai no telhado. Com capacidade para 16 mil litros, é capaz de abastecer uma família de cinco pessoas por até oito meses.As cisternas representam a independência dos carros-pipa, das caminhadas em busca de água barrenta em cacimbas, a diminui-ção de doenças e, também, a geração de emprego e renda para os moradores das comunidades participantes. O primeiro passo do projeto é realizar cursos para os trabalhado-res rurais. Só tem direito a cisterna quem participa da formação.

O programa atua em diferentes frentes. Orienta as famílias a usar adequadamente a água e como fazer a manutenção das cister-nas. Além disso, capacita gente da própria comunidade a cons-truir os reservatórios. Agriculto-res assistem a cursos e aprendem o ofício de pedreiro, passando adiante o conhecimento. Em quatro dias de trabalho a cisterna fica pronta. Enquanto realiza o serviço, o construtor se hospeda na casa da família

beneficiada. Todos trabalham, da mulher que oferece o almo-ço ao filho que ajuda como servente de pedreiro.

Sem luz, mas com cisternaExemplo do bom resultado é a ASA Paraíba. O Estado, dividido por Unidades Gestoras Microrregionais (UGMs), abriga região bem seca, o Alto Sertão. A Central das Associações dos Assentamen-tos do Alto Sertão Paraibano (Caaasp) coordena os trabalhos. Já atende a 44 municípios.Nas casas dos vizinhos Aldeide Pedro de Araújo e José Correia, em Cajazeiras, as cisternas já fazem parte da paisagem. Há três anos, em meio a bananeiras, mamoeiros e hortaliças dos quintais, vê-se o tanque branco, orgulho das casas.“É o nosso pote grande, cuidamos com carinho”, diz Aldeide. “No inverno é um paraíso; água que não tem poluição”, emenda José.

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Projeto prova que consciência é base da alimentaçãoCom o objetivo de sensibilizar, esclarecer e mobilizar comunidades para o uso de alimentos de baixo cus-to e alto valor nutritivo, a Fundação Banco do Brasil adotou o projeto Alimentação Sustentável em diversos locais onde atua. Baseado em pesquisas da nutrólo-ga e pediatra Clara Brandão, o projeto conscientiza famílias em matéria de saúde e nutrição, bem como sobre os benefícios alcançados quando se adota uma

alimentação saudável. O trabalho procura recuperar também a importância das plantas medicinais e identifi-car na natureza os nutrientes que ela oferece.Uma das principais orientações do Alimentação Sus-tentável é a capacitação de educadores para que reali-zem ações preventivas, disseminem práticas de consu-mo ecologicamente responsáveis e criem uma rede de segurança alimentar nas comunidades onde vivem.

Os dois moram no Assentamento San-to Antônio. Antes da cisterna, anda-vam quilômetros para chegar a um açude e trazer água nos jegues. Faziam várias viagens por dia, debaixo de sol

quente. Hoje, têm tempo para outros afazeres.Situação semelhante acontece no vilarejo de Peba dos Vicentes, a 14 quilômetros de São José de Piranhas. Lá vivem 11 famílias e, desde 2002, nove casas têm cisternas. O morador Damião Gomes da Silva, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade, diz que o trabalho só tem resultado quando a comunidade dá as mãos e luta pelos objetivos. Ele, a mulher e os três filhos sa-bem dos cuidados para manter a cisterna: limpam-na anualmente e racionam o uso para não faltar água. A casa não tem energia elétrica. Há 30 anos Damião espera que o poder público instale os postes. Mas, antes da luz, chegou a água: “Isso não podia faltar.”

Ir embora? Nem pensarFinal de tarde. Na casa de Zé Preto, comunidade rural de Ca-choeirinha, em Cajazeiras, reina trabalho intenso. Dia de Nossa Senhora Aparecida, 12 de outubro. A bênção certamente virá com a cisterna cheia d’água.Antônio Luís Rodrigues, pedreiro há dois anos, perdeu a conta das cisternas que cons-truiu. Agricultor, apren-deu o novo ofício aos 56 anos. Hoje o consideram um dos mais caprichosos da região. Há cem pedrei-ros capacitados a cons-truir cisternas e basta conversar com eles para descobrir a força do pro-jeto. Antônio se emociona

ao lembrar cada família que o acolheu. Partilha da emoção e chora ao falar das dificuldades que enfrentou Otácio Emídio de Oliveira, da comunidade de Co-cos. Chegou a ir sete vezes a São Paulo para trabalhar no corte de cana. Agora tem profissão: pedreiro. Otácio construiu 29 cisternas e vai iniciar mais dez até o fim do ano. Ir de novo pa-ra São Paulo? “Nem pensar, não

consigo mais deixar minha família.” Ele e a mulher, Rosimar, lem-bram que já foi mais difícil: “Criamos nossas filhas pegando leite dos outros, hoje tenho minha vaquinha.”

Pouca água, muita alegriaEm Poços, Cajazeiras, a situação é difícil. As cisternas estão prontas há meses, mas a chuva não chega. Raimunda de Santana é uma das que espera. Gasta a manhã toda em viagens à cacimba. Mas não desanima: “Comigo não tem tristeza. Nunca tive inveja de nada nesta vida, mas, quando ia na casa das minhas amigas, sentia, por terem água em casa. Agora também vou ter.”Para fortalecer as ações do P1MC, a Fundação Banco do Brasil estabe-leceu parceria com a ASA para ampliar a capacidade operacional das 48 UGMs existentes e implantar mais dez novas unidades. O objetivo é alcançar a meta de 1 milhão de cisternas, além de propiciar condi-ções para a implantação de outras tecnologias sociais que visem a captação de água da chuva para atividades produtivas. São exem-plos: barragens subterrâneas, tanques pedra, barraginhas, cister-nas calçadão, entre outras. A presidente da Associa-ção do P1MC, Valquíria Li- ma, aposta na parceria: “Só assim poderemos multipli-car o aprendizado e, atra-vés de tecnologias simples, mudar concretamente a vida das pessoas”.

ALDEiDE, AS FiLhAS E O vizinhO JOSé: ÁGUA nO qUinTAL.

O PEDREiRO AnTôniO E O BEnEFiCiADO zé PRETO.

OTÁCiO E ROSiMAR, EM COCOS.

RAiMUnDA, EnqUAnTO A ÁGUA nãO ChEGA.

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Projeto PROMELPicos, Piauí dezembro de 2005

A região de Picos, no Piauí, é a maior produtora de mel do

País. Desde meados da década de 1970 famílias criavam abe-

lhas de maneira artesanal e rústica. Com o Projeto Nordeste de

Geração de Trabalho e Renda e de Promoção do Desenvolvi-

mento Regional Sustentável (PROMEL), o panorama mudou.

Seu intuito é fornecer orientações para o incremento de pro-

dução e renda. Na fase final do projeto, os apicultores devem

controlar da produção à venda. Para isso, está prevista a cons-

trução de 22 casas do mel – locais aparelhados para receber,

processar e armazenar o produto – e uma unidade industrial,

que vai ainda tornar viável a exportação sem atravessadores e o

aumento da produção fracionada, criando uma marca e agre-

gando valor à produção.

Além do investimento da Fundação Banco do Brasil, todos

os empreendimentos solidários contam com financiamentos

do Banco do Brasil, por meio do Programa de Desenvolvimento

Regional Sustentável (DRS).

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Doce futuro no sertão do Piauí

No Semi-Árido, o Projeto PROMEL aperfeiçoa atividade que já existia rusticamente: apicultura. Das flores do sertão se produz mel de excelente qualidade e alta potencialidade comercial.

Texto: Diego Braga norte. Fotos: iolanda huzak.

APiCULTOR vERiFiCA FAvOS: qUALiFiCAçãO, AUMEnTO E MELhORA DA PRODUçãO.

Q

APiCULTORES DE PiCOS: “BOM PRA TODO MUnDO.” EM CAnABRAvA, A APOSTA nA PRESERvAçãO.

uem chega a Picos, ci-dade encravada no cen-tro do Piauí, no Semi-

Árido, não imagina quão doce e nobre trabalho por lá se de-senvolve. O calor na estiagem – entre junho e novembro – fre-qüentemente atinge picos (tro-cadilho inevitável) superiores a 40 graus. Nada resiste a tal pro-vação da natureza, muitos po-dem pensar. Nada mesmo?Poucos sabem, mas hoje a re-gião é a maior produtora de mel do País e responde por mais de 90% do mel produzido no Piauí. Desde meados da década de 1970, Picos já apresentava tal ativi-dade, tocada por pequenos agricultores que vendiam a produção para empresas. Famílias cultivavam abelhas de maneira rústica, sem se preocupar com implicações, conhecimentos técnicos ou possibilidade de tornar o negócio mais profissional e lucrativo.Com o PROMEL (Projeto Nordeste de Geração de Trabalho e Ren-da e de Promoção do Desenvolvimento Regional Sustentável com Foco na Cadeia Produtiva do Mel), o panorama mudou. O projeto é uma iniciativa da Fundação Banco do Brasil, Rede Unitrabalho, ICCO (Organização Intereclesiástica para a Cooperação do Desen-volvimento), UniSol (União e Solidariedade das Cooperativas Em-

preendimentos de Econo-mia Social do Brasil) e Se-brae. Sua primeira ação é a implementação do projeto CASA APIS (Central de Co-operativas do Semi-Árido), que abrange Picos e mais 30 cidades de Pernambu-co, Piauí e Ceará.

A empreitada visa basicamente a orientar a organização dos pro-dutores para que possam me-lhorar produção e renda. O di-ferencial do projeto é sua con-cepção “ao avesso”. O apicultor Waldiná de Moura explica: “É da base para cima, nós é que deci-dimos tudo.”Não foi fácil. Como bem diz Wal-diná, “a cultura do sertão é indi-vidualista, na seca vale o salve-se quem puder”. Diante desse qua-dro que poderia ter sido pintado

por Portinari, a principal figura que recria as cores do sertão é a dos Agentes de Desenvolvimento Regional (ADR), pessoas perten-centes à comunidade, com trânsito e diálogo fácil entre os apiculto-res. No projeto trabalham 11 deles, atendendo em torno de 500 fa-mílias. Tiveram cursos, treinamentos; e, capacitados, disseminam conhecimento. Assim, tal qual as abelhas operárias, funcionam co-mo orientadores de seus grupos e amplificadores de resultados. Discutem as etapas, devidamente monitoradas, e todos as cumprem seguindo as necessidades levantadas pelos próprios apicultores.

De “jegue motorizado”Visitando famílias, acompanhando o trabalho, ministrando cursos e palestras, os ADRs incentivam práti-cas aparentemente sim-ples, mas extremamen-te eficazes. O resultado? A produção aumentou em quantidade e qua-l idade. Hoje, a maio-ria das famílias parti-

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Fundação Banco do Brasil, 20 anos de transformação socialAo longo de seus vinte anos de existência, a Fundação Banco do Brasil vem desenvolvendo uma série de progra-mas que têm como foco as áreas de educação, geração de trabalho e renda e ações voltadas para a reaplicação de tecnologias sociais – principalmente nas regiões norte e nordeste e nas periferias dos grandes centros urbanos. O desejo de organizar uma instituição voltada para a transformação da realidade de comunidades excluí-

das ou em risco de exclusão surgiu em 1985. hoje, a Fundação Banco do Brasil vem promovendo o desen-volvimento social de forma solidária e sustentável, por intermédio da mobilização das pessoas, da articulação de parcerias e da multiplicação de resultados. As milhares de ações executadas pela Fundação bus-cam propiciar às comunidades que elas sejam prota-gonistas de sua própria transformação social.

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“Não vai ter chefe nem patrão”

PRODUçãO FRACiOnADA: COnSOLiDAçãO DA MARCA E vALOR AGREGADO.

cipantes extrai do mel a principal fon-te de renda.O ADR e apicultor Dionísio de Souza atua em São João da Canabrava. Toda semana monta em seu “jegue motorizado” (sim, hoje a moto é o jegue do novo sertão) e parte para as visitas. Depois de muito tra-balho, viu a produção aumentar. A cultu-ra dos apicultores muda gradativamente, segundo Dionísio, inclusive quanto à pre-servação do meio ambiente: “Nós precisa-mos da natureza, sem ela as abelhas pas-sam fome”, diz.

Colméia humanaNa época das chuvas, de dezembro a maio, a florada da caatinga é variada, propícia para o deleite das abelhas – e dos apiculto-res. Conservar esse ecossistema frágil e cí-clico é básico. Com conhecimentos técni-cos e empíricos, os produtores têm a pre-servação ambiental como ponto-chave. Eles agora sabem que práticas ecologi-camente corretas garantem boas safras e bons lucros. O manejo adequado da flora evita a falta de alimentos para as abelhas e sua fuga para outros lugares.Para o presidente da CASA APIS, Antônio Dantas Filho, o Sitonho, um dos principais motivos para tamanho engajamento e su-cesso está nos resultados, assim como no suporte oferecido aos participantes: “Os apicultores da região viram que o retorno é garantido e passaram a se unir”, explica. “Há um pessoal sério nos ajudando e muita transparência nos diálogos e discussões.” Num curioso processo de mimetismo, os apicultores passaram a trabalhar em equi-pe. Tal como as abelhas.

A fase final do projeto pretende que os apicultores controlem todas as etapas – da produção à venda. Para isso, serão cria-das 20 casas do mel e uma central de processamento e em-balagem. Casa do mel é um local próprio para receber, pro-cessar e armazenar; e a central, prevista para abril de 2006, será a concretização da colméia de apicultores: uma unida-de industrial que agregará as futuras casas do mel, as oito cooperativas e as demais associações existentes na região.A unidade vai ainda tornar viável a exportação sem atra-vessadores e o aumento da produção fracionada (em sa-chês, potes e afins), criando uma marca e agregando valor aos produtos. Os apicultores já têm os equipamentos ne-cessários para coleta e processamento: veículos, balanças, filtros, homogeneizador, centrífuga e até aparatos de labo-ratório para medir especificações recomendadas pelo exi-gente mercado. O reaproveitamento da cera, o processo de homogeneização, os testes – tudo é feito dentro de padrões profissionais, na maior assepsia possível.A Cooperativa Apícola da Região de Picos (Campil), uma das maiores, vende quase toda a produção a granel, mas produz também mel fracionado, inclusive adicionando alho, limão e própolis. Sob o teto da CASA APiS, os apicultores podem gerenciar melhor os negócios, barganhando bons preços com fornecedores e compradores. O ADR e apicultor Jaílson de Lemos resume: “não vai ter chefe nem patrão, vai ser bom pra todo mundo.”

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Projeto Urucuia Grande SertãoVale do Urucuia, Minas Gerais janeiro de 2006

Na região da bacia do rio Urucuia desenvolve-se o Proje-

to Urucuia Grande Sertão, idealizado há cinco anos como for-

ma de aliar desenvolvimento à preservação da cultura regio-

nal. Desde 2004, a Fundação Banco do Brasil investe no projeto,

com objetivo de usar a cultura sertaneja como canal para a sub-

sistência das comunidades. Em pólos locais, associações rece-

bem profissionalização para realizar atividades já existentes ou

com boas chances de desenvolvimento. Aproximadamente 20

mil pessoas participam das ações.

Apicultura, fruticultura, artesanato, turismo ecológico,

mandiocultura. Cada cidade possui condições para o desenvol-

vimento de uma ou mais atividades produtivas. Muitas das já

existentes ganham nova cor a partir da profissionalização dos

trabalhadores, que recebem cursos de gerenciamento e admi-

nistração para comercializar seus próprios produtos.

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Antigo se renovae impulsiona “o gerais”

Projeto Urucuia Grande Sertão ajuda o universo de Guimarães Rosaa exportar suas riquezas culturais para todo o Brasil.

Texto: Juliana Winkel. Fotos: iolanda huzak.

TECELAGEM EM RiAChinhO: MOBiLizAçãO TRAz nOvAS CORES à viDA SERTAnEJA.

Urucuia vem dos montões oestes. O gerais

corre em volta. Esses ge-rais são sem tamanho.As palavras de Guima-rães Rosa traduzem os inúmeros universos que formam o sertão. Pelos caminhos do Rio Uru-cuia, que nasce goiano, atravessa o noroeste de Minas Gerais e deságua no São Francisco, flores-ce o cerrado entre vere-das, nuvens de borbole-tas amarelas, buritis. Ter-ra de histórias, gentes, tradições e culturas que vêm de passados infinitos. O viver manso faz parte da identidade dos habitantes.O cenário que Guimarães Rosa retrata em Grande Sertão: Ve-redas hoje comporta terras intocadas em meio a estradas e pe-quenas cidades. Mas bastam cinco minutos de conversa para identificar a herança do sertão.“O sertão é um território construído socialmente”, explica Ire-ne Guedes, presidente da Agência de Desenvolvimento Integra-do e Sustentável do Vale do Rio Urucuia.Periodicamente, Irene sai de Arinos, noroeste de Minas, pa-ra tecer peregrinação pelas outras dez cidades que compõem a bacia do Urucuia: as mineiras Buritis, Chapada Gaúcha, For-moso, Bonfinópolis, Riachinho, Pintópolis, Urucuia, Uruana de Minas e São Romão, mais a goiana Cabeceiras.Nessa região, desenvolve-se o Projeto Urucuia Grande Sertão, idealizado há cinco anos como forma de aliar desenvolvimento a preservação da cultura regional. Desde 2003, a Fundação Banco do Brasil articula uma rede de parcerias para o desenvolvimen-

to do projeto, com objeti-vo de usar a cultura ser-taneja como canal para a sustentabilidade das co-munidades.Em pólos locais, reúnem-se interessados em criar associações e receber profissionalização. Apro-ximadamente 20 mil pes-soas serão beneficiadas. “Por meio de um proje-to de sustentabilidade, pretendemos resgatar o modo de vida sertanejo”, diz Almir Paraca, diretor executivo de Desenvolvi-

mento Social da Fundação Banco do Brasil. “A chave para gerar renda está em aproveitar melhor a vocação de cada local.” Apicultura, fruticultura, artesanato, turismo ecológico, man-diocultura. Muitas ações ganham nova cor a partir da profissio-nalização, com cursos de gerenciamento e administração pa-ra comercializar seus próprios produtos. “Os trabalhadores aprendem a usar os recursos do cerrado sem agredir o meio ambiente, ao mesmo tempo em que agregam valor aos artigos produzidos”, explica Irene.

Árvore da vida em toda parteExemplo de fruto generoso do cerrado é o buriti, presente em toda parte. Os índios, primitivos sertanejos, chamaram-no “ár-vore da vida”. A madeira, extraída dos galhos sem que se preci-se cortar a árvore, serve à construção de móveis, objetos e até casas. Das folhas nascem esteiras, peneiras, enfeites. Os talos se transformam em esculturas. A fibras, em redes de dormir. O óleo de buriti é protetor solar natural. Das flores, frutos e mio-

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lo do tronco se extrai matéria-prima para doces e licores.Os urucuienses se reuniram para criar a Associação dos Arte-sãos de Urucuia, que há três anos agrega pessoas na tarefa de recuperar a tradição de fazer doces e artesanato com os fru-tos do cerrado. Nos últimos meses, novos conhecimentos se so-mam a esse dia-a-dia: os artesãos freqüentam cursos de gestão e administração de negócios, com a finalidade de aproveitar melhor seu potencial de trabalho e adquirir autonomia para vender os artigos da região.Momento semelhante vivem o município de Riachinho e a loca-lidade de Sagarana. Ali, as rodas de fiar estavam perdidas nos quintais como lembranças de antepassados. Há uns três anos, voltou-se a ver o movimento das rodas e dos enormes teares, reativados na produção de tecidos, roupas e mantas. Renasce a atividade que teve início nos tempos da colonização.Cristiane Borges, tecelã da Associação dos Artesãos de Riachi-nho, vê na ocupação tradicional uma alavanca para outros fu-turos possíveis. “Aprendi a tecer com minha avó, mas há mui-to tempo não traba-lhava no tear”, conta. “Quando fui convi-dada a participar do projeto, vi que ainda sabia tecer. Essa no-va renda pode me aju-dar a fazer uma facul-dade”, planeja.

Alimentação sustentável e inteligenteA multimistura, altamente nutritiva, criada pela médica e nutricionista Clara Brandão a partir de folhas e sementes, já ajudou a reverter deficiências alimentares em diversas comunidades de baixa renda. O projeto Alimentação Sustentável, lançado pela Fundação Banco do Brasil em parceria com a Fenabb (Federação das AABB), inspira-se nesse composto. Previsto para alcançar 400 cidades que integram o AABB Comunidade, tem por objetivo

capacitar educadores e merendeiras no processamento de alimentos de forma saudável. Durante as oficinas, os participantes aprendem a preparar bolos, sucos, saladas e doces, evitando desperdícios e valorizando a produção orgânica. Um kit ajuda no aprendizado. Contém dois li-vros sobre cultivo e preparação de hortaliças; guia do educador; vídeo; e tabelas de valores nutricionais dos alimentos. Saiba mais: www.fundacaobancodobrasil.com.br.

P E R I S C Ó P I O

“Não depender mais de bicos”Gercina Maria de Oliveira, que participa da Associa-ção Tecelagem das veredas, dá seu testemunho sobre o renascimento da ancestral atividade: “há muito tem-po, os índios plantavam al-godão, colhiam e teciam. Aprendi a tecer com minha avó, que era índia”, diz.Ao lado das tecelagens, vêm também os conheci-mentos de negociação que permitem às tecelãs levar

seus trabalhos para vender na capital mineira e no Dis-trito Federal, assim como exportar para outros Estados. A produção de cerca de 60 peças por mês em cada municí-pio garante a oportunidade do trabalho fixo. “Antes eu me mantinha com trabalhos temporários na lavoura”, diz zé-lia da Silva, que participa da Tecelagem das veredas. “Esse serviço é uma maneira de não depender mais de bicos.”não apenas o trabalho manual ganha com a revitalização da cultura. nos galpões e nas casas, novamente se ouvem as velhas cantigas das fiandeiras, cuja ocupação convida ao cantar. Além das mantas e bordados, a atividade já rendeu um cd, protagonizado por Dona Gercina. Sertão Ponteado foi produzido em 1998. neste janeiro de 2006, será grava-da a continuação.A imaginação continua vi-va. Além das peças tradicio-nais de algodão cru ou tin-gido com cores naturais dos frutos do cerrado, as artesãs aprimoram-se em cursos e buscam desenhos novos. Seguindo Guimarães Rosa:O homem nasceu para apren-der, aprender tanto quanto a vida lhe permita.

GERCinA: TEAR E CAnTAR.

ASSOCiADAS EMBALAM GOiABADA nA MADEiRA DO BURiTi: APROvEiTAMEnTO inTEGRAL.

zéLiA: EnFiM, TRABALhO FixO.

EMBALAGEnS PRODUziDAS A PARTiR DO BURiTi.

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Projeto de Captação de Águas Superficiais de Chuvas em BarraginhasMinas Novas, Minas Gerais fevereiro de 2006

Barraginhas são mini-açudes cavados com máquinas em di-

versos pontos do terreno do agricultor. Solução simples, servem

como contentores da água da chuva que, antes, ao cair, lavava o

solo e se perdia nas enxurradas. Elas trabalham como espécies

de esponjas. A água coletada infiltra no solo. O lençol freático re-

cebe abastecimento e revitaliza os mananciais naturais.

O projeto faz parte do Banco de Tecnologias Sociais da Funda-

ção Banco do Brasil desde 2003. Com o investimento da Funda-

ção, diversas comunidades receberam 2.500 pequenas barra-

gens no projeto de Captação de Águas Superficiais de Chuvas. As

barraginhas dispensaram os caminhões-pipa. Cada uma trans-

fere para o solo o equivalente a 150 caminhões. O projeto segue

agora para o Piauí. Serão construídas 3.600 barraginhas nos 12

municípios compreendidos pela nova etapa.

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Lágrimas choram de alegria em Minas Gerais

Em Minas Novas, milhares de barraginhas seguram a água da chuva no solo. O que antes destruía a natureza contribui para revitalizar córregos, solos, e leva água até a porta das casas.

Texto: Mariana Proença. Fotos: iolanda huzak.

BARRAGinhAS: SOLUçãO SiMPLES, CAPAz DE DEvOLvER O vERDE E MUDAR A viDA DE MUiTA GEnTE.

N os c a m i n hos para o Vale do Jequitinhonha,

nordeste de Minas, a pai-sagem ganha aspectos de dureza com imensas mon-tanhas de pedra e a vege-tação seca do cerrado. Su-bidas e descidas levam a uma das regiões mais po-bres do País. As histórias daquele povo vivem ace-sas na memória dos des-cendentes de escravos, la-vadeiras, agricultores.Minas Novas, a 520 qui-lômetros de Belo Ho-rizonte, foi trajeto obrigatório para a extração de minerais. Agora parece cidade parada no tempo: igrejinhas, casarões, calçamento de pedra. Sábado, dia de feira, rural e urbano se reúnem. Agricultores vendem verdura, fruta, galinha. Dos 31 mil habitantes, 23 mil moram na zona rural. As dificuldades causadas pela falta d’água sempre foram tema nas conversas. Hoje a prosa mudou. Desde 2001, as comunidades contam com 2.500 pequenas barragens do Projeto de Captação de Águas Su-perficiais de Chuvas em Barraginhas.Desenvolvido pelo engenheiro agrônomo Luciano Cordoval, da Embrapa Milho e Sorgo, na mineira Sete Lagoas, o proje-to nasceu com o objetivo de amenizar a degradação do solo e levar água para comunidades, principalmente do semi-árido. As barraginhas são miniaçudes cavados com máquinas em di-versos pontos do terreno do agricultor. Têm em média 20 me-tros de diâmetro por 2 metros de profundidade. Solução sim-ples, servem como contentores da água da chuva que, ao cair, lavava o solo e se perdia nas enxurradas. Terreno e plantações

voltavam a ficar secos em alguns dias. Hoje, as barraginhas trabalham como uma espécie de es-ponja. A água coletada infiltra o solo. O lençol freático recebe abasteci-mento e revitaliza os ma-nanciais naturais.No entanto, uma só bar-raginha não resolve. Pa-ra aproveitar melhor a água, elas trabalham em conjunto e em diferentes níveis. A água infiltra-se e desce para as barra-ginhas mais baixas até

chegar aos córregos.O projeto se desenvolve em etapas: o primeiro contato; visita à comunidade; informação sobre o projeto-piloto; palestras; acor-do com prefeitura; treinamento; planejamento; e, enfim, a cons-trução das barraginhas. Ao alcançar 50 miniaçudes na região, a comunidade passa a tomar conta do projeto e a andar com as próprias pernas. “Formamos multiplicadores na própria comu-nidade, então cortamos o cordão umbilical para que eles pos-sam usar da criatividade para desenvolver outros braços do pro-jeto”, diz Luciano. “As barraginhas são esculturas na terra e a realização do sonho de resolver os problemas daquelas famí-lias. Frutos conquistados com muita dedicação e amor.”

Árvore vale mais que dinheiroNa Comunidade Inácio Félix, em Minas Novas, encontramos entusiastas do projeto. As famílias vivem na região há mais de cem anos. Lembram-se dos pais, dos avôs desmatando o terre-no; e hoje falam “com dor no coração” do que perderam.

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Emoção na tela, transformação real A revolução que as tecnologias sociais levam para o dia-a-dia das comunidades é o tema do Mobilização Brasil. Rea- lizado pela Fundação Banco do Brasil em parceria com a TvE/Brasil, o programa já abordou o extrativismo alterna-tivo para fabricação de borracha e papel; saneamento bá-sico; alfabetização de adultos em comunidades quilom-bolas; coleta e processamento de materiais recicláveis. nos próximos programas, estarão em pauta as atividades

artesanais desenvolvidas pelas bordadeiras do Seridó e por presidiários de Porto velho; hortas comunitárias nas periferias das cidades; além de outras soluções sociais que garantem educação, renda e melhoria da qualidade de vida. Saiba mais: www.fundacaobancodobrasil.org.br.

Mobilização Brasil: aos sábados, 8 horas, em todas as emissoras públicas e educativas.

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“É suja, mas é limpa”

“A água é o vapor que sobe da terra, coalha e desce.” Assim zezinho Brandão explica, com linguagem singular, como a chuva cai no Cansanção. Distante 38 quilômetros de Minas novas, o vilarejo sofria com a secura e dependia de um po-ço artesiano para abastecer mais de 2 mil habitantes. Tem-pos difíceis que só mudaram com a chegada de 30 barragi-nhas. zezinho fala com brilho nos olhos experientes:“Elas seguram a água aqui para todos.” na casa dos com-padres Rosa e Sebastião Brandão a alegria contagia: “Foi o melhor projeto que surgiu para cá”, diz seu Tião.Arroz, milho, mandioca, banana, alho, manga e amendoim, nas palavras de zezinho, ficaram “mais corados”. Os passa-rinhos voltaram, assim como o verde que revestia os morros. A época de dividir a água da cisterna com mais de 20 famí-lias ficou para trás. A nascente do rio, que havia secado, co-meçou a ressurgir. A mangueira deu mais frutos.Uma das dificuldades do projeto era mostrar aos agricul-tores que a água não “some”; ela corre para outros pon-tos do lençol freático e “brota” em locais mais baixos. Com treinamento e experiências pioneiras, os agricultores pas-saram a ver os benefícios da umidade da terra no maior crescimento das hortas e nos córregos revitalizados.Uma descoberta: cada solo exige um tempo para absor-ver a água. no vale do Jequitinhonha, ela se infiltra deva-gar, o que proporciona ao morador o orgulho de receber os visitantes e mostrar o “bonito lago” que tem no terreiro. é a satisfação como a de zezinho, que emocionado diz:“é lindo ver uma poça d’água como esta. é uma água su-ja, mas é limpa.”

zEzinhO, DO CAnSAnçãO: MAnGA, BAnAnA E MiLhO “MAiS CORADOS“.

RiqUEzA MAiOR: ÁGUA qUE nãO DURAvA 15 DiAS ABASTECE O AnO inTEiRO.

LUCiAnO (à eSq.) COM JOSé vALTER (de BOné).

“Fiz carvão durante dez anos. Achava que riqueza era cortar ma-to. Hoje tenho riqueza maior: as barraginhas. Embaixo delas cho-ra uma lágrima. A água mina”, poetiza José Valter Neto Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. E completa: “Um pé de árvore é muito mais do que dinheiro.”Para ter água na porta de casa, algumas famílias criaram os tais “braços do projeto”: colocaram mangueiras plásticas nas barra-ginhas. Foram além: criam peixes nos miniaçudes. A água que não durava nem 15 dias abastece o ano inteiro e revitaliza o Cór-rego do Rocha, que havia sumido da região. As barraginhas dis-pensaram os caminhões-pipa. Cada uma transfere para o solo o equivalente a 150 caminhões. Todas essas experiências bem-sucedidas levaram o projeto a conquistar a certificação para compor o Banco de Tecnolo-gias Sociais da Fundação Banco do Brasil. A partir de 2004, ele recebeu da Fundação investimento para a construção de mais de 4.200 barraginhas em 14 municípios de Minas. Ago-ra, o projeto segue para o Piauí. De saída, serão construídas 300 barraginhas em cada um dos 12 municípios compreen-didos pela nova etapa.Em Minas Gerais, esti-ma-se que existam 80 mil barraginhas em 300 municípios, o que vem revertendo o êxo-do rural e melhoran-do a qualidade de vida dos agricultores.

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Produção de derivadosdo coco de babaçuPedreiras, Maranhão março de 2006

Lago do Junco, no Maranhão, foi a primeira cidade do País

a aprovar a Lei do Babaçu Livre, que permite o livre acesso às

palmeiras de babaçu. Outras cidades do Estado e do País tam-

bém já aprovaram a lei. No entanto, outros problemas surgi-

ram: falta de incentivo técnico e financeiro para produção. Pa-

ra superar as dificuldades, as famílias agroextrativistas busca-

ram a organização coletiva.

A Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Mara-

nhão (Assema) existe há 16 anos. Assessora diversos projetos e

beneficia financeira e socialmente cerca de 3.500 pessoas. Os óti-

mos resultados levaram o projeto de agroextrativismo sustentável

para o Banco de Tecnologias Sociais. Na edição de 2003, foi fina-

lista do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. A

iniciativa também conta com o apoio do Programa de Desenvolvi-

mento Regional Sustentável do Banco do Brasil (DRS).

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Elas quebram coco, preconceitos e barreiras sociaisNo Médio Mearim, região com histórico de brigas por terra, mulheres lutam por melhores condições. As quebradeiras do coco de babaçu já obtiveram resultados e ganharam força para seguir em frente.

Texto: Diego Braga norte. Fotos: iolanda huzak.

MãOS EM AçãO, nA PESADA ROTinA DAS qUEBRADEiRAS DE LAGO DO JUnCO, MARAnhãO.

N inguém escuta meu grito, des-conhece meu

sufoco / Escondida lá no mato, com fome, que-brando coco, diz o refrão da música entoada du-rante o trabalho na mata de transição entre cerra-do e floresta amazônica. Em Lago do Junco, na re-gião maranhense do Mé-dio Mearim, rotina pesa-da. Mães, donas-de-casa e pequenas agricultoras ainda arrumam tempo para acordar cedo e sair à procura do coco de babaçu. E ainda participam de reuniões, assembléias e dirigem cooperativas e associações.São trabalhos e responsabilidades suficientes para Hércules. E, como o herói grego, elas parecem dotadas de energia e garra so-bre-humanas. Caminham léguas com pesados machados e ja-cás, entram na mata e recolhem os frutos caídos para quebrá-los e retirar as amêndoas. São as quebradeiras de coco de babaçu.Essas palmeiras, plantas nativas, ocupam cerca de 18,5 mi-lhões de hectares e se estendem por seis Estados. No Maranhão se concentram em mais de 10 milhões de hectares. Conhecido ditado prega: Do boi, só não se aproveita o mugido. Como pal-meiras não falam nem mugem, tudo se aproveita. As mulheres, enquanto trabalham, cantam. Cantigas de origem popular que versam sobre vida, trabalho e esperança.As palhas do babaçu viram tetos das casas de pau-a-pique, cer-cas. A casca do coco, carvão vegetal de excelente qualidade. Do mesocarpo, parte interna entre casca e núcleo, vem a farinha, ri-ca em vitaminas, cálcio e ferro. E, das amêndoas, fabricam óleo,

também rico em vitami-nas e muito valorizado na indústria alimentícia e de cosméticos.

Babaçu LivreLago do Junco foi a pri-meira cidade a aprovar a lei que permite l ivre acesso às palmeiras nos vastos pastos particula-res. Hoje, outras cidades do Maranhão e de outros Estados também já apro-varam a Lei do Babaçu Livre. Querem tornar a lei federal; projeto enca-

minhado à Câmara tramita no Congresso.A primeira aprovação data de 1997, mas a conquista veio depois de longa batalha. Antes de 1960, as quebradeiras não tinham di-ficuldade para coletar coco. A maioria das terras era devoluta, não havia fiscalização. Com a chegada de grileiros e fazendeiros, jagunços e capatazes, surgiram cercas e arame farpado. A região assistiu a conflitos agrários nos anos 1980. Há dez anos, muitas famílias conquistaram um quinhão de terra e, em vez da solução, pas-saram a viver outros problemas, como fal-ta de incentivo técni-co e financeiro. O êxo-do rural cresceu junto com a desilusão. As fa-mílias buscaram a or-ganização coletiva. EMBALAnDO O SABOnETE BABAçU LivRE.

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Assema cresce e já aparece na capitalA Fundação Banco do Brasil é parceira da Assema no Programa de Comunicação, Mobilização de Recursos e de Comercialização Solidária. implantado o programa, a Assema passou a agregar valores históricos e culturais aos resultados obtidos. A entidade ganhou maior visibi-lidade no cenário nacional e maiores possibilidades de conseguir financiamentos e doações. A sede fica em Pe-dreiras. Desde 2003, através de incentivo da Fundação e

de outras instituições, conta, em São Luís, com a Embai-xada do Babaçu Livre, casa de eventos, debates. Os visi-tantes conhecem a linha de produtos fabricados pelas cooperativas e a história das pessoas do Médio Mearim. Aprendem sobre agroextrativismo, comércio justo e economia do babaçu. você pode saber mais sobre os projetos de Tecnologia Social e a Assema no endereço www.fundacaobancodobrasil.org.br.

P E R I S C Ó P I O

“Quando a gente está disposta a mudar,

muda mesmo.”

A Associação das Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco (AMTR) exerceu fundamental papel na construção de alternativas sociais e produtivas mais justas. Outras co-operativas e associações trabalham de maneira interligada, todas acolhidas pela associação em Áreas de Assentamen-to do Estado do Maranhão (Assema), responsável pela as-sessoria técnica, administrativa, jurídica e política.A Assema existe há 16 anos e está presente em sete mu-nicípios do Médio Mearim. Assessora diversos projetos e beneficia financeira e socialmente cerca de 3.500 pes-soas. Tanta perseverança e tanto trabalho levaram o em-preendimento de agroextrativismo sustentável a integrar o Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Bra-sil. Os projetos chegaram a ser finalistas do Prêmio Funda-ção Banco do Brasil de Tecnologia Social, edição de 2003, e hoje recebem investimentos sociais da Fundação.A união e a força das quebradeiras encantam. Pensam grande e trabalham para realizar novos sonhos. Subver-tendo práticas infelizmente enraizadas na tradição local, como coronelismo e machismo, assumiram posição de protagonistas nas mudanças. Estão aumentando a renda familiar, criando empregos e conscientizando os mais jo-vens da luta por um futuro melhor. Sobre as mudanças, a quebradeira Carmelita de Souza, ciente da importância e da densidade de seus esforços, diz:“quando a gente está disposta a mudar, muda mesmo.”no caso, sempre para melhor.

MULhERES DA AMTR: PROTAGOniSTAS DAS MUDAnçAS.

EMBALAGEM DE FARinhA DE BABAçU, nA COOPERATivA DE ESPERAnTinóPOLiS.

De quebradeira a empresáriaA Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de La-go do Junco (Coppalj) possui fábricas de óleo e sabão. Benefi-cia mais de 140 famílias e, indiretamente, mais de 800 pessoas. Produz em média 20 toneladas por mês de óleo. Exporta para famosas marcas de cosméticos da Inglaterra e dos Estados Uni-dos. Segundo Sebastiana Cerqueira, quebradeira e presidente da Coppalj, a renda dos associados aumentou mais de 70%.Da fábrica de sabão saem em torno de 5 mil unidades por mês – sabão, sabonetes com mel, erva-doce, outras fragrâncias. A cooperativa tem quatro armazéns onde as quebradeiras po-dem trocar as amêndoas por dinheiro, alimentos e bens de consumo. As cooperadas ganham duas vezes: uma, ao vender a amêndoa; outra, ao dividir os lucros da própria cooperativa.Há ainda os imensuráveis ganhos sociais e de auto-estima. As mulheres quebram não apenas coco, mas preconceitos e difi-culdades. Maria Alaídes resume o sentimento geral:“Antes eu tinha vergonha de dizer que trabalho com coco, ho-je sou empresária.”Noutro município, a Cooperativa de Pequenos Produtores Agro-extrativistas de Esperantinópolis montou fábrica de farinha. De-pois de descascar o coco, as mulheres quebram e retiram o me-socarpo. Há casas especialmente preparadas, com ferramentas e condições de higiene adequadas. Depois de seco e aquecido em forno para tirar a umidade, o mesocarpo é moído. Pronto: está feita a farinha altamente nutritiva que se pode usar de acor-do com a criatividade da cozinheira.

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Projeto CatabahiaSalvador, Bahia abril de 2006

A destinação do lixo produzido nas grandes e médias cida-

des é um problema mundial. Nesse quadro, o Brasil está longe de

ser exceção. De todo o lixo do País, apenas 1% recebe algum tra-

tamento. Diante de uma realidade sócio-econômica adversa, os

resíduos acabam tornando-se possibilidade de sustento. Porém,

sem cooperação, mobilização e preparo, os trabalhadores que vi-

vem da coleta de materiais recicláveis estão sujeitos a condições

de comercialização e trabalho pouco favoráveis. Articulados, po-

dem mudar essa realidade. É o que prova o projeto baiano Cata-

bahia. Seus principais focos de atuação são a organização em

cooperativas, a importância da coleta seletiva de lixo e o papel

dos catadores na comunidade. Os resultados são visíveis. Além

do aumento de renda, há melhoria na qualidade de vida e na

auto-estima dos trabalhadores.

É com o propósito de mobilizar e articular os movimentos dos

catadores de materiais recicláveis, a exemplo do projeto Cata-

bahia, que a Fundação Banco do Brasil já investiu mais de 10 mi-

lhões de reais em cerca de 80 cooperativas e associações de cata-

dores no País.

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Caminhando e catando, eles transformam lixo em riqueza

O fechamento de um lixão levou catadores de Salvador à união. E uma parceria de instituições públicas e privadas os ajudou, multiplicando cooperativas e tomadas de consciência.

Texto: Juliana Winkel. Fotos: iolanda huzak.

CAMinhãO DA CATABAhiA: COOPERADOS RECEBEM ATé CinCO vEzES MAiS PELO PLÁSTiCO PET COLETADO.

Como vai es-tar o mundo quando nos-

sos f i lhos forem adul-tos?” Quem pergunta é Jeane dos Santos, inte-grante da Caec, Coope-rativa de Agentes Ecoló-gicos de Canabrava, em Salvador. “Será que vão existir materiais reciclá-veis para a gente aprovei-tar e continuar vivendo? Será que a consciência vai aumentar?”A resposta vem de Sônia dos Santos, que atua na Caec desde a fundação: “O que a gente pode fazer, a gente faz. O que não pode, a gente ensina os filhos para que eles construam”, diz. “Antes, na nossa vida, os filhos trabalhavam para os pais. Agora, os pais trabalham para os filhos.”A mudança é assinalada pela maioria dos integrantes da Rede Catabahia, que reúne cooperativas de catadores de materiais recicláveis em seis municípios baianos: Salvador, Feira de San-tana, Vitória da Conquista, Jequié, Itapetinga e Itororó. O projeto começou em 2003, com a fundação da Caec. Primeiro núcleo da Catabahia, a cooperativa foi formada em Salvador por ex-catadores do lixão de Canabrava, fecha-do por razões ambientais. Sem um progra-ma de inserção social, os catadores passa-ram a buscar nas ruas meios de se manter. A partir de iniciativa do Pangea (Centro de Es-tudos Sócio-Ambientais), em parceria com instituições públicas e privadas, entre elas a Petrobras e a Fundação Banco do Brasil, a

realidade mudou.O primeiro passo foi reu-nir os trabalhadores do antigo lixão e propor que se organizassem em sis-tema de cooperativa. Nas reuniões, discutiam te-mas como direitos do ci-dadão, importância da coleta seletiva e modelos de organização.Hoje os cooperados coor- denam as atividades de coleta, separação e des-tinação do material reci-clado, eliminando a figura do atravessador e valori-

zando os materiais repassados a empresas de reciclagem.“Eles conseguem uma renda de mais de um salário míni-mo, contra a média de 30 reais mensais que ganhavam tra-balhando individualmente”, compara Adherbal Régis, um dos coordenadores do Pangea. “Se antes um catador con-seguia 15 centavos por quilo de plástico PET, hoje a média é de 82 centavos.”

Empreendedores ambientaisAlém do salto na geração de renda, a participação na coope-

rativa provoca mudanças na visão dos in-tegrantes a respeito de seu próprio traba-lho. “Hoje temos uma identidade. Pode-mos entrar na casa das pessoas, nas lojas para retirar o material de coleta, pois os parceiros do programa confiam em nós”, diz Sônia.A opinião é comparti lhada por Jeane: JEAnE, SôniA E O PRESiDEnTE DA CAEC, GEnivALDO.

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“Fui praticamente al fabetizada aqui den- tro. Estou tendo aulas de computação, tenho emeio, eletrodomésti-cos. E meus filhos es-tão podendo estudar.”De acordo com ela, a

mudança vem da própria consciência do valor da matéria-prima. “Não estamos lidando com lixo. Esse material é limpo, pode se transformar em outros objetos. Isso que chamam de lixo é, na verdade, uma riqueza.”A opinião é comprovada quando se analisam os dados ressal-tados por Régis: “Somente a cidade de Salvador gera diaria-mente 2.400 toneladas de lixo, das quais 600 são recicláveis. Isso equivale a um potencial de 240 mil reais por dia em rea-proveitamento”, informa.Desse universo, a Caec aproveita hoje cerca de 160 toneladas de materiais recicláveis por mês, recolhidos por quatro cami-nhões em lojas, condomínios e empresas parceiras dos projetos – destacadas com o selo criado pela organização, Amigo do Ca-tador. Ao todo, a Rede Catabahia conta com dez caminhões que prestam esse serviço nas seis cidades onde o pro-jeto funciona. Nos locais apropriados, o material é separado, e o reciclá-vel – papel, plástico, me-tal e vidro – é prensado para ser vendido a em-presas de reciclagem, também parceiras.Hoje o projeto envolve diretamente cerca de 400 catadores de ma-teriais, além de apro-ximadamente 500 mil pessoas residentes nos municípios onde atua.

nísia Floresta: uma brasileira à frente do seu tempo é o mote do 12º Prêmio nacional Assis Chateaubriand de Redação, promovido pela Fundação Assis Chateau- briand e Fundação Banco do Brasil. A educadora e escritora potiguar – considerada a primeira brasileira a defender os direitos de mulheres, índios e escravos – é a homenageada da edição 2006 do Projeto Me-mória, uma parceria entre a Petrobras e a Fundação

Banco do Brasil. O concurso é destinado a estudantes de estabelecimentos de ensino públicos e privados nas categorias Ensino Fundamental (alunos de 1ª a 4ª séries e de 5ª a 8ª séries), Ensino Médio e Univer-sitário. Além de diplomas, serão oferecidos prêmios em dinheiro num total de R$ 35 mil. As inscrições se-guem abertas até 31 de agosto. Mais informações em www.fundacaobancodobrasil.org.br.

“Temos respeitopor nosso trabalho”

De mãos dadas com o projeto da Rede Catabahia estão iniciativas de educação ambiental envolvendo também a comunidade, que recebe orientações sobre métodos cor-retos de separação de recicláveis em apresentações tea-trais e panfletos informativos. “Ao estimular a organização dos catadores, estamos con-tribuindo tanto para mudanças ambientais quanto so-ciais”, diz Jorge Streit, diretor da área de geração de traba-lho e renda da Fundação Banco do Brasil. Com nome, estatuto e diretoria decididos pelos próprios cooperados, a rede Catabahia já pensa em novos desa-fios. Um exemplo é a comercialização de produtos com a marca da cooperativa, baseados no próprio reaproveita-mento de materiais. “Daremos estímulo ao projeto de ven-da de água sanitária com a marca da rede, produto fácil de comercializar, pois os catadores já têm matéria-prima para as embalagens”, exemplifica Jorge. Entre outros passos, estão a ampliação da Rede para mais municípios baianos – experiência de novo núcleo já faz su-cesso em Lauro de Freitas – e a garantia de autonomia total dos cooperados a médio prazo. “nós somos uma categoria profissional. E também trabalhamos pelo meio ambiente. Temos respeito por nosso trabalho”, finaliza Jeane, do Caec.

EqUiPE DA CAEC: COnqUiSTA DE UMA iDEnTiDADE PROFiSSiOnAL.

CAEC: 160 TOnELADAS DE RECiCLÁvEiS POR MêS.

MUDAnçA DE viSãO: “hOJE COnFiAM EM nóS.”

Nísia Floresta é tema de concurso de redaçãoP E R I S C Ó P I O

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Diretor editorial Elifas AndreatoDiretor executivo Bento huzak Andreato

Editor de texto Mylton Severiano

REDAçãO

Chefe de redação João Rocha RodriguesRedatores Angela Pinho, Juliana Winkel

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