revista ação social edição capoeira

8
a s social acao Revista Capoeira Edição C o r a e a p i a s social acao Revista Capoeira Edição C o r a e a p i Em entrevista ao jornalista Franklin Soares o Professor Macarrão foi perguntado qual a mensagem de incentivo ele daria para seus alunos e para mais quem deseje conhecer a arte da capoeira, ele respondeu em forma de música. Sou capoeira, fui menino de rua Pois é seu moço, hoje a vida continua Quando eu era criança Eu era discriminado Muita gente me dizia Pra deixar capoeira de lado Diziam que a capoeira Era coisa pra maloqueiro Que eu tinha ir pra escola Estudar pra ganhar muito dinheiro Que tinha que ir pra escola Estudar e ser formado Para ter uma profissão Ser doutor, engenheiro, advogado Mais olha moço, para mim isso era besteira Porque o que eu queria mesmo Era aprender a arte da capoeira Mas o tempo foi passando Tudo só ficou pra trás Hoje eu viajo o mundo inteiro Mal de mim não falam mais Não falam da capoeira Não falam mal de ninguém Porque hoje eles já sabem o valor que capoeira tem. Música Sou Capoeira (Mestre Barrão). ESPAÇO MUSICAL Efeito sobre foto de Júlia Medeiros

Upload: norraucom

Post on 05-Apr-2016

221 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Revista voltada para projetos sociais que envolvem atividades esportivas

TRANSCRIPT

Page 1: Revista ação social  Edição Capoeira

associal

acaoRevista

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

associal

acaoRevista

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

Em entrevista ao jornalista Franklin Soares o Professor Macarrão foi perguntado qual a mensagem de incentivo ele daria para seus alunos e para mais quem deseje conhecer a arte da capoeira, ele respondeu em forma de música.

Sou capoeira, fui menino de ruaPois é seu moço,

hoje a vida continua

Quando eu era criançaEu era discriminadoMuita gente me dizia

Pra deixar capoeira de lado

Diziam que a capoeiraEra coisa pra maloqueiroQue eu tinha ir pra escola

Estudar pra ganhar muito dinheiro

Que tinha que ir pra escolaEstudar e ser formadoPara ter uma profissão

Ser doutor, engenheiro, advogado

Mais olha moço, para mim isso era besteira

Porque o que eu queria mesmoEra aprender a arte da capoeira

Mas o tempo foi passandoTudo só ficou pra trás

Hoje eu viajo o mundo inteiroMal de mim não falam mais

Não falam da capoeiraNão falam mal de ninguémPorque hoje eles já sabem o valor que capoeira tem.

Música Sou Capoeira (Mestre Barrão).

ESPAÇO MUSICAL

Efeito sobre foto de Júlia Medeiros

Page 2: Revista ação social  Edição Capoeira

ÍNDICE

7

Profº Macarrão fala

sobre o Núcleo de

Capoeira Canidezinho.

entrevista

2A Capoeira através dos tempos

A Capoeira através dos tempos

história

13

Perfil do bailarino capoeiristA

Paulo Weslley

3 Capoeira

Maes apostam na Capoeira

para socializar filhos.

13 Artigo Berimbau, berimbau<

uma cabaça,arame,

um pedaço de pau.

11

O Molejo dos camaradas

Samba de roda.

12

A danças «dos» capoeira.

Maculelê.

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

associal

acaoRevista

associal

acaoRevista

1

14

EDITORIAL

EXPEDIENTE

A Revista Acão Social é parte integrante da avaliação inicial ( AV1) do Curso de Jornalismo

Estácio‐Fic 2014.2‐ Disciplina Fotojornalismo Participaram: Franklin Soares, Francisco Lindomar,

Gleydson de Sousa, Julia Medeiros, Nádla Góes e Uerbet Santos sobe a coordenação técnica da Professora

de fotografia Fernanda Oliveira

associal

acaoRevista

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

A FOTO DA CAPA

A MARCA

DESTAQUES

DESTA EDIÇÃ

O

Profº Macarrão fala sobre

seu Núcleo de Capoeira.

entrevista

história

A Capoeira que transformaMaes apostam na Capoeira

para socializar filhos.

Foto que ilustra essa edição inaugural da revista Ação Social foi Aproduzida no Estúdio de fotografia da Estacio‐Fic. É Uma obra coletiva da equipe. Produção: Franklin Soares, Francisco

Lindomar, Gleydson de Sousa e Nadia Góes. Quem assina o click é Júlia Monteiro. Todo o trabalho em estúdio desenvolvidos pelos alunos de jornalismo da Estácio foram supervisionados pela Professora Fernanda Oliveira. Assina a marca e o Projeto gráfico da Revista Uerbet Santos.

marca da Revista Ação Social segue uma tendência moderna Ade design onde a funcionalidade está presente. Sucita uma participação coletiva, grupal, onde diversas partes formam um

todo para assim atingir um objetivo. Segundo Uerbet Santos, idealizador da marca, ele foi concebida principalmente, com base nas letras iniciais das palavras Ação e Social (AS) que ligam tais palavras, formando um eloz entre as mesmas. ‘’O que parece um emaranhado de linhas quando esticadas formam uma ponte, um elo por onde trafega, livremente, sem ruídos, toda a comunicação do ato de fazer atividades voltadas para o social’’, comenta o publicitário.

revista Ação Social é uma Apublicação desenvolvida pelos alunos do curso de

Jornalismo da Estácio na disciplina Fotografia que tem como objetivo mostrar diversas atividades sociais transformadoras, principalmente as que envolvem esportes.

A equipe jornalísticas da Ação Social caiu em campo e foi explorar o universo lúdico da Capoeira.

Nas páginas a seguir você vai conhecer uma pouco mais da história da Capoeira e suas danças como samba de roda e maculelê.

Vai curtir uma entrevista exclusiva com Professor Macarrão o trabalho que ele desenvolve no Canindezinho.

Vai conhecer também um pouco mais da história do Bailarino capoeirista, Paulo Leslley.

Tudo isso e muito mais informação, arte, dança com o gingado e a manemolência «dos» Capoeira.Caia na roda e boa leitura!

Uerbet Santos (Editor)

Foto

: F

ran

klin

So

are

s

Foto

: Fr

an

cisc

o L

ind

om

ar

Foto

: N

ád

la G

óes

Foto: Equipe RAS

Equipe de Fotojornalistas da Revista Ação Social emself coletiva com a Associação Zumbi de Capoeira.

Page 3: Revista ação social  Edição Capoeira

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

associal

acaoRevista

associal

acaoRevista

13

2

A história de t

odos nós

Viva a Capoe

ira!

capoeira é uma arte

Agenuinamente brasileira.

Arte sim, por que resistiu

ao tempo e ao sofrimento de todo

um povo e, no final das contas,

conseguiu o que tanto desejava: A

liberdade! Vamos contar um

pouquinho desta h is tór ia ,

romanceá-la, por que é lindo de se

ver, de se ler e de escrever.

COMO NASCEU A CAPOEIRA.

Tudo começou há muito tempo

atrás, em uma época em que o

Brasil ainda não era o “Brasil”. A

capoeira surgiu dos negros

trazidos da Angola, em sua

grande maioria. Ela acontecia

para poder abafar um pouco o

sofrimento deste povo, que viviam

de felicidades, danças, rituais, o

que não eram aceitos pelos seus

senhores.

Embora tenham certeza que a

capoeira é uma luta brasileiríssima

há, ainda, muitas especulações sobre

sua origem. Por ter semelhanças com

alguns tipos de danças angolanas,

muitos consideram que foi trazida de

lá pelos mesmos negros que aqui

foram escravizados, e que por

q u e s t õ e s d e s o b r e v i v ê n c i a ,

continuaram e aperfeiçoaram esta

arte aqui. Não tem como saber

precisamente de onde veio, pois em

1890, logo após a assinatura da Lei

Áurea, o Ministro das finanças, Ruy

B a r b o s a , q u e i m o u to d o s o s

documentos relativos ao período da

escravidão, deixando assim um vasto

buraco na historia. PERSEGUIÇÃO

À época da escravidão a prática da

capoeira foi perseguida a ferro e

fogo. Porém, depois de passado este

período, a capoeira ainda continuou

a ser alvo de poderosos que

tentavam dar‐lhe um fim, impondo

leis à sua pratica.

CÓDIGO PENAL

O código penal de 1890, criado

durante o governo do Marechal

Deodoro da Fonseca, fazia

proibição à prática da capoeira

em todo território nacional e,

reforçado por decretos que

impunham penas severas aos

capoeiristas, este código só fez

aumentar o ódio às perseguições

de chefes de policia que tentavam

a todo custo fazer valer a lei

contra os capoeiristas.

A capoeira foi proibida no Brasil

de 1890 até 1937, quando Mestre

Bimba apresenta a dança, ao

então presidente, Getúlio Vargas.

Conta-se que Vargas ficou tão

impressionado com os ritmos,

movimentos e com a história da

capoeira que a elevou a esporte

nacional do Brasil.

aulo Weslley Barbosa Ferreira, Pbailarino há onze anos na companhia EDISCA (Escola de

Dança e Integração Social para Crianças e Adolescentes) e há quatro anos faz parte do núcleo de capoeira do Canidezinho, bairro de Fortaleza.

Com uma rotina de treinos puxada, dividida e regrada entre o balé e a capoeira e a escola, Paulo consegue, através da disciplina da capoeira, conciliar tudo isso em seu tempo.

Mais conhecido como Balé dentro da roda de capoeira, bate de frente com o preconceito, e não nega dizer a ninguém que é bailarino. Ele conta que “Na roda, todo mundo é amigo um do outro, é irmão, é família.

Então aprendi a levar na esportiva, porque sei que é tudo brincadeira, uma maneira bem divertida de demonstrar o carinho que temos um pelo outro.Somos uma família”

Por Francisco Lindomar

PERFIL ARTIGO OPINIÃO

BERIMBAU. UM INSTRUMENTO EM MOVIMENTO

eu primeiro contato com o Berimbau foi em São Luis do MMaranhão através do mestre Pato. Um exímio capoeirista. Ainda garoto, gostava de ver as rodas de

Capoeira no Laborart ( Um centro de formação e de manifestações de arte popular) onde o ritmo do jogo é comandado pelo toque do berimbau, acompanhado de um pandeiro, marcado pelas palmas e conduzido pelo solista que entoa os diferentes estilos musicais da capoeira, como o angola.

Enquanto espetáculo, o Jogo de angola é bonito de ver e praticar. Pois os movimentos dos capoeiristas são bem baixos e se alternam entre movimentos lentos e rápidos. É como o mestre Pato dizia: “ Capoeira de angola se joga é no chão”.

Mas quem conduziu meu olhar para as múltiplas possibilidades que o Berimbau possuía enquanto instrumento de percussão foi o músico maranhense Papete, considerado uma dos melhores percursionistas do mundo, do naipe de Nana Vasconcelos e Airton Moreira.

Assistir inúmeros shows de Papete. O mais marcante , (não lembro o ano), foi no lançamento do seu então Long Play, Bandeira de Aço. Onde, em uma das faixas, apresentadas no Teatro Arthur Azevedo, o multi instrumentista mostra todo o seu talento ao viajar pelos sons que um berimbau pode proporcionar. Até da beriba ele tirou acordes, para admiração e encantamento de todos.

Quem o conhece sabe o que estou falando, com um Berimbau na mão, Papete invoca todas as possibilidades rítmicas desse instrumento rústico feito da beriba (uma madeira muito comum na região Norte, daí seu nome. Nas rodas de capoeira lembro muito bem um refrão que era entoado “ Berimbau, berimbau, uma cabaça ,um arame e um pedaço de pau” ... E por ai vai...

A música percurssiva de Papete foi um divisor de águas na minha vida profissional. Enquanto diretor de criação de várias agencia por onde passei sempre que podia, ao criar a letra de um jingle, por exemplo, sempre busquei a musicalidade das palavras, as rimas ricas que não estão nas extremidades dos versos mais internamente como que um toque de berimbau, uma cabaça, um arame um pedaço de pau.

Uerbet Santos é Publicitário e Roteirista.

Foto

: Fr

an

cisc

o L

ind

om

ar,

Bailarino e capoeirista Weslley Barbosa.

Self

: U

erb

et

San

tos

Efei

to s

ob

re f

oto

de

Fra

nci

sco

Lin

do

ma

r

Page 4: Revista ação social  Edição Capoeira

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

associal

acaoRevista

associal

acaoRevista

3

12

nome “capoeira” se

Orefere aos locais onde a

a r t e m a r c i a l e r a

praticada: grandes galpões e

campos chamados de capoeira

ou capoeirão. As músicas que

acompanham têm origem nos

rituais religiosos africanos que

são tocadas em instrumentos de

percussão e que motivam a ginga,

os saltos e a mobilidade dos

participantes.

Podemos citar na capoeira dois

grandes nomes: Mestre Bimba,

responsável pela, hoje chamada,

capoeira Regional, e o Mestre

Past inha, responsável pela

capoeira Angola.

CAPOEIRA REGIONALManoel dos Reis Machado, o Mestre

Bimba, nascido na Bahia e de origem

angolana, era um homem alto, forte e

valente. Nascido em 1900, 12 anos

após a abolição da escravidão no

Brasil, aprendeu a jogar capoeira nas

rodas clandestinas dos subúrbios de

Salvador, já que a dança era proibida

pelo Código Penal Brasileiro.

REFORMULAÇÃO DA CAPOEIRA

Para preservar a cultura africana,

Mestre Bimba teve a ideia de

reformular a capoeira. Para isso, em

1932, ele funda o Centro de Cultura

Física e Regional e inventa um novo

método de ensino que juntava

algumas técnicas do boxe com o jiu‐

jitsu, que começava a chegar ao

Brasil.

Além disso, retirou algumas

posições da capoeira africana e

criou um código de ética bastante

rigoroso que impedia a violência.

Para ampliar o sentido de paz do

novo estilo, instituiu o uniforme

branco, mudou as músicas e

vigiou de perto a vida de seus

alunos.

Para surpresa de muitos, vários

jovens de origem europeia

começaram a se interessar pelas

aulas do centro. Com a liberação

do esporte por Getúlio Vargas, as

mulheres começaram a entrar

nas rodas de capoeira também.

CAPOEIRA ANGOLA

Foi na atividade do ensino da

Capoei ra que Past inha se

distinguiu. Ao longo dos anos, a

c o m p e t ê n c i a m a i o r f o i

demonstrada no seu talento

como pensador sobre o jogo da

Capoeira e na capacidade de

comunicar-se. Os conceitos do

mestre Past inha formaram

seguidores em todo Brasil. A

originalidade do método de

ens ino , a p rá t i ca do jogo

enquanto expressão artística

formaram uma escola que

privilegia o trabalho físico e

mental para que o talento se

expanda em criatividade.

Viva mestre

BIMBA!

Z

MACULELÊ:

A DANÇA‘’DOS’’CAPOEIRA

‘’ Ô... boa noite prá quem é de boa noite

Ô... bom dia prá quem é de bom dia

A bênção meu papai a bênção

Maculelê é o rei da valentia’’.

A capoeira em geral, é vista como

luta e também como uma dança.

E uma das danças caracterizadas

é o maculelê, dança de forte

expressão. Uns dizem que foi

criada pelos negros africanos,

outros dizem que foi pelos índios

no Brasil; mas há quem diga que

essa manifestação folclórica

tenha a mistura dos dois.

PRICIPAIS CARACTERÍSTICAS

O maculelê tem como principal

característ ica a bat ida dos

“porretes”, um tipo de bastão feito

de madeira. Os jogos do maculelê

podem ser feitos com os porretes

ou com facões.

Na dança formam um jogo entre dois

capoeiristas, com coreografias

s e m e l h a n t e s a d o f r e v o

Pernambucano, devido aos saltos,

agachamentos, cruzadas de pernas e

movimentos dos braços.

Junto às canções a manifestação é acompanhada pelo forte batuque do a t a b a q u e , i n s t r u m e n t o d e percussão, utilizado em rodas de capoeira e em rituais religiosos. O maculelê também, pode‐ se dizer que seja um ritual. Antigamente os escravos usavam a roda do maculelê para extravasarem toda raiva que sentiam pelos feitores, por terem

sofrido maus tratos, eles diziam lutar

contra os horrores da escravidão.

De rostos pintados, saias de palha e

pés descalços, atualmente a dança

do maculelê é praticada para ser

admirada nas apresentações de

grupos de capoeira.

Por Nadla Góes

Foto

: Fr

an

cisc

o L

ind

om

ar,

Bailarino e capoeirista Weslley Barbosa mostrando sua habilidade corporal.

Dançarina de maculelê perplexa com a dança.

A alegria e a descontração é o principal ingrediente do maculelê.

Foto

: N

ád

la G

óes

Foto

: G

leyd

son

de

Sou

sa

Page 5: Revista ação social  Edição Capoeira

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

associal

acaoRevista

associal

acaoRevista

11

4

Viva mestre

PASTINHA!

Samba de rod

a:

molejo dos ca

maradas

estre Pastinha foi o

Mmaior propagador da

C a p o e i r a A n g o l a ,

modalidade "tradicional" do

esporte no Brasil. Em 1941,

fundou a primeira escola de

capoeira legalizada pelo governo

baiano, o Centro Esportivo de

Capoeira Angola (CECA), no

Largo do Pelourinho, na Bahia.

Hoje, o local que era a sede de

sua academia é um restaurante

do Senai.

Em 1966, integrou a comitiva

brasileira ao primeiro Festival

Mund ia l de Ar te Negra no

Senegal, e foi um dos destaques

do evento. Contra a violência, o

Mestre Pastinha transformou a

capoeira em arte.

samba de roda teve

Oinício por volta de 1860,

c o m o f o r m a d e

preservação da cultura dos

negros africanos escravizados no

Brasil. Tem uma forte influência na

Bahia onde fica evidente a cultura

d e s s e s n e g r o s .

Não só na Bahia como em todo o

mundo, as danças populares da

c a p o e i r a , r e t r a t a m

minuciosamente a vida daqueles

escravos, que usavam a roda de

capoeira para lutar e o samba

para absorver as energias de sua

essência africana, usava a dança

para cadenc iar o r i tmo da

escravidão naquela época.

“Eu vim aqui foi pra vadiar, eu

v i m a q u i f o i p r a v a d i a r.

Vadeia, vadeia, vou vadiando,

eu vim aqui foi pra vadiar...”

Em 1965, publicou o livro Capoeira Angola, em que defendia a natureza desportista e não‐violenta do jogo. Entre seus alunos estão Mestres como João Grande, João Pequeno, B o c a R i c a , C u r i ó , B o l a S e t e (Presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola), entre muitos outros que ainda estão em plena at iv idade. Sua escola ganhou n o t o r i e d a d e c o m o t e m p o , frequentada por personalidades como Jorge Amado, Mário Cravo e Carybé, cantada por Caetano Veloso no disco Transa (1972"Tudo o que eu penso da Capoeira, um dia escrevi naquele quadro que está na porta da Academia. Em cima, só estas três palavras: Angola, capoe i ra , mãe. E embaixo, o pensamento: Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu f im é i n c o n c e b í v e l a o m a i s s á b i o capoeirista”.

A HISTÓRIA DE MESTRE

BIMBA NA CAPOEIRA

Manoel dos Reis Machado, o

Mestre Bimba, nascido na Bahia

em 1900, 12 anos após a abolição

da escravidão no Brasil e de

origem angolana, era um homem

alto, forte e valente. Aprendeu a

j oga r capoe i ra nas rodas

clandestinas dos subúrbios de

Salvador, já que a dança era

proibida pelo Código Penal

Brasileiro.

Para preservar a cultura africana,

teve a ideia de reformular a

capoeira. Para isso, em 1932, ele

funda o Centro de Cultura Física e

Regional e inventa um novo

método de ensino que juntava

algumas técnicas do boxe com o

jiu-jitsu, que começava a chegar

ao Brasil.

‘’Foi dura a caminhada até aqui,

muitos anos se passaram,

muitas lutas e batalhas foram

t raçadas. A inda há mais

história a ser contada. Temos,

no sangue, a capoeira, a

negritude, uma alma que pede,

s e m p r e , p o r l i b e r d a d e !

Podemos voar quando os

nossos pés tocam o chão de

uma roça, onde a arte, a luta, a

musicalidade, a dança nos

envolve com a voz de quem

sempre quer mais. Salve a

capoeira de todos nós! Salve a

nossa voz!’’.

OS INSTRUMENTOS DO

SAMBA DE RODA

O samba de roda é uma cultura

trazida da África e se tornou uma

vadiação entre os capoeiristas,

nas canções traz a camaradagem

e sensualidade, fazendo com que

o casal que está sambando no

centro da roda entre numa

sintonia. A introdução fica por

conta da viola (berimbau com

som agudo), pandeiro e as

batucadas do atabaque. Os

instrumentos vão dando ênfase

ao ritmo do samba junto ao

cantador que inicia as cantigas,

seguido em coro pelo grupo a

dançar.

Os rapazes vão cortejando as

moças com o samba malandro e

as mesmas com o seu rebolado.

As moças usam a umbigada, que

seria também outra dança, mas

no samba de roda é onde as

moças trocam de lugar na hora de

irem sambar.

‘’Eu vim aqui foi pra vadiar,

eu vim aqui foi pra vadiar.

Vadeia, vadeia, vou vadiando,

eu vim aqui foi pra vadiar’’...

Por Nadla Góes

Efei

to s

ob

re f

oto

de

Fra

nkl

in S

oa

res

Foto: Franklin Soares

O figurino das sais rodadas é outro componenteque faz do samba de roda um ritmo envolventee sedutor

Jovens e adolescentes de todas as idades se rendem ao ritmo da capoeira propagado pelo Mestre Pastinha

Foto: Gleydson de Sousa

(Por Júlia Medeiros)

Page 6: Revista ação social  Edição Capoeira

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

associal

acaoRevista

associal

acaoRevista

5

10

A CAPOEIRA QUE T

RANSFORMA

Já foi questã

o de sobrevivê

ncia e até um

a prática ileg

al,

mas hoje, a c

apoeira é um

esporte que n

ão só recuper

a,

como também

dá sentido a

vida de muita

s pessoas

sada a princípio na África como uma cerimônia de disputa para escolher uma moça para se casar, e

Uposteriormente trazida para o Brasil pelos negros, que eram contrabandeados para trabalhar nas fazendas de

cana‐de‐açúcar, a capoeira passou a ser a forma que os negros tinham para se defender dos brancos. A luta

chegou a entrar no Código Penal Brasileiro e foi marginalizada por muito tempo.

Independente do estilo praticado, Regional ou Angola, a capoeira é mais que uma luta ou uma dança, como muitos pensam, e

passou a desenvolver um papel social, em que todos podem superar seus limites físicos e psicológicos. E hoje, o esporte

passou a ser um dos principais símbolos da cultura brasileira e está disseminada com núcleos em mais de 160 países, e em

todos os continentes.

NA SOCIEDADE

Em Fortaleza existem várias associações, dentre essas a Zumbi Capoeira, fundada pelo mestre Lula. A associação possui mais

de sete núcleos espalhados por Fortaleza e pelo interior do estado. Dentre esses, está o núcleo do bairro Canindezinho, na

capital cearense. O núcleo utiliza o espaço do pátio da escola Senador Osires Pontes e tem mudado a vida de algumas pessoas

na comunidade ao redor.

ENTREVISTA

AS: Você acredita que a capoeira salva vidas?

Por quê?

Macarrão: Sim, acredito! A capoeira salva vidas,

sim! Mas vai depender da pessoa. Se você não der a

abertura para que ela mude sua vida, ela não terá

essa força toda. Eu sou exemplo claro, pois minhas

amizades de infância, muitos hoje, já estão mortos,

outros estão no mundo do erro. E graças a Deus,

hoje estou aqui, pois se não fosse à capoeira, não

saberia o que seria da minha vida. Hoje eu poderia

estar matando, roubando, ou coisa parecida.

AS: Como vocês fazem para manter-se nessa

caminhada rumo ao exterior?

MACARRÃO: Muito treino, muita conversa

(papoeira), chateação, choro, confraternização,

vivencias. Pode usar todos os argumentos

existentes.

AS: Na visão de professor, como você se define?

MACARRÃO: Já fui um mau professor. Muitas das

vezes não soube ensinar. Não tratava bem os

alunos. Mas graças à experiência, a minha esposa.

Tornei-me um bom professor. Ainda não estou cem

por cento, porem estou evoluindo bem.

AS: Sabemos que a capoeira tem uma filosofia.

E qual a filosofia do núcleo Canindezinho?

MACARRÃO: Vamos por palavras: Lealdade,

honestidade, sinceridade, amizades. Todas as

coisas boas que possam acontecer. Isso que

mantém nosso núcleo unido.

AS: Você tem noção da importância do teu

trabalho na vida de seus alunos?

MACARRÃO: Sinceramente? Tenho! De todos eles,

eu tenho noção da minha importância. Eles não

sabem, mas eu sei. - quando eu falo com eles, vou

buscar tocar no problema, na ferida - esse laço

familiar que criamos, faz com que eu conheço-as

bem.

professor «mac

arrão» acredit

a

que a capoeir

a salva vidas

Por Franklin Soares

Efei

to s

ob

re f

oto

de

lia M

edei

ros

Profº Macarrão comandando uma roda de Samba de roda

Para o Professor Macarrão (de costas) a capoeira é um espaço democrático

Foto: Francisco Lindomar,

Foto

: Fr

an

cisc

o L

ind

om

ar

Page 7: Revista ação social  Edição Capoeira

DONA ZEFINHA E AS

QUATRO FILHAS

Uma das histórias que mais

chamam a atenção é a da dona

Josefa Moraes, conhecida por

todos como, dona Zefinha. Ela

colocou as quatro filhas na

capoeira com o objetivo de que

aprendessem alguma luta, para

que se defendessem, caso fosse

preciso. Como dona Zefinha

estava sempre acompanhando

as filhas na capoeira, todos

insistiam para que a mesma

participasse.

Eu tinha vontade, mas tinha

medo. Até que um dia chamei o

“macarrão” e disse que queria

participar” disse ela. Assim como

muitos ali, a capoeirista disse que

o esporte é tudo na sua vida, e

indica o pra outras pessoas.

Continua na página 9

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

associal

acaoRevista

associal

acaoRevista

9

6

p r o f e s s o r J a i r t o n

OHolanda, conhecido

c o m o M a c a r r ã o , é

formado em educação física e

começou a praticar capoeira com

1 3 a n o s , c o n f i r m a e s s a

importância: “É importante, mas

não está sendo importante”, se

referindo a falta de interesse de

muitas pessoas sobre o esporte.

E mais: “Não é apenas jogar as

pernas para alto... Isso aqui é uma

extensão da minha família...

Antes daqui eu não tinha vida, não

tinha nenhuma perspectiva”,

disse.

A INFLUÊNCIA DA CAPOEIRA

As histórias sobre a forma como a

capoeira influenciou, de alguma

forma, a vida dos praticantes

estão por todos os cantos. Um

desses exemplos é o de Valesca.

Ela revela que queria muito

praticar uma atividade física, mas

que não gostava de academia e

menos ainda de capoeira, que era

o que a mãe dela sempre insistia

pra que ela praticasse. “No

primeiro dia eu chorei muito, eu

não queria”, revela a jovem. Hoje

em dia ela fala pra quem quiser

ouvir, que não v ive sem a

capoeira, e que tem uma vida

mais saudável e um corpo mais

forte sem precisar de academia.

A CAPOEIRA QUE T

RANSFORMA

‘’Eu a chamav

a de estranh

a, mas agora

ela fala

com as pessoa

s e isso é mu

ito bom disse

a mãe’’.

le ibiane Frei tas, estava no treino

Gacompanhando a filha, Ariana, conhecida

como Luluzinha. Em conversa com a

Biane, como gosta de ser chamada, disse que foi pega

de surpresa quando a filha disse que queria participar

da capoeira. O motivo é que a mesma já era

apaixonada pela luta desde a adolescência. “A minha

mãe trancava a porta porque eu fugia pra ir ver roda de

capoeira”, revelou. Dona Biane, diz também que

percebeu mudanças na filha depois que a mesma

entrou no esporte, como o relacionamento com outras

pessoas e redução de peso. “Eu a chamava de

estranha, mas agora ela fala com as pessoas e isso é

muito bom” disse a mãe.

A CAPOEIRA ABRE NOVAS PERSPECTIVAS

A capoeira passou a ser uma saída para jovens que não

tem perspectivas ou oportunidades na comunidade. O

Canindezinho não conta com projetos governamentais,

que possam de alguma forma tirar crianças,

adolescentes e até adultos da ociosidade. O projeto

mais próximo segundo algumas mães é o CUCA

(Centro Urbano de Cultura e Arte) do bairro Mondubim.

E que o local ainda é muito distante para as crianças e

jovens irem sós.

Para participar da capoeira basta procurar um dos

núcleos de uma das associações espalhadas pelo

estado. A disciplina dos treinos é indispensável para

quem se interessa em participar da luta.

(Por Gleydson de Sousa)

Foto: Júlia Medeiros Foto: Júlia Medeiros

Na capoeira disciplina e repetição de movimentos fazem a diferença. Ariane ( esq.) foi pra capoeira por sua mãe queria que ela aprendesse uma forma defesa. Gostou e não larga o maculelê por nada nesse mundo.

Ariane ( esq.) e sua mae Biane ( dir.). Familia unida pela capoeira.

Uma característica marcante da capoeira é que aprendem a jogar e a tocar os instrumentos

Foto: Francisco Lindomar,

Foto

: Fr

an

klin

So

are

s

Page 8: Revista ação social  Edição Capoeira

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

CapoeiraEdição

C o ra e ap i

associal

acaoRevista

associal

acaoRevista

7

8

professor «ma

carrão» fala

sobre seu tr

abalho no

núcleo de capo

eira no canind

ezinho

Jairton Holan

da, casado, fo

rmado em edu

cação física,

professor de c

apoeira há15 a

nos. Responsá

vel

direto do núcl

eo de capoeira

canindezinho.

Entrevista

cedida ao gru

po de comunica

ção social da

instituição

Estácio do C

eará especia

lmente para

Projeto de r

evista acadêm

ica de codinom

e Ação Social.

ENTREVISTA

AS: Em que ano surgiu o núcleo Canindezinho?

Macarrão: Surgiu 25 de setembro de 98, no Centro

Comunitário do Canidezinho pelos capoeiristas Max,

William, Wesley, Ricardo e eu (Jairton Holanda).

comandados pelo mestre Amaral. Foi um momento de

turbulência, pois as rodas de capoeira eram no meio da

praça e não tínhamos atenção nenhuma.

AS: Durante todos esses anos de capoeira, o que

mais lhe marcou?

Macarrão: Foi ser professor precoce. Comecei

ministrar aula de corda azul e branca. Isso me trouxe

uma responsabilidade grande, pois meu mestre não

conseguia manter a turma do primeiro horário. Ele não

tinha ninguém para auxiliá-lo. Então foi me dado a

oportunidade de assumir uma das turmas na escola de

ensino fundamental e médio Júlia Alves. Isso ocorreu

no inicio dos anos 2000.

AS: Como você resume sua vida antes e depois

da capoeira?

Macarrão: «eu não tinha vida antes” (risadas) .Na

realidade, eu, não tinha perspectiva de vida, pois

conheci a capoeira muito “novinho”. Só tinha treze

anos. Eu queria ser jogador de futebol, como toda

criança. Cheguei a jogar em um clube por quatro

partidas. E justamente em um dos jogos, conheci a

capoeira. E após conhecer á arte da capoeira, passei

a levar como um eixo da minha vida. Hoje tudo que

conquistei foi através da capoeira. Sou formado em

educação física, tenho uma esposa, cheguei ao

exterior, realizei alguns dos meus sonhos. Todos

propiciados pela capoeira.

AS: O quê o núcleo Canindezinho representa para

você e para comunidade?

Macarrão: Quem vive no mundo da capoeira, sabe que

não é só jogar as pernas para o alto e depois dá o salve

e ir embora. O núcleo Canindezinho é uma extensão de

minha família. Dou carão, sou chato. Mas, trato como

filhos, irmãos. Independente de graduação, idade,

tamanho. Apesar de ter alunos que se encontram na

condição de pai de dois, três filhos.

Para comunidade, eu, vejo que não perceberam a

importância que a capoeira tem. As pessoas ainda

pensam que é só um jogo de capoeira. E não é! A

importância de um núcleo para o bairro é muito

importante, pois aqui na comunidade a capoeira

"brota". Porém, para a comunidade em si, não é muito

importante. A importância maior é para esses garotos

que aqui estão.

AS: Na sua visão, qual o pior momento que o

núcleo Canindezinho passou?

Macarrão: O pior momento foi quando mestra

Vanda. Minha mestra. Decidiu parar. A partir daí foi

deixado em minha responsabilidade o dever de

sustentar o núcleo. Nessa época não existia tantas

crianças, já era um grupo adulto e muitos saíram. Foi

um momento de recomeço. Apesar de já estar dando

aula, era muito difícil. Faltava experiência para

segurar um núcleo. Mas o mundo da capoeira da

muitas voltas e hoje somos um dos principais

núcleos da associação zumbi capoeira.

A S : O n d e v o c ê , j u n t o c o m o N ú c l e o

Canindezinho pretende chegar? (risadas)

Macarrão: Na realidade, já estamos chegando. É

um trabalho árduo, de (formiguinha) mesmo.

Queremos ser destaque em cenário mundial.

Continua na página 10

Foto

s: F

ran

klin

So

are

s

Profº Macarrão acredita que o seu e o destino de seus alunos é percorrem o mundo divulgando as raízes culturais da arte brasileira através da Capoeira.