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1 Introdução O humor, segundo Jan Bremmer e Herman Roodenburg (2000, p. 13) é qualquer mensagem - expressa por atos, palavras, escritos, imagens ou músicas - cuja a intenção é a de provocar o riso ou um sorriso" A partir daí podemos afirmar que o humor só é possível se existir interação social. Por isso, ele se faz presente na sociedade desde os primórdios e é importante observá-lo quando o contexto social e cultural de determinada época e região são analisados. Ele pode ilustrar os aspectos de cada momento como “uma forma criativa de descobrir, revelar e analisar criticamente o homem e a vida” (DAMACENO; NISHIZAWA, 1999). A noção de humor que possuímos hoje foi transformada durante o tempo, já que antes havia o sentido de disposição mental ou temperamento. O significado moderno foi registrado pela primeira vez na Inglaterra em 1682; e um dos primeiros escritores a utilizar o termo no sentido moderno foi Lorde Shaftesbury, no Sensus communis: an essay on the freedom of wit and humour (Sensus communis: um ensaio sobre a liberdade da graça e do humor - 1709) (BREMMER; ROODENBURG,2000, p. 13) No Brasil o humor não poderia se ausentar. Embora o rádio tenha chegado ao país no início da década de 1920, os ouvintes tiveram acesso ao humor por meio dele apenas na década de 1930, após Getúlio Vargas, presidente do Brasil na época, assinar os decretos que permitiam patrocínios dos comércios. Além disso, Vargas criou uma Rádio Estatal, e o Brasil teve a primeira emissora estatal, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que foi pioneira em exibição programas humorísticos como "Balança mas não cai" e "PRK-30" (TV Brasil, 2009). Após a autorização para espaço publicitário juntamente com a criação de diversas emissoras, surgiram os programas de rádio jornalismo e entretenimento como: novelas, entrevistas com convidados, transmissões esportivas e programas humorísticos, como os gêneros que mais faziam sucesso na chamada "Era de ouro" (1930-1950). Esse tipo de conteúdo passou a ser mais explorado pelo rádio e difundido na cultura brasileira. Na "Era de ouro", os programas de auditório ganharam espaço e prestigio e artistas como Carmem Miranda e Noel

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1 IntroduçãoO humor, segundo Jan Bremmer e Herman Roodenburg (2000, p. 13) é

qualquer mensagem -  expressa por atos, palavras, escritos, imagens ou músicas - cuja a intenção é a de provocar o riso ou um sorriso"

A partir daí podemos afirmar que o humor só é possível se existir interação social. Por isso, ele se faz presente na sociedade desde os primórdios e é importante observá-lo quando o contexto social e cultural de determinada época e região são analisados. Ele pode ilustrar os aspectos de cada momento como “uma forma criativa de descobrir, revelar e analisar criticamente o homem e a vida” (DAMACENO; NISHIZAWA, 1999).

A noção de humor que possuímos hoje foi transformada durante o tempo, já que antes havia o sentido de disposição mental ou temperamento.  O significado moderno foi registrado pela primeira vez na Inglaterra em 1682; e um dos primeiros escritores a utilizar o termo no sentido moderno foi Lorde Shaftesbury, no Sensus communis: an essay on the freedom of wit and humour (Sensus communis: um ensaio sobre a liberdade da graça e do humor - 1709)(BREMMER; ROODENBURG,2000, p. 13)

No Brasil o humor não poderia se ausentar. Embora o rádio tenha chegado ao país no início da década de 1920, os ouvintes tiveram acesso ao humor por meio dele apenas na década de 1930, após Getúlio Vargas, presidente do Brasil na época, assinar os decretos que permitiam patrocínios dos comércios.  Além disso, Vargas criou uma Rádio Estatal, e o Brasil teve a primeira emissora estatal, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que foi pioneira em exibição programas humorísticos como "Balança mas não cai" e "PRK-30" (TV Brasil, 2009).  

Após a autorização para espaço publicitário juntamente com a criação de diversas emissoras, surgiram os programas de rádio jornalismo e entretenimento como: novelas, entrevistas com convidados, transmissões esportivas e programas humorísticos, como os gêneros que mais faziam sucesso na chamada "Era de ouro" (1930-1950). Esse tipo de conteúdo passou a ser mais explorado pelo rádio e difundido na cultura brasileira.  

Na "Era de ouro", os programas de auditório ganharam espaço e prestigio e artistas como Carmem Miranda e Noel Rosa ficaram populares. Além disso, Ademar Casé, produtor e diretor do primeiro programa de auditório de grande audiência, o "Programa do Casé", surge com grandes inovações no rádio como "os primeiros anúncios publicitários, o primeiro jingle, (comercial em forma de música) os quadros humorísticos o radioteatro, a música de fundo e a sonoplastia" (FARIAS, 2011, p.6)

Após esse período, ao longo da década de 1960, houve um declínio na audiência do rádio devido à chegada da televisão ao país. Diversos artistas migraram para a tv, apesar disso o rádio sobreviveu.  Então em 1970 surgem as primeiras emissoras de frequência modulada (FM) do país (AGUIAR, 2007, p. 108)

Durante o período militar (1964-1985) houve grande mudança no comportamento social e cultural. Os programas de rádio eram censurados e, em 13 de dezembro de 1968, o Ato Institucional nº 5 foi decretado e ficou vigente até 1978. Nesse período, considerado o mais severo da ditadura militar, as emissoras de televisão e de rádio e redações de jornais foram ocupadas por censores (PINTO et al, 2008).  

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Atualmente, livre das barreiras impostas pela censura, novas vertentes nasceram dentro do humor, como o “humor politicamente incorreto” que pode agora se respaldar no direito à liberdade de expressão. O humor, então, passa a se apoiar ainda mais em temas que seguem às suas origens, como abordagens raciais, preconceituosas e direcionada a minorias, como explicada extensivamente na matéria realizada por Joel Warner,publicada na revista Wired (2011), com o objetivo de descobrir o que é o humor, expõe o riso e a diversão como violações vistas como benignas a sociedade.

Por outro lado, Damaceno e Nishizawa afirmam que o “processo humorístico é o de discriminação do tipo estigmatizado, provocando a autovalorização do receptor, que aprova e confirma sua forma legítima de vida, seus preconceitos, seus ideais, seus valores.”

Segundo Saliba, a representação humorística brasileira hoje ainda está aprisionada a uma ética emotiva ligada ao passado, antes mesmo de censuras e debates éticos. "Ela nasce para compensar um déficit emocional em relação ao sentido da nossa história”. (COLOMBO, 2002).

Tal controvérsia criado pelo humor, faz com que sua importância diante a sociedade seja ressaltada, pois nas palavras de Saliba em entrevista para Rodrigo Levino, da revista Veja: “No decorrer da história, o riso popular permitiu que se criasse, cada vez mais, uma cultura da divergência, ativa e oculta – o que mostra como o humor se tornou arma contra regimes repressivos.”

1.1  Delimitação do temaTratando-se do humor no rádio, o grupo Café com Bobagem é um dos

mais antigos ainda em atividade, segundo a entrevista “Humoristas do Café com Bobagem falam das piadas do stand up,” transmitido pela Clictv e TvUol em 2012.

O grupo se formou em 1989 como um programa da rádio Band FM e era composto por 5 membros que, ainda hoje, compõem o grupo. São eles Oscar Pardini, Zé Américo, Ivan de Oliveira, Rêne Vanorden e Ênio Vivona, informado na página oficial do grupo.

A soma da experiência de cada um dos membros foi primordial para a formação do grupo Café com Bobagem, assim tiveram êxito no humor paródico, estilo presente até hoje nas  programações das emissoras em que atuaram, como as rádios Nova FM, Rede Transamérica FM e Rádio Jovem Pan.  Atualmente o grupo se apresenta pelas rádios Transcontinental FM, em São Paulo-SP e pela Rádio Educadora FM, em Campinas -SP, com programação simultânea. Além de participarem do programa de TV “A Praça é Nossa”, no SBT.

O estilo de paródia que levou ao reconhecimento do grupo é de suma importância para a compreensão do sucesso. A paródia é “uma fonte de crítica cultural séria e criativa” (Tavares, 1999). Para o autor, esse gênero é uma forma ambígua que disfarça a crítica em forma de homenagem.

Tavares ainda complementa em outra tese, “O humor na rede: AM/FM/internet” (2000), que o grupo Café com Bobagem “faz uma caricatura das principais atrações da programação da TV: programas esportivos, programas policiais, programas de auditório, telenovelas, anúncios comerciais, etc.”

O objetivo principal do programa é misturar textos humorísticos e imitações. A redação é produzida pelos integrantes e em grande parte é

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montada sobre trocadilhos com conotações sexuais, metáforas e comentários absurdos (TAVARES, 2000).

Mesmo com a forte presença da paródia nos programas, o grupo se adaptou às transformações do rádio. Com o tempo, deixaram de produzir piadas de conotação sexual com frequência e deram espaço aos trocadilhos e críticas cômicas como, por exemplo, a situação dos consumidores desamparados, no quadro "Defesa do Consumidor".

Além da participação no programa de humor “A Praça é Nossa” exibido pela emissora SBT, o grupo faz shows em teatros, recintos culturais, empresas e também marcam presença na internet. Eles já passaram por diversos canais de comunicação, em núcleos de criação, redação, produção e atuação, em programas como: "TOPA TUDO POR DINHEIRO", no SBT, "DOMINGO LEGAL" no SBT e "DOMINGÃO DO FAUSTÃO", na Rede Globo.

Hoje a Café com Bobagem - Rádio, Televisão e Eventos Ltds., é uma empresa de entretenimento que fornece conteúdo para outras emissoras de rádio no Brasil, em mais de 600 cidades.1.2.1 Objetivos

Produzir uma grande reportagem em rádio para detalhar a trajetória do Café com Bobagem, da formação à adaptação ao rádio e à TV, até os dias atuais e, mostrar assim, a importância do grupo para o cenário do humor atual nos diversos meios de comunicação em que se encontram.1.2.2 Objetivos específicos

Promover reflexão sobre o humor na rádio e sua sobrevivência emmeio a diversas evoluções tecnológicas.

Entender o que é humor e compreender por meio dele as mudanças do contexto social e cultural.

Analisar a importância do humor para a trajetória e sucesso do rádio.1.3 Justificativa

O Café com Bobagem está ativo desde 1989, e será o objeto do estudo por ser Inicialmente um grupo rádiofonico, e hoje, além da presença no veículo, também participam em outras mídias como TV, internet e ainda realizam apresentações em teatros, eventos e afins.

A tradição no gênero humorístico e a sobrevivência do grupo foi possível com a adaptação dos textos e encenações. A análise sobre o Café com Bobagem, permitirá gerar uma reflexão sobre a trajetória e evolução do humor com foco em paródia, principalmente no rádio.

O grupo dirige e escreve as paródias. Ela é uma importante vertente para se compreender a cultura em um determinado espaço de tempo, pois é carregada de críticas a contemporaneidade em que se encontra a piada (TAVARES, 1999).

Essa tradição e sua influente participação no cenário do humor brasileiro, destaca o grupo, pois atualmente o humor sofre uma série de críticas em escala nacional nunca antes vista (LEVINO, 2011). Os Chamados “humor politicamente incorreto” hoje predomina em programas de TV, internet, rádio e os famosos shows de stand up comedy.

Esse estilo predominante e expansivo abriu oportunidades para novos talentos (FERREIRA, 2013) de qualidade duvidosa. Contudo, essa controvérsia em relação a situação do humor faz com que a ideia preconcebida do público em geral seja de que o humor “politicamente correto” seja taxado como algo ruim e sem imaginação (REVERBEL, 2011).

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Além da influência do grupo, o rádio também é um dos veículos de comunicação mais importantes para a história do humor no Brasil. Por esse motivo, analisaremos o Café com Bobagem, sua trajetória e relevância para o cenário do humor dentro dessa mídia e as demais para quais se transpuseram.