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Revisão ordinária da garantia física das usinas hidrelétricas

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Revisão ordinária da garantia física

das usinas hidrelétricas

Índice

Histórico

Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física

Revisão da vazão afluente

Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Modelo MSUI

Conclusão

Confiabilidade no fornecimento de energia elétrica

Necessidade de processo transparente

Índice

Histórico

Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física

Revisão da vazão afluente

Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Modelo MSUI

Conclusão

Confiabilidade no fornecimento de energia elétrica

Necessidade de processo transparente

1.Histórico

Decreto nº 2.655/1998

Resolução nº 453/1998 e Resolução nº 232/1999

Decreto nº 5.163/2004

Resolução CNPE nº 01/2004

Portaria MME nº 303/2004

Resolução CNPE nº 09/2008

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Resolução CNPE nº 09/2008

Portaria MME nº 258/2008

Portaria MME nº 463/2009

Acordão do TCU 1.171/2014

1.Histórico

Definição de garantia física (energia assegurada)

Por empreendimento

Quantidade de energia que cada gerador pode vender em seus contratos decompra e venda de energia

Por empreendimento

Do ponto de vista sistêmico

– Corresponde à maior demanda que um sistema pode atender, sob certo critério de confiabilidade de suprimento (carga crítica)

– Soma da garantia física de todos os empreendimentos que operam no SIN– Quanto mais rigoroso é o critério de confiabilidade (risco de déficit menor), menor é a

garantia física do sistema, para que ele se torne mais confiável

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1.Histórico

Critérios para revisão da garantia física (art. 21):

Decreto nº 2.655/1998

• A cada usina hidrelétrica participante do MRE corresponde uma fração a ela alocada da energiaassegurada do sistema

• Revisão ordinária: a cada 5 anos

• Revisão extraordinária: na ocorrência de fatos relevantes

• Limite de redução por revisão: 5% do valor estabelecido na última revisão

• Limite de redução total: 10% do valor de base, constante do respectivo contrato deconcessão, durante a vigência deste.

• Competência para a alocação da energia assegurada e suas revisões:

• propostas, em conjunto pelo GCOI e GCPS e seus sucessores• propostas, em conjunto pelo GCOI e GCPS e seus sucessores

• homologadas pela ANEEL

Com base na competência conferida pelo Decreto, a ANEEL homologou os valores de garantia física das hidrelétricas para o período de 1999 a 2002 por meio da Resolução nº 232/1999, e

para o período posterior a 2002, através da Resolução nº 453/1998.6

1.Histórico

Com a extinção do GCOI e do GCPS, o Decreto nº 5.163, de 30.07.2004 (“Decreto nº 5.163/2004”) dividiu as competências dos Grupos da seguinte forma:

Decreto nº 5.163/2004

dividiu as competências dos Grupos da seguinte forma:

MME define a garantia física

“Art. 2º Na comercialização de energia elétricade que trata este Decreto deverão serobedecidas, dentre outras, as seguintescondições:

(...)

§ 2º A garantia física de energia e

CNPE propõe critérios gerais, MMEdisciplina forma de cálculo e EPE calcula

Art.4º O Conselho Nacional de PolíticaEnergética - CNPE deverá propor critériosgerais de garantia de suprimento, comvistas a assegurar o adequado equilíbrio entreconfiabilidade de fornecimento e modicidadede tarifas e preços.

§ 2º A garantia física de energia epotência de um empreendimento de geração,a ser definida pelo Ministério de Minas eEnergia e constante do contrato de concessãoou ato de autorização, corresponderá àsquantidades máximas de energia e potênciaelétricas associadas ao empreendimento,incluindo importação, que poderão serutilizadas para comprovação de atendimentode carga ou comercialização por meio decontratos.

de tarifas e preços.

§1º O Ministério de Minas e Energia,mediante critérios de garantia de suprimentopropostos pelo CNPE, disciplinará a formade cálculo da garantia física dosempreendimentos de geração, a serefetuado pela Empresa de PesquisaEnergética - EPE, mediante critérios geraisde garantia de suprimento.

(...)” 7

1.Histórico

“Art. 1º Estabelecer que o critério geral de garantia de suprimento seja baseado no riscoexplícito da insuficiência da oferta de energia nesse sistema, o qual deverá ser considerado:

Critério Geral de Garantia de Suprimento: risco de insuficiência de ofertaResolução CNPE nº 01/2004

explícito da insuficiência da oferta de energia nesse sistema, o qual deverá ser considerado:

I - nos estudos do planejamento da expansão da oferta e da operação do sistema elétrico interligadonacional; e

II - no cálculo das garantias físicas de energia e potência de um empreendimento de geração deenergia elétrica.”

Portaria MME nº 303/2004: estendeu até fim de 2014 garantias físicas em vigor

Art. 1º Definir, nos termos do § 2º do art. 2º e do § 1º do art. 4º do Decreto nº 5.163, de 2004,conforme critérios gerais de garantia de suprimento, os montantes da garantia física dosempreendimentos de geração de energia elétrica.

§ 1º Ficam aprovadas a metodologia, as diretrizes e o processo para implantação dagarantia física das usinas do Sistema Interligado Nacional - SIN, conforme Nota Técnica, Anexo I,produzida por este Ministério e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS.

§ 2º A garantia física dos empreendimentos de geração hidrelétrica, exceto Itaipu Binacional, será ovalor vigente na data de publicação desta Portaria, estabelecido pela ANEEL, a título de energiaassegurada, até 31 de dezembro de 2014.”

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1.Histórico

“Art. 1º Estabelecer que o critério de cálculo das garantias físicas de energia e potência denovos empreendimentos de geração e do planejamento da expansão da oferta de energia elétrica

Resolução CNPE nº 09/2008:Critério para novos empreendimentos

CMO = CME

novos empreendimentos de geração e do planejamento da expansão da oferta de energia elétricaadote a igualdade entre o Custo Marginal de Operação – CMO e o Custo Marginal deExpansão – CME, assegurando a otimização da expansão do sistema elétrico, respeitado o limitepara o risco de insuficiência da oferta de energia elétrica estabelecido no art. 2º da Resolução CNPEno 1, de 17 de novembro de 2004.

Art. 2º Os empreendimentos de geração de energia elétrica com garantia física calculada epublicada pelo Ministério de Minas e Energia - MME, em data anterior a esta Resolução,continuarão sendo regidos pelo art. 1º da Resolução CNPE nº 1, de 2004. “

Portaria MME nº 258/2008:

“Art. 1º Definir a metodologia de cálculo da garantia física de novos empreendimentos de geração de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional - SIN, conforme metodologia constante

do Anexo I.

Art. 2º Os empreendimentos de geração atualmente em operação, cujos valores de suas garantiasfísicas não tenham sido publicados ou que tenham sofrido alteração de seu combustível principal,terão seus montantes estabelecidos de acordo com a metodologia constante do Anexo I, uma vezencerrados os seus atuais contratos de venda de energia. “

Portaria MME nº 258/2008:Metodologia de cálculo para novos empreendimentos

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1.Histórico

Portaria MME nº 463/2009

Estabelece a metodologia para o cálculo dos montantes de garantia física de energia deusinas hidrelétricas não despachadas centralizadamente pelo Operador Nacional do

Sistema Elétrico - ONS, para fins de participação no Mecanismo de Realocação de

Energia - MRE, inclusive para fins de participação nos Leilões de Compra de Energia

Elétrica.

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1.Histórico

Considerando que os valores de garantia física permanecerão vigentes até 31.12.2014, o TCU entende que o MME está diante do momento ideal para realizar

uma ampla revisão dos valores de garantia física das hidrelétricas.

Acórdão do TCU 1.171/2014

uma ampla revisão dos valores de garantia física das hidrelétricas.

“95. A utilização de metodologias diferentes para o cálculo de garantias físicas e a utilizaçãode parâmetros que não refletiam a real operação do sistema para a definição dessasgarantias resultaram em superavaliação da carga crítica do sistema interligado. Ou seja, asoma das garantias físicas já atribuídas às usinas é maior que a atual garantia física totaldo sistema, ensejando um desequilíbrio (peça 30, p. 94).

(...)97. O MME tem a possibilidade de realizar uma ampla revisão dos certificados de energia

assegurada de todas as usinas do sistema a vigorar a partir de 2015. Isso não é tarefa fácil,sendo, contudo, necessária.”sendo, contudo, necessária.”

“108. Tendo em vista que a soma das garantias físicas das usinas é maior que a garantia físicatotal do sistema elétrico e que, para equacionar tal desequilíbrio, o MME já realizou cinco leilões deenergia de reserva, correspondente à contratação de 3.497,9 MWmédio, no horizonte de 20 anos, porR$ 54 bilhões, propõe-se determinar ao MME que apresente, no prazo de noventa dias, Planode Ação para a elaboração de estudos conclusivos para subsidiar a revisão ordinária dasgarantias físicas das usinas do sistema elétrico brasileiro cujo prazo dos certificados de energiaassegurada findarão em 31/12/2014, nos termos da Portaria MME 303/2004 c/c art. 2º, § 2º, eart. 4º, § 1º, do Decreto 5.163/2004 e Anexo 1, art. 1º, parágrafo único, do Decreto 7.798/2012.“

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Índice

Histórico

Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física

Revisão da vazão afluente

Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Modelo MSUI

Conclusão

Confiabilidade no fornecimento de energia elétrica

Necessidade de processo transparente

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2.Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física

Obtenção da energia assegurada global do

Rateio da energia assegurada do sistema

Rateio da oferta hidráulica entre as

Conforme previsto na metodologia imposta pela Portaria MME nº 303/2004, o cálculo da garantia física é realizado por meio de etapas:

assegurada global do sistema

assegurada do sistemaentre as hidrelétricas e as

termelétricas

hidráulica entre as hidrelétricas.

Desse modo, a revisão da garantia física precisa ser antecedida da revisão dos seguintes parâmetros que compõe o seu cálculo:

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Rendi-mento

Nominal da Turbina

Perdas Hidráulicas Nominais

do Circuito Adutor

Potência Instalada

Rendi-mento

Nominal do Gerador

Queda Líquida Nominal

Alteração do número de unidades geradoras

Vazão afluente dos

rios

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2.Revisão dos parâmetros que compõe o cálculo da garantia física

Sem a prévia revisão dos parâmetros mencionados, a revisão da garantia física terá resultados distorcidos que podem causar prejuízos a diversos agentes

Tais resultados, uma vez que não condizentes com a realidade, estarão sujeitos a questionamentos por parte dos agentes

O que gera a diminuição da confiabilidade nos valores de garantia físicaestabelecidos e o aumento da instabilidade no setor elétrico

No atual cenário, um dos parâmetros mais passíveis de questionamento é a vazão afluente dos rios com hidrelétricas

estabelecidos e o aumento da instabilidade no setor elétrico

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Índice

Histórico

Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física

Revisão da vazão afluente

Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Modelo MSUI

Conclusão

Confiabilidade no fornecimento de energia elétrica

Necessidade de processo transparente

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3.Revisão da vazão afluente dos rios

O MME já promoveu a revisão das vazões de alguns rios, mas é preciso realizar a revisão dos

Não se tem acesso completo ao processo de revisão das vazões afluentes e não há regulamentação específica que disponha sobre quais dados devem ser considerados pelo MME ao

realizar o cálculo da garantia física.

O MME já promoveu a revisão das vazões de alguns rios, mas é preciso realizar a revisão dos demais, para que sejam utilizados dados igualmente atualizados nos cálculos de todas as usinas

hidrelétricas

No presente momento, nenhuma geradora possui características

especiais a ponto de receber tratamento diverso das demais, ou

seja, a ponto de não ter de se

O princípio da isonomia defendetratamento uniforme entre osiguais e permite o tratamentodesigual apenas entre pessoas ougrupos que sejam diferentes porsuas características próprias e na

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Caso o MME não revise as vazões afluentes de todos os rios (i) estará violando o princípio da isonomia, na medida em que permitiria a revisão da garantia física com base em dados desatualizados

para algumas hidrelétrica e atualizados para outras; e (ii) poderá beneficiar ou prejudicar injustificadamente determinadas geradoras.

seja, a ponto de não ter de se submeter à revisão da vazão.suas características próprias e na

medida de sua diferença

3.Revisão da vazão afluente dos rios

A legislação do setor elétrico aponta para uma dissociação entre a prestação de serviços

Eventual falta de revisão completa da vazão afluente dos rios também afetaria o regime de concorrência presente no setor elétrico e, em especial, na área de geração de energia elétrica

A legislação do setor elétrico aponta para uma dissociação entre a prestação de serviços públicos e a exploração monopolística

A regra geral da lei estabelece que as concessões não terão caráter de

Lei nº 8.987/1995 Lei nº 9.074/1995

A lei foi responsável por introduzir a concorrência e a competição entre

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concessões não terão caráter de exclusividade

O artigo 29 é claro em dizer que o poder concedente deve incentivar a

competitividade

concorrência e a competição entre agentes

Com a alteração da lei ocorreu a desverticalização do setor

elétrico, cuja finalidade seria permitir que ocorram os efeitos objetivos da competição econômica nas etapas competitivas do processo econômico

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3.Revisão da vazão afluente dos rios

Regime de concorrência

A teoria da regulação econômica afirma que a regulação do mercado deve garantir condições para que os agentes econômicos possam desenvolver suas atividades em

condições de igualdade material

O regime de competição está presente de forma mais aguda no setor de geração, então, o MME deve atuar de modo a garantir que as condições de competitividade então, o MME deve atuar de modo a garantir que as condições de competitividade

sejam as mesmas para todos os agentes do setor

A revisão da garantia física das usinas, baseada para alguns em dados atualizados das vazões e para outros em dados desatualizados, consistiria em potencial ação

regulatória anticompetitiva e que não resguarda a igualdade material entre os agentes

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Índice

Histórico

Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física

Revisão da vazão afluente

Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Modelo MSUI

Conclusão

Confiabilidade no fornecimento de energia elétrica

Necessidade de processo transparente

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4.Modelo MSUI

O modelo MSUI (Modelo de Simulação a Usinas Individualizadas) é utilizado para o cálculo da garantia física das usinas individualizadamente

Do cálculo realizado pelo MSUI se extrai qual a energia firme de cada hidrelétrica, o que determina como será o rateio da oferta hidráulica entre as usinas hidrelétricas e,

consequentemente, influi na quantidade de energia que poderá ser comercializada

O MSUI é um software de titularidade das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (“Eletrobrás”)

A Eletrobrás controla diversas geradoras de

grande porte

Essas geradoras, por sua vez, tem diversas usinas

hidrelétricas, cujas garantias são calculadas

por meio do modelo MSUI

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4.Modelo MSUI

O desenvolvimento do MSUI e dos critérios que compõem o seu cálculo influem diretamente na receita das geradoras, sendo de interesse público e geral - não pode ser

exercido por quem tenha interesses particulares nos resultados de sua aplicação

De acordo com Marçal Justen Filho, um serviço estatal não pode ser realizado por pessoa que tenha outros interesses que conflitem com a sua atuação pública. Um ente estatal não pode criar um mecanismo que tem como função medir genericamente as

empresas de um ramo e ao mesmo tempo ter interesse em uma dessas empresas medidas

A Eletrobrás não poderia ser responsável por elaborar um modelo que gera grandes impactos para cada geradora individualmente e para o setor elétrico como um todo. Tal serviço deveria ser realizado por um órgão ou empresa neutros, que não tenham serviço deveria ser realizado por um órgão ou empresa neutros, que não tenham

interesses próprios no resultado final do processo de revisão da garantia física.

Portanto, há um claro conflito de interesses envolvido na revisão da garantia física mediante aplicação do MSUI

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4.Modelo MSUI

Princípio da impessoalidade

Conforme entendimento de Celso Antônio Bandeira de Mello, o princípio da

impessoalidade impede a Administração

Hely Lopes Meirelles defende que “O princípio do interesse público está intimamente ligado

ao da finalidade. A primazia do interesse público sobre o privado é inerente à atuação

Princípio da supremacia do interesse público

impessoalidade impede a Administração de beneficiar alguns administrados ou

prejudicar outros, proíbe que sentimentos pessoais, políticos ou ideológicos interfiram em

sua atuação, muito menos interesses sectários, de facções ou grupos de

qualquer espécie.(BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo, 22ª ed. São Paulo,

Malheiros, 2007, pp. 110.)

público sobre o privado é inerente à atuação estatal e domina-a, na medida em que a

existência do Estado justifica-se pela busca do interesse geral. Em razão dessa

inerência, deve ser observado mesmo quando as atividades ou serviços públicos

forem delegados aos particulares.”(MEIRELLES, Hely Lopes. Direito

Administrativo Brasileiro, 32ª ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2006, pp. 103.)

A existência de interesses particulares da Eletrobrás na elaboração do MSUI contraria esses princípios, o que, por si só, já constitui motivo impeditivo para que não lhe seja

conferida tal atribuição.

O argumento acima ganha mais força em face da autonomia que a Eletrobrás tem para promover alterações no MSUI sem que os demais agentes do setor tenham

conhecimento de tais mudanças ou dos motivos por trás delas, o que os impede de contestá-las e deixa em situação ainda mais vulnerável os princípios mencionados acima.22

4.Modelo MSUI

Não há disponível publicamente qualquer tipo de instrumento celebrado entre o MME e a Eletrobrás que trate da atribuição de elaboração do software à empresa

Ainda que sem acesso ao instrumento, pressupondo-se que é possível que outras empresas desenvolvam modelos à semelhança do MSUI, a contratação do modelo

computacional deveria ter sido precedida do devido processo licitatório, conforme estabelece o art. 2º da Lei nº 8.666/1993

Caso o MME tivesse entendido, à época em que atribuiu à Eletrobrás a elaboração do modelo, que seria caso de inexigibilidade de licitação, deveria ter comprovado que modelo, que seria caso de inexigibilidade de licitação, deveria ter comprovado que a competição era inviável devido à inexistência de outras empresas que poderiam

elaborar o software.

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Necessidade de se atentar na próxima revisão ordinária para esse ponto de forma a evitar risco de incursão nas penas do artigo 89 da Lei 8.666/93 ou de seu parágrafo

único: dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades relativas à dispensa ou inexigibilidade

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Histórico

Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física

Revisão da vazão afluente

Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Modelo MSUI

Conclusão

Confiabilidade no fornecimento de energia elétrica

Necessidade de processo transparente

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5.Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Caso a falta de revisão de todos os parâmetros que compõem o cálculo da garantia física e/ou a utilização do MSUI nos padrões atuais resulte na superestimação ou subestimação dos valores

de garantia física, o MME estaria violando os princípios de vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa.

O confisco é expressamente vedado pela

Constituição Federal. “Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,

o princípio constitucional da proibição ao confisco não se limita apenas ao poder de tributar do Estado, segundo Ives Gandra

Martins: ”Desta forma, por confisco deve-se entender toda a violação ao direito de

propriedade dos bens materiais e

Princípio de vedação ao confisco

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: IV -utilizar tributo com efeito de confisco;”.

propriedade dos bens materiais e imateriais, retirado do indivíduo sem

justa e prévia indenização” (In: Comentários à Constituição do Brasil, v. 6º, t. I, São Paulo:

Saraiva, 1990, pp. 164-165. )

É vedado ao Estado qualquer forma de restrição à propriedade privada que não esteja expressamente prevista na Constituição Federal.

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5.Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Desse modo, altera diretamente o nível de receita das geradoras.

O processo de revisão da garantia física irá

definir/alterar a quantidade de energia que a geradora poderá

Isso significa dizer que o processo de revisão da

garantia deve ser conduzido de maneira a eliminar, ou ao menos reduzir, ao máximo o receita das geradoras.

Caso distorções venham a se concretizar, o MME estaria incorrendo na hipótese de confisco por estar, com relação às geradoras que tiveram a sua garantia física subestimada, impedindo que

explorem comercialmente seu real potencial de geração.

que a geradora poderá comercializar

reduzir, ao máximo o risco de haver

distorções em seus resultados

Resultados distorcidos que indevidamente subestimem a garantia física de determinada usina configuraria violação ao princípio da proibição ao confisco no que diz respeito à parcela subestimada

por subtrair da propriedade do gerador o direito de comercializar tal energia.

Medida do MME que restrinja o aproveitamento econômico da propriedade privada da geradora corresponde à medida confiscatória, pois a violação à propriedade privada não diz respeito

apenas à perda da titularidade do bem, mas também à restrição de sua utilidade econômica.

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5.Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

O ordenamento jurídico brasileiro contempla o princípio da proibição ao enriquecimento sem causa, o qual corresponde ao “incremento do patrimônio de alguém em

Princípio da proibição ao enriquecimento sem causa

sem causa, o qual corresponde ao “incremento do patrimônio de alguém em detrimento do patrimônio de outrem, sem que, para supeditar tal evento, exista uma causa juridicamente idônea” (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. O Princípio do Enriquecimento sem Causa em Direito Administrativo. Revista Diálogo Jurídico. Ano I – vol. I – n.º 2 – maio de 2001 – Salvador – Bahia – Brasil.)

Caso a revisão ordinária de 2014 indevidamente subestime a garantia física de Caso a revisão ordinária de 2014 indevidamente subestime a garantia física de determinadas usinas hidrelétricas e superestime a garantia física de outras

usinas, estaria permitindo o enriquecimento sem causa por parte das geradoras com garantias físicas superestimadas em detrimento daquelas que estão com a garantia física subestimada e são impedidas de aproveitar comercialmente todo seu potencial de subestimada e são impedidas de aproveitar comercialmente todo seu potencial de

geração.

Portanto, ato do MME que estabeleça valores de garantia física distorcidos será inconstitucional, por ser medida confiscatória para os que tiverem sua garantia

física subestimada, e ilegal, por permitir o enriquecimento sem causa dos agentes de geração que tiverem sua garantia física superestimada.

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Histórico

Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física Revisão dos parâmetros que compõem o cálculo da garantia física

Revisão da vazão afluente

Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Modelo MSUI

Conclusão

Confiabilidade no fornecimento de energia elétrica

Necessidade de processo transparente

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6.Necessidade de processo transparente

A revisão da garantia física será promovida por meio de norma de caráter geral que irá ter impactos diretos em todas as geradoras, além de causar impacto também em todo o setor elétrico e

na sociedade em geral

Para estabelecer uma norma de caráter geral, que afete todos os agentes do setor elétrico, o MME deve observar os princípios da publicidade, moralidade e segurança jurídica, conforme disposto no artigo 37, caput, da Constituição Federal e no artigo 2º, caput, da Lei nº 9.784/1999

Constituição Federal Lei nº 9.784/1999

Art. 37. A administração pública direta eindireta de qualquer dos Poderes daUnião, dos Estados, do Distrito Federal edos Municípios obedecerá aos princípiosde legalidade, impessoalidade,moralidade, publicidade e eficiência e,

Art. 2º A Administração Públicaobedecerá, dentre outros, aos princípiosda legalidade, finalidade, motivação,razoabilidade, proporcionalidade,moralidade, ampla defesa,contraditório, segurança jurídica,

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O MME deve adotar um procedimento transparente e permitir a participação dos interessados em todas as etapas que envolvem a revisão da garantia física, qual seja,

desde o estabelecimento de critérios que compõem o cálculo, o uso de dados das geradoras, até a eventual fixação de uma nova metodologia

moralidade, publicidade e eficiência e,também, ao seguinte: (Redação dadapela Emenda Constitucional nº 19, de1998)

contraditório, segurança jurídica,interesse público e eficiência.

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6.Necessidade de processo transparente

Princípio da Publicidade

Princípio da Moralidade

Princípio da Segurança

Jurídica

Tais princípios, combinados entre si, impõem ao MME o dever constitucional e legal de manter plena transparência em seus comportamentos e, sobretudo, de dar prévia e

pública notícia de que modificará suas orientações acerca de determinada matéria, especialmente nos casos em que tal modificação de orientação causar impactos

tão significativos para as geradoras e a sociedade.

Portanto, se for editada uma norma de caráter geral sem a observância aos princípios

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Portanto, se for editada uma norma de caráter geral sem a observância aos princípios da publicidade, moralidade e segurança jurídica, e à diretriz de transparência que deve orientar as atividades do governo, ela padecerá de vício de inconstitucionalidade e ilegalidade em face da violação ao disposto no artigo 37, caput, da Constituição Federal, e

no artigo 2º, caput, da Lei nº 9.784/1999.

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Revisão da vazão afluente

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7.Confiabilidade no sistema de fornecimento de energia elétrica

Decreto nº 5.163/2004 estabelece que o CNPE deve propor critérios de suprimento com o objetivo de assegurar o “adequado equilíbrio entre confiabilidade de fornecimento e modicidade de

tarifas e preços”

O uso de dados desatualizados no cálculo

de garantia física de algumas usinas

hidrelétricas resultaria em valores distorcidos

O que coloca em risco a confiabilidade no fornecimento de energia, pois tais

dados não estariam condizentes com a real geração desses

Dessa forma, a falta de revisão prévia das

vazões dos rios desviaria a finalidade do estabelecimento

dos valores de

O MME deve estabelecer a forma de cálculo da garantia física com base nos critérios de suprimento fixados, então, toda a metodologia tem como objetivo garantir a confiabilidade no sistema

de fornecimento de energia, a modicidade de tarifas e o equilíbrio entre os dois

em valores distorcidos de garantia física

real geração desses empreendimentos.

dos valores de garantia física.

A atividade do administrador deve ser pautada pelo princípio da finalidade, que impõe rigorosa obediência à finalidade específica de cada lei a sua atuação, sendo que o

ato administrativo que desvie a finalidade da norma é nulo

32

7.Confiabilidade no sistema de fornecimento de energia elétrica

A falta de transparência por parte do MME no que diz respeito ao estabelecimento dos valores de garantia física e por parte da Eletrobrás na elaboração do MSUI também contribuem para a

diminuição da confiabilidade no sistema.

A condução de um processo transparente visa aumentar a confiabilidade no sistema, pois

permite que (i) todos os interessados tenham acesso aos

dados utilizados pelo governo; (ii) possam contestar tais dados e

ainda oferecer sugestões para a melhoria de todo o processo.

A utilização de um modelo, nos mesmos moldes do MSUI, mas elaborado por uma empresa que não tivesse interesses particulares no software,

também aumentaria a confiabilidade no sistema de

fornecimento de energia elétrica.

A revisão dos valores de garantia física sem a utilização de dados atualizados de vazões, sem a condução de um processo transparente e com o emprego de um software desenvolvido por uma empresa que possui interesses particulares em sua elaboração, não estaria condizente com o

objetivo disposto no artigo 2º do Decreto nº 5.163/2004, desviando a finalidade da norma, e, portanto, seria nula.

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Revisão da vazão afluente

Vedação ao confisco e ao enriquecimento sem causa

Modelo MSUI

Conclusão

Confiabilidade no fornecimento de energia elétrica

Necessidade de processo transparente

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8.Conclusão

Os pontos passíveis de questionamento no caso de revisão da garantia física são:

Revisão dos parâmetros de cálculo da garantia física

Elaboração do modelo MSUI

A revisão da garantia física deve ser antecedida da revisão de diversos parâmetros, dentre eles, a vazão

afluente dos rios, sob pena de gerar resultados distorcidos que os tornem

vulneráveis a questionamentos e, consequentemente, fonte de aumento de

instabilidade no setor.

A elaboração do software MSUI pela Eletrobrás é questionável, uma vez que

a Eletrobrás possui interesses particulares no resultado do cálculo da garantia física, gerando conflito

de interesses e violação aos princípios da impessoalidade e

supremacia do interesse público.

Caso o MME decida promover a revisão da garantia física, sem a revisão e

atualização de todos os parâmetros que compõem o cálculo da garantia física,

estará incorrendo em violação ao princípio da isonomia e ao regime de

concorrência.

A empresa responsável pela elaboração desse modelo deveria ser escolhida por meio de licitação, e ainda que

fosse o caso de inexigibilidade de licitação, caberia ao MME comprovar a

inexistência de competição.

35

8.Conclusão

Vedação ao confisco e enriquecimento sem

causa

Confiabilidade no fornecimento de energia

elétrica

Necessidade de

8.666/93

Necessidade de processo transparente e

que observe Lei 8.666/93

Revisão da garantia física sem

Caso a revisão ordinária subestime a garantia física

de algumas geradoras e superestime a garantia física de outras, o MME estaria incorrendo em hipótese de confisco

A revisão deve ser feita por meio de um processo

transparente, respeitando os princípios da

publicidade, moralidade e segurança jurídica

Revisão da garantia física sem a utilização de dados atualizados, sem a

condução de um processo transparente e com o

emprego de um software desenvolvido por uma

empresa que possui interesses particulares em

sua elaboração

A subestimação da garantia

superestimadas

A subestimação da garantia física impediria as geradoras de explorar seu real potencial

de geração, o que seria medida confiscatória

e, portanto, inconstitucional e estaria permitindo o

enriquecimento sem causa por parte das geradoras com

garantias físicas superestimadas

Caso contrário, a norma editada padecerá de vícios de

inconstitucionalidade e ilegalidade, previstos no

artigo 37, caput, da Constituição Federal e no artigo 2º, caput, da Lei nº

9.784/1999.

Incorreria em desvio de finalidade do disposto no

artigo 2º do Decreto nº 5.163/2004, de garantir

“adequado equilíbrio entre confiabilidade de

fornecimento e modicidade de tarifas e preços”

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Obrigada

Isabel Lustosa

11-3066-3088

[email protected]