revisão documental da literatura científica sobre educação para a morte a docentes e discentes...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO JANAINA LUIZA DOS SANTOS Revisão documental da literatura científica sobre educação para a morte a docentes e discentes de Enfermagem Ribeirão Preto 2009

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Revisão documental da literatura científica sobre educação para a morte a docentes e discentes de Enfermagem. 2009

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRO PRETO

    JANAINA LUIZA DOS SANTOS

    Reviso documental da literatura cientfica sobre educao para a morte a docentes e discentes de

    Enfermagem

    Ribeiro Preto

    2009

  • JANAINA LUIZA DOS SANTOS

    Reviso documental da literatura cientfica sobre educao para a morte a docentes e discentes de

    Enfermagem

    Dissertao apresentada Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo, para obteno do ttulo Mestre em Cincias, Programa Enfermagem Psiquitrica.

    Linha de Pesquisa: Educao em sade e formao de recursos humanos.

    Orientador: Prof.Dr. Sonia Maria Villela Bueno.

    Ribeiro Preto

    2009

  • Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

    FICHA CATALOGRFICA

    Santos, Janaina Luiza dos.

    Reviso documental da literatura cientfica sobre educao para a morte a docentes e discentes de enfermagem / Janana Luza dos Santos ; orientador Sonia Maria Villela Bueno. - Ribeiro Preto, 2009.

    63 f.; 33 cm.

    Tese (Mestrado) apresentada Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto/USP., 2009.

    1. Enfermagem. 2. Morte. 3. Ensino. 4. Docente. 5. Discente. I. Sonia Maria Villela Bueno, II. Ttulo.

  • FOLHA DE APROVAO

    SANTOS, Janaina Luiza dos.

    Reviso documental da literatura cientfica sobre educao para a morte a docentes e discentes de Enfermagem

    Aprovado em ....../ ....../ .........

    Banca Examinadora

    Prof. Dr _______________________________________________________

    Instituio:_______________________Assinatura_______________________

    Prof. Dr.________________________________________________________

    Instituio:_______________________Assinatura_______________________

    Prof. Dr.________________________________________________________

    Instituio:______________________Assinatura________________________

    Dissertao apresentada Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo, para obteno do ttulo Mestre em Cincias, Programa Enfermagem Psiquitrica.

  • Dedico a minha pequena Maria Luiza e que mesmo sem entender muito bem o motivo das horas subtradas do convvio com a me, esteve presente com pacincia e compreenso de gente grande. Voc ser sempre o motivo de minha fora para caminhar

    Aos meus pais, com muito amor, por acreditarem sempre em mim, pelo carinho, por ter que suportar a distncia, e mesmo assim estarem ao meu lado em todo momento da minha vida. No seria nada sem a ajuda de vocs.

    Ao meu marido, por agentar todas minhas crises emocionais e no desistir. Estar perto tentando a todo o momento me ajudar.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Deus maravilhoso, pois, sem ele nada seria ou faria. Minha vida esta vinculada aos seus designos.

    A Prof Dr Sonia Maria Villela Bueno, por acolher-me em um momento de grande dificuldade, confiar no desenvolvimento deste trabalho e me orientar at o final.

    A Prof Dr Magali Roseira Boemer por acreditar em mim e me ajudar montar o projeto no qual fui aprovada para cursar esse mestrado.

    A Prof Dr Adriana Ktia Correa por aceitar-me a princpio como orientanda, pois a Prof Boemer estava se afastando.

    A Prof Dr Maria Lcia do Carmo Cruz Robazzi por no momento em que estava perdida e no sabia o que fazer guiou-me at uma soluo para conseguir terminar meu mestrado.

    Aos meus grandes amigos Rodolfo e Glaucia Ferreira, por serem meus exemplos e incentivadores, para chegar at aqui.

    Aos grandes amigos que conquistei em Ribeiro Preto Gabriela Vasters, Lilian Junqueira, Michele Miyauti, Janaina Junqueira, Renata Leite e Elaine Marcussi, pois, me ajudaram fazer com que esse trabalho tomasse corpo alm de me incentivarem e no deixarem-me esmorecer

    A todos os outros amigos que conquistei, e que apesar de no gostarem muito de escutar eu falando desse tema, suportaram-me como incentivo.

    A todo pessoal da Secretaria da Ps graduao que muito me ajudaram. Principalmente a Kethleen Sampaio e Flvia Martins que tiveram muita pacincia sempre que precisei.

    A todas as meninas da secretrias do Departamento de Psiquiatria, pois sempre estiveram disponveis para qualquer problema.

    E finalizando a todas as pessoas que direta ou indiretamente me ajudaram para conquistar essa batalha, que no foi fcil, mas, que comea findar-se nesse momento.

  • VIDA...

    Eu nasci, cresci, muitas alegrias trouxe, muitas tristezas vivi...

    Caminhei por longos caminhos, me formei, de muitos cuidei...

    Hoje sou Mulher, sou amante, me tornei Me, tenho um Amor incondicional e constante...

    Vou envelhecer e percorrer o declnio deste viver, escrevendo as pginas do meu livro, ento compreendendo a complexidade do meu ser findando nas ltimas pginas do livro da vida com o meu

    MORRER.

    Janaina Luiza dos Santos

  • RESUMO

    SANTOS, J. L. Reviso documental da literatura cientfica sobre educao para a morte a docentes e discentes de Enfermagem. 2009. 51f. Dissertao (Mestrado) Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, 2009.

    A Morte, ao menos na grande maioria das culturas do Ocidente, seja por questes pessoais, sociais, e/ou religiosos no se apresenta como tema preferido dos cidados, tampouco costuma ser tratada com naturalidade. Mas, se assim, como se apresentam aqueles que todos os dias, por fora do seu ofcio, precisam conviver e enfrentar a questo da Morte? Qual o significado que ela assume para esses profissionais? Seriam essas pessoas diferentes das demais? Elas no se importariam com a Morte, do mesmo modo que a maioria das pessoas? No seriam seres humanos? Por tantas interrogaes, objetivamos ento, levantar dados da literatura cientfica identificando como a temtica morte vem sendo abordada na formao acadmica de Enfermagem. A metodologia utilizada foi qualitativa, com um estudo exploratrio documental, caracterizando-se na pesquisa bibliogrfica. As bases de dados acessadas foram MEDLINE, LILACS, BIREME, SCIELO, BDENF e a Biblioteca Central de Ribeiro Preto-USP, durante um perodo de cinco anos (2005, 2006, 2007, 2008, 2009). Utilizamos como palavras chave: Educao a Morte e o morrer e Docente e discente de Enfermagem, Morte e o morrer As buscas se deram no perodo de julho a outubro de 2009. Foram encontrados 12 artigos em peridicos com qualis A1, A2 e B1, B2. Ainda encontramos quatro captulos de dois livros diferentes, abordando a temtica da morte na formao acadmica dos alunos de graduao em enfermagem. Emergiram ento, trs categorias para reviso de literatura dos livros e trs categorias para reviso de literatura dos artigos respectivamente: 1 A morte e a tentativa de conceitu-la; 2 A tanatologia e a Universidade; 3 A formao acadmica dos Enfermeiros sobre a temtica morte-morrer; e; 1 Os discentes de enfermagem e o convvio com a morte; 2 O docente em enfermagem convivendo com a morte e as habilidades para ensinar; 3 A formao acadmica dando suporte para viso crtico-reflexiva sobre a temtica morte-morrer. Consideramos, portanto, que apesar de estarem havendo investimentos, esses ainda so nfimos, em relao necessidade da formao dos acadmicos de enfermagem e que esses investimentos sejam publicados com maior frequncia para toda comunidade, e que haja uma mudana de conduta neste sentido, na formao do futuro enfermeiro, e que novos estudos possam aprofundar o conhecimento na temtica morte e morrer assim, trazendo efetivas mudanas para a realidade atual.

    Palavras-chave: enfermagem, Brasil, morte, ensino, docente, discente.

  • ABSTRACT

    SANTOS, J. L. documentary review of scientific literature about death education for teachers and students of nursing. 2009 51f. Thesis (master nursing school in Ribeiro Preto, University of So Paulo, 2009

    Death, at least in the vast majority of Western cultures, either on personal, social issues, and/or religious is not the peoples preferred theme, nor treated as a natural subject. But, if so, how those who, by their own work reality, need to live and face the death every single day? What it means for these professionals? Are those people different from others? Dont they care about death, the same way the majority of people does? Werent they human beings? Due so many questioning, our objective is to search the scientific literature identifying how the thematic of death has being treated in the academic nursing training. The methodology used was the qualitative, with a documental exploratory study, characterized on the bibliographic search. The databases accessed were MEDLINE, LILACS, BIREME, SciELO, BDENF and Central Library of Ribeiro Preto-USP, during a five years period (2005, 2006, 2007, 2008, 2009). We use as keywords: "education death and dying and teaching and learning of nursing, death and dying". The searches were made from July to October 2009. Were found 12 articles in periodical with qualis A1, A2 and B1, B2. Were also found four chapters of two different books, dealing with the theme of death in academic training of graduate students in nursing. Then, three categories appeared for literature review of books and three categories for literature review of articles respectively: 1 The death and the attempt to classify it; 2 The thanatology and the University; 3 The academic training of nurses on the death-die thematic; and; 1 the nursing students and the daily contact with death; 2 the nursing faculty and the conviviality with death and the skills to teach; 3 the academics graduation supporting the critical reflective vision about death-die thematic. We therefore believe that, in spite of having investments, they are very small yet, in relation to the necessity for the training of nursing academics, and also that these investments be published more frequently for the whole community, and that the behavior change in this way, in the training of future nurse, and that new studies can enhance the knowledge in death and dying thematic, bringing effective changes to the current reality. Key words: nursery, Brazil, death, education, teachers, students

  • RESUMEN

    SANTOS, J. L. Revisin documental de la literatura cientfica sobre educacin para la muerte destinada a los docentes y estudiantes de enfermera. 2009. 51f. Disertacin (Maestria) Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto, Universidad de So Paulo, 2009. La Muerte, al menos en la grande mayora de las culturas del Occidente, sea por cuestiones personales, sociales, y/o religiosos no se presenta como tema preferido de los ciudadanos, tampoco suele ser tratada con naturalidad. Pero, si es as cmo se presentan aquellos que todos los das, por fuerza de su oficio, necesitan convivir y enfrentar la cuestin de la Muerte? Cual el significado que ella asume para esos profesionales? Seran esas personas diferentes de las dems? Ellas no se importaran con La Muerte, como la mayora de las personas? No seran seres humanos? Por tantas interrogaciones, objetivamos entonces, levantar datos de la literatura cientfica identificando como la temtica muerte viene siendo abordada en la formacin acadmica de Enfermera. La metodologa utilizada fue a la cualitativa, con un estudio exploratorio documental, caracterizndose en la investigacin bibliogrfica. Las bases de datos visitadas. fueron MEDLINE, LILACS, BIREME, SCIELO, BDENF y la Biblioteca Central de Ribeiro Preto-USP, durante un periodo de cinco aos (2005, 2006, 2007, 2008, 2009). Utilizamos como palabras clave: Educacin la Muerte y el morir y docente y estudiante de Enfermera, Muerte y el morir Las bsquedas se dieron en el periodo de julio a octubre de 2009. Fueron encontrados 12 artculos en peridicos con qualis A1, A2 e B1, B2. An encontramos cuatro captulos de dos libros diferentes, abordando la temtica de la muerte en la formacin acadmica de los estudiantes de graduacin en enfermera. Emergieron entonces, tres categoras para revisin de literatura de los libros y tres categoras para revisin de literatura de los artculos respectivamente: 1. La muerte y la tentativa de conceptuarla; 2. La tanatologa y la Universidad; 3. La formacin acadmica de los Enfermeros sobre la temtica muerte y el morir; y; 1. Los alumnos de enfermera y la convivencia con la muerte; 2. El docente en enfermera conviviendo con la muerte y las habilidades para enseanza; 3. La formacin acadmica dando soporte para visin crtico-reflexiva sobre la temtica muerte y el morir. Consideramos, por lo tanto, que a pesar de que estn habiendo pesquisas sobre la muerte y el morir, esas an son nfimas, en relacin a la necesidad de la formacin de los acadmicos de enfermera y que esas pesquisas sean publicadas con mayor frecuencia para toda comunidad, y que haya un cambio de conducta en este sentido, en la formacin del futuro enfermero, y que nuevos estudios puedan profundizar el conocimiento en la temtica muerte y morir as, trayendo efectivos cambios para la realidad actual. Palabras-clave: enfermera, Brasil, muerte, educacin, docentes, estudiantes

  • LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1: LIVROS E CAPTULOS DE LIVROS.....................................................44 QUADRO 2: ORDENAO CATEGORIAS COM LIVROS E CAPTULOS DOS LIVROS......................................................................................................................45 QUADRO 3: ARTIGOS DE PERIDICOS.................................................................48 QUADRO 4: ORDENAO CATEGORIAS COM ARTIGOS DE PERIDICOS.............................................................................................................51

  • SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................................13

    2 OBJETIVO...............................................................................................................18

    3 REVISO DA LITERATURA...................................................................................19

    3.1 Reviso preliminar da literatura cientfica existente como ponto de partida independente do perodo estudado............................................................................19

    3.2 Reviso da literatura: livros encontrados sobre a temtica.......................21

    3.2.1 Analisando o conceito de morte...................................................21

    3.2.2 Refletindo sobre a Tanatologia e a Universidade........................23

    3.2.3 Enfermagem e Morte...................................................................24

    3.3 Reviso da literatura: artigos de peridicos cientficos..............................26

    4. METODOLOGIA.....................................................................................................37

    4.1 Procedimento.............................................................................................43

    5 RESULTADO E DISCUSSES DA LITERATURA CIENTFICA ENCONTRADA..........................................................................................................44

    5.1 Livros e Captulos de Livros......................................................................44

    5.2 Peridicos..................................................................................................48

    6 CONSIDERAES FINAIS....................................................................................56

    7 REFERNCIAS.......................................................................................................60

  • 13

    1 INTRODUO

    A branda fala da Morte no nos aterroriza por nos falar da Morte. Ela nos aterroriza por falar da Vida. Na verdade, a Morte nunca fala de si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a prpria Vida, as perdas, os sonhos que no sonhamos os riscos que no tomamos (por medo), os suicdios lentos que perpetramos (RUBEM ALVES, 1991, p.13).

    A Morte, especialmente na grande maioria das culturas do Ocidente, seja por

    questes pessoais ou sociais, no se apresenta como tema preferido dos cidados,

    tampouco costuma ser tratada com naturalidade. Ao contrrio, em nosso meio, o

    sentido construdo para o desfecho do que convencionamos chamar de vida,

    remete, quase sempre, para o medo, para a angstia, para a rejeio.

    Assim, no a toa que assistimos com freqncia a vinculao da Morte com

    o sobrenatural, com o terror, com o castigo, com a dor, entre tantos outros

    significados considerados negativos pela civilizao ocidental.

    Talvez, um bom exemplo do que a Morte representa nas sociedades

    contemporneas possa ser buscado no tratamento que atualmente, a mdia vem

    dando a ela. Com o desenvolvimento acelerado das tecnologias que, segundo

    Durand (2005) fizeram do sculo XX e esto fazendo deste sculo o sculo das

    imagens, nos meios de comunicao, ela quase sempre se torna espetculo, ou

    exemplo de dor. Entretanto, ainda assim, a representao sempre vinculada a algo

    incomum, excepcional e/ou extraordinrio.

    Outro exemplo, bastante elucidativo, a proibio da Morte. Entre ns,

    ningum pode desej-la, nem para si, nem para o outro, sob pena de ser apontado

    como anormal, portador de patologia, carente de tratamento psicolgico e/ou

    psiquitrico. Alis, talvez no seja exagero dizer que at mesmo o interesse pelo

    tema como objeto de estudo nos centros de pesquisa, cause estranheza a alguns,

    como estamos observando em nossa prpria trajetria.

    Mas, se assim, como se apresentam aqueles que todos os dias, por fora

    do seu ofcio, precisam conviver e enfrentar a questo da Morte? Qual o significado

    que ela assume para esses profissionais? Seriam essas pessoas diferentes das

    demais? Elas no se importariam com a Morte do mesmo modo que a maioria das

    pessoas? No, desta forma, seriam considerados seres humanos?

  • 14

    Nesta pesquisa, o nosso objeto de estudo a Morte. E dentro das

    abordagens sobre a Morte na rea de Enfermagem que vamos nos ocupar. Todos

    sabem ou deveriam saber a respeito dela? Pois, em seu cotidiano, o enfermeiro

    presencia a morte com muita freqncia e para exerc-lo necessrio conviver com

    ela, o que, como mostram os estudos de autores como Kovcs (2004) e Costa

    (2005); a Morte tem despertado nesse profissional, sentimentos como os de

    frustrao, medo e insegurana.

    Tudo isso, em um contexto que no deixa a este profissional da rea de

    sade, muito espao para elaborar e/ou compreender esses sentimentos que, ao

    menos em tese, no poderiam acompanhar sua vida profissional.

    Segundo o historiador, ries (2003) havia, no incio da Idade Mdia, uma

    familiaridade com a morte, pois, o doente cumpria um ritual, a principio, pedia

    perdo por suas culpas, legava seus bens e em seguida, esperava a morte chegar.

    No havia assim, um carter dramtico ou gestos de emoo excessivos. Contudo,

    mudanas no decorrer desse sculo acabaram por transformar fundamentalmente

    esse quadro. Atualmente a Morte tratada como tabu, pois, foi deslocada da casa

    para o hospital, deixando assim, de ser um fenmeno natural, para transformar-se

    em uma morte fria e escondida, por ser indesejada.

    Com efeito, a dificuldade de lidar com a Morte gera e/ou pode estar gerando,

    uma gama de problemas que atinge o sistema de sade pblico e privado do pas.

    Exposio corroborada pelos problemas que j so conhecidos e que tem aparecido

    na literatura especializada.

    Chama a ateno o abandono da profisso observado atravs do

    adoecimento dos profissionais, tal qual afirmam Popim e Boemer (2006) que

    defendem que a constatao destes profissionais de sade de nossa possvel

    finitude a cada instante, tem gerado um desgaste emocional, capaz de favorecer o

    desencadeamento da sndrome de Burnout, descrita como a reao final do

    indivduo face s experincias estressantes acumuladas ao longo do tempo de

    determinada da atividade laboral.

    Assim, de acordo com Pal (2004), estes profissionais de sade que

    convivem cotidianamente com a dor e a aflio de quem vai morrer tem resultado

  • 15

    numa modificao do cuidar, produzindo em ltima instncia, enfermeiros

    indiferentes.

    Neste contexto profissional, a morte passa ento, a ser considerada normal e

    esses sentimentos e reaes se do como mecanismo de defesa dos enfermeiros a

    fim de que no adoeam mentalmente. Alm disso, somada a falta de preparo para

    lidar com a Morte, tambm as condies de trabalho do enfermeiro so

    responsveis pela sua reao de indiferena frente ao sofrimento, pois, muitos

    destes profissionais enfrentam enfermarias superlotadas, sem equipamentos

    adequados, sem material hospitalar necessrio, dentre outras dificuldades,

    agravando ainda mais um quadro que j no dos melhores.

    Se por um lado o das condies de trabalho muitos especialistas indicam

    a necessidade de polticas pblicas amplas e eficazes para a rea de sade,

    particularmente, no campo da gesto, por outro lado, do nosso ponto de vista e no

    que diz respeito formao profissional do enfermeiro, o problema no deixa de

    envolver as polticas pblicas para a rea de sade em vigor. Envolvendo tambm, a

    necessidade da produo de conhecimento, de modo a aprofundar e aperfeioar a

    formao do enfermeiro, incluindo neste bojo, a busca de caminhos para a formao

    de um profissional que tenha condies de se relacionar cotidianamente, com a

    morte, sem rejeit-la e, ao mesmo tempo, sem banaliz-la.

    Durante os nossos dez anos de exerccio da enfermagem em Hospitais

    pblicos e privados em cidades como a do Rio de Janeiro e no interior do Estado de

    So Paulo, assistimos com freqncia, pacientes em sua maioria, com cncer,

    muitos j em fase terminal da doena, e essas diversas experincias vividas dentro

    destas instituies, chamou-nos a ateno, a dificuldade enfrentada, por muitos de

    ns, para nos relacionarmos, tolerarmos e desenvolvermos um cuidar/olhar mais

    direcionado para a dimenso existencial do problema.

    Naquele momento, parecia-nos difcil reconhecer que aqueles pacientes

    vivenciavam sentimentos muito marcantes, em razo da sua expectativa de Morte e

    que tolerar e se relacionar com esses sentimentos, fazia parte do exerccio da nossa

    atividade. Entretanto, como conviver com algo que s nos remete ao medo e a

    angstia e que nos causa tanta dor? Como vivenciar situaes prximas s fases

    que antecedem a morte, como a negao, o isolamento, a raiva, a barganha, a

    depresso e a aceitao (KBLE-ROSS, 2005)? Por outro lado, como encontrar o

  • 16

    equilbrio necessrio para no cair na armadilha da rejeio radical ou da

    banalizao da morte? Seria realmente possvel alcanar este equilbrio? De que

    modo?

    Desta forma, nossa escolha pelo tema e nossa experincia profissional esto

    totalmente vinculadas. Interesse por uma temtica to complexa, difcil e muitas

    vezes negada pelo ser humano, que a finitude, surgiu da experincia como

    enfermeira e tambm como docente do Ensino Superior em Faculdades de

    Enfermagem da Cidade do Rio de Janeiro. E foi no decorrer dessa trajetria, que

    acrescentados a nossa experincia de vida com amigos e familiares, que prestarmos

    mais ateno ao fato de que a Morte, necessariamente, no se antepe vida. A

    Morte, pode e deve ser entendida como um processo que faz parte do percurso

    existencial do ser humano.

    Assim, se possvel chegarmos a um acordo sobre este entendimento

    relativo ao assunto, a Morte; possvel tambm concordar que as questes

    levantadas por ns at aqui, suscitam a necessidade de uma educao efetiva para

    lidar com a mesma, pois, no possvel compactuar com a perda de profissionais

    de enfermagem devido ao seu adoecimento, e contribuir ainda, dentre outros

    aspectos, com o mau funcionamento do sistema de sade do pas, porque seus

    profissionais no compreendem a Morte, que os surpreendem, angustiam e

    apavoram.

    Afinal, como os atuais profissionais esto sendo formados para lidar com essa

    questo? O que sabem os enfermeiros sobre esse fenmeno e que condies eles

    possuem para enfrent-lo? Quais as dificuldades mais comuns relatadas pelos

    profissionais? Nesse sentido, quais as contribuies que a literatura da rea tem

    oferecido? Existem entre ns pesquisas, em nmero e qualidade, capazes de

    amparar a prtica e/ou a formao dos atuais e futuros enfermeiros para lidar com o

    assunto? Que paradigma pedaggico vem sendo utilizado na formao do

    enfermeiro? H de se pensar numa abordagem educativa progressista, para dar

    conta da reflexo necessria para o cuidado nesse sentido (GUEDES; OHARA,

    2008).

    Na presente pesquisa, ser sobre esta ltima questo que iremos nos

    debruar, e para respond-la, realizamos uma pesquisa bibliogrfica com o intuito de

  • 17

    elaborar um mapeamento das produes sobre o tema na rea de enfermagem. A

    hiptese que em nossa rea existe um nmero reduzido de estudos sobre o tema.

    O que explicaria, em parte, as dificuldades encontradas, tanto na prtica,

    quanto nos cursos de Formao de Enfermeiros. Outra hiptese que parte destes

    estudos acaba se revelando incipiente em virtude dos mesmos no dialogarem com

    outras reas tais como: a Educao, Antropologia, Sociologia, Psicologia,

    Psiquiatria, dentre outras, que j h muito tempo vem se ocupando do tema.

  • 18

    2 OBJETIVO

    Levantar dados da literatura cientfica identificando como a temtica Morte

    tem sido abordada na formao acadmica de Enfermagem.

  • 19

    3 REVISO DA LITERATURA

    3.1 Reviso preliminar da literatura cientfica existente como ponto de partida

    independente do perodo estudado

    Ainda hoje, presenciamos a educao voltada nica e exclusivamente para a

    vida. As universidades formam profissionais de varias reas, dentre elas, tambm os

    da sade. Particularmente, inclumos o Enfermeiro com formao geral a salvar vida

    humana de forma incisiva.

    Pires (1984) relata que curioso notar que s cuidamos da educao para a

    vida; esquecendo-se assim, de que vivemos para morrer. A morte , sobretudo, o

    nosso fim inevitvel, no entanto, chegamos a ela sem o menor preparo. Esse autor

    defende ainda que, a educao para a morte no nenhuma forma de preparao

    religiosa para a conquista do cu, e sim, um processo educacional que tende a

    ajustar os educandos realidade da vida, vida esta que no se resumo somente ao

    viver, mas, tambm no existir e no transcender. Nesse sentido, a educao para a

    Morte representa a preparao do Homem, no decorrer de sua existncia, para a

    liberao do seu condicionamento humano. O autor salienta ainda que as religies

    negaram-se a si mesmas ao optar pelo terrorismo das maldies e ameaas para

    educar os homens no difcil ofcio de morrer. Desta forma, caberia hoje, Educao,

    a responsabilidade de elaborar os programas de orientao educacional de todos

    ns, tanto para o ato de viver e quanto para o ato de morrer.

    J h algumas dcadas, tem-se abordado o tema da educao para a Morte,

    contudo, em se tratando da produo de literatura cientfica, estes movimentos

    podem ser considerados parcos, tal qual aos investimentos pedaggicos no sentido

    de se criar uma instrumentalizao adequada e efetiva manuteno de uma

    educao contnua, uma vez que, tem-se observado que, os autores interessados

    pela temtica acabam por se afastar da academia devido aposentadoria ou outros

    motivos.

    Boemer et al. (1991) relatam que, apesar de algumas iniciativas de escolas de

    sade em disponibilizar algum preparo aos seus alunos com vistas, intervir em

    situaes que envolvam a morte e o morrer, esses esforos tm sido numericamente

  • 20

    insuficientes e as consequenncias no tem tido resultado na sensibilizao do

    cotidiano das instituies de sade.

    O corpo de conhecimentos construdo por Boemer (1989) sobre esse tema

    levou a autora a propor uma ao educativa a alunos do curso de graduao em

    enfermagem. A autora relata que desde o 1 ano da graduao, o tema foi abordado

    junto aos alunos matriculados na disciplina Instrumentos Bsicos de Enfermagem

    da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo.

    Abordagem esta que foi novamente retomada no 2 ano na disciplina Fundamentos

    de Enfermagem, momento em que, estes alunos comearam a vivenciar as rotinas

    de prtica hospitalar atravs da realizao de estgios, onde muitos deles

    experienciaram o relacionamento com pacientes terminais ou presenciaram

    situaes de morte no hospital.

    Dessa forma, tal proposta possibilitou aos alunos uma nova viso sobre o papel

    da enfermagem no que concerne s situaes de morte. A autora, atravs da

    anlise da experincia pela qual passou seus alunos, enfatiza a necessidade de

    introduzir a abordagem de educao para a morte desde o incio do curso de

    graduao, no s nas escolas de enfermagem, mas, tambm nas escolas que

    graduam seus alunos para profisses de sade, criando ainda espaos

    compreenso do fenmeno Morte, que estar sempre muito presente no cotidiano

    destes profissionais. Para Boemer (1989), essa abordagem precisa abranger o curso

    como um todo, permeando o contedo das diversas disciplinas, criando espaos nos

    estgios para discusso e reflexo. Esta iniciativa, infelizmente, no teve

    continuidade.

    Em outro momento, Boemer et al. (1992) experincia o estar educando para a

    Morte em cursos de aperfeioamento, oferecidos pela Escola de Enfermagem de

    Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo, anos de 1988, 1989 e 1992, a

    enfermeiros assistenciais e profissionais de outras reas, objetivando assim, uma

    proposta educacional sob a perspectiva de construo de um canal onde as

    situaes envolvendo a morte pudessem ser discutidas, enquanto objeto de

    reflexes.

    Atualmente, investimentos pedaggicos tm sido empreendidos atravs do

    curso de Tanatologia ministrado pelo mdico Franklin Santana, alm de aulas

    administradas na ps-graduao da Universidade de So Paulo pela psicloga

  • 21

    Maria Jlia Kovcks, contudo, apesar dos esforos destas pessoas sensibilizadas

    em trazer reflexo o conhecimento terico-filosfico para a temtica Morte, a

    reviso demonstra que muito ainda tem de ser feito, pois, faz-se mister a

    abrangncia voltada formao do(a) enfermeiro(a), tendo em vista a graduao,

    ps-graduao e a docncia superior.

    3.2 Reviso da literatura: livros encontrados sobre a temtica

    Em trs captulos do livro A arte de Morrer: vises plurais de Dora Incontri

    & Franklin Santana Santos (Org.) (2007), e de um captulo do livro Educao para a

    Morte desafios na formao de profissionais de Sade e Educao, de Maria

    Julia Kovcs (2008) abordam atravs de uma perspectiva linear: a conceituao

    para a Morte, a educao para a Morte e a Morte na educao para acadmicos de

    enfermagem. Esperamos, atravs destas publicaes, que o tema seja tratado com

    maior clareza.

    Tais publicaes sero discutidas a posteriori.

    O livro A arte de Morrer: vises plurais; Santos, aborda a temtica da Morte

    nos seguintes captulos:

    Analisando o conceito de morte

    At os dias atuais, a Morte ainda no conseguiu ser definida plenamente, em

    virtude de se tratar de um fenmeno complexo e multifatorial. Santos (2007) cita

    Kastembaum (1983, p. 4-5) que, ao conceituar a Morte, diz que isso requer algumas

    premissas e dificuldades tais como: o conceito de morte ser relativo; ser

    excessivamente complexo; estar em mudana; ser muitas vezes obscuro, ambguo,

    ou ainda em evoluo; ser influenciado pelo contexto situacional, social, cultural; e

    estar relacionado ao comportamento. Portanto, esses conceitos de Morte constituem

    o panorama da dificuldade para conceituar adequadamente essa temtica.

    Por ser a Morte to complexa o que essencialmente, significativo para a

    vida, que sua perda significa a Morte. Isto posto, define e testa para constatar que a

    morte realmente ocorreu no organismo humano.

  • 22

    Para Santos (2007, p.88):

    Quatro abordagens resumem essas questes: 1 Perda irreversvel do fluxo de fluidos vitais; 2 Perda irreversvel da alma do corpo; 3 Perda irreversvel da capacidade da integrao corporal; Perda irreversvel da capacidade de interao da conscincia ou social.

    Resgatando estas trs abordagens, temos que:

    1 - A morte do organismo humano tem sido definida historicamente, pela falta

    de batimento cardaco e de respirao. Com a cessao desses sinais e a morte das

    clulas teciduais, ento h a evidncia de sinais avanados da Morte. A

    ambigidade desta primeira conceituao em definir Morte, se d por querer defini-la

    basicamente, em critrios fisiolgicos.

    2 - A perda da alma do corpo define a segunda concepo de Morte. No tem

    sido definido cientificamente, o local da alma. Alguns dizem que alma est no

    corao, outros na respirao. Descartes refere que essa se encontra na glndula

    pineal. Desta forma, at hoje, ningum a conseguiu definir. Contudo, essas questes

    exercem pouca influncia na prtica mdica visto no poder ser provada pelo

    mtodo experimental, desta forma, apesar de ser fascinante, esse assunto pouco

    abordado.

    3 Abordagem sofisticada, no se baseia simplesmente nos sinais

    fisiolgicos, mas, numa maior capacidade geral do corpo em regular seu prprio

    funcionamento. Assim, a determinao da Morte no seria feita meramente atravs

    das funes fisiolgicas da pessoa mantida por mquinas, mas, sim pela

    incapacidade do organismo em manter ou preservar sua capacidade de integrao

    corprea. Os clnicos, agora, definem morte pelo Sistema Nervoso Central, como

    MORTE CEREBRAL.

    4 - A premissa implcita desta abordagem que a pessoa um ser humano

    somente se forem considerados, no apenas seus processos biolgicos operantes,

    mas, tambm a dimenso social de sua vida-conscincia, ou seja, se sua

    personalidade estiver presente.

    Finalizando, h de se notar que, com o avano da tecnologia criou uma

    situao desconfortvel na sociedade humana, pois, apesar de uma pessoa

    apresentar batimento cardaco e reflexos medulares, mobilizando-se, se estimulada,

    poder apresentar morte cerebral, ou seja, estar morta. Assim, observa-se que,

  • 23

    com a nova definio de morte cerebral, haver uma mudana dos parmetros do

    modelo cardiocntrico para o encefalocntrico.

    Refletindo sobre a Tanatologia e a universidade

    Nos primrdios da Humanidade, a Morte era tida como um fenmeno natural,

    contudo, com o desenvolvimento civilizatrio ocidental, esta passou ser interdita e,

    portanto, escondida e/ou clandestina. Desta forma, a Morte coloca o ser humano

    diante de reflexes essenciais, instigando-o a analisar questes profundas, que no

    podem ser escamoteadas pela discusso apenas levando-se em conta seus

    aspectos perifricos. E faz parte ainda do processo educativo, morrer com

    dignidade, ser bem assistida, com um amparo multiprofissional, social e familiar.

    A Morte, por sua vez, muito vivida por profissionais da sade. Observa-se

    ento, o despreparo desses em lidar com ela, seja a morte arrastada nos casos de

    pacientes em cuidados paliativos, ou a morte repentina, como nos casos dos que

    trabalham nas unidades de emergncia, tais como a Unidade de Terapia Intensiva

    (UTI), especialmente a cardiolgica.

    Apesar de a Morte ser uma vivncia da rea da sade, no representa uma

    propriedade privada das reas biolgicas, visto que essa rea no consegue

    responder a todos os questionamentos que a Morte evoca, apesar dela constituir a

    realidade mais certa, pessoal e universal do ser humano, ela demanda abordagens

    filosficas, religiosas, estticas e educacionais.

    A partir da dcada de 50, surge uma proposta de educao para a Morte,

    dentro de algumas universidades americanas, com a criao da Tanatologia, como

    reao ao interdito feita pela cultura ocidental tentando escamotear a Morte e

    silenciar sua discusso.

    A Tanatologia assim, definida como a cincia que estuda a Morte e o

    processo do morrer em todos os seus aspectos. Nos Estados Unidos da Amrica, os

    pioneiros nesse estudo foram Herman Feifel e Elizabeth Kbler-Ross, no final da

    dcada de 50. No Brasil, as propostas de Educao para a Morte tiveram seu inicio

    com trabalhos da psicloga Wilma da Costa Torres no Rio de Janeiro e do educador

    e filosofo Jos Herculano Pires em So Paulo nos idos da dcada de 70.

    A Prof Wilma aps seu doutorado, orientado pelo Prof Dr Roosevelt

    Cassorla da UNICAMP, dedicou-se a sistematizar a Tanatologia no Brasil, abrindo,

  • 24

    desta forma, os caminhos junto comunidade universitria. Com ela, surgiram ainda

    outros nomes no menos importantes e tambm outras universidades interessadas

    nessa temtica.

    No livro A Arte de Morrer: vises plurais; Magali Roseira Boemer d nfase

    especial s temticas da Enfermagem e a morte.

    Enfermagem e Morte

    Para o cotidiano do trabalhador de sade cuidar do paciente fora de

    possibilidade teraputica implica em um momento mpar do existir, onde emergem

    ambiguidade e fragilidades de ambos os lados, apresentando grandes possibilidades

    de tornar-se difcil essa relao.

    Falar da Morte traz desconforto devido angstia gerada pela nossa prpria

    morte futura. H assim, essa dificuldade na comunicao do enfermeiro/paciente.

    Pois, os cursos de graduao, apesar de algumas iniciativas relativas a abordagem

    da Morte, ainda incipientes, toda a nfase da formao focada na vida, na cura e

    na teraputica, criando a iluso de que nada temos a ver com a Morte, que

    representa a lembrana constante, para o profissional de sade, da nossa

    impotncia diante dos doentes que caminham para sua finitude.

    A retomada da fala da Morte se deu por vrios motivos tais como: a AIDS,

    vida vegetativa, eutansia, distansia, aborto, obstinao teraputica, transplante de

    clulas-tronco e a introduo e consolidao da biotica no Brasil. Tais discusses

    tem resultado na mudana de algumas posturas do Homem, particularmente, na do

    profissional de sade.

    H grande necessidade de ver o Homem alm do cuidar tecnicista,

    percebendo sua singularidade na grande pluralidade do seu viver e conviver com o

    outro. O cuidar deve estar voltado para o ser e a comunicao plena entre cuidado e

    cuidador, observando a individualidade do mesmo, estimulando uma escuta efetiva,

    no impondo o que acredita ser teraputico por ter se preparado para a profisso,

    pois, cada ser humano sabe nas pequenas coisas o que melhor para si.

    Construir outras referncias para a formao profissional do enfermeiro urge

    ver, o cliente de hoje ser mais informado, exigente e a necessidade crescente do

    cuidar individualizado. Extirpar a concepo retrograda tecnicista e fragmentada que

    predomina ainda nos espaos acadmicos com modelos tradicionais de ensino,

  • 25

    fundamentados apenas na lgica da razo, preciso ainda, desvincular o sentir do

    agir, pois, pouco se viabiliza uma formao crtico-reflexiva, sensvel, e humanizada.

    No livro Educao para a Morte: desafios na formao de profissionais

    de sade e educao de Maria Julia Kovcs no captulo: Os Profissionais de Sade

    e Educao e a Morte, sob o subttulo: A Formao dos Profissionais de sade

    Medicina e Enfermagem, v-se que

    [...] hoje a morte foi definida como inimiga a ser derrotada, e com isso nos tornamos surdos ao que ela pode nos ensinar e com isso perdemos o que poderia se tornar conselheira sbia, se torna uma inimiga que nos devora por trs... pode-se recuperar a sabedoria se nos tornssemos discpulos e no inimigos da Morte [...] (ALVES, 1991, p. 15).

    Ainda neste livro, relata-se que, em detrimento da formao humanista, tem-

    se enfatizado os procedimentos tcnicos nos cursos da rea de sade,

    principalmente dos mdicos e enfermeiros. Referindo-se que nas primeiras

    disciplinas h a despersonalizao dos contedos que so apresentados aos jovens

    ingressantes nesses cursos. Em aulas de anatomia, por exemplo, verificam-se

    manifestaes contrafbicas, tais quais, piadinhas ou a simples indiferena, pois,

    tratar de um ser humano pode ser muito angustiante, desta forma, a fim de minimizar

    este desconforto, a manipulao dos rgos e tecidos e destituda de qualquer

    identidade humana presente na figura do cadver.

    Sendo assim, para a formao dos mdicos, percebe-se a dessensibilizao

    de elementos que possam dar a entender a possibilidade de morte. Os corpos so

    ento, transformados em rgos, ossos, sangue e sua manipulao permite o

    conhecimento e uma falsa idia de que, ao se combater doenas e sintomas estar-

    se-ia tambm, lutando contra a Morte.

    Mesma nfase dada nos cursos de enfermagem, entretanto, no trabalho do

    enfermeiro, existe um contato muito mais prximo com os pacientes, fazendo com

    que este profissional tenha de enfrentar questionamentos sobre o curso da doena,

    prognstico e possibilidade de morte. Desta forma, tratar de pacientes gravemente

    enfermos, deix-los confortveis e sem dor uma das tarefas mais difceis e que

    requerem a escuta e contatos intensos. Somado a isso, a famlia busca informaes

    com a equipe de enfermagem, uma vez que, em muitas circunstncias, os mdicos

    no se encontram presentes.

  • 26

    Apesar disso, o curso de enfermagem no oferece muito espao para

    trabalhar as emoes e os sentimentos produzidos pela relao com os doentes e

    seus familiares provocadas pela relao enfermeiro/paciente que fazem parte do

    dia-a-dia dos profissionais de enfermagem.

    3.3 Reviso da literatura: artigos de peridicos cientficos

    Continuando o presente estudo, foram localizados na literatura cientfica,

    outros autores cujo tema abordado tambm foi a Morte, contudo, estes estudos

    foram publicados sob a forma de artigos em peridicos cientficos.

    Carvalho, Silva, Santos, Oliveira, Portela e Regebe (2006), em Percepes

    de Morte e Morrer na tica de acadmicos de Enfermagem, a pesquisa

    constituiu-se de um estudo qualitativo, muito original, cuja metodologia utilizada

    exploratria e do qual fizeram parte dez acadmicos de enfermagem de vrios

    semestres, ambos os sexos, com idades de 21 e 27 anos. O objetivo da pesquisa

    era compreender o significado da Morte e do morrer no cotidiano dos acadmicos de

    enfermagem. A anlise dos dados se deu por categorizao, emergindo trs

    categorias fundamentais: aproximando-se da morte no processo de cuidar; tendo

    medo da morte; necessidade de preparo para lidar com a morte.

    Cuidar da finitude enquanto profissional perpassa por dilemas e

    enfrentamentos, muitas vezes dolorosos, qui para os acadmicos de enfermagem

    que esto iniciando sua prtica. O enfrentamento do processo da Morte

    extremamente difcil, pois, a morte neste contexto remete ao estudante, perda de

    sentido, contudo, estes so formados para cuidar em sade, promover a

    manuteno da vida, recuperar e no cuidar para o processo de Morte-Morrer so

    assim, pegos abruptamente, pois, no foram estimulados a pensar reflexivamente.

    Finalizando a pesquisa, na viso de acadmicos de enfermagem, esses

    autores perceberam sentimentos de luto, tristeza, angstia e ansiedade, alm de

    frustrao e culpa no que se refere morte daqueles de quem os estudantes tinham

    cuidado.

  • 27

    Os autores ressaltaram ainda, a necessidade do saber terico-filosfico sobre

    a temtica, pois, os prprios alunos referiram essa ausncia, afirmando a

    necessidade de incluir nos currculos de graduao, no apenas uma disciplina de

    tanatologia, mas, a discusso reflexiva entre os docentes e discentes, de um modo

    transdisciplinar e interdisciplinar desde as disciplinas introdutrias, tais como:

    anatomia e fisiologia, dentre outras, at as disciplinas prticas.

    Carvalho e Do Valle (2006), no estudo intitulado Vivncia da Morte com o

    aluno na prtica educativa, seguindo o referencial metodolgico da fenomenologia,

    as autoras ressaltam que no cotidiano da relao aluno-professor em ambiente

    hospitalar, a Morte se apresenta em meio a outros fatos. Perceberam ainda que a

    Morte, na aprendizagem da formao do enfermeiro uma matriz geradora de

    conflitos e estresse interferindo negativamente na relao educativa. E que

    possvel fornecer um aprendizado mais humanizado ao profissional, contudo, a fim

    de entender como esse processo ocorria; as autoras resolveram estudar os

    docentes, ao final, o estudo revelou que esses profissionais precisavam apreender o

    significado do ensinar.

    Ainda de acordo com o estudo, os docentes quando vivenciam a Morte com

    os alunos em campo de estgio, tentam manter-se equilibrados, apesar de, muitas

    vezes, sentirem-se despreparados, pois, experienciam a angstia de sua prpria

    morte e o medo de no saberem como falar ou explicar o ocorrido. Desta forma,

    referem que nem mesmo para eles, fcil aceitar a Morte e percebem tambm, a

    grande necessidade de reflexo acerca do assunto, mas, no conseguem

    sistematizar e visualizar um caminho de ao.

    Os docentes mencionaram ainda, a solido sentida com seus alunos, frente

    morte e conceberam a necessidade de um apoio psicolgico que eles mesmos

    admitem no ter. Ainda sentem um verdadeiro constrangimento diante do educando

    ao vivenciar a morte, por no possurem habilidades efetivas para lidar com as

    questes da finitude, sentindo-se, portanto, impotentes ao lidar com o montante de

    sentimentos que surgem, inclusive de transferncia, que perpassa diante desse

    evento.

  • 28

    Bretas, Oliveira e Yamaguti (2006), o artigo Reflexes de estudantes de

    Enfermagem sobre Morte e o Morrer, atravs de uma abordagem qualitativa,

    exploratrio-descritiva, investigou 71 estudantes do sexo feminino, matriculadas no

    1 ano do curso de graduao em enfermagem, na disciplina curricular Psicologia

    Aplicada Sade, com a realizao de oficina com atividades coletivas. Ao final,

    foram solicitados os relatos dos grupos e estes dados foram analisados, emergindo

    deles quatro categorias: medo da morte; conceitos; atitudes diante da morte e o

    morrer; crena enquanto elemento interveniente.

    Atravs das categorias emergentes, os autores perceberam que os alunos

    apresentam vivncias e experincias adquiridas no seu meio social e familiar, fato

    esse, que se d por serem alunos do 1 ano e no terem ainda experienciado os

    estgios curriculares. Notaram tambm, que desde o comeo da formao os

    estudantes de enfermagem tm a idia que o profissional de sade ir lutar contra a

    morte para preservar a vida, e com o decorrer da formao vo sentir-se mais

    capacitados, fundamentando-se na cura como gratificao. Por conseguinte, uma

    vez que se depararem com a morte no cotidiano laboral, sentir-se-o despreparados

    e se afastaro do processo de morte e morrer.

    Os autores elucidam que a dificuldade de falar sobre o processo de morte-

    morrer pode emergir por parte dos professores, visto que estes foram alunos e

    enfrentaram as mesmas dificuldades, uma vez que tambm se sentem inseguros ao

    tratar desse assunto. Desta forma, a impessoalidade protege a si mesmo da dor, do

    sofrimento e da reflexo de sua prpria finitude. No abrindo espao para os alunos

    refletirem e exigindo as tcnicas e comportamento voltado para o material.

    Carvalho, Oliveira, Portela, Silva, Oliveira e Camargo (2006), no artigo A

    Morte e o Morrer no cotidiano de estudantes de Enfermagem, os autores

    realizaram um estudo atravs de uma pesquisa qualitativa, exploratria,

    desenvolvida realizada com 10 acadmicos de enfermagem, todos do sexo feminino,

    com idade entre 21 e 25 anos e cursando o 4 e o 9 semestre do curso. A coleta de

    dados se deu atravs de entrevista semi-estruturada com o seguinte roteiro:

    aspectos de cunho religioso, social, educativo e afetivo, sentimentos, percepes e

    experincias diante da Morte.

    Foram identificadas trs categorias: aproximando-se da morte no processo de

    cuidar; tenho medo da morte e necessitando de preparo para lidar com a morte.

  • 29

    Os autores verificaram sentimentos de luto como angstia, tristeza, ansiedade

    emergindo no cotidiano da vida acadmica e perceberam ainda que o aluno de

    enfermagem precisa do saber terico-filosfico e de apoio psicolgico durante sua

    formao, a fim de que seja capaz de lidar melhor com a Morte no futuro quando

    iniciar sua prtica profissional, pois, esta falta do preparo dificultar o cuidar no

    processo de morte e morrer.

    Desta forma, uma vez mais os estudos apontam para a insero, de forma

    crtico-reflexiva, desta temtica nos cursos de graduao em enfermagem, a fim de

    que que a morte seja vista como parte do processo de trabalho em sade que no

    dispensa atitude de acolhimento e humanizao do cuidado (CARVALHO; et al,

    2006, p.556). E acima de tudo, a fim de que a Morte no represente o sinnimo de

    fracasso ao profissional de sade.

    Bernieri e Hirdes (2007), no estudo O preparo dos acadmicos de

    enfermagem brasileiros para vivenciarem o processo morte-morrer, trabalha um

    artigo original utilizando uma abordagem qualitativa, exploratrio-descritiva,

    entrevistando acadmicos de enfermagem, tendo como objetivo, investigar o

    preparo deles frente representao do tema morte. Sugerem algumas reas

    temticas aps a anlise dos dados, como: a percepo dos acadmicos de

    enfermagem frente ao processo morte-morrer e a famlia; a morte vista como estigma,

    tabu e misticismo; o preparo para vivenciar o processo morte-morrer; o apoio

    oferecido pelo professor supervisor em campo; os sentimentos experimentados pelos

    acadmicos que vivenciam a morte em campo de estgio; conhecimento/

    desconhecimento das fases psicolgicas vividas pelo paciente.

    Finalizando, nesse estudo, os autores evidenciaram que os alunos tm

    opinies variadas sobre a temtica morte-morrer. Contudo, os achados corroboram

    com o pressuposto de que os alunos de graduao em Enfermagem que

    vivenciaram a morte no campo de estgio mostram que, em sua grande maioria,

    esse processo passa do despercebido ao rotineiro, pois, os supervisores no

    reservam espao social para discusso ou, simplesmente, falar a respeito. Com isso,

    para os autores, os alunos sentem-se despreparados e vivenciam um turbilho de

    sentimentos no explicitados. Relatam ainda, que a temtica pouco exposta no

    decorrer do curso e que no ocorrem discusses e reflexes sobre esse tema, alm

    disso, o apoio psicolgico completamente ausente.

  • 30

    Oliveira, Bretas e Yamaguti (2007), no artigo A Morte e o Morrer segundo

    representaes de estudantes de Enfermagem, estudo qualitativo, utilizou as

    premissas das representaes sociais, ou seja, o conjunto de conceitos que

    compem uma verso contempornea do senso comum.

    Os sujeitos desta pesquisa foram 40 estudantes do sexo feminino e masculino

    escolhidos aleatoriamente. Foram entrevistados estudantes do 2, 3, 4 anos, por

    apresentarem vivncias de estgios curriculares. Dos quais: 15 estudantes (38%)

    eram do 4 ano, outros 15 estudantes (38%) do 3 ano e 10 estudantes (24%) do 2

    ano. Constituindo uma mdia de idade de 23 anos, onde a idade mnima foi de 19

    anos e a mxima, de 48 anos de idade. Para a coleta de dados os autores utilizaram

    a entrevista individual em local reservado, que foram gravadas aps a aquiescncia

    dos estudantes e posteriormente, transcritas pelo entrevistador. Foi feita a anlise de

    discurso, onde emergiram trs principais ramos de representaes como:

    relacionamento aluno/paciente, conceitos e medo da morte que se subdividiu em

    outros ramos.

    De acordo com o estudo, os autores referem que os estudantes de

    enfermagem apresentam dificuldade em lidar com o relacionamento aluno-paciente

    e com todos os sentimentos que emergem aps a morte. Referem ainda que h

    pouco preparo para lidar com as questes da Morte e o morrer, alm disso, esse

    despreparo j se faz sentir na prpria bagagem de vida, percorrendo os caminhos da

    educao, perpetuando-se no decorrer do curso de graduao em enfermagem.

    Desta forma, verifica-se que, o estudante ainda preparado, com maior

    nfase, na promoo da vida e no que tange os aspectos tcnicos e prticos da

    funo profissional, havendo pouca nfase para o emocional e o preparo para o

    binmio morte/morrer, que a profisso o faz vivenciar cotidianamente.

    Para os autores est claro que no basta nica e exclusivamente, haver os

    atributos e as habilidades a serem estimuladas e ensinadas para que os estudantes

    cuidem adequadamente do paciente terminal e de seus familiares, esses entendem

    ainda, que as dificuldades individuais e coletivas, os sentimentos, as situaes

    organizacionais e de aprendizagem mobilizadora de ansiedade no podem ser

    ignoradas. Neste sentido, percebem que urge a necessidade de espaos mais

    abrangentes e maiores para a reflexo, informao, discusso e principalmente,

  • 31

    para a compreenso do fenmeno morte e morrer. Portanto, entendem que o ensino

    deve fornecer subsdio para a elaborao ideal do luto.

    Bellato, Araujo, Ferreira e Rodrigues (2007), em: A abordagem do processo

    do Morrer e da Morte feita por docentes em um curso de graduao em

    Enfermagem, elaborado a partir de um estudo descritivo e exploratrio atravs da

    aplicao de um questionrio a 34 docentes de um curso de graduao em

    Enfermagem de uma universidade pblica da regio Centro-Oeste do pas. A

    primeira parte da pesquisa visava identificar o perfil de idade, tempo de experincia

    profissional na assistncia e na docncia, religio, entre outras questes. A segunda

    parte procurou descrever, mais diretamente, como os docentes vivenciavam o

    processo de morte e morrer, enquanto assistencialistas e a abordagem empregada

    com os alunos neste processo.

    Apesar do perfil dos docentes demonstrar uma grande experincia no

    trabalho tcnico, esse estudo no demonstrou que estes profissionais estivessem

    preparados para a abordagem da temtica morte/morrer. Quando os autores

    argiram os docentes se os sentimentos vivenciados pelos mesmos em situaes

    de cuidado s pessoas no processo de morrer influenciavam no enfrentamento ou

    na forma como abordavam essa mesma temtica junto aos alunos de Graduao de

    Enfermagem, os docentes sinalizaram com respostas positivas.

    Os autores entendem que no h outro evento na Humanidade que suscite

    tantas reaes e emoes, contudo, uma postura niilista no resolveria o problema.

    Reflexes e discusses devem ser implementadas e, sobretudo, reconhecer que

    sua prpria fragilidade frente ao enfrentamento da morte, seria um primeiro passo.

    Para os autores, o segundo passo seria dar voz aos nossos medos e angstias

    relativos ao processo de morte e morrer, compartilhando sentimentos e discutindo o

    que, a princpio, parece ter apenas um carter individual.

    Assim sendo, para os autores, discutir como temos nos omitido do tema da

    Morte em nossa formao profissional o processo natural da vida. E, embora,

    ensinar sobre a morte no seja uma tarefa fcil, compreender a temporalidade

    humana se faz necessria a fim de reduzir a angstia existencial causada pela

    perda e a separao do outro.

  • 32

    Silva e Silva (2007), realizaram a pesquisa: A preparao do graduando de

    Enfermagem para abordar o tema Morte e doao de rgos, que foi XXIX

    Encontro nacional de Estudantes de Enfermagem. Esta traz uma abordagem

    descritiva transversal e de campo. Os sujeitos da pesquisa foram 100 estudantes de

    graduao em Enfermagem, distribudos entre as 14 unidades federativas

    participantes no evento, abordadas aleatoriamente durante o perodo do mesmo.

    Estes estudantes responderam a um questionrio com as seguintes questes: Voc

    tem aula em sua instituio sobre o tema da Morte e a doao de rgos? Qual a

    carga horria dedicada ao tema da Morte em sua instituio? Qual a carga horria

    dedicada ao tema doao de rgos em sua instituio? Qual o papel do Enfermeiro

    no processo de doao de rgos? O que morte enceflica? O que OPO?

    Os resultados foram alarmantes. O estudo demonstrou que 92% dos

    entrevistados no sabiam da existncia da Organizao de Procura de rgos

    (OPO). O estudo indicou 30 minutos como tempo mnimo dedicado ao tema da

    Morte trabalhado na instituio e 10 horas como tempo mximo durante a

    graduao. Verificou-se que 63% dos entrevistados responderam no ter tido aula

    sobre o tema doao de rgos. Quando questionados sobre morte enceflica, 64%

    definiram incorretamente o conceito sobre essa questo, 19% definiram de modo

    incompleto e 17% definiram o conceito corretamente.

    A anlise dos dados obtidos apontou para a necessidade de outros estudos

    mais profundos capazes de investigar sobre a real ateno que as instituies de

    ensino de Enfermagem tm dado ao tema doao de rgos. Em relao atuao

    do enfermeiro nesta rea, os estudantes demonstraram estar pouco familiarizados a

    respeito.

    Concluindo, os autores referem que h muito tempo eles vm refletindo sobre

    a formao acadmica do profissional de Enfermagem, entretanto, apesar das

    mudanas, ainda se encontram profissionais despreparados e alunos que ao final

    do curso, declaram-se incapazes e inseguros para o exerccio da profisso. E

    infelizmente, tambm os servios de sade tm apontado o despreparo dos

    profissionais.

    Essas reflexes, associadas s questes da Morte e do morrer precisam

    deixar sua funo de elocuo e tornarem-se mais eficazes na formao

    acadmica, pois, negar a Morte, significa indiretamente, negar a possibilidade da

  • 33

    doao de rgos, em casos de morte cerebral, doao que em muitos casos,

    sinnimo de vida e no de morte.

    Pinho e Barbosa (2008), a pesquisa: A Morte e o Morrer no cotidiano de

    docentes de Enfermagem, utilizou a abordagem qualitativa mediante um estudo

    fenomenolgico realizado em trs instituies de ensino superior em que h o curso

    de graduao em enfermagem. Esta pesquisa identificou as disciplinas que, de

    alguma forma, abordassem o tema Morte, concluda esta etapa, os docentes

    responsveis por estas disciplinas foram convidados a participar voluntariamente da

    pesquisa. Foram realizadas 12 entrevistas que, previamente autorizadas, foram

    gravadas. As questes norteadoras da entrevista foram: Descreva o que tem sido

    para voc vivenciar a Morte em sua prtica docente? Voc aborda o tema Morte em

    sua disciplina? Em que momentos? De que forma o faz?

    De acordo com os autores, esses depreendem que as docentes se vm

    impelidos a desenvolver tcnicas, obedecer s normas e rotinas seguindo uma

    atitude sem reflexo, mecanizada. Referem dificuldades em trabalhar com a

    temtica por no se sentirem preparados, no sabendo como abordar a Morte e o

    morrer. Relatam ainda, que o tempo da disciplina curto para um tema complexo

    como esse, desta forma, o ensino superficial, fragmentado e mecanicista.

    Apontam tambm, que preciso refletir a respeito do sentido da vida e do cuidar,

    questionar o ensino/aprendizagem, reformular currculos e desfragmentar

    contedos, mas, isso, no tudo, pois, se faz necessrio mudar o enfoque no

    sentido de possibilitar aos docentes e discentes a reflexo acerca da existncia

    humana, atravs do dilogo, do compartilhamento de sentimentos e discusses

    sobre o processo de Morte e o morrer.

    Oliveira e Amorim (2008), no estudo A Morte e o morrer no processo de

    formao do enfermeiro, retrata uma pesquisa qualitativa, proveniente de uma

    monografia de final de curso de graduao em Enfermagem da Universidade

    Estadual de Feira de Santana (UEFS) na Bahia. Esta pesquisa teve como sujeitos

    sete alunos regularmente matriculados na disciplina Estgio Supervisionado II, no

    ultimo semestre do curso. Os participantes apresentavam uma faixa etria entre 22

    a 25 anos e eram de ambos os sexos. Foram realizadas entrevistas gravadas e os

    dados foram trabalhados atravs da anlise de contedo. Encontraram-se, aps a

  • 34

    anlise, trs categorias: encarando a morte no cotidiano; reao diante da morte; o

    processo de morte e o morrer na formao.

    Segundo as autoras, perceberse que a Morte ainda constitui um

    acontecimento que assusta e traz muito sofrimento, causando a sensao de

    impotncia alm de suscitar emoes que os deixam paralisados, prejudicando o

    cuidar do paciente e de seus familiares em um momento nico de suas vidas. As

    autoras ainda ressaltam que importante salientar que as respostas foram obtidas

    junto a formandos de Enfermagem, ou seja, profissionais que deveriam estar

    prontos para o ingresso imediato no mercado de trabalho.

    As autoras destacam tambm, que os alunos foram unnimes em afirmar a

    insuficincia curricular no que se refere temtica do processo de Morte e morrer, e

    salientam ainda, que os entrevistados compreendem que a Morte se trata de um

    processo pertencente vida e no que a antagoniza. Os estudantes afirmam

    tambm que o currculo enfatiza o trabalho para lidar com a vida atravs das

    tcnicas e normas da profisso e no atravs de um processo crtico-reflexivo que

    deveria ser abordado no ensino/aprendizado.

    Finalizando, as autoras destacam que os sujeitos da pesquisa argumentaram

    que reivindicaes apresentadas pelo movimento estudantil de Enfermagem aos

    rgos competentes e responsveis pelo curso de Enfermagem sejam capazes de

    mudar este perfil insuficiente no que tange ao ensino do processo de Morte e

    morrer.

    Takahashi, Contrin, Beccaria, Goudinho e Pereira (2008), em estudo Morte:

    percepo e sentimentos de acadmicos de Enfermagem travou-se como

    objetivo, a caracterizao do perfil dos acadmicos de enfermagem de 1 ao 4 ano

    de uma instituio do noroeste paulista, atravs da identificao da percepo e dos

    sentimentos desses estudantes, em relao morte, por meio da aplicao de um

    questionrio. Os sujeitos da pesquisa foram os alunos, regularmente matriculados

    no curso de graduao em Enfermagem, em julho de 2005, foram excludos os

    ausentes e os que se recusaram a participar da pesquisa. Do total de 240 alunos,

    132 alunos participaram, onde: 21 alunos eram 1 ano, 37 alunos do 2 ano, 46

    alunos do 3 e 28 alunos do 4 ano. O questionrio foi subdividido em A e B.

  • 35

    A parte A descrevia as caractersticas dos alunos e a B foi mais voltada para

    os sentimentos. A anlise dos dados se deu atravs da construo de um banco de

    dados no programa Excel 2003, buscando a categorizao convergente e

    divergente.

    O perfil dos alunos apresentou, em sua maioria, alunas pertencentes faixa

    etria entre 20 e 25 anos, do sexo feminino, solteiras, pertencentes a religio

    catlica.

    Quanto ao significado da Morte, verificou-se que todos os alunos das distintas

    sries entendem que a Morte faz parte do ciclo natural da vida. Segundo os autores,

    atualmente, o Homem tem mudado sua viso de Morte e pode-se considerar essa

    mudana com muita rapidez em relao aos sentimentos expressos sobre ela, no

    tendo ainda, havido tempo para absorverem o real significado da temtica em

    questo. A reao manifestada no primeiro momento, em contato com a morte de

    algum foi de pnico/desespero e insegurana. E ao prestar cuidado ao paciente

    terminal, o sentimento foi de ansiedade. Os graduandos esperam que os cursos de

    Enfermagem ofeream subsdios para o enfrentamento de situaes com Morte,

    uma vez que, o entendimento dos alunos sobre os pacientes terminais foi o de uma

    profunda sensao de fragilidade. As fontes de informao apontadas por estes

    alunos sobre o tema foram: os filmes, a religio, os livros/apostilas, palestras e o

    prprio curso de graduao em Enfermagem.

    As autoras perceberam, desta forma, que os alunos no esto preparados

    para cuidar do paciente terminal. Estes demonstraram: ansiedade, estresse,

    insegurana, o que dificulta uma futura atuao, no que se refere ao apoio e

    conforto necessrio ao paciente. Estes alunos argumentaram que importante

    discutir e refletir sobre os dilemas do conceito da Morte, atravs da viabilizao do

    desenvolvimento de mecanismos que tornem esses futuros profissionais, mais

    aptos para lidar com essa situao. Assim, necessrio oferecer suporte emocional

    aos acadmicos de Enfermagem, sendo relevante a implementao de uma

    educao tanatolgica na graduao, a fim de desenvolver a capacidade,

    especialmente dos discentes, no enfrentamento da Morte.

    Sadala e Silva (2009), no trabalho: Cuidando de pacientes em fase

    terminal: a perspectiva de alunos de Enfermagem, artigo de cunho qualitativo,

    com abordagem fenomenolgica, objetiva compreender como os alunos de

  • 36

    graduao em Enfermagem percebem-se ao cuidar de pacientes em fase terminal e

    como esses expem os significados da experincia vivida. Foram entrevistados

    para tanto, 14 alunos de graduao em enfermagem, com idades entre 21 e 25

    anos. Nesse estudo, foram predominantes os alunos do sexo feminino, alunos

    estes, cursando o 2; 3 ou 4 anos de graduao em Enfermagem, onde todos j

    haviam vivenciado o cuidar de pacientes terminais.

    As entrevistas foram gravadas e os entrevistados foram interrogados quanto

    a: Como se mostra a voc o cuidar do paciente na fase terminal da doena?

    Surgiram ento, trs temas essenciais: defrontando-se com a situao de cuidar do

    paciente em fase terminal; relao com o paciente e sua famlia; a reflexo sobre a

    experincia.

    Os alunos referem preocupao da formao biologicista, voltada para o

    ensino tcnico-cientfico e a falta de capacitao profissional para os aspectos

    psicossociais do cuidado paliativo e para o ensino fiscalizador, preocupado com a

    avaliao comportamental vista pelos professores nos estgios. Outro aspecto que

    denotou preocupao foi: como resolver os sentimentos de medo, ansiedade e

    insegurana ao cuidar do paciente que est morrendo? Todos os participantes

    relataram que apresentavam pouca experincia com esse tipo de paciente e

    referiram a necessidade de um convvio e oportunidades mais efetivas quanto ao

    cuidar destes pacientes terminais. Os alunos entendem que falta de apoio externo

    para lidar com as dificuldades representa um fator importante para o aumento da

    tenso quando o objetivo o cuidado ao paciente terminal.

    Apesar da disciplina de Relacionamento Enfermeiro-Paciente oferecer

    subsdios para os alunos interagirem com pacientes terminais, esses sentem grande

    ansiedade, o que atuaria como barreira na comunicao, bloqueando um cuidar

    efetivo.

    As autoras afirmam ainda que:

    [...] No cabem aos enfermeiros e nem aos docentes mudarem esse modelo que obedecem as normas do sistema poltico e econmico vigente. Porm possvel discutir e refletir sobre os efeitos do modelo na assistncia sade e elaborar propostas para introduzir, na formao profissional, objetivos e contedos visando habilitar os enfermeiros para assumir o cuidado integral do paciente. Preparar profissionais voltados para o cuidado humanstico, talvez seja uma possibilidade para alterar essa realidade, partindo de mudanas na prtica do cuidar [...] (SADALA; SILVA, 2009, p. 294)

  • 37

    4 METODOLOGIA

    Na pesquisa cientfica se mantm uma estratgia sistematizada, capaz de

    responder aos objetivos propostos no final do trabalho. Essa se desenvolve

    mediante a utilizao cuidadosa de mtodos, tcnicas e outros procedimentos

    cientficos (GIL, 2002).

    Segundo Andrade (2004), a finalidade da pesquisa cientfica pode ser

    classificada em cincia pura quando o objetivo adquirir conhecimentos, em

    cincias aplicadas quando objetiva as aplicaes prticas, ou seja, sua finalidade

    concorrer para o progresso das cincias atravs de novas descobertas.

    Assim, a metodologia que acreditamos ser mais adequada a presente

    investigao a Qualitativa, uma vez que, apesar de quantificar o disposto

    bibliogrfico e retratar o valor numrico de quantas fontes foram encontradas acerca

    do tema, se faz mister tambm, discorrer quanto a qualidade que estas citaes nos

    inferem mediante o que nos informado, preenchendo assim, as nossas

    necessidades de descobertas (BUENO, 2001).

    Segundo Minayo (2001), a metodologia qualitativa se preocupa com um nvel

    de realidade que no pode ser quantificada, trabalhando dentro de um universo de

    significados, crenas, aspiraes, valores e atitudes.

    O estudo proposto foi exploratrio documental, pois, caracteriza-se como um

    conjunto de etapas ou passos que devem ser seguidos para a produo da

    pesquisa, uma vez que todo mtodo depende do objeto da investigao Cervo e

    Bervian (2002), esse mtodo tem como objetivo principal o aprimoramento de idias

    ou a descoberta de intuies. Embora o planejamento desta pesquisa seja flexvel,

    este assume a forma de pesquisa bibliogrfica (GIL, 2002).

    A tcnica utilizada foi a da documentao indireta, pois, esta est diretamente

    relacionada pesquisa bibliogrfica, desta forma, a tcnica, passa a apropriar-se de

    um conjunto de normas de cada rea da cincia onde , especificamente, usada.

    Assim, a coleta de dados relaciona-se, tcnica, ou seja, parte prtica da

    pesquisa, sendo a instrumentao especfica para cada coleta de dados

    (ANDRADE, 2004).

  • 38

    Desta forma, a pesquisa se divide em vrias tipologias e a que ser enfocada

    neste estudo, ser a pesquisa quanto ao objeto, enquadrando-se perfeitamente na

    pesquisa bibliogrfica (ANDRADE, 2004).

    Para Minayo (2001), a pesquisa bibliogrfica procura explicar um problema a

    partir de referncias tericas publicadas em documentos. Este tipo de pesquisa

    busca conhecer e analisar as contribuies culturais e cientficas do passado,

    existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. Sua importncia

    relaciona-se ao fato de demandar conhecimentos de termos tcnicos e sinnimos,

    imprescindvel a qualquer pesquisa cientfica. Assim, registrar e organizar os dados

    bibliogrficos obtidos e empregados na pesquisa cientfica, possibilita: descrever,

    recolher e analisar as principais contribuies sobre um determinado fato, assunto

    ou idia.

    Desta forma, em se tratando de uma pesquisa bibliogrfica, a escolha do

    tema, como em qualquer pesquisa, no to difcil, visto que, em se tratando de

    pesquisa cientfica, existem vrios temas passiveis de serem abordados, mas, de

    fundamental importncia que a temtica seja de domnio e interesse do pesquisador.

    Como fundamenta Gil (2002),

    [...] a tarefa de realizar uma monografia ou dissertao por si s bastante rdua, mesmo para os que esto motivados pela busca do conhecimento. Logo, pesquisar a respeito de um assunto pelo qual se tenha pouco, ou nenhum interesse, pode tornar-se uma tarefa altamente, frustrante [...] (GIL, 2002, p.60).

    Andrade (2004) elucida que fundamental termos esta oportunidade, mas,

    h que se estar ligado a atualidade, visto que, no h interesse histrico ou

    documental em buscar alguns temas que j se encontram superados. Outro fator a

    ser considerado a no utilizao de assunto que tenha sido objeto de muitos e

    recentes estudos, pois, dificilmente, seria abordado de uma forma original ou

    inovadora. Da mesma forma, um tema obscuro, de interesse de poucos iniciados,

    atenderia aos critrios de relevncia.

    Cervo e Bervian (2006) nos relatam ainda, que o tema de uma pesquisa

    qualquer assunto que demande melhores definies, melhor preciso e clareza

    acerca do que j foi produzido a respeito.

  • 39

    Seguindo a fundamentao dos tericos em questo, o nosso tema se volta

    para a temtica Morte e o morrer, temas que tm sido timidamente abordados na

    formao acadmica de Enfermagem, ou seja, a fase final da vida tem sido pouco

    falada e muito negada. E com base nesse argumento, que se fundamenta a

    relevncia deste estudo.

    Portanto, aps a escolha do tema, necessrio realizar um levantamento

    bibliogrfico preliminar, a fim de delimitar o assunto, fundamentando-o para a

    elaborao do problema, visto que, apenas o desenvolvimento da pesquisa

    bibliogrfica na produo atual sobre a temtica sem qualquer aprofundamento

    histrico pode dificultar a definio do tema (GIL, 2002).

    A formulao do problema da pesquisa algo extremamente significativo,

    pois, qualquer tema pode ser estudado sob vrias perspectivas, alm disso, a

    formulao do problema prescinde de ser original, e em muitos casos, um problema

    de pesquisa indito deve ser formulado. Tal processo pode levar tempo para ser

    bem definido e, muitas vezes, a separao entre as etapas do levantamento

    bibliogrfico preliminar e da formulao do problema fica ntida. Contudo, esse

    levantamento de fundamental importncia para a formulao do problema, uma

    vez que, somente atravs deste processo se torna possvel clarear melhor o que

    o pesquisador realmente necessita (GIL, 2002).

    No se inicia a investigao propriamente dita, enquanto o tema permanece

    em nvel de discurso, pois, esse deve ser questionado exaustivamente pela mente

    do pesquisador, que atravs de seu esforo de reflexo e curiosidade ser possvel

    compor um problema de pesquisa, assim, foi importante identificar as dificuldades

    que ele sugere. A formulao de perguntas e o levantando de hipteses significa

    que o pesquisador j pode adentrar ao conhecimento cientfico (CERVO; BERVIAN,

    2006).

    Atravs de tal disposto que nosso problema foi formulado: Como a Morte e

    o morrer, segundo a literatura cientfica, vm sendo abordados e enfrentados por

    docentes e discentes nos cursos de graduao em Enfermagem?

    importante ressaltar que, a presente investigao no demanda aprovao

    do comit de tica em pesquisa com seres humanos, j que o mesmo representa a

  • 40

    busca de levantamento virtual e impresso, no havendo, portanto, envolvimento com

    seres humanos.

    Do ponto de vista metodolgico, este trabalho foi realizado atravs de buscas

    em teses e dissertaes produzidas nos Programas de Ps-graduao da

    Universidade de So Paulo e nos peridicos com conceito Qualis A1, A2 e B1, B2,

    visto serem os peridicos com melhor avaliao. Peridicos estes, publicados

    somente aps um rigoroso crivo cientfico para a aceitao e publicao de artigos,

    alm de livros elaborados a partir de pesquisas de cunho cientfico.

    Desta forma, observados estes critrios, foram acessados os contedos das

    bases de dados: MEDLINE, LILACS, BIREME, SCIELO, BDENF, relativas s

    publicaes restritas ao perodo de produo dos ltimos cinco anos (2005, 2006,

    2007, 2008, 2009). Inicialmente, acreditamos que trs anos seriam suficientes,

    contudo, em razo das nossas hipteses, preferimos ampliar a amostra a fim de

    buscar maior segurana na apresentao dos resultados, bem como, abranger as

    publicaes capazes de perfazer o perodo necessrio graduao de um aluno de

    Enfermagem no Brasil que em mdia de 5 anos.

    Utilizamos para a busca nessas bases de dados, a combinao das seguintes

    palavras-chave: Educao, Morte, morrer, docente e discente, Enfermagem.

    As buscas se deram no perodo de julho a outubro de 2009. No foi

    encontrada nenhuma tese ou dissertao produzida por discentes da Universidade

    de So Paulo, como foi pr-estabelecido nos critrios de incluso e excluso. Foi

    localizada apenas uma dissertao produzida em 1984, data que no atende ao

    recorte temporal estabelecido pelo presente estudo definida pelos ltimos 5 anos

    (2005, 2006, 2007, 2008, 2009).

    Na busca empreendida nas bases de dados tambm neste perodo, foram

    encontrados 12 artigos em peridicos com qualis A1, A2 e B1, B2, realizando busca

    individual em cada peridico, no perodo proposto. Foram encontrados ainda quatro

    captulos de dois livros diferentes abordando a temtica da morte na formao

    acadmica dos alunos de graduao em Enfermagem.

    O desenvolvimento da pesquisa aconteceu mediante a leitura exploratria,

    seletiva, analtica, interpretativa e aps elaborao de fichamento, a partir do

    conceito de Gil (2002), como descrito abaixo:

  • 41

    Leitura exploratria uma leitura do material bibliogrfico em questo,

    que tem por objetivo, verificar em que medida a obra consultada interessa

    pesquisa (GIL, 2002 p.129).

    Nesta etapa da pesquisa sero lidas diversas obras que versam sobre o

    tema, realizando-se, portanto, uma seleo inicial do material pesquisado.

    Leitura seletiva Aps a leitura exploratria, procede-se a sua seleo, ou

    seja, determinao do material que de fato interessa pesquisa (GIL, 2002

    p.129).

    Leitura analtica A finalidade da leitura analtica a de ordenar e sumariar

    as informaes contidas nas fontes, de forma que estas possibilitem a obteno de

    respostas ao problema da pesquisa. (GIL, 2002 p.129).

    A leitura analtica adequada perpassa pelos seguintes momentos: leitura

    integral da obra ou do texto selecionado, para interagir com o todo. Identificao

    das idias-chaves, pois, muitas vezes, atravs da leitura atenta que se

    identificam palavras, frases e at pargrafos que sintetizam as idias mais

    importantes. Hierarquizao das idias: seguindo a ordem de importncia

    organizam-se as idias, distinguindo as principais das secundrias, definindo-se

    assim, tantas categorias de idias sejam necessrias para a anlise do texto.

    Sintetizao de idias. Consiste em recompor o descomposto eliminando o que

    secundrio, atentando-se para o mais importante resoluo do problema.

    Leitura interpretativa a mais complexa, j que tem por objetivo

    relacionar o que o autor afirma com o problema para o qual se prope uma soluo

    (GIL, 2002 p.129).

    Portanto, a elaborao de fichamentos foi amplamente utilizada neste estudo,

    uma vez que a mesma possibilita a elaborao de resumos. Foram ainda

    catalogadas as obras consultadas e as informaes necessrias para a execuo do

    estudo foram devidamente armazenadas.

    importante ressaltar que a importncia da confeco de fichamentos

    diretamente proporcional magnitude do trabalho, pois, estes permitem uma melhor

    uma sntese do material selecionado sobre determinado tema, bem como, um

    melhor entendimento para sua posterior discusso.

  • 42

    O prximo passo no a produo da redao do relatrio; mas, sim, a

    construo lgica do trabalho, que consiste em organizar as idias, tendo em vista

    atender os objetivos para que ele possa ser entendido como uma unidade dotada de

    sentido (GIL, 2007, p. 87). Essa etapa se faz necessria, uma vez que, aps a

    organizao das idias, neste momento que ocorre a construo do plano

    definitivo.

    Em seguida, empreendida a anlise dos dados encontrados nos peridicos,

    e nos livros, que segundo Minayo (1994),

    [...] a palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com caractersticas comuns ou que se relacionam entre si. Essa palavra est ligada idia de classe ou srie. As categorias so empregadas para se estabelecer classificaes. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, idias ou expresses em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de anlise em pesquisa qualitativa [...] (MINAYO, 1994 p. 70).

    Foram encontradas, respectivamente, trs categorias para reviso de

    literatura dos livros e trs categorias para reviso de literatura dos artigos

    respectivamente: 1-A morte e a tentativa de conceitu-la; 2-A Tanatologia e a

    Universidade; 3-A formao acadmica dos enfermeiros sobre a temtica

    Morte-morrer; e; 1-Os discentes de Enfermagem e o convvio com a Morte; 2-O

    docente em Enfermagem convivendo com a Morte e as habilidades para

    ensinar; 3-A formao acadmica dando suporte para viso crtico-reflexiva

    sobre a temtica Morte-morrer.

    Em definitivo, segue-se a redao relatrio que como todo processo de

    construo da pesquisa, tem que ser cuidadoso, seguindo normas. O relatrio

    redigido para outros pesquisadores diferem-se do redigido para o pblico em geral,

    bem como, dos destinados as autoridades governamentais (GIL, 2007).

    Um efetivo relatrio prescinde de conter o problema da pesquisa redigido

    claramente, inserindo-o no contexto amplo apontando as razes que determinaram

    sua investigao. Por conseguinte, a metodologia tem que ser cuidadosamente

    descrita e a obteno dos resultados devem tambm ser criteriosamente descritos

    para finalizar com as concluses e sugestes (GIL, 2007).

  • 43

    4.1 Procedimento

    1 Definio do tema a ser pesquisado;

    2 Definio do tipo de pesquisa (Levantamento bibliogrfico);

    3 Definio das palavras chaves do estudo;

    4 Definio do perodo do levantamento bibliogrfico (5 anos);

    5 Definio das fontes (on-line, e escrita / atravs de revistas eletrnicas, livro de

    acervo pessoal);

    6 Elaborao final do projeto (Introduo, Objetivos, reviso da literatura preliminar

    e etc..);

    7 Elaborao do quadro sintico das buscas, incluindo referncias completas,

    categorias (livro, peridicos, teses e dissertaes), por ano;

    8 Divulgaes preliminares dos resultados em eventos cientficos e publicao em

    peridicos e livros;

    9 Defesa do EQ;

    10 Resultados e discusses;

    11 Consideraes finais;

    12 Divulgao e publicaes dos resultados finais;

    13 Defesa do Mestrado.

  • 44

    5 RESULTADO E DISCUSSES DA LITERATURA CIENTFICA ENCONTRADA

    Os resultados sero apresentados concomitantemente, s discusses e

    comentrios. Primeiramente, sero apresentados os quadros dos dados da literatura

    cientfica levantada, usando para tanto, as categorias dos livros e artigos de

    peridicos nacionais, utilizando as fontes, as referncias completas, palavras-chave

    e o ano, atendendo com isso, o perodo de cinco anos, a partir de 2005 at 2009,

    apropriados das bases de dados MEDLINE, LILACS, BIREME, SCIELO, BDENF e

    da Biblioteca Central de Ribeiro Preto.

    1 Parte: Livros e Captulos de Livros

    Quadro 1: Livros e Captulos de Livros encontrados sobre a Morte de 2005 a 2009

    FONTE REFERNCIA (Livros) PALAVRAS CHAVE ANO

    Livro 1

    BCRP

    INCONTRI, D. & SANTOS, F. S. A Arte de MorrerVises Plurais. Bragana Paulista, SP: Comenios, 2007. p.302

    Educao e a Morte e o morre

    2007

    Livro 2

    BCRP

    KOVCS, M.J. Educao para a Morte: Desafio na Formao de Profissionais de Sade e Educao. 2 ed So Paulo: Casa do psiclogo; 2008. p.175

    Docente e discente de Enfermagem, Morte e morrer

    2008

    FONTE REFERNCIA(Captulos) PALAVRAS CHAVE ANO

    Livro1

    Cap. 9.

    BCRP

    SANTOS, F.S. Conceitos de Morte In: INCONTRI, D. & SANTOS, F. S. A Arte de MorrerVises Plurais. Bragana Paulista, SP: Comenios, 2007. P. 88-95. cap. 9

    Docente e discente de Enfermagem, Morte e morrer

    2007

    Livro1

    Cap.28

    BCRP

    SANTOS, F.S A Tanatologia e a Universidade In: INCONTRI, D. & SANTOS, F. S. A Arte de MorrerVises Plurais. Bragana Paulista, SP: Comenios, 2007. P. 289-302 cap. 28

    Docente e discente de Enfermagem, Morte e morrer

    2007

    Livro1

    Cap.19

    BCRP

    BOEMER, M.R. Enfermagem e Morte In: INCONTRI, D. & SANTOS, F. S. A Arte de MorrerVises Plurais. Bragana Paulista, SP: Comenios, 2007. P. 189-195. cap. 19

    Docente e discente de Enfermagem, Morte e morrer

    2007

    Livro 2

    Cap.1

    KOVCS, M.J Os Profissionais de Sade e Educao e a Morte, no subttulo a Formao dos Profissionais de sade Medicina e

    Docente e discente de Enfermagem,

    2008

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    BCRP Enfermagem.In KOVCS, M.J. Educao para a Morte: Desafio na Formao de Profissionais de Sade e Educao. 2 ed So Paulo: Casa do psiclogo; 2008 p.33-34 cap.1

    Morte e morrer

    Obs. No foram encontrados livros nacionais atravs da busca com as palavras-chave Educao e a Morte e o morrer e Docente e discente de Enfermagem, Morte e morrer, antes de 2007 (caracterizando a procura dentro dos ltimos 5 anos: 2005-9)

    Atravs das leituras exploratrias, seletivas, analticas e integrais realizadas

    nos livros e captulos dos livros da reviso bibliogrfica cientfica, pertinentes a

    temtica identificadas atravs das palavras-chave, foi empreendida a hierarquizao

    das idias, procedendo-se, em seguida, com a sntese desses captulos, concluindo

    pela leitura interpretativa.

    Dando prosseguimento anlise dos dados, emergiram trs categorias: 1 - A

    morte e a tentativa de conceitu-la; 2 - A Tanatologia e a Universidade; 3 - A

    formao acadmica dos enfermeiros sobre a temtica Morte-morrer.

    Quadro 2: Ordenao de categorias com Livros e Captulos dos Livros (2005-9)

    Categorias

    Livros e Captulos.

    A morte e a tentativa de conceitu-la

    A Tanatologia e a Universidade

    A formao acadmica dos enfermeiros sobre a temtica Morte-morrer.

    Livro1 Cap. 9

    X

    Livro1 Cap.28

    X

    Livro1 Cap.19

    X

    Livro 2 Cap.1

    X

    Na primeira categoria 1 - A morte e a tentativa de conceitu-la, podemos

    destacar que no captulo 9 do livro 1, Santos (2007) traz uma tentativa de clarear a

    conceituao da Morte, pois, a histria nos afirma que at um dado momento, a

    Morte foi familiar. As pessoas percebiam os signos ou sinais da Morte e ento se

    preparavam, organizando e colocando-se sempre frente de todo o ritual dedicado

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    a partida iminente. Os bens eram divididos, havia o pedido de perdo pelas suas

    faltas cometidas em vida, sem que nada ficasse pendente. Eram comuns ainda, os

    rituais abertos aos amigos, vizinhos e s crianas, destituindo-os de apelos

    emocionais. Sentia-se a part