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Trabalho de conclusão da disciplina Laboratório de Teoria e Metodologia da História - UFES (2013-1)

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(re)veja REVISTA MENSAL DE INFORMAÇÃO

Trabalho de conclusão da disciplina Laboratório de Teoria da História 2013/1

Departamento de História - UFES

Idealização e direção

Prof. Dr. Julio Bentivoglio

Editoração e capa

João Carlos Furlani

Colaboradores

Aline Almeida de Jesus

Ariane Lucas Guimarães

Bruna Fernandes da Silva

Cainã Mousinho da Silva

Diego Lanes Tonini

Gabriel Juliati Januario

Gerson Moraes Franca

Hermes Pereira da Silva Neto

Iraciane Rosa de Azevedo

Isabela Lopes Polato

Jessica de Andrade Espindula

Karina dos Santos de Souza

Larissa Rodrigues Sathler Dias

Layla Borges Tomas de Sousa

Lomanto Kennedy Amorim Rodrigues

Rayanne Amorim Rody

Roseilta da Silva Coutinho

Sara Abreu Passoni

Valquíria Cordeiro da Vitória

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8 | Carta ao Leitor

10 | Entrevista Dener Pamplona

Panorama

12 | Imagem da Semana

18 | Holofote

Brasil

20 | Especial: Carlos Lacerda x João Gou-

lart

21 | Questão agrária: Agricultores em

prejuízo

Economia

24 | Conjuntura: A economia brasileira

nos momentos finais do governo de João

Goulart

Internacional

30 | Argentina: Arturo Illia, apóstolo dos

pobres

31 | Inglaterra: O assalto ao trem ―paga-

dor‖ inglês surpreende a todos

32 | Estados Unidos: Andando na corda-

bamba

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Geral

36 | Ética: Fim de uma era no Vaticano:

a trajetória de João XXIII junto ao papado

37 | Saúde: O homem com dois corações

poderá tornar-se realidade

39 | Medicina: Novos estudos sobre o

câncer

42 | Vida moderna: O futuro da escrita:

o advento das máquinas de escrever elé-

tricas

43 | Beleza: Brasil no trono da beleza

mundial

Guias

47 | Animais: Dicas de nome para dar

para seu cachorro

Artes & Entretenimento

49 | Cinema: Cleópatra: um filme gran-

dioso

50 | Famosos: Um pouco da vida de Eli-

zabeth Taylor

51 | Música: Jimi Hendrix: o garoto

promete

55 | Livros: Mística Feminina

57 | Cozinha: A pizza nossa de cada dia

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Carta ao Leitor

“Eu tenho um

sonho” s jornais do mundo todo noticiaram em

manchetes de primeira página aquela

que já está sendo chamada de ―Nova

Revolução dos Estados Unidos da Amé-

rica‖, trata-se de enorme manifestação realizada

esta semana em Washington liderada por ativis-

tas defensores dos direitos civis dos negros nor-

te-americanos que contou com a participação de

cerca de 250.000 pessoas negras e brancas de

vários estados do país.

A manifestação realizada em frente ao Memo-

rial Lincoln também chamada de ―Marcha pelo

emprego e pela liberdade‖ é resultante da longa

batalha que os grupamentos negros como a CL-

CL (Conferência dos lideres Cristãos do Sul),

fundada em 1957 pelo pastor e ativista Martin

Luther King Jr.(1929-) vem travando em prol

dos negros. Desejam estes, entre outras coisas,

comer no restaurante ao lado dos brancos, i-

gualdade nas oportunidades de trabalho, efetiva

integração na sociedade norte-americana.

O pastor protestante e ativista político M. Lu-

ther King, um dos líderes do movimento, nasci-

do a 15 de janeiro de 1929, em Atlanta, Geórgia,

Estados Unidos iniciou sua luta em prol dos di-

reitos civis dos negros em 1955, liderando um

boicote aos ônibus de Montgomery pelo fato de

ter sido presa Rosa Parks, mulher negra, que se

recusou a ceder seu lugar no ônibus para um

branco.

Sob os aplausos do povo o pastor defensor

dos princípios preconizados pelo líder indiano,

Mohandas Gandhi, de desobediência civil não

violenta, realizou seu discurso: ―... Eu tenho um

sonho que um dia esta nação se levantará e vive-

rá o verdadeiro significado de sua crença- nós

celebraremos estas verdades e elas serão claras

para todos, que os homens são criados

iguais. Eu tenho um sonho que um dia... os fi-

lhos dos descendentes de escravos e os filhos de

descendentes dos donos de escravos poderão se

sentar junto à mesa da fraternidade...‖.

A discussão em torno dos direitos civis dos

negros tem sido um dos principais assuntos polí-

ticos dos últimos anos e o Presidente John F.

Kennedy às vésperas do ano eleitoral toma deci-

sões que já provocam represálias dos republica-

nos e dos democratas do sul racista. O presiden-

te propõe que

sejam aprovadas leis que visam: I- Terminar

com a segregação racial nos locais públicos; II-

Terminar com a segregação racial nas escolas;

III- Criar condições iguais para brancos e ne-

gros; IV- Criar um serviço federal que se encar-

regará das relações entre comunidades branca e

negra; V- Estabelecer um programa federal inte-

gracionista. O projeto apresentado pelo governo

desperta múltiplas reações. Para comunidade

negra o projeto de legislação sobre os direitos

civis submetida ao congresso pelo presidente

Kennedy, não constitui mais do que uma neces-

sária aplicação dos princípios de liberdade e i-

O

_______________

Luther King, durante a “Marcha a Washington”.

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gualdade consagrados na constituição dos Esta-

dos Unidos. Há também aqueles que prometem

reações violentas como é o caso do grupo racista

Ku Klux Klan, no entanto, já vemos reações posi-

tivas diante da luta empreendida pelos negros, a

universidade da Carolina do Sul aceitou, for-

malmente, no início do mês, seu primeiro estu-

dante negro. Robert Anderson, negro de 20 anos

recebeu a notificação de que sua solicitação de

matrícula havia sido aprovada. A decisão toma-

da pela universidade demonstra que seus fun-

cionários decidiram desistir das manobras legais

para evitar a integração racial.

Havia toda uma preocupação das autoridades

municipais diante da manifestação, 6.500 ho-

mens da guarda nacional e dos bombeiros foram

destacados pelo Departamento defesa para atua-

rem na marcha. Houve também por parte dos

organizadores uma preocupação com o evento.

Philip Randolph, um dos organizadores, prestou

a seguinte declaração horas antes da marcha:

―...Não existe nada debaixo do sol que possa im-

pedir a luta que se desenvolve pelos nossos direi-

tos cívicos, a marcha acontecerá pacífica como

queremos ou com violência, mas todos foram

orientados a não aceitar provocações racistas‖.

Randolph declarou ainda, ―...a marcha é um

símbolo em favor da nossa libertação, sim, por-

que os negros ainda não são livres nos Estados

Unidos, e símbolo da luta dos negros para obter

a cidadania de primeira grandeza e não de se-

gunda ordem.‖

Pelo que se verificou tudo transcorreu dentro

da ordem uma multidão marchou lentamente

sobre Washington ao som do hino nacional e

louvores, a marcha ganhou contornos mais pa-

recidos com uma grande festa da democracia. A

Reveja prossegue na expectativa de registrar e

transmitir aos seus leitores as repercussões que

obterão este grandioso evento e quais serão os

desfechos desta campanha em prol dos direitos

dos negros.

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Entrevista DENER PAMPLONA

Dener Pamplona “Made in Brazil”

“É um luxo!” Foram as palavras usadas pelo estilita Dener Pamplona ao re-

ceber nossa equipe em sua mansão no Pacaembu.

Em meio aos tapetes persas e na companhia da

imensa Fedra Sete Lagos, seu famoso dogue ale-

mão, o estilista da primeira dama do Brasil esban-

ja glamour e excentricidade com muito bom hu-

mor: ―meu bem, antes de mim, para ser elegante

era preciso usar etiqueta de fora‖. Para o gênio da

alta-costura, concorrer com nomes tais como Pi-

erre Cardin, Jacques Fath, Valentino, e Emilio

Pucci, é não só um grande desafio, como também

uma reafirmação de que a moda brasileira pode

atingir patamares internacionais. Em entrevista

exclusiva à nossa equipe, Dener falou um pouco

sobre sua história no mundo da moda e também

sobre as principais tendências para o próximo

verão:

Quando o senhor percebeu seu dom para a

moda?

Querida, desde meus nove anos tenho compulsão

por desenhos (risos). Passei minha infância de-

bruçada sobre papéis, reproduzindo fotografias de

celebridades. Cópias perfeitas! Porém, havia uma

única diferença, os vestidos não eram copiados e

sim inventados por mim.

E como seus desenhos passaram a fazer

sucesso?

Por intermédio de algumas amigas do colégio.

Elas enviaram meus desenhos para a Casa do Ca-

nadá, que naquela época era a mais importante

―casa de modas‖ do Rio. Fui contratado na hora

pela Mena Fiala. Mais tarde montei meu próprio

ateliê de costura. Ali eu recebia vestidos de toda

Europa e aproveitava para estudá-los.

Quando o senhor resolveu se libertar da

moda européia e passou a criar um estilo

brasileiro?

Na verdade resolvi libertar-me das concepções em

destaque e começar a criar da minha cabeça.

Seguindo, é claro, as grandes linhas da orientação

francesa que dita para todo o mundo – mas só a

orientação. Quando aparecia uma cliente com

desenhinhos na cabeça, eu me recusava a atendê-

la. Queria fazer algo brasileiro, cheirando à nossa

terra. O resultado foi sensacional... Criei a moda

brasileira, um estilo próprio, nosso, que fez com

que as grandes senhoras do país não precisassem

ir mais se vestir na Europa. Fiz os brasileiros a-

creditarem na moda e o figurinista passou a ser

assunto. Lancei uma imagem e hoje ninguém tem

vergonha de dizer que se veste no Brasil.

O figurinista hoje é o coadjuvante na mo-

da, e você não é nada menos que o respon-

sável pelos modelos usados pela primeira-

dama. Como é vestir Maria Tereza Gou-

lart?

Maria Tereza é fenomenal! (risos) Vesti-la é uma

grande responsabilidade. Nós temos uma relação

de musa e criador. Eu a lapidei e hoje ela está en-

tre as dez mulheres mais elegantes do Brasil. Fiz

vestidos para todas as ocasiões, casamentos, fune-

rais, solenidades oficiais, mas em todos se sobres-

sai o gênero da simplicidade.

__________________________

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11 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

Certa vez você disse que os

tons que melhor combinam

com o tipo moreno das

brasileiras são branco, ro-

sa, azul-claro, verde-água,

turquesa, champanhe e

dourado. Mas qual peça

você acha fundamental no

guarda-roupa de uma mu-

lher?

Meu bem! Minha moda é clás-

sica! Sou uma figura démodé!

Acho um crime não se usar lu-

vas nos modelos de noite. Luvas

são peças sem época e sem mo-

da que representam um hábito

e educação.

Hoje sabemos a importân-

cia da Fenit (Feira Nacio-

nal da Indústria Têxtil) pa-

ra a repercussão interna-

cional da moda brasileira.

Desde 1959 o senhor apos-

ta em um estilo bem nacio-

nalista. Esse ano será dife-

rente?

Isso é surpresa! (gargalhadas

acompanhadas do pedido a

Pierre, seu mordomo, da piteira

de marfim)... Na verdade ainda

não sei. Gosto do que é belo! E

a inspiração no Brasil trás um

resultado surpreendente. Para

mim tudo aqui vira moda, o

período colonial, o café e quem

sabe o Candomblé (mais risos).

Não foi a toa que criei a Linha

Café e a Coleção Colonial!

Bom, sabemos que Clodovil

está apostando em estam-

pas exuberantes para o

próximo verão. Você acha

que essa moda vai alavan-

car no país?

(gargalhadas)... ―Nêga Vina‖

não é boa em apostas! Acredito

que o sucesso esse ano estará

no Dégradé.

O senhor não tem receio

dos grandes nomes da alta-

costura como você, o José

Nunes, César, Ronaldo És-

per, Fernando José, Anna

Frida e Amalfi serem es-

quecidos devido à grande

importação de modelos

como Coco Chanel ou Saint

Laurent, por exemplo?

De forma alguma! Nós fugimos

da comodidade do copismo! A

alta-costura já tem seu lugar no

Brasil! Desenhamos para os

clientes de acordo com seu físi-

co, idade, gosto e em consonân-

cia com nosso clima tropical.

São modelos exclusivos! Você

não corre o risco de ir a um

Casamento e encontrar três

pessoas com o mesmo modelito

(risos).

O senhor acredita que a

marca da mulher refinada

está no que ela veste?

Querida, na verdade digo que

está no que ela mesma quer

vestir, pois a mulher chique fica

bem com qualquer trapinho, já

a mulher realmente refinada se

veste para agradar si mesma,

até quando faz a maior faxina

está sempre arrumada!

__________________________ Entrevista DENER PAMPLONA

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EQUANTO ISSO

O destaque da semana vai para o novo presiden-

te eleito da Argentina, Arturo Umberto Illia, que

depois de tantos golpes, ganha a eleição com

promessa de um novo governo.

JÁ DEIXA SAUDADES

No dia 2 de julho deixou-nos Bruno de Menezes.

Certamente a literatura brasileira sofreu uma

grande perda. Descanse em paz! Menezes escre-

veu, dentre outras obras, Batuque (1931) e Onze

Sonetos (1960).

21 DE JUNHO

Paulo VI sucedeu o papa João XXIII.

O BRASIL É LINDO!

Reina a rainha mais bela do mundo! Ieda Maria

Vargas a beleza brasileira muito bem represen-

tada pela Miss Universo.

23 DE MAIO

Fidel Castro visitou a URSS.

9 DE ABRIL

Winston Churchill foi eleito cidadão honorário

norte-americano pelo Congresso.

Panorama __________________________

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TELEVISÃO

Estreante no horário nobre da TV Excelsior, a novela 2-

5499 Ocupado já faz sucesso. Como casal principal

Tarcísio Meira e Glória Menezes. Essa novela já está

dando o que falar.

DISCOS

The Beatles

Please Please Me

Os ingleses, que já estavam em turnê pela Inglaterra,

lançaram esse disco, com uma batida mais alegre e

juvenil.

Barbra Streisand

The Barbra Streisand Album

O primeiro disco da norte-americana ainda está dando

o que falar. O jazz cantado na maravilhosa voz da

cantora proporciona alegria e tranqüilidade. Sem

dúvida alguma é música de qualidade.

Bob Dylan

The Freewheelin’

Um album repleto de músicas inéditas e de um som

próprio, The Freewheelin’ Bob Dylan proporciona-nos

uma experiência nova e agradável. É, sem dúvida, uma

surpresa.

Ellis Regina

O Bem do Amor

Ellis Regina

A voz inspiradora e maravilhosa da nossa querida

cantora pode ser apreciada nos dois álbuns gravados em

estúdio. Ellis, simplesmente, Ellis.

__________________________ Panorama

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Estreou no último dia 22, na

Tv Excelsior a primeira tele-

novela diária brasileira.2-

5499 ocupado traz em seu

elenco o galã Tarcisio Meira e

a belíssima Gloria Menezes.

Na trama Glória é uma presi-

diária Emily, que trabalha

como telefonista do presídio,

e Tarcisio se apaixona por ela

apenas pela voz ao telefone,

sem saber a verdade. Tarcisio

estrelou, também esse ano, o

filme Casinha Pequenina.

Seguem protestos e greve dos

motoristas contra os veículos

Kombi, que querem fazer lo-

tação fora do horário. Os mo-

toristas fizeram greve por

vários dias, e só vão parar

quando as reivindicações fo-

rem atendidas. A briga é para

que os carros de praça sejam

licenciados.

Rio de Janeiro - O Instituto

Brasil - Estados Unidos co-

munica que se encontram

abertas as inscrições para

bolsas de estudo nos Estados

Unidos. Mais informações

pelo telefone 57-1146. As ins-

crições são para residentes no

estado do Rio de janeiro e

estarão abertas até 31 deste

mês.

Após dois meses do encerra-

mento dos jogos Pan ameri-

canos deste ano, a cidade de

São Paulo ainda comemora o

evento. Apesar de ser chama-

do de modesta, a abertura

que aconteceu no estádio do

Pacaembu foi memorável. A

vila pan-americana, construí-

da para servir de alojamento

aos atletas, será anexada a

universidade de São Paulo.

No dia 1º deste mês de julho,

uma tragédia vitimou o bispo

de Uruguaiana, Dom Luis

Felipe de Natal. O acidente

aéreo, com o DC3 da VARIG,

que caiu no 1º Distrito de São

João da Bela Vista, a 7,5 km

de Passo Fundo, por volta das

18 horas, vitimou 11 pessoas.

Na aeronave estavam nove

passageiros e quatro tripulan-

tes. Dois passageiros conse-

guiram sobreviver.

Panorama __________________________

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Carlos Lacerda x João Goulart _____________________________________________________

Carlos Lacerda.

Não é fato desconhecido

para ninguém as divergências

entre o Presidente João Gou-

lart e o Governador da Gua-

nabara, Carlos Lacerda. Mas

essas divergências estão to-

mando um vulto cada vez

mais preocupante. Sob o pre-

texto de ―vigiar‖ Lacerda, im-

putando-o atitudes golpistas,

o Governo Federal prepara

um... golpe. O primeiro passo

é a proposta esdrúxula do

Ministro da Justiça, de fede-

ralizar a polícia militar do

Estado da Guanabara – meio

eficaz para retirar do controle

de Lacerda as forças militares

leais ao estado democrático

de Direito.

Fora essas questões, o Go-

verno Federal já está na ofen-

siva contra a Guanabara faz

tempo. A federalização de

diversas repartições estadu-

ais, como por exemplo a ad-

ministração dos portos de

transporte de pessoas, são

apenas a ponta do iceberg das

reais intenções do Governo

Federal dominado pelos po-

pulistas e seus colaboradores

comunistas.

Carlos Lacerda, porém, re-

siste, e continua denunciando

os planos golpistas de um

Governo que se pretende tor-

nar uma espécie de República

sindicalista, de estilo peronis-

ta. Por essa postura de eterno

sentinela das liberdades de-

mocráticas, a Guanabara está

literalmente sendo sufocada

pelo Presidente João Goulart.

Agora aventa-se simples-

mente a intervenção federal

na Guanabara, sob os mais

fantasiosos pretextos. Ora,

sabe-se bem que se há alguém

planejando algum golpe con-

tra as instituições, esse al-

guém não é o Governador

Carlos Lacerda, paladino das

liberdades democráticas. Os

golpistas estão, na verdade,

ocupando cargos ou manten-

do influência no Governo

Federal. Afinal, a tentativa de

Leonel Brizola de ferir a cons-

tituição com o slogan ―Cu-

nhado não é parente – Brizola

para Presidente‖, bem como

as recentes declarações de

Goulart de que a Constituição

não é uma pedra que não po-

de ser mexida, denotam cla-

ramente de outro se prepara

um golpe contra as institui-

ções do Estado democrático

de Direito.

Poderíamos abranger mui-

tos mais fundamentos para

demonstrar que Leonel Brizo-

la e João Goulart estão fir-

memente com o propósito de

transformar o Brasil em uma

república sindicalista. A sana

desse grupo em sedimentar

__________________________ Brasil

João Goulart.

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esse projeto é tanta que sabe-

se que já há pronto um Decre-

to de Estado de Sítio, espe-

rando somente um momento

oportuno para ser aprovado

pelo Congresso Nacional.

Decreto esse que só não foi

ainda apresentado, segundo

interlocutores, pois está rece-

bendo o veto do Governador

Miguel Arraes, temeroso de

estender tanto assim o poder

do Presidente da República.

Enquanto João Goulart e o

seu cunhado não conseguem

implantar tão horrendo proje-

to, resta à Guanabara sofrer

com as retaliações em doses

homeopáticas e constantes.

Afinal, é necessário enfraque-

cer e perseguir, o máximo que

for possível e ―dentro da Lei‖,

as sentinelas das liberdades

democráticas que possuem

algum poder. Elo mais fraco

na tríade São Paulo / Minas

Gerais / Guanabara, resta à

esse último Estado aguentar

as bordoadas da trupe popu-

lista que governo o país.

____________________

Agricultores

em prejuízo

____________________

Os agricultores e comerci-

antes de várias partes do país

estão passando por graves

momentos e os rendimentos

advindos da produção de café

e de outros alimentos estão

momentaneamente abalados.

Fortes geadas ocorrem em

partes do país devastando

muitas plantações, sendo que

os maiores efeitos negativos

estão na produção do café. O

fato ocorre principalmente

em São Paulo, Norte do Para-

ná e no Sul deixando os agri-

cultores preocupados com as

lavouras e com a comerciali-

zação do produto. De acordo

com a meteorologia, a geada

ocorre quando uma tempera-

tura atinge 0°C sobre as su-

perfícies, o vapor da água em

contato com a superfície fria

passa para o estado sólido

deixando a vegetação com

aspecto esbranquiçado. Em

algumas regiões a temperatu-

ra está sete graus abaixo de

zero. Grandes prejuízos já

estão sendo esperados entre a

elite agrícola, estima-se que a

quebra da próxima safra de

café deve chegar a 50% no

Paraná. Este estado atual-

mente é um dos grandes re-

presentantes do produto, com

aproximadamente 1 bilhão e

350 milhões de cafeei-

ros.Segundo o IBC a safra

prevista para o Norte do Pa-

raná é de 250 bilhões de cru-

zeiros, no entanto se for con-

firmado os danos provocados

pela ação climática, o valor

arrecadado pode chegar a 100

bilhões de cruzei-

ros.Produtores de outros ra-

mos também sentem os efei-

tos das geadas.Comerciantes

de tomate, alfa-

ce,ervilha,vagem,cana e ou-

tros legumes precisarão en-

trar com medidas imediatas

para repor os prejuízos e

manter o fornecimento em

dia.O chefe do IBC Nelson

Maculan anunciou providên-

cias da parte do governo co-

mo a diversificação da lavou-

ra possibilitando o plantio de

algodão,soja,trigo,cereais e

trigo, o financiamento amplo

de órgãos oficiais e da rede

bancária particular e a adoção

da política de preços mínimos

nas fontes de produção.As

medidas visam a restituição

da produção e exportação dos

agricultores e a manutenção

de milhares de trabalhadores

rurais.O café desde o século

XIX, se tornou um importan-

te representante comercial do

país, mas abrirá espaço à no-

vas plantações, com a diversi-

ficação das lavouras.A redu-

ção imediata das safras tem

um significado negativo de

curto e longo prazo para as

finanças do governo federal e

tudo indica que a posição do

café brasileiro sofrerá leves

modificações no cenário

mundial.A estratégia de di-

versificação exige uma articu-

lação para alcançar a mão de

obra necessária para as novas

lavouras.A medida pode ser

bem sucedida para suprir a

lacuna que a falta do café po-

derá provocar na economia

brasileira, além de abrir espa-

ço para novos investimentos

agrícolas.

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A economia brasileira nos momentos

finais do governo de João Goulart _____________________________________________________________

Após o breve governo Jâ-

nio Quadros e do governo

Juscelino Kubistchek, nota-

mos uma forte preocupação

com a alta inflação e déficit da

balança de pagamen-

tos,preocupação que leva ao

início de uma ruptura com a

política no governo anterior e

o retorno da política antinfla-

ção. Durante o início do go-

verno de João Goulart até

agora, o país apresentou su-

perávits em transações cor-

rentes, devido principalmen-

te, a redução das importa-

ções, consequência do desa-

quecimento do mercado in-

terno. No entanto, durante

mais da metade de seu gover-

no, até agora, a ocorrência de

sucessivos déficits correntes

contribuiu para ampliar o

desequilíbrio das contas ex-

ternas, pressionando o gover-

no contra os empresários,

ricos, alta e média sociedade

brasileira.O Produto Interno

Bruto (PIB), que nos seis anos

anteriores (1956-1961) havia

crescido em média 8,2% ao

ano, cresceu de 1962 até o

momento, em média 2,6% ao

ano. Por outro lado, a infla-

ção, medida pelo IGP-FGV

que havia registrado aumento

de 28,7% em 1960 se elevará

para mais de 90% ao final

1964, se tudo continuar como

está caminhando. Durante o

Governo Central, as contas

internas apresentaram déficit

durante todo o período e du-

rante os cinco anos do gover-

no de Juscelino Kubitschek

de Oliveira, esse déficit havia

ficado próximo de 2% do PIB.

Porém, o que nos preocupa

aqui é ver que as coisas não

estão melhorando, muito pelo

contrário, estão mesmo é pio-

rando. Já no atual governo de

João Goulart, o déficit das

contas públicas internas já

está quase alcançando a faixa

de 4% do PIB. Todos esses

números só nos levam a crer

que esse atual governo só

sabe ver a política econômica

de uma forma reduzida, só

sabe dar décimo terceira salá-

rio, dobrar os salários míni-

mo, só sabe ver economias

fechadas em um pequeno

ponto. Porém, ele parece que

não mede os efeitos que tais

medidas podem alcançar,

toma as decisões parece que

impulsivamente. Muitas es-

tratégias ruins podem ter a-

parências de ótimas, mas tu-

do está relacionado com tudo,

em se tratando de macroeco-

nomia. O principal monstro

brasileiro das últimas décadas

é a inflação, ela é o equilíbrio

mais complexo a ser ajustado

na economia. Em se tratando

de inflação temos que levar

todos os números financeiros

e econômicos em considera-

ção, não pode negligenciar

nenhum, pois assim no equi-

líbrio nunca estará no centro.

Temos muito com o que a-

Economia __________________________

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25 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

prender com o ajuste fiscal e

inflacionário dos Estados U-

nidos e com a Inglaterra. Sa-

bendo desses problemas que

atormentam a economia bra-

sileira a décadas, e especial-

mente o seu governo, Jango e

seus ministros vêm, após al-

guns fracassos do João Gou-

lart de alavancar a economia,

o Presidente, juntamente com

o Ministro do Planejamento,

Celso Furtado, elaboraram o

Plano Trienal. Plano esse que

tem como objetivo conter a

inflação que, segundo prévias,

irá atingir próximo dos 80%

no final do ano e retomar o

crescimento do PIB para pró-

ximo de 7% ao ano, como de

governos anteriores, e pela

primeira vez iniciar um plano

de distribuição de renda. Esse

plano prevê ainda a reforma

agrária, reforma fiscal, refor-

ma educacional, reforma ban-

cária e a reforma eleitoral

para o país. Contudo, Goulart

vê como necessidade constan-

tes apelos a empréstimos in-

ternacionais, visando a sanar

a escassez de divisas do país,

o tornando cada vez mais

dependente de seus credores

externos, e cada vez mais

submisso a estes, no que se

refere a elaboração de políti-

cas econômicas de seu gover-

no. O plano tem por objetivo

aumentar a taxa de cresci-

mento e a baixa inflação do

país, e um dos grandes moti-

vos disso, segundo analistas,

é para satisfazer as exigências

do Fundo Monetário Mundial

(FMI) para a obtenção de

novos empréstimos interna-

cionais para o país, para pode

fazer uma nova renegociação

da dívida externa brasileira e

para possibilitar mais inves-

timentos. Será que será a se-

gunda vez que Jango tenta

―salvar‖ o país com medidas

populares, mas acaba sendo

engolido por elas. Lembre-se

de sua história: Jango dobrou

o salário mínimo dos traba-

lhadores, quando então Mi-

nistro do Trabalho no segun-

do governo de Getúlio Vargas.

O plano prevê um investi-

mento de 3,5 trilhões de cru-

zeiros para, com isso, aumen-

tar a renda per capita dos

brasileiros de US$323,00

para US$ 363,00 até 1965. O

governo calcula que, com is-

so, a indústria Brasileira irá

crescer 70% no próximo ano.

O governo explica que essa

meta, alta, mas possível, será

alcançado com metas setori-

ais, de, por exemplo, de 4,3

milhões de toneladas de lin-

gotes de aço até 1965, 190 mil

automóveis e 270 mil cami-

nhões e crescimento da capa-

cidade instalada geradora de

energia para 7.432.00 KW em

1965. Plano esse muito a

guardado por todas as donas

de casas, que nos últimos

anos vem sentindo os preços

das mercearias subirem mui-

to rapidamente. As conse-

quências da inflação atingem

todos. Os homens têm que

trabalhar mais, suas esposas

passam a comprar menos e

seus filhos passam a comer

menos. Funcionários de mer-

cados já começam a dar pre-

ços diariamente para seus

produtos e o homem do leite

já anunciou seu preço de um

cruzeiro até dos duzentos

cruzeiros em relativamente

pouco tempo (do jeito que

anda as coisas até seu jegue

aprende a contar). Entretanto

um receio desse novo plano

não dar certo fica no ar. Al-

guns movimentos sociais co-

mo a União Nacional dos Es-

tudantes (UNE) e já estão se

movimentando para protestar

para o fim da exclusão social

e do analfabetismo. Dentro

desse movimento alguns

membros da Igreja Católica

também já estão se mostran-

do contra o governo e se jun-

tando com os estudantes em-

protestos com orientações

socialistas.

Já na agricultura do atual

governo, ela ainda está base-

Sentados à mesa: Miguel Arraes, João Goulart e Darcy Ribeiro. De pé ao lado de João Goulart, Celso Furtado.

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(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 26

ada em formas arcaicas de

produção, o que causa um

entrave ao desenvolvimento

estável do Brasil. Nosso mo-

delo latifundiário exportador

se mostra menos produtivo

que a produção em lotes mé-

dios e se mostra mais resis-

tente a introdução de novas

técnicas mais modernas de

produção, o que muitas vezes

pode inviabilizar a ampliação

do excedente rural, comenta

especialistas agrícolas. Perce-

bendo um gargalo institucio-

nal, os estruturalistas defen-

dem algumas reformas de

base como a única alternativa

para a retomada do cresci-

mento livre da aceleração

inflacionária, dentre elas a

reforma agrária, que visa di-

namizar o campo. Dentre as

medidas também são men-

cionadas a reforma tributária,

para ampliar as receitas pú-

blicas, e o controle das remes-

sas de lucro, para arrefecer a

incapacidade de importação.

Acredita-se, os estruturalis-

tas, que estas reformas unirão

os setores progressistas da

nação, a indústria e os traba-

lhadores, contra os setores

arcaicos dos grandes latifun-

diários. As coisas acontecem

rápido hoje no país. Pessoas

ganham ou perdem direitos

de uma semana para a outra.

Enquanto os trabalhadores se

reúnem na Confederação Na-

cional dos Trabalhadores na

Indústria e o Pacto de Unida-

de e Ação, de caráter inter-

sindical e eles conseguiram

um salário por ano a mais,

agora ganhando 13 salários

por ano, isso os trabalhadores

urbanos. E enquanto traba-

lhadores rurais realizam o 1º

Congresso Nacional de La-

vradores e Trabalhadores

Agrícolas, em Belo Horizonte,

Minas Gerais, exigindo a re-

forma agrária e a Consolida-

ção das Leis de Trabalho

(CLT). Com isso muitas ligas

camponesas estão se trans-

formando em sindicatos ru-

rais. Enquanto esses traba-

lhadores ganham direito, os

empresários só perdem! O

Presidente continua imple-

mentando medidas de caráter

nacionalista e desagradando

os empresários, como por

exemplo, limitar a remessa de

capital para o exterior, nacio-

nalizar empresas de comuni-

cação e decidir rever as con-

cessões para explorações de

minérios no país. Toda vez

que a presidência toma esse

tipo de medida a retaliação

estrangeira, especialmente a

americana, são rápidas. É

esperado com isso que o go-

verno e empresas privadas

norte-americanas cortem o

crédito para o Brasil e inter-

rompam as negociações da

dívida externa, o que torna

cada vez mais o governo de

Jango contraditório. Cria o

Plano Trienal para possibili-

tar mais crédito internacional

e, por outro lado, cria medi-

das que limitariam o crédito

internacional, por motivos de

medidas nacionalistas.

Como já estamos acompa-

nhando há algum tempo, é

cada vez mais crescente a

aproximação do Presidente

para com os países de regime

comunistas. Lembre-se, que

inicialmente, no governo de

João Goulart, ele manteve

uma política externa inde-

pendendo da atual polariza-

ção mundial (capitalismo x

comunismo). Entretanto,

passando os instantes iniciais

de seu governo, o senhor Pre-

sidente reatou as relações

diplomáticas com a União das

Repúblicas Socialistas Sovié-

ticas (URSS), que estava

rompida desde o ex-

presidente Dutra. Também

não devemos esquecer que

Jango se manifestou contrá-

rio às sanções impostas ao

governo cubano e recusou-se

a apoiar a invasão a Cuba,

proposto pelo presidente a-

mericano Kennedy. Felizmen-

te Jango dá um sinal de luci-

dez criticando o regime políti-

co cubano e vai para Havana

atuar, a pedido dos Estados

Unidos, como mediador,

mostrando a preocupação

brasileira com a instalação de

mísseis soviéticos em Cuba.

Porém, já em dezembro de

1962, Jango destaca a criação

do Grupo de Coordenação do

Comércio com os Países Soci-

alistas da Europa Oriental

(COLESTE) e o decreto que

estabeleceu medidas para a

formação da Zona de Livre

Comércio, instituída pela As-

sociação Latino-Americana de

Livre Comércio (ALALC),

organização que nasceu com

o Tratado de Montevidéu, em

1960.

Os planos de Goulart para

até o final de seu mandato

inclui que ricos fazendeiros

doem parte de suas terras

para quem não tem como

pagar! Isso significa que ago-

ra não precisamos mais tra-

balhar para termos as coisas,

poderemos ficar atoa que o

Presidente Joãozinho irá ar-

rancar de quem tem para nos

dar? O Presidente está tão

louco com suas ideias comu-

nistas que está marcado para

o dia 13 de março a realização

de um comício em frente à

Estação Central do Brasil, no

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27 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

Rio de Janeiro. O governo

espera nesse comício um pu-

blico de trezentas a trezentas

e cinquenta mil pessoas para

ouvirem Jango dar o Brasil

para os pobres. Segundo ana-

listas, Jango irá decretar a

nacionalização das refinarias

privadas de petróleo e a desa-

propriação de propriedades

às margens de ferrovias, ro-

dovias e zonas de irrigação de

açudes públicos. Imediata-

mente após essas notícias os

militares posicionaram-se

incisivamente contra os pla-

nos de Jango e o clima entre

os militares e o governo está

cada vez mais piorando. Os

militares já começam a dizer

que é preciso impor uma ma-

nutenção da legalidade e da

restauração da ordem.

Analistas chamam a aten-

ção da alta do preço dos ali-

mentos para a grande atenção

dada pelo governo para os

problemas urbanos e pouco

para os problemas rurais.

Completa dizendo: tanto é

verdade que já podemos ob-

servar a falta de produtos

alimentares em várias regiões

do país. Outro problema para

essa estratégia governamental

é o crescente inchaço de cida-

des já grandes, como São

Paulo e Rio de Janeiro, e um

crescente encolhimento da

região nordestina. Com esses

problemas já podemos obser-

var a crescente insatisfação da

população com a atual reali-

dade de nosso país e os mili-

tares soltam o verbo em ata-

car o governo e diz tentar a

ajudar. Outra característica

marcante da estagnação eco-

nômica em que vivemos ulti-

mamente é percebida pelo

descontrole das contas publi-

cas e externa. Neste sentido, a

existência de déficits em tran-

sações correntes apresenta

forte empecilho à continuida-

de do processo de desenvol-

vimento do país, pois, impos-

sibilita a ampliação das im-

portações de bens-de-capital

e de insumos para a indústria

nacional.

Está marcada para o dia

19 de março em São Paulo a

Marcha da Família com Deus

pela Liberdade. Atônitos com

o desequilíbrio brasileiro, os

manifestantes pedirão a Deus

e aos militares que salvem o

Brasil do perigo comunista,

presente na figura de Jango.

E para piorar o clima en-

tre os militares e a presidên-

cia, tem o fato das estatiza-

ções recentemente feito por

Leonel Brizola das companhi-

as telefônicas e de energia do

Rio Grande do Sul, que per-

tenciam a grupos dos Estados

Unidos. Brizola denunciou

um acordo de indenização

fraudulenta feito com as

companhias dos EUA, quatro

antigas proprietárias das es-

tatais recém-criadas do Rio

Grande do Sul. O ministério

caiu e o acordo foi suspenso,

desagradando aos Estados

Unidos.

Outro problema para

Goulart enfrentar é a ameaça

de rebelião dos sargentos em

Brasília. Eles querem o direi-

to de se candidatar a cargos

eletivos. O alto escalão das

Forças Armadas já se posicio-

nou que isso seria uma severa

ameaça à hierarquia militar.

Os militares não estão muito

insatisfeitos com algumas

condutas de Jango, como, a

de ele apoiar algumas mani-

festações de insubordinação

dos marinheiros e soldados

contra o alto comando mili-

tar, ameaçando a hierarquia

militar.

E no meio de tanta confu-

são política, diplomática e

econômica, aconteceu, na

última semana, uma situação

diplomática embaraçosa, na-

vios franceses foram apreen-

didos pescando lagostas sem

autorização em território bra-

sileiro. Em resposta as apre-

ensões, o general e presidente

Charles de Gaulle mandou

seu navio de guerra Destrói-

erTarto, para o largo Fernan-

do de Noronha, na costa bra-

sileira. Contudo, apensar da

inicial ímpeto agressivo fran-

cês, eles não negam que são

franceses e não gostam de

guerra ou conflito, retirando-

se então do território brasilei-

ro. E por enquanto parece que

não será dessa vez que irá

acontecer a Guerra da Lagos-

ta.

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ARGENTINA:

Arturo Illia, apóstolo dos pobres _________________________________________________________

Como bons expectadores,

acompanhamos durante todo

o mês passado as eleições

presidências de nossos ir-

mãos argentinos. As eleições

ocorreram no dia 7 de julho,

sendo eleito Arturo Umberto

Illia, candidato da União Cívi-

ca Radical do Povo. Mesmo

partido de seu xará, Arturo

Frondizi, deposto em março

de 1962, quando foi vítima de

um golpe militar. No dia 12

do mês anterior, após assumir

os governo,Illia realizou um

ato comemorativo pelo 17 de

outubro na Praça Miserere,

sem nenhuma limitação. Co-

mo primeiras medidas toma-

das, Illiarevogou as restrições

eleitorais, habilitando a parti-

cipação do peronismo nas

atividades políticas, outrora

proibida. Também revogou a

proibição ao Partido Comu-

nista e se promulgou penali-

dades à discriminação e vio-

lência racial. O novo presi-

dente eleito inicia seu manda-

to fazendo importantes mu-

danças no âmbito político.

Devemos portanto consi-

derar que o governo exercido

por Arturo Frondizi, consistiu

na política econômica de de-

senvolvimentismo. Julgando

ser a industrialização de ex-

trema importância, redun-

dando, em teoria, na diminui-

ção do abismo existente entre

os países desenvolvidos e os

subdesenvolvidos. Resta sa-

ber, outrossim, seIllia seguirá

os mesmos passos de seu an-

tecessor, ou como agirá pe-

rante as necessidades econô-

micas e políticas do país. Mas

sabemos que é boa sua ima-

gem perante os pobres argen-

tinos.

Arturo Umberto Illia

(1900-) cursou medicina em

1918 na Faculdade de Medici-

na da Universidade de Bue-

nos Aires, graduando-se em

1927. Sua experiência política

consiste nos anos três anos

(1940-1943) em que foi vice-

governador de Córdoba. Onde

também atuou como médico

por muitos anos. Seu altruís-

mo e amor à profissão ficam

evidentes quando conhece-

mos alguns de seus atos. Sua

fama lhe trouxe o apelido de

Apóstolo dos Pobres, apelido

justificado por sua dedicação

aos doentes sem recursos,

viajando a cavalo, ou mesmo

a pé, para suprir pessoas po-

bres com medicamentos, com

dinheiro proveniente do seu

próprio bolso.

__________________________ Internacional

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31 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

INGLATERRA:

O assalto ao trem “pagador”

inglês surpreende a todos _______________________________________

Em 8 de agosto, 15 assal-

tantes levaram de um trem

postal – na Inglaterra – a

fabulosa quantia de 2.631.784

libras esterlinas.O assalto ao

trem pagador envolveu 15

indivíduos, que escapam num

caminhão que havia pertenci-

do ao exército britânico e em

dois veículos Land-Rovers

que acredita-se ter sido rou-

bado as vésperas.

Aparentemente inspirado

nos filmes de roubos em es-

tradas de ferro do Velho Oes-

te nos Estados Unidos, 15

homens tomaram de assalto

um trem do Correio Real que

se dirigia de Glasgow, Escócia

para Londres, Inglaterra. Ao

descobrirem que esse trem do

correio recolhia os depósitos

de bancos da Escócia e os

levava para a capital inglesa.

Eles estudaram a rota e os

horários da locomotiva, esco-

lheram a dedo a data do cri-

me: o dia seguinte a um feria-

do bancário, quando o trem

carregara os depósitos de dois

dias.

Aproximadamente às 3 e

meia da manhã, o trem que

pertencia à categoria dos

trens fantasmas 54-B, cujos

horários eram desconhecidos

do público, passava por uma

região conhecida como Sears

Crossing a 64 km de Londres.

O maquinista Jack Mills, 58

anos, avistou o sinal de perigo

no poste de sinalização da

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(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 32

estrada de ferro quando se

aproximava da passagem de

nível, e freou a locomotiva

diesel que rebocava nove

vagões. O ajudante David

Whitby, de 26 anos, saltou do

trem a fim de utilizar o

telefone de emergência ali

instalado, quando se deu

conta de que os fios haviam

sido cortados, e que o sinal

verde do sistema de

segurança estava ligado, mas

encoberto por uma luva de

couro.

Ao serem dominados pelos

assaltantes, sob ameaça de

morte. O maquinista e seu

ajudante foram então

algemado juntos, enquanto

eram desconectados da

locomotiva todos os vagões

exceto o primeiro e o

segundo, todo isso no mais

completo silêncio.

O maquinista foi obrigado a

movimentar a locomotiva

com os dois primeiros vagões

apenas, até cerca de um

quilômetro de distância, onde

uma ponte ferroviária

passava sobre a rodovia. Ali,

com o pessoal do trem e do

correio amarrados no

primeiro vagão, os

assaltantes,mascarados com

meias de mulher, lançaram

para dentro de dos caminhões

todos os volumes que

estavam no segundo vagão. A

operação foi completada a-

proximadamente em 15

minutos.

Os assaltantes

desapareceram na escuridão.

Quando os guardas dos

outros sete vagões, que

haviam sido deixados na

passagem de nível, chegaram

a pé pelo leito da estrada para

perguntar o que havia

acontecido, encontraram os

companheiros ainda

amarrados. Investigadores

ingleses mantem sob sigilo as

investigações e nada ainda

sobre a identidade dos assal-

tantes foi divulgado.

ESTADOS UNIDOS:

Andando na corda-bamba _____________________

O JFK é o 35º presidente

americano, embora passe por

um período de complicações

em sua política externa, tem

grande apoio do Congresso

nos assuntos internacionais.

Mas seu maior desafio é a

questão social.

Nos últimos anos os Esta-

dos Unidos tem sofrido per-

das no âmbito internacional.

No mês passado os generais

sul-vietnamitas deram um

golpe de Estado contra o seu

presidente Ngo Dinh Diem,

aliado dos EUA o que preju-

dica ainda mais a Diplomacia

americana. Jonh F. Kennedy,

que em seus dois anos de go-

verno já sofreu com a Crise

dos Mísseis (1962), a derrota

na Baía dos Porcos (1961), e a

construção do Muro de Ber-

lim (1961) tem que enfrentar

uma forte oposição para levar

adiante algumas de suas pro-

postas. Defensor da causa das

minorias e do papel de cada

cidadão no seu país sofre ob-

jeção à política econômico-

social, principalmente da elite

conservadora.

Eventos da maior impor-

tância acontecem durante sua

presidência. Sua política soci-

al leva a sociedade americana

discutir a desigualdade entre

negros e brancos, a condição

feminina entra nas preocupa-

Presidente Kennedy no dis-curso à nação sobre os Direitos Civis, 11 de Junho de 1963.

"Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu pa-ís". Com essa frase emblemática o Presidente JFK tomou posse em 1961.

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33 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

ções dos políticos, o governo

federal se esforça para esten-

der a assistência médica dos

pobres às pessoas com mais

de 65 anos de idade. E é no

sul do país, onde a tensão

racial é mais delicada, que

Kennedy decidiu intervir pes-

soalmente para garantir os

direitos civis da população

negra. Programa encontros

com empresários, industriais

e fazendeiros da região para

demovê-los da resistência às

suas decisões que geram ex-

plosões de violência.

Economia

Kennedy encerrou um pe-

ríodo de políticas fiscais rigo-

rosas. A política monetária

diminuiu para manter as ta-

xas de juros baixa e estimular

o crescimento da economi-

a. JFK foi o primeiro presi-

dente a quebrar o recorde de

US$ 100 bilhões de dólares

no orçamento em 1962 e seu

primeiro orçamento em 1961

levou ao primeiro déficit or-

çamentário sem guerra ou

recessão na história do país. A

economia voltou a prospera

com o governo Kennedy.

O PIB cresce a uma média de

5,5%, enquanto a inflação

permanece estável em torno

de 1% e o desemprego come-

çou a diminuir. A produção

industrial cresceu em 15% e

as vendas de automóveis de-

ram um salto de 40%.

Defensor da paz

O presidente John F. Ken-

nedy denunciou abertamente

as sociedades secretas que,

segundo ele, dominam e ma-

nipulam secretamente o go-

verno, ele mostra de forma

honrosa ser totalmente contra

essas sociedades e disse que

iria fazer o que pudesse para

proteger o povo americano.

Kennedy articula um acordo

com a União Soviética para

por a proliferação de armas

nucleares, o que desaceleraria

a corrida armamentista. Com

a Aliança para o Progresso e

as Peace Corps (força da paz),

Kennedy emprega o idealismo

americano na ajuda aos paí-

ses em desenvolvimento.

Sua luta por direitos civis,

pelo fim da corrida armamen-

tista e contra as sociedades

secretas, leva o Presidente a

entrar em conflito com pesso-

as do mais alto escalão do

Governo, empresários e go-

vernantes de outros países.

Quais podem ser as conse-

quências de atitudes tão ou-

sadas em períodos onde a paz

e a guerra estão separadas

por uma linha tão tênue?

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Fim de uma era no Vaticano: a traje-

tória de João XXIII junto ao papado _______________________________________

Nascido no dia 25 de No-

vembro de 1881, numa famí-

lia de camponeses, Angelo

Giuseppe nome de batismo

do Papa João XIII; foi o quar-

to de treze irmãos em Sottoil

Monte, diocese e província de

Bérgamo (Itália). O clima

religioso da família e a fervo-

rosa vida paroquial foram a

primeira escola de vida cristã,

que marcou a sua fisionomia

espiritual.Ingressou no Semi-

nário de Bérgamo, onde estu-

dou até ao segundo ano de

teologia. Ali começou a redi-

gir os seus escritos espiritu-

ais. No dia 1 de Março de

1896, o seu diretor espiritual

admitiu-o na ordem francis-

cana secular, cuja regra pro-

fessou em 23 de Maio de

1897.

Aprofundou-se no estudo

de três grandes pastores: São

Carlos Borromeu, São Fran-

cisco de Sales e o então Beato

Gregório Barbarigo. Em 1915,

quando a Itália entrou em

guerra, foi chamado como

sargento sanitário e nomeado

capelão militar dos soldados

feridos que regressavam da

linha de combate. No fim da

guerra abriu a "Casa do estu-

dante" e trabalhou na pasto-

ral dos jovens estudantes. Em

1921 teve início à segunda

parte da sua vida, foi chama-

do a Roma por Bento XV co-

mo presidente nacional do

Conselho das Obras Pontifí-

cias para a Propagação da Fé.

Em 1925, Pio XI nomeou-o

Visitador Apostólico para a

Bulgária e elevou-o à digni-

dade episcopal da Sede titular

de Areopolis.

Em 1944 Pio XII nomeou-

o Núncio Apostólico em Paris.

Depois da morte de Pio XII,

foi eleito Sumo Pontífice a 28

de Outubro de 1958 e assu-

miu o nome de João XXIII. O

seu pontificado, que durou

menos de cinco anos, apre-

sentou-o ao mundo como

uma autêntica imagem de

bom Pastor. O seu magistério

foi muito apreciado, sobretu-

do com as Encíclicas "Pacem

in terris" e "Mater et magis-

tra". Convocou o Sínodo ro-

mano, instituiu uma Comis-

são para a revisão do Código

de Direito Canónico e convo-

cou o Concílio Ecuménico

Vaticano II. O objetivo do

Concílio é discutir a ação da

Igreja nos tempos atuais, a

sua finalidade é "promover o

Geral __________________________

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37 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

incremento da fé católica e

uma saudável renovação dos

costumes do povo cristão, e

adaptar a disciplina eclesiás-

tica às condições do nosso

tempo" e do mundo moderno.

O Papa João XXIII "imagina-

va o Concílio como um novo

Pentecostes; uma grande ex-

periência espiritual que re-

constituiria a Igreja Católica"

não apenas como instituição,

mas sim "como um movimen-

to evangélico dinâmico.

Por esta razão, ao contrá-

rio dos concílios ecuménicos

anteriores, preocupados mais

em condenar heresias e em

definir verdades de fé e de

moral, o Concílio Vaticano II

"tem como orientação fun-

damental a procura de um

papel mais

Participativo para a fé ca-

tólica na sociedade, com a-

tenção para os problemas

sociais e econômicos". O pró-

prio Papa João XXIII teve o

cuidado de mencionar a dife-

rença e a especificidade deste

Concílio: "a Igreja sempre se

opôs a erros; muitas vezes até

os condenou com a maior

severidade. Agora, porém, a

esposa de Cristoprefere usar

mais o remédio da misericór-

dia do que o da severidade.

Julga satisfazer melhor às

necessidades de hoje mos-

trando a validez dasua dou-

trina do que renovando con-

denações".

O povo viu nele um reflexo

da bondade de Deus e cha-

mou-o "o Papa da bondade".

Sustentava-o um profundo

espírito de oração, e a sua

pessoa, iniciadora duma

grande renovação na Igreja.

Encerrou sua carreira na tar-

de do dia 3 de Junho de 1963,

quando faleceu deixando um

belo legado de tolerância e

misericórdia.

______________________________________________

O homem com dois corações

poderá tornar-se realidade Pierre DEVAUX – Exclusivo para a FOLHA

________________________________________________

PARIS, junho – O coração

humano, essa bomba pre-

mente cujo trabalho continua

sem parar durante dezenas de

anos – e cujo mínimo desfale-

cimento nos seria fatal – ain-

da não acabou de espantar

fisiólogos e engenheiros. O

coração não é apenas ―corre-

to‖ e automático, mas sabe

também compensar suas fa-

lhas pessoais; são numerosos

homens de hoje que vivem

efetivamente com um coração

defeituoso, miraculosamente

consertado por si mesmo.

Não se conhece muitos moto-

res de automóveis, ou ins-

trumentos de laboratório, que

fossem capazes de realizar

uma façanha dessas.

Extraído do corpo de um

animal recém-morto, o cora-

ção continua a pulsar, as ve-

zes durante horas se for colo-

cado em condições favoráveis.

Que significa esse fenôme-

no macabro? Simplesmente

que o coração dispõe de ga-

nhos de comando automático,

que se encarrega de armar as

contrações do tecido miocár-

dico. Evidentemente, é possí-

vel agir sobre esse sistema

nervoso local, que se acha

colocado estreitamente sob o

domínio da circulação coro-

nária (nas artérias externas

do coração) para comandar

artificialmente as pulsações.

Todo músculo vivo se contrai

quando é submetido a uma

excitação elétrica. Esse é o

fato básico, conhecido há 2

séculos, e sobre o qual se ba-

searam dois médicos do Hos-

pital Maimonides do Broo-

klyn, para ―construir‖ real-

mente um segundo coração

na aorta de um cão.

Bobinas

Para isso, retiram o dia-

fragma, isto é, a larga mem-

brana transversal respiratória

de um primeiro cão, com o

auxilio desse musculo, fabri-

cam uma espécie de luva, que

é colocada em redor da aorta

Page 39: Reveja 1963 -

(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 38

de um segundo cão. Dois ele-

trodos inoxidáveis e inipolari-

zaveis são implantados nesse

saco e ligados a uma pequena

bobina que permanece inclu-

sa – esse é o ponto caracterís-

tico do método – no interior

dos tecidos fechados e cicatri-

zados.

Sabe-se que a aorta é um

grande vaso contrátil, a prin-

cipal artéria de nosso corpo,

que recebe o oxigênio ao sair

do coração e contribui a

mandá-lo, por suas contra-

ções próprias, para as artérias

mais afastadas.

Suponhamos agora que se

lance uma brusca corrente

elétrica, não para a bobina

interior, já agora inacessível,

mas para uma segunda bobi-

na disposta paralelamente ao

exterior, sob a pele do animal.

O conjunto forma, apesar da

distancia relativa das duas

bobinas, um verdadeiro

―transformador‖: por outras

palavras, o estabelecimento

ou a interrupção da corrente

―primaria‖ realizada na bobi-

na exterior se traduzirá es-

pontaneamente na geração de

uma corrente ―secundaria‖ na

bobina interior.

O resto pode-se adivinhar:

essa corrente, ao chegar às

extremidades dos eletrodos,

vai provocar a contração do

saco artificial diafragmático,

exercendo uma pressão breve

e ritmada sobre a aorta, para

ajudá-la no seu trabalho de

refluxo... Uma pura maravi-

lha de eletrônica e de fisiolo-

gia.

Coração artificial “total”

Será tudo? Ainda não.

Ritmar as pulsações evi-

dentemente não é difícil; bas-

ta um regulador de laborató-

rio, ou mesmo um tubo de

descarga semelhante aos que

usam em alguns sinais lumi-

nosos. Mas é necessário, im-

perativamente, que esse ritmo

coincida com o ritmo cardíaco

natural do animal. Aqui ocor-

re um maravilhoso fenômeno

natural, inverso dos prece-

dentes: a geração de fracos

potenciais elétricos para um

coração normal, fenômeno

que serve de base, hoje, para

a tomada dos cardiogramas.

Em cada pulsação de nosso

coração (natural), a metade

de nossa pessoa se eletriza

positivamente, e a outra ne-

gativamente, passando a li-

nha de separação em obliquo

por nossa pessoa. Sem duvida

esse efeito elétrico é mínimo,

mas hoje se sabe ampliá-lo

consideravelmente, com o

auxilio de tubos eletrônicos

tendo em vista obter grava-

ções reveladoras do funcio-

namento de nosso musculo

cardíaco.

Concebe-se que essas fra-

cas eletrizações produzidas

pela pulsação autentica do

coração possam, graças a um

pequeno aparelhamento exte-

rior, comandar eletronica-

mente a bobina n.⁰ 1; está

reagirá, por sua vez, sobre o

coração n.⁰ 2, a fim de provo-

car a preciosa contração auxi-

liar no momento preciso em

que o organismo dela tiver

necessidade. O funcionamen-

to do ―coração supranumerá-

rio‖ será assegurado, assim,

nas melhores condições fisio-

lógicas possíveis... enquanto,

evidentemente, não houver

desarranjo no aparelho.

Poderemos ir ainda mais

longe? É difícil dizê-lo neste

momento. O que os cirurgiões

nova-yorkinos fizeram foi

suprimir a perigosa passagem

de condutores através da pele

e da carne: sob nenhum pre-

texto se deve perfurar a deli-

cada ―barreira asséptica‖ ao

longo da qual tumores e gló-

bulos brancos montam guar-

da contra os micróbios, em

redor de nosso corpo.

Os progressos dos plásti-

cos, aliás, possibilitaram múl-

tiplas aplicações cirúrgicas

com inclusão de corpos estra-

nhos, bem toleradas pelos

tecidos. Sem duvida a cons-

trução de um coração artifici-

al completo de plástico, hoje,

ainda é inadmissível: parece

porem, que estamos cami-

nhando para uma espécie de

―cooperação‖ cada vez mais

estreita entre a natureza e o

―artificial‖ no domínio do

coração.

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39 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

_____________________________________________________

Novos estudos sobre o câncer

Prof. Walter C. ALVAREZ – Da Clinica Mayo

______________________________________________________

Informações divulgadas

pelo instituto Sloan-Kettering

de Nova York, revelam-nos

fatos interessantes sobre o

câncer. Como era esperado,

os ratos, ao envelhecer, per-

dem sua resistência ao câncer

transplantado. Por outro la-

do, a incidência de tumores

malignos espontâneos nos

ratos idosos também aumenta

de maneira acentuada.

O mesmo fenômeno é ob-

servado no homem, no qual o

câncer de certo tipo jamais

aparece antes dos 40 anos de

idade. Como digo frequente-

mente, as pessoas idosas de-

vem ser examinadas anual-

mente, a fim de que o medico

verifique com segurança se

não há algum tumor cancero-

so se desenvolvendo em al-

guma parte do seu corpo.

Atualmente os pesquisado-

res dispõem de numerosas

drogas denominadas carcino-

genias – isto é, substancias

químicas que, se forem fric-

cionadas repetidamente sobre

a pele ou injetar no corpo de

um animal, poderão produzir

câncer. Recentemente, desco-

briu-se que os carcinogénios

podem modificar os cromos-

somos das células. Os cro-

mossomos anormais podem

produzir células anormais, e

estas podem provocar um

câncer.

Por outro lado, confirmou-

se a antiga teoria de que os

vírus, embora, por si sós, não

produzam câncer, poderão

acelerar o aparecimento de

tumores malignos em animais

que tenham tomado um car-

cinogénio. As pesquisas reali-

zadas com vírus e carcinogé-

nios poderão explicar nume-

rosos enigmas relacionados

com o desenvolvimento do

câncer. Além disso, enche-nos

de esperança a descoberta de

substancias que são capazes

de retardar ou deter o desen-

volvimento de células can-

cerosas em culturas de teci-

dos.

____________________

Matéria-prima para in-

dústria farmacêutica

__________________

O Sr. Carlos Veiga Soares,

vice-presidente da Associa-

ção Brasileira da Indústria

Farmacêutica. Informou on-

tem que será realizada no

Rio, entre 23 e 25 de agosto

próximo, a I Reunião Setorial

da Indústria Química Farma-

cêutica da Associação Latino-

americana de Livre Comércio

— ALALC — paralelamente à

II Conferência Interamerica-

na da espécie. Salientou que

dos conclaves deverão parti-

cipar cerca de 600 represen-

tantes de Indústrias do ramo,

nacionais, dos países inte-

grantes da ALALC, e de al-

guns outros interessados na

instalação de fábricas de ma-

térias primas na América

Latina. Explicou que o Brasil,

apesar de possuir posição de

liderança na Indústria farma-

cêutica do continente, muito

lucrará com a realização da

Conferência e da Reunião

Setorial e, ainda mais, com a

instalação das fábricas de

matéria-prima, pois está im-

portando, anualmente, cerca

de 30 milhões de dólares da-

queles produtos.

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______________________________________________________

O futuro da escrita: o advento das

máquinas de escrever elétricas ______________________________________________________

Atingindo a todas as ex-

pectativas, a fabricante italia-

na de máquinas de escrever

Olivetti,fundada em 1908, na

cidadade de Ivrea, na

província de Turim, região do

Piemonte, conquistou a admi-

ração do público brasileiro, e

lança esse ano seu mais novo

modelo que promete ser o

novo xodó de jornalistas; es-

tudantes; ou simplesmente

daqueles que apreciam a

arte de elaborar diversos tex-

tos por meio da datilografia.

Com design arrojado a Oli-

vetti LETTERA 32 vem ofere-

cer, assim como toda Olivetti,

uma boa mecânica para o

instrumento fazendo com que

falhas ou dificuldade no ma-

nuseio sejam as menores pos-

síveis. Contudo, sua maior

particularidade que virá de

certo agradar é o capricho no

fator portabilidade e estética

com um novo modelo de esto-

jo para seu transporte e um

acabamento bem mais elabo-

rado que modelos anteriores.

Porém, não se pode negar que

de fato a tão esperada novi-

dade italiana, para esse ano

de 1963, trata-se apenas de

uma versão parecidíssima de

sua antecessora Olivetti LET-

TERA 22, lançada em

1949pelo mesmo Designer

Marcello Nizzoli. O sucesso

do modelo de 1949 foi inegá-

vel, seu nível de popularidade

e aceitação atingiu a todas as

expectativas de vendas plane-

jadas pela empresa, contudo,

esse ano, oferecendo, de certa

forma, mais do mesmo a Oli-

vetti terá que contar com a

paixão do consumidor por

esse modelo e linha de má-

quinas de escrever para man-

ter seu ápice, já que não apre-

senta grandes inovações.

Entretanto, será que não

se pode acreditar que a falta

de mudanças no modelo não

significa que a empresa tem

trabalhado e se dedicado a

atingir uma nova tecnologia?

Os mais otimistas dizem que

sim!

Acontece meu caro leitor,

que no dia 7 de maio de 1957,

a indústria apresentou na

Feira de Equipamentos de

Escritório, em Hannover, a

primeira máquina de escrever

elétrica. E depois disso, todos

os fabricantes tem se

empenhado para alcançar

essa inovação que promete

facilitar enormemente o

trabalho dos datilógrafos. E

nós do Vida Moderna

apresentamos um pouco do

que se espera dessa inovação

em primeira mão a você!

Quem por prazer ou por

necessidade passa horas e

horas datilografando em mo-

delos mecânicos de máquinas

de escrever, certamente sente

o quanto é exaustivo fazê-lo e

quão grande é o desgaste físi-

co empenhado. Em duas ho-

ras, certamente um iniciante

em datilografia sentirá certo

desconforto e incômodo nos

braços e aos mais acostuma-

dos com o manuseio também

sobram queixas pelo uso pro-

longado. Até mesmo os mo-

delos mais recentes de má-

quinas exigem esforço para

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43 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

bater nas teclas,mudar de

minúsculas para maiúsculas e

recuar o carro. A boa notícia é

que no modelo elétricotodas

essas funções passarão a ser

executadas por um simples

toque de tecla! Datilografar se

tornará mais suave, com

toques expressivamente mais

leves escrever por horas será

menos cansativo. Estudos

realizados comprovam que a

força empregada no uso de

uma máquina de escrever

elétrica corresponde a apenas

1,4% do esforço feito numa

máquina mecânica. Com a

levesa para digitar, a

velocidade também é um

fator favorável à nova

máquina, prometendo dobrar

em até 50% a produção dos

datilógrafos, lhes

economizando tempo e

energia. Além disso, o novo

equipamento é bem mais

silencioso, proporcionando

menos incômodo e mais

privacidade também, afinal,

ninguém precisa saber

quando se está escrevendo

algo.

Toda essa facilidade e

avanço tecnológico, porém,

ainda demorará a estar

presente em modelos de

máquinas de escrever de valor

mais acessível para boa parte

da população. E ter em casa a

novidade parece ainda algo

distante, mas entendamos

que um longo caminho foi

percorrido desde a primeira

máquina de escrever

mecânica até esta que vos

apresento. Cada avanço foi

crucial para que se atingisse o

sucesso e a popularidade da

máquina de escrever, e com o

empenho das empresas para

perpetuar tal popularidade de

acordo com a tecnologia, logo

a paixão de datilograr será

alimentada por esses novos

modelos elétricos.

E pra você, que

acompanha o Vida Moderna

e tem grande interesse por

tecnologia e seu avanço,

apresentaremos na próxima

edição a história completa da

máquina de escrever desde

sua criação,com altos e

baixos, até chegar a

popularização atual. Não

perca! E esteja por dentro da

Vida Moderna.

______________________________________________________________

Brasil no trono da beleza mundial ______________________________________________________________

O título mais cobiçado do

mundo foi conquistado pela

linda gaúcha, Ieda Maria Var-

gas, eleita Miss Universo em

Miami Beach, Flórida, Esta-

dos Unidos. Leda é a primeira

brasileira a se tornar Miss

Universo, derrotando 49 mis-

ses de outros países. Miss

Dinamarca, Miss Filipinas,

Miss Alemanha, Miss Irlanda

estavam entre as favoritas,

porém, Ieda com seus lindos

olhos negros e um belo sorri-

so cativou um dos jurados, o

ator britânico Peter Sellers,

que acabou lhe dando nota

máxima em suas três

sentações, garantindo assim,

a vitória. Recebeu a coroa e a

faixa das mãos da Miss Uni-

verso 1962, a argentina Nor-

ma Nolan. Após a coroação, a

rainha da beleza declara:

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(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 44

―Só posso dizer que me

sinto muito feliz...‖

Após o concurso, no baile

de coroação, Ieda fez sua

primeira dança em público,

com o ator Dana Andrews.

Segundo ela foi uma honra ter

como acompanhante um ator

tão venerado. Contudo, a co-

municação entre ambos foi

complicada, já que Leda não

fala o idioma do ator ameri-

cano e ele não compreende o

português. Vale lembrar, que

no baile foram tocados os

ritmos mambo, samba e rum-

ba.

Ieda Maria Vargas nasceu

na capital gaúcha e conquis-

tou vários títulos. Aos 17 anos

e com 1,70 m de altura, 90 cm

de busto, 60 cm de cintura e

90 cm de quadril, conquistou

o título de Rainha das Pisci-

nas do Rio Grande do Sul.

Depois, vieram os títulos de

Miss Porto Alegre, Miss Rio

Grande do Sul e Miss Brasil.

E agora, com apenas 18 anos,

foi eleita Miss Universo. Leda

desfilou por Brasília, Rio de

Janeiro e pela sua cidade na-

tal, Porto alegre, onde foi re-

cepcionada por milhares de

pessoas, que assistiram, emo-

cionados, sua vitória. Sellers

ficou tão encantado com a

beleza incontestável de Ieda,

que convidou a gaúcha para

estrelar seu próximo filme, A

Pantera Cor de Rosa mo en-

tanto, a nossa linda Miss re-

cusou, pois deseja, após seu

mandato, voltar ao Brasil,

casar e ter filhos. De fato, é

um orgulho para todos os

brasileiros ter Ieda Maria

Vargas como a rainha da be-

leza mundial, a primeira bra-

sileira a conquistar, com sua

simpatia e beleza indiscutível,

o Miss Universo.

Norma Nolan, Miss Universo 1962, Ieda Vargas e o host Gene

Rayburn.

Ieda sendo coroada pela Miss Universo 1962, a argentina Nor-

ma Nolan.

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Dicas de nome para dar

para seu cachorro __________________________________

Sem ideias para dar um nome em seu bichinho de estimação? Não se preocupe A

Reveja separou uns nomes de cães famoso de Ficção para de dar uma ajuda.

Lassie

Símbolo de lealdade, cora-

gem e graça , Lassie é o nome

da cadela mais famosa da

ficção. Criada pelo autor An-

glo-Saxão Eric Knight , em

1938, no romance Lassie co-

me-home (A força do cora-

ção), conta a história de uma

cadela da raça Rough Collie,

que vivia com seu dono Joe

Carraclough, na cidade ingle-

sa de Greenall Bridge,devido

problemas financeiros foi

vendida pelo pai do menino.

Então Lassie vive uma aven-

tura, fugindo de caçadores e

outros perigos para voltar à

sua verdadeira e antiga casa.

Teve sua primeira adaptação

para o cinema em 1943. Até

hoje foram feitas sete filmes

da cadela alem de série de TV

―Lassie‖ que foi ao ar pela

CBS, e que encerrou a nona

temporada. E nesse mês es-

tréia nos Estados Unidos

mais uma versão com o titulo

de ―Lassie's Great Adventu-

re‖. Que é uma adaptação da

novela para cinema. O episo-

dio ―A jornada‖ , que é divido

em 5 partes, tornou se esse

novo filme produzido pela

Twentieth Century Fox.

Pluto

Cão da raça bloodhound

criado pela Disney em 1930.

Quando foi criado seu era

para se chamar Rover, mas

foi substituído para por Pluto,

inspirado na recém-

descoberta de Plutão na dé-

cada de 30 possivelmente.

Pluto é o cachorro atrapalha-

do e amigo do Mickey Mouse.

Bidu

Um recente personagem

brasileiro , Bidu é um cachor-

ro da raça Schnauzer, criado

por Mauricio de Souza. Teve o

lançamento sua revista em

quadrinhos em 1960 pela

editora Continental.

__________________________ Guias

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Cleópatra:

um filme grandioso __________________________________

Atrasos nas filmagens, do-

ença da atriz principal, subs-

tituição de elenco, casos amo-

rosos entre protagonistas e,

claro, uma produção grandio-

sa e espetacular que quase

levou a 20th Century Fox à

falência. Este filme está sendo

considerada a produção mais

cara e conturbada do Cinema.

Contando a saga da famosa

rainha egípcia, podemos a-

companhar no filme, Cleópa-

tra (Elizabeth Taylor) desde o

momento em que conhece

Júlio César em seu palácio em

Alexandria, onde pede ajuda

ao ditador romano pra voltar

ao poder. César a ajuda e os

dois iniciam um relaciona-

mento que resultaria em um

filho, Cesário. Cleópatra exige

que seu filho seja nomeado

herdeiro, mas antes que César

possa tomar sua decisão, é

morto no senado romano. Em

seguida, Cleópatra pede ajuda

a Marco Antônio, com quem

igualmente começa uma rela-

ção. A paixão de Antônio por

Cleópatra desperta a fúria de

Roma e de Otávio, um dos

herdeiros de César, que decla-

ra guerra ao ex-general e a-

mante da rainha.

Mesmo que boa parte do

público que assiste Cleópatra

conheça a história da rainha e

sua relação com Roma, saber

como o filme termina não é

empecilho algum para que se

possa apreciar essa grande

obra em toda sua magnitude.

Cleópatra é um espetáculo

inigualável, esplendoroso e

deslumbrante. É uma trama

épica e grandiosa que mistura

intriga, poder, paixão e aven-

tura com habilidade e coerên-

cia. E, acima de tudo, é um

marco do Cinema, uma obra

obrigatória para os cinéfilos e

imprescindível para se conhe-

cer a Sétima Arte.

Dirigido por Joseph L.

Mankiewicz, Cleópatra foi o

filme que quase levou um dos

maiores estúdios de Hollywo-

od a fechar suas portas, ta-

manha foi a sua produção.

Mas ninguém pode dizer que

os 44 milhões de dólares gas-

tos no filme foram mal apro-

veitados. Os cenários são

magníficos, cada locação é

inegavelmente espetacular,

dando a exata noção do luxo

em que a rainha vivia. Além

disso, é embasbacante perce-

ber que os cenários, que pou-

cas vezes se repetem, são to-

dos igualmente fantásticos e

completamente diferentes

uns dos outros. Conta a His-

tória que, para atingir seus

objetivos, Cleópatra procura-

va impressionar seus visitan-

tes e adversários com espetá-

culos grandiosos, mostrando

toda a riqueza de sua nação,

mesmo quando passando por

dificuldades, algo que pode

ser visto no próprio filme, na

belíssima cena da chegada da

rainha a Roma. Mankiewicz

parece utilizar o mesmo arti-

fício.

Além disso, o roteiro, es-

crito pelo próprio diretor em

colaboração com Ben Hecht e

RanaldMacDougall, consegue

ser bastante fiel aos eventos,

trazendo às telas com grande

precisão tudo aquilo que ima-

ginamos (ou ao menos se con-

ta) ter acontecido naquele

período. Ao mesmo tempo, a

construção dos personagens é

muito bem feita, graças, prin-

cipalmente, aos belíssimos e

inteligentes diálogos criados

pelos roteiristas (―Se ela não

fosse uma mulher, seria con-

Artes & Entretenimento __________________________

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(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 50

siderada uma intelectual‖, diz

certo personagem a respeito

da rainha) e as ótimas inter-

pretações de todo o elenco.

Elizabeth Taylor parece ter

nascido para interpretar Cle-

ópatra. A estrela jamais en-

carnou tão bem um persona-

gem, transformando a rainha

em uma mulher linda, inteli-

gente e astuciosa, capaz de

fazer o que for preciso para

ter seus objetivos alcançados.

Enquanto isso, Rex Harrison

e Richard Burton (com quem

Liz iniciou um relacionamen-

to tumultuado durante as

filmagens), interpretando

Júlio César e Marco Antônio,

respectivamente, estão i-

gualmente ótimos nos papéis,

transmitindo com eficiência a

dualidade entre ser um gene-

ral temido e um amante sub-

misso aos desejos da rainha.

A curiosidade fica por conta

de ver um jovem Martin Lan-

dau no papel de Rufio e Hu-

me Cronyn como Apolodorus,

conselheiro da rainha.

De qualquer maneira, é di-

fícil um filme com mais de

quatro horas de duração não

se tornar cansativo em alguns

momentos. Claro que a histó-

ria da rainha não pode ser

contada em uma produção de

menos de duas horas, mas o

filme não consegue manter o

mesmo ritmo durante toda a

produção, principalmente

enquanto nos aproximamos

de seu final. Além disso, devi-

do ao grande número de per-

sonagens, certos detalhes

acabam sendo tratados ape-

nas superficialmente, cau-

sando certa estranheza em

algumas partes do filme. Por

exemplo, a relação entre Cle-

ópatra e seu filho poderia ser

mais explorada, pois traria

uma maior dramaticidade à

resolução da tra-

ma.Visualmente estarrecedor

e com uma narrativa exem-

plar, Cleópatra merece, indu-

bitavelmente, um lugar de

destaque na galeria dos gran-

des clássicos do cinema mun-

dial.

__________________________________

Um pouco da vida de

Elizabeth Taylor ______________________________

Filha dos americanos

Francis Leen Taylor e Sara

Viola Rosemond Warmbrodt,

mudaram-se para os Estados

Unidos em 1939. Começou a

carreira cinematográfica ain-

da criança, quando foi desco-

berta aos dez anos. Contrata-

da pela Universal Pictures.

Filmou There'sOne Born E-

very Minute, mas não teve o

contrato renovado. Revelou

talento participando de filmes

infanto-juvenis, como na es-

tréia em 1943 num pequeno

papel da série Lassie. A partir

de então, apaixonou-se pela

profissão e permanecer no

estúdio tornou-se o maior

sonho.

Evoluindo como atriz ta-

lentosa e respeitada pela crí-

tica, nos anos 50 filmaria

dramas, como Um lugar ao

Sol, com o ator Montgomery

Clift; Assim Caminha a Hu-

manidade, com Rock Hudson,

ambos atores homossexuais e

dos quais se tornou grande

amiga. Nessa década faria

ainda A Última Vez Que Vi

Paris, ao lado de Van Johnson

e Donna Reed.

Liz, como está mais conhe-

cida, está sendo reverenciada

como uma das mulheres mais

bonitas de todos os tempos; a

marca registrada são os tra-

ços delicados de seu rosto e

seus olhos de cor azul-violeta,

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51 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja

uma cor rara, emoldura por

sobrancelhas desenhadas e

espessas, de cor negra. É uma

celebridade cercada por in-

tenso glamour, cercada do

carinho de fãs e muito luxo.

Seu talento e beleza impres-

sionam qualquer pessoa, do

mundo da mídia ou de fora

dele.

Elizabeth é uma compulsi-

va colecionadora de jóias, é

muito vaidosa, adorava o bri-

lho de brincos, colares, anéis

e pulseiras, além de amar

maquiagens, sapatos de grife,

bolsas da moda e vestidos

caros, mas mesmo sem tudo

isso, em trajes simples e sem

pintura, ainda assim é consi-

derada de uma beleza muito

rara. Os críticos da moda con-

sideravam sua simetria de

rosto e corpo ideais, os dois se

encaixavam perfeitamente, e

chamavam atenção de qual-

quer pessoa por onde ande,

seus olhos, então, ainda mais.

Foi vencedora do Óscar da

Academia para Melhor Atriz

em 1960 pelo papel da call-

girl de Disque Butterfield8

(pt: O Número do Amor).

Com o reconhecimento do

prêmio máximo do cinema

mundial, consagrou-se como

a mais bem paga atriz do

mundo.

Seu primeiro casamento

foi com Conrad Nicholson

Hilton em 1950, mas durou

apenas 1 ano. Dessa relação

concebeu Catherine Taylor.

Michael Wilding, foi seu se-

gundo marido, com quem foi

casada de 1952 a 1957, teve

dois filhos: Michael Howard

Taylor Wilding, nascido

em1953 e Christopher

ward Taylor Wilding, nascido

em 1955.

Com Michael Todd, seu

terceiro marido, ficou casada

por 1 ano e teve uma filha em

1957, chamada Eliza Frances

Todd, mas conhecida como

Liza. Elizabeth Taylor ficou

viúva em 1958, tendo de criar

a filha sozinha, o que a fez

sofrer pela perda de seu com-

panheiro. Em 1959 se casou

com o melhor amigo de seu

marido, Eddie Fisher, com

quem está vivendo atualmen-

te. Porém, sabemos que sua

relação anda em risco, devido

seu envolvimento com Ri-

chard Burton com quem con-

tracenou no filme recém-

lançado, Cleópatra.

________________________________

Jimi Hendrix:

o garoto promete ______________________________

Um jovem guitarrista re-

cém saído do exército vem

provocando arrepios até

mesmo em músicos

americanos experi-

entes. O estilo ino-

vador de combinar

fuzz, feedback e

formas controladas

de distorções vem

criando uma nova

tendência musical

na cena americana.

Com apenas 21 anos

Jimi Hendrix, este é

o nome da fera,

promete uma mete-

órica carreira pelo

seu estilo peculiar

de tocar. Canhoto e de dedos

compridos, autodidata e con-

fesso incapaz de ler música,

porém com um talento fora

do comum para reproduzir o

que ouve. Seu pai James Al

diz que quando criança

Jimi sentava-se no

canto da cama e dedi-

lhava uma vassoura

como se estivesse to-

cando uma guitarra, foi

quando tomou conhe-

cimento do talento do

filho. Al resolveu então

presentear o garoto

com um velho ukulele

de uma única corda, o

que fez com que o me-

nino melhorasse a sua

performance. No verão

de 1958, Jimi comprou

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um violão de segunda mão

por cinco dólares e entrou

para a sua primeira banda, Os

Velvetones. Depois de uma

temporada de três meses com

o grupo Jimi saiu para perse-

guir seus próprios interesses.

Al, portanto, compra a pri-

meira guitarra para o filho,

uma Supro Ozark 1560S, na

qual, Jimi usou para tocar em

seu novo grupo, O Balanço

dos Reis. Em 1961, Jimi alis-

tou-se no Exército, e enquan-

to a sua divisão estava esta-

cionada em Fort Campbell

formou Os Casuals Rei com o

baixista Bily Cox. No ano pas-

sado conseguiu dispensa de-

vido uma lesão por salto de

pára-quedas e vem traba-

lhando até então como guitar-

rista free-lance e sendo cogi-

tado para a banda de Little

Richard. Quando questionado

sobre esta possibilidade, Jimi

afirma que seria uma ótima

oportunidade e que gostaria

de fazer com a sua guitarra o

que Richard faz com sua voz.

Jimi já utilizou alguns mode-

los de guitarras em suas per-

formances, incluindo uma

Guibson Flying V, mas adotou

mesmo a Fender Stratocaster

ou Strat como ele prefere.

Alguns músicos renomados

dizem que o braço da Strat

adotada por Jimi, de fácil

ação, foi também perfeito

para o estilo envolvente de

Mr. Hendrix. A mão grande o

permite que faça as partes

rítmicas e solos ao mesmo

tempo, sem contar que o gui-

tarrista consegue apertar to-

das as cordas na mesma casa

com o polegar, mudando as-

sim toda a afinação do ins-

trumento de uma forma dife-

rente e rejeitada pelos profes-

sores de instrumentos de cor-

da. Vamos aguardar para os

próximos meses o estilo que

este jovem guitarrista negro

americano vem criando.

Léo Fender inova mais uma vez

O fabricante de guitarras Léo Fender inova

com a recém lançada Stratocaster modelo

1963. Há uma gama de características muito

distintas que fazem a série de guitarras única.

Em primeiro lugar, o magnífico som deste ins-

trumento vem através de um trio de captado-

res Fender construído exclusivamente para

esta linha de guitarras, possui inversão de po-

laridade para minimizar os ruídos, todos dis-

põem de ímãs de Alnico, bobinas enroladas

com fios esmaltados e saídas de 6.0kOhm. Os

captadores trabalham juntos para criar um

tom suave e sofisticado. Esses caps de saída

mais baixas têm uma resposta mais plana resultando em um tom equilibrado, com brilho fantástico, de-

talhes e clareza. Em segundo lugar o corpo da Fender 1963 foi redesenhado e refeito para a série Ameri-

cana. Por último e não menos importante podemos destacar o novo Tremolo Sincronizador de design

original, com selas de aço dobradas para preservar os timbres. Um moderno seletor de 5-way oferece

fácil acesso a toda a gama de tons clássicos, enquanto os tuners deslizam sem oscilações, proporcionando

suavidade e clareza de tonalidades a sua nova guitarra.

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Mística Feminina _______________________________

O livro ―Mística Feminina‖

de Betty Friedan, publicado

em 1963, descreve a revolta

das mulheres americanas, a

mulher se vê no papel de do-

méstica e ―escrava‖, aquela

que fica o dia todo dentro de

casa cuidando das roupas do

marido, dos filhos e cozi-

nhando.

A sociedade cobra muito

seu papel em ―servir‖, en-

quanto o marido trabalha

noite a fora ou por tempo

integral, ficando assim, ela

com seus afazeres domésticos

de cada dia. E no final de seu

expediente teme a si mesma

se perguntando com bastante

angustia, ―É só isso?‖.

Friedan conversou com cen-

tenas de mulheres america-

nas nos anos 1950, e pergun-

tou-lhes se são felizes com a

vida em que leva. A autora

chegou à conclusão que não,

não são felizes, sempre falta

alguma coisa em suas vidas,

que só aquela vida em que

vivem não basta.

Que mulher nunca se irri-

tou uma vez se quer com as

restrições sexuais? 'Você não

pode brincar de carrinho!' ou

'O rosa ficaria melhor em

você', ou mesmo o pensamen-

to de que as mulheres são

incapazes de pensar racio-

nalmente, que o seu papel é

sentir.

Mística Feminina foi escri-

to como um grito de liberta-

ção, tornando-se um best-

seller. A autora expressa sua

insatisfação frente a uma cor-

rente de pensamento que re-

duz a mulher somente a seu

papel biológico e matrimoni-

al, tirando delas a chance de

ter todo o seu potencial ex-

plorado, tirando toda a sua

liberdade.

No geral, esse livro retrata

como é a mulher ao longo do

século XX.

Betty Friedan

Betty Naomi Goldstein,

mais conhecida como Betty

Friedan, nasceu dia 4 de feve-

reiro em Peoria, Illinois( EU-

A). É co-fundadora da Orga-

nização Nacional das Mulhe-

res. Friedan luta pe-

los direitos das mulheres, é

considerada umas das femi-

nistas mais influentes do sé-

culo XX.

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A pizza nossa de cada dia _________________________________________________

Em nossa coluna de hoje

trataremos da Pizza nossa de

cada dia, afinal o que seria de

muitos de nós sem ela.

Aqui no Brasil, esta iguaria

chegou por meio dos imigran-

tes italianos, e, hoje, pode ser

encontrada facilmente na

maioria das cidades brasilei-

ras. Até os anos 1950, era

muito mais comum ser en-

contrada em meio

à colônia italiana, tornando-

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se, logo em seguida, parte da

cultura brasileira.

Foi no Brás, bair-

ro paulistano dos imigrantes

italianos, que as primeiras

pizzas' começaram a ser co-

mercializadas no Brasil. Se-

gundo consta no li-

vro Retalhos da Velha São

Paulo, escrito por Geraldo

Sesso Jr., o napolitano Car-

mino Corvino, o dom Carme-

nielo, dono da já extinta Can-

tina Santa Genoveva, instala-

da na esquina da Avenida

Rangel Pestana com a Rua

Monsenhor Anacleto, inaugu-

rada em 1910, passou a ofere-

cer as primeiras pizzas da

cidade.

Aos poucos, a pizza foi se

disseminando pela cidade de

São Paulo, sendo abertas no-

vas cantinas. As pizzas foram

ganhando coberturas cada vez

mais diversificadas e até

mesmo criativas. No princí-

pio, seguindo a tradição itali-

ana, as

de muçarela e anchova eram

as mais presentes, mas, à me-

dida que hortaliças e embuti-

dos tornavam-se mais acessí-

veis no país, a criatividade

dos brasileiros fez surgir as

mais diversas pizzas.

Com o aumento do núme-

ro de cantinas e pizzarias Ita-

lianas na Grande São Paulo,

torna-se ainda mais presente

na mesa dos paulistas a ―Pizza

nossa de cada dia‖.

Pizza de calabresa com

mussarela:

Tipo de prato:

Prato principal.

Preparo: Médio (de 30 a 45

minutos).

Rendimento: 6 porções.

Dificuldade: Fácil.

Categoria: Pizza.

Ingredientes:

.1 disco de massa básica pré-

assado

.2 linguiças tipo calabresa

defumada cortada em rodelas

.4 tomates em rodelas

.150 g de mussarela

.3 colheres (sopa) de molho

de tomate

.Fatias de cebola, azeitona e

orégano a gosto.

Modo de preparo:

Afervente a linguiça em

água e reserve. Espalhe sobre

a massa pré-assada o molho

de tomate. Em uma metade

da massa ponha metade da

mussarela, a lingüiça, a cebo-

la e a azeitona. Faça a outra

metade apenas com o restan-

te da mussarela e ponha as

fatias de tomate. Polvilhe com

orégano e leve ao forno até o

queijo derreter.

Dica: Regue a pizza com a-

zeite antes de levá-la ao forno

com o recheio.

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