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  • A cidade

    W a l t e r R o s s a

    ESCREVER SOBRE cidade, COM ALGUM PROVEITO, no nmero de uma revista essencialmente orientado para o Brasil deveria traduzir-se num exerccio sobre o devir, ou melhor, num contributo para os contnuos debates e aces que no presente constroem o futuro. Como na maior parte do Novo Mundo, trata-se de um pas de limite e matriz territorial h muito definidas, onde a abundncia de espao e de potencial natural quase s encontra paralelo na pujana do desenvolvimento da rede urbana e no desigual (ou desequilibrado) crescimento das suas cidades. Enfim, para uma sensibilidade fundamentalmente urbanstica e territorial, o mais forte da imagem de sntese do Brasil aquilo que ilusoriamente possa profetizar o futuro.

    Mas no presente contexto - uma revista e um autor portugueses - a imagem que a isso corresponde tem forosamente muito vivas as velaturas e fundos da Histria menos recente. No entanto, como para alm de uma evidncia tambm um lugar comum o facto de ser com materiais da histria que se constri o amanh, so dispensveis quaisquer outras consideraes sobre a importncia que o conhecimento do passado tem para a construo sustentada do futuro. Mais do que um quesito de cultura e de identidade, um problema de fundamento e equilbrio, ou melhor, de ecologia do ser. Desde logo assim fica simultaneamente declarada a mais redutora tendncia deste texto, mas tambm o potencial de operacionalidade da temtica que aqui apenas se prope indiciar.

    Por outro lado, escrever em geral sobre cidade ser sempre uma tarefa enciclopdica e por isso cada vez mais impossvel, pois todos os domnios do saber e da cultura se cruzam nesse genuno vrtice de civilizao. Porque a imagem cada vez mais parte importante da comunicao e tambm pela natureza da encomenda deste texto, da cidade interessa-nos aqui essencialmente o seu espao, ou seja, o seu

  • Rua de Olinda, 1996. Fotografia de Walter Rossa.

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    urbanismo. De uma forma necessariamente simples, podemos dizer ser ele a estncia de materiais com os quais cada um de ns constri as suas imagens de cidade, ou seja, o suporte fsico sobre o qual se desenrola e com o qual continuamente interage a nossa relao com a comunidade.

    A percepo, conduta e vivncia urbanas de cada um de ns muito variada, o que no s afecta substancialmente o relacionamento com o habitat, mas tambm com os demais convivas da nossa existncia. Da mais simples galeria de imagens mentais (que todas o so) composta por cones urbanos e pontos de referncia do dia-a-dia, aos esquemas abstraticizados numa planta de memria, cada um de ns tem uma forma especfica de ver e de assim se relacionar com o espao urbano.

    Para a quase generalidade das pessoas na arquitectura, no tratamento do espao pblico e, em parte, no territrio (con)vertido em paisagem, que se recolhem os elementos que integram as imagens mentais (conscientes ou no) da cidade. Nelas, alis, nunca deixa de ser fun-

    damental o uso e outras experincias sensoriais para alm das visuais, ou seja, a mais completa vivncia do quotidiano. Tambm para os especialistas e profissionais das questes do espao urbano, a arquitectura, o espao pblico e o territrio da cidade so fundamentais, pois com eles que se desenha e concretiza a forma urbana, conceito que diz respeito matriz depois redutoramente registada em desenho de projeco ortogonal, as plantas ou levantamentos.

    Ambos os domnios, o da imagem e o da forma urbanas, constituem-se assim como as principais plataformas de abordagem e anlise realidade urbanstica de qualquer cidade. Porm, a resistncia transformao e perda de memria muito menor na arquitectura e, ainda mais, no tratamento do espao pblico, do que na forma ou traado urbanos. E assim que em muitas cidades contemporneas onde hoje no existem exemplares arquitectnicos do que ter sido a imagem global do conjunto em tempos mais recuados, a matriz urbana fundacional persiste em conservar o seu papel regulador do espao. Mantm-no quer dentro dos limites iniciais, quer pela inevitvel determinao dos seus eixos de crescimento ou pela interpretao do territrio que as lgicas de implantao, estruturao e fraccionamento prprios registaram.

    Quando a este propsito se fala de arquitectura, importante fazer notar a sua enorme abrangncia. Por razes bvias tendemos a associar ao termo os conjuntos edificados com especial destaque, seja ele devido qualidade artstica, a uma caracterstica algo inslita ou respectiva importncia comunitria e/ou urbanstica. Mas no que diz respeito apenas arquitectura, a cidade no s feita com edifcios de referncia. Pelo contrrio, so as construes annimas e, na maior parte das vezes, algo repetitivas da mole urbana e a forma como cada urna delas se relaciona com a envolvente - o j referido tratamento do espao pblico ou, em lin-

  • guagem prpria, o desenho urbano ou a ausncia dele - que lhe conferem os principais traos do seu carcter plstico, espacial e pictrico.

    Qualquer acareao da actualidade com as representaes antigas de um determinado espao urbano comprova como as mais ligeiras alteraes nesses (aparentemente insignificantes) domnios implicou importantes alteraes na imagem global, sem que sejam to frequentes e profundas as alteraes da forma urbana. Enfim, se a imagem da cidade directamente afectada pela algo voltil materialidade da sua aparncia imediata, j o mesmo no sucede com o seu traado e relao com o territrio.

    Esta sumria evocao de alguns dos aspectos de uma rea disciplinar - o urbanismo -que a generalidade dos cidados considera distante e feudo de iniciados, tem importncia para a compreenso cabal da temtica que aqui se pretende aflorar. Com efeito, se nos centros (ditos) histricos de muitos dos principais plos urbanos brasileiros e em muitas outras cidades paradas no tempo imediata a semelhana daquilo que ali se v com o que se pode ver em muitos outros ncleos urbanos do antigo Imprio Portugus, o que cada vez mais interessa ir constatando o facto de, em muitos locais onde essa imagem desapareceu sem ter sido reposta, a matriz urbana ser ainda a original.

    Casos como Ouro Preto ou Olinda so ex-libris de um urbanismo colonial, diria at que de uma imagem colonial que hoje desejada, quanto mais no seja por razes promocionais. A recuperao algo extremada de outro ex-libris colonial, a rea do Pelourinho em Salvador, disso exemplo bastante. So casos onde as caractersticas do territrio de implantao e as especificidades conjunturais da histria urbana levaram a que a arquitectura dos edifcios comuns pudesse atingir a relevncia paisagstica dos equipamentos colectivos, nomeadamente igrejas, conventos e casas de cmara e cadeia.

    Muitos outros ncleos urbanos espalhados por todo o territrio brasileiro poderiam aqui ser alinhados ao lado daqueles e com eles se estabeleceriam com a maior facilidade paralelos fotogrficos com cidades de outras reas geogrficas do antigo universo colonial portugus, nomeadamente na costa ocidental da ndia, nas Ilhas Atlnticas e, claro, em Portugal. Notar-se-iam diferenas na moldura natural. na luz, nos materiais, nas gentes e nos adereos urbanos e pessoais. Seriam essencialmente diferenas de cor indiciando outras que a imagem por si s no transmite, como a atmosfera, o clima, os rudos e os odores. Mas numa anlise grfica e volumtrica a preto e branco, nas massas, nas aberturas, nas solues para as coberturas e abertura de vos, nas propores, nas solues de encosto e fuso de volumes, enfim, na arquitectura, teriam (tm!) caractersticas constantes. como se um programa, um partido arquitectnico nico, tenha sido imposto para uma dcil imagem de unidade e, porque no, de poder.

    . De certa forma sabemos que assim foi, mas mais por necessidade que por determinao. O espao era demasiado e a necessidade de urbanizar uma evidncia desde o momento em que os novos territrios passaram a ser cobiados por outros povos. A experincia acumulada no Norte de frica e no Oriente, pesem embora as totalmente diversas realidades preexistentes, aconselhava ento uma clere militarizao da metodologia do processo, agenciando tudo e todos para a territorializao de um Imprio que at ento pouco mais era que martimo e comercial. Num processo racional. evolutivo, mas lento, o sistema colonial portugus investiu no reconhecimento, medio e demarcao dos seus territrios com um inequvoco desgnio de unidade, alis nico por entre todas as demais potncias coloniais apostadas na Amrica. Em boa medida a tudo isso se deve a unidade e extenso territorial do Brasil e a coerncia gen- 26

  • Aspecto da zona central de Belm, 1997. Fotografia de Walter Rossa.

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    rica que esse vasto territrio tem, se visto macro-escala geral da geografia do continente sul-americano, Refiro-me, claro, mtica Ce circum-navegvel) Ilha Brasil.

    A imagem colonial que ainda est bem presente em algumas cidades brasileiras assim o resultado de um programa e mtodo pragmticos e mpares relativamente aos restantes processos coloniais na Amrica. Seguindo caminhos e obtendo resultados bastante diversos, s o Imprio Espanhol logrou materializar um feito idntico, pois as naes que emergiram da Amrica Inglesa e Francesa foram territorialmente reconhecidas, balizadas e urbanizadas j aps as respectivas independncias. Num rpido exemplo, note-se como as treze colnias inglesas que se uniram para a revoluo que conduziria formao dos Estados Unidos, para alm dessa caracterstica fragmentria, eram ento territrios relativamente pequenos onde a expresso espacial dos prprios ncleos urbanos de maior importncia era, salvo raras excepes, rarefeita ou quase rural.

    Tambm nas opes construtivas se fixaram diferenas. A expresso e a perenidade arquitectnica e urbanstica resultantes da construo em madeira necessariamente diversa da das alvenarias ou taipas da ancestral cultura tcnica ibero-mediterrnica. Pelas mesmas razes, tambm a estrutura cadastral e a forma urbana so afectadas, pois at a dimenso dos lotes forosamente diversa quando, por razes construtivas, as solues de encosto ou a dimenso mxima praticvel para os vos dos compartimentos dos edifcios comuns diferem. Ao nvel da essncia arquitectnica das respectivas imagens, as cidades aoreanas ou brasileiras eram necessariamente diferentes das da Virgnia ou da Nova Inglaterra coloniais. J agora, tal como Lisboa divergia de Londres.

    Enfim, atravs deste muito incompleto sumrio podemos vislumbrar como um sem nmero de questes levaram ao apuramento de especificidades prprias s cidades coloniais no territrio brasileiro. A comparao com outros processos, que, com excepo para as antigas colnias espanholas, continua por fazer de forma aprofundada, ser sempre um meio expedito de o verificar.

    Mas tudo isso - o domnio da imagem e a subjacente importncia da arquitectura - no deixa de ser o mais bvio e imediato. Como j aqui referi, tambm o mais voltil. No entanto, tam.bm as antigas cidades portuguesas no Brasil onde o processo histrico levou a que a obliterao da imagem se adiantasse era das preocupaes e do interesse pelo Patrimnio, mantm na sua materialidade urbanstica muito daquilo que ento eram. Refiro-me ao traado, forma urbana e/ ou ao partido urbanstico fundamentaI.

    Fixemo-nos no Rio de Janeiro. Para alm do Pao e da quase totalidade dos edifcios religio sos implantados na rea conhecida como o Centro, pouco ou nada resta em termos de evidncias arquitectnicas da velha cidade colonial.

  • Uma cintura viria e porturia, bem como uma densa e alta mole de edifcios de servios, contribuem consideravelmente para a caracterizao de uma paisagem urbana que em nada tem a ver com as imagens do passado. O prprio morro onde os portugueses primeiro estabeleceram uma estrutura com caractersticas urbanas - o Morro do Castelo - foi rapado para dar lugar ao conjunto urbano de servios hoje postado entre os jardins que envolvem o Museu de Arte Moderna, a zona da Praa 15 e o Aeroporto Santos Dumont.

    No topo daquele morro, para alm da tmida estrutura defensiva que lhe deu o nome, estiveram no incio a Casa da Cmara e Cadeia, a Casa da Fazenda, a primeira igreja matriz carioca e o colgio jesuta. Dali partiu para oeste o primeiro eixo virio da vrzea, ligando o ncleo urbano fundacional com o Convento de S. Bento. Bem

    cedo seria conhecida como rua Direita e hoje no mais nem menos que a buliosa rua Primeiro de Maro.

    Aquela rua, como outras de igual importncia em tantas outras cidades portuguesas, era paralela praia, mas j ento potencialmente interior. Em termos locativos, mas tambm no que diz respeito geometria da implantao, topografia e lgica da relao que estabeleceu entre aqueles dois importantes plos urbanos, estava fadada para ser o eixo estruturante do desenvolvimento urbano e urbanstico. medida que se iam secando os terrenos, cedo se foram ali fixando importantes instituies. Mais ou menos a meio do seu curso conformar-se-ia uma praa - o Largo do Carmo, hoje Praa 1 5 - onde em posio emuladora da do Pao da Ribeira lisboeta veio a ser erguido o Pao dos Governadores, tambm ele

    Ponta Delgada. Aores.

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  • Joo Mass, Planta da Cidade de So SebastJo do Rio de Janeiro, Com sas Fortifficaoins, 1713. Lisboa, Arquivo Histrico Ultramarino (inv. Rio de Janeiro 1064). Fotografia de Laura Castro Caldas e Paulo Cintra.

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    Pao Real quando em 1 808, na prtica, a cidade passou a ser a verdadeira cabea do Imprio Portugus.

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    Porm, bem mais importante p ara o raciocnio seguido neste texto o facto de ter sido atravs de um arruamento de perpendiculares e paralelas que se estruturou a cidade medida que crescia. O tabuleiro recticulado que ainda hoje rege a estrutura viria do Centro carioca j nada tem d o casario d a cidade colonial, mas mantm na sua matriz geomtrica e no ritmo da sua diviso cadastral praticamente tudo

    quanto desde a sua implantao para ali se estabeleceu. Inclusiv parte considervel da toponmia de ruas e locais persiste, igual acontecendo com a lgica de orientao dos eixos de crescimento e ligao a outros plos da cidade, muitos deles tambm de fundao remota. IstlO , a matriz da cidade colonial continua a s-110 para a pululante metrpole dos nossos dias, ainda que uma possante estrutura de grandes eixos virios lhe tenha sido sobreposta. Refiro-me, obviamente, s avenidas Rio Branco, Presidente Vargas, etc.

  • Como j aqui foi declarado, casos como o Rio de Janeiro so correntes. E so-no no s na persistncia da forma e traado urbanos coloniais, mas tambm na respectiva regularidade e racionalidale, ou seja, na geometria do desenho da sua planta. essa outra realidade da maior importncia para a caracterizao da cidade colonial brasileira. Matria hoje incontestada entre especialistas, o facto que uma arreigada tradio historiogrfica continua a manter a ideia de que a regra para as cidades portuguesas no Brasil foi a desordem, ou melhor, o estabelecimento e crescimento urbanos processados de forma orgnica. Que definitivamente se tire da a ideia.

    Na realidade os casos mais pitorescos e emblemticos - a ttulo de exemplos, por que no referir novamente Ouro Preto e Olinda -aparentam uma estrutura planimtrica longe de qualquer regra geomtrica ou opo racional. Mesmo esta assero discutvel, embora tal no possa aqui ser desenvolvido. So, no entanto, casos pontuais, estabelecidos e desenvolvidos fora da mais directa alada do poder real. Porque este, quando entendeu e pde intervir, como na Praa Tiradentes em Ouro Preto, f-lo com ordem, alis, com o claro desgnio de finalmente a estabelecer. De facto, a regra por entre as cidades fundadas pelo rei - recordemos apenas (e simbolicamente) a primeira cidade e capital do Brasil, Salvador, e a capital mineira bem junto a Ouro Preto, Mariana - a regularidade e ordenamento do traado, da distribuio de lotes (cadastro) e das prprias construes.

    Nem os meios nem o mtodo castrenses atrs referidos poderiam ter conduzido a qualquer outro resultado. Nem a sistemtica urbanizao de vastas reas pelo interior, como aAmaznia ou o Mato Grosso atravs da fundao de dezenas de vilas e cidades em escassas dcadas,

    meios menos expeditos. O que nos tem iludido , uma vez mais, a aparncia multifacetada, a inteligncia na escolha dos locais e a criativa diversidade de solues formais, dimensionais e planimtricas propostas e implementadas pela Engenharia Militar portuguesa. Com efeito, dotados de uma profunda e actualizada formao terico-cientfica nas Academias de Fortificao espalhadas pelo Imprio e tirocinados em operaes onde a arquitectura e o urbanismo eram apenas um dos vectores da sua aco, os engenheiros militares portugueses constituram-se no verdadeiro escol de agentes polivalentes do Estado nos territrios do Imprio.

    Na sua globalidade, a poltica de ordenamento pela medio e urbanizao foi um dos aspectos mais relevantes na consolidao do sistema colonial portugus, sendo, por isso mesmo, ainda hoje um dos mais fortes e vivos elos de identidade entre as comunidades que delas usufruem, nomeadamente no Brasil, precisamente o territrio mais extenso. Estudos segundo metodologias variadas e oriundos de campos disciplinares bastante diversos tm de facto vindo a tomar evidente como esse fenmeno civilizacional a que, por conforto e abuso, aqui poderemos chamar portugalidade, ficou registado no espao de forma qui menos evidente, mas to ou mais viva e perene que a prpria lngua. Alis, numa perspectiva ocidental lngua e cidade constituem-se como premissas basilares de qualquer civilizao, at porque so fundamentais e complementares comunicao numa dinmica de comunidade.

    O entendimento dos territrios abordados pelos portugueses na sua dispora expansionista e descobridora, ocorreu no s segundo a realidade em que consistiam, mas tambm pela cultura com que cada colono os percepcionava. E a importncia deste ltimo factor amplia-se quando procuramos entender as opes toma-

    poderia ter sido concretizada com recurso a das ao longo das aces de fixao e de desen- 30

  • Rua de Mariana, 1996. Fotografia de Walter Rossa.

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    volvimento da presena portuguesa fora do continente europeu.

    Hoje, quando temos uma clara percepo do globo terrestre, j logramos medi-lo e cartograf-lo com razovel exactido e se encontram claramente definidos os limites dos territrios entre pases (at em situaes de conflito extremo), s na nossa relao com o espao extra -Terra nos possvel vislumbrar e sentir uma incerteza semelhante dos nossos antepassados quando chegaram costa oriental da Amrica e perscrutaranl o interior, ou at quando j tinham reconhecido a totalidade do permetro desse imenso continente. Essa interaco entre o conhecimento e o desconhecido, a tentativa e a experincia teve, obviamente, efeitos de retorno para a nao de origem, mas tambm para outros territrios por vezes to distantes quanto meio mundo, estabelecendo-se circuitos de comu-

    nicao susceptveis de formar comunidade e cultura pr-globais.

    No Brasil de hoje, como desde ento, a urbanizao prossegue, expandindo-se as cidades, mas tambm a rede urbari., que de facto ainda no cobriu o serto. Na era da cidade do automvel e dos grandes e encerrados malls comerciais, a evoluo dos modelos urbanos vai apresentando caractersticas cada vez mais distantes do que so as matrizes dos velhos centros urbanos coloniais. Mas so opes sobre as quais a cultura espacial dos utentes, em conjugao com novos comportamentos urbanos, acaba por levar introduo, incluso ou recuperao de pequenos focos de evocao da memria e da identidade. Pelo meio de enormes problemas e dificuldades, assim se ministra uma capacidade recriadora e selectiva prpria evoluo sustentada da urbanidade.