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CURSO de ACESSIBILIDADE Um Novo Olhar sobre a Cidade Recife 2004 Material didático preparado pelo arquiteto urbanista Ricardo Moraes Coordenador do Projeto Município e Acessibilidade da Área de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente - DUMA/IBAM Texto extraído da APOSTILA APOSTILA APOSTILA APOSTILA O PAPEL DO MUNICÍPIO EM ACESSIBILIDADE realizada pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM para a Série de Cursos 2000/2001MUNICÍPIO E ACESSIBILIDADE: Atualização do Código de Obras e Edificações promovidos pela CORDE/SEDH/MJ com o apoio da UNESCO

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  • CURSO de ACESSIBILIDADE Um Novo Olhar sobre a Cidade

    Recife 2004

    Material didtico preparado pelo arquiteto urbanista Ricardo Moraes Coordenador do Projeto Municpio e Acessibilidade da rea de Desenvolvimento

    Urbano e Meio Ambiente - DUMA/IBAM

    Texto extrado da APOSTILAAPOSTILAAPOSTILAAPOSTILA O PAPEL DO MUNICPIO EM ACESSIBILIDADE

    realizada pelo Instituto Brasileiro de Administrao Municipal - IBAM para a Srie de Cursos 2000/2001MUNICPIO E ACESSIBILIDADE: Atualizao do Cdigo de Obras e Edificaes

    promovidos pela CORDE/SEDH/MJ com o apoio da UNESCO

    sandraCURSO de ACESSIBILIDADE

  • I. FUNDAMENTAOI. FUNDAMENTAOI. FUNDAMENTAOI. FUNDAMENTAO 1. TERRITRIO E CIDADANIA1. TERRITRIO E CIDADANIA1. TERRITRIO E CIDADANIA1. TERRITRIO E CIDADANIA O componente territorial supe, de um lado, uma instrumentao do territrio capaz de atribuir a todos os habitantes aqueles bens e servios indispensveis, no importa onde esteja a pessoa; e de outro lado, uma adequada gesto do territrio, pela qual a distribuio geral dos bens e servios pblicos seja assegurada.

    Milton Santos A instrumentao do territrio atravs da garantia das necessidades bsicas de uma pessoa conduz conquista da cidadania. Para compreender esta associao preciso explicitar os fundamentos do conceito de cidado, os valores que o suportam e as condies objetivas necessrias para efetiv-lo. A cidadania evoluiu de diferentes formas, nos diversos pases e pocas. O status de cidado surgiu no sculo XVIII, significando que a pessoa se constitua como membro de uma sociedade civil e passava a adquirir direitos polticos individuais. No sculo XIX estes direitos se consubstanciam na integrao das pessoas a grupos e adquirirem a conotao do coletivo. O sculo XX, por sua vez, v surgir a concepo dos direitos sociais que pressupem o acesso aos bens e servios indispensveis e conseqente garantia de um padro de vida qualificado para todos. Na construo desses direitos, da democracia e da equiparao de oportunidades na sociedade, depara-se com uma diversidade de exigncias de cidadanias, configuradas por diferentes grupos sociais, tnicos, econmicos e culturais. 1.1. Cidadania E Acessibilidade1.1. Cidadania E Acessibilidade1.1. Cidadania E Acessibilidade1.1. Cidadania E Acessibilidade Acessibilidade a possibilidade de acesso a um lugar. A acessibilidade (...) influencia fortemente sobre o nvel dos valores essenciais/fundamentais.(...) A formulao que mais satisfaz aquela na qual podemos ponderar as acessibilidades por diferentes tipos de oportunidades (emprego, locais de compra, locais de lazer, etc).

    Franoise Choay Categorias de acessibilidade: a) O acesso como a capacidade de se chegar a outras pessoas

    Os seres humanos so entes sociais e o contato entre os membros de uma sociedade torna-se necessrio para o bem estar de todos. Esta a viso da cidade como cenrio de troca entre as diferentes pessoas.

    b) O acesso s atividades humanas

    Oportunidades devem ser dadas a todas as pessoas para realizarem algo - como trabalhar, aprender, abrigar-se ou divertir-se. A acessibilidade surge como atributo imprescindvel na sociedade permitindo que todos possam desfrutar das mesmas oportunidades em aspectos fundamentais da vida: educao, trabalho, habitao, lazer, turismo, cultura e relaes sociais.

    c) O acesso ao meio fsico Os lugares de uma cidade so espaos que por sua natureza de convvio coletivo, devem ser acessveis a todos. O planejamento da boa forma da cidade, que leve em considerao a acessibilidade ao meio fsico, possibilitar a construo de uma sociedade inclusiva que assimile progressivamente a idia de integrao social e espacial das pessoas com todas as suas diferenas.

    d) O acesso autonomia, liberdade e individualidade

    A acessibilidade pressupe a liberdade de escolha ou a opo individual no ato de relacionar-se com o ambiente e com a vida.

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    e) O acesso ao sistema de transportes A acessibilidade ao sistema de transportes de vital importncia neste contexto. A cidade deve oferecer diversas alternativas, para que mesmo aqueles com deficincia temporria ou mobilidade reduzida (pessoas engessadas ou idosas, por exemplo), possam contar com eficincia e segurana na sua locomoo para realizar suas atividades.

    f) O acesso informao Atravs da comunicao sensorial, reproduo dos significados da vida comum pelas formas, cores,

    texturas, sons, smbolos e signos expressos em cada espao e mobilirio urbanos, possvel realizar um sistema de sinalizao acessvel a qualquer pessoa.

    1.2. Acessibilidade E Equiparao De Oportunidades1.2. Acessibilidade E Equiparao De Oportunidades1.2. Acessibilidade E Equiparao De Oportunidades1.2. Acessibilidade E Equiparao De Oportunidades Equiparao de oportunidades o processo mediante o qual o sistema geral da sociedade - tal como o meio fsico e cultural, a vivncia e o transporte, os servios sociais e sanitrios, as oportunidades de trabalho, a vida cultural e social, includas as instalaes desportivas e de lazer - se faz acessvel a todos.

    Organizao das Naes Unidas - ONU Programa de Ao Mundial para as Pessoas com Deficincia - 1982

    A acessibilidade em nosso pas diferenciada e contrastante. Muitos brasileiros, no campo e na cidade, se vem privados do acesso nas suas variadas categorias - os espaos ainda pertencem ao domnio de uma pequena parcela de sua populao. No entanto, cidadania e equiparao de oportunidades pressupem a acessibilidade de todos informao, aos bens e servios, aos transportes e ao meio fsico em geral. impossvel imaginar um lugar democrtico habitado por pessoas privadas da garantia de poder usufruir dos bens e servios indispensveis vida cotidiana urbana ou rural. 1.3. Acessibilidade E Necessidades Espaciais1.3. Acessibilidade E Necessidades Espaciais1.3. Acessibilidade E Necessidades Espaciais1.3. Acessibilidade E Necessidades Espaciais impossvel imaginar uma cidadania concreta que prescinda do componente territorial.

    Milton Santos Os valores do territrio, vividos e percebidos por diferentes grupos sociais e pelas diferenas individuais, se configuram nas necessidades e prticas de uso e ocupao de determinado lugar, pois as diferenas individuais significam, tambm, necessidades espaciais e prticas de apropriao do espao diferenciadas. O espao urbano se concretiza para uma pessoa quando sua experincia com ele total. Interessa, portanto, interpretar a acessibilidade e as necessidades especficas das pessoas como partes de um fenmeno maior e integral, que no pode ser decomposto. Esse fenmeno envolve a participao das pessoas em todos os nveis - econmico, social e poltico -, mas tambm no nvel de sua especificidade e da especificidade fsica da cidade propriamente dita. O processo de no aceitao de determinados grupos nas sociedades fica demonstrado pela relao ambiental de excluso que ocorre com freqncia nas cidades. Uma experincia cotidiana especfica demonstra que necessidades espaciais diferentes podem tambm requerer meios diferentes para poderem se desenvolver de maneira satisfatria. Como conseqncia, a cidade se constitui em uma multiplicidade de lugares particulares. Necessidades especficas e formas diversas de apropriao da cidade conduzem ao reconhecimento dos territrios, lugares e identidades construdos pelas prticas concretas dos cidados. A acessibilidade se concretizar, ento, na oferta de alternativas que criaro e asseguraro a existncia de todos na cidade e o exerccio da sua cidadania social, poltica e cultural.

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    2. AS PESSOAS COM DE2. AS PESSOAS COM DE2. AS PESSOAS COM DE2. AS PESSOAS COM DEFICINCIAFICINCIAFICINCIAFICINCIA 2.1. O Universo2.1. O Universo2.1. O Universo2.1. O Universo Utiliza-se no Brasil a nomenclatura pessoa portadora de deficincia, o que caracteriza que a deficincia est na pessoa, mas no a pessoa. Por se tratar de uma expresso ressaltando o conceito de pessoa, pretende-se assim diminuir o preconceito. A Constituio de 1988 j reflete a mudana adotando o termo. Esta evoluo do conceito evita a fragmentao dada pelo termo deficiente, definio que reduz a pessoa unicamente a um de seus mltiplos aspectos, introduzindo, imagem que se faz do deficiente, a do indivduo global. A terminologia pessoas portadoras de necessidades especiais tambm aceita pela rea tcnica e por diversas entidades. Mais recentemente porm, advoga-se pelo termo pessoas com deficincia.

    CLASSIFICAO INTERNACIONAL DAS REAS DE DEFICINCIA, INCAPACIDADE E DESVANTAGEMCLASSIFICAO INTERNACIONAL DAS REAS DE DEFICINCIA, INCAPACIDADE E DESVANTAGEMCLASSIFICAO INTERNACIONAL DAS REAS DE DEFICINCIA, INCAPACIDADE E DESVANTAGEMCLASSIFICAO INTERNACIONAL DAS REAS DE DEFICINCIA, INCAPACIDADE E DESVANTAGEM DEFICINCIADEFICINCIADEFICINCIADEFICINCIA

    Visual Perda total ou parcial de viso SENSORIAL Auditiva Perda total ou parcial da audio DA FALA Padro de fala limitada ou dificultada MENTAL Padro intelectual reduzido e consideravelmente abaixo da mdia normal PARALISIA CEREBRAL Termo amplo para designar um grupo de limitaes psicomotoras resultantes

    de uma leso do sistema nervoso central durante o seu desenvolvimento FSICA Perda ou reduo da capacidade motora e engloba vrios tipos de

    limitao MLTIPLA Efeito conjugado de duas ou mais deficincias

    PRINCIPAIS TIPOS DE LIMITAO MOTORAPRINCIPAIS TIPOS DE LIMITAO MOTORAPRINCIPAIS TIPOS DE LIMITAO MOTORAPRINCIPAIS TIPOS DE LIMITAO MOTORA PARAPLEGIA Paralisia total ou parcial da metade inferior do corpo: comprometendo as

    funes das pernas e geralmente causada por leses traumticas ou doenas

    TETRAPLEGIA Paralisia total ou parcial do corpo: comprometendo as funes dos braos e pernas

    HEMIPLEGIA Paralisia total ou parcial das funes de um lado do corpo: como conseqncia de leses cerebrais causadas, em geral, por derrame

    AMPUTAO Falta total ou parcial de um ou mais membros do corpo Pode-se ainda inserir um grande nmero de pessoas portadoras de caractersticas especficas. Por apresentarem dificuldades, as crianas, as pessoas idosas ou temporariamente afetadas e as gestantes, se encontram tambm em situao de desvantagem.

    INCAPACIDADEINCAPACIDADEINCAPACIDADEINCAPACIDADE A incapacidade est ligada s seqelas que restringem a execuo de determinada atividade: deficincia mental, deficincia visual, deficincia auditiva, deficincia fsica, deficincia psicolgica, deficincia de linguagem , entre outras. Neste sentido, a reabilitao se constitui no processo para reduzir a incapacidade gerada pela deficincia.

    DESVANTAGEMDESVANTAGEMDESVANTAGEMDESVANTAGEM

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    A desvantagem se refere a um limite externo. Diz respeito aos obstculos encontrados pelos portadores de deficincia em sua integrao com a sociedade: pessoas que portam alguma deficincia no conseguem arrumar emprego, crianas com alguma deficincia no conseguem freqentar uma escola por no terem acesso educao, portadores de deficincia no podem freqentar determinados locais por no serem aceitos pela sociedade, pessoas que se locomovem em cadeira de rodas no conseguem usufruir das ruas de uma cidade por causa de obstculos encontrados para a sua livre circulao etc. A desvantagem, segundo as variveis espaciais, o resultado de impropriedade entre as faculdades do indivduo e o meio fsico, onde atua. A habilidade funcional e a capacidade orgnica so insuficientes para a adaptao, o controle das condies ambientais, e o desenvolvimento de competncia sobre o meio fsico, segundo padres de comportamento e valores culturais (Marcelo Pinto Guimares). A desvantagem, segundo as variveis sociais, pode ser ilustrada com o dado de nos pases em desenvolvimento, crianas e adolescentes apresentarem dez vezes mais deficincia do que o grupo da mesma faixa etria em pases desenvolvidos.

    O ndice estimado pela Organizao Mundial de Sade - OMS que 10% da populao mundial tm algum tipo de deficincia. Esta a estimativa adotada tambm no Brasil, onde apenas 2% recebem algum tipo de atendimento. Entretanto, diante da situao brasileira de pobreza urbana crescente e da deficincia dos servios pblicos de sade e saneamento, pode-se considerar a perspectiva de que tais ndices tendem a ser maiores atualmente. Alm disso, o nmero de pessoas com deficincia,, em nosso pas, est diretamente associado a fatores como: acidentes automobilsticos; ausncia de cuidados na preveno de acidentes diversos; violncia; erros mdicos ou utilizao de medicamentos com efeitos colaterais desencadeadores de deficincias; falta de acompanhamento da parturiente e da criana; fatos congnitos e, at mesmo, a desinformao e a ignorncia.

    NMERO DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICINCIA EXISTENTES NO BRASILNMERO DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICINCIA EXISTENTES NO BRASILNMERO DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICINCIA EXISTENTES NO BRASILNMERO DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICINCIA EXISTENTES NO BRASIL

    rea de Deficinciarea de Deficinciarea de Deficinciarea de Deficincia Deficincia Mental (DM) Deficincia Fsica (DF) Deficincia Auditiva (DA) Deficincia Mltipla Deficincia Visual (DV) TOTALTOTALTOTALTOTAL

    PopulaoPopulaoPopulaoPopulao 8.000.000 3.200.000 2.400.000 1.600.000

    800.000

    16.000.00016.000.00016.000.00016.000.000

    PercentualPercentualPercentualPercentual 5%2%

    1.5%1%

    0.5%

    10%10%10%10% Fonte: CORDE/1992 (considerando-se a populao brasileira com cerca de 160 milhes de habitantes). Os resultados do Censo 2000 demonstraram a existncia de 24.537.984 de pessoas com deficincias no Brasil, o que equivale a 14,5% da populao, confirmando o prognstico apresentado acima. 2.2. Os Direitos Das Pessoas Portadoras De Deficincia2.2. Os Direitos Das Pessoas Portadoras De Deficincia2.2. Os Direitos Das Pessoas Portadoras De Deficincia2.2. Os Direitos Das Pessoas Portadoras De Deficincia A questo da acessibilidade no Brasil deve ser orientada pelas premissas e experincias das organizaes internacionais e pela legislao existente em nvel federal, estadual e municipal. No entanto, nos limites da atuao dos governos, comum constatar da parte dos setores da administrao pblica, total desconhecimento sobre suas competncias em acessibilidade, o que faz prevalecer, na maioria das vezes, a no observncia da lei, bem como a ausncia de sanes.

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    2.3. A Constituio Federal De 19882.3. A Constituio Federal De 19882.3. A Constituio Federal De 19882.3. A Constituio Federal De 1988 A igualdade das pessoas portadoras de deficincia perante a lei, e seus direitos ao usufruto da cidade, fruto das reivindicaes e movimentos sociais urbanos. Na Constituio de 1988, considerada uma das mais avanadas no tocante a garantia dos direitos das pessoas, destacam-se disposies especficas em relao aos portadores de deficincia, e neste momento de conquista democrtica que os Municpios brasileiros tm formalizada a sua autonomia com o direito de instaurar a sua prpria Lei Orgnica Municipal.

    DISPOSIES PARA A SUPRESSO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS DISPOSIES PARA A SUPRESSO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS DISPOSIES PARA A SUPRESSO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS DISPOSIES PARA A SUPRESSO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS DAS PESSOAS PORTADODAS PESSOAS PORTADODAS PESSOAS PORTADODAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICINCIA CONTIDAS NA CONSTITUIORAS DE DEFICINCIA CONTIDAS NA CONSTITUIORAS DE DEFICINCIA CONTIDAS NA CONSTITUIORAS DE DEFICINCIA CONTIDAS NA CONSTITUIO

    Art.6Art.6Art.6Art.6oooo

    Reconhece como direitos sociais de toda a populao a educao, a sade, o trabalho e o lazer, entre outros.

    Art.7Art.7Art.7Art.7oooo Inciso XXXIInciso XXXIInciso XXXIInciso XXXI

    Estabelece a proibio de discriminao de salrio e critrios de admisso do trabalhador portador de deficincia.

    Art.23Art.23Art.23Art.23 Inciso IIInciso IIInciso IIInciso II

    Estabelece como competncia comum dos governos, cuidar da sade e assistncia pblica, proteo e garantia das pessoas portadoras de deficincia.

    Art. 37Art. 37Art. 37Art. 37 Inciso VIIIInciso VIIIInciso VIIIInciso VIII

    Determina que a Administrao Pblica destine percentual de cargos e empregos para as pessoas portadoras de deficincia.

    Art.203Art.203Art.203Art.203 Inciso IVInciso IVInciso IVInciso IV

    Define como um dos objetivos da assistncia social, a habilitao e reabilitao dos portadores de deficincia e a promoo de sua integrao vida comunitria.

    Inciso VInciso VInciso VInciso V Garante benefcio mensal ao portador de deficincia impedido de obter os meios para o seu sustento.

    Art.208Art.208Art.208Art.208 Inciso IIIInciso IIIInciso IIIInciso III

    Garante que o papel do Estado com relao educao dever ser exercido tambm atravs do atendimento aos portadores de deficincia, preferencialmente na rede regular de ensino.

    Art.227Art.227Art.227Art.227 1111oooo inciso IIinciso IIinciso IIinciso II

    Impe ao Estado a criao de programas para preveno e atendimento especializado aos portadores de deficincia e para a integrao social do adolescente na mesma situao, atravs de treinamento para o trabalho e a convivncia, bem como a facilitao do acesso aos bens e servios coletivos, com a eliminao de preconceitos e obstculos arquitetnicos

    Art.227 2Art.227 2Art.227 2Art.227 2oooo Dispe sobre lei que fixe normas de construo dos logradouros e dos edifcios de uso pblico e de fabricao de veculos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado aos portadores de deficincia.

    Art.244Art.244Art.244Art.244 Complementa o art.227 ao prever que a lei tambm dispor sobre a adaptao de logradouros, edifcios pblicos e veculos de transporte coletivo existentes.

    O reconhecimento das diferenas do seu territrio, bem como das necessidades da sua populao, sero atendidos conforme o estgio cultural, social, econmico e tecnolgico local, fundamentais na conduo de um processo de planejamento para a implantao de um adequado ordenamento territorial. Entretanto, poucas so as Constituies Estaduais que refletem em seu captulo da Poltica Urbana a preocupao com a acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ao espao urbano, ainda que faam meno a outros aspectos da questo das pessoas portadoras de deficincia em captulos especficos. Cabendo aos Municpios desempenhar papel fundamental na conduo dos direitos apontados na Constituio, vale ressaltar que freqente o tratamento da questo da acessibilidade de forma dispersa nas sees referentes s demais polticas municipais dispostas na Lei Orgnica, sem que haja a subsequente meno de tais direitos nas diretrizes da poltica urbana. 2.4. O mbito Internacional E Os Programas Nacionais2.4. O mbito Internacional E Os Programas Nacionais2.4. O mbito Internacional E Os Programas Nacionais2.4. O mbito Internacional E Os Programas Nacionais

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    Organizao das Naes Unidas - ONU A igualdade de todos um princpio que consta da Declarao Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela ONU em 1948. Os Direitos Humanos referem-se a um sem nmero de campos da atividade humana, entre os quais est o direito de ir e vir e a acessibilidade todos os bens e servios. Comisso Nacional do Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficincia No ano de 1980, foi instaurada a Comisso Nacional das Pessoas Portadoras de Deficincia, que buscou atualizar toda a legislao especfica neste tema, traando estratgias e planos de ao a curto, mdio e longo prazos no combate s barreiras arquitetnicas existentes nas cidades. Programa Nacional de Direitos Humanos (reformulado em 2002) O Governo brasileiro elabora em 1993 o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH, que visa, atravs de um conjunto de iniciativas, leis e normas, assegurar os direitos cidadania. Programa de Eliminao de Barreiras Arquitetnicas e Ambientais: Projeto Cidade Para Todos Estabelecido em 1994, a partir de iniciativa da Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia - CORDE, o programa a ser desenvolvido em articulao com os Governos Estadual e Municipal, objetiva criar condies de locomoo independente nas cidades aos portadores de deficincia. At 2002, os recursos contemplaram prioritariamente as cidades com caractersticas histrico-culturais. 2.5. Legislao Federal Espec2.5. Legislao Federal Espec2.5. Legislao Federal Espec2.5. Legislao Federal Especfica fica fica fica Lei no 7.405 de 12/11/85 Determina as condies para a adoo do Smbolo Internacional de Acesso - SIA. Lei no 7.853 de 24/10/89 Regulamenta a criao da Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia - CORDE, que visa o desenvolvimento de aes dirigidas a defender os valores bsicos de igualdade e justia social, e assegurar o exerccio dos direitos conquistados. Fica consolidada a responsabilidade dos Estados e Municpios, na adoo de normas que objetivem a eliminao de barreiras arquitetnicas e urbansticas nas cidades e nos meios de transporte. Decreto no 3.298 de 20/12/99 Regulamenta a Lei 7.853/89, dispondo sobre a Poltica Nacional para a Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia e consolidando as normas de proteo. Lei no 10.048 de 14/11/2000 D prioridade de atendimento s pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida nos transportes. Lei no 10.098 de 19/12/2000 Estabelece normas gerais e critrios bsicos para a promoo da acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida s edificaes e ao meio urbano. 2.6. Outras Normas Incidentes2.6. Outras Normas Incidentes2.6. Outras Normas Incidentes2.6. Outras Normas Incidentes Alm da legislao especfica, h critrios de mbito setorial que do nfase preveno de barreiras em acessibilidade, tais como: Portaria no 1884/1994 do Ministrio da Sade

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    Estabelece as normas para a elaborao de projetos de Estabelecimentos de Sade de Pequeno, Mdio e Grande Porte, na rea pblica ou privada, atendendo os princpios de regionalizao, hierarquizao, acessibilidade e qualidade de assistncia prestada populao, segundo os preceitos do Sistema nico de Sade. Padres da EMBRATUR/Ministrio do Esporte e Turismo Manual de recepo e acessibilidade de pessoas portadoras de deficincia a empreendimentos e equipamentos tursticos (1999): cria padres e critrios de acesso ao portador de deficincia s reas, instalaes, equipamentos e servios tursticos. Resoluo do Banco Central no 002878 de 26/07/2001 Dispe sobre procedimentos para a prestao de servios das instituies financeiras e a promoo da acessibilidade. Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT NBR 9050: sobre a acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia s edificaes, ao espao,

    mobilirio e equipamentos urbanos, fixando as condies exigveis, bem como os padres e as medidas que visam propiciar melhores condies de acesso aos edifcios de uso pblico e s vias pblicas urbanas.

    NBR 14020: transporte - acessibilidade em trem de longo percurso. NBR 14021: transporte - acessibilidade em trem metropolitano. NRR 14022: transporte - acessibilidade em nibus e trlebus para atendimento urbano e intermunicipal. NBR 14273: transporte - acessibilidade no transporte areo. NBR 13994: acessibilidade nos elevadores de passageiros.

  • II. MUNICPIO, TERRIII. MUNICPIO, TERRIII. MUNICPIO, TERRIII. MUNICPIO, TERRITRIO E ACESSIBILIDATRIO E ACESSIBILIDATRIO E ACESSIBILIDATRIO E ACESSIBILIDADEDEDEDE Num territrio onde a localizao dos servios essenciais deixada merc da lei do mercado, tudo colabora para que as desigualdades sociais aumentem. H desigualdades sociais que so, em primeiro lugar, desigualdades territoriais, porque derivam do lugar onde cada qual se encontra. Seu tratamento no pode ser alheio s realidades territoriais. O cidado o indivduo num lugar.

    Milton Santos A acessibilidade se processa no espao e, portanto, no planejamento do territrio, seja urbano ou rural. A organizao e a ordenao do territrio, por sua vez, esto intrinsecamente relacionadas s condies geogrficas existentes. No entanto, o espao fsico no absoluto no condicionamento da acessibilidade. O perfil socioeconmico da populao e os aspectos culturais possuem importncia equivalente e so parmetros que qualificam o espao, contribuindo para a heterogeneidade da paisagem do territrio brasileiro como um todo. Conjuntamente, as condies fsicas e socioeconmicas presentes em cada Municpio determinam as formas de uso e ocupao do espao fsico no suprimento da populao frente s necessidades de moradia, trabalho, sade, transporte, educao e lazer, entre outros servios e atividades. Entretanto, o espao da cidadania transcende a capacidade qualitativa do espao fsico, por estar fundamentado na garantia dos direitos essenciais do ser humano, cabendo ao Poder Pblico a conduo de polticas pblicas em acessibilidade. Assim, a capacidade de uso do territrio para atender s demandas em acessibilidade, nessa ordem, provm: das condies fsicas do stio geogrfico da linguagem regional e herana cultural das condies socioeconmicas das polticas definidas pelo Poder Pblico local Embora a acessibilidade no seja uma questo recente, s h pouco tempo ela vem sendo contemplada em algumas intervenes urbanas. Nas cidades contemporneas ainda fcil identificar a presena de territrios diferenciados. Para os estudiosos, esta separao das classes sociais e funes no espao urbano denomina-se segregao espacial, so graus de acessos diferenciados, que configuram territrios especficos para cada grupo social em uma mesma cidade. Em qualquer das situaes fica claro uma separao de territrios com influncia direta no cotidiano e nos espaos de troca e socializao entre as diferentes pessoas. Estando esta separao por muito tempo ligada histria da formao de nossas cidades, o que se almeja hoje, que a acessibilidade seja incorporada de maneira natural e espontnea no planejamento do territrio, e da cidade. 1. COMPETNCIAS E PO1. COMPETNCIAS E PO1. COMPETNCIAS E PO1. COMPETNCIAS E POLTICAS MUNICIPAISLTICAS MUNICIPAISLTICAS MUNICIPAISLTICAS MUNICIPAIS As competncias de cada uma das esferas governamentais so definidas na Constituio Federal de 1988, estando submetidas aos princpios da organizao do sistema federativo do Estado, alicerce sobre o qual tudo o mais que preceitua est assentado, e onde a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios organizam poltica e administrativamente a Repblica Federativa do Brasil (arts.1o e 18), compondo um todo harmnico e indissolvel.

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    Apelidada de Constituio Cidad em razo do momento histrico em que foi promulgada e das conquistas da sociedade brasileira, o conjunto de objetivos fundamentais atribui-lhe o carter da incluso e da cidadania ao eleger como tal a justia social, a democracia e o repdio discriminao e ao preconceito, entre outros (art.3o).

    Devendo ser interpretada como um sistema, a Constituio caracteriza a atuao dos entes federados separando os poderes atravs da distribuio de competncias entre os nveis de governo, ressaltando-se a autonomia recproca de cada um dos membros federados nos mbitos poltico, administrativo, financeiro e legislativo (art.18).

    Desse modo, a Constituio favoreceu mudanas em direo consolidao das relaes intergovernamentais, tanto vertical quanto horizontalmente, possibilitando e exigindo o dilogo e a integrao, desde que mantida a independncia entre os iguais e respeitadas as normas e os princpios constitucionais, destacando-se a orientao que aponta claramente no sentido da descentralizao.

    Outro avano diz respeito s relaes entre governo e sociedade, garantindo a democracia e ampliando o espao para o exerccio da cidadania como, por exemplo, a participao desta no planejamento municipal (art.29), no controle social legitimado pela ao popular (art.5o), na iniciativa popular de projetos de lei (art.27 e art.29, nos nveis estadual e municipal respectivamente) ou, ainda, na promoo, pelo Ministrio Pblico, da ao civil pblica para a proteo do meio ambiente (art.129), entre outros.

    Assim, tudo o que deve se materializar em decorrncia dos preceitos e disposies constitucionais, tambm deve estar imbudo desse esprito, incluindo as aes dos poderes pblicos no exerccio das competncias que lhes so atribudas.

    ESPCIES DE COMPETNCIASESPCIES DE COMPETNCIASESPCIES DE COMPETNCIASESPCIES DE COMPETNCIAS

    EXCLUSIVASEXCLUSIVASEXCLUSIVASEXCLUSIVAS Competncias indelegveis. PRIVATIVASPRIVATIVASPRIVATIVASPRIVATIVAS Podem ser objeto de delegao. COMUNSCOMUNSCOMUNSCOMUNS Podem ser exercidas pelos diversos entes federativos. CONCORRENTESCONCORRENTESCONCORRENTESCONCORRENTES

    Quando um ente pode legislar sobre determinada matria, ao mesmo tempo que outro ente. A legislao concorrente reserva Unio as normas gerais (art.21), autorizando os Estados a legislar sobre questes especficas.

    SUPLEMENTARSUPLEMENTARSUPLEMENTARSUPLEMENTAR

    Poder de editar normas que ampliem o contedo de outras, visando regulamentar especificidades. Pode ser do estado em relao Unio ou do Municpio em relao ao Estado e Unio.

    DISTRIBUIO DE COMPETNCIAS NA CONSTITUIODISTRIBUIO DE COMPETNCIAS NA CONSTITUIODISTRIBUIO DE COMPETNCIAS NA CONSTITUIODISTRIBUIO DE COMPETNCIAS NA CONSTITUIO

    Art.21 e Art.22Art.21 e Art.22Art.21 e Art.22Art.21 e Art.22 Enumeram as matrias de competncia exclusiva da Unio. Art.23Art.23Art.23Art.23 Relaciona as matrias de competncia comum. Art.24Art.24Art.24Art.24 Enumera os casos de competncia concorrente. Art.25 1Art.25 1Art.25 1Art.25 1oooo Confere aos Estados competncia residual ou remanescente. Art.30Art.30Art.30Art.30 Dispe sobre a competncia dos Municpios. Art.32 1Art.32 1Art.32 1Art.32 1oooo Confere ao Distrito Federal as competncias legislativas reservadas aos Estados e

    Municpios, nos limites do seu territrio.

    Para alm dos direitos sociais que afetam todo e qualquer cidado, a Constituio reserva destaque a alguns dos grupos que compem a sociedade brasileira, no sentido de chamar a ateno sobre a necessidade de se estabelecer mecanismos e formas especficos para a equiparao de oportunidades entre todos os cidados. Este o caso das crianas, jovens e idosos e, tambm, das pessoas portadoras de deficincia, contempladas com disposies especficas que objetivam evitar ou corrigir situaes de excluso, assegurando-lhes os direitos que so de todos igualmente.

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    O critrio adotado na carta constitucional para atribuio de competncias ao Municpio o do interesse local. A par das controvrsias que gera entre os estudiosos da matria, este critrio delimita o grau e a abrangncia do poder local para dispor sobre todos os assuntos que digam respeito a seu interesse imediato. Silvia Butters Campos

    Embasados nesse critrio, os Municpios tm a competncia de suplementar a legislao estadual e federal (art.30, II), bem como garantido seu poder de legislar sobre a matria urbanstica pela combinao dos incisos I e VIII do art.30 com o art.182, que versa sobre a poltica urbana. Segundo a Constituio Federal, integram as competncias e atribuies dos Municpios: legislar sobre assuntos de interesse local suplementar a legislao federal e estadual no que couber estabelecer a poltica municipal de desenvolvimento urbano promover adequado ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento

    e da ocupao do solo urbano proteger o patrimnio artstico, cultural e natural local proteger o meio ambiente organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, os servios de interesse

    local, incluindo o de transporte coletivo manter programas de educao pr-escolar e de ensino fundamental, bem como prestar servios de

    atendimento sade da populao, com a cooperao tcnica e financeira da Unio e do Governo do Estado

    proporcionar os meios de acesso cultura, educao e cincia cuidar da sade e assistncia pblica, da proteo e garantia das pessoas das pessoas portadoras de

    deficincia, em comum com os demais nveis de governo As competncias atribudas aos Municpios caracterizam o poder de polcia (no confundir com Poder Judicirio), que tem por objetivo limitar os interesses individuais, condicionando-os e restringindo-os em benefcio das necessidades mais amplas da coletividade ou do prprio Estado. Significa dizer que a Administrao, visando o atendimento do interesse pblico, pode aferir da oportunidade e convenincia do exerccio do poder de polcia (discricionaridade), pode executar diretamente suas decises sem recorrer ao Poder Judicirio (auto-executoriedade) e tambm impor coativamente o cumprimento dessas decises (coercibilidade). Mauricio Balesdent Barreira

    O poder de polcia do Municpio sobre o uso do solo decorre do princpio da autonomia municipal, sendo sua prerrogativa (ou dever) e pode ser exercido de duas maneiras: Prescritivo: quando, visando coibir situaes indesejveis ou induzir a concretizao de situaes benficas, prope medidas e normas orientadoras. Proscritivo: a fim de respaldar as providncias a tomar quando constatadas irregularidades, com base nos princpios da proibio e da sano exercido para limitar as aes e desejos individuais. Assim, ao Poder Pblico Municipal reservada a competncia de criar condies nas cidades para o encontro e as relaes entre pessoas de diversas origens, costumes, tradies e valores, assegurando aos seus habitantes o espao da cidadania quanto garantia de acesso s funes sociais e bsicas da cidade, como o trabalho, a moradia, o transporte, a sade e a educao, entre outras. A formulao de uma estratgia integradora das vrias polticas setoriais, que consolide a competncia municipal em acessibilidade nos principais campos de interveno do Poder Pblico, ser consoante com o

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    preceito da funo social da cidade, estabelecido no Captulo da Poltica Urbana, atravs do art.182, da Constituio Federal: A poltica de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Pblico municipal, conforme diretrizes fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funes sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes. Cabe ressaltar que a poltica de desenvolvimento urbano inserida no contexto da funo social da cidade(*), possui sentido equivalente aos preceitos em acessibilidade enunciados no Programa Nacional de Ao Mundial da ONU para as pessoas portadoras de deficincia. (*) Aqui traduzida na justa distribuio dos benefcios da urbanizao, no acesso terra, aos servios e ao meio ambiente equilibrado. Tambm nesse sentido confirma-se a delegao aos Municpios de atender s demandas em acessibilidade da populao. Estas devero ser contempladas na ordenao espacial dos territrios mediante o planejamento e o estabelecimento das polticas pblicas setoriais, sob os princpios estabelecidos na Lei Orgnica Municipal, prova legtima de sua autonomia frente aos demais entes federados. A qualidade e a efetividade das aes em acessibilidade refletir o grau de integrao entre as polticas setoriais e o nvel de coerncia e interlocuo deste conjunto com a poltica municipal de desenvolvimento urbano. A instituio de mecanismos de articulao entre os setores da administrao pblica e de instrumentos legais para a implantao dos programas em acessibilidade, quer seja atravs de intervenes espaciais ou de aes polticas, sero fundamentais na eliminao das barreiras fsicas e sociais, para adequar as cidades s necessidades de todas as pessoas. Dessa forma, as premissas em acessiblidade que devero ser atendidas pelas polticas municipais, se relacionam com as seguintes questes: a adaptao do meio urbano aos requisitos espaciais das pessoas se constitui no atendimento s

    demandas em servios a integrao entre as polticas pblicas condiciona a implementao de programas em acessibilidade que

    se fundem com os princpios que regem a poltica urbana local as intervenes em acessibilidade devero atender s carncias regionais dos servios em sade,

    educao, transporte e habitao a consolidao de uma rede de servios em acessibilidade fruto de uma atuao interdisciplinar dos

    vrios setores pblicos o fomento participao de todas as entidades representativas da comunidade no planejamento -

    inclusive das pessoas portadoras de deficincia -, condicionar a instaurao de programas em acessibilidade mais eficazes na eliminao de barreiras fsicas e sociais

    2. A ACESSIBILIDADE 2. A ACESSIBILIDADE 2. A ACESSIBILIDADE 2. A ACESSIBILIDADE FACE LEGISLAO E FACE LEGISLAO E FACE LEGISLAO E FACE LEGISLAO E S NORMAS TCNICASS NORMAS TCNICASS NORMAS TCNICASS NORMAS TCNICAS A adequao das reas urbanas s necessidades espaciais em acessibilidade deve ser conduzida sob a orientao das premissas, mecanismos legais e diretrizes estabelecidos nas polticas urbanas locais, e incorporada estratgia de desenvolvimento urbano municipal. A abordagem espacial em acessibilidade, no que tange a uma iniciativa de carter amplo, estar condicionada a uma interveno sistmica e concomitante sobre os elementos espaciais e os servios urbanos. Para tanto, aes, instrumentos legais e normas devem estar inseridos na atividade de planejamento municipal. Este um parmetro imprescindvel para a distribuio homognea dos servios pertinentes rede urbana das cidades, e para possibilitar a todos os cidados o uso dos bens e servios indispensveis ao cotidiano urbano na sua totalidade.

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    No entanto, ocorre que diante da ausncia de diretrizes municipais mais amplas em acessibilidade, a adequao espacial e transformao urbanas so orientadas, quando acontece, apenas pelos padres e critrios tcnicos definidos na NBR 9050 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT, que atendem de forma restrita e localizada a supresso de barreiras arquitetnicas. Sendo a implantao da acessibilidade nas cidades uma questo de ordem urbanstica, a funo das Normas Tcnicas reside pontualmente no condicionamento da acessibilidade, geralmente tendo sua incorporao restrita aos Cdigos de Obras. 2.1. A Poltica Urbana Municipal 2.1. A Poltica Urbana Municipal 2.1. A Poltica Urbana Municipal 2.1. A Poltica Urbana Municipal Os instrumentos que iro assegurar o ordenamento territorial apresentam-se na forma de planos, cdigos e leis, entre os quais destaca-se o Plano Diretor, elevado condio de instrumento bsico da poltica de desenvolvimento e de expanso urbana pelo art.182 da Constituio Federal de 1988. Com base nos princpios e diretrizes estabelecidos na Lei Orgnica Municipal, a poltica de desenvolvimento urbano instituda pelo Plano Diretor, deve, ao traduz-los, materializar as condies locais para a efetivao das aes integradas em acessibilidade. Atravs do conjunto de diretrizes para o sistema de planejamento da Prefeitura, para as polticas setoriais e para o uso e ocupao do solo, o vis estratgico para o desenvolvimento urbano municipal deve ser concebido tendo em vista a incorporao da acessibilidade holstica na cidade. Nesse sentido, o prprio processo de elaborao do Plano Diretor, tendo como premissa a participao da sociedade , por sua natureza, inclusivo, abrigando em si o conceito de acessibilidade, por constituir o frum para a discusso de demandas diferenciadas dos diversos grupos sociais da cidade. Da mesma forma, os principais instrumentos de operacionalizao da poltica urbana, consubstanciados no conjunto da legislao urbanstica, revestem-se de redobrada importncia para a sua efetivao, ao serem concebidos ou adaptados em consonncia com os conceitos de desenho universal e rota acessvel. Para tornar a cidade acessvel para todos significa pensar de forma inclusiva e propor solues que possam atender a maior gama possvel de pessoas ao mesmo tempo. Significa planejar ou projetar para a diversidade, eventualmente com solues especficas, e sempre buscando a universalidade. Entretanto, as iniciativas em acessibilidade no esto restritas ao mbito de um projeto, devem integrar um processo onde as peculiaridades, recursos e alternativas locais, bem como as caractersticas culturais da sociedade a qual se destinam, so aspectos a serem tambm considerados. O desenho universal no abrange apenas os portadores de deficincia mas leva em considerao as mltiplas diferenas existentes entre as pessoas. A idia evitar a necessidade de ambientes e produtos especiais para pessoas com deficincia, buscando garantir a acessibilidade a todos os componentes do ambiente e a todos os produtos e servios. Os quatro princpios bsicos do desenho universal so: 1. Acomodar uma grande gama antropomtrica, que significa acomodar pessoas de diferentes

    padres ou situaes - altos, baixos, em p, sentados etc. Acomodar todas as pessoas ou pensar em todos os parmetros antropomtricos ficar atento a alguns limites de ao e alcance manual ou visual impostos a pessoas que, por exemplo, fazem uso de cadeira de rodas.

    2. Reduzir a quantidade de energia necessria para utilizar os produtos e o meio ambiente.

    Limitaes ou dificuldades no alcance e na locomoo podem tambm levar a um esforo adicional ou a um cansao fsico se o ambiente no estiver adequado a determinadas necessidades especiais das pessoas. Quando um idoso busca realizar determinadas atividades, o espao por ele percorrido revelar a incidncia do fator distncia na sua utilizao do espao e nos objetos que deseja alcanar. Com um planejamento concebido segundo o desenho universal, esta energia e distncia sero reduzidas e os espaos, com todos os seus elementos, bem utilizados e aproveitados por ele.

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    3. Tornar o ambiente e os produtos mais compreensveis. Para portadores de problemas sensoriais como os cegos, pessoas que enxergam pouco ou de viso subnormal pode ser muito difcil localizar obstculos presentes nas ruas ou se situar em espaos muito amplos. Tornar o ambiente e os produtos mais compreensveis para estas pessoas significa projetar para todos segundo um desenho universal.

    4. Pensar em produtos e ambientes como sistemas, que se constituam em peas intercambiveis ou apresentem a possibilidade de acrescentar caractersticas para o atendimento s pessoas que tm necessidades especiais.

    Steinfeld, 1994

    Por sua vez, entende-se como rota acessvel a interligao contnua e sistmica entre os elementos que compem a acessibilidade, compreendendo espaos externos e internos s edificaes e os servios e fluxos da rede urbana. Assim, o conjunto de instrumentos reguladores do desenvolvimento urbano constitui pea chave para a promoo da acessibilidade nas cidades, quando inseridos no contexto dos conceitos de desenho universal e rota acessvel, sendo inmeras as interfaces entre as matrias que disciplinam com o tema. 2.2. Os Instrumentos Legais2.2. Os Instrumentos Legais2.2. Os Instrumentos Legais2.2. Os Instrumentos Legais 2.2.1. Lei Do Permetro Urbano Os limites da ocupao urbana identificados na Lei do Permetro Urbano devem seguir as orientaes e ser coerentes com as anlises e propostas do Plano Diretor, principalmente no que diz respeito definio das reas de expanso urbana. Tendo em vista as condies de acessibilidade das novas reas, devem ser observados no dimensionamento do stio urbano, fatores como: a escolha das reas a incluir para a expanso da urbanizao, considerando a presena de barreiras

    naturais como cursos dgua e relevo, rodovias e ferrovias, que exigem solues para a sua transposio e acessibilidade a todas as partes da cidade

    as caractersticas topogrficas do terreno e as possibilidades de acomodao dos novos arruamentos a este

    a oferta de lotes e glebas vagas existentes na rea urbana j consolidada que devem ser ocupados prioritariamente, resultando em maior densidade e proximidade de usos e atividades, evitando a ocorrncia de grandes distncias a percorrer dentro da cidade, o que facilita a previso de rotas acessveis

    2.2.2. Lei De Parcelamento Do Solo Urbano O parcelamento do solo para fins urbanos determina as formas de ocupao da cidade e regido pela LF 6.766/79, modificada pela LF 9.785/99. Ao elaborar uma Lei de Parcelamento do Solo, o Municpio deve estabelecer normas complementares lei federal, adaptando as disposies desta lei s suas peculiaridades locais e regionais, com vistas a ordenar e controlar a qualidade da expanso urbana atravs de parmetros tcnicos para as variadas formas de diviso e ocupao territorial das zonas urbanas.

    Assim como o permetro e o zoneamento, o parcelamento compe o conjunto harmnico de instrumentos que integram o Plano Diretor e, como tal, submetido aos princpios para o desenvolvimento urbano a expressos. Em relao ao parcelamento, as premissas em acessibilidade podem ser contempladas, entre outros, nos seguintes aspectos:

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    parmetros tcnicos e geomtricos das vias e passeios como largura e inclinao mxima, rebaixamento de meio-fio e rampas

    acomodao das vias s curvas de nvel, evitando cortes transversais e inclinaes acentuadas tamanho mximo das quadras e previso de servides pblicas para passagem de pedestres

    encurtando as distncias integrao e continuidade das novas vias malha viria existente, facilitando a circulao contnua hierarquizao das vias, de forma a otimizar a fluidez e mobilidade na cidade

    2.2.3. Lei De Uso E Ocupao Do Solo (Zoneamento)

    Em articulao com o Plano Diretor, o zoneamento constitui um dos principais veculos para a aplicao prtica do conceito de funo social da propriedade ao condicionar o direito individual (direito de propriedade/direito de construir) ao direito coletivo sobre os benefcios do processo de urbanizao e sobre as condies ambientais saudveis e de acessibilidade na cidade. Usualmente, o zoneamento prope a subdiviso do territrio da cidade em reas ou zonas de acordo com as caractersticas ambientais, fisiogrficas e urbanas, alm de definir parmetros para a ocupao do solo nessas zonas, indicando usos permitidos, altura das edificaes, taxas de ocupao do terreno, rea total da edificao, afastamentos das edificaes com relao s divisas do terreno, entre outros.

    Entre os aspectos identificados com a promoo da acessibilidade no zoneamento esto:

    a possibilidade de evitar a segregao do espao urbano, entre outras, pela mltipla distribuio dos usos e atividades numa mesma zona, facilitando o acesso aos bens e servios na prpria vizinhana e possibilitando a consolidao de rotas acessveis

    intensificao de usos e atividades diversos ao longo dos centros de bairros, evitando a especializao de setores da cidade e a necessidade de cobrir maiores distncias

    liberao de reas para circulao de pedestres critrios de acessibilidade para projetos urbansticos, reas de lazer e stios histricos

    2.2.4. Cdigo De Obras E Edificaes

    Ao estabelecer as normas tcnicas para a construo dos diversos tipos de edificaes e tendo como referncia a NBR 9050 para a questo da acessibilidade, pode-se considerar o Cdigo de Obras como o instrumento urbanstico de maior visibilidade para a promoo da acessibilidade do espao construdo. Sobretudo considerando que, alm de abrigar em seu escopo a regulao do objeto arquitetnico, estende sua aplicao aos espaos externos, tratando de passeios e do mobilirio urbano, atuando tanto na acessibilidade quanto na mobilidade das pessoas.

    Assim, a quase totalidade de seu contedo responde, em maior ou menor grau, as demandas em acessibilidade pertinentes sua natureza. Alguns exemplos:

    utilizao de passeios e disposio de tapumes passeios: rebaixamento e rampas para travessia de vias acessos ao lote e edificao sinalizao quando do cruzamento de veculos e pedestres sobre os passeios altura de marquises, balanos e projees exigncias de vagas para veculos critrios para pisos e vedaes de terrenos caractersticas geomtricas de rampas e escadas exigncias quanto aos vos e passagens Alm do conjunto tradicional de instrumentos apresentado, outros regulamentos e planos municipais especficos como os relativos ao sistema virio e transportes, patrimnio histrico, turismo e lazer, entre

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    outros, devem contribuir para a acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida.

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    III. ACESSIBILIDADE III. ACESSIBILIDADE III. ACESSIBILIDADE III. ACESSIBILIDADE E POLTICAS PBLICASE POLTICAS PBLICASE POLTICAS PBLICASE POLTICAS PBLICAS As experincias municipais em acessibilidade at ento realizadas, mostram que as intervenes urbansticas e arquitetnicas nas cidades corresponderam inicialmente eliminao das principais barreiras fsicas, na adaptao dos espaos pblicos s atividades urbanas e necessidades do usurio. 1. ANLISE GERAL1. ANLISE GERAL1. ANLISE GERAL1. ANLISE GERAL a) mapear as necessidades das pessoas (barreiras sociais); as necessidades fsicas do lugar (barreiras

    fsicas); as tendncias de expanso do permetro urbano e a ocorrncias de novas barreiras a curto, mdio e longo prazo; os limites institudos do Municpio e dos distritos; as ocupaes urbanas e rurais.

    b) conhecer os mecanismos legais existentes em nvel federal, estadual e municipal, bem como a forma de

    gesto das polticas municipais. c) selecionar as informaes disponveis a fim de caracterizar as barreiras arquitetnicas e urbansticas, e

    analisar as possibilidades que existem para resolv-las; d) averiguar as melhores formas de interveno em acessibilidade para que no ocorram impactos

    urbansticos e ambientais na supresso das barreiras, visando a no descaracterizao da paisagem natural e construda das cidades;

    e) levantar os custos necessrios para a implantao dos programas, planos ou aes; f) realizar estudo comparativo das necessidades dos municpios em acessbilidade, no tocante aos servios

    de transportes, equipamentos urbanos especficos sade, educao, lazer e habitao; g) analisar as tendncias do crescimento das cidades: a expanso horizontal do solo urbano afeta a

    expanso dos servios de gua, luz, esgoto e de manuteno de vias; e dos servios de atendimento, como escolas, sade e lazer, que devem propiciar qualidade espacial em acessibilidade.

    No entanto, percebe-se que para se alcanar a acessibilidade plena, a estruturao urbanstica, alm de contar com a reformulao da legislao afim e a aplicao de normas, requer uma ao mais ampla e estruturada na integrao das polticas pblicas. 2. ANLISE SETORIAL2. ANLISE SETORIAL2. ANLISE SETORIAL2. ANLISE SETORIAL A conduo de polticas municipais integradas em acessibilidade necessita inicialmente de uma compreenso das principais questes que permeiam o tema em cada setor: 2.1. Educa2.1. Educa2.1. Educa2.1. Educaoooo A acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ao sistema municipal de educao dever estar assegurada mediante: a) adequao dos espaos das edificaes escolares; b) escolas prximas s grandes concentraes de crianas e adolescentes em idade escolar, objetivando

    atender a acessibilidade fsica da parcela portadora de deficincia dessa clientela; c) garantia de verba para compra de equipamentos adequados ao tipo de deficincia e contratao de

    recursos humanos especializados;

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    d) promoo da conscientizao, para a integrao e convvio nas escolas sem existir discriminao e preconceito aos alunos portadores de deficincia;

    e) localizao de paradas de nibus o mais prximo das escolas possibilitando o encurtamento das

    distncias e o menor esforo fsico na locomoo das pessoas portadoras de deficincia. Estas diretrizes evidenciam a necessidade de atuaes integradas das Secretarias Municipais de Educao, Urbanismo, Transporte e de Assistncia Social, para adequar-se o espao fsico da escola s necessidades espaciais das pessoas portadoras de deficincia. A adaptao arquitetnica das edificaes escolares apenas uma das vrias aes a serem empreendidas com vistas a permitir a todos o acesso no setor da educao. 2.2. Sade e Previdncia2.2. Sade e Previdncia2.2. Sade e Previdncia2.2. Sade e Previdncia A acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia sade dever estar condicionada ao planejamento em sade e s disposies do Sistema nico de Sade (SUS). A organizao dos programas em sade nos municpios em redes hierarquizadas e regionalizadas, contribui para o alcance da acessibilidade frente s caractersticas regionais e necessidades da populao. Alguns destes servios so competncias da Secretaria de Urbanismo e de Transportes no que se refere : a) concepo de rotas interligadas de transporte coletivo, adaptados s necessidades espaciais das

    pessoas portadoras de deficincia, condicionando a integrao de acessos condizentes com a localizao dos equipamentos de sade;

    b) adaptao das instalaes das edificaes em sade, s necessidades espaciais das pessoas

    portadoras de deficincia, considerando a norma da ABNT 9050 e legislao urbanstica especfica. 2.3. Cultura2.3. Cultura2.3. Cultura2.3. Cultura Fornecer a acessibilidade dos portadores de deficincia cultura significa implementar as seguintes aes: a) garantir o acesso casas de espetculos e de promoo artstica, edificaes tombadas de uso pblico,

    bibliotecas, teatros, museus e cinemas, atravs da adaptao espacial de suas instalaes; b) apoio e incentivo participao das pessoas portadoras de deficincia nas atividades culturais (teatro,

    ballet, coral, etc) inseridas nos programas comunitrios e recreativos; c) promoo de convnios entre os setores de transporte e setores comerciais, tursticos, culturais pblicos

    ou privados para instaurar a circulao diria de paratrnsitos, cobrindo as distncias de vrios pontos da cidade museus, bibliotecas, teatros etc;

    d) distribuio de pequenos centros de informao, sediados em centros de bairros, associaes de

    moradores e em bairros perifricos, objetivando a participao das pessoas portadoras de deficincia nas vrias atividades artsticas.

    Em relao aos Bens Culturais Imveis: Ateno especial requer a acessibilidade ao patrimnio histrico e cultural. A sua incluso nas polticas municipais, bem como a sua inscrio como fator estratgico para o desenvolvimento social, econmico e ambiental do Municpio, devem estabelecer o ponto de partida para as aes em acessibilidade. Sob o ponto de vista urbanstico (stios e centros histricos e seu entorno), ou arquitetnico (o edifcio e seu entorno), toda e qualquer interveno deve atender a duas premissas bsicas: possibilitar o maior grau possvel de acessibilidade, sem contudo comprometer as caractersticas que justificam a sua proteo.

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    Nos tpicos a seguir, so apresentadas de forma sinttica, as diretrizes que esto em estudo no IPHAN e que podem orientar, desde j, a ao municipal dentro de sua esfera de competncia.

    As adaptaes ou ajustes devem ser compatveis com o imvel, resguardar a sua integridade estrutural

    e impedir a descaracterizao do ambiente natural, para isso devero basear-se em levantamentos: histrico, fsico, iconogrfico, documental que indiquem a forma de promover;

    A deciso sobre a forma de interveno deve relacionar-se com a substncia, o contedo dos bens, seu

    entorno e vizinhana; A soluo de acessibilidade deve proporcionar o mximo grau de acessibilidade com o mnimo de

    alterao no imvel; Cada proposta de acessibilidade em imveis, mobilirios, objetos deve ser avaliada como um problema

    especfico, com suas vrias possibilidades e limitaes, requerendo, portanto, uma soluo tambm especfica;

    Quando os estudos indicarem, as intervenes de acessibilidade devem objetivar garantir acesso a

    todos os espaos e atividades abertas ao pblicos; Nos casos em que os estudos indicarem reas ou elementos em que no sejam possvel promover

    alteraes no imvel, inviabilizando adaptaes, deve ser garantido o acesso virtual, por meio de informao visual, auditiva ou ttil das reas ou dos elementos com impedimento de acesso;

    Em qualquer caso, devem ser realizadas intervenes ou adaptaes que busquem garantir aos

    usurios: a) uma rota acessvel, desde a via pblica de acesso at o interior das edificaes ou stio, integrada a rota

    de outros usurios e iniciada, sempre que possvel, a partir da entrada principal; b) a rota deve garantir acesso a sanitrios, telefones, salas de repouso, sala de informaes e outras

    acomodaes de servios; c) informar-se sobre o imvel e compreender o seu acervo, mesmo que por meio de materiais informativos

    e interpretativos em diversas linguagens de comunicao (escrita, simblica, braile, sonora, combinao multimdia) colocado disposio dos usurios em salas de recepo acessveis ou em casa de visitantes adaptadas;

    d) no caso de stios considerados inacessveis ou com visitao restrita para todos, devem ser oferecidos

    mapas, maquetes, peas de acervo originais ou suas cpias, sempre proporcionando a possibilidade de ser tocados para compreenso ttil;

    A interveno arquitetnica ou urbanstica deve denotar a poca em que foi realizada, adotando

    materiais e tecnologias contemporneas e tambm permitir perceber seu carter de acrscimo; A interveno arquitetnica ou urbanstica deve privilegiar intervenes passveis de reversibilidade,

    para que o espao mantenha a possibilidade de novo reordenamento ou permita a incluso de outros elementos, tal como uma nova tecnologia de acessibilidade;

    Na elaborao de propostas de interveno, os projetos devem conter elementos comprobatrios de que

    foram observadas as seguintes recomendaes gerais:

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    a) deve ser elaborado um levantamento preliminar que estabelea as prioridades e os nveis de interveno, desejveis em cada imvel, de acordo com os usurios, as caractersticas e os usos destinados aos imveis;

    b) em todos os ambientes considerados potencialmente acessveis, deve ser examinada e favorecida a

    capacidade de manobrar e de vencer desnveis, bem como a capacidade de alcance e controle de equipamentos, instalaes e ajudas tcnicas por pessoas portadoras de deficincia, ou com mobilidade ou comunicao reduzida;

    c) no caso dos stios naturais ou arqueolgicos, deve ser buscado o acesso a todas as experincias que o

    stio possa oferecer a visitantes e identificadas as solues que favoream o acesso maior quantidade possvel de experincias, mesmo que de forma apenas visual;

    d) na medida do possvel, a circulao nestes stios deve ser dotada de condies especiais que permitam

    o uso dos stios e fruio da paisagem (trilhas especiais bem sinalizadas) e que una, em um percurso acessvel, as edificaes com a via pblica e os diversos espaos com caractersticas diferenciadas;

    e) todos os projetos devem contemplar formas de orientao indicativas sobre o nvel de acessibilidade do

    imvel, a localizao das atividades, das comodidades acessveis disponveis, das sadas de emergncia, das salas de informao e dos equipamentos especiais. Associado comunicao pessoal deve ser oferecida sinalizao visual, ttil ou sonora adequada;

    f) os elementos urbanos. tais como vias, passeios, passagens de pedestres, devem ser concebidos,

    adequados ou substitudos, de modo a torn-los acessveis para pessoas portadoras de deficincia; g) mobilirio urbano e os elementos de sinalizao indicativa e de trnsito devem ser dispostos de modo a

    considerar a circulao de pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade ou comunicao reduzida, elaborados com especificaes de cores, texturas, sons ou smbolos adequados compreenso por todos;

    h) em reas urbanas, deve ser estudado pelo menos uma rota acessvel, associada a transporte

    motorizado acessvel, ou uma soluo alternativa, como um mirante, em caso de stios naturais ou construdos inacessveis;

    i) em edifcios e stios devem ser previstas instalaes de proteo e a evacuao acessvel e

    corretamente sinalizada, para o caso de sinistros; j) em projetos de exposies temporrias, recomenda-se observar que seja prevista uma rota acessvel

    que garanta a viso e o entendimento das obras, por todas as pessoas que tiverem acesso ao ambiente; l) em cada implantao de projeto em imveis, deve estar previsto o acompanhamento dos tcnicos

    responsveis pelo projeto por um perodo de at seis meses aps a execuo das adaptaes, visando avaliar os procedimentos adotados, para que se verifique se foram cumpridas as condies de acessibilidade, e propostas outras alteraes necessrias.

    2.4. Desporto e Lazer2.4. Desporto e Lazer2.4. Desporto e Lazer2.4. Desporto e Lazer O setor de Desporto e Lazer possui o grande potencial de integrar as pessoas portadoras de deficincia na sociedade atravs de uma poltica especfica. Para ampliar o campo de ao em acessibilidade deste setor, o Poder Pblico, atravs da Secretaria de Desporto e Lazer, pode estabelecer parcerias com o setor privado e com as demais Secretarias, a fim de: a) promover, junto aos clubes, a adaptao dos equipamentos esportivos e os locais de apoio e de servios

    das demais dependncias esportivas;

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    b) fomentar incentivos fiscais s empresas de marketing que participam de campanhas de divulgao e patrocnios de atletas paraolmpicos;

    c) fomentar incentivos fiscais s empresas responsveis pela distribuio e concepo de equipamentos

    esportivos especializados; d) atuar junto Secretaria de Educao, incentivando a aquisio de bolsas de estudo que ajudem na

    formao de atletas paraolmpicos;

    Em relao ao setor de recreao e lazer: a) promover a parceria entre os rgos governamentais responsveis pela preservao e manuteno

    dos parques e reservas naturais, e empresas de turismo, para a implantao de acessos condizentes a cada tipo de deficincia nos passeios, trilhas e caminhos e a adaptao dos equipamentos de lazer infantil e adulto;

    b) desenvolver com empresas de programao visual uma linguagem que facilite o acesso de crianas

    portadoras de deficincia a Jardins Zoolgicos e Parques de Diverso. 2.5. Transportes e Sistema Virio2.5. Transportes e Sistema Virio2.5. Transportes e Sistema Virio2.5. Transportes e Sistema Virio A acessibilidade aos transportes dever contemplar, alm da adaptao do veculo, todos os setores do Poder Pblico e privado com influncia nas seguintes reas: a) implantao de plataformas adequadas; b) sistema de comunicao para todo tipo de deficincia sensorial ou motora; c) terminais de embarque e desembarque adaptados; d) servios e equipamentos adaptados nos terminais rodovirios e aeroportos; e) implantao de paratrnsitos. A falta de alternativas de transporte condiciona a soluo do problema ao poder aquisitivo das pessoas portadoras de deficincia, por intermdio de carros adaptados que algumas vezes tornam-se muito caros e apresentam dificuldade para a aquisio de peas atravs dos fornecedores e mediante os meios de transporte individuais (taxi, bestas, etc). Um sistema virio acessvel que assegure a circulao das pessoas portadoras de deficincia nas cidades fornecer a esta populao o direito de acessar os servios bsicos do cotidiano urbano (educao, trabalho, habitao, sade e transportes), possibilitando a equiparao de oportunidades e a integrao social. Para tanto preciso estabelecer diretrizes na implantao e tratamento das seguintes intervenes urbansticas: vias e logradouros pblicos; estacionamentos; praas; quarteires e lotes. Esta interveno estrutural nas cidades, nas vrias hierarquias virias, determinante para a implantao do desenho universal.

  • 22

    2.6. Turismo2.6. Turismo2.6. Turismo2.6. Turismo A ausncia de polticas pblicas de acessibilidade ao meio fsico em espaos tursticos leva as pessoas da terceira idade e os portadores de deficincia a procurar alternativas de turismo fora do pas. Devido falta de informao no pas das vantagens lucrativas em que se constitui a implantao de um turismo acessvel, a entrada de turistas estrangeiros portadores de deficincia e de terceira idade fica igualmente afetada. Para que se possa instaurar um planejamento acessvel em turismo, devero estar envolvidos os rgos pblicos, setores privados, associaes e sindicatos responsveis pela implantao da rede turstica no pas. Pode-se citar em nvel federal, a Embratur, Infraero, IBAMA e IPHAN. De igual importncia encontram-se as associaes e sindicatos ligados ao setor, onde destacam-se as agncias de viagens, a rede de hotelaria, restaurantes e os sindicatos de transportes autnomos. As aes necessrias para a implantao de uma infra-estrutura bsica para um turismo acessvel so: a) participao dos tcnicos da Infraero, da ABNT e da Secretaria de Urbanismo na adequao espacial

    dos aeroportos e de todos os servios neles inseridos; b) participao da Embratur, Sindicato de Transportes e Agencia de Viagens na adaptao dos transportes

    e na implantao de paratrnsitos conveniados; c) envolvimento dos tcnicos das companhias areas, da Infraero e tcnicos da ABNT na adequao

    espacial das poltronas e sanitrios das aeronaves; d) participao da Secretaria de Urbanismo e do IPHAN no condicionamento de acesso todos os

    equipamentos urbanos de interesse turstico pertencentes ao patrimnio arquitetnico das cidades; e) envolvimento do sindicato de hotelaria e da Secretaria de Urbanismo na adaptao espacial da rede de

    hotis; f) implantao de passeios ecolgicos acessveis envolvendo o IBAMA, as Secretarias Municipais de Meio

    Ambiente e de Turismo em conjunto com as agncias de viagens. 2.7. Trabalho2.7. Trabalho2.7. Trabalho2.7. Trabalho O art. 37, VIII da Constituio Federal, dispe sobre a obrigatoriedade de vagas no mercado de trabalho para as pessoas portadoras de deficincia, no servio pblico e nas instituies privadas. Torna-se necessrio a implementao de uma estratgia da integrao das aes pblicas com o setor privado. Os locais de trabalho devero ser adequados fisicamente s demandas espaciais dos portadores de deficincia. As polticas sociais devero orientar as pessoas portadoras de deficincia e o setor privado quanto aos direitos trabalhistas, promovendo a integrao deste segmento da populao na sociedade economicamente ativa. 2.8. Habita2.8. Habita2.8. Habita2.8. Habitaoooo Para garantir espaos acessveis a todos os segmentos da populao, uma poltica habitacional dever estar de acordo com os instrumentos legais e normativos relativos aos assentamentos habitacionais e em estrita ligao do tema com o mercado imobilirio. O Cdigo de Obras e Edificaes estabelecer os padres mnimos de acessibilidade nas novas construes habitacionais. Tais padres devero ser aplicados sobretudo nos empreendimentos de habitaes multifamiliares. Especial ateno dever ser dada aos empreendimentos destinados s classes mais pobres da populao. Em tais casos, importante um estudo detalhado de como os limitadores fsicos e sociais podero ser minimizados frente aos recursos geralmente escassos para a implantao do empreendimento.

  • 23

    Outro aspecto a ser considerado a integrao dos espaos de moradia s facilidades imediatas para a manuteno das atividades cotidianas. Pensar em habitao - sobretudo os grandes conjuntos residenciais - integrada ao comrcio de vizinhana, escolas e reas de lazer, tema que deve ser contemplado na legislao referente ao uso e ocupao do solo urbano. Uma poltica habitacional que contemple a questo da acessibilidade dever: a) implantar conjuntos habitacionais em locais acessveis; b) tornar obrigatria a implantao de rampas ou elevadores, quando necessrios, nas habitaes

    multifamiliares verticais; c) fazer cumprir as normas de acessibilidade da ABNT quando da construo ou adaptao de

    empreendimentos imobilirios; d) atravs da Lei de Uso e Ocupao do Solo, permitir a convivncia de todas as atividades e usos

    compatveis ao uso residencial, com vistas a desconcentrar atividades e funes na cidade. No entanto, para que se efetivem os programas em acessibilidade nas cidades, alm de se contar com a implementao de uma estratgia municipal na integrao das aes pblicas, so necessrios os meios para a sua fiscalizao que devero estar em consonncia com os poderes que o Municpio dispe de polcia administrativa no mbito de todo o seu territrio, tanto nas zonas urbanas e rurais. As reas de atuao da polcia administrativa abrangem as construes, os logradouros pblicos, os servios e atividades urbanas em geral. Quanto verificao e fiscalizao do uso ou exerccio das atividades que condicionam a implementao fsica da acessibilidade no espao, estas devero estar sujeitas aos instrumentos reguladores do espao urbano dos municpios, regidos pelo cdigo de posturas, cdigo de obras e edificaes, lei de uso e ocupao do solo e normas complementares.

  • 24

    TEXTOS DE APOIOTEXTOS DE APOIOTEXTOS DE APOIOTEXTOS DE APOIO

    UM NOVO OLHAR

    ou de como no levar um (in)sustntvel...

  • 25

    Ricardo Moraes - arquiteto urbanista

    Coordenador do Projeto Municpio e Acessibilidade da rea de Desenvolvimento Urbano e

    Meio Ambiente - DUMA/Instituto Brasileiro de Administrao Municipal - IBAM Presumo que voc uma pessoa que vive na cidade j que, no Brasil/2000, 81.2% de

    ns vive em reas urbanas.

    Agora, imagine que voc vai envelhecer nesse lugar. Imaginou?

    Mesmo considerando que durante esse processo voc sofrer algumas perdas e

    ganhar algumas limitaes, tudo perfeitamente previsvel e natural, na sua

    imaginao, voc certamente gozar de boa sade quando l chegar. Acertei? Eu

    tambm, espero.

    provvel, j que segundo o censo 2000, o conjunto da populao brasileira est

    envelhecendo, e que, alm disso, a nossa expectativa de vida est aumentando. s

    checar os nmeros que indicam essas tendncias:

    Em 1999, 8% da populao era composta de pessoas com mais de 60 anos ou

    cerca de 13,5 milhes, sendo a projeo para 2020, estimada em 12% quanto

    populao de idosos;

    A mdia sobre a expectativa de vida em 1998 era de 68.1 anos e, em 1999,

    chegou aos 68.4 anos;

    Ainda segundo o IBGE, hoje pessoas com 40 anos podem esperar completar, em

    mdia, mais 33.8 primaveras, e outras com 60, mais 17.7.

    Legal!

    Mas tendncias podem reverter e, infelizmente, azares podem suceder, como

    comprovam outros nmeros que tambm esto a crescer... Por exemplo:

    Voc sabia que a expectativa de vida dos brasileiros no maior, entre outros fatores,

    principalmente pelo crescimento dos bitos em razo de causas externas ou no

    naturais, tipo acidentes de trnsito e violncia?

    Ah... Ento pode ser que..., pode.

    Vejamos um s dos fatores capazes de mudar nosso prognstico imaginado:

    O trnsito produz 360 mil feridos por ano, dos quais 120 mil tornam-se portadores de

    deficincia permanente e outros 40 mil, morrem. Isso mais que a populao da

    maioria dos Municpios brasileiros! assustador! Isso uma fbrica de mutilaes, e

    pior, quase todo mundo se acostumou com isso...Que poltica essa?!

    A voc pensa: ...Esse cara t pegando pesado...

  • 26

    Mas no abandone o texto ainda, pois nem desejo que tal nos acontea, nem sou

    pessimista. Pelo contrrio, tenho uma proposta a apresentar. Entretanto, mais um

    pouquinho de realidade. Pacincia.

    Outro exerccio de imaginao:

    Pense na sua cidade. Aposto que voc se lembrar de ter enfrentado situao similar

    em algum momento. Deixa ver...

    Uma: voc tem que desviar de tantos obstculos nos passeios - buracos, jardineiras,

    irregularidades no piso, rampas nas entradas de garagem, telefones pblicos, caixas

    de correio, lixeiras, fradinhos, veculos estacionados e barraquinhas, ufa! - que, ao fim

    do dia, voc gastou a energia de uma maratona para vencer 100m. Seria muito

    complicado garantir faixas livres de obstculos sobre os passeios? Afinal, eles existem

    em funo dos pedestres!

    Outra: voc estava acompanhando uma pessoa idosa, por exemplo, sua me. Para

    atravessar a rua, o meio-fio era to alto que voc quase teve que carreg-la. Foi tanta

    a dificuldade em descer do passeio que o sinal de trnsito abriu no meio da travessia e

    vocs tiveram que correr. Imagine se ela estivesse sozinha! Ainda bem que voc

    estava l. Mas, se o espao oferecesse maior comodidade, sua me poderia at

    passear com as amigas no bairro; e voc, certamente estaria despreocupado.

    Mais uma: um dia seu carro pifou e voc experimentou utilizar o servio de transporte

    coletivo - pegou um nibus, j que milhares de pessoas fazem isso todos os dias,

    porque no? Ento, voc observou algumas coisas: eles, geralmente, no param rente

    ao meio-fio, de forma que se tem que descer para a rua e, depois, subir aquele degrau

    imenso. Para pagar, que ginstica ao passar na roleta! Isso quando voc conseguiu

    faz-lo parar!!! Se o transporte pblico fosse acessvel, e os motoristas em geral, mais

    educados no trnsito, at sua me poderia circular pela cidade. Autonomia o melhor

    presente para ela! Pensando bem, para voc tambm. J pensou se a sua nica

    opo fosse o transporte pblico?

    A ltima: um dia voc torceu feio o tornozelo e teve que engessar a perna e se apoiar

    numa bengala. Foi ao banco. Percebeu, ento, como difcil entrar por aquela porta

    giratria. Pediu para entrar pela porta do caixa automtico e foi a maior confuso.

    Alegaram questo de segurana. Pergunto: no d para adotar outra soluo? Quer

    saber? O melhor seria que todos os prdios que abrigam atividades de atendimento ao

    pblico ou de reunio de pessoas facilitassem o ingresso e o acesso generalizado aos

    servios prestados.

    Todos somos contribuintes e consumidores, cidados, independentemente das

    limitaes de locomoo.

  • 27

    A, voc pensa: Puxa! Ainda bem que eu tenho energia, tenho fora e estou de posse

    de todas as minhas faculdades fsicas a maior parte do tempo...

    A, digo eu: Ser assim para sempre?

    O processo natural de envelhecimento traz limitaes como sabemos, assim como

    ningum est livre de quebrar uma perna ou brao, ou de ver afetados a sade e o

    ritmo de vida. Cotidianamente, carregamos pacotes ou empurramos carrinhos de

    compras ou beb, utilizamos o transporte pblico, transitamos pelas caladas e

    atravessamos a rua. Por vezes, enfrentamos dificuldades nos lugares porque temos

    propores corporais maiores, ou menores - nos avies, guichs de supermercado,

    catracas dos nibus, s para citar algumas situaes corriqueiras. Pois , em algum

    momento de nossas vidas, at pelo simples fato de envelhecer, temos nossa

    mobilidade reduzida, mais que isso, nosso direito de ir e vir , hoje, muito limitado. Explico essa ltima:

    Nossas cidades e servios so projetados para as pessoas ditas perfeitas, de

    preferncia jovens, fortes e com tudo funcionando - capacidades fsicas e sensoriais.

    H quase que total desconsiderao da diversidade de tipos humanos que compem

    nossa sociedade e das condies fsicas diferenciadas. No esqueamos as

    dificuldades de locomoo inerentes s mulheres grvidas, por exemplo, ou aos

    idosos. E as crianas? Porque no h peas sanitrias com dimenses adequadas s

    crianas nos banheiros de uso pblico? E no s isso.

    Exemplifico: alguns acham que em sua cidade no h pessoas com deficincia, ou

    que so poucas, pois no so vistas. Pois saiba que essas pessoas representam 10%

    da populao do planeta, segundo a Organizao Mundial de Sade, e que, no Brasil,

    dadas s condies de pobreza urbana, violncia em geral e no trnsito, falta de

    informao e de acesso aos servios de sade e de saneamento, o percentual

    maior: 14,5% ou 25 milhes de pessoas (Censo 2000).

    Assim, as pessoas com deficincia no so vistas em nossas cidades porque o

    espao urbano, as edificaes e o transporte - e o prprio comportamento da

    sociedade em geral -, as impedem de circular com conforto, segurana e autonomia.

    Elas simplesmente esto impedidas de sair! Ainda que esse movimento social, diga-se

    de passagem dos mais combativos pelos seus direitos, esteja a realizar conquistas

    muito importantes. Contudo, nossas cidades ainda impem todo o tipo de barreiras

    fsicas, s vezes belas em sua forma, mas, na prtica, barreiras.

    Ter acesso, acessibilidade, um direito de todos os cidados, portanto, um direito humano. As barreiras fsicas, na verdade decorrentes de barreiras sociais que

    impomos aos diferentes, devem ser eliminadas, no s do espao, mas j na

    concepo das polticas de desenvolvimento urbano. Um bom caminho para ajudar no

  • 28

    combate s barreiras sociais, com retorno no curto prazo.

    Para isso temos que entender que cidadania se traduz em providenciarmos uma coisa

    chamada equiparao de oportunidades. Algo como possibilitar as mesmas chances de fruio dos espaos e dos servios queles que se encontram em situao de

    desvantagem, mesmo que temporariamente. E porque nem todos enxergam bem,

    escutam ou falam, ou mesmo, sabem ler e escrever, a cidade deve possuir um

    sistema de sinalizao variado, onde, quem se encontra privado de alguma habilidade,

    possa se orientar atravs das outras que possui. Uma pessoa idosa ou outra com

    alguma deficincia no so pessoas incapazes. Na verdade, nossas cidades que

    so incapazes na oferta das condies favorveis para a expanso de suas

    potencialidades individuais.

    Projetar para a diversidade, adotando um desenho universal, ou seja, que sirva ao mximo de pessoas de diferentes tipos, obrigao dos gestores governamentais,

    concessionrias e demais prestadoras de servios pblicos - com suas polticas,

    regulamentos e intervenes no espao urbano -, passando pelos profissionais

    arquitetos, engenheiros, designers, at o cidado - eu e voc. nosso dever respeitar

    o direito do outro, pois ningum sabe o dia de amanh, no mnimo envelheceremos,

    assim aumentando nossa prpria demanda pela acessibilidade plena.

    Como contribuir com sua atitude individual?

    No estacionando nas vagas demarcadas para as pessoas com deficincia ou na

    frente de guias de passeios rebaixados e rampas, ou sobre eles. Respeitando a

    sinalizao e as faixas para travessia de pedestres, por exemplo. Ao construir ou

    reformar o seu passeio, lembrar que por ali poder passar algum usando uma

    cadeira de rodas, ou muletas, ou um cego, todos com necessidades intrnsecas sua

    condio ou, voc mesmo em alguma situao de limitao. Lembrar que todos

    precisamos de uma rota acessvel, segura e livre de barreiras para circular. Alm do transporte pblico tambm acessvel e digno, se pensamos na escala de toda a

    cidade.

    Uma cidade acessvel, uma cidade inclusiva, justa, uma cidade para todos. Como qualquer pessoa tenho limitaes, ainda que no permanentes at o momento,

    e espero ter a sorte de ficar velho, bem velhinho, j que, como a maioria, no quero

    morrer. Desculpe, mas advogo em causa prpria, pois desejo maior acessibilidade em

    nossas cidades. Porque quero ser um velhinho saudvel. Mas se no for assim, ao

    menos poder sair at a calada e tomar um solzinho... Afinal, sou brasileiro, e cidado

    e, tambm, urbanista.

    Ento, proponho: Um novo olhar. Um dos grandes avanos conquistados pela sociedade brasileira, e incorporada

  • 29

    Constituio Federal de 1988 como preceito, a viso de que tanto a cidade como a

    propriedade urbana, devem cumprir a sua funo social. Isso implica na adoo de uma nova prtica de planejamento urbano, no mais e apenas fsico-territorial, mas

    sustentvel, onde as dimenses ambiental e socioeconmica devem dialogar com a

    urbana, para da resultarem as estratgias de desenvolvimento e os instrumentos que

    as operacionalizem, tendo como meta final, a qualidade de vida. Tudo conforme os

    princpios constitucionais de democracia e justia social, com o objetivo de promover a

    cidadania e a incluso, inclusive assegurando a participao da sociedade no

    processo de planejamento.

    Para alm dos direitos sociais que afetam todo e qualquer cidado brasileiro, a

    Constituio reserva ainda, destaque a alguns dos grupos que compem a nossa

    sociedade, no sentido de chamar a ateno sobre a necessidade de se estabelecer

    mecanismos e formas especficos para a equiparao de oportunidades entre todos os

    cidados. Este o caso das crianas, jovens e idosos e, tambm, das pessoas com

    deficincia, contempladas com disposies especficas que objetivam evitar ou corrigir

    situaes de excluso, assegurando-lhes direitos que so de todos igualmente.

    A poltica de desenvolvimento urbano inserida no contexto da funo social da cidade -

    traduzida na justa distribuio dos benefcios da urbanizao, no acesso terra, aos

    servios e ao meio ambiente equilibrado -, possui sentido equivalente aos preceitos

    em acessibilidade. A ver:

    Equiparao de oportunidades

    o processo pelo qual o sistema geral da sociedade - tal como o meio fsico e cultural, a vivncia e o transporte, os servios sociais e sanitrios, as oportunidades de trabalho, a vida cultural e social, includas as instalaes desportivas e de lazer - se faz acessvel a todos.

    Organizao das Naes Unidas - ONU

    Programa de Ao Mundial Para As Pessoas Com Deficincia

    Acessibilidade

    a possibilidade de acesso a um lugar. A formulao que mais satisfaz aquela na qual podemos ponderar as acessibilidades por diferentes tipos de oportunidades (emprego, locais compra, locais de lazer,etc).

    Franoise Choay

    Resumindo:

  • 30

    O artigo 182 da Constituio Federal enuncia que a poltica urbana, executada

    pelo Poder Pblico municipal, deve ordenar o pleno desenvolvimento das funes

    sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes; e

    As premissas em acessibilidade enunciam que a equiparao de oportunidades

    fazer acessvel a todos os habitantes a oportunidade de viver na cidade com

    qualidade.

    Da, podemos afirmar que:

    ACESSIBILIDADE ATRIBUTO DA QUALIDADE DE VIDA E CONSTITUI-SE EM ITEM DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA.

    Confirma-se, ento, a delegao aos Municpios de atender s demandas em

    acessibilidade da populao, uma vez que esta a instncia privilegiada para a

    conduo da poltica urbana e para o controle do uso, ocupao e parcelamento do

    solo urbano. Nesse contexto, os principais instrumentos de operacionalizao da

    poltica urbana, consubstanciados nas estratgias do Plano Diretor e no conjunto da

    legislao urbanstica, reveste-se de redobrada importncia para a efetivao da

    acessibilidade, ao serem concebidos ou adaptados em consonncia com os conceitos

    de desenho universal e rota acessvel.

    Assim, a acessibilidade deve ser trabalhada no como um conjunto de intervenes ou

    obras urbansticas isoladas, mas como uma dimenso integrada em todas as polticas setoriais.

    Importante:

    O ano de 2001 est marcado pela aprovao do Estatuto da Cidade, cujo propsito

    a incluso cidade em sua forma mais ampla, estando coalhado de oportunidades

    para a promoo da acessibilidade. Da mesma forma, em 2000, foram aprovadas as

    leis federais 10.098 e 10.048, a primeira orienta a promoo da acessibilidade ao

    espao urbano e s edificaes com base na NBR 9050 da ABNT, inclusive

    determinando a acessibilidade ao patrimnio histrico e habitao social, e a

    segunda prev a acessibilidade ao transporte. Portanto, instrumentos de grande

    impacto na poltica de desenvolvimento urbano e no controle urbanstico. Eis a mais

    uma excelente oportunidade de trabalharmos pela nossa qualidade de vida e

    cidadania. Mos obra!

    isso.

    Como no tenho pretenses genialidade, me permita tomar emprestada alguma de

    um sujeito, esse sim, genialmente humano, para encerrar o texto:

  • 31

    H desigualdades sociais que so, em primeiro lugar, desigualdades territoriais, porque derivam do lugar onde cada qual se encontra.

    Seu tratamento no pode ser alheio s realidades territoriais.

    O cidado o indivduo num lugar.

    Milton Santos

  • 32

    AMBIENTES ACESSVEIS1 Adriana Romeiro de Almeida Prado2

    Quando o contato entre o objeto, a arquitetura e os usurios apresenta

    um ponto de atrito, ento o projetista cometeu um erro. Pelo contrrio, se as pessoas em contato com o meio em que se desenvolvem vivenciam

    uma maior segurana, confiana, conforto, ou simplesmente se sentem mais felizes, ento o projetista teria xito em sua incumbncia.

    Arquiteto Henry Dreyfuss, 1955 SER AUTNOMO E TER INDEPENDNCIA A conquista da autonomia e da independncia uma das caractersticas da cidadania e parte desse processo tem relao direta com o bem-estar do indivduo no meio em que ele vive. A maioria dos ambientes construdos, ou no, apresenta barreiras visveis e invisveis. Constituem barreiras visveis todos os impedimentos concretos, entendidos como a falta de acessibilidade aos espaos. As invisveis constituem a forma como as pessoas so vistas pela sociedade, na maior parte das vezes representadas pelas suas deficincias e no pelas suas potencialidades. A eliminao de barreiras visveis poder vir a contribuir para a diminuio das barreiras invisveis. Para isso, arquitetos, projetistas e designers devem rever a forma de conceber os espaos, os objetos, de modo que eles possam oferecer mais conforto, segurana e eficcia s pessoas portadoras de deficincia. A presena de acessibilidade nas edificaes, no meio urbano, nos transportes e nas suas mtuas interaes uma exigncia constitucional, cujo objetivo permitir um ganho de autonomia e de mobilidade a uma gama maior de pessoas, incluindo aquelas que tenham reduzida a sua mobilidade ou dificuldade em comunicar-se, para que possam usufruir os espaos com mais segurana, confiana, comodidade. Hoje, pode-se obter ambientes que atendem s propostas do design universal, sem, entretanto, custar mais. O projeto concebido de forma adequada s condies de acessibilidade sofrer um acrscimo de 1% do valor da obra; por outro lado, se precisar ser adequado depois de construdo, esse valor poder alcanar 25%. (National Comission on Architectural Barriers to Rehabilitation of the Handicapped, 1968) DESENHO UNIVERSAL O designer universal projeta os espaos de modo a atender toda a populao, considerando as variaes de tamanho, sexo, peso e as diferentes habilidades ou limitaes que as pessoas possam ter, de acordo com o conceito que preconiza a cidade acessvel a qualquer pessoa, desde o seu nascimento at sua velhice, ou seja, as cidades devem ser acessveis a todos. Os espaos devem permitir vrias maneiras de uso ou explorao, estar providos de elementos construdos nicos ajustveis, ou mltiplo-complementares, de forma que o conjunto esteja adequado a algum tipo de necessidade ou caracterstica do usurio (Marcelo Pinto Guimares).

  • 33

    O caminho traado por elementos construdos definir, por si s, uma rota acessvel, no importando qual seja o desenho desta; cada um a traar da forma que lhe convier. O importante construir de maneira que as pessoas despendam o mnimo possvel de energia, proporcionando-lhes conforto em todos os ambientes. O conforto das pessoas pode ser medido pela relao que elas tm com o ambiente em que vivem. Quanto menor o grau de dependncia em relao aos espaos, maior ser o seu conforto. A funcionalidade do espao edificado permite a compensao das limitaes, ao transformar elementos materiais em prolongamento natural do corpo, como instrumentos ainda mais fortes e precisos do que olhos, pernas e mos (Marcelo Pinto Guimares). Existem diferentes escalas de ambientes, abrangendo desde os macro at os microambientes e a distino entre eles um tanto vaga. MACRO E MICROAMBIENTE Muitos pesquisadores e designers consideram que o macroambiente encontra-se numa escala arquitetnica, envolvendo as relaes espaciais, a forma da edificao, sua esttica, as condies locais e a interao com a comunidade, enquanto o microambiente caracterizado por uma escala pessoal individual. O espao imediato que rodeia o indivduo seu local de trabalho, sua casa a chave do design centrado no usurio. A criao de um microambiente para o idoso no implica apenas diminuir o estresse, minimizar o efeito das perdas funcionais ou compensar as incapacidades, mas tambm aumentar a afetividade do usurio, sua autoconfiana e, portanto, sua auto-estima. (Arthur Schwartz) MACROAMBIENTE ACESSVEL Um macroambiente acessvel caracteriza-se, principalmente, pela existncia de uma malha viria livre de obstculos e uma rede de transportes pblicos que p