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129 Interciência & Sociedade 1. INTRODUÇÃO Os problemas socioambientais, en- carados como ameaçadores à sobrevivên- cia do homem na terra, são relativamente novos no planeta Terra. Passou a se agra- var a partir do momento em que o homem se distanciou da natureza e tornou a enca- rá-la como uma fonte de recursos disponí- veis e ilimitado (PENTEADO, 1999). O desenvolvimento de um projeto ambien- tal é apenas um caminho, porém importan- tíssimo para todo cidadão, multiplicando o saber e desencadeando ações em conjunto em busca de um ambiente harmonioso a to- dos (PADUA & TABANEZ, 1997). O problema da destinação adequa- da e produção de lixo é um desafio a ser abordado na educação ambiental e ser compreendido por cada individuo por ser ele parte atuante desse que é um dos mais preocupantes problemas ambientais (PA- DUA & TABANEZ, 1997). Segundo dados da Associação Bra- sileira da Industria do Pet (ABIPET, 2010), em 2008 o Brasil consumiu 462.000 tonela- das de Pet para a produção de garrafas. De acordo com Cempre (2010), em 2008 apro- ximadamente 54,8% das embalagens que foram consumidas tiveram sua reciclagem consumada, o que equivale a quantidade de 253.000 toneladas das 462.000 tonela- das produzidas em 2008. As garrafas são recuperadas principalmente através de ca- tadores. Apesar de existir muitos catadores no Brasil, o grande problema é o baixo re- torno da atividade de recolhimento e comer- REUTILIZAÇÃO DE GARRAFAS PET PARA PRODUÇÃO DE MÓVEIS E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL RESUMO: O presente trabalho teve como um dos objetivos sensibilizar as pessoas para a preservação ambiental através da reutilização de garrafas Pet dois litros transformando-as em móveis. Outro objeti- vo foi mostrar para as populações menos favorecidas outra forma de obter lucro a partir dos resíduos, com a venda desses móveis. A venda de um resíduo, como a garrafa Pet, transformado em um móvel, pode gerar um lucro até 31 vezes maior que vender a garrafa Pet para empresas de reciclagem. Este trabalho foi implantado nas escolas municipais do programa de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente de Mogi Guaçu-SP (AICA). Apesar da dificuldade inicial em obter número desejado de garrafas, observou-se grande motivação das crianças em participarem do trabalho, colaborando com a arrecadação de Pet no bairro em que residem e com as atividades práticas para a construção dos móveis. PALAVRAS-CHAVE: Material Reciclável, Educação Ambiental, Criança e Adolescente, Sustentabilida- de, Reutilizar. CORRÊA, Rony Felipe Marcelino Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] ABSTRACT: This work was one of the aims at raising awareness about environmental conservation through the reuse of plastic bottles by transforming them into furniture. Another objective was to show the low-income people another way to earn a profit from waste, with the sale of these piece of furniture. The sale of a waste, such as plastic bottle, transformed into a piece of furniture, can generate an income 31 times greater than to sell the plastic bottle to recycling companies. This work was implemented in municipal schools the program of Integral Care of Children and Adolescents of Mogi-SP (AICA). Despite the initial difficulty in obtaining desired number of plastic bottles, there was great motivation for children to participate in the work, collaborating with the collection of bottles in the neighborhood where they reside and with the practical activities to build the furniture. KEYWORDS: Recyclable Material, Environmental Education, Children and Adolescents, Sustainability, Reuse.

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129Interciência & Sociedade

1. INTRODUÇÃO

Os problemas socioambientais, en-carados como ameaçadores à sobrevivên-cia do homem na terra, são relativamente novos no planeta Terra. Passou a se agra-var a partir do momento em que o homem se distanciou da natureza e tornou a enca-rá-la como uma fonte de recursos disponí-veis e ilimitado (PENTEADO, 1999). O desenvolvimento de um projeto ambien-tal é apenas um caminho, porém importan-tíssimo para todo cidadão, multiplicando o saber e desencadeando ações em conjunto em busca de um ambiente harmonioso a to-dos (PADUA & TABANEZ, 1997). O problema da destinação adequa-da e produção de lixo é um desafio a ser abordado na educação ambiental e ser

compreendido por cada individuo por ser ele parte atuante desse que é um dos mais preocupantes problemas ambientais (PA-DUA & TABANEZ, 1997). Segundo dados da Associação Bra-sileira da Industria do Pet (ABIPET, 2010), em 2008 o Brasil consumiu 462.000 tonela-das de Pet para a produção de garrafas. De acordo com Cempre (2010), em 2008 apro-ximadamente 54,8% das embalagens que foram consumidas tiveram sua reciclagem consumada, o que equivale a quantidade de 253.000 toneladas das 462.000 tonela-das produzidas em 2008. As garrafas são recuperadas principalmente através de ca-tadores. Apesar de existir muitos catadores no Brasil, o grande problema é o baixo re-torno da atividade de recolhimento e comer-

REUTILIZAÇÃO DE GARRAFAS PET PARA PRODUÇÃO DE MÓVEIS E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

RESUMO: O presente trabalho teve como um dos objetivos sensibilizar as pessoas para a preservação ambiental através da reutilização de garrafas Pet dois litros transformando-as em móveis. Outro objeti-vo foi mostrar para as populações menos favorecidas outra forma de obter lucro a partir dos resíduos, com a venda desses móveis. A venda de um resíduo, como a garrafa Pet, transformado em um móvel, pode gerar um lucro até 31 vezes maior que vender a garrafa Pet para empresas de reciclagem. Este trabalho foi implantado nas escolas municipais do programa de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente de Mogi Guaçu-SP (AICA). Apesar da dificuldade inicial em obter número desejado de garrafas, observou-se grande motivação das crianças em participarem do trabalho, colaborando com a arrecadação de Pet no bairro em que residem e com as atividades práticas para a construção dos móveis.PALAVRAS-CHAVE: Material Reciclável, Educação Ambiental, Criança e Adolescente, Sustentabilida-de, Reutilizar.

CORRÊA, Rony Felipe Marcelino Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

[email protected]

ABSTRACT: This work was one of the aims at raising awareness about environmental conservation through the reuse of plastic bottles by transforming them into furniture. Another objective was to show the low-income people another way to earn a profit from waste, with the sale of these piece of furniture. The sale of a waste, such as plastic bottle, transformed into a piece of furniture, can generate an income 31 times greater than to sell the plastic bottle to recycling companies. This work was implemented in municipal schools the program of Integral Care of Children and Adolescents of Mogi-SP (AICA). Despite the initial difficulty in obtaining desired number of plastic bottles, there was great motivation for children to participate in the work, collaborating with the collection of bottles in the neighborhood where they reside and with the practical activities to build the furniture. KEYWORDS: Recyclable Material, Environmental Education, Children and Adolescents, Sustainability, Reuse.

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cialização da sucata, fato que leva as co-operativas a tentarem agregar maior valor aos produtos manufaturando-os (SILVA et. al., 2003). Observando os problemas ambien-tais no Brasil e no mundo, a problemática do lixo no Brasil, os aterros sanitários cada vez mais saturados e aumentando do nú-mero de catadores com a remuneração in-justa pelo esforço, o presente trabalho apre-sentará uma forma ambientalmente correta e socialmente justa de recuperar garrafas Pet. Os resultados deste trabalho servirão de exemplo para que cooperativas, comuni-dades carentes, ONGs, empresas, prefeitu-ras e outras escolas encontrem na garrafa Pet descartada, uma oportunidade de cons-cientizar, conservar o meio ambiente e ob-ter lucro com isso.

1.1. Garrafa Pet

O Pet (politereftalato de etileno) é um poliéster, polímero termoplástico, sen-do o melhor e mais resistente plástico para a produção de embalagens, gerando tan-to resistência mecânica e química como formando uma barreira de gases e odores (ABIPET, 2010). Os químicos ingleses Whinfield e Dickson em 1941 foram os que desenvolveram o Pet, porém só começaram a ser fabrica-dos em grande escala a partir de testes de segurança e meio ambiente na década de 70 (CEMPRE, 2010). Chegou ao Brasil em 1988 primeiramente sendo usado na industria têxtil e logo depois, em 1993, no mercado de embalagens para refrigerantes (ABIPET, 2010). Analisando a uso do Pet sobre as-pectos econômicos é muito interessante tanto para quem produz como para quem consome. Porém, em aspectos ambientais é muito preocupante, sendo 10 milhões de garrafas fabricadas por dia, havendo pou-cos dias entre produção, uso e descarte, e séculos para a degradação (SILVA et. al., 2007). O grande problema é sua resistên-cia à biodegradação, sendo resistente à radiação, calor, ar e água, permanecendo no meio ambiente durante dezenas de anos conservando suas propriedades físicas, até

irem se degradando após centenas de anos (NASCIMENTO et. al., 2005).

1.2. Destinação de garrafas Pet utilizadas no Brasil

No Brasil, após seu uso e reciclagem, sua maior utilização é na produção de fibra de poliéster para indústria têxtil, que segundo a Cempre (2010) gera diversos produtos tais como, fios de costura, forrações, tapetes e capacetes, mantas de TNT, entre outras uti-lidades. Entretanto, a manufatura da garra-fa Pet é uma alternativa muito interessan-te, tendo diversas vantagens sobre a reci-clagem, como por exemplo, não necessita gastos com equipamentos caros e aumenta o lucro devido o valor agregado ao produto final (SILVA et. al., 2003). Segundo Silva et. al. (2007) além do aspecto positivo ambiental, o aspecto social é fortemente afetado positivamente, gerando empregos as classes menos favo-recidas que não tem oportunidade de estu-do e encontram dificuldade de colocação profissional. Estima-se que no Brasil 500 mil pessoas vivam da coleta seletiva e ven-da do material reciclado.

1.3. Produção de móveis em garrafa Pet

A produção de móveis a partir de garrafas Pet se tornou realidade graças à criatividade e dedicação do professor de Ci-ências, do Rio de Janeiro, Sebastião Feijó. A produção é possível graças a invenção desse professor da “célula” que é produzida através do corte e encaixe entre garrafas. Segundo Estrada (2003) a invenção foi re-gistrada em 1998, e a tal célula aumenta a firmeza para construir o que quiser a partir dela. De acordo com a mesma fonte o pro-fessor ministra diversos cursos em comuni-dades carentes, contribuindo muito com o meio ambiente e desenvolvimento social de comunidades. Uma pesquisa realizada pelo Ins-tituto Nacional de Tecnologia (INT) do Rio de Janeiro-RJ apóia cooperativas de cata-dores em projetos na construção de móveis feitos em garrafa Pet. De acordo com Sil-va et. al. (2007) um dos projetos tem três

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objetivos comuns básicos: gerar trabalho e renda para catadores em comunidades ca-rentes com os novos produtos; aumentar o ciclo de vida da garrafa Pet; melhorar a auto estima dos catadores através de trabalhos criativos, quebrando a rotina de seus traba-lhos de coleta. Outro projeto situado em Vigário Geral, Rio de Janeiro-RJ, recebe financiamento da Fá-brica de Catalisadores Carioca, que abran-ge quatro aspectos básicos dos móveis: o design, a resistência, avaliação e melhoria da ergonomia e divulgação na mídia. O pro-jeto também tem parceria com outras co-operativas que comercializam os produtos (MOVERGS, 2010).

2. Material e métodos

2.1. Local de estudo

O presente trabalho foi realizado no município de Mogi Guaçu-SP, localizado a latitude 22º22’20’’ e a longitude 46º56’32’’, estando a uma altitude de 591 metros, ten-do uma população de aproximadamente 140.000 habitantes em uma área de 885,00 km2 (WIKIPEDIA, 2010). O trabalho foi de-senvolvido no programa de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente (AICA) que é coordenado pela Secretaria de Edu-cação de Mogi Guaçu-SP. A Secretaria de Educação de Mogi Guaçu-SP deu total apoio ao trabalho, apostando e incentivan-do para que o trabalho obtivesse êxito.

2.2. Programa AICA

O programa atualmente conta com 20 núcle-os, 53 turmas e 53 professores, atendendo uma média de 1.200 alunos da rede munici-pal de ensino, em horários extra-escolares. O programa tem como diretriz o fortaleci-

mento das relações pessoais, familiares e sociais; a valorização das necessidades e interesses das crianças e dos adolescentes de acordo com o sexo, faixa etária, condi-ções de vida, grau de desenvolvimento fí-sico e mental, a valorização da escola, evi-tando assim, a evasão escolar, facilitando a inserção social das crianças. Para poder dar atendimento mais eficiente e ter um trabalho com melhores resultados, o trabalho selecionou 9 turmas dentro de 5 núcleos do AICA. Foram envol-vidas 9 professoras e uma média de 140 crianças e adolescentes, com uma faixa etária média de 10 anos. Os bairros sele-cionados foram os seguintes: Jardim Gua-çuano, Jardim Ypê II, Itacolomy II, Itamarati e Planalto.

2.3. Objetos utilizados e forma de trabalho

Os materiais utilizados foram: tesou-ras, fitas adesivas largas e garrafa Pet. As tesouras utilizadas foram as dos próprios alunos e mais algumas adquiridas na Se-cretaria de Educação. Fita adesiva foi o único gasto do trabalho. A fita adesiva larga era necessária para fixar as garrafas Pets cortadas umas nas outras e dar firmeza aos móveis produzidos. As garrafas Pet tinham que ser de dois litros e padronizadas com o mesmo formato para dar o encaixe correto quando eram cortadas. A forma de trabalho utilizou-se da técnica de agrupamento de garrafas desen-volvida pelo professor Sebastião Feijó da Escola Municipal Érico Veríssimo do Rio de Janeiro.

O Trabalho era realizado pelas pró-prias crianças, com auxílio do coordenador e dos professores responsáveis (Figuras 1 e 2).

Figuras 1 e 2. Crianças dos AICAs desenvolvendo os trabalhos em equipe. Fonte: do autor.

Reutilização de garrafas pet para produção de móveis e desenvolvimento socioambiental

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Garrafas utilizadas

O trabalho reutilizou, entre maio e setembro, cerca de 1.200 garrafas Pet dois litros arrecadada pelas 9 turmas dos 5 nú-cleos do AICA. O peso total aproximado é de 68 kg, o que levaria até 400 anos para degradar no meio ambiente.

3.2. Arrecadação de garrafas

A arrecadação de garrafas foi feita através de campanhas com as crianças das escolas do programa AICA, que logo, fize-ram campanhas de arrecadação no bairro onde estudam. O trabalho apresentou difi-culdades em arrecadar número suficiente de garrafas para produção dos móveis por principalmente três motivos: as garrafas para a produção dos móveis tem que ser padronizadas com o mesmo formato (quase sempre do mesmo fabricante); há formatos de garrafas Pet que não dão o encaixe cor-reto para a produção dos móveis, limitando o projeto na região a quase praticamente marca de dois fabricantes; muitas das crian-ças integrantes do programa AICA são de baixa renda, e algumas das famílias delas utilizam-se da comercialização de garrafa

Pet para a complementação da renda fami-liar, o que fazia com que os familiares não as deixassem levar garrafas para o traba-lho. Dos três problemas, o mais interessan-te para o trabalho foi o ultimo, pois, com o resultado deste trabalho, essas famílias po-derão perceber que é mais rentável trans-formar a garrafa Pet em um produto do que vendê-la por um preço não muito atrativo.

3.3. Móveis gerados

A princípio o trabalho iniciou-se ensinando as crianças a construir pufes, que é a base para a construção de diversos outros móveis. A partir do momento que as crianças iriam se aperfeiçoando na técnica e arrecadando mais garrafas, novos móveis iriam se transformando, como por exemplo, cadeiras, mesas, sofás e poltronas (Figuras 3 e 4). De acordo com Silva et. al. (2007) um projeto semelhante implantado em uma Cooperativa de catadores no Rio de Janei-ro, ministrava o curso em quatro aulas com aulas teóricas pela manhã e pela tarde aula prática, sendo que no final do curso o cata-dor teria produzido um pufe.

O trabalho pretende ir inovando e produzindo móveis maiores à medida que as crianças forem arrecadando mais garra-fas.

Figura 3. Sofá, mesa e pufes de garrafa pet revestidos com retalhos. Fonte: do autor.

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Os móveis que foram produzidos em garrafa Pet são tão quanto e até mais confortável e resistentes que móveis produ-zidos a partir de outras recursos naturais. Segundo testes realizados no Instituto Na-cional de Tecnologia (INT) apresentou que, um sofá construído da mesma forma ao do trabalho, tem resistência semelhante a um sofá de madeira (SILVA et. al., 2003).

3.4. Retorno e comercialização dos produ-tos

O resultado esperado no início foi alcançado, havendo-se a transformação de um resíduo que uma vez poderia ser des-cartado de forma irregular na natureza ou ser reciclado a um preço que não poderia ser tão atraente aos catadores. O trabalho promoveu a agregação de valor ao produto, proporcionando a multiplicação em várias vezes do valor de venda do produto final. Há um projeto no Rio de Janeiro chamado CoopManga que tem a mesma linha de tra-balho, que, segundo Silva et. al. (2003) a

expectativa do projeto foi a de gerar novos trabalhos na comunidade que o projeto esta localizado e aumentar os lucros dos catado-res com a venda dos produtos.

O presente trabalho teve vários interessados na compra dos produtos, por valores muito atraentes, mas devido a falta de demanda no início do trabalho, achou-se melhor mantê-los, a princípio, para exposi-ção. Para exemplificar o valor agregado ao produto, um pufe produzido pelas turmas do AICA do Jardim Guaçuano (Figuras 5 e 6) teve o valor estimado em R$40,00 depois de devidamente revestido com retalhos de um material usado na produção de tapetes da empresa Rayza da cidade de Inconfi-dentes-MG, que colaborou com o trabalho. Comparando a diferença de valores, com a mesma quantidade de garrafas gastas para construir um pufe, um catador ganharia uma média de R$1,26 levando em consideração o valor de R$0,50/kg de garrafa Pet, conse-quentemente o catador ganharia 31 vezes a mais com o produto pufe.

Figura 4. Sofá em processo de produção. Fonte: do autor.

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Figuras 5 e 6. Pufes da Turma do Jardim Guaçuano revestidos com retalhos. Fonte: do autor.

Conforme as crianças forem crian-do mais móveis durante o ano, os mesmos serão vendidos e, com o recurso adquirido, elas poderão comprar materiais necessá-rios para outras atividades, financiar via-gens culturais e educativas, etc, aprenden-do também o valor do trabalho e dinheiro e tendo noção de como administrá-lo para suprir as necessidades.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o trabalho pôde-se apresentar uma solução ambientalmente correta para a destinação final das garrafas Pet usadas e, também uma forma mais rentável para ca-tadores e outras pessoas arrecadarem di-nheiro com a manufatura de garrafas Pet. A transformação das garrafas em móveis não é tão complicada, visto que até crianças de faixa etária baixa conseguiram produzir os móveis trabalhando em equipe.

Levando em consideração que o coordenador do trabalho incentivou as crianças a revestir os móveis com teci-dos que eram descartados da industria, o trabalho ficou ainda mais ecológico. Além de contribuir com a destinação adequada da garrafa Pet, dava um destino adequado aos resíduos industriais também, conse-quentemente agregando mais valor ao pro-duto ainda.

Com a exposição dos mó-veis e comercializações futuras dos mes-mos, mais pessoas serão estimuladas a separar e dar destino certo as garrafas e,

serão conscientizadas sobre a questão do lixo e seus deveres como cidadãos para preservar o meio ambiente.

O trabalho despertou o in-teresse da empresa COARE, que traba-lha com produtos recicláveis no município. A empresa está empenhada em ajudar as crianças com a disponibilização de garrafas Pet necessárias para as atividades e em divulgar os trabalhos desenvolvidos pelas crianças na cidade para fortalecer a cons-cientização ambiental.

Espera-se que ações de cunho socioambiental se multipliquem no município para inserir e dar dignidade as classes menos favoráveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABIPET. O que é Pet? Associação Brasileira da In-dustria do Pet. Disponível em: <http://www.abepet.com.br/oqepet.php> acesso em 31 de agosto de 2010.

CEMPRE. O Mercado para Reciclagem. Disponí-vel em: <http://www.cempre.org.br/fichas_tecnicas.php?lnk=ft_pet.php> acesso em 31 de agosto de 2010

ESTRADA, J. D. A cápsula da mudança. Entrevista ao site EcoPop Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: <http://www.ecopop.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=5&infoid=70 >. Acesso em 01 de setembro de 2010.

MOVERGS. Móveis Recicláveis. Reportagem publi-cada em 18 de maio de 2006. Disponível em: <http://www.movergs.com.br/noticias/noticia_detalhe.php?gCdCategoriaNoticia=16&gCdNoticia=271 > Acesso

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em 30 de agosto de 2010

NASCIMENTO, A. M.; et al. Reciclagem do Lixo e Química Verde. Curso de Formação Continuada. Ju-lho a outubro/2005.

PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F. Educação Ambien-tal: Caminhos Trilhados no Brasil. Instituto de Pesqui-sas Ecológicas. 283p. Brasília-DF, 1997.

PENTEADO, M. J. A. C. Conceitos pra se fazer Edu-cação Ambiental. Cadernos de educação ambiental. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo n.3 112p., 1999

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WIKIPEDIA. Mogi Guaçu. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mogi_Guaçu> acesso em 31 de agosto de 2010.

Rony Felipe Marcelino Corrêa é graduado em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Inconfidenets/MG. Graduando em Engenharia Ambiental pela Faculdade Mu-nicipal “Prof. Franco Montoro”, Mogi Guaçu/SP.

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