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APONTAMENTOS SOBRE OS MODOS DE ENSINAR FUTSAL E HANDEBOL NA ESCOLA
Isabella Blanche Gonçalves Brasil – PPGDEB/UNESP/Bauru, Colégio Pedro II – Campus Niterói, NEPATEC/UNESP/Bauru
Thalita Fernanda de Oliveira Macedo PPGDEB/UNESP/Bauru, Escola Estadual Prof. Luiz Braga e NEPATEC/UNESP/Bauru
Lílian Aparecida Ferreira – PPGDEB/UNESP/Bauru, DEF/UNESP/Bauru e NEPATEC/UNESP/Bauru
RESUMOO conteúdo esportivo é apontado pelos professores de Educação Física como carente de elementos didáticopedagógicos apropriados ao ambiente escolar. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo analisar, sob a perspectiva docente, o ensino do futsal e do handebol na escola. A trajetória metodológica foi orientada pela pesquisa exploratória, utilizando como técnica de coleta a entrevista estruturada. Participaram do estudo cinco docentes de Educação Física que atuam do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental em escolas municipais de uma cidade do interior de São Paulo. Os resultados apontaram que os professores ensinam futsal e handebol na escola ainda pautados pelo esporte formal, ensinando principalmente, regras, fundamentos, histórico do esporte e utilizam jogos adaptados. Tais elementos são abordados de forma fragmentada, tendo como referência os gestos motores do jogo e não o jogo em si e o entendimento do mesmo. Embora utilizem jogos recreativos e jogos adaptados como estratégias de ensino, estes, em sua maioria, são meios para desenvolver os fundamentos e as regras. O histórico das modalidades também foi abordado, no entanto, descontextualizado da realidade social e do momento presente dos alunos, sendo tratados de modo pontual em sala de aula. Os dados encontrados indicam a necessidade de implementação de propostas metodológicas que possibilitem a reflexão por parte do professor, sobre sua prática, a fim de que o mesmo compreenda o modelo que está sendo adotado e a necessidade de mudanças. Com isso é importante mais pesquisas sobre as metodologias de ensino, questionando os modos como o ensino do conteúdo esportivo vem sendo abordado pelos docentes nas escolas.Palavraschave: Ensino dos esportes coletivos. Handebol e Futsal na escola. Educação Física Escolar.
INTRODUÇÃO
O handebol e o futsal vêm sendo reconhecidos pelos docentes como um
importante conhecimento a ser ensinado aos alunos (BASQUE et. al., 2008), entretanto,
o conteúdo esportivo é apontado pelos professores de Educação Física como carente de
elementos didáticopedagógicos apropriados ao ambiente escolar.
A crítica se faz porque, na maioria das vezes, tanto na formação inicial quanto
em cursos de formação continuada o mesmo aparece estruturado e sistematizado a partir
do esporte de altorendimento (SOUZA, 2003; KUNZ, 1994).
Autores como Parlebás (1987), Bayer (1994), Griffin, Mitchel e Oslin (1997),
Garganta (1995) reconfiguram o olhar sobre o jogo esportivo, buscando compreendêlo
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a partir de elementos estruturais/funcionais e de sua lógica externa. Esta releitura
compreensiva nos permite encontrar elementos de semelhanças e distinções entre os
jogos esportivos, favorecendo uma organização didática no processo de seleção e
organização dos conteúdos.
Para tanto, o objetivo deste estudo, de caráter exploratório foi analisar, sob a
perspectiva docente, o ensino do futsal e do handebol na escola.
PERCURSO METODOLÓGICO
O estudo utilizou a pesquisa exploratória e a entrevista estruturada como técnica
de coleta de dados. Participaram do estudo cinco docentes de Educação Física que
atuam do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental em escolas municipais de uma cidade do
interior de São Paulo. As entrevistas envolveram questões abertas e fechadas sobre o
ensino do handebol e do futsal na escola. Os professores foram identificados como P1,
P2, P3, P4 e P5 de forma aleatória, desse universo três são do sexo masculino e dois do
sexo feminino, com idades entre 27 e 50 anos. A análise dos dados se deu pela leitura
das entrevistas transcritas, agrupando os resultados por elementos de identificação e
discutindo os mesmos a luz de referenciais teóricos sobre o tema.
ALGUMAS REFLEXÕES
Para melhor visualização dos resultados construímos o quadro síntese (Quadro
1).
Os professores responderam que ensinam tanto futsal como handebol na escola,
com exceção de P3 que declarou não ensinar futsal por questões pessoais, alegando que
não teve interesse desde sua graduação (formação inicial), entretanto a mesma permite
que seus alunos joguem o futebol – “como forma de troca para dar outros conteúdos”,
como fica explícito em sua fala.
Todos os professores relataram desenvolver os fundamentos, e ainda utilizar os
jogos recreativos como estratégia de ensino, priorizando a execução do movimento,
como menciona P5: “... pegapega com a bola, porque é condução...” ou como diz P4:
“eles não sabem que estão fazendo, tão fazendo exercício, tão aprendendo a técnica,
mas de forma recreativa.” Outra estratégia é a utilização de exercícios ou estafetas,
como aponta P1: “Ensino todos os fundamentos do futebol, o chute, passe, lançamento,
drible... fundamentos com estafeta e chute a gol”.
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Parecenos possível apontar que os professores ensinam os esportes coletivos de
forma fragmentada, valorizando a execução do fundamento esportivo, ainda que o
mesmo ocorra por meio de jogos e brincadeiras. Em contraposição a este modelo de
ensino fragmentado, Bayer (1994) propõe o ensino a partir do funcionamento e da
dinâmica do jogo esportivo, buscando dar condições para que os alunos compreendam a
lógica dos esportes de forma autêntica, à medida que dão sentido e modificam os
componentes que constroem o jogo. Isto quer dizer que o aluno, mais do que reproduzir
gestos técnicos, deverá se comportar ativamente no jogo, compreendendo as razões para
as quais realiza seus movimentos no jogo.
Os jogos adaptados e minijogos também são utilizados por todos os professores,
exceto por P1. Dessa maneira, destacamos a fala de P4 quando aborda os jogos
adaptados em suas aulas – “Trabalho sim, 2x2, 3x3, depende do que você quer, né?
Como? Uso meia quadra e faço diversos setores também 2x2, 1x1, pra desenvolver o
trabalho de drible, e domínio de bola”.
Observamos mais uma vez, com o relato de P4, que os jogos adaptados são
utilizados como estratégia de ensino dos fundamentos e não pensando na dinâmica (o
objetivo do jogo, relação entre os parceiros, entre os adversários, ocupação do espaço,
relação com a bola, as regras) que dá sentido ao jogo, assim, é necessário repensar a
utilização dos jogos adaptados e minijogos também contemplando as ações táticas
(tomadas de decisão individual), promovendo uma melhor leitura do jogo. Isso não quer
dizer que a técnica de movimento não seja algo importante, como sugere Garganta
(1995) a tática e a técnica são recursos indissociáveis, que não podem ser ensinados
separadamente, já que um depende do outro. Diante de uma situação de jogo (tática), o
jogador precisa executar a resposta mais adequada (técnica) que se manifesta sobre uma
matriz de entendimento da ação e não de aleatoriedades.
Todos os professores ensinam as regras em ambas as modalidades, porém de
formas distintas. Assim, P1 mencionou trabalhar as regras junto com o histórico das
modalidades e explicálas durante o jogo quando surgirem dúvidas dos alunos. Ele se
pauta pelas nas regras oficiais. P4 ensina as regras oficiais da modalidade e as diferencia
das regras que ele utiliza na escola em suas aulas, pois as modifica conforme a
necessidade, como passar a bola por todos na equipe, limitar o tempo de posse de bola,
etc. P2 propõe pesquisas aos discentes, conversas sobre as regras e jogos adaptados. P3
ensina as regras básicas do handebol, explicandoas na lousa em sala de aula, e
conversas durante o jogo. P5 realiza o jogo com regras reduzidas e inclui, conforme os
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alunos evoluem dominando os conceitos e o jogo, aumentando a complexidade das
regras até o jogo oficial.
Embora seja ensinada por todos, constatamos que nenhum professor
desenvolveu um trabalho reflexivo na construção das regras, porque elas existem ou
mesmo sua função no jogo, fazendo menção as críticas de Bracht (1997), sobre a
abordagem do esporte nas escolas que enfatiza o respeito irrefletido e incontestável das
regras, fato que não possibilita a reflexão e o questionamento, mas sim a acomodação e
o conformismo.
O histórico das modalidades também foi abordado por todos os professores, que
relataram ensinar através de pesquisas e/ou utilizando lousa e giz em sala de aula. Isso é
explicitado na fala de P1: “Passo na lousa, passo a história do esporte, alguns pontos
principais do esporte... só na lousa ou às vezes pela internet”. A defesa do
desenvolvimento da historicidade dos conteúdos da Educação Física escolar, em
especial o esportivo, não deveria significar um compromisso somente de transmissão,
mas sim de reflexão, dando condições para que o aluno pudesse refletir sobre o
momento presente. Como destaca Kunz (1994), o desenvolvimento do esporte na
escola, enquanto conteúdo da Educação Física, deveria proporcionar um entendimento e
compreensão do esporte como fenômeno cultural, que segundo o autor, só poderia ser
possível se aliado a uma ação reflexiva.
CONSIDERAÇÕES
Com o estudo realizado podemos considerar que o futsal e o handebol nesse
contexto ainda são ensinados, pautados no modelo do esporte formal, embora alguns
relatos apontem pequenas mudanças, como o uso de jogos adaptados, mesmo sendo
para o ensino de fundamentos esportivos.
Os dados encontrados indicam a necessidade de implementação de propostas
metodológicas que possibilitem a reflexão por parte do professor, sobre sua prática, a
fim de que o mesmo compreenda o modelo que está sendo adotado e a necessidade de
mudanças. Com isso é importante mais pesquisas sobre as metodologias de ensino,
questionando os modos como o ensino do conteúdo esportivo vem sendo abordado.
Dessa maneira, os professores poderão adotar novas posturas frente a esse
fenômeno históricocultural que é o esporte, reconhecendo que o movimento influencia
o ser humano como um todo, fazendo com que normas e valores também sejam
incorporados.
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REFERÊNCIAS
BASQUE, Lucas T. et. al. O ensino do handebol nas escolas: a perspectiva docente. In: 5o. Congresso de Extensão Universitária, 2008, Águas de Lindóia. Anais..., 2008.BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Trad. Machado da Costa. Lisboa: Dinalivro, 1994.BRACHT, V. Educação Física e aprendizagem social. 2. ed, Porto Alegre: Magister, 1997.GARGANTA, J. Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos. In: GRAÇA, A; OLIVEIRA, J. O ensino dos jogos desportivos. Centro de estudos dos jogos desportivos. Porto/Portugal: Faculdade de Ciência do Desporto e de Educação Física/Universidade do Porto, 1995. GRIFFIN, L. L.; MITCHELL, S. A.; OSLIN, J. L. Teaching sport concepts and skills: A tactical games approach. Champaign, IL: Human Kinetics, 1997.KUNZ, E. Transformação didáticopedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.PARLEBÁS, P. Perspectivas para una Educación Física Moderna. Andalucia/Espanha: Unisport Andalucia, 1987.SOUZA, F. J. Educação física, formação profissional e saberes docentes: um estudo de caso. 2003. Dissertação (Mestrado) Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2003.
ANEXO
QUADRO 1 – Manifestações dos docentes sobre as atividades e temas desenvolvidos
em suas aulas de futsal e handebol
O que ensina?P1 P2 P3 P4 P5
Fut Hand Fut Hand Fut Hand Fut Hand Fut Hand
a) Fundamentos Esportivos X X X X X X X X X
b) Jogos Adaptados e mini‐
jogosX X x X X X X X
d) Regras X X X X X X X X X X
e) Histórico do esporte X X X X X X X X
f) Táticas X X
g) Campeonatos esportivos X X X
h) Festivais esportivos X X X X
i) Atividades de
condicionamento físicoX X X X
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