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História Econômica Geral I Parte I É um erro acreditar que alguma economia apresenta apenas um modo de produção, ou seja, esse modo de produção em “estado puro”. Uma economia é definida pelo modo de produção predominante no período considerado. O Capitalismo não é exceção. Para que uma economia passe a ser definida como capitalista, não basta que a maioria da população produza seguindo esse modelo, é necessário que a superestrutura tenha admitido esse modo de produção como o predominante: as leis passam a ser capitalistas e o mesmo ocorre com os costumes dessa sociedade e com o Estado. A transição entre esses modos de produção é dada por revoluções, por grandes quebras do modelo antigo para um novo modelo. De acordo com Marx, na transição para o Capitalismo houve um conflito entre as forças produtivas e as relações de produção, o que gerou a dissolução do Feudalismo para o Capitalismo. Para que o Capitalismo entrasse em cena, era necessário que houvesse a concentração de propriedades dos meios de produção, a expropriação do produtor direto (camponês) desses meios de produção, com a liberação da força de trabalho, que seria transformada em mercadoria. Há um intenso debate entre dois economistas. O britânico Maurice Dobb e o norte-americano Paul Sweezy. Dobb classificava o Feudalismo baseado na servidão, com baixa produtividade, caracterizado como transferência de excedente por meio de coerção extraeconômica. Segundo esta classificação, o Feudalismo seria compatível com a existência de comércio e valores de troca, e a sua base, a servidão, não requer uma economia natural, na qual excedentes são admitidos, mas não são o objeto final. Desta forma haveria comércio de longa distância, e, portanto, possibilidade de mercados dentro do Feudalismo. Porém segundo Sweezy, a crítica vai para a generalização de Dobb ao assumir que o modelo europeu serviria para o resto do mundo. O Feudalismo seria um sistema de produção não mercantil, onde a produção seria para consumo, e não para troca, caracterizando-o como uma economia natural, o que não gera incentivos à inovação. Assim a servidão, por estar presente em outros modos de produção, não seria um fator que pudesse definir o Feudalismo por si só. Além disso, o comércio existente seria predominantemente local, não caracterizando um mercado, diferente

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Histria Econmica Geral IParte I um erro acreditar que alguma economia apresenta apenas um modo de produo, ou seja, esse modo de produo em estado puro. Uma economia definida pelo modo de produo predominante no perodo considerado. O Capitalismo no exceo. Para que uma economia passe a ser definida como capitalista, no basta que a maioria da populao produza seguindo esse modelo, necessrio que a superestrutura tenha admitido esse modo de produo como o predominante: as leis passam a ser capitalistas e o mesmo ocorre com os costumes dessa sociedade e com o Estado. A transio entre esses modos de produo dada por revolues, por grandes quebras do modelo antigo para um novo modelo. De acordo com Marx, na transio para o Capitalismo houve um conflito entre as foras produtivas e as relaes de produo, o que gerou a dissoluo do Feudalismo para o Capitalismo. Para que o Capitalismo entrasse em cena, era necessrio que houvesse a concentrao de propriedades dos meios de produo, a expropriao do produtor direto (campons) desses meios de produo, com a liberao da fora de trabalho, que seria transformada em mercadoria.H um intenso debate entre dois economistas. O britnico Maurice Dobb e o norte-americano Paul Sweezy. Dobb classificava o Feudalismo baseado na servido, com baixa produtividade, caracterizado como transferncia de excedente por meio de coero extraeconmica. Segundo esta classificao, o Feudalismo seria compatvel com a existncia de comrcio e valores de troca, e a sua base, a servido, no requer uma economia natural, na qual excedentes so admitidos, mas no so o objeto final. Desta forma haveria comrcio de longa distncia, e, portanto, possibilidade de mercados dentro do Feudalismo. Porm segundo Sweezy, a crtica vai para a generalizao de Dobb ao assumir que o modelo europeu serviria para o resto do mundo. O Feudalismo seria um sistema de produo no mercantil, onde a produo seria para consumo, e no para troca, caracterizando-o como uma economia natural, o que no gera incentivos inovao. Assim a servido, por estar presente em outros modos de produo, no seria um fator que pudesse definir o Feudalismo por si s. Alm disso, o comrcio existente seria predominantemente local, no caracterizando um mercado, diferente da interpretao de Dobb. Para Dobb, no h diferena entre renda-trabalho, renda-espcie e renda-dinheiro. Na renda-trabalho, o campons trabalha para o senhor feudal e no fica na terra. Na renda-espcie, o campons permanece na terra e para produtos ao senhor. Na renda-dinheiro, o campons fica na terra e paga ao senhor em dinheiro.De acordo com Dobb, h um desenvolvimento mercantil a partir do sculo XII, de tal modo que a circulao monetria infiltra a economia rural natural. O incio da transformao do excedente do senhorio em dinheiro por intermdio do capital mercantil fez com que a comutao das obrigaes feudais fosse paga em dinheiro, alm do incio do arrendamento das terras e do emprego de mo de obra assalariada. interessante marcar a diferena aqui entre o servo e o arrendatrio. O servo submisso ao senhor feudal e possui obrigaes quanto a ele. J as obrigaes do arrendatrio terminam no momento em que o aluguel da terra pago. uma relao unicamente contratual. Dobb afirma que as regies mais afastadas das reas onde o capital mercantil era mais desenvolvido foram as primeiras a abandonar o sistema feudal, enquanto nas mais prximas h uma permanncia mais longa da renda-trabalho. Dobb apresenta a segunda servido como a relao de trabalho aplicada no perodo de intensificao do comrcio, no qual os senhores feudais, visando expandir sua produo para consequentemente vender mais, passaram a explorar seus servos ao limite; fazendo inclusive com que a renda trabalho voltasse a ganhar a fora que vinha perdendo entre os sculos X-XII. Para ele, foram a insatisfao do campesinato com os senhores feudais, as relaes de produo e a demanda por renda que impulsionaram a transio para o Capitalismo. A insatisfao crescente da mo de obra fez com que a aristocracia afrouxasse parte das relaes de produo para atrair trabalhadores que estavam saindo dos campos. neste perodo que comea o emprego da mo-de-obra assalariada e o arrendamento das terras, claramente uma medida para dar vida ao modelo feudal que estava falindo, e no como uma consequncia do aumento do capital mercantil que influenciava crescentemente o campo. Existe aqui uma espcie de ruptura. Em um lado, temos o modelo ingls, onde o campesinato consegue resistir intensificao da explorao do senhorio feudal; e o modelo alemo, onde a aristocracia consegue aumentar a explorao da mo de obra. Dobb sugere uma tendncia ao assalariamento em propriedades cujas culturas tivessem alto nvel de produtividade (regies deslocadas), que tornassem viveis as vantagens do trabalho livre, ao passo que a servido teria sido reforada naquelas propriedades em que as culturas tivessem produtividade bastante baixa, tendo de ser reforada pelo emprego extensivo da fora de trabalho (regies ligadas ao mercado de longa distncia). Dobb finaliza afirmando que esse perodo de transio era majoritariamente feudal.Para Sweezy, h um renascimento comercial e urbano. De acordo com ele, h um claro aumento nos gastos de extravagncia por parte da aristocracia, que poderia ter sido causado pela expanso do comrcio de longa distncia, que seria um fator externo ao Feudalismo. O artesanato sustentava a cidade e fornecia mercadorias para a populao do campo, que as podia consumir com o lucro de suas vendas. Sweezy criticava Dobb na sua suposio de que a sada do trabalhador do campo tenha causado a crise feudal. Ele achava que poder ter seu sustento na terra era questo de incluso na sociedade. No ter trabalho era ser um pria. Com isso, Sweezy acredita que um motor externo, que pudesse fornecer melhores condies ao campons, tenha sido o desenvolvimento das cidades. At a prpria noo de riqueza muda. Antigamente, riqueza era sinnimo de produtos, com este conceito mudando para acumulao de renda, dinheiro. Nas regies mais ligadas ao comrcio mercantil, o aumento da produtividade era necessrio na terra para que no houvesse evaso da mo-de-obra. J nas terras mais distantes, um primeiro contato com a mercantilizao causa um aumento da explorao objetivando o lucro. O declnio do Feudalismo teria sido, por sua vez, no fruto da superexplorao do trabalho do campons, mas da incapacidade da classe senhorial em determinadas reas da Europa em manter o controle dessa mesma explorao. Sweezy afirma que o perodo de transio foi um perodo pr-capitalista de mercadorias, pois o incio do capital mercantil acabaria com a infraestrutura feudal, abrindo espao para a instalao do Capitalismo.

Houve uma diferena na desestruturao do modo feudal na Inglaterra e na Alemanha. Enquanto a Inglaterra cercada por mar, os servos do territrio da Germnia tinham terras vizinhas para onde fugir (fronteira agrcola aberta). Sendo assim, os senhores feudais da Germnia, obviamente no querendo permitir a fuga de seus servos, se viram na obrigao de aumentar sua fora coercitiva. Logo, Dobb concluiu que onde a fronteira agrcola fechada, com trabalho abundante e terras produtivas, a servido se extinguiu de forma mais rpida (Inglaterra). Por outro lado, nas regies onde a fronteira era aberta, trabalho escasso e terras piores, surgiu a Segunda servido reprimindo ainda mais o campesinato (Germnia).Os centros urbanos, na viso de Sweezy, vo funcionar como polos de atrao de camponeses, ameaando as relaes de trabalho feudal; e como demandantes e exigidores de eficincia no campo. interessante notar aqui a importncia da desagregao do Imprio Carolngio em 843, quando seus nobres no puderam mais tirar seu sustento da corte imperial e tiveram que passar para a explorao direta da terra. Nesse sentido, precisavam manter seu poder tanto em suas terras, quanto em relao aos outros senhores feudais. Com efeito, quanto maior era a fragmentao do poder e das terras, maior se tornava a explorao devido ao contingente inflacionado de senhores; o que, por sua vez, gerava descontentamento crescente dos servos.Parte IIO Feudalismo era um modo de produo que visava o prprio consumo, sem fins lucrativos. Havia o campons que prestava lealdade ao senhor feudal em troca de cuidado e proteo. Enquanto o servo trabalha unicamente para garantir sua subsistncia, o senhor feudal utiliza suas propriedades para manter o seu cio. O servo produz o necessrio para sua sobrevivncia e qualquer excedente apropriado pelo senhor feudal. Havia os mansos senhoriais, que eram as terras do senhor feudal, na qual o servo trabalha regularmente para a produo de alimentos ao senhor; os mansos servis estavam sob controle do servo, mas no eram propriedade dele, de onde retirava seu sustento e pagava impostos; os mansos comuns, que eram reas de uso coletivo. Pode-se definir manso como uma rea para sustento de uma famlia. Eram recintos fechados por cerca, cuja violao era punida. Havia tambm as vilas, espcies de autarquias dispersas. A populao, na poca, se concentrava de maneira bastante fragmentada. Havia povoamento ao redor das poucas reas que eram frteis. Nas reas no frteis onde a possibilidade de explorao era muito pequena, havia grandes vazios populacionais. A disponibilidade de mo-de-obra tambm varia muito de acordo com a regio. As terras carolngias, por exemplo, haviam uma grande quantidade populacional. Cada regio possua condies para cultivos diferentes. Logo, a distribuio e diviso de terras era feita de forma a maximizar a produo, dando-se uma nfase produo de vinho. A tecnologia era pouca, os utenslios eram frgeis (e com isso, facilmente substitudos), e poucos solos podiam ser explorados. Com baixa produtividade, havia pouco retorno e desperdcio de mo-de-obra.Os campos tinham de ficar periodicamente em pousio, sob pena de perderem toda a fertilidade. Mal equipado para modificar os ciclos de rotao, o homem via-se obrigado a curvar-se s capacidades naturais dos terrenos. A necessidade imperiosa de longos pousios e a obrigao de disseminar amplamente as sementes deviam-se em parte mediocridade dos instrumentos para o arado. Havia alguns instrumentos que permitiam a cultura em terras menos frteis, mas os camponeses tinham pouco acesso a eles. Toda essa cultura era extremamente sensvel ao clima. Pequenas alteraes nas condies climticas poderiam tornar um plantio inteiro improdutivo, que, aliado com grandes gastos de mo-de-obra e vastas extenses de terra, causava grandes perodos de penria.H trs tipos de trabalhadores nos feudos: os servos, que prestavam renda-trabalho nos mansos servis; os assalariados, que iam sazonalmente terra em busca de renda; os libellari, que geralmente prestavam renda-espcie nos mansos livres. Obviamente nem todas as relaes eram de explorao. H aldeias livres (podendo at ser vizinhas de regies de explorao senhorial), onde os camponeses podem comprar e vender terra, com razovel mobilidade social.Verifica-se, de fato, a existncia de numerosssimos mercados nos campos ou nas aldeias. No eram organismos internos do domnio, eram destinados apenas para a transao entre os mansos. Havia um mercado de compra e venda pequeno, mas regular, com participao dos prprios servos. O senhor feudal, sabendo disso, queria ter sua parte e at estimulava a atividade mercantil.A partir do sculo XI, passa a haver uma comutao de renda-trabalho/renda-espcie em renda-dinheiro, com o prosseguimento do arrendamento de terras, com a ajuda dos mercados em expanso (principalmente os de longa distncia). Essa mo-de-obra livre que vira assalariada no manso senhorial era paga atravs da renda extrada dos mansos livres. O manso perde seu papel como unidade tributria. Aqui se percebe o incio da mudana da infraestrutura para o capitalismo, com o incio do trabalho assalariado, mesmo que no houvesse extrao de mais-valia. H tambm um crescimento do poderio do capital-mercantil. A nobreza aumenta seus gastos e contrai dvidas com o poder financeiro-mercantil. Essas dvidas fazem com que haja transferncia de terras, e assim o capitalista mercantil abocanha regies nas aldeias. Aqui comea a haver um aumento dos preos, efeito este por conta da economia monetria adentrando o campo. No necessariamente isto era algo ruim. O contrato de arrendamento no possua valores reajustveis, ento as parcelas ficavam relativamente mais baratas ao longo do tempo. Os senhores tambm passavam a demandar mais e mais moeda, e os camponeses acabavam se endividando com os financistas urbanos. A populao do senhorio tambm era instvel. De tempos em tempos, era vtima de calamidades, como fome e epidemias. Em contrapartida, um impulso demogrfico natural, lento e contnuo tendia a multiplicar os casais. O senhor comea a fracionar os mansos e, pouco a pouco, a distino entre manso livre e manso servil vai diminuindo. Tambm se inicia um processo de desigualdade na classe senhorial. H um empobrecimento geral da classe senhorial laica e, para contornar a situao, comeam a explorar mais as terras improdutivas, acabando com os direitos do campesinato sobre as terras comuns. Existe aqui um clero forte graas a mais de dois sculos de doaes de terras, alm do surgimento de grandes senhores que no se interessavam pelo assunto de produo econmica. Essa desigualdade se aprofunda com o surgimento de uma aristocracia camponesa, que aps alguns sculos de administrao de moinhos e igrejas conseguiam uma riqueza equivalente da pequena nobreza. A pouca mobilidade do campesinato, o superpovoamento dos mansos e as discordncias dos foreiros com suas condies comeavam a gerar uma crise. E, de fato, a crise comea. Houve uma sucesso de anos com chuvas crnicas no incio do sculo XIV que provoca uma crise de cereais, aumentando a mortalidade de forma assustadora. Em algumas regies, a taxa de mortalidade era superior a 10%. Outras perturbaes vieram das guerras, que eram comuns, mas que cresceram no final do sculo XIII. Todas as atividades econmicas se contraram, e a comutao de renda-trabalho em renda-dinheiro desacelera. Incitou-se ao entesouramento e as trocas ficaram limitadas. A guerra torna-se, daqui em diante, praticamente permanente, e sua prtica ganha dimenses destrutivas, o que acentuava ainda mais o desgaste dos solos. A economia senhorial foi severamente atingida. fome e guerra vieram juntar-se ainda outras calamidades que abalaram mais profundamente as estruturas da economia rural. Trata-se das mortalidades, epidemias e pestes, especificamente a mais brutal de todas elas: a Peste Negra. As pssimas condies de higiene e as dificuldades de abastecimento favoreciam o contgio. As taxas de mortalidade subiram mais de quinze vezes. Com tanta reduo populacional, a oferta de mo-de-obra fica ainda mais escassa, o que encarece o preo dos salrios. Esse fato, aliado com uma queda na produtividade e despovoamento do campo acentua ainda mais a crise. Muitos aldees se deslocaram para as cidades para desfrutar de uma melhor proteo, na esperana de conseguirem melhores salrios, o que contribua para a baixa dos preos dos cereais e aumento de salrios. Enquanto o incio da dcada foi marcado por uma alta absurda de at vinte e quatro vezes no preo dos cereais, o contexto seguinte passa a ser de deflao. Os preos dos cereais tiveram baixa de uma mdia de 20% em algumas regies nos preos anteriores alta, por conta da queda da produo afetada pela Peste Negra. A consequncia da queda dos preos foi agravada pela alta dos salrios rurais, tambm por causa da peste. Todas estas perturbaes foram mais sentidas nas cidades, mas os campos no foram poupados. Os pobres ento desaparecem por eliminao fsica: a epidemia os atingiu mais do que as outros. Os sobreviventes ento tiveram a possibilidade de se estabelecer nas exploraes que estavam vagas. Algumas famlias conseguiram obter terras de arrendamento, e das melhores. Houve tambm o abandono das terras infrteis. Assim, o xodo rural e os surtos catastrficos de mortalidade determinaram nos campos um novo ordenamento das foras produtivas, uma ampla requalificao que afetou simultaneamente as condies do emprego e explorao da terra. Cabe notar que isto acontece na Inglaterra, o afrouxamento das relaes se deve fragmentao do direito banal.Na Alemanha, por exemplo, a formao de Estados modernos no conduz fragmentao do direito banal dos senhores. De fato, os senhores preservam esse direito em busca de lealdade. Logo, onde as terras eram abertas e mais infrteis, o senhorio feudal mantm sua dominao, revive e expande a explorao do campesinato devido escassez da fora de trabalho, o que seria a j mencionada segunda servido.Parte IIIMarx sugere a ideia de como dinheiro transformado em capital, por meio desse capital produzida mais-valia e da mais-valia mais capital. A acumulao do capital, porm, pressupe a mais-valia, a mais-valia a produo capitalista, e esta, por sua vez, a existncia de massas relativamente grandes de capital e de fora de trabalho nas mos de produtores de mercadorias. Todo esse movimento parece, portanto, girar num crculo vicioso, do qual s se pode sair supondo uma acumulao primitiva precedente acumulao capitalista, uma acumulao que no resultado do modo de produo capitalista, mas sim seu ponto de partida. A acumulao primitiva no tem um mecanismo interno gerador de contradies. Ela acaba parasitando o modo de produo feudal e possui um aspecto reacionrio, pois no tem interesse em alterar o modo de produo vigente. Ela tambm gera condies que podem gerar o contexto para o Capitalismo:

Concentrao de propriedade Expropriao do produtor direto Mudanas no relacionamento entre proprietrio e terraSegundo Marx, h trs movimentos de acumulao primitiva, que no necessariamente acontecem em sucesso. A primeira ocorre nos sculos XIV-XV. Neste perodo, est ocorrendo a crise feudal. Dois aspectos em relao a esta poca so a deflao, uma queda geral nos preos, a produtividade caiu, os mercados contraram devido a uma crise demogrfica. Com isso, os mercados caem rapidamente, mais porque ele no estritamente necessrio, de fato apenas suprfluo, j que a produo de subsistncia feita no sistema feudal e os mercados apenas vendem excedentes. A crise apenas atinge quem realmente depende do mercado. um contexto onde o mercado ganha importncia, mas ainda no se firma completamente. Apesar da crise, o preo da mo-de-obra aumenta consideravelmente, o que contribui para o aprofundamento da crise feudal. Os salrios sobem, os preos caem. Isso acaba com a produo mercantil. O agente mercantil que conseguiu resistir e aproveitou a prpria crise adquiriu terras. Com a falncia da economia senhorial, a produo estava baixa e havia escassez de mo-de-obra. Assim, o comerciante consegue comprar terras para si a preos baixos. Apenas os agentes mais capazes, aqueles que conseguem mais absorver os custos da crise que sobrevivem. Isso vai convergindo a um monoplio de propriedades. importante notar que a concentrao de renda boa para o capital mercantil, pois h a produo de bens caros. E se no h concentrao, no tem venda de bens de grande valor unitrio. O mercado de massa s se inicia nos EUA por volta da Primeira Guerra Mundial. O capital mercantil, nesse contexto de crise e dificuldades, possui dificuldade de lucrar. H uma mudana que caracteriza a acumulao primitiva. Existe uma transferncia de terra da aristocracia para a burguesia, que arrenda a terra como os senhores feudais faziam. No necessariamente h uma transferncia de fato. Considerando o declnio do poderio do senhor feudal, eles vem uma oportunidade no capital mercantil de manter a sua riqueza. Com isso, a aristocracia se transforma em burguesia mercantil. H tambm a transferncia de renda mvel, que passa a agir como capital mercantil.No sculo XVI, h uma virada brusca. At este momento, no havia inflao generalizada, afinal, mal havia um mercado nacional, integrado. Eles eram extremamente locais. O ouro e a prata que Portugal e Espanha extraem da Amrica arrebentaram com a Europa, que sofreu com a escassez desses metais preciosos. H uma presso de demanda de metais que gera a inflao, pois as foras produtivas no so capitalistas, e no conseguem responder demanda. A crise demogrfica acabou, e o Reino Unido est desovando gente para outras regies. As terras adquiridas pelo capital mercantil no contexto deflacionrio agora foram vendidas para mobilizar riqueza. Essa moeda absorvida vai ser entregue no mercado de longa distncia que ganhar fora pelo aumento dos preos, que criam iniciativas de explorao colonial e movimentos de grandes navegaes. Com isso, surge um instrumento de investimento garantido chave, que no fornece qualquer risco de prejuzo: a dvida pblica. Nesse contexto de mercados de longa distncia, os Estados nacionais precisavam de moeda para guerrear e disputar colnia. Precisa haver armamento com tecnologia de ponta, permitido graas plvora. Os Estados no tinham a opo de no investir em guerra. Nos sculos XVII-XVIII, acaba o ciclo inflacionrio, pois as minas de ouro e prata se esgotaram. Com o desaquecimento do mercado de metais preciosos, Portugal e Espanha sofrem. Em mais um contexto de crise, h novamente uma concentrao de propriedade rgida. Os pases que tinham acesso indireto ao ouro produzido se deram mal, o que era o caso da Inglaterra. Isso impulsiona o capital mercantil a criar um movimento, de mudar o modo de produo. A nica opo vivel era a extrao de mais-valia. Portugal e Espanha pensam muito tardiamente sobre essa possibilidade. O sculo XVIII apresenta a crise da acumulao primitiva, na qual perde fora de maneiras diferentes dependendo da regio. A dvida pblica era um modo to seguro de investimento porque o Estado um agente econmico cuja aceitabilidade muito grande. Afinal, o Estado que emite dinheiro, eles s quebram com moedas que eles mesmos no emitem. A Inglaterra foi pioneira nesse quesito. Os ttulos pblicos passaram a virar moeda. De fato, ela tem curso forado, pois o governo decide o meio de pagamento pelo qual ser feita a coleta de imposto. Ao passo que os Estados emitem ttulos e ttulos, esse fluxo cria um circuito internacional de crdito. Isso, de certa forma, definiu o futuro poltico da Europa. Guilherme de Orange, por exemplo, veio da Holanda para assumir o trono real ingls. Isso se deve ao fato da Holanda ter sido grande compradora de ttulos da Inglaterra, portanto h um bastante poder integrado na praa financeira de Londres.O terceiro aspecto da acumulao primitiva o protecionismo. Ele foi importante, pois limitava o livre trnsito de fatores. Havia barreiras alfandegrias, restries de mercado. Essas medidas foram necessrias porque o capital mercantil requer que o mercado no seja integrado. Ele precisa ser extremamente fragmentando. Se voc ligar mercados, o capital mercantil no vai gerar valor. Afinal, ele tributa valores que foram gerados por terceiros e ganha dinheiro atravs da diferena da venda e custo. Se o produto atingir diretamente o consumidor atravs do produtor, o burgus mercantil perde. Aqui se v que ele serve como um intermedirio. A mesma lgica aqui pode ser aplicada ao mercado externo. No entanto, o capital mercantil apenas a favor de duas integraes: a moeda nacional, para no perder com a variao cambial, e mesmos princpios legais em todo o territrio para garantir estabilidade, eliminando arbitragem interna. Nesse contexto, existe uma parte burguesa que monopolizou o mercado, que continuou a fazer o mercado de longa distncia. No entanto, se ele no conseguir esse mercado por causa dos baixos preos, ele tem de se voltar ento ao mercado interno. O capital menor tambm vai querer esses privilgios que a alta burguesa possui, o que caracterizar a revoluo burguesa. Esse era o perodo de inflao do sculo XVI. Grande extrao de ouro e prata, uma elevao de preos, fora os salrios com severas diferenas regionais. A acumulao de ouro e prata pelo capital mercantil causa um impacto inflacionrio pois aumenta a oferta de moeda, enquanto a produtividade no acompanhou no mesmo ritmo. As elevaes da capacidade de pagamento e do poder de consumo do capital mercantil pressionam o mercado europeu inteiro. A oferta no atende a demanda graas a essa elevao de pagamento, pois as foras produtivas ainda so bastante incapazes de atender a demanda. O Estado aqui protecionista. Uma balana comercial favorvel vira sinnimo de bom desempenho. O importante exportar mais do que importar. Existem duas posturas protecionistas: a postura fiscalista, que serve apenas para abastecer os cofres do Estado para bancar as guerras; a postura mercantilista, na qual o tributo existe para incentivar a manufatura interna. Com o esgotamento das minas, a demanda internacional de metais preciosos sofre uma queda. A sada usar o mercado interno para fortalecer as economias, algo que Portugal e Espanha demoram a seguir. Eles sofrem uma presso j que o ouro desova deles. A manufatura da Frana e Inglaterra possuem preos mais baratos considerando a produtividade superior desses pases, afinal, eles no tinham mais nada para fazer.Os pases manufatureiros, desprovidos de minas, encontram fortes restries externas. H falta de capacidade de pagamento externo, j existia um circuito de endividamento europeu, com casas comerciais da Itlia. Aqui se d importncia a Veneza. Comeam a circular pela Europa cartas de cmbio, que acabam virando moeda. Com os saldos de ouro sumindo, esses fluxos de endividamento aumentam cada vez mais. H varias bolhas especulativas espalhadas pelo continente europeu. interessante notar que os pases protecionistas eram duplamente restringidos. Primeiramente, pelo protecionismo atravs da imposio de barreiras alfandegrias, alm da ausncia de metais preciosos, o que diminua as importaes. Havia falta de divisas para pagamento externo, logo, a manufatura do mercado interno domina.Com os preos caindo no mundo inteiro, o conflito externo foi s alturas. Os mesmos pases esto disputando os mesmos territrios, logo a guerra era muito comum. O Estado aqui d total apoio manufatura para derrotar os concorrentes do exterior. Isso sim mercantilismo, perfil este da Inglaterra e Frana. A nfase aqui muda com relao ao metalismo. O comrcio externo passa a ser visto como o nico acumulador de riquezas, o que impulsiona a balana comercial favorvel. Aqui entram as polticas de Colbert e de Lus XIV. As matrias-primas eram isentas de tarifas, afinal, seriam usadas pelo mercado interno para produo de manufatura. J os importados de consumo final eram altamente taxados. Isso o mercantilismo em si, direcionar o mercado para privilegiar seu manufatureiro.A regio de Flandres, que possua uma manufatura mais desenvolvida do que a Inglaterra, comea a demandar l. A classe senhorial, que estava falida, teve de fazer concesses, pois se desencantam com o Feudalismo. Eles tm de se adaptar ao universo da acumulao primitiva, e vem em Flandres uma oportunidade de manterem seu poderio econmico com a exportao de l. neste momento que comeam os cercamentos dos campos, que so os mansos comunais. Nesses cercamentos, altera-se o princpio de direito de propriedade. Os senhores expulsam os camponeses para dar lugar aos pastos para criao de ovelha, violando ento os direitos do campesinato, o que gera um conflito de classes. Com isso, comea o direito de propriedade burgus, na qual o dono da propriedade tem total direito de usufruir do seu bem integralmente. Isso vai de encontro ao direito de jurisdio no Feudalismo, na qual as jurisdies se sobrepem. Os camponeses, ento, perdem sua subsistncia e vo embora. O Estado ingls no concorda com as medidas, e a reforma anglicana se inicia, dando fim acumulao primitiva. Ao passo que o rei concentra poder sobre a igreja e rompe com a o papa, ele estatiza as terras da igreja que eram muitas, graas s largas doaes dos senhores feudais. O Estado chega at a destruir mosteiros e privatiza as terras para o capital mercantil. Com o xodo do campesinato, Londres fica completamente cheia, com alta criminalidade. Isso leva rainha Elizabeth a criar o termo pauperismo, que seria uma condio permanente de pobreza, a ausncia de qualquer posse. O governo v-se na posio de reagir contra isso. Ele cria decretos de ocupao das terras, manda reconstruir as propriedades camponesas destrudas e declara o cercamento como ilegal, definindo propores de pastagem. Assim, o Estado vai freando a acumulao primitiva, enquanto a ordem social entra em colapso. Tambm criada a lei dos pobres, na qual se o sujeito empregado no obtm fontes de renda suficientes para manter seu bem estar mnimo, o governo fornece subsdios, o que onera os cofres pblicos. O Estado tambm v que a populao precisa de oportunidades para conseguir emprego. Mesmo com tanta gente na cidade, a oferta real de mo-de-obra era muito baixa. Poucos queriam trabalhar com manufatura. A sazonalidade do trabalho agrcola era prefervel constncia do emprego na manufatura. Com pouca oferta, os salrios eram bem altos, de modo que o governo cria leis de salrio mximo, alm de declarar o desemprego voluntrio como crime. O problema que os salrios no eram reajustados com a inflao, ou seja, o poder real de compra do trabalhador diminua. Ao longo dos sculos, criada a lei de salrio mnimo. Sem a ao de coero do governo, a extrao de mais-valia no teria ocorrido.Parte IVA ocupao econmica das terras americanas constitui um episdio da expanso comercial da Europa. O comrcio interno europeu, em intenso crescimento a partir do sculo XI, havia alcanado um elevado grau de desenvolvimento no sculo XV. O ouro a razo de ser da Amrica, como objetivo dos europeus, em sua primeira etapa de existncia histrica. A legenda de riquezas inapreciveis por descobrir corre a Europa e suscita um enorme interesse pelas novas terras. Esse interesse contrape Espanha e Portugal, "donos" dessas terras, s demais naes europeias. A partir desse momento a ocupao da Amrica deixa de ser um problema exclusivamente comercial: intervm nele importantes fatores polticos. A Espanha - a quem coubera um tesouro como at ento no se conhecera no mundo - tratar de transformar os seus domnios numa imensa cidadela. Outros pases tentaro estabelecer-se em posies fortes, seja como ponto de partida para descobertas compensatrias, seja como plataforma para atacar os espanhis. No fora a miragem desses tesouros, de que, nos primeiros dois sculos da histria americana, somente os espanhis desfrutaram, e muito provavelmente a explorao e ocupao do continente teriam progredido muito mais lentamente.

O incio da ocupao econmica do territrio brasileiro em boa medida uma consequncia da presso poltica exercida sobre Portugal e Espanha pelas demais naes europeias. Nestas ltimas prevalecia o princpio de que espanhis e portugueses no tinham direito seno quelas terras que houvessem efetivamente ocupado. Os franceses organizam sua primeira expedio para criar uma colnia de povoamento nas novas terras - alis, a primeira colnia de povoamento do continente -, e para a costa setentrional do Brasil que voltam as vistas. Os portugueses acompanhavam de perto esses movimentos e at pelo suborno atuaram na corte francesa para desviar as atenes do Brasil. Contudo tornava-se cada dia mais claro que se perderiam as terras americanas a menos que fosse realizado um esforo de monta para ocup-las permanentemente. Por mais que no se soubesse o que tinha nas terras, esquec-las seria deix-las para o inimigo ocupar. Esse esforo significava desviar recursos de empresas muito mais produtivas no Oriente. A miragem do ouro que existia no interior das terras do Brasil - qual no era estranha a presso crescente dos franceses pesou seguramente na deciso tomada de realizar um esforo relativamente grande para conservar as terras americanas. A Espanha, cujos recursos eram incomparavelmente superiores, teve que ceder presso dos invasores em grande parte das terras. Criou colnias de povoamento de reduzida importncia econmica - como no caso de Cuba - com fins de abastecimento e de defesa. O comrcio de peles e madeiras com os ndios, que se desenvolve durante o sculo XVI em toda a costa oriental do continente, de reduzido alcance.

Espanha recolhe de imediato alguns frutos que lhe permitem financiar a defesa de seu rico quinho. Contudo, to grande este e to inteis lhe parecem muitas das novas terras, que decide concentrar seu sistema de defesa em torno ao eixo produtor de metais preciosos, Mxico-Prata. Ainda assim, e no obstante a abundncia dos recursos de que dispunha a Espanha no conseguiu evitar que seus inimigos penetrassem no centro mesmo de suas linhas de defesa, as Antilhas. Coube, ento, a Portugal tentar encontrar outra forma de utilizao das terras americanas que no fosse a extrao de ouro, j que todas as regies carregadas de ouro estavam ocupadas pela Espanha. De simples empresa espoliativa e extrativa idntica que na mesma poca estava sendo empreendida na costa da frica e nas ndias Orientais - a Amrica passa a constituir parte integrante da economia reprodutiva europeia.

A explorao econmica das terras americanas deveria parecer, no sculo XVI, uma empresa completamente invivel. Por essa poca nenhum produto agrcola era objeto de comrcio em grande escala na Europa. O principal produto da terra - o trigo dispunha de abundantes fontes de abastecimento dentro do continente. Os fretes eram de tal forma elevados - em razo da insegurana no transporte a grandes distncias - que somente os produtos manufaturados e as chamadas especiarias do Oriente podiam comport-los. As especiarias compensavam pelo alto valor unitrio e pela sua raridade. Demais, era fcil imaginar os enormes custos que no teria de enfrentar uma empresa agrcola nas distantes terras da Amrica. fato universalmente conhecido que aos portugueses coube a primazia nesse empreendimento. Se seus esforos no tivessem sido coroados de xito, a defesa das terras no Brasil ter-se-ia transformado em nus demasiado grande e excluda a hiptese de antecipao na descoberta do ouro dificilmente Portugal teria perdurado como grande potncia colonial na Amrica.

Um conjunto de fatores particularmente favorveis tornou possvel o xito dessa primeira grande empresa colonial agrcola europeia. Os portugueses haviam j iniciado h algumas dezenas de anos a produo, em escala relativamente grande, nas ilhas do Atlntico, de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu: o acar. Essa experincia resultou ser de enorme importncia, pois, alm de permitir a soluo dos problemas tcnicos relacionados com a produo do acar, fomentou o desenvolvimento em Portugal da indstria de equipamentos para os engenhos aucareiros. Ocorre, entretanto, que uma das consequncias principais da entrada da produo portuguesa no mercado fora a ruptura do monoplio, que mantinham os venezianos, do acesso s fontes de produo. Desde cedo a produo portuguesa passa a ser encaminhada em proporo considervel para Flandres. A contribuio dos holandeses para a grande expanso do mercado do acar, na segunda metade do sculo XVI, constitui um fator fundamental do xito da colonizao do Brasil. Os holandeses eram nessa poca o nico povo que dispunha de suficiente organizao comercial para criar um mercado de grandes dimenses para um produto praticamente novo, como era o acar. Tudo indica que capitais flamengos participaram no financiamento das instalaes produtivas no Brasil bem como no da importao da mo-de-obra escrava. Poderosos grupos financeiros holandeses seguramente tero facilitado os recursos requeridos para a expanso da capacidade produtiva.

No bastavam, entretanto, a experincia tcnica dos portugueses na fase produtiva e a capacidade comercial e o poder financeiro dos holandeses para tornar vivel a empresa colonizadora agrcola das terras do Brasil. Demais, existia o problema da mo-de-obra. Transport-la na quantidade necessria da Europa teria requerido uma inverso demasiadamente grande, que provavelmente tornaria antieconmica toda a empresa. As condies de trabalho eram tais que somente pagando salrios bem mais elevados que os da Europa seria possvel atrair mo-de-obra dessa regio. A possibilidade de reduzir os custos retribuindo com terras o trabalho que o colono realizasse durante certo nmero de anos no apresentava atrativo ou viabilidade, pois, sem grandes concentraes de capital, as terras praticamente no tinham valia econmica. Tambm precisava considerar a escassez de oferta de mo-de-obra que prevalecia em Portugal, particularmente nessa etapa de magnfico florescimento da empresa das ndias orientais. Contudo, cada um dos problemas referidos - tcnica de produo, criao de mercado, financiamento, mo-de-obra (isto se resolve com escravos africanos) - pde ser resolvido no tempo oportuno, independentemente da existncia de um plano geral reestabelecido.A Espanha no chegou a interessar-se em fomentar um intercmbio com as colnias ou entre estas, por mais que tivesse capacidade de desbancar Portugal, j que ela preferiu se concentrar na extrao de metais preciosos. A Espanha tinha controle das Antilhas, que eram prximas da Europa (menor frete) e tinham melhores condies, com uma mo-de-obra indgena abundante. A forma como estavam organizadas as relaes entre metrpole e colnias criava uma permanente escassez de meios de transporte; e era a causa de fretes excessivamente elevados. A poltica espanhola estava orientada no sentido de transformar as colnias em sistemas econmicos o quanto possvel autossuficientes e produtores de um excedente lquido na forma de metais preciosos - que se transferia periodicamente para a Metrpole. Esse afluxo de metais preciosos alcanou enormes propores relativas e provocou profundas transformaes estruturais na economia espanhola. O poder econmico do Estado cresceu desmesuradamente, e o enorme aumento no fluxo de renda gerado pelos gastos pblicos - ou por gastos privados subsidiados pelo governo - provocou uma crnica inflao que se traduziu em persistente dficit na balana comercial. Cabe, portanto, admitir que um dos fatores do xito da empresa colonizadora agrcola portuguesa foi a decadncia mesma da economia espanhola, a qual se deveu principalmente descoberta precoce dos metais preciosos. O abastecimento de manufaturas das grandes massas de populao indgena continuou a basear-se no artesanato local, o que retardou a transformao das economias de subsistncia preexistentes na regio. No fora o retrocesso da economia espanhola - particularmente acentuado no sculo XVII - e a exportao de manufaturas de produo metropolitana para as colnias teria necessariamente evoludo.

Tudo, no entanto, tem um fim. A Holanda, no incio do sculo XVII, controlava praticamente todo o comrcio martimo. Com a unio de Portugal e Espanha e a Guerra dos Oitenta Anos acaba com a parceria. Durante sua permanncia no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos tcnicos e organizacionais da indstria aucareira. Esses conhecimentos vo constituir a base para a implantao e desenvolvimento de uma indstria concorrente, de grande escala, na regio do Caribe. A partir desse momento, estaria perdido o monoplio. As entradas de ouro em Portugal se reduzem e a moeda se desvaloriza em mais de 75% e as colnias que sofrem com isso.

Enquanto isso, Inglaterra e a Frana trataram de apoderar-se das estratgicas ilhas do Caribe para nelas instalar colnias de povoamento com objetivos militares. Eles se empenham, assim, no comeo do sculo XVII, em concentrar nas Antilhas importantes ncleos de populao europeia, na expectativa de um assalto em larga escala aos ricos domnios da Espanha desse sculo. O sculo XVII foi uma etapa de grandes transformaes sociais e de profunda intranquilidade poltica e religiosa nessas ilhas. Nos trs quartos de sculo que antecederam ao Toleration Act de 1689 a intolerncia poltica e religiosa deu origem a importantes deslocamentos de populao dentro das ilhas e para o exterior. Ao contrrio do que ocorrera com a Espanha e Portugal, que se haviam visto afligidos por uma permanente escassez de mo-de-obra quando iniciaram a ocupao da Amrica, a Inglaterra do sculo XVII apresentava um considervel excedente da populao, graas s profundas modificaes de sua agricultura iniciadas no sculo anterior.

O xito da colonizao agrcola portuguesa tivera como base a produo de um artigo cujo mercado se expandira extraordinariamente. A busca de artigos capazes de criar mercados em expanso constitui a preocupao dos novos ncleos coloniais. Era necessrio encontrar artigos que pudessem ser produzidos em pequenas propriedades, condio sem a qual no perduraria o recrutamento de mo-de-obra europeia. Em tais condies, os ncleos situados na regio norte da Amrica Setentrional encontraram srias dificuldades para criar uma base econmica estvel. Do ponto de vista das companhias que financiaram os gastos iniciais de translado e instalao, a colonizao dessa parte da Amrica constitui um efetivo fracasso. No foi possvel encontrar nenhum produto, adaptvel regio, que alimentasse uma corrente de exportao para a Europa capaz de remunerar os capitais invertidos. Com efeito, o que se podia produzir na Nova Inglaterra era exatamente aquilo que se produzia na Europa, onde os salrios estavam determinados por um nvel de subsistncia extremamente baixo na poca. Demais, o custo do transporte era de tal forma elevado, relativamente ao custo de produo dos artigos primrios, que uma diferena mesmo substancial nos salrios reais teria sido de escassa significao.

As condies climticas das Antilhas permitiam a produo de certo nmero de artigos - como o algodo, o anil, o caf e principalmente o fumo - com promissoras perspectivas nos mercados da Europa. A produo desses artigos era compatvel com o regime da pequena propriedade agrcola. Por esse e outros mtodos a populao europeia das Antilhas cresceu intensamente. Surge uma situao completamente nova no mercado dos produtos tropicais: uma intensa concorrncia entre regies que exploram mo-de-obra escrava de grandes unidades produtivas, e regies de pequena propriedade e populao europeia. A consequente baixa dos preos ocorrida nos mercados internacionais cria srias dificuldades s populaes antilhanas e vem demonstrar a fragilidade de todo o sistema de colonizao ensaiado naquelas regies tropicais. As inverses macias exigidas pelas grandes plantaes escravistas demonstram ser negcio muito vantajoso. Com isso, as Antilhas tambm modificam sua produo e passam a utilizar a plantation.

Os holandeses se empenharam firmemente em criar fora do Brasil um importante ncleo produtor de acar. to favorvel a situao que encontram nas Antilhas francesas e inglesas que preferem colaborar com os colonos dessas regies a ocupar novas terras e instalar por conta prpria a indstria. Nas Antilhas inglesas as dificuldades econmicas haviam sido agravadas pela guerra civil que se prolongava nas ilhas britnicas. As colnias inglesas acolheram com entusiasmo a possibilidade de um intenso comrcio com os holandeses. Estes no somente deram a necessria ajuda tcnica, mas tambm forneceram crdito fcil para comprar equipamentos, escravos e terra.

A populao de origem europeia decresceu rapidamente, tanto nas Antilhas francesas como nas inglesas, enquanto crescia verticalmente o nmero de escravos africanos. A penetrao do acar nas ilhas caribenhas expeliu uma parte substancial da populao branca nelas estabelecida, boa parte da qual foi instalar-se nas colnias do norte. Por outro lado, o acar desorganizou e, em algumas partes, eliminou a produo agrcola de subsistncia. As ilhas se transformaram em grandes importadoras de alimentos, e as colnias setentrionais, que havia pouco no sabiam que fazer com seu excedente de produo de trigo, se constituram em principal fonte de abastecimento das prsperas colnias aucareiras.

As colnias do norte dos EUA se desenvolveram, assim, na segunda metade do sculo XVII e primeira do sculo XVIII, como parte integrante de um sistema maior no qual o elemento dinmico so as regies antilhanas produtoras de artigos tropicais. Nesta terceira etapa surgia uma economia similar da Europa contempornea, produzindo principalmente para o mercado interno, sem uma separao fundamental entre as atividades produtivas destinadas exportao e aquelas ligadas ao mercado interno. Uma economia desse tipo estava em flagrante contradio com os princpios da poltica colonial e somente graas a um conjunto de circunstncias favorveis pde desenvolver-se. Com efeito, sem o prolongado perodo de guerra civil por que passou a Inglaterra no sculo XVII, teria sido muito mais difcil aos colonos da Nova Inglaterra firmar-se to amplamente nos mercados das prsperas ilhas antilhanas. A famosa legislao protecionista naval que no ltimo quartel desse sculo excluiu os holandeses do comrcio das colnias constitui outro forte aliciante no s para as exportaes da Nova Inglaterra como tambm para sua indstria de construo de barcos. Por ltimo, o prolongado perodo de guerras que a Inglaterra manteve com a Frana tornou precrio o abastecimento das Antilhas com gneros europeus, criando para os colonos do norte a situao favorvel de abastecedores regulares das ilhas inglesas e ocasionais das francesas.

De um ponto de vista macroeconmico, as colnias da Nova Inglaterra continuaram a ser economias de produtividade relativamente baixa. O produto por habitante deveria ser substancialmente inferior ao das colnias agrcolas de grandes plantaes. Contudo, o tipo de atividade econmica que nelas prevalecia era compatvel com pequenas unidades produtivas, de base familiar, sem o compromisso de remunerar vultosos capitais. Por outro lado, a abundncia de terras tornava atrativa a imigrao europeia no regime de servido temporria. Ao surgir para o pequeno proprietrio a possibilidade de vender regularmente parte de sua produo agrcola, tornou-se para ele vivel o financiamento da viagem de um imigrante cujo trabalho seria explorado durante quatro anos. Essas colnias de pequenos proprietrios, em grande parte autossuficientes, constituem comunidades com caractersticas totalmente distintas das que predominavam nas prsperas colnias agrcolas de exportao. Essa independncia permitia uma estabilidade de preos muito maior. Nelas era muito menor a concentrao da renda, e as mesmas estavam muito menos sujeitas a bruscas contraes econmicas. A agricultura familiar das colnias de terceira gerao gerava excedentes que permitiam um alto nvel de poupana, e esse excedente s comeou a ser escoado a partir da expanso da monocultura escravista nas colnias do sul. O sistema de agricultura familiar, mesmo atendendo demanda por alimentos proveniente das regies monocultoras, em nenhum sentido ampliou a desigualdade econmica, muito pelo contrrio. Trs fatores contriburam para isso: a produo intercambial; h uma desconcentrao da propriedade de terra, sem que haja algo impedindo algum de se tornar um pequeno campons; a produo no sazonal. As quedas de preo s geram pobreza nas colnias de segunda gerao.

Parte VA ideia de definir o Capitalismo como uma porcentagem errada, pois impossvel. Precisa-se determinar um ponto crtico no qual h uma transformao consolidada em que o Capitalismo seja o modo de produo sobrepujante. No campo estrutural, precisa-se ter um choque entre relaes de produo e foras produtivas devido a uma inovao, mudando o mtodo de trabalho e criando um contexto de crise, o que gera atritos entre proprietrios dos bens e os operrios. Dobb acredita que, por mais que as relaes clssicas tenham cado em colapso, a coero extraeconmica no mudou, a superestrutura capitalista ainda no se consolidou, concluindo-se ento que tudo ainda era feudal. Sweezy, por outro lado, acredita que aps a crise feudal j no h mais Feudalismo, pois existe um comrcio estabelecido, mas sem mais-valia. Esse perodo de transio em que se tem um desenvolvimento de comrcio sem mo-de-obra assalariada seria uma produo pr-capitalista de mercadorias. Aqui entram dois casos de revoluo burguesa: a da Inglaterra e dos Estados Unidos. A revoluo burguesa pode at ter sido acidental. Ao alcanar um ponto crtico, ocorre a revoluo burguesa que libera todos os entraves para seu acontecimento. Com isso conclui-se a transformao infraestrutural, criando uma espcie de ponto de no retorno, alm da criao da superestrutura, finalizando a troca do modo de produo. A revoluo acaba com a acumulao primitiva atravs de dois pontos: h a mercantilizao da terra e a expropriao do trabalhador, ou seja, dos fatores de produo. Nisso, surgem mudanas que consolidam a transio.O Estado ingls, no sculo XVII, no apoiava os cercamentos dos campos e tomaram medidas contra esse processo, como a volta dos camponeses terra. Isso tornou o processo de mudana mais lento na Inglaterra, pois o governo desacelerava a concluso da acumulao primitiva. A revoluo, no entanto, acaba com ela. A criao de salrios mximos e os cercamentos cumprem ento sua funo capitalista. Quando se diz que a revoluo conclui a acumulao primitiva, diz-se que esta requisito daquela. Esse o problema da transio nos pases perifricos. Aqui h uma segunda grande diviso da Europa, na qual algumas partes do mundo h Capitalismo apesar de no haver acumulao primitiva, que seria o caso alemo. O mundo, ento, incorpora transio da Inglaterra, podendo-se afirmar que h uma presso externa para insero ao Capitalismo. possvel, sim, haver transio sem a revoluo burguesa. Essa a via conservadora, onde h a mudana do capital mercantil para capital industrial. interessante fazer aqui a distino entre capital fixo e capital varivel. O capital fixo no gera valor, embutido na manufatura. J o capital varivel a mais-valia. A liderana do processo feita atravs do capital mercantil. Os pequenos burgueses aproveitam as estruturas das aldeias rurais que trabalham num regime diferenciado. O trabalho agrcola possua sazonalidades, onde havia tempos de colheita e tempos de pousio, oferecendo assim um potencial de explorao. essa a maneira com a qual o capital mercantil se insere sem revoluo. O campons aceita isso, j que uma renda extra, pois sua subsistncia provm completamente das plantaes agrcolas; o capital mercantil pode tambm pagar muito pouco, pois o prprio Feudalismo subsidia o lucro. A via chamada justamente de conservadora porque o capitalista mercantil no quer que o sistema de produo feudal mude. Assim, o capital mercantil entra no processo produtivo e assume controle do campesinato, com a dimenso infraestrutural j completa.O Capitalismo, de fato, no requer revoluo burguesa, no requerer mudana da superestrutura. A nobreza feudal j est no poder, no necessrio alterar o Estado. Aqui, o Capitalismo comea com as foras antigas. A classe dinmica desse capital uma classe que j est no poder. Eles mesmos so a superestrutura, precisando apenas de uma modernizao para acelerar a produo. Nesses casos, a infraestrutura cheia de sobrevivncias pr-capitalistas. Vale a pena notar que no h qualquer relao entre dinamismo econmico e as vias de transio do Feudalismo para o Capitalismo. S h diferenas no modo de distribuio de renda. A Inglaterra comea pela vida conservadora, com o capital mercantil entrando pelas beiradas do processo de produo. O capital mercantil entra nas aldeias rurais, cumprindo um papel desafiador. O capitalista mercantil busca fugir das guildas, que so uma espcie de estado regulador burocrtico, que determina o preo final das manufaturas, quem pode vender, quem pode comprar. Ento, o capital mercantil viola regras bsicas com a produo artesanal domstica, pois no regulado. Os preos so determinados livremente. E assim surge um Capitalismo rural agrcola na Inglaterra, sem modificar as relaes da produo. Convm lembrar que a crise feudal abalou severamente a servido, havendo uma desagregao quase completa da relao feudal, com avanos crescentes de arrendamento. importante lembrar que o contexto do sculo XVI era de inflao. Os arrendamentos eram feitos a preos nominais, que eram corrodos pela inflao. Enquanto o preo continua crescendo, o pagamento fixado. Isso, porm, no acontece na Inglaterra. H reajustes, que so feitos atravs da percepo. O que isso tem a ver com Capitalismo, entretanto? a acumulao de renda ricardiana. O acesso terra se torna mercantil. Aqui, a inflao reajusta muito o aluguel. Com isso, o arrendatrio (que o baixo capitalista, querendo produzir muito a preos baixos para dizimar os concorrentes) tem de vender grandes quantidades de produtos para continuar na terra. H uma compulso com o plantio, mtodos, a produtividade. No h escolha seno ser eficiente. Caso ele perca acesso terra, ele se transforma num proletrio. Isso Capitalismo, a alterao no modo de produo. Logo, a produtividade inglesa alavancada e as portas so abertas para a revoluo burguesa. O capital mercantil opta por um sistema onde h menos arrendatrios e mais trabalhadores, pois ser possvel empreg-los para a extrao de mais-valia. Pode-se dizer, ento, que no Capitalismo o choque entre expropriados e expropriados. A novidade inicial aqui o sistema domstico, na qual o capitalista mercantil leva ferramentas e matrias primas aos camponeses e retorna aps um tempo para recolher a produo. No h preocupao aqui com o modo de produo, apenas se quer fugir das guildas. E os arrendatrios que do certo so os que mais vo querer as mudanas para a superestrutura capitalista. Haver posteriormente uma novidade final, que a indstria.Com a falncia do sistema feudal, h a comutao da servido para o arrendamento. Isso acaba com a estratgia do capital mercantil, que no v outra alternativa seno voltar para o mercado externo e esquecer do sistema domstico. Aqui, ele vai aplicar na manufatura a mesma lgica do arrendatrio. O capitalista mercantil vai reduzir custos para aumentar sua margem de lucro. Ele se vira, ento, para a Amrica Latina, pois o mercado desconcentrado e pelos mtodos de produo. Eles no determinam preos internacionais. Enquanto no sistema domstico eles dependem da sazonalidade, o que ruim, no norte da Amrica do Norte no h essa dependncia. Pode-se tambm ter investimentos no Sul, mas tm de ser em curto prazo, como escravos, por exemplo. O sculo XVII marcado por certa deflao. Os capitalistas mercantis que so eficientes conseguem alguma coisa, enquanto alguns usam o governo para proteger sua produo. H dois elementos neste momento: os arrendatrios, que lucram e crescem sem privilgios polticos; os manufatureiros, tambm sem privilgios polticos. Aqui, pode-se dizer que a infraestrutura j mudou. E era um bom perodo, pois os salrios eram baixos, havia subsdio (programas sociais), apesar de que para o capital industrial isso era ruim, pois h indisciplina do trabalho.H maneiras de aumentar a extrao de mais-valia. A mais-valia absoluta extrai-se com mais carga de trabalho, enquanto o aumento da produtividade aumenta a mais-valia relativa. Eles querem que o Estado aumente a mais-valia relativa, e fazem isso por intermdio das estradas. Havia muito desperdcio de produo no deslocamento, mas o capital mercantil era o principal inimigo das estradas, pois eles querem que os mercados fiquem desfragmentados. Nota-se que o capital industrial a favor da eliminao da coero extraeconmica, pois eles querem mobilizar tudo: o trabalho, a terra e o capital. Os restos feudais at contribuem um pouco para o sistema. O sul americano escravista, por exemplo, fornecia algodo e matrias primas. Logo, resqucios pr-capitalistas no eram de todo mau. O capital industrial tambm deseja o fim dos monoplios, reduo de custos da mo de obra e dos intermedirios que extraem renda produzida pelo capital mercantil. Salienta-se aqui que o trabalho na poca era bastante escasso, e s a Revoluo Industrial suprir parcialmente essa demanda. Um exemplo de uma transio capitalista conservadora o Japo. Os laos de servido acabam formalmente, mas a coero extraeconmica ainda mantida. O antigo sistema continua acontecendo mesmo com a insero do capital industrial e o papel do Estado mais interventor nos que tiveram revoluo burguesa. Como sntese, h duas vias de transio para o Capitalismo: a via revolucionria e a via conservadora. No caminho revolucionrio, o capital industrial utiliza a democracia liberal para sua afirmao poltica; h o uso da fora para destruir resqucios superestruturas do Feudalismo; os campos so completamente mercantilizados e o problema campons eliminado (expulso dos camponeses das terras); subordinao do capital mercantil ao capital industrial, fortalecimento de uma classe agrria burguesa e plena insero da elite agrria na atividade comercial. J no caminho conservador, o capital industrial no precisa da democracia liberal. O problema campons mantm (aumento da fora com a segunda servido devido crise); no h uma classe agricultora como a inglesa; mercantilizao conservadora do campo; existncia de uma elite urbana frgil dependente da elite agrria e do Estado.