resumo jornada 2016

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A representação estruturada: Dimensão Performática em As Praias de Agnès (2008) Na diversidade que compõe o material que estrutura As Praias de Agnès, a maior recorrência é a de momentos em que Agnès Varda está em cena, em registros da ocasião da concepção do filme, enquanto articula seus comentários a aparatos heterogêneos que vinculam narrativa de vida, materiais de seus arquivos e trechos de obras suas. Trata-se de uma diretora que filma a si mesma, que parte de sua própria imagem recente para inventar e reencontrar registros seus do passado em que comenta, reencena e reorganiza de modo a conceber um conjunto que a expresse como presença e como artista. Todo esse conteúdo nos leva a discutir essa imagem que Agnès Varda constrói de si mesma no filme e a dimensão performática dessa concepção. Aqui é importante partirmos do filme para que seja ele que nos forneça material para a compreensão do particular trabalho de autoinscrição concebido pela cineasta. A visão inclusiva que Richard Schechner tem de Performance é bastante inspiradora nessa observação da presença de Agnès Varda em As Praias de Agnès. Seu entendimento do termo para além dos palcos ou do fechamento de apresentações contribui para que pensemos a ritualização no cotidiano, ou em outras esferas que poderiam ser inseridas dentro de uma dimensão da espontaneidade. Para rebater isso, Schechner propõe a associação “comportamento ritualizado condicionado/permeado pelo jogo” em que se observa o conjunto de sons e gestos (SCHECHNER, 2012, p.49). Voltada diretamente para obra de Agnès Varda está Allison Smith, ao tratar da questão da performance a partir dá expressão que dá título a essa fala: uma representação estruturada. A autora

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Page 1: resumo jornada 2016

A representação estruturada: Dimensão Performática em As Praias de Agnès (2008)

Na diversidade que compõe o material que estrutura As Praias de Agnès, a maior

recorrência é a de momentos em que Agnès Varda está em cena, em registros da

ocasião da concepção do filme, enquanto articula seus comentários a aparatos

heterogêneos que vinculam narrativa de vida, materiais de seus arquivos e trechos de

obras suas. Trata-se de uma diretora que filma a si mesma, que parte de sua própria

imagem recente para inventar e reencontrar registros seus do passado em que comenta,

reencena e reorganiza de modo a conceber um conjunto que a expresse como presença

e como artista. Todo esse conteúdo nos leva a discutir essa imagem que Agnès Varda

constrói de si mesma no filme e a dimensão performática dessa concepção.

Aqui é importante partirmos do filme para que seja ele que nos forneça material

para a compreensão do particular trabalho de autoinscrição concebido pela cineasta.

A visão inclusiva que Richard Schechner tem de Performance é bastante

inspiradora nessa observação da presença de Agnès Varda em As Praias de Agnès. Seu

entendimento do termo para além dos palcos ou do fechamento de apresentações

contribui para que pensemos a ritualização no cotidiano, ou em outras esferas que

poderiam ser inseridas dentro de uma dimensão da espontaneidade. Para rebater isso,

Schechner propõe a associação “comportamento ritualizado condicionado/permeado pelo

jogo” em que se observa o conjunto de sons e gestos (SCHECHNER, 2012, p.49).

Voltada diretamente para obra de Agnès Varda está Allison Smith, ao tratar da

questão da performance a partir dá expressão que dá título a essa fala: uma

representação estruturada. A autora argumenta que “para além da transformação de um

olhar objetivo em uma interpretação subjetiva, o filme – qualquer filme – requer que a

experiência subjetiva então seja transformada em uma apresentação estruturada, ou

melhor, representação, um espetáculo.” (SMITH, 1998. p. 171)

Estas proposições iluminam um olhar voltado para a presença de Agnès Varda em

cena em As Praias de Agnès e sobre como ela combina esse aspecto a outras formas de

se fazer presente através de imagens, registros e trabalhos seus do passado. A

performance dela como pessoa filmada está em questão e também o filme em si como

um conjunto performático, na medida que organiza essa imagem de si que a cineasta

deseja construir.

BRUZZI, Stella. New Documentary: A critical introduction. Routledge. 2000.

Page 2: resumo jornada 2016

SCHECHNER, Richard. Ritual (do Introduction to Performance Studies) In LIGIÉRO,

Zeca. Performance e Antropologia de Richard Schechner. Mauad: Rio de Janeiro,

2012

SMITH, Alison. Agnès Varda. Manchester University Press, 1998