resumo - formaÇÃo, suspensÃo e extinÇÃo do processo

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FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO. FORMAÇÃO Diz respeito ao momento em que a relação processual surge. O processo surge com a petição inicial - é o instrumento da demanda. O direito de ação, sendo abstrato, é o fator que desencadeia o processo. Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial. Art. 263. Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente citado. Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei. Parágrafo único. A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será permitida após o saneamento do processo. A ação, uma vez proposta, gera imediatamente no plano lógico a formação do processo. Então a formação do processo se confunde com o momento da propositura da ação. Ação -> processo. Mas quando essa ação se considera proposta? Segundo o código a ação se consideraria proposta em dois momentos distintos: 1. Se o local onde a ação é proposta tiver mais de um juízo, o momento da propositura se confunde com o momento da distribuição 1 . 1 É o ato de sortear para um determinado juízo, e ocorre sempre que local de propositura tenha juízos com idêntica competência para aquela matéria. Distribuição é um sorteio de juízos com a mesma competência. Imaginem o seguinte: aqui em São Luis temos 9 varas cíveis. Então 9 varas cuidam da matéria civil no assunto que diz respeito ao direito privado. O sujeito, sendo

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Page 1: RESUMO - FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO.

FORMAÇÃO

Diz respeito ao momento em que a relação processual surge. O processo surge com a petição inicial - é o instrumento da demanda. O direito de ação, sendo abstrato, é o fator que desencadeia o processo.

Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.

Art. 263. Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente citado.

Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei.

Parágrafo único. A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será permitida após o saneamento do processo. 

A ação, uma vez proposta, gera imediatamente no plano lógico a formação do processo. Então a formação do processo se confunde com o momento da propositura da ação. Ação -> processo.

Mas quando essa ação se considera proposta? Segundo o código a ação se consideraria proposta em dois momentos distintos:

1. Se o local onde a ação é proposta tiver mais de um juízo, o momento da propositura se confunde com o momento da distribuição1.

2. Se o local tiver um só juízo2, o momento da propositura coincide com aquele em que o juiz despacha a petição inicial.

1 É o ato de sortear para um determinado juízo, e ocorre sempre que local de propositura tenha juízos com idêntica competência para aquela matéria. Distribuição é um sorteio de juízos com a mesma competência. Imaginem o seguinte: aqui em São Luis temos 9 varas cíveis. Então 9 varas cuidam da matéria civil no assunto que diz respeito ao direito privado. O sujeito, sendo parte de um litígio, elabora sua petição inicial e vai ao fórum entregar. Para qual juízo ele deve endereçar sua petição inicial? Para nenhum. Ele vai ao setor de protocolo ou ao setor de distribuição, entrega sua petição inicial e imediatamente recebe a comprovação da proposição da petição inicial com o resultado da distribuição, pois o sistema fez um sorteio entre os 9 juízos. Imediatamente saio do protocolo sabendo qual será o juízo. 2 Quando nas comarcas (principalmente nas comarcas menores) houver um só juízo, todas as ações são distribuídas ou são registradas naquela unidade jurisdicional. Assim, uma vez eu ajuizando uma ação, seja qual for a natureza, ela vai ser endereçada para aquele juízo único daquela comarca daquela cidade. Não há distribuição porque não há para quem sortear.

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Imaginem o seguinte: eu entrego a minha petição no protocolo hoje e o juiz por alguma razão só despacha na segunda feira. Segundo o código, minha ação só foi proposta na segunda feira, então só na segunda feira tenho processo.

Mas imaginem que hoje seria o último dia do prazo da prescrição da pretensão do autor. Ele vai hoje à única unidade jurisdicional, e entrega sua petição inicial, e só na segunda feira o juiz despacha. Se só na segunda feira ele despacha, se for verdade o que diz o art. 263, somente na segunda feira houve proposição da ação, consequentemente só na segunda feira houve formação de processo. Significa então que minha pretensão prescreveu. Acontece que, a realidade do código, quando editou o art. 263, era aquela realidade ideal que sempre que o sujeito procurasse o judiciário naquela unidade de juízo único e entregasse sua PI o juiz estaria lá de braços abertos para despachar sua petição, e, no mesmo dia, a proposição estaria feita. Ocorre que essa não é a realidade de hoje, e, portanto, ocorre com muita frequência de a PI ser entregue num determinado dia e dias depois essa PI ser despachada. Resumo da história: como parece que o legislador tinha por ideia uma realidade diferente da de hoje.

Assim, a única solução que parece adequada é considerar proposta a ação quando entregue no órgão competente. O juiz pode despachar hoje, amanhã, daqui 5, 10, 20 dias ou 1 ano: não interessa. O que interessa é eu provocar o judiciário. Provoco o judiciário, exercito meu direito de ação com a entrega da minha PI no órgão competente. Basta que eu entregue a petição, independentemente de ser juízo único ou não. Essa é a melhor interpretação do art. 263.

Já a citação: é pressuposto processual de validade ou de existência? Se for pressuposto de validade o processo é nulo se não houver citação valida. Se for de existência o processo não existiu se não houver citação valida. Quando ajuízo minha ação quem faz parte dessa relação sou eu e o estado. O réu só passa a fazer parte da relação quando é citado. O juiz, quando analisar a petição inicial, poderá proferir uma sentença sem resolução de mérito. O processo formou-se e foi extinto mesmo sem a existência de um réu. Da mesma forma, o juiz também pode pronunciar a prescrição e decadência, resolvendo o mérito.

A citação, então, não tem nenhum efeito quanto ao surgimento processo, a não ser aqueles do art. 219, pois se sabe que enquanto o réu não estiver devidamente citado, ele não faz parte formalmente da relação processual.

O processo existe, forma-se sem a participação do réu. Embora a citação possa ser considerada pressuposto de validade, esse pressuposto de validade tem que ser interpretado da seguinte forma: só será pressuposto de validade em relação ao réu. Exemplo: quando o juiz julga improcedente, já houve processo. Além disso, existe processo sem citação também na jurisdição voluntária.

SUSPENSÃO

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Uma vez formado o processo, tem ele o seu desenvolvimento, e, salvo regra da exceção, esse desenvolvimento será não interrompido. Isso significa que o procedimento vai caminhar, com maior ou menor celeridade, e não há nenhuma razão, em regra, que imponha não se praticar atos processuais. A exceção é encontrada na hipótese que a doutrina chama de “crise do processo”.

A crise do processo corresponde à suspensão, isto é, ao momento em que se suspende o seu curso. É um momento em que não se praticam atos3.

Art. 265. Suspende-se o processo:

I - pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador;

Morte da parte

O processo é suspenso para que seja feita a sucessão, para fins de habilitação. Essa legitimação é ordinária (o sujeito vai postular em nome próprio) e é superveniente (originalmente não tinha legitimidade).

Obs.: não confundir sucessão com substituição. Sucessão é “herdar” o processo. Substituição processual é a hipótese de legitimação extraordinária (art. 6º).

Morte do representante legal

A morte do representante legal integra a capacidade de estar em juízo. Suspende o processo para que se nomeie outro representante legal.

Morte do procurador

Suspende-se para que outro advogado ingresse no processo. A parte não pode estar sozinha em juízo.

3A suspensão do processo é encarada como um momento em que não se praticam atos, mas há também a chamada SUSPENSÃO IMPRÓPRIA. É uma hipótese de suspensão, mas que propriamente não é suspensão. Grande parte das intervenções de terceiros enseja a chamada suspensão do processo, como a nomeação à autoria. Enquanto se decide quem fica na relação processual como réu (se é o indicado pelo autor ou o indicado pelo réu indicado pelo autor) se suspende o processo para resolver essa questão. Acontece que o curso normal do processo é suspendido para que seja feito um procedimento lateral (que é a escolha do réu adequado), mas que é dentro do mesmo processo. Se é dentro do mesmo processo, propriamente não há suspensão de atos, pois atos estão sendo praticados.

Ademais, pode acontecer, mesmo que o processo esteja suspenso, necessidade de se

praticar um ou outro ato que seja considerado urgente. Isso se dá para não haver perda de

elementos probatórios, e quase sempre está relacionado com testemunhas. – ATOS

URGENTES É DEDIGNAÇÃO GENÉRICA QUE ABRANGE MEDIDAS CAUTELARES E A TUTELA

ANTECIPADA.

Page 4: RESUMO - FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

Obs.: a consequência da ausência de nomeação de advogado, a depender do falecido ser o autor ou ser o réu, é diferente. Se o advogado do autor for o que falecer, ele terá um prazo para trazer aos autos outro advogado. Se não trouxer, extingue-se o processo sem resolução de mérito. Se o advogado do réu for o que falecer e ele não trouxer outro advogado, ele passa a ser revel.

II - pela convenção das partes; 

As partes podem convencionar a suspensão do processo para realizar, por exemplo, uma conciliação.

Obs.: se a discussão está posta em juízo e há interesse do estado em solucionar o litígio, o código limita, então, em até 6 meses o prazo de suspensão.

III - quando for oposta exceção de incompetência do juízo, da câmara ou do tribunal, bem como de suspeição ou impedimento do juiz;

Exceção em processo pode significar duas coisas:

Em sentido amplo, defesa. Em sentido estrito, uma defesa processual bem específica: exceções de incompetência4 e impedimento5 ou suspeição6. São defesas que atacam a incompetência do juízo e a imparcialidade do juiz.

Enquanto eu discuto se há ou se não há o pressuposto processual de competência e parcialidade, o processo está suspenso.

Obs.: essas exceções, embora formadas em processo separado, mas atreladas ao processo original, não constituem processo novo. É um processo apêndice. Portanto, aqui é uma hipótese de SUSPENSÃO IMPRÓPRIA. Eu suspendo o procedimento principal e vou discutir uma questão separadamente.

IV - quando a sentença de mérito:

a) depender do julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente;

4 Nas hipóteses em que a unidade jurisdicional não tem atribuição para decidir determinada

causa. As regras de competência são ditadas pela jurisdição, que é una, mas que vai ser

exercida fracionada. Competência é a fração da jurisdição. A competência pode ser tanto

absoluta quanto relativa. 5 Todas as vezes que se for possível identificar que o juiz não é parcial, eu faço mediante as exceções. Impedimento (art. 134) é aquela situação em que o legislador objetivamente exclui o magistrado da função de julgar. Exemplo: quando o juiz for cônjuge de uma das partes. 6 Suspeição não é uma hipótese em que se afasta taxativamente o juiz, porque é mais subjetiva. (art. 135). Exemplo: juiz amigo íntimo de uma parte.

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É a chamada prejudicialidade7 externa.

Existem questões discutidas em um processo que não são questões de mérito, mas que constituem objeto principal (mérito) de outro processo. É possível que a resolução de mérito de um processo influencie na resolução de mérito de outro.

Imaginem o seguinte: de um determinado acidente de veículo, resulta repercussão na esfera civil e penal. No processo civil a discussão gira em torno de ter o réu que indenizar ou não. No processo penal, se discute autoria do delito. O que pode fazer o juiz do processo civil? Suspender o processo, porque saber se o réu causou ou não o acidente vai definir como ele julga o mérito. Se causou o acidente, deve indenizar. Se não causou, não deve. Assim, o juiz vai suspender o processo para esperar que seja definido na esfera penal se o sujeito foi ou não o autor daquele fato. Ser ou não ser autor do fato é uma premissa, e a partir dessa premissa o juiz decide se o réu deve indenizar ou não. É uma questão que tem que ser analisada antes. Significa então que a resolução de uma questão depende de outra resolução. Essa questão é prejudicial e externa, porque essa prejudicialidade está sendo discutida em um outro processo.

b) não puder ser proferida senão depois de verificado determinado fato, ou de produzida certa prova, requisitada a outro juízo;

São as hipóteses de precatória, rogatória e carta de ordem. Existem atos processuais que não podem ser praticados pelo juízo da causa, e são então solicitados ou requisitados de um juízo a outro. A regra é que a produção de certa prova ou a verificação de certo fato em juízo diverso deve se dar necessariamente por carta precatória.

Obs.: mas os fatos e provas contidos na carta precatória devem ser relevantes para resultado para que o processo seja suspenso (enquanto a carta não chegar)

7 O texto de Barbosa Moreira trata de questões preliminares e questões prejudiciais. As chamadas “questões prévias” (questões que têm que ser analisadas antes do mérito), são de duas ordens: a) Preliminariedade: As questões preliminares sempre existirão no processo, diferentemente das prejudiciais. São aquelas que têm que ser resolvidas pelo autor antes, e a resolução vai determinar se a questão subsequente de mérito será analisada. Primeiro analiso as questões preliminares porque, a partir do modo que forem resolvidas, eu defino se as questões de mérito e se o pedido pode ser analisado ou não. Questões como condição de ação e pressupostos processuais são questões que têm que ser analisadas previamente pelo juiz. b) Prejudicialidade: nas questões prejudiciais, a questão prévia vai determinar como a questão subsequente será analisada. A questão prévia resolvida constitui premissa para a resolução da segunda questão (mérito).Exemplo: imaginem que o sujeito compre um ingresso para assistir um jogo de futebol, e que a compra do ingresso é um requisito prévio para o sujeito entrar no estádio e assistir ao jogo, ou seja, só assiste ao jogo se tiver comprado o ingresso. Ao chegar à portaria do estádio, o funcionário do estádio vai verificar se ele tem ingresso. Se tiver entra, se não tiver não entra. Isso é uma questão prévia preliminar. Exemplo 2: uma vez que eu tenho o ingresso e apresento para o funcionário da portaria, a depender de qual seja o tipo do meu ingresso, eu vou ingressar no estádio para assistir na arquibancada ou assistir na cadeira. Então definir qual o tipo do ingresso vai determinar como eu assisto ao jogo. Essa é uma análise previa prejudicial.

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Ressalva: a suspensão não pode durar infinitamente, sendo o limite máximo de um ano.

c) tiver por pressuposto o julgamento de questão de estado, requerido como declaração incidente;

É a chamada ação declaratória incidental8.

É possível que essas questões de estado sejam questões prévias do tipo prejudiciais, mas cuja discussão não constitui objeto principal do processo.

Exemplo: o autor requer alimentos do pai. Quando o pai contesta, diz assim: “é verdade que eu registrei, mas o autor não é meu filho”. Daí instaura-se um ponto controvertido sobre a paternidade. Se o sujeito for pai, vai ter que pagar os alimentos. Se não, não. O juiz precisa, então, resolver previamente a questão da paternidade, pois ela que vai definir se o sujeito paga ou não paga alimentos. É uma questão prévia do tipo prejudicial.

Acontece que a verificação do juiz acerca da paternidade não tem força a ponto de impor esse estado de paternidade. Os fundamentos da decisão não transitam em julgado. Então essa premissa que se valeu o juiz acerca da paternidade é o fundamento para ele concluir e decidir o pedido principal (alimentos). O fundamento do pedido dos alimentos é a paternidade, mas o autor não pediu o reconhecimento da paternidade, porque o autor já partiu presunção legal que há paternidade por conta do registro. Só transita em julgado a questão dos alimentos. Então e se o pai quiser posterior rediscutir a paternidade, não há nada que o impeça. Para evitar isso, tanto o pai quanto o filho podem proferir a ação declaratória incidental, ou seja, no curso do processo pode tanto o autor quanto o réu requerer que essa questão que é previa e é só fundamento passe a constituir objeto principal do objeto. Vai haver uma hipótese de ampliação objetiva da demanda. Eu vou acrescentar outro pedido. O pedido vai ser paternidade + alimentos. O resultado disso é que o juiz não vai utilizar a paternidade apenas como fundamento, pois a sua sentença vai ter duas decisões em uma: ele vai declarar o estado de paternidade e, com base nessa premissa, vai decidir se o pai vai ou não pagar alimento. Aqui sim transitou em julgado e essas questões não poderão mais ser discutidas, pois foi decidido, e não só fundamento.

Assim, a ação declaratória incidental suspende o processo.

V - por motivo de força maior;

Pegou fogo no fórum, suspende-se o processo.

VI - nos demais casos, que este Código regula.

§ 1o No caso de morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, ou de seu representante legal, provado o falecimento ou a incapacidade, o juiz suspenderá o processo, salvo se já tiver iniciado a audiência de instrução e julgamento; caso em que:

a) o advogado continuará no processo até o encerramento da audiência;

8 Prevista nos arts. 5º e 325.

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Esse dispositivo precisa ser entendido de acordo com a prática forense: parece, pela leitura do código que, se no meio de uma audiência o sujeito bate as botas, ele fica lá e a audiência continua. Mas não é bem assim.

O código que dizer que existem hipóteses em que a audiência começa e não termina no mesmo dia. Se entre o início da audiência e o seu término que se dá em outro dia houver falecimento da parte, não se suspende o processo. O advogado continua praticando os atos processuais até a sentença.

b) o processo só se suspenderá a partir da publicação da sentença ou do acórdão.

§ 2o No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz marcará, a fim de que a parte constitua novo mandatário, o prazo de 20 (vinte) dias, findo o qual extinguirá o processo sem julgamento do mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou mandará prosseguir no processo, à revelia do réu, tendo falecido o advogado deste.

A justificativa disso é que os atos praticados em audiência necessitam da presença do advogado, pois ele que vai poder praticar os atos. Se o advogado morrer nesse meio tempo, a audiência não vai poder prosseguir.

§ 3o A suspensão do processo por convenção das partes, de que trata o no Il, nunca poderá exceder 6 (seis) meses; findo o prazo, o escrivão fará os autos conclusos ao juiz, que ordenará o prosseguimento do processo.

§ 4o No caso do no III, a exceção, em primeiro grau da jurisdição, será processada na forma do disposto neste Livro, Título VIII, Capítulo II, Seção III; e, no tribunal, consoante Ihe estabelecer o regimento interno.

§ 5o Nos casos enumerados nas letras a, b e c do no IV, o período de suspensão nunca poderá exceder 1 (um) ano. Findo este prazo, o juiz mandará prosseguir no processo.

Art. 266. Durante a suspensão é defeso praticar qualquer ato processual; poderá o juiz, todavia, determinar a realização de atos urgentes, a fim de evitar dano irreparável.

Obs.: o rol do art. 264 não exaure as hipóteses de suspensão.

Obs.: férias forenses é a suspensão do prazo, mas não do processo. Assim, atos podem ser praticados.

EXTINÇÃO

É o final do processo.

Page 8: RESUMO - FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

O código, porque tinha aquela perspectiva de que, da ação processual, uma vez solucionada a crise de certeza, e necessária a posterior tutela executiva, o sujeito precisava de um novo processo. A sentença era, então, o ato que extinguia o processo, resolvendo o mérito ou não.

Segundo a visão do código, a sentença seria o ato que extinguia o processo, e essa extinção seria com resolução de mérito solucionando o conflito de interesse, ou seria extinção anômala quando o judiciário extinguia sem solucionar o conflito de interesses.

Porém a doutrina percebeu que o conceito do código, apesar de bem intencionado, era equivocado, porque depois dessa sentença era possível, por exemplo, que a parte propusesse um recurso no mesmo processo. Isso significa que a formulação do código de que sentença extinguia o processo é errada, porque bastava eu pensar que a essa sentença cabia recurso.

Então se percebeu o seguinte: a sentença identificada como ato final do processo estava equivocada e a doutrina começou a conceituar esse ato, não como o que colocava fim ao processo, mas como o que colocava fim a uma sentença de primeiro grau de jurisdição.

O processo em crédito se caracteriza pela desnecessidade, uma vez da sentença, ingressar com uma nova ação. É um processo só dividido em fases. O que era para ser um novo processo passou a ser uma fase subsequente. Em 2005 resolveu-se tentar ajustar o conceito de sentença, alterando, por exemplo, o art. 162, §1º.

Então quando terminaria o processo? Segundo alguns, com o trânsito em julgado da sentença, terminaria o processo. Isso, na versão anterior do código, poderia ser verdade. Quando a execução demandava novo processo com o transito em julgado não cabia mais nada e acabava a relação processual. Agora não mais. o transito em julgado é um dos pressupostos para eu continuar o processo na fase executiva. O processo acabaria, então, no dia em que a fosse satisfeita, e juiz proferisse uma nova sentença na fase executiva, extinguindo o processo.

Exemplo: receber o dinheiro do bilhete premiado. Uma coisa é ganhar o bilhete, outra coisa é receber. Não adianta só ter a sentença que obriga o réu a pagar se o estado não tem condições de fazer com que o réu efetivamente entregue o dinheiro.

Uma vez que o judiciário consegue impor a satisfação da obrigação, acabou atividade do judiciário no processo. Quando o judiciário tiver realizado a tutela jurisdicional satisfatória. Uma vez satisfeita a relação conflituosa, acabou o processo. Ou uma vez não sendo possível a satisfação da relação conflituosa (como na prescrição), acabou o processo. Resumindo: a extinção se dá quando não é necessário/se pode mais praticar atos no processo.

Explicação de Didier sobre a extinção do processo:

Page 9: RESUMO - FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

O código nos artigos 267 (sem julgamento de mérito) e 269 (com julgamento de mérito) trata das hipóteses de extinção do processo. O legislador relaciona esses artigos à sentença, visto ser esse o ato que encerra o procedimento em primeira instância, conforme o texto do §1º do art. 162 (sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta lei).

A redação do código induz o entendimento de que toda decisão judicial, que tenha por conteúdo uma das hipóteses previstas nesses artigos, será uma sentença. Não é bem assim, porém.

Essa nova redação do §1º do art. 162 tem como objetivo ressaltar que a sentença não mais extingue o processo, como antes se dizia, tendo em vista que toda sentença de prestação, agora, dá ensejo a execução imediata, sem necessidade de outro processo (de execução) para isso. É por isso que também foi alterado o art. 463 (publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la), para retirar a menção que se fazia ao “encerramento da atividade jurisdicional” com a prolação da sentença. De fato, proferida a sentença, o juiz não mais encerra a sua atividade jurisdicional, pois deverá continuar a atuar, agora na fase executiva.

Após essa alteração legislativa, é preciso compreender a sentença como o ato que encerra o procedimento na fase de conhecimento/execução e em primeira instância. O encerramento do procedimento fundar-se-á ora no art. 267, ora no art. 269.

O conceito de sentença tem bastante relevância: é com base nele que se saberá qual o recurso cabível, pois, de acordo com o código, da sentença cabe apelação e da decisão interlocutória cabe agravo.

Ademais, a sentença nem sempre encerrará toda a fase de conhecimento/execução, quer porque pode haver recurso, a prolongar a vida da causa, quer porque, sendo demanda de competência originária de tribunal, o ato que porá fim ao processo será acórdão ou decisão de relator, e não sentença.

Obs.: obviamente é possível designar toda e qualquer decisão judicial de “sentença”, mas não é esse o sentido do §1º do art. 162.

Do mesmo modo, nem toda decisão que tiver por conteúdo uma das hipóteses dos arts. 267 e 269 terá por feito a extinção da fase de conhecimento. Exemplos: a) decisão que indefere parcialmente a petição inicial (267 I); b) decisão que reconhece a decadência de um dos pedidos acumulados (269 IV); c) decisão que exclui um litisconsorte por ilegitimidade (art. 267 VI). São exemplos de decisão interlocutória9, que podem, assim, ser impugnadas por agravo.

É por isso que se deve ter muito cuidado com a terminologia. Os arts. 267 e 269 não preveem hipóteses em que necessariamente o processo será extinto e nem estabelecem matérias exclusivas de sentença, a respeito da redação do §1º do art. 162. 9 Ato pelo qual o judiciário resolve, no curso do processo, questão incidente, no qual cabe agravo no prazo de 10 dias.

Page 10: RESUMO - FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

I - quando o juiz indeferir a petição inicial;

Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;

III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;

IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;

Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;

Vll - pela convenção de arbitragem; 

Vlll - quando o autor desistir da ação;

IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;

X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;

XI - nos demais casos prescritos neste Código.

§ 1o O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e Ill, o arquivamento dos autos, declarando a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta e oito) horas.

§ 2o No caso do parágrafo anterior, quanto ao no II, as partes pagarão proporcionalmente as custas e, quanto ao no III, o autor será condenado ao pagamento das despesas e honorários de advogado (art. 28).

§ 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.

§ 4o Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação.

Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.

Page 11: RESUMO - FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo fundamento previsto no no III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito.

Art. 269. Haverá resolução de mérito: 

I - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor;

II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido;

III - quando as partes transigirem;

IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; 

V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.