resumo do livro direito eclesial

26
RESUMO DO LIVRO INTRODUÇÃO AO DIREITO ECLESIAL NATUREZA DO DIREITO ECLESIAL 0

Upload: lano-costa

Post on 26-Nov-2015

72 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

RESUMO DO LIVRO

INTRODUO AO DIREITO ECLESIALNATUREZA DO DIREITO ECLESIAL

DEFINIO: DIREITO CANNICO OU DIREITO ECLESIAL?Cannico, etimologicamente, vem do grego kann, que significa "regra". No Conclio de Nicia (325), os knones contrapem-se s nmoi, designando os primeiros as normas eclesisticas e as segundas, as leis civis. Os Conclios distinguem entro cnones fidei (da f), cnones morum (da moral) e cnones disciplinares (da disciplina); esses ltimos, muitas vezes, mais do que obrigar coercitivamente, querem persuadir. Portanto, desde os primeiros sculos, os cnones indicam todas aquelas normas que, estabelecidas pela autoridade eclesistica, direcionam a vida da comunidade eclesial e de cada um dos fiis, no assumindo as caractersticas formais que as Ieges tm no mbito civil.Quando se fala do direito cannico ou eclesial, pode-se fazer referncia a trs realidades distintas, embora estreitamente ligadas entre si: a) direito da Igreja em sua essencialidade e globalidade; b) direito da Igreja em sua formulao positiva; c) cincia do direito cannico.O direito eclesial deve ser definido como o conjunto das relaes entre os fiis dotadas de obrigatoriedade, enquanto determinadas pelos vrios carismas, pelos sacramentos, pelos ministrios e funes, que criam regras de conduta. A cincia do direito cannico o estudo e o ensino dele.

ESSNCIA E FORMA HISTRICA DO DIREITO ECLESIAL

O direito cannico, em essncia, est contido nessa realidade dogmtica da Igreja como povo de Deus; enquanto conjunto de normas positivas, portanto, exprime historicamente essa realidade em nvel institucional, regulando a vida desse povo.

FUNDAMENTOS ANTROPOLGICOS DO DIREITO ECLESIALDIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVOA lei natural e o direito natural exprimem, como realidades ontolgicas, a dignidade da pessoa humana, determinando seus direitos e deveres naturais. O direito eclesial positivo, ento, uma manifestao da reintegrao do homem e da vitria sobre o pecado, porque no s faz com que seja superada a desconfiana nas relaes entre os homens, seja vencida a diviso e realizadas as possibilidades de convivncia, com base no respeito da dignidade de cada homem e de seus direitos inalienveis, mas tambm promove a comunho com Deus e entre os homens, para a salvao dos membros da comunidade eclesial.FUNDAMENTOS ECLESIOLGICOS DO DIREITO ECLESIALO DIREITO NO MISTRIO DA IGREJAO bem comum da Igreja alcana, por isso, um mistrio divino, o da vida da graa, que todos os cristos, chamados a ser filhos de Deus, vivem na participao da vida trinitria: Ecclesia in Trinitate. Nesse sentido, o Conclio Vaticano II falou da Igreja tambm como comunho", trazendo assim luz o fundamento espiritual do Direito na Igreja e sua ordenao para a salvao do homem: de modo que o Direito se torna Direito de caridade nessa estrutura de comunho e de graa para todo o corpo social.O DIREITO NA IGREJA, SACRAMENTO DE COMUNHO E CORPO MSTICO DE CRISTOPodemos, assim, compreender como toda a ao visvel da Igreja est a servio da salvao, embora nem todos seus atos sejam imediatamente salvficos. Tendo a atividade jurdica da Igreja sua raiz primeira na natureza do homem, o qual entra na salvao com todas suas exigncias e estruturas naturais, o direito eclesial positivo um meio, um instrumento, a servio do fiel para alcanar a salvao na Igreja. Nesse sentido lato, pode-se dizer que o direito cannico participa da sacramentalidade da Igreja. Contudo a Igreja, embora humana em sua visibilidade e historicidade, s compreensvel na f, justamente por seu carter sacramental e pelo fato de ser uma realidade que procede do mistrio da vida trinitaria.

SINTESE

Em sntese, uma vez que em sua origem no produto da vontade humana, mas da vontade divina, a Igreja como sociedade juridicamente perfeita o instrumento concreto de uma fora divino-sobrenatural, a fora do Esprito Santo (LG 8a). A comunho invisvel, enquanto obra do Esprito Santo, alma sobrenatural da Igreja (LG 7g; AG 4), a realidade mais profunda constitutiva dessa e assume em si a realidade humana sociolgico-jurdica, como alma natural e corpo, mas sem esvazi-la de sua prpria natureza, ou at levando consumao seu contedo, seu fim e seu significado imanentes; a comunho visvel, institucionalizada como comunho hierrquica e eclesistica entre os membros da Igreja, o signo humanamente perceptvel da ao de Cristo, que a constitui e a refere comunho no Esprito, a qual comunho trinitria.Tendo em conta o que foi dito at agora, devemos admitir o valor salvfico tambm do direito eclesial positivo humano, que pode ser definido como "direito sagrado" ("ius sacrum") e "direito de comunho" ("ius communionis"), enquanto expresso e instrumento de encarnao do direito divino, quer natural, quer revelado, voltado para a proteo e para a promoo da comunho eclesial.

A LEI NA IGREJANATUREZA E FIM

A LEI POSITIVA NO NOVO TESTAMENTOPodemos dizer que nos Evangelhos Sinticos se encontra a afirmao da continuidade e da permanncia da lei mosaica, em virtude da consumao dessa por Jesus, mas, ao mesmo tempo, tambm a novidade absoluta do modo de agir dos fiis em Cristo, at a crtica radical aos fariseus (Mt 23.1-31).

O EVANGELHO DE JOOPara o Evangelho de Joo, a economia do Antigo Testamento consiste no dom da lei, ao passo que a do Novo se baseia na graa da verdade de Jesus Cristo, que superabunda em relao lei de Moiss, porque a revelao de Cristo a supera (Jo 1,16-17).Tal lei de Cristo no um novo Cdigo de normas positivas, mas o conhecimento do mistrio da salvao cumprido em Cristo. Trata-se de uma lei inscrita pelo Esprito no corao dos homens, que conduz liberdade.

SO PAULO

S. Paulo o autor do Novo Testamento que mais tratou da lei. Em seus escritos, encontramos alguns textos em que negada lei toda funo positiva na vida crist, e outros em que, pelo contrrio, afirma-se uma funo positiva, e at textos nos quais vemos que o prprio Paulo d normas s comunidades.A afirmao fundamental de Paulo a liberdade dos crentes em Cristo em relao lei externa. A lei no pode ser considerada meio e via de justificao.Paulo considera que o homem renascido em Cristo por si s no precise de normas e de regras, mas, uma vez que tambm na vida de tal homem no h coerncia entre a vida interior da graa e o modo externo de viver, o mesmo Paulo d normas e regras s comunidades, principalmente com o fim de reprimir falsas interpretaes acerca da liberdade crist. (1Cor 6,12; 10,23).SINTESE

Em sntese, podemos afirmar que nos escritos do Novo Testamento encontramos uma continuidade de ensinamento. A afirmao fundamental que todas as regras, normas e leis positivas tm sentido na comunidade crist s em relao a Cristo. O comportamento dos fiis em suas relaes mtuas e a ordem da comunidade no se fundamentam nas leis positivas em si mesmas, mas na comunho com Cristo. A norma na vida crist no tem seu sentido no fato de conter uma ordem que deva ser executada, mas no fato de que o fruto da autocompreenso da comunho dos indivduos da comunidade em seu conjunto com Cristo. A obrigao da observncia da lei na comunidade crist no surge tanto do fato de que a lei dada e promulgada por um legtimo legislador dotado de poder, mas sobretudo pelo fato de que animada pelo Esprito de Cristo. A lei positiva da comunidade crist, em seguida, no s deve mostrar onde est o pecado, mas, antes de tudo, deve indicar qual o comportamento que se deve ter segundo a lei interna do amor, segundo a ao do Esprito Santo, para poder alcanar e reforar a comunho com Deus em Jesus Cristo e com os irmos. O legislador eclesistico, ento, quer no momento da primeira produo das normas, quer para prover renovao delas, dever confrontar-se com o mistrio da salvao, que se torna presente na vida de cada um dos fiis e de toda a comunidade.DEFINIO DE LEI CANNICA OU ECLESISTICA

A DEFINIO DE LEI EM STO. TOMSO prprio Sto. Toms explica essa definio. "Lei" vem de "ligar", uma vez que obriga a determinada ao, cuja regra e medida a prpria lei. A lei eclesistica deve ser considerada uma ordenao da razo do homem iluminada pela f e moldada pela caridade do Esprito Santo, promulgada pela autoridade competente.RAZOABILIDADE DA LEIA lei positiva, ento, deve ter uma razoabilidade intrnseca, ou seja, deve ter uma correspondncia com aqueles valores, bens e direitos inalienveis de que cada pessoa portadora pelo simples fato de existir, os quais por si mesmos fazem surgir a obrigao do Respeito por parte de todos os outros sujeitos, sem nenhum tipo de diferena.

BEM COMUMO bem comum em sentido antropolgico o complexo dos bens o dos valores que por si ss so atinentes pessoa humana; e o bem comum em sentido jurdico constitudo pelos meios para a obteno da prpria perfeio da pessoa humana (por exemplo, o exerccio da autoridade, as leis, as instituies etc), porque protegem e promovem aqueles bens e valores.Como se pode ver, uma oposio entre o bem comum e o bem de cada um na Igreja s pode ser superada em referncia a Cristo, princpio do bem tanto do indivduo como de toda a comunidade eclesial.

OBRIGATORIEDADE DA LEIOBRIGAO DE CONSCINCIAPara que, ento, uma lei obrigue, necessrio haver no legislador a autoridade legal e, portanto, a competncia, expresso do poder de governo pastoral confiado por Cristo Igreja; no que diz respeito ao objeto da lei, necessrio que o que pedido seja moralmente bom, portanto no contrrio lei natural e ao direito divino natural ou revelado, oportuno, enquanto tendo como fim o bem comum, e possvel fsica e moralmente, ou seja, exeqvel pela mdia dos homens. Existindo essas condies, a lei deve ser considerada justa e obrigatria, enquanto razovel determinao secundria da lei interna do amor e concretizao histrica do direito divino.A obrigao de conscincia dupla: executar a lei e, em caso de infrao, aceitar a pena, se prevista pela lei ou decretada pela autoridade. A obedincia na Igreja no pode simplesmente ser uma submisso externa autoridade. Ela um meio para crescer em outras virtudes, como a f, com a qual o fiel se submete, com um ato de livre adeso interior, autoridade do magistrio. A obrigao de conscincia das leis eclesisticas baseia-se no fato de que o exerccio da autoridade na Igreja s pode ser concebido como um ministrio sagrado, um servio, porque se trata de uma autoridade magisterial, conferida por Cristo para que a palavra de Deus seja anunciada autenticamente; sagrada, dada para a santificao com o anncio da palavra de Deus e a administrao dos sacramentos; enfim, pastoral para que, por meio das leis proclamadas e dos juzos pronunciados, a palavra de Deus continue a ser anunciada com fidelidade em sua integridade, os sacramentos e o culto continuem a ser celebrados segundo a instituio divina e a vida crist se desenvolva segundo as exigncias da radicalidade do Evangelho, expressa no Sermo da Montanha (LG 27).

A lei eclesistica, ento, no pode ser considerada, num sentido pragmtico, s em sua factualidade de organizao da vida social da Igreja, mas necessariamente numa referncia direta esfera moral do homem.O direito eclesial, mais do que qualquer outro direito positivo, fragmentrio e sempre o ser, porque, por seu carter de abstrao e generalidade, nunca poder esgotar todas as dimenses do fiel e traduzir nem a lei interior do amor nem a essncia da Igreja numa perfeita forma histrica.Tanto a autoridade eclesistica, no momento da produo e aplicao da lei, como o canonista, em sua atividade de estudo e explicao dela, devero estar conscientes da perptua fragmentariedade de cada uma das leis eclesisticas positivas e do direito positivo da Igreja em seu conjunto, se quiserem que esses desempenhem sua funo tanto para o bem sobrenatural de cada um dos fiis como para o bem comum. Assim, a autoridade, ao regulamentar positivamente os institutos eclesisticos, e o canonista, em sua atividade cientfica, devem estar conscientes da inadequao das leis positivas em traduzir a essncia da estrutura da Igreja e, ao mesmo tempo, da diferente imutabilidade delas, conforme sua mais ou menos direta derivao do direito divino.

EXCEESDe grande importncia o princpio da epikeia, princpio no somente moral, mas tambm plenamente jurdico: por meio dele se constata que a lei em questo no obriga num caso particular. Uma vez que geral e abstrata em sua proposio, a lei obriga todos em circunstncias normais e no pode prever a cada um dos casos particulares, caso seja moralmente certo que, se o legislador conhecesse o caso particular nas circunstncias que se opem aplicao da lei, dispensaria dela, e quem est na impossibilidade de pedir a dispensa pode aplicar tal princpio.Na mesma conscincia da fragmentariedade da lei se baseia tambm a prtica da tolerncia e do fechar de olhos pela autoridade perante a violao de uma lei humana, se no provocar escndalo e dano a terceiros.

A LEI DA CARIDADE NA ORDENAO ECLESIAL

Todas essas regras tpicas do direito eclesial manifestam que na base dele est a lei interior do amor e que as leis positivas so apenas determinaes segundas dela; alm de que o fim da lei eclesistica o bem comum, como acima o entendemos.

A lei externa escrita, que deve ser manifestao da lei interior, a graa do Esprito Santo, e regrar as relaes entre os irmos na mesma f, no pode deixar de ter como elemento constitutivo a caridade.DIREITO ECLESIAL E TEOLOGIA

O ESTUDO DO DIREITO ECLESIAL NA FORMAO TEOLGICA

O ensino dele deve inserir-se harmonicamente no resto dos estudos teolgicos, e para tanto devem ser indicados os fundamentos teolgicos gerais do direito cannico enquanto tal e os fundamentos particulares de cada instituto jurdico e o ensino dele ser ministrado dentro de uma perspectiva pastoral.O reto conhecimento e interpretao das normas eclesisticas, especialmente por aqueles que tero na Igreja uma responsabilidade pastoral ou prestaro servios e exercero ministrios ou ofcios, levar a uma aplicao delas para o bem sobrenatural de cada um dos fiis e da comunidade crist em seu conjunto.A atividade jurdica de tal forma inerente ao homem, que uma antropologia teolgica no pode prescindir da considerao dela, para explicar o homem em sua dimenso social. A dimenso jurdica da Igreja parte constitutiva dela, de modo que, sem a considerao dessa dimenso, a prpria eclesiologia ficaria carente.

O DIREITO ECLESIAL:

CINCIA TEOLGICA OU CINCIA JURDICA

A teologia a "cincia da revelao crist", e o objeto de que se ocupa so as verdades reveladas por Deus e conhecidas mediante a f". Portanto, a teologia "indaga e aprofunda o dado revelado, circunscreve os limites e coopera em seu desenvolvimento homogneo, segundo as exigncias da f e as indicaes dos sinais dos tempos, em que ela l os sinais mesmos de Deus". A teologia tem como base "o estudo das fontes da revelao, dirigido a estabelecer o que Deus revelou" (teologia positiva), e, alm disso, "procura penetrar o sentido e descobrir as conexes das verdades reveladas, para coordenadas de modo orgnico e unitrio" (teologia sistemtica).

O direito cannico a cincia que estuda e explica aquelas relaes entre os fiis que determinadas pelos carismas, pelos sacramentos, pelos ministrios e pelas funes so dotadas de obrigatoriedade e criam regras de conduta formuladas em leis e normas positivas dadas pela autoridade legtima, constituindo, em seu conjunto, as instituies eclesiais. O direito eclesial positivo fundamenta-se no s no direito divino natural, mas, sobretudo, no direito divino revelado. Ou melhor, muitos cnones do Cdigo de Direito Cannico so dogmticos, porque exprimem de maneira imediata tal direito divino revelado (p. ex. cc. 96; 204; 205; 208; 209, 1; 330; 331; 333; 336 etc). Por essa razo, o objeto da investigao do canonista deve ser antes de tudo a considerao global do lugar que ocupa a atividade jurdica no mistrio geral da Igreja, portanto o estudo daquele "jurdico dogmtico" de que falamos no primeiro captulo e que constitui o direito divino revelado, de que nasce a definio das relaes fundamentais entre os fiis e de sua obrigatoriedade no s na esfera da conscincia, mas tambm na do viver social externo da comunidade eclesial. Nesse mbito, o mtodo a ser aplicado o teolgico.Tendo a cincia do direito cannico, ento, o direito da Igreja como objeto, com plena razo se pode dizer, ao mesmo tempo, uma cincia teolgica e jurdica; portanto, o canonista deve ser, ao mesmo tempo, telogo e jurista.Ento, para bem compreender as coisas, quando falamos de Teologia do direito, devemos fazer referncia, primeiro, ao sentido teolgico da experincia jurdica humana, em seguida, ao sentido dessa ltima no interior da realidade mistrica da Igreja. Portanto, pode-se distinguir entre Teologia do direito em geral, como experincia humana, e Teologia do direito eclesial, mas a segunda, fundamentada na eclesiologia, pressupe e compreende a primeira, que se fundamenta na antropologia teolgica, porque no se d uma eclesiologia sem uma antropologia.

DIGRESSO HISTRICA SOBRE A CINCIA E AS FONTES DO DIREITO ECLESIAL

A histria da cincia cannica geralmente dividida em sete perodos.O primeiro perodo vai dos incios at o Decreto de Graciano (cerca de 1140). Nesse perodo, no se tm exposies sistemticas do direito cannico, porque ele no era uma cincia autnoma em relao teologia, mas sim uma parte especialmente da teologia prtica.O segundo perodo vai do Decretum de Graciano at o Liber Extra de Gregrio IX.Graciano ( 1158), camldulo do mosteiro dos santos Flix e Nabor (ou do de S. Proclo), ensinava "theologia practica" na Universidade de Bolonha e comps, com o auxlio dos monges (em especial de Paucapalea), o Decretum, por volta de 1140 (de qualquer modo, entre 1139 e 1148). O ttulo original, Concordantia discordantium canonum, revela a novidade do mtodo dessa coleo de leis, que, embora no tenha um carter oficial, toma o lugar de todas as colees anteriores, impondo-se nas escolas da poca, a comear pela de Bolonha. Nascem a disciplina e a cincia autnoma do direito cannico.O terceiro perodo vai da promulgao das Decretais de Gregrio IX (Liber Extra) em 1234 at o ano de 1348.Com a invaso dos tribunais e das escolas pelas colees autnticas e privadas das decretais posteriores ao Liber Extra, tornou-se necessria uma nova compilao, o Liber VI Bonifacii VIII. que universal, nica, exclusiva, autntica, porque promulgada pela comunicao s escolas de Bolonha, Paris e Salamanca.O quarto perodo vai de 1348 ao Concilio de Trento (1563). um perodo de decadncia, devido ao chamado cativeiro dos papas. em Avinho, ao Cisma do Ocidente, desvirtuado pelo esprito conciliarista e pelo secularismo humanista, e Reforma protestante. Os canonistas caem antes na casustica minuciosa e se do a coletneas de questes, formulrios, manuais de procedimento penal, sumrios prticos (Summae confessorum).O quinto perodo decorre entre o Conclio de Trento e a Revoluo Francesa. O Conclio de Trento trouxe muitas inovaes e reformas na disciplina eclesistica, mas Pio IV proibiu comentrios ou glosas aos decretos conciliares. Todavia, os decretos conciliares, os documentos e a prtica das Congregaes da Cria Romana, as Bulas pontifcias oferecem nova matria de reflexo e de desenvolvimento cincia cannica. Tambm as concordatas e as convenes com os Estados oferecem um gnero especial de fontes do direito cannico.Nesse perodo, a situao do estudo do direito cannico varia de regio para regio.Recordemos que nesse perodo nasce e se desenvolve a escola de direito pblico eclesistico.O sexto perodo transcorre entre a Revoluo Francesa e a promulgao do CIC de 1917. jorn a Revoluo Francesa em toda a Europa, exceto no imprio dos Habsburgos, ocorre um processo de secularizao das instituies eclesisticas, e tambm dos centros de formao.Nesse perodo, afirma-se a escola romana de direito pblico eclesistico.O stimo perodo vai da promulgao do CIC de 1917 aos dias de hoje.A multiplicidade das leis cannicas e a dificuldade de sua consulta e aplicao tornam cada vez mais necessrias uma reviso e uma reordenao de toda a matria. J no Conclio Vaticano I foram feitos pedidos nesse sentido.

PRINCIPIOS DIRETIVOS DA REFORMA DO CDIGO

Foram dez os principios estabelecidos pela primeira assemblia geral do Snodo de 1967 (30 de setembro - 4 de outubro):ndole jurdica do Cdigo. O Cdigo deve conservar, embora, com um esprito prprio, seu carter jurdico, requerido pela natureza social da Igreja. Assim, no pode propor apenas uma regula fidei et morum, mas oferecer cnones em que os fiis possam encontrar o modo como devero comportar-se na Igreja, se quiserem participar dos bens que ela oferece para a obteno da salvao eterna.O Cdigo, com efeito, resultado de uma experincia que durou cerca de vinte anos, aps o fechamento do Conclio, o qual no teve nem tempo nem modo de amadurecer tantos problemas abertos ou apenas apresentados (por exemplo, origem e exerccio do poder sagrado, rgos de co-responsabilidade ou de participao, como o Snodo dos bispos, as Conferencias dos bispos, os Conselhos presbiteriais, os Conselhos pastorais etc).Enfim, o Cdigo resultado do acurado estudo final do supremo Legislador, que, promulgando-o assumiu a doutrina e a disciplina nele contidas. Com Joo Paulo II, podemos afirmar que: ltimo documento conciliar, o Cdigo ser o primeiro a inserir todo o Conclio em toda a vida.Foro externo e foro interno. Devem ser confirmadas a natureza jurdica do Cdigo, no que diz respeito ao foro externo e a necessidade do foro interno, como vigoraram por sculos na Igreja. Portanto, o Cdigo deve conter normas que dizem respeito ao foro externo e tambm, se o exigir a salvao das almas, normas que dizem respeito a providncias a tomar no foro interno.Critrios de distino e individuao do exerccio do poder para o foro externo e para o interno no podem ser respectivamente o bem comum externo da comunidade visvel e o bem espiritual do indivduo, nem a regulamentao das relaes sociais com os outros membros da Igreja e das relaes com Deus, porque, dada a natureza da Igreja, como vimos no segundo captulo, o bem comum da Igreja sempre tambm o bem do indivduo e vice-versa e as relaes entre os membros da Igreja no so estranhas relao com Deus e vice-versa.Os dois foros devem ser distinguidos, mas no separados, como na Igreja o elemento invisvel e o visvel devem ser distinguidos, mas no podem ser separados. a solicitude pastoral da Igreja, a caridade, lei suprema de toda a vida da Igreja e de toda a ordenao cannica, que exige, em casos particulares, o exerccio do poder no foro interno antes que no externo.Meios para favorecer o cuidado pastoral. Todas as instituies eclesiais devem ser ordenadas para a promoo da vida sobrenatural, e por isso a ordenao cannica, as leis e os preceitos, os direitos e os deveres que da se seguem devem sempre estar de pleno acordo com o fim sobrenatural da Igreja. Por isso, deve estar manifesto no Cdigo espirito de caridade, de temperana, de humanidade e de moderao, que, enquanto virtudes sobrenaturais, fazem com que as leis cannicas se distingam da civis.Insero das faculdades especiais no cdigo. Deve ser revisto o sistema das faculdades especiais concedidas aos ordinrios e outros superiores, de modo que muitas delas, em especial no que diz respeito s dispensas das leis universais, comecem a fazer parte do contedo do poder ordinrio e prprio dos bispos e dos outros ordinrios e sejam estabelecidos os casos de reserva Santa S ou, a outra autoridade.Aplicao do princpio de subsidiariedade. O princpio de subsidiariedade ser aplicado levando em conta a necessria unidade legislativa de uma parte e a utilidade de cada uma das instituies, quer por meio do direito particular, quer de uma s autonomia do poder executivo a elas reconhecido. Com efeito, o sistema do direito cannico deve ser nico para toda a Igreja nos princpios primeiros, em relao s instituies fundamentais, aos meios proprios da Igreja para alcanar seu fim, tcnica legislativa.Tal princpio quer dizer que os vrios grupos devem resolver com seus prprios meios os problemas e tomar as decises que habitualmente no ultrapassam suas possibilidades.Portanto, querendo aplic-lo na Igreja, devemos faz-lo de modo anlogo em relao sociedade civil, no interior de seu quadro institucional, ou seja, daquela estrutura j preexistente da Igreja, dela conservando antes de tudo o que de instituio divina.Defesa dos direitos das pessoas. O uso do poder dos superiores, em todos os nveis, no pode ser arbitrrio, porque encontra seu limite no direito natural, no direito divino e tambm no direito eclesistico. Por isso, devem ser reconhecidos e defendidos os direitos de cada fiel. Alm disso, pela radical igualdade vigente entre todos os fiis, quer por sua dignidade humana, quer pelo batismo, deve ser determinado o estatuto jurdico comum a todos, antes que sejam estabelecidos os direitos e os deveres pertinentes s diversas funes eclesisticas.A igreja no como a sociedade civil, simplesmente o efeito da socialidade humana, mas o efeito da presena da obra salvadora de Deus na natureza humana, dom que Deus faz aos homens.A Igreja deve realizar no mximo possvel a integrao entre o progresso ordenado da vida da comunidade e a plena realizao da pessoa humana, que, como fiel, vive na dimenso sobrenatural da f, da esperana e da caridade. A funo prpria do direito eclesial fazer com que os fiis superem seu individualismo e realizem sua vocao ao mesmo tempo pessoal e comunitria, porque o fim do direito na Igreja duplo: proteger a comunho eclesial e os direitos de cada um dos fiis.Procedimento para proteger os direitos subjetivos. Para que se tenha uma proteo eficiente dos direitos subjetivos, necessria a instituio de tribunais administrativos, segundo diversos graus e de diferentes espcies. Como regra, cada processo deveria ser pblico, a menos que, segundo o critrio do juiz, em certos casos se exigisse o segredo.Ordenao territorial. A territorialidade das circunscries eclesisticas a regra geral, mas o territrio no deve ser considerado um elemento constitutivo, mas s determinativo de uma parcela do povo de Deus, e por isso, para exigncias pastorais, o rito ou a nacionalidade dos fiis ou outras diferentes razes que no o territrio podem ser determinativos de uma parcela do povo de Deus. Tais unidades jurisdicionais pessoais podem ser institudas tanto pela Santa S como pela autoridade local.Reviso do direito penal. Antes de tudo, devem ser reduzidas as penas, que em geral devem ser ferendae sententiae e irrogadas e remidas apenas no foro externo; as penas latae sententiae devem ser previstas apenas para pouqussimos e gravssimos delitos. deixado um amplo espao para o discernimento da autoridade na aplicao das penas, multas das quais no so preceptivas, mas facultativas (cc. 1364; 1367; 1370, 1; 1375; 1390, 3; 1391); as mesmas penas preceptivas so muitas vezes previstas de modo genrico, ou seja, impe-se que a autoridade determine ou uma justa e proporcionada pena ou ento uma censura a seu juzo ou ento uma dentre as penas estabelecidas (cc. 1365; 1366; 1368; 1369; 1370, 3; 1371, 1, 2; 1372; 1373; 1375; 1376; 1377; 1379; 1380; 1381; 1384; 1385; 1386; 1387; 1388; 1389; 1390, 2; 1391; 1392; 1393; 1395; 1396).As penas maiores, como a excomunho e o interdito, justamente porque privam de bens espirituais fundamentais, tm carter medicinal, ou seja, tendem converso do delinquente, para que ele se reintegre na plena comunho com Deus e com a Igreja. Ou seja, a Igreja, ao impor tais censuras, observa e declara o estado em que o fiel se encontra em relao a Deus e Igreja, pelo qual no poder salvar-se se no se arrepender; remitindo a pena, ela declara que o fiel, porque arrependido, restaurou sua plena comunho com Deus e, portanto, tambm com a Igreja.Nova disposio sistemtica do Cdigo. Este princpio estabelecia que, para refletir o esprito do vaticano II, a ordem sistemtica da matria do novo Cdigo devia ser diferente da do CIC 1917, defeituoso nos livros II e III.O CIC 1917 seguia fundamentalmente a antiga sistematizao das Institutiones ps-tridentinas que, como vimos no captulo anterior, seguindo o modelo das instituies de direito romano, dividiam a matria em pessoas (personae), coisas (res) e aes (actiones). Esse esquema fornece o esqueleto do CIC 1917. O livro II, De personis sobre os clrigos, em geral, e os religiosos e os leigos, em especial, d excessiva prevalncia aos clrigos e ao exerccio do poder por parte deles, ao passo que quase no trata dos leigos; dois cnones sem nenhuma relevncia e o resto sobre as associaes de fiis; o livro III, De rebus, engloba uma matria muito ampla e variada: os sacramentos, os lugares e os tempos sagrados, o culto divino, o magistrio eclesistico, os benefcios e os outros institutos eclesisticos no-colegiais, os bens temporais; o livro IV De processibus, trata do exerccio do poder judicial e dos procedimentos a serem seguidos. O livro I, Normae generales, colocado como introdutrio, porque compreende as definies e as aplicaes gerais do direito (leis, costumes, rescritos, privilegios, dispensas), e o libro V, De delictis et poenis, sobre o exerccio do poder coativo ou penal na Igreja, serve de fecho ao Cdigo. Assume um esquema independente da tradio romanstica.So configurados os diversos rgos de governo em nvel universal e particular, portanto o exerccio pessoal ou colegial do poder por quem o detm, e os modos de participao nesse exerccio por todas as categorias de pessoas. A Igreja, assim, aparece como uma comunho orgnica hierarquicamente constituda, na qual cada um tem uma responsabilidade especfica. Falta, infelizmente, uma definio de Igreja universal paralela que dada de Igreja particular (c. 369).Por fim, devemos constatar que o Cdigo atual no segue um esquema sistemtico unitrio, que reflita uma lgica interna coerente. Com efeito afasta-se do esquema do CIC 1917 e certamente se mostra teologicamente mais fundado, em especial nos ttulos dos livros, mas apenas em parte.Um Cdigo no pode deixar de refletir a teologia do tempo em que redigido e promulgado. O Cdigo atual reflete, e devia refletir a eclesiologia do Vaticano II. Quando se tornar inadequado do ponto de vista disciplinar, dever ser revisto, porque isso querer dizer que no mais corresponder ao progresso da reflexo teolgica.O Cdigo atual, como vimos, dedica o livro III ao mnus de ensinar e o livro IV ao de santificar, invertendo a ordem do CIC 1917 no livro III e seguindo o esquema teolgico segundo o qual o anncio da salvao que leva aos sacramentos, meios da salvao.Livro I: O povo de Deus; atual livro II, acrescentando os cnones sobre as pessoas fisicas e juridicas e sobre os atos juridicos (cc. 96-128) e os cnones sobre a prescrio e sobre a contagem do tempo (cc. 197-203), mas subtraindo a parte II.Livro II: A funo de santificar da Igreja: atual livro IV.Livro III: A funo de ensinar da Igreja: atual livro III.Livro IV: A funo de governar da Igreja: composto pelos cnones sobre o poder de governo (cc. 129-144); sobre os ofcios eclesisticos (cc. 145-196); sobre as leis, sobre os decretos e sobre as instrues, sobre os atos administrativos singulares, sobre os estatutos e sobre os regulamentos (cc. 7-95); sobre a administrao dos bens temporais (atual livro V); sobre as sanies (atual livro V); sobre as sanes (atual livro VI) e sobre os processos (atual livro VIII). Livro V: A constituio hierrquica da Igreja (cc. 330-572), que, com a organizao do povo de Deus e a disciplina sobre os orgos que exercem as tres funes acima, unifica todos os carismas, os ministrios e os ofcios.

A COMMUNIO: REGRA DA ORGANIZAO DO POVO DE DEUS

PRINCPIO NO-EXPRESSO

De tudo o que foi dito at agora, desponta a importncia da noo de comunho. Ela constitui a conexo direta entre a antropologia teolgica e a eclesiologia, estando na base de ambas. O homem criado para estar em comunho com Deus e com os irmos, e isso se realiza na Igreja, que o sacramento, instrumento eficaz, de tal comunho. O direito eclesial, como vimos, foi definido por Paulo VI como "direito de comunho" ("ius communionis"), porque as leis positivas, como determinao da lei interna do Esprito, devem ser um auxlio para os fiis realizarem e reforarem a comunho com Deus e com os irmos; alm disso, o bem comum e o dos indivduos para a busca do qual est voltada toda a ordenao eclesial, ao disciplinar as vrias funes na Igreja, assim como o exerccio dos direitos e o cumprimento dos deveres definem-se justamente em relao a tal comunho.A comunho, ento, no s uma noo, mas a realidade mesma, da Igreja. Trata-se de explicitar como ela pode ser uma chave de leitura do direito eclesial e como reguladora da vida jurdica da Igreja.

COMUNHO DOS FIIS - COMUNHO ENTRE AS IGREJAS

A noo de "fiel de Cristo" ("christifidelis") , no CIC 1983, uma noo fundamental (c. 204, 1), qual se referem todas as outras noes acerca das pessoas e das instituies eclesiais. A comunho, como obra do Esprito, constitutiva e reguladora tanto da igualdade fundamental vigente entre todos os fiis, como da desigualdade entre eles, pela diversidade dos carismas, das funes e dos ministrios (cc. 204, 1; 208).A igualdade entre os fiis dada pela comunho fundada no batismo ("communio fidelium"), numa relao direta com a Eucaristia, cuja participao conduz comunho com Cristo e com a Trindade (UR 2b; 15a; 22a; AG 39a; LG 3; 7b).Sobre a verdadeira igualdade na dignidade e no agir entre todos os fiis e a simultnea desigualdade baseia-se o fato de que todos cooperam, como co-responsveis, na edificao do Corpo de Cristo, mas cada um segundo sua condio e suas tarefas (LG 32b.c.d; cc. 208; 212, 2, 3). Sob esse aspecto, como vimos, todos os fiis esto submetidos a obrigaes iguais e gozam dos mesmos direitos (cc. 208-223), os quais, porm, se especificam segundo diversas tarefas e ministrios, que determinam diversas condies jurdicas, das quais, por sua vez, surgem tambm deveres e direitos especficos.A Igreja, ento, uma comunho orgnica, porque um corpo orgnico, em que os vrios dons do Esprito e, portanto, os vrios ministrios e as diferentes funes de seus membros so unificados pela ao do Esprito nico, que sua fonte e seu aperfeioador (LG 7c.f.h).Encontramos essa estrutura fundamental da Igreja em nvel universal, particular e local. A comunidade de todos esses bens espirituais, que constitui a base da comunho dos fiis, tambm a base da comunho entre as Igrejas particulares (communio inter Ecclesias; LG 13b), nas quais e a partir das quais existe a una e nica Igreja catlica (LG 23a; c. 368). A qual, ento, constituda por tal comunho. A comunho o critrio bsico no qual se estabelecem as relaes no s entre cada um dos fiis, mas entre as vrias Igrejas.

COMUNHO ECLESISTICA - COMUNHO CATLICA

Segundo o Cdigo, com base na doutrina conciliar, para que se possa dizer que a Igreja catlica se realiza devem estar presentes os seguintes elementos essenciais: 1) o batismo, que constitui fiis e povo de Deus (LG 10a; 11a; AG 6c; c. 204, 1); 2) uma diferenciao orgnica dos fiis pelos diversos dons hierrquicos e carismticos, todos eles dados pelo mesmo esprito (LG 4a; 12b; 13c: AG 4; GS 32d; cc. 204, 1; 208); 3) a aceitao de toda a ordenao da Igreja visvel e de todos os meios de salvao nela institudos, dentre as quais se destacam a proclamao do Evangelho e a celebrao da Eucaristia; 4) a unio com Cristo na Igreja visvel, nos vnculos da profisso da f, dos sacramentos, do governo eclesistico e da comunho, do governo, portanto, do Sumo Pontfice e dos bispos (LG 9a; 14b; OE 2; AG 6c; cc. 96; 204, 2; 205). Isto constitui a comunho eclesistica (communio ecclesiastica) entre todos os batizados na Igreja catlica ou nela recebidos (LG 14b; 15; SC 69b; cc. 96; 205; 316, 1; 840; 1741, 1). Tais elementos essenciais no mudam, se considerarmos a Igreja em nvel universal, particular ou local, na medida em que a universalidade, a particularidade e a localidade devem ser consideradas atributos do sujeito Igreja, que, por outro, lado, no existe em abstrato, mas sempre numa especificao, ou universal ou particular ou local.Dado que nas Igrejas particulares e a partir delas existe a una e nica Igreja catlica universal, comunho entre todas as Igrejas (LG 23a; c. 368), a Igreja universal, a Igreja particular e a Igreja local devem ser consideradas uma nica realidade mistrica, o Corpo Mstico, de que Cristo a Cabea.COMUNHO HIERRQUICA

A comunho hierrquica ("hierarchica communio") elemento constitutivo da comunho eclesistica ou catlica.

Pode-se, com efeito, em sentido prprio considerar Igreja particular apenas aquela parcela de povo de Deus que est sob a guia pastoral de um bispo legtimo ou de outro legtimo pastor a ele equiparado no direito (c. 381, 2). Dessa presena de seu legtimo pastor, a Igreja particular recebe a caracterstica da apostolicidade. O bispo, com efeito, insere-se na sucesso apostlica, em virtude da consagrao episcopal, mas essa sucesso apostlica manifesta-se plenamente apenas se ele est na comunho hierrquica com o Chefe do Colgio Episcopal e os membros dele, porque s assim ele membro de tal Colgio (LG 20; 22a; cc. 330; 336).Isso se fundamenta no fato de que o ministrio do bispo jamais deve ser considerado isoladamente, mas sempre correlacionado a todo o Colgio Episcopal que sucede ao Colgio Apostlico.A realidade da comunho entre os bispos, comunho no apenas sacramental, mas hierrquica, vista em relao comunho eclesistica, lana uma luz ainda maior sobre o fato de que a comunho o princpio regulador das relaes entre as Igrejas e entre os pastores.CARIDADE E COMUNHO ECLESIAL

Como vimos, o que constitui a Igreja, em todos os nveis, a comunho criada polo Esprito Santo. O lao de comunho, porm, pela prpria natureza da Igreja, anloga do Verbo encarnado (LG. 8a), no permanece s dentro dos limites da esfera invisvel e espiritual, mas exige uma forma jurdica, que seja ao mesmo tempo animada pela caridade (NEP 2).

Como dom do Esprito, a caridade constitui a comunho entre todos os fiis, de qualquer categoria e ordem, em nvel universal, particular e local. No interior da comunho dos fiis, sempre a caridade que constitui a comunho dos bispos entre si e com seu Chefe, o Romano Pontfice. As relaes jurdicas, sancionadas pelas leis, e o funcionamento dos institutos jurdicos, por si mesmos, postulam o exerccio da caridade e so previamente determinados pela ao mesma do Esprito, que distribui os vrios dons. Essa unio na caridade, justamente por ser tal, exige a subordinao hierrquica de todos os fiis: como indivduos e como associados, dos leigos e dos consagrados aos pastores prepostos por Cristo; dos presbteros aos bispos e ao Romano Pontfice; dos bispos a seu Chefe, sucessor de Pedro, e ao Colgio.

COMUNHO - CO-RESPONSABILIDADE - PARTICIPAO

Baseiam-se na realidade da comunho os conceitos de co-responsabilidade e participao.Da comunho vigente entre os fiis em virtude do batismo pelo qual, como dissemos vrias vezes, vige entre eles uma verdadeira igualdade na dignidade e no agir com iguais direitos e deveres, nasce uma co-responsabilidade geral e fundamental de todos em relao edificao do Corpo de Cristo e ao cumprimento da misso da Igreja (cc. 208; 204, 1). Co-responsabilidade, com efeito, indica que muitos sujeitos tm todos a mesma capacidade ou o mesmo poder, portanto os mesmos direitos e deveres em relao a um objeto.A participao exprime a relao da totalidade (participado) com o particular (participante), portanto a relao do que realiza por sua natureza a globalidade (participado) com o que realiza apenas uma parte da totalidade (participante).Aplicando isso ao governo na Igreja, devemos dizer que aquele que tem em si todo poder Cristo. Cristo, constitudo cabea da Igreja, que continua a govern-la pelas mediaes humanas, portanto pelos ministros por ele constitudos, quer no que diz respeito estrutura hierrquica dela, quer no que concerne aos institutos de vida consagrada.A Cria Romana, como conjunto de Dicastrios e Organismos, coadjuvando o Romano Pontfice no exerccio de seu supremo ofcio pastoral para o bem e o servio da Igreja universal e das Igrejas particulares, refora a unidade da f e a comunho do povo de Deus e promove a misso prpria da Igreja no mundo (cc. 360; 334; CD. 9a). A funo da Cria Romana, na realidade, deve ser entendida num sentido no burocrtico-administrativo, mas pastoral, porque ela nasce do prprio servio que, na caridade, o Sucessor de Pedro, Pastor supremo de toda a Igreja, tendo como modelo o Bom Pastor, desenvolve em favor da comunho eclesial, constituda sobre a unidade da f e da caridade e expressa na unidade da disciplina eclesistica.Em nvel diocesano, existem apenas formas de participao e no de co-responsabilidade.

O Conselho presbiteral um rgo consultivo peculiar de participao como grupo de sacerdotes que, representando o presbitrio, desempenha a funo de senado do bispo, para ajud-lo no governo, a fim de que seja promovido do modo mais eficaz o bem pastoral da parcela de povo de Deus a ele confiada (c. 495, 1; cf. CD 27b; PO 7a). O fundamento teolgico do Conselho presbiteral, bem como dos outros rgos consultivos do bispo formados por presbteros, encontra-se na unidade entre presbteros e bispo, baseada na comunho ontolgico-sacramental entre eles, apesar da diferena de grau de participao no ministrio nico de Cristo, transmitido pelos Apstolos (PO 2b.d; 10a).Outros organismos de participao de natureza sacerdotal so: o Colgio dos consultores (c. 502); o Captulo da Igreja catedral nas funes que lhe sejam confiadas pelo Bispo (c. 503) e no caso em que, por deliberao da Conferncia dos bispos, ele assuma as tarefas do Colgio dos consultores (c. 502, 3); o Conselho episcopal, composto pelos vigrios gerais e pelos vigrios episcopais (c. 473 4).

No Conselho pastoral, porm, esto representadas todas as categorias de fiis (clrigos, membros de institutos de vida consagrada e especialmente leigos: (c. 512, 1), portanto ele a manifestao da comunho entre todos os fiis, que, sob o comando do bispo, exercem o direito e cumprem o dever de cooperar ativamente cada um segundo seu carisma e sua condio, para a edificao do Corpo Mstico de Cristo, em virtude de sua participao no triplo mnus de Cristo pelo batismo e pela confirmao (AA 2a; LG 32c; 30; CD 16a; cc. 208; 209, 2; 210; 211; 212, 2, 3; 216).Em nvel de parquia, o proco tem uma participao parcial do poder de Cristo e, dentro de seu mbito, tem uma responsabilidade pessoal total, que desempenha no exerccio do poder que lhe conferido com seu ofcio (cc. 515 1; 519). Caso a parquia seja confiada a mais sacerdotes solidariamente (517, 1), tem-se uma verdadeira co-responsabilidade no cuidado pastoral e no exerccio do poder executivo e das faculdades prprias do ofcio de proco. O vigrio paroquial o cooperador do proco e participa de sua solicitude (cc. 545, 1; 548, 2). So rgos consultivos de participao na responsabilidade pessoal do proco o Conselho pastoral (c. 536) e o Conselho para os negcios econmicos (c. 537).

O principal fundamento eclesiolgico das Conferncias dos bispos a comunho entre os bispos.No que diz respeito aos institutos de vida consagrada e s sociedades de vida apostlica, deve-se partir do fato de que existe uma igualdade fundamental entre todos os membros de um instituto, baseada na participao no mesmo carisma e na mesma misso fundamento da comunho da comunho fraterna (cc. 574, 2; 602).

Nessa co-responsabilidade geral fundamental se inserem os rgos de co-responsabilidade particular. Antes de tudo, no mbito de governo de todo o instituto ou sociedade, temos o captulo ou assemblia ou congregao geral, como rgo colegial de governo extraordinrio e supremo, no qual todos aqueles que o formam, em representao de todos os membros do instituto, tm igual responsabilidade e, portanto, igual poder (cc. 596; 631, 1, 2; cf. 717. 1; 734).Como se pode ver, a comunho o princpio fundamental que regra toda a organizao do povo de Deus. Os rgos de governo, tanto de co-responsabilidade como de participao, na Igreja no podem ser reduzidos simplesmente a uma questo de administrao e exerccio do poder, porque, em sua organicidade, so manifestao da comunho eclesial.0