resumo do artigo educação para a morte
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A morte faz parte do desenvolvimento humano desde a mais tenra idade e
acompanha o ser humano no seu ciclo vital, deixando suas marcas. Como preparar
pessoas para esse fato tão presente na existência?
Essa é a pergunta principal do artigo, que afirma que o desafio é grande para
os profissionais de saúde e educação pois há muitas perguntas, mas poucas
respostas sobre o tema, sendo que nenhuma delas é completa ou universal. A morte
faz parte do ciclo de vida humano e questões sobre de onde viemos, para onde
vamos, o que acontece com a alma e o espírito, céu e inferno, assim como questões
terrenas, como viver, tenho controle sobre meu existir, vou me preparar para a morte
ou não pensar nela. Tudo isso, questões culturais que determinam nossa vida e
nossa morte, de acordo com o grau de liberdade e de ação, valores, significados,
religiões. Alguns tem medo da morte, até de falar sobre ela, alguns fazem piada.
Também há várias formas de manifestação de arte sobre a morte: músicas, filmes,
poesias, livros. Há todo um fascínio, uma sedução sobre esse tema, assim como
uma tentativa de responder a todas as perguntas de forma final, mesmo que as
respostas sejam provisórias.
O tema da morte se tornou mais popular no século XXI com o
desenvolvimento das telecomunicações. A tv traz cenas de morte, violência,
acidentes, doenças, sem nenhum tipo de preparo psicológico anterior ou posterior, o
que transforma a morte em uma companheira cotidiana, invasiva, sem limites e
mesmo assim lotada de silêncio. Crianças e adolescentes convivem com essas
cenas ao mesmo tempo que tentamos poupa-los da tristeza. Pais que não sabem
conversar com os filhos, professores despreparados e até profissionais de saúde,
que diante da deteriorização do estado dos pacientes, não sabem explicar aos
familiares a possibilidade da morte ou mesmo aos pacientes, que muitas vezes
cheios de dores e limitações, não tem com quem conversar.
Mesmo com a longeividade aumentada e os tratamentos e diagnósticos
melhorados, não há como escapar da morte e é importante falar dela, ainda mais
aos idosos, caso em que falar de morte é falar de qualidade de vida, mas esse
diálogo se tornou vergonhoso: a morte é uma inimiga a ser vencida, porém, quanto
mais se nega, mais ela se faz presente através das doenças incuráveis, violência
urbana, suicídios, guerras.
O tema da morte não está presente nas escolas, teoricamente, por puro
despreparo dos professores. O artigo propoe uma parceria entre as escolas e o
Instituto de Psicologia, na figura do Laboratório de Estudos sobre a Morte,
oferecendo a disciplina de Psicologia da Morte, que já é oferecida desde 1986 na
USP, e um treinamento na própria escola, com módulos específicos, como por
exemplo: como falar com uma criança que sofreu a perda de pessoas significativas;
como integrar uma criança gravemente enferma nas atividades didáticas e de
recreação; como lidar com o suicídio de pessoa conhecida na escola, assim como
preparar atividades pedagógicas sobre o tema da morte, como lidar comn a perda e
o luto dos adolescentes, propor bibliografias para ajudar a formação dos professores
nesse assunto, usando também de filmes e vídeos sobre o tema. É importante
também oferecer um acompanhamento para o público leigo interessado nesse
assunto.
Nos hospitais, a morte é vista como fracasso e erro e o prolongamento de
uma vida com sofrimento pode causar estresse e risco de colapso para paciente
gravemente enfermos, familiares e a equipe de cuidados. Em 1999 foi iniciado um
trabalho do Hospital Universitário da USP denominado “Cuidado ao cuidador no
contexto hospitalar” com os objetivos de identificar as necessidades das equipes de
enfermagem, promover intervenções, avaliar a influências das mesmas e propor
atividades que favoreçam a sensibilização aprofundamento do tema e planejamento
de ações de cuidados ao cuidador em relatos verbais, atividades expressivas e role
playing. Também é extremamente importante que sejam oferecidos cursos sobre
como comunicar ao paciente e familiares sobre o agravamento da doença, como
lidar com os pacientes e a raiva, medo ou tristeza que eles apresentarem, no caso
de doença incurável, como diferenciar cuidar de curar, assim como os sintomas
incapacitantes que causam muito sofrimento e dor, lidar com a abordagem a família
no momento da morte e com o paciente, diante do desejo de morrer ou mesmo no
caso do desejo por parte da família, que não suporta mais ver o ente querido sofrer.
A bioética é uma questão que necessita de atenção, o morrer com dignidade,
eutanásia, distanásia, suicídio assistido, sedação e uso de analgésicos. Vários
hospitais já tem essa equipe multidisciplinar que discute os vários problemas e
procura soluções, pois os profissionais as vezes se sentem perdidos nessa última
etapa da vida do paciente.
Há também um projeto chamado Falando de Morte, que foi planejado em
quatro vídeos educativos, usados como instrumentos facilitadores da comunicação
em relação ao tema da morte. São videos preventivos, que expoe experiências que
já podem ter sido vividas, através de cenas que podem gerar sintomas afetivos e
cognitivos, não compreendidos. Complementa um caráter educativo, já que traz
informações e orientações para profissionais. Ajudando no tratamento a pacientes
que estão vivendo experiências de morte.
O projeto é composto por quatro vídeos: Falando de morte: a criança (1997);
Falando de morte: o adolescente" (1a versão em 1999, 2a versão - 2003); Falando
de morte com o idoso (2002); Falando de morte com profissionais de saúde (2004).
A parte elaborada para crianças, suas famílias e profissionais enfoca a morte
do outro e a morte se si mesmo e procura familiarizar as crianças com os
sentimentos, dúvidas e angústias decorrentes dessa situação, enfatizando a questão
do vínculo, da culpa, principalmente porque a criança tem a sensação de
onipotência que gera dificuldades, principalmente na percepção de que a morte é
irreversível e inevitável, assim como o desejo de acompanhar a pessoa morta. No
caso da morte de si mesmo é importante que a criança saiba conviver com o medo
natural da morte, dos procedimentos hospitalares e muitas vezes invasivos e
dolorosos, separação dos entes e coisas queridas.
O segundo vídeo é voltado para os adolescentes e procura adequar-se a
linguagem do jovem, focando principalmente os comportamentos auto destrutivos.
Para o adolescente, é como se a morte não existisse. São cenas de esportes
radicais, violência, amor, sexo, uso de drogas, acidentes e tentativas de
suicídiobuscando trazer uma visão mais realista e que permita pensar e discutir que
a vida do adolescente pode estar por um fio.
Falando de morte com o idoso lida com o tabu da morte e tem caráter
preventivo e reflexivo, propondo discussões e troca de experiências, criando, por
meio de imagens, criar canais de comunicação sobre temas relacionados ao
envelhecimento, aprofundando o sentido e o significado dessa fase, e abrindo
espaço para uma conversa sobre perdas, tanto de si mesmo, quanto de pessoas
significativas.
A quarta e última parte: Falando de Morte com profissionais de saúde, traz um
aprofundamento de todas as questões presentes nos outros vídeos da série e, assim
como os outros, pretende criar um ambiente facilitador de discussões do tema em
instituições de saúde e educação para profissionais da área. A diferença entre as
pessoas em geral e esses proffisionais é que a morte faz parte do cotidiano e vira
companheira de trabalho. Ao se priorizar salvar o paciente a qualquer custo, uma
doença incurável pode ser frustrante e desmotivadora, sendo que traz sofrimento
também ao profissional, que se sente impotente diante da finitude.
Finalizando, a educação dos profissionais de saúde e ducação para a morte
deve contemplar os seguintes pontos: Sensibilizar o aluno para sentimentos e
reflexões dos pontos abordados no curso, apresentar várias abordagens teóricas
sobre a morte, refletir sobre a prática vivida e fazer uma constante revisão do seu
trabalho, considerando conflits, frusrações e levando em conta o ponto de vista do
outro. Assim, os objetivos do Laboratório de Estudos sobre a Morte são estimular a
busca de conhecimento, reflexão e discussão sobre o tema, favorecer a formação de
profissionais sensíveis, dar prosseguimento as pesquisas na área, envolvendo
alunos de graduação, pós graduação, profissionais de saúde e educação, criar
banco de dados com bibliografia nacional e estrangeira e, finalmente, criar espaços
de atendimento a comunidade e as pessoas que estão passando por situações de
perda e doença.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
KOVACS, Maria Julia. Educação para a morte. Psicol. cienc. prof., Brasília,
v.25, n.3, 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1414- 98932005000300012&lng=en&nrm=iso>. Acessado
em 05 Apr. 2015.