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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA- FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO DAVID ADOLPHO GESSNER ESTUDO SOBRE A EFICÁCIA DO USO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO COMO MEIO CAUTELAR ALTERNATIVO AO ENCARCERAMENTO CABEDELO-PB 2016

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA- FESP

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

DAVID ADOLPHO GESSNER

ESTUDO SOBRE A EFICÁCIA DO USO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO

COMO MEIO CAUTELAR ALTERNATIVO AO ENCARCERAMENTO

CABEDELO-PB

2016

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DAVID ADOLPHO GESSNER

ESTUDO SOBRE A EFICÁCIA DO USO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO

COMO MEIO CAUTELAR ALTERNATIVO AO ENCARCERAMENTO

Trabalho de conclusão de curso em forma de artigo

científico apresentado à coordenação do curso de

Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino

Superior da Paraíba - FESP, como requisito parcial para

a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Área: Direito de Penal.

Orientador: Ms. Arnaldo Sobrinho de Morais Neto

CABEDELO-PB

2016

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DAVID ADOLPHO GESSNER

ESTUDO SOBRE A EFICÁCIA DO USO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO

COMO MEIO CAUTELAR ALTERNATIVO AO ENCARCERAMENTO

Artigo científico apresentado à Banca Organizadora de

Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da

Paraíba - FESP, como exigência para obtenção de grau

de Bacharel em Direito.

APROVADO EM ____/_________de 2016.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Ms. Arnaldo Sobrinho de Morais Neto

ORIENTADOR-FESP

________________________________________

Prof. Esp. Gabriella Henriques da Nóbrega

MEMBRO-FESP

________________________________________

Prof. Esp. Plabo Juan Nóbrega de Souza e Silveira

MEMBRO-FESP

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TERMO DE RESPONSABILIDADE/DIREITOS AUTORAIS

Eu David Adolpho Gessner, RG nº 4.492.756 SSP/PA, acadêmico do Curso de

Bacharelado em Direito, autor do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, intitulado

ESTUDO SOBRE A EFICÁCIA DO USO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO

COMO MEIO CAUTELAR ALTERNATIVO AO ENCARCERAMENTO, orientado

pelo professor Prof. Ms. Arnaldo Sobrinho de Morais Neto, declaro para os devidos fins que o

TCC que apresento atendem as normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de textos,

indicadas no Manual para Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso da Fesp

Faculdades. As citações e paráfrases dos autores estão indicadas e apresentam a origem da

ideia do autor com as respectivas obras e anos de publicação. Caso não apresente estas

indicações, ou seja, caracterize crime de plágio, estou ciente das implicações legais

decorrentes deste procedimento.

Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no TCC,

isentando o professor orientador, a Banca Examinadora e a instituição de qualquer

ocorrência referente à situação de ofensa aos direitos autorais.

Cabedelo, PB, 31 de Maio de 2016.

_________________________________________

David Adolpho Gessner

Matrícula nº 201511045

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5

2 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ................................................................... 7

2.1 PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE ......................................................................... 10

2.2 FINALIDADE DA PENA .................................................................................................. 12

3 MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS: PRESSUPOSTOS .......................................... 16

3.1 ADVENTO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO MUNDO ............................ 17

3.2 MONITORAMENTO ELETRÔNICO: ASPECTOS PERTINENTES ............................. 19

3.3 MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO ..... 20

3.4 MONITORAMENTO ELETRÔNICO COMO MEIO ALTERNATIVO AO

ENCARCERAMENTO ............................................................................................................ 21

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 23

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ESTUDO SOBRE A EFICÁCIA DO USO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO

COMO MEIO CAUTELAR ALTERNATIVO AO ENCARCERAMENTO

David Adolpho Gessner*1

Prof. Arnaldo Sobrinho**2

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo geral investigar a eficácia do monitoramento eletrônico

como meio alternativo ao cárcere. Considerando-se que a pura e simples adoção de medidas

repressivas tem se mostrado insuficiente para lidar com o fenômeno da criminalidade,

emergem as medidas alternativas de natureza pessoal, dentre elas, o monitoramento eletrônico

dos apenados, elencado no artigo 319 do Código de Processo Penal. Constata-se que,

infelizmente, até o momento não se observa uma larga utilização do monitoramento eletrônico

no Brasil, apesar de seu uso trazer significativos benefícios para fiscalização de medidas

punitivas e acompanhamento do preso/condenado em tempo real, mas, principalmente, por

evitar prejuízos irreparáveis provocados pela vida carcerária em um sistema prisional falido,

precário e desumano. O monitoramento eletrônico de presos aplicado, por exemplo, na fase

pré-processual, como substitutivo da prisão provisória, encontra perfeita harmonia com a

Carta Maior de 1988, porque funciona como um substituto a prisão e enseja a consequente

promoção da dignidade da pessoa humana ao afastar o acusado do cárcere e aproximá-lo da

sociedade.

Palavras-chave: Pena Privativa de Liberdade. Sistema Prisional. Medida Cautelar Pessoa.

Monitoramento Eletrônico.

1 INTRODUÇÃO

É indubitável a ineficiência do sistema carcerário brasileiro. Observa-se a crescente

superlotação dos presídios, tornando-se cada vez mais nítida a falta de infraestrutura adequada

para os apenados que lá se encontram. Atenta-se ainda para os gastos com o custeio dos

encarcerados, os quais são extremamente elevados, bem como os efeitos nefastos da pena de

prisão e da corrupção que corrói o aparelho estatal, deixando evidente que o atual modelo de

execução da pena há muito tempo não corresponde ao seu objetivo principal, qual seja, a

reinserção do preso ao convívio da sociedade e a ressocialização do mesmo.

Tendo em vista os motivos elencados acima, além de outros, os quais são igualmente

graves no que tange a crise do sistema penitenciário, faz-se necessária a adoção de novos

1*Aluno graduando do 10º período do Curso de Direito da FESP – Faculdades. E-mail:

[email protected] 2**Orientador e Professor do Curso de Direito da FESP – Faculdades.

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métodos visando assegurar o cumprimento eficaz da pena, garantindo ao apenado a

observância dos direitos e princípios básicos esculpidos na Constituição brasileira de 1988,

tais como a dignidade da pessoa humana, a individualização e a humanidade das penas,

proibição de penas cruéis, de morte, de banimento, de trabalho forçados e caráter perpétuo, o

devido processo legal, dentre outros.

Considerando-se que a pura e simples adoção de medidas repressivas tem se mostrado

insuficiente para lidar com o fenômeno da criminalidade, nesse contexto emergem medidas

alternativas, dentre elas, a questão do monitoramento eletrônico dos apenados, elencado no

artigo 319 do Código de Processo Penal. Nessa tangente, o presente artigo tem por objetivo

geral investigar a eficácia do uso da medida cautelar do monitoramento eletrônico como meio

alternativo ao cárcere.

Como objetivo específico, pretende-se discutir acerca dos pontos positivos e negativos

do uso de monitoramento em presos. Para o desenvolvimento de tal estudo, utilizou-se como

marco legal a Lei nº 12.258/10 que modificou o Código Penal e a Lei de Execuções Penais,

passando a permitir o uso do equipamento, bem como a alteração do Artigo 319 do Código de

Processo Penal, por meio da 12.403/11 a qual concedeu como medida cautelar o

monitoramento eletrônico.

A sistemática de monitoramento constitui-se através da inserção de uma tornozeleira

ou bracelete com dispositivo eletrônico no corpo do apenado, a técnica possibilita o

monitoramento via satélite, por meio de GPS (Global Position System), tornando possível

identificar a localização do indivíduo em qualquer localidade, caso esteja com o equipamento

instalado em seu corpo.

Frisa-se que diversos países já adotaram o monitoramento eletrônico, como Estados

Unidos, Portugal, França, Alemanha e até mesmo a Argentina. O método já vem sendo

testado no Brasil por alguns estados da federação, como, por exemplo, São Paulo e Minas

Gerais. Entretanto, apenas recentemente o legislador ordinário colocou o país no rol das

nações que oficialmente adotaram o sistema.

Em que pese o intuito do legislador de aperfeiçoar os instrumentos do Direito Penal,

mormente no que toca à execução da pena privativa de liberdade, a reflexão sobre alguns

pontos da mencionada iniciativa se faz de suma relevância. Nesse diapasão, com vistas à

efetividade da lei penal, ao invés de superlotar os presídios com pessoas que, em alguns casos,

não foram sequer condenadas, com fulcro no disposto no art. 312 do Código de Processo

Penal, poder-se-ia deixá-los livres, porém, monitorados. Com base nas linhas ora expostas,

apresentam-se os seguintes questionamentos: Em que ponto a medida cautelar de

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monitoramento eletrônico tem sido efetiva na diminuição do encarceramento nos presídios

brasileiros?

Em seu turno, a hipótese que norteia o presente estudo é de que a utilização do

monitoramento eletrônico enquanto medida cautelar pessoal é bem mais vantajosa para o

Estado do que se supõe, porque solucionará vários problemas apontados anteriormente. O

principal deles é a superlotação dos presídios, que vem ganhando dimensões gigantescas com

o passar dos anos. Com vistas ao exposto e verificando a importância do tema na atualidade,

por meio do estudo espera-se contribuir para uma reflexão mais aprofundada acerca do

assunto, a fim de ratificar sua relevância no tocante a aplicação da lei penal e conveniência da

investigação ou instrução criminal.

No que diz respeito aos procedimentos técnicos, adotou-se o método monográfico,

com base na pesquisa bibliográfica, pois é através dela que se fundamenta o trabalho, com

base em livros, doutrinas, artigos e afins. Trata-se de um estudo qualitativo, de cunho

descritivo-exploratório.

2 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

De acordo com Albergaria (1996), as leis penitenciárias distribuem a sua matéria em

duas grandes partes, ou seja, o tratamento e a organização penitenciária. Segundo o autor, a

criação da Comissão Penitenciária Internacional, que se transformou em Comissão Penal e

Penitenciária em 1929, deu origem à elaboração das Regras Mínimas da ONU, criadas em

1955. Anos depois, a ONU concluiu, apenas no ano de 2015, em Viena, a atualização das

Regras Mínimas para o Tratamento de Presos.

O novo documento ampliou o respeito à dignidade dos presos, garante acesso à saúde

e o direito de defesa e regula punições disciplinares como o isolamento solitário e a redução

de alimentação. As normas foram apelidadas de “Regras de Mandela” (Mandela’s Rules) por

terem sido concluídas na África do Sul, do ex-presidente Nelson Mandela.

Beccaria (2015) analisa que após a 2ª Guerra Mundial, surgiram em diversas nações a

Lei de Execução Penal, como na Polônia, Argentina, França, Espanha, Brasil, e outros

estados-membros da ONU. No Brasil, com o advento do 1º Código Penal houve a

individualização das penas, entretanto, apenas a partir do 2º Código Penal, em 1890, aboliu-se

a pena de morte e foi surgir o regime penitenciário de caráter correcional, com fins de

ressocializar e reeducar o detento, trazendo consigo as formas de tratamento.

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Segundo Mirabetti (2015), as regras básicas que visam o tratamento do preso no

Brasil, que surgiu em 1994, é um documento de aspirações. Ensina Camargo (2011, p. 2) que:

“Constitui-se de 65 artigos, abrangendo tópicos como classificação, alimentação, assistência

médica, disciplina, contato dos presos com o mundo exterior, educação, trabalho e direito ao

voto”.

As regras baseiam-se nos modelos das regras mínimas para o tratamento de

prisioneiros das Nações Unidas e foram oficialmente descritas como um guia essencial para

aqueles que militam na administração de prisões. Beccaria (2015) defendeu a humanização do

Sistema Penal e ressaltou o seu caráter utilitário: a prisão deveria influenciar a conduta

humana.

Barros e Jordão (2004) afirmam que a crise do Sistema Penitenciário do Brasil reflete

a incapacidade dos governos em assumir o gerenciamento das unidades prisionais como

ambientes de reeducação e recuperação social. O que se percebe num ambiente de reeducação

penal são espaços de desumanização dos indivíduos forçados a conviver com as condições

insalubres: espaço físico limitado, ausência de higiene, inúmeras doenças e a precariedade de

acesso à Justiça e aos direitos fundamentais, previstos nos tratados internacionais, na

Constituição Brasileira de 1988 e na Lei de Execução Penal.

Muakad (1996) observa que a Constituição Federal em seu artigo 5º XLIX, no capitulo

das garantias e direitos fundamentais, apresenta garantias para proteção da população

encarcerada, assegurando aos presos o respeito à integridade física e moral. A autora salienta

que algumas constituições de Estados do Brasil possuem previsões semelhantes, como no

Estado de São Paulo, onde a legislação assegura o respeito às regras mínimas da Organização

das Nações Unidas para o tratamento de reclusos.

As pessoas privadas de liberdade não podem ser sujeitas à tortura ou outro meio cruel,

desumano ou degradante de tratamento ou punição. O tratamento e o respeito devem ser

iguais aos das pessoas que se encontram livres (MUAKAD, 1996). A Convenção da ONU

conceitua tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, em seu

artigo 1° de 10.12.84:

Qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais são

infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa,

informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa

tenha cometido, ou seja, suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa

ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer

natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário

público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, por sua instigação, ou com

seu consentimento ou aquiescência (ONU, 1984).

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E o artigo 2° complementa:

Para os efeitos desta convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual são

infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais,

com fins de investigação criminal, como meio de intimidação ou castigo pessoal,

como medida preventiva ou com qualquer outro fim.

A Constituição Imperial de 1824, no Brasil já existia uma declaração solene contra a

tortura e outros tratamentos desumanos, conforme se verifica da leitura do art. 179, §

19: “Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as demais

penas cruéis”.

Barros e Jordão (2004) afirmam que o Sistema Penitenciário no Brasil proporciona o

desrespeito à cidadania dos presos e está relacionado com a permanência da tortura em muitas

unidades prisionais, superpopulação carcerária, autoritarismo, ausência de projetos educativos

e esportivos, e o desrespeito aos direitos humanos, à Constituição de 1988 e à “Lei de

Execução Penal”.

No que concerne à organização penitenciária, Galvão (1995) afirma que é necessário

compreendê-la em três setores, ou seja, a. os sujeitos, que são: Órgão Nacional de

Planificação da Política Criminal, Órgão Nacional de Administração Penitenciaria, Órgão

Estadual de Administração Penitenciária, Juiz e Ministério Público da Execução, Conselhos

Penitenciários, Conselho de Patrono ou Ajuda Social, Serviço Social Penitenciário, Centro

Comunitário); b. o condenado, internado ou imputado: que possuem direitos e deveres; c. o

estabelecimento prisional ou penitenciário: no sentido amplo (da execução da pena, de

medidas de segurança, centro de observação) e; d. pessoal penitenciário: direção e

administração, equipe interdisciplinar, de instrução técnica e de vigilância ou custódia.

Albergaria (1996) infere que a lei de execução penal traz em seu art. 82, estabelece a

distinção dos estabelecimentos penais. Segundo o autor, os estabelecimentos são todos

aqueles utilizados pela justiça, cuja finalidade é alojar pessoas presas quer sejam provisórios

ou condenados, ou ainda os submetidos às medidas de segurança.

Os presos são recolhidos em penitenciarias, cadeias públicas, cadeiões, casas de

detenção e até mesmo em delegacias de policia. A LEP – Lei de Execuções Penais

estabelece a identificação com o delito cometido, ao qual o preso deverá ser

encaminhado. O primeiro passo a se cumprir, seria o sujeito preso, ser encaminhado à

delegacia de policia para registro e logo após sua detenção inicial. Caso este não seja

libertado em certo tempo, pela justiça, este deveria ser encaminhado para cadeia ou

casa de detenção e sendo condenado, sua transferência devera ser para o

estabelecimento adequado ao tipo da pena (ALBEGARIA, 1996, p. 56).

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Os estabelecimentos constantes nos arts. 87 a 104 da LEP são: penitenciárias -

estabelecimentos fechados, geralmente para condenados e também de segurança máxima;

colônias agrícolas e industriais - regime semiaberto; casa do albergado - regime aberto;

hospital de custódia e tratamento psiquiátrico - destina-se a inimputáveis e semi-imputáveis,

que dependem de tratamento de substâncias químicas; e cadeia pública - para a custódia do

provisório e cumprimento de pena breve (BECCARIA, 2015).

As garantias legais previstas durante a execução da pena, assim como os direitos

humanos do preso, estão previstos em diversos estatutos legais. Em nível mundial existem

várias convenções, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração

Americana de Direitos e Deveres do Homem e a proteção das garantias do homem preso

(RODRIGUES, 2006).

Segundo o autor supracitado, existem ainda em legislação específica – a Lei de

Execução Penal – os incisos de I a XV do art. 41, que dispõem sobre os direitos

infraconstitucionais garantidos ao sentenciado no decorrer da execução penal. Neste contexto,

Rodrigues (2006, p. 19) acentua que:

Ocorrem na prática a constante violação de direitos e a total inobservância das

garantias legais previstas na execução das penas privativas de liberdade. A partir do

momento em que o preso passa à tutela do Estado, ele não perde apenas o seu direito

de liberdade, mas também todos os outros direitos fundamentais que não foram

atingidos pela sentença, passando a ter um tratamento execrável e a sofrer os mais va-

riados tipos de castigos, que acarretam a degradação de sua personalidade e a perda

de sua dignidade, num processo que não oferece quaisquer condições de preparar o

seu retorno útil à sociedade .

Na prisão, dentre várias outras garantias que são desrespeitadas, o preso sofre

principalmente com a prática de torturas e agressões físicas. Essas agressões geralmente

partem tanto dos outros presos como dos próprios agentes da administração prisional

(RODRIGUES, 2006).

2.1 PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE

De acordo com a doutrina clássica as penas se dividem em corporais, privativas de

liberdade, restritivas de liberdade, pecuniárias e privativas e restritivas de direitos. A

Constituição Federal, no artigo 5º, XLVI, prevê as seguintes penas: privação ou restrição de

liberdade, perda de bens, multa, prestação social alternativa e suspensão ou interdição de

direitos. Trataremos aqui da pena previstas as privativas de liberdade.

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Segundo o artigo 33 do CPB, são aquelas que excluem o criminoso da sociedade,

impondo-lhe o cumprimento da pena em regime fechado, semiaberto ou aberto. O regime

fechado de cumprimento da pena consiste na imposição ao infrator de isolamento da

sociedade em um estabelecimento de segurança máxima ou média, de acordo com o que

dispõe o artigo 33, alínea “a” do CPB.

No regime semiaberto a execução da pena se dá em colônias agrícolas,

estabelecimento industrial ou similar, de acordo com o disposto na alínea “b” do mesmo

dispositivo. No regime aberto a execução ocorre em casa de albergado ou em estabelecimento

adequado, de acordo com o disposto na alínea “c” do referido artigo.

As penas privativas de liberdade se dividem em reclusão e detenção, de acordo com o

caput do artigo 33 do CPB. A reclusão pode ser cumprida no regime fechado, semiaberto ou

aberto, enquanto a detenção deve ser cumprida no regime semiaberto ou aberto. Segundo o

artigo 59 do CPB, o juiz determinará qual a pena a ser aplicada, bem como a quantidade de

pena aplicável, o regime inicial de cumprimento e uma possível substituição por outra

espécie, quando possível.

Com relação à fiança, determina o artigo 322 do Código de Processo Penal (CPP) que

será cabível apenas nos crimes punidos com detenção ou prisão simples. A reclusão aplica-se

a crimes de natureza mais grave, e, em caso de ser praticado o delito por pai, tutor ou curador

contra filhos, tutelados e curatelados, acarretará a incapacidade do mesmo para exercício do

pátrio poder, enquanto nos crimes punidos com detenção isso não ocorre.

Os crimes sujeitos à pena de reclusão são executados antes dos crimes punidos com a

pena de detenção, de acordo com o disposto no artigo 69, caput, e 76 do CPB. Quando

condenado pela prática de crimes punidos com reclusão, o apenado ficará isolado da

sociedade, cumprindo a pena em estabelecimento de segurança máxima ou media. São as

chamadas penitenciárias, previstas no artigo 33, §1º, do CPB.

O indivíduo trabalha no período diurno, sendo o trabalho comum dentro do

estabelecimento, compatível com a pena e de acordo com suas aptidões, desde que

compatíveis com a execução da pena, admitindo-se atividades fora do presídio em serviços e

obras públicas, de acordo com o disposto no artigo 34, §3º do CPB. À noite, após o dia de

trabalho, o apenado retorna para a prisão.

No regime semiaberto de cumprimento da pena, que se dá em colônia agrícola,

industrial ou estabelecimento similar (artigo 33, §1º, alínea “b”, do CPB), como já frisado, é

permitido ao apenado realizar trabalhos externos, inclusive na iniciativa privada, bem como

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participar de cursos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior (art. 35, §§

1º e 2º do CPB).

O regime aberto é baseado na autodisciplina do condenado, tendo em vista que ele fica

recolhido em casa de albergado ou estabelecimento adequado apenas durante o período

noturno e nos dias de folga, enquanto que, durante o dia, e sem vigilância, deve praticar

atividade autorizada fora do estabelecimento (art. 36, § 1º do CPB).

Entretanto, se ao cumprir pena nessa condição o encarcerado cometer crime doloso,

frustrar os fins da execução, ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada,

sujeitar-se-á à regressão do regime, ou seja, será transferido do aberto, de acordo com o

disposto no art. 36, § 2º do CPB.

As mulheres têm direito ao chamado regime de cumprimento especial de pena, ou

seja, ficam isoladas em estabelecimentos próprios, observando-se em relação a elas os direitos

e deveres inerentes à condição pessoal, na dicção do art. 37 do CPB, e, no que couber, as

regras contidas no capítulo I do Estatuto Penal Substantivo.

2.2 FINALIDADE DA PENA

Existe um conjunto complexo de teorias a respeito da real finalidade das penas,

prevalecendo à classificação em dois grupos, a saber: A teoria da retribuição, também

chamada de absoluta; e a teoria da prevenção, chamada de relativa. As teorias absolutas

partem da ideia de justiça. A pena seria um mal imposto como forma de retribuição ao

indivíduo que viesse a cometer um delito, uma espécie de imposição, uma retribuição justa ao

mal injusto, promovendo assim a reintegração da ordem jurídica violada.

Sob os ensinamentos de Jesus (2015, p. 519): “a pena consistiria em sanção aflitiva

imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição

de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos

delitos”.

Para as teorias absolutas a razão de ser da sanção penal estaria no passado, onde o

crime cometido pelo agente, exigência de ordem moral, ou jurídica, força a castigar. Para as

teorias relativas à razão de ser está no futuro, na prática de novos crimes que o Estado tem o

dever de punir, devendo buscar a consecução de fins posteriores, atendendo as necessidades

da sociedade, não tendo a intenção de retribuição ao mal causado pelo infrator, e sim prevenir

a ocorrência de delitos.

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Coubea Jeremy Bentham (apud BECARIA, 2015) a formulação da ideia de prevenção

geral, objeto da imposição da pena pelo Estado, objetivando coibir a prática de delitos como

condição indispensável para a pacificação social e para atendimento aos interesses gerais da

sociedade. Hegel foi um dos grandes filósofos que defendeu a pena como forma de

retribuição. Para ele o delito era a negação do Direito, e a pena seria a negação do delito, ou

seja, a pena retribuiria o mal causado pelo delinquente, e, consequentemente, restabeleceria a

ordem por ele violada, afirmando o Direito e negando o delito.

Segundo Zaffaroni (2014) a “teoria kantiana” da retribuição seria mais simples que a

de Hegel, vez que, para o primeiro, a pena serviria como imposição de um mal sobre outro,

enquanto que, para o segundo, espécie de retribuição, de punição, destinada a restabelecer a

ordem jurídica violada. Para as teorias finalistas ou relativas, as penas seriam uma forma de

garantir a segurança social. Nas palavras de Beccaria (2015, p.101), "é preferível prevenir os

delitos a ter de puni-los; e todo legislador sábio deve antes procurar impedir o mal que o

reparar”.

Beccaria (2015) insurgiu-se contra as penas cruéis que existiam em sua época,

defendendo princípios humanitaristas, baseando-se no interesse geral dos cidadãos. Para ele, a

pena, além da função de punir o delinquente, visaria também à diminuição dos crimes. A

sanção serviria como instrumento de prevenção do crime, sendo a justiça o critério regulador,

com o claro objetivo de defesa da sociedade, ou seja, atribuíram à pena a função de prevenir a

prática de um delito. O delinquente não deveria ser apenas punido pelo deslize em si, mas

para ser compelido a não reincidir. Dessa forma, mesmo considerando-se a pena um mal

necessário, este se justificaria pela necessidade de prevenção de novos delitos.

A prevenção pode ser geral quando o fim intimidatório da pena dirige-se a toda a

sociedade como forma de coação psíquica para que não venham a cometer delitos, e, pode ser

especial, quando visa atingir apenas o autor da infração penal, retirando-o do meio social, e

impedindo assim que ele volte a delinquir. A prevenção geral possui dois sentidos, um

negativo e outro positivo. O sentido positivo revela-se no fato de que a pena visa intimidar o

cidadão com a norma penal, enquanto o negativo revela-se no fato de que, ao delinquir, a

ameaça imposta pelo Estado viria a se confirmar. De acordo com Barros (2001, p.62):

A prevenção geral negativa teria por fim prevenir a perpetração de delitos por parte

da generalidade, e encontraria sua expressão na intimidação causada pela lei penal

ou condenação em si, podendo essa intimidação ser atribuída à gravidade da pena

cominada, à quantidade da pena aplicada ou à intensidade da perseguição visando a

imposição da pena. A prevenção geral positiva, por sua vez, teria por fim perpetrar a

eficácia estabilizadora da norma através da aplicação da pena.

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Existem também as chamadas teorias mistas ou ecléticas, resultantes da fusão das

teorias absolutas e relativas. Segunda elas, a pena teria o escopo de retribuição e prevenção

simultaneamente, conservando seu caráter tradicional, porém, com a utilização de outras

medidas em relação aos autores de determinados crimes, considerando-se o grau de

periculosidade de alguns e a inimputabilidade de outros. São as denominadas “Medidas de

Segurança”, que visam afetar o lado moral do atingido, ou seja, seu fim não seria apenas

prevenir, mas educar e corrigir o delinquente.

Mais recentemente, viu-se o surgimento da teoria da ressocialização, embasada na

Escola da Defesa Social de Adolfo Prins e Fillipo Grammatica, e, num momento posterior, na

Nova Defesa Social de Marc Ancel, onde se buscou instituir um movimento de política

criminal humanista, segundo o qual a sociedade seria defendida na medida em que o

criminoso conseguisse se inserir na sociedade, ou seja, o Estado defenderia a sociedade

ressocializando o infrator, fazendo com que o mesmo se adaptasse ao meio social. A pena

deixa de ser entendida como uma retribuição de culpa ou expiação, passando a ser uma forma

de regeneração do condenado, submetendo-o a um tratamento após o estudo de sua

personalidade.

Como já assentado, para que a paz e a ordem fossem estabelecidas o homem criou

normas de condutas que visavam o controle social, de modo que, com a efetiva formação do

Estado como ente maior surgiu a ideia de sanção como retribuição à ameaça de um mal

atribuído a alguém, com o propósito de evitar que o acusado viesse a delinquir. Quanto ao

momento de ser aplicada, avalia que a pena trás em si a função de intimidar o delinquente,

assumindo um caráter aflitivo e ressocializador em sua execução.

A pena tem uma finalidade bem peculiar de prevenir novas infrações. Pode ser da

forma geral, onde o fim da intimidação da pena visa atingir todos os destinatários da norma

penal, com o intuito de impedir que os membros de uma sociedade pratiquem delitos, ou pode

ser da forma especial, onde a pena é individualizada e visa atingir especificamente o individuo

faltoso, impedindo que o mesmo volte a praticar delitos e procurando a correção do mesmo.

Com a reforma Penal de 1984 a pena passou a apresentar características mistas,

mesclando a teoria da prevenção, que em suma visa fazer com que o individuo fique

intimidado a não delinquir, com a ideia de retribuição, considerada como um mal imposto ao

indivíduo por seu ato lesivo à ordem jurídica.

A pena possui um caráter personalíssimo, ou seja, a sanção penal não deve passar da

pessoa do condenado. Trata-se de uma medida individualizada, em atenção aos aspectos

objetivos e subjetivos do fato delituoso (JESUS, 2015). Os objetivos são aqueles que dizem

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respeito ás condições físicas em que o crime foi praticado, como o lugar, a ocasião, o objeto

material e qualidades da vítima, enquanto os subjetivos estão relacionados especificamente ao

sujeito ativo do delito, levando-se em consideração aspectos pessoais do agente, como os

motivos determinantes, sua relação com o ofendido, bem como suas condições ou qualidades

pessoais.

O princípio da proporcionalidade tem como objetivo evitar o excesso na aplicação da

pena. Consiste em um sistema de valoração dos fatos no qual a sanção penal imposta é

proporcional ao delito praticado, garantindo-se um direito em prejuízo de outro. Traduz a

ideia de que os cidadãos devem ser tratados de forma equitativa, buscando-se a igualdade

formal, adequando a lei às peculiaridades de cada caso.

O castigo aplicado não pode ser maior que o crime, e o princípio da dignidade da

pessoa humana deve ser observado na aplicação das sanções, cabendo ao Estado seguir

padrões de humanidade, abolindo todas as formas de tortura e desumanidades que visem

retribuir o mal causado pelo delinquente.

Pelo principio da legalidade a lei é fonte e medida do direito de punir, fazendo surgir a

pretensão punitiva do Estado com a função de reprimir os atos considerados lesivos ao

convívio harmônico dos cidadãos, ou, ainda, impedir que esses atos sejam praticados,

ocorrendo a prevenção de ilícitos penais, como ressalta Marques (1997 apud JESUS, 2015,

p.64):

Além de seu significado político, possui o principio da legalidade um aspecto

jurídico, uma vez que fixa o conteúdo das normas incriminadoras, não permitindo

que o ilícito seja estabelecido genericamente, sem definição prévia da conduta

punível e determinação da sanctio juris aplicável.

Por outro lado, o Estado não pode punir alguém se não houver previsão na lei, daí esse

principio ser também conhecido como o da “reserva legal”, ou seja, não há crime e nem pena

sem lei, e nem crime nem pena sem lei anterior “nullum crimen, nulla poena sine praevia

lege”. Constitui uma medida de limitação do jus puniendi do Estado, uma vez que,

estabelecidas às sanções, ocorreria a definição do que seria e quais seriam os ilícitos penais,

revelando as condutas que são consideradas lesivas, e, por consequência, vedadas, bem como

as condutas permitidas, garantindo assim a liberdade individual de cada cidadão (JESUS,

2015).

O §1º do CPB dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem

prévia imposição legal”. Tal dispositivo revela que, embora os princípios da legalidade e da

reserva legal mantenham relação intima, existe uma distinção entre eles, na medida em que o

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segundo se traduz no fato de que é obrigatória a regulamentação da constituição através de lei

stricto sensu para que ocorra a definição do que seria crime e qual a sanção correspondente,

enquanto que o primeiro é mais amplo, compreendendo os atos normativos do poder publico,

tais como Medidas Provisórias, Portarias e Decretos, etc.

O princípio da reserva legal refere-se à Lei no sentido formal. Não existe

retroatividade da Lei, salvo em benefício do réu, e, por consequência, nenhum individuo será

criminalmente responsável por uma conduta lesiva anterior à entrada em vigor da Lei, ou seja,

se um direito for aplicável a um caso e a legislação for modificada antes da sentença

condenatória definitiva, prevalecerá à norma mais benéfica.

3 MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS: PRESSUPOSTOS

Com o advento da Lei nº 12.403/2011, que entrou em vigor no dia 04 de julho de

2011, ocorreu uma reformulação das regras atinentes às medidas cautelares pessoais e ao

encarceramento provisório do autor de uma infração penal, incluindo novas medidas

restritivas de direitos e à liberdade de locomoção. Trata-se de medidas cautelares pessoais,

pois o Código de Processo Penal prevê desde a sua origem outras cautelares, porém de

natureza patrimonial, como por exemplo, o arresto, sequestro, etc. As medidas cautelares de

natureza pessoal diversas da prisão estão previstas no novo Artigo 319 do CPP.

Com a reformulação do Código de Processo Penal, o art. 282 prevê expressamente a

exigência do binômio „necessidade-adequação‟ para a imposição de medidas cautelares, que

devem ser aferidas com base nos critérios de garantia da aplicação da lei penal e conveniência

da investigação ou instrução criminal. Registra-se o disposto no artigo 282 do CPP, in verbis:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas

observando-se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução

criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações

penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições

pessoais do indiciado ou acusado. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

De acordo com a nova sistemática processual, a aplicação das medidas cautelares

diversas da prisão deve ser a regra, só se podendo recorrer à prisão preventiva em último caso,

e quando estejam devidamente evidenciados seus pressupostos autorizadores previstos nos

artigos 312 e 313 do CPP. Importante mencionar que o artigo 283, §1º, do CPP estabeleceu

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expressamente a proibição de aplicação de medidas cautelares e das prisões provisórias

quando, em relação à infração penal, não seja cominada em abstrato pena privativa de

liberdade.

Atendendo aos princípios e direitos constitucionais e sob o fundamento de desafogar o

sistema carcerário nacional, o legislador pátrio criou diversas medidas de natureza restritiva

que visam evitar o encarceramento do autor de infrações penais cuja pena máxima não

ultrapasse quatro anos. Assim, o artigo 319 do Código de Processo Penal criou as seguintes

medidas cautelares diversas da prisão:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz,

para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por

circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante

desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por

circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer

distante;

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente

ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o

investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza

econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática

de infrações penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com

violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-

imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos

do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência

injustificada à ordem judicial;

IX - monitoração eletrônica (BRASIL, 2011).

Com vistas a atender ao objetivo pré-estabelecido no estudo em questão, passa-se a

discorrer acerca do monitoramento eletrônico como medida cautelar alternativa ao

encarceramento do indivíduo.

3.1 ADVENTO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO MUNDO

A implantação do sistema de monitoramento eletrônico teve como precursor os

Estados Unidos, no ano de 1983, por decisão do juiz Jack Love, na cidade do Novo México.

Inspirado em uma história em quadrinhos, o referido magistrado, em parceria com o técnico

eletrônico Michel Goss, confeccionou um dispositivo capaz de rastrear os condenados,

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buscando, assim, ser uma alternativa ao cárcere. Posteriormente, foram desenvolvidos

projetos pilotos em Washington, Virgínia e na Flórida.

Reis (2007) aduz que no continente europeu, os pioneiros foram a Inglaterra e o País

de Gales no ano de 1999, países que adotaram programas experimentais, os quais foram

introduzidos em suas respectivas legislações a partir de 1991. O autor assinala que no

ordenamento jurídico francês, o monitoramento foi introduzido no ano de 1997 com intuito de

reduzir a superlotação carcerária, evitar os efeitos nefastos do encarceramento e promover a

individualização da pena.

Na Suécia, a primeira experiência de monitoramento eletrônico aconteceu em 1994,

sendo que até 1997 abrangia todo o país, como alternativa ao aprisionamento (GARIBALDI,

2007). Já na Itália, foi introduzida a prisão domiciliar com monitoramento eletrônico no ano

de 2001, como alternativa à prisão provisória e também ao cumprimento de pena privativa de

liberdade.

Em Portugal, o bracelete eletrônico é usado como meio de substituir a prisão

processual desde 2003, com a finalidade de estender o monitoramento para substituir penas

privativas de liberdade de curta duração. Na Alemanha, o monitoramento eletrônico é

aplicado de três formas distintas: como uma forma especial de execução penal em conjunto

com a prisão domiciliar; como uma nova modalidade de pena principal no contexto da

suspensão condicional da pena; e, como uma opção no caso de prisão processual (JAPIASSÚ,

2011).

De acordo com Reis (2007) na Bélgica, em 1996, em meio a um conjunto de medidas

para reduzir a superlotação prisional, foi implantada a prisão domiciliar monitorada, como

medida intermediária entre o encarceramento e outras medidas mais tradicionais. Em 1999, o

monitoramento eletrônico foi usado para controlar a presença do condenado em locais e

horários previamente determinados e também como medida alternativa ao cárcere.

A legislação espanhola prevê o uso de equipamento eletrônico para fiscalizar se o

condenado por violência doméstica está ou não cumprindo as determinações do Juiz. Nesses

casos é instalado um equipamento no telefone da casa da vítima, o qual aciona a polícia no

caso de o agressor se aproximar ou tentar entrar em contato.

Garibaldi (2007) explica que a experiência argentina, iniciou-se em 1997, na província

de Buenos Aires, com a contratação de um programa de controle da prisão domiciliar por

meio de monitoramento eletrônico. No ano seguinte, com a vigência do novo Código penal, o

monitoramento eletrônico passou a ser alternativa à prisão preventiva e a prisão domiciliar,

como forma de atenuar as medidas coercitivas. Não obstante o programa ter sido planejado

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para os casos de delitos praticados sem violência, sua aplicação vem se estendendo também

em casos de delitos praticados com violência, dependendo do comportamento carcerário do

condenado.

Pode-se perceber que a utilização do monitoramento eletrônico vem se disseminando

pelo mundo, experimentando diversas formas ou modalidades de aplicação, demonstrando

que a tendência é se generalizar como uma alternativa ao cárcere. Embora muitos países do

mundo já utilizem o monitoramento eletrônico desde a década de 80, no Brasil, somente em

2010 (27 anos depois da primeira experiência nos Estados Unidos), o assunto foi

regularizado.

3.2 MONITORAMENTO ELETRÔNICO: ASPECTOS PERTINENTES

De acordo com Japiassú (2011) o monitoramento eletrônico consiste, em regra, no uso

de um dispositivo eletrônico pelo indivíduo, não necessariamente apenas os efetivamente

condenados, bastando que figurem como réus em um processo penal condenatório, que

passaria a ter a liberdade (ainda que mitigada ou condicionada) controlada via satélite,

evitando que se distancie de ou se aproxime de locais predeterminados. Trata-se, portanto, de

um recurso tecnológico que permite o acompanhamento do preso à distância, capaz de

detectar a sua presença ou ausência em determinado lugar.

O sistema consiste da implantação no corpo do apenado de uma tornozeleira ou

bracelete com dispositivo eletrônico que possibilita o monitoramento por satélite, via GPS

(Global Position System), possibilitando identificar sua localização em qualquer lugar do

planeta, caso ainda esteja com o equipamento instalado em seu corpo.

Japiassú (2011) esclarece que o dispositivo transmissor emite um sinal, o qual passa

por um receptor e, através da linha telefônica, chega até um centro de vigilância. Em seguida,

é direcionado para um centro de controle, que monitora a infrator. Caso surja algum

problema, uma vez verificado que este não é de ordem técnica (ex. Rompimento do lacre pelo

detento), é notificado o juiz (ou outra autoridade encarregada), que adota as providências

cabíveis. Pode-se dizer que o objetivo da vigilância eletrônica é a fiscalização por meios de

controle à distância de uma determinada decisão judicial.

O autor supracitado explica ainda que o monitoramento eletrônico pode, como forma

de acompanhamento, ser utilizado para a obtenção de três fins: a) como forma de detenção – o

monitoramento visa manter o individuo em lugar predeterminado (normalmente em casa).

Esta foi à primeira forma de utilização da solução tecnológica, permanecendo até hoje a mais

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comum; b) como forma de restrição de liberdade – o monitoramento é utilizado para garantir

que o individuo não entre (frequente) determinados locais ou áreas ou ainda se aproxime de

determinadas pessoas, normalmente testemunhas, vítimas e co-autores (o que é muito útil nos

casos de violência doméstica ou de práticas criminosas associadas a determinados locais,

como bares e casas noturnas); c) como meio de vigilância – é utilizado para que se mantenha

vigilância contínua sobre o indivíduo, sem a restrição de sua movimentação.

3.3 MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO

O monitoramento eletrônico foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro por meio

da edição das leis n. 12.258/2010 e n. 12.403/2011. A primeira legislação introduziu o

monitoramento eletrônico no âmbito da execução penal, como acessório à prisão albergue

domiciliar e como controle adicional à saída temporária durante o cumprimento da pena no

regime semiaberto. Em seu turno, a n. 12.403/2011 implementou o uso do monitoramento

como uma das medidas cautelares alternativas à prisão.

No Brasil, o governo de São Paulo já estudava desde 2007 a adoção do monitoramento

eletrônico dos presos. São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco aprovaram o

monitoramento eletrônico de presos em 2008, enquanto o Legislativo do Rio de Janeiro deu o

aval no ano passado – 2009.

Mato Grosso do Sul e Paraíba – que foi o primeiro Estado a realizar testes – estavam

com debates nos legislativos em andamento. Alagoas e Distrito Federal também já realizaram

seus testes, que sempre são feitos com presos que concordem em participar da experiência.

Todavia, em 2010, a Lei n. 12.258/2010 entra em vigor, regulamentando o monitoramento

eletrônico em todo o país.

Como afirmando acima, a Paraíba foi o primeiro Estado da federação a fazer uso desta

tecnologia, como forma de fiscalização do cumprimento da pena de condenados selecionados,

no ano de 2007, em decorrência do projeto “Liberdade Vigiada, sociedade protegida”, na

cidade de Guarabira-PB. Nesse projeto foram selecionados cinco detentos que cumpriam pena

em regime semiaberto e de bom comportamento carcerário, para testar o equipamento

eletrônico de rastreamento (GMS) que ficaria fixado em seus tornozelos, permitindo sua

localização via satélite. Essa tecnologia só veio a veio a ser introduzida no ordenamento

jurídico brasileiro com a lei n. 12.258/2010 que alterou a LEP, passando a prever o

monitoramento eletrônico de condenados a regime semiaberto, nas hipóteses de saída

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temporária, e a regime aberto, no caso de prisão domiciliar, previsto em seus artigos 146-B e

146-D.

Todavia, não foi permitido o monitoramento eletrônico como forma de cumprimento

de pena em regime fechado e semiaberto, de penas restritivas de direitos, do livramento

condicional e suspensão condicional da pena. Contudo, conforme prescrevia a Lei n.

12.258/2010, a aplicação concreta do monitoramento eletrônico estava subordinada a

expedição de um decreto regulamentador pelo Pode Executivo Federal estabelecendo a forma

e os meios para sua execução.

Somente em 24 de novembro de 2011 foi publicado o Decreto n. 7.627/2011 que

regulamentou o monitoramento eletrônico no Brasil. Previsto no artigo 319, IX, do CPP e nos

artigos 146-B, 146-C e 146-D da Lei n. 7.2010/84 (Lei de Execuções Penais), e, em seu artigo

2º, assim estabeleceu:

Art. 2º: Considera-se monitoração eletrônica a vigilância telemática posicional à

distância de pessoas presas sob medida cautelar ou condenadas por sentença

transitada em julgado, executada por meios técnicos que permitam indicar a sua

localização (BRASIL, 2011).

Posteriormente, a monitoração eletrônica foi incorporada ao Código de Processo Penal

com a vigência da lei n. 12.403/2011, que deu nova redação ao artigo 319, passando a prever

tal medida cautelar diversa da prisão, passível de ser aplicada antes do trânsito em julgado da

sentença condenatória, cuja aplicação fica condicionada aos critérios de adequação e

necessidade da medida. Passando a constituir mais uma alternativa à prisão provisória.

Hodiernamente, há quatro métodos que podem ser aplicados para o monitoramento

eletrônico de presos/condenados, através de: a) pulseira; b) tornozeleira; c) cinto; d) micro

chip subcutâneo. Portanto, a lei permite a imposição da fiscalização, por meio da monitoração

eletrônica, quando for autorizada saída temporária para aquele que estiver sob o regime

semiaberto, ou quando a pena estiver sendo cumprida em prisão domiciliar, conforme o

disposto nos incisos II e IV, do art. 146-B da Lei de Execução Penal.

3.4 MONITORAMENTO ELETRÔNICO COMO MEIO ALTERNATIVO AO

ENCARCERAMENTO

Com vistas aos resultados obtidos em países que já vivenciam o sistema de

monitoramento eletrônico, verifica-se que tal medida cautelar de natureza pessoa almeja uma

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gama de finalidades, dentre as principais, mencionam-se: redução da superlotação carcerária,

redução nos custos decorrentes do encarceramento e combate à reincidência criminal.

Em linhas gerais, as mais variadas formas de vigilância eletrônica têm sido adotadas

para substituir prisões processuais, seja para sentenciados a uma curta pena de prisão, ou para

prisões domiciliares, para reincidentes e substituição do restante da pena privativa de

liberdade a ser cumprida, como meio de potencializar a reinserção do condenado à sociedade.

Nessa direção, Bitencourt (2016, p. 442) assinala a necessidade de se implantar novas

alternativas à pena de prisão, aduzindo que:

Embora se aceite a pena privativa de liberdade como um marco na humanização da

sanção criminal, em seu tempo, a verdade é que fracassou em seus objetivos

declarados. A reformulação do sistema surge como uma necessidade inadiável e teve

seu início com a luta de Von Liszt contra as penas curtas privativas de liberdade e a

proposta de substituição por recursos mais adequados. Nas alternativas inovadoras

da estrutura clássica da privação de liberdade há um variado repertório de medidas,

sendo que algumas representam somente um novo método de execução da pena de

prisão, mas outras constituem verdadeiros substitutivos. A exigência, sem embargo,

de novas soluções não abre mão da aptidão em exercer as funções que lhes são

atribuídas, mas sem o caráter injusto da sanção substituída.

Corroborando com o exposto, Greco (2016) também se mostra favorável a ampliação

do sistema de monitoramento eletrônica no Brasil, o referido doutrinador pontua que:

O sistema prisional, com toda certeza, não seria o melhor ambiente para o

cumprimento da pena aplicada ao condenado, que, em muitos países da América

Latina, eliminariam a sua personalidade. Assim, por mais que tenhamos que

proteger o direito à intimidade daqueles que foram condenados pela Justiça Penal,

entendemos que a submissão do autor da infração penal ao monitoramento

eletrônico deve ser entendida em seu benefício, mesmo que venha a causar pequenos

transtornos. Por isso é que Rodríguez-Magariños propõe a criação de um novo

sistema penitenciário, onde a privação de liberdade das pessoas passe de regra geral

à exceção, reservando-se, outrossim, os estabelecimentos prisionais somente para

aqueles reincidentes contumazes, que praticam crimes graves, demonstrando, dessa

forma, desprezo pelos direitos de seus concidadãos. Como, acertadamente, afirma o

renomado autor, a „vigilância eletrônica nem é a varinha mágica nem é a panacéia,

nem cobre – e menos hoje em dia – todos os desejos, mas indubitavelmente é o

princípio do fim de um sistema penitenciário baseado em um axioma absurdo:

encerrar, dessocializar um indivíduo para fazer dele o homem apto para viver em

sociedade.

Gomes (2010) defende a expansão do instituto do monitoramento eletrônico como

substitutivo da prisão preventiva, dentre outras. No mesmo sentido, o autor, afirma o

monitoramento propicia melhor cumprimento da pena pelo reeducando, inclusive sob o

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aspecto do princípio da dignidade da pessoa humana, porquanto não ficariam em situação

subumanas e degradantes da realidade da superlotação das penitenciárias e estaria próximo de

sua família, auxiliando na sua ressocialização e ao verdadeiro fim da pena. Mesmo

entendimento é sustentado por D‟Urso (2007), o qual acredita que toda e qualquer alternativa

para evitar o aprisionamento é bem vinda. O mesmo autor segue afirmando que:

As pessoas condenadas ou que aguardam julgamento ficam, hoje, sujeitas às

mazelas comuns do sistema carcerário que não garante a integridade física do preso,

como superlotação, sevícias sexuais, doenças como aids e tuberculose e rebeliões. O

monitoramento eletrônico traria duas vantagens: evitaria o confinamento e os

problemas dele decorrentes e manteria a responsabilidade do Estado diante de uma

condenação de pequena monta ou prisão antes da condenação.

Portanto, para D‟Urso (2007) o monitoramento eletrônico é uma medida que

possibilita uma alternativa ao cárcere provisório proporcionado por prisões cautelares (não

raras vezes, advindas de decisões equivocadas), bem como a oportunidade de antecipar o fim

da segregação do condenado, permitindo de plano a manutenção (ou o retorno) do (ao)

convívio familiar e o acesso a programas de tratamento disponibilizados pelo Estado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando-se que a pura e simples adoção de medidas repressivas tem se mostrado

insuficiente para lidar com o fenômeno da criminalidade, emergem as medidas alternativas de

natureza pessoal, dentre elas, o monitoramento eletrônico dos apenados, elencado no artigo

319 do CPP.

O monitoramento eletrônico se caracteriza pela utilização de equipamentos de

vigilância remota que permite constatar a localização do preso/condenado, a fim de obter

informações a respeito de um lugar que ele não poderia frequentar ou caso tenha se ausentado

do perímetro que não poderia sair, a aplicação de tal medida fica condicionada ao binômio

„adequação-necessidade‟, passível de se aplicada antes do transito em julgado da sentença

condenatória, passando a constituir mais uma alternativa à prisão processual.

No que concerne ao monitoramento eletrônico, trata-se de uma ferramenta de controle

da vara de execuções penais, e tem de ser notificada a cada variação, pois a avaliação de risco

potencial de um apenado é diferente de uma avaliação onde no mesmo local estão outros

monitorados, não sabendo a real necessidade de tal encontro.

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Elenca-se também quanto à área de abrangência do referido equipamento, se esta

delimita o ambiente que o apenado pode estar em livre circulação, se nesta área não há

“sombras” que impossibilitem o monitoramento. É sabido que todo ser humano pode ser

corrompido, por espontaneidade ou por outros artifícios que o mundo criminal utiliza-se,

então se forem os elos deste punidos de forma exemplar haverá a possibilidade de se

reduzir/moralizar esta conduta ilícita intrínseca em nossa cultura.

Constata-se que até o momento não se observa uma larga utilização do monitoramento

eletrônico no Brasil, apesar de seu uso trazer significativos benefícios para fiscalização de

medidas punitivas e acompanhamento do preso/condenado em tempo real, mas,

principalmente, por evitar prejuízos irreparáveis provocados pela vida carcerária em um

sistema prisional falido, precário e desumano.

STUDY ON THE USE OF EFFECTIVENESS OF ELECTRONIC MONITORING AS

A PRECAUTIONARY MIDDLE ALTERNATIVE TO IMPRISONMENT

ABSTRACT

This article has the objective to investigate the effectiveness of electronic monitoring as an

alternative means to prison. Considering that the mere adoption of repressive measures have

been insufficient to deal with the crime phenomenon emerging alternative measures of a

personal nature, among them, the electronic monitoring of convicts, part listed in Article 319

of the CPP. It appears that, unfortunately, so far not observed a wide use of electronic

monitoring in Brazil, although its use bring significant benefits to enforcement of punitive

measures and monitoring of the arrested/convicted in real time, but mainly to avoid

irreparable damage caused by prison life in a prison system failed, precarious and inhuman.

The electronic monitoring of prisoners applied, for example, in the pre-trial stage, as a

substitute for provisional arrest, finds perfect harmony with the Greater Charter of 1988

because it works as a substitute prison and entails the consequent promotion of human dignity

to away the accused from jail and bring it in society.

Keywords: Pena Private Freedom. Prison system. Precautionary Measure Person. Electronic

monitoring.

REFERÊNCIAS

ALBERGARIA, Jason. Das penas e da execução penal. 3. ed., rev. e ampl. Belo Horizonte:

Del Rey, 1996.

BARROS, Carmem Silva de Araújo. A individualização da pena na execução penal. São

Paulo: Revista dos tribunais, 2001.

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25f. Orientador: Profº. Ms. Arnaldo Sobrinho de Morais Neto. Artigo Científico (Graduação em Direito).Faculdades de Ensino Superior

da Paraíba – FESP

1. Pena Privativa de Liberdade. 2. Sistema Prisional. 3. Medida Cautelar Pessoa. 4. Monitoramento Eletrônico. I. Título

BC/Fesp CDU: 343 (043)