resumo de filosofia (prova) 4bi

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Resumo de Filosofia (prova) A TRADIÇÃO LIBERTÁRIA: As teorias socialistas são herdeiras da tradição libertária, isto é, das lutas sociais e políticas por liberdade e justiça contra a opressão dos poderosos. Nessa tradição encontram-se as revoltas conhecidas como milenaristas, pois as classes populares possuem como referencial para compreender e julgar a política as imagens bíblicas do Paraíso e do “tempo do fim”, quando o bem vencerá perpetuamente o mal, instaurando o Reino dos Mil Anos de felicidade e justiça. A esperança milenarista sempre viu a luta política como conflagração cósmica entre a luz e a treva, o justo e o injusto, o bem e o mal. O DISCURSO DA SERVIDÃO VOLUNTÁRIA: Também na tradição libertária encontra-se a obra do filósofo francês La Boétie, que indagava como é possível que cidades inteiras, nações inteiras se submetessem à vontade de um só, em geral o mais covarde e temeroso de todos. De um só tirava o poder para esmagar todos os outros? Respondendo, La Boétie afirma que não é por medo que obedecemos à vontade de um só, mas porque desejamos a tirania. A sociedade é como uma imensa pirâmide de tiranetes que se esmagam uns aos outros: o corpo do tirano é formado pelos seis que lhe aconselham, pelos sessenta que os protegem, pelos seis mil que servem os sessenta, e assim por diante. O poder de um só sobre todos foi dado ao tirano por nosso desejo de sermos tiranos também. La Boétie, no entanto, indaga: de onde vem o próprio desejo de tirania? E responde: do desejo de ter bens e riquezas do desejo de ser o proprietário. Mas de onde vem esse desejo de posse, de ter? do desprezo pela liberdade. Se desejássemos verdadeiramente a liberdade, jamais a trocaríamos pela posse de bens, que nos escravizam aos outros e nos submetem à vontade do mais forte, do tirano. Ao trocar o direito à liberdade pelo desejo de posse, aceitamos a servidão voluntária. Usamos nossa liberdade para nos tornarmos servos. Como derrubar um tirano e reconquistar a liberdade? Basta não dar ao tirano o que ele pede e exige. O tirano deseja nossa consciência e nossa liberdade, a serem trocadas ou negociadas pela promessa de satisfação de nosso desejo de posses. Se nada lhe dermos, ele perde a fonte de poder que o sustenta e, sem poder, cairá. Das lutas populares e das tradições libertárias nascem as teorias socialistas modernas. AS TEORIAS SOCIALISTAS: As teorias socialistas são aquelas que se fundam nas relações sociais e nas ações sociais, isto é, que recusam a separação liberal entre sociedade e Estado e procuram os fundamento do poder e ação políticos.

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Resumo de Filosofia (prova)

A TRADIÇÃO LIBERTÁRIA:

As teorias socialistas são herdeiras da tradição libertária, isto é, das lutas sociais e políticas por liberdade e justiça contra a opressão dos poderosos. Nessa tradição encontram-se as revoltas conhecidas como milenaristas, pois as classes populares possuem como referencial para compreender e julgar a política as imagens bíblicas do Paraíso e do “tempo do fim”, quando o bem vencerá perpetuamente o mal, instaurando o Reino dos Mil Anos de felicidade e justiça. A esperança milenarista sempre viu a luta política como conflagração cósmica entre a luz e a treva, o justo e o injusto, o bem e o mal.

O DISCURSO DA SERVIDÃO VOLUNTÁRIA:

Também na tradição libertária encontra-se a obra do filósofo francês La Boétie, que indagava como é possível que cidades inteiras, nações inteiras se submetessem à vontade de um só, em geral o mais covarde e temeroso de todos. De um só tirava o poder para esmagar todos os outros?

Respondendo, La Boétie afirma que não é por medo que obedecemos à vontade de um só, mas porque desejamos a tirania. A sociedade é como uma imensa pirâmide de tiranetes que se esmagam uns aos outros: o corpo do tirano é formado pelos seis que lhe aconselham, pelos sessenta que os protegem, pelos seis mil que servem os sessenta, e assim por diante. O poder de um só sobre todos foi dado ao tirano por nosso desejo de sermos tiranos também.

La Boétie, no entanto, indaga: de onde vem o próprio desejo de tirania? E responde: do desejo de ter bens e riquezas do desejo de ser o proprietário. Mas de onde vem esse desejo de posse, de ter? do desprezo pela liberdade. Se desejássemos verdadeiramente a liberdade, jamais a trocaríamos pela posse de bens, que nos escravizam aos outros e nos submetem à vontade do mais forte, do tirano. Ao trocar o direito à liberdade pelo desejo de posse, aceitamos a servidão voluntária. Usamos nossa liberdade para nos tornarmos servos.

Como derrubar um tirano e reconquistar a liberdade? Basta não dar ao tirano o que ele pede e exige. O tirano deseja nossa consciência e nossa liberdade, a serem trocadas ou negociadas pela promessa de satisfação de nosso desejo de posses. Se nada lhe dermos, ele perde a fonte de poder que o sustenta e, sem poder, cairá. Das lutas populares e das tradições libertárias nascem as teorias socialistas modernas.

AS TEORIAS SOCIALISTAS:

As teorias socialistas são aquelas que se fundam nas relações sociais e nas ações sociais, isto é, que recusam a separação liberal entre sociedade e Estado e procuram os fundamento do poder e ação políticos.

Socialismo Utópico – essa corrente socialista vê a classe trabalhadora como despossuída e oprimida. Seus teóricos imaginavam uma nova sociedade na qual não existam a propriedade privada, o lucro dos capitalistas, a exploração do trabalho e a desigualdade econômica, social e política. Imaginavam novas cidades utópicas organizadas em grandes corporativas geridas pelos trabalhadores. Por serem cidades perfeitas, diz-se que são “cidades utópicas” e as teorias que as criaram são chamadas de “utopias”.

Anarquismo – critica o individualismo burguês e do Estado como autoritário e antinatural. Os anarquistas acreditavam na liberdade natural e na bondade natural dos seres humanos e em sua capacidade para viver feliz em comunidades. Atribuem a existência dos problemas sociais à propriedade privada, à exploração do trabalho e à origem do Estado ao poder dos mais fortes sobre os mais fracos. Sociedade e Estado são antinaturais porque se opõe à tendência natural dos homens a viver igualitária e livremente em comunidades autogovernadas.

Comunismo ou socialismo científico – essa posição critica não só o Estado Liberal, mas também o Socialismo Utópico e o Anarquismo. É fruto da obra de Karl Marx e Friedrich Engels.

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A PERSPECTIVA MARXISTA:

A Economia Política – Baseando-se nos mesmos princípios do liberalismo político, a economia política é elaborada como liberalismo econômico. Diferentemente dos gregos, que definiram o homem como “animal político”, e diferentemente dos medievais, que definiram o homem como “ser sociável”, a economia política define o homem como “indivíduo que busca a satisfação de suas necessidades consumindo o que a natureza lhe oferece ou trabalhando para obter riquezas e bem-estar”. As ideias de Estado e de direito natural conduziram a noção de que, seja por bondade natural, seja por egoísmo, os homens agem em seu próprio benefício e interesse e, assim fazendo, contribuem para o bem coletivo ou social. A propriedade privada é natural e útil socialmente, além de legítima moralmente, porque estimula o trabalho e combate o vício da preguiça. Para alguns economistas, a concorrência (lei da oferta e da procura) é responsável pela riqueza social e pela harmonia entre interesse privado e interesse coletivo. A economia se realiza como sociedade civil capaz de se autorregular, sem que o Estado deva interferir na sua liberdade.

A crítica da economia política – tal crítica consiste em afirmar que tal separação entre a esfera privada e a esfera pública (o Estado) nunca se efetuou. O poder político sempre foi a maneira legal e jurídica pela qual a classe economicamente dominante de uma sociedade manteve seu domínio sobre as outras classes sociais. Marx ainda indaga: o que é a sociedade civil de que falam os economistas políticos? Não é a manifestação de uma ordem natural racional nem o aglomerado de famílias e indivíduos cujos interesses antagônicos serão conciliados pelo contrato social. A sociedade civil é o processo de constituição e reposição das condições materiais da produção econômica pelas quais são engendradas as classes sociais. Essas classes sociais são antagônicas e seus conflitos revelam uma contradição profunda entre os interesses irreconciliáveis de cada uma delas, isto é, a sociedade civil não é um aglomerado de indivíduos e sim uma divisão social de classes e se realiza como luta de classes. A sociedade civil é a economia de mercado capitalista. O que é, então, o Estado? O Estado é a expressão política da luta econômico-social das classes, amortecida pelo aparato da justiça e da força pública (policial e militar); é a expressão legal dos interesses da classe dos proprietários dos meios de produção.

Gênese da Sociedade e do Estado:

o Os modos de produção – A produção material e intelectual da existência humana depende de condições naturais e sociais: divide-se o trabalho entre homens e mulheres, camponeses e trabalhadores urbanos, crianças e idosos, etc. Tal divisão social do trabalho não é uma simples divisão de tarefas, mas a manifestação da propriedade, ou seja, a separação entre a propriedade, que é a posse das condições e dos instrumentos do trabalho, e o próprio trabalho. A propriedade introduz a existência dos meios de produção (condições e instrumentos de trabalho) como algo diferente das forças produtivas (trabalho).

o O Materialismo Histórico – é por afirmar que a sociedade se constitui a partir de condições materiais de produção e da divisão social do trabalho que as mudanças históricas são determinadas pelas modificações naquelas condições materiais e naquela divisão do trabalho; e ainda, por afirmar que a consciência humana é determinada a pensar as ideias que pensa por causa das condições materiais instituídas pela sociedade que o pensamento de Marx é chamado de Materialismo Histórico. “Materialismo” porque somos o que as condições materiais (as relações sociais de produção) nos determinam a ser e pensar; “histórico” porque a sociedade e a política não surgem de decretos divinos nem nascem da ordem natural, mas dependem da ação concreta dos seres humanos no tempo. A história é um processo de transformações sociais determinadas pela luta de classes, pelas contradições entre os meios de produção e as forças produtivas.

o A gênese do Estado: os proprietários dos meios de produção têm interesses comuns, pois necessitam do intercâmbio e da cooperação para manter e fazer crescer a propriedade de cada um. Assim, embora estejam em concorrência e competição, precisam estabelecer certas regras pelas

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quais não se destruam reciprocamente, nem às suas propriedades. Os proprietários sabem também que não poderão resolver as contradições com os não proprietários, pois estes, por revoltas e revoluções populares, podem destruir a propriedade privada. É preciso, portanto, que os interesses comuns dos proprietários dos meios de produção sejam estabelecidos de forma que pareçam corretos, legítimos e válidos para todos. Para isso, criam o Estado como poder separado da sociedade, portador do direito e das leis, dotado de força para usar a violência na repressão de tudo quanto pareça perigoso à estrutura econômica existente. A divisão social aparece, assim, como hierarquia divida / natural, que justifica a exclusão dos não proprietários do poder e, sobretudo, estabelece princípios para a submissão e a obediência, transformadas em obrigações.

A alienação econômica: nossas ideias, historicamente determinadas, têm a peculiaridade de nascer a partir de nossas experiências sociais diretas e esta sempre se oferece como uma explicação da maneira como a vida social nos aparece ou tal como ela nos parece ser. Em outras palavras, a experiência social imediata ou direta explica a sociedade e as relações sociais a partir de suas aparências, como se fossem realidade. A alienação econômica é a crença de que as mercadorias são coisas que existem independentemente do trabalho para produzi-las e que possuem um valor em si mesmo, valor que aparece no preço que lhes foi dado.

A gênese da ideologia: à medida que, numa formação social, se estabiliza e se repete determinada divisão social, cada indivíduo passa a ter uma atividade determinada e exclusiva que lhe é atribuída pelo conjunto das relações sociais. Cada um, por causa da fixidez e repetição de seu lugar e de sua atividade, tende a não percebê-los como instituições socialmente e a considerá-los naturais. A experiência da divisão social das atividades é vivida, portanto, com naturalidade: acredita-se que há escravos por natureza, cidadãos por natureza, proprietários por natureza, etc. Assim, a função primordial da ideologia é ocultar a origem da sociedade, dissimular a presença da luta de classes, negar as desigualdades sociais e oferecer a imagem ilusória da comunidade (o Estado) originada do contrato social entre homens iguais.

O Trabalho: o trabalhador realiza mais trabalho do que o salário que lhe paga, ou seja, há um trabalho excedente não pago, a mais-valia. É a mais-valia que forma o lucro, e não a comercialização dos produtos. Assim, a propriedade privada, o capital, se acumula e se reproduz, se amplia e se estende porque se funda na exploração social da massa dos assalariados.

A FILOSOFIA POLÍTICA DE HEGEL:

Hegel explica a gênese do Estado moderno sem recorrer à teoria do direito natural e do contrato social. Para ele, o Estado surge como superação racional das limitações que bloqueavam o desenvolvimento do espírito humano: o isolamento dos indivíduos na família e as lutas dos interesses privados na sociedade civil. O Estado absorve e transforma a família e a sociedade civil numa totalidade racional, mais alta e perfeita, que exprime o interesse e a vontade gerais. Por isso, é a realização mais importante – e a última – da razão na história, uma vez que supera os particularismos numa unidade universal, que, pelo direito, garante a ordem, a paz, a moralidade, a liberdade e a perfeição do espírito humano.