resultados preliminares sobre impacto psicossocial da ......apresentar-se-ão resultados focados na...
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Resultados Preliminares sobre Impacto
Psicossocial da COVID-19 em Portugal
Ana Paula Relvas
Alda Portugal
Sofia Major
Luciana Sotero
Maio 2020
2
Iacutendice
Enquadramento 3
Resultados Preliminares 4
Participantes 4
Impacto Individual 5
Impacto Relacional 8
Conclusotildees 9
Lista Bibliograacutefica 9
3
Enquadramento
O mundo enfrenta a maior pandemia do seacuteculo XXI a COVID-19 Em dezembro de 2019 registou-se o
primeiro caso em Wuhan China (Zhou 2020) que rapidamente evoluiu e levou a Organizaccedilatildeo Mundial de
Sauacutede (OMS) a declarar pandemia global no dia 11 de marccedilo de 2020 Em Portugal o Estado de Emergecircncia
foi decretado a 18 de marccedilo de 2020 (DL n14-A2020) tendo sido renovado por duas vezes (3 e 17 de Abril
DL n17-A2020 e n20-A2020) Estes decretos-lei assentaram num conjunto de medidas relacionadas entre
outras com a restriccedilatildeo agrave circulaccedilatildeo da populaccedilatildeo e com o encerramento do sistema de ensino e de muitas
atividades econoacutemicas O confinamento agrave habitaccedilatildeo e consequente isolamento social tornou-se assim uma
realidade presente na vida dos portugueses tendo impactos a vaacuterios niacuteveis nomeadamente indiferenciaccedilatildeo
entre o local de lazer e o local de trabalho (teletrabalho quando possiacutevel) maior assistecircncia aos filhos no
meacutetodo de ensino agrave distacircncia reduccedilatildeo dos contactos com a famiacutelia alargada e redes sociais lazer familiar de
caraacutecter indoor e dificuldade de planeamento a curtomeacutedio prazo O confinamento agrave habitaccedilatildeo aliado ao
distanciamento social traduziu-se assim numa situaccedilatildeo geradora de grande stresse (Brooks 2020)
Sendo esta uma janela de oportunidade para a ciecircncia um conjunto de mais de 40 universidades de
todo o mundo (Investigadora Responsaacutevel Ashley Randall ndash Universidade do Estado do Arizona) uniu-se para
levar a cabo um estudo transcultural sobre o impacto da COVID-19 no bem-estar de indiviacuteduos e nas suas
relaccedilotildees amorosas Pretende-se obter informaccedilatildeo sobre o funcionamento individual (stresse ansiedade
depressatildeo e bem-estar mental) e o funcionamento conjugal (estrateacutegias de enfrentamento diaacutedico agrave
pandemia qualidade da relaccedilatildeo) de modo a contribuir para planificar estrateacutegias de intervenccedilatildeo futuras que
sejam adequadas agrave gestatildeo da relaccedilatildeo conjugal em periacuteodos de crise generalizada Este trabalho tem particular
relevacircncia se se considerar que o casal eacute a unidade familiar por excelecircncia Sabe-se que um funcionamento
conjugal menos adequado tem influecircncia no indiviacuteduo e nas restantes relaccedilotildees familiares (Cutrona
Bodenmann Randall Claveacutel amp Johnson 2018 McGoldrick Preto amp Carter 2016) bem como na sauacutede mental
de todos os membros da famiacutelia (Randall amp Bodenmann 2009)
Eacute relevante fazer o levantamento destes dados durante a crise pandeacutemica de forma a obter um
retrato do impacto individual e conjugal mas mais importante eacute a possibilidade de recolher informaccedilatildeo em
vaacuterios momentos ao longo do tempo Assim seraacute possiacutevel obter uma compreensatildeo mais fiel das flutuaccedilotildees
desses impactos ao niacutevel do bem-estar individual e conjugal que se associam agrave proacutepria evoluccedilatildeo da COVID-
19 Desta forma a equipa responsaacutevel pelo projeto internacional em Portugal (Investigadora Responsaacutevel
Ana Paula Relvas ndash Universidade de Coimbra) desenhou um estudo longitudinal com o objetivo de recolher
informaccedilatildeo em vaacuterios momentos que marcam a adaptaccedilatildeo social agrave evoluccedilatildeo da doenccedila COVID-19 (pex
durante a declaraccedilatildeo de estado de emergecircncia e aquando do levantamento das restriccedilotildees)
4
Deste modo este relatoacuterio visa apresentar alguns dados preliminares recolhidos atraveacutes de um
protocolo online durante o periacuteodo em que foi decretado estado de emergecircncia em Portugal (18 de marccedilo a
3 de maio) O presente estudo foi submetido agrave apreciaccedilatildeo de diversos conselhoscomissotildees de eacutetica
(Institutional Review Board Universidade do Estado do Arizona e Comissatildeo de Eacutetica da Faculdade de Psicologia
e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Coimbra [FPCE-UC]) tendo sido registado no dia 4 de abril na
plataforma Science4COVID da FCT (neste sentido foi tambeacutem apreciado pela Comissatildeo de Validaccedilatildeo Teacutecnica
e Cientiacutefica de ideias accedilotildees e publicaccedilotildees) Foi tambeacutem apreciado e validado pela Ordem dos Psicoacutelogos
Portugueses (OPP) atraveacutes da iniciativa ldquoVia Verde de apoio OPP para a Investigaccedilatildeo Cientiacutefica em Sauacutede
Psicoloacutegica e Mudanccedila Comportamentalrdquo A divulgaccedilatildeo do estudo foi feita atraveacutes de paacuteginas institucionais
(eg CES-UC FPCE-UC Universidade da Madeira [UMa] OPP) e de redes sociais
Para efeitos deste relatoacuterio os participantes seratildeo caracterizados com base em algumas variaacuteveis
sociodemograacuteficas (eg sexo idade ter ou natildeo filhos estar ou natildeo em teletrabalho) e seratildeo analisadas as
respostas obtidas atraveacutes de quatro instrumentos utilizados no protocolo online nomeadamente
Questionaacuterio Breve da Perceccedilatildeo sobre o COVID-19 (BIPQ Broadbent Petrie Main amp Wieman 2006) Escala
de Depressatildeo Ansiedade e Stresse -21 (DASS-21 Lovibond amp Lovibond 1995) Inventaacuterio da Perceccedilatildeo dos
Componentes da Qualidade Relacional ndash Versatildeo Reduzida (PRQC Fletcher Simpson amp Thomas 2000) e Escala
de Bem Estar Mental de Warwick-Edinburgh (WEMWBS Tennant et al 2007) Todos estes instrumentos tecircm
versotildees portuguesas que foram cedidas agrave equipa pelos autores originais eou pelos autores das versotildees
traduzidas Em primeiro lugar seratildeo apresentados alguns resultados centrados no indiviacuteduo e depois
apresentar-se-atildeo resultados focados na perceccedilatildeo da satisfaccedilatildeo conjugal
Resultados Preliminares
Participantes
Os resultados aqui apresentados decorrem da anaacutelise de 504 protocolos preenchidos online por
participantes que vivem em Portugal estatildeo numa relaccedilatildeo conjugal haacute pelo menos um ano e coabitam com
oa cocircnjuge Destes participantes 817 (n = 412) satildeo mulheres e 181 (n = 91) homens O facto de existirem
mais mulheres do que homens a participar no estudo corresponde a uma tendecircncia comum em recolhas de
dados deste geacutenero (eg Curtin Presser amp Singer 2000 Moore amp Tarnai 2002) podendo este facto dever-se
ao facto de as mulheres preferirem habitualmente estrateacutegias de enfrentamento ao stresse mais focadas nas
emoccedilotildees (Tamres Janicki amp Helgeson 2002) valorizando mais dimensotildees psicoloacutegicas do que os homens
(Liddon Kingerlee amp Barry 2018) No que diz respeito agrave idade dos participantes verifica-se uma meacutedia de
3767 anos (DP = 957) sendo as faixas etaacuterias 30-39 anos (363 n = 183) e 40-49 anos (276 n = 139) as
mais comuns Deste modo os protocolos respondidos dizem respeito sobretudo a populaccedilatildeo em idade ativa
5
e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma
estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado
expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778
n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das
novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A
presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos
e 528 (n = 266) refere ter filhos
Impacto Individual
No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua
vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de
0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as
participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)
Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os
participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa
de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se
destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-
19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo
sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito
preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram
mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)
profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)
Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as
mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg
Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a
niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes
assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada
afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6
[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise
implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute
esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo
eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que
poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)
6
Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas
participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar
algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo
pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se
sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)
Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item
Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores
ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =
293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-
quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento
social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse
aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo
total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser
consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os
periacuteodos
Meacuted
ia
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acto em
ocion
al
Co
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e a situaccedilatildeo
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a
7
Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21
Percentagens antes do isolamento
social
Percentagens durante o isolamento
social
Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo
(Severidade sintomas)
Normal 775 408 624 736 413 621
Leve 166 354 251 149 305 236
Moderada 4 179 111 104 209 122
Severa 06 43 13 11 59 15
Extrem severa 0 14 02 0 14 05
Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo
As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de
sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os
participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena
Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o
isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma
mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel
considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)
Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de
uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19
manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de
ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente
pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)
Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os
resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente
inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm
filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator
protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto
e meacutedio prazo)
8
Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a
sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees
Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma
estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do
que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que
osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais
tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o
teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar
resultados relacionados com esta variaacutevel
Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar
mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos
que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores
meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos
participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em
itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas
119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar
mental
Impacto Relacional
Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem
variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)
se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia
para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende
a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento
(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender
melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a
amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo
conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo
entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores
niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que
o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre
1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos
9
a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
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10
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Iacutendice
Enquadramento 3
Resultados Preliminares 4
Participantes 4
Impacto Individual 5
Impacto Relacional 8
Conclusotildees 9
Lista Bibliograacutefica 9
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Enquadramento
O mundo enfrenta a maior pandemia do seacuteculo XXI a COVID-19 Em dezembro de 2019 registou-se o
primeiro caso em Wuhan China (Zhou 2020) que rapidamente evoluiu e levou a Organizaccedilatildeo Mundial de
Sauacutede (OMS) a declarar pandemia global no dia 11 de marccedilo de 2020 Em Portugal o Estado de Emergecircncia
foi decretado a 18 de marccedilo de 2020 (DL n14-A2020) tendo sido renovado por duas vezes (3 e 17 de Abril
DL n17-A2020 e n20-A2020) Estes decretos-lei assentaram num conjunto de medidas relacionadas entre
outras com a restriccedilatildeo agrave circulaccedilatildeo da populaccedilatildeo e com o encerramento do sistema de ensino e de muitas
atividades econoacutemicas O confinamento agrave habitaccedilatildeo e consequente isolamento social tornou-se assim uma
realidade presente na vida dos portugueses tendo impactos a vaacuterios niacuteveis nomeadamente indiferenciaccedilatildeo
entre o local de lazer e o local de trabalho (teletrabalho quando possiacutevel) maior assistecircncia aos filhos no
meacutetodo de ensino agrave distacircncia reduccedilatildeo dos contactos com a famiacutelia alargada e redes sociais lazer familiar de
caraacutecter indoor e dificuldade de planeamento a curtomeacutedio prazo O confinamento agrave habitaccedilatildeo aliado ao
distanciamento social traduziu-se assim numa situaccedilatildeo geradora de grande stresse (Brooks 2020)
Sendo esta uma janela de oportunidade para a ciecircncia um conjunto de mais de 40 universidades de
todo o mundo (Investigadora Responsaacutevel Ashley Randall ndash Universidade do Estado do Arizona) uniu-se para
levar a cabo um estudo transcultural sobre o impacto da COVID-19 no bem-estar de indiviacuteduos e nas suas
relaccedilotildees amorosas Pretende-se obter informaccedilatildeo sobre o funcionamento individual (stresse ansiedade
depressatildeo e bem-estar mental) e o funcionamento conjugal (estrateacutegias de enfrentamento diaacutedico agrave
pandemia qualidade da relaccedilatildeo) de modo a contribuir para planificar estrateacutegias de intervenccedilatildeo futuras que
sejam adequadas agrave gestatildeo da relaccedilatildeo conjugal em periacuteodos de crise generalizada Este trabalho tem particular
relevacircncia se se considerar que o casal eacute a unidade familiar por excelecircncia Sabe-se que um funcionamento
conjugal menos adequado tem influecircncia no indiviacuteduo e nas restantes relaccedilotildees familiares (Cutrona
Bodenmann Randall Claveacutel amp Johnson 2018 McGoldrick Preto amp Carter 2016) bem como na sauacutede mental
de todos os membros da famiacutelia (Randall amp Bodenmann 2009)
Eacute relevante fazer o levantamento destes dados durante a crise pandeacutemica de forma a obter um
retrato do impacto individual e conjugal mas mais importante eacute a possibilidade de recolher informaccedilatildeo em
vaacuterios momentos ao longo do tempo Assim seraacute possiacutevel obter uma compreensatildeo mais fiel das flutuaccedilotildees
desses impactos ao niacutevel do bem-estar individual e conjugal que se associam agrave proacutepria evoluccedilatildeo da COVID-
19 Desta forma a equipa responsaacutevel pelo projeto internacional em Portugal (Investigadora Responsaacutevel
Ana Paula Relvas ndash Universidade de Coimbra) desenhou um estudo longitudinal com o objetivo de recolher
informaccedilatildeo em vaacuterios momentos que marcam a adaptaccedilatildeo social agrave evoluccedilatildeo da doenccedila COVID-19 (pex
durante a declaraccedilatildeo de estado de emergecircncia e aquando do levantamento das restriccedilotildees)
4
Deste modo este relatoacuterio visa apresentar alguns dados preliminares recolhidos atraveacutes de um
protocolo online durante o periacuteodo em que foi decretado estado de emergecircncia em Portugal (18 de marccedilo a
3 de maio) O presente estudo foi submetido agrave apreciaccedilatildeo de diversos conselhoscomissotildees de eacutetica
(Institutional Review Board Universidade do Estado do Arizona e Comissatildeo de Eacutetica da Faculdade de Psicologia
e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Coimbra [FPCE-UC]) tendo sido registado no dia 4 de abril na
plataforma Science4COVID da FCT (neste sentido foi tambeacutem apreciado pela Comissatildeo de Validaccedilatildeo Teacutecnica
e Cientiacutefica de ideias accedilotildees e publicaccedilotildees) Foi tambeacutem apreciado e validado pela Ordem dos Psicoacutelogos
Portugueses (OPP) atraveacutes da iniciativa ldquoVia Verde de apoio OPP para a Investigaccedilatildeo Cientiacutefica em Sauacutede
Psicoloacutegica e Mudanccedila Comportamentalrdquo A divulgaccedilatildeo do estudo foi feita atraveacutes de paacuteginas institucionais
(eg CES-UC FPCE-UC Universidade da Madeira [UMa] OPP) e de redes sociais
Para efeitos deste relatoacuterio os participantes seratildeo caracterizados com base em algumas variaacuteveis
sociodemograacuteficas (eg sexo idade ter ou natildeo filhos estar ou natildeo em teletrabalho) e seratildeo analisadas as
respostas obtidas atraveacutes de quatro instrumentos utilizados no protocolo online nomeadamente
Questionaacuterio Breve da Perceccedilatildeo sobre o COVID-19 (BIPQ Broadbent Petrie Main amp Wieman 2006) Escala
de Depressatildeo Ansiedade e Stresse -21 (DASS-21 Lovibond amp Lovibond 1995) Inventaacuterio da Perceccedilatildeo dos
Componentes da Qualidade Relacional ndash Versatildeo Reduzida (PRQC Fletcher Simpson amp Thomas 2000) e Escala
de Bem Estar Mental de Warwick-Edinburgh (WEMWBS Tennant et al 2007) Todos estes instrumentos tecircm
versotildees portuguesas que foram cedidas agrave equipa pelos autores originais eou pelos autores das versotildees
traduzidas Em primeiro lugar seratildeo apresentados alguns resultados centrados no indiviacuteduo e depois
apresentar-se-atildeo resultados focados na perceccedilatildeo da satisfaccedilatildeo conjugal
Resultados Preliminares
Participantes
Os resultados aqui apresentados decorrem da anaacutelise de 504 protocolos preenchidos online por
participantes que vivem em Portugal estatildeo numa relaccedilatildeo conjugal haacute pelo menos um ano e coabitam com
oa cocircnjuge Destes participantes 817 (n = 412) satildeo mulheres e 181 (n = 91) homens O facto de existirem
mais mulheres do que homens a participar no estudo corresponde a uma tendecircncia comum em recolhas de
dados deste geacutenero (eg Curtin Presser amp Singer 2000 Moore amp Tarnai 2002) podendo este facto dever-se
ao facto de as mulheres preferirem habitualmente estrateacutegias de enfrentamento ao stresse mais focadas nas
emoccedilotildees (Tamres Janicki amp Helgeson 2002) valorizando mais dimensotildees psicoloacutegicas do que os homens
(Liddon Kingerlee amp Barry 2018) No que diz respeito agrave idade dos participantes verifica-se uma meacutedia de
3767 anos (DP = 957) sendo as faixas etaacuterias 30-39 anos (363 n = 183) e 40-49 anos (276 n = 139) as
mais comuns Deste modo os protocolos respondidos dizem respeito sobretudo a populaccedilatildeo em idade ativa
5
e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma
estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado
expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778
n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das
novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A
presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos
e 528 (n = 266) refere ter filhos
Impacto Individual
No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua
vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de
0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as
participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)
Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os
participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa
de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se
destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-
19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo
sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito
preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram
mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)
profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)
Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as
mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg
Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a
niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes
assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada
afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6
[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise
implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute
esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo
eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que
poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)
6
Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas
participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar
algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo
pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se
sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)
Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item
Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores
ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =
293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-
quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento
social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse
aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo
total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser
consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os
periacuteodos
Meacuted
ia
Imp
acto em
ocion
al
Co
mp
reend
e a situaccedilatildeo
Preo
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accedilatildeo com a p
and
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a
7
Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21
Percentagens antes do isolamento
social
Percentagens durante o isolamento
social
Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo
(Severidade sintomas)
Normal 775 408 624 736 413 621
Leve 166 354 251 149 305 236
Moderada 4 179 111 104 209 122
Severa 06 43 13 11 59 15
Extrem severa 0 14 02 0 14 05
Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo
As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de
sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os
participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena
Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o
isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma
mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel
considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)
Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de
uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19
manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de
ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente
pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)
Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os
resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente
inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm
filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator
protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto
e meacutedio prazo)
8
Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a
sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees
Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma
estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do
que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que
osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais
tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o
teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar
resultados relacionados com esta variaacutevel
Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar
mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos
que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores
meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos
participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em
itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas
119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar
mental
Impacto Relacional
Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem
variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)
se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia
para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende
a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento
(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender
melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a
amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo
conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo
entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores
niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que
o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre
1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos
9
a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
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10
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11
3
Enquadramento
O mundo enfrenta a maior pandemia do seacuteculo XXI a COVID-19 Em dezembro de 2019 registou-se o
primeiro caso em Wuhan China (Zhou 2020) que rapidamente evoluiu e levou a Organizaccedilatildeo Mundial de
Sauacutede (OMS) a declarar pandemia global no dia 11 de marccedilo de 2020 Em Portugal o Estado de Emergecircncia
foi decretado a 18 de marccedilo de 2020 (DL n14-A2020) tendo sido renovado por duas vezes (3 e 17 de Abril
DL n17-A2020 e n20-A2020) Estes decretos-lei assentaram num conjunto de medidas relacionadas entre
outras com a restriccedilatildeo agrave circulaccedilatildeo da populaccedilatildeo e com o encerramento do sistema de ensino e de muitas
atividades econoacutemicas O confinamento agrave habitaccedilatildeo e consequente isolamento social tornou-se assim uma
realidade presente na vida dos portugueses tendo impactos a vaacuterios niacuteveis nomeadamente indiferenciaccedilatildeo
entre o local de lazer e o local de trabalho (teletrabalho quando possiacutevel) maior assistecircncia aos filhos no
meacutetodo de ensino agrave distacircncia reduccedilatildeo dos contactos com a famiacutelia alargada e redes sociais lazer familiar de
caraacutecter indoor e dificuldade de planeamento a curtomeacutedio prazo O confinamento agrave habitaccedilatildeo aliado ao
distanciamento social traduziu-se assim numa situaccedilatildeo geradora de grande stresse (Brooks 2020)
Sendo esta uma janela de oportunidade para a ciecircncia um conjunto de mais de 40 universidades de
todo o mundo (Investigadora Responsaacutevel Ashley Randall ndash Universidade do Estado do Arizona) uniu-se para
levar a cabo um estudo transcultural sobre o impacto da COVID-19 no bem-estar de indiviacuteduos e nas suas
relaccedilotildees amorosas Pretende-se obter informaccedilatildeo sobre o funcionamento individual (stresse ansiedade
depressatildeo e bem-estar mental) e o funcionamento conjugal (estrateacutegias de enfrentamento diaacutedico agrave
pandemia qualidade da relaccedilatildeo) de modo a contribuir para planificar estrateacutegias de intervenccedilatildeo futuras que
sejam adequadas agrave gestatildeo da relaccedilatildeo conjugal em periacuteodos de crise generalizada Este trabalho tem particular
relevacircncia se se considerar que o casal eacute a unidade familiar por excelecircncia Sabe-se que um funcionamento
conjugal menos adequado tem influecircncia no indiviacuteduo e nas restantes relaccedilotildees familiares (Cutrona
Bodenmann Randall Claveacutel amp Johnson 2018 McGoldrick Preto amp Carter 2016) bem como na sauacutede mental
de todos os membros da famiacutelia (Randall amp Bodenmann 2009)
Eacute relevante fazer o levantamento destes dados durante a crise pandeacutemica de forma a obter um
retrato do impacto individual e conjugal mas mais importante eacute a possibilidade de recolher informaccedilatildeo em
vaacuterios momentos ao longo do tempo Assim seraacute possiacutevel obter uma compreensatildeo mais fiel das flutuaccedilotildees
desses impactos ao niacutevel do bem-estar individual e conjugal que se associam agrave proacutepria evoluccedilatildeo da COVID-
19 Desta forma a equipa responsaacutevel pelo projeto internacional em Portugal (Investigadora Responsaacutevel
Ana Paula Relvas ndash Universidade de Coimbra) desenhou um estudo longitudinal com o objetivo de recolher
informaccedilatildeo em vaacuterios momentos que marcam a adaptaccedilatildeo social agrave evoluccedilatildeo da doenccedila COVID-19 (pex
durante a declaraccedilatildeo de estado de emergecircncia e aquando do levantamento das restriccedilotildees)
4
Deste modo este relatoacuterio visa apresentar alguns dados preliminares recolhidos atraveacutes de um
protocolo online durante o periacuteodo em que foi decretado estado de emergecircncia em Portugal (18 de marccedilo a
3 de maio) O presente estudo foi submetido agrave apreciaccedilatildeo de diversos conselhoscomissotildees de eacutetica
(Institutional Review Board Universidade do Estado do Arizona e Comissatildeo de Eacutetica da Faculdade de Psicologia
e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Coimbra [FPCE-UC]) tendo sido registado no dia 4 de abril na
plataforma Science4COVID da FCT (neste sentido foi tambeacutem apreciado pela Comissatildeo de Validaccedilatildeo Teacutecnica
e Cientiacutefica de ideias accedilotildees e publicaccedilotildees) Foi tambeacutem apreciado e validado pela Ordem dos Psicoacutelogos
Portugueses (OPP) atraveacutes da iniciativa ldquoVia Verde de apoio OPP para a Investigaccedilatildeo Cientiacutefica em Sauacutede
Psicoloacutegica e Mudanccedila Comportamentalrdquo A divulgaccedilatildeo do estudo foi feita atraveacutes de paacuteginas institucionais
(eg CES-UC FPCE-UC Universidade da Madeira [UMa] OPP) e de redes sociais
Para efeitos deste relatoacuterio os participantes seratildeo caracterizados com base em algumas variaacuteveis
sociodemograacuteficas (eg sexo idade ter ou natildeo filhos estar ou natildeo em teletrabalho) e seratildeo analisadas as
respostas obtidas atraveacutes de quatro instrumentos utilizados no protocolo online nomeadamente
Questionaacuterio Breve da Perceccedilatildeo sobre o COVID-19 (BIPQ Broadbent Petrie Main amp Wieman 2006) Escala
de Depressatildeo Ansiedade e Stresse -21 (DASS-21 Lovibond amp Lovibond 1995) Inventaacuterio da Perceccedilatildeo dos
Componentes da Qualidade Relacional ndash Versatildeo Reduzida (PRQC Fletcher Simpson amp Thomas 2000) e Escala
de Bem Estar Mental de Warwick-Edinburgh (WEMWBS Tennant et al 2007) Todos estes instrumentos tecircm
versotildees portuguesas que foram cedidas agrave equipa pelos autores originais eou pelos autores das versotildees
traduzidas Em primeiro lugar seratildeo apresentados alguns resultados centrados no indiviacuteduo e depois
apresentar-se-atildeo resultados focados na perceccedilatildeo da satisfaccedilatildeo conjugal
Resultados Preliminares
Participantes
Os resultados aqui apresentados decorrem da anaacutelise de 504 protocolos preenchidos online por
participantes que vivem em Portugal estatildeo numa relaccedilatildeo conjugal haacute pelo menos um ano e coabitam com
oa cocircnjuge Destes participantes 817 (n = 412) satildeo mulheres e 181 (n = 91) homens O facto de existirem
mais mulheres do que homens a participar no estudo corresponde a uma tendecircncia comum em recolhas de
dados deste geacutenero (eg Curtin Presser amp Singer 2000 Moore amp Tarnai 2002) podendo este facto dever-se
ao facto de as mulheres preferirem habitualmente estrateacutegias de enfrentamento ao stresse mais focadas nas
emoccedilotildees (Tamres Janicki amp Helgeson 2002) valorizando mais dimensotildees psicoloacutegicas do que os homens
(Liddon Kingerlee amp Barry 2018) No que diz respeito agrave idade dos participantes verifica-se uma meacutedia de
3767 anos (DP = 957) sendo as faixas etaacuterias 30-39 anos (363 n = 183) e 40-49 anos (276 n = 139) as
mais comuns Deste modo os protocolos respondidos dizem respeito sobretudo a populaccedilatildeo em idade ativa
5
e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma
estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado
expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778
n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das
novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A
presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos
e 528 (n = 266) refere ter filhos
Impacto Individual
No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua
vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de
0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as
participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)
Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os
participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa
de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se
destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-
19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo
sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito
preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram
mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)
profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)
Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as
mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg
Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a
niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes
assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada
afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6
[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise
implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute
esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo
eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que
poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)
6
Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas
participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar
algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo
pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se
sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)
Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item
Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores
ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =
293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-
quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento
social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse
aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo
total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser
consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os
periacuteodos
Meacuted
ia
Imp
acto em
ocion
al
Co
mp
reend
e a situaccedilatildeo
Preo
cup
accedilatildeo com a p
and
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Aju
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os tratam
ento
s existentes
Co
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lo da situ
accedilatildeo
Du
raccedilatildeo da p
and
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Afetar a vid
a
7
Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21
Percentagens antes do isolamento
social
Percentagens durante o isolamento
social
Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo
(Severidade sintomas)
Normal 775 408 624 736 413 621
Leve 166 354 251 149 305 236
Moderada 4 179 111 104 209 122
Severa 06 43 13 11 59 15
Extrem severa 0 14 02 0 14 05
Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo
As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de
sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os
participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena
Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o
isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma
mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel
considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)
Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de
uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19
manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de
ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente
pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)
Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os
resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente
inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm
filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator
protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto
e meacutedio prazo)
8
Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a
sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees
Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma
estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do
que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que
osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais
tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o
teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar
resultados relacionados com esta variaacutevel
Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar
mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos
que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores
meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos
participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em
itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas
119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar
mental
Impacto Relacional
Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem
variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)
se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia
para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende
a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento
(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender
melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a
amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo
conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo
entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores
niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que
o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre
1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos
9
a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
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10
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adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395
1054-1062
11
4
Deste modo este relatoacuterio visa apresentar alguns dados preliminares recolhidos atraveacutes de um
protocolo online durante o periacuteodo em que foi decretado estado de emergecircncia em Portugal (18 de marccedilo a
3 de maio) O presente estudo foi submetido agrave apreciaccedilatildeo de diversos conselhoscomissotildees de eacutetica
(Institutional Review Board Universidade do Estado do Arizona e Comissatildeo de Eacutetica da Faculdade de Psicologia
e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Coimbra [FPCE-UC]) tendo sido registado no dia 4 de abril na
plataforma Science4COVID da FCT (neste sentido foi tambeacutem apreciado pela Comissatildeo de Validaccedilatildeo Teacutecnica
e Cientiacutefica de ideias accedilotildees e publicaccedilotildees) Foi tambeacutem apreciado e validado pela Ordem dos Psicoacutelogos
Portugueses (OPP) atraveacutes da iniciativa ldquoVia Verde de apoio OPP para a Investigaccedilatildeo Cientiacutefica em Sauacutede
Psicoloacutegica e Mudanccedila Comportamentalrdquo A divulgaccedilatildeo do estudo foi feita atraveacutes de paacuteginas institucionais
(eg CES-UC FPCE-UC Universidade da Madeira [UMa] OPP) e de redes sociais
Para efeitos deste relatoacuterio os participantes seratildeo caracterizados com base em algumas variaacuteveis
sociodemograacuteficas (eg sexo idade ter ou natildeo filhos estar ou natildeo em teletrabalho) e seratildeo analisadas as
respostas obtidas atraveacutes de quatro instrumentos utilizados no protocolo online nomeadamente
Questionaacuterio Breve da Perceccedilatildeo sobre o COVID-19 (BIPQ Broadbent Petrie Main amp Wieman 2006) Escala
de Depressatildeo Ansiedade e Stresse -21 (DASS-21 Lovibond amp Lovibond 1995) Inventaacuterio da Perceccedilatildeo dos
Componentes da Qualidade Relacional ndash Versatildeo Reduzida (PRQC Fletcher Simpson amp Thomas 2000) e Escala
de Bem Estar Mental de Warwick-Edinburgh (WEMWBS Tennant et al 2007) Todos estes instrumentos tecircm
versotildees portuguesas que foram cedidas agrave equipa pelos autores originais eou pelos autores das versotildees
traduzidas Em primeiro lugar seratildeo apresentados alguns resultados centrados no indiviacuteduo e depois
apresentar-se-atildeo resultados focados na perceccedilatildeo da satisfaccedilatildeo conjugal
Resultados Preliminares
Participantes
Os resultados aqui apresentados decorrem da anaacutelise de 504 protocolos preenchidos online por
participantes que vivem em Portugal estatildeo numa relaccedilatildeo conjugal haacute pelo menos um ano e coabitam com
oa cocircnjuge Destes participantes 817 (n = 412) satildeo mulheres e 181 (n = 91) homens O facto de existirem
mais mulheres do que homens a participar no estudo corresponde a uma tendecircncia comum em recolhas de
dados deste geacutenero (eg Curtin Presser amp Singer 2000 Moore amp Tarnai 2002) podendo este facto dever-se
ao facto de as mulheres preferirem habitualmente estrateacutegias de enfrentamento ao stresse mais focadas nas
emoccedilotildees (Tamres Janicki amp Helgeson 2002) valorizando mais dimensotildees psicoloacutegicas do que os homens
(Liddon Kingerlee amp Barry 2018) No que diz respeito agrave idade dos participantes verifica-se uma meacutedia de
3767 anos (DP = 957) sendo as faixas etaacuterias 30-39 anos (363 n = 183) e 40-49 anos (276 n = 139) as
mais comuns Deste modo os protocolos respondidos dizem respeito sobretudo a populaccedilatildeo em idade ativa
5
e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma
estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado
expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778
n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das
novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A
presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos
e 528 (n = 266) refere ter filhos
Impacto Individual
No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua
vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de
0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as
participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)
Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os
participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa
de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se
destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-
19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo
sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito
preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram
mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)
profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)
Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as
mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg
Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a
niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes
assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada
afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6
[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise
implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute
esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo
eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que
poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)
6
Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas
participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar
algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo
pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se
sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)
Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item
Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores
ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =
293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-
quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento
social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse
aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo
total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser
consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os
periacuteodos
Meacuted
ia
Imp
acto em
ocion
al
Co
mp
reend
e a situaccedilatildeo
Preo
cup
accedilatildeo com a p
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ento
s existentes
Co
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accedilatildeo
Du
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and
emia
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a
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Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21
Percentagens antes do isolamento
social
Percentagens durante o isolamento
social
Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo
(Severidade sintomas)
Normal 775 408 624 736 413 621
Leve 166 354 251 149 305 236
Moderada 4 179 111 104 209 122
Severa 06 43 13 11 59 15
Extrem severa 0 14 02 0 14 05
Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo
As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de
sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os
participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena
Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o
isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma
mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel
considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)
Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de
uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19
manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de
ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente
pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)
Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os
resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente
inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm
filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator
protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto
e meacutedio prazo)
8
Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a
sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees
Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma
estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do
que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que
osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais
tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o
teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar
resultados relacionados com esta variaacutevel
Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar
mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos
que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores
meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos
participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em
itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas
119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar
mental
Impacto Relacional
Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem
variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)
se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia
para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende
a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento
(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender
melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a
amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo
conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo
entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores
niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que
o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre
1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos
9
a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal
of Psychosomatic Research 60 631-637
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10
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adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395
1054-1062
11
5
e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma
estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado
expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778
n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das
novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A
presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos
e 528 (n = 266) refere ter filhos
Impacto Individual
No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua
vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de
0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as
participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)
Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os
participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa
de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se
destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-
19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo
sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito
preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram
mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)
profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)
Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as
mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg
Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a
niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes
assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada
afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6
[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise
implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute
esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo
eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que
poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)
6
Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas
participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar
algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo
pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se
sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)
Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item
Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores
ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =
293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-
quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento
social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse
aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo
total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser
consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os
periacuteodos
Meacuted
ia
Imp
acto em
ocion
al
Co
mp
reend
e a situaccedilatildeo
Preo
cup
accedilatildeo com a p
and
emia
Aju
da d
os tratam
ento
s existentes
Co
ntro
lo da situ
accedilatildeo
Du
raccedilatildeo da p
and
emia
Afetar a vid
a
7
Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21
Percentagens antes do isolamento
social
Percentagens durante o isolamento
social
Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo
(Severidade sintomas)
Normal 775 408 624 736 413 621
Leve 166 354 251 149 305 236
Moderada 4 179 111 104 209 122
Severa 06 43 13 11 59 15
Extrem severa 0 14 02 0 14 05
Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo
As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de
sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os
participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena
Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o
isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma
mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel
considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)
Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de
uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19
manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de
ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente
pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)
Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os
resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente
inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm
filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator
protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto
e meacutedio prazo)
8
Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a
sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees
Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma
estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do
que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que
osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais
tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o
teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar
resultados relacionados com esta variaacutevel
Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar
mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos
que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores
meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos
participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em
itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas
119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar
mental
Impacto Relacional
Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem
variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)
se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia
para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende
a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento
(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender
melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a
amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo
conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo
entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores
niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que
o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre
1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos
9
a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
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4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128
10
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340-354
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Liddon L Kingerlee R amp Barry J A (2018) Gender differences in preferences for psychological treatment
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and Social Perspectives (5th Ed) Boston Pearson
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Tamres L K Janicki D amp Helgeson V S (2002) Sex differences in coping behavior A metaanalytic review
and an examination of relative coping Personality and Social Psychology Review 6(1) 2ndash30
httpsdoiorg101207S15327957PSPR0601_1
Tennant R Hiller L Fishwick R Platt S Joseph S Weich S Parkinson J Secker J amp Stewart-Brown S
(2007) The Warwick-Edinburgh Mental Well-being Scale (WEMWBS) Development and UK
validation Health and Quality of Life Outcomes 5(63) httpsdoiorg1011861477-7525-5-63
Zhou F Yu T Du R Fan G Liu Y Liu Z Xiang J Wang Y Song B Gu X Guan L Wei Y Li H Wu
X Xu J Tu S Zhang Y Chen H amp Cao B (2020) Clinical course and risk factors for mortality of
adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395
1054-1062
11
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Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas
participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar
algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo
pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se
sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)
Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item
Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores
ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =
293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-
quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento
social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse
aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo
total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser
consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os
periacuteodos
Meacuted
ia
Imp
acto em
ocion
al
Co
mp
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e a situaccedilatildeo
Preo
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accedilatildeo com a p
and
emia
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os tratam
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s existentes
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accedilatildeo
Du
raccedilatildeo da p
and
emia
Afetar a vid
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Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21
Percentagens antes do isolamento
social
Percentagens durante o isolamento
social
Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo
(Severidade sintomas)
Normal 775 408 624 736 413 621
Leve 166 354 251 149 305 236
Moderada 4 179 111 104 209 122
Severa 06 43 13 11 59 15
Extrem severa 0 14 02 0 14 05
Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo
As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de
sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os
participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena
Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o
isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma
mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel
considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)
Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de
uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19
manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de
ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente
pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)
Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os
resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente
inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm
filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator
protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto
e meacutedio prazo)
8
Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a
sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees
Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma
estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do
que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que
osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais
tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o
teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar
resultados relacionados com esta variaacutevel
Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar
mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos
que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores
meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos
participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em
itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas
119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar
mental
Impacto Relacional
Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem
variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)
se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia
para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende
a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento
(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender
melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a
amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo
conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo
entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores
niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que
o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre
1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos
9
a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal
of Psychosomatic Research 60 631-637
Brooks S K WebsterR K Smith L E Woodland L Wessely S Greenberg N amp Rubin J R (2020) The
psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet
395(10227) 912-920
4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128
10
Cutrona C Bodenmann G Randall A Claveacutel F amp Johnson M (2018) Stress Dyadic Coping and Social
Support In A Vangelisti amp D Perlman (Eds) The Cambridge Handbook of Personal Relationships
(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press
Curtin R Presser S amp Singer E (2000) The effects of response rate changes on the index of consumer
sentiment Public Opinion Quarterly 64 413ndash428
Fletcher G J Simpson J A amp Thomas G (2000) The measurement of perceived relationship quality
components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26
340-354
Kalenkoski C M amp Foster G (2008) The quality of time spent with children in Australian households
Review of Economics of the Household 6(3) 243ndash266 httpsdoi101007s11150-008-9036-3
Liddon L Kingerlee R amp Barry J A (2018) Gender differences in preferences for psychological treatment
coping strategies and triggers to help-seeking British Journal of Clinical Psychology 57 42ndash58
Lovibond S H amp Lovibond P F (1995) Manual for the depression anxiety stress scales Sydney Psychology
Foundation
McCubbin H I amp Patterson J M (1983) The Family Stress Process The double ABCX model of adjustment
and adaptation Marriage amp Family Review 6(1-2) 7-37
McGoldrick M Preto N A G amp Carter B A (2016) Expanding Family Life Cycle The Individual Family
and Social Perspectives (5th Ed) Boston Pearson
Moore D L amp Tarnai J (2002) Evaluating nonresponse error in mail surveys In Groves R M Dillman D
A Eltinge J L and Little R J A (eds) Survey Nonresponse (pp 197ndash211) New York John Wiley amp
Sons
Randall A K amp Bodenmann G (2009) The role of stress on close relationships and marital satisfaction
Clinical Psychology Review 29(2) 105-115
Tamres L K Janicki D amp Helgeson V S (2002) Sex differences in coping behavior A metaanalytic review
and an examination of relative coping Personality and Social Psychology Review 6(1) 2ndash30
httpsdoiorg101207S15327957PSPR0601_1
Tennant R Hiller L Fishwick R Platt S Joseph S Weich S Parkinson J Secker J amp Stewart-Brown S
(2007) The Warwick-Edinburgh Mental Well-being Scale (WEMWBS) Development and UK
validation Health and Quality of Life Outcomes 5(63) httpsdoiorg1011861477-7525-5-63
Zhou F Yu T Du R Fan G Liu Y Liu Z Xiang J Wang Y Song B Gu X Guan L Wei Y Li H Wu
X Xu J Tu S Zhang Y Chen H amp Cao B (2020) Clinical course and risk factors for mortality of
adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395
1054-1062
11
7
Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21
Percentagens antes do isolamento
social
Percentagens durante o isolamento
social
Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo
(Severidade sintomas)
Normal 775 408 624 736 413 621
Leve 166 354 251 149 305 236
Moderada 4 179 111 104 209 122
Severa 06 43 13 11 59 15
Extrem severa 0 14 02 0 14 05
Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo
As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de
sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os
participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena
Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o
isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma
mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel
considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)
Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de
uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19
manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de
ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente
pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)
Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os
resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente
inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm
filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator
protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto
e meacutedio prazo)
8
Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a
sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees
Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma
estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do
que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que
osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais
tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o
teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar
resultados relacionados com esta variaacutevel
Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar
mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos
que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores
meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos
participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em
itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas
119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar
mental
Impacto Relacional
Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem
variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)
se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia
para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende
a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento
(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender
melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a
amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo
conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo
entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores
niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que
o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre
1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos
9
a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal
of Psychosomatic Research 60 631-637
Brooks S K WebsterR K Smith L E Woodland L Wessely S Greenberg N amp Rubin J R (2020) The
psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet
395(10227) 912-920
4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128
10
Cutrona C Bodenmann G Randall A Claveacutel F amp Johnson M (2018) Stress Dyadic Coping and Social
Support In A Vangelisti amp D Perlman (Eds) The Cambridge Handbook of Personal Relationships
(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press
Curtin R Presser S amp Singer E (2000) The effects of response rate changes on the index of consumer
sentiment Public Opinion Quarterly 64 413ndash428
Fletcher G J Simpson J A amp Thomas G (2000) The measurement of perceived relationship quality
components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26
340-354
Kalenkoski C M amp Foster G (2008) The quality of time spent with children in Australian households
Review of Economics of the Household 6(3) 243ndash266 httpsdoi101007s11150-008-9036-3
Liddon L Kingerlee R amp Barry J A (2018) Gender differences in preferences for psychological treatment
coping strategies and triggers to help-seeking British Journal of Clinical Psychology 57 42ndash58
Lovibond S H amp Lovibond P F (1995) Manual for the depression anxiety stress scales Sydney Psychology
Foundation
McCubbin H I amp Patterson J M (1983) The Family Stress Process The double ABCX model of adjustment
and adaptation Marriage amp Family Review 6(1-2) 7-37
McGoldrick M Preto N A G amp Carter B A (2016) Expanding Family Life Cycle The Individual Family
and Social Perspectives (5th Ed) Boston Pearson
Moore D L amp Tarnai J (2002) Evaluating nonresponse error in mail surveys In Groves R M Dillman D
A Eltinge J L and Little R J A (eds) Survey Nonresponse (pp 197ndash211) New York John Wiley amp
Sons
Randall A K amp Bodenmann G (2009) The role of stress on close relationships and marital satisfaction
Clinical Psychology Review 29(2) 105-115
Tamres L K Janicki D amp Helgeson V S (2002) Sex differences in coping behavior A metaanalytic review
and an examination of relative coping Personality and Social Psychology Review 6(1) 2ndash30
httpsdoiorg101207S15327957PSPR0601_1
Tennant R Hiller L Fishwick R Platt S Joseph S Weich S Parkinson J Secker J amp Stewart-Brown S
(2007) The Warwick-Edinburgh Mental Well-being Scale (WEMWBS) Development and UK
validation Health and Quality of Life Outcomes 5(63) httpsdoiorg1011861477-7525-5-63
Zhou F Yu T Du R Fan G Liu Y Liu Z Xiang J Wang Y Song B Gu X Guan L Wei Y Li H Wu
X Xu J Tu S Zhang Y Chen H amp Cao B (2020) Clinical course and risk factors for mortality of
adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395
1054-1062
11
8
Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a
sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees
Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma
estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do
que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que
osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais
tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o
teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar
resultados relacionados com esta variaacutevel
Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar
mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos
que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores
meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos
participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em
itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas
119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar
mental
Impacto Relacional
Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem
variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)
se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia
para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende
a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento
(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender
melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a
amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo
conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo
entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores
niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que
o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre
1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos
9
a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal
of Psychosomatic Research 60 631-637
Brooks S K WebsterR K Smith L E Woodland L Wessely S Greenberg N amp Rubin J R (2020) The
psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet
395(10227) 912-920
4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128
10
Cutrona C Bodenmann G Randall A Claveacutel F amp Johnson M (2018) Stress Dyadic Coping and Social
Support In A Vangelisti amp D Perlman (Eds) The Cambridge Handbook of Personal Relationships
(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press
Curtin R Presser S amp Singer E (2000) The effects of response rate changes on the index of consumer
sentiment Public Opinion Quarterly 64 413ndash428
Fletcher G J Simpson J A amp Thomas G (2000) The measurement of perceived relationship quality
components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26
340-354
Kalenkoski C M amp Foster G (2008) The quality of time spent with children in Australian households
Review of Economics of the Household 6(3) 243ndash266 httpsdoi101007s11150-008-9036-3
Liddon L Kingerlee R amp Barry J A (2018) Gender differences in preferences for psychological treatment
coping strategies and triggers to help-seeking British Journal of Clinical Psychology 57 42ndash58
Lovibond S H amp Lovibond P F (1995) Manual for the depression anxiety stress scales Sydney Psychology
Foundation
McCubbin H I amp Patterson J M (1983) The Family Stress Process The double ABCX model of adjustment
and adaptation Marriage amp Family Review 6(1-2) 7-37
McGoldrick M Preto N A G amp Carter B A (2016) Expanding Family Life Cycle The Individual Family
and Social Perspectives (5th Ed) Boston Pearson
Moore D L amp Tarnai J (2002) Evaluating nonresponse error in mail surveys In Groves R M Dillman D
A Eltinge J L and Little R J A (eds) Survey Nonresponse (pp 197ndash211) New York John Wiley amp
Sons
Randall A K amp Bodenmann G (2009) The role of stress on close relationships and marital satisfaction
Clinical Psychology Review 29(2) 105-115
Tamres L K Janicki D amp Helgeson V S (2002) Sex differences in coping behavior A metaanalytic review
and an examination of relative coping Personality and Social Psychology Review 6(1) 2ndash30
httpsdoiorg101207S15327957PSPR0601_1
Tennant R Hiller L Fishwick R Platt S Joseph S Weich S Parkinson J Secker J amp Stewart-Brown S
(2007) The Warwick-Edinburgh Mental Well-being Scale (WEMWBS) Development and UK
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a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se
o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte
com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo
COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar
individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode
hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais
satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista
(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)
Conclusotildees
Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados
recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da
conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas
pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e
estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado
e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises
estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias
apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com
anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse
fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo
longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas
diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais
em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19
Lista Bibliograacutefica
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