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Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da COVID-19 em Portugal Ana Paula Relvas Alda Portugal Sofia Major Luciana Sotero Maio 2020

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Page 1: Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da ......apresentar-se-ão resultados focados na perceção da satisfação conjugal. Resultados Preliminares Participantes Os resultados

Resultados Preliminares sobre Impacto

Psicossocial da COVID-19 em Portugal

Ana Paula Relvas

Alda Portugal

Sofia Major

Luciana Sotero

Maio 2020

2

Iacutendice

Enquadramento 3

Resultados Preliminares 4

Participantes 4

Impacto Individual 5

Impacto Relacional 8

Conclusotildees 9

Lista Bibliograacutefica 9

3

Enquadramento

O mundo enfrenta a maior pandemia do seacuteculo XXI a COVID-19 Em dezembro de 2019 registou-se o

primeiro caso em Wuhan China (Zhou 2020) que rapidamente evoluiu e levou a Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) a declarar pandemia global no dia 11 de marccedilo de 2020 Em Portugal o Estado de Emergecircncia

foi decretado a 18 de marccedilo de 2020 (DL n14-A2020) tendo sido renovado por duas vezes (3 e 17 de Abril

DL n17-A2020 e n20-A2020) Estes decretos-lei assentaram num conjunto de medidas relacionadas entre

outras com a restriccedilatildeo agrave circulaccedilatildeo da populaccedilatildeo e com o encerramento do sistema de ensino e de muitas

atividades econoacutemicas O confinamento agrave habitaccedilatildeo e consequente isolamento social tornou-se assim uma

realidade presente na vida dos portugueses tendo impactos a vaacuterios niacuteveis nomeadamente indiferenciaccedilatildeo

entre o local de lazer e o local de trabalho (teletrabalho quando possiacutevel) maior assistecircncia aos filhos no

meacutetodo de ensino agrave distacircncia reduccedilatildeo dos contactos com a famiacutelia alargada e redes sociais lazer familiar de

caraacutecter indoor e dificuldade de planeamento a curtomeacutedio prazo O confinamento agrave habitaccedilatildeo aliado ao

distanciamento social traduziu-se assim numa situaccedilatildeo geradora de grande stresse (Brooks 2020)

Sendo esta uma janela de oportunidade para a ciecircncia um conjunto de mais de 40 universidades de

todo o mundo (Investigadora Responsaacutevel Ashley Randall ndash Universidade do Estado do Arizona) uniu-se para

levar a cabo um estudo transcultural sobre o impacto da COVID-19 no bem-estar de indiviacuteduos e nas suas

relaccedilotildees amorosas Pretende-se obter informaccedilatildeo sobre o funcionamento individual (stresse ansiedade

depressatildeo e bem-estar mental) e o funcionamento conjugal (estrateacutegias de enfrentamento diaacutedico agrave

pandemia qualidade da relaccedilatildeo) de modo a contribuir para planificar estrateacutegias de intervenccedilatildeo futuras que

sejam adequadas agrave gestatildeo da relaccedilatildeo conjugal em periacuteodos de crise generalizada Este trabalho tem particular

relevacircncia se se considerar que o casal eacute a unidade familiar por excelecircncia Sabe-se que um funcionamento

conjugal menos adequado tem influecircncia no indiviacuteduo e nas restantes relaccedilotildees familiares (Cutrona

Bodenmann Randall Claveacutel amp Johnson 2018 McGoldrick Preto amp Carter 2016) bem como na sauacutede mental

de todos os membros da famiacutelia (Randall amp Bodenmann 2009)

Eacute relevante fazer o levantamento destes dados durante a crise pandeacutemica de forma a obter um

retrato do impacto individual e conjugal mas mais importante eacute a possibilidade de recolher informaccedilatildeo em

vaacuterios momentos ao longo do tempo Assim seraacute possiacutevel obter uma compreensatildeo mais fiel das flutuaccedilotildees

desses impactos ao niacutevel do bem-estar individual e conjugal que se associam agrave proacutepria evoluccedilatildeo da COVID-

19 Desta forma a equipa responsaacutevel pelo projeto internacional em Portugal (Investigadora Responsaacutevel

Ana Paula Relvas ndash Universidade de Coimbra) desenhou um estudo longitudinal com o objetivo de recolher

informaccedilatildeo em vaacuterios momentos que marcam a adaptaccedilatildeo social agrave evoluccedilatildeo da doenccedila COVID-19 (pex

durante a declaraccedilatildeo de estado de emergecircncia e aquando do levantamento das restriccedilotildees)

4

Deste modo este relatoacuterio visa apresentar alguns dados preliminares recolhidos atraveacutes de um

protocolo online durante o periacuteodo em que foi decretado estado de emergecircncia em Portugal (18 de marccedilo a

3 de maio) O presente estudo foi submetido agrave apreciaccedilatildeo de diversos conselhoscomissotildees de eacutetica

(Institutional Review Board Universidade do Estado do Arizona e Comissatildeo de Eacutetica da Faculdade de Psicologia

e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Coimbra [FPCE-UC]) tendo sido registado no dia 4 de abril na

plataforma Science4COVID da FCT (neste sentido foi tambeacutem apreciado pela Comissatildeo de Validaccedilatildeo Teacutecnica

e Cientiacutefica de ideias accedilotildees e publicaccedilotildees) Foi tambeacutem apreciado e validado pela Ordem dos Psicoacutelogos

Portugueses (OPP) atraveacutes da iniciativa ldquoVia Verde de apoio OPP para a Investigaccedilatildeo Cientiacutefica em Sauacutede

Psicoloacutegica e Mudanccedila Comportamentalrdquo A divulgaccedilatildeo do estudo foi feita atraveacutes de paacuteginas institucionais

(eg CES-UC FPCE-UC Universidade da Madeira [UMa] OPP) e de redes sociais

Para efeitos deste relatoacuterio os participantes seratildeo caracterizados com base em algumas variaacuteveis

sociodemograacuteficas (eg sexo idade ter ou natildeo filhos estar ou natildeo em teletrabalho) e seratildeo analisadas as

respostas obtidas atraveacutes de quatro instrumentos utilizados no protocolo online nomeadamente

Questionaacuterio Breve da Perceccedilatildeo sobre o COVID-19 (BIPQ Broadbent Petrie Main amp Wieman 2006) Escala

de Depressatildeo Ansiedade e Stresse -21 (DASS-21 Lovibond amp Lovibond 1995) Inventaacuterio da Perceccedilatildeo dos

Componentes da Qualidade Relacional ndash Versatildeo Reduzida (PRQC Fletcher Simpson amp Thomas 2000) e Escala

de Bem Estar Mental de Warwick-Edinburgh (WEMWBS Tennant et al 2007) Todos estes instrumentos tecircm

versotildees portuguesas que foram cedidas agrave equipa pelos autores originais eou pelos autores das versotildees

traduzidas Em primeiro lugar seratildeo apresentados alguns resultados centrados no indiviacuteduo e depois

apresentar-se-atildeo resultados focados na perceccedilatildeo da satisfaccedilatildeo conjugal

Resultados Preliminares

Participantes

Os resultados aqui apresentados decorrem da anaacutelise de 504 protocolos preenchidos online por

participantes que vivem em Portugal estatildeo numa relaccedilatildeo conjugal haacute pelo menos um ano e coabitam com

oa cocircnjuge Destes participantes 817 (n = 412) satildeo mulheres e 181 (n = 91) homens O facto de existirem

mais mulheres do que homens a participar no estudo corresponde a uma tendecircncia comum em recolhas de

dados deste geacutenero (eg Curtin Presser amp Singer 2000 Moore amp Tarnai 2002) podendo este facto dever-se

ao facto de as mulheres preferirem habitualmente estrateacutegias de enfrentamento ao stresse mais focadas nas

emoccedilotildees (Tamres Janicki amp Helgeson 2002) valorizando mais dimensotildees psicoloacutegicas do que os homens

(Liddon Kingerlee amp Barry 2018) No que diz respeito agrave idade dos participantes verifica-se uma meacutedia de

3767 anos (DP = 957) sendo as faixas etaacuterias 30-39 anos (363 n = 183) e 40-49 anos (276 n = 139) as

mais comuns Deste modo os protocolos respondidos dizem respeito sobretudo a populaccedilatildeo em idade ativa

5

e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma

estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado

expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778

n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das

novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A

presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos

e 528 (n = 266) refere ter filhos

Impacto Individual

No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua

vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de

0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as

participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)

Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os

participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa

de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se

destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-

19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo

sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito

preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram

mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)

profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)

Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as

mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg

Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a

niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes

assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada

afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6

[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise

implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute

esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo

eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que

poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)

6

Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas

participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar

algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo

pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se

sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)

Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item

Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores

ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =

293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-

quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento

social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse

aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo

total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser

consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os

periacuteodos

Meacuted

ia

Imp

acto em

ocion

al

Co

mp

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e a situaccedilatildeo

Preo

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accedilatildeo com a p

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Afetar a vid

a

7

Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21

Percentagens antes do isolamento

social

Percentagens durante o isolamento

social

Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo

(Severidade sintomas)

Normal 775 408 624 736 413 621

Leve 166 354 251 149 305 236

Moderada 4 179 111 104 209 122

Severa 06 43 13 11 59 15

Extrem severa 0 14 02 0 14 05

Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo

As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de

sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os

participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena

Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o

isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma

mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel

considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)

Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de

uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19

manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de

ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente

pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)

Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os

resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente

inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm

filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator

protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto

e meacutedio prazo)

8

Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a

sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees

Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma

estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do

que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que

osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais

tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o

teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar

resultados relacionados com esta variaacutevel

Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar

mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos

que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores

meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos

participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em

itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas

119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar

mental

Impacto Relacional

Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem

variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)

se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia

para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende

a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento

(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender

melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a

amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo

conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo

entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores

niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que

o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre

1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos

9

a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

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psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet

395(10227) 912-920

4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128

10

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(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press

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Iacutendice

Enquadramento 3

Resultados Preliminares 4

Participantes 4

Impacto Individual 5

Impacto Relacional 8

Conclusotildees 9

Lista Bibliograacutefica 9

3

Enquadramento

O mundo enfrenta a maior pandemia do seacuteculo XXI a COVID-19 Em dezembro de 2019 registou-se o

primeiro caso em Wuhan China (Zhou 2020) que rapidamente evoluiu e levou a Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) a declarar pandemia global no dia 11 de marccedilo de 2020 Em Portugal o Estado de Emergecircncia

foi decretado a 18 de marccedilo de 2020 (DL n14-A2020) tendo sido renovado por duas vezes (3 e 17 de Abril

DL n17-A2020 e n20-A2020) Estes decretos-lei assentaram num conjunto de medidas relacionadas entre

outras com a restriccedilatildeo agrave circulaccedilatildeo da populaccedilatildeo e com o encerramento do sistema de ensino e de muitas

atividades econoacutemicas O confinamento agrave habitaccedilatildeo e consequente isolamento social tornou-se assim uma

realidade presente na vida dos portugueses tendo impactos a vaacuterios niacuteveis nomeadamente indiferenciaccedilatildeo

entre o local de lazer e o local de trabalho (teletrabalho quando possiacutevel) maior assistecircncia aos filhos no

meacutetodo de ensino agrave distacircncia reduccedilatildeo dos contactos com a famiacutelia alargada e redes sociais lazer familiar de

caraacutecter indoor e dificuldade de planeamento a curtomeacutedio prazo O confinamento agrave habitaccedilatildeo aliado ao

distanciamento social traduziu-se assim numa situaccedilatildeo geradora de grande stresse (Brooks 2020)

Sendo esta uma janela de oportunidade para a ciecircncia um conjunto de mais de 40 universidades de

todo o mundo (Investigadora Responsaacutevel Ashley Randall ndash Universidade do Estado do Arizona) uniu-se para

levar a cabo um estudo transcultural sobre o impacto da COVID-19 no bem-estar de indiviacuteduos e nas suas

relaccedilotildees amorosas Pretende-se obter informaccedilatildeo sobre o funcionamento individual (stresse ansiedade

depressatildeo e bem-estar mental) e o funcionamento conjugal (estrateacutegias de enfrentamento diaacutedico agrave

pandemia qualidade da relaccedilatildeo) de modo a contribuir para planificar estrateacutegias de intervenccedilatildeo futuras que

sejam adequadas agrave gestatildeo da relaccedilatildeo conjugal em periacuteodos de crise generalizada Este trabalho tem particular

relevacircncia se se considerar que o casal eacute a unidade familiar por excelecircncia Sabe-se que um funcionamento

conjugal menos adequado tem influecircncia no indiviacuteduo e nas restantes relaccedilotildees familiares (Cutrona

Bodenmann Randall Claveacutel amp Johnson 2018 McGoldrick Preto amp Carter 2016) bem como na sauacutede mental

de todos os membros da famiacutelia (Randall amp Bodenmann 2009)

Eacute relevante fazer o levantamento destes dados durante a crise pandeacutemica de forma a obter um

retrato do impacto individual e conjugal mas mais importante eacute a possibilidade de recolher informaccedilatildeo em

vaacuterios momentos ao longo do tempo Assim seraacute possiacutevel obter uma compreensatildeo mais fiel das flutuaccedilotildees

desses impactos ao niacutevel do bem-estar individual e conjugal que se associam agrave proacutepria evoluccedilatildeo da COVID-

19 Desta forma a equipa responsaacutevel pelo projeto internacional em Portugal (Investigadora Responsaacutevel

Ana Paula Relvas ndash Universidade de Coimbra) desenhou um estudo longitudinal com o objetivo de recolher

informaccedilatildeo em vaacuterios momentos que marcam a adaptaccedilatildeo social agrave evoluccedilatildeo da doenccedila COVID-19 (pex

durante a declaraccedilatildeo de estado de emergecircncia e aquando do levantamento das restriccedilotildees)

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Deste modo este relatoacuterio visa apresentar alguns dados preliminares recolhidos atraveacutes de um

protocolo online durante o periacuteodo em que foi decretado estado de emergecircncia em Portugal (18 de marccedilo a

3 de maio) O presente estudo foi submetido agrave apreciaccedilatildeo de diversos conselhoscomissotildees de eacutetica

(Institutional Review Board Universidade do Estado do Arizona e Comissatildeo de Eacutetica da Faculdade de Psicologia

e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Coimbra [FPCE-UC]) tendo sido registado no dia 4 de abril na

plataforma Science4COVID da FCT (neste sentido foi tambeacutem apreciado pela Comissatildeo de Validaccedilatildeo Teacutecnica

e Cientiacutefica de ideias accedilotildees e publicaccedilotildees) Foi tambeacutem apreciado e validado pela Ordem dos Psicoacutelogos

Portugueses (OPP) atraveacutes da iniciativa ldquoVia Verde de apoio OPP para a Investigaccedilatildeo Cientiacutefica em Sauacutede

Psicoloacutegica e Mudanccedila Comportamentalrdquo A divulgaccedilatildeo do estudo foi feita atraveacutes de paacuteginas institucionais

(eg CES-UC FPCE-UC Universidade da Madeira [UMa] OPP) e de redes sociais

Para efeitos deste relatoacuterio os participantes seratildeo caracterizados com base em algumas variaacuteveis

sociodemograacuteficas (eg sexo idade ter ou natildeo filhos estar ou natildeo em teletrabalho) e seratildeo analisadas as

respostas obtidas atraveacutes de quatro instrumentos utilizados no protocolo online nomeadamente

Questionaacuterio Breve da Perceccedilatildeo sobre o COVID-19 (BIPQ Broadbent Petrie Main amp Wieman 2006) Escala

de Depressatildeo Ansiedade e Stresse -21 (DASS-21 Lovibond amp Lovibond 1995) Inventaacuterio da Perceccedilatildeo dos

Componentes da Qualidade Relacional ndash Versatildeo Reduzida (PRQC Fletcher Simpson amp Thomas 2000) e Escala

de Bem Estar Mental de Warwick-Edinburgh (WEMWBS Tennant et al 2007) Todos estes instrumentos tecircm

versotildees portuguesas que foram cedidas agrave equipa pelos autores originais eou pelos autores das versotildees

traduzidas Em primeiro lugar seratildeo apresentados alguns resultados centrados no indiviacuteduo e depois

apresentar-se-atildeo resultados focados na perceccedilatildeo da satisfaccedilatildeo conjugal

Resultados Preliminares

Participantes

Os resultados aqui apresentados decorrem da anaacutelise de 504 protocolos preenchidos online por

participantes que vivem em Portugal estatildeo numa relaccedilatildeo conjugal haacute pelo menos um ano e coabitam com

oa cocircnjuge Destes participantes 817 (n = 412) satildeo mulheres e 181 (n = 91) homens O facto de existirem

mais mulheres do que homens a participar no estudo corresponde a uma tendecircncia comum em recolhas de

dados deste geacutenero (eg Curtin Presser amp Singer 2000 Moore amp Tarnai 2002) podendo este facto dever-se

ao facto de as mulheres preferirem habitualmente estrateacutegias de enfrentamento ao stresse mais focadas nas

emoccedilotildees (Tamres Janicki amp Helgeson 2002) valorizando mais dimensotildees psicoloacutegicas do que os homens

(Liddon Kingerlee amp Barry 2018) No que diz respeito agrave idade dos participantes verifica-se uma meacutedia de

3767 anos (DP = 957) sendo as faixas etaacuterias 30-39 anos (363 n = 183) e 40-49 anos (276 n = 139) as

mais comuns Deste modo os protocolos respondidos dizem respeito sobretudo a populaccedilatildeo em idade ativa

5

e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma

estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado

expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778

n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das

novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A

presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos

e 528 (n = 266) refere ter filhos

Impacto Individual

No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua

vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de

0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as

participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)

Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os

participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa

de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se

destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-

19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo

sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito

preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram

mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)

profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)

Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as

mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg

Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a

niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes

assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada

afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6

[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise

implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute

esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo

eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que

poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)

6

Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas

participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar

algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo

pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se

sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)

Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item

Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores

ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =

293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-

quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento

social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse

aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo

total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser

consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os

periacuteodos

Meacuted

ia

Imp

acto em

ocion

al

Co

mp

reend

e a situaccedilatildeo

Preo

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accedilatildeo com a p

and

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raccedilatildeo da p

and

emia

Afetar a vid

a

7

Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21

Percentagens antes do isolamento

social

Percentagens durante o isolamento

social

Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo

(Severidade sintomas)

Normal 775 408 624 736 413 621

Leve 166 354 251 149 305 236

Moderada 4 179 111 104 209 122

Severa 06 43 13 11 59 15

Extrem severa 0 14 02 0 14 05

Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo

As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de

sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os

participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena

Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o

isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma

mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel

considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)

Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de

uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19

manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de

ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente

pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)

Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os

resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente

inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm

filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator

protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto

e meacutedio prazo)

8

Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a

sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees

Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma

estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do

que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que

osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais

tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o

teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar

resultados relacionados com esta variaacutevel

Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar

mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos

que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores

meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos

participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em

itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas

119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar

mental

Impacto Relacional

Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem

variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)

se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia

para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende

a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento

(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender

melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a

amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo

conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo

entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores

niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que

o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre

1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos

9

a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

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10

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adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395

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11

Page 3: Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da ......apresentar-se-ão resultados focados na perceção da satisfação conjugal. Resultados Preliminares Participantes Os resultados

3

Enquadramento

O mundo enfrenta a maior pandemia do seacuteculo XXI a COVID-19 Em dezembro de 2019 registou-se o

primeiro caso em Wuhan China (Zhou 2020) que rapidamente evoluiu e levou a Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) a declarar pandemia global no dia 11 de marccedilo de 2020 Em Portugal o Estado de Emergecircncia

foi decretado a 18 de marccedilo de 2020 (DL n14-A2020) tendo sido renovado por duas vezes (3 e 17 de Abril

DL n17-A2020 e n20-A2020) Estes decretos-lei assentaram num conjunto de medidas relacionadas entre

outras com a restriccedilatildeo agrave circulaccedilatildeo da populaccedilatildeo e com o encerramento do sistema de ensino e de muitas

atividades econoacutemicas O confinamento agrave habitaccedilatildeo e consequente isolamento social tornou-se assim uma

realidade presente na vida dos portugueses tendo impactos a vaacuterios niacuteveis nomeadamente indiferenciaccedilatildeo

entre o local de lazer e o local de trabalho (teletrabalho quando possiacutevel) maior assistecircncia aos filhos no

meacutetodo de ensino agrave distacircncia reduccedilatildeo dos contactos com a famiacutelia alargada e redes sociais lazer familiar de

caraacutecter indoor e dificuldade de planeamento a curtomeacutedio prazo O confinamento agrave habitaccedilatildeo aliado ao

distanciamento social traduziu-se assim numa situaccedilatildeo geradora de grande stresse (Brooks 2020)

Sendo esta uma janela de oportunidade para a ciecircncia um conjunto de mais de 40 universidades de

todo o mundo (Investigadora Responsaacutevel Ashley Randall ndash Universidade do Estado do Arizona) uniu-se para

levar a cabo um estudo transcultural sobre o impacto da COVID-19 no bem-estar de indiviacuteduos e nas suas

relaccedilotildees amorosas Pretende-se obter informaccedilatildeo sobre o funcionamento individual (stresse ansiedade

depressatildeo e bem-estar mental) e o funcionamento conjugal (estrateacutegias de enfrentamento diaacutedico agrave

pandemia qualidade da relaccedilatildeo) de modo a contribuir para planificar estrateacutegias de intervenccedilatildeo futuras que

sejam adequadas agrave gestatildeo da relaccedilatildeo conjugal em periacuteodos de crise generalizada Este trabalho tem particular

relevacircncia se se considerar que o casal eacute a unidade familiar por excelecircncia Sabe-se que um funcionamento

conjugal menos adequado tem influecircncia no indiviacuteduo e nas restantes relaccedilotildees familiares (Cutrona

Bodenmann Randall Claveacutel amp Johnson 2018 McGoldrick Preto amp Carter 2016) bem como na sauacutede mental

de todos os membros da famiacutelia (Randall amp Bodenmann 2009)

Eacute relevante fazer o levantamento destes dados durante a crise pandeacutemica de forma a obter um

retrato do impacto individual e conjugal mas mais importante eacute a possibilidade de recolher informaccedilatildeo em

vaacuterios momentos ao longo do tempo Assim seraacute possiacutevel obter uma compreensatildeo mais fiel das flutuaccedilotildees

desses impactos ao niacutevel do bem-estar individual e conjugal que se associam agrave proacutepria evoluccedilatildeo da COVID-

19 Desta forma a equipa responsaacutevel pelo projeto internacional em Portugal (Investigadora Responsaacutevel

Ana Paula Relvas ndash Universidade de Coimbra) desenhou um estudo longitudinal com o objetivo de recolher

informaccedilatildeo em vaacuterios momentos que marcam a adaptaccedilatildeo social agrave evoluccedilatildeo da doenccedila COVID-19 (pex

durante a declaraccedilatildeo de estado de emergecircncia e aquando do levantamento das restriccedilotildees)

4

Deste modo este relatoacuterio visa apresentar alguns dados preliminares recolhidos atraveacutes de um

protocolo online durante o periacuteodo em que foi decretado estado de emergecircncia em Portugal (18 de marccedilo a

3 de maio) O presente estudo foi submetido agrave apreciaccedilatildeo de diversos conselhoscomissotildees de eacutetica

(Institutional Review Board Universidade do Estado do Arizona e Comissatildeo de Eacutetica da Faculdade de Psicologia

e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Coimbra [FPCE-UC]) tendo sido registado no dia 4 de abril na

plataforma Science4COVID da FCT (neste sentido foi tambeacutem apreciado pela Comissatildeo de Validaccedilatildeo Teacutecnica

e Cientiacutefica de ideias accedilotildees e publicaccedilotildees) Foi tambeacutem apreciado e validado pela Ordem dos Psicoacutelogos

Portugueses (OPP) atraveacutes da iniciativa ldquoVia Verde de apoio OPP para a Investigaccedilatildeo Cientiacutefica em Sauacutede

Psicoloacutegica e Mudanccedila Comportamentalrdquo A divulgaccedilatildeo do estudo foi feita atraveacutes de paacuteginas institucionais

(eg CES-UC FPCE-UC Universidade da Madeira [UMa] OPP) e de redes sociais

Para efeitos deste relatoacuterio os participantes seratildeo caracterizados com base em algumas variaacuteveis

sociodemograacuteficas (eg sexo idade ter ou natildeo filhos estar ou natildeo em teletrabalho) e seratildeo analisadas as

respostas obtidas atraveacutes de quatro instrumentos utilizados no protocolo online nomeadamente

Questionaacuterio Breve da Perceccedilatildeo sobre o COVID-19 (BIPQ Broadbent Petrie Main amp Wieman 2006) Escala

de Depressatildeo Ansiedade e Stresse -21 (DASS-21 Lovibond amp Lovibond 1995) Inventaacuterio da Perceccedilatildeo dos

Componentes da Qualidade Relacional ndash Versatildeo Reduzida (PRQC Fletcher Simpson amp Thomas 2000) e Escala

de Bem Estar Mental de Warwick-Edinburgh (WEMWBS Tennant et al 2007) Todos estes instrumentos tecircm

versotildees portuguesas que foram cedidas agrave equipa pelos autores originais eou pelos autores das versotildees

traduzidas Em primeiro lugar seratildeo apresentados alguns resultados centrados no indiviacuteduo e depois

apresentar-se-atildeo resultados focados na perceccedilatildeo da satisfaccedilatildeo conjugal

Resultados Preliminares

Participantes

Os resultados aqui apresentados decorrem da anaacutelise de 504 protocolos preenchidos online por

participantes que vivem em Portugal estatildeo numa relaccedilatildeo conjugal haacute pelo menos um ano e coabitam com

oa cocircnjuge Destes participantes 817 (n = 412) satildeo mulheres e 181 (n = 91) homens O facto de existirem

mais mulheres do que homens a participar no estudo corresponde a uma tendecircncia comum em recolhas de

dados deste geacutenero (eg Curtin Presser amp Singer 2000 Moore amp Tarnai 2002) podendo este facto dever-se

ao facto de as mulheres preferirem habitualmente estrateacutegias de enfrentamento ao stresse mais focadas nas

emoccedilotildees (Tamres Janicki amp Helgeson 2002) valorizando mais dimensotildees psicoloacutegicas do que os homens

(Liddon Kingerlee amp Barry 2018) No que diz respeito agrave idade dos participantes verifica-se uma meacutedia de

3767 anos (DP = 957) sendo as faixas etaacuterias 30-39 anos (363 n = 183) e 40-49 anos (276 n = 139) as

mais comuns Deste modo os protocolos respondidos dizem respeito sobretudo a populaccedilatildeo em idade ativa

5

e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma

estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado

expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778

n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das

novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A

presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos

e 528 (n = 266) refere ter filhos

Impacto Individual

No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua

vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de

0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as

participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)

Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os

participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa

de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se

destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-

19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo

sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito

preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram

mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)

profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)

Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as

mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg

Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a

niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes

assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada

afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6

[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise

implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute

esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo

eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que

poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)

6

Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas

participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar

algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo

pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se

sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)

Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item

Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores

ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =

293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-

quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento

social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse

aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo

total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser

consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os

periacuteodos

Meacuted

ia

Imp

acto em

ocion

al

Co

mp

reend

e a situaccedilatildeo

Preo

cup

accedilatildeo com a p

and

emia

Aju

da d

os tratam

ento

s existentes

Co

ntro

lo da situ

accedilatildeo

Du

raccedilatildeo da p

and

emia

Afetar a vid

a

7

Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21

Percentagens antes do isolamento

social

Percentagens durante o isolamento

social

Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo

(Severidade sintomas)

Normal 775 408 624 736 413 621

Leve 166 354 251 149 305 236

Moderada 4 179 111 104 209 122

Severa 06 43 13 11 59 15

Extrem severa 0 14 02 0 14 05

Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo

As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de

sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os

participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena

Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o

isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma

mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel

considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)

Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de

uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19

manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de

ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente

pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)

Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os

resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente

inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm

filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator

protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto

e meacutedio prazo)

8

Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a

sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees

Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma

estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do

que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que

osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais

tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o

teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar

resultados relacionados com esta variaacutevel

Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar

mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos

que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores

meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos

participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em

itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas

119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar

mental

Impacto Relacional

Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem

variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)

se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia

para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende

a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento

(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender

melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a

amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo

conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo

entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores

niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que

o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre

1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos

9

a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

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psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet

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4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128

10

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(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press

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components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26

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adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395

1054-1062

11

Page 4: Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da ......apresentar-se-ão resultados focados na perceção da satisfação conjugal. Resultados Preliminares Participantes Os resultados

4

Deste modo este relatoacuterio visa apresentar alguns dados preliminares recolhidos atraveacutes de um

protocolo online durante o periacuteodo em que foi decretado estado de emergecircncia em Portugal (18 de marccedilo a

3 de maio) O presente estudo foi submetido agrave apreciaccedilatildeo de diversos conselhoscomissotildees de eacutetica

(Institutional Review Board Universidade do Estado do Arizona e Comissatildeo de Eacutetica da Faculdade de Psicologia

e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Coimbra [FPCE-UC]) tendo sido registado no dia 4 de abril na

plataforma Science4COVID da FCT (neste sentido foi tambeacutem apreciado pela Comissatildeo de Validaccedilatildeo Teacutecnica

e Cientiacutefica de ideias accedilotildees e publicaccedilotildees) Foi tambeacutem apreciado e validado pela Ordem dos Psicoacutelogos

Portugueses (OPP) atraveacutes da iniciativa ldquoVia Verde de apoio OPP para a Investigaccedilatildeo Cientiacutefica em Sauacutede

Psicoloacutegica e Mudanccedila Comportamentalrdquo A divulgaccedilatildeo do estudo foi feita atraveacutes de paacuteginas institucionais

(eg CES-UC FPCE-UC Universidade da Madeira [UMa] OPP) e de redes sociais

Para efeitos deste relatoacuterio os participantes seratildeo caracterizados com base em algumas variaacuteveis

sociodemograacuteficas (eg sexo idade ter ou natildeo filhos estar ou natildeo em teletrabalho) e seratildeo analisadas as

respostas obtidas atraveacutes de quatro instrumentos utilizados no protocolo online nomeadamente

Questionaacuterio Breve da Perceccedilatildeo sobre o COVID-19 (BIPQ Broadbent Petrie Main amp Wieman 2006) Escala

de Depressatildeo Ansiedade e Stresse -21 (DASS-21 Lovibond amp Lovibond 1995) Inventaacuterio da Perceccedilatildeo dos

Componentes da Qualidade Relacional ndash Versatildeo Reduzida (PRQC Fletcher Simpson amp Thomas 2000) e Escala

de Bem Estar Mental de Warwick-Edinburgh (WEMWBS Tennant et al 2007) Todos estes instrumentos tecircm

versotildees portuguesas que foram cedidas agrave equipa pelos autores originais eou pelos autores das versotildees

traduzidas Em primeiro lugar seratildeo apresentados alguns resultados centrados no indiviacuteduo e depois

apresentar-se-atildeo resultados focados na perceccedilatildeo da satisfaccedilatildeo conjugal

Resultados Preliminares

Participantes

Os resultados aqui apresentados decorrem da anaacutelise de 504 protocolos preenchidos online por

participantes que vivem em Portugal estatildeo numa relaccedilatildeo conjugal haacute pelo menos um ano e coabitam com

oa cocircnjuge Destes participantes 817 (n = 412) satildeo mulheres e 181 (n = 91) homens O facto de existirem

mais mulheres do que homens a participar no estudo corresponde a uma tendecircncia comum em recolhas de

dados deste geacutenero (eg Curtin Presser amp Singer 2000 Moore amp Tarnai 2002) podendo este facto dever-se

ao facto de as mulheres preferirem habitualmente estrateacutegias de enfrentamento ao stresse mais focadas nas

emoccedilotildees (Tamres Janicki amp Helgeson 2002) valorizando mais dimensotildees psicoloacutegicas do que os homens

(Liddon Kingerlee amp Barry 2018) No que diz respeito agrave idade dos participantes verifica-se uma meacutedia de

3767 anos (DP = 957) sendo as faixas etaacuterias 30-39 anos (363 n = 183) e 40-49 anos (276 n = 139) as

mais comuns Deste modo os protocolos respondidos dizem respeito sobretudo a populaccedilatildeo em idade ativa

5

e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma

estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado

expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778

n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das

novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A

presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos

e 528 (n = 266) refere ter filhos

Impacto Individual

No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua

vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de

0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as

participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)

Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os

participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa

de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se

destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-

19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo

sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito

preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram

mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)

profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)

Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as

mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg

Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a

niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes

assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada

afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6

[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise

implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute

esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo

eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que

poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)

6

Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas

participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar

algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo

pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se

sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)

Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item

Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores

ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =

293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-

quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento

social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse

aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo

total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser

consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os

periacuteodos

Meacuted

ia

Imp

acto em

ocion

al

Co

mp

reend

e a situaccedilatildeo

Preo

cup

accedilatildeo com a p

and

emia

Aju

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os tratam

ento

s existentes

Co

ntro

lo da situ

accedilatildeo

Du

raccedilatildeo da p

and

emia

Afetar a vid

a

7

Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21

Percentagens antes do isolamento

social

Percentagens durante o isolamento

social

Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo

(Severidade sintomas)

Normal 775 408 624 736 413 621

Leve 166 354 251 149 305 236

Moderada 4 179 111 104 209 122

Severa 06 43 13 11 59 15

Extrem severa 0 14 02 0 14 05

Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo

As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de

sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os

participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena

Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o

isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma

mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel

considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)

Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de

uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19

manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de

ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente

pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)

Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os

resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente

inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm

filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator

protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto

e meacutedio prazo)

8

Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a

sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees

Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma

estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do

que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que

osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais

tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o

teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar

resultados relacionados com esta variaacutevel

Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar

mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos

que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores

meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos

participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em

itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas

119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar

mental

Impacto Relacional

Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem

variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)

se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia

para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende

a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento

(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender

melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a

amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo

conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo

entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores

niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que

o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre

1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos

9

a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal

of Psychosomatic Research 60 631-637

Brooks S K WebsterR K Smith L E Woodland L Wessely S Greenberg N amp Rubin J R (2020) The

psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet

395(10227) 912-920

4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128

10

Cutrona C Bodenmann G Randall A Claveacutel F amp Johnson M (2018) Stress Dyadic Coping and Social

Support In A Vangelisti amp D Perlman (Eds) The Cambridge Handbook of Personal Relationships

(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press

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components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26

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Review of Economics of the Household 6(3) 243ndash266 httpsdoi101007s11150-008-9036-3

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Foundation

McCubbin H I amp Patterson J M (1983) The Family Stress Process The double ABCX model of adjustment

and adaptation Marriage amp Family Review 6(1-2) 7-37

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and Social Perspectives (5th Ed) Boston Pearson

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A Eltinge J L and Little R J A (eds) Survey Nonresponse (pp 197ndash211) New York John Wiley amp

Sons

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Clinical Psychology Review 29(2) 105-115

Tamres L K Janicki D amp Helgeson V S (2002) Sex differences in coping behavior A metaanalytic review

and an examination of relative coping Personality and Social Psychology Review 6(1) 2ndash30

httpsdoiorg101207S15327957PSPR0601_1

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(2007) The Warwick-Edinburgh Mental Well-being Scale (WEMWBS) Development and UK

validation Health and Quality of Life Outcomes 5(63) httpsdoiorg1011861477-7525-5-63

Zhou F Yu T Du R Fan G Liu Y Liu Z Xiang J Wang Y Song B Gu X Guan L Wei Y Li H Wu

X Xu J Tu S Zhang Y Chen H amp Cao B (2020) Clinical course and risk factors for mortality of

adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395

1054-1062

11

Page 5: Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da ......apresentar-se-ão resultados focados na perceção da satisfação conjugal. Resultados Preliminares Participantes Os resultados

5

e empregada (804 n = 405 101 estaacute desempregado e 95 satildeo estudantes) da qual 51 (n = 257) afirma

estar em teletrabalho e 155 (n = 78) continua a exercer a sua profissatildeo presencialmente Outro resultado

expectaacutevel prende-se com as habilitaccedilotildees literaacuterias verifica-se que a grande maioria dos participantes (778

n = 392) tem uma formaccedilatildeo superior podendo por isso sentir-se mais confortaacutevel no manuseamento das

novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (a partir das quais o protocolo online foi disseminado) A

presente amostra eacute equilibrada em termos da existecircncia ou natildeo de filhos 472 (n = 238) afirma natildeo ter filhos

e 528 (n = 266) refere ter filhos

Impacto Individual

No que diz respeito agrave perceccedilatildeo que os participantes tecircm sobre a forma como a COVID-19 afetou a sua

vida (analisada atraveacutes das respostas dadas a uma questatildeo do questionaacuterio BIPQ respondido numa escala de

0 a 10 em que 0 = natildeo afetou de todo e 10 = afetou severamente) destaca-se o facto de 472 dos as

participantes referirem que a COVID-19 afetou de forma elevada as suas vidas (M = 694 DP = 195)

Relativamente agrave perceccedilatildeo da duraccedilatildeo da pandemia (em que 0 = muito pouco tempo e 10 = para sempre) os

participantes consideram que a COVID-19 poderaacute ter uma resoluccedilatildeo a meacutedio prazo (isto eacute tecircm a expetativa

de uma duraccedilatildeo moderada da pandemia de COVID-19 [M = 555 DP = 158]) Um dos resultados que mais se

destaca prende-se com o facto de osas participantes manifestarem uma enorme preocupaccedilatildeo com a COVID-

19 (M = 759 DP = 210) tendo a resposta ldquoestou extremamente preocupado com a pandemia de COVID-19rdquo

sido a mais frequentemente indicada (226 da amostra apenas 8 referiram natildeo estar muito

preocupadosas) Uma anaacutelise mais detalhada revela que estes 226 de participantes que demonstraram

mais preocupaccedilatildeo com a COVID-19 satildeo mulheres (877) com idades entre os 30 e os 39 anos (395)

profissionais que desempenham as suas funccedilotildees laborais em teletrabalho (430) e que tecircm filhos (570)

Este aspeto pode associar-se de algum modo agrave definiccedilatildeo tradicional de papeacuteis de geacutenero em que as

mulheres continuam a apresentar um perfil multitasking destacando-se a funccedilatildeo de cuidadoras (eg

Kalenkoski amp Foster 2008) Quando questionados sobre ateacute que ponto a pandemia da COVID-19 os afetou a

niacutevel emocional (pex ficar zangado(a) assustado(a) perturbado(a) ou deprimido(a)) osas participantes

assinalaram opccedilotildees de resposta moderadas a elevadas (numa escala de 0 a 10 em que em que 0 = nada

afetadoa e 10 = extremamente afetadoa as respostas mais frequentes situam-se nas opccedilotildees 5 [141] 6

[169] e 7 [149]) Este resultado eacute de alguma forma expectaacutevel na medida em que os periacuteodos de crise

implicam a ativaccedilatildeo de recursos emocionais pessoais para fazer face ao stresse experienciado deste modo eacute

esperado que o funcionamento emocional possa sofrer alteraccedilotildees se (a) a situaccedilatildeo se prolongar no tempo

eou (b) a situaccedilatildeo promotora stresse abrandar (nesse momento existiraacute uma regulaccedilatildeo emocional que

poderaacute implicar diferenccedilas relativamente ao momento preacute-pandemia) (McCubbin amp Patterson 1983)

6

Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas

participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar

algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo

pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se

sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)

Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item

Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores

ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =

293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-

quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento

social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse

aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo

total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser

consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os

periacuteodos

Meacuted

ia

Imp

acto em

ocion

al

Co

mp

reend

e a situaccedilatildeo

Preo

cup

accedilatildeo com a p

and

emia

Aju

da d

os tratam

ento

s existentes

Co

ntro

lo da situ

accedilatildeo

Du

raccedilatildeo da p

and

emia

Afetar a vid

a

7

Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21

Percentagens antes do isolamento

social

Percentagens durante o isolamento

social

Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo

(Severidade sintomas)

Normal 775 408 624 736 413 621

Leve 166 354 251 149 305 236

Moderada 4 179 111 104 209 122

Severa 06 43 13 11 59 15

Extrem severa 0 14 02 0 14 05

Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo

As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de

sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os

participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena

Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o

isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma

mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel

considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)

Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de

uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19

manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de

ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente

pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)

Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os

resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente

inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm

filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator

protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto

e meacutedio prazo)

8

Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a

sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees

Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma

estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do

que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que

osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais

tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o

teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar

resultados relacionados com esta variaacutevel

Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar

mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos

que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores

meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos

participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em

itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas

119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar

mental

Impacto Relacional

Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem

variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)

se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia

para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende

a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento

(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender

melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a

amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo

conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo

entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores

niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que

o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre

1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos

9

a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal

of Psychosomatic Research 60 631-637

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psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet

395(10227) 912-920

4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128

10

Cutrona C Bodenmann G Randall A Claveacutel F amp Johnson M (2018) Stress Dyadic Coping and Social

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components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26

340-354

Kalenkoski C M amp Foster G (2008) The quality of time spent with children in Australian households

Review of Economics of the Household 6(3) 243ndash266 httpsdoi101007s11150-008-9036-3

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Sons

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Clinical Psychology Review 29(2) 105-115

Tamres L K Janicki D amp Helgeson V S (2002) Sex differences in coping behavior A metaanalytic review

and an examination of relative coping Personality and Social Psychology Review 6(1) 2ndash30

httpsdoiorg101207S15327957PSPR0601_1

Tennant R Hiller L Fishwick R Platt S Joseph S Weich S Parkinson J Secker J amp Stewart-Brown S

(2007) The Warwick-Edinburgh Mental Well-being Scale (WEMWBS) Development and UK

validation Health and Quality of Life Outcomes 5(63) httpsdoiorg1011861477-7525-5-63

Zhou F Yu T Du R Fan G Liu Y Liu Z Xiang J Wang Y Song B Gu X Guan L Wei Y Li H Wu

X Xu J Tu S Zhang Y Chen H amp Cao B (2020) Clinical course and risk factors for mortality of

adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395

1054-1062

11

Page 6: Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da ......apresentar-se-ão resultados focados na perceção da satisfação conjugal. Resultados Preliminares Participantes Os resultados

6

Em siacutentese e considerando todas as questotildees incluiacutedas no BIPQ pode afirmar-se que osas

participantes do estudo consideram que a sua vida mudou muito com a pandemia pensam que vai durar

algum tempo sentem pouco controlo perante a situaccedilatildeo e acreditam que os tratamentos existentes satildeo

pouco eficazes estando muitiacutessimo preocupados embora sintam que compreendem bem a situaccedilatildeo e se

sintam moderadamente afetados emocionalmente por toda esta circunstacircncia (cf Figura 1)

Figura 1 Graacutefico com meacutedias de resposta obtidas por item

Ainda de um ponto de vista individual os resultados obtidos no instrumento DASS-21 sugerem valores

ligeiramente acima da meacutedia portuguesa para o stresse (M = 1210 DP = 388) ansiedade (M = 893 DP =

293) e depressatildeo (M = 982 DP = 335) quando osas participantes respondem pensando no periacuteodo preacute-

quarentena Estes valores aumentam quando os participantes respondem pensando no periacuteodo de isolamento

social (stresse M = 1256 DP = 451 ansiedade M = 907 DP = 301 depressatildeo M = 994 DP = 366) Esse

aumento eacute estatisticamente significativo no caso do stresse e da perturbaccedilatildeo emocional global (avaliada pelo

total dos valores observados para o stresse ansiedade e depressatildeo em conjunto) Na tabela 1 podem ser

consultados com maior detalhe as percentagens relativas agrave presenccedila de sintomatologia em ambos os

periacuteodos

Meacuted

ia

Imp

acto em

ocion

al

Co

mp

reend

e a situaccedilatildeo

Preo

cup

accedilatildeo com a p

and

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Aju

da d

os tratam

ento

s existentes

Co

ntro

lo da situ

accedilatildeo

Du

raccedilatildeo da p

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Afetar a vid

a

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Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21

Percentagens antes do isolamento

social

Percentagens durante o isolamento

social

Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo

(Severidade sintomas)

Normal 775 408 624 736 413 621

Leve 166 354 251 149 305 236

Moderada 4 179 111 104 209 122

Severa 06 43 13 11 59 15

Extrem severa 0 14 02 0 14 05

Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo

As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de

sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os

participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena

Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o

isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma

mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel

considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)

Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de

uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19

manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de

ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente

pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)

Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os

resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente

inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm

filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator

protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto

e meacutedio prazo)

8

Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a

sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees

Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma

estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do

que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que

osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais

tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o

teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar

resultados relacionados com esta variaacutevel

Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar

mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos

que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores

meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos

participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em

itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas

119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar

mental

Impacto Relacional

Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem

variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)

se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia

para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende

a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento

(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender

melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a

amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo

conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo

entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores

niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que

o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre

1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos

9

a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal

of Psychosomatic Research 60 631-637

Brooks S K WebsterR K Smith L E Woodland L Wessely S Greenberg N amp Rubin J R (2020) The

psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet

395(10227) 912-920

4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128

10

Cutrona C Bodenmann G Randall A Claveacutel F amp Johnson M (2018) Stress Dyadic Coping and Social

Support In A Vangelisti amp D Perlman (Eds) The Cambridge Handbook of Personal Relationships

(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press

Curtin R Presser S amp Singer E (2000) The effects of response rate changes on the index of consumer

sentiment Public Opinion Quarterly 64 413ndash428

Fletcher G J Simpson J A amp Thomas G (2000) The measurement of perceived relationship quality

components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26

340-354

Kalenkoski C M amp Foster G (2008) The quality of time spent with children in Australian households

Review of Economics of the Household 6(3) 243ndash266 httpsdoi101007s11150-008-9036-3

Liddon L Kingerlee R amp Barry J A (2018) Gender differences in preferences for psychological treatment

coping strategies and triggers to help-seeking British Journal of Clinical Psychology 57 42ndash58

Lovibond S H amp Lovibond P F (1995) Manual for the depression anxiety stress scales Sydney Psychology

Foundation

McCubbin H I amp Patterson J M (1983) The Family Stress Process The double ABCX model of adjustment

and adaptation Marriage amp Family Review 6(1-2) 7-37

McGoldrick M Preto N A G amp Carter B A (2016) Expanding Family Life Cycle The Individual Family

and Social Perspectives (5th Ed) Boston Pearson

Moore D L amp Tarnai J (2002) Evaluating nonresponse error in mail surveys In Groves R M Dillman D

A Eltinge J L and Little R J A (eds) Survey Nonresponse (pp 197ndash211) New York John Wiley amp

Sons

Randall A K amp Bodenmann G (2009) The role of stress on close relationships and marital satisfaction

Clinical Psychology Review 29(2) 105-115

Tamres L K Janicki D amp Helgeson V S (2002) Sex differences in coping behavior A metaanalytic review

and an examination of relative coping Personality and Social Psychology Review 6(1) 2ndash30

httpsdoiorg101207S15327957PSPR0601_1

Tennant R Hiller L Fishwick R Platt S Joseph S Weich S Parkinson J Secker J amp Stewart-Brown S

(2007) The Warwick-Edinburgh Mental Well-being Scale (WEMWBS) Development and UK

validation Health and Quality of Life Outcomes 5(63) httpsdoiorg1011861477-7525-5-63

Zhou F Yu T Du R Fan G Liu Y Liu Z Xiang J Wang Y Song B Gu X Guan L Wei Y Li H Wu

X Xu J Tu S Zhang Y Chen H amp Cao B (2020) Clinical course and risk factors for mortality of

adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395

1054-1062

11

Page 7: Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da ......apresentar-se-ão resultados focados na perceção da satisfação conjugal. Resultados Preliminares Participantes Os resultados

7

Tabela 1 Percentagens relativas agrave sintomatologia expressa o instrumento DASS-21

Percentagens antes do isolamento

social

Percentagens durante o isolamento

social

Stresse Ansiedade Depressatildeo Stresse Ansiedade Depressatildeo

(Severidade sintomas)

Normal 775 408 624 736 413 621

Leve 166 354 251 149 305 236

Moderada 4 179 111 104 209 122

Severa 06 43 13 11 59 15

Extrem severa 0 14 02 0 14 05

Antes do dia 18 de marccedilo Depois do dia 18 de marccedilo

As percentagens apresentadas na Tabela 1 revelam que quando questionados sobre a presenccedila de

sintomas de stresse ansiedade e depressatildeo preacutevios ao isolamento social (isto eacute retrospetivamente) os

participantes jaacute os identificavam tendo estes indicadores aumentado durante o periacuteodo de quarentena

Quando comparamos as diferenccedilas entre o periacuteodo preacutevio ao isolamento social e o periacuteodo durante o

isolamento social verificamos que os sintomas de stresse satildeo aqueles que aumentam em meacutedia de forma

mais significativa (preacute M = 173 DP = 055 Durante M = 179 DP = 064) Este resultado eacute expectaacutevel

considerando que o stresse eacute uma reaccedilatildeo imediata agrave crise (McCubbin amp Patterson 1983)

Quando cruzamos os dados obtidos nos questionaacuterios BIPQ e DASS-21 verificamos a existecircncia de

uma correlaccedilatildeo estatisticamente significativa embora fraca entre a preocupaccedilatildeo relativa agrave COVID-19

manifestada pelosas participantes e valores mais elevados de depressatildeo stresse e especialmente de

ansiedade Mais uma vez este eacute um resultado expectaacutevel pois a preocupaccedilatildeo manifesta-se frequentemente

pela expressatildeo de sintomas ansioacutegenos (eg tremores dificuldades em relaxar irritabilidade)

Quando analisamos estes valores considerando a variaacutevel ter ou natildeo filhos verifica-se que os

resultados no DASS-21 (apenas para o periacuteodo em que decorre o isolamento social) satildeo significativamente

inferiores (M = 145 DP = 42) nosas participantes com filhos em comparaccedilatildeo com aquelesas que natildeo tecircm

filhos (M = 156 DP = 052) Estes dados sugerem que a existecircncia de filhos poderaacute funcionar como fator

protetor da resposta emocional embora seja necessaacuterio aprofundar este resultado em estudos futuros (curto

e meacutedio prazo)

8

Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a

sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees

Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma

estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do

que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que

osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais

tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o

teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar

resultados relacionados com esta variaacutevel

Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar

mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos

que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores

meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos

participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em

itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas

119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar

mental

Impacto Relacional

Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem

variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)

se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia

para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende

a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento

(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender

melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a

amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo

conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo

entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores

niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que

o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre

1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos

9

a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal

of Psychosomatic Research 60 631-637

Brooks S K WebsterR K Smith L E Woodland L Wessely S Greenberg N amp Rubin J R (2020) The

psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet

395(10227) 912-920

4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128

10

Cutrona C Bodenmann G Randall A Claveacutel F amp Johnson M (2018) Stress Dyadic Coping and Social

Support In A Vangelisti amp D Perlman (Eds) The Cambridge Handbook of Personal Relationships

(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press

Curtin R Presser S amp Singer E (2000) The effects of response rate changes on the index of consumer

sentiment Public Opinion Quarterly 64 413ndash428

Fletcher G J Simpson J A amp Thomas G (2000) The measurement of perceived relationship quality

components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26

340-354

Kalenkoski C M amp Foster G (2008) The quality of time spent with children in Australian households

Review of Economics of the Household 6(3) 243ndash266 httpsdoi101007s11150-008-9036-3

Liddon L Kingerlee R amp Barry J A (2018) Gender differences in preferences for psychological treatment

coping strategies and triggers to help-seeking British Journal of Clinical Psychology 57 42ndash58

Lovibond S H amp Lovibond P F (1995) Manual for the depression anxiety stress scales Sydney Psychology

Foundation

McCubbin H I amp Patterson J M (1983) The Family Stress Process The double ABCX model of adjustment

and adaptation Marriage amp Family Review 6(1-2) 7-37

McGoldrick M Preto N A G amp Carter B A (2016) Expanding Family Life Cycle The Individual Family

and Social Perspectives (5th Ed) Boston Pearson

Moore D L amp Tarnai J (2002) Evaluating nonresponse error in mail surveys In Groves R M Dillman D

A Eltinge J L and Little R J A (eds) Survey Nonresponse (pp 197ndash211) New York John Wiley amp

Sons

Randall A K amp Bodenmann G (2009) The role of stress on close relationships and marital satisfaction

Clinical Psychology Review 29(2) 105-115

Tamres L K Janicki D amp Helgeson V S (2002) Sex differences in coping behavior A metaanalytic review

and an examination of relative coping Personality and Social Psychology Review 6(1) 2ndash30

httpsdoiorg101207S15327957PSPR0601_1

Tennant R Hiller L Fishwick R Platt S Joseph S Weich S Parkinson J Secker J amp Stewart-Brown S

(2007) The Warwick-Edinburgh Mental Well-being Scale (WEMWBS) Development and UK

validation Health and Quality of Life Outcomes 5(63) httpsdoiorg1011861477-7525-5-63

Zhou F Yu T Du R Fan G Liu Y Liu Z Xiang J Wang Y Song B Gu X Guan L Wei Y Li H Wu

X Xu J Tu S Zhang Y Chen H amp Cao B (2020) Clinical course and risk factors for mortality of

adult inpatients with COVID-19 in Wuhan China a retrospective cohort study The Lancet 395

1054-1062

11

Page 8: Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da ......apresentar-se-ão resultados focados na perceção da satisfação conjugal. Resultados Preliminares Participantes Os resultados

8

Por sua vez verificam-se diferenccedilas estatisticamente significativas entre participantes que exercem a

sua profissatildeo em teletrabalho e participantes que continuam a exercer presencialmente as suas profissotildees

Mais especificamente constata-se que osas participantes em teletrabalho referem (de forma

estatisticamente significativa) que sua vida sofreu mais alteraccedilotildees com a COVID-19 (M = 704 DP = 194) do

que participantes que continuam a trabalhar presencialmente (M = 650 DP = 206) verifica-se ainda que

osas participantes que exercem a sua profissatildeo presencialmente consideram que a pandemia vai durar mais

tempo (M = 595 DP = 1 16) do que osas que se encontram em teletrabalho (M = 544 DP = 157) Sendo o

teletrabalho uma nova realidade para grande parte dosas portuguesesas eacute importante aprofundar

resultados relacionados com esta variaacutevel

Ainda de um ponto de vista individual quando analisamos os resultados da perceccedilatildeo de bem-estar

mental (dimensatildeo medida pelo WEMWB numa escala de 1 a 5 em que 1= nunca e 5 = sempre) verificamos

que a maior parte participantes desta amostra obtecircm valores dentro da meacutedia (M = 357 DP = 061 valores

meacutedios de referecircncia para a populaccedilatildeo portuguesa entre 295 e 4181) Poreacutem constata-se que 138 dos

participantes manifesta menor bem-estar mental expresso em respostas com pontuaccedilatildeo menos elevada em

itens como por exemplo ldquosentir otimismo no futurordquo ldquosentir-se relaxadordquo e ldquopensar de forma clarardquo Apenas

119 da amostra estaacute acima dos valores meacutedios considerados ou seja expressa um grande bem-estar

mental

Impacto Relacional

Passando agora agrave satisfaccedilatildeo conjugal avaliada pelo questionaacuterio PRQC no qual as respostas podem

variar de 1 (absolutamente nada) a 7 (extremamente) verifica-se que a maior parte dos participantes (867)

se encontra dentro do valor meacutedio de referecircncia sendo que 138 dos inquiridos se encontra abaixo da meacutedia

para a populaccedilatildeo portuguesa Este resultado sugere que a maior parte dos participantes deste estudo tende

a sentir (de acordo com as dimensotildees medidas pelo questionaacuterio) (a) satisfaccedilatildeo com o seu relacionamento

(b) compromisso (c) confianccedila (d) proximidade (e) paixatildeo e (f) amor pelo seu cocircnjuge Para compreender

melhor as diferenccedilas da relaccedilatildeo entre qualidade conjugal e o niacutevel do stresse ansiedade e depressatildeo a

amostra foi dividida em dois grupos sujeitos que pontuaram 4 ou menos (isto eacute perceccedilatildeo de pior satisfaccedilatildeo

conjugal) e sujeitos que pontuaram 65 ou mais (isto eacute perceccedilatildeo de melhor satisfaccedilatildeo conjugal) A comparaccedilatildeo

entre estes dois grupos sugere que o grupo dosas participantes com menor satisfaccedilatildeo conjugal revela maiores

niacuteveis de depressatildeo e de stresse tanto na fase preacutevia agrave pandemia2 como durante3 Aleacutem disto verifica-se que

o grupo de participantes mais satisfeito a niacutevel conjugal eacute tambeacutem aquele que perceciona mais controlo sobre

1 Valor da meacutedia mais (418) e menos (295) um desvio-padratildeo 2 Mdepressatildeo = 160 vs Mdepressatildeo = 1330 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mstress = 179 vs Mstress = 162 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos 3 Mdepressatildeo = 169 vs Mdepressatildeo = 130 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos Mansiedade = 190 vs Mansiedade = 164 relativa ao grupo dos participantes mais satisfeitos

9

a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

Broadbent E Petrie K J Main J amp Wieman J (2006) The brief illness perception questionnaire Journal

of Psychosomatic Research 60 631-637

Brooks S K WebsterR K Smith L E Woodland L Wessely S Greenberg N amp Rubin J R (2020) The

psychological impact of quarantine and how to reduce it rapid review of the evidence The Lancet

395(10227) 912-920

4 Valor de correlaccedilatildeo r = 115 5 Valor de correlaccedilatildeo r = 128

10

Cutrona C Bodenmann G Randall A Claveacutel F amp Johnson M (2018) Stress Dyadic Coping and Social

Support In A Vangelisti amp D Perlman (Eds) The Cambridge Handbook of Personal Relationships

(Cambridge Handbooks in Psychology pp 341-352) Cambridge University Press

Curtin R Presser S amp Singer E (2000) The effects of response rate changes on the index of consumer

sentiment Public Opinion Quarterly 64 413ndash428

Fletcher G J Simpson J A amp Thomas G (2000) The measurement of perceived relationship quality

components a confirmatory factor analytic approach Personality and Social Psychology Bulletin 26

340-354

Kalenkoski C M amp Foster G (2008) The quality of time spent with children in Australian households

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a pandemia (M = 510 vs M = 426 relativa ao grupo dos participantes menos satisfeitos) Por fim destaca-se

o facto de a satisfaccedilatildeo conjugal estar correlacionada de forma significativa e positiva embora natildeo muito forte

com a sensaccedilatildeo de controlo da COVID-194 e com a compreensatildeo sobre a situaccedilatildeo pandeacutemica provocada pelo

COVID-195 A literatura eacute consistente no que diz respeito agrave influecircncia da satisfaccedilatildeo conjugal sobre o bem-estar

individual (Cutrona et al 2018 McGoldrick et al 2016 Randall amp Bodenmann 2009) deste modo pode

hipotetizar-se embora de forma cautelosa que osas participantes deste estudo que se sentem mais

satisfeitosas com as suas relaccedilotildees conjugais parecem enfrentar a pandemia de forma mais realista

(preocupaccedilatildeo) mas tambeacutem adaptativa (sensaccedilatildeo de controlo compreensatildeo)

Conclusotildees

Este relatoacuterio tem como principal objetivo a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos primeiros resultados

recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a niacutevel individual e relacional especificamente ao niacutevel da

conjugalidadeem indiviacuteduos casados ou que vivem uma relaccedilatildeo amorosa Foram apresentadas algumas

pistas obtidas por via de um estudo quantitativo sobre aspetos a considerar e a aprofundar em anaacutelises e

estudos futuros Considerando a abordagem exploratoacuteria deste relatoacuterio nenhum resultado aqui apresentado

e discutido pode ser considerado absoluto ou generalizaacutevel pese embora se tenha recorrido a anaacutelises

estatiacutesticas robustas bem como a uma amostra constituiacuteda por um N consideraacutevel As diferenccedilas de meacutedias

apresentadas ao longo deste relatoacuterio apresentam uma margem de erro de 5 Eacute fundamental prosseguir com

anaacutelises mais detalhadas estando a equipa de investigaccedilatildeo responsaacutevel por este projeto a trabalhar nesse

fim Neste momento estaacute-se a dar continuidade a este trabalho com base num desenho de investigaccedilatildeo

longitudinal Os mesmos participantes (e outros potenciais interessados) seratildeo convidados a participar nas

diferentes fases deste projeto de modo a que seja possiacutevel identificar as flutuaccedilotildees emocionais e relacionais

em diferentes momentos de tempo acompanhando assim o curso imprevisiacutevel da pandemia COVID-19

Lista Bibliograacutefica

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