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    Humanidades, v. 4, n. 1, fev. 2015.

    RESTAURAO DO PATRIMNIO HISTRICO CULTURAL DA IGREJA MATRIZ DENOSSA SENHORA DA CONCEIO E SO JOS DE MONTES CLAROS-MG

    Admilson Eustquio Prates1

    Anny Lays Santiago Oliveira2

    Ellen Rhaissa Almeida3

    Leonardo Augusto Couto Finelli4

    RESUMOIndependente das tcnicas de intervenes empregadas ao patrimnio histrico cultural, a base dadoutrina moderna de restaurao deve preservar a autenticidade da edificao. A restaurao visarecuperar principalmente a funcionalidade, durabilidade e segurana sem descaracterizar o

    patrimnio, pois a preservao consiste em manter esses documentos nicos, com suas prpriasqualidades. O principal objetivo dessa pesquisa foi reunir informaes acerca do sistema derecuperao da integridade do bem histrico cultural. Para tal, realizou-se por intermdio de umareviso bibliogrfica de carter retrospectivo o estudo de caso da evoluo histrica da Igreja Matrizde Nossa Senhora da Conceio e So Jos de Montes Claros-MG. O trabalho reconheceu que a

    obra de alvenaria arquitetnica, e patrimnio histrico do municpio, sofreu forte descaracterizaoproveniente de reformas que alteraram inteiramente seu estilo arquitetnico. Reconheceu tambmque, com o intuito de minimizar essa descaracterizao, um novo projeto foi elaborado de modo arestaurar o patrimnio depreciado.

    Palavras Chave: Igreja; Patrimnio histrico cultural; Reforma; Restaurao.

    INTRODUO

    Os bens histricos culturais edificados integram um elemento essencial da constituio dos

    povos visto que so produtos, testemunhos e marcas das diversas culturas e realizaes do passado e

    que, se devidamente conservados, preservam a memria da cultura para o futuro. Assim sendo,

    confirma-se a importncia de se preservar esse legado s futuras geraes. Sendo assim,

    apresentam-se os conceitos de restaurao e preservao do patrimnio histrico cultural na

    conservao da identidade e na transmisso de conhecimento de uma sociedade (TAVARES, 2011).

    Poucos so os estudos cuja temtica seja a restaurao do patrimnio histrico cultural,aqui entendido como ao que confirma valores e define maneiras de ver o bem edificado. Desse

    modo, o processo de interveno fundamentada na restaurao objetiva resguardar tambm as

    memrias da comunidade, a qual dever se apropriar verdadeira, cultural e socialmente do bem

    restaurado (CUNHA, 2010). Com a introduo dessa temtica no meio profissional torna-se mais

    fcil definir as diretrizes de restaurao do patrimnio histrico.

    1Doutorando em Cincias da Religio e mestre em Cincias da ReligioPUC/SP. Graduado em Filosofia;[email protected] do Curso de engenharia CivilFUNORTE;[email protected] do Curso de engenharia CivilFUNORTE;[email protected] em Desenvolvimento Social. Mestre em Psicologia. Graduado em Psicologia. Graduado em Pedagogia;[email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    A Histria da Cidade de Montes Claros - Minas Gerais

    A histria da cidade de Montes Claros, situada na regio norte do estado de Minas Gerais

    (da microrregio de Montes Claros e mesorregio do Norte de Minas), inicia-se com AntnioGonalves Figueira5. Esse foi um grande desbravador e bandeirante do serto brasileiro no sculo

    XVII, que aps receber uma sesmaria como prmio por servios prestados ao Governador Geral,

    chegou s margens do Rio Verde (MONTES CLAROS, s. d.).

    Observando a fertilidade das terras nativas e sua vantagem, Figueira decidiu que ali era o

    lugar apropriado para fazer fortuna, e com isso fundou a Fazenda dos Montes Claros. Figueira

    desenvolveu a localidade no maior centro comercial de gado da regio, pois levava carne para

    alimentao das minas. Trabalhou tambm, durante anos, como um grande conquistador,acumulando fortuna, tornando assim a localidade conhecida e cobiada por alguns fazendeiros da

    Bahia e de So Paulo que passavam pela regio (MONTES CLAROS, s. d.).

    Aps certo perodo, o j cansado Figueira vendeu suas terras e bens para o alferes Jos

    Lopes de Carvalho e regressou a So Paulo. Carvalho transferiu a sede da fazenda para um lugar

    mais agradvel, na baixa da margem do Rio Vieira. Conhecido como homem muito religioso, notou

    a necessidade de construir uma capela nos arredores da sua casa. Com isso, a populao teve um

    crescimento muito rpido e o povoado ao redor da capela passou a ser conhecido com Arraial de

    Formigas (SAINT-HILAIRE, 2000).

    O naturalista francs August de SaintHilaire6descreveuminuciosamente o ento povoado

    Arraial de Formigas, quando o percorreu por volta de 1817 (SAINT-HILAIRE, 2000, p. 326):

    Essa povoao, que pode compreender atualmente duzentas casas e mais de oitocentasalmas, certamente uma das mais belas que vi na Provncia de Minas; mas no adquiriucerta importncia seno depois que se comeou a fabricar salitre na regio, o que, porocasio de minha viagem no datava de mais de oito anos. A maioria das casas construdaao redor de uma praa irregular, que forma um quadriltero alongado e, por sua extenso,

    seria digna das maiores cidades. Essa praa, aberta do lado pelo qual se chega quando sevem de Tijuco e Vila do Prncipe, no tem, por conseguinte, seno trs lados, e um dos

    pequenos que falta. A igreja est situada ao fundo da praa, muito perto daquele dospequenos lados que foi edificado; no coincide, infelizmente, porm, com o meio desselado, e um pouco oblqua, o que prejudica a regularidade do conjunto. Alm da praa deque acabo de falar, h inda em Formigas algumas ruas paralelas a dois dos lados da prpria

    praa. As casas so quase todas pequenas, mais ou menos quadradas, baixas e cobertas comtelhas. Trs ou quatro tm sobrado; algumas so construdas de adobes, as outras de barro e

    5 Antnio Gonalves Figueira nasceu em Santos, vila do litoral de So Paulo. Sua primeira viagem ao que hoje seconstituiu o Norte de Minas foi quando participava de uma famosa expedio das esmeraldas em 1672.6August de SaintHilaire nasceu na Frana no ano de 1779. Veio ao Brasil com uma misso proposta pelo duque de

    Luxemburgo de tomar a posse da Guiana. Ele aproveitou a estada na Amrica do Sul e viajou pelos estados do EspritoSanto, Minas Gerais, So Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul para estudar os biomas desteslocais, com isso fez a diferena na rea da botnica. August Saint Hilaire foi considerado mdico pelos sertanejos, poiscom o seu conhecimento em botnica descobriu muitas plantas medicinais.

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    varas cruzadas. As janelas so pequenas, quadradas, pouco numerosas, fechadas por umsimples postigo. Veem-se na povoao uma hospedaria, vrias vendas, e, enfim, algumaslojas em que se vendem fazendas e quinquilharias.

    O Arraial de Formigas se tornou muito conhecido e respeitado devido a seu forte ponto

    comercial de gado bovino, cavalos, salitre, couros, etc. Em funo dos esforos dos lderes polticos

    locais, em 13 de outubro de 1831, o arraial elevado categoria de vila recebendo o nome de "Vila

    de Montes Claros de Formigas". A Vila continuou a ter um crescimento extraordinrio e, no dia 3 de

    julho do ano de 1857, conforme a lei n 812, foi elevada categoria de cidade e passou a ser

    chamada Montes Claros. O municpio teve parte de seu patrimnio arquitetnico tombado como

    patrimnio histrico conforme se verifica na figura 1 (MONTES CLAROS, s. d.).

    Figura 1: Mapa do permetro histrico central de Montes Claros MG. [Foto: Acervo da Secretria de Cultura deMontes ClarosMG, 2013].

    A cidade fundada com cerca de 2.000 habitantes, em 1857, continuou a crescer (MONTES

    CLAROS, s. d.). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2014), em

    2014, a populao era de 390.212 habitantes; sendo a maior cidade da regio Norte de Minas e uma

    das maiores do estado.

    A Histria da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos

    *Os edifcios noslogradouros estorepresentados nasnumeraes.

    **A rea contornada emdestaque representa aigreja Matriz de N. Sra.

    da Conceio e S. Jos.

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    A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos uma das principais igrejas da

    cidade e est situada no ncleo histrico central da cidade de Montes Claros (MG), localizada na

    regio da praa Dr. Chaves, que popularmente conhecida como Praa da Matriz (COELHO;

    PAULA, 1998).

    Segundo o Dossi de Tombamento do Conjunto Urbanstico da Praa da Matriz ,elaborado em setembro de 1998, em Montes ClarosMG, a histria da Igreja teve incio em 1769,

    com a construo de uma pequena capela em frente casa do alferes Jos Lopes de Carvalho,

    proprietrio da fazenda (que era devoto de Nossa Senhora da Conceio e de So Jos). No dia 19

    de junho desse ano, Carvalho requereu junto ao ento coadjutor da capela do Nosso Senhor do

    Bonfim de Macabas (atual Bocaiva), Padre Francisco de Medeiros Cabral, a necessria licena

    para a construo da capela (COELHO; PAULA, 1998; PAULA, 1982).

    A licena foi aprovada e verificou ser legal a doao feita por Carvalho de algumas lguasde terras e tambm de novilhas para a construo da capela. Sua arquitetura era formada por uma

    janela na altura do coro e as demais em verga de arco pleno; duas torres laterais com cunhais

    marcados em massa, semelhana de pedra; e fachada com corpo central, trs aberturas coladas na

    base. A primeira capela foi construda no fundo da atual igreja matriz, com 50 metros de frente

    voltados para a sede da fazenda de Carvalho, com a invocao de Nossa Senhora da Conceio e

    So Jos. A parquia foi fundada em 14 de julho de 1832, porm legitimada apenas em 1835, com a

    chegada do primeiro vigrio, Padre Antnio Gonalves Chaves. Em 03 de julho de 1857, a capela

    recebeu a denominao de Parquia de Nossa Senhora da Conceio e So Jos de Montes Claros,

    sendo, portanto, a igreja mais antiga da cidade (PAULA, 1982).

    No decorrer de sua histria, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos

    sofreu vrias descaracterizaes. Uma forte se deu na dcada de 1940 que alterou inteiramente seu

    estilo arquitetnico (figura 2). Sofreu tambm outra descaracterizao na gesto do Proco Padre

    Manuel Pereira no ano de 1999, quando muitos elementos foram descaracterizados, inclusive a sua

    pintura (figura 3 e figura 4). Felizmente, nova reforma buscou a restituio de caractersticas

    prvias de seu conjunto arquitetnico (figura 5). Devido a essas reformas/descaracterizaes

    somente sua porta de acesso central original (COELHO; PAULA, 1998; ESPINOSA, 2012;

    MONTES CLAROS, 2013; MOURA, 2007).

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    Figura 2: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos antes das descaracterizaes. [Foto: Acervo da

    Secretria de Cultura de Montes ClarosMG, 2013]

    Figura 3: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos com algumas das descaracterizaes. [Foto:MOURA, 2007].

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    Figura 4:Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos aps reforma/descaracterizao. [Foto: MARAL,2014].

    Figura 5: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos aps reforma de recaracterizao. [Foto:ESPINOSA, 2012].

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    METODOLOGIA

    Esta proposta de reviso de literatura utilizou a abordagem qualitativa. A coleta de dados

    foi realizada a partir de documentos e levantamentos feitos junto Secretaria de Cultura de Montes

    Claros - MG e estudo de livros e artigos cientficos que abordam a temtica da restaurao ereforma.

    Plataforma Conceitual: Restaurao e Reforma

    A essa altura torna-se importante esclarecer que reforma e restaurao so termos distintos

    entre si. A restaurao pode ser entendida, de acordo com a Carta de Veneza 7(1964, p. 3), como:

    Art. 9. A restaurao uma operao que deve ter carter excepcional. Tem por objetivoconservar e revelar os valores estticos e histricos do monumento e fundamenta-se norespeito ao material original e aos documentos autnticos. Termina onde comea a hiptese;no plano das reconstituies conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido comoindispensvel por razes estticas ou tcnicas destacar-se- da composio arquitetnica edever ostentar a marca do nosso tempo. A restaurao ser sempre precedida eacompanhada de um estudo arqueolgico e histrico do monumento.

    Com base na definio de restaurao deve-se, na elaborao de um projeto, analisar um

    estudo histrico sobre o patrimnio em questo e assim direcionar as escolhas de materiais e

    tcnicas que sero utilizados para a execuo do projeto, com base na preservao do patrimnio

    histrico devido ao valor cultural que o mesmo representa para a sociedade. A ao de restaurar o

    patrimnio constitui-se, do ponto de vista crtico, da busca do equilbrio entre as tcnicas

    atualmente realizveis e as tcnicas tradicionais, conseguindo assim ser o mais fiel possvel

    unidade original para recuperar a eficcia de um produto que resultado da atividade humana.

    Entende-se por reforma o procedimento de transformao da edificao que visa deix-la

    em perfeito estado de conservao (CARVALHO, 2013). Assim, os objetivos da reforma so

    renovar, reparar, melhorar algo sem preservar os valores e materiais originais do patrimnio. Deve-

    se entender que quando se reforma um patrimnio este modificado e no preservado

    (PRSPERO, 2010).

    7 Carta de Veneza uma das mais importantes cartas patrimoniais. As cartas patrimoniais so documentos queapresentam diversas recomendaes referentes proteo do patrimnio cultural. Foram elaboradas a partir da dcada

    de 30 do sculo XX, em variados encontros de tericos e interessados na rea, realizados em diferentes cidades domundo. Esses documentos constituem polticas de preservao dos bens patrimoniais internacionais e/ou nacionais,desenvolvidas por rgos de preservao que referenciam os valores destes bens quanto aos seus aspectossocioculturais.

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    Descaracterizao do patrimnio

    Os melhoramentos urbanos adotados no respeitaram o passado da cidade, o que

    representaria um legado s geraes presentes e futuras. Foram descaracterizados e destrudos

    antigos sobrados, casares, logradouros e igrejas que constituem o aglomerado ambiental deedificaes de grande significado para a comunidade, que documentam a histria, cultura e

    evoluo urbana do municpio de Montes Claros - MG (LESSA; SILVEIRA, 2012). A Igreja Matriz

    Nossa Senhora da Conceio e So Jos perdeu todas as suas caractersticas originais durante

    reformas na dcada de 1940 e no ano de 1999 (figura 6).

    Figura 6: esquerda, antiga Igreja Matriz de Nossa Senhora de Conceio e So Jos em 1769; direita, atual estadoda Igreja Matriz de Nossa Senhora de Conceio e So Jos aps descaraterizao do ano de 1999. [Foto:VERDERAME, 2008].

    A falta de manuteno dos edifcios histricos culturais muitas vezes acarreta as

    descaracterizaes dos imveis. Isso porque, sendo esquecidos, tornam-se necessrias as reformas

    emergenciais.

    Devido a pouca tradio na conservao do patrimnio histrico cultural, no Brasil, asrestauraes de edifcios e obras de arte, frequentemente, se caracterizam pelaimprovisao, e, o que pior, costuma ser promovidas quando esses bens j se encontramem avanado estado de degradao. No caso dos edifcios, a situao se agrava. Asintervenes quase sempre se reduzem s reformas emergenciais que priorizam as

    consolidaes estruturais deixando fora do projeto restaurao dos metais, dos estuques,das madeiras e pinturas antigas originais. Os elementos componentes dessas arquiteturas,que distinguem e caracterizam os estilos, quando danificados, costumam, nesse tipo deinterveno assistemtica, ser substitudos por modelos similares, que terminam por

    transformar o edifcio em um hbrido arquitetnico, distanciado de sua prpria histria enatureza (TIRELLO, 1999, p. 202).

    Nos projetos de reformas no so levados em considerao o estado do edifcio como umtodo e sim partes isoladas que precisam de reparo, deixando a histria do edifcio sem sentido. As

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    reformas realizadas na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos no foram

    diferentes e, com o intuito de restaurar e minimizar a descaracterizao, um novo projeto de

    restaurao foi elaborado e aprovado no final do ano de 2013. Este projeto pode ser verificado na

    figura 7 (BORBOREMA, 2014; COELHO; PAULA, 1998).

    Figura 7: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Jos aps minimizao da descaracterizao. [Foto:Acervo da Secretria de Cultura de Montes ClarosMG, 2014].

    CONSIDERAES FINAIS

    De acordo com os estudos realizados, conclui-se que, independente das tcnicas de

    intervenes empregadas ao patrimnio histrico cultural, a base da doutrina moderna de

    restaurao deve ser a autenticidade edificao, recuperando-se principalmente sua

    funcionalidade, durabilidade e segurana sem descaracterizar o patrimnio (TAVARES, 2011).

    Portanto, na elaborao e execuo do projeto de restaurao, deve-se lidar com os problemas da

    edificao de maneira regular e integrada, selecionando tcnicas tradicionais e/ou modernas que

    apresentem xito comprovado cientificamente. A ausncia da devida conservao do patrimnio

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    muitas vezes resulta em reformas, o que consequentemente ocasiona a descaracterizao do mesmo.

    Deve-se ampliar a discusso no meio profissional sobre a diferena entre restaurao e

    reforma. Para tal, devem-se considerar as formas adequadas para o planejamento e execuo da

    restaurao nos patrimnios histricos, uma vez que cada restaurao tem carter singular

    (nenhuma restaurao igual outra; um projeto de uma restaurao no norte do pas no pode sero mesmo projeto de restaurao executado no sul). S assim ser possvel assegurar a preservao

    do patrimnio e a transmisso do seu significado para as presentes e futuras geraes.

    REFERNCIAS

    BORBOREMA, V. Templo tombado receber obras de restaurao. Igreja Matriz de MontesClaros. Publicado em: 01 ago. 2014. Disponvel em:

    . Acesso em: 10 out. 2014.

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    CARVALHO, T. Gloria Palace Hotel: um estudo dos aspectos de sustentabilidade no retrofit deum hotel histrico. Projeto de graduao apresentado a Escola Politcnica/ UFRJ, Rio de Janeiro,2013.

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    CUNHA, C. R. Restaurao: dilogos entre teoria e prtica no Brasil nas experincias do ERA.2010. Montes Claros. Disponvel em: . Acesso em: 27 set. 2014.

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    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICAIBGE. Estimativas dapopulao residente nos municpios brasileiros com data de referncia em 1 de julho de 2014.Disponvel em:. Acesso em: 27 set. 2014.

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    MARAL, F. Galeria de fotos de Montes ClarosMG. Disponvel em:

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    MONTES CLAROS. Histria. Site da Prefeitura Municipal de Montes Claros. Link Histria. Online, s. d. Disponvel em: .Acesso em: 10 set. 2014.

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    _______. Mapa do permetro histrico central de Montes ClarosMG. Acervo prprio. 2013.

    MOURA, A. A. P. A Arquitetura de Antnio Augusto Barbosa Moura. Montes Claros: FundaoSanto Agostinho, 2007.

    PAULA, H. de. De Padre Chaves a Padre Dudu. Belo Horizonte: Littera Maciel, 1982.

    PRSPERO, M. A. Reconstruo de edifcios histricos:estudo de caso do antigo Hotel

    Pilo em Ouro Preto/MG. Dissertao. Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil -PPGEC, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianpolis, 2010.

    SAINTHILAIRE, A. Viagem pelas provncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. BeloHorizonte: Itatiaia, 2000.

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    TIRELLO, R. A. As pinturas parietais na Universidade de So Paulo.In: Comisso dePatrimnio Cultural da USP. (Org.). Os bens imveis da Universidade de So Paulo. So Paulo:EDUSP/Imprensa Oficial, 1999, v. 1, p. 202-221.

    VERDERAME, E. Reconstituio da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceio e So Josde Montes ClarosMG. Publicado em: 08 jan. 2008. Disponvel em:. Acesso em: 10 out. 2014.