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    Responsabilidade Penal do Contador

    Paulo Quezado(advogado em Fortaleza)

    1. A IMPORTNCIA DO TEMA

    O profissional da contabilidade, na condio de empregado, de profissional liberal,de servidor pblico ou de scio de empresa de prestao de servios contbeis,

    encontra-se envolvido em uma teia de relaes jurdicas entre empresrios,investidores, governo, bancos, Justia (perito contbil) e etc. Destarte, o produto deseu ofcio (informaes contbeis, balanos, peas contbeis assinadas) ditar odestino de investimentos, conduzir a vida de empresas e ser prova do papel sociale tributrio desta junto aos entes federativos. Enfim, as implicaes da conduta dochamado na antigidade de artfice da escriturao mercantil abrangem amplossetores do Estado, economia e sociedade. Vejamos, ento, at que ponto vai sua

    responsabilidade penal no exerccio profissional.

    2. RESPONSABILIDADE: CONCEITO E CLASSIFICAO

    2.1. Conceito. No lxico Houaiss, h vrias significaes: obrigao de responderpelas aes prprias ou dos outros, carter ou estado do que responsvel edever jurdico resultante da violao de determinado direito, atravs da prtica deum ato contrrio ao ordenamento jurdico.

    2.2. Classificao. responsabilidade civil: "A responsabilidade civil vem definida porSavatier como a obrigao que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuzo

    causado a outra, por fato prprio, ou por fato de pessoas ou coisas que deladependam (Silvio Rodrigues). Esta pode ser ainda contratual (violao direta dasnormas do contrato) e extracontratual (violao do ordenamento jurdico). H aindaa responsabilidade administrativa, no caso de envolver um agente pblico noexerccio da funo, como v.g. o perito judicial, e a responsabilidade penal, quandoos atos do agente repercuta na seara penal, enquadrando-se como crime oucontraveno. Nesta, diferente da civil, o interesse protegido pblico (violaodireta da ordem social) e a conseqncia do dano a pena. Assim, o foco desta apessoa; daquela, o dano.

    ATENO: h ainda a responsabilidade subjetiva (necessita-se provar o doloou culpa do agente) e objetiva (deve-se apenas provar a conduta, o dano e onexo causal entre ambos). No direito penal, no se aceita a responsabilidadeobjetiva; mister que se prove o dolo ou a culpa do agente. Aplica-se, deforma absoluta, a teoria da responsabilidade subjetiva no direito penal. Em

    regra, aplica-se tambm no direito civil.

    3. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO CONTADOR

    3.1. Novo Cdigo Civil (Lei 10.406/2003). Conforme o artigo 186 do NCC, aqueleque, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e

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    causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito. O art 927dispe que aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia, ou imprudncia,

    violar direito, ou causar prejuzo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. Haverobrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificadosem lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do danoimplicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. O juiz poder aplicarainda multa sobre o valor da causa, no caso de dano por perito contbil (art.424/CPC).

    E para reparar o dano que o perito causou, pode o juiz aplicar um percentual sobre o

    valor da causa, a ttulo de multa, em decorrncia do possvel prejuzo a ser reparado,CPC art. 424, este artigo especfico para o perito.

    3.2. Cdigo do Consumidor (Lei 8.078/90). Excepcionando a regra do CDC, aresponsabilidade dos profissionais liberais subjetiva. Arts. 14 e 18. c/c o art. 927 docdigo Civil. Art. 14: O fornecedor de servios responde, independentemente daexistncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores pordefeitos relativos prestao dos servios, bem como por informaes insuficientesou inadequadas sobre sua fruio e riscos. () 4: A responsabilidade pessoal dosprofissionais liberais ser apurada mediante a verificao de culpa. Enfim, deve-secomprovar dano, ao, nexo causal e dolo ou culpa do agente causador do dano.

    3.3. Responsabilidade do contador perante o direito de empresa. O Novo CdigoCivil trouxe captulo referente ao direito da empresa, no qual trata sobre aresponsabilidade civil do contador juntos s sociedades empresrias. Entre osartigos do Cdigo que norteiam o exerccio contbil, um dos mais importantes para area o de nmero 1.177, que trata da responsabilidade civil do contador. Aoproduzir balanos, por exemplo, caso o erro cometido tenha sido praticado porimpercia, o contador responder diretamente a quem solicitou o servio. A situaoevolui para processo penal se ficar provado que o profissional tinha conhecimento doerro ao divulgar o balano. Neste caso, ele responder Justia, assim como s outrasentidades envolvidas.(Celso Marcelo de Oliveira)

    4. RESPONSABILIDADE PENAL DO CONTADOR

    Seria simplrio abordar em uma palestra as implicaes criminais de uma funo toimportante e complexa como a do profissional da contabilidade. H vriaslegislaes a serem analisadas, como por exemplo: Cdigo Penal, Lei 8.137/90(crimes fiscais), Lei 11.101/2005 (Nova Lei de Falncias) e Lei 7.492 (crimes contra ocolarinho branco).

    Veremos que mais do que crimes especficos quanto atividade do contador, huma imensa responsabilidade deste profissional em co-autoria ou participao emvariados crimes.

    4.1. Falso Testemunho ou Falsa Percia (Perjrio). Art. 342 do CP (DL 2.848/1940),inseridos no captulo Dos Crimes contra a Administrao da Justia, alterados pelaLei 10.268/2001.

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    Falso testemunho ou falsa percia

    Art. 342. Fazer afirmao falsa, ou negar ou calar a verdade comotestemunha, perito, contador, tradutor ou intrprete em processo judicial, ouadministrativo, inqurito policial, ou em juzo arbitral: (Redao dada pela Lein 10.268, de 28.8.2001)

    Pena - recluso, de um a trs anos, e multa.

    1 As penas aumentam-se de um sexto a um tero, se o crime praticadomediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada aproduzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parteentidade da administrao pblica direta ou indireta.(Redao dada pela Lein 10.268, de 28.8.2001)

    2 O fato deixa de ser punvel se, antes da sentena no processo em queocorreu o ilcito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redao dada pelaLei n 10.268, de 28.8.2001)

    Nomenclatura. Perjrio. Antigo crime religioso, em que se traa o juramentoperante Deus e, assim, era punido com aoite, decepao da lngua ou morte.Agentes: entre outros, o perito judicial e o contador. Conduta: fazer afirmao falsa(mentir), negar quando sabe a verdade ou calar a verdade como perito ou contadorem processo (civil, penal, trabalhista e administrativo) e inqurito policial, ou juzoarbitral. Crime de mo prpria: s o perito ou o contador pode pratic-lo. Emprincpio no se admite co-autoria, nem participao. Todavia, o STF tem admitidoco-autoria de advogado com seu cliente, ao instruir este a mentir em processo (RHC81.327). Sujeito passivo: o Estado. Elemento subjetivo: vontade livre e consciente dementir ou omitir a verdade ( irrelevante o fim do agente). A falsidade deve versarsobre fato jurdicamente relevante para a soluo da causa. Consumao:encerramento do depoimento ou com a entrega do laudo pericial em cartrio (crimeformal, no precisa de resultado), sendo irrelevante se influi no desfecho do processo(STF, HC 73.976). Compromisso: doutrina clssica (Hungria, Noronha) havercrime mesmo que a testemunha no firme compromisso. Tribunais: as testemunhasdispensadas de dizer a verdade (informantes) no cometem o crime. Ateno:Quem no obrigado pela lei a depor como testemunha, mas que se dispe a faze-lo e advertido pelo Juiz, mesmo sem ter prestado compromisso pode ficar sujeito aspenas do crime de falso testemunho. (STF - HC 69358, 2 T, e HC 66.511-0, 1 T) O

    STJ, seguindo posio do STF, tem decidido que irrelevante a formalidade docompromisso para a caracterizao do crime de falso testemunho. (HC 20924).Ressalte-se, no entanto, que a testemunha tem o direito de calar sobre fatos que aincrimine.

    Medidas despenalizantes.No ser punvel o agente caso se retrate ou declare averdade at a sentena de primeiro grau. O final do prazo a publicao da sentena,

    que se d com a sentena na mo do escrivo. No Jri, vai at a leitura da sentena,

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    em Plenrio. Sursis processual: caber a suspenso processual, pois diz o art. 89 daLei 9.099/95 Art. 89. Nos crimes em que a pena mnima cominada for igual ou

    inferior a um ano, abrangidas ou no por esta Lei, o Ministrio Pblico, ao oferecer adenncia, poder propor a suspenso do processo, por dois a quatro anos, desde queo acusado no esteja sendo processado ou no tenha sido condenado por outrocrime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspenso condicional dapena (art. 77 do Cdigo Penal).

    4.2. Sonegao Fiscal (Lei 8.137/90, arts. 1 e 2). Crimes cometidos por particularcontra a ordem tributria.

    Art. 1 Constitui crime contra a ordem tributria suprimir ou reduzir tributo, oucontribuio social e qualquer acessrio, mediante as seguintes condutas: (Vide Lei n9.964, de 10.4.2000)

    I - omitir informao, ou prestar declarao falsa s autoridades fazendrias;

    II - fraudar a fiscalizao tributria, inserindo elementos inexatos, ou omitindooperao de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;

    III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ouqualquer outro documento relativo operao tributvel;

    IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba oudeva saber falso ou inexato;

    V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatrio, nota fiscal ou documentoequivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestao de servio,efetivamente realizada, ou fornec-la em desacordo com a legislao.

    Pena - recluso de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

    Pargrafo nico. A falta de atendimento da exigncia da autoridade, no prazo de 10(dez) dias, que poder ser convertido em horas em razo da maior ou menorcomplexidade da matria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigncia,caracteriza a infrao prevista no inciso V.

    Art. 2 Constitui crime da mesma natureza: (Vide Lei n 9.964, de 10.4.2000)

    I - fazer declarao falsa ou omitir declarao sobre rendas, bens ou fatos, ouempregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamentode tributo;

    II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuio

    social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigao eque deveria recolher aos cofres pblicos;

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    III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficirio,qualquer percentagem sobre a parcela dedutvel ou deduzida de imposto ou

    de contribuio como incentivo fiscal;

    IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatudo, incentivofiscal ou parcelas de imposto liberadas por rgo ou entidade dedesenvolvimento;

    V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita aosujeito passivo da obrigao tributria possuir informao contbil diversa

    daquela que , por lei, fornecida Fazenda Pblica.

    Pena - deteno, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

    Ao penal. So crimes de ao penal pblica incondicionada (art. 15). Elementosubjetivo: os agentes destes crimes que somente podero ser punidos a ttulo dedolo, nunca de culpa. H que se provar a vontade livre e consciente do autor dodelito de suprimir ou reduzir tributo (dolo especfico). Competncia: no caso detributos federais, a competncia ser da Justia Federal (art. 109, V, CF), porquepraticado em detrimento de bens ou interesses da Unio. Crimes materiais (art. 1):depende da produo do resultado naturalstico, que consiste na efetiva supressoou reduo do tributo, contribuio etc. Crimes formais (art. 2): os delitos do art. 2consumam-se apenas com a realizao da conduta. Sujeito Ativo: contribuinte(pessoa fsica), administrador, diretor ou gerente e contador (pessoa jurdica). O art.11 desta lei diz que Quem, de qualquer modo, inclusive por meio de pessoa jurdica,concorre para os crimes definidos nesta lei, incide nas penas a estes cominadas, namedida de sua culpabilidade. Portanto, no h dvida de que aqui tambm poderestar enquadrada a conduta ilcita do contador, no mnimo em co-autoria e,principalmente, porque boa parte das condutas dos arts. 1 e 2 so tpicas de suafuno. Sujeito passivo: Estado (Fazenda Pblica). Excludente de ilicitude (art. 23do CP): no poder o alegar o contador que cumpria ordens de seu patro outomador dos servios, pois sonegar no significa estrito cumprimento de dever

    legal, nem muito menos exerccio regular de direito.

    O STJ j decidiu, de forma contundente, que responde pelo crime de sonegao fiscal:

    contador e o procurador da empresa que, inobstante ter conhecimento daexistncia de simulao, fez a escriturao e o controle contbil respectivo eassinou, em nome da pessoa jurdica, guia de informao e apurao do ICM,durante o tempo em que durou a fraude (Grifamos.) (RHC 305/SP, Rel. Min.

    Carlos Thibau, 6 Turma) Contador e sonegao: outros julgados: (Videtambm HC 42165 / SP, Relator(a) Ministro GILSON DIPP, 5 TURMA,Julgamento 28/06/2005;HC 13322 / RJ, Relator(a) Ministro GILSON DIPP, 5TURMA, Julgamento 28/11/2000.) (STF, HC 80797 / SP - Relator(a): Min.SYDNEY SANCHES, Julgamento 07/08/2001, Primeira Turma.)

    Crime Societrio. Denncia genrica: Ementa: (...) 1. Os fatos descritos na dennciaso atividades inerentes aos scios-responsveis, cabendo a eles a prestao de

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    informao sobre a renda auferida ao fisco e o nus de efetuar o recolhimento dotributo devido. 2. Nesse contexto, tratando-se de crime societrio, dispensvel adescrio minuciosa e individualizada da conduta de cada acusado, bastando, paratanto, que a exordial narre a conduta delituosa de forma a possibilitar o exerccio daampla defesa. 3. Precedentes do Superior Tribunal de Justia. 4. Recurso desprovido.(STJ, RHC 19686 / SP, Relator(a) Ministra LAURITA VAZ, 5 TURMA, Julgamento28/06/2007, DJ 13.08.2007.) (STJ, 6 Turma, HC 40005 / DF, Relator(a) MinistroPAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, Julgamento 07/11/2006, DJ 02.04.2007.)

    Medidas Despenalizantes. Pagamento do tributo (Lei 9.249/95): art. Art. 34.Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei n 8.137, de 27 de dezembrode 1990, e na Lei n 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover opagamento do tributo ou contribuio social, inclusive acessrios, antes dorecebimento da denncia. Pagamento parcelado: o STF (HC 85.452-4) j decidiu queas normas do PAES (Lei 10.684/2003) aplicam-se a qualquer parcelamento. Logo, apretenso punitiva do Estado ser suspensa ao se pactuar o parcelamento antes oudepois do recebimento da denncia oferecida pelo MP. Findo o parcelamento,extingue-se a punibilidade. O STJ j decidiu que basta o deferimento do pedido deparcelamento, antes de recebida a denncia criminal, para que se verifique a extino

    da punibilidade, ocasionando o trancamento da ao penal (RHC n 11.598/SC). OSTF inclusive tem aplicado as regras do PAES (lei federal) aos parcelamentosestaduais (HC 83.936). Sursis processual: somente poder ser aplicada a suspensocondicional do processo para os crimes do art. 2 da Lei 8.137, que fixa a penamnima em 6 meses (art. 89, Lei 9.099/95). Delao premiada: Art. 16 ()Pargrafo nico. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partcipe que atravs de confisso espontnea revelar autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa ter a sua pena reduzida de uma dois teros. (Pargrafo includo pela Lei n 9.080, de 19.7.1995) Ateno: o STF temdecidido que a suspenso da pretenso punitiva do Estado por meio doparcelamento fiscal, no se estende ao crime de quadrilha ou banco, pela autonomia

    deste delito. Todavia, a falsidade ideolgica que se exaure na sonegao por esteabsorvida por ser crime-meio (HC 84453). No caso do falso que se exaure nasonegao, caso seja anistiado pela sonegao, tambm deixar de responder pelofalso (RHC 2.145)

    Esgotamento da Instncia Administrativa. Lanamento definitivo: o STF firmouorientao, seguida pelo STJ e demais tribunais deste pas (ADIN 1.571), que a aopenal somente poder ser instaurada aps o encerramento definitivo do processoadministrativo de lanamento fiscal, isto , a constituio definitiva do crditotributrio. Quem d a palavra final se o tributo devido ou no o Fisco. Mas, caso o

    MP tenha provas suficientes da sonegao poder denunciar, pois o titular da aopenal, diz a CF. Diz o art. 83 da Lei 9.430/96: "Art. 83. A representao fiscal para finspenais relativa aos crimes contra a ordem tributria definidos nos arts. 1 e 2 da Lein 8.137, de 27 de dezembro de 1990, ser encaminhada ao Ministrio Pblico aps

    proferida a deciso final, na esfera administrativa, sobre a exigncia fiscal do crditotributrio correspondente."

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    4.4. Sonegaodecontribuio previdenciria: art. 337-A do CP, acrescentado pelaLei 9.983/2000. O crime se perfaz com a ao de suprimir ou reduzir contribuio

    social previdenciria e qualquer acessrio, mediante as seguintes condutas: I omitirde folha de pagamento da empresa ou de documento de informaes previsto pelalegislao previdenciria segurados empregado, empresrio, trabalhador avulso outrabalhador autnomo ou a este equiparado que lhe prestem servios; II deixar delanar mensalmente nos ttulos prprios da contabilidade da empresa as quantiasdescontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador deservios; III omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos,remuneraes pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuies sociais

    previdencirias: Pena recluso, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

    Extino da punibilidade: se o agente, espontaneamente, declara e confessa ascontribuies, importncias ou valores e presta as informaes devidas previdnciasocial, na forma definida em lei ou regulamento, antes do incio da ao fiscal.Haver a possibilidade do parcelamento, porm no ser possvel a suspensocondicional do processo. Ressalve-se que, neste crime, facultado ao juiz deixar deaplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primrio e de bonsantecedentes, desde que o valor das contribuies devidas, inclusive acessrios, sejaigual ou inferior quele estabelecido pela previdncia social, administrativamente,como sendo o mnimo para o ajuizamento de suas execues fiscais. No foi adotadoo princpio da insignificncia, mas permitido o perdo judicial ou somente aplicaode multa.

    4.3. Crimes Falimentares do Contador. A Nova Lei de Falncias e RecuperaoJudicial (Lei 11.101/2005) ampliou a responsabilidade penal do contador, ao dispor:

    a) Fraude a credores. Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentena que decretar afalncia, conceder a recuperao judicial ou homologar a recuperao extrajudicial,ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuzo aos credores, com o fim deobter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem. Pena recluso, de 3

    (trs) a 6 (seis) anos, e multa. Haver aumento de penal (1/6 a 1/3) se o agente: I elabora escriturao contbil ou balano com dados inexatos; II omite, naescriturao contbil ou no balano, lanamento que deles deveria constar, ou alteraescriturao ou balano verdadeiros; III destri, apaga ou corrompe dadoscontbeis ou negociais armazenados em computador ou sistema informatizado; IV simula a composio do capital social; V destri, oculta ou inutiliza, total ouparcialmente, os documentos de escriturao contbil obrigatrios.

    b) Contabilidade paralela. A pena do crime do art. 168 aumentada de 1/3 (umtero) at metade se o devedor manteve ou movimentou recursos ou valoresparalelamente contabilidade exigida pela legislao. Concurso de pessoas. Nasmesmas penas incidem os contadores, tcnicos contbeis, auditores e outrosprofissionais que, de qualquer modo, concorrerem para as condutas criminosas

    descritas neste artigo, na medida de sua culpabilidade.Reduo ou substituio da

    pena. Tratando-se de falncia de microempresa ou de empresa de pequeno porte, eno se constatando prtica habitual de condutas fraudulentas por parte do falido,

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    poder o juiz reduzir a pena de recluso de 1/3 (um tero) a 2/3 (dois teros) ousubstitu-la pelas penas restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores ou

    pelas de prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas.

    c) Violao de sigilo empresarial. Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem justacausa, sigilo empresarial ou dados confidenciais sobre operaes ou servios,contribuindo para a conduo do devedor a estado de inviabilidade econmica oufinanceira: Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

    d) Omisso dos documentos contbeis obrigatrios. Art. 178. Deixar de elaborar,escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentena que decretar a falncia,conceder a recuperao judicial ou homologar o plano de recuperao extrajudicial,os documentos de escriturao contbil obrigatrios: Pena deteno, de 1 (um) a 2(dois) anos, e multa, se o fato no constitui crime mais grave. Apenas neste caso,haver a possibilidade de aplicar-se a suspenso condicional do processo.

    5. Bibliografia

    AREND, Dante Aguiar. As conseqncias penais do parcelamento das dvidas tributrias, no

    contexto do art. 9 da Lei n 10.684/2003. Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 105, 16 out.2003. Disponvel em: http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4431

    EISELE, Andreas. Crimes contra a ordem tributria. So Paulo: Dialtica, 1998.

    FRANCO, Alberto Silva e STOCO, Rui. Leis penais especiais e sua interpretao

    jurisprudencial. Vol. 1. 7 ed. rev., atual. e ampl. So Paulo: RT, 2002.

    MONTEIRO, Samuel. Crimes fiscais e abuso de autoridade. So Paulo: HEMUS, 1993.

    NABARRETE NETO, Andr. Extino da punibilidade nos crimes contra a ordem tributria.

    Revista Brasileira de Cincias Criminais, n 17, ano 5, jan./maro, 1997.

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