responsabilidade social na cadeia produtiva automotiva …

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA ESTUDO DE CASO DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE SÉRGIO DE MATTOS IDLST Rio de Janeiro 2002

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO

RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA

PRODUTIVA AUTOMOTIVA

ESTUDO DE CASO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

SÉRGIO DE MATTOS IDLST Rio de Janeiro 2002

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO

E

TÍTULO

RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIV A -ESTIJDO DE CASO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR:

SERGIO DE MATTOS HILST

APROVADOEMr2l/ {)2/;lOOJ., PELA COMISSÃO EXAMINADORA

ç~Q.~ FERNANDO GULIHERME TENÓRIO DOUTOR EM ENGENHARIA DA PRODUÇÃO

MARCELO MIL NO FA CÃO VIEIRA DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO

~ ROGÉRIO ARAGÃO BASTOS DO VALLE DOUTOR EM ENGENHARIA DA PRODUÇÃO

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RESUMO

o objetivo da dissertação é compreender a responsabilidade social das organizações,

tomando-se como estudo de caso duas empresas pertencentes à cadeia produtiva do

setor automotivo. No intuito de manter o anonimato das empresas estudadas, elas

foram denominadas: Empresa A, elo forte desta cadeia, e Empresa B, fornecedora de

produtos críticos à produção industrial da Empresa A. O objetivo, então, foi pesquisar

como a responsabilidade social é percebida pelos diferentes atores dentro de uma

mesma cadeia produtiva. Dentro desta linha, foi verificado até que ponto a prática da

responsabilidade social interna da Empresa A se reproduz na Empresa B. Isto implicou

medir práticas de responsabilidade social interna. Para tanto, foi utilizada com o

instrumento de pesquisa a norma Social Accountability (SA) 8000 considerada como a

materialização de um consenso ético-normativo de políticas e de sistemas de Gestão da

Qualidade Social. A norma apresenta-se como um sistema de auditoria similar ao ISO

9000 e 14000, sendo um sistema de implementação, manutenção e verificação de

condições dignas de trabalho, constituindo-se num padrão social auditável, passível de

certificação e verificação por terceiros. Entretanto, quando se fala de experiências

aplicadas à causa da responsabilidade social deve-se minimizar as tentações em

relação à implementação de sistemas de gestão como, por exemplo, o proposto pela

SA 8000. Esta norma comporta-se como um aperfeiçoamento das práticas flexíveis de

gestão fazendo com que a qualidade de vida no interior das empresas seja suscetível de

se tomar mais um critério de desempenho para vencer nos mercados mais

competitivos. Sob o ponto de vista desta pesquisa a responsabilidade social interna

ocorreria dentro do mundo do trabalho se houvesse uma interação consensual entre o

modelo de Gestão da Qualidade Social proposto pela norma e a cidadania. Esta

interação denomina-se 'Gestão Social'. O objetivo maior do estudo, desta forma, é

aumentar o entendimento acerca das práticas do exercício da responsabilidade social

interna voltadas para a emancipação do trabalhador-cidadão.

III

Page 4: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

ABSTRACT

The dissertation' s aim is to understand the social responsibility of the organizations,

taking the cases of two companies belonging to the supply chain of automotive sector.

In order to keep the anonymous of these companies, they were called Company A,

strong link of this chain, and Company B, supplier of criticai products for the

industrial production of Company A. The objective was to research how the social

responsibility is perceived by the different actors within the supply chain. In this line,

we verify if the practice of internaI social responsibility of Company A is reproduced

in Company B. That implied on measurement of internai social responsibility

practices. To-do so, we used the standard Social Accountability (SA) 8000, as an

instrument of research, and considered as a materiaIized of a polítical ethical­

normative consensus and a Social QuaIity Management system. The standard is

presented as an auditor system similar to ISO 9000 and 14000 systems, being an

implementation, maintenance and verification system for worthy work conditions,

establishing as an auditable social standard, liable of certification and verification by

third party institutions. However, when concerning experiences applied do the social

responsibility's cause, we should minimize the temptations related to the

implementation of management systems like, as an example, the one proposed by SA

8000. This standard behaves as an improvement of flexible practices of management,

making the quality of life in the companies be susceptive to become other performance

criteria to win in more competitive markets. For us, the internai social responsibility

would occur within the workplace if there is a consensual interaction between Social

Quality Management model proposed by SA 8000 and citizenship. We call this

interaction of 'Social Management'. The main achievement ofthis study is to enlarge

the understanding about practices of exercises of internai social responsibility toward

the emancipation ofthe worker-citizen.

IV

Page 5: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

ÍNDICE

1. Introdução ............................................................................................................................. 01

2 . Capítulo 1 - Referencial Teórico ......................................................................................... 11

2.1. Flexibilização Organizacional: Referencial Teórico - Organizacional ............................ 12

2.1.1 Panorama da política social do trabalho no Brasil ................................................... 12

2.1.2 Globalização da Economia ....................................................................................... 23

2.1.3 .Neoliberalismo ......................................................................................................... 26

2.1.4. Valorização da Cidadania ........................................................................................ 30

2.1.5. Gestão Social ........................................................................................................... 37

2.1.6. Terceiro Setor .......................................................................................................... 47

2.2. Responsabilidade Social da Empresa: Referencial Teórico - Social ................................. 53

2.2.1. Responsabilidade Social .......................................................................................... 53

2.2.2. Ética Empresarial ..................................................................................................... 60

2.2.3. Responsabilidade Social Interna .............................................................................. 63

2.3. Nonna Sa 8000: Referencial Técnico - Organizacional ................................................... 67

2.3.1. Apresentação da SA 8000 ....................................................................................... 67

2.3.2. Elementos nonnativos e suas interpretações ........................................................... 76

2.3.3. Requisitos da SA 8000 ............................................................................................ 78

2.3.3.1 Trabalho Infantil ............................................................................................ 79 2.3.3.2 Trabalho Forçado .......................................................................................... 82

2.3.3.3 Saúde e Segurança ......................................................................................... 83 2.3.3.4 Liberdade de Associação e Negociação Coletiva .......................................... 84 2.3.3.5 Discriminação ................................................................................................ 86 2.3.3.6 Práticas Disciplinares .................................................................................... 87

2.3.3.7 Horas de Trabalho ......................................................................................... 88 2.3.3.8 Remuneração / Compensação ....................................................................... 89 2.3.3.9 Sistema de Gestão ......................................................................................... 91

2.3.4. SA 8000 como Sistema de Gestão ........................................................................... 91

2.3.4.1 Política Social e Condições de Trabalho ....................................................... 92

2.3.4.2 Representantes da Administração ................................................................. 93 2.3.4.3 Representantes dos Trabalhadores ................................................................ 94 2.3.4.4 Análise Crítica pela Administração ............................................................... 94 2.3.4.5 Planejamento e Implementação ..................................................................... 94 2.3.4.6 Controle de Fornecedores .............................................................................. 96 2.3.4.7 Ação Corretiva .............................................................................................. 97 2.3.4.8 Registro ......................................................................................................... 98 2.3.4.9 Comunicação Externa .................................................................................... 99 2.3.4.10 Acesso para Verificação ............................................................................ 100

Page 6: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

3. Capítulo 2 - Referencial Prático ......................................................................................... 10 1

3. t Análise Comparativa das Responsabilidades Sociais Internas da Empresa A e da Empresa B ................................................................................................................... 101

3.1.1 Apresentação da Pesquisa ....................................................................................... 10 1

3.1.2 Trajetória da Pesquisa ............................................................................................ 103

3.1.3 Identificação dos sujeitos pesquisados ................................................................... 107

3.1.4 Critério para verificação da responsabilidade social interna .................................. 109

3.1.5 Análise comparativa da responsabilidade social interna - gestão da qualidade social ....................................................................................................... 111

3.1.6 Resumo da análise comparativa da responsabilidade social interna ...................... 133

4. Conclusão ............................................................................................................................ 136

4.1. Considerações finais sobre aSA 8000 .............................................................................. 138

4.2 Considerações finais sobre a responsabilidade social- gestão da qualidade social ......... 141 4.3. Considerações finais sobre a responsabilidade social- gestão social ............................... 144

5. Referências Bibliográficas .................................................................................................. 149

Anexo 1 .................................................................................................................................... 155

Page 7: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 01- Sujeitos pesquisados na Empresa A ...................................................... 108

Quadro 02 - Sujeitos pesquisados na Empresa B ..................................................... 109

Figura 01 -Fronteira entre gestão da qualidade social e gestão social ...................... 110

Quadro 03 - Etapas de análise da responsabilidade social interna ........................... 111

Quadro 04 -SA 8000 - Critérios fundamentais: trabalho infantil ............................ 112

Quadro 05 -SA 8000 - Critérios fundamentais: trabalho forçado ............................ 113

Quadro 06 -SA 8000 - Critérios fundamentais: segurança e saúde do trabalho ....... 114

Quadro 07 - ..... SA 8000 - Critérios fundamentais: liberdade de associação e direito à

negociação coletiva .................................................................................................... 118

Quadro 08 - SA 8000 - Critérios fundamentais: discriminação ............................... 120

Quadro 09 - SA 8000·- Critérios fundamentais: práticas disciplinares ................... 122

Quadro 10 -SA 8000 - Critérios fundamentais: horas de trabalho .......................... 123

Quadro 11 - SA 8000 - Critérios fundamentais: remuneração (salários e

beneficios) ................................................................................................................. 124

Quadro 12 -SA 8000 - Critérios fundamentais: sistema de gestão .......................... 126

Quadro 13 - Índice de confonnidade ......................................................................... 134

Quadro 14 - Apuração dos resultados - critério essencial de verificação da

responsabilidade social interna ................................................................................. 135

VII

Page 8: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

1. INTRODUÇÃO

Na era da informação, da economia globalizada - tempos de contradições

sociais evidentes - defronta-se com um quadro de instabilidade social de contínuas

crises econômicas e sociais, de um surpreendente avanço tecnológico e de um

incipiente desenvolvimento nos campos morais, políticos e sociais. A área empresarial

tem sido palco de discussões cada vez mais polêmicas e cruciais para o

desenvolvimento do Brasil, e uma das questões mais controversas diz respeito ao papel

que as organizações desempenham como agentes sociais. Existe um crescente

consenso de que as empresas que buscam excelência devem ter a obrigação social de

operar seus negócios de maneira ética, e ter como objetivos a qualidade nas relações

institucionais e a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Esta perspectiva está

saindo do mundo das verbalizações para se firmar como uma referência prática,

particularmente nos países em desenvolvimento, com as organizações repensando sua

relação com a sociedade e assumindo aos poucos seu papel cidadão. Ademais as

organizações, sejam públicas ou privadas, têm em comum a necessidade de organizar

sua mão-de-obra, gerir seu capital e definir seu nível tecnológico da maneira que

melhor lhes permita enfrentar a concorrência em termos de mercados.

Na década de 1990 nasce a idéia de que empresas podem combinar seus

objetivos econômico-financeiros com valores de cidadania e de princípios éticos, que,

neste sentido, implica 'fazer as coisas melhor e com responsabilidade social'. O que

antes se caracterizava apenas como uma reação de mercado, acabou se tornando um

movimento proativo por parte das empresas. A busca por este comportamento

Page 9: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

empresarial visa melhorar não somente os aspectos internos, mas, também, as relações

com todos os stakeholder.\·I.

Esse movimento fez com que as organizações refletissem mais sobre suas

ações. Em um determinado pólo, a onda é ir além das expectativas, se antecipar a

qualquer 'ataque' ao mais precIoso bem das empresas: a reputação da marca. O

empresariado nacional tem demonstrado essa preocupação, aumentando o interesse em

fazer parte do processo de desenvolvimento sendo os agentes de uma nova cultura, os

atores de mudança social e os construtores de uma sociedade melhor.

No pólo oposto, a ação de um novo tipo de organização - definida como

organização da sociedade civil ou organização não governamental (ONG\ ligada ao

Terceiro Setor' -, fenômeno inovador e significativo, vem ocupando reconhecidos

espaços e, assim, redefinindo o relacionamento das organizações com a sociedade.

Através deste fenômeno a questão da responsabilidade social ganhou forte impulso. O

I De acordo com Robert Henry Srour em seu livro Érica EmpresariaL' posturas re5ponsáveis nos negócios. na política e nas relações pessoais stakeholders são "os agentes que mantêm vínculos com a organízação, isto é os partícipes:

( I) na frente intenta. temos os trabalhadores. gestores e proprietários:

(2) na frente extenm. temos os cliente. fornecedores. prestadores de serviços. autoridades govenmmentais. credores, concorrentes. mídia. comunidade local. entidades da sociedade civil - sindicatos. associações profissionais. movimentos sociais. clubes de serviços. igrejas" (Srour. 2000:41) .

.. As O N Gs caracterizam-se por serem organizações sem fins lucrativos. autônomas. isto é. sem vínculo com o governo. voltadas para o atendimento das necessidades de organizações de base popular. complementando a ação do Estado. Têm suas ações financiadas por agências de cooperação internacional. em função de projetos a serem desenvolvidos. e contam com o trabalho voluntário. Atuam através da promoção social. visando contribuir para o processo de desenvolvimento que supõe transformações estruturais da sociedade. Sua sobrevivência independe de mecanismos de mercado ou da existência do lucro" (Tenório. 200 I: II ).

No Capítulo 2. no tópico Terceiro Setor. são utilizadas a contextualização e a definíção do tenno do autor Eduardo Szazi

2

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papel desempenhado pelas ONGs é o de vetor gerador e acelerador do movimento de

valorização da responsabilidade social, despertando os stakeholders para o sentido da

cidadania e sobre quais mudanças se fazem a partir da participação de cada um e todos

no processo.

Cada empresa tem suas peculiaridades advindas de sua principal atividade,

porém o grande desafio ético e social que os gestores (de processos e de pessoas)

precisam fomentar é que o trabalho enriqueça o homem além do sentido financeiro.

Estes gestores devem direcionar suas reflexões e idéias num sentido mais ético,

humano e responsável.

o eixo desse estudo gira sobre o exercício de interagir de forma consensual -

patrões x trabalhadores - no interior das empresas, através de um novo modelo de

gestão e cidadania. A intenção deste recorte é verificar até que ponto a execução

prática da cidadania seria uma realidade cotidiana dentro de uma organização.

A preocupação foi segUIr uma linha de pesqUIsa que procura estudar e

transferir formas e/ou modelos de gestão organizacional4 consoantes com os preceitos:

(1) constitucionais brasileiros; e os (2) de uma sociedade econômica e socialmente

4 Foi utiiizaàa a idéia de um modelo de gesião que promova de maneira mais conscieme o envol"imemo do trabalhador no processo de trabalho. conforme definição dada pelo autor Femando G. Tenório em seu livro Flexibilização Organizacional: mito ou realidade: "A este modelo de gestão da produção (interface da organização da produção com a organização do trabalho) chamo de fle:âhilização organizacional. que propõe às empresas uma forma de gerenciamento diferente daqueles preconizados até então: da especialização do trabalhador (taylorista) à qualificação versátil (muItifuncional): da automação rigida (processo mecânico) à automação flexível (processo automático): da produção em massa (fordista) às demandas diversificadas do mercado (pós-fordista): da gestão tecnoburocrática (monológica) a um gerenciamento mais participativo (dialógico). A flexibilização seria um paradigma em gestão da produção que preconiza a diferenciação integrada da organização da produção e do trahalho soh a trajetória de inovação tecnológica em direção à democratização das relações sociais nos sistemas-empresa"" (Tenório. 2000a: 15).

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democrática - de ações sociais voltadas para o entendimento, particularmente no

interior dos sistemas sociais organizados.

o objetivo do estudo foi pesquisar como a responsabilidade social é percebida

pelos diferentes atores dentro de uma mesma cadeia produtiva. Seguindo esta linha,

propusemo-nos a estudar a reprodução da responsabilidade social interna entre duas

empresas~ pertencentes à mesma cadeia produtiva.

Isto implicou medir suas práticas de responsabilidade social interna, por meio

de pesquisa em formato de auditoria social. Esse tipo de auditoria é crível, verificável,

passível de certificação e fiscalização por terceiros especializados. Como instrumento

OQjetivando manter o anonimato das empresas estudadas. elas foram denominadas empresas A e B. A seguir apresentamos breve descrição destas empresas:

Empresa A - iniciou suas atividades no Brasil na década de 1950, instalando seu primeiro escritório em São Paulo. Passados mais de quarenta anos. a empresa soma cinco modernas unidades de produção no pais. além de três empresas coligadas e um grande número de escritórios de representação e assistência técnica. Exporta seus produtos para 35 paises da Europa, Ásia África e Américas. A unidade fabriL objeto deste estudo. foi instalada em 1975 e ocupa urna área total de 600 mil metros quadrados sendo 70 mil de área construída. Esta fábrica detém a produção de autopeças. para veículos de pequeno. médio e grande porte. Os modernos sistemas produtivos resultam em um nivel de qualidade de fabricação que, além de garantir uma larga aceitação de seus produtos junto aos consumidores. proporcionou a esta unidade fabril a conquista do Certificado ISO 9001. A fábrica conta atualmente com 3.500 empregados diretos. é empresa líder (elo forte) da cadeia produtiva do setor automotivo.

Eml)reSa B - fundada no início da década de 1960. especializada na produção em série de peças de máquinas para empresas automotivas. em peças usinadas. em tratamento superficial realizado em peças de alumínio e uma subdivisão de especializada em extrusão de alumínio. fornecedora da Cadeia Produtiva da Empresa A. Sua linha de produção de equipamentos automotivos inclui: peças para transmissão: componentes para bombas a diesel: componentes para sistemas de freios: peças para injeção eletrônica de combustível. peças para sistemas de rolamentos. peças para motores e amortecedores. Em 1999 a empresa foi certificada nas normas ISO 9002 e QS 9000 nas suas duas unidades fabris. Conta atualmente com 816 trabalhadores e é um fornecedor crítico na cadeia produti"a da Empresa A não apenas porque produz componentes de alta complexidade tecnológica mas pelo alto volume de negócios e pelo expressivo quantitativo de itens críticos fornecidos à Empresa A.

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de pesquisa foi utilizada a Norma SA 8000ó, que é a materialização de um consenso

mundial que estabelece regras de ordem ética sobre a política e o sistema de

responsabilidade social interna, sob as prerrogativas da Declaração Universal dos

Direitos Humanos das Nações Unidas. A SA 8000 tipifica o futuro da responsabilidade

social. pois se baseia em consenso e requer substancial transparência e divulgação

pública.

No universo da SA 8000, empresas precisam fazer mais do que simplesmente

declarações políticas, pois necessitam de verificação independente e de consulta prévia

a seus srakeholders. Uma vez que toda cadeia produtiva esteja engajada e reproduza as

práticas da responsabilidade social, estes resultados são significativamente ampliados

consolidando os resultados econômicos, sociais e ambientais. Com esta norma a

intenção é que as empresas criem uma cadeia de valor responsável, ou seja, quando as

empresas comprarem uma das outras será exigido, além do preço e qualidade, algo

mais. Este diferencial seria uma metodologia de gestão fomentadora de ações que

venham acabar com o vácuo deixado pela nossa sociedade, problema este facilmente

percebido em forma de ações antiéticas, falta de diversidade no quadro funcional,

desrespeito aos limites emocionais do trabalhador, locais de trabalho inadequados,

agressões ao meio ambiente e até uso de mão-de-obra infantil. Esta norma requer

estudos teóricos e aborda em suas especificidades nove requisitos 7 que devem ser

(, A 'Social Accountability 8000' (SA SO()O) é uma certificação internacional que Yisa aprimorar o bem-cstar c as boas condições de trabalho. bem como o desen"olYimento de um sistema de ycrificação que garanta a contínua conformidade com os padrões estabelecidos pela nomn

Os requisitos são os critérios fundamentais da nomla SA 8000 e qualquer empresa visando à cenificacão de"e ter total conformidade com esses requisitos.

Page 13: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

cumpridos pelas empresas certificadas, tanto no âmbito de suas unidades de produção

como no de seus fornecedores: (1) proibição do trabalho infantil; (2) do trabalho

forçado; (3) saúde e segurança; (4) liberdade de associação e direito à negociação

coletiva; (5) da discriminação; (6) práticas disciplinares; (7) horas de trabalho; (8)

compen~ação / remuneração; e (9) sistema de gestão.

Esses requisitos foram utilizados nesse estudo como base de verificação,

medição e análise comparativa da responsabilidade social interna da unidade de

produção da Empresa A e de seu fornecedor critico, a Empresa B.

o objetivo, então, foi pesquisar e responder à seguinte questão: Até que ponto

a prática da responsabilidade social interna da Empresa A se reproduz na Empresa B?

Para tanto, além do desenvolvimento de um referencial teórico, três objetivos

específicos, foram perseguidos, a saber:

L levantar a prática da responsabilidade social interna da Empresa A;

ll. levantar a prática da responsabilidade social interna da Empresa B;

lll. verificar as relações interorganizacionais, comparando as responsabilidades

sociais internas das duas empresas.

Pelo fato de a responsabilidade social como um todo atuar na dimensão social

do desenvolvimento sustentado, tornando o tema amplo e complexo, foi necessário

delimitar a abrangência do estudo. Devido à amplitude do tema, o recorte da

pesquisa de campo é quem aponta o limite, na medida em que as duas organizações

Page 14: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

pesquisadas são do tipo empresarial. Logo, o estudo é limitado às unidades de

negócios das duas empresas, mais precisamente focalizando a responsabilidade social

interna da Empresa A e da Empresa B, uma vez que ações sociais internas constituem

o investimento no bem-estar e na qualidade de vida dos trabalhadores e seus

dependentes, no respeito aos direitos do trabalhador como cidadão e na garantia de

condições humanas de trabalho nas unidades de produção e na comunidade na qual as

empresas estão inseridas.

A relevância do tema está associada ao redesenho das funções

tradicionalmente exercidas pelas diferentes instâncias do governo, pela iniciativa

privada e pela sociedade civil organizada. A partir da conscientização de todas as

partes envolvidas neste redesenho da responsabilidade social, abre-se a possibilidade

do desenvolvimento e implementação de sistemas de gestão social que beneficiem

diretamente organizações e comunidades envolvidas.

Enfim, este estudo beneficia empresas de pequeno, médio e grande portes que

têm interesse em trabalhar em sinergia com seus stakeholders, principalmente com

seus fornecedores, para alcançar a verdadeira relação de parceria como forma de

ampliação das vantagens competitivas através da divulgação e implementação de

ações sociais na cadeia produtiva.

No que se refere à metodologia da pesquisaS, o estudo se caracteriza como um

No Capítuio 3. no tópico Apresentação da Pesquisa é feita a caracterização da pesquisa, abordando-se os aspectos referentes ao tipo e à metodologia da pesquisa. à perspectiva de análise e ao modo de investigação. Em seguida o planejamento da pesquisa. onde são definidos os passos percorridos durante e para a realização da dissertação.

7

Page 15: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

estudo de caso, uma vez que a temática se refere especificamente à Empresa A e à

Empresa B. A caracterização da pesquisa é de natureza qualitativa9. O universo da

pesquisa foram as próprias unidades de produção das empresas. A amostra selecionada

ocorreu entre os diretores, gerentes e trabalhadores das duas empresas, em

conformidade com os procedimentos de auditoria da norma SA 8000. A metodologia

observou a seguinte ordem: revisão da literatura, levantamento e análise documental.

elaboração do referencial teórico e pesquisa de campo.

Levantamento de dados sobre o 'estado da arte' da norma SA 8000 foi feito via

Internet e através de livros e normas adquiridos nos EUA e Inglaterra. Para auxiliar a

pesquisa de campo foi contratada empresalO de consultoria e auditoria, especializada

em implementação dos procedimentos da norma SA 8000, responsável pela aplicação

do questionário estruturado e entrevistas não estruturadas. Assim, a questão da

responsabilidade social interna foi estudada à luz do referencial teórico e da aplicação

-} A abordagem qualitativa vem despertando cada vez mais o interesse dos pesquisadores. onde sujeito e objeto são elementos integrados e co-participantes do processo. a partir do qual as ações. as estmturas e as relações tornam-se significativas. Enfatizamos a análise das condições de regulação social. a desigualdade e poder. Nesta abordagem "procura-se investigar o que ocorre nos gmpos e instituições relacionando as ações humanas com a cultura e as estruturas sociais e políticas. tentando compreender como as redes de poder são produzidas. mediadas e transformadas. Parte-se do pressuposto que nenhum processo social pode ser compreendido de fonna isolada. como uma instância neutra acima dos conflitos ideológicos da sociedade. Ao contrário, esses processos estão sempre profundamente vinculados às desigualdades culturais. econômicas e políticas que dominam nossa sociedade" (Alves-Mazzotti. 2000: 139).

10 No intuito de manter o anonimato desta empresa. ela foi denominada: Empresa C que desde 199.5 presta serviços de consultoria especializada em terceirização da gestão de negócios. qualidade empresarial e certificação de sistemas de gestão. Seu lrabalho envolve projetos e implantação de sistemas baseados em normas internacionais como ISO 9000 e ISO 14000. SA 8000 e QS 9000. A empresa oferece projeto. adequação de recursos. treinamento. conscientização. implantação e assessoria na certificação junto a organismos certificadores nacionais e internacionais credenciados.

Page 16: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

prática nas duas empresas de auditoria de primeira partell padrão SA 8000, procurando

apresentar novas interpretações e compreensões sobre o assunto, em conformidade

com a SAI:

"Nesta a empresa interessada na certificação deve investigar e garantir o

atendimento aos requisitos da norma SA 8000. É um processo de auto-auditoria com

a assislência. se apropriado, de qualquer uma das seguintes partes: ONGs locais.

consultores. representantes dos sindicatos. ou outros especialistas. É uma atividade

formal e documentada, inicia-se com reuniões de pré-auditoria, com os auditores

elaborando cronograma da auditoria, organizando os questionários e as entrevistas.

selecionando as ONGs. sindicatos e trabalhadores envolvidos. São ainda atividades

dessa etapa o trabalho preparatório para a empresa e seus fornecedores: (1)

explanação da natureza da auditoria aos trabalhadores. estipulando a necessidade de

se obter informações precisas; (2) requisitar a completa colaboração dos

lrabalhadores nas trocas de informações; e (3) apresentar as práticas e processos

idenrificados como ausentes ou necessários" (SAI, 1999:39).

Quanto à estrutura, a dissertação está dividida em dois capítulos, subdivididos

em quatro itens, além desta introdução e da conclusão. No primeiro capítulo, com três

itens, é apresentado o referencial teórico, como segue.

No pnmelro item, chamado "Flexibilização Organizacional: referencial-

teórico organizacional", vê-se um panorama da política social do trabalho no Brasil e

11 Âuditoria de I)rimeira parte é a etapa inicial do processo padrJo de cenificação SA 8000 numa empresa.

9

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são discutidos os processos de globalização e neoliberalismo; os conceitos de

valorização da cidadania, da gestão social e do terceiro setor.

No segundo item, denominado "Responsabilidade Social da Empresa:

referencial teórico-social", são apresentados e discutidos conceitos de

responsabilidade social, ética empresarial, abordando mais especificamente a

responsabilidade social interna das organizações.

No terceiro item, denominado "SA 8000 - Norma de Gestão da Qualidade

Social: referencial técnico-organizacional", é exposto, em linhas gerais, um

panorama inicial da história da Social Accountability (SA) 8000; descrita a norma

como um código de responsabilidade social internacional; demonstrados os objetivos e

as conseqüentes interpretações deste documento normativo. Finalmente, são

apresentados os requisitos da norma, além da descrição dos subsistemas característicos

da norma como Sistema de Gestão da Qualidade Social.

o segundo capítulo trata do estudo de caso e é composto por um item,

denominado "Análise comparativa das responsabilidades sociais internas da

Empresa A e da Empresa B", onde há a apresentação da pesquisa, seguida pela

identificação dos sujeitos pesquisados nas empresas. Por último são apresentados e

analisados comparativamente os dados extraídos da realidade pesquisada.

Por fim, na conclusão, são tecidas considerações sobre o estudo, além da

apresentação de recomendações sobre o exercício da responsabilidade social interna.

lO

Page 18: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo tem como objetivo apresentar a revisão da literatura dividida em

três itens.

No pnmelro, Flexibilização Organizacional: referencial teórico­

organizacional, é apresentado um panorama da política social do trabalho no Brasil,

discutidos os processo de globalização e neoliberalismo; os conceitos de valorização

da cidadania, da gestão social e do terceiro setor.

No segundo, Responsabilidade Social da Empresa: referencial teórico­

social, são apresentados e discutidos conceitos de responsabilidade social, ética

empresarial, abordando mais especificamente a responsabilidade social interna das

organizações.

No terceiro, SA 8000 - Norma de Gestão da Qualidade Social: referencial

técnico-organizacional, é exposto, em linhas gerais, um panorama inicial da história

da Social Accountability (SA) 8000; é descrita a norma como um código de

responsabilidade social internacional; demonstrados os objetivos e as conseqüentes

interpretações deste documento normativo. Finalmente são relatados os requisitos da

norma, além de serem descritos os subsistemas característicos da norma como sistema

de Gestão da Qualidade Social.

11

Page 19: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.1. FLEXIBILIZAÇÃO ORGANIZACIONAL DO TRABALHO:

REFERENCIAL TEÓRICO-ORGANIZACIONAL

Este item se divide em seis tópicos. Primeiramente resgata-se a política social

do trabalho, no campo da legislação social brasileira, e, nela, procura-se evidenciar a

correspondente responsabilidade social. Esta breve incursão, principalmente a partir da

promulgação da Carta Constitucional de 1988, é importante para o entendimento e a

contextualização do tema em análise. Nos demais tópicos evidenciam-se os conceitos

e práticas que correspondem a ações efetivas sobre os temas da Globalização da

Economia, do Neoliberalismo, da Valorização da Cidadania, da Gestão Social e do

Terceiro Setor.

2.1.1., Panorama da Política Social do Trabalho no Brasil

No início do século XX, com a emergência do período da industrialização, são

discutidas as mudanças ocorridas nas relações entre trabalho e trabalhador. Na era da

Revolução Industrial, a ocorrência de inovações tecnológicas levou um aumento dos

problemas sociotrabalhistas à vida dos operários, já que estes eram obrigados a operar

no mesmo ritmo das máquinas. Estas condições desumanas de trabalho começam a

compor a pauta de discussões no campo da legislação social. A Declaração Universal

dos Direitos Humanos 12 consolida a afirmação de uma ética universal, ao consagrar

um consenso sobre valores de cunho global a serem seguidos pelos Estados. No

12 No dia 10 de dezembro de 1948 a comunidade internacional aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos como uma norma comum de aplicação que reconhecia a dignidade e os direitos inalienáveis e inerentes a todas as pessoas de todos os países.

12

Page 20: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

cenário mundial, direitos humanos e liberdades fundamentais tomavam-se

preocupação constante.

Entre 1930 e 1940, no Brasil, é concebida e implementada, regulamentada e

fiscalizada a maioria das leis sociais visando à proteção do trabalhador e de sua

família. Nesse mesmo período foi promulgada a CLT\3, dando-se início, mesmo que

timidamente, a uma nova discussão sobre os direitos humanos, cuja proteção não se

deve reduzir ao domínio reservado do Estado.

Nos Estados Unidos dos anos de 1960 iniciou-se um movimento de boicote aos

produtos e ações de empresas, decorrente de uma reação negativa da população em

relação à guerra do Vietnã, que de alguma forma estavam ligadas ao conflito armado.

Está reação gerou para as organizações a necessidade de prestar informações ao

público sobre suas atividades no campo social. As empresas reagiram às pressões da

sociedade, que exigia nova postura ética, iniciando um processo de prestação de contas

de suas ações justificando seu objetivo social, com o intuito de melhorar a imagem

junto a consumidores e acionistas.

No Brasil, nessa mesma década, a política reacionária imposta pelo golpe de

Estado fez desabar o sistema no país, mais especificamente sobre a área social,

colocando um freio na luta dos trabalhadores por melhores condições de vida.

Passaram a ocorrer altas taxas de desemprego, houve queda dos salários reais e

aumentou a procura por contrato de trabalho em tempo parcial, além da demanda por

i3 CLT: Consolidação das Leis do Trabalho. promulgada pelo Decreto-Lei n° 5.-1-52. de 1" de maio de 19·+}. a CLT representou a reunião de todas as leis trabalhistas que existiam isoladamente somadas às outras que foram e são criadas.

Page 21: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

maiores níveis de escolaridade para os trabalhadores que permanecessem empregados

e que ocupassem postos de trabalho considerados essenciais para os processos

produtivos nos quais estavam inseridos.

Somente em 1988, com a promulgação da Constituição Federal do Brasil. tem

InICIO uma nova fase para o trabalhismo brasileiro, ainda que no plano formal. A

grande inovação do texto de 1988, que ampliou a dimensão dos direitos e garantias,

consistiu em incluir no catálogo de direitos fundamentais não apenas os direitos civis e

políticos, mas também os direitos sociais, aumentando os direitos dos trabalhadores.

Neste período, muitas empresas, na luta pela vitória ou em busca da

sobrevivência, apostavam no 'vale-tudo' e nem sempre tinham entre suas prioridades

uma conduta baseada em princípios éticos como o respeito ao consumidor, o

cumprimento da legislação trabalhista ou a preocupação com a preservação ambiental.

Este quadro começa a mudar nos anos de 1990, com a preocupação de criar

melhores condições de vida para o trabalhador e com a extensão da qualidade do

produto como pré-requisitos para obtenção do passaporte do qual o Brasil precisa para

ter acesso à internacionalização da economia1ol, principalmente no que tange à

competitividade de mercado.

lol À intemacionaiização da economia é propósito que fa\'orece as nações fones que, JXldem conter prcços dc seus produtos aquém do custo dc produção cnscjando uma concorrência ilegítima. Para Boa"ctllura dc Souza Santos "0 traço da glohalização da economia é a primazia toral das empresas mu/tinaciol1ais. enquaJ1lO agentes do 'mercado gloha/". A própria c"olução do nomc por que são conhccidas assinala a constantc cxpansão das atividades dcstas cmprcsas com atiúdades cm mais quc um Estado nacional: dc cmprcsas multinacionais para cmprcsas transnacionais c, mais rcccntcmcntc, para cmpresas globais" (Santos, 2001:290).

1-1

Page 22: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Na esfera pública, o Brasil é signatário das Convenções da OITI5. Qualquer

convenção da OIT pode virar lei no Brasil se forem observados todos os passos legais

(prazos, depósitos e carência). Normalmente são introduzidas no nosso ordenamento

jurídico por meio de decretos presidenciais, após a sua aprovação e confirmação pelo

Congresso Nacional. Passa a ser um tratado internacional com força de lei no país

porque todos os requisitos formais foram observados e seus conteúdos alinhados à

Constituição Federal do Brasil.

As convenções da OIT são a base de elaboração da norma SA 8000 e fio

condutor no cumprimento dos requisitos de responsabilidade social, aos quais as

organizações têm a obrigação de atender. Soma-se a esta base a necessidade que as

organizações têm de ser coerentes com os preceitos da Carta Constitucional de 1988,

e, então, começa-se a perceber a existência, ainda que incipiente, de um movimento de

convivência democrática nas empresas. Vive-se uma época de profundas mudanças

que afetam diretamente o sistema-empresa 16.

Além do processo de crescente internacionalização da economIa, tem-se o

maior reconhecimento do mercado como fornecedor de recursos, o que faz o Estado

I~ OIT: Organização Internacional do Trabalho. Criada pelo Tratado de paz de Versalhes. em 1919. em Genebra. na Suíça. É um fórum internacional onde governos. empregadores e trabalhadores discutem e adotam. em igualdade de condições, princípios trabalhistas condizentes com o direito e a dignidade do homem e com os interesses da sociedade.

16 "O sistema-empresa. a partir do taylorismo-fordismo. tem preestabelecido as ações de seus membros mediante uma divisão de trabalho implementada por meio de vários instrumentos gerenciadores de suas ações: estrutura decisória através da disposição hierárquica: definição de atribuições através de plano de cargos e salários: programas de treinamento através de conteúdos standarizados segwldo o modismo da época: definição de tarefas através de manualização etc. Tais mecanismos são utilizados para demarcar ou delimitar o comportamento do empregado. dificultando a manifestação dos elementos estruturais de seu mundo da vida" (Tenório. 2000a:91).

15

Page 23: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

recuar de sua antiga posição na esfera produtiva e de seu papel como regulador do

mercado.

Nos espaços empresarIais são observadas novas formas de organização que

tendem a privilegiar o trabalho coletivo, criativo, inovador. No campo do trabalho

surge a incumbência de produzir novos resultados, tais como salários mínimos

aceitáveis. dignas condições de trabalho e justas relações trabalhistas.

Registra-se, também, a ocorrência do desenvolvimento progressIvo de uma

produção cada vez maiS 'individualizada' e de estilos de consumo cada vez mais

diferenciados. O Estado passa a intervir menos na regulação do livre funcionamento

dos mercados, abandonando gradualmente seu papel de executor direto no esforço de

obtenção do pleno emprego.

A expectativa de conseguir níveis cada vez mais altos de consumo de massa é

transferida. progressivamente, da ação estatal para a ação do mercado. Nessa

conjuntura destaca-se também a tecnologia de base microeletrônica que vem provo-

16

Page 24: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

cando importantes mudanças na organização tavlorista do trabalho. A tlexibilidade 17

da produção reduz a homogeneização da força de trabalho.

o crescente emprego transitório - definido por modalidades mutáveis de

contratação e pela tlexibilidade nas funções e no horário, com formas diversas de

remuneração - reduz progressivamente o contingente assalariado estável.

Os temas tlexibilização e desregulação 18 trabalhista, como novas tendências

nas relações trabalhistas, parecem ser os tópicos mais críticos nas relações que

começam a se estabelecer entre o papel principal do mercado e o papel menos

interveniente do Estado.

Com a queda do muro de Berlim começou verdadeiramente o século XXI, pois,

com sua simbologia, um ciclo foi encerrado, o século das conquistas sociais ficou para

trás, e, no campo da política, a celeridade persegue o ritmo da Internet. Tomar decisões

torna-se extremamente rápido, aumentando a tlexibilidade e a mobilidade do exercício

do poder. Sob o manto da forte volatilidade do mercado, do aumento da competição e

17 No iino La Jiexibiíidad dellrabajo en Europa. coordenado por Robert Boyer e sob os auspícios da Federación Europea de Investigaciones Económicas (Fere) ( ... ) os autores identificaram cinco definições para o termo flexibilidade: a) maior ou menor adaptabilidade da organização da produção - opções técnicas e organizacionais condicionadas às dimensões e demandas do mercado: b) a atitude dos trabalhadores para mudar o posto de trabalho - competência técnica e atitude da rnão-de­obra para dominar di"ersos segmentos de um mesmo processo produtivo: c) debilidade das restrições juridicas que regulanl o contrato de trabalho - dizem respeito aos aspectos institucionais relacionados às leis trabalhistas e que facilitem. inclusive. ao empregador a dispensa dos empregados sem qualquer garantia adicional: d) sensibilidade dos salários (nominais ou reais) - significa a dependência dos salários em relação à situação econômica da empresa ou ao mercado de trabalho em geral: e) possibilidade de as empresas subtraírem uma parte das deduções sociais e fiscais -liberação das empresas das regulações do Estado quanto ao seu funcionamento" (Tenório. 2000a: 16~).

18 A preocupação que na desregulação o Estado não intervenha nas relações de trabalho. para que a autonomia privada. coletiva ou individual. disponha. sem limitações legais. sobre as condições de trabalho. além de outros fatores par.! adequado funcionamento dessa autonomia exige equilíbrio entre a oferta e a procura do emprego. o que não se verifica na atual conjuntura.

17

Page 25: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

do estreitamento das margens de lucro, as organizações tiram proveito do

enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão-de-obra excedente

(desempregados ou subempregados) para impor regimes e contratos de trabalho mais

flexíveis, diminuindo o emprego regular em favor do crescente uso do trabalho em

tempo parcial, temporário ou sub contratado. A proposta, que não é nova, assume sua

verdadeira face: a desregulamentação.

Mesmo quando se atribui ao Estado um papel menos ativo do que no passado,

não há dúvida de que, nos processos de transformação socioeconômica em curso, os

Estados nacionais ainda desempenham o papel de atores protagonistas. Um dos

desafios do Estado é transformar seu próprio papel, redefinindo as funções que

classicamente desempenhava no antigo sistema. Esta mudança ou redefinição de seu

papel é um dos mais importantes componentes do fenômeno global de transformação

socioeconômica e é um dos processos que geram a maior quantidade de conflitos entre

os diversos atores políticos, sindicais e empresariais. A concepção do Estado mínimo é

uma das propostas de redefinição do Estado. O que se propõe é uma desregulação tão

abrangente quanto possível dos mais diversos âmbitos de atividade, inclusive ao

domínio das relações trabalhistas. Há um processo de esvaziamento que vai

progressivamente reduzindo o papel do Estado por meio de uma ação de transferência

de funções para o mercado e para o setor privado.

Já o novo papel do mercado, aqui representado pela organização empresarial,

introduz um conjunto de desafios relevantes. Assegura-se a competitividade, o que

implica a capacidade de adaptar-se a condições variáveis de mercado e à conseqüente

18

Page 26: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

incerteza. Ambos os fenômenos são decorrentes da abertura para uma economIa

internacional em transformação e com permanente inovação tecnológica.

A articulação entre os requisitos de competitividade e uma gestão trabalhista

que inclua componentes de negociação individual e coletiva das novas modalidades

institucionais, técnicas e trabalhistas, requer seguramente que se realizem

reordenamentos em cada um desses campos, reduzindo os custos sociais e ampliando

as possibilidades de incorporação de parte dos trabalhadores e de suas organizações

sindicais no processo.

A partir do exposto, o desempenho global da economia passa a ser o resultado

não só das decisões de política econômica - cujo papel fundamental se concentra na

criação de condições favoráveis à produção de certos tipos de comportamento dos

atores econômicos, entre eles, prioritariamente, o empresarial - mas também, e cada

vez mais, da agregação das múltiplas decisões empresariais. Este fato pode ser

verificado na busca de comportamentos empresariais positivos quanto a investimentos,

geração de empregos, aumento de produtividade e de competitividade, elevação de

salários e inovação em tecnologia.

Também as inovações em termos de tecnologias gerenciais e de organização

empresarial mostram-se eficazes se associadas à concepção da empresa como uma

unidade que integra positivamente o trabalhador, proporcionando-lhe um princípio de

identidade. Seguindo este raciocínio, resgata-se a enfase na responsabilidade social

como condutora das ações do trabalhador. Esse fio condutor faz surgir o

comprometimento destes com os sistemas produtivos, o que propicia o atingimento 19

Page 27: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

dos objetivos organizacionais traduzidos em melhor qualidade no trabalho e maIOr

satisfação do trabalhador, boa produtividade e alta competitividade.

Diante desta consideração, verifica-se que nos anos de 1990 surge a

preocupação com a qualidade de vida do trabalhador, para além da atenção dispensada

à qualidade do produto, como pré-requisito para a internacionalização da economia

brasileira, principalmente no que tange à competitividade de mercado.

Os mecanismos de medições da gestão da qualidade do produto e ambientais

são feitos pelas empresas através da implementação das normas certificadoras ISO

900019 e 140002°, e, particularmente para a indústria automobilística, a norma QS

900021, que tem como objetivo básico credenciar as organizações que se destacam no

tocante aos padrões de eficiência e eficácia. Os certificados ISO e QS se constituem

em passaportes para o mercado internacional.

No contexto do ambiente de trabalho a expressão 'qualidade' pode ter várias

interpretações, representando uma variável que não explicita as condições em que 1\

vivem os trabalhadores de uma empresa. Por outro lado, a expressão 'responsabilidade

social' por parte do empregador, ancorada na legislação sociotrabalhista, representa:

19 "A série ISO 9000 fornece um sistema de gestão da qualidade reconhecido globalmente. baseado nos princípios de melhoria contínua, auditoria. monitoramento e em um sistema de gestão" (Mcintosh et aI.. 2001:311).

20 "A série ISO 14000 foi criada depois da ISO 9000. fornecendo um sistema de gestão ambiental reconhecido globalmente. A série baseia-se nos princípios de um registro de efeitos ambientais. incluindo entradas. processos e saídas. além da melhoria contínua mensurável baseada em auditoria. monitoramento e sistema de gestão" (Mcintosh et aI.. 200 I :314).

II O sistema QS 9000 é uma tentativa de uniformização de práticas da indústria automobiiistica americana e pode ser aplicado a todos os fornecedores na área automobilística. ou seja. a toda a cadeia produtiva automotiva. dentre os quais a Empresa A e a Empresa B." (Martins. 1999:404).

fllBlIOTtCA MARIO HENRIQUE SIMONSEI FUNDACAo GETULIO VARGAS

lO

Page 28: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

salário justo, ambiente saudável do ponto de vista de higiene e da segurança no

trabalho, e condições facilitadoras que impliquem o bem-estar do trabalhador em '

termos daquilo que ele busca como pessoa, como profissional e como ser social. Para

os empresários, a empresa, além de produzir bens e serviços, também deve ter um

sentido mais amplo que justifique sua existência. Esta responsabilidade, inserida na

missão empresarial, deve estar associada a um objetivo social, como o de proporcionar

o bem-estar das pessoas no ambiente de trabalho e na sociedade, contribuindo para a

existência de modos de vida mais saudáveis.

Na empresa, este chamado à responsabilidade social inclui a preocupação com

a qualidade de vida do ser humano, em todos os seus espaços de convivência. A

melhoria da qualidade de vida, como o custeio da eficiência das redes de proteção

social para todos os habitantes das sociedades avançadas, pode ser constatada por meio

da verificação de alguns indicadores, como segue:

" (...) a existência de uma renda minima universal que garanta os meios básicos de

subsistência: a redução da jornada de trabalho e a semana de .J dias ou menos: as

condições de segurança de trabalho e a gradativa eliminação de tarefas insalubres ou

perigosas. entregues a robôs; o abandono da tese da luta de classes e a aceitação da

economia de mercado por parte de sindicatos de larga tradição anticapitalista; o

desthae pelos consumidores de produtos mais duradouros e diversificados: a

universalização dos sistemas de educação. saúde e segUridade social: o amplo acesso

às redes de energia elétrica. de água tratada e de esgotos: o transporte coletivo

subsidiado: e a possibilidade defhlição do lazer ou do ócio. entendido como usu[nlfo

do rempo livre" (Srour, 1998:42).

21

Page 29: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Porém, precede essas tendências avançadas a preocupação com as altas taxas

de desemprego, que são acompanhadas por uma crescente insegurança devido à

precariedade das novas formas de ocupação e pela queda dos salários reais. Também a

flexibilização das relações de trabalho (contrato de tempo parcial, subcontratação,

terceirização etc.) inscreve-se no mesmo processo que demanda maiores níveis de

escolaridade para os trabalhadores que permanecem empregados e que ocupam postos

de trabalho considerados essenciais para os processos produtivos nos quais se inserem.

Por isso, em especial, as empresas têm que buscar a constante modernização de

seu processo produtivo para sobreviverem no mercado atual. Além da Qualidade

Total, da preocupação ecológica, do marketing institucional, existe a presteza da

responsabilidade social, que vem a se integrar ao novo processo produtivo qualitativo

e - por que não? - competitivo.

E nessa conjuntura, dentro do sistema de mercado, que a responsabilidade

social da empresa toma-se um componente vital para o sucesso dos negócios e, mais

do que isso, uma extraordinária vantagem competitiva. Desse modo, exercer e

demonstrar a responsabilidade social, incluindo as obrigações das leis de trabalho, é

um direito adquirido dos trabalhadores e é um dever das empresas que se preocupam

com suas partes interessadas e com seus negócios em longo prazo.

22

Page 30: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.1.2. Globalização da Economia

o século XX marca o início da era do conhecimento e da informação,

caracterizada por um período de grandes transformações tecnológicas, sociais e

econômicas, que impõe novos padrões de gestão às organizações públicas e privadas.

Trata-se de um processo de reestruturação produtiva apoiado pelo desenvolvimento

científico e tecnológico e na globalização de mercados.

Neste contexto, parece haver consenso entre estudiosos da teoria

organizacional de que o sucesso de uma organização é, cada vez mais, influenciado

pela sua capacidade de implementar formas flexíveis de gestão que possam fazer face

às mudanças do mundo contemporâneo.

Flexibilização organizacional22 tomou-se um discurso hegemônico nos últimos

anos, tanto no meio acadêmico quanto no empresarial. Questões como estruturas

orgânicas e horizontalizadas, empowerment e descentralização, caracterizam a gestão

estratégica23 e fazem parte do dia-a-dia das organizações que apontam a flexibilidade

como fundamental para a produtividade. Entretanto, sua aplicação na rotina das

organizações mais parece fruto do pragmatismo e oportunismo patronais, utilizada no

controle do trabalhador e na obtenção de melhores resultados econônico-financeiros.

" -- Na nota 0.+ apresentamos a definição de flexibilização organizacional. 23 "Gestão estratégica é um tipo de ação social utilitarista, fundada no cálculo de meios e fins e

implementada através da interação de duas ou mais pessoas. na qual uma delas tem autoridade formal sobre a outra. Por extensão. neste tipo de ação gerencial o sisterna-empresa detennina suas condições de funcionamento e o Estado se impõe sobre a sociedade" (Tenório. 1998: 14).

Page 31: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Parece lícito supor, portanto, que o conceito de organização flexível, embora

pretenda incorporar mudanças nos regimes de regulação do trabalho e acumulação de

capital, na realidade representa apenas um aperfeiçoamento das práticas tradicionais de

gestão. Percebe-se flexibilidade como a busca para reestruturar o processo produtivo, e

a força de trabalho para aumentar a versatilidade e a adaptabilidade do indivíduo a

novas tecnologias, visando reforçar o controle social sobre os trabalhadores.

Desta maneira, a possibilidade de concentrar a atenção sobre a pessoa mais do

que sobre o posto de trabalho reforça a estratificação social existente - a divisão da

sociedade em um núcleo altamente capacitado e uma periferia desqualificada e

excluída do processo produtivo.

Para Srour (1998:44)

"a organização do trabalho no sistema capitalista excludente assumiu o caráter de

linha de produção ao estilo taylorista-fordista, lídima expressão da Revolução Industrial.

Foram claramente separadas as funções de concepção e controle, conferidas aos gestores

pelos empresários ou exercidas por eles mesmos; e execução de tarefas parceladas, exclusiva

dos trabalhadores. Tal processo requer tão-somente trabalhadores desqual~ficados 01/

semiqual0cados. de quem se extrai principalmente força fisica. Os trabalhadores tornam-se

descartáveis. substituíveis por outros igualmente despojados de habilidade técnica, já que seu

preparo se resume a treinamentos sumários ou a uma aprendizagem precária com base no

've r fàze r '''.

Page 32: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.1.3. Neoliberalismo

Durante o período compreendido entre 1930 e 1945, o Estado forte

desempenhou um papel altamente interveniente na economia. Contudo. ao administrar

a conjunção de crises, transições e novas estratégias de desenvolvimento, demonstrou

o esgotamento de sua capacidade de gestão, fazendo crescer a percepção de sua

posição de atraso. Desta percepção surge o debate sobre a polaridade modernização e

atraso, que aponta as discussões à perspectiva neoliberal.

Do final da Segunda Guerra Mundial em 1945 até 1985 a discussão neoliberal

ganhou contornos nacionalistas, consensada basicamente em torno do Estado­

desenvolvimentista. O grande mote deste movimento é a repulsa contra a política

intervencionista do Estado do Bem-estar Social

No Brasil, a partir da queda do regIme militar2-l em 1985, o neoliberalismo

começa a deixar de ser uma discussão e passa, mesmo que de forma incipiente e

confusa, a ser uma prática.

"Este período está marcado pela configuração de uma coalizão de interesses bastanre

heterogênea e diferenciada internamente. expressão do amplo leque de fórças

políticas que liderou a transição do regime militar para o governo civil (..) Como é

sahido. a transição brasileira. notabilizou-se por seu gradualismo e pela expressivo

participação de setores ligados ao regime militar. ao lado das/orças pertencenres aos

quadros oposicionisra. no processo de instauração de uma nova ordem. A lensclO

enrre continuidade e m1ldança marcaria todo o longo percurso em direçc70 a

'~ O primeiro momcnto do rctomo à dcmocracia corrcspondc ao go\'cmo Samey (i 985-90).

Page 33: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

COl7.w!/(!aç'({o da democracia C.) () compromisso com a meta de conciliar CrL'SCll11et1l0

e('O!7(JllllCO com cO/llhare à pohreza e à desig/laldade social era hege!1l()nico entre as

IJrincipois fiJrç'os politicas. Assim. o agenda política incl1liria. entre sllas prioridodes.

alé!1l da redll!.r'âo da inflação e da instauraçâo da ordem democrático. o chamado

rL'sgOle da dívida social (..) Se havia 11m amplo consenso quanto à necessidade de

realizar as refármas políticas liberalizantes de modo a eliminar o legado allforitário.

por 01ltro lado, não havia acordo. no interior do próprio governo, quanto ao

esgo(omeJ1{O do antigo modelo de desenvolvimento, q1ler em seus aspectos

econnmicos. quer em seus suportes institucionais (..) A meta do desmonte do legado

do lJassado só se romaria prioritária com o ascensão de Fernando Collor à

presidência, no limiar dos anos 1990" (Diniz, 2000:77-8).

A crise do Estado intervencionista e a hiperinflação ocorrida desde o início da

década de 1980 fizeram os neoliberais elegeram o poder sindical e os movimentos

operários como culpados da crise econômica a da alta inflação. Para eles, as pressões

reinvidicatórias por melhores salários e condições de trabalho geraram uma

universalização dos direitos sociais, abalando as bases de acumulação capitalista,

fomentando a ascensão do movimento de flexibilização do trabalho. Soma-se a isto o

surgimento da nova geração dos direitos humanos, quais sejam os chamados 'direitos

de solidariedade' que, em conjunto com as ONGs, tendem a supnr as demandas

sociais ocultadas pelo Estado neoliberal.

Nesses anos de doutrinação ideológica pela flexibilização do trabalho o

discurso fundamentador. mantendo sempre o mesmo objetivo, tem oscilado apenas

quanto as desculpas, tais como 'necessidade' de flexibilizar a produção,

Page 34: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

particularmente em seus aspectos legais onde as leis são 'velhas' e 'desatualizadas',

impedindo a competitividade numa economia globalizada. A retórica contra a

legislação trabalhista nacional segue com idéias de que as leis oneram sobremaneira o

empresariado, impedem a ampliação dos mercados de trabalho, geram desemprego,

não estão adequadas à modernidade, atrasam ou até mesmo bloqueiam o

desenvolvimento, agridem a liberdade do trabalhador, anulam os sindicatos, além de

afastarem a livre negociação. A ênfase é sempre a diminuição do emprego e tem

submersa a proposta de pleno emprego se o trabalho for gratuito, algo muito próximo

do século XIX, daí porque ser chamado de neoliberalismo, todavia consegue ser mais

cruel: está agravado pelo aumento populacional, o avanço tecnológico e as

dificuldades econômicas, de transporte e habitacionais e os novos modelos de gestão.

Uma análise que leve em consideração tais ponderações não reservará o qualitativo

'neoliberal' tão-somente às políticas estatais que se conformarem integralmente com

os princípios econômicos nacionais. Será considerada neoliberal toda ação estatal que

contribua para o desmonte de políticas de incentivo à independência econômica

nacional. de promoção do bem-estar sociall~ (we(fare slate), de instauração do pleno

,< "Estado de hem-estar ou 11 elfare .'>fale. sistema econõmico ciaborado lcoricamelHe por Anhur Ceci I Pigou (I R77 - 19)9) atra\"(~s da obra FC0I10Illic.1 (i( ll"c/(àrc. consiste em um capitalismo regulado pelo Estado. em lenllOS que preselTem os mecanismos de mercado na formação dos preços e no ajustamento entre a orerta e a demanda. assegurando os estímulos e a eficicncia da economia. ao mesmo tempo em que permitam que se eyitem e corrijam os desequilíbrios socioeconõmicos que tenderiam a resultar da li\Te concorrência" (Jaguaribc. 1978: 77).

Page 35: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

empregoC6 (keynesianisl11o) e de mediação dos conflitos socioeconõmicos. Esse

desmonte passa pela implementação de três políticas específicas: (1) política de

privatização das atividades estatais; (2) política de desregulamentação, isto é, redução

do Estado no terreno da economia e das relações do trabalho; e (3) política de abertura

da economia ao capital internacional.

A rigor, o neoliberalismo articula prática e ideologicamente os interesses dos

grupos, classes e blocos de poder organizados em âmbito mundial, com ramificações,

agências ou sucursais em âmbito regional e até mesmo local. Sob todos os aspectos,

seja a proposta teórica ou ideológica, o neoliberalismo revela como se desenvolve a

globalização - pelo alto, ou de cima para baixo.

Sempre privilegia a propriedade privada, a grande corporação, o mercado livre,

a tecnificação crescente e generalizada dos processos de trabalho e produção, a

produtividade e a lucratividade. Os principais guardiães dos ideais e práticas

neoliberais no mundo têm sido o FMI, Fundo Monetário Internacional, o BIRD, Banco

Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, e a OMe, Organização Mundial de

Comércio. A experiência do liberalismo em países europeus tem reduzido os direitos

sociais e aumentado o desemprego, com repercussão negativa nas condições de vida

dos cidadãos.

20 "Na relação Estado-sociedade o fordismo vai ser um aliado das idéias de 101m Mamard KC\l1CS

( 1883 - 19~6) ou do ke~·nesianismo. na medida cm que esse propõe. para solucionar o problema dc desemprego. a intervenção do Estado na economia através de grandes investimentos governamentais. O ke\nesianismo recomenda 'uma política vigorosa de consumo (que combata as tendências de poupança) c de investimento público (sobretudo em obras públicas) por parte das coletividades locais (é para elas o 'momento de dar provas de dinamismo'. diL Kemesf (Coriat. 1993 :97)'" (Tenório. 2000a: I ~ó-7).

Page 36: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

No Brasil, o neoliberalismo, com abertura quase que irrestrita das importações.

tem se revelado um eficaz instrumento de geração de empregos no exterior e de

desemprego interno. No atual governo brasileiro a receita do neoliberalismo é aplicada

em sua íntegra: ao mesmo tempo em que prega a liberdade de mercado. a minimização

do Estado. a livre iniciativa, pratica rígido intervencionismo na economia interna.

contrai a emissão de moeda, baixa impostos sobre rendimentos altos, abre o mercado.

cria alto nível de desemprego, normatiza relações de trabalho, fixa juros e taxa de

càmbio, controla preços de tarifas e atividades bancárias.

A lógica do liberalismo, que se caracteriza por um extremado individualismo, é

a do livre mercado, da acumulação, do lucro máximo, que reduz o homem e as

relações sociais a valores econômicos. Um pragmatismo impiedoso impede sua

humanização. Nele, a opulência de poucos se nutre da miséria de muitos.

2.1 A. Valorização da Cidadania

Se do ponto de vista econômico a década de 1980 representou a chamada

'década perdida', no plano político ela consolidou um quadro institucional básico de

democratização. Daí a necessidade de aperfeiçoar os instrumentos conducentes à

concretização dos direitos sociais definidos na Constituição como uma nova cidadania.

Nos anos de 1990. além das práticas participativas inovadoras que se

institucionalizam cada vez mais, surgiram movimentos baseados em ações solidárias

alternativas centradas em questões éticas de valorização da vida humana. Mais

especificamente. empresas de diversos setores começaram a realizar efetivas ações

~I )

Page 37: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

sociais_ ao mesmo tempo em que passaram a divulgar um perfil mais social e humano

de suas corporações Esse foi um período de consolidação da mudança de mentalidade

de pane do empresariado nacional, em que a visão de um capitalismo de cunho mais

social. que busca maior negociação com amplas parcelas dos trabalhadores_ está cada

vez mais atenta aos problemas sociais, levando em consideração a questão ética e da

responsabilidade social na hora de tomar decisões.

A preocupação com o trabalhador como cidadão dentro da empresa perpassa

todo este estudo. Nesta pesquisa, a responsabilidade social interna ocorre dentro do

ambiente organizacional (mundo do trabalho27) se houver uma interação consensual

entre um novo modelo de gestão e cidadania.

Segundo Tenório (2000a: 15),

"incorporar Ilm novo modelo de gestão que agilizasse o processo de produção através

das tecnologias da infórmaçc7o]8 e que promovesse de maneira consciente o envolvimento do

empregado !lO processo prodlttivo."

Este novo modelo seria a Gestão da Qualidade Social, onde se tem o princípio

de se obrigar o capital a respeitar os direitos do trabalhador. Ou seja, quando há

interação consensual entre Gestão da Qualidade Social e cidadania no seio das

organizações acontece o exercício da responsabilidade social interna. A este modelo

flexível de gestão organizacional chamamos de Gestão Social.

ü mundo do tnlbaiho tem o mesmo significado que sistema-eml)resa. ~s

r(,cl1(}/(}~/{] da I/ltimnaçâo - interação da eletrônica. informática e das telecomunicações (Tenório. 2()()Oa: 15)

.~ !

Page 38: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Entretanto deve-se tomar cuidado com termo 'flexível', pois um dos perigos

para interação consensual ocorre quando a globalização da economia denomina de

flexibilização uma de suas estratégias para amenizar ou disfarçar o seu objetivo maior:

maximização do lucro. Flexibilidade pode sugerir aos desavisados a manutenção do

status quo apenas amenizado, maleável, compreensível, tolerável, enfim, só aspectos

bons. Na realidade, essa palavra é um subterfUgio, pois a verdadeira estratégia de

lucros é pacificamente aceita pelos sfakeholders, sem oposições e maiores obstáculos.

tàtores a colaborar com a sua celeridade. Para se caminhar na direção dessa interação

consensual é preciso um esforço de valorização da cidadania. Para nós, o termo

'valorização da cidadania' tem a mesma explicação/ denominação de Fernando

Tenório:

·'C .. ) ofato de no Brasil a cidadania ainda não ser um valor que a sociedade tenha

institucionalizado. Aqui o indicador "cidadania" ainda não é plenamente

considerado. quer nas discuss6es parlamentares nas quais. salvo exceções. a politica

como um bem comum é subsTituida pelos interesses corporativos e/ou fisiológicos.

quer nos ambientes organizacionais em que este elemento tem servido mais como

expressão de retórica do que para atender às necessidades do cidadão-trabalhador. O

trabalhador é sempre visto como llm .fàtor a ser controlado ou motivado e não como

llm sujeito da ação produtiva" (Tenório, 2000a: 182).

Do ponto de vista da relação entre o trabalhador e a empresa, a cidadania

ocorre quando o empregado, ao tomar consciência de seu papel como sujeito, malS

interativo e conhecedor do conteúdo social de suas ações no trabalho, passa a

reivindicar não somente maiores ganhos salariais e/ou melhores condições de trabalho.

Page 39: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

como também participação no processo de tomada de decisão dentro da organização

Isto quer dizer que uma produção mais tlexível 29• em lugar da rígida·10

E. exige participação direta da força de trabalho na condução deste processo.

implicando a diminuição dos níveis hierárquicos. fato que pode promover uma maior

aproximação entre trabalhadores situados nos níveis operacionais e estratégicos; o que

pressupõe que essas mudanças favorecem a democratização do sistema empresariaL

Para Boaventura de Souza Santos (2001:243),

"o capitalismo organizado. caracteriza-se pela passagem da cidadania cívica e

política para o que jái designado por 'cidadania social'. isto é. a conquista de sigmficarivos

direitos sociais. no domínio das relações do trabalho. da segurança social. da saúde. da

educação e da habitaçào por parte das classes trabalhadoras das sociedades centrais e. de

um modo m1liTO menos característico e intenso. por parte de alguns setores das classes

trahalhadoras em alguns países perijericos e semiperijericos".

A modificação na chamada 'Lei de Greve' ocorrida em 1989, de forma a torná-

la compatível com a Constituição de 1988, que declarava a greve um direito de todos

29 UlIllza cquipamemos projetados pela tecnologia flexÍ\'Ci de base microeietrônica. pennitindo "modificar a distribuição dos diferentes fluxos de produção no seio da fábrica C .. ) com vistas a limitar os ·tempos mortos' e os tempos ·improduth·os·. Ou ainda. melhorar a taxa de engajamento de trabalhadores (intensificaç,io do trJbalho) e máquinas (melhor rendimento de capital fixo) e reduzir 'estoques' inerentes aos materiais peças e produtos em processo de fabricação" (Tauile. 1989:35-8).

.10 "É um processo. originado do taylorismo na especialização por tarefa e aperfeiçoado pelo fordismo na linha de montagem. no qual tanto a ferrJmenta quanto a máquina são projetadas dentro dos limites permitidos pela mecânica. Baseia-se na produção em massa de produtos homogcncos. utili/.ando a tecnologi:.l rígida da linha de montagem. com máquinas especializadas e rotinas de trabalho padroni/.adas" (Tenório. 20()Oa:230),

Page 40: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

os trabalhadores, fomentou ainda mais as lutas sociais de classe que estavam na base

da conquista dos direitos sociais. Para Boaventura de Souza Santos:

"Se a classe operária não foi o sujeito monumental da emancipação pás-capitalista.

(oi sem dúvida o agente das transformações progressistas (emancipafórias. neste

semido) no imerior do capitalismo. Embora seja ainda hoje debatível em q1le medida

a cidadania social é uma conquista do movimento operário 011 lima concessão do

l:\rado capitalista. não parece restar dúvida de que. pelo menos sem as lutas sociais

do movimemo operário. tais concessões não seriam(eitas" (Santos, 200 I :244-5).

Esses processos de transformações progressistas no sentido emancipatório se

dão em nível dos sistemas sociais formalmente organizados, isto é, das organizações.

A idéia que as empresas são sistemas, ou atuam de forma sistêmica, tem sido a

referência conceitual e das práticas gerenciais contemporâneas, e suas ações passam a

ser gerenciadas pelos meios financeiros (valor de troca) e poder (ação sobre a conduta

de outros) - mecanismos de controle sistêmico por excelência. Segundo Tenório

(2000a:90),

"essa atifllde ohjcrivante na qual o mundo da vida submete-se ao sistema relaciona-se

àq1lilo q1le Max Weher denominou racionalização da sociedade, Gyorgy Lukács coisificação

do homem. /vfax Horkhczmer e Theodor Adorno racionalidade instrumental. Herbert Marcuse

homem unidimensional L' .!ungen Hahermas tecnificação ou colonização do mundo da vida".

Segundo este autor (2000a: 186),

Page 41: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

"o trabalhador. como ator social e tendo como prática comum a participação.

entrenta o sistema-empresa posicionando-se por meio de seu mundo da vida3! a fim de evitar

I . - 3 J" a slla co onzzaçao - .

No Brasil, já existe a percepção da importância de os trabalhadores

participarem do processo decisório da empresa, indicando a necessidade do empregado

ser encarado como um cidadão, como um sujeito no processo de produção, o que

viabiliza o papel da cidadania dentro das empresas. Logo, exige-se qualidade dos

recursos humanos envolvidos nos processos produtivos e na gestão das empresas, em

matéria de sua qualificação, capacitação e grau de iniciativa.

Neste sentido, o perfil do novo trabalhador eXIge um maIOr grau de

escolarização, uma maior participação no processo de tomada de decisão e um maior

número de atribuições na sua forma de trabalhar. Contudo, nas empresas sediadas no

Brasil, nacionais ou não, seus equipamentos e técnicas modernas de produção

coexistem com salários baixos e condições de trabalho precárias. Efeito colateral

negativo da implementação da flexibilização organizacional, já que se preocupa mais

com o mercado do que com o societário, significando uma degradação das condições

31

_~1

Para josetxo Beriain apud Tenório (2000a: 120) "O 'mundo da vida' como é sugerido na fenomenologia por tarefa e aperfeiçoamento, é o universo dado por suposto na atividade social diária. É a 'consciência coletiva', a "memória coletiva' que proporciona os esquemas de coexistência da vida social, os critérios da representação simbólica e as maneiras de fazer coisas" (Beriain, 1990: 188).

Christian Delacampagne é o autor da definição de colonização publicada em Tenório (2000a: 90). "Quase todas as relações sociais são codificadas juridicamente: relações entre pais e filhos, professores e alunos. entre os vizinhos. Essas fonuas às vezes corrigem relações arcaicas de dominação. mas também provocam um enfraquecimento burocrático da comwucação. Os esquemas de racionalidade econômica e administrativa invadem os domínios tradicionalmente reservados à espontaneidade moral ou estética. É isso que eu chamo de "colonização do mWldo \'Í\"Ído'" (Delacampagne. 1990:20~-5).

35

Page 42: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

de vida e de trabalho. como aqueles que se referem ao desemprego. à intensificação do

trabalho. à desqualificação. ao aumento da exploração.

Como antídoto a esse efeito colateral aponta-se um tipo de inserção engajada

dos trabalhadores no processo de produção, aumentando sua responsabilidade quanto

aos bons resultados do processo produtivo, incorporando atividades de controle da

qualidade do produto e social, com uma participação crescente nos projetos de

produtos e de processos de produção e gestão, através do incentivo às suas sugestões

para aperfeiçoamento dos trabalhadores.

o reconhecimento e a legitimação política e social dos objetivos de

competitividade requerem um compromisso mínimo entre competitividade e eqüidade.

A maturidade, o respeito e o mútuo reconhecimento entre capital e trabalho em

matéria de negociações trabalhistas, que resultam em sistemas de remuneração que

distribuem eqüitativamente os ganhos de produtividade, além do envolvimento amplo

e consciente dos consumidores quanto às exigências de qualidade e de conformidade

dos produtos às normas de saúde, segurança e meio ambiente, nos levam a concordar

com Boaventura de Souza Santos (2001:253), para quem "as sociedades capitalistas

passaram de um paradigma de trabalho para um paradigma de interação".

Page 43: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.1.5. Gestão Social

Um dos temas que está sendo contemporaneamente pesquisado no meIO

acadêmico brasileiro33 é a Gestão Social. uma das formas de gestão preconizadas na

flexibilização organizacional. Esse modelo contrapõe-se à estratificação social

existente e tem sido colocado para dimensionar a importância das questões sociais, em

todos os segmentos, e também nas empresas na condução de seus negócios. Definindo

gestão social:

"A gestão social contrapõe-se à gestão estratégica na medida em que tenta substituir

a gestão tecnoburocrática, monológica, por um gerenciamento mais participativo.

dia lógico, no qual o processo decisório é exercido por meio de d~ferentes sujeitos

sociais. (..) No processo de gestão social, acorde com agir comunicativo, dialógico. a

verdade só existe se todos os participantes da ação social admitem sua validade. isto

é, verdade é promessa de consenso racional, ou a verdade não é uma relação entre o

individuo e a sua percepção do mundo, mas sim um acordo alcançado por meio da

discussão crítica, da apreciação intersubjetiva" (Tenório, 1998: 16-7).

Vemos gestão social como um processo de aprendizado, de percepção de

valores e crenças, de revisão de muitos posicionamentos e tratamentos, seja dos

x~ Na acadcIuia brasileira. a FWldação GCiulio \largas (FG\t1 e a Universidade de São Palio (USP) dcsel1\'ol\"cm estudos e pesquisas sobre Gestão Social:

., Programa de Estudos em Gestão Social (PEGS) da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE). da FGV. no Rio de Janeiro/RJ:

, Centro de Estudos do Terceiro Setor (CETS) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP). da FGV. na capital paulista:

Centro de Empreendorismo Social e Administração do Terceiro Setor (CEATS). da Faculdade de Economia. Administração e Contabilidade (FAE). da USP. em São PaulolSP

Page 44: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

processos, das pessoas ou dos grupos. É o entendimento de que a partir do progresso

científico-técnico e do crescimento da tecnologia da informação surgem inúmeras

ferramentas modernas de gestão. Dentre elas parcerias entre os diversos segmentos da

sociedade. Por exemplo, uma alternativa de gestão social que está sendo apontada

como saída para muitos problemas sociais é o terceiro setor. O terceiro setor

diferencia-se do primeiro seto~4 e do segundo seto~5 na medida em que desenvolve

atividades públicas através de associações profissionais, voluntárias, entidades de

classe, fundações privadas, instituições filantrópicas e de movimentos sociais

organizados.

Para Melo Neto e Froes (200Ib:78),

"deve ser adotado pelas empresas um novo modelo de gestão da responsabilidade

social corporativa e da cidadania empresariaP6".

34 Primeiro setor (setor público) - conjunto das organizações e propriedades urbanas e ruraIs pertencentes ao Estado.

35 Segundo setor (setor privado) - conjunto das empresas particulares e propriedades urbanas e rurais pertencentes a pessoas fisicas ou jurídicas e fora do controle do Estado.

36 "Suas principais caracteristicas são as seguintes:

:;.. escopo da atuação, preferencialmente fora da vizinhança da empresa, ou seja, fora de sua área de atuação. Isso porque, sendo a maioria das empresas investidoras localizada nas regiões ricas, a opção pelas ações de entorno (nas redondezas, na sua área de atuação) dificulta a canalização de recursos para regiões carentes;

~ direcionamento estratégico, privilegiando populações e grupos sociais carentes e priorizando problemas sociais urgentes;

:;.. centrado na busca de novas oportunidades e alternativas de investimentos sociais;

., construção do modelo baseado no uso de novas metodologias;

.,.. uso de instrumentos de acompanhamentos e avaliação;

., forte ênfase na mensuração de retornos obtidos com ações as sociais e projetos sociais;

., estímulo ao uso de parcerias;

,.. sistema incorporado à cultura empresarial das empresas brasileiras" (Melo Neto e Froes, 200Ib:78-9).

38

Page 45: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

São tres os estágios do exercício da responsabilidade social corporativa, objetos

de ações gerenciais diárias para fazer frente às demandas sociais que surgem no dia-a-

dia das empresas. A evolução desses estágios é apresentada a seguir:

"No l" estágio - exercício da gestão social interna - o foco é restrito às qw:stties

sociais internas (beneficios. trabalho. qualidade de vida no trabalho) e tem como alvo

das aç6es oslimcionários e sellsjàmiliares.

No !' estágio- exercício da gestão social externa - o foco amplia-se e as açties

sociais voltam-se para a sociedade e para a comunidade. Ganham maior amplitude

em Termos de loco. pois incorporam ações de preservação do meio ambiente e aç6es

com impacto socioeconômico. cultural e político no âmbito da sociedade e da

comunidade local. O alvo das ações amplia-se. pois o escopo da gestão social é

maior. O que importa não é mais o corpojimcional dos empregados e seusfàmiliares.

mas a população local.

O 3" estágio - exercício da gestão social cidadã - é o de joco e escopo mais amplos. A

empresa desenvolve aç6es sociais que extrapolam o âmbito da comunidade local (a

comunidade ao redor da empresa) e que se eSTendem à sociedade como 11m IOdo.

Mesmo aqueLas populações e gntpOS sociais que não são diretamente alvo das aç6es

sociais da organização são benefiCiados pelos resultados do desempenho social

empresarial" (Melo Neto e Froes, 2001b: 80-1).

Nosso foco é no exercício da gestão social interna37 As ações SOCiaiS da

empresa tem por objetivo melhorar a qualidade de vida no trabalho e valorizar o

'7 Dcfcnàcmos a iàéia àa ciàaàania inàiYiàuai como fator inàutor àa ciàaàania empresariaL isto quer dizer: a prnalência da resllonsabilidade social interna sobre a resllOnsabilidade social externa.

Page 46: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

trabalhador como cidadão. De acordo com os autores Francisco Paulo de Melo Neto e

César F roes,

"seus pressupostos são óbvios:

~ a obtenção da cidadania individual de caráter empresarial (empregados leais,

motivados, participativos, conscientes de seus direitos e deveres funcionais) é pré­

requisito para o desenvolvimento da cidadania corporativa de caráter

empresarial;

~ motivados, os empregados aumentam a sua auto-estima e se predispõem ao

trabalho voluntário;

~ beneficios sociais funcionais devem anteceder às ações sociais comunitárias;

~ a comunidade interna tem preferência sobre a comunidade externa;

~ a imagem da empresa diante de seus empregados e dependentes é fator de peso

na construção da sua imagem institucionaf' (Melo Neto e Froes, 200Ib:89).

Os modelos tradicionais de gestão, que tão bem descreveram as operações das

empresas ao longo do século XX, não têm conseguido acompanhar a revolução que

está ocorrendo no mundo dos negócios. De maneira idêntica ao organograma, à

brochura institucional, ao manual de pessoal, os demonstrativos sociais das empresas

mostram-se ainda estáticos para acompanhar a organização moderna, com sua

estrutura fluida, parceria estratégica, trabalhadores com empowerment, trabalho em

equipe, marketing em rede de multimídia e repositórios de recursos humanos

intelectuais.

40

Page 47: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Nossa conclusão: atualmente não temos idéia precisa de que empresas, grandes

ou pequenas, novas ou antigas, possuem capacidade organizacional sustentável. Tem­

se tomado óbvio que o valor real das empresas não pode ser determinado somente por

seus balanços contábeis tradicionais. O valor de uma empresa não reside em seus

imóveis, equipamentos, estoques e valor da marca, mas em outro tipo de ativo: o

capital social.

Mas afinal, o que é capital social? Qual é a diferença entre o capital social e o

capital de mercado? Capital social são normas de confiança e reciprocidade graças as

quais as sociedades funcionam eficientemente.

Na filosofia tradicional de mercado, definição do capital de mercado elaborada

por Adam Smith: cada indivíduo maximiza seus próprios interesses no mercado e isso

faz com que os interesses da comunidade avancem.

Por sua vez o capital social está baseado numa teoria completamente diferente,

onde cada cidadão dá de si para a comunidade, otimizando o bem-estar desta e,

portanto, otimizando os interesses pessoais de cada indivíduo. Sendo assim, precisa-se

tanto do capital de mercado como do capital social. Um equilibra o outro.

Na perspectiva da gestão social interna na realidade é abordada a evolução dos

modelos de gestão: parte-se da gestão de pessoal para a gestão de recursos humanos,

daí para gestão do capital intelectual e, mais recentemente, gestão do capital social.

41

Page 48: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Francisco Paulo de :vIela Neto e César Froes assIm descrevem esse processo

evolutivo:

"C.) na gesrào de pessoal. o jàco era direcionado para o gerenciamento das normas.

pl'OcL'dimentos e rorinas da administraçi'ío de pessoal. Predomina o poder da

IJIll'Ocracla gesrora. que tinha nos deparramenfos de pessoal as suas principais

unidades gestoras. e nos manuais os seus principais instrumentos de gesrào.

Com a gesri'ío de recursos humanos. o jàco deslocou-se para a gesti'ío do sistema

social da empresa. com ênfase na resoluçi'ío de conjlifos e nas estratégias de

morivaçâo. liderança. supervisão e treinamento e desenvolvimento de pessoal.

Surgiram os órgâos de RH. como formuladores e implementadores de políticas e

programas.

Com o surgimenro da sociedade da informação e do conhecimento. os empregados

passaram a ser crescentemente percebidos e efetivamente considerados seres

humanos integrais. dentro da perspectiva holística. Seus conhecimentos. habilidades e

capaCidades passaram LI ser ob/ero das ações de gerenciamenro do capiTal inrelectual

da empresa.

A/ais recenremenre. com o surgimenro do novo paradigma da responsabilidade social.

os empregados e seus dependentes tornaram-se agentes sociais cujo comportamento

rem grande impacro na empresa. na comunidade e na sociedade" (Melo Neto e Froes,

200 I b: 108-9)

Cm dos pnnclpals aspectos deste processo evolutivo é a construção de

parcerias entre os diversos setores da sociedade, mais especificamente entre o segundo

-12

Page 49: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

setor (empresarial) e o terceiro setor, entretanto deve-se ter a percepção e estar alerta

quanto ao significado e ao uso do vocábulo parceria.

A fim de exemplificar esta percepção, adotamos, e compilamos, o viés

delineado por Fernando Tenório em seu artigo, Aliança e parceria: lima estratégia em

Alves & Cia. texto, sob forma de ensaio, que discute o uso ou abuso do vocábulo

parcerIa:

"Nos dias atuais da globalização econômica. os vocábulos aliança e parceria. assim

como rede. têm sido utilizados para significar processos de interação nos quais

interesses devem ser compartilhados em prol de objetivos comuns. Processos de

caráter social e/ou econômico que tanto podem estar relacionados à interação de

pessoas. de empresas. de estados. do Estado com empresas e do Estado com a

sociedade civil. ou alternativas que procurem significar relações de cooperação enrre

parres.

Consultando o Novo dicionário da língua portuguesa. de Aurélio Buarque de Holanda

Ferreira. podemos inferir que as expressões aliança e parceria são afluentes. no

sentido de que aliados ou parceiros compartem decisões de maneira semelhante. fato

que significaria uma ação social com características dialógicas. No entanto.

acreditamos ser possível que os compartes controlem decisões de maneira maliciosa.

fàro que significaria uma ação social estratégica. De imediato. pode-se pensar que a

segunda possibilidade não exista. na medida em que somente a primeira significaria o

conceito correto de aliança ou parceria. de cooperação entre as partes. Na tentativa

de argumentar que é possível a segunda opç'ão - compartes controlam decis6es de -t:>

Page 50: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

II/UI1(, 1 rei malicioso. pOrfanto. aV,em estrate,gicamente .0 tema será trahalhado LI

parnr de dllasj1lstijicativas.

A primeira considera serem recentes. no Brasil. a prática e a refle.n10 conceitual

sohre os vocábulos aliança e parceria. principalmente quando se trOla de relaçcJes

sociais com características interinstitucionais (Marques. 1999:-/'5), Portanto. é ainda

incipiente sua compreensão e operacionalização.

A segunda justificativa diz respeito a que esta temática emerge da onda do

denominado pensamento único, proposta que tem como princípio nOrfeador a idéia de

que a economia supera a política. Os valores que determinam este pensamento não

são condizentes com o compartilhar decisões. de ação dialógica. São valores

determinados pelo mercado. objetivando relações estraté,f!jcas ou conveniências. em

ve.: de solidariedade ou cooperação (. .. )

"Esrado e sociedade civil deveriam agir em parceria. cada um para (acilitar a ação

do 01l1ro. mas também para controlá-la", (Giddens. 1999:89). Sob esta condicionanre

ideológica ( .. ) ocorrem todos os processos contemporâneos de tomada de decisão,

Alianças e parcerias. por serem processos decisórios. relações sociais em grande

parte realizadas em ambiente no qual os valores de mercado predominam. não

escapam a essa ideologia. Fenômeno inclusive observado naquelas organizaçcJes sem

fins lucrarivos da sociedade civil. denominadas também organi.:açiies do terceiro

seror. insradas a !Jraticar a culr1lra da parceria. da cooperação, da aliança. da rede e

de outros adjetivos interativos.

Page 51: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

(..) são citados casos da dependência que as organizaç(Jes sem fins lucrativos têm em

relação à ideologia do mercado: "A comercialização. a concorrência e o

oporfllnismo. mais próprios do mundo dos negócios lucrativos. têm-se desenvolvido

rapidamente nas organizações de cooperação não governamental. assim como a

inquietafr'ão pública sobre tais tendências" (Sogge. 1998: 1 O-I) (..)

Em dois artigos que publicamos (..) desenvolvemos preocupações a esse respeito. No

primeiro. procurávamos demonstrar que os valores de mercado induzem à gestão

estratégica. cálculo de meios e fins (..) No segundo (..) alertávamos para a

necessidade de as organizações da sociedade civil refletirem sobre o ato de plane/ar

suas atividades. Dizíamos que o plane/amento deveria ser feito numa perspectiva da

emancipação do homem. do cidadão. e não sob () enfoque do 'consumidor '. ·cliente·.

'meta' ou 'alvo' a ser atingido (..)

Processos de interaçlio nos quais interesses devem ser compartilhados em prol de

objetivos comuns são apontados como necessários tanto no mundo dos negócios

quanto naqueles de caráter público. No primeiro caso (..) a ação social com re::,peiro

a meios e fins. o cálculo utilitário das conseqüências da gestão estratégica.

monológica. é o modus vivendi e operandi desse mundo (..) No entanto. nos processos

de interação Estado-sociedade civil ou entre organizações do terceiro setor. devemos

trabalhar com a hipótese de que essas organi::ações devem atuar sob a e~'féra pública.

onde democracia e solidariedade. portanto cidadania. são as substâncias necessárias

para implementar relaçiJes sociais comparrilhadas ( .. )

Page 52: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Aliemç'os e !)(Ircenas só terão resultados se. e somente se. () conhecimel1fo de

prohlemas e soluÇ"i'jes .tor compartilhado. não jór objeto de estratégia nem do poder

púhlico nem da sociedade. mas 11m exercício pleno de cidadania deliherativa"

(Tenório, 2000b:36-50).

Inicialmente, é preciso compreender que a construção ou formação de parcerias

são processos de ação recíproca. Em seguida, ter a consciência que as organizações ao

planejarem estes processos, normalmente o fazem sob o enfoque do mercado que

exerce pressão de cima para baixo, moldando ações e estratégias típicas da cultura

mercantil

Finalmente, nos parece que este tipo de planejamento visa garantir o acesso

diferenciado a recursos de poder dos mais variados tipos, desde status e prestígio até

dinheiro e informação. Fernando Tenório corrobora com esse enfoque crítico, ao dizer:

" (..) o q1le parece configurar este tipo de relação social no ambiente de mercado é o

ohjetivo que se deseja alcançar através de ações utilitaristas. de cálculo de meios e

fins. portanto estratégicas. Estratégias q1le são implementadas através do dinheiro e

do poder. vetores que condicionam o mundo da vida. já que este Tipo de ação social

passa a ser gerenczado por valores de troca e mecanismos de controle" (Tenório,

2000b:41-2).

A formação de parcerias ou processo de conexão social e/ou econômica busca

integrar a empresa e as organizações do terceiro setor. visando ao fortalecimento da

capacidade organizacional de maneira sustentável e perene. Todavia devemos

-i!Í

Page 53: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

questionar a concepção deste tipo de parceria além da lógica do mercado, sob um

pensamento excludente que normalmente privilegia a empresa em detrimento da ONG.

Para Tenório (2000b:50)

"quando se trata da articulação entre a sociedade civil e o Estado, o espírito deve

estar subordinado à busca da solidariedade e da justiça social. Alianças e parcerias, nesta

relação, devem ocorrer em um espaço público e não devem ser projetadas como estratégias

de ganho no mercado, como espaços privados, mas como processos dialógicos nos quais a

cidadania seja o elemento de regulação dessa relação. Para que esta regulação ocorra, é

necessário que a pessoa tenha conhecimento do que está ocorrendo sob o mundo

globalizado".

Ao mesmo tempo em que se deve estar alerta quanto a parcerias construídas

sob a lógica exclusiva do mercado, não se pretende descaracterizar a possibilidade de

parcerias - apontadas como ferramentas de Gestão Social -, que contribuem para a

formação e o fortalecimento do comportamento do cidadão e da cultura democrática,

através de ações sociais que buscam modificar modos de pensar, de atuar e de sentir do

indivíduo.

2.1.6. Terceiro Setor

Os termos empregados para o universo das organizações sociais são vagos e

imprecisos. Existe uma multiplicidade de denominações que demonstra a falta de

nitidez conceitual, o que, por sua vez, revela a dificuldade de enquadrar toda a

47

Page 54: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

diversidade de organizações. A expressão 'terceiro setor' é ainda pouco usada no

BrasiL de maneira geral esse setor é mais conhecido pelo neologismo ONG.

De uma maneira bem simplista, o terceiro setor refere-se a um conjunto de

iniciativas privadas com fins públicos. Estas iniciativas podem ser observadas através

de movimentos, associações e organizações não governamentais. De uma maneira

mais ampla o autor Eduardo Szazi contextualiza e define o termo 'Terceiro Setor'

como sendo:

"( ... ) translormações no mercado e na sociedade brasileira ver~ficadas nos últimos

trinta anos que conduziram a uma redistribuição dos papéis de cada ator social no

alcance do bem comum. onde. progressivamente, a sociedade civil organizada

assumiu novas responsabilidades pela proteção e defesa de direitos, antes inseridas

na órbita exclusiva do Estado (primeiro Setor), posto que, até aquele momento. a

empresa privada (Segundo Setor) entendia que sua função social era limitada ao

pagamento de impostos e geração de empregos. O crescimento do número de

organizações da sociedade civil verificado desde os anos 70 fez surgir um novo ator

social. o denominado Terceiro Setor, o con;unto de agentes privados com fim;

públicos. cu;os programas visavam atender direitos sociais básicos e combater a

exclusão social e. mais recentemente, proteger o patrimônio ecológico brasileiro. Em

jàce do reposicionamento do papel do Estado e do jàrtalecimento da sociedade civil

organizada. as empresas privadas não raro passaram a incluir em seus ob;etivos

institucionais aquilo que se convencionou chamar de 'responsabilidade social'.

conceito que se originou do entendimento da distinção entre empresa e ne7,ócio. Um

negócio basicamente guia-se por uma visão de curto prazo e por 11m interesse

centrado no investidor (shareholder), que busca () hll.c'ro a qualquer custo, com entàquc

.f X

Page 55: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

somel1le /1esse lucro . .Já a empresa caracleriza-SL' por uma visâo de longo prazo l'

husca l's/aheleccr relaç'i"Jes com os diversos grupos de interesse (stakeholders), que.

além dos acionistas. incluem jórnecedores. empregados. clientes. comunidade L'

governo" (Szazi, 2001:22).

Política e economIa são os dois campos fundamentais onde o papel das

organizações do terceiro setor está ganhando espaço e preponderància. Na política, o

terceiro setor precisa atuar na conquista e na garantia dos direitos e da cidadania dos

excluídos. Na economia, a prestação de serviços, as regras do mercado são, sem

dúvida, o que orienta sua ação. A qualidade dos produtos e serviços, a atenção ao

cliente e ao meio ambiente e a formação dos trabalhadores são, entre outros, os

principais desafios destas organizações. São nesses campos que encontramos o papel

do terceiro setor onde a iniciativa do setor privado surge para atender o interesse

público, o bem comum. O papel desempenhado pelas ONGs na política e na economia

estabelece categorias dessas organizações. A autora Maria da Gloria Gohn, apud

Coelho. caracteriza as ONGs nos seguintes tipos:

a) ONGs caritativas: aquelas voltadas para a assistência a áreas específicas. como

menor. mulher e idosos. Têm grande penetraçi'io na área de educaçi'io injàntil e

si'io os que mais se expandiram como pres/adoras de serviços:

h) ONGs desenvolvimentistas: aquelas que s/lrgiram e cresceram a partir de

propostas de intcrvençâo no meio ambiente. Tiveram grande impulso a partir da

lTO 92:

c) ()NGs cidadâs: aquelas voltadas para a rei\'im!icaçi'io dos direitos de cidadania.

que aluam no espaço urbano. /amo no campo popular. no qual constroem redes

Page 56: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

dt' \'u!tdor/n!m!c. /JroIllOVC!7dO L' /Iorl/CI {Jondo dc (JrogrclII/C1s soc/ms. C0//10 /lU

UIIIl/}() l7âo-/w/l/I/ar. q1lClndo 011lalll ./111110 U III/norias dlscrillllnut!os. 1r.1rI7cCL'}u!o

IlIhs/d/Os /h7lYl (f e!ohoraç'iio de /Io/ílicas II/ih/lcas. fa:::ent!o cWII/)On!70s cdllcat!\'(fS

l' dC/1/lI1ciondo a l'lolação dos direiros sociais:

d) O;\Xis amhlentalislos: SL70 as ecológicas. que /Jossllcm mais 1'1.\lhiltdadc /11/110 à

oflll7iâo púhlica. Sells ofos eSlão cOl11rihllindo para m1ldol7ç'o do perfi I dos cidadcs

hI'OSI/Clrc7S. (Coelho, 2000: 63).

A tipologia que mais se aproxima do objetivo deste estudo é a categoria ONG

cidadã. pois ao ser utilizado o termo 'organização não governamental' refere-se

àquelas entidades voltadas para a defesa da cidadania. mais especificamente em defesa

do trabalhador. cidadão, dentro da empresa.

As iniciativas privadas com fins públicos são observadas através de

movimentos. associações e ONGs. Mas, afinal. quais são as diferenças entre

associações e ONGs'7 Szazi (200 I :27) define associação como "uma pessoa jurídica

criada a pal1ir da união de idéias e esforços de pessoas em torno de um propósito que

não tenha tinalidade lucrativa". Algo muito próximo de uma ONG. Suas diferenças

estão nas suas caracteristicas de associação: são entidades de cunho social ou cunho

associati\o \'Iuitas associações e sindicatos atuam como verdadeiras ONGs. As de

cunho associativo não visam lucros. mas. mesmo assim. não servem de proveito de

todos. São clubes recreativos. exclusivos a associados e em muitos casos de acesso

restrito quanto ao seu processo de admissão O autor Eduardo Szazi busca apoio nas

ciencias exatas ao:

Page 57: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

" (. .. ) definir as el1l1dades de clInho associativo ou de heneficio mútuo como aq/Lc/os

de 1100l1re::a endógeno. ou sela. que dedicam suas aç(jes ao heneficio de seus quadros

soe/Ois. Já as entidades de cunho social 011 de heneticio pzíh/ico são aquelas de

nOlure::a exógena. que aluam em tàvor daqueles que estão tóra de seus quadros

sociais" (Szazi, 200 I :28).

Uma das práticas, de cunho social do terceiro setor, é a necessidade de

monitoramento interno e externo da qualidade social empresarial. Isto faz com que as

ONGs, associações e sindicatos se constituam em importantes stakeho/ders no

levantamento de práticas de responsabilidade social intra e entre empresas.

Normas e ferramentas se fazem necessárias para medir e promover estas

práticas, entre elas a SA 8000. Esta norma VIsa, entre outras COisas, medir o

desenvolvimento social dentro da empresa, constituindo-se num código de

responsabilidade social interno.

A norma prescreve a necessidade de envolver o sindicato nos processos de

implementação e manutenção de sistemas de gestão social, além de identificar ONGs

com perfil de representatividade para com os trabalhadores e seus familiares.

Uma vez identificada a ONG, a empresa deve compartilhar os critérios

fundamentais da norma e requisitar os pontos criticos, do ponto de vista da ONG, para

com a comunidade locaL trabalhadores e minorias, visando à melhoria nas condições

de trabalho

~ I

Page 58: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Nos processos de auditoria SA 8000 deve-se promover encontros com

representantes dos trabalhadores (sindicatos) e desenvolver parcerias com OI\Gs.

Algumas ONGs tem desenvolvido senso de credibilidade perante a opinião pública. - -

enquanto se especializam nos assuntos relacionados com a norma.

o envolvimento das ONGs é vital para o processo. visto as mesmas deterem o

poder de solicitar a revogação do certificado SA 8000. De uma maneira mais ampla.

fica cada vez mais claro que o terceiro setor tem impacto ainda mais decisivo nas

perspectivas da democracia e do progresso, principalmente quanto à contribuição que

o setor dá na construção do capital social.

o terceiro setor. ao gerar capital social, torna-se mais decisivo para o progresso

econõmico e para a democracia do que o capital humano ou fisico. A gestão social é

atividade nova. A alta administração das empresas e os que atuam no terceiro setor

devem conhece-Ia em sua abrangencia para exercer melhor o seu trabalho visando

tornar mais eficaz seu desempenho.

É neste contexto que o tema da responsabilidade social da empresa, como fruto

de movimentos e de crises sociais, éticas e econõmicas. que as organizações passaram

a sofrer. ao se verem totalmente envolvidas na economia de mercado e ancoradas na

legislação sociotrabalhista. é tratado no item a seguir.

Page 59: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.2. RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA: REFERENCIAL

TEÓRICO-SOCIAL

Este item está dividido em três tópicos. Esses tópicos evidenciam os conceitos

e práticas que correspondem a ações efetivas a responsabilidade social, a ética

empresarial e responsabilidade social interna da empresa.

2.2.1. Responsabilidade Social

Num mundo globalizado em que a competição muitas vezes resvala para a

concorrência desleal, em que a capacidade de ação da cidadania ganha dimensão

inédita, adotar um posicionamento responsável tem muito a ver com a sobrevivência

das empresas. E, certamente, pode vir a ser uma vantagem diferencial entre elas. Dessa

maneira, colocamos essa questão de fonna mais direta. Quais as responsabilidades

sociais dos empresários no comando das empresas num país com as características do

Brasil? Certamente é a partir desta definição que poderemos delinear estratégias

consistentes que produzam um processo de desenvolvimento econômico socialmente

mais justo.

o entendimento de que o papel social das empresas se restringe ao

cumprimento das obrigações legais está ultrapassado. Hoje se sabe que para ser

classificada como socialmente responsável, a empresa preCIsa não só cumprIr a

legislação, como apoiar o desenvolvimento da comunidade, preservar o meio ambiente

e tomar-se responsável por todos aqueles com quem mantém intercâmbio, sejam eles

53

Page 60: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

acionistas, trabalhadores, fornecedores, clientes, concorrentes, governo ou a

comunidade.

Na Holanda, em 1998, reunIU-se o Conselho Empresarial Mundial para o

Desenvolvimento Sustentável38 visando avaliar a atuação das empresas no campo

social. A partir dos debates realizados entre os representantes dos diversos países

participantes, emergiu um novo conceito de responsabilidade social das empresas:

"Responsabilidade social corporativa é o comprometimento permanente dos

empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolrimento

econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e

de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo" (Almeida,

16/06/1999:A-2).

Para Melo Neto e Froes (2001a:90),

"o conceito de responsabilidade social tornou-se parte de um conceito mais amplo:

desenro/rimento sustentável. Dentre as dimensões do desenvolvimento sustentável, a

responsabilidade social, segundo os representantes do Conselho, é a mais delicada de todas,

porque compreendem os seguintes aspectos:

a) os direitos humanos;

b) os direitos dos consumidores;

c) envolvimento comunitário;

d) a relação comjornecedores;

38 WBSD - World Business for Sustainable Developrnent. 54

/

Page 61: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

e) monitoramento e a avaliação de desempenho; e

f) os direitos dos gmpos de interesse".

Para Gro Harlem Brundtland39, apud. Mcintosh et aI. (2001:108),

"o desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que atende às necessidades do

presente, sem comprometer a habilidade das gerações foturas de atender as suas

necessidades" .

A definição de Brundtland é somente um ponto de partida e pode ser

complementada com a noção de três dimensões: a econômica, a social e a ambiental;

que constituem os pilares do desenvolvimento sustentável. A responsabilidade social

está inserida na dimensão social, onde as enonnes carências e desigualdades sociais

existentes em nosso país conduzem as empresas a participar de ações sociais em

beneficio da comunidade. A empresa ao atuar na dimensão social do desenvolvimento

sustentável exerce sua responsabilidade social.

A responsabilidade social, como conceito, só poderá ser incorporada ao

processo diário de tomada de decisões se as empresas incluírem em sua filosofia e em

sua estratégia as preocupações de natureza ética.

39 Primeira-ministra da Noruega que liderou o World Commissioll 011 Evirollmellt and Developmellt, em 1983 para as Nações Unidas, com objetivos de: (1) reexaminar o estado critico do meio ambiente em nível mundial; (2) desenvolver propostas de solução para a questão do meio ambiente; e (3) garantir que progresso humano deve ser sustentável durante o processo de seu desenvolvimento, sem deteriorar os recursos naturais das gerações futuras. A Primeira-ministra coordenou, nesta Comissão, a elaboração do relatório Gur CommOll Future, que indica que é época de realizar o casamento entre economia e ecologia, para que governos e populações possam assumir a responsabilidade não apenas quanto à danos ao meio ambiente, mas por políticas que causam estes danos. (Fonte: www.oup.co.ukJacademic/, 2002).

55

Page 62: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

A descrição da responsabilidade social, sob uma perspectiva ética, deve incluir

direitos e deveres, conseqüências e valores, todos os quais se referem a fatores

estratégicos específicos. Isto quer dizer, a responsabilidade social está associada à

postura e ao comportamento socialmente responsável da empresa, tanto no

cumprimento de suas obrigações legais quanto ao atendimento de necessidades sociais

de seus trabalhadores e familiares, de seu ambiente social e comunitário.

A responsabilidade social diz respeito ao relacionamento entre empresas e

sociedade - tanto a comunidade local que cerca uma empresa e cujos membros

interagem com seus trabalhadores, quanto à comunidade em geral, que atinge todas as

empresas através de seus produtos, sua cadeia produtiva, sua rede de revendedores, seu

marketing e assim por diante.

Para Melo Neto e Froes (2001a:78) os principais vetores da responsabilidade

social de uma empresa são:

a) Apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua;

b) Preservação do meio ambiente;

c) Comunicação transparente;

d) Retorno ao acionista;

e) Sinergia com os parceiros;

j) Satisfação dos clientes e/ou fornecedores;

g) Investimento no bem estar dos funcionários e seus dependentes em um

ambiente de trabalho agradável.

56

Page 63: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Para Carroll ( 1991 :42),

"há quatro tipos de responsabilidade social: legal. ética. econômica e filantrópica".

Figurativamente a responsabilidade social é uma escada e seus componentes

são seus degraus. O componente de natureza legal da responsabilidade social é o

primeiro degrau (alicerce) de todas as atividades das empresas. Por meio das leis, a

sociedade força uma conduta aceitável. O degrau seguinte é a responsabilidade ética.

Nesse nível, as empresas decidem o que consideram ser certo, justo e eqüitativo, além

das especificações estritamente legais exigidas pela sociedade - considerando a lei

como ética codificada.

Ao gerIr suas responsabilidades nas esferas legais e éticas, as empresas

precisam estar conscientes dos interesses econômicos (terceiro degrau) dos

stakeholders. O último degrau na escada da responsabilidade social é o aspecto

filantrópico. Cumprindo suas responsabilidades nesse particular, as empresas

contribuem com recursos financeiros e humanos para melhorar a qualidade de vida da

comunidade e da sociedade em geral.

A prImeIra dimensão - a legal - implica cumprir as leis e regulamentos

promulgados pelo governo para estabelecer padrões mínimos de comportamento

responsável, ou seja, codificação pela sociedade do que é certo e errado. As leis se

dividem em duas categorias: cíveis e criminais. A esfera civil define os direitos e

deveres de indivíduos e organizações ao passo que a esfera criminal não só proíbe atos

específicos, tais como, fraude, roubo ou violações nas negociações com títulos, mas

57

Page 64: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

impõe multas ou até penas de prisão como punição por infração da lei. A principal

diferença entre as esferas criminal e civil é que a avaliação do cumprimento das leis

criminais cabe ao Estado, ao passo que o cumprimento das leis civis é assegurado

pelos indivíduos, geralmente nos tribunais. As leis quer sejam criminais ou civis

derivam de quatro fontes: da Constituição~ de precedentes estabelecidos por juízes~ de

leis federais, estaduais e municipais~ e de órgãos federais, estaduais e municipais.

Os órgãos administrativos federais, criados pelo Congresso Nacional,

controlam e influenciam as empresas, fazendo com que sejam cumpridos leis e

regulamentos para estimular a concorrência e proteger os consumidores, os

trabalhadores e o melO ambiente. Ou melhor, a maIona das leis que pautam as

atividades empresanaIS enquadra-se em quatro grupos: (1) regulamentação da

concorrência~ (2) proteção dos consumidores~ (3) proteção do meio ambiente~ e (4)

promoção da equidade e segurança.

Abordamos o grupo de leis que promovem a equidade e segurança. Leis nesse

sentido foram promulgadas para proteger os direitos dos idosos, das crianças, das

minorias, das mulheres e dos portadores de deficiências fisicas. Legislação adicional

protege o direito dos trabalhadores, mais especificamente discriminação no emprego

por motivo de raça, sexo, religião, cor ou nacionalidade.

Outros textos legais tratam de práticas de emprego que estabelecem que

mulheres e homens que realizam trabalhos idênticos devem ser remunerados de

idêntica maneira~ além das leis para aumentar a saúde e segurança no local de trabalho.

Mesmo com a promulgação e fiscalização da aplicação dessas leis, muitos 58

Page 65: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

trabalhadores ainda trabalham em condições insalubres ou perigosas, ainda ocorrem

casos de tratamento desigual na remuneração entre homens e mulheres e ainda é

freqüente a discriminação contra portadores de deficiências fisicas. A ênfase corrente

no aumento da produtividade tem sido citada como principal motivo para o não

cumprimento das leis e regulamentos por parte das empresas.

A segunda dimensão - a ética da responsabilidade social - diz respeito a

comportamentos e atividades esperados ou proibidos no que interessa ao pessoal da

empresa, à comunidade e à sociedade, mesmo que não codificados em lei. Do ponto de

vista da responsabilidade social, a ética empresarial inclui padrões, normas ou

expectativas que refletem as preocupações dos stakeholders, incluindo comunidade,

consumidores, acionistas, fornecedores e trabalhadores. A sociedade espera que os

empresários tomem medidas para garantir que concorrerão lealmente entre si,

desenvolverão, promoverão, fixarão preços e distribuirão produtos que sejam seguros

para os consumidores e para o meio ambiente, criarão condições de trabalho seguras e

instituirão programas para contratar e promover os trabalhadores mais qualificados,

sem considerações de raça, cor, sexo, religião e deficiências fisicas. As empresas éticas

reconhecem que tem obrigações que vão além do que é exigido em lei e levam em

conta as necessidades e o bem-estar de seus trabalhadores.

A terceira dimensão - a econômica da responsabilidade social - relaciona-se

com a maneira como os recursos usados na produção são distribuídos no sistema

social. Essa dimensão tem também a ver com o interesse da empresa em promover o

emprego para sustentar seu crescimento, seus lucros e retomo aos investidores.

59

Page 66: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

A quarta e última dimensão - a filantrópica - abrange a estrutura e a dinâmica

da sociedade e as questões sobre qualidade de vida, pois, espera-se que as empresas

contribuam para a comunidade e o bem-estar da sociedade, o que fazem quando

destinam importâncias vultosas em dinheiro à educação, às artes, às causas ambientais

e à ajuda aos necessitados.

2.2.2. Ética empresarial

Os conceitos de ética e responsabilidade social nos negócios são muitas vezes

usados como sinônimos, mas as duas expressões têm significados diferentes. A ética

empresarial compreende princípios e padrões que orientam o comportamento nos

negócios e a responsabilidade social consiste na obrigação da empresa de maximizar

seu impacto positivo sobre os stakeholders e minimizar o negativo. Ética empresarial e

responsabilidade social estão, portanto, estreitamente vinculadas.

Segundo Srour (2000:16),

'"a reflexão ética se cinge a satisfazer o imaginário das empresas quando dá à luz

códigos de conduta ou cartas de intenções que nem sempre coincidem com seu modo de

operar. Ou seja, o ônus da conduta ética cabe aos valores e às tradições da empresa, e não só

aos indil'iduos que tomam decisões e as executam. A capacidade da empresa de planejar e

implemenrar padrões éticos depende em parte da estntturação de recursos e de atividades

internas para alcançar os objetivos éticos de maneira eficaz".

60

Page 67: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Neste estudo o conceito de ética empresarial compreende os princípios e

padrões que orientam o comportamento no mundo dos negócios. Se um

comportamento específico exigido é certo ou errado, ético ou antiético, é assunto

normalmente determinado pelos stakeholders. Freqüentemente os conceitos de ética e

responsabilidade social são usados um no lugar do outro, embora tenham significado

distinto. Na prática, a responsabilidade social inclui responsabilidades econômicas,

legais, éticas e filantrópicas. As responsabilidades éticas das empresas são definidas

como comportamentos ou atividades que a sociedade espera das empresas, mas que

não são codificadas em leis, são conhecidas como o 'espírito da lei'.

Para Srour (2000:30),

"a referência ética empresarial ou à ética nos negócios significa estudar e tornar

inteligírel a moral vigente nas empresas capitalistas contemporâneas e, em particular, a

moral predominante em empresas de uma nacionalidade específica".

As decisões empresariais afetam os stakeholders, pois os agentes sociais são

vulneráveis e mantém vínculos com a empresa em duas frentes: (1) interna -

proprietários, gestores e trabalhadores e; (2) externa - clientes, fornecedores,

prestadores de serviços, autoridades governamentais, credores, concorrentes, mídia,

comunidade local, sindicatos, ONGs, etc.

A avaliação sistemática das necessidades dos stakeholders pode ser um indício

de que a empresa é socialmente responsável. Mas, se isso acontecer apenas como

reação a questões éticas identificadas por terceiros, a suposição cabível é de que a

61

Page 68: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

empresa adotou uma forma de relativismo que talvez leve seus gestores a tomar o

caminho da menor resistência. É possível que, sendo sensíveis, eles possam evitar

reclamações, parecer éticos e enfocar ao mesmo tempo a maximização do lucro. Daí a

importância da dimensão ética no âmbito da responsabilidade social corporativa.

Melo Neto e Froes (2001 b: 134) estão alinhados com Archie B. Carroll quanto

aos tipos de responsabilidade social, pois complementam a idéia ao afirmar que:

"não seria impropriedade ou exagero se considerássemos a inclusão do

comportamento ético empresarial como uma nova dimensão do exercício da

responsabilidade social corporativa. Teríamos portanto, mais uma dimensão além das

duas dimensões já conhecidas: a responsabilidade social interna e a responsabilidade

social externa".

Segundo Melo Neto e Froes (2001b: 135),

"a relação causal entre as três dimensões pode ser assim determinada: o

comportamento ético-social é determinante no exercício da responsabilidade social interna e

externa. Internamente, porque a ética institucionaliza 'valores' que se refletem em atitudes,

comportamentos e práticas gerenciais. Tais valores vão consubstanciar as relações da

empresa com seus empregados e jàmiliares (exercício da responsabilidade social interna).

Por outro lado, esses valores também vão tornar-se perceptíveis na prática das ações sociais

externas da empresa".

o fato de uma empresa ter, por exemplo, um código de ética não significa que

seus gestores sejam socialmente responsáveis e que ela adota uma cultura empresarial

62

Page 69: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

que promove o comportamento legal e ético. Mas este quadro está sendo revertido com

a nova consciência relacionado com a ética empresarial que está emergindo e que

reconhece a verdadeira extensão dos problemas existentes. Francisco Paulo de Melo

Neto e César Froes confirmam essa idéia ao dizer que:

"uma empresa com valores éticos predominantes em suas relações com empregados,

promove, em benefício dos mesmos, a cidadania interna. Suas relações com clientes,

fornecedores, parceiros, governo, sociedade e comunidade serão pautados pela

confiabilidade, lisura das ações e respeito ao outro. Estas empresas transferem sua

ética social intema para a sociedade e a comunidade, e promovem a cidadania

externa" (Melo Neto e Froes, 2001 b: 135-6).

Aliado a esta mudança de mentalidade por parte das empresas, está o fato de

que estas passam a estar sujeitas à avaliação do governo, dos clientes, dos sindicatos,

dos grupos de direitos humanos e trabalhistas e das comunidades locais. Essas

avaliações, no entanto, podem representar iniciativas isoladas, que não são normas e

nem são auditáveis. O fato de serem isoladas limita a abrangência destas iniciativas,

todavia é o imperativo criar uma norma universal que integre padrão de

responsabilidade social e processo de auditoria. Daí a importância da SA 8000.

2.2.3. Responsabilidade Social Interna

As práticas do exercício da responsabilidade social interna integram a gestão

social. Ao nível da empresa, as práticas socialmente responsáveis implicam,

fundamentalmente, os trabalhadores e seus dependentes, enquanto as práticas

63

Page 70: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

ambientalmente responsáveis se relacionam sobretudo com a gestão de recursos

naturais explorados no processo de produção. Estes aspectos possibilitam a gestão

social e a conciliação do desenvolvimento social com uma competitividade reforçada.

Partimos da idéia que o exercício da responsabilidade social pressupõe uma atuação

eficaz da.s empresas em três dimensões: a ética empresarial, a gestão da

responsabilidade social interna e a responsabilidade social externa. Nosso recorte é na

dimensão da responsabilidade social interna. Nesta dimensão o foco é o público

interno à organização, onde o maior desafio das empresas está em atrair e manter

trabalhadores qualificados. No âmbito de responsabilidade social interna predominam

os aspectos da gestão do capital social: dos recursos humanos~ da saúde e segurança no

trabalho; de adaptação à mudança; e do impacto ambiental e dos recursos naturais. No

âmbito da gestão dos recursos humanos, envolvendo saúde e segurança nos postos de

trabalho, as ações incluem programas de recrutamento, seleção, contratação,

treinamento e manutenção de pessoal. São medidas que visam: empowerment dos

trabalhadores; uma melhor informação dentro da empresa; um melhor equilíbrio entre

vida profissional, familiar e tempo livre; uma maior diversidade de recursos humanos;

uma igualdade em termos de remuneração e de perspectivas de carreIra para as

mmonas; uma instituição de regimes de participação nos lucros e no capital da

empresa; e uma preocupação relativa a empregabilidade e à saúde e segurança no

trabalho.

Na adaptação à mudança, observa-se a ocorrência de processos generalizados

de reestruturação organizacional das empresas que operam no Brasil, fenômeno que

64

Page 71: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

preocupa os trabalhadores e demais stakel1Olders. Ações de racionalização técnica e

organizacional provocam a substituição da mão-de-obra por agregados científicos com

alto investimento de capital, com a conseqüente redução nos níveis de emprego,

especialmente nos setores onde as inovações tecnológicas estão mais presentes.

Reduções drásticas geradas nesses processos podem provocar uma grave CrIse

econômica, social ou política no seio de uma comunidade. Reestruturar a empresa de

forma socialmente responsável significa levar em consideração e equilibrar interesses

dos stakeholders, salvaguardar os direitos dos trabalhadores e assumir sua parte na

quota de responsabilidade de garantir a capacidade de (re) inserção profissional de seu

pessoal.

No domínio ambiental, a responsabilidade social interna da empresa é

percebida na redução da exploração de recursos, no controle das emissões de poluentes

ou na produção de resíduos. É igualmente vantajoso para as empresas, ações que

possibilitam uma redução das despesas com energia e de eliminação de resíduos, bem

como dos custos de matéria-prima e despoluição.

A evolução, em estágios, do exercício da gestão da responsabilidade social

interna, conforme apresentado por Melo Neto e Froes (2001 b:80-1), é somente um

ponto de partida para que ocorra a responsabilidade social interna dentro da empresa, e

deve ser complementada com a noção de valorização da cidadania.

Para tanto, práticas da responsabilidade social interna integradas somente ao

estágio inicial (primeiro) do exercício da gestão social interna, que atuam

especificamente através de ações sociais voltadas aos trabalhadores e seus 65

Page 72: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

dependentes. Essas ações determinam, tão somente, o valor do capital social, traduzido

em: beneficios funcionais; saúde e segurança do trabalho; motivação e capacitação dos

trabalhadores (capital intelectual); imagem institucional. Ou seja, essas ações são

frutos da gestão estratégica (tecnoburocrática / monológica).

Voltando ao pressuposto que a prática da responsabilidade social interna

somente ocorre dentro da organização se houver a interação consensual entre um

modelo de gestão e cidadania, se faz necessário evoluir com esse modelo para algo

parecido com o estágio final (terceiro) do exercício da gestão social cidadã. Nesse

estágio, a empresa desenvolve ações sociais que extrapolam o âmbito da comunidade

local e se estendem à sociedade como um todo.

Aplicamos o conceito de gestão social cidadã, com uma diferença: como no

estágio inicial, o foco permanece restrito às questões sociais internas. No entanto, seu

escopo e práticas são ampliados e estendidos ao 'cidadão-trabalhador40', como um

'sujeito' da ação produtiva dentro de uma 'comunidade-empresa'. Isto quer dizer que

essas ações decorrem de urna gestão dialógica ou comunicativa.

40 "A ação gerencial dialógica, portanto leva, em consideração o surgimento de um novo tipo de trabalhador: sob o fordismo a gerência monológica comandava o trabalhador-massa; sob a perspectiva pós-fordista ou da flexibilização organizacional, a gerência dialógica atua com o cidadão­trabalhador na medida em que o empregado, agora, deve implementar suas ações segundo as dimensões sociais de uma produção coordenada pelo entendimento. Coordenação baseada em saberes tácitos ou adquiridos, dentro ou fora do sistema-empresa, e na perspectiva do papel do trabalhador como ator e não coadjuvante do processo de produção" (Tenório, 2000a: 199).

66

Page 73: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.3 NORMA SA 8000: REFERENCIAL TÉCNICO-ORGANIZACIONAL

o presente item está subdividido em quatro tópicos. O primeiro contém, em

linhas gerais, um panorama inicial da história da Social Accountability (SA) 8000,

registrando os antecedentes, a publicação e a permanência da norma. O segundo é

dedicado à descrição do documento normativo SA 8000, onde são apresentados seus

objetivos e conseqüentes interpretações. O terceiro contém os requisitos desta norma.

O quarto tópico descreve o requisito sistema de gerenciamento da norma SA 8000

como modelo de Gestão da Qualidade Social.

2.3.1. Apresentação da SA 80000

As questões sociais e éticas assumem crescente importância e têm que ser

adequadamente medidas pelas organizações e pela sociedade. A era da qualidade do

produto está dando lugar à da qualidade do produtor, isto quer dizer que, para muitas

empresas, simplesmente ter um comportamento ético já não é suficiente, é necessário

que esse comportamento seja visto e mensurado.

Empresas não só preCIsam operar de forma ética, mas também necessitam

demonstrar isso publicamente. Processos de auditoria social e ética vão além das

demonstrações financeiras e examinam como empresas afetam seus stakeholders e

seus conseqüentes reflexos na sociedade como um todo. Esses processos, num sentido

mais amplo, abrangem os aspectos sociais e éticos de uma empresa, procedimentos de

auditoria e sistemas de gestão e relatórios e prestação de contas.

67

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Para Mcintosh et aI. (2001 :261)

"todas as auditorias, à exceção das financeiras, são de alguma forma sociais, porque

lidam com os valores dos interessados,,41.

Mas pode ser feita uma distinção entre auditorias éticas e sociais. Auditorias

éticas são essencialmente ferramentas de gestão interna e uma forma de ouvir as idéias

dos interessados, especialmente dos que trabalham na empresa, enquanto auditorias

sociais são primariamente voltadas para fazer com que a organização preste contas de

seu impacto social.

De acordo com Mcintosh et alo (2001 :264) processos de auditoria social medem

os seguintes aspectos de uma organização:

(a) como funcionários e outros interessados percebem a organização;

(b) como a organização está cumprindo as metas;

(C) como a organização está trabalhando em conformidade com suas próprias declarações de

valores.

Para atender à necessidade de monitoramento externo e, portanto, de

transparência de resultados, foram desenvolvidas normas para promover e medir a

causa da qualidade social intra e entre as empresas. Entre elas, a norma SA 8000 que

evoluiu através do desenvolvimento de critérios para medir desempenho empresarial

em nível mundial, constituindo-se num código de responsabilidade social perante ter-

~l Interessados e stakeholders têm o mesmo significado. 68

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ceiros que pode ser aplicado internacionalmente a todos os setores comerciais para

avaliar se as organizações estão cumprindo as normas básicas de práticas de trabalho e

direitos humanos. A norma SA 8000 é uma iniciativa coletiva que visa reunir códigos

de conduta cada vez mais fragmentados e oferecer definições claras de termos na área

dos direitos do trabalhador. Foi lançada nos Estados Unidos, em outubro de 1997, pela

organização não governamental Counci/ of Economic Priorities Accreditation Agency

(Órgão Credenciador do Conselho de Prioridades Econômicas) - antiga CEPAA -

atual SAI - Social A ccountability International.

A norma foi elaborada baseada em 11 princípios da OIT, na Declaração

Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Universal dos Direitos da Criança. A

sua preparação foi iniciada por ocasião do 50° aniversário da Declaração dos Direitos

Humanos da ONU.

Para Leipziger (2001:3)

"a nonna SA 8000 requer ação concentrada de um grande número de agentes: ONGs,

sindicatos, governo, associações de consumidores, e organizações internacionais que

desempenham papéis importantes na melhoria dos direitos dos trabalhadores ao redor do

mundo".

Empresas não podem fazer maiores mudanças sem se associar a estes agentes.

A norma é um agente de mudanças, um catalisador a promover direitos humanos e do

trabalhador, que força a necessidade de alianças para gerar mudanças. Esses agentes

desempenham, também, o papel de auditores sociais.

69

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Leipziger (2001: 136) diz que o

"futuro da S:4 8000 envolve o estabelecimento de um novo tipo de auditor: o 'auditor

híbrido', que combina o treinamento de auditor profissional com a sensibilidade de

umaONG".

Segundo a autora esse processo já se iniciou em diversos países. ONGs estão

participando em sessões de treinamento de auditores e aprendendo os mecanismos de

auditoria.

A norma foi desenvolvida através de uma aproximação dos stakeholders, onde

grupos (agentes) com pontos de vista muito diferentes chegaram a um acordo sobre

um conjunto de princípios e uma metodologia de auditoria social. Ou seja, ONGs,

sindicatos e empresas de diferentes países centrais desenvolveram a norma SA 8000

através de consenso.

A SA 8000 combina as convenções da OIT com a metodologia ISO. O

casamento entre OIT e ISO facilita a implementação de auditorias sociais e da própria

SA 8000 para as empresas já certificadas em qualidade do produto e meio ambiente.

Em outras palavras, a norma apresenta-se como um sistema de auditoria similar ao

ISO 9000 e 14000, sendo reconhecido no mundo todo como um sistema efetivo de

implementação, manutenção e verificação de condições dignas de trabalho,

constituindo-se num padrão social auditável.

Nas empresas já certificadas por normas ISO 9000 e 14000 faz mais sentido

integrar os sistemas e auditorias do que desenvolver sistemas paralelos. Nesta linha, tal 70

Page 77: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

qual na ISO, desenvolve-se o 'Manual da Empresa"I2, ferramenta muito importante,

pois centraliza o sistema de Gestão da Qualidade Social constituindo-se no documento

apresentado aos trabalhadores.

A norma SA 8000 visa atender a uma necessidade dos consumidores mais

esclarecidos e preocupados com a forma com que os produtos são produzidos e não

apenas com a sua qualidade. A vantagem da existência de uma norma de

responsabilidade social está no fato de ela propiciar uma padronização dos termos e

uma consistência nos processos de auditoria, além de representar um mecanismo para

melhoria contínua através da participação das organizações possibilitando o

envolvimento de todos os stakeholders.

No Documento de Orientação'-I3, a SA 8000 é definida dessa forma pela SAI:

"( ... ) it is a global standardfor improving working conditions around the world. The

first auditable international slandard on worker 's rights, SA 8000 provides definitions

and parameters to ensure conformance to unil'ersal rights. Once companies hal'e

implemented the necessary improvements, they are granted a certificate attesting to

lheir compliance with SA 8000. The certifica te provides an assurance of good practice

to consumers, buyers, and other companies" (SAI, 1999:7).

A Norma SA 8000, como especificação de requisitos de responsabilidade

social, habilita empresas para:

~2 Manual da Empresa contém as diretrizes e a política social da empresa, além de incorporar todos os requisitos da norma SA 8000.

~.~ Guidance Document for Social Accollllfability 8000. (SAI, 1999).

71

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(a) desenvolver, manter e reforçar políticas e procedimentos para gerencIar os

assuntos que ela possa controlar (assuntos diretos) ou influenciar (assuntos

indiretos) em relação à responsabilidade social;

(b) demonstrar para as partes interessadas que tais políticas, procedimentos e práticas

estão em conformidade com os requisitos da norma SA 8000.

É pertinente destacar que estes objetivos são aplicáveis a qualquer organização

interessada na melhoria contínua das questões relacionadas com a responsabilidade

social. Isto porque a adesão à norma independe de sua localização geográfica, de seu

ramo de negócios ou de seu tamanho.

72

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o processo de desenvolvimento da SA 8000 foi obra de um grupo de experts,

resultando na formação do Conselho Consultivo da SAI"". Os conselheiros estão

habilitados para atuarem nas áreas de direitos humanos e trabalhistas, técnicas de

auditoria e gerenciamento de grandes cadeias de fornecimento. Ressalta-se que as

tomadas de decisão do conselho são baseadas em consenso, sendo passíveis de mudança.

Sindicatos, ONGs e Membros do Goverao

Dorianne BeyerlDavid Zweibel (substituto) National Child Labor Committee (Estados Unidos)

Oded GrajewlHelio Matar (substituto) Instituto Ethos (Brasil)! Abrinq Foundation (Brasil)

Honravel William Thompson / Ken Sylvester Office ofthe Comptroller, City ofNew York (Estados Unidos) I (substituto)

Jan Furstenborg Union Network International (Suíça)

Neil Kearney Infl Textile, Garment & Leather Workers (Bélgica)

Alice Tepper Marlin Social Accountability International (Estados Unidos)

Jack Sheinkman Amalgamated Bank (Estados Unidos)

Morton Winston Amnesty International Chair, Business & Economic Relations Committee (Estados Unidos)

Linda Yanz Maquila Solidarity Network (Canadá)

Membros de Empresas

Ivano Barberini /Alessandra Vaccari Legacoop Nazionale (Itália) (substituto)

Simon Billenness Trillium Asset Management (Estados Unidos)

Tom DeLuca Toys 'R' Us (Estados Unidos)

Amy Hall Eileen Fisher Inc. (Estados Unidos)

Reinhart Helmke United Nations Office ofProject Services (Estados Unidos)

Sylvain Cuperlier Dole Food Company, Inc. (Estados Unidos)

Fitz Hilaire A von Products, Inc. (Estados Unidos)

Dr. Johannes Merck / Achim Lohrie Otto-Versand (Alemanha) (substituto)

Frits Nagel WE Europe (Países Baixos) ..

Fonte: www.sal-mtl.org, 2002. 73

Page 80: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Mas a força do conselho pôde ser explicitada durante o desenvolvimento dos

requisitos de responsabilidade social, que aconteceu de forma rigorosa e resultou numa

linguagem clara de auditoria, que é o produto de tal diversidade.

Portanto, a SAI, ao construir um diálogo entre os stakeho/ders, possibilita a

criação de alianças não fOIjadas e aumenta o número de organizações certificadas pela

SA 8000.

A SAI credencia organizações"5 que administram o processo de auditoria e de

certificação da SA 8000. A primeira empresa certificada46 foi a multi nacional A von

Cosméticos, em seguida receberam certificação a Toys 'R' US e a Otto Versando

A SAI promove seminários consultivos47 que ajudam os participantes não só a

aprenderem cada vez mais sobre a SA 8000, como também a colaborarem com

análises contextualizadas que revelem as reais condições nos locais de trabalho. O

Documento de Orientação é utilizado nos seminários, o mesmo dos cursos de

treinamento de auditores, e provê mecanismos tangíveis para discussões sobre como

tomar a SA 8000 mais suscetível, efetiva e focalizada em assuntos culturais e legais.

45

46

47

Atualmente são as nove Agências de Certificação aprovadas pela SAI, que realizam o processo de auditoria nas organizações que comprovam o atendimento dos requisitos da norma. Fonte: wwwsai-intl.org, 2002.

Atualmente as instalações certificadas totalizam o número de 134, e estão presentes em CinCO

continentes. (Fonte: www.sai-intl.org. 2002). A seguir tres Seminários Consultivos da SA 8000, de àmbito regional, promovidos pela SAl e realizados entre os anos de 1999 e 2000:

1. "SA 8000: Social Resp01lsibility for Compallies '".

2. . 'Social ACcOUlllability 8000 '"

3. "A1easuring lhe Social Accountability of BlIsiness in Central and Eastem Europe: A COllsllltative Workshop 011 SA 8000 ,.

Fonte: www.sai-intl.org. 2002.

Page 81: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

As recomendações para mudanças ou adições neste documento são resumidas e

circulam entre os grupos de participantes do seminário, sendo formalmente

apresentadas ao Conselho Consultivo da SAI que faz suas considerações, Além de

Seminários Consultivos Regionais, a SAI também promove Conferências Mundiais~8,

Verifica-se que 80 organizações, em média, participaram destes eventos, Estas

organizações, por sua vez, representam um certo número de cidades, distribuídas em

cinco continentes, que tomaram conhecimento da SA 8000,

Outra questão muitas vezes levantada é o reconhecimento que os diversos

setores de produção de bens e serviços vêm dando aos trabalhos desempenhados pela

SAI, no que se refere à normatização da responsabilidade social. Em carta49 enviada no

dia 16 de janeiro de 2001, o Departamento de Estado dos Estados Unidos e a

Fundação Ford concederam um valor total de U$ 1,6 milhões para aSA 8000 da SAI,

objetivando combater o trabalho de sweatshop50, em particular a mão-de-obra infantil.

~8 d A seguir cinco Conferências, de âmbito mundial, promovidos pela SAI e realizados entre os anos e

~9

1999 e 2001:

I. "Managing Workplace Practices in the New Era of Social Responsibility ".

2, "Social Accountability & Business Excellence - SA 8000 ".

3. "The Strategic Management ofGlobal Workplace Social Accountability",

4. "SA 8000 Impleme11lation Conferellce: Respollsible Praclices for BlIyers and SlIppliers".

5. "Responsible Workplace Strategies: Global Implementation ". Fonte: www.sai-intl.org. 2002.

Esta carta aponta que existem em todo o mundo cerca de 250 milhões de crianças, entre 5 e 14 anos de idade, que trabalham sob condições insalubres e perigosas, Deste total, 120 milhões trabalham em tempo integral. Concentram-se na Ásia 61 % das crianças que trabalham; 32% estão na África e 7% na América Latina (Fonte: www.sai-intl.org. 2002).

50 Sweatshops são as indústrias e comércios que exploram os trabalhadores exigindo-lhes trabalho excessivo e pagando-lhes salários de fome (Fonte: www.sai-intl.org. 2002).

75

Page 82: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Para as organizações interessadas em certificação padrão norma SA 8000, a

autora Deborah Leipziger recomenda dois planejamentos: inicialmente o processo de

implementação51 da norma - utilizando a ferramenta de gestão PDCA52; e

subseqüentemente o processo de certificação53 da SA 8000.

2.3.2. Elementos Normativos e suas Interpretações

Os elementos normativos e a sua interpretação são como um fio condutor no

cumprimento dos requisitos da SA 8000. A empresa deve atender às leis nacionais e

outras aplicáveis, a outros requisitos aos quais a empresa tenha se obrigado, e a esta

norma. Quando as leis nacionais ou outras aplicáveis tratarem do mesmo tema, a

disposição que for mais rigorosa se sobrepõe às demais.

51 No livro SA 8000: lhe definitive guide to the new social standard, Deborah Leipziger recomenda a aplicação do ciclo PDCA: Plan - Do - Check - Act (planejamento - execução - avaliação - ações corretivas) para o processo de implementação da SA 8000.

52 "O conceito de melhoramento contínuo implica literalmente um processo sem fim, questionando repetidamente e requestionando os trabalhos detalhados de uma operação. A natureza repetida e cíclica do melhoramento contínuo é bem mais resumida pelo que é chamado de ciclo PDCA (ou roda de Deming - assim chamado em homenagem ao ogum' de qualidade, W.E. Deming). O PDCA é a seqüência de atividades que são percorridas de maneira cíclica para melhorar atividades ( ... ) o ciclo começa com o estágio P (de planejar), que envolve o exame do atual método ou da área problema sendo estudada. Isto envolve coletar e analisar dados de modo a formular um plano de ação que se pretende, melhorar o desempenho ( ... ) uma vez que o plano de melhoramento tenha sido concordado, o próximo estágio é o estágio D (de do, fazer). Este é o estágio de implementação durante o qual o plano é tentado na operação. Este estágio pode em si desenvolver um mini ciclo PDCA para resolver os problemas de implementação. A seguir vem o estágio C (de checar), em que a solução nova implementada é avaliada, para ver se resultou no melhoramento de desempenho esperado. Finalmente, pelo menos para este ciclo, vem o estágio A (de agir)". (Nigel Slack et.al., 1999:462-3)

53 Durante o processo de certificação, os auditores procuram evidências objetivas, de sistemas de gestão efetivos, de procedimentos e de desempenho que provem a conformidade com a norma. Mesmo assim, as instalações já certificadas estão sujeitas a auditorias de controle semestrais. A empresa, quando certificada, fica habilitada a exibir a marca de sua certificação, usando-a como um estimulo para os clientes e os fornecedores.

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Page 83: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

A SA 8000 requer da empresa o cumprimento das leis nacionais e de outras

que lhe sejam aplicáveis. No Brasil, constituem-se como requisitos legais aplicáveis:

(a) CLT de 1943, com destaque para os artigos 17; 57 a 75; 154 a 202; 402 a 441; 457

a 464; 511 a 569;

(b) Lei 6.514 de 1977 que altera o Capítulo V do Título II da CLT, relativo à

Segurança e Medicina do Trabalho;

(c) normas regulamentadoras que perfazem a Lei 3.214 de 1978, referente à Segurança

e Medicina do Trabalho;

(d) Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, nos capítulos referentes

aos direitos sociais e trabalhistas;

(e) ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente - de 1990, com destaque para os

artigos 64, 65, 66, 67 e 68.

A empresa deve também respeitar os princípios dos instrumentos

internacionais, como segue:

(a) Convenções 29 e 105 da OIT sobre a abolição do trabalho forçado;

(b) Convenção 87 da OIT sobre a liberdade sindical e proteção ao direito de

sindicalização;

(c) Convenção 98 da OIT sobre o direito de sindicalização e de negociação coletiva;

77

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(d) Convenções 100 e 111 da OIT sobre o salário igual para trabalho de igual valor

entre homens e mulheres e sobre discriminação em matéria de emprego e

ocupação;

(e) Convenção 135 da OIT sobre a proteção de representantes dos trabalhadores;

(f) Convenção 138 e Recomendação 146 da OIT sobre idade mínima para admissão

em emprego;

(g) Convenção 155 e Recomendação 164 da OIT sobre segurança e saúde dos

trabalhadores;

(h) Convenção 159 da OIT sobre a reabilitação profissional e emprego de pessoas

deficientes;

(i) Convenção 177 da OIT sobre o trabalho domiciliar;

(j) Declaração Universal dos Direitos Humanos;

(k) Convenção da ONU sobre direitos da criança.

2.3.3. Req uisitos da SA 8000

A qualidade do produto ou serviço produzido pela empresa não é contemplada

nos requisitos da norma. O produto ou serviço pode ser medíocre, mas se foi

produzido numa organização certificada SA 8000, teoricamente regras básicas de ética

.I

Page 85: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

e qualidade social terão sido honradas. Essa premissa preconiza este estud05", ou seja,

nosso foco é na qualidade social.

A norma SA 8000 estabelece nove requisitos de responsabilidade social, os

quais devem ser cumpridos pela empresa servindo como base para a implantação do

Sistema de Gestão da Responsabilidade Social.

Na seqüência, são apresentados cada um destes requisitos, apontando-se seus

respectivos critérios fundamentais:

2.3.3.1 Trabalho Infantil

Trabalho infantil é um assunto muito complexo que precisa ser discutido pelos

stakeho/ders, incluindo empresas, governos, setor de educação e ONGs. Seus critérios

fundamentais são:

(a) estabelecer, documentar, manter e efetivamente comurucar ao pessoal e outras

partes interessadas, políticas e procedimentos para a remediação de cnanças

encontradas trabalhando em condições que configurem o trabalho infantil;

(b) providenciar apoio adequado que permita a tais crianças freqüentar e permanecer

5-1

na escola, até que não mais sejam crianças;

No capitulo 2 apresentamos a aplicação dos requisitos SA 8000 como base de verificação e análise comparativa da responsabilidade social interna de duas empresas, objetivando avaliar em que medida as práticas de responsabilidade social interna da Empresa A reproduzem-se na Empresa B.

79

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( c) não utilizar ou apoiar o uso de trabalho infantil55 dentro do que são considerados

crianças56, trabalhadores jovens57

, e apoiar na reparação de crianças58 que tenham

sido submetidas a trabalho infantil;

(d) promover a educação para crianças respaldada pela Recomendação 146 da OIT e

para trabalhadores jovens que estejam sujeitos a leis locais de educação

compulsória;

( e) providenciar meios para assegurar que nenhuma destas crianças ou trabalhadores

jovens encontrem-se trabalhando durante os horários escolares e que as horas

combinadas de transporte diário (entre a escola e o trabalho), de escola e de

trabalho não excedam a 10 horas por dia;

(f) não expor crianças ou trabalhadores jovens a situações internas ou externas ao

local de trabalho que sejam perigosas, inseguras ou que causem danos à saúde.

A Convenção 138 da OIT estabelece que a idade mínima para o trabalho

regular e não perigoso é de 15 anos e para o trabalho perigoso é de 18 anos. Nos países

55

56

57

58

"Trabalho infantil: qualquer trabalho realizado por uma criança com idade menor do que as idades especificadas na definição de criança apresentada anteriormente, exceção feita ao que está previsto na Recomendação 146 da OIT" (SAI, 2001:4).

"Criança: qualquer pessoa com menos de 15 anos de idade, a menos que a lei de idade mínima local estipule uma idade maior para início do trabalho ou término da educação obrigatória, situação em que prevalece a idade maior. Se, entretanto, a lei de idade mínima local estiver estabelecida em 14 anos de idade, de acordo com as exceções de países emergentes sob a Convenção 138 da OIT. prevalecerá a menor idade entre as duas condições" (SAI, 2001 :4).

"Trabalhador Jovem: qualquer trabalhador com idade acima da idade de criança, conforme definido anteriormente, e abaixo de 18 anos de idade" (SAI, 2001 :4).

"Reparação de Crianças: todo o apoio e ações necessários para garantir a segurança, saúde, educação e o desenvolvimento de crianças que tenham sido submetidas a trabalho infantil que foram demitidas" (SAI, 2001:4).

30

Page 87: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

em desenvolvimento, a idade mínima prescrita é de 14 anos. O Estatuto da Criança e

do Adolescente (ECA, 1990:7), legislação brasileira, prescreve em seu artigo 60:

"é proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade. salvo na

condição de aprendiz".

o artigo 62 define aprendizagem,

"como uma formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da

legislação de educação em vigor".

A Recomendação 146 da OIT esclarece que crianças entre 13 e 14 anos podem

trabalhar num período do dia, mas somente com autorização de órgão governamental

do trabalho que deve assegurar que não sejam expostas a trabalhos perigosos.

Pode-se empregar trabalhadores jovens em meio período, desde que no outro

ele tenha oportunidade de completar a educação secundária (ensino médio). No artigo

67 (ECA, 1990:7) apresentam-se as proibições relativas ao trabalhador jovem ou

aprendiz:

"trabalho noturno, entre 22 horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte;

perigoso, insalubre ou penoso; realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao

seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; realizado em horários e locais

que não permitam a freqüência à escola".

Outro indicativo encontrado neste requisito refere-se aos procedimentos de

remediação de crianças definidos como:

81

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"ações para assegurar a saúde, segurança, educação e desenvolvimento de crianças

que foram sujeitas ao trabalho infantil pela organização" (SAI, 1999: 10).

2.3.3.2 Trabalho Forçado

A norma proíbe o uso de trabalho forçado incluindo trabalho compulsório e

trabalho em cativeiro. Trabalho compulsório ocorre quando o cidadão trabalha para

pagar um débito para com a empresa. Trabalho em cativeiro refere-se ao uso de

prisioneiros que não são pagos ou aqueles que trabalham para completar sua sentença.

A SA 8000 determina que a empresa não deve fazer uso ou apoiar o uso do

trabalho forçado59, assim como não deve exigir que o pessoal apresente depósitos ou

papéis de identificação como condição para tomarem-se trabalhadores da empresa. A

Convenção 29 da OIT visa à imediata eliminação de todas as formas de trabalho

forçado ou compulsório, com exceções como o serviço militar, o trabalho penal e

emergências como guerra, incêndio e terremotos.

Já a Convenção 105 da OIT precoruza a abolição de todas as formas de

trabalho forçado ou compulsório como meio de correção política ou de educação,

como sanções contra a livre manifestação de opiniões políticas e ideológicas,

disciplina de trabalho, punição por participação em greves e medida de discriminação.

59 "Trabalho Forçado: todo trabalho ou serviço que seja extraído de qualquer pessoa sob a ameaça de qualquer penalidade para a qual essa pessoa não tenha se oferecido voluntariamente" (SAl, 20014).

82

Page 89: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.3.3.3 Saúde e Segurança

Ao mesmo tempo em que o tema da saúde e da segurança do trabalhador é

muito amplo também é muito específico a um determinado setor.

Isto faz com que a maioria das empresas que tencionam implementar a norma

SA 8000 tenha que desenvolver e melhorar seus sistemas de gestão facilitando

melhorias de saúde e segurança nos locais de trabalho. Para tanto, seus critérios

fundamentais são:

(a) providenciar um ambiente de trabalho saudável e seguro e adotar os passos para

prevenir acidentes e lesões que surjam a partir da realização do trabalho, que

estejam associados com o trabalho ou que ocorram durante o trabalho, através da

minimização, até onde razoavelmente seja exeqüível, dos riscos inerentes ao

ambiente de trabalho;

(b) designar um gerente como representante, com responsabilidade pela saúde e

segurança de todo o pessoal e pela implementação dos elementos de saúde e

segurança da SA 8000;

( c) assegurar que todo pessoal receba treinamento regular e registrado sobre a saúde e

a segurança, e que tal treinamento seja repetido para o pessoal novo e para o

recolocado;

(d) estabelecer sistemas para detectar, evitar e atender ameaças potenciais à saúde e à

segurança de todo o pessoal;

83

Page 90: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

(e) fornecer, para o uso de todo o pessoal, banheiros limpos, acesso à água potável e,

se apropriado, instalações higiênicas para alimento e armazenamento:

(f) assegurar que as instalações dos dormitórios, se fornecidas ao pessoal, sejam

limpas, seguras e atendam às suas necessidades básicas.

A Convenção 155 e a Recomendação 164 da OIT prescrevem a atenção às

questões da Saúde e da Segurança Ocupacional do Trabalho.

No Manual da Empresa, a oferta de um ambiente saudável e seguro refere-se à

manutenção de um sistema de prevenção de riscos e acidentes; ao gerenciamento da

área feita pelo médico do trabalho da empresa: à promoção de treinamentos com

registro para todos os trabalhadores; à manutenção da higiene da empresa como um

todo (banheiros limpos, água potável, locais apropriados para os alimentos).

2.3.3.4 Liberdade de Associação e Negociação Coletiva

Em países restritivos a associações, a empresa pode desenvolver comitês de

trabalhadores que foquem os requisitos da norma SA 8000. É importante enfatizar que

a norma não substitui o direito dos trabalhadores de se sindicalizarem ou negociarem

coletivamente, agindo como facilitadora, visando atender aos seguintes critérios

fundamentais:

(a) respeitar o direito de todo o pessoal de formar e de se filiar a sindicatos de sua

escolha, bem como de negociar coletivamente:

84

Page 91: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

(b) facilitar, para todo pessoal, meIOs paralelos para a livre e independente

sindicalização e negociação, onde quer que existam restrições legais para a

liberdade de sindicalização e de negociação coletiva;

(c) assegurar que os representantes do pessoal sindicalizado não estejam sujeitos à

discriminação e que tenham acesso a seus membros no local de trabalho.

A Convenção 87, sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical,

garante ao trabalhador e ao empresário o direito de constituir suas próprias associações

e de a elas se filiarem livremente, e de funcionarem essas organizações sem ingerência

das autoridades públicas.

Em seguida, a Convenção 98 da OIT vem dispor sobre a eliminação de leis de

discriminação anti-sindical e sobre a proteção de organizações de empresários e de

trabalhadores contra mútua ingerência, além de requerer medidas para promover a

negociação coletiva. Esta Convenção é suplementada com termos da Convenção 135

que preconiza a proteção dos representantes dos trabalhadores permitindo-lhes livre

acesso aos demais colegas e impedindo a sua discriminação.

A SA 8000 eXIge que os trabalhadores tenham comunicação direta com a

direção da empresa para negoCiar abertamente suas reivindicações. O Manual da

Empresa deve conter esclarecimentos que denúncias relativas à liberdade de

sindicalização e à negociação coletiva podem ser feitas ao representante da

administração ou ao representante dos trabalhadores e que as reclamações são

registradas em livro de ocorrência.

85

Page 92: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.3.3.5 Discriminação

Discriminação é baseada em vários fatores, incluindo sexo, idade, local de

origem e religião. Por exemplo, discriminação baseada no sexo, onde em muitos países

mulheres recebem salários menores do que dos homens na execução das mesmas

tarefas. Em muitas indústrias, certas linhas de produção são apenas para homens,

impedindo o avanço feminino. Existem ainda outros tipos de discriminação que

ocorrem com as mulheres, incluindo discriminação contra gravidez, assédio sexual. Os

critérios fundamentais para esse requisito da norma SA 8000 são:

(a) evitar sempre prática ou apoio de discriminação na contratação, na remuneração,

no acesso a treinamento, na promoção e no desligamento;

(b) não interferir no exercício dos direitos do pessoal de seguir crenças ou práticas, ou

de atender às suas necessidades relacionadas com raça, classe social,

nacionalidade, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, filiação a sindicatos e

partidos políticos:

(c) não permitir comportamento que seja sexualmente coercitivo, ameaçador, abusivo

ou explorador, incluindo gestos, linguagem e contato físico.

A Convenção 111 da OIT dispõe sobre uma política mundial com vistas à

eliminação, com referencia a emprego e profissão, de toda discriminação baseada em

raça, cor, sexo, religião, opinião política, origem nacional ou social. Sobre a

discriminação baseada em deficiência, a Convenção 159 da OIT determina a

86

Page 93: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

implementação de uma política nacional sobre a reabilitação profissional e emprego

para pessoas portadoras de deficiência.

o Manual da Empresa deve conter o registro que não se pode praticar ou apoiar

a discriminação nas contratações, na remuneração, no acesso ao treinamento, nas

promoções ou no desligamento, no que se refere aos itens das convenções

mencionadas. Caso ocorra algum tipo de discriminação, deve-se denunciar ao

representante da administração ou dos trabalhadores, registrando o fato em livro de

ocorrências. No artigo 7, inciso XXX, a Constituição Brasileira (1988:12) preconiza:

"a proibição de diferença de salários, de exercícios de funções e de critério de

admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civif'

e o inciso XXXI estabelece

"a proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão

do trabalhador portador de deficiência".

No processo de auditoria, deve-se cuidar para distinguir entre formas de

discriminação e práticas culturais.

2.3.3.6 Práticas Disciplinares

Deve existir um processo gradual de procedimento disciplinar, iniciando-se

com advertência verbaL seguida por advertência por escrito e possivelmente algum

tipo de mediação através do sindicato ou representante do trabalhador dentro do

87

Page 94: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

sistema SA 8000. A alta administração precisa estabelecer regras transparentes de

disciplina em conjunto com os trabalhadores.

o critério fundamental deste requisito da norma determina que a empresa não

deve utilizar ou apoiar o uso de punição corporal, de coerção física e mental, bem

como de abuso verbal. Entrementes, este requisito é muito vago e sujeito a várias

interpretações. Áreas como o abuso mental e verbal têm de ser mais detalhadas para

tomarem-se auditáveis. Outras práticas injustas não são abordadas na SA 8000, como,

por exemplo, a privação de trabalho e a falta de qualidade nas condições de trabalho.

2.3.3.7 Horas de Trabalho

As empresas devem atender às leis do trabalho locais e os critérios

fundamentais da norma SA 8000 a seguir:

(a) não pode ser exigido do pessoal, em base regular, que trabalhe além de 48 horas

por semana;

(b) fornecer pelo menos um dia de descanso para cada período de sete dias;

(c) assegurar que as horas adicionais (mais de 48 horas por semana) não excedam a 12

horas por trabalhador por semana, e que tais horas extras sejam sempre

excepcionais e ocorram em circunstâncias de negócios de curto prazo e sempre

remuneradas a taxas de prêmio.

O artigo 7, inciso XIII, da Constituição Brasileira (1988: 12) estabelece que:

88

Page 95: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

"a duração do trabalho normal não será superior a oito horas diárias e quarenta e

quatro semanais, fàcultada a compensação de horários e a redução da jornada,

mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho".

Continuando, o inciso XIV define

"a jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de

revezamento, safra negociação coletiva"

e o inciso XV

"o repouso semanal remunerado, preftrencialmente aos domingos".

2.3.3.8 Remuneração/ Compensação

Em muitos países, o salário mínimo não corresponde nem mesmo ao salário de

subsistência, não satisfazendo as necessidades humanas. Conseqüentemente, em tais

casos, é possível que uma empresa, mesmo obedecendo à legislação nacional, esteja

violando os instrumentos normativos da SA 8000.

A SAI recomenda que os auditores usem uma combinação de análise

quantitativa e qualitativa para avaliar a suficiência de salários.

"Há dois métodos que podem determinar se a remuneração satisfaz as necessidades

básicas dos trabalhadores. O primeiro método é um cálculo baseado no indica tira de

"linha de pobreza" e o segundo se baseia no indicativo de "produtos da cesta

básica ". l:..'stes dOIS métodos devem utilizar estatísticas geradas pelo gOl'erno federal,

pela Organização das Nações Unidas ou por instituições financeiras" (SAI. 1999:32). 89

Page 96: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Entretanto, para certificação SA 8000 a empresa somente precisa calcular o

indicativo de cesta básica, pagar o salário mínimo e implementar um plano para os

trabalhadores alcançarem renda que permita aos mesmos e suas famílias se alimentar,

se vestir e habitar, dentro de um cronograma preestabelecido. O progresso do plano, de

acordo com o cronograma, deve ser monitorado por auditoria. Os critérios

fundamentais deste requisito são:

(a) assegurar que o salário pago para uma semana-padrão atenda pelo menos às

prescrições legais ou às normas mínimas da indústria;

(b) garantir que o salário seja pago de forma conveniente para os trabalhadores, em

caixa ou na forma de cheque;

(c) assegurar que arranjos de contratos apenas para o trabalho e que falsos esquemas

de aprendizado não sejam realizados como uma tentativa de evitar o completo

atendimento a obrigações com o pessoal, exigidas por leis e por regulamentos,

relacionadas com o trabalho e com a seguridade social.

A Convenção 100 da OIT, sobre a igualdade de remuneração, estabelece o

princípio de igual remuneração de homens e mulheres trabalhadores por trabalho de

igual valor.

O artigo 7, inciso IV, da Constituição Brasileira (1988: 11) define que o

trabalhador deve receber pelo menos:

"0 salário mínimo. fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas

necessidades rilms básicas e às de sua família como moradia. alimentação, educação.

90

Page 97: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

saúde, lazer, vestuário, higiene. transporte e previdência social. com reajustes

periódicos que lhe presen'em o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para

qualquer fim".

2.3.3.9 Sistema de Gestão

o sistema de gestão da SA 8000 é o requisito que diferencia a norma de

princípios, declarações de intenções e da maioria dos códigos de conduta. Os critérios

para o sistema de gestão asseguram que assuntos de ordem social são integrados em

todos os aspectos da política da empresa. É a caução de que as políticas sociais serão

mantidas efetivas e documentadas após auditorias, além de ser a garantia de melhoria

contínua nas condições sociais nos locais de trabalho.

Sistema de gestão inclui programas de treinamento, comunicação, eleição de

representantes, da alta administração e dos trabalhadores, orçamentação, controle de

fornecedores, planejamento, políticas, procedimentos, formulários e lista de

verificação para registros de acordo com cada requisito da norma. O tópico a seguir

detalha os critérios fundamentais do sistema de gestão.

2.3.4. SA 8000 Como Sistema de Gestão

A definição da SA 8000 como sistema de Gestão da Qualidade Social insere a

norma em uma nova postura a ser adotada pela empresa. Esta postura envolve a

valorização dos stakeholders; a criação de uma abordagem mais participativa; a

formalização e a documentação das diretrizes gerais a serem adotadas; o investimento

91

Page 98: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

em sistemas de comunicação que propiciem a disseminação das infonnações e a

manutenção do bom relacionamento com os sindicatos, reforçando a imagem positiva

da empresa. O programa SA 8000 é concebido com vistas a assegurar aos clientes das

empresas que seus produtos (bens e/ou serviços) são produzidos e vendidos sob

condições humanas de trabalho. Desenvolver os sistemas de gestão apropriados de

modo a garantir e demonstrar a constante confonnidade com todos os elementos da SA

8000 ajuda na implantação de uma boa estratégia de responsabilidade social interna.

Para que a responsabilidade social seja parte integrante de cada processo decisório é

preciso que ela faça parte da missão, visão e valores da empresa.

Apesar de o sistema de gestão ser o último requisito listado na SA 8000, é por

onde a alta administração deve iniciar o processo de implementação da nonna. Para

tanto apresentamos a seguir os critérios fundamentais deste requisito.

2.3.4.1 Política Social e Condições de Trabalho

A alta administração definirá a política da empresa em relação à

responsabilidade social e às condições de trabalho de modo a garantir que a mesma:

(a) inclua o compromisso de estar em confonnidade com todos os requisitos dessa

nonna e quaisquer outros adotados pela empresa;

(b) inclua o compromisso de cumprir as leis nacionais e outras aplicáveis, bem como

respeitar os instrumentos internacionais e suas respectivas interpretações;

(c) inclua o compromisso de promover o aperfeiçoamento contínuo;

92

Page 99: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

(d) seja efetivamente documentada, implementada e mantida, divulgada, e

perfeitamente acessível a todos os trabalhadores, incluindo diretores, executivos,

gerentes, supervisores e quadro funcional, quer diretamente trabalhadores

subcontratados ou que de algum modo representem a empresa;

(e) esteja disponível para o público.

A política de responsabilidade social deve definir as medidas adotadas pela

empresa com vista à obtenção da certificação SA 8000 e deve estar vinculada aos

requisitos da norma.

2.3.4.2 Representantes da Administração

A empresa deve indicar um gerente sênior a quem cabe representar a

administração, independente de outras responsabilidades, e garantir que os requisitos

sejam atendidos. Este gerente pode ser um indivíduo ou um comitê.

Estes representantes devem ser qualificados e treinados em saúde e segurança,

e seniores o suficiente dentro da empresa com poder de decisão e tendo à disposição

orçamento adequado. Este gerente pode ser o mesmo do requisito Saúde e Segurança

do Trabalho que, dentre suas atividades, deve promover a implementação de um

sistema que garanta a confidencialidade e a acessibilidade aos trabalhadores para

registrarem suas reclamações.

É recomendação da SAI que o gerente sênior garanta que os trabalhadores

tenham voz no desenvolvimento de procedimentos e interpretação da nonna para

acidentes de trabalho.

93

Page 100: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.3.4.3 Representantes dos Trabalhadores

A empresa deve providenciar para os trabalhadores não-gestores os meios e o

tempo necessários para escolherem um representante, eleito livremente, a quem cabe a

responsabilidade de facilitar a comunicação com a alta administração nos assuntos

referentes à norma. Esse representante participa e monitora as reuniões de auditorias,

agenda reuniões regulares com os trabalhadores, recebe e encaminha as reclamações à

alta administração e acompanha o progresso das ações corretivas sobre as reclamações

e as informa aos trabalhadores.

Eleições devem acontecer em base regular, pelo menos anualmente. Onde

existe atuação sindical, eles devem decidir o processo eletivo. Sob nenhuma

circunstância o representante da alta administração pode substituir o sindicato.

2.3.4.4 Análise Crítica pela Administração

A alta administração deve realizar, periodicamente, a análise critica da

adequação e da continuada efetividade da política, dos procedimentos e resultados de

desempenho, em relação a cada um dos requisitos da SA 8000 e de outros códigos

subscritos pela empresa, inclusive com a implantação de melhorias no sistema, quando

apropriado.

2.3.4.5 Planejamento e Implementação

Para garantir que os requisitos da norma sejam entendidos e implementados em

todos os níveis da empresa, a SA 8000 requer métodos que devem incluir:

94

Page 101: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

(a) a clara definição de papéis, responsabilidades e autoridades;

(b) treinamento de novos trabalhadores e/ou de trabalhadores temporários quando da

contratação;

(c) treinamento regular e programas de conscientização para os trabalhadores

existentes;

(d) monitoramento contínuo das atividades e dos resultados para demonstrar a

efetividade do sistema em atender à política e aos requisitos da SA 8000.

A implementação do sistema de gestão requer descrições claras dos trabalhos a

serem desenvolvidos, definições de linhas de autoridades e seus correspondentes

orçamentos. O Manual da Empresa desempenha um papel crítico nesta

implementação, definindo os papéis, responsabilidades e os subsistemas de gestão. O

manual é um componente importante, deve estar sempre disponível para os

trabalhadores e ser uma referência para os mesmos em aspectos críticos como

treinamento, além de agir como base de monitoração dos resultados da implementação

do sistema de gestão.

Para Leipziger (2001:70)

"a monitoração contínua dos resultados da implementação do sistema de gestão é

muito significativa, pois permite feedback aos trabalhadores que comparam os beneficios de

sua implementação, sentindo-se mais fortalecidos para implementar o sistema"'.

95

Page 102: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Esse feedback é também útil no convencimento de fornecedores ainda

inseguros quanto aos beneficios do sistema de gestão social.

2.3.4.6 Controle de Fornecedores

A empresa deve solicitar a seus fornecedores informações sobre seus objetivos

sociais, seguido de processo de melhoria contínua relacionado aos objetivos

empresanaIS dos próximos anos. Os critérios fundamentais para esse elemento da

norma são:

(a) estabelecer e manter procedimentos para avaliar e selecionar fornecedores com

base na habilidade destes em atender aos requisitos da SA 8000;

(b) manter compromisso escrito de seus fornecedores para com a responsabilidade

social, incluindo, embora não se limitando a:

> participar das atividades de monitoramento da empresa, quando

solicitado;

> remediar prontamente qualquer não conformidade identificada em

relação aos requisitos da SA 8000;

> informar pronta e completamente à empresa sobre qualquer e todo

negócio relevante relacionado com outros fornecedores e

subcontratados.

( c) manter evidência suficiente de que os requisitos da SA 8000 estão sendo atendidos

pelos fornecedores e subcontratados.

96

Page 103: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.3.4.7 Ação Corretiva

Muitas empresas colocam caixas de sugestão nos locais de trabalho pedindo a

opinião dos trabalhadores quanto as suas preocupações e às reclamações em relação à

política de responsabilidade social da empresa. As respostas e comentários devem ser

anônimos. Sindicatos desempenham um papel fundamental na recepção e correção de

reclamações, com seus representantes encaminhando essas reclamações à alta

administração da empresa. Os critérios fundamentais para esse elemento da norma são:

(a) investigar, tratar e responder às preocupações dos trabalhadores e das partes

interessadas com relação à conformidade e não conformidade relacionadas com a

política e com os requisitos da SA 8000~

(b) implementar ações corretivas e remediadoras, além de apropnar os recursos

necessários de acordo com a natureza e severidade de qualquer não conformidade

identificada em relação à política e aos requisitos da SA 8000~

(c) abster-se de ação disciplinar, de demissão ou de discriminação contra qualquer

trabalhador pelo fato de este fornecer informações relacionadas à observância da

SA 8000.

Ao se tratar e responder às preocupações dos trabalhadores quanto ao sistema

de gestão faz-se necessário treiná-los. Treinamento é um aspecto fundamental da SA

8000 pois promove colaboração e comprometimento dos trabalhadores, além de servir

de ponte com os stakeholders.

97

Page 104: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

o Manual de Empresa serve como texto de treinamento e de gUla para o

desenvolvimento de programas de treinamento que devem incluir: (1) uma introdução

à norma SA 8000; (2) uma introdução à política de responsabilidade social da

empresa; (3) identificação dos representantes da empresa e dos trabalhadores; (4)

treinamento em saúde e segurança no trabalho, enfatizando a importância do uso de

EPI, EPC60 e sinalização de áreas de risco; (5) a importância em reportar acidentes de

trabalho, além da prevenção de sua recorrência; (6) promover a diversidade; e (7)

eliminação de assédio sexual.

2.3.4.8 Registro

A empresa deve manter registros apropriados para demonstrar conformidade

com os requisitos da SA 8000 e, também, dos fornecedores e subcontratados,

incluindo nomes, endereços, tipo e quantidade de produtos fornecidos, e das ações

sociais dos fornecedores e subcontratados.

Como sistema de gestão, o SA 8000 requer a manutenção de listas de

verificação, porém, é importante enfatizar, que, apesar de úteis, as listas são apenas

uma parte do todo.

Listas e outros registros requerem treinamento, pessoal e orçamento para

desenvolver sistema de gestão em total conformidade com a norma.

60 EPI Equipamento de Proteção Individual e EPC: Equipamento de Proteção Coletiva - é todo o equipamento de uso pessoal (EPI) e coletivo (EPC) destinado a preservar e proteger a integridade tlsica do trabalhador, durante o exercício do trabalho, contra conseqüências provenientes de acidentes eíou enfermidades laborais.

98

Page 105: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.3.4.9 Comunicação Externa

A empresa deve estabelecer e manter procedimentos para comurucar,

regularmente, a todas as partes interessadas, dados e outras informações relativos ao

desempenho dos requisitos da SA 8000, incluindo os resultados das análises críticas

realizadas pela administração e o monitoramento das atividades, mas não se limitando

a estes. Comunicação é uma parte integrante da SA 8000 e aumenta o conhecimento

sobre a norma, além de manter o balanço social para os principais stakeholders:

trabalhadores, consumidores, acionistas, fornecedores, ONGs e sindicatos. O primeiro

desafio é saber informar sem inundar os stakeholders com dados. O segundo é deixar a

informação acessível para um número apropriado de stakeholders. Para empresas

multinacionais, esses stakeholders podem estar locados ao redor do mundo, falando

muitas línguas diferentes e com diversos níveis culturais.

Para Leipziger (2001:122)

"é importante diferenciar entre informar e comunicar. /nfomlGr implica fluxo de mão

única de dados da empresa para o stakeholder, enquanto que comunicação são fluxos de duas

mãos com injàrmações e dados da empresa para o stakeholder e vice-versa. Ambas,

informação e comunicação, são essenciais para o sistema de gestão da SA 8000".

Comunicação abre uma janela nas atividades da empresa permitindo maIOr

transparência, pré-requisito para um balanço social, pois os stakeholders devem estar

informados do que está acontecendo dentro dos muros da empresa. Processo de

comunicação contínua sobre as ações sociais da empresa ajuda a construir confiança

entre as partes interessadas. 99

Page 106: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

2.3.4.10 Acesso para Verificação

A partir da definição e da implementação da política de responsabilidade social

da empresa, especificações, comunicações e o sistema de gestão deverão estar prontos

e acessíveis para verificação de acordo com os critérios fundamentais para esse

elemento da norma. Esses critérios são:

(a) quando requeridos por contrato, a empresa deve fornecer razoável informação e

acesso às partes interessadas que queiram verificar a conformidade com os

requisitos da norma;

(b) se também exigidos por contrato, acesso e informação devem também se estender

aos fornecedores e subcontratados da empresa, através de um adendo aos contratos

de fornecimento.

É baseado nos conceitos e premissas da norma SA 8000 que no próximo item

analisamos a responsabilidade social interna às empresas A e B.

100

Page 107: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

3. REFERENCIAL PRÁTICO

Esta parte tem como objetivo apresentar a pesquisa de campo e seus resultados.

No item 3.1, denominado "Análise comparativa das responsabilidades

sociais internas da Empresa A e da Empresa B", há a apresentação da pesquisa e,

em seguida, a identificação dos sujeitos pesquisados nas empresas. Por último são

apresentados e analisados comparativamente os dados extraídos da realidade

pesquisada.

3.1 0 ANÁLISE COMPARATIVA DAS RESPONSABILIDADES SOCIAIS

INTERNAS DA EMPRESA A E DA EMPRESA B

Depois de construída a fundamentação teórica deste estudo, este item tem por

finalidade apresentar e analisar a pesquisa. Inicialmente são apresentadas a

caracterização da pesquisa e as duas empresas objeto desse estudo. Logo após serão

feitas a descrição e a análise do questionário de pré-avaliação (auditoria de primeira

parte) e dos depoimentos levantados pelos sujeitos da pesquisa. Esta pesquisa requereu

flexibilidade no planejamento e também envolveu levantamento bibliográfico e

documental, complementada por entrevistas não padronizadas.

3.1.1, Apresentação da Pesquisa

Para esta investigação, adota-se a postura do estudo descritivo. Considera-se

um estudo de caráter descritivo por ser oposto à pesquisa explicativa e pelo fato de

101

Page 108: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

todos os dados da realidade serem considerados importantes, assim como a singular

riqueza das descrições presentes no material coletado na pesquisa.

Neste estudo, utiliza-se a abordagem qualitativa com duas diferentes formas

de realização da pesquisa:

(a) Para resgatar o tema na literatura pertinente, com o intuito de contextualizar

a temática e construir o referencial teórico, adota-se a pesquisa documental,

desdobrada em pesquisa histórica e pesquisa teórica. Para o

desenvolvimento destas pesquisas foram consultadas a literatura nacional e

estrangeira disponível, sobretudo de artigos técnicos de revistas

especializadas, de obras clássicas e também de obras publicadas

recentemente sobre os temas legislação sociotrabalhista, flexibilização

organizacional, globalização, neoliberalismo, valorização da cidadania,

gestão social, responsabilidade social da empresa, ética empresarial e Norma

SA 8000.

(b) Para a pesquisa de campo, com vistas a investigar a responsabilidade social

interna da Empresa A e da Empresa B, adotamos o estudo de caso.

No que se refere ao último aspecto da caracterização da pesquisa, constata-se

que o modo de investigação utilizado foi o estudo de caso. Para Mirian Goldenberg:

"0 estudo de caso não é uma técnica específica, mas uma análise holística, a mais

completa possível, que considera a unidade social estudada como um todo, seja um

indivíduo, uma família, uma instituição ou uma comunidade, com o objetiro de

compreendê-los em seus próprios termos. O estudo de caso reúne o maior número de

102

Page 109: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

informações detalhadas. por meio de diferentes técnicas de pesquisa. com o objeti\'o

de aprender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso

concreto" (Goldenberg, 2001:33-4).

3.1.2. Trajetória da Pesquisa

O início do estudo proposto ocorreu em setembro de 2001 com o delineamento

do plano de investigação. O desenvolvimento do estudo durou aproximadamente um

ano, tendo sua trajetória finalizada com a defesa da dissertação junto ao programa de

mestrado executivo em Gestão Empresarial e Gestão Pública da Fundação Getulio

Vargas.

O processo de construção deste estudo constituiu-se de duas etapas que não

ocorreram de forma linear, mas que se articularam nos mais diferentes momentos.

Na pnmerra etapa, constituída pela pesquisa documental, desdobrada em

pesquisa histórica e teórica, três temas são selecionados e desenvolvidos.

As temáticas extraídas de literatura especializada contribuíram para a

realização do primeiro tema, expresso no primeiro item do capítulo 1. Para o

desenvolvimento deste tema, Flexibili=ação Organi=acional, foram utilizados: (l) um

panorama da política social do trabalho no que se refere à legislação sociotrabalhista;

(2) uma abordagem do fenômeno da globali=ação da economia e das formas de

flexibilização da produção advindas desse período de grandes transformações

tecnológicas, sociais e econômicas; (3) um viés do chamado estado neoliberal numa

perspectiva de doutrinação ideológica de flexibilização não só da produção, mas

também da legislação trabalhista, através de políticas de privatização, desregulação

103

Page 110: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

das atividades estatais e da abertura da economia nacional ao capital internacional; (4)

uma revisão bibliográfica dos conceitos de cidadania, especificamente a valori::ação

da cidadania no ambiente de trabalho; (5) o levantamento do conceito de gestão

social, como forma de gestão flexível e; (6) o papel de entidades ligadas ao Terceiro

Setor como ferramenta de gestão social. A diversidade de conceitos que coexistem

dentro da área de flexibilização organizacional do trabalho se expressa em definições e

operacionalizações diferentes. Para além destas diferenciações, existem os consensos

fundamentais em tomo de uma série de enfoques vistos como 'próprios' do tema.

Estes enfoques são identificados na literatura pesquisada, publicada por autores

renomados: Santos (2001), Tenório, (1998, 2000a, 2000b e 2001), Mcintosh et. AI

(2001), Srour (1998 e 2000), Jaguaribe (1978), Tauile (1989), Melo Neto e Froes

(2001a e 2001b), Szazi (2001), Coelho (2000).

o segundo tema refere-se à Responsabilidade Social da Empresa e, ao ser

desenvolvido, foi dividido em três tópicos. Tomando por base o estudo da

responsabilidade social da empresa, que vem recebendo diferentes significados e

interpretações durante o período em que tem sido analisada, constroem-se os tópicos

seguintes, contextualizando e definindo os principais termos e conceitos sobre ética

empresarial, práticas e mecanismos de avaliação da responsabilidade social interna.

Neste estudo foram consultados diversos autores da área acadêmica: Asheley et. aI.

(2001), Almeida (1999), Melo Neto e Froes (2001 a e 2001 b), Brundtland (1987),

Carroll (1991), Srour (1998 e 2000).

Na trajetória da pesquisa documental o terceiro e último tema abordado é o da

Norma Social Accountability (SA) 8000 que, na área da responsabilidade social da

104

Page 111: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

empresa, é um tema relevante nas agendas de discussões internacionais e requer

estudos e pesquisas. A Norma SA 8000 (2001) e seu Documento de Orientação (SAI,

1999) foram os referenciais que nortearam toda a pesquisa. O processo de aquisição

destes documentos segue uma trajetória que pode ser assim identificada:

(a) Em dezembro de 2001, o pesquisador tem acesso à Norma SA 8000 - versão

original da SAI de Nova IorquelEUA. O pesquisador faz a tradução da norma e,

em seguida, dá início ao levantamento da literatura relacionada ao tema

responsabilidade social.

(b) No mês de janeiro de 2002, o pesquisador entra em contato com a SAI via e-mail,

solicitando outros documentos produzidos (artigos, resumos) sobre a SA 8000. Em

seguida, foi disponibilizada pela SAI uma pasta contendo a Norma SA 8000,

traduzida para o português, o Guidance Document da SA 8000, o guia de

orientação à implantação e matérias sobre SA 8000 em reportagens de jornais e de

revistas, mencionadas na bibliografia deste estudo.

(c) Os contatos mantidos com a SAI não serviram somente para tratar da aquisição de

documentos, mas para troca de informações, enquanto o pesquisador fazia a

tradução e a análise dos documentos recebidos.

No desencadeamento desta pesquisa, foram selecionadas outras fontes na

literatura especializada na investigação dos temas estudados, consultando os autores:

De Masi (2000), Drucker (1987), Goldenberg (2001), Leipziger (2001), Pringle

(2000), Rifkin (1995), Curado (2000), Equipe do Instituo Ethos (2000), Organização

Internacional do Trabalho, Alves-Mazzotti (2000), Contandriopoulos (1999),

Easterby-Smith (1999); Martins (1999), Nigel Slack et.al (1999).

105

Page 112: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Na segunda etapa realiza-se o estudo de caso que permitiu exammar

detalhadamente as responsabilidades sociais internas da Empresa A e da Empresa B,

com vistas a verificar se ocorreu reprodução da responsabilidade social interna da

Empresa A na Empresa B.

Esta etapa tem início com a contratação da Empresa C, de consultoria e

assessoria na certificação SA 8000, auxiliando o pesquisador na aplicação de

questionário estruturado (Anexo 1) e entrevistas não estruturadas. A pesquisa de

campo foi feita nos moldes de pré-avaliação, auditando as empresas pesquisadas como

se as mesmas estivessem em processo de certificação SA 8000.

Feitos esses esclarecimentos, durante a pesquisa, foram utilizados três tipos de

coleta de dados:

(a) aplicação de questionário de pré-avaliação na Empresa A e na Empresa B;

(b) realização de pré-auditoria, examinando documentos e publicações da Empresa A

e da Empresa B (homepages, manuais, regulamentos, relatórios), que resultou na

contextualização da realidade pesquisada.

(c) realização de entrevistas, que teve como resultados a identificação dos sujeitos da

pesquisa e o levantamento das evidências práticas da empresa no que se refere aos

critérios utilizados para a implantação da SA 8000.

É importante ressaltar aqui, que o processo de trabalho utilizado na elaboração

dos materiais de entrevista foi antecedido pela produção de questões norteadoras,

10(,

Page 113: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

extraídas dos materiais do SAI e da própria Empresa C, e pela escolha dos sujeitos

pesquisados feita por amostra intencional.

As empresas escolheram as pessoas que seriam os sujeitos da pesquisa. Na

Empresa A foram selecionados 23 sujeitos dentre os quais dez integram o quadro

funcional administrativo e 13 o quadro funcional produtivo. Na Empresa B foram

selecionados 14 sujeitos dentre os quais cinco integram o quadro funcional

administrativo e nove o quadro funcional produtivo.

Estes instrumentos permitiram o registro e a análise dos dados extraídos nesta

etapa. A utilização da entrevista permitiu ao pesquisador conseguir informações

através da fala dos atores sociais. Dentre as modalidades desta técnica de coleta de

dados, optou-se por utilizar nesta pesquisa a entrevista não estruturada do tipo

focalizada, por permitir que as questões pertinentes ao tema sejam tratadas de forma

aberta. Com isso, há um enriquecimento da investigação, uma vez que esta modalidade

deixa o entrevistado livre para falar, sem restrições.

Durante a realização das entrevistas foi possível, com a permissão dos

entrevistados, utilizar o recurso da gravação o que toma os dados obtidos mais

precisos. É importante enfatizar aqui que foi acordado com os sujeitos pesquisados que

seria mantido o seu anonimato.

3.1.3. Identificação dos Sujeitos Pesquisados

Neste tópico, busca-se identificar os 23 sujeitos pesquisados da Empresa A, e

os 14 da Empresa B traçando um breve perfil de cada um deles. De comum acordo

107

Page 114: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

com as empresas, mantém-se o anonimato dos sujeitos entrevistados, utilizando o

termo "Trabalhador" para substituir os nomes. No entanto, para distinguir a fala de

cada sujeito, para os da Empresa A foi acrescentado ao termo a letra A e um número

seqüencial ("At, "A2", até "A23") e aos da Empresa B foi acrescentado ao termo a

letra B e um número seqüencial ("B}", "B2", até "B}4"). Feitas estas considerações,

traça-se um breve perfil de cada um dos sujeitos, conforme quadros a seguir.

QUADRO 01 - Sujeitos pesquisados na Empresa A

Sujeitos Sexo Area Cargo

AI Feminino RH - Desenvolvimento Estagiária psicologia

Az Masculino RH - Desenvolvimento Chefe

A3 Feminino RH- Desenvolvimento Assistente Social

A4 Feminino Controladoria Chefe

As Masculino Fiscal Chefe

A6 Masculino Comércio Exterior Chefe

A7 Masculino Planejamento de Materiais Chefe

A8 Masculino Montagem de Portes Injetores Chefe

A9 Masculino Comercial Chefe

AIO Feminino RH-Fábrica Consultor (psicóloga)

Ali Masculino Ferramentaria Chefe

AIZ Feminino Ferramentaria Supervisora

A13 Masculino Ferramentaria Operador

AI4 Masculino Ferramentaria Operador

AIS Masculino F erramentaria Operador

AI6 Masculino F erramentaria Operador

A17 Masculino Montagem Operador

AI8 Masculino Usinagem Operador

AI9 Masculino Montagem Operador

Azo Masculino Usinagem Operador

AZI Masculino Usinagem Operador

An Masculino Qualidade Engenheiro

A Z3 Masculino Administração de RH Chefe

108

Page 115: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

QUADRO 02 - Sujeitos pesquisados na Empresa B

Sujeitos Sexo Area Cargo

8 1 Masculino Garantia da Qualidade Coordenador

8 2 Masculino Segurança do Trabalho Técnico de Segurança

8 3 Feminino Fábrica Operador de Máquina

8 4 Feminino Fábrica Operador de Máquina

8 5 Masculino Fábrica Operador de Máquina

B6 Masculino Fábrica Operador de Máquina

B7 Masculino Fábrica Operador de Máquina

B8 Masculino Fábrica Operador de Máquina

B9 Feminino Qualidade Inspetora

BIO Masculino Fábrica Operador de Máquina

Bll Masculino Fábrica Operador de Máquina

B12 Feminino Fábrica Operador de Máquina

B13 Masculino Qualidade Gerente

Bu Feminino Depto. Pessoal Chefe

3.1.4. Critério para Verificação da Responsabilidade Social Interna

Como forma de organização e referencial de análise a gestão social foi

considerada como critério essencial de verificação da responsabilidade social interna

às duas empresas. A Figura O 1 ilustra a fronteira entre Gestão da Qualidade Social

(gestão estratégica) e gestão social decorrente dos conceitos abordados ao longo do

referencial teórico. Nesta figura há a tentativa de representar o que chamamos de

Gestão Social: interação consensual entre a Gestão da Qualidade Social e cidadania.

109

Page 116: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Sistema de Gestão

Gestão da Qualidade Social Gestão Social

Figura 01

o questionário de pesquisa de campo contempla todos os (nove) requisitos SA

8000 necessários à implantação da norma. Porém, havia conhecimento prévio que

tanto a Empresa A quanto a Empresa B não possuíam o requisito - sistema de gestão -

implementado. Logicamente, ao se realizar a auditoria, a ausência deste requisito, por

si só, distorceria qualquer resultado. A partir da Figura 01, e para se eliminar esta

distorção, foi feita a opção por dividir a análise em duas etapas. Na primeira etapa foi

feita a análise da 'Gestão da Qualidade Social' utilizando oito dos requisitos da norma,

menos o sistema de gestão. Na segunda etapa a análise se efetivou utilizando os nove

requisitos combinados com o conceito cidadania. No quadro 03, detalhamos este

critério de análise.

110

Page 117: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

QUADRO 03 - Etapas de Análise da Responsabilidade Social Interna

i

Etapa Requisitos da SA 8000 Aspectos-chave verificados

Trabalho infantil Respeito às leis. I

Trabalho forçado Clima organizacional. Práticas disciplinares Concessão de beneficios. Horas de trabalho Extensão dos beneficios aos dependentes. Remuneração Segurança e saúde do Qualidade de vida no trabalho. trabalho Treinamento e capacitação em saúde e segurança.

Liberdade de associação e Relações trabalhistas (com superiores, subordinados e Gestão da direito à negociação pares). Qualidade coletiva Presença do sindicato e participação dos trabalhadores.

Social Discriminação Respeito aos direitos humanos.

Manual da empresa. Política social e condições de trabalho. Representantes da administração e dos trabalhadores. Análise crítica pela administração.

Sistema de gestão Planejamento e implementação da norma. Ação corretiva. Manutenção dos registros. Comunicação externa. Acesso para verificação.

Gestão Social Programas de aumento da empregabilidade e (re) inserção no mercado de trabalho.

(Gestão da Gestão das relações com os fornecedores no tocante à

Qualidade Sistema de gestão contratação de mão-de-obra.

Social Relações com o terceiro setor.

+ Ética empresarial.

Cidadania) Valorização da cidadania (cidadão-trabalhador). Gestão comunicativaldialógica.

São quatro as possíveis respostas ao questionário: sim (S), parcial (P), não (N)

e não aplicável (N/A).

3.1.5. Análise Comparativa da Responsabilidade Social Interna-

Gestão da Qualidade Social

o primeiro requisito refere-se ao Trabalho Infantil, desmembramento do item

1 da Seção IV da SA 8000.

lIl

Page 118: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

QUADRO-04

N° Critérios Fundamentais Empresa Empresa

1. Trabalho Infantil A B

1.1 Utiliza empregado com menos de 16 anos? S S 1.2 Existem regras para remediação de trabalho infantil? Essas regras

garantem suporte adequado para que tais crianças permaneçam na escola N N até não serem mais crianças?

1.3 Trabalhadores juvenis (16 - 18 anos) não estão empregados durante as horas de escola e a soma de horas trabalhadas, em transporte e na escola. N N não ultrapassa 10 horas por dia?

1.4 Existem regras para trabalho de empregados entre 16 e 18 anos limitando N N

funções e condições de perigo, risco ou insalubres e trabalhos noturnos? 1.5 Verificar prova de idade dos funcionários

S S

1.6 Entrevistar trabalhadores sobre a existência de trabalho juvenil e infantil S S

1.7 Registro do periodo escolar para trabalhadores juvenis. p N

1.8 Os funcionários conhecem a política e remediação de trabalho infantil? N N

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

Tanto a Empresa A como a Empresa B utilizam trabalhadores com menos de

16 anos. Na Empresa A existem aprendizes administrativos (guardas-mirins) a partir

de 14 anos, e na Empresa B empregados com 15 anos. Estes trabalhadores jovens

trabalham durante 08 horas diárias e estudam à noite. Na Empresa A estes

trabalhadores circulam e estão expostos a áreas de risco, enquanto que na Empresa B

estão lotados em áreas de riscos. Entretanto nas duas empresas a utilização de EPI é

obrigatória. A área de recursos humanos da Empresa A acompanha informalmente o

registro escolar dos trabalhadores jovens. Esporadicamente é solicitado aos menores

que tragam suas notas escolares. A Empresa B não acompanha registro escolar. Nas

entrevistas e evidências foi verificado que os trabalhadores das duas empresas estão

cientes da existência de trabalho infantil, entretanto desconhecem qualquer política e

remediação de trabalho infantil.

112

Page 119: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

o segundo requisito refere-se ao Trabalho Forçado, desmembramento do item

2 da Seção IV da SA 8000.

QUADRO-OS

N° Critérios Fundamentais Empresa Empresa

12. Trabalho Forçado A B

2.1 A empresa não utiliza trabalho forçado, ou retenção de documentos de I

identificação ou depósitos como condição para que o pessoal se tome S S empregado ou mantenha o emprego.

2.2 Os empregados estão li\Tes a se demitir, mesmo os que contraíram S S

empréstimos com a empresa. 2.3 Os empregados são livres para recusar trabalho em horas extras. S S 2.4 Verificar se não existem documentos originais dos funcionários na

S S empresa? 2.5 Os funcionários confll1l1am que não necessitam fazer depósitos, ou deixar

S S documentos de identidade originais? 2.6 São feitos empréstimos para funcionários?

S N

2.7 Esses empréstimos para funcionários são compatíveis com os salários S N/A destes

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

Tanto na Empresa A quanto na Empresa B os trabalhadores são livres para se

demitir e para recusar trabalho em horas extras. Na Empresa A devem quitar seus

débitos ao saírem da empresa e, quanto às horas extras, é freqüente a solicitação de

colaboração pelo supervisor imediato. A Empresa B não faz empréstimos e não

solicita colaboração no sentido de o trabalhador fazer hora extra. Nas entrevistas e

evidências verificamos a inexistência de documentos originais dos trabalhadores

retidos nas empresas e de depósitos, ambos os casos confirmados pelos entrevistados.

Os empréstimos feitos pela Empresa A são limitados a um percentual do salário e as

prestações limitadas em função do salário. Para os sujeitos pesquisados na Empresa B,

a maioria, ao informar que a empresa não faz empréstimos, entende que deveria fazê-

lo.

lU

Page 120: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

A Saúde e Segurança do Trabalho são o terceiro requisito, desmembrado do

item 3 da Seção IV da SA 8000.

QUADRO-06

N° Critérios Fundamentais

Empresa Empresa A B

3. Segurança e Saúde do Trabalho

3.1 A empresa oferece condições de trabalho seguras e saudáveis? S S I 3.2 A empresa toma ações adequadas para prevenir ou minimizar acidentes ou S S

danos à saúde dos empregados decorrentes do trabalho? 3.3 A empresa disponibiliza para todos os empregados EPI (equipamento de

S S I proteção individual) quando necessário? i

3.4 A empresa possui um gerente responsável pela saúde e segurança dos S P i empregados e pela evolução desses itens? I

3.5 São tomadas ações para prevenir a reocorrência de acidentes de trabalho? S S 3.6 A empresa definiu um gerente sênior como representante responsável por S P i saúde e segurança? I

3.7 A empresa realiza treinamento sobre saúde e segurança e para os todos os S P empregados no minimo anualmente?

1

38 A empresa possui algum sistema para detectar, evitar e responder às S N I i ameaças potenciais a saúde e segurança dos funcionários? I

13

.9 A empresa disponibiliza para todos os empregados banheiros limpos, água

J potável e, se necessário, local adequado para manter a refeição do S S

i empregado?

1

3.10 Caso a empresa forneça dormitórios, estes são limpos, seguros e atendem

N/A N/A I aos requisitos básicos do empregado? 3.11 As NR (Normas Regulamentadoras) aplicáveis estão sendo atendidas? S S

i 3.12 Verificar a existência de procedimentos documentados sobre saúde e S S i I

I segurança j , 3.13 Estes procedimentos são disseminados pelos funcionários? S P i

1

3.14 i Os acidentes de trabalho são investigados e os funcionários participam S S

I

efetivamente na identificação das causas e nas ~ões corretivas? I 13.15 As NR-09 e NR-07 estão sendo cumpridas e as ações corretivas S S i I

necessárias estão sendo executadas? I

3.16 Existe uma preocupação com treinamento regular de abandono de área em I P N I

caso de incêndio e existe brigada treinada? I

1

3.17 Existem pessoas habilitadas para primeiros socorros na empresa e estas I

P N I são em número suficiente e em todos os turnos? I

! 3.18 As pessoas estão treinadas para contatar hospitais ou médicos em caso de S P I I uma emergência? Os telefones destes estão disponíveis? !

1 3.19 Os e:\:tintores são em número suficiente e existe evidência destes, de S P I I

sprinkler. hidrantes e mangueiras de combate a incêndios? i [

: ~ "0 I A rota de fuga está identificada nas áreas e os acessos (portas. corredores 1 ~- S N i etc.) estão livres? I 3.21 I A água é testada para verificar sua potabilidade? Existe laudo da água? S P i

3.22 i Os funcionários utilizam EPI nos locais necessários? S P ,

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

114

Page 121: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

As empresas possuem CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que

é fonnada por empregados nomeados e eleitos anualmente representando todos os

setores da empresa. Um dos sujeitos entrevistados relata que:

"Nas reuniões da CIPA, das quais participam também representantes da direção da

Empresa A, são discutidos todos os assuntos relativos à segurança e são tomadas as

prm'idências para a solução de eventuais problemas. Criamos a brigada de primeiros

socorros e temos um setor de segurança do trabalho que visam diminuir riscos de

acidentes". (Trabalhador A2).

As empresas elaboraram e implementaram o PPRA - Programa de Prevenção de

Riscos Ambientais, oferecendo condições de trabalho seguras e saudáveis. A Empresa

A conta com áreas sinalizadas, oferece ginástica laboral e sensibiliza seus trabalhadores

para a importância do uso de EPI. A Empresa B mantém procedimento para análise

ergonômica.

Na Empresa A as ações para prevenir ou minimizar acidentes de trabalho são

executadas através da CIPA, com o representante da área. A empresa detém um

programa de auditoria de segurança e uma agenda com campanhas preventivas (ex.

tabagismo). Realiza anualmente a SIP AT - Semana Interna de Prevenção de Acidentes

de Trabalho. Essas ações na Empresa B são ligadas ao departamento médico, com

mapas de risco, campanhas de vacinação e sempre que há reclamação do trabalhador.

A Empresa A possui um gerente sênior responsável pela saúde e segurança dos

trabalhadores, além de delegar responsabilidades ao médico do trabalho e ao

presidente da CIPA. A Empresa B não possui um gerente sênior, os responsáveis são o

presidente da CIPA, médico do trabalho e o técnico de segurança. As empresas

115

Page 122: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

implementam ações corretivas e preventivas nos acidentes do trabalho de acordo com

os procedimentos ISO 9000 e QS 9000.

Adicionalmente a Empresa B solicita o acompanhamento do médico do

trabalho na execução destas ações.

Na Empresa A a realização de treinamentos sobre saúde e segurança dos

trabalhadores ocorre anualmente e, durante a SIP A T, são complementados pelos

treinamentos específicos sobre meio ambiente e utilização de EPI. Na Empresa B tais

treinamentos são feitos sem regularidade nas reuniões de cinco minutos diárias e

eventualmente na admissão de um novo trabalhador.

Apesar dos treinamentos e da obrigatoriedade de utilização de EPI, tanto na

Empresa A quanto na Empresa B vários trabalhadores encontravam-se sem protetor

auricular.

No intuito de evitar e detectar ameaças potenciais à saúde e à segurança dos

trabalhadores a Empresa A realiza regularmente auditorias internas de segurança.

Tanto na Empresa A quanto na Empresa B as áreas administrativas, banheiros,

vestiários, refeitórios, área de lazer são limpos, asseados e salubres cumprindo e

atendendo a NR - Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho, e são

acompanhadas nas reuniões da CIPA.

Na Empresa A os procedimentos de saúde e segurança do trabalho estão

disponibilizados no site da CIPA, na agenda de auditorias internas e no programa de

descarte de produtos, contando com uma estação de tratamento de efluentes. Na

116

Page 123: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Empresa B o documento é o PST - Procedimento de Segurança no Trabalho,

documento integrante da norma ISO 9002, com boletins regulares sobre itens de

segurança. Na Empresa A esses procedimentos estão disseminados pelos trabalhadores,

entretanto na Empresa B essa disseminação é superficial.

Os acidentes de trabalho são investigados na Empresa A através da ficha de

análise de acidentes e do CAT - Comunicação de Acidente de Trabalho, documento

legal exigido por lei, na Empresa B a investigação é feita de acordo com o PST.

Na Empresa A em caso de incêndio existe uma brigada, mas o treinamento de

abandono de área não é realizado regularmente em todas as áreas.

A Empresa B treina apenas a brigada de incêndio e alguns trabalhadores antes

da recarga regular dos extintores, e não tem treinamento de abandono de área.

Os trabalhadores habilitados para pnmelros socorros na Empresa A estão

distribuídos por todas as áreas. Entretanto, alguns trabalhadores não conhecem seus

colegas treinados para primeiros socorros. A Empresa B mantém médicos e

enfermeiros durante o dia e ninguém nos turnos noturnos.

Os aparelhos telefônicos da Empresa A são sinalizados com os números de

emergência e os códigos de alarme e os trabalhadores são treinados para contatar

hospitais ou médicos em casos emergenciais. Na Empresa B existem sinalizações dos

números de emergência nas áreas.

A Empresa A mantém bombeiros que controlam os extintores, detectores de

fumaça e demais equipamentos. A Empresa B controla regularmente os extintores,

117

Page 124: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

mas para sprinklers, hidrantes e mangueIras de combate a incêndios não existe

controle sistemático.

A Empresa A mantém quadros com rotas de fuga e pontos de encontro em caso

de incêndios. Na Empresa B a rota de fuga não está sinalizada.

A potabilidade da água consumida na Empresa A é testada e a empresa publica

as avaliações. Na Empresa B a água somente é testada quando há reclamações dos

trabalhadores.

o quarto requisito apresenta a Liberdade de Associação e Direito à

Negociação Coletiva, e foi desmembrado do item 4 da Seção IV da SA 8000.

QUADRO-07

N° Critérios Fundamentais Empresa Empresa I

4. Liberdade de Associação e Direito à Negociação Coletiva A B

4.1 A empresa respeita o direito dos empregados de se filiar a sindicatos, bem S S como negociar coletivamente suas reivindicações?

4.2 A empresa não discrimina os representantes dos empregados e permite N S acesso ao local de trabalho por parte dos representados?

4.3 A empresa aceita a participação do sindicato em negociações coletivas? S S 4.4 Entrevista com funcionários que participam do sindicato. para verificar se I

existe discriminação, no local de trabalho e se os empregadores permitem N S ações na empresa.

4.4 As convenções e acordos coletivos estão assinados por representantes S S sindicalizados.

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

Tanto a Empresa A quanto a Empresa B respeitam o direito dos trabalhadores

de filiar-se a sindicatos, bem como de negociar coletivamente suas reivindicações.

Como ilustração, 90% dos trabalhadores da Empresa B são sindicalizados.

118

Page 125: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Aparentemente a Empresa A não discrimina os representantes dos

trabalhadores perante o sindicato, entretanto alguns desses representantes têm atitudes

não produtivas, só trabalham quando querem ou simplesmente não trabalham.

Na Empresa B essa convivência é amigável. Entretanto, nas duas empresas os

representantes dos sindicatos participam normalmente das negociações e, inclusive,

são signatários dos acordos coletivos.

Na Empresa A nove trabalhadores são diretores sindicais, entretanto não se

disponibilizaram a responder ao questionário e a serem entrevistados. Na Empresa B

foi entrevistado o Trabalhador B2, representante sindical e membro da CIPA.

o quinto requisito refere-se à Discriminação, desmembramento do item 5 da

Seção IV da SA 8000.

119

Page 126: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

QUADRO-08

N° Critérios Fundamentais Empresa Empresa

5. Discriminação A B

5.1 A empresa não apóia ou pratica discriminação relacionada com a remuneração. contratação. treinamento e desligamento em função da raça, p p classe social, nacionalidade, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, filiação a sindicatos e partidos políticos.

5.2 A empresa não interfere com o direito das pessoas de seguir crenças ou práticas. ou atender às suas necessidades relacionadas com raça, classe S S social. nacionalidade, religião, deficiência. sexo, orientação sexual, filiação a sindicatos e partidos políticos?

5.3 A empresa repudia qualquer comportamento que seja sexualmente I

coercitiyo, ameaçador, abusivo ou explorador, incluindo gestos, P N ! I

linguagem e contato físico? I 5.4 Os funcionários conhecem as políticas contra discriminação') P P i 5.5 Eles sabem a quem denunciar qualquer tipo de discriminação') P P I 5.6 Existem registros das contratações, promoções, treinamentos que S p

J permitem evidenciar que a empresa não pratica discriminações? 5.7 Existem registros de candidatos a contratações, promoções e treinamentos S N I rejeitados? 5.8 Verificar nos anúncios de contratação de pessoal se não existe algum tipo S s

I de discriminação 5.9 Os funcionários confirmam que podem respeitar seus feriados religiosos? S S ! 5.10 Verificar o tratamento e os benefícios pagos às gestantes S P I

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

Na Empresa A a discriminação de gênero aparece parcialmente pois a empresa

conta com 79 trabalhadores em posição de chefia sendo somente dois mulheres.

Complementando, apontamos outro tipo de discriminação - a de deficiência, já que

alguns setores têm resistência à entrada de mulheres e deficientes.

Na Empresa B apontamos a discriminação por deficiência, já que não há

contratação de deficientes. A discriminação de gênero ficou clara com a declaração de

um dos sujeitos da pesquisa:

"( ... ) neste setor só pode trabalhar homem". (Trabalhadora Bg).

Nas contratações, promoções, treinamentos e desligamentos da Empresa A

existem processos de avaliação estruturados para essas ações. Na Empresa B esses

processos não são estruturados. 120

Page 127: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

A Empresa B conta com poucas mulheres em seu quadro funcional, outro

comentário surgido durante a entrevista:

"( ... ) não tenho esperança de atingir cargo de comando sendo mulher". (Trabalhadora

R,).

Tanto na Empresa A quanto na Empresa B não existem interferências no

direito que os trabalhadores têm de seguir crenças religiosas. Os trabalhadores da

Empresa B utilizam sala de treinamento para reuniões religiosas.

Apesar do repúdio a qualquer comportamento sexualmente coercitivo,

incluindo gestos, linguagem e contato físico, de acordo com a Trabalhadora ~

"( ... )já ocorreu na Empresa A caso de abuso de linguagem e os caminhos para tratá­

los não foram claros".

Na Empresa B ocorre coerção pelo cargo, repudiada pela diretoria, que, no

entanto, não mantém um canal formal de reclamação. As empresas não possuem

políticas formalizadas contra discriminação. Os trabalhadores da Empresa A apontam

a assistência social da empresa, mas não têm confiança no órgão para denunciar. Para

os trabalhadores da Empresa B não é claro a quem denunciar.

Na Empresa A existe processo estruturado para avaliar as rejeições de

contratações, de promoções e de treinamentos, com pareceres claros sobre as causas

das rejeições. Na Empresa B não existe registro para as rejeições.

121

Page 128: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

As trabalhadoras gestantes da Empresa A têm o acompanhamento da assistente

social e nutricionista e consultas periódicas no ambulatório médico da empresa. As

gestantes da Empresa B eventualmente mudam de área para maior conforto.

o sexto requisito diz respeito às Práticas Disciplinares, desmembramento do

item 6 da Seção IV da SA 8000.

QUADRO-09

N° i Critérios Fundamentais Empresa Empresa I

I A B , 6. I Práticas Disciplinares

6.1 : A empresa não pratica ou apóia o uso de punições corporais. coerção S p

i mental ou fisica e abuso verbal. 6.2 lOS funcionários conhecem as políticas contra práticas disciplinares p p !

i abusivas? Eles sabem a quem denunciar qualquer tipo de discriminação? 6.3 : Verificar junto aos funcionários se os supervisores e chefes os respeitam? P S 6.4 i Existem registros de ações corretivas no caso de reclamação dos N N

, funcionários?

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

A Empresa A desenvolveu o conceito 'chefe treinador' que procura orientar

através do diálogo, incentivando o trabalhador a expor suas idéias e problemas para

seu superior imediato. Entretanto, de forma isolada, alguns supervisores não

conversam com os trabalhadores ou simplesmente os ignoram. Na Empresa B ainda

existe, mesmo que de forma isolada, a figura do chefe muito agressivo.

Nas empresas não existe uma política formal contra práticas disciplinares. Na

Empresa A o canal de denúncia contra práticas disciplinares não é claro, porém,

trabalhadores enxergam a assistente social como tal. Na Empresa B não tem canal

formal, o Trabalhador BIO apontou a área de segurança ou o "dono" da empresa.

122

Page 129: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Conseqüentemente não encontramos nenhum registro de ações corretivas no caso de

reclamação dos trabalhadores.

o sétimo requisito diz respeito às Horas de Trabalho, desmembramento do

item 7 da Seção IV da SA 8000.

QUADRO-lO

N° i Critérios Fundamentais Empresa Empresa

7. Horas de Trabalho A B

7.1 I As horas regulares de trabalho estão limitadas a 48 horas semanais ou S S

I menos conforme acordo da categoria? 7.2 I As horas extras semanais estão limitadas a 12 horas e as diárias a 2 horas e

i são usadas em condições excepcionais e o intervalo entre jornadas é de no P P i mínimo II horas. incluindo as horas extras?

7.3 i As horas extras são voluntárias? S S 7.4 I As horas extras são remuneradas à taxa de prêmio conforme CLT? S S 7.5 I A empresa fornece pelo menos um dia de repouso a cada sete dias de

S S trabalho?

7.6 I Os registros de horas trabalhadas estão dentro do especificado? S P 7.7 I Verificar registro de horas extras e folgas dos funcionàrios S S 7.8 : Os funcionários não levam trabalho para casa? S S 7.9 I Verificar o valor pago por hora extra, se está de acordo com a legislação e

S S : convenção

7.10 t Verificar e confirmar junto aos funcionários antenormente.

os itens citados p p

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

As empresas atendem a legislação nacional. Na Empresa A o horário é móvel e

de até 40 horas extras; esse quantitativo vai para o banco de horas podendo ser

compensado num outro dia.

Tanto na Empresa A quanto na Empresa B eventualmente ocorrem excessos

com mais de duas horas diárias ou 12 horas semanais. Entretanto, as horas extras são

voluntárias em ambas as empresas.

Na Empresa A os registros de horas extras estão dentro do especificado, sendo

meta do PLR - Participação nos Lucros e Resultado que hora extra seja menor que 5%.

123

Page 130: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Na Empresa B as horas extras estão parcialmente registradas, apontadas em um banco

de horas informal.

Nas duas empresas, quando da verificação junto aos trabalhadores, os mesmos

reclamaram que fazem mais que duas horas extras diárias.

o oitavo requisito refere-se à Remuneração, desmembramento do item 8 da

Seção IV da SA 8000.

QUADRO-ll

I N° I Critérios Fundamentais Empresa Empresa

8. Remuneração (Salários e Benefícios) A B

8.1 O salário pago aos funcionários obedece ao mínimo estabelecido nas leis, S S convenções e acordos trabalhistas?

8.2 A forma de pagamento é conveniente ao funcionário, ou seja, não o obriga S S a gastos para receber seupagamento?

8.3 As deduções no salário por motivos disciplinares são proibidas? S S 8.4 "Arranjos" de trabalho, estágios ou outro esquema de aprendizado apenas p S

para burlar o atendimento das obrigações trabalhistas são proibidos? 8.5 Verificar espelho dos pagamentos para confirmar os requisitos de S S

I remuneração

8.6 Os incentivos e bônus estão atualizados? S S 8.7 Os funcionários conhecem as regras de dedução dos salários nos S S

demonstrativos de pagamento?

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

A Empresa A conta com mais de 80 estagiários não tendo programa efetivo e

percebendo baixa perspectiva para efetivação na empresa. Esse arranjo de trabalho

aponta para o plano de utilização de estagiários mais como mão-de-obra barata. A

Empresa A divulga planilhas por faltas e outras informações para o PLR, informando a

atualização de incentivos e bônus. Na Empresa B essas informações são

disponibilizadas no início de cada ano através do PLR, onde todos recebem o mesmo

valor independente do cargo.

12~

Page 131: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

o nono requisito refere-se ao Sistema de Gestão, desmembramento do item 9,

nomeado Sistema de Gestão, da Seção IV da SA 8000.

Dentre todos os requisitos pode-se verificar que o 'sistema de gestão' é o mais

extenso e complexo, pois é nele que se sistematiza a política de responsabilidade

social assumida pela empresa e se apresentam os critérios fundamentais do

gerenciamento na área social.

125

Page 132: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

QUADRO-12

N° Critérios Fundamentais Empresa Empresa

9. Sistema de Gestão A B

9.1 Existe uma Política de Responsabilidade Social definida e divulgada? N P 9.2 Esta Política de Responsabilidade Social prevê o compromisso de atender

as legislações e regulamentos previstos na SA 8000 e na CLT, bem como N P a melhoria contínua?

9.3 A admínistração realiza reuniões de análise critica para avaliar a N P

adequação do Sistema de Responsabilidade Social? 9.4 A empresa defmiu um representante que garanta a implementação do

P N Sistema de Responsabilidade Social?

9.5 Os empregados elegeram um representante para tratar dos assuntos N N ligados com a AS 8000?

9.6 As funções, responsabilidades e autoridades relativas à SA 8000 estão N N defmidas? 9.7 Os empregados são treinados sobre os itens da AS 8000? P N 9.8 As atividades relacionadas com responsabilidade social são monitoradas? N P 9.9 São realizadas auditorias para monitorar os itens ligados à p N

responsabilidade social? 9.10 Existe um procedimento para avaliar os fornecedores onde são N N

considerados os itens ligados à responsabilidade social? 9.11 Os fornecedores são avaliados conforme os critérios da norma SA 8000? N N 9.12 A empresa mantém registro do compromisso dos fornecedores em atender N N

os requisitos da SA 8000? 9.13 São implementadas ações corretivas sempre que for identificada não

conformidade com os itens de responsabilidade social ou quando for feita P P reclamaçãopor parte dos empregados ou outras partes ínteressadas?

9.14 A empresa mantém informação regular para as partes ínteressadas dos p N índicadores de desempenho do seu sistema de responsabilidade social?

9.15 A empresa permite acesso às suas instalações para verificação do sistema S S de responsabilidade social incluindo os registros relacionados?

9.16 A alta admínistração entende a importância da responsabilidade social P P I . para as emQfesas? 9.17 Verificar com a alta administração e corpo gerencial o efetivo P P

compromisso com a responsabilidade social. 9.18 Verificar com os funcionários se estes conhecem e entendem os P N

compromissos da responsabilidade social definidos na SA 8000. 9.19 Verificar os índicadores e relatórios de monitoramento dos itens ligados à N N

responsabilidade social. 9.20 Verificar se o processo de eleição do representante dos funcionários foi

li \Te, secreto, com possibilidade de candidatura para qualquer um exceto a N N gerência.

9.21 Verificar como os relatórios de responsabilidade social são divulgados. N N 9.22 Verificar se existe uma relação dos fornecedores qualificados conforme N N

requisitos de responsabilidade social.

19

.23 Verificar se existe evidência que os fornecedores foram visitados e N N

auditados conforme SA 8000. 9.24 Verificar se as reclamações ligadas à responsabilidade social são

efetivamente tratadas e os reclamantes estão livres de discriminação. P P Entrevistar os reclamantes.

9.25 Verificar se a empresa divulga de forma adequada sua política, P p compromissos e resultados ligados à responsabilidade social.

9.26 Verificar se os registros ligados à responsabilidade social são mantidos. N N

Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

126

Page 133: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Em conformidade com a norma, nesta fase inicial de implementação da SA

8000 somente os representantes dos sindicatos foram consultados. Foram entrevistados

procurando obter informações sobre parcerias das empresas com ONGs, fato que se

revelou negativo.

Durante a pesqUIsa, ao expor o questionário-padrão SA 8000, foi possível

perceber, tanto na Empresa A quanto na Empresa B, o total desconhecimento dos

gestores e trabalhadores para com a norma, não possuindo, portanto, documento

formal (manual da empresa) contendo as diretrizes e a política da responsabilidade

social das empresas. Desta percepção, foi constatado que tanto na Empresa A quanto

na Empresa B:

" não foram apontados os representantes da administração nem eleitos os

representantes dos trabalhadores, especificamente para garantir a

implementação de seus sistemas de responsabilidade social;

" não estão formalizadas ações que visem ao planejamento e à

implementação da norma;

" não existem procedimentos de avaliação de fornecedores quanto aos itens

ligados à responsabilidade social em conformidade com os requisitos da

norma;

" não existem critérios de análise periódica da adequação e continuidade de

processos e resultados de desempenho em relação a cada um dos

requisitos da norma. A administração da Empresa B realiza reuniões de

análise crítica para avaliar a adequação do sistema de responsabilidade

social. Entretanto o faz de forma incompleta, pois essas reuniões são 127

Page 134: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

voltadas para a qualidade do produto e não para a qualidade social. O

único item de controle da qualidade social é sobre o absenteísmo, com

programa de sugestão e indicador;

-, existem registros parciais de fornecedores, subcontratados e de não

conformidades que, no entanto, não demonstram conformidade com os

requisitos da norma. As reclamações ligadas à responsabilidade social são

tratadas na Empresa A no requisito saúde e segurança e, mesmo que

informalmente, nos problemas de relacionamento. Na Empresa B não

existe sistema formal;

-, embora sejam implementadas ações corretivas ao identificar não

conformidades ou reclamação por parte dos trabalhadores, estas ações não

são executadas de acordo com os requisitos da norma. As ações corretivas

na Empresa A são informais, exceto para saúde e segurança, enquanto que

na Empresa B não existe formalização alguma, porém, quando

identificado, são implementadas ações corretivas;

-, existe uma comunicação parcial, caracterizada como informação de fluxo

de mão única (da empresa para os trabalhadores) não ocorrendo o

feedback dessas informações, o que caracterizaria a conformidade da

comunicação nos requisitos da norma. A Empresa A divulga as questões

externas ligadas a ações de voluntariado, enquanto que a Empresa B

divulga a política da qualidade e resultados da análise crítica;

128

Page 135: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

,. foi permitido o acesso às instalações para verificação de seus sistemas de

gestão. Como tais sistemas não estão conforme os requisitos da norma, o

limite foi a verificação de suas ações sociais em andamento.

Nas empresas não estão definidas nem divulgadas políticas de responsabilidade

social. A Empresa A está desenvolvendo um código de ética corporativo, envolvendo

todo o grupo, fato considerado pelo Trabalhador A2 como relevante, pois demonstra o

comprometimento da administração da empresa:

"( ... ) um programa desta envergadura somente é implantado quando há o

compromisso da alta direção, se não você não implanta. E não se implanta de baixo

para cima, e sim de cima para baixo - não é no sentido autoritário e sim no sentido

amplo, ou seja, no sentido de comprometimento". (Trabalhador A2).

A política da qualidade da Empresa B61 contém o princípio de responsabilidade

social. Nota-se que a empresa, mesmo sem formalizar, vem desenvolvendo uma

política interna de responsabilidade social.

"Para a Empresa B, a partir do momento em que uma empresa é constituída através

de um contrato social e adota uma razão social, torna-se correto que se assuma

61 O Sistema de Gestão da Qualidade dos Serviços da Empresa B tem como política da qualidade:

(3) Satisfazer o cliente em todas as suas expectativas sendo as principais:

a) fornecer produtos de alta qualidade; b) manter pontualidade nas entregas; c) ser flexível nas negociações com a finalidade de obter preços mais competitivos; d) buscar a qualidade total com tecnologia de ponta e de alta produtividade.

(4) Manter os funcionários confiantes e motivados proporcionando-lhes:

a) treinamentos adequados e constantes; b) remuneração digna; c) assistência médica e social extensiva às famílias; d) liberdade de opinião para aprimoramento de todos

(5) Fazer de nossos fornecedores parceiros de trabalho prestando-lhes suporte técnico constantemente.

129

Page 136: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

também. no mesmo instante. sua responsabilidade social. Afinal. essa empresa I'ai

empregar pessoas. que. por sua vez. têm outras pessoas que dependem delas. Vai

criar ou modificar hábitos de consumo. e os consumidores formam a sociedade".

(Trabalhador B I ).

Esse entendimento foi percebido também na Empresa A, conforme os

depoimentos apresentados a seguir:

"Falar de responsabilidade social empresarial é criar. em seus aspectos corporativos.

o chamado consumo responsável. onde a empresa atua socialmente não só com seu

público interno - funcionários. acionistas, clientes etc. - mas na sociedade como um

todo". (Trabalhador A23).

"Fazemos questão de dar seqüência ao trabalho correto e responsável, ampliando

nossas ações dentro e fora da empresa". (Trabalhador A2).

Após a aplicação do questionário e durante as entrevistas os gestores passaram

a conceber a norma como uma forma de prescrever a política informal de

responsabilidade social até então estabelecida. O depoimento a seguir evidencia a

percepção da administração:

"A chegada desta pesquisa na Empresa B foi uma casualidade positiva e trouxe uma

perspectiva muito interessante. A empresa sempre tratou bem os funcionários. di\'idiu

os ganhos com eles. teve um bom relacionamento com seu sindicato, enfim. o que a

norma prescreve. Somos certificados ISO 9002 e seus resultados repercutem dentro e

jora da ernpresa. No entanto. todos os processos desenvolvidos e padronizados risam

ao produto e não aos colaboradores. após esta auditoria percebemos a necessidade de

jormalizar nossas ações de ordem social e ambientar'. (Trabalhador BI4).

130

Page 137: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Em algumas entrevistas, porém, outros relatos apontam resistência por parte

dos entrevistados:

"( ... ) pelo que entendi precisaríamos adaptar aSA 8000 a nossa realidade. Isto pode

ser complicado. pois tudo que a norma prescreve é estar em conformidade com a CLT

- legislação brasileira. Por exemplo, administrar o número de horas trabalhadas, da

questão da saúde e da segurança do trabalho - regulamentado pelas NRs. Já jàzemos

isto, mas não a esse nível de detalhe e controle. Estas ações são de dificil

implementação e, definitivamente, seria um impacto enorme em termos culturais,

gerenciais e comportamentais." (Trabalhador A2).

"( .. ) primeiro, tem pouca referência aqui no Brasil. A implantação de um sistema

novo é sempre muito complicada. Segundo tem que transformar a norma em material

operacional para nossa realidade. Terceiro, a legislação brasileira é muito pesada,

então você tem que estar em conformidade com a lei, associando a uma interpretação

jurídica. A princípio acho inviávef'. (Trabalhador BI4).

Na análise destes depoimentos percebe-se que a maior dificuldade é a falta de

infonnação quanto à adequação dos instrumentos internacionais da nonna

(Convenções e Recomendações da OIT) aos instrumentos vigentes no Brasil

(Consolidação das Leis do Trabalho), que, de certa fonna, traduzem os valores

culturais, gerenciais e comportamentais de cada pais.

As empresas vêm buscando uma melhor gestão dos recursos humanos visando

melhorar seus resultados econômicos, financeiros e a construção do capital social. Tal

processo pode ser verificado no seguinte depoimento:

131

Page 138: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

"( ... ) procuramos redução de twnover, de absenteísmo, de lesões por esforços

repetitivos. Num primeiro momento é muito imperceptível, depois se começa a ter

consciência que estas ações produzem resultados na área saciar'. (Trabalhador AI)

Este depoimento é indicativo de que na Empresa A a responsabilidade social

está inserida nas metas a serem alcançadas pela empresa. Uma das formas de se

alcançar estas metas é identificar os principais problemas enfrentados pela empresa no

campo social.

Nas entrevistas realizadas na Empresa B pode-se elencar os seguintes

problemas no campo social detectados pela administração:

"Os problemas sociais apresentados por nossos funcionários, identificados pela

assistente social, em sua maioria são necessidades básicas - educação, vestuário,

moradia". (Trabalhador BI4).

"As carências sociais na Empresa B são das áreas da saúde e de segurança do

trabalho, de nosso funcionário não saber administrar o que ganha e da precariedade

de suas moradias". (Trabalhador B2).

Percebe-se que a empresa encara o problema como um desvio, ou seja, um

resultado indesejável obtido quando se compara uma situação desejada a uma situação

atual, mas considera que os problemas sociais existentes podem ser transformados em

oportunidades de negócio.

Na Empresa A a área de Recursos Humanos responde pelas ações sociais com

a comunidade, ou seja, responsabilidade social externa. Entretanto, não faz ingerência

132

Page 139: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

na responsabilidade social interna da empresa. As atividades relacionadas com a

responsabilidade social interna da Empresa B são monitoradas de maneira informal.

Na Empresa A os entrevistados entendem a importância da responsabilidade

social como ações com a comunidade, ações de voluntários, apoio a convênios

médicos, farmácias e creches e respeito na demissão de trabalhadores. Na Empresa B

os entrevistados não relacionam responsabilidade social com a imagem da empresa e

desconhecem o conceito de responsabilidade social interna, e o praticam

informalmente.

Os trabalhadores da Empresa A enxergam as ações externas nas comunidades

como compromissos da responsabilidade social e reclamam o mesmo tratamento

internamente. Na Empresa B há um desconhecimento total sobre responsabilidade

social externa.

3.1.6. Resumo da Análise Comparativa da Responsabilidade Social Interna

Durante a etapa de coleta dados foi seguida uma linha de pesquisa que utilizou

técnicas de entrevistas, de análise documental e de aplicação de questionário

estruturado. Na etapa de análise do resultado da pesquisa a opção foi por verificar esse

resultado através do estudo de cada requisito da norma isoladamente em cada empresa,

entretanto, comparando os resultados simultaneamente. No quadro 14 estão os dados

agrupados por requisitos da SA 8000 e sua compilação seguiu a seguinte regra básica:

, os itens avaliados com resposta sim (S) estão em conformidade com a

norma, enquanto aqueles avaliados com resposta parcial (P) ou não (N)

geram não conformidades.

133

Page 140: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

São dois os tipos de não confonnidades: leve (L) e maIOr (M). A não

confonnidade leve não é restritiva à certificação, no entanto deve ser registrada e

elaborado plano de ação corretivo necessário para saná-la. Após a correção, a mesma

deve ser disponibilizada aos auditores para verificação. Isto quer dizer que a empresa

pode ser nonnalmente certificada, entretanto, assume o compromisso de sanar suas

não confonnidades leves num prazo previamente acordado. A não confonnidade maior

ou grave é totalmente restritiva à certificação. Caso ocorra alguma, a empresa é

notificada ao final da auditoria. A partir do registro, elabora plano de ação corretivo

(ciclo PDCA) e, após as correções, deve solicitar novo processo de auditoria.

A definição se uma não confonnidade é leve ou maior é subjetiva e consensual

entre os auditores. É feita a partir da realidade da empresa em certificação, levando em

consideração dois aspectos: o país - com seu nível de desenvolvimento político, social

e cultural; e o perfil da empresa - porte, segmento de atuação, imagem atual,

localização regional etc. Do ponto de vista da SA 8000 os itens avaliados (questões do

questionário e verificação de evidências) têm a mesma importância, portanto, pesos

iguais, o que pennitiu tabular os resultados em tennos percentuais simples e diretos.

Para que uma empresa tenha um sistema de Gestão da Qualidade Social e

possua práticas consistentes de responsabilidade social interna deve ter o seguinte

índice de confonnidade:

QUADRO 13

Índice de conformidade (Ic) 70%

134

Page 141: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

QUADROJ4

Apuração dos resultados - critério essencial de verificação da responsabilidade social interna

Etapa

Gestão da

Qualidade Social

Gestão Social

Requisitos da AS 8000

Trabalho infantil

Trabalho forçado

Segurança e saúde do trabalho Liberdade de associação e direito à negociação coletiva Discriminação

Práticas disciplinares

Horas de trabalho

Remuneração

Total

Sistema de "estio

Itens avaliados

(qde)

Respostas (NC's)

I M I T L

8 5 O 5

7 O O O

22 2 O 2

4 2 O 2

10 4 O 4

4 3 O 3

10 2 O 2

7 1 O 1

72 19 O 19

16

Empresa A Empresa B

Índice Índice de Respostas

Índice Índice de (NC's) deNC CONFORMIDADE IM I T

deNC CONFORMIDADE L

62,50% 37,50% 5 O 5 62,50% 37,50% 0,00% 100,00% O O O 0,00% 100,00%

9,09% 90,91% 12 O 12 54,55% 45,45%

50,00% 50,00% O O O 0,00% 100,00%

40,00% 60,00% 5 1 6 60,00% 40,00%

75,00% 25,00% 3 O 3 75,00% 25,00%

20,00% 80,00% 3 O 3 30,00% 70,00%

14,29% 85,71% O O O 0,00% 100,00%

26,39% 73,61"/" 28 1 29 40,28% 59,72%

96.15% 3,85"10 I-;;--]~--11; 196,~% -I 3,85%

adrão Norma SA 8000 98 I 144 I O I 44 44,90% 55,10%. I r 53 11 [~4 I 55,10% 1 44,90%.

Legenda: NC = não confonnidade; L = leve; M = maior; T = total. Fonte: Empresa C, Questionário de Avaliação de Responsabilidade Social (2002).

135

Page 142: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

4. CONCLUSÃO

Três foram as referências conceituais que orientaram o desenvolvimento dessa

pesquisa. Na primeira, referência teórico-organizacional, descrita no capítulo 2, item

2.1, foi abordada a flexibilização organizacional analisada sob a perspectiva de

contraposição de conceitos: da globalização e neoliberalismo versus valorização da

cidadania, gestão social e terceiro setor.

A segunda referência é teórico-social, descrita no item 2.2, e abordou o tema

da responsabilidade social expondo os conceitos de responsabilidade social, ética

empresarial e responsabilidade social.

A terceira referência conceitual, descrita no item 2.3, tem o caráter técnico­

organizacional e refere-se aos conceitos da SA 8000 como uma norma uniforme e

auditável e que permite verificação de sistema por terceira parte.

A partir dessas três referências, a análise procurou verificar qual é a realidade

gerencial das empresas estudadas. Isto é, se as tendências manifestas nesses sistemas­

empresa reproduzem práticas de responsabilidade social interna e se há reprodução

dessas práticas entre essas organizações.

o objetivo da interação dessas três referências conceituais foi verificar até que

ponto a prática da responsabilidade social interna da Empresa A se reproduz na

Empresa B. O referencial teórico-organizacional pretende fomentar a flexibilização

das ações sociais específicas de produção nas empresas, aproximando-se da

responsabilidade social interna. O referencial teórico-social pretende a democratização

das ações sociais intra e entre empresas. A inserção da SA 8000 como referencial

técnico-organizacional pretende a normatização e a padronização de sistemas de

gestão, procedimento efetivo de auditoria social interna à organização, bem como

instrumento de análise comparativa da responsabilidade social interna intra e entre

empresas.

136

Page 143: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

A suposição estudada, a partir das três referências conceituais, e exercitada nos

dois casos analisados, era que o modelo de gestão, apesar de denominado, nesse

estudo, de 'gestão social', geralmente ocorre sob a perspectiva da gestão estratégica

em vez de uma gestão mais participativa, comunicativa-dialógica.

A fim de validar ou não essa suposição, foi selecionado como vetor central

desse novo paradigma de gestão, a valorização da cidadania, exercitada dentro da

empresa e articulada em tomo do eixo: Gestão da Qualidade Social-cidadania.

A intenção desse recorte é verificar até que ponto o exercício da cidadania seria

uma realidade cotidiana dentro da Empresa A e da Empresa B e, por extensão, dentro

da cadeia produtiva do setor automotivo. Pretendeu-se um esforço de verificação

bastante específico - interação consensual - estabelecendo uma ponte entre os dois

lados. Da ponta do eixo (Gestão da Qualidade Social) procurou-se analisar e comparar

a construção do capital social sob uma perspectiva do gerenciamento de ações sociais

internas traduzidas em beneficios e qualidade de vida aos trabalhadores e seus

dependentes. Da outra ponta do eixo (cidadania) pretendeu-se verificar o grau de

participação do trabalhador como um 'sujeito' da ação produtiva, um sujeito mais

interativo e conhecedor do conteúdo social de suas ações no trabalho.

Resumindo, gestão social é o resultado da combinação entre Gestão da

Qualidade Social e cidadania, traduzida em um sistema de gerenciamento

comunicativo I participativo I dialógico.

Nesta conclusão, são tecidas as considerações finais divididas em duas etapas.

Na primeira etapa comparando a referência conceitual de caráter técnico­

organizacional da SA 8000 com a práxis de mercado - ao que a norma se propõe e

como é realmente vista e utilizada pelas empresas de consultoria e interessadas na

certificação. Na segunda etapa, procurando responder à questão de pesquisa e validar a

suposição colocada.

137

Page 144: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

4.1, CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A SA 8000

Há vários anos a sociedade civil organizada tem desenvolvido uma série de

iniciativas que buscam introduzir um sistema de monitoramento social intra e entre

organizações que possa se tomar um padrão útil e aceito no mercado. As ONGs têm

examinado de perto essa situação, buscando oferecer uma opção eficaz e confiável

para que as empresas monitorem a confonnidade social no ambiente de trabalho, de

suas próprias dependências e das dependências de seus fornecedores.

Uma dessas iniciativas, a SA 8000, se destina a ser utilizada por 'organismos

certificadores' para avaliar a implementação de si~temas de gestão das empresas. À

semelhança das nonnas ISO, a SA 8000 foi fonnulada para pennitir auditorias e

certificação por uma terceira parte. O esquema de certificação SA 8000 foi

estabelecido a fim de providenciar urna solução com foco empresarial e utilização de

auditores independentes. Os princípios da SA 8000 pretendem ter um efeito de cadeia

de valor, sendo utilizados internamente dentro da empresa, mas sendo também uma

ferramenta para gerir fornecedores.

Um dos principais aspectos da SA 8000, e algo que a distingue de códigos de

conduta e avaliações de confonnidade de segunda parte (consultores, por exemplo), é

o fato de que o sistema está arraigado na filosofia de melhoria contínua. A aspiração

da SA 8000 é encorajar as empresas e outras organizações a implementar, manter e

melhorar a qualidade social das práticas no local de trabalho em todas as áreas que

possam controlar ou afetar. Isto implica dizer que a SA 8000 foi desenvolvida para

promover a causa da qualidade social intra e entre as empresas.

Entretanto, quando se fala de experiências aplicadas à causa da

responsabilidade social devem ser minimizadas as tentações em relação a uma

iniciativa como a SA 8000. A sobriedade tem que prevalecer. Estamos no início de um

longo processo e desde já diversas questões e controvérsias são levantadas. Para as

mais relevantes a esse estudo, são tecidas as seguintes considerações:

138

Page 145: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

>- teoricamente a certificação SA 8000 é a garantia de que os bens ou serviços

são o resultado de um conjunto de valores sociais aceitos de forma

consensual. Contudo, qualquer que seja a linguagem utilizada, a verdade é

que a certificação SA 8000 está sendo 'vendida' como um produto de

aparência, reputação e imagem algo degradada de sua aspiração inicial. Ou

seja, a norma está sendo apresentada como fonte de vantagem competitiva

e sendo vista como um critério específico de performance, que, adicionado

aos demais critérios tradicionais (custo, qualidade do produto, flexibilidade,

inovação, diversidade etc.), visa tão-somente à maximização dos lucros;

>- a maneira como a norma foi redigida é controversa. A redação foi feita em

países centrais, sob a ótica destes sobre os países periféricos ou

semiperiféricos. A SA 8000 foi apresentada como uma norma consensual,

mas o processo de consulta pública foi pouco significativo e pouca

informação foi disponibilizada durante o processo de redação;

";> os consultores e organismos de certificação são vistos promovendo a SA

8000 como um elixir que pode resolver todas as questões de qualidade

social no seio da empresa. A questão é: será que a certificação SA 8000 é a

melhor maneira de encarar estas questões? Há, no momento, um estágio

incipiente do desenvolvimento de práticas de Gestão da Qualidade Social.

Nesse estágio, a norma parece mais um roteiro e padrão a serem seguidos

do que um sistema de gestão social;

139

Page 146: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

,. a SA 8000 se mostra muito relevante à gestão estratégica quanto aos

aspectos de padronização, sistematização e mensuração de ações sociais

que refletem em ganho de imagem e reforço da marca para as empresas

certificadas;

,., o terceiro setor tem amplo e extenso campo de atuação, variando em termos

de tamanho e escopo, e é influenciado por diversos fatores, incluindo

região, situação política e desenvolvimento econômico e cultural. A SA

8000 sugere que as empresas devem considerar suas parcerias restritas a

grupos locais de sua região de atuação. Mais especificamente com

sindicatos, ONGs locais e agências de ONGs nacionais e/ou internacionais

que atuem na região da empresa. A SA 8000 orienta as empresas a

identificar parcerias com instituições que atuem na comunidade local, junto

aos trabalhadores e com grupos minoritários. As sugestões e as orientações

contidas na SA 8000 são pertinentes e importantes, no entanto, várias

questões são levantadas quanto a estas parcerias: ( 1) o lento

desenvolvimento do diálogo e a difícil construção de credibilidade entre

empresas e ONGs; (2) o despreparo dos integrantes das ONGs quanto aos

procedimentos da norma; (3) a fragilidade econômico-financeira e a crise

de identidade / representatividade dos sindicatos frente às empresas e à

sociedade em geral; e (4) a exigência de uma maior grau de escolarização

do pessoal da base sindical, visando facilitar o treinamento e a capacitação

destas pessoas como auditores da qualidade social.

140

Page 147: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

o sistema de gestão proposto pela SA 8000 vem bem ao gosto da onda

neoliberal em curso. Essa norma, tal qual tem sido apresentada, é apenas um

aperfeiçoamento das práticas tradicionais de gestão, não passando, portanto, de uma

idéia daquilo que deveria ter sido implementado e não daquilo que realmente ocorre no

interior das empresas. O esforço da SAI, dos organismos certificadores e dos

consultores ao implementar a norma, é fazê-lo como mais um procedimento gerencial

estratégico, sob forma de flexibilização organizacional. Isto faz com que a qualidade

social seja suscetível de se tornar um critério de desempenho, posto como essencial,

para vencer nos mercados mais competitivos e não como uma forma mais favorável de

gestão social (comunicativa I dialógica) em direção à emancipação do cidadão­

trabalhador.

4.2. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA - GESTÃO DA QUALIDADE SOCIAL

A SA 8000 aborda em suas especificidades nove requisitos. No critério -

'Gestão da Qualidade Social' - são utilizados esses requisitos para verificar os

aspectos considerados chave para a prática da responsabilidade social interna. A partir

dos resultados expostos no quadro 14 são extraídas as seguintes considerações.

Empresa A:

>- o resultado obtido através do índice de conformidade (Ie) 55,10% indica

que a Empresa A, sob efeito deste indicador geral, detém parte das

práticas de responsabilidade social. Portanto, não podendo, aos olhos da

norma, ser considerada detentora de responsabilidade social interna.

Necessita melhorar sua performance nos requisitos: trabalho infantil -

acompanhar o estudo dos menores e retirá-los das áreas de risco; liberdade

de associação e direito à negociação coletiva - fraco relacionamento com

os trabalhadores que pertencem ao sindicato (estes trabalhadores sentem-

141

Page 148: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

se isolados e discriminados dentro da empresa, gerando desconfiança, a

ponto de se recusarem a participar da pesquisa); discriminação - as

mulheres sentem-se discriminadas, com menores salários e sem chances

de ocuparem cargos de chefia; e práticas disciplinares - apesar de o 'chefe

treinador' procurar orientar através do diálogo, alguns supervisores

simplesmente ignoram os trabalhadores;

", no entanto, outro indicador contradiz essa posição: o índice de

conformidade, sob a perspectiva da 'Gestão da Qualidade Social' resultou

em um Ic de 73,61%, indicando que a Empresa A é socialmente

responsável.

As práticas de responsabilidade social interna são desenvolvidas pela Empresa

A em forma de ações voltadas para seus trabalhadores, mais especificamente nos

requisitos da norma para: saúde e segurança no trabalho; remuneração; horas de

trabalho; e trabalho forçado. Estas práticas indicam o respeito às leis, apontam para

processos de melhoria contínua da qualidade de vida no trabalho e refletem

positivamente no clima organizacional. É percebido que estas práticas são frutos da

cultura centenária da empresa e de atitudes proativas de seu corpo gerencial.

A empresa não possui um sistema de Gestão da Qualidade Social formalizado,

mas está na direção certa, e, caso tenha interesse na certificação SA 8000, deve

corrigir suas nào conformidades leves e implementar o requisito sistema de gestào da

norma.

142

Page 149: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Empresa B:

,. o resultado obtido através do índice de conformidade (Ie) 44,90% indica

que a Empresa B detém poucas práticas de responsabilidade social

interna;

,. esta posição é ratificada pelo índice de conformidade, sob a perspectiva da

'Gestão da Qualidade Social' , que resultou em um le de 59,72%;

>- A Empresa B obteve bons índices de conformidade nos requisitos da

norma: liberdade de associação e direito à negociação coletiva (Ie =

100%); remuneração (Ie = 100%); trabalho forçado (Ie = 100%); e horas

de trabalho (Ie = 70%).

Necessita melhorar sua performance nos requisitos: trabalho infantil -

acompanhar o estudo dos menores e retirá-los das áreas de risco; saúde e

segurança no trabalho - apesar de ser certificada ISO 9002, os

trabalhadores necessitam de treinamento e capacitação em saúde e

segurança; e práticas disciplinares - treinamento específico em

relacionamento interpessoal para os níveis de supervisão e chefia;

>- foi apontada uma não conformidade maior no requisito discriminação -

desrespeito aos direitos humanos em forma de assédio sexual.

143

Page 150: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

A Empresa B não desenvolve ações específicas, voltadas para seu trabalhador.

Percebe-se uma idéia de empresa 'familiar' nas relações entre patrões e empregados.

Portanto, não podendo, aos olhos da norma, ser considerada socialmente responsável.

Empresa A e Empresa B:

o resultado obtido através do índice de conformidade (Ie) 3,85% indica que

tanto na Empresa A quanto na Empresa B inexiste o requisito sistema de Gestão da

Qualidade Social. Como ilustração desta não conformidade maior, verificou-se que as

empresas não contam com procedimentos para avaliar seus fornecedores e não

mantêm registros de compromisso desses fornecedores em atender aos requisitos da

norma. A Empresa A somente mantém informação regular sobre saúde e segurança, ao

passo que a Empresa B não mantém regularidade alguma. As empresas necessitam

implementar todos os critérios fundamentais deste requisito se aspiram certificação.

De acordo com a Norma SA 8000, os resultados finais da auditoria de primeira

parte, obtidos através dos índices de conformidade, sob a perspectiva da 'Gestão da

Qualidade Social', foram Ic = 73,61 % (Empresa A) e Ic = 59,72% (Empresa B).

Isto faz com que a Empresa A seja considerada socialmente responsável e a

Empresa B não. Ao comparar as duas empresas é verificado que a responsabilidade

social de uma não se reproduz na outra.

4.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA-GESTÃO SOCIAL

Ao considerar gestão social, como critério essencial de verificação da

responsabilidade social interna à Empresa A e à Empresa B procurou-se demonstrar a

fronteira entre gestão estratégica (monológica) e gestão social (dialógica). Nesta etapa

da análise comparativa foi utilizado o requisito da SA 8000 sistema de gestão

combinado com cidadania para verificar os aspectos considerados chave para a prática

da responsabilidade social interna, para as quais serão tecidas algumas considerações:

Page 151: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

, os programas de aumento da empregabilidade (re) inserção no mercado de

trabalho - nas empresas existem processos estruturados (Empresa A) e

semi-estruturados (Empresa B) de recrutamento, seleção, contratação e

dispensa de trabalhadores, no entanto estes processos não passam de

normas e rotinas da área de recursos humanos e praticamente inexistem

ações voltadas para a comunicação, participação e emancipação do

trabalhador.

As empresas elaboram cronogramas anuais de treinamento, visando à

preservação e ao desenvolvimento da capacitação técnica com forte ênfase

no aumento da produtividade pela sinergia entre as pessoas, instalações e

tecnologia da informação.

Não faz parte das diretrizes das empresas a preocupação com a (re)

inserção do trabalhador, quando desligado, no mercado. A Empresa A, elo

dominante da cadeia produtiva do setor automotivo, entende oferecer as

melhores condições de emprego no setor, e confirma este entendimento

através de seu baixo índice de rotatividade. Nas devidas proporções, a

Empresa B tem a mesma percepção do mercado. Foi detectada

insegurança com a possibilidade de remanejamento para outra área e/ou

função, nos trabalhadores destas empresas, em virtude da implantação de

novas tecnologias, quer sejam de produtos ou de processos.

É percebido que as áreas de recursos humanos das empresas procuram

transferir aos trabalhadores a responsabilidade e a preocupação quanto a

sua permanência no posto de trabalho e, conseqüentemente, se o

145

Page 152: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

trabalhador 'falhar' e perder o emprego o problema de se reinserir no

mercado é única e exclusivamente deste recém-desempregado~

,. relações com os fornecedores no tocante à mão-de-obra - os

relacionamentos entre as empresas estão restritos às áreas COmerCiaIS,

financeiras e de produção. Inexiste qualquer interação entre as áreas de

recursos humanos que visem trocar experiências, conhecimentos e

informações referentes às condições de trabalho entre as empresas~

,. relações com o terceiro setor - tanto na Empresa A quanto na Empresa B,

o envolvimento com o terceiro setor restringe-se aos sindicatos. Ambas as

empresas, através de suas áreas de recursos humanos, procuram promover

ações proativas junto aos sindicatos de forma que o processo de melhoria

contínua, que normalmente acarreta pequenas, porém constantes, reduções

de quadro funcional, ocorra com menor custo social. No entanto, o

principal papel dos sindicatos dos trabalhadores destas empresas está

restrito à negociação anual do dissídio coletivo. Tanto a Empresa A

quanto a Empresa B não possuem parcerias com ONGs~

,. ética empresarial - foi percebido nas empresas pesquisadas um

relativismo ético, pois têm a preocupação de evitar reclamações, quer

sejam internas ou externas, manter boa imagem perante consumidores e

opinião pública. Estas empresas querem 'parecer éticas' e enfocar ao

mesmo tempo a maximização do lucro e a preservação de suas marcas.

Como ilustração, durante a execução da pesquisa a Empresa A estava

desenvolvendo um código de ética~

146

Page 153: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

,. valorização da cidadania - (cidadão-trabalhador) - a cidadania ainda não é

um valor institucionalizado na Empresa A nem na Empresa B, é

praticamente ignorada nas políticas e estratégias das empresas.

As funções de concepção e controle dos produtos e processos ainda são

conferidas aos gestores pela alta administração, restando a execução das

tarefas e a divisão do trabalho exclusivamente aos trabalhadores.

Paradoxalmente, existe na Empresa A uma participação do trabalhador,

como voluntário, em programas sociais voltados à comunidade ao redor

da empresa. Mostrando, mesmo que timidamente, um movimento em

direção à valorização da cidadania.

Vale ressaltar que este tipo de programa denota a existência de práticas de

responsabilidade social externa, faltando à Empresa A sistematizar a

dimensão da responsabilidade social interna.

Estas considerações apontam para a discussão do lucro (função econômica) e

da responsabilidade social (função social) no âmbito das empresas. Para alguns

estudiosos, o lucro é a finalidade exclusiva da empresa; para outros, a sustentação do

lucro está na aplicação das responsabilidades sociais. Analisando-se estas diferentes

posturas, verifica-se que a Empresa A e a Empresa B adotam a mesma postura

progressista e que, por se tratarem de empresas produtoras de bens industriais, o lucro

representa seu objetivo final. No entanto, como a responsabilidade social está

implicitamente inserida nas metas a serem alcançadas pelas empresas pode-se inferir

que há um 'caminhar', nas duas empresas analisadas, no sentido de promover ações

gerenciais dialógicas.

147

Page 154: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

Daí concluir-se que a incorporação de práticas de responsabilidade social

interna nas empresas pesquisadas como um todo, para efeito das ações gerenciais,

voltadas para o entendimento, parece preocupar-se em passar de monológica para

dialógica.

Finalmente, como sugestão, é de se apontar um tema de estudo que poderia ser

explorado em outra pesquisa dessa natureza. A possibilidade de estudo diz respeito ao

papel das ONGs na relação mundo do trabalho - mundo da vida, sob um víeis da

responsabilidade social. Considerando que o sindicato deveria ter um papel mediador

na relação capital-trabalho, cabe a ele, também, desenvolver parcerias com a empresa

e ONGs locais, com a preocupação de monitorar a qualidade social e os efeitos

emancipatórios desta sobre o trabalhador-cidadão dentro do sistema-empresa.

148

Page 155: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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154

Page 161: RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIVA …

ANEXO 1 Iten. A\'llliado./ Olnervaçõcs Sim Parcial Não Comentários

I Trabalho Infantil

1i Utiliza empregado com menos de 16 anos?

1.2 Existem regras para remediação de trabalho infantil? Essas regras garantem suporte adequado para que tais crianças permaneçam na escola até não serem mais crianças?

L3 Trabalhadores juvenis (16 - 18 anos) não estão empregados durante as horas de escola c que ,

a soma de horas trabalhadas, em transporte e na escola, não ultrapasse 10 horas por dia? 14 Existem regras para trabalho de empregados entre 16 e 18 anos limitando funções e

~oI1diç~e~ .~~ Jl~~!gQ,~!~O 0li iI1~!'!t,J1>!~~ ~ !J"!,ba!~~ nO!I!!'!10s? _______ . __ ~ ______ .~_ ~-.--~- - _. ~---- -_.~----_ .. --- ------ ----- - -,

1.5 Verificar prova de idade dos funcionários

1.6 Entrevistar trabalhadores sobre a existência de trabalho juvenil e infantil

1.7 Registro do período escolar para trabalhadores juvenis.

1.8 Verificar se os funcionários conhecem a política e remediação de trabalho infantil

2 Trabalho Forçado

2.1 A empresa não utiliza trabalho forçado, ou retenção de documentos de identificação ou depósitos como condição para que o pessoal se tome emprep,ado ou mantenha o emprep,o.

2.2 Os empregados estão livres a se demitir, mesmo os que contraíram empréstimos com a empresa.

2.3 Os empregados são livres para recusar trabalho em horas extras. I

24 Verificar se não existem documentos originais dos funcionários na empresa

2.5 Os funcionários confirmam que não necessitam fazer depósitos, ou deixar documentos de identidade originais.

2.6 São feitos empréstimos aos funcionários?

2.7 Esses empréstimos para funcionários são compatíveis com os salários destes? i

3 Segurança e Saúde

3.1 A empresa oferece condições de trabalho segura e saudávc1?

3.2 A empresa (orna ações adequadas para prevt-'I1ir ou minimizar acidentes ou danos a saúde dos empregados decorrentes do trabalho?

3.3 A Empresa disponibiliza para todos os empregados EPI (equipamento de proteção individual) quando necessário?

------- ----- -- --------

155

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Itens Avaliados I Observações Sim Parcial Não Comentários

34 A empresa possui um gerente responsável pela saúde e segurança dos empregados e pela evolução desses itens?

3.5 São tomadas ações para prevenir a re-ocorrência de acidentes de trabalho?

3.6 A Empresa definiu um gerente sênior como representante responsável por saúde e segurança? ,

3.7 A empresa realiza treinamento no mínimo anualmente sobre saúde e segurança e para os todos os empregados?

3.8 A empresa possui algum sistema para detectar, evitar e responder às ameaças potenciais a saúde e segurança dos funcionários?

3.9 A Empresa disponibiliza para todos os empregados banheiros limpos, água potável e se necessário local adequado para manter a refeição do empregado?

3. \O Caso a Empresa forneça dormitório, estes são limpos, seguros e atendem os requisitos básicos do empn:gadll?

3.1 I As NR (Normas Regulamentadoras) aplicáveis estão sendo atendidas?

3.12 Verificar a existência de procedimentos documentados sobre saúde e segurança

3. J3 Estes procedimentos são disseminados pelos funcionários?

3.14 Os acidentes de trabalho são investigados e os funcionários participam efetivamente na identificação das causas e nas ações eorretivas?

3.15 As NR-09 NR-07 estão sendo cumpridas e as ações corretivas necessárias estão sendo executadas?

3.16 Existe uma preocupação com treinamento regular de abandono de área em caso de incêndio e existe brigada treinada?

3.17 Existem pessoas habilitadas para primeiros socorros na Empresa e estas são em número suficiente e em todos os turnos?

3.18 As pessoas estão treinadas para contatar hospitais ou médicos em caso de uma emergência? Os telefones destes estão disponíveis?

3.19 Os extintores são em número suficiente e existe evidência de destes, de sprinkler, hidrantes e mangueiras de combate a incêndios?

3.20 A rota de fuga está identificada nas áreas e os acessos (portas, corredores, etc) estão livres?

3.21 A água é testada para verificar sua potabilidade? Existe laudo da água?

3.22 Os funcionários utilizam EPI nos locais necessários?

4 Liberdade de Sindicalizaçao e Direito a Negociação Coletiva

4.\ A Empresa rcspeita o direito dos empregados filiar-se a sindicatos, bem como negociar coletivamente suas reivindicações?

156

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Itens Avaliados I Observações Sim Parcial Não Comentários

4.2 A Empresa não discrimina os representantes dos emprcgados e pcnnitc acesso ao local de trabalho por parte dos representados?

4.3 A Empresa aceita a participação do Sindicato em negociações coletivas?

4.4 Entrevista com funcionários que participam do sindicato, para verificar se existe discriminação, no local de trabalho e se os empregadores permitem ações na empresa.

4.5 As convenções e acordos coletivos assinados por representantes sindicalizados.

5 Discriminação

5.1 A empresa não apóia ou pratica discriminação relacionada com a remuneração, contratação, treinamento e desligamento em função da raça, classe social, nacionalidade, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, filiação a sindicatos e partidos políticos.

5.2 A empresa não interfere com o direito das pessoas de seguir crenças ou práticas, ou atender às suas necessidades relacionadas com raça, classe social, nacionalidade, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, filiação a sindicatos e partidos políticos.

5.3 A empresa repudia qualquer comportamento que seja sexualmente coercitivo, ameaçador, abusivo ou explorador, incluindo gestos, linguagem e contato fisico?

5.4 Os funcionários conhecem as políticas contra discriminação?

5.5 Eles sabem a quem denunciar qualquer tipo de discriminação?

5.6 Existem registros das contratações, promoções, treinamentos que permitem evidenciar que a empresa não pratica discriminações?

5.7 Existem registros de candidatos a contratações, promoções, treinamentos rejeitados?

5.8 Verificar nos anúncios de contratação de pessoal se não existe algum tipo de discriminação

5.9 Os funcionários confirmam que podem respeitar seus feriados religiosos?

5.10 Verificar o tratamento e os beneficios pagos às gestantes

6 Práticas Disciplinares

6.1 A empresa nio pratica ou apóia o uso de punições corporais, coerção mental ou flsica e abuso verbal.

--6.2 - Osfilnciõõái1ôs conheéemas polltícãs contra pTátieasdiseiplinãres abüslvãs? Eles-sabemã--------- ---- --------- ------_.~--_ .. _--------------- --- ------- -----

quem denunciar qualquer tipo de discriminação? 6.3 Verificar junto aos funcionários se os supervisores e chefes os respeitam.

6.4 Existem registros de ações corretivas no caso de reclamação dos funcionários?

7 Horas de Trabalho

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Itens A ,'aliados I Observações Sim Parcial Não Comentários

7, I As horas regulares de trabalho estão limitadas a 48 horas semanais ou menos conforme acordo da categoria?

72 As horas extras semanais estão limitadas a 12 horas e as diárias 2 horas e são usadas em condições excepcionais e o intervalo entre jornadas é de no mínimo II horas, incluindo as horas extras?

7,3 As horas extras são voluntárias?

7.4 As horas extras são remuneradas a taxa de prêmio conforme CLT? i

7,5 A empresa fornece pelo menos um dia de repouso a cada sete dias de trabalho?

7,6 Os registros de horas trabalhadas se estão dentro do especificado

7,7 Verificar registro de horas extras e folgas dos funcionários

7,8 Os funcionários nAo levam trabalho para casa?

7,9 Verificar o valor pago por hora extra se esta de acordo com a legislação e convenção

7,10 Verificar e confirmar junto aos funcionários os itens acima

8 Remuneração - Salário e Beneficios

8,1 O salário pago aos funcionários obedece ao mínimo estabelecido nas leis, convenções e acordos trabalhistas?

8.2 A ti.mna de pagamento é conveniente ao funcionário, ou seja, não o obriga a gastos para receber seu pagamento?

8,3 As deduções no salário por motivos disciplinares são proibidas?

8.4 "Arranjos" de trabalho, estágios ou outro esquema de aprendizado apenas para burlar o iltE!n<lifT1E!l1t~ <lil~ ~l>ri9ilç~E!l> trill>illhil>!ill> ~ I'r~il>~<l~L,____ " ' ,

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8,5 Verificar espelho dos pagamentos para confirmar os requisitos de remuneração

8,6 Os incentivos e bônus estão atualizados?

8.7 Os funcionários conhecem as regras de dedução dos salários nos demonstrativos de pagamento?

9 Sistema de Gerenciamento

9,1 Existe uma Política de Responsabilidade Social definida e divulgada?

9,2 Esta Política de Responsabilidade Social prevê o compromisso em atender as legislações e regulamentos previstos na SA8000 e na CLT, bem como melhoria contínua?

9,3 A Administração realiza reuniões de análise crítica para avaliar a adequação do Sistema de Responsabilidade Social?

158

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Itens Avaliados I Observações Sim Parcial Não Comentários

9.4 A Empresa definiu um representante que garante a implementação do Sistema de Responsabilidade Social?

9.5 Os empregados elegeram um representante para tratar dos assuntos ligados com a SA8000?

9.6 As funções, responsabilidades e autoridades relativas a SA8000 estão delinidas?

9.7 Os empregados são treinados sobre os itens da SA8000 ?

9.8 As atividades relacionadas com responsabilidade social são monitoradas?

9.9 São realizadas auditorias para monitorar os itens ligados a responsabilidade social?

9.10 Existe um procedimento para avaliar os fornecedores onde são a considerados os itens ligados à responsabilidade social?

9.11 Os fornecedores são avaliados conforme os critérios da norma SA 8ooo?

9.12 A Empresa mantém registro do compromisso dos fornecedores em atender os requisitos da SA8ooo?

9.13 São tomadas ações corretivas sempre que for identificada não conformidade com os itens de responsabilidade social ou quando for feita reclamação por parte dos empregados ou outras partes interessadas?

9.14 A empresa mantém informação regular para as partes interessadas dos indicadores de desempenho do seu sistema de responsabilidade social?

9.15 A empresa permite acesso às suas instalações para verificação do sistema de

9f6~ r~~~n~ª~il!ºªº~ sociªIiIl~!:I!~9~ os~~gi~!~~ !~!ª~!~,!ado~7 ___ ~ _________ . _______ ~_

-----~- ---- ---~---~-- ~--------~-------~---~---- --_ .. - ._--- ... -- ------ ----A alta administração se esta entende a importância da responsabilidade social para as empresas?

9.17 Verificar com a alta administração e corpo gerencial o efetivo compromisso com a responsabilidade social.

9.18 Verificar com os funcionários se estes conhecem e entendem os compromissos da responsabilidade social definidos na SA8000.

9.19 Verificar os indicadores e relatórios de monitoramento dos itens ligados a responsabilidade social.

9.20 Verificar se o processo de eleição do representante dos funcionários foi livre, secreto, com possibilidade de candidatura para qualquer um exceto a gereneia.

9.21 Verificar como os relatórios de responsabilidade social são divulgados

9.22 Verificar se existe uma relação dos fornecedores qualificados conforme requisitos de responsabilidade social

9.23 Verificar se existe evidência que os fornecedores foram visitados e auditados conforme SA8000.

- ---

159

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Itens Avaliados I Observações Sim Parcial Não Comentários

9.24 Verificar se as reclamações ligadas à responsabilidade social são efetivamente tratadas e os reclamantes estão livres de discriminação. Entrevistar os reclamantes.

9.25 Verificar se a Empresa divulga de forma adequada sua política, compromissos e resultados ligados à responsabilidade soeial.

9.26 Verificar se os registros ligados à responsabilidade social são mantidos. I

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