responsabilidade civil dos ... - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/adalto gregorio...

117
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS ADALTO GREGORIO OSSOWSKY JUNIOR Itajaí (SC), junho de 2006.

Upload: hoangthuan

Post on 30-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS

ADALTO GREGORIO OSSOWSKY JUNIOR

Itajaí (SC), junho de 2006.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS

ADALTO GREGORIO OSSOWSKY JUNIOR

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. MÁRIO SLOMP

Itajaí (SC), junho de 2006.

AGRADECIMENTO

Para todos que, neste período universitário,

me auxiliaram de alguma maneira.

DEDICATÓRIA

A Deus pela sabedoria.

Aos amigos pelo apoio.

Ao professor Mário Slomp

pela orientação.

Aos familiares pela

compreensão.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), junho de 2006.

Adalto Gregorio Ossowsky Junior Graduando

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Adalto Gregorio Ossowsky Junior,

sob o título Responsabilidade civil dos estabelecimentos bancários, foi submetida

em 14/06/2006 à banca examinadora composta pelos seguintes professores:

MSc. Mario Slomp, MSc. Valdir Francisco Colzani e MSc. Clovis Demarchi, e

aprovada com a nota 9,00 (nove).

Itajaí (SC), junho de 2006.

MSc. Mário Slomp Orientador e Presidente da Banca

MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A. - Autor

ac. - acórdão

adv. - advocacia, advogado

adj. - adjunto

AI - Agravo de Instrumento

ap. - AP. - apelação

art. - artigo

banc. - bancário

c/c - conta corrente

BACEN - Banco Central do Brasil

BNDES - Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

CDC - Código de Defesa do Consumidor

CF - Constituição Federal

Cód. - código

Decr. - Decreto

Decr. lei - Decreto-lei

desp. - despacho

Des. - Desembargador

DJE - Diário da Justiça do Estado

DJU - Diário da Justiça da União

ed. - edição

ex. - exemplo

doc. - documento

est. - estadual

FEBRABAN - Federação Brasileira das Associações de Bancos

for. - forense

JTJ - Jurisprudência do Tribunal de Justiça

jud. - judiciário

LC - Lei Complementar

legisl. - legislativo

n˚ - número

RC - Recurso Criminal

rel. - relator

RF - Revista Forense

RJ - Revista Jurídica

RT - Revista dos Tribunais

S - Súmula

Serasa - Centralização de Serviços dos Bancos S.A.

SFN - Sistema Financeiro Nacional

SPC - Serviço de Proteção ao Crédito

SPB - Sistema de Pagamentos Brasileiro

STF - Supremo Tribunal Federal

STJ - Superior Tribunal de Justiça

TJ - Tribunal de Justiça

vol. - volume

ROL DE CATEGORIAS

Cavalo de tróia

Programa enviado anexo a um e-mail, que se apresenta sob a inofensiva

aparência de jogo, protetor de tela, figura ou outro aplicativo qualquer, que

quando executado permite ao remetente o acesso remoto, por meio de protocolo

ao computador, onde se instalou, sempre que este estiver conectado à rede1.

Culpa

É a falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o desprezo,

por parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com resultado não

objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das

conseqüências eventuais de sua atitude2.

Direito Objetivo

É o conjunto de todas as normas jurídicas em vigor. São normas de direito

objetivo: a Constituição, o Código Civil, os Contratos e os Atos Administrativos3.

Direito Subjetivo

É a permissão dada pela norma jurídica para o exercício de uma pretensão4.

Fato Gerador

Conjunto de fatos jurídicos os quais a lei considera hábeis para produzir a

obrigação tributária5.

1 ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

2 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 1 vol., Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 136. 3 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 1 vol., Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 142. 4 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 1 vol., Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 143. 5 BRASIL, Celso. Dicionário Jurídico de Bolso: termos e expressões latinas de uso forense. Campinas: M. E. Editora e Distribuidora, 2001, p. 161.

Hacker

Aficionado por informática, profundo conhecedor de linguagens de programação,

que se dedica à compreensão mais íntima do funcionamento de sistemas

operacionais e a desvendar códigos de acesso a outros computadores6.

Software

Termo usado por analogia a hardware. Conjunto de instruções, programas e

dados a eles associados, empregados durante a utilização do computador. O

mesmo que programa ou aplicativo7.

SPAM

Mensagem não solicitada enviada por correio eletrônico a um grande número de

destinatários, contendo: correntes, publicidade, material pornográfico, propostas

de enriquecimentos fáceis, pedidos de ajuda para pessoas necessitadas, histórias

absurdas, etc8.

Responsabilidade Civil

É a reparação do dano causado a outrem, em decorrência de obrigação assumida

ou por inobservância de norma jurídica9.

6 ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

7 ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

8 ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

9 BRASIL, Celso. Dicionário Jurídico de Bolso: termos e expressões latinas de uso forense. Campinas: M. E. Editora e Distribuidora, 2001, p. 266.

SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................... XIII

INTRODUÇÃO ................................................................................. 14

CAPÍTULO 1 .................................................................................... 17

RESPONSABILIDADE CIVIL........................................................... 17 1.1 HISTÓRICO ....................................................................................................17 1.2 CONCEITO .....................................................................................................20 1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................23 1.4 CULPA............................................................................................................24 1.4.1 GRAUS DE CULPA.....................................................................................26 1.4.2 MODALIDADES DE CULPA .......................................................................27 1.5 NEXO CAUSAL ..............................................................................................28 1.5.1 MOTIVOS DE EXCLUDENTES DO NEXO CAUSAL..................................29 1.6 DANO..............................................................................................................31

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 35

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS BANCOS.................................. 35 2.1 RESPONSABILIDADE DOS AGENTES BANCÁRIOS .................................35 2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR..............................................................................................................................46 2.3 RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO ......................................53 2.4 DA RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO ................................55 2.5 CASOS DE EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE.....................................59

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 63

ANÁLISE DE CASOS ...................................................................... 63 3.1 REPARAÇÃO DE DANOS .............................................................................63 3.2 INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE RESTRIÇÕES AO CRÉDITO.68 3.3 INCLUSÃO NA SERASA E SPC....................................................................69 3.4 DANO MORAL NO ÂMBITO DAS OPERAÇÕES BANCÁRIAS ...................77 3.5 PROTESTO INDEVIDO ..................................................................................81 3.6 DEVOLUÇÃO DE CHEQUES.........................................................................83 3.7 TRANSAÇÕES ELETRÔNICAS ....................................................................84 3.8 PAGAMENTO DE CHEQUE FALSIFICADO..................................................89 3.9 ASSALTO AO BANCO DURANTE O EXPEDIENTE.....................................92 3.10 ENCAMINHAMENTO SIMPLES A CARTÓRIO ...........................................94 3.11 PROTESTO DE TÍTULO DEVIDAMENTE PAGO ........................................98 3.12 PROBLEMAS RELATIVOS AO CARTÃO DE CRÉDITO ..........................100 3.13 SIGILO BANCÁRIO....................................................................................105

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 111

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................ 112

RESUMO

A responsabilidade civil permeia todos os ambientes da

sociedade, que tem como obrigação de ressarcir os danos ou prejuízos causados

injustamente a outrem, não se pode deixar para trás a responsabilidade civil dos

estabelecimentos bancários. Este trabalho esclarece a importância da

responsabilidade das instituições financeiras, visto que as obrigações são

oriundas de atos ilícitos ou de fatos lesivos a terceiros. Com a evolução da

responsabilidade civil, através da expansão do direito moderno, aplica-se ao

dever de reparação não só pela culpa, que é a parte subjetiva, mas também o

risco que é a parte objetiva. A responsabilidade civil consiste na obrigação de

incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra pessoa, portanto cabe

saber se o prejuízo experimentado pela vítima deverá ou não ser reparado. Se

culposamente for praticado um ato em desacordo com a norma jurídica, violando

um direito subjetivo individual causando prejuízo, pode-se configurar um ato ilícito.

Para ocorrer à responsabilidade, é fundamental que haja uma relação de

causalidade entre o ato culposo executado pelo agente e o dano sofrido pela

vítima. O dano se dá através da lesão (destruição ou diminuição), devido à certo

acontecimento, sendo necessário uma prova real e palpável dessa lesão. Nos

serviços bancários, a responsabilidade restabelece o direito do consumidor aos

atos ou relações de consumo, trazendo uma igualdade jurídica e o equilíbrio entre

as partes. Com a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, efetivou uma

revolução na relação de consumo dos serviços prestados ou pelo defeito do

serviço. O dano moral sofrido de fato em que constituiu um constrangimento,

principalmente, aos direitos da personalidade em geral, do direito à imagem, ao

nome, à privacidade, tendo como premissas um desconforto moral. Após o

estudo, verificaram-se alguns casos, em que se destacaram as ações envolvendo

banco e seus clientes, com a função ressarcitória de responsabilidade civil,

concedida ao ofendido, mesmo quando houver dolo.

INTRODUÇÃO

O conhecimento das inovações, doutrinas e jurisprudências,

são imprescindíveis para a boa aplicação das normas jurídicas aos casos

concretos.

A responsabilidade civil é um dos temas palpitantes da

atualidade, em razão de sua expansão no direito moderno e seus reflexos nos

atos contratuais e extracontratuais.

Vivendo em um mundo capitalista, verifica-se que as

pessoas cada vez mais têm intuito de tirar vantagens umas das outras.

Para isso, a responsabilidade civil tem interesse em

restabelecer o equilíbrio moral e patrimonial violado pelo dano.

As instituições bancárias são os pilares mais importantes da

sociedade moderna. Tal afirmação pode ser analisada pela capacidade e

possibilidade que tem de fomento da produção, do aumento e da circulação de

riquezas, garantindo o sustento do país.

A presente monografia tem como objeto de estudo a

responsabilidade civil dos estabelecimentos bancários, visto que as instituições

financeiras têm objetivo precípuo de lucro, com cobrança de juros e demais

encargos, que estão simplesmente ignorando as cautelas cambiais necessárias.

O resultado disto é o protesto de milhares de pessoas que

nunca pactuaram qualquer operação bancária, e estão sendo em total

solvabilidade comercial, vêem sua honra objetiva destruída imediatamente.

A atividade bancária está presente na vida, tanto das

pessoas físicas quanto das empresas, desempenhando uma série de negócios

jurídicos visando a auferir lucros.

15

Justifica-se a questão importante de ser analisada é a

responsabilidade civil dos estabelecimentos bancários em relação aos de clientes

de seus próprios produtos e serviços.

Este trabalho está organizado em três capítulos, além das

referências que consubstanciou o estudo.

O primeiro capítulo contém uma abordagem sobre a

responsabilidade civil, no qual se procura registrar os grandes momentos, desde

seu surgimento até suas conseqüências. Na seqüência, o assunto foi a

responsabilidade civil dos bancos, seus agentes, influenciada diretamente do

Código de Defesa do Consumidor, considerando o serviço bancário uma

prestação de serviço e comercialização de produtos, responsabilizado pelo fato

do serviço, pelo vício do produto e também suas exclusões de responsabilidade.

O terceiro capítulo contempla a análise de casos,

começando com a inclusão indevida em cadastro de restrições de crédito, dano

moral, protesto indevido, devolução de cheques, transações eletrônicas,

pagamento de cheque falsificado, assalto durante o expediente, encaminhamento

a cartório, protesto de título devidamente pago, problemas com cartão de crédito

e para finalizar o sigilo bancário.

O presente relatório de pesquisa se encerra com as

considerações finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a

responsabilidade civil dos estabelecimentos bancários.

Para a presente monografia, foi levantada a seguinte

hipótese de quem pratica um ato ou incorre em um dano, deve suportar as

conseqüências do seu procedimento, resultando um equilíbrio social para o

problema da responsabilidade.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase

de investigação, foi utilizado o método indutivo, buscando na pesquisa

bibliográfica, em livros, artigos, jurisprudências e revistas. Na fase de tratamento

16

de dados, o método utilizado foi o Cartesiano que teve como resultado expresso

na presente monografia composto na base lógica indutiva.

Nas diversas fases da pesquisa, foram adicionadas as

técnicas do referente, da categoria do conceito operacional e da pesquisa

bibliográfica.

17

CAPÍTULO 1

RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1 HISTÓRICO

A evolução da responsabilidade civil se deu através de suas

características do tempo passado, em razão da surpreendente expansão do

direito moderno, sendo que é um dos temas mais palpitantes da atualidade.

O restabelecimento do equilíbrio moral e patrimonial violado

pelo dano é a fonte geradora da responsabilidade civil.

Explica Diniz10 que “[...] nos primórdios da civilização

humana, dominava as vinganças coletivas, que se caracterizava pela reação

conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus componentes”.

Nos tempos primitivos, diante da lesão de um direito,

dominava o princípio da vingança privada.

Ainda nos primórdios da humanidade, segundo Gonçalves11

“[...] a responsabilidade civil se assenta, segundo a teoria clássica, em três

pressupostos: um dano, a culpa do autor do dano e a relação de causalidade

entre o fato culposo e o mesmo dano”.

Em seguida, explica Diniz12 que a evolução:

[...] para uma reação individual, isto é, vingança privada, em que

os homens faziam justiça pelas próprias mãos, sob a égide da Lei

de talião, ou seja, da reparação do mal pelo mal, sintetizada nas

fórmulas olho por olho, dente por dente, quem com ferro fere, com

10 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 7 vol., 13 ed., São Paulo: Saraiva, 1999, p. 9.

11 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 6 ed., São Paulo: Saraiva, 1995, p. 03. 12 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 9.

18

ferro será ferido. Para coibir abusos, o poder público intervinha

apenas para declarar quando e como a vítima poderia ter o direito

de retaliação, produzindo na pessoa do lesante dano idêntico ao

que experimentou. Na Lei das tábuas, aparece significativa

expressão desse critério na tábua VII, lei 11ª: si membrum rupsit,

cume o pacit, tálio esto (se alguém fere a outrem, que sofra a

pena de Talião, salvo se existiu acordo). A responsabilidade era

objetiva, não dependia da culpa, apresentando-se apenas como

uma reação do lesado contra a causa aparente do dano.

Na verdade, o princípio da natureza humana, reage a algum

mal censurável, contra a pessoa, família, grupo social, e também a sociedade

com primitiva violência. Se não fosse o ordenamento jurídico, o homem ainda

reagiria com tamanha violência.

Segundo Cavalieri Filho13 “o anseio de obrigar o agente,

causador do dano, a repará-lo inspira-se no mais elementar sentimento de

justiça”.

No meio social, nasceu o divisor das águas da

responsabilidade civil que é a obrigação de impor limites, segundo Diniz14:

Lex Aquilia de damno veio a cristalizar a idéia de reparação

pecuniária do dano, impondo que o patrimônio do lesante

suportasse os ônus da reparação, esboçando-se a noção de culpa

como fundamento da responsabilidade, de tal sorte que o agente

se isentaria de qualquer responsabilidade se tivesse procedido

sem culpa. Passou-se a atribuir o dano à conduta culposa do

agente. A Lex Aquilia de damno estabeleceu as bases da

responsabilidade extracontratual, criando uma forma pecuniária de

indenização do prejuízo, com base no estabelecimento de seu

valor. Esta lei introduziu o damnum injuria datum15, ou melhor,

prejuízo causado ao bem alheio, empobrecendo o lesado, sem

enriquecer o lesante. Todavia, mais tarde, as sanções dessa lei

aplicadas aos danos causados, por omissão ou verificados sem o

estrago físico e material da coisa.

13 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Propaganda de responsabilidade civil. 2 ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 22.

14 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 10. 15 Dano produzido pela injúria.

19

A responsabilidade civil evoluiu em relação ao fundamento,

aplicando-se o dever de reparação não só pela culpa, que é a parte subjetiva,

mas também o risco que é a parte objetiva.

Observa Garcez16:

[...] que coube à Escola do Direito Natural, no direito intermédio,

ampliar o conceito da Lei Aquília17, até então casuística, a partir

do século XVII. A teoria da reparação de danos somente começou

a ser perfeitamente compreendida quando os juristas

equacionaram que o fundamento da responsabilidade civil situa-se

na quebra do equilíbrio patrimonial provocado pelo dano. Nesse

sentido, transferiu-se o enfoque da culpa, como fenômeno

centralizador da indenização, para a noção de dano. O direito

francês aperfeiçoou as idéias romanas, estabelecendo princípios

gerais de Responsabilidade Civil.

Segundo Venosa18, no início do século XX:

Responsabilidade civil é especialmente dinâmica, estando a surgir

a cada momento novas teorias e linhas de pensamento, na

doutrina e na jurisprudência, fruto não só do pensamento jurídico

como também das novas necessidades sociais. Acrescenta-se

que o instituto da responsabilidade civil é algo contemporâneo,

pois surge pela primeira vez no final do século XVIII, no âmbito do

direito revolucionário francês. Sua primeira formulação expressa

está no Código Civil Francês, espalhando-se daí para todas as

codificações posteriores.

No código de Napoleão de 1804, a responsabilidade se

funda na culpa que desta definição se institui uma nova legislação para todo

mundo. Por diante, observou-se a extraordinária tarefa dos tribunais franceses,

modernizando os textos e constituindo uma jurisprudência digna.

16 GARCEZ NETO, Martinho. Responsabilidade civil no direito comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 29.

17 Instituída efetivamente a necessidade de apuração da conduta faltosa como fundamento para a responsabilidade.

18 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4 vol., 4 ed., São Paulo: Atlas, 2004, p. 11.

20

Além da obrigação de reparar o dano a outrem, seja pessoa

física ou jurídica, terá que também restabelecer o equilíbrio rompido.

Explica Diniz19 que:

[...] em regra, apenas o lesado ou seus herdeiros teriam

legitimação para exigir a indenização do prejuízo, porém,

atualmente, se tem admitido que a indenização possa ser

reclamada pelos que viviam sob a dependência econômica da

vítima, ainda que não sejam seus sucessores, pois, por sofrerem

as conseqüências do dano, foram indiretamente prejudicados.

Conseqüentemente, os beneficiários da indenização também

passaram a ser em maior número, substituindo-se ao parente o

dependente econômico, cuja situação emana de circunstâncias

fáticas apreciáveis em cada caso concreto.

Assim, verifica-se que a responsabilidade civil está

intimamente ligada ao direito obrigacional, tendo como principal conseqüência da

prática de um ato ilícito com imediata obrigação de reparar o dano por ele

causado.

A Constituição Brasileira de 1988 traz a responsabilidade

civil como forma de forçar aqueles que infringem os direitos de outrem a realizar

reparação dos danos causados, sendo assim, com intuito de compensar a vítima

pelo dano causado.

1.2 CONCEITO

A responsabilidade de reparar dano moral ou patrimonial

causado por terceiros, em razão de o dano ter sido praticado por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência, violando um direito, ou causando prejuízo

a outrem, tem o dever de repará-lo do dano.

19 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 12.

21

O restabelecimento da ordem ou equilíbrio pessoal e social

será por meio da reparação dos danos morais e materiais oriundos de ação lesiva

a interesse alheio.

Conforme ensina Diniz20:

[...] o vocábulo responsabilidade é oriundo do verbo latino

respondere, designado o fato de ter alguém se constituído

garantidor de algo. Tal termo contém, portanto, a raiz spondeo,

fórmula pela qual se vinculava, no direito romano, o devedor nos

contratos verbais. Todavia, o responsável é aquele que responde

e que a responsabilidade é a obrigação do responsável, ou

melhor, o resultado da ação pela qual a pessoa age ante esse

dever será insuficiente para solucionar o problema e para

conceituar a responsabilidade. Se ele agir de conformidade com a

norma ou com seu dever, seria supérfluo indagar da sua

responsabilidade, pois ele continuará responsável pelo

procedimento, mas não terá nenhuma obrigação traduzida em

reparação de dano, como substitutivo do dever de obrigação

prévia, porque a cumpriu, de modo que nos interessa, ao nos

referirmos à responsabilidade, é a circunstância da infração da

norma ou obrigação do agente.

Resumindo, a responsabilidade civil consiste na obrigação

que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra pessoa.

Portanto, cabe saber se o prejuízo experimentado pela vítima deverá ou não ser

reparado.

Se a resposta for afirmativa, cumpre averiguar em que

condições e de que modo será tal prejuízo reparado.

Define Lopes21 que “[...] a violação de um direito gera a

responsabilidade em relação ao que a perpetuou”.

Stoco23 define responsabilidade como:

20 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 33. 21 LOPES, Miguel Maria Serpa. Curso de direito civil. 1 vol., 3 ed., São Paulo: Livraria Freitas Bastos, 1967, p.188.

22

Digamos, então, que responsável, responsabilidade, assim como,

enfim todos os vocábulos cognatos, exprimem idéia de

equivalência de contraprestação, de correspondência. É possível,

diante disso, fixar uma noção, sem dúvida ainda imperfeita, de

responsabilidade, no sentido de repercussão obrigacional (não

interessa investigar a repercussão inócua) da atividade do

homem. Como esta varia até o infinito, é lógico concluir que são

também inúmeras as espécies de responsabilidades, conforme o

campo em que se apresenta o problema: na moral, nas relações

jurídicas, de direito público ou privado.

Interessa saber quem viola uma norma ou obrigação, terá

conseqüências desagradáveis decorrentes dessa violação.

Enfatiza Rodrigues24 que “[...] a afirmação segundo a qual o

princípio informador de toda a teoria da responsabilidade é aquele que impõe a

quem causa o dano de reparar”.

Explica Diniz25 que:

[...] a aplicação de medidas que obrigam alguém a reparar o dano

moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do

próprio imputado, ou da pessoa por quem ele responde, por

alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

A responsabilidade civil tem como objetivo principal à

reparação do dano, seja por decorrer da culpa ou de uma outra circunstância

legal que a justifique ou meramente objetiva ou por culpa presumida. Devendo o

agente ressarcir o prejuízo causado.

23 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. 2 ed., Revista dos Tribunais, 1995, p. 46.

24 RODRIGUES, Silvio. Responsabilidade civil, p. 07. 25 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 34.

23

1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil decorre da ação ou omissão, em

cuja decorrência do ato cause prejuízo à coisa ou alguém.

Por sua vez, Pereira26 explica que:

[...] o conceito ressarcitório acha-se deslocado para a

convergência de duas forças: caráter punitivo para que o causador

do dano, pelo fato da condenação, se veja castigado pela ofensa

que praticou, e o caráter ressarcitório para a vítima, que receberá

uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do

mal sofrido.

Conforme Diniz27, a responsabilidade civil requer

pressupostos necessários à configuração:

a) Existência de uma ação comissiva ou omissiva sendo

qualificada juridicamente, isto é, que se apresenta como um ato

ilícito ou lícito, pois ao lado da culpa, como fundamento, temos o

risco, tendo regra básica de obrigar a indenizar, pela prática de

atos ilícitos, advindo da culpa. Ter-se-á ato ilícito se a ação

contrariar dever geral previsto no ordenamento jurídico. Deveras,

a obrigação indenizar dano causado a outrem pode advir de

determinação legal, sem que a pessoa obrigada a repará-lo tenha

cometido qualquer ato ilícito. A ação consubstancia-se num ato

humano do próprio imputado ou de terceiro, ou num fato de animal

ou coisa inanimada.

b) Ocorrência de um dano moral ou patrimonial causado à vítima

por ato comissivo ou omissivo do agente ou de terceiro por quem

o imputado responde, ou por fato de animal ou coisa a ele

vinculada.

c) Nexo de causalidade entre o dano e a ação (fato gerador da

responsabilidade), não poderá existir responsabilidade civil sem

vínculo entre a ação e o dano causado. Se o lesado tiver um

dano, mas este não resultou pela conduta do réu, o pedido de

26 PEREIRA, Caio Mário. Responsabilidade civil. nº 45, Rio de Janeiro: Ed. Forense, p. 62. 27 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 35.

24

indenização será improcedente. Será necessária a causa de

excludente de responsabilidade como ausência de força maior, de

caso fortuito ou de culpa exclusiva da vítima.

A Responsabilidade é decorrente de ato ilícito com uma idéia de

culpa, e a responsabilidade sem culpa funda-se no risco,

principalmente, quando tiver insuficiência de culpa dos danos

causados. O agente tem como comportamento comissivo ou

omissivo. A comissão vem da prática de um ato que não deveria

efetivar, e a omissão tem-se a não observância de um dever de

agir ou da prática de um ato que deveria realizar-se.

A ação ou omissão de um ato envolve a infração de uma

obrigação, social, legal ou contratual.

Considera Stoco28 que o

[...] elemento primário de todo ilícito à conduta humana e

voluntária no mundo exterior. Se o comportamento humano não é

contrário à ordem jurídica, não pode ser caracterizada a

Responsabilidade Civil.

Finalmente, diz Rodriges29, “[...] que a responsabilidade

poderá surgir de um ato de omissão do agente que represente infração a uma

obrigação social”.

É possível que a atitude tomada pelo agente não seja

ostensivamente contra a lei, mas contra seu espírito, sendo todos os atos

praticados com abuso do direito.

1.4 CULPA

A culpa é a inexecução de uma norma de conduta, cujos

efeitos danosos são desejados pelo agente (dolo) ou previsíveis (negligência,

imprudência ou imperícia), mas não evitados pelo infrator. 28 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. 4 ed., Revista dos Tribunais, 1999, p. 45.

29 RODRIGUES, Sílvio. Responsabilidade civil, p. 20.

25

Conceitua Dias30:

[...] culpa é a falta de diligência na observância da norma de

conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço

necessário para observá-la, com resultado não objetivado, mas

previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das

conseqüências eventuais de sua atitude.

A culpabilidade no campo civil abrange dois aspectos, o dolo

e a culpa, sendo que intencionalmente o agente procura o resultado pela

negligência, imprudência ou imperícia.

O Código Civil no seu artigo 186 preceitua que forem por

ação ou omissão voluntária (dolo), negligência ou imprudência (culpa), viola o

direito de outrem, será responsabilizado pela reparação do prejuízo.

Explica Venosa31 que

[...] o mais recente entendimento jurisprudencial, mormente em

sede do dano moral, no sentido de que a indenização pecuniária

não tem apenas cunho de reparação do prejuízo, mas tem

também caráter punitivo ou sancionatório, pedagógico, preventivo

e repressor: a indenização não apenas repara o dano, repondo o

patrimônio abalado, mas também atua como forma educativa e

pedagógica para o ofensor e à sociedade e intimidativa para evitar

perdas e danos futuros.

Culposamente, o ato ilícito é praticado em desacordo com a

norma jurídica, violando o direito subjetivo individual, e assim, causando prejuízo

a outrem. Para configurar o ilícito, é de suma importância que o dano se oriunda

de uma atividade culposa.

Esclarece Diniz32 que o lícito tem duplo fundamento:

[...] a infração de um dever preexistente e a imputação do

resultado à consciência do agente. Portanto, para sua

30 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 1 vol., Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 136. 31 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil – responsabilidade civil, p. 28. 32 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 39.

26

caracterização, é necessário que haja uma ação ou omissão

voluntária, que viole norma jurídica protetora de interesses alheios

ou um direito subjetivo individual, e que o infrator tenha

conhecimento da ilicitude de seu ato, agindo com dolo, se

intencionalmente procura lesar outrem, ou culpa se consciente

dos prejuízos que advêm de seu ato, assume o risco de provocar

evento danoso. Assim, a ação contrária ao direito, praticada sem

que o agente saiba que é ilícita, não é ato ilícito, embora seja

antijurídica. Por exemplo: se alguém se apossa de um objeto

pertencente a outrem, na crença de que é seu; se A não paga, o

que deve a B porque, por equívoco, considera cancelada sua

dívida. Dever-se-á, então verificar se o agente é imputável, para

efeitos de Responsabilidade Civil e se, em face da situação, podia

ou devia ter agido de outra maneira.

Então a culpa em sentido amplo é o ato danoso que deve

ser imputado ao seu autor, quando violada alguma regra de conduta, mas que,

agindo dentro do seu livre-arbítrio, tenha o agente tido a possibilidade de prever

ou agir diferentemente, impedindo o evento danoso.

1.4.1 GRAUS DE CULPA

Rodrigues33 mostra, com clareza, alguns graus de culpa:

a) Culpa Grave: é decorrente da imprudência ou negligência

grosseira, como a do motorista que dirige sem estar habilitado, ou

a daquele que, em excesso de velocidade, atravessa um sinal de

trânsito fechado. Costuma-se dizer que a culpa grave ao dolo se

equipara.

b) Culpa Leve: é aquela na qual um homem de prudência normal

pode incorrer.

c) Culpa Levíssima: é aquela da qual mesmo um homem de

extrema cautela não poderia deixar de escapar.

Explica Gonçalves34 que:

33 RODRIGUES, Sílvio. Responsabilidade civil, p. 146.

27

[...] na realidade a culpa grave é a decorrente de uma violação

mais séria do devedor de diligência que se exige do homem

mediano. Costuma-se dizer que a culpa grave ao dolo se

equipara.

Entende-se que todo dano deve ser ressarcido pelo seu

causador, tendo agido com dolo ou culpa.

1.4.2 MODALIDADES DE CULPA

Stoco35 dispõe de três modalidades de culpa dependendo da

infração cometida.

a) Culpa in eligendo é oriunda da má escolha do representante, ou

do preposto. Caracteriza-a, exemplificativamente, o fato de admitir

ou de manter o proponente a seu serviço empregado não

legalmente habilitado, ou sem as aptidões requeridas.

b) Culpa in vigilando é baseado na ausência de fiscalização por

parte do patrão quer relativamente aos seus empregados, quer no

tocante à própria coisa. É o caso da empresa de transportes, que

tolera a saída de veículos desprovidos de freios, dando causa a

acidentes.

c) Culpa in committendo quando o agente pratica ato positivo

(imprudência), enquanto a in omittendo decorre de abstenção

(negligência).

O desajuste psíquico na negligência dentro do procedimento

antijurídico, ou omissão de alguma atividade que teria evitado do resultado

danoso, e na imprudência o sujeito o agente precipitadamente ou sem querer a

conseqüência da ação.

34 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil, p. 345. 35 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial, p. 53.

28

1.5 NEXO CAUSAL

Existe obrigação de demonstrar a afinidade de causalidade

entre o dano causado e o comportamento do agente, visto que nem sempre o

dano é provocado pelo acusado, ou por outro agente ou pela própria vítima.

Não basta que haja responsabilidade pelo fato de cometer

um erro de conduta, a vítima terá de sofrer um dano, que será um elemento

objetivo de indenizar, pois se não houver um dano ao procedimento antijurídico

não gera obrigação a indenizar. O nexo causal se torna essencial que o dano

tenha sido causado pela culpa do agente.

Não se pode confundir nexo causal com imputabilidade,

conforme entendimento de Stoco36:

[...] determinação do nexo causal, duas questões se antepõem: a

primeira pertinente à dificuldade de sua prova; a segunda situa-se

na identificação do fato que constituiu a verdadeira causa do

dano, máxime quando ocorra a causalidade múltipla, pois nem

sempre se tem condições de apontar qual a causa direta do fato,

sua causa eficiente.

Em suma, só haverá comprometimento de reparar se

demonstrado que o dano tolerado pela vítima adveio de conduta, positiva ou

negativa, do agente.

Segundo Diniz37, não se pode confundir nexo de

causalidade com imputabilidade:

[...] a imputabilidade diz respeito a elementos subjetivos e o nexo

causal a elementos objetivos, consistentes na ação ou omissão do

sujeito, atentatória do direito alheio, produzido dano material ou

moral. Nada obste, como nos ensina Serpa Lopes, que haja

imputabilidade sem nexo causal, p.ex., se A der veneno a B, e B,

antes da bebida produzir efeito, vier a falecer em razão de um

colapso cardíaco. Houve culpa, mas não houve nexo de

causalidade.

36 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial, p. 59. 37 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 94.

29

Sampaio38 esclarece que:

[...] na prática, contudo, esbarra-se na dificuldade de se identificar

o necessário liame de causalidade que permita atribuir

determinado resultado ao comportamento de uma pessoa,

principalmente diante da presença de vários comportamentos,

que, de alguma forma, contribuíram para o resultado. São as

chamadas concausas, que podem ser sucessivas ou simultâneas.

Ainda nas palavras de Sampaio:

Na presença de concausas simultâneas, a questão resolve-se

com certa facilidade, à medida que estabelece o artigo 942 do

Código Civil de 200239 que a responsabilidade solidária de todos

aqueles que ocorrem para o resultado danoso.

Para que se possa impor a alguém o comprometimento de

reparar o prejuízo experimentado por outrem, é fundamental que haja uma

relação de causalidade entre o ato culposo do agente e o dano sofrido pela

vítima.

1.5.1 MOTIVOS DE EXCLUDENTES DO NEXO CAUSAL

São excludentes de responsabilidade civil, o fato de terceiro,

no caso fortuito ou força maior.

Nestes casos, extingue-se do devedor de reparar o dano,

justamente por atenuar ou extinguir a relação de causalidade, assim, quando a

culpa sendo exclusiva da vítima elide o dever de indenizar, porque impede o nexo

causal.

Com a culpa unicamente da vítima, desaparece a

semelhança de causa e efeito entre o dano e o seu causador.

38 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil – responsabilidade civil. 3 ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 87.

39 Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

30

Conforme Diniz40, os motivos de excludentes de

responsabilidade na qual não haverá nexo se o evento se der:

a) Por culpa exclusiva da vítima, caso em que se exclui qualquer

responsabilidade do causador do dano. A vítima deverá arcar com

todos os prejuízos, pois o agente que causou o dano é apenas um

instrumento do acidente, não se podendo falar em nexo de

causalidade entre a sua ação e a lesão41.

b) Por culpa concorrente da vítima e do agente. Se lesado e

lesante concorreram com uma parcela de culpa, produzindo um

mesmo prejuízo, porém por atos independentes, cada um

responderá pelo dano na proporção em que concorreu para o

evento danoso.

c) Por culpa comum, isto é, se a vítima e o ofensor causaram

culposa e conjuntamente o mesmo dano, caso em que se terá

compensação de reparações. As duas responsabilidades se

neutralizam e se compensam se as duas partes estiverem em

posição igual, logo, não haverá qualquer indenização por perdas e

danos. Entretanto, se estiverem em uma situação desigual por

haver gradatividade na culpa de cada um, ter-se-á uma

condenação das perdas e danos proporcional à medida de culpa

que lhe for imputável. Assim sendo, competirá ao juiz decidir,

prudentemente, a proporção da contribuição de cada um no

montante do prejuízo.

d) Por culpa de terceiro, qualquer pessoa além da vítima ou do

agente, de modo que, se alguém for demandado para indenizar

um prejuízo que lhe foi imputado pelo autor, poderá pedir a

exclusão de sua responsabilidade se a ação que provocou o dano

foi devida exclusivamente a terceiro. Por força excludente da

responsabilidade, por fato de terceiro, dependerá da prova de que

o dano foi resultante de ato de terceiro, caso em que o ofensor

ficará isento de qualquer responsabilidade. A jurisprudência não

tem admitido essa excludente em casos de transporte, pois se a

culpa for de terceiro, havendo dano, o transportador apenas

poderá mover ação regressiva contra esse terceiro42.

40 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 94 - 99. 41 RT, 440:74, 563:146, 44:86. 42 Súmula 187; RT, 437:127, 523:101; RJTJSP, 42:103.

31

e) Por força maior ou por caso fortuito, nestes casos, se

caracterizam pela presença de dois requisitos: o objetivo, que se

configura na inevitabilidade do evento, e o subjetivo, que é a

ausência de culpa na produção do acontecimento. No caso fortuito

e na força maior, há sempre um acidente que produz prejuízo. Na

força maior conhece-se a causa que dá origem ao evento, pois se

trata de um fato da natureza, assim como, um raio que provoca

incêndio; inundação que danifica os produtos; geada que estraga

a lavoura, implicando uma idéia de relatividade, já que a força do

acontecimento é maior do que a suposta, devendo-se fazer uma

consideração prévia do estado do sujeito e das circunstâncias

espácio-temporais, para que se caracterize como eficácia

liberatória de responsabilidade civil.

Contudo, nem sempre a força maior e o caso fortuito têm

esse resultado de afastar a responsabilidade, uma vez que na obrigação de dar a

coisa incerta ao devedor, antes da escolha, não se exonerará sob a alegação de

perda ou deterioração.

Todas as causas de excludentes de responsabilidade civil

necessitam ser devidamente demonstradas e examinadas com cuidado. Por

importarem em destituição do defensor, abandonando o lesado sem a

composição do dano sofrido.

1.6 DANO

O dano é um dos pressupostos indispensável à

responsabilidade civil, quer de ordem subjetiva ou clássica, quer objetiva.

Para Stoco43, “o prejuízo causado pelo agente é o dano, e só

através dele é que pode existir a hipótese de responsabilidade civil”.

Ora, sem o dano não há como impor a alguém, diante de

comportamento lícito, uma obrigação, em qualquer de suas modalidades. Como

por exemplo, o indivíduo que dirige seu veículo embriagado em alta velocidade,

43 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial, p. 64

32

sem, contudo causar dano, de ordem moral ou material, a alguma pessoa. Por

não haver dano, não se fala em responsabilidade civil do condutor inconseqüente.

Para Sampaio44:

Não se pode perder de vista que a origem clássica do dano está

intimamente ligada à diminuição do patrimônio (considerando o

conjunto das relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em

dinheiro) suportada pela vítima em razão da prática de um ato

ilícito (contratual ou extracontratual). Prova disso é que o próprio

legislador, à época da promulgação do Código Civil de 1916,

tratou o dano à luz dessa perda patrimonial suportada pela vítima.

Em suma, à época vinha a responsabilidade civil estruturada no

dano de ordem material.

O dano é lesão (destruição ou diminuição) que, devido a um

certo acontecimento, suporta uma pessoa, contra a sua vontade, em qualquer

veemência ou bem jurídico, moral ou patrimonial.

Sampaio45 explica que:

[...] indenizar significa reparar, integralmente, do grau de culpa

com que agira o agente causador. Em tese, indenizar implica

restaurar o status quo ante, ou seja, recompor a situação que

havia antes da prática do ato ilícito. Excepcionalmente, como

novidade trazia pelo novo Código, poderá o magistrado,

considerando a desproporção entre a gravidade da culpa e a

extensão do dano, reduzir, eqüitativamente, a indenização (artigo

944 parágrafo único do Código Civil46). Nesse caso, como

ressaltado em tópico anterior, buscou-se uma solução voltada ao

aspecto social do Direito Civil Moderno. Não se descarta ainda

que, sendo impossível o restabelecimento da situação anterior,

fato que se verifica, principalmente, com os danos morais, previu o

legislador uma forma de compensar, monetariamente, a vítima

dos prejuízos suportados.

44 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil – responsabilidade civil, p. 98. 45 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil – Responsabilidade civil, p. 99. 46 Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

33

A responsabilidade consiste em existência de dano, assim

como só poderá existir indenização se tiver prejuízo, visto que a responsabilidade

decorre em obrigação de ressarcir.

Na opinião de Gonçalves47:

[...] sintetiza bem o assunto, pois, enquanto o conceito clássico de

dano é o que constitui diminuição do patrimônio, alguns autores o

definem como a diminuição ou subtração de um bem jurídico, para

abranger não só o patrimônio, mas a honra, a saúde, a vida, são

suscetíveis de proteção.

Ainda nas palavras de Gonçalves:

Indenizar significa reparar o dano causado à vítima, integralmente.

Se possível, restaurando o statu quo ante, isto é, devolvendo-a ao

estado em que se encontrava antes da ocorrência do ato ilícito.

Todavia, como na maioria dos casos se torna impossível tal

desiderato, busca-se uma compensação em forma de pagamento

de uma indenização montaria. Deste modo, sendo impossível

devolver a vida à vítima de um crime de homicídio, a lei procura

remediar a situação, impondo ao homicida a obrigação de pagar

uma pensão mensal às pessoas a quem o defunto sustentava,

além das despesas de tratamento da vítima seu funeral e luto da

família.

O dano deverá ser certo, sendo necessária uma prova real e

palpável dessa lesão.

Conforme ensina Sampaio48, que “[...] levando-se em conta

a abrangência dada pelo legislador às perdas e danos” no artigo 402 do Código

Civil (gramaticalmente, tais expressões seriam sinônimas), pode-se,

doutrinariamente, distinguir a seguinte situação:

. Dano emergente – significa o que a vítima efetivamente perdeu,

correspondendo, pois, à diminuição do patrimônio. Exemplo: a perda ou

deterioração de um veículo após um acidente;

47 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil, p. 391. 48 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil – responsabilidade civil, p.100.

34

. Lucro cessante – implica o que a vítima ou credor razoavelmente deixou de

ganhar. Correspondente à privação do aumento de patrimônio, segundo

Agostinho Alvim49, como exemplo, cita-se o taxista, que privado de uso de seu

veículo por determinado tempo, postula indenização correspondente à

remuneração média obtida em período anterior.

E ainda nas palavras de Sampaio:

[...] com esse preceito, percebe-se que teve o legislador à nítida

intenção de conferir diretrizes para a aferição do efetivo prejuízo,

de ordem material, suportado pela vítima. Em suma, erigido à

condição de pressuposto da responsabilidade civil (objetiva ou

subjetiva), não há obrigação de indenizar sem a presença do

dano.

O dano constitui uma diminuição do patrimônio ou subtração

do bem jurídico, não só o patrimônio, mas a honra, a saúde, a vida, suscetíveis de

proteção.

49 ALVIM, Agostinho. Da inexecução das obrigações e suas conseqüências. 3 ed., Ed. Jurídica e Universitária, 1975, p. 175.

35

CAPÍTULO 2

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS BANCOS

2.1 RESPONSABILIDADE DOS AGENTES BANCÁRIOS

Nos serviços especializados das instituições financeiras,

elas se vêem obrigadas, pelas contingências comerciais, a adotar grau de

independência e autonomia na constituição de entidades componentes dos

grupos econômicos, sendo que cada uma opera dentro do seu ramo e responde

pelos danos que causar.

Uma tendência de proteger economicamente o mais fraco

contra o mais forte ou o leigo contra o profissional, surgiu e desenvolveu-se com

um conjunto de regras que constituem a ordem pública econômica.

Abrão50 cita que:

[...] o número indeterminado de pessoas sofre os resultados

desastrosos da má gestão da instituição financeira.

Conseqüentemente, o patrimônio debilitado da pessoa jurídica é

insuficiente para a cobertura dos danos: assim, nada mais do que

coerente estabeleça a legislação uma regra tipificando

solidariedade representando maior segurança nas relações

negociais.

O direito do consumidor se caracteriza por corrigir os

chamados efeitos perversos da sociedade de consumo, restabelecendo igualdade

jurídica e o equilíbrio entre as prestações de ambas as partes, devendo existir nos

contratos comutativos, o princípio de boa fé.

O direito do consumidor restabelece os atos ou as relações

de consumo, constituindo uma inovação resultante da própria evolução nas

50 ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 8 ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 366.

36

operações comerciais, principalmente com sistemas massificados de produção e

consumo, passando a estabelecer um tratamento jurídico ajustado com as

necessidades.

RESPONSABILIDADE CIVIL – APLICAÇÃO FINANCEIRA –

INDUZIMENTO DE CLIENTE A ERRO, POR EX-GERENTE,

ACREDITANDO ESTAR AQUELE REALIZANDO NEGÓCIO COM

A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA E DE FORMA CORRETA –

TEORIA DA APARÊNCIA – CULPA DO RÉU CARACTERIZADA –

INDENIZAÇÃO DEVIDA – JUROS DE MORA FIXADOS DESDE

O VENCIMENTO DE CADA OBRIGAÇÃO51.

No caso esboçado, o banqueiro assume o risco da atividade,

que constitui fator permanente, porque ligado à movimentação financeira, razão

pela qual é explicável a tônica de ampliar o grau de responsabilidade e conservar

eventual regresso, visando ao equilíbrio identificado com as relações

empresariais.

Pode-se verificar o dano efetivo moral ou patrimonial e do

seu nexo causal entre o defeito do serviço e a lesão sofrida pelo consumidor,

entretanto para que os bancos sejam responsabilizados por danos financeiros

causados aos contratantes destes empréstimos, em razão dos contratos

possuírem cláusulas leoninas, visto que as cláusulas leoninas são nulas de pleno

direito e teor do disposto no artigo 51 e inciso do Código de Defesa do

Consumidor52.

51 RT, 723:318. 52 São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor, pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;

II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

V - (Vetado);

37

Afirma Stoco53 que:

[...] a responsabilidade civil dos bancos e instituições financeiras

em geral sofreu sensíveis modificações em razão do notável

desenvolvimento, modernização e diversificação dessa atividade

em nosso país. Não é novidade o fato de que a atividade das

instituições financeiras é regrada por normas específicas,

estabelecidas na Lei 4.595, de 31.12.1964, e a fiscalização de

suas operações e da sua correção contábil compete ao Banco

Central do Brasil, com competência para editar normas

complementares de regulamentação, com força de lei para as

instituições sob a sua égide.

VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;

IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;

X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;

XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;

XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;

XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

§ 1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

II - restringem direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual;

III - se mostram excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

§ 2º. A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

§ 3º. (Vetado).

§ 4º. É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste Código ou que de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.

53STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 621.

38

Podem-se avaliar as operações bancárias como sendo

aquelas próprias dos bancos, são negócios jurídicos peculiares, comumente

envolvendo crédito, realizadas com clientes, pessoas jurídicas ou físicas, públicas

ou particulares, que visam a receita, todas feitas em harmonia com a legislação

pertinente, com as determinações do Conselho Monetário Nacional, sob a

fiscalização do Banco Central do Brasil.

O Sistema Financeiro Nacional – SFN é composto pelas

seguintes instituições: Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil,

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e demais financeiras públicas e

privadas.

a) Conselho Monetário Nacional – órgão supremo do SFN, e

tem por finalidade fixar as diretrizes para as políticas monetárias, creditícia e

cambial do País.

Composição: Ministro da Fazenda (Presidente do Conselho),

Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Presidente do Banco Central.

Competências: Adaptar o volume dos meios de pagamento

às reais necessidades da economia nacional e seu desenvolvimento; regular o

valor interno da moeda; regular o valor externo da moeda; orientar aplicações dos

recursos das instituições financeiras públicas e privadas; zelar pela liquidez e

solvência das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento das instituições

e dos instrumentos financeiros e coordenar as políticas monetárias, creditícia,

orçamentária, fiscal e da dívida pública interna e externa.

Atribuições: Autoriza as emissões de papel moeda; aprova

os orçamentos monetários; fixam diretrizes e normas da política cambial;

disciplina o crédito em suas modalidades e as formas das operações creditícia;

estabelece limites para a remuneração das operações e serviços bancários ou

financeiros; determinas taxas de recolhimento compulsório; regulamenta as

operações de redesconto de liquidez; outorga ao Banco Central o monopólio de

operações de câmbio; estabelece normas a serem seguidas pelo Banco Central e

39

regula a constituição, funcionamento e fiscalização de todas instituições

financeiras.

O Conselho Monetário Nacional reúne-se uma vez por mês

e extraordinariamente, sempre que convocado pelo seu presidente. É permitido

ao presidente do CMN convidar ministros de Estados e representante de entidade

pública e privado para participar das reuniões, sem direito a voto.

b) Banco Central do Brasil – BACEN órgão executivo central

do Sistema Financeiro, e tem como responsabilidade cumprir as disposições que

regulam o funcionamento do SFN e as normas expedidas pelo Conselho.

Missão e objetivos: Tem como missão institucional

assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e a solidez do SFN. Seus

objetivos são: formular e gerir as políticas monetárias e cambiais, compatíveis

com as diretrizes do Governo Federal; regular e supervisionar o SFN e

administrar o Sistema de Pagamentos Brasileiro – SPB e o meio circulante.

Atribuições: Emitir papel-moeda e moedas metálicas;

fiscalização das Instituições Financeiras; autorizar o funcionamento de todas as

instituições financeiras; controlar o fluxo de capitais estrangeiros; executar os

serviços do meio circulante; receber os recolhimentos compulsórios dos bancos

comerciais e os depósitos voluntários das instituições financeiras e bancárias do

país; realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras;

regular a execução de serviços de compensação e outros papéis; efetuar

operações de compra e venda de títulos públicos federais; estabelecer as

condições para o exercício de cargos de direção nas instituições financeiras

privadas; vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de

capitais e exercer o controle do crédito.

c) Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

– BNDES é o órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão, é a principal instituição financeira do fomento do país, responsável pela

política de investimento de médio e longo prazo do Governo Federal.

40

As operações que compõem estes recursos envolvem

financiamento de longo prazo, crédito produtivo popular, operações com valores

mobiliários, prestação de garantias financeiras, leasing de equipamentos e

financiamento à exportação de bens e serviços.

Objetivos básicos: Impulsionar o desenvolvimento

econômico e social do país; fortalecer o setor empresarial nacional; atenuar os

desequilíbrios regionais, criando novos pólos de produção; promover o

desenvolvimento integrado das atividades agrícolas, industriais e de serviços e

promover o crescimento e a diversificação das exportações.

Também não se encontra surpresa na afirmação que a

responsabilidade civil das instituições bancárias, seja contratual ou aquiliana, sem

previsão de regulamentação expressa.

Conclui Gonçalves54 que “[...] a falta de legislação

específica, as questões suscitadas a respeito da responsabilidade civil dos

estabelecimentos bancários têm sido solucionados à luz da doutrina e da

jurisprudência”.

Com essa realidade, a legislação sofreu parcial mutação e

foi amenizado com o advento do Código de defesa do consumidor, que nivelou a

prestação de serviços bancários de natureza onerosa às relações de consumo.

Disposto no artigo 2, a lei55 define que o “[...] consumidor é

toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como

destinatário final”.

O artigo 3 parágrafo 2 do Código de defesa do consumidor

conceitua serviço como “[...] qualquer atividade fornecida no mercado de

consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,

de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

54 GONÇALVES, Roberto Carlos. Responsabilidade civil. 8 ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 338.

55 Lei n˚ 8.078, de 11.09.1990. Código de defesa do consumidor.

41

Concluiu-se peremptoriamente que o Código de defesa do

consumidor regula as atividades bancárias, mas não todas. Como exemplo de

incidência da lei em uma operação internacional de remessa de valores ou de

uma operação de lançamento de títulos da dívida pública e de ações.

Algumas destas atividades desenvolvidas por esses

conglomerados financeiros possam não se enquadrar no Código de defesa do

consumidor, visto que nenhuma tem por objetivo o consumidor final, ou seja, por

sua natureza gratuita, pois o artigo 3 parágrafo 2 do Código de defesa do

consumidor exige que tenha prestação de serviço mediante remuneração, ou

seja, em razão de estar disciplinada por legislação específica, impõe-se deixar

evidenciado que, nem por isso, o banco deixa de responder pelos seus atos.

Decorrerá de contrato ou de caracterização de ato ilícito (responsabilidade

extracontratual), poderá, como regra, ser objetiva ou subjetiva por exceção.

De acordo com Stoco56:

[...] não se desconhece existir enorme gama de atividades dos

bancos que não se enquadram como relação de consumo, ainda

que de natureza como serviço bancário, ou por não ser onerosa,

ou, ainda, por estar definida e prevista em lei específica.

O consumo decorre tanto da utilização como na aquisição de

um produto e também na prestação de serviço.

Já no entendimento de Abrão57:

A responsabilidade delitual dos bancos se configura, segundo o

sistema francês: a) na imprudente concessão de créditos que

possam comprometer a segurança das relações comerciais: Os

riscos são reais. Um crédito concedido a uma empresa cuja

situação está comprometida tem, freqüentemente, por efeito único

aumentar o número de seus credores e a importância de seu

passivo. O crédito permite à empresa continuar sua exploração e,

criando uma aparência de solvabilidade, fazer novas vítimas. Os

credores do creditado, vítimas dessa falsa aparência, perderão

56 RUI, Stoco. Tratado de responsabilidade civil, 6 ed., p. 622. 57 ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 6 ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 216.

42

finalmente o seu crédito na desaparição inelutável da empresa;

eles podem legitimamente pedir reparação desse prejuízo. b)

quando o banco exerce um controle sobre a empresa e o síndico,

sustentar que ele se tornou um dirigente de fato dela e que, a

esse título, deve suportar a totalidade ou parte da insuficiência do

ativo.

As controvérsias são causas determinantes da

responsabilidade civil é o interesse em se restabelecer o equilíbrio econômico-

jurídico alterado pelo dano causado.

De acordo com Motta58:

[...] dano é uma ofensa injustificada a um bem juridicamente

protegido, resultando em gravame material e ou moral à pessoa

(física ou jurídica), com inflexão direta na redução de sou acervo

patrimonial (moral e ou material). Nesta esteira, pode-se afirmar

que o dano é pressuposto objetivo da responsabilidade civil,

sendo que a legislação tem assentado o risco objetivo do negócio

como elemento gerador da obrigação de indenizar.

Como define a legislação federal, a responsabilidade civil

decorre da prática de infração ao curso normal do negócio, operando-se

independentemente de culpa.

Conclui Abrão59:

[...] se torna deveras difícil a simples apuração da

responsabilidade e do grau de culpabilidade do banco na

realização de alguma operação, mas é induvidoso que, se

descumpriu ordens internas ou contrariou a legislação,

concedendo empréstimos para empresas em estado de crise,

procedendo a abertura de conta sem qualquer lastro, conferindo

cheque especial a cliente inadimplente, tudo deve ser apreciado

sob a ótica do poder, cujo exercício foi reprovável.

Apontam-se algumas leis que regulamentam parte das

atividades exercidas pelos bancos e que estão em vigor, pois o Código de defesa

58 MOTTA, João Antônio César da. Revista Forense. vol. 362. Rio de Janeiro, 2002, p. 63. 59 ABRÃO, Nelson. Direito bancário, p. 216.

43

do consumidor, como lei geral, não pode revogar a lei especial, disciplinando as

questões específicas:

1. Código de defesa do consumidor (Lei n˚ 8.078/90);

2. Código civil de 2002 (Lei n˚ 10.406/2002);

3. Lei n˚ 4.595, de 31.12.1964: Disciplina as instituições

financeiras e regula o sistema financeiro;

4. Lei n˚ 4.728, de 14.07.1965 e decreto n˚ 911/69:

Disciplina o mercado de capitais e a alienação fiduciária;

5. Lei n˚ 6.024/74: Estabelece a intervenção e liquidação

extrajudicial das instituições financeiras;

6. Lei n˚ 6.194/74 (alterada pela Lei n˚ 8.441/92): Disciplina

o seguro obrigatório;

7. Lei n˚ 6.385/76 (com as alterações da Lei n˚ 10.303/01):

Disciplina o mercado e a comissão de valores

imobiliários;

8. Lei n˚ 7.357/85: Lei do cheque e decreto n˚ 57.595/66

(Convenção da lei uniforme de cheques);

9. Lei n˚ 9.514/97: Disciplina o sistema de financiamento

imobiliário e a alienação fiduciária de imóvel.

Afirma Motta60 que:

[...] neste passo, vige à responsabilidade civil da empresa

bancária o critério objetivo decorrente do risco do negócio, que

deve ser suportado sempre que for verificada uma prática

infracional por ela desencadeada, devendo, por certo, ser

condenada a indenizar pelos danos patrimoniais e ou morais

causados independentes da aferição de culpa.

60 MOTTA, João Antonio César da. Revista Forense. vol., 362. Rio de Janeiro, 2002, p. 64.

44

Ainda nas palavras de Motta:

[...] a Magna Carta ao garantir o direito de indenização por dano

moral, não restringiu o alcance da previsão apenas às pessoas

naturais ou físicas, assegurando, assim, também a sua defesa

pelas pessoas jurídicas, as quais, para o direito pátrio, são entes

com existência e personalidade próprias, distintas das de seus

membros, não podendo lhes ser negado o direito à proteção de

sua ordem moral, quando a mesma for injustamente abalada por

terceiros.

Verifica-se a importância da Constituição Federal de 1988 no

seu artigo 5, inciso X61, veio consagrar a reparabilidade dos danos materiais e

moral, assim considerados, repita-se, como as incursões ilegítimas de outrem na

esfera de interesses patrimoniais (moral ou material) das pessoas físicas ou

jurídicas.

Ensina Cahali62:

[...] o crédito, na conjuntura em que vivemos, representa um bem

imaterial que integra o patrimônio e moral das pessoas,

representando um cartão que estampa a nossa personalidade, e

em razão de cujo conteúdo será bem ou mal recebido pelas

pessoas que conosco se relacionam na vida privada.

Aduz, ainda que:

[...] o abalo de crédito se traduz, na generalidade dos casos, em

paralisação de negócios, retração de fornecedores ou de clientela,

desamparo de recursos bancários, como observa Aguiar Dias, se

exerce não só em relação ao patrimônio do comerciante, molesta

igualmente o particular no que vê empenhada a sua

honorabilidade, reduzido o seu conceito perante os concidadãos.

Em realidade, o abalo de crédito, conquanto única sua causa

geradora, produzem-se lesões indiscriminadas ao patrimônio

pessoal e material do ofendido, de modo a ensejar, se ilícita

aquela causa, uma indenização compreensiva de todo o prejuízo.

61 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

62 CAHALI, Yussef Said. A reparação do dano moral no direito brasileiro. 4 ed., 1996, pp. 141 - 143.

45

Neste contexto, é absolutamente irrelevante qualquer critério

subjetivo (culpa) por parte da empresa bancária, mas sim a sua eventual atitude

abusiva, o risco da conduta assumida pelo lesante.

Verificando-se a responsabilidade civil das instituições

financeiras, cumpre destacar a lição de Diniz63:

[...] nas relações entre banco e seus clientes, há forte tendência

de se reconhecer um regime próprio de responsabilidade civil do

banqueiro fundada na idéia de risco profissional64, ante a

necessidade de se tratar o banqueiro de modo mais rígido e

severo, apreciando-se com maior rigor o seu comportamento e

sua eventual culpa, não só por ter conhecimentos especializados

ou técnicos bem maiores do que os do cliente, que, geralmente, é

um leigo, desconhecendo, portanto, os mecanismos bancários,

mas também pela circunstância de usar recursos financeiros

alheios e pelo poder econômico do banco, que lhe possibilita

impor sua vontade a outrem, mediante contratos de adesão e

possibilidade de inclusão da cláusula de não indenizar.

Pois bem, o Supremo Tribunal Federal – STF – tem

reconhecido que os estabelecimentos bancários devem suportar os riscos

profissionais inerentes à sua atividade; sendo assim, o banqueiro responderá

pelos prejuízos causados, em razão do risco assumido profissionalmente (Súmula

28)65, só isenta-se da responsabilidade se provar culpa grave do cliente, força

maior ou caso fortuito.

63 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 7 vol., 2 ed., São Paulo: Saraiva, 1986, p. 252.

64 RF 89/714 65O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista.

46

2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Após a Segunda Guerra Mundial, iniciou-se a integração

entre os países, criando-se novos conceitos em todos os setores, exigindo uma

mudança no perfil das relações humanas.

Explica Silva66:

[...] essa integração somada a industrialização trouxe o capital

estrangeiro, tornando difícil a manutenção do modelo de direito

exclusivamente individual. Disso originaram leis tutelando à ordem

econômica e financeira, pois o empenho da doutrina e da

jurisprudência não foram suficientes para atingir o equilíbrio nas

relações de consumo.

Nery Junior67, na consagrada obra Código de defesa do

consumidor, leciona:

O aspecto central da problemática da consideração das atividades

bancárias como sendo relações jurídicas de consumo reside na

finalidade dos contratos realizados com os bancos. Havendo a

outorga do dinheiro ou do crédito para que o devedor o utilize

como destinatário final, há a relação de consumo que enseja a

aplicação dos dispositivos do CDC. Caso o devedor tome o

dinheiro ou crédito emprestado do banco para repassá-lo, não

será destinatário final e, portanto não há que se falar em relação

de consumo. Como as regras normais de experiência nos dão

conta de que a pessoa física que empresta dinheiro ou toma

crédito de banco o faz para sua utilização pessoal, como

destinatário final, existe aqui uma presunção hominis, juris

tantum68 de que se trata de relação de consumo, quer dizer, de

que o dinheiro será destinado ao consumo. O ônus de provar o

contrário, ou seja, que o dinheiro ou o crédito tomado pela pessoa

física não foi destinado ao uso final do devedor, é do banco, quer

porque se trata de presunção a favor do mutuário ou creditado,

66 SILVA, Geraldo José Guimarães da. Direito bancário e temas afins. Campinas: CS Edições, 2003, p. 39.

67 NERY JUNIOR, Nelson . Código Brasileiro de Defesa do Consumidor - comentado pelos autores do anteprojeto, Ada Pellegrini Grinover et al., Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 1998, pp. 313 - 314 - 318.

68 De direito até que se prove o contrário.

47

quer porque poderá incidir no art. 6º, VIII, do CDC69, com a

inversão do ônus da prova a favor do consumidor.

AGRAVO DE INSTRUMENTO - APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

- CABIMENTO - Caso concreto, a decisão agravada subsume-se

ao previsto no Código de defesa do consumidor, artigo 6, inc. VIII,

porquanto a noção de hipossuficiência prende-se não estritamente

ao fator econômico, e muito mais ao técnico. O desnível no plano

técnico é evidente, na presente "quaestio", quando se confronta a

grande corporação (banco agravante) e o consumidor (agravado).

Agravado Improvido70.

Anteriormente à promulgação dessa lei não havia uma

legislação eficiente para proteger o consumidor contra danos causados pelos

fornecedores de produtos e serviços. Antes dessa lei, os riscos do consumo

corriam por conta do consumidor, sendo que o fornecedor só respondia no caso

de dolo ou culpa, cuja prova era praticamente impossível.

Ensina Venosa71:

[...] a promulgação da Lei nº. 8.078, de 11/09/1990, refere-se ao

Código de defesa do consumidor – CDC – representou não só

uma revolução na responsabilidade civil , mas também um divisor

de águas do próprio direito brasileiro. Podemos afirmar que há um

direito anterior e um direito posterior à lei do consumidor no

ordenamento brasileiro.

Ainda nas palavras de Venosa:

O CDC foi promulgado com lastro nos termos do artigo 5, inciso

XXXII72; artigo 170, inciso V73, da Constituição de 1988. Segundo

69 VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for verossimilhança a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

70 TJRS - AI 598572949 - RS - 21ª C. Cív. - Rel. Des. Francisco José Mõesch - J. 10.03.1999. 71 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil – responsabilidade civil, p. 191. 72 XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 73 A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a toda existência digna, conforme os ditames da justiça social observado os seguintes princípios:

48

a nova ordem constitucional, a defesa do consumidor é um dos

ditames básicos da ordem econômica. Trata-se de codificação

moderna, na qual muitos de seus princípios são inovadores,

mesmo se comparados com a ordem internacional.

O Código de defesa do consumidor deu uma guinada de 180

graus, transferindo os riscos de consumo do consumidor para o fornecedor,

estabelecendo responsabilidade objetiva para todos os casos de acidente de

consumo, quer decorrentes do fato do produto ou do fato do serviço.

Como ensina Nery Junior74, o objeto:

[...] de regulamentação pelo Código de defesa do consumidor é a

relação de consumo, assim entendida a relação jurídica existente

entre fornecedor e consumidor tendo como objeto a aquisição de

produtos ou utilização de serviços pelo consumidor. O CDC não

fala de contrato de consumo, ato de consumo, negócio jurídico de

consumo, mas de relação de consumo, termo que tem sentido

mais amplo do que aquelas expressões. São elementos da

relação de consumo, segundo o CDC: a) como sujeitos, o

fornecedor e o consumidor; b) como objeto, os produtos e

serviços; c) como finalidade, caracterizando-se como elemento

teleológico das relações de consumo, serem elas celebradas para

que o consumidor adquira produto ou se utilize serviço como

destinatário final.

A inovação introduzida pelo Código de defesa do

consumidor no direito obrigacional, dentro da área de responsabilidade civil, que

se pode dizer que o Código de defesa do consumidor efetivou uma revolução,

para a quais muitos profissionais do direito ainda não se atinaram. A

responsabilidade civil pode ser dividida em duas grandes áreas, uma sendo a

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor; 74 NERY JUNIOR, Nelson. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor - comentado pelos autores do anteprojeto, p. 342.

49

responsabilidade tradicional fundada no artigo 186 do Código Civil75 e demais leis,

e a outra as responsabilidades nas relações de consumo, fundada pelo Código de

defesa do consumidor.

Segundo Venosa76:

A larga aplicação dessa lei notamos já na conceituação de

consumidor e fornecedor. O legislador pátrio preferiu definições

objetivas desses dois partícipes da relação de consumo, fugindo

dos conceitos imprecisos da legislação estrangeira, principalmente

dos países europeus. Segundo o artigo 2º da lei 8.078 de

11/09/1990, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que

adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Notamos, nessa definição, que tanto a pessoa natural como a

pessoa jurídica, são considerados consumidores, quando

destinatários finais, posição inovadora só admitida posteriormente,

com restrições, por algumas legislações. Não somente as pessoas

jurídicas devem ser incluídas nesse conceito, mas também as

entidades com personificação anômala, que muitos preferem

denominar entes despersonalizados, como o condomínio, a

massa falida e o espólio.

Hoje em dia, quando celebra-se um contrato com as

instituições financeiras, é geralmente um contrato de adesão, as cláusulas são

predispostas unilateralmente, a fim de racionalizar a gestão empresarial.

Essas cláusulas predispostas afetam a liberdade dos

clientes que contratam com as instituições financeiras e a autonomia das partes

ao estabelecer os conteúdos contratuais, suprindo as negociações prévias

cabendo ao cliente o livre arbítrio de aceitar ou recusar as condições impostas.

Assim sendo, a abertura de crédito em conta-corrente, o

empréstimo em conta-corrente, o empréstimo bancário, a antecipação bancária, o

crédito documentado ou documentário, o crédito imobiliário, o crédito rural, o

crédito industrial, o crédito comercial, o crédito à exportação, os empréstimos

75 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

76 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil – responsabilidade civil, pp. 191 - 192.

50

externos, o repasse em moeda estrangeira, a alienação fiduciária em garantia,

dentre outros, não estão sob a batuta da tutela específica do Código de Defesa do

Consumidor.

Isto não quer dizer, contudo, que todas as operações

bancárias estão fora da esfera do Código de defesa do consumidor. Os serviços

de natureza bancária estão incluídos na Lei nº. 8.078/90 são as chamadas

operações passivas, como a poupança, a conta-corrente sem consentimento de

crédito, as aplicações financeiras e os contratos anormais, como a custódia de

valores e locação de cofres. Estes estão regulados pelo Código de defesa do

consumidor.

Explica Silva77:

[...] que as opiniões se dividem quanto ao que vem a ser

destinatário final. Para os finalistas, consumidor é aquele que

retira o produto de circulação e o utiliza para o uso próprio, vindo

este se incorporar ao seu patrimônio. Por outro lado, os

maximalistas dão mais amplitude à sua definição, informando ser

consumidor todo aquele que sofre a prática de cláusula abusiva.

A relação de consumo envolve o adquirente e o fornecedor

de um produto ou serviço.

Para Coelho78, define-se que:

[...] os conceitos de consumidor e fornecedor têm caráter

relacional, ou seja, a identificação de um deles em dada relação

jurídica, somente se verifica a partir da presença do outro, na

mesma relação.

Explica Santos79 que o:

77 SILVA, Geraldo José Guimarães da. Direito bancário e temas afins, p. 41. 78 COELHO, Fábio Ulhoa. O empresário e os direitos do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 44.

79 SANTOS, J. Ozéias. Código de defesa do consumidor comentado. Campinas: Agá Juris, 1998, p. 25.

51

[...] fornecedor, no fornecimento dos produtos ou serviços que

envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao

consumidor, deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e

adequadamente.

Artigo 52 do Código de defesa do consumidor:

No fornecimento de produtos ou serviços que envolvam outorga

de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o

fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e

adequadamente sobre:

I – preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;

II – montante dos juros de mora e taxa efetiva anual de juros;

III – acréscimos legalmente previstos;

IV – número e periodicidade das prestações;

V – soma total a pagar, com e sem financiamento.

§ 1º - As multas de mora decorrentes do inadimplemento de

obrigações no seu termo, não poderão ser superiores a 2% (dois

por cento) do valor da prestação.

§ 2º - É assegurada ao consumidor a liquidação antecipada do

débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos

juros e demais acréscimos.

Segundo Silva80:

[...] sem dúvida, é pacífica em nosso direito, a possibilidade de

revisão contratual, aplicando a teoria da imprevisão, quando

preenche os requisitos ou aplicando o CDC, quando se tratar de

relação de consumo. Nos contratos bancários, comportam uma

relação de consumo? A extensa variedade da atividade bancária,

sua grande gama de produtos dificulta o entendimento da

questão. Uma grande parte da doutrina e da jurisprudência tende

a subordinar toda a atividade bancária ao CDC, enquanto outra

80 SILVA, Geraldo José Guimarães da. Direito bancário e temas afins, p. 43.

52

tende a excluí-la, totalmente. Há que se verificar, há que se

conhecerem os produtos e serviços bancários.

Atualmente, o juiz ou o profissional de direito, antes de

enfrentar qualquer questão tem que verificar se existe uma relação de consumo,

sendo positiva a resposta, terá que aplicar a disciplina do Código de defesa do

consumidor.

A proteção de consumo atinge não só apenas o típico

consumidor final, mas também o que utiliza o produto ou serviço como

destinatário final. Como por exemplo, o produto adquirido por alguém e

emprestado ou cedido a terceiro, este também recebe a proteção da lei do

consumidor.

Explica Venosa82:

[...] a inversão da prova, no caso concreto, o magistrado levará em

conta a hipossuficiência do consumidor ou a verossimilhança de

suas alegações. A lei não menciona, nesse tópico, a

vulnerabilidade, conceito estrutural do consumidor, como

mencionamos. O princípio da boa-fé nas relações de consumo

também se acha em inúmeros dispositivos, e deve orientar o Juiz

nas decisões. Outro importante aspecto realçado pela lei do

consumidor é o dever de informação inerente a todas as relações

de consumo.

Outro aspecto que deve ser delineado é a legislação de

proteção ao consumidor em decorrência do desenvolvimento da sociedade do

século XX e atributo da chamada pós-modernidade. O amplo desenvolvimento de

produtos e serviços importados de outros países do Mercosul ou de regiões mais

distantes. Atualmente pela Internet, o consumidor tem acesso a produtos de todas

as partes do mundo.

82 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil – responsabilidade civil, p. 195.

53

Entretanto, o direito contratual, sob prisma consumerista,

ainda que guarde os fundamentos do direito clássico, ganha novos contornos, os

quais, aliás, foram assimilados pelo Código Civil de 2002.

2.3 RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO

No decurso da história, a evolução sobre o tema foi longa.

Explica Venosa83 que:

O direito romano não disciplinou ordenadamente a matéria,

embora contemplasse algumas situações de responsabilidade

pelo fato da coisa. Segundo a Lei das tábuas, os animais e as

coisas inanimadas deviam responder por danos. O direito antigo

não possuía a noção das presunções gerais de culpa.

A responsabilidade civil das instituições financeiras

enquadra-se no fato do serviço previsto no artigo 14 do Código de defesa do

consumidor, cujo texto descreve o seguinte:

O fornecedor de serviços responde, independentemente da

existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos

consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem

como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

fruição e riscos.

Verifica-se que o fato do serviço é sinônimo de acidente de

consumo, vem do acontecimento externo, ocorrido no mundo físico, causando

dano material ou moral ao consumidor, mas decorre de um defeito no serviço

prestado.

Segundo Gomes84:

83 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil – responsabilidade civil, p. 91. 84 GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil dano e defesa do consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, pp. 69 - 70.

54

A responsabilidade civil por fato do produto consiste no acidente

de consumo, onde o dano atinge não somente o patrimônio do

consumidor, mas também valores maiores, como sua segurança e

saúde. No fato de produto, ou de serviço, o bem, devido a um

defeito juridicamente relevante, provoca um dano ao consumidor,

atingindo-lhe a própria pessoa.

Verifica-se que a responsabilidade por fato de produto ou

serviço é um tipo de responsabilidade objetiva, caracterizando-se pelos bem

jurídicos atingidos, que é a saúde ou a segurança humana.

De acordo com Marins85, em sua definição enunciada, o fato

de produto como:

[...] a manifestação danosa dos defeitos juridicamente relevantes,

que podem ser de criação, produção ou informação (defeito),

atingindo (nexo causal) as incolumidades patrimoniais, físicas ou

psíquicas do consumidor (dano), ensejando a responsabilização

delitual, extracontratual do fornecedor, independentemente da

apuração de culpa (responsabilidade objetiva).

O fato gerador da responsabilidade dos serviços prestados

pelo fornecedor, não é mais a conduta culposa, nem ainda a relação jurídica

contratual, mas sim o defeito do serviço.

Quando provocado um dano do produto ou serviço ao

consumidor em razão de defeito nele existente, originando a responsabilidade do

fornecedor em repará-la, independentemente de culpa ou impossibilidade de

impedir que o dano viesse a ocorrer.

Resume-se que a responsabilidade das instituições

financeiras decorre da violação do dever de segurança, e prestação de serviços

com legitimidade esperada. Ocorrido o acidente de consumo, as instituições

financeiras terão de indenizar a vítima independentemente de culpa, só

satisfazendo a relação de causa e efeito entre o defeito do serviço e o dano.

85 MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato de produto. São Paulo: RT, 1993, p. 140.

55

2.4 DA RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO

Os efeitos mencionados pela responsabilidade por vício do

produto e do serviço estão apregoados no Código de defesa do consumidor.

Conforme explica Kriger Filho86

[...] no que tange a esse tópico, apesar de a doutrina que cuidou

do assunto asseverar que a responsabilidade pelos vícios de

produto ou serviço ser por presunção de culpa, não tem dúvidas

de que a mesma é tipicamente objetiva. E pensamos desta

maneira porque vimos que a presunção de culpa é uma das

formas de exteriorização da teoria da responsabilidade civil

objetiva, nos termos da doutrina moderna; segundo, porque o

resultado final de ambas seria o mesmo, facilitando-se o exercício

do direito do consumidor pelos prejuízos que sofreu.

Ainda nas palavras de Kriger Filho

[...] como ao fornecedor não cabe eximir-se de sua

responsabilidade pela ignorância acerca dos vícios de qualidade e

quantidade dos produtos e serviços que coloca no mercado, bem

como é ele quem deve arcar com os custos sociais da produção,

independentemente de sua culpa, não resta dúvidas que o código,

nesta seção, também adotou a teoria da responsabilidade civil

objetiva, a fim de garantir mais amplamente o consumidor.

No Código de defesa do consumidor, a impropriedade não é

a única forma de fato de vícios de qualidade e quantidade.

No entendimento do Kriger Filho87

O fornecedor e prestador de serviços são responsáveis pelos

vícios de qualidade e quantidade que tornem os produtos

impróprios, lhes diminuam o valor ou se manifestem com

disparidade informativa. Ou seja, pela sistemática do código, a

impropriedade é uma mera conseqüência da conformidade

86 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de defesa e

proteção do consumidor. Porto Alegre: Síntese, 1998, p. 79. 87 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de defesa e

proteção do consumidor, p. 80.

56

material ou formal (informativa), quer seja ele localizada na

segurança, na adequação ou quantidade do produto ou serviço.

Segundo doutrina predominante, a impropriedade, dos

produtos e serviços, possa se dar nos seguintes casos:

a) produtos com prazo de validade vencido, caso em que a

impropriedade é formal, alheia ao seu conteúdo;

b) produtos deteriorados, que têm sua qualidade ou

condição primitiva modificada por causas normais, somente indiretamente ligadas

ao comportamento humano (má conservação);

c) produtos alterados, que têm a sua condição e qualidade

primitiva por intervenção humana direta, intervenção esta não comunicada ao

consumidor;

d) produtos corrompidos ou adulterados, que são produtos

modificados para pior em sua essência, por ação humana direta;

e) produtos falsificados, que são produtos modificados, com

aparência genuína;

f) produtos avariados, que não se prestam a cumprir, por

completo, sua destinação mercadológica, sejam por apresentarem alguma falha

interna, seja por estarem em mau estado;

g) produtos portadores por vícios de qualidade por

segurança, nocivos à saúde e vida humana;

h) produtos em desacordo com as normas regulamentares;

Benjamim88 explica:

[...] o critério de avaliação da inadequação dos bens de consumo

não é analisada pela ótica exclusiva do fornecedor individual. Vale

88 BENJAMIM, Antônio Hermen Vasconcellos. Comentários ao código de proteção do

consumidor. 1 ed., São Paulo: Saraiva, 1991, pp. 95 - 97.

57

dizer, o juiz, por exemplo, não se volta para o fornecedor ou

fornecedores e deles indaga: qual o padrão de adequação para

este ou aquele produto. Não é opinião do fornecedor individual

que determina o que é ou não adequado para o consumo.

Tampouco a inadequação dos produtos ou serviços é apurada em

relação ao que pesa o conjunto de fornecedores, posto que,

apesar de uma prática ou método de produção ser tradicional no

mercado, ainda assim os produtos por eles lançados podem ser

considerados inadequados para o consumo.

Complementa Kriger Filho89 quando:

[...] o produto inadequado é, pois, o que não está preparado para

os fins ordinários para os quais foi adquirido, ou, a adequação,

assim como toda a questão de qualidade da qual um é dado (a

outra é a segurança), não é um traço exclusivamente intrínseco do

bem, mas, ao revés, configura-se como uma relação entre o bem

e o seu destinatário, entre o bem e a expectativa legítima do seu

consumidor. Por conseguinte, a inadequação é apreciada com

base em diversos fatores, tais como: a natureza do bem de

consumo, estado da técnica, as informações prestadas pelo

fornecedor e o fim a que se destina.

Ainda afirma Kriger Filho que:

[...] aos responsáveis pelo dever de indenizar os consumidores

lesados, ao contrário do que se dá com os vícios de qualidade por

insegurança, o comerciante também é responsável principal pelos

vícios de qualidade por inadequação e pelos vícios de quantidade.

Esta responsabilidade é solidária (podendo o ressarcimento ser

dirigido a qualquer dos fornecedores indistintamente nos termos

da lei civil), salvo quando for comercializado in natura, sem

processamento (caso em que será responsável o fornecedor

imediato quando seu produtor não estiver identificado claramente)

e quando os produtos forem pesados na presença do consumidor

(caso em que será responsável o fornecedor imediato, quando os

instrumentos de medição não estiverem de acordo com os

padrões oficiais), quanto ao assunto pertinente à prova para se

apurar a responsabilidade do fornecedor, continua em vigor o

princípio consubstanciado no artigo 333 do Código de Processo

89 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de defesa e

proteção do consumidor, p. 81.

58

Civil90, ou seja, o ônus da prova compete ao autor quanto aos

fatos constitutivos de seu direito e ao réu quanto aos fatos

modificados ou extintivos do direito do autor. Mas, quando se trata

de relações de consumo, há também a possibilidade de inversão

da prova a favor do consumidor, conforme preceitua

expressamente o artigo 6º VIII, do Código de Proteção do

Consumidor91. A presunção que legitima o juiz determinar a

inversão do ônus da prova pode não ser o critério mais seguro,

por não se basear em prova direta para firmar sue convencimento,

mas ante a real dificuldade do consumidor em colher a prova nas

relações de consumo, para demonstrar a verdade de suas

alegações e proteger seus direitos, é o menor mal entre os

maiores que existem.

Embora que a inversão do ônus da prova ter sido admitida

para facilitar a defesa dos direitos do consumidor, baseado no julgamento do

magistrado continua sendo pelo sistema da livre convicção motivada, baseado no

artigo 6º VIII, do Código de Proteção do Consumidor, cabendo-lhe apenas a

faculdade para decidir a respeito da verossimilhança e a hipossuficiência das

alegações do consumidor.

Na lição de Silva92:

Havendo possibilidade de determinar a inversão do ônus da prova

a favor do consumidor, por certo o juiz o fará. Mas, se no curso da

instrução processual não fica provada a declaração do

90 Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditiva, modificativa ou extintiva do direito do autor. Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando: I - recair sobre direito indisponível da parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. 91 Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - (...) II - (...) III - (...) IV - (...) V - (...) VI - (...) VII - (...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossimilhança a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. 92 SILVA, César Antônio da. Ônus e qualidade da prova no cível. 1 ed., Rio de Janeiro: Aide, 1991, p. 185.

59

consumidor, ou que a prova tenha sido insuficiente, poderá, de

ofício, ordenar às diligências que entender necessárias ao

esclarecimento da causa e, assim, poder decidir pela procedência

ou improcedência da ação, de acordo com seu livre

convencimento.

Explica Kriger Filho93:

[...] a fim de propiciar a produção de bens e prestação de serviços

mais eficientes, que se enquadre aos interesses dos

consumidores, o legislador instituiu a responsabilidade civil

objetiva como regra para chamar à responsabilidade o produtor ou

fornecedor, tal teoria, cabe ao consumidor provar apenas o nexo

causal entre o fato ou vício do produto e serviço e o prejuízo que

sofreu, para que fornecedor ou prestador de serviços seja

chamado à reparação. A única exceção a esta regra é a

responsabilidade dos profissionais liberais, que continua regrada

pela responsabilidade dita subjetiva.

No julgamento destas espécies de lides, os juízes devem

evitar que o consumidor inescrupuloso aja de má-fé, enriquecendo-se à custa

alheia.

Cabe buscar os responsáveis pelos vícios dos produtos

impróprios, para que os consumidores lesados sejam devidamente reparados.

2.5 CASOS DE EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE

As excludentes de responsabilidade têm como função de

distribuir os riscos do inter-relacionamento humano, em questões contratuais e

também em questões extracontratuais.

Ensina Silva94 que as cláusulas de exclusão visam a “[...]

propiciar um equilíbrio de interesses entre o lesado e o produtor”.

93 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de defesa e

proteção do consumidor, p. 83.

60

Explica Gomes95:

[...] nas relações de consumo ocorrem peculiaridades em relação

às atividades de direito comum. Nas relações de consumo, o risco

é da essência da atividade do fornecedor, sendo previsto como

parte dos custos da fabricação, produção, importação e

comercialização dos produtos. Ao contrário dos fornecedores, o

consumidor é vulnerável na relação de consumo, sofre ele os

danos em maior grandeza, com maiores repercussões.

As excludentes são estabelecidas em relação das atividades

exercidas pelo fornecedor, e sendo o risco o verdadeiro preço do lucro, devendo

recair com maior peso o risco do dano porventura causado pelos produtos que

eventualmente lançados no mercado.

Segundo Gomes96:

Estabelece-se como regra a responsabilidade do fornecedor pelos

danos causados pelos produtos que insira no mercado. A

responsabilidade pelas imperfeições do produto ou serviço divide-

se em responsabilidade por fato do produto ou serviço e em

responsabilidade por vício de produto ou serviço. Cada uma delas

possui peculiaridades quanto às causas que excluem o dever de

ressarcir pelos danos provocados por produtos ou serviços,

devendo sempre ser conjugadas as excludentes com a

responsabilidade com a qual se relaciona.

Ainda nas palavras de Gomes:

O princípio que rege a legislação do consumo é o da máxima

reparação dos danos causados ao consumidor. Nestes termos, o

norte interpretativo é concentrar a responsabilidade pelos danos

causada a produtos e serviços sobre o fornecedor, já que este

assumiu o risco de desenvolver a atividade com intuito de auferir

proveitos. Assim, a responsabilidade do fornecedor somente deve

ser afastada em circunstâncias restritas, de modo que as

excludentes de responsabilidade somente atuarão quando

94 SILVA, João Galvão da. Responsabilidade civil do produtor. Coimbra: Almedina, 1990, p. 717.

95 GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil dano e defesa do consumidor, p. 196. 96 GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil dano e defesa do consumidor, p. 197.

61

expressa no Código de proteção e defesa do consumidor ou

disserem respeito a causas que desconstituam o nexo de

causalidade.

Importante comentar que a causa de exclusão de

responsabilidade não se confunde com carência de culpa. A responsabilidade do

fornecedor independe da culpa. Sendo que a exclusão da obrigação de reparar

não atua no campo volitivo do sujeito, mas sim na área objetiva do fato que

causou o dano, na relação fática consumidor e produto (ou serviço), desprezando-

se o comportamento do fornecedor diante do defeito, se foi ele diligente ou

imprudente não importa sequer averiguar.

Verifica-se no Código Civil, que a lei distingue legitimidade à

prática de atos lesivos em determinadas circunstâncias extraordinárias, retirando

o caráter ilícito desses atos. Sendo assim, não se consideram atos ilícitos os

cometidos em legítima defesa, no exercício regular de um direito reconhecido ou

no estado de necessidade.

Segundo Diniz97:

[...] a legítima defesa exclui a responsabilidade pelo prejuízo

causado se, com uso moderado de meios necessários, alguém

repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de

outrem. Exercício regular de um direito reconhecido - se alguém

no uso normal de um direito lesar outrem não terá qualquer

responsabilidade pelo dano, por não ser um procedimento ilícito.

Só haverá ilicitude se houver abuso do direito ou seu exercício

irregular ou anormal. O estado de necessidade consiste na ofensa

do direito alheio para remover perigo iminente, quando as

circunstâncias o tornarem absolutamente necessário e quando

não exceder os limites do indispensável para a remoção do

perigo98.

Sendo assim, as causas que excluem a Responsabilidade

das Instituições Financeiras, constam no artigo 14 § 3 e inciso I do CDC “O

97 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 153. 98 RT, 395:289, 393-354, 180-226, 163:642 e 509:69.

62

fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar” e também o

inciso “que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste”.

Na relação de consumo, o nexo causal não se exige do

consumidor uma prova concreta e definitiva, sabe-se que quase impossível provar

uma falha no sistema do banco, bastará uma prova de primeira aparência, prova

de verossimilhança, decorrente de regras de experiência comum.

Já que para o consumidor é praticamente impossível

produzir provas técnicas ou científicas do defeito, o que para o fornecedor isso é

perfeitamente possível. O fornecedor que prestou o serviço tem condições de

provar que o seu serviço não tem defeito. O que não se pode transferir o ônus da

prova para o consumidor.

Provando-se a inexistência do defeito, o dever de indenizar o

fornecedor pela ausência de relação de causalidade entre o acidente de consumo

e o serviço defeituoso apresentado.

As instituições financeiras ainda poderão excluir a sua

responsabilidade provando que o fato ocorreu exclusivamente por culpa do

consumidor ou de terceiro, conforme artigo 14 § 3 e inciso II do Código de defesa

do consumidor99, sendo que nesses casos não existiram defeitos do serviço.

Exemplificando-se essa situação, quando a vítima estiver

devidamente informada, faz uso incorreto do talão de cheques ou do cartão de

crédito, consentindo que caia nas mãos de falsários ou de assaltantes, e não

avisa o banco. Neste caso, não haverá nenhuma responsabilidade da instituição

financeira, visto que o fato exclusivo da vítima ou de terceiro excluem o nexo

causal.

99 A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

63

CAPÍTULO 3

ANÁLISE DE CASOS

3.1 REPARAÇÃO DE DANOS

A expansão dos serviços bancários destinados à obtenção

do público consumidor, baseado numa expectativa de necessidade e

oportunidade do consumidor.

Descreve Abrão100:

[...] constitui-se o prejuízo numa circunstância proveniente da ação

ou omissão da instituição financeira, motivando por ângulos direto

a de natureza objetiva restrita à direção e prática de dano que

comprometa as relações de massa, afetando o consumidor, cuja

tutela poderá ter viabilização mediante ação coletiva proposta por

entidades organizadas na consecução de dirimir o litígio, com

efeito, erga omnes101.

As questões envolvem danos materiais e de natureza moral,

de acordo com a vítima, na relação de causa e efeito emergente da prestação do

serviço ou atrelado à operação bancária.

Na relação assentada do Código de defesa do consumidor,

a denunciação da lide se torna inviável, facultando-se o regresso, sendo exercido

em lide autônoma, se porventura houver a responsabilidade da instituição

financeira, manifestando-se o Tribunal de Justiça de São Paulo:

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS – DENUNCIAÇÃO DA LIDE –

INSTITUTO VEDADO PELO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS

– EXTRAVIO DE TALONÁRIOS DE CHEQUES – VÍNCULO

100 ABRÃO, NELSON. Direito bancário, p. 361. 101 Contra todos

64

ENTRE DENUNCIANTE E DENUNCIADO DIVERSO DE

EXISTENTE ENTRE AUTORA E RÉU – DEMANDA INCIDENTAL

QUE INTRODUZIRIA FATO JURÍDICO NOVO – AGRAVO NÃO

PROVIDO102.

Nos dizeres de Toledo103, o dano em sentido lato é uma

lesão que atinge um bem jurídico que é “[...] toda situação social desejada que o

direito quer garantir contra lesões”.

Quando se contrata um empréstimo e estiver buscando

saber qual a correção do capital e dos acessórios, por não suficientemente claros

nos demonstrativos remetidos, simples dizer que compete às instituições

financeiras deixar claro e sem dúvida a eficácia dos índices anotados.

Nas palavras de Gomes104:

[...] como situação social, deve-se entender a situação jurídica de

um indivíduo ou de uma coletividade determinada ou não. Nem

toda ofensa a um bem jurídico causa um dano no sentido técnico

do termo. Somente a ofensa que resulta em uma deterioração

efetiva do bem configura um dano. Henri de Page define o dano

como uma lesão a um direito105.

Ainda nas palavras de Gomes em sentido amplo, lesão a

qualquer bem jurídico, em sentido estrito, é a lesão ao patrimônio:

[...] desta forma, a tentativa malsucedida não causa um dano,

apesar de atentar contra o bem jurídico. O dano é elemento

essencial para a formação da obrigação de indenizar. O dano

advém de uma lesão a um direito ou a um interesse amparado por

lei. No entanto, a existência do dano em sentido jurídico depende

de que haja um sujeito interessado a quem o dano afete.

102 AgI 32.628-4-SP, Rel. Des. Franciulli Netto, j. 18-2-1997, Lex, 189:207-9. 103TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. São Paulo: Saraiva, 1994, p.16.

104 GOMES, Kokke Marcelo. Responsabilidade civil dano e defesa do consumidor, p. 27. 105 DEPAGE, Henri. Op. Cit. , n˚ 948. Apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade

civil. Rio de Janeiro: Forence, 1997, p. 38.

65

Conforme explica Venosa106:

[...] o dano consiste no prejuízo sofrido pelo agente. Pode ser

individual ou coletivo, moral ou material, ou melhor, econômico e

não econômico. A noção, de dano sempre foi objeto de muita

controvérsia. Na noção está sempre presente a noção de prejuízo.

Nem sempre a transgressão de uma norma ocasiona o dano.

Somente haverá possibilidade de indenização, como regra, se o

ato ilícito ocasionar dano. Cuida-se, portanto, do dano injusto,

aplicação do princípio pelo qual ninguém é dado prejudicar

outrem. Em concepção mais moderna, pode-se entender que a

expressão dano injusto traduz a mesma noção de lesão a um

interesse, expressão que se torna mais própria modernamente,

tendo em vista ao vulto que tomou a responsabilidade civil.

Falamos anteriormente que, no dano moral, leva-se em conta a

dor psíquica ou mais propriamente o desconforto comportamental.

Trata-se, de última análise, de interesses que são atingidos

injustamente. O dano ou interesse deve ser atual e certo, não

sendo indenizáveis, a princípio, danos hipotéticos. Sem dano ou

sem interesse violado, patrimonial ou moral, não se corporifica a

indenização. A materialização do dano ocorre com a definição do

efetivo prejuízo suportado pela vítima.

Os danos decorrentes de atividades do fornecedor de

produtos e serviços devem ser cabalmente indenizados, no âmbito da

responsabilidade objetiva, abrangendo tanto os danos morais como os danos

materiais.

Comenta Venosa107:

[...] quando se tratar, porém, de vício do produto ou do serviço,

nem sempre a reparação será uma soma em dinheiro, pois o

Código de defesa do consumidor estabelece alternativas no

sentido de permitir a substituição do produto ou o refazimento do

serviço defeituoso. No artigo 18 do Código de defesa do

consumidor108 trata do defeito do produto por vícios de qualidade

106 VENOSA, Sílvio de Salvo. Responsabilidade civil, p. 33. 107 VENOSA, Sílvio de Salvo. Responsabilidade civil, p. 206. 108 Os fornecedores de produtos de consumo duravam ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou

66

ou quantidade, impropriedade ou inadequação para a respectiva

finalidade.

Basicamente, o fornecedor se não trocar o produto em 30

dias, abre-se a tríplice alternativa para o consumidor.

Na ação de indenização decorrente de ato ilícito, busca-se a

reparação de um prejuízo e não obtenção de vantagem. O dano decorre de um

inadimplemento contratual, sendo o próprio contrato balizará o ressarcimento.

Venosa109 explica que “[...] sendo ele o dano patrimonial,

aquele suscetível de avaliação pecuniária, podendo ser reparado por reposição

em dinheiro, denominador comum da indenização”.

mensagem publicitária respeitada as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

§ 1º. Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 (trinta) dias pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 2º. Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a 7 (sete) nem superior a 180 (cento e oitenta) dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

§ 3º. O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

§ 4º. Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I, do § 1º, deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III, do § 1º, deste artigo.

§ 5º. No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

§ 6º. São impróprios ao uso e consumo:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;

III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. 109 VENOSA, Sílvio de Salvo. Responsabilidade civil, p. 36.

67

Dano emergente é aquele que mais se realça à primeira

vista, o chamado dano positivo, demonstra uma diminuição de patrimônio, uma

perda por parte da vítima: aquela coisa que efetivamente perdeu. Geralmente, na

prática, é o dano mais facilmente avaliável, porque depende de danos concretos,

como um abalroamento de veículo, o valor do dano emergente é o custo para

repor a coisa em estado anterior, sendo perda total será o valor do veículo.

O lucro cessante o que a vítima deixou de lucrar, trata-se de

uma projeção do que a vítima teria recebido se não tivesse ocorrido o dano.

Assim, no exemplo do veículo sinistrado, tem-se que calcular quanto seu

proprietário deixou de receber com os dias parados sem poder utilizar o veículo.

Se o veículo pertencia a um taxista, evidente que o lucro cessante será calculado

de forma diversa do que para o proprietário do veículo utilizado exclusivamente

para lazer.

Na experiência de magistrado, comenta Cavalieri110:

[...] não é fácil, como se vê, estabelecer até onde o fato danoso

projeta sua repercussão negativa no patrimônio da vítima. Nessa

tarefa penosa, deve o juiz valer-se de um juízo de razoabilidade,

de um juízo causal hipotético, que, segundo Larenz, seria o

desenvolvimento normal dos acontecimentos, caso não tivesse

ocorrido o fato ilícito gerador da responsabilidade civil. Deve o juiz

mentalmente eliminar o ato ilícito e indagar se aquilo que está

sendo pleiteado a título de lucro cessante seria a conseqüência de

o normal desenrolar dos fatos; se aquele lucro poderia ser

razoavelmente esperado, caso não tivesse ocorrido o ato ilícito.

A reparação dos danos decorre de um inadimplemento

contratual, sendo que o próprio contrato balizará o ressarcimento.

110 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil, p. 73.

68

3.2 INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE RESTRIÇÕES AO CRÉDITO

O tratamento deste tema é um tanto constrangedor, visto

que não raro tais órgãos de restrição são utilizados como instrumentos ilegítimos

de pressão ao pagamento do que é devido.

De acordo com a revista Forense111:

[...] como conciliar tal entendimento, louváveis e profiláticos à

saúde do sistema de crédito, tanto ao tomador quanto ao

prestamista, com os abusos que rotineiramente se vêem nas

centenas de demandas ajuizadas contra os bancos. Ensina a

prática forense que, apesar do banco que tem algum crédito

inadimplido apresentar-se em juízo como uma vista ultrajada,

utiliza-se ele de sofisticadas técnicas de engenharia financeira

para maximizar ilegalmente seu lucro.

Ainda na revista:

[...] isso porque não é de se esperar que um homem médio possa

lidar com a complexidade dos meandros da matemática

financeira, sendo oportuno trazer à ilustração o exame pericial

obtido no processo n˚ 466/95 (Ruzi vs. Banco Cidade), qual

tramitou frente ao Juízo 34ª Vara Cível do Foro de Central de São

Paulo – SP, de onde se colhe o seguinte excerto: Pode o senhor

perito dizer, com toda segurança, pela larga experiência que

hhhhhhhhhhhhā─�� Īhca financeira, se é possível ao

homem médio, que não seja técnico, calcular os valores das

contraprestações do arrendamento, na vigência do contrato, ou os

cálculos somente são acessíveis a técnico em matemática-

financeira.

Resposta: Impossível seria imaginar que um homem médio

tivesse discernimento para entender e calcular os valores das

contraprestações do arrendamento, na vigência do contrato, como

demonstrado nas repostas oferecidas aos quesitos das partes.

Vale lembrar que as instituições financeiras possuem em seus

quadros técnicos profissionais altamente qualificados para

executar as tarefas de cálculos financeiros, sendo esses em sua

111 REVISTA FORENSE, Publicação bimestral volume 362, 1 vol., – 2002 Rio de Janeiro: Forense. 2002, p. 65.

69

maioria engenheiros ou administradores de empresas

especializadas em finanças.

São argumentos que servem para corroborar que, não

sendo técnico na matemática bancária, é impossível saber exatamente o que o

Banco está cobrando.

Não obstante disto, é certo que os bancos arvoram-se em

cima do bem e do mal para inscrever o que eles bem entendem nos dados de

restrição ao crédito.

Vale a pena lembrar que o regulamento nacional dos bancos

de dados, mais conhecido o SPC entidade de natureza igual ao SERASA

(Sociedade anônima de capital fechado que tem como acionistas a maioria dos

bancos instalados no país, que rege no seu artigo 26 de seu regulamento

nacional determina que “[...] caso exista comprovado litígio judicial acionado pelo

devedor sobre a certeza da dívida, a informação do registro deverá ser suspensa,

após regular citação”).

Não observado tal exercício pelo banco, que, notificado,

deverá interromper a divulgação do registro enquanto se processa a discussão

sobre a certeza do débito, caso não seja suspensa à divulgação, poderá o

recompor o dano respectivo, seja moral ou patrimonial.

3.3 INCLUSÃO NA SERASA E SPC

A Serasa - Centralização de serviços dos bancos S. A., foi

criada em 1968 de uma atuação cooperada entre bancos que procuravam

informações rápidas e seguras para dar suporte às decisões de crédito e

operações bancárias. O serviço da Serasa era centralizar a confecção de ficha

cadastral única, compartilhada por todos os bancos associados, com redução de

custos administrativos para os bancos e cidadãos.

70

A partir da década de 90, a Serasa avançou para todos os

segmentos da economia e para empresas de todos os portes. A evolução da

Serasa ocorreu principalmente na última década, visto as grandes atuações em

micros, pequenas e médias empresas.

As empresas necessitavam de informações baratas e

seguras para decisões de crédito de seus clientes, antes privilégio somente de

grandes corporações associadas. As informações da Serasa ampararam as

empresas a vender e a comprar, diminuindo os riscos comuns nesses negócios.

A existência do banco de dados como SERASA –

Centralização de Serviços dos Bancos S. A. e SPC – Serviço de Proteção ao

Crédito, de caráter privado, tem como objetivo registrar os fatos desabonatórios

ocorridos na vida dos consumidores, com a finalidade de permitir ao comércio

mais segurança na prática do crediário.

Praticamente, quase todos os dias, as empresas são

condenadas a indenizar por danos morais resultantes de inscrição indevida do

consumidor nos bancos de dados da SERASA e SPC de consumidores

inadimplentes.

Existem cinco maneiras de o seu nome ser cadastrado na

Serasa:

� Devolução de cheques sem fundos;

� Anotação de títulos protestados;

� Anotação de ação judicial (execução de título judicial e extrajudicial busca

e apreensão de bens, falência e concordata);

� Anotação de dívida vencida (pendência bancária ou financeira);

� Ação de execução fiscal federal.

Devolução de cheques sem fundos:

71

A devolução de cheque sem fundos, ocorre quando uma

pessoa emite um cheque sem fundos e este é devolvido duas vezes pelo banco.

Neste caso, para regularizar esta situação o emitente deverá:

a) procurar a agência do banco indicado como apresentante da ocorrência de

cheque sem fundos;

b) solicitar ao banco informações sobre o número, valor e data do cheque;

c) verificar nos canhotos de cheques em seu poder para quem foi emitido o

cheque e procurar a pessoa ou a empresa para regularizar o débito e recuperar o

cheque;

d) de posse do cheque, recolher no banco a taxa pela devolução do cheque e

protocolar uma cópia dos documentos entregues ao banco;

e) a regularização do CCF - Cadastro de emitentes de cheques sem fundos, da

Serasa, é feita pelo Banco Central. O banco em que a pessoa mantém a conta-

corrente envia ao Banco Central todos os documentos comprobatórios de que a

situação foi regularizada;

f) a regularização de cheques sem fundos só ocorre após o banco enviar o

comando específico para a Serasa, por meios magnéticos. O tempo de espera é

de, no mínimo, 10 dias úteis.

Se, por qualquer motivo, uma pessoa deixar de pagar um

título ou uma dívida assumida e quem concedeu o crédito protestar o débito em

cartório, é necessário:

a) dirigir-se ao cartório que registrou o protesto e solicitar uma certidão, a fim de

obter os dados de quem o protestou;

b) comunicar-se com quem o protestou, regularizar o débito e pedir uma carta

indicando que a dívida foi regularizada;

c) reconhecer a firma da pessoa/empresa, retornar ao cartório onde consta o

registro do protesto e solicitar o seu cancelamento;

72

d) após o cancelamento do protesto no cartório, entregar a certidão na Serasa

para a baixa da anotação em seus arquivos. O tempo de espera é de, no mínimo,

cinco dias úteis.

Anotação de ação judicial (execução de título judicial e

extrajudicial busca e apreensão de bens, falência e concordata).

A anotação de ação judicial ocorre quando uma pessoa

figura como réu em uma ação e esta ação refere-se à execução de dívida ou de

busca e apreensão de bens ou, ainda, se for pedida a falência de uma empresa

na qual o cidadão tenha participação societária.

Neste caso, é necessário:

a) dirigir-se ao Fórum e Vara referentes seu processo e certificar-se de que ele já

foi julgado em juízo e que se encontra arquivado ou extinto;

b) a certificação é obtida por meio de cópia do despacho do juiz ou de certidão

emitida pela Vara Cível no qual o processo foi distribuído;

c) de posse da comprovação da existência de embargo à execução, penhora ou

extinção do processo, entregue-a na Serasa. Tudo pode ser feito, no mínimo, em

5 dias úteis.

Dívida vencida (pendência bancária ou financeira):

Uma pessoa que tem uma pendência bancária, ou

financeira, cuja dívida está vencida ao ter seus dados cadastrados nos

computadores da Serasa, será comunicado por carta, via correio, na qual será

identificada a instituição ou empresa credora. Deve-se:

a) procurar a instituição ou empresas credoras, que enviará comando específico

para a SERASA executar à baixa da anotação. O tempo de espera é de 10 dias

úteis.

73

Se uma pessoa tiver alguma pendência com um órgão

federal, porque deixou de pagar impostos, taxas ou contribuições federais, é

necessário:

a) dirigir-se até o Fórum e Vara referente ao seu processo e certificar-se de que

ele já foi julgado em juízo e que se encontra arquivado ou extinto. (Caso você não

saiba a que Fórum se dirigir, peça a Justiça Feral uma certidão dos seus

processos em andamento, assim você obterá o Fórum e Vara no qual seu

processo está tramitando):

b) a certificação é obtida por meio de cópia do despacho do juiz ou de certidão

emitida pela Vara Cível onde o processo foi distribuído;

c) de posse da comprovação da existência de embargo à execução, penhora ou

extinção do processo, entregue-a na Serasa. O tempo de espera é de, no mínimo,

cinco dias úteis.

O SPC inclui-se entre os bancos de dados cadastrados de

consumidores expressamente previstos na referida Lei nº. 8.078 de 1990, nos

seus artigos 43 a 45:

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no artigo 86, terá

acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros

e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como

sobre as suas respectivas fontes.

§ 1º. Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos,

claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não

podendo conter informações negativas referentes a período

superior a 5 (cinco) anos.

§ 2º. A abertura de cadastro ficha, registro e dados pessoais e de

consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor,

quando não solicitada por ele.

§ 3º. O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus

dados e cadastros poderá exigir sua imediata correção, devendo o

arquivista, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, comunicar a alteração

aos eventuais destinatários das informações incorretas.

74

§ 4º. Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores,

os serviços de proteção ao crédito e congêneres são

considerados entidades de caráter público.

§ 5º. Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do

consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de

Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir

ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores.

Art. 44. Os órgãos públicos de defesa do consumidor manterão

cadastros atualizados de reclamações fundamentais contra

fornecedores de produtos e serviços, devendo divulgá-lo pública e

anualmente. A divulgação indicará se a reclamação foi atendida

ou não pelo fornecedor.

§ 1º. É facultado o acesso às informações lá constantes para

orientação e consulta por qualquer interessado.

§ 2º. Aplica-se a este artigo, no que couber, as mesmas regras

enunciadas no artigo anterior e as do parágrafo único, do artigo

22, deste Código.

Art. 45. (Vetado).

Algumas condenações constituem a aplicação da regra

contida no artigo 186 do Código Civil Brasileiro112, que tem como obrigação de

indenizar os danos causados de atos ilícitos.

Conforme a jurisprudência preceitua:

SERASA – INSCRIÇÃO DE NOME DE DEVEDORA – FALTA DE

COMUNICAÇÃO – A pessoa natural ou jurídica que tem o seu

nome inscrito em cadastro de devedores tem o direito de ser

informado do fato. A falta dessa comunicação poderá acarretar a

112 Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

114 STJ – RESP 285401 – SP – 4ª T. – Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar – DJU 11.06.2001 – p. 00232.

75

responsabilidade da entidade que administra o banco de dados.

Recurso conhecido e provido, para julgar procedentes as ações114.

Ainda nas palavras de Felipe

[...] a atividade bancária tem diferente de outras, a proteção e o

sigilo. Assim há quem sustente que o banco, ao comunicar a

dívida de um cliente seu a um órgão de defesa do crédito, estaria

ferindo o sigilo bancário. Não pensamos assim. A admitir-se tal

tese o banco não poderia nem ingressar em Juízo com cobrança,

porque o processo é público. O que o banco não pode é violar o

sigilo daquele que está cumprindo o contrato firmado. O

inadimplente tem também o direito a seu sigilo, mas fala mais alto,

aí, o direito do credor de buscar ressarcir-se do prejuízo.

Aderindo-se a esses bancos de dados, os bancos

comprometem-se a fornecer dados de seus arquivos, dos clientes com restrições

ao crédito, recebendo, em contrapartida, as informações cedidas pelas outras

instituições participantes, num verdadeiro intercâmbio de dados e informações.

A Serasa não envia e-mails para notificação ou verificação

de pendências financeiras.

Quem utiliza o nome da Serasa para instalar cavalo de

tróia115, em que o Hacker116 com e-mails impróprios, ao receber, delete

imediatamente as mensagens.

Ao receber qualquer e-mail com esse tipo de mensagem,

recomenda-se sua delação imediata, sem que seja aberto qualquer arquivo

anexado ou clicado o link oferecido. Trata-se de um SPAM117 fraudulento.

115 Programa enviado anexo a um e-mail, que se apresenta sob a inofensiva aparência de jogo, protetor de tela, figura ou outro aplicativo qualquer, que quando executado permite ao remetente o acesso remoto, por meio de protocolo ao computador, onde se instalou, sempre que este estiver conectado à rede. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

116 Aficionado por informática, profundo conhecedor de linguagens de programação, que se dedica à compreensão mais íntima do funcionamento de sistemas operacionais e a desvendar códigos de acesso a outros computadores. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

76

Caso ocorra visita ao site embutido na mensagem, o usuário

receberá um comunicado padrão tal como “nada consta no seu nome” e, sem seu

conhecimento, será instalado um aplicativo no computador denominado

Keylogger118.

Por meio desse trojan119, o interessado na fraude obtém

informações sobre contas e senhas na Internet.

A primeira orientação para esses casos é a não utilização

desse computador para transações bancárias enquanto não for detectado,

combatido e anulado o trojan. Em seguida, comunique e consulte o seu

fornecedor de software120 de vacina antivírus sobre quais são os procedimentos

para que o trojan seja eliminado.

Sendo assim, não tendo havido prescrição do direito do

credor de cobrar o contrato inadimplido, os órgãos de proteção ao crédito têm o

direito de receber e informar a seus conveniados os devedores inadimplentes,

confirmado no próprio Código de defesa do consumidor que diz no seu artigo 43

parágrafo 5121, que consumada a prescrição, os Sistemas de Proteção ao Crédito

não poderão interferir ou dificultar novo acesso ao crédito.

Conforme a jurisprudência preceitua:

117 Mensagem não solicitada enviada por correio eletrônico a um grande número de destinatários, contendo correntes, publicidade, material pornográfico, propostas de enriquecimentos fáceis, pedidos de ajuda para pessoas necessitadas, histórias absurdas, etc. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

118 Leitor de teclado. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

119 Cavalo de tróia. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

120 Termo usado por analogia a hardware. Conjunto de instruções, programas e dados a eles associados, empregados durante a utilização do computador. O mesmo que programa ou aplicativo. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

121 Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de proteção ao crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores.

77

AÇÃO DECLARATÓRIA – CANCELAMENTO DE REGISTRO NA

SERASA – ART. 43, § 1º, CDC – SÚMULA Nº 13, TJRS – Não se

confunde prescrição da força executiva do título com prescrição

da ação de cobrança – vintenária –, o que permite a manutenção

do registro na SERASA pelo prazo de 5 anos, a teor do disposto

no art. 43, § 1º, CDC, combinado com a Súmula nº 13 do TJRS.

Apelação desprovida122.

Os serviços de proteção ao crédito são necessários, uma

vez que preenchem a uma necessidade do mercado.

Portanto, quando tiver carência de informações dos clientes

com restrições, possibilitará o mesmo obter crédito em outras instituições,

prejudicando assim o novo credor colocando em risco todo o Sistema de Proteção

ao Crédito.

3.4 DANO MORAL NO ÂMBITO DAS OPERAÇÕES BANCÁRIAS

As instituições financeiras, de um modo geral, encontram-se

mais expostos a sofrer ações de reparação por danos morais.

Conforme explica Venosa123:

[...] reparação de danos morais, embora admitidas pela doutrina

majoritária anteriormente à Constituição de 1988, ganhou enorme

dimensão entre nós somente após o preceito constitucional. Com

a Lei Maior expressa, superou-se a renitência empedernida de

grande massa da jurisprudência, que rejeitava a reparação de

danos exclusivamente morais.

Ainda nas palavras de Venosa:

[...] o protesto indevido de um cheque, por exemplo, causará

sensível dor moral a quem nunca sofreu essa experiência, mas

será particularmente indiferente ao devedor contumaz. A dor 122 TJRS – APC 70002218410 – 17ª Câmara Cível – Rel. Des. Alexandre Mussoi Moreira – J. 13.03.2001.

123 VENOSA, Sílvio de Salvo. Responsabilidade civil, p. 39.

78

psíquica, o vitupério da alma, o achincalhe social terão pesos e

valores diversos, dependendo do tempo e do local onde os danos

foram produzidos. O dano moral é a dor, tomando o vocábulo em

sua lata expressão. E a Fisiologia e a Psicologia não estabelecem

diferenciações para ela, salvo no tocante às suas causas. O dano

moral abrange também e principalmente os direitos da

personalidade em geral, direito à imagem, ao nome, à privacidade,

ao próprio corpo, etc. Por essas premissas, não há que se

identificar o dano que ocasiona um distúrbio anormal na vida do

indivíduo; uma inconveniência de comportamento ou, como

definimos, um desconforto comportamental a ser examinado em

cada caso. Ao se analisar o dano moral, o juiz se volta para a

sintomatologia do sofrimento, a qual se não pode ser valorada por

terceiro, deve, no caso, ser quantificada economicamente.

Assim, podem-se analisar três aspectos relevantes, de

maneira especial ligados aos grandes bancos de varejo:

a) impessoalidade entre banco e cliente, o que encurta

comunicação, de forma a dificultar o tratamento.

b) rigor e excesso de formalismo no atendimento de normas,

internas ou externas estipuladas pelos bancos.

c) dificuldade nas decisões de funcionários burocratas e

mesmo gerentes.

São essas razões que absolutamente não esgotam todas as

hipóteses, em que reúnem os pontos de conflito e falhas que acabam

desaguando em questões indenizatórias. Uma apreciação mais adequada dessas

questões precisa ainda ser feito, sobretudo em vista o potencial na

conscientização do cidadão comum, quanto ao dano moral.

Conforme a jurisprudência preceitua:

RESPONSABILIDADE CIVIL – CHEQUE – DEVOLUÇÃO

INDEVIDA – DANO MORAL – O dano moral sofrido com a

indevida devolução de cheque por falta de provisão de fundos

decorre do próprio fato e se constitui no constrangimento da

pessoa que emitiu o título, dano cuja existência se reconhece por

79

um juízo da experiência. Demais questões não pré-questionadas.

Omissão inexistente. Recurso não conhecido124.

CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL – COMPENSAÇÃO

INDEVIDA DE CHEQUE – INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E

MATERIAL – I – Provado o nexo de causalidade entre o

constrangimento de ter o cheque devolvido por insuficiência de

fundos e o erro da Caixa Econômica Federal, faz jus o autor a

indenização pelos danos que lhe foram causados. II – O dano

moral deve ser fixado dentro do princípio da razoabilidade,

estimando-se quantia compatível com a conduta ilícita e a

gravidade do dano por ela produzido. III – Apelação parcialmente

provida125.

Enfatiza Venosa126 que:

[...] temos que levar em conta, por outro lado, além da situação

particular de nosso país de pobreza endêmica e má e injusta

distribuição de renda, que a indenização não pode ser de tal

monta que acarrete a penúria ou pobreza do causador do dano,

pois, certamente, outro problema social seria criado. Os julgados

devem buscar o justo equilíbrio no caso concreto. O dano moral,

mormente o que traz reflexos psicológicos, pode ser maior do que

a vítima supõe ou menor do que ela acredita. Se nem mesmo a

própria vítima, freqüentemente, tem condições de avaliar seu

dano, o que se dirá de terceiros que a julgarão.

Todas as pessoas têm direito ao crédito, esta é uma questão

que começa a ser discutida, diz respeito ao direito ao crédito, como subproduto do

direito ao consumo.

Faz-se necessário conceituar o que é instituição financeira.

O artigo 17 da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que estabelece:

Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos de

legislação em vigor, as pessoas jurídicas, públicas ou privadas,

que tenham como atividade principal ou acessória a coleta,

124 STJ – RESP 296929 – PB – 4ª T. – Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar – DJU 07.05.2001 – p. 152. 125 TRF 2ª R. – AC 2000.02.01.055733-3 – RJ – 2ª T. – Rel. Juiz Castro Aguiar – DJU 21.06.2001. 126 VENOSA, Sílvio de Salvo. Responsabilidade civil, p. 41.

80

intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de

terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor

de propriedade de terceiros.

Deduz-se, logicamente, que emprestar dinheiro às pessoas

jurídicas ou físicas constitui uma prática de fornecimento de serviço e que o

mutuário seria consumidor final.

Com base nessa argumentação e amparado no disposto no

artigo 39 do Código do Consumidor127, que estabelece proibição de recusar

atendimento aos consumidores.

127 Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada ao "caput" pela Lei nº 8.884, de 11.06.1994).

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes;

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes;

VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos;

VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes, ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - CONMETRO;

IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; (Inciso acrescentado pela Lei nº 8.884, de 11.06.1994)

X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços; (Inciso acrescentado pela Lei nº 8.884, de 11.06.1994);

XI - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido. (NR) (Inciso acrescentado pela Medida Provisória nº 1.890-67, de 22.10.1999, DOU 25.10.1999)

XII - deixar de estimular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. (Inciso acrescentado pela Lei nº 9.008, de 21.03.1995)

XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido. (Inciso acrescentado pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999, DOU 24.11.1999 - Ed. Extra)

81

O mercado de consumo tem um significado unitário e não

abrange, evidentemente, todas as obrigações de troca, produção e circulação de

bens e serviços.

O consumo por parte do consumidor, em apropriação

definitiva da coisa a ser utilizada ou do serviço prestado e, nos compêndios de

economia, encontra-se a diferença entre consumo, e utilização intermediária da

coisa ou do serviço.

3.5 PROTESTO INDEVIDO

O protesto é uma forma de declarar a mora oficial do

sacado, pelo não pagamento ou aceite da cambial de um ato oficial da realização

da promessa de pagamento.

O direito do portador da indicação do protesto é cada vez

mais um instrumento coativo de obtenção do direito ao crédito.

Cabe a Instituições agregarem as informações pelo país,

como o SPC – Serviço de Proteção ao Crédito e também a SERASA –

Centralização de Serviços dos Bancos S. A., a fim de interligar as informações.

O protesto tem por finalidade garantir o direito regresso

contra os endossantes e avalistas, caso não haja pontualidade por parte do

sacado.

O prejuízo torna-se iminente quando é encaminhado para

cartório um título devidamente pago, cabendo ressarcimento por parte do banco.

Conforme jurisprudência preceitua:

DANOS MORAIS – PROTESTO INDEVIDO DE DUPLICATA –

INCLUSÃO DO NOME DA AUTORA NO CADASTRO DE Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.

82

INADIMPLENTES – FIXAÇÕES DO VALOR DA INDENIZAÇÃO –

PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE – 1. A negligência

da instituição bancária, que levou indevidamente a protesto título

de crédito, com posterior inclusão do nome da cliente nos

cadastros de devedores inadimplentes, gera o dever de indenizar

por danos morais. 2. Embora não se possa fixar um preço para a

dor, a indenização visa a alcançar alguma satisfação pelo

constrangimento sofrido. Para o arbitramento do valor, devem ser

consideradas a gravidade objetiva do dano causado e sua

repercussão na vida do prejudicado. 3. Dado parcial provimento

ao recurso tão-somente para reduzir o valor da condenação.

Unânime128.

Coelho129 explica a desmaterialização de um título:

[...] com a desmaterialização do título de crédito, tornaram-se as

indicações a forma mais comum de protesto. A duplicata, hoje em

dia, não é documentada em meio de papel. O registro dos

elementos que caracterizaram é feito exclusivamente em meio

magnético e assim são enviados ao banco, para fins de desconto,

caução ou cobrança. Se não for realizado o pagamento no prazo,

emite-se o instrumento de protesto por indicação, em meio de

papel, ou seja, a duplicata em suporte de papel é plenamente

dispensável, para a documentação, circulação e cobrança do

crédito, no direito brasileiro, em virtude exatamente do instituto do

protesto por indicações.

Este sistema tem invertido o momento do saque da

duplicata ou sua materialização para o meio físico no prazo não inferior a 30 dias

após a emissão da fatura, como estabelece o artigo 1 da Lei nº 5.474 de 1968130.

O local do protesto é o mesmo do pagamento, conforme

estabelece o artigo 13 da Lei 5.474 de 1968131, devendo os tabelionatos recusar

quando tiver divergência entre a sede do sacado e sua competência territorial.

128 TJDF – APC 19980110584799 – 3ª Tribunal Cível – Relª Desª Sandra de Santis – DJU 10.10.2001 – p. 55. 129 COELHO. Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 12 ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 453.

130 Art. 1º. Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador.

83

O prazo para protestar o título por falta de pagamento é de

30 dias a partir do seu vencimento, sob pena de perda de regresso contra os

avalistas e endossantes.

3.6 DEVOLUÇÃO DE CHEQUES

A devolução de cheques pode causar danos para o

correntista com relação ao seu cadastro.

Nos casos de cheques devolvidos por alguma inexatidão no

preenchimento do cheque, quer quanto a valores quer quanto ao beneficiário ou

data, não haverá cobrança de tarifas de serviços e sequer deverão constar de

qualquer relatório ou relação de emitentes com notas desabonadoras.

Os correntistas que tiverem um cheque devolvido por duas

vezes terão, obrigatoriamente, sua conta encerrada e constarão de uma relação

de correntistas com conta encerrada. A decisão de incluir o correntista neste

cadastro não é do banco, mas decorre de normas reguladoras do sistema

bancário.

O cheque é um título de crédito revestido de certas

formalidades, entre estas, a de ordem de pagamento à vista.

Para Batalha132 o conceito de cheque é “[...] uma ordem de

pagamento à vista, feita por quem dispõe de fundos em poder do sacado, a favor

do beneficiário, ou à sua ordem, ou ao portador".

Coelho133, em sua obra Manual de direito comercial,

conceitua cheque como sendo:

131 § 3º. O protesto será tirado na praça de pagamento constante do título. Redação dada ao parágrafo pelo Decr.- lei nº 436/69.

132 BATALHA, Wilson de Souza Campos. Títulos de crédito, doutrina e jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense, 1989, p. 207.

133 COELHO, Fábio Ulhoa. Código comercial e legislação complementar anotados. 2 ed., São Paulo: Saraiva, 1996, p. 534.

84

[...] uma ordem de pagamento à vista, sacada contra um banco e

com base em suficiente provisão de fundos depositados pelo

sacador em mão do sacado ou decorrente do contrato de abertura

de crédito entre ambos. O elemento essencial do conceito de

cheque é a sua natureza de ordem de pagamento à vista, que não

pode ser descaracterizada por acordo entre as partes.

Conforme jurisprudência preceitua:

ATO ILÍCITO. DEVOLUÇÃO DE CHEQUE. PROVISÃO DE

FUNDO EXISTENTE. ABALO DE CRÉDITO. DANO MORAL.

INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO DESPROVIDO. A reputação

pessoal integra-se no direito da personalidade, como atributo da

honra do ser humano, merecendo, assim, a proteção das normas

penais e das leis civis reparatórias134.

As devoluções de cheques em razão de sustação imotivada

pelo correntista são mais complexas que parecem e podem resultar até em

processos de natureza criminal.

3.7 TRANSAÇÕES ELETRÔNICAS

O emprego de computadores e equipamentos eletrônicos na

realização dos negócios vem proporcionando um crescimento nas últimas

décadas nas relações econômicas.

As instituições bancárias concluíram que a disseminação de

utilização dos meios eletrônicos é possível reduzir custos e agilizar o atendimento.

Conforme explica Silva135:

[...] os bancos investiram e investem maciçamente em novas

tecnologias, oferecendo grande quantidade de serviços e

facilidades visando sempre a diminuir os custos de suas

operações e, por via de conseqüência, aumentar seus lucros. 134 Cahali, Yussef Said. Dano moral. 2 ed., rev. atual., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1998, p. 358). Relator: Des. Sérgio Paladino. Ac. 99.002854-2, 2ª C.C., DJESC de 13.05.1999.

135 SILVA. Geraldo José Guimarães da. Direito bancário e temas afins, p. 555.

85

Ainda nas palavras de Silva:

[...] atualmente, diversos tipos de empréstimos bancários podem

ser realizados através dos terminais eletrônicos e pela Internet.

Basta o cliente estar de posse de seu cartão e de sua senha e, no

caso da Internet, somente da senha, para que ele possa obter um

empréstimo com crédito imediato em conta-corrente, por exemplo.

Os meios eletrônicos entre pessoas distantes entre si e sem

contato físico não surgiram somente com advento da Internet, mas outros meios

ainda continuam sendo usados, tais como o fax e o telex.

Sob este título encerram-se inúmeras operações bancárias,

desde os cartões de débitos, que são em verdade repositórios de dinheiro

eletrônico.

As instituições financeiras utilizam-se dos benefícios

proporcionados pelo comércio eletrônico. Os terminais eletrônicos fazem todo tipo

de transação bancária, também, os sites na Internet.

Têm surgido problemas quanto à segurança entre o cliente e

o banco nas transações bancárias principalmente no que diz respeito à

verificação da autenticidade e da autoria da transação efetuada.

Apesar de inúmeras soluções de hardware136 e software

para preservar a confidencialidade e integridade na segurança de dados, contudo,

possível à violação pela fraude junto ao servidor ou no próprio site. Sabendo que

não existe sistema imune à falha, as notícias dos hakers (piratas de computador),

colocam a cada dia novo vírus137 ou a transgressão do sistema, resta minudenciar

a responsabilidade dos bancos por estas novas modalidades de operações.

136 Parte física de um computador e de seus periféricos. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de

informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006. 137 Programa desenvolvido com intenção nociva, que inserido em um computador, pode causar queda da sua performance, destruição de arquivos e disco rígido, ocupar espaço livre de memória, entre outros danos. As formas mais comuns de contaminação são os disquetes e arquivos enviados por correio eletrônico. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

86

Conforme explica Silva138:

[...] os meios disponíveis para proteção dos documentos digitais

(especialmente a criptografia) são tão ou mais seguros que os

documentos formalizados pelos meios convencionais. Não há

impedimento legal ao contrato eletrônico, exceto para os casos

que a lei prevê forma especial, assim, nos casos em que for

necessário mostrar a existência de toda uma cadeia de fatos e

ações das partes, podendo ser necessário até a mesmo

realização de perícia em equipamentos e servidores, para

comprovar que documentos e e-mails foram trocados entre as

partes, gerando um contrato, embora muito entendam necessária

a elaboração de legislação específica a respeito.

Ainda nas palavras de Silva:

[...] já está disponível a tecnologia da assinatura eletrônica por

meio do uso das chaves públicas e chaves privadas (criptografia

assimétrica), que pode ser usada, por exemplo, nos casos dos

contratos mais complexos e que demandem maior discussão

quanto às cláusulas contratuais, valores, prazos, etc. Nestes

casos, banco e cliente definem as condições contratuais, sendo

elaborado o contrato que será assinado eletronicamente tanto

pelo banco, quanto pelo cliente, utilizando cada qual a sua chave

própria.

Sob esta modalidade, é de se entender que o dado do

domínio absoluto da técnica por apenas uma das partes, os bancos, sendo que o

cliente é apenas responsável pelo sigilo de sua assinatura eletrônica.

Analisando esta situação, o banco a qualquer momento

deverá provar que não houve nenhuma pane no sistema que causou dano, bem

como teria sido o cliente parte desidiosa no uso do meio eletrônico.

Sabe-se pela jurisprudência que:

[...] assim como o depositante não pode adentrar às cancelas para

retirar do caixa o que entende lhe seja devido, assim também o

138 SILVA. Geraldo José Guimarães da. Direito bancário e temas afins, p. 556.

87

banco não pode se apropriar dos recursos existentes na conta-

corrente do cliente139.

Existem meios disponíveis para proteção (criptografia140) tão

mais seguros que os documentos formalizados pelos meios convencionais.

Os contratos que são formalizados eletronicamente, via

terminais bancários, que são considerados como “contratos de adesão”, com

cláusulas definidas pelo banco.

Divulga a FEBRABAN - Federação Brasileira das

Associações de Bancos uma série de dicas para que os clientes evitem golpes

com cartões bancários, cada vez mais freqüentes. Vejam algumas:

Tome especial cuidado com esbarrões e encontros

acidentais, que possam levá-lo a perder de vista, temporariamente, o seu cartão

magnético. Se isso ocorrer, verifique se o cartão que está em seu poder é

realmente o seu, em caso negativo, comunique o fato imediatamente ao banco.

Em caso de retenção do cartão no caixa automático, aperte

as teclas "anula" ou "cancela" e comunique-se imediatamente com o banco.

Tente utilizar o telefone da cabine para comunicar o fato. Se

ele não estiver funcionando, pode tratar-se de tentativa de golpe. Nesses casos,

nunca aceite ajuda de desconhecidos, mesmo que digam trabalhar para o banco,

nem digite senha alguma, na máquina ou aparelho telefônico de terceiros.

Se alguém lhe telefonar dizendo-se funcionário do banco e

pedir-lhe para dizer ou digitar sua senha, não o faça em hipótese alguma.

139 STJ – 4ª Turma, Agr. Instr. nº 58.028-8 RS, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU de 20.04.95, Seção 1, p. 10.045), e isso porque o banco é mero depositário para guardar (conta-corrente), ou gerir (aplicações) os fundos líquidos de seus clientes.

140 Sistema de codificação e decodificação de dados, por meio de algoritmos matemáticos, usado com objetivo de garantir o sigilo do registro de informações pessoais e financeiras na Internet. ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em: http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

88

Ao digitar a senha mantenha o corpo próximo à máquina

para evitar que outros possam vê-la ou descobri-la pelo movimento dos dedos no

teclado. As pessoas atrás de você devem respeitar as faixas de segurança.

Se o caixa eletrônico estiver inoperante, não aceite a oferta

de estranhos de passar seu cartão em terminal avulso, mesmo que se

apresentem como funcionários do banco. Fraudadores têm utilizado esse golpe

para clonar cartões e obter senhas.

Nunca aceite ou solicite ajuda de estranhos, mesmo que não

lhe pareçam suspeitos. Fique atento à presença de pessoas suspeitas ou

curiosas no interior da cabine ou nas proximidades, na dúvida, não faça a

operação.

Caso não consiga concluir uma operação, aperte as teclas

"anula" ou "cancela", conforme a opção do teclado.

Cuidado ao utilizar telefones de desconhecidos para

comunicar-se com o banco, pois os dados de sua conta e senha poderão ficar

registrados na memória do aparelho. Além disso, você poderá não estar falando

com representantes do banco.

Ao efetuar pagamentos com seu cartão, não deixe que ele

fique longe de seu controle e tome cuidado para que ninguém observe a digitação

da sua senha. Se estiver efetuando o pagamento com cartão de crédito e

alegarem que a fatura não ficou bem decalcada, exija que a mesma e a cópia

carbono sejam rasgadas e inutilizadas, para maior segurança.

A tecnologia já disponibilizou a assinatura eletrônica por

meio de uso de chaves públicas e chaves privadas, que podem ser utilizadas nos

contratos mais complexos de maior discussão quanto às cláusulas contratuais.

Nestas condições contratuais, será assinada

eletronicamente tanto pelo banco, quanto pelo cliente, utilizando cada qual a sua

chave própria.

89

3.8 PAGAMENTO DE CHEQUE FALSIFICADO

No pagamento de cheque falsificado pelo banco havia um

entendimento doutrinário e jurisprudencial a favor do correntista. Agora, ao

receberem depósitos pecuniários, assumem a propriedade desses depósitos,

empregando-os em seguida em empréstimos aos que necessitam de capital em

nome próprio.

Sendo assim, a falsificação ou adulteração de cheque, ou

qualquer outro estelionato que leve o banco a pagar indevidamente ao falsário, é

perpetrada contra o banco e não contra o correntista.

Quando for provado que o correntista concorreu

determinante para o evento, a responsabilidade poderá ser elidida em favor do

banco.

No entendimento jurisprudencial consubstanciada na

Súmula nº 28, quando ainda competente para apreciar matéria infraconstitucional

firmou-se nesse sentido: “O estabelecimento bancário é responsável pelo

pagamento de cheque falso, ressalvada as hipóteses de culpa exclusiva ou

concorrente do correntista”.

A idéia de responsabilidade por ato ilícito culposo,

primeiramente, que configure um ato material, e ligado por nexo causal, a um

resultado de dano patrimonial ou moral.

Explica Felipe141:

[...] casos de responsabilidade civil objetiva, em que se prescinde

desse elemento subjetivo, como ocorre no seguro obrigatório. Há

casos que a responsabilidade civil atenuada ou excluída pela

culpa concorrente ou exclusiva da vítima, como acontece em

relação ao Estado.

Ainda nas palavras de Felipe:

141 FELIPE, Jorge Franklin Alves. Contratos bancários em juízo, p. 97.

90

[...] a responsabilidade civil dos bancos, no entanto, com relação a

seu cliente, é contratual, posto que fundada num contrato. Quando

um cliente, por exemplo, abre uma conta bancária, o banco

assume, com ele, os deveres de sigilo, guarda de documentos e

outros inerentes à sua atividade profissional. Daí resulta, por

exemplo, que a quebra do sigilo e a entrega indevida de talonário

a terceiros constituem infrações contratuais.

Pode-se que o atingido não ser cliente do banco, a

responsabilidade em natureza extracontratual, ocorre com título de terceiro, que

levado a protesto em razão homônima.

No entendimento de Felipe142:

[...] com o ingresso do Código de Defesa do Consumidor, a

responsabilidade dos bancos passa a reger-se por suas

disposições, inclusive pelo disposto no artigo 14 e 20143, que

dispõe sobre a responsabilidade do fornecedor de serviços, pelo

fato ou vício do serviço. Na responsabilidade pelo fato do serviço,

a exclusão desta só ocorrerá se provar culpa exclusiva do

consumidor ou de terceiro. A hipótese, acima mencionada, do

protesto indevido em razão de homonímia, parece-nos caso típico

de responsabilidade pelo fato do serviço, no qual são

considerados consumidores todas as vítimas do evento artigo 17

do Código de Defesa do Consumidor144.

Sabe-se pela jurisprudência que:

142FELIPE, Jorge Franklin Alves. Contratos bancários em juízo, p. 98. 143 Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço. 144 Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

91

INDENIZAÇÃO – DANO MATERIAL – CHEQUE FURTADO –

CULPA CONCORRENTE – ESTABELECIMENTO BANCÁRIO –

RESPONSABILIDADE CIVIL – O banco é responsável pelo

pagamento de cheque falsificado, se não configurada a culpa

exclusiva ou concorrente do correntista, ex vi da Súmula nº 28 do

STF. A instituição financeira incumbe manter mecanismos

próprios de pessoal especializado aptos a identificarem as

falsificações de assinaturas lançadas em cheques. Vislumbra-se a

ocorrência de culpa concorrente quanto ao resgate de cheque

com a assinatura falsa, se o cliente não comprovou ter

diligenciado em comunicar imediatamente ao banco o furto do

talonário145.

Havendo culpa exclusiva do correntista, a responsabilidade

será afastada do banco. Se a culpa for concorrente, esta situação deveria ser

solucionada ao nível de redução da indenização.

Sobre a culpa concorrente leciona Rodrigues146:

A despeito dessas tentativas de emancipação da noção de culpa,

é nela, em geral, que se inspiram os julgados. Quando o cliente

concorreu por sua culpa para a falsificação, mas essa poderia ser

facilmente descoberta, há culpa concorrente do banco e do

correntista, e nesse caso a indenização deve ser dividida ou por

metade, ou na proporção das respectivas culpas.

Dias147 explica com o mesmo fundamento:

No caso de dano causado ao correntista pelo serviço bancário, a

responsabilidade civil pode ser cobrada dos bancos, tanto sob a

invocação dos princípios subjetivos da culpa provada como com

base no princípio do risco profissional empresarial.

Baseado no entendimento doutrinário e jurisprudencial,

entende-se que após a vigência do Código de defesa do consumidor, a

responsabilidade é das instituições bancárias, como prestadoras de serviço no

145 TAMG – Ap 0240795-0 – 1ª Câmara Cível – Rel. Juiz Silas Vieira – J. 21.10.1997) (RJTAMG 69/198.

146 RODRIGUES, Sílvio. Responsabilidade civil. 14 ed., São Paulo: Saraiva,1983, p. 258. 147 DIAS, Aguiar. Da responsabilidade civil. 9 ed., Rio de Janeiro: Forense,1994, p.p. 333 – 334.

92

mercado de consumo passando a ser objetiva. Quando ocorrido o acidente de

consumo, o banco terá que indenizar as vítimas independentes de culpa,

bastando à relação de causa e efeito entre o defeito do serviço prestado.

3.9 ASSALTO AO BANCO DURANTE O EXPEDIENTE

Os bancos exercem atividades que, por sua própria

natureza, impõe proteção a riscos decorrentes de furtos e assaltos.

Pelo entendimento do STJ:

ESTABELECIMENTO BANCÁRIO – TRATANDO DE ATIVIDADE

QUE CRIA RISCO ESPECIAL, DADA A NATUREZA DA

MERCADORIA QUE DELA CONSTITUI OBJETO, IMPÕE-SE

SEJAM TOMADAS AS CORRESPONDENTES CAUTELAS,

PARA SEGURANÇA DOS CLIENTES – RESPONSABILIDADE

PELO ASSALTO SOFRIDO POR QUEM, NO INTERIOR DA

AGÊNCIA, EFETIVAVA SAQUE DE DINHEIRO148.

Onde existe culpa, de um modo geral, não se pode falar em

caso fortuito ou de força maior.

Como dispõe Miranda149:

O caso fortuito desaparece quando é dado ao condutor prever e

evitar o dano ilicitamente causado a terceiro. Saber se o acidente

resultou de um caso fortuito ou força maior é uma questão de fato

concreta.

Então pela responsabilidade do banco em razão do assalto

de cliente no recinto, sacando o depositando, explica Santos150: “Não se diga que

148 Recurso Especial nº 149.838 – SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU de 15.06.1998, DJ - MG de 26.06.1998.

149 MIRANDA, Darcy Arruda. Anotações ao código civil brasileiro. 3 ed., São Paulo: Saraiva, 1995, p. 136.

150 SANTOS, Ulderico Pires dos. A responsabilidade civil na doutrina e na jurisprudência, 2 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1976, p. 319.

93

os assaltos a bancos podem ser levados à categoria de casos fortuitos, isto é,

imprevisíveis”.

Sendo assim, o fato pode ser previsível, com a adoção de

todas as cautelas para evitá-lo, nem por isso e inevitável. No entanto, os bancos

mesmo ante a irresistibilidade do assalto, a indenização seria cabível, o que

comporta algumas divergências. Não há divergência, se as cautelas não forem

tomadas, operando o estabelecimento bancário com culpa por omissão.

Verificando-se a questão ligada ao furto de veículos no

estacionamento fornecido gratuitamente pelo banco, explica Felipe151:

Considerando que, embora a gratuidade desse estacionamento,

existe, no fundo, o caráter oneroso indireto, posto que oferecido

para atrair e manter a clientela, pois, com caráter empresarial, a

jurisprudência vem se orientando no sentido de responsabilizar os

bancos por tais furtos, havendo, ainda, decisões que deferem a

indenização do empresário que fornece estacionamento gratuito

mesmo nos casos de roubo.

Decisão do Superior Tribunal de Justiça, em acórdão de que

foi o relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira:

DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL – ROUBO DE

VEÍCULO – RECURSO DESACOLHIDO. I – Nem sempre o roubo

constitui circunstância equiparável ao caso fortuito ou de força

maior para fins de isenção de responsabilidade, consoante já

proclamaram precedentes do Tribunal152. II – Mesmo quando a

empresa não tem qualquer relação com o fornecimento de

serviços de guarda e vigilância, como as que se dedicam ao

comércio atacadista de supermercado, assumem o dever de

guarda e conservação, cumprindo-lhes fornecer vigilância

adequada, o que encerra compromisso de diligenciar as cautelas

e providências assecuratórias regulares, normais.- Não se mostra

exigível à empresa, no entanto, como regra, evitar subtração

151 FELIPE, Jorge Franklin Alves. Contratos bancários em juízo, p. 102. 152 Recurso Especial nº 31.206 – SP e 36.433-7, DJU de 15.03.1993 e 20.09.1993, respectivamente.

94

realizada com emprego de ameaça e violência a que nem mesmo

os próprios donos dos veículos teriam condições de resistir153.

É de responsabilidade do banco em razão de assalto de

cliente no recinto, não podendo constituir circunstância de caso fortuito ou de

força maior.

3.10 ENCAMINHAMENTO SIMPLES A CARTÓRIO

O protesto é instituto tipicamente cambiário destinado a

títulos e outros documentos de crédito, com as ressalvas autorizadas pela Lei de

Falências e para os fins específicos dela.

A nota promissória e o cheque só podem ser protestados por

falta de pagamento, em sendo o título uma letra de câmbio o protesto pode ser

lavrado não apenas pela falta de pagamento como também por falta de aceite, já

a duplicata poderá ser protestada por falta de pagamento, de aceite e de

devolução do título.

O protesto traz conseqüências negativas ao crédito do

devedor, assim também acaba tendo o efeito de uma forma coercitiva de

cobrança. No entanto, caso o protesto seja indevidamente efetivado, como o

protesto de uma duplicata cujo débito já havia sido pago, a parte prejudicada

poderá ser indenizada pelos prejuízos sofridos, inclusive por danos morais, tal

ressarcimento deverá ser pleiteado judicialmente.

O procedimento do protesto por falta de pagamento é o

seguinte:

1. O título é protocolizado pelo credor no Tabelião de

Protesto.

2. O Tabelião expede intimação do protesto ao devedor. 153 Recurso Especial nº 35.827-2 – SP, em 12.12.1994, 4ª Turma, não conheceram do recurso por maioria de votos, Revista do STJ, volume 73 264.

95

3. O devedor ao receber a intimação deverá assinar o

respectivo aviso de recepção (AR).

4. Não sendo encontrado o devedor ou deixando de assinar

o aviso de recepção, o Tabelião efetuará intimação por edital, que será fixado no

próprio Tabelionato e publicado na imprensa local.

5. O protesto será registrado pelo Tabelião no prazo de três

dias úteis, a partir da protocolização.

Os bancos adotam três formas de protesto de um título não

quitado:

I – Protesto manual;

II – Protesto semi-automatizado;

III – Protesto automatizado.

O protesto é uma forma de declarar a mora oficial do

sacado, pelo não pagamento ou aceite da realização da promessa contida na

letra.

O instrumento de protesto cada vez mais está se

transformando num instrumento coativo de obtenção do direito ao crédito.

Explica Felipe154 que o protesto:

Constitui prática não rara que o devedor efetue o pagamento de

determinado título em Cartório de Protesto, sem correção

monetária e, depois, queira o credor receber referidos acréscimos

moratórios.

Coelho155 assevera que:

[...] com a desmaterialização do título de crédito, tornaram-se as

indicações a forma mais comum de protesto. A duplicata, hoje em

154 FELIPE, Jorge Franklin Alves. Contratos bancários em juízo, p. 65. 155 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, p. 390.

96

dia, não é documentada em meio de papel. O registro dos

elementos que caracterizam é feito exclusivamente em meio

magnético e assim são enviados ao banco, para fins de desconto,

caução ou cobrança. Se não for realizado o pagamento no prazo,

emite-se o instrumento de protesto pró-indicação, em meio de

papel. Ou seja, a duplicata em suporte de papel é plenamente

dispensável, para a documentação, circulação e cobrança do

crédito, no direito brasileiro, em virtude exatamente do instituto do

protesto por indicações.

A duplicata mercantil possui uma característica peculiar que

é a possibilidade de apontamento ao protesto, por indicação do portador, baseado

na tipificação do artigo 13 e 15156 da Lei de Duplicatas.

156 Art. 13. A duplicata é protestável por falta de aceite, de devolução ou de pagamento. (Redação dada ao caput pelo Decr.-lei nº 436/69.)

§ 1º. Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, o protesto será tirado, conforme o caso, mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda, por simples indicações do portador, na falta de devolução do título. (Redação dada ao parágrafo pelo Decr.-lei nº 436/69.)

§ 2º. O fato de não ter sido exercida a faculdade de protestar o título, por falta de aceite ou de devolução, não elide a possibilidade de protesto por falta de pagamento. (Redação dada ao parágrafo pelo Decr.-lei nº 436/69.)

§ 3º. O protesto será tirado na praça de pagamento constante do título. (Redação dada ao parágrafo pelo Decr.- lei nº 436/69.)

§ 4º. O portador que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas. (Redação dada ao parágrafo pelo Decr.- lei nº 436/69.)

Art. 15. A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil, quando se tratar:

I - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;

II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente:

a) haja sido protestada;

b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria; e

c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos artigos 7º e 8º desta Lei. (Redação dada ao artigo pela Lei nº 6.458/77.)

§ 1º. Contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas caberão o processo de execução referido neste artigo, quaisquer que sejam a forma e as condições do protesto. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 6.458/77.)

§ 2º. Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do artigo 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 6.458/77.)

97

Em conseqüência desta notável característica peculiar é a

possibilidade de circulação eletrônica do título, sem a necessidade de grandes

alterações em nossa legislação cambiária.

O local da realização do protesto é o mesmo do pagamento,

conforme estabelece o artigo 13, § 3º da Lei de Duplicata, devendo os

tabelionatos recusar o protesto quando houver divergência entre a sede do

sacado e sua competência territorial.

Explica Silva157 que:

O protesto de duplicatas por indicação, e por conseqüência

inaceitas, visa, primordialmente, a garantir o direito de regresso

contra os endossantes, respeitando sua ordem, pela aplicação

dos princípios cambiais e não civis, para o caso em tela.

Ainda nas palavras de Silva:

A duplicata, até a configuração do aceite presumido, pelo protesto

é título causal, que teoricamente não vincularia o sacado,

restando o protesto, em seu aspecto jurídico, a resguardar os

interesses do portador da letra contra seu sacador. Com o

endosso, assim o sacador fica diretamente responsável pelo

adimplemento do título, cabendo a este, em sede de regresso,

comprovar a existência da entrega da mercadoria, ou seja, sua

vinculação com o negócio fundamental.

A emissão de duplicatas ‘frias’ sem causa é crime praticado,

pelas facilidades do contrato de desconto e seu conseqüente protesto.

Para resguardar o direito de regresso contra o endossante,

pode levar-se a falência do sacado, em que nenhum momento recebeu qualquer

mercadoria.

O cancelamento do protesto será possível por duas vias

distintas: administrativa ou judicial. Se utilizar a via administrativa, ou seja,

requerimento de cancelamento do protesto junto ao próprio Tabelionato quando 157 SILVA. Geraldo José Guimarães da. Direito bancário e temas afins, p. 391.

98

após o protesto o devedor o paga, devendo comparecer ao cartório com o título

resgatado ou carta de anuência do credor para que seja efetuada a baixa na

restrição de crédito constante dos arquivos cartorial. A segunda possibilidade diz

respeito ao pedido judicial de cancelamento de protesto, fato possível se

verificadas as mesmas razões de sustação de protesto anteriormente abordada,

mas que não exercitadas no prazo de 03 (três) próprios da sustação.

3.11 PROTESTO DE TÍTULO DEVIDAMENTE PAGO

O protesto indevido do título tem-se que prevalecem os

princípios gerais concernentes a reparabilidade do dano moral, resolvendo-se o

seu arbitramento no prudente e criterioso arbítrio do magistrado.

O protesto da cambial é necessário para o exercício do

direito de regresso contra os endossantes ou avalistas, mas, contudo tal instituto

teve sua natureza desvirtuada em nosso país, e está sendo utilizado como meio

de cobrança coercitivo.

Com isso, o abalo ao crédito torna-se iminente quando o

título devidamente pago e o mesmo sejam encaminhados a cartório para registro,

cabendo ressarcimento por parte do banco.

Conforme a jurisprudência preceitua:

CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA

CORRENTE. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. PROTESTO

INDEVIDO DE TÍTULO PELO BANCO CREDOR. NEGATIVA DE

FORNECIMENTO DE CRÉDITO AO CORRENTISTA.

CARACTERIZAÇÃO DO PREJUÍZO. VERBA DEVIDA. Havendo

prova de que o banco credor recebeu a prestação vencida, e,

mesmo assim, o título veio a ser protestado após o decurso de 21

dias, havendo prova de que ao correntista foi negado o

fornecimento de crédito em face deste protesto indevido, força é

concluir que foi feita a prova do dano moral, eis que qualquer

homem de bem, que procura honrar seus compromissos, sentir-

se-á afrontado, com a sua dignidade abalada, recebendo

comunicação desse jaez. Conseqüentemente, aquele que deu

99

causa a tamanha agressão há de responder pela dor moral

proveniente de seu ato ou omissão158.

Sendo assim, fica especificada a quantia necessária a que

tranqüilize a parte lesada:

DANO MORAL. BANCO. DUPLICATA. PROTESTO INDEVIDO

DA CAMBIAL. VERBA DEVIDA EM 20 VEZES O VALOR DO

TÍTULO. A instituição bancária que, por desorganização ou talvez

má-fé, promove, indevidamente, o protesto da duplicata contra

alguém que pagou suas dívidas de forma antecipada, responde

pelas conseqüências da circulação cambiária que imprimiu,

devendo a verba, pelos danos morais, ser fixada em 20 vezes o

valor do título159.

PROTESTO INDEVIDO DE DUPLICATAS – DANO MORAL –

CABIMENTO – PROVA – PRECEDENTES – 1. Ressalvado o

convencimento do Relator, a jurisprudência está consolidada no

sentido de admitir o dano moral à pessoa jurídica. 2. Está

assentado na jurisprudência da corte que não há falar em prova

do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o

sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam. Provado assim o

fato, impõe-se a condenação, sob pena de violação ao art. 334 do

Código de Processo Civil. 3. Recurso especial conhecido e

provido160.

Percebe-se assim, que a indicação indevida a protesto, uma

vez comprovada sua irregularidade, gera a presunção de dano moral sofrido pela

vítima, por força do artigo 334 do Código de Processo Civil161, não sendo assim

necessários à comprovação cabal da culpa do agente ou dano sofrido.

158 TJD - 5ª Tribunal Cível – Ap. – Rel. Des. Romão C. Oliveira – j. 28.11.96 – RT 739.353. 159 TJD - 3ª Câmara Direito Privado – Ap. – Rel. Enio Santarelli Zuliani – j. 2.9.97 – RT 747.267. 160 STJ – RESP 204786 – SP – 3ª T. – Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito – DJU 12.02.2001 – p. 00112. 161 Art. 334. Não dependem de prova os fatos:

I - notórios;

II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;

III - admitidos, no processo, como incontroversos;

IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.

100

3.12 PROBLEMAS RELATIVOS AO CARTÃO DE CRÉDITO

Introduzido pela Lei n˚ 8.078, de 11.09.90 do Código de

Defesa do Consumidor, aos contratos bancários é bastante comum usar de

atividades negociais de crédito para suas atividades. O que proliferam as

cláusulas abusivas e leoninas, previamente estabelecidas, imodificáveis e

indiscutíveis quanto da assinatura dos contratos.

Explica Rodrigues162 que:

Cartão de crédito é a expressão sugestiva do instrumento físico

com que se dão as operações de crédito aberto pelos

estabelecimentos emissores a favor do usuário-consumidor, que,

preenchido os requisitos estabelecidos, pode exercer o consumo

com pagamento deferido.

Incide questões entre administradoras e cliente,

normalmente, da má utilização do cartão relacionado com o Banco.

- ABAIXO ALGUMAS DICAS DE COMO ESCOLHER UM

CARTÃO DE CRÉDITO:

• Escolha um cartão de acordo com sua necessidade;

• Considere o preço da anuidade, os serviços oferecidos, os

juros e a data do vencimento da fatura;

• Se não estiver pensando em viajar tão cedo para fora do

país, não precisa de cartão internacional. Só vai lhe custar mais. Se um dia

programar uma viagem ao exterior, a administradora poderá alterar seu cartão e o

consumidor pagará a diferença proporcional ao restante da anuidade.

- VANTAGENS PARA O CONSUMIDOR:

162 RODRIGUES. Alves Vilson. Responsabilidade dos estabelecimentos bancários. Campinas, São Paulo: Bookseller, 1996, p. 278.

101

• Facilita a vida do consumidor na hora da aquisição de

bens, mesmo que ele não tenha disponibilidade financeira no momento da

compra.

• É um simplificador de crédito ao eliminar os demorados e

aborrecidos cadastros para abertura de financiamento em lojas;

• Evita que o consumidor precise carregar dinheiro ou talão

de cheques;

• Nas viagens para fora do Brasil, o consumidor pode pagar

quase tudo com o cartão;

• Cartão de crédito igual a pagamento à vista.

- DESVANTAGENS PARA O CONSUMIDOR:

• O cartão estimula as compras desnecessárias, sendo os

consumidores incondicionais as maiores vítimas dessa facilidade;

• O crédito rotativo permite o parcelamento da fatura com

juros altos demais.

- VANTAGENS PARA EMPRESA:

• Segurança de recebimento pela empresa;

• Rapidez na transação comercial.

- DESVANTAGENS PARA EMPRESA:

• Taxas de administração cobrada entre 3% a 4%;

• Repasse do valor da venda leva entre 30 a 45 dias.

- LIVRE-SE DAS ARMADILHAS:

• Quando algo de errado acontecer avise a administradora

imediatamente;

102

• Se o aviso for feito por telefone, anote o nome do

atendente e o código de atendimento;

• Se escrever, protocole a cópia da carta, no caso de

entregá-la diretamente a empresa. Se enviada pelo correio, mande com o aviso

de recebimento (AR);

• Se a administradora não resolver o problema, insistindo

em cobrar o que o cliente não deve, é possível registrar queixa em um órgão de

defesa do consumidor, no Procon, por exemplo;

• Em último caso, o usuário pode ir a Justiça, para resolver

questões cujo valor for inferior a 40 salários mínimos, o ideal é recorrer ao

Juizado Especial Cível, que tem menos burocracia.

- O QUE FAZER:

1. CARTÃO ROUBADO OU EXTRAVIADO:

O consumidor não poderá ser responsabilizado por compras feitas por terceiros

depois de comunicar a ocorrência à administradora, mesmo que as compras

tenham sido feitas entre o roubo e o aviso por telefone, ele pode não pagar. Há

decisões judiciais que responsabilizam o comerciante por não conferir a

assinatura.

2. COMPRAS QUE O CONSUMIDOR NAO FEZ:

O usuário deve pedir a administradora cópia da fatura do que está sendo cobrado.

Se a compra efetivamente não foi feita, ele deve notificar a empresa. E cobrança

indevida pode ter origem no golpe do cartão clonado.

3. CARTÃO CHEGOU SEM TER SIDO PEDIDO:

O consumidor não deve pagar nada. As empresas estão proibidas de enviar

cartões para quem não pediu.

4. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS:

Essa prática é proibida desde 1933 pelo Decreto Lei nº 22.626, chamada LEI DA

USURA.

103

5. SEGURO DE PERDA OU ROUBO:

Há empresas que estão lançando nas faturas cobranças de um seguro de perda e

roubo do cartão sem concordância prévia do usuário. O consumidor não é

obrigado a pagar essa taxa.

6. FATURA NÃO CHEGA ATÉ A DATA DE VENCIMENTO:

De acordo com a Lei nº 2.656, de 28 de dezembro de 2000, as empresas do setor

público e privado ficam obrigadas a postar com antecedência mínima de dez dias

da data do vencimento os boletos bancários de cobrança ou similares. Os

consumidores que receberem o documento de cobrança em prazo inferior ao

estipulado ficam desobrigados do pagamento de multas ou encargos por atraso

até o limite de dez dias após o vencimento da fatura.

7. PAGAMENTO ANTECIPADO:

Havendo renegociação da dívida do cartão de crédito e caso o consumidor

desejar pagar antecipadamente, deverá procurar a administradora e pedir

redução proporcional dos encargos. Caso não haja resposta, ele pode pagar e

depois pleitear, na Justiça, se necessário, o ressarcimento do que foi pago

indevidamente.

8. PREÇOS MAIS CAROS PARA PAGAMENTO COM

CARTÃO:

O preço à vista deve valer para o pagamento com cartão de crédito. Se o lojista

insistir em cobrar mais, o cliente deve registrar queixa contra a loja junto a um

órgão de defesa do consumidor.

- RECLAMAÇÕES JUNTO A ENTIDADE DE DEFESA DO

CONSUMIDOR:

1. Envio de cartão sem prévia solicitação por parte do

consumidor;

2. Renegociação de dívidas;

3. Taxas de juros;

104

4. Contestação de cobrança (duplicidade);

5. Clonagem (fraude e falsificação);

6. Fatura atrasada (Lei n˚ 2656/2000), postagem com

antecedência de 10 dias (consumidor deve, neste caso, guardar o envelope para

confirmar a data de recebimento).

- NOVO GOLPE COM CARTÃO DE CRÉDITO:

Você recebe uma chamada e a pessoa diz: Estamos falando

do Departamento de Segurança do VISA (ou outra, por exemplo). Chamo-me

fulano e meu número de identificação funcional é 12.460. Você comprou

(qualquer coisa bem estranha como um dispositivo Anti-Telemarketing) no valor

de US$ 497,99 de uma companhia baseada no Arizona, USA?

É claro que você responde que não: Provavelmente seu

cartão foi clonado e estamos ligando para verificar. Isto for confirmado estaremos

emitindo um crédito ao seu favor. Este tipo de transação está acontecendo com

despesas que variam de US$ 297 US$ 499, justamente por ser abaixo do valor de

US$ 500, que aciona a maioria dos alertas. Antes de processar o crédito,

gostaríamos de conferir alguns dados. O seu endereço é tal?” (Isto pode ser

retirado facilmente das listas telefônicas via Internet). Ao você responder que sim,

a pessoa continua: Qualquer pergunta que o senhor tenha, deverá chamar o

número 0-800 que se encontra na parte traseira de seu cartão e solicitar pelo

Departamento de Segurança. Por favor, tome nota do seguinte número de

protocolo" (o bandido dá-lhe então um número de 6 dígitos) e pede: O senhor

poderia lê-lo para confirmar?

Aqui vem a parte mais importante da fraude. Ele diz, então:

Desculpe, mas temos que verificar que o senhor está de posse de seu cartão. Por

favor, pegue seu cartão e leia para mim o seu número. Feito isto, ele continua:

Correto. Agora vire o seu cartão e leia para mim os três últimos algarismos (ou

quatro, dependendo do cartão). Estes são os 'números de segurança' (Pin

Number) que você usa para fazer compras via Internet, para provar que está com

o cartão!

105

Depois que você informa os referidos números: Correto!

Entenda que era necessário verificar que o cartão não estava perdido, nem tinha

sido roubado, e que o senhor estava com ele em seu poder. O senhor teria

alguma outra pergunta? Depois que você diz que não, o scammer agradece e

finaliza.

Provavelmente, em menos de 10 minutos uma compra será

lançada no seu cartão, e muitas outras depois, caso você não perceba a fraude

até a chegada do extrato.

Como se proteger desta ação criminal? É quase inútil fazer

denúncias à polícia. Até nos Estados Unidos é difícil o rastreio dessas ligações.

Você pode falar para o bandido desligar que você fará a ligação para o 0800.

Mas, mesmo que você desligue este tipo de ligação, fica claro que a melhor

maneira de se precaver é estar alerta e comunicar a todos os existência desse

golpe.

3.13 SIGILO BANCÁRIO

O primeiro direito individual reivindicado foi o da liberdade de

opção religiosa.

Lafer163 explica:

Depois da reforma, os direitos individuais foram sendo

proclamados nas declarações de direitos, dentre as quais a de

Virgínia e a Declaração Francesa. Foi na passagem do Estado

Absolutista para o Estado de Direito que se corporificou a noção

de direitos individuais. O direito à inviolabilidade de domicílio, dos

mais antigos só aparece em 1776, sendo defendido no

Parlamento Inglês.

163 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: Um dialógo com Hannah Arendt, São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 119.

106

A Lei Maior garante o direito à intimidade, à privacidade e a

inviolabilidade da transmissão de dados.

Abrão164 conta um pouco da história:

Por mais que perscrutemos os horizontes da história, não

conseguiremos lobrigar temporalmente determinada época para o

surgimento do sigilo bancário. É por isso que alguns autores

pretendem situá-lo em tempos imemoriais, afirmando que o

segredo bancário tem raízes profundas na tradição. Dessa

imprecisão temporal se desune que, metodologicamente, é

inviável a adoção da inquisição histórica para atingir-se o

nascedouro do instituto, pelo que remanesce o critério lógico ou

dogmático como o único a balizar a via investigatória. Por ele

verificamos que o sigilo surgiu com o próprio detalhar das

atividades bancárias, que, por seu caráter de discrição, dele não

podem se separar salvo em hipóteses excepcionais

expressamente previstas em lei, quando se pretenda resguardar o

bem comum e a ordem pública. Tal se pretenda resguardar o bem

comum e a ordem pública. Tal se prende à conotação mística que

impregnou a origem dos bancos, nascidos que foram dentro dos

templos, no exercício de uma atividade que emanava dos próprios

deuses, representados por seus sacerdotes.

A inserção constitucional do sigilo bancário é interpretada

por duas correntes antagônicas:

- A primeira, posiciona o sigilo bancário dentro do contexto

dos direitos à intimidade ou à privacidade, albergados pela Carta Maior. Esta

corrente entende que a movimentação que alguém faz de seu patrimônio

mobiliário, somente ao titular diz respeito, é um aspecto íntimo e a mais ninguém

interessa.

Costa Júnior165, define intimidade como:

A necessidade de encontrar na solidão aquela paz aquele

equilíbrio, continuamente prometidos pela vida moderna; de

164 ABRÃO, Nélson. Direito bancário, p. 55. 165COSTA JUNIOR, Paulo José da. O direito de estar só. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970, p. 56.

107

manter-se a pessoa, querendo, isolada, subtraída ao alarde e à

publicidade, fechada na sua intimidade, resguardada dos olhares

ávidos. A intimidade corresponderia à vontade do indivíduo de ser

deixado só.

Para Fernandes166, vida privada representa: “[...] o direito de

que sejam razoavelmente excluídos da informação alheia às idéias, fatos e dados

próprios do sujeito".

Dotti167 diz que: “[...] a intimidade é a esfera secreta da vida

do indivíduo da qual este tem o poder legal de evitar os demais".

De acordo com os autores citados, verifica-se que todas as

definições do direito de intimidade são fiéis ao desejo de estar só e de excluir do

conhecimento alheio fatos e dados registrados na esfera estritamente pessoal.

- A segunda entende que o sigilo bancário é uma

decorrência da atividade comercial. Estudando a origem histórica do sigilo

bancário, verifica-se que em muito se assemelha à do comércio. Embora de

âmbito privado, o comércio não é onipotente: submete-se às regras da legalidade

e do bem comum. Nem clientes nem comerciantes podem comercializar,

indiscriminadamente, qualquer produto, pois alguns são proibidos. Se alguém

vende ou adquire um produto vedado por lei, a relação deixa de ser privada e

passa a ser pública, pois ofende a sociedade e o fato deve ser apurado

criminalmente.

A segunda corrente consegue compatibilizar, ao contrário da

primeira, os princípios do parágrafo 1 do artigo 145 com os direitos e garantias

fundamentais da Constituição Federal relativizando os direitos à intimidade e à

privacidade, em face da apuração da capacidade contributiva.

Em seu livro Covello168 fez um minucioso estudo:

166 FERNANDES, Milton. Proteção civil da intimidade. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 82. 167 DOTTI, René Ariel. Proteção da vida privada e liberdade de informação. São Paulo, Revista dos Tribunais,1980, p. 68, citando Urabayen.

108

[...] o histórico sobre o desenvolvimento da atividade bancária,

verificando que ao longo das civilizações mais conhecidas teve

início junto aos templos: Na Babilônia, e na Grécia os sacerdotes

recebiam depósitos, realizavam empréstimos e mediavam

pagamentos.

Entre os hebreus, o empréstimo de dinheiro a juros só era

permitido nas transações com os estrangeiros. Na Bíblia169, encontra-se a

seguinte passagem:

Não empreste ao seu irmão com juros, quer se trate de

empréstimo em dinheiro, quer em alimentos ou qualquer outra

coisa sobre a qual é costume cobrar juros. Você poderá emprestar

com juros ao estrangeiro. Mas ao seu irmão empreste sem cobrar

juros, para que Javé, seu Deus abençoe tudo o que você fizer na

terra em que você está entrando para dela tomar posse.

No Brasil, pela sistemática atual, a questão fundamental

consiste em saber se o sigilo bancário integra o rol da esfera privada da vida dos

indivíduos, protegido pela Constituição Federal (inviolabilidade da privacidade e

de dados). Vejam-se os dispositivos constitucionais que de certa maneira

abordam a questão:

Constituição Federal, artigo 5º, X, XII e XXXIII, e artigo 145, § 1º

Art. 5º... X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e

a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo

dano material ou moral decorrente de sua violação; XII - é

inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações

telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no

último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei

estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução

processual penal; XXXIII - todos têm o direito a receber dos

órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de

interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,

sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo

seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; Art.

168 COVELLO, Sérgio Carlos. O sigilo bancário, com particular enfoque na tutela civil. São Paulo: Livraria Editora Universitária de Direito, 1991, p. 110.

169 STORNIOLO, IVO E BALANCIN, EUCLIDES MARTINS. BIBLIA.N.T. Português, Mateus, Bíblia Sagrada. São Paulo: Edições Paulinas,1990, Deuteronômio, p. 222.

109

145 ... § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter

pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do

contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente

para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados

os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os

rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

O ordenamento constitucional prevê a proteção à

privacidade como um direito individual da pessoa e em seu artigo 145, § 1˚, que

dispõe a administração pública de identificar o patrimônio, os rendimentos e as

atividades econômicas do contribuinte respeitado os direitos individuais deste.

Também a respeito já se manifestou o ex-presidente

Fernando Henrique Cardoso, nos seguintes termos, conforme notícia de 22 de

dezembro de 1999 de O Estado de São Paulo: (o ex-presidente) reclamou,

porém, que há muitos interesses e que arrancar do congresso algumas decisões

é uma luta. Mencionou o caso da quebra do sigilo bancário como exemplo. Disse

que sempre aparece alguém para observar que a iniciativa vai ferir seu direito e

que é inconstitucional. Tem de respeitar a privacidade, mas quando há indícios

veementes, não é possível que não se tenha um instrumento.

A quebra do sigilo bancário indiscutivelmente se constitui em

um ato de violência contra o cidadão, por invadir sua privacidade. Mas, por outro

lado, na linha adotada pelo Supremo Tribunal Federal, em face de relevante

interesse público, justifica-se a sua aplicação. É forçoso também reconhecer que,

em função da má distribuição de rendas do país, o rico e poderoso cada dia se

torna mais ricos e mais poderosos, o que nos faz pensar na conveniência da

criação de uma outra força para contrabalançar esse grande poder, de forma a

prevenir o perigo nele implícito. E essa outra força somente pode ser o próprio

Estado. Mas como nada é perfeito nesse mundo e principalmente, se faz criar

também limites ao poder que se possa atribuir ao Estado, de maneira que se evite

também a possibilidade desses vir a ser prepotente e arbitrário, como só

acontecer, sendo de bom alvitre a intervenção de um outro poder para de certa

forma fiscalizar os seus atos. Assim, pode-se concluir estar sendo bem conduzida

110

até o presente momento a proposta legislativa para regular a quebra do sigilo

bancário no Brasil.

Conclui Dessandre170:

A evolução da história exige contrapartida do avanço do Direito.

Atualmente, não só os grandes crimes contra o sistema financeiro,

tributário, mas também o tráfico de drogas e a corrupção

desembocam seus resultados no porto seguro dos bancos. No

passado não era assim, já se usou até enterrar tesouros. Desta

forma, o sigilo posta-se frente ao Fisco e ao Ministério Público

como forte empecilho à obtenção das provas de delinqüência.

Submeter ao judiciário o pedido de quebra de sigilo nos casos de

fortes indícios de crime dá ao meliante tempo suficiente para

movimentar a conta, impedindo o ressarcimento do dano e

dificultando a apuração. Até a Suíça, Meca do sigilo bancário,

preocupada com a fama de lavanderia do ocidente, mercê de

abrigar os enormes lucros obtidos ilicitamente, com o tráfico de

drogas e outros crimes, está caminhando na direção contrária ao

sigilo: por enquanto com muita timidez, já admite quebra de sigilo

nos casos de comprovada ilicitude.

Não se pode admitir que em nome de um direito subjetivo o

indivíduo possa prejudicar o direito subjetivo de outrem. Logo, não é possível, sob

pena de subversão da própria concepção do direito, admitir-se sigilo bancário

absoluto, sob o pálio dos direitos de intimidade, quando se sabe que as

operações bancárias, mesmo as mais lícitas, envolvem mais de duas pessoas: o

cliente, o banco e um terceiro interessado, que no mínimo, é a Fazenda Pública.

Isso sem levar em consideração que toda sorte de falcatruas, improbidades e

lavagem de dinheiro desenrolam-se nos bancos e são utilizadas para a prática de

crimes financeiros, lesarem credores e burlar o fisco. Sopesando os argumentos

lançados, a sociedade está a exigir o abrandamento do sigilo, já que de direito à

intimidade não se trata.

170 DESSANDRE, Adilson. O sigilo bancário. Seleções Jurídicas ADV Advocacia Dinâmica, maio 1997, p. 37.

111

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É indiscutível a importância da responsabilidade civil dos

estabelecimentos bancários, que desfruta na relação das pessoas físicas e

também nas pessoas jurídicas, considerando estar presente no Código Civil com

ênfase no Código de Defesa do Consumidor.

Em síntese, o que foi dito é a moderna teoria da obrigação

que a responsabilidade civil das empresas bancárias deve ser vista sob o crivo da

teoria do Risco do Negócio, adotando-se o princípio da boa-fé objetiva como

norma de conduta.

O resultado para hipótese apresentada é que quando existir

um dano, só poderá existir indenização se tiver prejuízo, visto que a

responsabilidade decorre na obrigação de ressarcir.

Nas instituições financeiras, a responsabilidade decorre da

violação do dever de segurança, prestação de serviço com legitimidade esperada.

Ocorrido o acidente de consumo, as instituições financeiras terão de indenizar a

vítima independentemente da culpa, só satisfazendo a relação de causa e efeito

entre o defeito do serviço e o dano.

As instituições financeiras são responsável no maior grau

dada a natureza da alta profissionalização de sua atividade.

O direito como forma de pacificação de uma estabilidade

social e de harmonia entre os indivíduos que integram a sociedade, seja pela

prática de atos ilícitos, seja por culpa ou por eventos considerados imprevistos

pelos indivíduos, os quais são extremamente regulamentados pela Legislação

Civil.

112

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 8 ed., São Paulo: Saraiva, 2002.

ALVIM, Agostinho. Da inexecução das obrigações e suas conseqüências. 3

ed., Editora Jurídica e Universitária, 1975.

BATALHA, Wilson de Souza Campos. Títulos de crédito, doutrina e

jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense, 1989.

BENJAMIM, Antônio Hermen Vasconcellos. Comentários ao Código de

Proteção do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 1991.

BRASIL, Celso. Dicionário Jurídico de Bolso: termos e expressões latinas de

uso forense. Campinas: M. E. Editora e Distribuidora, 2001.

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Propaganda de responsabilidade civil. 2 ed., São

Paulo: Malheiros, 2000.

CAHALI, Yussef Said. Dano moral, 2 ed., rev. atual., São Paulo, Revista dos

Tribunais, 1998.

CAHALI, Yussef Said. A reparação do dano moral no direito brasileiro. 4 ed.,

1996.

COELHO, Fábio Ulhoa. Código comercial e legislação complementar

anotados. 2 ed., São Paulo: Saraiva, 1996.

COELHO. Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 12 ed., São Paulo:

Saraiva, 2000.

COELHO, Fábio Ulhoa. O empresário e os direitos do consumidor. São Paulo:

Saraiva, 1994.

113

COSTA JUNIOR, Paulo José da. O direito de estar só. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1970.

COVELLO, Sérgio Carlos. O sigilo bancário, com particular enfoque na tutela

civil. São Paulo: Livraria Editora Universitária de Direito, 1991.

DEPAGE, Henri. Op. Cit., n˚ 948. Apud PEREIRA, Caio Mário da Silva.

Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forence, 1997.

DESSANDRE, Adilson. O sigilo bancário. Seleções Jurídicas ADV Advocacia

Dinâmica, maio 1997.

DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 1º vol., Rio de Janeiro:

Forense, 1979.

DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 9 ed., Rio de Janeiro: Forense,

1994.

DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. São Paulo: Saraiva, 1995.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 7º vol., 2 ed., São Paulo:

Saraiva, 1986.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 7º vol., 13 ed., São Paulo:

Saraiva, 1999.

DOTTI, René Ariel. Proteção da vida privada e liberdade de informação, São

Paulo, Revista dos Tribunais, 1980.

FELIPE, Jorge Franklin Alves. Contratos bancários em juízo. Rio de Janeiro:

Forense, 1999.

FERNANDES, Milton. Proteção civil da intimidade, São Paulo: Saraiva, 1997.

114

GARCEZ NETO, Martinho. Responsabilidade civil no direito comparado. Rio

de Janeiro: Renovar, 2000.

GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil dano e defesa do

consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 6 ed., São Paulo:

Saraiva, 1995.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8 ed., São Paulo:

Saraiva, 2003.

KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código

de defesa e proteção do consumidor. Porto Alegre: Síntese, 1998.

LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: Um dialógo com Hannah

Arendt, São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

Lei n. 8.078, de 11.09.1990. Código de Defesa do Consumidor.

LOPES, Miguel Maria Serpa. Curso de direito civil. 1º Vol., 3 ed., São Paulo:

Livraria Freitas Bastos, 1967.

MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato de produto. São

Paulo: RT, 1993.

MIRANDA, Darcy Arruda. Anotações ao código civil brasileiro. 3 ed., São

Paulo: Saraiva, 1995.

MOTTA, João Antônio César da. Revista Forense. Vol. 362. Rio de Janeiro,

2002.

115

NERY JÚNIOR, Nelson, Código brasileiro de defesa do consumidor -

comentado pelos autores do anteprojeto, Ada Pellegrini Grinover et al., Rio de

Janeiro: Ed. Forense Universitária, 1998.

PEREIRA, Caio Mário. Responsabilidade civil. nº. 45, Rio de Janeiro: Ed.

Forense.

REVISTA FORENSE, Publicação bimestral volume 362, 1º vol. – 2002 Rio de

Janeiro: Forense. 2002.

RODRIGUES, Sílvio. Responsabilidade civil. 14 ed., São Paulo: Saraiva, 1983.

SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil – responsabilidade civil. 3

ed., São Paulo: Atlas, 2003.

SANTOS, J. Ozéias. Código de defesa do consumidor comentado. Campinas:

Agá Juris, 1998.

SANTOS, Ulderico Pires dos. A responsabilidade civil na doutrina e na

jurisprudência, 2 ed., Rio de Janeiro: Forense,1976.

SILVA, César Antônio da. Ônus e qualidade da prova no cível. Rio de Janeiro:

Aide, 1991.

SILVA, Geraldo José Guimarães da. Direito bancário e temas afins. Campinas:

CS Edições, 2003.

SILVA, João Galvão da. Responsabilidade civil do produtor. Coimbra:

Almedina, 1990.

STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. 2

ed., Revista dos Tribunais, 1995.

116

STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. 4

ed., Revista dos Tribunais, 1999.

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed., São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2004.

STORNIOLO, IVO E BALANCIN, EUCLIDES MARTINS. BÍBLIA.N.T. Português,

Mateus, Bíblia Sagrada, São Paulo: Edições Paulinas, 1990.

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. São Paulo:

Saraiva, 1994.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4º vol., 4 ed., São

Paulo: Atlas, 2004.

ZANBRANA, Alberto. Dicionário de informática, 2004. Disponível em:

http://www.dicweb.com/. Acesso 01 maio 2006.

WALD, Arnold. Direito do consumidor e suas repercussões em relação às instituições financeiras. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989.