responsabilidade civil ambiental offshore · a atual geopolítica brasileira do petróleo e seus...

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Revista da Faculdade de Direito de Campos, Ano VII, Nº 9 - Dezembro de 2006 145 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL OFFSHORE Luiz Cláudio Carvalho de Almeida * SUMÁRIO: 1. Apresentação. 2. Os desafios da produção sustentável. 3. A atual geopolítica brasileira do petróleo e seus efeitos jurídicos. 4. A concepção do sistema de responsabilidade civil ambiental. 5. Os aspectos jurídicos relevantes do meio ambiente em sede de reparação. 6. Da relevância do monitoramento ambiental na atividade de produção de petróleo. 7. Da área de estudo. 8. O monitoramento do campo estudado. 9. O limite de tolerabilidade. 10. A relatividade do conceito de tolerabilidade. 11. A precaução e sua influência benéfica na questão ambiental. 12. O direito ambiental como direito humano fundamental. 13. A dignidade da pessoa humana. Referências. RESUMO: * Mestre em Relações Privadas e Constituição pela FDC. Professor da graduação do curso de direito da FDC. Promotor de Justiça no Estado do Rio de Janeiro. O presente trabalho tem por escopo anali- sar as questões da problemática ambiental consequente das atividades de exploração energética em Campos dos Goytacazes, a partir de experiências de monitoramento ambiental no meio marinho. Palavras-chave: Meio Ambiente; Monitoramento Ambiental ABSTRACT: The presentation work focus on analysing matters of environmental nature consequences of oil exploitation activities in Campos dos Goytacazes, taking into acount the monitoring experiences od marine environment. Key-words: Environment; Enviromental Monitoring

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Revista da Faculdade de Direito de Campos, Ano VII, Nº 9 - Dezembro de 2006

LUIZ CLÁUDIO CARVALHO DE ALMEIDA 145

RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTALOFFSHORE

Luiz Cláudio Carvalho de Almeida*

SUMÁRIO: 1. Apresentação. 2. Os desafios da produçãosustentável. 3. A atual geopolítica brasileira do petróleo e seusefeitos jurídicos. 4. A concepção do sistema de responsabilidadecivil ambiental. 5. Os aspectos jurídicos relevantes do meioambiente em sede de reparação. 6. Da relevância domonitoramento ambiental na atividade de produção de petróleo.7. Da área de estudo. 8. O monitoramento do campo estudado.9. O limite de tolerabilidade. 10. A relatividade do conceito detolerabilidade. 11. A precaução e sua influência benéfica naquestão ambiental. 12. O direito ambiental como direito humanofundamental. 13. A dignidade da pessoa humana. Referências.

RESUMO:

* Mestre em Relações Privadas e Constituição pela FDC. Professor dagraduação do curso de direito da FDC. Promotor de Justiça no Estadodo Rio de Janeiro.

O presente trabalho tem por escopo anali-sar as questões da problemática ambiental consequente dasatividades de exploração energética em Campos dos Goytacazes,a partir de experiências de monitoramento ambiental no meiomarinho.Palavras-chave: Meio Ambiente; Monitoramento Ambiental

ABSTRACT: The presentation work focus on analysingmatters of environmental nature consequences of oil exploitationactivities in Campos dos Goytacazes, taking into acount themonitoring experiences od marine environment.Key-words: Environment; Enviromental Monitoring

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1. Apresentação

Neste ensaio abordamos as questões da problemáticaambiental a partir de experiências de monitoramento ambientalno meio marinho. Em face dos avanços tecnológicos obtidospelo Brasil no que tange à indústria de petróleo offshore, parece-nos ser possível, do ponto de vista financeiro e técnico,caracterizar com precisão científica e objetivamente se houveou não danosidade em casos de constatação de impactosambientais significativos causados como decorrência dasatividades desenvolvidas na produção de petróleo e outroshidrocarbonetos na Bacia Sedimentar de Campos. Porconseguinte, percebemos a relevante contribuição que omonitoramento ambiental das atividades petrolíferas seria capazde fornecer ao órgão julgador diante do caso em concreto, emsede de responsabilidade civil, à luz do conceito de tolerabilidadeambiental, a ponto de sugerirmos sua inclusão expressa no textolegal federal, como um dos instrumentos da política nacional domeio ambiente. Para tanto, objetivando buscar formas alternativasde travar a relação entre o já conhecido e o novo, passamos emexame o percurso evolutivo da responsabilidade civil ao longodo tempo até os dias de hoje, em que procuramos destacar apessoa da vítima, induzindo as nossas elucubrações para anecessidade do deslocamento da concepção ambientalantropocêntrica para a concepção holística, tendo comoreferência o Direito como meio e a dignidade da pessoa humanacomo fim. Em nossa ótica, o sistema de responsabilização civilambiental deve ser aperfeiçoado a partir dessa premissa.

No tempo e espaço em que o mundo redesenha suasfronteiras, os países reestruturam suas políticas e o homemrepensa seu existir, é mais do que oportuno refletir sobre aspectosda responsabilidade civil ambiental offshore causados porpossíveis impactos das plataformas marítimas de produção depetróleo e gás natural no norte do Estado do Rio de Janeiro.

O percurso evolutivo da responsabilidade civil vemsofrendo substancial transformação ao ser exposto um novonorte, isto é, ao deslocar-se o eixo da obrigação:

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(…) do ofensor de responder por suasculpas para o direito da vítima de terreparadas as suas perdas. Assim, o foco,antes posto na figura do ofensor, emespecial na comprovação de sua falta,direcionou-se à pessoa da vítima, seussentimentos, suas dores e seus percalços.1

As respostas que pretendemos encontrar no presentetrabalho podem, de certa maneira, ser percebidas com a mudançaconceitual ocorrida no fundamento filosófico da responsabilidadecivil no século passado. Tais transformações estariam a significar,afinal, a passagem do ato ilícito para o dano injusto.2

Assim concebidas tais premissas, passamos a analisar, nasatividades da indústria de petróleo na região, a conduta de agentesexploradores e produtores, o fato danoso e o nexo de causalidade,isto é, os elementos da responsabilidade civil ambiental,objetivando buscar formas alternativas de travar a relação entreo já conhecido e o novo a partir do deslocamento da concepçãoambiental antropocêntrica para a concepção holística, tendo comoreferência o Direito como meio e a dignidade humana como fim.

Diante da dificuldade de medirmos a extensão dadanosidade ambiental e sua valoração indenizatória e ainda, dedeterminarmos o limite e a intensidade da degradação capaz dedetonar a obrigação ambiental reparatória, percebemos a grandevalia do monitoramento ambiental adequado para equacionar oproblema.

Como é sabido, classicamente é admitido que, a condutalesiva do agente que se pretende responsabilizar deve sercontrária ao Direito. Em outros termos, para o Direito sóinteressariam as ocorrências de caráter significativo, cujosreflexos negativos transcendessem aos padrões de suportabilidadeestabelecidos, tendo em vista que o meio ambiente é capaz desuportar determinados impactos ambientais.

1 MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma leitura Civil-Constitucional dos Danos Morais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 12.2 MORAES, Maria Celina Bodin de. Op. cit. p. 13.

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Realce-se, ainda, que a obrigação de reparação de danosambientais em determinados Estados brasileiros como, porexemplo, São Paulo, foi ampliada e alcança determinadasatividades, perigosas ou não, que por si só são capazes de criaro risco de provocar danos, ainda que sem infração a qualquerdispositivo legal específico ou sem haver culpa ou dolo, sendojustificada a sanção pela violação ao dever jurídico genéricosegundo o qual a ninguém é permitido causar dano a outrem,exceto se houver fundamento legal para tanto. Em sínteseapertada: não se exige a efetiva ocorrência do dano, mas tãosomente o perigo de seu desencadeamento. É a admissãoexpressa de presunção de perigo de dano. Entretanto, o nossoordenamento jurídico vigente não admitiu ainda tal teoria, emnível federal.

Tais presunções legais relativas, caso incrementadas nonosso sistema de Direito, deveriam ser utilizadas somente emsituações extremas e, desde que os elementos de convicçãofossem suficientes para configurar uma provável existência dedanosidade ambiental no meio marinho.

A propósito, cabe mencionar artigo internacional doprofessor Fuenzalida, que nos dá notícias da adoção de presunçãolegal de dano derivada da contaminação do meio ambientemarinho. Tal presunção, no entanto, como bem nota o autor“admite prova técnico-científica em contrário”.3

Por outro lado, outro elemento essencial à responsabilidadeambiental é o nexo de causalidade entre determinado dano e aconduta lesiva. Em outros termos, para que se possa obrigaralguém a recompor patrimônio alheio é preciso comprovar tersido sua conduta a causa ou, ao menos, uma das causas do dano.

No que tange à responsabilidade subjetiva e objetiva, noBrasil os expressivos exemplos do Código de Defesa do

3 FUENZALIDA, Rafael Valenzuela. Responsabildad civil por daño ambiental enla legislación chilena. Revista de Direito Ambiental, n. 20. São Paulo: Revista dosTribunais, 2001. p. 25.

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Consumidor,4 da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente5 eda própria Constituição da República,6 dentre outros, autorizamque se afirme que, não obstante a regra geral do artigo 186 donovo Código Civil Brasileiro,7 existe na verdade um sistemadualista, onde o sistema tradicional da culpa coexiste com o dorisco proveniente de atividades perigosas.8

Como se sabe, o direito pátrio estabeleceu que a reparaçãode danos ao meio ambiente no Brasil é objetiva e está fundadano risco da atividade como fundamento para a responsabilização.9

A adoção da teoria objetiva para a reparação de danosambientais por certo contribuiu para o atendimento do interessepúblico de conservação do meio ambiente em condições degarantir a continuidade da vida no planeta, em sua plenitude, emsuas mais variadas vertentes.

A conclusão inelutável a que se chega, portanto, sobreevento danoso, é aquela que entende ser o mesmo resultante deatividades que, direta ou indiretamente, cause a degradação domeio ambiente ou a de um ou mais de seus componentes.

A esse respeito Milaré traz à baila pertinente consideraçãoque consiste em “precisar a linha de fronteira entre o limite e aintensidade do dano capaz de detonar a obrigação reparatória civil”.10

4 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Lei 8.078, de 11 de setembro de1990. In Código de defesa do consumidor, legislação de defesa comercial e daconcorrência, legislação das agências reguladoras. São Paulo: RT, 2003. p.241-263.5 BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. In Coletânea de legislação de direitoambiental e Constituição Federal. São Paulo: RT, 2002. p. 563-572.6 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. In Coletânea delegislação de direito ambiental e Constituição Federal. São Paulo: RT, 2002. p.01-120.7 BRASIL. Código Civil. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. In Código civilcomparado. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 01-489.8 TEPEDINO, Gustavo José Mendes. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro:Renovar, 1999. p. 177.9 Cf. BARACHO JUNIOR, José Alfredo de Oliveira. Responsabilidade Civil porDano ao Meio Ambiente. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 322; MILARÉ,Édis. Direito do Ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2ª ed.rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 428.10 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 429.

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Devemos perceber, como bem observa ainda o próprioMilaré, que o dano ambiental tem características peculiares emanifesta-se sob vários aspectos: é de difícil reparação, afetaum grande número de vítimas, e no presente estágio deconhecimento científico nem sempre é possível calculá-lo emsua totalidade.11

Além disso, seus efeitos freqüentemente não ocorrem umaúnica vez, nem em um só lugar, mas, sim, em época, espaço esob variados feitios. Em virtude dessas particularidades que lhessão peculiares, os citados danos tornam-se, em muitos casos, depenosa comprovação.

À medida que os avanços tecnológicos se multiplicam,parece-nos ser possível caracterizar com precisão científica eobjetivamente, se houve ou não danosidade em casos deconstatação de impactos ambientais significativos causados emrazão das atividades desenvolvidas na produção de petróleo eoutros hidrocarbonetos na Bacia Sedimentar de Campos.

Por conseguinte, percebemos a importância domonitoramento ambiental (antes, durante e depois) na ocasiãodo planejamento da atividade, de modo que continuamente asvariáveis ambientais sejam objetos de pesquisas científicasambientais, reforçando o conhecimento do meio biótico e abiótico,no entorno das plataformas que desenvolvem atividades deprodução de petróleo offshore na Bacia Sedimentar de Campos.

Ao proceder a medição dos diversos indicadores dequalidade ambiental, devemos considerar ainda as característicasambientais da região, ou seja: elevadas velocidades de correntesmarinhas associadas à corrente do Brasil, elevada estratificaçãodevido à superposição de várias massas d’água, intensos ventosdo quadrante Nordeste associados ao centro de alta pressão doAtlântico Sul o que promove a significativa agitação marítima deondas, lâmina d’água em valores superiores a 1000 (mil) metrose grandes distância da costa.

11 Ibidem. p. 423-424.

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O princípio da qualidade ambiental deve então absorvermecanismos de regulação da vida social, especialmente osavanços científicos, e ser traduzido em normas jurídicas.

A efetividade da reparação de danos ambientais por meiode ações de responsabilidade requer que se considerem ascaracterísticas próprias e peculiares de que eles se revestem.Tais características próprias, como já dito, muitas vezes os tornamde difícil comprovação e é recomendado que o processo deconhecimento e de comprovação da ocorrência dessa modalidadede danos seja aperfeiçoado.

O aperfeiçoamento por que se propugna é necessário paraque, no campo ambiental, a responsabilidade civil alcance opróprio fim a que se destina, qual seja, propiciar reparação dedanos, e ainda permaneça com os imperativos legais econstitucionais de manutenção do equilíbrio ecológico, direito detodos, na perspectiva da dignidade humana.

Neste sentido, procuramos tratar as mais relevantesdeterminações constitucionais e infraconstitucionais sobre amatéria, encontradas entre tantas disposições constitucionais, nosDireitos e Garantias Fundamentais e na Ordem Social.

Com efeito, algumas questões devem ser consideradas:que tipo de dano é o dano ambiental? Qual a intensidade capazde deflagrá-lo? Que dimensão deve alcançar? Como mensurá-lo? Como prová-lo? Qual o melhor meio de prova?

Assim, a questão a ser perseguida no presente ensaio é:qual a linha de fronteira entre o limite e a intensidade dadegradação ambiental (MIRRA, 2002, p. 101-105) offshorecapaz de detonar a obrigação reparatória que deve fundamentara responsabilidade civil ambiental objetiva no caso de constataçãode impactos ambientais significativos causados em razão dasatividades desenvolvidas na produção de petróleo e outroshidrocarbonetos na Bacia Sedimentar de Campos?

Na perspectiva de responder a questão levantada,buscamos respaldo nas colocações do professor Tepedino aoafirmar que o esforço hermenêutico do jurista deve ser tamanhoque sua interpretação deve ser feita à luz dos valores

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constitucionais, neste caso, mesmo em presença de aparentesubsunção de uma norma a um caso concreto, se faz necessáriopesquisar a justificativa constitucional daquele resultadohermenêutico.12

A adoção da melhor prova técnico-científica deve encontrarrespaldo em fundamentos de ordem ética, assim como em normasconstitucionais e infraconstitucionais.

Desta forma, a melhor prova técnico-científica é aquelaque reconhece a importância da reparação dos danos ambientaisa partir de um processo justo onde o respeito ao contraditório ea ampla defesa sejam garantias imperativas.

Diante do exposto, a hipótese apresentada no presenteestudo é que a linha de fronteira entre o limite e a intensidade dadegradação ambiental offshore só deve ser definida a partir daadoção de estudos técnico-científicos obtidos através demonitoramento ambiental, capazes de demonstrar se os fatosocorridos são aptos a ocasionar danos ou não ao meio ambienteà luz do princípio da tolerabilidade, na expectativa de oferecersempre maior proteção à qualidade de vida e proeminência àdignidade humana.

Essa pequena digressão serve a introduzir as discussõesa serem aqui enfrentadas.

Inicialmente abordamos as questões da problemáticaambiental, repensando o mero crescimento econômico, buscandofórmulas alternativas, como o desenvolvimento sustentável, quesob nosso olhar significa alcançar o equilíbrio mais que desejávelentre o desenvolvimento da indústria de petróleo na região nortefluminense, a preservação ambiental e a melhoria da qualidadede vida, alicerce indispensável para o alcance da dignidade dapessoa humana.

A seguir, examinamos experiências de monitoramentoambiental no meio marinho efetuadas pela estatal de petróleo nabacia sedimentar de Campos em atividade na região. Em facedos avanços tecnológicos obtidos pelo Brasil no que tange à

12 TEPEDINO, Gustavo José Mendes. Op. cit. p. 01-22.

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indústria de petróleo offshore, parece-nos ser possível, do pontode vista financeiro e técnico, caracterizar com precisão científicae objetivamente, se houve ou não danosidade em casos deconstatação de impactos ambientais significativos causados emrazão das atividades desenvolvidas na produção de petróleo eoutros hidrocarbonetos na Bacia Sedimentar de Campos.

Por conseguinte, percebemos a relevante contribuição queo monitoramento ambiental das atividades petrolíferas seria capazde fornecer ao órgão julgador diante do caso em concreto, emsede de responsabilidade civil, à luz do conceito de tolerabilidadeambiental.

Na derradeira parte do desenvolvimento do trabalho,buscamos refletir sobre a conveniência de privilegiar a visãoholística de meio ambiente em detrimento da visãoantropocêntrica. A nosso ver o sistema de responsabilização civil,em especial o ambiental, à luz do conceito de tolerabilidade, estáem evolução e deve ser aperfeiçoado ainda mais, a partir dessapremissa.

O sistema de direito, a partir da Constituição da RepúblicaFederal de 1988, tomou consciência de que a qualidade do meioambiente se transforma num bem, num valor mesmo, cujapreservação, recuperação e revitalização se tornaram umimperativo da humanidade, para assegurar a saúde, o bem-estardo ser humano e a condições de seu desenvolvimento; emverdade, para assegurar o direito fundamental à qualidade devida. As normas constitucionais assumiram assim a consciênciade que o direito à vida, como matriz de todos os demais direitosfundamentais do homem, é que há de orientar todas as formasde atuação no campo da tutela do meio ambiente, valorizandoassim a dignidade da pessoa humana.

Em síntese, o presente ensaio se insere no campo daDogmática Civil-Constitucional, na medida em que objetivaoferecer uma participação no sentido da construção de um sistemade hermenêutica que privilegie o ser humano a partir de umavisão holística.13

13 Tal percepção é particularmente sentida nas precisas observações de MILARÉ,

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2. Os desafios da produção sustentável

Um dos grandes desafios da atualidade e, em especial, daregião produtora de petróleo e gás natural, e por que não dizerdo país, é estabelecer uma essencial conciliação entre o inevitávelcrescimento econômico-social, mais que necessário, e apreservação de nossos bens ambientais, com destaque para omundo marinho. No ponto, reputamos inatacável o magistériode Milaré, quando aduz sobre o desenvolvimento sustentável,“cuja característica principal consiste na possível e desejávelconciliação entre o desenvolvimento, a preservação do meioambiente e a melhoria da qualidade de vida”.14

De toda sorte, como sabemos, com a industrialização,desenvolveu-se o capitalismo pleno, que predomina até os dias de hoje.

Julgamos pertinente esclarecer, que, para o país e, emespecial, à região, obter um adequado desenvolvimentosustentável é sumamente necessário que modifiquemos antesas nossas relações de consumo. Consumimos o petróleo e gásnatural produzidos; produzimos o que a sociedade contemporâneaexige: produzimos sem cessar...

Preliminarmente, pode-se dizer, a rigor, “que a questão dopetróleo suscita, irremediavelmente, a discussão quanto àsoberania sobre os recursos naturais”.15

A matéria da origem da soberania estatal permanentesobre os recursos naturais, principalmente para as operações deprodução de petróleo offshore, é magistralmente enfrentada porMarilda Rosado de Sá Ribeiro (2003), que identifica as primeiras

Édis. Op. cit. p. 135, o qual salienta, em passo lapidar: “A visão filosófica decunho antropocentrista não pode ser considerada como a mais apropriada ouexclusiva; pelo menos, não tem peso absoluto no ordenamento jurídico, uma vezque a Ética da Vida (ou Bioética) e o próprio Direito Natural conferem aos bensambientais características que superam o pragmatismo ordinário com que osrecursos naturais e bens ambientais costumam ser caracterizados, ordenados eutilizados (muitas vezes ao talante de meros caprichos de indivíduos e grupos)”.14 Ibidem, p. 41.15 RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. Direito do Petróleo: as joint ventures naindústria do petróleo. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 121.

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discussões sobre soberania permanente no início da década de1950. Com o término da Segunda Grande Guerra Mundial, asoperações de produção de petróleo em áreas offshoreultrapassaram os limites do mar territorial e da jurisdição do EstadoCosteiro.16

Sublinhe-se, ainda, que “a questão da soberania sobre osrecursos naturais passou a ser considerada também um ‘direitoao desenvolvimento’, demonstrando uma natureza político-jurídica”.17

Por outro lado, “a arbitragem sempre teve um papelfundamental nos conflitos entre os Estados, no âmbito do DireitoInternacional Público, em razão de os Estados absterem-se douso da força”.18

Tal constatação revela um princípio de DireitoInternacional, no qual os países hospedeiros desempenhem, embenefício de sua soberania, expropriações ou nacionalizaçõesde investimentos, desde que sejam obedecidos certos requisitos.19

A arguta observação nos leva a perceber que, entre oscontratos que podem ser firmados entre o Estado e o investidorestrangeiro, realce específico é dado àqueles que tratam “daoperação de um serviço público ou da exploração dos recursosnaturais em determinado país”.20

Registre-se, ainda, importante preocupação dedeterminados países, de estabelecer nos contratos petrolíferoslimites que garantam sua soberania, uma vez que nenhum delesestá disposto a celebrar um contrato que garanta a uma empresaestrangeira o controle do petróleo dos mesmos.21

16 Ibidem, p. 124.17 Ibidem, p. 128.18 Ibidem, p. 134.19 No ponto, destacamos com relação aos citados requisitos que: “primeiro, nãodeve haver nenhum tipo de acordo em sentido contrário; e segundo, que osreferidos atos se executem dentro de algumas ‘linhas mestras’. São elas (i) que osatos sejam realizados em virtude de interesse público, (ii) que sejam não-discriminatórios, e (iii) que sejam acompanhados de adequada e justa indenização”(DARDEN, Michael P. Apud RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. Op. cit. p. 128).20 RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. Op. cit. p. 131.21 Ibidem, p. 142.

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A tudo isso soma-se, a título de exemplo, uma tendênciade adesão da grande maioria dos Estados, em favor da arbitragem“como meio de solução de controvérsias nos contratos deexploração e produção de petróleo. Entre eles se colocam:Dinamarca, Dubai, Noruega, Omã, Reino Unido (...)”. Noentanto, “em contraposição, os Estados que prevêem a jurisdiçãoestatal como meio de solução de controvérsias são a minoria;Argentina, Estados Unidos, Equador e Colômbia”.22

Curiosamente, percebemos a presença da única superpotênciamundial entre os últimos.

Tal cenário se confirma igualmente na questão relativa àarbitragem, nos contratos para a exploração e produção de petróleoe outros hidrocarbonetos. Por outro lado, o tema em tela leva asubmergir outro viés, que é o dos contratos com o Estado, emespecial as cláusulas decorrentes de questões ambientais.

Prevalece, em todo esse complexo sistema contratual, aótica e a lógica da solução dos conflitos, aí incluídos, sobretudo, osdecorrentes das questões ambientais, a busca da solução do conflito“por um dos meios pacíficos de solução de controvérsias”.23

Face a esse esforço e empenho assevera-se: “a área dopetróleo demonstra de forma ímpar a tensão dialética entresoberania e cooperação”.24

A matéria, de grande interesse prático, acima exposta,agita, diuturnamente, a praxe da indústria de petróleo,especialmente na questão ambiental.

22 Ibidem, p. 141.23 Tal preocupação é particularmente sentida nas precisas observações de MELLO,Celso D. de Albuquerque, apud RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. Op. cit. p. 135,o qual salienta, em passo lapidar: “Entre os deveres de cooperação lato sensu dosEstados, no campo da proteção internacional do meio ambiente, as obrigaçõesespecíficas de abstenção do uso da força, como meio de solucionar controvérsiasentre os Estados, ganham relevância, não só em razão de os deveres de cooperaçãoterem uma importância crescente na atuação dos mecanismos sob a égide deorganismos internacionais intergovernamentais, como também em razão demandamentos específicos de normas do Direito Internacional do Meio Ambiente,com base em dispositivos esparsos ou em cláusulas específicas em tratados ouconvenções internacionais”.24 RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. Op. cit. p. 13.

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Note-se, neste passo, as precisas observações de MarildaRosado de Sá Ribeiro:

O engajamento das empresas de petróleona defesa do meio ambiente resultou emprogramas de pesquisa conjunta,integrando universidades, empresas egovernos, e exigiu o melhor conhecimentodos possíveis impactos ambientais geradospor cada uma das etapas das atividades daindústria. O respeito ao meio ambientecoloca-se na fronteira do desafiotecnológico às operações em águasprofundas, mas também, no aspecto finalista,em termos de sobrevivência da humanidade,que exige uma atuação concertada dosEstados e dos agentes privados.25

Como é do conhecimento de todos, a proteção ambientalinsculpiu-se em nosso ordenamento jurídico, ganhando inclusivestatus constitucional.

Especificamente no meio marinho, a Constituição Federalde 1988 define que o domínio brasileiro se estende sobre o marterritorial, os recursos naturais da plataforma continental e a zonaeconômica exclusiva.26

Neste contexto, o Brasil tem ampla liberdade para protegero já referido ambiente marinho e tal proteção é garantida atravésda legislação brasileira, bem como pelos instrumentos internacionaiscomo as Convenções, os Tratados, além de tantos outros.

A propósito, vale reforçar que as reservas de petróleo egás natural ainda são da propriedade da União, que deverá atribuiro aproveitamento econômico a terceiros, no caso os

26 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. In Coletânea delegislação de direito ambiental e Constituição Federal. São Paulo: RT, 2002. p.01-120.

25 RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. Op. cit. p. 50.

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concessionários, tudo com base no sistema dominial consagradono texto constitucional.27

A bacia sedimentar de Campos representa, hoje em dia, omaior patrimônio petrolífero do país.

Atualmente, outras empresas figuram comoconcessionárias da Agência Nacional de Petróleo -ANP- alémda estatal, o que conseqüentemente poderá incrementar osprejuízos ambientais na citada bacia, tornando a questão dareparação ambiental palavra de ordem neste cenário.

Diante da inevitabilidade da ocorrência de impactos no meiomarinho e do atentado que eles constituem ao direito a viver-se emambiente equilibrado, uma das soluções mais eficazes de que a ciênciajurídica dispõe para enfrentá-los é a responsabilidade civil.

O dano ambiental pode ser definido doutrinariamente comosendo toda degradação do meio ambiente, incluindo os aspectosnaturais, culturais e artificiais que permitem e condicionam avida, visto como bem unitário imaterial, coletivo e indivisível, edos bens ambientais e seus elementos corpóreos e incorpóreosespecíficos que o compõem, caracterizadora da violação dodireito difuso e fundamental de todos à sadia qualidade de vidaem um ambiente são e ecologicamente equilibrado.28

No entanto, este não pode ser confundido com a degradaçãoambiental, tendo em vista que a degradação ambiental, comosabemos, é conceituada como a lesão aos recursos ambientais,que poderão causar ou não um dano ambiental.

De outra parte, é imperioso verificarmos que embora aresponsabilidade civil por dano ambiental no Brasil independe de

27 No ponto, cf. PIRES, Paulo Valois. A evolução do Monopólio Estatal doPetróleo. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2000. p. 129-130, no qual destacamos oseguinte: “O petróleo e o gás natural somente passam a ser de propriedade doconcessionário quando da sua extração do subsolo e passagem pelo ‘ponto demedição’. Ou seja, as reservas, ainda que dentro de área afeta à concessão, são depropriedade da União, que poderá atribuir o seu aproveitamento econômico aterceiros (no caso, aos concessionários) com base no sistema dominial consagradopela Carta de 1988".28 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano aomeio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 89.

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culpa, por estar baseada na teoria do risco, dispensando segundoCappelli, “inclusive a constatação de ilicitude da atividade”.29

No nosso pensar, o conceito de poluição oferecido pelaLei 6.938, de 31 de agosto de 1981, em seu artigo 3º, III,30 permite-nos concluir em sentido oposto. É que “nem toda poluição écapaz de gerar dano ambiental”.31

A propósito, bem sintetiza Cappelli: “Não se confundemos conceitos de poluição e de dano ambiental”.32

No discorrer de nossos estudos, abordaremos com maiorclareza tal assunto, sob o prisma do limite da tolerabilidade.

Como observa Milaré, podemos identificar, no DireitoBrasileiro, duas espécies de dano ambiental. O dano ambientalpúblico e o dano ambiental privado. Este dá ensejo à indenizaçãodirigida à recomposição do patrimônio individual das vítimas eaquele dá origem à reparação de danos causados ao própriomeio ambiente e os recursos de uma eventual condenação sãodestinados à reconstituição dos bens ambientais lesados, se istofor possível.33

Nesse contexto, o ecossistema surge como vítima sociale a solução da ofensa, como já dito, será diferenciada. É bomque se diga, que a Lei 6.938/81 prevê, expressamente, as duasmodalidades de danos no seu artigo 14, § 1º.

É digno se destacar que o dano ambiental se caracterizaprincipalmente pela pulverização de vítimas, pela dificuldade desua reparação e por sua difícil valoração.

Uma questão extremamente importante que deve ser aquiressaltada é que o conceito de impacto ambiental, bem como ode poluição é, basicamente, um conceito antropocêntrico. Ele

29 CAPPELLI, Silvia. Avaliação de Impacto Ambiental e o Componente daBiodoversidade. In Revista de Direito Ambiental, nº 24. São Paulo: RT, 2001. p.940.30 BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. In Coletânea de legislação dedireito ambiental e Constituição Federal. São Paulo: RT, 2002. p. 563-572.31 CAPPELLI, Silvia. Op. cit. p. 94.32 Ibidem, loc. cit.33 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 422-423. No mesmo sentido LEITE, José RubensMorato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo:Revista dos Tribunais, 2000. p. 98-99.

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está calcado nos efeitos das ações humanas sobre osecossistemas e envolve, também, os efeitos dessas ações sobrea própria sociedade humana e sobre sua economia. É por issoque devemos entender que não há poluição natural e que impactoambiental, como aqui usado, refere-se às ações antrópicas aindaque, em sua avaliação, devamos considerar exteriores ambientaisnaturais, inclusive de grandes efeitos.

Não é possível estabelecer um modelo generalizado deimpacto ambiental, ou mesmo, de impacto sobre os ecossistemas,no qual haja uma redução do impacto com o aumento do controleda fonte de mudanças. As inúmeras interações entre os parâmetrosambientais e os ecossistemas inviabilizam qualquer simplificação.

À medida que os impactos ocorrem e se acumulam, aqualidade ambiental vai-se deteriorando e o meio ambiente perde,progressivamente, a natural capacidade de abrigar vida em suasmúltiplas formas. O ideal seria, evidentemente, que não ocorressemimpactos, pois assim não haveria degradação da qualidadeambiental e as condições propícias à vida não seriam afetadas.

Contrariamente ao que seria ideal, contudo, a realidadeda sociedade atual, mais do que a de qualquer tempo pretérito, éa de ocorrência de impactos ambientais de diferentes graus emodalidades provocados pelas atividades humanas. Conquantose somem esforços no sentido de desenvolver tecnologias deprodução ditas “limpas”, isto é, que provoquem degradaçãoambiental mínima como, por exemplo, a substituição parcial dafrota de veículos nacional, de motores que utilizam a gasolinapara sua combustão em favor do combustível Gás NaturalVeicular - GNV, os impactos ambientais continuam a proliferarcom freqüência em qualquer sociedade de produção industrial econsumo de massa.

No ponto, é importante relembrarmos aqui o conceito deresiliência de um ecossistema que não escapou à percepção e àargúcia de Tommasi.

Resiliência é a medida da capacidade de um sistemapersistir na presença de uma perturbação (...). Se essacapacidade existir, após terminar um dado impacto, o ecossistema

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se recupera e retorna a seu equilíbrio, a seu estado original. Ouentão, atingirá um novo equilíbrio. Se, porém, o impacto for deuma magnitude e importância que ultrapasse a capacidade derecuperação, isto é, a resiliência do ecossistema, ele entrará emprocesso de extinção.34

A propósito, torna-se imprescindível a verificação daocorrência ou não da resiliência do ecossistema pelo magistradocompetente, sob a ótica do princípio da tolerabilidade que, antesde efetuar seu julgamento, deverá este se valer da melhor provatécnica, numa ação de responsabilidade civil causada por danosambientais.

Outro aspecto de grande relevo, no tocante à principal formade reparação ao dano ambiental está, sem sombra de dúvida, noretorno ao status quo ante. Para tanto, é necessário estabelecermecanismos legais específicos de exigência de recuperação daárea degradada de acordo com a melhor solução técnica.

No que concerne à matéria ambiental, a dogmática daresponsabilidade deve estar inspirada nos princípios da solidariedadesocial, da isonomia substancial e da dignidade da pessoa humana,sendo fundamental que o julgador decida os conflitos atinentes àquestão ambiental, com base nos valores constitucionais.

Repita-se à exaustão, o esforço hermenêutico do juristaambiental deve ser de tal monta que sua leitura deve ser feitasob a ótica dos valores constitucionais. Assim, mesmo empresença de aparente subsunção de uma norma a um casoconcreto, é extremamente necessário buscar a justificativaconstitucional daquele resultado hermenêutico.35

Finalmente, no que concerne à responsabilidade civilambiental, estabelece o legislador que ela seja objetiva, induzindocom isso um novo tipo de comportamento ambiental por partedos concessionários responsáveis pela execução do monopólioda União, em operação na bacia sedimentar de Campos.

34 TOMMASI, Luiz Roberto. Estudo de Impacto Ambiental. São Paulo: CETESB& TERRAGRAPH, 1994. p. 16.35 TEPEDINO, Gustavo José Mendes. Op. cit. p. 1-22.

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Resta esclarecer, enfim, que embora esteja definitivamentecaracterizada a responsabilidade objetiva em termos de danoambiental, não são pacíficos, em sede de doutrina, os limitesdessa responsabilização, uma vez que existem inúmeras correntes,em especial o que diz respeito à questão das excludentes deresponsabilidade.36

Decorre daí a nossa pretensão de abordagem ao mesmotempo jurídica e socioeconômica que demonstre a importânciade se estudar a admissibilidade jurídica da utilização da melhorprova técnica como alternativa para aperfeiçoar e atribuir maiorequilíbrio por parte do Órgão Julgador à aplicação deresponsabilidade civil objetiva na reparação dos danos ao meioambiente, a partir do entendimento de que nos parece ser possívelmensurar e provar, com precisão científica e objetivamente, sehouve ou não danosidade.

Tendo como pano de fundo o desenvolvimento harmoniosoda economia e a adequada utilização dos recursos ambientais domeio marinho e a partir do entendimento doutrinário de que aresponsabilidade civil ambiental objetiva possa admitir a melhorprova técnica, como alternativa para aperfeiçoar e atribuir maiorefetividade à aplicação de responsabilidade civil na reparaçãodos danos ao meio ambiente, o presente estudo buscou investigare precisar qual a linha de fronteira entre o limite e a intensidadedo dano capaz de detonar a obrigação reparatória, na perspectivade oferecer sempre maior proteção à dignidade humana.

Eis aí a questão básica da investigação.O núcleo comum, de todo modo, em relação à busca

incessante de uma maior proteção à dignidade humana, encontrarespaldo em precisas e oportunas observações de Bodin deMoraes,37 que desenvolveu interessante e inovadora construçãoteórica acerca da Responsabilidade Civil. Como decorrência da

36 ATHIAS, Jorge Alex Nunes. Responsabilidade Civil e Meio Ambiente – BrevePanorama do Direito Brasileiro. In Benjamin, Antônio Herman V. (Cord.). DanoAmbiental: Prevenção, Reparação e Repressão. v. 2. São Paulo: Revista dosTribunais, 1993. p. 242-244.37 MORAES, Maria Celina Bodin de. Op. cit. p. 321-324.

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citada teoria, observamos a relevância do conteúdo normativo dadignidade da pessoa humana. Os quatro marcos axiológicos aserem amparados pela Responsabilidade Civil, na visão da citadaautora, apresentam fundamentos de ordem ética, uma vez queestão consubstanciados nos princípios constitucionais da igualdade,da integridade psicofísica, da liberdade e da solidariedade

O êxito de uma demanda de reparação de danosambientais depende, dentre outros fatores, da possibilidade de oautor comprovar a ocorrência de danos, de sua autoria e donexo de causalidade, isto é, da ligação entre determinado fato eos danos verificados. No estágio atual em que se encontra aevolução da responsabilidade ambiental, devemos considerar apossibilidade de se agregarem à teoria objetiva, mecanismos quedemonstrem a ocorrência ou não de danosidade ambiental,afastando assim sempre que possível a técnica jurídica dapresunção relativa ou absoluta de dano.

A nosso ver, a utilização de prova técnica pujantealcançada a partir de estudos completos de monitoramentoambiental constitui meio plausível de superar a dificuldade emquestão e assim, possibilitar a reparação ou não, a partir de umprocesso justo.

3. A atual geopolítica brasileira do petróleo e seusefeitos jurídicos

A Constituição Federal da República de 1988 em relaçãoao monopólio do petróleo concentrou em favor da União diversasatividades, sobretudo as relacionadas ao petróleo. Em verdade,o monopólio foi instaurado no Brasil, pela Lei nº 2.004/52, que apartir de sua vigência não sofreu qualquer modificação. Naquelaépoca coube exclusivamente à estatal de petróleo brasileira aexploração de tal atividade.38

Já sob a égide do atual Texto Constitucional, o monopólio,inicialmente, era exercido unicamente pela estatal de petróleo.

38 PIRES, Paulo Valois. Op. cit. p. 65-105.

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Como sabemos, o Texto Constitucional Federal de 1988estabelece em relação ao regime jurídico desses bens, trêsregras básicas:

· em relação à propriedade: art. 20, IX;· em relação à exploração e forma ampla: art. 176 e seusparágrafos;· em relação, especialmente, às atividades relativas aopetróleo e gás natural: art. 177 e seus parágrafos.

Nas hipóteses anteriores, optou o legislador constituinteem estabelecer a dominialidade da União, em detrimento dosoutros entes federativos.39

Em síntese, as jazidas de petróleo e outros hidrocarbonetosintegram a dominialidade pública.40

Com efeito, e ainda no dizer de Moraes:

A atividade de exploração e produção depetróleo e outros hidrocarbonetos fluidosconstitui atividade econômica, uma vezque não se encontram no rol daquelasatividades funções típicas do PoderPúblico que se direcionam à satisfação dasnecessidades básicas da coletividade.41

[entre 1995-1997].

Importante frisar, como recorda ainda o próprio Moraes,“a atividade estatal de exploração e produção de petróleo nãoconstitui prestação de serviço público, mas sim intervenção estatalno domínio econômico”.42 [entre 1995-1997].

39 No ponto, destacamos: “o domínio público corresponderá, pois, ao conjuntodos direitos reais que a Administração Pública tem por lei sobre o território e seusespaços, coisas próprias nele individualizadas ou bens alheios, conferidos paraserem exercidos num regime peculiar do Direito Público” (CAETANO, 1996,apud MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e LegislaçãoConstitucional. São Paulo: Atlas, 2002. p. 1845).40 MORAES, Alexandre de. Op. cit. p. 1845.41 Ibidem, p. 164.42 Ibidem, p. 165.

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No Brasil, tal atividade é exercida em regime de monopólioestatal. Ocorre, porém, que esse monopólio “legal sempre secaracterizou como intervenção estatal no domínio econômicopor absorção, ou seja, pela assunção integral do Estado, que agecomo sujeito econômico, dos meios de produção nesse setor daatividade econômica”.43 [entre 1995-1997].

Todavia, com o advento da Emenda Constitucional nº 09/95, surge uma nova concepção de monopólio, não mais relacionadoà intervenção estatal por absorção, mas sim relacionado aomonopólio de escolha do Poder Público, que poderá, conforme otexto constitucional, escolher entre a manutenção da pesquisa ea lavra das jazidas de petróleo e outros hidrocarbonetos fluidospor uma só empresa, ou ainda, pela contratação de outrasempresas.44 [entre 1995-1997].

Ou seja, somente o Poder Público é que decide, comexclusividade, quem exerce essa atividade econômica, atravésde concessão de exploração de bem público.45

A propósito, Albuquerque Barreto, bem sintetiza:

Cumpre, de início, ressaltar que foiintegralmente mantido o monopólio emfavor da União das atividades da indústriado petróleo listadas no inciso I a IV do art.177 da Constituição, bem como ficouresguardada a propriedade da União sobre

43 MORAES, Alexandre de. p. 165-167.44 Ibidem, loc.cit.45 No ponto, v. PIRES, Paulo Valois. Op. cit. p.133, no qual destacamos o seguinte:“A estrutura adotada pela Lei nº 9.478/97 estabelece que as atividades deexploração, produção, transporte, refino, importação e exploração de petróleosomente poderão ser exercidas por empresas ou consórcios com sede eadministração no Brasil, desde que atendidos aos requisitos econômicos, jurídicose financeiros baixados pela ANP. A lei nº 9.478/97 criou dois regimes distintospara que o exercício dessas atividades fosse atribuído aos interessados. Para asatividades supostamente de menor relevância (transporte, refino, importação eexportação de petróleo), a Lei nº 9.478/97 permitiu que a ANP, medianteautorização, conferisse o seu exercício a terceiros. Por outro lado, a Lei nº 9.478/97 exigiu procedimento licitatório para que as atividades de exploração e produçãode petróleo fossem concedidas a terceiros pela ANP”. Cumpre-nos esclarecer quea sigla ANP significa Agência Nacional de Petróleo.

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os direitos de exploração e produção depetróleo e gás natural em território nacional,nele compreendidos a parte terrestre, o marterritorial, a plataforma continental e a zonaeconômica exclusiva.46

Em um primeiro momento, já afirmamos que um dosgrandes desafios da região produtora denominada BaciaSedimentar de Campos e, por que não dizer do país, é estabeleceruma essencial conciliação entre o inevitável crescimentoeconômico-social, mais que necessário, e a preservação denossos bens ambientais, em especial o mundo marinho.

Julgamos pertinente esclarecer que, para o país e, emespecial, para a região obter um adequado desenvolvimentosustentável, é sumamente necessário que modifiquemos antes asnossas relações de consumo. Consumimos o petróleo e o gás naturalproduzidos. Produzimos o que a sociedade contemporânea exige.

Em outros termos, se a demanda fosse menor, anecessidade de produção também seria, e, conseqüentemente,os impactos ambientais negativos na região acompanhariam essaredução, mas a realidade é bem diferente.47

Especificamente no meio marinho, a Constituição Federalde 1988, em seu artigo 20, V e VI, define que o domínio brasileiro

46 BARRETO, Celso de Albuquerque. Legislação de Petróleo & LegislaçãoComplementar. Rio de Janeiro: Petrobras, 1997. p. 9.47 Sobre o tema, ver SPÍNOLA, Ana Luíza S. Consumo Sustentável: o alto custoambiental dos produtos que consumimos. In Revista de Direito Ambiental, nº 24.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 209-210, onde se sublinha: “Com aindústria moderna, desenvolveu-se o capitalismo pleno, que predomina até hoje.Os problemas ambientais causados pelo homem decorreram, sobretudo, do modocomo as sociedades se apropriaram, usaram, destinaram e transformaram osrecursos naturais. (…) A degradação do meio ambiente está intimamenterelacionada ao modelo de desenvolvimento econômico adotado ou ao própriosistema capitalista, que se caracteriza por apresentar uma economia de mercado,onde vigora a lei da oferta (produção), da procura (consumo) de produtos, serviçosou capitais e do lucro. Quanto mais se consumir, maior será a produção e maioro lucro. (…) O estímulo permanente ao consumo foi e é a base desse sistema, quetem a natureza como inesgotável fonte de energia e matéria-prima e comoreceptáculo de dejetos produzidos por suas cidades e indústrias” .

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se estende sobre o mar territorial, os recursos naturais daplataforma continental e zona econômica exclusiva.48

Na experiência brasileira, onde a questão ambientalencontra-se na ordem do dia, percebemos ser conveniente estudaros dispositivos legais atinentes ao tema em tela.

Em relação ao alcance dos direitos dos Estados costeiros,em especial o Brasil, em relação à plataforma continental e àzona econômica exclusiva, relevantes para o setor da indústriado petróleo, Marilda Rosado de Sá Ribeiro destaca os seguintessegmentos de atuação: “exploração de óleo e gás, construçãode instalações, perfuração, construção de túneis e lançamentode cabos e dutos submarinos”.49

De outra parte, vozes não isoladas sustentam que a intensautilização do mar e o aparecimento de novas atividades, paratransporte, para pesca, para mineração, para exploração depetróleo e seus derivados, vêm transformando o meio marinhocom inúmeros e indesejáveis impactos ambientais negativos.

Diante dos preceitos acima transcritos, urge unir vozescom Malheiros, que citando Tommasi, ressalta:

O conceito de impacto ambiental, comotambém o de poluição é, basicamente, umconceito antropocêntrico, calcado nosefeitos das ações humanas sobre osecossistemas e envolvendo, também, osefeitos das mesmas sobre a própriasociedade humana e sobre sua economia.Assim, não há poluição natural, e impactoambiental se refere a ações antrópicas aindaque, em sua avaliação sejam consideradosos estressores ambientais naturais, inclusive

48 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. In Coletânea delegislação de direito ambiental e Constituição Federal. São Paulo: RT, 2002. p.01-120.49 RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. Op. cit. p. 179.

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de grande efeito, como inundações, secas,terremotos, furacões, etc.50

Em tema de tutela ambiental, há que extrair o conceito deimpacto ambiental, previsto no artigo 1º da Resolução CONAMA001, de 23 de janeiro de 1986, como sendo qualquer alteraçãodas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,causada por qualquer forma de matéria ou energia resultantedas atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: asaúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividadessociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitáriasdo meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.

Torna-se inadiável, portanto, passar em revista a definiçãolegal de poluição do meio marinho nos dada no artigo 1º, item 4,da Convenção da ONU, de 1982 (Montego Bay, Jamaica), sobreos Direitos do Mar (ratificada pelo Brasil em 22 de dezembro de1988, e promulgada pelo Decreto 99.165, de 12 de março de1990, e revogada pelo Decreto 99.263, de 24 de maio de 1990),51

como sendo:

A introdução pelo homem, direta ouindiretamente, de substâncias ou energiado meio marinho, sempre que a mesmaprovoque ou possa vir provocar efeitosnocivos, tais como danos ao recursosvivos e à vida marinha, riscos à saúde dohomem, entrave às atividades marítimas,incluindo a pesca e as utilizações legítimasdo mar, alteração e deterioração dos locaisde recreio.

50 MALHEIROS, Telma Maria Marques O papel do direito ambiental comoinstrumento fundamental na transição para o desenvolvimento sustentável. Riode Janeiro: monografia vencedora do I Prêmio Dom Bosco de Monografias emDireito Ambiental, [199-?]. p. 25.51 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 3ª ed. São Paulo:Malheiros, 2000. p. 135-136.

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Não menos precisas são as observações de BessaAntunes, no que se refere ao seu conceito doutrinário de poluição:“A poluição é o patológico”.52

Quanto à sucinta alusão ao conceito legal de poluição noplano do direito nacional, assim se posicionou Nery Junior nopassado: “a defesa do meio ambiente no Brasil, notadamentecontra a poluição, tem como única e exclusiva fundamentaçãolegal a Lei 6.938/81”.53

O exame crítico da atual legislação nos leva a concluirpor um significativo avanço. É que à luz da vigência da Lei 9.966,de 28 de abril de 2000, que dispõe sobre a prevenção, o controlee a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo eoutras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdiçãonacional, percebemos um benéfico incremento do arcabouçojurídico em questão, especificadamente, a busca incessante daprevenção da poluição no ecossistema aquático.

Uma palavra, apenas uma, sobre o incremento legislativoque não quer silenciar no momento. Não basta apenas legislar.É fundamental que nos lancemos no trabalho imperioso “de tiraressas regras do limbo da teoria para a existência efetiva da vidareal, pois, na verdade, o maior dos problemas ambientaisbrasileiros é o desrespeito generalizado, impunido ou impunível,à legislação vigente”.54

A proteção jurídica do meio marinho, nesta perspectiva,deve ser revestida, segundo Silva, da mais alta responsabilidadede todos os Estados e principalmente dos Estados costeiros.Afirma o citado autor que:

52 ANTUNES, Paulo de Bessa. Natureza, Meio Ambiente e Dano Ambiental:construções culturais da humanidade. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UERJ,1999. p. 196.53 NERY JÚNIOR, Nelson; ; NERY, Rosa Maria B. B. de Andrade. ResponsabilidadeCivil, Meio-Ambiente e Ação Coletiva Ambiental. In BENJAMIN, Antonio HermanV. Dano Ambiental: prevenção, reparação e repressão, v. 2. São Paulo: Revistados Tribunais, 1993. p. 35.54 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 232.

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O meio marinho e todos os organismosvivos que ele comporta têm importânciavital para a humanidade, e é de interessede cada um velar para que esse meio sejaprotegido contra tudo que possaprejudicar sua qualidade e seus recursos.Isso se aplica notadamente aos Estadoscosteiros, a que interessa particularmentea gestão dos recursos da zona costeira.55

Nesse contexto, o Brasil tem ampla liberdade para protegero já referido ambiente marinho. O novo cenário mostrado com oadvento da citada Emenda Constitucional nº 09/95, veio modificarprofundamente, como já dito, a geopolítica do petróleo do país.

Assume particular relevo a Lei 9.478, de 06 de agosto de1997, que como já explicitado, ratificou a propriedade da União sobreos depósitos de petróleo e gás natural existentes no território nacional,nela incluídas tanto a porção terrestre quanto a porção marinha.

A propósito, vale reforçar que as reservas de petróleo egás natural ainda são da propriedade da União que deverá atribuiro aproveitamento econômico a terceiros, no caso osconcessionários, tudo com base no sistema dominial consagradono texto constitucional.

O último diploma legal mencionado anteriormente instituiu,ainda, a Agência Nacional de Petróleo - ANP, autarquia especial,com personalidade jurídica de direito público, subordinada aoMinistério de Minas e Energia, com a função primordial de atuarcomo órgão regulador e fiscalizador das atividades integrantesdo monopólio de petróleo e gás natural, passando a ser um dosmais importantes instrumentos do Poder Executivo para orientaro segmento da indústria do petróleo.

Apesar de notório, não se pode deixar de expor, também,que das 29 (vinte e nove) bacias sedimentares que o país possui,cerca de 1 (hum) milhão e 700 (setecentos) mil Km2, encontram-se no Oceano Atlântico. Nesse conjunto, em 08 (oito) bacias já

55 SILVA, José Afonso da. Op. cit. p. 138.

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foram descobertas jazidas de hidrocarbonetos. Em sínteseestreita, poder-se-ia dizer que a Bacia Sedimentar de Campos éa mais ou das mais importante(s) dentre elas e nela, não hádúvida, estão concentrados cerca de 80% (oitenta por cento)dos investimentos realizados pela indústria de petróleo no país.

Não por acaso, que em matéria ambiental, a Lei 9.478, de 06de agosto de 1997, expressamente admitiu como um dos Princípiose Objetivos da Política Energética Nacional a proteção ambiental.

Na esteira de tais considerações, especificadamente no quetange ao tema em exame, com a instituição da Agência Nacionaldo Petróleo – ANP, ficou determinado no texto legal, precisamenteno artigo 8º, inciso IX, entre suas obrigações o cumprimento deboas práticas de conservação e uso racional do petróleo, dosderivados e do gás natural e de preservação do meio ambiente.

Não passou despercebido que o contrato de Concessãoestabelecerá que o Concessionário estará obrigado a “adotar,em todas sua operações, as medidas necessárias para aconservação dos reservatórios e de outros recursos naturais,para a segurança das pessoas e dos equipamentos e para aproteção do meio ambiente”, bem como, “responsabilizar-secivilmente pelos atos de seus prepostos e indenizar todos equaisquer danos decorrentes das atividades de exploração,desenvolvimento e produção contratadas, devendo ressarcir aANP ou a União os ônus que venham a suportar em conseqüênciade eventuais demandas motivadas por atos de responsabilidadedo concessionário”.

O coligamento destes preceitos legais com os princípiosfundamentais da Constituição, que incluem entre os fundamentos daRepública a dignidade da pessoa humana, demonstra a clara intençãodo legislador de proteger o meio ambiente e com isso proteger apessoa humana nas relações da indústria de petróleo, usando comoinstrumento poderoso para este mister, a responsabilidade civilambiental, no caso, a responsabilidade contratual.

Atualmente, outros atores figuram como concessionáriosda Agência Nacional de Petróleo, além da empresa estatal depetróleo, o que conseqüentemente incrementa os impactos

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ambientais na região, tornando a questão da caracterização, comprecisão científica, em casos de constatação de impactosambientais significativos causados em razão das atividadesdesenvolvidas na produção de petróleo e outros hidrocarbonetosna Bacia Sedimentar Campos, palavra de ordem na questão daReparação Civil Ambiental.

É este o enfoque geo-político-ambiental que pretendemosdar ao presente estudo.56

Nossa expectativa é a de que, tomando a realidade socialcomo ponto de partida e o fator de desenvolvimento sustentávelcomo pano de fundo de nossas ações, numa sociedade que gritapor condições mais dignas de vida, as contribuições decorrentesdas análises aqui realizadas venham possibilitar o avanço nasreflexões doutrinárias sobre a melhor prova técnico-científicado dano ambiental no meio marinho, de modo que esta sesobreponha à presunção relativa de dano, em sede deresponsabilidade civil ambiental objetiva, de forma que,ultrapassando o aparente antagonismo entre desenvolvimentosócio-econômico e preservação da qualidade ambiental,possamos perceber que a alternativa exeqüível está nodesenvolvimento harmonioso da economia e na adequadautilização dos recursos ambientais no meio marinho, observandoainda, o propósito de deslocar o eixo da responsabilidade civilambiental da obrigação do ofensor de responder por suas culpaspara o direito da vítima de ter reparadas as suas perdas.57

56 No ponto, v. PIRES, Paulo Valois. Op. cit. p. 153, no qual destacamos oseguinte: “A evolução do monopólio estatal do petróleo apresentou duas fasesdistintas ao longo da história do Brasil. Desde a criação da Petrobrás até aEmenda Constitucional nº 9/95, o petróleo era tido como ‘bem estratégico’ parao desenvolvimento do país. Nesse período, o monopólio da União foi exercidocom exclusividade pela Petrobras. A partir da Emenda nº 09/95, a ‘doutrinaestratégica do petróleo’ começou a dar sinais de enfraquecimento. Com a ediçãoda Lei nº 9.478/97, a Petrobrás deixou de ser a única executora do monopólio dopetróleo, passando a competir com terceiros em regime de livre concorrência.Em ambas as fases, a geopolítica internacional influenciou, decisivamente, apolítica adotada pelo Governo brasileiro em relação à exploração do petróleo nopaís.”57 MORAES, Maria Celina Bodin de. Op. cit. p. 12.

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4. A concepção do sistema de responsabilidade civilambiental

O sistema de responsabilização ambiental no Brasil, talqual o percebemos, foi elaborado na esteira da formação deuma sociedade caracterizada por um lado, pela expansão dasatividades econômicas, sociais e tecnológicas, calcada nummodelo de produção, distribuição e consumo em massa, e poroutro lado, no uso e abuso dos recursos ambientais do planeta.

A questão da responsabilidade civil ambiental veio a sertratada com maior relevo anos antes do atual texto constitucional.Foi com a entrada em vigor da Lei, 6.938, de 31 de agosto de 1981,que dispunha sobre a política nacional de meio ambiente, seus fins emecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências,na qual destacamos o artigo 4º, inciso VII e o artigo 14, § 1º.

Da leitura do texto legal, percebemos claramente como éregido o sistema da responsabilidade ambiental: objetiva, fundadano risco, que prescinde por completo da culpabilidade do agentee só exige, para tornar efetiva a responsabilidade, a ocorrênciado dano e a prova do nexo de causalidade com a atividade.58

Nesse ponto, não passou despercebido que a lei que seexamina veio tratar a questão do dano ecológico sob o seu duploaspecto: “do dano causado ao meio ambiente e do dano suportadopor particular, estabelecendo em qualquer caso a responsabilizaçãodo agente independentemente da existência de culpa”.59

58 Nesse sentido ver BARACHO JÚNIOR, José Alfredo de Oliveira. Op. cit. p.115-116, no qual destacamos o seguinte: “a degradação ambiental deixou de sertratada simplesmente como ilícito sujeito a sanção administrativa e/ou penal,aplicável em razão do prejuízo a um recurso natural específico(...), para aobrigatoriedade de recuperação do ambiente degradado, obrigação esta que não selimita à reconstituição de um elemento natural prioritariamente degradado, masde todo o ecossistema afetado. (...). Temos então assentado o princípio daresponsabilidade ambiental.(...). Temos este princípio da responsabilização objetivapor dano causado ao meio ambiente. (...) Ao implementar o exercício de umatividade potencialmente ou necessariamente poluidora, está a pessoa natural oujurídica assumindo os riscos da ofensa a um direito indisponível, pois asseguradoa toda a coletividade. Na medida em que assume o risco, a responsabilização deveser objetiva, independente de culpa ou dolo”.59 ATHIAS, Jorge Alex Nunes. Op. cit. p. 242. Aludida tendência doutrinária podeser observada ainda em MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 422), no qual destacamos o

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À vista de tais considerações, merece citação a questão dodano preexistente, que não se constitui em motivo de isenção daresponsabilidade civil. Devemos ter sempre em mente, na ocorrênciade tal hipótese, “que o fator cumulativo dos agentes poluidores projetaefeitos adversos só muito tempo depois de sua emissão, e que podemser agravados pela contribuição de novas atividades”60

Justifica-se, assim, sem equívocos, a responsabilidade civilobjetiva em termos ambientais, entretanto, os limites dessaresponsabilização ainda não estão com seus contornospacificados em sede doutrinária, uma vez que existem inúmerasteorias a esse respeito, como já visto. Entendemos ser pertinenteuma indagação. Quais, dentre essas teorias, podem incluir aresponsabilidade objetiva ambiental? A resposta a talquestionamento é relevante uma vez que, dependendo da teoriaescolhida, estará presente ou não a questão das excludentes deresponsabilidade.

A matéria, de grande interesse prático, agita a doutrina,sujeitando-se a orientações conflitantes.61

Diante da controvérsia, Ferraz posiciona-se, admitindoexpressamente a teoria do risco integral. Assim, em sua ótica,em termos de dano ecológico, não se pode pensar em outracolocação que não seja a do risco integral. Não se pode pensar

seguinte: “Identificamos uma dupla face na danosidade ambiental, certo que osseus efeitos alcançam não apenas o homem, mas também o ambiente que o cerca.A Lei 6.938/81 prevê, expressamente as duas modalidades, ao fazer referência a‘danos causados ao meio ambiente e a terceiros’ “.60 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 436.61 Nesse sentido ver, MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação Civil Pública: Emdefesa do Meio Ambiente, do Patrimônio Cultural e dos Consumidores. SãoPaulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 342, no qual destacamos o seguinte trecho:“No tocante aos dois primeiros casos (danos ao meio ambiente e ao patrimôniocultural) cremos que não devem ser aceitas as clássicas exclusões de responsabilidadeantes lembradas. É que nesse campo se nos afastarmos da responsabilidade objetivaou se permitirmos ‘brechas’ nesse sistema os interesses relevantíssimos pertinentesà ecologia e ao patrimônio cultural correrão alto risco de não restarem tuteladosou reparados porque a força e a malícia dos grandes grupos financeiros cujasatividades atentam contra aqueles interesses logo encontrarão maneiras de safar-se à responsabilidade. É preciso não esquecer que se trata de interessesmetaindividuais o que exclui a aplicação dos esquemas tradicionais fundados naculpa ou na intenção do agente”.

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em outra malha que não seja a malha realmente apertada, quepossa, na primeira jogada da rede, colher todo e qualquer possívelresponsável pelo prejuízo ambiental. É importante que, pelosimples fato de ter havido omissão, já seja possível enredar agenteadministrativo e particulares, todos aqueles de que de algumamaneira possam ser imputados ao prejuízo provocado para acoletividade.62

Segundo Milaré, apoiando-se em Baracho Junior, aresponsabilidade objetiva, quando vinculada à teoria do riscointegral, “expressa a preocupação da doutrina em estabelecerum sistema de responsabilidade o mais rigoroso possível, ante oalarmante quadro de degradação que se assiste não só no Brasil,mas em todo o mundo”.63

Nesse estado de coisas, segundo a mesma correntedoutrinária, “qualquer fato, culposo ou não culposo, impõe aoagente a reparação, desde que cause um dano”.64

Como bem observa Machado não se apreciasubjetivamente a conduta do poluidor, mas a ocorrência doresultado prejudicial ao homem.

(...) A atividade poluente acaba sendo umaapropriação pelo poluidor dos direitos deoutrem, pois na realidade a emissão

62 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 428. No mesmo sentido ver ATHIAS, Jorge AlexNunes. Op. cit. p. 241.63 Nesse sentido, cf. MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 428-434, que numa resenhapormenorizada e fazendo uso de uma interpretação extensiva do assunto, destacao seguinte: “A terceira conseqüência da adoção do sistema de responsabilidadeobjetiva sob modalidade do risco integral diz com inaplicabilidade do caso fortuitoe força-maior como exonerativas e com impossibilidade de invocação de clausulade não indenizar. (...) É essa a interpretação que deve ser dada a Lei 6.938/81,que delimita a Política Nacional de Meio Ambiente, onde o legislador, claramente,disse menos do que queria dizer, ao estabelecer a responsabilidade objetiva.Segue-se daí que o poluidor deve assumir integralmente todos os riscos que advêmde sua atividade” (os grifos são nossos).64 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense,2000. p. 281, do qual destacamos o seguinte: “trata-se de uma tese puramentenegativista. Não cogita de indagar como ou porque ocorreu o dano. É suficienteapurar se houve o dano, vinculado a um fato qualquer, para assegurar à vítimauma indenização”.

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poluente representa um confisco do direitode alguém em respirar ar puro, beber águasaudável e viver com tranqüilidade. Porisso, é imperioso que se analisemoportunamente as modalidades dereparação do dano ecológico, pois muitasvezes não basta indenizar, mas fazer cessara causa do mal, pois um carrinho de dinheironão substitui o sono recuperador, a saúdedos brônquios, ou a boa formação do feto.65

Não podemos subestimar o elevado número de autoresque tem se posicionado a favor do risco integral, seja tácita ouexpressamente.66

Entretanto, posicionamo-nos a favor da teoria do risco criado,admitindo assim, as excludentes de responsabilidade. Pensamosassim, pois focalizar o tema responsabilidade civil ambiental,somente em relação aos danos causados é um equívoco, uma vezque devemos explorar igualmente a potencialidade de causar dano.

65 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 10 ed. SãoPaulo: Malheiros, 2002. p. 314.66 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 428. Neste sentido ver STEIGLEDER, AnneliseMonteiro. Áreas Contaminadas e a obrigação do poluidor de custear. In: AntônioHerman V. Benjamin e Edis Milaré (Coord). Revista de Direito Ambiental, nº 25.São Paulo: Revista dos Tribunais. 2002. p. 60. Em sentido, parcialmente favorávelver MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 332, onde destacamosinteressante elucidação e exemplo: “O possível responsável pelos danos ambientaisdiante dos fatos da Natureza e de fatos de terceiro deve considerar, pelo menosum duplo posicionamento psicológico: prever a ocorrência desses fatos e preverseus prováveis efeitos(...) O local onde está instalada uma usina nuclear é atingidopor um terremoto. Esse seria o fato necessário, como afirma o art. 1.058 doCódigo Civil Brasileiro. Como efeito do terremoto constata-se vazamentoradioativo e conseqüente irradiação, lesando e matando pessoas. (...) Não é de seaplicar, a isenção de responsabilidade de forma automática. Deverá ser analisadaa forma de escolha do local, constatando se houve estudo sísmico da área. Se aárea está sujeita, com maio probabilidade que outras áreas, a abalos sísmicos, aose instalar nessa área o empreendedor não poderá beneficiar-se da excludente deresponsabilidade. Também deverão ser avaliadas as medidas tomadas para seremevitados danos em decorrência de um possível terremoto. Se as medidas necessáriaspara evitar o vazamento radioativo não foram previamente tomadas, não houveo uso dos meios para evitar ou impedir os efeitos nocivos ocorridos. Nesses casosnão pode ser reconhecida a liberação da responsabilidade civil ambiental.” (osgrifos são nossos).

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“Não é social e ecologicamente adequado deixar-se de valorizar aresponsabilidade preventiva, mesmo porque há danos ambientaisirreversíveis”67

Pois bem, querer pretender resolver a questão dodesenvolvimento e consumo sustentável a partir daresponsabilização objetiva calcada na teoria do risco integral, naverdade provoca um efeito indesejável aos interesses ambientaismais relevantes. É que o sujeito responsável estando diante deuma situação jurídica que o responsabiliza a qualquer preço,independente de este sujeito ter uma conduta ambientalextremamente preventiva e adequada, em verdade fica tentadoa desenvolver o seguinte raciocínio: para que investir nas melhorestécnicas e ações de prevenção, essência da questão ambiental,se ao final serei responsabilizado civilmente de qualquer forma.Melhor então, será economizar os recursos financeiros, materiaise humanos gastos na prevenção e utilizá-los na reparação. ODireito deve, a meu ver, estimular exatamente o contrário.

Não custa repetir, em outros termos, mais vale prevenirque reparar. Os (poucos) recursos disponíveis em nosso paísdevem privilegiar a prevenção e não a reparação. O sujeitoresponsável deve ser estimulado mais e mais, através do Direito,a investir na prevenção. Tomamos como nossas as palavras domestre Machado, que são milimetricamente perfeitas para estaquestão. “Os danos causados ao meio ambiente encontramgrande dificuldade de serem reparados. É a saúde do homem ea sobrevivência das espécies da fauna e da flora que indicam anecessidade de prevenir e evitar o dano”.68

Tal assertiva oferece suporte teórico para a corretacompreensão da responsabilidade civil objetiva, no direitoambiental: “a função preventiva – procurando, por meio eficazes,evitar o dano – e a função reparadora – tentando reconstituir e/ou indenizar os prejuízos ocorridos”.69

67 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 319.68 Ibidem, p. 318.69 Ibidem, p. 318-319.

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Não basta, porém, a referência à função preventiva, aindaque considerada como elemento essencial e meta a ser alcançadapelo sistema de responsabilização ambiental no Direito pátrio.Os contornos do monitoramento, em sede de direito ambiental,devem ser estudados como condição mais que necessária aodesenvolvimento de nossas convicções e certezas no estudo daresponsabilidade civil ambiental offshore.

Cabe-nos ainda registrar, por outro lado, que na disciplinada responsabilização civil ambiental, havendo a ocorrência depluralidade de elementos poluidores, deve prevalecer entre eleso vínculo de solidariedade. Não devemos olvidar que uma dasmaiores dificuldades que se pode ter em sede de responsabilidadecivil ambiental, é exatamente identificar com precisão quem foio autor da danosidade, isso não é difícil de entender, por exemplo,quando estamos diante de diversos possíveis autores, como é ocaso dos diversos cessionários de exploração de petróleo, gásnatural e outros hidrocarbonetos líquidos presentes na baciaSedimentar de Campos. A fim de resolver tal questão, a doutrinaposiciona-se pelo vínculo da solidariedade,70 entre os diversospossíveis autores, respeitando logicamente a prova em contrário.

A guisa de melhor entendimento quanto à prova emcontrário, trazemos interessante questão prática desenvolvidapela empresa estatal Petróleo Brasileiro S/A, referente aopetróleo derramado em meio marinho. A empresa desenvolveuum programa técnico/científico que objetiva identificar comprecisão se um determinado tipo de petróleo ou derivado é ounão originário de suas instalações. Tal programa é conhecido nacitada estatal pelo nome de DNA do petróleo.

À vista de tais considerações, parece possível considerarque o Estado, seja por ação ou omissão, pode ser responsabilizadopelos danos que causar ao meio ambiente.

Outra matéria igualmente relevante, em sede deresponsabilidade civil ambiental, é o da responsabilidade civilpessoal do profissional que trabalha na questão ambiental. É certoque, com o advento da Resolução Conama 237, de 19 de dezembro

70 ATHIAS, Jorge Alex Nunes. Op. cit. p. 244-245.

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de 1997, art. 11, que trata do licenciamento ambiental, determinou-se que os estudos necessários a tais procedimentos deverão serrealizados por profissionais habilitados na forma da Lei, os quaisserão responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais.

À luz de tal entendimento, o profissional que desempenhaseu mister o faz porque se dá por habilitado. Em tese, a suaatuação está inclusive referendada pelo seu órgão de classe.Subentende-se, portanto, ser o mesmo capaz de exercer as tarefastécnicas próprias da atividade em questão. Não por outra razão,credita-se a tais profissionais uma conduta adequada condizentecom habilitação, perícia, prudência, objetividade, dever de cuidado,enfim todos os atributos necessários ao exercício profissional.71

Como bem observa Milaré, “a questão que se impõe, nestamatéria, é a seguinte: qual regime jurídico da responsabilidadecivil desses profissionais?”.72

Cumpre-nos ainda explorar, no presente trabalho, quantoà questão da responsabilidade civil ambiental da pessoa jurídica.Com a vigência da Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998,73 otexto legal inovou interessante artigo que estabelece apossibilidade de responsabilização das pessoas jurídicas pelosdanos causados ao meio ambiente.

5. Os aspectos jurídicos relevantes do meioambiente em sede de reparação

Vejamos, em primeiro lugar, a qualificação jurídica do meioambiente evidenciado no direito brasileiro. O meio ambiente éreconhecido como “bem jurídico tutelável em si mesmo, ao mesmotempo em que consagra o direito ao meio ambiente

71 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 437-438.72 Ibidem, loc. cit.73 BRASIL. Lei n 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 - Lei de crimes ambientais. InLegis Ambiental: meio ambiente, saúde ocupacional, segurança do trabalho,responsabilidade social, metrologia e normatização. Rio de Janeiro. 2003. CDROM.

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ecologicamente equilibrado, como direito difuso e fundamentalda pessoa”.74

Se tais observações são verdadeiras, torna-se pertinentequestionarmos se “o meio ambiente e seus componentes foramerigidos à condição de sujeitos de direito”.75

No ponto, nos afinamos com Mirra, que não acredita tenhatido o legislador pátrio o objetivo de “ir tão longe na suapreocupação de proteger da melhor maneira possível o meioambiente. (...) Não se pode, portanto, negar que a proteção domeio ambiente entre nós conserva, indiscutivelmente, o caráterantropocêntrico”.76

Tal concepção jurídica importa ao fato de apenas os sereshumanos serem considerados sujeitos de direitos e deveres.

Razão assiste a Milaré, ao afirmar que “o saber jurídicopode e deve ser iluminado pela luz de outros saberes quecontribuem para a consolidação do respeito ao mundo natural epara a limitação das atitudes antropocêntricas, sabidamentedanosas ao equilíbrio ecológico”.77

Como é notório em doutrina, torna-se importante termossempre em mente que, apesar de todo recurso natural serambiental, o inverso não é verdadeiro tendo em vista que nemtodo recurso ambiental é natural.

O Direito Ambiental tem uma essencial preocupaçãofundante: trazer proteção a todos os recursos ambientais naturais,artificiais e culturais, condição esta sine quo non para a vidaecologicamente equilibrada no Planeta, levando com isso, aliáscomo desejou o legislador constituinte de 1988, a priorizar aproteção da dignidade da pessoa humana.

Nesta perspectiva, quando decidimos proteger os recursosambientais, estamos conseqüentemente protegendo o serhumano. A disciplina da responsabilidade civil, portanto, devemuito mais a escolhas éticas, políticas, filosóficas que a sociedadevier a tomar neste contexto.

74 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit. p. 59.75 Ibidem, loc. cit.76 Ibidem, loc. cit.77 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 66.

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6. Da relevância do monitoramento ambiental naatividade de produção de petróleo

Tomando como ponto de partida estudos científicos demonitoramento ambiental da atividade de produção de petróleo,desenvolvidos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, pelaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, pela UniversidadeFederal Fluminense – UFF, pela Universidade Estadual do NorteFluminense – UENF, pela Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO,pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIO epelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo A. Miguel deMello – CENPES, cogitamos em analisar alvos específicos erepresentativos da atividade desenvolvida pela empresa estatal de petróleo,procurando enfocar os cenários mais críticos da atividade petrolíferaexistente na parte marítima da Bacia Sedimentar de Campos.78

Neste contexto, foram selecionados, para dar densidadefática a este estudo, inicialmente, o entorno de duas plataformasfixas de produção (Pampo e Pargo), situadas a aproximadamente60 Km da costa brasileira, a 100 metros de profundidade, ealinhadas na direção NE-SO, no sentido preferencial da correnteBrasil que corre paralela à costa.

Tais plataformas descartam água de formação separadaapós o tratamento do petróleo extraído, se encontram emoperação há aproximadamente 20 anos e estão posicionadas anordeste e a sudeste da Bacia Sedimentar de Campos.

Finalmente, foi ainda estudado o entorno da plataformade produção P-36, após o acidente, ocorrido no dia 15 de marçode 2001, que acarretou no seu afundamento. Com isso, a regiãoonde estava instalada a plataforma foi atingida por um vazamentode petróleo que estava contido no seu interior.79

78 Petróleo Brasileiro S. A.; Universidade Federal do Rio de Janeiro; Universidadedo Estado do Rio de Janeiro; Universidade Federal Fluminense; UniversidadeEstadual do Norte Fluminense; Universidade do Rio de Janeiro; PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro. Etapa de pré-monitoramento – relatóriofinal: monitoramento ambiental da atividade de produção de petróleo na bacia decampos. Petrobras. Rio de janeiro, verão e inverno de 1998. 1 cd-rom. p. 1-13.79 PETROBRAS/CENPES/PDEP/BIO, 2001.

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Vale sublinhar, de todo modo, que as citadas plataformasestão inseridas na Plataforma Continental do Brasil, em regiãodenominada Bacia Sedimentar de Campos.

No que concerne à Plataforma Continental Brasileira, estapossui área aproximada de 820.000 Km2, com largura variandoentre 20 Km a 250 Km. No tocante à comparação com outrasplataformas tropicais é relativamente rasa e pouco produtiva,apesar de enriquecimentos localizados por instruçõesintermitentes de água de ressurgência ou convergência, ricasem nutrientes e/ou pelo material orgânico dissolvido ou exportadode estuários ou secundariamente de recifes de coral.

O talude continental apresenta largura entre 120 Km e150 Km, com limite inferior entre 2.400 e 3.000 metros deprofundidade. É coberto por sedimentos finos terrígeneos e poruma fração arenosa, predominantemente composta deforaminíferos (animais protozoários na maior parte marinhos,bentônicos).

Quanto ao regime hidrodinâmico da região, predomina acorrente Brasil, que como já dito, corre paralela à costa, atécerca de 200 metros de profundidade, transportando a massad’água denominada Água Tropical. No que concerne àprofundidade abaixo de 300 metros ocorre a inversão no sentidodesta corrente, sendo denominada contracorrente do Brasil.

O período escolhido para a amostragem da plataformaPampo e Pargo foi o verão e inverno de 1998, e o da plataformaP-36 em março de 2001, contemplando estudos de campo e delaboratório na água e no sedimento, realizadas através decampanhas oceanográficas, e foram as seguintes as variáveisestudadas:

· Meteorologia e oceanografia física;· nutrientes, sulfetos, fenóis, metais, radioisótopos ehidrocarbonetos na água do mar;· granulometria, carbono, nitrogênio, fósforo, metais,radioisótopos e hidrocarbonetos no sedimento;· fluorescência induzida por laser;· testes ecotoxicológicos; e

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· comunidade bêntica.Pois bem: percebemos que tais estudos muito contribuiriam

para a precisa definição da linha de fronteira entre o limite detolerabilidade do citado ecossistema e a intensidade da danosidadeambiental offshore, demonstrando com a necessária agilidade,se os fatos ocorridos foram aptos a perturbar o ecossistema, aponto de produzir, além de uma alteração adversa dascaracterísticas do meio ambiente e sua conseqüente degradaçãoda qualidade ambiental, danosidade.

A relevância do campo estudado em relação ao estágioatual da tecnologia existente para apuração ou não da danosidadeambiental, verifica-se a partir do entendimento da grandecontribuição que o monitoramento ambiental das atividadespetrolíferas seria capaz de fornecer ao órgão julgador diante docaso em concreto, em sede de responsabilidade civil.

Como sabemos, a determinação da existência e o exatodimensionamento do dano ambiental advindo de diversos impactosambientais negativos, resultam num dos mais tormentososproblemas atinentes à responsabilização civil ambiental.

Na tentativa de equacionar o problema, renomados autores,entre eles Sampaio, precursor da admissibilidade de presunções,dedicada à reparação de danos ao meio ambiente, justifica autilização das mesmas, como meio de propiciar sua reparaçãoem situações nas quais a prova de suas ocorrências se revelarespecialmente complexa ou difícil.80

Daí a importância de se estudar a admissibilidade jurídicada utilização da melhor prova técnico-científica, conseguidaatravés de monitoramento ambientais, como o passo norteadorpara a caracterização ou não, de cada espécie de dano ambientale de sua extensão no meio marinho.

O magistrado se valendo de prova técnico-científicaconsistente, teria plena condição de solucionar questõespertinentes à existência ou não de danos ambientais no meio

80 SAMPAIO, Francisco José Marques. Evolução da Responsabilidade Civil eAdmissibilidade de Presunções de Danos Ambientais. Rio de Janeiro: UERJ -Tese de Doutorado, 2001. p. 178-182.

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ambiente marinho na costa brasileira, afastando qualquer traçode insegurança jurídica em suas decisões.

Desta forma, verifica-se que fica fragilizada a tese dapresunção do dano ambiental, na qual a nosso ver, a segurançajurídica encontra-se comprometida na sua gênese.

7. Da área de estudo

As Plataformas de Pampo e Pargo estão inseridas naPlataforma Continental do Brasil, entre as latitudes 21°30’ e23°30’S, em região denominada Bacia Sedimentar de Campos.

A Plataforma Continental Brasileira, como já dito, tem820.000 km2, sendo bastante complexa, com larguraextremamente variável, de menos 20 km, a aproximadamente,250km. Pode ser definida, em comparação com outrasplataformas tropicais, como relativamente rasa e pouco produtiva,apesar de enriquecimentos localizados por intrusões intermitentesde água de ressurgência ou convergência, ricas em nutrientes,e/ou pelo material orgânico dissolvido exportado de estuários ousecundariamente de recifes de coral (Lana et al., 1996).

O talude continental apresenta largura entre 120km e150km, com limite inferior entre 2.400 e 3.000m deprofundidade. É coberto por sedimentos finos terrígenos e poruma fração arenosa, predominantemente composta deforaminíferos.

O regime hidrodinâmico da região é controlado pelacorrente do Brasil, que corre paralela à costa, até cerca de 200mde profundidade, transportando a massa d’água denominadaÁgua Tropical (AT). Abaixo de 300m de profundidade ocorre ainversão do sentido desta corrente, sendo denominadacontracorrente do Brasil. Esta corrente transporta grande parteda massa d’água intitulada Água Central do Atlântico Sul.

A Bacia de Campos é a região de maior produçãopetrolífera do Brasil, com várias plataformas de produçãoespalhadas no local. Como já dito, cerca de 80% das reservasde óleo no Brasil situam-se nos 16 maiores campos de petróleo,

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sendo que apenas dois desses são localizados em terra, todos osdemais no mar, na Bacia de Campos. A exploração e a produçãode óleo offshore representam 78% da produção nacional, sendoa Bacia de Campos a maior reserva petrolífera, contribuindocom aproximadamente 70% da produção do país.

As Plataformas de Pampo e Pargo estão situadas a,aproximadamente, 60 km da costa, a 100 m de profundidade,e alinhadas na direção NE-SO, no sentido preferencial dacorrente do Brasil. A área de estudo compreende um raio de3 km no entorno das plataformas de produção de Pampo(7477900N e 319950E) e Pargo (7538400N e 362850E),estando situada no trecho superior do talude continental, comrelevo relativamente estável.

No que diz respeito à plataforma P-36, esta ficava situadano Campo de Roncador, onde foi realizada uma campanhaoceanográfica objetivando a realização de monitoramentoambiental, imediatamente após o afundamento da citadaplataforma, onde foi possível avaliar a qualidade da água do mar,naquele momento81.

No que tange aos impactos causados no meio ambientemarinho por este acidente ocorrido no início da madrugada de 15 demarço de 2001, uma equipe de profissionais iniciou os trabalhos decoleta de amostras da água a bordo do navio oceanográfico AstroGaroupa. Este grupo de profissionais foi constituído de pesquisadoresdo Departamento de oceanografia da Universidade do Estado do Riode Janeiro, do Departamento de Biologia Marinha do Instituto deBiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Departamentode Metalurgia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro epelo Centro de Pesquisas e das áreas de Engenharia e Segurança,Saúde e Meio Ambiente da empresa estatal escolhida.82

81 Neste sentido ver reportagem SOARES, Osvaldo. P-36: naufrágio na Bacia deCampos Jornal O Globo, Rio de Janeiro, p. 11, de 03 de outubro de 2003.82 PETROBRAS/CENPES/PDEP/BIO, 2001, p. 1-13.

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8. O monitoramento do campo estudado

A empresa estatal escolhida para a pesquisa iniciou aatividade de exploração de petróleo na Bacia de Campos nocomeço da década de 1970, ocorrendo a primeira produção em1977, através do Campo de Enchova.

Progressivamente, outros campos foram descobertos ecolocados em produção, sendo os de Marlim e de Roncador osmaiores campos offshore do Brasil.

Como se sabe, monitoramento é a medição de variáveis ede processos, ao longo do tempo, relacionada com um problemaespecífico. O monitoramento ambiental inclui observações emedições de parâmetros físicos, químicos, geológicos e biológicos,de acordo com um planejamento previamente definido emetodologias comparáveis, com o objetivo de coletar informaçõessobre a qualidade do ambiente.83

Importante observar que o programa de caracterização emonitoramento ambiental da empresa estatal escolhida surgiuentre o final da década de 1980 e o início da década de 1990,com a finalidade de viabilizar os empreendimentos da citadaempresa, em face das exigências e restrições crescentes na áreade meio ambiente.

A primeira iniciativa do gênero, na referida empresaestatal, foi o Programa de caracterização e monitoramentoambiental da Bacia Sedimentar de Campos, que surgiu,especificamente, em função de exigências oriundas da FundaçãoEstadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), com vistasao licenciamento do Gasoduto Enchova-Cabiúnas e da Estaçãode Tratamento de Efluentes de Cabiúnas.

Ficou evidente para a empresa estatal de petróleo, jánaquela época, a necessidade de implementar um Programa deMonitoramento Ambiental para a região, como um todo, vistoque um estudo isolado para licenciar cada plataforma não seriasuficiente para se conhecer e entender a dinâmica e a

83 PETROBRAS/CENPES; UFRJ; UERJ; UFF; UENF; UNIRIO; PUCRIO, 1998.

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variabilidade natural do ambiente, além da ação dosempreendimentos e das atividades na região.

Em síntese, o Programa de Monitoramento da Bacia deCampos utilizado como estudo de caso do presente ensaio, prevêum plano de ação que enfoca diversos aspectos da dinâmica doecossistema marinho da região dentro de uma perspectiva decurto, médio e longo prazos. Para tal, o mesmo encontra-sedividido em fases e etapas.

A primeira fase, abrangendo o curto e médio prazos,compreende três etapas:

· Etapa I - Diagnóstico Preliminar, que consistiu nolevantamento, análise e interpretação dos dados pretéritosdisponíveis sobre a região, no que diz respeito à oceanografiafísica, química, geológica e biológica;

· Etapa II - Levantamento Complementar, que se constituiunum levantamento complementar com estudos biológicos,sedimentológicos e químicos realizados em cruzeirosoceanográficos, abrangendo o verão e o inverno, e mediçõesoceanográficas ao longo de um ano;

· Etapa III - Pré-Monitoramento, que compreendeu arealização de dois cruzeiros oceanográficos em alvos específicose representativos da atividade desenvolvida pela estatal.

A segunda fase consistiu no monitoramento de longaduração.

Neste contexto, a estatal, através do Centro de Pesquisase Desenvolvimento Leopoldo A. Miguez de Mello-CENPES, emestreita cooperação com a comunidade científica, implementouno período de 1991 a 1993 o Programa de MonitoramentoCosteiro e Oceânico da Bacia Sedimentar de Campos.

Os estudos foram realizados por meio de contratos com asfundações Geomap/Fundespa (USP) e Bio-Rio (UFRJ e UERJ).

Esta etapa concentrou esforços no sentido de investigarcientificamente a região oceânica da Bacia de Campos, onde selocalizam as atividades petrolíferas, e a região costeira de Macaé,esta última adjacente ao emissário submarino da Estação deTratamento de Cabiúnas.

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Os estudos de caracterização ambientais realizados naregião oceânica compreenderam uma área com cerca de 40.000km2, situada entre a desembocadura do Rio Itabapoana e alocalidade de Maricá. Teve como objetivo caracterizar a regiãoem termos físicos, químicos, geológicos e biológicos, de modo aidentificar variações espaciais e temporais dos aspectosoceanográficos da região.

Durante o período de junho de 1991 a junho de 1993,pesquisadores do Instituto Oceanográfico da USP, técnicos daGEOMAP e do CENPES participaram de três cruzeirosoceanográficos, coletando amostras em estações que variaramem número de 57 a 74, distribuídas em nove perfis (radiais).Paralelamente, equipes da UFRJ e da UERJ conduziram estudosna região costeira de Cabiúnas, envolvendo 14 estações de coleta.

Os resultados químicos preliminares dessa primeira fasedo Programa de Monitoramento da Bacia de Camposdemonstraram que:

· na região oceânica, que não foi observada contribuiçãoantropogênica significativa de hidrocarbonetos na regiãoestudada.

· na região costeira, que os níveis de hidrocarbonetos esulfetos foram similares aos das áreas não-impactadas.

Dando continuidade ao Programa de Monitoramento daBacia de Campos, a estatal propôs a execução da Etapa III,intitulado Pré-Monitoramento da Bacia de Campos e Cabiúnas.Esta etapa foi definida através de um termo de referênciaelaborado por pesquisadores do CENPES, tomando como baseos dados obtidos na etapa de Caracterização Ambiental einformações dos estudos de monitoramento da atividadepetrolífera desenvolvidos no Mar do Norte e no Golfo do México.

A etapa de Pré-Monitoramento foi elaborada no sentidode concentrar esforços em alvos representativos das atividadesda estatal na Bacia de Campos, sendo escolhidas duas áreas deatuação:

· região costeira de Cabiúnas;· região oceânica das plataformas.

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Na região costeira de Cabiúnas, foram abordadas asinfluências naturais e antrópicas, bem como, as exigências doórgão ambiental para o licenciamento do emissário da ETE-Cabiúnas.

Na Região Oceânica, foram conduzidos estudos paraavaliar os impactos causados pelas atividades de perfuração eprodução de petróleo.

Quanto à atividade de produção, foram identificadoscenários críticos, sendo escolhidas duas plataformas de produçãoem funcionamento há muitos anos, Pampo desde 1983 e Pargodesde 1989. Para avaliar os impactos da atividade de perfuraçãofoi escolhido o Poço RJS1-480, situado na Bacia de Campos emlâmina d’água de cerca de 100 metros de profundidade.

Os estudos foram conduzidos, como já citado, através deum convênio com Universidades do Estado do Rio de Janeiro(UFRJ, UERJ, UFF, UENF, PUC e UNI-RIO), incluindo asáreas de oceanografia física, química e biológica. O CENPES,além da fiscalização e orientação dos diversos projetos vinculadosàs universidades, participou do estudo executando análisesquímicas de hidrocarbonetos, sulfetos e fenóis e alguns testestoxicológicos.

Os principais objetivos da etapa de Pré-Monitoramentoforam:

· avaliar as alterações no meio ambiente que poderiamser atribuídas às atividades da estatal de petróleo;

· definir em escala espacial e temporal um conjunto deparâmetros ambientais (físicos, químicos, biológicos e geológicos)significativos para serem monitorados continuamente.

Os resultados dos estudos da etapa de Pré-Monitoramento,realizados no entorno das Plataformas de Pampo e Pargo,constam em relatório específico editado pelo CENPES, da estatalde petróleo.

Para avaliar o impacto da atividade de produção depetróleo da estatal na Bacia de Campos, foram escolhidas, comojá dito, as plataformas de produção de Pampo e Pargo. Estasplataformas foram escolhidas por vários motivos:

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· estão em atividade há mais de 20 anos;· são plataformas fixas de produção, situadas em lâminas

d’água da ordem de 100 metros, dentro da Plataforma Continentale próximas do talude;

· estão posicionadas nas direções Sudoeste (Pampo) eNordeste (Pargo), sob a ação da corrente do Brasil, representandocenários críticos da atividade de produção petrolífera da Baciade Campos.

Desta forma, procuraram-se cenários críticos paraestabelecer uma relação de causa e efeito entre as eventuaisalterações de variáveis ambientais e biológicas e a atividade dasplataformas, visando à identificação de possíveis danosambientais, bem como, à proposição de medidas mitigadoras,quando necessárias.

Torna-se inadiável, portanto, passar em revista asconclusões do monitoramento, contidas nos relatórios.

Através dos estudos efetuados na águado mar e no sedimento no entorno dasPlataformas de Pampo e Pargo, nas duascampanhas realizadas em 1998 (verão einverno), foi possível verificar váriosaspectos no que tange a cada um dosprojetos envolvidos no presente estudo.

Não foram identificadas diferençassignificativas entre as estaçõeslocalizadas no entorno das plataformas,exceto para o fósforo total na Plataformade Pargo. As variáveis físicas e químicasse apresentaram como ferramentasadequadas para a avaliação da influênciada atividade petrolífera em áreasoceânicas, sendo bons descritores dosprocessos ambientais na região. Emespecial o ortofosfato, o fósforo total, aamônia, o nitrito, o nitrato e a clorofila-aforam úteis em descrever a influência das

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Plataformas de Pampo e Pargo nas áreasoceânicas adjacentes às mesmas.

A temperatura, salinidade, sigma-t,oxigênio dissolvido, percentual desaturação de oxigênio e todos oselementos nutrientes apresentaram nítidae significativa variação vertical.

Em termos gerais, os padrões das variáveisfísicas e dos nutrientes obtidos para asPlataformas de Pargo e Pampo forambastante semelhantes. Apenas poucasvariáveis (pH, amônia e nitrato) foramsignificativamente diferentes entre asduas plataformas.

Apenas a clorofila-a e o oxigêniodissolvido apresentaram algum padrãosazonal significativo.

Em geral, os valores de nutrientes nasPlataformas de Pargo e Pampo estiveramna mesma faixa ou até abaixo dos valoresanteriormente descritos para esta regiãoda costa brasileira.

As variáveis estudadas não indicam ainfluência negativa das atividades dasplataformas de produção na região, etodos os níveis medidos de oxigêniodissolvido, pH e amônia se encontraramdentro dos padrões do CONAMA 20, de18 de junho de 1986, para águas classe 5.

Não existem especificações para sulfetosnem para fenóis na legislação brasileirareferentes à região onde as plataformasestão instaladas. Todas as amostrascoletadas na campanha de inverno se

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encontraram em concentração de sulfetosinferior a 0,002 mg.l-1, à exceção da amostracoletada a 250m da Plataforma de Pargo,cuja concentração foi de 0,004mg.l-1. Paraos fenóis todas as amostras de água domar apresentaram níveis inferiores a10µg.l-1. Os resultados para os sulfetos efenóis em água do mar não evidenciaramcontaminação e/ou alteração do corporeceptor.

A água do mar no entorno das Plataformasde Pargo e Pampo apresentouconcentrações de HPA compatíveis comáreas naturais; portanto, não foievidenciada contribuição antropogênicapara o oceano proveniente da águaproduzida descartada nas plataformasestudadas.

A rápida diluição que ocorre dentro dosprimeiros 100m das plataformas é,provavelmente, o processo maisimportante para minimizar o impacto doefluente na coluna d’água.

A média da concentração de bário noentorno das Plataformas de Pampo e Pargoencontrou-se dentro da faixa deconcentração de bário em água do mar.

O bário pode ser considerado como umbom indicador da influência dos metaisdissolvidos na água de produção, e ovanádio pode ser para aqueles associadosao descarte de óleos e graxas. O vanádioé encontrado na água do mar emconcentrações na faixa de 1-2 µ.l-1. Osvalores médios verificados no entorno de

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ambas as plataformas encontra-se nestafaixa, 2,6 (±0,5) µ.l-1.

Com relação aos metais associados aomaterial particulado, tomando-se por baseaqueles considerados comopotencialmente críticos, bário, vanádio eníquel, não foi possível notar umadiferença entre as estações, ou, mesmo,entre profundidades de amostragem.

Não foi possível detectar nenhumaumento nos teores dos radioisótoposestudados na água do mar nascircunvizinhanças das plataformas deprodução de Pampo e Pargo.

Não foi detectado efeito agudo sobrejuvenis do misidáceo Misidium gracile, nasamostras de água do mar coletadas nospontos próximos à Plataforma de Pargo.

Na amostra de água do corpo receptor daPlataforma de Pargo, a espécie Champiaparvula apresentou diferenças entre asprofundidades analisadas nas trêsestações, ocorrendo redução nocrescimento e menor número deramificações nas plantas das amostras demeio e fundo, mostrando que a toxicidadeé maior nestas profundidades. Este padrãofoi observado nas campanhas de verão einverno.

Foi observada alta taxa de mortalidade emtodas as estações, o que pode serexplicado pela disponibilidade denutrientes presentes nas águas oceânicas.

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Nos testes realizados com as amostras deverão e inverno, as estações localizadasmais próximas da Plataforma de Pargoapresentaram crescimento e número deramificações superiores ao da estação-controle, provavelmente devido a ummaior enriquecimento de nutrientes nestasestações. Esta resposta corrobora osresultados obtidos pela fluorescência porlaser e pela análise química da água.

Os estudos experimentais realizados comfluorescência induzida por laser revelaramque a técnica pode ser empregada comsucesso para a visualização em tempo realde anormalidades no comportamento dasbandas relacionadas com a clorofila-a ecom a matéria orgânica dissolvida.Todavia, a técnica depende ainda de certodesenvolvimento para que se possamestabelecer valores referenciais entre asmedições feitas com laser e análises dosmesmos parâmetros realizadas por meiosconvencionais.Foram observados tipos diferentes desedimentos no entorno das Plataformasde Pampo e Pargo.

O substrato na região da Plataforma dePampo é predominantemente consolidado,de origem biogênica, compostoprincipalmente por concreçõescarbonáticas, formado por algas calcárias,com a presença de um canal alongado nosentido Sudoeste-Nordeste, constituídopor sedimento lamoso e rico emcarbonatos.

Os sedimentos coletados nas estações demonitoramento na área de Pargo são todos

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arenosos muito finos, bem selecionados,com teor de carbonato de cálcio entre 20 e30 %, estando relacionados com a mesmaprovíncia sedimentar.

A homogeneidade do material sedimentarna região das Plataformas de Pampo ePargo pode indicar que a granulometrianão é um fator condicionante no padrãode variação da comunidade bentônica.

Em relação às análises de granulometria,para futuros trabalhos na região,recomenda-se apenas uma coleta porestação, uma vez que os resultados dasquatro réplicas foram muito semelhantes.

Esforços no sentido de se reconhecerema morfologia e as diferentes fáciessedimentares na região da Plataforma dePampo, utilizando sonar de varredura,vieram a contribuir decisivamente nosentido de otimização das campanhas,assim como no direcionamento da posiçãodas estações. Os resultados aqui obtidos,quando analisados em conjunto com osmapas faciológico e morfológicopublicados por Kowsmann (1998), forambem mais consistentes, o que vem acomprovar a necessidade doreconhecimento básico do fundo comoponto de partida para as análises deoutros grupos de pesquisa.

Os dados das campanhas de inverno e deverão de 1998 mostraram que acomposição elementar da matéria orgânicavaria quantitativamente entre asPlataformas de Pargo e de Pampo, sendopossível relacionar esta característica com

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a composição granulométrica dossedimentos. Em Pampo, com maior teor decarbonato e da fração silte/argila, foramencontradas as maiores concentraçõespara os elementos carbono, nitrogênio efósforo, sendo observado padrão inversopara a Plataforma de Pargo.

A análise quantitativa da matéria orgânicanão indicou alterações significativas nascondições naturais nos sedimentosestudados, tanto em Pargo quanto emPampo. As concentrações médias, emboradiferentes em cada plataforma, estãodentro da faixa encontrada em plataformascontinentais ao redor do globo e mesmoem outras partes da PlataformaContinental Brasileira.

A distribuição qualitativa da matériaorgânica (razões molares entre oselementos) aponta em outra direção.Embora os valores médios das razõesC

org:N

total e C

org:P

org estejam dentro de

valores esperados para ambientessimilares, não sujeitos a influênciasantropogênicas, há uma tendência deaumento na razão C

org:N

total, em direção às

estações próximas à plataforma, sendo esteefeito mais acentuado em Pampo e naamostragem de inverno.

Quando as estações são agrupadas emfunção da distância para cada plataforma(250, 500, 1.000 e 3.000m), observa-se quehá um aumento sensível nasconcentrações de C

org que explicam o

aumento na razão Corg

:Ntotal

. É possível queeste efeito resulte da influência daatividade de produção da Plataforma de

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Pampo, cujos rejeitos seriam maisenriquecidos em carbono orgânico e quese depositariam próximos desta plataforma.Há variações quali-quantitativas sensíveisentre as épocas do ano, o que justifica aconsideração, em trabalhos futuros, davariação sazonal sobre a distribuição damatéria orgânica sedimentar.

Por fim, as duas campanhas realizadasmostraram que a determinação dasconcentrações de carbono orgânico e denitrogênio total fornece, além de subsídiospara a interpretação dos dados biológicose mesmo químicos, informações relevantespara avaliar o grau de influência dasatividades de produção de petróleo sobreos sedimentos locais. Já o parâmetro P

org,

além de ser de difícil determinação, nãotrouxe informações úteis, e não se justificaa sua consideração em trabalhos futuros.

As concentrações mais elevadas dehidrocarbonetos foram observadas nasestações próximas às plataformas, até umraio de 1.500m. Os valores mais altos, aquireportados, se encontraram em níveis deconcentração anteriormente citados paraambientes costeiros, sujeitos à influênciaantrópica, ou de regiões sob influência deexploração de petróleo da Inglaterra.

Foi observado que, mesmo enfocando-se acoleta de sedimentos em locais mais próximosàs plataformas, as concentrações dos n-alcanos do presente estudo foram inferioresàs reportadas no estudo realizado na Baciade Campos, na fase da caracterização(GEOMAP/FUNDESPA, 1994).

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Os resultados dos hidrocarbonetos n-alcanos, MCNR, HPA (CG-EM) obtidos nossedimentos coletados no entorno dasPlataformas de Pargo e Pampo seencontraram em faixas de concentraçãoequivalentes, e em alguns casos, inferioresàs concentrações reportadas na literaturapara ambientes próximos às plataformas deprodução de petróleo no Golfo do Méxicoe na Califórnia (Kennikut II, 1995; Hylandet al., 1990; Chapman et al.,1991). Quantoà origem destes hidrocarbonetos, foipossível verificar que se tratam dehidrocarbonetos de origem petrogênica.

As concentrações de HPA (CG-EM)observadas para os sedimentos coletadosnas proximidades das Plataformas dePargo e Pampo foram bem inferiores aosníveis citados como causadores de efeitobiológico (Kennikut II, 1995). Como visto,no projeto de Ecotoxicologia, os testestoxicológicos realizados neste estudo,tanto na água do mar como no sedimento,não apresentaram toxicidade aguda.

De forma geral, se comparados aossedimentos costeiros, as concentraçõesde HPA obtidas neste estudo foraminferiores àquelas reportadas na literaturapara ambientes costeiros (Zanardi, 1996;Zamora, 1996; Aboul-Kassim & Simoneti,1995; Kennikutt II et al., 1994). Portanto,conclui-se que, apesar da atividadecontínua de produção de petróleo pormais de 15 anos, os sedimentos coletadosem torno da plataforma mostraramcontaminação restrita a um raio de 1.500mde distância das plataformas.

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De uma maneira geral, não foramobservadas diferenças expressivas naconcentração dos metais entre asamostras coletadas no verão e inverno, àexceção de AI e Ni para a Plataforma dePargo e Sn na Plataforma de Pampo.

Entre as plataformas, Pampo apresentouos maiores valores de AI, Cu, Sn, C

org,

CaCO3 e S+A, sendo estas diferenças

significativas (P<0,001).

Utilizando análise estatística univariada,não foram verificadas diferençasexpressivas para nenhum dos metais emrelação aos grupos de estações daPlataforma de Pampo (500; 700-1.500;3.000m). Para a Plataforma de Pargo,também não foram observadas variaçõespara os grupos de estações (250; 500;1.000; 3.000m), à exceção do Sn.Utilizando análise multivariada, foiidentificado que a distribuição espacialdos parâmetros ao redor da Plataforma dePampo foi influenciada pela distância entreas estações, explicando 38% da variânciados dados, pela deposição preferencial nadireção SO com cerca de 16% e pelainfluência do fundo carbonático, com 12%da variância. A distribuição espacial dosparâmetros ao redor da Plataforma dePargo foi influenciada pela distância dasestações de duas formas: aumento de Cr,Fe, Mn, Ni, AI e Hg nas estações maisdistantes, sugerindo a participação de umafonte continental (36% da variância dosdados); e maiores valores de Cu, Zn e Banas estações mais próximas à plataforma,associados aos descartes da atividade(19% da variância). Em menor escala foram

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observados valores individualizados taiscomo de SS+A, Pb e C

org em algumas

estações (13% da variância).

A Plataforma de Pampo apresentoupoucos valores acima dos referenciadosna literatura internacional para rochassedimentares (Sn), argilas (Ba) e arenitos(Ni, Zn a Sn), sendo que apenas o Ba foimais elevado do que os níveis regionais.Para carbonatos, vários elementosmostraram-se acima dos valores descritosna literatura (AI, Fe, Ba, Cr, Cu, Zn e Sn).

A Plataforma de Pargo mostrou,aproximadamente, o mesmo padrãodescrito para Pampo com valores elevadosquando comparados com argilas (Ba, Age Sn), arenitos (Ni, Zn, Ag e Sn) ecarbonatos (AI, Fe, Ba, Cr, Zn, Ag e Sn).Entretanto, com relação à plataforma rasado Estado do Rio de Janeiro, apenas o Bafoi mais elevado.

À exceção do Sn, o intervalo de variaçãodos parâmetros analisados na Bacia deCampos situa-se nos limites inferiores dasfaixas obtidas no estudo realizado no Golfodo México. Os valores do Golfo do Méxicoreferem-se a plataformas onde foramconfirmadas evidências de gradiente decontaminação pelos efluentes dasatividades de perfuração e exploração.

Os diferentes fatores controladores dadistribuição espacial dos parâmetros entreas duas plataformas sugerem queextrapolações das conclusões para outrasplataformas devem ser feitas com reservas.

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A velocidade de sedimentação encontradapara a região da Plataforma de Pampo,0,8mm/ano, é coerente com uma região debaixa deposição de sedimentos como aregião da Plataforma Continental. Por outrolado, a velocidade de sedimentação de2,8mm/ano verificada para a Plataforma dePargo parece elevada. Como Pargoencontra-se mais perto da foz do RioParaíba do Sul do que Pampo, esta diferençapode refletir um maior aporte de materialparticulado de origem fluvial nesta região.

Os teores de rádio encontrados nossedimentos da região de Pampoencontravam-se, freqüentemente, abaixodo limite de detecção da técnica, aocontrário do ocorrido com aqueles dePargo. Tal fato também parece refletir odescrito anteriormente, apontando seremos sedimentos de Pampo mais ricos emcarbonatos, e os de Pargo, em material deorigem -continental.

Do ponto de vista estatístico, não foramobservadas diferenças entre asconcentrações de atividade de Ra-226 eRa-228 em função do aumento da distânciada Plataforma de Pargo.

Os estudos realizados com as amostrasde sedimento revelaram que a melhormetodologia para obtenção da águaintersticial, foi a extração por pressão.

Nos testes de toxicidade agudosefetuados com a bactéria Vibrio fisheri nãofoi constatado nenhum efeito nasamostras de água intersticial tanto na

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campanha de verão, quanto de inverno,para as Plataformas de Pampo e Pargo.

Os testes realizados com o organismoLytechinus variegatus não foramelucidativos. Tendo em vista o caráterprospectivo dos estudos de toxicidade comamostras de sedimento, considera-se quea experiência obtida proporcionarámelhores resultados em futurosmonitoramentos. Entretanto, as poucasestações amostradas não foram suficientespara uma consideração sobre a qualidadetoxicológica do sedimento no entorno dasPlataformas de Pampo e Pargo.

O delineamento amostral na Plataforma dePampo foi alterado, devido ao tiposedimento no local, com muitasconcreções calcárias, não sendo possívelse determinar nenhum tipo de padrão aoredor da plataforma, ou seja, os dados nãosão conclusivos e não puderam seranalisados de forma satisfatória.Com relação à Plataforma de Pargo, osvalores de abundância, diversidade,riqueza e uniformidade da comunidade nacampanha de inverno foram inferiores aosvalores obtidos na campanha de verão.Porém, o padrão estrutural da comunidadeobservado ao redor da plataforma semanteve o mesmo nas duas épocas do ano.

Não foi constatada relação entre o padrãode distribuição da comunidade bentônicae o gradiente de distância ao redor daPlataforma de Pargo, mas sim, em relaçãoà localização geográfica das mesmas. Asestações localizadas ao norte daplataforma apresentaram menores valores

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de diversidade e uniformidade, sugerindoque o setor norte seria mais impactado.Com os dados obtidos não foi possíveldeterminar as causas desta diferenciação,sendo estas devido, provavelmente, aprocessos hidrodinâmicos locais.

Não foi constatada relação entre o padrãode distribuição da comunidade bentônicae o gradiente de distância ao redor daplataforma, mas sim, em relação àlocalização geográfica das mesmas. Asestações localizadas ao norte daplataforma apresentaram menores valoresde diversidade e uniformidade, sugerindoque o setor norte seria mais impactado.Com os dados obtidos não foi possíveldeterminar as causas desta diferenciação,sendo estas devido, provavelmente, aprocessos hidrodinâmicos locais.

Não foi verificada nenhuma relação entreo padrão de estruturação da comunidademacrobêntica e o padrão de distribuiçãodas variáveis abióticas do sedimento. Opadrão abiótico para alguns parâmetrosrelacionou-se com a distância daplataforma, enquanto que o biológico, coma localização geográfica das estações.

As análises empregadas em nível deespécie indicaram a existência de umgradiente geográfico de distribuição dacomunidade bentônica. Este mesmopadrão foi detectado quando os espécimesforam agregados em nível de gênero efamília. No entanto, quando a comunidadefoi avaliada em nível de classe, este padrãonão foi constatado.

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A análise da comunidade em nível defamília mostrou ser satisfatória para finsde monitoramento nesta plataforma, porevidenciar os mesmos padrões estruturaispresentes em nível específico.

Com as técnicas utilizadas pode-seobservar um padrão de distribuiçãoespacial das comunidades macrobênticas,ou seja, existe uma diferença entre acomunidade da estação-controle e asoutras estações localizadas mais próximasda plataforma, porém não se pode definirclaramente se esta estação (4A) érealmente uma estação-controle, ou seja,não-impactada, ou se os efeitos dosimpactos ambientais são razoavelmentemenores a 3.000 metros de distância daplataforma.

Em vista do exposto, sugere-se ummonitoramento ambiental mais detalhadona Plataforma de Pargo, principalmente noque diz respeito ao aumento da malhaamostral, haja vista que, em outras regiõescom grande atividades ligadas à indústriado petróleo (ex.: Noruega, Mar do Norte),já foram observados impactos referentesa plataformas de petróleo a mais de 6kmde distância da mesma.

Também se deve dar uma atenção especialaos processos hidrodinâmicos e decirculação locais no entorno dasplataformas, assim como, ocomportamento da pluma de poluentesdespejados pela mesma, visto que foiencontrada uma diferença entre asestações ao sul e ao norte da Plataformade Pargo, diferença esta que,

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possivelmente, está relacionada com estesprocessos hidrodinâmicos.

A Plataforma de Pargo deve ser mantidaem qualquer futuro monitoramentoambiental, principalmente devido às suascaracterísticas físicas, ou seja, sedimentosclassificados como areia muito fina ehomogeneamente distribuído, além dapouquíssima variação de profundidade,ficando, deste modo, muito mais fácil adetecção de qualquer impacto ambiental,haja vista que as variações naturais seriammuito limitadas.

Com base nos resultados dos projetos debiologia e química, pode-se concluir queo panorama encontrado para a região doentorno das Plataformas de Pampo ePargo, para os compartimentos água esedimento, é melhor do que aquelesverificados para outras regiões deexploração petrolífera, como o Golfo doMéxico e o Mar do Norte. Os níveis deconcentração dos analitos relacionadoscom a indústria do petróleo são baixos elocalizados. No entanto, em alguns casos,ainda não foi possível compreendercompletamente as relações de causa eefeito entre as atividades de produção depetróleo realizadas pela estatal e asvariáveis bióticas e abióticas estudadas.84

(os grifos são nossos)

Há de se registrar, por fim, as conclusões apresentadasno relatório de monitoramento ambiental no entorno daPlataforma P-36, após o acidente:

84 PETROBRAS/CENPES; UFRJ; UERJ; UFF; UENF; UNIRIO; PUCRIO, 1998.

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quanto às amostras da água do mar, ostestes de toxidade com Lytechinusvariegatus mostraram que nenhum pontodo ambiente apresentou efeito superior aoaceitável pelo método para o grupo decontrole do teste, exceto o ponto Branco2, que teve 25% de organismos afetados.Porém, esta é uma amostra fora da área deinfluência direta do derrame e fora da plumade dispersão, de forma que o efeito deveser atribuído a outras causas diferentesdo vazamento.(os grifos são nossos)

A amostra de óleo vazado apresentoutoxidade para Lytechinus variegatus e Vibriofischeri e não foi tóxico para Artemia sp.Não foram observados efeitos de toxidadena água do mar dentro da área afetadaquando comparados com a área nãoafetada (pontos brancos).

Não foram observados efeitossignificativamente maiores entre ospontos testados de amostras de água domar e os grupos de controle de teste.

O ponto onde foi observado o maior índicede efeito foi o ponto Branco 2 e que,portanto, esta fora da área de influênciado vazamento.”85 (os grifos são nossos)

Seria oportuno, neste ponto, relembrar mais uma vez, quedano não pode ser confundido com poluição e nem comdegradação ambiental.

Diante das conclusões, ora apresentadas, fica evidenciado,no estudo de caso apresentado, que o limite de tolerabilidade

85 PETROBRAS/CENPES/PDEP/BIO, 2001, p. 1-13.

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desse ecossistema não foi ultrapassado. Sendo assim, nãopoderemos falar em danosidade ambiental, poderemos até falarem poluição, mas não, em danosidade. E repetimos, não havendodanosidade, não há o que reparar civilmente.

A propósito, como já dito, e convém incessantementerepetir, bem sintetiza Cappelli: “Não se confundem os conceitosde poluição e de dano ambiental”.86

Decorrem daí nossas observações no sentido de que aspesquisas cientificas, produzidas no monitoramento ambiental,precisam ser estimuladas legislativamente nos três níveis doEstado Federativo e juridicamente, pois segundo nosso ponto devista, em muito podem contribuir para a certeza jurídica dojulgador em relação à questão da danosidade ambiental no meiomarinho, trazendo a reboque a decisão da sociedade de perseguirao máximo o ideal constitucional de proteção a dignidade dapessoa humana.

Desta forma, ampliam-se sobremaneira os poderes domagistrado, que poderá fazer uso dos mecanismos de cautelacontidos nos instrumentos processuais coletivos de reparaçãoambiental, como por exemplo, a ação civil pública e a ação populare, de maneira paralela robustecer a prova e assim obter aalmejada certeza jurídica. Incorporando ao Direito, em especialao Direito Ambiental, em face da Reparação Civil, uma tendênciacada vez mais preventiva.87

Nesse contexto, na nossa visão, deve o juiz pautar-se pelobom-senso e cautela, dadas as suas funções na tutela ambiental frenteà tendência dos seres humanos em devastarem o meio ambiente.

Unimos nossas vozes a Jucovsky que afirma comconvicção que, “em termos ecológicos, o interesse tutelado pelanorma jurídica é a vida em si mesma, de modo que trata-se,

87 BENJAMIN, Antonio Herman. V. A proteção do meio ambiente nos paísesmenos desenvolvidos: o caso da América Latina. In: Uma vida dedicada aoDireito. Homenagem a Carlos Henrique de Carvalho o Editor dos juristas. SãoPaulo: Revista dos Tribunais. 1995. p. 423.

86 CAPPELLI, Silvia. Op. cit. p. 94.

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então, de interesse público de alta importância a ser consideradono ponderado julgamento da demanda”.88

A respeito dos aspectos acima mencionados, em sedeconstitucional, percebemos que o artigo 225 complementa oprincípio fundamental da dignidade da pessoa humana previstono artigo 1º. Não passando despercebido ainda que a melhorinterpretação dada ao artigo 5º, constitucional, é a que estende aproteção à vida em todas as suas formas de expressão, trazendoa reboque a proteção da qualidade de vida. Pois, de que adiantater vida, sem qualidade?

Passando mais uma vez em revista, a responsabilidadecivil tem hoje, principalmente na questão ambiental, uma novapercepção: a reparação da vítima, no caso, toda a sociedade terreparadas as suas perdas essencialmente no que tange àqualidade ambiental do mundo em que vivemos.

Acreditamos, porém, que no caso específico do direitobrasileiro, a análise do estatuto jurídico da responsabilidadeambiental não estaria completa se não se fizesse referência àquestão das formas de reparação.

As conseqüências de tais imposições legais não sãosecundárias nem irrelevantes. Significam, em termos práticos, queexistem “duas formas principais de reparação do dano ambiental:a) a recuperação natural ou o retorno ao status quo ante e b) aindenização em dinheiro. Não estão elas em pé de igualdade”.89

Precisa a observação de Mirra, quanto à definição dereparação no pensar de Dias, senão vejamos: “A reparação, pordefinição, supõe um dano já causado, que se constitui no alvo daprovidência ressarcitória ou compensatória desejada”.90

A reparação, para atingir o seu objetivo, deve reconduzira vítima à situação anterior ao dano, qual seja, à posição em queela se achava antes da ocorrência da danosidade ou em que seencontraria, no momento, se não tivesse sofrido o dano.

89 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 425.90 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit. p. 283.

88 JUCOVSKY, Vera Lucia R. S. O papel do juiz na defesa do meio ambiente. InRevista de Direito Ambiental, nº 19. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p.42.

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Em relação à responsabilização ambiental, importanteobservar que, “a natureza, ao ter a sua composição física ebiológica modificada por agressões que ela não consegueabsorver ou tolerar, não pode jamais ser verdadeiramenteestabelecida do ponto de vista ecológico”.91

No mesmo sentido, um bem de valor cultural, uma vezaniquilado, mesmo que restaurado, não será mais o mesmo bem,ou terá a mesma qualidade.

Ou em outro modo de dizer, a reparação éfundamentalmente equivalente à realidade anterior.

O julgador deve, obrigatoriamente, optar inicialmente pelabusca incessante da reparação integral e apenas, quando issonão for possível, seja técnica ou economicamente, deve-se admitira reparação econômica.

Não por acaso, assim se posicionou Leme Machado:

Tal orientação, aliás, é rigorosamente correta,como decorrência do princípio daindisponibilidade do interesse público naproteção do meio ambiente, que impede aadoção de qualquer dispositivo tendente àpredeterminação de limites à reparabilidade dedanos ambientais.92 (MACHADO, 2002, p. 327).

Em resumo, podemos afirmar, que no sistema de direitovigente no país vigora a idéia: responsabilidade objetiva acrescidaà reparação integral.

Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo danocausado reverterá a um fundo gerido pelo Conselho Federal oupor Conselhos Estaduais de que participarão, necessariamente,o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seusrecursos destinados à reconstituição de bens lesados, conformedisposto no artigo 13, da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985 e oregulamento 92.302, de 16 de janeiro de 1986.

92 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 327.

91 Ibidem, p. 286.

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O citado Conselho Federal, no exercício da gestão doFundo, deve zelar pelo emprego prioritário dos recursos nareconstituição dos bens lesados, no mesmo local onde o danoocorreu, ou possa vir a ocorrer. Ao assim proceder, o legislador,a nosso ver, considerou a hipótese da utilização dos recursos doFundo na reconstituição de outros bens lesados em outros locaisonde acontecerem outros danos ambientais, dependendo dascircunstâncias do caso concreto e da existência de recursoscorrespondentes aplicáveis em outras hipóteses.93

No tocante à conveniência de aprofundamento de estudosde seguros de responsabilidade civil ou fundo de compensaçãopara assegurar o pagamento do quantum necessário à reparação,Milaré se posiciona favoravelmente.94

Aduz-se, no mesmo diapasão, posicionamento de LemeMachado sobre o tema:

Diante da proporção e da intensidade decertas modalidades danosas, advindamuitas vezes de autores desconhecidos oucuja identificação seja difícil, tem-serecorrido à criação de fundos responsáveispela indenização das vítimas.95

Entretanto, adverte o citado autor: “a instituição de um‘seguro-poluição’ não pode deixar de lado a concomitantepreocupação com as medidas de prevenção de poluição”.96

Uma pergunta não pode ficar silenciada no presentemomento: quanto vale em termos monetários uma única sóespécie extinta da natureza?

Por outro lado, os mecanismos utilizados no monitoramentoambiental, devidamente apurados e baseados em saber científico

94 MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 42695 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 334-335.96 Ibidem, p. 334.

93 CUSTÓDIO, Helita Barreira. Avaliação de Custos Ambientais em Ações Jurídicasde Lesão ao Meio Ambiente. In Revista dos Tribunais, nº. 652. São Paulo: RT,1990. p. 24.

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multidisciplinar, podem ser largamente utilizados, em todos osprojetos ambientais “offshore”, objetivando a reboque, obterparâmetros científicos, para melhor mensurar a compensaçãointegral, seja obtida com a reparação natural, ou seja, pelareparação pecuniária.

Nunca é demais lembrar que o Direito Ambiental é umadisciplina autônoma e, acima de tudo, intrinsecamente relacionadacom uma gama de outras ciências, humanas ou não.

Procedendo assim, conseguiríamos induzir um incremento,mais que necessário, em estudos de monitoramento ambientaldo meio marinho. Tal proposta poderia se, por exemplo, aexigência legal de condicionante obrigatória para obtenção delicença ambiental, ou ainda, a inclusão de mais um inciso noartigo 9º, da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, admitindo assimexpressamente o monitoramento ambiental como um instrumento,obrigatório, da Política Nacional do Meio Ambiente. Estaríamosnesse caso, a nosso ver, estimulando assim, investimentosambientais na prevenção em detrimento da reparação.

Desnecessário afirmar, que os estudos científicos produzidosno citado monitoramento, poderiam constituir meio de provarobusta, para identificarmos ou não danosidade ambiental, que nanossa visão seria de grande valia ao magistrado no seu mister,com a vantagem adicional de facilitar a mensuração de tal dano.97

Animo-me a acrescentar: é indispensável que o magistradoem seu mister ajude a todos a redescobrir o ser, em detrimentodo ter. Tal diligência se faz necessária para que os seres humanosem seu conjunto possam viver dignamente no meio ambiente.

A propósito, cumpre-nos definir com mais clareza o queseja meio ambiente. Como é sabido, meio ambiente é um jogo de

97Nesse sentido MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Op. cit. p. 332, no qual destacamoso seguinte: “Naturalmente, o próprio caráter um tanto fluído e multidisciplinar domeio ambiente pode trazer alguma dificuldade para a apuração do quantumreparatório ou para a precisa e eficaz indicação da conduta positiva ou omissiva aser cumprida pelo responsável, mas nada que não seja superável com os recursoshoje disponibilizados pela moderna tecnologia, como se dá nos trabalhos de contençãodos vazamentos de óleo no mar ou em manguezais a subseqüente limpeza da área.Para tanto, é fundamental que os comandos jurisdicionais nesse campo se revelemapropriados e eficazes.”

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interações complexas entre os elementos abióticos, os elementosbióticos e as práticas sociais produtivas do homem. Inclui oambiente natural, o ambiente artificial e o ambiente social oucultural. Enfim, todas as interações entre os elementos naturaise a sociedade humana.98

A arguta observação do conceito antropocêntrico indica arelatividade do conceito de meio ambiente, porém do ponto devista jurídico, o sistema de Direito pátrio, expressamente conceituao meio ambiente, no artigo 3º, inciso I, da Lei 6.938, de 31 deagosto de 1981.

A despeito da incisiva dicção em sede de responsabilidadecivil ambiental, temos que ressaltar ainda a irrelevância da licitudeda atividade. Nesse contexto, não há que se discutir a legalidadeda atividade. Queremos afirmar com isso que, muito embora emdeterminados casos, como por exemplo, quando um empreendedorda indústria de petróleo esteja de posse de uma licença ambientalemitida pela autoridade ambiental competente, mesmo queperfeitamente em acordo com a legislação pertinente e produzindoemissões sólidas, líquidas ou gasosas, ajustadas aos padrões legaisexigidos vigentes, ainda assim, haverá o dever de indenizar seficar demonstrado a existência de danosidade ambiental.99

98 No ponto, v. por todos MILARÉ, Édis. Op. cit. p. 64, no qual destacamos oseguinte: “Em linguagem técnica, meio ambiente é ‘a combinação de todas ascoisas e fatores externos ao indivíduo ou população de indivíduos em questão’.Mais exatamente, é constituído por seres bióticos e abióticos e suas relações einterações. Não é mero espaço circunscrito, é realidade complexa e marcada pormúltiplas variáveis. No conceito jurídico mais em uso de meio ambiente podemosdistinguir duas perspectivas principais: uma estrita e outra ampla. Numa visãoestrita, o meio ambiente nada mais é do que a expressão do patrimônio natural eas relações com e entre seres vivos. Tal noção, é evidente, despreza tudo aquiloque não diga respeito aos recursos naturais. Numa concepção ampla, que vai alémdos limites fixados pela Ecologia tradicional, o meio ambiente abrange toda anatureza original (natural) e artificial, assim como os bens culturais correlatos.(...)Nessa perspectiva ampla, o meio ambiente seria ‘a interação do conjunto deelementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimentoequilibrado da vida em todas as suas formas’ “.99 Ver SANTOS, Fabiano Pereira dos. Acidente Ecológico na Baía de Guanabara.In Revista de Direito Ambiental, nº 22. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.p. 167, no qual destacamos o seguinte: “Importante salientar que, a obtenção delicença junto aos órgãos públicos competentes, ou seja, a autorização ou permissão

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Diante de um determinado fato jurídico, o que vaideterminar se houve ou não danosidade ambiental, é o conceito,já citado, de “resiliência” à luz do princípio da tolerabilidade.Toda e qualquer alteração adversa às características do meioambiente provoca degradação da qualidade ambiental, porémnem toda degradação provocará danosidade.

A nosso ver, quando o limite de tolerabilidade de umecossistema for ultrapassado, e somente neste caso, haverá, aísim, danosidade. É que não podemos desconsiderar a capacidadede um ecossistema persistir na presença de uma perturbação.Se essa capacidade existir, após terminar um dado impactonegativo, o ecossistema retorna ao seu equilíbrio, e não poderemosfalar em dano ambiental, poderemos até falar em poluição, masnão em danosidade. E não havendo danosidade, não há o quereparar civilmente.

Entretanto, se ficar provado que esse mesmo ecossistema,após um dado impacto negativo, atingiu um novo equilíbrio, o limitede tolerabilidade foi ultrapassado e, portanto, provocou danosidade.Nesse caso, há de prevalecer a reparação civil como solução.

As conseqüências interpretativas de tais afirmações quantoao acima exposto, tomando a acepção do conceito legal de poluição,

para o desenvolvimento de certas atividades, ante a presença dos requisitoslegais, não exime ninguém da responsabilidade pelo dano ambiental, fundado narelação de causalidade entre o comportamento do agente e o dano dele conseqüente,para fins de obrigação indenizatória.”Interessante exemplo é o do acidente ocorrido com a plataforma de petróleoPETROBRAS P-36, ocorrido no dia 15 de março de 2001, na bacia de Campos,posicionada nas coordenadas UTM N= 7.537.609 e E= 416.054, em lâminad’água de 1.340 metros, ocasião em que foi constatado que o citadoempreendimento estava licenciado ambientalmente, através da Licença deOperação de nº 91/2000, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Renováveis – IBAMA, emitida em 05 de maio de 2000, e com prazo devalidade até o dia 05 de maio de 2001. Consta expressamente nas condições devalidade específicas, da citada licença de operação a obrigação de apresentação,num prazo de trinta dias, a contar da emissão da licença, o detalhamento daproposta de Programa de Monitoramento da Qualidade de Água e Efluentes, eainda, detalhamento da proposta de Monitoramento de Emissões Atmosféricas efinalmente, a implantação do programa de monitoramento contínuo dos blocos/campos da Petrobras na bacia de Campos, ainda assim, apesar dessas e outrastantas condições, se ficar caracterizado a ocorrência de danosidade ambiental nomeio marinho haverá o dever de indenizar, do contrário, não.

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nos permitem facilmente concluir, que em presença da mesma,haverá responsabilidade ambiental administrativa, cabendo ao órgãoambiental competente, com base na Lei 9.605, de 12 de fevereirode 1998 e no Decreto 3.179, de 21 de setembro de 1999, aplicaras sanções administrativas cabíveis em face do infrator ambiental,como, por exemplo multa, mas não há que se falar emresponsabilidade civil, pois essa depende da prova da danosidade.

Com efeito, a título de exemplo, não podemos falar deuma forma absoluta que, estando diante da presença de poluiçãono meio marinho, necessariamente estaremos diante dadanosidade ambiental que enseje em reparação civil, sem quehaja uma investigação científica apurada, por um completomonitoramento ambiental - antes, durante e depois do fato -, quecomprove se o limite de tolerabilidade foi ultrapassado ou não.Daí, a suma importância do estudo de caso que será aindaapresentado no presente trabalho. A propósito, como já dito econvém repetir, bem sintetiza Cappelli: “Não se confundem osconceitos de poluição e de dano ambiental”.100

Nos termos da lei brasileira, convém acrescentar que opoluidor ambiental é a pessoa física ou jurídica, de direito públicoou privado, responsável, direta e indiretamente, por atividadecausadora de degradação ambiental.

Em termos de política ambiental, é certo que os custossociais decorrentes de qualquer poluição, bem como as formasde sua prevenção como, por exemplo, o monitoramentoambiental, devem ser suportadas pelo empreendedor que, diretaou indiretamente, vier a lucrar com a atividade, uma vez que omesmo se encontra em melhor condição de exercer o adequadocontrole da mesma.

Não por acaso que a doutrina propõe de maneira insistenteque os custos da prevenção sejam assumidos pelo empreendedor.

Ao finalizarmos este ensaio, afirmamos com convicçãoser necessário desenvolvermos uma visão holística em detrimentoda visão antropocêntrica, a fim de percebermos o ser humano,

100 CAPPELLI, Silvia. Op. cit. p. 94.

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seja a coletividade e/ou o indivíduo, como parte integrante domundo natural e, portanto, do próprio meio ambiente.

Neste contexto, mesmo reconhecendo um significativoavanço alcançado com a concepção antropocêntrica do Direitona atualidade, ao posicionar o ser humano no centro de suaspreocupações, propiciando-lhe condições de existência digna edesenvolvimento sadio da personalidade, não apenas para os finsda ótica patrimonialista satisfeitos pelo individualismo jurídico deoutrora, afirmamos a necessidade de ultrapassarmos a presenteconcepção antropocêntrica em direção à concepção holística,que posiciona o ser humano juntamente com todos os outroselementos que compõem o Universo em igualdade de condiçõeso que traz em seu bojo, considerar todos – seres humanos edemais elementos do mundo - no centro das preocupações doDireito, na busca incessante do desejável equilíbrio universal.

9. O limite de tolerabilidade

O conceito do limite da tolerabilidade já foi insistentementeinvocado neste trabalho, como fator relacionado diretamente coma certeza do dano ambiental. Daí porque, entendemos ser damaior relevância, precisar em que consiste tal conceito e qual éa sua influência sobre a determinação do dano ambiental.

No ponto, Leme Machado questiona com sua pertinazinteligência e sensibilidade: “Todas as alterações ecológicasconstituem dano ecológico reparável diante do direito?” E então,em resposta a tal questionamento sentencia:

Seria excessivo dizer que todas as alteraçõesno meio ambiente vão ocasionar um prejuízo,pois, dessa forma, estaríamos negando apossibilidade de mudança e de inovação,isto é, estaríamos entendendo que o estadoadequado do meio ambiente é o imobilismo,o que é irreal. Contudo, o admitirmosmudanças espontâneas, ou até provocadas,

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da natureza, não nos conduz a afirmar quetodas essas mudanças são benéficas.101

Nesse interessante contexto, Francis Caballero, citado porMirra desenvolve o raciocínio de que o limite da tolerabilidade éa expressão de um fator natural: a tolerabilidade espontânea domeio ambiente a um certo limite de agressão. Uma taltolerabilidade, continua, consiste na capacidade de o meioambiente e seus elementos absorverem certas agressões semdano e decorre da própria “natureza das coisas”.102

Objeções foram e são levantadas em relação a talentendimento em sede doutrinária, uma vez que seus seguidoresconsideram tal posição “fantasiosa no plano biológico epoliticamente perigosa”.103

Em relação ao citado princípio não se pode fixá-lo, demaneira absoluta, através de padrões pré-estabelecidos, mas sim,relativamente, ante a um monitoramento ambiental de determinadoecossistema.

O que se verifica, a rigor, do debate antes anunciado emtorno das correntes que buscam explicar a conceituação, oobjetivo e o conteúdo do limite de tolerabilidade.

Tomada a acepção doutrinária de limite de tolerabilidadeacima exposto, tem-se como síntese lógica ambiental a precisalição de Mirra, ao afirmar que:

101 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 323.102 CABALLERO, Francis. Apud MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit. p. 100.103 No ponto, destacamos o seguinte: “Baseado em dados ecotoxicológicos, afirmao jurista que para o número de substâncias nocivas a noção de limite de tolerabilidadeé radicalmente falsa, pois, normalmente, a dose máxima tolerável é estabelecidapara cada poluente considerado isoladamente ou, na melhor das hipóteses, parauma combinação de algumas substâncias homogêneas (como, por exemplo, ospesticidas), enquanto existem fenômenos de sinergia e interações entre poluentesquímicos e radiações ionizantes, por exemplo, que fazem com que, mesmo dentroda dose tido como tolerável, uma determinada substância se apresente, ao final,nociva. Nessas condições, o princípio do limite de tolerabilidade poderia conduzirà consagração de um direito de poluir abaixo do patamar considerado aceitável.”(UNTERMAIER. Apud MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit. p. 100).

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O limite a partir do qual se caracteriza odano ao meio ambiente deve serestabelecido com base na capacidade reale concreta de absorção do bem ambiental,meio ou ecossistema específico emquestão, capacidade essa traduzida pormecanismos naturais conhecidos, como,por exemplo, a autodepuração da água e abiodegradabilidade dos resíduos de umaforma geral.104

Portanto, a equação jurídica em sede de responsabilizaçãocivil ambiental é simples, e mais uma vez nos socorremos dosprecisos ensinamentos de Mirra que assim sentencia:

A superação do limite de tolerabilidade,para fins de reparação de danos, devesempre ser apreciada caso a caso pelo juizna ação de responsabilidade civil, emfunção das características do meioatingido. O fato de a atividade de odemandado estar em conformidade comas normas que estabeleceram um certolimite de tolerabilidade não vincula jamaiso julgador: se na demanda de reparaçãorestar provado que o meio ambiente nãoconseguiu absorver e reciclar asagressões que sofreu, haverá dano e, porvia de conseqüência, reparação, poucoimportando a obediência pelo degradadordos padrões de emissão de substânciaspotencialmente poluidoras ou dospadrões de qualidade do meio receptor,pré-determinados administrativamente.Este o verdadeiro significado do princípiodo limite de tolerabilidade como condição

104 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit. p. 104.

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de existência do dano ambiental.105

(MIRRA, 2002, p. 104).

Daí estarmos justamente e insistentemente afirmando queo monitoramento é uma poderosa ferramenta de trabalho naquestão ambiental, e deveria, a nosso ver, ser incluídoexpressamente, como um dos instrumentos da política nacionalde meio ambiente.

Tal inclusão, se concretizada, incrementaria o suporte probatóriomais que necessário para que o magistrado, diante de um caso concreto,decida com a necessária segurança jurídica, se houve ou não,danosidade ambiental e, em caso positivo, a extensão de tal dano.

Não se pode deixar de examinar, ainda, a importância deprecisarmos, inequivocadamente, que “a capacidade de absorção ede reciclagem do meio ambiente, de que se cogita aqui, não pode serconfundida com a capacidade de regeneração do meio ambiente”.106

É que a capacidade de absorção “consiste na aptidão domeio atingido de digerir de certo modo e imediatamente e semdano os rejeitos que eles são submetidos, de resistir às perturbaçõesimpostas”. Já a capacidade de regeneração “representa acapacidade do meio ambiente de recuperar-se quando édesequilibrado por alguma perturbação, supondo um prejuízo jáocorrido, em que o limite de tolerabilidade foi ultrapassado”.107

Outro aspecto de interesse relevante, é que se ficardevidamente provado num determinado monitoramento o acúmulode substâncias poluentes, estará inteiramente provado que areciclagem natural não ocorreu, e sendo assim, o limite detolerabilidade foi ultrapassado e a danosidade ambientalconfirmada.

10. A relatividade do conceito de tolerabilidade

Na esteira de tais considerações, especificadamente noque tange ao tema em exame, cumpre-nos destacar que o limite105 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit. p. 104.106 Ibidem, loc. cit.107 Ibidem, loc. cit.

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de tolerabilidade é relativo e varia em conformidade com o bemambiental atingido.

Repita-se, sem-cerimônia: num determinadomonitoramento ambiental poderemos demonstrar, se o limite detolerabilidade foi alcançado e nesse caso estará individualizadoconcretamente o dano ambiental. Lembramos que tal esforçodeve ser perseguido em exaustão, a fim de precisar,cientificamente, o ponto máximo admissível de interferência emdeterminado ecossistema. Nesse contexto, devemos sempre terem mente a capacidade de resistência do meio receptor napresença de determinadas perturbações.108

De tais elaborações decorrem, ainda, certas conjunturasdas quais destacamos as seguintes:

· O lugar em que se verificam os impactos ambientais emfunção das condições próprias do ecossistema em questão;

· O momento histórico em que se processam tais impactos;· Estação do ano ou momento do dia em que são

produzidos tais impactos;Cuida-se, afinal, a nosso ver, de política extremamente

adequada à questão ambiental, não querendo dizer, com isso,que a idéia de tolerância, deva ser destacada em detrimento àidéia de prudência e precaução. Não, não é isso. O que afirmamoscom convicção, é que a certeza científica deva ser estimuladaexaustivamente, a fim de privilegiar a certeza jurídica.

Resulta daí, em definitivo, estímulo ao saber científico,proporcionando, incremento desejável do conhecimento dosmecanismos efetivamente causadores de danosidade, preparandoassim, cada vez mais, a humanidade a intervir favoravelmentena prevenção.

Entretanto, diante da ausência dessa certeza, devemosprestigiar o principio nº 15 emanado na Conferência das NaçõesUnidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na

108 Ibidem, p. 106 e 110, no qual destacamos o seguinte: “Parece-nos claro,agora, que a noção de limite de tolerabilidade é válida para a proteção do meioambiente e cientificamente correta.”

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cidade do Rio de Janeiro de 1992, qual seja o princípio daprecaução.

Em outro modo de dizer e aproveitando as colocações deLeme Machado:

Em caso de certeza do dano ambiental, estedeve ser prevenido, como preconiza oprincípio da prevenção. E, caso de dúvidaou incerteza, também se deve agirprevenindo. Essa é a grande inovação doprincípio da precaução. A dúvidacientífica se expressa com argumentosrazoáveis, não dispensa a prevenção.109

Unimos vozes com Mirra, ao afirmar que como decorrênciada substituição do critério da certeza pelo critério da probabilidade,consagrado com o advento do princípio da precaução, pode-sedizer que, nas ações ambientais, para o autor da demanda bastaa demonstração de elementos concretos e com base científicaque levem à conclusão quanto à probabilidade de caracterizaçãoda degradação, cabendo, então ao réu a comprovação de que asua conduta ou atividade, com absoluta segurança, não provocaou provocará a alegada ou temida lesão ao meio ambiente. Assim,o princípio da precaução tem também essa outra relevantíssimaconseqüência na esfera judicial: acarretar a inversão do ônus daprova (...).110

À guisa de conclusão, todo monitoramento ambientalobjetivando precisar se o limite de tolerabilidade de um determinadoecossistema foi ultrapassado, deve ter como pano de fundo, ofoco na pessoa da vítima que poderá sofrer tal danosidadeambiental. Seja esta vítima o próprio meio ambiente ou terceiros,à luz do artigo 14, § 1º, da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981.

109 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 58.110 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Direito Ambiental: o princípio da precaução e suaaplicação judicial. In Revista de Direito Ambiental, nº 21. Coords. BENJAMIN,Antônio Herman V.; MILARÉ, Édis. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2001. p.100.

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11. A precaução e sua influência benéfica na questãoambiental

A construção, fundamental para a compreensão da noçãode precaução, nos é oferecida no texto da declaração deprincípios da Conferência das Nações Unidas sobre MeioAmbiente realizada na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1992.

Como já comentado, e reiterado agora, o item nº 15 assim declara:

De modo a proteger o meio ambiente, oprincípio da precaução deve seramplamente observado pelos Estados, deacordo com suas capacidades. Quandohouver ameaças de danos sérios ouirreversíveis, ausência de absoluta certezacientífica não dever ser utilizada comorazão para postergar medidas eficazes eeconomicamente viáveis para prevenir adegradação ambiental.111

Tecnicamente, as declarações de tal princípio, comosabemos, não têm força vinculante isto é, não são mandatárias.No entanto é inegável, a influência que as mesmas exercemsobre o ordenamento jurídico vigente, no que tange à influênciae elaborações de novos valores sociais.

Além do que, nunca é demais recordarmos que osprincípios, em qualquer área do Direito, constituem as idéiascentrais do sistema jurídico, dando a este um sentido lógico, coeso,harmônico e racional.

De toda sorte, é oportuno relembramos, a famosa teoriatridimensional de Reale. Tal teoria nos provou que todaformulação jurídica pressupõe sempre três elementos, quaissejam: fato, valor e norma.

Na esteira de tal raciocínio:

111 Conforme tradução do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, divisão doMeio Ambiente.

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O Direito não possui uma estruturasimplesmente factual, como querem ossociólogos; valorativa, como proclamam osidealistas; normativa, como defendem osnormativistas. Essas visões, quando vistasisoladamente são parciais e não revelamtoda a dimensão do fenômeno jurídico.112

Faz-se necessário ter a correta percepção de que naconcepção de Reale, “o fenômeno jurídico é uma realidade fático-axiológico-normativo, que se revela como produto histórico-cultural, dirigido a realização do bem comum”.113

No momento em que um determinado fato é valorado ereconhecido pela sociedade de um determinado tempo, comodigno de proteção jurídica, ele é normatizado. Assim, vimos everemos eclodir o Direito ao longo da história da humanidade.Percebemos a inclusão desse novo valor - precaução -, a seenraizar no seio de nossa sociedade.

Como bem observa Leme Machado: “a implementaçãodo princípio da precaução não tem por finalidade imobilizar asatividades humanas”.114

Na esteira de tal raciocínio, Mirra nos dá a melhorinterpretação:

A orientação que passou a ser seguida é ade que, mesmo diante de controvérsias noplano científico com relação aos efeitosnocivos de determinada atividade ousubstância sobre o meio ambiente,presente o perigo de dano grave ouirreversível, a atividade ou substância em

112 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 1976.Apud NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense,1999. p. 460-461.113 Ibidem, p. 461.114 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 54.

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questão deverá ser evitada ourigorosamente controlada.115

Como se vê, “não se trata da precaução que tudo impedeou que em tudo vê catástrofes ou males”.116

A acolhida de um rumo nessa ordem de idéias, ao nossover, justifica-se de modo pleno.

A questão, portanto, foi posta por Bessa Antunes nosseguintes termos: “Não emita uma substância se não tiver provasde que ela não irá prejudicar o meio ambiente”.117

Como ensina Leme Machado:

O princípio da precaução visa àdurabilidade da sadia qualidade de vidadas gerações humanas e à continuidadeda natureza existente no planeta. Aprecaução deve ser visualizada não só emrelação às gerações presentes, como emrelação ao direito ao meio ambiente dasgerações futuras.118

No plano nacional, a Lei de Política Nacional do MeioAmbiente – Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, em seus incisosI e VI, fixou como um dos objetivos dessa política a preservaçãoda qualidade ambiental. Assim é que, a partir de então, aprevenção ingressou no ordenamento jurídico vigente.119

Aí, está, talvez o aspecto mais encantador de tal princípio,pois ele está tão interligado ao direito ambiental, que podemos,por assim dizer, que:

O direito ambiental no Brasil é o direito deprudência e vigilância no que se refere à

115 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit. p. 93-94.116 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 54.117 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 4ª ed. Rio de Janeiro: LumenJuris, 2000. p. 29.118 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit. p. 54.119 Ibidem, p. 53.

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degradação da qualidade ambiental e nãoo direito de tolerância com as condutas eatividades lesivas ao meio ambiente. Esseo enfoque que deve prevalecer em todaatividade de aplicação do Direito nessaárea, inclusive na esfera judicial.120

12. O direito ambiental como direito humanofundamental

Quinze anos após a promulgação da Constituição Federalda República, de 05 de outubro de 1988, nota-se ainda que, naocorrência peculiar do nosso estudo, o exame atento do nossosistema de Direito, em sede ambiental, não estaria ele concluído,se não fizéssemos menção à previsão constitucional do Direitoao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direitohumano fundamental.

Com efeito, a Constituição Federal da República de 1988121

dedicou o capítulo VI, do título VIII, inteiramente ao meioambiente.

Da análise de tais dispositivos constitucionais, percebemos,inicialmente, que o meio ambiente ecologicamente equilibrado éessencial à qualidade de vida digna.

Mais que evidente, é incontestável a percepção que, noatual estágio da humanidade, toda a vida humana corre o imensorisco de perecer. A toda hora do dia e da noite, somos informadospelos meios de comunicação em massa, de quadros deprimentesde guerras tecnológicas, de acidentes ambientais de magnânimasproporções, enfim, de infinitos impactos ambientais negativos damais alta relevância, que induzem e interferem drasticamenteem todo o geossistema planetário, a ponto de comprometer aexistência digna de vida de toda a humanidade.

121 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. In Coletânea delegislação de direito ambiental e Constituição Federal. São Paulo: RT, 2002. p.01-120.

120 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit. 98.

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Como sabemos, o legislador constitucional ao determinaro meio ambiente como um direito fundamental, assim o fez porconsiderar a sua proteção como indispensável à vida e à dignidadedas pessoas, essência dos direitos fundamentais. Sim, poisconforme já comentado no presente trabalho e repetido agora,mais importante que garantir o direito à vida, é garantir o direitoà qualidade de vida. Sendo assim, ao nosso ver, o processodemocrático só estará concluído em nosso País, no momentoem que consolidarmos o direito de toda a sociedade viver sadiae equilibradamente, no meio do ambiente.

Não por acaso, as precisas observações de GiseleCittadino, em relação aos valores constitucionais e direitosfundamentais, senão vejamos:

O fundamento ético do ordenamentojurídico se revela, precisamente, nomomento em que a Constituição apresenta,no seu corpo normativo, um sistema devalores. Por conseguinte, a aplicação dassuas normas, por via interpretativa, se tornauma realização de valores. (...) Desta forma,e na linha do constitucionalismo‘comunitário’, o cumprimento dosprincípios fundamentais equivale a umarealização de valores. A dimensão axiológicasupera, portanto, a dimensão deontológica,pois o conceito de bom tem primazia sobreo de dever ser, na medida em que osprincípios expressam os ‘valoresfundamentais’ da comunidade.122

Fugiríamos de um dos objetivos dessa dissertação, se nãodiscorrêssemos um pouco mais que seja, sobre os direitosfundamentais. Esses apareceram com a revolução da burguesia

122 CITTADINO, Gisele. Pluralismo, Direito e Justiça Distributiva. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2000. p. 46.

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e evoluíram ao longo do tempo. Habituamo-nos, inclusive, aindentificarmo-los em gerações.

Fora de um determinado contexto histórico, não existepossibilidade de compreensão dos mesmos.

Os de primeira geração estão conectados à idéia daoposição à opressão e tem, como titular do direito, o indivíduosingularmente considerado. São direitos civis, ditos negativos eprotecionistas. Expressam a garantia que o direito deve dar àliberdade, à propriedade e à segurança social.

Os de segunda geração, são direitos econômicos e sociais.Ditos positivos e prestacionais. Estão ligados à idéia de proteçãoà saúde, à habitação, à educação, ao salário digno, à seguridadesocial e etc.

Por fim, observamos que os direitos de terceira geraçãoconstituem uma construção recente. São positivos e negativos.Estão atrelados à idéia de proteção à solidariedade, à paz, aodesenvolvimento, à comunicação, ao meio ambiente, entre outros.

Cogita-se, nesta esteira, que a proteção constitucional dadaao meio ambiente, manifesta-se como um direito fundamentalde terceira geração, que tem como titular, a humanidade.123

Resulta, em definitivo, de tais assertivas que a visãoholística de meio ambiente deve ser enaltecida em detrimento

123 SILVA, José Afonso da. Fundamentos Constitucionais da Proteção do MeioAmbiente. In Revista de Direito Ambiental, nº 27. Coords. BENJAMIN, AntonioHerman V.; MILARÉ, Édis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. P. 51-58. Noponto, destacamos o seguinte: “A Constituição, com isso, (...) Toma consciênciade que a qualidade do meio ambiente se transforma num bem, num valor mesmo,cuja preservação, recuperação e revitalização se tornara num imperativo doPoder Público, para assegurar a saúde, o bem-estar do homem e a condições de seudesenvolvimento; em verdade, para assegurar o direito fundamental à vida. Asnormas constitucionais assumiram a consciência de que o direito à vida, comomatriz de todos os demais direitos fundamentais do homem, é que há de orientartodas as formas de atuação no campo da tutela do meio ambiente. Compreendeuque ele é um valor preponderante, que há de estar acima de quaisquer consideraçõescomo as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade,como as da iniciativa privada. Também esses são garantidos no texto constitucional,mas, a toda a evidência, não podem primar sobre o direito fundamental à vida,que está em jogo quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que éinstrumental no sentido de que, mediante essa tutela, o que se protege é um valormaior: a qualidade da vida humana.”

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da visão antropocêntrica. O nosso sistema de responsabilizaçãocivil ambiental deve ser aperfeiçoado a partir dessa premissa.

Nunca é demais lembrar que, num passado remoto dahumanidade, chegamos ao cúmulo de entender que o planeta Terraera quadrado e o sol girava em torno do mesmo. Quero afirmarcom isso que a humanidade ainda não compreendeu que ela não éo centro do universo, e que, para existir vida em plenitude, faz-senecessário abandonar certos preconceitos de outrora e de agora,como, por exemplo, a visão antropocêntrica. Mas, se ainda nãoconseguimos chegar tão longe, que, pelo menos, levados pelanecessidade da auto preservação da espécie humana e, quiçá,movidos por uma intenção egoisticamente antropocêntrica,possamos despertar para uma prática preventiva, em detrimentoda reparatória, preservando, assim, o equilíbrio ambiental planetário.

Não resta dúvida que um novo pólo jurídico de libertaçãodo ser humano se acrescenta aos da liberdade e da igualdade.Os direitos de terceira geração tendem a cristalizar-se nesteséculo, enquanto direitos que não se destinam especificamenteà proteção do interesse pelo indivíduo ou de um grupo têm primeiropor destinatário o ser humano mesmo, no momento expressivode sua afirmação como valor supremo.

Sublinhe-se, ainda, que

13. A dignidade da pessoa humana

Com o giro conceitual ocorrido no fundamento filosóficoda responsabilidade civil, e na certeza de que, a todo o momento,devemos buscar qualidade de vida em nossas relações, e ao

124 Ibidem, p. 58.

a proteção ao ao meio ambiente traduz omodo de proteção à vida, à qualidade devida, à sobrevivência da espécie humana,que é destinatária dos direitos de terceirageração.124

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final proteger sempre, e cada vez mais, e igualmente, o meioambiente e a dignidade humana.

Consideramos oportuno tecermos e aprofundarmosconsiderações no que diz respeito ao acima exposto.

Percebemos, preliminarmente, a importância deexplorarmos, mesmo que limitadamente, algumas idéias a respeitodo que vem a ser, a nosso ver, viver digna e humanamente.

Iniciaremos a preciosa tarefa a partir da noção do conceitode ser humano: fruto de intensa evolução ao longo do tempo.

Como é notório:Todo ser dotado de vida é um indivíduo,isto é: algo que não se pode dividir, sobpena de deixar de ser. O Homem é umindivíduo, mas é mais que isto, é umapessoa. (...) A pessoa é um centro deimputação jurídica, porque o direito existeem função dela e para propiciar o seudesenvolvimento.125

O racionalismo o considera, desde Descartes, como o entepensante por excelência, como a razão que compreende e explicao mundo e a si mesma.

Protágoras afirmava que o ser humano é a medida detodas as coisas, enquanto Sócrates elucidava ser o objeto maisdireto de preocupação filosófica.

Na conceituação cristã, o ser humano transcende o mundo,em uma dimensão totalmente diferente desta.

Fixado nesse último conceito, partiremos agora para aprecisa observação de que no estágio atual da sociedade, oindivíduo em constante transformação social ainda não alcançouo desejável entendimento do que venha a ser, viver digna ehumanamente.

A insofismável desventura econômica e o agressivorepúdio social fazem das urbes contemporâneas o palco para a

125 SILVA, José Affonso da. Op. cit. p. 54.

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delinqüência, no qual o indivíduo vale o que possui, perdendo osbens materiais e a vida em conjunturas insonháveis.

É indispensável que redescubramos o ser, em detrimentodo ter. Infelizmente, o indivíduo para ter, escraviza o ser.126

A educação, a psicoterapia, a metodologia da convivênciahumana devem estruturar-se em uma consciência de ser, antesde ter; de ser, ao invés de poder; de ser, embora sem apreocupação de parecer.

Diante dos preceitos acima descritos, Spínola, infelizmente,observa que vivemos em um modelo de desenvolvimento baseadono consumo. Os valores sociais estão, de um modo geral, apoiadosna idéia de que o sucesso do ser humano é medido pelo queconsome de bens e serviços. Ostentar grifes, carros, mansõestornou-se parâmetro para medir o sucesso individual nasociedade. O caráter do indivíduo tornou-se um valor secundário.O “ter” superou o “ser”.127

Não por acaso, notícias maléficas chegam de toda parte,trazendo um quadro de infelicidade geral. Na intimidade do lar,filhos planejam e executam crimes contra a pessoa de seus pais,objetivando ostentar o ter em detrimento do ser.

Existe, atualmente, no contexto mundial, um ambiente dereceio asfixiante, enquanto emerge da essência do homem ainsensibilidade pela ordem, pelos valores éticos, pela existênciacorporal, pelo meio ambiente.

Desumaniza-se o indivíduo, entregando-se ao pavor, ougerando-o, ou indiferente a ele.

Percebemos a necessidade de provocarmos, na sociedadeorganizada, e principalmente na desorganizada, uma imprescindível

127 SPÍNOLA, Ana Luiza S. Op. cit. p. 212-213.

126 No ponto, infelizmente, ver reportagem de DOCA, Geraldo. Lei que punetrabalho escravo será mais dura. Jornal O Globo, 30 de outubro de 2003. Rio deJaneiro. p. 27, de onde destacamos o seguinte: “A Comissão de Constituição eJustiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou ontem, em votação simbólica,projeto de Lei que altera o Código Penal e aumenta de dois para quatro anos a penamínima de prisão para quem explorar de mão-de-obra escrava”. Quero dizer comisto, que em pleno século XXI, a sociedade brasileira, ainda se depara com inadequadascondutas escravagistas que remontam ao início da civilização.

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reação emocional, cultural, religiosa, psicológica, social, a fim deque o ser humano volte a identificar-se consigo mesmo.

Na tentativa de enfrentar tal conjuntura e ampliar a tutelada pessoa humana, o legislador constituinte conferiu à dignidadeda pessoa humana o status de fundamento da República.

Na esteira de tal raciocínio, Tepedino traz a baila importante lição:

As transformações sociais, decorrentes dos efeitos daciência aliadas à tecnologia, impuseram a todos um modeloindesejável de ser humano, seja no passado não tão distante doindividualismo competitivo pós-renascentista ou no mundoglobalizado da atualidade.

Percebemos, no tecido social, uma transformação, mas nãouma renovação saudável na forma de encarar-se a vida e de vivê-la.

O aleivoso senso de moral reinante dissimula erros que seavolumam e se tornam fatores de desagregação da personalidade.

Não conseguimos, até os tempos atuais, superar a marcado colonialismo na sociedade brasileira: essa relação dedependência ligada à idéia de produção voltada para aexportação e a subordinação pacífica e incentivada da utilização

128 TEPEDINO, Gustavo José Mendes. Op. cit. p. 48.

Com efeito, a escolha da dignidade dapessoa humana como fundamento daRepública, associada ao objetivo funda-mental de erradicação da pobreza e damarginalização, e de redução dasdesigualdades sociais, juntamente com aprevisão do § 2º do art. 5º, no sentido danão exclusão de quaisquer direitos egarantias, mesmo que não expressos,desde que adotados pelo texto maior,configuram uma verdadeira cláusula geralde tutela da pessoa humana, tomadacomo valor máximo pelo ordenamento.128

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dos nossos recursos ambientais por interesses econômicosalienígenas.

Delineia-se, assim, inequivocadamente, a preocupação dediversos setores da comunidade acadêmica ambiental com apresente questão.

Observamos, de um lado, a ciência em constanteprogresso, não se fazendo acompanhar por um apropriadodesenvolvimento ético-espiritual. O exagero de tecnologia, queaparentemente resolveria os problemas humanos, engendrounovos dramas e conflitos comportamentais, na rotina degradante,que necessitam ser reexaminados para posterior correção.

De outro lado, a humanidade se exacerba em guerras epós-guerras que se sucedem, nas variações da economia, nosgigantescos bolsões de misérias mundiais, que se fazem mais visíveisem países da América Latina, como o nosso, empurrando o serhumano para a insegurança, a suspeição contumaz e a violência.129

O homem ainda não aprendeu a ser solidário quando nãoconcorda, preferindo ser solitário, ser opositor.

A predominância do egoísmo na natureza humana faz-seresponsável pelo caos em volta, no qual os conflitos degenerativosda sociedade campeiam.

Na história de nossa civilização, em especial da sociedadebrasileira, o poder sempre esteve por mais tempo nas mãos dos violentosdo que na sabedoria dos pacíficos, gerando as guerras exteriores.130

129 BENJAMIN, Antônio Herman V. Op. cit. p. 403-431. Destacamos o seguinte: “Écerto que desafios não faltam na história das nações menos desenvolvidas, identificadascomo ‘países do sul’. Primeiro foi o colonianismo, com dominação direta e, emmuitos casos (como na África e América Latina), com a utilização generalizada daescravidão. Depois da guerra fria e, com ela, a corrida armamentista, as guerras civis,os golpes de Estado, as ditaduras e o desrespeito cotidiano aos direitos humanos.Finalmente, nos anos 80 e especialmente na América Latina, veio a crise econômicaduradoura, a inflação, a estagnação da economia, a fome, a miséria e, comoconseqüência, a exploração desenfreada e irresponsável dos recursos naturais.” Oautor ainda destaca em nota específica substancial informação, senão vejamos: “Apobreza é o primeiro referencial que se deve ter em mente ao se analisar a problemáticaambiental na América Latina. Como bem lembra Carlos Suárez, Presidente da FundaçãoBariloche, ‘Enquanto o mundo e nossos governos estão analisando como ingressarno século XXI, quase 50% da população da região está regressando às condições desaúde e ambiente da Idade Média”.

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Em nome da evolução da civilização, sucedem-se asrevoluções e guerras destrutivas que não oferecem nada capazde preencher os espaços vazios que causam.

Os valores da nossa sociedade amedrontada encontram-se em xeque, porque são transitórios.

Os direitos da humanidade, decantados em toda a parte,sofrem o vilipêndio daqueles que os deveriam proteger, em razãodo anarquismo que apresentam diante das leis por eles mesmoselaboradas, em repulsa flagrante às Instituições que secomprometeram socorrer, por aviltamento de si próprios.

O excesso de tecnicismo, com a correspondente ausênciade solidariedade humana, produziram o momento atual em quevivemos.

As conjunturas externas do inter-relacionamento dascriaturas, fenômeno conseqüente ao desequilíbrio do indivíduo,engendram, no contexto atual, a insegurança, que fomenta as crises.

Sucedem-se, desse modo, as crises de autoridade, derespeito, de honradez, de valores ético-morais, e a desumanizaçãoda criatura assoma nos papéis do comportamento,insensibilizando-a pelo amolentamento emocional ou exacerbação,na volúpia do prazer e da violência conduzidos pelas ambiçõesdesmedidas.

A crise de autoridade responde pela corrupção em todasas áreas, sob a cobertura daqueles que deveriam zelar pelosbens públicos e administrá-los em favor da comunidade, poisque, para tal, se candidataram aos postos de comando, sendo

do que na sabedoria dos pacíficos, gerando as guerrasexteriores.130

130 Chamamos a atenção para a manchete: Esse troço de matar é uma barbaridade,mas tem que ser. Jornal O Globo, Rio de Janeiro, p. 01, de 05 de novembro de 2003,o livro revela incentivo do ex-presidente Geisel à eliminação de adversários, onderelatamos na íntegra o seguinte: “Quando chegar hoje às livrarias o terceiro volumede ‘Ilusões armadas – A Ditadura derrotada’, de Elio Gaspari, a História do Brasilficará indelevelmente marcada pela naturalidade com que um chefe de Estado (ErnestoGeisel) trata da eliminação de adversários políticos. Gravado pelo próprio Geisel, odiálogo se soma a uma série de revelações, que passam pela suspeita de desonestidadede Delfim Netto, a pressão por um golpe após a vitória do PMDB em 74 e o desejode ver o delegado Sergio Fleury morto”.

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remunerado pelos contribuintes para este fim. Como efeito, osmaus exemplos favorecem a desonestidade, privada e pública,dos membros esfacelados do organismo social enfermo,preparando os bolsões de miséria econômicas, morais, com todosos ingredientes para a marginalidade e a insegurança geral.

Por desinformação ou produto de um contexto imediatista-consumista, elaborou-se a tese de que a segurança pessoal é oresultado do ter, que se manifesta pelo poder e recebe a respostana forma de parecer. Todos os mecanismos responsáveis pelohomem e sua sobrevivência se estribam nessas propostas falsas,formando uma sociedade de forma, sem profundidade, deapresentação, sem estrutura psicológica nem equilíbrio moral.

Trabalhando somente o exterior, relega-se, a planoacessório ou a nenhum, o sentido ético do ser humano, da suarealidade essencial, das suas possibilidades vindouras,estacionadas nele mesmo.

Desacostumado à convivência psíquica consciente comos seus problemas, mascara-se com as fantasias da aparência eda posse, fracassando nos momentos em que se deve enfrentar,refletido em outrem que o observa com os mesmos conflitos einseguranças. As uniões fraternas então desarticulam, as afetivasse convertem em guerras surdas, o matrimônio naufraga, orelacionamento social sucumbe disfarçado nos encontros dabalbúrdia, da extravagância, dos exageros alcoólicos, tóxicos,orgíacos, em mecanismos de fuga da realidade de cada um.

O homem apresenta-se doente, e a sociedade, que lhe écorpo grupal, encontra-se desestruturada em padecimento total.

Todavia, é no cerne do ser, que se encontram as causasmatizes de todos os males da humanidade e paradoxalmente acura dessas mesmas mazelas.

O desígnio da existência física é, sem sombra de equívoco,a conquista dos valores eternos e o êxito versa em lograr oequilíbrio entre o que se pensa ter e o que se é realmente,adquirindo a estabilidade emocional para permanecer o mesmo,na alegria, como na tristeza, na saúde conforme na enfermidade,na vitória, conforme sucede no fracasso.

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Exclusivamente mediante a conduta individual eresponsável, o homem se liberta, sem tornar-se impudico ouinsensato.

Se cada indivíduo de nossa sociedade se conduzirconforme entender melhor, considerando-se autorizado, essaatitude trabalha a favor da anarquia, responsável por desmandosem limites.

A anarquia substitui a ordem e as transformações sociaisapressadas que não têm tempo de ser assimiladas, porquesubstituídas pelos modismos que se multiplicam em altavelocidade.

A liberdade é um direito que se consolida, na razão diretaem que o homem se autodescobre e se conscientiza, podendoidentificar os próprios valores, que deve aplicar de formaedificante, respeitando a natureza e tudo quando nela existe.

Ao oferecermos esses entendimentos não temos aaspiração de impor regras ou recomendar os melhores caminhosa seguir, nem mesmo regulamentar quais são as melhores atitudesa serem tomadas. Estamos conscientes da diversa gama de grausde amadurecimento da humanidade.

Unindo vozes com Norberto Bobbio

A nosso pensar, cada ser está num determinado estágioevolutivo e, portanto, fazendo tudo o que lhe é possível fazer nomomento atual, ou em outro modo de dizer conduzindo-se noagora com o melhor de si próprio.

131 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. [tradução Carlos Nelson Coutinho].Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 208-209.

creio firmemente em minha verdade, maspenso que devo obedecer a um princípiomoral absoluto: o respeito à pessoa alheia.(...) Se o outro deve chegar à verdade, devefazê-lo por convicção íntima e não porimposição”.131

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Tomemos a própria natureza de exemplo: percebemos quepassaríamos por contraditórios, se censurássemos um botão derosa ainda fechado por não se encontrar inteiramentedesenvolvido ou se censurássemos uma roseira por não ter dadoa mesma quantidade de botões do que a roseira ao lado.

Afirmar aos nossos semelhantes qual atitude elesnecessitam ter é desrespeitar sua natureza íntima, ou seja, seupróprio nível de desenvolvimento espiritual.

A liberdade custa um alto preço e precisa ser adquiridaao longo da grande luta que se trava no dia-a-dia.

Liberdade de ser e atuar, de ter respeitados os seus valorese preferências de discernir e aplicar, considerando, naturalmente,os códigos éticos e sociais, sem o servilismo acomodado e apáticoaos padrões de conveniência dos grupos dominantes.

A agressão ao meio ambiente, em forma de violência cruelcontra as forças mantenedoras da vida, demonstra que ahumanidade, em nome de sua liberdade, destrói, mutila, mata emata-se, por fim, por não saber usá-la conforme seria desejável.

O livre-arbítrio começa no pensamento, como forma deaspiração do bem, do bom, do belo, do ideal, que são tudo quantofomenta a vida e a sustenta, dá vida e a mantém.

Qualquer conduta que contrarie esse direcionamento nopensamento, ao nosso ver, é rival da liberdade.

A liberdade deve ser o reflexo de como devemos nosconduzir em vida, ou em outro modo de dizer, uma atitude perantea vida.

A pessoa humana, fundamento da liberdade, é um valorabsoluto e incondicionado e extrapola em muito, o conceito deindivíduo.

Tal percepção enriquece a vida humana e oferece umaextensão muito para além do indivíduo.

Embora reconheçamos singela a nossa contribuição, é essanossa percepção do que seja viver digna e humanamente, direitoe dever de todos.

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