resolução do conselho de ministros n.º 45/2015

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Política nacional de arquitectura e paisagem

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  • Dirio da Repblica, 1. srie N. 130 7 de julho de 2015 4657

    PRESIDNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS

    Resoluo do Conselho de Ministros n. 45/2015A arquitetura e a paisagem constituem expresso da

    identidade histrica e da cultura coletivas, com particular reflexo na educao, na incluso social e na participao dos cidados.

    Das opes tomadas no mbito da arquitetura e da paisa-gem decorrem fortes implicaes para o desenvolvimento do Pas, designadamente em termos de sustentabilidade ambiental, econmica, social e cultural, de eficincia ener-gtica e do combate s alteraes climticas, contribuindo para uma economia mais competitiva, para uma sociedade mais digna, justa e inclusiva.

    A definio da poltica nacional de arquitetura e paisa-gem deve, pois, basear -se em diferentes reas disciplinares, que devem complementar -se numa interveno territorial equilibrada e harmoniosa, no quadro do ordenamento do territrio, do urbanismo e da conservao da natureza, capaz de garantir as funes ecolgicas da paisagem e promover a qualidade ambiental, as caractersticas do pa-trimnio construdo e a identidade dos lugares.

    Em Portugal, a importncia da qualidade da arquite-tura e da paisagem para o desenvolvimento sustentvel e harmonioso do Pas, assim como para o bem -estar dos cidados, reconhecida desde logo na Constituio da Repblica Portuguesa (CRP).

    O artigo 66. da CRP estabelece que Todos tm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender, incumbindo ao Estado, por meio de organismos prprios e com o envolvimento e a participao dos cidados, nomeadamente Ordenar e promover o ordenamento do territrio, tendo em vista uma correta localizao das atividades, um equilibrado desen-volvimento socioeconmico e a valorizao da paisagem e Criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como classificar e proteger paisagens e stios, de modo a garantir a conservao da natureza e a preserva-o de valores culturais de interesse histrico ou artstico.

    Estes princpios constitucionais tm acolhimento e concretizao na lei geral, nomeadamente nos diplomas fundamentais que regulam os domnios do ordenamento do territrio e desenvolvimento urbano e do ambiente, e ainda nos documentos estratgicos que estabelecem as grandes orientaes de poltica pblica para esses domnios.

    Em particular, o Programa Nacional da Poltica de Or-denamento do Territrio, aprovado pela Lei n. 58/2007, de 4 de setembro, veio consagrar como objetivos estrat-gicos e medidas prioritrias a preservao e valorizao da biodiversidade, dos recursos e do patrimnio natural, paisagstico e cultural, assim como a promoo do desen-volvimento de uma poltica nacional da arquitetura e da paisagem, em articulao com as polticas de ordenamento do territrio.

    Neste contexto, foi constituda atravs do Despacho n. 9010/2013, de 28 de junho, publicado no Dirio da Repblica, 2. srie, n. 131, de 10 de julho, a Comisso Redatora da Poltica Nacional de Arquitetura e da Paisa-gem, com a misso de apresentar ao Governo o projeto de documento da Poltica Nacional de Arquitetura e da Paisagem (PNAP), com as seguintes linhas orientadoras:

    a) Promoo da conceo arquitetnica e urbanstica e da constituio de um ambiente construdo com qua-lidade;

    b) Preservao e a melhoria da qualidade do patrimnio construdo;

    c) Gesto criativa e sustentvel do patrimnio arqui-tetnico;

    d) Sensibilizao e formao dos cidados para a cultura arquitetnica, urbana e paisagstica;

    e) Incorporao da componente da valia arquitetnica e paisagstica nas decises administrativas;

    f) Promoo de polticas exemplares de construes pblicas;

    g) Definio de propostas de programas especficos para desenvolvimento da PNAP;

    h) Promoo da educao para a arquitetura e paisagem.

    Na sequncia da apresentao projeto de documento da PNAP pela Comisso Redatora da Poltica Nacional de Arquitetura e da Paisagem, o Governo promoveu a respe-tiva consulta pblica, para recolha de contributos de todos os interessados, que decorreu por um perodo de 45 dias, tendo terminado em 31 de outubro de 2014. Os contributos recebidos foram objeto da devida ponderao e integrados no documento final, que agora se visa aprovar.

    Assim:Nos termos da alnea g) do artigo 199. da Constituio,

    o Conselho de Ministros resolve:1 Aprovar a Poltica Nacional de Arquitetura e Pai-

    sagem (PNAP), em anexo presente resoluo, da qual faz parte integrante.

    2 Constituir a Comisso de Acompanhamento da Arquitetura e da Paisagem (CAAP), com a seguinte com-posio:

    a) O diretor -geral do Territrio, que preside;b) Um representante da Direo -Geral do Patrimnio

    Cultural;c) Um representante da Ordem dos Arquitetos;d) Um representante da Associao Portuguesa dos Ar-

    quitetos Paisagistas.

    3 Determinar que a CAAP tem as seguintes com-petncias:

    a) Acompanhar e monitorizar a execuo das medidas e aes constantes da PNAP;

    b) Apresentar ao membro do governo responsvel pela rea do ordenamento do territrio, at 31 de maro de cada ano, relatrios anuais de progresso e de avaliao da implementao do PNAP;

    c) Emitir pareceres ou recomendaes relativas arqui-tetura e paisagem por sua iniciativa ou a solicitao do membro do governo responsvel pela rea do ordenamento do territrio e do desenvolvimento urbano.

    4 Determinar que o CAAP funciona junto da Direo--Geral do Territrio sendo o apoio tcnico, logstico e administrativo necessrio ao seu funcionamento, prestado por este organismo.

    5 Estabelecer que o CAAP rene, pelo menos, uma vez por ano.

    6 Permitir que o CAAP consulte outras entidades pblicas e privadas, sempre que o entenda conveniente para a realizao da sua misso, em razo da matria a abordar.

    7 Estabelecer que as entidades referidas na alnea b) do n. 3 indicam os seus representantes ao diretor -geral do

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    Territrio, no prazo de 10 dias a contar da publicao da presente resoluo.

    8 Determinar que a participao nas reunies ou em quaisquer outras atividades da CAAP, no confere aos seus representantes, nem aos seus convidados e s entidades consultadas o direito a qualquer prestao, independente-mente da respetiva natureza, designadamente a ttulo de remunerao, compensao, subsdio, senha de presena ou ajudas de custo.

    9 Determinar que a assuno de compromissos no mbito da execuo das medidas previstas na presente resoluo depende da existncia de fundos disponveis por parte das entidades pblicas competentes.

    Presidncia do Conselho de Ministros, 4 de junho de 2015. O Primeiro -Ministro, Pedro Passos Coelho.

    ANEXO

    (a que se refere o n. 1)

    POLTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM

    1. Introduo

    A arquitetura e a paisagem fazem parte do quotidiano dos portugueses, determinando em grande medida a quali-dade das suas vidas. Com efeito, hoje reconhecido, a nvel nacional e internacional, o papel decisivo da arquitetura e da paisagem no bem -estar das populaes, assegurando a sustentabilidade ambiental, econmica, social e cultural, e a promoo da competitividade territorial.

    A arquitetura e a paisagem so expresso da identidade, histria e cultura coletivas, com particular reflexo na edu-cao, na incluso social e na participao dos cidados, e fortes implicaes no desenvolvimento do Pas, desig-nadamente nos domnios da inovao e da criatividade, da sustentabilidade ambiental, da eficincia energtica e do combate s alteraes climticas, contribuindo para uma economia mais competitiva para uma sociedade mais digna, justa e inclusiva.

    A Poltica Nacional de Arquitetura e Paisagem (PNAP) assenta em reas disciplinares que se devem complementar numa interveno territorial equilibrada e harmoniosa, no quadro do ordenamento do territrio, do urbanismo e da conservao da natureza, capaz de garantir as funes ecolgicas da paisagem e promover a qualidade ambiental, o patrimnio construdo e a identidade dos lugares.

    A grande maioria dos pases da Unio Europeia reconhe-ceu a arquitetura e a paisagem como importantes recursos e linhas estratgicas de atuao do Estado, concertadas atravs de polticas pblicas que, visando a melhoria da qualidade de vida dos cidados, promovem a arquitetura e a paisagem entendidas como garante da qualidade e sustentabilidade do ambiente natural e construdo, e como recurso da cultura e da cidadania.

    O amplo reconhecimento da arquitetura e da paisagem como bens pblicos que promovem o bem -estar social, a competitividade econmica e a identidade cultural, tem conduzido, ao longo das duas ltimas dcadas, adoo de convenes internacionais, de declaraes e resolu-es intergovernamentais e de outros compromissos, no mbito da Unio Europeia, do Conselho da Europa e das Naes Unidas, em que Portugal participa e de que ressal-tam a adoo do Esquema de Desenvolvimento do Espao Comu nitrio (EDEC), a ratificao da Conveno Europeia

    da Paisagem, a Resoluo do Conselho Europeu sobre a qualidade da arquitetura no ambiente urbano e rural e as Convenes das Naes Unidas para a proteo do pa-trimnio mundial, cultural e natural e para a proteo do patrimnio cultural imaterial.

    A PNAP assenta, por isso, numa dupla fundamentao: valorizar a qualidade do ambiente natural e construdo, da arquitetura e da paisagem em Portugal e ampliar a atuao de Portugal no quadro dos compromissos internacionais como fatores estratgicos num quadro de desenvolvimento que garanta o bem -estar e a qualidade de vida dos cida-dos, aumentando a conscincia cvica e a participao dos cidados e das organizaes da sociedade civil na sua implementao.

    Por ser tal a relevncia da arquitetura e da paisagem, a criao e implementao de uma poltica pblica de arquitetura e da paisagem constitui -se como um desgnio de Portugal.

    2. Enquadramento

    Atentas as tarefas fundamentais do Estado estabelecidas na Constituio da Repblica Portuguesa, a arquitetura e a paisagem constituem -se como objeto e domnio de Poltica Pblica, reconhecidos o seu valor social, cultural, econ-mico, ambiental e ecolgico, e o seu impacto no bem -estar e na qualidade de vida das populaes.

    2.1. mbito

    A qualidade do ambiente quer natural, quer constru-do so matrias que tm vindo a merecer uma ateno crescente nos Pases Europeus, associadas aos objetivos do desenvolvimento sustentvel, da salvaguarda e valorizao da identidade territorial, da proteo e valorizao dos re-cursos e do patrimnio natural, paisagstico e cultural, bem como do ordenamento racional e harmonioso do territrio na tica do desenvolvimento e coeso territorial.

    Em Portugal, estes objetivos, expressos inicialmente numa das primeiras propostas de Poltica Nacional de Arquitetura elaborada por um Estado Membro da Unio Europeia, O Livro Branco da Arquitetura e do Ambiente Urbano em Portugal, publicado em 1995, tm tido sequn-cia nos diplomas fundamentais que regulam o ordenamento do territrio, o urbanismo e o ambiente, e nos principais documentos estratgicos que estabelecem as grandes orien-taes de poltica nesses mesmos domnios.

    De entre eles, destaca -se o Programa Nacional das Po-lticas de Ordenamento do Territrio que identifica como medida prioritria o desenvolvimento de uma PNAP, ad-mitindo, de forma expressa, a qualidade arquitetnica, a proteo e a valorizao das paisagens e do patrimnio cultural como fatores fundamentais na qualificao e de-senvolvimento do territrio e na promoo e melhoria da qualidade de vida dos cidados.

    A nvel comunitrio, so j vrios os Estados -Membros da Unio Europeia que relevam a matria nas suas agendas polticas, consubstanciando, atravs da promulgao de polticas pblicas de arquitetura e da paisagem, os princ-pios e compromissos assumidos no mbito das convenes internacionais, das declaraes e resolues intergoverna-mentais adotadas pela Unio Europeia, pelo Conselho da Europa e pelas Naes Unidas.

    Ao adotar uma PNAP, Portugal vem corroborar esses mesmos desgnios e compromissos, firmados e prosse-guidos no mbito da sua participao assdua nos fruns

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    europeus e internacionais, designadamente o Frum Eu-ropeu para as Polticas de Arquitetura, o Conselho dos Arquitetos da Europa, o Comit de Monitorizao para a Cultura, o Patrimnio e a Paisagem, e as Conferncias da Conveno Europeia da Paisagem.

    De entre os documentos que, a nvel europeu e inter-nacional, tm vindo a alicerar a confirmao da arqui-tetura e da paisagem como domnios de Poltica Pblica, destacam -se:

    2.1.1. O EDEC, adotado em 1999 pela Unio Europeia, que determina o territrio como uma nova dimenso da poltica europeia, reconhecendo as identidades territoriais locais e regionais como fatores decisivos no enriqueci-mento da qualidade de vida dos cidados. O territrio, a paisagem, a arquitetura e o patrimnio cultural so consi-derados, eles prprios, fatores ativos de desenvolvimento, sendo a conservao e a gesto criativa das paisagens culturais e do patrimnio arquitetnico uma opo e ob-jetivo de poltica central, tendo em vista o ordenamento e o desenvolvimento territorial.

    2.1.2. A Conveno Europeia da Paisagem, assinada em Florena no ano 2000 e ratificada por Portugal em fevereiro de 2005, que reconhece a paisagem como uma componente fundamental do patrimnio cultural e natural europeu, contribuindo para a formao das culturas locais e para a consolidao da identidade europeia. Sejam reas urbanas ou reas rurais, reas notveis do ponto de vista patrimo-nial, reas do quotidiano ou, mesmo, reas degradadas, a paisagem sempre entendida como um elemento -chave para o bem -estar individual e social, implicando, por essa razo, direitos e responsabilidades para cada cidado, e uma proteo, ordenamento e gesto atentos do bem em questo.

    2.1.3. A Resoluo do Conselho Europeu sobre a Quali-dade da Arquitetura em Ambiente Urbano e Rural, assinada em 2000 pelos ministros da cultura e audiovisual e adotada formalmente em fevereiro de 2001, que consubstancia, pela primeira vez num documento de poltica a nvel europeu, a arquitetura como um valor essencial na prossecuo da qualidade de vida dos cidados europeus, enfatizando em particular a sua dimenso histrica e cultural. Em 2008 as Concluses do Conselho Europeu sobre Arquitetura vm alargar este entendimento, reforando, desta feita, o contributo e valor da arquitetura para o desenvolvimento sustentvel e, designadamente, para o desenvolvimento urbano sustentvel.

    2.1.4. A Carta de Leipzig das Cidades Europeias Sus-tentveis, assinada em 2007 pelos ministros responsveis pelo desenvolvimento urbano, que assinala o conceito de Baukultur, sensibilizando para a importncia de um espao pblico, de uma arquitetura e ambiente construdo de qualidade, na melhoria das condies de vida da popu-lao urbana, no reforo da atratividade das cidades e da competitividade do espao urbano; uma questo que no apenas cultural, mas que cruza tambm aspetos sociais, econmicos e ambientais.

    2.1.5. As Agendas Territoriais da Unio Europeia, as-sinadas, respetivamente, em 2007 e em 2010, que deter-minam o reforo da coeso territorial como um objetivo comum e prioritrio no mbito da poltica europeia, con-figurando um pr -requisito essencial na consolidao do crescimento econmico sustentvel e na implementao dos objetivos de coeso econmica e social. As estru-turas ecolgicas, o patrimnio cultural e natural, e em especial as paisagens culturais, a arquitetura e o ambiente

    construdo de qualidade constituem potenciais de valor no fortalecimento da diversidade e da identidade locais e regionais, e o fundamento para um crescimento mais inclusivo, inteligente e sustentvel, suportado na cultura e nos valores ambientais.

    2.1.6. As convenes adotadas pela Organizao das Na-es Unidas para a Educao, Cincia e Cultura (UNESCO) e pelo Conselho da Europa no que respeita salvaguarda, proteo e conservao do patrimnio cultural, de que se destacam:

    i) A Carta de Veneza (1964), sobre a Conservao e o Restauro de Monumentos e Stios, elaborada pelo Comit Internacional de Monumentos e Stios (ICOMOS);

    ii) A Conveno para a Proteo do Patrimnio Mun-dial, Cultural e Natural (Conveno de Paris), aprovada pela UNESCO em 1972 e ratificada por Portugal pelo Decreto n. 49/79, de 6 de junho, que define as bases e princpios da conservao do patrimnio mundial natural e cultural, tendo sido os critrios de incluso na Lista do Patrimnio Mundial revistos em 1992, de acordo com a proposta elaborada conjuntamente pelo ICOMOS e pela Unio Internacional para a Conservao da Natureza;

    iii) A Carta de Florena sobre a Salvaguarda de Jardins Histricos, elaborada em 1981 pela Comisso Internacional de Jardins Histricos ICOMOS -IFLA e que consagra, pela primeira vez, o valor cultural de construes humanas em que so utilizados materiais vivos;

    iv) A Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Arquitetnico Europeu (Conveno de Granada), aprovada em 1985 pelo Conselho de Europa e ratificada por Portugal pela Resoluo da Assembleia da Repblica n. 5/91, de 23 de janeiro, onde se estabelecem trs categorias para o patrimnio arquitetnico monumentos, conjuntos e stios; e

    v) A Conveno sobre o Valor do Patrimnio Cultural para as Sociedades (Conveno de Faro) de 2005, pro-movida pelo Conselho Europeu e que se debrua sobre a natureza das relaes entre o patrimnio e as sociedades atuais, nomeadamente os patrimnios arquitetnico e pai-sagstico, e postula sobre os contributos da conservao do patrimnio para o desenvolvimento socioeconmico das sociedades.

    O conjunto de documentos atrs referidos constituem marcos de referncia de um debate que tem vindo a ganhar espao e solidez, sobretudo a nvel Europeu, ancorados na dimenso territorial como um vetor estruturante da Poltica de Coeso e do desenvolvimento sustentvel.

    Tendo em conta que Portugal vai entrar num novo ciclo de financiamento com fundos estruturais orientados atravs do Portugal 2020, estamos perante uma oportunidade para o desenvolvimento da PNAP focada no bem -estar e na qualidade de vida dos cidados e num crescimento de base territorial sustentvel, inteligente e inclusivo.

    2.2. Objeto

    Arquitetura e paisagem so conceitos polissmicos. Aquilo que significam para uns pode no ter exata corres-pondncia no entendimento de outros, da mesma forma que o sentido adotado em determinado contexto pode diferir daquele que releva em contexto diferente.

    Tambm os limites entre os conceitos de arquitetura e paisagem no so evidentes. Encerrando, cada um deles, mbitos e especificidades muito prprios, partilham con-

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    tudo um enfoque e esfera de atuao comuns que respeitam ao ambiente construdo, construo do territrio e dos lugares, espacializao da ao do homem no territrio enquanto expresso de uma cultura e parte integrante de uma identidade coletiva. Arquitetura e paisagem so, por isso, aqui entendidas na sua aceo mais lata.

    Muito mais do que o mero objeto construdo, a arquite-tura compreende todo o espao edificado, integrando no apenas os edifcios, os seus espaos interiores, e todas as outras estruturas construdas que povoam o territrio, mas tambm os espaos exteriores que compe a arquitetura da cidade e desenham o territrio. Na tica disciplinar, a arquitetura a arte e a cincia de construir, de conceber e desenhar o vazio por intermdio da forma fsica construda, conferindo ao espao e ao objeto edificado, materialidade, utilidade e beleza.

    Por sua vez, mais do que um simples cenrio ou enti-dade visual, a paisagem uma parte do territrio tal qual apreendida pelas populaes, um sistema complexo e dinmico que resulta da constante ao e interao do Homem com a Natureza ao longo do tempo. A construo da paisagem orientada por princpios e objetivos que conferem qualidade ao territrio, em termos funcionais, identitrios, ecolgicos e estticos. Nessa medida, a arqui-tetura paisagista simultaneamente arte e cincia, de natu-reza arquitetnica, capaz de sintetizar na sua interveno o conhecimento relativo natureza e cultura, atravs de metodologias integrativas e abordagens holsticas.

    Com base neste entendimento, a opo passa por in-tegrar a arquitetura e a paisagem numa mesma poltica pblica, que considerando as dimenses e especificidades prprias de cada um destes domnios, procura observar e valorizar os aspetos, os princpios e esferas de atuao que tm em comum.

    A PNAP , pois, uma poltica de carcter transversal, no apenas pela nfase que colocada nas sinergias existentes entre a arquitetura e a paisagem com vista prossecuo de objetivos partilhados, mas tambm e sobretudo porque, atendendo natureza dos domnios em questo, deve ser considerada e integrada nas demais polticas sectoriais com impacto no quadro de vida, no bem -estar e qualidade de vida das populaes.

    2.3. Fundamentos

    O principal fundamento para a adoo de uma PNAP ra-dica no reconhecimento da arquitetura e da paisagem como bem de interesse pblico, e na valorizao da qualidade do ambiente construdo, da qualidade da arquitetura e da paisagem, como um fator e elemento chave na garantia do bem -estar e da qualidade de vida dos cidados, no presente e para o futuro.

    A Constituio da Repblica Portuguesa consagra, no artigo 66., que para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento sustentvel, incumbe ao Estado, por meio de organismos prprios e com o envol-vimento e a participao dos cidados ... promover, em colaborao com as autarquias locais, a qualidade ambien-tal das povoaes e da vida urbana, designadamente no plano arquitetnico e da proteo das zonas histricas. Nesta perspetiva, a PNAP , tambm, um imperativo cons-titucional.

    Reconhecendo a relevncia e o contributo da arqui-tetura e da paisagem na determinao e construo da identidade cultural e na prossecuo de um desenvolvi-

    mento sustentvel, so quatro os valores que lhes esto associados:

    2.3.1. O valor social da arquitetura e da paisagem

    A arquitetura e a paisagem configuram o suporte es-pacial e biofsico da vida em sociedade, estabelecendo o quadro espacial quotidiano para as atividades humanas.

    No s proporcionam aos indivduos e sociedade as con-dies necessrias ao seu habitat, como lhes aportam sentido e valor. A casa, a cidade, a paisagem, o territrio, tornam -se uma extenso dos indivduos e das comunidades, traduzem a expresso materializada do viver em sociedade, a apropriao que o Homem faz do espao, enquanto ser individual e cole-tivo, e o modo como, em interao com a Natureza, se integra nos ecossistemas alterando -os. A arquitetura e a paisagem condicionam e so condicionadas pela sociedade.

    2.3.2. O valor cultural da arquitetura e da paisagem

    A arquitetura e a paisagem so um bem histrico e cul-tural e constituem parte significativa do patrimnio dos povos e das naes.

    A arquitetura e a paisagem so um testemunho vivo do passado coletivo, materializando em obra e sedimentando no espao a cronologia do tempo histrico, a herana da prpria Histria. Arquitetura e paisagem condensam me-mrias, registam vivncias, simbolizam ideias e valores. Definem, por isso, o esprito dos lugares e so elemento de identidade coletiva, determinando o sentido de enraizamento e pertena, fator inerente prpria condio humana, essen-cial ao bem -estar dos indivduos e qualidade de vida do ser social. Proteger, salvaguardar e valorizar o patrimnio e as paisagens culturais perpetuar e transmitir para o futuro a mensagem e o conhecimento do passado, alicerando a gesto e a sistemtica construo e reinveno do presente sobre o testemunho da histria e o fundamento da cultura.

    2.3.3. O valor econmico da arquitetura e da paisagem

    A arquitetura e a paisagem so um bem e um recurso gerador de riqueza e de benefcios para a sociedade. A arqui-tetura mesmo um dos mais proeminentes e dinamizadores agentes do sector cultural e criativo. Para alm de repre-sentarem a prestao de servios e atividades profissionais, com valor acrescido para a economia, para a agricultura, comrcio e indstria, designadamente da construo, uma arquitetura e uma paisagem de qualidade representam ainda um fator potenciador de crescimento econmico e de desenvolvimento na medida em que contribuem para a atratividade das cidades e das regies, alavancando a sua capacidade de atrair pessoas, atividades e investimento, com especial enfoque para a indstria do turismo. O sector das indstrias criativas encontra -se entre os mais emergentes no contexto europeu, embora as exportaes de produtos criativos e culturais nacionais fossem, at 2005, de apenas 14 % face aos 51 % da mdia europeia. A arquitetura e a paisagem constituem, nesta tica, elementos propulsores do crescimento econmico e do desenvolvimento.

    2.3.4. O valor ambiental da arquitetura e da paisagem

    A arquitetura e a paisagem so o resultado da inter-veno humana no ambiente natural e construdo. Nessa medida, tiram partido e respeitam o ambiente, ora miti-gando os efeitos adversos que nele possam causar, ora adaptando -se variabilidade climtica e aos impactos que

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    decorrem dessas alteraes. A arquitetura observando o ciclo de vida dos edifcios, dos espaos e estruturas cons-trudos, antecipando cenrios, gerando solues criativas e resilientes, recuperando e adequando tcnicas e ensina-mentos ancestrais. A interveno na paisagem promovendo a sua multifuncionalidade, assegurando o provimento de servios ambientais sem descurar a sua funo ecolgica, econmica, social, recreativa e cultural, bem como a sua qualidade visual e a sua funo de suporte de habitats e da biodiversidade, indo ao encontro das solues mais adequadas s caractersticas e especificidades dos lugares, e mais eficientes e duradouras para o bem -estar presente e futuro das populaes. Sempre que o funcionamento dos ecossistemas e a sustentabilidade dos recursos so respei-tados e que, num quadro de responsabilidade ambiental, as necessidades do Homem so satisfeitas, a arquitetura e a paisagem, na tica do paradigma working with nature, concorrem para o valor e a qualidade ambiental.

    2.4. Desafios

    A observao das dinmicas econmicas e socioterrito-riais nas ltimas dcadas coloca em evidncia um conjunto de debilidades e desafios que, no s constituem o ponto de partida para a estratgia definida na presente poltica, como contribuem para justificar a oportunidade e a perti-nncia da prpria PNAP.

    Identificaram -se seis ordens de desafios que se colocam arquitetura e paisagem nos prximos anos:

    2.4.1. Qualidade e bem -estar

    A progressiva urbanizao da sociedade portuguesa ao longo do sculo XX, decorrente da crescente concentra-o da populao nas reas urbanas e metropolitanas, e o subsequente abandono dos campos e da atividade no setor primrio, consequncia, igualmente, da terciarizao tardia e desequilibrada da economia nacional, geraram alteraes profundas no modelo de organizao do territrio nacional.

    O acentuado processo de urbanizao das ltimas d-cadas, em muito motivado pelo forte investimento e dis-seminao das redes de infraestruturas e pela ausncia de meios e instrumentos poltico -regulamentares que asse-gurassem uma transformao e ocupao territorial justa e equilibrada, resultou numa expanso urbana avulsa e desordenada que se constitui como uma das razes para a fragmentao e degradao das reas naturais e agrco-las, condicionando o seu valor ecolgico, paisagstico e produtivo. Tambm a fraca qualidade dos tecidos urbanos e do ambiente construdo resultam em grande medida da exploso urbanstica das ltimas dcadas, em especial nas franjas residenciais e nas reas de ocupao dispersa, particularmente deficitrias em termos de equipamentos e espaos pblicos coletivos de qualidade, e pobres do ponto de vista da qualidade construtiva, da arquitetura e do dese-nho urbano. Este fenmeno, no seu conjunto, constitui -se como um problema grave de desqualificao da paisagem a nvel nacional, de que resultam a falta de coeso territorial e o empobrecimento das dinmicas urbano -rurais.

    Nos ncleos centrais e centros histricos, as dinmicas confirmam, ao invs, uma tendncia de decrescimento, tambm ela conducente desqualificao do espao e paisagens urbanos. O abandono dos centros, associado ao progressivo envelhecimento da populao residente e emergncia de situaes de precariedade social, tem condu-zido gradual degradao do parque edificado, sustentada

    pelo prprio congelamento do mercado de arrendamento e pela insuficincia de meios e de resposta pblica para alavancar aes de reabilitao e regenerao urbana.

    As cidades espelham, por isso, um dos maiores de-safios dos nossos dias: crescer economicamente garan-tindo o progresso social e a responsabilidade ambiental. O desenvolvimento urbano sustentvel dever basear -se no aproveitamento das condies locais, no respeito pela envolvente e na adequao ao clima, entendimentos que ditaram durante sculos a forma de construir. Ao olhar para as prticas tradicionais, saberemos referenciar mais sabiamente o futuro, o qual dever ser informado pela criatividade, investigao e inovao, de modo a poder responder s necessidades e desafios dos anos atuais e vindouros, refletindo as novas exigncias funcionais e os novos modos de vida.

    Qualificao das paisagens e do ambiente construdo, ancorada numa aposta estratgica na reabilitao e re-generao urbanas e no desenvolvimento de mecanismos, no mbito da poltica de solos, ordenamento do territrio e urbanismo, para suster a expanso e inverter e corrigir os efeitos negativos do crescimento recente, tendo em vista um desenvolvimento urbano e territorial mais equilibrado e eficiente, na prossecuo da qualidade de vida e o bem--estar da populao portuguesa.

    2.4.2. Cvicos e culturais

    A conservao e salvaguarda do patrimnio cultural tm merecido nas ltimas dcadas uma particular ateno, com a consolidao de uma poltica de conservao integrada e a progressiva ampliao do conceito de patrimnio a novas dimenses, geografias e tipologias de bens. Portugal foi acompanhando de perto os debates e progressos con-quistados, designadamente no mbito das Naes Unidas e do Conselho da Europa, cujas cartas e convenes em muito tm contribudo para a universalizao de conceitos e critrios, e para despertar conscincias quanto impor-tncia do patrimnio histrico e cultural na construo de uma memria e identidade coletivas e na valorizao da diversidade e singularidade dos territrios e dos lugares.

    As polticas nacionais registam de igual modo esse percurso ascendente, orientadas para a classificao, in-ventariao, proteo e valorizao do patrimnio cultu-ral portugus. Contudo, persistem inmeros problemas e dificuldades que colocam em risco o nosso patrimnio paisagstico e arquitetnico, a comear pela incapacidade do Estado para garantir as condies e os cuidados ne-cessrios sua proteo, integridade e gesto, bem como para impulsionar uma cultura de cidadania que poten-cie uma ampla consciencializao para estas matrias. A insuficincia de meios, nomeadamente financeiros, mas tambm a ausncia ou ineficcia de mecanismos legais e institucionais conducentes, por exemplo, adoo de novos modelos e prticas de gesto integrada do patrimnio e da paisagem, em articulao com os instrumentos de ges-to territorial, so algumas das debilidades identificadas. Observou -se no passado que a urbanizao, a explorao agrcola intensiva, noutros casos o abandono agrcola, o desenvolvimento acelerado de infraestruturas pesadas e o investimento em operaes tursticas de grande impacto territorial, colocaram uma presso acrescida nos valores paisagsticos e culturais, qual o instrumento de classifi-cao (o primeiro seno nico reduto formal para assegurar a proteo de monumentos, conjuntos e stios) no permite responder com a agilidade e eficcia necessrias no con-

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    texto de uma proteo, gesto e ordenamento integrados da paisagem, e de uma conservao e valorizao ativas do patrimnio cultural.

    Proteo e valorizao do patrimnio cultural e pai-sagstico portugus, prevenindo e mitigando os efeitos da sobre -explorao dos recursos culturais e naturais, fomen-tando o reforo de uma cultura cvica e de participao, valorizadora do patrimnio, da qualidade arquitetnica e da paisagem, e o reconhecimento da paisagem e do pa-trimnio arquitetnico como elementos capitais de uma poltica de desenvolvimento territorial sustentvel.

    2.4.3. Energticos e ambientais

    Os ltimos 25 anos representaram para Portugal um progresso considervel em matria de comportamento ambiental, com a melhoria genrica dos servios e infra-estruturas ambientais, e a inverso, nos ltimos anos, da tendncia ascendente de emisses de gases com efeito de estufa, sendo Portugal, neste particular, um dos pases da Unio Europeia com melhores resultados per capita. Apesar de ter visto diminuir o seu dfice ecolgico, e de apresentar cerca de um quinto do territrio nacional coberto por reas com interesse para a conservao da natureza, Portugal, alis semelhana de toda a regio mediterrnica, acumula uma pegada ecolgica que excede, em muito, a sua biocapacidade. Para tal tem tambm contribudo o crescimento descoordenado da infraestruturao e da urbanizao registado nas ltimas dcadas, ainda que no sector residencial se tenham verificado melhorias ao nvel da eficincia energtica das habitaes.

    Por outro lado, o aumento da ocorrncia e intensidade de fenmenos climticos extremos tem despoletado o in-teresse prioritrio pela problemtica das alteraes clim-ticas e dos riscos ambientais, com enfoque particular na vulnerabilidade dos territrios e na respetiva capacidade de resistncia e reao aos efeitos da decorrentes. No contexto dos pases europeus, Portugal, bem como toda a regio mediterrnica, so considerados uma das reas de maior vulnerabilidade, enfrentando perodos de seca pro-longada face a outros de intensa precipitao, concentrando um elevado risco de incndios florestais e apresentando fenmenos de eroso costeira, de desertificao e degra-dao dos solos. As atenes comearam por ser dirigidas para a mitigao, com o estabelecimento de um conjunto de instrumentos e medidas de poltica que visam diminuir a emisso para a atmosfera dos gases com efeito de estufa. As polticas de adaptao, dirigidas minimizao dos efeitos negativos das alteraes climticas nos sistemas biofsicos e socioeconmicos, assumem hoje particular relevo no quadro das polticas territoriais, tendo vindo a conquistar terreno nos ltimos anos, apesar do muito que h ainda a fazer no campo da adaptao.

    No que diz respeito ao sector dos edifcios, este repre-senta cerca de 40 % do consumo de energia na maioria dos pases da Unio Europeia. A climatizao e a ilumi-nao, efetuadas quase sempre a partir de combustveis fsseis so as fontes de maior emisso de CO2. urgente intervir na procura de um novo equilbrio sustentvel, em harmonia com o ambiente e que respeite os direitos das geraes futuras, sendo um fator importante aumentar a eficincia energtica e reduzir o consumo de energia e as emisses de carbono. A melhoria do desempenho energ-tico dos edifcios e a arborizao urbana devem ser uma prioridade nos esforos para aliviar a dependncia das

    importaes de energia da Unio Europeia, atualmente em cerca de 48 %.

    Concretamente em Portugal, os edifcios representam cerca de 30 % do consumo de energia. Dada a dependncia e o custo elevado das fontes de energia tradicionais, junta-mente com a necessidade de evitar a poluio e os impactos das alteraes climticas, urgente a diversificao dos sistemas de energia utilizados, tendo em conta a eficincia da produo, do armazenamento, da distribuio e do con-sumo energtico. O parque habitacional portugus atinge cerca de 5,9 milhes de alojamentos familiares, pelo que o potencial de poupana muito significativo. De facto, para se poder atingir uma reduo eficaz do consumo final no sector dos edifcios necessrio atuar ao nvel da cons-truo existente, atravs da reabilitao energtica.

    Aumento da resilincia e eficincia territorial, dos edi-fcios e espaos urbanos, prevenindo riscos, promovendo a adaptao dos territrios e reas urbanas aos efeitos das alteraes climticas, designadamente atravs do planeamento e integrao de estratgias de adaptao no mbito do ordenamento do territrio, do urbanismo, das infraestruturas e transportes, e dos instrumentos de gesto territorial, fomentando a adoo de abordagens de projeto mais responsveis, focadas na eficincia no uso dos recursos, na reduo das emisses de gases com efeito de estufa, no comportamento trmico e na adaptao e reu-tilizao dos edifcios, atendendo s suas caractersticas tecnolgicas e ciclo de vida til.

    O desafio passa por aliar sustentabilidade e construo, respeitando o ser humano e o ambiente, no presente e no futuro. A adoo de solues sustentveis passa igual-mente pelo envolvimento de um conjunto alargado de partes, com contributos relevantes em diferentes reas de conhecimento.

    2.4.4. Ecolgicos e de conservao da natureza

    A conservao da natureza tem vindo a assumir uma importncia crescente na sociedade atual na medida em que os seus princpios e atuaes pretendem uma utiliza-o sustentvel dos recursos naturais e a regulao dos processos ecolgicos.

    A Poltica de Ambiente consagrada na Lei n. 19/2014, de 14 de abril, visa a efetivao dos direitos ambientais atravs da promoo do desenvolvimento sustentvel, su-portada na gesto adequada do ambiente, em particular dos ecossistemas e dos recursos naturais, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade de baixo carbono e uma economia verde, racional e eficiente na utilizao dos recursos naturais, que assegure o bem -estar e a melhoria progressiva da qualidade de vida dos cidados. Inclui os componentes ambientais naturais, como o ar, a gua e o mar, a biodiversidade, o solo e o subsolo, a paisagem, e reconhece e valoriza a importncia dos recursos naturais e dos bens e servios dos ecossistemas (artigo 10.) e os componentes associados aos comportamentos humanos, nomeadamente as alteraes climticas, os resduos, o rudo e os produtos qumicos (artigo 11.).

    Criao de uma Infraestrutura Verde, atendendo a que em Portugal o total da rea que apresenta um estatuto de conservao da natureza de cerca de 25 % do territ-rio continental (considerando que muitas destas reas se sobrepem), numa boa parte da qual a conservao da natureza depende de atividades humanas, o Regime Ju-rdico da Conservao da Natureza e da Biodiversidade dever assegurar a evoluo da atual Rede Fundamental

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    de Conservao da Natureza (RFCN) para uma Infraes-trutura Verde enquanto estrutura ecolgica que, para alm de salvaguardar a conservao da componente biolgica, promova a conectividade da paisagem e a melhoria do ambiente e o bem -estar humano. Este desafio exige uma forte cooperao institucional com o sector privado e uma constante harmonizao com as dinmicas da paisagem, para alm de uma adequada articulao com a poltica de ordenamento do territrio nos mbitos regional (Estrutura Regional de Proteo e Valorizao Ambiental ERPVA) e local (Estrutura Ecolgica Municipal EEM).

    2.4.5. Sociais e demogrficos

    As dinmicas demogrficas e sociais dos ltimos anos representam um desafio de peso no quadro de uma poltica pblica de arquitetura e paisagem, refletindo as mudanas profundas que resultaram nas paisagens da vida quotidiana e nas estruturas sociais que esto na base das tipologias habitacionais.

    Complementarmente concentrao crescente da po-pulao nas reas urbanas, em particular nas regies me-tropolitanas de Lisboa e Porto e ao longo do litoral, as transformaes demogrficas revelam uma forte tendncia para o envelhecimento da populao portuguesa, com a inverso acentuada da pirmide etria e a diminuio do nmero de nascimentos a ultrapassar o limiar mnimo que permite assegurar a substituio de geraes. Ao en-velhecimento populacional juntam -se as transformaes nas estruturas familiares clssicas, verificando -se uma reduo da dimenso mdia das famlias que passa pelo aumento dos ncleos unipessoais, monoparentais e dos casais sem filhos, acompanhado pelo recuo no nmero de famlias numerosas.

    s tendncias demogrficas verificadas no corres-pondeu, no entanto, uma variao consentnea do parque habitacional. A realidade hoje oposta assinalada nos anos 50, 60 e 70, onde o dfice na oferta habitacional, sobretudo nos centros urbanos nucleares, levou pro-liferao de situaes de irregularidade e precariedade, com a exploso de construes e urbanizaes de gnese ilegal e a emergncia de bairros de barracas nas franjas das principais cidades. De uma situao de escassez, Portugal passou para o extremo oposto, de exploso imobiliria e excesso de nmero de fogos, fenmenos que esto na base da urbanizao extensiva verificada nas ltimas dca-das. Tambm a escalada dos preos do imobilirio, com particular incidncia nas reas metropolitanas e ncleos urbanos centrais, contribuiu para o abandono dos centros e o aumento da ocupao suburbana. Se, por um lado, a erradicao do flagelo das barracas est hoje perto do fim, seguindo caminho idntico os processos de legalizao das reas urbanas de gnese ilegal, por outro lado, emergem novos fenmenos e fragilidades, ligados nomeadamente ao excedente do parque habitacional, ao nmero de fogos desocupados e s situaes de urbanizaes e edificaes devolutas ou inacabadas, fruto do despoletar em 2008 da crise do subprime.

    Adequao das abordagens de projeto, de ordenamento e gesto das paisagens s transformaes demogrficas e societais, promovendo aproximaes territoriais focadas na coeso e incluso social e na oferta de habitao con-digna e a preos justos, em especial nos ncleos urbanos e centros histricos, dinamizando zonas desvitalizadas, garantindo nveis satisfatrios de espaos pblicos e es-paos verdes coletivos e procurando solues de projeto

    inclusivas e flexveis, ajustadas s estruturas familiares emergentes e aos novos padres de vida, e acessveis aos grupos mais vulnerveis.

    2.4.6. Econmicos e globais

    A terciarizao da economia portuguesa impulsionada pela adeso de Portugal Unio Europeia, e a progres-siva desruralizao econmica e desindustrializao da estrutura produtiva nacional, constituem hoje fatores determinantes no desequilbrio das trocas comerciais, con-dicionando duramente a inverso do ciclo recessivo dos l-timos anos. Para alm do insuficiente peso das exportaes na balana comercial, tambm a falta de competitividade da economia portuguesa e a fraca participao e proje-o de Portugal nos fluxos de investimento internacionais so fatores que relevam no atual contexto de assistncia financeira internacional. Contudo, no imobilirio e no mercado de solos que reside um dos fatores mais crticos de desequilbrio e distoro da economia e finanas p-blicas nacionais, que esteve na origem do eclodir da crise de 2008.

    Com efeito, a expanso urbana das ltimas dcadas tra-duz o resultado de uma simbiose crtica entre um modelo de crescimento econmico estimulado pela descida das taxas de juro e pelo acesso facilitado ao crdito, e uma poltica de solos, de planeamento e ordenamento do territrio que, desde 1965, assentou na sucessiva privatizao dos direitos de urbanizao e na desregulao do mercado de solos, sem garantir a reconduo social das mais -valias geradas por atos administrativos decorrentes do processo de pla-neamento. Assim, o alargamento dos permetros urbanos e a delimitao, em sede de Plano Diretor Municipal, de reas urbanizveis muito acima das perspetivas de cresci-mento esperadas, associadas concentrao progressiva da propriedade num nmero limitado de proprietrios, serviu de alavanca direta para a criao de um mercado de futuros ligado ao uso do solo, que no s esteve na base da reteno de terrenos e de fogos para potenciar o encaixe futuro de mais -valias, como ainda motivou, por via da urbanizao avulso e da construo fora dos permetros urbanos, a prpria disperso urbanstica, a fragmentao dos espaos agrcolas e silvestres e a sobrevalorizao de terrenos rsticos, tornando impraticvel a sua afetao a atividades produtivas. A escalada dos preos do imobilirio e da habitao , pois, a consequncia direta de uma pol-tica de solos que valorizou o recurso solo enquanto ativo financeiro, desvalorizando a sua funo social.

    Enfrentamos hoje uma mudana de paradigma, com a inverso dos ciclos financeiro (a contrao da disponibi-lidade de crdito), econmico (a perda de importncia do sector da construo no contexto da estrutura econmica nacional), imobilirio (o decrscimo da procura e a descida dos preos), urbanstico (a conteno da expanso urbana) e demogrfico (a contrao populacional), a que no poder ficar alheia uma poltica de arquitetura e paisagem.

    Valorizao da arquitetura e da paisagem no mbito de uma estratgia de recuperao e internacionalizao da economia portuguesa, tomando por base um processo de disciplina do uso do solo, de regulao dos processos de formao de valor e de afetao social das mais -valias decorrentes das alteraes de uso, e potenciando os recur-sos e servios associados arquitetura e paisagem para promover o turismo sustentvel, a criao de emprego, a dinamizao da indstria transformadora ligada cons-

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    truo e a competitividade e internacionalizao da eco-nomia nacional.

    2.4.7. Regulamentares e governativos

    Os aspetos da governao tm sido, nos ltimos anos, alvo de uma particular ateno, seja no que respeita acuidade das polticas pblicas e respetivos quadros re-gulatrios, seja no que respeita ao prprio processo de governana, capacidade de cooperao, organizao e agenciamento das prprias instituies, nos seus diferentes nveis de atuao, e participao e envolvimento dos cidados.

    A este respeito, a complexidade, a opacidade, o peso burocrtico e a desarticulao do quadro legislativo e re-gulamentar portugus em matria de edificao, urbanismo e ordenamento do territrio, tem sido desde h muito um dos problemas apontados, afetando a eficcia das pol-ticas territoriais, a qualidade e eficincia do sistema de planeamento e ainda a prpria aceitao social das regras impostas aos particulares. Apesar do longo caminho per-corrido, que conduziu, depois de dcadas de legislao avulsa e contraditria, publicao, em 1998, da primeira Lei de Bases das Polticas de Ordenamento do Territrio e Urbanismo e ao alinhamento de um sistema de gesto territorial coordenado e coerente, persistem deficincias que, no obstante os esforos continuados para aumentar a transparncia e simplificar procedimentos, contribuem para descredibilizar a imagem pblica do ordenamento do territrio em Portugal. Atrasos e omisses na concretizao de algumas das peas do sistema, de que se destaca a Lei de Solos, mas tambm alguns excessos e certas interpreta-es formalistas que conduzem a aplicaes enviesadas da lei, so algumas das fragilidades detetadas, a que o atual processo de reforma do quadro legal do ordenamento do territrio e urbanismo pretende responder.

    A falta de clareza e sistematizao legislativa , por sua vez, reincidente no campo especfico da arquitetura e da paisagem, onde, nomeadamente, a obsolescncia e frag-mentao do quadro normativo que regula a construo e a edificao sintomtico do desfasamento que se verifica face emergncia de um novo paradigma e ao surgimento de um conjunto de novas abordagens e regimes jurdicos, no mbito da reabilitao urbana, das acessibilidades, da segurana, da eficincia energtica, sem que esteja garan-tida a necessria coerncia e articulao integrada.

    Nesta tica, acresce a pertinncia crescente das questes relativas governana territorial. Por um lado, ampla-mente reconhecido que so, em grande medida, os impe-dimentos organizativos e a fraca cultura de cooperao intersectorial e interinstitucional que constituem um dos principais entraves qualidade e eficincia do processo de governao. Por outro lado, consolidam -se as perspetivas de abordagem integrada que apelam necessariamente coordenao de polticas setoriais, assdua ponderao de valores e interesses e ao investimento em novas formas de parceria e pactos territoriais.

    Robustecimento dos processos de governao inerentes edificao, urbanizao, ao ordenamento e gesto da paisagem, fortalecendo as redes e estruturas de gover-nana, a integrao estratgica entre os vrios sectores e nveis administrativos, e promovendo a sistematizao, a clarificao e a coerncia do cdigo normativo da cons-truo e da edificao, valorizando critrios qualitativos em detrimento dos usuais quantitativos; bem com a in-tegrao, no quadro legal do ordenamento do territrio

    e urbanismo, das referncias e critrios conducentes proteo, gesto e ordenamento das paisagens.

    3. Ambio

    3.1. Viso

    Dada a sua natureza transversal a vrios setores e nveis da Administrao Pblica, uma PNAP para Portugal dever ambicionar potenciar a arquitetura e a paisagem como recursos estratgicos das polticas de desenvolvimento do Pas, aos nveis central, regional e local.

    Pretende -se que Portugal seja uma nao onde os cida-dos em geral e as organizaes em particular, sejam elas pblicas ou privadas, assumam a necessidade de contribuir para a divulgao e a disseminao das boas prticas e dos bons exemplos que integrem critrios de qualidade, de esttica, de durabilidade e racionalidade nos vrios pro-cessos de transformao, proteo e reabilitao do meio urbano e rural, dos seus espaos, das suas construes ou dos seus elementos naturais e paisagsticos.

    Pretende -se que Portugal se torne, cada vez mais, uma referncia mundial no domnio da arquitetura e da paisa-gem pelas boas prticas que resultem das suas polticas pblicas, nomeadamente no desenvolvimento sustentvel, no ordenamento do territrio, na conservao da natureza e da biodiversidade, na reabilitao urbana, no desenvol-vimento rural, na defesa do patrimnio cultural, na valo-rizao turstica e na proteo da orla costeira.

    A arquitetura e a arquitetura paisagista portuguesas tm vindo a alcanar uma notoriedade nacional e internacional mpar Portugal tem j hoje dois prmios Pritzker, um prmio European Union Prize for Contemporary Architec-ture | Mies van der Rohe Award, e um prmio Sir Geoffrey Jellicoe, o melhor exemplo do reconhecimento que se pode alcanar nestes domnios.

    3.2. Princpios orientadores

    A implementao da PNAP e a prossecuo da Viso e dos objetivos nela considerados devero assentar nos seguintes princpios:

    3.2.1. Interesse pblico da arquitetura e da paisagem

    A arquitetura e a paisagem so matrias de interesse geral, reconhecidos os seus valores sociais, culturais, eco-nmicos e ambientais, e os benefcios que decorrem para o bem -comum e para um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado, de uma arquitetura, ambiente construdo e paisagem harmoniosos e de qualidade, em res-peito pelos recursos e valores naturais, ecolgicos, culturais e visuais, pelos interesses, direitos e garantias individuais e pela liberdade de criao artstica e intelectual.

    3.2.2. Direito a uma arquitetura e a uma paisagem de qualidade

    Todos tm direito a uma arquitetura e a uma paisagem de qualidade, capazes de observar e traduzir, do ponto de vista do uso e ocupao do solo, da organizao do espao, da conservao e valorizao do patrimnio, da proteo e gesto dos sistemas ecolgicos e dos recursos naturais, as necessidades e aspiraes dos indivduos, dos grupos sociais e das coletividades, atendendo ao bem -comum e ao princpio da sustentabilidade intra e intergeracional.

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    3.2.3. Democracia cultural e capacitao coletiva

    Todos tm direito cultura, fruio e criao cultu-ral, sendo incumbncia do Estado fomentar a capacitao coletiva, designadamente nos domnios da arquitetura e da paisagem, atravs da educao em cultura arquitetnica e ordenamento do territrio, da sensibilizao da opinio pblica para a importncia da arquitetura, do planeamento urbano e da paisagem na criao de um ambiente cons-trudo de qualidade, e da divulgao e disseminao da arquitetura nacional e de boas prticas de projeto, de or-denamento e gesto e conservao da paisagem.

    3.2.4. Transversalidade e integrao de polticas

    O ordenamento e gesto de uma paisagem e ambiente cons-trudo de qualidade requerem uma coordenao e integrao horizontal e vertical entre diferentes polticas sectoriais, os vrios atores e nveis de governao (nacional, regional e local), atravs da criao das redes de governana adequadas, da mobilizao dos mltiplos setores da sociedade portuguesa para os valores da arquitetura e da paisagem, e da conceo, ordenamento e gesto do espao edificado e da paisagem como uma abordagem holstica e integradora de objetivos culturais, econmicos, sociais, ecolgicos e ambientais.

    3.2.5. Responsabilidade do Estado

    Incumbe ao Estado, em colaborao com os governos re-gionais e as autarquias locais, promover a qualidade de vida e o desenvolvimento harmonioso de todo o territrio nacio-nal, designadamente a qualidade do ambiente construdo, do patrimnio cultural, da arquitetura e das paisagens, assegu-rando a definio de um quadro organizacional e legislativo flexvel e coordenado, a integrao dos diferentes rgos executivos e a elaborao das polticas e instrumentos de planeamento necessrios, figurando como exemplo de boas prticas ao nvel da encomenda pblica, designadamente de edifcios, espao pblico, planos e programas territoriais.

    3.2.6. Participao pblica

    Todos tm o direito e o dever de participar ativamente na construo do seu quadro e ambiente de vida, cabendo ao Estado assegurar o acesso informao e ao conhecimento, e a manuteno das instituies e plataformas necessrias para promover uma participao ativa e atempada das populaes na transformao do espao construdo e da paisagem, atravs de processos de partilha e envolvimento alargados e tomando como base um princpio de responsabilizao coletiva.

    3.2.7. Sustentabilidade e eficincia

    A defesa do ambiente e a utilizao racional e eficiente dos recursos naturais e culturais, em respeito pelo princpio de solidariedade entre geraes, um direito e um dever de todos os cidados, sendo incumbncia do Estado promover um desenvolvimento territorial sustentvel, a proteo e a valorizao das paisagens e a educao e respeito pelos valores ambientais, atendendo designadamente ao papel determinante da arquitetura e da paisagem na prossecuo dos objetivos da sustentabilidade.

    4. Objetivos

    A PNAP tem como principal finalidade contribuir para:1. A melhoria da qualidade de vida e o bem -estar dos

    portugueses

    2. A prossecuo do desenvolvimento sustentvel e do desenvolvimento urbano sustentvel

    3. A proteo e valorizao do patrimnio cultural e natural portugus

    4. O incremento e disseminao de uma cultura cvica territorial

    5. A competitividade da economia nacional e a afirmao do pas e da cultura portuguesa na Europa e no mundo

    4.1. Qualidade de vida

    Evidenciar a importncia e o papel da qualidade da arquitetura e da paisagem na prossecuo da qualidade de vida e do bem -estar social e na preservao e valorizao dos recursos naturais, culturais e humanos.

    Promover a qualidade do ambiente construdo e das paisagens, contrariando a expanso urbana e garantindo a qualidade construtiva e ambiental das edificaes, em especial dos espaos e edifcios pblicos.

    Apostar na reabilitao e regenerao como um sector estratgico e implementar polticas conducentes melhoria das condies de habitabilidade, segurana de pessoas e bens, incluso e coeso social e defesa e recuperao das paisagens culturais.

    Assegurar a integrao da arquitetura e da paisagem nas polticas de ordenamento do territrio e urbanismo e nas vrias polticas setoriais, em especial nas reas da cul-tura, ambiente, agricultura, turismo, economia e social.

    Promover a manuteno e valorizao das funes ecolgicas da paisagem, estimulando a sua incluso nos instrumentos de gesto territorial.

    Estimular a adoo de prticas de projeto, de cons-truo, de gesto e ordenamento das paisagens ticas e responsveis, privilegiando solues e metodologias sus-tentveis e valorizadoras da qualidade.

    4.2. Sustentabilidade e conservao da natureza

    Promover uma arquitetura e um urbanismo ecolgicos e eficientes na utilizao dos recursos, em especial a ener-gia e a gua, e a sustentabilidade do ambiente construdo e das paisagens.

    Contribuir, ao nvel da gesto e ordenamento das paisagens, do planeamento e da construo para a im-plementao das estratgias de mitigao e de adaptao s alteraes climticas, bem como as de preveno e reduo dos riscos.

    Promover a proteo e valorizao do patrimnio na-tural e dos sistemas de produo agrcola que contribuem para a qualidade e para o carcter da paisagem rural;

    Investir na qualificao de todos profissionais ligados arquitetura e paisagem, sensibilizando -os para os desafios da reabilitao urbana, da sustentabilidade, da eficincia energtica e da conservao da natureza.

    Incentivar a investigao e a educao ligada cons-truo sustentvel, estimulando a sua ligao indstria e a inovao tecnolgica no mbito da construo, dos materiais, do conforto trmico e da produo e consumo de energia.

    4.3. Cultura e patrimnio

    Incentivar a preservao, a salvaguarda e a valorizao do patrimnio arquitetnico, arqueolgico e paisagstico, aumentando a conscincia cvica sobre o valor cultural das paisagens e da arquitetura, e estimulando a participao dos cidados, das organizaes e dos diferentes interesses

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    socioeconmicos em processos de conservao e valori-zao do patrimnio cultural.

    Fomentar a adoo de metodologias e processos de gesto integrada do patrimnio, arquitetnico e urbano, e da paisagem, bem como a implementao de prticas de conservao e reabilitao sensveis e respeitadoras da histria e da memria.

    Implementar a excelncia nas intervenes arquite-tnicas e de ordenamento das reas urbanas e rurais, ga-rantindo que so planeadas e executadas em respeito pelo patrimnio cultural e natural.

    Mitigar os efeitos da urbanizao extensiva e da ex-plorao agrcola e turstica intensivas e fomentar um desenvolvimento territorial sustentvel, valorizador do patrimnio e das paisagens.

    4.4. Educao, participao e sensibilizao

    Promover o conhecimento, a compreenso e a educa-o para a arquitetura e para a paisagem.

    Estimular o sentido de pertena, de identidade e de responsabilidade dos indivduos perante a comunidade e o territrio.

    Motivar o interesse e envolvimento dos cidados e das comunidades nos processos de deciso, de participao e avaliao.

    Reforar, nas reas da arquitetura e da paisagem, a colaborao e interao entre as comunidades cientfica, tcnica e poltica e a articulao destas com a populao em geral.

    4.5. Economia e internacionalizao

    Potenciar a projeo e visibilidade internacional da arquitetura e da paisagem nacionais.

    Promover a arquitetura e paisagem portuguesas como recursos para a criao de emprego, para a promoo do turismo e economia nacionais.

    Incentivar o crescimento, a qualidade e a eficincia da indstria de construo nacional atravs de uma maior incorporao de servios de arquitetura e de conservao da natureza.

    Incentivar a criatividade e a inovao com vista criao de novas reas de negcio, melhoria da quali-dade e do comportamento ambiental dos territrios e suas edificaes.

    5. Implementao

    5.1. Parceiros

    O desenvolvimento da PNAP deve passar pela criao de uma rede aberta de parceiros, pblicos e privados, pes-soas individuais e coletivas, que partilham a sua viso e objetivos e contribuem para a sua implementao.

    Administrao central compete integrar a temtica da paisagem e da qualidade da arquitetura nas polticas sectoriais, em particular nas que tm impactos no terri-trio, definindo princpios gerais, estratgias integradas e linhas orientadoras que permitam a adoo de medidas especficas tendo em vista a proteo, a gesto e o orde-namento da paisagem, a qualificao da arquitetura e dos espaos urbanos;

    Administrao regional e local compete adequar as estratgias e linhas orientadoras definidas a nvel nacional sua realidade e, no caso da paisagem, de acordo com

    os objetivos de qualidade de paisagem definidos, adotar medidas especficas adequadas, nomeadamente no quadro da elaborao e implementao dos instrumentos de gesto territorial. O nvel local um ator privilegiado em virtude das suas responsabilidades diretas na gesto do uso do solo, na criao e gesto do quadro de vida quotidiana dos cidados, no licenciamento das iniciativas urbansticas dos particulares e, igualmente, em virtude da sua proximidade com os cidados e da sua capacidade para, aproveitando os equipamento culturais e de ensino de que dispe biblio-tecas, cineteatros, escolas bsicas promover e dinamizar um conjunto de iniciativas primordiais para a divulgao e efetiva implementao da PNAP;

    sociedade civil em geral, e a cada cidado em parti-cular, cabe a responsabilidade e o dever de participar nos processos de planeamento e tomada de deciso, e de contri-buir para a melhoria e qualificao dos espaos e estruturas que constituem o seu quadro de vida quotidiano, evitando a sua degradao e contribuindo para a sua manuteno, projetando as suas aspiraes e procurando responder s suas necessidades;

    Ao sector empresarial privado em geral, nomeadamente ao setor agrcola e florestal, fundamental na construo da paisagem rural, e ao sector imobilirio e da construo, ator importante na transformao do quadro de vida edificado e das paisagens urbanas, cabe contribuir para a concretizao dos objetivos de qualidade e de sustentabilidade, privile-giando solues mais ecolgicas e de menor intensidade carbnica e apostando na reabilitao urbana como um setor de futuro;

    Ao sector universitrio compete a responsabilidade de aumentar o conhecimento sobre o nosso territrio, o nosso quadro de vida edificado e as nossas paisagens, de-senvolver quadros conceptuais e metodolgicos inovadores capazes de responder evoluo da sociedade e dos seus valores e transmitir esse conhecimento de forma adequada, no apenas aos profissionais mas em moldes que possam ser apreendidos pela populao em geral, contribuindo assim para o desenvolvimento de uma cultura do territrio e para apoiar uma participao informada;

    Aos profissionais das reas relacionadas compete dar resposta adequada e de qualidade implementao das medidas de poltica que forem definidas, e contribuir para que as transformaes do territrio, do quadro de vida edificado e das paisagens se processem em termos compa-tveis com os objetivos de qualificao e sustentabilidade propostos.

    Ser criado um sistema de registo de parceiros no portal da PNAP, o que permitir a adeso de todos os que pre-tendam participar na PNAP.

    5.2. Bases para o plano de ao

    Estabelecem -se seguidamente as principais linhas de orientao para a implementao e desenvolvimento da PNAP, ao longo do seu primeiro perodo de existn-cia 2014|2020. Caber sua Comisso de Acompanha-mento a formalizao de um plano de ao que permita desenvolver uma agenda programtica para a concretizao da PNAP e um quadro financeiro para a sua implemen-tao.

    5.2.1. Medidas de estratgia e coordenao

    1 Criar a rede de parceiros da PNAP;

  • Dirio da Repblica, 1. srie N. 130 7 de julho de 2015 4667

    2 Articular todas as iniciativas que se possam enqua-drar no mbito da PNAP, assegurando as redes e estruturas de governana necessrias;

    3 Contribuir para a promoo internacional e exporta-o dos sectores de servios de arquitetura e de arquitetura paisagista, divulgando a excelncia das obras nacionais e seus autores, nomeadamente no mbito de aes relacio-nadas com a projeo da imagem de Portugal;

    4 Criar uma base de dados que registe a presena ativa no estrangeiro de profissionais ou empresas portu-guesas de arquitetura e de arquitetura paisagista e demais atividades conexas;

    5 Promover parcerias alargadas entre empresas do setor da arquitetura e arquitetura paisagista e suas asso-ciaes e empresas de construo e servios conexos, com o objetivo de aumentar o valor acrescentado nacional nas obras a realizar no pas e no estrangeiro;

    6 Participar nos fruns europeus e internacionais e cooperar com os parceiros internacionais no sentido de assumir compromissos alargados para promoo e va-lorizao da arquitetura, da cultura, do patrimnio e da paisagem;

    7 Promover e participar em projetos de cooperao territorial a nvel europeu e transnacional.

    5.2.2. Medidas legislativas e de regulao

    1. Contribuir, em sede de processos legislativos e de regulao, para a melhoria da legislao, normativos e regulamentos;

    2. Elaborar manuais de boas prticas e guias que per-mitam a valorizao das prticas profissionais de todos os agentes destes sectores;

    3. Propor a definio de critrios de qualidade, eficincia e eficcia que contribuam para melhorar os processos de contratao pblica em matrias de arquitetura e paisa-gem;

    4. Desenvolver os instrumentos adequados participa-o pblica ativa nas aes de preparao, implementao e monitorizao da PNAP.

    5.2.3. Medidas de informao, sensibilizao e educao

    1. Criar e desenvolver o portal da PNAP;2. Realizar eventos, publicaes e exposies destinadas

    a divulgar a PNAP e a sensibilizar a opinio pblica para esta temtica;

    3. Selecionar e divulgar exemplos de boas prticas e iniciativas de excelncia passveis de serem constitudas como referncias da PNAP;

    4. Promover o recurso a conhecimentos, processos e tcnicas tradicionais associados construo e manuten-o de edifcios, com vista a assegurar a sua salvaguarda e transmisso s geraes futuras;

    5. Promover a integrao das temticas da arquitetura, da cidade e da paisagem nos programas escolares dos vrios nveis de ensino no especializado, em particular nos currculos do ensino bsico e secundrio, que visem estimular uma cultura de cidadania;

    6. Desenvolver aes de formao nos mbitos da arqui-tetura e da paisagem, designadamente nas reas da arquite-tura e urbanismo sustentvel, da conservao, reabilitao e regenerao arquitetnica e urbanas, da proteo, gesto e ordenamento das paisagens;

    7. Promover prmios e concursos, nomeadamente de arquitetura e arquitetura paisagista, assegurando a manu-teno e disseminao dos prmios j existentes.

    MINISTRIO DAS FINANAS

    Decreto-Lei n. 124/2015de 7 de julho

    O presente diploma transpe parcialmente para a ordem jurdica interna a Diretiva n. 2011/61/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 8 de junho de 2011, e a Diretiva n. 2013/14/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de maio de 2013, na parte em que alteram a Diretiva n. 2003/41/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 3 de junho de 2003, relativa s atividades e super-viso das instituies de realizao de planos de penses profissionais.

    Para o efeito, altera -se o regime que regula a consti-tuio e o funcionamento dos fundos de penses e das entidades gestoras de fundos de penses, aprovado pelo Decreto -Lei n. 12/2006, de 20 de janeiro, alterado pelos Decretos -Leis n.os 180/2007, de 9 de maio, 357 -A/2007, de 31 de outubro, e 18/2013, de 6 de fevereiro. Em par-ticular, altera -se o elenco das entidades que podem gerir os ativos de um fundo de penses, passando a incluir as sociedades gestoras de organismos de investimento cole-tivo e reforam -se os incentivos atenuao do impacto de referncias a notaes de risco emitidas por agncias de notao de risco na poltica de investimento dos fundos de penses.

    Por outro lado, o presente diploma transpe parcial-mente para o ordenamento jurdico interno a Diretiva n. 2014/51/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de abril de 2014, que altera as Diretivas n.os 2003/71/CE e 2009/138/CE e os Regulamentos (CE) n. 1060/2009, (UE) n. 1094/2010 e (UE) n. 1095/2010, no que respeita s competncias da Autoridade Europeia de Superviso (Autoridade Europeia dos Seguros e Penses Complemen-tares de Reforma) e da Autoridade Europeia de Supervi-so (Autoridade Europeia dos Valores Mobilirios e dos Mercados), e no que respeita s alteraes ao artigo 5. da Diretiva n. 2003/71/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de novembro de 2003, relativa ao prospeto a publicar em caso de oferta pblica de valores mobilirios ou da sua admisso negociao.

    O presente diploma transpe ainda parcialmente para o ordenamento jurdico nacional a Diretiva n. 2014/65/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de maio de 2014, relativa aos mercados de instrumentos financeiros. Com a transposio, clarifica -se o mbito das atividades transfronteirias que os gestores de organismos de in-vestimento alternativo podem prestar. Em consequncia, altera -se o Regime Geral dos Organismos de Investimento Coletivo, aprovado pela Lei n. 16/2015 de 24 de fevereiro, passando expressamente a prever -se que uma entidade ges-tora de organismos de investimento alternativo autorizada a utilizar o passaporte europeu a respeito dessa atividade pode igualmente prestar, de modo transfronteirio, os ser-vios de intermediao financeira para os quais tambm se encontre autorizada. Por fim, altera -se ainda o artigo 65. do Regime Geral dos Organismos de Investimento Cole-tivo, aprovado pela Lei n. 16/2015, de 24 de fevereiro, no