resenha zohar, debord

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS Mestrado em Música Disciplina: Análise da Criação Contemporânea Aluno: Leonel Parente Resenha do texto “El sistema literário,” de Itamar Even-Zohar e “Sociedade do espetáculo,” de Guy Debord. Após discorrer acerca do conceito de sistema literário, que em sentido lato seria aquilo que compreende todos os fatores implicados no conjunto de atividades que a etiqueta literária faz uso, Even- Zohar refere-se à elaboração de um esquema do sistema literário a partir do esquema de comunicação proposto por Jakobson. Esta elaboração tem por objetivo principal representar os macro-fatores implicados no funcionamento literário. Nessa perspectiva, segundo Zohar, o consumidor consome o produto do produtor, que é gerado a partir de um repertório comum, cuja possibilidade de uso é determinada pelo mercado ou instituição. Esses macro-fatores nunca funcionam sozinhos, mas se entrelaçam numa relação de interdependência. O esquema elaborado por Zohar está assim disposto: instituição = [contexto]; repertório = [código]; produtor = [emissor]; consumidor = [receptor]. Assim, instituição é um agregado de fatores que implicam a manutenção da literatura como atividade sociocultural. É a responsável pelas normas que prevalecem na atividade literária, elegendo algumas obras e rejeitando outras. O repertorio é o conjunto de regras e materiais que regem tanto a confecção quanto o uso de qualquer produto. As noções chaves para o repertório são o acordo e o pré- conhecimento das regras. Quanto ao consumidor, Zohar afirma que existem dois tipos: os indiretos, que são os membros da comunidade e os diretos, aquelas pessoas interessadas em literatura. Em relação ao produto, este é o resultado de qualquer atividade, podendo ser

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Page 1: Resenha Zohar, Debord

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁSESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS

Mestrado em Música

Disciplina: Análise da Criação Contemporânea

Aluno: Leonel Parente

Resenha do texto “El sistema literário,” de Itamar Even-Zohar e “Sociedade do espetáculo,” de Guy Debord.

Após discorrer acerca do conceito de sistema literário, que em sentido lato seria aquilo que

compreende todos os fatores implicados no conjunto de atividades que a etiqueta literária faz uso, Even-

Zohar refere-se à elaboração de um esquema do sistema literário a partir do esquema de comunicação

proposto por Jakobson. Esta elaboração tem por objetivo principal representar os macro-fatores

implicados no funcionamento literário. Nessa perspectiva, segundo Zohar, o consumidor consome o

produto do produtor, que é gerado a partir de um repertório comum, cuja possibilidade de uso é

determinada pelo mercado ou instituição. Esses macro-fatores nunca funcionam sozinhos, mas se

entrelaçam numa relação de interdependência.

O esquema elaborado por Zohar está assim disposto: instituição = [contexto]; repertório =

[código]; produtor = [emissor]; consumidor = [receptor]. Assim, instituição é um agregado de fatores que

implicam a manutenção da literatura como atividade sociocultural. É a responsável pelas normas que

prevalecem na atividade literária, elegendo algumas obras e rejeitando outras. O repertorio é o conjunto

de regras e materiais que regem tanto a confecção quanto o uso de qualquer produto. As noções chaves

para o repertório são o acordo e o pré-conhecimento das regras. Quanto ao consumidor, Zohar afirma que

existem dois tipos: os indiretos, que são os membros da comunidade e os diretos, aquelas pessoas

interessadas em literatura. Em relação ao produto, este é o resultado de qualquer atividade, podendo ser

qualquer conjunto de signos realizado ou realizável com a inclusão de um comportamento dado.

Nos parâmetros descritos acima, o texto de Zohar evidencia o sistema literário no contexto

da indústria cultural, questionando qual o real produto da literatura e sua relação com a produção

industrial. Esta forma de pensar guarda certa relação o raciocínio de Guy Debord, que fala de um sistema

espetacular, voltado para a produção de massa. Debord faz uma crítica à mídia ao mesmo tempo em que

analisa a economia pós-industrial. Conforme Negrini e Augusti,1 o pensamento de Debord tem

perspectiva marxista e se concentra na crítica radical ao fetichismo da mercadoria, tal como ela se

apresenta no seu modo de produção. Ainda segundo Negrini e Augusti, para Debord o mundo que o

espetáculo mostra aos homens é o mundo da mercadoria que domina tudo o que é vivido. Os homens

acabam se afastando uns dos outros e tendo relações superficiais, as quais ocorrem de acordo com a

circulação da mercadoria, o que evidencia as relações sociais mediadas pelo capitalismo. O público torna-

se alienado e passivo frente às investidas do espetáculo e só resta a este consumir as imagens e os

produtos que lhe são oferecidos.

1 MICHELE Negrini; ALEXANDRE R. Augusti O legado de Guy Debord: reflexões sobre o espetáculo a partir de sua obra.