a miseria do meio estudantil - texto: mustapha khayati. revisão guy debord

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A MISÉRIA DO MEIO ESTUDANTIL Considerada em seus aspectos econômico, político, psicológico, sexual e, mais particularmente, intelectual, e sobre alguns meios para remediála(*) (*) Texto Situacionista publicado por conta da seção de Strasbourg da União Nacional dos Estudantes da França em 1966 e redigido, na quase totalidade, por Mustapha Khayati Tornar a vergonha ainda mais vergonhosa entregandoa a publicidade Podese dizer, sem grandes riscos de errar, que o estudante na França é, depois do policial e do padre, o ser mais universalmente desprezado. Os motivos por que ele é desprezado são, com freqüência, falsos motivos produzidos pela ideologia dominante. Já os motivos por que ele é efetivamente desprezível e desprezado do ponto de vista da crítica revolucionária são recalcados e dissimulados. No entanto, os partidários da falsa oposição sabem reconhecêlos, e se reconhecer neles. Por isso, eles invertem esse desprezo real transformandoo numa admiração complacente. Assim, a impotente inteligentsia esquerdista (da revista Temps Modernes ao L’Express) fica pasma ante a pretensa “subida dos estudantes”, e as organizações burocráticas decadentes (do Partido Comunista à stalinista UNEF – União Nacional dos Estudantes da França) travam enciumadas batalhas pelo apoio “moral e material” dos estudantes. Iremos mostrar as razões de tal interesse pelos estudantes e como elas participam positivamente da realidade dominante do capitalismo superdesenvolvido. E utilizaremos este trabalho para denunciálas, uma por uma: a desalienação segue exatamente o mesmo caminho da alienação. Todos os estudos e análises empreendidos até agora sobre o meio estudantil sempre negligenciaram o essencial. Nunca ultrapassaram o ponto de vista das especializações universitárias (psicologia, sociologia, economia) e permanecem assim fundamentalmente errôneos. Todos esses estudos e análises produzem aquilo que Fourier já denunciava como leviandade metódica, “visto que toca regularmente nas questões primordiais”, mas ignorando a visão total da sociedade moderna. Dizse tudo dessa sociedade menos o que ela efetivamente é: mercantil e espetacular. Os sociólogos Bourderon e Passedieu, em sua pesquisa Os Herdeiros: os Estudantes e a

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A MISÉRIA DO MEIO ESTUDANTIL - CONSIDERADA NOSSEUS ASPECTOS ECONÔMICO, POLÍTICO, SEXUAL EESPECIALMENTE INTELECTUAL E DE ALGUNS MEIOS PARA PREVENIR.texto: Mustapha Khayati. revisão: Guy Debord1ª edição: Estrasburgo, 1966

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A MISÉRIA DO MEIO ESTUDANTIL 

Considerada em seus aspectos econômico, político, psicológico, sexual e, mais 

particularmente, intelectual, e sobre alguns meios para remediá‐la(*) 

 

(*) Texto Situacionista publicado por conta da seção de Strasbourg da União Nacional dos Estudantes da 

França em 1966 e redigido, na quase totalidade, por Mustapha Khayati 

 

Tornar a vergonha ainda mais vergonhosa entregando‐a a publicidade 

 

Pode‐se dizer, sem grandes riscos de errar, que o estudante na França é, depois 

do policial e do padre, o ser mais universalmente desprezado. Os motivos por que ele 

é  desprezado  são,  com  freqüência,  falsos  motivos  produzidos  pela  ideologia 

dominante.  Já  os motivos  por  que  ele  é  efetivamente  desprezível  e  desprezado  do 

ponto de vista da crítica revolucionária são recalcados e dissimulados. No entanto, os 

partidários  da  falsa  oposição  sabem  reconhecê‐los,  e  se  reconhecer neles.  Por  isso, 

eles  invertem  esse  desprezo  real  transformando‐o  numa  admiração  complacente. 

Assim, a impotente inteligentsia esquerdista (da revista Temps Modernes ao L’Express) 

fica pasma ante a pretensa  “subida dos estudantes”, e as organizações burocráticas 

decadentes (do Partido Comunista à stalinista UNEF – União Nacional dos Estudantes 

da França) travam enciumadas batalhas pelo apoio “moral e material” dos estudantes. 

Iremos mostrar  as  razões  de  tal  interesse  pelos  estudantes  e  como  elas  participam 

positivamente  da  realidade  dominante  do  capitalismo  superdesenvolvido.  E 

utilizaremos  este  trabalho  para  denunciá‐las,  uma  por  uma:  a  desalienação  segue 

exatamente o mesmo caminho da alienação. 

Todos os estudos e análises empreendidos até agora sobre o meio estudantil 

sempre  negligenciaram  o  essencial.  Nunca  ultrapassaram  o  ponto  de  vista  das 

especializações universitárias  (psicologia,  sociologia, economia) e permanecem assim 

fundamentalmente  errôneos.  Todos  esses  estudos  e  análises  produzem  aquilo  que 

Fourier  já denunciava  como  leviandade metódica,  “visto que  toca  regularmente nas 

questões primordiais”, mas ignorando a visão total da sociedade moderna. Diz‐se tudo 

dessa  sociedade  menos  o  que  ela  efetivamente  é:  mercantil  e  espetacular.  Os 

sociólogos Bourderon e Passedieu, em sua pesquisa Os Herdeiros: os Estudantes e a 

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Cultura, ficam desarmados perante algumas verdades parciais que eles acabaram por 

provar.  E,  apesar  de  toda  a  sua  boa  vontade,  recaem  na moral  dos  professores,  a 

inevitável  ética  kantiana  da  democratização  real  através  da  racionalização  real  do 

sistema de ensino, ou seja, do ensino do sistema; enquanto seus discípulos, os Kravetz, 

julgam‐se  milhares  a  despertar,  compreendendo  sua  amargura  de  pequenos‐

burocratas  pela  mixórdia  de  uma  fraseologia  revolucionária  ultrapassada. 

A  instalação  da  reificação  no  espetáculo[1],  sob  o  capitalismo moderno,  impõe  um 

papel  a  cada um dentro da passividade  generalizada. O estudante não pode  fugir  a 

essa regra. Ele desempenha um papel provisório, que o prepara para o papel definitivo 

que irá assumir, como elemento positivo e conservador, dentro do funcionamento do 

sistema  mercantil.  É  apenas  uma  iniciação,  e  nada  mais  que  isso. 

Essa  iniciação  reencontra, magicamente,  todas  as  características da  iniciação mítica. 

Ela permanece inteiramente desconectada da realidade histórica, individual e social. O 

estudante  é  um  ser  dividido  entre  o  status  atual  e  o  status  futuro  –  nitidamente 

distintos  –,  cuja  fronteira  será  cruzada  de  forma  mecânica.  Sua  consciência 

esquizofrênica lhe dá condições de se isolar numa “sociedade de iniciação”, ignorando 

seu futuro e encantando‐se pela unidade mística que lhe é oferecida por um presente 

ao abrigo da história. 

A mola mestra desse mecanismo é muito simples de descobrir: é duro olhar de 

frente  a  realidade  estudantil.  Numa  “sociedade  da  abundância”,  o  status  atual  do 

estudante é de extrema pobreza. Originários, pelo menos 80 % deles, de camadas cuja 

renda é superior a de um operário, e 90 % deles dispõem de renda inferior à do mais 

modesto assalariado. A miséria do estudante está aquém da miséria da sociedade do 

espetáculo, da nova miséria do novo proletariado. Numa época em que uma parcela 

crescente da juventude está se liberando cada vez mais dos preconceitos morais e da 

autoridade familiar para, cada vez mais depressa, fazer parte do mercado, o estudante 

se mantém, em todos os níveis, numa “menoridade prolongada”, irresponsável e dócil. 

Se  a  crise  juvenil  tardia o  coloca de  alguma  forma em  conflito  com  sua  família, ele 

aceita  sem  problemas  ser  tratado  como  uma  criança  nas  diversas  instituições  que 

regem a sua vida cotidiana.[2] 

A colonização dos diversos setores da prática social encontra sempre no mundo 

estudantil sua mais gritante expressão. A transferência para os estudantes de toda má 

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consciência  social  mascara  a  miséria  e  a  servidão  de  todos.  Mas  as  razões  que 

fundamentam  o  nosso  desprezo  pelo  estudante  são  de  outra  ordem.  Elas  não  se 

referem  apenas  à  sua miséria  real mas  também  à  sua  complacência  com  relação  a 

todas as misérias, sua propensão doentia a consumir alienação beatamente, nutrindo 

a esperança,  face à  falta de  interesse geral, de chamar a atenção para a sua miséria 

particular.  As  exigências  do  capitalismo  moderno  fazem  com  que  a  maioria  dos 

estudantes  acabem  conseguindo  ser  apenas  pequenos  funcionários  (ou  seja,  o 

equivalente à função de operário qualificado no século XIX[3]). Diante do tão previsível 

caráter miserável  desse  futuro mais  ou menos  próximo,  que  irá  “indenizá‐lo”  pela 

vergonhosa miséria do presente, o estudante prefere se voltar para o presente e orná‐

lo  com  prestígios  ilusórios.  A  própria  compensação  é  lamentável  demais  para  que 

alguém  se prenda a ela. Os amanhãs não  cantarão, e ele  fatalmente  se banhará na 

mediocridade.  Eis  porque  ele  se  refugia  num  presente  vivido  de  modo  irreal. 

Escravo estóico, o estudante acredita que quanto mais numerosas forem as cadeias de 

autoridade que o prendem, mais livre ele será. Como sua nova família, a universidade, 

ele  se  julga  o  mais  “autônomo”  ser  social,  sem  se  perceber  atado,  direta  e 

conjuntamente,  aos dois mais potentes  sistemas de  autoridade  social:  a  família e o 

Estado.  Ele  é  o  filho  bem  comportado  e  agradecido  de  ambos. Conforme  a mesma 

lógica da criança submissa, ele participa de todos os valores e mistificações do sistema 

e as concentra em si. O que eram ilusões impostas aos empregados torna‐se ideologia 

interiorizada  e  veiculada  pela  massa  dos  futuros  pequenos  funcionários. 

Se  a miséria  social  antiga  gerou  os mais  grandiosos  sistemas  de  compensação  da 

história  (as  religiões),  a miséria marginal  estudantil  só  encontrou  consolo  nas mais 

desgastadas imagens da sociedade dominante, na repetição burlesca de todos os seus 

produtos alienados. 

O  estudante  francês,  na  qualidade  de  ser  ideológico,  chega  sempre  tarde 

demais  em  tudo.  Todos  os  valores  e  ilusões  que  fazem  o  orgulho  do  seu mundo 

fechado  já  estão  condenados  como  ilusões  insustentáveis,  há muito  ridicularizadas 

pela  história.  Recolhendo  um  pouco  do  prestígio  em  frangalhos  da  universidade,  o 

estudante ainda se sente feliz por ser estudante. Tarde demais. O ensino mecânico e 

especializado que  lhe é ministrado  já se encontra tão profundamente degradado (em 

relação  ao  antigo  nível  da  cultura  geral  burguesa)[4]  quanto  seu  próprio  nível 

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intelectual no momento em que ele tem acesso a esse ensino. Pela simples razão que a 

realidade que domina  tudo  isso, o  sistema econômico, exige a  fabricação maciça de 

estudantes  incultos e  incapazes de pensar. Que a universidade tenha se tornado uma 

organização – institucional – da ignorância, que a própria “alta cultura” se dissolva ao 

ritmo  da  produção  em  série  dos  professores,  que  todos  esses  professores  sejam 

cretinos e que em sua maioria provocariam risos em qualquer público de liceu – isso o 

estudante  ignora.  E  continua  a ouvir  respeitosamente  seus mestres,  com  a  vontade 

consciente de perder qualquer espírito crítico de modo a melhor comungar da  ilusão 

mística de  ter  se  tornado um  “estudante”, alguém que está  tratando  seriamente de 

aprender  um  conhecimento  sério,  na  esperança  de  que  irá  realmente  receber  o 

conhecimento das  “derradeiras  verdades”.  Trata‐se de uma menopausa do  espírito. 

Tudo  aquilo  que  hoje  acontece  nas  salas  das  escolas  e  faculdade  será,  na  futura 

sociedade  revolucionária, condenado como barulho,  socialmente nocivo. Desde  já, o 

estudante provoca risos. 

O estudante não se dá conta nem mesmo do fato que a história altera também 

o seu  irrisório mundo “fechado”. A  famosa “crise da universidade”, mero detalhe da 

crise mais geral do capitalismo moderno, permanece objeto de um diálogo de surdos 

entre diferentes especialistas. Ela  traduz  simplesmente as dificuldades de um ajuste 

tardio  desse  setor  especial  da  produção  a  uma  transformação  global  do  aparelho 

produtivo.  Os  resíduos  da  velha  ideologia  da  universidade  liberal  burguesa  se 

banalizam  no  momento  em  que  a  sua  base  social  desaparece.  A  universidade 

conseguiu  julgar‐se uma potência autônoma na época do capitalismo de  livre troca e 

de seu Estado liberal, que lhe concedia uma certa liberdade marginal. Na realidade, ela 

dependia essencialmente das necessidades desse tipo de sociedade:  fornecer cultura 

geral  apropriada  à minoria  privilegiada  que  nela  estudava  antes  de  se  integrar  às 

fileiras da classe dirigente, da qual havia se ausentado apenas por um breve momento. 

Daí o  ridículo desses professores nostálgicos[5], amargurados por  terem  trocado sua 

antiga  função,  bem  menos  nobre,  de  cães  pastores  conduzindo,  segundo  as 

necessidades planificadas do  sistema econômico,  levas de “colarinhos brancos” para 

seus  respectivos  escritórios  e  fábricas.  São  eles  que  opõem  seus  arcaísmos  à 

tecnocratização da universidade e continuam  imperturbáveis a recitar  fragmentos de 

uma  cultura dita  geral para  futuros especialistas que dela não  saberão o que  fazer. 

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Mais  sérios e, portanto, mais perigosos  são os modernistas de esquerda e da UNEF, 

liderados  pelos  “ultras”  da  FGEL  (Federação  Geral  dos  Estudantes  Laicos),  que 

reivindicam uma “reforma da estrutura da universidade”, ou seja, a sua adaptação às 

necessidades  do  capitalismo moderno. De  fornecedoras  da  “cultura  geral”  para  uso 

das  classes  dirigentes,  as  diversas  faculdades  e  escolas,  ainda  ornamentadas  de 

prestígios  anacrônicos,  são  transformadas  em  centros  de  criação  apressada  de 

pequenos  e  médios  funcionários.  Longe  de  contestar  esse  processo  histórico  que 

subordina  diretamente  um  dos  últimos  setores  relativamente  autônomos  da  vida 

social  às  exigências  do  sistema mercantil,  nossos  progressistas  protestam  contra  os 

atrasos  e  deficiências  a  que  ficam  submetidos.  São  os  partidários  da  futura 

universidade cibernetizada que já se anuncia aqui e ali.[6] O sistema mercantil e seus 

servidores modernos: eis o inimigo. 

Mas é normal que  todo esse debate passe por cima da cabeça do estudante, 

pelo céu de seus mestres, escapando‐lhe inteiramente: o conjunto de sua vida e, com 

mais razão, da vida, escapa‐lhe. 

Por  força  de  sua  situação  econômica  de  extrema  pobreza,  o  estudante  está 

condenado  a  um  certo modo  de  sobrevivência  pouquíssimo  invejável.  No  entanto, 

sempre  satisfeito  consigo,  ele  erige  a  sua miséria  trivial  como  um  “estilo  de  vida” 

original: o miserabilismo e a boemia. Ora, a  “boemia”,  já  longe de  ser uma  solução 

original,  nunca  será  autenticamente  vivida  sem  uma  ruptura  prévia  completa  e 

irreversível com o meio universitário. Seus partidários da boemia entre os estudantes 

(e todos se vangloriam de assim o serem de alguma forma) nada mais fazem a não ser 

se agarrarem a uma versão artificial e degradada daquilo que não passa, na melhor das 

hipóteses,  de  uma  medíocre  solução  individual.  São  merecedores  até  mesmo  do 

desprezo das velhas provincianas. Estes “originais” continuam – trinta anos depois de 

W. Reich[7], esse excelente educador da  juventude – a  ter comportamentos erótico‐

amorosos  dos  mais  tradicionais,  reproduzindo  as  relações  gerais  da  sociedade  de 

classes  em  suas  relações  intersexuais.  A  aptidão  do  estudante  para  se  tornar  um 

militante  de  qualquer  natureza  atesta  claramente  a  sua  impotência.  Dentro  da 

margem de liberdade individual autorizada pelo espetáculo totalitário, e apesar de sua 

utilização  de  tempo, mais  ou menos  relaxada,  o  estudante  ignora  ainda  a  aventura 

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preterindo‐a por um espaço‐tempo cotidiano estreito, dirigido em sua  intenção pelas 

barreiras de proteção do mesmo espetáculo. 

Ele  próprio  separa,  sem  a  isso  ser  obrigado,  o  trabalho  do  lazer,  enquanto 

proclama um desprezo hipócrita pelos “burros de carga” e “CDFs”. Ele ratifica todas as 

separações  e  em  seguida  vai  gemer  em  diferentes  “círculos”  religiosos,  esportivos, 

políticos ou sindicais, sobre o  tema da não‐comunicação. Ele é  tão  tolo e  infeliz que 

chega ao  cúmulo de  se abrir espontaneamente e em massa ao  controle parapolicial 

dos psiquiatras e psicólogos, implementado para seu uso pela vanguarda da opressão 

moderna; controle este, portanto, aplaudido pelos  seus “representantes”, que vêem 

naturalmente  nos  Centros  de  Apoio  Psicológico  Universitário  uma  conquista 

indispensável e merecida.[8] 

Mas  a miséria  real da  vida  cotidiana estudantil encontra  a  sua  compensação 

imediata,  fantástica,  naquilo  que  é  o  seu  ópio  principal:  a mercadoria  cultural.  No 

espetáculo cultural, o estudante reencontra com naturalidade o seu lugar de discípulo 

respeitoso. Próximo do local da produção sem nunca a ele ter acesso – o santuário lhe 

será proibido – o estudante descobre a “cultura moderna” na qualidade de espectador 

contemplativo. Numa época m que a arte morreu, ele continua sendo o principal fiel 

dos  teatros  e  dos  cineclubes,  bem  como  o mais  árido  consumidor  de  seu  cadáver 

congelado  e  difundido  em  celofane  nos  supermercados  para  as  donas‐de‐casa  da 

abundância. Ele participa disso sem nenhuma reserva, sem segundas intenções e sem 

distanciamento  algum.  É  o  seu  elemento  natural.  Se  os  “centros  culturais”  não 

existissem, o estudante os teria inventado. Ele confirma com perfeição as análises mais 

banais  da  sociologia  norte‐americana  do  marketing:  consumo  ostentatório, 

estabelecimento  de  uma  diferenciação  publicitária  entre  produtos  idênticos  em 

nulidade (Pérec ou Robbe‐Grillet, Godart ou Lelouch). 

E basta que os “deuses” que produzem ou organizam o seu espetáculo entrem 

em  cena,  para  ele mostrar  que  é  seu  público  principal,  o  devoto  ideal.  Assim,  ele 

assiste  em massa  às mais  obscenas  demonstrações  de  seus  “deuses”. Quem mais, 

além dele, o estudante, lotaria as salas quando, por exemplo, sacerdotes de diferentes 

igrejas vêm expor publicamente seus diálogos  intermináveis (semana do pensamento 

dito marxista, reunião de intelectuais católicos) ou quando os escombros da literatura 

vêm constatar que são impotentes (5 mil estudantes em O que Pode a Literatura?). 

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Incapaz de sentir paixões reais, ele se delicia com polêmicas se paixão entre os 

ícones  da  ininteligência  a  respeito  de  falsos  problemas  cuja  função  é  disfarçar  os 

verdadeiros: Althusser – Garaudy – Sartre – Barthes – Picard – Lefebvre – Levi‐Strauss 

–  Halliday  –  Chatelet  –  Antoine.  Humanismo  –  existencialismo  –  estruturalismo  – 

cientismo  –  novo  criticismo  –  dialeto‐naturalismo  –  cibernetismo  –  planetismo  – 

metafilosofismo. 

Na  sua  aplicação,  ele  se  considera  de  vanguarda  porque  assistiu  ao  último 

Godard, comprou o último livro argumentista[9], participou do último happening desse 

Lapassede,  uma  besta.  Ignorante,  ele  acredita  serem  novidades  “revolucionárias”, 

garantidas  por  certificado,  as  piores  versões  de  antigas  pesquisas  efetivamente 

importantes em seu tempo, edulcoradas para uso do mercado. A questão será sempre 

a  de  preservar  seu  nível  cultura.  O  estudante  se  orgulha  de  comprar,  como  todo 

mundo, as reedições em  livro de bolso de uma série de textos  importantes e difíceis 

que a “cultura de massa” dissemina num ritmo acelerado.[10] Só que ele não sabe ler. 

Ele se contenta em consumi‐los com o olhar. 

Sua  leitura  predileta  continua  sendo  a  imprensa  especializada  que  rege  o 

consumo  diante  dos  gadgets  culturais.  Docilmente,  ele  aceita  determinações 

publicitárias fazendo delas a referência‐padrão de seus gostos. Ele ainda se delicia com 

L’Express  e  L’Observateur,  ou  então  acredita  que  Le Monde,  cujo  estilo  já  é  difícil 

demais  para  ele,  é  realmente  um  jornal  “objetivo”  que  reflete  a  atualidade.  Para 

aprofundar  seus  conhecimentos  gerais,  ele  bebe  da  Planète,  a  revista mágica  que 

remove as rugas e os cravos das velhas  idéias. É seguindo tais guias que ele acredita 

participar do mundo moderno e se iniciar na política. 

Pois  o  estudante, mais  que  qualquer  outro,  se  sente  feliz  por  se  considerar 

politizado. Só que ele ignora que participa disso através do mesmo espetáculo. Assim, 

ele se reapropria de todos os restos dos frangalhos ridículos de uma esquerda que foi 

aniquilada  há  mais  de  quarenta  anos  pelo  reformismo  “socialista”  e  pela  contra‐

revolução  stalinista.  Isso  ele  ainda  ignora,  ao  passo  que  o  poder  conhece  bem 

claramente o  fato e os operários  têm dele um  conhecimento  confuso. Ele participa, 

com  orgulho  cretino,  das  mais  irrisórias  manifestações  que  atraem  somente  ele 

próprio. A  falsa consciência política é encontrada nele em seu estado mais puro, e o 

estudante  constitui a base  ideal para as manipulações dos burocratas  fantasmáticos 

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das organizações moribundas  (do partido dito  comunista à UNEF). Estas programam 

totalitariamente  suas  opções  políticas.  Qualquer  desvio  ou  veleidade  de 

“independência”  entra  docilmente,  após  um  simulacro  de  resistência,  numa  ordem 

que  em  momento  algum  foi  colocada  em  questão.[11]  Quando  ele  pensa  estar 

obedecendo,  como  essas  pessoas  que  se  autodenominam,  em  função  de  uma 

patológica inversão publicitária, JCR (Juventude Comunista Revolucionária), não sendo 

nem  jovens,  nem  comunistas,  nem  revolucionários,  é  para  aderir  alegremente  à 

palavra de ordem pontificial: Paz no Vietnã. 

O estudante tem orgulho de se opor aos arcaísmos de um De Gaulle, mas não 

compreende que age assim em nome de erros do passado, de crime congelados (como 

o  stalinismo,  na  época  de  Togliatti  –  Garaudy  –  Krutchev  – Mão),  e  assim  a  sua 

juventude é ainda mais arcaica que o poder, porque esse dispõe efetivamente de tudo 

aquilo que necessita para administrar uma sociedade moderna. 

Não será um arcaísmo a mais que  fará muita diferença para o estudante. Ele 

acha que deve ter idéias gerais sobre tudo, conceitos coerentes do mundo que dão um 

sentido  à  sua  necessidade  de  agitação  e  de  promiscuidade  assexuada.  Eis  porque, 

manipulados pelas últimas  febres das  igrejas, ele se precipita sobre a mais velha das 

velharias para adorar a carcaça fétida de Deus e atar‐se às migalhas decompostas das 

religiões  pré‐históricas,  que  ele  acredita  serem  dignas  dele  e  do  seu  tempo. Não  é 

necessário  frisar que o meio estudantil é,  justamente com o das  senhoras  idosas de 

interior, o setor onde se mantém o mais alto índice de prática religiosa, conservando‐

se como uma “terra de missões”  ideal  (ao passo que, nas demais, os missionários  já 

foram devorados ou expulsos), na qual padres‐estudantes continuam a sodomizar, às 

claras, milhares de estudantes em suas latrinas espirituais. 

É claro que, entre os estudantes, ainda existem pessoas com nível  intelectual 

suficiente.  Essas  dominam  com  facilidade  os  miseráveis  controles  de  capacidade 

previstos para os medíocres, sendo que essa dominação acontece justamente porque 

eles entenderam o  sistema, porque eles o desprezam e  são  seus  inimigos de  forma 

consciente. Eles tomam o que há de melhor no sistema de estudos: as bolsas. Tirando 

proveito  das  falhas  do  controle,  que,  na  sua  lógica  própria,  obriga  aqui  e  agora  a 

conservar  um  pequeno  setor  puramente  intelectual,  a  “pesquisa”,  eles  vão 

tranqüilamente elevar a  turbulência ao mais alto nível:  seu desprezo declarado pelo 

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sistema caminha no mesmo passo que a  lucidez que  lhes permite  justamente serem 

mais  fortes  que  os  serviçais  do  sistema  e,  em  primeiro  lugar,  mais  fortes 

intelectualmente. As pessoas de quem estamos  falando  já constam, na realidade, no 

rol  dos  teóricos  do movimento  revolucionário  que  se  aproxima,  e  orgulham‐se  de 

serem tão conhecidos quanto ele no momento em que se começar a ouvir falar dele. 

Não  escondem  de  ninguém  que  aquilo  que  tomam  tão  facilmente  do  “sistema  de 

estudos” está sendo utilizado para a destruição do mesmo. Pois o estudante não pode 

se revoltar contra nada antes de se revoltar contra seus estudos, e a necessidade dessa 

revolta  se  faz  sentir menos  naturalmente  que  no  caso  do  operário,  que  se  revolta 

espontaneamente contra a sua condição. Mas o estudante é um produto da sociedade 

moderna,  tanto  quanto Godard  e  a Coca‐Cola.  Sua  extrema  alienação  só  pode  ser4 

contestada  pela  contestação  de  toda  a  sociedade.  Esta  crítica  não  pode,  de modo 

algum,  ser  feita no  campo estudantil: o estudante,  como  tal,  arroga‐se um pseudo‐

valor que o  impede de  tomar  consciência do quanto ele é um  “despossuído” e, por 

causa disso, permanece no  cúmulo da  falsa  consciência. Em  todos os  cantos onde a 

sociedade moderna  começa  a  ser  contestada existe,  contudo,  revolta na  juventude, 

que  corresponde  imediatamente  a  uma  crítica  total  do  comportamento  estudantil. 

 

Não  basta  que  o  pensamento  procure  sua  realização.  É  preciso  que  a  realidade 

procure o pensamento. 

 

Após um  longo período de sono  letárgico e de contra‐revolução permanente, 

esboça‐se há alguns anos um novo período de contestação do qual a juventude parece 

ser a portadora. Entretanto, a sociedade do espetáculo, conforme a representação que 

ela  faz  de  si mesma  e  de  seus  inimigos,  impõe  suas  categorias  ideológicas  para  a 

compreensão do mundo e da história. Essa sociedade do espetáculo procura classificar 

tudo o que acontece na  categoria dita da  “ordem natural das  coisas” e aprisiona as 

verdadeiras novidades que anunciam sua caducidade dentro do âmbito restrito de sua 

vontade ilusória. 

A  revolta  da  juventude  contra  o  modo  de  vida  que  lhe  é  imposto  é,  na 

realidade,  apenas  o  sinal  precursor  de  uma  subversão mais  ampla  que  englobará  o 

conjunto daqueles que se sentem cada vez mais impossibilitados de viver. É o prelúdio 

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da próxima época revolucionária. Só que a ideologia dominante, juntamente com seus 

órgãos cotidianos, consegue, por meio dos mecanismos  já eficazmente comprovados 

de  inversão  da  realidade,  reduzir  este  movimento  histórico  real  a  uma  pseudo‐

categoria socionatural: a Idéia de Juventude (que já traria a revolta em sua essência). 

Dessa forma, rebaixa‐se uma nova juventude da revolta à eterna revolta da Juventude, 

que  renasce  em  cada  geração  para  desaparecer  quando  o  “jovem  é  tomado  pela 

seriedade da produção e pela atividade com vistas a fins concretos e verdadeiros”. 

A  “revolta  dos  jovens”  foi  e  continua  objeto  de  uma  verdadeira  inflação 

jornalística  que  faz  dela  o  espetáculo  de  uma  “revolta”  possível  oferecida  à 

contemplação para impedir que seja vivida, ou seja, a esfera aberrante – já integrada ‐, 

necessária  ao  funcionamento  do  sistema  social.  Essa  revolta  contra  a  sociedade 

tranqüiliza a sociedade porque se faz crer que essa revolta permanece parcial, dentro 

do  apartheid  dos  “problemas”  da  juventude  –  do  mesmo  modo  que  haveria  um 

problema da mulher, ou um problema negro – e dura somente uma parte da vida. Na 

realidade,  se existe um problema da “juventude” na  sociedade moderna é porque a 

crise profunda dessa sociedade é sentida pelo jovem [12]com mais acuidade. 

Produto por excelência dessa  sociedade moderna, o  jovem é – ele mesmo – 

moderno, seja para integrar‐se nela sem reservas, seja para recusá‐la radicalmente. O 

que  deveria  surpreender  não  é  tanto  que  a  juventude  seja  revoltada, mas  que  os 

“adultos”  seja  tão  resignados.  Coisa,  aliás,  que  não  tem  uma  explicação mitológica, 

mas  uma  explicação  histórica:  a  geração  anterior  conheceu  todas  as  derrotas  e 

consumiu  todas as mentiras do período da vergonhosa desagregação do movimento 

revolucionário. 

Considerada  em  si  mesma,  a  juventude  é  um  mito  publicitário  já 

profundamente vinculado ao modo de produção  capitalista,  como expressão de  seu 

dinamismo.  Essa  ilusória  primazia  da  juventude  tornou‐se  possível  com  o 

reaquecimento  da  economia  após  a  Segunda  Guerra Mundial,  com  a  entrada  em 

massa no mercado da toda uma categoria de consumidores mais maleáveis, um papel 

que assegura o atestado de  integração à sociedade do espetáculo. Mas a explicação 

dominante  do  mundo  encontra‐se  novamente  em  contradição  com  a  realidade 

socioeconômica  (pois  está  atrasada  em  relação  a  esta)  e  é  justamente  a  juventude 

que,  primeiro,  afirma  uma  irresistível  fúria  de  viver  e  se  insurge  espontaneamente 

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contra  o  tédio  cotidiano  e  o  tempo morto  que  o  velho mundo  continua  a  secretar 

através de suas diferentes modernizações. A  fração  revoltada da  juventude expressa 

recusa no estado puro de recusa, sem a consciência de uma perspectiva de superação 

desta sua recusa niilista. Essa perspectiva é procurada e vem se observando em todos 

os lugares do mundo. Ela precisa atingir a coerência da crítica teórica e a organização 

prática dessa coerência. 

À  primeira  vista,  os  blousons  noirs  exprimem  em  todos  os  países,  com  a 

máxima violência aparente sua recusa a se integrarem. Mas o caráter abstrato da sua 

recusa não  lhes deixa nenhuma chance de escapar às contradições de um sistema de 

que são o produto negativo e espontâneo. Os blousons noirs são produzidos por todos 

os  lados  da  ordem  atual:  o  urbanismo  dos  grandes  conjuntos,  a  decomposição  dos 

valores, a extensão do  lazer consumível cada vez mais tedioso, o controle humanista‐

policial cada vez mais estendido a toda vida cotidiana, a sobrevivência econômica na 

célula familiar privada de qualquer significado. Eles desprezam o trabalho mas aceitam 

as mercadorias.  Eles  gostariam de possuir  tudo quanto  à publicidade  lhes exibe, de 

modo  imediato e sem que  tivessem de pagar. Essa contradição  fundamental domina 

toda  a  sua  existência,  e  é  ele  o  quadro  que  reprime  suas  tentativas  de  afirmação 

através  da  busca  por  uma  verdadeira  liberdade  no  uso  do  tempo,  da  afirmação 

individual  e  da  constituição  de  uma  espécie  de  comunidade.  (só  que  tais  micro‐

comunidades recompõem, à margem da sociedade desenvolvida, um primitivismo em 

que  a  miséria  recria  inelutavelmente  a  hierarquia  no  bando.  Esta  hierarquia,  que 

somente pode se afirmar‐se na luta contra outros bandos, isola cada bando e, em cada 

bando,  o  indivíduo.)  Para  escapar  a  essa  contradição,  o  blousons  noirs  deverá 

finalmente trabalhar para comprar mercadorias – e aí, todo um setor da produção é 

expressamente  dedicado  à  sua  recuperação  como  consumidor  (motos,  guitarras 

elétricas, vestuário, discos, etc) –, ou brigar contra as leis da mercadoria, seja de modo 

primário, roubando‐as, seja de modo consciente, elevando‐se à crítica revolucionária 

do mundo da mercadoria. O consumo adoça os hábitos desses jovens revoltados, e sua 

revolta transforma‐se no pior dos conformismos. O mundo dos blousons noirs não tem 

outra  saída  a não  ser  a  tomada de  consciência  revolucionária ou  a  cega obediência 

dentro das fábricas. 

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Os  provos  constituem  a  primeira  forma  que  ultrapassou  a  experiência  dos 

blousons  noirs,  a  organização  da  sua  primeira  expressão  política.  Eles  nasceram  ao 

sabor de um encontro entre alguns detritos da arte decomposta em busca de sucesso 

e uma massa de jovens revoltados em busca de afirmação. Sua organização permitiu a 

estes  e  aqueles  avançar  e  ter  acesso  a  um  novo  tipo  de  contestação. Os  "artistas" 

trouxeram algumas tendências, ainda muito mistificadas, para o  jogo, acompanhadas 

de um caos  ideológico; os  jovens rebeldes só dispunham da violência da sua revolta. 

Desde  o  momento  em  que  sua  organização  foi  formada,  as  duas  tendências 

permaneceram  distintas. A massa  sem  teoria  viu‐se  imediatamente  sob  a  tutela  de 

uma camada pequena de dirigentes suspeitos, que tentam preservar seu "poder" pela 

secreção  de  uma  ideologia  “provotarista”.  Em  vez  da  violência  dos  blousons  noirs 

passar  para  o  plano  das  idéias  numa  tentativa  de  deixar  para  trás  a  arte,  foi  o 

reformismo neo‐artístico que venceu. Os provos são a expressão do último reformismo 

produzido pelo  capitalismo moderno: o da  vida  cotidiana.  Enquanto é evidente que 

será necessário nada menos do que uma revolução  ininterrupta para mudar a vida, a 

hierarquia provo acredita – da mesma forma que Berstein acreditava na possibilidade 

de transformar o capitalismo em socialismo através de reformas – que basta implantar 

algumas melhorias para que a vida cotidiana seja modificada. Os provos, ao optarem 

pelo  fragmentismo, acabaram por aceitar a  totalidade. Para se  firmarem numa base, 

os  dirigentes  inventaram  a  ridícula  ideologia  do  provotariado  (uma  salada  artístico‐

política  inocentemente montada a partir dos  restos mofados de uma  festa que eles 

não  conheceram),  destinada,  segundo  eles,  a  se  opor  à  pretensa  passividade  e  ao 

aburguesamento  do  proletariado.  A  tese  favorita  de  todos  os  cretinos  do  século. 

Porque  perdem  o  ânimo  de  transformar  a  totalidade,  eles  desanimam  também  das 

forças que – somente elas – trariam a esperança de uma possível superação total. O 

proletariado é o motor da sociedade capitalista e, portanto, seu perigo mortal. Tudo 

deve  ser  feito  para  reprimi‐lo  (partidos,  sindicatos  burocratas,  polícia  –  mais 

freqüentemente do que contra os provos ‐, a colonização de toda a sua vida), pois ele 

é  a única  força  realmente  ameaçadora. Os provos nada entenderam disso e,  assim, 

permanecem incapazes de realizar a crítica do sistema de produção, ficando, portanto, 

prisioneiros de todo o sistema. E quando, durante um distúrbio operário anti‐sindical, 

sua  base  juntou‐se  à  violência  direta,  os  dirigentes  perderam  completamente  o 

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controle do movimento e, em  seu desatino, nada acharam de melhor para  fazer do 

que denunciar os “excessos” e conclamar ao pacifismo, renunciando lamentavelmente 

a  seu  programa:  provocar  as  autoridades  para mostrar  a  elas  o  caráter  repressivo 

(gritando  que  eles  estavam  sendo  provocados  pela  polícia).  O  cúmulo  foi  quando, 

através do rádio, eles pediram aos  jovens baderneiros para se deixarem educar pelos 

“provos”,  isto  é,  pelos  dirigentes  que  demonstraram  amplamente  que  seu  vago 

“anarquismo”  não  passava  de  mais  uma  mentira.  A  base  rebelada  dos  provos  só 

poderá  passar  à  crítica  revolucionária  no momento  em  que  começar  a  se  revoltar 

contra  seus  chefes,  o  que  significa  unir‐se  às  forças  revolucionárias  objetivas  do 

proletariado e livrar‐se de um Constant, o artista oficial da Holanda Monárquica, ou de 

um De Vries, um fracassado parlamentar admirador da polícia inglesa. Somente então 

os provos poderão  se  integrar à  contestação moderna autêntica, que  já possui uma 

base real no meio deles. Se quiserem realmente transformar o mundo, devem se livrar 

daqueles que querem se contentar apenas em pintá‐lo de branco. 

Ao  se  revoltarem  contra  seus  estudos,  os  estudantes  norte‐americanos 

colocaram  imediatamente em questão uma sociedade que necessita de  tais estudos, 

da mesma forma que a sua revolta (em Berkeley e outros lugares) contra a hierarquia 

universitária  afirmou‐se,  de  cara,  como  uma  revolta  contra  todo  o  sistema  social 

baseado  na  hierarquia  e  na  ditadura  da  economia  e  do  Estado.  Recusando‐se  a 

integrarem as empresas para as quais, naturalmente,  seus estudos especializados  se 

destinavam,  eles  colocam profundamente em questão um  sistema de produção  em 

que  todas  as  atividades  e  o  produto  destas  escapam  totalmente  de  seus  autores. 

Assim, tateando em meio a uma confusão ainda muito grande, a  juventude rebelada 

norte‐americana  chega  ao  ponto  de  procurar dentro  da  “sociedade  da  abundância” 

uma  alternativa  revolucionária  coerente.  Ela  continua  fortemente  atada  aos  dois 

aspectos relativamente acidentais da crise norte‐americana: os negros e o Vietnã. E as 

pequenas organizações que constituem a “Nova Esquerda” muito se ressentem disso. 

Se,  naquilo  que  diz  respeito  à  forma,  se  faz  sentir  uma  autêntica  exigência  de 

democracia,  a  fraqueza  de  seu  conteúdo  subversivo  as  leva  a  recair  em  perigosas 

contradições. A hostilidade à política tradicional das velhas organizações é facilmente 

recuperada pela ignorância do mundo político, que se traduz por uma enorme falta de 

informações,  e  por  ilusões  sobre  aquilo  que  realmente  se  passa  no  mundo.  A 

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hostilidade  abstrata  à  sua  sociedade  leva  as  militâncias  a  admirar  e  apoiar  seus 

aparentes  inimigos,  isto  é,  as  burocracias  ditas  socialistas,  China  ou  Cuba.  Assim, 

encontramos num grupo como o Resurgence Youth Movement uma manifestação pela 

morte do Estado e, simultaneamente, um elogio à “revolução cultural” executada pela 

mais gigantesca burocracia dos tempos modernos: a China de Mao. Da mesma forma, 

sua organização  semilibertária e não diretiva corre o  risco de, a qualquer momento, 

por absoluta  falta de  conteúdo,  recair na  ideologia da  “dinâmica dos grupos” ou no 

mundo  fechado  das  seitas. O  consumo  de  drogas  em massa  é  a  expressão  de  uma 

miséria  real e o protesto  contra essa miséria  real: é a busca enganosa de  liberdade 

num mundo sem liberdade, a crítica religiosa de um mundo que já superou a religião. 

Não é por acaso que a encontramos sobretudo nos meios beatniks (que é a direita dos 

jovens  revoltados),  lares  da  recusa  ideológica  e  da  aceitação  das mais  fantásticas 

superstições  (zen, espiritismo, misticismo da New Church e outras podridões como o 

ghandismo  ou  o  humanismo...).  Na  sua  busca  por  um  programa  revolucionário,  os 

estudantes norte‐americanos cometem o mesmo erro dos provos ao se proclamarem 

“a classe mais explorada da sociedade”. Eles devem, desde já, compreender que seus 

próprios  interesses não são diferentes dos  interesses de todos aqueles que sofrem a 

opressão generalizada e a escravidão mercantil. 

No  Leste,  o  totalitarismo  burocrático  também  já  começa  a  gerar  suas  forças 

negativas.  A  rebelião  dos  jovens  lá  é  mais  particularmente  virulenta  e  conhecida 

somente  através das denúncias  feitas pelos diferentes órgãos do  “aparelho” ou das 

medidas policiais que ele toma para contê‐la. Assim, somos informados que uma parte 

da  juventude não “respeita” mais a ordem moral e  familiar  (tal como essa ordem se 

apresenta  sob  a  sua  forma  burguesa mais  detestável),  entrega‐se  à  “libertinagem”, 

despreza  o  trabalho  e  não  obedece mais  à  polícia  do  partido.  E,  na  antiga  União 

Soviética, nomeia‐se um ministro para a tarefa de combater o hooliganismo. 

Mas,  paralelamente  a  essa  revolta  difusa,  uma  contestação mais  elaborada 

tenta se afirmar e grupos ou pequenas revistas clandestinas surgem e somem ao sabor 

das  flutuações  da  repressão  policial.  O  fato mais  relevante  foi  a  publicação  pelos 

jovens  poloneses  Kuron  e  Modzelewski  de  sua  Carta  Aberta  ao  Partido  Operário 

Polonês.  No  texto,  eles  afirmam  expressamente  a  necessidade  da  “abolição  das 

relações  sociais  atuais”  e  constatam  que,  para  atingir  tal  objetivo,  “a  revolução  é 

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inelutável”. A intelligentsia dos países do Leste procura atualmente tornar conscientes 

e  formular  claramente  os motivos  dessa  crítica  que  os  operários  concretizaram  em 

Berlim  Oriental,  Varsóvia  e  Budapeste,  a  crítica  proletária  ao  poder  da  classe 

burocrática. Essa revolta sente profundamente a desvantagem de expor, de imediato, 

os problemas reais e sua solução. Se, nos outros países, o movimento é possível, mas o 

objetivo  permanece  mistificado,  nas  burocracias  do  Leste  a  contestação  não  tem 

ilusões e seus objetivos são conhecidos. Trata‐se, para ela, de  inventar as  formas da 

sua realização e abrir o caminho que leva a isto. 

Quanto  à  revolta  dos  jovens  ingleses,  ela  encontra  sua  primeira  expressão 

organizada no movimento antinuclear. Essa luta particular, reunida em torno do vago 

programa  do  Comitê  dos  Cem  –  que  conseguiu  reunir  até  300 mil manifestantes  ‐, 

cumpriu o seu mais belo gesto durante o verão de 1963, com o escândalo RSG6[13]. 

Ela só podia mesmo arrefecer por falta de perspectivas, sendo recuperada pelos restos 

da política  tradicional e pelas belas almas pacifistas. O arcaísmo do controle da vida 

cotidiana, uma característica da Inglaterra, não conseguiu resistir ao assalto do mundo 

moderno,  e  a  decomposição  acelerada  dos  valores  seculares  criou  tendências 

profundamente revolucionárias na crítica de todos os aspectos do modo de vida.[14] É 

preciso que as exigências dessa juventude possam se reunir à resistência de uma classe 

operária considerada uma das mais combativas do mundo, a dos shopstewards e das 

greves  selvagens,  e  a  vitória  de  sua  luta  somente  poderá  ser  atingida  dentro  das 

perspectivas  comuns. O esfacelamento da  social democracia no poder dá mais uma 

chance para a realização desse encontro. As explosões que ele provocará serão muito 

mais  fortes do que  tudo o que  se viu em Amsterdam. O distúrbio provotariano não 

passará, diante delas, de uma brincadeira de criança. Somente daí poderá nascer um 

verdadeiro  movimento  revolucionário,  no  qual  as  necessidades  práticas  terão 

encontrado sua resposta. 

O  Japão  é  o  único  país  industrializado  desenvolvido  onde  essa  fusão  da 

juventude estudantil com operários de vanguarda já aconteceu. 

Zengakuren, a famosa Organização dos Estudantes Revolucionários, e a Liga dos 

Jovens Trabalhadores Marxistas são as duas importantes organizações formadas sob a 

orientação  comum  da  Liga  Comunista  Revolucionária.[15]  Essa  formação  tem  já  a 

capacidade de resolver o problema da organização revolucionária de forma prática. Ela 

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combate,  simultaneamente e  sem  ilusões, o  capitalismo do Ocidente e a burocracia 

dos  países  ditos  socialistas.  Ela  já  reúne  alguns milhares  de  estudantes  e  operários 

organizados numa base democrática e anti‐hierárquica, fundamentada na participação 

de todos os membros em todas as atividades da organização. Assim, os revolucionários 

japoneses  são  os  primeiros  do  mundo  a  empreender  desde  já  grandes  lutas 

organizadas,  com  um  programa  avançado  e  com  ampla  participação  das  massas. 

Milhares  de  operários  e  estudantes  saem  às  ruas,  sem  tréguas,  e  enfrentam 

violentamente a polícia  japonesa. No entanto, a LCR (Liga Comunista Revolucionária), 

embora combatendo ambos com firmeza, não explica, concreta e completamente, os 

dois sistemas. Ela ainda procura como definir com precisão a exploração burocrática, 

da mesma  forma que ainda não conseguiu  formular explicitamente as características 

de  capitalismo moderno, a  crítica da vida  cotidiana e a  crítica do espetáculo. A  Liga 

Comunista  Revolucionária  continua  fundamentalmente  uma  organização  política  de 

vanguarda, herdeira da melhor organização proletária clássica. Ela é atualmente a mais 

importante formação revolucionária do mundo e deve ser, desde já, um dos pólos de 

discussão e de reunião da nova crítica revolucionária proletária no mundo. 

 

Criar finalmente a situação que torne impossível qualquer retorno 

 

"Estar na vanguarda significa andar no passo da realidade."[16] A crítica radical 

do mundo moderno deve agora ter como objeto e como objetivo a totalidade. Ela deve 

inevitavelmente encarar o passado real deste mundo, aquilo que ele efetivamente é e 

as perspectivas de sua transformação. É que, para podermos dizer toda a verdade do 

mundo  atual  e,  com mais  razão,  para  formular  o  projeto  de  sua  subversão  total,  é 

preciso ter a capacidade de revelar toda a sua história oculta. Ou seja, ter uma visão 

totalmente desmitificada e fundamentalmente crítica da história de todo o movimento 

revolucionário internacional, inaugurada já faz um século pelo proletariado dos países 

do Ocidente, e encarar seus "fracassos" e suas "vitórias". 

"Esse movimento contrário ao conjunto da organização do velho mundo  já se 

acabou  há muito  tempo"[17]  e  fracassou.  Sua  última  manifestação  histórica  foi  a 

derrota da  revolução do proletariado na Espanha  (em Barcelona, em maio de 1937). 

No  entanto,  seus  "fracassos" oficiais,  assim  como  suas  "vitórias" oficiais, devem  ser 

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julgados  à  luz  de  seus  prolongamentos,  e  suas  verdades  devem  ser  restabelecidas. 

Podemos  portanto  afirmar  que  "existem  derrotas  que  são  vitórias  e  vitórias  mais 

vergonhosas que derrotas" (Karl Liebknecht, na véspera de seu assassinato). A primeira 

grande "derrota" do poder proletário, a Comuna de Paris, é, na realidade, sua primeira 

grande vitória pois, pela primeira vez, o proletariado primitivo afirmou sua capacidade 

histórica de dirigir, de modo  livre, todos os aspectos da vida social. Da mesma forma 

que  a  sua  primeira  grande  "vitória",  a  revolução  bolchevique,  é  definitivamente  a 

derrota que lhe trouxe as conseqüências mais pesadas. 

O  triunfo  da  ordem  bolchevique  coincide  com  o  movimento  contra‐

revolucionário  internacional que  teve  início  com o esmagamento dos espartaquistas 

pela "social democracia" alemã. O triunfo comum era mais profundo que sua aparente 

oposição e essa ordem bolchevique não passava definitivamente de uma nova máscara 

e de uma representação particular da ordem antiga. Os resultados da contra‐revolução 

russa foram, internamente, o estabelecimento e o desenvolvimento de um novo modo 

de exploração, o capitalismo burocrático estatal, e, externamente, a multiplicação de 

seções da Internacional dita comunista, sucursais destinadas a defendê‐lo e disseminar 

o seu modelo. O capitalismo, sob suas diferentes variantes burocráticas e burguesas, 

reflorescia  sobre  os  cadáveres  dos  marinheiros  de  Kronstadt,  dos  camponeses  da 

Ucrânia e dos operários de Berlim, Kiel, Turim, Xangai e, mais tarde, Barcelona. 

A  III  Internacional, criada pelos bolcheviques aparentemente para  lutar contra 

os  fragmentos  da  social  democracia  reformista  da  II  Internacional  e  reagrupar  a 

vanguarda  proletária  nos  "partidos  comunistas  revolucionários",  estava 

excessivamente ligada a seus criadores e aos interesses destes para poder realizar, em 

qualquer lugar, a verdadeira revolução socialista. A II Internacional era, na realidade, a 

verdade da III. O modelo russo logo se impôs às organizações operárias do Ocidente e 

suas  evoluções  tornaram‐se  uma  única  e  mesma  coisa.  À  ditadura  totalitária  da 

burocracia,  uma  nova  classe  dirigente  sobre  o  proletariado  russo,  correspondia,  no 

seio dessas organizações, o domínio de uma camada de burocratas políticos e sindicais 

sobre  a  grande  massa  dos  operários,  cujos  interesses  se  tornaram  francamente 

contraditórios com os dos burocratas. O monstro stalinista assombrava a consciência 

operária,  ao  passo  que  o  capitalismo,  em  vias  de  burocratização  e 

superdesenvolvimento,  debelava  suas  crises  internas  e  afirmava,  com  orgulho,  sua 

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nova  vitória,  que  ele  pretende  ser  permanente.  Uma  mesma  forma  social, 

aparentemente divergente e variada, está se apossando do mundo e os princípios do 

velho mundo  continuam  a  governar  nosso mundo moderno. Os mortos  continuam 

assombrando os cérebros dos vivos. 

No  seio  desse  mundo,  organizações  pretensamente  revolucionárias  só  ó 

combatem  de modo  aparente,  em  seu  próprio  terreno,  através  das mais  diversas 

mistificações.  Todas  invocam  ideologias mais  ou menos  petrificadas  e,  de  fato,  não 

fazem mais do que participar da consolidação da ordem dominante. Os sindicatos e os 

partidos  políticos  forjados  pela  classe  operária  para  sua  própria  emancipação 

tornaram‐se simples reguladores do sistema, a propriedade privada de dirigentes que 

trabalham em prol de suas emancipações particulares e encontram um status dentro 

da classe dirigente de uma sociedade que eles  jamais pensam colocar em questão. O 

programa  real  desses  sindicatos  e  partidos  apenas  repete,  de  forma  grosseira,  a 

fraseologia  "revolucionária"  e  aplica,  na  realidade,  palavras  de  ordem  do  mais 

edulcorado  reformismo,  visto  que  o  próprio  capitalismo  se  torna  oficialmente 

reformista. Nos  lugares onde conseguiram tomar o poder  ‐ em países mais atrasados 

que  a  Rússia  ‐  isso  só  foi  feito  para  reproduzir  o modelo  stalinista  do  totalitarismo 

contra‐revolucionário.[18]  Nos  demais  lugares,  eles  representam  o  complemento 

estático  e  necessário[19]  à  auto‐regulação  do  capitalismo  burocratizado.  São  a 

contradição  indispensável à conservação de  seu humanismo policial. Por outro  lado, 

eles  permanecem,  em  relação  às massas  operárias,  os  indefectíveis  avalistas  e  os 

incondicionais defensores da contra‐revolução burocrática, os dóceis instrumentos de 

sua  política  estrangeira.  Num  mundo  fundamentalmente  mentiroso,  eles  são 

portadores da mais  radical mentira e  trabalham em prol da perenidade da ditadura 

universal  da  economia  e  do  Estado.  Como  afirmam  os  situacionistas,  "um modelo 

social  universalmente  dominante  que  tende  para  a  auto‐regulação  totalitária  é 

combatido apenas aparentemente por  falsas contestações colocadas sempre em seu 

próprio  terreno,  ilusões  que,  pelo  contrário,  reforçam  esse  modelo.  O  pseudo‐

socialismo burocrático é a mais grandiosa das máscaras do velho mundo hierárquico 

do trabalho alienado".[20] O sindicalismo estudantil não passa, dentro disso tudo, da 

caricatura  de  uma  caricatura,  da  burlesca  e  inútil  repetição  de  um  sindicalismo 

degenerado. 

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A denúncia teórica e prática do stalinismo sob todas as suas formas deve ser a 

obviedade de base de  todas as  futuras organizações  revolucionárias. É  claro que na 

França, por exemplo, onde o atraso econômico ainda faz recuar a consciência da crise, 

o movimento  revolucionário  somente poderá  renascer  sobre as  ruínas do  stalinismo 

aniquilado. A destruição do  stalinismo deve  se  tornar o Delenda Carthago da última 

revolução da pré‐história. 

Esta revolução deve, por sua vez, romper em definitivo com a sua própria pré‐

história  e  extrair  toda  a  sua  poesia  do  futuro. Os  "bolcheviques  ressuscitados"  que 

participam  da  farsa  do  "militantismo"  dentro  dos  diferentes  grupelhos  de  esquerda 

são emanações bolorentas do passado e não  anunciam o  futuro de modo nenhum. 

Destroços do grande naufrágio da "revolução traída", eles se apresentam na qualidade 

de fiéis defensores da ortodoxia bolchevique: a defesa da União Soviética representa a 

sua insuportável fidelidade e sua escandalosa renúncia. 

Só  mesmo  nos  famosos  países  subdesenvolvidos[21],  onde  eles  próprios 

ratificam o  subdesenvolvimento  teórico, podem ainda manter  vivas  suas  ilusões. De 

Partisans  (órgão  dos  stalinistas‐trotskistas  reconciliados)  a  todas  as  tendências  e 

semitendências  que  se  digladiam  por  "Trotsky"  no  interior  e  no  exterior  da  IV 

Internacional,  reina  uma  mesma  ideologia  revolucionarista,  e  uma  mesma 

incapacidade  prática  e  teórica  de  compreender  os  problemas  do mundo moderno. 

Quarenta  anos  de  história  contra‐revolucionária  os  separam  da  revolução.  Eles  não 

têm  razão  pois  não  estão mais  em  1920  e,  em  1920,  eles  já  não  tinham  razão.  A 

dissolução  do  grupo  "ultra‐esquerdista"  Socialisme  ou  Barbarie,  após  sua  cisão  em 

duas facções, "modernista cardanista” e "velho marxismo" (de Pouvoir Ouvrier), prova, 

se  necessário,  que  não  pode  haver  revolução  fora  do moderno,  nem  pensamento 

moderno  fora  da  crítica  revolucionária  a  ser  reinventada.[22]  Ela  é  significativa  no 

sentido de que qualquer separação entre esses dois aspectos  recai,  inevitavelmente, 

seja no museu da pré‐história revolucionária acabada, seja na modernidade do poder, 

isto é, na contra‐revolução dominante: Voz Operária ou Argumentos. 

Quanto aos diversos grupelhos  "anarquistas", prisioneiros em  conjunto dessa 

designação, eles nada possuem  fora uma  ideologia  reduzida a um  simples  rótulo. O 

incrível  "Mundo  Libertário",  redigido  evidentemente  por  estudantes,  atinge  o  grau 

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mais fantástico de confusão e burrice. Essa gente tolera efetivamente tudo porquanto 

se tolera mutuamente. 

A  sociedade  dominante,  que  se  orgulha  de  sua modernização  permanente, 

deve agora encontrar a quem  falar, ou seja, a negação modernizada que ela mesma 

produz:  "Deixemos  agora  aos mortos  o  cuidado  de  enterrar  seus mortos  e  chorá‐

los”.[23]  As  desmistificações  práticas  do movimento  histórico  livram  a  consciência 

revolucionária dos  fantasmas que  a  assombravam:  a  revolução da  vida  cotidiana  se 

encontra frente a frente com as imensas tarefas que ela deve cumprir. A revolução, tal 

qual  a  vida  que  ela  anuncia,  deve  ser  reinventada.  Se  o  projeto  revolucionário 

permanece  fundamentalmente  o mesmo  ‐  a  abolição  da  sociedade  de  classes  ‐  é 

porque, em nenhum  lugar, as condições nas quais ele é formado foram radicalmente 

transformadas.  Trata‐se  de  retomá‐lo  com  um  radicalismo  e  uma  coerência 

fortalecidos pela experiência da  falência de  seus antigos portadores, a  fim de evitar 

que sua realização fragmentária acarrete uma nova divisão da sociedade. 

A  luta  entre  o  poder  e  o  novo  proletariado  só  podendo  acontecer  na  sua 

totalidade, o  futuro movimento  revolucionário deve abolir, em  seu  seio,  tudo aquilo 

que tende a reproduzir os produtos alienados do sistema mercantil.[24] Ele deve ser, 

simultaneamente, a crítica viva e a negação desse sistema, e é essa negação que traz 

em  si  todos  os  elementos  possíveis  da  ultrapassagem.  Como  bem  percebeu  Lukács 

(mas  para  aplicá‐lo  a  um  objeto  que  não  era  digno  dele:  o  partido  bolchevique),  a 

organização revolucionária é essa mediação necessária entre a teoria e a prática, entre 

o homem e a história, entre a massa dos  trabalhadores e o proletariado constituído 

em  classe.  As  tendências  e  divergências  "teóricas"  devem  ser  imediatamente 

transformadas  em  questão  de  organização  se  quiserem  indicar  o  caminho  de  sua 

realização.  A  questão  da  organização  será  o  julgamento  derradeiro  do  novo 

movimento revolucionário, o tribunal perante o qual será  julgada a coerência de seu 

projeto  essencial:  a  realização  internacional  do  poder  absoluto  dos  Conselhos 

Operários,  da  forma  como  foi  esboçado  pela  experiência das  revoluções  proletárias 

desse  século. Uma organização dessas deve priorizar a  crítica  radical de  tudo aquilo 

que  fundamenta  a  sociedade  que  ela  combate,  a  saber:  a  produção  mercantil,  a 

ideologia sob todas as suas máscaras, o Estado e as separações que ele impõe. 

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A cisão entre a teoria e a prática foi o rochedo contra o qual veio se arrebentar 

o velho movimento revolucionário. Apenas os maiores momentos das lutas proletárias 

ultrapassaram essa cisão para encontrar a sua verdade. Nenhuma organização  jamais 

realizou tal salto. A ideologia, tão "revolucionária" quanto é possível ser, está sempre a 

serviço dos mestres, o sinal de alarme que denuncia o inimigo disfarçado. Eis porque a 

crítica  da  ideologia  deve  ser,  em  última  análise,  o  problema  central da  organização 

revolucionária. Só o mundo alienado produz a mentira, e esta não poderia ressurgir no 

interior daquilo que pretende carregar a verdade social sem que essa organização se 

transforme,  ela  própria,  em  mais  uma  mentira  num  mundo  fundamentalmente 

mentiroso. 

A  organização  revolucionária  que  projeta  realizar  o  poder  absoluto  dos 

Conselhos Operários  deve  ser  a  instância  na  qual  são  esboçados  todos  os  aspectos 

positivos  desse  poder.  Assim,  ela  deve  travar  um  combate mortal  contra  a  teoria 

organizacional  leninista.  A  revolução  de  1905  e  a  organização  espontânea  dos 

trabalhadores russos em sovietes  já era uma crítica em atos[25] dessa nefasta teoria. 

Entretanto,  o  movimento  bolchevique  insistia  em  acreditar  que  a  espontaneidade 

operária não poderia ultrapassar a consciência "sindicalista", e era incapaz de captar a 

"totalidade".  O  que  equivalia  a  decapitar  o  proletariado  para  permitir  ao  partido 

tornar‐se o  "cabeça" da  revolução. Não  se pode  contestar, de modo  tão  impiedoso 

quanto  fez  Lênin,  a  capacidade  histórica  do  proletariado  de  se  emancipar  por  si 

mesmo, sem contestar sua capacidade de gerir totalmente a sociedade futura. Dentro 

de  tal perspectiva, o  lema "todo o poder aos  sovietes" não significava nada mais do 

que a conquista dos sovietes pelo Partido, a instauração do Estado do Partido no lugar 

do "Estado" definhante do proletariado armado. 

No entanto, esse é o lema que deve ser radicalmente retomado, livrando‐o do 

oportunismo bolchevique. O proletariado só pode se dedicar ao jogo da revolução se o 

objetivo  for ganhar  todo um mundo,  caso  contrário, não é  coisa nenhuma. A  forma 

única  de  seu  poder,  a  autogestão  generalizada,  não  pode  ser  compartilhada  com 

nenhuma outra força. Sendo ele a dissolução efetiva de todos os poderes, não haveria 

como  tolerar  nenhuma  limitação  (geográfica  ou  outra).  Os  compromissos  que  ele 

aceitasse se transformariam imediatamente em comprometimentos, em renúncias. "A 

auto gestão deve ser simultaneamente o meio e o fim da luta atual. Ela é não somente 

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aquilo que está em jogo na luta, mas também a sua forma adequada. Ela é, em relação 

a si mesma, a matéria que ela trabalha assim como sua própria pressuposição."[26] 

A  crítica  unitária  do  mundo  é  a  garantia  da  coerência  e  da  verdade  da 

organização revolucionária. Tolerar a existência de sistemas de opressão (por usarem a 

velha farda "revolucionária", por exemplo) em qualquer ponto do mundo é reconhecer 

a  legitimidade  da  opressão. Da mesma  forma,  quando  ela  tolera  a  alienação  numa 

esfera da vida social, ela está reconhecendo a fatalidade de todas as reificações. Não 

basta  ser  a  favor  do  poder  abstrato  dos  conselhos  operários,  é  preciso mostrar  o 

significado  correto  deles:  a  supressão  da  produção  mercantil  e,  portanto,  do 

proletariado.  A  lógica  da  mercadoria  é  a  primeira  e  a  última  racionalidade  das 

sociedades  atuais,  ela  é  a  base  da  autoregulação  totalitária  dessas  sociedades 

comparáveis  a  quebra‐cabeças  cujas  peças,  aparentemente  tão  distintas,  são,  na 

verdade,  equivalentes.  A  reificação  mercantil  é  o  obstáculo  essencial  para  uma 

emancipação  completa,  para  a  livre  construção  da  vida.  No  mundo  da  produção 

mercantil, a práxis não é perseguida em função de um determinado objetivo de modo 

autônomo, mas sob as diretrizes de forças externas. E, se as leis econômicas parecem 

se tornar uma nova espécie de leis naturais, é porque a sua força repousa unicamente 

na "ausência de consciência por parte daqueles que dela participam". 

O princípio da produção mercantil é a perda de si dentro da criação caótica e 

inconsciente  de  um mundo  que  escapa  completamente  a  seus  criadores. O  núcleo 

radicalmente  revolucionário de auto gestão generalizada é, pelo contrário, a direção 

consciente,  por  todos,  do  conjunto  da  vida.  A  auto  gestão  da  alienação mercantil 

tornaria  todos  os  homens meros  programadores  da  sua  própria  sobrevivência:  é  a 

quadratura  do  círculo. A  tarefa  dos  conselhos  operários  não  será,  portanto,  a  auto 

gestão  do mundo  existente mas  a  transformação  qualitativa  e  ininterrupta  deste:  a 

superação  concreta  da  mercadoria  (enquanto  gigantesco  desvio  da  produção  do 

homem por ele mesmo). 

Essa  superação  envolve,  naturalmente,  a  supressão  do  trabalho  e  sua 

substituição  por  um  novo  tipo  de  atividade  livre:  a  abolição,  portanto,  de  uma  das 

cisões fundamentais da sociedade moderna, entre um trabalho cada vez mais reificado 

e um lazer passivamente consumido. Grupelhos atualmente em liquidação, como S. ou 

B., ou o PO[27], embora unidos sob a palavra de ordem moderna do poder operário, 

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continuam a seguir, nesse ponto central, o velho movimento operário no caminho do 

reformismo do  trabalho e de sua "humanização". É o próprio  trabalho que devemos 

hoje atacar. Longe de ser uma "utopia", sua  supressão é a primeira condição para a 

ultrapassagem  efetiva  da  sociedade  mercantil,  para  a  abolição  ‐  dentro  da  vida 

cotidiana de cada um  ‐ da separação entre o "tempo  livre" e o "tempo de trabalho", 

setores  complementares  de  uma  vida  alienada,  onde  se  projeta  indefinidamente  a 

contradição interna da mercadoria entre valor de uso e valor de troca. É somente além 

dessa oposição que os homens poderão fazer da sua atividade vital um objeto de sua 

vontade e de sua consciência, e contemplar a si mesmos num mundo que eles próprios 

criaram.  A  democracia  dos  conselhos  operários  é  o  enigma  resolvido  de  todas  as 

separações atuais. Ela torna "impossível tudo aquilo que existe fora dos indivíduos". 

A dominação consciente da história pelos homens que a constroem, eis todo o 

projeto revolucionário. A história moderna, como toda a história passada, é o produto 

da práxis social, o resultado ‐ inconsciente ‐ de todas as atividades humanas. Vivendo a 

época  da  sua  dominação  totalitária,  o  capitalismo  produziu  aquela  que  é  sua  nova 

religião:  o  espetáculo. O  espetáculo  é  a  realização  terrestre  da  ideologia.  Nunca  o 

mundo  funcionou  tão  bem  de  cabeça  para  baixo.  "E,  como  a  'crítica  da  religião',  a 

crítica do espetáculo é hoje a primeira condição para qualquer crítica."[28] 

É que o problema da revolução é historicamente colocado para a humanidade. 

A  acumulação  cada  vez mais  grandiosa  dos meios materiais  e  técnicos  só  pode  se 

comparar à insatisfação à cada vez mais profunda de todos. A burguesia e sua herdeira 

no  Leste, a burocracia, não podem  ter o modo de uso desse  superdesenvolvimento 

que  será  a  base  da  poesia  do  futuro,  precisamente  porque  ambas  trabalham  no 

sentido da manutenção de uma ordem antiga. Elas detêm, no máximo, o segredo de 

seu uso policial. Elas só fazem acumular o capital e, portanto, o proletariado. Proletário 

é aquele que não tem poder algum sobre sua vida, e que sabe disso. A chance histórica 

do novo proletariado é de ser o único herdeiro conseqüente da riqueza sem valor do 

mundo burguês, que transforma e supera, no sentido do homem total perseguindo a 

apropriação total da natureza e da sua própria natureza. Essa realização da natureza 

do  homem  só  pode  ter  sentido  através  da  satisfação  ilimitada  e  da multiplicação 

infinita dos desejos reais que o espetáculo recalca e expulsa para as zonas longínquas 

do  inconsciente  revolucionário,  desejos  que  ele  é  capaz  de  realizar  somente  na 

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fantasia, no delírio onírico de sua publicidade: É que a realização efetiva dos desejos 

reais, ou seja, a abolição de todas as pseudo‐necessidades e desejos que o sistema cria 

cotidianamente para perpetuar seu poder, não pode acontecer antes da supressão do 

espetáculo mercantil e da sua positiva superação. 

A  história  moderna  só  pode  ser  liberada,  e  suas  inúmeras  aquisições  só 

poderão  ser  livremente  utilizadas,  através  da  ação  das  forças  que  ela  reprime:  os 

trabalhadores sem poderes sobre suas condições, sobre o sentido e o produto de suas 

atividades. O proletariado, que já era, no século XIX, o herdeiro da filosofia, tornou‐se 

agora, além disso, o herdeiro da arte moderna e da primeira crítica consciente da vida 

cotidiana. Ele não pode se suprimir sem realizar, ao mesmo tempo, a arte e a filosofia. 

Transformar o mundo e mudar a vida são para ele a única e a mesma coisa, as palavras 

de ordem inseparáveis que acompanharão sua supressão, como classe, a dissolução da 

sociedade presente, como reino da necessidade, o acesso enfim possível ao reino da 

liberdade.  A  crítica  radical  e  a  livre  reconstrução  de  todas  as  condutas  e  valores 

impostos pela realidade alienada são seu programa máximo, e a criatividade  liberada 

na construção de todos os momentos e eventos da vida é a única poesia que ele  irá 

reconhecer, a poesia  feita para  todos, o  início da  festa  revolucionária. As  revoluções 

proletárias serão festas ou não serão nada, pois a vida que anunciam será, ela própria, 

criada  sob  o  signo  da  festa. O  jogo  é  a  última  racionalidade  dessa  festa,  viver  sem 

tempo  morto  e  gozar,  sem  impedimentos,  são  as  únicas  regras  que  ele  poderá 

reconhecer. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Strasbourg, novembro de 1966. 

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[1]Estes conceitos ‐ espetáculo, papel desempenhado etc. ‐ são utilizados aqui no 

sentido situacionista 

[2] Quando não estão a cagar‐lhe na cara, estão a mijar‐lhe no rabo 

[3] Mas sem a consciência revolucionária. O operário não tinha a ilusão de ser 

promovido. 

[4] Não estamos falando da cultura da École Normale Supèrieure ou da Sorbonne, mas 

da cultura dos enciclopedistas ou de Hegel. 

[5] Sem coragem para se confessar adeptos do liberalismo filisteu, eles inventam para 

si mesmos referências nas liberalidades universitárias da Idade Média, época da 

“democracia da não‐liberdade”. 

[6] Conforme a Internationale Situacionniste n.9 (redação: caixa postal 307.03, Paris). 

Correspondência com um Ciberneticista e o panfleto situacionista A Tartaruga na 

Vitrine, contra o neo‐professor Abrham Moles. 

[7] Ver A Luta Sexual dos Jovens e A Função do Orgasmo. 

[8] Para o restante da população, a camisa‐de‐força é necessária para fazê‐la 

comparecer, na sua fortaleza, perante o psiquiatra. Para o estudante, basta anunciar 

que os postos avançados de controle estão abertos no gueto: ele acorrerá com tal 

frenesi que a distribuição de senhas será necessária. 

[9] Sobre a gangue argumentista e o desaparecimento de seu órgão (a revista 

Arguments) ver o panfleto Na Lata do Lixo da História, divulgado pela Internacional 

Situacionista em 1963. 

[10] A esse respeito, nnca será demais recomendar a solução, já praticada pelos mais 

inteligentes, que consiste em roubá‐los. 

[11] Ver as últimas aventuras da UEC (União dos Estudantes Comunistas) e de seus 

homólogos cristãos, com suas respectivas hierarquias. Elas demonstram que a única 

unidade entre todas essas pessoas reside na submissão incondicional aos seus 

mestres. 

[12] No sentido que o jovem não somente sente, mas quer expressar. 

[13] Quando os partidários do movimento antinuclear descobriram a existência de 

abrigos nucleares ultra‐secretos reservados aos membros do governo, tornaram o fato 

público e, em seguida, os invadiram. 

[14] Pensamos aqui na excelente revista Heatwave, cuja evolução parece orientar‐se 

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para um radicalismo cada vez mais rigoroso. Endereço: 13, Redclife Rd., Londres, 

Inglaterra. 

[15] Kaihosha: c/o Dairyuso, 3 Nakanoekimae, Tóquio, Japão. Zengakuren: Hirota 

Building 2 ‐ 10, Kandajimbo, Chyioda‐Ku, Tóquio, Japão. 

[16] Internationale Situationniste n. 8 

[17] Internationale Situationniste, n 7. 

[18] Sua efetiva realização é tender a industrializar o país por meio da clássica 

acumulação primitiva às custas do camponês. E fazer isso de uma forma acelerada pelo 

terror burocrático. 

[19] Há mais de 45 anos que, na França, o partido dito comunista não dá um passo em 

direção à tomada do poder. O mesmo acontece em todos os países desenvolvidos, 

onde o exército dito vermelho não chegou. 

[20] “Lutas de classe na Argélia”, Internationale Situationiste, n. 10. 

[21] Sobre seu papel na Argélia, ver “Lutas de Classe na Argélia”, Internationale 

Situationiste, n. 10. 

[22] Internationale Situationiste, n. 9. 

[23] Internationale Situationiste, n. 10. 

[24] Definido pela permanência do trabalho‐mercadoria. 

[25] Depois da crítica teórica empreendida por Rosa Luxemburgo. 

[26] “Lutas de classe na Argélia”, Internationale Situationiste, n. 10. 

[27] Socialismo ou Barbárie, Poder Operário etc. Um grupo como o ICO, pelo contrário, 

ao se proibir qualquer organização e uma teoria coerente, fica condenado à 

inexistência. 

[28] Internationale Situationiste, n. 9.