resenha - plácido moreno
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O jornalismo vive um período de mudança. A partir da prática da atividade na internet e das novidades tecnológicas, como os aparelhos digitais e as conexões sem fio, novas possibilidades surgem e o conceito de convergência das mídias entra obrigatoriamente na pauta. Estudiosos nas academias e profissionais que estão no mercado buscam compreender a nova configuração. Em seu livro Reinventando el periódico: Una estrategia para la supervivencia de la prensa diaria, o espanhol Plácido Moreno trata do assunto de uma forma lúcida e esclarecedora. Para Moreno, o processo de convergência é mais uma evolução que uma revoluçãoTRANSCRIPT
Uma breve leitura das ideias de Plácido Moreno¹Cassandra Barteló²
O jornalismo vive um período de mudança. A partir da prática da atividade na internet e
das novidades tecnológicas, como os aparelhos digitais e as conexões sem fio, novas
possibilidades surgem e o conceito de convergência das mídias entra obrigatoriamente
na pauta. Estudiosos nas academias e profissionais que estão no mercado buscam
compreender a nova configuração. Em seu livro Reinventando el periódico: Una
estrategia para la supervivencia de la prensa diaria, o espanhol Plácido Moreno trata
do assunto de uma forma lúcida e esclarecedora. Para Moreno, o processo de
convergência é mais uma evolução que uma revolução.
Com a experiência de um jornalista apaixonado por tecnologia aplicada à atividade
jornalística, Moreno observa que a tecnologia potencializa a indústria editorial. No
entanto, o pesquisador pontua que os jornalistas não são robôs que se adaptam as novas
necessidades editoriais de um dia para o outro e acredita que é essencial aproveitar com
cautela os novos suportes para publicar e distribuir informações, bem como preparar os
profissionais para trabalhar com os novos suportes.
Moreno afirma que a nova forma de tratar a informação requer constantes adaptações
empresarias e permanentes programas de formação para os profissionais para
trabalharem em jornais convergentes. “A formação deve ser considerada como
absolutamente indispensável”, pontua, em uma tradução livre. Ele defende uma
formação no âmbito universitário, acrescida de especialização tecnológica, orientações,
simulações nas redações e aulas em laboratórios multimídias, fruto de acordo entre
universidade e empresa.
____________¹ Resenha produzida como atividade da disciplina Convergência Midiática Aplicada ao Jornalismo da segunda turma do curso de Pós-graduação em Jornalismo e Convergência Midiática da Faculdade Social da Bahia (FSBA).² Jornalista, graduada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 1995, e com Especialização em Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em 2005. Trabalhou como repórter em veículos impressos e assessorias e hoje atua como editora na área de economia do Jornal A TARDE.
O “novo” jornalista
No livro, Moreno cita Martha Stone, especialista e consultora de jornais, que diz que
não é necessário ser um expert em tecnologia, mas é importante saber como ela pode
ajudar. E ainda um outro autor, o Manuel Grana, um dos primeiros estudiosos da
Espanha, que defende que uma autonomia instrumental garante a exatidão do registro da
informação e que o valor da empresa de comunicação passa pela necessidade de
constituir uma equipe de jornalistas completos, “bem formados”.
Moreno também defende que ao jornalista não basta apenas saber escrever. O
trabalhador de jornal, diz, tem que compreender o potencial da tecnologia de sua época,
já que a tendência é que as empresas sofistiquem cada vez mais os sistemas de gestão
digital, tanto para o suporte papel quanto para os demais suportes. Mas o autor de
Reinventando el periódico... pondera que o jornalista sozinho não pode cumprir todas as
etapas dentro de um jornal, sobretudo nos grandes jornais. Ele explica que todo jornal
deve, sim, possuir uma equipe capaz de cumprir todas as etapas.
É o mesmo alerta que faz Marcelo Kischinhevsky, professor da PUC do Rio de Janeiro
Kischinhevsky demonstra preocupação sobre a descaracterização do papel de mediador
social do jornalista, que não pode ser “travestido numa espécie de banda-de-um-
homem-só, um malabarista de ferramentas digitais”. “Tem ferramentas demais nas mãos
do jornalista e reflexão de menos. Ele não tem tempo nem de pensar sobre o que está
fazendo”, comentou durante palestra o professor da PUC.
Moreno observa que a tendência é que a maior parte dos sistemas editoriais ofereça aos
jornalistas a capacidade de publicar seus conteúdos de forma mais simples o possível e
com diversas saídas: papel, web, mobi e etc. É necessária uma transformação na forma
de pensar o jornalismo, acrescenta: “As empresas estão buscando perfis com
conhecimentos técnicos, mas o importante para o jornalista em um futuro próximo é a
capacidade de planejar seu trabalho de forma cross-midial e predisposição de um
trabalho colaborativo”.
Outro autor que Moreno toma como referência, o norte-americano Kerry Northrup,
observa que trabalhar em uma notícia multimídia não é tão fácil como para um único
meio de comunicação. Para Northrup, é necessário aprender novas formas de trabalho e
a troca de mentalidade. “Incorporar em uma redação mudanças de cultura não é fácil,
porém não é impossível. É necessário ter clara a direção em que se vai percorrer, bem
como o que se quer”, prossegue Northrup. Citações de Diaz Noci e Salaverría também
usadas para pontuar que os jornalistas precisam aprender a trabalhar em redações
convergentes: “Não se trata de homem orquestra, um super-homem que faça tudo
sozinho”, explicam. “A convergência não significa fazer jornalismo mais barato, mas
fazê-lo melhor”, ressaltam.
Morena acrescenta, transcrevendo a ideia de Johnson, que “a formação técnica de um
jornalista deve ir além de escrever um título, organizar uma reportagem e editar ou
desenhar uma página. Se trata de tecnologia aplicada ao desempenho de um
profissional, em essência, de aproveitamento da potencial da tecnologia e das
telecomunicações convergentes pra conseguir a missão última do jornalista: informar
com honestidade”.
Moreno lembra ainda que a convergência prevê aceitar colaborações e explica a
diferença entre o usuário que domine, minimamente as ferramentas, e que distingue um
pseudo-repórter e um jornalista: “A única diferença entre um cidadão comum e outro
que exerce a função como jornalista profissional é a atitude profissional ante a realidade
que percebem”.
Redações convergentes
A partir de um método específico, com gráficos explicativos, Moreno compara modelos
de redações tradicionais e convergentes e explica a base do ciclo produtivo. Na estrutura
tradicional de gestão de uma empresa de comunicação, a rígida hierarquia não facilita o
trabalho colaborativo, diz. Para ele, a nova estrutura orientada em processo colaborativo
supõe uma nova visão integral e radicalmente diferente da estrutura tradicional.
Em outras palavras, Sábada observa que conceito de convergência jornalística está
relacionado ao processo de integração de modos de comunicação tradicionalmente
separados que afetam as empresas, um processo que acarreta mudanças nas áreas
tecnológica, empresarial, profissional e de produto.
Moreno explica que “a essência de qualquer sistema de publicação moderno consiste em
oferecer soluções técnicas orientadas e a reutilização de conteúdos editoriais”. Para o
autor de Reinventando el periódico... qualquer jornal, independente do tamanho, pode
realizar um processo de convergência e qualquer estratégia para desenvolver
convergência exige pessoal qualificado, criativo e multifuncional:
No livro, bem como em entrevista ao blog The Media Management, Moreno descreve a
proposta que referencia seu trabalho: “A convergência estrutural de uma empresa de
comunicação é um processo de melhora continuada baseada na inovação, e não é um
fim em si mesma, por meio de um processo de gestão adequada de mudanças
(profissionais, de processos e de tecnologias) permite sua mediação e controle. Um
processo que facilita sua transição planejada permite uma integração física e lógica mais
eficiente, flexível, criativa e rentável para oferecer serviços de informação,
entretenimento e publicidade para diferentes plataformas atuais e do futuro”.
Referências
MORENO, Plácido. Reinventando el periódico: Una estrategia para la
supervivencia de la prensa diaria. Páginas 63 a 172. Espanha: Euroeditions, 2009
SÁDABA, C., et al. Métodos de investigación sobre convergencia periodística. In:
PALACIOS, M; DIAZ NOCI, J. Metodologia para o estudo dos cibermeios: Estado da
arte & perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008. p. 11-27.
Entrevista no The Media Management Blog – Periódico gráfico em evolução -
http://mediamanagementblog.com/2009/09/30/placido-moreno-reinventando-el-
periodico-una-estrategia-para-la-supervivencia-de-la-prensa-diaria-libro/
Palestra Marcelo Kischinhevsky (UERJ/PUC-Rio) - Convergência nas redações -
http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?
infoid=5115&sid=81&tpl=view_integra.htm
Palestra Suzana Barbosa (UFF) - Iniciativas de convergência jornalística em
empresas informativas brasileiras -
http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?
infoid=5113&sid=81&tpl=view_integra.htm