resenha oração aos moços
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Resenha do Livro Oração aos Moços de Rui BarbosaTRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DO TOCANTINSCAMPUS DE PALMAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO1º Período – 2014/1
Disciplina: Introdução ao Estudo do DireitoDocente: Waldemar Cláudio de CarvalhoDiscente: Eliane Bueno MartinsAtividade: Resenha Crítica da obra “Oração aos Moços” de Ruy Barbosa
BARBOSA, Rui. Oração aos Moços – edição popular anotada por Adriano da Gama
Kury. 5ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1997.
Rui Barbosa de Oliveira, advogado, jornalista, jurista, político, diplomata, ensaísta e orador.
Atuou na defesa do federalismo, do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias
individuais. Na política ocupou cargos de deputado, senador e ministro e se candidatou por
duas vezes a presidência da república. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras,
nasceu em Salvador – BA, em 05 de novembro de 1849 e faleceu em Petrópolis – RJ, em 10
de março de 1923. Ruy Barbosa, ao ser convidado para paraninfo, redige um discurso
intitulado “Oração aos Moços” e dirigido aos alunos formandos da turma de 1920 do curso
de Direito da Universidade de São Paulo, o qual, por motivos de saúde, não pode ler
pessoalmente aos seus destinatários, na cerimônia solene realizada em março de 1921. Em seu
discurso Ruy Barbosa não poupa os sentimentos ao fazer um balanço de sua vivência,
transmitindo aos seus interlocutores importantes lições e revelando o ser generoso, paciente,
humilde, altruísta, brilhante e idealista que era. São vários os ensinamentos que dirige aos
jovens juristas, aos quais chamou carinhosamente de “filhos meus”, alçando-se, com louvor, à
condição de um pai que aconselha. Sempre preocupado com os destinos do país, característica
notável em toda a sua vida atuando no meio jurídico e na política, de início exorta seus
ouvintes a não se conformarem ante a injustiça, defendo a ira resultado da indignação pela
vista do triunfo do mal e sedento da prevalência do bem, instando ao não conformismo
quando na luta pelas causas jutas. E assim o deve ser, visto que, quais mudanças são
realizadas a partir da passividade e da aceitação? Mudança exige indignação, exige ira, mas
não a ira que implica na violência, mas na ação legítima, que no direito ocorre através da
palavra em defesa de um ordenamento jurídico justo e da sua efetiva aplicação nos termos
constitucionais. Nas palavras de Rui: “Nem toda a ira, pois, é maldade; (...) Quando verbera o
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escândalo, a brutalidade, ou o orgulho, não é agrestia rude, mas exaltação virtuosa; (...) Cólera
será; mas cólera de mansuetude, cólera da justiça, cólera que reflete a Deus, face também
celeste do amor, da misericórdia e da santidade”(pág. 19-20). Aliás, eis um traço muito
especial da pessoa de Ruy Barbosa presente em todo o texto: sua espiritualidade e ligação
com Deus, as quais se refletem em seus valores quanto à vida e a dignidade humana. Em
outra parte chama os alunos à reflexão, pois, terminada a etapa do estudo universitário, inicia-
se o momento de traçar o percurso que cada um desejará seguir, fazendo uma auto-avaliação
da sua capacidade de terminar aquilo que empreenderá fazer. Chegou a hora do trabalho, que
Ruy enaltece como um dos “recursos mais poderosos na criação moral do homem”. Contudo,
destaca que o hábito do estudo estará sempre presente na vida do bacharel em Direito, o qual
deverá ser alimentado e aperfeiçoado dia após dia, não se limitando apenas ao ato da leitura,
mas conjugado ao ato de pensar de forma crítica e reflexiva. E eis o ponto chave, pois, o
trabalho a que Rui Barbosa se refere, interpreta-se e concorda-se que não se limita ao
exercício da advocacia ou da magistratura, mas à missão de se fazer realizar a justiça em um
país onde o direito positivo impera nem sempre em favor daqueles que mais precisam de sua
proteção, seja nas falhas presentes na elaboração das leis seja na sua aplicação. Como em todo
o texto, nesse ponto vemos claramente o quanto o discurso redigido no início século passado é
tão atual. Hoje ainda a nossa Constituição, elaborada em 1988 e já há anos da morte do autor
de “Oração aos moços”, por si só não consegue assegurar todos os direitos e garantias
individuais que se propõem, pelo menos não em caso concreto e a todos sem distinção. Eis a
árdua missão que Rui Barbosa destaca também ser à do profissional do direito, magistrado e
advogado, a “de preservar a justiça brasileira”. Mais adiante, na leitura do trecho “(...) num
país onde, verdadeiramente, não há lei, não o há, moral, política ou juridicamente falando.”
(pág. 35-36) sente-se com se Rui Barbosa ainda estivesse por aqui, vivendo a realidade atual
do nosso Brasil. Se bem que já avançamos, quando considerado o recente julgamento e prisão
de importantes políticos envolvidos em esquemas de corrupção. Para Rui Barbosa, a justiça
tem papel “maior que o da própria legislação”, pois através dela se podem manter as leis jutas
e se moderar as injustas. Em “Oração aos moços” Rui ainda nos deixa preciosas pérolas
acerca do comportamento ético no exercício da profissão, igualmente aos magistrados e
advogados, tão verdadeiras e apresentadas de forma simples, mas profunda, que após o
termino da leitura ainda se passe um bom tempo nelas meditando e refletindo, sobretudo o
quão pouco se vê da sua integral aplicação no exercício da profissão nos dias de agora. Por
fim, após um relato objetivo e claro sobre o contexto histórico e político-social dos cinqüenta
anos de sua carreira e de suas lutas por um Brasil mais justo, finaliza exortando aos jovens
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formandos que tomem para si o destino da nação, amanhã, talvez, ocupando a posição de
governantes ou legisladores, mas sempre para o bem da justiça, sobretudo alcançando aos mal
assistidos, aos que mais dela não podem prescindir. É impossível falar de “Oração aos
moços” em menos de cinqüenta linhas, não é à toa que por muitos críticos é considerada a
obra-prima de Rui Barbosa. Provavelmente a tenha redigido não apenas pensando na turma de
1920, mas em todas as outras que viriam posteriormente, em todos os cantos do país, até aos
dias atuais, cujo conteúdo continua sendo integralmente aplicável. Assim, deveria ser leitura
obrigatória, não sugerida, a todos os estudantes de direito e, quem sabe, até àqueles que a
muito estão no exercício da profissão, mas que já se esquecerem dos valores, ideais e
princípios que a norteiam e que foram tão bem expostos por Rui. Vencidas as dificuldades
iniciais do vocabulário desconhecido e do discurso complexo e rico, que talvez assuste as
gerações atuais acostumadas ao acesso da mensagem de forma rápida e, por isso, muitas vezes
superficial, “Oração aos moços” é uma leitura que enche o espírito e inspira, tornando-se um
legado imensurável deixado pelo brilhante Rui Barbosa, o “Águia de Haia”.
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