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    ex.pecul.ando expeculando e mediando e

    acompanhando

    resenha: BURKE, Peter. Uma histria social do

    conhecimento: de Gutenberg a Diderot

    junho 29, 2007 monteverdeResenha: BURKE, Peter. Uma histria social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Riode Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

    Peter Burke professor de Histria da Cultura na Universidade de Cambridge e escrevemensalmente para a seo Autores do suplemento Mais!, do jornal Folha de So Paulo.Dentre suas publicaes em mbito nacional destacam-se: Histria social da linguagem (Ed.UNESP), A arte da conversao (Ed. UNESP), Cultura popular na Idade Moderna (Companhiadas Letras), Uma histria social da mdia: de Gutenberg Internet (Jorge Zahar), entre outras.Uma histria social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot, originalmente publicado no anode 2000 e traduzido para a lngua portuguesa em 2003, resultou de uma srie de confernciaspromovidas pela Universidade de Croningen, na Holanda. A obra surgiu como reflexo dapercepo de uma lacuna na literatura no que diz respeito a estudos voltados sociologia doconhecimento no incio do perodo moderno, uma vez que grande parte dos estudos sobre atemtica concentrou-se numa abordagem referente ao perodo entre os sculos XIX e XX.

    Burke versa sobre a trajetria da construo do conhecimento na sociedade englobandoimportantes revolues intelectuais, a exemplo do Renascimento, da Revoluo Cientfica e doIluminismo da Europa moderna, e, em certos momentos, traa um paralelo dessas revolues

    ocidentais com os pases do Oriente. O ponto histrico-referencial da obra compreende o perodoentre 1450 e 1750, anos que marcam, respectivamente, o surgimento da imprensa tipogrfica e apublicao da primeira enciclopdia na Frana. A delimitao desse perodo justificada porBurke com o fato de a imprensa ter impulsionado a confluncia dos diferentes tipos deconhecimento e agido como elemento de transformao social, provocando significativasmudanas na forma de produzir, expressar, expandir, apresentar, perceber, disseminar, fazercircular e recuperar informaes; e ainda, pelo fato de nortear e suscitar questionamentos, crticas,comparaes e o ceticismo da sociedade com relao s produes intelectuais da poca.Conseqentemente, a enciclopdia vislumbra-se como um marco na histria do conhecimento,pois enquanto uma das precursoras das inmeras obras de referncia hoje existentes queemergiram como soluo para um problema ainda atual, mas que j remontava quele perodo oda recuperao da informao, revolucionou a pesquisa, acentuou o comrcio doconhecimento e o consumo de cultura.

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    Uma histria social do conhecimento introduz-se fazendo referncia ao senso comum,altamente presente nos discursos atuais, que utilizam clichs como: sociedade daEnc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., Florianpolis, n.18, 2 sem. 2004 1 39informao, sociedade do conhecimento, era da informao, e instigam o leitor a refletirmais criticamente sobre fatos e elementos, quando de sua apresentao e utilizao. Segundo oautor, nem mercantilizar a informao nem utiliz-la como forma de reprimir, dominar eexpressar poder so caractersticas de cunho poltico, social e econmico recentes, e sim,

    tendncias vindas de longo prazo, pois j estavam presentes, pelo menos de forma latente, desde oincio dos tempos. Com base nessa premissa, Burke, nas linhas que compem os nove captulos deUma histria social do conhecimento, se vale de exemplos e comentrios respaldados emautores de renome para reforar e balizar o percurso desenvolvido pelo conhecimento nosdiferentes momentos sociais e a reorganizao do saber, dando nfase ao conhecimento da eliteeuropia do incio da era moderna, com base em textos produzidos nos sculos XVI, XVII e XVIII esob influncia de Michel Foucault, Karl Mannheim, Max Weber e outros.

    Burke apresenta o conhecimento como advindo, em seu incio, de uma cultura

    predominantemente oral; ou seja, a oralidade era o principal veculo de transmisso doconhecimento. O autor transpe os conhecimentos prticos, operrios e populares (presentes nasclasses burocratas, artesos, curandeiros, camponeses etc.) de uma posio coadjuvante para umpatamar de agente precursor e impulsionador para o que anos mais tarde concretizou-se atravsda legitimao das universidades e instituies acadmicas: a formao dos letrados europeus.Esses intelectuais, muitos ainda ligados ao clero, com base em articulaes de grupos corporativosconquistaram espaos e postos significativos na sociedade e tornaram o saber um ofcio.Entretanto, nesse perodo as universidades restringiam-se a transmitir conhecimento, e no oproduziam, caracterstica que foi sofrendo paulatinas alteraes ao longo das revolues eagregando termos como pesquisa, investigao, experimentos, que no Iluminismo sugerem uma

    conscincia de necessidade de inovao e busca de conhecimento de forma sistemtica, til ecooperativa. Paralelamente, refora-se a atuao de organizaes menos formais no intercmbiode informaes tcnico-cientficas. As bibliotecas, com a inveno da imprensa, alm deexpandirem seus acervos, atuavam como sedes de conhecimento, pois naquela poca, assim comoos cafs e as livrarias, elas se tornaram centros de estudos, lugares de debates entre intelectuais eespaos de sociabilidade de idias e troca de informaes, rompendo seu vnculo nico e exclusivocom o silncio e a leitura.

    Ainda tratando das sedes de conhecimento, Burke enfatiza a importncia de cidades como

    Veneza, Amsterd, Sevilha, Paris, Roma e Londres no papel de agncias de informao e capitaisde conhecimento na Europa. Tais cidades privilegiaram-se nesse perodo pela quantidade debibliotecas que possuam, pela lngua de publicao das obras naquele perodo e, em algunscasos, por aproveitarem-se das atividades porturias como forma de intercmbio e importaode conhecimento. Em decorrncia da crescente demanda social por informaes, h umaproliferao dos servios de informao nas primeiras cidades modernas. Surgem assim osprimeiros catlogos, guias e livros de endereos. Passa-se de um conhecimento centralizado necessidade de seu compartilhamento e distribuio e de descobertas globais, o que fortalecesignificativamente as tradues e as reprodues de documentos e livros.

    Outro ponto destacado por Burke diz respeito classificao do conhecimento. O autorcategoriza diversas variedades de conhecimento, apresentando a rvore de Porfrio, a Tabulaprimi libri, o diagrama oval de Cristofle de Savigny baseado no sistema de trivium e quadriviume ainda, a categorizao baconiana como possveis formas de visualizao do sistema de

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    conhecimento daquele perodo. Posteriormente, so discutidos trs elementos, adjetivados porBurke como trip intelectual ou subsistemas do sistema do conhecimento: currculos dasuniversidades, bibliotecas e enciclopdias. Esses elementos so priorizados pelo fato derepercutirem diretamente na reorganizao do sistema de conhecimento e de reproduo cultural.As mudanas nos currculos universitrios possibilitaram a ramificao das cincias e das reas doconhecimento, ramificao que, por conseqncia, forou uma nova estruturao das bibliotecas ea busca de novas formas de classificao e organizao. As enciclopdias tambm inovam,

    seguindo as modificaes das bibliotecas e dos currculos universitrios, e passam a adotar aalfabetao como forma de classificao principal. Na seqncia, so explorados as influncias e ocontrole do Estado e da Igreja sobre o conhecimento. Essas relaes so tratadas desde aconcentrao, por parte da mquina administrativa, de informaes sobre a populao, comoforma de controle interno e dominao, e a preocupao do Estado com a obteno deinformaes relativas s expedies e s descobertas ultramarinas na competio por novas rotas eterras, at a Igreja como detentora de informaes e registros destinados Inquisio.

    Num salto histrico da censura, controle e acesso restrito s informaes para a comercializao

    do conhecimento atravs da proliferao da produo e venda de livros, atlas, peridicos, jornais eenciclopdias, podem ser percebidas na obra de Burke diversas conseqncias inerentes a essaabertura de informaes, como, por exemplo, a busca pela proteo intelectual atravs daschamadas cartas de proteo, a especializao das fontes de informao e a inveno das obras dereferncia como soluo para se recuperar a informao. A difuso do material impresso, calcadana mercantilizao da informao e na exploso informacional marcada pelo perodo ps-imprensa, como explicitado por Burke, exps as informaes publicadas a um maior raio dedivulgao e acesso, o que resultou na percepo de discrepncias entre relatos dos mesmosfenmenos e na chamada crise do conhecimento. Houve o que poderamos chamar de umavulgarizao do conhecimento e, por isso, o ceticismo, o questionamento e a crtica autoridade

    intelectual tornaram-se predominantes. Como resultado, as mais diversas reas do sabervoltaram-se para a cientificidade, o mtodo e o empirismo como forma de validao e checagemda verossimilhana do conhecimento.

    Ao analisarmos a obra de Peter Burke, percebemos que Uma histria social do conhecimento,como bem fundamenta o autor ao mencionar os ciclos de inovao, da rotinizao de Weber eda cincia normal de Thomas Kuhn, resgata, atravs de elementos passados, uma histria que,alm da perspectiva de continuidade, se reinventa e pode ser perfeitamente pensada nos diasatuais. Assim como a mercantilizao e a vulgarizao da informao se fizeram presentes aps a

    imprensa, atualmente tambm enfrentamos, embora de forma distinta e baseada em uma novaestrutura poltico-econmico-social, uma crise do conhecimento, advinda da explosoinformacional agravada pelo surgimento da Internet. Conforme elucida Morin (1999, p. 21) aomesmo tempo que ergue uma vertiginosa Torre de Babel dos conhecimentos, o nosso sculorealiza um mergulho ainda mais vertiginoso na crise dos fundamentos do conhecimento. O livroest estruturado de maneira que confere ao leitor certa recursividade e no-linearidade de leitura,expressa por freqentes remissivas; e, ainda que no intencionalmente principalmente portratar-se de uma obra de cunho histrico nos faz lembrar e possibilita fazer analogia aos links eao carter hipertextual presentes na contemporaneidade WWW.

    A apreciao e exposio de diversas obras de autores renomados como Norbet Elias, FrancisBacon, Jurgen Habermas, Pierre Bourdieu e vrios outros, e suas conseqentes amarraeshistricas e criativas abordagens, aliadas riqueza das notas, outorgam e imprimem prestgio ecredibilidade obra. Uma histria social do conhecimento pode ser considerada uma obra de

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    referncia sobre a sociologia do conhecimento, a qual no se volta apenas aos comuniclogos,historiadores, muselogos, arquivistas socilogos, bibliotecrios e demais profissionais dainformao, mas se direciona para todos aqueles que desejam compreender a construosociolgica, imergir no interessante, revelador, plural e multidisciplinar mundo do saber eentender os fenmenos atuais no que diz respeito informao e comunicao na to aclamadasociedade do conhecimento.

    REFERNCIAMORIN, E. O mtodo 3: o conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina, 1999.

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