resenha a fabula do garoto

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Referência: Luís Antônio dos S. Batista. A fábula do garoto que quanto mais falava sumia sem deixar vestígios, Capítulo 09 do livro Psicologia e Educação: Novos caminhos para a formação. Rio de janeiro: Ciência Moderna, 2001. No início do texto, em forma poetizada, o autor faz uma alusão às interferências do meio social e/ou geográfico no qual sofremos sem esboçar nenhum tipo de reação. O fato e que talvez exista um algo a mais que impossibilite uma mentalidade que ultrapasse as ideologias criadas e legitimadas pelo próprio pensamento social. Mas o interessante é saber o que é o corpo desbotado. O corpo desbotado poderia Ser a nossa cultura dissimulada, disfarçada por hábitos conservadores ou talvez, seríamos nós, querendo explicar o inexplicável, ou a falta do que não existe? A fala que faz sumir Um garoto e um destino traçado por pessoas “automatizadas” que literalmente tem o poder de direcionar a vida e os caminhos a serem percorridos em relação à sociedade “mecânica”. Uma mãe levada a desacreditar na sua cria, apenas pelo fato de ter de encarar uma realidade de reprodução de hábitos sociais arraigados num sistema que cria e toma conta das ideias novas a que se deve seguir. Chamada a conversar, mãe se faz consciente da culpa do filho por não ter sucesso na escola por conta da sua falta de concentração e insucesso na matemática. “Doutora, o pai

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Page 1: Resenha a Fabula Do Garoto

Referência: Luís Antônio dos S. Batista. A fábula do garoto que quanto mais

falava sumia sem deixar vestígios, Capítulo 09 do livro Psicologia e Educação:

Novos caminhos para a formação. Rio de janeiro: Ciência Moderna, 2001.

No início do texto, em forma poetizada, o autor faz uma alusão às

interferências do meio social e/ou geográfico no qual sofremos sem esboçar

nenhum tipo de reação. O fato e que talvez exista um algo a mais que

impossibilite uma mentalidade que ultrapasse as ideologias criadas e

legitimadas pelo próprio pensamento social. Mas o interessante é saber o que

é o corpo desbotado. O corpo desbotado poderia Ser a nossa cultura

dissimulada, disfarçada por hábitos conservadores ou talvez, seríamos nós,

querendo explicar o inexplicável, ou a falta do que não existe?

A fala que faz sumir

Um garoto e um destino traçado por pessoas “automatizadas” que

literalmente tem o poder de direcionar a vida e os caminhos a serem

percorridos em relação à sociedade “mecânica”.

Uma mãe levada a desacreditar na sua cria, apenas pelo fato de ter de

encarar uma realidade de reprodução de hábitos sociais arraigados num

sistema que cria e toma conta das ideias novas a que se deve seguir.

Chamada a conversar, mãe se faz consciente da culpa do filho por não

ter sucesso na escola por conta da sua falta de concentração e insucesso na

matemática. “Doutora, o pai dele sumiu e eu crio esse menino e mais cinco

sozinha...Nessa cabeça dura não entra nada...Acho que é do sangue, eles não

dão pra o estudo...”

Assim, ao garoto restava apenas o fracasso. Para a mãe, era do sangue.

Para os educadores, um déficit de inteligência resultante da fome e miséria. É

diagnosticado alterações psicológicas de caráter intelectual que provocaria

uma perturbação na convivência social. “ Após consulta, testes psicológicos, o

garoto ganhava um nome e uma concisa história; uma inócua e abreviada

anamnese o aprisionava na previsibilidade.”

Enquanto teorias da educação e da psicologia discursavam sobre o

garoto, ele continuava a vender tangerinas nas ruas e em sinais de trânsito.

Page 2: Resenha a Fabula Do Garoto

Numa dessas ocasiões, a psicóloga que o avaliava o reconheceu no sinal; ele

a ofereceu tangerinas, ela comprou pensando o estar ajudando. Mas atenta

apenas ao sinal verde, não percebeu a destreza com a qual o garoto fez a

conta e lhe devolveu o troco corretamente. “...A operação efetuada na rua,

ausente da teoria que o iluminava fazendo-o falar, foi realizada sob o sol

escaldante da tarde carioca, esse brilho passava despercebido...O sol

escaldante da tarde carioca fazia o garoto desbotar entre tangerinas e

encruzilhadas.”

A casa invisível

A descrição da casa, onde morava o garoto, feita pela psicóloga trazia

minuciosamente a condição de vida material daquela família. Suas

necessidades diárias, a inevitável carência e a predestinação suburbana,

estavam estampadas no texto do laudo. A doutora fazia entender como se o

garoto fosse culpado das condições de vida em que estava inserido. Ela não

levou em conta a “guerra” que essa família travava para sua sobrevivência. “ A

casa invisível desconhecia faltas, determinações irreversíveis da miséria,

porque não tinha tempo a perder. O cotidiano, penetrando entre os objetos e

cantos, nervosamente exigia táticas singulares, politizando o espaço e a

existência dos habitantes. Privacidade e autonomia dos moradores

germinavam das intermináveis ações e invenções.”