reprodução big bang

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Reprodução Big Bang Reprodução semélpara. Animais semélparos são aqueles que se reproduzem apenas uma vez e morrem. A palavra semélparo vem do latim e significa “ter todos os filhos de uma vez”, ou seja, morrem logo após o acasalamento ou o nascimento dos filhotes. Podemos citar como exemplo o marsupial Antechinus stuatii , onde o macho da espécie (em um estado de excitação e estresse fisiológico devido a quantidade de hormônios em seu sangue) morre logo após o acasalamento, com feridas resultantes de batalhas, com ulceras estomacais, e baixa proteção imunológica, se tornando presa fácil de parasitas. Esse tipo de reprodução não é exclusiva do Antechinus stuartii . Os salmões do pacifico do pacífico, após uma longa e difícil jornada mar e rio acima, se acasalam e depois morrem. Os filhotes nascem e descem rio abaixo, levando consigo uma lembrança química do local de nascimento, voltando apenas quando estão maduros o suficiente para dar origem a uma nova prole. No mar mediterrâneo, o polvo fêmea põe seus ovos em fendas rochosas e fica movimentando a água para oxigenar seus filhotes. Ela perde a vontade de se alimentar, e se dedica apenas a tarefa de manter seus ovos oxigenados. Logo após que eclodem, a mãe polvo morre. Um pequeno acarino do gênero Adactylidium choca sua prole dentro do corpo da progenitora, e quando os filhotes nascem, se alimentam do corpo da mãe, que consequentemente morre. Um aspecto que torna a reprodução semélpara intrigante é que, na maioria dos casos, não há necessidade óbvia do sacrifício de um dos projenitores. A mãe polvo, por exemplo, pode continuar a viver. O que faz ela perder o interresse em se alimentar é um hormônio produzido pela glândula óptica. A remoção dessa glândula resultaria no desapego a ninhada e no reinicio da alimentação. No caso dos camundongos, é também um hormônio que causa a morte dos machos após o acasalamento. A reprodução tipo big bang é um exemplo de comportamento biológico que parece desmentir o princípio de que a seleção natural atua sempre para maximizar o potencial reprodutivo. A morte rápida acontece porque a

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Page 1: Reprodução Big Bang

Reprodução Big BangReprodução semélpara.

Animais semélparos são aqueles que se reproduzem apenas uma vez e morrem. A palavra semélparo vem do latim e significa “ter todos os filhos de uma vez”, ou seja, morrem logo após o acasalamento ou o nascimento dos filhotes. Podemos citar como exemplo o marsupial Antechinus stuatii, onde o macho da espécie (em um estado de excitação e estresse fisiológico devido a quantidade de hormônios em seu sangue) morre logo após o acasalamento, com feridas resultantes de batalhas, com ulceras estomacais, e baixa proteção imunológica, se tornando presa fácil de parasitas.

Esse tipo de reprodução não é exclusiva do Antechinus stuartii. Os salmões do pacifico do pacífico, após uma longa e difícil jornada mar e rio acima, se acasalam e depois morrem. Os filhotes nascem e descem rio abaixo, levando consigo uma lembrança química do local de nascimento, voltando apenas quando estão maduros o suficiente para dar origem a uma nova prole. No mar mediterrâneo, o polvo fêmea põe seus ovos em fendas rochosas e fica movimentando a água para oxigenar seus filhotes. Ela perde a vontade de se alimentar, e se dedica apenas a tarefa de manter seus ovos oxigenados. Logo após que eclodem, a mãe polvo morre.

Um pequeno acarino do gênero Adactylidium choca sua prole dentro do corpo da progenitora, e quando os filhotes nascem, se alimentam do corpo da mãe, que consequentemente morre.

Um aspecto que torna a reprodução semélpara intrigante é que, na maioria dos casos, não há necessidade óbvia do sacrifício de um dos projenitores. A mãe polvo, por exemplo, pode continuar a viver. O que faz ela perder o interresse em se alimentar é um hormônio produzido pela glândula óptica. A remoção dessa glândula resultaria no desapego a ninhada e no reinicio da alimentação. No caso dos camundongos, é também um hormônio que causa a morte dos machos após o acasalamento.

A reprodução tipo big bang é um exemplo de comportamento biológico que parece desmentir o princípio de que a seleção natural atua sempre para maximizar o

potencial reprodutivo. A morte rápida acontece porque a seleção natural pouco

interesse sente pelo que acontece com os organismos, logo que eles completam e função de reprodução. Tudo se resume em equilibrar níveis de risco e esperados retornos de um investimento.

Genes também dispõem de duas grandes opções em termos de estratégia reprodutiva: jogam tudo numa única tentativa de reprodução semélpara (estratégia do big bang); ou distribuem a reprodução através de uma série de encontros reprodutivos (estratégia iterópara). O problema da segnda opção é que é preciso manter reservas, a fim de conservar uma razoável probabilidade de sobreviver para reproduzir novamente, além de terem de investir em manutenção, tendo em vista o longo prazo. Espécies semélparas não sofrem tais inibições. Fazem tudo de uma vez só.

A maior parte da expectativa de vida é gasta à espera do grande evento. O animal cresce, armazena energia e prepara as gônadas para o encontro explosivo da reprodução.Ao ser dado o sinal, que quase sempre é hormonal, não há como se conter mais.

A morte a nenhum fim particular serve: ela é um efeito colateral da compulsão irresistível para reproduzir-se.