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PSICOLOGIA, SAÚDE & DOENÇAS, 2017, 18(3), 760-772 ISSN - 2182-8407 Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde - SPPS - www.sp-ps.pt DOI: http://dx.doi.org/10.15309/17psd180311 www.sp-ps.pt 760 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO VITILIGO ELABORADAS POR BRASILEIROS MARCADOS PELO BRANCO Emerson Araújo Do Bú ([email protected]) 1 , Maria Edna Silva de Alexandre ([email protected] ) 1 , & Maria da Penha de Lima Coutinho ([email protected]) 1 1 Programa de Pós-graduação em Psicologia Social. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa- Paraíba, Brasil ______________________________________________________________________ RESUMO: Objetiva-se com o presente estudo apreender as Representações Sociais (RS) do Vitiligo elaboradas por pessoas que possuem tal afecção. Trata-se de um estudo misto, quantitativo e qualitativo, do tipo descritivo e exploratório, ancorado no aporte teórico da Teoria das Representações Sociais. Participaram da pesquisa 196 brasileiros com idades de 18 a 70 anos (M=38,85; DP=12,53), prevalentemente do sexo feminino (70,02%), membros de grupos do Facebook relacionados à temática do Vitiligo. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário online com a pergunta: “Para você, o que é Vitiligo?”. Além desta, obteve-se informações referentes aos dados sóciodemográficos dos participantes que foram processados pelo software Statistical Package for Social Science for Windows IBM SPSS; enquanto que, para a análise dos dados coletados por meio da referida pergunta, utilizou-se o software IRAMUTEQ, a fim de alcançar o(s) esquema(s) figurativo(s) das RS das pessoas com Vitiligo acerca da sua afecção, por meio da Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e Análise de Similitude. A CHD considerou 74,49% do total das Unidades de Contexto Elementares do corpus denominado “Dimensões de compreensão do Vitiligo”. Deste, deu-se origem a dois subcorpora, os quais aglutinaram-se as Classes 1, 2 e 3, denominadas respectivamente de Aspectos biomédicos do Vitiligo, Aspectos psicodermatológicos do Vitiligo e Aspectos biológicos do Vitiligo. Em linhas gerais, percebe-se que os dados apresentam enfoques multifacetados de compreensão do Vitiligo, em que o conteúdo emergido por meio da fala dos atores sociais ancora o entendimento da afecção a um saber de ordem ora apenas dermatológico/biomédico, ora psicodermatológico. Palavras-chave: vitiligo, representações sociais, IRAMUTEQ ______________________________________________________________________ SOCIAL REPRESENTATIONS OF VITILIGO ELABORATED BY BRAZILIANS IMPRINTED BY THE WHITE ABSTRACT: This study aimed to understand the Social Representations (SR) of Vitiligo elaborated by people who have such affection. It is a quantitative and qualitative study, with the descriptive and exploratory type, anchored in the Theory of Social Representations. A total of 196 Brazilians aged 18 to 70 years (M = 38.85; SD = 12.53), with a prevalence of 70.02% female, members of Facebook groups related to the Vitiligo theme, participated in this study. An online questionnaire with the question: "For you, what is Vitiligo?", was used as an instrument of data collection. In addition to this, it was obtained information regarding the sociodemographic data on the participants that were processed by the software Statistical Package for Social Science Rua Damião José Rodrigues, nº 1261, Bodocongó - Campina Grande/Paraíba - Brasil. CEP: 58430-470. Telefones: +55 83 9 9869-5629. e-mail: [email protected]

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Page 1: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO VITILIGO … · IRAMUTEQ, a fim de alcançar o(s) esquema(s) figurativo(s) das RS das pessoas com Vitiligo acerca da sua afecção, por meio da Classificação

PSICOLOGIA, SAÚDE & DOENÇAS, 2017, 18(3), 760-772

ISSN - 2182-8407

Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde - SPPS - www.sp-ps.pt

DOI: http://dx.doi.org/10.15309/17psd180311

www.sp-ps.pt 760

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO VITILIGO ELABORADAS POR

BRASILEIROS MARCADOS PELO BRANCO

Emerson Araújo Do Bú ([email protected])1

, Maria Edna Silva de Alexandre

([email protected] )

1, & Maria da Penha de Lima Coutinho ([email protected])

1

1Programa de Pós-graduação em Psicologia Social. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa- Paraíba, Brasil

______________________________________________________________________

RESUMO: Objetiva-se com o presente estudo apreender as Representações Sociais

(RS) do Vitiligo elaboradas por pessoas que possuem tal afecção. Trata-se de um estudo

misto, quantitativo e qualitativo, do tipo descritivo e exploratório, ancorado no aporte

teórico da Teoria das Representações Sociais. Participaram da pesquisa 196 brasileiros

com idades de 18 a 70 anos (M=38,85; DP=12,53), prevalentemente do sexo feminino

(70,02%), membros de grupos do Facebook relacionados à temática do Vitiligo.

Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário online com a

pergunta: “Para você, o que é Vitiligo?”. Além desta, obteve-se informações referentes

aos dados sóciodemográficos dos participantes que foram processados pelo software

Statistical Package for Social Science for Windows – IBM SPSS; enquanto que, para a

análise dos dados coletados por meio da referida pergunta, utilizou-se o software

IRAMUTEQ, a fim de alcançar o(s) esquema(s) figurativo(s) das RS das pessoas com

Vitiligo acerca da sua afecção, por meio da Classificação Hierárquica Descendente

(CHD) e Análise de Similitude. A CHD considerou 74,49% do total das Unidades de

Contexto Elementares do corpus denominado “Dimensões de compreensão do

Vitiligo”. Deste, deu-se origem a dois subcorpora, os quais aglutinaram-se as Classes 1,

2 e 3, denominadas respectivamente de Aspectos biomédicos do Vitiligo, Aspectos

psicodermatológicos do Vitiligo e Aspectos biológicos do Vitiligo. Em linhas gerais,

percebe-se que os dados apresentam enfoques multifacetados de compreensão do

Vitiligo, em que o conteúdo emergido por meio da fala dos atores sociais ancora o

entendimento da afecção a um saber de ordem ora apenas dermatológico/biomédico, ora

psicodermatológico.

Palavras-chave: vitiligo, representações sociais, IRAMUTEQ

______________________________________________________________________

SOCIAL REPRESENTATIONS OF VITILIGO ELABORATED BY

BRAZILIANS IMPRINTED BY THE WHITE

ABSTRACT: This study aimed to understand the Social Representations (SR) of

Vitiligo elaborated by people who have such affection. It is a quantitative and

qualitative study, with the descriptive and exploratory type, anchored in the Theory of

Social Representations. A total of 196 Brazilians aged 18 to 70 years (M = 38.85; SD =

12.53), with a prevalence of 70.02% female, members of Facebook groups related to the

Vitiligo theme, participated in this study. An online questionnaire with the question:

"For you, what is Vitiligo?", was used as an instrument of data collection. In addition to

this, it was obtained information regarding the sociodemographic data on the

participants that were processed by the software Statistical Package for Social Science

Rua Damião José Rodrigues, nº 1261, Bodocongó - Campina Grande/Paraíba - Brasil. CEP: 58430-470.

Telefones: +55 83 9 9869-5629. e-mail: [email protected]

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E. A. Do Bú, M.E.S. de Alexandre, & M.P.L. Coutinho

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for Windows - IBM SPSS; while the IRAMUTEQ software was used to analyze the

data collected by the question aforementioned, in order to reach the SR of people with

Vitiligo about their condition, using the Descending Hierarchical Classification (DHC)

and Similitude Analysis. The DHC considered 74.49% of the total of the Elementary

Context Units of the corpus called "Understanding Dimensions of Vitiligo". From this,

two subcorpora were originated, and Classes 1, 2 and 3, named respectively Biomedical

Aspects of Vitiligo, Psychodermatological Aspects of Vitiligo and Biological Aspects of

Vitiligo, were combined. In general, it is noticed that the data present multifaceted

approaches to understanding Vitiligo, in which the content emerged through the speech

of the social actors anchors the understanding of the affection to a knowledge

sometimes only dermatological/biomedical, sometimes psychodermatological.

Keywords: vitiligo, social representations, IRAMUTEQ

______________________________________________________________________ Recebido em 17 de Julho de 2017 / Aceite em 09 de Outubro de 2017

O Vitiligo constitui-se como uma afecção de etiologia complexa, caracterizando-se por provocar

a perda de pigmentação da pele, com formação de acromias, oriundas da redução e/ou perda de

função dos melanócitos (Rani et al., 2017). Muito embora o uso do termo para referir-se à ausência

de coloração apenas tenha aparecido no primeiro século de nossa era, com a publicação do tratado

De medicina (Sobre a medicina), escrito por Aurelius Cornelius Celsius (45 a.C - 25 d.C), sua

descrição pode ser encontrada em textos médicos clássicos do segundo milênio antes de Cristo,

assim como em livros sagrados de diversas culturas (Donata, Kesavan, & Austin, 1990; Gauthier &

Benzekri, 2010; Njoo & Westerhof, 1997; Panda, 2005).

Nesse sentido, a partir de caracterizações de sintomas da afecção, encontram-se expressões que

se remetem ao que hoje entende-se por Vitiligo (Gauthier & Benzekri, 2010). A primeira menção

acerca desta reporta-se, mais especificadamente, a 2.200 anos a.C, em que, de acordo com a

literatura do Irã, Tarkh-e-Tibble referiria-se a dois tipos de doenças que afetavam a cor da pele.

Uma estaria associada ao aparecimento de manchas brancas e inchaços e a orientação terapêutica

indicada relacionava-se ao abandono do indivíduo, enquanto que a outra manifestaria-se apenas

com a mudança de cor da pele para o branco, o que alude às acromias que o Vitiligo provoca

(Najamabadi, 1934).

Destacam-se também as expressões Kilasa, Sveta Khista e Charak, presentes no livro sagrado

indiano Atharva Veda (1400 a.C), em que a palavra Kilasa, derivada do vocábulo kil, significaria

branco; o termo Sveta Khista, também referia-se à cor branca, não obstante, desta vez, associava-se

à afecção lepra, sendo traduzido assim como “lepra branca”; e, finalmente, a expressão Charak,

comumente usada pelos aldeões da época, tinha o sentido semântico daquilo que se espalha,

remetendo-se ao processo de progressão do Vitiligo (Donata, Kesavan, & Austin, 1990; Njoo &

Westerhof, 1997; Prasad & Bhatnagar, 2003).

Já em 1960, estudos realizados por dermatologistas dos Estados Unidos com intuito de averiguar

a nomenclatura Zora'at apresentada na Bíblia, utilizada para mencionar doenças que acometiam a

pele, identificaram que a definição dada em alguns momentos para a doença lepra parece

aproximar-se da caracterização médica do Vitiligo, como por exemplo, a presença de pelos brancos

nas regiões de pele atingidas pela afecção (Goldman, Richard, & Moraites, 1966; Müller, 2005;

Panda, 2005; Prasad & Bhatnagar, 2003). No capítulo 10 de Levíticos, versículo 34, por exemplo,

as manchas brancas também são consideradas como um castigo de Deus de modo que: "(...)

qualquer pessoa com este tipo de afecção de pele deve usar roupas rasgadas e ter o cabelo

desgrenhado, deve ser chamado de impuro. Até que a doença persista, ele deve ser considerado

praticamente imundo e viver sozinho fora do acampamento”.

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Frente ao panorama histórico apresentado, percebe-se que, mesmo que o Vitiligo tenha sido

reconhecido desde a antiguidade, este fora de maneira frequente e equivocada confundido com a

lepra (Donata et al., 1990; Goldman et al., 1966; Müller, 2005; Njoo & Westerhof, 1997; Panda,

2005; Prasad & Bhatnagar, 2003), o que pode justificar o número ainda incipiente de estudos sobre

a temática e, principalmente, o estigma/preconceito que as pessoas com Vitiligo sofrem no meio

social.

O estigma, o preconceito, assim como a discriminação frente a pessoas com Vitiligo foram

objeto de estudo de pesquisas desenvolvidas por Kent (1999); Sant’Anna, Giovanetti, Castanho,

Bazhuni e La Selva (2003); Müller e Ramos (2004); Müller (2005); Lopes (2007); Menezes, López

e Delvan (2010); Oliveira, Silveira, Oliveira e Nery (2012); Pahwa, Mehta, Khaitan, Sharma e

Ramam (2013); e Do Bú, Alexandre, Scardua e Araújo (2017), mostrando que implicações

negativas da afecção, além das dificuldades de estabelecer relações na dinâmica social, colocam-se

no cotidiano dos indivíduos que a possuem. Dessa forma, “é possível sugerir que, mais do que uma

doença de cunho eminentemente biológico, o Vitiligo agrega aspectos psicológicos e sociais,

constituindo-se como uma doença psicossocial” (Do Bú et al., 2017, p. 7).

Em relação às manifestações dermatológicas, sabe-se que o Vitiligo pode se apresentar de forma

localizada, segmentar ou generalizada/universal e seu diagnóstico ocorre por meio de exames

clínicos ou de biópsias (Bonotis, Pantelis, Karaoulanis, Katsimaglis, Papaliaga, & Zafiriou, 2015;

Issa, 2003; Sampaio & Rivitti, 1998; Steiner, Bedin, Moraes, Villas, & Steiner, 2004). As máculas

esbranquiçadas manifestam-se em ambos os sexos, sem uma faixa-etária específica, tendo um

caráter evolutivo instável (Bonotis et al., 2015).

No que se refere à etiologia do Vitiligo, observa-se que diversos fatores podem estar

relacionados ao seu surgimento e progressão, podendo ser estes biológicos e/ou psicológicos.

Dentre eles destacam-se: a presença de autoanticorpos que destruiriam os melanócitos; defeitos

intrínsecos e extrínsecos dos próprios melanócitos; assim como, fatores de cunho emocional, como

estresse e ansiedade e/ou predisposição genética (Antelo, Filgueira, & Cunha, 2008; Correia &

Borloti, 2012; Do Bú & Coutinho, 2017; Rosa & Natali, 2009; Silva, Castoldi, & Kijner, 2011;

Steiner et al., 2004). Assim, afirma-se que a causa do Vitiligo é complexa e ainda não consensual

(Picardo & Taïeb, 2010), apresentando em pesquisas desenvolvidas uma média de ocorrência na

população mundial que varia de 0,5 a 2% (Lerner & Nordlund, 1978; Rani et al., 2017; Taieb,

2000).

Por conseguinte, esse conjunto de fatores elucida características importantes relacionadas ao

surgimento e progressão do Vitiligo, que não podem ser tratadas de forma isolada, mas a partir de

um olhar que integra as implicações biológicas e psicológicas. Além dessas, ressalta-se também a

necessidade de considerar as questões de cunho social, tendo em vista a conotação preconceituosa e

discriminatória que, historicamente, perpassa os sujeitos portadores de Vitiligo, constituindo-se

como um agravante para a saúde destes.

Nesse sentido, pode-se dizer que o Vitiligo não é apenas mais uma doença que compõe o quadro

nosográfico das afecções de pele, mas é, sobretudo, um objeto gerador de Representações Sociais

(RS), que servem como guias do comportamento frente a este. Por isso, acredita-se pertinente a

adoção da Teoria das Representações Sociais (TRS), proposta por Moscovici (2012), para

compreensão dos significados partilhados em relação ao Vitiligo por seus portadores. De acordo

com este estudioso, as RS são conhecimentos não especializados que envolvem valores, percepções,

opiniões, ideias e práticas que permitem com que as pessoas orientem-se em seu meio social, assim

como produzam significados capazes de facilitar uma comunicação contextualizada, através de

códigos que nomeiam e classificam o mundo material e social.

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Morin (2004) indica que, considerando-se que as RS estão relacionadas a práticas e

comportamentos, assim como, a atitudes específicas frente a problemas de saúde, o sentido que o

sujeito atribui à sua afecção pode determinar seu posicionamento no que diz respeito o seu

tratamento e consecutiva qualidade de vida.

Frente ao exposto e considerando-se a importância da Psicologia Social na análise detalhada do

assunto, uma vez que esta evidencia as implicações do Vitiligo para além dos limites da própria

pele, associando a esta condição uma vivência psicossocial, o presente estudo visa apreender as

Representações Sociais do Vitiligo elaboradas por pessoas que possuem tal afecção.

MÉTODO

Trata-se de um estudo misto, quantitativo e qualitativo, do tipo descritivo e exploratório,

ancorado no aporte teórico da Teoria das Representações Sociais, atendendo a princípios éticos de

pesquisa com seres humanos, conforme a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde

(CNS) (Brasil, 2012).

Participantes

Concerne em uma amostra não probabilística, constituída por 196 brasileiros que possuem

Vitiligo, com idades de 18 a 70 anos (M=38,85; DP=12,53), com prevalência de 70,02% do sexo

feminino, membros de grupos da rede social Facebook relacionados à temática do Vitiligo.

Destaca-se que se teve como critérios de inclusão na presente amostra: possuir Vitiligo; ser

brasileiro; ser maior de 18 anos; assim como apresentar disponibilidade para participar da pesquisa

de forma voluntária.

Material

Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário online com a pergunta: “Para

você, o que é Vitiligo?”. Além desta, obteve-se informações referentes aos aspectos

sociodemográficos dos participantes da pesquisa, como: sexo, idade, cor de pele e escolaridade.

Dados alusivos ao tempo que os participantes possuem Vitiligo, assim como o local de exposição

da(s) sua(s) mácula(s) esbranquiçada(s) também foram coletados. Na Tabela 1 do presente estudo,

podem-se verificar, em porcentagens, tais dados.

Procedimento

Os dados sociodemográficos foram processados pelo software Statistical Package for Social

Science for Windows – IBM SPSS (versão 21.0), realizando-se uma estatística descritiva (média,

frequência e desvio padrão), que visa descrever as características da amostra pesquisada. Já para a

análise dos dados coletados por meio da pergunta “Para você, o que é Vitiligo?”, utilizou-se o

software IRAMUTEQ - Interface de R pour analyses Multidimensionnelles de Textes et de

Questionnaires (Camargo & Justo, 2013; Ratinaud & Marchand, 2012), a fim de apreender as

Representações Sociais das pessoas com Vitiligo acerca da sua afecção, por meio da Classificação

Hierárquica Descendente (CHD) e de uma Análise de Similitude, que baseia-se na teoria dos grafos

e auxilia na identificação da estrutura das representações. Ressalta-se que, para introdução dos

dados no software, algumas variáveis relacionadas à caracterização dos participantes do presente

estudo foram codificadas segundo o modelo descrito na Figura 1, a seguir:

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Figura 1.

Perfil sociodemográfico dos participantes, com respectivas codificações das variáveis que

constituíram o corpus do IRAMUTEQ

RESULTADOS

Os dados sociodemográficos coletados por meio do questionário online revelaram que, como

supramencionado, a eminência de participantes do presente estudo fora do sexo feminino (70,02%),

na faixa etária entre 24 e 29 anos (35,72%), com cor de pele branca (51,52%), grau de ensino médio

(34,18%), renda entre um e dois salários mínimos (32,66%), e residentes, em sua grande parte, no

estado de São Paulo – Brasil (31,12%). No que tange ao tempo que os indivíduos possuem Vitiligo,

ressalta-se o intervalo entre 1 dia e 5 anos (45,40%), possuindo-se a área de exposição do Vitiligo

mais perceptível ao meio social (47,44%), como face, mãos, braços e pernas.

Classificação Hierárquica Descendente (CHD)

Os enunciados dos participantes sobre o Vitiligo, fruto da pergunta “Para você, o que é

Vitiligo?”, quando submetidos à análise lexical por meio do IRAMUTEQ, constituíram um corpus

com 196 Unidades de Contexto Iniciais (UCIs), totalizando 6.111 palavras, cujo número de 389

fora de palavras distintas. Destaca-se ainda que se fizeram evidentes 245 Unidades de Contexto

Elementares (UCEs).

A Classificação Hierárquica Descendente (CHD), representada pelo dendrograma exposto na

Figura 2, que deve ser lido da esquerda para a direita, considerou 74,49% do total das UCEs do

corpus denominado “Dimensões de compreensão do Vitiligo”. Deste, originou-se dois subcorpus: à

esquerda, o subcorpus designado “Dermatológica” gerou a Classe 3 (Aspectos biomédicos do

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Vitiligo), enquanto que, à direita, o subcorpus “Psicodermatológica”, subdividiu-se e aglutinou as

Classes 2 (Aspectos psicodermatológicos do Vitiligo) e 1 (Aspectos biológicos do Vitiligo). Nesse

sentido, as partições encerraram-se, uma vez que as classes apresentaram estabilidade.

Figura 2.

Dendrograma da Classificação Hierárquica Descendente (CHD) das Representações

Sociais do Vitiligo

A Classe 3 (Aspectos biomédicos do Vitiligo), com percentual das UCEs equivalente a

28,77%, foi a segunda mais representativa do discurso de participantes com cor de pele indígena,

assim como de outros tons de pele (moreno e vitiligóide), com nível de escolaridade fundamental II

e tempo que possui Vitiligo superior a 1 dia e inferior a 5 anos. Nesta classe, ilustrada em alguns

recortes textuais a seguir, verificaram-se palavras no intervalo de χ² = 2,1 (Célula) a χ² = 101,1

(falta).

O Vitiligo é uma doença que se dá devido a falta de pigmentação na pele. Os

melanócitos não dão conta de produzir os pigmentos necessários para

coloração da pele;

O Vitiligo é a falta de melanina em células responsáveis para dar coloração a

pele.

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A Classe 2, intitulada “Aspectos psicodermatológicos do Vitiligo”, com menor percentual das

UCEs (14,38%), apresentou palavras e radicais no intervalo de χ² = 4,1 (poder) a χ² = 91,9

(emocional), sendo relevante frente ao discurso dos participantes desta classe com pós-graduação. A

seguir, encontram-se os segmentos de texto que representam tal classe:

O Vitiligo é a pior doença que ser o humano pode ter, é emocional, baixa a

autoestima, o psicológico fica abalado;

O Vitiligo é a perda da autoestima, é uma doença que ocorre pela falta de

melanina e abala muito o emocional do indivíduo;

O Vitiligo é uma doença relacionada ao psicológico, é uma doença emocional.

A terceira e última classe, Aspectos biológicos do Vitiligo, também aglutinada no subcorpus

Aspectos psicodermatológicos do Vitiligo, fora a que mais reteve percentual de UCEs (56,85%),

apresentando palavras/radicais no intervalo de χ² = 7,4 (doença) a χ² = 12,2 (autoimune), sendo

representativa junto aos participantes de cor de pele branca. Os extratos que seguem apresentam o

teor da classe:

Pra mim, o Vitiligo é uma doença autoimune e de predisposição genética;

O Vitiligo é uma doença que apenas me preocupa quanto ao sol;

O Vitiligo é uma doença autoimune que ataca a pele.

Análise de Similitude

A partir da Análise de Similitude (AS) ou de semelhança (conforme a figura 2), que possibilitou

localizar coocorrências existentes entre as palavras, indicando suas conexidades (Ratinaud &

Marchand, 2012), observa-se que o termo Vitiligo organiza diferentes formas de sua compreensão,

estando fortemente relacionado aos vocábulos doença, psicológica e/ou autoimune, melanina, pele,

falta, autoestima, mancha (branca) e despigmentação. Percebe-se ainda, apesar de uma baixa

coocorrência, que os termos abalar, problema, constrangimento, vergonha, incomodar, tristeza e

horrível indicam aspectos psicossociais que perpassam a representação da afecção.

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Figura 2.

Resultados da Análise de Similitude acerca do Vitiligo

DISCUSSÃO

Os dados expostos apresentam os enfoques multifacetados de compreensão do Vitiligo, em que o

conteúdo emergido por meio da fala dos atores sociais ancora o entendimento da afecção a um saber

de ordem ora apenas dermatológico/biomédico, ora psicodermatológico. Em linhas gerais, percebe-

se no discurso desses indivíduos a tentativa de transformar o saber reificado, mesmo que não

consensual sobre o Vitiligo, em teorias do senso comum, a fim de atribuir sentido(s) para a afecção.

Não obstante, considerando-se as percentagens expostas na CHD e as coocorrências na AS no

que tange a compreensão das dimensões da enfermidade e, sabendo-se que as formas como os

indivíduos representam a afecção influenciará diretamente na conduta frente a esta (Moscovici,

2011), irrompem-se inquietudes na presente discussão frente a possíveis terapêuticas adotadas por

estes atores sociais. Além disso, com base na AS disposta sobre os dados apreendidos, serão

desenvolvidas reflexões acerca dos aspectos psicossociais que parecem se associar à representação

do Vitiligo.

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No que tange aos Aspectos biomédicos do Vitiligo, evidenciados pela classe 3 da CHD,

representativa junto a participantes com cor de pele indígena, assim como de outros tons de pele

(moreno e vitiligóide), com nível de escolaridade fundamental II e tempo que possui Vitiligo

superior a 1 dia e inferior a 5 anos, destaca-se os extratos de discurso que objetivam a afecção como

fruto da falta, ausência e/ou perda de produção de melanina e pigmentação. Ressalta-se, ainda, a

provável relação entre a ocorrência do Vitiligo a uma fraqueza do corpo e suas células que, por não

funcionarem de maneira eficiente e adequada, dariam vazão ao seu surgimento e progressão.

Este enredo semântico ancora-se ao que é tipicamente veiculado na literatura biomédica e

consecutivamente em consultórios dermatológicos, em que profissionais da dermatologia, por

vezes, fragmentam o processo de adoecimento da pele, vislumbrando-se apenas seus aspectos de

ordem tópica (Bonotis et al., 2015; Issa, 2003; Sampaio & Rivitti, 1998; et al., 2004). Destaca-se

que a AS ratifica tais questões, evidenciando-se, por meio de coocorrências, a provável relação

entre Vitiligo, despigmentação e fatores dermatológicos.

A classe 1 (Aspectos biológicos do Vitiligo), mesmo estando aglutinada em um subcorpora

distinto, aponta para uma aproximação da classe anteriormente discutida, em que seu campo

imagético demonstra que os atores sociais, em sua maioria com cor de pele branca, encontram-se

apropriados pelo discurso científico de que o Vitiligo é uma doença especificadamente autoimune.

Salientam-se tais aspectos também na AS, em que o Vitiligo organiza com alta coocorrência os

vocábulos doença e autoimune.

Sabe-se que representar socialmente um objeto é o ato de tornar compreensível aquilo que se

apresenta importante a um indivíduo, em que, por meio de retroalimentações entre universos

reificado e consensual, dá-se origem a condutas (Moscovici, 1984; Jodelet, 1984). Nesse sentido,

atenta-se para o impacto da veiculação biomédica de que o Vitiligo apenas carrega em seu cerne

aspectos biológicos frente à vida das pessoas que o possuem, as quais, por representarem a afecção

com base em tal saber, acabam por agir em procura de tratamentos que apenas vislumbram seus

aspectos biológicos.

A classe Aspectos psicodermatológicos do Vitiligo (classe 2), expressiva na fala de atores sociais

com pós-graduação, teve seu conteúdo ancorado, dissensualmente às duas classes

supramencionadas, no saber psicodermatológico, objetivando-se o Vitiligo como uma doença

característica do ser humano, que pode possuir fatores emocionais em seu desencadeamento e

progressão, sendo capaz de provocar abalos psicológicos no que se refere à autoestima do

indivíduo. A Análise de Similitude avulta também de forma semelhante tais aspectos, afigurando

reconhecer não apenas fatores bio/psicológicos da afecção Vitiligo, mas também psicossociais,

aspectos estes que são emocionais e parecem abalar, constranger, incomodar e provocar tristeza.

Acredita-se que esta forma de representar o Vitiligo, transversalmente margeado por diversos

fatores, sejam eles biológicos, psicológicos e sociais, pode estar relacionada ao nível de instrução

dos indivíduos que substancialmente contribuíram para esta classe, dado que, de forma dissonante,

os atores sociais que apenas possuíam o ensino fundamental II representaram o Vitiligo como sendo

apenas perpassado por aspectos biomédicos (classe 3). Pode-se refletir ainda se a forma de

representar dos pós-graduados relaciona-se à tradição de pesquisar que lhes é inerente, uma vez que,

diferente dos outros indivíduos, investiga-se mais sobre a afecção, transpondo-se, por isso,

fronteiras do saber puramente biomédico.

Nessa perspectiva, em um estudo de RS frente ao trabalho que teve por variável de controle o

grau de escolaridade dos seus participantes, denotou-se que quanto maior a instrução dos

indivíduos, maior também se apresentava o trabalho intelectual, índice de pesquisas e nível de

leitura (Macêdo, Bendassolli, & Torres, 2017). Assim, acredita-se que tais achados também podem

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ser elucidativos para o presente estudo, ratificando as implicações do nível de instrução de uma

pessoa em relação a sua disposição para o desenvolvimento de novas cognições.

Sublinha-se também que os vocábulos (abalar, problema, constrangimento, incomodar,

vergonha, tristeza e horrível) organizados em torno do objeto representacional (Vitiligo) na AS

evidenciaram aspectos psicossociais de estigma e preconceito, que podem ser enfrentados pelas

pessoas que possuem a afecção. Estes processos discriminatórios são definidos como um modo de

desprestígio ou desqualificação da pessoa com Vitiligo, uma vez que esta possui uma pele que

difere do padrão de normalidade interposto pelo meio social (Goffman, 2008).

Isto se torna preocupante, uma vez que, no processo de formação das RS, oriundas das relações

de negociações produzidas pela externalidade e interioridade do indivíduo e seu meio social

(Moscovici, 1984, 2011, 2012), retroalimenta-se aspectos negativos à própria experiência de ser

marcado pelo branco, com potencial produção de sentimentos de autodepreciação, culpa e

vergonha, característicos no estigma internalizado ou na autoestigmatização.

Por conseguinte, reconhece-se que todas as pessoas são capazes de se apropriarem das teorias

reificadas e assim formar teorias do senso comum, não obstante, sabe-se que o acesso a diferentes

meios de comunicação, assim como o contexto social em que o sujeito está inserido, trará diferentes

formas de representar um objeto (Moscovici, 2012). Sublinha-se que esta dimensão também pode

ser observada no cerne do presente estudo, indicando que as diferentes formas de representar o

Vitiligo, pode influenciar em como os indivíduos portam-se frente às terapêuticas que existem para

a afecção.

Sabe-se que existem diversas estratégias de terapias, com enfoque exclusivamente biológico,

possíveis e comumente indicadas na literatura biomédica para estimular a produção de pigmento

nas áreas de pele em que o Vitiligo apresenta-se (Picardo & Taïeb, 2010). Porém, percebe-se por

vezes ainda, uma terapêutica médica que nem mesmo se detém a aspectos orgânicos do Vitiligo,

indicando-se à pessoa que possui a afecção o tratamento do “nem te ligo” (Do Bú & Coutinho,

2017; Nogueira et al., 2009; Sacramento, 2012). Com tais posicionamentos, que podem ser fruto da

afecção ser assintomática (no biológico) e não provocar riscos para a sobrevivência de quem a

possui, desconsideram-se diversas implicações, sobretudo psicológicas e sociais.

Distintivamente, a Psicodermatologia, oriunda da junção de dois núcleos de saber, Psicologia e

Dermatologia, concebe o ser humano para além da dicotomia psique/corpo, tendo-se em vista ainda

implicações sociais do adoecimento (Ludwing et al., 2008; Müller & Ramos, 2004; Sant’anna et al.,

2003; Silva et al., 2011; Walker & Papadopoulos, 2005). Por conseguinte, apreende-se o ser

humano de maneira holística e entende-se, assim, que o desencadeamento e progressão de doenças

de pele envolvem questões biológicas, psicológicas e sociais (Ludwing et al., 2008; Müller &

Ramos, 2004; Sant’anna et al., 2003; Silva et al., 2011).

No que se refere aos tratamentos que podem ser adotados e orientados pelo referencial teórico-

prático da Psicodermatologia, ressaltam-se achados que apontam para a estabilização da progressão

da afecção, nos quais, em alguns casos, a repigmentação das acromias ocorrera (Menezes et al.,

2010; Müller & Ramos, 2004; Papadopoulos, Bor, & Legg, 1999; Sant’anna et al., 2003; Silva et

al., 2011). Apesar de tais achados, o tratamento do Vitiligo ainda mostra-se um desafio, uma vez

que há divergências entre pesquisadores da temática que tentam explicar a afecção e possíveis

formas de estagnação e/ou combate à despigmentação da pele (Viana & Geremias, 2009).

Destarte, intervir na forma como as pessoas representam a afecção faz-se necessário, seja por

meio de políticas públicas de saúde que visem disseminar uma comunicação acessível a toda

população brasileira do que é o Vitiligo, incitando-se a busca por terapêuticas holísticas em seu

tratamento, bem como promovendo a pele Vitiligóide como mais uma das múltiplas formas de

apresentar-se ao mundo; seja na formação e práxis de dermatologistas e psicólogos brasileiros, uma

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vez que estes lidam/lidarão com pessoas que possuem a afecção, sendo responsáveis por um dos

principais meios de comunicação frente ao diagnóstico e prognóstico da afecção junto à população.

Ratifica-se, assim, que os dados apresentados no presente estudo, mesmo sendo de caráter

exploratório e tendo diferenças quanto ao percentual de sexo acessado, podem indicar a direção de

novos estudos acerca da temática, considerando-se variáveis de controle como as fontes utilizadas

por atores sociais com Vitiligo para obter informações sobre sua afecção. Além disso, enfatiza-se

que a utilização de multifacetados aportes teóricos e metodológicos para apreender o fenômeno é

necessária, uma vez que este se mostra complexo. Sugere-se, por exemplo, a teoria do núcleo

central como foco de estudo, a qual admite, de acordo com Abric (1994), que toda Representação

Social organiza-se em torno de um núcleo central, determinando-se, desse modo, seus aspectos

significativos e de organização interna e permitindo, por exemplo, uma ordem e compreensão da

realidade vivida por indivíduos com Vitiligo.

Considerando-se o poder explicativo da Psicologia Social frente à temática, que não resume-se a

Teoria das Representações Sociais, sugerem-se estudos que relacionem ainda a teoria da Identidade

Social para assimilação do presente fenômeno, visando-se apreender elementos identitários de

grupos de pessoas com Vitiligo.

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