representaÇÕes culturais da imigraÇÃo alemà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano...

32

Upload: truongliem

Post on 20-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração
Page 2: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ

NO SUDOESTE DO PARANÁ

Autora: Elci Lucia Stein Keske1

Orientador: André Ulysses De Salis2

Resumo

O presente trabalho consiste na realização de uma análise em torno dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração alemã no Sul do Brasil. Foram estudados os reflexos e vestígios, advindos da influência da imigração alemã no município de Sulina, também o predomínio nas relações de trabalho e da constituição da cidadania no município. Promovendo a reflexão, em sala de aula com os educandos, discutiram-se conceitos de pertencimento, construção da identidade local e da questão da preservação patrimonial e cultural, por meio dos costumes e tradições da identidade étnica de Sulina, fazendo parte do passado, mas com o dever de serem lembrados, respeitados e valorizados para que se possa entender o presente. As influências econômicas, culturais e étnicas deixadas pelos colonizadores imigrantes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina muito contribuíram para a formação identitária do Paraná. O processo imigratório no Paraná não foi tarefa fácil, tiveram que desbravar as terras, construir estradas, moradias, escolas para seus filhos, adequando-se ao trabalho agrícola ou buscar outros caminhos para sua sobrevivência. A ocupação do sudoeste do Paraná se deu devido à abundância das matas, principalmente de araucária, fertilidade, grande prática da agricultura, tornando o Paraná um grande celeiro de riquezas inigualáveis. O projeto procurou realizar atividades diversificadas com os alunos da 1ª SÉRIE “A” do Ensino Médio do Colégio Estadual Nestor de Castro EFM, no município de Sulina, NRE de Pato Branco, no Estado do Paraná. Foram utilizadas pesquisas, textos e imagens, com atividades reflexivas permitindo ao aluno analisar, refletir, investigar e construir seu conhecimento em torno do tema, sempre procurando despertar o interesse dos alunos e favorecendo as conjunturas e análises dos resultados obtidos.

Palavras-chave: Imigração; Cultura; Desenvolvimento.

1 Professora QPM de História da rede estadual de Educação do Estado do Paraná, Especialista em Supervisão Escolar e Educação Especial, Professora PDE 2010. 2 Mestre em história - Professor colaborador da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) Campus de Guarapuava.

Page 3: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

1 Introdução

Ensinar história não é simplesmente memorizar fatos, informar dados

eventuais com riqueza de detalhes e suas circunstâncias de acontecimento, não

sendo também apenas relato de fatos isolados. O ensino da história é o momento de

debater, refletir e solucionar situações conflitantes. É o lugar que pode oportunizar a

pesquisa, construir o saber, mas que, para chegar a um consenso total ainda é

muito difícil. (SILVA, 1984).

O objeto da História é a busca pela compreensão e interpretação das

versões existentes para um mesmo evento, e não apenas gravá-lo na memória. O

conjunto de informações selecionado para ocorrência do ensino é tão importante

quanto à maneira com a qual se deve efetivá-lo, ou seja, a metodologia empregada

no momento em que se aplica o conhecimento em sala de aula. Ao ensinar o aluno,

este pode apenas aprender a responder perguntas, ou então é possível durante o

ensino da história que a compreenda melhor e faça referência à importância das

relações históricas para a vida em sociedade.

Estudar história contribui para a formação do aluno, reforça que na realidade

tudo possui uma razão e que ela pode ser mantida como está ou ser modificada a

qualquer momento. Portanto, é fundamental que se entenda a História como a

consequência da atividade de grupos diversos na sociedade. O aluno deve

reconhecer a história da humanidade como produto de todos e não apenas como a

ação e as ideias de um pequeno grupo (TEIXEIRA, 2008).

Aprender, hoje, aproxima-se de um processo de modificação

comportamental, conquistado com a experiência e a construção do conhecimento no

tempo, podendo ser influenciado por alguns fatores como emoção, relações

pessoais, ambientais e de funcionamento neurológico. Para tanto, as instituições

escolares e os professores não podem ignorar o que acontece no mundo. Assim, é

importante que o aluno conheça suas raízes e como ocorreu o processo de

colonização de sua cidade, estado e nação, fazendo disso um exercício de

cidadania.

As escolas devem oportunizar aos alunos e à comunidade a participação

nesse processo de ensino histórico, com o propósito de unir e produzir o

conhecimento através dos conteúdos curriculares, da Cultura Histórica e cotidiana,

Page 4: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

fomentando oportunidades e vivenciando as mudanças de rumo da escola em que

se trabalha. A utilização de recursos tecnológicos também pode servir como

ferramenta extremamente rica e proveitosa para a melhoria e expansão da prática

pedagógica. Também, como forma de envolvimento dos profissionais da educação,

para que interajam das mais variadas formas com os educandos, propondo o estudo

de mudanças sociais e culturais, com o intuito de resgatar a importância da cultura

brasileira.

Levando-se em conta o exposto, o tema deste trabalho circundou entre as

representações culturais de um grupo de imigrantes / descendentes de alemães que

se deslocou do Rio Grande do Sul para o Sudoeste do Paraná. Este estudo priorizou

o diálogo, a pesquisa, a leitura, a interpretação, a produção de textos e a análise de

fotos.

Estão apresentados neste artigo os resultados obtidos com a aplicação da

proposta de ação didático-pedagógica e do material didático-pedagógico produzido

durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) desenvolvido pela

Secretaria de Estado da Educação. Pelos quais, houve a realização de uma análise

dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração alemã no Sul do Brasil.

Os trabalhos iniciais: Projeto de Intervenção Pedagógica e Material Didático-

Pedagógico, neste caso uma Unidade Didática, foram apresentados a grupos e

momentos distintos.

A primeira apresentação foi realizada no GTR (Grupo de Trabalho em Rede)

no qual, professores da rede estadual inscreveram-se para uma capacitação à

distância, que oportunizou a discussão das produções do Professor PDE, como

professor tutor e os professores da área inscritos no curso. Esta atividade propiciou

que os cursistas conhecessem o trabalho e dessem sua opinião e contribuições,

algumas bastante importantes que puderam ser aproveitadas na intervenção em

sala de aula. A segunda exposição, em outro momento, levou os trabalhos ao

conhecimento da direção e equipe pedagógica da escola de implementação. Em

seguida, procedeu-se com a aplicação, realizada durante o segundo semestre do

ano letivo de 2011, junto aos alunos da 1ª Série do Ensino Médio do Colégio

Estadual Nestor de Castro - EFM, do município de Sulina, NRE de Pato Branco, no

Sudoeste do Estado do Paraná.

O objetivo do trabalho foi o de fazer com que o aluno compreendesse as

transformações ocorridas ao longo do tempo, fazendo-se parte das mudanças

Page 5: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos

elementos históricos e culturais resultantes da imigração alemã no Sul do Brasil,

produzindo a inserção do aluno na comunidade da qual faz parte, criando sua

historicidade.

Partindo deste objetivo, foram desenvolvidas algumas linhas específicas de

desenvolvimento das atividades, como a análise das influências culturais, sociais e

econômicas resultantes da colonização de imigrantes e descendentes alemães na

sociedade sulinense; pesquisa das manifestações culturais, costumes e tradições da

vida diária dos educandos; o desenvolvimento no aluno do respeito pela diversidade

étnica.

O foco da pesquisa circunscreveu-se à região Sudoeste do Paraná,

especificamente, no município de Sulina. Buscou compreender as influências e a

complexidade do processo imigratório no que tange à formação cultural brasileira,

também, dos reflexos e vestígios neste município. A percepção desses traços,

advindos da influência da imigração alemã, possibilitou a análise de muitas fontes de

pesquisa, tendo em vista a alteridade de representações culturais encontradas no

município, como: o idioma, a culinária, as técnicas agrícolas, os ritmos musicais, as

festividades religiosas e as danças. Esses elementos são cultuados, reafirmados e

ressignificados, fazendo parte da história da população de Sulina, tradições e

representações culturais presentes em muitas comunidades e sendo transmitidas de

geração a geração.

Com a realização da pesquisa, foram investigadas as representações

culturais resultantes do processo de colonização de Sulina, sua influência nas

relações de trabalho e de constituição da cidadania do município. O estudo foi

desenvolvido para que se promovesse em sala de aula, com os educandos, a

reflexão e discussão de conceitos como: o sentimento de pertencimento; a

construção da identidade local; as representações simbólicas; o imaginário social e a

questão da preservação patrimonial e cultural, conceitos que podem ser analisados,

por meio dos costumes e tradições e reiterados na construção da "identidade étnica"

do município de Sulina.

Assim, foram analisadas e correlacionadas ao processo histórico da

imigração e da colonização elementos da diversidade cultural brasileira, expressos

no cotidiano da sociedade, como: jeito de falar, cantar, dançar, as tradições

culinárias e religiosas.

Page 6: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

2 Revisão da Literatura

2.1 O processo histórico da imigração alemã no Brasil

O processo histórico da chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Brasil

tem registros a partir do século XIX, sendo efetivado lentamente, se comparado aos

demais contingentes migratórios, mas intensificado a partir dos acontecimentos

sociais e econômicos ocorridos na Europa e se concretiza através do decreto de D.

João VI, em que aprova o acesso a terra através do regime de sesmarias, baseado

nas pequenas propriedades familiares, isto entre 1824 e a década de 1930 (BRASIL

- IBGE, 2010).

Os primeiros imigrantes alemães se estabeleceram no Rio de Janeiro entre

1808 e 1822, o registro indica uma entrada numericamente expressiva de alemães

atraídos pela abertura dos portos às Nações Amigas. Inicia-se então uma nova

trajetória para a construção da história do nosso país, transformando a população

brasileira em seres multirraciais, ou seja, com uma miscigenação muito rica

(FAUSTO, 2000).

Certamente não foi a vontade da grande maioria, em deixar seu país de

origem, suas casas e comunidades, para se aventurarem em terras tão distantes e

opostas da Europa. Mas quando as condições econômicas e sociais constituíam o

fator dessa expulsão, a ordem era enfrentar todos os obstáculos, atravessar o

Atlântico, e por em prática o lema “Fazer a América”, tendo como objetivo a

superação em um curto prazo de tempo, poder retornar ao seu país de origem e

desfrutar de uma vida mais digna. Grande parte da imigração era composta de

jovens e adultos do sexo masculino, em busca de emprego temporário ou

permanente no país que os acolhessem. Aos que decidiram aqui permanecer, ao

assimilar a nova cultura e economia, resolveram buscar suas famílias e noivas para

concretizar definitivamente suas vidas aqui no Brasil. A partir disso, preocuparam-se

em preservar a língua alemã falada em casa, na igreja e na escola, para manter a

identidade cultural; houve o investimento na educação de seus filhos em idade

Page 7: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

escolar, construção de igrejas para professar a fé, organização de associações

beneficentes e assistenciais e de associações culturais e esportivas, mantendo

assim, a relação com a Alemanha que foi deixada para trás (KLEIN, 2000).

A política de imigração visava atrair estrangeiros para povoar o "vazio

demográfico", os agricultores, colonos e artesãos eram os mais indicados para suprir

essa demanda governamental, fazendo com que em 1808 fosse promulgada a lei

que permitia aos estrangeiros o direito à propriedade de terras (Colatusso, 2004). O

Brasil possui o maior registro de imigrantes alemães vindos para viver neste país,

destacando o cuidado com a preservação da identidade de muitos colonos, que

mantiveram acesas as manifestações da vida coletiva, os costumes e tradições, a

preocupação constante de recuperação da identidade nacional, considerando-se

alemães ao máximo, mantendo ligação com sua cultura e sociedade de origem,

tendo um importante papel no processo de diversificação da agricultura, urbanização

das cidades, industrialização e cultura (COLATUSSO, 2004).

Os imigrantes alemães, destinados a projetos agrícolas, chegaram em 1818

ao sul da Bahia na colônia “Leopoldina”, considerada a primeira “colônia alemã”. No

Rio de Janeiro, em Nova Friburgo, data de1819 uma nova tentativa de colonização,

com os suíços, mas as precárias condições do assentamento, a distância e a alta

mortalidade fez com que abandonassem o local. Porém, em 1824, a mesma colônia,

recebe cerca de 350 imigrantes alemães. O assentamento de imigrantes

mencionado na literatura aliciado pelo major J. A. Schaeffer, na Imperial Feitoria do

Linho Cânhamo no Rio Grande do Sul em 1824, é considerado o fato inaugural da

Colônia Alemã no Brasil pelo empreendimento bem sucedido. Em 1829 a fundação

das colônias de São Pedro de Alcântara e Mafra em Santa Catarina e Rio Negro no

Paraná encerram a primeira fase da imigração devido à primeira guerra civil no sul,

sendo retomada a partir de 1840 (HUBER, 2002).

É importante destacar a contribuição que os imigrantes deixaram para a

sociedade brasileira, através de seu trabalho, conhecimento, cultura, costumes e

tradições, hoje fazendo parte do passado, mas com o dever de serem estudados,

lembrados, respeitados e valorizados para que possamos entender o presente. A

este respeito o historiador Eric Hobsbawm afirma:

Page 8: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

[...] passado, presente e futuro constituem um continuum. Todos os seres humanos e sociedades estão enraizados no passado – o de suas famílias, comunidades, nações ou outros grupos de referências, ou mesmo de memória pessoal – e todos definem sua posição em relação a ele, positiva ou negativamente. Tanto hoje como sempre: somos quase tentados a dizer “hoje mais que nunca”. E mais, a maior parte da ação humana consciente, baseada em aprendizado, memória e experiência, constituem um vasto mecanismo para comparar constantemente passado, presente e futuro. As pessoas não podem evitar a tentativa de antever o futuro mediante alguma forma de leitura do passado. (HOBSBAWM, 1997, in GUZZO, 2010).

O desencadeamento da imigração alemã no sul do Brasil sucedeu-se no ano

de 1824, na cidade de São Leopoldo aonde chegaram em pequenos grupos

organizados e expandiram-se pela região, surgindo assim as primeiras colônias,

basicamente agrícolas, voltadas para a produção de gêneros alimentícios, para a

sua subsistência e para o abastecimento do mercado interno, resultando disso o

trabalho familiar rural. “Apesar de sua presença significativa em cidades como São

Paulo, Porto Alegre e Curitiba, a maioria encontra-se em projetos baseados na

pequena propriedade familiar, nas zonas rurais” (HUBER, 2002, p.1).

É possível observar na história de nossos antepassados a relação da ideia

de Huber, da qual se destaca em muitas comunidades do interior do sul do Brasil, a

preservação das técnicas agrícolas, o cooperativismo, a agricultura familiar

predominante, podendo ser observados no trabalho diário dos agricultores.

Conforme Giralda Seyferth (in Mauch, 1994, p. 12):

A imigração alemã no Brasil esteve estreitamente vinculada ao processo de colonização baseada na pequena propriedade, implementada na iniciativa do Estado brasileiro desde 1818. Os imigrantes dessa origem foram dirigidos preferencialmente para colônias agrícolas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

A imigração de famílias camponesas europeias que vieram a ocupar a

região sul do Brasil deve-se a alguns fatores: à imagem negativa como nação

escravista, a região norte seria imprópria para a colonização de europeus e as

grandes extensões de terras desocupadas à espera de um povoamento para o vazio

demográfico. Há controvérsias em relação ao uso ou não de mão-de-obra escrava

pelos teutos, alguns historiadores defendem que os teutos rio-grandenses não

Page 9: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

possuíam escravos, por serem pequenos proprietários, pela mentalidade

antiescravista e a existência de leis imperiais impedindo que teutos rio-grandenses

possuíssem escravos. Por outro lado Müller (1981, p.15), defende que “os

imigrantes teutos foram “bons senhores” e que “trataram bem” seus “escravos” sem

lhes infligir os maus tratos referidos nos livros de história”. Afinal a prova de que os

imigrantes alemães possuíam escravos está nas cartas de alforria concedidas aos

escravos, que serviria como documento de negócio, assegurando mão-de-obra e se

precavendo contra a desorganização do trabalho doméstico. (ZUBARAN, in

MAUCH, 1994)

Na década de 1920/30 os imigrantes alemães haviam construído inúmeras

escolas comunitárias, com isso, não havendo registros de analfabetos nessas

comunidades teuto-brasileiros, tornando-se, já a partir de 1900, entre os estados

brasileiros e países latino-americanos, os imigrantes alemães com maior número de

escolas comunitárias dessa etnia e um centro referencial de produção de material

didático. Isso comprova a ênfase dada pelos imigrantes alemães à questão escolar

para a formação dos processos humano, político, social e religioso, incutindo tais

conhecimentos na bagagem cultural dos imigrantes. Kreutz (in Mauch, 1994, p. 149)

afirma que: “[...] a escola e o professor foram objetos de preocupação e de grande

esforço. Para as primeiras levas de imigrantes, predominantemente evangélicos, a

questão escolar era fundamental, inclusive para a experiência religiosa”.

Era grande a preocupação em difundir novas ideias e iniciativas, o que era

feito através da elaboração de bons materiais didáticos e a preparação do professor.

Isso fez com que as escolas fossem vistas como um mecanismo para a formação

religiosa de seus filhos e também para vivência da cidadania, tornando-os cidadãos

conscientes e autônomos. Desta forma, promovendo a participação de todos na

igreja, na escola e nas associações, inclusive nos trabalhos concretos. A escola foi

uma das instâncias a merecer atenção especial dos imigrantes. E todas estavam

vinculadas a um projeto, a uma perspectiva comum (KREUTZ, in MAUCH, 1994). Em geral a escola e o professor eram paroquiais, o professor exercia, além

do magistério, uma ampla liderança social e religiosa, sob a orientação da Igreja, e o

Ensino Religioso ocupava destaque entre os Protestantes e Católicos, objetivando a

formação de bons cristãos. O final da década de 1930 marca o final das escolas

teuto-brasileiras no Rio Grande do Sul. O governo, estadual e federal, que por

muitas vezes havia elogiado a educação dos imigrantes, começou a interferir com

Page 10: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

medidas repressivas e preventivas a favor da escola gratuita e o incentivo de os

alunos aprenderem melhor o português, enfraquecendo as escolas paroquiais e

muitas delas tornaram-se insustentáveis, vindo a ser fechadas (KREUTZ, in

MAUCH, 1994).

2.2 O processo histórico da imigração alemã no Estado do Paraná

As influências econômicas, culturais e étnicas deixadas pelos

colonizadores imigrantes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina muito contribuíram

para a formação da identidade do Paraná, basta repensar e estudar a história que

teremos imensas respostas.

E neste contexto que se inserem os alemães e seus descendentes, como agentes de um processo de transformação econômico-social capitalista, expresso no desenvolvimento do grande comércio da indústria, dos bancos, da renovação urbana (PESAVENTO, in MAUCH 1994, p. 200).

No Paraná o início da imigração ocorreu em Curitiba. Fouquet (1974)

assinala a existência de famílias alemãs antes de 1840, formando uma colonização

urbana. Antes da primeira guerra mundial, a Região Sul foi o destino dos imigrantes,

onde migravam internamente entre os três estados, levando filhos e netos das

primeiras gerações de imigrantes para as colônias abertas por companhias

particulares de colonização. Seyferth no livro “Fazer a América” escreve:

Este movimento migratório – que resultou na formação de algumas colônias homogêneas, particulares, que privilegiaram a origem étnica ou religiosa dos colonos – ficou mais intenso nas décadas de 1920 e 1930, quando os egressos das colônias “velhas” do Rio Grande do Sul chegaram ao oeste de Santa Catarina e do Paraná. (SEYFERT, in FAUSTO, 2000, p. 284,).

O processo imigratório no Paraná como nos outros estados do Brasil, não foi

tarefa fácil, nem todos os núcleos obtiveram sucesso. Vários foram os fatores que

Page 11: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

dificultaram a fixação dos primeiros imigrantes. Primeiro tiveram que desbravar as

terras, iniciando a mudança na paisagem, transformando a natureza, construíram

estradas e suas moradias, escolas para seus filhos era uma raridade. Muitos não se

adequaram ao trabalho agrícola e buscaram outros caminhos para a sobrevivência,

ocorrendo assim, novas atividades econômicas e sociais. A ocupação do Sudoeste

do Paraná se deu devido á abundância das matas, principalmente a árvore da

araucária, a erva-mate, a fertilidade e a grande extensão das terras disponíveis para

a prática da agricultura, surgindo graves conflitos, jurídicos, políticos e sociais

(LAZIER, 2004).

2.3 O processo histórico da imigração alemã no município de Sulina

A Influência da cultura germânica no município de Sulina no Sudoeste do

Paraná pode ser considerada fator decisivo para o seu processo de colonização.

O início histórico do atual município de Sulina ocorreu aproximadamente no

dia 28 de maio de 1956 quando uma caravana vinda do Rio Grande do Sul, oriunda

da cidade de Sebiri e arredores, contratada pela colonizadora Dona Leopoldina Ltda.

lançou-se mata adentro, desbravando uma densa mata de araucária, com a

finalidade de construir o primeiro rancho. A pé abriram picadas, para facilitar o

acesso dos futuros compradores de terras que chegariam alguns meses mais tarde.

Com a ajuda de dois cavalos cargueiros levavam os alimentos e roupas, munidos de

foices, machados, serrotes e cunhas para lascar a madeira de pinheiro, iniciam a

construção do primeiro rancho.

As terras existentes eram de uma riqueza natural extraordinária, a presença

da mata de araucária, cujos pinhões, que se encontravam no chão serviam de

alimento aos desbravadores, era abundante. Além da existência das araucárias,

eram encontrados por toda a parte, árvores de angico, gabriuva, marfim e canela. A

alimentação básica dos primeiros desbravadores era feijão, arroz e polenta, a carne

era trazida de São João, município mais próximo, a aproximadamente 35 km,

buscava-se a pé com os burros cargueiros, de três em três dias. Mais tarde foi

utilizada a carne de charque. O café da manhã era um revirado de feijão com

Page 12: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

lingüiça, pois deveria dar sustento no árduo trabalho braçal de abrir picadas e lascar

a madeira (LAZIER, 2004).

Finalmente no dia 06/06/1956, estava praticamente pronto o primeiro e

histórico rancho que, em meados de 1956, junto ao arroio “Forte” foi recepcionado

um grupo com os primeiros compradores de terras e futuros moradores de Sede

Sulina, que com a garra e o vigor de seus braços, de machado, foice e facão em

punho, começam a desbravar a mata virgem com grandes perspectivas de

progresso e o sonho de uma vida nova para suas famílias, o trecho abaixo do artigo

de Giralda Seyferth é exemplo da luta diária também encontrada pelos pioneiros de

Sulina:

O cotidiano das primeiras décadas da maioria das colônias foi marcado pela insegurança gerada por problemas fundiários e pelas deficiências dos serviços públicos essenciais. As verbas não eram suficientes para abrir as estradas necessárias, para demarcar os lotes com antecedência, para atender às demandas na área do ensino fundamental e da saúde. Muitas vezes não havia recursos sequer para pagar os serviços prestados pelos colonos (eles próprios contratados para realizar demarcações, construir pontes e pontilhões, picadas,) (SEYFERTH, 1993).

Ao analisarmos o histórico de Sulina, pode-se perceber uma notável

presença dos imigrantes alemães, prova disso está nos sobrenomes dos primeiros

moradores de Sede Sulina, os senhores Avelino Rubi Erhart, Guilherme Goldschmidt

e Maximiliano Jung, que em meados de 1956, organizaram a primeira caravana

oriunda do Rio Grande do Sul, chegando a esta localidade para conhecer as novas

terras, instalaram-se num pequeno ranchinho de pinheiro, antes construída por um

grupo de pessoas contratadas pela Colonizadora Leopoldina Ltda.. Então,

começaram a derrubar a mata para fazer suas roças, dando continuidade a nossa

história. Retornaram para as suas cidades de origem no dia 17 de dezembro de

1956 no intuito de regressarem o mais cedo possível. No dia 11 de março de 1957

saiu de Santa Rosa o senhor Avelino Rubi, com a esposa Edith Erhart e seu

primogênito Geraldo Erhart de apenas 11 meses com destino à nova terra, aqui

chegando no dia 15 de março de 1957. Em 05 de maio, chegaram aqui mais duas

famílias, Maximiliano Jung e Walter Barth. Após esta data foram chegando mais

Page 13: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

famílias. Como: Fredolino Kunz, Guilherme Goldschmidt, Lucas Hanzen, Harry

Willenborg, Andre Weber entre outros (SULINA, 2011).

Em 17 de dezembro do mesmo ano, nasceu à primeira cidadã sulinense,

Adelaide Erhart, contribuindo até os dias de hoje para a formação da identidade da

sociedade Sulinense.

Alguns meses depois chega uma nova leva de colonos, tendo o exemplo do

êxito dos primeiros moradores, que propiciavam melhorias na agricultura e no

comércio, principalmente o madeireiro, sentiu-se a necessidade de programar

melhorias nesse setor e no ano de 1958, iniciou-se a construção da primeira

serraria, por Armando Hoff, Fredolino Kreuz e Jorge Kreuz, aos poucos uma nova

composição étnica ia surgindo, a presença da emigração italiana e polonesa,

desempenhando assim um papel importante na construção da História desse

município.

Ruy Wachowicz (2002, p.158) em seu livro Histórias do Paraná afirma:

No oeste e sudoeste do Estado, também se fixou um número expressivo de descendentes de italianos, alemães e poloneses. Essas populações migrantes são integrantes da chamada frente de colonização sulista, procedentes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

Além da agricultura, o setor da indústria madeireira merece destaque, pois

deu um importante impulso para o desenvolvimento desta localidade, as serrarias

muito contribuíram para o aumento populacional, mão-de-obra assalariada e

consequentemente a devastação desordenada da mata de araucárias, que era

abundante, cujo beneficiamento das madeiras de lei era destinado à construção de

casas e móveis, estes comercializados por todo o Paraná e também aos estados de

Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O corte das árvores não era tarefa nada fácil,

pois tudo era realizado a partir da experiência e da força braçal, desde o corte com

serras manuais, o carregamento, transporte e descarregamento das mesmas no

pátio da serraria.

O primeiro comércio Sulinense, era de propriedade do senhor Arlindo

Steffens, para a época a existência desse comércio era de suma importância, pois

facilitava a aquisição de gêneros alimentícios de primeira necessidade, antes

Page 14: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

adquiridos na cidade de São João, pois com a falta de estradas e automóveis, os

moradores faziam o trajeto a pé ou a cavalo, mais tarde o senhor Armindo

Rocktmbach vinha de caminhão e trazia os mantimentos para vender à população.

Com o melhoramento das estradas, as tropas de mulas foram deixadas de lado e

entra em ação o primeiro transporte de mercadorias de caminhão, que trazia as

novidades para a comunidade local (SULINA, 2011).

Com o passar dos anos, a população sentiu a necessidade de uma escola

para seus filhos, a primeira escola funcionava juntamente com o prédio da Igreja

Católica Sagrada Família, lugar no qual os filhos aprenderam a ler, escrever e fazer

contas. As primeiras professoras foram às senhoras Nelly Rocktmbach e Nair Kreuz,

ainda lembradas por muitas pessoas nos dias atuais, com muito carinho e afeição. A

preocupação com a formação cultural, social e religiosa dos filhos dos primeiros

moradores de Sulina foi fundamental para despertar nos alunos, o respeito à

cidadania.

Atualmente, pode-se perceber ainda, em muitas residências sulinenses, a

preservação das tradições culinárias alemãs, presentes no cotidiano, nas reuniões

em família, no Natal e Páscoa, os fartos pratos típicos enfeitando as mesas, não

faltando, a broa de milho, roscas de polvilho, cucas recheadas com frutas, bolos,

bolachas pintadas com glacê e bem coloridas com açúcar de cor, as batatas

cozidas, a carne de porco e muito mais, nas festas acompanhadas de cerveja e as

famosas músicas das bandinhas típicas, alegrando o ambiente hospitaleiro das

famílias germânicas, buscando manter a tradição e os costumes dos antepassados

(SULINA, 2011).

Hoje, o município conta com uma população aproximada de 3.394

habitantes. A agricultura, pecuária de corte e leiteira predominam na economia, além

de o turismo aquático estar em crescente desenvolvimento, devido à existência das

Termas de Sulina, um importante polo turístico localizado dentro do complexo

turístico, em área ecológica de preservação permanente, com riquíssima fonte

centenária de água mineral com ação terapêutica, devido à alta temperatura e às

substâncias minerais e gasosas nela dissolvidas, a água emerge naturalmente com

vazão espontânea de 10 m/h a 37,5 C., rica em sulfato com substâncias a base de

enxofre, não necessita de tratamento a partir de outros componentes químicos

possibilitando o consumo ideal. Proporcionando bem estar, qualidade de vida, lazer,

entretenimento e crescimento do município (BRASIL - IBGE, 2011).

Page 15: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

2.4 A fotografia em sala de aula como fonte histórica

A fotografia se constitui em fonte de informações muito importante na

reconstrução de fatos do passado, mesmo que, utilizá-la possa representar a

formação de ficções. O professor, agente de extrema importância na construção do

conhecimento escolar, do mesmo jeito que o historiador, pode usar a fotografia

como instrumento no despertar e aprimoramento do conhecimento histórico dos

estudantes (ABUD, 2010).

Ao se falar do uso da fotografia em sala de aula, especialmente na disciplina

de História é importante o entendimento de sua constituição como produção humana

e fonte documental, qual a sua utilidade, as várias possibilidades de análise e

também suas limitações.

Partindo desta compreensão podem-se estabelecer parâmetros e análises a

respeito da forma de se utilizar tal documento tornando-o fonte de apreensão,

compreensão e produção de conhecimentos. Desta forma, alia-se imagem e texto

escrito na busca do conhecimento histórico.

Diante disso, tem-se que:

Fotografia é memória e com ela se confunde. Fonte inesgotável de informação e emoção. Memória visual do mundo físico e natural, da vida individual e social. Registro que cristaliza, enquanto dura, a imagem de uma ínfima porção de espaço do mundo exterior. É também a paralisação súbita do incontestável avanço dos ponteiros do relógio: pois o documento que retém a imagem fugidia de um instante da vida que flui ininterruptamente. (KOSSOY, 1989, p. 101 in SCHNELL, 2008).

Surgida no século XVIII, a fotografia se constituiu em importante fonte para o

conhecimento histórico, de início despertou a atenção dos artistas, observada com

desconfiança pelos acadêmicos, porém, como como fonte de pesquisa, a fotografia

possibilita “informação e conhecimento, instrumento de apoio nos diferentes campos

da ciência e também como fonte de expressão artística” (KOSSOY, 1989, p. 14 in

SCHNELL, 2008).

Page 16: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

A fotografia para a História pode servir de material de pesquisa, como

também para diversas outras ciências que buscam, a partir das imagens, mostrar as

mudanças ocorridas em toda a humanidade, sejam elas na natureza: como

paisagens, pessoas; como materiais: ruas, prédios, veículos de transporte, entre

outros. Por muito tempo, a fotografia servia apenas para ilustrar a linguagem escrita.

Borges (2008, p. 15,16) explica a fotografia e sua relação com as práticas

pedagógicas da seguinte maneira:

Antiga hóspede da literatura, da política, da filosofia, a História busca, ao longo do século XIX, construir sua própria morada. No decorrer desse período, historiadores de diferentes correntes teórico-metodológicas empenharam-se na definição da fisionomia e da identidade cognitiva da História com o objetivo de distingui-la das demais ciências do homem. É também esse o momento do surgimento de um novo tipo de imagem visual: a fotografia.

Borges (2008, p. 18) comenta ainda que “há quem acredite que o uso de

imagens fotográficas na pesquisa histórica signifique inovar, mesmo quando se lhe

aplica o mesmo conceito de documento histórico utilizado pela historiografia

metódica”.

Conforme o exposto pode-se dizer que a fotografia passou a ser uma fonte

muito rica para o trabalho, pois através dela podemos registrar fatos,

acontecimentos, momentos variados. Através dela também, podemos buscar o

passado, como suporte para registrar as histórias de nossa sociedade. Hoje a

fotografia está presente em todos os momentos e muitas vezes se fazem

necessários estes registros.

O mundo moderno está repleto de imagens, cabe então, aos professores de

história, analisar o olhar, discutir os significados, neste estudo, as fotografias da

época da Revolta dos Posseiros de 1957, foram utilizadas como suporte de análise

e reflexão, por ser fonte de ricas informações históricas e contribuindo

relevantemente para a reconstrução da história daquela luta pela terra ocorrida no

Sudoeste do Paraná.

Page 17: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

3 Relato da experiência e apresentação dos resultados

O presente trabalho apresenta os resultados de uma experiência didático-

pedagógica idealizada e elaborada para implementação com alunos de 1ª série do

Ensino Médio, em turma que frequentasse o Colégio Estadual Nestor de Castro -

EFM, do município de Sulina, Núcleo Regional de Educação de Pato Branco, no

Estado do Paraná. A elaboração do material, que resultou em uma Unidade Didática

intitulada: Representações Culturais da Imigração Alemã no Sudoeste do

Paraná, foi constituída para que se trabalhasse determinado assunto/tema através

de apresentações e produções de textos, exploração de imagens, atividades

reflexivas que permitiriam ao aluno, analisar, refletir, dialogar, investigar e construir

seu conhecimento em torno do tema.

O propósito do trabalho foi o de oportunizar ao aluno buscar, através de

pesquisas, as informações históricas referentes ao tema, no intuito de conhecer a

história do passado para entender e valorizar o presente. Comprovar através de

fotos e relatos, a coragem e a bravura dos colonizadores migrantes e imigrantes

possibilitando a análise, reflexão e a realização das atividades propostas.

O trabalho foi desenvolvido no 2ª semestre de 2011, a partir dos referenciais

teóricos estudados e material didático-pedagógico elaborado. Os participantes no

estabelecimento de ensino foram os alunos da 1ª Série “A” do turno matutino do

colégio citado, com faixa etária em média entre os 14 e 15 anos. Os trabalhos

também foram explanados, discutidos e analisados por ocasião do GTR (Grupo de

Trabalho em Rede), que é uma forma de capacitação à distância, oferecida pela

SEED (Secretaria de Estado da Educação) aos professores da Educação Básica da

rede estadual de educação. Nesta capacitação a pesquisadora participou como

tutora e interagiu com os cursistas trocando ideias, recebendo contribuições e

críticas construtivas referentes ao material postado no ambiente virtual do curso, ou

seja, sobre o projeto de intervenção pedagógica e também do material didático

pedagógico elaborado que continha as atividades a serem trabalhadas com os

alunos no decorrer da aplicação da intervenção em sala de aula.

Durante o GTR, os cursistas realizaram atividades em fóruns e diários, a

seguir, estão transcritas algumas considerações de professores extraídas dos

diários do curso, consideradas como contribuição importante a este estudo:

Page 18: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

Depoimentos:

Professor 01

“Ao analisar o material apresentado nesta temática, percebe-se a

importância do processo migratório, principalmente ao analisar as influências

culturais, sociais e econômicas.

A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade,

entre os quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas,

tradições, entre outros aspectos.

Os imigrantes enfrentaram diversos problemas. O governo alemão proibiu a

emigração para o Brasil devido a um forte movimento que surgiu na Alemanha

contra esta emigração, devido a diversos problemas. Ao chegar ao Brasil, os

imigrantes alemães sofreram para se adaptar ao clima brasileiro, ao idioma e às

novas condições de vida, normalmente primitivas, que já não tinham em seu país de

origem. Em alguns casos, chegavam ao Brasil e por não estarem suas terras

demarcadas, ficavam alojados aguardando durante meses o assentamento em seus

lotes. Também por problemas na demarcação de terras, muitas brigas surgiam.”

Professor 02

“O projeto de pesquisa proposto apresenta clareza em seus objetivos, com,

o recorte espaço temporal adequado para o tempo disponível para seu

desenvolvimento e sobretudo, necessita-se ressaltar que os referenciais teóricos são

bastante profícuos, os mesmos, além de abarcar reflexões voltadas para o tema nos

brinda com reflexões bastante instigantes.

Penso que a atividade da Roda de Conversa vai despertar bastante

curiosidade entre os seus alunos assim, minha sugestão é que elabore algumas

questões como um pequeno roteiro para direcionarem a conversa pois, uma

entrevista no coletivo tende a desviar o foco, além dos alunos, dos próprios

protagonistas do processo de colonização do município de Sulina, pois quando o

objetivo é falar de experiências vividas ficam mais à vontade e ai reside o problema

do desvio do foco principal.

Quanto às questões voltadas às representações culturais na construção da

identidade, o aluno irá perceber-se como um protagonista desta construção no

Page 19: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

momento em que se fizer uma reflexão a partir dos dados coletados nas fontes

levantadas, a exemplo da fonte oral, fotografia, músicas, danças, gastronomia entre

outros propostos e acredito se pensados lidos e analisados com cuidado podem

revelar aspectos históricos que até o presente momento não foram contemplados

pela historiografia local ou pouco mencionados. Creio que ai está a originalidade de

seu projeto: as fontes e a leitura sobre elas.”

Professor 03

“O projeto da professora Elci é relevante para o estudo sobre a imigração

para a região Sul e especialmente a imigração no Paraná que forma um mosaico de

etnias, culturas, onde cada região tem sua especificidade. Algumas marcadas pela

presença italiana, outras por alemães, japoneses, ucranianos que influenciaram nos

padrões culturais estabelecidos ao longo do processo de ocupação do espaço

através dos núcleos coloniais, influenciaram na culinária incorporando à culinária

local novos pratos e ingredientes, a cultura de gêneros desconhecidos pela

população local e também sofreram alterações em seu modo de vida.

As atividades propostas possibilitam o contato com a fotografia enquanto

fonte histórica e permite uma investigação sobre a história das famílias que foram

pioneiras nos municípios onde vivem. Além das fotografias é possível utilizar

documentos de imigração, relatos de viagem, oralidade, poesias, músicas. A

imigração europeia para o Brasil é uma temática que permite muitos olhares e

análises, cada região tem característica própria, foi marcada por uma demanda

econômica, social, cultural.

Ao propor um trabalho que envolve os alunos, torna-os responsáveis pelo

processo de aprendizagem e permite a construção do sentimento de pertencimento

ao lugar onde vivem os alunos aprender a respeitar a cultura de seus familiares,

valorizarem a memória, e perceber a necessidade de preservar sua história, não

para si, mas para que outros possam entender o processo de ocupação daquele

espaço, as expectativas, os sonhos, as dificuldades enfrentadas, a superação e

realização dos projetos das famílias que ali se instaram e ajudaram a construir a

história da cidade e das pessoas que ali vivem.

O trabalho com os pioneiros possibilita o resgate da memória e identidade,

desperta o sentimento de pertencimento e promove a preocupação com a

Page 20: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

preservação da memória, das festividades, dos bens materiais e imateriais. A escola

é o espaço da produção e apropriação do conhecimento de modo que transforma a

realidade e os alunos ao participarem de pesquisas de campo, coleta de materiais,

sejam documentos, fotografias, relatos, sejam pesquisas na internet, em bibliotecas,

documentos de famílias, objetos, entre outros, possam fazer uma leitura crítica da

história.”

Já em sala de aula, o trabalho sempre foi desenvolvido com os alunos

distribuídos em pequenos grupos, para que pudessem socializar as habilidades,

fazer os registros de cada atividade proposta pelo professor e então partir para as

explanações, analisar, refletir, dialogar, investigar e construir seu conhecimento

acerca do mesmo.

No primeiro momento fez-se uma indagação sobre a origem étnica de cada

educando, de modo que se valorizasse a apresentação de cada um, na sequência

apresentou-se o tema do trabalho: As representações culturais de um grupo de

imigrantes / descendentes de alemães que se deslocaram do Rio Grande do Sul

para o Sudoeste do Paraná.

O primeiro encontro foi muito aguardado pelos alunos da 1ª série “A”, sentiu-

se a expectativa positiva dos alunos, mostraram-se curiosos e participativos durante

a explanação e interessados em saber um pouco mais sobre sua própria história.

Então, foi realizada uma análise, com o uso do mapa mundi, da trajetória desses

imigrantes, desde a saída da Europa, sempre lhes indagando a respeito da causa,

objetivos e planos dessa partida da terra natal para um mundo totalmente

desconhecido.

Os alunos estavam atentos e curiosos em relação ao desfecho do percurso,

por eles realizado, as dificuldades enfrentadas, doenças, mortes, alimentação,

convívio durante a longa viagem. E a chegada ao Brasil. Quanto a isso fizeram os

seguintes questionamentos:

Qual foi a impressão dos imigrantes ao desembarcarem?

Quem os acolheu?

Eles tinham casa, terra, emprego, comida ao chegarem ao porto?

Eles se adaptaram ao clima e à população que aqui já se encontrava?

Page 21: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

Ao observarem a Alemanha moderna, da atualidade, os alunos ficaram

impressionados com relação aos cuidados com a limpeza das ruas, arquitetura,

eficiência no transporte, clima com o frio rigoroso, preservação de monumentos

históricos, contrastados à modernidade, seriedade com a saúde, costumes e regras

seguidas pelo povo, alimentação, música. Enfim, chegaram a conclusões e

identificaram no cotidiano algo que os identificassem a herança deixada pelos

antepassados. Então, propuseram-se como tarefa, transmitirem aos seus familiares

o que aprenderam no intuito de introduzir ou melhorar atitudes observadas em

relação aos cuidados e a limpeza das ruas e no cultivo de flores nos jardins de suas

casas, proporcionando a melhoria na qualidade de vida.

No segundo encontro foram trabalhados diferentes tipos de textos, estes

selecionados cuidadosamente, no intuito de conter um completo conteúdo da

história da imigração alemã para o Brasil, a turma foi distribuída em seis grupos, fez-

se leitura, análise e discussão oral e escrita. Todos entenderam o trabalho e se

empenharam na leitura. Percebeu-se o interesse, pois o diálogo e o questionamento

foi constante. Ao Concluir a leitura, cada grupo expôs seu trabalho oralmente. Um

dos grupos optou em escrever um poema, exposto, abaixo, para a explanação do

assunto debatido, no qual expressaram a coragem, luta e acolhimento do Brasil aos

imigrantes:

Tudo se resume em superação

Fome, miséria e destruição. Desemprego e pobreza Um país nessa situação? Sim, pois roubaram sua riqueza. Possibilidades foram divulgadas, O Brasil deu novas esperanças. Á uma nação desesperada, De homens mulheres e crianças. O povo alemão pra cá imigrou, E em processo de adaptação No Rio Grande do Sul se instalou, Reconstituindo um “ser cidadão” Mas após tantas guerras e dificuldades, Muitos aprenderam à lição

Page 22: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

De que deixar suas terras, Nem sempre é a melhor opção. Descendentes de alemão Hoje você pode dizer, Com orgulho e superação! Eu vi este país crescer... 180 anos já se passaram, E muita coisa mudou, Todos aqui se instalaram Um novo Brasil se formou!

Autoras: Vanessa Santos, Dalila da Rosa e Edivane Aline

Os demais grupos fizeram sua explanação através de relato oral,

explanando sobre os aspectos que mais lhes chamou a atenção, como: arquitetura,

idioma, culinária e diversidade cultural. A questão da 1ª e 2ª guerras mundiais e a

construção do muro de Berlim também foi destacada pelos grupos durante as

apresentações.

O terceiro encontro formalizou-se com a ida ao laboratório de informática do

Colégio para a realização de pesquisas na Internet referentes ao processo

migratório na região Sul do Brasil. O trabalho foi iniciado pela conscientização, pela

qual, todos demonstraram interesse e comprometimento. Iniciaram a pesquisa e com

muita paciência e dedicação todos conseguiram finalizar o trabalho de pesquisa

proposto. De volta à sala de aula os alunos transcreveram o conteúdo pesquisado

em forma de texto, então foi realizado um seminário com a apresentação individual

das produções ao grande grupo.

O quarto encontro foi de grande sucesso. A sala de aula foi preparada com

antecedência para que a aula fosse realmente tocante, estavam expostos cartazes

com dizeres sobre o tema do encontro, o acervo de fotografias antigas e atuais

estavam expostas na sala de aula, no intuito de conduzi-los à percepção da

importância dos avanços e do progresso histórico de Sulina. Neste encontro ainda,

foi montada uma exposição de objetos antigos trazidos pelos alunos e pela

professora, sendo que muitos dos objetos possuíam aproximadamente entre 80 e

100 anos de existência. Durante a aula, fez-se a análise da foto do primeiro rancho

de Sulina construído em 1956. Em seguida, fez-se a leitura e comentários do texto

Page 23: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

“Início da colonização de Sulina”. O interesse e a curiosidade do grupo foram

imensos, pois a grande maioria não conhecia a história de seu município.

Ainda neste dia, fez-se em grupos, a partir do roteiro abaixo, a análise da

foto do primeiro rancho de Sulina, na época chamada de “Sede Sulina”, benfeitoria

esta construída em meados de 1956 com o objetivo de servir de acomodação aos

primeiros compradores de terras.

Figura 01 - Primeiro rancho construído por migrantes

Fonte: Foto cedida pela Família de Frederico De Carli.

O roteiro apresentado aos alunos continha os seguintes questionamentos

para observação e análise:

Quem seriam as pessoas retratadas? Data, local, tema, paisagem,

ambiente, situação. Como se vestem, objetos que podem ser notados?

Quem seria o fotógrafo?

Que intenção pode-se imaginar que possuíam ao ser tirada a

fotografia?

Que informações podem ser deduzidas sobre a época em que foi

tirada a foto?

Por que esta foto foi preservada e hoje é tema de estudo?

Que valor histórico a foto revela?

Page 24: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

Como se encontra hoje o local em que foi tirada a foto?

Quem é o atual proprietário da foto?

A imagem foi projetada com o auxílio de multimídia (data show), assim,

todos puderam contemplar a histórica foto, que passou a ser denominada pelos

alunos de “certidão de nascimento de Sulina”. A atividade foi desafiadora, pois

tiveram que usar a imaginação, a criticidade e a interpretação.

Após todos terem realizado a tarefa proposta, partiu-se para a apresentação,

as respostas, lidas e comentadas, foram audaciosos e os alunos demonstraram a

assimilação do conteúdo proposto.

O tema do 5ª encontro foi: “Aprofundando o assunto”. Novamente os alunos

formaram grupos e dirigiram-se à sala de informática para realização de uma

pesquisa referente às influências dos costumes e tradições da imigração alemã,

italiana e polonesa na cultura brasileira, com referência à culinária, os ritos musicais,

danças, arquitetura e curiosidades dos idiomas incorporados ao português do Brasil.

A pesquisa transcorreu normalmente, sem problemas técnicos. Os alunos puderam

baseá-la em vários sites e construir uma conclusão. Houve grande interesse dos

alunos que foi percebido pelas constantes interrupções pelos alunos indagando

assuntos referentes à pesquisa. Os itens que mais chamaram a atenção dos alunos

foram referentes à culinária, vários deles copiaram receitas para, em casa, junto com

as mães tentarem prepará-las. A música e a arquitetura também despertaram

grande interesse.

No sexto encontro o tema abordado foi: “Sulina, um município rico e com

diversidades econômicas”. Neste dia analisou-se um acervo fotográfico da época e

fotografias atuais, o objetivo foi estabelecer comparações entre o antes e o depois.

Page 25: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

Figura 02 - Tora de madeira gigantesca, extraída das florestas sulinenses.

Fonte: Foto cedida pela família de Anna Arlinda Hanzen Stein.

Figura 03 - Madeiras cortadas no interior de Sulina no ano de 1967.

Fonte: Foto cedida pela família de Anna Arlinda Hanzen Stein.

Page 26: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

Figura 04 - Estocadas mais de duas mil dúzias de tábuas em madeira de pinheiro.

Fonte: Foto cedida pela família de Anna Arlinda Hanzen Stein.

Os alunos foram muito críticos, ficaram admirados pela riqueza florestal

existente no passado nesta região, comentaram a respeito da necessidade de

destruírem as frondosas matas para dar lugar à agricultura e à pecuária que

garantiam a sobrevivência das famílias, sendo as intenções para a época as mais

naturais possíveis, o que, atualmente, não é mais tolerável.

Após observar, analisar e comentar as fotos, os alunos produziram textos

baseando o contexto de produção no roteiro seguinte, constante do material didático

utilizado:

Que realidade as fotografias propiciaram construir na atualidade?

É possível estabelecer as intenções da época ao tirarem as

fotografias?

Que reflexões podem ser feitas ao se observarem as fotos?

Cite os aspectos positivos e negativos em relação à preservação do

meio ambiente em nosso município, estado e país?

No sétimo encontro teve-se a oportunidade de enriquecer o conhecimento

de todos, com a presença do Padre Affonso Niys, um imigrante vindo da Bélgica

Page 27: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

para o Brasil no ano de 1985, que atualmente ainda reside no município, devido à

cordialidade do povo brasileiro.

Padre Affonso fez uma brilhante apresentação, fazendo uma retrospectiva

histórica da imigração alemã, traçou um comparativo do ciclo das grandes

imigrações europeias, suas causas, e o motivo pelos quais os imigrantes preferiram

o Sul do Brasil para se instalarem definitivamente. Relatou como se encontra a

Alemanha, hoje, pois anualmente ele se reencontra com seus conterrâneos na

Europa. Os alunos pediram para que contasse brevemente sua história de vida.

Affonso gentilmente colocou que não gosta de detalhar sobre sua infância, pois as

imagens do sofrimento de uma guerra deixam cicatrizes irreparáveis, porém, o relato

feito impressionou muito a todos. Sua infância ocorreu no período da 2ª Guerra

Mundial e pós-guerra, onde os bombardeios eram constantes e as perdas humanas

numerosas. Para proteger a vida, ele e os irmãos tiveram que ir bem longe para o

interior, sendo cuidados por famílias desconhecidas, ficando, por muito tempo,

separados da mãe. A comunicação era somente por cartas, o pai era prisioneiro da

Alemanha. Affonso tinha apenas 03 anos de idade e o feliz reencontro ocorreu aos

09 anos, até então não sabiam se o pai estaria morto ou vivo. A partir daí não se

separaram mais, reconstituindo aos poucos a vida e o convívio familiar.

O oitavo encontro ocorreu sob a forma de uma “roda de conversa” com os

pioneiros de Sulina. Este momento se deu fora do ambiente escolar, o local

escolhido para o acontecimento foi a residência da professora pesquisadora, local

este que também foi alvo de estudos e análises durante a implementação. Na

chegada os alunos observaram as mudanças ocorridas na paisagem do local,

fizeram inúmeros comentários e ficaram admirados com as mudanças.

Fizeram-se presentes no encontro o casal pioneiro de Sulina, Avelino Rubi

Erhart e Edith Erhart, a primeira cidadã sulinense, a também professora, Adelaide

Erhart Pereira da Costa e o senhor Lauro Arno Keske. O ambiente para este

encontro foi preparado com muito carinho pela professora e pelos alunos, pois,

anteriormente, em sala de aula, organizou-se um roteiro com questões pertinentes

ao tema do projeto para que os convidados respondessem. A varanda da casa foi

decorada com cartazes, quadros, objetos antigos e fotografias que relembrassem

fatos importantes da época. Sentiu-se a imensa alegria e satisfação dos convidados

em poderem dar informações importantes com seus relatos da História do município,

contribuindo assim com o aprendizado dos alunos.

Page 28: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

O diálogo foi proveitoso, os alunos estavam tranquilos e demonstraram

interesse pelo assunto, participando constantemente com questionamentos. Os

relatos foram relevantes para a construção do conhecimento histórico, muito se

aprendeu, dúvidas decorrentes do estudo anterior foram esclarecidas e o

entrosamento entre os pioneiros e os alunos foi muito bom, proporcionando assim, o

respeito à diversidade.

Para finalizar o encontro, e a implementação do projeto, foi realizada uma

confraternização entre os participantes com degustação de pratos típicos alemães,

não faltando a famosa “cuca” recheada com doces de frutas, as roscas de polvilho

azedo - para as quais tradicionalmente as famílias se reuniam todos os anos para a

produção do polvilho, assim garantiam o alimento para o ano todo -, as tradicionais

bolachas pintadas em diversos formatos estavam presentes enfeitando a mesa, a

broa de milho, o melado batido, o requeijão, a nata, também a carne de porco frita e

o salame cozido que, curiosamente, são consumidos com pão. A cerveja foi

lembrada, mas, por se tratar de um encontro com jovens adolescentes e em um

momento de estudo, serviram-se as tradicionais gasosas, com sabores de

framboesa, guaraná, laranja e abacaxi, muito consumidas em festas religiosas da

época de fundação do município de Sulina.

4 Depoimento dos alunos participantes do projeto

Nesta seção transcrevem-se sucintamente os depoimentos dos alunos que

participaram das atividades de implementação do Projeto de Intervenção

Pedagógica do PDE 2010. Indagados a respeito das informações recebidas e das

atividades realizadas, todos foram unânimes nas respostas, observa-se assim, que o

trabalho foi válido, interessante, despertou a curiosidade e que, cada encontro, foi

um “chamado de atenção” para mais informações importantes que muito influenciam

e ensinam para a vida.

Questionados acerca da possibilidade de se aprender através de projetos

diferenciados, os alunos responderam que essas atividades são ótimas, possibilitam

ao aluno maior participação, entrosamento e até a desinibição ao aluno mais tímido.

Quanto ao uso das multimídias, consideraram importante que os professores façam

Page 29: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

uso destes recursos em sala, tornando as aulas mais atraentes, com uso de textos

diversificados. Os depoimentos dos convidados foram por eles classificados como:

“incríveis”. Sendo assim, pode-se afirmar que acreditam que os aprendizados dos

conteúdos por meio de aulas divertidas, dinâmicas e diversificadas mudam

completamente a rotina e a forma de estudar.

Com as pesquisas e pelos depoimentos ouvidos, alguns estudantes

descobriram que seus antepassados participaram da 2ª guerra mundial e que é bom

ouvir as memórias da família. Com isso, passaram a dar maior importância à

preservação do patrimônio tanto da família quanto do município.

5 Considerações Finais

O objetivo inicial do presente estudo foi o de oportunizar aos educandos o

acesso à diversidade de informações sobre a imigração alemã na Região Sul e

instrumentalizar essa reflexão por meio de conceitos, acreditando que isso poderia

possibilitar a observação e análise mais aguçada sobre o mundo que o cerca.

Diante disso, pode-se concluir que o trabalho pedagógico tem a finalidade de

propiciar a formação do pensamento histórico dos estudantes. Para isso, professor e

alunos utilizaram métodos de investigação histórica articulados por suas narrativas

históricas. Assim, os alunos perceberam que a História está narrada em diferentes

fontes como nos livros, cinema, canções, palestras, relatos de memória, entre tantas

outras, já que os próprios historiadores se utilizam destas fontes para construírem as

narrativas históricas.

Então, é importante dizer que, sempre que se trabalha partindo da realidade

do aluno, faz-se do conteúdo algo atraente. Por isso é que se escolheu trabalhar a

imigração, para valorizar a história do educando, pois o mesmo se sente inserido no

processo histórico, uma vez que o povo paranaense tem uma riqueza cultural

oriunda do processo do qual fazem parte. O que pode ser constado através da

história repassada pelos familiares, pelas fotos analisadas, pelas pesquisas

realizadas em diversas fontes, com os objetos antigos expostos, enfim, todos os

elementos integrantes da intervenção pedagógica provocaram mudanças no olhar

dos educandos.

Page 30: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

Neste patamar ainda, pode-se afirmar também que a utilização de recursos

didáticos diferenciados geralmente é bem recebida pelos alunos, neste caso foi.

Experiências vividas evidenciaram tal realidade. Além disso, o projeto desenvolvido

contemplou o diálogo, a observação, a leitura, a interpretação e a produção de

textos no intuito de contribuir com a motivação do aluno, facilitando-lhe a

aprendizagem dos conceitos históricos e proporcionando aos alunos a percepção de

que o trabalho desenvolvido na atualidade é fruto das experiências do passado,

podendo assim servir de aprendizado para as novas gerações.

Por fim, vale dizer que o estudo foi de grande valia, pois possibilitou a

aproximação dos educandos com os pioneiros do seu município, fazendo com que

entendessem e captassem a concepção e os conhecimentos sobre a realidade em

que vive o povo sulinense. Assim, para concluir o exposto, tem-se a convicção de

que os alunos estão em condições de identificar processos históricos, reconhecer

criticamente as relações de poder existentes e, também, intervir no mundo histórico

em que vivem, fazendo-se sujeitos da própria História.

Referências

ABUD, Kátia Maria. Ensino de história. São Paulo: Cengage Learning. 2010.

(Coleção ideias em Ação)

BORGES, Maria Eliza Linhares. História e fotografia. 2. Ed. Belo Horizonte:

Autêntica, 2008.

BRASIL - IBGE, Sulina. 2011. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=412665. Acesso em 20.03.2011.

COLATUSSO, Denise Eurich. Imigrantes alemães na hierarquia de status da. Sociedade luso-brasileira (Curitiba, 1869 a 1889). Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_teses/historia/dissertacao_denise_colatusso.pdf . Acesso em: 23 de setembro de 2010.

Page 31: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

COSTA, Sérgio. Imigração no Brasil e na Alemanha: Contextos, Conceitos,

Convergências. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/pdf/938/93844202.pdf. Acesso em: 25 de outubro de 2010

FAUSTO Boris. Fazer a América. 2 ed. São Paulo: Edusp, 2000.

FOUQUET, C.. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil: 1808-1824-1974. São Paulo, Instituto Hans Staden; São Leopoldo: Federação dos Centros Culturais 25 de Julho. 1974

HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. In GUZZO, Ana Cristina Provin - A Importância do Estudo do Patrimônio Histórico para o resgate da Memória. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2512-8.pdf Acesso em: 20 de outubro de 2010.

HUBER, Valburga. A Literatura da imigração alemã e a imagem do Brasil.

Curitiba: UFRGS, 2002.

KLEIN, Herbert S. Migração Internacional na História das Américas. In: FAUSTO, Boris (org.) Fazer a América. São Paulo: Edusp, 2000.

KOSSOY, B. Fotografia e história. São Paulo: Ática, 1989. In SCHNELL, Rogério. Uso da fotografia em sala de aula - Palmeira: espaço urbano, econômico e

sociabilidades – a fotografia como fonte para a história – 1905 a 1970. 2008. Dsiponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/5-4.pdf. Acesso em 10 de abril de 2012.

KREUTZ, Lúcio. Escolas da imigração alemã no Rio Grande do Sul: perspectiva histórica. In: MAUCH, Cláudia (org.) Os Alemães no Sul do Brasil. Canoas:Ed. Ulbra, 1994.

LAZIER, Hermógenes. Paraná: terra de todas as gentes e de muita história.

Francisco Beltrão: GRAFIT, 2004.

MÜLLER, Telmo Lauro. Colônia alemã, histórias e memórias. Porto Alegre: Escola

Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1981.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. De como os alemães tornaram-se gaúchos pelos caminhos da modernização. In: MAUCH, Cláudia (org.) Os Alemães no Sul do Brasil. Canoas: Ed. Ulbra, 1994.

SEYFERTH, Giralda. Identidade étnica, assimilação e cidadania: a imigração alemã e o Estado brasileiro. 1993. Disponível em:

Page 32: REPRESENTAÇÕES CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMà· tecnológicas provocados pelo trabalho humano no passado e a análise dos elementos históricos e culturais resultantes da imigração

http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_26/rbcs26_08.htm. Acesso em: 15 de setembro de 2010.

SEYFERTH, Giralda. A identidade teuto-brasileira numa perspectiva histórica. In: MAUCH, Cláudia (org.) Os Alemães no Sul do Brasil. Canoas:Ed. Ulbra, 1994.

SILVA, Marcos Antonio da. (org). Repensando a história. Rio de Janeiro: Marco zero, 1984.

SULINA. História da Cidade de Sulina - Paraná. 2010. Disponível em:

http://citybrazil.uol.com.br/pr/sulina/historia-da-cidade Acesso em: 08 de setembro de 2010.

SULINA. Evolução histórica de Sulina. Prefeitura Municipal de Sulina. 2011. Disponível em: http://www.sulina.pr.gov.br/historia.php. Acesso em 20 de março de 2011.

TEIXEIRA, Inês Assunção de Castro. A escola vai ao cinema. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2000.

ZUBARAN, Maria Angélica. Os teuto-rio-grandenses, a escravidão e as alforrias. In MAUCH, Cláudia (org.) Os Alemães no Sul do Brasil. Canoas:Ed. Ulbra, 1994.