reportagem - museu histórico do exército e forte de copacabana

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52 ANO XI / Nº 21 Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana Paulo Roberto Rodrigues Teixeira .....................................................

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Page 1: reportagem - Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana

52 Ano xi / nº 21

Museu Histórico do Exércitoe Forte deCopacabanaPaulo Roberto Rodrigues Teixeira.....................................................

Page 2: reportagem - Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana

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O local escolhidopara a sua construçãoconsistia numa regiãocujos rochedosavançavam contra o marem direção à entradada Baía de Guanabara

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Antecedentes

As nações europeias, a partir do século XVI, tomaram conhecimento das riquezas nas terras conquistadas pelos portugueses. A imensidão do território e sua faixa litorânea sem defesa e repleta de portos naturais, aliadas às riquezas existentes, contribuíram para que desenvolvessem agressiva estratégia de invasão aos domínios de Portugal.

A segurança da Baía de Guanabara, desde o Brasil Colônia, sempre foi uma preocupação dos governantes, pela sua crescente importância econômica e estratégica. Durante o Período Republicano, prosseguiram as ameaças dos invasores contra o nosso território.

Vários fortes e fortalezas, desde o início da colonização, foram constru-ídos ao longo da imensa costa marítima. Alguns se destacaram pela gran-diosidade das suas instalações e pelo alto poder de fogo.

O Forte de Copacabana foi um deles.Ao fim da sua operacionalidade, como meio de defesa eficaz, veio a tornar-se

um polo de atração cultural e turística, recebendo milhares de visitantes, anualmen-te, passando a designar-se Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana.

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O Forte

Igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana ou Saco-penabam, como chamavam os indígenas, existente no promontório onde foi construido o Forte.

Está localizado no fim da Praia de Co-pacabana, na Cidade do Rio de Janeiro.

Foi construído no promontório da igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana ou Sacopenabam, como chamavam os indí-genas. Era uma região cujos rochedos avan-çavam contra o mar na direção da entrada da Baía de Guanabara, oferecendo excelente área para posicionar peças de artilharia.

A sua construção em forma de casamata e as paredes externas, de 12 metros de espessura, voltadas para o mar, acolheram os canhões alemães Krupp, assentados em cúpulas encouraçadas giratórias.

Possuía, na época, dois canhões de 305mm, com alcance de 23km, dois canhões de 190mm e duas torres de canhões de 75mm.

A 6ª Bateria de Artilharia Indepen-dente de Posição, oriunda de Laguna, Santa Catarina, guarneceu as instalações do forte, após sua inauguração.

A fortificação dispunha de uma usi-na a diesel, com dois grupos de geradores fabricados na Alemanha, em Berlim que, na época, fornecia energia elétrica para o bairro de Copacabana e que servia para iluminação, ventilação e operação das peças de artilharia.

Comissão de Obras visita a construção.

Foi o único projeto, na América do Sul, que integrava câmaras de tiro, cozi-nha, depósito de víveres, paiol de munição, alojamento para oficiais e praças, oratório, oficina, telégrafo, observatórios, almoxarifa-do, cisterna de água, banheiros e enfermaria. Essa poderosa casamata permitia sustentar o combate durante longo tempo sem precisar de auxílio externo.

Visão geral da Fortaleza em construção.

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A construção do pórtico de entrada foi concluída, em 1920.

Originalmente, possuía alojamento para a guarda, banheiros e pequena reserva para munição e armamento.

No alto da fachada, observam-se dois canhões cruzados, o antigo símbolo da Arma de Artilharia de Costa, o Brasão das Armas

Pórtico de entrada do Forte, inaugurado em 1920.

da República e a inscrição que designava o nome da Unidade Militar, na data de sua construção, Forte de Copacabana.

Há uma inscrição em latim na retaguarda do Pórtico “Si Vis Pacem para Bellum” que sig-nifica “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”, escrita pelo autor Publius Flavius, em 390 d.C.

Em maio de 1987, foi criado o Museu Histórico do Exército nas instalações do Forte de Copacabana. Era Ministro do Exército o General Leônidas Pires Gonçalves.

Existem dois salões no museu: Salão Colônia Império e Salão República, ambos mobiliados com acervos preciosos que retra-tam a nossa história.

Possui ainda outros espaços que são usados para exposições temporárias e também para eventos sociais.

A guarnição da entrada do forte usando uniforme e armamento da época da inauguração.

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Históriaprogramadas para a continuação de um forte não atingiram o seu final.

D. João VI também determinou que se projetasse um forte na mesma área.

Somente mais tarde, na República, foi construído o forte atual, localizado na mesma posição escolhida pelos portugueses, debruça-do sobre o mar, nas proximidades da entrada da barra. O projeto inicial foi apresentado pelo Major Tasso Fragoso. Após vários estu-dos, foi feito uma adaptação no armamento a ser utilizado, passando a ser canhões de tiro tenso e de longo alcance.Em 1555, os franceses, chefiados por

Nicolau Durand de Villegaignon, chegaram ao Rio de Janeiro, com a ideia de fundar uma colônia no Brasil: a França Antártica. Atracaram na Baía de Guanabara e fixaram--se nas Ilhas Lages e Sergipe – onde viviam os tamoios – e ergueram o Forte Coligny. Atualmente, a ilha chama-se Villegaignon, e nela se encontra a Escola Naval.

No local, Estácio de Sá fundou, em 1º de março de 1565, a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, entre os morros de São João e Pão de Açúcar. Era o início da resistência contra o invasor.

Nos séculos XVII e XVIII, outras in-cursões ocorreram na cidade. Os portugueses empenhavam-se em construir novas fortifica-ções para ampliar a defesa contra as investidas estrangeiras.

Com a transferência da capital da Co-lônia Portuguesa, de Salvador para o Rio de Janeiro, no ano de 1763, houve necessidade, especialmente na sede do Vice-Reinado, de aumentar a segurança. Entretanto, as obras

Nicolau Durand de Villegaignon.

Tasso Fragoso.

Em 16 de novembro de 1907, o Major Luís Eugênio Francisco Filho foi designado para dirigir a construção da moderna forti-ficação.

Em 5 de janeiro de 1908, ocorreu o lançamento da pedra fundamental, com a presença do Presidente da República, Afonso Pena, e do Ministro da Guerra, Marechal Hermes da Fonseca.

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Foi inaugurado em 28 de setembro de 1914, constituindo a mais moderna praça de guerra da América do Sul e um marco para a engenharia militar do seu tempo.

O forte, desde a sua criação, foi guarne-cido sucessivamente pelas seguintes unidades:

6ª Bateria de Artilharia Independente de Posição (1912-17)5ª Bateria do 2ª Batalhão de Artilharia de Posição (1917)12ª Bateria do 4º Grupo de Artilharia de Costa (1917-19)1ª Bateria Isolada de Artilharia de Costa (1919-31)1ª Bateria do 6º Grupo de Artilharia de Costa (1931-34)3º Grupo de Artilharia de Costa (1934-58)

Cúpula dos canhões de 305mm

Os últimos disparos realizados pelos seus canhões ocorreram em 11 de novembro de 1955, no episódio que ficou conhecido como a Novembrada, por ordem dos mili-tares legalistas comandados pelo Marechal Teixeira Lott, contra o cruzador Tamandaré, que forçara a saída da barra.

A partir de 1987, com a extinção das Baterias de Artilharia de Costa, as instalações do forte foram transformadas em Espaço Cul-tural, passando a ser designado como Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana.

Entrada da fortificação.

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Os 18 do Forte

Um fato histórico marcante, ao longo do Período Republicano, foi a revolta do Forte de Copacabana, que ficou conhecida como “Revolta dos 18 do Forte”, ocorrida entre os dias 5 e 6 de julho de 1922.

Liderado por jovens oficiais do Exérci-to, foi considerado o primeiro Movimento Tenentista, cujo objetivo era a queda da República Velha.

No dia 5 de julho, a Fortaleza de Santa Cruz bombardeou o Forte de Copacabana, porém, os 301 revolucionários (oficiais, pra-ças e civis) mantiveram-se nas suas posições de defesa. O Capitão Euclides Hermes e o Tenente Siqueira Campos sugeriram que desistissem da luta aqueles que quisessem: apenas 29 decidiram continuar.

O Capitão Euclides Hermes tentou negociar e, quando saiu do forte, foi preso. A tropa legalista tinha o efetivo de quatro mil homens.

O Tenente Siqueira Campos assumiu o comando e marcharam pela Avenida Atlântica em direção ao Leme.

No percurso, alguns integrantes aban-donaram o grupo durante o confronto. Os que se mantiveram em marcha foram derro-tados em frente à Rua Barroso, atual Siqueira Campos.

Apenas o Tenente Siqueira Campos e o Tenente Eduardo Gomes sobreviveram.

Em homenagem ao 1o Tenente Siqueira Campos, foi erguido um monumento na Avenida Atlântica, em frente à Rua Siqueira Campos onde ocorreu o confronto e também na entrada do forte.

Tela de Ivan Wash Rodrigues.

Alegoria feita sobre as homenagens a Siqueira Campos na entrada do Forte.

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O Forte de Copacabana é um marco na história do sistema de defesa da Baía de Guanabara.

Quando entramos para visitá--lo, ao longo do corredor da entrada lateral, em exposição permanente, observamos os canhões coloniais, de tipos diferentes, caracterizando a sua evolução bélica ao longo da história.

Ao fundo, no interior da casa-mata de concreto, está parte do aquar-telamento do forte. Uma estrutura perfeita para as operações de tiro e para sustentar o combate.

Entrada do Forte

Alameda lateral de acesso

Gabinete de Comandoda época

Galeria de circulação e de exposição

Antigo Gabinete doComandante

Entrada dafortificação

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Câmara de Tiro da 2a Bateria

Municiamento dos canhões

O cenário encanta os visitantes.O contraste das cúpulas giratórias metálicas com as casamatasde concreto oferece um belíssimo espetáculo visual.

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Guararapes

Ensino Militar

Rondon

Força Expedicionária Brasileira

Os salões de exposiçãocomplementam a museologia do

forte, apresentando os fatos históri-cos ocorridos, em épocas diversas.O Museu Histórico do Exército e

Forte de Copacabana tornou-se umespaço cultural conhecido em todo

o mundo, pelos grandes eventos que ali são realizados, na área social

e cultural, e pela riqueza do seu acervo que está à disposição

de todos

Lanches

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BibliografiaBARRETO, Anibal. Fortificações do Brasil, Biblioteca do Exército Editora, RJ.1958.CORREIA, João Rosado. Fortificações Portuguesas no Brasil, Monsoraz: Centro de Estudos Patrimoniais Lusófanos da Fundação Convento e Orada, 1998.FROTA, Guilherme de Andrea. Quinhentos anos História do Brasil. Biblioteca do Exército Editora - RJ 2000. CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Muralhas de Pedra, Canhões de Bronze, Homens de Ferro. FUNCEB, Editora - RJ: 2009.MHEFC - Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana.RIBEIRO, Sérgio Nunes - Fotógrafo da Seção de Produção Gráfica do Museu.

Encerramos a nossa reportagem, deixando um convite especialao prezado leitor, para que conheça este patrimônio histórico e se orgulhe do trabalho realizado no decorrer dos anos, cujo objetivo principal,inicialmente, era manter a segurança da Baía de Guanabara.Hoje, transformado em museu, tornou-se um atrativo turísticodos mais visitados na Cidade do Rio de Janeiro.

Encerramento

Paulo Roberto Rodrigues Teixeira – Coronel de Infantaria e Estado-Maior, é natural do Rio de Janeiro. Tem o curso de Estado-Maior e da Escola Superior de Guerra. Atualmente, é assessor da FunCEB e redator-chefe da revista DaCultura.

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Parabéns à nossa FUNCEB que mais uma vez brilha com a Revista DaCultura, Ed Nr 20, de Set 2012, com rara riqueza de conteúdo histórico e cultural, diversidade, qualidade, credibilidade e inestimável valor material e imaterial, que retrata e divulga com fidelidade o papel de protagonista do Exército Brasileiro na História do Brasil e coloca o Sistema Cultural o nosso Exército na vanguarda da Cultura Nacional.

Joel F. Corrêa - Coronel de Infantaria Nada fortalece tanto o patriotismo de um povo, quanto o culto à memória de seus acontecimentos

heróicos, inseridos nos fatos da sua história.A Revista DaCultura está plenamente inserida nesse contexto, trazendo à baila artigos de

ingente interesse para o país em geral e para a Força Terrestre em particular, abordando temas em que se evidencia a participação da “brava gente brasileira” em defesa da paz mundial, das nossas fronteiras, da segurança interna e do desenvolvimento social e político. Um destaque muito especial para as publicações sobre os sítios históricos edificados em nossos territórios – os Fortes Militares – muitos, erguidos ainda nos primórdios do Brasil - colônia.

Aliás, como temos apregoado – “o povo que não souber preservar a sua memória histórica, não saberá alicerçar no porvir, as bases do patriotismo para as gerações vindouras”.

Parabéns,Revista DaCultura patriótica! João Paulo S. Vieira – Coronel Farmacêutico

A excelência da Revista passa a imagem de uma grande equipe de edição. Grande, no sentido de quantidade e, também, de qualidade das pessoas envolvidas na sua elaboração. No entanto, sei que apenas a qualidade justifica as palavras acima, pois a equipe é pequena, muito pequena, em razão do valor e relevância dos seus artigos, em conteúdo e forma.

Com uma apresentação agradável, bem ilustrada, dinâmica e atraente, sua leitura é, principalmente, uma rica viagem ao passado, sem nostalgia, apontando para o que podemos fazer no futuro, espelhados nos seus exemplos, conhecimentos e sentimento do valor da cultura. A Revista devolve-nos o prazer da leitura, da boa leitura, esquecida pelos apelos do mundo moderno, pela correria do dia a dia, pela grande velocidade com que o tempo parece passar na era da tecnologia, na era do conhecimento. Esse conhecimento, arrastado pela tecnologia, parece que deixa o prazer da leitura e da cultura para trás, cenário esse que se constitui num verdadeiro paradoxo.

Em particular, na DaCultura número 20, o artigo Forte das Cinco Pontas, traz-nos um conteúdo rico de sentimento e de grande valor cultural, com o conhecimento transmitido com leveza, pelas palavras, paisagens e pinturas, numa mostra feliz do que é a Revista.

Finalmente, é difícil para a Matemática quantificar em números uma nota para a Revista. Ela não tem nota. Ela só tem valor, valor imensurável. Valmir Sodré de Macedo – Coronel Engenheiro de Comunicações pelo IME

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oAno XII – N 21 – Maio de 2013 – ISSN 1984-3690

oA

no XII – N

21 – Maio de 2013

Um Exército de Voluntários Entrevista com o Chefe do DECEx

Fernando de Noronha: uma Ilha de Defesa e a Defesa da Ilha

Ponte Rio-Niterói – Um Marco em nossa Engenharia

A Verdade e a História

Na Memória do Exército, a História do Brasil

FundaçãoCulturalExércitoBrasileiro

FundaçãoCulturalExércitoBrasileiro

Na História do Exército, a Grandeza do Brasil

A Origem do Projeto Rondon

Canhões que atiramcultura e civismo Museu Histórico do Exército

e Forte de Copacabana