reportagem multimídia: a produção musical independente do circuito fora do eixo

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1 MAYARA BARBOSA SILVA Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV Viçosa Minas Gerais 2011

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Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social/Jornalismo apresentado em novembro de 2011.

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Page 1: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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MAYARA BARBOSA SILVA

Reportagem multimídia: a produção musical

independente do Circuito Fora do Eixo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

Viçosa – Minas Gerais

2011

Page 2: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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MAYARA BARBOSA SILVA

Reportagem multimídia: a produção musical

independente do Circuito Fora do Eixo

Projeto Experimental apresentado ao Curso de

Comunicação Social/ Jornalismo da Universidade

Federal de Viçosa, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Dr. Carlos Frederico de Brito d’Andréa

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

Viçosa – Minas Gerais

2011

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Agradecimento

Ao longo desses quatro anos de graduação vivi momentos inesquecíveis e de grande

aprendizado que ficaram marcados para sempre na minha memória.

Primeiramente, a Deus por todas as oportunidades, benções e pessoas que colocaram na

minha vida e que fizeram com que ela se tornasse maravilhosa. Sou muito grata.

Nada do que eu passei seria possível sem a presença da minha mãe, minha irmã e minha tia.

As três mulheres da minha vida, que me dão inspiração para ser melhor a cada dia. Especialmente

minha mãe, a mulher mais forte e lutadora que conheci em toda minha vida, que não deixou que me

faltasse amor, mesmo de longe e que me deu todo o suporte necessário nessa caminhada. Eu te amo.

Ao meu pai, que onde quer que esteja, deixou plantado em mim os melhores sentimentos e

ensinamento, se tornando um exemplo mesmo passando tão poucos anos perto de mim. Saudades.

Agradeço aos amigos que acompanharam de perto todos esses anos: Monizy, Kívia,

Jordana, Nayara, Murilo, Maria Clara e as amigas de república. Obrigada pelas conversar, besteiras,

colos e broncas. Pessoas que marcaram minha vida. Ao amigo Davi, que mesmo longe se mostrou

presente e que se tornou um irmão e um exemplo de homem.

Quero agradecer a turma de Comunicação Social 2008 que me proporcionou, como um

todo, momentos engraçados e me deram gargalhadas infinitas e incontroláveis. Todos eles passaram

por todos os sofrimentos e alegrias de serem calouros e se sentirem um pouco perdidos no mundo, e

de formar e sofrer com a incerteza do que acontecerá depois da universidade. Desejo sucesso a

todos.

Agradeço ao professor Carlos d´Andréa que me orientou e ajudou tornar meu projeto real.

Dando os puxões de orelhas sempre certos e a mão amiga quando necessário.

Gostaria de agradecer ao André Pacheco, amigo que tornou esse projeto mais bonito e que

foi indispensável para que ele se tornasse melhor, apesar de todas as faltas com prazos.

Ao Coletivo Fórceps que possibilitou a realização das entrevistas no “Escambo - Festival de

experiências culturais". Dando não apenas a possibilidade de realizar esse projeto como me mostrar

o que é o Circuito Fora do Eixo. Essa rede incrível, que promove coisas lindas em todo o país e que

tem pessoas maravilhosas que só querem fazer o bem. Agradeço a todo o circuito por ter me

acolhido da melhor forma possível. Vi no trabalho que vocês realizam o que vinha procurando a

vida toda. Um trabalho inspirador, despretensioso e que me tornou mais completa e feliz. Obrigada

por tudo.

Page 4: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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Blackbird singing in the dead of night

Take these broken wings and learn to fly.

All your life, you were only waiting the moment to arise.

[Paul McCartney]

Page 5: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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Resumo

O presente projeto experimental trata do produção musical desenvolvida pelo Circuito Fora

do Eixo, uma rede de coletivos culturais espalhados pelo Brasil. Através de uma

reportagem multimídia, o projeto procura mostrar e investigar de que modo se dá a

integração dos agentes culturais do Fora do Eixo e seus coletivos com as bandas

independentes e os mecanismos desenvolvidos por eles para que haja a promoção e

circulação dessas bandas, e consequentemente, para a formação de um novo público. Como

resultado, foi proposto o desenvolvido do website Música Fora do Eixo

(www.com.ufv.br/musicaforadoeixo), utilizando de ferramentas multimídias - textos,

vídeos, áudios e fotos - coletados no Escambo - Festival de experiências Culturais, em

Sabará-MG, para contar como esse processo de produção desenvolvido pelo Fora do Eixo

ocorre.

Palavra-chave: Música Independente, Circuito Fora do Eixo, Reportagem Multimídia

Abstract

The following experimental project deals with the musical production developed by

Circuito Fora do Eixo, a network of cultural communities throughout Brazil, in association

with individual musical bands. This project seeks to demonstrate and analyze the method

used that enables the integration of Fora do Eixo’s cultural factors and its collective work

with musical bands, and the mechanisms developed by Fora do Eixo in order to promote

and publicize these bands, which consequently leads to the formation of a new audience. As

a result, the development of the website Música Fora do Eixo

(www.com.ufv.br/musicaforadoeixo), was proposed. This website will be using multimedia

tools, such as texts, videos, audios and pictures, collected in Escambo - Festival of cultural

experiences, in Sabará- MG, to inform and report how this production process, developed

by Fora Do Eixo, occurs.

Key word: Independent Music, Fora do Eixo Circuit, Multimedia Reporting.

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Lista de Figuras

Figura 1: Reprodução do uso de ilustrações...........................................................25

Figura 2: Reprodução da Home do site ..................................................................27

Figura 3: Reprodução da divisão de páginas dentro dos posts ...............................29

Page 7: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................8

2. DISCUSSÃO TEÓRICA................................................................................................10

2.1 - Música independente ..........................................................................................10

2.1.1 - O Circuito Fora do Eixo..............................................................................13

2.2 Reportagem Multimídia ........................................................................................17

3. RELATÓRIO TÉCNICO...............................................................................................21

3.1 Gravação ................................................................................................................21

3.1.1 Entrevistas.....................................................................................................22

3.2 Edição do material..................................................................................................23

3.3.1 Textos.............................................................................................................23

3.3.2 Vídeos e áudios ............................................................................................24

3.3.3 Outros recursos .............................................................................................25

3.3 Construção do site ......................................................................................................26

3.3.1 Hospedagem .................................................................................................26

3.3.2 Estrutura do site............................................................................................27

3.3.3 Publicação.....................................................................................................29

4. CONCLUSÃO.................................................................................................................31

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................33

Page 8: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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1. Introdução

A produção cultural foi diretamente afetada pelo avanço das novas tecnologias. E

dentro desse cenário, as manifestações culturais tiveram modificações mais visíveis em

seus processos produtivos e, por consequência, em seu consumo. A música foi a mais

visivelmente atingida dentro desse processo.

A cadeia produtiva da música passa, desde a composição das canções, gravações,

divulgação, chegando até os shows, quando o produto já está na mão do consumidor. Todo

esse processo vem se transformando e passou a ser muito mais digital que material. A

indústria fonográfica, responsável pelo funcionamento dessa cadeia produtiva da música,

entrou em colapso com a possibilidade de se baixar músicas de maneira gratuita e rápida

pela internet. Os efeitos disso foram crescendo, junto com a facilidade de acesso ao

computador e a sua popularização. Assim as pessoas passaram a não comprar mais CD’s,

que durante esse processo já estavam com preços altíssimos. Elas agora enchem seus HD’s

com milhares de mp3 (um tipo arquivo comprimido de áudio, sem perda de qualidade).

Esse cenário é propício para aqueles que produzem seu trabalho de maneira

independente. Graças a toda a essa facilidade desse novo cenário, a divulgação de seus

trabalhos se dá de uma forma muito mais eficaz e consegue atingir milhares de pessoas e de

maneira até global.

Pensando nas possibilidades e potencial do cenário independente nacional, o

“Circuito Fora do Eixo” desenvolveu e adaptou tecnologias para fazer com que essas

bandas continuassem com suas características, sem precisar se encaixar ao modelo de

mercado, e circulassem com seu trabalho pelo país todo.

Além da questão cultural, um dos objetivos é também

transformar o meio político e econômico em que a difusão

cultural se encontra no Brasil. Através do estímulo a bandas

independentes, o Fora do Eixo favorece a circulação musical

em todas as localidades em que existem coletivos integrados,

e junto a isso incentiva trocas de tecnologias com o objetivo

de oferecer alternativas ao público que depende de grandes

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empresas que detém a propriedade de canais de produção e

circulação das artes e as vendem a um preço que a maioria

dos brasileiros não pode pagar. (MADUREIRA et al, 2011:1)

Como uma nova forma de produção cultural, o “Circuito Fora do Eixo” vem se

destacando como uma das maneiras mais expressivas de promoção da cultura independente.

Essa forma diferente e inovadora de trabalho foi o estímulo para uma aproximação

ao circuito e assim poder viabilizar uma maior pesquisa e a produção desse trabalho

experimental. Tornando possível um conhecimento maior das tecnologias e novas formas

de produção que o circuito vem propondo e a ideia de que um trabalho coletivo pode ser

muito mais estimulante e chama mais a atenção de bandas

A reportagem multimídia Música Fora do Eixo vem como uma forma de

aprofundamento do que vem a ser esse trabalho conjunto e colaborativo do “Circuito Fora

do Eixo” e das bandas independentes brasileiras. Com o objetivo principal de difusão, em

um meio de fácil acesso que é a internet, dessas ferramentas desenvolvidas pela rede.

Analisando, ponto a ponto, os mecanismos utilizados e adaptados para facilitar a construção

de novos cenários para tais bandas.

Conceituaremos no capítulo 2 a música independente, diferenciando e

problematizando as diferenças entre underground e mainstream, artistas independentes e os

de grandes gravadoras. Falaremos ainda sobre o “Circuito Fora do Eixo” , conceituando e

explicando essa rede cultural. Discutiremos também questões sobre reportagem multimídia,

entendendo melhor essa linguagem jornalística.

No capítulo 3 tratamos dos relatos técnicos de como foi toda a produção da

reportagem multimídia, desde a criação do template, hospedagem, entrevistas e edição de

conteúdo, explicando passo a passo todo o seu processo de criação. No capítulo 4, fazemos

uma avaliação do processo de elaboração da reportagem multimídia e do contato com o

trabalho do “Fora do Eixo”.

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2. Discussão Teórica

2.1 Música independente

Com todos os avanços tecnológicos, a facilidade de acesso a diferentes tipos de

músicas fizeram com que artistas independentes e de grandes gravadoras passassem a

dividir espaço e público de forma um pouco mais igual. A grande responsável por isso,

sem dúvida, é a internet, que possibilitou um compartilhamento de conteúdo sem

fronteiras. Nesse contexto, independentes e artistas “pop” dividem o mesmo palco, com

estratégias diferentes e ao mesmo tempo muito parecidas.

Quando nos remetemos a essa “disputa” entre independentes e as grandes

gravadoras, devemos pensar sua diferenciação através da sua produção. Assim como Filho

e Janotte (2006), usamos os termos que se popularizaram: mainstream e underground.

Artistas do mainstream podem ser definidos como aqueles que escolheram a

“confecção do produto reconhecidamente eficiente, dialogando com elementos de obras

consagradas e com sucesso relativamente garantido.” (p.8). Esses artistas conseguem

dialogar com ampla facilidade com as mídias de massa, conseguindo maior visibilidade.

Graças a grande equipe por trás de cada artista através das grandes gravadoras. Assim, sua

produção alcança um número imensamente maior de pessoas, além da divulgação intensa

nas redes sociais.

O mainstream apresenta um modo comercial de produção cultural em todos os

âmbitos e, como afirma Costa (2003, p.2), “é legitimada pela demanda desses produtos”.

Com uma cultura voltada para uma população massificada, onde artistas e estilos passam

por um processo de agendamento e são inseridas nas vidas dessas pessoas, as grandes

gravadoras (ou majors) possuem um terreno propício para cultivar o consumo do que elas

acreditam ser rentável. Para Costa (2003), os valores estéticos e de conteúdo passam a estar

em segundo plano: “esses produtos passaram por uma hierarquização quanto à qualidade,

no sentido de privilegiar uma quantificação dos procedimentos da indústria cultural, não há

uma preocupação exata com seu conteúdo, mas com o registro estatístico dos

consumidores” (p.2).

Page 11: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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Já os artistas do underground apresentam uma forma muito “caseira” e ideológica

de produção.

Os produtos “subterrâneos” possuem uma organização de

produção e circulação particulares e se firmam, quase

invariavelmente, a partir da negação do seu “outro” (o

mainstream). Trata-se de um posicionamento valorativo

oposicional no qual o positivo corresponde a uma partilha

segmentada, que se contrapõe ao amplo consumo. (FILHO e

JANOTTE, 2006, p. 9)

Assim, como também afirma o autor, o underground tende a uma autenticidade

maior em suas obras exatamente porque não existe um controle direcionando ao que é

produzido. A divulgação desses artistas é caracterizada pela segmentação, através de

fanzines, marketing das pequenas gravadoras e internet, atingindo muitas vezes apenas um

público alvo.

Podemos ainda conceituar os independentes, como aqueles que fazem todos os

processos de produção sozinhos ou com ajuda de pessoas próximas, que trabalham com

agenciamentos de shows, produção e gravação de músicas. Ainda é possível classificar

como bandas independentes aqueles que pertencem pequenos selos e gravadoras. Além

disso, podem ser diferenciados pela forma de distribuição do seu trabalho, sendo chamados

também de indies.

O termo indies refere-se às empresas de atuação

predominantemente local, vinculadas normalmente a

segmentos musicais específicos, que costumam atuar na

formação de novos artistas e na prospecção de novos nichos

de mercado. Porém, considerando a pulverização dos meios

de produção musical que as tecnologias digitais passaram a

proporcionar já a partir do final dos anos 80, entendo que

hoje o termo se refere indistintamente tanto a pequenas

gravadoras quanto a artistas que desenvolvem

autonomamente a produção de seus discos (VICENTE, 2006:

3)

O autor diferencia dentro desse conceito as bandas por suas formas ideológicas e de

produção: a) bandas independentes porque não foram ainda aceitas pela Indústria

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Fonográfica; b) bandas que ideologicamente preferem permanecer no underground a serem

subordinados; c) bandas que trabalham em cooperativas para que o processo de produção

seja facilitado, sendo uma forma de tentar entrar em cenário maior. Podendo existir ainda

uma quarta forma de produção de seus trabalhos, como afirma Monteiro (2008, p.3), que

são viabilizadas com a ajuda de programas culturais ligadas ao governo através da Lei de

Incentivo a Cultura.

Com a internet como grande aliada, os músicos independentes conseguem alcançar

de forma mais eficaz o público segmentado que procura e gosta desse tipo de produção. Tal

ponto nos remete a Teoria da Cauda Longa, de Chris Anderson. Em seu livro, A Cauda

Longa: Do mercado de massa para o mercado de nicho, Anderson (2006) defende que a

internet disponibiliza tudo para todos. Dentro desses mercados de nicho vemos bandas

regionais que atuam de forma direta apenas em seus estados e onde possuem público. A

internet possibilitou que esses públicos continuassem segmentados, mas que se

expandissem para outras regiões, graças as ausência de fronteira possibilitada pela internet.

Pessoas em rede se conectam e se relacionam com outras pessoas possuem os mesmos

interesses e dessa forma trocam arquivos e informações através de blog e redes sociais,

possibilitando a circulação de conteúdo cultural. Nesse sentido, essas bandas podem atingir

localidades além das suas fronteiras geográficas.

O novo mercado de nichos não está substituindo o tradicional

mercado de hits; apenas, pela primeira vez, os dois estão

dividindo o mesmo palco [...] Agora, numa nova era de redes

de computadores em rede, na qual tudo é digital, a economia

da distribuição está mudando de forma radical, à medida que

a Internet absorve quase tudo, transmutando-se em loja,

teatro e difusora, por uma fração mínima do custo tradicional

(ANDERSON, 2006, p. 06)

A internet possibilitou a criação de uma cultura digital e global, onde não é

necessária a vivência na vida offline para que seja legitimada e perpetuada uma

determinada cultura. Esse processo de cultura globalizada que possibilita a divulgação das

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bandas e faz com que elas atinjam um número de pessoas que não precisam ser

necessariamente da mesma área geográfica e cultural.

Todo esse avanço tecnológico possibilitou a distribuição gratuita de conteúdos

como filmes, séries e música. Nesse contexto de difusão de conteúdo sem nenhum controle

vemos uma Indústria Cultural em crise. A Indústria Fonográfica, sem dúvida, foi a mais

afetada. Tanto que os CD’s estão a caminho da extinção. Enquanto isso as gravadoras e

artistas “pop” se mobilizam para se reorganizar no novo cenário de consumo, procurando

formas criativas e muita publicidade para manter o sucesso do seu casting, se apropriando

principalmente dos recursos online. Do outro lado, artistas independentes se articulam para

a promoção de sua música, utilizando dos mesmos recursos da internet, mas em proporções

bem menores.

O mercado da música independente conseguiu, através do desenvolvimento de

aparelhos de reprodução e estúdios caseiros cada vez mais avançados e acessíveis, realizar

produções com um menor custo e com mais facilidade. A internet foi fundamental para o

fortalecimento e a troca de informações deste mercado, que tem uma produção muito maior

do que a indústria fonográfica convencional (OLIVEIRA, 2006). Nesse contexto, as bandas

independentes ampliam seu espaço no meio musical, já que podem se inserir de forma um

pouco mais igual no mercado.

2.1.1 - Circuito Fora do Eixo

O “Fora do Eixo” é uma rede de coletivos culturais, que são unidades menores e

regionais, espalhados por todo o país e que agem colaborativamente para a produção

cultural no país. Estão presente em todas as capitais brasileiras, cidades do interior e em

países da América Latina, como Argentina, Costa Rica, Honduras, Bolívia, Guatemala,

Nicaragua e Chile, somando ao todo cerca de 100 coletivos.

A rede de coletivos propõe uma nova forma de sociedade e de diálogo com a

política. São jovens que deixaram de lado a posição de reclamação acomodada e estagnadas

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e foram à luta. A chamada “Geração Pós-Rancor” vem mostrar e fazendo grandes

transformações na sociedade, e dando outras perspectivas para aqueles que se mostram

pouco otimistas em relação à juventude de hoje. São jovens que se mobilizaram pela

cultura livre do país e que se propõem a torná-lo melhor.

O Fora do Eixo cria, portanto, uma geração que se utiliza

sem a menor preocupação ideológica de aspectos positivos

da organização dos movimentos de esquerda e de ações de

marketing típicas dos liberais. É, como disse, o teórico da

contracultura Cláudio Prado, a construção da geração pós-

rancor, que não fica presa à questões filosóficas e mergulha

radicalmente na utilização da cultura digital para fazer o que

tem que ser feito. (Revista TRIP, ed. 199, maio de 2011)

Os coletivos culturais são um grupo de pessoas que trabalham de forma

colaborativa, dividindo tarefas e funções como as frentes temáticas. Cada frente é

responsável por uma produção artística, como o teatro, as artes visuais e a música. Ainda

existem membros que ficam responsáveis por todo o planejamento e gestão do coletivo,

administrando um pouco de cada ação. Alguns dos coletivos existentes possuem sede, onde

seus membros moram e dividem todo o dinheiro, roupas e comida. Isso pode ser visto como

uma forma de viver a fundo a coletividade, tornando o coletivo mais conectado e afinado

em suas ações.

Através dos coletivos, o circuito reúne bandas independentes de vários pontos do

país que não são absorvidas pelo mercado, capacitando e dando meios para que essa banda

desenvolva seu trabalho, possa ter suas músicas gravadas e possa circular com seus shows.

Utiliza-se da Lei de Incentivo à Cultura, do poder público e privado para viabilizar muitos

dos projetos que possibilitam o ingresso das novas bandas e artistas de vários segmentos no

cenário cultural, tornando-se uma nova opção de produção cultural.

A rede desenvolve suas próprias tecnologias e modos de ação para que a promoção

desses artistas e de eventos seja otimizada. Para isso, tais coletivos estão em contato

constante, trocando experiência e promovendo intercâmbios entre seus agentes para que a

rede como um todo se torne coesa. O circuito promove congressos nacionais e regionais

Page 15: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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que reúnem esses coletivos, e deles articulam novos projetos a serem desenvolvidos e

fazem capacitação de agentes para trabalharem com essa prática cultural. No II Congresso

Fora do Eixo, foi escrita uma Carta Princípio que define exatamente o modo de trabalho do

circuito.

O Circuito Fora do Eixo é uma rede colaborativa e

descentralizada de trabalho constituída por coletivos de

cultura espalhados pelo Brasil, pautados nos princípios da

economia solidária, do associativismo e do cooperativismo,

da divulgação, da formação e intercâmbio entre redes sociais, do respeito à diversidade, à pluralidade e às identidades

culturais, do empoderamento dos sujeitos e alcance da

autonomia quanto às formas de gestão e participação em

processos sócio-culturais, do estímulo à autoralidade, à

criatividade, à inovação e à renovação, da democratização

quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamento de

tecnologias livres aplicadas às expressões culturais e da

sustentabilidade pautada no uso de tecnologias sociais.

(CARTA PRINCÍPIOS, 2010)

O circuito se afirma como uma opção de produção musical que foge da priorização

do que é comercialmente rentável e propõe relação de igualdade entre bandas e coletivo.

As ferramentas desenvolvidas a fim de dar consecução a

cada um dos pilares de atuação do Circuito Fora do Eixo

devem ser desenvolvidas de forma integrada, orgânica,

transversal, interdependente e interpenetrante, de modo a

constituir o chamado Sistema Fora do Eixo de Música e

Cultura Independente, que tende a suplantar a lógica do

modelo ainda predominante da indústria fonográfica (as

majors e seu modus operandi contratual) pela lógica do

“mercado médio” cultural, pautado pelos princípios da

economia solidária aplicados às cadeias produtivas da

economia da cultura, em especial, da música independente.

(CARTA PRINCÍPIOS, 2010)

A relação dos coletivos com suas bandas parceiras vai além do que possa ser

fechado em contratos. Essa relação, primeiramente, não é contratual, a banda é livre em

suas escolhas de carreira. O contato com o coletivo sempre começa com uma conversa

Page 16: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

16

sobre como funciona o “Circuito Fora do Eixo” e um entendimento da dinâmica de trabalho

da rede. É mostrado para a banda que para que ela possa crescer é necessário um

investimento inicialmente local e a partir daí começar a circulação para a criação de cenas

em outras regiões. Essa circulação é otimizada graças a conectividade dos coletivos, que

fazem com que as bandas circulem nas cidades onde existem pontos do Fora do Eixo. Essa

circulação é ainda mais eficaz quando porque não se marca apenas um show em

determinada cidade, são negociados também show em outras cidades ao longo do percurso.

Todo esse trabalho é realizado pela Agência do Fora do Eixo, um grupo de agentes que são

responsáveis apenas por essa circulação e esses intermediários das bandas e outros

coletivos.

Dentre as várias atividades que o “Circuito Fora do Eixo” realiza, os festivais de

música independentes são bastante marcantes, promovendo mais de 100 festivais em todo o

país. Pensando na formação de divulgação de uma banda, os festivais podem ser uma forma

de colocar frente a frente banda e seu público alvo. Os shows são termômetros de quanto a

música tocou e mobilizou as pessoas que os assistem, pois o publico dá respostas imediatas.

A organização em rede permite a articulação dos festivais,

dos produtores musicais e dos músicos, e representaria o

gérmen da formação de um mercado intermediário para a

música no país. Mas, além disso, toda uma série de produtos

ligados à música (instrumentos, aparelhagem de som, etc.),

aos estilos (roupas, discos, tatuagem, maquiagem,

assessórios, etc.), bem como o pessoal de apoio dos festivais

(montagem de palco, equipe de som, iluminação, etc) e

vendedores de diversos produtos são incluídos nesta cadeia

produtiva a partir da relação com os princípios da economia

solidária. (BENEVIDES, SD, p.8)

Dos festivais saem as impressões de certo número de pessoas que recebendo de

forma positiva a músicas e a banda em si, passam a comentá-las no bom e velho boca a

boca. E de forma mais eficaz, essa pessoas espalham nas redes sociais suas opiniões, links e

vídeos sobre tal banda.

Page 17: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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E foi aliando tecnologia e produção cultural, que o “Circuito Fora do Eixo”

consegue ser um dos grandes meios de fomento e difusão cultural no Brasil na atualidade.

Seus agentes estudam as melhores maneiras de conseguir atingir o público. Fazendo

músicos e artistas de vários segmentos circularem pelo país e formarem um novo quadro

cultural nacional. Mais do que apenas música vemos o Circuito como o potencializador da

cultura independente em geral. Dando a possibilidade a artistas locais, de qualquer tipo de

arte, ter em maior visibilidade em seu trabalho.

2.2 Reportagem Multimídia

O jornalismo, assim como outras centenas de áreas, adaptou-se a linguagem da

internet. Aos poucos vimos o webjornalismo incorporar cada vez mais recursos que

facilitam a leitura e a tornam mais interessante e dinâmica. Um exemplo disso é a

reportagem multimídia.

A reportagem multimídia se destaca pelo carácter de aprofundamento noticioso de

determinado tema, pautas frias, utilizando-se de recursos multimidiáticos, tais como

imagens, áudio, vídeo e texto. Tal estilo jornalístico se apresenta como afirma Raquel Ritter

Longhi (2010), como um pacote completo de informação. Isso porque apresenta

informações completas sobre determinado assunto. Não se prendendo apenas a um ponto e

sim investigando, de forma mais completa, todo o tema. Para que esse aprofundamento seja

maior, destacamos duas características desse estilo jornalístico: a hipertextualidade e a

multimidialidade. Porém “nem todas as reportagens agregam todos os elementos ao mesmo

tempo. Cada uma apresenta a informação de acordo com a necessidade. O importante é

perceber que em várias reportagens são encontrados diferentes elementos do

webjornalismo”. (PALÁCIOS E RIBAS, 2007:45)

A hipertextualidade dá ao texto uma não linearidade, sendo ele ligado a diversos

outros textos relacionados, e permitindo aos leitores “passear” pela leitura e criando seu

próprio caminho e final de leitura.

Page 18: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

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Essa possibilidade, potencializada pelas ferramentas da

internet, dá ao leitor a condição de reatividade, uma vez que

é ele quem “faz” o texto final, indo de nó em nó de acordo

com sua experiência de vida e seus interesses específicos. O

fim, para o leitor, é quando ele encerra a leitura. O início

(para o leitor, pelo menos) é por onde ele começou a leitura,

independentemente se for ou não por onde o autor começou a

escrever o texto. (BALDESSAR et al, 2009 : 3)

A hipertextualidade não se limita a ligação apenas de texto a texto, comumente

relacionada a ferramenta do hiperlink. Ela pode ser vista também com ligações a imagens,

vídeos e outros recursos mídiaticos, sendo assim conhecida como hipermidialidade.

A multimidialidade é a interação entre mídias distintas. Em uma reportagem

multimídia, ela aparece com um recurso de justaposição onde há duas mídias diferentes em

um mesmo ambiente, mas sua relação não fica clara. Ou pode aparecer como integração,

onde há uma unidade comunicativa entre as mídias usadas, esses meios se complementam e

possuem uma coesão. (SALAVERRIA, 2005 apud LONGHI, 2010)

Tal elemento webjornalistico, também visto como convergência midiatíca, traz um

elemento diferenciado ao texto e sua recepção. “Texto, áudio, vídeo, fotografias,

animações, simulações podem fazer parte da narrativa webjornalística de maneira

complementar, constituindo uma estrutura plural que explora os diferentes sentidos da

percepção humana.” (PALÁCIOS E RIBAS, 2007:44) Dessa forma podemos usar com

mais liberdade esses recursos audiovisuais, dando ao leitor formas diferenciadas de receber

informação.

Dessa forma, vemos a experimentação que pode ser feita nas edições dos materiais

audiovisuais. Por se trazer de uma reportagem jornalística, a reportagem multimídia não

precisa necessariamente se prender as estruturas tradicionais. Exatamente por esse estilo ir

além de uma rápida notícia diária. Assim, os vídeos não precisam apresentar a estrutura de

uma reportagem de televisão e assim por diante. Essa liberdade nos remeta a ideia de

documentário, trazendo uma forma diferente de ver os fatos.

Page 19: Reportagem multimídia: a produção musical independente do Circuito Fora do Eixo

19

O documentário nasce da liberdade de estilo e a regra básica

para sua criação é a capacidade humana dos profissionais

envolvidos. O documentário não exige conceitos técnicos

senão aqueles referentes às técnicas de produção específicas

(cinema, televisão, Internet); não exige imagens meramente

ilustrativas e sua montagem não obedece a um padrão

determinado e exclusivo. A produção de um documentário

responde às características de estilo do autor e sua existência

está intimamente ligada às formas individuais de criatividade

intrínseca que estabelecem o elo com a “realidade” a ser

reproduzida. (GREGOLIN, SACRINI e TOMBA, 2002: 6)

A reportagem multimídia permite a utilização dessa linguagem, dando subjetividade

à forma de se apresentar e de perceber a reportagem. Um bom exemplo é a reportagem “O

Terminal - Histórias de rodoviária”, dividida em vários vídeos, a reportagem apresenta

depoimentos livres e com poucos cortes de pessoas que passam pelo terminal rodoviário de

São Paulo1.

Utilizando-se dessas características, a reportagem multimídia apresenta também

uma estrutura diferenciada das reportagens e notícias em outros meios de comunicação. A

pirâmide invertida, estrutura tradicional no texto jornalístico, deixa ser o único modelo na

linguagem da internet. Uma das propostas de construção da reportagem multimídia, por

exemplo, é o modelo chamado por Canavilhas (2006) de “pirâmide deitada”. Ao invés de

privilegiar a informação mais importante colocando-a em primeiro plano e deixando

informações menos relevantes ao final, como faz a pirâmide invertida, a pirâmide deitada

procura dar as informações principais no lead, seguida de uma explicação do assunto e

complementos que passam a ser o nível de exploração, onde o receptor passa a ter

informações adicionais externos. “Usar a técnica da pirâmide invertida na web é cercear o

webjornalismo de uma das suas potencialidades mais interessantes: a adopção de uma

arquitetura noticiosa aberta e de livre navegação” (CANAVILHAS 2006). A partir daí o

leitor faz o seu texto, e como já dissemos anteriormente, termina a leitura onde deseja “o

espaço é tendencialmente infinito.” (CANAVILHAS, 2006).

1 Esta reportagem multimídia é um projeto do Master em Jornalismo Digital Multimídia de 2009 e

pode ser acessada pela URL http://www.masteremjornalismo.org.br/o-terminal/

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20

A estrutura da reportagem multimídia também possibilita uma leitura diferenciada

da mesma. Ela possibilita ao leitor uma leitura linear de acordo com sua navegação, e como

afirma Canavilhas, elas possuem eixos fixos que proporcionam esse caminho direto.

Quando não existem eixos a leitura passa a ser multilinear. Seriam um conjunto de textos

que estão em um mesmo contexto, mas que não precisam um do outro para serem

entendidos.

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21

3. Relatório Técnico

A elaboração da reportagem multimídia Música Fora do Eixo

(www.com.ufv.br/musicaforadoeixo) foi desenvolvida com o objetivo de investigar as

ferramentas e meio de divulgação criados e utilizados pelo “Circuito Fora do Eixo” com as

bandas independentes vinculadas à rede.

Para colher material para a produção da reportagem foi preciso ir ao “Escambo -

Festival de experiências culturais”, realizado em Sabará (MG) nos dias 18 a 24 de julho,

onde aconteceriam não só shows, mas o Congresso do Fora do Eixo Minas, umas das

regionais do Circuito, encontro este, onde estiveram agentes culturais de todo o estado e

país. Foram realizadas entrevistas de vídeo, áudio e registros fotográficos com agentes do

circuito e com banda parceira, além de momentos do festival, que relatassem e explicassem

essa relação das bandas independentes com o “Fora do Eixo”, e também os mecanismos

utilizados para difusão do trabalho dos músicos.

A coleta de material contou com a ajuda da aluna do oitavo período de

Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa, Jordana Diógenes

Belo, que ajudou com filmagens e fotografias.

3.1 Gravação

A viabilidade das gravações no “Festival Escambo” foi conseguida a partir do

contato com João Rafael, responsável pela comunicação do Coletivo Fórceps, que

organizou o evento. Dentro da dinâmica do Fora do Eixo, ficamos na hospedagem solidária

- com hospedagem e alimentação gratuitas - na Escola Municipal Padre Sebastião Tirino,

junto com todos os agentes do “Fora do Eixo”, participando de todas as atividades do

congresso.

A captação de entrevistas e imagens aconteceu durante toda a semana de

programação do festival com a câmera filmadora Sony HVR-Z7N e uma câmera

fotográfica profissional Canon D90, cedidos pelo Laboratório de Comunicação Social da

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UFV. A captação de imagens e entrevistas aconteceu durante os shows no Teatro Municipal

de Sabará, Praça Melo Viana, Escola Municipal Padre Sebastião Tirino, Biblioteca

Municipal e na casa de show Porto Farol.

Em todas as entrevistas era explicada a intenção do projeto e a recepção era sempre

boa. Dentro do “Circuito Fora do Eixo” esse tipo de pesquisa é muito valorizado, pois ajuda

em uma sistematização teórica do trabalho da rede, além de difundir seus ideais e trabalho.

3.1.1 Entrevistas

As entrevistas foram todas realizadas com a intenção de explicar e ilustrar de

maneira clara como é realizado o trabalho do “Circuito Fora do Eixo” na cultura nacional,

sendo mais aprofundado na questão musical. Por isso foram entrevistados agentes culturais

do Circuito e bandas que participavam do “Escambo - Festival de experiências culturais”,

realizado em Sabará - MG. Das diversas entrevistas feitas durante o festival, apenas sete

foram selecionadas para entraram no projeto, devido os problemas técnicos que algumas

fitas apresentaram e também pela linha de conteúdo que foi decido seguir.

a) Pablo Capilé: gestor do “Circuito Fora do Eixo” e um dos fundadores dessa rede

de coletivos. Fez parte do Espaço Cubo, um dos primeiros coletivos, localizado em Cuiabá

- MT. Hoje ele faz parte do corpo de moradores da Casa Fora do Eixo São Paulo, ponto

nacional do circuito. Em seu depoimento, o gestor fala do surgimento da rede e o que ela

defende e pretende e como é o trabalho desenvolvido em todo o país.

b) Felipe Altenfelder: agente cultural do “Fora do Eixo” e é responsável pela

agência de bandas do circuito. Seu vídeo ilustra exatamente a ação do “Fora do Eixo” junto

às bandas, explicando a circulação das bandas pelo país, como se dá a relação com os

produtores e como acontece o esquema de remuneração.

c) Talles Lopes: presidente da Associação Brasileira dos Festivais de Música

Independente. Em seu depoimento, abordou a evolução dos festivais e a importância deles

como forma de aproximação das bandas com o público e com outros coletivos, dando como

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exemplo o Circuito Mineiro de Festivais Independentes, doze festivais que acontece no

estado de Minas Gerais no segundo semestre do ano e que já está em sua segunda edição.

d) Bianca Lima: agente cultural e responsável pela Distro Fora do Eixo. Sua

entrevista foi dividida em várias partes. Em cada uma delas, a agente abordou um tema,

como o selo online, Compacto.rec, a Banquinha FdE e a Distro FdE. Todas as falas tiveram

um cunho explicativo e ilustrativo de como funciona cada mecanismo.

e) Tiago Salgado: agente do Coletivo Fórceps e integrante da Banda 4Instrumental,

fala sobre a relação de sua banda com o coletivo Fórceps.

f) Leonardo Santiago: agente do Coletivo Fórceps, Leonardo falou sobre a temática

da relação banda/coletivo, mostrando como acontece a aproximação das bandas com o

circuito e como isso pode ser benéfico para elas.

g) Dibigode: banda belorizontina é uma das bandas independentes parceiras do “Fora

do Eixo”. Com uma produção instrumental, a banda fala sobre ser independente e fazem o

relato de como acontecem suas produções.

h) Emicida: o rapper paulistano fala sobre como o “Fora do Eixo” vem sendo uma

grande alternativa para artistas independentes.

3.2. Edição do material

Como vimos anteriormente, uma reportagem multimídia utiliza-se de elementos

como vídeos, áudios, texto e fotos para ir mais fundo no tema proposto. Nesse contexto,

essas ferramentas multimídias foram usadas, de forma a se complementarem e

proporcionarem ao leitor uma percepção diferenciada do conteúdo proposto.

3.2.1 Textos

A utilização da ferramenta de texto nesse projeto vem como um apoio conceitual e

de complementação das informações ao leitor. A partir do momento em que a edição dos

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vídeos, áudios em si não trazem todo o conteúdo explicativo necessário para que haja um

entendimento completo do que é o “Circuito Fora do Eixo” e todos os seus mecanismos.

Foram elaborados textos para cada página da reportagem, dos quais foram usadas a

ferramenta de hiperlink para possibilitar ao leitor uma leitura mais avançada.

3.2.2 Vídeos e áudios

Utilizando a linguagem multimídia integração entre as mídias, o uso dos vídeos e

áudios se tornou uma forma de ilustrar de maneira mais clara e facilitada do conteúdo ao

receptor, dando voz aos protagonistas da matéria, nesse caso agentes do “Circuito Fora do

Eixo” e bandas independentes. Dessa forma, o conteúdo apresentado e dando a ele mais

credibilidade e veracidade.

A edição dos vídeos foi realizada de forma a poder ilustrar sem nenhum ruído, ou

interferência do editor, seu sentido. Utilizando o programa Edius de edição de vídeo, versão

5.5. Com o intuito de mostrar a ação dos entrevistados de maneira direta e mais natural

possível. Por isso foram mescladas cenas de entrevista, onde as pessoas estavam em um

enquadramento fechado, e cenas de ações durante o “Escambo - Festival de experiências

culturais”. Em alguns depoimentos, foram utilizados apenas uma música de background,

para que não houvesse apenas silêncios ao fundo das falas. Todos os vídeos foram

hospedados no site de vídeos gratuito YouTube 2.

Os áudios foram editados de forma mais simples, no programa Audacity 1.3 Beta.

Foram utilizados apenas cortes secos. E por não conter imagens, foi considerada a melhor

opção deixar os depoimentos sem background, para não tirar o foco do conteúdo falado. As

entrevistas não passam de 3 minutos em média, para que não se tornem cansativas para o

leitor da reportagem.

2 www.youtube.com

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25

Todos os áudios foram hospedados no Sound Cloud ³, site gratuito destinada esse

tipo de arquivo3.

3.2.3 Outros recursos

Com o intuito de melhor ilustrar alguns temas, foram desenvolvidas ilustrações que

pudessem dar suporte ao texto e aos vídeos.

Figura 1 – Reprodução do uso de ilustrações Fonte: www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/foradoeixo

3 www.soundcloud.com

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O Google Maps foi um recurso utilizado para situar geograficamente a ocupação do

“Circuito Fora do Eixo” no país. Foram marcados todos os coletivos que compõem a rede.

Além das marcações, foram colocados os links dos sites e blogs de cada coletivo e a logo

de cada um, possibilitando posteriormente o reconhecimento do coletivo e o conhecimento

do trabalho produzido por cada um.

3.3 Construção do site

A construção do site foi feita com a ajuda do amigo e ex-aluno do Curso de

Comunicação Social da UFV, André Pacheco. André se dispôs no começo do trabalho a

confeccionar um template exclusivo para o trabalho. Com isso, foi preparado um briefing –

orientação sobre o que se pretende com o produto, expressão muito usada na publicidade -

no qual foram detalhadas as ferramentas e necessidades que a reportagem multimídia

precisaria ter. A plataforma escolhida para desenvolver a reportagem foi o Wordpress, por

ser hoje mais fácil em seu manuseio e por possuir melhores ferramentas na composição de

um site.

Ao longo dos meses, a construção dos vídeos, áudios e fotos foram feitos

separadamente, sem a perspectiva de como o template ficaria. Infelizmente, a data de

entrega estipulada para a entrega do mesmo não foi comprida e foi adiada de acordo com as

demandas pessoais e profissionais de André, sendo finalmente entregue três semanas depois

do combinado. Todo esse processo foi tornando difícil a construção e finalização da

reportagem. Mas conseguimos contornar os problemas a tempo.

3.3.1 Hospedagem

A escolha da hospedagem da reportagem multimídia foi feita graças ao

direcionamento do professor Carlos d’Andréa em hospedá-lo em subdomínio do site do

Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa. Pensando que a

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reportagem não teria continuidade após a sua apresentação como Trabalho de Conclusão de

Curso, não foi visto a necessidade de ter um domínio próprio.

Nesse sentido, foi escolhido o nome Música Fora do Eixo para compor o endereço

do site, já que sintetizam os dois pontos principais da reportagem (música + Fora do Eixo).

Assim, o endereço permaneceu como www.com.ufv.br/musicaforadoeixo.

3.3.2 Estrutura do Site

O site apresenta uma página inicial de rolagem horizontal que dá acesso às páginas

onde a reportagem multimídia está contida. Cada página apresenta uma foto/imagem

principal, que aparece tanto na Home com na sua página individual de cada conteúdo. Elas

estão ligadas aos temas propostos em suas respectivas páginas. No rodapé da home existe

uma aba chamada “Sobre o Projeto” que se expande e apresenta um resumo do contém o

site, assim como informações sobre os seus objetivos.

Figura 2 – Reprodução da home do site

Fonte: www.com.ufv.br/musicaforadoeixo

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Nesta página, o conteúdo se apresenta de forma vertical. Cada post contém um

subtítulo, que se apresenta como uma chamada, dando uma prévia do que cada página vem

tratando. Todas as postagens apresentam a opção de compartilhamento nas redes sociais

Facebook e Twitter, possibilitando a divulgação da reportagem.

Para torná-lo mais funcional, ao lado de cada postagem foi colocada a listas de

todos os posts contidos na reportagem, podendo assim, facilitar o acesso a cada postagem

sem que seja necessária a volta a página inicial.

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Figura 3 – Reprodução da divisão de páginas dentro dos posts

Fonte: www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/apresentacao

3.3.3 Publicação

A reportagem multimídia foi dividida em oito páginas, sendo que cada uma aborda

uma das ferramentas usadas pela Frente Musical do “Fora do Eixo” com as bandas e

produtores musicais. As páginas foram:

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Apresentação (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/apresentacao/) – Contém os

objetivos da reportagem multimídia e apresentando onde foi buscada as informações e entrevistas.

Fora do Eixo (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/fora-do-eixo/) – Apresenta e

conceitua o “Circuito Fora do Eixo” e suas frentes temáticas.

Frente Musical (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/frente-musical/) – Foca na

frente musical do “Fora do Eixo” apresentando melhor a frente, para que mas páginas seguintes o

leitor entenda suas ferramentas.

Agência Fora do Eixo (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/agencia-fde/) –

Conceitua e exemplifica como funciona a agência de bandas promovida pela rede.

Festivais (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/festivais/) – Apresenta a importância

dos festivais para a divulgação das bandas e a formação de público.

Distro Fora do Eixo (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/distro-fde/) – Apresenta a

distribuidora de cd´s e matérias das bandas parceiras. Esse material é distribuído para todo o país.

Divulgação online (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/divulgacao-online/) –

Mostra as ferramentas desenvolvidas para a divulgação na internet.

Futuro do circuito (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/futuro/) - Reflexão sofre o

futuro dessa nova forma de produção musical brasileira.

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4. Considerações finais

Imaginem um liquidificador em que se possa colocar as

ramificações da esquerda, com estratégias e lógicas de mercado das

agências de publicidade, misturando rock, rap, artes visuais, teatro,

um bando de sonhadores e outro de pragmáticos, o artista, o

produtor, o empresário e o público. Tudo junto e misturado. O

caldo dessa batida é uma nova tecnologia de participação e

engajamento que funciona de forma exemplar para a circulação e

produção musical, mas que acima de tudo é um grande projeto de

formação política. (Revista TRIP, ed. 199, maio de 2011)

O “Circuito Fora do Eixo” vem se mostrando uma forma de produção cultura forte e

muito bem articulada. Não se prendendo apenas na produção cultural, mas também na

formação de uma nova forma de sociedade. Jovens que vêm sendo exemplo de força de

vontade e trabalho incansável para transformar o país e a sua cultura.

Com início na música, essa rede de coletivos culturais pode fazer com que bandas

de todo o Brasil pudessem circular e criar novos públicos e novas relações com produtores

locais. Sem dúvida, vem se mostrando a forma mais facilitada para artistas independentes

de se promoverem, porque eles não só saem em turnês e fazem show, seus coletivos fazem

todo o processo de formação com os músicos para que eles tenham noção de todo o

processo que estão participando. A produção do seu trabalho é livre e consciente, o que se

acredita ser o ideal.

Todo o processo de produção da reportagem “Música Fora do Eixo” proporcionou

uma série de descobertas e conhecimentos que ficam muito além do recorte feito para o

projeto. Durante os meses de produção da reportagem multimídia foi possível um maior

contato com o “Circuito Fora do Eixo” vivenciando e trabalhando em três festivais de

música e artes integradas realizados por coletivos de Minas Gerais. Sem dúvida foi um

aprendizado sentido na pele do que é essa rede e o trabalho desses jovens que a compõe.

Momentos que fizeram diferença para a construção desse trabalho e para a vida. O que

acabou se apresentando como uma dificuldade, pois a imparcialidade ao escrever e editar

áudios e vídeos é importante e houve uma grande preocupação em não parecer

extremamente partidária.

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É importante perceber que o “Fora do Eixo” é uma rede enorme e que abrange a

cultura de forma incisiva e aprofundada. Dialogando com o país todo e com suas principais

lideranças para fazer as coisas acontecerem. O contato com esse trabalho é enriquecedor,

cativante e só vem ganhando reconhecimento em vários setores da sociedade.

A produção de uma reportagem multimídia pareceu ser a melhor opção descrever o

trabalho da rede. Conectada cem por cento a internet, a utilização de links e referência a

arquivos online disponíveis do “Fora do Eixo”, foram indispensáveis. O processo é

trabalhoso e detalhado, mas o aprendizado, sem dúvida, vale muito a pena, pois o formato

possibilita uma maior liberdade tanto em produção quando em sua leitura. O leitor tem livre

escolha de seguir sua pesquisa sobre o assunto em outros sites, graças à utilização da

hipertextualidade. Uma dificuldade, no entanto, está ligada às questões técnicas,

principalmente na elaboração da estrutura do site, o que nos fez depender do apoio

voluntário de colegas externos a este trabalho.

O “Fora do Eixo” é um tema de muitas vertentes. Seu estudo é ilimitado, pois a cada

momento o circuito se ressignifica e se transforma. A contribuição desse projeto foi

entender e ilustrar como funciona seu trabalho na música, mas ciente que o conjunto de

tudo que o “Fora do Eixo” significa é algo bem maior e profundo, que perpassa as relações

interpessoais, sociais e políticas e que valem muito apenas ser conhecidas e estudadas em

sua totalidade.

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33

5. Referências Bibliográficas

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