reportagem especial esquecidos -...

11
O traço O traço O traço O traço O traço crítico de crítico de crítico de crítico de crítico de Santiago Santiago Santiago Santiago Santiago Cartunista reclama de censura PÁGINA 2 NICOLAS GAMBIN Os “gatos” na rede elétrica ELSON SEMPÉ PEDROSO A CID A CID A CID A CID A CIDADE DOS ADE DOS ADE DOS ADE DOS ADE DOS ESQUECIDOS ESQUECIDOS ESQUECIDOS ESQUECIDOS ESQUECIDOS Pacientes do Hospital Colônia buscam a reinserção social MICHELE ROLIM REPORTAGEM ESPECIAL Em 1940, a 70km de P Em 1940, a 70km de P Em 1940, a 70km de P Em 1940, a 70km de P Em 1940, a 70km de Porto Alegre, orto Alegre, orto Alegre, orto Alegre, orto Alegre, foi criada uma cidade para segregar foi criada uma cidade para segregar foi criada uma cidade para segregar foi criada uma cidade para segregar foi criada uma cidade para segregar hansenianos. Na década de 70, a Colônia de hansenianos. Na década de 70, a Colônia de hansenianos. Na década de 70, a Colônia de hansenianos. Na década de 70, a Colônia de hansenianos. Na década de 70, a Colônia de Itapuã recebeu também doentes mentais. Itapuã recebeu também doentes mentais. Itapuã recebeu também doentes mentais. Itapuã recebeu também doentes mentais. Itapuã recebeu também doentes mentais. Eles continuam lá confinados. Eles continuam lá confinados. Eles continuam lá confinados. Eles continuam lá confinados. Eles continuam lá confinados. PÁGINAS 8 E 9 Exclusão e Exclusão e Exclusão e Exclusão e Exclusão e perigo perigo perigo perigo perigo nas vilas nas vilas nas vilas nas vilas nas vilas clandestinas clandestinas clandestinas clandestinas clandestinas PÁGINA 3 Fim de Copa, Fim de Copa, Fim de Copa, Fim de Copa, Fim de Copa, começa começa começa começa começa cor cor cor cor corrida eleitoral rida eleitoral rida eleitoral rida eleitoral rida eleitoral PÁGINAS 2 E 4 Itália no retrovisor O tetracampeonato O tetracampeonato O tetracampeonato O tetracampeonato O tetracampeonato aproxima a Azzurra aproxima a Azzurra aproxima a Azzurra aproxima a Azzurra aproxima a Azzurra do Brasil do Brasil do Brasil do Brasil do Brasil Famecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, julho orto Alegre, julho orto Alegre, julho orto Alegre, julho orto Alegre, julho-agosto de 2006 – -agosto de 2006 – -agosto de 2006 – -agosto de 2006 – -agosto de 2006 – ANO 8 – Nº 49 ANO 8 – Nº 49 ANO 8 – Nº 49 ANO 8 – Nº 49 ANO 8 – Nº 49 ROBERTO SCHMIDT /AFP PÁGINAS 6 E 7 PÁGINAS 6 E 7 PÁGINAS 6 E 7 PÁGINAS 6 E 7 PÁGINAS 6 E 7

Upload: trinhcong

Post on 13-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O traçoO traçoO traçoO traçoO traçocrítico decrítico decrítico decrítico decrítico deSantiagoSantiagoSantiagoSantiagoSantiago

Cartunista reclama de censura

PÁGINA 2NICOLAS GAMBIN

Os “gatos” na rede elétrica

ELSON SEMPÉ PEDROSO

A CIDA CIDA CIDA CIDA CIDADE DOSADE DOSADE DOSADE DOSADE DOSESQUECIDOSESQUECIDOSESQUECIDOSESQUECIDOSESQUECIDOS

Pacientes do Hospital Colônia buscam a reinserção social

MICHELE ROLIM

REPORTAGEM ESPECIAL

Em 1940, a 70km de PEm 1940, a 70km de PEm 1940, a 70km de PEm 1940, a 70km de PEm 1940, a 70km de Porto Alegre,orto Alegre,orto Alegre,orto Alegre,orto Alegre,foi criada uma cidade para segregarfoi criada uma cidade para segregarfoi criada uma cidade para segregarfoi criada uma cidade para segregarfoi criada uma cidade para segregarhansenianos. Na década de 70, a Colônia dehansenianos. Na década de 70, a Colônia dehansenianos. Na década de 70, a Colônia dehansenianos. Na década de 70, a Colônia dehansenianos. Na década de 70, a Colônia deItapuã recebeu também doentes mentais.Itapuã recebeu também doentes mentais.Itapuã recebeu também doentes mentais.Itapuã recebeu também doentes mentais.Itapuã recebeu também doentes mentais.Eles continuam lá confinados.Eles continuam lá confinados.Eles continuam lá confinados.Eles continuam lá confinados.Eles continuam lá confinados.

PÁGINAS 8 E 9

Exclusão eExclusão eExclusão eExclusão eExclusão eperigo perigo perigo perigo perigo nas vilasnas vilasnas vilasnas vilasnas vilasclandestinasclandestinasclandestinasclandestinasclandestinas

PÁGINA 3

Fim de Copa,Fim de Copa,Fim de Copa,Fim de Copa,Fim de Copa,começacomeçacomeçacomeçacomeçacorcorcorcorcorrida eleitoralrida eleitoralrida eleitoralrida eleitoralrida eleitoral

PÁGINAS 2 E 4

Itália noretrovisor

O tetracampeonatoO tetracampeonatoO tetracampeonatoO tetracampeonatoO tetracampeonatoaproxima a Azzurraaproxima a Azzurraaproxima a Azzurraaproxima a Azzurraaproxima a Azzurra

do Brasildo Brasildo Brasildo Brasildo Brasil

FFFFFamecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS ensina Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006 – -agosto de 2006 – -agosto de 2006 – -agosto de 2006 – -agosto de 2006 – ANO 8 – Nº 49ANO 8 – Nº 49ANO 8 – Nº 49ANO 8 – Nº 49ANO 8 – Nº 49

RO

BERTO S

CH

MID

T/AFP

PÁGINAS 6 E 7PÁGINAS 6 E 7PÁGINAS 6 E 7PÁGINAS 6 E 7PÁGINAS 6 E 7

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 200622222 O P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã O HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Jornal mensal da Faculdade de Comuni-cação Social (Famecos) da Pontifícia Universi-dade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico,Porto Alegre, RS, Brasil.

E-mail: [email protected]: http://www.pucrs.br/famecos/

hipertexto/045/index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda Cunha

Coordenadora/Jornalismo: CristianeFinger

Produção dos Laboratórios de Jornalis-mo Gráfico e de Fotografia.

Professores responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (re-

dação e edição), Celso Schröder (arte e editoraçãoeletrônica) e Elson Sempé Pedroso(fotojornalismo).

ESTAGIÁRIOSGerente de Produção: Thaís Almeida

Editores: Ana Carola Biasuz, Fábio Rausche Natália Gonçalves.

Editoras de fotografia: Daiana BeinEndruweit e e Fernanda Fell

Editora de arte: Manuela KananRepórteres: Alessandra Brites, Carmel

Mostardeiro, Fábio Rausch, Francisco D. Prato,Guilherme Zauith, Jesus Bardini, Júlia Pitthan,Laion Machado Espíndula, Lucca Rossi, LuisaKalil, Mariana Gomide, Mauro Belo Schneider,Natália Gonçalves, Rafael Terra, Raíssa de Deus

Genro, Renan V. Garavello, Raphael Leite Ferreira,Tatiana Feldens, Tatiana Lemos, Vinícius RorattoCarvalho, Wagner Machado da Silva.

Repórteres fotográficos: Ana CarolinaPan, Daiana Bein Endruweit, EduardoMendez, Elisa Viali, Fabrícia Albuquerque,Fernanda Fell, Juliana Freitas, Lucas Uebel,Manuela Kanan, Marina Volpatto, NicolasGambin, Rodrigo Tolio.

Diagramadores: Bruno Bertuzzi, JuliaPitthan e Manuela Kanan.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem: 5.000

Limitadas por quatro traços, láestão elas, colocadas geralmente napágina dois dos jornais. No forma-to de desenho, informam, criticam,opinam. Charges, cartuns ou ‘dese-nhos de humor’ denunciam o queestá errado e fazem rir da própria li-mitação humana. “A gente pega nopé de quem pisa na bola”, disseNeltair Rebés Abreu durante o 32ºCongresso Estadual dos Jornalistasdo Rio Grande do Sul, realizado emjunho em Porto Alegre. Santiago,como é conhecido o cartunista, apro-veitou e pegou no pé dos “colegui-nhas” jornalistas que têm dificulda-de em furar o bloqueio imposto pe-los anunciantes, o que o desenhistachamou de “censura econômica”.

“Um amigo reclamou que meusúltimos desenhos estavam commuito texto. Mas eu preciso explicara piada, porque os temas que querotratar não estão na pauta da grandemídia”, reclamou. O cartunista, quenão dispõe do mesmo espaço que ojornalista quando se debruça sobreum assunto, se limita a tratar dos te-mas que estão no ar. A dependênciaacaba gerando uma situação dehomogeneização da produção.

Um fenômeno observado porSantiago durante a cobertura da Co-missão Parlamentar de Inquérito(CPI) do mensalão foi a repetição dostemas nos cartuns pelo País a fora.“É muito fácil desenhar o Congres-so Nacional em forma de pizza e jáestá feita a piada”, criticou Santiago.Construir a graça no traço e surpre-ender o leitor é o grande desafio.

Santiago exemplificou sua co-brança citando o fenômeno do aque-cimento global e apontou o trans-porte particular como um dos gran-des responsáveis pela poluição pla-netária. Explicou que tem grande in-teresse em trabalhar mais a questão,mas como o debate não está namídia, fica limitado. “A mídia é con-trolada pelos anunciantes, como osbancos e as montadoras, então ja-mais alguém vai dizer que a saída paraa poluição é o transporte coletivo,ninguém aceita discutir a utilizaçãodo automóvel particular, o que vaiacabar destruindo o mundo”, disseo desenhista.

Outra pauta imprescindível, masque não recebeu ainda a importânciadevida é a questão das plantações deeucalipto e a instalação das empresasde celulose. Para Santiago, o chama-do “deserto verde” não foi sequer

EDITORIAL CARTUM

Desenho em forma de críticatocado pela mídia porque a Aracruzé também uma grande anunciantedos veículos de comunicação no Es-tado. “Se for discutir a questão, serápreciso entrevistar um ecologista, fa-lar com as empresas papeleiras, asmais poluentes do mundo. Então émelhor ficar quietinho”, comentou.

Sobre liberdade de imprensa, opremiado cartunista gaúcho faz ques-tão de dizer que o jornalista tem queperder a arrogância. “Eu publico acrítica que acho correta, se a pessoa seachar ofendida deve procurar a Justi-ça, pois o jornalista não está acimado bem e do mal”.

Santiago criticou a Revista Vejaque estampou o candidato AnthonyGarotinho em sua capa com a cabeçaornada por dois chifrinhos de diabo.Numa retrospectiva, o cartunista lem-brou os tempos de ditadura, quan-do havia predominância de cartunsde esquerda. “Hoje me assusto ven-do a publicação de charges de direi-ta”, lamentou. Mas, segundo Santi-ago, uma tendência ainda mais peri-gosa é a formação de uma geração dedesenhistas despolitizados, queacham que podem tudo. “Quandose faz humor, é muito fácil cair nopreconceito”, advertiu o cartunista doJornal do Comércio.

PORPORPORPORPOR J J J J JÚLIAÚLIAÚLIAÚLIAÚLIA P P P P PITTHANITTHANITTHANITTHANITTHAN

ELSON SEMPÉ PEDROSO

Após o fracodesempenho daSeleção Brasileirana Copa doMundo, derrota-da pela seleçãovice-campeã, aFrança, nas quar-tas-de-final, sobo comando domelhor jogadorda competição,Zinedine Zidane, as eleiçõesmarcadas para o próximomês de outubro ocuparão oespaço da mídia e a atençãodo público.

No período do mundial,entre junho e julho, o PSDBlançou propagandas eleitoraisem rede de rádio e TV, algoque o PT fizera anteriormen-te. Segundo analistas, a inicia-tiva tucana contribuiu para arecuperação de espaço do seucandidato à Presidência daRepública, Geraldo Alckmin,que conseguiu romper a bar-reira dos 30% nas intençõesde voto.

Mesmo assim, parece mui-to pouco para alcançar o pre-sidente Lula, que, na corridapara a reeleição, se aproximados 50% e, na opinião dosdois mil entrevistados peloinstituto Vox Populi, recente-mente, tem 62% contra 20%do seu principal adversáriode chances para vencer. A ló-gica reforça a possibilidade deo petista garantir a permanên-cia no cargo já no primeiroturno. Em caso de segundoturno, a diferença entre osdois candidatos é de 47% so-bre 39%. Por outro lado, Al-ckmin possui no índice de re-jeição um mecanismo paradiminuir a diferença. Ele acu-mula 10% ante 26% de Lula.

O quadro delineado, por-tanto, revela um postulante àpresidente com espaços limi-tados para conquistar e um

candidato nocargo, quase noápice de possí-veis votantesconqu i s t ados.Uma vantagemde Lula, que Al-ckmin não con-seguirá fazerfrente, é o fatode concorrer nocargo.

O governo federal tem lan-çado medidas em série, visan-do a beneficiar os mais diver-sos setores da população bra-sileira, sejam funcionários pú-blicos, ou parcelas sociais quesubsistam com baixa renda. Osprincipais exemplos são o pa-cote de aumento salarial a 34segmentos de carreira do Exe-cutivo Federal, que comprome-terá R$ 16 bilhões do orça-mento da União, incluindo osrecursos previstos para 2007,e os resultados do Bolsa Fa-mília. O programa de distribui-ção de renda fará com que, aofinal do ano, 10 milhões de fa-mílias, no país, recebam a mé-dia de R$ 40 ao mês. A regiãodo Nordeste, por exemplo,que, nos últimos anos, tem umProduto Interno Bruto cres-cendo a 18% ao ano, supera amargem de 60% no número depossíveis eleitores a Lula.

Além da corrida eleitoral, aexpectativa é que o pleito des-te ano tenha mais lisura nosseus mecanismos pré-eleição.Ou seja, com a vigência de de-terminações, como divulgaçãode gastos na campanha, e deimpedimentos ao uso de caixadois, espera-se que as legendasenxerguem nestes entraves ummeio para realizar uma jorna-da programática, propondo,além de ideologias, medidas dedesenvolvimento político, eco-nômico e social para o país.

Perdida a Copa,vêm as eleições

FFFFFÁBIOÁBIOÁBIOÁBIOÁBIO R R R R RAUSCHAUSCHAUSCHAUSCHAUSCH, , , , , EDITOREDITOREDITOREDITOREDITOR

Santiago reclama da censura econômica no Congresso Estadual dos Jornalistas, em Porto Alegre

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006 33333H A B I TH A B I TH A B I TH A B I TH A B I TA Ç Ã OA Ç Ã OA Ç Ã OA Ç Ã OA Ç Ã O IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH

Em 1970, os 90 milhões de bra-sileiros se transformaram em letra dohino da Rede Globo de incentivo aosjogadores da Seleção Brasileira deFutebol na busca do tricampeonatodo Mundo, no México, conquistadopor Pelé & Cia. Segundo o IBGE, apopulação brasileira quase duplicouem 35 anos. E é exatamente esseacréscimo o número de cidadãos quemoram hoje na informalidade. São90 milhões... sem moradia própria elegal, alheios aos escândalos políti-cos nacionais que os mantém mise-ráveis, não só de bens dignos para asobrevivência humana, mas pobresdo espírito de igualdade moral e jus-tiça social.

Apesar de crescer menos que onível nacional, a capital gaúcha nãofica longe desta realidade. Nos anos70, a população porto-alegrense erade mais de 900 mil habitantes. Pas-sadas três décadas, o Censo 2000 re-gistrou um milhão e 360 mil resi-dentes em Porto Alegre. De acordocom dados do Departamento Mu-nicipal de Habitação (Demhab), em1996, cerca de 22% dos domicíliosde Porto Alegre eram irregulares ouinformais. Para a professora de Di-reito Público da PUCRS, Betânia deMoraes Alfonsin, este percentualdeve estar hoje em torno de 30%,distribuídos em 723 assentamentosinformais. “A política urbana ehabitacional teve vários ciclos emPorto Alegre, várias estratégias emrelação a essa população de baixa ren-da. Muitas delas, ao invés de resolver

o problema, o acentuaram, contribu-indo para o incremento da irregulari-dade como, por exemplo, a históriaque cerca a criação do bairroRestinga”, afirma.

Para a construção das avenidasErico Verissimo e AurelianoFigueiredo na década de 70, duasgrandes obras ao estilo da políticaurbana proposta pela ditadura mili-tar, foi necessária a remoção de famí-lias residentes nas vilas Theodoro,Marítimos, Ilhota e Santa Luzia. Atra-vés do Banco Nacional de Habitação(BNH), essas famílias foramrelocadas para uma área distante 40quilômetros do centro de Porto Ale-gre, denominada na época de VilaRestinga, hoje bairro. Esta era a polí-tica do “remover para promover”,explica a advogada. “O desenvolvi-mento urbano se fazia, nesta época,às custas da relocalização dos pobres,expulsando-os para a periferia, pro-movendo uma segregação sócio-eco-nômica. Isso contribuiu para o au-mento da própria irregularidade, jáque era uma produção insuficientepara atender a demanda e as pessoasprecisavam morar em algum lugar”,destaca Betânia Alfonsin.

O professor do Programa dePós-Graduação em PlanejamentoUrbano Regional da UFRGS, JoãoFarias Rovati, explica que “este é umproblema para a cidade como umtodo. A cada dia, um número maiorde pessoas não tem recursos paracomprar um terreno, um imóvel nodito mercado formal e só conseguemum lugar para morar nessas condi-ções de informalidade”.

A Constituição Federal reconhe-ceu, a partir de 1988, o direito demoradia como um direito social, masessa promessa não pode ser concre-tizada pela ausência de normas capa-zes de tirar os instrumentos do pa-pel. O Estatuto das Cidades veio paracontribuir nesse sentido. A nova leifederal consolida a noção da funçãosocial e ambiental da propriedade eda cidade, regulamenta e cria novosinstrumentos urbanísticos para cons-trução de uma ordem urbana social-mente justa e includente. Tambémaponta processos políticos para a ges-tão democrática das cidades e pro-põe diversos instrumentos jurídicospara a regularização dos assentamen-tos informais em áreas urbanas mu-nicipais.

Ao reconhecer o papel funda-mental dos municípios na formula-ção de diretrizes de planejamentourbano e na condução do processode gestão das cidades, o Estatutoampliou a atuação governamentaljunto à questão da regularizaçãofundiária. Betânia Alfonsin, volun-tária da Ong Acesso – Cidadania eDireitos Humanos, destaca novosinstrumentos como a ConcessãoEspecial de Uso, Usucapião Urbano,e Direito Real de Uso, que tem servi-do para quebrar obstáculos.

O intrumento Urbanizador So-cial foi criado a partir da assinaturade um convênio técnico e financeiroentre a Prefeitura de Porto Alegre e oLincoln Institute of Land Police, ins-tituição educacional norte-americanadestinada a promover o debate pú-blico sobre áreas urbanas e rurais deinteresse social em toda América.Este convênio vigorou entre 2003 emeados de 2005.

Betânia Alfonsin, então assesso-ra jurídica da SPM no governo JoãoVerle, denuncia que este projeto fi-cou no “futuro do pretérito por de-cisão política”. “Tinha uma pedra nomeio do caminho”, brinca ao se refe-rir a eleição municipal de 2004.

O assessor do gabinete do pre-feito José Fogaça, engenheiro TaufikBaduí Germano Neto, afirma que o

Uma das características de PortoAlegre, diferente do Rio de Janeiro,são o tamanho e a localização dessasocupações informais. Na capital, opretérito imperfeito é percebido emcentenas de pequenos grupos commenos de mil unidades inseridas empequenas áreas nos vazios urbanos,dentro de bairros considerados declasse média e alta, tornando-se con-glomerados caóticos. Já na cidade ca-rioca, são grandes favelas periféricascom mais de 200 mil habitantes.

Localizada nos limites entre osbairros Santana e Partenon, zona lesteda capital gaúcha, a Vila Sossego chocaa paisagem urbana. Na entrada, a re-cepção é feita por amontoados de lixoe tocos de madeira. E quem caminhapela alameda, precisa manter os olhosatentos, guiando o corpo para longedos inúmeros fios da rede elétrica ir-regular, a poucos metros do chão.

A rua, larga, aos poucos se trans-forma com a invasão das casas, dei-xando-a praticamente sem saída. Si-tuada entre as avenidas Ipiranga e SãoFrancisco, com limitações peloslogradouros Euclides da Cunha eVeador Porto, a rua Livramento, con-forme projeto da Secretaria Munici-pal de Obras e Viação (SMOV), sim-plesmente não existe, causandotranstornos para os residentes.

Comparada com outras capitaisbrasileiras, Porto Alegre ainda é umacidade que tem um baixo índice deinformalidade. Segundo o professor,não há dados precisos, mas em Sal-vador e Recife calcula-se que mais de60% das pessoas vivem nainformalidade. “Esse é um extraor-dinário problema social e econômi-co que vem crescendo na capital gaú-cha”, alerta Farias Rovati.

As vilas ou favelas são basica-mente ocupações: não existe a com-pra do terreno, as moradias sãoconstruídas em áreas ainda não ocu-padas, alagadas, de preservaçãoambiental, de risco ou terrenos des-tinados a usos coletivos como pra-ças e parques.

“O sujeito, em geral, não tem tí-tulo de proprietário, não tem nenhu-ma segurança da posse, nenhumaconcessão de uso. A casa dele é consi-derada irregular do ponto de vista dalegislação e código de obras”, explicaFarias Rovati. A área não paga im-postos, luz e água, geralmente, nãosão formalizadas, são furtadas da redepública, o chamado gato.

Há também a irregularidade bu-rocrática. Há terrenos e imóveis comcontratos particulares de compra evenda e até títulos de propriedaderegistrados em cartório, mas não sãoconsiderados legais pela falta da cer-tidão de habite-se – documento ates-tando que o imóvel foi construídoseguindo-se as exigênciasestabelecidas pela prefeitura para aaprovação de projetos. Carnês deIPTU e contas de luz, água e telefonenão compravam a regularização.

PORPORPORPORPOR S S S S SANDRAANDRAANDRAANDRAANDRA M M M M MARIAARIAARIAARIAARIA D D D D DUCATOUCATOUCATOUCATOUCATO

São 90 milhões... jogadosna periferia das cidadesVilas clandestinas abrigam os segregados sociais no País

Construções irregulares convivem com os conjuntos habitacionais no bairro Restinga

O pretéritoO pretéritoO pretéritoO pretéritoO pretéritoimperimperimperimperimperfeitofeitofeitofeitofeito

Concessão Especial de Usopara fins de Moradia: instrumentopara regularizar áreas públicas onderesidam moradores de baixa rendapor mais de cinco anos.

Usucapião Urbano: instru-mento de regularização fundiária deáreas urbanas particulares ocupadaspor população de baixa renda, parafins de moradia, por cinco anosininterruptos, sem que haja ação ju-dicial de reintegração de posse e re-

O imperativoO imperativoO imperativoO imperativoO imperativoafirafirafirafirafirmativomativomativomativomativo

gistro de outro imóvel urbano ourural. Título de propriedade é conce-dido individual ou coletivo.

Concessão de Direito Real deUso: permite ao Poder Público lega-lizar espaços públicos utilizados parafins residenciais.

Direito Real: permite o uso deações para defender a posse ou a pro-priedade contra qualquer pessoa queviole ou prejudique o direito de pos-suir, utilizar e dispor do imóvel.

A LEGISLAÇÃO

convênio não foi renovado pelo en-tendimento que a atual gestão mu-nicipal teve em utilizar apenas o qua-dro funcional público na questão dodesenvolvimento de políticas urba-nas de habitação de interesse social.“O trabalho realizado foi proveito-so e válido, mas Porto Alegre deve seadequar a sua realidade, a sua capaci-dade de investimento eendividamento”, referindo-se a apro-vação recente de duas novas leis queinstituem o Fundo Curador da Cai-xa Econômica Federal, o FGTS,como o grande financiador na pro-moção de novas moradias e dareurbanização de áreas informais.Pipa Germano, como é conhecido,diz queem 2005 foram entregues 969casas e apartamentos. A previsão para2006 é beneficiar 761 famílias.

O futuro do pretéritoO futuro do pretéritoO futuro do pretéritoO futuro do pretéritoO futuro do pretérito

ELISA VIALI

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 200644444 POL Í T ICAPOL Í T ICAPOL Í T ICAPOL Í T ICAPOL Í T ICA HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

ANTONIO CRUZ/ABRRICARDO STUCKERT/PR

Alckmin tenta reduzir distância de LulaNa largada do período eleitoral, o ex-governador paulistano segue atrás do candidato à reeleição

Para esta eleição, os candidatosformularam suas alianças baseadosna permanência do modelo deverticalização partidária, ou seja, ospactos entre siglas nos estados obe-decem ao mesmo acordo adotadoem âmbito nacional. As novidadesestão por conta da cláusula de barrei-ra e da mini-reforma sancionada pelopresidente Lula, em junho. O primei-ro mecanismo obriga cada partido aobter, pelo menos, 5% do total devotos, descontados brancos e nulos,para a Câmara em todo o país, sen-do obrigatório que 2% dos votos vá-lidos de candidatos a deputado fe-deral correspondam a nove estados.A sigla que não cumprir a determi-nação da cláusula fica impedida de

Eleições deste ano cobram novas regras dos partidos

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva arranca na frente, rumo à reeleição O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em busca de espaço pelo país

Dezoito por cento de intençãoespontânea de voto é a distância quesepara o candidato do PSDB à Presi-dência da República, GeraldoAlckmin, do presidente Luiz InácioLula da Silva, do PT. Nesta modali-dade, de acordo com a pesquisa doinstituto Vox Populi, divulgada nofinal de junho, o eleitor não recebelista para escolha, apenas cita o nomede sua preferência. Os 35% dopetista, acrescidos de 17% do tuca-no, 2% de Heloísa Helena, do PSOL,além de 11% de brancos e nulos e31% dos que não souberam respon-der, confirmam que mais de 60% dosvotantes brasileiros, dificilmente,mudarão o voto, classificado comoideológico neste caso.

O estudo constata aumento de9% nas intenções de voto para o can-didato do PSDB, com 32% ante 45%do atual presidente, que caiu 4% nadisputa pela sua reeleição. No mes-

PPPPPOROROROROR F F F F FÁBIOÁBIOÁBIOÁBIOÁBIO R R R R RAUSCHAUSCHAUSCHAUSCHAUSCH mo período, o levantamento do ins-tituto Data Folha também indicoucrescimento da candidatura deAlckmin, passando de 22% para 29%da preferência dos eleitores, em rela-ção a maio. Lula, ao contrário do queavaliou o outro órgão, subiu umponto, passando de 45% para 46%.Analistas atribuem a possível melho-ra no percentual de Alckmin às pro-pagandas político-partidárias veicu-ladas pelo PSDB no mês de junho.O Data Folha entende que, mesmocom o novo quadro, o presidenteLula mantém índice superior a 50%dos votos válidos e condições devencer no 1º turno.

Disputando um pool em tornode 80% dos votantes, o tucano e opetista contarão com boa margemdos cerca de 126 milhões de brasilei-ros aptos para as eleições de 2 deoutubro. O acréscimo é 10 milhõesde pessoas na comparação com o plei-to anterior. Enquanto Alckmin levaa vantagem de ter governado até a

licença do cargo o Estado de São Pau-lo, o maior colégio eleitoral do país,com mais de 28 milhões de eleitores,Lula possui uma proporção favorá-vel de quase seis para um no Nor-deste, que responde por 27% doseleitores do país. Nesta região, o pre-sidente teria 18 milhões de votos amais que o principal adversário. Noterritório paulistano, o ex-governa-dor abre somente 2,5 milhões.

Benefício próprioA tese de que concorrer no cargo

é uma chance de fazer agenda políticaem benefício próprio ganhou forçano início do mês. O presidente Lula,contrariando determinação do Tribu-nal Superior Eleitoral (TSE), queproíbe reajustes salariais 180 dias an-tes das eleições, anunciou a edição deseis medidas provisórias e um decre-to, com a finalidade de reajustar ossalários de 34 segmentos de carreirado Executivo Federal. Serão benefi-ciados 1,5 milhão de servidores pú-

blicos federais. O impacto do reajus-te será de R$ 5,5 bilhões no orçamen-to deste ano e de quase R$ 11 bi-lhões no de 2007.

Outras medidas do atual gover-no, como o fato de 10 milhões defamílias terminarem o ano receben-do a média de R$ 40 ao mês, atravésdo Bolsa Família, e o aumento dopoder de compra do brasileiro, so-bretudo depois do maior aumentoreal do salário mínimo neste ano, de13% acima da inflação, atingindo R$350, tornam Lula mais bem aceitono âmbito de eleitores com menorrenda familiar. Para quem ganha atéum salário mínimo, o presidente tem61% das intenções contra 16% deAlckmin. Na faixa de um a cinco sa-lários mínimos, a diferença é de 45%a 33%, respectivamente. Somente namargem dos que ganham acima dedez salários, o tucano supera opetista, com diferença de 40% frente34%.

A pesquisa Vox Populi ainda

ter funcionamento parlamentar ple-no e perde o direito de acesso aosrecursos do fundo partidário A me-dida de reforma, por sua vez, proíbeas seguintes ações durante a campa-nha eleitoral, iniciada no dia 6 de ju-lho: distribuição de brindes, comobonés e camisetas; contribuições emdinheiro vivo para a campanha; con-cessão de cestas básicas; realização deshowmícios e propagandas emoutdoors.

Embora não tenha teto para osgastos com a campanha, um parti-do, durante a preparação para o diada votação terá que divulgar, duasvezes pela Internet, os nomes dosdoadores de espécies, além de pres-tar contas ao TSE após esse dia. As

contribuições a partidos não podemter origem de entidades esportivas,organizações não governamentaisque recebam recursos públicos, entreoutras. Sindicatos estão liberadospara doações.

As coligações já declararam à Jus-tiça Eleitoral o limite de gastos noperíodo. As quantias são de R$ 89milhões na aliança (PT-PRB-PC doB), encabeçada pelo presidente Lula;R$ 85 milhões na de Alckmin(PSDB-PFL); R$ 20 milhões na deCristovam Buarque (PDT); e R$ 5milhões na de Heloísa Helena(PSOL-PCB-PSTU). A punição paraa prática do caixa dois será a cassaçãodo registro, diploma ou mandato.(F.R.)

levantou que Heloísa Helena(PSOL) tem 5% das intenções devoto, seguida de CristovamBuarque (PDT), com 1%. JoséMaria Eymael (PSDC) e LucianoBivar (PSL) não pontuaram. Bran-cos e nulos registraram 7%, e 10%das duas mil pessoas consultadasnão opinaram. A média de erro foide dois pontos percentuais.

WILSON DIAS/ABRCÉLIO AZEVEDO/AG. SENADO

Heloísa Helena, do PSOL Cristovam Buarque, do PDT

NomeCristovam Buarque (12)Geraldo Alckmin (45)Heloísa Helena (50)José Maria Eymael (27)Luciano Bivar (17)Luiz Lula da Silva (13)Rui Costa Pimenta (29)

PartidoPDT

PSDBPSOLPSDCPSLPT

PCO

CANDIDATOS

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006 55555I N T E R C Â M B I OI N T E R C Â M B I OI N T E R C Â M B I OI N T E R C Â M B I OI N T E R C Â M B I O IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH

Há exatamente um ano, aFamecos preparava-se para receberum grupo formado por 18 chine-ses que vieram fazer intercâmbiocom ênfase na língua portuguesa.Em junho, o grupo encerrou suasatividades no Brasil e voltou parasua terra natal, do outro lado domundo.

Após uma manhã de aulas deredação em língua portuguesa, ogrupo topou contar para oHipertexto algumas das históriasvividas ao decorrer dos 12 mesesque permaneceram no Brasil. Tími-dos, se reuniram em pequenos gru-pos no jardim da Famecos. Demo-raram a se soltar, mas começaram anarrar, aos poucos, suas experiên-cias na mística terra do futebol edo carnaval.

A primeira a se manifestar foiFelicidade, a mais espontânea dogrupo, que recebeu este nome as-sim que chegou ao Brasil. De acor-do com ela, foi um baque o verãofora de hora que os esperava noaeroporto Salgado Filho na noitede chegada, em agosto de 2005.“Viemos preparados para o inver-no do sul do Brasil”, lembrou ajovem. As dificuldades da primei-ra noite foram muitas, como a fal-ta de contato com a família que dei-xaram na China – a pousada ondeforam hospedados não possuíaconexão com internet, nem os chipsde seus celulares tinham sido trans-feridos para o Brasil.

Choque culturalna chegadaNo dia seguinte ao que chega-

ram, o grupo foi fazer um passeiopela Capital gaúcha, percorrendobairros da cidade. O contraste en-tre os dois países foi grande, já queonde moravam não existe uma ar-quitetura antiga como a nossa.“Porto Alegre é muito velha, temprédios muito antigos”, realçouum dos alunos. Para Felicidade, ochoque foi ainda maior, apesar deter lido sobre o Brasil antes de virpara cá. “Eu pensava que o Brasilinteiro era mato, mas vi que é bem

Chineses se despedem da FamecosO grupo de estudantes intercambistas encerra estudos no Brasil e volta à China, em julho

PPPPPOROROROROR R R R R RENANENANENANENANENAN G G G G GARAVELLOARAVELLOARAVELLOARAVELLOARAVELLO diferente”.Não só a arquitetura mostrou-

se diferente, como também atecnologia. As operadoras de celu-lares do Brasil não permitem o en-vio de torpedos internacionais e ainternet é muito precária, se com-parada à fornecida pelos provedo-res chineses. Todos estes fatoresatrapalharam a comunicação comfamiliares, aumentando ainda maisa saudade de casa.

A comida brasileira não agra-dou ao paladar dos jovens –tampouco a chinesa feita no Bra-sil. “Não é parecida com a que nósfazemos. Tem um tempero dife-rente, não gostamos”, reclamouFelicidade.

Assim como todo grupo, estetambém tinha um líder. Lionel, queviajou para o Rio de Janeiro e SãoPaulo antes de vir para Porto Ale-gre, falou na maioria das vezes pe-los demais colegas. “Eu já conhe-cia Rio e São Paulo e achei PortoAlegre muito diferente de lá. OBrasil tem lugares muito diferen-tes”, constatou o porta-voz do gru-po.

Fidelidadeà chinesaNa comparação Brasil e China,

as diferenças também aparecemcom relação às mulheres. Um anoentre os gaúchos foi suficiente parafazer os chineses perceber que a be-leza gaúcha se destaca em relação àsdemais do próprio país. No entan-to, quando o assunto é as gaúchas,eles juram que não ficaram com ne-nhuma e logo mudam de assunto.“Não temos namorada, e nem pre-tendemos ter uma agora. Vamosnos dedicar aos estudos e à nossaprofissão”, disfarçou Lionel.

Com um pouco mais de insis-tência, acabaram confessando queacharam as brasileiras mais abertase receptivas. “Na China, as garotasquase não falam, a educação recebi-da em casa é muito rígida”, comen-tou um deles. “Mas algumas dei-xaram para trás namorados chine-ses e estão voltando com brasilei-ros”, contou baixinho, com voz dequem estivesse fazendo fofoca.

Assim como os brasileiros, oschineses também adoram se diver-tir. Porém, o que se considera diver-são em Porto Alegre pode não signi-ficar a mesma coisa para quem veiodo outro lado do mundo.

Com a chegada do verão brasilei-ro, o grupo foi convidado a ir à praianas férias. Contudo, na China não sevai à praia durante o dia. “Freqüenta-mos a praia à noite, para evitar o sol”,contou Lionel. Todos foram paraSanta Catarina, mas como não esta-vam acostumados a ir à praia duran-te o dia, não usaram protetor solar.O resultado foi queimaduras ardidaspor todo o corpo. “Não foi muitolegal nossa experiência no litoral”,completou Felicidade.

A noite gaúcha foi outra tentati-va de integração dos chineses à nossacultura. Convidados para o aniversá-rio de uma colega brasileira no Opi-nião, acharam um absurdo as festascomeçarem às 23h no Brasil. “Temoso costume de iniciar nossas festas porvolta das 15h, e não passamos das

19h. Não fazemos festa à noite”. Osjovens também estranharam a for-ma de os brasileiros se comportar nabalada — aqui mais se bebe e con-versa do que se dança e aproveita-se,de fato. Eles também foram aoBarbazul, mas acharam a músicamuito alta. “Preferimos cantar noKaraokê”, falou Helena.

Na bagagem

Muitas foram as experiências vi-vidas entre agosto de 2005 e julho de2006 no Brasil. Situações engraçadas,choques culturais e muitas dificulda-des. Não só de alegrias foi a estadiados chineses em Porto Alegre, comotambém muitas coisas ruins aconte-ceram, dos maus tratos sofridos naprimeira pensão em que viviam à di-ficuldade de conviver com estranhose falar uma língua difícil como o por-tuguês.

E o que voltou na bagagem paraa China? Muita saudade dos colegasda Famecos, saudade de jogar fute-

bol do jeitinho que só brasileiro sabe,agradecimentos a todos que foramcompreensivos em especial os pro-fessores. “Os professores sempreentenderam muito bem a nossa di-ficuldade lingüística, nos ajudarammuito”, falou o porta-voz, que leva-rá também um carinho especial peloGrêmio, já que o grupo, disse ele,entrou num consenso de torcer pelotricolor gaúcho. Mas não é verdade.Quatro chinesas, vestindo camisetasdo Inter e lideradas pela Felicidade,acompanharam todos os jogos docolorado nas sociais.

Lionel fez questão de agradeceraos professores e colegas brasileiros,enaltecendo que muito os ajudaram.“Por causa deles que aprendemostantas coisas na Famecos, no Brasil.Todos agradecem muito ao carinhode todos vocês por nós”, encerrou olíder, prometendo voltar para mataras saudades. Da próxima vez, pro-metem ir mais à praia durante o dia,“mas dessa vez com protetor solar”,sorriu a Felicidade.

Na praia, eles tomam banho de Lua

CRÉDITO

ARQUIVO PESSOAL

A coordenadora do Jornalismo da Famecos, Cristiane Finger, acompanha os chineses em visita à RBS

Numa manhã de domingo, quen-te para o mês de julho que se inicia-va, seis intercambistas, todas meni-nas, encerravam um período de umano de aprendizado e retornavampara casa, na China. O embarque foiàs 8h. Algumas pareciam felizes, cor-rendo pelo aeroporto e contando osminutos para reencontrar os pais,Outras nem tanto, pois namorados

e amigas ficariam por aqui, pelo me-nos mais algum tempo.

Mesmo com a presença de pou-cos brasileiros na despedida, chine-sas até então muito sorridentes fo-ram tomadas pela tristeza ao chegarao Salgado Filho, certamente sentin-do saudades antecipadas de amiza-des construídas ao longo de um ano.Osvaldo Biz, professor da Famecos,era um dos brasileiros presente noaeroporto para se despedir das chi-

nesas. Aproveitou a ocasião para en-tregar maracujás à comunicativa Feli-cidade, cujas sementes hoje secam aosol do verão chinês.

Entre as lágrimas de despedida eas promessas de troca de e-mails,havia pelo menos duas meninas,Patrícia e Maria, que verão seus na-morados em breve. Rafael Codonhoe André dos Santos Fraga embarcamdia 8 de agosto rumo a Pequim, fi-cando por lá um ano, onde os casais

irão se reencontrar. Os alunos daFamecos estudarão mandarim, queserá aproveitado aqui como discipli-na eletiva, em um intercâmbio fir-mado pela PUCRS com aCommunication University of Chi-na (CUC). Antes haverá um teste denivelamento para definir a turma.

Rafael, antes de ir, incluiu muitacomida da mãe, livros em portuguêse a venda de alguns itens, como aguitarra, a fim de arrecadar dinheiro.

Música brasileira, em especial BossaNova, também estão na lista. A fa-mília de Rafael já sente falta de Patrí-cia, que se tornou parte da família eagora irá se despedir de novo. A sau-dade não é o único desafio dos bra-sileiros: em Pequim eles irão encon-trar um frio de 20º negativos, umalíngua complexa para aprender, umterritório enorme, que pretendemexplorar e uma cultura belíssima paracompreender.

PPPPPOROROROROR R R R R RAISSAAISSAAISSAAISSAAISSA G G G G GENROENROENROENROENRO

Dois namorados seguem em agosto para a China

HHHHHPPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 200666666 COPCOPCOPCOPCOPA DO MUNDOA DO MUNDOA DO MUNDOA DO MUNDOA DO MUNDO 77777 HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

ATENÇÃO, BRASIL!ELES JÁ SÃO TETRA

Marcello Lippi, o treinador da Itá-lia, disse que a final de uma Copa doMundo é como um banquete. A mesaestá cheia, e todos sentados em tornodela. Três fatores poderiam decidirquem comeria mais: organização, qua-lidade individual e fome. Como amontagem dos times e seus talentosse equivalem, ganharia que estivessemais faminto. Lippi não poderia estarmais certo em sua metáfora alimen-tar. A Itália estava com mais fome, ojejum era de 24 anos. E na gana con-quistou o tetra, aproximando-se doBrasil. Já a vimos, sozinha, peloretrovisor.

Era também a despedida deZidane do futebol. Com cinco minu-tos, o maior jogador da história dofutebol francês escreveu o lado boni-to. Malouda invadiu a área e o zaguei-ro Materazzi chegou um pouco atra-sado, acertando o atacante. Pênaltiprontamente marcado pelo argentinoHorácio Elizondo. Na cobrança,Zidane esbanjou (veja a descrição dogol em “Simplesmente Zizou, na pá-gina 7).

A Itália reagiu rapidamente. Pirlocobrou um escanteio com perfeição,exatamente onde se localizavaMaterazzi. O zagueirão cabeceou for-te e empatou o jogo.

E a squadra azzurra seguiu melhorno primeiro tempo. No segundo tem-po houve amplo domínio francês.Henry e Zidane comandavam os ata-ques dos bleus, mas esbarravam na óti-ma defesa italiana e no fora-de-sériegoleiro Buffon. O francês Vieira, umdos grandes nomes do Mundial, saiumachucado.

Pela quarta vez, uma final de Copafoi para a prorrogação. Os 30 minutosde tempo extra tiveram duas marcas.A primeira foi o lance mais simbólicoda Copa. Zidane arma a jogada e pas-sa para a ponta. O cruzamento encon-tra sua cabeça. O golpe é mortal, forte,alto. Era gol certo, caso não fosse GigiBuffon o número 1 italiano. Um mi-lagre espetacular evita o gol francês.

Então chega o segundo lance, amancha da carreira de Zizou. Eramquatro minutos do segundo tempo.Zidane e Materazzi discutem e, pro-vavelmente, xingam-se. Zizou se afas-ta cerca de dois metros do italiano, que

As estrelas nascem das nuvensmoleculares, e se formam a partir dainstabilidade delas. As pequenas seapagam com o tempo. As grandes,explodem, gerando as supernovas,que dão origem a outras estrelas, queseguirão contando a história do Uni-verso.

Zinédine Yazid Zidane é umasupernova. Daqueles que podem in-tensificar o brilho em um bilhão devezes, até esmorecer em alguns diasou semanas. Ele havia prometido queo Mundial da Alemanha seria seu úl-timo, e depois de ter duas atuaçõespífias nos empates contra Suíça eCoréia do Sul, muitos acreditaram queseria mesmo. Não atuou na vitóriacontra Togo, que levou os franceses às

Simplesmente Zizou

Quebrando um jejum de 24 anos, a Itália chegaao quarto título ao vencer a França nos pênaltis

PPPPPOROROROROR R R R R RAFAFAFAFAFAELAELAELAELAEL M M M M MANOANOANOANOANO D D D D DIVERIOIVERIOIVERIOIVERIOIVERIO

oitavas-de-final. Porém, voltou noquarto jogo, contra a Espanha, emmeio a nuvens de desconfiança e apre-ensão.

E então... explodiu.mundiais, deu show. Não, me-

lhor, redefiniu um universo! Marcoudefinitivamente o mundo do futebolentre aqueles que viram ou não Zizoujogar.

Contra Portugal de Felipão,Zinedine Zidane não foi o mesmo dapartida anterior, mas o universo cons-pirou a seu favor. Cobrou o pênaltisofrido por Thierry Henry e, extenua-do, levou a França à final.

Na decisão, os bleus (azuis) contraa Azzurra. Cinco minutos de jogo e omundo pôde ver o brilho da estrelanovamente. Num pênalti emMalouda. Zizou marcou seu sexto gol

em Copas do Mundo. Mas não foiapenas um gol! Tal qual um astro, abola descreveu sua trajetória em tor-no de sua própria órbita. Bateu notravessão e no chão, atrás da linha defundo. Não muito, apenas o suficien-te para colocar Zidane na história comoum dos quatro jogadores a fazer golsem duas finais de Copa – os outrosforam os brasileiros Vavá e Pelé, e oalemão Breitner.

Mas então... a estrela explodiuoutra vez.

O zagueiro italiano MarcoMaterazzi, da Inter, de Milão, nuncafoi sinônimo de elegância. É daquelesbeques toscos, de tratar mal a bola.Nunca poderia se entender mesmocom Zidane. Foi ele quem cometeu opênalti. E também foi ele quem mar-cou o gol de empate, levando a deci-são para os pênaltis. Mas, antes disso,serviu de coadjuvante para a pior atu-ação do astro francês.

Depois de ser insultado pelo itali-ano, Zizou desferiu um golpe de ca-beça contra o peito de Materazzi. Tal-vez por ter ouvido o zagueiro insultarsua irmã, talvez por tê-lo ouvido in-sultar suas origens africanas, talvez portentar explicar a teoria da formação douniverso através do choque dos cor-pos celestes... Enfim. Nada justifica aatitude de Zinedine. Mas tambémnada tira o brilhantismo do maior jo-gador francês de futebol de todos ostempos.

Zidane ganhou a Bola de Ourocomo o melhor jogador da Copa daAlemanha. Guerreiro com elegância.Encantador com garra. Cumpridor detarefas, mas genial. O meio-campofrancês funcionou como um sistema.Todos os planetas em volta de umsol, o “Rei-Sol”, o Sol: Zidane. Para ageração que não viu ohexacampeonato brasileiro, resta umalento. Contar para as gerações futu-ras:

“Sim, eu vi Zizou jogar!”.

Enfim, acaba a Era Parreira-Zagallo

continua falando. De repente, o cami-sa 10 francês volta, olha para o zaguei-ro e desfere uma cabeçadaviolentíssima, no peito do adversário.Sem razão aparente. E o mundo vivemais um grande mistério: o que teriadito o zagueiro para despertar tama-nha fúria no maître?

Outro fato curioso: Elizondo nãoparecia ter intenção de expulsar o jo-gador. Coincidentemente, após oreplay ser passado pela televisão é queo argentino resolveu mostrar o cartãovermelho. Teria havido interferência dealguém de fora no ponto eletrônicodo árbitro?

Mistérios. Mistérios que marcamo encerramento da carreira de Zidane.Completa? Óbvio. Em 109 minutosem campo, Zidane fez um golaço depênalti, comandou um ótimo segun-do tempo de seu time, deslocou oombro, pôs de novo no lugar, conti-nuou machucado, protagonizou o lan-ce da Copa na cabeçada milagrosamen-te defendida por Buffon, e foi expul-so de maneira incrível.

Mas a vida seguiu depois deZidane. E o jogo foi para os pênaltis.Ficou claro que a Itália ganharia. Lippi,

mais tarde, afirmou que seus jogado-res arrastaram o jogo para as cobran-ças e tinham vontade de executá-las.Sem contar que Buffon é mais goleirodo que Barthez.

A emozione italiana com o títuloinvadiu Berlim, Roma, Turim, Milão,Napoli, Palermo, Cagliari, a Serra Ga-úcha, Nova Iorque e todas as colôniasitalianas espalhadas pelo mundo.

Antes da Copa, apontava-se o Bra-sil como o grande favorito. A Alema-nha, por ser dona da casa, tambémpoderia vencer. Inglaterra, RepúblicaTcheca e Argentina tinham chances porpossuírem grandes craques. AEspanha poderia ser a surpresa. Itáliae França entravam no grupo das “quenunca podemos esquecer”.

No ano em que há problemasinstitucionais em seus grandes clubes(Juventus, Milan, Fiorentina e Laziosão acusados de manipular o campe-onato), seus jogadores assumiram ahonra italiana e fizeram por merecer otítulo mundial. Assim como em 1982,quando vivia uma fase turbulenta, aItália confirma a grande capacidade decrescer nas piores adversidades. Cui-dado Brasil, eles já são tetra.

O capitão Fabio Cannavaro ergue a taça de Campeão do Mundo após a vitória contra a França, nos pênaltis, no estádio de Berlim

Zidane perde a elegância em conversa ao pé do ouvido com Materazzi

No início era o “quadrado mági-co”. A reunião de quatro dos melho-res atacantes do planeta para enfrentaras equipes que posicionariam o máxi-mo de jogadores possíveis atrás da li-nha da bola. Era tempo de contem-plar a volta do futebol alegre. Bestei-ra. Dois centroavantes que ocupavamo mesmo espaço facilitavam a defesa,dois meias que não estavam em suasposições e aceitavam a marcação ti-nham problemas para armar e paramarcar. Claro, sempre alguma estrelabrilhava e o Brasil vencia. Foi assimcontra a Croácia e Austrália. No desa-fio japonês, tivemos um pouco deesperança. Lampejos geniais do “qua-drado mágico”, desta vez sem o

centroavante Adriano (que, em forma,é pior do que Ronaldo gordo) e comRobinho. Levamos um gol, mas fize-mos quatro. Contra Gana, novamen-te uma má partida, os 3 a 0 engana-ram. E então chegou a França. Quechance para vingar 1998. Que chance!

Seleção da mídiaO Brasil entrou escalado como

queria a maior parte da imprensa e datorcida, sem o suposto “quadradomágico” e com os dois trios: GilbertoSilva, Zé Roberto e Juninho no meio,e Kaká, Ronaldinho e Ronaldo no ata-que. E nada funcionou como se pre-via. Aliás, repetiu-se a mesma históriade todos os outros jogos. Porém, con-tra um time um pouco melhor.

Dida foi o mesmo de sempre,

sólido e calado. Cafu deve ter batidotodos os recordes de um jogador emCopa do Mundo, inclusive o seu pró-prio de 36 anos e nenhum cruzamen-to certo. Roberto Carlos parecia o mes-mo de 98, sem marcar e sem atacar(mas as meias estavam bemesticadinhas). O trio do meio nãomarcou nem sustentou o trio de ata-que, que, por sua vez, nem entrou emcampo. Kaká sucumbiu diante da mar-cação. Ronaldo não recebeu a bola, mastambém não foi procurá-la. ERonaldinho... que decepção. Deixoumais uma vez a impressão de se tratarde um craque. Um craque decide oCampeonato Espanhol. Um mitodecide a Copa do Mundo. A dupla dezaga foi bem como nos últimos jo-gos. Na Seleção, quando a os dois za-

gueiros se destacam, tudo está errado.Claro, Parreira também foi o mesmo:estático, desmotivado, lento, pragmá-tico, irritante, preocupado com a lei-tura labial do Fantástico...

Os torcedores ficaram perplexoscom a passividade uma das melhoresgerações de todos os tempos foi eli-minada, afundada por um treinadorde outro nível. Muito mais baixo.Agora, os mesmos torcedores torcemque este seja o fim da era Parreira eseus veteranos, porque desconfiamque até com os reservas poderíamoster ganho a Copa. Menos mal queZagallo, outro símbolo de apatia bra-sileira desta Copa, não pareceu ter con-seguido uma camiseta da França, masencontrou um consolo: “Brasil fre-guês” tem 13 letras. Parreira e Zagallo: valeu, obrigado; até nunca

NÍCOLAS ASFOURI/ AFP

MEHDI FEDOUACH/ AFP

MARCUS BRANDT/ AFP

PPPPPOROROROROR R R R R RAFAFAFAFAFAELAELAELAELAEL M M M M MANOANOANOANOANO D D D D DIVERIOIVERIOIVERIOIVERIOIVERIO

PPPPPOROROROROR M M M M MATHEUSATHEUSATHEUSATHEUSATHEUS P P P P PASSOSASSOSASSOSASSOSASSOS B B B B BECKECKECKECKECK

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 200688888 R E P O RR E P O RR E P O RR E P O RR E P O RTTTTTAAAAA G E MG E MG E MG E MG E M HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Padarias, igrejas, praças, cemité-rio, moradias, ruas, prisão, moedaprópria formam o cenário de umatípica cidade. Ocupando 1250 hecta-res, tudo isso se encontra na vila queparece uma cidade construída, em1940, para ser o destino deconfinamento de centenas dehansenianos, doença mais conheci-da por lepra. Embora o princípio doisolamento não vigore mais, a cida-de dos esquecidos continua existin-do a 75 quilômetros do centro dePorto Alegre.

O Hospital Colônia de Itapuã,em Viamão, foi construído para reti-rar de circulação os portadores dehanseníase, doença contagiosa quenaquela época não tinha cura. O localjá abrigou cerca de 800 internos, cida-dãos que sofreram com a exclusão,como Eva Nunes, 62 anos, mora-dora do antigo leprosário desde osseus 11 anos. Hoje comporta 48 ex-hansenianos e 79 doentes mentais,transferidos do Hospital Psiquiátri-co São Pedro, desde 1972. Essa quefoi a cidade dos esquecidos é hojereferência na luta pelo direito de in-

clusão dos pacientes que ainda so-frem preconceito devido a doença.

Os hansenianos foram levadosao isolamento contra a vontade, poisa doença era contagiosa e incurável.Na década de 40, muitos doenteseram caçados nas ruas, outros foramperseguidos pela polícia ou pela ins-peção sanitária. Em um período emque a doença era um agravante emsuas vidas, alguns chegaram ao hos-pital de carona em caminhão de lixo.Assim, os pacientes ficavam esqueci-

Colônia de Itapuã ainda abrigaNo Hospital Colônia de Itapuã, em Viamão, hansenianos e doentes mentais continuam vivendo

O diretor Canedo estreita os laços afetivos com os pacientesA mensagem tenta amenizar o abandono dos internos

dos na colônia sem direito nenhumde saída. O medo da doença e o pre-conceito provocaram situações mui-to dolorosas. “Existem casos de pa-cientes que vieram para o hospital e afamília dizia, para todo mundo, queele havia morrido ou preferiram di-zer que a filha se tornara prostitutado que contar da hanseníase. Hámeninos que vieram para o hospitale os pais lhes disseram que iriam pas-sar apenas as férias e nunca mais vol-taram”, conta o atual diretor Eduar-

PPPPPOROROROROR: M: M: M: M: MARIANAARIANAARIANAARIANAARIANA B B B B BAIERLEAIERLEAIERLEAIERLEAIERLE S S S S SOARESOARESOARESOARESOARESEEEEE M M M M MICHELEICHELEICHELEICHELEICHELE R R R R ROLIMOLIMOLIMOLIMOLIM

do Canedo.Na época da criação da Colônia

de Itapuã, a doença, antigamente co-nhecida como “lepra”, não possuíatratamento. Devido à pouca infor-mação e ao risco de contágio, os paci-entes eram discriminados. JoãoCarlos Ferreira, morador da institui-ção, até hoje conserva cicatrizes doperíodo. Perguntado sobre sua per-manência no hospital, demonstravergonha da própria doença. “Bom...Eu vou direto ao assunto. Desculpe

a expressão, mas eu tinha lepra”.Relembrando o momento em quechegou ao hospital, deixado pela fa-mília, Ferreira relata o que encontrou.“No começo, eu estranhei, porqueencontrei tanta gente com problema,um sem perna, um sem mão, umgritava, outro se desesperava. Tinhaesposo sem esposa e mulher semmarido”. As crianças que nasciameram separadas das mães para nãocontraírem a doença e encaminhadasa um abrigo.

FOTOS MICHELE ROLIM

Brasil é o segundo país do mundoem casos de hanseníase, diz OMS

O Brasil é um dos nove paísesque ainda não eliminaram ahanseníase. É dos poucos em que adoença continua problema de saúdepública, ficando trás apenas da Ín-dia. O Rio Grande do Sul, SantaCatarina e São Paulo atingiram umaprevalência menor do que a metaestabelecida pela Organização Mun-dial da Saúde (OMS). Os estados pi-ores são Mato Grosso, Tocantins e oPará. “Isso acontece peladesinformação e dificuldade de aces-so aos postos de saúde”, explica omédico chefe do Serviço deDermatologia do Hospital São Lucasda PUCRS, Luis Carlos Campos.

A hanseníase é uma doençamilenar, mencionada já na Bíbliacomo “lepra”. O termo foi abolidoem 1995, por um decreto do entãopresidente Fernando Henrique Car-doso, devido à carga agressiva epreconceituosa. É transmitida atra-vés do bacilo de Hansen. Atinge apele e nervos periféricos, eliminan-do a sensibilidade em determinadoslocais do corpo. “O indivíduo nãosente frio, calor, cortes, machucados.Esse é o risco, pois a pessoa se fere,se queima e não percebe. A doençanão mata, mas deforma”, esclareceCampos. O contágio se dá de indiví-duo para indivíduo, por germes eli-minados por gotículas da fala e quesão inalados por outras pessoas, pe-

netra no organismo pela mucosa donariz. Outra possibilidade é o conta-to direto com a pele ferida de doen-tes. Para se adquirir o bacilo, é preci-so um contato muito intenso com oportador, o que acontece em geralapenas com familiares de pessoas quenão sabem que têm a doença. Enfer-mos em tratamento não transmitema doença. “Hoje, sabe-se tambémque 90% das pessoas são natural-mente resistentes ao bacilo e nemtodas as formas são transmissíveis”,afirma Campos.

Na década de 80, a OMS reco-mendou a introdução dapoliquimioterapia que possibilita acura da doença. O tratamento se dápela ingestão de medicamentos re-gularmente em um período, confor-me a gravidade do caso. O governofinancia o tratamento da hanseníasepara todo cidadão infectado.

Existe um rígido controle sobreos portadores. Nos postos de saú-de, a ingestão das drogas é controla-da. “O paciente é obrigado a ingerirgrandes doses do medicamento, to-dos os meses na frente do médicono posto de saúde. A medida é paragarantir que o enfermo tomou a dosemínima do remédio. Se ele não se-guir o tratamento em casa, pode nãose curar, mas, pelo menos, não trans-mitirá a doença para outras pesso-as”, expõe o dermatologista.

Desde 1972, o Hospital Colôniade Itapuã passou a receber, além doshansenianos, outro segmento deabandonados pela sociedade, os do-entes mentais. Pacientes psiquiátri-cos (do Centro Agrícola de Reabilita-ção) e hansenianos (do hospital) pas-saram a ocupar a mesma área que, noinício, era separada por uma cerca.Dois anos depois foi eliminada.Mesmo com sua retirada, a cerca ima-ginária continuou existindo pormuitos anos. Hoje, os hansenianosconvivem com os psiquiátricos e vice-versa”, diz o diretor administrativo

A convivência com os pacientes psiquiátricosA convivência com os pacientes psiquiátricosA convivência com os pacientes psiquiátricosA convivência com os pacientes psiquiátricosA convivência com os pacientes psiquiátricostransferidos do São Ptransferidos do São Ptransferidos do São Ptransferidos do São Ptransferidos do São Pedro na década de 70edro na década de 70edro na década de 70edro na década de 70edro na década de 70

Eduardo Canedo.A Colônia visa a adaptação social

dos pacientes portadores de diver-sos transtornos psíquicos,esquizofrenia e outras patologias. Láeles realizam diversas atividades,onde se destaca a recreação, uma refe-rência entre as instituições de saúdemental. Canedo iniciou sua trajetó-ria na instituição nessa área, ondeatuou por cinco anos, trazendo ino-vações e humanizando o trabalhocom os pacientes. “A recreação não éum depósito de gente, não é zooló-gico humano. Deve ser um local para

eles desenvolverem algum gatilho,para que possam descobrir suaspotencialidades”, argumenta.

As pessoas são tratadas respei-tando suas individualidades. “Os pa-cientes não são contabilizados comoum número, uma estatística. Nósconhecemos todos pelo nome e so-brenome, eles têm uma trajetória.Justamente por isso, o hospital pos-sui um centro de pesquisa e preser-vação da memória e da história”.

Os pacientes reconhecem e valo-rizam seu esforço e dedicação no tra-balho na instituição e todos são unâ-nimes ao considerá-lo um amigo.Eva Nunes, paciente ex-hansenianaque vive na instituição desde os 11anos, garante: “O Dudu é um ami-go que a gente pode confiar, pedirum ombro e chorar. Ele é muito sin-cero e tem um coração enorme quequer ajudar todo mundo”.

Na recreação são desenvolvidasoficinas de artesanato, pintura, argi-la, expressão corporal, música, entreoutras. Gabriel Escouto, pacientepsiquiátrico, é um exemplo dessa re-alidade. Suas telas foram expostas emSão Lourenço do Sul, no Centro deHabilitação Psicossocial. “Pintar é oque eu mais gosto de fazer dentro darecreação, dizem que eu sou um ar-tista”, orgulha-se ele, que está na ins-tituição há 33 anos, um dos expoen-tes do ateliê de artes.

Gabriel realiza uma das oficinas de pintura no ateliê de artes

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006 99999 IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH REPORREPORREPORREPORREPORTTTTTAAAAAGEMGEMGEMGEMGEM

pacientes segregados sociaissob o estigma do isolamento e lutam pelo direito à inclusão social

“Nós não caminhamos sós” é afrase escrita no pórtico que dá aces-so à área residencial da vila. O dire-tor Canedo explica que a frase sig-nifica cuidado, idéia de fraternidadee ajuda mútua. “Só que, na verdade,o que está escrito ali é ‘vocês nuncamais sairão daqui de dentro com aspróprias pernas’”, diz ele, apontan-do para a antiga prisão que lá exis-tia e para o fato do Hospital Colô-nia de Itapuã significar o ciclo finalda vida de muitas pessoas.

Cemitério,única saídaO prédio onde funcionava a an-

tiga prisão existe até hoje, mas estádesativado desde 1960. No espaço,eram colocados internos que tenta-vam escapar. Os pacientes não ti-nham perspectivas de saída. Só o ca-minho para o cemitério, destino fi-nal que, em muitos casos, continuaigual. “Como esse é o destino damaioria deles e o cemitério semprefoi um ambiente muito triste, eu eum grupo de pacientes resolvemospintar algumas cruzes para torná-lomais alegre”, conta Canedo.

Em 1956, a internação compul-sória foi extinta devido à possibili-

dade de tratamento ambulatorial dadoença no Brasil. O hospital – mo-delo no tratamento da doença noRio Grande do Sul – abriu suas por-tas. Muitos foram embora e se de-pararam com uma dura realidade: opreconceito e o olhar desconfiadodas pessoas que descobriam a pro-cedência deles. “Os doenteshansenianos quando tinham que sairdo hospital para fazer algum exame,

ou tratar alguma problema de saú-de, sentiam vergonha de si mesmos,pois as pessoas ao saber que eramportadores da doença, os isolavam,de medo. Hoje é bem mais tranqüi-lo, mas ainda tem muitadesinformação”, relata o médicoclínico Carlos Roberto da FonteDomingues que trabalha na institui-ção há 26 anos.

Mesmo com a aparente liberda-

As pessoas fecham o ciclo de suas vidas isoladas da sociedade

FOTOS MICHELE ROLIM

Cruzes receberam cores para atenuar a tristeza do cemitério

de que ganharam após a descobertada cura da hanseníase, eles ainda en-frentaram muitas dificuldades. “Es-ses internos, mesmo livres, não ti-nham como sobreviver e voltarampara as portas do hospital. Criou-seuma dívida social do estado comeles, pois foi o próprio estado quemos excluiu”, diz o diretor. Devido àdiminuição no número de internos,há 15 anos, a Secretaria Estadual da

Saúde transferiu para o espaço pa-cientes com transtornos mentais,oriundos do meio rural. Mantidototalmente pelo governo do Esta-do, a instituição recebe voluntáriospara diversas funções, nas áreasmédicas, nutrição, recreação, ofici-nas, organização de festas e even-tos. Outras informações podem serobtidas pelos telefones 3494 8055ou 3494 8022.

“Cidade dos Condenados” é otítulo dado ao documentário queestá sendo filmado no Hospital Co-lônia de Itapuã, sob a direção docineasta francês Jean Arlaud. O tra-balho aborda a vida de dois gruposde pessoas que foram excluídos dasociedade, os hansenianos e os por-tadores de doenças mentais, e comoessas pessoas conseguiram traçarsuas trajetórias.

O documentário é focado emuma personalidade ímpar, que fez avida de todos mudar no local. Atra-vés do esforço e dedicação empe-nhados no setor de recreação, o di-retor Eduardo Canedo devolveu aospacientes a oportunidade de recu-perar a auto-estima, sonhar e sorrir.

O roteiro é abordado pelo viésda antropologia visual, usandocomo recursos o cinema e afotoetnografia na construção danarrativa. Foi realizado umdetalhamento da região de Itapuãpela professora Nazareth AgraHassen em sua tese de doutoradodefendida na Faculdade de Educa-ção da UFRGS, em 2005.

Até o momento foram feitas250 fotografias pelo professor LuizEduardo Achutti e duas horas emeia de filmagens pelo professorJean Arlaud - Université Paris 7, eequipe. A previsão de lançamento épara 2007.

DocumentárioDocumentárioDocumentárioDocumentárioDocumentárioantropológicoantropológicoantropológicoantropológicoantropológico

Se fosse feita uma pesquisa en-tre os sem-tetos seria constatadoque 75% a 80% deles necessitam detratamento. A frase da presidente daONG Sociedade de Apoio ao Do-ente Mental (Sadom) e integrante doMovimento pela Atenção Integral aSaúde (Mais), Carmem Lia, justifi-ca a necessidade de rever a lei 9.716que, em 1992, implementou a refor-ma psiquiátrica no Estado, ao seraprovada pela Assembléia Legisla-tiva. Segundo ela, a lei provocouuma grande crise na assistência àsaúde mental. “Vergonhosa e irres-ponsável”, enfatiza. Para o autor dalei, o ex-deputado Marcos Rolim, oseu principal benefício é o reconhe-cimento dos direitos dos pacientespsiquiátricos.

Antes da aprovação da lei esta-dual, qualquer pessoa poderia ter asua liberdade privada por um diag-nóstico médico, sem ter o devidoprocesso legal. “Para evitar essesproblemas criamos mecanismos deacompanhamento e averiguação dadensidade das internações compul-sórias, possibilitando ao MinistérioPúblico fazer o acompanhamentodesse processo”, explica o ex-depu-tado em entrevista ao estudante dejornalismo Ricardo Romanoff. Fo-ram adotadas medidas que estimu-

Reforma psiquiátrica gera polêmica entre ONG e autor do projeto

PPPPPOROROROROR A A A A ALESSANDRALESSANDRALESSANDRALESSANDRALESSANDRA B B B B BRITESRITESRITESRITESRITES lam a abertura de novos serviços emsaúde mental de natureza comuni-tária como leitos em hospitais ge-rais, o hospital-dia, ambulatórios,emergências psiquiátricas gerais,centros residenciais, lares abrigados,pensões públicas e Centros de Aten-dimento Psicossocial. A determina-ção mais polêmica da lei foi a queaponta para necessidade de constru-ção de novos hospitais psiquiátricosno Estado e a ampliação dos exis-tentes. A lei ‘congelou’ a capacida-de de leitos existentes em hospitaispsiquiátricos, admitindo e orientan-do que novas vagas, quando neces-sárias, fossem abertas em hospitaisgerais e não mais em instituiçõespsiquiátricas.

Carmem Lia discorda do autorda lei. Argumenta que o tratamentodos doentes mentais fora do hospi-tal especializado é uma excelenteidéia, no entanto, é para um peque-no número de pessoas. “Não há lei-tos para todos. A demanda é altíssi-ma. Obviamente não há interessedesses hospitais de investir e aco-lher os pacientes, pois o custo émuito alto.” A rede alternativa deatendimento ao doente mental pro-posta pela reforma psiquiátrica pra-ticamente inexiste. “Não há ofertasuficiente de ambulatórios especi-alizados, medicamentos estão sem-pre em falta, leitos para a interna-

ção em hospitais da mesma forma,essa situação é deplorável em se tra-tando do Rio Grande do Sul que jáfoi em anos anteriores consideradoo exemplo em psiquiatria”, relata apresidente da Sadom que, há 27 anos,trabalha junto à direção do HospitalPsiquiátrico São Pedro, única institui-ção pública do estado que atende do-ente mental.

Aumento de vagas Desde o início da reforma au-

menta a compra de vagas para trata-mento psiquiátrico. “É urgente quesejam restauradas as condições dehospitalização, regulando o númerode leitos em função das necessidadesda população do nosso estado, poisse tem visto inúmeras pessoas moran-do nas ruas embaixo de pontes. Quan-do se fala isso, os contrários à revisãoda reforma dizem que a situação ine-xiste, mas ela existe. Se fizéssemosuma pesquisa entre os moradores derua talvez 75%, ou 80% fossem pes-soas necessitando de tratamento.”Carmem enfatiza que a decisão dereduzir vagas acentua o desmonte doshospitais, e principalmente o São Pe-dro. “Por se tratar de uma instituiçãopública, há décadas vem atendendopessoas carentes com problemas. Paraonde irão os pobres desprovidos desua saúde”, questiona.

A reforma psiquiátrica, no enten-

dimento do ex-deputado Rolim, sina-liza uma virada nos investimentospúblicos na área de saúde mental, pro-movendo mudanças significativas ebenéficas à sociedade. “Em 1992,92% das verbas de internação psiqui-átrica do SUS financiavam leitos emhospitais psiquiátricos. Ou seja, prati-camente todo o dinheiro gasto pelogoverno federal se destinava a hospi-tais e clínicas privadas. Os proprietá-rios desses estabelecimentos ganha-vam fortunas mensalmente”, frisa.

A situação do Hospital São Pedroexemplifica os questionamentos deCarmem Lia. Hoje as principais pro-blemas da instituição são: falta de lei-tos, de profissionais capacitados e es-cassez de recursos na rede de saúde eno orçamento do governo para equi-par melhor e qualificar o atendimen-to. Segundo o diretor técnico e psi-quiatra do São Pedro, Ygor Ferrão, ataxa de ocupação do hospital é sem-pre 100%. “Normalmente temos 100leitos e 110 pacientes internados. Aemergência faz uns 500 atendimen-tos por mês”. diz

Existem diversos casos de inter-nos que permanem no hospital. Sãopessoas abandonadas pelas famílias ouessa simplesmente não foi localizada.Para esses foi criada uma Morada, nosfundos do hospital, com 27 casas,outro semelhante em Viamão e aColônia de Itapuã.

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 20061 01 01 01 01 0 VVVVVAR I EDAR I EDAR I EDAR I EDAR I EDADESADESADESADESADES HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Alunos dos cursos de Comuni-cação da PUCRS, além de estudar ena maioria dos casos trabalhar, ocu-pam seu tempo tocando com suasbandas. Alguns deles conseguem atéfazer shows em lugares grandes e ob-ter sucesso com a sua música, inte-grando grupos conhecidos no cená-rio musical.

Do rock ao reggae, as bandas dosacadêmicos da Famecos têm históri-as interessantes e uma musicalidadediversa que envolve também opunkrock, um estilo que se baseiaprincipalmente nos Ramones, masque engloba dezenas de bandas des-te tipo conhecidas no mundo.

No caso do punkrock, se desta-cam a banda La Resistence e Blasé. Oguitarrista de La Resistence, ThomasNasário, estuda Publicidade e Propa-ganda na Famecos e começou a tocarrecentemente na banda criada em2003 em Guaíba, sua cidade natal. Otipo de som que a La Resistence tocase funde entre algumas inspiraçõesvindas das bandas Rufio, BadReligion, No Use For a Name eRamones, entre outras do gênero.Thomas é oriundo do conjuntopunkrock, a Blitzkrieg, que se sepa-rou há um ano e era composto tam-bém por outro estudante de PP,

Orley.A Blasé de Porto Alegre é forma-

da só por mulheres que curtem fazero bom e velho rock´n roll. Entre asintegrantes, a baterista RenataCrawshaw e a vocalista e guitarristaChris Sassen estudam Jornalismo. Abanda ainda não tem músicas pró-prias, mas estão providenciando algopara seu primeiro CD. Sua maior apre-sentação foi em Canela na aberturado show da Tequila Baby.

Abrangendo estilos de rock emdiversos subgêneros, a Lazy tentatransmitir alegria e seriedade com sen-timentos comuns aos jovens. Já fezalguns shows em Porto Alegre,Florianópolis, Blumenau e cidadesdo interior do Rio Grande do Sul. Abanda participou de eventos comoutras bandas fortes como a ForFun, Emo, Sugar Kane e Killi. ALazy já tem suas próprias músicasque são muito semelhantes ao somda banda Fresno, com bastante des-taque no RS. As principais músicasaté agora são Lazy, Amnésia e A vidaque sonhei. O guitarrista Ney, que cur-sa Publicidade, divide os estudoscom os shows.

Uma história interessante é a daRenda per Capita, recriada por doisalunos da Famecos em 2004, WilliamMallet, de PP, e Chico, de Jornal, quese conheceram na festa dos bixos e

O som da FamecosAlunos da faculdade formam bandas já na festa dos bixos

formaram a banda na mesma hora.Com influência predominante dacaliforniana Red Hot Chili Peppers,começou a tocar covers apenas comguitarra e baixo, posteriormente agru-pando um vocalista e um baterista.Misturou, então, outras influênciascomo Foo Fighters, Blink 182,Detonautas e CPM22. Após doisanos de insistência, a Renda perCapita já tem cinco músicas em seuhistórico e o pessoal pretendem gra-var um CD em breve com pelo me-nos 10 composições. Para o futuro,pretende investir cada vez mais emseu próprio som, colando sua marcanos seus shows e deixando os coversum pouco de lado.

Wailua, enfim, é o nome que ba-tiza o grupo de regaee cujo nome ho-menageia o “Rei Moikeha”, que se-gundo diz a lenda, criou o surf ebatizou o local onde tal fato aconte-ceu como “Ilha Sagrada de Wailua”.

O vocalista e estudante do cursode Jornalismo, Rodrigo Albornoz,tem uma interpretação para o fenô-meno de tantos conjuntos musicaisentre os alunos da Famecos: “Achoque a galera da comunicação é muitoenvolvida com música e provavel-mente já tem uma certa tendência aosonho do estrelato. Talvez isso ex-plique o porquê de tantas bandas nanossa faculdade”.

PPPPPOROROROROR F F F F FRANCISORANCISORANCISORANCISORANCISO P P P P PRATORATORATORATORATO

Alunos da Famecos na batida do rock, reggae, punkrock e covers

O incentivo à cultura no Brasil épequeno e está limitado às leis deisenção fiscal de iniciativa dos gover-nos federal, estadual e municipal.Empresas brasileiras se valem da le-gislação para financiar a produção ci-nematográfica recebendo, em troca,benefícios fiscais. O mecanismo podeser utilizado por investidores exter-nos desde que se adaptem às exigên-cias. È o caso do novo filme de JorgeFurtado, Saneamento Básico, em pro-dução até meados de agosto, que re-cebe recurso externo e apoio tambémpara o momento da divulgação.

A produção conta a história deuma pequena comunidade de des-cendentes italianos na Serra gaúcha,que desejam construir uma fossapara o tratamento de esgoto da vila.A subprefeitura alega não ter verbasuficiente para ajudar os moradoresde Vila Nova. Eles descobrem, en-tão, que existe a possibilidade de con-seguirem cerca de R$ 10 mil para pro-dução de um vídeo e, caso o dinhei-ro não seja utilizado, deverá retornarao governo federal. Assim, a comu-nidade decide produzir um curta-metragem a fim de mostrar sua reali-dade não apenas aos moradores daregião, mas também ao governo. A

descoberta da linguagem audiovisuale a mistura entre realidade e ficçãosurpreendem os moradores de VilaNova. Nessa brincadeira, a produçãocomeça a obter resultados maioresque o esperado.

Com o objetivo de mostrar aburocracia no Brasil, Furtado mesclaa produção cinematográfica da comu-nidade, para que eles também perce-

bam a importância de se reconhecero meio em que se vivem. O filmenão deixa de ser uma forma de lem-brar a importância do cinema, mes-mo em países sem muito espaço (edinheiro) para a produção. No casodo Brasil, existem produções quecontam com o apoio de instituiçõesestrangeiras. São fundações que in-vestem não apenas na produção do

filme, mas também ajudam na di-vulgação da obra. A Casa de Cinemade Porto Alegre conta com o apoioda Columbia Tristar e da Fox em seusfilmes.

Flávia Matzenbacher, assistenteexecutiva de Jorge Furtado, explicacomo funciona o acordo entre as pro-duções brasileiras e as empresas in-ternacionais. “De acordo com o arti-go terceiro da Lei do Audiovisual, asmajors podem obter benefícios fiscaisao investir na co-produção de filmesde produtoras independentes, comas quais se costuma também incluirno acordo a distribuição”. Para con-ceder patrocínio, os critérios usadossão o currículo da produtora, a quali-dade técnica e artística do projeto, ascondições de execução, além das afi-nidades com estratégias de marketingda empresa.

O roteiro de Sal de Prata, do cine-asta Carlos Gerbase, coordenador docurso de Cinema da Famecos, teveapoio da Sundance Institute, criadapelo ator americano Robert Redforde que promove anualmente um dosprincipais festivais de cinema inde-pendente do mundo, o SundanceFilm Festival. A mesma instituiçãoajudou a financiar o filme Central doBrasil, que foi indicado ao Oscar deMelhor Filme Estrangeiro e teve

Fernanda Montenegro disputando aestatueta de Melhor Atriz.

Outra produção de destaque noBrasil foi Cinema, Aspirinas e Urubus,de Marcelo Gomes, que contou coma ajuda da Global Film Initiative e daHumbert Bals Fund Partners, emparceria da Fundação de Rotterdam,na Holanda. O apoio não seria emvão: as contrapartidas costumam sernegociadas pelas instituições, geral-mente exigindo a inserção da marcanos créditos ou na divulgação ecomercialização da obra.

A maioria das instituições inter-nacionais publica nos seus sites comoparticipar dos principais festivais decinema no exterior e como deve serfeito contato para obter apoio finan-ceiro ou simplesmente na co-produ-ção. Em Porto Alegre, as produçõesda Casa de Cinema já participaramde eventos importantes como aBerlinale, na Alemanha; o Festival deCurtas Metragens de Bruxelas, naBélgica e o Festival Internacional deCine, no México.

Na América Latina, poucos dire-tores conseguem a atenção do públi-co internacional. No Brasil, o desta-que vai para Walter Salles, BrunoBarreto e Fernando Meirelles, que re-centemente chamou a atenção por suaprodução O Jardineiro Fiel.

Os financiamentos que fazem rodar o atual cinema brasileiro

Financiamento é um dos principais problemas do cinema nacional

TIAGO AZEVEDO

ANA CAROLINA PAN

PPPPPOROROROROR L L L L LUISAUISAUISAUISAUISA K K K K KALILALILALILALILALIL

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006 1111111111VVVVVAR I EDAR I EDAR I EDAR I EDAR I EDADESADESADESADESADES IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH

“A cor acrescentou muito aofotojornalismo”, diz Cadão

O editor de fotografia do jornalZero Hora, Ricardo Chaves, o Cadão,é referência no fotojornalismo brasi-leiro. O início de sua trajetória comofotógrafo remonta ao final da déca-da de 60, época em que as redaçõessó trabalhavam com a fotografia pre-to-e-branco. Dentre todas as mudan-ças neste quase meio século de pro-fissão, o editor destaca a adição dacor e a entrada do digital nas reda-ções como as mais significativas.

“A cor acrescentou muito aofotojornalismo. Sevocê não a utiliza, ficadevendo informa-ção”, opina o editor.Ele destaca o papelda fotografia colori-da na editoria de Es-portes: “A fotogra-fia em preto-e-branco privaria o lei-tor do jornal de ver o colorido dascamisas, o contraste com o campoverde e a torcida. Por outro lado, umamatéria sobre os bastidores do es-porte, ou futebol de várzea, renderialegal em PB”. Como atualmentenem todas as páginas dos jornais sãocoloridas, o fotógrafo deve ter a ca-pacidade de escolher quais assuntosou temas perderiam mais se saíssemem preto-e-branco. “A cor dificilmen-te acrescenta à Política, por exemplo.Por isso a editoria geralmente é des-tinada às páginas PB do jornal”, co-menta.

Cadão conta que os fotógrafoslidavam com restrições de quantida-de de filme – que sempre custou caro– na época em que ainda o digitalnão era usado nas redações. “O queera uma estupidez, porque nunca se

sabe se uma matéria vai precisar demuito ou pouco filme. Agora com odigital, felizmente não há mais esseproblema”, relata.

Em relação à democratização doato de fotografar, proporcionadapelo advento do digital, o editorpondera: “É ótimo, eu quero mais éver a fotografia ao alcance de todomundo. Mas, como em tudo na vida,ganhamos por um lado e perdemospor outro. Acho que a moçada estábanalizando o ato de fotografar e nãodá importância ao fato de ter a fotona mão, a coisa da recordação”.

Se os jovens nãoestão fazendo o me-lhor uso da fotogra-fia, na opinião deCadão, o mesmonão se aplica aofotojornalismo. “Odigital é extraordiná-

rio. Podemos aproveitar a foto ime-diatamente. Antes, nós éramos tole-rados no limite da paciência, porqueo jornalismo sempre foi pautadopela velocidade, e nós, fotógrafos, tí-nhamos a preocupação de fazer asfotos com calma, queríamos ficar atéo final dos eventos, revelar com cui-dado, em suma, fazer direito – o queenlouquecia os editores, porque elesacabavam ficando nas nossas mãospara rodar o jornal”, ressalta. Para oeditor, os fotojornalistas de hoje es-tão mais pautados com os valoresdo jornalismo e isso faz com que aredação funcione melhor. “O negati-vo é que, como tudo é muitoefêmero, os erros passam mais des-percebidos. Essa coisa de corrigir nodia seguinte, pedir desculpas, fica delado porque não há tempo para isso”,acrescenta.

“““““A moçada estáA moçada estáA moçada estáA moçada estáA moçada estábanalizandobanalizandobanalizandobanalizandobanalizando

o ato de fotografaro ato de fotografaro ato de fotografaro ato de fotografaro ato de fotografar”””””

Cadão, de Zero Hora, defende a cor e a foto digital no jornalismo

ANA LUIZA LEAL VIEIRA

Quintana é natural de Alegrete, mas viveu em Porto Alegre

Há 100 anos nasciaum anjo poeta

Espetáculos musicias, exposiçõese peças de teatro constituem a cenacultural porto-alegrense na comemo-ração do centenário de nascimentode poeta gaúcho Mario Quintana.Como não poderia deixar de ser, aCasa de Cultura Mario Quintana,antigo Hotel Majestic onde o autormorou, concentra as homenagenscom o projeto Aprendiz de Feiticei-ro – 100 Anos de Mario Quintana.

A casa conta com uma progra-mação permanente sobre o poeta queenvolve uma réplica do último quar-to, ocupado pelo poeta no ResidenceHotel, atrações especiais ligadas à vidae à obra de Quintana para alunos deescolas visitantes. Está disponíveltambém um acervo sobre poeta e de-

Nascido em 30 de julho de 1906em Alegrete, Mario de MirandaQuintana passou a maior parte desua vida em Porto Alegre, cidade queinspirou muitos dos seus versos. Es-tudou no Colégio Militar e, apósuma reprovação em Matemática, re-cusou-se a voltar para casa em Ale-grete. Decidiu trabalhar como caixei-ro na Livraria do Globo, mas o pai oobrigou a retornar e o empregou nafarmácia da família.

Ainda estudante do Colégio Mi-litar, publicou suas primeiras produ-ções literárias. O pai, Celso Quintana,teve que se acostumar com o filhoque não seria doutor e, sim, poeta.Após a morte dos pais, Quintanavolta a trabalhar em Porto Alegre, pri-meiro na Livraria do Globo, e, de-pois, no jornal O Estado do RioGrande, posteriormente fechado de-vido às suas orientações políticas.

Aos 24 anos, Quintana se alis-

Ele não gostava da farmácia, mas de literatura

poimentos de pessoas que compar-tilham, com o público, aspectos davida de Mario Quintana.

Exposições integram os eventoscomemorativos. Telas MarioQuintana: O Anjo da Escada mostramimagens do poeta feitas por quatroartistas. Quintana Entre o Dia e a Noi-te expôs, através de efeitosmultimídia, duas faces do poeta: ale-gre e bem humorado emcontraposição ao sombrio, que utili-zava temas como o silêncio, a mortee a solidão. A exposição indicou asespecificidades de cada um dos ladosdo escritor. A mostra Impressões doPoeta contém gravuras em madeira,xilogravuras, que apontam os passosdo autor pela cidade de Porto Alegre.

No teatro Bruno Kiefer, entrouem cartaz a peça Sobre Anjos e Grilos,

um monólogo com poesias do au-tor. No espetáculo musical Porto Ale-gre de Quintana, no teatro Carlos Car-valho, a banda Piratas do Porto pre-tende comemorar o centenário commúsicas como Porto Alegre deQuintana, de autoria de Antônio deOliveira e Nando Gross.

No dia do centenário, 30 de ju-lho, a Orquestra Sinfônica de PortoAlegre e o Balé Dança Alegre Alegre-te se apresentam às 11h, na TravessaRua dos Cataventos, e, às 20h, noteatro Bruno Kiefer. Neste dia, seráentregue ainda o Prêmio EspecialMário Quintana. As comemoraçõesdos 100 anos do poeta não se res-tringem a Porto Alegre e ao interiordo estado. Há exposições e projetosliterários sobre o poeta também noRio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

tou como voluntário do 7º Batalhãode Caçadores de Porto Alegre duran-te a Revolução de 1930. Justificou oalistamento alegando que tinha curi-osidade em conhecer o Rio de Janei-ro. Trabalhou também no jornalCorreio do Povo, onde publica o“Caderno H”, que mais tarde tor-nou-se um livro de coletânea poéticado autor. Na Empresa CaldasJúnior, empresa onde trabalhou boaparte de sua vida, fez muitos ami-gos, como o editor do jornal Folhada Tarde, Antônio González, quetambém foi diretor e professor daFamecos/PUCRS.

O poeta morreu em 5 de maiode 1994, aos 87 anos. Foram publi-cados mais de 30 livros de prosa epoesia, desde o primeiro, A Rua dosCataventos, em 1940, até as antologi-as poéticas após sua morte. Ele brin-cava com a morte dizendo:

“A morte é a libertação total: a

morte é quando a gente pode, afi-nal, estar deitado de sapatos”.

A fina ironia, o bom humor, eaté mesmo um doce ar de ingenui-dade são as marcas do poeta que ti-nha o cotidiano como inspiração.Nada escapava ao seu comentário, apoesia, os amigos, uma sensação,tudo que acontecia à volta do poeta,ou com ele mesmo, era fonte de ins-piração para seus pequenos versos.As epigramas, também conhecidascomo Quintanares - pois são umamarca do poeta – revelam as facesdo poeta. Tratam da morte, do hu-mor, ou da morte com humor.“Estilo: Deficiência que faz com queum autor só consiga escrever comopode”, definiu.

PPPPPOROROROROR A A A A ANANANANANA L L L L LUIZAUIZAUIZAUIZAUIZA L L L L LEALEALEALEALEAL V V V V VIEIRAIEIRAIEIRAIEIRAIEIRA

PPPPPOROROROROR V V V V VINICIUSINICIUSINICIUSINICIUSINICIUS R R R R RORATTOORATTOORATTOORATTOORATTO C C C C CARVALHOARVALHOARVALHOARVALHOARVALHO

(Fontes: Caderno H, de MárioQuintana e Mário Quintana Poeta,Caminhante e Sonhador, do InstitutoEstadual do Livro)

PRINCIPAIS OBRASA Rua dos Cataventos Canções Sapato FloridoEspelho Mágico O Aprendiz de Feiticeiro PoesiasCaderno HPé de PilãoApontamentos de História Sobre-naturalA Vaca e o HipogrifoNova Antologia PoéticaBatalhão das Letras

Quintana com AntônioGonzález, colegasdo Correio do Povo

PPPPPorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julhoorto Alegre, julho-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006-agosto de 2006 HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXT1212121212 PONTPONTPONTPONTPONTO FINALO FINALO FINALO FINALO FINAL OOOOO

Havia algo diferente no ar. A Copa doMundo 2006 proporcionou uma experiêncianova para muitas pessoas, mesmo para estu-dantes que estavam tão longe da Alemanha,na Faculdade de Comunicação Social da PUCRS.Alunos de diferentes semestres do curso deJornalismo encararam o desafio de transmitiraos jogos no estúdio da Radiofam, a radiowebda Famecos. Sob coordenação dos professoresJoão Brito de Almeida e Luciano Klöckner,três equipes formadas por narradores, comen-taristas e repórteres se revezaram, proporcio-nando exercício prático e realização pessoal.

A emoção de narrar uma partida da Seleçãobrasileira é grande mesmo que seja “em tubo”(no estúdio, frente às imagens da televisão).Além de descrever os lances do jogo, há aque-les que conhecem a história dos jogadores, ex-atletas, a evolução do futebol – não só brasilei-ro – curiosidades, e muito mais. Rafael Diverioé um sabe-tudo de futebol. Conta que, pelaprimeira vez, narrou jogos da Copa do Mun-do, mas em sua casa, faz narração de todas aspartidas que vê pela televisão. “Em casa narrovídeo game, jogo de botão, qualquer coisa”.

A Radiofam foi criada em 1998 por iniciati-va de um grupo de professores deradiojornalismo da Famecos. Foi a primeirarádio virtual universitária do país. Uma das ca-racterísticas mais importantes e mantidas atéhoje é ser operada exclusivamente por alunosda faculdade. A transmissão dos jogos da Copafoi no estúdio, diante da televisão sem som.“É um problema. Mas a única maneira de trans-mitir a Copa era assim. Para diminuir o pro-blema e saber informações do local, sempreum de nós ouvia no fone o que era dito naTV”, esclarece Diverio. Para reconhecer os joga-dores, contaram apenas com o seu conheci-mento e as marcações técnicas ao longo do jogo.

Cada uma das três equipes era formada porum narrador, comentarista e repórter. Em al-gumas oportunidades, também teve um con-vidado dando opinião. Desde o início da Copa,

eles se revezaram nas funções para que todospudessem passar por cada uma delas. “A expe-riência foi muito produtiva, me fez entrar mes-mo no clima da Copa. Cada transmissão eraum aprendizado. Foi importantíssimo perce-ber que, mesmo sem ter alguém narrando ojogo para nós (a gente narrava para os outros),entendemos o jogo da mesma forma”, avaliaMatheus Beck, integrante de uma das equipes.

Eles ainda descrevem, com orgulho, o fatode descobrirem após o jogo que a Globo e aFifa haviam escolhido o mesmo jogador queeles como craque da partida. O mesmo aconte-ceu com opiniões, curiosidades e até com in-formações dadas por eles em primeira mão,deixando para trás grandes emissoras. ParaMarco Maciel, a atividade o despertou para umfator importante sobre o profissional que tra-balha no rádio. “O narrador esportivo tem quedescrever os fatos. Ao contrário dos narrado-res de televisão, por exemplo, que podem pa-rar um pouco, pois as imagens informam. Osde rádio devem falar constantemente e, comisso, os erros tendem a aparecer mais intensa-mente”, explica. Rafael diz que o exercício prá-tico proporcionou momentos de lazer. “Euadorei fazer isso. Além de acompanhar a Copa,pudemos contá-la do nosso jeito”.

O professor João Brito explica que a expe-riência é muito importante para os estudantespor ser a reprodução de uma situação real. Aúnica diferença que existe dos outros veículos éo meio de transmissão que não é real. “Eunoto que eles evoluíram com a repetição dotrabalho. Eles melhoraram o rendimento in-dividual e do grupo. Trata-se de um progressonaquilo que pode ser a futura profissão deles”,revela Brito. Duas equipes de alunos que pas-saram pela Radiofam em outros semestres,hoje trabalham profissionalmente nas rádiosda Capital. Mas, a satisfação de Brito só serácompleta no dia em que conseguir revelar parao jornalismo esportivo uma narradora de fu-tebol. Ele espera que esse dia esteja próximo.

O espírito de equipe também foi impor-tante nessa cobertura. Matheus Beck diz que

apesar da inexperiência, o conhecimento detodos somado fez com que se ajudassemmutuamente.“Logo na Copa, a maior compe-tição do mundo no futebol, marcamos nossaestréia nas coberturas esportivas, espero queseja o princípio da nossa carreira. É o que eu

A emoção de narrar a Copa do MundoNo estúdio, estudantes descrevem e comentam as partidas como se estivessem no estádio

PPPPPOROROROROR T T T T THAÍSHAÍSHAÍSHAÍSHAÍS A A A A ALMEIDALMEIDALMEIDALMEIDALMEIDA

sempre quis desde o início”, revela Maciel.A Radiofam faz uma breve parada no perí-

odo de férias e retorna no início do segundosemestre com mais esporte, além de notícias eentretenimento. Para ouvir a rádio, basta acessaro site www.pucrs.br/radiofam.

AS FERAS DARADIOFAM:

Bruna Longaray,Fernando Teixeira, IgorPóvoa, Joana CavinattoJuliana Ramiro, Juliano

Rodrigues, MarcoMaciel, Matheus Beck,

Rafael Diverio, RodrigoNunes e Rodrigo Peixoto

Marco Maciel e Rafael Diverio transmitem Portugal e França na web

Estar em Roma, domingo, dia da vitóriada Itália na Copa foi demais. Fomos ver a finalda Copa no Circo Massimo, o lugar onde acon-teciam as corridas de biga (uma espécie decharrete puxada por cavalos) no Império Ro-mano. Tinha aproximadamente 400 mil pes-soas. 300 mil bandeirolas tricolores tremula-vam aos gritos da “Squadra Azzura” e “Francia,Francia, vai te ralar!! “

Depois da vitória, todos saíram cantandopelas ruas, com cerveja e vinho na mão. A PiazaVeneza, no monumento Vitório Emanuele,estava coalhada de torcedores que choravam àmoda italiana, ocupando toda a Via Del Corso,um grande avenida que passa pelo centro anti-go em direção à Fontana di Trevi. Havia muitagente, me senti um pagão nas festas do antigoimpério.

Na fonte da Fontana di Trevi, pessoas na-dam. Uns de roupa, outros não. Subiam nasestátuas e cantavam o hino da Itália seguidodos gritos: “francese bastardi”. Foi demais!

“I campioni delmondo siamo noi”

PORPORPORPORPOR G G G G GUILHERMEUILHERMEUILHERMEUILHERMEUILHERME Z Z Z Z ZAUITHAUITHAUITHAUITHAUITH, , , , , DEDEDEDEDE R R R R ROMAOMAOMAOMAOMA

Após um mês de festas, metrôs lotados,barulho nas ruas e surpresas no futebol, a Ale-manha se despediu da Copa do Mundo e, aospoucos, a tranqüilidade habitual foi sendo re-tomada. Bem organizada e sem maiores pro-blemas, a Copa deixou anfitriões orgulhosos,também pelo desempenho da Seleção que su-perou expectativas e ficou em terceiro lugar.

Nesta Copa, os alemães deixaram para trása culpa e perderam o medo de ser patriotas.Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, qual-quer demonstração de patriotismo era vincula-da à ideologia nacional-socialista do Nazismo.O escritor e roteirista Thomas Brussig definiuo “novo patriotismo” em artigo para o jornalalemão Süddeutsche Zeitung (SZ): “O velho pa-triotismo morreu, definitivamente. O novopatriotismo significa: ‘não ao velho, algumoutro. Nós ainda estamos experimentando”.Na Copa de 74 na Alemanha, seria impensávelum carro andando com a bandeira alemã najanela, lembrou o jornalista Gerald Müller .

“““““AAAAAuf Wuf Wuf Wuf Wuf Wiedersehen!”iedersehen!”iedersehen!”iedersehen!”iedersehen!”(Até logo)(Até logo)(Até logo)(Até logo)(Até logo)

DAIANA ENDRUWEIT

PORPORPORPORPOR TTTTTATIANAATIANAATIANAATIANAATIANA L L L L LEMOSEMOSEMOSEMOSEMOS, , , , , DEDEDEDEDE B B B B BERLIMERLIMERLIMERLIMERLIM