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h ipertext o Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, maio de 2008 – Ano 10 – Nº 63 ANO DEZ PÁGINA 8 Empresas usam paintball para testar liderança e resistência PÁGINA 5 PÁGINA 9 PÁGINA 3 Cristiano Lima/Hiper Fernanda Bota/Hiper Esporte simula guerra de tinta ESPORTE ANNE FRANK ESTILO Detran modernizado amplia a corrupção Fraude de milhões substituiu antiga propina policial no varejo 150 mil pessoas assistem a show de balonismo em Torres PÁGINA 7 MAIS VEZES CAMPEÃO PÁGINA 6 Vinícius Carvalho/ Hiper Pedro Revillion/ Hiper Torcida do Inter comemora 38° título em 99 anos Mostra esteve em Porto Alegre Diário de uma menina durante o nazismo na 2ª Guerra Gerações acompanham o centenário do tênis All Star Um clássico da juventude Pedro Belo Garcia/Hiper

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hipertextoJornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, maio de 2008 – Ano 10 – Nº 63

Anodez

Página 8

Empresas usampaintball para

testar liderançae resistência

Página 5 Página 9

Página 3

Cristiano Lima/Hiper Fernanda Bota/Hiper

Esporte simula guerra de tinta

esporte Anne FrAnk estilo

Detran modernizadoamplia a corrupção

Fraude de milhões substituiu antiga propina policial no varejo

150 mil pessoas assistem a show de balonismo em TorresPágina 7

Mais vezes CaMPeão

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vinícius Carvalho/ Hiper

Pedro Revillion/ Hiper

Torcida do Inter comemora 38° título em 99 anos

Mostra esteve em Porto Alegre

Diário de uma menina durante

o nazismona 2ª Guerra

Geraçõesacompanham

o centenáriodo tênis All Star

Um clássico da juventude

Pedro Belo garcia/Hiper

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Porto Alegre, maio 20082 abertura hipertexto

Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil.E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hiper-texto/ 045/ index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora/ Jornalismo: Cristiane

FingerProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojor-nalismo).

ESTAGIÁRIOS:

Gerente de produção: Thais Silveira

Editores: Júlia Timm, Paula Sperb, Raphael Ferreira, Sérgio Giacomel e Tamara Carvalho.Editor de Fotografia: Vinícius Roratto Carvalho.

Redação: Bernhard Schlee, Bruna Weis Scirea, Bruna Silveira, Camila Soares, Cristiano Navarro, Daniela Cenci, Ed-mar Gomes, Fernando Rotta Weigert, Gustavo De Stumpfs, Leonardo Serafim, Luciano Valermann, Maiara Andrade,

Maurício Círio, Pamilli Braga, Patrícia Lima, Paula Letícia Nunes da Silva e Rodrigo Nunes.

Repórteres Fotográficos: Amanda Copstein, Antônio Cruz, Camila Domin-gues, Camila Kaufmann, Cláudio Rabin, Cristiano Lima, Fernanda Botta, Gui-lherme Santos, Henry Corrêa, Isadora Neumann, Júlia Otero, Laura Fraga, Luísa Kiefer, Maria Joana Avellar, Pedro Belo Garcia e Pedro Revillion.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000

Por Mauricio Cirio

As mudanças resultam de iniciativa da redação, de quem faz o jornal, explicou Telmo Flor, diretor de redação do Correio do Povo, aos alunos do quinto semestre de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS. Ele esteve na sala de aula, dia 12 de maio, na disciplina de Planejamento Gráfico II, para expor e responder questões referentes ao novo pa-drão gráfico do impresso, adotado a partir de 5 de maio.

Alterar o modelo gráfico foi proposta que partiu dos funcionários do Correio, não da diretoria da empresa, um caso raro entre jornais impressos. Geralmente, há restrições à mudança porque a direção teme uma grande perda de leitores. No Correio do Povo, a idéia é justamente o contrário, buscar mais leitores, com um novo visual que imponha concorrência e chame a atenção do público. Antes, o Correio era 98% voltado para assinante. Agora, o objetivo é investir nas bancas e nas vendas avulsas.

Para atingir o modelo ideal, a redação produziu diversos pilotos, que foram trazi-dos aos alunos para que pudessem observar as evoluções da reforma gráfica. O formato adotado tem como cor dominante o verde. Esse era um antigo sonho do diretor de re-dação. “Em viagem pela Europa vi um jornal usando exatamente esse verde. Desde então, sempre quis essa cor no Correio, e quando surgiu a oportunidade, fiz a proposta”. Ele garante também que “a capa está mais atrativa, valorizando o conteúdo interno do jornal”. Para o professor Celso Schröder,

Por Lidiana de Moraes

Durante certa aula de literatura, a professora dedicada a fazer com que os alunos recuperassem o interesse perdido pela poesia, começou a descrever qual era a verdadeira utilidade deste tipo de texto. Dentre inúmeros argumentos técnicos, um se destacou provavelmente por ser aquele que melhor capturava a magia de ler um poema. A poesia é o único texto em que podemos falar da realidade, por pior que ela seja, através do lirismo. Não é à toa que a voz da poética se encontra no eu lírico.

Mesmo não sendo uma leitora voraz da arte escrita em versos, um texto me marcou desde a primeira vez que o li. O poema Is-mália, de Alphonsus de Guimaraens, trata de assuntos difíceis de serem abordados, como a loucura e o suicídio. Apesar do nome pomposo, o poeta era brasileiro, nascido em Ouro Preto, e conseguiu tratar de um tema mórbido com tamanha beleza, que nos resta apenas imaginar a perfeição daquela personagem que remetia a um anjo: “As asas que Deus lhe deu, ruflaram de par em par, sua alma subiu ao céu, seu corpo desceu ao mar...”. No entanto muitas vezes na vida real nos deparamos com figuras que nos lembram anjos, mas infelizmente a morte dessas pessoas não é dotada da mesma graça lírica que há nos poemas.

Não apenas a inicial do nome é a mesma, mas assim como Ismália morreu, lançando-se do alto em direção ao mar, a pequena Isabela Oliveira Nardoni também subiu aos céus. Entretanto, sua passagem foi bem mais dolorosa. No caso ocorrido dia 5 de abril de 2008, o corpo da menina de cinco anos, não encontrou o conforto das ondas do oceano ao ser arremessada da janela do apartamento do pai, no sexto andar e, sim, o impacto brutal do concreto. É impossível encontrar poesia nessa cena, ela serve apenas para mostrar a ferocidade do universo, onde nele não há nada da magia que pode envolver o mundo das palavras.

Quando lemos uma história poética fi-camos surpresos, assustados e até emocio-nados, mas as notícias da morte de Isabela, apenas nos deixam chocados e revoltados. Haverá justiça? Assim como ocorre nos finais dos romances, quando o bem vence o mal, porém a realidade não parece ser feita de certezas. Até agora, o certo é que a poesia que havia na vida dos familiares de Isabela acabou no momento em que ela se juntou a Ismália no céu.

Isabela encontra IsmáliaCRôNICACorreio quer ampliar

venda na bancaNovo projeto gráfico busca mais leitores

PriNCiPAis MudANçAs• Fotos de capas estão diferentes, ganharam cortes sobre textos e outras recursos

gráficas• Notas saíram da posição vertical, em uma coluna, e subiram para o alto das pá-

ginas• Espaço dos colunistas agora é vertical, não mais horizontal.• Foi criada editoria “Há um século no Correio do Povo”, que reproduz textos e

grafia da época da publicação• Preço continua igual

É difícil imaginar o jornalismo como conhecemos e gostamos se não houvesse o fato novo para ser infor-mado. No Hipertexto, além do novo, há a novidade. Nesta edição, na página 8 lançamos a seção “Última Hora”, com notícias em formato de nota, di-ferente das reportagens que estamos acostumados: mais longas, com mais apuração. Estas, no entanto, perma-necem no jornal com toda força.

Um bom exemplo, é a matéria escrita pelo repórter Luciano Varel-mann, sobre a Operação Rodin, que investiga o esquema de fraude no Detran gaúcho. Para escrever a repor-tagem, Luciano ouviu o delegado Luiz Fernando Tubino, ex-chefe de Polícia e depoente da CPI do Detran e, como em algumas situações da profissão de um jornalista, teve dificuldade em obter declarações da fonte. Não obstante, teve êxito na tarefa e des-creveu a corrupção do órgão desde sua origem.

A área cultural da edição de maio também está consistente. Bruna Silveira esteve na mostra itinerante “Anne Frank – Uma história para hoje”, que leva painéis eletrônicos, fotos e arquivos sobre Anne Frank e o holocausto para o público. No cam-po das artes, Edmar Gomes adianta detalhes sobre o prédio da Fundação Iberê Camargo, que será inaugurado no final do mês. O prédio branco, de concreto, foi orçado em R$ 40 mi-lhões e começou a ser construído em 2003. Bem mais antigo, é o Theatro São Pedro. Patrícia Lima escreveu sobre os 150 anos do teatro e, claro, conversou com Eva Sopher, que quer comemorar o aniversário com “quen-tão e pipoca”.

Na editoria de Esporte, a vitória do Inter na final do Gauchão é reca-pitulada em texto e imagens. Além da paixão nacional, há espaço para outros esportes não convencionais. Pedro Revillion acompanhou a 20ª edição do Festival Internacional de Balonismo em Torres. Bernhard Frie-drich Schlee explica como funciona o paintball e suas modalidades.

Depois destes fatos novos e de uma novidade, desejo uma boa leitura!

Paula sperb, editora

EDITORIAL

Uma novidade

responsável pela disciplina junto com Ana Maria Benedetti, do setor de Arte de Zero Hora, o novo formato ainda apresenta defi-ciências. “Apesar do grande avanço, a nova diagramação ainda tem falhas. A principal é a pouca hierarquização das notícias do jornal, a partir da segunda matéria”.

Telmo Flor acredita que as mudanças vão tornar o Correio mais competitivo fren-te aos outros impressos gaúchos. O novo modelo gráfico foi idealizado pelo diagra-mador Pedro Dreher e teve a participação de diagramadores, editores e repórteres.

Camila domingues/ Hiper

Telmo Flor explicou projeto a alunos da PUC

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Porto Alegre, maio 2008 3políciahipertexto

Por Juarez Santana

Restinga, zona sul de Porto Alegre, a região mais parece uma cidade cravada dentro da Capital gaúcha. Distante quase 30 quilômetros do Centro, o bairro abriga um grande número de pessoas que pegam dois e até quatro ônibus para ir trabalhar. Vendedores, pedreiros, empre-gadas domésticas e porteiros fazem diariamente o trajeto, uma romaria rumo ao trabalho.

Eles estão entre os 50 mil moradores da Restinga que con-vivem com o medo e o tráfico de drogas que impõe a lei do silêncio. A mordaça dificulta o trabalho

Por Luciano Varelmann

Com recursos financeiros ingressando no caixa sempre que uma carteira de motorista é ex-pedida, multas pagas e registros feitos, o Departamento de Trân-sito (Detran) é historicamente suscetível a fraudes de toda ordem. São muitas as notícias conhecidas de casos de corrupção que o Detran já foi fonte. Antes da transformação em autarquia, em 1997, era um departamento a cargo da Polícia Civil.

Naquele período, eram fre-qüentes as denúncias de compra de carteira de motorista, retirada de multas, e registro de veículos ilegais, pendentes de algum docu-mento ou mesmo de maneira mais rápida que o normal. Movidas a propinas ou flexíveis a pedidos de políticos e autoridades, essas práticas se tornaram corriquei-ras dentro do antigo Detran. Da mesma maneira que as emissões de carteira de identidade e porte de arma também eram propensas a facilitações, no tempo em que eram expedidas pela Polícia.

“A Polícia Civil não soube aprimorar o sistema, e os usuá-rios pelo desconhecimento das normas e exigências usavam muito os despachantes que, por sua vez, se valiam da relação com alguns policiais desses serviços para a troca de favores. Um rece-bia o serviço mais rápido, menos burocratizado, e o outro recebia parte dos honorários”, afirma o

Detran, da pequena à grande propinaAntes as fraudes eram de valores menores, depois passaram a ser de milhões de reais

Vítima e criminosotêm mesma origem

Cresce número de crimes no Estado

Paulo Azeredo, vice, e o presidente da CPI, Fabiano Pereira lêem as resoluções

delegado Luiz Fernando Tubino, ex-chefe de Polícia no governo Olívio Dutra e depoente voluntá-rio da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Detran, em maio, na Assembléia.

Modelo de serviçoEm 1995, às vésperas da apro-

vação do novo Código Brasileiro de Trânsito, o gaúcho Nelson Jobim, então ministro da Jus-tiça, fez um desafio ao Governo do Estado. Ele queria que o Rio Grande do Sul fosse pioneiro de um novo modelo de serviços de trânsito, que iria nortear o novo código nacional que estava por vir. Governador à época, Antônio Britto aceitou o desafio e promo-veu a transformação do órgão em autarquia, em um processo inicia-do em 1995 e que só foi concluído na inauguração formal do novo Detran, em 1997.

De acordo com o projeto, o estado deveria se reestruturar e incorporar avanços até então inéditos nos departamentos de trânsito brasileiros. A intenção era modernizar alguns aspectos estruturais, como o processo de habilitação do condutor, o licenciamento e a inspeção de veículos, bem como a munici-palização de alguns serviços. As auto-escolas foram obrigadas a se transformarem em Centro de Formação de Condutores (CFC) e os oficiais de registro civil ga-nharam a atribuição de registrar os veículos automotores, criando

os Centro de Registro de Veículos Automotores (CRVA). Nascia o novo Detran, prometendo, entre outras coisas, acabar com as fraudes que o sistema anterior era vulnerável.

Exatos dez anos depois, no final de 2007, a Operação Rodin desencadeada pela Polícia Fede-ral, em conjunto com o Ministério Público Federal, Receita Federal e o Tribunal de Contas da União, descobriu um esquema de fraude no Detran gaúcho. A autarquia contratou, sem licitação, fun-dações ligadas à Universidade Federal de Santa Maria, que eram responsáveis por viabilizar a avaliação teórica e prática dos candidatos a uma carteira de habilitação. De maneira ilegal, essas fundações terceirizavam o serviço através da subcontratação de empresas, que recebiam um valor fixo por mês, além de uma quantia variável de acordo com o número de carteiras expedidas. Segundo a Polícia Federal, essas empresas eram administradas por laranjas ligados à alta cúpula do Detran. Estima-se que, desde 2002, o esquema teria causado um rombo de cerca de R$ 44 mi-lhões aos cofres do estado.

Café pequeno“Antes, quando o Detran

pertencia à Polícia”, lembra Tu-bino, “a corrupção era, de um modo geral, a varejo”. Ele garan-te que se constituíam em fatos isolados e de pequena monta

ou valor. “Quando havia uma reiteração desses fatos, a Polícia Civil tomava conhecimento e as devidas providências”, garante o ex-chefe da instituição. “A terceirização dos serviços abriu espaços para a corrupção por atacado. Para as fraudes na lei de licitações, como a utilização de fundações universitárias e subcontratações de empresas”, conclui o delegado, comparando os dois sistemas.

O novo Detran trouxe, por um lado, uma série de novidades que otimizaram os processos do de-partamento e o blindaram, dizem, das pequenas fraudes de que era vulnerável. Contudo, evidenciou as relações promíscuas existentes

entre o estado e seus licitados, fornecedores e prestadores de serviço. Evidenciou a necessidade da criação de mecanismos capa-zes de controlar essas relações, para evitar que esse tipo de fraude não se repita em outros órgãos públicos, dos quais já há indícios, segundo o deputado federal Ênio Bacci (PDT), em outro polêmico depoimento voluntário na CPI da Assembléia gaúcha, em 19 de maio. No caso do Detran, a dife-rença básica, parece, é que, no modelo anterior, muitas pessoas ganhavam pouco dinheiro com pequenas fraudes ao estado. No esquema do novo Detran, poucas pessoas conseguiram desviar mi-lhões de reais do povo gaúcho.

Luisa Kiefer/ Hiper

da Brigada Militar e coloca à prova as investigações da Polícia Civil numa das cinco regiões com a maior concentração de homicídios em Porto Alegre. Nos três primeiros meses do ano, as mortes violentas provocadas por assassinatos cresceram 9,19% no Estado.

A cena se repete constante-mente na Restinga. Adolescente vítima do tráfico é encontrado morto em um beco do bairro. Na quarta-feira, dia 19 de março de 2008, a sirene e a luz vermelha do giroflex da viatura da Brigada entram de rompante no local. A área é isolada com uma fita. A perícia chega e constata que

Daniel André de Deus Correa, de 13 anos, foi executado com oito tiros no rosto. Conhecido como Baratinha, pela baixa estatura, ele gostava de camisas de futebol e de jogar Playstation. “Acerto de contas” é o que resume um dos investigadores da Delegacia de Homicídios ao ver o corpo do menino estirado no chão.

Nos três primeiros meses deste ano, a cena descrita na Res-tinga já foi registrada 404 vezes no Rio Grande do Sul. Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) mostram que o número de homicídios cresceu 9,19% no primeiro trimestre de 2008, na comparação com o mesmo pe-ríodo do ano passado. Sociólogo da PUCRS e especializado em criminalística, Rodrigo Azevedo considera que as polícias, militar e civil, passam por uma crise no Estado. “Os conflitos entre BM e Polícia Civil são conhecidos de todos, há uma dificuldade de integração”, afirma.

Com pesquisas na área, Ro-drigo Azevedo consegue traçar o perfil do homicida e das vítimas dos assassinatos, além dos locais aonde eles são cometidos. Para o especialista, as regiões mais carentes e desassistidas pelo Estado concentram grande parte os homicídios no Brasil. “O perfil do assassino e da vítima é pratica-mente o mesmo: uma pessoa de baixa renda, jovem e na maioria dos casos de cor negra”, analisa. O sociólogo vê duas alternativas para haver a redução no número de homicídios no Estado. Azeve-do acredita que uma melhor ges-tão e administração nas polícias gaúchas podem trazer melhores índices para a segurança no Rio Grande do Sul. “Há problemas na utilização dos recursos fi-nanceiros que muitas vezes são escassos”, observa.

Cidades como São Paulo e Belo Horizonte conseguiram di-minuir seus índices de violência através de uma parceria entre o

Estado e entidades da sociedade civil, aponta Azevedo. Nessas ca-pitais, ONG’s, empresas privadas e até mesmo igrejas colaboram com os governos municipais na redução da criminalidade.

Guerra de ganguesNa maior parte dos assas-

sinatos investigados, a Polícia Civil constata uma preocupan-te semelhança entre os casos. Grande parte dos homicídios está relacionada com gangues e tráfico de drogas. “São grupos juvenis que disputam território e que valorizam cada vez mais a prática da violência e a utilização da arma de fogo”, alerta o soció-logo Rodrigo Azevedo.

Na Restinga, região onde o garoto Baratinha foi brutalmente morto com oito tiros no rosto, os moradores também viraram re-féns do tráfico. Um levantamento da Brigada Militar aponta a exis-tência de pelo menos 11 gangues no bairro.

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Porto Alegre, maio 20084 mundo hipertexto

Por Daniela Cenci

Era para ter sido uma simples viagem de final de ano para o casamento da irmã na Espanha. Mas o atraso da carta-convite para a cerimônia civil levou a família a pegar o avião sem o

O rigor dos espanhóis para receber visitantes estrangeiros faz parte das negociações na União Européia, que objetivam tornar ainda mais difícil a entra-da dos imigrantes em qualquer dos aeroportos e portos dos 27 países do bloco. No ano passado, a Espanha foi líder no ranking de deportações de brasileiros, segundo dados da Agência Euro-péia para Fronteiras (Frontex). Atualmente, Reino Unido e Por-tugal também são tidos como os países mais severos na abertura do território. Nos Estados Unidos, onde as regras são mais rigorosas, informações do Consulado-Geral do Brasil em Boston indicam o crescimento de 25%, nos últimos

12 meses, no número de brasi-leiros presos no estado de Mas-sachusetts. Uma média de 45 ao mês esperam deportação.

O que tornar comuns histórias como da família Silveira é a nova legislação que a Comunidade Eu-ropéia está preste a adotar. A nova lei trata mais especificamente daqueles que já estão dentro dos países. Ela estabelece o tempo máximo que o imigrante poderá permanecer detido em um centro especial, que será de seis meses, além de autorizar a detenção de menores desacompanhados. Cer-ca de oito milhões de pessoas, nos cálculos da Comissão Européia, deverão ser afetadas com apro-vação das medidas.

Europeus unificam sistema de controle

Malas que não foram desfeitas

Alexandre Zancanaro/ Arquivo pessoal

Antônio Cruz/ Hiper

Notificação nega permissão de ingresso no país

A espera na sala de imigrantes ilegais, durante dias, sem trocar de roupa

documento. Resultado: três dias enclausurados em uma sala do aeroporto esperando para voltar ao Brasil, sem assistir ao casa-mento, sem abraçar os noivos e sem circular por Barcelona. Pas-sados quatro meses do episódio, o analista de gestão de estoque

Alexandre Zancanaro da Silveira aceitou contar como aconteceu sua deportação e de seus pais.

Era quarta-feira, 19 de dezem-bro de 2007, perto das 18h30mim, eles desembarcaram em Barcelo-na. Na recepção, o agente de imigração segurou os passapor-

tes da família e, então, as horas foram se arrastando e ansiedade aumentava. Primeiro vieram as perguntas sobre reservas de hotel, tempo de estadia, cartões de crédito, e quantia de dinheiro que carregavam. Depois foram encaminhados às entrevistas in-dividuais. Anoitecia e nenhuma informação sobre o que estava acontecendo. Passado um tempo, foram avisados que seriam aten-didos na manhã seguinte.

Eles ficaram toda a madru-gada sentados em bancos, sem comer, beber e sem comunicação com a irmã que se encontrava no saguão do aeroporto e tentava ajudá-los. “Naquela primeira noite nos chamaram mais duas vezes, fizeram mais interrogações e eu achei por algum momento que liberariam a gente, mas não”. Embora os policiais alegassem que havia chance de reverter a situação com a presença de um advogado espanhol e um intérprete, eles já tinham carta negando o visto.

Para a polícia, a família não podia entrar no país sem os do-cumentos necessários: o convite para a cerimônia e um compro-vante de reserva de hospedagem. “Sem isso, não se ingressa na Espanha, ou melhor, entra quem eles querem, pois muita gente passou sem ter esses documen-tos”, diz o analista. Essas são as principais orientações que as agências de turismo deveriam fornecer aos seus clientes, fato que não aconteceu no caso da família Silveira.

Com direito de ficar apenas com os pertences de mão foram levados para uma sala reservada aos imigrantes ilegais. Silveira

explica que todos estavam no mesmo “barco”, crianças com mães ou avós, casais, jovens da América do Sul e Central dividiam as mesmas angústias. Quatro dormitórios com camas beliches, ou somente colchões no chão, sem travesseiros ou lençóis, dois banheiros com chuveiros gelados – em pleno inverno -, um orelhão para fazer ligações e outro que só recebia chamada, constituíam o cenário onde a esperança da confraternização fa-miliar desapareceu para dar lugar à sensação de condenação como se tivessem feito algo ilegal.

Mesmo depois da explicação da irmã e da entrega dos papéis do matrimônio, o vôo de regresso ao Brasil estava marcado para sexta-feira à noite: “A gente po-deria entrar com um advogado particular a partir do sábado, mas não era uma garantia que daria certo, senão teríamos que ficar até a outra segunda naquelas con-dições. Então, nos preparamos para retornar”. Antes de partir, testemunharam os processos de outras pessoas sem documenta-ção completa e conseguiram ser liberadas, e de algumas que de posse de todos os papéis exigidos, foram mandadas embora. Silveira conclui que a lei não é aplicada com rigor, “eles escolhem a dedo quem passa ou não”.

Com a mesma roupa do corpo que saíram na terça-feira, volta-ram a Porto Alegre, na manhã de sábado, dia 22. Agora, a situação era diferente: estavam sem as malas, frustrados, indignados e com o custo financeiro de uma viagem não aproveitada. As ma-las só foram entregues na noite posterior, intocadas.

Eles viajaram para uma festa de casamentona Espanha e acabaram deportados

BARRADOS NO AEROPORtO

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Porto Alegre, maio 2008 5memóriahipertexto

Por Bruna Silveira

No seu 13º aniversário, ao ganhar um diário do pai Otto Frank, Anne Frank nunca imagi-nou que este se tornaria um dos símbolos das vítimas do Nazismo. Na descrição despretensiosa do seu dia-a-dia e de questões corri-queiras da vida do Anexo Secreto, a menina apresenta de forma inocente a dor que sentia em seu mundo interno, no esconderijo, e a violência externa da guerra. “De 1942 a 1944, ela relatou dia-riamente, nas páginas do Diário, seus medos e micro drama frente ao drama maior do Holocausto”, resume o professor Jacques Alka-lai Wainberg, da Faculdade de Comunicação da PUCRS.

O livro Diário de Anne Frank foi traduzido para mais de 70 países, transformado em peça de teatro, filme e exposição itineran-te. A mostra “Anne Frank – Uma história para hoje” já circulou por mais de 30 países e esteve na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, entre abril e maio. O museu itinerante foi trazido ao Estado pela B’nai B’irith do Rio Grande do Sul, com apoio da Federação Israelita, Instituto Cultural Judaico Marc Chagall e pela Plataforma Brasil-Holanda. Nos 39 painéis digitalizados e impressos em cores, há repro-duções de fotografias dos álbuns da família Frank e de arquivos históricos, com textos e legendas explicativos em português.

Na exposição também são apresentados 100 desenhos e 11 poemas de crianças de 10 a 15 anos do campo de concentração Terezin, na Tchecoslováquia, construído pelos Nazistas. As recordações foram disponibiliza-das pela Embaixada de Israel no Brasil, e servem como legado à memória da humanidade, através da denúncia do horror da vida nos campos de concentração. Os visitantes viram as reproduções do quarto de Anne Frank duran-te os dois anos que dividiu sua vida com mais sete pessoas, bem como os fornos onde os nazistas queimavam os corpos dos judeus mortos na câmara de gás.

As peças da exposição, desen-volvidas a partir do depoimento da jovem de 13 anos, é hoje a forma do povo judeu lutar e fa-zer valer os dados e a memória daquele período. Para Wainberg, o que se viu, no Holocausto, foi o genocídio de judeus. “São formas

Inocência se tornou umsímbolo do Holocausto

Exposição itinerante resgata 62 anos do diário de Anne

Há mais de 20 anos existe uma polêmica sobre a veracidade do material. Robert Faurisson, especialista em análise de textos e documentos históricos, falecido em 1990, denunciou a impostura do Diário de Anne Frank. Através de exaustivas investigações e pe-rícias, ele procurou demonstrar a fabricação do diário. Alega que a falsificação histórica se transfor-mou em “negócio escandaloso”. Para ele, “quanto mais se soluça, mais se ganha e quanto mais se ganha, mais se soluça”, sobre a ganância e o cinismo do Congres-so Judaico. Em 1959, o escritor

Veracidade contestada

diferentes de se mostrar a história e a memória judaica às diferentes gerações”, interpreta. O profes-sor salienta a importância de se reconhecer a fraqueza humana e a capacidade do homem de destruir o outro. “É uma forma de mostrar às novas gerações onde está o mal, pois ele sempre está à espreita. Pode vir tanto de ações políticas como religiosas e, desta forma, lutar contra este mal”, explica.

Anexo secreto

Quando Margoth, irmã de Anne, foi chamada pela Gestapo (polícia nazista), o pai das garo-tas viu que teria que viver com a família na clandestinidade, para que a filha mais velha não tivesse de atender a convocação dos nazistas. Segundo a escritora Maria Romagnoli, que escreve textos para o site Visão Judaica, Otto Frank, com a ajuda de sua secretária e seu marido, Miep e Jan Guies, mudou-se com esposa e as filhas para o Anexo Secreto, composto por dois ambiente e um banheiro, localizado na parte superior do seu próprio escritó-rio. Ali eles viveram confinados durante dois anos na companhia de outra família, o casal Van Pels e o filho Peter, mais o dentista Fritz Pfeffer.

Em Amsterdã, na Holanda, o local do Anexo Secreto tornou-se Museu Anne Frank. Há, ainda, o Instituto Anne Frank, organi-zação não governamental e sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo a repressão do avanço anti-semitismo global, além de incentivar o retorno dos judeus às suas origens em Eretz Yisrael (Terra de Israel).

Um ano antes do fim do 2ª Guerra Mundial, o esconderijo foi descoberto e seus ocupantes leva-dos para campos de concentração. As meninas foram encaminhadas para o campo de Bergen-Belsen. O diário de Anne teria ficado no Anexo Secreto e foi achado pela secretária Miep, que providen-ciou o local. Mas as duas irmãs não resistiram ao confinamento dos nazistas. Em 1945, após a morte da Margoth, Anne perdeu suas forças e faleceu em seguida. Poucos dias após morrerem, a guerra terminou e os prisioneiros libertados. O pai delas foi um dos poucos sobreviventes.

Em 1945, Miep devolveu a Otto o diário de sua filha. Com 99 anos e gozando de boa saúde, a protetora da menina escreveu “O outro lado da história de Anne Frank”. No livro, ela conta como ajudou por dois anos as oito pes-soas que viviam no esconderijo.

Otto Frank viveu até 1980 e fez a publicação do primeiro Di-ário em junho de 1947. Impulsio-nado por amigos, o pai de Anne conseguiu realizar o desejo da filha: ser uma escritora famosa. Dois meses antes da captura da família Frank e seus companhei-ros, a menina escutou um aviso pelo rádio que dizia que nenhum documento da guerra deveria ser destruído, para preservar assim sua memória. A própria Anne teve o cuidado de, neste período, revisar todo o material escrito, uma vez que sonhava escrever um romance, baseado em seu di-ário, após sair do Anexo Secreto. Miep encontrou, além do diário da menina, material escrito em folhas soltas, uma vez que após dois anos de clausuras, o caderno original havia terminado.

Meyer Levin, que se apresentava como verdadeiro autor do Diário, moveu uma ação contra Otto Frank por falta de pagamento. Na ocasião, especialistas do Ame-rican Council Letter atestaram que o Diário não era obra de uma adolescente.

O professor Jacques Alkalai Wainberg observa que existem grupos que desejam apagar a memória da guerra e da barbárie, através de organizações contem-porâneas. “Os documentos da 2ª Guerra são da humanidade e não só dos judeus. Fomos apenas vítimas”, contemporiza.

Ficção ou não, essa é uma for-ma de tocar as pessoas e os dados e memórias devem ser preserva-dos, sejam reais ou não. O Diário de Anne Frank é conhecido no mundo todo, e deixou um legado para todos os povos, justamente por sua vítima ser uma criança inocente. Wainberg conclui que a mensagem é universal e to-dos podem aprender com isso. Como a própria Anne colocou na primeira página de seu Diário “espero confiar inteiramente em você, como jamais confiei em al-guém até hoje, e espero que você venha a ser um grande apoio e um grande conforto para mim”. Sem saber, Anne deixava seu legado mundial.

Mostra com quadros digitalizados e em cores já esteve em 30 países

A reprodução de uma foto de Anne Frank escrevendo em seu diário, num esconderijo, antes de ser descoberta e morta

Fotos Fernanda Bota/ Hiper

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Porto Alegre, maio 20086 esporte hipertexto

Bernhard Friedrich SchleeApromessaeradeumgrande

jogo, afinal, estava sendo decidi-do o campeonato gaúcho. Era 4 de maio de 2008, 16h, Estádio Beira-Rio. Iniciava-se o duelo entre duas grandes forças do futebol estadual: Internacional e Juventude. No primeiro jogo o time de Caxias do Sul ganhou de 1x0. O colorado precisava fazer dois gols, enquanto o Juventude sairia campeão com o empate. O que ninguém imaginava é que, 90 minutos depois, o resultado seria a maior surpresa: 8x1. Foi um delírio colorado.

A temível “touca” que assom-brava há anos o time de Abel Braga estava desfeita. Só neste

ano, das três partidas disputas entre os dois times, o Juventude havia vencido todas. Precisando da vitória, o colorado partiu para o ataque e chegou ao gol aos 25 minutos, com o volante Danny Morais, de cabeça. Era o sinal de partida para uma goleada que iria entrar para a história. Com a torcida eletrizante, apoiando o time o tempo inteiro, Fernandão, novamente pelo alto, marca mais dois, aos 29 e aos 30 minutos. Enquanto a equipe do Juventude sequer esboçava algum sinal de reação, Alex, de falta, converteu de novo cobrando falta, aos 37 minutos.

Na segunda etapa, a equipe serrana continuou apática e o ímpeto do Internacional intenso.

Aos 4 minutos Fernandão am-plia, seguido do gol de Nilmar, aos 9, que desde a final da Copa Dubai não marcava. Aos 11, o gol de honra do Juventude acontece com Índio marcando contra, em jogada um tanto bizarra. Mas o jogador teve a oportunidade de se redimir e converteu o seu aos 32. O jogo já se encaminhava para o final quando Andrezinho sofreu pênalti e, a pedido da torcida, quem cobra é o goleiro Clemer, que fecha a fatura aos 45 do se-gundo tempo: 8x1.

A torcida foi ao delírio. A touca estava rasgada. A taça do campeonato gaúcho, pela 38° vez, era do Internacional, de uma maneira inquestionável e histórica.

Internacional conquista o campeonato gaúchoem dia histórico, aplicando 8x1 no Juventude

O rolo compressor

Vinícius Carvalho/Hiper

Vinícius Carvalho/Hiper

Elson Sempé/Hiper

No placar eletrônico do Beira-Rio a goleada histórica aplicada no Juventude

Jogadores do Inter comemoram a conquista do Campeonato Gaúcho

Técnico campeão do mundo festeja a conquista do primeiro gauchão

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Porto Alegre, maio 2008 7esportehipertexto

Por Pedro Revillion

Um espetáculo nos céus. Assim pode ser definida a competição de balonismo, que acontece há mais de 20 anos na praia mais tradicio-nal do Estado. Torres é casa do Festival Internacional de Balonismo, que completou sua 20ª edição nesse ano, batendo recordes de partici-pantes. 42 equipes de todo o mundo estiveram compe-tindo no início de maio.

O balonismo não é um esporte comum, mas im-pressiona. É quase impos-sível não se notar um balão quando ele está no ar. São 30 metros de altura, flu-tuando pelo céu em baixa velocidade. Multicoloridos, eles são vistos a quilôme-tros de distância, encan-tando o público. Encanto e a beleza atraem os especta-dores para os campeonatos de balonismo. O festival de Torres é o mais tradicional do Brasil e atrai pessoas de todas as partes do Estado. O crescimento do número de turistas é significativo. O prefeito de Torres, João Alberto Cardoso, considera o festival de balonismo o evento com maior partici-pação popular da cidade e ótimo atrativo para os turistas, que estimulam o setor na baixa temporada,

Show de no céu

durante os meses de março e novembro.

Em 2008, o festival teve um imprevisto. A chuva foi a grande vilã do even-to. Estavam programados cinco dias de festival, com provas diárias. Mas apenas três dias de competição foram realizados. Confor-me balanço da Brigada Militar de Torres, mais de 150 mil pessoas passaram pelo Parque Municipal de Exposições Odilo We-bber Rodrigues. O ponto alto do festival foi o night glow, desfile de balonistas pela cidade acendendo as chamas dos balões. Após o desfile, todos se reuniram no parque de exposições, para o show noturno dos balões.

O grande campeão da competição foi paranaense Kaio Chemim, de 21 anos. Ele se tornou o campeão mais jovem do Brasil e, além do título, ganhou um carro zero quilômetro. Mesmo com as chuvas, o organizador da competição, Bruno Schwartz, ressaltou o sucesso do festival, que bateu o recorde de partici-pantes da América Latina e contou com a presença de todos os campeões bra-sileiros. Schwartz promete mais surpresas para edição de 2009.

Fotos Pedro Revillion/ Hiper

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Porto Alegre, maio 20088 geral hipertexto

l Com muita ação, atividade desenvolve reflexos, resistência e liderança

Paintball

Esporte que marca no corpo e na mente

Por Bernhard Friedrich Schlee

adrenalina. Essa é a sensação que invade o corpo de quem veste o aparato de proteção, empunha uma marcadora, busca cobertura atrás de um balão inflável ou no mato e, ao mesmo tempo, espera o adversário se expor para elimi-ná-lo. isso é paintball.

nesse esporte, duas equipes se enfrentam para uma eliminar a outra, ou então para atingir algum outro objetivo. O equipa-mento usado se resume na más-cara de proteção (espécie de capa-cete), pescoceira, colete especial e a marcadora. Com aparência de uma arma, este é um dispositivo de pressão utilizado para acertar os adversários com bolinhas de tinta. normalmente, a marcadora carrega 50 tiros.

Empresas de diferentes áreas têm levado grupos de funcioná-rios para praticar o esporte. Os motivos são vários: seja para confraternização, diversão, ou mesmo para descobrir quem possui certas habilidades, tais como liderança e reflexos. Entre as companhias que incentivam a prática estão a Vonpar, Pepsi, Souza Cruz, GVt, net e outras.

Rodrigo antunes nunes de lima, proprietário da Speed Game Paintball, junto com seu sócio Diego de Souza Dias, expli-

O paintball também se tornou importante no treinamento para segurança. O Centro avançado em técnicas de imobilização (Cati – treinamento Policial), empresa que atua em diversos países, como Estados Unidos, brasil, Portugal, Espanha, itália, Canadá e Japão, oferece treina-mento especializado para grupos como SWat, naSa, bOPE entre outros. “nos nossos cursos, a

Prática é utilizada como treinamento de policiais

ca que na atividade, a precaução vem antes de tudo. “Segurança em primeiro lugar, a tua e a do teu adversário”, argumenta. nada de sair atirando à queima-roupa, e também nunca tirar a máscara, porque, caso alguma bolinha atinja o olho, a coisa pode ficar feia.

Como qualquer outra ativida-de esportiva, o Paintball possui competições profissionais – onde o equipamento é mais sofisticado, e o ritmo ainda mais frenético. Rodrigo comenta: “Para entrar no jogo, a gente chega a gastar 800 bolinhas numa partida”. Pergun-to: “Em uma hora?” Ele responde: “não, em cinco minutos”. Rodri-go utiliza em campeonatos uma marcadora eletrônica, capaz de disparar 36 vezes por segundo, contra cinco das normais. “Em três ou cinco minutos tu sais acabado, cansa geral, sai com a língua de fora”, complementa.

Dentre as diversas modalida-des existentes, as mais conheci-das no brasil são a Speed e a de cenário, ou Military Simulation (MilSim). a primeira é um cam-po repleto de balões infláveis e obstáculos, onde normalmente dois times buscam eliminar todos os adversários ou capturar uma bandeira, localizada no centro da arena. neste tipo, a ação é frenética e alucinante, e agilidade

e reflexos são essenciais.no paintball de cenário, os

praticantes buscam imitar o mais fielmente possível as situações de combate de um exército, como no Dia D, por exemplo. “a modalida-de dele [Rodrigo] é competitiva e a minha é para quem gosta do tema do militarismo”, explica Earl Jesse, da Combat Zone – lo-cal voltado para a prática do Mil-Sim. Este é um modo em que os envolvidos exploram muito mais a resistência, estratégia e lide-rança. Enquanto no Speedball a atividade dura normalmente uma hora, no MilSim pode chegar a seis. a simulação procura ser tão autêntica que os equipamentos são customizados para parecerem o mais real possível.

Em Porto alegre existem duas empresas especializadas no jogo: o Speed Game, do tipo Speed, e o Combat Zone, na modalidade de cenário. É possível pensar que a concorrência entre as duas é ferrenha, mas não é o que acon-tece. Afirmam que existe entre eles uma relação de cavalheiros e todos são amigos.

gente usa o Paintball”, relata Paulo César do amaral, instru-tor do Cati. Os adversários que atuam em treinamento (chama-dos badguys) são, muitas vezes, praticantes de paintball. amaral frisa que certos jogadores, que treinam quase todos os finais de semana e até mesmo durante os dias úteis, podem ter técnicas de combate superiores a de alguns policiais.

InForme-Se:Speed Game Paintball –av. Cristiano Fischer, 1331 – Clube Farrapos – bairro Jardim

botânico, Porto alegre –Fones: (51) 9811-6820 e (51) 8451-0842

Combat Zone Paintball –Rua intendente alfredo azevedo, 530 – bairro Glória, Porto

alegre – Fones: (51) 3233-1480 e (51) 9998-1929www.combatzonepaintball.com.br

Paintball: agilidade e muita adrenalina num esporte que ajuda a desenvolver aptidões nos participantes

ÚltiMa hORa

Por Sérgio Giacomel

a defesa de alexandre nardoni e anna Carolina Jatobá irá tentar o hábe-as corpus no StJ somente após a decisão do tribunal de Justiça de São Paulo. O casal foi indiciado pela morte de isabella nardoni, 5 anos, asfixiada e jogada do sexto andar do edifício london, na Zona norte da capital paulista. O julgamento do mérito da prisão preventiva ocorrerá somente após o

retorno do desembargador Canguçu de almeida, que sairá de licença-prêmio de 19 de maio a 4 de junho.

alexandre permanece re-cluso na enfermaria do Cen-tro de Detenção Provisória de Guarulhos, afastado dos demais presos. O advogado Ricardo Martins quer que seu cliente seja transferido para uma penitenciária do Vale do Paraíba, já que teria direito a cela especial por ser diplomado. anna segue na penitenciária Feminina.

Caso Nardoni: decisão em junhoPor Paula Sperb

ligada a causas eco-lógicas desde o início de sua trajetória política, na década de 80, Marina Silva pediu demissão do car-go de ministra do Meio ambiente dia 13 de maio. Em sua carta aos servido-res do Ministério, ibama, instituto Chico Mendes, agência nacional de Águas, Serviço Florestal brasilei-ro e Jardim botânico, ela agradeceu a colaboração

de todos e destacou a “cria-ção de quase 24 milhões de hectares de áreas de conservação federais, a definição de áreas priori-tárias para conservação da biodiversidade e a estrutu-ração do Plano nacional de Mudanças Climáticas.”no lugar de Marina, assumiu o secretário do Meio am-biente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, que concedeu mais de 2 mil licenças am-bientais em 16 meses no Estado.

Marina deixa Meio Ambiente

Marina Silva pediu demissão

Foto marcelo Casal Jr/ ABr

Cristiano Lima/Hiper

Morre Péres Em um País onde a polí-

tica é confundida com falta de ética e corrupção, o brasil perdeu um dos símbolos da moralidade. O senador amazonense Jefferson Péres (PDt) foi morto por enfarte, 24 de maio, em Manaus.

Farc combalidanarcoguerrilheiros co-

lombianos da Farc admi-tiram dia 25 que o líder, Manuel Marulanda, Tirofijo, 80 anos, morreu do coração. Raúl Reys e iván Rios, da cúpula, foram eliminados.

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Porto Alegre, maio 2008 9comportamentohipertexto

Estrela nas quadrase nas passarelas

Fãs comemoram os 100 anos do Converse All Star

Por Mauricio Círio

Dez décadas parecem ainda não serem suficientes para des-vendar os mistérios da atração exercida por um simples tênis americano. Afinal, o Converse All Star é um calçado popular ou alternativo? Por que é tão ligado ao rock? Mas outras tribos musi-cais também são apaixonadas por ele, o que provoca a indagação quanto às razões do seu efeito magnético sobre seus usuários, principalmente os jovens de todas as décadas.

Quem usa garante que é “vi-ciante”, embora haja aqueles que alegam não gostar nem um pouco. O sucesso do calçado é facilmente constatável, basta olhar os pares que desfilam nos pés que per-correm ruas e calçadas de Porto Alegre. Cada par leva um modelo

diferente em cor desenho. Talvez essa singularidade que remete à frase “a gosto do freguês” seja um dos pontos mais fortes do calçado. Isso faz com que tenham até cole-cionadores do produto.

Vermelho, roxo, cinza, madei-ra, marfim, verde musgo. O psi-codélico visual arrebata os olhos dos consumidores surpresos e indecisos com tanta variação.

Em uma loja do Shopping Iguatemi, por exemplo, a maioria dos vendedores usa All Star, não por exigência, mas porque gos-tam. É o caso do vendedor Ruan Henrique Lopes, de 21 anos, apai-xonado pela marca: “Uso desde os meus cinco anos. Quem teve um desses (levanta o pé direito e mostra com orgulho seu All Star marrom, cano baixo), sempre vai comprar outro e ser fiel”. Ruan completa: “Já fui até a um casa-

mento de terno, gravata e All Star no pé”. Para a sorte da Converse, o fã agora vende o produto da grife, com gosto.

Assim como Ruan, outras pessoas idolatram o calçado. Para o consultor de marketing Glauco Fonseca, o tênis se tornou um item clássico e vintage do guarda-roupa jovem. “Deixou de ser um calçado comum para ser um vintage, ele-mento fashion de vestuário e um objeto de desejo”. Mas, o que é vintage? A palavra vem do inglês: “vint” relativo à safra de uvas e “age” de idade. Utilizado para de-signar as melhores safras, o termo acabou por representar também o melhor de toda sua época. Por isso, produtos dos anos 50, 60 e 70 que viraram referência no seu tempo, tais como carros, relógios, guitar-ras, móveis e roupas passaram a ser vintage.

Trazido ao Brasil pela empresa gaúcha Cooper-shoes, em 2002, o Converse All Star se tornou um símbolo jovem, principalmente quando se fala de música. A marca sempre esteve ligada ao rock e virou sinônimo de atitude e liberdade nos pés de muitos músicos do gênero. Isso tem explicação plausível. O publicitário Daniel Sko-wronski, diretor da Globalcomm, agên-cia que atende a conta de publicidade do Converse All Star, afirma que a marca tem um posicionamento internacional estabelecido em quatro pilares: música, esporte, moda e arte. “A musica é talvez o mais importante, pois reflete o perfil das pessoas que curtem a marca. Essa galera mais rebelde, roqueira e alternativa”, constata o publicitário. Daniel revela que a Globalcomm prepara surpresas aos consumidores, com uma campanha que irá reunir celebridades do mundo inteiro com o objetivo de levantar a bandeira dos 100 anos da marca.

Em termos mundiais, os usuários do calçado não têm necessariamente um perfil definido. Para esse usuário, o subjetivo é mais importante do que a aparência ou idade do consumidor. O que rola entre a marca e seus adeptos é uma “conversa de conceitos” entre o que o consumidor busca no produto e o valor agregado proposto à marca, que tem os quatro pilares

citados por Daniel. Por exemplo, se uma pessoa gosta de basquete ou de rock, ela pode mais facilmente se identificar com o All Star pelo fato do tênis e grande parte de sua publicidade ser voltada para esse nicho. O consumidor não precisa tocar guitarra em uma banda,

ou ser jogador de basquete para gostar de All Star. Tudo é simplesmente uma questão de identificação conceitual.

A possibilidade de variação de estilos e sua história na moda garantem o grande público. Com isso, a marca passou a ser cultuada, se igualando a outros produtos ícones da cultura pop. O isqueiro Zippo é um deles. Acessório simples, ganhou força na 2ª Guerra Mundial. O isqueiro foi considerado o “item mais cobiçado no exército americano”, segundo Ernie Pyle, correspondente da 2ª Guerra.

No Brasil, há o exemplo das sandálias Havaianas. Considerada companheira dos brasileiros nos dias de verão, mesmo sendo marca de chinelo, ganhou status de calçado chique. Outra que também passou a ser cult é a Harley Davidson. A moto sim-ples, com apenas dois cilindros e um velocímetro no painel, ganhou o mundo por seu estilo. All Star é um calçado único e tem valores bem definidos. Isso fez multiplicar seu número de fãs a cada campanha ou novo lançamento. É um sucesso inegável no mundo da moda, da música e do varejo.

Esporte, música, moda e arte

ALL STAR

PriMeiroS erAM de lonA e borrAChA

A Converse começou em 1908, quando Marquis M. Converse abriu em Malden (Massachusetts), as portas da sua empresa de calçados. Em 1917, uma nova linha de calçados esportivos foi lançada pela Converse, incluindo o tênis feito de lona e borracha, especialmente para jogar basquetebol. Nascia o Converse All Star, aprimorado, em 1918, com idéias de moda revolucionárias do jogador de basquete Chuck Taylor. Além de mudar o desenho do solado para dar mais tração ao tênis, Taylor adicionou uma pro-teção no calcanhar para evitar as lesões sofridas pelos jogadores nas partidas. Porém, só em 1923 o Converse All Star foi lançado no mercado, com sua assinatura, sendo sucesso absoluto entre jogadores de basquete e americanos apaixonados pelo esporte.

A década de 60 foi decisiva para a popularidade do All Star Chuck Taylor. Nessa época, a Converse ampliou sua linha de cal-çados também para outros esportes, fazendo com que o tênis caísse nas graças dos freqüentadores de Hollywood. Logo depois, surgiu a idéia de confeccionar uma versão de cano baixo e que agregava outros materiais como couro. Estava pronta a fórmula de sucesso do vestuário de norte-americanos e de jovens do mundo todo.

“All Star é clássico e ao mesmo tempo moderno, atinge diversos segmentos com uma marca forte,

carregada de emoção. Mas, sou suspeitopara falar porque sou fã.”

Bruno ‘Mad’ Machado, 20 anos.

Fotos Pedro belo Garcia/ hiper

Mais do que uma moda, a marca é uma questão de postura diante do mundo

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Porto Alegre, maio 200810 cultura hipertexto

Por Patrícia Lima

Os 150 anos não são só do teatro. Eva Sopher, diretora da Fundação Theatro São Pedro, diz que se sente como se também fizesse aniversário. Poucas pes-soas acreditavam na preservação e na evolução do prédio, que se tornou uma das mais belas casas de espetáculos e recebe milhares de visitantes, além do público que habitualmente prestigia os eventos de teatro, dança, música, exposições e outras manifestações culturais.

Bem conservado e de portas abertas para as comemorações que incluem exposições e projetos culturais, o Theatro São Pedro oferece, além da sala de espetá-culos, famosa por sua beleza e requinte, espaços reestruturados

que abrigarão eventos relativos à data. “Quero comemorar com quentão e pipoca”, diz Eva So-pher, explicando que o auge da festividade será, em junho, com a apresentação da peça Ensina-me a viver, encenada por Glória Menezes e Ilana Kaplan. São des-taques da programação ainda as peças especiais de final de semana com entrada franca.

A manutenção do teatro se intensificou desde junho de 2007. Foram refeitas impermeabiliza-ções, corrigidas infiltrações nas escadas, subsolos e sacadas. Tam-bém recuperaram aberturas das janelas, portas e esquadrias. As pinturas interna e externa foram refeitas e houve a renovação de áreas destinadas à administração, cozinha, almoxarifado e oficina. Também foram instalados dois

novos vestiários. No subsolo, sur-giu o Memorial do Theatro.

“O público querido merece um espaço cultural como este, pois traz mensalmente sua colabora-ção de R$ 30 para a manutenção do teatro. São mais de mil amigos e sócios, ajudando a mantê-lo. Se não fossem eles, a obra estaria pa-rada e o teatro fechado há muito tempo”, enfatiza a diretora.

Foi o que aconteceu no final da década de 70 e início dos anos 80. Após nove anos fechado e em reforma, devido às precárias condições de segurança que o impediam de funcionar, em 1984 reabriu. Segundo dona Eva, a rei-nauguração foi o momento mais especial de sua administração, que se iniciou em 1975. Outro fato marcante da sua história foi a aquisição de 10 terrenos

em torno do prédio para cons-truir o Multipalco, ampliando e inovando o teatro. Os terrenos eram de propriedade do governo municipal, estadual e de pessoas particulares. “Em nenhum outro Estado, nem em São Paulo, Rio de Janeiro ou Pernambuco, uma casa cultural teve a oportunidade de adquirir esse espaço para a sua ampliação”.

O Multipalco será entregue a população ainda este ano, prevê Eva Sopher, embora não estipule data para a finalização das obras. “Nos dois primeiros anos da obra, entre 2003 e 2005, o fluxo de caixa permitia verba para tudo, agora estamos dependendo da Lei de Incentivo a Cultura (LIC)”. Devido às dificuldades de libe-ração das verbas, não é possível fixar a data.

Onde a arte se encontra há 150 anosTheatro São Pedro comemora um século e meio como referência cultural

No século XIX, foram con-truídos, na Praça da Matriz, em Porto Alegre, dois prédios gêmeos: um destinado às artes, outro à justiça. O teatro está completando 150 anos. O outro foi destruído 50 anos atrás por um incêndio criminoso.

Era agosto de 1833. O pre-sidente da Província, Manoel Antônio Galvão, fez doação a uma sociedade de dez mora-dores de um terreno, no centro da capital, para construção de um teatro. As obras iniciaram em seguida, mas param ainda nos alicerces, durante dez anos, devido a Revolução Farroupi-lha (1835-1845). Terminada a Guerra dos Farrapos, as obras recomeçam só cinco anos mais tarde, em 1850. O projeto do carioca Felipe de Normann tor-na-se mais ambicioso. Surgem dois prédios gêmeos, em estilo neoclássico, um para sediar o teatro, outro para o Tribunal.

Em 27 de junho de 1858, 150 anos atrás, quando a cidade tinha apenas 20 mil habitantes, o Theatro São Pedro é inau-gurado, com 700 lugares, pol-tronas de veludo, camarotes e decorações em ouro. É a mesma construção preservada até hoje. Seus antigos idealizadores não conseguiram mantê-lo e foi de-sapropriado pelo poder público ainda em 1861.

O prédio gêmeo foi demolido após ter sido queimado em in-cêndio criminoso, para destruir processos, em 1949. O Fórum atual existente no local reflete o estilo moderno dos anos 50, muito mármore e vidros.

Eram doisprédios gêmeos; um incendiou

Fotos Antônio Cruz/Hiper

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Porto Alegre, maio 2008 11músicahipertexto

Por Gustavo Stumpfs

Idealizado pelo ator e cineasta gaúcho Emerson Links, o projeto multimídia Bíblia do Rock consis-te no apanhado da trajetória do estilo musical em seus 50 anos no Brasil. Apresenta persona-gens famosos e resgata também aqueles esquecidos pela mídia. “A idéia fundamental do meu tra-balho é a realização de um filme de longa-metragem contando a história do rock no nosso país”, conta Links.

A Bíblia é também série de livros e CDs e uma radionovela, que tem previsão de lançamen-to para agosto de 2009. “Tudo isso faz parte do meu plano de

Uma bíblia do rock no Brasil

Por Maiara Andrade Em meio ao som de tambores,

o mestre de toadas “puxa” os can-tos, e o coro responde. Isso acon-tece todas as noites de domingo no Instituto Afro-Sul Odomodê, localizado no bairro Jardim Bo-tânico. O grupo Maracatu Truvão, único no Rio Grande do Sul, já tem público cativo que canta e dança junto aos integrantes. Manifesta-ção cultural da música folclórica pernambucana afro-brasileira, o maracatu surgiu em meados do século 18 e é a mistura das culturas indígena, africana e européia.

Incentivado pelo percus-sionista pernambucano Esdras Bedai, na época em Porto Ale-gre, o também percussionista Duda Guedes, junto com amigos, decidiu montar um grupo de maracatu. Isso foi em setembro de 2004. Desde então, ele passou a ministrar oficinas durante a semana e fazer apresentações no Parque da Redenção aos do-mingos. O grupo formado por 16 pessoas já participou de diversos eventos importantes, como a abertura do Fórum Social Mun-dial de 2005: o encerramento do Festival de Percussão de Porto Alegre de 2006 e a abertura da 53ª Feira do Livro de Porto Ale-gre de 2007. Duda Guedes criou o grupo e ficou à frente durante

Noites de maracatuem Porto Alegrel Música folclórica pernambucana tem público cativo

Por Maiara Andrade*

Depois de alguns meses em uma cidade com cultura dife-rente, me vi em um ambiente familiar. Na verdade, não era o lugar em si, mas o que acontecia ali. A música me fez lembrar de Recife, de onde saí para estudar e ter nova experiência. Não ima-ginava que, em Porto Alegre, me depararia com um grupo baseado na cultura pernambucana.

Ao ouvir, pela primeira vez, o grupo Maracatu Truvão me senti em pleno carnaval, no bairro

do Recife Antigo. As pessoas dançavam e cantavam, e fiquei mais espantada por elas saberem todas as letras das músicas. Eu já havia percebido uma diferença muito forte da cultura de Porto Alegre e de Recife. Lá acontecem muitas festas de ruas, os grupos culturais se encontram e se apresentam para quem quiser ver. Ao chegar nesta cidade senti um pouco falta disso. Agora, aos domingos, posso ir ao Afro-Sul, onde o Maracatu Truvão se apre-senta e matar as saudades.

Interessante também, foi que

ao falar com alguns integrantes do grupo, e dizer que eu sou per-nambucana, me perguntavam se havia gostado, se em compara-ção com os grupos de Pernam-buco, eles são bons. Posso dizer que gostei muito e, sendo leiga no assunto, sou apenas apre-ciadora, não identifiquei muita diferença. Aliás, parecia que eu tinha voltado para casa.

*Maiara Andrade é aluna da Universidade Católica de Pernambuco, de Recife, e, por intercâmbio, cursa jornalismo neste ano na Famecos.

De voltA Ao Recife AntiGo

As oficinas ocorrem no Afro-Sul

Guilherme Santos/ Hiper

resgatar para as novas gerações, um capítulo da nossa música que ainda não foi totalmente contado e esmiuçado”, revela o autor.

O projeto promete desmistifi-car alguns mitos como o de que o rock brasileiro começou na época da Jovem Guarda. “O ritmo já existia no país antes de Roberto Carlos e cia”, afirma. Links relata que tem vários discos gravados de bandas tocando rock no Brasil nos anos 1950. Segundo ele, a primeira composição brasileira original no estilo é de abril de 1957, Enrolando o Rock, gravada por Betinho e Seu Conjunto.

Além de Alberto Borges de Barros, o Betinho, a Bíblia tam-bém resgata outros nomes dos

primórdios do estilo como Cy Manifold e Dave Gordon. Baby Santiago, considerado uma es-pécie de Chuck Berry brasileiro. Sérgio Murilo, o rei da juventude antes de Roberto Carlos tomar o posto. Carlos Gonzaga, Albert Pavão e a gaúcha Maritza Fabiani são outros nomes. “Muitos desses

artistas dos primeiros tempos do rock no Brasil foram injustiçados pela história”, opina o autor e cineasta.

Links anuncia que a sua Bí-blia do Rock vai corrigir algumas injustiças e trazer à tona fatos novos. “Eu tenho horas e horas de imagens e depoimentos raros

gravados”, conta. Um dos dife-renciais do trabalho é ter conhe-cido pessoalmente praticamente todos os biografados. “Outros que escreveram sobre o tema, apenas recorreram ao material que já existia na mídia”.

Para Links, as pessoas vão se surpreender com o resultado da obra. “Será a história do rock no Brasil e no mundo passo a passo, cronologicamente, ano a ano. É um trabalho de pesquisa único, muito aprofundado, que consu-miu praticamente todos os seus 32 anos de vida”, argumenta.

O autor da Bíblia acredita que o resultado dessas gravações que unem músicos de todas as épocas vai emocionar o público que, em sua maioria, desconhece o rock produzido antes dos anos 60. Então, agora, é esperar pelo lançamento desse projeto multi-mídia. Mais informações sobre o projeto Bíblia do Rock são encon-tradas nas diversas comunidades que tratam do assunto no site de relacionamentos Orkut.

os primeiros meses. No início de 2005, Ismael de Oliveira assu-miu a função de mestre no lugar de Duda Guedes.

O maracatu Truvão – fazendo referência ao sotaque pernambu-cano – reproduz o maracatu de baque virado, termo sinônimo de um dos toques característicos do cortejo, baseando-se em quatro grupos pernambucanos: Nação Porto Rico, Estrela Brilhante de Recife, Estrela Brilhante de Iga-rassu e Leão Coroado. “O nosso objetivo até agora, foi entender o sotaque de cada nação”, comenta o atual mestre do maracatu Tru-vão Ismael de Oliveira. Existem várias nações de maracatu e, para Ismael, o interessante é que cada uma tem sua forma de tocar, com suas peculiaridades.

O maracatu original, que toma conta das ruas do Recife, não é apenas música. A orques-tra de percussão acompanha um cortejo real, formado pelo porta-estandarte, dama do paço, rei, rainha, vassalo, figuras da corte, damas da corte e yabás (mais conhecidas como baianas). Os movimentos lembram as danças do candomblé, sendo forte a pre-sença de acrobacias que parecem com passos do frevo.

O maracatu Truvão é a re-presentação da parte musical, do baque (toque) do maracatu.

Martina Hurly, de 23 anos, in-tegrante do grupo desde 2005, comenta que maracatu é muito mais que música, tem também uma conotação religiosa, não apresentada em Porto Alegre. Ela não teve oportunidade de ir a Recife e conhecer alguma nação, mas apesar de não conhecer tudo o que o maracatu representa já sente uma grande ligação com esse movimento cultural. “Essa energia já faz parte da minha vida”, comenta Martina.

Além das apresentações, o Maracatu Truvão é responsável por oficinas oferecidas no Insti-

tuto Cultural Afro-Sul Odomodê, tanto para o público em geral como para crianças atendidas pela instituição. O Afro-Sul é responsável por trabalhos de

socialização de crianças da co-munidade da Vila do Sossego e da Vila dos Anjos. As crianças têm acesso também a aulas de música, dança e informática.

Emerson Links divulga seu projeto de recuperar a memória do rock brasileiro

fernanda Bota/Hiper

Page 12: Página 8 Página 5 Página 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/2013/04/cod1... · Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso

Porto Alegre, maio 200812 ponto final hipertexto

Por Edmar Gomes

Às margens do Guaíba, na zona sul de Porto Alegre, uma verdadeira obra de arte revela suas formas. Com tons de branco e formato escultural, surge o prédio da Fundação Iberê Camargo, novo cartão postal da Capital. Na inauguração, em 30 de maio, será mostrada a retrospectiva Iberê Camargo Moderno no Limite, com 89 obras do pintor exibidas nas nove salas de exposições do novo prédio. A finalidade do complexo é preservar o acervo de mais de quatro mil obras do mestre do expres-sionismo brasileiro, morto em 1994, e ser um centro de debate, pesquisa e exposição da arte moderna e contemporânea. Pronto, o complexo deve colocar Porto Alegre e o Brasil na rota dos grandes centros culturais do mundo.

Antes de ser construído, a maquete do projeto já havia recebido reconhecimento internacional. Em 2002, ano de lançamen-to da pedra fundamental, o projeto ganhou o troféu Leão de Ouro na Bienal de Arquite-tura de Veneza, premiação jamais recebida na América. Desde a idealização da cons-trução, em julho de 2003, a maquete já foi exibida pelo arquiteto responsável Álvaro Siza em países como Portugal, França, Itá-lia, Espanha, China, Japão, Rússia e Coréia do Sul. No Brasil, percorreu as principais capitais, acompanhando a retrospectiva Iberê Camargo Diante da Pintura, em

Pintor Iberê Camargoganha nova formaem concreto branco

Prédio é inaugurado com mostra de sua obra

Exatidão e sensibilidade artís-tica são marcas de Iberê Camargo, um dos grandes nomes da arte do século 20. Nascido em Restinga Seca, no interior do Rio Grande do Sul, em novembro de 1914, passou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro. É autor de obras de arte, que incluem pinturas, desenhos, guaches e gravuras.

Quando esteve na Europa, es-tudou com mestres como Giorgio de Chirico, Carlos Alberto Petruc-ci, Antônio Achille e André Lothe. A obra de Iberê foi reverenciada em exposições de renome inter-nacional, como as Bienais de São Paulo, Veneza, Tóquio e a Bienal de Madri, e integrou inúmeras mostras no Brasil e em países como França, Inglaterra, Estados Unidos, Escócia, Espanha e Itália. O pintor morreu aos 79 anos, em agosto de 1994, em Porto Alegre, deixando um legado de mais de sete mil obras.

2003 e 2004. As características da obra já mostradas em reportagens da imprensa nacional e internacional, vêm ganhando espaço no mundo todo.

No prédio foram projetadas nove salas de exposições divididas nos três andares superiores, dedicadas especialmente à exibição de obras de Iberê e trabalhos de artistas referenciais do cenário nacional e internacional. Recebendo apoio do empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do conselho do grupo siderúr-gico Gerdau, o projeto conta ainda com o aval da viúva de Iberê, Maria Coussirat Camargo, que ocupa o cargo de presidente de honra da instituição.

Tecnologia e meio ambiente O novo prédio da Fundação Iberê Ca-

margo apresenta inovações em arquitetura e soluções em engenharia. Todo o projeto foi erguido em concreto armado, não utili-za tijolos ou elementos de vedação, dando a possibilidade da formação de contornos arredondados. Como se fosse uma grande escultura, a edificação dá destaque à forma e ao movimento das rampas construídas em todos os pavimentos. É o único do país feito totalmente em concreto branco, que dispensa pintura e acabamentos. No interior das paredes, isoladas com lã de rocha, passam dutos especiais de energia e ar condicionado.

Um controle inteligente de monitora-

mento gerencia a temperatura e a umidade interior para garantir a proteção do acer-vo. A produção de gelo para refrigerar o ambiente durante o dia será feita à noite, quando o custo da energia elétrica é mais barato, reduzindo assim os gastos de ope-ração e otimizando a utilização de energia. O projeto ainda prevê a reutilização da água da chuva nos banheiros e uma estação de esgoto, que fará o tratamento dos resíduos sólidos e líquidos no próprio local. A água tratada resultante do processo servirá para regar a área verde do entorno. Por meio de uma parceria com a Fundação Gaia, a mata nativa de 16 mil m², localizada às costas do prédio, recebe cuidados especiais.

A construção, orçada em R$ 40 mi-lhões, começou a ser construída em julho de 2003 em uma área de 8.250 metros quadrados (Avenida Padre Cacique 2000), em um espaço concedido pela prefeitura de Porto Alegre e com o patrocínio do Grupo Gerdau, Petrobras, RGE, Vonpar, Itaú, De

Lage Landen e Instituto Camargo Correa.

Espaço cultural No primeiro andar do prédio, estão a

recepção, cafeteria, chapelaria, loja cultu-ral e um hall monumental do qual se pode ver os andares superiores, com possibili-dade de uso para intervenções artísticas. No subsolo, ficou o ateliê de gravura de Iberê, um auditório para 95 pessoas, salas para cursos e oficinas e um estacionamento para 100 veículos. O complexo oferece ainda um centro de referência, pesquisa e informação sobre o acervo do artista, com biblioteca especializada, banco de dados, videoteca e hemeroteca.

No subterrâneo, há uma passarela no acesso ao estacionamento, construída sob a avenida Padre Cacique, ligando os dois lados da pista. Rampas e elevadores ofe-recem maior comodidade aos portadores de necessidades especiais, que vão desde a garagem a todos os acessos da Fundação.

Reconhecido no mundo

Prédio na beira do Guaíba começou a ser construído em 2003; custo chegou a RS 40 milhões

Linhas arquitetônicas arrojadas são um tributo ao mestre do expressionismo brasileiro nascido em Restinga Seca, no interior do Rio Grande do Sul

Fotos Camila Domingues/ Hiper