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GTNM/RJ JORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ - ANO 22 - Nº 65 - JUNHO 2008 “Senhores idealizadores e responsáveis por esses treinamentos ultrapassados e desumanos, quando irão repensar e mudar esses currículos que colocam em risco a vida humana?” CARMEN LAPOENTE DA SILVEIRA DIA INTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A TORTURA DIA INTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A TORTURA 30 de junho às 18h Auditório Prof. Manoel Maurício de Albuquerque CFCH/UFRJ - Campus da Praia Vermelha Av. Pasteur, 250 Fundos Reparação e Memória ARQUIVOS DA DITADURA: MEMÓRIA QUE ATERRORIZA QUEM? 03 A I NSEGURANÇA NACIONAL 04 DIA I NTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A TORTURA 06 E 07 MÁQUINA, SANGRENTA E CARA, DE ENXUGAR GELO 12

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GTNM/RJJORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ - ANO 22 - Nº 65 - JUNHO 2008

“Senhores idealizadores e responsáveis por esses treinamentos ultrapassados e desumanos, quando irão

repensar e mudar esses currículos que colocam em risco a vida humana?” CARMEN LAPOENTE DA SILVEIRA

DIA INTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A TORTURA

DIA INTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A TORTURA

30 de junho às 18h

Auditório Prof. Manoel Maurício de AlbuquerqueCFCH/UFRJ - Campus da Praia Vermelha

Av. Pasteur, 250 Fundos

Reparação eMemória

ARQUIVOS DA DITADURA: MEMÓRIA QUE ATERRORIZA QUEM? 03

A INSEGURANÇA NACIONAL 04

DIA INTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A TORTURA 06 E 07

MÁQUINA, SANGRENTA E CARA, DE ENXUGAR GELO 12

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Página 2 • JORNAL DO GTNM/RJ 65 - JUNHO / 2008

POR CORRESPONDÊNCIAEDITORIAL

Expediente

Edição: Marcelo CajueiroDiagramação: Diagrama Comunicações Ltda.Tel.: (21) 2232 [email protected]

Ilustrações: Latuff e Carlos Senna

Impressão: Monitor Mercantil

“GTNM” é uma publicação do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ,sediado na Rua General Polidoro, 238 - sobrelojaBotafogo - Rio de JaneiroTel.: (021) 2286-8762 - Fax: (021) 2538-0428

E-mail: [email protected]

Site: www.torturanuncamais-rj.org.br

Tiragem: 5.000 exemplares

Artigos assinados são de responsabilidade exclusivados autores.

Direção do GrupoPresidente: Cecília M. B. Coimbra1º Vice: Victória L. Grabois Olímpio2º Vice: Elizabeth Silveira e Silva1º secretário: Joana D’Arc F. Ferraz2º secretário: Jane Q. Nobre de Mello1º tesoureiro: Sebastião A. da Silveira2º tesoureiro: Flora Abreu Henrique da CostaSuplentes: Tânia Roque e Vitória Pamplona

Coordenação geral e redação: Ana Miranda, CecíliaCoimbra, Jane Q. Nobre de Mello, Joana D’Arc F. Ferraz,e Victória Grabois.

Digitação: Zélia Lima

Colaboraram nesta edição: Sérgio Silva, Vera Vital Brasil,Juliana de Oliveira Carlos, Carolina Dellamore, JoãoTancredo, Jessie Jane Vieira de Souza e Eduardo Losicer.

O GTNM/RJ não é uma ONG, somos um movimento social.No momento, passamos por dificuldades financeiras.

Aceitamos qualquer contribuição em nossa conta: Banco Itaú, Ag. 0389 C/C 77791-3

Mais um jovem brasileiro perde avida durante exercícios na Academia

Militar das Agulhas Negras (RJ).Não me causou surpresa, pois isso acontece com

muita freqüência em treinamentos naquela instituição.Não há como não ficar indignada e pesarosa por maisuma morte prematura, que enluta mais uma família queconfiou seu filho à uma Escola Militar.

Senhores idealizadores e responsáveis por essestreinamentos ultrapassados e desumanos, quando irãorepensar e mudar esses currículos que colocam em ris-co a vida humana?

Quando colocarão em primeiro lugar a segurançados alunos? E quando exigirão de seus instrutores maissensibilidade, humanidade e respeito com seres huma-nos (alunos),dando-lhes o direito de ter seus próprioslimites.

Desta vez, o caso será apurado com rigor e os cul-pados serão punidos? Me desculpem, já vi esse filme,quando em 1990 perdi meu filho, Marcio Lapoente daSilveira, justamente durante um treinamento nessa Aca-demia. E o final? Acobertamento e impunidade.

Os recentes e lamentáveis acontecimentos no mor-ro da Providência em que militares entregaram jovensda comunidade à marginais (...) é uma constatação daincapacidade do Exército na formação do caráter dadisciplina e ao respeito ao seu próximo.

Carmen Lapoente da Silveira – Por e-mail.

Filme do GTNM/RJCriando Memórias para Uso Diário

Faz tempo que estava para enviar mensagem (...) àrespeito do Memória para uso diário, só que estavaesperando poder revê-lo junto com minha esposa (...).

Primeiro, a surpresa de ver iniciativas do TorturaNunca Mais, das quais eu nunca havia tido notícia: asplacas de rua com nomes de desaparecidos, o “brizo-lão” com o nome de um desaparecido que relembra seunome com um hino cantado pelos alunos.

Depois o eficiente trabalho de pesquisa que conse-guiu levantar matérias de televisão extremamente im-portantes, bem como o feliz entrelaçamento entre osrelatos sobre os desaparecidos no tempo da ditadura eas vítimas das chacinas policiais e dos absurdos ex-cessos no treinamento militar.

E - para mim o mais importante - a forma pela qual odocumentário é levado de forma clara, direta, sem pie-guice (...). Hasta mañana, siempre (espero yo)!!!

Sergio Muniz – Por e-mail.

Professor se Recusa aAceitar a História Oficial

Olá companheiros(as)Meu nome é Thalles do Amaral, sou professor de

História. (...) estou começando a trabalhar o período daDitadura Militar com os alunos do 3º ano do EnsinoMédio. Há duas semanas atrás, levei grande parte daturma para assistir o filme “Condor” como forma decomeçar a sensibilizá-los. Logo que chegaram eles no-taram que não havia jovens assistindo o filme. No finalda exibição, conversei com eles sobre a importância depessoas da idade deles entrarem em contato com esteassunto, para que tais atrocidades não caiam no es-quecimento (...).

Thalles (por e-mail)

O segundo episódio, também protagoniza-do pelo Exército, foi a “venda” de três jovens,presos “por desacato a autoridade” no Morroda Providência, à traficantes do Morro da Mi-neira. Sabemos também que estas “ligaçõesperigosas” entre tráfico e “autoridades” em ge-ral não são pontuais ou excepcionais.

Ficam assim, evidenciados os efeitos dessestreinamentos tão bem utilizados por este “capi-talismo de barbárie”. (Sobre estes dois episódi-os, ler na íntegra a nota “Tortura, Morte e Cor-rupção: atuação das Forças Armadas” em nos-so site www.torturanuncamais-rj.org.br).

Fica evidenciada também a falta de vonta-de política para se publicizar e responsabilizaras violações de hoje e as violações de ontemcometidas em nome da “Segurança Nacional”.Passado e presente se juntam e continua vigin-do uma outra Doutrina de Segurança Nacio-nal, agora internacionalizada.

Algumas matérias deste jornal apontam paratais questões: abertura ampla geral e irrestritados arquivos da ditadura; nosso repúdio às tor-turas e execuções sumárias; a afirmação deoutras memórias sobre o Terrorismo de Estadoe, principalmente, nossa autonomia e indepen-dência em relação aos diferentes governosmunicipais, estaduais e federal. Ou seja, conti-nuamos reafirmando nossa luta:

Pela Vida, Pela PazTortura Nunca Mais!

Diretoria GTNM/RJ

Não só no Rio de Janeiro, não só nos gran-des centros urbanos brasileiros, mas internaci-onalmente temos assistido ao fortalecimento doque Vera Malaguti Batista chama de “capitalis-mo de barbárie”.

Independente do nome que se dê – EstadoPenal, Estado Policial-Repressivo, Estado deExceção, Estado Neoliberal de controle globa-lizado – sabemos que tipos de práticas esse“capitalismo de barbárie” tem colocado em fun-cionamento: o mito de que vivemos em uma“guerra civil”, a necessidade de leis mais du-ras e severas, a lógica da punição como a úni-ca solução para a violência, a juridicização docotidiano, os aplausos ao encarceramento emmassa, aos extermínios e à tortura como malesnecessários.

Produz-se subjetividades cada vez mais in-dividualizantes onde para a minha segurança -é o que afirmam os grandes meios de comuni-cação – torna-se natural e, mesmo, necessárioa tortura, o enclausuramento e o extermínio dealguns segmentos considerados perigosos.

Não por acaso, no Rio de Janeiro, que vem aalguns governos implementando a Política deTolerância Zero, ocorrem na mesma semana doisterríveis fatos envolvendo o Exército brasileiro.Em um treinamento na Academia Militar dasAgulhas Negras morreu um jovem de 18 anos edois outros foram hospitalizados por não agüen-tarem as violências cometidas durante os exer-cícios propostos. Este caso não é, em absoluto,pontual ou excepcional. Sabemos e temos acom-panhado muitos outros fatos como este.

Tortura, Execução e Corrupção:paradigmas das políticasde (in)segurança pública

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parentes e amigos dos que se foram o que, defato, aconteceu com eles? E os que sobrevive-ram, como podem confirmar, em forma de do-cumento, tudo o que sofreram?

Se hoje não podemos dizer que esta violên-cia tem nome, tem marcos, tem documentos, eque pode ser exposta para quem quiser conhe-cê-la, poderemos algum dia dizer que este fato,embora lamentável e terrível, pode ser guarda-do como uma das lições que jamais deveremosrepetir? Quem pode nos ajudar, digo NÓS, naexpressão máxima do significado da experiên-cia compartilhada coletivamente, a refletir eminimamente digerir este acontecimento comtodos os recursos interpretativos (relatos, docu-mentos, objetos, cartas)? Podemos ter todo odireito de esquecer ou de transformar este acon-tecimento em um marco ligado ao passado, esinceramente acho que estamos dispostos aisso, mas esta decisão de esquecer é da socie-dade, não é do Estado.

Se o Estado não se responsabiliza pelo quefez e não toma para si a responsabilidade portornar públicas as informações oficiais sobre oque fez, como pode querer que os atingidos di-reta ou indiretamente se acalmem ou se conci-liem com um passado que ainda não passou?Como pode querer que os jovens não cobrem o

Arquivos da Ditadura: memória que aterroriza quem?Joana D’Arc Fernandes Ferraz*

Já se passaram quarenta e quatro anos dogolpe militar. Neste período, enfrentamos du-rante vinte anos o regime militar no Brasil; evivemos mais vinte e quatro anos em um regi-me em que elegemos diretamente o Presidenteda República (deixemos de lado, por enquanto,as condições em que o povo “escolhe” o seurepresentante máximo). Nestes quarenta e qua-tro anos ainda não conseguimos organizar, pu-blicar e circular os arquivos da ditadura.

Com quais recursos poderemos dizer paraas novas gerações o que ocorreu, consideran-do as diferentes vozes que podem falar sobre oque viveram? Que memória poderemos tirardeste acontecimento? Em que lugares hoje po-demos pesquisar organizadamente os documen-tos que relatam as rotinas dos agentes da re-pressão, os recursos pelos quais os militaresconseguiram informações sobre os perseguidospolíticos, os locais de tortura, os nomes dos co-laboradores e dos financiadores do regime deterror? Em que lugares os atingidos ou os pa-rentes daqueles que sucumbiram podem cole-tar documentos para formar uma idéia sobre ascondições em que morreram? Onde foram pre-sos? Quem os torturou? Onde estão os seus cor-pos para que possam reconstruir, minimamen-te, as histórias familiares? Se não os temos vi-vos, em nossa presença para nos relatar comdetalhes o que viveram, quem pode se respon-sabilizar por informar às gerações futuras, aos

direito de saber o que aconteceu? Como pode-remos esquecer o que ainda não conhecemoscom profundidade? Como poderemos elaboraro nosso luto se ainda não o compreendemoscompletamente?

Se aqueles que hoje estão no poder, e queforam atingidos pela ditadura, em suas diferen-tes formas de opressão (presos, torturados, obri-gados a viver na clandestinidade ou obrigadosa se exilarem) não abrem os arquivos, quempoderá fazer isso?

Todas essas questões nos vêm diariamente àtona quando tomamos conhecimento dos atosdo governo Lula em relação à abertura dos ar-quivos da ditadura. Até quando iremos escon-der o passado debaixo do tapete da História ecinicamente fingir que tudo já passou? Até quan-do os arquivos do Exército, da Marinha, da Ae-ronáutica, dos DOI-CODIs, da Polícia Federale do Serviço Nacional de Informação ficarãoescondidos?

A abertura dos arquivos da ditadura propor-cionará mais um espaço de reencontro com opassado, a fim de que algum dia, possamos re-almente olhar para este acontecimento comoalgo que passou. Se os atingidos e a sociedadenão têm medo de olhar para esse passado, quemse aterroriza com essa memória? Quem temmedo da abertura dos arquivos da ditadura?

* Doutora em Ciências Sociais. Profa. da UNIRIO.

De acordo com o procurador, isso feredireitos fundamentais do cidadão prote-gidos pela Constituição.

Na defesa encaminhada ao Supremoo governo responde que se deixasse essepoder nas mãos do Legislativo e de seus594 parlamentares, o que deveria ser se-gredo certamente acabaria revelado pordeputados ou senadores.

Pela legislação atual o acesso aos do-cumentos sigilosos que ponham em riscoa segurança da sociedade e do Estadopode ser restrito por 30 anos renováveispor mais 30, a contar da data da produ-ção do material. Os documentos que pos-sam atingir a honra e a imagem de pes-soas podem ficar em segredo por até 100anos. Vencidos esses prazos, uma comis-são do governo poderá decidir manter osigilo caso entenda que a revelação doconteúdo ponha em risco a soberania, aintegridade territorial nacional ou as re-lações internacionais do País.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silvaencaminhou no dia 09 de junho último, ofí-cio ao Supremo Tribunal Federal (STF) comargumentos para evitar a derrubada da leique permite ao governo manter sob sigilodocumentos históricos da época da ditadu-ra ou que poderiam colocar o país em situa-ção diplomática delicada.

O documento preparado pela ConsultoriaGeral da União, visa a rebater os argumen-tos do procurador-geral da República, Antô-nio Fernando de Souza, que pediu ao STF quejulgue a lei inconstitucional e determine asuspensão imediata do sigilo desses papéis.

No ofício o governo alega que o interes-se de brasileiros nos documentos como for-ma de esclarecer a história do país, comosugere o procurador, não se compara aosinteresses do Estado e da sociedade por se-gurança, que obrigariam o Executivo a man-ter esses dados sob sigilo durante determi-nado período, para não colocar em risco aSegurança Nacional.

Lula reafirma o sigilo eterno

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sido torturados e as-sassinados. Um gru-po de militares, co-mandado por um te-nente, reconheceuhaver entregue ostrês jovens a umaquadrilha de outromorro.

Na reunião de2006 da SociedadeBrasileira para o Pro-gresso da Ciência(SBPC), em Florianó-polis, uma mesa redonda foi dedicada à co-laboração entre universidade e polícia. Nela,o sociólogo José Tavares dos Santos (profes-sor da UFRGS), disse que a universidade temque deixar os pudores de lado e pesquisar

para tornar a polícia cada vez melhor e maiseficiente. Como avaliar a eficiência da po-lícia?

A prática da tortura e de execuções su-márias pela polícia brasileira tem sido de-nunciada não apenas por movimentos bra-sileiros de defesa dos direitos humanos,mas também pelas mais conhecidas enti-dades internacionais dessa área – como aAnistia Internacional – e até mesmo pelaOrganização das Nações Unidas. Apesarde conhecerem a tragédia dos direitos hu-manos em todo o planeta, os militantes ou

funcionários dessas entidades se surpreen-dem com a completa impunidade e a gene-ralização da tortura e das execuções sumá-rias no Brasil.

O terrorismo de Estado é a principal formade desrespeito aos direitos humanos em todoo mundo e especialmente no Brasil. É muitodifícil explicar a violência urbana ou a inse-gurança separadamente do terrorismo de Es-tado. Como, então, entender o privilegiamen-to das forças armadas e da polícia como ins-trumentos de defesa dos direitos humanos?Como compatibilizar a idéia de humanos di-reitos com a defesa dos direitos humanos?Nenhum ser humano tem mais direito a nãoser torturado do que outro.

* Socióloga formada pela UNICAMP eProfessor da UNICAMP, respectivamente.

campo internacional, problemas como nar-cotráfico e crime organizado devem ser in-cluídos no domínio da defesa nacional.

No Brasil, é antiga a atuação das forças ar-madas para além de suas obrigações consti-tucionais de defesa em face à agressão exter-na, de manutenção da ordem e da integrida-de territorial e de preservação do patrimônionacional. Os mais de vinte anos de ditaduramilitar, a partir de 1964, são um exemplo.

Aqui, como em outras partes do mundo,as forças armadas são responsáveis por gran-de parte da ajuda humanitária às populaçõesameaçadas pela fome ou pelas guerras civis.No momento, o Brasil realiza esse tipo de aju-da no comando da “Missão de Paz” da ONUno Haiti. Em março de 2006, 1600 soldados(efetivo maior do que o deslocado para o Haiti)foram enviados a nove favelas do Rio de Ja-

neiro, para recuperarem armas roubadas deuma unidade militar. Cento e cinqüenta des-ses soldados integravam, até dezembro, a tro-pa brasileira em missão no Haiti. Segundooficiais militares, a participação no conflitodeu a esses homens mais preparo para a in-tervenção nas favelas.

Não raro esse tipo de ação gera mais des-respeito aos direitos humanos. Por exemplo,o Exército humanitariamente decidiu restau-rar a fachada de centenas de casas da favelado Morro da Providência (Rio de Janeiro- RJ).Em meados de junho, militares que cuidavamda segurança dos trabalhadores que restau-ravam as ditas fachadas teriam sido desacata-dos por três jovens moradores do Morro, queforam presos. Pouco depois, os corpos dosjovens foram encontrados. Os jovens tinham

Em setembro de 2007, em João Pessoa (PB),reuniram-se, ao mesmo tempo, o SeminárioFinal do Programa ALFA Human Rights Fa-cing Security, o III Encontro Anual da Andhep(Associação Nacional de Direitos Humanos– Pesquisa e Pós-Graduação) e o IV Seminá-rio Internacional de Direitos Humanos da Uni-versidade Federal da Paraíba (UFPB). O temadessa grande reunião foi “Democracia e edu-cação em Direitos Humanos em época de in-segurança”. Já na chamada de trabalhos semanifestava a preocupação em discutir eaprofundar o papel da educação superior eespecialmente da pós-graduação em direitoshumanos, bem como aprofundar a discussãosobre uma política de segurança nacional einternacional para a tutela dos direitos funda-mentais.

Em Campinas (SP), a associação entre en-sino superior e segurança nacional está pre-sente de forma bastante ampla. Em abril de2006, o Exército Brasileiro instalou um es-critório-piloto na Universidade Estadual deCampinas (Unicamp) para acompanhar par-cerias já em andamento ou a serem desen-volvidas. Para o pesquisador do Núcleo deEstudos Estratégicos da Unicamp, GeraldoCavagnari Filho, as parcerias entre o Exérci-to Brasileiro e instituições civis ligadas à pes-quisa são vantajosas para os dois lados: oExército não precisa realizar pesquisas quea universidade já tem prontas e a universi-dade pode ter verbas asseguradas com asparcerias.

Eliezer Rizzo, professor da UNICAMP, es-tabelece uma relação direta entre as preocu-pações do Exército e as questões de violên-cia destacadas na grande reunião de JoãoPessoa. Para ele, apesar do foco principal dasegurança nacional continuar voltado para o

A Insegurança NacionalJuliana de Oliveira Carlos e Sergio Silva*

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Projeto Memória

Visite nosso site: www.torturanuncamais-rj.org.br

Estamos lembrando os 40 anos doemblemático 1968 e a experiênciamarcante das mulheres na luta e

resistência contra a ditadura militar.Nesse número nossa homenagem a

três guerrilheiras que desapareceramno Araguaia.

LUIZA AUGUSTA GARLIPE

Nasceu em Arara-quara, interior paulista,onde estudou até com-pletar o Ensino Médio.Mudou-se para São Pau-lo para cursar Enferma-gem na USP, formando-se em 1964. Em segui-da, foi trabalhar no Hos-pital das Clínicas, che-gando ao posto de enfermeira chefe do De-partamento de Doenças Tropicais, tema emque se especializou. Realizou viagens deestudo pelo interior do país, percorrendo es-tados como Acre e Amapá. Atuante na mili-tância política contra o regime militar foimembro do PC do B.

No início de 1970, foi deslocada para oAraguaia, indo morar na região do rio Ga-meleira, integrando o Destacamento B. Ado-tou o nome de Tuca, desenvolvendo um in-tenso trabalho na área de saúde, em especi-al como parteira. Com a morte do médicoguerrilheiro – até hoje desaparecido - JoãoCarlos Haas Sobrinho tornou-se responsávelpelo setor de saúde da guerrilha.

Luiza Augusta foi executada em julho de1974, embora existam várias versões acercade sua morte.

TELMA REGINA CORDEIRO CORRÊA

Nascida no Rio deJaneiro, era casada comElmo Corrêa e cunhadade Maria Célia Corrêa,igualmente desapareci-dos na região do Ara-guaia. Era estudante deGeografia da Universi-dade Federal Fluminen-se, de onde foi expulsa em 1968 pelo Decre-to-Lei 477, devido a sua militância no movi-mento estudantil.

Como militante do PC do B, foi desloca-da para a região do Araguaia em 1971, jun-to com o marido, indo morar às margens dorio Gameleira, integrando o DestacamentoB. Adotou o nome de Lia, trabalhando comoprofessora alfabetizando crianças, jovens eadultos.

Segundo depoimentos colhidos junto à ca-ravana de familiares na região, ocorrida em1981, Telma teria sido presa na localidadede São Geraldo do Araguaia e entregue aoengenheiro do DNER, José Olímpio, que tra-balhava para o Exército. Passou à noite amar-rada no barco desse funcionário que a entre-gou aos militares em Xambioá.

Existem várias versões acerca da mortede Telma Regina, mas todas apontam parao seu assassinato na base do Exército deXambioá.

LÚCIA MARIA DE SOUZA

Estudante da Escola de Me-dicina e Cirurgia do Rio de Ja-neiro (atualmente UNIRIO)onde participava do movimen-to estudantil como militante doPC do B, foi responsável pelaimpressão e distribuição do jor-nal “A Classe Operária”, no Riode Janeiro, entre os anos de1969 e 1970.

Cursava o 4º ano da faculdade e era estagiária doHospital Pedro Ernesto, quando entrou para a clan-destinidade, indo viver na região do Araguaia, próxi-mo de Brejo Grande. Atuava no Destacamento A como nome de Sônia. Morreu em combate com uma pa-trulha do Exército no dia 24 de outubro de 1973. Oepisódio de sua morte é narrado pelo Relatório Ar-royo, pelo Dossiê do Centro de Informações do Exér-cito e pelo jornalista Elio Gaspari, em seu livro “ADitadura Escancarada”. Ao cair ferida perguntaram-lhe o nome, respondendo: “guerrilheiro não tem nomee luto pela liberdade”. Em seguida, o Comandante dapatrulha respondeu: “tu queres a liberdade, entãotoma...” – desfechando-lhe vários tiros.

SaudadeSérgio de Souza

Morreu em São Paulo, aos73 anos, o jornalista Sérgiode Souza, no dia 25 de mar-ço último. Serjão, como eraconhecido pelos amigos, de-dicou 50 anos à profissão.Criou as publicações “Rea-lidade”, “O Bondinho”, “Ex-” e, há 11 anos, a revista Caros Amigos, umareferência nacional para quem entende que nojornalismo o foco deve estar no ser humano enão no lucro das empresas privadas, como amaioria faz por aí. Serjão deixa sete filhos, deznetos e um a caminho, além da companheiraLana Novikow. Deixa também a certeza de quedevemos seguir “em frente”, como ele sempreescrevia aos amigos.

Germaine TillionGermaine Tillion nasceu em 30

de maio de 1907, em Allègre (Hau-te-Loire), na França, e morreu no dia19 de abril de 2008, pouco antes decompletar 101 anos, em Saint-Man-dé (Val-de-Marne), na grande Paris.Em 1942, denunciada como coman-dante do grupo da Resistência com base no Musée del’Homme (Paris), ela foi presa e enviada para Ravens-brük, juntamente com sua mãe, a escritora Emilie Tilli-on, que foi assassinada neste campo de concentração,em março de 1945. É conhecida pela importância desua obra de Etnologia e por sua luta em defesa dos direi-tos humanos, em particular contra a tortura durante aguerra colonial francesa na Argélia e, mais recentemente,contra a violência na ocupação do Iraque e pelo direi-tos dos imigrantes na França.

Militantes da LutaAntimanicomial

Choramos, neste mês de junhode 2008, a perda de dois militan-tes do Movimento da Luta Anti-manicomial. O Professor JoãoFerreira, gigante, João dos argu-mentos firmes mas generosos,nossa voz nesta academia tãoconservadora.

A segunda perda é a de Au-tragézilo Carrano, atingido pelamáquina manicomial, que emvida ousou doar seu corpo à estaluta. Foi autor do livro “Canto dosMalditos” que deu origem ao fil-me “Bicho de Sete Cabeças”.

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Não ao silêncio e aNa perspectiva daqueles que não se submeteram à

política de esquecimento, tão claramente enunciada nachamada Lei de Anistia, o importante não é simples-mente remontar às condições históricas daquele perío-do, mas entender como a questão da memória, do pas-sado e do futuro se colocam em uma sociedade latino-americana e, em especial, a brasileira onde as disputassociais parecem sempre terminar em pactos que trazemcomo pressuposto o silêncio sobre o passado.

Trata-se, pois, de entender como a história deve li-dar com estes conceitos e de que maneira podemos ar-ticular o passado com a ação política no presente. Tra-ta-se de entender que o que se acha em jogo é a sobre-

O eterO Dia Internacional de lutacontra a Tortura, também

chamado Dia Internacional deapoio às vítimas da Tortura é

comemorado anualmente desde1997.

Este dia foi instituído pelaAssembléia das Nações Unidas

a pedido do IRCT,Conselho Internacional paraReabilitação das Vítimas de

Tortura, na data de 26 de junho,dia em que entrou em vigor a

Convenção das Nações Unidascontra a Tortura, para lembrar

a luta dos povos contra estaprática intolerável,

mas amplamente generalizadaem todo o mundo. Desde então,

o GTNM/RJ realizaum evento no Rio de Janeiro,unindo sua força a de outras

organizações de direitoshumanos em cem países.

Para o ano de 2008, emparceria com o NEPP- DH,

Núcleo de Estudos de PolíticasPúblicas em Direitos Humanos

Duas citaçõelo escolhido pario, alusivo aoMemória”:

A primeira fatório que homenDireitos Humanodo, destacandonho” com que s

A segunda seentrevista dada retas do terror dNo original, o ado: “nosotros, a– o ‘además’ po‘além do mais’ gerindo que, natos humanos, o tuma função funpende do momque a pessoa fo

O relatório2 zar os problematidades enfrentaseu balanço, rerações internaci

RepaRepada UFRJ e com a Justiça Global,será apresentada uma exposição decartas de ex-presos políticos, defamiliares de mortos edesaparecidos, e de alguns usuáriosdo projeto clínico jurídico TNM/RJ,no Auditório Anísio Teixeira. Nestedia também será lançado um livroAtención integral a victimas detortura en procesos de litigio:aportes psicosociales, organizadopelo Instituto Interamericano deDireitos Humanos – IIDH, de CostaRica.

O evento terá lugar no dia 30 dejunho, segunda feira, a partir de 18h.Haverá uma mesa redonda noAuditório do CFCH, na AvenidaPasteur, fundos, Praia Vermelha,com o tema Reparação e Memória,com a abertura da Dra. SuelyAlmeida, e com a participação daProf. Jessie Jane, do Dr. EduardoLosicer, Dra. Tânia Kolker, Dr. PauloHenrique Telles Fagundes, Dr.Rafael Dias.

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O Instituto Interamerica-no de Direitos Humanos

(IIDH) com sede na CostaRica está lançando no

Brasil, em parceria com oGTNM-RJ e a Justiça Glo-

bal, a publicação AtençãoIntegral a vítimas de

tortura em processo delitígio – Aportes Psicosso-ciais. O lançamento acon-tecerá durante a comemo-

ração do Dia Internacional

de Luta contra a Tortura.

vivência, a perseverança na existência e nenhum mun-do humano perduraria após o curto período de vida dosmortais sem que os homens estivessem propensos a tes-temunhar o vivido. Nenhuma permanência, nenhumaperseverança da existência podem ser concebidas semhomens decididos a lembrar aquilo que lhes parece ina-bordável no passado. Não se prescinde do passado pelosimples exercício da decisão nem da inteligência; tam-pouco ele é convocado pelo simples ato de vontade. É,sobretudo, um ato de humanidade sem o qual a existên-cia humana não seria possível.

* Historiadora, Professora e atual Diretora do Instituto deFilosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ.

tas lutas não se cumprem nem para ga-rantir os direitos dos próprios defenso-res, motivando a insistente “sensaçãode fracasso” que os eminentes relato-res verificam aqui e ali.

Não obstante, o relatório também re-conhece que esta insistente violaçãodos direitos, que parece eterna, sem-pre encontrará, no seu avanço, umaúltima linha de invencível resistência:o obstinado testemunho que os movi-mentos sociais lhe opõem.

Por sua parte, o depoimento daque-la pessoa que sofreu as piores formasde violação também nos indica estelugar principal que lhe cabe como tes-temunho.

Quando nos diz que “además” somostestemunhas, nos alerta para o princípioque rege este lugar, que é para além dolugar da vítima, ou seja: o testemunhovivo para além da vítima sobrevivente.

A testemunha do terror de Estado é

um habitante de fronteira; o silêncio deum lado, a memória do outro. Quandoencontra quem o escute, ele produzmemória, isto é, produz um elo de me-mória coletiva que antes não existia. Di-zendo o indizível, a testemunha do ter-ror de Estado produz uma verdade ondenada havia. Produz justiça quando rom-pe a fronteira entre o clandestino mun-do da exceção e o falante mundo do di-reito. Com sua complexa função de darnome ao inominável, a testemunha serealiza no seu ‘devir visível’... diantedaquilo que antes éramos cegos. Nãoinforma nem comunica nada; apenasestabelece os fatos históricos. Se nãofosse seu depoimento, a história e a po-lítica seriam exclusivamente produzi-das pelos meios hegemônicos de comu-nicação e pelos centros formadores deopinião, tal como acontece hoje emtodo lugar.

Mesmo depois de anos e décadas delatência a testemunha perde o medo e sevinga.

O simples testemunho do que é atrozvinga sem ser vingança, repara sem serpunição, e serve, pelas conseqüênciasque provoca, sem ser servidão.

A palavra viva do testemunho, enfim,sempre retorna.

NOTAS1. Graciela Daleo, da Asociación de Ex Detenidos

Desaparecidos, em entrevista publicada pela Re-

vista Milênio N.5

2. Observatorio para la Protección de los Defen-

sores de los Derechos Humanos, Informe anual

2007.

* Psicanalista e Analista Institucional.

Eduardo Losicer*

o e ao esquecimentoJessie Jane Vieira de Souza*

eterno retorno do testemunhoções que fazem jus ao títu-para este breve comentá-ao evento “Reparação e

a faz referência a um rela-menageia os defensores dos

manos espalhados pelo mun-ndo “o obstinado testemu-ue sustentam sua causa.a se refere ao título de umada por uma das vítimas di-or de Estado na Argentina.o artigo1 está assim titula-s, además, somos testigos”’ pode ser traduzido como

ais’ ou ‘acima de tudo’, su- na eterna luta pelos direi-, o testemunho cumpre comfundamental porque inde-

momento e da maneira ema fora afetada.io2 está destinado a atuali-emas que as diferentes en-ntam pelo mundo afora. No, reconhece que as decla-

nacionais que fundaram es-

aração e Memóriaaração e Memória

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Página 8 • JORNAL DO GTNM/RJ 65 - JUNHO / 2008

Notas Indignadasviatura contou com o apoio da Fundação paraseu aprimoramento.

A nova viatura é um veículo blindado, ca-paz de resistir a tiros de fuzil, com design maisracional, refrigerado e mais confortável e po-derá vir a patrulhar as ruas e ser usado no des-locamento de detidos, informa a Faperj.

Na contra-mão das lutas dos movimentos soci-ais que desenvolvem constantes campanhas con-tra o uso do Caveirão pela Polícia Militar do Rio dejaneiro, vemos uma instituição de pesquisa comoa FAPERJ envolvida com um projeto desses.

Acreditamos que aceitar o uso do Caveirão,seja na versão atual ou “aprimorada” é aceitaro discurso de que as comunidades vivem uma‘situação de guerra’. Esse argumento é a prin-cipal desculpa utilizada pelo governo e pela po-lícia para justificar as execuções sumárias, ti-roteios indiscriminados e outras formas de vio-lência cometidas por forças policiais nas fave-las e periferias.

Sem Terra continuam sendomassacrados

Militante do Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST), Eli Dallemole, 42 anos,foi assassinado dentro da sua casa, no assenta-mento Libertação Camponesa, em Ortigueira/PR.

No dia 30 de março último, dois homens en-capuzados invadiram sua casa e executaram otrabalhador na frente da família. Este vinha sen-do ameaçado de morte há mais de dois anos.

Segundo os trabalhadores, esse grupo de pis-toleiros é comandado por um homem conheci-do como “Zezinho”, financiado por fazendeiros.

Moradores de rua são queimados emviaduto do Rio de Janeiro

Dois moradores de rua foram queimados namadrugada de 11 de maio deste ano sob o Via-duto dos Marinheiros, na Praça da Bandeira,zona norte do Rio de Janeiro. Uma jovem mor-reu no local, segundo informações prelimina-res da 20ª DP (Vila Isabel).

O outro morador de rua, um menino que apa-renta ter cerca de 16 anos, foi socorrido a tempoe encaminhado para o Hospital Souza Aguiar.

Governo do PT lança bombas contragreve dos professores no Pará

No dia 9 de maio de 2008, cerca de mil pro-fessores de vários municípios realizaram umgrande ato em Belém (PA), como parte das ma-nifestações da greve iniciada no dia 24 de abrilpor melhorias na educação.

A polícia de choque, criada pelo atual gover-no, avançou sobre a multidão com truculência iné-dita, lançando bombas de efeito moral, gás lacri-mogêneo, spray de pimenta e balas de borracha.Tudo isso nos lembra os anos da Ditadura Militar.

Denúncia contra arbitrariedades naPenitenciária de Itai.

Os mais de 1100 presos estrangeiros, de 74países, que se encontram detidos na Penitenci-ária de Itaí (SP), denunciam as péssimas condi-ções de vida, as arbitrariedades cometidas, as-

sim como a aparente xenofobia da autoridadejudiciária. Tais denúncias constam de uma car-ta redigida por esses presos, em junho de 2008.

Ver íntegra da carta no nosso site: www.torturanuncamais-rj.org.br

Tarso Genro diz e desdizO Ministro da Justiça, Tarso Genro, defen-

deu em 16 de maio último, durante solenidadeno terreno da antiga sede da União Nacionaldos Estudantes (UNE), o julgamento daquelesque cometeram crimes de tortura durante o re-gime militar.

Diante da forte reação dos militares produ-zida por esta declaração, o Ministro Tarso Genrovoltou atrás e, no dia seguinte, afirmou: “a pró-pria ditadura nunca defendeu a tortura”.

Militante da Rede Contra a Violênciaé ameaçado

José Luiz Faria da Silva, morador de Acari,pai do pequeno Maicon morto aos dois anos,em 1996, e militante da Rede Contra a Violên-cia, durante uma operação da PM à procura dearmas foi atingido e ameaçado pela CORE (Co-ordenação de Operações e Recursos Especiais)chamando-o de “defensor de traficantes” e fa-lando que ele “sabia onde estavam as armas”.Revistaram o local e nada encontraram.

O que aconteceu a José Luiz é mais umamostra do cotidiano de desrespeito e intimida-ção em que vivem os moradores de favelas eperiferias no Rio. Demonstra como é difícil or-ganizar e manter um movimento contra a vio-lência policial dentro das próprias comunidades.

Faperj financia Máquina da morte

No Boletim informativo, nº 171, do dia 27/12/2007, a FAPERJ - Fundação Carlos ChagasFilho de Amparo à Pesquisa no Estado do Riode Janeiro noticiou a criação da chamada Via-tura Blindada Tática Leve (VBTL), uma versãoaprimorada do famoso Caveirão, máquina damorte muito conhecida das populações pobresdo Rio de Janeiro. A notícia por si só já seriaestarrecedora por ser veiculada no Boletim In-formativo de um órgão de pesquisa como aFAPERJ, mas mais estarrecedor foi saber que a

(In) Segurança Pública no Rio:Um ano da chacina no Alemão

Várias organizações e movimentos sociaisatravés de nota repudiaram a declaração “APM é o melhor inseticida social”, feita pelocomandante do 1º Comando de Policiamentode Área, coronel Marcus Jardim, no dia 15 deabril do corrente ano, ao se referir à ação daPM na Vila Cruzeiro, onde foram mortas novepessoas e feridas mais seis. O coronel eviden-cia a concepção de segurança pública comoforma de “limpeza social”, ancorada na práti-ca de criminalização da pobreza.

Diversas foram as declarações na área dasegurança pública em período recente queafirmam uma mentalidade política beligeran-te, militarizada e, por vezes, racista e eugê-nica. Como emblemático exemplo se podelembrar a afirmação do próprio governador,Sérgio Cabral, em 24 outubro de 2007, acer-ca da Rocinha e a taxa de natalidade: “Épadrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábricade produzir marginal”. Da mesma maneira,ocorreram inúmeras operações policiais re-alizadas no ano passado, como a mega-ope-ração do Complexo do Alemão, em 27 dejunho 2007, que atingiu 19 pessoas, sobre aqual o Secretário de Segurança Pública doRio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afir-mou que “tiro em Copacabana é uma coisae, no Alemão, é outra”.

Tais práticas em matéria de militarizaçãoda segurança pública cultivam uma cultura“espiral de violência” e induzem a uma ló-gica de extermínio, violando os direitos hu-manos e não promovendo a segurança dapopulação.

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AconteceuFamília de Luiz Merlinotem sua ação contraBrilhante Ustra suspensapelo MP/SP

O juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª VaraCível de São Paulo, acolheu o pedido de aber-tura de uma ação que pretende declarar a res-ponsabilidade do coronel reformado do Exérci-to Carlos Alberto Brilhante Ustra pela morte dojornalista Luiz Eduardo Merlino, aos 23 anos,em julho de 1971, no interior do DOI-CODI/SP.

Merlino era jornalista e militante do PartidoOperário Comunista (POC). Foi preso e barba-ramente torturado naquele local.

A decisão do juiz tomada no último dia 04de abril, coloca em discussão a interpretaçãoda Lei de Anistia de 1979. Entretanto, o Coro-nel Ustra apresentou, baseado erroneamente namesma Lei da Anistia, uma contestação à estaação declaratória. Tal contestação foi aceitapelo Ministério Público de São Paulo que, tem-porariamente, suspendeu o pedido da famíliaMerlino.

Contra a homofobia noExército

Laci de Araújo e Fernando Alcântara, sar-gentos do Exército, acusados de deserção, fo-ram presos e afirmam que as acusações nãopassam de pretextos para encobrir o precon-ceito, a discriminação e a homofobia por partedas Forças Armadas Brasileiras.

O fato de o sargento Laci ter comparecido,no dia 29 do maio do corrente ano, ao médicoprova que não havia abandonado as ForçasArmadas. Quanto a ausência do sargento Fer-nando de seu posto de trabalho, seus superio-res sabiam que ele estava em São Paulo dandoassistência ao companheiro; portanto, tinhamcompleto conhecimento de seu paradeiro e domotivo de sua ausência.

No entanto, os militares foram presos emuma situação de grave violação aos direitos hu-manos por serem homossexuais.

MP estuda ação contrasuspeitos da morte deHerzog

O Ministério Público Federal estuda a aber-tura de ação criminal por homicídio contra ocoronel da reserva Audir Santos Maciel e o ex-investigador de polícia Pedro Antônio MiraGrancieri. Os dois são suspeitos de participa-ção na morte do jornalista Vladmir Herzog, em25 de outubro de 1975. A iniciativa é inédita noMinistério Público Federal e faz parte da novaconcepção e interpretação dos procuradores arespeito da Lei da Anistia, de 1979.

Também em São Paulo, seis procuradores daárea cível ajuizaram ação contra Maciel e ocoronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, na qualpedem que eles sejam responsabilizados finan-ceiramente pelas reparações pagas pela Uniãoaos atingidos pela ditadura militar, aos mortos,desaparecidos ou torturados no DOI-CODI/SP.Ustra e Maciel comandaram este órgão da re-pressão de 1970 a 1976, quando 64 pessoasmorreram ou desapareceram no local.

II Fórum Internacional de Saúde

Coletiva, Saúde Mental e

Direitos Humanos na UERJ

O GTNM/RJ organizou e participou de qua-tro mesas redondas. Uma sobre “O caso Da-mião Ximenes e os mecanismos de monitora-mento de instituições asilares e serviços de saú-de mental” e outra sobre “Reparação e Memó-ria: um processo em construção”. A terceirareferia-se à “Tortura ontem e hoje” e a últimasobre os “Limites do Terror”. Nesta, foi atingidoo propósito de construir pontes entre as experi-ências históricas do Brasil e da Argentina vivi-das em épocas de ditadura e terror de Estado eem épocas atuais. Passado e presente da vio-lência de Estado em ambos países foram rela-tadas mediante um significativo painel da situ-ação do Brasil e o testemunho trazido pelo Juizargentino que participou de um julgamento his-tórico, na medida em que demonstrou a possi-bilidade do fim do medo produzido pelo “eter-no retorno do testemunho”.

Membros da Equipe Clínico-grupal TorturaNunca Mais coordenaram uma oficina “Clíni-ca e Direitos Humanos”.

40 anos de 68 na UFF

Em 29 de maio último, o GTNM/RJ estevepresente em uma das mesas redondas do even-to “40 anos de 1968”, uma realização do Dire-tório Acadêmico Evaristo da Veiga da Faculda-de de Direito/UFF.

Cerca de 200 estudantes compareceram àsolenidade no Salão Nobre da Faculdade e de-monstraram grande interesse pelo tema.

UFRJ e os 40 anos de 68

No dia 13 de maio do corrente, na UFRJ, oGTNM-RJ participou do Seminário”Nós queamamos tanto a revolução 1968- 40 anos”.

Os trabalhos foram iniciados com a exibi-ção do filme “Oito Universitários”, de CacáDiegues (1967) e o tema escolhido pelo GTNM-RJ foi: “O que fizemos com a experiência de68?”

Brasil é responsabilizadopor torturas e execuçõespela ONU

Em 12 de abril último, o escritório da Orga-nização das Nações Unidas (ONU), em Gene-bra, cobrou do governo brasileiro políticas efe-tivas para a eliminação da tortura e das execu-ções sumárias.

A ONU criou um sistema de avaliação noque diz respeito à política de segurança públi-ca e às violações dos direitos humanos. Segun-do o relatório da entidade, no Brasil persistemcrimes como a tortura, a discriminação racial eoutros tipos de violações.

O representante do governo britânico sali-entou que o governo brasileiro não pode ape-nas planejar é preciso apresentar ações.

GTNM/RJ, Presente!

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Página 10 • JORNAL DO GTNM/RJ 65 - JUNHO / 2008

ARGENTINAMais um teatro foi desmascarado: foram apre-

sentadas fotos inéditas do massacre de Trelewocorrido em 1972, provas fundamentais para ojulgamento do assassinato de prisioneiros, quedurante todos estes anos foram dadas como ine-xistentes pela Marinha. Recentemente altos ofi-ciais da Marinha deram ordens para a destrui-ção das provas para encobrir sua responsabili-dade no massacre. Mas, através de uma denún-cia anônima essas provas foram enviadas parao responsável pelo processo. Fotos dos cadá-veres com o selo da Marinha indicavam que adocumentação fazia parte do dossiê que fun-damentou por anos a posição oficial, inverídi-ca, de que as mortes teriam decorrido de tenta-tiva de fuga e tiroteio. Isso comprova que a do-cumentação que os militares se recusaram aapresentar ao juiz federal eram falsificadas parajustificar os assassinatos e ocultar o trabalho sujoque faziam.

As avós da Praça de Maio comemoraram nomês de maio a identificação da 90ª neta, den-tre as cerca de 500 crianças seqüestradas pe-los repressores. Trata-se da terceira filha de umcasal de desaparecidos, Laura, nascida na Es-cola de Mecânica da Armada, o maior campode concentração argentino. Seus irmãos poucomais velhos também levados à ESMA, foramposteriormente deixados em cidades distantespara evitar que pudessem se encontrar. Laurafoi apropriada pelo torturador de seus pais, An-tonio Azic, membro do grupo de tarefas daESMA, que já havia se apropriado de outracriança dois anos antes. Esta última, VictóriaDonda recuperou sua identidade em 2004 e hojeé deputada federal.

E, em abril último, pela primeira vez, umafilha de desaparecidos que havia sido seqües-trada ao nascer denunciou este fato levando ajulgamento o militar que a entregou a seus paisadotivos. Os réus, os pais adotivos e o militar,foram acusados dos crimes de subtração de me-nor, falsificação de documento público e supres-são da identidade de Maria Eugenia que inte-gra a lista dos jovens aos quais as Avós da Pra-ça de Maio conseguiram restituir a identidade.

O Grupo TorturaNunca Mais/RJ agra-dece à Comissão Eu-ropéia o apoio quetem dado ao seu Pro-jeto Clínico-Jurídico.

URUGUAINo dia 27 de junho, anualmente, os uruguai-

os manifestam sua dor e seu repúdio ao golpeditatorial que impôs ao país o regime de terro-rismo de Estado. Os efeitos desta violência, ins-taurada há 35 anos, se prolongam até os diasatuais com a mentira, o silêncio e a impunida-de que pesam sobre os crimes cometidos e aco-bertados pela lei da Anistia uruguaia, chamadalei da “Caducidad”. Ainda que nos últimos anosalguns avanços no campo da verdade e justiça

Nossa América Latina Clama por Reparação Integral: Verdade, Memória e Justiça

Nossa América Latina

Nacional e a Antiterrorista, herdadas da ditadu-ra e atualmente aplicadas como uma nova rou-pagem da velha repressão, que se espalha comopraga nos dias atuais em vários países da Améri-ca Latina. Durante a ditadura de Pinochet osmapuches foram expulsos e seus territórios ex-propriados e vendidos às empresas. Nos temposde Bachelet, como nos governos que a antece-

deram, os mapuches continuamlutando pela recuperação e de-fesa de suas terras, incansáveisbatalhadores na preservação dasflorestas, da natureza de sua cul-tura e tradições. A resposta maiseficaz do Estado tem sido a demaus-tratos, discriminações, pri-sões, torturas. Além de submeti-dos às atrocidades, cometidas porseguranças particulares de gran-des empresas e por policiais, têmsido julgados com base na lei an-titerrorista, que funciona para cri-minalizar e punir os pobres e aosmovimentos sociais que protes-tam contra as injustiças.

CHILEO caso Victor Jara, famoso cantor popular

assassinado logo após o golpe militar de Estadonum estádio de futebol em Santiago, foi recen-temente reaberto devido à mobilização de ar-tistas chilenos e de todo o mundo. Ainda nestemês de junho, foram condenados nove milita-res pela exumação ilegal em 1978 de restosmortais de presos políticos, que estavam noPalácio presidencial no dia do golpe e que ha-viam sido transferidos e fuzilados em uma basemilitar próxima a Santiago. Este episódio, co-nhecido como “retirada de televisores”, con-sistiu na exumação de corpos para desapare-cer com eles definitivamente. Este crime foiconsiderado pelo tribunal que o julgou como“um crime de lesa-humanidade, por ofender ossentimentos mais íntimos do ser humano comoo direito a uma sepultura cristã ou um enterrodigno a sua condição de pessoa, e que em ra-zão disso contraria os princípios gerais do di-reito e se transforma em uma preocupação dacomunidade internacional”.

Em contrapartida, o povo mapuche, no Chile,tem sido submetido a leis, como a de Segurança

tenham ocorrido, esta lei continua bloqueandoa independência do poder judicial.

A proposta de “reconciliação” entre uruguai-os que estiveram em campos opostos na ditadu-ra, a partir da defesa da teoria dos dois demôni-os, tenta ser imposta como política de silencia-mento mas, em contrapartida, tem sido repudia-da por forças sociais que afirmam que as feridasnão cicatrizarão enquanto a verdade continuarseqüestrada e a justiça não for efetivada.

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Página 11 • JORNAL DO GTNM/RJ 65 - JUNHO / 2008

Nossa América Latina

de Estado e como tal imprescritível.As associações de direitos humanos e de fa-

miliares filiadas à FEDEFAM têm intensificadoesforços junto a organismos nacionais e

internacionais, no sentido de se ado-tar instrumentos que conde-

nem tais práticas e ado-tem medidas jurídicas epolíticas para a tipifica-ção do delito de desa-parecimento forçado.

Em alguns países hárecomendações paraque os responsáveis, di-retos ou indiretos, portais crimes sejam leva-dos a juízo e se reco-menda reparação inte-

gral às vítimas e seus fa-miliares, como estabelece a

Convenção de Desapareci-mentos Forçados, aprovada em

2006, pela Assembléia Nacionaldas Nações Unidas (ONU).

A FEDEFAM convoca as associ-ações filiadas a participar desta luta, pois muitostorturadores do passado nunca foram processa-dos e outros mantêm, ainda hoje, cargos gover-namentais.

Julgamento de repressores em Córdoba

Começou em Córdoba, no dia27 de maio o primeiro julgamentopúblico contra Luciano BenjamínMenéndez e parte do grupo de ta-refas que atuou no campo de con-centração conhecido como “LaPerla” no período da Ditadura Mi-litar na Argentina, entre 1976 e1983. Eles serão julgados por se-questro, desaparição, tortura e as-sassinato de Hilda Flora Palacios,Humberto Horacio Brandalisis,Carlos Enrique Lajas y Raúl OscarCardozo. De acordo com os orga-nismos de direitos humanos de Cór-doba, “32 años fue demasiada es-pera”. Menéndez também serásubmetido a julgamento em outrasprovíncias da Argentina.

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XXVII Semana Internacional do Desaparecido26 a 31 de Maio 2008

A semanado Desapare-cido foi criadajunto com a fun-dação da Federa-ção Latino-americanade Desaparecidos e Pre-sos – FEDEFAM - em 1981.Foram anos em que os desapare-cimentos se intensificaram nos paí-ses onde se instalaram ditadurascomo no Brasil, Bolívia, Chile, Ar-gentina, Uruguai e Paraguai.

Os desaparecimentos não são umproblema do passado. Ainda continuaessa prática seletiva e sistemática emvários países e, de forma massiva, noBrasil, na Colômbia e México, porexemplo. Cabe destacar que os gover-nos latino-americanos contam com oapoio e assessoria direta do governo dosEEUU, através da Escola das Américas,onde mais de cinqüenta mil militares la-tino-americanos foram treinados no com-bate contra guerrilha.

Após 27 anos, a FEDEFAM confirma que hácerca de 140 mil casos de presos – desapareci-dos na América Latina. O desaparecimento for-çado é um crime de lesa-humanidade, crime

A Rede Latino-Americana de Saúde e Di-reitos Humanos, da qual a Equipe Clínica Tor-tura Nunca Mais/RJ faz parte, teve seu Encon-tro anual em Tegucigalpa durante os dias 2 a 6de junho. os representantes da Equipe ClínicaTNM/RJ, Tãnia Kelker e Vera Vital Brasil, esti-veram presentes e também participaram da IJornada de Capacitação Avançada de Serviçosde Saúde para sobreviventes da Tortura.

Os temas centrais deste encontro, Torturasexual e efeitos transgeracionais da tortura, fo-ram sistematizados com a apresentação de ca-sos clínicos que ilustravam os modos de abor-dagem e intervenções, expostos pelos represen-tantes das quinze entidades lá presentes.

Encontro em Tegucigalpa

Operação Condorinvestigada também noBrasil

O Ministério Público Federal de São Paulopediu a abertura de inquéritos criminais con-tra as autoriadades envolvidas na OperaçãoCondor. O objetivo é atuar junto com as auto-ridades italianas que também estão investigan-do a Operação. Segundo os representantes doMPF, em nota ao jornal O Globo de 24 de ju-nho de 2008, “a Lei de Anistia não se aplicaaos organismos de repressão. Além disso, porse tratar de crimes contra a Humanidade nãohá prescrição dos casos”. Os procuradorespedem a apuração dos sequestros dos ítalo-argentinos Horácio Domingo Campiglia e Lo-renzo Viñas e da argentina Mônica Susana Pi-nus de Binstock.

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GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ

Rua Gal. Polidoro, 238 sl. - Botafogo22280-000 RJ/Brasil – Tel/Fax (021) 2538 0428

IMPRESSO

eram trabalhadores com carteira assinada e quea incursão policial se deu com o objetivo deapreensão de um fuzil que estava com um dosmortos, fuzil este que não chegou à delegacia,conforme nos dá conta a matéria estampada nojornal O Globo de 27 de novembro passado.Os corpos de seus parentes foram jogados naschamas produzidas por uma das motocicletasincendiada pelos policiais.

Por estes cadáveres, como pelos outros 1.330mortos “em confronto com a polícia”, os agen-tes do Estado ainda irão receber gratificações,por ato de bravura.

Diante deste assombroso quadro, com todosestes mortos e feridos, somos levados a indagardas autoridades constituídas ou daqueles quese sintam capazes de responder, em que localdo Estado do Rio, o crime, em qualquer de suasmodalidades, recuou? A resposta é simples. Emnenhum.

É ou não é uma máquina sangrenta e carade enxugar gelo?

* Advogado, presidente exonerado da Comissão deDireitos Humanos da OAB-RJ, presidente do Institu-

to de Defensores de Direitos Humanos-DDH

Nota da Redação: Quando o Dr. João Tancredo es-creveu este artigo ainda não havia ocorrido a mortedos três jovens entregues pelo Exército a traficantesdo Morro da Mineira (RJ).

incluindo os mortos em outras atividades – mi-lícias, seguranças privadas, etc), enquanto queaté novembro de 2007 foram sete policiais mor-tos. Um aumento na ordem de 600%.

Pode-se concluir que a tentativa de militari-zar o combate ao narcotráfico é cara e compro-vadamente ineficiente. O Estado mata com oargumento de que está combatendo o narcotrá-fico e não realiza qualquer investimento em po-líticas públicas, não criando opções para os mo-radores das áreas miseráveis. O estigma de fa-velados vive o seu apogeu, onde favela é sinô-nimo de moradia de criminoso. Em linguagemsociológica é a “criminalização da pobreza”.

Para se ter uma idéia do quadro sócio/eco-nômico destas comunidades, veja-se que a ren-da média no Complexo do Alemão é de meiosalário mínimo, sendo que a dos 20% mais po-bres é de R$ 28,00/mês (menos de R$ 1,00 pordia), segundo dados da Prefeitura do Rio. Já 29%da população do Complexo sobrevivem abai-xo da linha de pobreza, um índice ainda maiorde miséria que na Cidade de Deus (25%), naMaré (24%) e na Rocinha (22%).

Sem qualquer outra oportunidade, os meni-nos que moram nestas comunidades são os he-róis modernos, pois não sucumbir ao “fascínio”do poder que o tráfico proporciona, sem qual-quer apoio ou incentivo do Estado, é um ato deheroísmo.

Não consigo terminar o artigo, pois abro osjornais e novas informações sobre mortos e fe-ridos nos chegam. Em Vigário Geral, seis ho-mens morreram em uma operação do 16º BPM(Olaria) na favela Furquim Mendes. Segundo aPM, os policiais entraram para uma ação decombate ao tráfico e trocaram tiros com trafi-cantes em motos. No tiroteio, uma das motosexplodiu, carbonizando os dois ocupantes. Ou-tros três homens foram feridos por tiros. Todosforam levados para o HGV, mas não resistiram.

(...) Fomos até lá, recebendo de moradores eparentes das vítimas informações de que os fa-tos se deram de forma inteiramente diferentedo que consta no auto de resistência lavrado.As famílias comprovam que quatro dos mortos

Com o título “polícia mata mais”, o jornal OGlobo, do último dia 12 de janeiro, publicoumatéria dando conta que o número de registroscom mortes em confronto com a polícia aumen-tou em 18,5% em relação ao ano de 2006. Em2007, foram registradas 1.330 mortes. O preocu-pante é que nestes dados somente estão as infor-mações obtidas junto às delegacias legais. Con-siderando que 31,5 % das delegacias existentesainda não são informatizadas, em especial poratenderem áreas significativas do Rio (39ª Pavu-na e 27ª Vicente de Carvalho, parte do Comple-xo do Alemão) os números são muito mais ele-vados. Pode-se concluir que o número de mor-tes que motivam a lavratura dos chamados “au-tos de resistência” é muito superior.

Somente em 2007, no Complexo do Alemão,de maio - início da ocupação policial - até o fimde outubro foram mortas 49 pessoas e outras 89foram feridas. Entre os dias 3 e 5 de setembro de2007, as favelas de Vigário Geral e do Jacarezi-nho foram tomadas por tiroteios. De acordo coma PM, em três dias de confrontos, 22 pessoas fo-ram mortas e todas seriam criminosas.

O atendimento à população de feridos pordisparos de armas de fogo, ainda em relaçãoao ano de 2006, comprova que houve signifi-cativo aumento, segundo dados fornecidos porum diretor do Hospital Getúlio Vargas (HGV),que fica próximo ao Complexo. Até o final denovembro de 2007, 689 casos foram atendidosneste hospital, significando 45,6%, a mais emrelação ao ano anterior. Ocorreram 107 mortesem 2006 e até novembro de 2007, foram 178,com um aumento de 66,3%.

Segundo os jornais, um dos motivos para oaumento de mortos e feridos, é a incursão dapolícia no Complexo do Alemão. Oficialmente,a Secretaria de Segurança Pública do RJ infor-mou que o objetivo não é ferir ou matar pesso-as, mas desarmar criminosos para impedir quea situação se agrave. Na verdade, não é bemassim que as coisas acontecem.

Conforme extraímos de nossa fonte, a polí-cia que mais mata é também a que mais morre.Em 2006 morreu um policial em confronto (não

Máquina, sangrenta e cara, de enxugar geloJoão Tancredo*