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Renato Ferrão

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Renato Ferrão

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Chiado 8 – Arte Contemporânea, inaugurado em janeiro de 2002, é um projeto da Companhia de Seguros Fidelidade Mundialque, aproveitando a localização privilegiada de um dos seus edifícios centrais, decidiu participar nas iniciativas de reabilitaçãodo Chiado através da criação de um espaço de divulgação da arte contemporânea.

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Peças de substituição

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Bruno MarchandGLOSSÁRIO

ATRITO adj (lat attritu) Que tem atrição; arre-pendido, compungido, pesaroso de haverpecado. sm 1 Resistência que um corpo de-senvolve quando sobre ele se move outrocorpo. 2 Fricção. 3 Desinteligência. A. ciné-tico: o mesmo que atrito de escorregamento.A. estático, Tecn: a força entre dois corposem contacto, que resiste à iniciação do mo-vimento deslizante de um sobre o outro; aforça necessária para induzir um dos corposa começar a mover-se quando em repouso;atrito de aderência; atrito de arranque.

Dicionário Michaelis online.

DUPLO “Sobrinho de Electrião, rei de Micenas,Anfitrião desposou a filha deste, Alcmena. De-pois de ter matado acidentalmente Electrião,refugiou-se em Tebas com a mulher, e daíconduziu com êxito uma campanha contraos Teléboas e os Táfios, para vingar os irmãosde Alcmena, que aqueles tinham aniquilado.Na noite da vitória, Zeus, depois de ter dadoordem a Hélios de não brilhar por três dias,aproxima-se de Alcmena, disfarçado de An-fitrião. O próprio só chega mais tarde, cau-sando assim a maior confusão no ânimo daesposa. Por aviso divino, Anfitrião vem a saberque, dos gémeos depois nascidos, Íficles éseu filho e Hércules descendente de Zeus.”

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, 2.º Vol., Lisboa, Editorial Verbo, 1988, p. 260.

EIXO s. m. (latim axis, -is) 1 Linha reta (real ouimaginária) que divide em duas partes iguaisou simétricas os corpos ou as superfícies. 2 Linha em torno da qual um corpo executaou pode executar um movimento de rotação.3 Linha reta imaginária que passa pelo cen-tro da alma de uma arma, do fuste de umacoluna, etc. […] 6 [Geometria] Linha que divide ao meio certas figuras geométricas. 7 [Mecânica] Peça em torno da qual gira ocubo de uma roda.

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

ESTRANHEZA “Um efeito de estranheza éfrequente e facilmente produzido quando adistinção entre imaginação e realidade é su-primida, como quando algo que até entãohavíamos considerado como imaginárioaparece realmente perante nós, ou quandoum símbolo assume totalmente as funçõesdaquilo que simboliza, e por aí fora. Este fatorcontribui bastante para o efeito de estranhezaque associamos à magia. O elemento infan-til que ele contém, e que também domina amente dos neuróticos, é a sobrevalorizaçãoda realidade psíquica comparativamente àrealidade material – uma característica inti-mamente ligada à crença na omnipotênciade pensamentos.”

Sigmund Freud, The Uncanny,web.mit.edu/allanmc/www/freud1.pdf

ESTRUGIR“[…]Em febre e olhando os motores como a uma

Natureza tropical – Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e

força – Canto, e canto o presente, e também o

passado e o futuro,Porque o presente é todo o passado e todo

o futuro E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e

das luzes eléctricasSó porque houve outrora e foram humanos

Virgílio e Platão, E pedaços do Alexandre Magno do século

talvez cinquenta, Átomos que hão-de ir ter febre para o

cérebro do Ésquilo do século cem, Andam por estas correias de transmissão e

por estes êmbolos e por estes volantes,Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo,

ferreando, Fazendo-me um excesso de carícias ao

corpo numa só carícia à alma.[…]”

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Álvaro de Campos, “Ode triunfal”, in Poe-sia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, pp. 81-82.

FANTASIA “A fantasia permite pensar algoque anteriormente não existia, sem quais-quer limites, inclusive algo que não seja rea-lizável na prática. Um exemplo é o dragão deSão Jorge, que é um animal que não existede facto, mas que é feito de partes de animaisexistentes. […] Contrariamente, a invençãodedica-se à produção de mecanismos semse preocupar se eles são ou não belos, masapenas se eles funcionam perfeitamente. A fantasia opera na memória fazendo rela-ções e nexos entre aquilo que conhecemospara produzir algo desconhecido e imprati-cável. […] A estimulação da criatividade faz--se pela experimentação... Eu preocupo-mesempre que um brinquedo possa ser mani-pulado pela criança e que não sirva apenaspara olhar.”

Bruno Munari, Universidade de Veneza, 1992.

FOLGA sf (der regressiva de folgar) 1 Ato defolgar. 2 Descanso, tempo de descanso.3 Recreio. 4 Ócio. 5 Interrupção no trabalho.6 Desafogo, largueza. 7Mec Intervalo quepermanece entre duas peças ajustadasuma a outra.

Dicionário Michaelis online

FÓSFORO (VERDE) “O método de visão no-turna implica a amplificação da luz disponí-vel para conseguir visão melhorada. Paratal, uma lente capta a luz disponível (fotões)para o fotocátodo de um intensificador deimagem. A energia luminosa faz com que selibertem eletrões do cátodo que são poste-riormente acelerados por um campo elétrico,aumentando a sua velocidade (nível de ener-gia). Estes eletrões entram depois numaplaca de microcanais, embatendo nas suasparedes especialmente revestidas, gerandomais eletrões e criando uma ‘nuvem’ mais

densa que representa uma versão intensifi-cada da imagem original. A fase final do inten-sificador de imagem implica que os eletrõesembatam num ecrã de fósforo. A energia pro-duzida por esse embate faz o fósforo brilhare a sua luz pode ser captada por uma câmarade vídeo ou fotográfica. Estas aplicações utili-zam fósforo verde porque o olho humano podedistinguir mais tonalidades de verde do quede qualquer outra cor, permitindo uma maiordiferenciação dos objetos na imagem.”

http://www.hownightvisionworks.com/

FRAGMENTO “Na arte recente, a noção mo-dernista de fragmento como microcosmosdeu lugar a uma vontade de deixar os frag-mentos serem fragmentos, de permitir quea parcialidade exista. Como é o caso do for-malismo desconfortavelmente disfuncionalde Nauman, a plenitude é algo com que ape-nas podemos gozar, e a imagem da plenitudeapenas um comentário patético ao utopismodo período moderno. […] O artista surrealistaHans Bellmer construiu, nos anos 1930, ummodelo à escala real de uma jovem mulher.Este modelo era totalmente articulado e assuas diferentes partes podiam ser acopladasde inúmeras formas. Ele fez também outraspeças que podiam ser adicionadas ao modelode modo a que este tivesse, se desejado,múltiplos de algumas das suas partes cons-tituintes. […] A ‘boneca’ é uma perfeita ilus-tração da noção bellmeriana do corpo comoanagrama: o corpo como uma espécie defrase que pode ser revolvida uma e outra vezpara produzir novos significados. ‘O pontode partida do desejo, no que respeita à inten-sidade das imagens’, escreveu Bellmer, ‘nãoestá na plenitude percetível mas antes nodetalhe... O ponto essencial a reter do mons-truoso dicionário de analogias/antagonis-mos que constitui o dicionário das imagensé que um dado detalhe, como uma perna, épercetível, acessível à memória, disponível,

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enfim, real, apenas se o desejo não o enten-der fatalmente como uma perna. Um objetoque é idêntico a si mesmo está privado derealidade.’”

Mike Kelly, “Playing with Dead Things: Onthe Uncanny”, in Foul Perfection: Essays andCriticism, Cambridge Mass., MIT Press, 2002,pp. 84-85.

GRACIOSIDADE “‘Agora, meu prezado amigo’,disse o meu companheiro, ‘você está emposse de tudo o que precisa para seguir omeu argumento. Podemos ver, então, que,no mundo orgânico, à medida que o pensa-mento se retrai e enfraquece, a graciosidadeirrompe mais brilhante e decisiva. Mas assimcomo uma secção desenhada através deduas linhas de repente reaparece do outrolado, depois de passar pelo infinito, ou comoa imagem num espelho côncavo reaparecefrente a nós depois de se ter esvaído na dis-tância, também a graciosidade retorna maispoderosa quando o conhecimento se torna,ele mesmo, ilimitado. A graciosidade aparecemais pura naquilo que ou não tem consciên-cia de todo, ou tem uma consciência infinita.Isto é, na marioneta ou em Deus.’”

Heinrich von Kleist, On the MarionetteTheatre, 1810.

http://www.southerncrossreview.org/9/kleist.htm

ÍNDEX “Um índex é um signo que se refereao Objeto que denota em virtude de ter sido,de facto, afetado por esse Objeto. Não podeser, portanto, um Qualisigno, uma vez que asqualidades são o que são independentementede tudo o resto. Porquanto o Índex é afetadopelo Objeto, eles têm necessariamente quepartilhar uma Qualidade e é nesse sentidoque o primeiro se refere ao segundo. O Índexenvolve, portanto, uma espécie de Ícone,embora um Ícone bastante singular; e não éa mera semelhança com o Objeto que o torna

um signo, mas antes o facto de por ele tersido modificado.”

Charles S. Peirce, A Syllabus of Certain Topics of Logic, EP 2:291-292, 1903.

INTERVALO “Os intervalos (as transições deum movimento a outro) são o material, sãoos elementos da arte do movimento e nuncaos movimentos eles mesmos. São eles (osintervalos) que levam o movimento a umaresolução cinética. A organização do movi-mento é a organização dos seus elementos,ou dos seus intervalos, em frases. Em cadafrase há um crescendo, um ponto alto, e umdecrescendo (expresso em vários estádios)de movimento. Uma composição é feita defrases, assim como uma frase é feita de in-tervalos de movimento.”

Dziga Vertov, “WE: Variant of a Manifesto”,in Kino-Eye: The Writings of Dziga Vertov,Berkeley, University of California Press, 1985,pp. 8-9.

MÁQUINA “A máquina deixa-nos envergonha-dos pela falta de habilidade do homem parase controlar a si mesmo, mas o que podere-mos nós fazer se a infalibilidade da eletricidadeé mais excitante do que a pressa desorde-nada do homem ativo e a inércia corruptorado homem passivo? Serras dançando numaserraria trazem-nos um mais íntimo e inteli-gível prazer do que aquele que encontramosnas pistas de dança. Pela sua incapacidadepara controlar os seus movimentos, NÓS ex-cluímos temporariamente o homem comotemática para o filme.

O nosso caminho atravessa a poética dasmáquinas, do cidadão periclitante ao maisperfeito homem elétrico.

Ao revelar a alma da máquina, ao levar o tra-balhador a amar a sua bancada, o camponêso seu trator, o engenheiro o seu engenho –nós introduzimos o prazer criativo em todoo trabalho mecânico, nós aproximamos as

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pessoas das máquinas, nós promovemosnovas pessoas. O novo homem, livre da suainabilidade, terá os movimentos leves e pre-cisos das máquinas e será uma temática gra-tificante para os nossos filmes.

Reconhecendo abertamente o ritmo dasmáquinas, o maravilhamento do trabalhomecânico, a beleza dos processos químicos,NÓS cantamos terramotos, compomos filmesépicos sobre centrais elétricas e chamas,regozijamo-nos no movimento dos cometase dos meteoros e dos gestos dos holofotesque deslumbram as estrelas.

Todo aquele que se preocupa com a suaarte procura a essência da sua técnica. […]

Viva a geometria dinâmica, a corrida dospontos, linhas, planos, volumes.

Viva a poética das máquinas, impulsiona-das e guiadas; a poética das alavancas, rodase asas de aço; o choro ferroso dos movimen-tos; as caretas ofuscantes dos fluxos quen-tes e rubros.

Dziga Vertov, “WE: Variant of a Manifesto”,in Kino-Eye: The Writings of Dziga Vertov,Berkeley, University of California Press, 1985,pp. 8-9.

MOVIMENTO A tartaruga desafiou Aquiles parauma corrida, alegando que ganharia casoAquiles lhe desse uma ligeira vantagem. Aqui-les riu, visto ser ele um poderoso e velozguerreiro enquanto a tartaruga era pesadae lenta.“De que avanço precisas?”, perguntou ele àtartaruga, sorrindo.“Dez metros”, disse esta. Aquiles riu maisalto que nunca.“Nesse caso, não tens qualquer hipótese,minha amiga, mas avancemos se é esse o teudesejo.” “Ao contrário meu caro, eu vou ganhar eposso prová-lo com um simples argumento.”“Vamos ouvi-lo, então”, disse Aquiles agoramais prudente. Ele sabia ser um atleta su-

perior, mas sabia também que a tartarugaera muito arguta e que já por várias vezes comela havia perdido debates.“Supõe”, começou a tartaruga, “que me dásdez metros de avanço. Dirias que conseguescorrer essa distância entre nós rapidamente?”Aquiles sorriu e afirmou “Muito rapida-mente”.“E durante esse tempo”, continuou a tartaruga,“que distância conseguiria eu percorrer?”“Talvez um metro, não mais”, disse Aquilesdepois de ponderar um momento.“Muito bem”, retorquiu a tartaruga, “entãoagora há um metro entre nós dois. Correriasessa distância muito rapidamente, certo?”“Muito rapidamente mesmo.”“Contudo, durante esse tempo eu tereiavançado também um pouco mais, o quequer dizer que ainda terás de percorrer essadistância, certo?” “Sim”, disse Aquiles pausadamente.“E enquanto percorres essa distância euterei avançado ainda um pouco mais, o quesignifica que terás de percorrer essa novadistância”, disse a tartaruga suavemente.Aquiles permaneceu calado.“Aqui vês, a cada momento tu terás de per-correr a distância entre nós sendo que, aomesmo tempo, eu estarei a aumentar essadistância, por pouco que seja.”“De facto, assim é”, disse Aquiles agastado.“Quer isto dizer que nunca me atingirás”,concluiu a tartaruga simpaticamente.“Tens razão”, disse Aquiles com tristeza,concedendo a derrota.Aquiles e a tartaruga, segundo paradoxo deZenão contra o movimento.

OBSOLESCÊNCIA “Museus, cemitérios! Ver-dadeiramente idênticos na sua justaposiçãosinistra de corpos que não se conhecemmutuamente. Dormitórios públicos onde sedorme lado a lado, e para sempre, com seresque se odeia ou que não se conhece. Feroci-

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dade recíproca dos pintores e escultores quese assassinam mutuamente, no mesmomuseu, com estocadas de linha e cor. Fazeruma visita uma vez ao ano, assim como visi-tamos as campas dos nossos mortos, issopoderíamos tolerar! Até conseguiríamos ima-ginar colocar flores uma vez por ano aos pésda Gioconda! Mas levar a nossa tristeza, anossa frágil coragem e a nossa ansiedadepara o museu todos os dias, isso não pode-mos admitir! Quereis envenenar-vos? Que-reis apodrecer?

Que podeis encontrar numa pintura antigaque não sejam as penosas contorções doartista tentando quebrar as inultrapassáveisbarreiras que bloqueiam a expressão com-pleta dos seus sonhos? Admirar uma pinturaantiga é verter a nossa sensibilidade numaurna funerária ao invés de a projetar para afrente com jorros violentos de criação e deação. Quereis desperdiçar a melhor parte davossa energia numa inútil admiração do pas-sado, da qual emergiríeis exausto, diminuído,espezinhado? Efetivamente, visitas diárias amuseus, livrarias e academias (esses cemi-térios de esforço desperdiçado, calvários desonhos crucificados, registos de falsas par-tidas!) é para artistas aquilo que a prolongadasupervisão parental é para os jovens inteligen-tes, ébrios com os seus talento e ambição.”

Filippo T. Marinetti, “The Futurist Manifesto”,in  Fascism, Anti-fascism, and the Resistancein Italy: 1919 to the Present, ed.  Stanislao G.Pugliese, Lanham, MD: Rowman & Littlefield,2004, p. 27.

PESO s. m. (latim pensum, -i) 1 Qualidade doque é pesado; 2 [Física] Resultado da açãoda gravidade sobre cada uma das molécu-las de um corpo; 3 Pressão exercida por umcorpo sobre o obstáculo que se opõe dire-tamente à sua queda; […] 7 Tudo o que car-rega, oprime, incomoda, cansa ou molesta;8 O que preocupa ou tem de ser suportado;

9 Encargo financeiro; 10 Força e eficácia dascoisas não materiais; 11 Influência ou impor-tância de algo ou alguém; 12 Ponderação,sensatez.

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

PRECARIEDADE “Zygmunt Bauman define operíodo em que vivemos como ‘modernidadelíquida’, uma sociedade da descartabilidadegeneralizada, alimentada pelo ‘horror da ca-ducidade’, onde nada é mais condenável doque ‘a firmeza, a viscosidade e a qualidadepeganhenta de todas as coisas, quer anima-das quer inanimadas’. A constelação do pre-cário, principalmente se encarada do pontode vista do renovável, é o motor invisível daideologia consumista. Colocando-se no planoda psique coletiva, Michel Maffesoli descrevea identidade individual como algo eclético edifuso: ‘Uma identidade frágil, uma identidadeque já não é, como fora durante a moderni-dade, o único pilar sólido da vida individual esocial.”

Nicolas Bourriaud, “Precarious Construc-tions. Answer to Jacques Rancière on Art andPolitics”, http://classic.skor.nl

PRODUTIVIDADE “Uma vez por outra, quandohavia mais pressa, eu próprio costumava aju-dar a conferir algum documento mais breve,chamando Turkey ou Nippers para o efeito.O meu objectivo, ao colocar Bartleby ali à mãoatrás do biombo, fora o de recorrer aos seusserviços nessas alturas. Foi no terceiro dia,penso eu, de ele estar comigo, e antes de tersurgido qualquer necessidade de conferir oque ele copiava, que muito apressado em darpor concluído um pequeno trabalho que tinhaentre mãos, chamei de repente por Bartleby.Com a pressa, e na expectativa, natural, deser imediatamente atendido, fiquei sentadoà secretária com a cabeça inclinada sobre ooriginal, e a mão direita nervosamente esten-dida para o lado com a cópia, de modo a que,

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imediatamente após que emergisse do seurecanto Bartleby a agarrasse, procedendo àtarefa sem a mínima demora.

Sentado e nessa atitude, foi que o chamei,dizendo rapidamente o que pretendia que elefizesse – ou seja, conferir comigo um pequenodocumento. Imagine-se a minha surpresa, ouantes, a minha consternação, quando, e semse mover do seu retiro, Bartleby – numa vozsingularmente suave e firme, me respondeu:– preferia de não.”

Herman Melville, “Bartleby, O Escrivão”, inGiorgio Agamben e Pedro A. H. Paixão, Bar-tleby – Escrita da Potência, Lisboa, Assírio &Alvim; Fundação Calouste Gulbenkian; Fun-dação Carmona e Costa, 2007, pp. 83-84.

RÉPLICA “Aqueles que insinuaram que Me-nard dedicara a sua via a escrever um Qui-xote contemporâneo caluniaram a sua ilustrememória. Ele não queria escrever um outroQuixote – que seria tarefa fácil – mas antesescrever o Quixote ele mesmo. Obviamente,nunca entreteve a hipótese de transcrevermecanicamente o original; não se propunhacopiá-lo. A sua admirável intenção era a deproduzir umas quantas páginas que coinci-dissem – palavra por palavra, linha por linha– com as de Miguel de Cervantes.”

Jorge Luis Borges, “Pierre Menard Authorof the Quixote”, in Collected Fictions, Londres,Penguin Books, 1981.

SUSPENSO “Imaginemos que um ser humanoaparece, de um momento para o outro, jáadulto, embora com os seus olhos tapadospara que não possa ver o mundo exterior.Imaginemos que ele se encontra suspensono ar – ou no vazio – de modo que não lheseja possível sentir a densidade do próprioar; os seus membros afastados de tal formaque seja impossível tocarem-se. Vejamos,então, se ele consegue afirmar qual a suaessência. Porque ele não hesitará em afirmar

que existe, embora não consiga identificarnada do que lhe seja exterior nem do que lheseja interior. Ainda que lhe fosse possívelimaginar uma mão ou outro qualquer mem-bro, ele não conseguiria imaginá-lo comoparte de si nem o afirmaria como algo neces-sário à sua essência. […] Uma vez que a es-sência que ele vier a afirmar lhe é própria – namedida em que ele é essa mesma essênciae é algo para além do seu corpo e seus mem-bros – então, já de olhos destapados, ele temtodas as condições para saber que a essên-cia da sua alma é diferente da essência doseu corpo. Na verdade, ele não precisa docorpo para conhecer a alma e para a perce-cionar e só enveredará por essa via se forpalerma.

Avicena (c. 980-1037), “O homem suspenso”,passagem de De Anima (latine).

http://www.granta.demon.co.uk/arsm/jg/avic-susp.html

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

TENSÃO sf (lat tensione) 1 Estado ou qualidadede tenso 2 Fís Força elástica dos gases oudos vapores 3 Estado de um corpo que pos-sui força expansiva. 4 Eletr Força eletromo-triz; voltagem 5 Rigidez em certas partes doorganismo 6 Autom Grau de força elástica dascorreias trapezoidais do dínamo e do venti-lador. sf pl Sociol Termo empregado para de-signar as oposições internas, manifestas oulatentes em uma realidade humana.

Dicionário Michaelis online.

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Sala 1

Peças de substituição #1, 2012Componentes diversos,solda, cabos de aço, madeira,extensores, motores D/C 340 × 383 × 251 cm

Sala 2

Peças de substituição #2(Matriz), 2012Zincogravura12,5 × 10 × 2,3 cm

Sala 3

Peças de substituição #3,(Pearl Twins), 2012Cabos de aço, motor D/C e fotografia433 × 17 × 15 cm

Sala 4

Peças de substituição #4,2012 [capa, pp. 2-7]Papel carbono42 × 60 cm (cada)

Lista de obras

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Projeto de exposições (2009-2012)Miguel Wandschneider (Culturgest)CoordenaçãoGabinete de Comunicação e Imagem (Fidelidade Mundial)Curador Bruno MarchandCoordenação de produção e de montagem António Sequeira Lopes (Culturgest)Montagem Fernando TeixeiraAndré Lemos Heitor FonsecaNelson SantosNuno Orvalho

Catálogo

TextoBruno MarchandDesenho Pedro Falcão Proporção[A5] – 14,8 × 21 cmTipo de letraNew Rail AlphabetFotografiaRodrigo PeixotoCoordenação editorial Rosário Sousa Machado (Culturgest)Revisão de provas am edições / antónio alves martinsImpressão e acabamentoGráfica MaiadouroTiragem750 exemplares

ISBN978-972-769-074-9

CHIADO 8 – ARTE CONTEMPORÂNEALargo do Chiado, n.º 8 / 1249-125 LisboaTel. 213.401.676 / www.fidelidademundial.pt

21.0916.11.2012

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Renato Ferrão nasceu em Vila Nova de Fama-licão, em 1975. Vive e trabalha no Porto. Em2000, licenciou-se em Escultura pela Facul-dade de Belas-Artes da Universidade doPorto (FBAUP). Cofundou o Salão Olímpico –espaço independente gerido e programadopor artistas – com Carla Filipe, Isabel Ribeiro,Eduardo Matos e Rui Ribeiro (2003-2006).Realizou numerosas exposições individuais,nomeadamente: Imóvel (colaboração comNuno Ramalho), Salão Olímpico, Porto (2004);No Future (colaboração com Nuno Ramalho),Galeria 24B, Oeiras (2005); Longa duração,mad woman in the attic, Porto (2006); Impre-ciso (colaboração com Nuno Ramalho), In Transit, Porto (2007); 17.38’ 51”, ProjectoApêndice, Porto (2007); Fóssil de microhabi-tat, Galeria Quadrado Azul, Porto (2008); A Cack of ence, A Certain Lack of Coherence,Porto (2008); Estúdio (colaboração comNuno Ramalho), Fundação Carmona e Costa,Lisboa (2009); Episódio 2: Senhor fantasma,vamos falar, Emissores Reunidos – Funda-ção de Serralves, Porto (2009); Vida material,Galeria Quadrado Azul, Lisboa (2010); Peçasonâmbula, Espaço Campanhã, Porto (2011).

Participou em diversas exposições coletivas,entre as quais: The stars turn into stripes fo-rever (com Eduardo Matos), Salão Olímpico,Porto (2003); Correi lágrimas minhas, disse opolícia, Galeria ZDB, Lisboa (2004); A noite naterra, Plataforma Revólver, Lisboa (2005);Em fractura, Fundição de Oeiras, Hangar K7,Oeiras (2005); Busca Pólos, Pavilhão Centrode Portugal, Coimbra (2006); Em torno (cola-boração com Nuno Ramalho), Palácio deCristal, Porto (2006); Rastos, Galeria QuadradoAzul, Porto (2007); Depósito: Anotaçõessobre Densidade e Conhecimento, Reitoriada Universidade do Porto, Porto (2007);part-ilha, Spike Island, Bristol (2008); A situa-ção está tensa mas sob controlo, Arte Con-tempo, Lisboa (2008); A nossa língua nãocura, Espaço Avenida 211, Lisboa (2009);Antes de chegarem palavras, Espaço Cam-panhã, Porto (2009); A Arte e o Seu Resto, XV Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira(2009); Display: Objects, Buildings and Space(colaboração com Nuno Ramalho), Experi-mentadesign – Palácio Quintela, Lisboa (2010).Em 2010 foi-lhe atribuído o Prémio de ArtesPlásticas União Latina.

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Peças de substituição

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