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ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL – ESAB CURSO DE MBA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS SOLANGE SILVEIRA DOS SANTOS REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS: DESENHANDO UMA NOVA POLÍTICA PARA O SEBRAE SÃO PAULO SÃO PAULO 2007

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Page 1: REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS: DESENHANDO UMA … · para melhoria do processo de atração e retenção de talentos por propiciar melhor estruturação do plano de carreira, incentivar

ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL – ESAB

CURSO DE MBA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

SOLANGE SILVEIRA DOS SANTOS

REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS: DESENHANDO UMA NOVA POLÍTICA PARA O

SEBRAE SÃO PAULO

SÃO PAULO 2007

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SOLANGE SILVEIRA DOS SANTOS

REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS: DESENHANDO UMA NOVA POLÍTICA PARA O SEBRAE SÃO PAULO

Monografia apresentada a ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil, sob orientação da Profª Beatriz Christo Gobbi

SÃO PAULO 2007

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SOLANGE SILVEIRA DOS SANTOS

REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS: DESENHANDO UMA NOVA POLÍTICA PARA O SEBRAE SÃO PAULO

Aprovada em ........ de ....................... de 200...

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

São Paulo 2007

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AGRADECIMENTOS

Ao Sr Carlos Eduardo Uchôa Fagundes e

demais diretores e profissionais do Sebrae

SP, por terem acreditado em minha

competência profissional.

Aos meus pais, Salette Silveira dos Santos

e Pedro dos Santos Filho e minha irmã

Simone Silveira dos Santos, pelos valores

transmitidos e incentivo constante.

Ao meu marido, Andrian Eneas Camargo,

pelo apoio, compreensão e

companheirismo.

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“A Gestão de Pessoas tem sido a

responsável pela excelência de

organizações bem-sucedidas e pelo aporte

de capital intelectual que simbolizam, mais

do que tudo, a importância do fator humano

em plena Era da Informação”.

(Idalberto Chiavenato)

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RESUMO

O estudo tem como principal objetivo contribuir com a discussão que o Sebrae SP vem fazendo no sentido de rever sua política de RH, principalmente no Núcleo Reconhecimento, buscando novos elementos que norteiem o estabelecimento de critérios para remuneração, em especial o salário base, de seus empregados. Para tanto, foram realizadas pesquisas bibliográficas (livros, artigos, revistas e textos extraídos da internet), visitas técnicas, pesquisa de campo focando a empresa Sebrae SP e consulta a estudos de casos publicados, além da experiência da autora como gerente de Gestão de Pessoas do Sebrae SP. Verificou-se que, apesar do SGP – Sistema de Gestão de Pessoas por Competências estar implantado a quase 5 (cinco) anos na empresa, parte dos empregados ainda tem dúvidas e não conhece efetivamente o sistema, os gerentes da empresa precisam ser melhor preparados para exercerem seu papel de gestores de pessoas e, ainda, que alterar a sistemática de avaliação e de estabelecimento da remuneração fixa é essencial para melhoria do processo de atração e retenção de talentos por propiciar melhor estruturação do plano de carreira, incentivar a obtenção de resultados e contribuir com a melhoria do clima organizacional. Também foi possível identificar que a adoção de novas formas de remuneração auxiliará a meritocracia. O mais importante foi a conclusão de que a revisão do sistema de reconhecimento era possível sem perder a essência do SGP e, portanto, é viável continuar remunerando por competências.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Os Quatro Principais Desafios de Gestão de Pessoas. Fonte: Pesquisa

DELPHI – RH 2010 – PROGEP/ FIA/ FEA/ USP (2004)............................................22

Tabela 2 – Motivos de Adoção do Modelo de Gestão por Competências. Fonte:

Barbosa, Ferraz e Lopes (2002).................................................................................34

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Síntese das Manifestações Recebidas, por Espaço Ocupacional e

Macroprocesso de Trabalho. Fonte: Autora (2007)....................................................21

Quadro 2 – Os Parceiros da Organização. Fonte: Chiavenato (1999).......................24

Quadro 3 – Características das Empresas em Recursos Humanos. Fonte: GOMIDE

(2002/ 2003)...............................................................................................................24

Quadro 4 – Diferenças entre Remuneração Tradicional e Remuneração por

Competências. Fonte: Autora (2007).........................................................................37

Quadro 5 – Vantagens e Desvantagens da Remuneração por Competências. Fonte:

Chiavenato (1999)......................................................................................................38

Quadro 6 – Síntese das sugestões do Núcleo Espaços Ocupacionais. Fonte: Sebrae

(2007).........................................................................................................................59

Quadro 7 – Síntese das sugestões do Núcleo Reconhecimento. Fonte: Sebrae

(2007).........................................................................................................................60

Quadro 8 – Síntese das sugestões do Núcleo Acompanhamento e Avaliação de

Resultados. Fonte: Sebrae (2007).............................................................................60

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Grau de Satisfação com o SGP. Fonte: Yoshida (2006).........................55

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – O Composto Salarial. Fonte: Chiavenato (1999)......................................27

Figura 2 – Os Fundamentos da Administração de Salários. Fonte: Chiavenato

(1999).........................................................................................................................27

Figura 3 – Estrutura de um Pacote de Reconhecimento. Fonte: Autora (2007)........28

Figura 4 – Modelo de Gestão por Competências. Fonte: Hipólito (2005)..................30

Figura 5 – Definição de Competências. Fonte: Yoshida (2006).................................33

Figura 6 – Núcleos do SGP. Fonte: Sebrae (2006)....................................................43

Figura 7 – Carreira no Sebrae. Fonte: Sebrae (2006)................................................45

Figura 8 – Tipos de Competências do Sebrae. Fonte: Sebrae (2006).......................47

Figura 9 – Formação do Subcomitê de Avaliação de Competências. Fonte: Sebrae

(2006).........................................................................................................................48

Figura 10 – Correspondência Pontuação/ Tabela Salarial do Sebrae. Fonte: Sebrae

(2006).........................................................................................................................50

Figura 11 – Nova Estrutura de Carreira no Sebrae. Fonte: Autora (2007).................62

Figura 12 – Processo de Avaliação. Fonte: Sebrae (2007)........................................63

Figura 13 – Matriz de Análise de Carreira e Desenvolvimento. Fonte: Sebrae (2007)

....................................................................................................................................65

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Figura 14 – Posicionamento do empregado na Matriz de Análise e Desenvolvimento

de Carreira. Fonte: Sebrae (2007).............................................................................66

Figura 15 – Regiões de Prioridade para Crescimento Salarial. Fonte: Sebrae (2007)

....................................................................................................................................66

Figura 16 - Critérios de crescimento: Limite de Steps conforme região de prioridade.

Fonte: Sebrae (2007).................................................................................................67

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LISTA DE SIGLAS

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

CDE Conselho Deliberativo Estadual

CDN Conselho Deliberativo Nacional

CEAG Centro de Assistência Gerencial

CEBRAE Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa

CGU Controladoria Geral da União

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

DIREX Diretoria Executiva

EO Espaço Ocupacional

ER Escritório Regional

FIA Fundação Instituto de Administração

GEREX Gerência Executiva

GP Gestão de Pessoas

PADI Plano de Acompanhamento do Desempenho Individual

RH Recursos Humanos

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

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SGP Sistema de Gestão de Pessoas

TCU Tribunal de Contas da União

UF Unidade da Federação

UO Unidade Organizacional

USP Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................17

1.1.PALAVRAS-CHAVE..........................................................................17

1.2. EXPOSIÇÃO DO ASSUNTO...........................................................17

1.3. PROBLEMA DE PESQUISA............................................................18

1.4. JUSTIFICATIVA PARA ESCOLHA DO TEMA.................................18

1.5. OBJETIVOS.....................................................................................19

1.5.1. Objetivo Geral..............................................................................19

1.5.2. Objetivos Específicos.................................................................19

1.6. DELIMITAÇÃO DO TRABALHO......................................................20

1.7. METODOLOGIA DE PESQUISA.....................................................20

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................23

2.1. GESTÃO DE PESSOAS..................................................................23

2.2. REMUNERAÇÃO.............................................................................26

2.3. GESTÃO DE PESSOAS POR COMPETÊNCIAS...........................30

2.4. REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS......................................37

3. RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO.....................................40

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3.1. SISTEMA SEBRAE – BREVE HISTÓRICO.....................................40

3.2. A REINVENÇÃO NO FINAL DA DÉCADA DE 90...........................42

3.3. SGP – SISTEMA DE GESTÃO DE PESSOAS POR

COMPETÊNCIAS...................................................................................43

3.3.1. Núcleo Organização dos Espaços Ocupacionais...................45

3.3.1.1. Competências no Sebrae..........................................................47

3.3.1.2. Avaliação de Competências no Sebrae.....................................48

3.3.2. Núcleo Reconhecimento............................................................50

3.3.2.1. Remuneração Fixa no Sebrae...................................................50

3.3.2.2. Remuneração Variável no Sebrae.............................................52

3.3.2.3. Benefícios no Sebrae.................................................................52

3.3.3. Núcleo Acompanhamento e Avaliação de Resultados...........53

3.4. ANÁLISE DO CONTEXTO E PESQUISA DE CAMPO...................55

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................70

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................73

ANEXO A...............................................................................................76

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1. INTRODUÇÃO

1.1. PALAVRAS-CHAVE

Remuneração, gestão por competências, salário.

1.2. EXPOSIÇÃO DO ASSUNTO

O Sistema Sebrae passou por um importante momento em sua história com a

reinvenção ocorrida no final da década de 90 que impactou numa grande

transformação interna e numa diferente atuação estratégica para os anos 2000.

Como decorrência, era fundamental estruturar uma política de recursos humanos

que valorizasse os profissionais da empresa, reconhecendo as competências

necessárias e os resultados organizacionais, das equipes e de seus componentes, e

norteando todas as práticas de gestão de pessoas.

Nesse contexto, em 2001, o Sebrae Nacional iniciou uma ampla pesquisa de

mercado visando identificar as melhores práticas e organizou um grupo de trabalho

que contou com a participação de representantes de todas as regiões do país, tanto

da área Gestão de Pessoas, como de outras áreas da instituição, tais como:

Assessoria Jurídica, Auditoria, Tecnologia da Informação, Unidades de

Desenvolvimento e Escritórios Regionais. Uma consultoria externa foi contratada

para auxiliar nesse trabalho e foi criado o SGP – Sistema de Gestão de Pessoas por

Competências, que em 2002 e 2003 foi implantado nas diferentes Unidades Sebrae

do território nacional.

Após quase cinco anos de prática, percebe-se que a política precisa ser revista e

que, em especial, a prática de remuneração vigente está muito amarrada,

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dificultando a atração e retenção de talentos. Vincular o salário base unicamente ao

resultado da avaliação de competências tem gerado distorções e insatisfações entre

gerentes e empregados em todo sistema, assim repensar essa sistemática e

analisar novas possibilidades torna-se vital para continuidade do SGP e para

melhoria do plano de carreira e clima organizacional.

1.3. PROBLEMA DE PESQUISA

Em 2003 o Sebrae SP implantou uma política de RH denominada SGP – Sistema de

Gestão de Pessoas por Competências.

Após pouco mais de 4 (quatro) anos, percebe-se que essa política precisa ser

revista e que a prática de remuneração vigente está muito amarrada. Vincular o

salário base unicamente ao resultado da avaliação por competências tem gerado

distorções e insatisfações entre empregados em todo sistema.

Nesse contexto, analisaremos: é possível estabelecer uma nova sistemática de

remuneração baseada em competências, porém mais flexível, aderente ao

desempenho e sem perder a essência do SGP?

1.4. JUSTIFICATIVA PARA ESCOLHA DO TEMA

Este estudo aborda questões relativas à remuneração, tendo como referência uma

forma específica que é a remuneração por competências. A escolha desse tipo de

remuneração deu-se pelo fato de ser um tema ainda novo no mercado de gestão de

pessoas, de forma geral. Mesmo as empresas que atuam com gestão de pessoas

por competências não têm, de forma efetiva, trabalhado com remuneração por

competências, optando por outras sistemáticas.

A experiência da autora como consultora e gerente de gestão de pessoas em uma

instituição que trabalha com o modelo de gestão de pessoas por competências

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possibilita a avaliação do sistema adotado, a realização de pesquisas, estudos e a

aplicação prática de novos modelos.

Além disso, devemos mencionar ser esta uma forte tendência para os próximos

anos. A percepção da intenção das empresas em desenvolver e implantar sistemas

de reconhecimento mais focados no desempenho, ou seja, na meritocracia, também

foi um importante fator para definição do tema. Buscou-se estudar as teorias

existentes e as práticas adotadas, sugerindo-se novas sistemáticas que foquem a

remuneração com base nas diferenças individuais, nos resultados alcançados por

cada profissional e na avaliação das competências.

1.5. OBJETIVOS

1.5.1. Objetivo Geral

Contribuir com a discussão que o Sebrae SP vem fazendo junto ao Sebrae Nacional

visando rever sua política de RH, principalmente no Núcleo Reconhecimento,

buscando novos elementos que norteiem o estabelecimento de critérios para

remuneração, em especial o salário base, de seus empregados.

1.5.2. Objetivos Específicos

A partir do objetivo geral citado anteriormente, é possível delimitar os seguintes

objetivos específicos:

• Conhecer a opinião dos colaboradores do Sebrae SP sobre a política de RH

vigente, o SGP, especialmente no estabelecimento do salário base.

• Analisar o processo de remuneração de algumas empresas que atuam com

gestão de pessoas por competências.

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• Discutir conceitualmente o tema remuneração com o Comitê Gestor do SGP

junto ao Sebrae Nacional.

• Apresentar um novo modelo de remuneração por competências, adequado à

realidade do Sebrae SP.

1.6. DELIMITAÇÃO DO TRABALHO

Este estudo visa contribuir com a análise do Sebrae no tocante a sua prática de

gestão de pessoas, em especial no sistema de reconhecimento, contribuindo com

uma nova sistemática de remuneração por competências, alinhada ao SGP, no

Sebrae São Paulo, isto é, “Desenhar uma Nova Política de Remuneração por

Competências para o Sebrae SP”.

1.7. METODOLOGIA DE PESQUISA

Considerando que um dos objetivos deste estudo é discutir conceitualmente o tema

remuneração com o Comitê Gestor do SGP junto ao Sebrae Nacional, o primeiro

passo, iniciado no final de 2006, foi buscar referencial teórico consultando a internet,

livros, pesquisas acadêmicas, revistas especializadas em gestão de pessoas, artigos

e publicações em geral. Como o assunto é relativamente recente na prática de

recursos humanos, o referencial teórico disponível em português é pequeno, em

comparação a outros assuntos, mas foi suficiente para termos um embasamento de

qualidade.

Visando conhecer a experiência de outras empresas, no primeiro trimestre do ano de

2007, foram realizadas visitas técnicas a instituições que trabalham com gestão de

pessoas por competências ou que adotam políticas diferenciadas em termos de RH,

em especial, remuneração. No total 10 (dez) empresas foram visitadas nas cidades

de São Paulo e Rio de Janeiro, a maioria empresas privadas e todas com mais de

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500 empregados. Também foram consultadas 4 (quatro) consultorias especializadas

no tema, entre elas uma composta por professores da Escola de Administração da

USP – Universidade de São Paulo, sob coordenação do Profº. Dr. Joel Dutra e

contando com os Profº. José A. M. Hipólito e Cassiano Silva , sendo esta escolhida

para assessorar o trabalho do Sebrae.

Para conhecer a opinião dos colaboradores do Sebrae SP sobre a política de RH

vigente, o SGP, especialmente no estabelecimento do salário base, no mês de abril

de 2007 foram realizadas pesquisas de campo. Dos 622 empregados do Sebrae

São Paulo, 10% (dez porcento) foi convidado a contribuir diretamente, participando

de 5 (cinco) grupos focais, cada um reunido em um dia da semana, com até 3 (três)

horas de duração e mediados por um profissional externo contratado para este fim.

Deve-se destacar que o objetivo desse processo era coletar sugestões de forma

estruturada e organizada, assim foi elaborado um roteiro a ser discutido com uma

parcela representativa do quadro funcional da empresa (anexo A); os profissionais

foram selecionados considerando-se a proporção existente de: homens x mulheres,

faixa etária, tempo de trabalho no Sebrae, espaços ocupacionais exercidos (auxiliar,

assistente, analista e consultor), funções ocupadas (gerentes de escritório regional,

unidade organizacional e executivo, assessor direto), área de atuação - os quatro

macroprocessos de trabalho da empresa (Apoio, Suporte, Desenvolvimento e

Operações) e o local de trabalho (capital ou interior).

Ressalta-se que como a participação era opcional, dos 62 profissionais convidados,

41 aceitaram o convite e, nessa fase, foram recolhidas 160 contribuições (sugestões,

críticas, comentários e opiniões individuais).

Além disso, outros mecanismos foram disponibilizados: filipeta entregue a cada um

dos empregados da empresa, disponibilização de grupo de e-mail (como todos os

profissionais da empresa têm acesso a computador e possuem endereço eletrônico,

julgou-se que este era um canal plenamente viável), Ouvidoria Interna (que atua

através de caixa de sugestões, endereço eletrônico e sistema disponível na intranet,

inclusive com a possibilidade de registrar ocorrências anônimas), além da

possibilidade de buscar um dos 5 (cinco) profissionais da Unidade Gestão de

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Pessoas, diretamente envolvidos com o assunto, para registrar sua colaboração.

Foram recebidas 47 manifestações, conforme quadro abaixo:

Quadro 1 – Síntese das Manifestações Recebidas, por Espaço Ocupacional e Macroprocesso de Trabalho. Fonte: Autora (2007).

Todos esses elementos foram compilados e analisados, tornando-se peças

essenciais para construção de uma nova política de gestão de pessoas por

competências para o Sebrae São Paulo, em especial no núcleo de reconhecimento.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Considerando que um dos objetivos de um estudo como este é construir referencial

teórico acerca do tema trabalhado, este tópico estrutura o quadro conceitual no qual

a pesquisa está inserida.

Primeiramente será abordada a evolução de recursos humanos ao longo do tempo,

as mudanças de paradigmas e desafios. A seguir, estudaremos sobre remuneração,

na seqüência gestão de pessoas por competências e por fim remuneração por

competências.

2.1. GESTÃO DE PESSOAS

Todos os autores são unânimes em mencionar que a área de Recursos Humanos

passou por grandes transformações nos últimos tempos. A antiga área que ditava

regras e tomava decisões sobre recrutamento, seleção, admissão, treinamento,

remuneração e demais práticas de departamento pessoal deu lugar a uma nova

área, mais focada na missão, valores e visão de futuro da empresa sendo, assim,

mais estratégica (tab. 1).

PRINCIPAIS DESAFIOS DE GESTÃO DE PESSOAS RESPOSTAS (%)

Alinhar pessoas à estratégia do negócio 82,3

Desenvolver e capacitar gestores 69,4

Alinhar políticas e processos de gestão à estratégia de negócio 33,3

Apoiar e promover mudanças organizacionais 25,0

Tabela 1 – Os Quatro Principais Desafios de Gestão de Pessoas. Fonte: Pesquisa DELPHI – RH 2010 – PROGEP/ FIA/ FEA/ USP (2004)

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No fim do século XIX e início do século XX, com o surgimento dos sindicatos, as

empresas precisaram dar maior atenção aos aspectos trabalhistas e, portanto, a

Administração de Pessoal precisou se organizar melhor com especialistas que se

encarregavam das tarefas administrativas e relações trabalhistas. Na década de 60,

houve o surgimento dos responsáveis pela organização das Relações Industriais,

pois os sindicatos ganhavam força e as rotinas trabalhistas e de pessoal estavam

mais burocratizadas.

Nas décadas de 70 e 80, a área de RH já estava estruturada e sua preocupação

centrava-se no aumento da produtividade. Sob a nomenclatura de Recursos

Humanos ou Relações Humanas atuava nas atividades que buscavam atrair, manter

e desenvolver os empregados de uma organização (MILIONI, 2003). Para tanto, os

trabalhadores eram segmentados em cargos, precisavam ser administrados, ter

seus horários rigidamente controlados, obedecer a regras e normas, serem

especialistas e exímios executores de tarefas com pouca autonomia. As chefias

deviam impor autoridade, ditar os procedimentos e todo processo produtivo devia ser

detalhadamente acompanhado para evitar erros e perdas. O trabalhador devia

“vestir a camisa da empresa”.

Somente no final do século passado é que as empresas, e a sociedade em geral,

passaram efetivamente a perceber que o sucesso das organizações dependia

intrinsecamente das pessoas e, nesse contexto, elas deveriam ser tratadas como

parceiros e não como recursos (CHIAVENATO, 1999).

Nesse período, também, começa a ser difundido outro conceito complementar ao

citado anteriormente: de que a área de gestão de pessoas tem o papel de gerar e

sustentar o engajamento das pessoas. A preocupação com o clima organizacional

ganha mais atenção e intensificam-se as pesquisas de clima.

“Todo processo produtivo somente se realiza com a participação conjunta de

diversos parceiros, cada qual contribuindo com algum recurso“ (CHIAVENATO,

1999, p.6).

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Parceiros da Organização

Contribuem com: Esperam Retornos de:

Acionistas e Investidores

Capital de risco, investimentos. Lucros e dividendos, valor agregado.

Empregados Trabalho, esforço, conhecimentos e habilidades.

Salários, benefícios, retribuições e satisfações.

Fornecedores Matérias-primas, serviços, insumos básicos, tecnologias.

Lucros e novos negócios.

Clientes e Consumidores

Compras e aquisição dos bens e serviços

Qualidade, preço, satisfação, valor agregado.

Quadro 2 – Os Parceiros da Organização. Fonte: Chiavenato (1999).

Ainda nesse contexto, Claus Möller (apud CHIAVENATO, 1997, p. 110) diz que

“deve-se colocar os funcionários em primeiro lugar, para que eles façam o mesmo

com os clientes”.

O quadro abaixo mostra de forma sucinta as transformações organizacionais

ocorridas nos últimos anos, nas empresas, em relação aos “recursos humanos”:

ANTIGO ATUAL

Muitos níveis hierárquicos Poucos níveis hierárquicos

Todos os funcionários da empresa Colaboradores terceirizados e autônomos

Crescimento conforme demanda Possibilidade de crescimento rápido

Remuneração fixa Participação nos resultados

Leque de benefícios Bônus em espécie

Muitos benefícios diferenciados Participação nos lucros

Rigorosa obediência no horário Horário flexível

Trabalho apenas na empresa Trabalhos realizados em casa

Prêmios e medalhas p/ tempo de serviço Reconhecimento por efetivas realizações

Longos treinamentos para os técnicos Treinamento rápido para todos os níveis

Cortes em massa Programa de demissão voluntária

Simples direitos trabalhistas Outplacement

Quadro 3 – Características das Empresas em Recursos Humanos. Fonte: GOMIDE (2002/ 2003).

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2.2. REMUNERAÇÃO

Todo trabalhador necessita ter seu trabalho reconhecido e recompensado. Se os

empregados de uma empresa atuam como parceiros e contribuem com seu trabalho

e aplicação de suas competências, sua remuneração deve refletir esse esforço, o

tempo dispendido e, em especial, os resultados alcançados por sua atuação

profissional. Essa é a nova tendência em administração de salários, denominada

pelo mercado de abordagem estratégica, contrariando a antiga premissa de

isonomia salarial, onde cada trabalhador recebia exclusivamente em função do

cargo exercido independentemente de seu resultado, bem como do resultado da

equipe ou da empresa, chamado de modelo tradicional de remuneração. Era

baseado nos planos de cargos e salários.

Com o passar dos anos e as mudanças no contexto organizacional, as descrições

clássicas de cargos e as atividades efetivamente exercidas pelos trabalhadores vêm

apresentando uma significativa diferença. O registro de tarefas muito padronizadas e

estruturadas deu lugar a descrições mais amplas, abrangentes e que consideram,

em muitos casos, as diferenças individuais.

Lawler (apub HIPÓLITO, 2005, slide 6) já previa “funcionários têm trabalho a ser

feito, mas muitos não terão um cargo certo e bem definido por muito tempo”.

Além disso, destaca-se que as atividades apontadas nas descrições de cargos são,

na maior parte das vezes, registradas de forma inadequada, deixando de dar

resposta à demanda da equidade interna (HIPÓLITO, 2001).

A descrição de cargos abrange dois componentes: as atividades (descrição e tempo

dispendido) e as responsabilidades. Já a especificação do cargo estabelece os pré-

requisitos dos ocupantes, as necessidades físicas e as condições de trabalho.

Segundo Barret (apud Rodrigues, 2006, p. 25), “a principal diferença entre as

abordagens tradicional e estratégica de remuneração está no fato de que a primeira

abordagem remunera a habilidade requerida e prevista na descrição de cargo,

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enquanto na remuneração estratégica a compensação está voltada para o nível de

habilidade da pessoa que desempenha o trabalho”.

Também vale mencionar que a remuneração estratégica constitui-se em vantagem

competitiva das empresas, possibilitando maior flexibilidade e alinhamento com os

objetivos da organização.

“Se a relação de trabalho se constitui em permuta, a recompensa do trabalhador

deve se dar pela justa contrapartida pelo seu grau de contribuição para a

manutenção e crescimento do negócio” (GOMIDE, 2002/ 2003, p.54).

O pagamento constitui, ainda, o valor de um empregado para a organização, o grau

de sua especialização, bem como a oferta desse profissional no mercado de

trabalho. Quanto mais capacitado for um empregado, maior importância o seu posto

de trabalho tiver, mais estratégico for o profissional e menos trabalhadores existirem

no mercado, maior será sua remuneração. A remuneração também está diretamente

relacionada à estrutura hierárquica da empresa.

Cada empregado tem uma expectativa e atinge um determinado resultado. Eles

estão dispostos a colaborar com a instituição na medida em que obtenham um

retorno satisfatório e este não se traduz somente através de salário direto, mas de

benefícios, incentivos, remuneração variável, prêmios, bônus e outras formas. Enfim,

são vários os fatores que se agregam ao salário-base formando o chamado pacote

remuneratório ou de reconhecimento.

Para que uma empresa estabeleça sua estrutura salarial, ou melhor, sua política de

reconhecimento é importante realizar um trabalho de análise sistêmica e estratégica,

identificando, conhecendo e considerando os fatores internos e externos (fig 1) que

atuam nessa composição. Esses fatores atuam independentemente ou se

interligando uns com os outros no sentido de elevar ou abaixar os salários e

estabelecer benefícios e outras formas de reconhecimento. Sua importância é

relativa e está diretamente relacionada à cultura organizacional, política salarial,

localização geográfica, ramo de atividade e porte da empresa (tamanho).

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28

Figura 1 – O Composto Salarial. Fonte: Chiavenato (1999).

Na busca de equilíbrio entre esses dois fatores, as empresas devem utilizar algumas

ferramentas, tais como: pesquisas salariais de mercado, pesquisas e avaliações

internas, além da necessidade de forte investimento organizacional em comunicação

interna (Fig 2).

Figura 2 – Os Fundamentos da Administração de Salários. Fonte: Chiavenato (1999).

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29

“Remunerar estrategicamente significa recompensar o desempenho individual e

grupal de acordo com os objetivos propostos e as metas estabelecidas”, ensina

Gomide (2002/2003, p. 57).

Entre as diversas formas de remuneração estratégica praticadas pelo mercado está

a remuneração vinculada ao desempenho ou à avaliação por competências. Elas

transferem parte do risco ao trabalhador e, nesse contexto, pensar um pacote de

reconhecimento requer considerar o total de remuneração paga e a combinação de

diferentes possibilidades, além do custo efetivo para empresa.

Não podemos esquecer, ainda, dos aspectos legais e as relações sindicais: quais

são os benefícios determinados por lei, o que menciona a convenção ou acordo

coletivo em termos de remuneração, qual a incidência de impostos em cada forma

de reconhecimento, os fatores que garantem a legalidade de pagamento de

remuneração variável sem incorporá-la ao salário e a obrigatoriedade estipulada

pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho no tocante a consideração do tempo

de atuação na empresa, chamada de antiguidade, na composição de salários ou

como critério para promoções (fig 3).

Figura 3 – Estrutura de um Pacote de Reconhecimento. Fonte: Autora (2007).

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30

Na maioria das organizações, o pacote de reconhecimento ou política salarial é

composta apenas do salário e recompensas financeiras indiretas (aquelas

decorrentes da convenção coletiva, plano de benefícios e serviços sociais -

exemplos: 13º salário, férias, horas extras, vale transporte). Em algumas áreas ou

setores é comum, também, as comissões, gorjetas ou gratificações. No entanto, é

fundamental esclarecer que um programa estruturado pode contar ainda com outras

formas de reconhecimento financeiro, tais como a remuneração variável, prêmios e

outros programas de bonificação, comuns a partir da década de 80, além dos

benefícios flexíveis - onde o empregado escolhe, normalmente dentro de um pacote

amplo pré-estabelecido, aqueles que são mais adequados à sua necessidade/

realidade (tendência que vem sendo difundida a partir nos anos iniciais deste

século).

Existe, por último, as recompensas organizacionais indiretas, como cita Chiavenato

(1999):

• Oportunidades de desenvolvimento

• Segurança no emprego

• Promoções

• Qualidade de Vida no Trabalho

• Orgulho da empresa e do seu trabalho

• Liberdade e autonomia no trabalho

• Ações de capacitação

2.3. GESTÃO DE PESSOAS POR COMPETÊNCIAS

O uso cada vez mais comum do termo competências no contexto de Gestão de

Pessoas requer um aprofundamento conceitual, principalmente por não haver

unanimidade nas posições e nem uma visão consolidada, seja no mundo acadêmico

ou no mundo empresarial.

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31

O tema surgiu em meados de 70, com David McLelland nos Estados Unidos, em

seleção de pessoal. Mas foram os artigos de Prahalad e Hamel, na década de 80 e

mais especificamente nos anos 90, que começaram a difundi-lo, porém com enfoque

nas organizações.

Segundo Hamel e Prahalad (apud HIPÓLITO, 2005, Slide 19) “Competências

essenciais são o conhecimento coletivo de uma organização, especialmente das

formas de coordenar diversas habilidades produtivas e integrar múltiplas correntes e

tecnologias”.

Ledford (1995) explica que competências são características percebidas nas

pessoas que envolvem conhecimentos, habilidades e atitudes, as quais conduzem a

desempenho superior. Dutra (2001) associa, ainda, o conceito de competência à

noção de entrega.

De acordo com Brandão e Brito (apud YOSHIDA, 1999), as competências das

pessoas compõem a empresa e dão origem e sustentação à competência

organizacional. Hipólito (2005) explica que as competências organizacionais e

humanas se retroalimentam (fig. 4).

Figura 4 – Modelo de Gestão por Competências. Fonte: Hipólito (2005)

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32

Já Dutra, Hipólito e Silva (1998) identificam 2 (duas) correntes: a americana e a

européia, sendo que nesta última temos a visão britânica e francesa. No

pensamento americano prevalece a definição de competência como a capacidade

que a pessoa traz para a situação de trabalho; características pessoais que

asseguram um desempenho superior. Segundo Steffen (1999), a corrente britânica

privilegia a identificação de perfis como base para programas de certificação de

competências e capacitação. Para Bitencourt e Barbosa (2004), a ênfase são as

tarefas relativas aos cargos, sendo a definição de competência relacionada aos

resultados esperados, traduzidos por indicadores. Os franceses reconhecem que o

fato do profissional possuir atributos para a função e resultados esperados não

assegura que a competência venha a ser mobilizada adequadamente.

Competência significa “conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que,

quando integrados e utilizados estrategicamente pela pessoa, permite atingir com

sucesso os resultados dela esperados na organização” (MILIONI, 2003, p.52)

Nesse momento, deve surgir o seguinte questionamento: mas afinal qual é o

significado de conhecimentos, habilidades e atitudes?

Boog e Boog (2006) define esses 3 (três) fatores como:

• Conhecimento = ampla compreensão de determinada área da ciência.

• Habilidade = capacidade de executar tarefas motoras ou mentais com certa

precisão ou automatismo.

• Atitudes = respostas automáticas e inconscientes a estímulos percebidos pelo

indivíduo. Relacionam-se a registros afetivos ou comportamentos adquiridos.

Milioni (2003) explica conhecimentos como base cognitiva requerida por um cargo

ou função e associada a formação acadêmica, cursos e especializações.

Voltando aos conceitos sobre competência, para Maria Tereza Fleury (abud BOOG e

BOOG, 2007, p.128) competência é “saber agir responsável e reconhecido que

implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que

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33

agregue valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. Ela ainda

propõe a categorização das competências em 3 (três) blocos:

• Competências de negócio = relacionadas à compreensão do negócio. Ex:

conhecimento do negócio.

• Competências técnico-profissionais = específicas de determinada operação,

ocupação ou atividade. Ex: domínio de excell.

• Competências sociais = necessárias para interagir com as pessoas. Ex:

trabalho em equipe.

Num modelo adaptado da empresa Deloitte Touche Tohmatsu (2003), Yoshida

(2006) classifica as competências em:

• Essenciais = refletem a personalidade da empresa; o negócio e a

singularidade da organização.

• Genéricas = são relacionadas a todos os profissionais da organização e

refletem as características (conhecimentos, habilidades e atitudes) que devem

ser desenvolvidas para alavancar a estratégia da empresa.

• Técnicas = contemplam as ações necessárias ao desenvolvimento dos

processos técnicos e refletem os eixos de carreira.

• Competências de Gestão = refletem as características necessárias aos

profissionais que ocupam posições gerenciais na empresa; pode envolver

aspectos técnicos mas, na maioria das vezes, envolve questões relacionadas

à gestão.

A seguir uma figura que ilustra a lógica de definição das competências profissionais

(fig.5):

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34

Figura 5 – Definição de Competências. Fonte: Yoshida (2006)

Como uma das principais diferenças entre a gestão por competências e a gestão

tradicional por cargos, devemos mencionar a individualidade, isto é, o foco não são

as atividades sob sua responsabilidade ou a descrição de tarefas, mas sim o

indivíduo. A aplicação da competência e o conseqüente resultado que ele agrega

diferencia um indivíduo dos demais numa empresa (YOSHIDA, 2006).

Picarelli (2002, p.19) explica:

O cargo representa uma dimensão muito restrita da verdadeira dimensão empresarial não refletindo adequadamente as necessidades que a organização tem de desdobrar suas estratégias, de criar estruturas mais flexíveis, de atuar por processos com profissionais multidisciplinares e de ser mais ágil em seus processos de mudança.

Em 2002, uma pesquisa realizada em Minas Gerais com 18 empresas e conduzida

por Barbosa, Ferraz e Lopes, questionou os motivos da adoção do modelo de

gestão por competências e como resultado percebeu-se que a opção foi por um

modelo voltado para questões estratégicas, buscando aproximar gestão de pessoas

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dos objetivos organizacionais, e não por aspectos ligados exclusivamente ao campo

da gestão de recursos humanos. As dez respostas mais recorrentes foram às

mencionadas abaixo (tab 1):

MOTIVOS DA ADOÇÃO RESPONDENTES ( %)

Desenvolver a estratégia e o negócio 44

Ganhar vantagem competitiva 39

Otimizar a utilização da força de trabalho 28

Desenvolver competências dos empregados 22

Alcançar o foco: tecnologia e pessoas 22

Promover a cultura organizacional 22

Acompanhar o desempenho 22

Acompanhar tendências de gestão 22

Melhorar a comunicação com os empregados (estratégias, competências, feedback, etc.)

22

Buscar solução eficaz para se atingir resultados 22

Tabela 2 – Motivos de Adoção do Modelo de Gestão de Competências. Fonte: Barbosa, Ferraz e Lopes (2002).

Esse resultado comprova um importante salto qualitativo da gestão por

competências ante os modelos tradicionais: o alinhamento com a estratégia

organizacional.

Para adotar a gestão por competências a empresa deve, inicialmente, frente a esse

contexto, definir o que vai entender por competência; desenhar sua estratégia;

especificar os objetivos e resultados esperados e, então, identificar quais as

competências necessárias para concretização de suas estratégias (organizacionais

e funcionais).

É fundamental esclarecer que os resultados desse processo são de médio e longo

prazo, assim expectativas imediatistas devem ser abandonadas sob pena de não

viabilizar a implantação da gestão de pessoas por competências. Também devemos

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ressaltar que pode ser aplicada a qualquer área, em organizações de todos os

tamanhos e segmentos e, preferencialmente, em toda empresa e não em setores

específicos ou níveis hierárquicos mais altos, como tem sido aplicada em várias

empresas do mercado.

De forma geral, a gestão por competências é uma boa opção para estruturar equipes

motivadas, alinhadas com a estratégia da empresa e preocupadas com os

resultados organizacionais.

Para finalizar este sub-item, deve-se destacar a diferença de competência com

desempenho ou potencial.

Potencial é algo, condição, inclinação ou tendência que mobilizada pode levar o

indivíduo a estágios de crescimento profissional e/ou pessoal (MILIONI, 2003).

Também pode ser entendido como conjunto de recursos inatos ou desenvolvidos

disponíveis para aplicação em qualquer situação da vida e de trabalho ou, ainda,

como capacidade de adequação futura do profissional a determinada situação ou

objetivo de trabalho (DUTRA, 2005)

Desempenho é considerado como resultado ou performance de atuação em

qualquer atividade. Segundo Milioni (2003, p.62) é o “comportamento observado ou

desejado de um indivíduo ou grupo no desenvolvimento de uma tarefa. Geralmente

é mensurável, quantificável e passível de modificações...”.

Avaliar o desempenho dos funcionários é apreciar de forma sistemática o

desempenho de cada profissional frente às atividades desenvolvidas, as metas

estabelecidas e os resultados alcançados. É uma poderosa forma de melhorar a

qualidade do serviço e avaliar a contribuição do trabalho de um indivíduo para a

empresa.

A avaliação de desempenho, por analisar a performance, isto é, resultados

alcançados pelos empregados, é uma boa ferramenta para embasamento da

remuneração variável.

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37

2.4. REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS

No início da década de 90, empresas norte-americanas começaram a estudar e

desenvolver modelos de competência em remuneração. No Brasil, os primeiros

exemplos surgiram na segunda metade dessa mesma década, na sua maioria em

organizações multinacionais, e ganharam mais adeptos a partir de 2000.

Surgiu da necessidade de se diferenciar empregados com habilitações diversas. As

empresas começaram a exigir mais responsabilidade e dar mais autonomia aos

profissionais e ao mesmo tempo diminuíam os níveis hierárquicos, assim era

necessário criar uma forma de remunerar diferenciada (CHIAVENATO, 1999).

Na remuneração por competências, que pode ser entendida como uma forma de

remuneração estratégica conforme explicações anteriores, o principal componente é

a avaliação das competências e não o cargo. O objetivo é remunerar de maneira

personalizada cada profissional, com base em suas entregas, níveis de

competências, contribuição pessoal.

Entende-se que esse seja um pagamento mais coerente com a contribuição de cada

indivíduo à organização, assim mais justo para empresa e empregado.

No entanto, é importante ressaltar que a legislação trabalhista, artigo 461 da CLT,

cria certos impedimentos ao explicitar que não é possível o pagamento diferenciado

para trabalhadores no mesmo cargo, exercendo atividades com igualdade de

perfeição técnica e produtividade. Ter evidências claras quanto aos dois últimos

critérios (diferenciação de perfeição técnica e produtividade) é mister para que

problemas trabalhistas sejam evitados.

Nesse sentido, a avaliação por competências ou certificação de competências é

fundamental, além de minimizar riscos legais, ainda orienta a remuneração, a

capacitação e o feedback (devolutiva pelo superior hierárquico).

São inúmeras as diferenças entre a forma de remuneração tradicional e a

remuneração por competências conforme podemos verificar no quadro a seguir:

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Remuneração Tradicional Remuneração por Competências Pagamento previamente estabelecido pelo cargo

Pagamento pode variar de acordo com a certificação de competências

A avaliação não afeta diretamente a remuneração dos empregados

A avaliação afeta diretamente a remuneração

Normalmente só os executivos recebem bônus ou vantagens pelo alcance de resultados diferenciados

Todos os empregados são valorizados por seus resultados

Não estimula o envolvimento com o negócio da empresa

Estimula o envolvimento com o negócio da empresa

O salário é fixo O salário pode variar periodicamente Enfatiza a tarefa Enfatiza os resultados Quadro 4 – Diferenças entre Remuneração Tradicional e Remuneração por Competências. Fonte: Autora (2007).

Segundo Hipólito (2001, p.66/67), a política salarial da empresa deve ser estruturada

de forma que:

Reforce valores, crenças e comportamentos alinhados com as atuais demandas da organização e com seu direcionamento estratégico; que estimule a busca de aquisição e estruturação de conhecimento, bem como seu compartilhamento no contexto empresarial; que sirva de elemento interveniente na capacidade da organização de atrair e reter talentos; e, ao demonstrar coerência, que sustente o comprometimento e estimule ações que estejam de acordo com os objetivos da organização.

O autor ressalta, ainda, que embora a prática salarial não seja um elemento

determinante do comprometimento do empregado com a empresa, é necessário ser

evitado que ocorra o oposto: o não-comprometimento.

É no contexto acima que a prática de remuneração por competências é construída.

O reconhecimento do profissional passa a ser atrelado ao desenvolvimento e

aplicação das competências definidas e estabelecido pela empresa. Assim, é

fundamental traduzir as competências em atributos que possam ser mensurados de

forma objetiva e clara para verificação de seu atingimento.

Fischer (apud RODRIGUES, 1998) destaca que a remuneração por competências só

pode ser aplicada em empresas que contarem com processos estruturados, e

legitimamente reconhecidos, de avaliação.

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39

A remuneração por competências exige, ainda, que a organização tenha um corpo

gerencial preparado e capacitado, que exerça seu papel de gestor de pessoas e

avaliador.

Destaca-se que conceitualmente um sistema de competências recompense os

resultados individuais, mas considere que haja uma combinação e, portanto,

reconheça os resultados grupais e organizacionais; nesses casos sugere-se a

remuneração variável.

Há, também, professores e teóricos que entendem a remuneração por competências

como mais adequada a níveis gerenciais ou, ainda, a empresas que operam em

ambientes muito competitivos e para os quais a capacidade de inovação seja fator

crítico de sucesso. Nesses casos, habitualmente, sugere-se que a remuneração por

competências seja na forma de variável, minimizando os riscos de aumento

exagerado da competição interna, valorização do individualismo e dificuldade no

alcance de metas coletivas.

Para concluir, abaixo é apresentado um quadro com vantagens e desvantagens

desse sistema de remuneração:

VANTAGENS DESVANTAGENS Facilita a identificação dos pontos fortes e fracos de cada funcionário.

Funcionários menos competentes podem sentir-se inseguros.

O treinamento torna-se útil para cada funcionário, por ser específico e os objetivos bem definidos.

A possível diferença salarial entre funcionários que ocupam o mesmo cargo pode gerar insatisfação.

Os funcionários sentem-se mais motivados.

A motivação pode desaparecer ao longo do tempo se o incentivo se rotinizar.

Funcionários com potencial inexplorado podem subir na empresa.

Pode gerar angústia e insegurança.

Quadro 5 – Vantagens e Desvantagens da Remuneração por Competências. Fonte: Chiavenato (1999)

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40

3. RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

A instituição escolhida para esta pesquisa foi o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio

às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo, por apresentar as seguintes

características:

• Experiência em gestão de pessoas por competências, com subsistemas de

RH integrados.

• Estar num momento de revisão do seu sistema de gestão de pessoas, em

especial no tocante à remuneração.

• Experiência da autora como consultora e gerente de gestão de pessoas da

empresa, o que possibilita o estudo de uma situação real e facilita a análise.

3.1. SISTEMA SEBRAE – BREVE HISTÓRICO

O Sebrae São Paulo faz parte do Sistema Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas que conta com uma Unidade Nacional e mais 27

Unidades Federativas descentralizadas e autônomas, embora com uma mesma

diretriz estratégica.

Em julho de 1972 foi constituído o CEBRAE – Centro Brasileiro de Apoio à Pequena

e Média Empresa, ligado ao BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico, sendo que seus primeiros dirigentes foram profissionais do próprio

banco. A demanda pela criação dessa instituição surgiu a partir de uma crise do

mercado enfrentada pelas grandes indústrias, sobretudo mecânicas, que estavam

com dificuldades para inserir seus produtos no mercado.

“Qual é o mercado da indústria pesada?”, a resposta: “a pequena e a média

empresa”; assim iniciou-se o apoio do BNDES para dar condições dessas empresas

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comprarem e pagarem os bancos, em função de financiamentos concedidos

anteriormente.

No final da década de 70, o CEBRAE, através das unidades estaduais (CEAG –

Centro de Assistência Gerencial), representava a reunião de instituições diversas,

com objetivos afins, mas formas próprias de atuação, o que dificultada o

desenvolvimento de programas comuns, sobretudo sob a coordenação de um órgão

nacional.

Na década de 80, os CEAGs sobreviviam mais às custas dos governos estaduais do

que do governo federal e com a eleição de 1986, boa parte das verbas foram

cortadas pelos então governadores eleitos e empossados. Isso dificultou

enormemente a atuação do CEBRAE.

No início do governo Collor, uma medida provisória desvinculou vários órgãos do

governo, entre eles o CEBRAE. Ao passar pelo Congresso Nacional, o CEBRAE

acabou fortalecido em função do reconhecimento da sua capilaridade e ação efetiva

junto ao cliente local.

Em maio de 1990, através da Lei 8.029, o CEBRAE foi desvinculado da

administração pública direta e transformado em serviço social autônomo, sendo que

em outubro do mesmo ano, é alterada a denominação de CEBRAE para Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE.

Buscou-se então constituir seu quadro funcional com o objetivo de conseguir uma

estrutura mínima que possibilita-se sua atuação como gestor de recursos e

estimulador de ações em prol da micro e pequena empresa brasileira; deveria atuar

como articulador e fomentador.

Com o passar dos anos esse proposta foi sendo ampliada até que em 1998 foi

iniciado o processo de reinvenção.

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42

3.2. A REINVENÇÃO NO FINAL DA DÉCADA DE 90

Em 1998 o Sebrae deu início a uma ampla reflexão sobre sua forma de atuação,

suas estratégias e prioridades; foi o começo da reinvenção que a partir de 1999

revolucionou a organização e norteou a mudança do eixo de atuação de todo

Sistema SEBRAE.

Esse redirecionamento estratégico pressupunha grande transformação sendo que a

empresa deixaria de ter um foco de educador e provedor de soluções para ser

catalisador e articulador de redes de apoio às micro e pequenas empresas,

aumentando seu alcance no território nacional.

O grande objetivo era “fazer mais com menos” e passar dos “milhares para os

milhões”, assim deveria haver um redirecionamento do individual para o coletivo,

com a oferta de produtos e serviços de interesse mais abrangente e atuação mais

ampla.

O propósito da empresa, conforme este novo direcionamento passou a ser “trabalhar

de forma estratégica, inovadora e pragmática para fazer com que o universo dos

pequenos negócios no Brasil tenha as melhores condições possíveis para uma

evolução sustentável, contribuindo para o desenvolvimento do país como um todo”.

(SEBRAE, 2000, p. 104)

Com isso, foi necessário rever suas práticas em gestão de pessoas e em meados de

2001 um comitê multidisciplinar foi constituído, com representantes das diversas

regiões do país e de diferentes área de atuação, com a missão de conceber,

construir e implantar um novo modelo de gestão de pessoas para o Sistema

SEBRAE.

Inúmeras visitas técnicas e estudos foram feitos e a conclusão foi que um sistema

baseado em gestão por competências permitiria o alinhamento entre os novos

objetivos estratégicos da instituição com os esforços individuais dos profissionais,

alinhando capacitação e aplicação de competências.

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3.3. SGP – SISTEMA DE GESTÃO DE PESSOAS POR

COMPETÊNCIAS

O SGP foi construído entre o final de 2001 e início de 2002, tendo sido aprovado

pela Diretoria Executiva do Sebrae Nacional e pelo CDN – Conselho Deliberativo

Nacional. No 2º semestre de 2002 foi disponibilizado para implantação em todas as

Unidades Federativas que assinassem o termo de adesão, após análise das

Diretorias Executivas Estaduais e CDE – Conselho Deliberativo Estadual.

As primeiras unidades a implantarem, em 2002, foram o Sebrae Nacional e o Sebrae

Paraná. O Sebrae São Paulo deu início à implantação desse sistema em 2003.

O Sistema de Gestão de Pessoas fundamenta-se no conceito de competências,

entendidas estas como conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, que se

manifestam por resultados observáveis e que viabilizam uma performance superior.

O Sebrae, como uma organização de gestão do conhecimento, tem no Sistema de

Gestão de Pessoas o instrumento que lhe possibilita planejar, organizar,

desenvolver, acompanhar e avaliar as competências imprescindíveis à concretização

de seu Direcionamento Estratégico.

O manual do SGP expressa os princípios que norteiam o Sistema de Gestão de

Pessoas (SGP) do Sebrae, estabelecendo políticas, diretrizes e procedimentos

pertinentes à sua administração.

O SGP organiza-se em 6 (seis) núcleos de atuação, sinergicamente integrados,

conforme figura a seguir (fig. 6).

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44

Figura 6 – Núcleos do SGP. Fonte: SEBRAE (2006).

O núcleo Organização dos Espaços Ocupacionais estabelece as diretrizes para a

evolução na carreira a partir da estrutura de espaços ocupacionais. Este núcleo

apresenta as trajetórias de carreira que os empregados do Sebrae podem percorrer

através do desenvolvimento profissional baseado em competências, define as

exigências de qualificação requeridas e estabelece procedimentos para a

comprovação dessa qualificação.

O núcleo Acompanhamento e Avaliação de Resultados estabelece critérios e

procedimentos para o monitoramento dos resultados obtidos pelo Sebrae e suas

equipes, bem como do desempenho de seus empregados.

O núcleo Reconhecimento estabelece as políticas e procedimentos para

composição do mix de remuneração, os critérios de compensação dos empregados

pela aquisição de competências e alcance dos resultados organizacionais, além de

políticas e critérios para a concessão de benefícios.

O núcleo Provimento estabelece as diretrizes e procedimentos para Planejamento

Estratégico de Pessoal e para o provimento do capital humano necessário para a

consecução dos objetivos do Sebrae, assegurando o cumprimento dos princípios de

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igualdade, impessoalidade, moralidade e publicidade, de acordo com os padrões

técnicos e legais requeridos.

O núcleo Capacitação estabelece políticas e procedimentos para as ações de

educação continuada, com a finalidade de desenvolver internamente as

competências requeridas pelo Sebrae, conforme o Planejamento Estratégico de

Pessoal.

O núcleo Monitoramento da Cultura Organizacional estabelece políticas e

procedimentos para monitoramento e transformação da cultura organizacional do

Sebrae.

Para melhor entendimento do processo vamos detalhar um pouco mais os núcleos

“Organização dos Espaços Ocupacionais”, “Reconhecimento” e “Acompanhamento e

Avaliação de Resultados”.

3.3.1. Núcleo Organização dos Espaços Ocupacionais

Os principais objetivos do núcleo Organização dos Espaços Ocupacionais são:

• Explicitar as competências necessárias para a consecução dos objetivos

estratégicos da Organização e em contrapartida para o desenvolvimento

profissional dos empregados do Sebrae.

• Definir a estrutura e os critérios para enquadramento e evolução na carreira.

• Estabelecer critérios para a avaliação e certificação das competências e

atitudes.

• Subsidiar os demais núcleos de atuação do Sistema de Gestão de Pessoas.

A estrutura de carreira baseia-se no sistema de gestão por competências e organiza-

se em espaços ocupacionais.

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Espaço ocupacional é caracterizado pelo conjunto de responsabilidades e

competências definidas de acordo com a complexidade e relevância das ações e

dos respectivos resultados obtidos. Esse conceito favorece a flexibilidade,

mobilidade, ampliação de horizontes, além de equacionar de forma mais racional a

estrutura hierárquica.

A evolução na carreira (fig. 7) obedece requisitos e critérios tecnicamente

estabelecidos estando condicionada ao orçamento e à capacidade de pagamento do

Sebrae, conforme limites legais.

Além dos espaços ocupacionais, a estrutura prevê fora da carreira o exercício de

função gerencial e de assessoria da Diretoria ou do Conselho Deliberativo.

Figura 6 – Carreira no Sebrae. Fonte: SEBRAE (2006)

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47

Os espaços ocupacionais que compõem a carreira no Sebrae são:

• Auxiliar: profissionais que desenvolvem atividades operacionais e

administrativas (pré-requisito: ensino fundamental completo).

• Assistente: profissionais que atuam no suporte técnico-administrativo (pré-

requisito: ensino médio completo).

• Analista: profissionais que atuam em nível técnico e na implementação de

soluções (pré-requisito: ensino superior completo).

• Consultor: profissionais que atuam em nível estratégico e na formulação de

soluções (pré-requisito: pós graduação completa).

A evolução na carreira é prevista de 2 (duas) formas: movimentação horizontal

(crescimento no mesmo espaço ocupacional) e movimentação vertical (evolução na

carreira para o espaço ocupacional seguinte).

Para que essas movimentações ocorram são previstas exigências de qualificação

em termos de escolaridade, pontuação na avaliação por competências e atitudes.

3.3.1.1. Competências no Sebrae

As competências correspondem ao conjunto de conhecimentos, habilidades e

atitudes que associados e aplicados geram resultado para a empresa, sendo:

• Conhecimento: é o “saber adquirido”, conhecimento técnico, conceitos,

teorias, domínio de procedimentos.

• Habilidade: é o “saber fazer”, ou seja, é o saber colocado em prática,

maneira de executar as tarefas. Envolve o conhecimento, a aplicação prática

e a aptidão.

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48

• Atitude: é o “querer fazer”, são os comportamentos observáveis, a maneira

como o empregado age com pares, superiores e subordinados. As atitudes

requeridas dos profissionais do Sebrae são 5 (cinco): flexibilidade,

criatividade, comprometimento, proatividade e relacionamento interpessoal.

As competências do Sebrae são definidas com base no Direcionamento Estratégico

e nos macroprocessos e processos de trabalho e estão divididas em cinco (5)

diferentes tipos, contemplando características e abrangências próprias (fig 8).

Figura 8 – Tipos de Competências do Sebrae. Fonte: Sebrae (2006).

3.3.1.2. Avaliação de Competências no Sebrae

O processo de avaliação de competências deve ocorrer periodicamente (com

intervalos de 12 a 18 meses).

Pelo SGP todos os funcionários são avaliados por competências, por meio de um

subcomitê de avaliação, que utiliza o manual do avaliador contendo, entre outros

materiais, a relação das competências e suas descrições, os conhecimentos, as

habilidades e a lista de evidências (relação de ações que auxiliam na comprovação

da aplicação da competência e qualidade de entrega).

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49

Os avaliadores são profissionais com perfis mínimos, escolhidos pelos próprios

funcionários das áreas e passam por uma capacitação específica conduzida pela

Unidade Gestão de Pessoas.

O subcomitê é formado por 5 (cinco) membros (fig 9), sendo que o avaliado não

participa de sua própria avaliação e o mediador (profissional da Unidade Gestão de

Pessoas) não atua como avaliador. Seu papel é garantir a compreensão dos

critérios, facilitar o processo e assegurar o mesmo nível de exigência entre os

diferentes subcomitês.

A avaliação é presencial e o resultado final deve ser o consenso entre os 4 (quatro)

avaliadores. O avaliado pode enviar um relato de experiências que auxilie com

exemplos e situações reais a avaliação.

Figura 9 – Formação do Subcomitê de Avaliação de Competências. Fonte: Sebrae (2006)

Na avaliação de gerentes a composição do subcomitê segue a mesma lógica, porém

participa um subordinado no lugar de um profissional da mesma Unidade.

Para cada competência é atribuído um nível de proficiência, que traduz o estágio em

que o profissional se encontra em relação à aplicação da competência. São 5 (cinco)

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50

níveis com pesos distintos: não aplica (0,00), desenvolvimento (0,25), aplicação

(0,50), otimização (0,75) e excelência (1,00).

Essa avaliação é subsídio para enquadramento nos espaços ocupacionais,

atribuição de remuneração fixa, movimentação horizontal e vertical, além do plano

de capacitação e plano de acompanhamento do desempenho individual (PADI).

3.3.2. Núcleo Reconhecimento

Os principais objetivos deste núcleo são:

• Estabelecer critérios e procedimentos para remunerar a aquisição de

competências – remuneração fixa.

• Estabelecer critérios e procedimentos para remunerar o alcance de resultados

organizacionais e de equipes – remuneração variável.

• Estabelecer critérios e procedimentos para concessão de benefícios aos

empregados do Sebrae – benefícios fixos e flexíveis.

A estrutura de remuneração do Sebrae está embasada no conceito de remuneração

estratégica.

3.3.2.1. Remuneração Fixa no Sebrae

A remuneração fixa, ou salário base, refere-se à quantia paga mensalmente como

salário nominal, utilizado para efeito de registros legais.

O critério advém da avaliação das competências. Esta resulta em uma determinada

pontuação que define o nível salarial em que o funcionário deve ser enquadrado,

sempre condicionado ao orçamento do Sebrae (fig 10).

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51

Para cada espaço ocupacional a escala de pontuação varia de 0 (zero) a 100 (cem)

pontos.

Os gerentes são enquadrados no EO consultor e recebem remuneração equivalente

às competências certificadas para esse nível. Para gratificação de função gerencial,

existe uma tabela complementar com 5 (cinco) diferentes possibilidades salariais

(steps) e o posicionamento nessa tabela é determinado através da pontuação obtida

na avaliação das competências gerenciais.

A função gerencial é considerada como transitória e de confiança, assim ao deixar a

função, o profissional perde o direito à gratificação de função. Na prática significa

que o profissional “está gerente” e não “é gerente”.

Figura 10 – Correspondência Pontuação/ Tabela Salarial do Sebrae. Fonte: Sebrae (2006).

Destaca-se que o salário médio de mercado encontra-se no meio da tabela salarial:

step 8 (oito) nos espaços ocupacionais e 5 (cinco) na gratificação de função.

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52

3.3.2.2. Remuneração Variável no Sebrae

A remuneração variável é a forma de reconhecimento que incentiva o profissional a

extrapolar seus níveis clássicos de desempenho, vinculando o salário variável (14º

salário) aos resultados das equipes e da organização.

O modelo é único para todos os empregados do Sebrae e está vinculado a

indicadores na proporção:

• 70% (setenta porcento) de uma remuneração fixa (salário base) para o

atingimento das metas da empresa.

• 30% (trinta porcento) de uma remuneração fixa (salário base) para o

cumprimento das metas da equipe.

3.3.2.3. Benefícios no Sebrae

O pacote de benefícios do Sebrae é composto por benefícios fixos e flexíveis.

Referem-se à concessão de reconhecimento indireto, facultado mensalmente

através da legislação, acordo coletivo e flexibilização dos opcionais.

• Fixos – são concedidos a todos os empregados sem diferenciação por EO.

Ex: vale transporte e seguro de vida.

• Flexíveis – o profissional escolhe, dentro de um pacote de opções pré-

estabelecidas, os benefícios mais adequados à sua realidade (ex: auxílio

creche, auxílio combustível, auxílio refeição), respeitando os percentuais/

valores disponíveis para cada EO:

o Auxiliar/ assistente = 20% (vinte porcento) do valor do pacote fixo em

benefícios flexíveis.

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o Analista = 40% (quarenta porcento) do valor do pacote fixo1 em

benefícios flexíveis.

o Consultor = 60% (sessenta porcento) do valor do pacote fixo em

benefícios flexíveis.

o Gerente/ Assessor Direto/ Diretor = 80% (oitenta porcento) do valor do

pacote fixo em benefícios flexíveis.

Após escolher a composição de seus benefícios, o empregado pode rever o pacote

flexível anualmente no mês da data base.

3.3.3. Núcleo Acompanhamento e Avaliação de Resultados

Os principais objetivos deste núcleo são:

• Acompanhar os resultados organizacionais, processados pelo sistema de

avaliação do Sebrae, como referência para a remuneração variável e para as

ações de capacitação.

• Sistematizar práticas de acompanhamento e avaliação dos resultados das

equipes e do desempenho individual dos empregados.

• Identificar pontos fortes e oportunidades de melhorias no desempenho e na

carreira.

• Subsidiar com informações os planos de ação de desenvolvimento dos

empregados.

1 Para chegar ao valor do pacote fixo considera-se a média do custo de benefícios por seu valor de compra, mais toda carga tributária decorrente, devida pelo Sebrae.

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54

É importante ressaltar que a avaliação do desempenho individual não determina

valores para remuneração variável. Ela é uma condição fundamental para o

profissional requerer alguma promoção, vertical ou horizontal.

A avaliação do desempenho individual fundamenta-se no PADI – Plano de

Acompanhamento do Desempenho Individual, caracterizado por metas de realização

e metas de desenvolvimento. O PADI é negociado entre gerente e empregado, com

base nas diretrizes estratégicas da empresa e no planejamento anual de cada

Unidade de Ação (Planos de Trabalho) e as metas são definidas anualmente em

consenso.

A avaliação de atitudes, já citada anteriormente, inclui-se neste núcleo e ocorre

anualmente, antes da avaliação de competências. Consiste na síntese de quatro

avaliações: auto-avaliação, avaliação do superior imediato, avaliação de pares do

avaliado e avaliação dos clientes e fornecedores; no caso dos gerentes, há uma 5ª

(quinta) avaliação: a do subordinado.

Essa avaliação, assim como a de competências, é embasada por uma descrição da

atitude e por uma lista de evidências.

Ocorre por sistema informatizado e a nota final considera a média ponderada de

todas as avaliações mencionadas acima. Cada tipo de avaliador tem um peso.

Além da avaliação das competências, das atitudes e dos resultados individuais,

também são acompanhados os resultados organizacionais e por equipes:

• O resultado organizacional ocorre em função de indicadores pré-

estabelecidos, no final do ano anterior, com DIREX (Diretoria Executiva do

Sebrae SP) e CDE (Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae SP) e

apurados por um instrumento próprio.

• A avaliação dos resultados das equipes é decorrência do alcance das metas e

prazos definidos no planejamento da Unidade de Ação, que ocorre no final do

ano anterior e são aprovados pela DIREX.

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55

3.4. ANÁLISE DO CONTEXTO E PESQUISA DE CAMPO

A partir das políticas e procedimentos descritos anteriormente, o Sebrae São Paulo

implantou e respalda sua atuação em gestão de pessoas no SGP, desde 2003.

Atualmente, o Sebrae SP, tem 622 profissionais em seu quadro funcional atuando

em 32 escritórios regionais no estado de SP (capital, litoral e interior), além da sede

e do Centro do Empreendedor, localizados na cidade de São Paulo (capital do

estado).

Desse total, 49% são homens e 51% mulheres. A maior parte (cerca de 85%) possui

mais de 5 (cinco) anos de empresa e como escolaridade, muitos (aproximadamente

75%) possuem nível superior completo, no mínimo. Não há no quadro nenhum

funcionário analfabeto e somente 1 (um) possui nível fundamental completo, os

demais possuem nível médio (completo ou em curso) e ainda há muitos cursando o

nível superior e pós-graduação. A idade média é superior a 25 anos, mas não

ultrapassa os 40 anos, embora 12% do quadro tenha mais de 60 anos.

O Sebrae SP possui programa de estágios (atualmente possui 120 estagiários de

nível médio e superior), contrata deficientes físicos (o quadro tem 25 profissionais

nessa condição) e faz 3 (três) anos que atua com um programa de contratação de

empregados denominado “Novos Talentos”, cujo objetivo é contratar jovens recém-

formados (com no máximo 2 anos de conclusão do nível médio ou superior)

interessados em desenvolver sua carreira na empresa.

Embora o SGP seja revisto anualmente, considerando melhorias sugeridas pelos

empregados e por todo Sistema Sebrae, observou-se, através de uma pesquisa de

clima realizada no 2º semestre de 2005, e mais fortemente em 2006, um certo

descontentamento com a política, sendo necessária uma reflexão mais profunda e

estratégica. Os principais tópicos de questionamento eram: nossas avaliações de

fato reconhecem os melhores profissionais? Nossa política de remuneração é

atrativa, tanto para contratação de novos empregados como para retenção dos

atuais? Vincular o salário fixo tão diretamente ao resultado da avaliação de

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competências não gera distorções nas avaliações e prejudica o processo como um

todo?

Em 2006, numa pesquisa acadêmica conduzida por uma das consultoras externas

que atuou na formulação e implantação do SGP, inclusive em São Paulo,

apresentou o seguinte resultado:

Grau de Satisfação dos Empregados do Sebrae SP com o SGP

16%

51%

33%

alto médio baixo

Gráfico 1 - Grau de Satisfação com o SGP. Fonte: Yoshida (2006)

No início de 2007 a Presidência do CDE e os Diretores foram substituídos (conforme

política definida no estatuto da empresa) e, assim, o tema foi discutido, sendo

definido que ao longo do ano haveria uma reformulação com ampla participação dos

empregados.

Como o SGP é coordenado pelo Sebrae Nacional e os estados podem fazer

pequenos ajustes visando adequá-lo à realidade local, porém sem perder a essência

do processo, a Unidade de Gestão de Pessoas constituiu um comitê com 1 (um)

gerente de Gestão de Pessoas, representante de cada região do país (sul, norte,

nordeste, sudeste e centro-oeste), além de 3 profissionais de sua própria equipe

para essa missão. Esse grupo de trabalho foi denominado “comitê gestor do SGP”.

Para representar a região sudeste, São Paulo foi escolhido.

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57

Com um cronograma apertado de trabalho, dividido em 7 (sete) etapas, e com as

premissas de: simplicidade, agilidade, transparência, flexibilidade e foco em

desempenho e resultado foi dado início ao trabalho, tendo como uma das principais

questões: é possível estabelecer uma nova sistemática de remuneração baseada

em competências, porém mais flexível, aderente ao desempenho e sem perder a

essência do SGP?

A primeira etapa, chamada de fase preparatória, foi composta pela realização de

visitas técnicas a empresas que atuam com gestão por competências ou possuem

práticas diferenciadas em RH, especialmente em remuneração. No total foram

visitadas 10 empresas, com mais de 500 funcionários, em São Paulo e Rio de

Janeiro, a maior parte do setor privado. Também foi realizada ampla pesquisa –

livros, artigos, revistas especializadas em gestão de pessoas, internet, trabalhos

acadêmicos e consulta a estudos de casos. Nesta etapa ocorreram 3 (três) reuniões

do comitê gestor do SGP.

Na seqüência, segunda etapa denominada coleta de sugestões, foi realizada uma

ampla campanha de comunicação e pesquisa de campo visando coletar

contribuições efetivas que pudessem subsidiar a revisão do SGP. Nessa fase houve

a distribuição de filipetas a todos os empregados, para apresentação de sugestões,

além de um brinde com um folheto explicativo do processo. Foram enviados 3 (três)

boletins eletrônicos, por e-mail e um boletim mural foi afixado em todos os quadros

de aviso da sede, Centro do Empreendedor e escritórios regionais do estado.

Também foi disponibilizada a Ouvidoria Interna (através de caixa de sugestões,

endereço eletrônico e sistema disponível na intranet, inclusive com a possibilidade

de registrar ocorrências anônimas). Além disso, 5 (cinco) profissionais da Unidade

Gestão de Pessoas ficaram disponíveis para atendimentos (telefônicos ou

presenciais). Foram recebidas 47 manifestações.

Nos grupos focais, estruturados especificamente para esse trabalho, foram mais de

160 contribuições. Foi formulado um roteiro para condução dos grupos (anexo 1) e o

relatório consolidado, preservando a identidade de cada grupo de discussão, foi

entregue pela consultora contratada para essa fase.

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58

O relatório era iniciado pela estrutura do trabalho, dados da amostra de pessoal e

metodologia. A seguir cada grupo (apresentado fora de ordem e denominados como

“A”, “B”, “C”, “D” e “E”), tiveram a síntese das questões/ sugestões relatadas. A

entrega ocorreu de forma presencial, numa reunião de 3 horas, onde a consultora

relatou os principais pontos, com o auxílio de uma apresentação em power point,

para equipe de Gestão de Pessoas do Sebrae SP.

Na organização e análise das sugestões, terceira etapa do processo, todas as

contribuições foram compiladas e analisadas pelo comitê gestor do SGP,

inicialmente por estado, depois considerando o sistema Sebrae todo.

Para tanto, várias reuniões foram realizadas e a Assessoria Jurídica e Auditoria

foram acionadas no sentido de emitirem orientações quanto a sugestões que fossem

viáveis em decorrência da legislação trabalhista e da fiscalização dos órgãos de

controle, TCU – Tribunal de Contas da União e CGU – Controladoria Geral da União,

aos quais as contas da instituição são submetidas.

A seguir, as principais conclusões de São Paulo:

• Ambiente dos grupos focais:

o Grupos colaborativos, com bom nível de participação e comprometimento com a atividade.

o Nível mediano de conhecimento do SGP.

o Maioria focada em situações da empresa e não em problemas pessoais.

o Expectativas variadas entre otimismo e pessimismo; confiança e descrença.

o Clima dos grupos variando entre euforia, apatia e hostilidade e sarcasmo.

• Núcleos mais polêmicos nos grupos focais: espaços ocupacionais e

provimento.

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• Núcleos menos relevantes nos grupos focais: acompanhamento e avaliação

de resultados, reconhecimento e capacitação.

• Núcleo desconhecido dos grupos focais: monitoramento da cultura

organizacional.

• Temas mais críticos:

o Descrição das competências, evidências e níveis de proficiência.

o Critérios de movimentação vertical e horizontal.

o PADI (estrutura, construção, estabelecimento de metas).

o Planejamento Estratégico de Pessoal e quadro de vagas.

o Contratações externas.

o Papel dos gerentes e da Unidade Gestão de Pessoas.

o Ausência de procedimentos ou procedimentos dúbios.

o Períodos e prazos de avaliação de competências, em especial.

o Formação dos subcomitês de avaliação (perfil, composição e preparo).

o Estrutura de carreira – elementos restritivos (pontuação e

escolaridade).

• Principais considerações por Núcleo do SGP:

Para efeito deste trabalho, serão apresentadas apenas as sínteses dos núcleos:

“Organização dos Espaços Ocupacionais”, “Reconhecimento” e “Acompanhamento e

Avaliação de Resultados”, relevantes para o estudo.

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o Organização dos Espaços Ocupacionais

Quadro 6 – Síntese das sugestões do Núcleo Espaços Ocupacionais. Fonte: Sebrae (2007).

o Reconhecimento:

Antes da apresentação da síntese desse núcleo, é importante mencionar que todos

os grupos focais mencionaram que os salários praticados pela empresa estão

compatíveis com o mercado, de forma geral, e os benefícios oferecidos foram

considerados como “razoáveis” ou “bons”.

Deve ser mencionado, ainda, que houve grande desconhecimento do conceito

remuneração estratégica e remuneração total, temas já explicados no capítulo de

fundamentação teórica e que norteiam a política do Sebrae.

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Quadro 7 – Síntese das sugestões do Núcleo Reconhecimento. Fonte: Sebrae (2007).

o Acompanhamento e Avaliação de Resultados:

Quadro 8 – Síntese das sugestões do Núcleo Acompanhamento e Avaliação de Resultados. Fonte: Sebrae (2007).

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A partir das etapas de “coleta de sugestões” e “organização e análise das

sugestões”, são possíveis algumas conclusões:

• O Sebrae SP deve melhorar a comunicação interna, reforçando conceitos e

práticas do SGP.

• O sistema, de fato, precisa ser revisto visando torná-lo mais ágil, flexível e

simples.

• É necessário capacitar ainda mais o corpo gerencial para assumir seu papel

como gestor de pessoas e melhorar os feedbacks.

• É fundamental esclarecer o papel da Unidade Gestão de Pessoas como

responsável pela política, procedimentos e ferramentas do SGP,

diferentemente do papel dos gerentes que são responsáveis pelas suas

equipes e empregados.

Antes da quarta etapa, um comitê formado por profissionais da Unidade Gestão de

Pessoas e 2 (dois) gerentes de cada macroprocesso do Sebrae SP (Apoio, Suporte,

Desenvolvimento e Operações) analisaram os resultados e sínteses e destacaram

pontos importantes de revisão para o estado. Entre eles, a revisão da estrutura de

avaliação de competências, carreira, critérios de estabelecimento da remuneração

fixa e outras formas de reconhecimento por desempenhos diferenciados.

Na 4ª (quarta) etapa, a elaboração de propostas, uma consultoria especializada

em gestão de pessoas por competências foi contratada para auxiliar na estruturação

de uma proposta de revisão, com base na pesquisa realizada e em conformidade

com os aspectos legais.

Ocorreram reuniões entre os membros do comitê gestor do SGP e alinhamentos

com a Diretoria Executiva do Sebrae Nacional.

A quinta etapa, redação final do manual de políticas e procedimentos, foi

realizada, também, com o apoio da consultoria para revisão final e antes de

aprovação pelo CDN – Conselho Deliberativo Nacional, as propostas foram

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submetidas a todos os Diretores Executivos e Gerentes de Gestão de Pessoas do

Sistema Sebrae.

A seguir um breve relato das principais alterações processadas no SGP: a lógica do

sistema e organização dos núcleos permaneceu a mesma, sendo que o núcleo

“Organização dos Espaços Ocupacionais” foi o único que teve alteração de

nomenclatura, passando a ser denominado “Organização dos Espaços

Ocupacionais e Carreira” e absorvendo a avaliação de atitudes, que anteriormente

fazia parte de “Acompanhamento e Avaliação de Resultados”.

A organização em 4 (quatro) espaços ocupacionais foi substituída por 2 (dois) EO,

“assistente” e “analista técnico” (fig. 11), constituindo-se cada um em uma carreira

na empresa – nível médio e nível superior, com 3 faixas cada (I, II e III). Para

embasar essa nova estrutura foi desenhada uma “Matriz de Complexidade”.

Essa mudança favorece o entendimento do corpo técnico, por ser mais clara e

objetiva, e promove o crescimento horizontal de maneira mais estruturada, afinal o

desenvolvimento da carreira deve ser um processo formalizado e seqüencial,

promovendo os funcionários que têm potencial para assumirem maiores

responsabilidades e atividades mais complexas (CHIAVENATO, 1999).

Figura 11 – Nova Estrutura de Carreira no Sebrae. Fonte: Autora (2007).

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Com base nas premissas de simplicidade e transparência, todas as competências

foram revistas, considerando-se o direcionamento estratégico da empresa e a matriz

de complexidade. O número final sofreu pequena redução e nas listas de evidências

foram eliminadas as redundâncias entre os EO e seus níveis. Os níveis de

proficiência e pontuação também foram mantidos inalterados.

O processo de avaliação de competências sofreu mudanças significativas (fig. 12),

visando torná-lo mais ágil, transparente e aumentando a responsabilidade do

gerente.

Figura 12 – Processo de Avaliação. Fonte: Sebrae (2007)

O processo de avaliação de competências dos empregados inicia-se

obrigatoriamente pela auto-avaliação como subsídio para a avaliação do superior

imediato. O superior imediato recebe a auto-avaliação e, a partir desta e de outros

insumos, realiza a avaliação do empregado.

Concluído o processo, deverá ser feito o balanceamento dos resultados das

avaliações pelo Comitê de Balanceamento. Quando houver divergência entre a auto-

avaliação e avaliação do superior imediato, ou quando os resultados da avaliação

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individual ou da equipe estiverem fora da tendência normal, excepcionalmente,

poderá ser constituído um comitê de reavaliação.

Os resultados do comitê de reavaliação serão encaminhados à Diretoria juntamente

com as demais avaliações, para validação final. Após a aprovação da Diretoria, os

gerentes estão liberados para darem a devolutiva (feedback) e elaborarem o PADI.

A avaliação de atitudes passa a ser simultânea à avaliação de competências, sendo

que as atitudes foram mantidas, embora suas listas de evidências tenham sofrido

revisão.

A carreira foi organizada segundo a “Matriz de Análise de Carreira e

Desenvolvimento” que traduz o posicionamento e maturidade dos empregados na

carreira, dando suporte à tomada de decisões sobre gestão de pessoas.

Essa Matriz apresenta os resultados da avaliação de competências combinados com

Escolaridade Adicional e Tempo de Experiência no Sebrae. Posiciona o profissional

em relação a sua possibilidade de evolução em carreira e oportunidades de

desenvolvimento.

Cada Eixo da Matriz é dividido em quatro fases distintas de carreira e

desenvolvimento. São eles:

• CAD – Carreira a Desenvolver (pontuação de 0 a 25).

• CED – Carreira em Desenvolvimento (pontuação de 25 a 50).

• CDP – Carreira em Desenvolvimento Pleno (pontuação de 50 a 75).

• CS – Em Superação (pontuação de 75 a 100).

Esta divisão resulta em 16 quadrantes distintos, como representado na figura abaixo

(fig 13):

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Figura 13 – Matriz de Análise de Carreira e Desenvolvimento. Fonte: Sebrae (2007).

No núcleo de reconhecimento, com o objetivo de atender à premissa de foco no

desempenho e resultados, sem perder a diretriz de remunerar por competências, o

procedimento para atribuição do salário base foi revisto. Ao invés da pontuação

obtida na avaliação de competências remeter a uma tabela de salários, ela remete à

matriz de carreira e desenvolvimento. Vejamos a seguir o passo a passo do

processo de crescimento:

• Para efeito de crescimento salarial, a primeira condição é a existência prévia

de orçamento.

• O segundo passo é a análise das regiões de prioridade de crescimento

salarial, que relaciona: (a) o resultado da avaliação de competências,

escolaridade e tempo de experiência no SEBRAE (fig 14), com (b) o

posicionamento atual do empregado na tabela salarial.

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Quanto melhor o empregado estiver posicionado na Matriz de Análise de

Carreira e Desenvolvimento, e quanto menor o step em que o empregado

estiver, maior será a prioridade para crescimento salarial (figs 15 e 16).

Figura 14 – Posicionamento do empregado na Matriz de Análise e Desenvolvimento de Carreira. Fonte: Sebrae (2007)

Figura 15 – Regiões de Prioridade para Crescimento Salarial. Fonte: Sebrae (2007)

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Figura 16 - Critérios de crescimento: Limite de Steps conforme região de prioridade. Fonte: Sebrae (2007)

• O terceiro passo é confrontar a região de prioridades com outros critérios que

podem influenciar o crescimento salarial, quais sejam:

o Pré-requisito de escolaridade.

o Resultado da avaliação de atitudes.

o Cumprimento do planejamento da área.

o Cumprimento do orçamento da área.

o Resultados dos projetos/atividades em que o empregado esteve

envolvido.

o Nível de cumprimento das metas de realização.

• O quarto passo é a análise da Diretoria das proposições dos diversos

Gerentes, de modo a validar e/ou realizar ajustes conforme prioridades

estratégicas do SEBRAE.

Limite de Steps conforme Prioridade

LimiteConceitoPrioridade

Não movimentar.71º step do

nível seguinte

Até 1 step

Até 2 steps

Até 2 steps

Até 3 stepsAté 3 steps

Até 3 steps

Analisar Possibilidade de Mudança de Nível

Sexta prioridade de crescimento salarial.

Quinta prioridade de crescimento salarial.

Quarta prioridade de crescimento salarial.

Terceira prioridade de crescimento salarial.

Segunda prioridade de crescimento salarial.

Primeira prioridade de crescimento salarial.

2

6

MN 1 e 2

543

1

Limite de Steps conforme Prioridade

LimiteConceitoPrioridade

Não movimentar.71º step do

nível seguinte

Até 1 step

Até 2 steps

Até 2 steps

Até 3 stepsAté 3 steps

Até 3 steps

Analisar Possibilidade de Mudança de Nível

Sexta prioridade de crescimento salarial.

Quinta prioridade de crescimento salarial.

Quarta prioridade de crescimento salarial.

Terceira prioridade de crescimento salarial.

Segunda prioridade de crescimento salarial.

Primeira prioridade de crescimento salarial.

2

6

MN 1 e 2

543

1

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Para atribuição da gratificação de função gerencial, permanece o modelo existente

que vincula pontuação da avaliação das competências gerenciais com 5 steps de

gratificação.

Outra alteração significativa neste núcleo foi à inserção de outras formas de

remuneração visando reconhecer desempenhos diferenciados, a partir da avaliação

do PADI, em especial:

• Bônus através de bolsas de estudos ou viagens de estudo no Brasil e no

exterior.

• Folga remunerada.

• Valorização das realizações do SEBRAE, individuais e coletivas, com menção

e publicação de cases em meios de comunicação interna e eventos.

• Subsídio diferenciado para cursos regulares ou idiomas.

• Estágio técnico (1 a 3 meses) em instituições internacionais que tenham

relação com atividade Sebrae.

A aprovação do novo modelo do SGP, sexta etapa do processo, ocorreu no último

mês de setembro de 2007. Ao longo de outubro estão sendo realizadas

apresentações para todo corpo gerencial do Sebrae SP, visando a preparação para

etapa seguinte.

Para novembro, está prevista a sétima e última etapa, divulgação do novo SGP,

através de um plano de comunicação interna envolvendo várias mídias e

abrangendo todo corpo funcional.

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70

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo apresentam-se os resultados de forma resumida, bem como as

contribuições para o meio acadêmico e recomendações.

Essa pesquisa contribuiu para o Sebrae, em especial a UF São Paulo, e para o meio

acadêmico por ampliar os estudos sobre remuneração, sob o enfoque de

competências e pela análise e comprovação prática da importância do

estabelecimento de critérios claros, objetivos e ao mesmo tempo com certa

flexibilidade na estruturação de uma política salarial.

Procurou-se ao longo de todo trabalho responder à questão “é possível estabelecer uma nova sistemática de remuneração baseada em competências, porém mais flexível, aderente ao desempenho e sem perder a essência do SGP?”.

Além da questão da pesquisa, o objetivo geral desta monografia foi atingido, isto é,

foi possível “contribuir com a discussão que o Sebrae SP vem fazendo junto ao

Sebrae Nacional visando rever sua política de RH, principalmente no Núcleo

Reconhecimento, buscando novos elementos que norteiem o estabelecimento de

critérios para remuneração, em especial o salário base, de seus empregados”,

através da indicação de visitas e leituras, bem como pela participação ativa nas

discussões técnicas realizadas.

Quanto aos objetivos específicos, entende-se que também foram contemplados:

conhecer a opinião dos colaboradores do Sebrae SP sobre a política de RH vigente,

o SGP, especialmente no estabelecimento do salário base, analisar o processo de

remuneração de algumas empresas que atuam com gestão de pessoas por

competências, discutir conceitualmente o tema remuneração com o Comitê Gestor

do SGP junto ao Sebrae Nacional e, por fim, apresentar um novo modelo de

remuneração por competências, adequado à realidade do Sebrae SP.

Como referência, foram estudadas, as idéias de diversos autores e estudiosos sobre

a evolução da gestão de pessoas ao longo dos últimos cem anos, conceitos e

práticas de remuneração, gestões de pessoas por competências e, finalmente,

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remuneração por competências. Foi possível identificar quatro tópicos relevantes

para as discussões que suportem analisar as práticas de remuneração.

O primeiro tópico retrata a mudança sofrida no papel de gestão de pessoas e na

organização da estrutura hierárquica e modelagem dos cargos nas empresas. Cada

dia as estruturas organizacionais estão mais enxutas e os cargos mais amplos e

multifuncionais.

O segundo tópico evidenciou que as práticas de remuneração estão contemplando a

abordagem mais estratégica do reconhecimento e valorizando as contribuições

individuais em detrimento dos padrões estipulados nos programas tradicionais de

“cargos e salários”.

O terceiro tópico refere-se ao modelo de gestão de pessoas por competências e a

pesquisa evidenciou que a estruturação adequada do modelo, seu alinhamento

estratégico e sua melhoria contínua, quando existentes na organização, são fatores

que facilitam a gestão da política salarial, pois torna-se a base para legitimação de

critérios a serem seguidos e decisões a serem tomadas, provendo maior

credibilidade ao processo.

O quarto, e último, tópico trata da remuneração por competências, suas

características e comparação com os modelos tradicionais. Ressalta que esta prática

só é possível em organizações com processos estruturados de avaliação, segundo

conceito de Fischer.

Foi possível perceber, analisando o processo de gestão de pessoas por

competências do Sebrae, na prática do Sebrae São Paulo, que o processo

apresenta um potencial como função diagnóstica e formativa muito maior do aquele

efetivamente observado. O processo é muito bem estruturado e se for melhor

comunicado e os gerentes desenvolvidos e capacitados, pode alcançar um novo

patamar quanto aos resultados e benefícios a serem agregados para empresa e

seus profissionais.

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Após quase 10 (dez) meses de trabalho, muito estudo, pesquisa de campo e

reuniões finalmente foi desenhado novo modelo de reconhecimento por

competências para o Sebrae, mais flexível, aderente, com maior participação e

responsabilização do corpo gerencial e que valorize as contribuições individuais

(tanto na aquisição de competências como na análise do desempenho). Assim é

possível concluir que futuros trabalhos na área de gestão de pessoas por

competências e remuneração por competências podem continuar a ser elaborados

pois o campo ainda é pouco explorado e realizar pesquisas acerca de suas

aplicações e efetividade pode ser muito contributivo para o meio acadêmico e as

empresas em geral, inclusive de diferentes portes e setores de atuação.

É possível concluir, também, que a base para todo e qualquer sistema de gestão de

pessoas e, principalmente para remuneração, é a comunicação clara, acessível e

transparente. Sem isso, todo processo corre o risco de ser mal interpretado e a

resistência pode levar os melhores sistemas ao fracasso. Como ensina Milioni (2003,

p.54) “um conceito geral, simples e bastante elucidativo sugere que “comunicar é

tornar comum uma idéia, fato ou sentimento a duas ou mais pessoas”. A abordagem

de Recursos Humanos considera a comunicação agente indispensável para os

processos...de mudanças...”.

Por fim, foi possível verificar que as empresas podem implementar práticas de

remuneração por competências, mas somente terão êxito se reconhecerem à

importância do papel dos gestores e a existência do fator humano e das relações

inerentes ao processo de avaliação, dando a seus colaboradores oportunidades

reais de participação e análise das práticas existentes e das mudanças necessárias.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOOG, Gustavo & BOOG, Magdalena. Manual de Treinamento e Desenvolvimento: processos e operações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas; o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro, 1999.

DUTRA, Joel Souza. Competências: conceitos e instrumentos de gestão de pessoas na empresa moderna. São Paulo: Editora Atlas, 2004.

______. “Gestão de Pessoas com base em competências”. In: DUTRA, Joel Souza (org.) - Gestão por competências. São Paulo: Editora Gente, 2001.

______. “Gestão do desenvolvimento e da carreira por competência”. In: DUTRA, Joel Souza (org.) - Gestão por competências. São Paulo: Editora Gente, 2001.

______. Sistema de Informação em RH e Avaliação de Desempenho. Slide apresentado no PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO EM GESTÃO DE PESSOAS PARA PROFISSIONAIS DO RH DO SISTEMA SEBRAE. São Paulo: FIA – Fundação Instituto de Administração, 2005.

______: HIPÓLITO.J.A.M.: SILVA,C.M. Gestão por competência: o caso de uma empresa do setor de telecomunicações. Trabalho apresentado durante o ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS –GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO. Foz do Iguaçu: ANPAD, 1998.

DELOITTE, Benchmarking em Gestão do Capital Humanos. São Paulo: Deloitte, 2004.

FISCHER, André Luiz. “O conceito de modelo de gestão de pessoas – modismo e realidade em gestão de recursos humanos nas empresas brasileiras”. In: DUTRA, Joel Souza (org) – Gestão por competências. São Paulo: Editora Gente, 2001.

______. Constituição do Modelo Competitivo de Gestão de Pessoas no Brasil – um estudo sobre empresas consideradas exemplares. Tese – Departamento de Administração da Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 1998.

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74

FREITAS, Wagner Luís Dias. “Recursos Humanos, Avaliação e Desempenho”. In:

MBA em Recursos Humanos. Vitória: ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil,

2006.

GOMIDE, Natércia Guimarães. “Gestão de Pessoas”. In: MBA em Recursos

Humanos. Vitória: ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil, 2002/ 2003.

HIPÓLITO, José Antonio Monteiro. “Tendências no campo da remuneração para o novo milênio”. In: DUTRA, Joel Souza (org.) - Gestão por competências. São Paulo: Editora Gente, 2001.

______. Conceitos de Gestão por Competências/ Modelo Integrado de Competências. Slide apresentado no PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO EM GESTÃO DE PESSOAS PARA PROFISSIONAIS DO RH DO SISTEMA SEBRAE. São Paulo: FIA – Fundação Instituto de Administração, 2005.

LEDFORD Jr, G.E. “Three case studies on skill-based pay: an overview”.

Compensation and Bebefits. Saranac Lake: vol. 27, n. 4, 1991.

MILIONI, Benedito. Dicionário de Termos de Recursos Humanos. São Paulo: Central de Negócios em RH Editora e Marketing, 2003.

PICARELLI, Vicente. “Gestão por competências”. In: BOOG, Gustavo & BOOG,

Magdalena (org.) – Manual de gestão de pessoas e equipes – estratégias e tendências, vol.1. São Paulo: Editora Gente, 2002.

PRAHALAD, C. K. e HAMEL, G. Competindo para o futuro. Rio de Janeiro: Editora

Campus, 1995.

RODRIGUES, Júnia Marçal. Remuneração e Competências: Retórica ou Realidade? Dissertação – Departamento de Administração da Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais: UFMG, 2006.

SEBRAE. SEBRAE 1972-2000. Brasília: SEBRAE, 2000.

______. Sistema de Gestão de Pessoas: cartilha. 2ª revisão. São Paulo:

SEBRAE, 2007.

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______. Sistema de Gestão de Pessoas: manual de políticas e procedimentos.

2ª revisão. São Paulo: SEBRAE, 2006.

______. Sistema de Gestão de Pessoas: manual de políticas e procedimentos.

4ª revisão. Brasília: SEBRAE, 2007.

YOSHIDA, Roberta. Avaliação de Competências: Um Estudo de Casos Múltiplos no Sistema SEBRAE. Dissertação – Departamento de Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo: PUC-SP, 2006.

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ANEXO A

ROTEIRO PARA DISCUSSÃO NOS GRUPOS FOCAIS

1- Expectativas quanto à revisão do SGP.

2- O que está funcionando bem no SGP (pontos positivos).

3- Comentários e críticas quanto ao SGP, como um todo.

4- Analise, em cada núcleo (Organização dos Espaços Ocupacionais,

Acompanhamento e Avaliação de Resultados, Reconhecimento, Capacitação,

Provimento e Monitoramento da Cultura Organizacional), os seguintes

aspectos:

a. Aspectos positivos

b. Comentários e críticas

c. O que pode ser mudado/ melhorado

5- Sugestões para melhoria do conhecimento do SGP por parte dos empregados

do Sebrae.

6- Sugestões para melhoria da atuação dos gerentes na implantação do SGP.

7- Sugestões para melhoria da atuação da Unidade Gestão de Pessoas na

coordenação e supervisão do SGP.

8- Outras contribuições/ sugestões para a melhoria do SGP, de um modo geral.