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RELATÓRIO FINAL COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO Nº 001/2009 1

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RELATÓRIO FINALCOMISSÃO PARLAMENTAR DE

INQUÉRITO Nº 001/2009

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SUMÁRIO

INFORMAÇÕES INICIAIS1. MESA DA ASSEMBLEIA E COMPOSIÇÃO DA CPI

2. BREVE SÍNTESE INTRODUTÓRIA

3. DA CONSTITUIÇÃO DA CPI

4. SOBRE O FUNCIONAMENTO DESTA COMISSÃO PARLAMENTAR

DE INQUÉRITO

CAPÍTULO I – DOS FATOS 1. NARRATIVA HISTÓRICA: OS ANTECEDENTES DESTA COMISSÃO

PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

2. UMA BREVE RECUPERAÇÃO DOS FATOS A PARTIR DA

OPERAÇÃO RODIN ATÉ A CONCLUSÃO DA CPI DO DETRAN

2.1. DEFLAGRAÇÃO DA OPERAÇÃO RODIN: A PRIMEIRA

DECISÃO JUDICIAL DA JUÍZA SIMONE BARBISAN

2.2. DA DENÚNCIA PROPOSTA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL

2.2.1. DA DECISÃO SOBRE A DENÚNCIA PERANTE

A JUSTIÇA FEDERAL

2.2.2. OUTRAS INVESTIGAÇÕES EM RELAÇÃO AO

DETRAN/RS

2.2.3. DA CPI DO DETRAN I E SUAS CONCLUSÕES

2.2.4. DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA

2.2.5. DO PEDIDO DE IMPEACHMENT DA

GOVERNADORA DO ESTADO

CAPÍTULO II – DOS TRABALHOS DA CPI1. DOS FATOS ENVOLVENDO A EMPRESA ATENTO SERVICE

2. DAS DEMAIS PROVIDÊNCIAS DESTA CPI

2.1.DAS SUCESSIVAS INICIATIVAS A FIM DE REGULAMENTAR OS

TRABALHOS DA CPI

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2.2. DE UMA PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO DO

FUNCIONAMENTO FUTURO DE NOVAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE

INQUÉRITO

CAPÍTULO III – DAS CONCLUSÕES

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INFORMAÇÕES INICIAIS

1) MESA DA ASSEMBLEIA E COMPOSIÇÃO DA CPI

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADOPresidente: Deputado Ivar Pavan (PT)

1º Vice-Presidente: Deputado Luciano Azevedo (PPS)

2º Vice-Presidente: Deputado Francisco Appio (PP)

1º Secretário: Deputado Giovani Cherini (PDT)

2º Secretário: Deputado Nelson Harter (PMDB)

3º Secretário: Deputado Paulo Brum (PSDB)

4º Secretário: Deputado Cássia Carpes (PTB)

COMPOSIÇÃO DA COMISSÃOPresidente: Stella Farias (PT)

Vice-Presidente: Gilberto Capoani (PMDB)

Relator: Coffy Rodrigues (PSDB)

TITULARES SUPLENTESStella Farias – PT

Gilberto Capoani – PMDB

Coffy Rodrigues - PSDB

Daniel Bordignon - PT

Sandro Boka - PMDB

João Fischer - PP

Pedro Westphalen - PP

Adilson Troca - PSDB

Gilmar Sossella - PDT

Iradir Pietroski - PTB

Paulo Borges - DEM

Luciano Azevedo – PPS

Ronaldo Zülke - PT

Alceu Moreira - PMDB

Álvaro Boessio - PMDB

Jerônimo Goergen - PP

Silvana Covatti - PP

Jorge Gobbi - PSDB

Zilá Breitenbach - PSDB

Paulo Azeredo - PDT

Luis Augusto Lara - PTB

Marquinho Lang - DEM

Carlos Gomes - PPS

Raul Carrion - PC do B

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2) BREVE SÍNTESE INTRODUTÓRIA:

As Comissões Parlamentares de Inquérito são uma

importante instituição para o desenvolvimento da democracia moderna. E quando

desenvolvidas de forma ágil e responsável, ou seja, com foco e direção, podem

ser tão efetivas e punitivas quanto seus paradigmas judiciais, policiais e

administrativos.

Isto porque, dentre os meios existentes, somente a CPI

possui aquele que é considerado o mais temido instrumento de investigação – a

exposição pública! Especialmente nos dias de hoje, em que proliferam os meios

de comunicação: internet, blog’s, twitter’s, sites especializados, jornais, rádios,

televisão, cada qual emitindo sua opinião e sua avaliação técnica e política. É

justamente este fato que torna as CPI's em algo muito maior do que um mero

instrumento coadjuvante de investigação: ou seja, transformaram-se num

verdadeiro julgamento público, um imenso e verdadeiro júri popular, transmitido

ao vivo para quem quiser assistir.

Infelizmente, a exploração de escândalos políticos tornou-se

a principal bandeira eleitoral de partidos políticos (geralmente de oposição) - e,

modo geral, acabam desvirtuadas em verdadeiros palanques eleitorais, quando,

ao contrário, deveriam observar às determinações do processo penal, e da

Constituição Federal, no que se refere ao respeito aos direitos e liberdades

individuais.

O fato é que, estamos à antevéspera das eleições gerais de

2010, em que interesses políticos de toda ordem viscejam e colidem, e por esta

razão tornou-se fundamental assegurar que esta CPI não se transformasse num

verdadeiro atentado à Democracia.

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Assim, propusemos um amplo debate acerca do seu

regramento e plano de trabalho, justamente para impedir abusos e

desvirtuamentos.

Vejam V. Exas. que todas as sugestões de regramento e

condução dos trabalhos propostas por este relator buscaram atender aos

comandos previstos na Constituição Federal, no Código de Processo Penal e no

Regimento Interno desta Casa.

Se propusemos a organização dos trabalhoS visando a

definição clara de seus fatos determinados, é porque a Constituição Federal de

1988, art. 58, parágrafo 3º, determina que a Comissão Parlamentar de Inquérito

só pode ter por objeto um fato determinado.

Se fomos insistentes em promover a defesa da legalidade

processual, estabelecendo critérios para questionamentos e investigações, foi

porque esta exigência está recepcionada pela Lei nº 1.579, de 18 de março de

1952, já que as CPIs tem “poderes de investigação próprios das autoridades

judiciais”.

E se citamos em várias ocasiões a necessidade de uma

organização dos trabalhos com base em um plano de trabalho, foi justamente

para evitar a distorção de seus objetivos investigatórios, evitando que se

transformasse num palco eleitoral e ideológico, já que é a Constituição do Estado

do Rio Grande do Sul, parágrafos 4º e 5º do art. 56, que define que “as

conclusões das comissões parlamentares de inquérito serão encaminhadas, se

for o caso, no prazo de trinta dias, ao Ministério Público, para que promova a

responsabilidade civil e criminal dos infratores”.

Vale referir que este não teria como ser o caso desta CPI, já

que a lógica de sua constituição iniciou-se pelo caminho inverso àquele previsto

na Constituição do Estado, pois foram as investigações promovidas pelos órgãos

punitivos que justificaram a sua instituição, e não o contrário (que seria o correto,

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onde a CPI justifica a instituição de medidas punitivas pelos órgãos de

investigação).

Depois, se tanto o Ministério Público, a Polícia Federal e o

Poder Judiciário, órgãos especializados e extremamente aparelhados já foram

previamente acionados para investigar, e ainda estão investigando os fatos

apurados em nossos trabalhos, corríamos um sério risco de, em tão curto espaço

de tempo, especialmente com tantos tópicos a serem abordados, não

conseguirmos nenhum resultado inédito que pudesse colaborar com as

investigações. E pior, corríamos um risco adicional de ainda atrapalhar ou até

mesmo prejudicar as investigações que vêm sendo promovidas, caso um material

sob sigilo fosse irresponsavelmente divulgado, ou se uma nulidade processual

qualquer fosse promovida, de modo a aproveitar os réus nas ações punitivas que

ainda sejam propostas em juízo.

Senhora Presidente, senhoras e senhores colegas

parlamentares, creio que fizemos o melhor possível com as muitas restrições que

tivemos, e tenho a certeza de que foram acertadas, imprescindíveis e

indispensáveis as medidas de organização e regramento que propusemos para

colaborar com a elucidação dos fatos.

3) DA CONSTITUIÇÃO DA CPI

O requerimento de instalação da presente Comissão

Parlamentar de Inquérito foi devidamente protocolado contendo as assinaturas de

39 deputados estaduais.

“Requerimento de Comissão Parlamentar de Inquérito nº 1 /2009 Deputado(a) Stela Farias + 38 Dep(s) Excelentíssimo Senhor Deputado Ivar Pavan

Presidente da Assembléia Legislativa

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Senhor Presidente

Os Deputados signatários, com fundamento nos arts. 83 a 88

do Regimento desta Casa Legislativa, vêm à presença de

Vossa Excelência requerer a instituição de Comissão

Parlamentar de Inquérito (CPI), com funcionamento no prazo

regimental de 120 dias, prorrogáveis por mais 60, para

apurar os fatos determinados abaixo narrados, de interesse

deste Estado e sujeitos a fiscalização desta Assembléia

Legislativa:

a- Ações e inquéritos no âmbito da Polícia Federal, Justiça

Federal e Ministério Público Federal, com escopo na atuação

de autoridades e titulares de cargos públicos do Estado do

Rio Grande do Sul, bem como de pessoas físicas e jurídicas

investigados por fraudes financeiras e atos lesivos ao

interesse público, enquadráveis na Lei 9.631/98, art. 1°, V e

VIII que trata dos crimes de lavagem de dinheiro ou

ocultação de bens, direitos ou valores oriundos de corrupção,

formação de quadrilha (art. 288 do Código Penal), corrupção

passiva (art. 317 do Código Penal), crimes contra a Lei de

Licitações (Lei 8.666/93) e corrupção ativa (art. 333 do

Código Penal). Destaque para a ocorrência de informações

privilegiadas em processos licitatórios envolvendo a

Secretaria Extraordinária de Irrigação e Usos Múltiplos da

Água, bem como a Secretaria de Obras Públicas, analisadas

no âmbito da “Operação Solidária” da Polícia Federal.

b- A conexão entre fatos investigados no âmbito da

“Operação Solidária” envolvendo a atuação de agentes

políticos, servidores públicos e réus da ação judicial

decorrente da “Operação Rodin”, que tramita na Vara Federal

de Santa Maria, com fatos investigados pela CPI do

DETRAN, eis que provas coletadas pela Operação Solidária

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foram compartilhadas no processo da judicial da Operação

Rodin, conforme decisão do TRF da 4ª região, noticiada pelo

Jornal Zero Hora de 10/02/09.

c – As revelações públicas da viúva de Marcelo Cavalcante,

Magda Koenigkan, apontando para existência de

irregularidades financeiras, com a ocorrência de crimes

conexos com a campanha eleitoral de 2006. Neste contexto,

insere-se a aquisição de imóvel cujo preço informado é

discrepante de seu valor de mercado, além do que, conforme

afirmou Magda, a origem dos recursos para o pagamento

carecem de procedência plausível.

d – A interferência irregular de agentes públicos ou

particulares na gestão do Detran, e que culminaram com a

exoneração - a pedido - de sua Presidenta, delegada Estella

Maris Simon, cuja motivação vincula-se a um passivo

financeiro não admitido pela mesma, sendo este porém,

ratificado de imediato pela senhora governadora. A suposta

credora, empresa Atento Ltda. cobrou a liquidação do débito

da Secretaria de Transparência do Governo Estadual,

revelando uma anomalia administrativa que precisa ser

esclarecida, sendo o pagamento foi sustado mediante óbice

do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul.

e- As afirmações da Deputada Federal Luciana Genro e do

Vereador de Porto Alegre Pedro Ruas em entrevista coletiva

do dia 19 de fevereiro de 2009, de que existem provas

documentais, áudios e vídeos que comprovam crimes

ocorridos no seio da Administração Publica do Estado, e que

estariam em poder do Ministério Público Federal integrando

uma delação premiada de Lair Ferst.

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Reforça a necessidade de apuração dos fatos as declarações

do Vice-governador Paulo Afonso Feijó, que declarou

publicamente a conveniência de instalação de uma CPI

frente a irregularidades e ilegalidades dos quais se diz

testemunha. Esta alta autoridade do Estado afirma ainda ser

detentor de relevantes informações para o deslinde dos fatos.

Os fatos acima narrados apontam fortes indícios de

improbidade administrativa e de crime de responsabilidade,

sem prejuízo da apuração de irregularidades administrativas

de competência desta Casa, objetivando-se com esta

Comissão Parlamentar de Inquérito, dar cumprimento efetivo

à missão constitucionalmente atribuída a Assembléia de

fiscalizar os atos da Administração Pública e propugnar pelo

bem da comunidade Rio-grandense, oferecendo subsídios às

ações de competência dos Poderes, no que eventualmente

lhes couberem, em especial do Ministério Público, da

Administração Pública e do próprio Parlamento.

Ao iniciar a investigação, pretende-se ainda o acesso

imediato a documentos, processos e expedientes relativos

aos fatos acima elencados, e que deverão servir de suporte

para as demais diligências que se fizerem necessárias como,

por exemplo, a oitiva de testemunhas.

Palácio Farroupilha, 20 de maio de 2009. “

O Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio

Grande do Sul, Deputado Ivar Pavan, submeteu o requerimento à apreciação e

análise jurídica da Procuradoria, que exarou a promoção n.º 28.707, opinando

favoravelmente à sua instalação.

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4) SOBRE O FUNCIONAMENTO DESTA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

O funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito nº

001/2009, serviu indiscutivelmente para colocar em destaque a necessidade de

regulamentação adequada dos trabalhos desta espécie de comissão temporária,

por parte do regimento interno da Assembléia Legislativa.

Isto porque, como se percebe, a designação instantânea do

primeiro signatário do requerimento para a presidência da Comissão, com a

importância das atribuições conferidas a tal função implicam na possibilidade de

ocorrências como as que se verificaram nos trabalhos desta CPI que ora se

relata. Permite, pois, o desprezo do princípio do colegiado, afirmado dentre

outros pela doutrina de juristas reconhecidos, como é o caso do Ministro Celso de

Mello, que depois veio a trazer na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a

afirmação do princípio por intermédio da decisão daquela Corte

Neste sentido, é de salientar que o comportamento da

presidente da Comissão, Deputada Estadual Stela Farias, ao não colocar em

votação proposição do relator e depois subscrita pela maioria dos deputados,

para apreciação do Plenário, de sugestões para a elaboração do Plano de

Trabalho da Comissão. Em razão disso, entendendo como arbitrário a postura da

Presidente da Comissão, a maioria dos deputados estaduais integrantes da

Comissão Parlamentar de Inquérito passou a se recusar a participar das reuniões

ordinárias e extraordinárias convocadas pela Presidente, razão pela qual estas

não alcançaram, algumas vezes, quorum regimental para deliberação.

Note-se que foram diversos os requerimentos negados pela

Presidente da Comissão, que de modo autocrático não fez publicá-los ou os

colocou em votação, indicando genericamente a inconstitucionalidade ou violação

ao regimento interno, sem especificar a norma violada. Assim foram os

requerimentos relativos à aprovação do plano de trabalho e o que requeria à 4ª

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Vara da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca de Porto Alegre, cópia do

processo nº 001/1.07.0307674-8, em trâmite naquele órgão, promovida pelo

Ministério Público do Estado versando sobre a improbidade administrativa, dentre

outros, dos réus Mauri José Vieira Cruz e Nazareno Sposito Neto Stanislau

Afonso, ex-dirigentes da autarquia Departamento Estadual de Trânsito –

DETRAN. Da mesma forma, indeferiu requerimento para oitiva de Mauri José

Vieira Cruz, Nazareno Sposito Neto Stanislau Afonso, bem como o requerimento

do Relator, visando atestar a necessidade de publicação no Diário da Assembléia

Legislativa de todos os eventos da pauta das reuniões ordinária e extraordinárias

da CPI, inclusive a divulgação de vídeos e gravações, bem como retificações

e/ou alterações supervenientes. A razão de ser do requerimento visava assegurar

amplo conhecimento prévio a todos os Deputados Estaduais, acerca dos

trabalhos da Comissão nas reuniões agendadas pela Presidência, evitando-se

eventuais surpresas e omissões.

Saliente-se que sobre tais fatos, este relator tratou de

informar a Presidência da Assembléia Legislativa, por intermédio de memorando,

recebido em 13 de outubro de 2009. Contudo, nenhuma resposta foi indicada por

aquele órgão, em circunstância de passividade e parcialidade nunca vistas na

história do parlamento gaúcho, por função na qual investido o parlamentar, deve

adotar comportamento de magistrado.

Aumentando o número de condutas flagrantemente

irregulares, a Presidente da CPI recebeu elementos de prova de ações judiciais

em que se processam por corrupção e improbidade administrativa, utilizando-as

de modo fracionado, nos trechos que pessoalmente selecionou, de modo a

causar impacto político com o uso de gravações em áudio e vídeo obtidos

mediante autorização judicial para fins de investigação. Bem como, segundo

depreende-se da imprensa local, e inclusive de declarações públicas do Vereador

Carlos Todeschini em programa de imprensa local, que fez veicular ter recebido

da bancada do PT na Assembléia Legislativa elementos que indicariam a

existência de corrupção em programas do município de Porto Alegre. A origem

destas informações sigilosas – mas vazadas sem qualquer pudor – seria a

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bancada do PT na Assembléia Legislativa, conforme textualmente afirmado pelo

Vereador.

Note-se aí o flagrante desrespeito, tanto pela Presidente da

Comissão, quanto pelos parlamentares do PT em relação ao procedimento

regular de apuração, levado a efeito pela Polícia Federal, mediante controle

judicial. Ademais, diga-se, guardou consigo as provas recebidas, e quando

solicitada, negou a permitir que membros da Comissão tivessem acesso a tais

provas para conhecimento e exame.

Os desacertos na condução do trabalho pela Presidente, da

mesma forma, ficaram patentes, do mesmo modo, pela forma como exerceu a

condução das sessões da CPI, utilizando-se de critérios distintos para concessão

da palavra aos parlamentares dos partidos de oposição ao Governo Estadual –

grupo a que pertence – e os demais parlamentares dos partidos que apóiam o

Governo Estadual.

Seguindo trajetória de arbítrio, anunciou em diferentes meios

de comunicação social que na hipótese de não ter sido deliberada a oitiva de

testemunhas que julgasse devessem ser ouvidas, por força de decisão

majoritária de plenário, decidiria ouvi-las a título de convite as pessoas que

considerar relevantes para a investigação – mesmo as que porventura não

tivessem tido sua convocação não-apreciada ou apreciada e rejeitada pelo

Plenário da Comissão. Buscava fazer distinção entre convite e convocação, de

modo a fazer crer sobre a desnecessidade de deliberação da Comissão no caso

em que se tratasse de convite, podendo o convidado comparecer

espontaneamente.

Visando precaver-se das conseqüências jurídicas da conduta

adotada pela Presidente da CPI, o relator realizou consulta à Procuradoria da

Assembléia, sobre a possibilidade ou não de oitiva de pessoas que não tivessem

convocadas a depor ou convidadas mediante deliberação do Plenário da

Comissão. Respondeu a Procuradoria da Assembléia entendendo pela

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necessidade de deliberação do plenário tanto na hipótese de convocação, quanto

de convite.

A Deputada Estadual Stela Farias, é importante que seja

referido, só exerceu funções de Presidente da Comissão Parlamentar de

Inquérito nº 001/2009, em face do artigo 76, do Regimento Interno da Assembléia

Legislativa do Rio Grande do Sul, que estabelece o direito do primeiro signatário

do requerimento de instalação da comissão, de ocupar sua presidência – no que

se distingue das Comissões Parlamentares de Inquérito criadas no âmbito

federal.

Conforme indicado à exaustão em diversos momentos dos

trabalhos desta Comissão Parlamentar de Inquérito, a jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal, a respeito do tema, já consignou a submissão das Comissões

Parlamentares de Inquérito ao princípio do colegiado, entendimento que no caso

presente demonstra sua atualidade, em vista dos fatos acima referidos.

Neste sentido decidiu o Colendo Supremo Tribunal Federal,

no Mandado de Segurança nº 23.669, de que foi Relator o Ministro Celso de

Mello (j. 08/02/2001, DJ 14/02/2001):

“(...) O PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE CONDICIONA A

EFICÁCIA DAS DELIBERAÇÕES DE QUALQUER

COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO,

ESPECIALMENTE EM TEMA DE QUEBRA DO SIGILO

BANCÁRIO. - O princípio da colegialidade traduz diretriz de

fundamental importância na regência das deliberações

tomadas por qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito,

notadamente quando esta, no desempenho de sua

competência investigatória, ordena a adoção de medidas

restritivas de direitos, como aquela que importa na revelação

das operações financeiras ativas e passivas de qualquer

pessoa. O necessário respeito ao postulado da colegialidade

qualifica-se como pressuposto de validade e de legitimidade

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das deliberações parlamentares, especialmente quando

estas - adotadas no âmbito de Comissão Parlamentar de

Inquérito - implicam ruptura, sempre excepcional, da esfera

de intimidade das pessoas. (...)”

E desde logo se ressalte que não se contrapõe a este

princípio o reconhecimento da criação da Comissão Parlamentar de Inquérito

como eficácia do direito da minoria parlamentar, igualmente objeto de

entendimento do Supremo Tribunal Federal. O direito em questão emerge das

prerrogativas parlamentares de que é titulares os deputados estaduais e

membros da Comissão Parlamentar de Inquérito. Não se perca de vista que a

competência reconhecida pela Constituição Federal, pela Constituição Estadual e

pelo Regimento Interno da Assembléia Legislativa o é à Comissão, ou seja, ao

órgão provisório criado no âmbito da Assembléia Legislativa. Não ao seu

Presidente ou à minoria parlamentar. Se assim não fosse, sequer haveria

necessidade de constituição de Comissão Parlamentar de Inquérito ou de

assegurar o critério de proporcionalidade da representação partidária, uma vez

que um parlamentar, individualmente, seria titular, independente da Comissão, de

todas as atribuições que lhe são reconhecidas. Sabe-se não ser assim o direito

brasileiro.

O próprio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a

respeito, exarou o seguinte entendimento, da lavra do Desembargador Genaro

Borges, no Mandado de Segurança impetrado por deputados estaduais

pertencentes à Comissão e convergentes com os objetivos da Presidente da CPI,

de nº 70032793762, visando autorizar a possibilidade de convite de testemunhas

sem deliberação do plenário da Comissão. Decidiu o julgador:

“Vistos.

Trata-se de Mandado de Segurança com pedido de medida

liminar impetrado contra a Presidenta da Comissão

Parlamentar de Inquérito, sob a alegação de que esta teria

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transgredido o direito das minorias assegurado no art. 58,

parágrafo 3º da Constituição Federal, com rejeitar, por fazer

prevalecer votação majoritária, os requerimentos para

tomada de depoimentos “fundamentais ao esclarecimento

dos fatos especificamente investigados.

Aguardei as informações para apreciar a liminar.

DECISÃO (...)

Desempenham as CPI’s, por certo, papel relevante na

fiscalização e controle da Administração e sua criação não se

sujeita a deliberação plenária, pois estaria coarctada, pela

maioria, a proteção do direito das minorias, o que é de seu

propósito. Como afirmou o Min. Eros Grau, “a sujeição do

requerimento de criação da comissão a essa deliberação

equivaleria a frustração da própria garantia. As minorias –

vale dizer, um terço dos membros da Assembléia Legislativa

– já não mais deteriam o direito à criação da comissão

parlamentar de inquérito, que passaria a depender de

decisão da maioria, tal como expressa no plenário.” ( ADIN nº

3.619/SP – STF – Pleno). Para tanto, pois, basta o

requerimento de pelo menos um terço dos membros da Casa

Legislativa (CF- artigo 58, parágrafo 3º - CE- art. 56,

parágrafo 4º).

Todavia, após sua criação as deliberações serão tomadas,

sempre, por maioria de votos. Trata-se do consagrado

princípio da colegialidade, que submete as CPI’s à regra das

decisões majoritárias prevista no artigo 47 da Carta de

República e 51 da Constituição do Estado do Rio Grande do

Sul, salvo exceções expressamente previstas, dentre as

quais não está a dos art. 58, parágrafo 3º da Constituição

Federal e 56, parágrafo 4º da Constituição Estadual, como

parece aos Impetrantes, que dizem respeito à criação da

Comissão Parlamentar de Inquérito e não se estendem ao

seu funcionamento, por não se amoldar ao princípio.

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Sendo assim, as deliberações da Comissão Parlamentar de

Inquérito submetem-se à regra do art. 63 do Regimento

Interno da Assembléia Legislativa (RIAL), que se afina com

as disposições constitucionais.

Indefiro a liminar.”

Daí porque surge da experiência do funcionamento deficiente

desta Comissão Parlamentar de Inquérito, a necessidade de regular-se no

regimento interno da Casa o funcionamento das CPIs, de modo a permitir sua

conformidade com a ordem constitucional em contraposição ao arbítrio que

marcou as iniciativas da Deputada Presidente desta Comissão

Eis porque como parte integrante deste relatório vimos propor

Projeto de Resolução, para que seja levado à Mesa e, em seguida, ao Plenário

da Casa, para regular de modo estável a atividade das CPIs no parlamento

gaúcho, tornando-as, deste modo, infensas ao personalismo e radicalismo

político-ideológico que caracterizou, sobretudo, a atuação da presidência da

Comissão que ora se encerra.

Este Projeto constará da parte final do presente Relatório,

embora já protocolado, na forma regimental, por este Deputado em mesmo

momento do protocolo do presente para deliberação dos Senhores

Parlamentares.

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CAPÍTULO I - DOS FATOS

1. NARRATIVA HISTÓRICA: OS ANTECEDENTES DETSA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

É com tristeza que se percebe que o Rio Grande do Sul

revive, novamente, aquele ambiente de conflito político exacerbado e

disseminação da perseguição inquisitorial por motivos ideológicos que tanto nos

distanciou do resto do Brasil; e que acabam permitindo toda a espécie de

iniciativas depreciativas à imagem de partidos e governantes.

Especialmente nos dias de hoje, em que o apelo da mídia

aumenta nossa responsabilidade com a história, e para isto é fundamental

dismistificar a leitura politica eleitoral promovida por poderosos grupos políticos, e

promover uma análise técnica, efetuada com frieza imparcial e distanciamento. É

preciso superar as condutas políticas promotoras do ódio e da divisão entre os

gaúchos. Daí a necessidade de um exame sereno, não apenas do curso e dos

resultados objetivos desta Comissão, senão da trajetória de radicalização que

chegou ao cume com as iniciativas vivenciadas nesta CPI.

Neste relatório, pretendo expor no mérito dos fatos que de

alguma forma fazem parte desse histórico que se iniciou com a operação Rodin

até os dias de hoje.

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3. UMA BREVE RECUPERAÇÃO DOS FATOS A PARTIR DA OPERAÇÃO RODIN ATÉ A CONCLUSÃO DA CPI DO DETRAN

Uma breve análise histórica do fatos que culminaram nesta

CPI, incia-se com o DETRAN, sobre o qual se permite recordar que, desde o final

da década de noventa, esta instituição encontra-se no foco de disputas políticas

eleitorais, envolvendo partidos políticos de ideologias opostas.

Houve um tempo em que todo o processo de formação de

condutores era conduzido pelo Estado, por intermédio das estruturas de

segurança pública, modelo muito criticado à época sob a alegação de que gerava

complicações e desvios, além de acarretar na má formação de condutores e os

altos índices de acidentes fatais.

Melhorar a formação do condutor e combater estes desvios

tornou-se uma meta a ser seguida, não apenas no Rio Grande do Sul, mas para

todo o Brasil. Aqui em nosso Estado, surgiu o primeiro modelo que se propôs a

enfrentar este desafio.

Foi durante a gestão do governador Antônio Britto que a o

DETRAN passaria por esta importante e louvável iniciativa, mediante criação por

lei deste Parlamento, sob a forma de autarquia estadual competente para as

questões de trânsito.

Infelizmente, o acirramento político e ideológico da época,

promovido com objetivos puramente eleitorais, levaram o tema para a primeira

CPI a discutir esta matéria. Não havia o que investigar, como se perceberia na

conclusão do relatório, e como viria a ser reconhecido politicamente muitos anos

depois. Nas considerações finais, o relatório aprovado pelo plenário concluiu que

inexistia: “(...)nestes autos da CPI, comprovação de irregularidade digna de nota,

capaz de anular o processo licitatório”.

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Não se está a dizer com isto, que o modelo criado à época

não mereça críticas. Pelo contrário: hoje sabemos que muitas mudanças

poderiam ter sido efetuadas. No entanto, tais comentários só podem ser feitos

hoje, após tantos anos terem transcorridoS, pois naquele tempo não haveria

quem pudesse apontar quais seriam os problemas resultantes deste novo

modelo, já que o mesmo era pioneiro em todo o Brasil. É preciso, pois, colocar os

“óculos da história” com a humildade de reconhecer acertos e erros do passado,

com a compreensão de que este exame só é possível no presente, como fruto da

experiência vivida.

Assim, como não havia paradigmas para a prestação do

serviço, certamente algum grau de improviso na elaboração de seus custos

tornou-se compreensível. Hoje se sabe como seria equivocado contratar empresa

sem que esta apresentasse uma planilha de custos descritiva que permitisse um

maior controle e fiscalização, pois aquele valor exigido consolidou-se como preço

padrão que seria renovado por diversas vezes.

Outro problema que surgiria com este novo modelo de

prestação de serviços estaria justamente na terceirização dos mesmos. Na

prática, ao contratar um serviço, o Estado espera pela prestação do mesmo, sem

discutir com a empresa contratada quais entidades ela sub-contrataria para

conclui-los. O fato não chega a ser novidade. Toda a empresa precisa de

contabilidade, apoio jurídico, tecnologia e consultorias de toda ordem, e os

recursos retirados para o pagamento de tais atividades provêm do montante

recebido do Estado. O problema nasce justamente quando o valor pago é maior

do que o necessário para a prestação do serviço, e o contratado passa a simular

a sub-contratação de empresas terceirizadas como forma de justificar o excesso

de pagamento.

Veja-se que a Fundação Carlos Chagas, entidade respeitada

e de renome nacional, foi a primeira instituição contratada para prestar serviços

ao DETRAN, e foi a primeira a terceirizar serviços, fato que se pode comprovar

com a primeira CPI do DETRAN, quando seu Presidente, Dr. Rubens Murillo

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Marques, em ofício datado de 10 de junho do ano de 2008, reconheceu que

terceirizou serviços durante a execução do contrato:

“(...) celebramos, em janeiro de 1998, contrato específico

com tal empresa (WG Serviços de Informática) para

administração de um escritório em Porto Alegre.

....

Informo também que, de acordo com a WG Serviços de

Informática, a mesma mantinha, anualmente, em média,

nove funcionários no escritório, conforme relação anexa.”

Não se sabia à época, mas o modelo de privatização

construído para o DETRAN abrira uma porta para irregularidades que iriam

suceder-se por meio de serviços terceirizados e, por vezes, quarteirizados.

Cumpriria ao governo seguinte, gestão sob a direção do ex-

governador Olívio Dutra, principal critico do modelo adotado para o DETRAN

durante a CPI recentemente realizada, entabular as mudanças de controle

necessárias.

Mas não foi o que ocorreu.

Nenhuma mudança estrutural no modelo foi promovida

durante os quatro anos seguintes de gestão do DETRAN. Ao contrário,

prosperaram as denúncias de enriquecimento ilícito.

Na esteira das investigações realizadas pela CPI do

DETRAN, verificou-se um padrão de contratação sem licitação de modo

sistemático, no período sob referência, com a conivência da direção do órgão,

como foi no caso da Finatec, Fundação ligada à Universidade de Brasília, e, em

seguida, com a contratação com dispensa de licitação da Fundação Universidade

de Passo Fundo, também eivada de irregularidades, para a realização do

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programa Vira Trânsito, cujas análises apontavam para a provável inexistência de

qualquer prestação de serviço para a qual recebera recursos antecipados.

Em uma das diversas investigações realizadas pelo Ministério

Público Estadual no DETRAN à época, revelou-se como eram frágeis os

mecanismos de controle interno naquela gestão e, especialmente, a

permissividade da contratação sem licitação e terceirização de serviços públicos.

Cabe aqui relembrar a conclusão desta investigação:

“Improbidade administrativa. Celebração, pelo DETRAN/RS,

de convênio com organização não governamental (o Instituto

RUA VIVA) como ‘fachada’ para mascarar a contratação sem

licitação dos dirigentes desta, os quais, por sua vez, se

utilizavam de empresas das quais eram sócios para atestar a

prestação de serviços. Burla à obrigatoriedade de licitação.

Prestações de contas viciadas pela utilização de notas fiscais

‘frias’, referentes a outro convênio ou emitidas por empresas

que não existiam de fato. Prejuízo ao erário causado pelos

diretores do DETRAN/RS e enriquecimento ilícito por parte

dos demais demandados. Infração dos artigos 9º, 10º e 11º

da Lei nº 8.429/92. Pedidos de nulidade do convênio firmado

e ressarcimento ao erário, cumulados com a indisponibilidade

de bens, quebra de sigilo bancário e fiscal dos demandados

e aplicação das sanções da Lei nº 8.429/92.”

E no plano da contratação de sistemistas e terceirizados para

o fim de justificar prestação de serviços inexistentes, durante o período contido

nos anos de 2001 a 2002, o DETRAN por meio da FENASEG, teria pago

advogados, xerox a um custo de R$ 150 mil, academia para ginástica laboral,

cestas de natal além da locação de veículos para a Operação Verão,

Como resultado, no período que vai do ano de 1999 à 2002,

as contas públicas do órgão foram integralmente reprovadas.

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Não por outra razão, tramita na justiça estadual de Porto

Alegre, a Ação Civil Pública n. 001/1070307674-8, que teve origem no inquérito

civil n. 253/04 na Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público que

investigou o convenio PIC n° 01203.00001/2008.

Trata-se de medida moralizadora interposta pelo Ministério

Público por improbidade administrativa contra Mauri José Vieira Cruz e mais sete

réus, pela celebração de convênio entre o DETRAN e a organização não –

governamental RUAVIVA, como “fachada” para mascarar a contratação sem

licitação dos dirigentes dessa ONG, que utilizavam de empresas das quais eram

sócios para atestar a prestação de serviços, burlando a obrigatoriedade de

licitação.

Segundo consta, a prestação de contas teria utilizado notas

fiscais “frias” em prejuízo ao erário causando o enriquecimento dos diretores do

DETRAN e demais réus.

Depois, o Diretor do DETRAN teria determinado a

celebração de convênio sem licitação (prática corriqueira durante esta gestão),

sem consultar a assessoria jurídica quanto à viabilidade da contratação com

dispensa de licitação, baseado exclusivamente em parecer jurídico de

procuradora vinculada à ONG RUAVIVA que sequer fora assinado.

Pior, não motivou a impossibilidade ou inconveniência da

realização de um processo licitatório, que é determinação legal. E aceitou

proposta de prestação de serviços em nome do RUAVIVA também não assinada,

sequer provida de “plano de aplicação dos recursos financeiros” o que representa

que não houve qualquer justificativa técnica para o elevado valor fixado no

convênio.

Vale referir que o Ministério Público aponta a afinidade

político-partidária entre MAURI CRUZ e o então presidente da RUAVIVA

NAZARENO SPOSITO NETO STANISLAU AFONSO, filiado ao PT desde 1996,

que foi secretário municipal dos transportes de Porto Alegre em 1994 enquanto

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MAURI era o Diretor de Transportes, como fator importante para compreender as

irregularidades cometidas.

Ao ponto de alegar o favorecimento por parte do então

diretor do DETRAN ao companheiro Nazareno Afonso para o fim específico de

enriquecimento ilícito dos réus com o desvio de recursos públicos.

Registre-se que se pretendeu, nesta CPI, aprofundar-se

sobre tais fatos. Porém em atitude de arbítrio – conforme já mencionado – não

deixou a Presidente da CPI que deliberasse o Plenário acerca da convocação

dos Senhores Mauri Cruz e Nazareno Afonso, genericamente indeferindo os

requerimentos (coisa que nestes termos não lhe cabia), sob a justificativa de anti-

regimentais.

Este era o encontrado no DETRAN, que se iniciou em 1997 e

terminaria em 2002, período em que podemos estabelecer algumas verdades

fundamentais:

a) que de fato uma mudança era indispensável e urgente, e que

a gestão do governador Antonio Britto teve o mérito de

enfrentar este desafio;

b) que, no entanto, diante da ausência de paradigmas, um

preço presumido sem planilha descritiva de custos foi

utilizado para a definição do valor a ser pago, quantia esta

que se revelaria acima do necessário;

c) que o novo modelo não adotou precaução contra a utilização

de serviços terceirizados para o fim de justificar pagamentos

a maior realizados pelo Estado; e

d) que na sucessão do DETRAN, durante a gestão do ex-

governador Olívio Dutra, os problemas da autarquia não

apenas não foram resolvidos como prosperaram,

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disseminando-se a prática de terceirizações, dispensa de

licitações e desvio de recursos públicos.

A partir do ano de 2003, todos os fatos envolvendo a

contratação das Fundações de Apoio à Universidade Federal de Santa Maria, já

foram descritas nos autos da anterior CPI do DETRAN.

2.1 DEFLAGRAÇÃO DA OPERAÇÃO RODIN: A PRIMEIRA DECISÃO JUDICIAL DA JUIZA SIMONE BARBISAN FORTES

Foi somente em novembro de 2007 que foi deflagrada a

operação Rodin, com a prisão de personalidades políticas do Estado e de

membros da Universidade Federal de Santa Maria.

A Operação Rodin, no entanto, teve início e foi instaurada

nos primeiros dias de governo da atual gestão no Estado, fato que permite

deduzir que já eram de conhecimento prévio.

Segundo descreve a Exma. Juíza Simone Barbisan Fortes,

em seu despacho nos autos do processo judicial que apura as denúncias

contidas na conhecida Operação Rodin, a contratação com dispensa de licitação

era praxe que ocorria no DETRAN desde o contrato com Fundação Carlos

Chagas até o ano de 2003.

2.2 DA DENÚNCIA PROPOSTA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

De posse de uma série de documentos acima, e todo o

conjunto probatório realizado, o Ministério Público Federal apresentou denúncia

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contra quarenta e quatro pessoas, afirmando a existência de um esquema

organizado ligado à UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA e suas

instituições FATEC e FUNDAE para, através de dispensa de licitação e de sub-

contratações de empresas sistemistas, desviar os recursos excedentes diante

dos vários serviços supostamente prestados para o DETRAN, apontando como

mentores do esquema de desvio: membros da família FERNANDES e LAIR

FERST.

A denúncia do MPF também dividiu a ação criminosa em

núcleos que de regra se resumiam a famílias que de uma forma ou de outra eram

sócios das empresas prestadoras de serviços.

2.2.1 DA DECISÃO SOBRE A DENÚNCIA PERANTE A JUSTIÇA FEDERAL

Em 26 de maio de 2008, a juíza Simone Barbisan Fortes

proferiu o seu entendimento recebendo a acusação formulada pelo Ministério

Público, manifestando sua convicção na existência de claros indícios e

comprovações do cometimento de diversos delitos mencionados na denúncia.

E a Juíza ainda foi além, pois as investigações continuaram a

ocorrer durante o andamento do processo, daí porque decidiu pela inclusão de

outras pessoas no rol dos denunciados.

De acordo com juíza, constam nos autos que a operação

Rodin seria dividida em três fases.

A primeira fase teria início a contratação da FATEC para a

prestação dos serviços do DETRAN/RS sem o uso de licitação e durou de 2003

até 2006, o que implicaria no desvio dos tão mencionados 44 milhões de reais.

Durante esta fase, que seria a mais importante, a família Fernandes teria utilizado

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seus contatos políticos para assegurar que o DETRAN optasse pela contratação

em favor da Fundação de Apoio à UFSM.

Neste quadriênio, segundo apontou a magistrada, outra figura

importante foi responsável pelo escoamento de milhões de reais, e seria o senhor

LAIR FERST, empresário lobista, a quem incumbiu os primeiros contatos

realizados para dar início ao esquema.

Segundo a magistrada, uma segunda fase teria início em

2007 com o encerramento do primeiro contrato com a FATEC, momento em que

os sistemistas teriam entrado em colisão entre si, por conta da exclusão de LAIR

FERST do grupo de empresas prestamistas.

É neste momento que, na visão da magistrada, Flávio Vaz

Netto passa a interagir com Rubem Höher e Antônio Dornéu Cardoso de Maciel.

A terceira fase do esquema, teria início após a deflagração

das investigações, como meio de viabilizar a contratação de empresas

sistemistas, dando às prestações de contas um melhor acabamento. É nesta fase

que entra a empresa Höher Cioccari Advogados e da Pakt Excelência em

Projetos.

Este é o esquema desvendado pela investigação dos órgãos

competentes, e que resultou do Relatório da CPI do DETRAN, em curso nesta

casa no ano de 2008.

A propósito desta situação, de destacar que a Juíza

competente, da Vara Federal da Santa Maria, acolheu a denúncia contra quatro

dezenas de supostos envolvidos no esquema de irregularidades em questão,

pelo cometimento de diversos ilícitos penais.

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2.2 OUTRAS INVESTIGAÇÕES EM RELAÇÃO AO DETRAN/RS

Depois de deflagrada a Operação Rodin, a então Secretária

de Estado da Administração e Recursos Humanos, Maria Leonor Carpes,

determinou a abertura de sindicância administrativa no Detran.

A sindicância, após análise exaustiva de documentos e

escuta de testemuhas, concluiu que o referido esquema consistia na combinação

de esforços para a realização de contratos entre a Fundação de Apoio, Ciência e

Tecnologia – FATEC, posteriormente substituída pela Fundação Educacional e

Cultural para o Desenvolvimento e Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura –

FUNDAE e o DETRAN, e das referidas Fundações com empresas privadas

prestadoras de ‘’consultoria’’, que auferiam a grande parte dos recursos públicos

e, por tal motivo denominadas sistemistas ou prestamistas.

A sindicância deteve-se especificamente no programa

‘’Trabalhando pela Vida’’, que redundou na formação de diversos contratos,

entabulados entre a FATEC e prestamistas, e num segundo momento com a

FUNDAE e entre outras pessoas jurídicas tais como a NEW MARK, RIO DEL

SUR, IGPL, PENSANT, Carlos Rosa Advogados Associados, dentre outros

escritórios de advocacia e de contabilidade.

Para concluir sua apuração, o relatório de sindicância

recupera a informação de que o DETRAN até o ano de 2003 efetuava seus

exames teóricos e práticos aplicáveis na habilitação de condutores de veículos

automotores, através da Fundação Carlos Chagas – FCC e de que o Governo do

Estado do Rio Grande do Sul, mesmo na iminência do término do contrato

firmado junto à Fundação Carlos Chagas, não promoveu o devido certame

licitatório, e contratou com dispensa de licitação a FATEC/UFSM para a

execução dos exames teóricos e práticos aos condutores.

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Assim é que, esgotado o prazo de seis meses para firmar

contrato com a empresa, uma contratação emergencial foi necessária para

assegurar a continuidade dos serviços, daí resultando a dispensa de licitação,

amparada no inciso XIII do artigo 24 da Lei de Licitações.

A sindicância confirmou que a FATEC terceirizou boa parte

da execução do projeto, subcontratando empresas chamadas ‘’sistemistas’’, que

inicialmente eram quatro: Pensant Consultores; NewMark Tecnologia da

Informação, Logística e Marketing Ltda.; Rio del Sur e Carlos Rosa Advogados

Associados, criadas pelos próprios lobistas.

Confirmou, igualmente, que as fundações de apoio à UFSM

(FATEC e, depois FUNDAE) estavam por detrás do esquema e que, tal

sistemática já vinha funcionando de maneira estável até que os dois lobistas,

LAIR FERST e JOSE ANTONIO FERNANDES passaram a ter atritos,

decorrentes de outro contrato em que atuavam juntos, na FATEC, qual seja, o da

ANATEL.

Por fim, declara que o DETRAN foi lesado em mais de trinta e

dois milhões de reais, em razão da cobrança de valores excessivos por parte das

Fundações FATEC e FUNDAE.

Após a conclusão das investigações, a sindicância repete a

sugestão de punição contida na denúncia, e ainda sugere que os autos sejam

encaminhados à Excelentíssima Senhora Secretária da Administração e dos

Recursos Humanos, para que sejam adotadas providências saneadoras.

Constam da conclusão final sugestões para aprimorar os

serviços e reduzir o custo final da carteira de mororista no Estado.

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2.2.3 DA CPI DO DETRAN E SUAS CONCLUSÕES

A CPI do DETRAN enfrentou detalhadamente todos os fatos

envolvendo a autarquia e propôs inúmeras iniciativas.

Constatou inicialmente o relator, que infelizmente não teria

havido interesse inicial por parte dos órgãos investigantes em apurar os fatos

ocorridos nos anos de 1997 a 2002, período nascedouro de todas as

irregularidades identificadas pela Operação Rodin, e do mais grave descontrole

administrativo havido com a contratação de fundações sem licitação (conforme

Ministério Público Estadual em ação cívil pública).

E foi além, afirmando os desvios promovidos de 1998 a 2002,

a saber, os problemas com contratos ASBACE/FENASEG, Sistema Nacional de

Gravames, convênio ONG Rua Viva, Projeto Viratrânsito, Leilões e Pagamento

de Multas, somados ao valor reputado como superdimensionado do contrato

original, certamente aumentariam em pelo menos 35% a estimativa inicial de

desvios de recurso público.

Concluiu o relator, ainda, que foi através do aproveitamento

das brechas permitidas pela Lei de Licitações que ocorreru a contratação com

dispensa de licitação sem critérios técnicos da FATEC. E que este foi o terreno

propício para o grupo privado encabeçado por LAIR FERST e a Universidade

Federal de Santa Maria prospectarem clientes públicos, dentre eles o

DETRAN/RS, o DETRAN/MA, além do Pró-Jovem e outros tantos contratos e

convênios firmados com prefeituras, órgãos estaduais e federais.

Lembrou, ainda, que segundo interpretaram todos os órgãos

de investigação, o esquema de aproveitamento privado desencadeou-se para o

benefício de pessoas e grupos privados, tanto é que a decisão que determinou a

prisão dos responsáveis, a conclusão do inquérito policial, a denúncia do

Ministério Público e a Sentença de Pronúncia foram unânimes em declarar que o

esquema visava a favorecer a núcleos privados.

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Já naquela oportunidade o relator lamentava o clima de

polarização política no Estado, que procurou a todo o custo transformar os fatos

da Operação Rodin em um grande escândalo de governos. E lembrou que a

Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o Ministério Público de Contas, a

Cage e o Poder Judiciário constataram que não havia envolvimento de partidos e

governos (muito embora apontassem para o envolvimento de políticos locais).

O relatório ainda relata a inconformidade com a falta de

aprofundamento nas entranhas das Fundações, local onde se abrigaram todos

aqueles que, hoje, deveriam ser processados no Estado.

No plano das indicações de punição, o relatório da CPI do

DETRAN observou o fato de que já estavam em andamento investigações e

acionamentos, apontando um a um todos os responsáveis.

A CPI ainda sugeriu diversas iniciativas por parte do

DETRAN, que deveriam ser observadas após a conclusão dos trabalhos. A este

respeito, cabe mencionar algumas das alterações propostas pela autarquia, pois

desde a conclusão da CPI, o DETRAN vem passando por importantes

modificações.

Como resposta ao desgaste público que sofreu o

DETRAN/RS, uma nova autarquia deveria surgir após o encerramento da CPI.

Cabe aqui referir que ele foi plenamente reestruturado. Dentre as medidas

implementadas, talvez a principal tenha sido a definição de um perfil técnico (e

não político) para a composição da nova direção, contendo apenas servidores

públicos compromissados com a eficiente gestão do novo sistema.

Cabe mencionar também o plano de reestruturação

organizacional, que conta com diversas medidas, como a redução de custos da

CNH, que se tornou possível em até R$ 61,57 na sua emissão, em face das

resoluções nº 01 e 02/08, que reduziram os valores das aulas teóricas e práticas

dos CFC’s. Ainda, foi possível mais uma redução de 10% dos custos públicos

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através das taxas de expedição de documentos, exames de saúde, psicotécnico

e prático de direção, chegando ao valor de R$ 720,95. Ainda, aprovada sob a Lei

nº 13.197/2009, redução de 10% no custo da CNH, como também redução de R$

50,00 a partir de 1º de janeiro de 2010, quando o valor chegará a R$ 911,09.

Esta redução alcançada amenizou um novo aumento dos

custos determinados pela União Federal, a quem pertence a competência

constitucional para legislar sobre trânsito, que ampliou de 15h para 20h as aulas

práticas e de 30h para 45h as aulas teóricas, a partir de 1º de janeiro de 2009.

Assim, sem nenhum dos descontos citados, o valor final para

o candidato seria de R$ 985, 69, mas com a redução de 10% das taxas, o valor

final para o candidato reduziu-se para R$ 961, 09. E, considerando que a partir

de janeiro de 2010, além do valor de R$ 24,60, reduzirá em mais de R$ 50,00

incidentes sobre os exames de prática de direção e legislação de trânsito,

perfazendo, no total, a redução de R$ 74,60, o valor final para o candidato ficará

em R$ 911, 09.

Vale referir, ainda, a união de esforços promovida por

integrantes de diversas Secretárias do Estado, tais como Administração e

Recursos Humanos, forças-tarefas em diferentes frentes, para auxiliar na efetiva

reestruturação dos serviços do DETRAN, tais como processamento

administrativo das autuações efetuadas por infração de trânsito, análise das

defesas de autuação, instrução e julgamento, suspensão do direito de dirigir,

identificação de sucatas e veículos e a retirada desses veículos dos depósitos do

DETRAN.

A nova estrutura do DETRAN também se preocupou com

credenciamento regionalizado de leiloeiros oficiais para aumentar o número de

leilões administrativos objetivando a venda dos veículos e conseqüentemente,

reduzindo o custo para o Estado que, como se sabe, hoje apresenta um déficit de

6 milhões de reais.

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Em março de 2009, ainda foi aberto concurso público para o

preenchimento de 259 vagas no DETRAN. Os servidores públicos concursados

foram nomeados, e são capacitados e qualificados com cursos específicos de

trânsito. Hoje, o DETRAN promove encontros técnicos que iniciaram com os

Centros Credenciados na Região Metropolitana, e ao longo do ano, esses

encontros passam a abranger todos os credenciados do Estado do Rio Grande

do Sul.

Ainda: o novo DETRAN conta com melhor e mais adequada

estrutura física no prédio da Secretária de Justiça e Segurança (SSP/RS),

localizado na Av. Voluntários da Pátria, n° 1358, o que possibilitou maior

organização interna e administrativa para atendimento dos credenciados, tais

como CFCs, CRVAs, médicos etc. E ainda tem como meta, o maior controle e

fiscalização dos registros realizados pelos CRVAs quando da liberação dos

veículos e nas perícias realizadas pelo IGP, bem como controle dos conteúdos

teóricos, práticos e pedagógicos utilizados pelos CFCs na formação de

motoristas.

Em termos econômicos o novo DETRAN também tem sido

uma autarquia caracterizada pela preocupação com os gastos públicos, ao passo

que viabilizou a expedição do CRV e do CRVL pela Gráfica do Estado - CORAG,

em substituição a gráfica ABN, que gerou considerável economia ao Estado.

No mesmo sentido, foi aberto processo licitatório para

contratação de empresa cadastrada pelo DENATRAN para a expedição da CNH/

PD/PID e para identificação biométrica (impressão digital) nos processos de

habilitação, mudança ou adição de categoria e renovação da Carteira Nacional

de Habilitação nos Centros de Formação de Condutores.

Foi definida uma planilha padrão de custos para os critérios

de remuneração dos CFC’s, onde foi indicado, além de um valor mínimo a ser

fixado para utilização dos espaços necessários à realização dos exames médicos

e psicotécnicos, uma parcela variável que cubra, proporcionalmente, os custos

administrativos relacionados ao nível dos exames.

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Esta e outras providências de saneamento da autarquia

restaram evidenciadas no depoimento a esta CPI, do atual dirigente da Autarquia,

Sérgio Filomena.

Em outra área bastante problemática, foram firmados novos

termos de convênios, através das Portarias nº 194 e 195/2008, com a Federação

Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg -

Líder) decorrentes do seguro obrigatório DPVAT, e do Sistema Nacional de

Gravames (SNG), de forma que os recursos repassados pela Fenaseg fossem

aplicados em investimentos voltados exclusivamente para educação no trânsito e

para a aquisição de bens e equipamentos que aumentassem a segurança no

trânsito, trazendo a maior transparência na aplicação dos recursos.

Enfim, no que se refere aos resultados práticos da CPI do

Detran, não podemos deixar de referir as muitas melhorias que vem ocorrendo

nos últimos meses, bem como as ações que fortalecessem o órgão executivo

estadual de trânsito (DETRAN/RS); valorizam os servidores; dotam a autarquia

de equipamentos para o exercício da sua função pública; permitem a retomada

das atividades pelo Estado (provas teóricas e práticas), o acompanhamento, a

fiscalização e a auditoria dos credenciados; priorizaram a Educação para o

Trânsito e ações de comunicação na mídia, cinemas, TV e rádios, para a redução

dos índices de acidentes e sinistros.

2.2.4 DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Providência sequencial foi o ingresso pelo Ministério Público

Federal, de ação civil de improbidade administrativa, contra diversas autoridades

do Estado, dentre as quais, a Governadora do Estado. Para justificar o cabimento

da ação civil pública o Ministério Público relacionou documentos que entendia

provas irrefutáveis de participação no suposto esquema, retirados de diversas

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fontes de investigação, inclusive provas consideradas pela justiça como ilícitas e

imprestáveis (para não dizer forjadas e fraudulentas), pois formadas à revelia de

qualquer direito de defesa ou de tomada de explicações dos implicados.

E mesmo que a ação tivesse por objeto a punição diante da

"fraude do Detran/RS", os procuradores surpreenderam a todos quando

nominaram como réus José Otávio Germano, Yeda Crusius, João Luiz dos

Santos Vargas, Luiz Fernando Salvatori Záchia, Frederico Cantori Antunes,

Delson Luiz Martini, Walna Vilarins Menezes, Rubens Salvador Bordini e Carlos

Antonio Crusius.

De todos os acima nominados réus, somente Joáo Luiz

Vargas, José Otávio Germano e Delson Martini tiveram seus nomes referidos ao

longo de toda a operação Rodin, muito embora nenhum dos dois últimos

tivessem sido apontado como investigados, indiciados e denunciados pela Polícia

Federal, pelo Ministério Público ou pelo Poder Judiciário (como acima se pode

verificar).

Depois, se os desvios do Detran ocorreram desde o ano de

1998 até 2007, o correto seria incluir seus ex-presidentes e autoridades politicas

da época como réus, e especialmente seu principal fraudador, LAIR FERST.

Estranhamente tal iniciativa não ocorreu!

Pior, o Ministério Público, sob pretexto de punir fatos

apurados na Operação Rodin, acabou dando publicidade a denúncias de ilícitos

eleitorais (que nenhuma relação tinham com o Detran), daí porque a ação fora

movida também contra Rubens Bordini e Carlos Crusius, por exemplo.

São incalculáveis os prejuízos à imagem dos personagens

políticos locais diante da iniciativa do Ministério Público Federal. Tanto que, logo

após a badalada coletiva de imprensa convocada para anunciar a medida, o

requerimento da CPI foi assinado por 39 parlamentares, e um pedido de

impeachment foi protocolado e processado na Assembléia Legislativa do Estado

do Rio Grande do Sul.

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Veja-se que, no caso da Governadora do Estado, foram

utilizadas provas produzidas pelo Vice-Governador do Estado (grampo ilícito

contra o chefe da Casa Civil); as mais de 80 escutas telefônicas, além de provas

produzidas por Lair Ferst e as denúncias de ex-funcionários do governo. Para o

Ministério Público e para a oposição ao governo, tratavam-se de provas

irrefutáveis, aptas inclusive ao seu impedimento.

É importantente referir, que bastou um primeiro contato com

as provas, para que a juíza Simone Barbisan fulminasse todos os documentos

apresentados contra ela ao referir que:

".................

(...) não há, todavia - ao menos não neste momento -

provas suficientes para indicar a verossimilhança do

alegado envolvimento de Yeda Crusius, seja autorizando

conscientemente o desenrolar do esquema objeto desta

ação, seja beneficiando-se financeiramente com ele."

Posteriormente, aprofundando a análise de direito envolvida,

a Quarta Turma do Tribunal Regional da Quarta Região iria excluir a Sra.

Governadora do Estado do rol de réus na ação por ausência total de requisitos

para seu processamento.

Não podemos deixar de referir que sobram evidências de

uma perseguição política implacável, tanto que o processo de impedimento

movido foi arquivado por falta absoluta de documentos, e, mais tarde, com o

andamento da CPI, a própria oposição reconheceria a inocência do governo

(quando descreveria uma midiática e inventiva anatomia do "esquema de

corrupção" no Estado, onde nenhum dos quadros de governo, nem a própria

Governadora constam como participantes).

Na linha do que vinha sendo exposto acima, o natural para a

ação de improbidade administrativa, seria discorrer sobre medidas judiciais

promovidas contra os proprietários das empresas sistemistas. Mas porque isto

não ocorreu? Porque movida e divulgada com grande alarde apenas contra

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politicos do Estado, apresentando fatos e documentos tão frágeis que seriam

prontamente desprezados pelo Poder Judiciário nos dias seguintes?

Seja como for, trata-se de um dos episódios mais

contestados e ainda inexplicados da história recente do Estado do Rio Grande do

Sul, este que envolve a coletiva de imprensa convocada pelo Ministério Público

Federal para anunciar a propositura da ação de improbidade administrativa de nº

2009.71.02.002693-2 contra políticos do Estado. A polêmica iniciativa abriu

espaço para sérias dúvidas levantadas pelos implicados, pelo jornal O Estado de

São Paulo e pelo próprio Presidente do Supremo Tribunal Federal quanto à real

motivação do Ministério Público Federal.

Faço aqui uma advertência, porque me associo dentre

aqueles que credita a mais alta importância à instituição Ministério Público para a

promoção da justiça e mais especialmente o combate à corrupção: e reafirmo

que são descabidas quaisquer insinuações que levantem suspeitas à ausência

de seriedade desta institução e da maioria de seus promotores (especialmente

diante dos indícios graves de irregularidade que foram apurados ao longo destes

três anos).

Trata-se, no entanto, de críticas proferidas pelo mais

importante magistrado brasileiro - o Presidente do Supremo Tribunal Federal -

que afirma que tem havido desvio de finalidade em casos como este,

Cite-se, por exemplo, a matéria abaixo:

"Gilmar Mendes critica abuso nas escutas telefônicas

Mendes critica banalização dos vazamentos de escutas

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro

Gilmar Mendes, defendeu nesta segunda-feira uma lei que

regulamente e aprimore as técnicas das escutas telefônicas.

Ao comentar o vazamento das interceptações telefônicas da

Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve o

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presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Gilmar

Mendes disse que há uma banalização deste tipo de prática.

- Esse é um problema que tem ocorrido com alguma

constância e até agora com pouca elucidação. Sem dúvida é

uma área que estamos carentes de melhoria, há necessidade

de aprovar uma nova lei de escutas e também aprimorar

técnicas. Se trata de criar uma cultura diferente nessa

matéria. Banalizamos esse tipo de prática." (Jornal Lei e

Ordem, internet).

Ou então esta matéria:

31/03/2009 - 19h26

Gilmar Mendes diz que Ministério Público tem parte nos

abusos da polícia

REGIANE SOARES da Folha Online

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro

Gilmar Mendes, criticou nesta terça-feira a atuação do

Ministério Público como órgão responsável pelo controle

externo da polícia. Segundo Mendes, o próprio procurador-

geral da República, Antonio Fernando Souza, se manifestou

sobre as dificuldades que o órgão tem para fazer esse

controle.

Mendes também se mostrou preocupado com a

participação do Ministério Público no que chamou de

abuso da polícia. Mas evitou citar quais abusos teriam sido

cometidos na Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal,

deflagrada na semana passada.

"O que há hoje é uma atividade um tanto quanto abstrata que

muitas vezes o próprio Ministério Público é parte naquilo que

nós dizemos ação abusiva da polícia. Quando o Ministério

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Público atua em conjunto com a polícia, por exemplo, e

depois se reclama da ação. Quem vai ser o controlador desta

operação?", afirmou Mendes.

O ministro voltou a sugerir a criação de uma polícia judiciária

para fazer o controle externo da polícia, uma vez que "muitas

vezes" o Ministério Público atua em conjunto com a polícia

nas investigações.

Para Mendes, o juiz que ficasse encarregado por essa

função poderia fiscalizar de forma mais adequada a ação da

polícia, evitando inclusive os abusos.

(...)".

Assim é que, se existem indícios de irregularidades

envolvendo personalidades do Governo do Estado (e que precisam ser apuradas

e investigadas). manifesto que estou muito tranquilo e confiante na justiça

brasileira, pois o Mnistério Público tem recebido todo o apoio instituicional, e

investigação no Rio Grande do Sul é o que menos falta nos dias de hoje. Tanto

que o Ministério Público Federal promoveu ações judiciais; o Poder Judiciário

analisou as ações judiciais; o Tribunal de Contas do Estado promoveu medidas

para cada uma das denúncias; a Polícia Federal investigou e catalogou dezenas

de milhares de horas de investigações; duas CPI's foram instauradas para

analisar os documentos; isso sem mencionar a atuação da Receita Federal,

Receita Estadual, Coaf, Banco Central do Brasil, TCU, sindicâncias

administrativas dentre outros.

Bom, se investigação não falta, então porque razão a atuação

dos procuradores foi objeto de tão rápida representação ética por parte dos

acusados, de reprimendas do Presidente do Supremo Tribunal Federal, e de

reparo e desconstituição pelos órgãos judiciais (com a exclusão da Governadora

do rol de réus, por exemplo)?

Talvez ajude a explicar as críticas o modo midiático como foi

divulgada a ação civil pública; a revelação de informações sigilosas para a

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imprensa o ineditismo da iniciativa (haja vista o apontamento para personalidades

que até aquele momento, o próprio órgão informava que não estava

investigando); ou, então, porque parte destas personalidades sequer poderiam

ser investigadas, tampouco acionadas pelo Ministério Público sem autorização

especial do STF; e, enfim, pelos pedidos promovidos, dentre eles o afastamento

da Governadora do Estado.

Enquanto parlamentares, temos o dever de investigar a punir

quem comete irregularidades, seja ela contra o patrimônio público, seja ela contra

a Democracia e à Constituição. Mas se não formos claros em diferenciar uma

coisa da outra, podemos passar a impressão errada à sociedade.

Isso porque:

- se criticamos um abuso de poder na investigação, e o

desvio de finalidade na atuação dos responsáveis pela

promoção da justiça, podemos transmitir à falsa impressão de

que não desejamos investigar!

- e se, diante deste receito de sermos incompreendidos,

deixarmos de criticar o abuso de poder e o desvio de

finalidade, então seremos indulgentes e omissos com o que

pode ser um atentado à Democracia.

É preciso deixar claro que este impasse, na verdade não

existe. Até mesmo durante a ditadura militar, aqueles mesmos policiais que

combatiam o crime comum nas ruas - e assim exerciam dever fundamental para

a sociedade - às escondidas torturavam perseguidos políticos simplesmente por

serem considerados perigosos ao sistema - e assim agiam contra a Democracia.

E quem quisesse criticar a atuação da polícia naquele tempo, deveria saber

distinguir "uma coisa", que era o combate ao crime; de "outra coisa" que era a

repressão política.

Penso que o mesmo raciocínio deve ser aplicado nos dias de

hoje. Todos devemos aplaudir e incentivar o policial e o procurador do Ministério

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Público Federal que hoje combatem a corrupção e os crimes contra o patrimônio

público - isso é "uma coisa"; "outra coisa", no entanto, é autorizar o abuso de

poder e desvio de finalidade postos à serviço de interesses políticos, sob risco de

estarmos permitindo a volta da repressão no Brasil.

Talvez este raciocínio ajude a compreender o conteúdo

político da coletiva de imprensa, quando um dos procuradores de justiça chegou

a dizer: "não haverá moleza para estes réus", declaração que causou grande

impacto na imprensa local e nacional.

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2.2.5 DO PEDIDO DE IMPEACHMENT DA GOVERNADORA DO ESTADO

Depois de três anos de investigações promovidas contra o

Governo do Estado, e movido pelo grande alarde causado com a propositura da

ação cívil pública, um fórum de sindicalistas catalogou todas as denúncias

envolvendo a Sra. Governadora do Estado e promoveu seu pedido de

impedimento

O fatos que compunham o pedido foram assim arrolados:

"Em novembro de 2007 – Operação Rodin, da PF, aponta

fraude de R$ 44 milhões no DETRAN gaúcho. Entre os 14

presos, o empresário Lair Ferst, membro do PSDB e ligado à

cúpula da campanha que elegeu Yeda em 2006, e o Diretor-

Presidente da Autarquia Flávio Vaz Neto;

Em fevereiro de 2008 – A Assembléia legislativa abre a

Comissão Parlamentar de Inquérito do DETRAN, para

investigar o esquema, que consistia na cobrança de preços

superfaturados por fundações e empresas contratadas sem

licitação;

Em abril de 2008 – À CPI o Delegado de Polícia Civil Luiz

Fernando Tubino diz ter recebido a informação de que Lair

Ferst teria pago R$ 400 mil de custo da casa adquirida por

Yeda Crusius no fim de 2006. Segundo a tucana, a casa foi

comprada por R$ 750 mil. Yeda avisa que vai processar o

presidente da CPI pela insinuação de que sua casa teria sido

paga parcialmente com sobras de campanha;

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Em maio de 2008 – Justiça Federal abra processo contra 40

pessoas no caso das fraudes no DETRAN. Empresário Lair

Ferst nega ter participado da campanha de Yeda;

Em maio de 2008 – Ex-Secretário de Segurança Enio Bacci

afirma à CPI que a Governadora soube das irregularidades

no DETRAN no inicio de 2007 e nada fez. Governo nega;

Em junho de 2008 – É divulgada conversa gravada pelo Vice-

Governador do Estado Paulo Afonso Feijó, na qual o Chefe

da Casa Civil, Cezar Busatto, admitia que partidos aliados

eram financiados por órgãos públicos. Gravação provoca a

queda de Busatto e, após, do Secretário-Geral de Governo,

Delson Martini, com o qual, também, termina por ser

exonerado e do Chefe do escritório do Rio Grande do Sul em

Brasília, Marcelo Cavalcanti;

Em junho de 2008 – PSOL e PV protocolam pedido de

impeachment da Governadora na Assembléia Legislativa,

sob acusação de improbidade administrativa;

Em junho de 2008 – Assembléia arquiva pedido de

impeachment de Yeda;

Em junho de 2008 – Gravações da CPI do DETRAN

derrubam quatro integrantes da cúpula do Governo de Yeda

Crusius. Uma das gravações mostrou dois envolvidos na

fraude que desviou R$ 44 milhões da Autarquia combinando

um jeito de resolver um impasse entre empresas que

prestavam serviços superfaturados. A segunda mostrou o

Chefe da Casa Civil, Cezar Busatto, admitindo ao Vice-

Governador Paulo Afonso Feijó (DEM) que partidos aliados

do governo se financiavam em órgãos públicos;

Em julho de 2008 – Relatório Final da CPI do DETRAN,

aprovado por 9 votos contra 3, não cita a Governadora e

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isenta ex-secretários. O relator aponta como responsáveis as

mesmas 40 pessoas que já respondem a processo na Justiça

Federal;

Em agosto de 2008 – Um dos 40 que respondem ao

processo originário da “operação Rodin”, o empresário Lair

Ferst, dia que pessoas “de dentro e de fora” da

Administração Estadual também participaram ou souberam

da fraude no DETRAN;

Em agosto de 2008 – o Ministério Público Especial apresenta

ao Tribunal de Contas do RS representação solicitando

investigação sobre a compra da casa da Governadora. A

Governadora contrata advogado criminalista para fazer sua

defesa e explicar como adquiriu a casa;

Em dezembro de 2008 – O Ministério Público gaúcho arquiva

representação contra a Governadora Yeda Crusius, que

apontava possíveis irregularidades na compra da sua casa;

Em fevereiro de 2009 – Corpo de Marcelo Cavalcante, ex-

Chefe do Escritório de Representação do Estado em Brasília

e um dos integrantes da coordenação de campanha da

Governadora Yeda Crusius, é encontrado morto no Lago

Paranoá, na Capital federal. A morte de Marcelo ocorre na

semana que antecede depoimento marcado no Ministério

Público Federal. A companheira de Marcelo passa a

relacionar sua morte com as denúncias que faria sobre atos

de improbidade praticados no Governo gaúcho;

Em março de 2009 – Ex-Ouvidor da Segurança Pública do

Governo do Estado Adão Paiani entrega à Seccional do Rio

Grande do Sul da Ordem dos Advogados do Brasil gravações

de escutas telefônicas, realizadas no “Sistema de

Investigações Guardião”, nas quais fica provado que o Chefe

de Gabinete da Governadora fazia espionagem sobre a vida

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de políticos da oposição. Até hoje os fatos não foram

esclarecidos pelo Governo, nem o Chefe de gabinete da

Governadora foi afastado;

Em maio de 2009 – Segundo a Revista Veja, em gravações,

Marcelo Cavalcanti admite ter coletado, após a eleição de

2006, R$ 200 mil de empresas. O dinheiro teria sido entregue

ao marido da Governadora;

Em maio de 2009 – Circulam parte de degravações de

escutas telefônicas realizadas na “Operação Solidária”, nas

quais aparecem a Secretária pessoal da Governadora Walna

Vilarins Menezes e integrantes de Secretarias de Estado em

conversas com empresários nas quais tratam, em código, de

licitações de obras;

Em maio de 2009 – A Oposição retoma coleta de assinaturas

para abrir CPI sobre o Governo Yeda Crusius;

Em junho de 2009 – O Secretário de Transparência do

Governo recomenda à Governadora Yeda Crusius o

afastamento de Walna Villarins Menezes e a abertura de

investigação em relação a suas atividades. A Governadora

anuncia que não acatará recomendação do Secretário de

Transparência;

Em julho de 2009 – Surge na imprensa cópia do documento

que Lair Ferst entregou à Justiça Federal em seu depoimento

no qual teria negociado “delação premiada”. No depoimento,

transcrito no Jornal Zero Hora dia 07, Lair confirma o

encolvimento direto da Governadora com atos de

improbidade, entre os quais negociação sobre o recebimento

de valores desviados do DETRAN e investigações na

“Operação Rodin”. O depoimento escrito de Lair refere-se a

existência de áudios e vídeos gravados, que comprovam

quase todas as acusações que faz à Governadora Yeda

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Crusius e, ainda, de haverem testemunhas dos fatos

narrados."

No curso do processo, membros do governo e parlamentares

desta Casa destacaram o fato de que, do pedido de impedimento, todos os fatos

arrolados teriam surgido por adversários declarados da Governadora, por

partidos de oposição interessados em enfraquecê-la, ou por denunciantes

dispostos a negociar sua posição em troca de benefícios processuais (delação

premiada, por exemplo).

É importante referir a impressão geral da imprensa naquele

momento de que o processo seria arquivado, posto que a juíza federal afastara

os indícios contra a governadora, e mais especialmente porque a decisão do TRF

da 4ª Região a excluira do rol de réus.

Ainda assim, a relatora analisou todas as provas

apresentadas em seu devido contexto, afastou qualquer indício de irregularidade,

do que resultou a impressão geral de que todas as alegações incriminadoras

tinham em comum um interesse puramente político.

Um jornalista bem humorado, à época do julgamento, chegou

a mencionar que a "montanha" que investigou ao longo de três anos todos os

movimentos do governo, mesmo depois de envolver todas as instituições

possíveis, e utilizar as mais modernas técnicas existentes, produzira um "ratinho

de laboratório", pois mesmo depois de tanto esforço e recursos despendidos,

apresentou à sociedade gaúcha um conjunto de "fofocas e intrigas" desprovidas

do menor cabimento ou comprovação.

Ao analisar a justa causa do pedido, a relatora do processo

manifestou bem esta compreensão, ao dizer que

"Um dos fatos que subisidiaram o pedido de instauração do

processo por crime de responsabilidade da Governadora do

Estado, foi o ingresso da ação civil de improbidade

administrativa na 3ª Vara Federal Criminal de Santa Maria

(...)"

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E mais, que esta documentação condensada pelo Ministério

Público Federal:

"(...) Em boa parte, é o material que subsidia o exame da

Presidência e abrange fatos indicados pelo pedido com

relação ao DETRAN/RS.

Todas estas manifestações, é importante frisar, poderiam ter

sido afastadas de plano pela Presidência da Assembléia, posto que a juíza já

havia se manifestado sobre as provas apresentadas. Eis o teor da decisão:

“Segundo o MPF, a participação de Yeda Rorato Crusius,

governadora do Estado do Rio Grande do Sul, no esquema

que supostamente teria conduzido ao desvio de dinheiro

público oriundo do Detran/RS, pela via da contratação das

fundações Fatec e Fundae para prestação de serviços no

âmbito dos exames práticos e teóricos de direção veicular

seria indicada, fundamentalmente, a partir do registro da

conversa entre o Vice-Governador do Estado, Paulo Feijó, e

o então chefe da Casa Civil do governo, César Busatto, bem

como de conversas mantidas entre Lair Ferst, um dos

supostos envolvidos no esquema, e Marcelo Cavalcante, que

fora representante do Governo do Estado em Brasília (tendo

ambos participado da campanha eleitoral da governadora).

Parece-me, todavia, que ao menos neste momento, não se

registram suficientes elementos que possam conduzir à

verossimilhança das alegações pontuadas na petição inicial,

necessária ao deferimento das medidas liminares postuladas,

pelos motivos que passo a expor.

No registro da conversação entre o Vice-Governador e César

Busatto (...) na linha de argumentação do MPF, encontrar-se-

iam registros da ciência de Yeda sobre o esquema, e,

supostamente, sua inação em demovê-lo bem como o

conhecimento de que a cúpula política tinha conhecimento

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das fraudes e de que as mesmas serviriam aos interesses

escusos do PP e, especialmente, a José Otávio Germano,

sendo mencionadas, dentre outras, as seguintes passagens

(...)

(Segue transcrição da conversa entre César Busatto e Vice-

Governador Paulo Afonso Feijó)

Parece-me todavia, que da conversação não podem ser

extraídas, ao menos diretamente, e neste prematuro

momento processual), as conseqüências apontadas pelo

parquet. De forma muito clara, resulta do diálogo que: (1)

empresas estatais eram, supostamente, utilizadas como

moeda de troca política, em troca de sustentação (apoio) na

Assembléia; (2) embora já deflagrada a “Operação Rodin”,

isto é, tornada públicas supostas irregularidades na

autarquia, tocantes à contratação das fundações de apoio à

UFSM, à governadora ainda assim teria dificuldades, pelo

“custo político” de romper com José Otávio Germano,

retirando o Detran do controle do PPS [sic]. Sinale-se, porém,

que a conversação foi travada, como já se mencionou

anteriormente, após a publicização do caso Detran, de sorte

que dela ao se pode presumir, automaticamente, fosse Yeda

Rorato Crusius conhecedora das irregularidades ora em

debate, tanto assim que, em certa passagem Busatto

menciona: “ela vai pagar um preço alto por isso – talvez mais

do que ela merecesse”. Aliás, tudo parece girar sobre como

se portaria ela a partir das investigações sobre o caso, e não

sobre sua postura passada. Neste sentido, Busatto, também

menciona a existência de um “passivo que não se resolve

nunca mais”.

Por si só, portanto, tal registro não é suficiente para, em sede

liminar, conduzir à verossimilhança necessária sobre o

envolvimento da demandada com os fatos. De outro lado,

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tampouco podem ser valoradas, de per si, as gravações

apresentadas por Lair Ferst, pelos motivos anteriormente

mencionado (...)”

A relatora ainda foi mais além, referindo em diversos trechos

da decisão da Juíza Simone Barbisan Fortes, que com absoluta clareza indicam,

afinal:

“Se existisse a ciência e participação, dada inclusive a

suposta grande proximidade de Yeda Crusius com Lair Ferst,

não haveria necessidade de um relato que expusesse sua

versão sobre o envolvimento das empresas de sua família no

contrato com o Detran, tampouco sobre a participação da

família Fernandes”.

E que (fls. 150, da decisão da magistrada):

“(...)os diálogos denotam que não havia um trânsito fácil

junto à Governadora, o que mais uma vez impede que, ao

menos neste momento, se reconheça um liame entre a

mesma e suposto grupo que aparentemente

operacionalizava as fraudes no Detran.”

Em outro trecho, a magistrada ainda refere que (fl. 152):

“... a circunstância de que Chico Fraga tenha mencionado o

suposto crédito de Lair em face do Governo do Estado ou de

Yeda, não faz presumir haja uma orientação da governadora

proteger seus interesses, não existindo outros elementos que

corroborem a relatada assertiva de Chico Fraga, não a

considero por si suficiente ao reconhecimento sumário da

suposta responsabilidade”.

Sobre as interceptações da ligação de Flávio Vaz Netto, ex-

Presidente do DETRAN, acerca de sua intenção de comprometer o Governo, e

em especial o ex-Secretário de Estado Délson Martini, assim considerou a

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Senhora Juíza do caso, com o amparo da Assembléia no julgamento do pedido

de impedimento:

“Aparentemente, Flávio Vaz Netto esperava ter um apoio

mais significativo do governo em sua defesa, e por isso

promete acabar com Yeda, mas repita-se, neste momento

sua afirmação não pode amparar uma conclusão, ainda que

indiciária, de responsabilidade da governadora. Veja-se que

aparentemente, sua indignação volta-se contra os partidos

(que não o estariam apoiando), pelo que pretenderia atingir o

governo (expresso, em última instância, na figura de Yeda)”.

E sobre o relacionamento de Walna Villarins Meneses e

Francisco Fraga, do qual a Governadora teria algum tipo de conhecimento,

novamente reforça a relatora decisão da juíza, segundo a qual:

“Também não ficaram suficientemente esclarecidas as

relações de Walna Villarins, secretária de Yeda, com

Francisco Fraga e Maciel, a ponto de conduzir à

verossimilhança das alegações de responsabilidade da

governadora” (fl. 155).

Não por outra razão, em relação ao pedido de impeachment

que subsidiado pela ação de improbidade em questão, tramitou nesta Assembléia

Legislativa, o Plenário da Casa entendeu por maioria, acolher a conclusão do

parecer da relatora, Deputada Zilá Breitenbach, em que esta refere:

"Do ponto de vista jurídico, é exaustivamente demonstrada a

ausência de justa causa, em relação aos fatos narrados, para

a admissão do pedido de instauração de processo contra a

Governadora do Estado. Não se trata aqui, de interpretar

além dos fatos, mas de acordo com os fatos objetivamente

considerados. O fez a magistrada da causa, com sua

reconhecida imparcialidade. Faz-se ora neste relatório,

separando a discussão político-partidária do exame técnico-

político das questões afirmadas.

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Daí porque parece clara a ausência de justa causa para

admissibilidade do pedido de instauração do processo contra

a Governadora do Estado. Dos fatos que ensejam o pedido,

ou se verifica que as narrações não possuem

verossimilhança, ou de que se referem antes à interpretação

sobre fatos, do que propriamente a fatos que permitam a

corrente de interpretações logicamente desautorizadas pelo

mínimo suporte probatório trazidos ao autos.

Aliás, refira-se em derradeiro. O pedido não apresentou nada

além do que já noticiado pela imprensa. Não traz elementos

que permitam conhecer dos fatos. Remete a processos

judiciais, cujos fatos em causa ora procurou-se examinar e

suportar com base nos fatos e narrações de fatos indicados.

CONCLUSÕES

Daí porque, por todos os fatos examinados, a natureza do

pedido e o exame autorizado dos mesmos, conclui-se que

não está presente justa causa a autorizar a admissibilidade

do pedido de instauração de processo por crime de

responsabilidade contra a Governadora do Estado. Daí

porque concluo, submetendo a esta Comissão Especial este

entendimento, sobre a ausência das condições de

admissibilidade do pedido formulado no processo nº

2300-01.00/09.8, razão pela qual seja deliberada sua

remessa ao arquivo deste Poder Legislativo."

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II - DOS TRABALHOS DA CPI

Como se sabe, o requerimento de CPI apresentou como

provas irrefutáveis, a versão de que existiria no Estado um:

“(...) imenso esquema de corrupção, envolvendo pessoas e

partidos, no sentido de se apropriarem do dinheiro público

para financiamento privado de seus interesses”.

A comprovação do suposto esquema estariam nos fatos

ATENTO, as licitações de JAGUARI e TAQUAREMBÓ, assim como na

OPERAÇÃO RODIN e OPERAÇÃO SOLIDÁRIA.

Desta forma colocado, o foco das investigações desta CPI

direcionaram-se em comprovar se os fatos determinados são comprovação cabal

da existência de uma suspeita levantada contra o governo, e insistentemente

repetida pela presidente desta CPI.

Para subsidiar os trabalhos da CPI, foram utilizados um

impressionante conjunto de documentos, que teriam sido retirados daquela que

seria considerada a maior varredura investigatória jamais realizada no Estado do

Rio Grande do Sul, promovidas por:

- Tribunal de Contas do Estado

- Ministério Público de Contas do Estado

- Ministério Público Federal

- Ministério Público do Estado

- Assembléia Legislativa em duas CPI’s e Impeachment

- Policia Federal

- CAGE

- Poder Judiciário – justiça comum estadual

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- Poder Judiciário – justiça federal primeira instancia

- Poder Judicário – Supremo Tribunal Federal

- Secretaria do Tesouro Nacional

- Secreatria da Fazenda Estadual

- COAF

- Banco Central do Brasil

- Sindicâncias Administrativas

Vale referir que todos estes órgãos, trabalharam como o que

há de mais moderno no em técnicas de investigação, seja:

- monitoramento telefônico

- monitoramento de e-mail’s

- monitoramento de mensagens de texto por celular

- monitoramento remoto por vigilantes

- captação de imagens por câmeras de vigilantes móveis

- captação de imagens por câmeras de prédios

- apropriação de documentos de computador dos

suspeitos

- tomada de depoimento de centenas de testemunhas e

suspeitos

E se isto não bastasse, os documentos coletados foram

analisados com profundidade por:

- Ministério Público de Contas do Estado

- pericias dos órgãos bancários e fazendários

- sindicâncias dos órgãos envolvidos

- análises técnicas da CAGE do do MPTCE

- duas CPI's na AL.RS

- um processo de impedimento

Este relato é importante para deixar claro que durante os

últimos três anos não foram poupados esforços profissionais - nem recursos

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públicos - no sentido de investigar os fatos apontados como ilícitos. E mais, que

nesta varredura não se deixou de lançar mão de um único meio de investigação

existente. Depois, tanto a imprensa nacional como gaúcha deram o mais

completo e interessado apoio no sentido de permitir que a sociedade

acompanhasse detalhe a detalhe o andamento de todas estas investigações.

Relativamente aos documentos apresentados por todos os

órgãos de investigação (embora demonstrem irregularidades e desvios,

especialmente nos anos de 1998 até 2006), até agora nenhuma prova da

existência do dito "esquema organizado de corrupção" a que fez referência a

oposição, restou comprovado no Estado do RIo Grande do Sul. Repito: focos

isolados de irregularidade existem, e foram todos combatidos no modo e forma

previstos na lei.

Não é por outra razão que todas as instituições até o

momento manifestaram a idoneidade da Sra. Governadora do Estado do Rio

Grande do Sul e de seu governo:

- Polícia Federal: declarou durante a Operação Rodin que

a governadora não era investigada;

- Ministério Público Federal: declarou durante a

Operação Rodin que a governadora não era investigada;

- O Ministério Público Estadual, declarou a absoluta

legalidade dos atos da governadora nos processos que

analisou;

- O Poder Judiciário, excluiu a governadora da ação civil

pública, e declarou que as provas produzidas contra ela

não possuíam valor jurídico;

- Tribunal de Contas do Estado: analisou os atos da

governadora na questão a que foi submetido e declarou a

sua absoluta legalidade;

- Órgão de Controle Interno – CAGE e Sindicâncias:

apuraram responsabilidades sem verificar qualquer ilícito

da governadora;

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- Assembléia Legislativa: declarou sua isenção na CPI do

DETRAN I e não acatou dois pedidos de impeachment

promovidos pela oposição

É importante subblinhar que, depois de serem utilizados o

poder de investigação de centenas de fiscais, policiais, procuradores de justiça,

juízes, assessores, etc., nem um único fato ilícito foi apontado que envolvesse o

nome da senhora governadora e seu governo como parte de um engendrado

esquema de ilícitos.

Cabe indagar, neste momento, qual é o legado que esta

impressionante devassa histórica deixou de concreto para o Estado do Rio

Grande do Sul, e para toda a sociedade?

E mais, qual seria “...o custo financeiro pago pela sociedade

para viabilizar a maior investigação politica jamais vista na história do Estado, e

que de concreto não evidenciou nada contra a principal personalidade

fustigada?”

Não se pode deixar de referir a dimensão do desgaste sofrido

pelo governo - e pelo Estado do Rio Grande do Sul perante todo o Brasil - o que

nos obriga a uma reflexão profunda sobre as reais motivações que se escondem

por detrás desta devassa histórica.

De certa forma, tudo andava bem com o início da Operação

Rodin. Na oportunidade, manifestou o Departamento de Polícia Federal a

necessidade de uma investigação profunda diante da existência de uma

sociedade criminosa localizada no interior da Universidade Federal de Santa

Maria, comandada por Lair Ferst e pelo Reitor da Universidade, em que poderiam

ser identificados os seguintes elementos componentes de uma sociedade

criminosa: a) a hierarquia do grupo; b) o intuito lucrativo; c) um gestão

empresarial do esquema; d) a destruição e ocultação de provas; e) omissão de

rendimentos e; f) blindagem patrimonial.

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Durante um bom tempo, as investigações buscaram apurar

este fato concreto e punir seus responsáveis, analisando provas de lavagem de

dinheiro por intermédio de empresas sistemistas, fato que visava ocultar os

verdadeiros sócios e mascarar as provas contábeis. Seguindo neste rumo, o

correto seria buscar a punição àqueles que efetivamente cometeram crimes, e

paralelamente analisar a existência de vínculos políticos. No entanto, não foi isto

o que ocorreu. Após um determinado momento, todas as investigações parecem

ter sido direcionadas unicamente para o segundo objetivo, deixando o primeiro e

mais importante totalmente de lado.

Tanto isto é verdade, que ao ajuizar uma ação buscando o

ressarcimento ao Erário dos recursos desviados do Detran, dos mais de quarenta

denunciados, apenas um deles integra a ação de improbidade administrativa. E

justamente quem jamais foi objeto de suspeita - como a senhora Governadora do

Estado (até porque o esquema era anterior ao seu governo) - terminou sendo

surpreendentemente incluída na ação.

Nem mesmo o mentor e chefe hierárquico deste grupo, LAIR

FERST, que sozinho responde pelo desvio de aproximadamente R$ 20 milhões

de reais (valor destinado a duas empresas que lhe remetiam recursos, a Rio del

Sur e a Newmark Engenharia), ao longo dos anos de 2003 até 2006, encontra-se

incluso na ação.

Não é a toa que fatos como este tenham chamando a

atenção de personalidades importantes do Poder Judiciário, a exemplo do próprio

Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar Ferreira Mendes, que

em outra oportunidade (sobre fato distinto, porém correlato) criticou a postura

policialesca com que alguns membros dos órgãos de investigação vem

promovendo suas ações.

É importante frisar, neste ponto, que tratam-se de suspeitas

levantadas pelo sr. Ministro:"...o Ministério Público tem parte nos abusos da

polícia". (retirado do site: http://www.jusbrasil.com.br/politica/2169122/gilmar-

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mendes-diz-que-ministerio-publico-tem-parte-nos-abusos-da-policia), a quem

dedicamos todo nosso respeito.

Aliás, vale referir que a mesma suspeta foi referendada por

importantes políticos brasileiros, pelo próprio Ministério Público, e por parte

importante da imprensa nacional, criticando o uso generalizado de mecanismos

de repressão partidária dos meios de investigação por integrantes das

instituições federais, ao ponto de cunharem a denominação de "Brasil, a

república dos grampos"!.

Leia-se, neste ponto, o que refere o jornalista Daniel Piza, em

seu blog na internet, no dia 02.09.08.

"Quando um ministro do Supremo reconhece ter sido

grampeado em conversa com um senador, no mesmo dia em

que a Polícia Federal desencadeava uma operação para

prisão de um banqueiro, e as suspeitas recaem sobre a Abin,

dirigida pelo ex-chefe da mesma PF, é porque a situação

está preta. É no vácuo das instituições - e não no do Estado,

como pensam alguns articulistas ingênuos - que a máquina

do poder público se vê livre para atropelar os direitos mais

básicos, as premissas mais éticas. Desconfio que depois do

afastamento de Paulo Lacerda e diretoria, feito por Lula sob

pressão da sociedade, o escândalo vá terminar em anedota,

como tantos outros. As reais motivações do grampo - que

membros do governo como Jorge Félix, superior hierárquico

de Lacerda, logo trataram de especular como "particulares"

(talvez o próprio Daniel Dantas?) - não serão conhecidas. E

os grupos que ocupam o poder continuarão se grampeando,

preventivamente ou não. No Brasil, o máximo que a

sociedade consegue diante do Estado são reações

imediatistas; o fulcro da ilegalidade, como da corrupção,

segue inatacado. Com interrupções aqui e ali, que só servem

para que continue forte, o vale-tudo está no comando. Com a

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chancela das mais altas autoridades de cada poder, a

começar pelo presidente. "

Ainda sobre o tema da chamada "república dos grampos" e o

desvirtuamento político de membros dos órgãos de investigação, é fundamental

citar o editorial do jornal o Estado de São Paulo, que repercutiu o alerta que o

Ministro Gilmar Mendes faz à repressão política vigente hoje no país.

"Insuspeito, por ter começado a carreira profissional como

integrante da Procuradoria-Geral da República, o presidente

do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional

de Justiça (CNJ), ministro Gilmar Mendes, voltou a criticar

com veemência promotores de Justiça e procuradores

da República que utilizam prerrogativas constitucionais

para macular a imagem de pessoas públicas, favorecer

partidos políticos ou criar situações de fato que possam

interferir no resultado de eleições.

"Que peçam desculpas e até indenizem o Estado por terem

usado indevidamente força de trabalho paga pelo poder

público, paga pela sociedade, para fins partidários", disse

Mendes, depois de lembrar o que ocorreu na época em que

Fernando Henrique Cardoso era presidente da República,

quando alguns membros do Ministério Público (MP) Federal

liderados pelos procuradores Luís Francisco de Souza e

Guilherme Schelb, utilizaram o órgão como braço judicial do

PT, propondo ações contra ministros, sem dispor de provas

materiais nem de base jurídica.

A estratégia por eles adotada consistia em vazar

informações falsas ou deturpadas para a imprensa e usar

as notícias publicadas para justificar a propositura de

ações de improbidade. Um desses procuradores chegou a

ser condenado, anos depois, por assinar representações que

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já chegavam prontas, preparadas por adversários do

governo. O objetivo era atingir o presidente da República, o

que converteu o "denuncismo" irresponsável daqueles

procuradores em matéria-prima para os discursos da

oposição. "Funcionava como tal e propunha todo tipo de

ação contra o governo", afirma Mendes. Embora a Justiça

arquivasse as ações, o que interessava aos procuradores era

explorar eleitoralmente as denúncias.

"Em alguns lugares, para ficar ruim o Ministério Público ainda

precisa melhorar muito. Temos de definir qual o seu âmbito

de aplicação para não gerar suspeitas de que há

manipulação ou partidarização", concluiu Mendes, depois de

cobrar do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) o

mesmo rigor com que o CNJ tem punido magistrados que

exorbitam de suas competências. Em resposta, o procurador-

geral da República e presidente do CNMP, Roberto Gurgel,

afirmou que a crítica de Mendes foi um "ataque injustificado"

e sem o endosso dos demais ministros do STF.

O que levou o presidente do Supremo a elevar o tom das

críticas que há muito tempo faz contra alguns setores do

Ministério Público Federal foi o pedido de afastamento

da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius,

formulado por um procurador com base numa ação de

improbidade protocolada numa Vara Federal de primeira

instância na comarca de Santa Maria, a 286 quilômetros

da capital gaúcha. A governadora pertence ao PSDB e o

processo foi aberto na mesma época em que o diretório

estadual do PT começou a definir o candidato que lançará

contra ela e a buscar apoio de outros partidos para as

eleições de 2010. Desde então, a ação de improbidade é

pretexto para a realização de passeatas semanais lideradas

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pelo PT e pelo PSOL, em Porto Alegre, pedindo a renúncia

de Crusius.

O detalhe é que o procurador responsável pelo caso não

tinha legitimidade jurídica para pedir a um juiz federal de

primeira instância a abertura desse tipo de ação. Como o

STF decidiu em 2007, ao julgar uma ação de improbidade

contra o ex-ministro Ronaldo Sardenberg, que dirigiu a

Secretaria de Assuntos Estratégicos e o Ministério de Ciência

e Tecnologia no governo FHC, ocupantes de cargos públicos

têm direito a foro privilegiado e as ações movidas contra

governadores, em matéria criminal, têm de ser julgadas pelo

Superior Tribunal de Justiça - a última instância da Justiça

Federal. E é esse o caso de Yeda Crusius, concluiu Mendes,

depois de afirmar que "o tema muitas vezes se presta à

politização, para a obtenção, por exemplo, de liminares que

pedem afastamento de deputados, senadores, governadores

e prefeitos, gerando grandes tumultos institucionais".

Agraciado com autonomia funcional pela Constituição de 88,

o MP tem por função defender a ordem jurídica e os

chamados "direitos sociais indisponíveis". Como órgão

fundamental para o regime democrático, é inadmissível que

alguns de seus integrantes usem o cargo para fazer

política partidária, como o presidente do STF deixou

claro em sua crítica. "

Por mais paradoxal que possa parecer a existência de um

esquema de repressão política em pleno período de Democracia no Brasil, deixa

ela de ser pura hipótese quando levantada por pessoas insuspeitas como o

Presidente do STF, parlamentares de ilibada reputação e a imprensa mais

especializada.

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Depois, já havíamos dito ao início deste relatório, que esta

CPI seriviria para demonstrar: ou a existência de um "esquema de corrupção

organizado" ou a existência de um "esquema de perseguição política

organizada." A conclusão dos seus trabalhos confirmam a tese.

1. DOS FATOS ENVOLVENDO A EMPRESA ATENTO SERVICE

Podemos antecipar a convicção de que a CPI deu destaque

renovado à existência de irregularidades no Estado, já comprovadas e que estão

sendo ou já foram exaustivamente investigadas e devem ser punidas com rigor.

Mas que relativamente aos fatos determinados que lhe deram causa,

apresentados como prova da existência da chamada "quadrilha organizada", nem

o mais remoto indício foi sequer apresentado. Veja-se, por exemplo, o que as

investigações da CPI apuraram sobre o item "d" do requerimento de criação, que

assim consta redigido:

“.............

d – A interferência irregular de agentes públicos ou

particulares na gestão do Detran, e que culminaram com a

exoneração - a pedido - de sua Presidenta, delegada Estella

Maris Simon, cuja motivação vincula-se a um passivo

financeiro não admitido pela mesma, sendo este porém,

ratificado de imediato pela senhora governadora. A

suposta credora, empresa Atento Ltda. cobrou a liquidação

do débito da Secretaria de Transparência do Governo

Estadual, revelando uma anomalia administrativa que

precisa ser esclarecida, sendo que o pagamento foi

sustado mediante óbice do Tribunal de Contas do Estado

do Rio Grande do Sul.”

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Na visão política fornecida para o desenvolvimento dos

trabalhos da CPI, o fato determinado – ATENTO – presta-se a comprovar:

- ou a real existência de um grupo organizado para o fito de

corromper instituições e pessoas;

- ou a falsificação grotesca da realidade colocada a

disposição de uma perseguição política com fins eleitorais.

Segundo acusa a versão política fornecida pela oposição ao

fato ATENTO, o Governo do Estado desejou pagar uma dívida (inexistente de R$

16 milhões) com a referida empresa, fato que somente não foi levado à cabo por

conta do óbice formulado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do

Sul.

Não deixa de ser curioso que o requerimento de CPI aponte

como fato considerado criminoso a ser investigado – qual seja o pagamento de

dívida inexistente entre a ATENTO e o Governo do Estado – algo que ele mesmo

(o requerimento) reconhece que não ocorreu.

As dúvidas a respeito do fato surgem a partir dmanifestação

da da Governadora, no dia da posse de Sérgio Buchmann como Presidente do

Detran, quando esta manifestou que iria resolver todos os problemas da

autarquia, inclusive o problema envolvendo a empresa ATENTO, já que esta

seria a principal bandeira política de sua gestão, que é honrar as dívidas do

Estado.

Foi, aliás, o que entendeu Genilton Machado:

“(…) Mas sobre a questão do passivo, eu acho que cabe eu

relatar aqui que em nenhum momento eu ouvi a governadora reconhecer passivo com a Atento. O que eu ouvi dela foi: Se houver passivo – e ela firmou muito o condicional –, vamos honrar. Apurem . Foi a instrução que

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eu recebi quando presente numa reunião com a governadora.

Fora disso, eu não sei o que houve. O que eu ouvi foi: Se

houver, paguem. Agora, apurem.[fim]”

No mesmo sentido, foi assim que recebeu a notícia a

delegada Estela Maris Simon, quando refere em seu depoimento, a fls. 112:

“(…) Tá, em relação à segunda questão, em que o senhor

disse que a governadora se posiciona favoravelmente e que

ela diz que a dívida existe. Eu não ouvi isso, deputado. Quero

lhe dizer que o que eu ouvi, o que eu ouvi foi de que ela teria dito o seguinte: Se há uma dívida, esse é um governo que honra seus compromissos e, se existir a dívida, nós vamos pagar.(…)”

Ainda assim, visando afastar quaisquer dúvidas que

pudessem surgir, os parlamentares membros desta Comissão analisaram

exaustivamente o fato envolvendo a empresa Atento para verificar a existência

das decantadas provas da comunhão de esforços promovidos por partidos que

dão apoio ao governo - ou se o fato encerra mais um capítulo da conhecida

retórica política eleitoral a serviço de uma perseguição política de adversários.

Para esclarecer os fatos, foram convocados para depor a ex-

Presidente do DETRAN, delegada Estela Maris Simon, o seu sucessor, Sérgio

Buchman, e o atual presidente do DETRAN, Sérgio Filomena, e ainda foi

efetuado uma acareação entre Buchman e Genilton, tendo em vista a contradição

entre manifestações efetuadas por ambos.

No que se refere ao pressuposto: que o governo admitia o

pagamento da dívida e que pressionou no sentido de realiza-lo; é importante

mencionar que todos os ex-presidentes do DETRAN declaram que jamais foram

pressionados no sentido de efetuar tal pagamento:

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“ESTELA MARIS SIMON - Eu nunca – e eu quero deixar isto

bem claro –, eu nunca recebi nenhuma pressão em nenhum momento para pagar nada. Inclusive, nesta

reunião com a Sra. Governadora, às 13 horas, aliás, às 14

horas, entre 14 e 15 horas, ela me recebeu no gabinete.

Presente o chefe de Gabinete, presente o Sr. Otaviano

Brenner de Moraes e eu. E, entre outros assuntos, eu disse:

Governadora, eu tenho um assunto muito sério para tratar

com a senhora, importante, porque eu acredito que vai ter

repercussão a minha decisão. E ela perguntou do que se

tratava, e eu disse a ela: Governadora, eu recebi o

advogado, Dr. Lia Pires, hoje, no gabinete, para uma

audiência. Presentes toda a diretoria do Detran.

(…)

Qual foi a sua decisão? Eu disse: Governadora, apesar de

reconhecer o Sr. Lia Pires como um grande advogado, eu

acredito até que não fui muito delicada, porque disse que

deveria entrar em juízo imediatamente, porque não

reconhecia nada daquilo que era trazido e que, inclusive,

havia de se agilizar esse processo. Por quê? Por quanto a

gente fazia um... fazia uma reunião, o tempo estava

passando, e o processo poderia estar andando. E ela disse:

Quer dizer que você falou pra eles pra entrar na Justiça e que era assim que se resolvesse o problema? Eu disse: É. ‘Se foi isso que você decidiu – ela respondeu –, está bem decidido. Que discutam em juízo, que digam o que eles

acham, e o Estado vai se defender. Não se paga. Deixa a

juiz... a Justiça resolver.’ Essas foram as palavras da Sra.

Governadora.[fim]

(degravação, audiência Estela Maris Simon, pg. 40)”

Ainda sobre o suposto desejo do governo em pagar a dívida

com a empresa ATENTO, o ex-Presidente do Detran, Dr. Sérgio Buchman –

mesma testemunha que ajudou a fundamentar a ação de improbidade do

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Ministério Pùblico Federal e a versão divulgada por alguns parlamentares desta

Casa no sentido da existência de irregularidades neste procedimento – ao chegar

ao final de seu depoimento, foi taxativo ao dizer que “na minha gestão, na

minha gestão, ninguém disse que era para eu pagar (…)” (pg. 311)

Em período anterior, já tinha respondido ao deputado Gilmar

Sossela que não recebera pressão para pagamento da dívida.

“O SR. GILMAR SOSSELLA – A Dra. Estella, antes de o

senhor vir por aqui, disse que entendia, de certa forma, um

dos motivos da alegação da sua exoneração a interferência

de outras secretarias. Citou aqui a Secretaria da

Administração, que é o que ela teria e a vinculação que tem o

DAER, mas especialmente a Secretaria da Transparência.

Tanto que, num determinado momento, na fala, ela dizia que

– estava nas gravações – de que deveria se pagar 2, 3

milhões para continuar esse serviço precário. É... também foi

lhe proposto isso? O secretário da Transparência, ele chegou a lhe propor fazer algum pagamento adiantado? Que o senhor disse que não é possível fazer. Ele chegou a

propor isso também...[fim]

O SR. SÉRGIO LUIZ BUCHMANN – Não...[fim](degravação, audiência Sérgio Luiz Buchmann, pg. 244)”

Aliás, um pouco adiante voltaria a reafirmar explicitamente

que, apesar do falatório entorno da existência da suposta dívida, jamais recebeu

ordens para efetuar o seu pagamento da suposta dívida:

“(…) jamais foi-me falado que eu tinha de pagar essa dívida aí. Pretensa dívida, que não tem nenhum cálculo

científico para demonstrá-la. (…)

(degravação, audiência Sérgio Luiz Buchmann, pg. 275)”

Buchmann ainda deixaria claro que esta discussão é

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absolutamente estéril, porque mesmo que o governo desejasse pagar a dívida,

não seria possível reconhecê-la. Afirmou a testemunha, com o abono de alguém

cuja conduta causou prejuízos políticos inestimáveis ao Governo do Estado, que:

“(…) quem conhece... E eu, que eu vi, ninguém fora da

Atento conhece a legislação ou conhecia a legislação

suficiente para dar uma opinião dessas, né. E, de uma forma

ou de outra, a Estella eu acho que, reiteradamente, repetia

isso, que não havia essa dívida, mas não, não se

convenceram. E eu comecei a repetir o que a Estella dizia,

dei prosseguimento à fala dela. Não existe, é impossível, não existe fato gerador que reconheça a dívida, porque a

forma de reconhecer qualquer pagamento da Atento ou

qualquer depósito de veículos é quando o carro sai de

depósito, nem sequer do depósito, e quando ele vai à praça

novamente.

(degravação, audiência Sérgio Luiz Buchmann, pg. 280)”

Dando sequencia as oitivas, tomou-se o depoimento do

atual Presidente do Detran, o Sr. Sérgio Filomena, para que ajudasse a

esclarecer o fato, acerca da existência de uma intenção de membros do governo

no sentido de pagar a suposta dívida reclamada pela empresa ATENTO.

FIlomena esclareceu que

“O SR. SÉRGIO FERNANDO ELSENBRUCH FILOMENA –

A informação, a informação que eu tenho que a, a, a empresa possuía um pedido de, pedido de pagamento aí, mas eu até desconheço o processo em si. O processo está

tramitando. E, como eu lhes informei, a remuneração se dá

de acordo com o que a portaria 40, como é previsto na

portaria 40. E, no tempo em que estou lá, nós remuneramos

a Atento através dos leilões, que foram efetuados. E na

minha, nessa minha curta estada aí, desde julho, nós já

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fizemos dois leilões e já conseguimos leiloar, se não me

engano, em torno de 1.300 veículos nesse período. E esses

leilões geraram valores para a empresa Atento.[fim]

No nosso passivo, não temos, nós não temos registro de valores a pagar a nenhum CRD. Por quê? Quando ocorre o

evento de retirada do veículo de depósito, seja pelos

proprietários, seja através de leilão, nesse momento se

geram os valores, nesse momento se contabilizam os

valores, se processa a despesa no Estado, através dos seus

estágios, empenho e liquidação e o pagamento, através

desses eventos. Então, hoje nós não temos registrado, no nosso passivo, nenhuma conta a pagar pendente de alguma, de algum evento para que seja pago.[fim]

(degravação, audiência Sérgio Filomena, pg. 41)”

Indagado sobre uma suposta pressão por parte do governo

no sentido de reconhecer o pagamento da dívida, o atual presidente da Autarquia

reiterou ser impossível reconhecer a dívida e que esta não consta do passivo da

instituição. E pressionado pelo deputado Paulo Azeredo a reconhecer que a

senhora governadora estaria ordenando negociar com a institução, reafirmou

que: “O SR. SÉRGIO FERNANDO ELSENBRUCH FILOMENA – Nada disso. Nada disso. Ninguém no governo me fez qualquer questionamento em relação à Atento, em relação a valores da Atento, em momento algum(degravação, audiência Sérgio Filomena, pg. 94)”

É importante registrar que os três testemunhos utilizaram

expressões altamente definitivas para registrar o que conheciam do fato.

ESTELA M. SIMOM - … nunca recebi nenhuma pressão…

SERGIO BUCHMANN - … jamais foi-me falado que eu

tinha de pagar...

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SERGIO FILOMENA - … Ninguém no governo me fez

qualquer questionamento em relação à Atento, em relação a valores da Atento,

em momento algum.

Ao repetir estas manifestações acima transcritas, e

utilizando os adjetivos dos presidente do Dentran, podemos afirmar sem erro que:

… NUNCA, JAMAIS, EM MOMENTO ALGUM, foi

determinada ordem para tal pagamento.

O que se verifica, até o presente momento, é que não há

provas do suposto ilícito relativamente ao fato ATENTO. Ao contrário, o que

parece ser comprovado no caso é triste paradigma do que já vem ocorrendo ao

longo destes três anos no Estado – a radicalização do discurso politico.

Se não há irregularidade no caso envolvendo a empresa

ATENTO, portanto, o que ocorre no caso? Expliquemos.

A Empresa Atento Service e Logística Ltda prestou serviços

para o DETRAN/RS desde 03/08/2004 até 31/01/2005, na condição de

contratada emergencial, porque segundo atestados operacionais e técnicos

(números de caminhões guinchos, áreas de terras, capilaridade, atendimento,

estrutura...) caracterizava-se como a única empresa estabelecida na Capital,

naquela época, em condições de assumir de imediato as atividades de remoção

e depósito.

A partir de 01/02/2005 até o dia 07/03/2008, a empresa

Atento Service Logistica Ltda atuou como credenciada do DETRAN/RS, sendo

renovado anualmente o Termo de Credenciamento até a conclusão do Processo

Licitatório. A Empresa, mediante o Termo de Adesão, aderiu às cláusulas de

credenciamento disciplinadas pela Portaria DETRAN/RS e logo a seguir

disciplinadas pela Portaria Geral de nº 148/2005 e pela regulamentação estadual

contida no Decreto Estadual nº 43.875/05. Aliás, todas as ações foram aprovadas

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pelo Conselho de Administração do Órgão Executivo Estadual de Trânsito na

forma da Lei Estadual n.º 10.847/96.

Foi então credenciada a empresa Atento Service e Logística

Ltda, que adimpliria as condições do Edital nº 139/DETRAN/2006, tendo-lhe sido

adjudicado o objeto licitado no Termo de Contrato nº 224/06. Frise-se que este

contrato possuía cláusula de suspensão de eficácia enquanto a empresa

executasse as obras previstas no Projeto Técnico do Depósito de Veículos

contidas no Anexo VII, do Edital de Concorrência nº 139/DETRAN/2006. Como

conseqüência, o prazo para conclusão das obras previstas no Projeto Técnico

era de 90 dias a contar da data de assinatura do Contrato (04/12/2006), o que

expirou em 04/03/2007. É notório que a Empresa Atento Service Logística Ltda

não concluiu as obras neste prazo, tendo-lhe sido concedido prorrogação do

prazo por mais 180 dias para a conclusão a contar de 08/08/2007. Nessa senda,

em vistoria realizada no dia 19/10/2007 foi constatado pelo DETRAN/RS que as

obras de adequação do pátio do depósito estavam interrompidas e que apenas

25% do pátio estava devidamente calçado e asfaltado conforme exigência do

Edital de Concorrência. Por fim, nenhum valor decorrente do Termo de Contrato

nº 224, oriundo da Concorrência, foi pago a empresa contratada.

Desse modo, em 16/01/2008 a empresa protocolou no

DETRAN/RS seu pedido de rescisão amigável do Termo de Contrato nº 224

dando “plena e geral quitação de todos os débitos pendentes”. Com a rescisão

amigável do Termo de Contrato, permaneceu a Empresa Atento Service e

Logística Ltda a prestar somente os serviços de remoção e depósito de

veículos em Porto Alegre na condição de mera credenciada, a titulo precário,

na forma previsto na Lei Federal n.º 9.503/97-CTB da Portaria DETRAN/RS nº

040/2008 e do Decreto Estadual nº 43.873/05 e demais Portarias do DETRAN/

RS (Portaria 145/03, 162/06 entre outras).

Assim, a ATENTO respondia tanto pelos veículos que

circulavam em Porto Alegre como pelos veículos pertencentes a pessoas

residentes na cidade, no que diz respeito a remoção desses veículos, inclusive

aqueles veículos recolhidos no depósito por ordem judicial.

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Na prática, todos os dias são recolhidos veículos nas ruas

das cidades gaúchas, seja porque se envolveram com acidentes, seja por

dívidas, seja por ordem judicial, seja pelas mais diversas razões possíveis.

Sempre que este veículo é recolhido ele precisa ser

armazenado e guardado, para permitir que, dirimida a situação administrativa ou

judicial que o envolva, retorne a seu dono. Assim, a empresa ATENTO realiza

exatamente esta prestação de serviços, juntamente com outras 201 CRD’s.

A remoção e o depósito de veículos pode ocorrer de duas

formas: a primeira diz respeito ao recolhimento administrativo – documento

vencido, infração de trânsito, etc. – nestas situações o veículo é removido até a

situação ser resolvida, e no momento em que deixar o depósito, o proprietário

pagará a dívida. Outra situação diferente decorre dos chamados veículos isentos,

que são aqueles envolvidos em furto, roubo, acidentes, pensão alimentícia, ação

trabalhista, etc. Neste caso, por ordem judicial, ou em virtude de arrestamento

policial, o veículo é depositado. Nestes casos, não seria correto exigir do

proprietário que pagasse pela manutenção em depósito do seu veículo que foi

furtado, e quem efetua o pagamento é o Estado.

Já faz algum tempo que o Estado do Rio Grande do Sul vem

pagando para a manutenção destes veículos, gerando um déficit anual em torno

de 6 milhões de reais, por conta do pagamento da taxa de remoção dos veículos

isentos.

E é justamente em virtude desta situação que os problemas

de CRD’s se iniciam. Isto porque, apenas na empresa ATENTO, cerca de 500

veículos ficam retidos sem devolução, gerando a lotação do pátio de remoçao

com veículos que não geram remuneração. Com a redução da capacidade de

armazenar veículos por conta da lotação de seus depósitos a empresa deixa de

lucrar e passa a operar em prejuízo.

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Segundo o proprietário da empresa ATENTO, o colapso da

capacidade de armazenamento de veículos ocorreu no ano de 2009, e neste

sentido promoveu a busca de uma solução com o Governo do Estado do Rio

Grande do Sul, primeiramente através do primeiro Presidente do Detran, Flávio

Vaz Netto para tratar do acúmulo de veículos.

Neste sentido, o proprietária da Atento durante seu

depoimento, foi claro ao mencionar que sua empresa não reclamou valores

relativamente às diárias, porque a portaria 40 de 2008 é clara no modo como os

pagamentos são efetuados, daí porque encaminhou ofício ao ex-presidente do

DETRAN, Flávio Vaz Netto, solução para o problema do acúmlo, solicitando que

fossem realizados mais leilões, único caminhou viável para a reumeração das

diárias não pagas pelos veículos isentos.

Depois de afirmar que seu problema não foi resolvido, voltou

a procurar a diretoria do Detran, desta vez na pessoa de sua nova Presidente,

delegada Estela Maris Simon, que reconheceu o problema, mas que

objetivamente não conseguiu resolvê-lo.

Diante do impasse, o empresário determinou a seu escritório

de advocacia que tratasse do tema de forma a: a) apurar haveres e promover

ações judiciais ou; b) achar um novo caminho para solucionar o problema.

Segundo o empresário Gilmar Schwank, empresário da

ATENTO, após a intervenção do escritório de advocacia, o caminho utilizado para

a discussão do problema da empresa deixou de ser a autarquia e passou a

envolver secretarias e a própria governadora.

Nesta fase relatou a existência de quatro reuniões, uma

envolvendo o ex-Secretário Otaviano, outras duas envolvendo vários Secretários

de Estado, e uma derradeira contendo secretários e a própria governadora. Em

todas as reuniões o ponto crucial tratado não foi a existência de uma dívida, mas

o colapso que estava por ocorrer diante do encerramento do contrato.

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É importante frisar os fatos como narrados pelos seus

principais participantes, porque o empresário afirmou com todas as letras que nas

reuniões em que participou, jamais lhe foi prometido qualquer forma de

pagamento.

Em seu depoimento, a ex-Presidente Estela Maris Simon,

confirmou que foi procurada pelos advogados da empresa ATENTO com quem

manteve reunião. Na ocasião, afirmou que foi pressionada diante das dificuldades

da empresa, e de que o iminente colapso do pátio com custos financeiros,

justificaria a rescisão do mesmo. Disse ela: “No final do... Na última semana do

mês de março, aí pelo dia 22, 23, eu não estou bem lembrada, o Dr. Lia Pires,

que vocês todos conhecem – é dispensável qualquer referência maior –, ligou

para o Detran solicitando uma agenda com a presidência. Me causou espécie em

princípio, porque eu não sabia do que se tratava, considerando que o Dr. Lia

Pires é um grande criminalista, penalista, não sabia que ele era administrativista,

mas enfim. Não sabia qual era o assunto e pedi às secretárias que verificassem.

Se tratava... Ele se apresentava como advogado da empresa Atento.”

Sobre o resultado da reunião, a delegada afirmou que foi um

contato bastante hostil, e que não chegaram a qualquer resultado: “(...)Foi um

pouco pesada. Como as pessoas disseram que eu estava de má vontade – e eu

teria uma reunião, nos dias seguintes, com alguns secretários para apresentar a

proposta do Detran, da reestruturação de órgão, apresentar, digamos, o modelo

do que nós pretendíamos fazer, finalizar aquilo que já vinha sendo feito –, eu

disse a ele que, para mostrar boa vontade, eu exporia, nessa reunião com os

demais secretários, esse problema que era trazido. Isso para discutir com eles e

ver principalmente qual era a posição principalmente do secretário da Fazenda,

porque nós nos reunimos com ele também. Se a decisão fosse diferente daquela

que eu estava tomando, se houvesse o reconhecimento disso, eu ligaria para o

Sr. Flávio Pires e daria a resposta.”

A intenção da delegada seria a de apresentar a sua solução

ao Secretariado e à Governadora, e encaminhar a solução no sentido de que o

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Estado efetuasse ele próprio o serviço, e que a empresa buscasse os direitos que

achasse devidos em juízo.

Não deixaria de ser uma decisão polêmica, e talvez por isto

encontrou divergências entre os secretários. Havia quem endossasse a idéia de

um rompimento abrupto arcando com o desgaste público envolvendo o DETRAN,

e havia quem preferia buscar antes alternativas que permitissem viabilizar o

serviço, bastando para tanto resolver os problemas envolvendo um aumento de

leilões, e a retirada de veículos do depósito para um pátio público.

Foi justamente neste plano que houve intevenção do ex-

Secretário da Transparência Otaviano Brenner de Moraes. Isto porque fora

nomeado para acompanhar todas as questões envolvendo a autarquia, como

forma de evitar novos problemas que a envolvessem.

É como revelou a delegada em seu depoimento:

“Finda a reunião, eu avisei ao Sr. Secretário Otaviano

Brenner de Moraes que sabia antecipadamente da reunião

que eu teria, porque, assim que agendada, eu o avisei, uma

vez que ele ficou encarregado, por conta da própria

Secretaria, das atribuições da Secretaria, de acompanhar as

questões do Detran.”

Esta manifestação é preciosa e extremamente importante.

Com efeito, após um desgastante episódio envolvendo a credibilidade da

instituição, tanto o governo quando a autarquia tinham o interesse em assegurar

que nenhum problema novo pudesse envolvê-los. Daí porque os cuidados

tomados deveriam ser dobrados.

A nomeação de Otaviano Brenner de Moraes era uma

segurança instituicional que o Governo do Estado possuía, posto que procurador

do Estado aposentado, sempre ostentou credibilidade e honradez ilibada na

forma como agiu em benefício do interesse público.

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A quem cumpria decidir o fato ATENTO? Por certo que diante

deste cenário, tanto o Secretário de Transparência quanto a delegada possuiam

poder e competência para tanto, e este fato justificou a presença do secretário

em todas as fases do desenvolvimento do DETRAN, inclusive neste ponto

envolvendo a empresa ATENTO. Todavia, se a delegada Estela Maris pretendia

e não temia o rompimento imediato do contrato, parece claro que este

pensamento não era partilhado por Otaviano.

De sua parte, a delegada Estela Maris Simon afirmou que

esta interface que lhe retirava o poder de decisão foi a causa do desgaste politico

que justifiaria a sua demissão. O tom emocionado da decisão oficiada à

governadora, e que é absolutamente compreensível, no entanto não justifica as

suspeitas de que tenha havido direcionamento, porque nenhuma dívida jamais foi

reconhecida, e porque mesmo que fosse não poderia ser quitada. Ademais,

nenhuma acusação formal ou subliminar foi confirmada pela delegada em seu

depoimento à CPI.

Com a saída da delegada Estela Maris Simon, Sérgio

Buchmann foi convidado a concluir a missão de reestruturar a autarquia. Em seu

depoimento ele confirmaria a existência de outra reunião, ainda ocorrida antes de

sua posse, desta vez convocada por Otaviano para tratar do tema, com a

presença dos advogados da empresa ATENTO.

Após assumir o ônus público da decisão tomada de não

romper o contrato, Otaviano teria explanado que os objetivos da reunião seriam o

de buscar uma solução para o problema do acúmulo de veículos.

Lamentavelmente, os problemas envolvendo o armazenamento de veículos

continua crítico, e envolverá ações de estado por muito tempo.

No entanto, no que se refere ao fato ATENTO enquanto

prova cabal da existência da "suposta quadrilha organizada no Estado", verifica-

se que o ponto em questão não serve para comprovar nenhuma irregularidade. E

mais, diante da ausência total de comprovação de ilictudes analisadas no item

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ATENTO, reforçou-se a crença de uso político desta comissão para fins

eleitorais.

Se o fato determinado ATENTO não comprova nenhuma

irregularidade, e se a oposição durante o andamento dos trabalhos da CPI

pautou-se pelo uso ilegítimo de meios de prova (sem a aprovação do plenário),

tenho a impressão de que está plenamente comprovado o desvirtuamento

político dos meios de investigação.

E para comprovar este fato, acho importante mencionar, por

exemplo, que cerca de 80 mil interceptações telefônicas em apenas nove meses

de investigação, envolvendo no mínimo 40 pessoas inicialmente investigadas

(aliás, seriam necessários que cada um destes telefonasse ou recebesse

ligações 4 mil vezes cada, no período em questão, número que parece irreal)

talvez por isso tantas pessoas que nenhuma relação possuem com as alegadas

"fraudes no Detran" tenham sido em algum momento relacionadas.

Se somarmos a esta consideração importantíssima as

escutas clandestinas e ilícitas promovidas por denunciantes; a vasta produção de

provas falsas (como a conversa LAIR e MARCELO); as inúmeras fofocas ou

denúncias sem provas (a exemplo do caso BUCHMANN), como também a

constante apresentação de novos áudios para incriminar ou coagir adversários

políticos de ocasião (como ocorreu com os deputados Alceu Moreira, Marco

Peixoto, Luiz Fernando Záchia e Frederico Antunes), e mais recentemente contra

a Prefeitura de Porto Alegre, veremos que cada adversário da oposição acaba

exposto por conta de áudios franqueados pelas investigações no Estado.

E o mais interessante de tudo, é que um fato em comum

ocorre com todas as provas obtidas, sejam elas produzidas de modo legítimo

(como interceptações autorizadas pela Poder Judiciário) e as clandestinas e

ilegítimas (como o áudio de Marcelo e Lair, e a escuta clandestina de Feijó):

Todas elas parecem ser previamente industrializadas e contextulizadas, de modo

que sempre causam o maior impacto possível - como ocorreu, por exemplo, com

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a edição feita no depoimento do Vice-Governador ao Ministério Público (e que

também é objeto de representação ética contra os procuradores).

Vejam, vossas excelências, que nem mesmo o Sr. Prefeito de

Porto Alegre - que nenhuma relação possui com o fato Atento e a fraude no

Detran - deixou de ser atacado por conta de investigações que sequer o

envolviam inicialmente. O que se sabe, é que o Sr. Prefeito teria sido ele

investigado paralelamente dentro da Operação Solidária, que já soma outros

tantos milhares de interceptações telefônicas, talvez outras 160 mil, elevando o

monitoramento de políticos no Estado para algo como, quem sabe, 400 pessoas.

Bom, se é verdade que cada uma das operações produz

milhares e milhares de horas de interceptação telefônicas, e se estas

interceptações a todo o tempo revelam fatos que nenhuma relação tem com seus

objetos originários, então é lícito deduzir que o monitoramento telefônico parece

ter deixado de ser comprobatório, e se tornado instrumento de investigação

especulativa - ou seja, deixaria de ser instrumento de produção de provas em

juízo, para ser uma atividade corriqueira de policiamento ostensivo por via da

quebra do sigilo telefônico.

Se tal consideração for comprovada, então estaremos

efetivamente vivendo um ambiente de repressão política no Estado, comandada

por um cérebro político que tem interesses em perseguir e silenciar adversários

sempre que entender conveniente.

Neste caso, é a Democracia e as liberdades e garantias

individuais quem deixam de existir. Vejam os senhores como seria fácil, diante

deste ponto, reprimir adversários (faremos, neste ponto, raciocínio em tese, algo

que ainda acreditamos não ocorra no Brasil).

Imaginemos em tese que a repressão política realmente

existisse: bastaria que um adversário qualquer colocasse em risco o núcleo

repressivo ou qualquer de seus protegidos para ela se colocar em movimento.

Neste caso, o núcleo pensante da repressão precisaria apenas acessar uma

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pequena parcela dos milhares e milhares de áudios e interceptações para

descobrir fatos que possam ser descontextualizados, editados e vendidos como

"criminosos" ou "incriminadores" à imprensa em geral.

Para promover o maior estrago possível, seria necessário

acionar os meios de repercussão: alguém responsável por ingressar com ação

por improbidade; alguém para indiciar o novo "suspeito"; alguém para promover

agitação nas ruas; e alguém para pedir investigações parlamentares.

Assim, este conjunto de "alguém's" seriam chamados ao

encontro do chefe da repressão, que revelaria os áudios e esclareceria o discurso

político a ser feito. De volta a seus postos, a imprensa receberia o áudio

exercendo sua tarefa de divulgar; ato contínuo, viriam o indiciamento e o

ajuizamento de ações; um ambiente de revolta social seria construído pelos

responsáveis pela agitação social, e os parlamentares adversários do "suspeito"

não teriam outra alternativa que não fosse pedir investigações parlamentares.

É fácil perceber como esta manobra poderia ser perniciosa

para o Estado e para o País, pois revelaria um inaceitável abuso de poder e um

desvirtuamento ilegítimo de recursos públicos para reprimir adversários.

Ainda que tal pensamento esteja sendo apresentado apenas

em tese, não deixa de ser curioso que a Operação Rodin, deflagrada para

investigar a Universidade Federal de Santa Maria, desvirtuou-se para monitorar o

Governo do Estado do Rio Grande do Sul, e acabou investigando o

comportamento político de parlamentares no curso da primeira CPI.

Também chamou a atenção o uso corriqueiro de

apresentações midiáticas desenvolvidas para promover o maior impacto possível.

Setores do Ministério Público Federal, da mesma forma, prestaram-se a atender

à investigação política, tanto que chegaram a pedir o afastamento da

Governadora, à míngua da mais simples comprovação.

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À guisa de semelhança como esquema de repressão política,

é interessante referir a exposição a que vem sendo acometido o deputado

estadual Marco Peixoto. Seu nome jamais foi objeto de qualquer investigação ou

mesmo de cogitação durante dois anos da Operação Rodin: no entanto, bastou

ser indicado para Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, para que áudios

envolvendo seu nome vazassem à imprensa, bem como sujeito a inúmeros

proceedimentos; vítimado por uma intensa agitação social, e sofresse

injuriosamente os inflamados discursos parlamentares.

Também à guisa de semelhança, cabe referir que o próprio

Presidente do STF também foi ilicitamente grampeado, matéria amplamente

divulgada na imprensa nacional:

"Abin investigará grampo contra presidente do STF

Por meio de nota divulgada neste sábado (30), a Agência

Brasileira de Inteligência (Abin) afirma que investigará a

denúncia de que o presidente do Supremo Tribunal Federal

(STF), ministro Gilmar Mendes, foi grampeado em conversa

com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO)."

(http://congressoemfoco.ig.com.br/Ultimas.aspx?id=24062).

O Estado Democrático de Direito poderia correr um sério

risco se comprovado um "esquema de repressão partidária e política" no país e

no Estado, pois o objetivo deixaria de ser o combate ao crime, e passaria a ser o

combate aos adversários políticos.

Em situação como esta, se um criminoso aceitasse delatar,

denunciar ou expor adversários políticos do "cérebro", imediatamente receberia o

perdão por seus crimes. LAIR FERST, por exemplo, apesar de ter sido flagrado

pelo desvio de quase R$ 20 milhões de reais no período que vai de 2003 até

2006 (recursos repassados a ele por New Mark Engenharia, e Rio Del Sur),

passaria a ser cortejado pelos braços da repressão. Bastaria ele apresentar

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provas contra os adversários do partido no Estado, e receberia não apenas o

perdão por seus crimes, como ainda deixaria de ser perseguido publicamente.

Neste raciocínio "em tese", pouco importaria aos

responsáveis da ditadura política, quais provas LAIR deveria produzir para obter

o perdão da repressão. O que importaria, no caso, seria o impacto das provas

aos adversários do "cérebro". Se este raciocínio fosse verdade, talvez ajudasse a

entender melhor a farsa da conversa de botequim - que serviu para promover

agitação social, ações e indiciamento, e investigações parlamentares (inclusive a

que ora se conclui).

A história irá julgar se existe ou não manipulação poltica dos

órgãos de investigação para atingir adversário de próceres do governo federal. O

que precisamos colocar, para este ponto, é que esta CPI presta-se para

comprovar que estão ausentes no Estado, mecanismos mais contundentes de

prevenção ao crime, e de combate à repressão política.

Nesse sentido, foi de extrema relevância a participação do

Sr. Roberval da Silveira Marques, contador-geral do Estado; Sr. Cezar Miola,

conselheiro do Tribunal de Contas; e Sr. Geraldo Costa da Camino, procurador-

geral do Ministério Público Especial junto ao Tribunal de Contas do Estado.

O Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Sr, Cezar

Miola lembra que “o Tribunal de Contas é o instrumento técnico mais efetivo com

o qual pode contar o Poder Legislativo no exercício da sua missão constitucional

de exercer o controle externo da administração pública.”

Objetivando o aperfeiçoamento da atuação dos órgãos de

controle, o Conselheiro destaca a necessidade do desenvolvermos de uma

cultura de integração entre os órgãos de controle e fiscalização,

“deixando os compromissos protocolares para se

materializarem em ações concretas, envolvendo, na nossa

relação direta, Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa,

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controle interno, estruturas policiais, fisco, procuradorias,

contadorias, controladorias.”

Lembrou ainda que vários órgãos públicos firmaram um

protocolo constituindo a rede de controle, capitaneada pelo Tribunal de Contas da

União no intuito de viabilizar a troca de informações entre os orgãos de controle.

Destacando, sobretudo, que a regra é a publicidade das informações, sendo o

sigiloa exceção.

Para o Conselheiro Cezar Miola, o Estado do Rio Grande do

Sul tem uma das mais qualificadas e respeitadas estruturas de controle interno

da administração pública deste País, onde temos na na Contadoria e Auditoria-

Geral do Estado, uma estrutura extremamente importante para o controle da

gestão governamental. O Estado dipões de instrumento qualificado e capacitado.

O que lhe faltam hoje são condições plenas para o exercício da sua missão. O

que não é novidade, como é o caso, trazido pelo Sr. Cezar Miola, do próprio

Tribunal de Contas que, há muito tempo, vem apontando a necessidade, por

exemplo, da estruturação dos quadros funcionais da CAGE.

Para o Conselheiro:

“Há números que mostram exatamente, enquanto o universo

fiscalizado pela CAGE, do ponto de vista da receita pública

do Estado, vai crescendo e se agigantando ao longo do

tempo, que é absolutamente natural, decrescem, em

proporção portanto inversa, os quadros técnicos dessa

instituição para cumprir com o seu papel.”

No mesmo sentido, com relação a vários órgãos da

administração, sociedades de economia mista, que há anos não vêm sendo

auditados pela Contadoria e Auditoria-Geral do Estado por absoluta incapacidade

material. Nesses casos, informa que o próprio Tribunal de Contas se vê obrigado

a julgar as contas de determinados órgãos com essa lacuna, mercê da limitação

dos quadros da CAGE.

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Importante citação pelo Sr. Conselheiro do TCE foi o

lançamento do portal da transparência no Estado como um avanço extraordinário

na transparência e publicidade das contas publicas. Dando ênfase ao

cumprimento do dever de prestar contas do agente público e do direito da

sociedade de fiscalizar.

Salienta principalmente que:

“...nós precisamos, ao fortalecer o controle interno, trazer

para junto dessa atuação controladora e preventiva cada vez

mais a advocacia pública, para que ela não seja – no nosso

meio ela efetivamente não é – apenas solucionadora de

conflitos ou auxiliar na resolução de conflitos, mas que ela

possa participar do processo quando da construção das

decisões, quando do encaminhamento dos processos

decisórios – inclusive dos projetos que são remetidos ao

Poder Legislativo –, na formulação de estratégias e de

políticas de controle, porque nós temos aqui no Rio Grande

do Sul também – digo isso sem medo de errar e sem

equívoco – uma das mais qualificadas estruturas da

advocacia pública deste País”

O controle da receita pública é outro tópico apontado que,

embora exista dito controle ainda é falha a fiscalização quando se trata das

receitas realizadas pelos diferentes órgãos jurisdicionados, tais como as

eventuais renúncias de receita, o controle da dívida ativa e as eventuais

prescrições.

Também o Sr. ROBERVAL DA SILVEIRA MARQUES,

atentou ainda para o combate sistemático à corrupção, à malversação dos

recursos públicos. A necessidade do fortalecimento das estruturas de controle a

fim de minimizarmos os efeitos da corrupção.

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Prestigia a preocupação com a transparência e a melhoria de

controle com avanço da tecnologia para prevenção da corrupção. Questionando

quais instrumentos podemos implementar para que efetivamente tenhamos uma

política pública voltada para o interesse social, voltada para a construção de uma

sociedade melho.

No âmbito do próprio controle interno, a primeira área citada

pelo Sr. Roberval, trata das melhorias que poderiam ser pensadas para os

órgãos de controle interno ou a instrumentos do controle interno que facilitassem

e que permitirissem um melhor controle para o Estado.

Nesse sentido, refere:

“ a CAGE hoje gerencia mais de 13 grandes sistemas, que

controlam os principais, os grandes processos de despesa

do Estado. (...). Só de empenho, no ano passado, foram mais

de 1 milhão de empenhos. Cada empenho é uma ordem de

compra, é uma ordem de prestação de serviço, é uma

reserva de dotação e é uma despesa que está sendo

realizada. Só em prestações de contas foram analisados

mais de 328 mil contas, prestações de contas, aquela em

que o Estado entrega recursos, e, depois, o prestador de

serviço, a pessoa que tomou os recursos tem que prestar

contas desses valores. Mais de 6.200 usuários treinados

exigem dedicação da nossa área para treinar esse pessoal.

Só de convênios, mais de 12 mil convênios cadastrados no

sistema, e por aí a fora. Orçamento controlado de 21 bilhões,

boa parte desses, para 72 agentes fiscais para controlar esse

orçamento de 21 bilhões. Fizemos mais de 400 auditorias e

expedimos informações, entre auditorias e informações

expedidas. Então, são números que efetivamente

demonstram o tamanho do Estado, o tamanho do nosso

campo de atuação.”

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Assim, apresenta como uma das proposições, no âmbito do

controle interno, a recomposição dos quadros CAGE para viabilizar o controle,

assim como a de retomada das grandes estatais, com a criiaçao de equipes

permanentes e atuantes nas grandes estatais, CEEE, Banrisul, Corsan, Sulgás,

considerando a complexidade das regras e o tamanho dessas instituições,

requerem uma equipe permanente, requerem uma equipe especializada e

treinada.

Nesse sentido citou as delegações no DAER, no Detran, e

no IPE, caso que a CAGE atua concomitantemente à execução dos processos o

que representa uma maior efetividade no controle dos atos.

Defendeu ainda uma política de treinamento para o gestor

público permanentemente. Citando como exemplo de iniciativa o lançamento do

manual do gestor público, que reuniu um conjunto de informações que tratam da

gestão pública. Esse manual do gestor público já foi distribuído mais de 3 mil

cópias. Assim como o investimento em tecnologia de controle, a exemplo do

processo eletrônico da despesa, ou seja, a desmaterialização do processo físico

ou a virtualização do processo. Assim como também como o novo sistema de

controle patrimonial. Aliás, é uma exigência das novas normas brasileiras de

contabilidade pública, as NBCASPs, e da Lei de Qualidade Fiscal também e que

vão propiciar um melhor controle e uma melhor seletividade no processo de

controle.

No âmbito legislativo, já existe também a proposta de

encaminhar uma lei instituindo o Sistema de Finanças Públicas do Estado – o

FPE – como um sistema institucional e de cunho obrigatório:

“O Sistema de Finanças Públicas Estadual ele é mais do que

um sistema; ele é o garante solução na área de gestão

pública. Então, por exemplo, lá tem componentes como um

sistema de administração de materiais, que permitirá a

qualquer gestor identificar o que que foi comprado, o que que

está estocado, por quanto foi comprado cada material

consumido no Estado: da caneta ao papel, passando por

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qualquer item que incorpore, que necessite ser adquirido pela

gestão pública.”

Outra proposta apresentada é a do cadastro de maus

gestores, objetivando impedir que determinadas empresas contratem com o

Estado, forneçam ao Estado, ou prestem serviços. Bastando, para isso, registrá-

las, declará-las inidôneas no Cadastro de Fornecedores Impedidos de Licitar, ou

registrar, se for dívida, se ela for inscrita em dívida ativa, por exemplo, registrar

no Cadin. E essas empresas estarão proibidas de contratar com o Estado.

Neste ponto, critiicou o Sr. Contador Auditor-Geral do Estado

que tais medidas não impedem por exemplo, que os donos dessas empresas

possam dirigir entidades públicas. Nem que pessoas que tiveram as contas

reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado continuem à frente dessas

organizações:

“Talvez esteja na hora de pensarmos em propostas que

visem coibir a continuidade, na gerência, na administração

dessas entidades do Estado, de maus gestores.

Evidentemente que isso tem que ser muito bem discutido e

analisado, pra não se criar algum impedimento, não é, e

piorarmos as condições dos gestores hoje, que já reclamam

dessa pressão enorme que existe sobre a sua gestão.”

Citou ainda a discussão já trazida no Fórum Democrático

sobre a constituição ou o incentivo, o fomento, à criação, por exemplo, de um

observatório, o Observatório das Contas Públicas Estadual, são segmentos da

sociedade treinados e especializados para acompanhar a gestão pública.

“ O observatório não tem que estar ligado e nem pode estar

ligado à gestão pública, à administração pública; mas, como

fomentadora, como propulsora da discussão e da proposição

de criação, chamando os segmentos da sociedade para

estimulá-los a essas criações desses organismos, é uma

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tarefa muito importante, e acho que nós podemos contribuir

nesse sentido.”

Por fim, o Sr. Roberval Marques referiu ainda a existência de

uma proposiçao, no âmbito do CONACI - Conselho Nacional dos Órgãos de

Controle Interno, a votação e a inclusão de uma lei orgânica nacional do controle

interno, que vem trazer e vem criar as bases e as condições para que se possa

organizar em nível nacional estruturas de controle permanentes e adequadas.

Sugerindo o apoio em nível estadual junto aos deputados e às bancadas

federais, no sentido de ver aprovada essa lei orgânica nacional de

regulamentação dos órgãos de controle interno, como sendo de muita valia para

a efetividade do controle interno nacional.

Também nos trouxe importantes esclarecimentos o Sr.

GERALDO COSTA DA CAMINO, Procurador-Geral do Tribunal de Contas do

Estapecial junto ao Tribunal de Contas do Estado, também apontando a

importância da integração entre os órgãos de controle. Do vencimento de

entraves burocráticos.

Lembra que não há carência de legislação, há legislação até

em excesso nesse sentido. Faltando a efetividade no cumprimento da legislação

ou vontade política de fazê-la cumprir.

O Procurador –Geral trás cinco propostas legislativas, três

delas inovadoras e duas já existentes, destacando dois aspectos da estrutura

administrativa do Estado que ente que são passíveis de melhoria a baixo custo e

com grande retorno.

Quanto aos dois órgãos que destaca como necessária não

só integração, mas fortalecimento são a CAGE, não apenas a necessária

recomposição de seus quadros, mas de que a CAGE:

“deveria ter a feição que tem o controle interno no plano

federal, uma controladoria geral de nível – aqui no Estado –

de secretaria de Estado, e acho que poderíamos ir até além,

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poderíamos estabelecer mandato para sua chefia. Acho que

prestigiar o controle é dar-lhe independência e dotá-lo de

condições para o seu desempenho.”

O segundo órgão citado pelo Sr. Geraldo Da Camino é a

delegacia fazendária da Polícia Civil. Tratando como exemplo a força-tarefa, em

2006, na investigação da licitação do lixo em Porto Alegre – Promotoria do

Patrimônio Público, Delegacia Fazendária e Ministério Público de Contas –, onde

constatou as precárias condições daquele órgão. Complementando que as

dificuldades orçamentárias não se resumem a esse órgão, e toda Segurança

Pública e outros setores do Estado também enfrentam essas dificuldades.

Sob a responsabilidade da Delegacia Fazendária está o

combate à corrupção em 496 Municípios do Estado do Rio Grande do Sul e toda

a administração pública direta e indireta do Estado:

“Então, certamente um fortalecimento com acréscimo de três

ou quatro delegados, dotar a Fazendária de uma estrutura de

departamento teria um impacto muito pequeno no orçamento

e certamente um reflexo significativo no combate à

corrupção.”

Das propostas legislativas refere que nos termos do art. 19, §

2º, da Constituição do Estado “um comando que diz que a ação político-

administrativa do Estado será acompanhada e avaliada através de mecanismos

estáveis por conselhos populares, na forma da lei.” Arigo que merece

regulamentação, representando o controle social tão reclamado e tão defendido

pelas instutiçoes de controle:

“Pessoas com estrutura, com liberdade de atuação, não com

ingerência sobre a ação do Estado, mas com capacidade de

verificar o que está sendo feito, de colocar a transparência a

serviço da sociedade, de colocar, como citou o Dr. Miola, o

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poder público em público. Esta, então, é a primeira proposta

que deixo a esta comissão.”

A segunda proposta constitui-se na base de dados

centralizada, em que não necessariamente todas as contratações, mas em um

valor a definir pelo legislador, fossem concentradas e disponibilizadas, via

Internet, e, amigavelmente acessáveis por consulta pela população para que se

possa verificar, ao longo da administração pública, quem são as empresas

frequentemente beneficiadas com contratações diretas, para os casos de

dispensa ou inexigibilidade de licitações.

E a última proposta é a de redução dos limites de

contratação em que se exige a realização de audiências públicas. Citou como

exempo a licitação sobre as estradas pedagiadas, de que muito se ganharia em

termos de transparência com a realização de uma audiência pública, ainda que

os valores sejam inferiores ao legalmente exigido.

Das propostas já existentes refere o aumento das multas

impostas pelo Tribunal de Contas, que hoje são em valores ínfimos, o que, por

óbvio, não serve de estímulo à repressão e ao caráter pedagógico do controle. A

porposta encaminhada pelo TCE estabelece multa de 3 mil a 10 mil reais, ainda

valores considerados baixos em comparação aos valores estabelcidos pelo TCU.

Defende ainda aplicação de multa proporcional ao dano

causado ao erário para os casos de comprovada ma-fé ou dolo que, embora não

seja o objeto da proposta legislativa, entende que seria um acréscimo importante.

A segunda proposta encaminhada a Casa e depois retirada

pelo ex- presidente do TCE é a que outorga expressamente competência ao

Tribunal para, primeiro, expedir medida cautelar de indisponibilidade de bens,

como medida que acautela o erário. E a outra medida cautelar importante é a que

permite o afastamento temporário daquele gestor que está obstaculizando a ação

do controle ou colocando em risco o erário com a sua permanência à frente do

órgão de chefia.

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2. DAS DEMAIS PROVIDÊNCIAS DESTA CPI

Note-se que, se mais não se fez nesta Comissão, não

respeita à decisão deste Relator ou da maioria dos deputados que a integram.

Note-se que desde o princípio dos trabalhos, esteve o Relator e diversos

parlamentares integrantes da Comissão, comprometidos com a necessidade de

aprovação de um Plano de Trabalho para nortear as investigações, dado

inclusive, o caráter extremamente genérico em que se punha o requerimento de

constituição da Comissão. Dos fatos ali constantes, pouco, ou quase nada tinham

de objetivos, sendo a iniciativa dos parlamentares a tentativa final de buscar

examinar o que de minimamente especificado constava do requerimento.

Contudo, como já se disse, enfrentaram feroz e taciturna

oposição da Presidente da Comissão, que impediu qualquer discussão sobre o

tema no âmbito da CPI, impedindo inclusive a deliberação do Plenário, mediante

expediente de sucessivas devoluções de requerimentos dos parlamentares,

evitando sua publicação e ingresso na ordem do dia.

Certamente, mais se poderia investigar, e em outras linhas

poderia apontar a investigação, sobretudo se no procedimento de apuração,

coleta e compartilhamento de provas, tivessem obedecidos os mais comezinhos

princípios fundamentais previstos na Constituição Federal, especialmente o

devido processo legal.

Não foi este o caso. E por isso, mais não se avançou.

No que se permitiu, esta Comissão desenvolveu seus

trabalhos, mediante a aprovação de requerimentos de parlamentares de

diferentes partidos, inclusive os de oposição ao Governo – razão pela qual é

descabida e cínica qualquer ilação que impute com exclusividade à maioria dos

membros da Comissão eventuais falhas. A toda evidência, é fruto da

intransigência da Presidência da Comissão e de parlamentares que não

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compreendem a Casa Parlamentar como um espaço de diálogo e respeito,

independente de eventuais clivagens ideológicas.

2.1 DAS SUCESSIVAS INICIATIVAS A FIM DE REGULAMENTAR OS TRABALHOS DA CPI

Apenas a título de registro, cite-se que foram protocolados por este

Relator, junto à Secretaria da Comissão, requerimento propondo o Plano de

Trabalho. O primeiro, datado de 1º de setembro de 2009, e devolvido pela

Presidente em 3 de setembro do corrente, continha em resumo, para deliberação

do plenário, o seguinte conteúdo:

“PLANO DE TRABALHO DA CPI

A instauração de uma CPI faz nascer uma verdadeira investigação

conduzida pelo parlamento. Embora desenvolvida pelo parlamento a

investigação não tem por escopo emitir juízo de valoração política, mas sim de

lançar juízo sobre fato determinado praticado pela administração, apontando, ao

final, sua lisura ou não. Não há entretanto, no Regimento Interno da casa

procedimento próprio para ordenar o desenvolvimento dos trabalhos. Assim,

necessário, para evitar desgastes e debates infrutíferos entre os membros da

Comissão que – antes de mais nada – sejam definidas regras mínimas de

condução dos trabalhos.

Das regras de operação interna.

Face à ausência de disciplina legal, o plano de trabalho propõe sejam as

seguintes as regras a serem respeitadas pela comissão, com o fito de melhor

desempenhar sua tarefa e alcançar o propósito desejado que é a elucidação de

fato ou fatos determinados, conforme requerimento previamente aprovado.

1 – Considerando que há mais de um fato a ser apurado, limitar o número

de testemunhas por fato a 5.

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2 – Considerando que é do interesse da Comissão a perfeita

compreensão dos fatos por seus membros, torna-se recomendável limitar o

número de testemunhas a serem ouvidas a 2 por sessão.

3 – Considerando a possibilidade de existirem testemunhas referidas, a

sessão antecedente apreciará e aprovará ou não as testemunhas a serem

ouvidas na sessão subseqüente.

4 – A comissão decidirá quais testemunhas serão ouvidas nas sessões,

independentemente da ordem de apresentação no rol de testemunhas, cabendo

à Presidência o dever de incluí-las na ordem do dia da próxima sessão.

5 – Considerando que os demais trabalhos da casa prosseguem com

normalidade e reclamam a presença de vários membros da Comissão, assim

como suas bases em ano pré-eleitoral, de todo conveniente fixar a realização de

uma sessão por semana, sempre as segundas-feiras.

6 – Casos omissos serão resolvidos com aplicação subsidiária do Código

de Processo Penal e não oferecendo este solução, poderá qualquer dos

membros da comissão oferecer proposta de solução a ser aprovada ou não por

decisão da maioria.

7 – O teor da sessão deverá rigorosamente respeitar a ordem do dia, salvo

se houver deliberação em contrário da maioria.

8 – Solicitar que o Presidente da Assembléia Legislativa dê ciência oficial

ao Governo do Estado, para que este, querendo, acompanhe o desenrolar do

Inquérito Parlamentar, aos efeitos de viabilizar eventuais requisições.

9 – Assegurar ao(s) acusado(s) o direito de ser ouvido.

10 – Direito do(s) acusado(s) de produzir(em) prova a seu favor juntando

documentos e indicando testemunhas, bem como de indicar advogado, podendo,

este acompanhar os atos da Comissão.

11 – Admitir a produção de prova pericial.

Da definição do objeto da CPI

A Comissão, como sabido, tem por propósito esclarecer fatos. O relatório

final, não raro, sugere a responsabilização de pessoas envolvidas nos fatos se

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estes são identificados como ilícitos. De outro lado, é princípio constitucional no

Estado Democrático de Direito e ampla defesa (art. 5º, LV, da Constituição

Federal).

Desse modo, necessários sejam respeitados os direitos constitucionais de

eventuais indiciados. A forma adequada de assim proceder é identificar –

exatamente – o que se está a investigar, aos efeitos de definir o rumo da CPI e,

muito especialmente, permitir o sagrado direito de defesa aos acusados, também

presente neste procedimento não-jurisdicional.

Nessa medida, propõe o plano de trabalho, face o modo genérico como

deduzido no requerimento inicial e a clara orientação de que os poderes da CPI

não são universais, se defina preliminar e objetivamente quais os fatos (ou o

fato) são objeto de investigação por parte da Comissão.

Do calendário

A comissão, salvo prorrogação, conta com um total de 18 semanas de

trabalho. Considerando a proposta da realização de uma sessão por semana,

bem como duas sessões já realizadas, disporá ainda de 15 sessões, na medida

em que uma segunda-feira será feriado nacional (07 de setembro). Destas, uma

será reservada à leitura e debate do relatório final e outra ao encerramento e

encaminhamento das conclusões, restando, portanto, 13 sessões úteis para a

oitiva de testemunhas e apresentação de outras provas. Se a proposta

contempla a possibilidade de oitiva de até 4 testemunhas por sessão, há, em

tese, a possibilidade de serem ouvidas até 26 pessoas.

Assim, a proposta é de que seja definido o calendário de investigação

entre 14 de setembro e 07 de dezembro de 2009.

Restando assim definido o calendário:

Sessão de 26 de agosto: Sessão Solene de instalação e abertura dos

trabalhos.

Sessão de 1º de setembro: apreciação e votação do plano de trabalho

Sessão de 14 de setembro: instrução

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Sessão de 21 de setembro: instrução

Sessão de 28 de setembro: instrução

Sessão de 05 de outubro: instrução

Sessão de 12 de outubro: instrução

Sessão de 19 de outubro: instrução

Sessão de 26 de outubro: instrução

Sessão de 02 de novembro: instrução

Sessão de 09 de novembro: instrução

Sessão de 16 de novembro: instrução

Sessão de 23 de novembro: instrução

Sessão de 30 de novembro: instrução

Sessão de 07 de dezembro: instrução

Sessão de 14 de dezembro: dedicada à apresentação e votação do

relatório

Sessão de 21 de dezembro: Sessão Oficial de encerramento e encaminha

- mento do Relatório Final.”

Em seguida, em 2 de outubro de 2009, após o que se acreditava ter sido

um entendimento entre diversos membros da Comissão, o Relator e a

Presidente, foi protocolada pelo ora signatário outro requerimento sugerindo a

adoção dos seguintes procedimentos:

“1 – Considerando que há mais de um fato a ser apurado, limitar o número

de testemunhas por fato a no máximo oito;

2 – Considerando que é do interesse da Comissão a perfeita compreensão

dos fatos por seus membros, torna-se recomendável limitar o número de

testemunhas a serem ouvidas até o máximo de 4 (quatro por sessão);

3 – Considerando a possibilidade de existirem testemunhas referidas, a

sessão imediatamente apreciará e aprovará ou não as testemunhas a serem

ouvidas na sessão subseqüente;

4 – A Comissão decidirá quais testemunhas serão ouvidas nas sessões,

independentemente da ordem de apresentação no rol de testemunhas, cabendo

à Presidência o dever de incluí-las na ordem do dia da próxima sessão, havendo

concordância do Presidente e do Relator;

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5 – A CPI se reunirá ordinariamente às segundas-feiras, a partir das 14

horas, e sempre que convocada extraordinariamente pela Presidente, observado

do Regimento Interno;

6 – As sessões da CPI terão duração de seis horas, podendo ser

prorrogadas na hipótese de impossibilidade de conclusão dos trabalhos previstos

na ordem do dia, por decisão do Plenário, pelo período necessário para tanto;

7 – O teor da sessão deverá rigorosamente respeitar a ordem do dia, a ser

estabelecida em comum acordo pelo Presidente, pelo Vice-Presidente e pelo

Relator;

8 – Solicitar que o Presidente da Assembléia Legislativa dê ciência oficial

ao Governo do Estado, para que este, querendo, acompanhe o desenrolar do

Inquérito Parlamentar, aos efeitos de viabilizar eventuais requisições;

9 – Direito do(s) acusado(s) de produzir(em) prova a seu favor juntando

documentos e indicando testemunhas, bem como de indicar advogado, podendo,

este acompanhar os atos da Comissão;

10 – Admitir a produção de prova pericial;

11 – Aos convidados e/ou convocados pela CPI, será oportunizado,

inicialmente, o tempo de até 5 (cinco) minutos para apresentação de razões

preliminares, desde que circunstanciadas ao objeto da investigação;

12 – Fica deliberado o dever dos parlamentares de realizar

questionamentos objetivos às testemunhas e demais ouvidos pela Comissão;

13 - As diligências externas da CPI, face ao princípio da colegialidade,

serão realizadas mediante autorização expressa do Plenário da CPI;

14 – Os documentos requisitados por deliberação do Plenário da CPI

poderão ser recebidos, juntados, enviados, buscados e manuseados por servidor

efetivo da Assembléia Legislativa, especificamente designado;

15 – Qualquer requisição de prova ou documento deverá ser encaminhada

mediante ofício assinado pelo presidente da Comissão, e acompanhada de cópia

da ata da reunião que aprovou a referida requisição;

16 – A guarda dos documentos da CPI deverá ser realizada em sala no

prédio da Assembléia Legislativa, com monitoramento e vigilância eletrônica

permanente, sendo permitido o acesso na mesma, exclusivamente de

parlamentares da Comissão e servidores previamente autorizados por decisão

do Plenário da Casa;

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17 – A solicitação de servidores da Casa, a contratação de

assessoramento, ou requisição de servidores a qualquer título, para assessorar

os trabalhos da CPI, serão objeto de decisão do plenário da Comissão;

18 – A assessoria jurídica da Comissão será prestada exclusivamente pela

Procuradoria Jurídica da ALERGS, cabendo ao Procurador-Geral da ALERGS, a

emissão de pareceres;

19 – Somente poderá se pronunciar em nome da CPI o Presidente, o

Relator, ou outro deputado devidamente autorizado;

20 – O acesso de assistentes ao Plenarinho deverá respeitar as

possibilidades do espaço físico, bem como prévia identificação daqueles que,

porventura, lá comparecerem;

21 – Assegurar ao(s) acusado(s) o direito de ser ouvido, mediante

deliberação do Plenário.”

Mais uma vez contudo, recusou-se a Presidente a colocar em deliberação

o requerimento em questão, pouco afirmando, mas fazendo crer a inexistência do

acordo aparentemente havido.

2.2 DE UMA PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO DO FUNCIONAMENTO FUTURO DE NOVAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO

Urge a necessidade de regulamentação da instalação

e funcionamento das Comissões Parlamentares de Inquérito nesta Assembléia

Legislativa. Sobretudo, com vistas ao futuro, e a necessidade de que se supere

impasses como os ora observados ao final dos trabalhos desta Comissão.

Para tanto, após realizar longo estudo sobre a

regulamentação havida, tanto na Câmara dos Deputados e do Senado Federal,

quanto em diversas Assembléias Legislativas, como por exemplo, dos Estados

de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, dentre outras, formulou-se

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proposta de resolução, visando equacionar os problemas enfrentados nesta

Comissão que protocolei para deliberação da Casa. Eis seu texto final:

“Projeto de Resolução nº

Altera a Resolução nº 2.288, de 18 de janeiro de 1991, que dispõe sobre o Regimento Interno, dando nova redação aos artigos 76, 83, 84, 85, 87 e 88, e incluindo o artigo 85-A, de modo a disciplinar a instalação e funcionamento das Comissões Parlamentares de Inquérito no âmbito da Assembléia Legislativa.

Art. 1º - Os artigos 83, 84, 85 e 87 da Resolução nº

2.288, de 18 de janeiro de 1991, passam a viger com a seguinte redação:

“Art. 83. A Assembléia Legislativa, a requerimento de, no mínimo, um terço

dos seus membros, instituirá Comissão Parlamentar de Inquérito para, por prazo

certo, apurar fato determinado, ocorrido na área sujeita a seu controle e

fiscalização.

§1º - Considera-se fato determinado o acontecimento de relevante

interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e social

do Estado, que estiver devidamente caracterizado e especificado no

requerimento de constituição da Comissão, e se encontre no âmbito de

competência da Assembléia Legislativa;

§2º - Poderão ser objeto de uma mesma Comissão Parlamentar de

Inquérito mais de um fato determinado apenas quando o requerimento de criação

identifique de modo objetivo sua origem comum.

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§ 3º A Comissão Parlamentar de Inquérito terá poderes de investigação

próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos neste Regimento.

§ 4º Recebido o requerimento, o Presidente mandará publicá-lo, desde

que satisfeitos os requisitos legais, caso contrário devolvê-lo-á ao autor, cabendo,

dessa decisão, recurso ao Plenário.

§ 5º O recurso de que trata o parágrafo anterior deverá ser impetrado no

prazo de 05 (cinco) dias contados da data em que o autor for cientificado da

decisão.

§ 6º Quanto ao recurso impetrado, manifestar-se-á sempre a Comissão de

Constituição e Justiça.

Art. 84. A Comissão terá o prazo de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável

por mais 60 (sessenta), por deliberação do Plenário, para conclusão dos

trabalhos.

Parágrafo único: A Comissão reunir-se-á, em caráter ordinário, uma vez

por semana, em dia e horário aprovados pelo seu Plenário; e

extraordinariamente, na forma prevista neste Regimento Interno, e por

convocação conjunta do Presidente e do Relator.

Art. 85. Deferida a constituição da Comissão Parlamentar de Inquérito,

seus integrantes serão indicados no prazo de 05 (cinco) dias, e findo este, deverá

ser instalada no prazo de 03 (três) dias.

§1º - Instalada a Comissão, a primeira reunião será presidida pelo seu

membro mais de maior idade, e terá como pauta, obrigatoriamente, a eleição pelo

Plenário, do Presidente, do Vice-Presidente, e do Relator;

§2º - Eleito o Relator, este terá uma semana para apresentar proposta de

Plano de Trabalho, visando organizar os trabalhos da Comissão e o modo de

realização da apuração que lhe compete, podendo para tanto, receber sugestões

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dos demais membros, devendo a proposta ser deliberada e aprovada até a

terceira reunião ordinária;

§ 3º – As reuniões das Comissões Parlamentares de Inquérito serão

públicas, reservadas ou secretas;

§ 4º – As reuniões serão públicas, salvo se a Comissão deliberar em

sentido contrário;

§ 5º – As reuniões serão reservadas quando a matéria puder ser discutida

na presença de funcionários a serviço da Comissão, parlamentares e terceiros

devidamente convidados;

§ 6º – As reuniões serão secretas quando a matéria a ser apreciada

somente permitir a presença de Deputados, ressalvada a presença de advogado

do depoente, quando de sua oitiva. Nas reuniões secretas servirá como

Secretário da Comissão, por designação do Presidente, um dos seus membros,

salvo deliberação em contrário;

§ 7º – Às informações obtidas em sessão secreta da Comissão ou pela

quebra do sigilo bancário, fiscal ou telefônico, aplica-se, no que couber, o

disposto na legislação penal, podendo ser utilizadas em comunicações aos

órgãos competentes para as devidas providências ou no relatório final, havendo

justa causa para tanto, a qual deverá ser fundamentada;

§8º - A violação do sigilo previsto no parágrafo anterior caracteriza

comportamento incompatível com o decoro parlamentar, sem prejuízo de outras

sanções previstas em lei;

§ 9º - A convocação das reuniões, mediante publicação do respectivo ato

no Diário da Assembléia, deverá se fazer acompanhar da relação detalhada dos

assuntos a serem objeto de apreciação ou deliberação, para prévio conhecimento

dos parlamentares;

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§ 10 – Todos têm direito a receber informações de seu interesse particular

contidas em documentos ou arquivos de Comissão Parlamentar de Inquérito,

ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível para assegurar o resultado

dos trabalhos e investigações, à segurança da sociedade e do Estado, bem como

à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das

pessoas.

Art. 87. A Comissão Parlamentar de Inquérito poderá, mediante prévia

deliberação da maioria dos seus membros, e observada a legislação específica:

I - requisitar servidores dos serviços administrativos da Assembléia, bem

como, em caráter transitório, os de qualquer órgão ou entidade da administração

pública direta, indireta e fundacional, necessários aos seus trabalhos;

II - determinar diligências, ouvir indiciados, inquirir testemunhas sob

compromisso, requisitar de órgãos e entidades da administração pública

informações e documentos, requerer a audiência de Deputados e Secretários de

Estado, tomar depoimentos e requisitar os serviços de quaisquer autoridades,

inclusive policiais;

III - incumbir qualquer de seus membros ou funcionários requisitados da

realização de sindicâncias ou diligências necessárias aos seus trabalhos, dando

conhecimento prévio à Mesa;

IV - deslocar-se a qualquer ponto do Estado para a realização de

investigações e audiências públicas;

V - estipular prazo para o atendimento de qualquer providência ou

realização de diligência sob as penas da lei, exceto quando da alçada de

autoridade judicial;

VI - se forem diversos os fatos inter-relacionados objeto do inquérito, dizer

em separado sobre cada um, mesmo antes de findar a investigação dos demais.

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§1º - Os requerimentos deliberados e rejeitados pelo Plenário da

Comissão, só poderão ser reapresentados se, no curso da apuração, surgir fato

novo que os justifique; caso contrário, serão devolvidos pelo Presidente ao

respectivo proponente.

§2º - A requisição dos servidores de que trata o inciso I deste artigo será

submetida pelo Presidente da Comissão ao seu Plenário, com a devida

justificativa sobre as razões da escolha, e após aprovado pela maioria, será

expedida por intermédio de ofício da Comissão;

§ 3º - Os documentos e demais informações colhidas pela Comissão no

exercício de suas atividades deverão ser mantidos à disposição de qualquer

parlamentar, em local situado nas instalações da Assembléia, de acesso restrito

aos parlamentares e a servidores especialmente designados, não podendo ser

reproduzidos sob qualquer forma, nem encaminhados a terceiros, sem expressa

autorização do Plenário;

§ 4º Indiciados e testemunhas serão intimados por servidores da

Assembléia Legislativa ou por intermédio de Oficial de Justiça designado pelo

Juiz de Direito do Foro da Comarca onde deva ser cumprida a diligência.

§5º - É nulo de pleno direito o ato do Presidente, Vice-Presidente ou

Relator, realizado sem deliberação do Plenário, quando assim determine este

Regimento;

§ 6º Aplicam-se subsidiariamente às Comissões de Inquérito, no que

couber, as normas da legislação federal, especialmente do Código de Processo

Penal.”

Art. 2º - O caput do artigo 88 da Resolução nº 2.288,

de 18 de janeiro de 1991, passa a viger com a seguinte redação:

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“Art. 88. Ao termo dos trabalhos, a Comissão apresentará, ao Presidente

da Assembléia, relatório circunstanciado com suas conclusões, aprovado pela

maioria dos seus membros, por meio de projeto de resolução, que será publicado

no Diário da Assembléia e encaminhado: (...)”

Art. 3º - Fica incluído, na Resolução nº 2.288, de 18 de

janeiro de 1991, o artigo 85-A, com a seguinte redação:

“Art. 85-A: Compete:

I - ao Presidente da Comissão, dirigir seus trabalhos, bem como

representá-la externamente, sempre que for assim estabelecido pelo Plenário, e

nos exclusivos termos das suas deliberações;

II – ao Vice-Presidente, substituir o Presidente em seus impedimentos e

exercer outras atribuições que lhe forem conferidas por deliberação do Plenário;

III – ao Relator, apresentar o Plano de Trabalho nos termos do §2º do art.

85, e zelar pelo seu cumprimento, propondo ao plenário o procedimento de

apuração dos fatos objetos de apreciação pela Comissão.”

Art. 4º - O artigo 76 da Resolução nº 2.288, de 18 de

janeiro de 1991 passa a viger com a seguinte redação:

“Art. 76. A Presidência da Comissão Temporária, exceto as da Comissão

de Representação Externa e da Comissão Parlamentar de Inquérito, caberá ao

primeiro signatário do requerimento e o relator será eleito na reunião de

instalação.”

Art. 5º - Esta resolução entra em vigor na data de sua

publicação, revogando-se as disposições em contrário.”

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As razões do Projeto em questão são

sobejamente conhecidas. Daí porque, para afirmar sua conveniência, transcrevo

excerto da sua justificativa, verbis:

“ao propor alteração da redação das disposições vigentes no

Regimento Interno, relativos às Comissões Parlamentares de Inquérito, orientou-

se por três diretrizes: (a) especificar as atribuições dos parlamentares ocupados

da direção dos trabalhos (Presidente, Vice-Presidente e Relator), bem como

submeter de modo universal sua escolha à eleição dos membros da Comissão;

(b) assegurar o amplo respeito do princípio do colegiado no funcionamento da

Comissão, mediante explicitação da submissão obrigatória ao Plenário de todas

as decisões relevantes da; (c) definição de procedimentos visando a preservação

de documentos e demais elementos que venham a ser colhidos pela Comissão

no curso do seu procedimento de apuração, considerando a necessidade de

assegurar a validade jurídica da investigação e de seus resultados.

A experiência recente desta Assembléia Legislativa dá conta

de inúmeras dificuldades de funcionamento das Comissões Parlamentares de

Inquérito, e de seus resultados, que em face da ausência de regras expressas,

observam a possibilidade de submissão dos trabalhos de alta importância aos

interesses parciais, político-eleitorais, de alguns parlamentares de modo

individual, ou minoritário, em desalinho com a função constitucional destas

comissões, conforme se vê do disposto nos artigos 58, § 3º, da Constituição da

República, e 56, §4º, da Constituição Estadual.

O presente projeto de resolução, ao oferecer regras que

respeitem à esta função constitucional das Comissões Parlamentares de

Inquérito, tem por finalidade assegurar a efetividade da sua atuação no futuro, a

partir da definição clara de responsabilidades e procedimentos de seu

funcionamento.”

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III – DAS CONCLUSÕES

Eis porque, de modo articulado, apresentamos as

seguintes conclusões dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito nº

001/2009, constantes do presente Relatório:

1) Restou demonstrada a ausência de quaisquer

elementos de prova acerca da responsabilidade de

membros da Administração Estadual, bem como a

absoluta ausência de qualquer fato que denote

irregularidade administrativa no tocante ao

relacionamento entre a empresa ATENTO

SERVICE e o Departamento Estadual de Trânsito -

DETRAN;

2) As sugestões apresentadas em depoimento público

desta Comissão, relativamente às melhorias nos

sistemas de controle do Estado, pelos Senhores

Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado,

Cezar Miola, Procurador-Geral do Ministério

Público de Contas, Geraldo da Camino, e do

Contador e Auditor-Geral do Estado, Roberval

Silveira Marques, devem ser aprofundadas a partir

de estudo técnico no âmbito do parlamento, sobre

sua viabilidade e procedimento de realização, se

for o caso; para tanto recomenda-se o

encaminhamento deste Relatório à Comissão de

Constituição e Justiça e à Comissão de Finanças,

Planejamento, Fiscalização e Controle, para que

conheçam e aprofundem o exame das propostas

em questão.

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3) Da mesma forma, observa-se que é urgente na

Assembléia Legislativa a regulamentação do

funcionamento das Comissões Parlamentares de

Inquérito, a exemplo dos Parlamentos de outros

Estados, bem como da Câmara dos Deputados e

do Senado Federal, visando prever instrumentos de

solução de impasses, respeito às prerrogativas

parlamentares, bem como evitando atitudes de

cunho individualista, e por vezes ilegal, impedindo

o êxito dos procedimentos de apuração;

Sugere-se o encaminhamento do presente Relatório

Final à Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa, para

conhecimento, em especial no tocante às sugestões indicadas na conclusão nº 2;

Sugere-se, ainda, nos termos do artigo 88, incisos II e

V, do Regimento Interno, o encaminhamento de cópia deste Relatório Final ao

Ministério Pùblico do Estado e à Procuradoria-Geral do Estado para

conhecimento, bem como ao Tribunal de Contas do Estado, para exame das

providências convenientes e cabíveis, na sua área de competência.

Este é o relatório,

À consideração dos eminentes Deputados que

integram esta Comissão Parlamentar de Inquérito.

Sala das Sessões, 16 de dezembro de 2009.

Deputado COFFY RODRIGUESRelator

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CPI DA CORRUPÇÃO

DECLARAÇÃO DE VOTO Contrário das Bancadas

do PT - PC do B - PDT -

DEM

Nossas conclusões, aqui delineadas, estão baseadas

no conjunto de provas produzidas durante os trabalhos

da comissão, que nos permitiram estar convictos da

existência de operadores privados, empreiteiros e

lobistas que, para perpetrar o direcionamento de

licitações e contratos, contavam com a proteção e

auxílio remunerados de agentes políticos de grande

influência em nosso Estado, utilizados para o

enriquecimento ilícito dos mesmos e para

financiamento de campanhas eleitorais e estruturas

partidárias. Assim, por não concordar de forma

alguma com o relatório apresentado pelo Dep. Coffy

Rodrigues que não apurou os fatos determinados da

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CPI, viemos apresentar na forma do Art. 140, § 1º do

Regimento Interno da AL, esta Declaração de Voto Contrário.

SUMÁRIO

I. Parte I - Instalação da CPI da Corrupção ................................. 1Composição da Comissão Parlamentar de Inquérito................. 5

As tentativas de engessar a presidência da CPI ….................... 6

O placar de faltas às sessões ….............................................. 8

Os requerimentos barrados pelos governistas.......................... 9

Boicote intencional a função constitucional da CPI …............. 17

II. PARTE II – OS FATOS APURADOS A) A dívida cobrada pela Atento Service ….............................. 20

B- Operação Solidária e indícios de fraudes detectadas …..... 35

B1 – Fato investigado Barragens Jaguari - Taquarembó …...... 43

B2 - Fato investigado - obras de saneamento Secretaria

de Habitação – Corsan …........................................................ . 89

B3 - Fato investigado - Obras em estradas estaduais …......... 94

B4 - Fato investigado - PISA - Estação de Tratamento

de Esgoto (ETE) Serraria. …................................................... . 98

C - Conexão entre as Operações Rodin e Solidária ….............115

D - Irregularidades financeiras e caixa dois de campanhas ….129

III. PARTE III - SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES AO PARLAMENTO, AOS DEMAIS PODERES E AOS ORGÃOS DE FISCALIZAÇÃO ….......................................... .. 137

105

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PARTE I. INSTALAÇÃO DA CPI DA CORRUPÇÃO

Um ambiente de turbulência e crise política antecedeu a instalação da CPI

da Corrupção. No ano anterior, a CPI do Detran já havia deixado profundas

marcas no governo ao trazer à tona o esquema montado na autarquia para

desviar recursos públicos. Sem a possibilidade de prorrogar os trabalhos da

comissão de inquérito, os deputados Fabiano Pereira e Stela Farias apresentaram

voto em separado, que acabou embasando a ação civil pública movida pelo

Ministério Público Federal contra a governadora e outros oito integrantes de sua

base aliada. O documento apontava inúmeras provas e indícios da participação de

diversos assessores muito próximos à governadora Yeda Crusius, como Walna

Vilarins Meneses e Delson Martini, além dela própria.

No início de 2009, novas denúncias voltaram a abalar o Piratini. Em

fevereiro, o PSOL divulgou a existência de um conjunto de gravações que

demonstrariam a ocorrência de um esquema de recebimento e distribuição de

propina no governo. A entrevista foi motivada pela morte de Marcelo Cavalcante,

ex-representante do governo do Estado em Brasília. Cavalcante, segundo

informações de sua esposa Magda Koenigkan, iria depor no MPF nos dias

seguintes ao seu falecimento. Teria acontecido, inclusive, uma reunião com a

governadora Yeda Crusius, uma semana antes da morte de Marcelo, para tratar

do assunto.

Em maio, o ex-ouvidor da Segurança Pública Adão Paiani foi demitido

depois de investigar a atuação do chefe de gabinete da governadora, Ricardo

Lied, que teria utilizado o sistema de escutas da polícia para fazer espionagem

política de adversários e chantagear aliados do governo.

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Ainda no decorrer do primeiro semestre, novas denúncias abalaram o

Palácio Piratini, especialmente os indiciamentos do ex-secretário Geral de Governo

Delson Martini, do secretário de Irrigação, Rogério Porto, da ex-secretária adjunta

de Obras Públicas Rosí Bernardes e de Walna Vilarins Menezes, assessora especial

da governadora.

Foi em meio a este ambiente que surgiu a intenção de constituir uma

comissão parlamentar de inquérito para investigar as denúncias que pesavam

sobre a administração estadual. Depois de ter permanecido por três meses sem

obter o número mínimo de assinaturas para ser protocolada (19), a CPI da

Corrupção deslanchou quando o Ministério Público Federal anunciou, no dia 5 de

agosto de 2009, a ação de improbidade administrativa contra a governadora Yeda

Crusius e outros oito integrantes do governo e de sua base aliada. Logo depois do

anúncio do MPF, três deputados – Gerson Burmann, Giovani Cherini e Kalil Sehbe,

todos do PDT- aderiam ao requerimento inicial, permitindo que o pedido fosse

protocolado.

Diante do fato consumado, deputados do PMDB, PP e PTB subscreveram o

requerimento momentos antes do documento ser protocolado, elevando o

número de assinaturas de 20 para 39.

Instalada no dia 26 de agosto, a CPI da Corrupção foi concebida com a

missão de investigar os seguintes fatos determinados:

1 - Ações e inquéritos no âmbito da Polícia Federal, Justiça Federal e

Ministério Público Federal, com escopo na atuação de autoridades e titulares de

cargos públicos do Estado do Rio Grande do Sul, bem como de pessoas físicas e

jurídicas investigados por fraudes financeiras e atos lesivos ao interesse público,

enquadráveis na Lei 9.631/98, art. 1, V e VIII que trata dos crimes de lavagem de

dinheiro ou ocultação de bens, direitos ou valores oriundos de corrupção,

formação de quadrilha (art. 288 do Código Penal), corrupção passiva (art. 317 do

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Código Penal), crimes contra a Lei de Licitações (Lei 8.666/93) e corrupção ativa

(art. 333 do Código Penal). Destaque para a ocorrência de informações

privilegiadas em processos licitatórios envolvendo a Secretaria Extraordinária de

Irrigação e Usos Múltiplos da Água, bem como a Secretaria de Obras Públicas,

analisadas no âmbito da Operação Solidária da Polícia Federal.

2 - A conexão entre fatos investigados no âmbito da Operação Solidária

envolvendo a atuação de agentes políticos, servidores públicos e réus da ação

judicial decorrente da Operação Rodin, que tramita na Vara Federal de Santa

Maria, com fatos investigados pela CPI do DETRAN, eis que provas coletadas pela

Operação Solidária foram compartilhadas no processo da judicial da Operação

Rodin, conforme decisão do TRF da 4ª região, noticiada pelo Jornal Zero Hora de

10/02/09.

3 - As revelações públicas da viúva de Marcelo Calvalcante, Magda

Koenigkan, apontando para existência de irregularidades financeiras, com a

ocorrência de crimes conexos com a campanha eleitoral de 2006. Neste contexto,

insere-se a aquisição de imóvel cujo preço informado é discrepante de seu valor

de mercado, além do que, conforme afirmou Magda, a origem dos recursos para

o pagamento carecem de procedência plausível.

4 - A interferência irregular de agentes públicos ou particulares na gestão

do Detran, e que culminaram com a exoneração - a pedido - de sua presidenta,

delegada Estella Maris Simon, cuja motivação vincula-se a um passivo financeiro

não admitido pela mesma, sendo este, porém, ratificado de imediato pela senhora

governadora. A suposta credora, empresa Atento Ltda, cobrou a liquidação do

débito da Secretaria de Transparência do governo estadual, revelando uma

anomalia administrativa que precisa ser esclarecida, sendo o pagamento sustado

mediante óbice do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul.

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5- As afirmações da deputada federal Luciana Genro e do vereador de

Porto Alegre Pedro Ruas, em entrevista coletiva do dia 19 de fevereiro de 2009,

de que existem provas documentais, áudios e vídeos que comprovam crimes

ocorridos no seio da Administração Publica do Estado, e que estariam em poder

do Ministério Público Federal, integrando uma delação premiada de Lair Ferst.

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O requerimento para a instalação da CPI da Corrupção foi subscrito pelos

seguintes parlamentares:

Deputado Stela Farias (PT), primeira parlamentar a assinar o documento

Deputado Adão Villaverde (PT)

Deputado Daniel Bordignon (PT)

Deputado Dionilso Marcon (PT)

Deputado Elvino Bohn Gass (PT)

Deputado Fabiano Pereira (PT)

Deputada Marisa Formolo (PT)

Deputado Raul Pont (PT)

Deputado Ronaldo Zulke (PT)

Deputado Adroaldo Loureiro (PDT)

Deputado Gerson Burmann (PDT)

Deputado Gilmar Sossella (PDT)

Deputado Giovani Cherini (PDT)

Deputado Kalil Sehbe (PDT)

Deputado Paulo Azeredo (PDT)

Deputado Raul Carrion (PCdoB)

Deputado Heitor Schuch (PSB)

Deputado Miki Breier (PSB)

Deputado Marquinho Lang (DEM)

Deputado Paulo Borges (DEM)

Deputado Abílio dos Santos (PTB)

Deputado Aloísio Classmann (PTB)

Deputado Cássia Carpes (PTB)

Deputado Luís Augusto Lara (PTB)

Deputado Adolfo Brito (PP)

Deputado Francisco Appio (PP)

Deputado Frederico Antunes (PP)

Deputado Jerônimo Goergen (PP)

Deputado João Fischer (PP)

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Deputado Mano Changes (PP)

Deputado Alberto Oliveira (PMDB)

Deputado Alceu Moreira (PMDB)

Deputado Alexandre Postal (PMDB)

Deputado Álvaro Boessio (PMDB)

Deputado Edson Brum (PMDB)

Deputado Gilberto Capoani (PMDB)

Deputado Luiz Fernando Záchia (PMDB)

Deputado Nelson Härter (PMDB)

Deputado Sandro Boka (PMDB)

Composição da Comissão Parlamentar de Inquérito

Os partidos que integram a base de apoio do governo do Estado – PSDB, PMDB,

PP, PTB e PPS – detiveram oito das doze vagas da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Além disso, ocuparam dois dos principais cargos da CPI: a relatoria e a vice-presidência.

São membros da CPI:

Stela Farias (PT) – presidenta

Daniel Bordignon (PT)

Paulo Borges (DEM)

Gilmar Sossella (PDT)

Coffy Rodrigues (PSDB) - relator

Adilson Troca (PSDB)

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Sandro Boka (PMDB)

Gilberto Capoani (PMDB) – vice-presidente

Pedro Westphalen (PP)

João Fischer (PP)

Iradir Pietroski (PTB)

Luciano Azevedo (PPS)

A composição da CPI contrariou o Regimento Interno da Assembléia Legislativa,

que determina que a participação nas comissões da Casa deve ser proporcional ao número

de integrantes de cada bancada no início do primeiro e do terceiro ano de cada

legislatura. No início dos trabalhos desta legislatura, o PDT contava com seis deputados, e

o PSDB com o mesmo número. Portanto, não existe base regimental para que o PSDB

tenha sido contemplado com duas cadeiras na CPI e o PDT com apenas uma.

O Regimento Interno também determina que seja feito um rodízio entre as

bancadas que não atinjam o coeficiente de participação – no caso o PPS, o DEM , o PSB e

o PCdoB – para garantir que todos os partidos se façam representar, assegurando o

direito das minorias parlamentares. Esse princípio não foi observado na composição da

comissão de inquérito. Ao desprezar o Regimento Interno, a base governista apoderou-se

de duas cadeiras as quais não tinha direito regimental, em detrimento do PDT e do

PCdoB.

Relatoria sob suspeita

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A eleição do deputado Coffy Rodrigues (PSDB) para a relatoria da comissão foi

cercada de forte suspeição. O parlamentar, além de ser do partido do governo que está

sob investigação, tem vínculos concretos com envolvidos nas fraudes apontadas pelas

Operações Rodin e Solidária. A então secretária adjunta de Obras no período em que

Coffy ocupou a titularidade da pasta, Rosí Guedes Bernardes, participou ativamente do

processo de direcionamento das licitações das barragens Jaguari e Taquarembó, um dos

objeto de investigação da CPI.

Além disso, Alexandre Moreira, que trabalhou na Secretaria de Obras e hoje

assessora o parlamentar, é um dos citados na ação de improbidade administrativa do

Ministério Público Federal. Segundo conversas entre Lair Ferst e Marcelo Cavalcanti, foi

Moreira o responsável por transportar R$ 400 mil doados por empresas fumageiras de

Santa Cruz do Sul ao caixa dois da campanha de Yeda Crusius. Esses recursos teriam sido

usados para a compra da casa da governadora.

As tentativas de engessar a presidência da CPI

Já no início dos trabalhos identificou-se um claro movimento, liderado pelo relator,

para engessar a CPI. A sua proposta de trabalho não apresentava qualquer elemento para

produção de provas e nem se propunha a ouvir os implicados nas fraudes, sob alegação

de que muitos deles já haviam prestado depoimento à CPI do Detran. Com isso, o relator

baniu qualquer possibilidade de apontar o grau de responsabilidade política e

administrativa dos envolvidos. Ocorre que este é papel específico de uma Comissão

Parlamentar de Inquérito, que não pode ser cumprido por outra instituição.

O relator, durante todo o processo, atuou muito mais como líder do governo e

defensor de agentes políticos do que como integrante de uma CPI, cuja função precípua é

investigar as denúncias. Com o claro intuito de esvaziar as atribuições da presidência da

comissão de inquérito, o relator apresentou um plano de trabalho que tolhia o exercício do

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mandato parlamentar e criava uma série de obstáculos às investigações. Fundamentado

em argumentos de racionalização dos trabalhos, o cronograma tinha a intenção de

obstaculizar os trabalhos e atendida perfeitamente aos interesses do governo de barrar as

investigações.

Além de ser uma figura estranha ao Regimento Interno da Assembleia Legislativa, o

plano de trabalho proposto por Coffy Rodrigues era composto por diversos itens

nitidamente antirregimentais e inconstitucionais. Entre as pretensões do relator, figurava a

exigência de submeter à apreciação do colegiado atribuições típicas da presidência das

comissões parlamentares, como a convocação de sessões extraordinárias e definição da

ordem dos depoimentos.

Além disso, o plano de trabalho atentava contra o exercício do mandato

parlamentar ao restringir o tempo para inquirir testemunhas, tolher o direito de

manifestação e impedir o acesso dos deputados às provas documentais levantadas pela

CPI.

O plano de trabalho do relator contrariava também normas do Processo Penal, que

regem a tomada de depoimentos nas comissões parlamentares de inquérito.

Boicote sistemático às investigações

Os oito deputados da base governista atuaram de forma unificada e permanente

para evitar o trabalho de investigação da CPI. Além de faltar às sessões para não dar

quorum à votação de requerimentos de convocação de testemunhas e indiciados, a base

aliada se negou a reconhecer os documentos disponibilizados pela Justiça Federal à

comissão de inquérito. Chegaram, inclusive, a solicitar à juíza Simone Barbisan Fortes, da

4ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria, o cancelamento do envio das ações referentes

ao desvio de recursos do Detran, sob a alegação de que a presidência da CPI pediu a

documentação sem a autorização do plenário da comissão de inquérito. A petição,

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subscrita pelos deputados governistas, afrontou prerrogativas dos mandatos

parlamentares asseguradas pela Constituição.

Em função do boicote promovido pela base aliada, a CPI avançou pouco no diz

respeito à realização de oitivas. Em três meses, foram realizadas apenas sete tomadas de

depoimentos e uma acareação. Quatro dos depoimentos se referem ao episódio da

cobrança de uma dívida do Estado pela empresa Atento Service. Os outros três enfocaram

medidas para aprimorar os mecanismos de fiscalização e controle do Estado. Nenhum

indiciado ou testemunha das fraudes em licitações ou das outras denúncias que constam

como objetos de investigação foi convocado a depor.

O placar de faltas às sessões

Das 24 sessões da CPI, 21 foram com ordem do dia, mas apenas quatro tiveram

quórum para votação de requerimentos.

Os campeões de faltas foram os seguintes:

Adilson Troca (PSDB) - 17

Luciano Azevedo (PPS) – 14

Gilberto Capoani (PMDB) – 14

Sandro Boka (PMDB) – 14

Pedro Westphalen (PP) - 14

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João Fischer (PP) - 13

Iradir Pietroski (PTB) – 11

Coffy Rodrigues - 11

Os requerimentos barrados pelos governistas

Os oito deputados que integram a comissão de inquérito e apóiam o governo Yeda

faltaram às sessões sistematicamente para obstruir as investigações, impedindo convite ou

convocação dos seguintes agentes:

Na fraude no Detran

1 - José Otávio Germano – Seria um dos principais mentores e beneficiários da

fraude no Detran, o deputado federal do PP é réu na ação civil pública por improbidade

administrativa decorrente da Operação Rodin, que investigou o desvio de mais de R$ 40

milhões da autarquia. Foi durante sua gestão na Secretaria de Segurança, pasta a qual o

Detran está vinculada, que o esquema de terceirização e superfaturamento de serviços

teria sido montado.

2 - Lair Ferst – Um dos coordenadores da campanha tucana ao Palácio Piratini,

Lair Ferst foi um dos principais operadores da primeira fase da fraude do Detran, que

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durou de 2003 a maio de 2007. Com a vitória de Yeda Crusius, o lobista perdeu poder e

benefícios financeiros dentro do esquema.

Em depoimento ao Ministério Público Federal, Ferst afirmou que, com o

afastamento de empresas de sua família do esquema – New Mark e Rio Del Sur –

sobrariam 24% do total arrecadado a partir do superfaturamento dos serviços

terceirizados pelo Detran. Os recursos seriam divididos entre a governadora, que passaria

a receber R$ 170 mil por mês, o ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado João Luiz

Vargas, que seria contemplado com R$ 30 mil, o ex-chefe da Casa Civil Luiz Fernando

Záchia, para quem estariam reservados também R$ 30 mil, e Ermínio Gomes Júnior, ex-

diretor técnico do DETRAN, que receberia “alguma coisa”.

3 - Carlos Crusius – Apontado como um dos principais operadores da segunda

fase da fraude do Detran, que iniciou em 2007. O ex-marido da governadora foi o

responsável pelo afastamento de Lair Ferst do esquema e pela elaboração da nova

planilha da divisão de propina, que entrou em vigor no atual governo.

Carlos Crusius é um dos réus da ação civil pública de improbidade administrativa

movida pelo Ministério Público Federal.

4 - Carlos Ubiratan dos Santos – Foi presidente do Detran durante o governo

Rigotto, quando a fraude teve início. Indicado por José Otávio Germano, Bira Vermelho é

apontado como o verdadeiro proprietário da empresa Atento Service, prestadora de

serviços para autarquia e que alega ter créditos para receber do Estado na ordem de R$

16 milhões.

É acusado de contratar a empresa laranja NT Pereira, de propriedade de familiares,

via Fundae, para atuar junto ao Detran.

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5 - Flávio Vaz Netto – Sucedeu Carlos Ubiratan dos Santos na direção do Detran

a partir de 2007. Ligado ao deputado federal José Otávio Germano, Vaz Netto foi flagrado

diversas vezes pelas escutas telefônicas da PF tratando da arrecadação e da divisão da

propina oriunda da fraude na autarquia.

Vaz Netto ameaçou o relator da CPI do Detran, deputado Adilson Troca (PSDB), de

voltar a depor na comissão de inquérito, que funcionou na Assembleia Legislativa em

2008. O ex-presidente da autarquia, conforme diálogo telefônico gravado pela PF,

prometeu revelar que foi pressionado a “resgatar Lair Ferst para o esquema para produzir

dinheiro para pagar contas do PSDB e despesas pessoais da governadora”.

6 - Ricardo Lied – O chefe de gabinete da governadora é suspeito de pressionar o

ex-presidente do Detran Sérgio Buchmann a pagar a dívida de R$ 16 milhões cobrada pela

Atento, considerada indevida Procuradoria Geral do Estado e pela Contadoria Auditoria

Geral do Estado (CAGE).

Lied protagonizou uma inusitada visita ao ex-presidente da autarquia com o

propósito de avisá-lo da prisão de seu filho (de Buchmann) por tráfico de drogas. Em

função disso, o chefe de gabinete de Yeda Crusius responde a uma ação por improbidade

administrativa.

7 - Carlos Otaviano Brenner de Moraes – O ex-secretário da Transparência

exerceu ingerência política no Detran, advogou em favor dos interesses da empresa

Atento no âmbito do Estado e pressionou ex-titulares da autarquia a pagar a dívida

pleiteada pela empresa.

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Na Operação Solidária

1 - Eliseu Padilha – O número um do esquema especializado em fraudar

licitações públicas, segundo a Polícia Federal.

O ex-ministro dos Transportes é suspeito de tráfico de influência e fraudes em

contratos. Ele teria participado do direcionamento de licitações de obras rodoviárias e de

saneamento para favorecer a empresa MAC Engenharia ou as indicadas pelo seu

proprietário, Marco Antônio Camino, um dos pivôs do esquema fraudulento. Pelo

pagamento aos serviços prestados, Padilha teria sido pago pela empreiteira com o

depósito de R$ 267 mil na conta da empresa Consultoria Empresarial, cujos sócios são o

próprio deputado e sua esposa.

Padilha responde a processo no Supremo Tribunal Federal por envolvimento em

lavagem de dinheiro, ocultação de bens, recebimento de valores oriundos de corrupção,

crimes contra a Lei de Licitações e corrupção ativa.

2 - Alceu Moreira – O deputado estadual do PMDB teria praticado ingerência

política na liberação de recursos para a construção do trecho da estrada Morrinhos-

Mampituba. Segundo a Polícia Federal, o deputado teria recebido dinheiro de Marco

Antônio Camino.

3 - Marco Alba – Ex-chefe de gabinete de Padilha e atual secretário de Habitação,

é investigado por suspeita de irregularidades em licitações.

4 - Walna Villarins Meneses – Ex-assessora especial da governadora Yeda

Crusius foi indiciada pela Operação Solidária e é ré na ação civil pública por improbidade

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administrativa. Ela teria atuação na ligação entre o gabinete da governadora e lobistas de

empreiteiras.

Em diálogo interceptado, Walna conversou em linguagem cifrada com a lobista

Neide Bernardes sobre valores monetários (flores e bonsais).

5 - Chico Fraga – Secretário de Canoas na administração do tucano Marco

Ronchetti, Fraga é réu nas ações decorrentes das operações Rodin e Solidária. Um dos

coordenadores da transição do governo Yeda, atuaria para reaproximar Lair Ferst do

esquema fraudulento implantado no Detran, atendendo determinação da governadora

Yeda Crusius, segundo depoimento de Flavio Vaz Netto.

Já na fraude investigada pela Operação Solidária, o ex-secretário de Canoas teria

participado ativa em todas as fases – ingerência política, direcionamento de licitações,

cobrança e distribuição de propina – além de defender os interesses da MAC Engenharia e

da Magna Engenharia junto ao governo gaúcho.

Chico Fraga foi denunciado por corrupção, formação de quadrilha, enriquecimento

ilícito e lavagem de dinheiro.

6 - Rogério Porto – O secretário de Irrigação do governo Yeda foi indiciado na

Operação Solidária devido a irregularidades no rumoroso caso das barragens Jaquari e

Taquarembó.

7 - Daniel Andrade – O titular da Secretaria de Infraestrutura e Logística seria

chamado à CPI para explicar licitações de obras em estradas citadas pela Operação

Solidária.

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8 - Rosi Bernardes – Secretária adjunta de obras na gestão de Coffy Rodrigues.

Seria a responsável por alterações nos editais para construção das barragens Jaquari e

Taquarembó com o propósito de favorecer as empresas MAC Engenharia e Magna

Engenharia.

9 - Marco Antônio Camino – Proprietário da MAC Engenharia, empresa

beneficiada pelo direcionamento das licitações de obras públicas. Apontado como um dos

pivôs da fraude.

10 - Edgar Cândia – Dono da Magna Engenharia, também beneficiária das

fraudes em licitações.

11 - Ricardo Guimarães Moura – Ex-diretor de Obras do Daer, teria participado

na liberação de recursos para as obras da estrada Morrinhos-Mampituba.

12 - Neide Bernardes – Lobista ligada às empresas MAC Engenharia e Magna

Engenharia, ela é apontada como uma das responsáveis pela lavagem do dinheiro oriundo

da fraude em licitações de obras públicas e por pagamentos de contas de Chico Fraga.

Neide foi flagrada pela PF em conversas telefônicas com Walna Villarins Meneses

tratando de repasses de valores monetários, sendo denunciada por lavagem de dinheiro e

fraude.

13 - Woodson Martins da Silva – Funcionário da MAC Engenharia. Flagrado pela

Polícia Federal em diálogo telefônico combinando o repasse de recursos para o deputado

Alceu Moreira em nome do empresário Marco Antônio Camino.

14 - Carlos Timm – Funcionário da MAC Engenharia. Um dos interlocutores do

empreiteiro Marco Antônio Camini no esquema fraudulento.

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15 - Orgel Carvalho – Funcionário da Magna Engenharia. Também interlocutor

no esquema criminoso.

16 - Ibanez Ferreira Filter – Chefe de gabinete do deputado federal Eliseu

Padilha e encarregado de receber recursos pelo parlamentar.

17 - Luciano Celaro – Funcionário do gabinete do deputado Eliseu Padilha.

18 - Mário Roberto Amorim Baltar – Ex-presidente da Univias. Seria chamado

à CPI para esclarecer irregularidades em obras de saneamento.

19 - Odilon Alberto Menezes – Proprietário da empresa Construtora Sacchi Ltda.

Flagrado em ligação telefônica com o empresário Marco Antônio Camino, acertando a

pauta de uma reunião com o secretário da prefeitura de Porto Alegre, Cristiano Tasch.

20 - Luiz Ariano Zaffalon – Secretário adjunto de Habitação e Saneamento. Seria

chamado à CPI para esclarecer situações irregulares em obras sob a responsabilidade de

sua pasta.

21 - Carlos Júlio Garcia Martinez – Diretor da Corsan. Seria chamado à CPI

para esclarecer questões relativas a licitações de obras na área do saneamento.

22 - Juvir Costella – Chefe de gabinete do secretário de Marco Alba e apontado

como um dos operadores das fraudes em licitações. Teria acertado com o funcionário da

MAC Engenharia, Woodson Martins da Silva, a propina destinada ao secretário de

Habitação e Saneamento.

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Na compra da mansão da governadora e caixa dois de campanha

1 - Carlos Crusius – Além de ser apontado como mentor da segunda fase da

fraude no Detran, o ex-marido da governadora também é suspeito de se apoderar de

doações irregulares para a campanha tucana. Há indícios de que parte destes recursos

tenha financiado a compra da mansão de Yeda Crusius.

2 - Delacy Martini – Pai do ex-secretário Geral de Governo, Delson Martini.

Segundo a versão da governadora, Delacy comprou um apartamento da família Crusius

em Capão da Canoa. O dinheiro oriundo da transação, segundo Yeda, teria sido usado

para comprar a casa. Até hoje, Delacy não quitou o imóvel, alegando que ainda espera

receber a escritura do apartamento.

3 - Eduardo Laranja da Fonseca – Ex-proprietário da mansão de Yeda. Recusou

propostas mais altas para vender a casa, que Yeda diz ter adquirido por R$ 700 mil.

4 - Marcelo Albert – Dono da imobiliária que selou o negócio com a governadora.

Citado em conversas telefônicas entre Lair Ferst e Marcelo Cavalcante.

5 - Pedro Ruas – Vereador do PSOL que, em fevereiro, denunciou a existência de

caixa dois na campanha tucana. O vereador do PSOL revelou que a casa adquirida por

Yeda em 2006 teria sido negociada um ano antes por R$ 1,4 milhão, o dobro do valor que

a governadora diz ter desembolsado.

6 - Paulo Feijó – O vice-governador seria chamado à CPI para esclarecer fatos

relativos ao caixa dois da campanha eleitoral, compra da casa e conversa com o ex-chefe

da Casa Civil Cezar Busatto, que afirmou que as estatais gaúchas financiam estruturas

partidárias.

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7 - Magda Koenigkan – Viúva do ex-representante do Rio Grande do Sul em

Brasília Marcelo Cavalcante, morto no início do ano em circunstâncias até hoje não

explicadas. Magda diz que viu documentos que Cavalcante preparava para usar em seu

depoimento no Ministério Público Federal.

8 - Rubens Bordini – O vice-presidente do Bansisul repassou, segundo Paulo

Feijó, doação da empresa Braskem ao marido da governadora. Segundo o vice-

governador, o dinheiro não apareceu na campanha. É suspeito também de receber valores

não registrados na prestação de contas da campanha tucana.

9 - Fernando Lemos – O presidente do Banrisul seria chamado à CPI para

explicar o empréstimo irregular concedido à empresa Alliance One Brasil - Exportação de

Tabacos, uma das financiadoras da campanha eleitoral da governadora Yeda Crusius ao

Piratini. Mesmo com o limite de crédito – R$ 25 milhões –ultrapassado em R$ 15 milhões,

a fumageira foi beneficiada com mais R$ 10 milhões, somando R$ 50 milhões em

empréstimos no Banrisul, sem o aval do comitê técnico do banco, que rejeitou o novo

financiamento por considerar que as garantias da empresa não estavam de acordo com as

exigências da instituição.

10 - Roberto Alexandre Moreira – Funcionário do gabinete do relator da CPI,

Coffy Rodrigues. Teria buscado, em Santa Cruz, doações de empresas fumageiras, que

abasteceram o caixa dois da campanha tucana.

Na construção de medidas para aprimorar o sistema de fiscalização e controle

do Estado

1 - Adriano Raldi – Procurador da República, integrante da força-tarefa das

Operações Rodin e Solidária.

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2 - Luciana Maria Ribeiro Alice – Promotora de Justiça, responsável pelo

inquérito e processo contra a empresa Atento Service.

As ações da presidência para enfrentar o boicote da base aliada

Frente ao anunciado boicote da base do governo, materializado pelo plano de

trabalho da relatoria, que não previa a produção de nenhuma prova, a presidenta da CPI,

Stela Farias, tomou uma série de iniciativas com o intuito de fazer as investigações

avançarem:

1 - Requereu à Justiça Federal de Santa Maria cópias do processo criminal da

Operação Rodin e da ação civil pública ajuizada contra a governadora Yeda Crusius, seu

marido Carlos Crusius, sua secretária pessoal Walna VIlarins e o deputado federal José

Otávio Germano, entre outros;

2 - Solicitou ao Tribunal Regional Federal o compartilhamento de provas constantes

no inquérito policial da Operação Solidária, o que foi fundamental para a análise dos fatos

a serem investigados;

3 - Todos os processos foram depositados na secretaria da CPI, sendo

estabelecidas regras de preservação de sigilo. A apresentação do material sob sigilo

ocorreu em sessões fechados só com a presença de deputados. Os parlamentares da base

do governo – PSDB, PP, PMDB, PTB e PPS – negaram-se, na sua maioria, a comparecer a

estas audiências, assim como se negaram a considerar estes processos como provas,

alegando que foram obtidos de forma “ilegal”. No entanto, as provas foram solicitadas

pela Presidente da CPI com a concordância de deputados do PT, PDT, PC do B e DEM com

o objetivo de dar andamento aos trabalhos da comissão. Evidentemente que a decisão de

compartilhar as provas foi tomada pelo Poder Judiciário, que poderia, sem

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constrangimentos, negar o acesso a elas. Ao contrário, todos os juízes e desembargadores

que trataram do caso entenderam absolutamente pertinente compartilhar as provas, uma

vez que é isso o que determina a Constituição, ou seja, investigar.

Neste sentido, é pertinente lembrar o parecer do procurador-geral da Assembléia

Legislativa em despacho no expediente referente à CPI da Corrupção:

“Deve ser apontado, ainda, que todos os Parlamentares integrantes de uma CPI

continuam detentores de todos os poderes a eles conferidos pelo texto

constitucional, podendo invocar, por exemplo, sua condição de Parlamentar para

obter informações de repartições públicas. Por outro lado, quando essa

informação for sigilosa e não puder ser obtida diante do poder tradicional dos

Parlamentares, aí sim é que será necessária a força constitucional especial das

CPIs, a qual necessidade de decisão colegiada para sua aprovação.”

IV.Boicote intencional a função constitucional da CPI

“retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato

de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de

lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.”

(art. 319 do Código Penal)

Prevaricação” vem do latim praevaricatio, significando aquele que anda

obliquamente ou desviado do caminho direto. No sentido figurado, definia a conduta de

quem, tomando a defesa de uma causa, favorecia a parte contrária. Porém, o conceito se

ampliou e passou a denominar todo aquele que se torna infiel ao próprio cargo.

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Segundo o jurista Magalhães Noronha, a prevaricação consiste na infidelidade ao

dever de ofício, à função exercida. É o ato de não realizar conduta obrigatória, através de

não cumprimento ou retardamento.

As atitudes do Deputado Coffy Rodrigues, relator desta CPI chegam perigosamente

perto desta definição, já que ele, deliberada e propositadamente, deixou de executar o

que o dever de ofício lhe impunha.

O relator da CPI não é relator dele mesmo, mas sim da comissão. E não é relator

da maioria da Comissão, como atropeladamente quis fazer crer, mas sim das provas

colhidas na Comissão sobre os fatos que constam no requerimento. Relatar é

transcrever, resumir, dar sentido lógico. E são cinco fatos que deveriam ser relatados,

todos encadeados com a lógica de pagamento de propinas, agenciamento de favores e

fraudes em obras e licitações, caixa dois e valores mal havidos. O trabalho por ele

apresentado, porém pasa ao largo dos fatos, mistura ficção com teoria conspiratória e não

apresenta os casos, e sim desculpas.

O objetivo do relator foi um só: impedir a CPI de funcionar, barrar a convocação

de testemunhas e, acima de tudo, evitar que a população gaúcha tivesse conhecimento,

através dos trabalhos da comissão, do maior escândalo de corrupção a envolver membros

do governo do Estado. E tudo isso nutrido pelo sentimento pessoal e político de proteger

membros de partidos políticos aliados com o Governo do Estado, satisfazendo, assim o

desejo pessoal de que fala o art. 319 do Código Penal .

O Relator, mesmo não assinando o Requerimento de instalação da CPI, poderia ter

lido, logo após o rol de fatos determinados, o objetivo da Comissão:

Os fatos acima narrados apontam fortes indícios de improbidade administrativa e

de crime de responsabilidade, sem prejuízo da apuração de irregularidades

administrativas de competência desta Casa, objetivando-se com esta Comissão

Parlamentar de Inquérito, dar cumprimento efetivo à missão constitucionalmente

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atribuída a Assembleia de fiscalizar os atos da Administração Pública e propugnar

pelo bem da comunidade Rio-grandense...

Mas ele tampouco leu o requerimento de instalação da CPI que se propunha a

relatar. Tanto que a fls. 52 de seu relatório escreveu:

“Como se sabe, o requerimento de CPI apresentou como provas irrefutáveis, a

versão de que existiria no Estado um: “(...) imenso esquema de corrupção,

envolvendo pessoas e partidos, no sentido de se apropriarem do dinheiro

público para financiamento privado de seus interesses”.

Mas isto não consta no Requerimento da CPI, não estando escrito em lugar algum.

Bastara ler as suas duas páginas.

O próprio Plano de Trabalho por ele apresentado é um retrato desta vontade de

não investigar. Neste documento apresentado em 1º de setembro propunha, entre

outras coisas que:

“Nessa medida, propõe o plano de trabalho, face o modo genérico como deduzido

no requerimento inicial e a clara orientação de que os poderes da CPI não são universais,

se defina preliminar e objetivamente quais os fatos (ou o fato) são objeto de investigação

por parte da Comissão”.

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Ou seja, pretendia modificar, pelo plenário da própria CPI, os fatos a serem

investigados, mesmo que os cinco deduzidos no requerimento fossem absolutamente

claros, identificando no tempo e no espaço o que deveria ser por ele relatado.

A demonstração mais cabal de que o relator, alicerçado por uma confortável

maioria política sabotou propositadamente a CPI, é que não apresentou nenhum tipo de

prova, nenhum documento a ser requisitado, nenhuma testemunha relevante a ser ouvida

sobre os fatos relativos a Operação Solidária, ao caso das Barragens, das obras de

saneamento, aos indícios de fraudes e pagamento de propinas. Nem no seu decantado

“plano de trabalho” (que era um mero plano de contingência para a investigação

parlamentar) nem em requerimentos posteriores.

E mais, chegou a ajuizar mandados de segurança para impedir a investigação

(devidamente negado pelo Poder Judiciário) e requerer que os documentos legitimamente

obtidos junto a Justiça Federal fossem devolvidos.

Tais atos materializam um profundo desrespeito pela função assumida, e uma

quebra do dever ético do parlamentar, além de cometer, em tese, crime de prevaricação,

sugerindo-se que sejam realizadas representações específicas ao MP e a Comissão de

Ética Parlamentar desta Assembleia Legislativa.

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V. PARTE II – OS FATOS APURADOS

A) A dívida cobrada pela Atento Service

Dos seis fatos determinados que constam no requerimento inicial como objetos de

investigação da CPI da Corrupção, só o relativo à ingerência política no Detran foi tema de

oitivas. O item 4 do requerimento de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito

previa a investigação sobre “a interferência irregular de agentes públicos ou particulares

na gestão do Detran, e que culminaram com a exoneração - a pedido - de sua presidenta,

delegada Estella Maris Simon, cuja motivação vincula-se a um passivo financeiro não

admitido pela mesma, sendo este porém, ratificado de imediato pela senhora

governadora. A suposta credora, empresa Atento Ltda, cobrou a liquidação do débito da

Secretaria de Transparência do governo estadual, revelando uma anomalia administrativa

que precisa ser esclarecida, sendo o pagamento sustado mediante óbice do Tribunal de

Contas do Estado do Rio Grande do Sul.”

Maioria na Comissão Parlamentar de Inquérito, a base aliada aprovou a convocação

do presidente do Detran, Sérgio Filomena, dos ex-presidentes da autarquia Sérgio

Buchmann e Estella Máris Simon, do ex-secretário adjunto de Administração Genilton

Ribeiro e do proprietário da empresa Atento Service, Gilmar Schwank Justo. Além disso,

aprovou acareação entre Buchmann e Ribeiro para esclarecer contradições entre as

versões apresentadas pelos dois depoentes.

A base governista não permitiu, no entanto, a convocação de outros três agentes

públicos, considerados fundamentais para apurar a prática de ingerência política na

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autarquia: os ex-presidentes do Detran Carlos Ubiratan dos Santos e Flávio Vaz Neto e o

ex-secretário da Transparência Carlos Otaviano Brenner de Moraes.

Conhecido como Bira Vermelho, Santos foi presidente do Detran durante o governo

Germano Rigotto, quando a fraude que desviou mais de R$ 40 milhões da autarquia teve

início. Indicado por José Otávio Germano, Santos é apontado por alguns como o

verdadeiro proprietário da empresa Atento Service.

Flávio Vaz Netto sucedeu Carlos Ubiratan dos Santos na direção do Detran a partir

de 2007. Também ligado ao deputado federal José Otávio Germano, Vaz Netto foi flagrado

diversas vezes pelas escutas telefônicas da PF tratando da arrecadação e da divisão da

propina oriunda da fraude na autarquia.

Já Carlos Otaviano Brenner de Moraes teria exercido pressão sobre ex-dirigentes do

Detran para o pagamento da dívida indevida cobrada pela Atento Service.

Primeira a depor na CPI da Corrupção, no dia 5 de setembro de 2009, a delegada

Estella Maris Simon, ex-presidente do Detran, confirmou que integrantes do primeiro

escalão do governo teriam intermediado interesses da empresa Atento, que cobrava

créditos do Estado no valor de R$ 16 milhões. O passivo foi contestado pela Contadoria e

Auditoria Geral do Estado, Procuradoria Geral do Estado e Tribunal de Contas do Estado,

além de ser objeto de inquérito no Ministério Público Estadual.

A origem da suposta dívida seria o depósito de veículos considerados isentos, ou

seja, os que se enquadram nas categorias de roubados, acidentados e os envolvidos em

ações judiciais, recolhidos pela polícia ou por determinação do Poder Judiciário. Os

proprietários destes veículos não pagam as taxas de recolhimento e nem as diárias dos

veículos nos depósitos. O Rio Grande do Sul vem desembolsando cerca de R$ 6 milhões

por ano para todos os depósitos do Estado por conta dos veículos isentos.

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A cobrança do controvertido passivo provocou a demissão dos dois ex-presidentes

citados acima, que antes da saída do governo tentaram buscar uma solução emergencial

para romper com a Atento e abrir processo de licitação para a execução do serviço. As

tentativas, como se verá, geraram forte reação de integrantes do primeiro escalão do

governo e foram o estopim para a exoneração dos dois últimos titulares da autarquia.

Em seu depoimento à CPI da Corrupção, a delegada Estella Máris Simon relatou

que, na manhã do dia 31 de março de 2009, foi procurada pelo advogado da Atento, dr.

Lia Pires, pelo proprietário da empresa, Gilmar Schwanck, e pelo advogado Flávio Pires

para tratar da questão da suposta dívida.

“Eu falei que, dentro das discussões, que não existia dívida nenhuma, que não

tinha conhecimento, que não sabia do que se tratava e que não concordava com

aquilo. E aí o dr. Flávio Pires disse que era importante a gente discutir e ver como é

tratada aquela questão, porque senão haveria de se buscar a via judicial, ao que

respondi que já deveria ter sido providenciado, porque o tempo que se perdia ali

com discussões a ação já poderia estar tramitando.” (Depoimento prestado à CPI

em 5/10/2009. Folha 44)

Na mesma tarde, a depoente se reuniu com a governadora Yeda Crusius, com o

chefe de gabinete Ricardo Lied e com o então secretário da Transparência Carlos Otaviano

Brenner de Moraes. Conforme a ex-presidente do Detran, o fato ocorrido pela manhã foi

relatado à governadora, que teria afirmado:

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“Quer dizer que você falou para eles pra entrar na Justiça e que era assim que se

resolveria o problema? Se foi isso que você decidiu, está bem decidido. Que

discutam em juízo, que digam o que eles acham, e o Estado vai se defender. Não

se paga. Deixa o juiz....a Justiça resolver.” (Depoimento prestado à CPI em

5/10/2009. Folha 46)

A partir do sinal verde dado pela governadora, a titular do Detran deu andamento à

intenção, já expressa ao assumir o cargo, de buscar uma alternativa de espaço para

estabelecer o chamado “pátio legal do Detran”. Em seu depoimento ao Ministério Público

Estadual, em 11 de junho de 2009, confirmado à CPI, Estella Máris Simon afirmou que:

“...solicitou a cedência do terreno onde seria construída a sede do IGP ao

secretário de Segurança. O secretário Carlos Otaviano se contrapôs ao pedido,

dizendo que o Detran deveria pagar a Atento R$ 2 ou R$ 3 milhões, para que a

Atento tivesse condições de manter o contrato. Carlos Otaviano afirmou que a

depoente estaria envolvendo outras secretarias e afirmou ter conversado com o

advogado da Atento para tentar uma solução administrativa e amigável. A

depoente ponderou que era estranho o secretário ter sido procurado pelo

advogado da Atento, pois havia agendado contato com Flávio Pires e conversado

com ele no dia anterior sem que tivesse sido informado qualquer contato com o

secretário da Transparência. Indagado sobre qual advogado o teria procurado,

Carlos Otaviano informou que teria sido Ricardo, filho de um procurador amigo

seu.” (Trecho do depoimento prestado ao MPE)

A decisão de utilizar a área destinada à construção do novo prédio do IGP foi

comunicada pela delegada em uma reunião de secretários de Estado que, segundo Estella,

apoiaram a medida. Ainda de acordo com o depoimento da ex-presidente do Detran à CPI

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da Corrupção, o secretário da Transparência teria reafirmado que, como advogado,

pensava diferente, mas acabou rendendo-se à decisão.

No entanto, os fatos que se sucederam mostram que o então secretário da

Transparência agiu para que o contrato com a empresa não fosse rompido. A depoente

confirmou à CPI da Corrupção que Carlos Otaviano Brenner de Moraes determinou o

cancelamento da operação deflagrada de transferência temporária dos veículos para o

pátio da SSP, afirmando que a ordem partiu da própria governadora. A decisão foi

comunicada à ex-presidente do Detran por telefone no dia 31 de março de 2009 e,

posteriormente, ratificada por meio de um torpedo telefônico, que partiu do aparelho do

ex-secretário da Transparência:

“Prezada presidente do Detran, conforme orientação que lhe foi repassada em

telefonema nesta noite, por determinação da sra. governadora deve ser revogada

a ordem de remoção dos veículos apreendidos para o prédio da Secretaria de

Segurança, mantendo-se a situação atual. Além de não ter passado pelo exame

do governo, tal ordem, sendo posta em prática, acarretará transtornos na

circulação no centro da cidade e à própria rotina das instalações da Secretaria de

Segurança. Cordialmente, Carlos Otaviano Brenner de Moraes, secretário de

Estado”. (Depoimento prestado a CPI em 5/10/2009. Folha 73)

O episódio precipitou a exoneração da delegada do comando da autarquia. Na

madrugada do dia 1 de maio, Estella Máris Simon enviou um e-mail à governadora do

Estado dizendo que:

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“paralelamente às tratativas com a direção da autarquia, a Atento, por seus

advogados e proprietários tentava, por intermédio de outros secretários, resolver

a situação do modo que lhe era mais conveniente, desconsiderando o interesse

público em benefício do privado. Quando se aperceberam de que a direção não

cederia, apelaram ao amigo no governo, que por certeza lhe apresentou os fatos,

sob a sua ótica. E assim chegamos a situação atual, quando o Sr. Secretário

Otaviano, em seu nome, manda que o Detran cancele o plano de contingência

adotado, sob o argumento pífio de que havia transtornos no pátio da SSP e no

centro da cidade. Como isso seria possível se o senhor Secretário da SSP, não só

participou de reunião, onde também estavam representantes da prefeitura de

Porto Alegre, como concordou e autorizou a utilização da área da SSP. Também

estive todo o tempo até as 4hs. Acompanhando as operações de guincho e não

ocorreu nenhum transtorno. A quem interessa a permanência da Atento na

verdade?”

Além da interferência direta do secretário da Transparência, houve, segundo Estella

Máris Simon, tratativas entre a Atento e a Secretaria de Administração, órgão com o qual

representantes da empresa tiveram uma reunião para sobre a questão da dívida.

A depoente relatou também que sofreu boicote do comandante da Brigada Militar,

João Carlos Trindade, quando resolveu utilizar o pátio da SSP para transferir veículos

recolhidos. Trindade era diretor do Departamento de Inteligência da Secretaria de

Segurança na época em que a Atento foi contratada, durante a gestão de José Otávio

Germano na secretaria e de Carlos Otaviano de Moares como secretário adjunto.

Em depoimento prestado à CPI da Corrupção, o sucessor de Estella Máris Simon a

frente do Detran, Sérgio Buchmann, também admitiu que recebeu ordem do então

secretário da Transparência para renegociar a dívida com a Atento. O ex-presidente

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afirmou à comissão de inquérito que comunicou ao secretário que não seria possível pagar

a dívida, pois a relação jurídica entre o Estado e a empresa já estava extinta.

Ao dar posse a Buchmann, a própria governadora afirmou publicamente que “se há

uma dívida, esse é um governo que honra seus compromissos e, se existir a dívida, nós

vamos pagar”.

Segundo ele, no dia em que foi empossado, Estella Máris Simon alertou que “ele

(Buchmann) teria vindo para pagar o débito alegado pela empresa”.

O próprio Buchamann, um mês após suas posse afirmou:

“Olha a minha situação e o meu passado. O governo declara que existe um

passivo e que esse governo honra suas dívidas, e o Sérgio Buchmann assume. O

que as pessoas interpretam em cima disso? Desde o primeiro dia fiz questão de

declarar que essa dívida (de R$ 16 milhões) não existe. Esse valor foi tirado da

lua.” (ZH de 30.05.09)

À comissão parlamentar de inquérito, Buchmann admitiu que recebeu um prazo da

governadora para resolver o problema do débito. “Sempre defendi que não fosse efetuado

nenhum pagamento não previsto pela legislação própria dos Detrans. Seria uma

leviandade”, frisou o depoente aos deputados integrantes da CPI.

Dias antes de assumir, quando ainda ocupava o cargo de secretário adjunto de

Planejamento, Buchmann foi informado por Carlos Otaviano Brenner de Moraes que a

governadora havia determinado a renegociação do contrato com a Atento.

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“No dia 4 de maio, o Dr, Otaviano aporta na minha sala, no meu gabinete de

secretário adjunto de Planejamento com dois advogados, um deles o dr. Oswaldo

Lia Peires e o outro, dr. Flávio, e me diz o seguinte: viemos do 21º andar; saímos

de uma reunião. Estivemos com a governadora e a governadora determinou que

se negociasse o contrato com a Atento”. (Depoimento prestado à CPI da

Corrupção em 5/10/2009. Folha 254)

Buchmann afirmou à CPI que não havia como renegociar o contrato, pois “já estava

extinta a relação jurídica da Atento, na prestação de serviços. Eles só tinham a

responsabilidade patrimonial dos carros que lá ainda estavam no depósito, mas não

poderiam prestar mais nenhum serviço diverso desse.” (Depoimento à CPI em 5/10/2209.

Folha 282)

Mais adiante, o depoente esclareceu que a guarda de veículos é regida por lei

específica:

“É um instrumento jurídico específico com regras exclusivas, próprias, que só se

indeniza depois que sai do depósito. Ponto. E não quando o inquilino está lá

dentro, que é o carro. Não se paga por isso. Essa é uma regra nacional, isso vem

da própria legislação do Código de Trânsito Brasileiro, das portarias do Denatran,

CONTRAN e as próprias do Detran, que estão em acordo com isso.” (Depoimento

à CPI em 5/10/2009. Folha 289)

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Em seu depoimento, Buchmann narrou, ainda, a visita que recebeu de Ricardo Lied,

chefe de gabinete da governadora, um dia depois que o ex-presidente do Detran publicou

uma portaria descredenciando a Atento. O pretexto da visita, segundo o depoente, seria

para avisá-lo de que o seu filho seria preso por tráfico de drogas. Lied, conforme o

depoente, sugeriu que ele (Buchmann) ligasse para pedir ao filho que franqueasse a

entrada de policiais em sua residência.

O ex-presidente do Detran desconfiou que se tratasse de uma cilada e atribuiu o

fato, entre outras coisas, à iniciativa da direção da autarquia de instituir um pátio público

na Secretaria de Segurança para abrigar veículos apreendidos, de forma semelhante à

medida adotada por sua antecessora.

De acordo com Buchmann, depois de a área ter sido cedida e terraplanada, o

secretário da Segurança, Edson Oliveira Goulartem indeferiu o uso do pátio. Uma série de

fatos inexplicáveis, conforme o ex-presidente da autarquia, antecederam a visita de Lied à

sua residência. A questão do pátio seria uma delas.

“Teve um fato inexplicável até hoje. Não tive explicação. A gente viu que o

primeiro pátio, esse lá que estava sob a nossa responsabilidade, estava lotado...

Nós tínhamos que fazer um outro, que era dentro do próprio ambiente lá da

Segurança, mas num lado exatamente oposto, na parte norte, lá. E nós, através

do diretor administrativo entramos em contato com o administrativo da

Segurança Pública para que fizéssemos lá uma terraplanagem para o eventual

uso, porque até lá não teríamos ainda as credenciadas, e o risco de lotar o

primeiro e não ter solução para o resto era grave.

Dia 16 eu subscritei uma correspondência à diretora-geral da Segurança Pública.

E isso foi um telefonema do diretor administrativo da Segurança para o nosso

diretor dizendo: só formalize, tá ok – a máquina retroescavadeira fazendo o

serviço de terraplanagem para poder dar acesso àquele pátio lá, que era uma

área de matagal.

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E aí, no dia 22, quando estourou, nos fomos usar o pátio, houve a ordem, chegou

uma correspondência à minha mesa, à tarde do dia 22 de maio, dizendo que de

ordem do senhor secretário, que é o da Segurança Pública, o pleito estava

indeferido, ou seja, não estava autorizado o uso desse pátio emergencial, o

segundo.” (Depoimento prestado à CPI em 5/10/2009. Folhas 294 e 295)”.

“Isso aí foi uma longa novela naquele dia, porque eu tinha que resolver naquele

dia, porque os guinchos já estavam chegando com carros e tinha que botar ali.

Nós já tínhamos feito a terraplanagem, era de pleno conhecimento deles, né. O

que aconteceu foi o seguinte, eles botaram uma corrente com cadeado naquele

portão e atravessaram uma retroescavadeira no portão ainda com a pá fincada

no chão. Quer dizer, eu não podia nem puxar a retroescavadeira sob pena de o

andaime virar, etc “. (Depoimento prestado à CPI em 5/10/2009. Folhas 253).

O ex-presidente relatou que, depois deste episódio, foi informado pelo então chefe

da Casa Civil Alberto Wenzel que a governadora iria atender às reivindicações do Detran -

nomeações, prorrogação por mais seis meses dos contratos emergenciais, autorização

para a contratação de 170 examinadores, nova matriz salarial com produtividade,

regimento interno -, mas que ele (Buchmann) teria que cumprir a sua missão.

“Falei com a governadora, a governadora disse duas coisas: tu terás todo o

pacote, né, mas tu tens que cumprir a missão primeiro.” (Depoimento prestado à

CPI em 5/10/2009. Folha 265)

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O proprietário da empresa Atento, que também depôs na CPI da Corrupção,

revelou que “houve promessas do governo” para equacionar o problema da dívida e que

participou de reuniões com integrantes do Executivo e com a própria governadora para

tratar do assunto. Uma destas reuniões ocorreu, segundo Estella Máris Simon, no mesmo

dia em que o contrato com a Atento foi rompido.

Buchmann revelou à comissão parlamentar de inquérito que o verdadeiro

proprietário da empresa Atento Service é o ex-presidente do Detran Carlos Ubiratan dos

Santos. A informação, segundo Buchmann, partiu do ex-secretário adjunto de

Administração Genilton Ribeiro.

“E tu sabes muito bem de quem é a Atento, né? A Atento é do Bira Vermelho, e

tu sabes quem é que está por trás do Bira Vermelho, que é o José Otávio

Germano.” (Depoimento prestado à CPI em 5/10/2009. Folha 232)

A delegada Estella Máris Simon admitiu, em depoimento, que também “ouviu falar”

que a empresa seria de propriedade de Bira Vermelho (Carlos Ubiratan dos Santos).

Fica claro, a partir dos depoimentos, que tanto Estella Máris Simon como Sérgio

Buchmann sofreram forte pressão do ex-secretário de Transparência para pagar a

controvertida dívida com a Atento. Também fica evidente que ambos foram demitidos

porque se negaram a resolver o impasse com a prestadora de serviços.

Além disso, pode-se perceber a existência de um núcleo de pessoas no governo,

que atuaram de forma muito próxima ao ex-secretário de Segurança Pública José Otávio

Germano, e que continuaram, na atual administração, exercendo ingerência política no

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Detran. Neste grupo, têm destaque Carlos Otaviano Brenner de Moraes; o advogado da

governadora, Fabio Medida Osório, que também atuou como secretário adjunto da SSP; e

o comandante da BM, João Carlos Trindade.

Conversa com Genilton

No depoimento à CPI, Buchmann relatou uma conversa que manteve com o ex-

secretário adjunto de Administração Genilton Ribeiro, cujo teor tem relação com os itens 3

e 5 do requerimento de instalação da CPI, que tratam das “revelações públicas da viúva

de Marcelo Calvalcante, Magda Koenigkan, apontando para existência de irregularidades

financeiras, com a ocorrência de crimes conexos com a campanha eleitoral de 2006. Neste

contexto, insere-se a aquisição de imóvel cujo preço informado é discrepante de seu valor

de mercado, além do que, conforme afirmou Magda, a origem dos recursos para o

pagamento carecem de procedência plausível” (item 3). Também tem relação com “as

afirmações da deputada federal Luciana Genro e do vereador de Porto Alegre Pedro Ruas,

em entrevista coletiva do dia 19 de fevereiro de 2009, de que existem provas

documentais, áudios e vídeos que comprovam crimes ocorridos no seio da Administração

Publica do Estado, e que estariam em poder do Ministério Público Federal, integrando uma

delação premiada de Lair Ferst.” (item 5)

Buchmann reafirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito o conteúdo do

depoimento que prestou ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal em agosto deste

ano. Segundo o ex-presidente do Detran, Ribeiro solicitou uma conversa na qual ordenou

que ele (Buchmann) “calasse a boca” e não falasse mais com a imprensa sobre os

problemas do Detran.

De acordo com o depoente, Ribeiro afirmou, ainda, que a governadora Yeda

Crusius estava sendo chantageada pelo ex-marido Carlos Crusius, por Flávio Vaz Neto,

também ex-presidente do Detran, e pelo empresário Lair Ferst.

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“Buchmann tu conheces o meu estilo. Vou ser direto contigo. Fica quieto, não fala

mais com a imprensa. Daí que começou essa história que vou passar a narrar

novamente, porque já está no depoimento da Polícia Federal, onde ele diz que, se

a governadora sabia, ele diz que a governadora estava sendo chantageada. Eu

disse: Mas por quem? E aí ele disse: Lair, Carlos Crusius e Flávio Vaz Neto”

(Depoimento do dia 5/10/2009. Página 231).

Conforme Buchmann, o ex-secretário adjunto teria fornecido detalhes sobre a

divisão dos dividendos da fraude do Detran: 24% do movimento financeiro gerado pela

terceirização dos serviços da autarquia, via fundações, seria dividido entre Lair Ferst, que

receberia 12%, e os demais participantes do esquema, que ficariam com percentual

idêntico. Após a troca das fundações no começo do governo Yeda, Carlos Crusius teria

alterado a partilha, ficando junto com a governadora com 11% e reservando apenas 1%

para Ferst.

“...Mas ele disse que havia uma divisão, que, quando o governo Crusius assumiu,

o Carlos Crusius foi ao encontro do Lair e disse que mudaria, agora, a divisão,

que aí ele falou no percentual de 24%, 12 eram não sei pra quem, e 12, segundo

ele, era o que o Lair tinha de rendimento ali. Passaria, agora, a ser um para o

Lair, e 11% para o casal Crusius, e que 70 mil para o Lair estaria bom. Dá pra

fazer a conta disso, uma regra de três simples.” (Depoimento prestado em

5/10/2009. Folha 231)

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O conteúdo do depoimento de Buchmann é confirmado por interceptações

telefônicas feitas pela Polícia Federal em que pessoas ligadas à fraude do Detran

comentam a divisão da propina, como Lair Ferst, Flávio Vaz Neto e Marcelo Cavalcante,

morto no início do ano em circunstâncias ainda não explicadas.

A acareação entre Buchmann e Ribeiro na CPI mostrou que, pelo menos em uma

ocasião, o ex-secretário adjunto da Administração mentiu. Um dos pontos de divergência

entre os dois depoimentos dizia respeito à data da conversa. Enquanto Buchmann

sustentava que o encontro aconteceu no dia 1º de junho de 2009, o ex-secretário dizia

que a reunião ocorreu uma semana antes, no dia 25 de maio, e foi motivada por

reportagens sobre o Detran publicadas na imprensa gaúcha. A versão de Ribeiro, no

entanto, foi desmontada pelo deputado Daniel Bordignon (PT) que, munido das matérias

jornalísticas, mostrou que as reportagens às quais o ex-secretário se referia foram

publicadas no fim de semana que antecedeu a data indicada por Buchmann. Portanto, se

as matérias foram a motivação da conversa, como sustentou o ex-secretário, está claro

que ele (Ribeiro) faltou com a verdade, pois as reportagens foram publicadas quase uma

semana depois da data que ele próprio indicou.

O desempenho de Ribeiro na acareação teria precipitado sua saída da Secretaria da

Administração.

ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES

Carlos Otaviano Brenner de Moraes

Governadora Yeda Crusius

Como visto, em 04 de maio a delegada Estela Maris Simon exonerou-se do cargo de

Diretora-Presidenta do DETRAN/RS, face a discordar frontalmente da manutenção dos

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serviços da empresa Atento Service e Logística Ltda., responsável pela remoção e depósito

de veículos da capital, assim como da cobrança de uma pretensa dívida de mais de R$ 16

milhões.

Dias antes, no final do mês de abril, a delegada determinou a remoção dos veículos

por outras empresas, e o depósito dos veículos em prédio público.

A dívida cobrada, no valor de R$ 16.238.179,79, é uma cobrança unilateral da

empresa, eis que não era reconhecida pela autarquia.

O secretário da Transparência, Carlos Otaviano Brenner de Moraes, enviou uma

mensagem SMS para o telefone celular da delegada Estella Maris Simon, na noite de 30 de

abril, determinando, sob ordens da governadora, que não fosse rompido o contrato com a

empresa Atento e que fosse abortado o plano de contingência do Detran, que previa o uso

do pátio da Secretaria de Segurança em substituição ao da Atento.

A presidenta do Detran pediu que ele enviasse a ordem por escrito, o que não

aconteceu. Em e-mail, porém, expôs os reais motivos de sua demissão, e o principal é a

interferência do então secretário Carlos Otaviano mandando cancelar a ordem do DETRAN

e rever a contratação da Atento e a dívida. Otaviano, segundo a delegada, seria “o amigo

do governo” da empresa de guinchos.

Disse também neste e-mail para a governadora: “A Sra. declarou, buscou, exigiu ‘o

pátio legal’ e quando está na iminência de consegui-lo, dá uma contra-ordem”.

É evidente que o Sr. Carlos Otaviano Brenner de Moraes, na função de secretário

de Estado da Transparência, fora das atribuições legais determinadas pela Lei 13.115, de

23 de dezembro de 2008, atuou de forma propositiva e possivelmente em unidade de

desígnio com representantes e advogados da empresa Atento, no sentido de manter o

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contrato já ilegalmente em execução e, não apenas isto, mas também para que o Estado

reconhecesse a dívida, realizando seu pagamento.

A tentativa materializa-se ainda na abertura do expediente 3108-08.01/09-9,

visando a regularização das ditas pendências do DETRAN com a empresa ATENTO,

diretamente na Secretária da Transparência. Salienta-se que, ao que tudo indica, o valor

apenas não foi pago por recomendação do Ministério Público (06/2009 – PJDPP) e por

determinação expressa do Tribunal de Contas do Estado, atendendo a representação do

MPC 005/2009.

Posteriormente, o novo presidente do DETRAN, Sérgio Buchmann, teve os mesmos

problemas na criação do pátio legal, local para onde deveriam ser levados os veículos,

uma vez que ao iniciar os trabalhos descobriu que havia uma ordem para impedi-lo de

usar o imóvel, chegado-se a colocar um veículo pesado obstruindo o portão de acesso. O

mais grave, porém, é que descobriu que a ordem foi da própria governadora do Estado,

que estaria sabotando o sistema em implantação.

Acertadamente, nenhum dos dois ex-presidentes seguiu as ordens da governadora

e ocuparam, de qualquer forma, os espaços designados para depositar os veículos, o que

terminou por lhes custar o cargo.

A própria governadora do Estado, por sua vez, declarou publicamente reconhecer a

dívida contestada por todos os orgãos de contas, pelo MP, pelo Judiciário e pelo próprio

Detran. Privadamente, operou em duas órbitas: de um lado pagar a dívida ou parte dela,

e de outro impedir a continuidade dos serviços pelo próprio DETRAN, sem auxílio da

empresa.

Por interferir em ente da Administração Indireta, não ligada à sua secretaria, contra

a determinação expressa de sua diretora-presidente e por gestionar, defender ou pleitear

a favor da empresa Atento os interesses financeiros daquela junto ao núcleo decisório do

governo do Estado, forçando o reconhecimento da pretensa dívida não auditada e não

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reconhecida pela direção da autarquia Detran, e a prorrogar contratação já vencida em

definitivo, ao invés de encaminhar a demanda aos canais adequados, ou ao Poder

Judiciário, como fazem centenas de outros fornecedores de bens e serviços que tenham

diferenças econômicas com orgãos do Estado, o Sr. Carlos Otaviano Brenner de Moraes

cometeu, em tese, o crime tipificado como Advocacia Administrativa pelo Art. 321 do

Código Penal.

Por sua atuação como lobista, ao encaminhar demanda econômica de contratado

do Estado, contrariando o interesse de orgão da Administração, cometeu ato contra a

Probidade Administrativa, elencado na Lei 8.429, de 02 de junho de 1992.

Da mesma forma, a governadora do Estado, similarmente ao ocorrido na fraude do

Detran, tinha conhecimento da pretensa cobrança da dívida, da pressão e lobby exercido

por seu secretário de Estado e das opções do DETRAN para resolver o assunto. Porém, ao

reconhecer o débito, permitiu e auxiliou o secretário Otaviano em seu intento, chegando

mesmo a dar, por duas vezes, ordens para impedir o DETRAN de ocupar os espaços de

imóveis públicos previamente designados para implementar o depósito público (pátio

legal), o que geraria um verdadeiro caos na fiscalização e segurança de trânsito caso os

ex-presidentes Estela e Buchmann tivessem seguido tais ordens.

Assim também cometeu a Sra. governadora do Estado ato de improbidade,

devendo ser responsabilizada na forma do art. 11 da Lei 8.439/92:

DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATENTAM CONTRA

OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os

deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e

notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele

previsto na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

B- Operação Solidária e indícios de fraudes detectadas

Iniciada em 07 de novembro de 2007, um dia após as prisões da Operação

Rodin, a pedido do Procurador da República Adriano Raldi, para investigar uma

organização criminosa instalada à frente da administração municipal de Canoas/RS. Sob

comando dos delegados da Polícia Federal Eduardo Pereira e Thiago Machado Delabary, o

inquérito desvendou uma série de fraudes nas licitações da merenda escolar do município.

A investigação apurou outros fatos conexos, devido aos contatos frequentes de

Francisco Fraga – então secretário do prefeito de Canoas Marcos Ronchetti (PSDB) – com

empreiteiros e prestadores de serviços daquela cidade. Efetivamente, as interceptações de

telefonemas de Chico Fraga são indícios veementes de que as fraudes não se limitavam ao

já denunciado crime sobre a merenda escolar, mas atingia a prestação de serviços, obras

em rodovias, saneamento e irrigação.

A Polícia Federal, então, lançou mão de diversos meios que lhes são permitidos,

dentre os quais: interceptações telefônicas, captação de e-mails, quebra de sigilos

bancários, fiscais e financeiros.

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A investigação foi desmembrada e remetida ao Tribunal Regional Federal da 4ª

Região, em virtude dos alvos das investigações serem o secretário da Habitação, deputado

estadual Marcos Alba, o secretário da Irrigação e Uso Múltiplo das Águas, Rogério Porto e

o deputado Alceu Moreira, e para a Seção Judiciária Federal de Porto Alegre, para os

demais envolvidos sem foro privilegiado. Coube ao STF o processo dos dois deputados

federais, Eliseu Padilha e José Otávio Germano, também investigados.

Assim, o IP 2008.04.00.037805-6 da apuração solidária, com mais de 3500 folhas e

80 mil interceptações telefônicas, investiga :

1.Crimes de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos ou Valores Oriundos

de Corrupção (Lei 9.613/98, art. 1º, V e VIII)

2.Quadrilha ou bando (art. 288 do CP)

3.Corrupção passiva (art. 317 do CP)

4.Crimes da Lei de Licitações(Lei 8.666/93)

5.Corrupção ativa (art. 333 do CP)

Atualmente, está desdobrado em mais de vinte Inquéritos Policiais, cada

um com um alvo de investigação, entre os quais:

IP JURISDIÇÃO FATO PRINCIPAL2248/2008 1ª Vara Federal Criminal de

POA

Lavagem de dinheiro por agente público e

outros, oriundo de fraudes em obras, merenda

e execução do PSF, todos de Canoas/RS.236/2009 Vara Federal Criminal de

Canoas

Execução do PSF pela Administração de

Canoas

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247/2009 Vara Federal Criminal de

Canoas

Construção de heliponto no HPS de Canoas

248/2009 Vara Federal Criminal de

Canoas

Programa Pró-Canoas (macrodrenagem)

250/2009 Tribunal de Justiça do RS Obra Rodoviária RS 494 (Morrinhos-

Mampituba)253/2009 Vara Federal Criminal de

Canoas

Ingerência na Administração do HPS de Canoas

324/2009 TRF da 4ª Região Participação de empresários e agentes públicos

no direcionamento e favorecimento em

licitações das barragens de Jaguari e

Taquarembó.508/2009 TRF da 4ª Região Servidores fantasmas na Assembléia Legislativa647/2009 3ª Vara Federal Criminal de

POA

Atuação de empresas ligadas ao fornecimento

de alimentação escolar à rede de ensino de

Gravataí.

648/2009 TRF da 4ª Região Irregularidades em obras de saneamento em

municípios da Região Metropolitana realizadas

pela CORSAN837/2009 TRF da 4ª Região Repasse de valores para agente público por

empresa de engenhariaLRE 414/2009 STF Suspeita de participação de parlamentar

federal em procedimento da ANEEL para

habilitação de empresa privada em Centrais

Hidrelétricas.LRE500/2009 STF Suspeita de atuação de parlamentar federal em

favor de interesses de empresário e outros

fatos.

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Ações penais e de improbidade que já estão em andamento:

NA JUSTIÇA FEDERAL DE 1º GRAU

Processos Criminais:

AÇÃO PENAL – VARA FEDERAL CRIMINAL DE CANOAS

Em 24 de junho de 2008, o MPF denunciou diversos agentes públicos de Canoas

pela Fraude da Merenda, por: 1. Corrupção praticada por prefeitos e vereadores (DL

201/67, art. 1º, I e II) 2. Má gestão praticada por prefeitos e vereadores (DL 201/67, art.

1º, III a XXIII) e 3. Crimes da Lei de licitações(Lei 8.666/93)

Denunciados

MARCOS ANTONIO RONCHETTI

VALMIR RODRIGUES DOS SANTOS

ELOIZO GOMES AFONSO DURAES

VILSON DO NASCIMENTO

MARCOS ANTONIO GIACOMAZZI ZANDONAI

AÇÃO PENAL - 1ª VARA FEDERAL CRIMINAL - PORTO ALEGRE

Em 12 de agosto de 2009, o MPF denunciou Francisco Fraga e mais 18 pessoas

pelos crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, inclusive Neide Viana e os

sócios da empresa Magna Engenharia. A denúncia afirma que Francisco Fraga era peça

fundamental na engrenagem de corrupção. Ele é descrito como “prefeito de facto”,

tamanha a sua importância nas decisões políticas da municipalidade, em detrimento do

então prefeito Marcos Antônio Ronchetti. Os prejuízo aos cofres públicos são estimados

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em mais de R$ 10 milhões e os recursos ocultados seriam frutos de crimes no

fornecimento de merenda escolar, execução das obras de engenharia do projeto Pró-

Canoas, terceirização do programa Saúde da Família e da construção do Hospital de

Pronto Socorro Nelson Marchezan.

Denunciados

FRANCISCO JOSÉ DE OLIVEIRA FRAGA

NEIDE VIANA BERNARDES

LUIZ ULYSSES PINTO BENITES

EDGAR HERNANDES CÂNDIA

EDGAR HERNANDES CÂNDIA FILHO

ADEJALMO FIGUEIREDO GAZEN

ROSANIA MAXIMIANO

DONIZETI JOSÉ DOS SANTOS

MARCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA FRAGA

ILDO RONALDO SEROLLI

NEIVA ALEXANDRINO SCHILIEPER

JOÃO RODOLFO SCHILIEPER

CLÁUDIO ERNESTO BONATI GRASSI

JORGE ARMANDO DE OLIVEIRA FRAGA

HELENARA FREITAS SOBRAL

ARTHUR MARTINHO SOBRAL

PAULO CESAR MARTINS DA SILVA

ANTONIO CARLOS CAVALHEIRO DE OLIVEIRA

LINEU MENDES SILVA

AÇÃO PENAL - 1ª VARA FEDERAL CANOAS - PORTO ALEGRE

Especificamente quanto à fraude da merenda escolar de Canoas, a Procuradoria da

República em Canoas, através do Procurador Adriano Raldi, apresentou em 20 de

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novembro de 2009 nova denúncia criminal. Foram denunciadas 13 pessoas por fraude à

licitação, formação de quadrilha e corrupção ativa e passiva, entre as quais o ex-prefeito

Marcos Antônio Ronchetti, o ex-secretário de governo, Francisco José de Oliveira Fraga

(Chico Fraga), e o ex-secretário de Educação Marcos Antônio Giacomazzi Zandonai. Os

demais denunciados são ligados às empresas SP Alimentação e Gourmaitre Cozinha Ind. e

Refeições. Somente este esquema seria responsável por um desvio dos cofres públicos de

quase R$ 5 milhões.

DENUNCIADOS

MARCOS ANTÔNIO RONCHETTI

FRANCISCO JOSÉ DE OLIVEIRA FRAGA (CHICO FRAGA)

MARCOS ANTÔNIO GIACOMAZZI ZANDONAI

ELOÍZO GOMES AFONSO DURÃES

VALMIR RODRIGUES DOS SANTOS

VILSON DO NASCIMENTO

CARLOS ROBERTO MEDINA

GENIVALDO MARQUES DOS SANTOS

CIBELE CRISTINA DOS SANTOS

POLYANA HORTA PEREIRA

ESTÉLVIO SCHUNCK

SILVIO MARQUES

EDIVALDO LEITE DOS SANTOS

Processos Cíveis:

Duas Ações Civis Públicas foram ajuizadas para recompor os danos oriundos das

fraudes em licitações, na JF de Canoas

1.2007.71.12.005828-4 - Referente à merenda em Canoas (dez/ 2007) - Marcos

Ronchetti e mais 11 pessoas; e

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2.2008.71.12.004434-4 - Referente a Sapucaia (nov/2008) - Marcelo Machado e

mais 20 pessoas.

Modus Operandi comum

"Perde-se o Brasil, Senhor (digamo-lo numa palavra), porque alguns

Ministros de sua Majestade não vêm buscar o nosso bem, vêm cá buscar

os nossos bens."(Sermão, Padre Vieira, "apud", Raimundo Faoro, Os

Donos do Poder, Globo/POA, 1976).

Os fatos criminosos em obras e contratos públicos podem ocorrer de diversas

formas, mas envolvem sempre empresas privadas. Através, inicialmente, da formação de

cartéis, as quadrilhas dividem o mercado entre si para impor sua vontade e determinar os

preços à Administração Pública. Nos casos estudados, em que o alvo são os

procedimentos públicos de concorrência, onde um grupo de pretensos licitantes combina o

preço anterioriamente, fraudando assim o caráter competitivo do sistema de licitação. O

ganho que a Administração obteria com a competição acaba anulado pelo acerto

criminoso destes bandos.

Esta forma pode, ainda, contar com a cobertura política de agentes públicos

detentores de mandato ou poder de decisão que, invariavelmente, recebem valores pelos

serviços prestados irregularmente. E isto, quando configurado, além demonstrar o vulto

destas quadrilhas, incide no valor contratual das obras. Antes mesmo do lançamento de

uma licitação, os criminosos, através de seus contatos dentro da máquina pública,

definem o preço da obra, superfaturando-a. Então, mesmo no advento de uma

concorrência lícita, o desconto previsto não evitaria o prejuízo ao erário, muito menos o

enriquecimento ilegal por parte dos detratores.

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O setor público é largamente vitimado pelos cartéis, fornecedores de bens e

serviços à administração. A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça

estimou em R$ 40 bilhões ao ano o prejuízo à União, Estados e Municípios. Apenas em

insumos e obras, a administração pública brasileira contrata R$ 300 bilhões/ano. Estima-

se que R$ 100 bilhões estejam organizados em quartéis (Folha de São Paulo, 31.05.07).

Alguns sinais de cartelização entre os fornecedores de bens e serviços ao Poder

Público foram encontrados em todas as licitações analisadas:

a) Fornecedores já qualificados não apresentam propostas ou desistem,

inesperadamente, de participar da licitação;

b) Empresas que, apesar de qualificadas para a licitação, não costumam apresentar

propostas a um determinado órgão e/ou região, embora o façam para outro,

“regionalizando” as obras;

c) O rodízio entre vencedores das licitações, caracterizando o 'loteamento' das

contratações;

d) O valor das propostas se reduz significativamente quando um novo concorrente

entra no processo (provavelmente não integrante do cartel);

e) Licitantes vencedores subcontratam concorrentes que participaram do certame;

f) Licitantes que teriam condições de participar isoladamente de um certame

apresentam propostas em consórcio;

g) Propostas fictícias (usadas como coberturas simbólicas) aduzidas para dar a

aparência de competitividade:

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h) O uso de empresas “laranjas” para a que a divisão de obras não desperte a

atenção dos orgãos de fiscalização e controle. Utilizando o nome de uma outra empresa

do bando, uma mesma empresa pode realizar todas as obras de uma determinada área.

Além destes elementos apresentados, torna-se evidente que estas empresas

sozinhas, não poderiam engendrar fraudes nas licitações investigadas. De fato, em todas

aparecem três outras figuras fundamentais, tanto para dar viabilidade como para avalizar

os ilícitos cometidos:

1 - Os operadores públicos – Com poder para alterar editais, prazos, custos dos

serviços, realizar aditamentos e pagamentos, julgar recursos e determinar contratações

sendo fundamentais para o sucesso da ilicitude premeditada.

2 - Lobistas e empresários - assegurando as condições técnicas para que as

empresas, efetivamente, possam se beneficiar do esquema, sugerindo alterações e

aditamentos necessários, calculando o custo da fraude e realizando suborno, pagando

propinas e legalizando lucros ilícitos através da lavagem de dinheiro.

3 - Padrinhos políticos – pessoas com vínculos políticos nas estruturas de poder.

Seja por ligação política ou posição hierárquica sobre os operadores, estes são os avalistas

da operação, garantindo que as partes envolvidas cumprirão os acordos espúrios, assim

como propondo novos negócios ilegais e diversificamento das operações. São estas

pessoas com alto trânsito em todos os poderes, que permitem a perpetuação do crime,

uma vez que, usualmente, detêm imunidade parlamentar.

Do já exposto, verifica-se que este tipo de ilicitude enquadra-se como uma forma

de crime organizado. A doutrina jurídica a respeito identifica nas quadrilhas o feitio de

crime organizado quando presentes algumas características, como, por exemplo,

hierarquia organizacional; planejamento empresarial; estabilidade dos integrantes;

previsão de lucros; lavagem de dinheiro; venda de serviços ilegais; simbiose com o Estado

através da presença de atores estatais.

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Este último ponto, aliás, por ter o crime organizado sempre uma interface com o

Poder Público, prejudica a prestação de contas (accountability) das instituições. O Estado -

motivado pelas benesses providas pelas organizações criminosas- perde transparência e

passa a funcionar guiado pelos interesses dos chefes do crime.

B1 – Fato investigado Barragens Jaguari - Taquarembó

As investigações dos desvios ocorridos na prefeitura de Canoas acabaram

interceptando telefonemas que indicavam uma fraude muito superior às que ocorriam no

município gerido por Marcos Ronchetti. A fraude ocorreria em licitações de duas grandes

obras do “Programas Estruturantes” do Estado: as Barragens Jaguari e Taquarembó. Ela

envolveu agentes públicos, lobistas, secretários de Estado, deputados estaduais e

federais.

Este fato foi analisado com base no relatório da PGR nº 4374 e autos da

investigação da Polícia Federal acerca da Operação Solidária. Além disto, foram cruzados

com documentos oficiais do processo licitatório das referidas obras. Apresenta-se a

conclusão do cruzamento de dados acima citados para a compreensão do caso das

Barragens Jaguari – Taquarembó.

Esta obra trata da construção de duas barragens de irrigação, denominadas Jaguari

e Taquarembó, com previsão orçamentária de R$ 150.000.000,00 (cento e cinqüenta

milhões de reais), sendo que 70% dos investimentos fornecidos pela União, inseridos no

PAC, e os 30% restantes aportados pelo Tesouro do Estado. Tais obras estão afetas à

Secretaria Extraordinária da Irrigação e dos Usos Múltiplos da Água, cujo titular é

ROGÉRIO ORTIZ PORTO

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Os diálogos gravados pela PF incidiram sobre um empresário do ramo das

construções: Marco Antônio Camino, proprietário da MAC Engenharia. Suas conversas

tratam de diversos movimentos para a interferência nas licitações das duas obras

apontadas. E são nestas tratativas que se inserem os demais envolvidos.

Indícios de direcionamento do Edital

A primeira referência à obra, e por fim aos editais, ocorre em 18 janeiro de 2008,

citada pelo deputado federal Eliseu Padilha como “o negócio da Secretaria de Obras e

Irrigação”, onde ele já demonstrava interesse em saber por onde o certame sairia, numa

indicação ao local que teria, dentro da administração pública, ingerência sobre a licitação.

Logo, em dia 21 de fevereiro de 2008, em nova interceptação sobre o tema, Marco

Camino conversou com Edgar Hernandes Cândia, dono da Magna Engenharia, sobre a

mesma preocupação de Padilha. E apesar do receio de Camino, Edgar Cândia o

tranquiliza: os documentos estavam com ele, o que impediria os documentos de “sair pelo

outro lado”

21/2/2008 17:01 – Marco Camino x Edgar Hernandes Cândia

Pouco depois, às 19:10 horas, Camino informa a seu funcionário Carlos Rodrigues

Timm, de forma explícita, que Edgar Cândia estava com os editais das duas barragens.

Estas conversas demonstram, inequivocamente, que quase três meses antes do

início da licitaçao e publicação dos editais, o dono da Magna, o engenheiro Cândia, já os

possuía e começava a combinar a divisão das obras com Marco Camino. Ao que tudo

indica, existia um acordo previamente firmado para que a construção de uma das

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barragens ficasse a cargo do grupo de CAMINO e que a outra fosse entregue a um grupo

diferente.

Os documentos recebidos por Cândia em 21 de fevereiro, revelados na conversa

por ele a Camino, eram editais produzidos por uma empresa de consultoria de Athos

Cordeiro, presidente do Sicepot e dono da STE Engenharia. Este projeto seria o utilizado

pelo governo do Estado para balizar a concorrência nas licitações, beneficiando o grupo de

Camino. Por desacerto entre os grupos, o próprio Athos viria a patrocinar a retirada de

uma determinada cláusula do edital, aumentando o escopo de empresas que poderiam

participar do processo.

Estes desentendimentos reforçam a participação do deputado federal Eliseu

Padilha, contato imprescindível e padrinho político no acerto entre os interessados nas

obras. Em sua própria iniciativa, Padilha costurou a base para o consórcio do qual a

empresa de Camino faria parte.

27/2/2008 19:10 – Marco Camino x Eliseu Padilha

Nesta ligação, PADILHA ligou para CAMINO afirmando que tinha falado com

MARCO, vulgo MAGRÃO, e que não propôs nenhum número e perguntou se ele (MARCO)

tinha uma proposta a fazer, pois MOURA não estava e só voltaria à noite, e que ele

(MARCO) precisava falar com MOURA sobre uma proposta, sobre como fariam, pois,

segundo ele, quem não tem atestação, oferece alguma coisa, questionando o que

ofereceria.

Em 27 de fevereiro, ELISEU relatou ao dono da MAC a conversa ocorrida com

MAGRÃO, sobre o que seria proposto ao MOURA, envolvendo atestações e oferecimentos.

O MOURA em questão é Francisco José de MOURA Filho, sócio da CMT Engenharia

Ltda, empresa que mais tarde veio a formar o consórcio Taquarembó junto com a MAC,

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criado para construção da barragem. PADILHA pergunta textualmente: “É assim ou não te

interessa? ”. CAMINO frisa então o combinado, eles ficariam com uma e a MAC com a

outra. Desta maneira, fariam um consórcio, e se assim não fosse, não mais o

interessaria.

Efetivamente, a MAC contratou um consórcio com a empresa CMT, mas este era

meramente nominal, eis que a MAC contava com 99% do negócio, e a outra empresa com

1%. A CMT é a empresa de MOURA, referido por PADILHA.

17/03/2008 13:44 - Marco Camino x Edgar Hernandes Cândia (dono da Magna)

Vinte dias depois, CAMINO, relatando sua passagem por Brasília, fala da imposição

das obras ocorrerem em consórcio. CAMINO requeria a necessidade de uma ordem da

secretaria e, para isto, falaria com o “nosso deputado” para que a palavra final ficasse

com “nosso amigo”.

É também desta data e-mail dirigido a Camino, onde um de seus engenheiros

comenta sobre o edital “...não vi a ‘escada de peixe’ que eu havia visto noutro material”.

Ou seja, dois meses antes de publicado o edital e do termo de referência ser encaminhado

a CELIC, a quem competiria realizar esta licitação, já havia mais de uma versão circulando

entre as empresas interessadas.

27/03/2008 09:48 – Marco Camino X Eliseu Padilha

Dez dias após, PADILHA relatou a CAMINO que estivera com ROGÉRIO ORTIZ

PORTO – secretário estadual de Irrigação, numa conversa “boa”. Na reunião estava

também presente o representante da CMT. O deputado sepulta, na conversa, a

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história dos dois documentos paralelos, demonstrando sua influência sobre o

secretário de Irrigação.

Por conta dos acertos, muitos movimentos foram realizados, tanto a favor como

contra a mudança no edital. Houve reuniões acaloradas no SICEPOT, relatadas pela Polícia

Federal, onde Cândia acabara pressionado por Ricardo Portella, dono da Sultepa

Construções. Na sequência destes acontecimentos, e para evitar a alteração do edital –

preocupação constante do grupo de Camino – é que Edgar Cândia busca contatar Walna

Vilarins Meneses, secretária pessoal de Yeda Crusius, para afirmar-se diretamente com a

governadora do Estado. Estes contatos sempre ocorreram através de Neide Bernardes,

conhecida e denunciada como lobista e laranja de Chico Fraga e da Magna Engenharia.

Neide é a via de conexão entre Cândia e agentes públicos, agindo como porta voz do

empresário.

No dia nove de abril, uma inteceptação telefônica da PF captou um diálogo de

Neide com Walna, onde as duas combinavam um ponto de encontro em um grande

shopping de Porto Alegre. Minutos depois, outra gravação mostra Cândia em conversa

com Neide, informando sua posição, onde Neide salienta não estar sozinha.

O conteúdo desta reunião não é conhecido. O que é conhecido é a conversa

gravada entre Cândia com Camino, alguns dias depois, em 23 de abril:

23/04/2008 14:40 - Marco Camino X Edgar Hernandes Cândia

Na ocasião, CÂNDIA afirmou que os elementos estavam com a ROSI (ROSI

GUEDES BERNARDES - diretora geral e secretária de Estado adjunta de Obras

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Públicas - sendo que ela iria encaminhar conforme o combinado. E frente à prudência

de CAMINO, sobre revisar o edital, CÂNDIA faria isso, pois falaria com ROSI e, no dia

seguinte, daria o retorno.

Neste contexto, fica claro a confiança de Cândia com relação à manutenção dos

editais originais, indicando a existência de algum acordo entre ele e Walna, decorrente do

encontro de abril. Esta, com notória influência, poderia interferir junto a secretária adjunta

de Obras, Rosi Guedes Bernardes, para manter a licitação conforme o planejado pelo

grupo de Camino.

E ainda neste dia, 23 de abril, Neide e Walna têm um suspeito diálogo, onde a

secretária de Yeda, após requerer uma planta nova a Neide, refere-se a cinquenta

porcento (50%), demonstrando o caráter irregular do pedido. Mais uma vez, observa-se a

interferência de agente político em troca de retorno financeiro. E, neste caso, do agente

mais próximo à governadora do Estado do Rio Grande do Sul.

Mesmo assim, em 30 de abril, um mês antes do lançamento da licitação, e após ver

os documentos, Camino relata a CÂNDIA a alteração do documento, onde o problema,

segundo os interlocutores, seria a condição do edital: aberto demais, e “teriam que

fechar”, para isso falariam “com nossos amigos de lá”.

Esta conversa aponta que os contatos feitos não surtiram efeito, apesar de

evidenciado possível pagamento de propina, e que outro grupo disputava a versão dos

editais. Cândia frisa até que “a tendência era o contrário”, em vista das articulações junto

à governadora. Entretanto, Camino acredita no boicote de “seus amigos”, membros do

SICEPOT, que teriam enviado os editais para o “prelo”, no caso a CELIC – Central de

Licitações.

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16/05/2008 16:29 – Neide X Edgar Cândia

Em diálogo do dia 16 de maio, Cândia demonstra consternação. Constata

factualmente que “a nossa amiga, querida amiga” teria subestimado a todos. Disse ainda:

“o homem forte dela não segura o outro homem forte, nem ela”, referindo-se às

limitações dos acertos feitos com WALNA. NEIDE, para tentar acalmá-lo, reproduz seus

últimos movimentos, sobre a conversa que teve, de maneira franca, “com o dela”, e frisa

“TUDO QUE TÁ COMBINADO VAI SER FEITO, E QUE A PROGENITORA MAIOR DAQUI DO

ESTADO SABE”. CÂNDIA interrompe: falariam pessoalmente.

Apesar das identidades destes “homens fortes” não serem conhecidas, a conversa

revela que a “nossa amiga”, indicada como Walna Vilarins Meneses, secretária particular

da governadora, teria atuado diretamente na questão das barragens e com a ciência da

governadora Yeda, referida aqui como “progenitora maior do Estado”.

27/04/2008 17:49 – Marco Camino X Eliseu Padilha

No desenrolar das negociações, três dias antes do lançamento da licitação,

PADILHA informa a CAMINO sobre o trâmite do edital: “já saiu, e tá indo hoje pra

publicação”. CAMINO então pede ao deputado intervenção junto a ROGÉRIO PORTO,

secretário de Irrigação, pois “os outros” estavam querendo e, por isso, ROGÉRIO teria que

sinalizar algo, principalmente para o CAMPEÃO (ATHOS CORDEIRO). A sinalização seria

sobre a divisão das barragens onde “nas outras se acomoda”, demonstrando a facilidade

em definir os destinatários das obras.

Após esta ligação entre Cândia e Neide, a secretária adjunta de Obras, Rosi Guedes

Bernades, alterou o edital e removeu duas cláusulas que exigiam comprovação de

construção de “estrutura de desvio de rio” e “escada de peixe”. E observando o relatório

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da PGR, que afirma que a mudança no edital foi patrocinada por Athos Cordeiro, é

possível supor que Rosi Bernardes retirou as cláusulas por agir em conjunto com o

presidente do SICEPOT.

Os editais somente foram publicados em 30 de maio de 2008, e no caso da

barragem Taquarembó outra retificação ocorreria em 09 de junho, limitando novamente a

concorrência. Enquanto a concorrência da barragem Jaguari ocorreria sem maiores

problemas, as constantes mudanças no edital da barragem Taquarembó produziria

resultados adversos ao planejado.

02/06/2008 16:02 – Marco Camino X Eliseu Padilha

163

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Confirma-se que os empresários já tinham conhecimento dos detalhes da licitação

através da interceptação feita dois dias após a publicação, em que PADILHA pergunta a

CAMINO se já estava com os editais e se havia alguma modificação. PADILHA afirma “eu

tenho informação extra-oficial que o projeto foi mexido”. CAMINO compromete-se a

verificar. De fato, a influência e informação de ELISEU sobre este assunto são tão largas,

que por diversas vezes ele é tratado em outras ligações com o “deputado das

barragens”.

03/6/2008 16:27 – Marco Camino X Eliseu Padilha

No dia seguinte, PADILHA, acompanhando o desenrolar da situação, fala para

CAMINO: “alteraram profundamente aquele assunto”, referindo-se aos editais. E

acrescentando diz: “facilitaram que aquilo ali pode entrar a torcida do Flamengo

inteira, né?”, referindo-se às restrições que deixaram de constar nos editais,

possibilitando maior concorrência. PADILHA manda então CAMINO convocar ATHOS

CORDEIRO para uma reunião onde o DEPUTADO centralizaria a situação, ao seu interesse

ao falar: “isso aí existe porque a gente quer, senão não existe!” Diz ainda que já

tinha falado com o “comandante” para ele publicar uma errata. Ao final, CAMINO,

percebendo a desconfiança do parlamentar de que ATHOS tivesse responsabilidade pelas

alterações dos editais, disse não acreditar em sua interferência, ao que PADILHA

respondeu com veemência: “Interferiu. Interferiu. Interferiu. Porque quem é que iria

interferir, se não foi tu foi ele. Não foi tu, tu já tava acertado!”.

Tal diálogo revela a interferência de diversas empresas na confecção da licitação,

além da MAC e da MAGNA. Em especial a de Athos (STE), algo impossível sem a

participação de agentes públicos. A citação de um “comandante”, por PADILHA, sugere

alguém com poderes para reverter o quadro e determinar a publicação de uma errata.

Mais estarrecedor é a irritação de um deputado federal frente à possibilidade de uma

concorrência pública lícita e correta.

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Nessa esteira, às 17:18h do mesmo dia, Camino liga para Neide Bernardes, pedindo

uma reunião com Cândia (Magna Engenharia) e Athos (STE), pra tratar de assuntos

comuns, a mando da “chefia lá de cima” (Dep. Padilha).

Relevante o áudio interceptado em 06 de junho, onde Camino informa a Neide

Bernardes que o “chefe” (Eliseu Padilha) “vai dar uma pressão”, com o intuito de “botar

aquilo de novo” referindo-se à necessidade da existência das atestações de “estrutura de

desvio de rio” e “escada de peixe” no edital.

Efetivamente, o processo de licitação da barragem TAQUAREMBÓ, publicado em 30

de maio, acabou retificado em 09 de junho, recolocando-se, nesta versão, as

características limitadoras. Retorna ao edital a necessidade de atestados das empresas

comprovando já terem trabalhado em “estrutura de desvio de rio” e o “maciço de

barragem em CCR”. Com esta demanda, e a partir da “pressão”, evitou-se que “a torcida

do Flamengo inteira” participasse da concorrência.

Realizada a referida reunião, outra foi marcada para 27.06.2008, novamente com o

deputado PADILHA, para dar solução aos problemas com ATHOS.

27/06/2008 13:56 - Marco Camino X Neide

Comentando esta reunião, CAMINO informa a NEIDE os últimos trâmites do

processo ao afimar que “a número um puxou pra ela. Ela vai assinar e vai... vai voltar ao

que era, entendeu?” Tal informação “o cara” teria passado para o deputado. NEIDE

pergunta se era “a maior? a maioral?”, obtendo a confirmação. Mais uma vez, fica

colocada a participação da governadora, a número um do Estado, não só pela sua ciência

mas como figura atuante e balizadora das fraudes ocorridas.

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Quanto ao consórcio com ATHOS, NEIDE sugere que CAMINO forme um consórcio

com alguma empresa ligada à MAGNA. Efetivamente, a solução encontrada foi realizar um

consórcio entre MAGNA Engenharia e a empresa de ATHOS (STE) para a licitação da

barragem de Jaguari, ambas empresas de projetos, e não de execução de obras. Tal

acerto foi consolidado como forma de compensação em reuniões na sede da MAC

Engenharia, com a presença do deputado Eliseu Padilha. Estas empresas são atualmente

responsáveis pela fiscalização das obras.

Evidencia-se, em 04 de julho, já com as licitações em andamento, que o preço das

obras tinha um componente político. Às 14h:53min, CAMINO fala com ROGERIO SOUZA,

gerente de projetos da MAC e, ao pedir o demonstrativo da composição dos preços, pede

um resumo que inclua o BDI (benefícios e custos indiretos) e o custo “POLÍTICO”. Como

já relatado no “modus operandi”, este custo político é repassado para o valor da obra

ainda na produção do seu projeto. No caso, a PF aponta ATHOS CORDEIRO como

responsável pela criação deste projeto, evidenciando a facilidade do empresário em definir

os custos do empreendimento, já calculando, de antemão, o “custo político”

superfaturando a obra.

Podemos concluir que o deputado Eliseu Padilha, valendo-se do fato de ter liberado

os recursos da União (matéria abaixo), exigiu ou combinou com representantes do

governo do Estado, com poderes para produzir e alterar o Edital de Licitação, que as

referidas obras fossem direcionadas para empresas determinadas por ele, quais sejam, a

MAC para Execução e a MAGNA para fiscalização.

Padilha prioriza a irrigação no Congresso Nacional (21/05/08)

Por unanimidade, foi aprovado na Comissão Mista de Planos,

Orçamentos Públicos e Fiscalização o Requerimento nº 04/2008, de autoria do

Deputado Eliseu Padilha, que solicita a realização de Audiência Pública para

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discutir os danos causados pelas constantes secas que atingem o Rio Grande

do Sul, nos últimos tempos.

A finalidade de tal audiência é sensibilizar os membros daquela

Comissão para a necessidade de se alocar recursos no orçamento da União

destinados a evitar os referidos danos.

Padilha solicita que sejam convidados o Secretário Extraordinário da

Irrigação e Usos Múltiplos da Água do Governo do Estado do RS, Dr. Rogério

Porto; o Chefe da Casa Militar do Governo do RS, Coronel Edson Ferreira Alves;

o Presidente da Federação das Associações de Municípios do RS (FAMURS),

Prefeito Flávio Lammel; e mais três Prefeitos situados na região atingida pela

seca no Estado.

Para o deputado, esta será uma boa oportunidade para trazer a

discussão ao Congresso Nacional, em especial a Comissão de Orçamento, pois

esta crise atinge todo o RS, castigando os produtores rurais e a população

local, sem contar com as perdas financeiras com a safra. "A irrigação é uma

necessidade de todo Rio Grande. Seus efeitos atingem todo Estado e nós

temos que trabalhar para que este risco permanente da quebra de safra,

provocado pelas estiagens, seja afastado", disse.

O deputado Eliseu Padilha também conseguiu aprovar na Comissão de

Orçamento a Emenda 03, que visa tornar prioritário na Lei de Diretrizes

Orçamentárias os recursos necessários para infra-estrutura hídrica para o uso

múltiplo de águas, especialmente para barramento, micro açudes e irrigação.

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Segundo documento da PGR, “como contra partida pelo patrocínio dos interesses

de MARCO ANTÔNIO CAMINO e de seu grupo, foi tornado público que no ano de 2007 o

deputado ELISEU PADILHA teria recebido, da empresa MAGNA ENGENHARIA LTDA, o

valor de 267.000,00 (duzentos e sessenta e sete mil reais), em duas parcelas, através de

sua empresa FONTE CONSULTORIA E ASSESSORIA EMPRESARIAL, da qual são sócios o

parlamentar e sua esposa MARIA ELIANE PADILHA.”

É plausível que, apesar de engedrarem o direcionamento da licitação e previamente

combinarem a licitação, os planos tenham sido abortados quando vazaram as

investigações, levando-os a abandonar o acertado, embora, do ponto de vista legal, a

intenção de fraudar o caráter competitivo do certame licitatório, e ainda mais, com a

participação ativa de servidores públicos seja, por si somente, fato típico criminal, assim

como revelam atos de improbidade administrativa.

Provas não produzidas

Apesar de evidentemente necessárias e pertinentes, e de serem apresentadas

inúmeras vezes, a base do governo Yeda, representada por PSDB, PMDB, PP, PTB e PPS,

não aprovou os requerimentos para as oitivas de Edgar Cândia, Marco Antônio Camino,

Neide Bernardes, Walna Vilarins e Rosi Bernardes, além do secretário estadual de

Irrigação, Rogério Porto, e do deputado federal Eliseu Padilha.

É evidente que tais pessoas deveriam ser ouvidas para explicar as circunstâncias

em que transcorreram suas participações nos fatos acima narrados. A opção para não

serem ouvidas foi eminentemente política, uma vez que seus depoimentos demonstrariam

o comprometimento estrutural vigente na administração do governo Yeda, apontando a

participação da própria governadora, do deputado federal Eliseu Padilha e diversas figuras

atuantes no Estado do Rio Grande do Sul.

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Prova - alterações nos editais

Barragem Jaguari

Concretamente, no caso da barragem JAGUARI, participaram da licitação de

execução das obras:

Odebrecht, Toniollo Busnelo

consórcios Brasília Obras Públicas/Eit

Sultepa/Convap.

Para a construção da obra da barragem, Jaguari foi o selecionado o consórcio

Sultepa/Convap, em 24/10/2008, e cabe salientar que a participação da Sultepa é

residualmente captada nos autos da PF, quando seu diretor, Ricardo Portella Nunes,

enfrenta Edgar Cândia em reunião do Sicepot no começo de abril.

O consórcio para fiscalização foi vencido por Ecoplan/Bourscheid e participaram:

ACL /Engeplus,

Concremat/ Engevix/Paulo de Oliveira

Ecoplan/ Bourscheid,

169

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Não custa lembrar que, no dia 23 de março de 2009, a deputada Stela Farias,

juntamente com o deputado Daniel Bordignon, compareceu na Secretaria de Irrigação

para ter vista dos processos das barragens. Na ocasião, foi acertado com o secretário-

adjunto e diretor-geral da Secretaria, Sr. Luis Fernando Gomes, que seriam feitas cópias

dos processos. Dia 24, foi formalizado o pedido e, dias após, reiterado. Pois, no mesmo

dia 24, o processo foi para a Casa Civil, e as cópias somente foram obtidas após

ajuizamento de Mandado de Segurança pelos parlamentares.

Principais alterações promovidas nos editais

Versões do edital da Barragem do Arroio Jaguari

No dia 30 de abril de 2008, a SOP desenvolveu o primeiro Edital de Concorrência da

Barragem do Arroio Jaguari. Em maio, no dia 16, Rosi Guedes Bernardes encaminhou

alterações técnicas ao mesmo, dando origem a segunda versão do edital.

A seguir serão expostas a síntese das alterações do Edital, frisando as mudanças

apontadas por Rosi Guedes com “sublinhado”

PS: Qualquer erro de digitação do Edital será preservado tanto no Original

como no Alterado.

1. Envelopes

1.1 - Foi adicionado o ponto 3.3 referente aos envelopes, neste item.

170

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- Substituição na redação no ponto d):

Original:

“ d) compromissos e obrigações das

empresas que compõem o consórcio,

especificadas segundo as diferentes

atividades definadas no item 3.2.4.4 b) e c),

dentre os quais o que cada empresa

responderá, isolada e solidariamente por

todas as exigências pertinentes ao objeto da

presente licitação, até a conclusão dos

serviços dela decorrentes”

Alterado:

“ d) compromissos e obrigações das

empresas que compõem o consórcio, dentre

os quais que cada empresa responderá,

isolada e solidariamente, por todas as

exigências pertinentes ao objeto da presente

licitação, até a conclusão dos serviços

decorrentes;”

2. Documentação

2.1 – Número de cópias exigidas ampliadas de uma para duas.

2.1.1 – Documentos relativos à habilitação jurídica

- Adicionado item na letra b) “registro na junta comercial, no caso de

empresa individual;”

2.1.2 - Documentos relativos à qualificação econômico-financeira

- Alterada redação da letra d.1):

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Original:

“d.1) comprovação da garantia de

execução do contrato; Cópia reprográfica do

Termo de Recebimento emitido por Órgão

da Secretaria da Fazenda, autorizando a

GARANTIA CONTRATUAL – modalidade

escolhida pela executante ou da caução em

dinheiro, recolhida por guia de arrecadação

(cód. 0421) para a Secretaria da Fazenda do

Estado do RGS, conforme prevista no

Contrato – referente ao art. 56 – 1º (lei

8666/93) (obrigatoriamente na primeira

parcela)”

Alterado:

“d.1) A Garantia da Proposta poderá,

por opção do licitante, ser feita em uma das

seguintes modalidades: Dinheiro ou Título da

Dívida Pública, (acompanhado de documento

emitido pela Secretaria do Tesouro Nacional,

no qual atestará a sua validade,

exequibilidade, e avaliação de resgate atual),

Carta de Fiança Bancária, fornecida por

banco situado no Brasil, válida por, pelo

menos 60 (sessenta) dias além da validade

da proposta, ou Seguro Garantia, através de

apólice emitida por entidade em

funcionamento no País, em nome da

secretaria da Fazenda, válida pelo menos 60

(sessenta) dias além da validade da

proposta.

2.1.3 – Documentos relativos à qualificação técnica

- Letra b reeditada:

Original:

“b) - prova de empresa possuir no

quadro funcional permanente profissional de

nível superior detentor(es) de atestado(s) ou

certidão (ões) emitido(s) por pessoa(s)

jurídica(s) de direito público ou privado,

emitido(s) obrigatoriamente pelos

Alterado:

“b) - prova de empresa possuir no

quadro funcional permanente profissional de

nível superior detentor(es) de atestado(s) ou

certidão (ões) emitido(s) por pessoa(s)

jurídica(s) de direito público ou privado,

emitido(s) obrigatoriamente pelos

172

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contratantes titulares da obra,

acompanhada(s) do(s) respectivo(s)

Certificado(s) de Acervo Técnico – CAT,

expedido (s) pelo (s) CREA(s) da(s)

região(ões) onde o(s) serviço(s) tenha(m)

sido realizado(s) e que comprovem a

execução da obra de barragem de terra com

as seguintes estruturas em concreto:

vertedouro, tomada d'água e escada de

peixes, e para qual foram realizados os

seguintes serviços:

Escavação de material de 1ª, 2ª e 3ª

categoria – m3;

Aterro compactado c/ controle – m3;

Execução de filtro e tapete drenante - m3;

Enrocamento de proteção de talude – m3;

Concreto estrutural - m3;

Formas – m2;

Armadura CA-50 – kg;

Desmatamento da bacia hidráulica (área do

lago) – m2;

Fornecimento e montagem de

equipamentos hidromecânicos;

Implantação de medidas e programas do

Plano Básico Ambiental;

b.1) O(s) profissional(is) detentor(es) da

Certidão de Acervo Técnico (CAT) deverá(ao)

contratantes titulares da obra,

acompanhada(s) do(s) respectivo(s)

Certificado(s) de Acervo Técnico – CAT,

expedido (s) pelo (s) CREA(s) da(s)

região(ões) onde o(s) serviço(s) tenha(m)

sido realizado(s) e que comprovem a

execução de:

b.1) - obra de barragem de terra com

as seguintes estruturas em concreto:

vertedouro e tomada d'água:

Escavação de material de 1ª, 2ª e 3ª

categoria – m3;

Aterro compactado c/ controle – m3;

Execução de filtro e tapete drenante - m3;

Enrocamento de proteção de talude – m3;

Concreto estrutural - m3;

Formas – m2;

Armadura CA-50 – kg;

Desmatamento da bacia hidráulica (área do

lago) – m2;

Fornecimento e montagem de

equipamentos hidromecânicos;

173

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ser indicado(s) como responsável (is)

técnico(s) da proponente e sua substituição

só será possível, por profissionalização

igualmente qualificado, mediante a expressa

aprovação da fiscalização da Contratante.

b.2) A participante deverá comprovar

que o(s) profissional(ais) de nível superior,

Responsável(eis) Técnico(s) pela empresa na

data de entrega das propostas, detentor(es)

dos atestados apresentado, pertence(m) ao

seu quadro permanente de pessoal nos

termos do artigo 30, §1º, inciso I da Lei

federal nº. 8666/ e suas alterações. Tal

comprovação deverá ser feita por meio de

cópias autenticadas do contrato de trabalho,

das anotações da CTPS – Carteira de

Trabalho e Previdência Social, acompanhada

da respectiva Ficha de Registro de

Empregados, no caso de empregados, nos

termos da CLT – Consolidação das Leis do

Trabalho e do Decreto nº. 61.799/67. A

participante poderá, também, apresentar as

Fichas de Registro de Empregados através

do sistema de informatizado, nos termos da

Portaria nº 3626, de 13/11/91, e da Portaria

nº 1.121, de 09/11/95, retificada no D.O.U

de 13/11/95.

b.3) Para a habilitação de empresas

reunidas em consórcio, o item 3.2.4.4.b

b.2) – Comprovação de execução do

seguinte serviço, em obras de grande porte:

Implantação de Controle Ambiental;

O(s) profissional(is)

detentor(es) da Certidão de Acervo Técnico

(CAT) deverá(ao) ser indicado(s) como

responsável (is) técnico(s) da proponente e

sua substituição só será possível, por

profissionalização igualmente qualificado,

mediante a expressa aprovação da

fiscalização da Contratante.

b.1) A participante deverá

comprovar que o(s) profissional(ais) de nível

superior, Responsável(eis) Técnico(s) pela

empresa na data de entrega das propostas,

detentor(es) dos atestados apresentado,

pertence(m) ao seu quadro permanente de

pessoal nos termos do artigo 30, § 1º, inciso

I da Lei federal nº. 8666/ e suas alterações.

Tal comprovação deverá ser feita por meio

de cópias autenticadas do contrato de

trabalho, das anotações da CTPS – Carteira

de Trabalho e Previdência Social,

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deverá ser atendido na totalidade de suas

exigências e especificações.

b.3.1) As empresas

constituintes do consórcio comprovarão a

sua qualificação técnica exigida no item

3.2.4.4.b segundo as obrigações e

responsabilidades individuais, previamente

definidas no termo de constituição do

consórcio, conforme o espírito dos itens

3.1.d e 3.2.4.3.c.1.

b.3.2) Não serão considerados

os atestados e certidões de uma empresa

consorciada para comprovar qualificação

técnica em atividade que não lhe for

atribuída no termo de constituição do

consórcio;

b.4) A prova de que o profissional é

detentor de responsabilidade técnica, será

feita mediante apresentação de atestado

fornecido por pessoa jurídica de direito

público ou privado, devidamente registrado

no CREA, e cópia(s) autentifica(s) das

respectivas ART(s) ou certidão(ões) de

Acervo Técnico (CAT);”

acompanhada da respectiva Ficha de

Registro de Empregados, no caso de

empregados, nos termos da CLT –

Consolidação das Leis do Trabalho e do

Decreto nº. 61.799/67. A participante

poderá, também, apresentar as Fichas de

Registro de Empregados através do sistema

de informatizado, nos termos da Portaria nº

3626, de 13/11/91, e da Portaria nº 1.121,

de 09/11/95, retificada no D.O.U de

13/11/95.

b.2) Para a habilitação de

empresas reunidas em consórcio, o item

3.2.4.4.b deverá ser totalmente apresentado,

podendo cada item solicitado ser atendido

por quaisquer empresas constituintes do

consórcio.

b.3) A prova de que o

profissional é detentor de responsabilidade

técnica, será feita mediante apresentação de

atestado fornecido por pessoa jurídica de

direito público ou privado, devidamente

registrado no CREA, e certidão(ões) de

Acervo Técnico (CAT);”

175

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Resumo das modificações ponto 2.1.3 b:

- suprimida a comprovação de construção escada de peixes.

- substituição de “Implantação de medidas e programas do Plano Básico Ambiental”

por Implantação de Controle Ambiental.

- Letra c) reeditada:

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Original:

“c) A comprovação pela

licitante de ter executado, a qualquer tempo,

serviços de obra de barragem, compatíveis

com o objeto desta licitação, se fará através

de certidão(ões) e/ou atestado(s), em nome

da própria licitante (empresa e/ou

consórcio), fornecido(s) por pessoas jurídicas

de direito público ou privado, devidamente

certificados pelo CREA, contemplando a

construção de obra de barragem de terra,

com as seguintes estruturas em concreto:

maciço de barragem de terra, estrutura de

desvio do rio, vertedouro, tomada d'água e

escada de peixes, e para qual forma

realizados os seguintes serviços mínimos:

Escavação de material de 1ª, 2ª e 3ª

categoria – 935.000, 00 m3;

Aterro compactado c/ controle –

641.000,00 m3;

Execução de filtro e tapete drenante –

36.900,00 m3;

Enrocamento de proteção de talude –

26.900,00 m3;

Concreto estrutural - 7.000,00 m3;

Alterado:

“c) A comprovação pela

licitante de ter executado, a qualquer tempo,

serviços de obra de barragem, compatíveis

com o objeto desta licitação, se fará através

de certidão(ões) e/ou atestado(s), em nome

da própria licitante (empresa e/ou

consórcio), fornecido(s) por pessoas jurídicas

de direito público ou privado, devidamente

certificados pelo CREA, que comprove a

execução de:

c.1) Construção de obra de

barragem de terra, com as seguintes

estruturas em concreto: vertedouro e

tomada d´água, e para qual foram realizados

os seguintes serviços mínimos:

Escavação de material de 1ª, 2ª e 3ª

categoria – 935.000, 00 m3;

Aterro compactado c/ controle –

641.000,00 m3;

Execução de filtro e tapete drenante –

36.900,00 m3;

Enrocamento de proteção de talude –

26.900,00 m3;

Concreto estrutural - 7.000,00 m3;177

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Resumo das modificações ponto 2.1.3. c :

- suprimida a comprovação de construção maciço de barragem de terra, estrutura

de desvio de rio e escada de peixes.

- substituição de “Implantação de medidas e programas do Plano Básico Ambiental”

por Implantação de Controle Ambiental.

- aumento no número de atestados para fins de comprovação de 2 (dois) para 3

(três).

- diminuição do valor comprovado no trato com FORMAS, de acordo com o edital,

de 15.600m2 para 11.200m2. Cabe salientar que, em ofício de 16 de maio de 2008, Rosi

Bernardes solicitou, além da referida diminuição, outras mudanças nos valores necessários

para a comprovação técnica. Entretanto, a alteração em FORMAS foi a única contemplada.

3 – Visita técnica

- Adicionado ponto 3.6.2 com a seguinte redação - “ Em se tratando de consórcio,

a visita técnica deverá ser realizada pelo Responsável Técnico da empresa líder do

consórcio.”

4 – Critério de aceitabilidade dos preços

- Aditivo à sentença original:

Original:

“5.1 – Será considerado excessivo,

acarretando a desclassificação da proposta, o

Alterado:

“5.1 – Será considerado excessivo,

acarretando a desclassificação da proposta, o

178

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preço global superior a R$ 54.297.383,24

(cinquenta e quatro milhões duzentos e

noventa e sete mil trezentos e oitenta e três

reais e vinte quatro centavos)(data base:

janeiro de 2008.

preço global superior a R$ 54.297.383,24

(cinquenta e quatro milhões duzentos e

noventa e sete mil trezentos e oitenta e três

reais e vinte quatro centavos), bem como

valores e preços unitário superiores aos

estabelecidos na tabela de preços. (data

base: janeiro de 2008).

5 – Instalação e mobilização

- Alteração no texto:

Original:

“6.1 – O valor pago à título de

mobilização corresponderá aos valores dos

itens: Instalação do canteiro e

acampamento, Operação e manutenção do

canteiro e mobilização e desmobilização de

pessoal, máquinas e equipamentos

constantes na planilha orçamentária, parte

integrante da proposta, devendo estar

discriminado na mesma e considerado para

fins de julgamento, não podendo ser

superior a R$ 2.402.735, 22 (dois milhões

quatrocentos e dois mil setecentos e trinta e

cinco reais e vinte e dois centavos).

Alterado:

“6.1 – O valor da instalação do

canteiro e campamento, operação e

manutenção do canteiro e

mobilização/desmobilização é parte

integrante da proposta, devendo estar

discriminado na mesma e considerado para

fins de julgamento, não podendo ser superior

a R$ 2.402.735, 22 (dois milhões

quatrocentos e dois mil setecentos e trinta e

cinco reais e vinte e dois centavos.

179

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6 – Fonte dos recursos

Suprimido.

7 – Medição e pagamento

- Suprimida ilustração do cronograma gráfico da letra b.

8 – Outras disposições

- Modificada redação da letra “e)”:

180

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Original:

“e) A empresa contratada deverá

instalar, fornecer e manter, sem ônus para o

contratante:

e.1) A edificação para escritório de

campo e do laboratório (solo e concreto)

para atender à equipe de supervisão no

canteiro de obras. Os custos de água, luz,

limpeza e conservação dos escritórios de

campo e laboratórios também são de

responsabilidade empreiteira das obras civis;

e.2) A construtora fornecerá os

equipamentos para ensaios e testes no

campo de solos e concreto;

e.3) Equipamentos de computação,

estimados em:

02 computadores para uso da

Fiscalização da SOP/SIUMA, com a seguinte

configuração: processador Intel Pentium 4.3

Ghz com tecnologia HT (cache 512,

barramento FSB: 533Mhz) ou superior,

memória RAM de 1 gb, HD 80 GB, placa

gráfica, monitor LCD de 17”, Combo

DVD/CDRW, Fax modem 56k V92, disco

flexível 1.44 MB 3.5”, teclado ABNT 2, mouse

2 botões + scroll 1 serial, 1 paralela, 4 USB

Alterado:

“f)A empresa contratada deverá

instalar e manter, sem ônus para a

Contratante, no canteiro de obras, um

escritório e os meios necessário à execução

da fiscalização e medição dos serviços por

parte da Secretaria”.

181

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2,0 (2 traseiras e 2 frontais), 1 de 2,44 MB;

os micro computadores deverão vir

instalado com sistema operacional Windows

XP ou superior, acompanhado com o

programa Office 2003 – Profissional. O

sistema operacional e programas em questão

devem ser originais, devendo vir

acompanhados dos respectivos Cds e

manuais. Além desses, os manuais do micro

computador e periféricos e programas de

drives e outros que os acompanham;

01 scanner colorido de alta resolução

– tamanho A4;

02 impressoras multifuncional colorida

a laser, para impressão em papel tamanho

A3;

os equipamentos de escritórios acima

relacionados serão incorporados ao acervo

patrimonial da Contratante, mediante Termo

de Responsabilidade a ser emitido;

e.4) veículos, devendo:

colocar à disposição da fiscalização 02

(dois) veículos novos carros leves com ar

condicionado e direção hidráulica, sem

182

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motorista, incluindo combustível,

manutenção e seguro, para atender à

fiscalização, durante todo o prazo de

vigência do contrato;

o fornecimento dos veículos cobre os

custos de manutenção dos mesmos, as

despesas com seguros e licenciamentos,

consumo de combustível e lubrificante,

considerando uma rodagem média mensal

de 3.000 (três mil) quilômetros;

a mobilização dos veículos deverá ser

imediata a partir da solicitação da

fiscalização.

os veículos acima relacionados serão

incorporados ao acervo patrimonial da

Contratante, mediante Termo de

Responsabilidade a ser emitido;

os veículos acima deverão ser

identificados com as seguintes inscrições:

VEÍCULO A SERVIÇO DO GOVERNO DO

ESTADO DO RS – SOP/SIUMA - EQUIPE DE

FISCALIZAÇÃO

Resumo das modificações ponto 8. e)

− foram suprimidas as exigências especificas para a realização de fiscalização do

Estado, que incorre em menor despesa para a empresa contratada.

183

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Barrragem Taquarembó

Durante o procedimento licitatório, alguns acontecimentos deram outro rumo ao

processo das barragens. Em primeiro de agosto, foi protocolado no STF o pedido da

investigação da Operação Solidária, ainda distante do conhecimento público. Este pedido

foi seguido por uma reunião entre Eliseu Padilha e Gilmar Mendes, presidente do STF em

12 de agosto.

Seis dias depois desta reunião no STF, a CELIC, através de ata assinada por Rosi

Guedes Bernardes, inabilita todas licitantes da Taquarembó. Estavam participando da

seleção de construção: Sultepa/Convap, Toniollo Busnelo, Brasília Obras Públicas/ Eit e

CMT/ Mac Engenharia. Logo, justamente na obra onde a Mac Engenharia pleiteava a

vitória, com todos movimentos do grupo captados pela PF, a licitação passa por diversos

problemas técnicos, sem produzir qualquer resultado.

A licitação para execução, já no terceiro edital, é finalmente revogada em 22 de

setembro, anunciando o comprometimento do procedimento. As denúncias começam a

surgir, revelando a participação de outros agentes públicos como Marco Alba, secretário

de Habitação, Alceu Moreira e Rogério Porto, secretário de Irrigação e Usos Múltiplos da

Água.

A licitação é reeditada mais uma vez, sem grandes restrições, onde quem acaba

vencedora no edital de construção é a Odebrecht. E mesmo com o processo da Solidária

em andamento, a Magna, empresa de Edgar Cândia, acaba vencedora do edital de

fiscalização em consórcio com a STE, empresa de Athos Cordeiro. Ou seja, dois indiciados

184

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pela operação – em nove de julho de 2009 – saíram beneficiados, de alguma forma, do

processo das barragens.

Versões do Edital da Barragem do Arroio Taquarembó

No dia 30 de abril de 2008, a SOP desenvolveu o primeiro Edital de Concorrência da

Barragem do Arroio Taquarembó. Em maio, no dia 16, Rosi Guedes Bernardes

encaminhou alterações técnicas ao mesmo, dando origem à segunda versão do edital.

Entretanto, logo após o edital sofreu uma terceira mudança, reprisando termos da

primeira versão.

A seguir serão expostas a síntese das alterações do Edital, frisando as mudanças

apontadas por Rosi Guedes com “sublinhado”

PS: Qualquer erro de digitação do Edital será preservado tanto no Original

como no Alterado.

1 – Envelopes

1.1 - Foi adicionado o ponto 3.3 referente aos envelopes, neste item.

- Substituição na redação no ponto d):

185

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1ª Versão

“d) compromissos e

obrigações das empresas que

compõem o consórcio,

especificadas segundo as

diferentes atividades

definadas no item 3.2.4.4 b) e

c), dentre os quais o que

cada empresa responderá,

isolada e solidariamente por

todas as exigências

pertinentes ao objeto da

presente licitação, até a

conclusão dos serviços dela

decorrentes”

2ª Versão

“g ) compromissos e

obrigações das empresas que

compõem o consórcio, dentre

os quais que cada empresa

responderá, isolada e

solidariamente, por todas as

exigências pertinentes ao

objeto da presente licitação,

até a conclusão dos serviços

decorrentes;”

3ª Versão

Mantida a 2ª versão.

2 - Documentação

2.1 – Número de cópias exigidas ampliadas de uma para duas.

2.1.1 – Documentos relativos à habilitação jurídica

- Adicionado item na letra b) da 2ª e 3ª versões “registro na junta

comercial, no caso de empresa individual;”

2.1.2 – Documentos relativos à qualificação econômico-financeira

- Alterada redação da letra d.1):

186

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1ª Versão

“d.1)comprovação da

garantia de execução do

contrato; Cópia reprográfica

do Termo de Recebimento

emitido por Órgão da

Secretaria da Fazenda,

autorizando a GARANTIA

CONTRATUAL – modalidade

escolhida pela executante ou

da caução em dinheiro,

recolhida por guia de

arrecadação (cód. 0421) para

a Secretaria da Fazenda do

Estado do RGS, conforme

prevista no Contrato –

referente ao art. 56 – 1º (lei

8666/93) (obrigatoriamente

na primeira parcela)”

2ª Versão

“d.1) A Garantia da

Proposta poderá, por opção do

licitante, ser feita em uma das

seguintes modalidades: Dinheiro

ou Título da Dívida Pública,

(acompanhado de documento

emitido pela Secretaria do

Tesouro Nacional, no qual

atestará a sua validade,

exequibilidade, e avaliação de

resgate atual), Carta de Fiança

Bancária, fornecida por banco

situado no Brasil, válida por, pelo

menos 60 (sessenta) dias além

da validade da proposta, ou

Seguro Garantia, através de

apólice emitida por entidade em

funcionamento no País, em nome

da secretaria da Fazenda, válida

pelo menos 60 (sessenta) dias

além da validade da proposta.

3ª Versão

Mantida a 2ª

versão.

2.1.3 – Documentos relativos à qualificação técnica

- Letra b reeditada:

187

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1ª Versão:

“b) - prova de

empresa possuir no quadro

funcional permanente

profissional de nível superior

detentor(es) de atestado(s)

ou certidão (ões) emitido(s)

por pessoa(s) jurídica(s) de

direito público ou privado,

emitido(s) obrigatoriamente

pelos contratantes titulares da

obra, acompanhada(s) do(s)

respectivo(s) Certificado(s) de

Acervo Técnico – CAT,

expedido (s) pelo (s) CREA(s)

da(s) região(ões) onde o(s)

serviço(s) tenha(m) sido

realizado(s) e que

comprovem a execução da

obra de barragem de CCR,

com as seguintes estruturas

em concreto: estrutura de

desvio do rio, vertedouro,

tomada d'água e escada de

peixes, e para qual foram

realizados os seguintes

serviços:

Concreto compactado a

rolo – CCR - m3;

2ª Versão:

“b) - prova de empresa

possuir no quadro funcional

permanente profissional de

nível superior detentor(es) de

atestado(s) ou certidão (ões)

emitido(s) por pessoa(s)

jurídica(s) de direito público

ou privado, emitido(s)

obrigatoriamente pelos

contratantes titulares da

obra, acompanhada(s) do(s)

respectivo(s) Certificado(s)

de Acervo Técnico – CAT,

expedido (s) pelo (s) CREA(s)

da(s) região(ões) onde o(s)

serviço(s) tenha(m) sido

realizado(s) e que

comprovem a execução de:

b.1) - obra de

barragem de concreto CCR

com as seguintes estruturas

em concreto: vertedouro e

tomada d'água:

Concreto compactado

a rolo – CCR - m3;

Concreto estrutural

3ª Versão:

“b) - prova de empresa

possuir no quadro funcional

permanente profissional de

nível superior detentor(es) de

atestado(s) ou certidão (ões)

emitido(s) por pessoa(s)

jurídica(s) de direito público

ou privado, emitido(s)

obrigatoriamente pelos

contratantes titulares da obra,

acompanhada(s) do(s)

respectivo(s) Certificado(s) de

Acervo Técnico – CAT,

expedido (s) pelo (s) CREA(s)

da(s) região(ões) onde o(s)

serviço(s) tenha(m) sido

realizado(s) e que comprovem

a execução de:

b.1) - obra de

barragem de concreto CCR

com as seguintes estruturas:

maciço de barragem em CCR,

estrutura de desvio do rio,

vertedouro e tomada d'água,

e para qual foram realizados

os seguintes serviços:

Concreto compactado a

188

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Concreto estrutural –

m3;

Formas – m2;

Armadura CA-50 – kg;

Desmatamento da

bacia hidráulica (área do

lago) – m2;

Escavação de material

de 1ª, 2ª e 3ª categoria - m3

Fornecimento e

montagem de equipamentos

hidromecânicos;

Implantação de

medidas e programas do

Plano Básico Ambiental;

b.1) O(s)

profissional(is) detentor(es)

da Certidão de Acervo

Técnico (CAT) deverá(ao) ser

indicado(s) como responsável

(is) técnico(s) da proponente

e sua substituição só será

convencional – m3;

Formas – m2;

Armadura CA-50 – kg;

Desmatamento da

bacia hidráulica (área do

lago) – m2;

Escavação de material

de 1ª, 2ª e 3ª categoria - m3

Fornecimento e

montagem de equipamentos

hidromecânicos;

b.2) – Comprovação

de execução do seguinte

serviço, em obras de grande

porte:

Implantação de

Controle Ambiental;

O(s) profissional(is)

detentor(es) da Certidão de

Acervo Técnico (CAT)

deverá(ao) ser indicado(s)

rolo – CCR - m3;

Concreto estrutural

convencional – m3;

Formas – m2;

Armadura CA-50 – kg;

Escavação de material

de 1ª, 2ª e 3ª categoria - m3

Fornecimento e

montagem de equipamentos

hidromecânicos;

b.2) – Comprovação de

execução do seguinte serviço,

em obras de grande porte:

Desmatamento da

bacia hidráulica (área do lago)

- m2

Implantação de

Controle Ambiental;

O(s) profissional(is)

detentor(es) da Certidão de

189

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possível, por

profissionalização igualmente

qualificado, mediante a

expressa aprovação da

fiscalização da Contratante.

b.2) A participante

deverá comprovar que o(s)

profissional(ais) de nível

superior, Responsável(eis)

Técnico(s) pela empresa na

data de entrega das

propostas, detentor(es) dos

atestados apresentado,

pertence(m) ao seu quadro

permanente de pessoal nos

termos do artigo 30, §1º,

inciso I da Lei federal nº.

8666/ e suas alterações. Tal

comprovação deverá ser feita

por meio de cópias

autenticadas do contrato de

trabalho, das anotações da

CTPS – Carteira de Trabalho e

Previdência Social,

acompanhada da respectiva

Ficha de Registro de

Empregados, no caso de

empregados, nos termos da

CLT – Consolidação das Leis

do Trabalho e do Decreto nº.

como responsável (is)

técnico(s) da proponente e

sua substituição só será

possível, por

profissionalização igualmente

qualificado, mediante a

expressa aprovação da

fiscalização da Contratante.

b.1) A participante

deverá comprovar que o(s)

profissional(ais) de nível

superior, Responsável(eis)

Técnico(s) pela empresa na

data de entrega das

propostas, detentor(es) dos

atestados apresentado,

pertence(m) ao seu quadro

permanente de pessoal nos

termos do artigo 30, § 1º,

inciso I da Lei federal nº.

8666/ e suas alterações. Tal

comprovação deverá ser feita

por meio de cópias

autenticadas do contrato de

trabalho, das anotações da

CTPS – Carteira de Trabalho

e Previdência Social,

acompanhada da respectiva

Ficha de Registro de

Empregados, no caso de

Acervo Técnico (CAT)

deverá(ao) ser indicado(s)

como responsável (is)

técnico(s) da proponente e

sua substituição só será

possível, por

profissionalização igualmente

qualificado, mediante a

expressa aprovação da

fiscalização da Contratante.

b.1) A participante

deverá comprovar que o(s)

profissional(ais) de nível

superior, Responsável(eis)

Técnico(s) pela empresa na

data de entrega das

propostas, detentor(es) dos

atestados apresentado,

pertence(m) ao seu quadro

permanente de pessoal nos

termos do artigo 30, § 1º,

inciso I da Lei federal nº.

8666/ e suas alterações. Tal

comprovação deverá ser feita

por meio de cópias

autenticadas do contrato de

trabalho, das anotações da

CTPS – Carteira de Trabalho e

Previdência Social,

acompanhada da respectiva

190

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61.799/67. A participante

poderá, também, apresentar

as Fichas de Registro de

Empregados através do

sistema de informatizado, nos

termos da Portaria nº 3626,

de 13/11/91, e da Portaria nº

1.121, de 09/11/95, retificada

no D.O.U de 13/11/95.

b.3) Para a habilitação

de empresas reunidas em

consórcio, o item 3.2.4.4.b

deverá ser atendido na

totalidade de suas exigências

e especificações.

b.3.1) As empresas

constituintes do consórcio

comprovarão a sua

qualificação técnica exigida

no item 3.2.4.4.b segundo as

obrigações e

responsabilidades individuais,

previamente definidas no

termo de constituição do

consórcio, conforme o espírito

dos itens 3.1.d e 3.2.4.3.c.1.

b.3.2) Não serão

considerados os atestados e

empregados, nos termos da

CLT – Consolidação das Leis

do Trabalho e do Decreto nº.

61.799/67. A participante

poderá, também, apresentar

as Fichas de Registro de

Empregados através do

sistema de informatizado, nos

termos da Portaria nº 3626,

de 13/11/91, e da Portaria nº

1.121, de 09/11/95, retificada

no D.O.U de 13/11/95.

b.2) Para a habilitação

de empresas reunidas em

consórcio, o item 3.2.4.4.b

deverá ser totalmente

apresentado, podendo cada

item solicitado ser atendido

por quaisquer empresas

constituintes do consórcio.

b.3) A prova de que o

profissional é detentor de

responsabilidade técnica, será

feita mediante apresentação

de atestado fornecido por

pessoa jurídica de direito

público ou privado,

devidamente registrado no

CREA, e certidão(ões) de

Ficha de Registro de

Empregados, no caso de

empregados, nos termos da

CLT – Consolidação das Leis

do Trabalho e do Decreto nº.

61.799/67. A participante

poderá, também, apresentar

as Fichas de Registro de

Empregados através do

sistema de informatizado, nos

termos da Portaria nº 3626,

de 13/11/91, e da Portaria nº

1.121, de 09/11/95, retificada

no D.O.U de 13/11/95.

b.2) Para a habilitação

de empresas reunidas em

consórcio, o item 3.2.4.4.b

deverá ser totalmente

apresentado, podendo cada

item solicitado ser atendido

por quaisquer empresas

constituintes do consórcio.

b.3) A prova de que o

profissional é detentor de

responsabilidade técnica, será

feita mediante apresentação

de atestado fornecido por

pessoa jurídica de direito

público ou privado,

191

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certidões de uma empresa

consorciada para comprovar

qualificação técnica em

atividade que não lhe for

atribuída no termo de

constituição do consórcio;

b.4) A prova de que o

profissional é detentor de

responsabilidade técnica, será

feita mediante apresentação

de atestado fornecido por

pessoa jurídica de direito

público ou privado,

devidamente registrado no

CREA, e cópia(s)

autentifica(s) das respectivas

ART(s) ou certidão(ões) de

Acervo Técnico (CAT);”

Acervo Técnico (CAT);” devidamente registrado no

CREA, e certidão(ões) de

Acervo Técnico (CAT);”

Resumo das modificações ponto 2.1.3. b :

- suprimida a comprovação de construção “escada de peixes” na 2ª e 3ª versões.

- suprimido na 2ª versão comprovação de construção “estrutura de desvio do rio” e

recolocado na 3ª versão.

- adicionado na 3ª versão comprovação de construção “maciço de barragem em

CCR”

- substituição de “Implantação de medidas e programas do Plano Básico Ambiental”

por “Implantação de Controle Ambiental”.

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Resumo das modificações ponto 2.1.3. c:

- suprimida na 2ª versão a comprovação de construção “maciço de barragem em

concreto compactado a rolo” e “escada de peixes”. O “maciço de barragem em CCR”

retorna na 3ª versão.

- substituição de “Implantação de medidas e programas do Plano Básico Ambiental”

por “Implantação de Controle Ambiental” nas 2ª e 3ª versões.

- diminuição do valor comprovado no trato com FORMAS, de acordo com o edital,

de 16.300m2 para 11.200m2. Cabe salientar que, em ofício de 16 de maio de 2008, Rosi

Bernardes solicitou, além da referida diminuição, outras mudanças nos valores necessários

para a comprovação técnica. Entretanto, a alteração em FORMAS foi a única contemplada.

Documento em ANEXO.

- Letra c) reeditada:

3 – Visita técnica

- Adicionado ponto 3.6.2 com a seguinte redação - “ Em se tratando de consórcio,

a visita técnica deverá ser realizada pelo Responsável Técnico da empresa líder do

consórcio.”

4 – Critério de aceitabilidade dos preços

- Aditivo à sentença original:

193

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1ª Versão:

“5.1 – Será considerado

excessivo, acarretando a desclassificação da

proposta, o preço global superior a R$

51.924.351,76 (cinquenta e um milhões,

novecentos e vinte e quatro mil, trezentos e

cinquenta e um reais e setenta e seis

centavos)(data base: janeiro de 2008).

2ª e 3ª Versões:

“5.1 – Será considerado

excessivo, acarretando a desclassificação da

proposta, o preço global superior a R$

51.924.351,76 (cinquenta e um milhões,

novecentos e vinte e quatro mil, trezentos e

cinquenta e um reais e setenta e seis

centavos), bem como valores e preços

unitário superiores aos estabelecidos na

tabela de preços. (data base: janeiro de

2008).

5 –Instalação e mobilização

- Alteração no texto:

1ª Versão:

“6.1 – O valor pago à título de

mobilização corresponderá aos valores dos

itens: Instalação do canteiro e

acampamento, Operação e manutenção do

canteiro e mobilização e desmobilização de

pessoal, máquinas e equipamentos

constantes na planilha orçamentária, parte

integrante da proposta, devendo estar

discriminado na mesma e considerado para

fins de julgamento, não podendo ser

superior a R$ 2.428.312,94 (dois milhões

2ª e 3ª Versões:

“6.1 – O valor da instalação do

canteiro e campamento, operação e

manutenção do canteiro e

mobilização/desmobilização é parte

integrante da proposta, devendo estar

discriminado na mesma e considerado para

fins de julgamento, não podendo ser superior

a R$ 2.428.312,94 (dois milhões

quatrocentos e vinte oito mil trezentos e

doze reais e noventa e quatro centavos).

194

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quatrocentos e vinte oito mil trezentos e

doze reais e noventa e quatro centavos).

6 – Fonte dos recursos

Suprimido nas 2ª e 3ª versões

7– Medição e pagamento

- Suprimida ilustração do cronograma gráfico da letra b.

8 – Outras disposições

- Modificada redação da letra “e)”:

1ª Versão:

“e) A empresa contratada deverá

instalar, fornecer e manter, sem ônus para o

contratante:

2ª e 3ª Versões:

“f) A empresa contratada deverá

instalar e manter, sem ônus para a

Contratante, no canteiro de obras, um

escritório e os meios necessário à execução

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e.1) A edificação para escritório de

campo e do laboratório (solo e concreto)

para atender à equipe de supervisão no

canteiro de obras. Os custos de água, luz,

limpeza e conservação dos escritórios de

campo e laboratórios também são de

responsabilidade empreiteira das obras civis;

e.2) A construtora fornecerá os

equipamentos para ensaios e testes no

campo de solos e concreto;

e.3) Equipamentos de computação,

estimados em:

02 computadores para uso da

Fiscalização da SOP/SIUMA, com a seguinte

configuração: processador Intel Pentium 4.3

Ghz com tecnologia HT (cache 512,

barramento FSB: 533Mhz) ou superior,

memória RAM de 1 gb, HD 80 GB, placa

gráfica, monitor LCD de 17”, Combo

DVD/CDRW, Fax modem 56k V92, disco

flexível 1.44 MB 3.5”, teclado ABNT 2, mouse

2 botões + scroll 1 serial, 1 paralela, 4 USB

2,0 (2 traseiras e 2 frontais), 1 de 2,44 MB;

os micro computadores deverão vir

instalado com sistema operacional Windows

XP ou superior, acompanhado com o

da fiscalização e medição dos serviços por

parte da Secretaria”.

196

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programa Office 2003 – Profissional. O

sistema operacional e programas em questão

devem ser originais, devendo vir

acompanhados dos respectivos Cds e

manuais. Além desses, os manuais do micro

computador e periféricos e programas de

drives e outros que os acompanham;

01 scanner colorido de alta resolução

– tamanho A4;

02 impressoras multifuncional colorida

a laser, para impressão em papel tamanho

A3;

os equipamentos de escritórios acima

relacionados serão incorporados ao acervo

patrimonial da Contratante, mediante Termo

de Responsabilidade a ser emitido;

e.4) veículos, devendo:

colocar à disposição da fiscalização 02

(dois) veículos novos carros leves com ar

condicionado e direção hidráulica, sem

motorista, incluindo combustível,

manutenção e seguro, para atender à

fiscalização, durante todo o prazo de

vigência do contrato;

197

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o fornecimento dos veículos cobre os

custos de manutenção dos mesmos, as

despesas com seguros e licenciamentos,

consumo de combustível e lubrificante,

considerando uma rodagem média mensal

de 3.000 (três mil) quilômetros;

a mobilização dos veículos deverá ser

imediata a partir da solicitação da

fiscalização.

os veículos acima relacionados serão

incorporados ao acervo patrimonial da

Contratante, mediante Termo de

Responsabilidade a ser emitido;

os veículos acima deverão ser

identificados com as seguintes inscrições:

VEÍCULO A SERVIÇO DO GOVERNO DO

ESTADO DO RS – SOP/SIUMA - EQUIPE DE

FISCALIZAÇÃO

Resumo das modificações ponto 8.e

- foram suprimidas as exigências especificas para a realização de fiscalização do

Estado, que incorre em menor despesa para a empresa contratada.

Problemas detectados no Licenciamento Ambiental

O licenciamento ambiental das duas barragens é um problema ainda existente.

Além de ser alvo de Ação Civil Pública, fica evidente a pressa da FEPAM e o atropelo da

198

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legislação ambiental, especialmente ao inverter fases importantes do procedimento de

licenciamento e ao apresentar um Estudo de Impacto Ambiental meramente formal e

vazio de conteúdo, como explicado abaixo.

a - Impacto ambiental

1) Barragem do Arroio Jaguari. Município de Rosário do Sul. Com área prevista para

o alagamento de 2752 hectares, será utilizada para irrigar 17 mil hectares de orizicultura,

fruticultura, silvicultura, pastagens cultivadas, ranicultura. A imensa área a ser alagada

importará na perda de 766 hectares de florestas nativas, com densidade de mais de 1577

árvores (com diâmetro de mais de 5cm) por hectare. Seriam 1.207.982 árvores

suprimidas, segundo o EIA/RIMA. Seriam perdidos também 1.986 ha de campos, lavoura,

pastagens, entre outros usos.

2) Barragem do Arroio Taquarembó. Município de Dom Pedrito. Abastecimento e

irrigação de 35 mil hectares de orizicultura, fruticultura, silvicultura, pastagens cultivadas,

ranicultura. A área a ser alagada corresponde ao curso de água do arroio Taquarembó.

Em uma extensão de 1.350 hectares, serão perdidos 366 (trezentos e sessenta e seis)

hectares de florestas nativas, o que corresponde, segundo dados do EIA-RIMA, a 371.124

árvores a serem suprimidas. O volume de madeira/lenha a ser retirado ou perdido é de

103.884 m3.

Em resumo, as barragens de irrigação de Jaguari e Taquarembó, realizadas com

licenciamento irregular e Estudos de Impacto Ambiental criticados por sua simplicidade

representarão mais uma tragédia ambiental no RS, com a destruição de 1.132 hectares de

florestas nativas no Pampa, ou cerca de um milhão e quinhentas árvores, equivalente a

mais do que a arborização total de Porto Alegre, além de mais de 2 mil hectares de

campos nativos.

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b - Licenciamentos ambientais inconsistentes

Com obras iniciadas, as barragens de Jaguari e Taquarembó ainda tem

inconsistências nos licenciamentos, contestados desde 2007 em razão da ausência e

depois da precariedade técnica do Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Mesmo sendo

empreendimentos de grande porte e enquadrando-se nos requisitos legais que demandam

EIA (Resolução Conama 1/86), as obras tiveram Licenças Prévias (LP) e de Instalação (LI)

emitidas pela Fepam, as quais só poderiam ser expedidas mediante apresentação de EIA.

Por este motivo, a Justiça Estadual cassou a LP Jaguari, (emitida em agosto de

2007) por força de Ação Civil Pública do Ministério Público Estadual. A obra, porém, já tem

Licença de Instalação, o que seria impossível, pois a Licença de Instalação, segundo a

Resolução Conama 237/97, só pode ser concedida se antes o for a Licença Prévia.

O fato é que as obras iniciaram sem que haja uma definição sobre o cumprimento

dos requisitos de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em outubro de

2007 entre Fepam, governo do Estado e Ministério Público Estadual (MP-RS).

Nesse TAC, o MP demanda a apresentação de EIA pelo empreendedor – algo

também sem lógica, pois o EIA, por força de legislação federal, deveria ter sido

apresentado antes, para após, obter a LP.

Os empreendedores apresentaram à FEPAM um EIA/RIMA cheio de falhas legais e

técnicas, a seguir referidas.

c - EIA/RIMA

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O parecer 3214/2008, da Divisão de Assessoramento Técnico do Ministério Público

do Estado do Rio Grande do Sul (DAT-MP-RS), de 19 de dezembro de 2008, assinado por

cinco técnicos da unidade, fez uma varredura no EIA da barragem Jaguari, analisando

também documentos do processo de licenciamento, denunciado como irregular em Ação

Civil Pública do MP-RS, em que são litisconsortes as ONGs Igré e Agapan (ACP

108/1.07.0000353-6), Além disso, o MPE analisou vídeos de audiência pública referentes

ao processo de licenciamento e realizou vistoria ao local do empreendimento em 16 de

setembro do ano passado.

A seguir, são resumidas as principais conclusões do parecer, assinado pelos

biólogos Luiz Fernando de Souza e Rosane Vera Marques; pelo geólogo André

Weissheimer de Borba; pelo engenheiro agrônomo Miguel Eduardo Pineiro Netto; e pela

engenheira sanitarista Rozane Fátima Fedrigo:

a) a barragem do Rio Jaguari está projetada para ser localizada no limite entre os

municípios Lavras do Sul e São Gabriel, tendo por objetivo regularizar a vazão do Rio

Santa Maria e irrigar áreas de cultivo de arroz. Ao contrário do objetivo do projeto, é a

orizicultura a principal beneficiada, e não o abastecimento humano;

b) na área a ser inundada, há presença da espécie da flora Erythrina crista-galli

(corticeira-do-banhado), que é imune ao corte, segundo a Lei Estadual 9.519/92 (Código

Florestal do RS), fato este que inexiste no IEA/RIMA;

c) não foi atendido o requisito de alternativas tecnológicas e de localização do

empreendimento (artigo 5º, inciso 1º da Resolução Conama 1/86). Ou seja, existem

outros arroios na região em relação aos quais não foram apresentados estudos de

viabilidade visando à implantação do empreendimento. Conforme afirmação do secretário

estadual de Irrigação, Rogério Porto, constatada em DVD de audiência pública, foram

realizados estudos em 1986/87 que indicaram 98 pontos de barramento, reduzidos para

18 e depois para 14;

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d) o EIA diz que a finalidade do empreendimento é abastecimento público e lazer,

mas o próprio documento indica que um dos impactos do barramento é a redução da

qualidade da água;

e) o EIA não aborda a necessidade de controle de agrotóxicos no Rio Santa Maria,

mas deveria tê-lo feito, pois com o projeto haverá aumento da área de lavoura irrigada a

montante da captação, em Rosário do Sul;

f) o EIA propõe atividades de piscicultura e ranicultura sem considerar os impactos

ambientais que as mesmas causam, inclusive o fato de que a rã (Rana catesbiana) é uma

espécie exótica;

g) o EIA não menciona que o início (montante) do reservatório ficará dentro de

área prioritária para a conservação do Bioma Pampa (Areias Brancas) – esta informação

deveria constar no item “área de influência” do estudo;

h) o EIA não informa qual órgão ficará responsável pela manutenção e pelo

gerenciamento da barragem;

i) - a Resolução número 603 da Agência Nacional de Águas (ANA), de 28/12/2007,

emitiu certificado de Avaliação da Sustentabilidade da Obra Hídrica à Secretaria de Obras

Públicas e Saneamento do RS declarando que a infraestrutura resultante da obra será

operada pela Associação dos Usuários de Água da Bacia do Rio Santa Maria;

j) o EIA não indica a vida útil do empreendimento, nem apresenta plano de

desativação do mesmo. Assim, está em desacordo com o artigo 75, inciso IV da Lei

Estadual 11.520/2000 (Código Estadual do Meio Ambiente). A Fepam julgou de “pequena

relevância técnica” as informações sobre desativação (folha 588 do processo Fepam

número 001399-05.67/07.0). Mas a desativação de empreendimento de tamanho porte

pode acarretar problemas ambientais tão relevantes quanto os de sua implantação,

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especialmente quanto à manutenção de estruturas, ao assoreamento do reservatório ou

ao comprometimento da qualidade da água;

k) o número de coletas de amostras de águas superficiais para verificação de

qualidade, apresentado no EIA, é insuficiente. Foram coletadas amostras em três pontos:

a montante, a jusante e na área do reservatório do Arroio Jaguari. Não foi coletada

amostra de água em ponto situado no trecho do Rio Santa Maria entre as confluências dos

Arroios Taquarembó e Jaguari;

l) as campanhas de coleta de água foram feitas somente na Primavera

(27/11/2007) e no verão (05/01/2008). Assim, não é possível avaliar a variação sazonal

da qualidade da água, o que está em desacordo com a Resolução Conama 357/05;

m) foram analisados 28 parâmetros, 16 dos quais não têm padrão estabelecido na

Resolução Conama 357/05;

n) não foi apresentado cadastro das fontes poluidoras, pontuais ou difusas, na

bacia do reservatório, nem ao longo do canal de distribuição de água;

o) não foram realizadas avaliações quantitativas de espécies da flora imunes ao

corte nos locais do empreendimento (corticeira-do-banhado, por exemplo). O EIA aponta

a existência dessa espécie vegetal na área, mas afirma ser impossível quantificar o

número de indivíduos. Porém, é possível estimar a densidade em um indivíduo por 36,5

metros quadrados;

p) o EIA apresenta uma lista de espécies de mosquitos transmissores de doenças,

mas não informa se alguma delas ocorre na área do empreendimento. Também não avalia

impactos do empreendimento à saúde;

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q) o EIA não apresenta proposta de auditorias ambientais, segundo o artigo 73 da

Lei Estadual 11.520/2000.

r) os estudos de impacto não fazem referência às espécies da flora ameaçada de

extinção pelo Decreto Estadual 42.099/2002. Os levantamentos são insuficientes, com

amostragens escassas (80 árvores), não tendo amostragens quantitativas de campo.

Nestas áreas existem espécies de fauna de mamíferos ameaçados como gato maracajá

(Leopardus wiedii), veado catingueiro (Mazama gouazoupira) , gato-do-mato (Oncifelis

geofroy), entre outros. Considerando o dano/benefício, fica evidente que a barragem de

Jaguari inundará uma área muito maior que a de Taquarembó (2752 e 1350 hectares,

respectivamente), mas irrigará uma área muito menor (17 mil e 35 mil hectares,

respectivamente).

Sabidamente, entre os anos de 2007 e 2008, a Fundação Estadual de Proteção

Ambiental Henrique Luis Roessler – FEPAM – sob direção da Sra. Ana Pellini emitiu

diversas Licenças Prévias para empreendimentos anteriormente a análise de EIA/RIMA

(Estudo Prévio de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental),

contrariando o art. 71 da Lei Estadual 11.520/00 (Código Estadual de Meio Ambiente) e o

art. 9º, XXVI da Lei Estadual 10.330/94 (Sistema Estadual de Proteção Ambiental), que

tratam do Estudo PRÉVIO de Impacto Ambiental, e que, portanto, devem ser

apresentados PREVIAMENTE à expedição de qualquer licença ambiental, conforme o art.

225, § 1ş, IV da Constituição Federal, o art. 10 da Lei nş 6.938/81, que trata da Política

Nacional de Meio Ambiente, das Resoluções do CONAMA 01/86 e 237/97.

Por todos estes fatos, evidencia-se a responsabilização dos empresários e

servidores que operaram a fim de direcionar a licitação, assim como dos agentes políticos

que, através de uma posição hierárquica superior, serviram como verdadeiros padrinhos

políticos destes atos contra o Erário, fraudando assim o caráter competitivo da licitação,

crime previsto no art. 90 da Lei 8.666/93, ou praticando o crime de Advocacia

Administrativa previsto no art. Art. 321 do Código Penal.

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ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES

Marco Antônio Camino - sócio da MAC Engenharia

Edgar Cândia - sócio da MAGNA Engenharia

João Carlos Timm – empregado da MAC

Neide Bernardes – HAN Sistemas – associada a Cândia

Walna Vilarins Menezes – assessora da governadora do Estado

Eliseu Padilha – deputado estadual

Rosi Guedes Bernardes - secretária estadual adjunta de Obras

Rogerio Ortiz Porto - secretário de Irrigação e Usos Múltiplos da Agua.

Ficou evidente que os empresários Marco Antônio Camino e João Carlos Timm,

assim como Edgar Cândia, ao menos, entabularam tratativas junto a membros do Governo

do Estado, capitaneados ou albergados pela influência política do deputado federal Eliseu

Padilha, que forneceu facilidades junto à Secretaria de Obras, na figura de Rosi Guedes

Bernardes, e à Secretaria Extraordinária de Irrigação e Usos Multiplos da Agua, na figura

do titular da pasta, Rogério Porto.

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Tal assertiva decorre do fato de que, vários meses antes do lançamento da

licitação, os projetos básicos que serviriam para estabelecer a concorrência estavam sendo

manuseados por estes, que sugeriam alterações, devidamente atendidas, com o intuito de

restringir artificialmente a participação de outros interessados. Para isso o “nosso

deputado”, designação atribuída a Eliseu Padilha instruía ou coagia o secretário Rogério

Porto. A participação de Rosi Guedes Bernardes, por sua vez, foi fundamental para dar

guarida às pretensões do grupo, eis que foi ela a responsável por diversas alterações nos

editais e por passar informações privilegiadas para Camino.

O deputado Eliseu Padilha apresenta-se como verdadeiro padrinho político dos

interesses empresariais, operando a inserção de verba no orçamento da União com o

intuito de, posteriormente, angaria-la para seus parceiros de negócios. Nesse sentido, é

que afirma que o negócio somente existe por que ele quer, do contrário “o negócio

(construção das obras) não existiria”, dando a entender que exige uma contrapartida por

isso.

A participação dos agentes públicos do Estado Rogério Porto e Rosi Bernardes é

evidenciada pela facilitação para que as empresas tomassem conhecimento prévio dos

projetos e valores das obras. Eles também aceitaram modificações propostas com vistas a

restringir, artificialmente, o rol de possíveis licitantes.

Neide Bernardes, lobista ligada a Magna e a Chico Fraga e já denunciada por

lavagem de dinheiro, e Walna Vilarins Menezes não só conheciam a fraude como

construíram junto a membros do governo as condições para a sua constituição.

É no sentido de atribuir responsabilidades aos agentes públicos e

privados, cuja norma de competência obriga ao dever legal de não causar ou

evitar danos eminentes ao erário e às instituições, que apontamos a

responsabilidade dos acima nominados, por Imporbidade Administrativa, na

forma do art. 11 da Lei 8.429/92.

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VI.B2 - Fato investigado - obras de saneamento Secretaria de Habitação -

Corsan

Preliminarmente, é preciso apontar o forte vínculo existente entre o secretário

MARCO ALBA e o empresário MARCO ANTONIO CAMINO. Além de conversarem por

telefone com frequência, existem muitos encontros para um “café”, encontros esses

também combinados por mensagens de celular.

Vários destes encontros, porém, envolvem assuntos relativos a CORSAN, denotando

nova relação promíscua entre representantes do Estado e empresários. Apesar da

divulgação oficial das concorrências públicas da CORSAN serem bastantes precárias,

identificou-se interesses das empresas investigadas pela Operação Solidária nas licitações

deste órgão público. Notadamente, intensificaram-se as movimentações e os contatos em

torno dos processos licitatórios que em maio de 2008 trataram de três obras de grande

porte nos municípios de Canoas, Esteio e Viamão/Alvorada, com previsão mais de R$ 70

milhões (editais 426,427 e 428)

Um destes encontros entre CAMINO o secretário MARCO ALBA foi realizado nas

dependências da MAC ENGENHARIA, no dia 17/05, juntamente com MARTINEZ (CORSAN)

e ODILON ALBERTO MENEZES (CSL – CONSTRUTORA SACCHI LTDA).

Após esta reunião, em 19/05 uma ligação entre Camino e o secretário Alba registra

este perguntando: “e aí? E o meu?” Ao que o empresário responde: “quarta-feira, né.

Manda aqui o Costella”. Não bastasse isso, Marco Alba ainda reclama que “é o primeiro

assunto aquele, depois tem o segundo”.

Alguns dias depois, em 28/05, às 16:50h, após a empresa MAC vencer a licitação,

uma interceptação revela que JUVIR COSTELLA, chefe de gabinete de MARCO ALBA, diz a

CAMINO que o seu chefe havia pedido que ele buscasse um “CD”. O empresário

respondeu prontamente que não era com ele, e sim com WOODSON, apontado pela

investigação como responsável pelo pagamento de propinas. No mesmo dia, às 17:42h,

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WOODSON liga para CAMINO e lhe pergunta: “só pra confirmar... é cinqüenta quilos de

costela né?”. Camino confirma, e salienta-se: “costela” é uma referência ao sobrenome de

JUVIR.

Os áudios captados indicam de forma direta o que será entregue a COSTELLA: se

trata de determinada importância em dinheiro, referida como “cinquenta quilos”.

E esta conclusão afirma-se mais se comparada com a interceptação de 19 de

fevereiro, às 14:56 hs, entre Camino e Marco Alba, onde este afirma que “meu político”

iria dar uma passada na MAC, e Camino manda falar com o mesmo Woodson.

No mesmo dia 19, poucas horas após, às 17:46 hs, Camino liga para Woodson,

apontado como responsável pela organização e pagamento de propinas aos operadores e

padrinhos políticos, e avisa que Costella iria passar na MAC, para pegar “metade daquele

negócio”.

É perceptível que o chefe de gabinete do secretário Marco Alba, Juvir Costella,

passar no “financeiro” da MAC, para pegar algo, nesse caso “metade daquele negócio”,

era algo que se repetia com alguma frequência.

As concorrências públicas em andamento no âmbito da Corsan, são indiretamente

abordadas em vários diálogos, que antecedem encontros pessoais, entre Camino, Marco

Alba e Martinez, diretor financeiro da estatal, incluindo-se ainda o parceiro de Camino,

Odilon Alberto Menezes, presidente da AGEOS, sócio da empresa CSL – Construtora Sacchi

Ltda, que também participa do consórcio Cristal, criado para executar as obras do

Socioambiental em Porto Alegre. É altamente questionável a presença do secretário

estadual de Habitação, ao qual a CORSAN é ligada, na sede da MAC no dia 17 de maio, do

que se pressupõem acertos prévios a definir em ambiente não institucional.

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Da mesma forma, uma reunião ocorrida na sede da empresa UNIVIAS, dia 05 de

junho, onde Marco Alba, juntamente com Martinez (Corsan) e seu secretário adjunto, Luís

Zafalon, são levados por Camino para conversar com empresários paulistas, do grupo

Bertin.

Evidentemente, reuniões com empreendedores fazem parte das tarefas de um

secretário de Estado, mas a interceptação de telefonema entre CAMINO e Mário Baltar, da

Univias, logo após o encontro, torna clara as reais intenções do grupo e da atividade, com

comentários sobre a influência que CAMINO exerce sobre o secretário ALBA, onde este

afirma que acertou com o secretário da Habitação para ele montar sua rede política para

que ele, CAMINO, “acertar prá gente dar suporte”, ao que Baltar responde que Camino iria

ficar na organização do mercado ou melhor “desse negócio aí.”

A interceptação não deixa dúvidas que Camino e Baltar tratam da setorização de

negócios, partilhando as licitações a cargo da Secretaria de Habitação e da CORSAN entre

seus parceiros, o que somente seria possível com a participação direta dos dirigentes da

Secretaria e da estatal.

É evidente que o assunto é negócio de vulto, com a estratégia já conhecida de

operadores públicos e privados que contam com apadrinhamento político, ou seja, a

influência política de Marco Alba, que deve ser usada para que fiquem com “o controle na

região”, conforme definido por Mario Baltar.

Tal lógica é confirmada em recente trabalho jornalístico do repórter da RBS Giovani

Grizzoti, que foi publicada em 02 de novembro sob o título RECEITA DE CORRUPÇÃO,

onde um secretário municipal da cidade de Alvorada foi flagrado em esquema de fraude

em projetos e obras de saneamento, citando o envolvimento da CORSAN.

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“Francisco Carlos Ramos, secretário de Planejamento Urbano e Habitação de

Alvorada, detalhou o esquema de corrupção exibido ontem pelo programa

Teledomingo da RBS TV.

“Na gravação, Ramos afirma ter montado uma empresa de engenharia em nome

de laranjas que distribui propinas a servidores de prefeituras. O secretário

afastado foi atraído pelo repórter, que se fez passar por assessor de uma

prefeitura do Interior. Na conversa mantida em um restaurante de Alvorada, o

político filiado ao PDT afirmou que a empresa se especializou em elaborar

projetos para a obtenção de verbas pelo PAC no Ministério das Cidades, em

Brasília.

Segundo Ramos, ele propõe a contratação de sua empresa pela modalidade de

carta-convite, um sistema de licitação que escolhe o menor preço entre três

prestadores de serviço ou fornecedores. O secretário diz possuir acordos com

outras duas empresas de engenharia, que vão apresentar preços maiores do que

o dele.

−Os caras vão apresentar mais de R$ 150 mil, R$ 180 mil, R$ 170 mil, sei lá eu o

quê. E eu vou te apresentar lá tipo R$ 149 mil – declarou.

Contratada a empresa do secretário, é liberada uma comissão sobre o total que

será liberado pelo município para a elaboração do projeto.

−É 10 (%) e isso é no ato – disse.

Aprovada a verba em Brasília, a empresa de engenharia entra em ação para

liberar a obra em órgãos estaduais, onde o secretário de Alvorada afirma possuir

excelente trânsito.

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−Na Corsan eu tenho entrada franca, direto. Então quando tu aprova na Corsan

tu já tem 90% pra aprovar dentro da Fepam – garantiu Ramos.

Mas o lucro maior, afirma o secretário, vem em seguida, na hora de abrir licitação

para contratar a empreiteira encarregada da obra:

−O grande lance não é a minha. A minha vai te dar merreca, entendeu? A que vai

dar grande é a empreiteira que vai pegar aquela obra.

Segundo Ramos, as empreiteiras se combinam para decidir quem vai ganhar a

licitação. Ou seja, elas formariam uma espécie de cartel.

−Tem um cara (que comanda o cartel)... Quando eu fizer o projeto lá, que eu

entregar o projeto pra vocês cadastrar, o projeto no ministério vai aqui nesse

computador do cara. Aí ele vai dizer quem vai ganhar (a concorrência).

A combinação de resultados da licitação garantiria a funcionários públicos mais

propinas.

−Cada empresa que ir lá se candidatar vai passar e falar com vocês. Ele vai lá

oferecer 5%, 10%. 10% de 19 milhões, 16 milhões, é um R$ 1,6 milhão. Como é

que vai pegar esse dinheiro? Conforme o repasse – disse.

Entre as construtoras supostamente envolvidas no esquema, de acordo com

Ramos, estaria a MAC Engenharia, que realiza obras pelo PAC, em Alvorada. A

MAC é uma das empresas investigadas pela Operação Solidária, da Polícia

Federal, que apura envolvimento de agentes públicos em fraudes a licitações.

Segundo o secretário, a MAC está entre as empresas que pagam propina.

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Materializa-se, assim, assustadoramente, o oferecimento, “a varejo” de projetos de

saneamento, utilizando-se a Corsan como meio de perpetrar ilícitos, liberando a execução

das obras para empresas já determinadas, mediante a estipulação de 10% de propina

sobre o valor do projeto.

PROVAS NÃO PRODUZIDAS

As oitivas do secretário Marcos Alba e seu chefe de gabinete, Juvir Costella, assim

como do diretor da Corsan Zafalon e dos empresários Marco Camino e Odilon Alberto

Menezes (dono da CSL – Sacchi e Presidente da AGEOS), insistentemente requeridas, mas

reiteradamente negadas pelos parlamentares do bloco PSDB, PMDB, PP, PTB e PPS,

seriam fundamentais para explicar as circunstâncias em que se deram tais diálogos e

sobre as licitações. Como já dito, novamente a opção para não serem ouvidas foi

eminentemente política, como forma de blindar os operadores e padrinhos políticos do

esquema.

ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES

Marco Antônio Camino - sócio MAC Engenharia

Odilon Alberto Menezes – dono da CSL – CONSTRUTORA SACCHI LTDA

Woodson Martins da Silva – funcionário da MAC Engenharia

Marco Alba – secretário de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano

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Juvir Costella – chefe de gabinete de Marco Alba

Carlos Julio Martins Martinez – diretor da CORSAN

Os vários encontros do secretário Marco Alba com os empresários Camino e Odilon,

em meio a tratativas de licitações em obras de saneamento da CORSAN, empresa

hierarquicamente ligada à pasta da Habitação, por só já arranhariam os princípios

republicanos da administração pública. Ocorre que, além de serem empresas do grupo de

Camino as escolhidas para as obras, evidencia-se o uso de linguagem cifrada (50 quilos de

costela, CD, etc), que traz à tona justamente o que pretendiam esconder: o repasse de

valores de Camino para Alba, através de seu chefe de gabinete, Juvir Costella. Tal fato

não pode passar despercebido, tampouco impune.

Woodson, em mais de uma oportunidade, e para mais de uma pessoa foi acionado

para pagamento de valores “por fora”, em dólares e em reais, para agentes públicos e

privados, conseguindo levantar em apenas uma tarde, a soma de meio milhão de reais.

Da mesma forma, do encontro do secretário Alba e de Camino com empresários de

São Paulo surge a possibilidade de montagem de novas perspectivas de negócios.

Perspectivas estas que deveriam seguir a lei, mas ao contrário visam à criação de novo

cartel no setor de saneamento.

Dessa forma, apontamos as responsabilidades por Ato de Improbidade

Administrativa das pessoas acima elencada, agentes públicos e privados, pelos

indícios de que somaram esforços para causar prejuízo ao erário, na forma do

art. 9º , 10 e 11 da Lei 8.429/92.

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B3 - Fato investigado - Obras em estradas estaduais

Com relação a obras a cargo do DAER, ou seja, em estradas estaduais, foi revelada

uma proximidade suspeita entre o deputado Alceu Moreira, então presidente da

Assembléia Legislativa, agentes do governo e empresários investigados. Houve uma

intensa interferência do ex-presidente da Assembléia em favor da empresa MAC na

questão do trecho Morrinhos-Mampituba. Interferência esta que, ao que indicam os

áudios, geraram benefício financeiro para Alceu Moreira.

O trabalho de interlocução do deputado estadual ALCEU MOREIRA para a

viabilização da obra rodoviária na RS 494, trecho MORRINHOS-MAMPITUBA , foi intenso.

O deputado abusa de sua condição de parlamentar para encaminhar suas

prioridades, ao mandar Camino “encostar a brasa” no secretário adjunto de Infraestrutura

e Logística, e “acertar um esquema de 500 ou 600 mil por mês”. Depois, no mesmo

contexto, manda recados para o mesmo empresário, de que “está com saudade” e precisa

“chover na minha horta”.

Pouco tempo depois, em 17/03/2008, em ligação de CAMINO para JOSÉ LUIZ

ROCHA PAIVA, diretor do DAER, tratam do trecho Morrinhos – Mampituba. PAIVA acena

com uma previsão de repasse mensal de R$ 300 mil. Camino discorda dizendo que teria

que ser R$ 400 mil. Paiva justifica falando da necessidade de “atender as demandas dos

deputados do G8” e que a obra MORRINHOS-MAMPITUBA era interesse apenas de ALCEU.

A sequência de diálogos do dia 19 de março é altamente comprometedora das

atitudes do deputado Alceu Moreira e da direção do DAER:

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Às 17:25, Camino Liga para Alceu Moreira e este, a queima roupa, pergunta a

Camino: Vai matar a minha saudade, não vai? Camino manda ele falar com o

“véio”.

O “véio” em questão é o apelido de WOODSON, indicado em várias circunstâncias

como o agente da MAC responsável pela guarda de dinheiro e pagamento de propinas.

Pois um minuto depois, Camino liga para WOODSON, avisando que o “TICO

-BUTICO” vai ir falar com ele, por causa “daquilo que tá faltando”, e para “preparar a

papelada” para o deputado.

É sabido que o apelido do deputado Alceu Moreira é Tico Butico, assim como

parece ser Woodson, com sua papelada, o responsável por matar a “saudade” do

Deputado.

Mais tarde, às 19:38, CAMINO novamente pergunta ao deputado Alceu Moreira se

ele havia falado com ADALBERTO. O parlamentar confirma, assim como afirma ter falado

com DANIEL ANDRADE , secretário estadual da Infraestrutura e Logística, a quem teria

pedido “para colocar 400'”., referindo-se, claramente a esta obra, e que Daniel teria se

comprometido em resolver o assunto. Frente a alegria de Camino, Alceu dispara: “tem

que chover na minha horta neguinho".

Oportuna ainda a conversa seguinte, em 09 de abril, quando CAMINO entra em

contato com JOSÉ LUÍS DA ROCHA PAIVA, diretor do DAER, a fim de tratar da liberação

das verbas as obras Morrinhos-Mampituba, e PAIVA sugere que CAMINO mande o

“amigão” forçar um pouco a barra com ADALBERTO CAINO SILVEIRA NETTO -

subscretário estadual de Infraestrutura e Logística) para agilizar a liberação das verbas .

CAMINO concorda e acrescenta: “vamos usar o jeito novo de governar”. O “amigão”

tratado na conversa era então presidente da Assembléia, Alceu Moreira.

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Outros aúdios confirmam a verdadeira Advocacia Administrativa perpetrada no

caso: em 25 de março, o deputado Alceu indica José Luís da Rocha Paiva, diretor de obras

do Daer, como pessoa autorizada para “fazer o que tem que fazer”. Outro, em 17 de abril

de 2008, mostra o deputado estadual cobrando seus interesses junto ao fornecedor de

serviços do Estado.

As suspeitas avolumam-se quando, em 06/05/2008 às 09:40, CAMINO fala com seu

empregado, João Carlos TIMM, do setor de planejamento da MAC, que pergunta: “DO

MORRINHOS LÁ, DO "TICO-BUTICO", É DOIS E MEIO NÉ? É ISSO QUE NÃO TÁ INCLUIDO

AQUI NO PLANEJAMENTO. Espantado, Camino afirma que é apenas “dois”.

Não haveria motivo nenhum para incluir o deputado Alceu no planejamento da

empresa, seja com o quantum de dois e meio, seja com dois, caso não houvesse

interesses inconfessáveis e escusos sobre o assunto.

E a cena novamente se repete, quando Alceu Moreira, às 12:48 do dia 04 de julho

comunica Camino de que precisa encontrar Woodson naquele dia. O que é confirmado às

14:09, quando a secretária da MAC informa a Woodson que Camino está na empresa à

sua espera.

Existem indícios claros de que o deputado Alceu Moreira somou os interesses de

Camino com a direção do DAER e a Secretaria de Infraestrutura e Logística para praticar

atos típicos de Advocacia Administrativa mediante pagamento de valores efetuados por

Woodson, incorrendo, assim em atos de improbidade administrativa.

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PROVAS NÃO PRODUZIDAS

Seria fundamental para a completa elucidação do caso a oitiva de Marco CAMINO

também neste assunto, assim como do deputado Alceu Moreira e dos diretores do DAER.

Como nos outros casos, apresentados e reapresentados os requerimentos para suas

oitivas, estes foram negados pela base do governo representada pelo PSDB, PMDB, PP,

PTB e PPS. Tal inércia em investigar prejudicou a completa análise do caso, impedindo

que a Comissão realizasse de pleno sua função constitucional.

ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES

Marco Antônio Camino – sócio da MAC Engenharia

Woodson Martins da Silva – funcionário da MAC Engenharia

João Carlos Timm - funcionário da MAC Engenharia

Alceu Moreira – deputado estadual

Jose Luís Rocha Paiva - diretor do DAER

A investigação em relação a obras em estradas estaduais mostrou mais que uma

proximidade entre o deputado Alceu Moreira quando exercia a nobre função de presidente

da Assembléia Legislativa e empresários investigados. Houve uma verdadeira militância

em prol dos empreiteiros, não apenas para tirar proveito político, o que não deixaria de

ser uma forma de improbidade, mas também, ao que indicam os áudios, em troca de

benefícios financeiros.

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O trabalho de interlocução por parte do deputado estadual ALCEU MOREIRA

configura intenso lobby através da pressão política e do uso do cargo que ocupava. Na

esfera penal, esta conduta pode ser considerada Advocacia Administrativa. Paiva, diretor

do DAER, por sua vez, demonstrou absoluta parcialidade com a coisa pública e uso político

da autarquia para atender aos interesses dos deputados do “G8”.

Da mesma forma, os operadores privados Camino, Woodson e Timm, que com

interesses financeiros evidentes no caso, de tudo sabiam e retribuíram os favores

recebidos, chegando a colocá-los no “planejamento” da obra.

Por estes motivos, são indiciados os acima citados por Improbidade Administrativa,

na forma do art. 9º e 11 da Lei 8.429/92.

B4 - Fato investigado - PISA - Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Serraria:

As interceptações efetuadas em telefones de Camino mostraram ainda

uma variante do grupo agindo na prefeitura de Porto Alegre. Na ocasião,

estavam se ultimando a montagem dos editais para construção da Estação de

Tratamento de Esgoto da Serraria, parte do Projeto Integrado Socioambiental

de Porto Alegre, financiado com recursos do PAC/CEF e prefeitura.

Esta licitação ocorre em duas fases, uma de pré-qualificação e outra de

proposta de preço. O objeto seria a “execução das obras de construção da ETE

Serraria e Emissários Terrestre e Subaquático – PAC/PISA”, dividido em dois

lotes: Emissário de Esgotos Sanitários Ponta da Cadeia – ETE SERRARIA (Lote

01), e Estação de Tratamento de Esgotos da Serraria (Lote 2). A pré-

qualificação é para os dois lotes.

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Indícios encontrados - Principais ocorrências - linha do tempo

As interceptações deram conta de uma nova ramificação da empresa e do grupo

de Camino, atuando agora em consórcio com grupos nacionais, frente a Prefeitura de

Porto Alegre. Efetivamente, a ocorrência de reuniões entre o secretário municipal da

Fazenda Cristiano Tasch e empresários que iriam participar da concorrência poderia passar

como fato comum. Mas o incomum e grave é a formação de uma “comissão” entre

servidores da prefeitura e empreiteiros para chegar a um “consenso” quanto ao custo da

obra, invertendo os papéis e fraudando o caráter competitivo que orienta toda a Lei de

Licitações.

Além desta Comissão criada na referida reunião, as interceptações dão conta de

que o BDI (Bonificações e Despesas Indiretas) que compõe o lucro da empresa gira em

torne de 52%, o que foi confirmado em e-mails interceptados. Neste BDI, muito superior

ao razoável, havia um componente “político” tratado como “contingências”.

Não deve causar estranheza o fato de que, apesar dos intensos movimentos

havidos entre empresários e agentes públicos, a fraude não tenha logrado êxito. É que

além do vazamento da Operação Solidária ter causado uma retração nas ações dos

envolvidos, os projetos básicos das obras foram modificados, havendo aumento de custo e

significativa mudança nas obras. De qualquer forma, tornou-se evidente que nem sempre

a empresa que vence a licitação executa a obra, e que algumas interessadas operam

através de outras empresas.

As interceptações a seguir dão conta dos caminhos percorridos, indícios de que

existia a firme intenção de “ajeitar” os editais, para divisão entre os grupos de empresas,

da mesma forma ocorrida nas licitações das barragens.

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15/01/2008 14:39:53 - Marco Camino x Cristiano Tasch – Camino quer

marcar reunião entre Cristiano e Ricardo Portella e ele. Cristiano vai ver data.

16/01/2008 19:11:07 - Camino x Cristiano - Transfere a reunião para às

10h.

17/01/2008 08:04:06 - Camino x Odilon – Odilon relembra Marco do

assunto das 10h e diz que “não tá claro que é 1.25% pro PM” e que “tem

empresa ofertando outras coisas”. Camino mostra-se preocupado se “esse cara

que ele vai falar” (Cristiano) sabe dessas coisas. Odilon falou que, de acordo

com o Athos, sabe sim.

22 de fevereiro 2008 - Diário do Município - A primeira etapa desta licitação

se dá com a pré-qualificação e iniciou em 2008, publicada no Diário do Município de 22 de

fevereiro 2008, pag. 22. Concorrência 003.080066.08.

“Por meio deste Aviso, o Departamento Municipal de Água e Esgotos, da Prefeitura

Municipal de Porto Alegre, se propõe a pré-qualificar empresas para a execução das

seguintes obras:

LOTE 1 - Emissário de Esgotos Brutos desde a EBE Ponta da Cadeia até a ETE

Serraria, parte terrestre e parte subaquática, numa extensão aproximada de 20.000

metros;

LOTE 2 - Estação de Tratamento de Esgotos da Serraria. Os editais de licitação

serão emitidos após a pré-qualificação.”

03/03/2008 14:37 - Camino x Odilon - Terão reunião sobre o Pisa, no dia

seguinte.

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18 de março 2008 - Interceptado e-mail de Camino com compromisso de formar

o consórcio CRISTAL entre CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S.A., CBPO

ENGENHARIA LTDA., CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S.A., MAC ENGENHARIA

LTDA., PEDRASUL CONSTRUTORA LTDA. (Ricardo Portella) e BRASÍLIA GUAÍBA OBRAS

PÚBLICAS S.A.

O consórcio CRISTAL virá a ser formado com NORBERTO ODEBRECHT S.A, CBPO,

MAC ENGENHARIA, SULTEPA CONSTRUÇÕES, CONSTRUTORA BRASÍLIA GUAIBA LTDA E

CSL CONSTRUTORA SACCHI LTDA. Assim da formatação final sairam Andrade Gutierrez e

Pedrasul, e entraram Sultepa (Portella) e CSL.

24 de março 2008 - Informação no Diário do Município de que os projetos

executivos serão fornecidos apenas aos licitantes qualificados e de que não haverá

prorrogações (adiamento da licitação)

25/03/2008 14:33:56 - Camino x William - Quer falar com Camino sobre o Pisa

junto com Ricardo. Camino o tranquiliza dizendo que tá tudo equacionado e William diz

que então vai só pegar suas cotas.

25/03/2008 16:00:07 - Camino x Ricardo Portella – Ricardo avisa que arriaram

as calças, Maninho (apelido de Clóvis Magalhães) e Presser (Flávio Presser, diretor do

Dmae) arriaram as calças no Dmae, a pedido da Queiroz Galvão, segundo Camino.

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25/03/2008 18:58:53 - Camino x Odilon - Não levou listagem pois faltou CGC.

Confirma que atrasaram o troço lá na prefeitura e reclama que o Ricardo não sabia nem o

telefone do cara. Afirma que o edital não será alterado.

26/03/2008 10:07:08 - Camino x Odilon - Ricardo queria marcar reunião dos

consórcios PISA/DMAE, mas a pessoa com que ele devia entrar em contato, não entrou aí

pediu o telefone do chefe (Ricardo, ver áudio anterior). Só vamos ter problemas em 30

dias. Alemão tá brabo. deixa ele brabo, ninguém vai nos pautar.

26/03/2008 13:58:04 - Camino x Portella - Tem que falar com o cara das 9h.

Tem que assinar a conversa. Ricardo pede pra Camino tentar marcar com ele.

29/03/2008 09:03:54 - Camino x Odilon - Saíram ontem os editais, mas não tem

problema Odilon já tem eles e vai falar com Pinheiro (Caetano Pinheiro, dono da Procon

Construções)

03 de abril 2008 Diário do Município - Impugnação ao edital pela Construcap.

Informação de suspensão da licitação para revisão nos termos do edital.

22/04/2008 11:34:37 - Camino x Rogério Araújo (Gerente de Projetos da Mac)-

Camino pergunta a Rogério qual é o BDI (Benefícios e Despesas Indiretas) de Porto Alegre

e ele responde: 53.5%

22/04/2008 11:38:26 - Camino x Rogério – Camino diz que tá errado, e afirma :

o BDI da smov é 30%. Pede pra verificar.

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22/04/2008 11:42:21 - Camino x Rogério – Rogério diz que na tabela é 30%.

Só que o BDI que consta é muito maior. Oficialmente é 30%.

22/04/2008 11:49:05 - Camino x Cristiano - Marcam reunião. Pra falar do outro

assunto, não do conduto. Quinta vão fechar os números

22/04/2008 12:09:12 - Camino x Martinez - Quer marcar um almoço quinta pra

tratar do assunto de março.

23/04/2008 14:15:59 - Camino x Odilon – Odilon vai enviar pelo email

sugestões, e o Sérgio vai ir na MAC mas Camino vai se fazer de louco

24/04/2008 15:42:12 - Camino com telefone aberto – Empresário dividem os

lotes do Socioambiental (ETE e Emissário) para resolver os problemas com os “caras”, e “o

comprometimento com o órgão”. Nesse áudio, é tratado de quais empresas podem fazer

consórcio uma com a outra, de forma que inexista competição e todo o grupo fique

representado.

25 de abril 2008 - Interceptado e-mail de Camino, com planilha referente ao BDI

do PISA.

Neste dia 25 de abril, dia de reunião com o secretário da Fazenda, houve

várias movimentações:

25/04/2008 07:54:23 - Camino x Odilon - pergunta se recebeu e-mail do BDI -

52% com tudo. Falam que aquele outro assunto é “contingência”. Ele quer que a MAC

fique na ETE. “Ou eu ou a Sultepa”, diz Camino.

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25/04/2008 08:04:31 - Camino x Cristiano – Cristiano pede pra atrasar em meia

hora a reunião. Camino relembra-o que o assunto da reunião ser sobre que ele e o

Ricardo foram tratar da outra vez (ver áudio 17/01/2008 08:04:06) e que seria melhor

então só eles três, neste encontro.

25/04/2008 08:14:04 - Camino x Ricardo - Avisa do atraso de meia hora da

reunião com Cristiano Tasch

25/04/2008 10:41:51 - Camino x Osvaldo Odebretch – Após reunião com

Cristiano, Camino avisa que será formada uma comissão pra discutir o orçamento base e o

BDI e que Oswaldo está nela. Aí vai junto com o Deoclécio, e tem que ver os 60 milhões,

pra abrir, discutir tecnicamente e depois chegar a um valor de consenso

25/04/2008 10:49:08 - Camino x Odilon – Camino explica a composição da

comissão: Virgilio coordenando (Virgilio Rene dos Santos Costa, secretário adjunto de

Clóvis Magalhães) Osvaldo e Deoclécio de um lado, o gordo e mais um do outro. Daí tem

que discutir pra chegar em um número que agrade entre o orçamento e o outro. Camino

pede pra Odilon falar com o gordo pra não dar os problemas que deram no Conduto.

25/04/2008 18:32:39 - Camino x Odilon – Odilon tá terminando o troço pro

“véio” (Woodson), mas tem que explicar umas coisas. Parece falar de uma tabela.

28/04/2008 12:26:54 - Camino x Odilon – Camino diz que o “véio” tá

atrapalhado. Não tá achando umas coisas que tem num e não tem noutro. Pede pra

Odilon passar lá e explicar.

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29/04/2008 10:36:48 - Camino x M. Anjos (secretária de Camino) x Woodson –

Camino avisa que vai ter reunião sobre o Pisa na CSL no dia seguinte às 11h. Marco

lembra Woodson para que ele fale com Odilon sobre a planilha.

29/04/2008 21:01:41 - Camino x Odilon - Reunião amanhã 10h , nada mudou.

Véio (Woodson) trabalhou bem os números

30/04/2008 11:17:33 - Camino x Deoclécio - Deoclécio falou com Virgilio, vai

ser terça a reunião e tá em contato com Oswaldo. É pra manter Camino informado.

30/04/2008 13:18:11 - Camino x Odilon – Odilon comenta que os caras grandes

foram lá, querem propor outro troço. Camino diz que são muito enrolados. Marcam

reunião pras 18h. Sobre Pisa

30/04/2008 15:45:22 - Camino x Deoclécio - Deoclécio diz que deu uns

problemas, o cara que tinha que falar com o cara não falou. Cita Virgilio, diz que vai

explicar para Camino mais tarde.

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05/05/2008 19:18:59 - Camino x Odilon – Marco tá com a lista, e diz que o

Ricardo(Sultepa) vai falar com o Leonardo (Andrade Gutierrez) e depois ele e Odilon vão

falar com o Pinheiro (Procon).

06/05/2008 08:19:30 - Camino x Pinheiro - Combinam reunião pras 17h , só

pra ver a lista ver quem vai falar com quem e como vamos dividir os negócios

aí.

06/05/2008 09:38:45 - Camino x Cláudio – Camino já tá com a listagem, mas

acha que precisam de um plano B. Odilon e Mac vão ir ter conversa sobre isso. Cláudio diz

que tem uma sacanagem em duas das três que tão na rua.

06/05/2008 09:43:19 - Camino x Portella - Mac pergunta como foi a conversa e

foi OK, mas aí amanhã vai vir o Léo (Leonardo da Andrade) e o chefe dele pra definir

sobre o consórcio e ver se sai um ou sai dois. Falam que o grupo vai ter reunião amanhã.

06/05/2008 12:19:54 - Camino x Portella – Ricardo informa da reunião com Léo

(Leonardo da Andrade) de manhã, quando chegar o vôo deles. Camino tem que ver a

agenda dele.

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07/05/2008 11:58:29 - Camino x Athos x Odilon - Então consórcio fica assim:

50 pros titulares, 40 pra esses aqui, e 10 pros que tão do lado de lá. Camino aceita.

07/05/2008 13:17:41 - Camino x Pinheiro - Deu tudo certo, mas deu muita

briga, o cara de Curitiba vai, mais quatro do Camino pra dar suporte. Ele vai por cima. Ele

vai nos dois baile. Ele paga o convite, no preço cheio (áudio cifrado)

07/05/2008 13:20:28 - Camino x Odilon - Só o de Curitiba vai no baile. O resto

não tinha ingresso. Daí vamos só nós três. Odilon tem outras pra ir também.

08 de maio de 2008 - Interceptado mail - Reunião entre Camino e o deputado

Padilha, às 09 da manhã.

09/05/2008 10:06:33 - Camino x Odilon - Camino tira dúvidas sobre uma série

de editais que irão sair. Vão se encontrar no almoço.

09/05/2008 11:18:59 - Camino x Woodson - Camino quer levar o que tem de

pronto daquelas tabelas pro almoço que ele vai ter com um cara pra adiantar a

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vida e pergunta pro Woodson se dá pegar antes. Woodson concorda, mas antes pergunta

“vai levar toda aquela papelada”.

09/05/2008 12:27:33 - Camino x Odilon - Camino tá chegando, mas o cara

desmarcou porque secretário chegou e ele tinha que despachar a reestruturação.

09/05/2008 13:44:59 - Camino x Cristiano - A reunião aquela tá prejudicada,

pois tem que participar o cara do DMAE, segundo o Virgilio. Cristiano vai falar com Presser

e Virgilio e acertar isso. Cristiano diz que o Noronha tá certo.

09/05/2008 16:47:42 - Camino x Ricardo Portella. - Andrade Gutierrez tá fora.

Sultepa e CBPO atende a ETE. Vamos dar um tempo, se não conseguirem vamos dividir

25%. Diz que vai entrar de lado com um pouquinho de dedicação.

09/05/2008 17:13:09 - Camino x Ricardo P. - CBPO vai ficar com 12.5 da

Andrade e nós com a outra.

12 de maio 2008 - Data de entrega envelopes da pré-qualificação para referida

licitação.

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12/05/2008 11:38:42 - Camino x Cristiano - Conversou com o Presser, com o

Noronha. Tá encaminhado. Cristiano acha que dá pra centralizar no Noronha. Divergem.

Camino não quer distanciar ele (Noronha) do centro, senão cria asa grande. Virgilio e

Noronha ficam então.

12/05/2008 14:42:46 - Camino x Odilon - tem que falar com Martinez e o

Noronha foi escolhido pra coordenar o negócio. Ficam satisfeitos.

13/05/2008 09:05:46 - Camino x Oswaldo . - A Odebrecht centralizou lote 1. O

lote 2 ficou com Andrade Gutierrez e tem problema , não repassaram. Acham que tem que

fazer reunião. Mac vai falar com o Odilon pra marcar

13/05/2008 09:42:24 - Camino x Odilon - Odilon vai chamar reunião do

consórcio

13/05/2008 15:08:02 - Camino x Odilon - Choradeira foi forte, pessoal não

gostou do resultado da pré-qualificação. Odilon diz que aquilo já era acordo feito

com o governo do Estado e a prefeitura. (Obs. pré-qualificação foi julgada apenas em

25 de junho)

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24 de junho de 2008 - Interceptado e-mail de Camino, com minuta datada de 02

de abril, propondo compromisso de sub-contratar a empresa ARVEK no valor de R$ 20

milhões (vinte milhões de reais), nas obras do Lote 1 do PISA.

OBS. A empresa Arvek participa da licitação, fora do consórcio de Camino.

25 de julho - Julgamento pré-qualificação: Apresentaram documentos:

1.Cesbe S.A Engenharia e Empreendimentos (lote-2);

2.Serveng-Civilsan S/A – Empresas Associadas de Engenharia (lote-2);

3.Construtora Queiroz Galvão S/A (lote-2);

4.Consórcio Saneamento Serraria, (lote 2) constituído pelas empresas Delta

Construções S.A e Araguaia Engenharia Ltda;

5.Consórcio Arvek/Convap/Codrasa, (lote-1) constituído pelas empresas Arvek

Técnica e Construções Ltda, Convap Engenharia e Construções S/A e Codrasa

Construtora S/A;

6.Consórcio Cristal, (lotes 1 e 2) constituído pelas empresas Construtora Norberto

Odebrecht S.A, CBPO Engenharia Ltda, Mac Engenharia Ltda, Sultepa Construções e

Comércio Ltda, Construtora Brasília Guaiba Ltda e CSL Construtora Sacchi Ltda;

7. Consórcio ETE Serraria, (lote 2) constituído pelas empresas Construtora

Passarelli Ltda e Engeform Construções e Comercio Ltda

8.Consórcio OAS/Carioca, (lotes 1 e 2) constituído pelas empresas Construtora

OAS Ltda e Carioca Christiani-Nielsen Engenharia S/A.

08 de agosto 2008 - Fim da pré-qualificação: Empresas habilitadas para

apresentar proposta:

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LOTE-1

Consórcio Cristal,

Consórcio OAS/Carioca;

LOTE-2

Cesbe S.A Engenharia e Empreendimentos,

Consórcio OAS/Carioca

Consórcio Cristal,

Serveng-Civilsan S/A – Empresas Associadas de Engenharia,

Consórcio ETE Serraria,

Construtora Queiroz Galvão S/A,

Consórcio Saneamento Serraria.

10 de dezembro - Engenheira que trabalhou na ECOPLAN e na MAGNA depõe no

Ministério Público e afirma que a empresa MAGNA já tinha os projetos executivos do PISA

e que os repassou à empresa Norberto Odebrecht. Informa ainda que participam de

irregularidades o secretário Clóvis Magalhães e seu assessor Noronha.

231

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23 de dezembro 2008 - Publicação no Diário Oficial de POA da concorrência

003.080532.08.0. “Emissário de esgoto sanitário Ponta da Cadeia – Serraria (lote 1)

13 de janeiro 2009

1 - Primeira das várias prorrogações da abertura das propostas para 03 de

fevereiro de 2009.

2 - Classificação da concorrência 003.080293.08.5, que tem por objeto “Apoio ao

DMAE na supervisão e fiscalização de obras em em EBES e ETES do PISA. Participaram

Ecoplan Engenharia (vencedora R$ 2.296.916,40) Beck de Souza e Consórcio Magna

– STE. OBS - Um mês antes, a Engenheira da Ecoplan em depoimento, registrou que as

empresas que realizaram o projeto básico fariam os projetos executivos.

09 de junho 2009 - Fixada data para abertura propostas em 26 de junho.

26 de junho 2009

1) Nomeação do novo coordenador do PISA – Geraldo Portanova Leal, engenheiro

cedido da CORSAN.

232

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2) Os dois consórcios habilitados para o Lote 1 – Cristal e OAS/Carioca registram a

desistência em apresentar proposta. Encerra-se a licitação sem vencedor, sendo

julgada DESERTA.

O Lote 1 continua suspenso. O lote 2 foi dividido em dois.

LICITAÇÕES JÁ CONCLUÍDAS:

1-Emissário Ponta da Cadeia/Serraria:

1.1-Trecho terrestre do Emissário: compreende as regiões Ponta da Cadeia até

a EBE Cristal –

Valor Contratado: R$ 35.246.158,76

Vencedor: SAENGE Engenharia

1.2-Trecho Subaquático - A segunda parte da licitação diz respeito ao Emissário

subaquático que vai da EBE Cristal até ETE Serraria -

Valor Contratado: R$ 84.474.759,33

Vencedor: ICCILA/ARCHEL

• Previsão de início da obra: Janeiro de 2010.

233

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• Previsão de conclusão das obras: Emissários em março de 2011, ETE em

junho de 2011.

234

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EM ANDAMENTO:

1.3. É apenas da parte terrestre. Obra orçada em 111 milhões, tratará os

esgotos oriundos dos sistemas da Bacia do Arroio Dilúvio, da Bacia do Arroio do

Salso e da Bacia do Arroio Cavalhada, com previsão de tratar até 4 mil litros por

segundo, que representará um acréscimo em 50% da demanda dos esgotos

tratados da cidade, que deverá atingir valores absolutos de 80% em 2012.

Habilitados:

-Consórcio BRASILEIRO DE SANEAMENTO: empresas SULTEPA, TEDESCO

CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO LTDA e CODRASA

-Consórcio ETE SERRARIA: empresas DELTA CONSTRUÇÕES, ARAGUAIA

ENGENHARIA LTDA e CONSTRUTORA BRASÍLIA GUAÍBA LTDA;

- Consórcio GEL/INFRACON/BRONSTRUP: empresas GOETZE LOBATO

ENGENHARIA LTDA, INFRACON ENGENHARIA E COMÉRCIO LTDA e BRONSTRUP

CONSTRUÇÕES INCORPORAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA;

• Próxima etapa: abertura e julgamento das licitações e ordem de início

de execução de obra.

• Previsão de início da obra: dezembro de 2009.

• Previsão de conclusão: janeiro de 2011.

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• Valor orçado: R$ 111,5 milhões.

ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES

Marco Antônio Camino – sócio da MAC Engenharia

Odilon Alberto Menezes – dono da CSL – CONSTRUTORA SACCHI LTDA

Ricardo Portella – diretor da Sultepa

Cristiano Taschn - secretário da Fazenda de Porto Alegre

Virgílio Rene dos Santos Costa – servidor público

Noronha – servidor público

No caso investigado, participam os mesmos empresários investigados no

caso das Barragens e da CORSAN, não sendo descartada a possibilidade de que

CAMINO, juntamente com Odilon da CLS -Construtora Sacchi, fosse responsável

pela regulação, montagem e distribuição das licitações na área de saneamento,

operando como verdadeiros chefes de cartel.

Evidencia-se ato de improbidade a concordância do secretário municipal

Cristiano Tasch assim como os servidores públicos Virgílio e Noronha em montar

uma “comissão” entre o Poder Público e empresas que estavam interessadas na

licitação para discutir o valor desta.

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Não há que se confundir as providências tomadas na fase interna da

licitação, quando são realizados todos os atos necessários à deflagração da

competição, e dentre eles, o levantamento do preço do objeto licitado, com o

ocorrido.

De fato, o processo licitatório é publico, mas é formal. Qualquer

interessado pode acessá-lo, como dispõe claramente o art. Art. 63:

É permitido a qualquer licitante o conhecimento dos termos do contrato

e do respectivo processo licitatório e, a qualquer interessado, a obtenção

de cópia autenticada, mediante o pagamento dos emolumentos devidos.

Não há razão que justifique a formação de uma comissão entre licitantes e

prefeitura DURANTE a licitação.

Dispõem o artigo 3º da Lei 8.666 de 21/06/93, que as licitações serão

processadas e julgadas na conformidade dos seguintes princípios: da legalidade,

da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade

administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento

objetivo e dos que lhe são correlatos.

Ora, a mera discussão de atos administrativos com os licitantes já fere, por

si somente, a impessoalidade, igualdade e publicidade, e via reflexa a moralidade

e a probidade administrativa.

Mais grave é que tal comissão, segundo os envolvidos, deveria chegar a

um “consenso” sobre o custo, ou seja, a um acordo sobre o preço pelo qual a

obra seria ofertada aos próprios participantes desta “comissão” informal.

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Desta forma, todos os acima nominados somaram esforços para fraudar o

caráter competitivo da licitação, ferindo os princípios éticos que regem a

moralidade pública.

As condutas acima descritas, sejam de autoridades, servidores ou terceiros

violaram, em especial, os deveres de honestidade e legalidade e os princípios da

moralidade e impessoalidade, seja por ação ou omissão dolosa, permitindo e não

impedindo a perpetração do ilícito e transgredindo os deveres de retidão e

lealdade ao interesse público, sem prejuízo das apurações penais já em curso.

Assim, o cometimento de irregularidades acompanhadas pela marca

indelével da desonestidade ou da deslealdade para com o Poder Público, implica,

em suficiente grau, na violação do princípio da probidade administrativa na forma

do art. 11 da Lei de Improbidade:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole

os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às

instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso

daquele previsto na regra de competência;

...

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das

atribuições e que deva permanecer em segredo;

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

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C - Conexão entre as Operações Rodin e Solidária

Assim trata a letra “b” do requerimento de instalação da CPI da Corrupção:

“A conexão entre fatos investigados no âmbito da “Operação Solidária”

envolvendo a atuação de agentes políticos, servidores públicos e réus da ação

judicial decorrente da Operação Rodin, que tramita na Vara Federal de Santa

Maria, com fatos investigados pela CPI do DETRAN, eis que provas coletadas pela

Operação Solidária foram compartilhadas no processo da judicial da Operação

Rodin, conforme decisão do TRF da 4ª Região.”

Quando formulamos o requerimento para a instalação da comissão

parlamentar de inquérito, entendíamos, pelas evidências até ali conhecidas que a

conexão entre as duas fraudes se daria na figura de determinados operadores

políticos. O que, como se verá, não deixa de ser verdade. Entretanto, o principal

elemento de conexão está no esquema suprapartidário que foi montado para

garantir apoio político-institucional ao governo Yeda Crusius.

O funcionamento dos esquemas de corrupção, organizados a partir das

figuras de padrinhos políticos, garantem, com a operação de agentes importantes

nas estruturas partidárias ou de governo, o dreno dos recursos públicos por meio

de fraude às licitações. Isto ocorre tanto no Detran, alvo da Operação Rodin,

como em obras públicas, elencadas na Solidária, ou em outros órgãos estatais

como revelado pelo ex-Chefe da Casa Civil César Busatto em conversa com o

vice-governador Paulo Feijó, sobre o Banrisul e o DAER:

(…)

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Busatto — (inaudível) Tu essencialmente tá certo. Te digo assim:

(inaudível) há coisas que tu não faria se não tivesse se

inviabilizado. Chega uma hora que isso se torna insuportável

(inaudível), isso começa a te (inaudível) tiver doente, doente

no sentido de que vai ficar uma contradição (inaudível) a

consciência e (inaudível). Tu tá essencialmente certo, essencialmente

certo. Não quero nem entrar no mérito dela. Eu conheço e sei que

(inaudível), embora a lógica da política, ela é cruel. E eu não sei se ela

mudará tão cedo (inaudível) Ministério Público (inaudível). Não sei se

é uma boa saída, aliás eu não sei se tem como sair agora

disso. É muito difícil essa questão. Compreendo a tua

disposição, mas eu acho assim, Paulo, não é uma posição só

da Yeda, que tem seus problemas (inaudível). Todos os

governadores só chegaram aqui com fonte de financiamento

— hoje é o Detran, no passado foi o DAER. Quantos anos o DAER

sustentou?

Feijó — Não sei.

Busatto — Na época das obras, (inaudível). Depois foi o Banrisul,

depois...

Feijó — A CEEE.

Busatto — Depois a CEEE (inaudível). Se tu vai ver...

Feijó — (inaudível) É onde tem dinheiro...

Busatto — E é onde os grandes partidos querem controlar. Não

querem saber (inaudível). Onde têm as possibilidades de

financiamento, pode ter certeza de que têm interesses bem

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poderosos aí controlando, e é por isso que... por isso que...

Então, é uma coisa mais profunda que está em jogo, né?

(...)

Este modus operandi, comum às duas fraudes investigadas pela Policia

Federal, tem, no seu fundamento, o apoio político ao atual governo e a

constituição da maioria parlamentar no Legislativo gaúcho, denotando diversos

centros de operações espalhados pela máquina pública. Entretanto, o núcleo

articulador do esquema está vinculado diretamente ao Gabinete da Governadora

do Estado, Yeda Rorato Crusius.

Seja no episódio da empresa Atento, ou do Detran, ou mesmo das obras

em barragens, há a participação explícita de operadores vinculados

institucionalmente ao gabinete da governadora, ou que agem com respaldo dela,

à sombra da legislação. Diálogos interceptados entre réus e investigados, tanto

na Operação Rodin quanto na Operação Solidária, revelam indícios de grande

soma de dinheiro sendo movimentada por assessores próximos a Yeda, como

também vinculados a estruturas de partidos que lhe dão sustentação política.

É neste sentido que apontamos a estreita relação entre Walna Vilarins

Meneses, Chico Fraga, Delson Martini e Antônio Dorneu Maciel. Tanto na

arrecadação, junto a empresários do setor de infra-estrutura, quanto na

distribuição de recursos ilícitos, como no benefício a empresas em diversos

certames licitatórios. Como diz o ditado popular “ toma-lá, da-cá”.

Estes indícios foram, inicialmente, captados durante a Operação Rodin, nos

diálogos travados entre Antônio Dorneu Maciel, João Luiz Vargas e Marco Peixoto,

estendem-se durante a Operação Solidária e revelando as relações escusas

vigentes no Governo do Estado. Maciel, representante do PP, era um dos

principais operadores da fraude no Detran, mas, apesar disto, suas funções não

se limitavam a coordenar apenas esta ilegalidade.

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Em ligação ocorrida em 22 de outubro de 2007, às 19h161, Marco Peixoto

relata à Maciel o contato que tivera com o “Campeão”:

(…)Maciel: É, eu acho que tem que fazer e acontecer... tu foi bem

tratado lá onde tu foi hoje?

Peixoto: Muito bem tratado.

Maciel: É?

Peixoto: O diploma de honra ao mérito..

Maciel: É, eu sabia que tu ia ter...

Peixoto: É?

Maciel: Grau de comendador... alto grau né.

Peixoto: Tu, tu ficou com um bom... tu ficou bem...

Maciel: (risos)

Peixoto: Tu ficou, tu ficou, a tua indicação foi bem aceita...

Maciel: Aí, aí, aí vou te contar uma coisa...

Peixoto: Hã?

Maciel: Sei tudo, Peixoto.

Peixoto: Hã?

Maciel: Tu foi honra ao mérito em grau de comendador tu...

Peixoto: É, mas merecido eles... aquela hora que tu tava falando ali que eu tava bem.. bem cotado eu depois fiquei pensando: mas onde? Na Assembleia, em casa, onde mais... depois, depois eu vi...

Maciel: Tu entendeu depois?

Peixoto: Cheguei de lá agora...

Maciel: Tu entendeu depois onde que tu tava bem cotado?15184550505_20071022191600_1_7534857

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Peixoto: Só que eu tava lá e um campeão ligou pra lá pedindo

ajuda... (risos)

Maciel: Um campeão?

Peixoto: É, tchê, um campeão.

Maciel: Um campeão, um campeão.

Peixoto: É, um campeão que tu falou aqui no gabinete, te lembra, que ficou meio que coordenador... tu sabe... o campeão, ah, tu não conhece nenhum campeão, né? E daí campeão, e daí campeão..

Maciel: Ah, esse?

Peixoto: Ligou pra lá pedindo ajuda.

Maciel: Pra quê?

Peixoto: Pedindo água.

Maciel: O pacote?

Peixoto: É, pro pacote da Yeda, né.

Maciel: Ele pedindo ajuda?

Peixoto: Ele ligou lá... quando eu tava.

Maciel: Ué, mas ele é encarregado de fazer funcionar... vai pedir ajuda lá.

Peixoto: É..

Maciel: Ué... estranho... estranho... não viu se ele e o João Luiz marcaram hora pra amanhã?

Peixoto: Como?

Maciel: Não viu se ele e o João Luiz marcaram hora pra amanhã?

Peixoto: Não sei. (…)

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O Campeão, aqui referido, é Athos Roberto Albernaz Cordeiro, presidente

do Sicepot - Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação,

Obras de Terraplenagem - e dono da empresa STE Serviços Técnicos de

Engenharia, o que eleva a inquietude em torno deste diálogo. Por que um

expoente empresarial, do ramo da engenharia, pediria ajuda a Maciel para

resolver assunto concernente ao pacote da Yeda, do qual ele estaria

“encarregado” ?

O pacote, no caso, era o conjunto de projetos de aumento de impostos,

com caráter extremamente polêmico, proposto pelo governo do Estado. Athos,

neste contexto, seria “encarregado de fazer funcionar”, mas não consta um

interesse lícito para este empreiteiro ter qualquer razão para ampliar a carga

tributária que incidiria, também, sobre sua empresa. Resta, então, observar em

qual esquema estaria envolvido, junto com Antônio Dorneu Maciel, o presidente

do Sicepot.

Ligação seguinte em 29/10/2007 às 11h562, amplia a suspeição, não

somente com relação ao pacote, mas referente ao procedimento utilizado, prática

que parece correr distante da legalidade. Maciel comenta, rapidamente, com

Flávio Vaz Netto, sua função na questão fiscal:

(…)

Maciel: Eu tinha te ligado pelo seguinte, eu estive lá com o Peixoto e com o João Luiz pra passar uns negócio que eu tô cuidando aí do pacote e chegou lá o Peixoto com o guri..

Flavio Netto: Sei.

Maciel: Dele, ele tá sempre às volta com o guri dele. O Peixotinho com o guri dele. E eles acertaram, os dois ali, que vão conversar essa semana contigo... eu tô só ouvindo... pra acertar uma ida no Ferdinando, que é pra botar um cara, contratar um cara lá via Ferdinando, não sei quem é o cara...

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(…)

Seja qual fossem os negócios que ele estava cuidando acerca do pacote,

reafirma que as incumbências de Maciel estavam além da operação de desvio no

Detran e da diretoria da CEEE, cargo onde era subordinado a Delson Martini. Sua

função real, como interlocutor do PP, era representar seu partido neste acordo

suprapartidário, garantindo o apoio parlamentar na Assembléia através de um

grande esquema político.

Apenas para dar mais um exemplo desta função de Maciel, esta conversa

com Otomar Vivian, atual Chefe da Casa Civil, é bastante explícita neste sentido.

Após se encontrar com o Campeão no aeroporto, segundo a Polícia Federal,

Dorneu repassa as novidades para Otomar em 31 de outubro de 2007, às 14h353:

(...)

Otomar: Deixa eu te dizer assim, oh, agora mais calmamente, eu

acho que a reunião foi excelente, tu não achou?

Maciel: Não, foi ótima, dez.

Otomar: Foi dez, né?

Otomar: Pro meu gosto dez.

Otomar: Tá, tu falou bem com o Marquinho?

Maciel: Bem direitinho, e eu tenho liberdade com ele, sabe?

Otomar: Claro, claro, claro.

Maciel: E tu sabe o que ele quer, né?

Otomar: Sei.

Maciel: O que ele quer, ele quer.... essas conversa que nós tamo fazendo de coisa ortodoxa...

Otomar: Hum, hum.

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Maciel: Entendeu?

Otomar: Entendi.

Maciel: Quer entrar no meu coração como se eu fosse um cara que tivesse coração grande.

Otomar: Claro, claro.

Maciel: Mas é só isso, só isso. O resto tudo... ele disse 'mas tu tu.. tu não esquece de mim?' Eu disse 'não, se tu deixar de ser criança e começar a fazer as coisas direito.'

Otomar: (risos)

Maciel: 'Rapaz, tu tem um potencial do caralho' eu disse pra ele. Mas agora não é hora de pontificar, agora é hora de ajudar.

Otomar: Claro.

Maciel: Tu tá entendendo o que nós precisamos? Nós precisamos desse bosta desse guri. Então pra ter esse guri nós vamos tudo ser peão dele. Celso vai ser peão, tu vai ser peão, tudo peão.

Otomar: Certo, mas vou dizer uma coisa pra ti, oh... sem o pequenininho do lado dele também fica meio pela metade...

Maciel: Heim?

Otomar: Eu digo... o guri tem que tá com o pequenininho ao lado dele rapaz...

Maciel: Não, mas ele vai tá junto...

Otomar: É...

Maciel: Ele vai tá junto.

Otomar: Entendeu?

Maciel: Eu disse não adianta rapaz nós ter a maioria, tu comanda a maioria... mas se ele pega um ou dois desses... só pra nos fuder

Otomar: Rapaz, vai dar uma guinada nessa bancada rapaz...

Maciel: Agora, tu vai dar uma bomba no Zé Otávio, vai te encontrar com ele...

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Otomar: Vou.

Maciel: Vai dar uma bomba nele porque eu tô voltando duma conversa, tá?

Otomar: Aquela do aeroporto?

Maciel: É, exatamente.

Otomar: A a do aeroporto?

Maciel: Tô indo do aeroporto pra CEEE.

Otomar: Funcionou, não?

Maciel: Dez!

Otomar: Então tá.

Maciel: Dez, dez, dez.

Otomar: Posso dizer pra ele então que tá tudo certinho...

Maciel: Não, dez, dez. Nem diz pra ele onde que é porque ele não sabe onde que é.

Otomar: Não, não, vou dizer que tu já... tu já... tu já tá com tudo na mão pra fazer o trabalho, né?

Maciel: Isso, isso. Diz que tou com as fichas e com o cartão de crédito..

Otomar: Ok, então.

Maciel: Tá bem?

Otomar: Tá... parabéns irmão, eu...

(...)

Esta trama seria brevemente interrompida pela fase ostensiva da Operação

Rodin, onde o próprio Maciel acabaria preso por alguns dias. E esta fase da

investigação seria seguida pela abertura de uma outra Operação, a Solidária,

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tendo esta como centro, preliminarmente, Francisco José de Oliveira Fraga, o

Chico Fraga.

Secretário de governo de Canoas, Chico era acusado de chefiar uma

grande fraude na merenda de escolar do município. Mas logo no começo destas

investigações, foram interceptados diálogos entre o secretário de Canoas e

Antônio Dorneu Maciel, recém liberto de seu cárcere. Esta interceptação, além de

revelar o contato entre estes dois personagens, resultou em uma nova

autorização judicial para a quebra do sigilo telefônico de Maciel, agora no âmbito

da Solidária.

E este acompanhamento, das ligações telefônicas, de Maciel, mas não só

dele, de Chico Fraga também, mostrariam os braços deste grupo, onde o ponto

central culminaria no Palácio Piratini.

Em 17 de dezembro de 2007, às 13:23h4, Antônio Dornéu Maciel e JOSÉ

OTÁVIO GERMANO conversam por telefone. Germano discorre sobre contato feito

com ele por DELSON MARTINI, presidente da CEEE. Tanto Maciel quanto o

deputado federal, acreditaram, inicialmente, tratar-se da exoneração de MACIEL,

que ocupava um cargo de diretoria na CEEE. Mas Delson, na realidade, queria

falar de outro assunto com Germano. Como Maciel já não estava mais presente

neste centro político, em contato permanente com o presidente da CEEE, Delson

precisou contatar o parlamentar diretamente, para informar, segundo

interpretação de Maciel, que Ricardo Portella iria falar com José Otávio.

Mais uma vez fica caracterizada a interlocução de agentes políticos com

empresários – Ricardo Portella é dono da Sultepa Construções – para fins ainda

não esclarecidos, mas que visivelmente não possuem restrições partidárias. O

comprometimento público de Maciel neste momento, devido a recente revelação

da fraude no Detran, afastou-o dos contatos governamentais que possuía, mas

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não evitou que ele continuasse operando pelo seu partido, o PP, através de

contatos com José Otávio, Marco Peixoto, João Luiz Vargas e Chico Fraga.

Este último, por sua vez, teve sua função revelada posteriormente: agia

em nome da governadora, possuindo uma série de vantagens mesmo sem ser

membro oficial do governo. O depoimento de Silvestre Selhorst, ex-presidente da

Fatec, já apontava a presença de Chico Fraga como representante do Palácio

Piratini na troca da Fatec pela Fundae, que culminou na alteração do esquema

fraudulento imperante no Detran. Esta presença também é percebida por

diversos diálogos de Flávio Vaz Netto e Dorneu Maciel ainda na Operação Rodin.

Mas é no depoimento de Lair Ferst que sua influência dentro da

administração Yeda Crusius esclarece-se. Muito além de frisar a presença

constante de Chico no Palácio, destaca sua função como captador de recursos

durante a campanha, razão pela qual seu prestígio se elevou ao ponto de

permitir sua atuação posterior nos bastidores do governo tucano.

Tal atuação voltou-se, inicialmente, para o caso do Detran, onde o

depoimento aponta:

“(...)o Chico Fraga não conhecia o Flávio (Vaz Netto) diretamente. Então o

que é que ele fez, ele via o Dorneu (Maciel), que vamos dizer assim tipo influía

sobre o Flávio. Dorneu então, o Delson Martini era o presidente da CEEE e o

Dorneu era o diretor da CEEE. Então o Dorneu tava abaixo do Delson. Depois,

foi também me dito que o dinheiro ia prá Governadora, o Maciel levava prá CEEE

entregava para oo Delson e o Delson levava para a casa da Governadora.(...)”5

Como se observa, a estrutura composta visava o repasse ilegal de recursos

públicos para uma grande gama de padrinhos políticos, de diversas frentes

partidárias, mas ressaltando o início e fim nas figuras empoderadas pela

Governadora do Estado. A reestruturação do Detran foi apenas um caso onde

5Termo de Degravação do Depoimento de LAIR ANTÔNIO FERST, no dia 23 de janeiro de 2009.

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este modus operandi operava. A sequência na sangria do Erário prosseguiria,

conforme mostram as investigações da Operação Solidária.

Chico, na Operação Solidária, afastado da estrutura física do Palácio

Piratini, manteria sua influência através de outro personagem muito próximo da

Governadora Yeda Crusius: Walna Vilarins Meneses. Sempre em constante

contato, ambos possuiam, segundo o teor de uma ligação6, um número próprio

para realizar suas conversas e evitar, assim, grampos judiciais.

Walna, figura obscura do gabinete de Yeda, manteria o canal com Chico

Fraga para prosseguir com a operação dos espúrios interesses palacianos. Chico,

em sua função, contataria empresários e representaria a Governadora dentro

deste esquema delinquente, de sustentação política através da fraude sistemática

do patrimônio público.

A quadrilha só não contava com a ampliação das duas investigações, da

Solidária e da Rodin. Mais uma vez, devido às interceptações, percebe-se a

interferência de um agente público, neste caso Walna, no processo investigatório

da Rodin. Chico, citado em um dos depoimentos do inquérito, é convocado

também a depor. Observa-se, então, em uma sequência de três conversas entre

Chico e Walna, entre os dias 30 e 31 de janeiro de 20087, a intervenção de Walna

na oitiva. Fica evidenciado que a secretária de Yeda, contatou um agente federal

para colher informações e repassar para o secretário de Canoas investigado. Sua

preocupação era óbvia: evitar a ligação de Chico Fraga com a Governadora do

Estado, que exporia todo esquema criminoso.

E a exposição, como mostra ligação de 1 de abril de 20088, ocorreria se

realmente Chico Fraga fosse abandonado pela Quadrilha. Conversando com

Marcos Ronchetti, então prefeito de Canoas, Chico o prepara para enviar

diversos recados a seus aliados, que não estavam se esforçando para protegê-lo. 65199851061_20080116181553_1_774059275181887866_20080130134527_1_7766212, 5181887866_20080131074235_1_7767640, 5181887866_20080131172410_1_776926185181404125_20080401164646_1_8006911

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A intenção de Fraga era “encagaçar” todos eles, por causa da ajuda que ele teria

dado a governadora. “Eles” são citados: Delson Martini, Zila Breitenbach, Marcelo

Cavalcante e o “G8”.

Logo, esta preocupação não seria apenas de Walna, mas também, com a

ampliação da divulgação das informações sobre a fraude do Detran, de um

proeminente empresário, Edgar Hernandes Cândia, dono da Magna Engenharia.

Em 7 de abril de 20089, ele é explícito com Neide Bernardes ao dizer que era

fundamental preservar o Chico e que o resto não importava. Neste mesmo

diálogo, Cândia pede para Neide marcar com a “moça” para quarta, o que ela

confirmaria. A “moça” neste caso era justamente a Walna.

A divulgação da participação de Fraga acabou lhe afastando da secretária

da governadora. Seus contatos se tornariam indiretos, configurando-se através de

Neide, apontada pela PF, como “(...)quem guarda e organiza documentos

relacionados à vida financeira do investigado(...) CHICO FRAGA confia à NEIDE

não só a guarda de documentos, mas também de valores.(...)”. Fica, então,

caracterizada a manutenção dos contatos entre Walna Meneses e Chico Fraga,

através de Neide Bernardes. Ambos, Chico e Neide sempre em contato direto com

empreiteiros, como no caso do dono da Magna. Alias, a reunião requisitada por

Cândia com Walna, efetivamente, aconteceu em 9 de abril de 2008, como

constatado pelos contatos de Neide10.

A Polícia Federal complementa:

“ Na esteira de várias ligações envolvendo empresários do setor

empreiteiro, MACIEL e CHICO FRAGA travaram o diálogo captado às 14:08h do

dia 08/04/08, em que FRAGA advertiu MACIEL de que RICARDO PORTELLA fizera

interseções em seu nome (de MACIEL) e que “é pra ele e o Campeão saírem

fora”. E acrescentou: “é pra sair todo mundo por que o véio tá cagado”

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(referindo-se a EDGAR HERNANDES CÂNDIA, sócio da MAGNA ENGENHARIA,

conforme indicam os registros antecedentes).

Os mencionados diálogos culminaram na marcação de um encontro entre

MACIEL e CHICO FRAGA, realizado nas dependências do Hospital Mãe de Deus

Center. Em face das circunstâncias, tais como horário e local, pareceu bastante

suspeito o evento, especialmente pelo fato de que, imediatamente ao entrarem

no elevador, MACIEL passou um envelope a CHICO FRAGA.

O Relatório de Vigilância nº 25 traz maiores detalhes a respeito do

encontro. MACIEL, em 12/04, às 10:54h: MACIEL ligou para CHICO FRAGA

dizendo que queria pegar o “material”, ao que FRAGA respondeu que não seria

possível, pois ele (FRAGA) não se encontrava em Porto Alegre.

Em 24/04/08, às 12:14h WALNA VILARINS MENESES, Assessora da

Governadora do Estado do Rio Grande do Sul, relatou a CHICO FRAGA que o “ex-

companheiro do Secretário” (referindo-se a MACIEL, provavelmente) havia ligado

para ela, e que não pôde atender. Disse ao investigado que se fosse sobre o

processo da nomeação ela falaria, mas se fosse outro assunto, não. FRAGA,

então, disse: “se for o outro assunto diz que ele me ligue. Diz pra ele falar com a

pessoa que ele tem conversado”. Em seguida, às 13:37h, MACIEL disse a FRAGA

que precisava passar informações urgentes para a “guria aquela”, sugerindo um

encontro entre os três. CHICO FRAGA disse que ela não iria a um encontro, teria

que ser apenas entre ambos. Acertaram, então, um novo encontro nas

dependências do Hospital Mãe de Deus Center, conforme narra o Relatório de

Vigilância n°26.”

Percebe-se, então, que para além do encontro de Walna e Cândia, para

tratar de assuntos referentes às licitações das barragens, diversos outros contatos

foram consumados. Chico, Maciel, Neide e Walna.formaram uma rede de inter-

relações fixas onde cada um possuía responsabilidade em contatar

especificamente alguém do esquema seja para trocar informações, seja para

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movimentar dinheiro. Dinheiro este que convergia para assessores da

Governadora do Estado, fechando o círculo da operação.

Isto é percebido entre as conversas entre Neide e Walna, onde o termo

“flor” e “bonsai” esconde o pagamento da propina. São algumas referências

entre abril e julho de 200811, mostrando o vigor do esquema arquitetado no

centro político do estado do Rio Grande do Sul.

Uma grande operação, ligando pivôs das duas investigações federais,

Rodin e Solidária, em uma trama suprapartidária onde, até agora, temos diversos

agente políticos suspeitos de receber valores de empresários, avalizando a

ilicitude em diversos níveis da administração pública. O que moveria este

esquema é, além da própria governadora, um grupo de seletos, chamado de G8,

possivelmente parlamentares poderosos e diretamente beneficiados pela

manuntenção deste estratagema. Citados em duas ocasiões - por Chico Fraga em

diálogo com Ronchetti e por José Luiz Paiva, ao explicar para Marco Camino a

lógica de distribuição de recursos para as obras do Daer 12- o G8 explícita a lógica

deturpada da atual administração para manter o apoio político irregular.

Não é exagero afirmar, a partir dos fartos indícios probatórios, de que se trata de

uma organização criminosa, pois agem de acordo com a definição dada pela

Convenção da Onu que trata do combate ao crime organizado recepcionada pelo

direito pátrio. Também a Lei nº 10.217/01, define a questão. Embora

reconheçamos que ainda prefere o Ministério Público indiciar pelo artigo 288 do

Código Penal, para não correr o risco de não haver sanção, frente a uma certa

indefinição conceitual que ainda existe.

Entretanto, os indiciados em questão agiram com o objetivo de auferir ganho

financeiro, em soma de esforços, com hierarquia e método empreserial. Ainda

limitada a definição de organização criminosa, mais deficiente ainda quando se

115198082626_20080423132826_1_8171559, 518115400020080701143040, 518115400020080701134049, 518115400020080701143623.125199851061_20080317180127_1_7925348

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trata de defini-la no que diz respeito aos crimes praticados contra a administração

pública, hipóteses dos artigos 9º, 10º e 11º da Lei nº 8.429/92. Pois no caso em

tela, há um conjunto de ações, continuadas e diversificadas que extrapolam as

tipificações dos três artigos referidos.

Identificamos como mote para a ação conjunta o tema da governabilidade, do

apoio político-institucional e uma busca por maioria parlamentar como forma de

concretizar este esquema. Uma prática política criminosa e deplorável. Corrupta e

corruptora. E é isto, mais do que ações delituosas que acontecem em fraudes a

licitações, compra de votos, corrupção passiva, etc... que constitui o centro do

modo de agir da organização.

Este objetivo estratégico é o que dá centralidade e foco na ação do grupo. É a

certeza de que a primeira mandatária e seu núcleo central de governo agirão com

permissividade e cumplicidade, para em troca da estabilidade política, permitir o

locupletamento e o assalto aos cofres públicos.

Este animus agendi, não pode ser desprezado por nós, pois é ele que garante

cobertura para que Maciel, Chico Fraga, Delson Martini e Walna continuem agindo

mesmo depois de denunciados pelo MPF, e indiciados pela PF: são os operadores

qualificados do esquema político suprapartidário montado no estado do Rio

Grande do Sul, ao que tudo leva crer, antes mesmo do atual governo.

Frente a estas considerações e a todos estes indícios, somos pelo indiciamento de

Yeda Rorato Crusius, Delson Martini, Walna Vilarins Meneses, Chico Fraga e

Antonio Dorneu Maciel pelos atos previstos no artigo 9º, incisos I, II e IX, bem

como artigo 10º, incisos V e XI, e o artigo 11º, incisos I, II, III e V.

D - Irregularidades financeiras e caixa dois de campanhas

O item “c” do requerimento da CPI tratou das declarações da viúva de

Marcelo Calvalcante, Magda Koenigkan, que apontavam para irregularidades

financeiras, com a ocorrência de crimes conexos com a campanha eleitoral de

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2006, inclusive a aquisição de imóvel cujo preço informado é discrepante de seu

valor de mercado. Além disso, conforme afirmou Magda, a origem dos recursos

para o pagamento carecem de procedência plausível.

O item “e”, por sua vez, tratou das afirmações da deputada federal Luciana

Genro e do vereador de Porto Alegre Pedro Ruas que, em entrevista coletiva,

afirmaram existir provas documentais, áudios e vídeos, que integrariam a

deleação premiada de Lair Ferst e estaram em poder do Ministério Público

Federal, que comprovam crimes ocorridos no seio da Administração Publica do

Estado.

Este último ponto, já cabe esclarecer, restou em parte demonstrado pela

Ação Civil de Improbidade Administrativa ajuizada contra nove pessoas e que tem

como cerne captação irregular de recursos, recebimento de propinas e caixa dois

de campanha de membros e aliados do atual governo.

Esta ação, porém, desencadeou o conhecimento de novas irregularidades e

inconsistências no que se refere à aquisição de um imóvel de luxo pela

governadora. Além de serem, atualmente, pelo menos três as versões

apresentadas para a compra, outras inconsistências surgiram. As próprias

contradições existentes entre os advogados contratados para explicar a compra e

o empréstimo de Walna Villarins Meneses à governadora demonstram a

dificuldade da governadora em explicar a origem dos recursos para viabilizar a

transação imobiliária.

As inconsistências

Em dezembro de 1996

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Documentalmente, a casa foi adquirida por R$ 750 mil, restando R$ 200

mil a serem pagos ao vendedor, que aliás, possui inúmeras ações de execução de

dívidas no Judiciário do Rio Grande do Sul.

Em abril de 2008

Ao programa Gaúcha Atualidade, em abril de 2008, a governadora Yeda

Crusius havia afirmado que usara como recurso para dar entrada na compra os

valores obtidos com a venda de dois apartamentos, um em Brasília e outro em

Capão da Canoa.

Além disso, a própria governadora reconheceu que havia feito um

empréstimo para ser pago em 12 parcelas com o objetivo de completar o valor da

casa.

“Espera, eu vou ver o que posso fazer. E aí corri atrás de uma casa, que

tinha certo valor de mercado, pela pressão do morador de vender baixou

o preço de mercado, eu dei entrada com este cheque, com a venda

do meu apartamento em Capão, ainda não recebi tudo, por

enquanto não entreguei, vendi meu carro, aquele mesmo que foi

roubado no mesmo dia e depois devolvido, eu peguei um

empréstimo. Na minha atual situação eu não tenho como pagar

uma prestação de um empréstimo. Eu peguei um empréstimo

para pagar o restante da casa que acabou de pagar 12 meses

depois e, para fazer a reforma da casa que, pela sua estrutura chovia

dentro,eu tomei outro empréstimo do Banrisul pra fazer a reforma da

casa onde eu tô. Que bom a gente poder falar isso, poder dizer que

valeu a pena lutar a vida inteira para dizer que tem uma casa. (programa

Atualidade- Rádio Gaúcha- 17.04.2008 )

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Em 12 de agosto de 2008

Ao Ministério Público de Contas, seu advogado, Dr. Paulo Olimpio de Souza

revelou que os R$ 180 mil obtidos na venda do apartamento de Capão da Canoa

foram usados para compor a entrada de R$ 550 mil na compra da casa. Segundo

a explicação dada ao órgão, a governadora reuniu recursos para o pagamento de

R$ 550 mil no ato da compra com a venda de dois imóveis (em Brasília e Capão

da Canoa) e um automóvel. Para o imóvel de Capão da Canoa, ela celebrou

promessa de compra e venda em 29 de novembro de 2006 com Delacy Martini,

pai de seu ex-secretário Geral de Governo Delson Martini e recebeu o total de R$

180 mil, pagos em quatro pagamentos em dezembro, sendo três cheques no

mesmo dia, que somam R$ 150 mil. Os R$ 30 mil restantes foram pagos três dias

depois e outros R$ 30 mil, que completam o valor de R$ 210 mil fixado para a

venda, em 20 parcelas.

Nenhum valor referente a empréstimos.

Em 05 de agosto de 2009

Posteriormente, na Ação Civil Pública, consta trecho em que se relata a

existência de um empréstimo à governadora, obtido por Walna Vilarins, sua

secretária pessoal, também ré no processo. Indentifica-se, no entanto,

desencaixe financeiro, ou seja, os rendimentos da assessora no ano foram bem

menores que o valor emprestado:

“Há que se destacar a existência de empréstimo declarado por Walna

Vilarins Menezes a Yeda Rorato Crusius, no ano-calendário de 2007, no

valor de R$ 90.500,00, situação inusitada, tendo em conta que Walna

Vilarins Menezes teve que se socorrer, para efetivar o referido

empréstimo, de valores obtidos em CDC junto ao Banco do Brasil o valor

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de R$70.781,45 (saldo em 31/12/2007), pois, no referido ano, teve

rendimentos líquidos declarados na ordem de R$ 78.662,10.

Ademais, verifica-se que a variação patrimonial de Walna Vilarins

Menezes, no ano de 2007, foi de R$ 155.370,24 positiva, sendo que suas

dívidas também foram acrescidas em R$ 115.772,94, gerando uma

variação patrimonial positiva de R$ 39.597,30, a qual deve ser

descontada dos rendimentos líquidos declarados de R$ 78.662,10. Assim,

restou um saldo de rendimentos no valor de R$ 39.064,80 para sua

manutenção ordinária.

Todavia, há que se considerar ainda que o empréstimo a Yeda

Crusius foi no valor de R$ 90.500,00, e não no valor constante ao final

do exercício, havendo a indicação de um pagamento no valor de R$

32.680,44 no mesmo ano de 2007, fato que imporia à Walna Vilarins

Menezes ter disponibilizado aquele valor a Yeda Rorato Crusius, restando

para si somente o montante de R$6.384,36, a cobrir suas despesas

pessoais no ano.

Verifica-se, por fim, que o saldo de “dinheiro em espécie” de

Walna Vilarins Menezes não é compatível com seus rendimentos (R$

26.102,00 em 31/12/2006 e R$ 19.832,00 em 31/12/2007), pois se

afigura muito estranho alguém com valores altos em espécie, acrescidos

de aplicações financeiras e poupança em mais de R$ 10.000,00 buscar

recursos de financiamento CDC para realizar empréstimo privado.” (Nota

de Rodapé, 133, pag. 598, versão editada pela JF)

Resumindo, Walna emprestou à governadora R$ 90,5 mil. Para isso, a

assessora se socorreu de um financiamento de R$ 70,7 mil junto ao Banco do

Brasil, com os altos juros do CDC – Crédito Direto ao Consumidor.

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Em 12 de agosto de 2009

O advogado contratado pela sra. governadora para defesa na Ação de

Improbidade, Dr. Fabio Medidna Osório, disse para a imprensa que o empréstimo

feito por Walna teve por finalidade “agilizar a compra” da casa da governadora na

Rua Araruama, zona norte da Capital.

O dr. Paulo Olimpio Gomes de Souza, que representou a governadora no

Tribunal de Contas, porém, disse que Yeda não recorreu a nenhum empréstimo

para realizar a operação.

Disse Fábio Medina Osório, em e-mail em resposta a questionamentos

enviados pelo jornal ZH, publicado em 13 de agosto de 2009:

“A finalidade do empréstimo foi agilizar a compra de sua casa (de Yeda).

Foi obtido junto à assessora porque ela própria viabilizou”.

Ele explicou ainda que se tratava de um contrato de mútuo registrado no

Imposto de Renda da governadora e de conhecimento das autoridades públicas

competentes.

Ocorre que a versão do dr. Paulo Olímpio junto ao TCE foi reafirmada por

este:

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Zero Hora – Fábio Medina afirma que o empréstimo feito por Walna para

Yeda em 2007 foi usado para a compra da casa da governadora. O

senhor confirma?

Paulo Olimpio Gomes de Souza – Não. As explicações estão no processo,

nas representações e na defesa feita pelo meu escritório. Foram dados

item por item os valores, a venda dos imóveis. Não foi usado nenhum

valor de empréstimo de Walna ou coisa assim. O que fechava o

valor que foi efetivamente pago foi o valor da venda dos imóveis que

chegavam exatamente ao valor, conforme ficou demonstrado

exaustivamente.

Ou seja, uma terceira versão para um fato que deveria ser facilmente

explicado. Em um ano, um emprétimo surgiu na imprensa, desapareceu nas

explicações formais dadas ao Tribunal de Contas e ressurgiu, através de Walna

Vilarins, novamente pela imprensa.

Soma-se a isto, o fato de que existem INCONSISTÊNCIAS entre o que a

governadora Yeda DECLAROU AO TCE e o que ela DECLAROU AO IMPOSTO DE

RENDA, assim como nos registro do Imposto de Renda de seu marido Carlos

Cruisus sobre este imóvel, assim como na movimentação bancária do casal

Crusius, que é bem superior aos rendimentos declarados à Receita, conforme os

deputados signatários puderam constatar em reunião reservada na qual

analisaram esses elementos.

E esses fatos alicerçam as transcrições das conversas entre Lair Ferst e

Marcelo Cavalcante, em que o ex-assessor da governadora informa que a casa

custou R$ 1 milhão e não R$ 750 mil, como sustentado pela governadora:

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“Lair Ferst – é verdade.. mas o que eu achei curioso foi o negócio da

casa, foi que o Marcelo Alba me relatou que a casa tava vendida.. ela

tava vendida por um milhão de reais e que ele conseguiu atravessar o

negócio..

Marcelo Cavalcante – essa questão da casa aí a minha opinião é a

seguinte: momento inoportuno. Tendo dinheiro, não tendo (Lair Ferst –

logo depois de campanha comprar imóvel gera desconfiança..)..

momento inoportuno, então quer dizer, isso ai é uma questão, não sei..

eu hoje na conversa (incompreensível) aqui em Brasília, não tenho como

avaliar. Mas a minha opinião, as pessoas que estão lá do lado da

Governadora deram um conselho pra ela... deram um conselho, foram

totalmente equivocadas. (incompreensível) se tu comprou aqui, ó um

celular.. tem algum questionamento, compre, tá aqui, mostra...”

Tais afirmações se repetem na fls. 641 e seguintes da Ação de

Improbidade.

Da mesma forma, em entrevista para a revista Veja - em três de maio

deste ano - a Sra. Magda Koenigkan, companheira de Marcelo Cavalcante,

revelou que este teria lhe feito confidências sobre irregularidades na compra o

referido imóvel.

Consta ainda na Operação Solidária o IP (folha 785) o depoimento do sr.

Sergio Luiz Buchmann, Auditor Fiscal do Estado e ex-presidente da autarquia

DETRAN, a quem teria sido confidenciado, pelo então secretário adjunto da

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Administração e dos Recursos Humanos do Estado, informações sobre a compra

do imóvel da Rua Araruama, 806: “era sabido por todos que efetivamente havia

sido adquirido com recursos de sobra de campanha...”. (fls.785)2

Mais recentemente, em 07 de outubro, o deputado Paulo Borges deu

conhecimento a uma série de denúncias por ele recebidas, dando conta de

diversas irregularidades na aquisição de bens e serviços do gabinete da

governadora. Diante da gravidade dos fatos, os deputados decidiram proceder a

diligências antes de tornar públicas as denúncias. Diante dos vários fatos

relatados, numa análise preliminar, foram constatados dois processos nos quais

não havia justificativa para serem considerados gastos públicos. Os dois se

relacionavam, respectivamente, a um piso emborrachado e a móveis infantis que

teriam sido adquiridos para a casa particular da governadora. Em ambos os

casos, os empenhos traziam os números das notas fiscais das aquisições.

Os deputados Elvino Bohn Gass e Daniel Bordignon foram, então, à Casa

Civil para terem acesso ao expediente nº 1698-08.01/07-5, onde estava desde

04/12/2007, no gabinete daquela Subchefia. Lá chegando, o subchefe da Casa

Civil informou que o expediente se encontrava com o Chefe da Casa Civil, a

pedido deste, sem ter havido movimentação no sistema eletrônico, o que é

obrigatório.

Os deputados dirigiram-se ao Chefe da Casa Civil, que recebeu o deputado

Bordignon, e após insistência deste, permitiu o acesso ao processo. Na

oportunidade, constatou-se que realmente versava sobre aquisição de móveis

para quarto infantil, incluindo cama, colchão, pufe verde-Kivi e cômoda. Diante da

situação, o Chefe da Casa Civil, acompanhado do Subchefe Administrativo, do

financeiro da Casa Civil, do secretário da Transparência e do líder do governo na

Assembléia Legislativa, deputado Pedro Westphalen, sustentaram para o

deputado que tais despesas eram perfeitamente legais e que despesas deste tipo

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já haviam sido feitas em outros governos. Explicaram que outros governadores já

haviam adquirido bens para suas residências particulares da mesma forma.

Detalhe importante: o chefe da Casa Civil assegurou ao deputado que

todos os bens adquiridos estavam “patrimonializados” e que seriam restituídos ao

final do mandato da governadora. Outros bens que não pudessem ser restituídos,

seriam indenizados pela governadora.

Já em fevereiro de 2008 foi pedida cópia deste processo administrativo

pelo Dep. Raul Pont. Na época, a subchefe administrativa da Casa Civil

encaminhou mensagem explicando que o pedido deveria ser pela via de pedido

de informações. A mensagem foi encaminhada com cópia para Iara Wortmann e

Walna Vilarins, e a recusa de cópia de um mero processo administrativo já

levantou suspeitas sobre a licitude do processo.

Também chamaram atenção o volume de despesas verificadas com

eventos e homenagens – jantares, almoços, coquetéis – com valores bastante

elevados. Note-se que ao menos um dos processos refere no detalhamento

“confraternização com funcionários” em dezembro de 2008

(8334-08.01/08-8).

Parece que existe uma enorme dificuldade deste governo de separar o

“público” do “privado”. A compra de móveis, artigos de decoração e outros

objetos para uso pessoal da governadora, entregues diretamente em sua

residência, como restou comprovado pelos documentos que chegaram à CPI da

Corrupção, são uma mostra disto.

Os bens, ainda que devessem ser comprados pelo Estado, deveriam

destinar-se exclusivamente àquilo que permita o pleno exercício da função pela

chefe do Executivo estadual. E onde está o interesse público na compra de

mobília infantil, pufe, piso emborrachado para garagem e coníferas? Onde isto é

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indispensável ao pleno exercício das funções de governança? Onde está a

coerência com o “déficit zero”, que restringe recursos das áreas mais essenciais,

em nome do equilíbrio financeiro da fazenda pública?

Certamente muito mais se desviou nas fraudes investigadas, mas a

questão é de legitimidade e moralidade deste tipo de gasto. Ainda que fossem

legais – o que é totalmente discutível –, tais compras certamente não foram

morais. E tal como ensinam os principais doutrinadores do direito, a legalidade

não é simplesmente cumprir a lei na frieza de seu texto, mas também, revestir e

orientar cada ato pelos princípios da administração pública, descritos no Art. 37

da Constituição Federal, dentre os quais se destaca a moralidade.

Assim, a sra. governadora, mesmo após ter tornado público assunto

referente à aquisição de sua casa deixou de comprovar a legalidade dos ganhos e

do acréscimo patrimonial referente a aquisição deste imóvel. As várias versões

apresentadas, ao lado de fatos inexplicáveis como, por exemplo, ter vendido o

apartamento de Capão da Canoa – mas que ocupa até hoje - para comprar um

imóvel com valor desproporcional a do mercado, são elementos que não podem

ser desapercebidos. Por isso, a sra. governadora comete, em tese, ato de

improbidade, pelo que deve responder, em especial pela incidência dos VII do art.

9º da Lei 8.429/92.

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PARTE III - SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES AO PARLAMENTO, AOS

DEMAIS PODERES E AOS ORGÃOS DE FISCALIZAÇÃO

Medidas para aprimorar os sistemas de fiscalização e controle do

Estado

Com o objetivo de buscar alternativas para aprimorar os sistemas de

fiscalização e controle do Estado e coibir irregularidades, a CPI da Corrupção

realizou uma sessão especial para a qual foram convidados o Contador Auditor

Geral do Estado, Roberval Silveira; o Procurador Geral do Ministério Público de

Contas, Dr. Geraldo Costa da Camino; e o Conselheiro do Tribunal de Contas do

Estado, Dr. Cézar Miola.

As propostas apresentadas, com base na referida audiência e em

decorrência da investigação são as seguintes:

1- Seja este relatório encaminhado para as Câmaras Municipais e

Prefeituras as cidades de Porto Alegre, Canoas, Sapucaia, Alvorada e Gravataí,

para que tomem conhecimentos dos indícios de fraude em obras naqueles

municípios e procedam as averiguações que entenderem necessárias dentro de

suas competências.

2-Promover uma cultura de integração entre os diversos órgãos e

estruturas que se ocupam da fiscalização e controle das atividades do Estado. A

proposta pretende articular diversas instituições – Judiciário, órgãos de controle e

polícias.

3-Criação do Observatório das Contas Públicas Estadual a exemplo de

experiências semelhantes implementadas no Estado do Paraná, onde segmentos

da sociedade foram capacitados para acompanhar a gestão pública.

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A proposta atende ao princípio da transparência e permite o efetivo

controle social dos agentes públicos e políticos. No Rio Grande do Sul, o Fórum

Democrático, da Assembleia Legislativa, vem discutindo a implantação da medida.

Existe, segundo o Contador e Auditor Geral do Estado, uma organização de

entidades que fiscalizam profissões – OAB, CRC e outras – que está trabalhando

na implantação de observatórios em nível municipal.

4-Implantação da Lei Orgânica Nacional do Controle Interno, que permita

equalizar os diferentes direitos e deveres dos Tribunais de Contas da União e dos

Estados, que encontram-se em estágios diferentes de desenvolvimento em

termos de estruturas administrativas e de modos operativos.

5-Regulamentação do artigo 19 da Constituição Estadual, que prevê a

implantação de conselhos populares com a missão de acompanhar a ação

político-administrativa do Estado.

6-Constituição de uma base centralizada com dados das empresas

frequentemente beneficiadas com contratações diretas, acessível à consulta da

população via internet. A proposta, segundo Geraldo Da Camino, seria uma forma

de combater os desvios advindos da falta de licitação, das contratações diretas,

sejam em função de dispensa de licitação ou inexigibilidade de realização de

certame.

7-Ampliação do dispositivo que prevê a realização de audiências públicas

quando da contratação de serviços. A medida permitirá a manifestação da

população, dos órgãos de classe e de entidades representativas, fortalecendo a

transparência e o controle da administração pública.

8-Aumento das multas impostas pelo Tribunal de Contas do Estado.

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O Tribunal de Contas do Estado encaminhou à Assembleia Legislativa

proposta que estabelece multa no valor mínimo de R$ 3000,00 e valor máximo de

R$ 10.000,00, valores considerados modestos se comprados aos aplicados por

outros tribunais e pelo Tribunal de Contas da União.

Durante o debate na CPI da Corrupção, foi aventada também a

possibilidade de criação de um mecanismo legal que permita, em casos de

comprovado dolo ou má fé, a aplicação de multa proporcional ao dano causado

ao erário.

9-Outorga ao Tribunal de Contas do Estado para expedir medida cautelar

de indisponibilidade de bens. A proposição chegou a ser encaminhada ao exame

do Poder Legislativo, mas foi retirada pelo TCE. Segundo Geraldo Da Camino, os

envolvidos na fraude da construção do TRT de São Paulo, um dos mais

rumorosos casos de corrupção nos últimos anos, tiveram os bens bloqueados por

determinação do Tribunal de Contas da União, atendendo requerimento do

Ministério Público Federal.

10- Afastamento temporário do gestor que esteja obstaculizando a ação

do controle ou colocando em risco o erário com a sua permanência à frente do

órgão que chefia.

11-Alteração da composição do Tribunal de Contas do Estado.

Hoje, quatro vagas do TCE são indicadas pela a Assembleia Legislativa e

três vagas, pelo governador, sendo uma delas de livre escolha. A proporção deve

ser alterada para que haja predomínio das indicações técnicas, garantindo, com

isso, que o tribunal funcione como um instrumento de controle do Estado e não

como instrumento de um dos Poderes do Estado.

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12-Recomposição do quadro funcional da CAGE.

Enquanto o universo fiscalizado pelo órgão, do ponto de vista da receita

pública, cresceu nos últimos anos, os quadros técnicos diminuíram

numericamente. Vários órgãos da administração – como Corsan, CEEE, Banrisul e

Sulgás – deixaram de ser fiscalizados pela CAGE, por absoluta incapacidade

material, levando o TCE a julgar contas com esta lacuna.

Hoje, a CAGE conta com 72 agentes fiscais. Em 1995, eram 132.

13-Recomposição do quadro funcional da Delegacia Fazendária da Polícia

Civil.

O órgão conta com apenas um delegado e oito agentes policiais, sendo

que seis atuam nas áreas de cartório e secretaria e só dois se dedicam a

investigações. A Delegacia Fazendária é responsável pelo combate à corrupção

nos 496 municípios gaúchos e em toda a administração do Estado.

14 - Aplicação do artigo 87 da Lei 8.666, que determina, em caso de

inexecução total ou parcial de contrato, uma série de penalidades aos

contratantes, entre elas a suspensão temporária de contratar com o Poder Público

e a declaração de inidoneidade da empresa.

Existe a intenção da Controladoria Geral da União de integrar cadastros

estaduais com o federal, tornando a consulta obrigatória na contratação e

licitação nas três esferas administrativas.

15 - Criar mecanismos para ampliar a possibilidade de competição nas

licitações públicas, evitando que só determinadas empresas sejam consideradas

habilitadas .

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O TCE entende que a exigência formulada a pessoas jurídicas de atestado

ou certidão que comprove a prévia execução de obras e serviços de engenharia

(capacidade técnico operacional) não pode ser colocada como elemento

impeditivo à habilitação de possíveis interessados em contratar com a

administração pública, já tendo tomado decisão sobre o assunto.

Embora inadmissíveis como elemento restritivo à participação em processo

licitatório, tais certidões podem ser consideradas quando da análise técnica das

propostas nas obras e serviços cuja complexidade assim o exigir, desde que sua

valoração atente, sobretudo, para os princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade, além dos demais expressos na Constituição.

O TCE considera ainda que devem ser contemplados requisitos que

assegurem a plena capacidade financeira, material, operacional e de controle por

parte da contratada em relação ao respectivo objeto. (Folhas 105 e 106)

16 – Finalmente, os órgãos públicos, de todos os poderes devem tomar

todas as medidas necessárias para evitar o apoderamento das estruturas da

Administração por cartéis. Nesse sentido, em 08 de outubro de 2009 foi lançado,

em encontro de órgãos de controle e fiscalização, como a Secretaria de Direito

Econômico do Ministério da Justiça, o Conselho Administrativo de Defesa

Econômica (“CADE”), Ministérios Públicos Estaduais e Federal, o Departamento de

Polícia Federal e Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas, a

“Declaração de Brasília” - Estratégia Nacional de Combate a Cartéis –

ENACC, que visa, justamente, barrar esta prática nefasta que retira, ilegalmente,

milhões de reias dos cofres públicos.

17 - Da mesma forma, diante dos enormes prejuízos ao Erário decorrentes

da nefasta prática de cartéis em licitações, sugere-se que o governo do Estado

implemente, um grupo ou departamento responsável pela veiculação de

inteligência voltada ao combate a corrupção e fraudes, semelhante ao existente

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na Corregedoria-Geral da União, através da Secretaria de Prevenção da Corrupção

e Informações Estratégicas.

18 – Sugerir aos órgãos que promovam certames que adotem, a

semelhança da Instrução Normativa 02 da Secretaria de Logística e Tecnologia da

Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão a DECLARAÇÃO

DE ELABORAÇÃO INDEPENDENTE DE PROPOSTAS, em procedimentos licitatórios

que realizem, a fim de que os proponentes afirmem que suas propostas não

foram, no todo ou em parte, direta ou indiretamente discutida com qualquer

outro participante potencial ou de fato da licitação, e que não tentou, por

qualquer meio ou por qualquer pessoa, influir na decisão de qualquer outra

participante potencial ou de fato da licitação ou de membro do órgão licitante ou

interessado nesta.

Tal medida visa coibir, justamente, a formação de cartéis em licitações.

19- Sejam realizadas Representações específicas ao Ministério Público

Federal, Estadual e de Contas quanto aos casos acima analisados.

Palácio Farroupilha, em 21 de dezembro de 2009

Stela Farias Daniel Bordignon Deputada Estadual – PT Deputado Estadual - PT

Raul Carrion Paulo Borges Deputado Estadual – PC do B Deputado Estadual – DEM

Gilmar Sossella

Deputado Estadual – PDT