relatório de estágio profissional - repositório aberto · 2019. 6. 12. · ii ficha de...

161
Universidade do Porto Faculdade de Desporto Relatório de Estágio Profissional Relatório de Estágio Profissional apresentado com vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro). Orientador: Mestre Rui Veloso Valter Rafael Nunes Santos Porto, setembro de 2011

Upload: others

Post on 16-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

Universidade do Porto

Faculdade de Desporto

Relatório de Estágio Profissional

Relatório de Estágio Profissional apresentado

com vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos

conducente ao grau de Mestre em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário (Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de

março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de

fevereiro).

Orientador: Mestre Rui Veloso

Valter Rafael Nunes Santos

Porto, setembro de 2011

Page 2: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

II

Ficha de Catalogação

Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional. Porto: V. Santos.

Relatório de Estágio Profissional para obtenção do grau de Mestre em Ensino

da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à

Faculdade de Desporto, Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, REFLEXÃO, PROFESSOR,

ENSINO

Page 3: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

III

Agradecimentos

Ao Mestre Rui Veloso, pela ajuda, orientação, disponibilidade, partilha de

conhecimentos e pela confiança demonstrada.

À Professora Cristina Macedo, pela orientação, dedicação, compreensão, pela

partilha de conhecimentos e pelo exemplo que é… É, sem dúvida uma

referência para mim.

Aos meus colegas de estágio, Diana Robalinho e João Ferreira pela partilha,

cooperação e motivação.

Aos meus alunos pelas experiências inesquecíveis que me proporcionaram.

Aos meus amigos, em especial ao Vítor pelo apoio, troca de conhecimentos e

pela amizade.

À Sara pela compreensão e paciência demonstrada.

Ao Cristiano e a quem eu devo tudo, porque sem eles o alcance desta meta

não seria possível…

…aos meus PAIS.

Page 4: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos
Page 5: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

V

Índice Geral

Resumo ........................................................................................................... XIII

Abstract ........................................................................................................... XV

Abreviaturas ...................................................................................................XVII

1. Introdução .................................................................................................... 1

2. Enquadramento biográfico ........................................................................... 3

2.1. O passado e a importância da formação académica, o presente e o

futuro .............................................................................................................. 3

2.2. O estágio profissional e principais espetativas ...................................... 8

2.3. O culminar de um ciclo ........................................................................ 12

3. Enquadramento da prática profissional...................................................... 15

3.1. Enquadramento legal, institucional e funcional ................................... 15

3.2. Ser professor ....................................................................................... 16

3.2.1. Responsabilidade em educar e ensinar ........................................ 17

3.2.2. A importância dos valores............................................................. 22

3.3. O professor reflexivo ........................................................................... 25

4. A prática profissional.................................................................................. 29

4.1. Planeamento ....................................................................................... 29

4.1.1. A seleção dos conteúdos .............................................................. 30

4.1.2. A seleção das situações de aprendizagem e a organização da

aula ...................................................................................................... 32

4.2. Realização........................................................................................... 33

4.2.1. Implementação de regras e de rotinas ......................................... 34

4.2.2. A diferenciação do ensino............................................................. 35

4.2.3. Conduzir à interpretação e à análise nos Jogos Desportivos ....... 39

4.2.4. O feedback - fecho do seu ciclo .................................................... 41

4.2.5. O desenvolvimento da autonomia, da responsabilização e da

cooperação ................................................................................................ 44

4.2.6. Como motivei e envolvi os meus alunos ....................................... 47

Page 6: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

VI

4.2.6.1. A variedade e a criatividade como catalisadores da motivação

e da aprendizagem ................................................................................. 48

4.2.6.2. O que lhes proporcionei e os seus resultados ....................... 49

4.2.7. O desenvolvimento da condição física ......................................... 53

4.2.7.1. A inclusão da condição física nas aulas e o seu

desenvolvimento autónomo .................................................................... 54

4.2.7.2. Condição física: acrescento cultural ....................................... 55

4.2.7.3. Os alunos de hoje .................................................................. 56

4.2.8. O Modelo de Educação Desportiva .............................................. 59

4.2.8.1. “Da hesitação inicial à vontade de não acabar” ..................... 61

4.2.8.2. Prós e Contras ....................................................................... 67

4.2.8.3. Diversidade de funções - alunos mais cultos ......................... 73

4.3. Avaliação ............................................................................................. 74

4.3.1. Avaliação diagnóstico - informação fornecida............................... 75

4.3.2. Da avaliação formativa à avaliação sumativa ............................... 75

4.4. Tema de aprofundamento - comparação entre alunos

institucionalizados e não institucionalizados ................................................. 80

4.4.1. O porquê deste aprofundamento .................................................. 80

4.4.2. Enquadramento do tema - revisão de literatura ............................ 81

4.4.3. Objetivos do estudo ...................................................................... 84

4.4.3.1. Objetivo geral ......................................................................... 84

4.4.3.2. Objetivo específico ................................................................. 84

4.4.4. Limitações do estudo .................................................................... 84

4.4.5. Material e métodos ....................................................................... 84

4.4.5.1. Caracterização da amostra .................................................... 84

4.4.5.2. Seleção da amostra e recolha de dados ................................ 86

4.4.5.3. Instrumentos .......................................................................... 86

4.4.5.4. Procedimentos estatísticos (tratamento dos dados) .............. 87

4.4.6. Apresentação e análise dos resultados ........................................ 91

4.4.7. Conclusões ................................................................................... 96

Page 7: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

VII

4.5. A direção de turma .............................................................................. 98

4.5.1. Acompanhamento do diretor de turma ......................................... 98

4.6. A experiência no “processo de tutoria” .............................................. 102

4.6.1. O porquê do meu envolvimento .................................................. 103

4.6.2. A experiência .............................................................................. 104

4.6.3. Os resultados .............................................................................. 105

4.7. Participação na escola ...................................................................... 106

4.7.1 Atividades desenvolvidas............................................................ 106

4.7.1.1. Corta-mato Escolar .............................................................. 107

4.7.1.2. V Meeting de Atletismo ........................................................ 109

4.7.1.3. Dia dos Desportos Alternativos ............................................ 111

4.7.2. Desporto Escolar ........................................................................ 113

4.7.2.1 Participação na atividade interna e externa ............................. 113

4.8. Relação com a comunidade .............................................................. 116

4.8.1. Dia dos Padrinhos e Afilhados .................................................... 116

4.9. Participação em ação de formação ................................................... 118

4.9.1. Ação de formação de Nestum Rugby - TAG Rugby ................... 118

5. Conclusões e perspetivas futuras ............................................................ 121

6. Referências Bibliográficas ....................................................................... 125

7. Anexos ..................................................................................................... XIX

Page 8: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos
Page 9: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

IX

Índice de Tabelas

Tabela 1: Frequência semanal com que praticam exercício físico ................... 85

Tabela 2: Frequência semanal com que praticam desporto ............................. 85

Tabela 3: Frequência semanal com que praticam exercício físico ................... 85

Tabela 4: Frequência semanal com que praticam desporto ............................. 86

Tabela 5: Categorias para os motivos que levam os alunos a gostar da

disciplina de EF ................................................................................................ 89

Tabela 6:Categorias para os motivos que levam os alunos a gostar das aulas

de EF ................................................................................................................ 89

Tabela 7: Categorias para os motivos que levam os alunos a atribuírem

importância ao Exercício Físico/Desporto nas suas vidas................................ 90

Tabela 8: Análise do gosto pela disciplina de EF ............................................. 91

Tabela 9: Análise do gosto pelas aulas de EF ................................................. 91

Tabela 10: Análise da importância atribuída ao exercício físico/desporto ........ 92

Page 10: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos
Page 11: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XI

Índice de Anexos

Anexo 1 - Roulement .................................................................................. XIX

Anexo 2- Planos de treino individuais ......................................................... XXI

Anexo 3 – Ficha informativa de condição física ..........................................XXII

Anexo 4- Ficha de jogo (Modelo de Educação Desportiva) .......................XXIII

Anexo 5- Ficha de estatística (Modelo de Educação Desportiva) ............. XXIV

Anexo 6- Quadro competitivo (Modelo de Educação Desportiva) .............. XXV

Anexo 7- Sistema de pontuação (Modelo de Educação Desportiva) ........ XXVI

Anexo 8- Contrato de capitão e equipa (Modelo de Educação Desportiva)

................................................................................................................. XXVII

Anexo 9 – Questionário de motivação .................................................... XXVIII

Page 12: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos
Page 13: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XIII

Resumo

A elaboração deste documento tem como objetivo realizar uma análise

reflexiva das experiencias proporcionadas pelo Estágio Profissional

desenvolvido, tendo em consideração as 4 áreas de desempenho previstas no

Regulamento de Estágio Profissional (Matos, 2010b): 1- “Organização e

Gestão do Ensino e da Aprendizagem”; 2- “Participação na Escola”; 3-

“Relação com a Comunidade” e 4- “Desenvolvimento Profissional”. Este

decorreu na Escola Secundária de Carvalhos, situada na cidade de Vila Nova

de Gaia.

O presente relatório encontra-se dividido em cinco capítulos. No primeiro

(“Introdução”), foco-me com brevidade no enquadramento geral do estágio. No

segundo (“Enquadramento Biográfico”) apresento o meu percurso académico,

desportivo e profissional, refiro-me ao estágio e quais as minhas expetativas

em relação ao mesmo. No terceiro (“Enquadramento da Prática Profissional”)

reporto-me ao enquadramento legal, funcional e institucional do Estágio

Profissional, ao que é “Ser Professor”, à responsabilidade de Educar e Ensinar,

à importância dos valores e à temática do Professor Reflexivo. O quarto (“A

Prática Profissional”) é destinado à reflexão das experiências mais marcantes e

preciosas do Estágio Profissional, quer estas se situem no espaço de aula,

quer fora dele e que contribuíram para a minha evolução. Para finalizar, no

quinto capítulo (“Conclusão e Perspetivas Futuras”), teço as principais

conclusões acerca deste percurso e indico as minhas perspetivas e objetivos

futuros.

Foi para mim um percurso de extrema importância, repleto de reflexão

possibilitando-me ampliar conhecimentos e desenvolver capacidades, sendo

ainda evidente a sua importância na construção do EU. O EU professor e o EU

pessoa. Representou o término da minha Formação Inicial enquanto professor

e o começo da Formação Contínua que não apresenta um fim à vista.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, REFLEXÃO, PROFESSOR,

ENSINO

Page 14: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos
Page 15: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XV

Abstract

The elaboration of this document aims to achieve a reflective analysis of

experiences achieved during a Professional Internship, taking into consideration

the 4 areas of performance requirements specified in the Regulation of

Professional Internships (Matos, 2010b): 1- “Organization and Management of

Teaching and Learning”; 2- “Participation in the School”; 3- “Relationship with

the Community” and 4- “Professional Development”. It took place at the school

Escola Secundária de Carvalhos, located in the city of Vila Nova de Gaia.

This report is divided into five chapters. In the first one (“Introduction”), I

briefly focus the general framework of the internship. In the second chapter

(“Biographical Framework”) I present my academic, sporting and professional

pathway, with reference to the internship and to what my expectations were with

regards to this program. The third one (“Guidelines of Professional Practice”) is

directed to the legal, functional and institutional framework of the Professional

Internship, to what “Being a Teacher” is, to the responsibility of Educating and

Teaching, the importance of values and to the “Reflective Teacher” issue. The

fourth one (“The Professional Practice”) aims at the reflection of the most

remarkable and precious experiences, whether these occurred inside or outside

the classroom space and which have contributed to my evolution. At last, in the

fifth chapter (“Conclusion and Future Prospects”), I present the main

conclusions regarding this pathway as well as my future prospects and

objectives.

It was for me an extremely important journey, replete of reflection

allowing me to expand my knowledge and develop new skills. Furthermore it

has had an evident importance in the development of myself: myself as a

teacher, myself as a person. It represented the end of my Initial Training as a

teacher and the beginning of a Continuous Training that has no end in sight.

KEY WORDS: PROFESSIONAL INTERNSHIP, REFLECTION, TEACHER,

EDUCATION

Page 16: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos
Page 17: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XVII

Abreviaturas

EP – Estágio Profissional

UD – Unidade Didática

FB – Feedback

DE – Desporto Escolar

DT – Diretor de Turma

MED – Modelo de Educação Desportiva

AD – Avaliação Diagnóstico

AF – Avaliação Formativa

AS – Avaliação Sumativa

EF- Educação Física

NE- Núcleo de Estágio

PC- Professora Cooperante

Page 18: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos
Page 19: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

1

1. Introdução

A elaboração deste documento insere-se no âmbito da disciplina de

Estágio Profissional do ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em

Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto.

O EP surge como o ponto mais alto do ciclo de Formação Inicial rumo à

docência. Foi para mim o momento mais aguardado da formação académica,

aquele que me permitiria o confronto com o desempenho das funções docentes

de forma contextualizada e real, perante o qual perspetivava que propiciasse

um vasto conjunto de aquisições e conhecimentos. Concomitantemente, este

percurso com a duração de um ano letivo, possibilitou-me dar os primeiros

passos no longo caminho da Formação Contínua que se revela infinita e

inacabada.

“O processo reflexivo caracteriza-se por um vaivém permanente entre

acontecer e compreender na procura de significado das experiências vividas”

(Machado, 2010, p. 32). Assente numa base reflexiva e ladeado pela

supervisão, o EP possibilita o desenvolvimento de competências, de destrezas

e de conhecimentos que conduzem à construção dos “alicerces” da identidade

profissional. Tal como refere Matos (2010a, p. 3) este “visa a integração no

exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada, através da

prática de ensino supervisionada em contexto real, desenvolvendo as

competências profissionais que promovam nos futuros docentes um

desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e exigências

da profissão”.

A atitude reflexiva e construtiva permanente permitiu-me atribuir

significado aos pequenos e grandes passos desta viagem, sem deixar de parte

os pormenores da “paisagem”. Desta forma foi também possível compreender

a abrangência da intervenção do professor e as implicações da profissão e,

simultaneamente, clarificar o caminho a seguir na busca da excelência. “A

experimentação activa e o diálogo com a própria acção permitem a tomada de

Page 20: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

2

consciência das exigências, dificuldades e desafios que a profissão lhes

reserva, bem como as limitações e potencialidades do próprio formando”

(Caires & Almeida, 2003, p. 146).

Este documento tem como principal objetivo fazer transparecer o caminho

por mim escolhido neste processo de formação nas quatro áreas de

desempenho previstas no Regulamento de Estágio Profissional (Matos, 2010b):

Área 1 – “Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem”; Área 2 –

“Participação na Escola”; Área 3 – “Relações com a Comunidade”; Área 4 –

“Desenvolvimento Profissional”. Pretendo desta forma, registar e analisar as

diferentes experiências proporcionadas pelo EP, iluminadas pela interação dos

processos de investigação/reflexão/ação e que contribuíram para o meu

enriquecimento pessoal e profissional.

O presente relatório encontra-se dividido em cinco capítulos. No primeiro

(“Introdução”), foco-me com brevidade no enquadramento geral do estágio. No

segundo (“Enquadramento Biográfico”) apresento o meu percurso académico,

desportivo e profissional, refiro-me ao estágio e quais as minhas expetativas

em relação ao mesmo. No terceiro (“Enquadramento da Prática Profissional”)

reporto-me ao enquadramento legal, funcional e institucional do Estágio

Profissional, ao que é “Ser Professor”, à responsabilidade de Educar e Ensinar,

à importância dos valores e à temática do Professor Reflexivo. O quarto (“A

Prática Profissional”) é destinado à reflexão das experiências mais marcantes e

preciosas do Estágio Profissional, quer estas se situem no espaço de aula,

quer fora dele e que contribuíram para a minha evolução. Para finalizar, no

quinto capítulo (“Conclusão e Perspetivas Futuras”), teço as principais

conclusões acerca deste percurso e indico as minhas perspetivas e objetivos

futuros.

Page 21: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

3

2. Enquadramento biográfico

2.1. O passado e a importância da formação académica, o presente e o

futuro

Desde tenra idade, ou melhor, desde os primeiros momentos após o

contacto com a vida, que nos tornamos seres capazes de sentir, de

experimentar, de vivenciar e à medida que evoluímos, fazemo-lo de estádio em

estádio, galgando etapas, irrompendo alteração nas mais diversas estruturas

que nos compõem.

É a velocidade galopante a que os anos avançam, ficando para trás

fantasias, caprichos e aventuras da infância. Somos seres em constante

crescimento, com apetência para emanar capacidades e potencialidades, que

vemos evoluídas de acordo com a nossa incursão na sociedade e na cultura

em que estamos inseridos, através de permutas de valores, de crenças, de

conhecimentos e de reaquisições e atualizações de saberes. São as

experiências por que passamos que nos moldam, que nos permitem edificar a

nossa personalidade e as formas de estar na vida. Vivenciamos momentos

marcantes, sejam eles experimentados em condições adversas e

perturbadoras, àqueles que representam cunhos profundos pela sua

positividade, mas que se apresentam como denominadores comuns no

acréscimo de maturação, de experiência, de diversidade situacional e de

aquisição de novas aprendizagens e conhecimentos.

É com total naturalidade que me enquadro neste padrão evolutivo,

segundo o qual pretendo deixar claros os resultados das relações simbióticas

que obtive ao longo do meu percurso e dos acréscimos proporcionados pelas

entidades responsáveis pelo meu aperfeiçoamento educacional e intelectual.

É com certa nostalgia que relembro os tempos de infância. Considero que

sou um privilegiado por ainda fazer parte da geração que brincava na rua e nos

bosques, sem limitações impostas por motivos de segurança. Aliado a este

facto, assumiu extrema importância a quase inexistência de tecnologias que

Page 22: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

4

hoje em dia prendem as crianças aos sofás, tornando-se a inatividade a sua

“atividade” favorita.

O ingresso no 1º Ciclo do ensino Básico marcou o início da aquisição de

competências que serviram de base para obtenção de capacidades que hoje

são fundamentais para a realização de tarefas académicas ou profissionais. Foi

durante esses anos que surgiu a experimentação dos primeiros métodos de

trabalho e o acréscimo de estímulos com vista ao desenvolvimento do sentido

de responsabilidade. Ainda neste ciclo de ensino, surgiram as primeiras

vivências desportivas em contexto escolar que, logo após a transição para o

ciclo de ensino seguinte, foram ampliadas com a disciplina de Educação Física

(EF), e com a participação em aulas de natação, assim como, com a prática de

Andebol federado, no clube local. O Desporto passou a fazer parte da minha

vida e, sem dúvida, interferiu na construção daquilo que hoje sou.

Na realização destas atividades sempre cumpri com as minhas

responsabilidades e a aquisição de hábitos de treino e de disciplina sempre

foram exigidos, quer pelos meus pais, quer pelos treinadores e dirigentes

desportivos que me acompanharam. O cumprimento destas exigências sempre

foi fácil de alcançar, pelo facto de me encontrar extremamente motivado.

Sempre me assumi como uma pessoa sociável e de integração fácil, no

entanto, sempre me revelei ansioso e inseguro em momentos de competição e

avaliação, sentindo medo de falhar. Da mudança de curso no decorrer do

Ensino Secundário, retirei a lição de que só conseguimos ser bons a fazer

aquilo de que realmente gostamos, sendo que a motivação é fundamental para

obter os resultados desejados e para nos mantermos envolvidos naquilo a que

nos propomos. Este episódio contribuiu para a análise profunda da importância

do Desporto na minha vida e foi um marco importante na decisão de qual o

futuro a seguir.

Foi no decorrer da licenciatura em Ciências do Desporto que adquiri as

primeiras experiências profissionais, que foram diversificadas e que se

alongaram até à incursão no Mestrado, as quais considero terem sido uma

mais-valia para o desenvolvimento de competências e de capacidades.

Page 23: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

5

A monitorização de acividades de ar livre levou-me a compreender a

importância da brevidade dos discursos e de enfatizar determinados aspetos

relevantes do seu conteúdo de forma emotiva e cativante. Auxiliou-me na

criação de soluções para o inesperado, isto é, a realizar pequenos ajustes em

relação ao previamente definido.

O treino de crianças dos 4 aos 10 anos de idade, na modalidade de

futebol no Sporting Clube de Arcozelo, veio reforçar a importância do

anteriormente referido, assim como, da seleção criteriosa da informação a

transmitir, de forma a manter os jovens atletas atentos.

Os envolvimentos em atividades de academia (hidroginástica e Indoor

Cycling) proporcionaram-me melhorias essencialmente no espectro da

comunicação, mais precisamente, ao nível da colocação de voz. A

generalidade destas aulas desenrola-se na presença de música, sendo

necessário que quem as dirige se faça ouvir.

Apesar de o anteriormente referido se ter revelado importante para

adquirir capacidades e competências que facilitassem a intervenção futura em

contexto escolar, considero que a experiencia mais enriquecedora ocorreu na

lecionação de aulas de natação, pela variedade de sujeitos com que interagi e

pela melhoria da capacidade de observação. Num dos locais em que

desempenhei esta atividade, tive a difícil tarefa de dirigir um grupo de crianças

provenientes de uma instituição que acolhia crianças desprotegidas e com

patologias do foro cognitivo e motor, as quais revelavam condutas

inapropriadas ao correto funcionamento de uma aula. O contacto inicial com

este tipo de crianças foi difícil e assustador, contudo, fui mobilizando

estratégias e experimentando diferentes formas de organização das aulas, com

o intuito de conseguir o correto funcionamento destas, tendo sido fundamental

a inclusão de regras e de rotinas.

É de forma muito positiva que encaro esta diversidade de experiências e

de funções, uma vez que me conduziram à melhoria da capacidade de

trabalho, de organização e gestão de tempo, à melhoria dos níveis de

autoconfiança e de controlo da ansiedade e, ao acréscimo de conhecimentos

específicos em cada uma das diferentes áreas. O facto de interagir com

Page 24: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

6

crianças, jovens, adultos e idosos, conferiu-me a capacidade de melhorar e

adequar a interação e a comunicação de acordo com cada faixa etária, isto é,

contribuiu para o desenvolvimento da minha capacidade de estabelecimento de

relações sócio-afetivas.

A obtenção do grau de Licenciatura em Ciências do Desporto enquadrado

no Processo de Bolonha, não me proporcionou a aquisição de conhecimentos

profundos ao nível da Didática Geral e Específica, mas sim, a realização

prática de diferentes modalidades desportivas e a aquisição de conhecimentos

de ao nível da Pedagogia do Desporto, da Historia do Desporto, e de outras

áreas nucleares, como o Treino Desportivo, a Anatomia Funcional, Fisiologia

do Exercício, a Aprendizagem Motora, Teoria e Metodologia do Treino

Desportivo, entre outras, de semelhante importância.

A realização da opção de Exercício e Saúde proporcionou-me a obtenção

de conhecimentos na área na qual já exercia funções, contudo, considero que

os conhecimentos daí provenientes são perfeitamente transferíveis e aplicáveis

na escola, dos quais destaco, as metodologias de treino de força, a prescrição

de exercício físico a populações com doenças crónicas (diabetes, obesidade,

doenças respiratórias, doenças cardiovasculares, etc.). Realço ainda que

algumas das modalidades abordadas nesta opção constam no Programa

Nacional de Educação Física, sendo elas, a Orientação, a Aeróbica e a

Escalada, pertencendo as duas últimas às matérias alternativas.

É já no decurso do Mestrado de 2º Ciclo em Ensino de Educação Física

nos Ensinos Básico e Secundário que o sentimento da importância de

interligação de conhecimentos se começa a evidenciar. Se nos anos de

licenciatura os conteúdos das diferentes cadeiras que constituem o curso

pareciam surgir de forma descontextualizada, nesta nova realidade comecei a

perceber melhor a importância e utilidade de todas elas.

O primeiro ano neste ciclo de ensino representou a mudança profunda, a

orientação no sentido da escola. Foi neste ano que percecionei de forma mais

realista o seu funcionamento, o que é exigido àqueles que nela atuam

enquanto educadores e, onde adquiri conhecimentos específicos da forma de

intervenção em aula com vista à colocação em prática dos Programas de

Page 25: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

7

Educação Física. No final deste percurso que antecedeu a realização do EP

lamento apenas as reduzidas e irreais vivências em contexto escolar. No

entanto, as experiências profissionais já mencionadas, ampliaram o meu

contacto com a Didática, embora que em contextos distintos, mas igualmente

construtivos, enriquecedores e promotores de aprendizagem e de

conhecimento.

Em relação ao passado recente, considero que a realização do EP

interferiu positivamente na construção da minha personalidade e provocou

alterações na forma de estar. Tornei-me mais confiante, melhorei a capacidade

de lidar com a pressão e com as situações de avaliação. A partir de agora,

certamente, reagirei de forma mais natural a estas circunstâncias. Na

realidade, estou sempre a pôr-me à prova e estou sempre a autoavaliar-me,

estando, igualmente certo de que desenvolvi o espírito auto-crítico e que nunca

senti tanto gosto em superar desafios como ao longo deste estágio.

A cada dia de trabalho, de esforço e de dedicação, senti que

acrescentava algo de novo à minha forma de pensar, de intervir e de ver o

ensino, no entanto, finda esta longa etapa, considero que ainda muito há a

saber perante a vasta panóplia de conhecimentos, destrezas, e capacidades

que o professor deve possuir rumo à excelência. É com esta atitude de

insatisfação com aquilo que sei, que pretendo construir-me e superar-me a

cada desafio, procurando no futuro, vencer desafios cada vez mais difíceis e

complexos, que me conduzam a evoluções constantes. No entanto, questiono-

me: Será esta tarefa fácil? Certamente não mas, apesar da conjuntura política,

económica e social que vivemos, sinto-me motivado para ir em busca daquela

que é a minha primeira prioridade, a de Ser professor de EF. Creio que, a

junção de dois ingredientes denominados de prazer e motivação, atuam como

catalisadores de tudo o resto, essencialmente, das boas práticas. Resta-me

acreditar, que mais tarde ou mais cedo as oportunidades surgirão.

Para finalizar, destaco que me preocupa saber que as crianças cada vez

menos praticam desporto e cada vez mais a sociedade exige do professor e

menos do aluno. Só despertando neles o gosto pela disciplina pela qual somos

responsáveis é que conseguiremos conduzi-los à adoção de estilos de vida

Page 26: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

8

saudáveis e à aquisição de novas destrezas e competências. Cabe ainda a

todos os docentes exigir cada vez mais dos alunos, sendo para isso necessário

manter os níveis de empenhamento e de dedicação na sua atuação diária.

2.2. O estágio profissional e principais espetativas

“O estágio deve representar o clímax de um processo de formação que

garanta o domínio das competências requeridas pela profissão docente.”

(Proença, 2008, p. 119)

Os planos de formação de professores incorporam o aprofundamento de

conhecimentos nas mais diversas áreas e na sua reta final incluem a realização

de Estágio Pedagógico ou EP. Simões (cit. por Caires & Almeida, 2003, p. 145)

refere que esta etapa (EP) se trata de “...um período único e significativo na

vida pessoal e profissional de qualquer professor.” Machado (2010, p. 5) refere

que se trata de “um momento privilegiado na formação inicial, sendo a prática

um espaço integrador de competências, em que a acção, a experimentação e a

reflexão, são condições essenciais na aquisição de conhecimento sobre o

ensinar, na tomada de decisão e resolução de problemas, e se constituem

como elementos autoformativos, geradores de autonomia e descoberta”. Os

estágios na formação dos alunos do Ensino Superior devem procurar uma

elevada articulação entre a prática e a formação teórica adquirida na

universidade, tornando-se o estágio um óptimo local para o conseguir (Caires,

2001).

Evidenciando ainda a importância desta etapa na formação de

professores, Capel et al. (cit. por Caires & Almeida, 2003, p. 145) afirmam que

“durante o estágio pedagógico, o candidato a professor constrói o seu próprio

repertório de competências e conhecimentos, e desenvolve a sua capacidade

de avaliação profissional de uma forma mais rápida e intensa do que em

qualquer outra etapa do seu desenvolvimento profissional”.

Page 27: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

9

Esta nova realidade decorrida num contexto completamente distinto dos

restantes anos de formação académica possibilitou-me, para além da aquisição

de competências e conhecimentos, a atribuição de significação a aquisições

teóricas previamente adquiridas, o verdadeiro contacto com a profissão para a

qual direcionei os últimos 5 anos de estudos, o confronto com dificuldades

decorridas da prática e a perceção de pontos fracos e fortes da minha

intervenção e do meu conhecimento.

Em torno desta experiência de entrega à profissão foram estabelecidas

relações profundas de entreajuda e cooperação entre os alunos estagiários e a

professora cooperante (PC), revelando-se imprescindíveis as trocas de ideias,

assim como, a análise de diferentes estratégias e formas de intervenção.

Considero fundamental destacar o importante envolvimento com a PC que,

para além de outras vivencias, possibilitou a observação e o diálogo acerca das

suas intervenções e formas de atuação, acabando por servir como exemplo a

atuação de alguém com largos anos de experiência, o que acaba por ser uma

verdadeira vantagem. Neste sentido, Caires (2001, p. 126) baseada nas ideias

de Matos & Costa (1993); Booth et al., (1995) e Alarcão (1996) refere que “a

observação da actuação do seu supervisor enquanto modelo de mestria e a

existência de algumas pistas e demonstrações acerca de como deverá

desempenhar as suas tarefas são, também, importantes fontes de segurança

pois dão referências quanto à forma de actuar do aluno (…) assegurando, ao

mesmo tempo, a estrutura necessária para que o aluno se sinta mais seguro e

apoiado”. A meu ver, não se trata de seguir as suas pisadas, uma vez que o

que pode dar resultado numa turma, poderá não conduzir a resultados

semelhantes quando aplicados noutras. Julgo tratar-se de um acrescento que

contribui para o aumento do reportório de formas e estratégias de atuação

(gestão do grupo, implementação de rotinas, situações de aprendizagem,

manutenção da ordem e da disciplina, etc.), que naturalmente conduzem o

estudante estagiário à inquietação, levando-o a refletir.

A entrada neste novo mundo ocorreu de forma progressiva. Se

inicialmente tudo para mim era tido como novo, numa fase final, surge o

Page 28: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

10

sentimento de pertença a um grupo, a uma classe profissional, a um lugar e a

uma comunidade.

Aquando da aproximação da incursão nesta etapa que me poria à prova,

deparei-me com algumas inquietações, questionando-me: Será que terei

vocação para desempenhar este cargo de extrema responsabilidade? Será que

me vou sentir capaz de realizar esta profissão toda a vida? Como será? Terei

eu uma ideia errada daquilo que é ser professor? Serão os meus

conhecimentos suficientes para o desempenho prático?

Desta forma, considero ser determinante redigir acerca das minhas

expetativas em relação ao EP, que para mim se assumiu de importância

extrema. Este representou o ponto de partida para a minha formação

profissional, uma vez que apenas possuía as bases para a construção da

minha identidade. Pretendi dele obter um conjunto de conhecimentos,

competências e experiências que me fizessem amadurecer e munir de um

conjunto de utensílios que me permitissem ser um professor competente e

exemplar.

Idealizei que o contacto com a prática de forma plenamente

contextualizada me permitisse percecionar e ultrapassar as principais lacunas e

dificuldades na relação teoria-prática. Nesta passagem pela instituição escolar

contava poder descobrir e aprender por mim próprio e introduzir um cunho

pessoal às minhas intervenções e propostas de trabalho, tornando-me

progressivamente mais autónomo.

Para além do anteriormente referido, acreditava manter uma relação

transparente, cordial e cooperativa com a PC e com o restante núcleo de

estágio (NE), pois tinha a noção de que, só mantendo estes relacionamentos

alimentados por um ambiente de dedicação, cooperação e empenho seria

possível fruir de momentos enriquecedores, de partilha de conhecimentos e

construção mútua.

Na condição de futuro professor de EF tracei como principais objetivos o

despertar/incrementar nos alunos o gosto pelo exercício físico e atividade

desportiva, com vista à obtenção de estilos de vida saudáveis conduzindo-os a

um futuro melhor. Tive ainda a intenção de formar integralmente

Page 29: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

11

alunos/cidadãos através do movimento e da prática desportiva. Para que isso

acontecesse pretendia, para além das atividades desenvolvidas com a turma,

dinamizar também no seio da comunidade escolar, em conjunto com o NE,

algumas atividades (Corta-mato escolar, o Meeting de Atletismo e o Dia dos

Desportos Alternativos) para as quais contava com o apoio e colaboração da

escola e de forma mais particular, do Grupo de EF.

Ao longo dos anos de licenciatura e do 2º Ciclo de Estudos existiram

disciplinas que me marcaram profundamente e que previa que os frutos delas

obtidas me facilitassem a intervenção na experiência que foi o EP,

nomeadamente a Didática de Voleibol que contribuiu para melhorar a minha

capacidade de observação e a atitude reflexiva, uma vez que as reflexões das

aulas lecionadas na faculdade ou na escola eram realizadas em grupo,

tornando-se mais enriquecedoras e construtivas. Destaco ainda as disciplinas

de Gestão e Cultura Organizacional da Escola e de Profissionalidade

Pedagógica, que me permitiram, respetivamente, compreender melhor o

funcionamento/organização das instituições escolares e orientar a minha

atividade em busca da minha identidade profissional e da minha construção

como professor/educador.

Perspetivei ainda que determinadas potencialidades desenvolvidas em

experiencias profissionais já referidas, tais como a colocação de voz

(provenientes essencialmente das aulas de academia) e a elaboração da

instrução (praticadas na lecionação de aulas de natação e na direção de

treinos de futebol) facilitem a minha atividade junto da turma.

Em tom de conclusão, saliento que a competência e a mestria só são

atingíveis através da busca incessante de novos saberes e conhecimentos, da

autoformação, da diversidade de experiencias e da reflexão acerca das

mesmas. Só com esta atitude de descontentamento com aquilo que sei (e com

o que não sei) conseguirei seguir o caminho que me conduzirá à exaltação e à

transcendência, e como considero que somos um projeto em constante

construção e inacabado, buscarei constantemente novas transcendências e

superações. Só assim poderei SER PROFESSOR, no verdadeiro sentido da

palavra.

Page 30: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

12

2.3. O culminar de um ciclo

A conclusão da Licenciatura em Ciências do Desporto significou para mim

a aquisição de um vasto leque de conhecimentos e de fortes vivências do

ponto de vista social que, contudo, em termos de realização pessoal se

traduziu apenas na obtenção de um grau académico, uma vez que o alcance

do objetivo primordial que me conduziu ao ingresso no ensino superior estava

ainda longe de ser alcançado, o de ser professor de EF.

Concluído o EP, considero que foram desenvolvidas inúmeras

capacidades de natureza cognitiva, pessoal e interpessoal. Esta passagem

pela instituição Escola representou assim, o culminar de um ciclo que marca o

final da minha formação académica/formação inicial e a obtenção do grau de

Mestre, tendo, certamente, dado o próximo passo em direção ao mercado de

trabalho, facto que implica uma mudança profunda.

Caires (2001) baseada nas ideias de Sprinthall & Collins (1994) e

Seligman (1994) refere que os anos passados no ensino superior promovem

um conjunto diversificado de mudanças e aquisições. Reconheço a veracidade

destas mudanças e aquisições, contudo, estou consciente que existem ainda

competências e capacidades a melhorar, bem como, dificuldades a ultrapassar,

uma vez que esta viagem apenas representa o término da minha formação

inicial, sendo evidente que irei adquirir novas competências através do contacto

com novas dificuldades e com novas vivências, aquando do futuro contacto

com o desempenho de funções docentes.

“A escola exige do professor a consciência de que a sua formação nunca

está terminada” (Alarcão, 2001, p. 24). Após este período de enriquecimento

constante, de construção pessoal, destaco que se torna fundamental a

oposição à estagnação evolutiva. O professor deve manter-se atualizado,

procurando novos conhecimentos e estratégias e deve refletir, constantemente,

acerca da sua atuação e das suas práticas.

Para destacar a minha ideia clara deste fecho de ciclo, finalizo,

mencionando Hargreaves (cit.por Paim, Loro, & Tonetto, 2008), segundo o

qual, a formação inicial é apenas o primeiro passo para a formação contínua.

Page 31: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

13

Esta última representa um processo de aprendizagem que não termina com a

obtenção de qualquer grau académico, mas que se prolonga para toda a vida.

Desta forma, considero que o futuro exercício da profissão docente

representará a continuidade deste ciclo sem fim à vista, o da formação

contínua.

Só com a busca permanente no sentido de engrandecer a vasta panóplia

de destrezas e saberes que são exigidos ao professor é que este poderá

acrescentar algo aos seus alunos/cidadãos.

Page 32: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

14

Page 33: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

15

3. Enquadramento da prática profissional

3.1. Enquadramento legal, institucional e funcional

A realização de EP encontra-se suportada na base legal do decreto de lei

nº 74/2006 de 24 de março e o decreto de lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro e

nos regulamentos institucionais em vigor: Regulamento do curso de Mestrado

em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário,

Regulamento Geral dos Segundo Ciclos da Universidade do Porto e

Regulamento Geral dos Segundo Ciclos da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto.

Este encontra-se integrado no 2º ciclo de estudos conducente ao grau de

Mestre no Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e a sua integração ocorre no

3º e 4º semestres deste ciclo.

O EP desenrola-se num contexto real de ensino, em que o estudante

estagiário, durante todo o ano letivo, assume as responsabilidades adstritas a

qualquer outro professor na sua atuação diária.

Para a sua realização fui colocado como estudante estagiário na escola

Secundária de Carvalhos com 3º Ciclo do Ensino Básico, situada na Vila de

Pedroso, pertencente ao concelho de Vila Nova de Gaia. Nesta incursão ficou

sobre a minha responsabilidade a lecionação a turma de 25 alunos do 7º Ano

de escolaridade.

A orientação da prática de Ensino Supervisionada encontra-se

regulamentada nos artigos 6º (Atribuições dos Orientadores da Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto) e 7º (Atribuições dos professores

cooperantes) do Regulamento do Estágio Profissional da Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto (Matos, 2010b). Esta ficou a cargo de um

docente da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, sendo ainda

diariamente acompanhada por uma PC com largos anos de experiência que

leciona na escola anteriormente referida, estabelecendo-se assim a ligação

entre a Faculdade e a Escola.

Page 34: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

16

3.2. Ser professor

A realização do EP possibilitou-me a vivência daquilo que é a profissão

Docente. No contacto inicial surgiu um certo estranhar no desempenho das

diversas funções do professor que se revelam de relativa complexidade. No

entanto, no convívio direto com os alunos foi possível reforçar a perceção da

dimensão e da responsabilidade do desempenho desta profissão, sendo

evidente a importância de o professor representar um modelo a seguir, não

apenas no espaço e tempo de aula, mas na totalidade de momentos em que

professor e aluno se cruzam, mesmo que, presentes no espaço exterior das

paredes que limitam a instituição escolar.

A sociedade em que vivemos caracteriza-se cada vez mais pela sua

constante mutação, sendo evidentes as crises políticas, sociais, económicas e

fundamentalmente axiológicas que nela ocorrem. Estes factos acabam por

dificultar a intervenção daqueles que dia a dia lutam por um mundo melhor,

pela paz social, pela justiça, pelo desenvolvimento cultural dos povos e pela

igualdade, isto é, aqueles que se preocupam com a sociedade e que lutam pelo

primado da EDUCAÇÃO.

O professor assume um papel preponderante para vencer esta enorme

batalha. Na sua atuação diária, não deve apenas conduzir à aprendizagem,

deve também munir-se de vontade para modificar o outro. Para que tal

aconteça, os valores têm que estar sempre presentes e de forma bastante

condimentada, de forma a tornar o ser humano valioso, íntegro e cada vez

mais humano. Para além de ter que possuir um quadro de valores de

referência, o educador não pode abrir mão de uma atitude ética, devendo ter

sempre presente a importância da sua função e a vontade de ajudar aqueles

com que interage na ação educativa, sendo o aluno o centro das atenções da

sua atuação, colocando de parte os interesses pessoais e promovendo a

justiça e a igualdade social.

Ao longo deste capítulo, pretendo fazer transparecer o que é “Ser

Professor”, reforçando a importância da educação, dos valores na construção

Page 35: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

17

de cidadãos, bem como da atitude reflexiva do professor, para obtenção de

melhorias na sua abrangente atuação.

3.2.1. Responsabilidade em educar e ensinar

Na atualidade, considero ser notória a crise que rodeia a profissão

docente, não sendo a sua importância e o seu valor reconhecidos pela

sociedade, muito devido às dificuldades de obtenção de resultados satisfatórios

em algumas áreas curriculares. Considero que estes resultados também se

devem a lacunas educacionais que as crianças de hoje evidenciam, uma vez

que se deparam com a ausência ou insuficiência de intervenção da família,

acabando por ser atribuídas as responsabilidades, unicamente, à escola.

Savater (2010, p. 25) afirma que “a autoridade sobre elas exercida deverá

caracterizar-se pela continuidade – primeiro, na família, depois na escola (…)”.

Encaro que esta ausência da autoridade na família contribui para aumentar a

dificuldade da intervenção do professor, tornando-se difícil a obtenção do

sucesso educativo desejado.

O significado atribuído a ensinar veio a ser modificado ao longo dos

tempos. No passado longínquo a interpretação de ensinar como transmitir um

saber, possuía um significado socialmente pertinente, uma vez que o saber

disponível era menor, de reduzido alcance, e o seu domínio pertencia apenas a

alguns indivíduos (Roldão, 2007). De acordo com o mesmo autor, nestes

contextos estaríamos perante a ideia de que ensinar consistia em passar

conhecimentos, torná-los públicos.

Na atualidade, com a evolução da sociedade e dos instrumentos

tecnológicos, os indivíduos não apresentam dificuldades em aceder à

informação, estando esta em todos os locais e ao acesso de todos. Assim, de

acordo com Roldão (cit. por Roldão, 2007, p. 95), “Ensinar configura-se (…)

como a especialidade de fazer aprender alguma coisa a alguém”. Tendo em

conta esta perspetiva, considero que a mera transmissão de informação e de

Page 36: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

18

ideias se revela insuficiente, surgindo a necessidade de conduzir a aquisições

de diversos saberes.

O professor enquanto ator responsável pela educação e construção de

sujeitos, os quais devem ser cada vez mais capazes de participar ativamente

no mundo que os rodeia, deve proporcionar-lhes a aquisição de uma variedade

de aprendizagens.

De acordo com Delors et al.(1996, p. 77), “a educação deve organizar-se

à volta de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida

serão dalgum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento”, sendo

estes o “aprender a conhecer”, o “aprender a fazer, o “aprender a viver juntos”

e o “aprender a ser”. “Aprender a conhecer” “visa (…) o domínio dos próprios

instrumentos do conhecimento, pode ser considerado, simultaneamente, como

um meio e como uma finalidade da vida humana. Meio, porque se pretende

que cada um aprenda a compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na

medida em que isso é necessário para viver dignamente, para desenvolver as

suas capacidades profissionais, para comunicar. Finalidade, porque baseado

no prazer de compreender, de conhecer, de descobrir” (idem, p. 78). “Aprender

a fazer” visa levar o aluno a “adquirir, não somente, uma qualificação

profissional mas, duma maneira mais ampla, competências que tornem a

pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipa” (idem,

p. 88). O “aprender a viver juntos”, revela-se igualmente de importância

extrema, essencialmente pelo facto de ser cada vez mais comum a ocorrência

de atos violentos na escola, logo, o professor deve “ensinar a não violência na

escola” (idem, p. 83), deve “transmitir conhecimentos sobre a diversidade da

espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomar consciência das

semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta”

(idem, p. 84). Tendo em vista a eliminação de possíveis conflitos “a educação

deve, pois, reservar tempo e ocasiões suficentes nos programas para iniciar os

jovens em projectos de cooperação, logo desde a infância, no campo das

actividades desportivas e culturais, evidentemente, mas também estimulando a

sua participação em actividades sociais (…)”(idem, p. 85). Este tipo de

aprendizagem, certamente, contribuirá para estabelecer relações sociais

Page 37: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

19

afáveis e para combater as discriminações sociais. Por último, quanto ao

“Aprender a ser”, Delors et al.(1996, p. 86) indicam que “mais do que preparar

as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então, fornecer-lhes

constantemente forças e referências intelectuais que lhes permitam conhecer o

mundo que as rodeia e comportar-se nele como actores responsáveis e justos”.

Considero ser evidente a interdependência e a importância do

desenvolvimento destas quatro aprendizagens, no sentido de os alunos tirarem

delas o seu máximo proveito para a vida e para que cada um faça com que

seja possível alcançar o “ideal” de sociedade.

O contacto com a instituição escola neste EP possibilitou-me a aferição

daquilo que é o desempenho da profissão docente, à qual não considero ser

arriscado afirmar que exige do professor a entrega permanente à profissão,

uma vez que as necessidades educativas variam no tempo e no espaço.

Afirmo-o com total veemência, pois considero ser evidente que num curto

período de tempo (4 anos que separam a minha saída no ensino secundário e

o inicio do EP), presenciei duas realidades completamente distintas, nas quais

foi possível detetar a regressão relativamente às atitudes e comportamentos

por parte dos alunos de hoje. Desta forma, cabe ao professor contrariar esta

tendência, através da construção ativa da sua profissionalidade docente.

As constantes mutações que ocorrem nas escolas, na educação e as

exigências impostas por aqueles que a frequentam obrigam o professor a

adaptar-se, a reformular as suas formas de intervenção, a atualizar e expandir

conhecimentos, a investigar novas estratégias e a refletir acerca do sentido da

sua prática. Para se Ser Professor, é necessário reformular constantemente a

sua intervenção e estar presente de corpo e alma na sua profissão, sendo

indispensável adaptar-se às exigências educacionais e profissionais.

A construção da profissionalidade docente não se adivinha fácil nem,

muito menos, de rápido alcance. De acordo com Day (1999, p. 19) o papel

profissional do professor consiste em “estabelecer e manter elevados padrões

de ensino; interferir de forma diferenciada com uma diversidade de alunos e,

com necessidades, motivações, circunstancias e capacidades distintas, (…);

ser um membro activo nas comunidades de adultos, dentro e fora da escola;

Page 38: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

20

responder às exigências externas de mudança e comprometer-se

profissionalmente, com entusiasmo e autoconfiança, dentro da contínua

agitação que caracteriza a vida na sala de aula e na escola”. Só mergulhando

profundamente na sua profissão, na tentativa de desempenhar este papel, será

possível ao professor desenvolver-se profissionalmente. Dentro deste papel,

evidencio a importância de se ser um membro ativo nas comunidades de

adultos, dentro e fora da escola. “O diálogo entre os professores é fundamental

para consolidar saberes emergentes da prática profissional” (Nóvoa, 1992, p.

26). A participação ou apenas a presença em debates informais entre

professores do grupo de EF e a participação em ações de formação no exterior

da escola, possibilitaram-me a aquisição de novas formas de intervenção, de

métodos de ensino e estratégias que ainda não conhecia, bem como a

aquisição de conhecimentos que ainda não possuía. Estas experiências foram

ainda enriquecedoras no esclarecimento de dúvidas, possibilitando a obtenção

de diversas formas de realização do planeamento e avaliação do processo

ensino-aprendizagem.

Nóvoa (2009, p. 207) referindo-se à profissionalidade docente indica que

esta “ no puede dejar de construirse en el interior de una personalidad de

profesor”. Este autor menciona cinco aspetos determinantes para a construção

da profissionalidade docente, sendo eles o “conhecimento”, a “cultura

profissional”, o “tacto pedagógico”, o “trabalho em equipa” e o “compromisso

social”.

Relativamente ao “Conhecimento” indica que “.(…) mucho más

importante, sin duda, conocer bien aquello que se enseña” (Alain, 1986, p. 55).

(…) El trabajo del profesor consiste en la construcción de prácticas docentes

que conduzcan a los alumnos hacia el aprendizaje.” (idem, p. 207).

Quanto à “cultura profissional” indica que a profissão “se aprende en la

escuela y con el diálogo con los otros profesores. El registro de las prácticas, la

reflexión sobre el trabajo y el ejercicio de la evaluación son elementos centrales

para el perfeccionamiento y la innovación. Son estas rutinas las que hacen

avanzar a la profesión” (idem, p. 207).

Page 39: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

21

O mesmo autor (2009, p. 207) referindo-se ao “tacto pedagógico” do

professor evidencia que “En él cabe esa capacidad de relación y de

comunicación sin la cual no se cumple el acto de educar. Y también esa

serenidad de quien es capaz de ganarse el respeto, conquistando a los

alumnos para el trabajo escolar. Saber conducir a alguien hacia otro margen, el

conocimiento, no está al alcance de todos. En la enseñanza, las dimensiones

profesionales se cruzan siempre, inevitablemente, con las dimensiones

personales”.

No que concerne ao “trabalho em equipa”, que considero ser

determinante, indica que “El ejercicio profesional se organiza, cada vez más, en

torno comunidades de práctica, en el interior de cada escuela, pero también en

el contexto de movimientos pedagógicos que nos conectan a dinámicas que

van más allá delas fronteras organizativas.” (idem, p. 207).

Já em relação ao “compromisso social” destaca a importância do

professor trabalhar em prol da sociedade, indicando que “Educar es conseguir

que el niño supere las fronteras que tantas veces le han sido trazadas como

destino por nacimiento, por la família o por la sociedad. Hoy, la realidad de la

escuela nos obliga a ir más allá de la escuela. Comunicar con el público,

intervenir en el espacio público de la educación, forma parte del ethos

profesional docente” (idem, p. 207).

Desta forma, e para finalizar, considero que o professor deve estar

consciente da importância da sua intervenção na árdua tarefa ensinar e educar,

devendo este, assumir uma atitude atenta, rigorosa e empenhada na melhoria

da generalidade das suas destrezas. A obtenção de melhorias profundas na

realização da prática docente, rumo à mestria, só é possível através da

construção constante da sua profissionalidade e da formulação da sua

identidade.

Page 40: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

22

3.2.2. A importância dos valores

“Os valores envolvem tudo o que merece o nome de educativo, pois

educar é realizar progressivamente o que é tido como o bem mais valioso para

cada indivíduo humano e para a comunidade humana a que ele pertence.”

(Patrício, 1993, p. 21)

Seria inconcebível discursar e refletir acerca da educação sem fazer

referência à importância dos valores, uma vez que esta os apresenta na sua

constituição. De acordo com Patrício (1993, p. 20), “não há educação onde não

há referência intrínseca aos valores. O compromisso educativo não é possível

fora do compromisso com os valores”. Desta forma, e como já foi referido, o

professor torna-se um elemento preponderante não só na ação de ensinar mas

também na de educar.

O aluno deve ser o centro das atenções no processo educativo, devendo

ser tidas em conta as individualidades dos sujeitos, as suas necessidades, bem

como a sociedade em que se encontra.

Estou certo de que a educação deve recusar a ausência de valores. A

educação para os valores deve estar sempre presente no aperfeiçoamento do

aluno, caso não aconteça, a intervenção do professor perde significado. Tudo o

que ele faz deve ser baseado num corpo de valores. No entanto, na escola não

é apenas o professor o responsável por esta edificação dos indivíduos. Tal

como refere Valente (1989, p. 135), “Todas as actividades em que se envolve o

professor desde os livros ou textos que sugere ou escolhe, as experiências que

selecciona, os trabalhos de casa que recomenda ou pede, tudo isto implica

uma hierarquia de valores. Mas não é apenas o professor, são também as

regras de jogo da própria escola, (…), as circulares e ordens de serviço, o que

se pode ou não fazer no pátio, as actividades extra curriculares que se

fomentam, aquilo que é premiado ou considerado indesejável, são todas estas

situações e muitas outras que, explícita ou implicitamente, revelam os valores

que se privilegiam.” Contudo, considero que estes não se constroem apenas na

incursão na vida escolar nem no contacto com os professores. Existem ainda

Page 41: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

23

outros agentes educativos. A educação para os valores também se processa

no contacto com a comunidade e no seio da família, que no entanto, nem

sempre cumpre com essa função, assim, e de acordo com Bento (2004, p. 78),

“(…) a educação institucional vê-se hoje obrigada a reforçar o seu papel no

capitulo dos princípios e valores, de rotinas e de hábitos que era suposto terem

sido transmitidos e assimilados na família”.

Ao professor torna-se fundamental possuir uma hierarquia de valores,

onde uns se subordinam a outros, isto é, e correntemente falando, deve

reconhecer quais os mais valiosos em relação a outros, para que seja possível

ir ao encontro das suas intenções. Corroborando com esta ideia volto a citar

Patrício (1993, p. 27) que refere que “se o educador profissional não tiver este

sentido da hierarquia axiológica não está em condições de educar aquele que

lhe é entregue”.

Estabelecendo a ligação dos valores ao desporto, destaco as palavras

de Bento (1998, p. 59) que indica que “o desporto é parte integrante da

sociedade e, por isso, subordina-se ao sistema de normas e valores nela

predominantes. Ou seja, não há valores específicos do desporto, diferentes dos

valores vigentes no contexto social ”.

É comum ouvirmos falar na “força” e da capacidade do desporto na

formação de indivíduos, uma vez que este conduz à aquisição de um conjunto

de valores e atitudes que podem ficar presentes para a vida. “E quanta é a vida

que jorra na prótese a que chamamos desporto! Nos jogos e brincadeiras em

que as crianças medem e ganham habilidades e se libertam da dependência

da sua natureza. Em que são desafiadas a exercitar-se, a espiritualizar as

forças físicas, a dobrar o corpo inculto, inábil, grosseiro, feio e bruto, a torná-lo

corpo belo, ético, ágil e moral. A conquistar a liberdade, o sentido da vida e a

condição humana também pelo aprimoramento do corpo” (Bento, 2004, pp.

105-106).

As atividades desportivas implicam o cumprimento de diversos

pressupostos que visam a evolução/superação da pessoa humana. Nele

existem rituais e regras a cumprir e o contacto social é sempre solicitado. Na

disciplina de EF o mesmo se processa. O ginásio revela-se um autêntico

Page 42: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

24

laboratório de aprendizagens, de aquisições culturais, de condutas e de

revelações. Os utensílios utilizados, bolas, aparelhos, raquetes, entre outros,

permitem “misturar” os sujeitos aos sujeitos, às regras e às rotinas, sendo o

produto final a aquisição de competências, de conhecimentos e de valores. O

próprio Programa de Educação Física do 3º Ciclo do Ensino Básico, destaca de

forma explícita nas “Competências Comuns a Todas as Áreas”, que os alunos

devem procurar o sucesso pessoal e de grupo, “relacionando-se com

cordialidade e respeito”, “promovendo a entreajuda” e “assumindo

compromissos e responsabilidades” (Ministério da Educação, 2001, p. 12).

A disciplina de EF, que possui como conteúdo o desporto, possibilita, por

exemplo, através do jogo, do lúdico, da competição, o salutar da solidariedade,

da beleza, da honestidade, da lealdade, do respeito, da disciplina, entre outros.

“Quanta vida e cidadania inundam as crianças no desporto! Porque nele

cultivam a identidade e a assunção progressiva de responsabilidade pelo seu

comportamento (…). Porque nele têm lugar os outros e o respeito pelas

diferenças. E nele superioridade e inferioridade, vitória e derrota, sucesso e

insucesso encontram uma naturalidade de vivência e aceitação” (Bento, 2004,

p. 106).

Do meu ponto de vista e após esta breve referência aos valores, afirmo

ser importante que os docentes acreditem que não transmitem apenas

conhecimentos e conteúdos baseados nos programas. Ao professor é

necessária a consciência de que deve agir de forma ativa e dinâmica na

construção dos elementos que constituem a sociedade, na formação integral

de pessoas e que o futuro delas se deve em grande parte aos seus esforços

contínuos realizados no desempenho da sua profissão.

“Ora os valores do jogo, adquiridos e cultivados no campo desportivo (,,,)

não se ensinam e aprendem apenas para ter valimento no desporto, mas sim e

essencialmente para vigorarem na vida, para lhe traçarem rumos, alargarem os

horizontes e acrescentarem metas e meios de as alcançar” (Bento, 2004, pp.

78-79).

Page 43: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

25

3.3. O professor reflexivo

Ao longo de todo o estágio pedagógico, a diversidade de experiências foi

uma constante, ocorrendo nos mais variados momentos, nos mais variados

locais e na relação com diversos sujeitos. Neste primeiro contacto com a

profissão foi possível perceber e atribuir significado aos conhecimentos teóricos

obtidos, sendo notória a importância e influência da experimentação prática

para reforçar a consciencialização de que o caminho a percorrer é longo e que

não se vislumbra de fácil percurso.

As relações estabelecidas com colegas estagiários, com a PC e com os

restantes professores do grupo de EF foram marcantes e imprescindíveis,

sendo evidente de que delas resultou evolução e crescimento. O espírito

reflexivo sempre foi incutido e estimulado, através da observação da

intervenção dos elementos anteriormente referidos, das reflexões com a PC,

das reflexões escritas acerca das aulas e atividades em que estive envolvido e

através do debate ocasional ou intencional com os restantes professores do

grupo.

Alarcão (1996b, p. 175) refere que a reflexão ”baseia-se na vontade, no

pensamento, em atitudes de questionamento e curiosidade, na busca da

verdade e da justiça”. É certo que o contacto com a prática pedagógica

caracteriza-se pela sua instabilidade, encontrando-se os acontecimentos em

constante mutação. Esta inconstância provoca no professor uma considerável

inquietação, quer este seja deparado com experiências positivas, quer com

experiências negativas. Neste confronto com a prática, surgiu de forma natural,

aula após aula, experiencia após experiência, a necessidade de dar resposta

às mais variadas questões. O que faço perante esta situação? A que se

deveu? Como poderei controlar determinados comportamentos/atitudes? Como

será possível manter tais prestações? Porque não foi eficaz? Que estratégia

resultará? Em que é que errei? Que contributo posso e devo dar à sociedade?

Quais as minhas funções? Na minha perspetiva, o alcance destas respostas

revelou-se determinante para o meu desenvolvimento, conduzindo-me a

perceber aquilo que realmente sei e o que preciso de saber, permitiu-me

Page 44: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

26

perspetivar a ocorrência de determinados acontecimentos, fruto de decisões

que anteriormente não foram bem sucedidas, permitiu-me perceber,

progressivamente, o que mais se adequava à turma (formação de grupos,

solicitação da autonomia e responsabilização, características das situações de

aprendizagem de acordo com as dificuldades) e, possibilitou-me ainda,

compreender de forma mais clara a importância da profissão docente na

formação integra de cidadãos, isto é, na edificação dos indivíduos e da

sociedade.

Após a obtenção do título profissional, o professor é apenas um projeto

inacabado, revelando-se a atitude reflexiva como uma ferramenta promotora do

desenvolvimento, possibilitando melhorias na sua moldagem e polimento, que

o conduzirão no sentido da “perfeição”.

O interesse por temas relacionados com a prática reflexiva no

desempenho da função docente tem vindo a ser demonstrado por diversos

autores há já algumas décadas. De acordo com Lalanda e Abrantes (1996), o

filosofo americano John Dewey (1859-1952) deu um elevado contributo no

desenvolvimento do pensamento reflexivo aplicado à formação de professores.

Lalanda e Abrantes (1996, p. 45) indicam que para Dewey “o pensamento

reflexivo é a melhor maneira de pensar” e refere-o como sendo uma “espécie

de pensamento que consiste em examinar mentalmente o assunto e dar-lhe

consideração séria e consecutiva”.

Vincando a importância da reflexão na profissão docente, Mialaret (1981,

p. 103) afirmou que “uma actualização quase constante e uma reflexão

permanente sobre a sua actividade são práticas necessárias ao educador, o

qual não poderá desempenhar de forma mais correcta o seu papel junto dos

alunos se ele próprio não se mantiver numa situação de renovação psicológica

e pedagógica permanente”.

Segundo Alarcão (1996b, p. 175) a reflexão é para Dewey (1933) “uma

forma especializada de pensar. Implica uma perscrutação activa, voluntária,

persistente e rigorosa daquilo em que se julga acreditar ou daquilo que

habitualmente se pratica, evidencia os motivos que justificam as nossas acções

ou convicções e ilumina as consequências a que elas conduzem”.

Page 45: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

27

Salientando a perspectiva de Donald Schön (2000), Herdeiro e Silva

(2008, p. 10) afirmam que “a reflexão promove uma formação de professores

que assenta numa perspectiva prática”. Alarcão (1996a) também baseada nas

ideias de Schön (1987), referencia as noções de “conhecimento na ação”, a

“reflexão na ação”, a “reflexão sobre a ação” e a “reflexão sobre a reflexão

na ação”. O conhecimento na ação representa o conhecimento que o

profissional possui para realizar a ação. A reflexão na ação é um tipo de

reflexão que ocorre no momento em que a ação se processa. De acordo com a

sua ação, o profissional analisa o que está a fazer (no seu decurso e sem a

interromper) e toma decisões, reformulando-a. Já a reflexão sobre a ação

consiste na reconstrução mental da ação de forma a proceder à análise dos

acontecimentos passados. Por fim, a reflexão sobre a reflexão na ação, como o

próprio nome indica, consiste na reflexão acerca da reflexão na ação. Este

processo leva o profissional a evoluir no seu desenvolvimento, pois permite-lhe

ir em busca de novas soluções para as situações ocorridas, podendo preparar

as ações futuras. Segundo Oliveira e Serrazina (2002, p. 4) “é a reflexão

orientada para a acção futura, é uma reflexão proactiva, que tem lugar quando

se revisitam os contextos políticos, sociais, culturais e pessoais em que

ocorreu, ajudando a compreender novos problemas, a descobrir soluções e a

orientar acções futuras”.

A reflexão possibilitou-me ao longo deste EP, a criação de estratégias

para a resolução de problemas e analisar a que se deveram determinados

acontecimentos. Gómez (1992, p. 110) indica que “nas situações decorrentes

da prática não existe um conhecimento profissional para cada caso-problema,

que teria uma única solução correcta”. Nóvoa (1992, p. 27) refere também que

“as situações que os professores são obrigados a enfrentar, (a resolver)

apresentam características únicas, exigindo portanto respostas únicas”.

Considero ainda que o professor deve refletir acerca de tudo aquilo que

faz na sua atividade diária não só individualmente, mas também coletivamente,

através da partilha de experiências, de crenças e de conhecimentos,

demonstrando abertura com os restantes profissionais. No decurso do EP senti

a necessidade de refletir acerca dos mais diversos temas, não apenas no que

Page 46: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

28

concerne à relação com os alunos e à realização prática em espaço de aula,

mas também, em relação ao que ocorre fora do espaço físico do ginásio

polidesportivo, pois a intervenção do professor não se esgota no espaço e

tempo de aula.

Desta necessidade constante de reflexão que foi consumada, pretendo

destacar a satisfação em sentir que estratégias procuradas surtiram efeito em

aulas seguintes, resultando delas, a aprendizagem e a evolução daqueles com

que interagi. A ocorrência de erros e os resultados de más decisões fizeram

com que determinados comportamentos fossem excluídos, e que as

estratégias com resultados favoráveis fossem exploradas.

De uma forma geral, a reflexão contribui decisivamente para o

desenvolvimento profissional docente, pois, através dela, qualquer professor

pode desenvolver-se e ditar o seu próprio crescimento. Esta capacidade

formativa que é inerente à reflexão permitir-lhe-á a aquisição contínua de

conhecimentos, que influenciarão a sua forma de agir e intervir em ambiente

educativo.

Page 47: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

29

4. A prática profissional

Ao longo deste capítulo pretendo fazer alusão àquilo que foi a

abrangente experiência prática neste EP, indicando as minhas principais

dificuldades e refletindo acerca dos resultados de algumas decisões por mim

tomadas, assim como, deixar transparecer o contributo que tiveram, quer na

minha evolução, quer na evolução daqueles a quem destinei 10 meses de

dedicação.

4.1. Planeamento

“Na planificação são determinados e concretizados os objectivos mais

importantes da formação e educação da personalidade, são apresentadas as

estruturas coordenadoras de objectivos e matéria, são prescritas as linhas

estratégicas para a organização do processo pedagógico”.

(Bento, 2003, p. 15)

Uma das primeiras tarefas realizadas em contexto de estágio consistiu na

análise e reflexão conjunta acerca do Programa de Educação Física, sendo

posteriormente analisado o Projeto Curricular de Educação Física

(competências específicas e essenciais, conteúdos e critérios de avaliação e

de autoavaliação) desenvolvido pelo grupo de EF. Desde logo foi evidente que

este se revela menos ambicioso do que o Programa Nacional de Educação

Física ao nível dos conteúdos a abordar, no entanto, mostra-se mais realista e

ajustado aos alunos daquela comunidade e, de forma mais abrangente, à

realidade escolar. A adaptação e consequente definição dos conteúdos a

abordar ao longo dos anos letivos, que se encontram presentes neste

documento, constituem o fio condutor da intervenção do professor ao nível do

planeamento, da realização e da avaliação. Desta forma, é possível ao

professor no início de cada ano letivo ter conhecimento dos conteúdos que

supostamente foram abordados pelas suas turmas no ano anterior. No entanto,

as modalidades alternativas são uma exceção, em virtude de serem de livre

Page 48: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

30

escolha por parte dos professores, existindo total liberdade na seleção dos

conteúdos a abordar.

Ainda nesta fase de adaptação ao EP e após realização da análise do

contexto, procedi à realização do Planeamento Anual, tendo como base as

condições materiais e físicas da escola, encontrando-se estas devidamente

organizadas através da existência de um Roulement (Anexo1). Este documento

define qual o período de tempo e local disponível para a concretização prática,

sendo já conhecidas por todos os docentes do grupo quais as potencialidades

de cada espaço desportivo.

Na sua elaboração as principais dificuldades residiram na decisão do

período de tempo a destinar para cada modalidade, de acordo com os

conteúdos a abordar, de forma a que, o tempo útil reservado a cada uma delas

tornasse possível o alcance dos objetivos de aprendizagem.

Durante os primeiros contactos com os alunos, realizei a recolha de

dados para a elaboração da caracterização da turma através da aplicação de

um questionário e da aplicação da Bateria de Testes Fitnessgram.

No entanto, o quadro de dificuldades ao nível do planeamento não se

esgota na sua configuração anual. A elaboração dos Modelos de Estrutura de

Conhecimentos (Vickers, 1990) e dos Planos de Aula, também acarretaram

reflexões profundas, que serão evidenciadas ao longo deste subcapítulo.

4.1.1. A seleção dos conteúdos

De acordo com Bento (2003, p. 75) as Unidades Didáticas (UD)

“constituem unidades fundamentais e integrais do processo pedagógico”. O

mesmo autor, baseando-se num coletivo de autores (1980) refere que possuem

um conjunto de intenções de ensino.

A elaboração das UD nas diversas modalidades lecionadas acarretaram

algumas dificuldades, que no entanto, foram sendo suprimidas através da

reflexão individual e coletiva. Estas, inicialmente, residiram ao nível da seleção

dos conteúdos, ao nível da definição dos objetivos a alcançar pelos alunos, ao

nível da definição da sequência e extensão dos conteúdos, bem como na

Page 49: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

31

configuração da avaliação. Esta última será analisada com detalhe no

parâmetro destinado à avaliação (ponto 4.3).

Na seleção dos conteúdos a lecionar, demonstrei uma elevada ambição

em querer “ensinar tudo e bem”, sendo visível alguma incapacidade de

previsão daquilo que estava ao alcance dos alunos, mesmo após a realização

da análise dos mesmos. Recordo que na UD de Badminton considerei ser

possível a aprendizagem da maioria dos batimentos executados na modalidade

(lob, clear, amortie, encosto, remate, serviço curo e longo) em apenas 15 aulas.

No entanto, após ser alertado pela PC e após reflexão profunda, considerei que

as minhas intenções não incluíam metas atingíveis, dadas as capacidades dos

alunos. Julgo que a base desta pretensão exagerada se deveu à minha falta de

experiência/vivência na lecionação desta modalidade em contexto escolar, um

vez que considerava que a evolução dos alunos seria facilmente obtida.

Na elaboração da sequência e extensão dos conteúdos, as dificuldades

foram acrescidas, uma vez que para a sua realização foi necessário ter em

consideração, simultaneamente, a duração da UD, a gestão do espaço e dos

materiais disponíveis e a seleção das situações de aprendizagem. A

distribuição dos conteúdos em relação às aulas disponíveis revelou-se uma

tarefa complexa e nem sempre o planeado foi cumprido. Contudo, como já foi

referido, o planeamento da UD trata-se de um projeto, e na minha ótica, tal

como qualquer projeto, pode ser alterado. Na realidade, foi necessário

proceder a alterações ao planeado na maioria das UD, devido por exemplo, à

impossibilidade de realização de aula por motivos de greve, à ausência dos

alunos causada pela participação em visitas de estudo e, com maior

frequência, devido às dificuldades de aprendizagem dos alunos.

No entanto, estas ocorrências contribuíram para desenvolver a minha

capacidade de tomada de decisão e de alteração ao previamente planeado,

procurando sempre privilegiar ao máximo a aprendizagem dos alunos e sendo

notório que o planeamento é algo que apresenta elevada plasticidade.

Page 50: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

32

4.1.2. A seleção das situações de aprendizagem e a organização da

aula

Os planos de aula devem funcionar como um guião para o professor, sem

no entanto representarem algo de rígido, uma vez que, de acordo com o

decorrer das aulas, o seu cumprimento pode ser alterado em função das

necessidades ou situações com que o professor se depara.

Na elaboração dos planos de aula, senti dificuldades na seleção das

situações de aprendizagem e foi esta escolha criteriosa que me levou a

despender um maior período de tempo, uma vez que a principal preocupação

era a opção por práticas que possibilitassem a evolução dos alunos. No início

de cada UD e mesmo no seu decurso, senti a necessidade de relembrar

questões alusivas às matérias (critérios de êxito, erros mais comuns, situações

facilitadoras da aprendizagem, etc.) sendo este estudo e investigação

determinantes para a obtenção de sucesso no processo de ensino

aprendizagem.

De acordo com o referido e tendo em consideração a experiência obtida,

percecionei que a reflexão acerca da adequabilidade dos exercícios às

necessidades, problemas e características dos alunos, veio a revelar-se

determinante. As reflexões de aula contribuíram para o levantamento desses

problemas e para a busca de soluções e de estratégias mais eficazes,

acabando por facilitar a elaboração do planeamento ao nível da aula. Desta

forma, foi curioso verificar, que numa fase mais avançada do ano letivo, a

seleção das situações de aprendizagem começava a ser processada a partir do

momento em que uma aula terminava e que procedia à sua análise.

Ao lecionar as primeiras aulas deste EP, estando perante as primeiras

situações que exigiam o controlo e comando de uma turma, senti que as aulas

decorriam de forma pouco dinâmica, essencialmente na organização dos

alunos (formação de grupos de trabalho e sua reestruturação), bem como na

realização das transições e das tarefas de instrução. Assim, desta falta de

dinamização, resultou a falta de aproveitamento do tempo útil de aula, sendo

evidente que o aumento da densidade motora poderia ser alcançado, tal como

é possível conferir nos excertos das reflexões de aula que se seguem:

Page 51: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

33

“Esta sequência de explicações poderia ter sido evitada

começando a aula junto ao quadro, o que apenas levaria à

realização de uma deslocação por parte dos alunos, ou então,

poderia ainda ter optado por explicar o exercício mantendo os

alunos no mesmo local” (Reflexão de aula 5-6)

“No que se refere à situação de jogo 3x3, deveria ter evitado a

realização das rotações das equipas uma vez que a duração

da aula é de apenas 25 minutos efectivos. As rotações levaram

a uma desnecessária perda de tempo, quer na sua explicação,

quer na sua realização.” (Reflexão de aula 7)

De acordo com o referido, senti a necessidade de pensar em todos os

pormenores da aula, ocorrendo juntamente com a elaboração do plano da

mesma, como se da visualização prévia do “filme da aula” se tratasse,

imaginando as transições e os comportamentos dos alunos, prevendo, de certa

forma a dinâmica da aula. Esta estratégia utilizada fruiu os resultados

esperados, sendo notória a importância de a aula ser devidamente pensada.

Considero que este tipo de análise e de reflexão foi determinante,

possibilitando-me o desenvolvimento desta capacidade, que se expandiu e se

revelou útil ao longo do ano letivo.

4.2. Realização

A realização daquilo que previamente fora planeado surgiu como o

desafio mais amplo e abrangente. A relação com os alunos de forma a

proporcionar o alcance dos objetivos de aprendizagem não se revelou uma

tarefa fácil. O facto de ser confrontado com uma enorme variedade de sujeitos,

que assumem diferentes dificuldades, atitudes e comportamentos, dificultou,

como é normal, a minha intervenção. Ao liderar todo o processo de ensino

aprendizagem, senti que as minhas capacidades e conhecimentos foram

testados, sendo necessária a mobilização de todos eles em simultâneo, o que

se revelou um desafio permanente.

Page 52: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

34

Desta forma, pretendo deixar presente aquelas que foram as minhas

dificuldades, bem como as decisões que se revelaram uma mais-valia para o

alcance dos objetivos de aprendizagem.

4.2.1. Implementação de regras e de rotinas

De acordo com Siedentop e Tannehill (2000, pp. 63-64) as rotinas são

“specify procedures for performing tasks within the class. Any task that is

repeted frequently should be made into a routine. A set of routines provides the

structure that allows classes to run smoothly, free of delays and disruptions.

Routines also relieve the teacher of the need to be a constant traffic director”.

Nas aulas iniciais deste EP, quando fui deparado com a necessidade de

gerir toda a aula/turma, senti algumas dificuldades na definição de rotinas e na

sua implementação. Aquando da primeira UD, a inclusão e o ensino de rotinas

à turma surgiram em momentos tardios, o que implicou um esforço acrescido

de minha parte para controlar os comportamentos disruptivos dos alunos, que

conduziram a alguma desordem. Dou como exemplo a chegada dos alunos ao

ginásio, que devido a alguma ansiedade e ao entusiasmo que manifestavam

relativamente à aula, corriam pelo espaço e tendiam a utilizar os materiais

preparados para a aula, o que implicava a repreensão dos alunos e o reajuste

do material, interferindo com o início da aula. Dada esta ocorrência, defini

vincadamente a regra do local de reunião para o início da aula, que a partir daí

passou a ser cumprida de forma séria. Ainda nestas aulas iniciais, a falta de

indicação de uma referência para os alunos se posicionarem nos momentos de

instrução atrasava o início desta e interferia com a sua realização, uma vez que

se sentavam de forma dispersa dificultando a instrução, o que implicava a

reorganização dos alunos. Desde aí, percebi a importância das rotinas como

elementos estabilizadores e organizadores da aula.

No entanto, os problemas voltavam a surgir quando em determinadas

modalidades estas não foram implementadas desde a primeira aula. Dou como

exemplo, o facto de não ter indicado um local para a colocação dos volantes

que não estavam a ser utilizados na modalidade de Badminton, resultando na

Page 53: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

35

desorganização momentânea da aula e dos alunos. A dispersão dos materiais

por vezes interferiu com a realização das tarefas e os alunos mostraram-se

agitados quando necessitaram de os utilizar.

Destaco ainda que verifiquei que quando as rotinas foram bem

implementadas as aulas pareciam decorrer com “ritmo” harmonioso,

conseguindo uma ótima maximização do tempo. Os alunos reuniam-se

organizadamente para o início da aula e quando foram solicitados para

reuniões conjuntas com o intuito de dar início à instrução, rapidamente se

prontificaram. Eles sentiam a minha presença…

“Os alunos facilmente assimilaram e colocaram em prática as

rotinas e regras impostas, o que contribuiu para uma rápida

organização nos momentos de instrução.” (Reflexão de aula

61-62)

De acordo com o referido, a implementação de rotinas é determinante

para obter o controlo da turma, facilitando a intervenção do professor na gestão

da aula e no controlo da turma. Para que as rotinas sejam cumpridas, é

necessário que o professor as defina e as ensine à turma, e que estas se

efetivem na prática, tal como referem Siedentop e Tannehill (2000, p. 64)

“Routines need to be taught as specifically as one might teach how to dribble or

pass. this means explanations, demonstrations, student practice with feedback,

and all other elements related to learning sport skills.”.

4.2.2. A diferenciação do ensino

A instituição escolar abre portas à sociedade a fim de proporcionar o

desenvolvimento e formação dos sujeitos singulares que nela habitam.

Deparada com heterogeneidades sociais e culturais, a escola não pode tratar

todos por igual no que à aprendizagem se refere, pois, caso o faça, não está a

propiciar a igualdade, tornando-se necessário diferenciar, de forma a ir ao

encontro das necessidades individuais.

Page 54: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

36

De acordo com Cadima (1997, pp. 13-14), “é necessário que a criança, ou

o jovem sinta um clima securizante, para que, de facto, se possa entregar à

descoberta e participação nas vertentes cognitiva e social. Criar um clima

securizante passa pelo reconhecimento, por parte do professor, do aluno

enquanto pessoa, com um determinado património sócio-cultural, com os seus

interesses, necessidades, saberes, experiências e dificuldades”.

A diferenciação do ensino assume-se assim como determinante. Segundo

Perrenoud (2001, p. 27), uma possível definição para diferenciação do ensino é

a de “ organizar as interacções e as actividades, de modo a que cada aluno

seja confrontado constantemente, ou ao menos com bastante frequência, com

situações didácticas mais fecundas para ele”.

Bourdieu (cit. por Perrenoud, 2001, p. 152) referiu que a escola é

“indiferente às diferenças”, pois “trata todos os alunos como iguais em direitos

e deveres”. Contudo, Perrenoud (2001, p. 152), define a mesma expressão

como “uma desigualdade totalmente aleatória” indicando que a lotaria a ilustra

de forma perfeita, uma vez que “nem todos ganham e os ganhos são muito

desiguais”, sendo atribuídos ao acaso. Desta feita, para que a escola promova

a igualdade de oportunidades, necessita de gerir a heterogeneidade dos

alunos.

Como é óbvio, a disciplina de EF não é alheia à heterogeneidade e esta

de imediato salta à vista, basta para isso, analisar com brevidade o padrão

motor dos alunos dentro de uma turma. Assim, o professor deve tê-la em

consideração e contemplar, sempre que possível, a diferenciação do ensino de

forma a potenciar a evolução dos seus alunos, criando situações de

aprendizagem ajustadas às suas capacidades. Tendo em consideração o

referido, procurei ao longo do EP, privilegiar, maioritariamente, a atividade dos

alunos em grupos com características e capacidades semelhantes definindo

níveis de ensino.

Apesar do referido, verifiquei ainda que conjugar alunos de diferentes

níveis de ensino no desempenho das tarefas pode ser vantajoso. Foi já numa

fase tardia, durante a UD de Badminton, que optei pela “mistura de níveis de

ensino”. Digo tardia porque poderia tê-la tido em consideração na UD anterior,

Page 55: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

37

a de Voleibol. Esta fusão revelou-se bastante benéfica para os alunos de nível

ensino inferior, uma vez que realizaram as habilidades com um colega com

capacidade de manter prestações satisfatórias. Dando como exemplo, o

Badminton, foi possível verificar que os alunos de nível de ensino inferior em

situação de cooperação, viram as suas oportunidades de participação

aumentadas, pelo facto de se depararem com trajetórias dos volantes

adequadas, facilitando a execução técnica dos batimentos, o que conduziu à

obtenção de melhores prestações. Este facto, permitiu ainda, ampliar de forma

vincada os seus níveis motivacionais, uma vez que anteriormente,

demonstraram alguma frustração perante as próprias dificuldades.

“Os resultados foram, na minha perspectiva, muito satisfatórios,

uma vez que os alunos com mais dificuldades apresentaram

uma performance mais interventiva e dinâmica (…) permitiu

aos alunos com maiores dificuldades realizar sequências de

batimentos sucessivas, o que até à data não acontecia, o que

levou a que alguns batimentos surgissem com maior

frequência. Este facto aliado à atitude cooperativa dos alunos

de nível 2, fez com que os alunos de nível 1 dessem,

realmente, provas das suas capacidades.” (Reflexão de aula

58-59)

“Os amortie’s surgiram com maior frequência muito devido à

realização de clear’s altos e bem direccionados, e

consequentemente, verificou-se de igual modo o aumento da

frequência da realização de Lob’s, pois, os amortie’s com uma

trajectória baixa realizados pelos alunos mais evoluídos, a isso

obrigavam.” (Reflexão de aula 58-59)

Foi ainda possível verificar que mesmo em situação de competição se

tornou benéfico para os alunos de nível de ensino inferior, pois, vivenciaram o

jogo de forma mais autêntica, uma vez que se depararam com

constrangimentos com que não eram confrontados quando jogavam com

alunos do mesmo nível.

Page 56: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

38

“(…)o desequilíbrio entre prestações foi evidente. No entanto,

considero de muito positivo o incremento das situações que

levavam à necessidade de enquadramento com o volante, de

ocupação racional do espaço e de selecção da acção técnica

mais adequada a circunstância de jogo. O facto de estas

exigências surgirem de forma mais vincada contribui para uma

vivência de jogo mais real/autêntica.” (Reflexão de aula 58-59)

Para os alunos de nível de ensino superior, verifiquei que se tornou

motivador, pois mostraram elevado interesse e empenho em cooperarem com

os colegas, no entanto, as oportunidades de participação e de exercitação das

habilidades foram-lhes reduzidas, pelo facto de as dificuldades dos alunos de

nível de aprendizagem inferior lhes proporcionarem elevada descontinuidade

na realização das tarefas, ao contrário do que ocorria quando inseridos em

grupos homogéneos.

Considero importante salientar que a opção de conjugação de níveis de

ensino foi impulsionadora da aprendizagem dos alunos com maiores

dificuldades, contudo, a sua contemplação deve ser limitada temporalmente

sob o risco de condicionar e/ou estagnar a aprendizagem dos alunos mais

evoluídos. Foi possível verificar, que ocorrendo de forma esporádica, os alunos

de nível superior não perdem o interesse na tarefa pelo facto de se sentirem

úteis e de cooperarem com os restantes colegas, desenvolvendo desta forma

os aspetos psicossociais.

“Verificando-se em alguns dos casos a ocorrência em

autonomia da demonstração e explicação dos gestos

pretendidos, de forma paciente e compreensiva. Julgo que para

obtenção deste espírito cooperativo contribui a

responsabilização dos alunos nesse sentido, e caso não se

realizasse, certamente, que os resultados não seriam os

mesmos.” (Reflexão de aula 58-59)

Page 57: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

39

Assim, concluo que se revelou importante gerir as referidas articulações,

procurando a igualdade e a justiça através de “desiguais” experiências.

4.2.3. Conduzir à interpretação e à análise nos Jogos Desportivos

Na abordagem dos Jogos Desportivos, após verificar as dificuldades dos

alunos na compreensão e desempenho em jogo, foi com certa naturalidade que

recorri ao questionamento dos alunos, muito devido a bons resultados por mim

verificados quando envolvido no treino de crianças e jovens. Tendo em conta

as ideias de Harvey e Goudvis (2000), Rosado e Mesquita (2009, p. 101)

referem que o questionamento “é a chave para a compreensão”. Esta forma de

intervenção característica de tarefas de instrução de caráter implícito permitirá

ao jogador fazer a interpretação da situação (Mesquita, 2009).

Os Jogos Desportivos ocorrendo em contexto aberto, possuem elevada

imprevisibilidade, devido às alterações constantes de contexto que lhes é

característica, o que aumenta as exigências ao nível do desempenho e

capacidades dos alunos. Como tal, Rosado e Mesquita (2009, p. 101),

baseados em Vacca (2006), indicam que estes cenários “não são compatíveis

com respostas pré-definidas, nem se conformam a um padrão estrito de

execução, sendo necessário abordá-las de forma perceptiva e cognitivamente

mais activas”, referem ainda, que “ essa maior participação activa do aluno ou

atleta exige um conjunto de estratégias de ensino que passam, entre outros

procedimentos, pelo recurso muito frequente ao questionamento”.

Mesquita (2006, p. 329) destaca que “mais importante que prescrever, é

fundamental questionar os praticantes, na medida em que incrementa o

desenvolvimento do raciocínio táctico e a autonomia decisória, pressupostos

edificadores da prática do jogo qualificado”.

Ao longo da realização prática foi possível verificar os resultados deste

tipo de intervenção, realizadas essencialmente no decurso do jogo. Foram

inúmeras as vezes que interrompi as situações de jogo colocando questões

aos alunos, tais como: “Perante esta situação o que fazes?”, “E se ele se dirigir

Page 58: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

40

para ali? O que podes fazer?”, “Para onde deves enviar a bola se ele estiver no

fundo do campo?”, “O que será mais vantajoso?”, “Porque optaste por fazer

isso?”. Não tenho dúvidas de que esta intervenção os conduziu à reflexão e à

análise das situações, uma vez que se verificaram melhorias nas suas

prestações em jogo, refletindo-se no aumento das decisões acertadas. Para

além do recurso ao questionamento, recorri à manipulação dos alunos, a fim de

os voltar a interrogar acerca dos resultados de determinadas decisões

passíveis de serem tomadas.

“Perante estes casos considero que se torna fundamental

alertar para a necessidade de existir contacto visual com o

portador da bola, e analisar se é possível a intercepção da bola

por parte dos adversários. Considero ainda que as paragens de

jogo e a análise conjunta das situações realizadas com os

alunos em causa poderão continuar a facilitar nesta análise.”

(Reflexão de aula 72-73)

“Perante as dificuldades evidenciadas por alguns alunos em

ocupar o espaço de forma racional, em criar linhas de passe

viáveis e em ocupar correctamente a posição defensiva,

considero que foi útil intervir interrompendo o jogo e

questionando os alunos acerca da sua intervenção, levando-os

a analisar as situações com que se deparavam. Ao longo desta

aula, considero, tal como em algumas das anteriores, que

foram úteis estas intervenções” (Reflexão de aula 74)

Na minha perspetiva o professor ao fornecer soluções para as diferentes

decisões que o aluno deve tomar em jogo, só está a fazer com que ele seja um

mero executante, o que não garante que perceba o porquê e o para quê das

suas ações, o que dificultará a decisão autónoma e a compreensão do jogo.

Tal como refere Mesquita (2009, pp. 179-180) “isso não significa que o jogador

seja capaz de a replicar autonomamente e, muito menos, se as condições de

aplicação se alterarem”. Para além do referido, as respostas dos alunos

permitiram-me, tal como a observação dos desempenhos e decisões, avaliar os

Page 59: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

41

seus conhecimentos, dificuldades e a ocorrência de evolução, sendo possível

determinar quais os aspetos que seriam importantes reforçar e salientar nos

momentos de instrução. Tendo ainda em consideração as ideias de Vacca

(2006), Rosado e Mesquita (2009, p. 101) referem que o questionamento

“permite, entre outros aspectos, verificar o grau de conhecimento que os alunos

têm da informação transmitida, desenvolver a capacidade de reflexão (…)

aumentar a frequência de interacções entre o professor e o aluno, melhorar a

motivação e o clima (…)”.

Para finalizar, posso afirmar que em alguns momentos, o recurso ao

questionamento contribuiu para a melhoria da intervenção dos alunos em jogo,

sendo os alunos elementos ativos e propulsores da própria aprendizagem.

4.2.4. O feedback - fecho do seu ciclo

No trabalho diário do professor, a comunicação é fundamental para este

se relacionar com todos aqueles que “habitam” a instituição escolar, mas

também, assume importância determinante na sua intervenção no espaço de

aula. Considero que se trata de uma capacidade determinante para dirigir todo

o processo ensino aprendizagem, sendo uma ferramenta de extrema

importância na realização de tarefas de instrução. De acordo com Silva (1998,

p. 56) baseada nas ideias de Siedentop (1991) “o termo instrução refere-se aos

comportamentos de ensino que fazem parte do reportório do professor ou

treinador para comunicar informação substantiva”. Refere ainda que “dela

fazem parte todos os comportamentos, verbais ou não verbais (e.g. explicação,

demonstração, feedback, entre outras formas de comunicação acerca do

conteúdo) que estão intimamente ligados aos objectivos de aprendizagem”

(Silva, 1998, p. 56) .

Ao longo deste percurso, apresentei facilidade na realização da

generalidade das tarefas de instrução, de tal forma que, arrisco em afirmar que

não consigo sequer imaginar como é ser professor sem esta capacidade. A

clareza na apresentação das tarefas e a necessidade de adequar a informação

que pretendia transmitir às capacidades de interpretação dos alunos, foram

Page 60: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

42

determinantes para que estes rapidamente iniciassem e realizassem as

atividades propostas de acordo com o pretendido. “A forma como a instrução é

realizada interfere na interpretação que os alunos ou atletas fazem das tarefas,

o que influencia a realização das mesmas” (Silva, 1998, p. 58). Silva (1998, p.

57) indica ainda, que “na organização do processo de instrução é necessário

atender não só a aspectos de natureza didáctico-metodológica na estruturação

das tarefas, como também à informação que as deve acompanhar e suportar”.

Como já foi referido, o feedback (FB) faz parte integrante do processo de

instrução e, segundo Pieron (1984, p. 143) baseado na definição de Fishman e

Anderson (1971), é “un comportement d’enseignement dépendant de la

réponse motrice d’un ou de plusieures élèves, ayant pour objet de fournir une

information relative à l’acquisition ou à la réalisation d’une habileté motrice”.

De acordo com Metzler (2000, p. 102) “One of the teacher’s most

essential instructional functions is to provide students with information about the

adequacy of completed task performances. This information is called feedback

and is critical to the learning process”.

A emissão de FB resulta de um processo em que são necessárias

diversas potencialidades do professor, das quais destaco a capacidade de

observação e a de tomada de decisão. Para que os seus resultados obtenham

o sucesso esperado, considero que o professor deve elaborá-los de forma

cuidada e acompanhar os seus resultados.

Piéron e Delmelle (cit. por Serra, 2001, p. 26) indicam que a sequência de

comportamentos necessários para emitir um FB são: “a observação e

identificação do erro; a tomada de decisão (reagir ou não reagir); se decidir

reagir: prestar um encorajamento ou uma informação; o feedback pedagógico

informativo; observar as mudanças no comportamento motor do aluno

(mudanças em concordância com a intervenção do professor) e a

observação de nova tentativa e novo feedback”. De acordo com esta

sequência, as minhas dificuldades pontuais situaram-se ao nível dos dois

últimos comportamentos.

No decurso deste ano letivo, foram notórias as dificuldades que os alunos

da turma apresentaram na aprendizagem da modalidade de voleibol. Nas aulas

Page 61: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

43

iniciais desta UD, principalmente nas de 45 minutos de duração, foi de forma

espontânea, que senti a necessidade de tentar intervir junto de todos os

alunos, de forma a poder colmatar as lacunas que apresentavam na realização

das habilidades motoras. Perante esta preocupação, emitia um FB a um aluno

e ao observar outros alunos a realizarem as habilidades motoras com

incorreções, a minha tendência era para no imediato intervir sobre esses

mesmos alunos. No entanto, esta vontade de estar em todo lado e de chegar a

todos os alunos de forma equitativa fez com que não verificasse os resultados

da informação transmitida. Este comportamento por mim assumido privou-me

da análise das novas respostas dos alunos e impossibilitou que estes

compreendessem se as suas prestações eram ou não melhoradas.

“Dado este panorama, e tal como já aconteceu em aulas

anteriores, senti a necessidade de realizar constantes

correcções, emitindo frequentemente feedback’s. Devido a esta

preocupação, acabei por não verificar o resultando dos

feedback’s transmitidos, não completando o seu ciclo”

(Reflexão de aula 25)

No entanto, foi após reflexão individual que conclui que, certamente, seria

mais vantajoso intervir em parte dos alunos de forma correta e produtiva, do

que intervir junto de todos de forma “superficial” e com baixa probabilidade de

alcançar os objetivos da tarefa, uma vez que os alunos poderiam estar a repetir

os mesmos erros. Verificadas estas ocorrências, tentei tirar o máximo proveito

da utilização da visão periférica, a fim de contemplar o fecho do ciclo de FB. De

acordo com o referido procurei, após emitir um FB, dar continuidade à

observação dos restantes alunos, permanecendo, “vigilante”, atento à nova

execução do aluno que recebera previamente o FB. Assim, focava apenas este

aluno no momento em que este realizava a habilidade e de acordo com a sua

resposta emitia um novo FB. Para que tal fosse possível foi ainda determinante

a capacidade de colocar a voz, emitindo FB à distância.

Uma vez aplicadas estas estratégias, verifiquei de imediato que os

alunos evidenciaram maiores níveis de motivação e empenho, pois, sentiam a

Page 62: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

44

minha presença, mesmo quando não me encontrava nas proximidades.

Considero que sentiam que estava atento e que os acompanhava nas suas

intervenções, o que certamente contribuiu para a melhoria dos resultados da

aprendizagem. Esta minha alteração de comportamentos fez-me sentir mais

capaz de intervir e de ensinar, estendendo-se às UD seguintes.

“Foi ainda possível verificar que os alunos se mostram

motivados e satisfeitos perante a atenção que lhes foi

reservada (…) a emissão de feedback’s, a observação atenta

das suas prestações e a indicação dos aspectos a melhorar,

tiveram resultado na aprendizagem de alguns alunos

(essencialmente ao nível do afastamento dos M.I. na realização

do rolamento à retaguarda com M.I. afastados).” (Reflexão de

aula 96)

4.2.5. O desenvolvimento da autonomia, da responsabilização e da

cooperação

Desde as primeiras aulas foi possível verificar que os alunos com que

interagi apresentavam elevados níveis motivacionais e um desenvolvido

sentido de responsabilidade. Problemas como a assiduidade, pontualidade e

faltas de material nunca existiram e evidenciou-se frequentemente a

capacidade de se manterem nas tarefas propostas de forma responsável e

autónoma.

Após verificadas estas características e consequente reflexão, considerei

determinante maximizar o seu desenvolvimento, uma vez que estas se revelam

fundamentais para a vida. Delors et al. (1996, p. 85) refere que “a educação

deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa - espírito e corpo,

inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal (...)” As

estratégias que utilizei para promover a responsabilidade e a autonomia dos

alunos passaram pela realização de tarefas que exigissem estas mesmas

competências. Assim, optei por planear situações que implicassem a

Page 63: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

45

intervenção dos alunos de forma responsável e autónoma, tais como, torneios

em que a organização ficou ao cargo dos alunos (transições, registo de

resultados, etc), pelo desenvolvimento da condição física de forma autónoma,

em que os alunos foram responsabilizados pelo cumprimento do respetivo

plano de treino e pela solicitação da organização e realização de situações de

aprendizagem de forma autónoma.

“No que se refere à realização da condição física, concluo que

as fichas de treino e suas actualizações mantêm os alunos

motivados, responsabilizando cada um pelo seu “treino”. (…) “a

sua concretização apenas exige do professor a supervisão e a

realização de possíveis correcções técnicas, o que o liberta

para as tarefas centrais da aula, mantendo os alunos em

actividade intensa.” (Reflexão de aula 47-48)

“optei por estruturar a aula em forma de circuito, sendo as

restantes estações passíveis de realização autónoma ou com

ajuda assegurada pelos alunos.” (Reflexão de aula 90)

O Modelo de Educação Desportiva (MED), contribuiu igualmente para a

promoção destes aspetos, tendo sido os alunos estimulados no desempenho

das diversas funções (ver 4.2.8).

O facto de a turma evidenciar estas potencialidades permitiu-me

descentrar precocemente dos aspetos organizativo-metodológicos das aulas,

focando-me assim na intervenção próxima dos alunos. Desta forma, a minha

atuação foi facilitada, existindo um maior período de tempo para observar, para

emitir FB, para instruir, para refletir, tomar decisões e para estabelecer laços

afetivos com os alunos.

“A educação formal deve, pois, reservar tempo e ocasiões suficientes (…)

para iniciar os jovens em projectos de cooperação, logo desde a infância, no

campo das actividades desportivas e culturais (…)”

(Delors et al., 1996, p. 85)

Page 64: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

46

As relações de cooperação e entreajuda foram igualmente desenvolvidas

com afinco. Aliás, as palavras cooperação e entreajuda fizeram frequentemente

parte do meu discurso junto dos alunos, sendo que, o momento em que pela

primeira vez foram pronunciadas, coincidiu com a aula de apresentação. Esta

necessidade deveu-se a uma atitude de desrespeito de um aluno perante as

dificuldades de um colega, depreciando as suas capacidades. De imediato

optei por um discurso no sentido de alertar que dificuldades todos nós

possuímos e que devem ser respeitadas. Indiquei-lhes que apontar o dedo era

algo fácil mas que a atitude a louvar era a de optar por ajudar o colega a

superar as suas dificuldades e cooperar na sua aprendizagem. Para além do

referido, optei por deixar bem claro que valorizava o respeito e a solidariedade

demonstrada pelo outro.

O facto de os elementos da turma não manifestarem relações

conflituosas, prevalecendo entre eles um clima afável, foi facilitador do

desenvolvimento do espírito cooperativo. A sensibilização e responsabilização

para a importância de apoiarem os colegas foram fundamentais, verificando-se

resultados positivos, tal como foi possível verificar na UD de Badminton:

“ (…)considero que para a obtenção destas melhorias foi de

igual modo preponderante a capacidade dos alunos de nível 2

em auxiliar na aprendizagem e evolução de nível inferior,

verificando-se em alguns dos casos a ocorrência em autonomia

da demonstração e explicação dos gestos pretendidos, de

forma paciente e compreensiva.” (Reflexão de aula 58-59)

Para finalizar, destaco que resultados igualmente satisfatórios se

verificaram nas aulas de ginástica em que os alunos demonstraram elevada

competência e responsabilidade na execução das ajudas solicitadas e na

cooperação com os colegas:

“Em algumas situações foi satisfatório verificar que alguns

alunos, de forma voluntaria, explicaram e manipularam os

colegas com o intuito de os ajudar a alcançar a correcta

realização dos exercícios.” (Reflexão de aula 96)

Page 65: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

47

4.2.6. Como motivei e envolvi os meus alunos

“Um estudante motivado mostra-se ativamente envolvido no processo de

aprendizagem, engajando-se e persistindo em tarefas desafiadoras,

despendendo esforços, usando estratégias adequadas, buscando desenvolver

novas habilidades de compreensão e de domínio.”

(Guimarães & Boruchovitch, 2004, p. 143)

Ao longo deste EP, foi possível verificar que os alunos da turma

apresentavam diferentes formas de estar na aula de EF, bem como diferentes

níveis motivacionais. A generalidade demonstrou interesse pela disciplina e, tal

como já foi referido, revelou capacidade de estabelecer relações cooperativas,

de agir em autonomia e com elevado sentido de responsabilidade. No entanto,

considero que nunca é demais motivar os alunos e envolvê-los nas atividades

propostas. Considero que o professor deve procurar fazê-lo, não ficando à

espera que eles próprios se motivem ou que apresentem essa característica à

partida. Como refere Cavenaghi (2009, p. 249) baseada em Lens et al. (2008)

“a motivação não deve ser considerada como um traço relativamente estável

da personalidade. Ela é um processo psicológico no qual interagem as

características de personalidade e as características ambientais percebidas.

Isso implica que a motivação dos alunos pode ser modificada através de

mudanças nos mesmos, mas também através da mudança no seu ambiente de

aprendizagem escolar”.

Após reflexão, senti que ainda mais havia a fazer e, de certa forma, a

retribuir perante a dedicação, o comportamento e o entusiasmo por eles

demonstrados.

Page 66: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

48

4.2.6.1. A variedade e a criatividade como catalisadores da

motivação e da aprendizagem

A capacidade de os alunos se manterem envolvidos nas tarefas propostas

de forma responsável fez com que sentisse a necessidade de variar, de ser

criativo e de lhes proporcionar novos desafios, de forma a manter os níveis de

interesse no desempenho das tarefas. Saliento que esta necessidade surgiu,

maioritariamente, ao nível das tarefas alternativas que eram propostas quando

não existiam condições para manter todos os alunos a desempenhar a tarefa

principal da aula.

Como estratégias, procurei propor atividades desafiantes e criativas,

ajustadas às capacidades dos alunos, das quais passo a citar alguns

exemplos: a manutenção do volante em sustentação na modalidade de

badminton, alternando as posições corporais (sentado, em pé, deitados, com

raquete acima da cabeça e abaixo da anca, etc.); a realização de competições

(competição entre pares na modalidade de badminton verificando qual o aluno

que conseguia realizar maior de toques de sustentação; verificando qual

conseguia realizar mais passagens de rede na modalidade de voleibol, etc) e a

implementação de exercícios de condição física diferentes dos habitualmente

realizados, como foi o caso da utilização de pesos livres (garrafas de plástico

com areia).

“Simultaneamente a este exercício, ocorreu uma competição

de auto-passes, em que deveria ter introduzido uma variante

com maior dificuldade para a aluna praticante da modalidade,

uma vez que esta já domina o gesto em questão. Poderia ter

exigido que realizasse auto-passe mas, com determinada

sequência de trajectórias, como por exemplo, alta-alta-alta-

baixa-baixa e assim sucessivamente” (Reflexão de aula 29-30)

“São momentos em que o aluno se supera, tentando ser “o

melhor” (…). Adstrito a este facto poderemos facilmente

encontrar alunos que buscam a afirmação social, mostrando as

Page 67: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

49

suas capacidades e destrezas, uma vez que alguns não o

conseguem fazes noutras áreas curriculares.” (Reflexão de

aula 49)

Foi notório o aumento de dedicação e o agrado demonstrado pelos alunos

quando estimulados com estas situações, mantendo-os envolvidos no alcance

dos objetivos das tarefas, o que possibilitou o aumento da exercitação e que

naturalmente, se revelou como catalisador da aprendizagem. Contudo,

considero que o recurso a estas situações, de caráter competitivo, deve ser

bem analisado sob a possibilidade de algumas poderem interferir com a correta

execução técnica das habilidades motoras.

Para finalizar, considero ainda importante fazer alusão aos recursos

tecnológicos. Foi possível verificar que a sua utilização acompanhada por uma

correta disposição da informação e por elementos atrativos (fotos, esquemas,

vídeos, etc.), permitiram manter os alunos focados na informação exposta e

expectantes com o que iriam observar.

“Após apresentação considero fundamental que a sua

utilização seja breve, atractiva e interactiva, o que permitiu

manter os alunos atentos e motivados” (Reflexão de aula 16)

4.2.6.2. O que lhes proporcionei e os seus resultados

“O tempo decorrido de estágio profissional é já expressivo e na realidade,

tem sido um percurso desafiador. Prova disso destaco o sentimento de

insatisfação com aquilo que “dou” aos meus alunos, fazendo-me acreditar que

posso proporcionar-lhes novas experiências, bem como o acréscimo de

conhecimento, contribuindo para a sua edificação íntegra e transdisciplinar.”

(Reflexão de aula 78-79)

Page 68: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

50

A dada altura senti que a cada nova atividade e a cada nova vivência que

proporcionava à turma, mesmo que se de um jogo lúdico se tratasse, mais eles

se envolviam e se entusiasmavam, surgindo o sentimento que ainda poderia

dar mais alegrias e novos conhecimentos aos meus alunos e das mais diversas

formas.

A primeira atividade que organizei foi uma caminhada por um bosque

situado junto à escola. As minhas principais preocupações situaram-se ao nível

do controlo do grupo, uma vez que a atividade decorreu num ambiente que se

pode tornar perigoso, dada a sua abrangência espacial. Dessa forma, foi

fundamental criar e definir vincadamente as regras e nomear responsáveis

para o controlo do grupo, mantendo a sua coesão. No seu decurso os alunos

demonstraram agrados com a experiência, predominando o diálogo entre estes

e o professor, acerca dos mais diversos temas, existindo ainda a possibilidade

de realizar alguns jogos com características lúdicas.

“contribui para estabelecer uma relação mais próxima entre

professor e alunos, dado o carácter menos formal da actividade

realizada no exterior. Foi de igual modo possível detectar que

os alunos se mostraram receptivos e satisfeitos com a

realização de uma actividade diferente do habitual.” (Reflexão

de aula 38-39)

Foi já no decurso do 2º período letivo que me propus a organizar uma

palestra no âmbito a disciplina de Formação Cívica, cujo tema foi “Consumo de

Drogas na Adolescência”, existindo a intenção de dar continuidade ao trabalho

desenvolvido pela responsável da disciplina, a Diretora de Turma (DT). Desta

feita estabeleci contacto com duas enfermeiras que se disponibilizaram a

informar e a esclarecer os alunos da turma acerca do tema. Ao longo de toda a

sessão os alunos demonstraram interesse e curiosidade acerca do tema,

participando de forma ativa e mostrando-se sensibilizados para os malefícios

provocados pelas substâncias psicoativas. No final, os alunos demonstraram

ainda o seu agrado pela experiência ao questionarem as convidadas, acerca

Page 69: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

51

da possibilidade de estas poderem realizar, futuramente, outras atividades e

sugerindo temas tais como a sida e a alimentação.

“Deixou-me particularmente contente o reconhecimento dos

alunos acerca da importância da realização deste tipo de

sessões de educação para a saúde, sobretudo através do seu

apelo à repetição deste tipo de actividades.” B. Loureiro

(comunicação pessoal, 2 de Mar 2011)

“Os alunos participaram activamente. Responderam às

questões e às actividades solicitadas e ainda colocaram

questões bastante pertinentes” B. Loureiro (comunicação

pessoal, 2 de Mar 2011)

Ainda no mesmo período letivo optei por lecionar uma aula teórica cujo

tema foi “Noções Básicas de Anatomia” onde foram abordados os principais

músculos do corpo humano de forma sucinta e atrativa, as principais tarefas e

movimentos do dia a dia em que são recrutados e possíveis formas de

exercitação autónoma. As atitudes dos alunos e o interesse demonstrados

superaram as expetativas, colocando questões pertinentes e complexas que

não perspetivei que ocorressem.

“destaco que as questões colocadas pelos alunos no final da

aula não se revelaram de fácil resposta, uma vez que os alunos

pretendiam saber quais os músculos recrutados em

movimentos que envolviam a interacção de um elevado

número de músculos, o que exigiu de mim uma elevada

ginástica mental.” (Reflexão de aula teórica - “Noções Básicas

de Anatomia”)

Durante esta aula vi-me ainda deparado com a dificuldade de manter o

controlo da turma, uma vez que ocorreu numa sala de aula, onde tudo difere de

um ginásio desportivo. Quando fui confrontado, por exemplo, com a intenção

de vários alunos esclarecerem dúvidas em simultâneo, interferindo com a

minha instrução, foi necessário criar estratégias para limitar e organizar as suas

Page 70: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

52

intervenções, o que me obrigou a ponderar qual a melhor solução e tomar essa

decisão no imediato, sob o risco de perder o controlo da turma.

“Como as tentativas de realizar comentários ou de tirar dúvidas

estavam a ocorrer com relativa frequência, utilizei como

estratégia a abertura de um “espaço aberto a dúvidas” no final

da explicação de cada slide.” - (Reflexão de aula teórica -

“Noções Básicas de Anatomia”)

As estratégias utilizadas obtiveram os resultados pretendidos, decorrendo

a aula de forma organizada possibilitando, igualmente, oportunidades de

participação a todos os alunos.

Para finalizar este conjunto de novas vivências proporcionadas aos meus

alunos, organizei uma aula de Judo (modalidade não abordada ao longo do

ano letivo) dirigida por um professor de EF que também é treinador da

modalidade. Quando indiquei aos alunos que se iria realizar esta aula, as

reações foram animadoras, manifestando-se extremamente recetivos,

resultando num elevado envolvimento e entusiasmo por parte dos alunos no

momento da realização.

“É sempre gratificante ouvir expressões que manifestam o seu

agrado, assim como, sentir que a maioria dos alunos se

empenha, que vibra e que se envolve com actividades

diferentes das habituais.” (Reflexão de aula 78-79)

“Ao longo de toda a actividade foi evidente a motivação, o

envolvimento e o divertimento dos alunos, cooperando com o

professor convidado para dirigir a aula.” (Reflexão de aula 78-

79)

A preocupação por mim demonstrada em fazer tudo pelos meus alunos,

expressa nas atividades referidas, foram extremamente enriquecedoras, não só

para os alunos mas também para mim. Levaram-me a ir em busca de novas

experiências, obrigando-me a intervir em contextos diferente dos habituais,

sendo assim necessário sair da minha “zona de conforto”. Desta forma fui

Page 71: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

53

deparado com a necessidade de gerir e controlar a turma em diferentes locais,

de instruir sobre uma diversidade de matérias e de estabelecer contacto e

interagir com outros profissionais.

Considero ter sido claro que estes acontecimentos contribuíram para

promover a aproximação entre professor e alunos. Com o passar do tempo

senti que não era apenas o professor de EF, mas sim o “professor deles”:

aquele que os acarinha nas aulas e nos intervalos, que se preocupa com eles e

que trabalha diariamente para eles.

No final, não existe nada mais gratificante do que verificar que o esforço

realizado obteve resultados positivos e que essa dedicação foi reconhecida

pelos alunos.

“O desenrolar das actividades que me dispus a desenvolver

para a turma até à data espelharam a receptividade e a

motivação dos alunos, sendo notório por parte deles o

reconhecimento do trabalho por mim realizado.” (Reflexão de

aula 78-79)

4.2.7. O desenvolvimento da condição física

Na atividade diária do professor, um dos maiores desafios que se lhe

colocam, especialmente numa época em que prevalece a inatividade, consiste

na alteração dos comportamentos dos alunos no sentido de optarem por estilos

de vida ativos e saudáveis, mantendo-os ao longo das suas vidas.

É certo que, atendendo ao desenvolvimento das capacidades

condicionais e coordenativas (resistência, força, velocidade, flexibilidade e

destreza geral) presentes no Programa Nacional de Educação Física

(Ministério da Educação, 2001) na Especificação das Áreas e Matérias

Nucleares, é possível promover o aumento da aptidão física dos alunos. No

entanto, considero que, em alguns casos, as dificuldades são acrescidas,

Page 72: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

54

dadas as limitações nas capacidades de base que alguns alunos apresentam

na chegada à escola.

4.2.7.1. A inclusão da condição física nas aulas e o seu

desenvolvimento autónomo

O Planeamento Anual da Condição Física foi elaborado tendo em

consideração as modalidades desportivas abordadas ao longo do ano letivo. A

minha intenção foi desenvolver, a cada UD, as capacidades condicionais que

possibilitassem o melhor desempenho dos alunos nas modalidades seguintes,

de forma a prepará-los para as exigências das modalidades abordadas. Nas

UD que envolveram a utilização de rede, incidi maioritariamente no

desenvolvimento da condição física devido à impossibilidade de manter todos

os alunos envolvidos na tarefa central da aula, promovendo desta forma o

aumento da densidade motora.

A promoção de melhorias ao nível das capacidades condicionais foi

realizada de forma a atender às capacidades individuais dos alunos. A

aplicação da bateria de testes Fitnessgram possibilitou-me verificar os níveis de

saúde dos alunos e os dados recolhidos em alguns dos exercícios (abdominais

e flexões de braços) serviram-me apenas como ligeira referência para proceder

à realização dos primeiros planos de treino individualizados, os quais foram

sendo modificados tendo em consideração as primeiras realizações, a

evolução dos alunos e o “feedback” por eles emitido em relação à perceção do

esforço. A maioria dos alunos mostrou-se bastante recetiva e satisfeita com

este acompanhamento, encarando o cumprimento do plano de forma séria e

executando as tarefas de forma autónoma.

“os alunos são já capazes de realizar os exercícios de condição

física (…), sendo responsáveis pela preservação do material e

pela sua correcta execução.” (Reflexão de aula 14-15)

No entanto, em determinados momentos alguns alunos não mostraram

interesse na realização das tarefas, o que considero que se deveu à falta de

Page 73: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

55

diversidade dos exercícios propostos. De forma a contrariar esta tendência,

optei por pedir aos alunos que trouxessem para a aula garrafas de água com

areia (pesos livres), o que permitiu aumentar a variedade dos exercícios

propostos e manter os alunos envolvidos em tarefas que nunca haviam

realizado. Contudo, considero que a realização das tarefas de forma autónoma

só foi possível devido às características apresentadas pela turma, pois, como já

foi referido, possuem elevado sentido de responsabilidade e de autoregulação.

4.2.7.2. Condição física: acrescento cultural

A inclusão do desenvolvimento da condição física apresentou efeitos

satisfatórios ao nível das capacidades condicionais, essencialmente ao nível da

força abdominal e da capacidade aeróbia, repercutindo-se na melhoria dos

níveis de saúde dos alunos, como foi possível verificar nos resultados da 2ª

aplicação da bateria de testes Fitnessgram.

“ao nível da força abdominal, deixaram de existir alunos

abaixo da zona saudável, verificando-se também um acréscimo

expressivo de alunos acima da zona saudável (aumento de

60%). No que se refere à capacidade aeróbia (teste da milha),

os resultados foram positivos, no entanto não foram tão

animadores.” (Reflexão de UD de Badminton)

No entanto, os ganhos não se esgotaram ao nível da componente física.

Nos momentos de instrução dos exercícios destinados ao desenvolvimento da

condição física (essencialmente ao nível da força e resistência muscular),

existiu a preocupação de indicar quais os músculos solicitados na sua

realização, que estavam igualmente presentes nos planos de treino (anexo 2) e

na ficha informativa de condição física (anexo 3). que incluía os componentes

críticas da sua realização Os alunos mostraram bastante entusiasmo e

curiosidade no conhecimento dos diferentes músculos, assimilando facilmente

a sua nomenclatura.

Page 74: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

56

Desta forma foi possível verificar um acréscimo cultural, em que os

alunos, para além de conhecerem os principais músculos, passaram a

compreender algumas possíveis formas de os exercitar.

Com o intuito de dar continuidade a este acrescento cultural, optei por

lecionar uma aula de caráter teórico cujo objetivo, tal como já foi referido, foi

dar a conhecer os principais músculos do corpo humano, indicar as principais

tarefas e movimentos do dia a dia em que são recrutados e possíveis formas

de exercitação passíveis de realização autónoma e sem ser necessária a

aquisição de materiais.

Foi com total agrado que verifiquei que os alunos demonstraram

conhecimento acerca dos músculos abordados nas aulas e das suas formas de

exercitação, o que significa que a estratégia por mim utilizada nas aulas

alcançou os frutos desejados. De acordo com o interesse evidenciado pela

maioria dos alunos e com os resultados conferidos nesta experiência, acredito

que lhes possibilitei conhecimentos e ferramentas de treino que poderão fazer

parte das suas escolhas autónomas para desenvolver a condição física.

“Os alunos mostraram-se motivados e interessados, discutindo,

debatendo e até realizando movimentos com o objectivo de

perceber quais os músculos recrutados.” (Reflexão de aula

teórica – “Noções Básicas de Anatomia”)

4.2.7.3. Os alunos de hoje

Na chegada ao EP, após os primeiros contactos com a turma que lecionei

e após observação de alunos de outras turmas na disciplina de EF, de imediato

me deparei com a realidade de que os alunos que observava jamais eram

como os de “antigamente". Foi com relativa frequência que ouvi e participei em

conversas e reflexões com professores do grupo de EF acerca deste tema,

tendo sido sem estranheza que verifiquei que as opiniões sempre foram

unânimes: os alunos de hoje parecem ser menos disponíveis em termos

Page 75: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

57

motores e parecem possuir maiores limitações, uma menor capacidade de

esforço e de superação.

Na realidade, as sociedades foram-se alterando com o passar dos

tempos, modificando-se igualmente os hábitos daqueles que a integram. Ainda

me recordo dos tempos em que brincar na rua era possível e que o acesso às

tecnologias não estava ao alcance de todos. Bento (2004, p. 181) refere que se

“verifica por toda a parte o desaparecimento da actividade lúdica e motora

espontânea”. Na atualidade, as brincadeiras ao ar livre parecem ser evitadas,

devido, por exemplo, a questões de segurança e de violência que por vezes

nos rodeiam e o material tecnológico encontra-se acessível a todos. Ao circular

pelos espaços da escola, foi com alguma frequência que verifiquei que os

alunos se mantêm ocupados com telemóveis, com consolas portáteis, com

computadores e que vibram com conversas acerca destes e do convívio em

redes sociais, verificando-se que os espaços desportivos são efetivamente

ocupados apenas por uma minoria.

A inatividade passou a fazer parte da vida de muitas crianças e jovens, e

os hábitos alimentares dirigem-se no sentido do exagero no aporte calórico

resultando assim no aumento da prevalência de casos de obesidade, doença

epidémica. Estas doenças devem-se “às alterações verificadas a nível da

ingestão calórica, do dispêndio energético e a questões de ordem genética.

São sobretudo os factores relativos ao envolvimento (…) que apresentam um

papel mais preponderante no aumento da obesidade, nomeadamente os

relacionados com os estilos de vida sedentários tão característicos das

crianças de hoje” (Carvalhal, 2008, p. 288). Desta feita, surge a necessidade de

modificar os estilos de vida e de incidir sobre a “educação alimentar”.

Esta realidade é perfeitamente visível na escola em que lecionei, sendo

comum encontrar numa turma três, quatro ou ainda mais alunos com excesso

de peso. Dou ainda como exemplo os alunos da turma que lecionei que

mencionam não praticar qualquer atividade físico-desportiva e que assumem

realizar nos tempos livres “atividades” de natureza inativa, tal como foi possível

concluir na análise dos resultados dos questionários aplicados para a

realização da caracterização da turma que lecionei:

Page 76: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

58

“Os tempos livres fora da escola são ocupados com diversas

actividades, sendo que as maiores percentagens, de 18% e

17%, correspondem a actividades de natureza sedentária

(televisão e computador, respectivamente). Contudo, também

foi referida a realização de exercício físico (13%)).”

(Caracterização específica da turma)

Nesta incursão, verifiquei ainda que parte dos alunos da turma

apresentam insuficientes capacidades condicionais e coordenativas que em

nada facilitam a obtenção de desempenhos elevados.

“Os alunos apresentam elevadas dificuldades na realização dos

rolamentos, que a meu ver se devem a níveis condicionais e

coordenativos reduzidos (não têm controlo do seu corpo, e

alguns são incapazes de manter o corpo engrupado,

apresentando uma elevada laxidez muscular), sendo que os

morfotipos que alguns apresentam também condicionam a

realização prática.” (Reflexão de aula 94-95)

Alguns professores com quem interagi indicaram mesmo, relativamente

aos alunos daquela escola, “que em tempos, na ginástica era possível abordar

um maior número de conteúdos e que os alunos rapidamente evoluíam, ao

contrário do que se verifica na atualidade” – J. Lacerda (comunicação pessoal,

11 Mar 2011).

Considero que se torna fundamental que o professor de EF consiga

despertar nos alunos o gosto pela prática desportiva, proporcionando-lhes

aprendizagens e experiências positivas que os conduzam à opção por estilos

de vida ativos e saudáveis. Deve agir de forma abrangente nas diferentes

áreas de intervenção, isto é, na turma, na escola e na comunidade, porque não

basta que o professor o faça perante os seus alunos, sendo necessário que

procure resultados que se estendam e contagiem a sociedade, de forma a

contrariar as tendências atuais, que se revelam assustadoras.

Page 77: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

59

4.2.8. O Modelo de Educação Desportiva

A profissão docente não se vislumbra de fácil desempenho, contudo,

torna-se uma mais-valia para o professor estagiário conhecer e vivenciar os

diferentes modelos de ensino. Ao longo deste subcapítulo, pretendo referenciar

de forma sucinta as bases em que assenta o MED e discorrer criticamente

acerca da experiência que foi a sua aplicação de forma plenamente

contextualizada.

O MED tem vindo a ser tema de interesse por parte de investigadores

professores de EF há algumas décadas. Siedentop, seu impulsionador,

baseou-se nas ideias de Huizinga e Callois sobre os jogos para conhecer,

privilegiando a educação através do lúdico, e apresentou-o como alternativa ao

currículo multi-atividades (Graça, 2008).

Hastie (1998, p. 24) refere que “for the students, the benefits of sport

education include an increased investment in physicaly education, an increased

level of learning in games units, and increased opportunities for potencially

marginalized students”.

Mesquita e Graça (2009, p. 59) baseados nas ideias de Curnow

Macdonald (1995) referem que o MED procura criar “um ambiente propiciador

de uma experiência desportiva autêntica, conseguida pela criação de um

contexto desportivo significativo para os alunos (…)”. É este cariz expressivo

que contribui para o incremento do interesse e envolvimento dos alunos em

tudo o que gira em torno desta experiência, uma vez que são as vivências

positivas e desafiantes que os marcam, contribuindo para o incremento do

gosto pela prática desportiva.

Torna-se evidente o enfoque dado ao aluno na aplicação do MED, sendo

os seus principais objetivos a eles direcionados, através da harmonia conjugal

com o desporto. De acordo com Siedentop (1998) os três objetivos principais

do MED são os de tornar alunos competentes, cultos e entusiastas

desportivamente. “A competent sports person has sufficiently developed skills

and understands and can execute strategies appropriate to the complexity of

play so as to be able to participate as a knowledgeable games player.”, “A

Page 78: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

60

literate sports person understands and values the rules, rituals, and traditions of

sports, has learned to distinguish between good and bad sport practices, and is

developing the willingness to act on that knowledge to improve the practice of

sport” e “an enthusiastic sports person participates in sport as part of a

physically active lifestyle and acts in ways that serve to preserve, protect, and

enhance the sport culture to make sport more accessible to more individuals ”

(Siedentop, 1998, p. 20).

Siedentop (1998, p. 18) refere que “Sport education has six key features,

which derive from how sport is conducted in community and interschool

contexts (i.e., they derive from the authentic form of the activity within the larger

culture). These features are seasons, affiliation, formal competition, culminating

events, record keeping, and festivity”.

Tendo em conta estas seis características e partindo das ideias de

Siedentop (1994), Mesquita e Graça (2009) afirmam que as épocas

desportivas substituem as UD de reduzida duração, devendo estas ter no

mínimo a duração de 20 aulas. Estes indicam que a filiação promove a

integração dos alunos em equipas, o que amplia o sentido de pertença a um

grupo, sendo possível aos alunos vivenciarem uma diversidade de papeis

(jogadores, árbitros, jornalistas, etc.) no seio da sua equipa. O quadro

competitivo formal é implementado no começo da época, assim como, a

constituição das equipas que deve contemplar a igualdade de oportunidades.

Graça (2008, p. 28) afirma que “a valorização da competição como elemento

central da experiência desportiva obriga a cuidar criteriosamente da formação

das equipas, permite distinguir as noções de treinar e competir e acentuar as

componentes festiva e de fórum de competência da competição desportiva

institucionalizada”. Os registos (resultados, estatísticas, comportamentos, etc.)

devem marcar presença de forma a valorizar a competição. Neste modelo, o

encerramento da Época Desportiva fica marcado pela realização de um Evento

Culminante, no qual o clima festivo deve predominar.

No entanto, para a sua colocação em prática, não importa apenas a sua

correta dinamização contemplando as características anteriormente referidas.

Graça (2008) refere que é necessária a criação de formas de jogo que

Page 79: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

61

coadunem com as capacidades dos alunos, para que seja possível mantê-los

motivados e interventivos, para que daí surja também uma competição com

qualidade. O MED permite o desenvolvimento da capacidade de liderança, da

cooperação e possibilita ainda, a participação a um nível adequado tendo em

consideração as capacidades dos alunos. (Siedentop, 1998)

Não há dúvida de que a configuração distinta deste modelo, repleto de

ludicidade, da diversidade de papéis e de inter-relações, do recheio

competitivo, se revela um atrativo para os alunos. O seu poder na aquisição de

competências e na alteração de comportamentos do foro social, afetivo e

motivacional, são fatores que considero poderem incrementar nos profissionais

de EF a vontade de proceder à sua implementação.

4.2.8.1. “Da hesitação inicial à vontade de não acabar”

No decurso deste longo caminho que foi o EP surgiu a oportunidade de

aplicar o referido modelo em contexto escolar. Inicialmente encarei a ideia de

forma reticente. De imediato relembrei aquilo que fora a experiência tida com

este modelo de ensino numa das disciplinas integrantes deste mestrado de 2º

ciclo de estudos, onde desempenhei, essencialmente, o papel de aluno e em

que tudo decorreu com total naturalidade.

As expetativas iniciais foram pouco ambiciosas e residia em mim uma

ligeira tendência para a não aplicação do modelo. Perspetivei dificuldades

acrescidas na sua operacionalização com alunos de 7º ano de escolaridade,

uma vez que o nível de maturação psicológica é ainda pouco desenvolvido.

Esperava que qualquer tarefa a desempenhar acarretasse inúmeras

dificuldades na colocação em prática por parte dos alunos. Julguei que a

capacidade de os alunos realizarem as funções de capitão/treinador fosse

inexistente, devido aos requisitos que considerava como exigentes e

determinantes para o correto exercício destas funções, dos quais destaco a

liderança, a organização, a instrução e a autonomia que eram necessária.

Imaginei que a autoridade do árbitro não fosse respeitada e que estes não

Page 80: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

62

possuíssem conhecimentos e à-vontade para as fazerem cumprir. Ainda neste

panorama negativo, considerei como elevada a probabilidade de os alunos não

compreenderem a sua estrutura organizativa (relações entre funções e suas

trocas, locais de atuação, etc.), bem como o preenchimento de fichas e de

avaliações, o que conduziria à desordem e à posterior desmotivação dos

alunos.

Por momentos pensei que a vertente competitiva poderia romper o

equilíbrio da aula. A competição é sempre algo que os alicia, mas quando

levada ao extremo, os resultados podem ser desastrosos. Por todos estes

motivos, considerei que os resultados da aprendizagem poderiam ser

comprometidos e a sua implementação desencadearia o oposto ao que é

pretendido por este modelo. Se resultasse numa má experiência, certamente,

iria dificultar o relacionamento afável entre os alunos e não iria tornar os alunos

desportivamente competentes, cultos e entusiastas.

Após reflexão profunda tomei a decisão de implementar o modelo na

modalidade de Futsal. Ponderei que a forma como este seria progressivamente

transmitido aos alunos seria fundamental para o seu sucesso. A explicação

global das diversas funções e da sua importância (capitão/treinador, árbitro,

cronometrista/estatístico, juíz de jogo e de atleta), o preenchimento das fichas

de jogo (Anexo 4) e de estatística (Anexo 5), do quadro competitivo (Anexo 6),

das regras a implementar, o sistema de pontuação (Anexo 7) e a assinatura

dos contratos com capitães e equipas (Anexo 8) ocorreu numa aula teórica e

foram realizadas de forma seria e formal. A sensibilização dos alunos para a

importância do correto funcionamento desta Época Desportiva, que procurei

fazer com que sentissem que fosse a época deles, foi um dos meus alvos,

sendo que os outros foram o enfoque na compreensão de que o fair-play é a

chave do sucesso e na importância de que “a união faz a força”. Para isso

recorri a dois vídeos com bastante impacto, que ficaram presentes nas suas

memórias.

O primeiro contacto foi bastante positivo, os alunos mostraram-se

ansiosos, interessados e curiosos. Até nos intervalos das aulas analisavam os

manuais de equipa e de treinador/capitão.

Page 81: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

63

O período destinado à pré-época (5 aulas) foi determinante para que os

alunos compreendessem e vivenciassem as tarefas mais complexas, quais os

comportamentos a assumir em jogo e para que fosse explicada e

experimentada a dinâmica da alternância de funções no período competitivo. O

último procedimento revelou-se uma mais-valia, pois permitiu verificar onde

residiam as dúvidas dos alunos e lançar estratégias para que as jornadas

fossem rentabilizadas.

“Apesar de esta experiência me permitir percepcionar as falhas

que se estão a verificar na implementação e desenvolvimento

deste modelo, considero que algumas podem continuar a

ocorrer, uma vez que apenas alguns alunos experimentaram as

funções. Dada esta possibilidade, considero fundamental

lançar estratégias com o intuito de diminuir o considerável

tempo dispendido na organização e dinamização da actividade

e com a intenção de que todos percebam com clareza a

organização e o desempenho das tarefas em cada função”

(Reflexão de aula 64-65)

A aplicação do referido modelo apresenta características completamente

distintas das formas de ensino tradicionais, sendo nele favorecido o

desenvolvimento de aspetos psicossociais, em que os alunos assumem um

papel de protagonistas no desempenho das diversas funções. Tendo em conta

o baixa maturação dos alunos da turma, optei pela inclusão de funções que se

revelassem de fácil execução, sendo elas as de arbitragem, de

cronometrista/estatístico, de juíz de mesa, de capitão/treinador e as de “atleta”,

sendo que na última, o objetivo era a manutenção dos aspetos condicionais

que vinham a ser trabalhados ao longo do ano. Destaco que tive receio de

contemplar a funções de jornalista/repórter, pois achei que a maioria dos

alunos não as iria encarar com total seriedade. Contudo, se reiniciasse este

modelo optaria por incluí-la, ajustando-a às capacidades da turma. Assim,

essas funções poderiam ser realizadas fora do tempo de aula, sendo apenas

entrevistados os capitães, pois são os alunos mais responsáveis e os líderes

Page 82: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

64

das equipas. No entanto, em dois casos pontuais a liderança não foi

conseguida de forma fácil por estes elementos, uma vez que alguns colegas de

equipa mostraram resistência as suas ordens.

“concluo que se verificou em duas equipas um certo

desrespeito pelas indicações do treinador, sendo necessário

num dos casos alertar para a importância de cumprir as ordens

do líder da equipa.” (Reflexão de aula 71)

Na generalidade, estes elementos revelaram-se capitães e treinadores

exímios, preparando as aulas e orientando a equipa com máxima dedicação.

Para este sucesso, julgo terem contribuído as reuniões semanais fora das

aulas, nas quais procurei orientá-los, definindo objetivos e esclarecendo

dúvidas.

“No momento de partida, foi notório que os treinadores

realizaram correctamente o trabalho de casa que lhes foi

imposto na reunião prévia à aula, mostrando capacidade de

organizar, de gerir e de dinamizar os exercícios por eles

seleccionados.” (Reflexão de aula 66-67)

Os desempenhos das funções de estatístico/cronometrista e de juíz de

jogo foram facilmente realizados, muito devido à simplicidade dos aspetos

selecionados para observação e à clareza das fichas criadas.

No que se refere às funções de arbitragem, verificou-se que os alunos

mais inibidos demonstraram dificuldades em tomar decisões e em fazer cumprir

as regras, gerando-se alguma agitação por parte dos jogadores.

De uma forma geral, verificou-se no desempenho de diversas funções um

elevado envolvimento e dedicação, o que demonstra o entusiasmo dos alunos

e a concentração em torno dos jogos e da competição.

“Os alunos revelaram consideráveis preocupações, sendo

reflexo disso, ao contrário do verificado na aula anterior, a

redução evidente de discussões entre jogos, sendo o processo

Page 83: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

65

de organização dos alunos mais rápido.” (Reflexão de aula 69-

70)

No que se reporta ao desenvolvimento do espírito de equipa, considero

que foi promovido em todas as equipas, contudo, as relações de cooperação e

de entreajuda foram mais visíveis numas do que noutras, sendo o

capitão/treinador uma peça fulcral na dinamização coletiva. Destaco que estes

elementos, numa fase inicial, apresentavam-se um pouco desmotivados devido

às dificuldades dos colegas em colocar em prática o pretendido, contudo,

conforme foram sendo elucidados para a importância das suas ações na

aprendizagem dos colegas, foram-se adaptando à realidade com que se

deparavam. Foi ainda possível verificar que estes, devido à ânsia de ganhar,

questionavam-me para a possibilidade de alguns elementos não participarem

nos jogos por serem “mais fracos”, contudo, após serem novamente alertados

perceberam a importância da equidade e contemplaram a participação de

todos nas diversas funções.

Em determinadas aulas, especialmente nos momentos em que as

equipas realizavam treino, senti que o ambiente proporcionado era semelhante

ao de um clube desportivo, verificando-se a prática dinâmica e envolvente de

todos os alunos, como se tratassem de atividades que realizavam há meses.

Na minha opinião, a responsabilidade e autonomia atribuída aos capitães,

alastrou-se à turma. O facto de trabalharem em autonomia faz com que se

sintam capazes e, simultaneamente, inteligentes, “não existindo” um professor

que lhes exige a realização de algo.

“Os alunos revelaram total autonomia no treino inicial, na

distribuição de funções em todos os jogos, percebendo e

dinamizando de forma independente as diversas transições a

realizar. Como prova disso, relato o facto de as trocas de

campo nos intervalos dos jogos quase me passarem

despercebido, assim como, a distribuição de algumas funções,

o que demonstra que os alunos conhecem e compreendem as

Page 84: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

66

rotinas e a forma de organização das aulas.” (Reflexão de aula

72-73)

Com o intuito de distinguir o final da Época Desportiva, procedi à

organização do Evento Culminante, cujo principal objetivo era proporcionar um

ambiente competitivo, saudável e repleto de festividade. Ao longo da semana

precedente, os alunos demonstraram-se expectantes e ansiosos,

questionando-me acerca da sua organização e da possibilidade de criarem

diversas formas de manifestação de apoio às equipas.

Confesso que fiquei surpreendido com a preparação dos alunos para a

“festa final”, os quais demonstraram pleno entusiasmo, tal como se pode

verificar no excerto que se segue:

“reforçaram a quantidade de adereços em relação ao habitual.

Fizeram-se munir de cartazes, bandeiras, mascotes, balões e

até de uma “vuvuzela”. O apoio às equipas foi uma constante,

verificando-se a presença de “mini-claques” que entoavam

cânticos e gritavam pelas respectivas equipas.” (reflexão de

aula 75-76)

De forma a incrementar o ambiente desejado, concluo que fiz a opção

correta em excluir nesta jornada as funções de estatísticos e funções que

implicavam a execução das tarefas condição física, permitindo a esses alunos

a vivência de emoções que normalmente não se proporcionam em aulas

tradicionais.

Considero que as emoções sentidas neste evento, bem como as que se

vivenciaram ao longo da época desportiva poderão incrementar o gosto pela

prática desportiva e pela escolha de estilos de vida saudáveis.

O evento decorreu de forma extremamente positiva, superando as

expetativas. Para a obtenção deste nível de sucesso considero que foi

determinante o trabalho realizado com os alunos em períodos de tempo não

letivos, nos quais foi sugerido, por exemplo, que criassem materiais e que

fossem criativos para apoiarem as suas equipas. Não se trata de exigir que

Page 85: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

67

façam algo, trata-se de estimular a criatividade e de potenciar o seu pleno

envolvimento.

Com o intuito de espelhar aquilo que foi esta Época Desportiva, a qual

considero ter sido o momento mais marcante deste EP, passo a citar as

minhas próprias palavras, proferidas após a realização do evento culminante:

“Comparando a envolvência e atitude dos alunos na fase inicial

de aplicação deste modelo com a fase final, considero que este

evento se tratou do CULMINAR DE ACRESCENTOS. Para

além de adquirirem novos conhecimentos e de se efectivarem

aprendizagens, os alunos traçaram o seu próprio caminho em

busca dos dois ideais tão aclamados desde a primeira aula: o

FAIR-PLAY e o EPIRÍTO DE EQUIPA, porque A UNIÃO FAZ A

FORÇA!

Para finalizar, confesso que o meu sentimento no final da aula

foi doce e amargo. Amargo porque fiquei com pena que tivesse

chegado ao fim, doce porque é com alegria que recordo a

felicidade e a envolvência demonstrada pelos alunos, sentindo

que lhes proporcionei uma óptima experiencia.” (Reflexão de

aula 75-76)

4.2.8.2. Prós e Contras

A aplicação do MED revelou-se um sucesso, não existindo dúvidas de

que foi extremamente significativo para os alunos. No entanto, para mim,

assumiu uma importância de relevo, não apenas no sentido global da vivência

positiva proporcionada, mas no sentido de poder refletir acerca das minhas

principais dificuldades e das vantagens e desvantagens verificadas na

aplicação deste modelo, tendo em consideração a experiência prática obtida.

Page 86: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

68

Inicialmente as dificuldades sentidas residiram em encontrar o equilíbrio

entre as capacidades de autonomia da turma, e o apoio do professor na

organização e gestão das transições, de forma a rentabilizar o tempo útil de

aula. Com o intuito de as ultrapassar, foram realizadas pequenas alterações

aula após aula (local de reunião para avaliação das funções, local de colocação

dos cronometristas/estatísticos e juízes de jogo, formas de organização das

equipas, etc.). Utilizei ainda a estratégia de refletir com os alunos, no final de

cada aula, indicando-lhes quais os aspetos a melhorar, tendo em vista a

obtenção da dinâmica pretendida. Da aplicação destas medidas resultou a

diminuição progressiva do tempo dispendido na realização de tarefas de

organização e gestão, sendo praticamente dispensável a minha intervenção.

A outra grande dificuldade sentida no que respeita à aplicação do MED

residiu na gestão e controlo dos sentimentos e emoções. Nas primeiras

jornadas os alunos facilmente se deixavam envolver pela excitação e pelo calor

do jogo, ocorrendo discussões com os adversários e com os árbitros,

evidenciando-se a predominância do caráter competitivo.

“(…) após concluídos os jogos, verificou-se uma agitação

diferente da habitual existindo discussões acerca das

prestações dos árbitros e relatos dos acontecimentos do jogo.”

(Reflexão de aula 68)

Com o intuito de apaziguar os ânimos, optei por implementar a jornada

“Especial Fair-play“, em que a sua pontuação foi contabilizada a dobrar. Esta

alteração ao regulamento veio favorecer o espírito competitivo. Desta forma,

bastou elucidá-los para a importância do Fair-play e do respeito, bem como do

seu peso na pontuação geral das equipas. Com o desenrolar das aulas e com

a inclusão da jornada especial Fair-play, os ânimos foram-se acalmando, sendo

alcançada a total serenidade e harmonia.

“Os alunos revelaram consideráveis preocupações, sendo

reflexo disso, ao contrário do verificado na aula anterior, a

redução evidente de discussões entre os jogos, sendo o

Page 87: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

69

processo de organização dos alunos mais rápido”. (Reflexão de

aula 69-70)

É através da análise daquilo que foi aplicação deste modelo que pretendo

indicar os “prós” e os ”contras” da sua aplicação na turma.

Em primeiro lugar passo a destacar que, este Modelo promove o

desenvolvimento de inúmeros valores indispensáveis à formação do cidadão,

tais como o respeito, a solidariedade, a amizade, a responsabilidade, a

autonomia, a tomada de decisão, a confiança, a compreensão, entre outras.

Entre os referidos valores, considero importante destacar o desenvolvimento da

compreensão perante as dificuldades do outro. Se inicialmente alguns alunos

não se mostravam tolerantes e compreensivos, com o progredir da época, o

panorama foi-se alterando, e foram-se tornando visíveis as relações de

cooperação entre os alunos, de forma a ultrapassar as dificuldades individuais

apresentadas pelos alunos com menores apetências.

“(…) enalteço a potencialidade deste modelo em educar para

os valores (solidariedade, respeito, Fair-Play, cooperação,

amizade, etc.). Eles estão sempre presentes e contribuem, na

generalidade, para a criação de laços fortes e de relações

afáveis.” (Reflexão de aula 72-73)

Paralelamente verificaram-se melhorias na inclusão destes alunos na

equipa, sendo curioso verificar a estratégia utilizada pelos capitães, que

procuraram formar as equipas de modo a manter o seu equilíbrio, possuindo

sempre nas suas constituições um aluno com capacidade para os orientar de

forma apropriada.

Considero ter sido ainda evidente que a vivência competitiva constante, a

autonomia e responsabilidade concedida aos alunos e o sentido de

filiação/espírito de equipa desenvolvidos, contribuíram fogosamente para o

incremento dos níveis motivacionais dos alunos. Este entusiasmo espelhava-se

no questionamento diário acerca das jornadas competitivas e do conteúdo das

aulas, na presença assídua, no colorido das aulas (equipamentos das equipas,

cartazes, bandeiras, etc.), na criação de um blog por parte de uma das equipas

Page 88: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

70

e nos comentários realizados no blog por mim criado para o efeito. O recurso a

esta tecnologia revelou-se uma ótima ferramenta de promoção do diálogo com

os alunos, sendo ainda criada uma área informativa que incluía os resultados

das jornadas, o calendário competitivo, vídeos da modalidade e as suas

principais regras.

“A aplicação deste modelo tem-se revelado como um

verdadeiro tesouro motivacional para os alunos. O

questionamento diário efectuado por eles acerca da

actualização dos resultados no blog criado para efeito tem sido

uma constante, sendo na sua maioria realizado por alunos do

sexo feminino. Outro dos aspectos que me deixa radiante é a

inclusão de mensagens nessa plataforma electrónica,

expressando o gosto pelas aulas. Considero que estes

comportamentos são reflexo das relações estabelecidas entre

os alunos, da presença da competição característica deste

modelo e do todo o espírito que envolve a sua aplicação, do

qual destaco o sentido de filiação, a autonomia, a festividade e

a formalidade.” (Reflexão de aula 71)

Enalteço ainda a alteração nos comportamentos e atitudes daqueles que

apresentaram menores índices motivacionais em UD anteriores, bem como nos

alunos do sexo feminino que normalmente não apresentam gosto elevado pela

modalidade de futsal. Estes alunos foram os que mais procuraram colorir

as aulas.

“Saliento com total agrado o envolvimento de alunos com

bastantes dificuldades condicionais, coordenativas e técnicas,

que nas unidades didácticas anteriores revelavam alguma falta

de empenho e de interesse. Na actualidade, demonstram

frustração quando alguns colegas não colaboram com o ideal

funcionamento das aulas, demonstram-se totalmente inteirados

no correcto desempenho das diferentes funções, evidenciam

Page 89: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

71

ânimo no apoio à equipa, revelando espírito de equipa e um

elevado sentido de filiação” (Reflexão de aula 69-70)

“Reforço esta ideia com uma questão colocada por uma das

alunas: “Ó professor! Podemos continuar no 3ºPeriódo?” Ao

longo desta aula senti que os alunos, mesmo aqueles que

apresentam maiores limitações e dificuldades, sentem que

trabalham para um grupo, para um objectivo em comum, que

fazem parte integrante de uma equipa.” (Reflexão de aula 75-

76)

Após as aulas foi possível verificar que os temas de conversa dos alunos

continuavam a girar em torno da Época Desportiva, proporcionando desta

forma o aumento da socialização.

Os alunos vivenciam de forma diversificada e genuína os diferentes

papéis, contribuindo para o incremento da cultura desportiva. A prestação em

diferentes cargos permite que todos os alunos se sintam úteis e importantes na

dinamização de toda a estrutura.

Continuando esta enunciação, acentuo que o MED permite a “libertação”

do professor, no sentido em que despende um menor tempo a desempenhar

tarefas organizativas e de gestão, possibilitando-lhe o aumento das

oportunidades de observação e de intervenção junto dos alunos, privilegiando

assim a aprendizagem, tal como refere Hastie (1998, p. 25) “In sport education

model, where many of the managerial responsibilities are removed from the

teacher’s direct control (…), the teacher is free to assist with individual students

or team leaders”.

“Se há quatro aulas atrás era necessário chefiar grande parte

das movimentações dos alunos, na actualidade, apenas me

preocupo em ensinar, intervindo, explicando, gesticulando,

aplaudindo e manipulando.” (Reflexão de aula 72-73)

Concluída a Época e realizada a avaliação no seu decurso, verifiquei que,

juntamente com a minha intervenção, a atividade autónoma e predominância

Page 90: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

72

das situações de jogo conduziram a resultados significativos ao nível das

habilidades motoras.

Para finalizar, considero que possui ainda a particularidade de possibilitar

aos alunos a vivência de uma Época Desportiva semelhante à de qualquer

clube, ainda que de forma reduzida, simulada e naturalmente adaptada. Este

facto revela-se ótimo para aqueles que não possuem oportunidades de

ingressar num clube desportivo e poderá despertar interesse naqueles que

possuem essa oportunidade.

Reportando-me agora aos aspetos negativos, considero que nesta

experiência foi difícil contemplar a diferenciação do ensino por níveis de ensino,

uma vez que privilegiei o treino intraequipa. No entanto, em alguns casos foi

possível adaptar as situações de aprendizagem de alguns alunos, reduzindo a

complexidade das tarefas.

“considero que, apesar de o ensino por níveis não ter sido

directamente contemplado ao longo da unidade, se efectivou a

aprendizagem, verificando-se melhorias nas formas de jogo

evidenciadas pelas equipas.” (Reflexão 74)

Foi ainda tarefa árdua alcançar a correta dinâmica das aulas e

consequente autonomia dos alunos, sendo consumidos consideráveis períodos

de tempo das aulas iniciais para explicações e esclarecimentos de dúvidas, o

que diminuiu o tempo de atividade dos alunos.

A prevalência da competição, como já foi referido, é algo que motiva os

alunos e que os mobiliza para a prática, contudo, estes factos podem gerar

elevada agitação, o que interfere com o normal funcionamento das aulas e com

o cumprimento do quadro competitivo.

Na minha ótica, este modelo pode não se revelar de fácil aplicação em

algumas as turmas, caso seja desenvolvido por um curto período, pois nem

todas apresentam as mesmas capacidades e as mesmas características.

Page 91: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

73

4.2.8.3. Diversidade de funções - alunos mais cultos

É no emaranhado de experiências, de sentimentos, emoções,

responsabilidades e na relação com os outros, que os sujeitos constroem a sua

personalidade e que ampliam os seus conhecimentos. Tal como referido

anteriormente, o MED revela-se assim uma ferramenta potenciadora do

desenvolvimento sócio-cultural dos alunos, sendo este acrescento o alvo da

minha atenção.

A responsabilidade conferida aos alunos no desempenho das diversas

funções provocou neles o aumento da atenção e da concentração no jogo. No

papel de estatísticos/cronometristas analisaram os desempenhos das equipas,

verificando as suas evoluções. A comprovar estes factos transcrevo o excerto

de uma das reflexões de aula.

“Após algumas aulas de observação do desempenho das

funções dos estatísticos, realço que estas possibilitam um

acréscimo de conhecimento considerável, uma vez que os

alunos se têm demonstrado atentos e envolvidos, sendo esse

tempo promotor de aprendizagem. Destaco o caso específico

do aluno João que apesar de aparentar ser bastante distraído,

desempenhou várias funções em simultâneo. Com a caneta

apoiada na folha de registo, registava as perdas de bola já de

forma espontânea, sem olhar para o papel e, simultaneamente,

emitia “dicas” aos colegas e fazia de claque, festejando os

golos de forma emotiva (…) Destaco ainda o reconhecimento

do aluno acerca das melhorias da equipa, indicando à equipa

que no inicio da época “perdiam” mais bolas”. (Reflexão de

aula 72-73)

Enquanto capitães/treinadores, analisaram as prestações coletivas e

individuais e orientaram os colegas.

Page 92: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

74

“Em situação de treino considero que o apoio e cooperação

foram notórios, verificando-se de forma mais vincada na acção

dos capitães/treinadores, indo ao encontro do que o professor

salientou para cada tarefa.” (Reflexão de aula 61-62)

Ao desempenharem a função de árbitro analisaram as regras e procuram

colocá-las em prática, podendo conduzi-los ao seu estudo autónomo. Já o

desempenho das funções de juízes de mesa, possibilitou aos alunos

conhecerem a parte “mais burocrática” da competição (registo de faltas por

equipa, de resultados, dos nomes dos jogadores, do árbitro e do cronometrista

do jogo, etc.).

Na minha perspetiva, esta experimentação de papéis permitiu aos alunos

conhecerem e compreenderem como se processa o desporto

institucionalizado.

Em tom de conclusão, considero que o facto de os alunos se encontrarem

perante diversos constrangimentos permite que aumentem a sua capacidade

de análise, de observação e, de reflexão e, acima de tudo, o seu envolvimento.

4.3. Avaliação

Inicialmente a ideia que predominava em mim, era a de que bastaria

registar as prestações iniciais dos alunos, verificar as evoluções, para no final,

voltar a observar para atribuir uma nota. No entanto, quando confrontado com a

necessidade de avaliar os alunos (avaliação diagnóstico (AD), avaliação

formativa (AF) e avaliação sumativa (AS)), de imediato verifiquei que não se

tratava de uma tarefa de simples realização, sendo fundamental existir uma

profunda interligação entre estas.

Page 93: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

75

4.3.1. Avaliação diagnóstico - informação fornecida

A avaliação inicial ou AD possibilitou-me analisar as capacidades e

competências dos alunos no momento de partida e, a partir daí, criar os

primeiros grupos para contemplar a diferenciação pedagógica. Para a sua

realização, as dificuldades residiram em definir concretamente o que avaliar,

uma vez que, inicialmente, a tendência direcionava-se para a recolha de

informação acerca de um número elevado de habilidades e de forma

específica. No entanto, considero que a sua realização só é viável se optarmos

por uma análise simplificada e concreta das habilidades que pretendemos

avaliar, daquilo que pretendemos saber de acordo com os objetivos de

aprendizagem traçados inicialmente na elaboração da UD. Para avaliar o aluno

com elevada especificidade, seria necessário dispensar várias aulas iniciais e

prolongar obrigatoriamente a duração das UD por longos períodos de tempo.

De acordo com o que verifiquei na prática, estas avaliações apenas me

forneceram uma “primeira impressão” dos alunos. Em algumas UD,

imediatamente após a sua realização, verifiquei através da observação mais

profunda, que determinados alunos eram afinal capazes de realizar uma

determinada habilidade que não conseguiram executar corretamente na aula

destinada à AD, sendo de imediato necessário proceder à reformulação dos

níveis de ensino definidos. Desta forma, considero que esta avaliação me

forneceu orientações gerais para iniciar a minha intervenção e para planear as

primeiras aulas contemplando a diferenciação do ensino.

4.3.2. Da avaliação formativa à avaliação sumativa

Realizada a AD torna-se fundamental proceder à realização da avaliação

AF dos alunos. Esta avaliação ocorreu de forma contínua e os seus resultados

revelaram-se determinantes para traçar o percurso a percorrer. Para proceder

à sua elaboração procedi à realização de registos utilizando listas de

verificação, ou simplesmente, tomando nota dos nomes dos alunos que

optavam por determinados comportamentos. Foi ainda frequente relembrar os

Page 94: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

76

desempenhos de determinados alunos nas aulas, sendo analisados e

expressos nas reflexões escritas. Como refere Bento (2003, p. 190) “a reflexão

posterior sobre a aula constitui a base para um reajustamento na planificação

das próximas aulas (…) A reflexão é guiada por meio da comparação dos

objectivos e do processo, previamente estabelecidos e programados, com os

resultados alcançados e com o decurso realmente verificado”. Estas avaliações

foram determinantes para alterar as situações de aprendizagem previamente

definidas no planeamento das UD, de acordo com os alunos, tendo sempre em

consideração os objetivos de aprendizagem que me propus a alcançar. Como

refere Pacheco (1998, p. 116) “a avaliação formativa, sendo uma avaliação

sem nota, é uma prática dinâmica que faz parte da pedagogia de mestria e que

se destina a criar as condições para o sucesso do aluno”.

“De acordo com os comportamentos observados, concluo que

será ainda pertinente, na realização de roda no solo sobre uma

linha, desenhar no solo 4 círculos que indiquem o local onde

devem posicionar as mãos e os pés, sendo que o maior

problema reside na recepção realizada com os M.I. juntos e em

simultâneo.” (Reflexão de aula 87)

Contudo, verifiquei que a importância da AF não é limitada à análise e

planeamento das situações de aprendizagem. Permitiu-me verificar a aquisição

de aprendizagens dos alunos, e progressivamente, criar uma imagem clara

acerca dos seus desempenhos, facilitando a realização da AS. Um dos

exemplos em que foi possível a essa obtenção das prestações dos alunos,

ocorreu na modalidade de Badminton:

“Como as prestações destes alunos sobressaiam em relação

aos de nível inferior, realizando sequências correctas e óptimas

prestações em jogo (ocupação racional do espaço,

intencionalidade em pontuar, deslocamentos atempados e

selecção do gesto técnico mais adequado), foi mais fácil

realizar as suas avaliações, ficando indubitavelmente marcadas

na minha memória.” (Reflexão de UD de Badminton).

Page 95: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

77

No entanto, não foi possível obter este conhecimento de todos os alunos

dadas as irregularidade das prestações de alguns apresentam. Daí a

importância de realizar alguns registos nas aulas que precedem a AS de forma

a auxiliar e apoiar na decisão final de atribuir uma nota.

“Saliento ainda a importância de realizar registos acerca do

desempenho dos alunos ao longo da unidade, pois, se assim

não for feito, a sua realização apenas numa aula para além de

ser difícil, pode ser injusta, pelo facto de os alunos nesse dia

não se apresentarem nas melhores condições ou, por qualquer

eventualidade, não conseguirem manter a regularidade

demonstrada noutras aulas.” (Reflexão de aula 35-36).

Nas UD’s em que não procedi a esta recolha de informações apresentei

algumas dificuldades em observar o que pretendia avaliar.

“No entanto, senti necessidade de observar com mais atenção

alguns alunos que naturalmente intervêm em menor

abundância e com prestações irregulares.” (Reflexão de aula

74).

O planeamento e realização da AS revelam-se de complexa execução e

foi a este nível que surgiram as principais dificuldades e receios, sendo

frequente questionar-me se estaria a ser justo com os meus alunos. De igual

modo tive consciência da necessidade de prestar contas quer aos alunos, quer

aos Encarregados de Educação (EE), o que aumenta as responsabilidades do

processo avaliativo.

Primeiramente, a minha maior dificuldade residiu em definir o que avaliar,

uma vez que, por diversas vezes, foi necessário alterar a configuração da

avaliação previamente planeada pelo facto de os alunos não alcançarem os

objetivos definidos e pela necessidade de alterar o planeamento da UD

(ocorrência de greve, visitas de estudo, etc.). Foram os resultados das AF que

me permitiram reajustar os objetivos a alcançar, bem como o planeamento da

AS. Na UD de ginástica, por exemplo, optei por não avaliar determinadas

Page 96: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

78

habilidades motoras, sob pena de estar a ser injusto com os alunos. Aqui,

considerei que as oportunidades concedidas para a aprendizagem foram

insuficientes para consumar a aprendizagem.

“optei por não exercitar o rolamento à frente com M.I.

afastados, uma vez que já não será alvo de avaliação, pois

considerei que seria injusto contempla-lo, pelo simples facto de

não terem sido proporcionadas aos alunos oportunidades

suficientes para que fosse consumada a aprendizagem.”

(Reflexão de aula 96)

No planeamento da AS verifiquei que se torna fundamental definir aquilo

que realmente se pretende avaliar (tal como na AD), sendo necessário para

isso, concentrarmo-nos no essencial, tal como refere Bento (2003, p. 27)

baseado em Hunnesshagen e Leutert (1984) ao afirmar que “A questão central

do planeamento, da preparação, da realização, e avaliação do ensino pelo

professor reside na concentração no essencial”. “A concentração no essencial

afirma-se como uma exigência didáctica particularmente relevante” (Bento,

2003, p. 27). Esta focagem no essencial foi fundamental, por exemplo, na

análise das habilidades na AS de ginástica, pois seria difícil avaliar 25 alunos

tendo em consideração todos os aspetos técnicos importantes da realização

dos elementos gímnicos alvos de avaliação.

É ainda minha intenção referir que quando procedi à realização das

primeiras avaliações, as minhas preocupações centraram-se única e

exclusivamente em observar os alunos e em realizar os respetivos registos.

Este facto fez com que a emissão de FB e o controlo dos alunos fosse quase

ausente, isto é, apresentei dificuldades em avaliar e em ensinar

simultaneamente. Contudo, após melhorada a capacidade de observação e da

organização das grelhas de registo de forma prática, passei a conseguir intervir

de forma natural, tornando a aula destinada à AS como uma aula semelhante a

todas as outras, isto é, direcionada para os objetivos da aprendizagem.

Considero ainda pertinente reforçar que as melhorias indicadas

anteriormente se revelaram determinantes para a minha evolução e para a

Page 97: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

79

realização do processo avaliativo. A colocação dos nomes dos alunos nas

grelhas, de acordo com os grupos formados para as atividades das aulas,

permitiram-me reduzir o tempo necessário para proceder ao seu

preenchimento. No que se refere às estratégias utilizadas para observar e

registar, optei por, nos jogos desportivos, observar cada aluno em situações de

jogo e seguidamente registar os resultados de todos os aspetos a observar. Na

avaliação em ginástica, modalidade de índole técnica, optei por avaliar

elemento por elemento de forma a ter a perceção clara e imediata dos aspetos

a avaliar. No entanto, para proceder a esta análise e registo dos resultados foi

importante definir no momento de planear a avaliação, quais critérios de

avaliação para cada habilidade e para atribuição da nota final ao aluno. Esta

definição revelou-se uma tarefa difícil, surgindo, em alguns planeamentos,

dificuldades em focar-me no essencial, sendo necessário refletir

profundamente, acerca da sua aplicabilidade.

Nos jogos desportivos em que foi dada relevância à componente tática,

optei por verificar a frequência com que as habilidades realizadas ocorriam de

forma correta. No que se refere a esta decisão, inicialmente senti algum

desconforto com a limitada abrangência dos critérios selecionados (nunca, por

vezes, frequentemente), uma vez que não era possível enquadrar neles os

alunos que realizavam sempre determinada ação.

“senti algum desconforto e uma certa injustiça perante a aluna

praticante da modalidade pelo facto de apenas considerar os

critérios “Nunca”, “Por Vezes” e “Frequentemente”.(Reflexão de

UD de voleibol)

Dada a experiência já adquirida pela atleta, algumas das suas ações

ocorriam “sempre”, o que considerei injusto apreciar que apenas as realiza

“Frequentemente””.No que se refere aos desportos em que a execução técnica

é determinante, optei por definir critérios tendo apenas em conta a qualidade

da execução.

De forma a atribuir uma nota final, optei por duas estratégias distintas.

Inicialmente, através da atribuição de um valor a cada critério das habilidades

Page 98: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

80

motoras observadas, considerava a soma ou a média de todos eles, definindo

a nota final de acordo com intervalos de valores definidos. Posteriormente, com

o objetivo de vivenciar diferentes formas de atribuir a nota final, optei por ter em

consideração os registos efetuados, e enquadrar o aluno de acordo com um

perfil definido nos critérios de avaliação aprovados pelo grupo de EF. Desta

experiência, verifiquei que não existe uma única forma de avaliar, uma vez que

ambas foram viáveis, o que demonstra o lado subjetivo do processo avaliativo.

4.4. Tema de aprofundamento - comparação entre alunos

institucionalizados e não institucionalizados1

4.4.1. O porquê deste aprofundamento

Foi no decorrer das primeiras aulas lecionadas neste EP que considerei a

possibilidade de os alunos institucionalizados no Lar Juvenil dos Carvalhos

poderem, aparentemente, apresentar um maior gosto/motivação para as aulas

de EF, comparando-os com os alunos não institucionalizados.

Esta curiosidade foi despertada pelo facto de os alunos institucionalizados

da turma que lecionei, assim como das turmas dos meus colegas de estágio,

aparentemente demonstrarem elevada motivação no desempenho das tarefas

propostas na aula, evidenciando interesse, dedicação e empenho. Desta forma,

surgiu a curiosidade de perceber se existiam diferenças ao nível do

gosto/motivação pela disciplina, pelas aulas e acerca da importância atribuída

ao Exercício Físico/Desporto nas suas vidas, bem como quais os motivos por

eles apresentados nos referidos parâmetros.

Com o intuito de tornar aplicáveis os seus resultados, pretendo apresentá-

los aos professores do Grupo de EF da escola, de forma a proporcionar-lhes

informações adicionais dos alunos que a frequentam, permitindo-lhes

direcionar as suas intervenções tendo em consideração as suas motivações.

1 Comparação acerca do gosto/motivação e respectivos motivos que conduzem à participação na disciplina de EF, nas

aulas de EF e que revelam a importância atribuída ao Exercício Físico/Desporto nas suas vidas.

Page 99: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

81

4.4.2. Enquadramento do tema - revisão de literatura

Motivação

O estudo da motivação tem vindo a assumir um elevado relevo para os

investigadores que buscam a compreensão do comportamento humano, não

sendo o âmbito desportivo uma exceção. A motivação para a realização de

exercício físico e/ou prática desportiva tem sido largamente estudada em

relação a diferentes populações e contextos (lazer, competição e Educação EF

escolar). Desta forma, torna-se importante clarificar o seu significado.

De acordo com Faria (2010, p. 3) “pode-se afirmar que todo o

comportamento do homem é motivado, sendo a motivação a força geradora

desse mesmo comportamento”.

Lieury e Fenouillet (1997, p. 9) destacam que “a motivação é (…) o

conjunto dos mecanismos biológicos e psicológicos que permitem o

desencadear da acção, da orientação (na direcção de um objecto, ou, pelo

contrário para se afastar dele), e finalmente da intensidade e da persistência:

quanto mais se está motivado maior é a actividade e mais persistente”.

Para Fonseca (1993, p. 12) “a motivação de um indivíduo será (…) a

resultante da interacção de factores internos (personalidade) e externos

(situação) a si próprios“. Brito (1994, p. 175) refere que “é o conjunto de

factores dinâmicos que determinam o comportamento de cada indivíduo”.

Baseada nas ideias de Samuslki (1995), Toniolo (2001, p. 10) indica que

a motivação se refere “à totalidade dos factores que determinam a atualização

de formas de comportamento rígido, caracterizada como um processo ativo

intencional e dirigido a uma meta, o qual depende de fatores pessoais

(intrínsecos) e ambientais (extrínsecos)”.

Ferreira (2005, p. 53) baseado em Brito (1994) reporta-se a dois tipos de

motivação, a motivação intrínseca e a motivação extrínseca. A primeira “radica-

se no próprio sujeito: curiosidade, interesse ou necessidades”, já a segunda, é

a que “é estranha ao indivíduo e introduz-se artificialmente na situação, como

meta ou objectivo a alcançar: incentivos, prémios ou recompensas”. No

entanto, Faria (2010, p. 4), baseado nas ideias de Brito (1994) e Cruz (1996),

Page 100: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

82

refere que “as motivações extrínsecas apresentam uma relevante importância

na conduta dos indivíduos, no entanto, são as motivações intrínsecas as mais

duradoiras e persistentes”.

Importa salientar que muitos autores têm vindo a estudar a motivação

intrínseca recorrendo à aplicação de questionários. Baseado nas ideias de

Morris e Choi (1993), Fonseca e Brito (2001, p. 60) afirmam que “o questionário

mais utilizado pelos investigadores para avaliar a motivação intrínseca dos

indivíduos em relação a uma determinada actividade é o Intrinsic Motivation

Inventory (IMI) desenvolvido inicialmente por Ryan (1982)”. Este questionário

foi também traduzido para a língua portuguesa por Fonseca e Brito (2001). “A

versão que deu origem ao IMIp foi a constituída por 18 itens, distribuídos por

quatro subescalas (Prazer/Interesse: 5 itens, e.g., «gosto bastante da

[actividade praticada]»; Competência: 4 itens, «sou bastante bom na

[actividade praticada]»; Esforço/Importância: 5 itens, «empenho- me bastante

na [actividade praticada]»; e Tensão/Pressão: 4 itens, «sinto-me pressionado

enquanto faço a [actividade praticada]») (Fonseca & Brito, 2001, p. 61).

Em âmbito escolar, a motivação dos alunos assume-se como

determinante para a que as aprendizagens sejam consumadas. Faria (2010, p.

5) destaca que “do ponto de vista pedagógico, o propósito da motivação

consiste em despertar o interesse e o desejo de aprender (…) dirig indo os

propósitos dos alunos para atingirem as metas definidas. Assim, um aluno

motivado sente necessidade de aprender o que está a ser ensinado”.

Gutiérrez e Escartí (2006, p. 24) indicam que estudos realizados na EF e

no desporto (Cecchini et al., 2004; Escartí e Gutiérrez, 2001; Ferrer-Caja e

Weiss, 2000; Goudas e Biddle, 1994; Kavussanu e Roberts, 1996 e Mitchell,

1996) “han destacado que el tipo de motivación que induce a los sujetos a

realizar más esfuerzo, presentar mayor perseverancia y obtener un grado de

satisfacción más elevado es la motivación intrínseca”.

Page 101: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

83

Motivos

Para além de ser importante perceber em que consiste a motivação,

torna-se indispensável salientar que esta se distingue de motivo. Fonseca

(1993, p. 12) afirma que “enquanto motivo se refere a uma característica

relativamente estável do indivíduo, que o leva a orientar-se para uma

determinada actividade, a motivação corresponde a um estado do organismo,

responsável por um determinado comportamento”.

De acordo com Nunes (1995, p. 13) o estudo dos motivos “permitirá saber

das razões pelas quais se escolhe fazer algo, ou executar algumas tarefas com

mais empenho do que outras, ou ainda persistir nessa actividade por longo

período de tempo”.

Faria (2010, p. 7) aponta para a existência de diversos estudos que

procuram encontrar quais os motivos pelos quais os indivíduos praticam

actividade desportiva:

“(Weiss e Chaumeton, 1992) a maior parte das pessoas participa na

actividade desportiva pelo prazer, divertimento, curiosidade e desenvolvimento

das capacidades”;

“os motivos normalmente apontados pelos jovens como mais importantes

para praticarem desporto relacionam-se, fundamentalmente, com cinco

grandes categorias: competência, saúde, afiliação, desenvolvimento técnico e

divertimento (Gill, Gross & Huddleston, 1983; Weinberg e tal., 2000)”;

“os motivos com menos importância na participação desportiva dos

jovens relacionam-se com as razões ligadas ao estatuto, à libertação de

energia e à influência parental (Gill, Gross & Huddleston, 1983)”.

Page 102: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

84

4.4.3. Objetivos do estudo

4.4.3.1. Objetivo geral

Este estudo tem como objetivo perceber o gosto/motivação dos alunos

institucionalizados e de alunos não institucionalizados relativamente à disciplina

de EF, às aulas de EF, bem como perceber a importância atribuída ao

Exercício Físico/Desporto nas suas vidas. Tive ainda como objetivo, identificar

os motivos inerentes a esses gostos e à importância mencionada.

4.4.3.2. Objetivo específico

Comparar os resultados entre alunos institucionalizados e não

institucionalizados.

4.4.4. Limitações do estudo

O presente estudo apresenta como limitação o reduzido valor da

amostra de cada um dos grupos.

4.4.5. Material e métodos

4.4.5.1. Caracterização da amostra

Realizaram um questionário 24 alunos do 3º ciclo do Ensino Básico da

Escola Secundária de Carvalhos, dos quais 12 provinham das suas famílias

(não institucionalizados) e os restantes 12 provinham do Lar Juvenil dos

Carvalhos (institucionalizados), tratando-se os últimos de crianças

desfavorecidas e com algumas carências afetivas e socioeconómicas.

Page 103: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

85

Neste estudo só foi obtida informação acerca de alunos do género

masculino, pelo simples facto de o Lar Juvenil dos Carvalhos não acolher

alunos do género feminino.

A presente amostra apresentou a particularidade de todos os elementos

que a constituem praticarem exercício físico ou desporto fora das aulas de EF,

o que poderá indicar a existência de fatores motivacionais para a sua

realização.

Alunos institucionalizados:

Tabela 1: Frequência semanal com que praticam exercício físico

Tabela 2: Frequência semanal com que praticam desporto

Alunos não institucionalizados:

Tabela 3: Frequência semanal com que praticam exercício físico

Frequência

semanal 1 a 2 vezes 3 a 4 vezes 5 ou mais vezes

Nº de alunos 2 5 4

Frequência

semanal 1 a 2 vezes 3 a 4 vezes 5 ou mais vezes

Nº de alunos 3 2 4

Frequência

semanal 1 a 2 vezes 3 a 4 vezes 5 ou mais vezes

Nº de alunos 6 5 1

Page 104: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

86

Tabela 4: Frequência semanal com que praticam desporto

4.4.5.2. Seleção da amostra e recolha de dados

A seleção da amostra foi realizada de forma aleatória, sendo solicitados 8

alunos de cada ano letivo do 3º ciclo do Ensino Básico (4 institucionalizados e

4 não institucionalizados), sendo mantido o total anonimato.

Para o preenchimento dos questionários foi disponibilizado o tempo

necessário para a resposta às diversas questões. Estes foram realizados nos

espaços do pavilhão desportivo da escola ou no gabinete destinado ao grupo

de EF, de acordo com as suas disponibilidades, sendo privilegiados os locais

mais silenciosos e isolados, de forma a manter os alunos concentrados na

elaboração das suas respostas. Foi-lhes pedido para responderem com total

seriedade, pois o seu contributo seria fundamental.

4.4.5.3. Instrumentos

A recolha de dados foi realizada através da aplicação de um questionário

(Anexo 9) em que os alunos responderam a três questões segundo uma escala

de Likert (de 1=“não gostas nada” até 4=“gostas muito”).

Questão 1: “Numa escala de 1 a 4, indica o gosto que tens pela disciplina

de Educação Física”;

Questão 2: “Numa escala de 1 a 4, indica o gosto que tens pelas tuas

aulas de Educação Física no presente ano lectivo”;

Questão 3: “Numa escala de 1 a 4, como a classificas a importância da

Exercício Físico/Desporto na tua vida”.

Frequência

semanal 1 a 2 vezes 3 a 4 vezes 5 ou mais vezes

Nº de alunos 2 6 3

Page 105: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

87

Para cada questão, o aluno dispôs de um espaço destinado à justificação

das suas respostas, de forma a que fosse possível perceber quais os motivos

que se encontram por detrás do gosto pela disciplina de EF, pelas aulas de EF

e os motivos pelo quais atribuem importância ao Exercício Físico/desporto nas

suas vidas.

4.4.5.4. Procedimentos estatísticos (tratamento dos dados)

Uma vez recolhidos os dados obtidos nas escalas de Likert, realizei a

análise descritiva no programa SPSS PASW Statistics 18 (Statistical Package

for Social Sciences), procurando comparar o nível motivacional dos alunos dos

dois grupos em causa, analisando as médias e desvio padrão das respostas a

cada pergunta. Seguidamente, a análise do conteúdo foi o instrumento

escolhido para analisar as respostas dos alunos.

Segundo Bardin (2004, p. 27), “a análise de conteúdo é um conjunto de

técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas

de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento,

mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo

de aplicação muito vasto: as comunicações”.

Para efetuar esta análise utilizei a sucessão indicada por Bardin (2004),

composta pela pré-análise, codificação, categorização e inferência. Uma vez

agrupado o material recolhido, procedi à sua análise quantitativa.

Na fase de pré-análise procedi à leitura de todos os documentos/dados

recolhidos, tendo em consideração quatro regras indicadas pelo referido autor:

Regra da exaustividade: “não se pode deixar de fora qualquer um

dos elementos, por esta ou por aquela razão” (idem, p. 90);

Regra da representatividade: “a análise pode efectuar-se numa

amostra desde que o material a isso se preste. A amostragem diz-

Page 106: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

88

se rigorosa se a amostra for uma parte representativa do universo

inicial” (idem, p. 91);

Regra da homogeneidade: “os documentos retidos devem ser

homogéneos” (idem, p. 91);

Regra da pertinência: “os documentos retidos devem ser

adequados, enquanto fonte de informação, de modo a

corresponderem ao objectivo que suscita a análise” (idem, p. 92).

Seguidamente, procedi à codificação, isto é, ao tratamento do material

recolhido. Holsti (cit. por Bardin, 2004, p. 97) refere que “A codificação é o

processo pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e

agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exacta das

características pertinentes do conteúdo”.

Segundo Bardin (2004, p. 111) “a categorização é uma operação de

classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e,

seguidamente, por reagrupamento”. Desta forma, agrupei aqueles elementos

que apresentavam semelhanças entre si.

Para finalizar, procedi à realização da inferência, para atribuir significação

ao conteúdo extraído dos questionários. Segundo Bardin (2004, p. 34), “se a

descrição (a enumeração das características do texto, resumida após

tratamento) é a primeira etapa necessária e se a interpretação (a significação

concedida a estas características) é a ultima fase, a inferência é o

procedimento intermediário, que vem permitir a passagem, explicita e

controlada, de uma à outra”.

As categorias foram criadas de acordo com a análise do texto (respostas

dos alunos), sendo algumas comuns às três respostas, tal como se pode

verificar nas seguintes tabelas:

Page 107: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

89

Tabela 5: Categorias para os motivos que levam os alunos a gostar da disciplina de EF

Categorias

Desenvolvimento da Condição Física

Benefícios para a Saúde

Prazer

Desenvolvimento Cognitivo

Gosto por Modalidades

Diversidade de Atividades

Aspetos Sociais

Gosto pelo Movimento

Aspetos Recreativos

Tabela 6:Categorias para os motivos que levam os alunos a gostar das aulas de EF

Categorias

Benefícios para a Saúde

Prazer

Desenvolvimento Cognitivo

Gosto por Modalidades

Diversidade de Atividades

Gosto pelo Movimento

Page 108: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

90

Tabela 7: Categorias para os motivos que levam os alunos a atribuírem importância ao

Exercício Físico/Desporto nas suas vidas

Categorias

Desenvolvimento da Condição Física

Benefícios para a Saúde

Prazer

Desenvolvimento Cognitivo

Aspetos Sociais

Aspetos Recreativos

Desenvolvimento da Condição Física – aspetos que visam a melhoria

ou a manutenção da aptidão física;

Benefícios para a Saúde – aspetos que sustentam uma atitude salutar;

Prazer – aspetos que visam a o divertimento e o deleite;

Desenvolvimento Cognitivo – visam a aquisição de conhecimentos e

de aprendizagens;

Gosto por Modalidades – agrado e contentamento pelas

modalidades/matérias abordas;

Gosto pelo Movimento – gosto pelo caráter dinâmico das aulas;

Diversidade de Atividades – variedade e inovação das atividades

desenvolvidas;

Aspetos Sociais – interação com outros sujeitos e estabelecimentos de

laços afetivos;

Aspetos Recreativos – visam a compensação do stress diário.

Page 109: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

91

4.4.6. Apresentação e análise dos resultados

Os resultados recolhidos não foram comparados com outros estudos,

visto tratar-se de um estudo muito particular e pelo facto de não ter encontrado

na literatura estudos acerca desta temática e que comparem alunos

institucionalizados com alunos não institucionalizados.

Gosto pela disciplina de EF

Tabela 8: Análise do gosto pela disciplina de EF

Nº de

alunos Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

Institucionalizados 12 3 4 3,92 ,289

Não Institucionalizados 12 3 4 3,83 ,389

Foi possível verificar que apenas um aluno institucionalizado e dois

alunos não institucionalizados responderam atribuindo o valor 3, sendo que os

restantes responderam atribuindo o valor 4.

Analisando os valores das médias obtidas para cada um dos grupos à

questão 1 posso concluir que não se verificaram diferenças significativas entre

os alunos institucionalizados (média=3,92) e os não institucionalizados

(média=3,83). Complementarmente, através dos baixos desvios padrão

(institucionalizados=0,289 e não institucionalizados=0,389), consegue-se inferir

a existência de uma consistência nas respostas dos alunos, sendo que, esta

mesma consistência está associada aos maiores valores médios das respostas

dadas pelos alunos.

Gosto pelas aulas de EF

Tabela 9: Análise do gosto pelas aulas de EF

Nº de

alunos Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

Institucionalizados 12 3 4 3,83 ,389

Não Institucionalizados 12 3 4 3,92 ,289

Page 110: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

92

Nas respostas acerca do gosto pelas aulas de EF, apenas dois alunos

institucionalizados e um aluno não institucionalizados responderam atribuindo o

valor 3, sendo que os restantes responderam atribuindo o valor 4.

Analisando os valores das médias obtidas para cada um dos grupos à

questão 2, verifiquei, tal como ocorreu na análise anterior, que não se

verificaram diferenças significativas entre os alunos institucionalizados

(média=3,83) e os não institucionalizados (média=3,92). Foi ainda possível

verificar, através do baixo desvio padrão (institucionalizados=0,389 e não

institucionalizados=0,289), a existência de uma consistência nas respostas dos

alunos, sendo que, esta mesma consistência está associada aos maiores

valores médios das respostas dadas pelos alunos.

Importância atribuída ao Exercício Físico/Desporto nas suas vidas

Tabela 10: Análise da importância atribuída ao exercício físico/desporto

Nº de

alunos Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

Institucionalizados 12 4 4 4,00 ,000

Não Institucionalizados 12 4 4 4,00 ,000

Nesta questão, foi possível verificar que todos os alunos

institucionalizados e todos os alunos não institucionalizados responderam

atribuindo o valor máximo, o que revela uma enorme consistência das

respostas, confirmada pelos valores das médias (ambas iguais a 4,00) e dos

desvios padrão (ambos iguais a 0,00). Dadas estas evidencias é possível

concluir que os alunos de ambos os grupos atribuem a mesma importância ao

Exercício Físico/Desporto nas suas vidas, sendo esta elevada.

Análise dos Motivos

Após análise quantitativa das respostas dadas pelos alunos,

relativamente ao gosto pela disciplina de EF, foi possível verificar algumas

diferenças e semelhanças entre os grupos analisados.

Page 111: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

93

Motivos que revelam o gosto pela disciplina de EF

Três dos alunos institucionalizados e três não institucionalizados

apresentaram motivos relacionados com o Desenvolvimento da Condição

Física (“faço exercício físico”, “mantenho-me em forma”, “prepara-me

fisicamente”). No que à categoria Benefícios para a Saúde diz respeito, quatro

alunos institucionalizados apresentaram motivos coincidentes com o tema (“é

uma forma de ganhar saúde”, “faz bem à saúde”), ocorrendo o mesmo com três

alunos não institucionalizados (“é saudável”, “faz bem à saúde”).

Verifiquei que foi na categoria Prazer que se verificou uma maior

diferença em termos da quantidade de motivos apresentados pelos dois

grupos. Onze alunos não institucionalizados apresentaram motivos

relacionados com o tema (“o divertimento ajuda a gostar”, “divirto-me a praticar

desporto”), enquanto apenas quatro alunos institucionalizados o fizeram (“sinto

prazer”, “tenho prazer em fazer desporto”).

Apenas um aluno institucionalizado apresentou motivos relacionados com

a categoria Desenvolvimento Cognitivo (“porque aprendo”), enquanto três não

institucionalizados o fizeram (“porque aprendo”, “aprendo coisas sobre o meu

organismo”). No que se refere à categoria Gosto pelas Modalidades, três

alunos institucionalizados apresentaram motivos relacionados com ela (“gosto

de quase todos os desportos que damos”,”gosto das modalidades que se

praticam”, “praticamos desportos como o futebol e o basquetebol que gostamos

imenso”), enquanto dois alunos não institucionalizados o fizeram (“são

modalidades que gosto”, “tem modalidades que gosto muito”).

Para a categoria Diversidade, foi possível verificar que nenhum dos

alunos institucionalizados apresentou motivos relacionados com ela, sendo

que, dois alunos não institucionalizados o fizeram (“fazemos coisas diferentes

do habitual”, ”gosto da variedade dos desportos”).

No que se reporta à categoria Aspetos Sociais, foi possível verificar que

apenas um aluno institucionalizado e um não institucionalizados apresentaram

motivos relacionados com ela (“tenho mais convívio com os meus colegas”,

“convivemos com amigos”, respetivamente).

Page 112: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

94

Para a categoria Gosto pelo Movimento, três alunos institucionalizados

apresentaram motivos que a ela se relacionam (“seja qual for gosto do

movimento”), ocorrendo o mesmo com dois alunos institucionalizados (“mais

dinâmica”, “são muito mexidas”).

Para finalizar, na categoria Aspetos recreativos, apenas um aluno

institucionalizado indicou um motivo a ela relacionado (“é uma maneira de

libertar energia”).

Motivos que revelam o gosto pelas aulas de EF

Nas respostas a estas questões foi possível verificar que apenas dois

alunos não institucionalizados apresentaram motivos relacionados com a

categoria Benefícios para a Saúde (“faz bem à saúde”, “melhora a saúde”). No

que se refere à categoria Prazer, três alunos institucionalizados apresentaram

motivos relacionados com ela (“é muito divertido”, “é divertido”) enquanto que,

apenas um aluno não institucionalizado os apresentou (“é muito divertida”).

Relacionados com a categoria Desenvolvimento Cognitivo, foram apresentados

motivos por quatro alunos institucionalizados (“porque aprendi coisas novas”,

“aprendo novos desportos”) e por três alunos não institucionalizados (“aprendo

novos desportos”,”porque aprendemos mais”).

Para a categoria Gosto pelas Modalidades os resultados foram mais

expressivos, uma vez que três alunos institucionalizados apresentaram motivos

que se enquadram nesta categoria (“gosto das modalidades que pratiquei”,

“porque faço modalidades que gosto, ex. futebol, andebol, atletismo, etc”),

ocorrendo o mesmo para cinco alunos não institucionalizados (“vários

desportos que gosto, como judo e o badminton”, “estivemos a dar desportos

muito interessantes”). Na categoria Diversidade de Atividades a quantidade de

alunos não institucionalizados que mencionaram motivos relacionados com

esta categoria foram ainda superiores aos da categoria anterior. Verificou-se

que três alunos institucionalizados indicaram motivos relacionados com a

categoria em causa (“gostei da variedade de modalidades e não gosto de tar

sempre a fazer a mesma coisa”) ocorrendo o mesmo com seis alunos não

Page 113: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

95

institucionalizados (“realizamos actividades diferentes do normal”, “o professor

deu desportos novos e diferentes”, “fazemos coisas diferentes do habitual”).

Por fim, para a categoria Gosto pelo Movimento, verifiquei que dois

alunos institucionalizados apontaram motivos que nela se enquadram (“as

aulas eram muito dinâmicas”), enquanto apenas um não institucionalizado o fez

(“porque são activas”).

Motivos pelos quais atribuem importância ao Exercício

Físico/Desporto

Os resultados obtidos acerca dos motivos pelos quais os alunos atribuem

importância ao Exercício Físico/Desporto nas suas vidas demonstram que os

alunos de ambos os grupos dão relevo às questões relacionadas com a

categoria Benefícios para Saúde, uma vez que dez alunos institucionalizados

referem motivos que nela se enquadram (“gosto de me sentir saudável”, ”é

importante para a boa saúde”, “faz bem à saúde”), verificando-se o mesmo com

nove alunos não institucionalizados (“ajuda a manter a saúde”, “é uma maneira

de nos manter-mos saudáveis”).

Motivos que se enquadram na categoria Desenvolvimento da Condição

Física foram referidos por sete alunos institucionalizados (“gosto de me sentir

em forma”,”temos que manter a forma”,”para evoluir nas capacidades físicas”)

e por quatro alunos não institucionalizados (“é um bem essencial para a pessoa

relativamente à sua auto-estima ao nível da condição física”,”porque tenho

mais resistência para o dia-a-dia”,”temos que estar bem fisicamente”).

No que concerne à categoria Prazer, verifiquei que apenas dois alunos

não institucionalizados apresentaram motivos que a ela se relacionam (“divirto-

me a praticar desporto”, “porque divirto-me”). Motivos que se enquadram na

categoria Desenvolvimento Cognitivo também foram indicados por três alunos,

um institucionalizado (“gosto de conhecer novas modalidades”) e por dois não

institucionalizados (“aprendo se gostar de fazer”, “aprendo o que nunca

aprendi”).

Enquadrados na categoria Aspetos Sociais foram apresentados motivos

por dois alunos institucionalizados (“porque é bom para socializar”,”para

Page 114: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

96

conviver e fazer novos amigos”) e por três não institucionalizados (“ajuda (…) a

ter novos amigos”,”é muito importante pois é uma maneira de (…) criar novas

amizades”, “conheço pessoas novas”).

Por fim, foram referidos por três alunos motivos que se enquadram na

categoria Aspetos Recreativos, dos quais um é institucionalizado (“deixa-me

calma mentalmente”) e dois não institucionalizados (“é uma maneira de reprimir

o stress do dia-a-dia”,”porque me sinto relaxado”).

4.4.7. Conclusões

Tendo em consideração os objetivos traçados para este estudo e a

análise de resultados obtidos, considero possível concluir que:

Os alunos de ambos os grupos (institucionalizados e não

institucionalizados) apresentam semelhantes gosto/motivação

para a disciplina de EF e para as aulas EF, ao contrário daquilo

que foi inicialmente suposto;

Quer os alunos institucionalizados quer os alunos não

institucionalizados atribuem igual importância ao Exercício

Físico/Desporto nas suas vidas, uma vez que todos eles

responderam de forma coincidente com o valor máximo possível

de ser atribuído (4);

Relativamente ao gosto pela disciplina de EF foi possível verificar

que os alunos institucionalizados destacam os motivos

relacionados com os Benefícios para a Saúde e o Prazer,

mencionando com menor frequência os que se relacionam com o

Desenvolvimento Cognitivo e os Aspetos Sociais e Recreativos.

Já os alunos não institucionalizados mencionaram de forma

expressiva o Prazer (11 alunos de um total de 12), e mencionam

com menor frequência motivos que se relacionam com os

Aspetos Sociais.

Page 115: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

97

De notar ainda que dois alunos não institucionalizados

referiram motivos que se relacionam com a Diversidade de

Atividades, não sendo revelado nenhum motivo semelhante por

parte dos alunos institucionalizados, o que poderá indicar que

estes não valorizam este aspeto.

No que se refere ao gosto pelas aulas de EF, os alunos

institucionalizados evidenciaram motivos relacionados com o

Desenvolvimento Cognitivo e indicaram com menor frequência

motivos relacionados com o Gosto pelo Movimento. Já os alunos

não institucionalizados deram ênfase aos motivos relacionados

com a Diversidade de Atividades (6 alunos), sendo igualmente

expressivo, o Gosto pelas Modalidades (5 alunos). Estes alunos

referiram com a mínima frequência motivos relacionados com o

Prazer e o Gosto pelo Movimento.

Saliento ainda que dois alunos não institucionalizados

referenciaram motivos relacionados com os Benefícios para a

Saúde, não sendo estes motivos indicados pelos alunos

institucionalizados. Este facto leva-me a concluir que, apesar de

afirmarem que gostam da disciplina de EF por motivos ligados à

saúde, não os valorizam no momento de indicarem o gosto pelas

aulas.

No que concerne à importância atribuída ao Exercício

Físico/Desporto nas suas vidas, foi possível verificar que os

alunos institucionalizados apresentam maioritariamente motivos

relacionados com os Benefícios para a Saúde (10 alunos num

total de 12). Contudo, um expressivo número de alunos indicou

ainda motivos relacionados com o desenvolvimento da Condição

Física (7 alunos num total de 12). Os motivos menos

mencionados por estes alunos relacionam-se com o

Desenvolvimento Cognitivo e com os Aspetos Recreativos. Em

relação aos alunos não institucionalizados, os motivos

apresentados são semelhantes ao nível dos Benefícios para

Page 116: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

98

Saúde (9 alunos num total de 12). Quanto aos motivos menos

mencionados, apresentam o Desenvolvimento Cognitivo, os

Aspetos Recreativos e também do Prazer.

Foi ainda possível verificar que os alunos

institucionalizados não fizeram qualquer referência ao Prazer, ao

contrário do que aconteceu com os alunos não

institucionalizados, uma vez que dois alunos indicaram motivos

que a ele se relacionam.

De uma forma geral, considero verosímil afirmar que, apesar de os

alunos de ambos os grupos demonstrarem semelhante gosto/motivação para a

disciplina de EF e para as aulas de EF, apresentam motivos distintos que os

mobilizam para a sua participação. Contudo, para a importância atribuída ao

Exercício Físico/Desporto nas suas vidas foi possível verificar algumas

semelhanças entre os dois grupos de alunos.

4.5. A direção de turma

4.5.1. Acompanhamento do diretor de turma

“O director de turma ou, tratando-se de alunos do 1º ciclo do ensino

básico, o professor da turma, adiante designado por professor titular, enquanto

coordenador do plano de trabalho da turma, é particularmente responsável pela

adopção de medidas tendentes à melhoria das condições de aprendizagem e à

promoção de um bom ambiente educativo, competindo-lhe articular a

intervenção dos professores da turma e dos pais e encarregados de educação

e colaborar com estes no sentido de prevenir e resolver problemas

comportamentais ou de aprendizagem.”

(Assembleia da República, 2002, p. 7942)

Page 117: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

99

Com o intuito de me inteirar acerca das funções e responsabilidades do

DT, acompanhei o desenvolvimento das suas tarefas, quer no âmbito das

reuniões de Conselho de Turma, quer nos assuntos de caráter pedagógico ou

até administrativo que estas funções encerram. No decorrer deste

acompanhamento fui alertado para atender a alguns cuidados para quando for

deparado com esta realidade, que se demonstra abrangente e desafiadora.

Através de um diálogo aberto verifiquei também o desempenho de tarefas

“menos burocráticas” desempenhadas no seu dia a dia.

Após esta experiência considero que ficou claro que o exercício de

algumas tarefas (na escola em que realizei EP) está simplificado com a recente

implementação do programa informático “Truncatura - TProfessor”. Através

deste é possível acompanhar aspetos referentes à assiduidade dos alunos

(existindo um indicador de limite de faltas), verificar faltas de material e receber

algumas informações provenientes dos professores da turma, caso optem por

comunicar com o DT por esta via. Este recurso tecnológico torna-se assim uma

ótima ferramenta de trabalho e de comunicação.

No contacto estabelecido, fui alertado para a importância de no início do

ano letivo o DT proceder à elaboração e organização de um dossiê, onde

existe um espaço reservado para a informação referente a cada aluno, outro

para documentos comuns a todos eles, um para as atas (onde são arquivadas

as obtidas nas reuniões de pais e de conselho de turma), outro com legislação

mais importante, todos eles passíveis de serem consultados pelos restantes

professores da turma, permitindo a obtenção imediata de informações que

necessitem.

Visto que uma das funções do DT é promover uma articulação entre

professores/escola e encarregados de educação (EE)/família, considero que

este deve entregar-se profundamente a cada caso, mantendo uma relação

transparente com os EE e estabelecendo a comunicação com os restantes

professores da turma. Desta relação a DT salientou a necessidade de

comunicar aos EE a ocorrência de faltas injustificadas, de comportamentos

impróprios, dificuldades de aprendizagem, bem como de outros assuntos de

relevância. Destacou, em tom de conselho, que se torna fundamental o envio

Page 118: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

100

de cartas registadas para comprovar a sua receção, solicitar junto da

telefonista o registo das chamadas e efetuar os registos de reuniões realizadas

com os pais no horário de atendimento, existindo assim, provas de que os

contactos foram realizados, sendo, desta forma, precavidos problemas e

queixas por alegada ausência de contacto.

Ao longo do ano letivo foi ainda possível verificar que o diálogo entre

professores ocorre, muitas das vezes, em qualquer local do espaço escolar,

sendo por vezes as conversas informais, úteis para trocar informações acerca

de acontecimentos que ocorrem na sala de aula e às quais eu próprio recorri.

Estes procedimentos e a disponibilidade demonstrada pela DT revelaram-se de

elevada importância pois em alguns casos possibilitou a intervenção imediata

junto dos alunos. No entanto, são as reuniões de Conselho de Turma que

assumem uma maior relevância. Nestas, o DT transmite aos professores as

situações relevantes provenientes do seu relacionamento com os EE e

debatem e analisam com estes, os casos que necessitam de ser resolvidos

(indisciplina, mudanças de comportamento e atitude dos alunos, necessidades

de acompanhamento, etc.). É com base nestas relações entre professores que,

nas reuniões intercalares, são definidos e analisados os planos de avaliação,

de recuperação e de acompanhamento. Nas reuniões de final de período são

debatidas, essencialmente, questões de avaliação, como a discussão de

resultados a cada disciplina, a verificação das faltas e a análise de casos

particulares (encaminhamento para psicólogo, para ensino especial, etc.),

contudo, isto não implica que outros assuntos sejam colocados de parte. Trata-

se de momentos de diálogo e reflexão coletiva em que os alunos são

colocados em primeiro plano.

Para além do referido, considero ainda de extrema importância, o

conhecimento da forma de atuação do DT perante a ocorrência de processos

disciplinares (o que me era totalmente desconhecido) e que em algumas

turmas surgem com elevada frequência. No caso especifico da escola onde

lecionei, após surgir um processo disciplinar, que pode ser efetuado por

qualquer membro da comunidade escolar (alunos, professores, funcionários), o

DT deve contactar a direção num prazo de dois dias (definido pela direção da

Page 119: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

101

escola), realizando previamente a averiguação do ocorrido, procurando saber a

verdade dos factos junto de testemunhas (alunos, professores, funcionários).

Posteriormente, estes órgãos superiores realizam o levantamento dos autos e

elaboram uma pena, que se pode traduzir numa suspensão ou expulsão. Na

realidade, confesso que fiquei surpreendido com todo este procedimento. Ao

refletir sobre este relato, concluo que se assemelha a um tribunal, contudo,

regido pelos órgãos superiores responsáveis pela instituição escolar.

O DT é o professor mais próximo dos alunos, uma vez que os conhece de

forma detalhada o que os rodeia. Para além das funções apresentadas,

normalmente, este está ainda incumbido de lecionar a disciplina de Formação

Cívica. É nestas aulas que analisa com os alunos o Regulamento Interno da

Escola e que dialoga com os alunos sobre problemas passíveis de serem

resolvidos. No entanto, nesta escola, se o DT porventura não lecionar à turma

esta disciplina, trata estes problemas no tempo de aula da disciplina que

leciona, o que na minha opinião poderá dificultar a sua intervenção pedagógica,

podendo ser a aprendizagem comprometida. Ocorrendo este facto com um

professor da disciplina de EF, considero que o caso poderá ser ainda mais

grave, o que conduz a uma diminuição ainda mais acentuada do tempo útil de

aula, que já é normalmente penalizado, devido à preparação dos alunos para

as aulas (deslocação/equipar/desequipar/tomar banho). Este prejuízo torna-se

ainda mais nefasto, pois os conteúdos a abordar necessitam de elevada

exercitação. Nestes casos, seria ideal a existência de uma determinada hora

no horário da turma para que o professor pudesse dialogar com os alunos e

resolver possíveis problemas.

Após presenciar o desempenho de algumas tarefas realizadas pelo DT,

considero que este deve possuir características determinantes, tais como o

interesse pelos alunos e suas necessidades, sentido de dedicação,

disponibilidade, sensibilidade e capacidade de liderança, visto ser ele que

chefia o grupo de professores que norteia a edificação dos alunos na sua

intervenção diária.

Em suma, considero que esta experiência me permitiu conhecer a

abrangência da intervenção do DT, pois a maioria das suas funções eram-me

Page 120: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

102

totalmente desconhecidas, tendo sido igualmente úteis os conselhos recebidos

por um profissional que desempenha estas funções há muitos anos. Desta

forma e tendo em vista a minha ação futura, perspetivo que tratar-se-á de uma

experiência desafiadora, bastante enriquecedora e construtiva, uma vez que o

contacto social está sempre presente através da relação estabelecida com os

diversos intervenientes. Reconheço ainda que, certamente, surgirão momentos

de difícil decisão e menos agradáveis, contudo, enquanto educadores devemos

zelar pelo desenvolvimento íntegro e total de todos os nossos alunos, na busca

incessante do sucesso educativo.

4.6. A experiência no “processo de tutoria”

“À escola chegam alunos mais favorecidos e outros mais desfavorecidos.

As desigualdades situam-se nos domínios social, cultural, económico e até de

saúde. As discriminações positivas são tentativas de solucionar a

discriminação negativa com que os menos favorecidos chegam à escola”

(Zenhas, 2001)

A escola acolhe uma multiplicidade de cidadãos que apresentam distintas

características e que provêm dos mais diversos meios. Esta instituição deve

encará-los como seres singulares, com diferentes histórias de vida, com

diferentes dificuldades e problemas provocados por distintas causas, reunindo

esforços para que todos convirjam no sentido da sua integração, edificação e

preparação para a vida futura. Tal como refere Ribeiro et al. (2010, p. 164)

“cabe à Escola, enquanto instituição pública de ensino, formar as crianças,

proporcionando-lhes valores e saberes, promovendo assim a integração de

todos e não só de alguns”.

É neste panorama que se revela importante o professor tutor, como

aquele que apoiará o aluno e que o encaminhará rumo àquilo que é o melhor

para ele. Ribeiro et. al (2010, p. 166) baseado em Azevedo & Nascimento

(2007) referem que o “professor Tutor surge como aquele que é capaz de

potenciar o projecto de vida daquele a quem acolhe, contribuindo, numa

Page 121: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

103

perspectiva processual de prestação de cuidado e de compromisso, para que

este último se assuma como construtor do seu sentido de vida”.

De acordo com o referido, pretendo deixar patente aquilo que foi o meu

envolvimento no processo de tutoria a um dos alunos da turma que lecionei,

um desafio que foi proposto pelos restantes professores da turma e DT numa

das reuniões de conselho de turma. Nesta reunião foi-me pedido,

essencialmente, que acompanhasse a organização dos cadernos do aluno e

que desse prioridade ao diálogo como forma de o acarinhar, de apoiar e de

incentivar. Este acompanhamento foi solicitado pelo facto do aluno apresentar

graves problemas familiares, repercutindo-se no seu desempenho cognitivo e

comportamental. Surgiu ainda como complemento ao acompanhamento

efetuado pelos psicólogos da escola e da instituição de acolhimento de onde o

aluno provém

4.6.1. O porquê do meu envolvimento

Quando surgiu a hipótese de ser tutor do aluno questionei-me se seria

capaz de contribuir para o seu bem-estar, de atender às suas necessidades e

de contribuir para o alcance dos objetivos pretendidos. De imediato considerei

que seria minha obrigação interessar-me por este caso, uma vez que ainda

muito havia a fazer pelo aluno na busca do sucesso educativo. Após me ser

concedida esta responsabilidade senti verdadeiramente a abrangência da

profissão docente, senti que estava perante mais um novo desafio, perante

uma oportunidade de enriquecer o meu EP e de tornar mais diversificado e

abrangente o meu contacto inicial com a profissão.

Desde o início do ano, foram vários os momentos em que senti que era

uma figura importante na vida daquele aluno. Mais do que professor, era o

amigo. Alguém a quem ele relatava os seus sucessos e fracassos, as suas

alegrias e as suas tristezas. Foi visível que era alguém a quem ele procurava

constantemente agradar e quando não o conseguia, era evidente a frustração

que o cercava. O facto de possuir esta relação próxima e afetiva, de

Page 122: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

104

representar tanto para ele, deixou-me otimista em relação à possibilidade de

poder exercer alguma influência na sua edificação.

Na minha perspetiva, o professor deve colocar os alunos em primeiro

lugar, envolvendo-se, interessando-se, atuando fora do espaço de aula sempre

que for necessário, pois o exercício da profissão docente não se esgota na

abordagem dos conteúdos programáticos passíveis de serem aprendidos em

recinto desportivo ou noutro contexto de sala de aula. Nesta profissão os

desafios surgem, cabendo ao professor entregar-se com paixão e de

forma permanente…

4.6.2. A experiência

Uma vez assumida a responsabilidade de fornecer um apoio mais

focalizado e direcionado às necessidades do aluno, questionei-me acerca das

possíveis formas de operacionalizar a minha intervenção. Inicialmente fiquei na

dúvida se seria mais vantajoso reunir com o aluno num horário específico, ou

se seria conveniente optar por um acompanhamento informal estabelecido

após as aulas de EF e nos intervalos das aulas. Receei que a primeira opção

fosse mal aceite pelo aluno, pelo facto de ter mais uma responsabilidade e

menos “tempo livre”. Outra das dúvidas surgiu na forma como comunicar-lhe

que passaria a verificar os seus cadernos semanalmente. Desta forma,

estabeleci contacto com uma psicóloga amiga, que de imediato me sugeriu que

me aproximasse dele através de algo que fosse do seu agrado e que lhe

indicasse após algumas conversas, que gostaria de acompanhar o seu estudo

e verificar os seus cadernos. Uma vez adquiridos estes conselhos, combinei

com o aluno um jogo Ténis de Mesa e no final, dialoguei com ele acerca do seu

comportamento, dos resultados das avaliações, dos amigos da escola, das

suas perspetivas para o futuro, entre outros temas. Indiquei-lhe que era

importante manter os cadernos diários atualizados e optar por estudar as

matérias diariamente. O aluno desde logo se prontificou a fazê-lo, parecendo

satisfeito pela preocupação demonstrada. Perante esta reação optei por

indicar-lhe que gostaria de verificar os seus cadernos semanalmente após as

Page 123: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

105

aulas de EF. O aluno aceitou o sugerido e esses momentos contribuíram para

lhe indicar algumas estratégias de estudo e de manutenção da organização

dos cadernos diários.

Para além desta intervenção, mantive frequentemente conversas com o

aluno nos intervalos das aulas, acerca das melhorias do seu comportamento,

dos resultados das avaliações, procurando promover um clima

descontraído, informal, de amizade e de afeto, mas simultaneamente de

compromisso, responsabilidade e dever.

4.6.3. Os resultados

Ao longo da minha intervenção foi gratificante verificar que os esforços

realizados foram contribuindo para a mudança de hábitos e de

comportamentos do aluno, o que se refletiu na melhoria das notas finais de 4

disciplinas. Na generalidade das “reuniões” realizadas, apresentou os

cadernos organizados e atualizados e, quando tal não ocorria, encontrava-me

perante uma oportunidade de reforçar a importância do trabalho, da dedicação

e do estudo diário e contínuo. Foi ainda possível obter resultados positivos

ao nível comportamental (confirmadas pela DT), sendo diminuída a

ocorrência de comportamentos disruptivos, mas apenas em

determinados momentos. Para estes resultados, considero terem contribuído

as conversas informais com o aluno, na tentativa de sensibilizá-lo acerca da

importância de assumir comportamentos apropriados e de que “é trabalhando

diariamente que se constrói o futuro… permitindo-nos chegar mais longe”.

No entanto, considero que as melhorias evidenciadas não se deveram

apenas à minha ação, mas sim à intervenção conjunta de uma equipa

multidisciplinar que reuniu esforços e mobilizou estratégias no sentido de

conduzir este aluno “a bom porto”. Destaco a aplicação de um “contrato” de

comportamento implementado pelo seu responsável da instituição de

acolhimento. Neste, o aluno tinha que obter aprovação semanal no

comportamento às diversas disciplinas para que pudesse participar em

determinadas atividades realizadas na instituição.

Page 124: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

106

Finda esta experiência, concluo que o facto de eu ser para o aluno

alguém com importância na sua vida, terá contribuído para a obtenção de

resultados positivos na minha atuação de encaminhamento do aluno, o que me

leva a crer que o poderei ter marcado com um pouco de mim, moldando-o e

enriquecendo-o. Neste momento, espero que os seus efeitos perdurem e que

sejam incrementados por todos os profissionais que o rodearão, dando cada

um pouco de si, contribuindo para o alcance de um equilíbrio, ainda que por

vezes se revele instável, dadas as adversidades com que o aluno se poderá

deparar.

4.7. Participação na escola

4.7.1 Atividades desenvolvidas

A organização de eventos desportivos destinados à participação da

globalidade dos docentes da escola constitui uma das obrigações do estudante

estagiário, a qual contribui para incrementar a pluralidade de desafios,

dificuldades e de aprendizagens. Desta forma, ao longo do ano letivo, foram

dinamizados 3 eventos: o Corta-Mato Escolar, o V Meeting de Atletismo e o Dia

dos Desportos Alternativos, sendo que o último foi sugerido pelo NE, tendo sido

aprovado pelo grupo de EF e incluído no Plano Anual de Atividades. Na

concepção destas atividades foi contemplado o trabalho conjunto entre os

elementos do NE que contaram com o apoio da PC. De atividade em atividade

as responsabilidades e a complexidade organizacional foram incrementadas,

tendo sido necessária, na última, uma total autonomia, esforço e dedicação

para que o sucesso fosse atingido, isto é, para que o NE proporcionasse aos

participantes uma verdadeira e inovadora experiencia desportiva, deixando a

sua “marca” na escola.

Com a vivência dos três referidos eventos, vi ampliados os meus

conhecimentos, dada a diversidade de funções e tarefas que desempenhei,

sendo notório o desenvolvimento de forma progressiva, das minhas

Page 125: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

107

capacidades de autonomia, de cooperação, de solucionar imprevistos, de

liderança e de gerir recursos humanos e materiais. Verifiquei que todas estas

capacidades, bem como a atenção a pormenores, contribuem para o sucesso

deste tipo de atividades, pois os pormenores fazem a diferença. Considero que

cada um dos eventos me acrescentou algo de novo, fornecendo-me bases

sólidas para a organização de atividades com características semelhantes,

quer estas se realizem ou não em contexto escolar.

Desta forma pretendo destacar a minha intervenção nas diferentes

atividades, as dificuldades por mim sentidas e os resultados das decisões

tomadas, não deixando de referenciar algumas sugestões, tendo em vista

melhorias na realização de atividades futuras.

4.7.1.1. Corta-mato Escolar

O Corta-mato representou a primeira experiência fora do contexto de aula

em que o NE colaborou, numa fase em que tudo ainda era novidade. A sua

organização ficou a cargo do coletivo de professores do grupo de EF, que

apresentam já uma elevada experiencia na sua realização, dada a elevada

tradição desta prova na escola.

A realização do Corta-Mato na Escola Secundária de Carvalhos tem a

particularidade de o percurso se poder estender ao Lar Juvenil dos Carvalhos,

chegando mesmo os atletas dos escalões mais avançados a realizar a prova

no bosque desta instituição. Na minha perspetiva, o facto de os alunos

realizarem a prova em locais diferentes dos habituais, revela-se como fator

promotor da motivação e entusiasmo, contribuindo ainda para aumentar a

autenticidade da atividade.

Na sua preparação o NE ficou responsável pela divulgação da prova e

pela realização de contactos a fim de garantir alguns patrocínios (prémios,

alimentos, etc.), bem como assegurar a presença dos bombeiros caso o

inesperado ocorresse. No desempenho destas tarefas as dificuldades por mim

sentidas situaram-se ao nível da comunicação com as entidades

Page 126: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

108

patrocinadoras. Não foi a intervenção e elaboração do diálogo a utilizar junto

destas que se tornaram difíceis. As dificuldades residiram em estabelecer o

contacto propriamente dito e em obter respostas. No entanto, chegado o dia, os

objetivos foram cumpridos apesar da reduzida variedade de alimentos obtidos,

que foi justificada pela crise económica que o país atravessa e pela rutura de

stocks destinados a patrocínios, tal como fora argumentado por alguns

responsáveis das empresas.

Na véspera da prova foi fundamental realizar a marcação do percurso,

para evitar atrasos no seu início, causados por possíveis imprevistos. Chegado

o dia, foi possível verificar que toda a atividade decorreu de forma harmoniosa,

vivenciando-se um verdadeiro evento competitivo nos diversos escalões. O

reduzido tempo dispendido verificado na transição entre as provas dos diversos

escalões, foi o reflexo de uma correta organização e empenho por parte de

todos aqueles que se esforçaram para a realização da atividade. Considero

que um dos fatores que mais contribuiu para o seu sucesso, paralelamente

com o trabalho cooperativo, foi o facto de a maioria dos professores envolvidos

na gestão e organização do evento desportivo já o terem realizado em anos

anteriores, mantendo as suas funções e responsabilidades de ano para ano.

Desta forma, cada organizador já sabia antecipadamente quais as suas

funções e responsabilidades, podendo este optar de forma independente pelo

melhor plano de concretização.

Foi notório que se tratou de uma experiência bastante positiva e

construtiva, pois estimulou o meu estado de alerta para determinados

procedimentos a ter em consideração na organização das atividades que

futuramente ficariam sobre a responsabilidade do NE. No entanto, julgo que

poderia ter aprendido ainda mais se durante a realização da prova pudesse

presenciar o desempenho de outras funções, nomeadamente, o funcionamento

do “funil” de chegada e a chamada dos participantes. Contudo, sei que tal não

foi possível, dada a necessidade de controlar um ponto de passagem dos

participantes e de organizar os juízes (alunos voluntários) que auxiliaram no

controlo de outros pontos.

Page 127: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

109

4.7.1.2. V Meeting de Atletismo

O V Meeting de Atletismo consistiu no segundo evento em que o NE deu

o seu contributo, tendo como principais objetivos: proporcionar aos alunos do

3º Ciclo a vivência de uma prova de atletismo que envolvesse várias

especialidades da modalidade (corrida de velocidade, corrida de estafetas,

corrida de resistência, salto em altura e salto em comprimento); desenvolver o

espírito de equipa e de autossuperação (pontuação individual com interferência

na pontuação da equipa) e estimular a prática desportiva regular e a criação de

hábitos de vida saudáveis.

O NE ficou encarregue da organização deste evento, que contou com o

apoio da PC. No início da sua elaboração senti algumas dificuldades, dada a

complexidade da estrutura da atividade, prevalecendo a incapacidade de

imaginação do desenrolar da prova, que só foi ultrapassada próximo do dia da

sua realização. Outra das dificuldades sentidas residiu na estruturação das

séries competitivas e dos critérios de apuramento para as finais. Trata-se de

procedimentos em que nada pode falhar, caso contrário pode resultar no

insucesso das provas. No entanto, julgo que esta dificuldade ocorreu de forma

mais vincada pelo facto de existirem poucas inscrições e por desconhecermos,

em definitivo, o número de equipas que participariam e pelo facto de termos

esperança que o seu número viesse a aumentar. Apesar de ter sido imposta

uma data limite para a entrega das inscrições, o seu reduzido número levou-

nos a ampliar ligeiramente esse prazo. Na minha perspetiva foi útil termos

optado por esta alteração, ampliando significativamente o número de

participantes, uma vez que não interferiu com a organização, no entanto,

considero importante ponderar de forma consciente, se este alargamento dos

limites para entrega de inscrições, poderá condicionar ou não a organização da

prova.

De acordo com o que consegui observar do desenrolar das diferentes

provas, considero que alguns aspetos poderiam ser melhorados,

essencialmente na prova de Resistência. A existência de um maior número de

cronómetros, por exemplo, teria facilitado o registo de resultados, bem como

Page 128: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

110

contribuiria para aumentar o seu rigor. Para além do referido, teria ainda sido

útil reunir com os juízes antes das provas, de forma a clarificar as suas

funções, uma vez que alguns demonstraram dúvidas e insegurança no seu

desempenho. Caso estas duvidas não fossem esclarecidas a tempo poderiam

por em causa a correta aferição de resultados.

Após estas considerações posso concluir que este tipo de atividades são

um momento ótimo para a experimentação e aquisição de conhecimentos, pois

também se verificou por parte dos professores a incidência em aspetos

regulamentares e técnicos. Ainda no que se refere à gestão dos recursos

humanos disponíveis, considero que no final da acreditação foi bastante útil

recorrer a um professor disponível para se dirigir aos responsáveis de cada

prova, a fim de alterar os quadros competitivos de acordo com as trocas

efetuadas nas equipas, devido à falta de comparência de alguns alunos. Este

procedimento libertou-nos para desempenhar outras tarefas que permitiram

acelerar o início das provas. Foi ainda com total satisfação e com certa

surpresa que verifiquei a criação espontânea de um ambiente festivo,

condimentado com o apoio efusivo e empolgante dos espectadores e das

equipas aos atletas nas finais de algumas das provas, o que demonstra que

esta obteve, realmente, o impacto desejado.

A participação nesta experiência revelou-se de extrema importância pois

possibilitou-me a aquisição de conhecimentos acerca da elaboração e

organização do quadro/calendário competitivo, da estruturação do regulamento

das provas e dos critérios de classificação. Permitiu-me ainda melhorar a

minha capacidade de gestão de recursos humanos disponíveis a cada

momento (restantes professores, funcionários e juízes) a fim de “limar algumas

arestas” e dar resposta a acontecimentos inesperados, na busca do apropriado

funcionamento do evento.

Page 129: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

111

4.7.1.3. Dia dos Desportos Alternativos

A atividade intitulada de “Dia dos Desportos Alternativos” teve como

objetivos proporcionar, prioritariamente, aos alunos do 12º ano de escolaridade

a experimentação de desportos ainda com pouca visibilidade no nosso país,

mas que começam a fazer parte das opções dos profissionais de EF para

abordagem em contexto escolar, assim como, promover junto dos alunos, a

prática desportiva e a obtenção de estilos de vida saudáveis.

À partida, senti a responsabilidade de proporcionar algo à escola que me

acolheu de forma integradora nos primeiros “passos dados” no exercício da

profissão docente e a todos aqueles que me respeitaram e acarinharam,

fazendo-me sentir Professor. Nesta atividade, este sentimento foi mais

evidente, dado o protagonismo forçosamente assumido pelo NE na

consecução dos objetivos traçados.

Na organização e dinamização deste projeto contamos com o apoio de 4

alunos do 12º ano de escolaridade, que desenvolviam o mesmo tema no

âmbito da disciplina de Área de Projeto. Estes tiveram um papel fundamental

na aquisição de materiais, no estabelecimento de contactos com

patrocinadores, assim como na elaboração de convites a especialistas em duas

das modalidades incluídas neste projeto. Estiveram ainda presentes dois

convidados, “especialistas” em dois dos desportos contemplados, bem como

uma equipa do Desporto Escolar (DE) de uma outra escola. As suas

participações ativas e os materiais de que se muniram facilitaram assim na

gestão de recursos humanos e materiais.

Os desportos experimentados pelos alunos foram o Fresbee,

Speedminton, Unyhockey, Touchkball e o Kin-ball tendo cada equipa a

possibilidade de os vivenciar por um período de aproximadamente 40 minutos.

O facto de estarem diretamente envolvidas 7 pessoas em toda a

organização, possibilitou o aumento da capacidade de previsão da ocorrência

de imprevistos de forma mais eficaz, fornecendo cada um o seu contributo.

Já próximo do dia do evento hesitamos entre a preparação e colocação

dos materiais necessários na véspera da sua realização ou no próprio dia, no

Page 130: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

112

entanto, de imediato percebemos que realizamos a melhor opção, pois o

desempenho destas tarefas levaram a um dispêndio temporal superior ao

previsto. Se não o tivéssemos feito, certamente, atrasaríamos o seu começo.

No decurso desta atividade assumi predominantemente funções de

coordenação, o que me permitiu vivenciar de perto as necessidades que

ocorriam nos diferentes recintos. Considero que no momento consegui

corresponder às solicitações e problemas que ocorriam, como por exemplo, a

limitação de espaços para evitar que os alunos que se encontravam no

intervalo das aulas interferissem com a realização das atividades e a colocação

de um pano para evitar a dispersão das bolas de Mini-Golf (atividade de

experimentação para os alunos que aguardavam a sua vez). Contudo, após

conclusão do evento, considero que poderiam ter sido realizadas algumas

melhorias, como por exemplo, a inclusão de locais para depósito das garrafas

de água distribuídas, uma vez que, a dada altura, estas se encontravam

espalhadas pelos diversos locais em que decorria a experimentação prática.

Poderíamos ter ainda optado pela colocação de cartazes na porta central do

pavilhão, que indicassem que o acesso ao pavilhão por essa porta estava

proibido a alunos que não estivessem a participar na atividade, devendo assim

dirigir-se para a bancada. Este procedimento evitava a aglomeração de alunos

no corredor de acesso ao pavilhão, pois, em determinados momentos este

encontrava-se demasiado povoado, dificultando as transições dos alunos

envolvidos na atividade.

Em tom de conclusão, considero ter-se tratado de uma atividade que

decorreu de forma bastante positiva, sendo notórios os resultados de um bom

trabalho de equipa, tornando-se claro que a união de esforços se revela como

uma ferramenta de extrema utilidade. Comparando as dificuldades vivenciadas

com as do evento organizado anteriormente, considero que ocorreram

evoluções, essencialmente ao nível da capacidade de lidar com a pressão e da

capacidade de previsão dos acontecimentos, sendo possível “ver toda a

atividade a funcionar antes da sua realização”.

Ao longo de todo o evento os participantes mantiveram-se envolvidos e

motivados na prática dos diferentes desportos, o que considero se ter devido à

Page 131: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

113

invulgaridade que os caracteriza e à consequente curiosidade suscitada. Foi

ainda evidente a aquisição de algumas aprendizagens acerca dos referidos

desportos, potenciada pelas explicações regulamentares das modalidades, que

ocorram anteriormente a cada experiencia prática, sendo facilmente colocadas

em prática. Pondero ainda que a realização deste Dia contribuiu para alargar o

leque de possibilidades que os alunos dispõem para a realização de exercício

físico, uma vez que algumas das modalidades podem ser facilmente praticadas

ao ar livre e sem implicar elevados investimentos.

Este projeto espelhou ainda a importância e utilidade do diálogo e

cooperação entre profissionais da mesma área (os convidados), sendo possível

enriquecer e aprimorar ainda mais a atividade e a oferta educativa. De

semelhante importância, destaco os conhecimentos que obtive acerca dos

desportos praticados, que sendo retocados com algum estudo e formação

adicional, poderei vir a selecionar como matérias a lecionar em anos futuros,

uma vez que os alunos se mostraram entusiasmados e envolvidos na sua

realização. Os resultados não poderiam se mais animadores…

4.7.2. Desporto Escolar

4.7.2.1 Participação na atividade interna e externa

O DP… “Trata-se de um direito que todos os alunos têm à prática de

actividade física e desporto, como forma de complementar a sua formação

integral como cidadãos”

(Ministério da Educação, 2009, pp. 8-9)

O DE apresenta já uma elevada cultura no nosso país, revelando-se

como um instrumento da promoção da prática desportiva.

A entidade responsável pelo DE é o Gabinete Coordenador do DE que

integra a Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular. Segundo o

Programa do DE (Ministério da Educação, 2009, p. 4) a sua dinamização tem

Page 132: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

114

como principal missão “contribuir para o combate ao insucesso e abandono

escolar e promover a inclusão, a aquisição de hábitos de vida saudável e a

formação integral dos jovens em idade escolar, através da prática de

actividades físicas e desportivas”, bem como “proporcionar a todos os alunos

acesso à prática de actividade física e desportiva como contributo essencial

para a formação integral dos jovens e para o desenvolvimento desportivo

Nacional”.

"A escola constitui não apenas a única instituição social onde todas as

crianças e jovens se juntam, mas também o único local onde podem e devem

ser oferecidas experiências e competências em todas as parcelas da paisagem

desportiva." (Bento, 1991, p. 190). Desta forma, e na minha perspetiva, o DE

assume, tal como a disciplina de EF, um papel fundamental no acréscimo de

oportunidades de acesso ao desporto orientado, podendo assumir-se como um

verdadeiro impulsionador da opção por estilos de vida saudáveis. Este poderá

conduzir os alunos à participação desportiva em clubes ou associações,

contrariando a tendente inatividade que se verifica nas crianças e jovens de

hoje. Este apresenta-se ainda como uma fonte promotora da cultura desportiva

(regras e rituais), como um catalisador da aprendizagem das habilidades

motoras e como um potenciador de sensações, emoções e de novas

experiências.

O DE, enquanto actividade extracurricular, apresenta já uma tradição

considerável na escola onde realizei o EP, encontrando-se dividido em duas

atividades: a interna e a externa. No que se refere à atividade interna, definida

pelo (Ministério da Educação, 2009, p. 15) como um “conjunto de actividades

físico-desportivas enquadradas no Plano Anual de Escola, desenvolvidas pelo

grupo/departamento de Educação Física, sob a responsabilidade do

coordenador do Desporto Escolar e implementadas pelo Clube de Desporto

Escolar”, existe na escola um projeto intitulado de “Escola em Movimento” que

decorre todas as quartas-feiras à tarde. Este consiste na realização de torneios

nos quais podem participar alunos dos dois ciclos de ensino vigentes na

escola, o 3º Ciclo do Ensino Básico e o Ensino Secundário. As modalidades

são escolhidas pelos responsáveis, sendo normalmente dedicado a cada uma

Page 133: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

115

um período letivo completo. Caso estes sejam de longa duração, poderão ser

realizados torneios de duas modalidades. Foi possível verificar que os alunos

se interessam por este tipo de atividades, mantendo-se motivados e

entusiasmados. A comprovar estas ilações, destaco o elevado número de

equipas inscritas nos torneios, bem como o envolvimento dos alunos da turma

que lecionei. Estes comunicavam-me sempre, após competição, quais os

resultados obtidos, bem como relatavam alguns momentos dos jogos, o que

revela que estas atividades são significativas para eles.

A Atividade Externa cuja “estrutura organizativa consiste nos

grupos/equipa, destinados a organizar a participação do estabelecimento de

ensino em quadros competitivos externos” (Ministério da Educação, 2009, p.

16) é distinta da anteriormente referida, uma vez que funcionam por escalões

etários. Na Escola Secundária de Carvalhos existe o grupo de Futsal Masculino

e de Voleibol Feminino, ambos do escalão de Juniores. Para estes grupos

existiram dois treinos semanais que ocorreram depois do horário letivo,

estando desta forma ao alcance de todos os alunos interessados.

A minha experiência nesta atividade ocorreu com o grupo de Futsal que

contava com a presença de 22 alunos. Em situação de treino foi visível um

elevado empenho e dedicação dos alunos, predominando um ambiente

amigável e cooperativo entre todos eles, sendo reflexo disso, a integração de

um aluno com extremas limitações visuais.

Tem ainda sido hábito que os alunos da escola marquem presença anual

nas competições regionais de Basquetebol 3x3 – “Compal Air” e de Corta-

Mato, sendo esta última de presença obrigatória. A minha participação nesta

componente extracurricular centrou-se ainda no acompanhamento e direção da

equipa de juniores no encontro regional de Basquetebol referido anteriormente.

No entanto, senti algumas dificuldades em interagir com os alunos pelo facto

de ser a primeira vez que comunicava com eles e por não ter conhecimento

das suas capacidades, acabando por incidir em aspetos tácticos mais simples

(passe e corte, ocupação racional do espaço, etc.).

No decurso deste evento foi evidente a interação entre os alunos das

diferentes escolas, sendo a socialização facilitada e os momentos de

Page 134: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

116

realização prática possibilitaram a aquisição e aplicação de conhecimentos.

Outro dos aspetos que considero relevante é a vivência competitiva, onde

estão presentes determinados rituais que se relacionam com o Fair-play e com

a filiação.

Em tom de conclusão, considero importante enaltecer a motivação e

dedicação dos alunos que participam no DE, pois envolvem-se numa atividade

que não possui caráter obrigatório, o que comprova o seu gosto pela prática

desportiva. O ideal seria que em todas as escolas o DE contemplasse um vasto

leque de modalidades, de forma a satisfazer os gostos e necessidades de um

maior número de alunos, aumentando os níveis de participação em atividades

desportivas e o contributo para a formação de mais e melhores cidadãos.

Para finalizar, considero ter-se tratado de uma experiência extremamente

positiva, dado que me possibilitou compreender o funcionamento e a

organização do DE e o conhecimento de possíveis formas de dinamização

desta atividade dentro e fora da instituição escolar.

4.8. Relação com a comunidade

4.8.1. Dia dos Padrinhos e Afilhados

Com o intuito de celebrar o Dia dos Padrinhos e Afilhados foi

proporcionando aos alunos do 7º ano de escolaridade, aos respetivos EE e aos

seus padrinhos (alunos do 12º ano de escolaridade) um convívio cujos

objetivos consistiram em promover a integração dos alunos de 7º ano de

escolaridade na comunidade escolar, de promover a responsabilização dos

padrinhos para acompanharem e apoiarem os seus afilhados e de criar um

ambiente saudável a fim de serem precavidos os casos de Bullying que

representam um drama para muitas crianças e jovens em idade escolar.

De forma a proporcionar um maior relacionamento e envolvimento entre

os protagonistas desta celebração, foi organizado pela Equipa de Saúde, pela

PC e NE, um conjunto de jogos tradicionais para serem vivenciados pelos

padrinhos e afilhados. Analisando a pertinência desta atividade, considero que

Page 135: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

117

a sua realização foi ajustada às necessidades da escola, uma vez que no início

do ano se verificou a existência de casos de Bullying, tendo como vítimas

alguns alunos do 7º ano de escolaridade. Nesta atividade considero ter sido

preponderante a ligação afetiva estabelecida entre os protagonistas, pois

contribuiu para aumentar o sentido de responsabilidade e de proteção dos mais

velhos sobre os mais novos. Considero que a mesma permitiu a diminuição da

ocorrência de casos de Bullying, na medida em que os relatos acerca destes

foram diminutos desde a sua realização.

A ligação afetiva estabelecida entre padrinhos e afilhados facilitou a

integração escolar dos alunos mais novos e solicitou-lhes um apoio em caso de

serem confrontados com esta dura realidade. Este suporte poderá ter

funcionado como um meio facilitador para os orientar no melhor caminho,

expondo os casos aos órgãos soberanos responsáveis, a fim de serem

resolvidos.

Na minha perspetiva este tipo de parcerias estabelecidas entre grupos

existentes na escola são uma mais-valia para a comunidade escolar e

contribuem para a construção da cultura escolar, refletindo uma instituição

interventiva, dinâmica e ao dispor das necessidades dos seus alunos,

procurando alargar as suas intenções à sociedade.

Aliar a integração social e a saúde ao desporto é sempre uma excelente

alternativa, dado que estão inteiramente relacionados. Neste caso, a

informalidade e as relações que se estabelecem na participação em jogos

tradicionais contribui para incrementar o envolvimento, a diversão, o diálogo, a

cooperação e o respeito, sendo ingredientes que podem facilmente

proporcionar a aproximação entre os alunos.

Para além do referido, considero bastante útil o enriquecimento cultural

que proporcionou, uma vez que estes jogos permitem demonstrar a nossa

cultura, que tende cada vez mais a cair no esquecimento. A prova deste

desconhecimento foi demonstrada pela atitude expectante evidenciada pelos

alunos no primeiro contacto com os materiais utilizados em alguns dos jogos.

Contudo, após integradas as atividades, diria mesmo que os resultados foram

surpreendentes. A atitude e empenho dos alunos aliados às expressões faciais

Page 136: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

118

de alegria e satisfação, bem como as gargalhadas libertadas, rapidamente

preencheram o ginásio. A adesão foi imensa, verificando-se o interesse de

participação mesmo naqueles a que a atividade não era destinada.

Nesta experiência foi ainda possível verificar que os jogos tradicionais

possuem várias particularidades que compactuam com a possibilidade de

serem realizados com pessoas de todas as idades e de serem de fácil

dinamização e organização. Possuem regras simples e que material necessário

poderá ser reciclado (latas, bolas), facilmente obtido em qualquer local e por

qualquer pessoa, (cordas, cadeiras, lenço, sacos, paus de vassoura) ou até

adquirido a baixo custo (peões e berlindes).

Acredito que o objetivo principal deste evento foi cumprido e ainda

contribui para alargar o conhecimento cultural dos participantes, estando o

movimento sempre presente de forma lúdica, exploratória e divertida. De

lamentar, destaco apenas a reduzida comparência dos EE. Considero que a

escola, deve manter-se de “portas abertas”, mostrando-se recetiva à sua

presença nas atividades desenvolvidas, evidenciando o trabalho desenvolvido

em prol dos seus educandos.

Para finalizar, destaco que este evento me possibilitou a aquisição de

conhecimentos e a vivência acerca de outras formas de organização. Permitiu-

me ainda verificar a utilidade das relações cooperativas entre os grupos

existentes na escola, ficando claro que o facto de cada um dar o contributo na

sua área, contribuiu para o sucesso da atividade.

4.9. Participação em ação de formação

4.9.1. Ação de formação de Nestum Rugby - TAG Rugby

Os elementos do grupo de EF da escola onde realizei o EP têm vindo, ao

longo dos anos, a participar em ações de formação, demonstrando interesse

nos mais variados desportos, sendo completamente recetivos a este tipo de

atividades, que conduzem ao seu enriquecimento pessoal e profissional, dando

desta forma continuidade à sua formação.

Page 137: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

119

Após surgir a possibilidade de os acompanhar na realização da ação de

formação de TAG Rugby (desporto alternativo) e reconhecendo a importância

da participação ativa neste tipo de atividades, de imediato aceitei o convite.

Quando me foi dada esta oportunidade considerei que estava perante o

momento oportuno para ampliar os meus conhecimentos, visto tratar-se de

uma modalidade que me era totalmente desconhecida.

Com a participação nesta formação, para além de adquirir conhecimentos

acerca do TAG Rugby, obtive ainda conhecimentos acerca de outros desportos

dos quais este deriva, o Rugby e o Bitoque Rugby. No seu decurso, foram-nos

fornecidos conteúdos teóricos, bem como nos foi facultada a experimentação

prática, acompanhada de orientações didático-metodológicas.

Finda esta participação e após reflexão, considero que, utilizando as

bases que me foram fornecidas e conjugando-as com algum estudo adicional,

estarei apto a lecionar esta modalidade em contexto escolar. Permitiu-me

assim, aumentar o meu reportório de conhecimentos de forma a poder

diversificar a minha atuação. Desta feita, considero ser explícita a importância

de participar neste tipo de “eventos” que possibilitam ir além da formação

inicial, seguindo o enriquecedor caminho da Formação Contínua.

Em tom de conclusão, destaco que este envolvimento reflete, em parte, o

que é Ser Professor, porque para se Ser é necessário envolvimento e entrega

à profissão, paixão, dedicação e insatisfação, tornando-se fundamental

acreditar que mais e melhor é sempre possível.

Page 138: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

120

Page 139: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

121

5. Conclusões e perspetivas futuras

Chegado o momento de finalizar este documento, resta-me tecer algumas

considerações acerca desta vasta experiência levada a cabo no contexto de

atuação da profissão docente.

A imersão na realidade escolar proporcionou-me um incremento

pronunciado de vivências que contribuíram para o meu desenvolvimento

pessoal e profissional. Os conhecimentos teórico-práticos adquiridos nos anos

precedentes a esta etapa revelaram-se importantes na concretização do

processo ensino-aprendizagem, contudo, a sua adaptação à turma, às

necessidades práticas, a uma realidade concreta foram determinantes. Aprendi

que a atitude reflexiva permanente é um ponto chave da atuação do professor.

Graças a ela foi possível provocar alterações favoráveis na eficácia da minha

intervenção, essencialmente na adaptação dos saberes teóricos ao contexto da

prática. Permitiu-me identificar potencialidades e, acima de tudo, dar grandes

passos para ultrapassar as dificuldades e eliminar os erros que foram surgindo.

Encarei cada “falha”, cada erro, como algo a não repetir, mas também os

encarei como fases do meu processo de aprendizagem, ou seja, aprendi com

os mesmos.

Analisando todo este trajeto, considero que existiram momentos

preponderantes, que serviram como ferramenta orientadora e propulsora de

decisões tomadas na procura do sucesso.

Em primeiro lugar, destaco o momento em que compreendi realmente que

quanto mais “dava” aos meus alunos, mais “recebia” em troca. O incremento

motivacional através de novas experiências que lhes proporcionei, e o

relacionamento afável com eles estabelecido tornavam-me cada vez mais

professor e amigo dos meus alunos, sentia-me cada vez mais respeitado e

desafiado e, tal como eles, mais motivado. Considero que lhes proporcionei um

vasto leque de experiências e sentimentos positivos, e que desta forma

contribui para incrementar, na maioria, o gosto pela prática desportiva, o que

certamente os atrairá para a seleção de estilos de vida ativos, enveredando

pela prática desportiva.

Page 140: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

122

Em segundo lugar, destaco o momento em que aferi a extrema

importância das regras e rotinas para o domínio do grupo, o que proporcionou

o melhor controlo de algumas variáveis da aula, que se revelaram, de forma

duradoira, facilitadoras da minha intervenção no espaço de aula.

Ao imergir na realidade escolar passei a compreender melhor a

abrangência desta profissão, através das diversas experiências vividas nas

quatro áreas de intervenção. Importa dizer que, só com sensibilidade, entrega e

paixão podemos contribuir para o bem daqueles com quem interagimos e para

quem trabalhamos dia a dia, não apenas no espaço de aula mas sim, por toda

a escola.

O EP proporcionou-me uma multiplicidade de vivências enriquecedoras,

no entanto, considero ter-se tratado “apenas” de uma experiência, na qual

integrei um contexto singular (escola), acompanhando apenas uma turma, que

integrou alunos com determinadas características e necessidades. Estou

consciente que cada aluno, turma, ano e nível de ensino, apresentam

particularidades e exigências distintas para o professor. No sentido de melhor

lidar com estas diferenças e desenvolver um ensino mais personalizado e

eficaz, pondero que é fundamental privilegiar a investigação/reflexão/ação para

alcançar os objetivos definidos e para nos tornarmos bons profissionais.

É ainda com total agrado que evidencio que o EP deixou marcas na

pessoa que sou. Neste momento, sinto-me inteiramente capaz de assumir as

responsabilidades desta profissão, pois os meus níveis de confiança, de

autonomia, de capacidade de trabalho e de gerir a pressão foram realmente

trabalhados e desenvolvidos.

Terminado este percurso, surge o sentimento de dever cumprido e de

plena realização. Resta-me agora seguir o infinito caminho da Formação

Contínua e procurar a partilha e a cooperação com colegas de profissão,

sempre que tal for possível. Estou consciente de que com uma atitude de

descontentamento perante os conhecimentos e capacidades adquiridas a

evolução será possível rumo à excelência.

Page 141: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

123

O EP foi para mim a etapa mais marcante da minha formação, que

contribuiu para o início da construção da minha identidade profissional, a qual

pretendo reforçar e desenvolver cada vez mais e o mais brevemente possível.

Quanto ao futuro, tenho consciência de que o meu ingresso no mercado

de trabalho não será tarefa fácil, contudo, vou reunir esforços, mantendo-me

atento e atualizado em relação às mudanças no ensino, continuando motivado

para continuar a lutar por aquela que, daqui para a frente, quero que seja a

minha profissão.

Page 142: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

124

Page 143: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

125

6. Referências Bibliográficas

Alarcão, I. (1996a). Reflexão crítica sobre o pensamento de D. Shon e os

programas de formação de professores. In I. Alarcão (Ed.), Formação

reflexiva de professores : Estratégias de supervisão (pp. 9-39). Porto:

Porto Editora.

Alarcão, I. (1996b). Ser professor reflexivo. In I. Alarcão (Ed.), Formação

reflexiva de professores : Estratégias de supervisão (pp. 171-189).

Porto: Porto Editora.

Alarcão, I. (2001). A escola reflexiva. In I. Alarcão (Ed.), Escola reflexiva e nova

racionalidade (pp. 15-30). Porto Alegre: Artmed Editora.

Assembleia da República. (2002). Decreto-Lei nº 30/2002 de 20 de Dezembro

de 2002. Diário da República, 1ª Série-A, 7942.

Bardin, L. (2004). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.

Bento, J. O. (1991). Desporto na Escola, Desporto no Clube. Horizonte, VII(42),

183-190.

Bento, J. O. (1998). Desporto e humanismo: O campo do possível. Rio de

Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Bento, J. O. (2003). Planeamento e avaliação em educação física (3ª ed.).

Lisboa: Livros Horizonte.

Bento, J. O. (2004). Desporto : Discurso e substância. Porto: Campo das

Letras.

Brito, A. P. (1994). Psicologia do Desporto: Noções gerais. Horizonte, X(59),

173-178.

Cadima, A. (1997). A experiência de um círculo de estudos para uma

pedagogia diferenciada. In A. Cadima (Ed.), Diferenciaçao pedagógica

no ensino básico : Alguns itinerários (pp. 11-21). Lisboa: Instituto de

Inovaçao Educacional.

Caires, S. (2001). Vivências e percepções do estágio no Ensino Superior

Braga: Universidade do Minho.

Page 144: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

126

Caires, S., & Almeida, L. (2003). Vivências e percepções dos estágios

pedagógicos: Estudo com alunos de licenciaturas em ensino. Psico-

USF, 8(2), 145-153.

Carvalhal, M. I. M. (2008). O papel da actividade física no combate à

obesidade. In B. O. Pereira & G. S. Carvalho (Eds.), Actividade física,

saúde e lazer : Modelos de análise e intervenção (pp. 287-297). Lisboa:

LIDEL

Cavenaghi, A. R. A. (2009). Uma perspectiva autodeterminada da motivação

para aprender língua estrangeira no contexto escolar. Ciências &

Cognição, 14(2), 248-261.

Day, C. (1999). Desenvolvimento profissional de professores : Os desafios da

aprendizagem permanente. Porto: Porto Editora.

Delors, J., Mufti, I. a., Amagi, i., Carneiro, R., Chung, F., Geremek, B., et al.

(1996). Os quatro pilares da educação. In J. Delors (Ed.), Educação, um

tesouro a descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão

Internacional sobre Educação para o Século XXI (pp. 77-88). Porto:

Edições ASA.

Faria, C. P. D. (2010). Motivos para a prática desportiva, competência

percebida, valores atribuídos ao desporto e relação entre os hábitos

desportivos de pais e filhos : Estudo a realizar com alunos do 1º ciclo do

ensino básico de duas escolas do concelho de Matosinhos e respectivos

pais. Porto: Cristina Faria. Dissertação de Mestrado apresentada à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Ferreira, J. P. O. C. (2005). A importância da motivação nas aulas de Educação

Física : Estudo com alunos do 2ª ciclo do Ensino Básico. Covilhã: José

Ferreira. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade da Beira

Interior.

Fonseca, A. m. (1993). Motivação para a prática desportiva. Relatório

apresentado às provas de aptidão pedagógica e capacidade científica.

Porto: António Fonseca.

Page 145: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

127

Fonseca, A. M., & Brito, A. P. (2001). Propriedades psicométricas da versão

portuguesa do Intrinsic Motivation Inventory (IMIp) em contextos de

actividade física e desportiva. Análise Psicológica, 19(1), 59-76.

Gómez, A. (1992). O pensamento prático do professor : A formação do

professor como profissional reflexivo. In A. Nóvoa (Ed.), Os professores

e a sua formação (pp. 93-114). Lisboa: Dom Quixote.

Graça, A. (2008). Modelos e concepções de ensino do jogo. In F. Tavares, A.

Graça, J. Garganta & I. Mesquita (Eds.), Olhares e contextos da

performance nos jogos desportivos (pp. 25-41). Porto: Faculdade de

Desporto. Universidade do Porto.

Guimarães, S. É. R., & Boruchovitch, E. (2004). O estilo motivacional do

professor e a motivação intrínseca dos estudantes: Uma perspectiva da

teoria da autodeterminação. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17(2), 143-

150.

Gutiérrez, M., & Escartí, A. (2006). Influencia de padres y professores sobre las

orientaciones de meta de los adolescentes y su motivación intrínseca en

educacion física. Revista de Psicología del Deporte., XV(1), 23-35.

Hastie, P. (1998). Applied benefits of the sport education model JOPERD - The

Journal of Physical Education Recreation & Dance, 69(4), 24-26.

Herdeiro, R., & Silva, A. M. (2008). Práticas reflexivas: Uma estratégia de

desenvolvimento profissional dos docentes. ANAIS (Actas) do IV

Colóquio Luso-Brasileiro, VIII Colóquio sobre Questões Curriculares:

Currículo, Teorias, Métodos. Consult. 10 maio 2011, disponível em

http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/9819/1/Pr%C3%A1tic

as%20reflexivas.pdf

Lalanda, M. C., & Abrantes, M. M. (1996). O conceito de reflexão em J. Dewey.

In I. Alarcão (Ed.), Formação reflexiva de professores: Estratégias de

supervisão (pp. 41-61). Porto: Porto Editora.

Lieury, A., & Fenouillet, F. (1997). Motivação e sucesso escolar. Lisboa:

Editorial Presença.

Machado, M. M. R. (2010). Compreensão e interpretação da reflexão na

formação de professores : Estudo em professores da FADEUP. Porto:

Page 146: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

128

Manuela Machado. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade

de Desporto da Universidade do Porto.

Matos, Z. (2010a). Normas orientadoras do Estágio Profissional do ciclo de

estudos conducente ao grau de mestre em Ensino de Educação Física

nos Ensinos Básico e Secundário da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto. Documento não publicado. Faculdade de

Desporto, Universidade do Porto.

Matos, Z. (2010b). Regulamento da unidade curricular Estágio Profissional do

ciclo de estudos conducente ao grau de mestre em Ensino de Educação

Física nos Ensinos Básicos e Secundário da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto. Documento não publicado. Faculdade de

Desporto, Universidade do Porto.

Mesquita, I. (2006). Ensinar bem para aprender melhor o jogo de voleibol In G.

Tani, J. O. Bento & R. D. S. Petersen (Eds.), Pedagogia do desporto (pp.

327-344). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan

Mesquita, I. (2009). O ensino e treino da técnica nos jogos desportivos. In A.

Rosado & I. Mesquita (Eds.), Pedagogia do desporto (pp. 165-184).

Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.

Mesquita, I., & Graça, A. (2009). Modelos instrucionais no ensino do desporto.

In A. Rosado & I. Mesquita (Eds.), Pedagogia do desporto (pp. 39-68).

Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.

Metzler, M. W. (2000). Instructional models for physical education. Boston: Allyn

and Bacon.

Mialaret, G. (1981). A formação dos professores. Coimbra: Livraria Almedina.

Ministério da Educação. (2001). Programa de Educação Física. Consult. 20

junho 2011, disponível em http://www.dgidc.min-

edu.pt/ensinobasico/index.php?s=directorio&pid=54&ppid=3

Ministério da Educação. (2009). Programa do desporto escolar para 2009-

2013. Lisboa: Ministério da Educação. Direcção Geral de Inovação e de

Desenvolvimento Curricular. Gabinete Coordenador do Desporto

Escolar.

Page 147: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

129

Nóvoa, A. (1992). Formação de professores e profissão docente. In A. Nóvoa

(Ed.), Os professores e a sua formação (pp. 15-33). Lisboa: Dom

Quixote.

Nóvoa, A. (2009). Para una formación de profesores construida dentro de la

profesión. Revista de Educación(350), 203-218.

Nunes, M. (1995). Motivação para a Prática Desportiva. Horizonte, XII(67), 13-

17.

Oliveira, I., & Serrazina, L. (2002). A reflexão e o professor como investigador.

Universidade de Lisboa. Consult. 20 maio 2011, disponível em

www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/fp/textos%20_p/02-oliveira-serraz.doc

Pacheco, J. (1998). A avaliação da aprendizagem. In J. Tavares & L. S.

Almeida (Eds.), Conhecer, aprender, avaliar (pp. 111-132). Porto: Porto

Editora.

Paim, M. C. C., Loro, A. P., & Tonetto, G. (2008). A formação contínua dos

professores de educação física escolar [Versão electrónica].

EFDeportes. Consult. 9 maio 2011, disponível em

http://www.efdeportes.com/efd119/a-formacao-continua-dos-

professores-de-educacao-fisica-escolar.htm.

Patrício, M. F. (1993). Lições de axiologia educacional. Lisboa: Universidade

Aberta.

Perrenoud, P. (2001). A pedagogia na escola das diferenças : Fragmentos de

uma sociologia do fracasso. Porto Alegre: Artmed Editora.

Pieron, M. (1984). Pedagogie des activités physiques et sportives :

Méthodologie et didactique. Liège: Université de Liège. Institut Supérieur

d'Education Physique.

Proença, J. (2008). A Formação Inicial dos Profissionais de Educação Física. In

J. Proença (Ed.), Formação inicial de professores de educação física :

Testemunho e compromisso (pp. 115-121). Lisboa: Edições

Universitárias Lusófonas.

Ribeiro, E. J., Oliveira, C., Pereira, C., Felgosa, D., & Nunes, V. (2010). A

tutoria em contexto de ensino não superior: proposta de

Page 148: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

130

acompanhamento socioeducativo em equipa multidisciplinar. Revista

Millenium, 38, 161-171.

Roldão, M. C. (2007). Função docente : Natureza e construção do

conhecimento profissional. Revista Brasileira de Educação, 12(34), 94 -

103.

Rosado, A., & Mesquita, I. (2009). Melhorar a aprendizagem optimizando a

instrução. In A. Rosado & I. Mesquita (Eds.), Pedagogia do desporto (pp.

69-130). Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.

Savater, F. (2010). O valor de educar. In F. Savater, R. M. Castillo, N. Crato &

H. Damião (Eds.), O valor de educar, o valor de instruir (pp. 7-43).

Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Serra, M. C. A. S. (2001). O comportamento de instrução do professor nas

aulas de educação física durante a apresentação das tarefas e na

emissão de feedbacks : Estudo descritivo e comparativo abrangendo

doze professores da cidade de Maputo. Porto: Mabel Serra. Dissertação

de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e de

Educação Física da Universidade do Porto.

Siedentop, D. (1998). What is sport education and how does it work? JOPERD -

The Journal of Physical Education Recreation & Dance, 69(4), 18-20.

Siedentop, D., & Tannehill, D. (2000). Developing teaching skills in physical

education (4ª ed.). Mountain View, CA: Mayfield Publishing Company.

Silva, I. M. R. M. (1998). A instrução e a estruturação das tarefas no treino de

voleibol : Estudo experimental no escalão de iniciados feminino. Porto:

Isabel Silva. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de

Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade do Porto.

Toniolo, K. C. (2001). A motivação para a pratica regular do exercício físico

e/ou atividade desportiva em idosos na cidade do Recife. Porto: Karla

Toniolo. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências

do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto.

Valente, M. O. (1989). A Educação para os valores. In C. Mourão, E. L. Pires, I.

Abreu, J. J. Antunes, M. C. Clímaco, M. C. Roldão, M. J. Rau & M. O.

Page 149: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

131

Valente (Eds.), O Ensino Básico em Portugal (pp. 133-172). Porto:

Edições ASA.

Vickers, J. N. (1990). Instructional design for teaching physical activities a

knowledge structures approach. . Champaign, IL: Human Kinetics.

Zenhas, A. (2001). Professor tutor: Que funções e objetivos? . Educare.pt : O

Portal da Educação. Consult. 28 maio 2011, disponível em

http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=10376231

1B483A1FE0440003BA2C8E70&channelid=0&schemaid=&opsel=2

Page 150: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

132

Page 151: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XIX

7. Anexos

Anexo 1 - Roulement

ESCOLA S / 3 DE CARVALHOS .

EDUCAÇÃO FÍSICA

DISTRIBUIÇÃO DOS ESPAÇOS PEDAGÓGICOS - 2010 / 2011.

SEGUNDA

8.25 9.10 10.10 10.55 11.55 12.40 13.40 14.25 15.25 16.10 17.10 17.55

GIN. I. 11ºE 11ºE

GIN. II. 9ºD 9ºD 10ºA 10ºA 8ºE 8ºE 9ºC 9ºC 11ºI 11ºI

GIN. PEQ. 7ºF 7ºF 12ºF 12ºF 12ºG 12ºG 9ºA 9ºA 12ºI 12ºI

EXTERIOR 10ºC 10ºC 10ºD 10ºD 10ºE 10ºE 12ºD 12ºD

TERÇA

8.25 9.10 10.10 10.55 11.55 12.40 13.40 14.25 15.25 16.10 17.10 17.55

GIN. I. 7ºC 7ºC 7ºB 8ºC 11ºC 11ºC 11ºB 11ºB

GIN. II. 11ºA 11ºA 10º I 10ºI 11ºD 11ºD 12ºE 12ºE

GIN. PEQ. 7ºE 7ºE 11ºF 11ºF 8ºB 8ºD 12ºA 12ºA 12ºB 12ºB

EXTERIOR 12ºJ 12ºJ 10ºF 10ºF

QUARTA

8.25 9.10 10.10 10.55 11.55 12.40 13.40 14.25 15.25 16.10 17.10 17.55

GIN. I. CEF PPS CEF PPS 7ºA

GIN. II. 12ºH 12ºH 10ºB 10ºB 8ºE

Page 152: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XX

GIN. PEQ. 12ºC 12ºC 11ºG 11ºG 7ºD 9ºA

EXTERIOR 10ºD 10ºD 8ºA 9ºB

Quinta

8.25 9.10 10.10 10.55 11.55 12.40 13.40 14.25 15.25 16.10 17.10 17.55

GIN. I. 7ºB 7ºB CEF SM CEF SM 7ºC 11ºE 11ºE

GIN. II. 10ºA 10ºA 9ºD 9ºC 11ºA 11ºA 12ºE 12ºE

GIN. PEQ. 8ºD 8ºD 8ºB 8ºB 12ºB 12ºB 12ºA 12ºA

EXTERIOR 10ºE 10ºE 10ºC 10ºC 10ºF 10ºF 12ºD 12ºD

SEXTA

8.25 9.10 10.10 10.55 11.55 12.40 13.40 14.25 15.25 16.10 17.10 17.55

GIN. I. 7ºA 7ºA 10ºH 10ºH 8ºC 8ºC 11ºB 11ºB 11ºC 11ºC

GIN. II. 10ºG 10ºG 10ºJ 10ºJ 10ºB 10ºB 11ºD 11ºD 11ºH 11ºH

GIN. PEQ. 7ºD 7ºD 7ºE 7ºF 12ºC 12ºC

EXTERIOR 8ºA 8ºA 9ºB 9ºB

Ginásio Pequeno

Voleibol

Ginástica

Badminton

Ginásio

Gin. 1

Basquetebol

Ginástica (solo)

Principal

Gin. 2

Andebol

Atletismo

Indoor

- Dr.Lucas - Dr.Lacerda - Dr.Gabriel - Dr.Bruno - Dr.Pedro

- Dra.Cristina - Dra.Ana - Dr.Volta

- Dr.Bruno S.

INÍCIO EM 13 DE

SETEMBRO

TÉRMINO EM 29 DE

OUTUBRO

Page 153: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXI

Anexo 2- Planos de treino individuais

Nº Nome Nº de Abdominais

Nº de Flexões de braços (banco

sueco) – Tricípites e peitoral

1 Ana Matos 3x25 3x10

2 André Oliveira 3x25 3x12

3 Ângela Santos 3x25 3x8

4 António Raro 3x15 3x12

5 Beatriz Marques 3x30 3x12

6 Bruno Alves 3x20 3x10

7 Bruno Guimarães 3x30 3x15

8 Bruno Cardoso 3x30 3x15

9 Catarina Oliveira 3x30 3x10

10 Catarina Pereira 3x20 3x12

11 Célia Almeida 3x30 3x15

12 Diogo Silva 3x20 3x8

13 Ivo Baldé 3x30 3x15

14 João Dias 3x20 3x10

15 Luís Barbosa 3x25 3x15

16 Luís Oliveira 3x20 3x15

17 Luísa Santos 3x20 3x8

18 Márcia Gouveia 3x30 3x12

19 Márcia Feijó 3x25 3x12

20 Maria Queirós 3x25 3x12

21 Pedro Fernandes 3x15 3x6

22 Raquel Cota 3x25 3x15

23 Rita Tavares 3x30 3x10

24 Vasco Gomes 3x20 3x10

25 Vítor Lopes 3x30 3x15

Page 154: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXII

Anexo 3 – Ficha informativa de condição física

Elevações Frontais

Músculo exercitado: Deltóide

Aspectos importantes:

Mantém os braços estendidos;

Eleva os pesos até à altura dos ombros;

Move os dois braços em simultâneo;

Movimento lento quer para cima quer para

baixo.

Page 155: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXIII

Anexo 4- Ficha de jogo (Modelo de Educação Desportiva)

Page 156: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXIV

Anexo 5- Ficha de estatística (Modelo de Educação Desportiva)

Data: Jogo: ____________ vs____________

Aluno Estatístico:________________________

Equipa Observada:____________________

Assinala com um “x “ nos espaços cada ocorrência:

Nº de perdas de bola (equipa) Total

Page 157: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXV

Anexo 6- Quadro competitivo (Modelo de Educação Desportiva)

Período Competitivo

Aula 4 5 6 8 9 10

Jornada 1 2 3 4 5 6

Jogo 1

Campo 2 "All Star Team"

vs "Os 7"

"All Star Team"

vs "Os 7"

"All Star Team"

vs "Os 7"

"All Star Team"

vs "Os 7"

"All Star

Team" vs

"Dragões da

Bola"

"All Star Team"

vs "Os 7"

Campo3

"Dragões da

Bola vs "Os

iniciados""

"Dragões da

Bola" vs "Os

iniciados""

"Dragões da

Bola" vs "Os

iniciados""

"Dragões da

Bola" vs "Os

iniciados""

"Os 7" vs "Os

Iniciados"

"Dragões da

Bola" vs "Os

iniciados""

Jogo 2

Campo 2

"All Star Team"

vs "Dragões da

Bola"

"All Star Team"

vs "Dragões da

Bola"

"All Star Team"

vs "Dragões da

Bola"

"All Star Team"

vs "Dragões da

Bola"

Campo3 "Os 7" vs "Os

Iniciados"

"Os 7" vs "Os

Iniciados"

"Os 7" vs "Os

Iniciados"

"Os 7" vs "Os

Iniciados"

Jogo 3

Campo 2

"All Star Team"

vs "Os

Iniciados"

"All Star Team"

vs "Os

Iniciados"

"All Star Team"

vs "Os

Iniciados"

"All Star Team"

vs "Os

Iniciados"

Campo3

"Os 7" vs

"Dragões da

Bola"

"Os 7" vs

"Dragões da

Bola"

"Os 7" vs

"Dragões da

Bola"

"Os 7" vs

"Dragões da

Bola"

Page 158: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXVI

Anexo 7- Sistema de pontuação (Modelo de Educação Desportiva)

Pontos

Vitória 3

Empate 2

Derrota 1

Se a equipa não tiver

faltas na jornada 4

A cada falta na

jornada -1

Fair-Play De acordo com a ficha de jogo

Desempenho do

Árbitro De acordo com a ficha de jogo

Variedade das

funções realizadas

pelos alunos

0 - São sempre os mesmos a participar

1 - Às vezes todos participam

2 - Na maior parte das vezes todos participam

3- Todos participam nas diversas funções

4 - Os melhores alunos preocupam-se com a

participação dos

alunos de nível inferior, ajudando-os.

Page 159: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXVII

Anexo 8- Contrato de capitão e equipa (Modelo de Educação Desportiva)

Contrato de Capitão/Treinador

ASSINATURA CAPITÃO/TREINADOR: _____________________ DATA: ___/___/___

ASSINATURA MEMBROS DA EQUIPA:

________________ ________________ _______________ _________________

___________________ ___________________ __________________ ____________________

NOME DA EQUIPA: ____________________ MODALIDADE: Futsal

PROFESSOR: __________________________ CAPITÃO:_____________

COMO CAPITÃO/TREINADOR DE EQUIPA SEREI UM EXEMPLO DE BOA LIDERANÇA E CONDUTA DESPORTIVA

DIGNA NAS SEGUINTES ÁREAS:

FAIR-PLAY- Jogarei sempre respeitando as regras do jogo e da aula.

EMPENHO TOTAL – Trabalharei vigorosamente nas distintas tarefas da aula (treinos, exercícios e

jogos).

RESPEITO- Mostrarei respeito pelos colegas de equipa, árbitros, oficiais de mesa, adversários,

professor e material.

RESPONSABILIDADE- Organizarei os meus jogadores para os treinos e antes dos jogo.

ASSISTÊNCIA- Motivarei sempre os meus colegas e farei deles melhores jogadores.

DEVERES ESPECÍFICOS DO CAPITÃO/TREINADOR

Tomar nota dos alunos da sua equipa que estão presentes e dos que faltam ou não realizam aula.

Se for necessários convocar reuniões entre todos os elementos da equipa, para resolver problemas.

Cumprir sempre o planeado para as aulas.

Actuar como porta-voz da equipa.

Controlar sempre os comportamentos dos colegas de equipa e dos outros alunos, para que estejam em segurança.

Manter o manual do Treinador e da Equipa em excelentes condições.

Page 160: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXVIII

Anexo 9 – Questionário de motivação

QUESTIONÁRIO

Objectivo:

Este questionário anónimo, pretende obter informação acerca da motivação dos alunos

para o exercício físico/desporto e para as aulas de Educação Física.

Deves ler com atenção as questões formuladas e responder com sinceridade. A tua

colaboração irá ajudar-nos muito.

Considerando que Exercício Físico significa qualquer actividade onde há movimento em

momentos de lazer (caminhadas, nadar na praia, andar de bicicleta, etc.) e que Desporto

representa a prática de uma actividade desportiva regulamentada (com regras) e

eventualmente organizada (federada ou não), responde às seguintes questões:

1- Numa escala de 1 a 4, indica o gosto que tens pela disciplina de Educação Física,

sendo que 1 significa “não gostas nada” e que 4 significa que “gostas muito”.

1 2 3 4

Justifica a tua opção.

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2- Numa escala de 1 a 4, indica o gosto que tens pelas tuas aulas de Educação

Física no presente ano lectivo, sendo que 1 significa “não gostas nada” e que 4

significa que “gostas muito”.

Justifica a tua opção:

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

1 2 3 4

Page 161: Relatório de Estágio Profissional - Repositório Aberto · 2019. 6. 12. · II Ficha de Catalogação Santos, V. R. N. (2011). Relatório de Estágio Profissional.Porto: V. Santos

XXIX

3- Numa escala de 1 a 4, como a classificas a importância do Exercício

Físico/Desporto na tua vida, sendo que 1 significa “nada importante” e 4 “muito

importante”.

Justifica a tua opção:

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

4- Praticas Exercício Físico fora das aulas de Educação Física? Sim Não

Se sim, com que frequência?

1 a 2 vezes por semana

3 a 4 vezes por semana

5 ou mais vezes por semana

Qual? ______________

5- Praticas Desporto fora das aulas de Educação Física? Sim Não

Se sim, com que frequência?

1 a 2 vezes por semana

3 a 4 vezes por semana

5 ou mais vezes por semana

Qual?______________ Obrigado pela colaboração.

O Professor

______________________

(Valter Santos)

1 2 3 4