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Introdução
Este relatório tem como tema central o Centro de Documentação e Arquivo Histórico
(CDAH) do Museu de Portimão e pode ser dividido em três partes distintas.
A primeira diz respeito à avaliação do espaço em que está inserido o espólio documental:
avaliação dos valores de temperatura e humidade relativa dentro dos depósitos e no espaço
de acesso ao público, por meio de termohigrógrafos e higrómetros digitais; avaliação da
vida animal encontrada nos mesmos espaços através da colocação de detectores de
insectos; avaliação da estanqueidade do edifício à entrada de iluminação, poeiras, insectos,
chuva, etc. O objectivo desta fase é perceber quais as condições ambientais que rodeiam os
documentos, avaliá-las e analisá-las para delimitar estratégias de forma a evitar os factores
de risco decorrentes destes diferentes aspectos.
A segunda parte diz respeito à análise de espólios concretos existentes no CDAH. Como é
natural, não foi possível ver toda a documentação aqui depositada, no entanto, foram
analisadas duas partes importantes compostas por materiais distintos: o Espólio
Fotográfico Francisco Oliveira e as Actas da Câmara Municipal de Portimão. O Espólio
Fotográfico é, na sua maioria constituído por negativos em película de acetato de celulose
e como tal, necessitam de uma temperatura e humidade relativas muito específicas; as
Actas da Câmara Municipal de Portimão são, na sua maioria, constituídas por papel,
cartão, tecido, e pergaminho. Foi realizada a avaliação do estado de conservação e do
acondicionamento destes dois espólios e proposto um tratamento de conservação e restauro
para cada um. No caso das Actas foi possível tratar dois pequenos cadernos sem
encadernação. Com as condições actuais dos espaços do CDAH não existem materiais e
produtos suficientes para realizar tratamentos muito complexos ou tratamentos aquosos, e
por isso os executados foram de limpeza a seco, consolidações e planificações pontuais,
costura e acondicionamento. Ainda, em relação às Actas, foram realizados dois
importantes estudos: identificação das marcas de água presentes no papel, e análise das
diferentes tintas utilizadas nas mesmas, que incidiu principalmente no estudo da tinta
ferrogálica, suas formas e causas de deterioração no papel e tratamentos de conservação e
restauro a realizar nesses documentos. Para além disso, ainda foi possível identificar umas
2
partículas negras que se libertavam desta documentação, revelando uma das técnicas de
secagem da tinta ferrogálica.
Por fim, a última parte só existe em função das duas precedentes. Todos estes estudos,
análises e investigação tinham como objectivo último projectar um Laboratório de
Conservação e Restauro de Documentos Gráficos, reaproveitando as três salas do CDAH.
Assim, foi possível identificar os equipamentos, materiais e produtos necessários à boa
preservação e conservação do espólio presente neste espaço, realizar orçamentos e
planificar o espaço para que se torne funcional e prático.
3
1. O Museu de Portimão
Figura 1 - Museu de Portimão. Vista da fachada da antiga fábrica reconstruída.
O Museu de Portimão tem origem em 1983 quando é aprovado um projecto museológico
tendo em vista a investigação, recolha, documentação e divulgação do património local,
com destaque para o património arqueológico, industrial, náutico e subaquático. Foram
então feitos esforços no sentido de criar uma estrutura onde fosse possível preservar o
património em risco. Em 1996 a Autarquia de Portimão adquiriu a antiga fábrica de
conservas "Feu Hermanos" onde seria implementado o Museu do Município. Em 1999 é
elaborado o Programa Museológico para aquele espaço industrial e lançado o concurso
para o Projecto de Arquitectura. Em 2001 o Museu de Portimão integra o primeiro
conjunto de Museus da Rede Portuguesa de Museus e a 27 de Agosto de 2004 teve lugar a
cerimónia de consignação e lançamento da obra de empreitada de construção do museu,
sendo que a abertura ao público foi feita em 20081.
O Museu integra no seu espólio património industrial e etnográfico relativo à indústria
conserveira, construção naval, pesca, etc; espólio arqueológico com materiais provenientes
de estações arqueológicas, como Alcalar, Monte Canelas, Abicada, etc; a colecção Manuel
Teixeira Gomes; património imaterial com testemunhos orais e histórias de vida; e os
fundos documentais e iconográficos dos sécs. XV a XX, como são os fundos da Câmara
Municipal e de organismos da região, de instituições religiosas, arquivos industriais da
1 Regulamento do Museu de Portimão, Preâmbulo, p.4.
4
actividade conserveira, pesca, construção naval, etc2. Este último espólio documental é o
que está depositado no Centro de Documentação e Arquivo Histórico a que se refere este
relatório.
Figura 2 - Planta do Centro de Documentação e Arquivo Histórico.
1.1. O Centro de Documentação e Arquivo Histórico do Museu de
Portimão (CDAH)
O Centro de Documentação e Arquivo Histórico (CDAH) encontra-se integrado no Museu
de Portimão e pode ser dividido em quatro sectores: Biblioteca Especializada com fundos
locais e regionais, e temáticas ligadas ao património e ao Museu de Portimão, o Arquivo
Histórico e Arquivo Iconográfico estão no depósito do AH e o Arquivo Fotográfico no
depósito AF3. O Centro de Documentação está dividido em dois pisos: no primeiro piso
está a Biblioteca Especializada, o AH, o AF e três salas de apoio (G7, G e G8)
representado na figura 2; no segundo piso está a Biblioteca João Tavares, um bibliófilo
portimonense.
Neste momento, a maior parte do trabalho a ser realizado no CDAH diz respeito à
inventariação do espólio e seu acondicionamento. O acesso ao público incentiva a
investigação e o estudo da história local por parte de toda a população, desde jovens
estudantes a reformados.
2 Regulamento do Museu de Portimão, Artigo 6º Colecções, p. 7. 3 Regulamento do Museu de Portimão, Artigo 12º Estruturação orgânica dos serviços do Museu, p.11.
AH AF G
G8
G7
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2. Preservação de Colecções no Museu de Portimão
O Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão tem
como principais objectivos "garantir as condições termo-higrométricas e rotinas de
monitorização para a conservação das colecções, assegurar a qualidade e o bem-estar
ambiental dos profissionais e utentes do Museu, e proteger a integridade das pessoas,
espaços, equipamentos e bens"4.
Hoje em dia, a forma como conservamos as colecções, antes de passar pela Conservação e
Restauro, deve passar primeiro pela Preservação, o que inclui a Prevenção dos Danos. Ou
seja, o ideal seria que não tivéssemos de realizar tratamentos directamente sobre as obras;
ao invés, deveríamos prevenir os possíveis riscos de deterioração. Esta prevenção baseia-se
na avaliação e controlo do ambiente em que a documentação está depositada, ou em
exposição. Para que esta prevenção seja a mais correcta e adequada possível, há a
necessidade de se fazer uma avaliação geral do edifício em termos de posição geográfica,
idade, materiais de construção, localização de cada sala, impermeabilização, etc.
No que diz respeito ao Museu de Portimão ele encontra-se na zona ribeirinha da cidade,
entre a Rua D. Carlos I e a margem direita do Rio Arade, numa zona de aluviões,
implantada em terrenos conquistados ao rio, numa zona de elevada sismicidade,
denominada "Falha de Portimão". A obra consistiu na renovação dos espaços antigos da
fábrica conserveira em espaços museológicos e de serviços ligados à cultura, possibilitando
assim a manutenção da estrutura da fábrica, nomeadamente da fachada e telhado,
recuperação integral da sala de limpeza e "descabeço" do peixe (parte integrante da
exposição permanente), da chaminé e do transportador de pescado desde o rio ao interior
da fábrica. Os materiais utilizados e técnicas de construção foram realizadas tendo em
conta a nova função designada para a fábrica de conservas. O projecto do Museu de
Portimão teve em conta a estabilidade, resistência e impermeabilidade, ou seja, o edifício
foi projectado com características térmicas, acústicas, anti-sísmicas e impermeabilizantes.
Nos edifícios novos e reservas utilizou-se para a cobertura betão revestido a chapa metálica
isotérmica e todo o edifício encontra-se calafetado e equipado com um sistema de
filtragem de ar. Evitou-se o uso de materiais de construção potencialmente contaminantes
como aglomerados de madeira, PVC e colas no interior do edifício. O CDAH está
4 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, Introdução,
Objectivos, p. 5.
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localizado no piso 0 e piso 1 e é vocacionado para a pesquisa e investigação em diversas
áreas da história local e regional, dividido em diversos espaços com características
próprias. As salas de consulta, leitura geral e investigação destinam-se ao estudo e
investigação, estando preparado para consulta em vários suportes. A sala de registo e
tratamento são zonas de trabalho onde os documentos são recebidos, conferidos e
identificados, separados e tratados tecnicamente de acordo com a sua especificidade,
origem, estado de conservação e destino. O depósito geral (AH) e o depósito fotográfico
(AF) são as reservas onde estão depositados os fundos documentais e iconográficos5.
Tendo em conta que este se trata de um edifício de reabilitação profunda e construção
recente não existe o risco de problemas estruturais. Em relação à climatização, o projecto
foi pensado para a utilização de equipamentos que permitem monitorizar os parâmetros de
humidade, temperatura e poluição em cada espaço. A iluminação foi pensada para não
interferir com a conservação dos espólios, nomeadamente, com filtros específicos e
sistemas mecânicos de obscurecimento das salas. A segurança contra intrusão e incêndio é
assegurada por meios humanos, barreiras físicas e detecção e alarme electrónico. Em caso
de emergência os acessos ao edifício são facilitados pela localização do Museu junto a
amplas vias de comunicação. A construção da Cafetaria/ Esplanada/ Restaurante em bloco
separado do edifício principal minimiza a ocorrência de contaminação de pragas e o risco
de propagação de incêndio e poluentes6.
No que diz respeito à climatização foi projectado um Sistema de Climatização capaz de
utilizar a água do rio Arade como uma fonte de água fria para efectuar o pré-arrefecimento
de diversas áreas do museu. No depósito AH do CDAH a climatização assenta numa
unidade de tratamento de ar novo, equipada com ventilador de insuflação, dois estágios de
filtragem, bateria de pré-arrefecimento, bateria de aquecimento e arrefecimento e
atenuador de som, permitindo uma temperatura entre os 18°C e os 20°C e uma humidade
relativa entre os 45 % e 55 %. O depósito AF tem assegurado três unidades climatizadoras
do tipo ventiloconvector, efectuando-se o controlo de humidade através de
desumidificadores do tipo mural, com controlo por humidostato ambiente, sendo a
5 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, p. 5-17. 6 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, Avaliação de Riscos,
p. 17.
7
temperatura monitorizada por sensores, assegurando uma temperatura até 18°C e uma
humidade relativa entre 30 % e 45 %7.
O controlo biológico será feito periodicamente mediante inspecção do edifício e
verificação das condições ambientais, esta monitorização será facilitada pela colocação de
armadilhas para insectos, as quais permitirão a detecção de pragas infestantes8.
Independentemente desta avaliação feita no Plano de Conservação Preventiva, e de se
terem utilizado os materiais e técnicas de construção correctas e específicas para o caso,
encontramos alguns problemas que se prendem com a estanqueidade e impermeabilidade
do edifício. Perto das janelas encontramos continuamente teias de aranha, insectos mortos
e poeiras, indicando que as janelas e portas deixam entrar estes dois factores de
deterioração. O Arquivo Fotográfico encontrava-se inactivo quando iniciei este estágio
porque havia sido detectada humidade nas paredes. Em Fevereiro de 2011 o Museu sofreu
uma inundação, particularmente no piso 1 do CDAH. As portas que dão para o AH e AF
também não são completamente estanques permitindo a entrada de insectos e poeiras. A
monitorização ambiental e biológica estava a ser feita com um termohigrógrafo,
desumidificadores e armadilhas para insectos no AH e AF; no entanto, algumas das
armadilhas não tinham data de colocação e encontravam-se bastante envelhecidas,
revelando a sua falta de verificação. A temperatura e humidade relativa eram verificadas
todas as semanas pelo responsável. O Restaurante ainda não se encontra em
funcionamento, embora esteja totalmente equipado; é um facto que o Restaurante está num
bloco à parte do Museu mas, no entanto, encontra-se mesmo ao lado do CDAH; tendo em
conta a entrada de insectos pelas janelas e portas, podemos contar com novo factor de risco
assim que o Restaurante iniciar o seu funcionamento. Em relação à iluminação no CDAH,
ela é controlada por estores de tecido no espaço de acesso ao público, impedindo que a luz
solar entre directamente. Nos AH e AF as luzes só são ligadas quando estritamente
necessário, mantendo-se, de resto, as divisões no escuro.
7 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, Avaliação de Riscos,
p. 22-24. 8 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, Avaliação de Riscos,
p. 25-26.
8
2.1. Monitorização Ambiental no CDAH
Um dos objectivos do presente estágio consistia em realizar a monitorização ambiental no
CDAH.
Toda a área do Museu de Portimão, incluindo o CDAH, tem um sistema integrado de
controlo de temperatura e humidade (AVAC - Aquecimento, Ventilação e Ar
Condicionado), permitindo ter os valores desejados em cada espaço. O sistema mede os
valores exteriores e interiores e tem a capacidade para compensar algumas diferenças que
possam surgir.
Para além deste sistema a funcionar vinte e quatro horas por dia, o registo da temperatura e
humidade relativa dentro do CDAH foi realizado em diferentes espaços, utilizando outros
equipamentos.
No Arquivo Histórico a reserva principal, um termohigrógrafo regista a temperatura e a
humidade relativa, semanalmente. Diariamente, pelas 9 h e 17 h utilizou-se um higrómetro
digital para confirmar esses valores - este registo foi feito desde Novembro de 2010 a Abril
de 2011.
O Arquivo Fotográfico encontrava-se vazio quando o presente estágio foi iniciado, no
entanto, devido à inundação que ocorreu no piso 1, a Biblioteca João Tavares teve de
ocupar esse espaço. O registo de temperatura e humidade relativa foi realizado com um
higrómetro digital todos os dias, pelas 9 h, 14 h e 17 h no primeiro mês e pelas 9 h e 17 h
nos restantes - desde Fevereiro de 2011 a Abril de 2011.
Também foi feito o registo da temperatura e humidade relativa no espaço de acesso ao
público de Novembro de 2010 a Abril de 2011.
9
2.1.1. Arquivo Histórico (AH)
Indicamos de seguida as médias de humidade relativa e temperatura, os máximos e os
mínimos para cada mês, de acordo com o registo do termohigrógrafo no Arquivo
Histórico9:
Tabela 1
Média HR
(%)
Máxima
HR (%)
Mínima
HR (%)
Média
Temp. (°C)
Máxima
Temp. (°C)
Mínima
Temp. (°C)
Novembro 50 61 35 16 19,5 15
Dezembro 46 55 39 19,5 20,5 18,5
Janeiro 42 50 34 19 20 18,5
Fevereiro 41 43,5 35 19 22 18,5
Março 42 48,5 38 20 22 17
Abril 56 60 50 15 17 14,5
O período em que estivemos a recolher estes dados não é o suficiente para retirar
conclusões suficientes sobre o funcionamento dos sistemas de controlo ambiental, no
entanto, podemos retirar algumas conclusões bastante elucidativas. Para termos um estudo
satisfatório sobre o ambiente no espaço das reservas deveríamos ter o período de um ano,
ou melhor ainda, de dois anos, para comparação das mudanças de temperatura e humidade
relativa consoante o período do ano e realizar analogias.
Sabemos que numa reserva documental devemos ter uma humidade relativa entre os 50 e
os 55 % e uma temperatura entre os 18 e os 20°C, com variações de 5 % para a humidade
relativa.
De um modo geral, no período de seis meses a humidade relativa tem estado entre os 56 e
os 41 % e a temperatura entre os 27 e os 16°C. Analisando de forma mais detalhada os
gráficos do termohigrógrafo notamos algumas mudanças bruscas que não beneficiam a boa
conservação do espólio. Existem dois desumidificadores no CDAH que estiveram a
funcionar no AH desde que se iniciou o estágio. Notámos uma descida da humidade
relativa no final de Novembro e início de Dezembro para uma mínima de 35%, mas
durante o mês de Dezembro os valores voltaram a estar entre os 45 e os 55%. No entanto,
dia 31 de Janeiro de 2011 os dois desumidificadores foram desligados porque a humidade 9 Ver Apêndice Documental, Monitorização Ambiental no CDAH, para ver os gráficos e tabelas, p. 118.
Tabela da Humidade relativa e Temperatura medidas no Arquivo Histórico entre Novembro de 2010 e
Abril de 2011.
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relativa havia estado abaixo dos 40 % durante a semana precedente, sendo o valor mais
baixo registado de 34 %. Primeiro desligámos um dos desumidificadores na manhã de 31
de Janeiro para ver como a humidade relativa reagia durante tarde, mas como não se
verificaram mudanças, o segundo desumidificador também foi desligado. Durante o mês
de Fevereiro a humidade relativa subiu um pouco mas não foi além dos 43,5 %. Só no final
do mês de Março e durante o mês de Abril é que a humidade relativa voltou a ficar na casa
dos 50%.
Em relação à temperatura, ela varia consoante a humidade relativa, pois quando esta sobe a
temperatura baixa, e vice-versa. Registou-se uma subida de temperatura dos 17 para os
20°C entre o mês de Novembro e Dezembro, mantendo-se entre os 19 e 22°C até ao final
de Março. No entanto, em Abril houve uma descida acentuada para os 15°C. Nesta altura
começou a fazer bastante calor em Portimão, pelo que esta súbita diferença só pode ser
explicada pela tentativa do AVAC de compensar a subida de temperatura no exterior,
baixando a temperatura dentro da reserva; mas se num período de dois dias (de dia 1 para
dia 4 de Abril) temos uma descida tão acentuada, isso quer dizer que o sistema não está a
funcionar da melhor forma ou então tem de haver um controlo humano mais activo que
ajude a controlar as descidas e subidas súbitas.
Em relação ao uso do higrómetro digital para confirmar os dados fornecidos pelo
termohigrógrafo temos notado sempre uma diferença de cerca de 1 a 2°C e de 1 a 10 %, o
que acaba por ser bastante preciso para a temperatura, mas por vezes, nem tanto para a
humidade relativa.
Para sintetizar a informação, durante os seis meses a temperatura mais alta registada foi de
22°C e a mínima de 14,5°C e de um modo geral tem estado entre os 20 e os 15°C, para
uma amplitude de cerca de 5°C. A máxima registada para a humidade relativa foi de 61 %
e a mínima de 34 %. Mas se verificarmos as médias, de um modo geral, a humidade
relativa tem estado entre os 56% e os 41%, registando a menor amplitude térmica dos
espaços controlados, como veremos a seguir para o Arquivo Fotográfico e o espaço de
acesso ao público (ou seja, o AH é o local onde os valores são mais estáveis, em
comparação com os outros). As maiores preocupações que apontamos são as mudanças
bruscas nestes valores, pois deveria ser uma mudança lenta e gradual.
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2.1.2. Arquivo Fotográfico (AF)
No que diz respeito ao Arquivo Fotográfico, como se encontrava desactivado em Outubro
de 2010 não foram realizadas medições. No entanto, quando ocorreu a inundação em
Fevereiro de 2011, ele teve de ser utilizado para acolher a Biblioteca João Tavares, e assim
começámos a realizar medições de temperatura e humidade relativa com o higrómetro
digital (às 9 h, 14 h e 17 h no primeiro mês, e às 9 h e 17 h nos restantes), e imediatamente
colocaram-se os dois desumidificadores que não estavam a ser utilizados, a funcionar para
tentar remover toda a humidade que os livros poderiam ter absorvido a mais com a
inundação. Os livros colocados no AF não se encontravam molhados, apenas com
humidade elevada, pois já se havia procedido a uma secagem cuidada.
Os dados obtidos dizem respeito ao período de Fevereiro a Abril de 2011. Existem dois
registos distintos, um realizado na área das estantes e outra no espaço vazio, como
verificamos nas tabelas seguintes:
Tabela 2
Média HR
(%)
Máxima
HR (%)
Mínima
HR (%)
Média
Temp. (°C)
Máxima
Temp. (°C)
Mínima
Temp. (°C)
Fevereiro 42 53 38 20,5 23,4 18,6
Março 47,8 53 43 20,7 23,2 18,5
Abril 63,5 69 59 13,7 14,7 13
Tabela 3
Média HR
(%)
Máxima
HR (%)
Mínima
HR (%)
Média
Temp. (°C)
Máxima
Temp. (°C)
Mínima
Temp. (°C)
Fevereiro 40,8 53,7 37,5 20,8 23,9 18,6
Março 48 53,3 42,7 20,6 23 17,6
Abril 61,3 70 56 13,8 14,6 12,7
No mês de Fevereiro houve um controlo mais cuidado, realizado três vezes por dia para ver
como estavam os valores. Por isso, dia 22 de Fevereiro decidimos ligar o ar condicionado
para tentar descer a temperatura que atingiu um máximo de 23,9°C. No dia 23, pelas 15 h
Tabela da Humidade relativa e Temperatura medidas no Arquivo Fotográfico entre Fevereiro de 2011 e
Abril de 2011, na área das estante.
Tabela da Humidade relativa e Temperatura medidas no Arquivo Fotográfico entre Fevereiro de 2011 e
Abril de 2011, no espaço sem estantes.
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desligamos um dos desumidificadores porque a humidade relativa estava abaixo dos 40%,
com 38,6% e às 17 h já se notou uma melhoria para os 41,2%, embora ainda seja muito
baixo. Por fim, acabamos por desligar ambos e em Março a humidade relativa esteve
próxima dos 45% atingindo um máximo de 53%. Em Abril notámos uma descida
acentuada da temperatura, tal como havia acontecido no AH, de 22,1°C no dia 31 de
Março para 13,5°C no dia 4 de Abril. Consequentemente, a humidade relativa subiu dos 50
para os 60 % e de imediato colocámos os dois desumidificadores a trabalhar. Infelizmente,
como a temperatura esteve sempre abaixo dos 15°C os desumidificadores não conseguiam
funcionar devidamente, resultando numa lenta remoção de água do ar (os
desumidificadores só funcionam correctamente acima dos 15°C porque necessitam de uma
temperatura média para que sejam capazes de condensar a água do ar, quando esta passa
pelo filtro frio). No início de Maio o ar condicionado que estava no modo frio passou a
estar apenas na ventilação e os desumidificadores foram desligados estando agora o AF
com valores de 57 a 58 % e 22°C10.
Estas variações dos valores ambientais não são de todo benéficas para a documentação
porque provocam contracções e retracções demasiado rápidas podendo resultar na
deformação das encadernações ou miolos, ou mesmo na sua ruptura.
Para sintetizar a informação, durante os três meses a temperatura mais alta registada foi de
23,9°C e a mínima de 12,7°C e de um modo geral tem estado entre os 20,8 e os 13,7°C,
para uma amplitude de cerca de 7°C. A máxima de humidade relativa registada foi de 70 %
e a mínima de 37,5 %. Mas se verificarmos as médias, de um modo geral, a humidade
relativa tem estado entre os 63,5 % e os 40,8 %, o que acaba por ser uma grande diferença.
10 Valores recolhidos dia 17 de Maio de 2011, pelas 14h.
13
2.1.3. Espaço de acesso ao público
Em relação à medição dos valores de temperatura e humidade relativa no espaço de acesso
ao público, esta começou a ser realizada dia 24 de Novembro de 2010 até Abril de 2011,
segundo a tabela seguinte:
Tabela 4
Estes valores são importantes porque no espaço de acesso ao público também existe um
importante espólio sobre o Algarve, Portimão, Património e Tecnologias do Algarve no
piso 0, e a Biblioteca João Tavares no piso 1, com livros com ex-libris11 e raridades. Para
além de haver a necessidade de estar uma temperatura adequada para os utilizadores,
também temos de pensar na preservação desta documentação, controlando a humidade
relativa. O ideal seria conseguirmos uma humidade relativa entre os 50 e 55 % e uma
temperatura entre os 20 e 22°C (o acesso ao público é um factor muito importante e há que
chegar a um meio termo. Se não houver variações destes valores, a documentação
conserva-se bem com 20°C).
No entanto, aqui é onde encontramos as variações mais drásticas como podemos confirmar
pela tabela. Numa avaliação mais cuidada dos gráficos vemos que em Novembro de 2010
houve uma descida de 73,2 para 26 % em apenas dez dias, embora a temperatura se tenha
mantido entre os 19 e 17°C. Em Dezembro não existem grandes variações a apontar, a
temperatura esteve entre os 21 e 18°C, no entanto, a humidade relativa variou entre os 74 e
os 55 %, o que é bastante problemático para a documentação. O mês de Janeiro registou as
temperaturas mais baixas, chegando aos 14,6°C, o que se torna bastante desagradável para
11 Ex-libris - marca de pertença, geralmente sob a forma de uma pequena folha ou carimbo com uma gravura
e o nome do proprietário.
Média HR
(%)
Máxima
HR (%)
Mínima
HR (%)
Média
Temp. (°C)
Máxima
Temp. (°C)
Mínima
Temp. (°C)
Novembro 53 73,2 26 18,5 20,6 16
Dezembro 61,8 75,8 37,6 19,8 21,5 15,6
Janeiro 51,7 71 28,2 18,7 22,1 14,6
Fevereiro 43 57,7 25,2 20,5 23,6 17,2
Março 53 64,1 43 19 22,8 16,2
Abril 43,9 51,5 27 22,9 25,2 20,7
Tabela da Humidade relativa e Temperatura medidas no Espaço de Acesso ao Público entre Novembro
de 2010 e Abril de 2011, no piso 0.
14
os utilizadores. No mês de Abril, com a subida de temperatura no exterior também houve
uma subida de temperatura no interior, chegando a um máximo de 25,2°C, e como
consequência disso, a humidade relativa esteve quase sempre abaixo dos 40 %.
Podemos concluir com estes valores que a temperatura varia facilmente dentro do CDAH
consoante a temperatura exterior, sentindo-se principalmente no piso 1 que está mais perto
do tecto, e que o sistema AVAC pouco ou nada faz para colmatar estas variações. Tendo
em conta que é um espaço aberto de grandes dimensões é compreensível que não seja fácil
controlar tamanha quantidade de ar, no entanto, alguma solução deve ser encontrada para
esta situação. De momento a Biblioteca João Tavares encontra-se no Arquivo Fotográfico,
mas futuramente, terá de voltar a ser colocada em exposição ao público e não pode sofrer
tamanhas variações ou correrá o risco de se perder.
Para sintetizar a informação, durante os seis meses a temperatura mais alta registada foi de
25,2°C e a mínima de 14,6°C, mas de um modo geral tem estado entre os 22,9 e os 18,5°C,
uma amplitude de cerca de 5°C. A humidade relativa tem sido mais difícil de controlar
com mudanças bruscas e diferenças de mais de 40 % num mês. A máxima registada foi de
75,8 % e a mínima de 25,2%.
2.1.4. Impacto da Temperatura e Humidade Relativa no Pergaminho e no Papel
Para percebermos melhor de que forma a temperatura e a humidade relativa afectam a
documentação, especialmente o papel e o pergaminho, vejamos como ambos reagem.
O pergaminho é aquilo a que chamamos de couro semi-curtido, o que o torna bastante
alcalino após esse processo, pelo que não temos de nos preocupar tanto com os problemas
de acidez como com o couro. Se o pergaminho for mantido em ambientes estáveis poderá
sobreviver por longos períodos de tempo, pois o facto de ser alcalino faz com que seja
bastante permanente. No entanto, pela sua estrutura característica, o pergaminho é muito
reactivo ao ambiente, principalmente à água, no qual é solúvel. Abaixo dos 40 % de
humidade relativa o pergaminho torna-se rígido e quebradiço, pelo que os valores
recomendados são entre 50 e 55 %12.
O papel também é um material altamente higroscópico, ou seja, retém e liberta água com
bastante facilidade, o que o torna bastante susceptível a humidades relativas altas, mas 12 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da
América, Sound View Press, 1991, p. 185-188.
15
principalmente a variações bruscas. O papel é composto, geralmente, por diversos
materiais para além da pasta de papel ou fibras, podendo levar aditivos que o tornam ácido,
ou estar em contacto com pigmentos que acelerem o processo de degradação. O contacto
da acidez natural do papel com a humidade relativa do ambiente acelera o seu
envelhecimento, mas os pigmentos utilizados na escrita podem aumentar essa sensibilidade
à água. Recomenda-se que o papel seja mantido entre os 40 e 50 % de humidade relativa.
Com valores mais elevados o papel torna-se mais susceptível a rasgões pois as fibras
tornam-se mais moles e dilatadas e com valores extremamente elevados a textura do papel
pode mudar e o papel revestido tem tendência para aderir folha a folha; com valores
inferiores o papel torna-se quebradiço e também mais susceptível a rasgões13.
2.1.5. Problemas associados a Sistemas Integrados de Controlo Ambiental
Actualmente, com a construção de infra-estruturas exclusivamente dedicadas ao
acondicionamento, exposição e preservação de colecções, como são os museus, tem-se
recorrido a sistemas integrados de controlo ambiental que deveriam suprimir os habituais
problemas de humidade relativa, temperatura, iluminação e poluição que encontramos
diariamente em museus a funcionar em edifícios ou casas reabilitadas. Embora ainda não
exista muita publicação sobre o funcionamento destes sistemas em casos reais, algumas
conclusões podem ser retiradas14.
No melhor dos casos, para que o sistema funcione a 100 % é necessário cerca de um a dois
anos, depois da construção do edifício, de controlo rigoroso, tentativas, mudanças e
experiências para percebermos de que modo o edifício reage às variações exteriores e o
que é necessário fazer para controlar rigorosamente cada espaço. Nos piores casos,
sistemas inteiros tiveram de ser removidos e substituídos dentro de poucos anos depois da
sua construção, ou então são desligados e inutilizados. Um dos maiores problemas neste
tipo de construção é a falta de apoio por parte dos arquitectos ou engenheiros depois de
finalizada a obra. Muitas vezes, o pessoal do museu não está preparado para a rotina de
monitorização necessária e muito menos para o período inicial de ajuste do sistema a cada
espaço. Os elevados custos de um sistema deste género levou muitas vezes a que um
museu não tivesse capacidade para o manter a funcionar 24 h/ dia. Mesmo que um sistema
13 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da
América, Sound View Press, 1991, p. 189-190. 14 APPELBAUM, Barbara, op. cit, p. 50-51.
16
funcione adequadamente, nunca poderá resolver todos os problemas, como por exemplo,
prevenir a formação de microclimas. Outra questão importante é a colocação do espólio
nos locais climatizados demasiado cedo: geralmente é necessário um ano de
funcionamento do sistema antes da deslocação do espólio para esses espaços simplesmente
porque ainda não sabemos de que modo o edifício está a reagir, e antes dessa altura, não é
seguro trazer os objectos para esse ambiente. Existem instituições que conseguiram fazer
com que estes sistemas funcionassem e não há dúvida de que quanto melhor for o controlo
feito pela instituição, maior vai ser a probabilidade de preservar a são a e salvo as
colecções15.
2.1.6. Soluções para o Controlo Ambiental no CDAH
Com base na avaliação feita nos seis meses de controlo ambiental efectuado podemos
destacar, principalmente, grandes variações térmicas num período de tempo muito
pequeno, bem como picos de humidade relativa muito elevada ou muito baixa. A
temperatura tem-se mantido em valores aceitáveis, mas as variações rápidas são
catastróficas.
Para que este sistema funcione da melhor forma tem de haver um contacto permanente
entre Conservador Restaurador e Técnico Ambiental para que ambos estejam a par dos
valores obtidos, e em conjunto decidam as melhores atitudes a tomar. Entretanto, a
utilização de desumidificadores tem ajudado a baixar a humidade relativa, mas não
conseguimos prever quando se vão dar as variações bruscas. O ar condicionado pode ser
desligado quando necessário, como foi realizado no AF, para subir a temperatura. No
entanto, o controlo diário e mais de uma vez por dia é essencial para compreendermos a
dinâmica das reservas com o sistema.
A utilização de sílica gel para diminuir a humidade relativa em situações pontuais poderia
ser uma boa solução mas, de momento, não existem dados suficientes para utilizar esta
solução. Parece-me que ainda estamos numa fase inicial de experimentação e adequação
do sistema ao espaço e, entretanto, o espólio documental pode estar a sofrer muito com
esta situação.
15 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da
América, Sound View Press, 1991, p. 52-55.
17
2.2. Monitorização dos Agentes Biológicos no CDAH
Outro dos objectivos consistia em colocar e verificar os detectores de insectos nos vários
espaços do CDAH. Já existiam detectores colocados em alguns pontos, demonstrados na
figura 3.
Figura 3 - Planta do CDAH. Esquema da colocação dos detectores no piso 0.
Ao todo foram colocados 8 detectores:
o 3 no AH, a que chamámos 1ARQ, 2ARQ e 3ARQ;
o 2 no AF, a que chamámos 1FOT e 2FOT;
o 1 na sala G7, a que chamámos G7;
o e 2 no piso1, a que chamámos 1BIB e 2BIB.
Estes detectores servem para efectuar uma estimativa do número e tipo de insectos que
aparecem nos espaços; nunca irão realizar uma função de captura de toda a vida animal,
erradicando-a. Servem os detectores para, se no caso de surgir uma peste de determinada
espécie, ela ser detectada a tempo16.
No estudo efectuado existem três fases de colocação de detectores: a primeira fase
corresponde aos meses de Outubro, Novembro e Dezembro; a segunda fase a Janeiro,
Fevereiro e Março; e a última fase a Abril e Maio. Entre cada fase realizou-se a
substituição de todos os detectores e a identificação dos espécimes aí encontrados.
A verificação dos detectores foi realizada semanalmente, às quintas-feiras. Toda a
informação pode ser consultada nas tabelas em Apêndice Documental, Monitorização dos
Agentes Biológicos, p. 119. 16 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,
Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 67.
18
Este tipo de detectores funciona com uma pastilha de feromonas que atrai as espécies
macho (daí que este dispositivo sirva apenas para realizar uma detecção, pois as fêmeas
não se sentirão atraídas pelos detectores).
O efeito da pastilha é mais intenso na altura em que é colocado
e passados 2 ou 3 meses é aconselhado que sejam substituídos.
No entanto, há quem deixe que os mesmos detectores
permaneçam por 6 meses, ou ainda outros que os substituem
passado um mês. O mais certo será realizar essa substituição
assim que as pastilhas percam o seu cheiro característico ou
ganhem um aspecto degradado.
A humidade relativa e a temperatura nos espaços onde são
colocados os detectores também contribuem para uma
degradação mais ou menos lenta da pastilha.
2.2.1. A biodeterioração e os documentos gráficos
A biodeterioração é o conjunto de deteriorações causadas por agentes biológicos, como os
fungos, insectos e roedores. A sua presença está ligada, em grande parte, à existência de
alimento e de um ambiente adequado para se reproduzirem17.
Os documentos gráficos são compostos, na sua maioria, por materiais orgânicos, que
podem ser divididos em materiais de origem vegetal e materiais de origem animal. Nos
livros encontramos o papel que é manufacturado a partir de fibras vegetais, podemos
encontrar couro ou pergaminho extraídos de peles animais e colas extraídas de nervos,
tendões e cartilagens de animais (cola animal).
A celulose, a lenhina e a hemicelulose são os principais compostos que encontramos nos
materiais de origem vegetal. O papel é composto maioritariamente por celulose e outras
substâncias como a lenhina, hemicelulose, taninos, proteínas, pectinas, etc. Por isso os
microrganismos facilmente atacam o papel quando existe uma humidade relativa elevada,
como é o caso das bactérias e dos fungos que se encontram no ar em forma de esporos. É
mais difícil para as bactérias do que para os fungos desenvolverem-se em ambientes com
baixa humidade relativa, pelo que é mais comum que encontremos fungos a colonizar as
folhas de um livro. Alguns tipos de fungos como os Arpergillus ou Penicillium são
17 PASCUAL, Eva, Conservar e Restaurar Papel, Lisboa, Editorial Estampa, 2006, p.30.
Figura 4 - Exemplo dos
detectores colocados no
CDAH.
19
particularmente nefastos para o papel porque são capazes de crescer em substractos com
um conteúdo de apenas 7 a 8 % de humidade, o que acontece para alguns tipos de papel
num ambiente com apenas 62 a 65 % de humidade relativa18. A biodeterioração causada
por microorganismos pode causar manchas de várias cores e tamanhos no papel, desde
formas irregulares a formas arredondadas (principalmente se tivermos linhas de maré
provocadas por derrame de água ou inundação) e cores como vermelho, violeta, amarelo,
castanho, preto, etc19.
Também existem muitos insectos que são capazes de atacar a celulose e outros
componentes dos livros como as colas, podendo provocar desde abrasão superficial até
galerias que se prolongam por toda a extensão dos livros - "peixinho-de-prata", térmitas,
besouros, piolho do livro e baratas, representadas no quadro 1, abaixo20:
Quadro 1 - Exemplo dos principais insectos encontrados em arquivos
18 CANEVA, Giulia et al, Biology in the Conservation of Works of Art, Roma, Sintesi Grafica s.r.l.,
ICCROM, 1991, p. 56-57. 19 CANEVA, Giulia et al, op. cit, p. 57. 20 Idem, p. 56-59.
Ordens Famílias Nome comum Danos que provocam
Thysanura Lepismatidae "Peixinho-de-prata"
(Lepisma saccharinna)
Erosão superficial com contorno
irregular podendo provocar lacunas
Isoptera Kalotermitidae
Rhinotermitidae
Termitidae
Térmitas Lacunas profundas em forma de
cratera. São capazes de deixar a
superfície do objecto intacta e atacar
todo o seu interior - mais comum para
blocos de madeira.
Coleoptera Anobiidae
Lyctidae
Dermestidae
Caruncho de mobiliário
Caruncho (powderpost
beetles)
Caruncho da pele (skin
beetles)
Túneis circulares.
Túneis com secção oval.
Túneis curtos com secção circular e
perfuração irregular.
Corrodentia Liposcelidae Piolho do livro Erosão da superfície, de tamanho
reduzido.
Blattoidea Blattidae
Blattelidae
Baratas Erosão da superfície.
20
O pergaminho é rico em colagénio e tem uma quantidade mais pequena de queratina e
elastina. O couro tem uma composição muito semelhante à do pergaminho, mas é curtido,
o que lhe confere a presença de outros produtos como óleos, minerais, entre outros,
dependendo do tipo de curtição. O colagénio pode ser atacado por bactérias que o
hidrolisam como é o caso da bactéria do género Clostridium. Como resultado da
biodeterioração o pergaminho torna-se duro e quebradiço causando muitas vezes a
deformação do objecto21.
Os insectos das ordens Dermestidae ou Tineidae são os mais capazes de atacar o colagénio
e materiais com queratina, criando o mesmo aspecto que a degradação em papel - erosão
superficial ou profunda com o aparecimento de lacunas e perda de material22.
2.2.2. O ambiente perfeito para a biodeterioração
Antes de qualquer outra consideração temos de determinar como chegam os insectos até às
colecções. Muitos deles podem chegar com novos objectos adquiridos pelo museu por isso
é muito importante que se faça uma inspecção cuidadosa e o isolamento de peças que
aparentem estar infestadas; esta é uma forma eficaz de impedir que se desenvolvam em
reservas ou em documentação tratada. Os insectos também podem ser atraídos pela
presença de comida dentro do museu ou em espaços adjacentes à localização do espólio,
ou pela presença de plantas dentro ou perto do museu. As teias de aranha com
remanescentes de outros insectos também são capazes de atrair outras espécies23. Quando
algum objecto ou conjunto de objectos é emprestado para uma exposição temporária ou
por outro motivo, também se torna numa possível fonte de entrada de insectos, pelo que
uma verificação cuidada também deve ser efectuada antes do seu acondicionamento em
reserva24. Também já sabemos que portas e janelas abertas ou mal calafetadas permitem a
entrada de insectos. No Verão ou no Inverno, quando as temperaturas são mais extremas, é
muito comum que os insectos procurem ambientes mais amenos e entrem em casas
21 CANEVA, Giulia et al, Biology in the Conservation of Works of Art, Roma, Sintesi Grafica s.r.l.,
ICCROM, 1991, p. 63. 22 CANEVA, Giulia et al, op. cit, p. 63-64. 23 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da
América, Sound View Press, 1991, p. 124. 24 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,
Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 68.
21
particulares ou museus e arquivos. Muitos dos insectos preferem um local escurecido e
empoeirado, com humidade relativa elevada para se estabelecerem; e se tiverem uma fonte
de alimentação por perto, ainda mais. É por isso muito importante que se façam limpezas
frequentes para impedir a acumulação de poeiras por baixo dos móveis ou em cantos mais
escondidos das divisões. Semestralmente ou de seis em seis meses, deveriam ser realizadas
inspecções às caixas onde estão acondicionados os documentos e uma limpeza exaustiva
de toda a colecção25; mais frequentemente devem ser realizadas verificações do estado de
conservação da colecção por um profissional26. A colocação de armadilhas ajuda a detectar
uma possível praga, mas não invalida que se façam limpezas frequentes com aspirador
(não é aconselhável o uso de vassouras, água ou detergentes para limpar as reservas). A
higienização periódica de toda a colecção é vital para a preservação dos documentos, mas
também para a prevenção de pragas ou bolor27.
Tanto quanto possível as portas e janelas devem ser mantidas fechadas para impedir a
entrada de insectos, os esgotos e ventilações limpos e inspeccionados periodicamente. Se
existirem insectos mortos em locais de difícil acesso maior probabilidade existirá de
surgirem outros insectos que se alimentarão deles.
Os microrganismos estão presentes no ar em forma de esporos que se podem ligar
praticamente a qualquer tipo de material desde que tenham uma humidade relativa elevada.
Como já mencionámos algumas bactérias preferem alimentar-se só de celulose ou
colagénio, hidrolisando-os, mas outros apenas necessitam de luz solar e a presença de
água, como os fungos encontrados correntemente sobre as pedras, muito comum em
edifícios históricos.
Cada tipo de bactéria ou fungo tem os próprios parâmetros de humidade, temperatura, luz,
oxigénio, sais, minerais, etc., que necessita para sobreviver portanto, cada caso terá de ser
estudado em separado. Em contexto de arquivo os principais factores são uma humidade
relativa alta, temperatura alta, má ventilação, forte iluminação e substratos orgânicos
enriquecidos com poeiras, sujidade ou outros componentes. A humidade relativa deve estar
25 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da
América, Sound View Press, 1991, p. 124-125. 26 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,
Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 66-67. 27 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da
América, Sound View Press, 1991, p. 124-125.
22
entre os 50 e os 55 % para conferir uma boa elasticidade mecânica dos materiais, mas
nunca deve estar acima dos 65 % para impedir o desenvolvimento de microrganismos. A
temperatura deve ser mantida entre os 16 e os 20°C, nunca acima deste valor de modo a
reduzir o crescimento biológico. Tem de haver um compromisso entre o que é bom para os
materiais e o que é mau para os microrganismos. Estes valores também são aceitáveis no
que diz respeito aos insectos porque eles também preferem uma humidade relativa alta e
uma temperatura acima dos 18 a 20°C28. A iluminação não é um problema no que diz
respeito aos microrganismos, pois as luzes encontram-se desligadas a maior parte do tempo
dentro das reservas, mas para os insectos isso é o ideal pois eles preferem lugares escuros.
É muito difícil encontrar a solução perfeita para evitar todos os factores de deterioração, ao
mesmo tempo.
2.2.3. Avaliação dos dados obtidos com os detectores29
2.2.3.1. Primeira Fase (15 Outubro 2010 - 6 Janeiro 2011)
O AH alberga grande parte do espólio documental do CDAH, pelo que existe bastante
alimento para os insectos, e tem estado sempre a ser monitorizado com o objectivo de
conseguirmos obter os valores ideais de temperatura e humidade relativa. No período
assinalado os valores ambientais têm estado entre 61 e 35 % de humidade relativa, e entre
20,5 e 15°C de temperatura. Do ponto de vista da proliferação de microrganismos e de
insectos os valores estão dentro do aceitável para que eles não cresçam. A vida animal
detectada pelas armadilhas é concordante com esta conclusão:
o 1ARQ - 1 aranha;
o 2ARQ - 1 aranha (que acabou por conseguir fugir; era uma aranha com cerca de
2,5cm, bastante grande) e 1 Lepisma sacarinna;
o 3ARQ - 1 mosca da areia.
O Arquivo Fotográfico encontrava-se desactivado na primeira fase de colocação de
armadilhas por isso não existem quaisquer valores ambientais; no entanto podemos
concluir que não havia qualquer alimento para os insectos. Foram detectados:
o 1FOT - 0 insectos;
28 CANEVA, Giulia et al, Biology in the Conservation of Works of Art, Roma, Sintesi Grafica s.r.l.,
ICCROM, 1991, p. 113-118. 29 Ver Apêndice Documental, Identificação dos Insectos Detectados, p. 120.
23
o 2FOT - 2 lacraus e 2 Lepismas.
No espaço de acesso ao público foram colocadas duas armadilhas no piso 1; o controlo
ambiental foi feito no piso 0, mas os dois pisos ocupam a mesma área, não havendo tecto a
separá-los. Podem ocorrer algumas variações porque o piso 1 encontra-se mais perto do
tecto e está mais susceptível a diferenças de temperatura, mas de um modo geral, os
valores obtidos foram os seguintes: entre 75,8 e 26 % e entre 21,5 e 15,6°C, o que indica
grandes diferenças térmicas para a humidade relativa. No piso 1 encontrava-se a Biblioteca
João Tavares, muito susceptível ao ataque por insectos. Foram encontrados:
o 1BIB - 2 lacraus e 2 moscas da areia;
o 2BIB - 2 aranhas, 3 lacraus, 2 coleópteros, 1 mosca dos filtros, 2 moscas dos filtros
e 1 coleóptero pequeno.
A sala G7 não teve qualquer controlo ambiental e encontrámos lá uma armadilha com os
seguintes insectos:
o G7 - 1 aranha, 3 Lepismas, 1 mosquito, 1 grilo, 3 moscas dos filtros, 1 mosca
varejeira e 2 moscas da areia.
2.2.3.2. Segunda Fase (13 Janeiro 2011 - 31 Março 2011)
No AH os valores ambientais estiveram entre os 50 e os 34 %, e entre os 22 e os 17°C. A
temperatura esteve ligeiramente mais elevada o que se traduziu num aumento dos insectos
encontrados. Encontrámos:
o 1ARQ - 3 aranhas;
o 2ARQ - 1 aranha, 1 mosca da areia, 1 coleóptero pequeno, 1 formiga e 2 Lepismas;
o 3ARQ - 2 aranhas e 1 Lepisma.
A Biblioteca João Tavares foi transferida para o AF nesta fase e começámos a controlar os
valores ambientais, que estiveram entre os 53 e os 37,5 % e entre os 23,9 e os 17,6°C; ou
seja, a temperatura esteve elevada. Foram detectados:
o 1FOT - 1 aranha, 2 formigas, 2 moscas da areia, 1 Lepisma;
o 2FOT - 1 Lepisma, 1 mosquito, 1 formiga, 1 aranha.
No espaço de acesso ao público os valores de humidade relativa e temperatura estiveram
entre 71 e 25,2 % e entre 23,6 e 14,6°C, voltando a verificar-se grandes diferenças de
humidade relativa e também de temperatura. No piso 1 a Biblioteca João Tavares já não se
encontrava presente:
o 1BIB - 2 mosquitos;
24
o 2BIB - 1 aranha, 1 lacrau, 1 coleóptero, 1 mosca da areia.
Na sala G7 foram detectados:
o G7 - 1 mosca dos filtros e 1 mosca da areia.
2.2.3.3. Terceira Fase (7 Abril 2011 - 26 Maio 2011)
No AH os valores ambientais estiveram entre os 60 e os 50 % e entre os 17 e os 14,5°C.
Não foram detectados quaisquer insectos nesta fase provavelmente porque a temperatura
esteve muito baixa para eles.
No AF os valores ambientais estiveram entre os 70 e os 56 % e entre os 14,7 e os 12,7°; ou
seja, a temperatura esteve com bons valores, mas a humidade relativa esteve muito elevada
o que pode levar à proliferação de microrganismos. Foram detectados:
o 2FOT - 1 coleóptero.
No espaço de acesso ao público os valores obtidos foram de 51,5 e 27 % e entre 25,2 e
20,7°C. Foram encontrados:
o 2BIB - 1 aranha, 1 mosca dos filtros e 1 mosca da areia, 1 formiga e 1 Lepisma.
Na sala G7 foram encontrados:
o G7 - 1 Lepisma.
2.2.3.4. Outros insectos e animais encontrados no CDAH
Ao longo do estágio foram sendo encontrados insectos mortos no CDAH, principalmente
nas estantes e perto da porta de entrada. Excepcionalmente, em Novembro de 2010 um
pardal entrou no CDAH mas foi rapidamente apanhado e libertado. De seguida uma lista
com os insectos capturados no CDAH:
o Em Outubro de Novembro de 2010 encontramos vários lacraus no espaço de acesso
ao público, tanto no piso 0 como no piso 1.
o Dia 9 de Dezembro de 2010 encontrámos um insecto vivo no piso 1 do CDAH,
identificado como um coleóptero.
o Em Janeiro de 2011 foram encontrados dois insectos vivos, identificados como
coleópteros.
o Dia 10 de Fevereiro de 2011 encontrámos um detector perdido no AH sem data,
onde foram identificadas 4 moscas minúsculas.
o Dia 22 de Fevereiro de 2011 encontrámos dois insectos mortos nas estantes do piso
1, um deles, identificado como um mosquito e o outro como um coleóptero.
25
o Dia 23 de Fevereiro de 2011 foi encontrado um insecto com asas e duas
características manchas vermelhas no dorso, identificado como sendo um
coleóptero.
o Dia 30 de Março foi encontrado um detector perdida sem data, na sala G7 onde foi
possível identificar 1 aranha, 3 Lepismas e 3 mosquitos.
o Em Abril de 2011 encontramos uma joaninha perto da recepção do CDAH.
2.2.4. Conclusões retiradas dos dados obtidos
Os insectos encontrados no CDAH, de um modo geral, são os insectos esperados dentro de
um arquivo. É curioso reparar que os lacraus não foram encontrados nas reservas, mas sim
no espaço de acesso ao público, e numa altura muito específica do ano, confirmando que
são insectos sazonais e que entraram no CDAH pelas portas e janelas. O insectos
encontrados nas reservas dizem respeito, na sua maior a Lepismas e coleópteros e, em
menor quantidade, aranhas; isto faz todo o sentido porque estes são os insectos que se
alimentam de papel ou outros materiais constituintes da documentação, ao contrário dos
lacraus, que se alimentam de outros insectos. Provavelmente, muitos dos coleópteros e
Lepismas encontrados já estavam presentes na documentação quando ela foi transportada
das antigas instalações para o CDAH, sem que houvesse uma limpeza exaustiva ou mesmo
uma desinfestação de todo o espólio, o que seria o recomendado, em casos semelhantes.
2.2.5. Prevenção de Pestes - Tratamentos recomendados
A palavra de ordem hoje em dia, na Conservação e Restauro, diz respeito à prevenção! No
caso dos insectos aplica-se a mesma regra: se podermos evitar o aparecimento de insectos
não teremos de recorrer a medidas dispendiosas para os erradicar.
Tradicionalmente utilizavam-se insecticidas químicos e fungicidas para matar os fungos e
insectos, como por exemplo, a utilização de arsénico, DDT, compostos de mercúrio, entre
outros compostos extremamente tóxicos não só para os insectos mas também para o ser
humano. Uma grande desvantagem destes compostos é o facto de permanecerem sobre os
objectos e hoje em dia, se estivermos a trabalhar com objectos anteriormente tratados com
DDT, por exemplo, temos de ter um cuidado redobrado para não tocarmos nem inalarmos
26
quaisquer dessas partículas que podem permanecer, mesmo depois de uma limpeza
cuidada30.
Hoje em dia, nenhum destes produtos é permitido, optando-se pela utilização de outros
métodos, seguros para o ser humano, como é o método da anóxia, o método da exposição a
baixas temperaturas31 e o método de expurgo por fumigação32. O método a utilizar depende
do bem cultural e da extensão do problema encontrado: os materiais constituintes e as suas
dimensões podem pesar bastante quando escolhemos um método para erradicar pragas33.
A desinfestação por anóxia tem estado mais em voga ultimamente por ser um método
eficaz pois elimina insectos quer estejam no estágio de ovos, larvas ou adultos, mas
também ecológico e amigo do utilizador, tendo em conta que não é tóxico e não deixa
quaisquer vestígios no espólio a desinfestar. É necessário ter uma bolha de filme plástico
com elevado grau de impermeabilidade ao oxigénio; depois de colocados os objectos a
desinfestar no seu interior, o oxigénio é substituído por um gás inerte como azoto, árgon ou
dióxido de carbono permanecendo assim por 3 a 4 semanas34. Este método pode ser
aplicado em grande escala desde que tenhamos bolhas com o tamanho necessário, o que é
relativamente fácil de conseguir.
O congelamento de objectos é geralmente realizado para uma menor quantidade de bens.
Cada objecto é embrulhado individualmente em plástico e protegido por suportes em
esferovite, por exemplo, porque não devem ser empilhados em contacto uns com os outros.
O congelamento deve ser feito em arca congeladora no frost e é um processo relativamente
rápido, podendo levar 4h a atingir os 0°C e 8h a atingir os -20°C. Depois pode permanecer
nos -20°C por duas semanas ou em 72h chegar aos -30°C35. O descongelamento deve ser
30 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da
América, Sound View Press, 1991, p. 117. 31 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,
Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 68. 32 QUEIMADO, Paulo, GOMES, Nivalda, Conservação e Restauro de Arte Sacra, Escultura e Talha em
Suporte de Madeira - Manual Técnico, CEARTE, Coimbra, 2007. 33 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,
Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 68.
34 EXPM Desinfestação e Higienização Lda. (www.expm.com.pt) 16.Maio.2011 35 SCHÄFER, Stephan, Desinfestação com Métodos Alternativos, Atóxicos e Manejo Integrado de Pragas
(MIP) em Museus, Arquivos e Acervos & Armazenamento de Objectos em Atmosfera Modificada, ABER -
27
muito gradual e controlado, voltando a subir a temperatura. Quando o objecto for retirado
do congelador, a uma temperatura de cerca de 5 ou 8°C deve permanecer dentro do saco
por 24 h antes de ser removido para evitar condensação.
O expurgo por fumigação também passa pela utilização de insecticidas em líquido ou
sólido que em contacto com o ar se transformam em gás promovendo a eliminação de
insectos, em qualquer estágio da sua vida36. No entanto, a EXPM Desinfestação e
Higienização Lda. promove o serviço de reconversão de câmaras de fumigação para
sistemas de desinfestação por anóxia como upgrade tecnológico e ecológico. Trata-se da
substituição de câmaras adaptadas para óxido de etileno ou brometo de metilo
(insecticidas), possibilitando a utilização de ambientes em anóxia já não utilizando gases
tóxicos37.
Associação Brasileira de Encadernação e Restauro. Versão modificada pelo autor, de artigo publicado pela
Revista da Associação Paulista de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais, na edição nº1, 2002. 36 Telmo Dias Pereira - Expurgo ou Fumigação (http://www.telmopereira.com/Expurgo.html) 16.Maio.2011 37 EXPM Desinfestação e Higienização Lda. (www.expm.com.pt) 16.Maio.2011
28
3. Objectos de Estudo
Para que seja possível projectar um Laboratório de Conservação e Restauro de
Documentos Gráficos nos espaços desejados (G8, G e G7), é necessário que haja um
conhecimento profundo do espólio do CDAH, bem como do seu estado de conservação
actual. Só assim podemos saber que tratamentos são necessários realizar e,
consequentemente, que equipamentos, materiais e produtos terão de ser adquiridos.
Com o tempo disponível para o estágio não foi possível conhecer toda a extensão da
documentação, até porque parte da mesma ainda não se encontra nas instalações, mas
ainda assim foi possível avaliar o estado de conservação de alguma parte da colecção.
3.1. Espólio Fotográfico Francisco Oliveira
3.1.1. Identificação Preliminar
A primeira abordagem ao arquivo foi feita com uma colecção de negativos, de um
fotógrafo portimonense, ainda vivo, Francisco Oliveira. Esta colecção foi adquirida pelo
Museu de Portimão e é constituída por negativos que datam dos anos 50 aos anos 90 do
séc. XX. Maioritariamente, são negativos em película de gelatina e sal de prata38 em
película rígida de 600 x 900 mm e em rolo, a preto e branco, embora também apareçam
alguns a cores. Os temas são variados: casamentos no concelho de Portimão (Lagoa,
Monchique, Ferragudo, Estombar, Alvor, Algoz, Penina, Mexilhoeira Grande, Silves, etc.);
reportagens diversas (eventos e acontecimentos em Portimão); paisagens algarvias;
construção de prédios; tremores de terra; e retratos. Também existem alguns negativos em
vidro e alguns exemplares positivos, mas estes últimos em menor percentagem e,
geralmente, associados aos negativos. A colecção está organizada pelo autor que descreve
as datas e temas de cada rolo, envelope ou caixa.
Existe uma ficha de inventário preenchida por um técnico do CDAH, onde se fizeram
pequenas modificações em algumas informações descritivas, mas principalmente na secção
da avaliação do estado de conservação.
38 Esta informação já constava das fichas de inventário para esta colecção, sendo que foi fornecida numa
acção de formação sobre conservação de fotografia, no Arquivo Fotográfico de Lisboa, em data
desconhecida.
29
Foi criado um critério de avaliação com uma escala que vai do Muito Bom ao Muito Mau:
o Muito bom - Película aparentemente, sem qualquer alteração. Película brilhante, preta e
transparente, sem riscos, manchas ou outros danos. Possibilidade de alguma poeira
depositada à superfície;
o Bom - Alguma descoloração castanha e perda de algum brilho, embora ainda mantenha a
transparência. Marcas de erosão e manuseio com alguns riscos, impressões digitais e poeira
depositada à superfície;
o Razoável - Película com um tom acastanhado e perda de brilho, de elasticidade e de
transparência. Formação de um ligeiro espelho de prata e acentuação de manchas e riscos;
o Mau - Estado mais avançado da perda de elasticidade, tornando a película quebradiça.
Tom acastanhado muito acentuado e libertação de um cheiro vinagrento (ácido acético),
espelho de prata. Aparecimento de alguns canais e bolhas;
o Muito mau - Película endurecida e quebradiça. Alteração do suporte com ondulações
rígidas, canais e bolhas tornando-o muito frágil. Libertação de um cheiro vinagrento muito
acentuado. Manchas de bolor esbranquiçadas e película castanha, sem elasticidade.
A colecção, composta por 25 caixas de cartão está, de um modo geral, em bom estado de
conservação, excepto a partir da caixa nº 16 em que as películas se encontram em mau e
muito mau estado de conservação, libertando estas, um cheiro vinagrento muito forte e,
talvez, outros compostos. A maior parte das caixas são de grandes dimensões, mas também
existem duas caixas francesas39 e algumas caixas de cartão castanho de dimensões mais
reduzidas; para além disso, consoante a tipologia do suporte encontramos diferentes formas
de acondicionamento individual - invólucros de papel para os rolos, envelopes de papel
normal e de papel vegetal para as películas individuais, e caixas de dimensões reduzidas
para negativos individuais em suporte de película e de vidro40. Nas últimas caixas os
negativos não têm qualquer acondicionamento individual encontrando-se em contacto uns
com os outros41.
3.1.2. Exame e Análises
Para este espólio fotográfico só foi possível utilizar uma mesa de luz para observar
diferentes aspectos da documentação com luz transmitida. No entanto, poderíamos ter feito
39 Ver Apêndice de Figuras, Espólio Fotográfico Francisco Oliveira, Acondicionamento, p. 244 40 Idem, p. 244. 41 Idem, p. 244.
30
mais exames à medida que avaliávamos o estado de conservação da documentação, como
por exemplo:
o Identificação do suporte dos negativos utilizando o teste de flutuação, por exemplo;
o Utilização de radiação ultravioleta para confirmar a presença de bolores, fungos e
outros aspectos dos negativos;
o Análise do nível de acidez dos negativos.
Mas, infelizmente, nenhum destes equipamentos está presente no Museu de Portimão e não
seria razoável deslocar a documentação para realizar estes exames noutro local.
Apesar disso, foi possível realizar a avaliação do estado de conservação utilizando luvas de
algodão e a mesa de luz. Todas as caixas foram abertas e os negativos analisados à medida
que se ia modificando alguma informação na ficha de inventário em documento Excel.
Identificação dos suportes em plástico
Os suportes em plástico podem ser de três tipos:
o Nitrato de celulose;
o Acetato de celulose;
o Poliéster.
Para identificarmos cada um destes suportes podemos realizar diversos testes, alguns deles,
bastante simples. Dentro dos testes não destrutivos podemos realizar uma simples
verificação do seguinte modo: os suportes em nitrato de celulose têm gravado no bordo a
palavra Nitrate, quando se trata de película rígida42. Este tipo de película surgiu no
mercado em 1889 e revelou ser um material inflamável (tendo provocado alguns incêndios
graves) e quimicamente instável, sendo utilizada até ao início da década de 1950. Foram
produzidos em rolo e em chapas de vários formatos. Em 1924 foi criada uma película
fotográfica em diacetato de celulose (da família dos acetatos de celulose) designada por
Safety por não arder tão facilmente como o nitrato; mas só em 1949 é que surgiu a película
em triacetato de celulose, mais robusta, que substituiu definitivamente o nitrato de celulose
em todas as suas aplicações. No entanto, estes suportes continuam a ser quimicamente
instáveis43. Portanto, se a palavra Safety aparecer nos bordos dos negativos, isso quer dizer
que estamos perante um suporte de acetato ou de poliéster, já não de nitrato44. Na década
42 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 97. 43 PAVÃO, Luís, op. cit, pp. 43-46. 44 Idem, p. 98.
31
de 1950 aparece o poliéster que demonstra ser o suporte plástico de melhor qualidade e
estabilidade, sendo introduzido na fotografia em 195545. As palavras Esthar ou Cronar
poderão indicar uma película em poliéster46.
Outra forma de identificação do suporte é verificando os cortes nos bordos da película
rígida, que são eles mesmos um código de identificação produzido a partir de 1925. A
figura 5 demonstra uma lista de códigos e a indicação do suporte a que pertencem, com
base na colecção Mário Neves, que pertence ao Arquivo de Arte da Fundação Calouste
Gulbenkian47.
Se não encontrarmos qualquer referência nos bordos dos negativos poderemos, com base
na datação da colecção, ter uma ideia mais clara do tipo de películas utilizadas. Os
negativos anteriores a 1924 serão em nitrato e aqueles posteriores a 1960 já não. O
intervalo de tempo em que poderemos ter dúvidas será entre 1924 e 196048, sendo que na
nossa colecção grande parte dos negativos data de 1950 a 1970.
45 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 46. 46 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 98. 47 Idem, pp. 97-98.
48 Idem, p. 98
Figura 5 - Lista de códigos para identificar o tipo de película dos negativos.
Os códigos da esquerda foram encontrados em películas Safety, e os da direita em películas
em nitrato de celulose. Assinalado a vermelho e amarelo estão identificados os tipos de
corte encontrados no Arquivo Francisco Oliveira.
32
Podemos concluir, com base nesta informação, que grande parte desta colecção terá
suporte em poliéster, no entanto também existem muitos negativos que têm uma datação
anterior a 1960 e é muito importante que se faça uma identificação correcta desses
suportes. Todas estas informações terão consequências no modo como pretendemos
preservar e conservar esta importante colecção.
Ainda, se quisermos confirmar a presença de suportes em poliéster poderemos realizar o
teste de polarização sobrepondo dois filtros de polarização numa mesa de luz, até que
estejam numa posição em que a radiação não passe pelos filtros; introduzir a película a
identificar no meio dos dois filtros e sem movimentá-los, ir rodando o negativo até que
surjam as cores do arco-íris. Se o negativo não se iluminar, quer dizer que estamos perante
uma película de acetato ou de nitrato de celulose. Se tivermos um negativo de grandes
dimensões podemos segurá-lo por uma ponta e sacudi-lo suavemente; ao produzir um som
metálico semelhante ao de uma folha de aço, quer dizer que estamos perante um suporte de
poliéster ou de nitrato de celulose porque o suporte de acetato não é suficientemente rígido
para produzir esse som49.
Dentro dos testes destrutivos existem dois que podemos realizar quando nenhum dos acima
mencionados resultou: o teste do amarelecimento e o teste de flutuação. Como o próprio
nome diz, implicam a destruição da parte da película a testar. O teste do amarelecimento
identifica o nitrato de celulose, pois este é o único que amarelece quando se deteriora.
Corta-se uma ponta do negativo, mergulha-se em água durante alguns segundos e raspa-se
a emulsão; se o suporte for amarelo ou acastanhado trata-se de nitrato de celulose
deteriorado, mas se o suporte for incolor (transparente) nada se pode concluir. Por fim, o
teste de flutuação permite distinguir os suportes de nitrato de celulose dos suportes Safety
(acetato ou poliéster); não será possível distinguir entre acetato e poliéster, apenas
confirmar o suporte em nitrato (este teste baseia-se na densidade dos diferentes materiais).
É necessário produzir uma solução (43 cm3 de tricloroetileno + 25 cm3 de tricloroetano)
num tubo de ensaio, cortar um pedacinho do canto da película e mergulhá-la na
preparação; agita-se vigorosamente e, se a película flutuar trata-se de uma película Safety,
se for ao fundo trata-se de película em nitrato de celulose. Ainda existe a possibilidade da
película se manter a meio do tubo de ensaio, nesse caso é mais provável que seja
poliéster50. 49 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 98-99.
50 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 99.
33
Com base na deterioração que os negativos apresentam também é possível identificar o
tipo de película. Por exemplo, só as películas em acetato de celulose apresentam canais e
bolhas, bem como a libertação de um cheiro a vinagre ganhando ondulações e encolhendo.
As películas de nitrato de celulose tornam-se frágeis e quebradiças, amarelecem e a
emulsão torna-se pegajosa, libertando um cheiro a ácido. O poliéster é muito estável
quimicamente. Com base nas técnicas de produção, os negativos policromáticos (a cores)
só foram produzidos em suporte de acetato de celulose ou poliéster51.
Conclusões
No espólio em estudo, no que diz respeito aos negativos em rolo não encontramos qualquer
indicação respeitante ao tipo de suporte na própria película, mas pelo seu bom estado de
conservação, cor e datação podemos supor que é acetato de celulose.
Nos negativos coloridos encontramos as palavras Kodak Safety Film 6010, pelo que
podemos concluir tratar-se de suporte em acetato de celulose ou poliéster52.
Na caixa 10 encontramos negativos a preto e branco com cortes nos bordos que poderiam
suscitar a dúvida entre acetato ou nitrato de celulose, porque ambos podem ter aquele tipo
de corte (assinalado a amarelo na figura 5), no entanto, o tipo de deterioração que
apresenta só aparece nas películas em acetato de celulose - canais e bolhas53.
Na caixa 16, com negativos a preto e branco encontramos vários tipos de corte nos bordos,
entre eles dois que poderão corresponder a películas em nitrato (assinaladas a vermelho na
figura 5) e as restantes a películas Safety. Uma das películas é certamente com suporte em
nitrato de celulose devido ao tom acastanhado, espelho de prata e ausência de canais ou
bolhas54.
Estes exemplos dizem respeito a uma pequena parte da colecção e caixas pontuais; no
entanto servem para ficarmos com uma noção mais clara dos suportes presentes.
Os negativos mais deteriorados, nas últimas caixas, serão em acetato de celulose tendo em
conta a formação de bolhas, canais, ondulações e fragilidade da película, no entanto não
podemos descurar a possibilidade da presença de mais películas em nitrato de celulose. A
presença de películas em poliéster é provável, mas não foi confirmada. Seria necessária
51 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 100-101.
52 Ver Apêndice de Figuras, Espólio Fotográfico Francisco Oliveira, Exames e Análises - Identificação do
Suporte, p. 245. 53 Idem, p. 245. 54 Idem, p. 245
34
uma nova identificação cuidada da colecção, ou a realização de testes destrutivos para
termos números reais sobre os tipos de suporte presentes e para podermos proceder do
modo mais correcto no que diz respeito à sua conservação.
3.1.3. Avaliação do Estado de Conservação
Os maiores problemas em relação à preservação de negativos e à sua deterioração estão
directamente relacionados com a humidade relativa e a temperatura do local em que estão
acondicionados. Sendo o negativo um objecto compósito, ou seja, composto por diversos
materiais, quanto maior forem as flutuações de temperatura e humidade, maior serão as
variações entre os próprios materiais. Eles vão expandir e contrair de formas diferentes e
por isso, mais probabilidade terão de sofrer movimentações diferentes entre si, daí a
formação de bolhas, canais e outros problemas55.
A Estrutura das Películas a Preto e Branco
As películas a preto e branco são constituídas pelo suporte de plástico, tendo por cima a
imagem e o meio ligante. A imagem é dada pelo chamado "formador de imagem", que
neste caso é a prata, e o meio ligante, que é o material que sela o formador de imagem e o
mantém estável sobre o suporte - a gelatina. No verso da película ainda pode ser aplicada
uma segunda camada de gelatina que ajuda a contrariar a curvatura da camada superior de
gelatina, mantendo a película plana56.
A Deterioração dos Plásticos
As películas em nitrato de celulose e acetato de celulose são fabricadas a partir da celulose
à qual são adicionados ácidos - o ácido nítrico ou sulfúrico dá origem ao nitrato de
celulose, e o ácido acético dá origem ao acetato de celulose. Estes ácidos são adicionados à
celulose como grupos laterais. Infelizmente, a celulose tem tendência para perder estes
grupos laterais, que ao se libertarem, transformam-se em ácidos novamente, e basta que
haja apenas alguma humidade ou água ambiente para que se dê essa transformação. O
nitrato de celulose decompõem-se formando ácido nítrico, e os acetatos de celulose
decompõem-se formando ácido acético ou vinagre57.
55 Informação cedida na acção de formação sobre Conservação de Colecções Fotográficas, leccionada pelo
Professor Luís Pavão, no dia 25 de Fevereiro de 2011, no Arquivo Fotográfico de Lisboa. 56 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 111. 57 PAVÃO, Luís Idem, op. cit, pp. 145-146.
35
A acidez é uma questão pertinente na conservação dos negativos em acetato de celulose.
Uma película nova tem uma acidez de 0,05. Quando se começa a libertar o cheiro a vinagre
entra num estado de deterioração moderado e a acidez está a 0,5. Quando atinge 1,0 de
acidez a película ainda é utilizável mas o cheiro a vinagre acentua-se; assim que surgem os
canais e bolhas a acidez está num nível de 5,0. O ideal é impedir que a película atinja uma
acidez de 0,5 porque a partir desse valor o ácido presente auto-alimenta a reacção de
deterioração fazendo-a aumentar continuamente; a partir do chamado "síndroma do
vinagre" a deterioração avança muito depressa e já não interessa se os níveis de
temperatura e humidade estão correctos ou não. Para impedirmos que as películas atinjam
0,5 de acidez devemos acondicioná-las, quando estão novas, a 21°C e 50 %, o que fará
com que atinjam 0,5 de acidez em 40 anos. Se a temperatura for mantida a 10°C a película
levará 150 a atingir 0,5 de acidez; mas à temperatura de 35°C levará apenas 7 anos a
atingir os mesmos valores de acidez. Outro factor importante deverá ser o arejamento das
películas, para impedir a retenção da libertação de gases ácidos; se ficarem retidos junto
dos negativos, a deterioração acelerará pois o ácido acético libertado por um exemplar irá
contaminar os seus pares.
Para sintetizar, as consequências do ácido acético nos negativos são as seguintes:
o Cheiro a vinagre;
o O suporte encolhe criando tensões com a camada de gelatina;
o Encurvamento da película e ondulações nas margens;
o A gelatina descola-se do suporte e forma canais na superfície do negativo;
o Formação de bolhas salientes contendo um líquido ou depósitos cristalinos;
o Aparecimento de manchas azuis ou rosa no suporte que provêm da camada anti-
halo que é eliminada durante o processamento da película e que volta a aparecer
como resultado da acidificação do suporte (nas películas Agfa as manchas são azuis
e nas películas Kodak são cor-de-rosa)58.
A imagem do negativo ainda pode ser recuperada na fase inicial de degradação, em que há
uma ligeira deformação e libertação do cheiro a vinagre porque ainda é possível realizar
uma duplicação; mas numa fase mais avançada em que se formam canais e bolhas o
negativo já se encontra inutilizado e mesmo no negativo duplicado estas deformações vão
continuar a ver-se59. 58 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 146-149. 59 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 149.
36
No que diz respeito a películas em poliéster, elas são um material robusto, muito difícil de
entrar em combustão, e não é danificado pela água ou humidade, o que faz dele um suporte
ideal para negativos de separação de cores que requerem um registo de cores perfeito.
Quimicamente, é um material muito estável pois não se deteriora nem se torna quebradiço
quando envelhece. Tem características excelentes, no entanto, não é usado com tanta
frequência como seria pensado, porque algumas das suas particularidades são
desvantajosas para certos tipos de utilização. Por exemplo, sendo um material difícil de
cortar e rasgar é óptimo para conservação, mas cria problemas de fabrico quando é
necessário fazer perfurações; outro dos seus problemas é o facto de não reter água (é
impermeável) e por isso, manter sempre o formato curvo quando é acondicionado ou
comercializado em rolo. Ao contrário de outros plásticos, que embora possam ser
enrolados, assim que são molhados voltam a ganhar uma forma plana, o poliéster não, o
que o torna num material difícil para fazer bolsas de arquivo. Para além disso ainda cria
electricidade estática, atraindo poeiras e outras partículas, ao contrário dos acetatos ou
nitratos de celulose60.
A Deterioração da Gelatina
A gelatina é o material que reveste as películas e onde ficam suspensos os grãos de prata
ou corantes, ou seja, é o meio ligante da imagem. A gelatina é extraída de cartilagens,
ossos, tendões e pele de vários animais. É insolúvel em água fria, mas torna-se líquida com
temperaturas acima dos 30°C; reage muito com a humidade relativa, visto que absorve e
perde água muito facilmente e em grandes quantidades, inchando e retraindo. Tem a
capacidade para aderir muito facilmente a qualquer material - vidro, plástico, papel. Por ser
transparente e não amarelecer, permite que a luz chegue aos sais de prata no momento da
exposição; ao ser molhada, a gelatina incha deixando que o revelador e o fixador toquem
nos sais de prata e desenvolvam a sua acção química. Se for conservada num ambiente
relativamente seco, a gelatina é muito estável podendo conservar-se durante muitos anos
em bom estado de conservação. É o material perfeito para ser utilizado em fotografia61.
Portanto, a sua deterioração está associada a:
o Uma humidade relativa muito alta que a amolece tornando-a pegajosa;
60 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 150-151. 61 PAVÃO, Luís, op. cit, pp. 130-131.
37
o Por ser um material orgânico é propício ao desenvolvimento de bolores em
condições superiores a 65 % de humidade relativa. Ao penetrar na gelatina, o bolor
enfraquece a sua estrutura ao ponto de a desagregar;
o As flutuações de humidade relativa causam a contracção e retracção da gelatina
fazendo com que o suporte em plástico fique ondulado (no vidro este problema não
surge);
o Outra consequência da humidade relativa é o facto de a gelatina abrir poros quando
está húmida, permitindo a entrada de sujidades que penetram no interior, sendo
depois praticamente impossíveis de remover.
A humidade relativa dentro das reservas deve estar entre os 30 % e os 50 % com flutuações
inferiores a 5%, no que diz respeito à conservação da gelatina62.
A Deterioração da Prata
A prata é um elemento essencial na fotografia, mais propriamente os sais de prata. No
entanto, o maior factor de deterioração que lhe está associado é a oxidação. A oxidação é
uma reacção química de combinação com o oxigénio convertendo os elementos em óxidos.
O grande problema da oxidação da prata é que é impossível impedi-la de acontecer, mas a
vantagem é que esse problema pode ser revertido através da reacção redox - um átomo
pode transformar-se em ião (oxidação) e mais tarde converter-se de novo em átomo
(redução) -, que é uma reacção natural. A oxidação só ocorre à superfície dos objectos e no
caso das fotografias isso é muito problemático pois esta oxidação pode reduzir
significativamente as dimensões dos grãos de prata, fazendo-os até desaparecer e,
consequentemente, a imagem desaparece. Existem quatro consequências da oxidação da
prata:
o O amarelecimento - A oxidação reduz o tamanho dos grãos de prata, formando uma
nuvem de iões à sua volta. Alguns destes iões são mais tarde reduzidos a prata
formando-se então uma nuvem de prata fotolítica que dá o tom amarelecido.
o Perda de pormenor - As zonas mais claras da imagem são as mais afectadas por
serem menos ricas em prata. Os grãos de prata, ao serem consumidos, fazem com
que deixemos de conseguir perceber os pormenores, como uma expressão facial, as
pregas da roupa ou as texturas dos materiais.
62 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 131-133.
38
o Formação do espelho de prata - Já vimos que os iões de prata formam uma nuvem
em torno do grão quando oxidam; a oxidação da prata perto da superfície faz com
que a nuvem de iões se deposite mesmo à superfície e, ao reduzir novamente,
forma-se prata à superfície. Daí o aparecimento de uma camada de cor de chumbo,
brilhante como um espelho que designamos por espelho de prata. Quanto mais
elevada a quantidade de prata, mais rapidamente aparecerá este fenómeno, sendo
que os negativos são muito afectados por este problema.
o Formação de pontos vermelhos - Os pontos vermelhos são minúsculos pontos de
cor castanha ou avermelhada, observáveis à vista desarmada resultantes da
oxidação e depósito de prata fotolítica em torno de um núcleo.
A oxidação da prata é difícil de combater pois basta que exista uma humidade relativa
elevada e agentes oxidantes (poluição atmosférica, vapores de vernizes e tintas, ozono que
é produzido por maquinaria eléctrica, como por exemplo máquinas fotocopiadoras,
peróxidos libertados por madeiras ou cartões de má qualidade), e eles estão quase sempre
presentes63.
É muito importante que a humidade relativa seja mantida abaixo dos 40 % e que haja uma
filtragem do ar de forma a eliminar gases oxidantes64.
De modo a sintetizar a deterioração dos negativos, sabemos que os suportes em acetato de
celulose, para além da deterioração da imagem de prata e da gelatina, o plástico acidifica
podendo surgir todos os fenómenos identificados anteriormente. No que diz respeito à
deterioração de suportes em poliéster até hoje não se conhecem casos de negativos
deteriorados em arquivo, mas por outro lado, este suporte só tem cerca de 60 anos pelo que
não se podem tirar muitas conclusões65.
Conclusão sobre o estado de conservação dos negativos
À medida que era realizada a verificação do estado de conservação dos negativos, ao
desenrolar alguns rolos, foi possível sentir um cheiro mais ou menos acentuado a vinagre,
o que indica que a libertação de ácido acético está em curso, mesmo nos rolos que parecem
estar em bom estado de conservação. As últimas caixas, em pior estado de conservação,
63 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 116-119. 64 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 119. 65 Idem, p. 177-179.
39
libertam um cheiro muito forte que poderá ser uma mistura do ácido acético com a
deterioração do cartão ácido de que são feitas as pequenas caixas em que estão
acondicionados os negativos e, provavelmente, urina de rato.
Os rolos, que aparecem nas primeiras caixas, aparentam estar em bom estado de
conservação, embora acondicionados em papel, muitas vezes, deteriorado. Alguns dos
rolos foram protegidos por papel branco e amarelo actual, mas outros estão protegidos por
papel azul de embrulho muito deteriorado apresentando descoloração, rasgões e dobras,
manchas, etc., indicando ser mais antigo. Existem ainda alguns rolos embrulhados em
papel de seda; outros casos em que estão protegidos por papelão canelado que parece
conter rolos em pior estado de conservação em relação aos restantes; alguns estão
protegidos por papel de alumínio que se encontra muito deteriorado fazendo com que adira
ao rolo. Muitos destes problemas indicam a presença de humidade e variações de
temperatura ou manuseio acentuado, o que é natural em casas particulares. No entanto, de
um modo geral, as extremidades dos rolos são aquelas que mostram estar em pior estado de
conservação, apresentando66:
o Vincos;
o Lacunas no negativo provocadas por corte com tesoura, provavelmente;
o Presença de cola numa das extremidades com uma banda de cor creme causando
aderência noutros pontos da película por esta se encontrar enrolada;
o Substância de cor castanha avermelhada na película podendo ser derrame de um
líquido ou oxidação da prata.
A partir da caixa nº4 encontramos negativos a preto e branco e a cores que já não estão
acondicionados em rolo mas sim em chapas individuais, dentro de envelopes e protegidos
por bolsas de papel vegetal. Encontram-se em muito bom estado de conservação. Os
negativos a cores são retratos tipo passe e, muitas vezes, vêm acompanhados pelo
positivo67.
A partir da caixa nº 10 começamos a sentir um cheiro mais intenso que se liberta
indicando, provavelmente, a presença de ácido acético. As películas ainda se encontram
acondicionadas individualmente, mas alguns negativos apresentam canais e bolhas68.
66 Ver Apêndice de Figuras, Arquivo Francisco Oliveira, Avaliação do Estado de Conservação, p. 247. 67 Idem, p. 247. 68 Idem, p. 247.
40
Os negativos que estão acondicionados desde a caixa nº 16 à caixa nº 24 estão em muito
mau estado de conservação, razão pela qual não estão contabilizados no documento Excel,
como os restantes. Estão agrupados em caixas pequenas muito degradadas que libertam um
cheiro extremamente intenso, sendo que, nalguns casos, o seu estado de conservação
impede a remoção dos negativos de dentro de cada caixa e, consequentemente, a sua
contagem. Apresentam os seguintes sinais de deterioração69:
o Adesão entre negativos nos casos em que foram acondicionados nas caixas
pequenas sem qualquer separação entre eles;
o Ondulações e deformações mais ou menos graves. Este facto fez com que os
negativos inchassem fazendo pressão na caixa e agora é muito difícil realizar a sua
remoção sem causar mais danos às películas;
o Canais e bolhas;
o Rigidez e fragilização do suporte;
o Espelho de prata;
Encontrámos uma película com tonalidade azul, o que é um dos resultados do ácido
acético, indicando que é uma película Agfa.
Este tipo de deterioração indica que a acidez do suporte está muito elevada, provavelmente
acima de 5,0, altura em que se começam a formar os canais e bolhas. A mesma situação
provoca a ondulação e rigidez do suporte. A oxidação e redução dos sais de prata
provocam o aparecimento do espelho de prata à superfície.
Na caixa nº 18 encontrámos um casulo de traça, indicando a presença, em alguma altura,
de traças. A deterioração encontrada nas caixas poderá indicar o ataque de traça.
Na caixa nº 19 encontrámos negativos em vidro e uma nota indicando que em 17/08/2009
procedeu-se a uma aspiração exterior da caixa. O cheiro aqui torna-se tão intenso que faz
levantar a suspeita da presença de urina de rato. As pequenas caixas dentro da caixa grande
estão fortemente atacadas por traça ou Lepisma saccarina. Os negativos em vidro não têm
qualquer material a separá-los entre si, apresentam muita sujidade depositada à superfície e
fungos. Alguns têm a imagem desvanecida, deterioração típica da oxidação da prata70.
Na caixa nº 21 demos por falta da caixa 872.
No final criámos no documento Excel uma caixa com o nº 25 que contém três documentos:
um rolo com as imagens de uma igreja, apresentando desvanecimento de imagem, um 69 Ver Apêndice de Figuras, Arquivo Francisco Oliveira, Avaliação do Estado de Conservação, p. 247
70 Idem, p. 247.
41
negativo em película rígida com a família de Francisco Oliveira e uma paisagem em
positivo que consiste na colagem de duas fotografias lado a lado formando uma
panorâmica da entrada no Rio Arade, em bom estado de conservação. Estas duas
fotografias estão coladas sobre uma cartolina criando a ilusão de uma moldura com um
friso a lápis castanho de cerca de 1cm de espessura71.
3.1.4. Proposta de Tratamento
Todas as propostas de tratamento devem basear-se em alguns princípios fundamentais da
Conservação e Restauro: o primeiro diz respeito ao reconhecimento de qualquer restauro,
ou seja, qualquer material que seja adicionado à obra de arte ou documento histórico deve
ser imediatamente reconhecível à vista desarmada, mas de modo a que não perturbe a sua
leitura em contexto expositivo; o segundo princípio diz respeito ao respeito pelos materiais
originais utilizados na obra, devendo utilizar-se sempre que possível, materiais diferentes
mas compatíveis com os da obra, ou seja, materiais que não venham a causar mais danos
no futuro, que tenham o mesmo grau de absorção de humidade por exemplo; o terceiro
princípio tem em conta o futuro na medida em que qualquer restauro realizado hoje facilite
os restauros futuros, o que depende da reversibilidade dos materiais aplicados72. Mais
recentemente, no século XX, surge o princípio da intervenção mínima, que aconselha a
uma utilização regrada do restauro para passar a haver um maior peso da conservação,
realçando que o restauro deve ser realizado, apenas, em última necessidade; pretende-se
assim, seguir uma conservação com base na preservação (controlo ambiental) e prevenção
de danos.
A presente colecção de negativos sofreu apenas uma identificação e classificação: o
trabalho realizado consistiu numa avaliação do estado de conservação e respectiva
modificação no documento digital.
Perante uma colecção nova existe uma listagem de tarefas indispensáveis: depois do valor
da colecção ter sido avaliado como sendo do interesse do Museu a colecção foi recebida e
a partir daqui devemos reunir toda a documentação e dados relativos à colecção adquirida,
observar e elaborar um pré-inventário da colecção (o que já está feito de forma não
aprofundada, temos de identificar correctamente cada suporte), limpar e instalar todas as 71 Ver Apêndice de Figuras, Arquivo Francisco Oliveira, Avaliação do Estado de Conservação, p. 247. 72 BRANDI, Cesare, Teoria do Restauro, Amadora, Edições Orion, Abril 2006, 214 p.
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espécies em embalagens de arquivo apropriadas, descrever o conteúdo, imprimir negativos
sem prova, duplicar ou copiar espécies deterioradas, fragilizadas ou em materiais instáveis,
e proceder a tratamentos de restauro se necessário73.
Na fase de pré-inventário devemos fazer a identificação do suporte e o seu estado de
conservação; a presença de fita-cola, elásticos, clipes ou agrafos que danifiquem as
espécies; a ocorrência de bolor, sinais de humidade ou água; e a presença de insectos ou
roedores. Qualquer que seja o tempo consumido a realizar esta etapa, ela deverá ser feita
com extremo cuidado pois é a partir daqui que elaboramos o plano de acção e de
intervenção na nova colecção. Em caso de existirem películas em nitrato de celulose,
devem ser separadas da restante colecção pelo alto risco de incêndio, devendo ser tomadas
as medidas necessárias para salvaguardar todo o arquivo desse risco. Todas estas películas
devem ser imediatamente duplicadas (por processos fotográficos e por um fotógrafo
experiente), sendo que as duplicações podem ser colocadas no devido lugar na colecção ou
separadas; os originais têm de ser acondicionados em arquivo frio, em depósitos isolados.
Outras das espécies instáveis são os negativos com vidros partidos, os que tenham a
emulsão a descolar e a levantar, ou com suporte muito fragilizado; estes exemplares devem
ser separados para tratamento e estabilização74.
Começamos a perceber como é importante ter vários espaços compartimentados para a
realização de diferentes tarefas:
o Um arquivo sujo para a colocação de documentação ainda por analisar;
o Um local de identificação, limpeza e acondicionamento da documentação;
o Outro espaço para realizar tratamentos de conservação e restauro;
o Um arquivo limpo para acondicionar a colecção tratada;
o Um arquivo frio para as colecções que necessitem de um ambiente específico.
Limpeza e Acondicionamento
A limpeza e o acondicionamento de colecções de negativos são indispensáveis e
fundamentais antes da colocação em reserva. Não pode haver limpeza sem haver um
acondicionamento cuidado, ou vice-versa: de nada valeria limpar os negativos para voltar a
colocá-los nas caixas contaminadas, e o mesmo se aplica para a colocação da
documentação suja em caixas ou embalagens de conservação novas. Toda a informação 73 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 257-263. 74 PAVÃO, Luís, op. cit, pp. 261-264.
43
constante nas caixas originais deve ser recolhida e mantida em fichas de caixa separadas,
bem como a informação nos envelopes individuais. Mesmo que seja possível manter a
informação nas novas embalagens, devem existir sempre fichas de caixa separadas, em
papel e digitais. O objectivo do correcto acondicionamento e inventariação também é
impedir que a colecção seja manuseada sem necessidade, e para que se quisermos consultar
apenas um negativo, possamos saber exactamente onde ele está75.
A limpeza só deve ser realizada se a emulsão se encontrar em bom estado de conservação,
sem correr o risco de se descolar. De um modo geral todas as espécies fotográficas podem
ser limpas com uma pêra de borracha que remove as poeiras e pêlos superficiais sem tocar
directamente no documento. Um pincel macio é mais eficiente a fazer essa remoção, mas
pode riscar a superfície, bem como o algodão; nunca deve ser exercida força sobre as
fotografias nem esfregar a sua superfície. Os negativos em vidro podem ser limpos no
verso utilizando um algodão humedecido; a superfície com a imagem deve ser aplicada
sobre um papel mata-borrão seco e limpo, nunca se exercendo força sobre o verso; também
há a possibilidade de utilizar uma solução de água e álcool em diversas proporções (devem
fazer-se várias experiências para ver qual será a proporção mais eficiente), mas geralmente
trata-se de um último recurso. A limpeza de películas deve ser mais moderada utilizando-
se apenas a pêra de borracha, no entanto, as sujidades maiores podem ser limpas com
diluente (geralmente tricloroetano) e algodão ou pano sempre com moderação e sem
exercer força; nunca devemos aplicar água sobre a película pois os dois lados estão
revestidos por gelatina e já sabemos que ela não reage bem à humidade76.
Em relação à remoção de fungos, como no caso dos que têm suporte em vidro, também é
possível tentar proceder à sua remoção. Os fungos desenvolvem-se em ambientes húmidos
em materiais como o papel, a gelatina e a albumina, dos quais se alimentam; podem ser
semelhantes a minúsculas teias de aranha no início e mais tarde, ficar com o aspecto de
manchas cinzento-esverdeadas. Para realizar a sua remoção podemos utilizar o
tricloroetano com as precauções referidas e realizando movimentos de dentro para fora sem
pressionar e localmente sobre a mancha. O ideal é actuar o mais rapidamente possível
impedindo que o fungo penetre em profundidade na gelatina. Se a gelatina já se encontrar
solta do suporte a limpeza não deve ser efectuada, realizando-se apenas uma embalagem de
75 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 268-269. 76 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 308-311.
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protecção do espécime com um cartão passe-partout por exemplo, impedindo que a
emulsão toque na embalagem77.
No que diz respeito à limpeza de colas temos alguns rolos com este problema. Nuns
exemplares a cola encontra-se seca, mas noutros casos a cola ainda está activa fazendo
com que a extremidade adira a outras secções do mesmo rolo. De um modo geral, as colas
conseguem ser removidas com o auxílio de uma pinça e um pouco de diluente - algumas
colas são solúveis em álcool, mas outras em tricloroetano. Qualquer um destes solventes
deve ser usado com moderação havendo a necessidade de ter o cuidado de não molhar a
superfície do negativo, aplicando-o pontualmente com a ajuda de um cotonete por
exemplo. Devemos ter sempre papel mata-borrão por baixo do negativo em tratamento e
por perto para o caso de ocorrer algum acidente ou utilização excessiva do produto. A
remoção de cola sobre a gelatina é difícil e tem tendência para deixar uma mancha amarela
na superfície78.
O tricloroetano é um produto moderadamente tóxico, sendo que deve ser manuseado ao ar
livre ou numa hotte de química79.
Os materiais de acondicionamento são muito importantes e devem ser da melhor qualidade
possível. Geralmente utilizamos papel, cartão e plástico, sendo que todos têm vantagens e
desvantagens dependendo da sua utilização e espécime fotográfico a acondicionar80. O
papel utilizando deve ser de boa qualidade, acid free ou com pH neutro ou até ligeiramente
alcalino (pH=7 é o ideal), com encolagem de gelatina ou amido (sem alumina, que é um
material ácido), e de preferência sem textura. Mas mesmo assim, os papéis alcalinos são
recomendados para negativos em acetato de celulose, que têm tendência para acidificar,
mas para fotografias a cor já não são recomendados, devendo antes utilizar-se um papel
neutro. Os cartões geralmente são utilizados para a construção de caixas ou embalagens
rígidas e devem ter consistência e robustez, e as mesmas características mencionadas para
o papel. Nunca devemos utilizar papéis ou cartões de pasta de madeira mecânica como o
cartão canelado e o cartão de encadernação. Os plásticos recomendados para embalagens
de conservação são o poliéster, o polipropileno e polietileno. O poliéster, pelas
77 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 311-312. 78 PAVÃO, Luís, op. cit, pp. 312-313. 79 Idem, p. 313. 80 Para vantagens e desvantagens do papel sobre o plástico ou vice-versa, consultar PAVÃO, Luís,
Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 223-224.
45
características referidas nos suportes de negativo tem toda a vantagem em ser utilizado
para embalagens de conservação podendo ser selado a quente. O polietileno é
quimicamente estável e não contamina as espécies, é macio e maleável (mais que o
poliéster), mas é menos transparente. O polipropileno também é estável quimicamente e
mais transparente que o poliéster, mas é mais frágil tornando-o inadequado para
embalagens que sejam muito manuseadas81.
O tipo de embalagem mais utilizado para negativos em vidro é o envelope de quatro abas
tendo de ser acondicionado com a emulsão voltada para a base (o envelope de três abas
consome menos papel, mas se tivermos umas colecção muito grande mais vale
encomendar o papel necessário e mandar cortar numa tipográfica, o que requer a
construção de um cunho). Os negativos em tira devem ser acondicionados em mangas de
papel ou plástico. Embora possamos correr o risco de não encontrar mangas com o
tamanho desejado (existem no mercado formatos de 35 mm e 120) e aplicáveis em
dossiers, podemos sempre criar as nossas próprias bolsas, agrupadas em envelopes de
papel ou em embalagens de cartão; devendo o material ser poliéster ou polipropileno82.
Digitalização e Reprodução Fotográfica
Muitas instituições, quando colocam o inventário da sua documentação online, têm optado
por colocar também uma imagem da capa do livro ou da fotografia a que se refere, o que é
excelente, pois impede algum manuseamento por parte dos utilizadores que estejam
interessados em observar a imagem, principalmente no caso das fotografias; é uma opção
muito mais rápida de consulta da documentação. Para converter um negativo para imagem
electrónica é necessário um scanner ou digitalizador; os programas de tratamento de
imagem permitem converter o negativo em positivo, corrigir o contraste, eliminar
eventuais riscos ou manchas, e reduzir ou anular algumas formas de deterioração da
imagem. Deste modo a quantidade de utilizadores que pedirão para ter acesso físico ao
negativo decrescerá substancialmente, o que é óptimo para a conservação do espólio. A
digitalização de imagens não substitui o original, de modo algum, apenas disponibiliza
aquela imagem ao público geral; não é uma forma de conservação de fotografia porque as
imagens digitais obtidas por este sistema terão os dias contados porque os actuais leitores
de imagem estarão certamente obsoletos daqui a 30 ou 40 anos, tendo em conta a forma
81 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 224-228. 82 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 231-233.
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como a tecnologia tem vindo a evoluir (são muito poucos os leitores de VHS que ainda
funcionem correctamente hoje em dia e esses, têm apenas, mais ou menos, 20 anos).
A única forma de preservar as fotografias e negativos será através da reprodução
fotográfica, ou seja, a criação de uma imagem através de outras já existentes, por processos
fotográficos. Deste modo podemos fazer cópias, duplicações e impressões a partir de um
original. Fazendo minhas as palavras do Professor Luís Pavão:
o "Cópia é a reprodução de um original opaco. Uma prova sem negativo é copiada
para dela se obter um negativo de cópia; a partir deste negativo imprimem-se
provas, de segunda geração, de qualidade menor do que as obtidas a partir do
negativo original;
o Duplicação é a reprodução de um original transparente, ou seja, um negativo ou
diapositivo. Numa primeira etapa o negativo é duplicado, dando origem a um
interpositivo transparente, que por sua vez, numa segunda etapa, é duplicado,
dando origem ao negativo duplicado. Um diapositivo a cor é duplicado
directamente para o diapositivo duplicado. Em ambos os casos a qualidade do
duplicado é muito próxima da do original.
o Impressão é a reprodução de um original transparente em papel. O original é
geralmente um negativo, a cor ou a preto e branco, ou um diapositivo a cor. Por
meio da impressão obtemos uma prova em papel, positiva"83.
No caso do Arquivo Francisco Oliveira, teríamos de proceder a duplicações e a
impressões, tendo em conta que a maior parte deles são negativos. As duplicações dar-nos-
ião negativos idênticos dos quais poderíamos fazer as impressões, poupando assim o
original.
Estas técnicas são muito importantes quando temos espécies instáveis que acabarão por
desaparecer, como é o caso das películas em acetato de celulose em início de deterioração.
Depois da deterioração se ter acentuado formando canais e bolhas, as duplicações tornam-
se impraticáveis. Aconselha-se que numa colecção de grandes dimensões devemos
duplicar em película os negativos em vidro (que costumam ser mais requisitados) e os
negativos Safety que apresentem alguma deterioração; duplicar a totalidade da colecção é
algo a considerar em função do valor, da utilização que possam vir a ter e das verbas
disponíveis, mas duplicar os negativos muito usados e deteriorados é fundamental84. No 83 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 281. 84 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 281-283.
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caso dos negativos em muito mau estado de conservação, será impossível realizar
reproduções. Poderíamos tentar digitalizá-los e melhorar a imagem através de programas,
eliminando as bolhas e canais, mas o problema da preservação da imagem, no que diz
respeito à tecnologia, dentro de 50 anos, poderá estará perdida.
Para realizarmos este tipo de reproduções é necessário haver uma câmara escura, algum
equipamento necessário e recorrer a um fotógrafo experiente85.
Tratamentos de Conservação e Restauro
A preservação em fotografia e negativos prende-se mais com um correcto
acondicionamento e limpeza do que propriamente com conservação e restauro. No entanto,
por vezes surgem situações em que é necessário realizar um tratamento mais incisivo.
Tendo em conta que muita da deterioração em negativos é irreversível, o restauro
propriamente dito do documento original seria um esforço inglório. A realização de um
restauro prende-se com o valor da peça e com o seu estado de conservação. Aliás, grande
parte dos negativos não terá grande valor no contexto em que se inserem, pelo que poderão
ser uma boa fonte de treino dos tratamentos tão delicados86. Não nos podemos esquecer de
seguir sempre um princípio de reversibilidade de qualquer tratamento efectuado, de
compatibilidade de materiais originais e adicionados, e do respeito pela autenticidade da
peça, o que se aplica a todo o património.
No caso do Arquivo Francisco Oliveira, com a avaliação do estado de conservação não
observámos negativos em vidro ou em película partidos, ou com a emulsão a descolar. O
maior problema prende-se com os negativos em tira enrolados. Quando temos negativos
em rolo surge sempre a dúvida sobre como acondicioná-los; dúvidas de ordem ética e de
ordem prática. Será razoável cortar os rolos negativo a negativo por ser mais fácil
acondicioná-los desse modo? Estaremos a perder a leitura do rolo como um todo? E será
que é mesmo mais fácil acondicionar os negativos um a um do que em rolo? E se um dos
negativos se perder? Infelizmente, ainda não existe um consenso em relação a esta
problemática, mas algumas soluções que podemos ter em conta. Luís Pavão, no seu livro
Conservação de Colecções de Fotografia defende que não devemos cortar os rolos pois em
situações reais, o tratamento desses mesmos negativos será demorado e prolongar-se-á por
tempo indeterminado, e facilmente danificamos ou perdemos um negativo pequeno em 85 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 283. 86 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 305.
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relação a um rolo. No caso de as colecções terem sido cortadas a solução adoptada é a de
encaixilhar os negativos como se fossem diapositivos e guardá-los em folhas próprias de
diapositivos (o que permite imprimi-los sem os remover do caixilho). O acondicionamento
dos rolos faz-se dentro de mangas próprias de plástico ou papel e devem ser realizar cópias
ou provas de contacto para consulta87.
Com base nisto podemos depreender que o acondicionamento deste tipo de negativo deve
ser feito com a fita estendida. É aceitável que cortemos os negativos do tamanho de tiras
que caibam nas bolsas pré-fabricadas, mas não que cortemos cada negativo um a um para
colocar em bolsas individuais. O trabalho de contagem, digitalização, limpeza e
acondicionamento torna-se muito mais moroso para 100 negativos individuais que para 20
tiras, por exemplo.
Para desenrolar os rolos e fazê-los ganhar uma forma plana podemos dar-lhes um banho de
limpeza de água destilada e Agepon, o que fará com que o acetato de celulose volte ao sítio
pois ele reage bem à humidade, quando ela é uma humidade controlada. O poliéster não
volta ao sítio com a humidade porque não absorve água, é totalmente impermeável. O
aconselhado é cortar o rolo em tiras de 5 e acondicionar assim. Antes, cortava-se em tiras
de 6 porque era o formato que cabia nos digitalizadores, mas hoje em dia, tem de ser de 5,
para negativos de 6 x 9 cm (como é o caso).
No caso dos negativos em rolo, eles estão enrolados sobre si com uma protecção de papel.
Para realizar uma simples observação do rolo torna-se difícil desenrolá-los só com duas
mãos. Se estivermos perante acetatos ou nitratos de celulose basta mergulhá-los em água
para lhe darmos uma forma plana, no entanto isso pode tornar-se perigoso se não for bem
controlado (o poliéster, como não é permeável à água e por isso, após enrolamento, não é
possível voltar a dar-lhe uma forma plana). Como já vimos, a gelatina, os sais de prata e a
película não reagem bem à humidade. Para executar o tratamento deve ser utilizada uma
espiral de revelação de rolos, utilizada por todos os fotógrafos. Os rolos devem ser
molhados em água da torneira durante cerca de 10 minutos, à temperatura ambiente (20 a
24°C); depois devem passar por um banho de água destilada e Agepon88 para remover
quaisquer vestígios de calcário. Para secarem, os rolos devem ser pendurados num local
sem poeiras, de preferência um quarto fechado, bem limpo e onde não seja possível que
levante pó; a secagem demora cerca de uma ou duas horas. Para acondicionar os rolos 87 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 247-248.
88 Agepon é um agente molhante que permite uma secagem uniforme das películas, para este caso específico.
49
devem ser cortados em tiras de cinco fotogramas e arquivados em folhas de poliéster com
mangas. No entanto, se os rolos apresentarem sinais de deterioração como manchas azuis
ou rosa, ou canais e bolhas este tratamento não deve ser executado89.
Outros tratamentos mais comuns são os de estabilização, nomeadamente de emulsões
descoladas, de negativos partidos e de provas fragilizadas. O que podemos vir a encontrar
na colecção Francisco Oliveira serão emulsões descoladas e negativos de vidro partidos.
Emulsões descoladas podem surgir em suportes em vidro e em suportes em película e o
que se deve fazer é tentar proteger a peça em embalagem própria que não toque nem
pressione a emulsão para evitar que se rasgue ou dobre. Nos negativos em vidro podemos
optar por aplicar um segundo vidro por cima do original (com 1 mm ou 2 mm), selando
assim a emulsão entre os dois vidros, que devem estar intercalados por uma moldura em
cartão ou cartolina (deve ter entre 3 mm a 6 mm de largura); os dois vidros ficam selados
com aplicação de Filmoplast P90. Para estabilizar negativos com o vidro partido podemos
fazer uma estabilização entre vidros, ou seja, aplicar um ou dois vidros (um só é mais
aconselhado para que o peso e dimensão não aumentem muito, e deve ser aplicado no lado
que não tem emulsão) àquele que está partido e selá-los com Filmoplast P90. Esta técnica
aplica-se a vidros partidos em 2 ou 3 pedaços, mas se ele estiver partido em vários pedaços
teremos de proceder à colagem dos fragmentos com cola de gelatina. O procedimento
consiste em colocar o vidro novo sobre a mesa de luz e montar o vidro partido por cima,
com a emulsão virada para cima, e proceder à selagem dos dois vidros com a fita. Se
houver necessidade de colar os vidros devemos impedir que a cola de gelatina atinja a
emulsão (o que provocaria depósitos difíceis de remover), aplicando a cola em pequenos
pontos com um pincel fino a cerca de 40°C90.
Também existe a possibilidade de realizar colagens em provas rasgadas ou reparações de
provas rasgadas com papel japonês, remoção de provas montadas por cantos, selagem de
daguerreótipos e desenrolamento de provas, mas não se aplicam a esta colecção.
Materiais necessários ao tratamento da Espólio Fotográfico Francisco Oliveira
Pêra de borracha
Algodão
Água destilada 89 Informação gentilmente cedida pelo Professor Luís Pavão, por correio electrónico.
90 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 313-317.
50
Agepon (Agfa Agepon, por exemplo)
Pincel japonês macio
Papel mata-borrão
Recipientes de vários tamanhos (para lavagem, por exemplo)
Álcool
Tricloroetano
Pinça
Pauzinhos de cotonete
Papéis de conservação acid free neutros e alcalinos
Cartões de conservação acid free ou caixas de conservação
Melinex® - poliéster
Digitalizador ou scanner
Estúdio de fotografia - câmara escura
Filmoplast P90
Cola de gelatina
Pincel fino
Recipiente para fazer banho-maria
Espátula de osso
Lupa conta-fios
Hotte química
Máquina de selar a quente
Cisalha
51
3.2. Actas da Câmara Municipal de Portimão
3.2.1. Identificação Preliminar
As Actas (Termos de Vereação) da Câmara Municipal de Portimão (CMP) compreendem
um período de 265 anos que vai desde 1712 a 1977. Pertenciam ao Centro de
Documentação e Arquivo Histórico das antigas instalações no grupo de fundos relativo à
Administração Local da CMP e foram deslocados para o Centro de Documentação e
Arquivo Histórico (CDAH) do Museu de Portimão em 2008.
O espólio estava distribuído por 42 caixas para um total de 97 documentos. Eram "caixas
francesas" provenientes das antigas instalações mencionadas, e apresentavam claros sinais
de envelhecimento e de uso91: algumas encontravam-se em bom estado de conservação,
embora o cartão seja naturalmente ácido; outras encontravam-se rasgadas não
providenciando um ambiente seguro à documentação; outras estavam coladas com fita-cola
castanha. Foi possível fazer a transferência da documentação, destas caixas, para novas
caixas acid free em cartão azul e branco, à medida que se realizava a higienização. A
numeração das caixas foi alterada compreendendo agora do nº 2.2 ao nº 2.4392.
As Actas da Câmara Municipal de Portimão não são compostas apenas pelos 97 livros,
mas também por muita documentação avulsa. No século XX, com a explosão de
manufactura de papel surgem outros tipos de documentos, como os telegramas por
exemplo. Encontrámos alguns telegramas juntamente com correspondência entre a Câmara
Municipal de Portimão com outras Câmaras algarvias e do país, e correspondência com
várias empresas de serviços, como a J. Valverde de electricidade. Muita desta
documentação estava acondicionada em capilhas laranja, no entanto, alguma
documentação ainda se encontra espalhada no interior de alguns livros.
Dos 97 documentos, 7 deles são do século XVIII, 18 são do século XIX e os restantes, 72,
são do século XX.
91 Ver Apêndice de Figuras, Actas da Câmara Municipal de Portimão Acondicionamento, p. 254. 92 A numeração antiga está em Apêndice Documental, p.140, com a correspondência respectiva. É importante
manter as caixas associadas ao número do antigo inventário, para não se perder nenhuma informação que
possa vir a ser vital.
52
Materiais e Técnicas93
De um modo geral é possível dividir esta colecção em quatro grandes grupos, tendo em
conta os materiais e técnicas utilizadas.
o No século XVIII os livros de actas são encadernados em pergaminho utilizando-se
a técnica de costura que lhe está associada, e escritos com tinta ferrogálica.
o No início do século XIX já se utilizava outro tipo de encadernação, com pastas em
cartão e coberta em tecido, costura com quatro nervos em sisal e duas cadeias de
remate, escritos com tinta ferrogálica.
o A partir de 1840 surge a encadernação com pastas de cartão e coberta em tecido
mas com os cantos e a lombada revestidos a couro, escritos a tinta ferrogálica; a
partir de 1930 com o doc. 1063 surge a coberta em papel de cor azul ou preto
texturado. Cerca de 1880, com o doc. 212, surgem alguns livros escritos com uma
tinta preta ou castanho-escuro que põe em dúvida se se trata de tinta ferrogálica ou
outro tipo de tinta. Em 1889 o doc. 218 é escrito com tinta ferrogálica. A partir de
1920, com o doc. 249, as actas passam a ser escritas com tinta preta que desbota
para azul. A partir do doc. 1211, de 1951-1952 os textos são escritos com tinta azul,
alguns deles, claramente escritos com caneta esferográfica.
o Os docs. 236 e 237, de 1912 e 1913, respectivamente, são escritos à máquina e têm
uma encadernação diferente sem costura: consiste em duas pastas em cartão com
coberta em tecido na área da lombada e papel texturado na frente e no verso. No
doc. 236 a pasta de baixo é fixa, e só a de cima é móvel para revelar o miolo; mas
no doc. 237 ambas são móveis.
Tipos de costura
o Os documentos encadernados com pergaminho (séc. XVIII) apresentam um tipo de
costura comummente encontrada neste tipo de encadernação94: com dois locais de
costura, visíveis do exterior. Do lado de fora da encadernação, na lombada, são
aplicados dois quadrados de pergaminho (como reforço), um ligeiramente acima e
outro ligeiramente abaixo do centro; os cadernos eram cosidos aí e o número de
93 Ver Apêndice de Figuras, Actas da Câmara Municipal de Portimão - Materiais e Técnicas, p. 255.
94 Foi possível observar este tipo de encadernação em pergaminhos quando me desloquei ao Arquivo
Municipal de Lisboa para realizar um Workshop em Prevenção e Sistemas de Acondicionamento no dia 14
de Dezembro de 2010 e também numa visita à Biblioteca Nacional de Portugal dia 28 de Fevereiro de 2011,
com os alunos da licenciatura em Conservação e Restauro.
53
linhas à vista corresponde ao número de cadernos que compõem o livro. Ou seja,
nestes casos o miolo é directamente cosido à encadernação. Fechos compostos por
tiras de pergaminho, todos inutilizados.
o Em 1809, com o doc. 195, surge uma encadernação com pastas em cartão e coberta
em tecido. Nestes casos o miolo é cosido à parte e a encadernação aplicada por
cima, protegendo o conjunto. O miolo destes documentos é cosido com quatro
nervos em sisal e duas cadeias de remate. Fechos compostos por tiras de tecido.
o Em 1834, com o doc. 198, surge uma costura com três nervos em sisal e duas
cadeias de remate. A encadernação é em pastas de cartão e a coberta em tecido.
Fechos em tecido.
o Em 1868, com o doc. 205, reaparecem as costuras com quatro nervos em sisal e
duas cadeias de remate. A encadernação é elaborada com pastas em cartão, coberta
em tecido, cantos e lombada revestidos a couro. O doc. 206 volta a ter uma costura
com três nervos em sisal e duas cadeias de remate, sendo a encadernação idêntica à
anterior.
o Em 1895 surge o doc. 215 com uma costura com dois nervos em sisal e duas
cadeias de remate; a encadernação é idêntica ao mencionado anteriormente.
o O doc. 218 apresenta uma costura e encadernação em bom estado de conservação
pelo que não é possível ver os nervos. No entanto, no centro de cada caderno é
possível ver seis furos, pelo que poderá ser uma costura com três fitas de nastro,
mas não é possível confirmar. No livro seguinte, doc. 221 surge uma costura com
três fitas de nastro e duas cadeias de remate por isso podemos supor que o livro
anterior teria o mesmo tipo de costura; a encadernação é idêntica ao mencionado
anteriormente. O doc. 225 (1903-1904) apresenta duas fitas de nastro e duas
cadeias de remate. No doc. 240 (1914-1915) a costura também apresenta duas fitas
de nastro e duas cadeias de remate, no entanto, é possível observar no meio de cada
caderno, seis furos indicando que aquele miolo já esteve cosido com três fitas de
nastro, provavelmente com outra encadernação. Os furos estão largos, tendo todo o
aspecto de já terem sido utilizados, o que continua a acontecer para os doc. 243,
244 e 245.
o Até ao doc. 1203 (1942-1947) a costura tem duas fitas de nastro e duas cadeias de
remate; no entanto, com o doc. 1204 (1947-1951) surge a costura com três nervos
54
em fita de nastro e duas cadeias de remate, mantendo-se até ao doc. 1241 (1969-
1970).
o A partir do doc. 1218 (1956-1957) voltam a aparecer as costuras com três nervos
em sisal e duas cadeias de remate, e surgem os capitéis, um no corte superior e
outro no corte inferior, em tecido riscado branco e vermelho, o que se vai verificar
nos restantes livros, com cores diferentes.
o O doc. 1232 é um caso interessante: a lombada apresenta quatro nervos salientes e
decorados a dourado, no entanto o miolo parece estar cosido com dois nervos em
sisal e duas cadeias de remate; não é possível confirmar esta informação porque
todo o miolo está cosido com linha branca, em pontos sucessivos, de cima a baixo.
Provavelmente tratar-se-á do ponto de luva.
o O doc. 1242 (1970) volta a ser cosido com dois nervos em sisal e duas cadeias de
remate; os restantes variam entre a costura com dois ou três nervos em sisal e duas
cadeias de remate.
Ao todo temos 7 tipos de costuras diferentes. Embora tenhamos os materiais com que as
costuras foram feitas, não sabemos qual a técnica de costura. Só poderemos ficar a sabê-lo
quando descosermos os cadernos e registarmos essa informação, o que será realizado
quando os documentos forem tratados (muitos deles necessitam de voltar a ser cosidos e
encadernados). Para a costura realizada na encadernação com pergaminho foi possível
registar a técnica de costura porque dois pequenos cadernos sofreram tratamentos de
conservação e restauro e voltaram a ser cosidos com novo fio de algodão, como veremos a
seguir.
Outros aspectos
A maior parte dos livros está etiquetada, quer seja na pasta da frente, quer seja na lombada.
A etiqueta regista o nº de acta e as datas extremas em que o livro foi escrito. Os livros com
encadernação em pergaminho apresentam etiquetas pequenas com uma inscrição do género
"Abril 1712 a Maio 1716". Nos primeiros livros com encadernação em tecido surge a
inscrição directamente sobre o tecido; mas a maioria tem uma etiqueta rectangular na pasta
da frente. Nos livros com lombada em couro por vezes surge uma etiqueta imediatamente
acima ou mesmo a cobrir uma inscrição com o nº de acta; estas etiquetas são geralmente
escritas à máquina de escrever, por isso podemos supor que são posteriores à feitura do
livro e aplicadas na mesma altura.
55
Como são termos de vereação possuem uma introdução e um termo de encerramento, as
folhas são paginadas acompanhadas de uma assinatura no canto superior direito; nos livros
do século XVIII estas informações não estão muito claras, mas no século XIX sim. No
século XX a maior parte dos livros tem 200 páginas, e têm uma espécie de impresso no
início e outro no fim onde basta preencher com a informação; as encadernações já estão
sistematizadas e são claramente Livros de Acta, feitos propositadamente para o efeito.
Aparecem algumas etiquetas, coladas nas guardas ou contra guardas, com a tipografia ou
local que produziu os livros; no século XVIII, muito provavelmente, os livros eram feitos
na altura e no local em que seriam escritos.
Todos os livros são em papel avergoado (com pontusais e vergaturas) e com marca de
água95, excepto os livros escritos à máquina. Alguns dos livros mais recentes, de finais do
século XIX deixam de ter pontusais, mas continuam a ter vergaturas e marca de água. Os
últimos dois livros já só têm marca de água não apresentando vergaturas ou pontusais.
3.2.2. Exames e Análises
No Museu de Portimão realizaram-se os seguintes exames e análises:
o Utilização de uma lupa trinocular para observar diversos aspectos da documentação
utilizando ampliação;
o Utilização de uma mesa de luz para observar diversos aspectos da documentação
com luz transmitida;
o Utilização de uma lâmpada para observação de documentação com luz rasante;
o Utilização de um íman para confirmar a presença de compostos magnéticos;
No Laboratório de Química do IPT realizaram-se os seguintes exames e análises:
o Utilização de um microscópio óptico com câmara acoplada para realizar testes
microquímicos e identificação de fibras de papel e fibras de fio de costura.
Poderíamos ter feito mais exames à medida que avaliávamos o estado de conservação da
documentação, como por exemplo:
o Utilização de radiação ultravioleta para confirmar a presença de bolores, fungos e
outros aspectos da documentação e negativos;
o Análise dos níveis de pH no papel;
o Análise da espessura dos diferentes papéis;
95 Ver Apêndice Documental, A Marca de Água nas Actas da Câmara Municipal de Portimão, p.140.
56
No entanto, nenhum destes equipamentos está presente no Museu de Portimão e não seria
razoável deslocar a documentação para realizar estes exames noutro local.
Luz rasante
Nos livros de actas realizaram-se diversos exames e análises. No que diz respeito a
exames, algumas encadernações em pergaminho foram visualizadas sob luz rasante
tornando notório o nível de encarquilhamento, rigidez e ondulações que apresentavam.
Luz transmitida
Utilizando uma mesa de luz foi possível decalcar e identificar as marcas de água nos
papéis, bem como verificar o estado de conservação da tinta, nomeadamente da corrosão
no papel. Muitas vezes, à vista desarmada não era possível ver as pequenas fissuras que
começavam a aparecer, e sob luz transmitida elas tornaram-se evidentes, pondo em causa
os tratamentos a seguir, de modo a que não se perdesse mais material.
Análises microquímicas de fibras de papel e do fio de costura
As análises microquímicas foram realizadas para determinar as fibras utilizadas no fio de
costura dos documentos do séc. XVIII, nomeadamente dos dois cadernos soltos que
sofreram tratamentos de conservação e restauro; e também para determinar as pastas
utilizadas na manufactura do papel ao longo dos três séculos que compõem as Actas da
Câmara Municipal de Portimão.
Identificação do tipo de fibras constituintes do fio de costura
Foi analisado o fio de costura do doc. 191, que se encontrava partido, com um tom muito
escurecido denotando o nível de oxidação e com fibras a soltarem-se. Este documento era
um caderno solto e sofreu tratamentos de conservação e restauro. O fio de costura que se
encontrava prestes a cair foi removido e, depois do tratamento, foi substituído por fio de
algodão de espessura semelhante. As análises microquímicas são destrutivas, mas neste
caso não fez diferença porque resultou de uma substituição de um material oxidado e
envelhecido por um novo, compatível e neutro.
Procedimento
Colocou-se parte do fio em água destilada e aqueceu-se a 65°C utilizando uma placa
térmica no Laboratório de Química do IPT, por 15 min. O objectivo foi amolecer as fibras
e libertá-las de alguma sujidade ou goma que fosse facilmente removível. Passados os 15
57
min o fio foi retirado da água e cortada uma pequena secção para desfibrilar, utilizando
uma lâmina de vidro e um microscópio óptico simples: notou-se logo que as fibras eram de
cor castanha, compridas e maleáveis. Depois de estarem bem separadas e da água ter
secado aplicou-se uma gota de corante Herzberg que optimiza a visualização das fibras no
microscópio óptico Olympus, com câmara fotográfica acoplada.
Resultados - Foi possível observar fibras longas e estreitas, com joelhos de dilatação pouco
pronunciados, marcações em cruz (cruzadas) e estrias longitudinais, o que indica a
presença de fibras de linho (Linun usitatissinum) ou de cânhamo (Cannabis sativa)96.
Quadro 2 - Imagens obtidas do fio de costura do doc. 191
200x Mesmas fibras, 400x
200x
Imagem de fibras de cânhamo do livro Fiber
Atlas - Identification of Papermaking Fibers.
100x.
96 ILVESSALO-PFÄFFLI, Maria-Sisko, Fiber Atlas - Identification of Papermaking Fibers, Finland, The
Finnish Pulp and Paper Research Institute, Springer Series in Wood Science, 1995, p. 336-339.
58
O cânhamo é uma fibra que pode facilmente ser confundida com o linho porque ambas têm
fibras longas, marcações cruzadas, estrias longitudinais e joelhos de dilatação. No entanto,
as fibras de cânhamo têm tendência para ser mais largas e com as paredes mais espessas e
por vezes, adquirem uma forma enrolada, semelhante a uma fita; as fibras de linho são
portanto mais estreita, apresentam os joelhos de dilatação mais proeminentes e geralmente,
o veio central longitudinal é mais visível97. Com base nesta informação, podemos concluir
que o fio de costura é feito a partir de fibras de cânhamo, principalmente porque é possível
identificar, na primeira imagem, uma fibra enrolada e por comparação com a imagem de
fibras de cânhamo fornecida no quadro acima.
Identificação das fibras e da pasta de papel das Actas
Foram recolhidas amostras de papel de vários livros de acta, tentando compreender o
período de três séculos de manufactura do papel, com o objectivo de diferenciar papel
proveniente de Itália, França ou Portugal. Através do estudo realizado às marcas de água,
foi possível identificar papel dos três países mencionados.
Escolha das amostras
A escolha recaiu sobre 13 amostras, uma para cada um dos seguintes livros:
• Doc. 188 (1712/ 1716) - Angoulême, França
• Doc. 189 (1741/ 1747) - Itália
• Doc. 190 (1750/ 1751) - Itália
• Doc. 191 (1752/ 1753) - Itália
• Doc. 194 (1792) - Itália
• Doc. 195 (1809/ 1815) - Itália (?)
• Doc. 200 (1841/ 1847) - Conselho de Castelo de Paiva, Portugal
• Doc. 203 (1857/ 1863) - Louzã, Portugal
• Doc. 212 (1887/ 1895) - Tomar, Portugal
• Doc. 232 (1909/ 1910) - Porto de Cavaleiros, Tomar, Portugal
• Doc. 1063 (1930/ 1931) - Tomar, Portugal
• Doc. 1211 (1951/ 1952) - Tomar, Portugal
97 ILVESSALO-PFÄFFLI, Maria-Sisko, Fiber Atlas - Identification of Papermaking Fibers, Finland, The
Finnish Pulp and Paper Research Institute, Springer Series in Wood Science, 1995, p. 267-337.
59
• Doc. 1240 (1969) - Portugal
Portanto, temos cinco amostras de papel do século XVIII, quatro amostras de papel do
século XIX e quatro amostras de papel do século XX.
Para determinar o tipo de pasta usado nos papéis das Actas foram realizados testes
microquímicos utilizando, neste caso, dois corantes específicos: o corante Herzberg e o
corante Lofton-Merrit.
Estes métodos de análise de fibras permitem a identificação do tipo de fibras presentes e as
quantidades relativas98, bem como as pastas utilizadas.
Manufactura do papel
Depois de 1800, com a invenção das fábricas de papel, mais precisamente, dos
mecanismos utilizados para fazer papel, este disseminou-se pela Europa, tornando o papel
no meio de escrita eleito. A matéria-prima utilizada eram os trapos velhos, mais fáceis de
obter que a pele para o pergaminho, por exemplo. Antes disso, o papel já era conhecido em
Espanha e Portugal no século XII, mas o seu processo de fabrico era totalmente manual e
muito moroso: os materiais fibrosos como o algodão, trapos de linho ou cânhamo eram
batidos na presença de água até chegarem à condição necessária para ser transformado em
papel; essa pasta era colocada em suspensão num tanque com água, um molde rectangular
era então mergulhado na suspensão e depois levantado trazendo consigo parte da pasta de
papel; a água em excesso era escoada e a folha de papel pressionada contra feltro ou papel
mata-borrão e deixadas a secar ao ar; o lado do papel onde se escrevia era revestido com
cola animal ou engomado para impedir que a tinta se espalhasse pelas fibras. Mas com a
introdução das fábricas de papel, este trabalho manual laborioso deixou de ser necessário;
o processo utilizado é muito semelhante ao mencionado, mas agora já eram as máquinas a
fazer quase todo o trabalho árduo, como a maceração dos trapos99.
No séc. XVIII, a demanda cada vez mais crescente de papel, excedeu a capacidade de
produção manual e os fornecimentos de matéria-prima, por isso surgiu a necessidade de
procurar novas fontes de fibras. Durante o século XIX desenvolveram-se os métodos de
produção mecânica e invenção das pastas químicas, provenientes da madeira100.
98 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, p. 39. 99 BROWNING, B. L., op. cit, pp. 2-3. 100 Idem, p. 3.
60
Fibras e pastas utilizadas na manufactura do papel
As fibras de celulose são o principal material constituinte do papel. Hoje em dia, a
produção de papel baseia-se na pasta de madeira. No entanto, sempre se utilizaram fibras
de gramíneas (palha, esparto, canas, bambu, bagaço, papiro, palma), fibras liberianas
(mitsumata, cânhamo, ramie, juta, linho, kenaf), fibras de folhas (manila, sisal) e de
sementes (algodão). As pastas utilizadas na manufactura do papel são produzidas de dois
modos: mecanicamente ou quimicamente. São classificadas de acordo com a sua origem
(madeira, algodão, palha, etc.) e de acordo com o seu processo de manufactura (mecânicas,
semiquímicas e químicas). As pastas químicas ainda podem ser divididas segundo o
processo de formação da polpa (sulfito, sulfato, etc.) e pelo branqueamento usado
depois101.
Entendemos então que o papel é, basicamente, uma folha de fibras de celulose, mas uma
grande variedade de materiais pode-lhe ser adicionada para conferir determinadas
características. A análise de papel envolve por isso, de uma forma geral, a detecção ou
determinação de vários materiais não fibrosos adicionados intencionalmente ou presentes
como impurezas102.
A identificação de fibras tem por base a aplicação de corantes que produzem uma
variedade de cores dependendo da fonte e proveniência do papel em estudo. A observação
da morfologia das fibras ajuda e é muitas vezes essencial para uma correcta identificação.
É necessária uma quantidade substancial de experiência e treino para conseguir obter os
resultados mais precisos103.
Os corantes utilizados para identificação de fibras e pastas de papel104
O corante Herzberg é usado para diferenciar entre pastas de trapo, pastas de madeira
químicas e pastas mecânicas. As pastas mecânicas adquirem uma coloração amarela
brilhante, as pastas de trapo adquire uma coloração rosa-purpúreo brilhante a roxo-
avermelhado vivo, etc105.
101 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, p. 3. 102 BROWNING, B. L., op. cit, p. 18. 103 Idem, p. 39. 104 Ver Apêndice Documental, Receitas para os Corantes Utilizados na Identificação de Fibras e Pastas de
Papel, p. 187. 105 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, pp. 42-48.
61
O corante Lofton-Merrit é usado para indicar a presença de pasta não branqueada; as fibras
vão corar consoante a quantidade de lenhina na pasta. As pastas sem lenhina mantêm-se
incolores, enquanto as pastas com muita lenhina ganham uma tonalidade azul. O corante
reage segundo o grau de lenhina presente, mas não distingue os processos de obtenção da
pasta106.
Neste caso, a escolha recaiu sobre o corante Herzberg para determinarmos o processo de
produção do papel em questão, tendo em conta que temos três séculos de história do papel
para analisar. O corante Lofton-Merrit ajuda a confirmar o resultado, porque uma pasta de
trapo não irá ganhar cor, enquanto as outras sim. Também pretendemos identificar as fibras
específicas de cada uma das pastas.
Sabemos que as pastas de trapo são as que têm um menor grau de lenhina por ser utilizada
apenas matéria-prima, ou seja, fibras como o linho, algodão ou cânhamo sem adição de
outros materiais (o algodão tem uma percentagem de cerca de 99 % de celulose na sua
estrutura); as pastas químicas de madeira, obtidas por processos alcalinos, por exemplo,
têm uma maior quantidade de lenhina que está presente na madeira em percentagens na
ordem dos 15-35 %.
Procedimento
Realizou-se a recolha das 13 amostras de papel nos livros indicados. Como é uma análise
destrutiva, cada amostra foi recolhida de um local de lacuna e com um tamanho de cerca
de 2 a 3 mm, e guardadas em saquinhos individuais selados e devidamente etiquetados
para serem transportados até ao Laboratório de Química do IPT. Uma vez aí, cada amostra
foi dividida em duas (uma parte para cada corante) em cima de uma lâmina de vidro e com
a ajuda de uma gota de água destilada. No microscópio óptico foi possível separar as fibras
de cada metade da amostra e colocá-las em lâminas de vidro separadas, com a ajuda de
uma gota de água destilada e uma sonda. Depois de a água secar foi aplicada uma gota de
corante e colocada uma lamela por cima, tentando evitar-se a formação de bolhas de ar. A
visualização e identificação das fibras e pastas foram feitas no microscópio óptico
Olympus com câmara fotográfica acoplada.
Dessa identificação surgiram os seguintes resultados:
106 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, p. 52-53.
62
Quadro 3 - Identificação das fibras e pastas 107
SÉ
CU
LOS
Nº
DOC
ASPECTO DAS
FIBRAS
HERZBERG
LOFTON-
MERRIT
PASTAS E FIBRAS
IDENTIFICADAS
XV
III
188
Fibras curtas
difíceis de separar
Rosa purpúreo Incolor
Azul
esverdeado
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Linho, cânhamo, sisal e kenaf.
189
Fibras longas fáceis
de separar
Rosa purpúreo Incolor
Azul
esverdeado
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Linho e cânhamo.
190
Fibras curtas
difíceis de separar
Violeta
vermelho
arroxeado
Incolor
Azul
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Cânhamo, sisal e algodão.
191
Fibras longas fáceis
de separar, mais
estreitas que as
anteriores
Rosa purpúreo
Incolor
Azul
esverdeado
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Linho e cânhamo.
194 Fibras muito longas
fáceis de separar
Rosa purpúreo Amostra
estragada
Pasta de trapo.
Linho e ramie.
XIX
195
Fibras curtas fáceis
de separar
Rosa
acastanhado
Incolor
Azul
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Linho, algodão, sisal e juta.
200
Fibras de
comprimento médio
fáceis de separar
Rosa
acastanhado
Incolor
Azul
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Cânhamo e ramie.
203 Fibras longas fáceis
de separar
Rosa
acastanhado
Incolor Pasta de trapo.
Cânhamo, algodão e juta.
212 Fibras longas fáceis
de separar
Rosa
acastanhado
Incolor
Azul
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Cânhamo e linho.
XX
232
Fibras de
comprimento médio
difíceis de separar
Rosa
acastanhado
Incolor
Azul
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Cânhamo e juta.
1063
Fibras de
comprimento médio
difíceis de separa
Rosa
acastanhado
Incolor
Azul
Pasta de trapo. A pasta demonstra
possuir algum grau de lenhina.
Cânhamo e juta.
Fibras estreitas, Pasta de trapo.
107 Ver Apêndice Documental, Exames e Análises - Identificação das Fibras e Pastas de Papel, p. 188.
63
1211
brancas, maleáveis,
compridas e fáceis
de separar
Rosa
acastanhado
Incolor
Cânhamo e linho.
1240
Fibras estreitas,
brancas, maleáveis,
compridas e fáceis
de separar
Rosa
acastanhado
Incolor
Pasta de trapo.
Cânhamo e linho.
Conclusão
As análises com o corante Herzberg revelaram que todas as amostras são de pasta de trapo,
ou seja, a matéria-prima utilizada foram trapos e o processo de obtenção do papel,
mecanicamente. Com o corante Lofton-Merrit, a grande maioria das fibras não corou,
mantendo-se incolor, estando em acordo com os resultados anteriores. No entanto surgem
algumas fibras que coram azul esverdeado ou azul, o que indica a presença de lenhina; é
uma característica típica das pastas mecânicas.
As fibras encontradas foram o cânhamo (Cannabis sativa), linho (Linum usitatissimum) e
ramie (Boehmeria nivea) em maior quantidade, e algodão (Gossypium), juta (Corchorus
capsularis), sisal (Agave sisalana) e kenaf (Hibiscus cannabinus) em menor quantidade;
algumas destas últimas fibras são difíceis de confirmar por serem muito semelhantes entre
si.
Para relacionar esta informação com os três séculos apurámos o seguinte, ordenando as
fibras por predominância nas amostras seleccionadas:
o Século XVIII - linho, cânhamo, sisal, kenaf, algodão, ramie (o linho surge em
maior quantidade e o ramie em menor).
o Século XIX - linho, cânhamo, algodão, juta, ramie, sisal.
o Século XX - cânhamo, linho, juta.
Nos séculos XVIII e XIX existe uma maior qualidade de fibras enquanto no século XX o
cânhamo e o linho são os líderes - provavelmente no século XX torna-se possível fazer
uma selecção mais rigorosa do tipo de fibras utilizadas para fazer o papel, daí o menor grau
de lenhina verificado neste século em comparação com os outros. De um modo geral
podemos concluir que o papel produzido para as actas (ou documentação mais importante)
é de boa qualidade e continuou a sê-lo ao longo dos três séculos mencionados.
Em relação à técnica de produção das pastas sabemos que no século XX o papel produzido
manualmente ainda era feito em alguns países (Inglaterra, Itália e alguns países asiáticos),
64
mas em escalas muito reduzidas108. Como já mencionado, as fábricas de papel surgiram no
século XVIII e tendo em conta a presença de marcas de água (muitas delas estão ligadas
directamente a fábricas de papel conhecidas) só se pode concluir que ao longo dos três
séculos, o papel foi feito em fábricas de papel - mecanicamente.
É difícil fazer qualquer ligação entre o tipo de pasta e o seu país de origem por não se
terem identificado semelhanças entre umas e outras.
Análise de partículas que se libertavam da documentação enquanto se realizava a
higienização
108 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, p. 3.
Figura 6 - Higienização do doc. 189. Figura 7 - Depois da higienização do doc. 189.
Figura 8 - Pormenor das partículas
libertadas do doc. 189, após
higienização.
65
No processo de higienização da documentação foi possível observar diferentes partículas e
tipos de sujidade que se libertavam, o que não é de espantar tendo em conta que,
provavelmente, nunca haviam sofrido uma limpeza tão profunda.
No século XVIII e XIX, mais especificamente (documentação escrita com tinta
ferrogálica), observámos a saída de umas partículas arredondadas e negras, bem como um
conjunto de poeiras, pedaços de papel queimado, resina e outras sujidades que foram
observadas ao microscópio óptico com câmara acoplada no Laboratório de Química do
IPT. Estas partículas encontravam-se acumuladas no festo dos livros, entre os cadernos, e
espalhadas por toda a extensão de cada livro, ou seja, não se acumulavam só em
determinados locais.
De início, pensou-se que as partículas negras seriam excrementos de insecto, tendo em
conta as lacunas provocadas por ataque de insectos, presentes na documentação. No
entanto, assim que se observaram as partículas ao microscópio notou-se que estas
partículas eram minerais e não orgânicas.
Pensou-se então que poderia ser algum tipo de deterioração da tinta ferrogálica, devido aos
compostos metálicos que fazem parte dela109 e portanto, poderia tratar-se de ferro.
Para confirmar a presença de ferro utilizámos um íman vulgar porque sendo um mineral
magnético, iria ser atraído pelo íman, e de facto foi o que aconteceu (figura 11). Também
foi identificada a presença destas partículas "presas" a algumas palavras escritas nas actas,
e realizou-se a sua visualização na lupa trinocular no Laboratório de Conservação e
109 Ver Apêndice Documental, A Tinta Utilizada nas Actas da Câmara Municipal de Portimão, p.211.
Visualização de uma amostra da poeira que se libertava da documentação. 40x.
Figura 9 - Partículas minerais, resina e desperdícios orgânicos (de insectos ou do próprio
documento - miolo ou encadernação)
Figura 10 - Pedaço de papel queimado.
Fig. 9 Fig. 10
66
Restauro do Museu de Portimão (figura 12 (a e b)), identificando que as partículas se
encontravam à superfície do papel.
No entanto, não existe qualquer bibliografia que se refira à deterioração da tinta
ferrogálica na forma de partículas minerais; encontrou-se apenas um artigo que comenta a
formação de cristais na tinta ferrogálica110, o que não é o caso.
Também não fazia sentido tratar-se de cristais porque estas partículas mostram erosão
(extremidades arredondadas), tipicamente provocada por ventos ou pelo mar. A quantidade
de partículas presentes em cada livro e o facto de surgirem partículas com tamanhos
diferentes também põe de lado a hipótese de serem algum tipo de deterioração da tinta
ferrogálica.
110 LA CAMERA, Deborah, Crystal Formations Within Iron Gall Ink: Observations and Analysis, Journal of
the American Institute for Conservation, 2007 (Vol. 46, Nº 2), pp. 153-174.
Figura 11 - Partículas minerais
magnéticas atraídas por um
íman. Visualização na lupa
trinocular no Laboratório de
Conservação e Restauro do
Museu de Portimão. 1.5x.
Figura 12 - Partículas minerais
depositadas à superfície de uma
palavra escrita com tinta
ferrogálica.
Figura 12 (a) - Lupa trinocular (.67x)
Figura 12 (b) - Lupa trinocular (3.5x)
Fig. 12 (a)
Fig. 12 (b)
67
Como não se conseguia obter qualquer informação sobre o que poderiam ser estas
partículas, decidi contactar o The Netherlands Cultural Heritage Agency em Amesterdão,
na Holanda, através do The Iron Gall Ink Website (ink-corrosion.org). Amavelmente,
Birgit Reissland111 respondeu e conseguiu ajudar-nos a decifrar este enigma. As partículas
foram identificadas como sendo "blotting sand" ou seja, uma espécie de areia que se
aplicava sobre as páginas dos livros para que a tinta ferrogálica secasse mais depressa.
Geralmente estas areias eram magnetite preta (daí que fossem atraídas por um íman). Foi
cedida uma imagem de "blotting sand" de livros manuscritos de Espanha do século XVII,
para comparação (figuras 13 e 14).
É possível ver as semelhanças entre as
duas amostras (figuras 13 e 14
comparadas com a 15), por isso
podemos ter a certeza que estamos
perante magnetite preta. Assim,
conseguimos explicar todos os aspectos
mencionados, e tem toda a lógica que as
partículas estivessem espalhadas por
toda a extensão dos livros, acumuladas
perto do festo.
111 Birgit Reissland - Conservadora de Documentos Gráficos no The Netherlands Cultural Heritage Agency
(RCE) do Ministério da Educação, Cultura e Ciência da Holanda, editora do The Iron Gall Ink Website (ink-
corrosion.org) e autora de inúmeros artigos e estudos sobre a tinta ferrogálica e sua deterioração no papel.
Figuras 13 e 14 - Imagens de "blotting sand" cedidas por Birgit Reissland do The
Netherlands Cultural Heritage Agency (RCE).
Figura 15 - Imagens obtidas da amostra das partículas
das Actas da Câmara Municipal de Portimão. 40x.
68
3.2.3. Avaliação do Estado de Conservação
As Actas da Câmara Municipal de Portimão são compostas por materiais e técnicas
diferentes, tendo em conta que percorrem três séculos. Iremos dividir a avaliação do estado
de conservação conforme o século a que pertencem, porque a deterioração que mostram é
diferente em cada um; aqui mostramos um resumo com a informação essencial112. Esta
avaliação foi feita ao mesmo tempo que se realizava a higienização e se preenchia uma
ficha de avaliação do estado de conservação113, registando todas as degradações, lacunas
ou manchas. A escala de avaliação vai do Muito Bom ao Muito Mau, como acontecia com
os negativos da Colecção Francisco Oliveira.
Século XVIII
Do século XVIII existem sete documentos: dois deles são cadernos soltos sem
encadernação e com o fio de costura partido; os restantes são manuscritos encadernados
em pergaminho.
o A tinta ferrogálica encontra-se oxidada, estando o papel em risco de se perder;
desvanecimento e migração da tinta.
o Manchas variadas - sujidade generalizada, manchas escuras semelhantes a fuligem
nas áreas de dobra e no verso dos cadernos soltos, manchas causadas por
substâncias gordurosas, manchas de queimaduras, manchas provocadas por líquido
causando linhas de maré, manchas esbranquiçadas ou esverdeadas provocadas por
fungos localizadas nas cobertas de pergaminho.
o Impressões digitais com manchas de gordura ou de tinta, pontualmente, no miolo
dos livros.
o Dobras e rasgões.
o Lacunas provocadas por ataque de insectos - galerias e orifícios circulares
provocados provavelmente, por larvas de coleópteros, e lacunas típicas do ataque
por Lepisma. Presença de excrementos de insecto (provavelmente de Lepisma,
tendo em conta os excrementos que observámos na análise dos detectores).
o Ondulações do miolo.
o Os fechos em pergaminho, quando existem, encontram-se inutilizados.
112 Ver Apêndice Documental, Actas da Câmara Municipal de Portimão - Avaliação do Estado de
Conservação, p. 206. 113 Ver Apêndice Documental, Ficha de Avaliação do Estado de Conservação - Livros, p. 221.
69
o Todos os documentos apresentam vestígios de queimadura, mas o que está em pior
estado é o doc. 189 (1741-1747) que apresenta todo o corte da frente queimado,
perdendo-se cerca de 5 a 10 % da totalidade do livro.
o Alguns documentos apresentam anotações a lápis por cima de certas palavras, como
se alguém tivesse tentado decifrar o texto.
o O pergaminho da encadernação, em todos os livros, encontra-se rígido, sem
elasticidade, e com encarquilhamento. Apresenta marcas de desgaste e erosão,
típicas de uma utilização excessiva do livro.
o Muitas das lombadas encontram-se deformadas, obrigando o miolo a ser projectado
para fora da encadernação, principalmente os cadernos centrais. Este tipo de
deterioração é comum quando os livros são empilhados em cima uns dos outros
durante muitos anos; o peso obriga a lombada a deformar-se: uma razão para
evitarmos que os livros se sobreponham directamente.
o As etiquetas são brancas com auréola azul, com a inscrição das datas extremas de
cada livro; apresentam lacunas e ataque de insectos, nomeadamente de Lepisma.
o O fio de costura encontra-se oxidado e partido em todos os documentos.
De um modo geral, tanto os cadernos soltos como os livros apresentam queimaduras
indicando que estiveram perto de um incêndio; provavelmente, as manchas e linhas de
maré são consequência da tentativa de combater o fogo. O estado de conservação destes
livros é mau ou muito mau.
Século XIX
No total existem 19 livros do século XIX, sendo que o último - doc. 218 - é de transição do
século XIX para o século XX (1899-1901).
Os primeiros livros deste século apresentam encadernação com pastas em cartão e coberta
em tecido de várias cores. Em 1841 com o doc. 200 (1841-1847) surge a lombada e os
cantos revestidos a couro e as pastas cobertas com tecido (castanho, verde).O miolo destes
livros varia entre papel branco/ creme e azul, avergoado e com marca de água; os primeiros
livros com coberta em tecido ainda apresentam fechos em duas fitas de tecido, embora
estejam inutilizados. Nota-se um vestígio de tinta vermelha nos cortes indicando que terão
sido pintados. As etiquetas são aplicadas na pasta da frente com as datas extremas de cada
livro.
De um modo geral, apresentam os seguintes sinais de deterioração:
70
o Festo e lombada deformados.
o A coberta apresenta marcas de erosão e desgaste, e os nervos provocaram marcas
salientes nas pastas; muitas vezes os nervos ficam a descoberto porque a coberta
encontra-se extremamente gasta e a erosão dos mesmos provocou a sua ruptura.
Lacunas no tecido, principalmente nos cantos e no corte inferior, onde existe maior
erosão no manuseamento. Presença de manchas de líquidos, tinta ferrogálica, cola.
o Miolo ondulado; por vezes os nós dos nervos da costura, resguardados entre as
pastas e as guardas, provocaram deformações pontuais no miolo.
o Nas guardas observamos manchas de cor castanha provocadas pela cola aí aplicada.
o Oxidação do papel provocando amarelecimento do mesmo.
o Presença de excrementos de insecto nos cortes e no miolo do livro.
o Dobras, geralmente nos cantos. Pequenos rasgões.
o Manchas variadas: linhas de maré provocadas por derrame de líquidos, manchas de
gordura.
o Lacunas causadas por ataque de insectos - galerias, orifícios e lacunas com a típica
margem desigual provocada por Lepisma.
o Presença de fungos no miolo e em algumas cobertas.
o Pingos de cera amarela.
o Presença de carcaças de insectos - aranhas, Lepismas, etc.
o Impressões digitais com tinta e gordura.
o Migração e desvanecimento da tinta ferrogálica; as letras maiores ou com presença
de maior quantidade de tinta apresentam uma auréola castanha à volta, indicando o
avançado estado de deterioração da tinta.
o Pingos de tinta ferrogálica com a auréola castanha à volta.
o Apontamentos com tinta azul, de esferográfica actual, no miolo; manchas de tinta
azul.
De um modo geral, estes livros estão em melhor estado de conservação quando
comparados com os livros do século XVIII, no entanto muitos deles encontram-se em mau
estado de conservação. As ondulações no miolo já não são tão graves, tal como as lacunas
provocadas pela tinta ferrogálica; no entanto, existe a necessidade de tentar neutralizar a
acção oxidante da tinta ferrogálica, pois corremos o risco de perder muita da leitura desta
documentação, tão importante para a história da cidade de Portimão.
71
Alguns dos miolos surgem com papel azul, como já foi mencionado; no entanto, alguns
dos livros têm uma cor difícil de definir: embora algumas folhas pareçam ser de cor creme,
outras têm um tom esverdeado muito apagado, o que pode indicar que era papel azul, na
sua origem. O papel azul é papel de cor creme tingido com corantes; se for este o caso,
notamos que em documentação mais antiga a cor azul quase desaparece por completo
talvez devido à humidade sofrida ao longo do tempo, indicando que talvez este tipo de
papel não possa sofrer tratamentos aquosos, com risco de se perder totalmente o tom;
noutros casos é notório que o papel é azul.
As etiquetas apresentam lacunas causadas por Lepisma, que preferem as proteínas
presentes na cola, e também apresentam rasgões e lacunas devido ao manuseio; o facto de
as etiquetas se encontrarem do lado de fora da encadernação torna-as mais susceptíveis à
degradação. No total, 11114 dos 19 livros têm de voltar a ser cosidos.
Século XX
A maior parte das actas em estudo dizem respeito a documentação do século XX: dos 94
livros, os deste século são 72, representando cerca de 74% da totalidade.
O tipo de degradação encontrado é muito semelhante ao que já foi mencionado.
o Ligeira oxidação do papel do miolo.
o Pequenos rasgões ou lacunas, pontualmente, no miolo.
o Manchas de gordura, linhas de maré pontualmente.
o Ligeira ondulação do miolo.
o Marcas de erosão e desgaste na coberta, em menor gravidade comparando com os
livros dos séculos anteriores. Riscos provocados por um objecto aguçado cortando
a coberta.
o A cola nos festos apresenta-se ressequida e a desagregar-se; manchas de oxidação
nas guardas provocadas pela cola utilizada para colar as guardas às pastas.
o A tinta não apresenta sinais de corrosão ou desvanecimento, apenas uma ligeira
migração.
o Carcaças de insectos encontradas dentro de alguns livros - aranhas, Lepismas.
o Lacunas causadas por ataque de insectos - pequenas lacunas circulares e lacunas
provocadas por Lepisma.
114 Documentos 195, 196, 197, 199, 200, 201, 202, 205, 212, 215 e 217.
72
o Impressões digitais provocadas por gordura.
o Temos encontrado frequentemente, e cada vez mais, manchas quadrangulares de
oxidação localizadas em várias folhas: poderão corresponder a documentos avulsos
que foram deixados dentro dos livros, provocando um aumento de oxidação.
Geralmente a documentação avulsa encontrada dentro dos livros é feita com papel
de pior qualidade, com revestimento ou papel de telegrama de cor castanha
acentuada, o que pode explicar o aumento de oxidação localizado nesses locais.
o Encontramos restauros antigos: aplicação de fita-cola para tapar uma lacuna ou
rasgões - amarelecimento e desagregação da película plástica da fita-cola,
permanecendo o adesivo.
o Algumas pastas encontram-se extremamente deformadas por terem sido
gravemente molhadas, apresentando grandes linhas de maré com manchas escuras e
presença de fungos brancos; em documentação a partir de 1939 até 1955
encontramos fungos rosa, roxos e azuis no miolo, espalhando-se pelas folhas com
maior ou menor intensidades, conforme o caso.
o Nos últimos documentos observamos, com a higienização, a saída de muitas
partículas provenientes da lombada e encadernação, ao invés do pó negro que
observávamos anteriormente, indicando o mau estado de conservação das lombadas
em couro - marcas de desgaste e erosão, couro quebradiço e a desagregar-se, com
maior destaque no doc. 1218A (1957-1959).
No total dos 72 livros, 19115 têm de voltar a ser cosidos; embora a maioria esteja em bom
estado de conservação, alguns cadernos estão soltos, o fio de costura partido ou os festos
rasgados.
115 Documentos 218, 221, 235, 236, 237, 240, 244, 247, 248, 249, 250, 251, 297, 439, 1063, 1198, 1202,
1203 e 1212.
73
3.2.4. Proposta de Tratamento
A proposta de tratamento aqui apresentada é de carácter geral, tendo em conta que temos
um conjunto de 97 documentos, tirando a vasta documentação avulsa integrada nas actas.
No entanto, foi realizada uma proposta de tratamento individual para cada documento
(registada nas fichas de avaliação do estado de conservação), pois cada livro é único e
apresenta características próprias.
Um livro não é apenas papel, cartão, couro e tecido, é acima de tudo, um conjunto que
deve responder a uma necessidade precisa: a de ser possível abri-lo. Por isso a
encadernação acaba por ser uma estrutura que protege o miolo, mas também deve ser
funcional; pode dizer-se que é a parte mecânica do livro, e o seu estado de conservação
tira-lhe muitas vezes essa capacidade116. O Conservador Restaurador tem de ter os
conhecimentos necessários sobre o funcionamento e construção de um livro para poder
seguir as normas regentes de conservação e restauro - respeito pelo original, utilização de
materiais reversíveis e estáveis à passagem do tempo.
O local de trabalho e a base para os documentos deve ser limpa a higienizada sempre que
possível, antes e depois de qualquer tratamento. A água a utilizar também deve ser tida em
consideração: se utilizarmos água da torneira deve ser pedida uma análise ao departamento
de águas da cidade para sabermos que químicos ou minerais estão presentes, bem como o
seu pH; a água da torneira é muitas vezes tratada com aditivos como o cloro para a tornar
segura para uso humano; e para além disso pode conter impurezas das canalizações.
Primeiro começou por utilizar-se água destilada ou desionizada por se pensar ser a mais
limpa e tratada possível, no entanto este tipo de água não possui os iões prejudiciais mas
também não possui os benéficos para o papel, tornando-o mais frágil; hoje em dia ainda se
utiliza este tipo de água com adição de pequenas quantidades de hidróxido de cálcio ou de
carbonato de magnésio para compensar a falta dos iões benéficos. É importante que o pH
da água esteja entre 7 e 8 porque vai melhorar a força mecânica do papel e o seu aspecto de
uma forma geral - a adição de hidróxido de cálcio, por exemplo, torna a água mais base, o
que é ideal117.
116 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán
Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 23-24. 117 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &
Burford Publishers, 1987, pp. 69 e 85.
74
Nas Actas da Câmara Municipal de Portimão foi visto que uma parte dos livros teria de
voltar a ser cosida, as encadernações e miolos planificados e consolidados. Veremos como
cada passo deve ser executado:
Desmontagem do livro - Antes de descoser o livro temos de desmontá-lo, no entanto nem
todos os livros necessitam deste tratamento; cada caso tem de ser estudado em particular.
A desmontagem de um livro deve ser realizada quando o livro tem de ser descosido para
um tratamento químico ou para refazer uma costura que está frágil ou rompida; quando é
necessária uma consolidação do miolo a nível de rasgões no festo; ou quando a montagem
entre as diferentes partes do livro está especialmente deteriorada, por exemplo, quando as
pastas estão soltas ou os fios de costura estão largos pondo em causa a integridade de todo
o conjunto. A desmontagem deve ser um processo cuidadoso para evitar romper os festos
dos cadernos118; todas as partes removidas devem ser guardadas para reutilização na altura
da montagem porque sempre que possível, devemos utilizar os materiais originais.
A desmontagem diz respeito à separação entre a encadernação e o miolo, o que implica
remover as guardas e a lombada (caso estejamos perante uma encadernação com pastas e
coberta como é o caso dos livros dos séculos XIX e XX). Sempre que possível a
desmontagem deve ser feita a seco - utilizando apenas um bisturi ou espátulas -, mas
existem outras opções: quando não é possível remover a guarda utilizando apenas um
bisturi podemos humedecer ligeiramente o papel. É recomendado que se impregne a
guarda com Tylose MH 300 (esta cola tem a vantagem de difundir a humidade lenta e
regularmente o que vai reactivar a cola sem afectar o cartão das pastas), utilizando então a
ajuda de uma espátula para remover a guarda; após a remoção da guarda a Tylose não deve
ser removida porque funciona como um reforço ao papel119. Se as guardas e pastas
estiverem em bom estado de conservação mas ainda assim seja necessário remover a
encadernação para realizar nova costura, as guardas podem ser mantidas cortando-se a sua
ligação com o corpo do miolo na área do festo120. A remoção do fio de costura deve ser
realizado com cuidado para não danificar o festo, e depois de soltos os cadernos devem ser
contados e enumerados.
118 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán
Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 47-48.
119 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, op. cit, p. 56. 120 Idem, p. 70.
75
Portanto, no caso dos livros encadernados com pergaminho, já foi mencionado que todos
eles têm de ser cosidos de novo e por isso, devem ser desmontados. O fio de costura tem de
ser substituído e pode ser cortado com um bisturi para facilitar a sua remoção; todos os
pedaços de pergaminho devem ser guardados para tratamento individual - as
encadernações são compostas por uma única coberta em pergaminho e dois pequenos
quadrados de pergaminho utilizados para reforçar a costura na lombada. No caso dos livros
encadernados com pastas de cartão e coberta em tecido ou papel as soluções são as
mesmas, tendo cada caso de ser avaliado individualmente; algumas das guardas coladas às
pastas de cartão encontram-se em mau estado de conservação e deverão ser substituídas ou
removidas para sofrerem uma reintegração do suporte e voltarem a ser utilizadas.
Limpeza das encadernações em pergaminho - A limpeza de pergaminhos pode ser feita
numa primeira fase com trinchas japonesas (Hake) de cerdas macias para remover sujidade
superficial; para remover excrementos de insectos basta utilizar um bisturi. Para remover
manchas de gordura pode utilizar-se borracha em barra com grão mais abrasivo, tendo o
cuidado para não provocar marcas microscópicas na superfície do pergaminho. Por vezes,
utilizando a borracha eléctrica o pergaminho pode ficar demasiado limpo, ganhando até
uma tonalidade mais clara porque a borracha pode retirar-lhe a patina de envelhecimento
que faz parte do objecto e que lhe confere a sua idade e valor. Por isso a utilização da
borracha eléctrica deve ser evitada, a não ser que se realizem testes microscópicos para
avaliar o grau de abrasão que está a ser feito; o conservador deve ser capaz de manter
sempre uma perspectiva crítica para não se deixar levar pelo tratamento. Os tratamentos de
planificação do pergaminho, como utilizam água e hidróxido de cálcio, também podem
ajudar a remover algumas manchas ou gorduras na superfície do pergaminho.
Planificação e consolidação das encadernações em pergaminho - As principais
deteriorações presentes no pergaminho são causadas pelo manuseamento e pelas variações
de temperatura e humidade relativa, a que o colagénio é especialmente sensível. Surgem
regularmente problemas de ondulações, dobras, o pergaminho torna-se rígido e pouco
flexível121, que é exactamente aquilo que observamos com as encadernações do século
XVIII, para além das manchas, descolorações e colonização biológica, nomeadamente por
fungos.
121 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, Per una Didactica del Restauro Librario, Diario del corso di
formazione per assistenti restauratori della Regione Siciliana, Palermo, Biblioteca Centrale della Régione
Siciliana, 1990, p. 95.
76
A solução mais comummente utilizada para dar a forma original ao pergaminho passa por
uma humidificação controlada, no entanto existe sempre o risco de ele voltar a ficar
ondulado se for mantido num ambiente com humidade relativa baixa, por isso é muito
importante que exista uma reserva onde estes valores possam ser monitorizados e
assegurados122 (o ideal seria uma humidade relativa entre os 50 e os 55 %). A técnica mais
eficaz consiste em colocar o pergaminho num bastidor dentro de uma câmara de
humidificação onde se possa controlar a humidade e, progressivamente, ir aumentando a
tensão do pergaminho para este começar a planificar123. Nem sempre é possível obter uma
câmara de humidificação, mas existem formas de conseguir os mesmos resultados: por
exemplo, se tivermos uma tina de lavagem de grandes dimensões, podemos colocar aí o
objecto (quer seja colocado num bastidor ou não) e tapar a área aberta com material
impermeável, como o poliéster, e num dos cantos introduzir a boca de um humidificador
ultrasónico até começarmos a ver o vapor a fazer efeito no pergaminho, relaxando-o; no
entanto, desta forma não podemos controlar a humidade que estamos a introduzir a não ser
que coloquemos um medidor de humidade no interior da câmara improvisada. Numa
câmara de humidificação é recomendado que o documento seja humidificado durante cerca
de 3 horas, sem qualquer protecção, e depois colocá-lo numa sanduíche de Gore-Tex (ou
Sympatex) que permita que a humidade chegue ao documento, sem o molhar, durante mais
uma hora. Os tempos aconselhados não são ideais para todos os documentos, porque a
capacidade para um pergaminho absorver água depende muito da sua espessura e ambiente
em que esteve depositado, por isso devemos sempre testar e fazer um controlo de todo o
tratamento até percebermos como é que o documento está a reagir124.
Para elevar o pH do pergaminho até níveis de 8 a 9 podemos fazer a pulverização com uma
solução de água destilada e hidróxido de cálcio, conferindo-lhe assim reserva alcalina,
diminuindo a probabilidade do pergaminho vir a ficar ácido novamente. Por vezes, em
casos com pergaminhos extremamente secos e quebradiços podemos realizar a sua imersão
num banho com a mesma solução; mas para que o banho não seja tão agressivo, o
122 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, Per una Didactica del Restauro Librario, Diario del corso di
formazione per assistenti restauratori della Regione Siciliana, Palermo, Biblioteca Centrale della Régione
Siciliana, 1990, p. 96. 123 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, op. cit, p. 96. 124 JONYNAITE, Dalia, VESELAUSKIENE, Dalia, The Application of Modern Technologies for Parchment
Conservation, Lithuania, Lithuanian Art Museum, National Library of Lithuania, 2001.
77
pergaminho deve estar bem humedecido antes da imersão. No entanto, esta deverá ser uma
medida de último recurso, não aconselhável. Existe ainda uma solução muito eficaz no
amolecimento do pergaminho: polietileno glicol (PEG) usado numa solução aquosa na
proporção de 2 a 5 %; esta solução é utilizada quando o pergaminho se encontra
extremamente desidratado porque a solução permite que a água entre em maior contacto
com as moléculas de colagénio no pergaminho. No entanto esta solução deve ser usada
apenas em casos muito graves e por pouco tempo porque ainda não se conhecem os seus
efeitos a longo prazo: tem-se verificado uma subida na transparência do pergaminho
quando se utilizam grandes quantidades de PEG e ainda uma maior dificuldade em aderir
os restauros de pergaminho quando existem lacunas que necessitam de ser preenchidas.
Sempre que possível devemos evitar a adição de químicos qualquer que seja o tratamento,
e particularmente com o pergaminho125.
Logo após a humidificação o pergaminho deve permanecer sobre pesos ou num bastidor
para planificar. Geralmente esta última opção é preferível porque proporciona um maior
controlo da intervenção e é mais gradual. Para construirmos um bastidor devemos ter uma
moldura de madeira macia de dimensões superiores às do pergaminho, com pregos
colocados a toda a volta. As extremidades do pergaminho são então presas com grampos
pequenos aos pregos, através de fio de algodão resistente para podermos ir aumentando a
tensão exercida obrigando assim o pergaminho a planificar gradualmente. As extremidades
dos grampos devem ser devidamente protegidas com papel mata-borrão, por exemplo, para
evitar que o pergaminho fique marcado. Este tratamento deve ser feito sempre com muita
atenção para evitar que o pergaminho se rasgue, o que poderá acontecer facilmente se este
estiver demasiado seco e quebradiço. O pergaminho só deve ser removido do bastidor
quando se encontrar perfeitamente seco, ou poderá voltar a ondular126. Em bibliografia
mais recente tem aparecido a hipótese de utilizar a mesa de sucção para realizar a
planificação, com resultados mais satisfatórios e prolongados do que no bastidor.
Utilizando a mesa de sucção, colocamos o documento já humidificado entre duas folhas de
poliéster e ligamos a mesa com 150 bar (medida de pressão); temos de ir controlando a
planificação tentando puxar os cantos cuidadosamente para obter o efeito pretendido. Este
125 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, Per una Didactica del Restauro Librario, Diario del corso di
formazione per assistenti restauratori della Regione Siciliana, Palermo, Biblioteca Centrale della Régione
Siciliana, 1990, pp. 96-97. 126 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, op. cit, p. 97.
78
processo de planificação pode durar apenas uma hora, mas temos de ir controlando as
necessidades de cada objecto; após a planificação substituem-se a folhas de poliéster de
cima por um papel mata-borrão durante uma hora para ajudar a secar, no entanto, a
secagem final deve ser feita sobre placas e pesos. Tem-se verificado que se fizermos toda a
secagem na mesa de sucção o pergaminho tende a ficar com os cantos flectidos e o centro
abaulado. É importante que o lado do pergaminho com carne fique virado para baixo na
mesa de sucção porque é mais resistente que o lado dos pêlos127.
Depois desta fase passamos para a consolidação de lacunas e rasgões. Pode ser utilizado
papel japonês para consolidar os rasgões, mas para preencher lacunas é preferível utilizar
pergaminho novo de conservação livre de ácidos.
O papel japonês tem uma gramagem fina, mas como as fibras são longas o papel é
resistente às forças mecânicas; a cor do papel deve ser semelhante à do original. O adesivo
a utilizar deve ser a gelatina por ser mais semelhante, quimicamente, com o pergaminho (a
gelatina é um produto do colagénio presente no pergaminho) e bastante líquido o que
confere uma boa penetração no documento. No entanto, a cola de amido tem maior poder
de adesão, o que pode ser preferível dependendo da espessura do pergaminho e sua
capacidade para absorver a humidade128. Se as extremidades dos rasgões estiverem bem
posicionadas basta aplicar uma tira fininha de papel japonês no verso para o rasgão ficar
seguro; se repararmos que o papel japonês é demasiado fraco para manter o rasgão existe a
possibilidade de utilizar a pele do intestino de animais como o borrego e carneiro, tratada
devidamente, e aplicá-la do mesmo modo. A sua gramagem também é baixa e desde que
não introduza ácidos ao pergaminho, é uma boa solução.
No preenchimento de lacunas é necessário desbastar cerca de 4 a 6 mm das extremidades
tanto no pergaminho a reintegrar como no original, para evitar criar um grande volume nas
zonas de sobreposição. O pergaminho tem dois lados, um deles é o lado onde estavam os
pêlos do animal e do outro é o lado da carne; no documento original, devemos desbastar do
lado da carne, o adesivo (cola de gelatina) é aplicado no pergaminho a reintegrar, já
desbastado do lado do pêlo, de modo a que quando for aplicado na lacuna fique com o lado
da carne virado para cima. A secagem deve ser feita com pesos, protegendo devidamente o
127 JONYNAITE, Dalia, VESELAUSKIENE, Dalia, The Application of Modern Technologies for Parchment
Conservation, Lithuania, Lithuanian Art Museum, National Library of Lithuania, 2001. 128 JONYNAITE, Dalia, VESELAUSKIENE, Dalia, op. cit.
79
documento com papel Reemay® e mata-borrão, durante pelo menos meia hora129. Quanto
mais líquida for a cola, maior penetração vai ter no pergaminho, o que é o ideal130.
Limpeza das encadernações em tecido - As encadernações em tecido podem ser limpas
com trinchas japonesas para remover as sujidades superficiais; no entanto a remoção de
manchas e gordura pode ser mais complicada. Se for possível remover a coberta em tecido
das pastas de cartão pode-se proceder a uma lavagem do tecido com um detergente neutro
e água corrente tratada, mas tem de se ter cuidado para a cor do tecido não desaparecer,
pois muitas das cobertas são coradas com cores como o castanho, azul, vermelho e verde.
A secagem pode ser feita ao ar sobre papel mata-borrão; se for necessário planificar o
tecido pode ser colocado sobre pesos.
Consolidação das encadernações em tecido - A coberta em tecido presente nos
documentos do século XIX e XX deve ser removida, caso seja necessário realizar
preenchimento de lacunas utilizando uma nova coberta; a coberta nova em tecido é
aplicada por baixo da coberta original podendo realizar-se um revestimento total ou a meia
pasta no caso de ser apenas a lombada a estar em pior estado de conservação. A coberta a
reintegrar deve ter a mesma textura e cor que a original, ou muito semelhante131.
Consolidação das pastas em cartão - As pastas em cartão deterioradas são, em norma,
fáceis de consolidar; os tratamentos mais comuns são nos cantos e nas esquinas da
lombada. Antes da consolidação das pastas, a coberta deve ser removida pelo menos na
área afectada. Se o cartão se apresentar desfolhado num canto, por exemplo, podemos
aplicar cola animal ou cola de amido entre as folhas com a ajuda de uma espátula,
prensando-se ligeiramente para remover o excesso de adesivo; deve permanecer a secar
entre duas películas de Melinex® com um grampo, o que ajudará a manter a forma e a
proteger a coberta da humidade do adesivo. Se depois desta consolidação o cartão ainda se
129 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, Per una Didactica del Restauro Librario, Diario del corso di
formazione per assistenti restauratori della Regione Siciliana, Palermo, Biblioteca Centrale della Régione
Siciliana, 1990, p. 97. 130 JONYNAITE, Dalia, VESELAUSKIENE, Dalia, The Application of Modern Technologies for Parchment
Conservation, Lithuania, Lithuanian Art Museum, National Library of Lithuania, 2001. 131 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán
Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 92-97.
80
apresentar frágil pode ser consolidado com papel japonês de gramagem baixa132 (Tengujo,
por exemplo).
Testes preliminares a realizar no papel - Existem dois testes importantes que podemos
realizar para testar a reacção dos papéis e das tintas à água. Para testar a reacção do papel à
água aplicamos uma gota de água e etanol na proporção de 1:1 numa área do papel sem
escrita e deixamos secar; se formar uma ligeira ruga ou se a cor do papel se alterar
devemos testar outra área do papel só com etanol para comprovar que a reacção foi feita à
água e não ao etanol. Se assim for, podemos calcular que o papel não reagirá bem à
humidade podendo descolorar ou enrugar; se não ocorrerem rugas algumas com o primeiro
teste devemos testar mais uma ou duas áreas do papel para confirmação. Se quisermos usar
algum outro tipo de solvente nos tratamentos a seguir, teremos de realizar o mesmo teste
mas desta vez com o solvente eleito. O segundo teste serve para verificar a solubilidade das
tintas à água: primeiro deve ser feito com uma gota de água à temperatura ambiente e, caso
o teste dê negativo, deve ser feito com água aquecida. O local a escolher para testar deve
ser de pouca importância para o conjunto. Depois de aplicada a gota em cima da linha
devemos observar com o microscópio ou com a lupa "conta-fios" para observar se houve
inchaço ou desintegração da tinta; passado um momento devemos pressionar a gota com
papel mata-borrão para ver se existe transferência de cor; se ocorrer não deve ser utilizada
água nos tratamentos futuros, no entanto se não ocorrer qualquer transferência devemos
testar outro local para confirmar o resultado133.
Limpeza do miolo em papel - Se o livro não for desmontado e descosido só será possível
realizar uma limpeza a seco, com trinchas, pincéis, bisturi ou borracha. A utilização de
trinchas japonesas, por exemplo, ajuda a eliminar partículas de sujidade à superfície do
papel, para remover excrementos de insecto ou concreções utiliza-se um bisturi tentando
não danificar o papel. A utilização de borrachas pode ser mais complexa, começando logo
pelo tipo de borracha a escolher: existem vários tipos com capacidade de erosão maior ou
menor, consoante as necessidades. A limpeza com borracha natural ou Smoke Sponge é a
mais suave porque a remoção de sujidade é feita por electricidade estática fazendo-se uma
ligeira pressão na superfície do papel não deixando quaisquer resíduos. A utilização de pó
132 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán
Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 70 133 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &
Burford Publishers, 1987, p. 72.
81
de borracha e uma bola de algodão com movimentos circulares é uma limpeza também
muito suave, no entanto, os resíduos de borracha têm de ser removidos com uma trincha
japonesa. O pó de borracha é comercializado na Preservation Equipment Ltd (PEL), mas é
preferível ter borracha em barra e ralá-la num pequeno ralador porque cria partículas
maiores e com menos resíduos que se tornam mais fáceis de remover. Para remoção de
vestígios de adesivos, como é comum encontrar quando se utiliza fita-cola, é possível
utilizar borracha mais abrasiva, em barra, como por exemplo as borrachas Staedtler134 ou a
borracha Crepe (PEL) e, realizando movimentos circulares tentar remover o adesivo sem
prejudicar o papel; devemos sempre tentar não recorrer a solventes, só se estritamente
necessário. Para os livros que serão desmontados e descosidos, obtemos bifólios separados
que podem ser tratados individualmente: limpeza por via seca como referido acima.
O objectivo desta limpeza é remover algumas manchas pontuais de fuligem e sujidade
superficial e eliminar a acidez proveniente dos excrementos de mosca à superfície do
papel. Devido ao avançado estado de oxidação da tinta ferrogálica135, o papel encontra-se
muito fragilizado pontualmente, e por isso a realização da limpeza por via seca tem de ser
muito suave sem exercer pressão e tendo especial atenção às áreas do papel com escrita
para evitar a perda de material. Em relação à acção oxidante da tinta ferrogálica, temos de
tentar eliminá-la o mais rapidamente possível, no entanto, ainda não existe consenso em
relação ao tratamento mais adequado a utilizar nestes casos136. O recomendado para a
preservação deste tipo de documentos é realizar apenas, um controlo ambiental, mantendo
os documentos numa humidade relativa entre os 50 e os 55 % e uma temperatura perto dos
18°C, evitando-se as oscilações. No entanto, como uma grande parte dos documentos com
tinta ferrogálica terão de ser desmontados e descosidos, valeria a pena aproveitar para
tentar, de alguma forma, minimizar ou eliminar a acção oxidante da tinta sobre o papel.
Para tentar minimizar a acção oxidante da tinta, e evitando a utilização de tratamentos
aquosos poderíamos tentar aplicar uma desacidificação em spray, utilizando por exemplo o
"Bookkeeper" (PEL) composto por óxido de magnésio; no entanto a sua acção na
134 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &
Burford Publishers, 1987, pp. 81-83.. 135 Ver Apêndice Documental, A Tinta Utilizada nas Actas da Câmara Municipal de Portimão - Os efeitos da
tinta ferrogálica escrita sobre papel e Análise e Acondicionamento de documentos escritos com Tinta
Ferrogálica, p. 213 e 216. 136 Ver Apêndice Documental - Conservação e Restauro de Documentos com Tinta Ferrogálica, p. 217.
82
penetração do papel pode ser insuficiente para parar a acção da tinta. A opção seguinte
seria realizar uma desacidificação por meio de imersão num banho com hidróxido de
cálcio que, para além de neutralizar a acção oxidante, também fortalece o papel,
reajustando as fibras. Os problemas que se põem com este tratamento dizem respeito à
solubilidade da tinta e a sua realização por um conservador de papel com experiência na
área que saiba exactamente quais os riscos com que contar.
Secagem e planificação do miolo em papel - Após um tratamento aquoso os bifólios têm
de sofrer uma secagem e planificação que deve ser, acima de tudo, controlada e lenta.
Existem três métodos que podem ser usados: secagem ao ar, utilizando uma mesa de
sucção ou numa sanduíche de papel mata-borrão e pesos. A secagem ao ar ocorre
normalmente com a evaporação da água pelo ar, com o documento em cima de uma
superfície lisa; no entanto, muitos dos papéis secos desta forma têm tendência para não
ficar planificados. Geralmente os conservadores utilizam esta técnica após um tratamento
aquoso final para deixar o papel descansar antes da determinação sobre a necessidade de
planificação; ou seja, serve para ver como o papel reage à evaporação da água e
geralmente, necessita de uma planificação activa. Para além disso o papel não deve sofrer
qualquer tipo de pressão quando molhado, porque as fibras estão muito mais frágeis e se
colocarmos demasiado peso em cima da folha, estas podem ficar esmagadas e permanecer
nessa forma após secagem, o que não fortalece o papel137.
A mesa de sucção, desde a sua invenção em 1975 por Marilyn Weidner138 tem-se tornado
indispensável na maior parte dos tratamentos de conservação e restauro de documentos
gráficos; tem imensas vantagens na remoção de manchas e descolorações devido à sucção,
diminuindo significativamente a probabilidade de ocorrerem ondulações quando se fazem
tratamentos aquosos139. A planificação também é um dos tratamentos que se podem
realizar na mesa de sucção. É aconselhado que se use pouco poder de sucção, apenas o
suficiente para manter o papel naquela posição até que seque completamente. O papel deve
137 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &
Burford Publishers, 1987, pp. 100-101. 138 Marilyn Weidner - Marilyn Weidner fundou a Conservation Center for Art and Historic Artifacts
(CCAHA), é membro do Washington Conservation Guide e do American Institute for Conservation.
http://findingaid.winterthur.org/html/HTML_Finding_Aids/COL0745.htm) 6.Jun.2011. 139 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &
Burford Publishers, 1987, p. 84.
83
ser colocado na mesa de sucção e protegido por baixo, por papel mata-borrão fino e
Reemay® (o Reemay® impede que o documento adira ao papel mata-borrão) que deve ser
mudado regularmente na primeira fase de secagem; como este processo se pode revelar
demorado, geralmente quando o papel está quase totalmente seco, é removido e aplicado
sobre placas e pesos. Por fim, a secagem sob pesos é realizada utilizando papel mata-
borrão e Reemay® para proteger o documento, enquanto se aplicam placas e pesos por
cima, até que o objecto seque; como referido os papéis mata-borrão devem ser mudados
regularmente na primeira fase de secagem, e o documento deve encontrar-se húmido e não
molhado, quando se aplicarem os pesos140.
Não existe uma regra para os tempos de secagem ou de planificação porque nunca sabemos
com 100 % certeza como é que determinado papel vai reagir, por isso todo o processo tem
de ser cuidadosamente monitorizado e o papel verificado em todas as fases de molhagem e
secagem para evitarmos danos irreparáveis.
Consolidação do miolo em papel - Depois de cada bifólio perfeitamente seco e
planificado, surge a fase de consolidação de rasgões e lacunas. O material recomendado é
papel japonês de restauro (Tengujo de gramagem fina para consolidação de rasgões e
Mulberry de gramagem semelhante à da folha do papel para reintegração do suporte nas
lacunas) e Tylose MH 300 a 4 %. O papel japonês não deve ser cortado com uma tesoura,
mas sim rasgado com as mãos ou com o auxílio de uma caneta de água, para que as fibras
fiquem soltas nas extremidades e adiram mais facilmente ao papel original. O rasgão deve
ser colocado na posição original, caso exista um rasgão em bisel; no papel japonês
aplicamos uma fina camada de Tylose a 4 % e aplicamos no lado do rasgão que disturbe
menos a leitura do livro. Neste caso os livros são escritos dos dois lados e pode surgir a
dúvida sobre qual o lado onde aplicar o restauro; outra dificuldade encontrada é o facto de
o adesivo ser à base de água e portanto poderá interferir com a tinta ferrogálica escrita nos
documentos. Nunca é demais repetir que qualquer tratamento tem prós e contras e ambos
devem ser avaliados antes da execução dos tratamentos. A secagem deve ser feita
protegendo o documento com Reemay® e papel mata-borrão sob pesos pequenos141. Todos
os rasgões, incluindo os furos no festo dos cadernos devem ser consolidados.
140 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &
Burford Publishers, 1987, pp. 101-102.
141 CLAPP, Anne F., op. cit, p. 105-107.
84
A reintegração de suporte em lacunas só deverá ser realizado se a lacuna tiver uma
dimensão significativa ou se puser em risco a boa conservação do conjunto. Áreas de
maior tensão, como os cantos (muito manuseados para virar as páginas do livro) ou o festo
(onde está a costura) devem ser tratados com especial cuidado e consolidados sempre que
possível.
Por exemplo, no caso do doc. 189, em que uma parte significativa do livro está queimada
podemos optar por duas soluções - ou restituímos a forma original do livro com
preenchimentos em papel de gramagem semelhante ao papel original ou optamos por
consolidar apenas a extremidade das lacunas para não perdermos o resto de papel
queimado e fragilizado, assumindo as lacunas. De acordo com a ética da Intervenção
Mínima, é recomendado que se escolha a última opção apresentada; no entanto, se este
livro for requisitado frequentemente por utilizadores ou for manuseado de todo, deveria ter
uma consolidação que lhe restituísse a forma para evitar que as extremidades frágeis
estivessem susceptíveis ao rasgão ou perda de mais material. Como vemos, é complicado
realizar uma proposta de conservação e restauro geral, porque cada caso tem as suas
problemáticas específicas.
Para realizar a reintegração do suporte numa lacuna é necessário fazer uma pasta de pó de
papel com Tylose a 4 %; esta pasta não deve ser muito líquida, mas também não deve ser
muito rígida, ou seja, deve ter uma consistência que lhe permita ser moldada sem
dificuldade. O papel a reintegrar deve ser colocado em cima de papel mata-borrão e
Reemay®; na área de lacuna é aplicada a pasta e pressionada através de um quadradinho de
papel Reemay® com uma dobradeira para planificar. Se, provavelmente a pasta se
sobrepuser ao original devemos remover esse excesso com uma espátula ou bisturi, voltar a
planificar com a dobradeira e deixar secar sobre pesos, como mencionado acima. Muitas
vezes a cor do pó de papel é demasiado branca em relação à cor do papel e por isso
devemos tingi-lo antes da aplicação: para tingir o pó de papel utilizamos aguarelas,
adicionando um pouco de água e de cor ao pó, e misturamos muito bem até a cor ficar
homogénea; depois de seco poderá ser misturado ao adesivo para formar a pasta.
Existe um outro método para realizar a reintegração do suporte: com papel japonês de
gramagem semelhante (preferencialmente, de gramagem um pouco menor que a do
original). Recortamos a forma exacta da lacuna com o auxílio de uma sonda e de um
bisturi, tendo o cuidado de deixar as fibras soltas nas extremidades; a mesa de luz é uma
ajuda importante para conseguirmos recortar a forma da lacuna. O restauro em papel
85
japonês deve sobrepor-se ligeiramente ao original e por isso devemos desbastar as
extremidades do papel a reintegrar para evitar que fique um grande volume nessa área.
Utiliza-se o mesmo adesivo mencionado e a secagem é realizada sob pesos.
Costura - A costura deve sempre ser idêntica à original e esta só deve ser refeita se for
absolutamente necessário porque uma costura refeita tem sempre tendência para engrossar
o livro e pode causar tensões entre a lombada e as pastas o que trará novos problemas no
futuro; por outro lado, um livro com nova costura acaba por perder o seu valor142. No caso
das Actas da Câmara Municipal de Portimão, o seu valor é puramente regional, não tendo
qualquer valor como obra de arte estética ou histórica (no que diz respeito à encadernação
e costura) por isso o problema da perda de valor não se coloca ao substituirmos a costura.
Por vezes não existe a necessidade de recoser o miolo, bastando uma reparação ou reforço
que acabam por ser menos consistentes que uma nova costura, mas a sua vantagem recai na
possibilidade de respeitar a originalidade da estrutura. No caso de folhas soltas ou festos
rasgados basta voltar a uni-los com uma encolagem na lombada; se os livros não forem
muito manuseados, como é o caso das actas, bastará recorrer a este tipo de soluções que
não implicam uma nova costura143.
Costura para um livro do século XVIII - Os livros encadernados com pergaminho têm o
miolo directamente aplicado na encadernação e por isso é necessário ter o pergaminho
devidamente planificado e consolidado nesta fase. Na bibliografia consultada não foi
possível encontrar o método de aplicação destas encadernações, nomeadamente em relação
à dobragem do pergaminho após planificação; o que encontramos foi a aplicação do
pergaminho como coberta em pastas de cartão para ser possível encaderná-lo, o que não se
aplica a este caso. A encadernação em pergaminho não está, originalmente, aplicada em
pastas de cartão e não será esse o método a seguir. Depois de seco e planificado o
pergaminho encontrar-se-á mais maleável, no entanto a sua dobragem deverá ser feita com
cuidado e humidificando ligeiramente as áreas a dobrar, para não corrermos o risco de
ruptura. As áreas de costura deveriam ser reforçadas com pergaminho novo, por dentro da
encadernação; a costura será feita com fio de algodão. Os bifólios devem ser furados e
encasados para serem colocados em cadernos dentro da encadernação em pergaminho,
142 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán
Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 67-68. 143 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, op. cit, p. 67-70.
86
conforme a sua ordem original. Basta então coser o miolo ao pergaminho conforme a
costura original.
Costura para um livro do século XIX e XX - Para realizar a costura é necessário voltar a
furar o festo, encasar os bifólios e prepará-los no tear com os nervos respectivos - sisal, fita
de nastro, etc. Depois da costura feita consoante a original, o miolo deve ser arredondado.
Primeiro coloca-se o miolo numa prensa de encadernador e aplica-se uma camada de cola
branca ou cola de amido; removemos o miolo da prensa quando o adesivo ainda estiver
ligeiramente húmido e com a ajuda de um martelo de encadernador arredondamos o miolo.
Antes da aplicação da coberta pode-se aplicar um reforço na lombada com tiras de tela nos
espaços entre os nervos. Com a encadernação já tratada e consolidada podemos aplicá-la
no miolo. Geralmente a aplicação da encadernação é feita a partir da colagem das guardas
do miolo, nas pastas da encadernação (com cola branca ou cola de amido) 144. Se as
guardas foram removidas juntamente com o miolo é possível realizar esta colagem; mas se
as guardas estavam demasiado deterioradas é necessário refazê-las ou aplicá-las no miolo
para ser possível unir as duas partes - miolo e encadernação.
144 Informação retirada das aulas de T.P.A. - Documentos Gráficos, no ano lectivo 2006/ 2007 com o
professor Miguel Fonseca.
87
3.2.5. Preservação, Conservação e Restauro
Os tratamentos de conservação e restauro só foram possíveis em documentação com
problemas simples porque o arquivo não possui, neste momento, os equipamentos e
produtos necessários à realização de tratamentos de conservação e restauro mais
complexos. É muito importante que os documentos tratados sejam acondicionados longe
dos que ainda estão por tratar, de modo a evitar a propagação de eventuais ataques de
insectos, e para que não sofram com a humidade e outros problemas inerentes da
proximidade. Devem ser guardados num ambiente estável, sem oscilações de temperatura e
humidade relativa e com os níveis perto daqueles que seriam os ideais – 18oC e 45%.
Acondicionamento
Os documentos estavam acondicionados em “caixas francesas”, cada uma com um, dois ou
mais documentos, consoante a quantidade que cabia na caixa. Todas as caixas
apresentavam sinais de envelhecimento e degradação, como sujidade, descoloração e
acidez do cartão acompanhada de cheiro forte, o que indica a libertação de vapores,
resultado da sua degradação; cerca de 60 % das caixas apresentavam rasgões, lacunas e
tentativas de colagem com fita-cola castanha. Todos os documentos foram acondicionados
em caixas de cartão acid free, azul e branco, respeitando a mesma ordem em que estavam
acondicionados. Este projecto incluiu não só as Actas, mas toda a documentação
semelhante proveniente do CMP, pelo que as caixas foram renumeradas, começando as
actas no número 2.2. Houve o cuidado de se preservar o número da caixa antiga, pois esse
foi o número a que sempre estiveram associadas desde que foram depositadas em arquivo.
Iremos referir-nos ao número de caixa actual, indicando o número antigo entre parênteses.
Para além do cuidado com as caixas de acondicionamento, também deve existir um
cuidado no acondicionamento individual de cada livro, tendo em conta que cada caixa
alberga mais do que um documento, que se tocam entre si. Temos notado transferências de
cor de encadernação para encadernação e linhas de maré que se espalham pelos livros
adjacentes e por isso devemos tentar evitar ao máximo que os documentos estejam em
contacto. De momento os documentos estão protegidos com capilhas em papel fininho acid
free, mas este acondicionamento individual ainda permite que os documentos exerçam
peso uns sobre os outros, o que prolonga a deformação observada em muitas lombadas; é
recomendado que, depois de terem sofrido os tratamentos de conservação e restauro acima
propostos, sejam acondicionados em caixas de conservação individuais feitas em cartão de
88
conservação, azul e branco. Deste modo os documentos não entram em contacto entre si e
não exercem peso directo uns sobre os outros: o único problema que pode surgir neste
acondicionamento é o espaço que as caixas individuais vão ocupar dentro das caixas
maiores onde estão acondicionados. Caso as caixas individuais não caibam nas caixas de
acondicionamento, seria necessário reformular o nº de caixas e mudar a numeração, no
entanto, esta seria a única opção razoável para dar um ambiente seguro e estável a cada
documento individual, após tratamento.
Higienização
Todos os documentos aqui referidos foram higienizados, utilizando uma escova de cerdas
suaves, de fabrico japonês. Cada livro foi colocado num berço em acrílico de modo a que o
ângulo de abertura não fosse demasiado grande, tentando assim minimizar os danos na
costura e lombada. Infelizmente, o acrílico provou ter muita electricidade estática, sendo
que muitas poeiras e partículas ficaram presas, e o berço teve de ser limpo entre cada
higienização. O processo de higienização passou pela escovagem dos cortes e de cada
folha, uma a uma, utilizando o auxílio de uma dobradeira para virar as páginas, de modo a
causar o menor dano possível às folhas. Também se procedeu à remoção pontual de
excrementos de insecto, de concreções nas folhas e encadernações, e de carcaças de
insectos, utilizando para o efeito, um bisturi. No final, foi medida a temperatura e
humidade relativa dentro do livro de modo a comparar, a diferença de valores antes e
depois da higienização – verificou-se sempre uma subida ou descida de ambas consoante a
temperatura verificada no ambiente de trabalho145. No total gastaram-se três escovas Hake
de cerdas macias, entre Dezembro de 2010 e Março de 2011 - espaço temporal em que se
realizou a higienização de todos os 97 livros.
Após a higienização, os livros foram acondicionados nas novas caixas de cartão azul e
branco já mencionadas.
145 Ver Apêndice Documental, Actas da Câmara Municipal de Portimão - Tabela do Registo da Humidade
Relativa dentro e fora dos livros, antes e depois da higienização, p. 141.
89
Apenas dois documentos da totalidade dos 97 sofreram tratamentos de conservação e
restauro: dois cadernos sem encadernação, de costura simples - doc. 190 e doc. 191.
Doc. 190 – “Outubro 1750 a Agosto 1751”
Descrição
• Um caderno com 12 bifólios, sem encadernação.
• Etiqueta com a inscrição “Outubro 1750 a Agosto 1751”.
• Papel com marca de água, pontusais e vergaturas.
• Manuscrito com tinta ferrogálica.
Avaliação do estado de conservação
• A utilização da tinta ferrogálica resultou na oxidação do papel com perda ou risco
de perda de material.
• Manchas variadas: sujidade generalizada, manchas escuras de fuligem e derrame de
líquidos (linha de maré) e manchas causadas por substâncias gordurosas.
• Oxidação escura nos bifólios 3 e 4. Estes dois bifólios apresentam dobras que os
restantes não, e um estado de oxidação muito elevado, que escureceu muito o papel.
Provavelmente o documento sofreu uma molhagem e a descoloração escura que
observamos é resultado do espalhamento da tinta pela superfície, aumentando o
nível de oxidação, localmente. Existem vestígios de queimadura no canto superior
esquerdo.
• Dobras, rasgões e lacunas.
• Vestígios de ataque de insecto – galerias.
• Desvanecimento e migração da tinta ferrogálica.
• Presença de fungos no 2º bifólio, no verso.
Exames e Análises
• Análise de fibras de modo a identificar a pasta de papel e fibras com que foi feito o
papel, utilizando os corantes Herzberg e Lofton-Merrit. O papel é de origem
italiana devido à identificação da marca de água. As fibras demonstraram ser curtas
e difíceis de separar e foi possível identificar fibras de cânhamo em maior
quantidade, e sisal e algodão em menor quantidade; a pasta foi identificada como
sendo pasta de trapo com algum grau de lenhina.
90
• Identificação da fibra do cordão da costura utilizando o corante Herzberg. As fibras
foram identificadas como sendo de cânhamo.
Proposta de Tratamento
• Contagem e numeração dos bifólios – lápis de carvão.
• Limpeza superficial – trincha de pêlo macio.
• Remoção da costura.
• Limpeza por via seca – Smoke Sponge.
• Limpeza por via húmida, por imersão – o banho de hidróxido de cálcio vai
neutralizar a acção oxidante da tinta ferrogálica e vai remover sujidades e algumas
manchas que o documento possui.
• Planificação – com placas e pesos para planificar folha a folha, e pontualmente se
necessário com ligeira humidificação e aplicação de pesos pequenos.
• Consolidação do suporte – papel japonês e Tylose MH 300 a 4%.
• Reintegração do suporte – pó de papel e Tylose MH 300 a 4 % ou com papel
japonês Mulberry.
• Costura dos bifólios – linha de algodão.
• Acondicionamento – capilha utilizando materiais acid free.
Tratamentos realizados
• Contagem e numeração dos bifólios, utilizando lápis, no canto inferior direito.
• Remoção da costura. Bastou puxar suavemente o cordão para que ele se soltasse,
tendo já em conta que apenas 3 dos 12 bifólios se encontravam presos pela costura.
• Limpeza superficial utilizando uma trincha de pêlos suaves – remoção de alguma
poeira superficial e de alguns excrementos de insecto.
• Limpeza por via seca utilizando pó de borracha e algodão. Não foi possível utilizar
primeiro a borracha Smoke Sponge porque o CDAH não possui este produto; no
entanto este teria sido o tratamento recomendado e que menos fricção causaria na
superfície do papel. Esta limpeza permitiu remover alguma sujidade aderente ao
papel, mas não removeu quaisquer manchas. Notou-se apenas um aligeiramento das
manchas pretas de fuligem, nas dobras e cantos do papel. Para se realizar esta
limpeza utilizou-se uma pequena bola de algodão para empurrar o pó de papel em
movimentos circulares sobre a superfície do papel. Repetiu-se este processo duas
vezes para cada bifólio, sendo que naqueles que apresentam as descolorações
91
castanhas mencionadas acima notou-se a saída de maior sujidade, na segunda
passagem, que nos restantes.
• Planificação de dobras e rasgões. Dois dos bifólios (3 e 4) tinham dobras muito
marcadas e o papel encontrava-se rígido e sem elasticidade; nestes casos, foi
necessário recorrer a uma ligeira humidificação utilizando um cotonete, de modo a
facilitar o desdobramento e a planificação da dobra evitando a quebra ou ruptura do
papel. Os bifólios, depois de planificados, um a um, foram colocados sobre placas
de pesos durante uma semana, devidamente protegidos por papel Reemay® e papel
mata-borrão. Permaneceram sempre em planificação enquanto se tratava o doc. 191
e vice-versa.
• Recomenda-se uma limpeza por via húmida utilizando hidróxido de cálcio, não só
porque removeria algumas das manchas menos estéticas, mas principalmente,
porque iria parar a acção oxidante da tinta ferrogálica No entanto, não são possíveis
tratamentos aquosos no CDAH, actualmente.
• Como não foi possível realizar uma limpeza por via húmida, decidimos reforçar as
áreas de lacuna causadas pela tinta ferrogálica, utilizando papel japonês e
aplicando-o num dos lados do papel, preferencialmente aquele que causaria menos
perda de leitura e onde não tivesse de passar por cima da tinta ferrogálica. Notou-se
a saída de algum material preto proveniente da tinta devido à utilização de um
adesivo à base de água. Esta decisão pode vir a acarretar alguns problemas no
futuro, mas assim estamos a assegurar que não se perca mais material entretanto.
Quando o CDAH tiver as condições necessárias para realizar os tratamentos de
desacidificação será possível remover estes restauros (são totalmente reversíveis) e
proceder da melhor forma para neutralizar a oxidação, ou corremos o risco de
perder totalmente estes documentos.
• Também foi feita a consolidação do festo do primeiro bifólio, de um lado e de outro
com aplicação de tiras de papel japonês, que se encontrava quase praticamente
rasgado.
• Recorte dos excessos de papel japonês nos cantos e extremidades de cada bifólio,
utilizando um tapete de corte, x-acto e régua metálica.
• Dobragem dos bifólios pelo meio, de modo a poderem ser cosidos. Utilizámos a
dobradeira de osso e um papel Reemay® para proteger cada papel. Planificação dos
bifólios dobrados sobre pesos.
92
• Furar o festo. Para furarmos o festo foi necessário realizar um molde em papel do
local exacto a furar. Embora o local dos furos estivesse visível, em muito casos,
encontrava-se rasgado e com a consolidação não era possível ter a certeza de que
iríamos furar todos os bifólios no mesmo local. Para isso, cortamos um rectângulo
de papel branco normal, onde fizemos as marcações, como indicado na figura 16,
abaixo:
Figura 16 - Esquema utilizado para realizar os furos nos festos dos cadernos nos documentos 190 e
191.
• Os furos foram feitos com uma agulha de ponta bicuda.
• Para coser utilizamos um fio de algodão de cor creme e uma agulha de ponta
redonda. Os bifólios foram encasados pela ordem correcta e o caderno cosido do
seguinte modo:
Figura 17 - Esquema da técnica de costura aplicada, segundo o original.
• Começamos por passar o fio de algodão de dentro para fora dos bifólios, dão-se
duas voltas em cada conjunto de furos e termina-se a costura dentro dos cadernos.
Corte superior
Corte inferior
29,7cm
7cm 7,35cm
3,5 cm 3,5 cm
Início
Fim
2 voltas
2 voltas
93
• Por fim, foram dados dois pequenos nós no final de cada costura, ficando assim
escondidos no meio do caderno.
• O documento é então acondicionado numa capilha de quatro abas em papel branco
acid free e guardado dentro da caixa correspondente para ir para a reserva.
94
4. Projecto para um Laboratório de Conservação e Restauro de
Documentos Gráficos no Centro de Documentação e Arquivo Histórico
do Museu de Portimão
4.1. Justificação para a realização deste projecto
Existem algumas ideias importantes que devem ser retidas. O Centro de Documentação e
Arquivo Histórico possui um espólio de elevado valor histórico e simbólico para a região,
nomeadamente no que diz respeito a fábricas de conservas e outras; mas também um
espólio documental sobre a própria história de Portimão, como as actas da Câmara
Municipal de Portimão, o foral de Portimão, entre outra documentação histórica. Fazem
ainda parte do espólio, inúmeras cartas e mapas da região, vegetais com projectos de
arquitecto, fotografias e negativos, entre outros.
A colecção que de momento está em reserva não é finita, visto que ainda tem de ser
incorporada documentação que se encontra em outros espaços da Câmara, e também
porque existe a possibilidade de adquirir doações ou outras colecções. Como tal, exige-se
um cuidado maior na divisão de documentos tratados e documentos por tratar e,
consequentemente, um local próximo da colecção, onde possamos realizar as primeiras
avaliações do estado de conservação.
Há ainda que ter em conta que, hoje em dia, a ética da conservação e restauro mudou muito
relativamente àquilo que era há 10 anos e que, portanto, nos guiamos por uma linha cada
vez mais próxima da prevenção dos danos e da preservação, ao invés da acção directa da
conservação e restauro sobre os documentos. Aquilo que se tem feito actualmente em
arquivos e instituições passa, em primeiro lugar, pelo controlo das condições ambientais
em que os documentos são depositados: temperatura, humidade relativa e qualidade do ar.
4.2. Proposta para o projecto
O que propomos tem como finalidade criar as condições para que se possam realizar os
tratamentos de conservação e restauro que o espólio requer. Com base na avaliação do
estado de conservação e na realização de propostas de tratamento para os documentos aqui
depositados, foi possível definir os equipamentos e materiais necessários para que seja
possível, no futuro, executar a correcta conservação e preservação dos mesmos.
95
É importante realçar que muito daquilo que é necessário a uma boa preservação e
conservação dos documentos já está a ser feito, como é o exemplo da medição e controlo
da temperatura e humidade relativa dentro do arquivo histórico e fotográfico, a colocação
de detectores para determinação da vida animal presente, em toda a extensão do arquivo, e
a utilização de uma das salas para a realização de pequenos tratamentos de conservação e
restauro, como a higienização, consolidação e acondicionamento dos documentos.
Apesar disto, pretendemos aproveitar da melhor forma os espaços do CDAH, criando ali
um pequeno laboratório de conservação e restauro onde seja possível realizar todos os
tratamentos essenciais à boa conservação da documentação.
Relembramos que já existe uma Oficina de Conservação e Restauro no Museu, e que esse é
um importante espaço de tratamento de peças arqueológicas e industriais, principalmente, e
por onde passam todas as peças que vão para as exposições temporárias.
Segundo bibliografia consultada, a criação de oficinas de restauro só é recomendada
quando a colecção do museu é muito específica, como é o caso para os bens arqueológicos
e industriais. O restauro implica a existência de um corpo de técnicos altamente
especializados e também equipamentos dispendiosos e por isso, julga-se mais producente a
criação de institutos de restauro nacionais e regionais que sirvam vários museus em
simultâneo146. Tendo em conta que o Museu já possui um corpo de técnicos altamente
especializados e os espaços para tratamento da documentação, só existem vantagens no
melhor aproveitamento dessas salas e o seu adequamento às necessidades do espólio
documental.
Se olharmos para a planta do museu (figura 18) verificamos que as duas áreas - CDAH e
oficina de restauro - não são muito próximas; aliás, para a documentação sair dos depósitos
do CDAH e ir para a oficina de conservação e restauro, teria de passar por várias portas,
degraus e rampas, passando ainda por um local de garagem, e facilmente poderiam
acontecer acidentes e também, a contaminação por outros agentes. Não nos podemos
esquecer que o objectivo não é que haja uma completa separação entre a Oficina de
Conservação e Restauro do Museu, muito pelo contrário: ao criarmos as condições para a
realização de tratamentos nos espaços adjacentes ao arquivo, estaremos a aproximá-lo mais
da oficina geral, podendo haver um maior diálogo entre as várias partes, tendo em vista o 146 ROCHA-TRINDADE, Maria Beatriz, Iniciação à Museologia, Lisboa, Universidade Aberta, Março 1993,
p. 157.
96
prolongamento da vida deste acervo, com todo o pessoal qualificado envolvido nesse
esforço.
Este projecto não contempla a realização de tratamentos que envolvam produtos químicos,
porque seria muito difícil criar as condições ideais para isso nos espaços do arquivo, e
porque a Oficina de Conservação e Restauro já possui uma hotte de química e todos os
sistemas de segurança pessoal necessários. Nesses casos, a documentação teria de ser
transportada até à oficina e iremos ver quais as melhores formas de o realizar na máxima
segurança.
Começaremos por estabelecer qual é o espaço do arquivo e quais as salas que existem para
podermos realizar este projecto.
4.3. A Oficina de Conservação e Restauro do Museu de Portimão
O Museu de Portimão foi planeado de raiz para possuir uma grande Oficina de
Conservação e Restauro, importantíssima para o seu funcionamento. No entanto, ela está
direccionada, principalmente, para a conservação e restauro de materiais arqueológicos e
industriais, bem como de madeiras; também é o local por onde passam todos os materiais e
equipamentos que serão utilizados em exposições temporárias, a acontecer ao longo de
todo o ano. Em 2008 uma parte da documentação chegou a ser tratada na oficina, tendo
toda a equipa contribuído activamente com os tratamentos de limpeza, consolidação, etc.
No entanto, foi uma ocasião muito específica, e desde aí foram poucos, ou mesmo
nenhuns, os tratamentos realizados a documentação do CDAH. A maior parte do trabalho
consiste em tratamentos de acondicionamento e limpeza superficial, como já foi
mencionado, no próprio CDAH.
Um dos problemas com que nos deparamos relativamente à Oficina de Conservação e
Restauro do Museu de Portimão prende-se, essencialmente, com o longo percurso que os
documentos teriam de fazer do CDAH até lá. Obrigaria os documentos a atravessar
ambientes diferentes, com temperatura e humidade relativas diferentes daquelas a que
estão habituados. A qualidade do ar também ficaria comprometida pois um dos locais de
passagem entre o CDAH e a Oficina de Conservação e Restauro é uma porta de garagem
que levanta verticalmente, e onde as condições ambientais não são controladas. No entanto
existe uma porta que, de momento não está a ser utilizada, que liga a sala G7 directamente
ao corredor que vai dar à oficina, podendo ser uma opção razoável para a deslocação da
97
documentação, utilizando sempre um carrinho de biblioteca, o que previne eventuais
acidentes.
Outro dos problemas prende-se com o facto de a oficina estar permanentemente ocupada
com trabalhos essenciais ao funcionamento do Museu, como já referimos, de exposições
temporárias, e não haver um espaço funcional onde se pudesse ter apenas documentação. O
ideal seria que existisse um local onde apenas se realizassem tratamentos de conservação e
restauro a documentos gráficos, de uma forma contínua e segura, livre de contaminantes
provenientes de outros materiais.
Dentro desta linha de pensamento, faz todo o sentido que se criem as condições necessárias
para a realização de tratamentos de conservação e restauro deste espólio, e se pudermos
utilizar áreas mais próximas do arquivo, melhor. Como essas áreas existem, podemos
iniciar este projecto.
4.4. Planta Geral do Museu de Portimão
Figura 18 - Planta do piso 0 do Museu de Portimão. A castanho estão delineados os espaços de
exposição. A roxo está representado o Centro de Documentação e Arquivo Histórico, abrigando o
Arquivo Histórico e o Arquivo Fotográfico, a vermelho. A amarelo está representada a oficina de
Conservação e Restauro.
98
Nesta planta ficamos com a ideia geral do Museu de Portimão: em cima a azul, está
representado um porto do rio Arade que fica de frente para a entrada principal do Museu.
A cafetaria/ restaurante, do lado direito, está totalmente equipada, mas ainda não se
encontra em funcionamento; logo abaixo temos o CDAH, que tem uma porta de entrada
para o público, mas também tem uma ligação interna, directa ao átrio principal do Museu.
Do lado esquerdo estão os espaços de exposição, de acesso ao público. A Oficina de
Conservação e Restauro fica virada para a estrada, e está muito perto das reservas gerais do
Museu, bem como da entrada técnica e da entrada para as peças, o que é ideal. Todo o
circuito de entrada de peças até ao local de exposição temporária está muito bem pensado e
organizado, sem desníveis a nível do chão, com portas e corredores largos.
Figura 19 - Museu de Portimão antes de qualquer intervenção. 2003.
Figura 20 - Museu de Portimão em construção. Abril 2006.
Figura 21 - Museu de Portimão actualmente. 2011.
99
4.5. Planta do CDAH
Figura 22 - Planta do Centro de Documentação e Arquivo Histórico.
A partir da porta de entrada (assinalada com uma seta), temos o CDAH onde está a
biblioteca especializada com vários fundos sobre o Algarve e o seu património, consultável
pelo público geral. No piso superior (não representado nesta planta) está a Biblioteca João
Tavares, bibliófilo de Portimão, de quem o Museu adquiriu a colecção particular, também
consultável pelo público.
As reservas encontram-se no piso inferior: o Arquivo Histórico (AH) e o Arquivo
Fotográfico (AF). A sala que denominei G é o local onde se fazem pequenos tratamentos
de conservação, tais como acondicionamento e higienização preliminares, e onde estão
dois computadores para uso dos técnicos de arquivística. As duas outras salas já estão
denominadas como G7 e G8. A G7 é a única sala com acesso a canalização, com uma
torneira e lavatório, tem sido utilizada para arrumação de material e deposição de alguns
documentos. A G8 tem mesas com dois computadores, também para uso interno dos
técnicos, nomeadamente, para a base de dados da documentação. Será nestas três salas
adjacentes que irá recair o projecto.
Existem ainda dois outros espaços, que ligam o CDAH e a Oficina de Conservação e
Restauro, que poderão ser adaptados para alguns tratamentos específicos, no entanto, visto
ser um local de passagem e deposição de materiais arqueológicos e outros, existe sempre a
probabilidade de contacto com materiais orgânicos e inorgânicos, podendo levar a
contaminações indesejáveis.
AH AF
G
G7
G8
100
Inicialmente, a sala G7, que de momento funciona como arrumação de material - papel
mata-borrão, papel japonês, Reemay®, material de acondicionamento, etc. - foi planeada
para ser a sala de expurgo ou quarentena, sendo que tem um pé direito muito alto, e uma
única janela que serviria para expelir os gases utilizados. No entanto, já funcionou como
sala de pequenos tratamentos de conservação e restauro, tendo a bateria de tinas e mesas de
trabalho por um breve período de tempo. Pretendemos que este espaço funcione como sala
de deposição da documentação assim que chega ao arquivo, onde se realizarão os exames
preliminares de avaliação do estado de conservação, higienização geral e decisão do
tratamento a realizar. Para além disso, esta é a sala ideal para colocarmos uma tina de
lavagem com ligação à canalização, onde se realizarão todos os tratamentos por via
húmida. Podemos considerar que esta será a "sala suja".
A sala G será planeada para ser o local onde se realizarão os tratamentos de conservação e
restauro - limpeza por via seca, consolidações, preenchimentos, secagem, planificação e
acondicionamento - ou seja, a "sala limpa". Neste momento está organizada com duas
mesas de trabalho, duas mesas com computadores, uma estante e um armário baixo
fechado.
A sala G8, neste momento, praticamente não está a ser utilizada, tendo duas mesas com
dois computadores, três armários baixos fechados, uma estante e um cabide. Será a sala
ideal para colocar aqueles equipamentos de "artes gráficas e papelaria", ou seja, uma
cisalha, uma máquina de selar a quente, um sistema para colocar rolos dos vários tipos de
papéis a utilizar nos tratamentos de conservação e restauro, e outros equipamentos
semelhantes de acondicionamento de material.
Portanto, podemos afirmar que, embora o espaço não seja muito grande, temos o essencial
para que se possam criar muito boas condições de realização de tratamentos de
conservação e restauro.
No que diz respeito à criação de uma sala escura para tratamento de negativos e
fotografias, existe uma sala fora do CDAH que havia sido pensada para esse fim; no
entanto, os tratamentos de duplicação, cópias e impressão teriam de ser realizados por um
fotógrafo experiente e seria mais razoável utilizar um serviço exterior do que criar as
condições dentro do Museu sem existir pessoal qualificado para o executar. Mas todos os
outros tratamentos são passíveis de ser realizados nas salas propostas.
101
4.6. Hierarquia no CDAH
Para delinearmos da melhor forma este projecto precisamos de perceber a hierarquia e o
pessoal que trabalha diariamente no CDAH, bem como perceber quais são os serviços mais
urgentes que o espólio requer.
Para um arquivo funcionar a cem por cento têm de existir várias competências, sendo que
as mais importantes serão as dos bibliotecários e arquivistas, bem como as do conservador
restaurador.
Neste caso temos um Técnico Superior de Arquivística que coordena os diferentes
trabalhos que têm de ser feitos dentro do arquivo, e selecciona as prioridades. Para isso,
tem de ter um conhecimento profundo da área e do trabalho que cada empregado tem de
desenvolver.
Existe um Assistente Técnico que está sempre no balcão de recepção do CDAH, para
realizar o atendimento ao público. O CDAH, para além da biblioteca especializada de
consulta pública, também possui quatro computadores de acesso à Internet, muito
utilizados pelos jovens. Portanto, ao mesmo tempo que faz o atendimento ao público, esta
assistente vai colocando os dados dos livros na base de dados online, que já se encontra
disponível. Existem ainda dois Assistentes Operacionais que se encarregam da colocação
da informação referente à bibliografia na base de dados, bem como o acondicionamento da
documentação e pequenos tratamento de conservação e restauro.
Quem está encarregue de fazer a monitorização de temperatura e humidade relativa é o
Técnico Superior de Conservação e Restauro que, todas as semanas muda a folha do
termohigrógrafo e verifica a necessidade de utilização dos desumidificadores.
Esporadicamente o CDAH recebe estagiários, por variados períodos de tempo. No caso do
presente estágio, sendo um estágio curricular, teve a duração de sete meses, mas noutros
casos, podem ter a duração de apenas um mês. Nas alturas das férias escolares, muitos
jovens fazem voluntariado em vários serviços da Câmara, podendo desempenhar funções
básicas no Museu ou no CDAH, pelo que o arquivo pode receber diferentes pessoas, de
diferentes áreas que desenvolvem várias tarefas relacionadas com o Museu.
102
4.7. Proposta para as salas G8, G e G7
4.7.1. Sala G8
A sala G8 é aquela cuja porta está directamente virada para a zona de acesso ao público do
CDAH, sendo que também possui uma porta de acesso à sala G, que se encontra de
momento, fechada à chave, não sendo utilizada. Na minha opinião deve ser essa a porta a
ser utilizada pelo pessoal do arquivo porque está directamente ligada ao espaço que será a
sala de tratamentos de conservação e restauro, evitando assim a passagem pela área comum
ao público.
O espaço possui uma janela que não abre, está totalmente selada, e um sistema de ar
condicionado. No entanto, por trás de um móvel baixo encontrámos cinco casulos de traça,
revelando que o espaço, mesmo com as janelas vedadas, tem de ser limpo regularmente
para evitar que os insectos se estabeleçam aí.
Neste momento a sala está composta por duas mesas com computadores, uma estante, três
móveis baixos fechados e um cabide. Em cima das mesas estão dois computadores, uma
impressora e um scanner Hp e ainda um sistema de digitalização profissional - Digital Ice
Photo Restoration, ScanMaker i900, da marca Microtek. Este último scanner seria ideal
para fazer a digitalização de negativos e fotografias; em relação à impressora e scanner Hp
que são perfeitamente dispensáveis, tendo em conta que existe uma máquina fotocopiadora
na recepção do CDAH.
Aquilo que pretendemos para esta sala é que ela seja utilizada pelos técnicos para a
colocação de dados no inventário e depósito de equipamento não directamente ligado à
conservação e restauro:
• Dois computadores com acesso à base de dados e ligação à máquina fotocopiadora
e ao digitalizador profissional;
• Máquina de selagem a quente para confeccionar bolsas de acondicionamento com
Melinex®, à medida;
• Cisalha e equipamento para cortar pass-partouts.
• Arquivador horizontal para arrumação de material diverso e de papel acid free e
mata-borrão, que tem de ser acondicionado horizontalmente;
• Dispensador de papel em rolo, de aplicação na parede ou na vertical.
Os dois computadores com ligação à máquina fotocopiadora e ao digitalizador já existem,
e serão os únicos computadores necessários. Em conversação com a Técnica Superior de
Arquivística chegou-se à conclusão que só serão necessários dois computadores, tendo em
103
conta o número de técnicos que os utilizam e por isso, os outros dois computadores que se
encontram na sala G serão perfeitamente dispensáveis.
A máquina de selar a quente é necessária para realizar bolsas individuais com materiais de
qualidade, como é o Melinex® (poliéster) que existe em abundância no CDAH. Será
especialmente necessária para realizar bolsas em grande formato para os mapas que estão,
de momento, acondicionados em papel vegetal e sobrepostos em cima uns dos outros em
gavetas horizontais; e também para fazer o acondicionamento dos negativos e de outra
documentação avulsa que possa surgir. Por exemplo, nas Actas da Câmara Municipal de
Portimão a documentação avulsa pode ser acondicionada em bolsas de Melinex® ou em
capilhas em papel acid free. No entanto, neste momento, o CDAH tem maior quantidade
de Melinex® em relação a papel, e se pudermos trabalhar com os materiais que já existem,
seria o ideal.
A realização de pass-partouts dentro do contexto actual do CDAH pode não fazer muito
sentido, porque geralmente são utilizados quando queremos expor algum documento; no
entanto, como vimos no capítulo do Arquivo Francisco Oliveira, se existirem negativos
com a emulsão a descolar terá de se fazer um pass-partout que impeça o documento de
tocar na bolsa de acondicionamento. Este equipamento pode ser guardado numa estante e
quando for necessário utilizá-lo, trazemo-lo para a mesa de trabalho. No entanto, a
máquina de selar a quente e a cisalha, pelas suas dimensões, devem estar colocadas de
modo a serem sempre utilizáveis.
Seria ideal ter um arquivador horizontal nesta sala para arrumar os papéis de conservação,
bem como papel mata-borrão que é comercializado em folhas separadas. O tapete de corte
da Neschen também seria guardado no arquivador. Por cima deste existe um tampo liso,
perfeito para colocar a máquina de selar a quente e a cisalha, ficando assim suprimido o
problema de colocação desses equipamentos essenciais. A Futurdidact realiza estes
arquivadores por medida.
Em relação aos dispensadores para arrumar o Melinex®, o papel japonês e o Reemay,
comercializados em rolo, podemos utilizar um recipiente existente na sala G7 que
consegue suportar até 4 rolos com até 18cm de diâmetro cada. Este recipiente é o ideal em
104
termos de ocupação de espaço, para colocar nesta sala, enquanto os dispensadores
encontrados no catálogo da PEL seriam demasiado grandes para caber no espaço147.
4.7.2. Sala G
A sala G será a sala de tratamentos de conservação e restauro. Tem uma porta de acesso
directo ao AF, outra à sala G8 e outra à sala G7. Possui ainda uma janela que vai até ao
chão e abre, dando directamente para um pequeno jardim. Para impedir que os insectos e
outros animais entrem por aí, é recomendado que a porta se mantenha sempre fechada e
bem vedada, e que se utilize o ar condicionado nos dias de calor; os espaços verdes devem
ser mantidos limpos e tratados regularmente.
Neste momento a sala está composta por uma estante aberta, duas mesas com
computadores, duas mesas de trabalho, um móvel baixo fechado, um arquivador de
rodinhas baixo, e três arquivadores altos.
Duas das paredes desta sala não podem ser utilizadas porque dão acesso a mecanismos
relacionados com a electricidade, canalizações e sistema de AVAC; no entanto, haverá
espaço suficiente para conseguir colocar:
• Duas mesas de trabalho com uma placa de acrílico cortada à medida por cima, para
evitar os desníveis e criar uma maior superfície de trabalho; quatro placas de
acrílico mais pequenas para planificar documentação.
• Estante para guardar o material necessário;
• Secadora de papel;
• Prensa vertical;
• Carrinho de biblioteca para transportar os livros de uma sala para a outra.
A estante aberta é muito útil e poderá ser utilizada para arrumar muito material. Neste
momento está ocupada com livros sem utilidade para o CDAH (serviam como pesos
quando era necessário) e outra documentação que tem de ser revista e arrumada. As mesas
com computadores e o arquivador de rodinhas serão dispensados, bem como os três
arquivadores altos que devem ser devidamente arrumados no AH, caso tenham
documentação relevante.
A placa em acrílico e cortada à medida das duas mesas de trabalho ajudará a criar uma
superfície de trabalho maior e mais estável.
147 Ver planta exemplificativa da planificação dos espaços, em Planificação dos Espaços do CDAH (G8, G e
G7), p.237.
105
A secadora de papel é necessária para secar ao ar a documentação que tenha sofrido
tratamentos de limpeza e desacidificação, antes de ser colocada sobre pesos. Para os mapas
de grandes dimensões resulta bem porque é menos esse espaço na mesa que será ocupado;
no entanto, pode ser substituída por, por exemplo, carrinhos de cantina com tabuleiros,
servindo para colocar documentação de tamanho mais reduzido.
A prensa vertical é essencial não só para os tratamentos de secagem e planificação dos
documentos, mas também para a planificação de encadernações existentes e realização de
novas; a utilização de duas placas de acrílico mais pequenas na prensa permitirão planificar
documentos com dimensões superiores às da prensa.
Esta sala possui uma rampa que neste momento está a criar um desnível entre a sala G e a
sala G7; propõe-se que ela seja reconstruída para eliminar esse desnível, sendo possível a
utilização de um carrinho de biblioteca entre as diferentes salas, para transporte da
documentação148.
4.7.3. Sala G7
A sala G7 será a sala de análise preliminar do estado de conservação da documentação que
chega ao CDAH, higienização e tratamentos aquosos. Esta sala tem um pé direito muito
alto e por isso, seria possível criar um segundo andar neste espaço para deposição da
documentação que espera para ser avaliada, colocação de bolhas de anóxia, ou arquivo
frio, no entanto, para já, não contemplamos essa opção.
Esta sala tem uma porta que dá acesso à sala G e outra porta de maiores dimensões; esta
última é o acesso ideal para a entrada da documentação, evitando assim a entrada pelo
espaço público e a propagação de agentes biológicos no CDAH, caso se encontre infestada.
De momento a sala está cheia de estantes com documentação diversa, sem controlo
ambiental e com material de conservação já mencionado. Existe um estirador encostado à
porta de grandes dimensões, um recipiente para colocação de material em rolo e um
lavatório comum.
Nesta sala pretendemos implementar o seguinte:
• Um tanque de lavagem de grandes dimensões ou mesa de sucção;
• Implementação de um sistema de purificação da água corrente;
148 Ver planta exemplificativa da planificação dos espaços, em Planificação dos Espaços do CDAH (G8, G e
G7), p.237.
106
• Uma mesa de trabalho;
• Recipiente fechado com hidróxido de cálcio;
• Uma estante ou móvel pequeno para arrumação de material necessário;
• Máquina de higienização de livros.
O tanque de lavagem terá de ter acesso à canalização e a água deve passar por um filtro
purificante que elimine os minerais, sais e impurezas que a água corrente possa apresentar
- sistema de purificação da água por osmose inversa, por exemplo. A mesa de trabalho
servirá para realizar a avaliação do estado de conservação da documentação preenchendo-
se uma ficha criada propositadamente para a avaliação de livros. Se for necessário realizar
uma higienização à documentação utilizaremos a máquina para higienização de livros. É
necessário que haja uma iluminação adequada nas mesas com colocação de candeeiros
com lupa, por exemplo. A mesa de sucção ajuda nos diferentes tratamentos aquosos, de
secagem e planificação, com risco menor para a documentação.
Existe uma pequena janela que está colocada num nível superior e deveria ser vedada e
tapada, no entanto, como esta sala não possui sistema integrado de ventilação pode tornar-
se muito escura e húmida. Pode ser aplicado um tecto falso com iluminação apropriada e
manter a janela aberta enquanto se trabalha dentro deste espaço.
Terão de ser adquiridos mais uma mesa de trabalho e duas cadeiras de trabalho
semelhantes às existentes na sala G149.
Para além dos equipamentos mencionados, ainda temos de encontrar uma solução para
acondicionar alguns documentos, nomeadamente, negativos, em baixas temperatura. A
criação de um arquivo frio será difícil pois seria necessário ter uma sala para implementar
todo o sistema de controlo do ar e humidade relativa e portas totalmente estanques. A
opção alternativa será adquirir uma arca frigorífica para acondicionar os negativos em
nitrato de celulose e para guardar a cola de amido, por exemplo, que caberia perfeitamente
no Arquivo Fotográfico. Teria de ser no frost, ou seja, que não criasse gelo; o mais difícil
seria controlar a humidade relativa dentro da arca, e para isso existem duas formas de
149 Ver planta exemplificativa da planificação dos espaços, em Planificação dos Espaços do CDAH (G8, G e
G7), p.237. e a exemplificação do percurso de um livro e de um documento avulso desde a sua chegada ao
CDAH até ao seu acondicionamento em Arquivo, p. 237. no Apêndice Documental apresentamos os prós e
contras de cada equipamento, material e produto a integrar no CDAH.
107
acondicionamento. Uma das opções passa por intercalar os negativos com papel de
conservação e acondicioná-los dentro de sacos de polietileno; esse saco seria colocado
dentro de um segundo e entre os dois colocava-se um indicador de cobalto que nos indica a
humidade relativa dentro do 1º saco - quando o indicador muda de cor abrimos os sacos e
secamos tudo cuidadosamente (o que terá de acontecer de cinco em cinco anos,
aproximadamente). A outra opção consiste em acondicionar os negativos em sacos de
alumínio selados, o que os torna estanques à humidade e assim não é necessária qualquer
manutenção; no entanto, não teremos acesso directo ao negativos porque isso implicaria
destruir a embalagem e realizar uma nova. É uma alternativa de acondicionamento mais
permanente, mas que funciona com colecções que não sejam manuseadas
permanentemente150.
150 Informação cedida pelo Professor Luís Pavão na acção de formação em Conservação de Fotografia dia 25
de Fevereiro de 2011 no Arquivo Municipal de Lisboa/ Núcleo Fotográfico.
108
Conclusão
Independentemente da concretização do projecto aqui apresentado, de planificação das
salas com os equipamentos e materiais necessários a um laboratório de conservação e
restauro, para que seja possível realizar os tratamentos que a documentação necessita tem
de haver uma equipa de profissionais liderada por um Conservador com sólidos
conhecimentos no tratamento de documentos gráficos, nomeadamente de documentos com
encadernação em pergaminho e tinta ferrogálica que requerem procedimentos muito
complexos, por vezes com resultados inesperados que se podem tornar catastróficos se
realizados por pessoas não habilitadas. Portanto, é muito importante que antes da
concretização do projecto se verifique se realmente os equipamentos terão utilidade dentro
do contexto do Museu de Portimão, com a equipa existente.
Dentro do Espólio Fotográfico Francisco Oliveira, concluímos que existe alguma urgência
no seu tratamento tendo em conta que alguns dos negativos já se encontram muito
deteriorados e a sua permanência no ambiente actual não irá parar o processo de
degradação, visto ser contínuo a partir de certa altura devido à libertação do ácido acético,
principalmente.
O estudo das marcas de água foi muito interessante porque foi possível identificar com
muita certeza, a maior parte das fábricas de papel de onde provem o papel das Actas da
Câmara Municipal de Portimão. No entanto, existe ainda muito por fazer no que diz
respeito às outras marcas de água encontradas na documentação avulsa e, provavelmente,
noutra documentação presente no CDAH. Este tipo de estudo permite traçar a proveniência
dos diferentes papéis, consoante a época, e elucida os contactos realizados entre os
diversos países na sua obtenção; para além disso, o próprio estudo dos desenhos das
marcas de água permite traçar a sua evolução dentro da própria fábrica de papel e, em caso
de dúvida, datar o documento.
O contacto feito com Birgit Reissland do The Netherlands Cultural Heritage Agency surtiu
muito interesse da parte deles em obter uma amostra das partículas de magnetite preta
encontradas nas Actas porque estão a realizar uma base de dados com amostras de
diferentes épocas e locais, destas areias que eram espalhadas nos livros para que a tinta
ferrogálica secasse mais depressa. Seria de todo o interesse doar uma amostra dessas
partículas e criar assim um contacto científico importante entre as duas instituições.
109
Durante o período de estágio foram-se encontrando algumas limitações no que diz respeito
à bibliografia, em três aspectos: bibliografia sobre o estudo de insectos encontrados nos
arquivos e bibliotecas portugueses, bibliografia sobre a funcionalidade de sistemas
integrados de controlo ambiental em casos reais no território nacional, e bibliografia sobre
tratamentos de conservação e restauro utilizando novas tecnologias, também em Portugal.
Verifica-se que a bibliografia encontrada sobre insectos em arquivos é, na sua maioria,
internacional, o que não representa a realidade portuguesa; por outro lado, essa mesma
bibliografia só diz respeito aos insectos potencialmente nefastos para a documentação, o
que faz todo o sentido. No entanto, o que verificámos no CDAH foi a presença de outros
insectos para além daqueles que deterioram os documentos - Lepismas e coleópteros.
Encontrámos também aranhas, moscas e mosquitos, lacraus e até grilos; ou seja, alguns dos
detectados dizem respeito a determinadas alturas do ano, mas outros, como as aranhas e
moscas estão sempre presentes, pelo que podemos concluir que fazem parte do sistema
biológico inserido no arquivo. Desta forma, parece-me razoável que se realizem estudos
que abranjam também esses insectos para tentar perceber de que modo e porque surgem
nestes espaços, ou seja, descobrir qual é a sua função no sistema. Só assim poderemos
chegar a uma conclusão que nos permita eliminá-los de vez. E tudo isto, no contexto
português porque os insectos podem ser característicos de país para país, mas
principalmente, de região para região.
Em relação a bibliografia sobre sistemas integrados de controlo ambiental, de um modo
geral, não foi encontrada uma grande quantidade de estudos sobre isso e ainda menos em
território nacional. Não é conhecida a dimensão de museus e arquivos que possuam este
tipo de sistema, no entanto, seria interessante perceber de que modo está ou não a
funcionar noutros edifícios e que medidas são tomadas para o seu correcto funcionamento,
ainda que numa escala reduzida.
Por fim, se houvesse bibliografia sobre tratamentos de conservação e restauro em Portugal
utilizando novas tecnologias como por exemplo, a utilização de uma mesa de vácuo em
tratamentos de papel e pergaminho ou realização de secagem de documentos por selagem
em vácuo ou tratamentos de documentos com tinta ferrogálica com fitato, seria
extremamente vantajoso para todos os profissionais. Gostaria de encontrar estudos de casos
concretos, quais as vantagens e desvantagens da sua utilização, se tiveram sucesso ou não e
quais os passos a seguir. A causa desta falta de informação prende-se, talvez, com a não
realização destes tratamentos em Portugal, nem tão pouco, investigações no sentido de
110
encontrar soluções inovadoras na área da Conservação e Restauro, o que denota a falta de
investimento nesta área da investigação.
111
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