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1 Introdução Este relatório tem como tema central o Centro de Documentação e Arquivo Histórico (CDAH) do Museu de Portimão e pode ser dividido em três partes distintas. A primeira diz respeito à avaliação do espaço em que está inserido o espólio documental: avaliação dos valores de temperatura e humidade relativa dentro dos depósitos e no espaço de acesso ao público, por meio de termohigrógrafos e higrómetros digitais; avaliação da vida animal encontrada nos mesmos espaços através da colocação de detectores de insectos; avaliação da estanqueidade do edifício à entrada de iluminação, poeiras, insectos, chuva, etc. O objectivo desta fase é perceber quais as condições ambientais que rodeiam os documentos, avaliá-las e analisá-las para delimitar estratégias de forma a evitar os factores de risco decorrentes destes diferentes aspectos. A segunda parte diz respeito à análise de espólios concretos existentes no CDAH. Como é natural, não foi possível ver toda a documentação aqui depositada, no entanto, foram analisadas duas partes importantes compostas por materiais distintos: o Espólio Fotográfico Francisco Oliveira e as Actas da Câmara Municipal de Portimão. O Espólio Fotográfico é, na sua maioria constituído por negativos em película de acetato de celulose e como tal, necessitam de uma temperatura e humidade relativas muito específicas; as Actas da Câmara Municipal de Portimão são, na sua maioria, constituídas por papel, cartão, tecido, e pergaminho. Foi realizada a avaliação do estado de conservação e do acondicionamento destes dois espólios e proposto um tratamento de conservação e restauro para cada um. No caso das Actas foi possível tratar dois pequenos cadernos sem encadernação. Com as condições actuais dos espaços do CDAH não existem materiais e produtos suficientes para realizar tratamentos muito complexos ou tratamentos aquosos, e por isso os executados foram de limpeza a seco, consolidações e planificações pontuais, costura e acondicionamento. Ainda, em relação às Actas, foram realizados dois importantes estudos: identificação das marcas de água presentes no papel, e análise das diferentes tintas utilizadas nas mesmas, que incidiu principalmente no estudo da tinta ferrogálica, suas formas e causas de deterioração no papel e tratamentos de conservação e restauro a realizar nesses documentos. Para além disso, ainda foi possível identificar umas

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Page 1: Relatório de Estágio DianaPires 9302³rio de Estágio_DianaPires...porque havia sido detectada humidade nas paredes. Em Fevereiro de 2011 o Museu sofreu uma inundação, particularmente

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Introdução

Este relatório tem como tema central o Centro de Documentação e Arquivo Histórico

(CDAH) do Museu de Portimão e pode ser dividido em três partes distintas.

A primeira diz respeito à avaliação do espaço em que está inserido o espólio documental:

avaliação dos valores de temperatura e humidade relativa dentro dos depósitos e no espaço

de acesso ao público, por meio de termohigrógrafos e higrómetros digitais; avaliação da

vida animal encontrada nos mesmos espaços através da colocação de detectores de

insectos; avaliação da estanqueidade do edifício à entrada de iluminação, poeiras, insectos,

chuva, etc. O objectivo desta fase é perceber quais as condições ambientais que rodeiam os

documentos, avaliá-las e analisá-las para delimitar estratégias de forma a evitar os factores

de risco decorrentes destes diferentes aspectos.

A segunda parte diz respeito à análise de espólios concretos existentes no CDAH. Como é

natural, não foi possível ver toda a documentação aqui depositada, no entanto, foram

analisadas duas partes importantes compostas por materiais distintos: o Espólio

Fotográfico Francisco Oliveira e as Actas da Câmara Municipal de Portimão. O Espólio

Fotográfico é, na sua maioria constituído por negativos em película de acetato de celulose

e como tal, necessitam de uma temperatura e humidade relativas muito específicas; as

Actas da Câmara Municipal de Portimão são, na sua maioria, constituídas por papel,

cartão, tecido, e pergaminho. Foi realizada a avaliação do estado de conservação e do

acondicionamento destes dois espólios e proposto um tratamento de conservação e restauro

para cada um. No caso das Actas foi possível tratar dois pequenos cadernos sem

encadernação. Com as condições actuais dos espaços do CDAH não existem materiais e

produtos suficientes para realizar tratamentos muito complexos ou tratamentos aquosos, e

por isso os executados foram de limpeza a seco, consolidações e planificações pontuais,

costura e acondicionamento. Ainda, em relação às Actas, foram realizados dois

importantes estudos: identificação das marcas de água presentes no papel, e análise das

diferentes tintas utilizadas nas mesmas, que incidiu principalmente no estudo da tinta

ferrogálica, suas formas e causas de deterioração no papel e tratamentos de conservação e

restauro a realizar nesses documentos. Para além disso, ainda foi possível identificar umas

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partículas negras que se libertavam desta documentação, revelando uma das técnicas de

secagem da tinta ferrogálica.

Por fim, a última parte só existe em função das duas precedentes. Todos estes estudos,

análises e investigação tinham como objectivo último projectar um Laboratório de

Conservação e Restauro de Documentos Gráficos, reaproveitando as três salas do CDAH.

Assim, foi possível identificar os equipamentos, materiais e produtos necessários à boa

preservação e conservação do espólio presente neste espaço, realizar orçamentos e

planificar o espaço para que se torne funcional e prático.

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1. O Museu de Portimão

Figura 1 - Museu de Portimão. Vista da fachada da antiga fábrica reconstruída.

O Museu de Portimão tem origem em 1983 quando é aprovado um projecto museológico

tendo em vista a investigação, recolha, documentação e divulgação do património local,

com destaque para o património arqueológico, industrial, náutico e subaquático. Foram

então feitos esforços no sentido de criar uma estrutura onde fosse possível preservar o

património em risco. Em 1996 a Autarquia de Portimão adquiriu a antiga fábrica de

conservas "Feu Hermanos" onde seria implementado o Museu do Município. Em 1999 é

elaborado o Programa Museológico para aquele espaço industrial e lançado o concurso

para o Projecto de Arquitectura. Em 2001 o Museu de Portimão integra o primeiro

conjunto de Museus da Rede Portuguesa de Museus e a 27 de Agosto de 2004 teve lugar a

cerimónia de consignação e lançamento da obra de empreitada de construção do museu,

sendo que a abertura ao público foi feita em 20081.

O Museu integra no seu espólio património industrial e etnográfico relativo à indústria

conserveira, construção naval, pesca, etc; espólio arqueológico com materiais provenientes

de estações arqueológicas, como Alcalar, Monte Canelas, Abicada, etc; a colecção Manuel

Teixeira Gomes; património imaterial com testemunhos orais e histórias de vida; e os

fundos documentais e iconográficos dos sécs. XV a XX, como são os fundos da Câmara

Municipal e de organismos da região, de instituições religiosas, arquivos industriais da

1 Regulamento do Museu de Portimão, Preâmbulo, p.4.

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actividade conserveira, pesca, construção naval, etc2. Este último espólio documental é o

que está depositado no Centro de Documentação e Arquivo Histórico a que se refere este

relatório.

Figura 2 - Planta do Centro de Documentação e Arquivo Histórico.

1.1. O Centro de Documentação e Arquivo Histórico do Museu de

Portimão (CDAH)

O Centro de Documentação e Arquivo Histórico (CDAH) encontra-se integrado no Museu

de Portimão e pode ser dividido em quatro sectores: Biblioteca Especializada com fundos

locais e regionais, e temáticas ligadas ao património e ao Museu de Portimão, o Arquivo

Histórico e Arquivo Iconográfico estão no depósito do AH e o Arquivo Fotográfico no

depósito AF3. O Centro de Documentação está dividido em dois pisos: no primeiro piso

está a Biblioteca Especializada, o AH, o AF e três salas de apoio (G7, G e G8)

representado na figura 2; no segundo piso está a Biblioteca João Tavares, um bibliófilo

portimonense.

Neste momento, a maior parte do trabalho a ser realizado no CDAH diz respeito à

inventariação do espólio e seu acondicionamento. O acesso ao público incentiva a

investigação e o estudo da história local por parte de toda a população, desde jovens

estudantes a reformados.

2 Regulamento do Museu de Portimão, Artigo 6º Colecções, p. 7. 3 Regulamento do Museu de Portimão, Artigo 12º Estruturação orgânica dos serviços do Museu, p.11.

AH AF G

G8

G7

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2. Preservação de Colecções no Museu de Portimão

O Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão tem

como principais objectivos "garantir as condições termo-higrométricas e rotinas de

monitorização para a conservação das colecções, assegurar a qualidade e o bem-estar

ambiental dos profissionais e utentes do Museu, e proteger a integridade das pessoas,

espaços, equipamentos e bens"4.

Hoje em dia, a forma como conservamos as colecções, antes de passar pela Conservação e

Restauro, deve passar primeiro pela Preservação, o que inclui a Prevenção dos Danos. Ou

seja, o ideal seria que não tivéssemos de realizar tratamentos directamente sobre as obras;

ao invés, deveríamos prevenir os possíveis riscos de deterioração. Esta prevenção baseia-se

na avaliação e controlo do ambiente em que a documentação está depositada, ou em

exposição. Para que esta prevenção seja a mais correcta e adequada possível, há a

necessidade de se fazer uma avaliação geral do edifício em termos de posição geográfica,

idade, materiais de construção, localização de cada sala, impermeabilização, etc.

No que diz respeito ao Museu de Portimão ele encontra-se na zona ribeirinha da cidade,

entre a Rua D. Carlos I e a margem direita do Rio Arade, numa zona de aluviões,

implantada em terrenos conquistados ao rio, numa zona de elevada sismicidade,

denominada "Falha de Portimão". A obra consistiu na renovação dos espaços antigos da

fábrica conserveira em espaços museológicos e de serviços ligados à cultura, possibilitando

assim a manutenção da estrutura da fábrica, nomeadamente da fachada e telhado,

recuperação integral da sala de limpeza e "descabeço" do peixe (parte integrante da

exposição permanente), da chaminé e do transportador de pescado desde o rio ao interior

da fábrica. Os materiais utilizados e técnicas de construção foram realizadas tendo em

conta a nova função designada para a fábrica de conservas. O projecto do Museu de

Portimão teve em conta a estabilidade, resistência e impermeabilidade, ou seja, o edifício

foi projectado com características térmicas, acústicas, anti-sísmicas e impermeabilizantes.

Nos edifícios novos e reservas utilizou-se para a cobertura betão revestido a chapa metálica

isotérmica e todo o edifício encontra-se calafetado e equipado com um sistema de

filtragem de ar. Evitou-se o uso de materiais de construção potencialmente contaminantes

como aglomerados de madeira, PVC e colas no interior do edifício. O CDAH está

4 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, Introdução,

Objectivos, p. 5.

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localizado no piso 0 e piso 1 e é vocacionado para a pesquisa e investigação em diversas

áreas da história local e regional, dividido em diversos espaços com características

próprias. As salas de consulta, leitura geral e investigação destinam-se ao estudo e

investigação, estando preparado para consulta em vários suportes. A sala de registo e

tratamento são zonas de trabalho onde os documentos são recebidos, conferidos e

identificados, separados e tratados tecnicamente de acordo com a sua especificidade,

origem, estado de conservação e destino. O depósito geral (AH) e o depósito fotográfico

(AF) são as reservas onde estão depositados os fundos documentais e iconográficos5.

Tendo em conta que este se trata de um edifício de reabilitação profunda e construção

recente não existe o risco de problemas estruturais. Em relação à climatização, o projecto

foi pensado para a utilização de equipamentos que permitem monitorizar os parâmetros de

humidade, temperatura e poluição em cada espaço. A iluminação foi pensada para não

interferir com a conservação dos espólios, nomeadamente, com filtros específicos e

sistemas mecânicos de obscurecimento das salas. A segurança contra intrusão e incêndio é

assegurada por meios humanos, barreiras físicas e detecção e alarme electrónico. Em caso

de emergência os acessos ao edifício são facilitados pela localização do Museu junto a

amplas vias de comunicação. A construção da Cafetaria/ Esplanada/ Restaurante em bloco

separado do edifício principal minimiza a ocorrência de contaminação de pragas e o risco

de propagação de incêndio e poluentes6.

No que diz respeito à climatização foi projectado um Sistema de Climatização capaz de

utilizar a água do rio Arade como uma fonte de água fria para efectuar o pré-arrefecimento

de diversas áreas do museu. No depósito AH do CDAH a climatização assenta numa

unidade de tratamento de ar novo, equipada com ventilador de insuflação, dois estágios de

filtragem, bateria de pré-arrefecimento, bateria de aquecimento e arrefecimento e

atenuador de som, permitindo uma temperatura entre os 18°C e os 20°C e uma humidade

relativa entre os 45 % e 55 %. O depósito AF tem assegurado três unidades climatizadoras

do tipo ventiloconvector, efectuando-se o controlo de humidade através de

desumidificadores do tipo mural, com controlo por humidostato ambiente, sendo a

5 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, p. 5-17. 6 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, Avaliação de Riscos,

p. 17.

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temperatura monitorizada por sensores, assegurando uma temperatura até 18°C e uma

humidade relativa entre 30 % e 45 %7.

O controlo biológico será feito periodicamente mediante inspecção do edifício e

verificação das condições ambientais, esta monitorização será facilitada pela colocação de

armadilhas para insectos, as quais permitirão a detecção de pragas infestantes8.

Independentemente desta avaliação feita no Plano de Conservação Preventiva, e de se

terem utilizado os materiais e técnicas de construção correctas e específicas para o caso,

encontramos alguns problemas que se prendem com a estanqueidade e impermeabilidade

do edifício. Perto das janelas encontramos continuamente teias de aranha, insectos mortos

e poeiras, indicando que as janelas e portas deixam entrar estes dois factores de

deterioração. O Arquivo Fotográfico encontrava-se inactivo quando iniciei este estágio

porque havia sido detectada humidade nas paredes. Em Fevereiro de 2011 o Museu sofreu

uma inundação, particularmente no piso 1 do CDAH. As portas que dão para o AH e AF

também não são completamente estanques permitindo a entrada de insectos e poeiras. A

monitorização ambiental e biológica estava a ser feita com um termohigrógrafo,

desumidificadores e armadilhas para insectos no AH e AF; no entanto, algumas das

armadilhas não tinham data de colocação e encontravam-se bastante envelhecidas,

revelando a sua falta de verificação. A temperatura e humidade relativa eram verificadas

todas as semanas pelo responsável. O Restaurante ainda não se encontra em

funcionamento, embora esteja totalmente equipado; é um facto que o Restaurante está num

bloco à parte do Museu mas, no entanto, encontra-se mesmo ao lado do CDAH; tendo em

conta a entrada de insectos pelas janelas e portas, podemos contar com novo factor de risco

assim que o Restaurante iniciar o seu funcionamento. Em relação à iluminação no CDAH,

ela é controlada por estores de tecido no espaço de acesso ao público, impedindo que a luz

solar entre directamente. Nos AH e AF as luzes só são ligadas quando estritamente

necessário, mantendo-se, de resto, as divisões no escuro.

7 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, Avaliação de Riscos,

p. 22-24. 8 Plano de Conservação Preventiva - Normas e Procedimentos do Museu de Portimão, Avaliação de Riscos,

p. 25-26.

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2.1. Monitorização Ambiental no CDAH

Um dos objectivos do presente estágio consistia em realizar a monitorização ambiental no

CDAH.

Toda a área do Museu de Portimão, incluindo o CDAH, tem um sistema integrado de

controlo de temperatura e humidade (AVAC - Aquecimento, Ventilação e Ar

Condicionado), permitindo ter os valores desejados em cada espaço. O sistema mede os

valores exteriores e interiores e tem a capacidade para compensar algumas diferenças que

possam surgir.

Para além deste sistema a funcionar vinte e quatro horas por dia, o registo da temperatura e

humidade relativa dentro do CDAH foi realizado em diferentes espaços, utilizando outros

equipamentos.

No Arquivo Histórico a reserva principal, um termohigrógrafo regista a temperatura e a

humidade relativa, semanalmente. Diariamente, pelas 9 h e 17 h utilizou-se um higrómetro

digital para confirmar esses valores - este registo foi feito desde Novembro de 2010 a Abril

de 2011.

O Arquivo Fotográfico encontrava-se vazio quando o presente estágio foi iniciado, no

entanto, devido à inundação que ocorreu no piso 1, a Biblioteca João Tavares teve de

ocupar esse espaço. O registo de temperatura e humidade relativa foi realizado com um

higrómetro digital todos os dias, pelas 9 h, 14 h e 17 h no primeiro mês e pelas 9 h e 17 h

nos restantes - desde Fevereiro de 2011 a Abril de 2011.

Também foi feito o registo da temperatura e humidade relativa no espaço de acesso ao

público de Novembro de 2010 a Abril de 2011.

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2.1.1. Arquivo Histórico (AH)

Indicamos de seguida as médias de humidade relativa e temperatura, os máximos e os

mínimos para cada mês, de acordo com o registo do termohigrógrafo no Arquivo

Histórico9:

Tabela 1

Média HR

(%)

Máxima

HR (%)

Mínima

HR (%)

Média

Temp. (°C)

Máxima

Temp. (°C)

Mínima

Temp. (°C)

Novembro 50 61 35 16 19,5 15

Dezembro 46 55 39 19,5 20,5 18,5

Janeiro 42 50 34 19 20 18,5

Fevereiro 41 43,5 35 19 22 18,5

Março 42 48,5 38 20 22 17

Abril 56 60 50 15 17 14,5

O período em que estivemos a recolher estes dados não é o suficiente para retirar

conclusões suficientes sobre o funcionamento dos sistemas de controlo ambiental, no

entanto, podemos retirar algumas conclusões bastante elucidativas. Para termos um estudo

satisfatório sobre o ambiente no espaço das reservas deveríamos ter o período de um ano,

ou melhor ainda, de dois anos, para comparação das mudanças de temperatura e humidade

relativa consoante o período do ano e realizar analogias.

Sabemos que numa reserva documental devemos ter uma humidade relativa entre os 50 e

os 55 % e uma temperatura entre os 18 e os 20°C, com variações de 5 % para a humidade

relativa.

De um modo geral, no período de seis meses a humidade relativa tem estado entre os 56 e

os 41 % e a temperatura entre os 27 e os 16°C. Analisando de forma mais detalhada os

gráficos do termohigrógrafo notamos algumas mudanças bruscas que não beneficiam a boa

conservação do espólio. Existem dois desumidificadores no CDAH que estiveram a

funcionar no AH desde que se iniciou o estágio. Notámos uma descida da humidade

relativa no final de Novembro e início de Dezembro para uma mínima de 35%, mas

durante o mês de Dezembro os valores voltaram a estar entre os 45 e os 55%. No entanto,

dia 31 de Janeiro de 2011 os dois desumidificadores foram desligados porque a humidade 9 Ver Apêndice Documental, Monitorização Ambiental no CDAH, para ver os gráficos e tabelas, p. 118.

Tabela da Humidade relativa e Temperatura medidas no Arquivo Histórico entre Novembro de 2010 e

Abril de 2011.

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relativa havia estado abaixo dos 40 % durante a semana precedente, sendo o valor mais

baixo registado de 34 %. Primeiro desligámos um dos desumidificadores na manhã de 31

de Janeiro para ver como a humidade relativa reagia durante tarde, mas como não se

verificaram mudanças, o segundo desumidificador também foi desligado. Durante o mês

de Fevereiro a humidade relativa subiu um pouco mas não foi além dos 43,5 %. Só no final

do mês de Março e durante o mês de Abril é que a humidade relativa voltou a ficar na casa

dos 50%.

Em relação à temperatura, ela varia consoante a humidade relativa, pois quando esta sobe a

temperatura baixa, e vice-versa. Registou-se uma subida de temperatura dos 17 para os

20°C entre o mês de Novembro e Dezembro, mantendo-se entre os 19 e 22°C até ao final

de Março. No entanto, em Abril houve uma descida acentuada para os 15°C. Nesta altura

começou a fazer bastante calor em Portimão, pelo que esta súbita diferença só pode ser

explicada pela tentativa do AVAC de compensar a subida de temperatura no exterior,

baixando a temperatura dentro da reserva; mas se num período de dois dias (de dia 1 para

dia 4 de Abril) temos uma descida tão acentuada, isso quer dizer que o sistema não está a

funcionar da melhor forma ou então tem de haver um controlo humano mais activo que

ajude a controlar as descidas e subidas súbitas.

Em relação ao uso do higrómetro digital para confirmar os dados fornecidos pelo

termohigrógrafo temos notado sempre uma diferença de cerca de 1 a 2°C e de 1 a 10 %, o

que acaba por ser bastante preciso para a temperatura, mas por vezes, nem tanto para a

humidade relativa.

Para sintetizar a informação, durante os seis meses a temperatura mais alta registada foi de

22°C e a mínima de 14,5°C e de um modo geral tem estado entre os 20 e os 15°C, para

uma amplitude de cerca de 5°C. A máxima registada para a humidade relativa foi de 61 %

e a mínima de 34 %. Mas se verificarmos as médias, de um modo geral, a humidade

relativa tem estado entre os 56% e os 41%, registando a menor amplitude térmica dos

espaços controlados, como veremos a seguir para o Arquivo Fotográfico e o espaço de

acesso ao público (ou seja, o AH é o local onde os valores são mais estáveis, em

comparação com os outros). As maiores preocupações que apontamos são as mudanças

bruscas nestes valores, pois deveria ser uma mudança lenta e gradual.

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2.1.2. Arquivo Fotográfico (AF)

No que diz respeito ao Arquivo Fotográfico, como se encontrava desactivado em Outubro

de 2010 não foram realizadas medições. No entanto, quando ocorreu a inundação em

Fevereiro de 2011, ele teve de ser utilizado para acolher a Biblioteca João Tavares, e assim

começámos a realizar medições de temperatura e humidade relativa com o higrómetro

digital (às 9 h, 14 h e 17 h no primeiro mês, e às 9 h e 17 h nos restantes), e imediatamente

colocaram-se os dois desumidificadores que não estavam a ser utilizados, a funcionar para

tentar remover toda a humidade que os livros poderiam ter absorvido a mais com a

inundação. Os livros colocados no AF não se encontravam molhados, apenas com

humidade elevada, pois já se havia procedido a uma secagem cuidada.

Os dados obtidos dizem respeito ao período de Fevereiro a Abril de 2011. Existem dois

registos distintos, um realizado na área das estantes e outra no espaço vazio, como

verificamos nas tabelas seguintes:

Tabela 2

Média HR

(%)

Máxima

HR (%)

Mínima

HR (%)

Média

Temp. (°C)

Máxima

Temp. (°C)

Mínima

Temp. (°C)

Fevereiro 42 53 38 20,5 23,4 18,6

Março 47,8 53 43 20,7 23,2 18,5

Abril 63,5 69 59 13,7 14,7 13

Tabela 3

Média HR

(%)

Máxima

HR (%)

Mínima

HR (%)

Média

Temp. (°C)

Máxima

Temp. (°C)

Mínima

Temp. (°C)

Fevereiro 40,8 53,7 37,5 20,8 23,9 18,6

Março 48 53,3 42,7 20,6 23 17,6

Abril 61,3 70 56 13,8 14,6 12,7

No mês de Fevereiro houve um controlo mais cuidado, realizado três vezes por dia para ver

como estavam os valores. Por isso, dia 22 de Fevereiro decidimos ligar o ar condicionado

para tentar descer a temperatura que atingiu um máximo de 23,9°C. No dia 23, pelas 15 h

Tabela da Humidade relativa e Temperatura medidas no Arquivo Fotográfico entre Fevereiro de 2011 e

Abril de 2011, na área das estante.

Tabela da Humidade relativa e Temperatura medidas no Arquivo Fotográfico entre Fevereiro de 2011 e

Abril de 2011, no espaço sem estantes.

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desligamos um dos desumidificadores porque a humidade relativa estava abaixo dos 40%,

com 38,6% e às 17 h já se notou uma melhoria para os 41,2%, embora ainda seja muito

baixo. Por fim, acabamos por desligar ambos e em Março a humidade relativa esteve

próxima dos 45% atingindo um máximo de 53%. Em Abril notámos uma descida

acentuada da temperatura, tal como havia acontecido no AH, de 22,1°C no dia 31 de

Março para 13,5°C no dia 4 de Abril. Consequentemente, a humidade relativa subiu dos 50

para os 60 % e de imediato colocámos os dois desumidificadores a trabalhar. Infelizmente,

como a temperatura esteve sempre abaixo dos 15°C os desumidificadores não conseguiam

funcionar devidamente, resultando numa lenta remoção de água do ar (os

desumidificadores só funcionam correctamente acima dos 15°C porque necessitam de uma

temperatura média para que sejam capazes de condensar a água do ar, quando esta passa

pelo filtro frio). No início de Maio o ar condicionado que estava no modo frio passou a

estar apenas na ventilação e os desumidificadores foram desligados estando agora o AF

com valores de 57 a 58 % e 22°C10.

Estas variações dos valores ambientais não são de todo benéficas para a documentação

porque provocam contracções e retracções demasiado rápidas podendo resultar na

deformação das encadernações ou miolos, ou mesmo na sua ruptura.

Para sintetizar a informação, durante os três meses a temperatura mais alta registada foi de

23,9°C e a mínima de 12,7°C e de um modo geral tem estado entre os 20,8 e os 13,7°C,

para uma amplitude de cerca de 7°C. A máxima de humidade relativa registada foi de 70 %

e a mínima de 37,5 %. Mas se verificarmos as médias, de um modo geral, a humidade

relativa tem estado entre os 63,5 % e os 40,8 %, o que acaba por ser uma grande diferença.

10 Valores recolhidos dia 17 de Maio de 2011, pelas 14h.

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2.1.3. Espaço de acesso ao público

Em relação à medição dos valores de temperatura e humidade relativa no espaço de acesso

ao público, esta começou a ser realizada dia 24 de Novembro de 2010 até Abril de 2011,

segundo a tabela seguinte:

Tabela 4

Estes valores são importantes porque no espaço de acesso ao público também existe um

importante espólio sobre o Algarve, Portimão, Património e Tecnologias do Algarve no

piso 0, e a Biblioteca João Tavares no piso 1, com livros com ex-libris11 e raridades. Para

além de haver a necessidade de estar uma temperatura adequada para os utilizadores,

também temos de pensar na preservação desta documentação, controlando a humidade

relativa. O ideal seria conseguirmos uma humidade relativa entre os 50 e 55 % e uma

temperatura entre os 20 e 22°C (o acesso ao público é um factor muito importante e há que

chegar a um meio termo. Se não houver variações destes valores, a documentação

conserva-se bem com 20°C).

No entanto, aqui é onde encontramos as variações mais drásticas como podemos confirmar

pela tabela. Numa avaliação mais cuidada dos gráficos vemos que em Novembro de 2010

houve uma descida de 73,2 para 26 % em apenas dez dias, embora a temperatura se tenha

mantido entre os 19 e 17°C. Em Dezembro não existem grandes variações a apontar, a

temperatura esteve entre os 21 e 18°C, no entanto, a humidade relativa variou entre os 74 e

os 55 %, o que é bastante problemático para a documentação. O mês de Janeiro registou as

temperaturas mais baixas, chegando aos 14,6°C, o que se torna bastante desagradável para

11 Ex-libris - marca de pertença, geralmente sob a forma de uma pequena folha ou carimbo com uma gravura

e o nome do proprietário.

Média HR

(%)

Máxima

HR (%)

Mínima

HR (%)

Média

Temp. (°C)

Máxima

Temp. (°C)

Mínima

Temp. (°C)

Novembro 53 73,2 26 18,5 20,6 16

Dezembro 61,8 75,8 37,6 19,8 21,5 15,6

Janeiro 51,7 71 28,2 18,7 22,1 14,6

Fevereiro 43 57,7 25,2 20,5 23,6 17,2

Março 53 64,1 43 19 22,8 16,2

Abril 43,9 51,5 27 22,9 25,2 20,7

Tabela da Humidade relativa e Temperatura medidas no Espaço de Acesso ao Público entre Novembro

de 2010 e Abril de 2011, no piso 0.

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14

os utilizadores. No mês de Abril, com a subida de temperatura no exterior também houve

uma subida de temperatura no interior, chegando a um máximo de 25,2°C, e como

consequência disso, a humidade relativa esteve quase sempre abaixo dos 40 %.

Podemos concluir com estes valores que a temperatura varia facilmente dentro do CDAH

consoante a temperatura exterior, sentindo-se principalmente no piso 1 que está mais perto

do tecto, e que o sistema AVAC pouco ou nada faz para colmatar estas variações. Tendo

em conta que é um espaço aberto de grandes dimensões é compreensível que não seja fácil

controlar tamanha quantidade de ar, no entanto, alguma solução deve ser encontrada para

esta situação. De momento a Biblioteca João Tavares encontra-se no Arquivo Fotográfico,

mas futuramente, terá de voltar a ser colocada em exposição ao público e não pode sofrer

tamanhas variações ou correrá o risco de se perder.

Para sintetizar a informação, durante os seis meses a temperatura mais alta registada foi de

25,2°C e a mínima de 14,6°C, mas de um modo geral tem estado entre os 22,9 e os 18,5°C,

uma amplitude de cerca de 5°C. A humidade relativa tem sido mais difícil de controlar

com mudanças bruscas e diferenças de mais de 40 % num mês. A máxima registada foi de

75,8 % e a mínima de 25,2%.

2.1.4. Impacto da Temperatura e Humidade Relativa no Pergaminho e no Papel

Para percebermos melhor de que forma a temperatura e a humidade relativa afectam a

documentação, especialmente o papel e o pergaminho, vejamos como ambos reagem.

O pergaminho é aquilo a que chamamos de couro semi-curtido, o que o torna bastante

alcalino após esse processo, pelo que não temos de nos preocupar tanto com os problemas

de acidez como com o couro. Se o pergaminho for mantido em ambientes estáveis poderá

sobreviver por longos períodos de tempo, pois o facto de ser alcalino faz com que seja

bastante permanente. No entanto, pela sua estrutura característica, o pergaminho é muito

reactivo ao ambiente, principalmente à água, no qual é solúvel. Abaixo dos 40 % de

humidade relativa o pergaminho torna-se rígido e quebradiço, pelo que os valores

recomendados são entre 50 e 55 %12.

O papel também é um material altamente higroscópico, ou seja, retém e liberta água com

bastante facilidade, o que o torna bastante susceptível a humidades relativas altas, mas 12 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da

América, Sound View Press, 1991, p. 185-188.

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15

principalmente a variações bruscas. O papel é composto, geralmente, por diversos

materiais para além da pasta de papel ou fibras, podendo levar aditivos que o tornam ácido,

ou estar em contacto com pigmentos que acelerem o processo de degradação. O contacto

da acidez natural do papel com a humidade relativa do ambiente acelera o seu

envelhecimento, mas os pigmentos utilizados na escrita podem aumentar essa sensibilidade

à água. Recomenda-se que o papel seja mantido entre os 40 e 50 % de humidade relativa.

Com valores mais elevados o papel torna-se mais susceptível a rasgões pois as fibras

tornam-se mais moles e dilatadas e com valores extremamente elevados a textura do papel

pode mudar e o papel revestido tem tendência para aderir folha a folha; com valores

inferiores o papel torna-se quebradiço e também mais susceptível a rasgões13.

2.1.5. Problemas associados a Sistemas Integrados de Controlo Ambiental

Actualmente, com a construção de infra-estruturas exclusivamente dedicadas ao

acondicionamento, exposição e preservação de colecções, como são os museus, tem-se

recorrido a sistemas integrados de controlo ambiental que deveriam suprimir os habituais

problemas de humidade relativa, temperatura, iluminação e poluição que encontramos

diariamente em museus a funcionar em edifícios ou casas reabilitadas. Embora ainda não

exista muita publicação sobre o funcionamento destes sistemas em casos reais, algumas

conclusões podem ser retiradas14.

No melhor dos casos, para que o sistema funcione a 100 % é necessário cerca de um a dois

anos, depois da construção do edifício, de controlo rigoroso, tentativas, mudanças e

experiências para percebermos de que modo o edifício reage às variações exteriores e o

que é necessário fazer para controlar rigorosamente cada espaço. Nos piores casos,

sistemas inteiros tiveram de ser removidos e substituídos dentro de poucos anos depois da

sua construção, ou então são desligados e inutilizados. Um dos maiores problemas neste

tipo de construção é a falta de apoio por parte dos arquitectos ou engenheiros depois de

finalizada a obra. Muitas vezes, o pessoal do museu não está preparado para a rotina de

monitorização necessária e muito menos para o período inicial de ajuste do sistema a cada

espaço. Os elevados custos de um sistema deste género levou muitas vezes a que um

museu não tivesse capacidade para o manter a funcionar 24 h/ dia. Mesmo que um sistema

13 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da

América, Sound View Press, 1991, p. 189-190. 14 APPELBAUM, Barbara, op. cit, p. 50-51.

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funcione adequadamente, nunca poderá resolver todos os problemas, como por exemplo,

prevenir a formação de microclimas. Outra questão importante é a colocação do espólio

nos locais climatizados demasiado cedo: geralmente é necessário um ano de

funcionamento do sistema antes da deslocação do espólio para esses espaços simplesmente

porque ainda não sabemos de que modo o edifício está a reagir, e antes dessa altura, não é

seguro trazer os objectos para esse ambiente. Existem instituições que conseguiram fazer

com que estes sistemas funcionassem e não há dúvida de que quanto melhor for o controlo

feito pela instituição, maior vai ser a probabilidade de preservar a são a e salvo as

colecções15.

2.1.6. Soluções para o Controlo Ambiental no CDAH

Com base na avaliação feita nos seis meses de controlo ambiental efectuado podemos

destacar, principalmente, grandes variações térmicas num período de tempo muito

pequeno, bem como picos de humidade relativa muito elevada ou muito baixa. A

temperatura tem-se mantido em valores aceitáveis, mas as variações rápidas são

catastróficas.

Para que este sistema funcione da melhor forma tem de haver um contacto permanente

entre Conservador Restaurador e Técnico Ambiental para que ambos estejam a par dos

valores obtidos, e em conjunto decidam as melhores atitudes a tomar. Entretanto, a

utilização de desumidificadores tem ajudado a baixar a humidade relativa, mas não

conseguimos prever quando se vão dar as variações bruscas. O ar condicionado pode ser

desligado quando necessário, como foi realizado no AF, para subir a temperatura. No

entanto, o controlo diário e mais de uma vez por dia é essencial para compreendermos a

dinâmica das reservas com o sistema.

A utilização de sílica gel para diminuir a humidade relativa em situações pontuais poderia

ser uma boa solução mas, de momento, não existem dados suficientes para utilizar esta

solução. Parece-me que ainda estamos numa fase inicial de experimentação e adequação

do sistema ao espaço e, entretanto, o espólio documental pode estar a sofrer muito com

esta situação.

15 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da

América, Sound View Press, 1991, p. 52-55.

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17

2.2. Monitorização dos Agentes Biológicos no CDAH

Outro dos objectivos consistia em colocar e verificar os detectores de insectos nos vários

espaços do CDAH. Já existiam detectores colocados em alguns pontos, demonstrados na

figura 3.

Figura 3 - Planta do CDAH. Esquema da colocação dos detectores no piso 0.

Ao todo foram colocados 8 detectores:

o 3 no AH, a que chamámos 1ARQ, 2ARQ e 3ARQ;

o 2 no AF, a que chamámos 1FOT e 2FOT;

o 1 na sala G7, a que chamámos G7;

o e 2 no piso1, a que chamámos 1BIB e 2BIB.

Estes detectores servem para efectuar uma estimativa do número e tipo de insectos que

aparecem nos espaços; nunca irão realizar uma função de captura de toda a vida animal,

erradicando-a. Servem os detectores para, se no caso de surgir uma peste de determinada

espécie, ela ser detectada a tempo16.

No estudo efectuado existem três fases de colocação de detectores: a primeira fase

corresponde aos meses de Outubro, Novembro e Dezembro; a segunda fase a Janeiro,

Fevereiro e Março; e a última fase a Abril e Maio. Entre cada fase realizou-se a

substituição de todos os detectores e a identificação dos espécimes aí encontrados.

A verificação dos detectores foi realizada semanalmente, às quintas-feiras. Toda a

informação pode ser consultada nas tabelas em Apêndice Documental, Monitorização dos

Agentes Biológicos, p. 119. 16 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,

Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 67.

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18

Este tipo de detectores funciona com uma pastilha de feromonas que atrai as espécies

macho (daí que este dispositivo sirva apenas para realizar uma detecção, pois as fêmeas

não se sentirão atraídas pelos detectores).

O efeito da pastilha é mais intenso na altura em que é colocado

e passados 2 ou 3 meses é aconselhado que sejam substituídos.

No entanto, há quem deixe que os mesmos detectores

permaneçam por 6 meses, ou ainda outros que os substituem

passado um mês. O mais certo será realizar essa substituição

assim que as pastilhas percam o seu cheiro característico ou

ganhem um aspecto degradado.

A humidade relativa e a temperatura nos espaços onde são

colocados os detectores também contribuem para uma

degradação mais ou menos lenta da pastilha.

2.2.1. A biodeterioração e os documentos gráficos

A biodeterioração é o conjunto de deteriorações causadas por agentes biológicos, como os

fungos, insectos e roedores. A sua presença está ligada, em grande parte, à existência de

alimento e de um ambiente adequado para se reproduzirem17.

Os documentos gráficos são compostos, na sua maioria, por materiais orgânicos, que

podem ser divididos em materiais de origem vegetal e materiais de origem animal. Nos

livros encontramos o papel que é manufacturado a partir de fibras vegetais, podemos

encontrar couro ou pergaminho extraídos de peles animais e colas extraídas de nervos,

tendões e cartilagens de animais (cola animal).

A celulose, a lenhina e a hemicelulose são os principais compostos que encontramos nos

materiais de origem vegetal. O papel é composto maioritariamente por celulose e outras

substâncias como a lenhina, hemicelulose, taninos, proteínas, pectinas, etc. Por isso os

microrganismos facilmente atacam o papel quando existe uma humidade relativa elevada,

como é o caso das bactérias e dos fungos que se encontram no ar em forma de esporos. É

mais difícil para as bactérias do que para os fungos desenvolverem-se em ambientes com

baixa humidade relativa, pelo que é mais comum que encontremos fungos a colonizar as

folhas de um livro. Alguns tipos de fungos como os Arpergillus ou Penicillium são

17 PASCUAL, Eva, Conservar e Restaurar Papel, Lisboa, Editorial Estampa, 2006, p.30.

Figura 4 - Exemplo dos

detectores colocados no

CDAH.

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19

particularmente nefastos para o papel porque são capazes de crescer em substractos com

um conteúdo de apenas 7 a 8 % de humidade, o que acontece para alguns tipos de papel

num ambiente com apenas 62 a 65 % de humidade relativa18. A biodeterioração causada

por microorganismos pode causar manchas de várias cores e tamanhos no papel, desde

formas irregulares a formas arredondadas (principalmente se tivermos linhas de maré

provocadas por derrame de água ou inundação) e cores como vermelho, violeta, amarelo,

castanho, preto, etc19.

Também existem muitos insectos que são capazes de atacar a celulose e outros

componentes dos livros como as colas, podendo provocar desde abrasão superficial até

galerias que se prolongam por toda a extensão dos livros - "peixinho-de-prata", térmitas,

besouros, piolho do livro e baratas, representadas no quadro 1, abaixo20:

Quadro 1 - Exemplo dos principais insectos encontrados em arquivos

18 CANEVA, Giulia et al, Biology in the Conservation of Works of Art, Roma, Sintesi Grafica s.r.l.,

ICCROM, 1991, p. 56-57. 19 CANEVA, Giulia et al, op. cit, p. 57. 20 Idem, p. 56-59.

Ordens Famílias Nome comum Danos que provocam

Thysanura Lepismatidae "Peixinho-de-prata"

(Lepisma saccharinna)

Erosão superficial com contorno

irregular podendo provocar lacunas

Isoptera Kalotermitidae

Rhinotermitidae

Termitidae

Térmitas Lacunas profundas em forma de

cratera. São capazes de deixar a

superfície do objecto intacta e atacar

todo o seu interior - mais comum para

blocos de madeira.

Coleoptera Anobiidae

Lyctidae

Dermestidae

Caruncho de mobiliário

Caruncho (powderpost

beetles)

Caruncho da pele (skin

beetles)

Túneis circulares.

Túneis com secção oval.

Túneis curtos com secção circular e

perfuração irregular.

Corrodentia Liposcelidae Piolho do livro Erosão da superfície, de tamanho

reduzido.

Blattoidea Blattidae

Blattelidae

Baratas Erosão da superfície.

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O pergaminho é rico em colagénio e tem uma quantidade mais pequena de queratina e

elastina. O couro tem uma composição muito semelhante à do pergaminho, mas é curtido,

o que lhe confere a presença de outros produtos como óleos, minerais, entre outros,

dependendo do tipo de curtição. O colagénio pode ser atacado por bactérias que o

hidrolisam como é o caso da bactéria do género Clostridium. Como resultado da

biodeterioração o pergaminho torna-se duro e quebradiço causando muitas vezes a

deformação do objecto21.

Os insectos das ordens Dermestidae ou Tineidae são os mais capazes de atacar o colagénio

e materiais com queratina, criando o mesmo aspecto que a degradação em papel - erosão

superficial ou profunda com o aparecimento de lacunas e perda de material22.

2.2.2. O ambiente perfeito para a biodeterioração

Antes de qualquer outra consideração temos de determinar como chegam os insectos até às

colecções. Muitos deles podem chegar com novos objectos adquiridos pelo museu por isso

é muito importante que se faça uma inspecção cuidadosa e o isolamento de peças que

aparentem estar infestadas; esta é uma forma eficaz de impedir que se desenvolvam em

reservas ou em documentação tratada. Os insectos também podem ser atraídos pela

presença de comida dentro do museu ou em espaços adjacentes à localização do espólio,

ou pela presença de plantas dentro ou perto do museu. As teias de aranha com

remanescentes de outros insectos também são capazes de atrair outras espécies23. Quando

algum objecto ou conjunto de objectos é emprestado para uma exposição temporária ou

por outro motivo, também se torna numa possível fonte de entrada de insectos, pelo que

uma verificação cuidada também deve ser efectuada antes do seu acondicionamento em

reserva24. Também já sabemos que portas e janelas abertas ou mal calafetadas permitem a

entrada de insectos. No Verão ou no Inverno, quando as temperaturas são mais extremas, é

muito comum que os insectos procurem ambientes mais amenos e entrem em casas

21 CANEVA, Giulia et al, Biology in the Conservation of Works of Art, Roma, Sintesi Grafica s.r.l.,

ICCROM, 1991, p. 63. 22 CANEVA, Giulia et al, op. cit, p. 63-64. 23 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da

América, Sound View Press, 1991, p. 124. 24 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,

Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 68.

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21

particulares ou museus e arquivos. Muitos dos insectos preferem um local escurecido e

empoeirado, com humidade relativa elevada para se estabelecerem; e se tiverem uma fonte

de alimentação por perto, ainda mais. É por isso muito importante que se façam limpezas

frequentes para impedir a acumulação de poeiras por baixo dos móveis ou em cantos mais

escondidos das divisões. Semestralmente ou de seis em seis meses, deveriam ser realizadas

inspecções às caixas onde estão acondicionados os documentos e uma limpeza exaustiva

de toda a colecção25; mais frequentemente devem ser realizadas verificações do estado de

conservação da colecção por um profissional26. A colocação de armadilhas ajuda a detectar

uma possível praga, mas não invalida que se façam limpezas frequentes com aspirador

(não é aconselhável o uso de vassouras, água ou detergentes para limpar as reservas). A

higienização periódica de toda a colecção é vital para a preservação dos documentos, mas

também para a prevenção de pragas ou bolor27.

Tanto quanto possível as portas e janelas devem ser mantidas fechadas para impedir a

entrada de insectos, os esgotos e ventilações limpos e inspeccionados periodicamente. Se

existirem insectos mortos em locais de difícil acesso maior probabilidade existirá de

surgirem outros insectos que se alimentarão deles.

Os microrganismos estão presentes no ar em forma de esporos que se podem ligar

praticamente a qualquer tipo de material desde que tenham uma humidade relativa elevada.

Como já mencionámos algumas bactérias preferem alimentar-se só de celulose ou

colagénio, hidrolisando-os, mas outros apenas necessitam de luz solar e a presença de

água, como os fungos encontrados correntemente sobre as pedras, muito comum em

edifícios históricos.

Cada tipo de bactéria ou fungo tem os próprios parâmetros de humidade, temperatura, luz,

oxigénio, sais, minerais, etc., que necessita para sobreviver portanto, cada caso terá de ser

estudado em separado. Em contexto de arquivo os principais factores são uma humidade

relativa alta, temperatura alta, má ventilação, forte iluminação e substratos orgânicos

enriquecidos com poeiras, sujidade ou outros componentes. A humidade relativa deve estar

25 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da

América, Sound View Press, 1991, p. 124-125. 26 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,

Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 66-67. 27 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da

América, Sound View Press, 1991, p. 124-125.

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entre os 50 e os 55 % para conferir uma boa elasticidade mecânica dos materiais, mas

nunca deve estar acima dos 65 % para impedir o desenvolvimento de microrganismos. A

temperatura deve ser mantida entre os 16 e os 20°C, nunca acima deste valor de modo a

reduzir o crescimento biológico. Tem de haver um compromisso entre o que é bom para os

materiais e o que é mau para os microrganismos. Estes valores também são aceitáveis no

que diz respeito aos insectos porque eles também preferem uma humidade relativa alta e

uma temperatura acima dos 18 a 20°C28. A iluminação não é um problema no que diz

respeito aos microrganismos, pois as luzes encontram-se desligadas a maior parte do tempo

dentro das reservas, mas para os insectos isso é o ideal pois eles preferem lugares escuros.

É muito difícil encontrar a solução perfeita para evitar todos os factores de deterioração, ao

mesmo tempo.

2.2.3. Avaliação dos dados obtidos com os detectores29

2.2.3.1. Primeira Fase (15 Outubro 2010 - 6 Janeiro 2011)

O AH alberga grande parte do espólio documental do CDAH, pelo que existe bastante

alimento para os insectos, e tem estado sempre a ser monitorizado com o objectivo de

conseguirmos obter os valores ideais de temperatura e humidade relativa. No período

assinalado os valores ambientais têm estado entre 61 e 35 % de humidade relativa, e entre

20,5 e 15°C de temperatura. Do ponto de vista da proliferação de microrganismos e de

insectos os valores estão dentro do aceitável para que eles não cresçam. A vida animal

detectada pelas armadilhas é concordante com esta conclusão:

o 1ARQ - 1 aranha;

o 2ARQ - 1 aranha (que acabou por conseguir fugir; era uma aranha com cerca de

2,5cm, bastante grande) e 1 Lepisma sacarinna;

o 3ARQ - 1 mosca da areia.

O Arquivo Fotográfico encontrava-se desactivado na primeira fase de colocação de

armadilhas por isso não existem quaisquer valores ambientais; no entanto podemos

concluir que não havia qualquer alimento para os insectos. Foram detectados:

o 1FOT - 0 insectos;

28 CANEVA, Giulia et al, Biology in the Conservation of Works of Art, Roma, Sintesi Grafica s.r.l.,

ICCROM, 1991, p. 113-118. 29 Ver Apêndice Documental, Identificação dos Insectos Detectados, p. 120.

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o 2FOT - 2 lacraus e 2 Lepismas.

No espaço de acesso ao público foram colocadas duas armadilhas no piso 1; o controlo

ambiental foi feito no piso 0, mas os dois pisos ocupam a mesma área, não havendo tecto a

separá-los. Podem ocorrer algumas variações porque o piso 1 encontra-se mais perto do

tecto e está mais susceptível a diferenças de temperatura, mas de um modo geral, os

valores obtidos foram os seguintes: entre 75,8 e 26 % e entre 21,5 e 15,6°C, o que indica

grandes diferenças térmicas para a humidade relativa. No piso 1 encontrava-se a Biblioteca

João Tavares, muito susceptível ao ataque por insectos. Foram encontrados:

o 1BIB - 2 lacraus e 2 moscas da areia;

o 2BIB - 2 aranhas, 3 lacraus, 2 coleópteros, 1 mosca dos filtros, 2 moscas dos filtros

e 1 coleóptero pequeno.

A sala G7 não teve qualquer controlo ambiental e encontrámos lá uma armadilha com os

seguintes insectos:

o G7 - 1 aranha, 3 Lepismas, 1 mosquito, 1 grilo, 3 moscas dos filtros, 1 mosca

varejeira e 2 moscas da areia.

2.2.3.2. Segunda Fase (13 Janeiro 2011 - 31 Março 2011)

No AH os valores ambientais estiveram entre os 50 e os 34 %, e entre os 22 e os 17°C. A

temperatura esteve ligeiramente mais elevada o que se traduziu num aumento dos insectos

encontrados. Encontrámos:

o 1ARQ - 3 aranhas;

o 2ARQ - 1 aranha, 1 mosca da areia, 1 coleóptero pequeno, 1 formiga e 2 Lepismas;

o 3ARQ - 2 aranhas e 1 Lepisma.

A Biblioteca João Tavares foi transferida para o AF nesta fase e começámos a controlar os

valores ambientais, que estiveram entre os 53 e os 37,5 % e entre os 23,9 e os 17,6°C; ou

seja, a temperatura esteve elevada. Foram detectados:

o 1FOT - 1 aranha, 2 formigas, 2 moscas da areia, 1 Lepisma;

o 2FOT - 1 Lepisma, 1 mosquito, 1 formiga, 1 aranha.

No espaço de acesso ao público os valores de humidade relativa e temperatura estiveram

entre 71 e 25,2 % e entre 23,6 e 14,6°C, voltando a verificar-se grandes diferenças de

humidade relativa e também de temperatura. No piso 1 a Biblioteca João Tavares já não se

encontrava presente:

o 1BIB - 2 mosquitos;

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24

o 2BIB - 1 aranha, 1 lacrau, 1 coleóptero, 1 mosca da areia.

Na sala G7 foram detectados:

o G7 - 1 mosca dos filtros e 1 mosca da areia.

2.2.3.3. Terceira Fase (7 Abril 2011 - 26 Maio 2011)

No AH os valores ambientais estiveram entre os 60 e os 50 % e entre os 17 e os 14,5°C.

Não foram detectados quaisquer insectos nesta fase provavelmente porque a temperatura

esteve muito baixa para eles.

No AF os valores ambientais estiveram entre os 70 e os 56 % e entre os 14,7 e os 12,7°; ou

seja, a temperatura esteve com bons valores, mas a humidade relativa esteve muito elevada

o que pode levar à proliferação de microrganismos. Foram detectados:

o 2FOT - 1 coleóptero.

No espaço de acesso ao público os valores obtidos foram de 51,5 e 27 % e entre 25,2 e

20,7°C. Foram encontrados:

o 2BIB - 1 aranha, 1 mosca dos filtros e 1 mosca da areia, 1 formiga e 1 Lepisma.

Na sala G7 foram encontrados:

o G7 - 1 Lepisma.

2.2.3.4. Outros insectos e animais encontrados no CDAH

Ao longo do estágio foram sendo encontrados insectos mortos no CDAH, principalmente

nas estantes e perto da porta de entrada. Excepcionalmente, em Novembro de 2010 um

pardal entrou no CDAH mas foi rapidamente apanhado e libertado. De seguida uma lista

com os insectos capturados no CDAH:

o Em Outubro de Novembro de 2010 encontramos vários lacraus no espaço de acesso

ao público, tanto no piso 0 como no piso 1.

o Dia 9 de Dezembro de 2010 encontrámos um insecto vivo no piso 1 do CDAH,

identificado como um coleóptero.

o Em Janeiro de 2011 foram encontrados dois insectos vivos, identificados como

coleópteros.

o Dia 10 de Fevereiro de 2011 encontrámos um detector perdido no AH sem data,

onde foram identificadas 4 moscas minúsculas.

o Dia 22 de Fevereiro de 2011 encontrámos dois insectos mortos nas estantes do piso

1, um deles, identificado como um mosquito e o outro como um coleóptero.

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o Dia 23 de Fevereiro de 2011 foi encontrado um insecto com asas e duas

características manchas vermelhas no dorso, identificado como sendo um

coleóptero.

o Dia 30 de Março foi encontrado um detector perdida sem data, na sala G7 onde foi

possível identificar 1 aranha, 3 Lepismas e 3 mosquitos.

o Em Abril de 2011 encontramos uma joaninha perto da recepção do CDAH.

2.2.4. Conclusões retiradas dos dados obtidos

Os insectos encontrados no CDAH, de um modo geral, são os insectos esperados dentro de

um arquivo. É curioso reparar que os lacraus não foram encontrados nas reservas, mas sim

no espaço de acesso ao público, e numa altura muito específica do ano, confirmando que

são insectos sazonais e que entraram no CDAH pelas portas e janelas. O insectos

encontrados nas reservas dizem respeito, na sua maior a Lepismas e coleópteros e, em

menor quantidade, aranhas; isto faz todo o sentido porque estes são os insectos que se

alimentam de papel ou outros materiais constituintes da documentação, ao contrário dos

lacraus, que se alimentam de outros insectos. Provavelmente, muitos dos coleópteros e

Lepismas encontrados já estavam presentes na documentação quando ela foi transportada

das antigas instalações para o CDAH, sem que houvesse uma limpeza exaustiva ou mesmo

uma desinfestação de todo o espólio, o que seria o recomendado, em casos semelhantes.

2.2.5. Prevenção de Pestes - Tratamentos recomendados

A palavra de ordem hoje em dia, na Conservação e Restauro, diz respeito à prevenção! No

caso dos insectos aplica-se a mesma regra: se podermos evitar o aparecimento de insectos

não teremos de recorrer a medidas dispendiosas para os erradicar.

Tradicionalmente utilizavam-se insecticidas químicos e fungicidas para matar os fungos e

insectos, como por exemplo, a utilização de arsénico, DDT, compostos de mercúrio, entre

outros compostos extremamente tóxicos não só para os insectos mas também para o ser

humano. Uma grande desvantagem destes compostos é o facto de permanecerem sobre os

objectos e hoje em dia, se estivermos a trabalhar com objectos anteriormente tratados com

DDT, por exemplo, temos de ter um cuidado redobrado para não tocarmos nem inalarmos

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quaisquer dessas partículas que podem permanecer, mesmo depois de uma limpeza

cuidada30.

Hoje em dia, nenhum destes produtos é permitido, optando-se pela utilização de outros

métodos, seguros para o ser humano, como é o método da anóxia, o método da exposição a

baixas temperaturas31 e o método de expurgo por fumigação32. O método a utilizar depende

do bem cultural e da extensão do problema encontrado: os materiais constituintes e as suas

dimensões podem pesar bastante quando escolhemos um método para erradicar pragas33.

A desinfestação por anóxia tem estado mais em voga ultimamente por ser um método

eficaz pois elimina insectos quer estejam no estágio de ovos, larvas ou adultos, mas

também ecológico e amigo do utilizador, tendo em conta que não é tóxico e não deixa

quaisquer vestígios no espólio a desinfestar. É necessário ter uma bolha de filme plástico

com elevado grau de impermeabilidade ao oxigénio; depois de colocados os objectos a

desinfestar no seu interior, o oxigénio é substituído por um gás inerte como azoto, árgon ou

dióxido de carbono permanecendo assim por 3 a 4 semanas34. Este método pode ser

aplicado em grande escala desde que tenhamos bolhas com o tamanho necessário, o que é

relativamente fácil de conseguir.

O congelamento de objectos é geralmente realizado para uma menor quantidade de bens.

Cada objecto é embrulhado individualmente em plástico e protegido por suportes em

esferovite, por exemplo, porque não devem ser empilhados em contacto uns com os outros.

O congelamento deve ser feito em arca congeladora no frost e é um processo relativamente

rápido, podendo levar 4h a atingir os 0°C e 8h a atingir os -20°C. Depois pode permanecer

nos -20°C por duas semanas ou em 72h chegar aos -30°C35. O descongelamento deve ser

30 APPELBAUM, Barbara, Guide to Environmental Protection of Collections, Boston, Estados Unidos da

América, Sound View Press, 1991, p. 117. 31 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,

Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 68. 32 QUEIMADO, Paulo, GOMES, Nivalda, Conservação e Restauro de Arte Sacra, Escultura e Talha em

Suporte de Madeira - Manual Técnico, CEARTE, Coimbra, 2007. 33 Temas de Museologia - Plano de Conservação Preventiva, Bases Orientadoras, Normas e Procedimentos,

Instituto dos Museus e da Conservação, Palácio Nacional da Ajuda, Novembro 2007, p. 68.

34 EXPM Desinfestação e Higienização Lda. (www.expm.com.pt) 16.Maio.2011 35 SCHÄFER, Stephan, Desinfestação com Métodos Alternativos, Atóxicos e Manejo Integrado de Pragas

(MIP) em Museus, Arquivos e Acervos & Armazenamento de Objectos em Atmosfera Modificada, ABER -

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muito gradual e controlado, voltando a subir a temperatura. Quando o objecto for retirado

do congelador, a uma temperatura de cerca de 5 ou 8°C deve permanecer dentro do saco

por 24 h antes de ser removido para evitar condensação.

O expurgo por fumigação também passa pela utilização de insecticidas em líquido ou

sólido que em contacto com o ar se transformam em gás promovendo a eliminação de

insectos, em qualquer estágio da sua vida36. No entanto, a EXPM Desinfestação e

Higienização Lda. promove o serviço de reconversão de câmaras de fumigação para

sistemas de desinfestação por anóxia como upgrade tecnológico e ecológico. Trata-se da

substituição de câmaras adaptadas para óxido de etileno ou brometo de metilo

(insecticidas), possibilitando a utilização de ambientes em anóxia já não utilizando gases

tóxicos37.

Associação Brasileira de Encadernação e Restauro. Versão modificada pelo autor, de artigo publicado pela

Revista da Associação Paulista de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais, na edição nº1, 2002. 36 Telmo Dias Pereira - Expurgo ou Fumigação (http://www.telmopereira.com/Expurgo.html) 16.Maio.2011 37 EXPM Desinfestação e Higienização Lda. (www.expm.com.pt) 16.Maio.2011

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3. Objectos de Estudo

Para que seja possível projectar um Laboratório de Conservação e Restauro de

Documentos Gráficos nos espaços desejados (G8, G e G7), é necessário que haja um

conhecimento profundo do espólio do CDAH, bem como do seu estado de conservação

actual. Só assim podemos saber que tratamentos são necessários realizar e,

consequentemente, que equipamentos, materiais e produtos terão de ser adquiridos.

Com o tempo disponível para o estágio não foi possível conhecer toda a extensão da

documentação, até porque parte da mesma ainda não se encontra nas instalações, mas

ainda assim foi possível avaliar o estado de conservação de alguma parte da colecção.

3.1. Espólio Fotográfico Francisco Oliveira

3.1.1. Identificação Preliminar

A primeira abordagem ao arquivo foi feita com uma colecção de negativos, de um

fotógrafo portimonense, ainda vivo, Francisco Oliveira. Esta colecção foi adquirida pelo

Museu de Portimão e é constituída por negativos que datam dos anos 50 aos anos 90 do

séc. XX. Maioritariamente, são negativos em película de gelatina e sal de prata38 em

película rígida de 600 x 900 mm e em rolo, a preto e branco, embora também apareçam

alguns a cores. Os temas são variados: casamentos no concelho de Portimão (Lagoa,

Monchique, Ferragudo, Estombar, Alvor, Algoz, Penina, Mexilhoeira Grande, Silves, etc.);

reportagens diversas (eventos e acontecimentos em Portimão); paisagens algarvias;

construção de prédios; tremores de terra; e retratos. Também existem alguns negativos em

vidro e alguns exemplares positivos, mas estes últimos em menor percentagem e,

geralmente, associados aos negativos. A colecção está organizada pelo autor que descreve

as datas e temas de cada rolo, envelope ou caixa.

Existe uma ficha de inventário preenchida por um técnico do CDAH, onde se fizeram

pequenas modificações em algumas informações descritivas, mas principalmente na secção

da avaliação do estado de conservação.

38 Esta informação já constava das fichas de inventário para esta colecção, sendo que foi fornecida numa

acção de formação sobre conservação de fotografia, no Arquivo Fotográfico de Lisboa, em data

desconhecida.

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Foi criado um critério de avaliação com uma escala que vai do Muito Bom ao Muito Mau:

o Muito bom - Película aparentemente, sem qualquer alteração. Película brilhante, preta e

transparente, sem riscos, manchas ou outros danos. Possibilidade de alguma poeira

depositada à superfície;

o Bom - Alguma descoloração castanha e perda de algum brilho, embora ainda mantenha a

transparência. Marcas de erosão e manuseio com alguns riscos, impressões digitais e poeira

depositada à superfície;

o Razoável - Película com um tom acastanhado e perda de brilho, de elasticidade e de

transparência. Formação de um ligeiro espelho de prata e acentuação de manchas e riscos;

o Mau - Estado mais avançado da perda de elasticidade, tornando a película quebradiça.

Tom acastanhado muito acentuado e libertação de um cheiro vinagrento (ácido acético),

espelho de prata. Aparecimento de alguns canais e bolhas;

o Muito mau - Película endurecida e quebradiça. Alteração do suporte com ondulações

rígidas, canais e bolhas tornando-o muito frágil. Libertação de um cheiro vinagrento muito

acentuado. Manchas de bolor esbranquiçadas e película castanha, sem elasticidade.

A colecção, composta por 25 caixas de cartão está, de um modo geral, em bom estado de

conservação, excepto a partir da caixa nº 16 em que as películas se encontram em mau e

muito mau estado de conservação, libertando estas, um cheiro vinagrento muito forte e,

talvez, outros compostos. A maior parte das caixas são de grandes dimensões, mas também

existem duas caixas francesas39 e algumas caixas de cartão castanho de dimensões mais

reduzidas; para além disso, consoante a tipologia do suporte encontramos diferentes formas

de acondicionamento individual - invólucros de papel para os rolos, envelopes de papel

normal e de papel vegetal para as películas individuais, e caixas de dimensões reduzidas

para negativos individuais em suporte de película e de vidro40. Nas últimas caixas os

negativos não têm qualquer acondicionamento individual encontrando-se em contacto uns

com os outros41.

3.1.2. Exame e Análises

Para este espólio fotográfico só foi possível utilizar uma mesa de luz para observar

diferentes aspectos da documentação com luz transmitida. No entanto, poderíamos ter feito

39 Ver Apêndice de Figuras, Espólio Fotográfico Francisco Oliveira, Acondicionamento, p. 244 40 Idem, p. 244. 41 Idem, p. 244.

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mais exames à medida que avaliávamos o estado de conservação da documentação, como

por exemplo:

o Identificação do suporte dos negativos utilizando o teste de flutuação, por exemplo;

o Utilização de radiação ultravioleta para confirmar a presença de bolores, fungos e

outros aspectos dos negativos;

o Análise do nível de acidez dos negativos.

Mas, infelizmente, nenhum destes equipamentos está presente no Museu de Portimão e não

seria razoável deslocar a documentação para realizar estes exames noutro local.

Apesar disso, foi possível realizar a avaliação do estado de conservação utilizando luvas de

algodão e a mesa de luz. Todas as caixas foram abertas e os negativos analisados à medida

que se ia modificando alguma informação na ficha de inventário em documento Excel.

Identificação dos suportes em plástico

Os suportes em plástico podem ser de três tipos:

o Nitrato de celulose;

o Acetato de celulose;

o Poliéster.

Para identificarmos cada um destes suportes podemos realizar diversos testes, alguns deles,

bastante simples. Dentro dos testes não destrutivos podemos realizar uma simples

verificação do seguinte modo: os suportes em nitrato de celulose têm gravado no bordo a

palavra Nitrate, quando se trata de película rígida42. Este tipo de película surgiu no

mercado em 1889 e revelou ser um material inflamável (tendo provocado alguns incêndios

graves) e quimicamente instável, sendo utilizada até ao início da década de 1950. Foram

produzidos em rolo e em chapas de vários formatos. Em 1924 foi criada uma película

fotográfica em diacetato de celulose (da família dos acetatos de celulose) designada por

Safety por não arder tão facilmente como o nitrato; mas só em 1949 é que surgiu a película

em triacetato de celulose, mais robusta, que substituiu definitivamente o nitrato de celulose

em todas as suas aplicações. No entanto, estes suportes continuam a ser quimicamente

instáveis43. Portanto, se a palavra Safety aparecer nos bordos dos negativos, isso quer dizer

que estamos perante um suporte de acetato ou de poliéster, já não de nitrato44. Na década

42 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 97. 43 PAVÃO, Luís, op. cit, pp. 43-46. 44 Idem, p. 98.

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de 1950 aparece o poliéster que demonstra ser o suporte plástico de melhor qualidade e

estabilidade, sendo introduzido na fotografia em 195545. As palavras Esthar ou Cronar

poderão indicar uma película em poliéster46.

Outra forma de identificação do suporte é verificando os cortes nos bordos da película

rígida, que são eles mesmos um código de identificação produzido a partir de 1925. A

figura 5 demonstra uma lista de códigos e a indicação do suporte a que pertencem, com

base na colecção Mário Neves, que pertence ao Arquivo de Arte da Fundação Calouste

Gulbenkian47.

Se não encontrarmos qualquer referência nos bordos dos negativos poderemos, com base

na datação da colecção, ter uma ideia mais clara do tipo de películas utilizadas. Os

negativos anteriores a 1924 serão em nitrato e aqueles posteriores a 1960 já não. O

intervalo de tempo em que poderemos ter dúvidas será entre 1924 e 196048, sendo que na

nossa colecção grande parte dos negativos data de 1950 a 1970.

45 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 46. 46 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 98. 47 Idem, pp. 97-98.

48 Idem, p. 98

Figura 5 - Lista de códigos para identificar o tipo de película dos negativos.

Os códigos da esquerda foram encontrados em películas Safety, e os da direita em películas

em nitrato de celulose. Assinalado a vermelho e amarelo estão identificados os tipos de

corte encontrados no Arquivo Francisco Oliveira.

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Podemos concluir, com base nesta informação, que grande parte desta colecção terá

suporte em poliéster, no entanto também existem muitos negativos que têm uma datação

anterior a 1960 e é muito importante que se faça uma identificação correcta desses

suportes. Todas estas informações terão consequências no modo como pretendemos

preservar e conservar esta importante colecção.

Ainda, se quisermos confirmar a presença de suportes em poliéster poderemos realizar o

teste de polarização sobrepondo dois filtros de polarização numa mesa de luz, até que

estejam numa posição em que a radiação não passe pelos filtros; introduzir a película a

identificar no meio dos dois filtros e sem movimentá-los, ir rodando o negativo até que

surjam as cores do arco-íris. Se o negativo não se iluminar, quer dizer que estamos perante

uma película de acetato ou de nitrato de celulose. Se tivermos um negativo de grandes

dimensões podemos segurá-lo por uma ponta e sacudi-lo suavemente; ao produzir um som

metálico semelhante ao de uma folha de aço, quer dizer que estamos perante um suporte de

poliéster ou de nitrato de celulose porque o suporte de acetato não é suficientemente rígido

para produzir esse som49.

Dentro dos testes destrutivos existem dois que podemos realizar quando nenhum dos acima

mencionados resultou: o teste do amarelecimento e o teste de flutuação. Como o próprio

nome diz, implicam a destruição da parte da película a testar. O teste do amarelecimento

identifica o nitrato de celulose, pois este é o único que amarelece quando se deteriora.

Corta-se uma ponta do negativo, mergulha-se em água durante alguns segundos e raspa-se

a emulsão; se o suporte for amarelo ou acastanhado trata-se de nitrato de celulose

deteriorado, mas se o suporte for incolor (transparente) nada se pode concluir. Por fim, o

teste de flutuação permite distinguir os suportes de nitrato de celulose dos suportes Safety

(acetato ou poliéster); não será possível distinguir entre acetato e poliéster, apenas

confirmar o suporte em nitrato (este teste baseia-se na densidade dos diferentes materiais).

É necessário produzir uma solução (43 cm3 de tricloroetileno + 25 cm3 de tricloroetano)

num tubo de ensaio, cortar um pedacinho do canto da película e mergulhá-la na

preparação; agita-se vigorosamente e, se a película flutuar trata-se de uma película Safety,

se for ao fundo trata-se de película em nitrato de celulose. Ainda existe a possibilidade da

película se manter a meio do tubo de ensaio, nesse caso é mais provável que seja

poliéster50. 49 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 98-99.

50 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 99.

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Com base na deterioração que os negativos apresentam também é possível identificar o

tipo de película. Por exemplo, só as películas em acetato de celulose apresentam canais e

bolhas, bem como a libertação de um cheiro a vinagre ganhando ondulações e encolhendo.

As películas de nitrato de celulose tornam-se frágeis e quebradiças, amarelecem e a

emulsão torna-se pegajosa, libertando um cheiro a ácido. O poliéster é muito estável

quimicamente. Com base nas técnicas de produção, os negativos policromáticos (a cores)

só foram produzidos em suporte de acetato de celulose ou poliéster51.

Conclusões

No espólio em estudo, no que diz respeito aos negativos em rolo não encontramos qualquer

indicação respeitante ao tipo de suporte na própria película, mas pelo seu bom estado de

conservação, cor e datação podemos supor que é acetato de celulose.

Nos negativos coloridos encontramos as palavras Kodak Safety Film 6010, pelo que

podemos concluir tratar-se de suporte em acetato de celulose ou poliéster52.

Na caixa 10 encontramos negativos a preto e branco com cortes nos bordos que poderiam

suscitar a dúvida entre acetato ou nitrato de celulose, porque ambos podem ter aquele tipo

de corte (assinalado a amarelo na figura 5), no entanto, o tipo de deterioração que

apresenta só aparece nas películas em acetato de celulose - canais e bolhas53.

Na caixa 16, com negativos a preto e branco encontramos vários tipos de corte nos bordos,

entre eles dois que poderão corresponder a películas em nitrato (assinaladas a vermelho na

figura 5) e as restantes a películas Safety. Uma das películas é certamente com suporte em

nitrato de celulose devido ao tom acastanhado, espelho de prata e ausência de canais ou

bolhas54.

Estes exemplos dizem respeito a uma pequena parte da colecção e caixas pontuais; no

entanto servem para ficarmos com uma noção mais clara dos suportes presentes.

Os negativos mais deteriorados, nas últimas caixas, serão em acetato de celulose tendo em

conta a formação de bolhas, canais, ondulações e fragilidade da película, no entanto não

podemos descurar a possibilidade da presença de mais películas em nitrato de celulose. A

presença de películas em poliéster é provável, mas não foi confirmada. Seria necessária

51 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 100-101.

52 Ver Apêndice de Figuras, Espólio Fotográfico Francisco Oliveira, Exames e Análises - Identificação do

Suporte, p. 245. 53 Idem, p. 245. 54 Idem, p. 245

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uma nova identificação cuidada da colecção, ou a realização de testes destrutivos para

termos números reais sobre os tipos de suporte presentes e para podermos proceder do

modo mais correcto no que diz respeito à sua conservação.

3.1.3. Avaliação do Estado de Conservação

Os maiores problemas em relação à preservação de negativos e à sua deterioração estão

directamente relacionados com a humidade relativa e a temperatura do local em que estão

acondicionados. Sendo o negativo um objecto compósito, ou seja, composto por diversos

materiais, quanto maior forem as flutuações de temperatura e humidade, maior serão as

variações entre os próprios materiais. Eles vão expandir e contrair de formas diferentes e

por isso, mais probabilidade terão de sofrer movimentações diferentes entre si, daí a

formação de bolhas, canais e outros problemas55.

A Estrutura das Películas a Preto e Branco

As películas a preto e branco são constituídas pelo suporte de plástico, tendo por cima a

imagem e o meio ligante. A imagem é dada pelo chamado "formador de imagem", que

neste caso é a prata, e o meio ligante, que é o material que sela o formador de imagem e o

mantém estável sobre o suporte - a gelatina. No verso da película ainda pode ser aplicada

uma segunda camada de gelatina que ajuda a contrariar a curvatura da camada superior de

gelatina, mantendo a película plana56.

A Deterioração dos Plásticos

As películas em nitrato de celulose e acetato de celulose são fabricadas a partir da celulose

à qual são adicionados ácidos - o ácido nítrico ou sulfúrico dá origem ao nitrato de

celulose, e o ácido acético dá origem ao acetato de celulose. Estes ácidos são adicionados à

celulose como grupos laterais. Infelizmente, a celulose tem tendência para perder estes

grupos laterais, que ao se libertarem, transformam-se em ácidos novamente, e basta que

haja apenas alguma humidade ou água ambiente para que se dê essa transformação. O

nitrato de celulose decompõem-se formando ácido nítrico, e os acetatos de celulose

decompõem-se formando ácido acético ou vinagre57.

55 Informação cedida na acção de formação sobre Conservação de Colecções Fotográficas, leccionada pelo

Professor Luís Pavão, no dia 25 de Fevereiro de 2011, no Arquivo Fotográfico de Lisboa. 56 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 111. 57 PAVÃO, Luís Idem, op. cit, pp. 145-146.

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A acidez é uma questão pertinente na conservação dos negativos em acetato de celulose.

Uma película nova tem uma acidez de 0,05. Quando se começa a libertar o cheiro a vinagre

entra num estado de deterioração moderado e a acidez está a 0,5. Quando atinge 1,0 de

acidez a película ainda é utilizável mas o cheiro a vinagre acentua-se; assim que surgem os

canais e bolhas a acidez está num nível de 5,0. O ideal é impedir que a película atinja uma

acidez de 0,5 porque a partir desse valor o ácido presente auto-alimenta a reacção de

deterioração fazendo-a aumentar continuamente; a partir do chamado "síndroma do

vinagre" a deterioração avança muito depressa e já não interessa se os níveis de

temperatura e humidade estão correctos ou não. Para impedirmos que as películas atinjam

0,5 de acidez devemos acondicioná-las, quando estão novas, a 21°C e 50 %, o que fará

com que atinjam 0,5 de acidez em 40 anos. Se a temperatura for mantida a 10°C a película

levará 150 a atingir 0,5 de acidez; mas à temperatura de 35°C levará apenas 7 anos a

atingir os mesmos valores de acidez. Outro factor importante deverá ser o arejamento das

películas, para impedir a retenção da libertação de gases ácidos; se ficarem retidos junto

dos negativos, a deterioração acelerará pois o ácido acético libertado por um exemplar irá

contaminar os seus pares.

Para sintetizar, as consequências do ácido acético nos negativos são as seguintes:

o Cheiro a vinagre;

o O suporte encolhe criando tensões com a camada de gelatina;

o Encurvamento da película e ondulações nas margens;

o A gelatina descola-se do suporte e forma canais na superfície do negativo;

o Formação de bolhas salientes contendo um líquido ou depósitos cristalinos;

o Aparecimento de manchas azuis ou rosa no suporte que provêm da camada anti-

halo que é eliminada durante o processamento da película e que volta a aparecer

como resultado da acidificação do suporte (nas películas Agfa as manchas são azuis

e nas películas Kodak são cor-de-rosa)58.

A imagem do negativo ainda pode ser recuperada na fase inicial de degradação, em que há

uma ligeira deformação e libertação do cheiro a vinagre porque ainda é possível realizar

uma duplicação; mas numa fase mais avançada em que se formam canais e bolhas o

negativo já se encontra inutilizado e mesmo no negativo duplicado estas deformações vão

continuar a ver-se59. 58 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 146-149. 59 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 149.

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No que diz respeito a películas em poliéster, elas são um material robusto, muito difícil de

entrar em combustão, e não é danificado pela água ou humidade, o que faz dele um suporte

ideal para negativos de separação de cores que requerem um registo de cores perfeito.

Quimicamente, é um material muito estável pois não se deteriora nem se torna quebradiço

quando envelhece. Tem características excelentes, no entanto, não é usado com tanta

frequência como seria pensado, porque algumas das suas particularidades são

desvantajosas para certos tipos de utilização. Por exemplo, sendo um material difícil de

cortar e rasgar é óptimo para conservação, mas cria problemas de fabrico quando é

necessário fazer perfurações; outro dos seus problemas é o facto de não reter água (é

impermeável) e por isso, manter sempre o formato curvo quando é acondicionado ou

comercializado em rolo. Ao contrário de outros plásticos, que embora possam ser

enrolados, assim que são molhados voltam a ganhar uma forma plana, o poliéster não, o

que o torna num material difícil para fazer bolsas de arquivo. Para além disso ainda cria

electricidade estática, atraindo poeiras e outras partículas, ao contrário dos acetatos ou

nitratos de celulose60.

A Deterioração da Gelatina

A gelatina é o material que reveste as películas e onde ficam suspensos os grãos de prata

ou corantes, ou seja, é o meio ligante da imagem. A gelatina é extraída de cartilagens,

ossos, tendões e pele de vários animais. É insolúvel em água fria, mas torna-se líquida com

temperaturas acima dos 30°C; reage muito com a humidade relativa, visto que absorve e

perde água muito facilmente e em grandes quantidades, inchando e retraindo. Tem a

capacidade para aderir muito facilmente a qualquer material - vidro, plástico, papel. Por ser

transparente e não amarelecer, permite que a luz chegue aos sais de prata no momento da

exposição; ao ser molhada, a gelatina incha deixando que o revelador e o fixador toquem

nos sais de prata e desenvolvam a sua acção química. Se for conservada num ambiente

relativamente seco, a gelatina é muito estável podendo conservar-se durante muitos anos

em bom estado de conservação. É o material perfeito para ser utilizado em fotografia61.

Portanto, a sua deterioração está associada a:

o Uma humidade relativa muito alta que a amolece tornando-a pegajosa;

60 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 150-151. 61 PAVÃO, Luís, op. cit, pp. 130-131.

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o Por ser um material orgânico é propício ao desenvolvimento de bolores em

condições superiores a 65 % de humidade relativa. Ao penetrar na gelatina, o bolor

enfraquece a sua estrutura ao ponto de a desagregar;

o As flutuações de humidade relativa causam a contracção e retracção da gelatina

fazendo com que o suporte em plástico fique ondulado (no vidro este problema não

surge);

o Outra consequência da humidade relativa é o facto de a gelatina abrir poros quando

está húmida, permitindo a entrada de sujidades que penetram no interior, sendo

depois praticamente impossíveis de remover.

A humidade relativa dentro das reservas deve estar entre os 30 % e os 50 % com flutuações

inferiores a 5%, no que diz respeito à conservação da gelatina62.

A Deterioração da Prata

A prata é um elemento essencial na fotografia, mais propriamente os sais de prata. No

entanto, o maior factor de deterioração que lhe está associado é a oxidação. A oxidação é

uma reacção química de combinação com o oxigénio convertendo os elementos em óxidos.

O grande problema da oxidação da prata é que é impossível impedi-la de acontecer, mas a

vantagem é que esse problema pode ser revertido através da reacção redox - um átomo

pode transformar-se em ião (oxidação) e mais tarde converter-se de novo em átomo

(redução) -, que é uma reacção natural. A oxidação só ocorre à superfície dos objectos e no

caso das fotografias isso é muito problemático pois esta oxidação pode reduzir

significativamente as dimensões dos grãos de prata, fazendo-os até desaparecer e,

consequentemente, a imagem desaparece. Existem quatro consequências da oxidação da

prata:

o O amarelecimento - A oxidação reduz o tamanho dos grãos de prata, formando uma

nuvem de iões à sua volta. Alguns destes iões são mais tarde reduzidos a prata

formando-se então uma nuvem de prata fotolítica que dá o tom amarelecido.

o Perda de pormenor - As zonas mais claras da imagem são as mais afectadas por

serem menos ricas em prata. Os grãos de prata, ao serem consumidos, fazem com

que deixemos de conseguir perceber os pormenores, como uma expressão facial, as

pregas da roupa ou as texturas dos materiais.

62 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 131-133.

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o Formação do espelho de prata - Já vimos que os iões de prata formam uma nuvem

em torno do grão quando oxidam; a oxidação da prata perto da superfície faz com

que a nuvem de iões se deposite mesmo à superfície e, ao reduzir novamente,

forma-se prata à superfície. Daí o aparecimento de uma camada de cor de chumbo,

brilhante como um espelho que designamos por espelho de prata. Quanto mais

elevada a quantidade de prata, mais rapidamente aparecerá este fenómeno, sendo

que os negativos são muito afectados por este problema.

o Formação de pontos vermelhos - Os pontos vermelhos são minúsculos pontos de

cor castanha ou avermelhada, observáveis à vista desarmada resultantes da

oxidação e depósito de prata fotolítica em torno de um núcleo.

A oxidação da prata é difícil de combater pois basta que exista uma humidade relativa

elevada e agentes oxidantes (poluição atmosférica, vapores de vernizes e tintas, ozono que

é produzido por maquinaria eléctrica, como por exemplo máquinas fotocopiadoras,

peróxidos libertados por madeiras ou cartões de má qualidade), e eles estão quase sempre

presentes63.

É muito importante que a humidade relativa seja mantida abaixo dos 40 % e que haja uma

filtragem do ar de forma a eliminar gases oxidantes64.

De modo a sintetizar a deterioração dos negativos, sabemos que os suportes em acetato de

celulose, para além da deterioração da imagem de prata e da gelatina, o plástico acidifica

podendo surgir todos os fenómenos identificados anteriormente. No que diz respeito à

deterioração de suportes em poliéster até hoje não se conhecem casos de negativos

deteriorados em arquivo, mas por outro lado, este suporte só tem cerca de 60 anos pelo que

não se podem tirar muitas conclusões65.

Conclusão sobre o estado de conservação dos negativos

À medida que era realizada a verificação do estado de conservação dos negativos, ao

desenrolar alguns rolos, foi possível sentir um cheiro mais ou menos acentuado a vinagre,

o que indica que a libertação de ácido acético está em curso, mesmo nos rolos que parecem

estar em bom estado de conservação. As últimas caixas, em pior estado de conservação,

63 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 116-119. 64 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 119. 65 Idem, p. 177-179.

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libertam um cheiro muito forte que poderá ser uma mistura do ácido acético com a

deterioração do cartão ácido de que são feitas as pequenas caixas em que estão

acondicionados os negativos e, provavelmente, urina de rato.

Os rolos, que aparecem nas primeiras caixas, aparentam estar em bom estado de

conservação, embora acondicionados em papel, muitas vezes, deteriorado. Alguns dos

rolos foram protegidos por papel branco e amarelo actual, mas outros estão protegidos por

papel azul de embrulho muito deteriorado apresentando descoloração, rasgões e dobras,

manchas, etc., indicando ser mais antigo. Existem ainda alguns rolos embrulhados em

papel de seda; outros casos em que estão protegidos por papelão canelado que parece

conter rolos em pior estado de conservação em relação aos restantes; alguns estão

protegidos por papel de alumínio que se encontra muito deteriorado fazendo com que adira

ao rolo. Muitos destes problemas indicam a presença de humidade e variações de

temperatura ou manuseio acentuado, o que é natural em casas particulares. No entanto, de

um modo geral, as extremidades dos rolos são aquelas que mostram estar em pior estado de

conservação, apresentando66:

o Vincos;

o Lacunas no negativo provocadas por corte com tesoura, provavelmente;

o Presença de cola numa das extremidades com uma banda de cor creme causando

aderência noutros pontos da película por esta se encontrar enrolada;

o Substância de cor castanha avermelhada na película podendo ser derrame de um

líquido ou oxidação da prata.

A partir da caixa nº4 encontramos negativos a preto e branco e a cores que já não estão

acondicionados em rolo mas sim em chapas individuais, dentro de envelopes e protegidos

por bolsas de papel vegetal. Encontram-se em muito bom estado de conservação. Os

negativos a cores são retratos tipo passe e, muitas vezes, vêm acompanhados pelo

positivo67.

A partir da caixa nº 10 começamos a sentir um cheiro mais intenso que se liberta

indicando, provavelmente, a presença de ácido acético. As películas ainda se encontram

acondicionadas individualmente, mas alguns negativos apresentam canais e bolhas68.

66 Ver Apêndice de Figuras, Arquivo Francisco Oliveira, Avaliação do Estado de Conservação, p. 247. 67 Idem, p. 247. 68 Idem, p. 247.

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Os negativos que estão acondicionados desde a caixa nº 16 à caixa nº 24 estão em muito

mau estado de conservação, razão pela qual não estão contabilizados no documento Excel,

como os restantes. Estão agrupados em caixas pequenas muito degradadas que libertam um

cheiro extremamente intenso, sendo que, nalguns casos, o seu estado de conservação

impede a remoção dos negativos de dentro de cada caixa e, consequentemente, a sua

contagem. Apresentam os seguintes sinais de deterioração69:

o Adesão entre negativos nos casos em que foram acondicionados nas caixas

pequenas sem qualquer separação entre eles;

o Ondulações e deformações mais ou menos graves. Este facto fez com que os

negativos inchassem fazendo pressão na caixa e agora é muito difícil realizar a sua

remoção sem causar mais danos às películas;

o Canais e bolhas;

o Rigidez e fragilização do suporte;

o Espelho de prata;

Encontrámos uma película com tonalidade azul, o que é um dos resultados do ácido

acético, indicando que é uma película Agfa.

Este tipo de deterioração indica que a acidez do suporte está muito elevada, provavelmente

acima de 5,0, altura em que se começam a formar os canais e bolhas. A mesma situação

provoca a ondulação e rigidez do suporte. A oxidação e redução dos sais de prata

provocam o aparecimento do espelho de prata à superfície.

Na caixa nº 18 encontrámos um casulo de traça, indicando a presença, em alguma altura,

de traças. A deterioração encontrada nas caixas poderá indicar o ataque de traça.

Na caixa nº 19 encontrámos negativos em vidro e uma nota indicando que em 17/08/2009

procedeu-se a uma aspiração exterior da caixa. O cheiro aqui torna-se tão intenso que faz

levantar a suspeita da presença de urina de rato. As pequenas caixas dentro da caixa grande

estão fortemente atacadas por traça ou Lepisma saccarina. Os negativos em vidro não têm

qualquer material a separá-los entre si, apresentam muita sujidade depositada à superfície e

fungos. Alguns têm a imagem desvanecida, deterioração típica da oxidação da prata70.

Na caixa nº 21 demos por falta da caixa 872.

No final criámos no documento Excel uma caixa com o nº 25 que contém três documentos:

um rolo com as imagens de uma igreja, apresentando desvanecimento de imagem, um 69 Ver Apêndice de Figuras, Arquivo Francisco Oliveira, Avaliação do Estado de Conservação, p. 247

70 Idem, p. 247.

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negativo em película rígida com a família de Francisco Oliveira e uma paisagem em

positivo que consiste na colagem de duas fotografias lado a lado formando uma

panorâmica da entrada no Rio Arade, em bom estado de conservação. Estas duas

fotografias estão coladas sobre uma cartolina criando a ilusão de uma moldura com um

friso a lápis castanho de cerca de 1cm de espessura71.

3.1.4. Proposta de Tratamento

Todas as propostas de tratamento devem basear-se em alguns princípios fundamentais da

Conservação e Restauro: o primeiro diz respeito ao reconhecimento de qualquer restauro,

ou seja, qualquer material que seja adicionado à obra de arte ou documento histórico deve

ser imediatamente reconhecível à vista desarmada, mas de modo a que não perturbe a sua

leitura em contexto expositivo; o segundo princípio diz respeito ao respeito pelos materiais

originais utilizados na obra, devendo utilizar-se sempre que possível, materiais diferentes

mas compatíveis com os da obra, ou seja, materiais que não venham a causar mais danos

no futuro, que tenham o mesmo grau de absorção de humidade por exemplo; o terceiro

princípio tem em conta o futuro na medida em que qualquer restauro realizado hoje facilite

os restauros futuros, o que depende da reversibilidade dos materiais aplicados72. Mais

recentemente, no século XX, surge o princípio da intervenção mínima, que aconselha a

uma utilização regrada do restauro para passar a haver um maior peso da conservação,

realçando que o restauro deve ser realizado, apenas, em última necessidade; pretende-se

assim, seguir uma conservação com base na preservação (controlo ambiental) e prevenção

de danos.

A presente colecção de negativos sofreu apenas uma identificação e classificação: o

trabalho realizado consistiu numa avaliação do estado de conservação e respectiva

modificação no documento digital.

Perante uma colecção nova existe uma listagem de tarefas indispensáveis: depois do valor

da colecção ter sido avaliado como sendo do interesse do Museu a colecção foi recebida e

a partir daqui devemos reunir toda a documentação e dados relativos à colecção adquirida,

observar e elaborar um pré-inventário da colecção (o que já está feito de forma não

aprofundada, temos de identificar correctamente cada suporte), limpar e instalar todas as 71 Ver Apêndice de Figuras, Arquivo Francisco Oliveira, Avaliação do Estado de Conservação, p. 247. 72 BRANDI, Cesare, Teoria do Restauro, Amadora, Edições Orion, Abril 2006, 214 p.

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espécies em embalagens de arquivo apropriadas, descrever o conteúdo, imprimir negativos

sem prova, duplicar ou copiar espécies deterioradas, fragilizadas ou em materiais instáveis,

e proceder a tratamentos de restauro se necessário73.

Na fase de pré-inventário devemos fazer a identificação do suporte e o seu estado de

conservação; a presença de fita-cola, elásticos, clipes ou agrafos que danifiquem as

espécies; a ocorrência de bolor, sinais de humidade ou água; e a presença de insectos ou

roedores. Qualquer que seja o tempo consumido a realizar esta etapa, ela deverá ser feita

com extremo cuidado pois é a partir daqui que elaboramos o plano de acção e de

intervenção na nova colecção. Em caso de existirem películas em nitrato de celulose,

devem ser separadas da restante colecção pelo alto risco de incêndio, devendo ser tomadas

as medidas necessárias para salvaguardar todo o arquivo desse risco. Todas estas películas

devem ser imediatamente duplicadas (por processos fotográficos e por um fotógrafo

experiente), sendo que as duplicações podem ser colocadas no devido lugar na colecção ou

separadas; os originais têm de ser acondicionados em arquivo frio, em depósitos isolados.

Outras das espécies instáveis são os negativos com vidros partidos, os que tenham a

emulsão a descolar e a levantar, ou com suporte muito fragilizado; estes exemplares devem

ser separados para tratamento e estabilização74.

Começamos a perceber como é importante ter vários espaços compartimentados para a

realização de diferentes tarefas:

o Um arquivo sujo para a colocação de documentação ainda por analisar;

o Um local de identificação, limpeza e acondicionamento da documentação;

o Outro espaço para realizar tratamentos de conservação e restauro;

o Um arquivo limpo para acondicionar a colecção tratada;

o Um arquivo frio para as colecções que necessitem de um ambiente específico.

Limpeza e Acondicionamento

A limpeza e o acondicionamento de colecções de negativos são indispensáveis e

fundamentais antes da colocação em reserva. Não pode haver limpeza sem haver um

acondicionamento cuidado, ou vice-versa: de nada valeria limpar os negativos para voltar a

colocá-los nas caixas contaminadas, e o mesmo se aplica para a colocação da

documentação suja em caixas ou embalagens de conservação novas. Toda a informação 73 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 257-263. 74 PAVÃO, Luís, op. cit, pp. 261-264.

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constante nas caixas originais deve ser recolhida e mantida em fichas de caixa separadas,

bem como a informação nos envelopes individuais. Mesmo que seja possível manter a

informação nas novas embalagens, devem existir sempre fichas de caixa separadas, em

papel e digitais. O objectivo do correcto acondicionamento e inventariação também é

impedir que a colecção seja manuseada sem necessidade, e para que se quisermos consultar

apenas um negativo, possamos saber exactamente onde ele está75.

A limpeza só deve ser realizada se a emulsão se encontrar em bom estado de conservação,

sem correr o risco de se descolar. De um modo geral todas as espécies fotográficas podem

ser limpas com uma pêra de borracha que remove as poeiras e pêlos superficiais sem tocar

directamente no documento. Um pincel macio é mais eficiente a fazer essa remoção, mas

pode riscar a superfície, bem como o algodão; nunca deve ser exercida força sobre as

fotografias nem esfregar a sua superfície. Os negativos em vidro podem ser limpos no

verso utilizando um algodão humedecido; a superfície com a imagem deve ser aplicada

sobre um papel mata-borrão seco e limpo, nunca se exercendo força sobre o verso; também

há a possibilidade de utilizar uma solução de água e álcool em diversas proporções (devem

fazer-se várias experiências para ver qual será a proporção mais eficiente), mas geralmente

trata-se de um último recurso. A limpeza de películas deve ser mais moderada utilizando-

se apenas a pêra de borracha, no entanto, as sujidades maiores podem ser limpas com

diluente (geralmente tricloroetano) e algodão ou pano sempre com moderação e sem

exercer força; nunca devemos aplicar água sobre a película pois os dois lados estão

revestidos por gelatina e já sabemos que ela não reage bem à humidade76.

Em relação à remoção de fungos, como no caso dos que têm suporte em vidro, também é

possível tentar proceder à sua remoção. Os fungos desenvolvem-se em ambientes húmidos

em materiais como o papel, a gelatina e a albumina, dos quais se alimentam; podem ser

semelhantes a minúsculas teias de aranha no início e mais tarde, ficar com o aspecto de

manchas cinzento-esverdeadas. Para realizar a sua remoção podemos utilizar o

tricloroetano com as precauções referidas e realizando movimentos de dentro para fora sem

pressionar e localmente sobre a mancha. O ideal é actuar o mais rapidamente possível

impedindo que o fungo penetre em profundidade na gelatina. Se a gelatina já se encontrar

solta do suporte a limpeza não deve ser efectuada, realizando-se apenas uma embalagem de

75 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 268-269. 76 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 308-311.

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protecção do espécime com um cartão passe-partout por exemplo, impedindo que a

emulsão toque na embalagem77.

No que diz respeito à limpeza de colas temos alguns rolos com este problema. Nuns

exemplares a cola encontra-se seca, mas noutros casos a cola ainda está activa fazendo

com que a extremidade adira a outras secções do mesmo rolo. De um modo geral, as colas

conseguem ser removidas com o auxílio de uma pinça e um pouco de diluente - algumas

colas são solúveis em álcool, mas outras em tricloroetano. Qualquer um destes solventes

deve ser usado com moderação havendo a necessidade de ter o cuidado de não molhar a

superfície do negativo, aplicando-o pontualmente com a ajuda de um cotonete por

exemplo. Devemos ter sempre papel mata-borrão por baixo do negativo em tratamento e

por perto para o caso de ocorrer algum acidente ou utilização excessiva do produto. A

remoção de cola sobre a gelatina é difícil e tem tendência para deixar uma mancha amarela

na superfície78.

O tricloroetano é um produto moderadamente tóxico, sendo que deve ser manuseado ao ar

livre ou numa hotte de química79.

Os materiais de acondicionamento são muito importantes e devem ser da melhor qualidade

possível. Geralmente utilizamos papel, cartão e plástico, sendo que todos têm vantagens e

desvantagens dependendo da sua utilização e espécime fotográfico a acondicionar80. O

papel utilizando deve ser de boa qualidade, acid free ou com pH neutro ou até ligeiramente

alcalino (pH=7 é o ideal), com encolagem de gelatina ou amido (sem alumina, que é um

material ácido), e de preferência sem textura. Mas mesmo assim, os papéis alcalinos são

recomendados para negativos em acetato de celulose, que têm tendência para acidificar,

mas para fotografias a cor já não são recomendados, devendo antes utilizar-se um papel

neutro. Os cartões geralmente são utilizados para a construção de caixas ou embalagens

rígidas e devem ter consistência e robustez, e as mesmas características mencionadas para

o papel. Nunca devemos utilizar papéis ou cartões de pasta de madeira mecânica como o

cartão canelado e o cartão de encadernação. Os plásticos recomendados para embalagens

de conservação são o poliéster, o polipropileno e polietileno. O poliéster, pelas

77 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, pp. 311-312. 78 PAVÃO, Luís, op. cit, pp. 312-313. 79 Idem, p. 313. 80 Para vantagens e desvantagens do papel sobre o plástico ou vice-versa, consultar PAVÃO, Luís,

Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 223-224.

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características referidas nos suportes de negativo tem toda a vantagem em ser utilizado

para embalagens de conservação podendo ser selado a quente. O polietileno é

quimicamente estável e não contamina as espécies, é macio e maleável (mais que o

poliéster), mas é menos transparente. O polipropileno também é estável quimicamente e

mais transparente que o poliéster, mas é mais frágil tornando-o inadequado para

embalagens que sejam muito manuseadas81.

O tipo de embalagem mais utilizado para negativos em vidro é o envelope de quatro abas

tendo de ser acondicionado com a emulsão voltada para a base (o envelope de três abas

consome menos papel, mas se tivermos umas colecção muito grande mais vale

encomendar o papel necessário e mandar cortar numa tipográfica, o que requer a

construção de um cunho). Os negativos em tira devem ser acondicionados em mangas de

papel ou plástico. Embora possamos correr o risco de não encontrar mangas com o

tamanho desejado (existem no mercado formatos de 35 mm e 120) e aplicáveis em

dossiers, podemos sempre criar as nossas próprias bolsas, agrupadas em envelopes de

papel ou em embalagens de cartão; devendo o material ser poliéster ou polipropileno82.

Digitalização e Reprodução Fotográfica

Muitas instituições, quando colocam o inventário da sua documentação online, têm optado

por colocar também uma imagem da capa do livro ou da fotografia a que se refere, o que é

excelente, pois impede algum manuseamento por parte dos utilizadores que estejam

interessados em observar a imagem, principalmente no caso das fotografias; é uma opção

muito mais rápida de consulta da documentação. Para converter um negativo para imagem

electrónica é necessário um scanner ou digitalizador; os programas de tratamento de

imagem permitem converter o negativo em positivo, corrigir o contraste, eliminar

eventuais riscos ou manchas, e reduzir ou anular algumas formas de deterioração da

imagem. Deste modo a quantidade de utilizadores que pedirão para ter acesso físico ao

negativo decrescerá substancialmente, o que é óptimo para a conservação do espólio. A

digitalização de imagens não substitui o original, de modo algum, apenas disponibiliza

aquela imagem ao público geral; não é uma forma de conservação de fotografia porque as

imagens digitais obtidas por este sistema terão os dias contados porque os actuais leitores

de imagem estarão certamente obsoletos daqui a 30 ou 40 anos, tendo em conta a forma

81 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 224-228. 82 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 231-233.

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como a tecnologia tem vindo a evoluir (são muito poucos os leitores de VHS que ainda

funcionem correctamente hoje em dia e esses, têm apenas, mais ou menos, 20 anos).

A única forma de preservar as fotografias e negativos será através da reprodução

fotográfica, ou seja, a criação de uma imagem através de outras já existentes, por processos

fotográficos. Deste modo podemos fazer cópias, duplicações e impressões a partir de um

original. Fazendo minhas as palavras do Professor Luís Pavão:

o "Cópia é a reprodução de um original opaco. Uma prova sem negativo é copiada

para dela se obter um negativo de cópia; a partir deste negativo imprimem-se

provas, de segunda geração, de qualidade menor do que as obtidas a partir do

negativo original;

o Duplicação é a reprodução de um original transparente, ou seja, um negativo ou

diapositivo. Numa primeira etapa o negativo é duplicado, dando origem a um

interpositivo transparente, que por sua vez, numa segunda etapa, é duplicado,

dando origem ao negativo duplicado. Um diapositivo a cor é duplicado

directamente para o diapositivo duplicado. Em ambos os casos a qualidade do

duplicado é muito próxima da do original.

o Impressão é a reprodução de um original transparente em papel. O original é

geralmente um negativo, a cor ou a preto e branco, ou um diapositivo a cor. Por

meio da impressão obtemos uma prova em papel, positiva"83.

No caso do Arquivo Francisco Oliveira, teríamos de proceder a duplicações e a

impressões, tendo em conta que a maior parte deles são negativos. As duplicações dar-nos-

ião negativos idênticos dos quais poderíamos fazer as impressões, poupando assim o

original.

Estas técnicas são muito importantes quando temos espécies instáveis que acabarão por

desaparecer, como é o caso das películas em acetato de celulose em início de deterioração.

Depois da deterioração se ter acentuado formando canais e bolhas, as duplicações tornam-

se impraticáveis. Aconselha-se que numa colecção de grandes dimensões devemos

duplicar em película os negativos em vidro (que costumam ser mais requisitados) e os

negativos Safety que apresentem alguma deterioração; duplicar a totalidade da colecção é

algo a considerar em função do valor, da utilização que possam vir a ter e das verbas

disponíveis, mas duplicar os negativos muito usados e deteriorados é fundamental84. No 83 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 281. 84 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 281-283.

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caso dos negativos em muito mau estado de conservação, será impossível realizar

reproduções. Poderíamos tentar digitalizá-los e melhorar a imagem através de programas,

eliminando as bolhas e canais, mas o problema da preservação da imagem, no que diz

respeito à tecnologia, dentro de 50 anos, poderá estará perdida.

Para realizarmos este tipo de reproduções é necessário haver uma câmara escura, algum

equipamento necessário e recorrer a um fotógrafo experiente85.

Tratamentos de Conservação e Restauro

A preservação em fotografia e negativos prende-se mais com um correcto

acondicionamento e limpeza do que propriamente com conservação e restauro. No entanto,

por vezes surgem situações em que é necessário realizar um tratamento mais incisivo.

Tendo em conta que muita da deterioração em negativos é irreversível, o restauro

propriamente dito do documento original seria um esforço inglório. A realização de um

restauro prende-se com o valor da peça e com o seu estado de conservação. Aliás, grande

parte dos negativos não terá grande valor no contexto em que se inserem, pelo que poderão

ser uma boa fonte de treino dos tratamentos tão delicados86. Não nos podemos esquecer de

seguir sempre um princípio de reversibilidade de qualquer tratamento efectuado, de

compatibilidade de materiais originais e adicionados, e do respeito pela autenticidade da

peça, o que se aplica a todo o património.

No caso do Arquivo Francisco Oliveira, com a avaliação do estado de conservação não

observámos negativos em vidro ou em película partidos, ou com a emulsão a descolar. O

maior problema prende-se com os negativos em tira enrolados. Quando temos negativos

em rolo surge sempre a dúvida sobre como acondicioná-los; dúvidas de ordem ética e de

ordem prática. Será razoável cortar os rolos negativo a negativo por ser mais fácil

acondicioná-los desse modo? Estaremos a perder a leitura do rolo como um todo? E será

que é mesmo mais fácil acondicionar os negativos um a um do que em rolo? E se um dos

negativos se perder? Infelizmente, ainda não existe um consenso em relação a esta

problemática, mas algumas soluções que podemos ter em conta. Luís Pavão, no seu livro

Conservação de Colecções de Fotografia defende que não devemos cortar os rolos pois em

situações reais, o tratamento desses mesmos negativos será demorado e prolongar-se-á por

tempo indeterminado, e facilmente danificamos ou perdemos um negativo pequeno em 85 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 283. 86 PAVÃO, Luís, op. cit, p. 305.

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relação a um rolo. No caso de as colecções terem sido cortadas a solução adoptada é a de

encaixilhar os negativos como se fossem diapositivos e guardá-los em folhas próprias de

diapositivos (o que permite imprimi-los sem os remover do caixilho). O acondicionamento

dos rolos faz-se dentro de mangas próprias de plástico ou papel e devem ser realizar cópias

ou provas de contacto para consulta87.

Com base nisto podemos depreender que o acondicionamento deste tipo de negativo deve

ser feito com a fita estendida. É aceitável que cortemos os negativos do tamanho de tiras

que caibam nas bolsas pré-fabricadas, mas não que cortemos cada negativo um a um para

colocar em bolsas individuais. O trabalho de contagem, digitalização, limpeza e

acondicionamento torna-se muito mais moroso para 100 negativos individuais que para 20

tiras, por exemplo.

Para desenrolar os rolos e fazê-los ganhar uma forma plana podemos dar-lhes um banho de

limpeza de água destilada e Agepon, o que fará com que o acetato de celulose volte ao sítio

pois ele reage bem à humidade, quando ela é uma humidade controlada. O poliéster não

volta ao sítio com a humidade porque não absorve água, é totalmente impermeável. O

aconselhado é cortar o rolo em tiras de 5 e acondicionar assim. Antes, cortava-se em tiras

de 6 porque era o formato que cabia nos digitalizadores, mas hoje em dia, tem de ser de 5,

para negativos de 6 x 9 cm (como é o caso).

No caso dos negativos em rolo, eles estão enrolados sobre si com uma protecção de papel.

Para realizar uma simples observação do rolo torna-se difícil desenrolá-los só com duas

mãos. Se estivermos perante acetatos ou nitratos de celulose basta mergulhá-los em água

para lhe darmos uma forma plana, no entanto isso pode tornar-se perigoso se não for bem

controlado (o poliéster, como não é permeável à água e por isso, após enrolamento, não é

possível voltar a dar-lhe uma forma plana). Como já vimos, a gelatina, os sais de prata e a

película não reagem bem à humidade. Para executar o tratamento deve ser utilizada uma

espiral de revelação de rolos, utilizada por todos os fotógrafos. Os rolos devem ser

molhados em água da torneira durante cerca de 10 minutos, à temperatura ambiente (20 a

24°C); depois devem passar por um banho de água destilada e Agepon88 para remover

quaisquer vestígios de calcário. Para secarem, os rolos devem ser pendurados num local

sem poeiras, de preferência um quarto fechado, bem limpo e onde não seja possível que

levante pó; a secagem demora cerca de uma ou duas horas. Para acondicionar os rolos 87 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 247-248.

88 Agepon é um agente molhante que permite uma secagem uniforme das películas, para este caso específico.

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devem ser cortados em tiras de cinco fotogramas e arquivados em folhas de poliéster com

mangas. No entanto, se os rolos apresentarem sinais de deterioração como manchas azuis

ou rosa, ou canais e bolhas este tratamento não deve ser executado89.

Outros tratamentos mais comuns são os de estabilização, nomeadamente de emulsões

descoladas, de negativos partidos e de provas fragilizadas. O que podemos vir a encontrar

na colecção Francisco Oliveira serão emulsões descoladas e negativos de vidro partidos.

Emulsões descoladas podem surgir em suportes em vidro e em suportes em película e o

que se deve fazer é tentar proteger a peça em embalagem própria que não toque nem

pressione a emulsão para evitar que se rasgue ou dobre. Nos negativos em vidro podemos

optar por aplicar um segundo vidro por cima do original (com 1 mm ou 2 mm), selando

assim a emulsão entre os dois vidros, que devem estar intercalados por uma moldura em

cartão ou cartolina (deve ter entre 3 mm a 6 mm de largura); os dois vidros ficam selados

com aplicação de Filmoplast P90. Para estabilizar negativos com o vidro partido podemos

fazer uma estabilização entre vidros, ou seja, aplicar um ou dois vidros (um só é mais

aconselhado para que o peso e dimensão não aumentem muito, e deve ser aplicado no lado

que não tem emulsão) àquele que está partido e selá-los com Filmoplast P90. Esta técnica

aplica-se a vidros partidos em 2 ou 3 pedaços, mas se ele estiver partido em vários pedaços

teremos de proceder à colagem dos fragmentos com cola de gelatina. O procedimento

consiste em colocar o vidro novo sobre a mesa de luz e montar o vidro partido por cima,

com a emulsão virada para cima, e proceder à selagem dos dois vidros com a fita. Se

houver necessidade de colar os vidros devemos impedir que a cola de gelatina atinja a

emulsão (o que provocaria depósitos difíceis de remover), aplicando a cola em pequenos

pontos com um pincel fino a cerca de 40°C90.

Também existe a possibilidade de realizar colagens em provas rasgadas ou reparações de

provas rasgadas com papel japonês, remoção de provas montadas por cantos, selagem de

daguerreótipos e desenrolamento de provas, mas não se aplicam a esta colecção.

Materiais necessários ao tratamento da Espólio Fotográfico Francisco Oliveira

Pêra de borracha

Algodão

Água destilada 89 Informação gentilmente cedida pelo Professor Luís Pavão, por correio electrónico.

90 PAVÃO, Luís, Conservação de Colecções de Fotografia, Lisboa, © Dinalivro, 1997, p. 313-317.

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Agepon (Agfa Agepon, por exemplo)

Pincel japonês macio

Papel mata-borrão

Recipientes de vários tamanhos (para lavagem, por exemplo)

Álcool

Tricloroetano

Pinça

Pauzinhos de cotonete

Papéis de conservação acid free neutros e alcalinos

Cartões de conservação acid free ou caixas de conservação

Melinex® - poliéster

Digitalizador ou scanner

Estúdio de fotografia - câmara escura

Filmoplast P90

Cola de gelatina

Pincel fino

Recipiente para fazer banho-maria

Espátula de osso

Lupa conta-fios

Hotte química

Máquina de selar a quente

Cisalha

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3.2. Actas da Câmara Municipal de Portimão

3.2.1. Identificação Preliminar

As Actas (Termos de Vereação) da Câmara Municipal de Portimão (CMP) compreendem

um período de 265 anos que vai desde 1712 a 1977. Pertenciam ao Centro de

Documentação e Arquivo Histórico das antigas instalações no grupo de fundos relativo à

Administração Local da CMP e foram deslocados para o Centro de Documentação e

Arquivo Histórico (CDAH) do Museu de Portimão em 2008.

O espólio estava distribuído por 42 caixas para um total de 97 documentos. Eram "caixas

francesas" provenientes das antigas instalações mencionadas, e apresentavam claros sinais

de envelhecimento e de uso91: algumas encontravam-se em bom estado de conservação,

embora o cartão seja naturalmente ácido; outras encontravam-se rasgadas não

providenciando um ambiente seguro à documentação; outras estavam coladas com fita-cola

castanha. Foi possível fazer a transferência da documentação, destas caixas, para novas

caixas acid free em cartão azul e branco, à medida que se realizava a higienização. A

numeração das caixas foi alterada compreendendo agora do nº 2.2 ao nº 2.4392.

As Actas da Câmara Municipal de Portimão não são compostas apenas pelos 97 livros,

mas também por muita documentação avulsa. No século XX, com a explosão de

manufactura de papel surgem outros tipos de documentos, como os telegramas por

exemplo. Encontrámos alguns telegramas juntamente com correspondência entre a Câmara

Municipal de Portimão com outras Câmaras algarvias e do país, e correspondência com

várias empresas de serviços, como a J. Valverde de electricidade. Muita desta

documentação estava acondicionada em capilhas laranja, no entanto, alguma

documentação ainda se encontra espalhada no interior de alguns livros.

Dos 97 documentos, 7 deles são do século XVIII, 18 são do século XIX e os restantes, 72,

são do século XX.

91 Ver Apêndice de Figuras, Actas da Câmara Municipal de Portimão Acondicionamento, p. 254. 92 A numeração antiga está em Apêndice Documental, p.140, com a correspondência respectiva. É importante

manter as caixas associadas ao número do antigo inventário, para não se perder nenhuma informação que

possa vir a ser vital.

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Materiais e Técnicas93

De um modo geral é possível dividir esta colecção em quatro grandes grupos, tendo em

conta os materiais e técnicas utilizadas.

o No século XVIII os livros de actas são encadernados em pergaminho utilizando-se

a técnica de costura que lhe está associada, e escritos com tinta ferrogálica.

o No início do século XIX já se utilizava outro tipo de encadernação, com pastas em

cartão e coberta em tecido, costura com quatro nervos em sisal e duas cadeias de

remate, escritos com tinta ferrogálica.

o A partir de 1840 surge a encadernação com pastas de cartão e coberta em tecido

mas com os cantos e a lombada revestidos a couro, escritos a tinta ferrogálica; a

partir de 1930 com o doc. 1063 surge a coberta em papel de cor azul ou preto

texturado. Cerca de 1880, com o doc. 212, surgem alguns livros escritos com uma

tinta preta ou castanho-escuro que põe em dúvida se se trata de tinta ferrogálica ou

outro tipo de tinta. Em 1889 o doc. 218 é escrito com tinta ferrogálica. A partir de

1920, com o doc. 249, as actas passam a ser escritas com tinta preta que desbota

para azul. A partir do doc. 1211, de 1951-1952 os textos são escritos com tinta azul,

alguns deles, claramente escritos com caneta esferográfica.

o Os docs. 236 e 237, de 1912 e 1913, respectivamente, são escritos à máquina e têm

uma encadernação diferente sem costura: consiste em duas pastas em cartão com

coberta em tecido na área da lombada e papel texturado na frente e no verso. No

doc. 236 a pasta de baixo é fixa, e só a de cima é móvel para revelar o miolo; mas

no doc. 237 ambas são móveis.

Tipos de costura

o Os documentos encadernados com pergaminho (séc. XVIII) apresentam um tipo de

costura comummente encontrada neste tipo de encadernação94: com dois locais de

costura, visíveis do exterior. Do lado de fora da encadernação, na lombada, são

aplicados dois quadrados de pergaminho (como reforço), um ligeiramente acima e

outro ligeiramente abaixo do centro; os cadernos eram cosidos aí e o número de

93 Ver Apêndice de Figuras, Actas da Câmara Municipal de Portimão - Materiais e Técnicas, p. 255.

94 Foi possível observar este tipo de encadernação em pergaminhos quando me desloquei ao Arquivo

Municipal de Lisboa para realizar um Workshop em Prevenção e Sistemas de Acondicionamento no dia 14

de Dezembro de 2010 e também numa visita à Biblioteca Nacional de Portugal dia 28 de Fevereiro de 2011,

com os alunos da licenciatura em Conservação e Restauro.

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linhas à vista corresponde ao número de cadernos que compõem o livro. Ou seja,

nestes casos o miolo é directamente cosido à encadernação. Fechos compostos por

tiras de pergaminho, todos inutilizados.

o Em 1809, com o doc. 195, surge uma encadernação com pastas em cartão e coberta

em tecido. Nestes casos o miolo é cosido à parte e a encadernação aplicada por

cima, protegendo o conjunto. O miolo destes documentos é cosido com quatro

nervos em sisal e duas cadeias de remate. Fechos compostos por tiras de tecido.

o Em 1834, com o doc. 198, surge uma costura com três nervos em sisal e duas

cadeias de remate. A encadernação é em pastas de cartão e a coberta em tecido.

Fechos em tecido.

o Em 1868, com o doc. 205, reaparecem as costuras com quatro nervos em sisal e

duas cadeias de remate. A encadernação é elaborada com pastas em cartão, coberta

em tecido, cantos e lombada revestidos a couro. O doc. 206 volta a ter uma costura

com três nervos em sisal e duas cadeias de remate, sendo a encadernação idêntica à

anterior.

o Em 1895 surge o doc. 215 com uma costura com dois nervos em sisal e duas

cadeias de remate; a encadernação é idêntica ao mencionado anteriormente.

o O doc. 218 apresenta uma costura e encadernação em bom estado de conservação

pelo que não é possível ver os nervos. No entanto, no centro de cada caderno é

possível ver seis furos, pelo que poderá ser uma costura com três fitas de nastro,

mas não é possível confirmar. No livro seguinte, doc. 221 surge uma costura com

três fitas de nastro e duas cadeias de remate por isso podemos supor que o livro

anterior teria o mesmo tipo de costura; a encadernação é idêntica ao mencionado

anteriormente. O doc. 225 (1903-1904) apresenta duas fitas de nastro e duas

cadeias de remate. No doc. 240 (1914-1915) a costura também apresenta duas fitas

de nastro e duas cadeias de remate, no entanto, é possível observar no meio de cada

caderno, seis furos indicando que aquele miolo já esteve cosido com três fitas de

nastro, provavelmente com outra encadernação. Os furos estão largos, tendo todo o

aspecto de já terem sido utilizados, o que continua a acontecer para os doc. 243,

244 e 245.

o Até ao doc. 1203 (1942-1947) a costura tem duas fitas de nastro e duas cadeias de

remate; no entanto, com o doc. 1204 (1947-1951) surge a costura com três nervos

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em fita de nastro e duas cadeias de remate, mantendo-se até ao doc. 1241 (1969-

1970).

o A partir do doc. 1218 (1956-1957) voltam a aparecer as costuras com três nervos

em sisal e duas cadeias de remate, e surgem os capitéis, um no corte superior e

outro no corte inferior, em tecido riscado branco e vermelho, o que se vai verificar

nos restantes livros, com cores diferentes.

o O doc. 1232 é um caso interessante: a lombada apresenta quatro nervos salientes e

decorados a dourado, no entanto o miolo parece estar cosido com dois nervos em

sisal e duas cadeias de remate; não é possível confirmar esta informação porque

todo o miolo está cosido com linha branca, em pontos sucessivos, de cima a baixo.

Provavelmente tratar-se-á do ponto de luva.

o O doc. 1242 (1970) volta a ser cosido com dois nervos em sisal e duas cadeias de

remate; os restantes variam entre a costura com dois ou três nervos em sisal e duas

cadeias de remate.

Ao todo temos 7 tipos de costuras diferentes. Embora tenhamos os materiais com que as

costuras foram feitas, não sabemos qual a técnica de costura. Só poderemos ficar a sabê-lo

quando descosermos os cadernos e registarmos essa informação, o que será realizado

quando os documentos forem tratados (muitos deles necessitam de voltar a ser cosidos e

encadernados). Para a costura realizada na encadernação com pergaminho foi possível

registar a técnica de costura porque dois pequenos cadernos sofreram tratamentos de

conservação e restauro e voltaram a ser cosidos com novo fio de algodão, como veremos a

seguir.

Outros aspectos

A maior parte dos livros está etiquetada, quer seja na pasta da frente, quer seja na lombada.

A etiqueta regista o nº de acta e as datas extremas em que o livro foi escrito. Os livros com

encadernação em pergaminho apresentam etiquetas pequenas com uma inscrição do género

"Abril 1712 a Maio 1716". Nos primeiros livros com encadernação em tecido surge a

inscrição directamente sobre o tecido; mas a maioria tem uma etiqueta rectangular na pasta

da frente. Nos livros com lombada em couro por vezes surge uma etiqueta imediatamente

acima ou mesmo a cobrir uma inscrição com o nº de acta; estas etiquetas são geralmente

escritas à máquina de escrever, por isso podemos supor que são posteriores à feitura do

livro e aplicadas na mesma altura.

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Como são termos de vereação possuem uma introdução e um termo de encerramento, as

folhas são paginadas acompanhadas de uma assinatura no canto superior direito; nos livros

do século XVIII estas informações não estão muito claras, mas no século XIX sim. No

século XX a maior parte dos livros tem 200 páginas, e têm uma espécie de impresso no

início e outro no fim onde basta preencher com a informação; as encadernações já estão

sistematizadas e são claramente Livros de Acta, feitos propositadamente para o efeito.

Aparecem algumas etiquetas, coladas nas guardas ou contra guardas, com a tipografia ou

local que produziu os livros; no século XVIII, muito provavelmente, os livros eram feitos

na altura e no local em que seriam escritos.

Todos os livros são em papel avergoado (com pontusais e vergaturas) e com marca de

água95, excepto os livros escritos à máquina. Alguns dos livros mais recentes, de finais do

século XIX deixam de ter pontusais, mas continuam a ter vergaturas e marca de água. Os

últimos dois livros já só têm marca de água não apresentando vergaturas ou pontusais.

3.2.2. Exames e Análises

No Museu de Portimão realizaram-se os seguintes exames e análises:

o Utilização de uma lupa trinocular para observar diversos aspectos da documentação

utilizando ampliação;

o Utilização de uma mesa de luz para observar diversos aspectos da documentação

com luz transmitida;

o Utilização de uma lâmpada para observação de documentação com luz rasante;

o Utilização de um íman para confirmar a presença de compostos magnéticos;

No Laboratório de Química do IPT realizaram-se os seguintes exames e análises:

o Utilização de um microscópio óptico com câmara acoplada para realizar testes

microquímicos e identificação de fibras de papel e fibras de fio de costura.

Poderíamos ter feito mais exames à medida que avaliávamos o estado de conservação da

documentação, como por exemplo:

o Utilização de radiação ultravioleta para confirmar a presença de bolores, fungos e

outros aspectos da documentação e negativos;

o Análise dos níveis de pH no papel;

o Análise da espessura dos diferentes papéis;

95 Ver Apêndice Documental, A Marca de Água nas Actas da Câmara Municipal de Portimão, p.140.

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No entanto, nenhum destes equipamentos está presente no Museu de Portimão e não seria

razoável deslocar a documentação para realizar estes exames noutro local.

Luz rasante

Nos livros de actas realizaram-se diversos exames e análises. No que diz respeito a

exames, algumas encadernações em pergaminho foram visualizadas sob luz rasante

tornando notório o nível de encarquilhamento, rigidez e ondulações que apresentavam.

Luz transmitida

Utilizando uma mesa de luz foi possível decalcar e identificar as marcas de água nos

papéis, bem como verificar o estado de conservação da tinta, nomeadamente da corrosão

no papel. Muitas vezes, à vista desarmada não era possível ver as pequenas fissuras que

começavam a aparecer, e sob luz transmitida elas tornaram-se evidentes, pondo em causa

os tratamentos a seguir, de modo a que não se perdesse mais material.

Análises microquímicas de fibras de papel e do fio de costura

As análises microquímicas foram realizadas para determinar as fibras utilizadas no fio de

costura dos documentos do séc. XVIII, nomeadamente dos dois cadernos soltos que

sofreram tratamentos de conservação e restauro; e também para determinar as pastas

utilizadas na manufactura do papel ao longo dos três séculos que compõem as Actas da

Câmara Municipal de Portimão.

Identificação do tipo de fibras constituintes do fio de costura

Foi analisado o fio de costura do doc. 191, que se encontrava partido, com um tom muito

escurecido denotando o nível de oxidação e com fibras a soltarem-se. Este documento era

um caderno solto e sofreu tratamentos de conservação e restauro. O fio de costura que se

encontrava prestes a cair foi removido e, depois do tratamento, foi substituído por fio de

algodão de espessura semelhante. As análises microquímicas são destrutivas, mas neste

caso não fez diferença porque resultou de uma substituição de um material oxidado e

envelhecido por um novo, compatível e neutro.

Procedimento

Colocou-se parte do fio em água destilada e aqueceu-se a 65°C utilizando uma placa

térmica no Laboratório de Química do IPT, por 15 min. O objectivo foi amolecer as fibras

e libertá-las de alguma sujidade ou goma que fosse facilmente removível. Passados os 15

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min o fio foi retirado da água e cortada uma pequena secção para desfibrilar, utilizando

uma lâmina de vidro e um microscópio óptico simples: notou-se logo que as fibras eram de

cor castanha, compridas e maleáveis. Depois de estarem bem separadas e da água ter

secado aplicou-se uma gota de corante Herzberg que optimiza a visualização das fibras no

microscópio óptico Olympus, com câmara fotográfica acoplada.

Resultados - Foi possível observar fibras longas e estreitas, com joelhos de dilatação pouco

pronunciados, marcações em cruz (cruzadas) e estrias longitudinais, o que indica a

presença de fibras de linho (Linun usitatissinum) ou de cânhamo (Cannabis sativa)96.

Quadro 2 - Imagens obtidas do fio de costura do doc. 191

200x Mesmas fibras, 400x

200x

Imagem de fibras de cânhamo do livro Fiber

Atlas - Identification of Papermaking Fibers.

100x.

96 ILVESSALO-PFÄFFLI, Maria-Sisko, Fiber Atlas - Identification of Papermaking Fibers, Finland, The

Finnish Pulp and Paper Research Institute, Springer Series in Wood Science, 1995, p. 336-339.

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O cânhamo é uma fibra que pode facilmente ser confundida com o linho porque ambas têm

fibras longas, marcações cruzadas, estrias longitudinais e joelhos de dilatação. No entanto,

as fibras de cânhamo têm tendência para ser mais largas e com as paredes mais espessas e

por vezes, adquirem uma forma enrolada, semelhante a uma fita; as fibras de linho são

portanto mais estreita, apresentam os joelhos de dilatação mais proeminentes e geralmente,

o veio central longitudinal é mais visível97. Com base nesta informação, podemos concluir

que o fio de costura é feito a partir de fibras de cânhamo, principalmente porque é possível

identificar, na primeira imagem, uma fibra enrolada e por comparação com a imagem de

fibras de cânhamo fornecida no quadro acima.

Identificação das fibras e da pasta de papel das Actas

Foram recolhidas amostras de papel de vários livros de acta, tentando compreender o

período de três séculos de manufactura do papel, com o objectivo de diferenciar papel

proveniente de Itália, França ou Portugal. Através do estudo realizado às marcas de água,

foi possível identificar papel dos três países mencionados.

Escolha das amostras

A escolha recaiu sobre 13 amostras, uma para cada um dos seguintes livros:

• Doc. 188 (1712/ 1716) - Angoulême, França

• Doc. 189 (1741/ 1747) - Itália

• Doc. 190 (1750/ 1751) - Itália

• Doc. 191 (1752/ 1753) - Itália

• Doc. 194 (1792) - Itália

• Doc. 195 (1809/ 1815) - Itália (?)

• Doc. 200 (1841/ 1847) - Conselho de Castelo de Paiva, Portugal

• Doc. 203 (1857/ 1863) - Louzã, Portugal

• Doc. 212 (1887/ 1895) - Tomar, Portugal

• Doc. 232 (1909/ 1910) - Porto de Cavaleiros, Tomar, Portugal

• Doc. 1063 (1930/ 1931) - Tomar, Portugal

• Doc. 1211 (1951/ 1952) - Tomar, Portugal

97 ILVESSALO-PFÄFFLI, Maria-Sisko, Fiber Atlas - Identification of Papermaking Fibers, Finland, The

Finnish Pulp and Paper Research Institute, Springer Series in Wood Science, 1995, p. 267-337.

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• Doc. 1240 (1969) - Portugal

Portanto, temos cinco amostras de papel do século XVIII, quatro amostras de papel do

século XIX e quatro amostras de papel do século XX.

Para determinar o tipo de pasta usado nos papéis das Actas foram realizados testes

microquímicos utilizando, neste caso, dois corantes específicos: o corante Herzberg e o

corante Lofton-Merrit.

Estes métodos de análise de fibras permitem a identificação do tipo de fibras presentes e as

quantidades relativas98, bem como as pastas utilizadas.

Manufactura do papel

Depois de 1800, com a invenção das fábricas de papel, mais precisamente, dos

mecanismos utilizados para fazer papel, este disseminou-se pela Europa, tornando o papel

no meio de escrita eleito. A matéria-prima utilizada eram os trapos velhos, mais fáceis de

obter que a pele para o pergaminho, por exemplo. Antes disso, o papel já era conhecido em

Espanha e Portugal no século XII, mas o seu processo de fabrico era totalmente manual e

muito moroso: os materiais fibrosos como o algodão, trapos de linho ou cânhamo eram

batidos na presença de água até chegarem à condição necessária para ser transformado em

papel; essa pasta era colocada em suspensão num tanque com água, um molde rectangular

era então mergulhado na suspensão e depois levantado trazendo consigo parte da pasta de

papel; a água em excesso era escoada e a folha de papel pressionada contra feltro ou papel

mata-borrão e deixadas a secar ao ar; o lado do papel onde se escrevia era revestido com

cola animal ou engomado para impedir que a tinta se espalhasse pelas fibras. Mas com a

introdução das fábricas de papel, este trabalho manual laborioso deixou de ser necessário;

o processo utilizado é muito semelhante ao mencionado, mas agora já eram as máquinas a

fazer quase todo o trabalho árduo, como a maceração dos trapos99.

No séc. XVIII, a demanda cada vez mais crescente de papel, excedeu a capacidade de

produção manual e os fornecimentos de matéria-prima, por isso surgiu a necessidade de

procurar novas fontes de fibras. Durante o século XIX desenvolveram-se os métodos de

produção mecânica e invenção das pastas químicas, provenientes da madeira100.

98 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, p. 39. 99 BROWNING, B. L., op. cit, pp. 2-3. 100 Idem, p. 3.

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Fibras e pastas utilizadas na manufactura do papel

As fibras de celulose são o principal material constituinte do papel. Hoje em dia, a

produção de papel baseia-se na pasta de madeira. No entanto, sempre se utilizaram fibras

de gramíneas (palha, esparto, canas, bambu, bagaço, papiro, palma), fibras liberianas

(mitsumata, cânhamo, ramie, juta, linho, kenaf), fibras de folhas (manila, sisal) e de

sementes (algodão). As pastas utilizadas na manufactura do papel são produzidas de dois

modos: mecanicamente ou quimicamente. São classificadas de acordo com a sua origem

(madeira, algodão, palha, etc.) e de acordo com o seu processo de manufactura (mecânicas,

semiquímicas e químicas). As pastas químicas ainda podem ser divididas segundo o

processo de formação da polpa (sulfito, sulfato, etc.) e pelo branqueamento usado

depois101.

Entendemos então que o papel é, basicamente, uma folha de fibras de celulose, mas uma

grande variedade de materiais pode-lhe ser adicionada para conferir determinadas

características. A análise de papel envolve por isso, de uma forma geral, a detecção ou

determinação de vários materiais não fibrosos adicionados intencionalmente ou presentes

como impurezas102.

A identificação de fibras tem por base a aplicação de corantes que produzem uma

variedade de cores dependendo da fonte e proveniência do papel em estudo. A observação

da morfologia das fibras ajuda e é muitas vezes essencial para uma correcta identificação.

É necessária uma quantidade substancial de experiência e treino para conseguir obter os

resultados mais precisos103.

Os corantes utilizados para identificação de fibras e pastas de papel104

O corante Herzberg é usado para diferenciar entre pastas de trapo, pastas de madeira

químicas e pastas mecânicas. As pastas mecânicas adquirem uma coloração amarela

brilhante, as pastas de trapo adquire uma coloração rosa-purpúreo brilhante a roxo-

avermelhado vivo, etc105.

101 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, p. 3. 102 BROWNING, B. L., op. cit, p. 18. 103 Idem, p. 39. 104 Ver Apêndice Documental, Receitas para os Corantes Utilizados na Identificação de Fibras e Pastas de

Papel, p. 187. 105 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, pp. 42-48.

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61

O corante Lofton-Merrit é usado para indicar a presença de pasta não branqueada; as fibras

vão corar consoante a quantidade de lenhina na pasta. As pastas sem lenhina mantêm-se

incolores, enquanto as pastas com muita lenhina ganham uma tonalidade azul. O corante

reage segundo o grau de lenhina presente, mas não distingue os processos de obtenção da

pasta106.

Neste caso, a escolha recaiu sobre o corante Herzberg para determinarmos o processo de

produção do papel em questão, tendo em conta que temos três séculos de história do papel

para analisar. O corante Lofton-Merrit ajuda a confirmar o resultado, porque uma pasta de

trapo não irá ganhar cor, enquanto as outras sim. Também pretendemos identificar as fibras

específicas de cada uma das pastas.

Sabemos que as pastas de trapo são as que têm um menor grau de lenhina por ser utilizada

apenas matéria-prima, ou seja, fibras como o linho, algodão ou cânhamo sem adição de

outros materiais (o algodão tem uma percentagem de cerca de 99 % de celulose na sua

estrutura); as pastas químicas de madeira, obtidas por processos alcalinos, por exemplo,

têm uma maior quantidade de lenhina que está presente na madeira em percentagens na

ordem dos 15-35 %.

Procedimento

Realizou-se a recolha das 13 amostras de papel nos livros indicados. Como é uma análise

destrutiva, cada amostra foi recolhida de um local de lacuna e com um tamanho de cerca

de 2 a 3 mm, e guardadas em saquinhos individuais selados e devidamente etiquetados

para serem transportados até ao Laboratório de Química do IPT. Uma vez aí, cada amostra

foi dividida em duas (uma parte para cada corante) em cima de uma lâmina de vidro e com

a ajuda de uma gota de água destilada. No microscópio óptico foi possível separar as fibras

de cada metade da amostra e colocá-las em lâminas de vidro separadas, com a ajuda de

uma gota de água destilada e uma sonda. Depois de a água secar foi aplicada uma gota de

corante e colocada uma lamela por cima, tentando evitar-se a formação de bolhas de ar. A

visualização e identificação das fibras e pastas foram feitas no microscópio óptico

Olympus com câmara fotográfica acoplada.

Dessa identificação surgiram os seguintes resultados:

106 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, p. 52-53.

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Quadro 3 - Identificação das fibras e pastas 107

CU

LOS

DOC

ASPECTO DAS

FIBRAS

HERZBERG

LOFTON-

MERRIT

PASTAS E FIBRAS

IDENTIFICADAS

XV

III

188

Fibras curtas

difíceis de separar

Rosa purpúreo Incolor

Azul

esverdeado

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Linho, cânhamo, sisal e kenaf.

189

Fibras longas fáceis

de separar

Rosa purpúreo Incolor

Azul

esverdeado

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Linho e cânhamo.

190

Fibras curtas

difíceis de separar

Violeta

vermelho

arroxeado

Incolor

Azul

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Cânhamo, sisal e algodão.

191

Fibras longas fáceis

de separar, mais

estreitas que as

anteriores

Rosa purpúreo

Incolor

Azul

esverdeado

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Linho e cânhamo.

194 Fibras muito longas

fáceis de separar

Rosa purpúreo Amostra

estragada

Pasta de trapo.

Linho e ramie.

XIX

195

Fibras curtas fáceis

de separar

Rosa

acastanhado

Incolor

Azul

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Linho, algodão, sisal e juta.

200

Fibras de

comprimento médio

fáceis de separar

Rosa

acastanhado

Incolor

Azul

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Cânhamo e ramie.

203 Fibras longas fáceis

de separar

Rosa

acastanhado

Incolor Pasta de trapo.

Cânhamo, algodão e juta.

212 Fibras longas fáceis

de separar

Rosa

acastanhado

Incolor

Azul

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Cânhamo e linho.

XX

232

Fibras de

comprimento médio

difíceis de separar

Rosa

acastanhado

Incolor

Azul

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Cânhamo e juta.

1063

Fibras de

comprimento médio

difíceis de separa

Rosa

acastanhado

Incolor

Azul

Pasta de trapo. A pasta demonstra

possuir algum grau de lenhina.

Cânhamo e juta.

Fibras estreitas, Pasta de trapo.

107 Ver Apêndice Documental, Exames e Análises - Identificação das Fibras e Pastas de Papel, p. 188.

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63

1211

brancas, maleáveis,

compridas e fáceis

de separar

Rosa

acastanhado

Incolor

Cânhamo e linho.

1240

Fibras estreitas,

brancas, maleáveis,

compridas e fáceis

de separar

Rosa

acastanhado

Incolor

Pasta de trapo.

Cânhamo e linho.

Conclusão

As análises com o corante Herzberg revelaram que todas as amostras são de pasta de trapo,

ou seja, a matéria-prima utilizada foram trapos e o processo de obtenção do papel,

mecanicamente. Com o corante Lofton-Merrit, a grande maioria das fibras não corou,

mantendo-se incolor, estando em acordo com os resultados anteriores. No entanto surgem

algumas fibras que coram azul esverdeado ou azul, o que indica a presença de lenhina; é

uma característica típica das pastas mecânicas.

As fibras encontradas foram o cânhamo (Cannabis sativa), linho (Linum usitatissimum) e

ramie (Boehmeria nivea) em maior quantidade, e algodão (Gossypium), juta (Corchorus

capsularis), sisal (Agave sisalana) e kenaf (Hibiscus cannabinus) em menor quantidade;

algumas destas últimas fibras são difíceis de confirmar por serem muito semelhantes entre

si.

Para relacionar esta informação com os três séculos apurámos o seguinte, ordenando as

fibras por predominância nas amostras seleccionadas:

o Século XVIII - linho, cânhamo, sisal, kenaf, algodão, ramie (o linho surge em

maior quantidade e o ramie em menor).

o Século XIX - linho, cânhamo, algodão, juta, ramie, sisal.

o Século XX - cânhamo, linho, juta.

Nos séculos XVIII e XIX existe uma maior qualidade de fibras enquanto no século XX o

cânhamo e o linho são os líderes - provavelmente no século XX torna-se possível fazer

uma selecção mais rigorosa do tipo de fibras utilizadas para fazer o papel, daí o menor grau

de lenhina verificado neste século em comparação com os outros. De um modo geral

podemos concluir que o papel produzido para as actas (ou documentação mais importante)

é de boa qualidade e continuou a sê-lo ao longo dos três séculos mencionados.

Em relação à técnica de produção das pastas sabemos que no século XX o papel produzido

manualmente ainda era feito em alguns países (Inglaterra, Itália e alguns países asiáticos),

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64

mas em escalas muito reduzidas108. Como já mencionado, as fábricas de papel surgiram no

século XVIII e tendo em conta a presença de marcas de água (muitas delas estão ligadas

directamente a fábricas de papel conhecidas) só se pode concluir que ao longo dos três

séculos, o papel foi feito em fábricas de papel - mecanicamente.

É difícil fazer qualquer ligação entre o tipo de pasta e o seu país de origem por não se

terem identificado semelhanças entre umas e outras.

Análise de partículas que se libertavam da documentação enquanto se realizava a

higienização

108 BROWNING, B. L., Analysis of Paper, New York, Marcel Dekker, Inc., 1969, p. 3.

Figura 6 - Higienização do doc. 189. Figura 7 - Depois da higienização do doc. 189.

Figura 8 - Pormenor das partículas

libertadas do doc. 189, após

higienização.

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No processo de higienização da documentação foi possível observar diferentes partículas e

tipos de sujidade que se libertavam, o que não é de espantar tendo em conta que,

provavelmente, nunca haviam sofrido uma limpeza tão profunda.

No século XVIII e XIX, mais especificamente (documentação escrita com tinta

ferrogálica), observámos a saída de umas partículas arredondadas e negras, bem como um

conjunto de poeiras, pedaços de papel queimado, resina e outras sujidades que foram

observadas ao microscópio óptico com câmara acoplada no Laboratório de Química do

IPT. Estas partículas encontravam-se acumuladas no festo dos livros, entre os cadernos, e

espalhadas por toda a extensão de cada livro, ou seja, não se acumulavam só em

determinados locais.

De início, pensou-se que as partículas negras seriam excrementos de insecto, tendo em

conta as lacunas provocadas por ataque de insectos, presentes na documentação. No

entanto, assim que se observaram as partículas ao microscópio notou-se que estas

partículas eram minerais e não orgânicas.

Pensou-se então que poderia ser algum tipo de deterioração da tinta ferrogálica, devido aos

compostos metálicos que fazem parte dela109 e portanto, poderia tratar-se de ferro.

Para confirmar a presença de ferro utilizámos um íman vulgar porque sendo um mineral

magnético, iria ser atraído pelo íman, e de facto foi o que aconteceu (figura 11). Também

foi identificada a presença destas partículas "presas" a algumas palavras escritas nas actas,

e realizou-se a sua visualização na lupa trinocular no Laboratório de Conservação e

109 Ver Apêndice Documental, A Tinta Utilizada nas Actas da Câmara Municipal de Portimão, p.211.

Visualização de uma amostra da poeira que se libertava da documentação. 40x.

Figura 9 - Partículas minerais, resina e desperdícios orgânicos (de insectos ou do próprio

documento - miolo ou encadernação)

Figura 10 - Pedaço de papel queimado.

Fig. 9 Fig. 10

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Restauro do Museu de Portimão (figura 12 (a e b)), identificando que as partículas se

encontravam à superfície do papel.

No entanto, não existe qualquer bibliografia que se refira à deterioração da tinta

ferrogálica na forma de partículas minerais; encontrou-se apenas um artigo que comenta a

formação de cristais na tinta ferrogálica110, o que não é o caso.

Também não fazia sentido tratar-se de cristais porque estas partículas mostram erosão

(extremidades arredondadas), tipicamente provocada por ventos ou pelo mar. A quantidade

de partículas presentes em cada livro e o facto de surgirem partículas com tamanhos

diferentes também põe de lado a hipótese de serem algum tipo de deterioração da tinta

ferrogálica.

110 LA CAMERA, Deborah, Crystal Formations Within Iron Gall Ink: Observations and Analysis, Journal of

the American Institute for Conservation, 2007 (Vol. 46, Nº 2), pp. 153-174.

Figura 11 - Partículas minerais

magnéticas atraídas por um

íman. Visualização na lupa

trinocular no Laboratório de

Conservação e Restauro do

Museu de Portimão. 1.5x.

Figura 12 - Partículas minerais

depositadas à superfície de uma

palavra escrita com tinta

ferrogálica.

Figura 12 (a) - Lupa trinocular (.67x)

Figura 12 (b) - Lupa trinocular (3.5x)

Fig. 12 (a)

Fig. 12 (b)

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Como não se conseguia obter qualquer informação sobre o que poderiam ser estas

partículas, decidi contactar o The Netherlands Cultural Heritage Agency em Amesterdão,

na Holanda, através do The Iron Gall Ink Website (ink-corrosion.org). Amavelmente,

Birgit Reissland111 respondeu e conseguiu ajudar-nos a decifrar este enigma. As partículas

foram identificadas como sendo "blotting sand" ou seja, uma espécie de areia que se

aplicava sobre as páginas dos livros para que a tinta ferrogálica secasse mais depressa.

Geralmente estas areias eram magnetite preta (daí que fossem atraídas por um íman). Foi

cedida uma imagem de "blotting sand" de livros manuscritos de Espanha do século XVII,

para comparação (figuras 13 e 14).

É possível ver as semelhanças entre as

duas amostras (figuras 13 e 14

comparadas com a 15), por isso

podemos ter a certeza que estamos

perante magnetite preta. Assim,

conseguimos explicar todos os aspectos

mencionados, e tem toda a lógica que as

partículas estivessem espalhadas por

toda a extensão dos livros, acumuladas

perto do festo.

111 Birgit Reissland - Conservadora de Documentos Gráficos no The Netherlands Cultural Heritage Agency

(RCE) do Ministério da Educação, Cultura e Ciência da Holanda, editora do The Iron Gall Ink Website (ink-

corrosion.org) e autora de inúmeros artigos e estudos sobre a tinta ferrogálica e sua deterioração no papel.

Figuras 13 e 14 - Imagens de "blotting sand" cedidas por Birgit Reissland do The

Netherlands Cultural Heritage Agency (RCE).

Figura 15 - Imagens obtidas da amostra das partículas

das Actas da Câmara Municipal de Portimão. 40x.

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3.2.3. Avaliação do Estado de Conservação

As Actas da Câmara Municipal de Portimão são compostas por materiais e técnicas

diferentes, tendo em conta que percorrem três séculos. Iremos dividir a avaliação do estado

de conservação conforme o século a que pertencem, porque a deterioração que mostram é

diferente em cada um; aqui mostramos um resumo com a informação essencial112. Esta

avaliação foi feita ao mesmo tempo que se realizava a higienização e se preenchia uma

ficha de avaliação do estado de conservação113, registando todas as degradações, lacunas

ou manchas. A escala de avaliação vai do Muito Bom ao Muito Mau, como acontecia com

os negativos da Colecção Francisco Oliveira.

Século XVIII

Do século XVIII existem sete documentos: dois deles são cadernos soltos sem

encadernação e com o fio de costura partido; os restantes são manuscritos encadernados

em pergaminho.

o A tinta ferrogálica encontra-se oxidada, estando o papel em risco de se perder;

desvanecimento e migração da tinta.

o Manchas variadas - sujidade generalizada, manchas escuras semelhantes a fuligem

nas áreas de dobra e no verso dos cadernos soltos, manchas causadas por

substâncias gordurosas, manchas de queimaduras, manchas provocadas por líquido

causando linhas de maré, manchas esbranquiçadas ou esverdeadas provocadas por

fungos localizadas nas cobertas de pergaminho.

o Impressões digitais com manchas de gordura ou de tinta, pontualmente, no miolo

dos livros.

o Dobras e rasgões.

o Lacunas provocadas por ataque de insectos - galerias e orifícios circulares

provocados provavelmente, por larvas de coleópteros, e lacunas típicas do ataque

por Lepisma. Presença de excrementos de insecto (provavelmente de Lepisma,

tendo em conta os excrementos que observámos na análise dos detectores).

o Ondulações do miolo.

o Os fechos em pergaminho, quando existem, encontram-se inutilizados.

112 Ver Apêndice Documental, Actas da Câmara Municipal de Portimão - Avaliação do Estado de

Conservação, p. 206. 113 Ver Apêndice Documental, Ficha de Avaliação do Estado de Conservação - Livros, p. 221.

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o Todos os documentos apresentam vestígios de queimadura, mas o que está em pior

estado é o doc. 189 (1741-1747) que apresenta todo o corte da frente queimado,

perdendo-se cerca de 5 a 10 % da totalidade do livro.

o Alguns documentos apresentam anotações a lápis por cima de certas palavras, como

se alguém tivesse tentado decifrar o texto.

o O pergaminho da encadernação, em todos os livros, encontra-se rígido, sem

elasticidade, e com encarquilhamento. Apresenta marcas de desgaste e erosão,

típicas de uma utilização excessiva do livro.

o Muitas das lombadas encontram-se deformadas, obrigando o miolo a ser projectado

para fora da encadernação, principalmente os cadernos centrais. Este tipo de

deterioração é comum quando os livros são empilhados em cima uns dos outros

durante muitos anos; o peso obriga a lombada a deformar-se: uma razão para

evitarmos que os livros se sobreponham directamente.

o As etiquetas são brancas com auréola azul, com a inscrição das datas extremas de

cada livro; apresentam lacunas e ataque de insectos, nomeadamente de Lepisma.

o O fio de costura encontra-se oxidado e partido em todos os documentos.

De um modo geral, tanto os cadernos soltos como os livros apresentam queimaduras

indicando que estiveram perto de um incêndio; provavelmente, as manchas e linhas de

maré são consequência da tentativa de combater o fogo. O estado de conservação destes

livros é mau ou muito mau.

Século XIX

No total existem 19 livros do século XIX, sendo que o último - doc. 218 - é de transição do

século XIX para o século XX (1899-1901).

Os primeiros livros deste século apresentam encadernação com pastas em cartão e coberta

em tecido de várias cores. Em 1841 com o doc. 200 (1841-1847) surge a lombada e os

cantos revestidos a couro e as pastas cobertas com tecido (castanho, verde).O miolo destes

livros varia entre papel branco/ creme e azul, avergoado e com marca de água; os primeiros

livros com coberta em tecido ainda apresentam fechos em duas fitas de tecido, embora

estejam inutilizados. Nota-se um vestígio de tinta vermelha nos cortes indicando que terão

sido pintados. As etiquetas são aplicadas na pasta da frente com as datas extremas de cada

livro.

De um modo geral, apresentam os seguintes sinais de deterioração:

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70

o Festo e lombada deformados.

o A coberta apresenta marcas de erosão e desgaste, e os nervos provocaram marcas

salientes nas pastas; muitas vezes os nervos ficam a descoberto porque a coberta

encontra-se extremamente gasta e a erosão dos mesmos provocou a sua ruptura.

Lacunas no tecido, principalmente nos cantos e no corte inferior, onde existe maior

erosão no manuseamento. Presença de manchas de líquidos, tinta ferrogálica, cola.

o Miolo ondulado; por vezes os nós dos nervos da costura, resguardados entre as

pastas e as guardas, provocaram deformações pontuais no miolo.

o Nas guardas observamos manchas de cor castanha provocadas pela cola aí aplicada.

o Oxidação do papel provocando amarelecimento do mesmo.

o Presença de excrementos de insecto nos cortes e no miolo do livro.

o Dobras, geralmente nos cantos. Pequenos rasgões.

o Manchas variadas: linhas de maré provocadas por derrame de líquidos, manchas de

gordura.

o Lacunas causadas por ataque de insectos - galerias, orifícios e lacunas com a típica

margem desigual provocada por Lepisma.

o Presença de fungos no miolo e em algumas cobertas.

o Pingos de cera amarela.

o Presença de carcaças de insectos - aranhas, Lepismas, etc.

o Impressões digitais com tinta e gordura.

o Migração e desvanecimento da tinta ferrogálica; as letras maiores ou com presença

de maior quantidade de tinta apresentam uma auréola castanha à volta, indicando o

avançado estado de deterioração da tinta.

o Pingos de tinta ferrogálica com a auréola castanha à volta.

o Apontamentos com tinta azul, de esferográfica actual, no miolo; manchas de tinta

azul.

De um modo geral, estes livros estão em melhor estado de conservação quando

comparados com os livros do século XVIII, no entanto muitos deles encontram-se em mau

estado de conservação. As ondulações no miolo já não são tão graves, tal como as lacunas

provocadas pela tinta ferrogálica; no entanto, existe a necessidade de tentar neutralizar a

acção oxidante da tinta ferrogálica, pois corremos o risco de perder muita da leitura desta

documentação, tão importante para a história da cidade de Portimão.

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Alguns dos miolos surgem com papel azul, como já foi mencionado; no entanto, alguns

dos livros têm uma cor difícil de definir: embora algumas folhas pareçam ser de cor creme,

outras têm um tom esverdeado muito apagado, o que pode indicar que era papel azul, na

sua origem. O papel azul é papel de cor creme tingido com corantes; se for este o caso,

notamos que em documentação mais antiga a cor azul quase desaparece por completo

talvez devido à humidade sofrida ao longo do tempo, indicando que talvez este tipo de

papel não possa sofrer tratamentos aquosos, com risco de se perder totalmente o tom;

noutros casos é notório que o papel é azul.

As etiquetas apresentam lacunas causadas por Lepisma, que preferem as proteínas

presentes na cola, e também apresentam rasgões e lacunas devido ao manuseio; o facto de

as etiquetas se encontrarem do lado de fora da encadernação torna-as mais susceptíveis à

degradação. No total, 11114 dos 19 livros têm de voltar a ser cosidos.

Século XX

A maior parte das actas em estudo dizem respeito a documentação do século XX: dos 94

livros, os deste século são 72, representando cerca de 74% da totalidade.

O tipo de degradação encontrado é muito semelhante ao que já foi mencionado.

o Ligeira oxidação do papel do miolo.

o Pequenos rasgões ou lacunas, pontualmente, no miolo.

o Manchas de gordura, linhas de maré pontualmente.

o Ligeira ondulação do miolo.

o Marcas de erosão e desgaste na coberta, em menor gravidade comparando com os

livros dos séculos anteriores. Riscos provocados por um objecto aguçado cortando

a coberta.

o A cola nos festos apresenta-se ressequida e a desagregar-se; manchas de oxidação

nas guardas provocadas pela cola utilizada para colar as guardas às pastas.

o A tinta não apresenta sinais de corrosão ou desvanecimento, apenas uma ligeira

migração.

o Carcaças de insectos encontradas dentro de alguns livros - aranhas, Lepismas.

o Lacunas causadas por ataque de insectos - pequenas lacunas circulares e lacunas

provocadas por Lepisma.

114 Documentos 195, 196, 197, 199, 200, 201, 202, 205, 212, 215 e 217.

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o Impressões digitais provocadas por gordura.

o Temos encontrado frequentemente, e cada vez mais, manchas quadrangulares de

oxidação localizadas em várias folhas: poderão corresponder a documentos avulsos

que foram deixados dentro dos livros, provocando um aumento de oxidação.

Geralmente a documentação avulsa encontrada dentro dos livros é feita com papel

de pior qualidade, com revestimento ou papel de telegrama de cor castanha

acentuada, o que pode explicar o aumento de oxidação localizado nesses locais.

o Encontramos restauros antigos: aplicação de fita-cola para tapar uma lacuna ou

rasgões - amarelecimento e desagregação da película plástica da fita-cola,

permanecendo o adesivo.

o Algumas pastas encontram-se extremamente deformadas por terem sido

gravemente molhadas, apresentando grandes linhas de maré com manchas escuras e

presença de fungos brancos; em documentação a partir de 1939 até 1955

encontramos fungos rosa, roxos e azuis no miolo, espalhando-se pelas folhas com

maior ou menor intensidades, conforme o caso.

o Nos últimos documentos observamos, com a higienização, a saída de muitas

partículas provenientes da lombada e encadernação, ao invés do pó negro que

observávamos anteriormente, indicando o mau estado de conservação das lombadas

em couro - marcas de desgaste e erosão, couro quebradiço e a desagregar-se, com

maior destaque no doc. 1218A (1957-1959).

No total dos 72 livros, 19115 têm de voltar a ser cosidos; embora a maioria esteja em bom

estado de conservação, alguns cadernos estão soltos, o fio de costura partido ou os festos

rasgados.

115 Documentos 218, 221, 235, 236, 237, 240, 244, 247, 248, 249, 250, 251, 297, 439, 1063, 1198, 1202,

1203 e 1212.

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3.2.4. Proposta de Tratamento

A proposta de tratamento aqui apresentada é de carácter geral, tendo em conta que temos

um conjunto de 97 documentos, tirando a vasta documentação avulsa integrada nas actas.

No entanto, foi realizada uma proposta de tratamento individual para cada documento

(registada nas fichas de avaliação do estado de conservação), pois cada livro é único e

apresenta características próprias.

Um livro não é apenas papel, cartão, couro e tecido, é acima de tudo, um conjunto que

deve responder a uma necessidade precisa: a de ser possível abri-lo. Por isso a

encadernação acaba por ser uma estrutura que protege o miolo, mas também deve ser

funcional; pode dizer-se que é a parte mecânica do livro, e o seu estado de conservação

tira-lhe muitas vezes essa capacidade116. O Conservador Restaurador tem de ter os

conhecimentos necessários sobre o funcionamento e construção de um livro para poder

seguir as normas regentes de conservação e restauro - respeito pelo original, utilização de

materiais reversíveis e estáveis à passagem do tempo.

O local de trabalho e a base para os documentos deve ser limpa a higienizada sempre que

possível, antes e depois de qualquer tratamento. A água a utilizar também deve ser tida em

consideração: se utilizarmos água da torneira deve ser pedida uma análise ao departamento

de águas da cidade para sabermos que químicos ou minerais estão presentes, bem como o

seu pH; a água da torneira é muitas vezes tratada com aditivos como o cloro para a tornar

segura para uso humano; e para além disso pode conter impurezas das canalizações.

Primeiro começou por utilizar-se água destilada ou desionizada por se pensar ser a mais

limpa e tratada possível, no entanto este tipo de água não possui os iões prejudiciais mas

também não possui os benéficos para o papel, tornando-o mais frágil; hoje em dia ainda se

utiliza este tipo de água com adição de pequenas quantidades de hidróxido de cálcio ou de

carbonato de magnésio para compensar a falta dos iões benéficos. É importante que o pH

da água esteja entre 7 e 8 porque vai melhorar a força mecânica do papel e o seu aspecto de

uma forma geral - a adição de hidróxido de cálcio, por exemplo, torna a água mais base, o

que é ideal117.

116 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán

Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 23-24. 117 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &

Burford Publishers, 1987, pp. 69 e 85.

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Nas Actas da Câmara Municipal de Portimão foi visto que uma parte dos livros teria de

voltar a ser cosida, as encadernações e miolos planificados e consolidados. Veremos como

cada passo deve ser executado:

Desmontagem do livro - Antes de descoser o livro temos de desmontá-lo, no entanto nem

todos os livros necessitam deste tratamento; cada caso tem de ser estudado em particular.

A desmontagem de um livro deve ser realizada quando o livro tem de ser descosido para

um tratamento químico ou para refazer uma costura que está frágil ou rompida; quando é

necessária uma consolidação do miolo a nível de rasgões no festo; ou quando a montagem

entre as diferentes partes do livro está especialmente deteriorada, por exemplo, quando as

pastas estão soltas ou os fios de costura estão largos pondo em causa a integridade de todo

o conjunto. A desmontagem deve ser um processo cuidadoso para evitar romper os festos

dos cadernos118; todas as partes removidas devem ser guardadas para reutilização na altura

da montagem porque sempre que possível, devemos utilizar os materiais originais.

A desmontagem diz respeito à separação entre a encadernação e o miolo, o que implica

remover as guardas e a lombada (caso estejamos perante uma encadernação com pastas e

coberta como é o caso dos livros dos séculos XIX e XX). Sempre que possível a

desmontagem deve ser feita a seco - utilizando apenas um bisturi ou espátulas -, mas

existem outras opções: quando não é possível remover a guarda utilizando apenas um

bisturi podemos humedecer ligeiramente o papel. É recomendado que se impregne a

guarda com Tylose MH 300 (esta cola tem a vantagem de difundir a humidade lenta e

regularmente o que vai reactivar a cola sem afectar o cartão das pastas), utilizando então a

ajuda de uma espátula para remover a guarda; após a remoção da guarda a Tylose não deve

ser removida porque funciona como um reforço ao papel119. Se as guardas e pastas

estiverem em bom estado de conservação mas ainda assim seja necessário remover a

encadernação para realizar nova costura, as guardas podem ser mantidas cortando-se a sua

ligação com o corpo do miolo na área do festo120. A remoção do fio de costura deve ser

realizado com cuidado para não danificar o festo, e depois de soltos os cadernos devem ser

contados e enumerados.

118 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán

Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 47-48.

119 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, op. cit, p. 56. 120 Idem, p. 70.

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Portanto, no caso dos livros encadernados com pergaminho, já foi mencionado que todos

eles têm de ser cosidos de novo e por isso, devem ser desmontados. O fio de costura tem de

ser substituído e pode ser cortado com um bisturi para facilitar a sua remoção; todos os

pedaços de pergaminho devem ser guardados para tratamento individual - as

encadernações são compostas por uma única coberta em pergaminho e dois pequenos

quadrados de pergaminho utilizados para reforçar a costura na lombada. No caso dos livros

encadernados com pastas de cartão e coberta em tecido ou papel as soluções são as

mesmas, tendo cada caso de ser avaliado individualmente; algumas das guardas coladas às

pastas de cartão encontram-se em mau estado de conservação e deverão ser substituídas ou

removidas para sofrerem uma reintegração do suporte e voltarem a ser utilizadas.

Limpeza das encadernações em pergaminho - A limpeza de pergaminhos pode ser feita

numa primeira fase com trinchas japonesas (Hake) de cerdas macias para remover sujidade

superficial; para remover excrementos de insectos basta utilizar um bisturi. Para remover

manchas de gordura pode utilizar-se borracha em barra com grão mais abrasivo, tendo o

cuidado para não provocar marcas microscópicas na superfície do pergaminho. Por vezes,

utilizando a borracha eléctrica o pergaminho pode ficar demasiado limpo, ganhando até

uma tonalidade mais clara porque a borracha pode retirar-lhe a patina de envelhecimento

que faz parte do objecto e que lhe confere a sua idade e valor. Por isso a utilização da

borracha eléctrica deve ser evitada, a não ser que se realizem testes microscópicos para

avaliar o grau de abrasão que está a ser feito; o conservador deve ser capaz de manter

sempre uma perspectiva crítica para não se deixar levar pelo tratamento. Os tratamentos de

planificação do pergaminho, como utilizam água e hidróxido de cálcio, também podem

ajudar a remover algumas manchas ou gorduras na superfície do pergaminho.

Planificação e consolidação das encadernações em pergaminho - As principais

deteriorações presentes no pergaminho são causadas pelo manuseamento e pelas variações

de temperatura e humidade relativa, a que o colagénio é especialmente sensível. Surgem

regularmente problemas de ondulações, dobras, o pergaminho torna-se rígido e pouco

flexível121, que é exactamente aquilo que observamos com as encadernações do século

XVIII, para além das manchas, descolorações e colonização biológica, nomeadamente por

fungos.

121 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, Per una Didactica del Restauro Librario, Diario del corso di

formazione per assistenti restauratori della Regione Siciliana, Palermo, Biblioteca Centrale della Régione

Siciliana, 1990, p. 95.

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A solução mais comummente utilizada para dar a forma original ao pergaminho passa por

uma humidificação controlada, no entanto existe sempre o risco de ele voltar a ficar

ondulado se for mantido num ambiente com humidade relativa baixa, por isso é muito

importante que exista uma reserva onde estes valores possam ser monitorizados e

assegurados122 (o ideal seria uma humidade relativa entre os 50 e os 55 %). A técnica mais

eficaz consiste em colocar o pergaminho num bastidor dentro de uma câmara de

humidificação onde se possa controlar a humidade e, progressivamente, ir aumentando a

tensão do pergaminho para este começar a planificar123. Nem sempre é possível obter uma

câmara de humidificação, mas existem formas de conseguir os mesmos resultados: por

exemplo, se tivermos uma tina de lavagem de grandes dimensões, podemos colocar aí o

objecto (quer seja colocado num bastidor ou não) e tapar a área aberta com material

impermeável, como o poliéster, e num dos cantos introduzir a boca de um humidificador

ultrasónico até começarmos a ver o vapor a fazer efeito no pergaminho, relaxando-o; no

entanto, desta forma não podemos controlar a humidade que estamos a introduzir a não ser

que coloquemos um medidor de humidade no interior da câmara improvisada. Numa

câmara de humidificação é recomendado que o documento seja humidificado durante cerca

de 3 horas, sem qualquer protecção, e depois colocá-lo numa sanduíche de Gore-Tex (ou

Sympatex) que permita que a humidade chegue ao documento, sem o molhar, durante mais

uma hora. Os tempos aconselhados não são ideais para todos os documentos, porque a

capacidade para um pergaminho absorver água depende muito da sua espessura e ambiente

em que esteve depositado, por isso devemos sempre testar e fazer um controlo de todo o

tratamento até percebermos como é que o documento está a reagir124.

Para elevar o pH do pergaminho até níveis de 8 a 9 podemos fazer a pulverização com uma

solução de água destilada e hidróxido de cálcio, conferindo-lhe assim reserva alcalina,

diminuindo a probabilidade do pergaminho vir a ficar ácido novamente. Por vezes, em

casos com pergaminhos extremamente secos e quebradiços podemos realizar a sua imersão

num banho com a mesma solução; mas para que o banho não seja tão agressivo, o

122 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, Per una Didactica del Restauro Librario, Diario del corso di

formazione per assistenti restauratori della Regione Siciliana, Palermo, Biblioteca Centrale della Régione

Siciliana, 1990, p. 96. 123 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, op. cit, p. 96. 124 JONYNAITE, Dalia, VESELAUSKIENE, Dalia, The Application of Modern Technologies for Parchment

Conservation, Lithuania, Lithuanian Art Museum, National Library of Lithuania, 2001.

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pergaminho deve estar bem humedecido antes da imersão. No entanto, esta deverá ser uma

medida de último recurso, não aconselhável. Existe ainda uma solução muito eficaz no

amolecimento do pergaminho: polietileno glicol (PEG) usado numa solução aquosa na

proporção de 2 a 5 %; esta solução é utilizada quando o pergaminho se encontra

extremamente desidratado porque a solução permite que a água entre em maior contacto

com as moléculas de colagénio no pergaminho. No entanto esta solução deve ser usada

apenas em casos muito graves e por pouco tempo porque ainda não se conhecem os seus

efeitos a longo prazo: tem-se verificado uma subida na transparência do pergaminho

quando se utilizam grandes quantidades de PEG e ainda uma maior dificuldade em aderir

os restauros de pergaminho quando existem lacunas que necessitam de ser preenchidas.

Sempre que possível devemos evitar a adição de químicos qualquer que seja o tratamento,

e particularmente com o pergaminho125.

Logo após a humidificação o pergaminho deve permanecer sobre pesos ou num bastidor

para planificar. Geralmente esta última opção é preferível porque proporciona um maior

controlo da intervenção e é mais gradual. Para construirmos um bastidor devemos ter uma

moldura de madeira macia de dimensões superiores às do pergaminho, com pregos

colocados a toda a volta. As extremidades do pergaminho são então presas com grampos

pequenos aos pregos, através de fio de algodão resistente para podermos ir aumentando a

tensão exercida obrigando assim o pergaminho a planificar gradualmente. As extremidades

dos grampos devem ser devidamente protegidas com papel mata-borrão, por exemplo, para

evitar que o pergaminho fique marcado. Este tratamento deve ser feito sempre com muita

atenção para evitar que o pergaminho se rasgue, o que poderá acontecer facilmente se este

estiver demasiado seco e quebradiço. O pergaminho só deve ser removido do bastidor

quando se encontrar perfeitamente seco, ou poderá voltar a ondular126. Em bibliografia

mais recente tem aparecido a hipótese de utilizar a mesa de sucção para realizar a

planificação, com resultados mais satisfatórios e prolongados do que no bastidor.

Utilizando a mesa de sucção, colocamos o documento já humidificado entre duas folhas de

poliéster e ligamos a mesa com 150 bar (medida de pressão); temos de ir controlando a

planificação tentando puxar os cantos cuidadosamente para obter o efeito pretendido. Este

125 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, Per una Didactica del Restauro Librario, Diario del corso di

formazione per assistenti restauratori della Regione Siciliana, Palermo, Biblioteca Centrale della Régione

Siciliana, 1990, pp. 96-97. 126 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, op. cit, p. 97.

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processo de planificação pode durar apenas uma hora, mas temos de ir controlando as

necessidades de cada objecto; após a planificação substituem-se a folhas de poliéster de

cima por um papel mata-borrão durante uma hora para ajudar a secar, no entanto, a

secagem final deve ser feita sobre placas e pesos. Tem-se verificado que se fizermos toda a

secagem na mesa de sucção o pergaminho tende a ficar com os cantos flectidos e o centro

abaulado. É importante que o lado do pergaminho com carne fique virado para baixo na

mesa de sucção porque é mais resistente que o lado dos pêlos127.

Depois desta fase passamos para a consolidação de lacunas e rasgões. Pode ser utilizado

papel japonês para consolidar os rasgões, mas para preencher lacunas é preferível utilizar

pergaminho novo de conservação livre de ácidos.

O papel japonês tem uma gramagem fina, mas como as fibras são longas o papel é

resistente às forças mecânicas; a cor do papel deve ser semelhante à do original. O adesivo

a utilizar deve ser a gelatina por ser mais semelhante, quimicamente, com o pergaminho (a

gelatina é um produto do colagénio presente no pergaminho) e bastante líquido o que

confere uma boa penetração no documento. No entanto, a cola de amido tem maior poder

de adesão, o que pode ser preferível dependendo da espessura do pergaminho e sua

capacidade para absorver a humidade128. Se as extremidades dos rasgões estiverem bem

posicionadas basta aplicar uma tira fininha de papel japonês no verso para o rasgão ficar

seguro; se repararmos que o papel japonês é demasiado fraco para manter o rasgão existe a

possibilidade de utilizar a pele do intestino de animais como o borrego e carneiro, tratada

devidamente, e aplicá-la do mesmo modo. A sua gramagem também é baixa e desde que

não introduza ácidos ao pergaminho, é uma boa solução.

No preenchimento de lacunas é necessário desbastar cerca de 4 a 6 mm das extremidades

tanto no pergaminho a reintegrar como no original, para evitar criar um grande volume nas

zonas de sobreposição. O pergaminho tem dois lados, um deles é o lado onde estavam os

pêlos do animal e do outro é o lado da carne; no documento original, devemos desbastar do

lado da carne, o adesivo (cola de gelatina) é aplicado no pergaminho a reintegrar, já

desbastado do lado do pêlo, de modo a que quando for aplicado na lacuna fique com o lado

da carne virado para cima. A secagem deve ser feita com pesos, protegendo devidamente o

127 JONYNAITE, Dalia, VESELAUSKIENE, Dalia, The Application of Modern Technologies for Parchment

Conservation, Lithuania, Lithuanian Art Museum, National Library of Lithuania, 2001. 128 JONYNAITE, Dalia, VESELAUSKIENE, Dalia, op. cit.

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documento com papel Reemay® e mata-borrão, durante pelo menos meia hora129. Quanto

mais líquida for a cola, maior penetração vai ter no pergaminho, o que é o ideal130.

Limpeza das encadernações em tecido - As encadernações em tecido podem ser limpas

com trinchas japonesas para remover as sujidades superficiais; no entanto a remoção de

manchas e gordura pode ser mais complicada. Se for possível remover a coberta em tecido

das pastas de cartão pode-se proceder a uma lavagem do tecido com um detergente neutro

e água corrente tratada, mas tem de se ter cuidado para a cor do tecido não desaparecer,

pois muitas das cobertas são coradas com cores como o castanho, azul, vermelho e verde.

A secagem pode ser feita ao ar sobre papel mata-borrão; se for necessário planificar o

tecido pode ser colocado sobre pesos.

Consolidação das encadernações em tecido - A coberta em tecido presente nos

documentos do século XIX e XX deve ser removida, caso seja necessário realizar

preenchimento de lacunas utilizando uma nova coberta; a coberta nova em tecido é

aplicada por baixo da coberta original podendo realizar-se um revestimento total ou a meia

pasta no caso de ser apenas a lombada a estar em pior estado de conservação. A coberta a

reintegrar deve ter a mesma textura e cor que a original, ou muito semelhante131.

Consolidação das pastas em cartão - As pastas em cartão deterioradas são, em norma,

fáceis de consolidar; os tratamentos mais comuns são nos cantos e nas esquinas da

lombada. Antes da consolidação das pastas, a coberta deve ser removida pelo menos na

área afectada. Se o cartão se apresentar desfolhado num canto, por exemplo, podemos

aplicar cola animal ou cola de amido entre as folhas com a ajuda de uma espátula,

prensando-se ligeiramente para remover o excesso de adesivo; deve permanecer a secar

entre duas películas de Melinex® com um grampo, o que ajudará a manter a forma e a

proteger a coberta da humidade do adesivo. Se depois desta consolidação o cartão ainda se

129 ROMANO, Carlo Federici e Maria Claudia, Per una Didactica del Restauro Librario, Diario del corso di

formazione per assistenti restauratori della Regione Siciliana, Palermo, Biblioteca Centrale della Régione

Siciliana, 1990, p. 97. 130 JONYNAITE, Dalia, VESELAUSKIENE, Dalia, The Application of Modern Technologies for Parchment

Conservation, Lithuania, Lithuanian Art Museum, National Library of Lithuania, 2001. 131 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán

Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 92-97.

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80

apresentar frágil pode ser consolidado com papel japonês de gramagem baixa132 (Tengujo,

por exemplo).

Testes preliminares a realizar no papel - Existem dois testes importantes que podemos

realizar para testar a reacção dos papéis e das tintas à água. Para testar a reacção do papel à

água aplicamos uma gota de água e etanol na proporção de 1:1 numa área do papel sem

escrita e deixamos secar; se formar uma ligeira ruga ou se a cor do papel se alterar

devemos testar outra área do papel só com etanol para comprovar que a reacção foi feita à

água e não ao etanol. Se assim for, podemos calcular que o papel não reagirá bem à

humidade podendo descolorar ou enrugar; se não ocorrerem rugas algumas com o primeiro

teste devemos testar mais uma ou duas áreas do papel para confirmação. Se quisermos usar

algum outro tipo de solvente nos tratamentos a seguir, teremos de realizar o mesmo teste

mas desta vez com o solvente eleito. O segundo teste serve para verificar a solubilidade das

tintas à água: primeiro deve ser feito com uma gota de água à temperatura ambiente e, caso

o teste dê negativo, deve ser feito com água aquecida. O local a escolher para testar deve

ser de pouca importância para o conjunto. Depois de aplicada a gota em cima da linha

devemos observar com o microscópio ou com a lupa "conta-fios" para observar se houve

inchaço ou desintegração da tinta; passado um momento devemos pressionar a gota com

papel mata-borrão para ver se existe transferência de cor; se ocorrer não deve ser utilizada

água nos tratamentos futuros, no entanto se não ocorrer qualquer transferência devemos

testar outro local para confirmar o resultado133.

Limpeza do miolo em papel - Se o livro não for desmontado e descosido só será possível

realizar uma limpeza a seco, com trinchas, pincéis, bisturi ou borracha. A utilização de

trinchas japonesas, por exemplo, ajuda a eliminar partículas de sujidade à superfície do

papel, para remover excrementos de insecto ou concreções utiliza-se um bisturi tentando

não danificar o papel. A utilização de borrachas pode ser mais complexa, começando logo

pelo tipo de borracha a escolher: existem vários tipos com capacidade de erosão maior ou

menor, consoante as necessidades. A limpeza com borracha natural ou Smoke Sponge é a

mais suave porque a remoção de sujidade é feita por electricidade estática fazendo-se uma

ligeira pressão na superfície do papel não deixando quaisquer resíduos. A utilização de pó

132 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán

Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 70 133 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &

Burford Publishers, 1987, p. 72.

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81

de borracha e uma bola de algodão com movimentos circulares é uma limpeza também

muito suave, no entanto, os resíduos de borracha têm de ser removidos com uma trincha

japonesa. O pó de borracha é comercializado na Preservation Equipment Ltd (PEL), mas é

preferível ter borracha em barra e ralá-la num pequeno ralador porque cria partículas

maiores e com menos resíduos que se tornam mais fáceis de remover. Para remoção de

vestígios de adesivos, como é comum encontrar quando se utiliza fita-cola, é possível

utilizar borracha mais abrasiva, em barra, como por exemplo as borrachas Staedtler134 ou a

borracha Crepe (PEL) e, realizando movimentos circulares tentar remover o adesivo sem

prejudicar o papel; devemos sempre tentar não recorrer a solventes, só se estritamente

necessário. Para os livros que serão desmontados e descosidos, obtemos bifólios separados

que podem ser tratados individualmente: limpeza por via seca como referido acima.

O objectivo desta limpeza é remover algumas manchas pontuais de fuligem e sujidade

superficial e eliminar a acidez proveniente dos excrementos de mosca à superfície do

papel. Devido ao avançado estado de oxidação da tinta ferrogálica135, o papel encontra-se

muito fragilizado pontualmente, e por isso a realização da limpeza por via seca tem de ser

muito suave sem exercer pressão e tendo especial atenção às áreas do papel com escrita

para evitar a perda de material. Em relação à acção oxidante da tinta ferrogálica, temos de

tentar eliminá-la o mais rapidamente possível, no entanto, ainda não existe consenso em

relação ao tratamento mais adequado a utilizar nestes casos136. O recomendado para a

preservação deste tipo de documentos é realizar apenas, um controlo ambiental, mantendo

os documentos numa humidade relativa entre os 50 e os 55 % e uma temperatura perto dos

18°C, evitando-se as oscilações. No entanto, como uma grande parte dos documentos com

tinta ferrogálica terão de ser desmontados e descosidos, valeria a pena aproveitar para

tentar, de alguma forma, minimizar ou eliminar a acção oxidante da tinta sobre o papel.

Para tentar minimizar a acção oxidante da tinta, e evitando a utilização de tratamentos

aquosos poderíamos tentar aplicar uma desacidificação em spray, utilizando por exemplo o

"Bookkeeper" (PEL) composto por óxido de magnésio; no entanto a sua acção na

134 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &

Burford Publishers, 1987, pp. 81-83.. 135 Ver Apêndice Documental, A Tinta Utilizada nas Actas da Câmara Municipal de Portimão - Os efeitos da

tinta ferrogálica escrita sobre papel e Análise e Acondicionamento de documentos escritos com Tinta

Ferrogálica, p. 213 e 216. 136 Ver Apêndice Documental - Conservação e Restauro de Documentos com Tinta Ferrogálica, p. 217.

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penetração do papel pode ser insuficiente para parar a acção da tinta. A opção seguinte

seria realizar uma desacidificação por meio de imersão num banho com hidróxido de

cálcio que, para além de neutralizar a acção oxidante, também fortalece o papel,

reajustando as fibras. Os problemas que se põem com este tratamento dizem respeito à

solubilidade da tinta e a sua realização por um conservador de papel com experiência na

área que saiba exactamente quais os riscos com que contar.

Secagem e planificação do miolo em papel - Após um tratamento aquoso os bifólios têm

de sofrer uma secagem e planificação que deve ser, acima de tudo, controlada e lenta.

Existem três métodos que podem ser usados: secagem ao ar, utilizando uma mesa de

sucção ou numa sanduíche de papel mata-borrão e pesos. A secagem ao ar ocorre

normalmente com a evaporação da água pelo ar, com o documento em cima de uma

superfície lisa; no entanto, muitos dos papéis secos desta forma têm tendência para não

ficar planificados. Geralmente os conservadores utilizam esta técnica após um tratamento

aquoso final para deixar o papel descansar antes da determinação sobre a necessidade de

planificação; ou seja, serve para ver como o papel reage à evaporação da água e

geralmente, necessita de uma planificação activa. Para além disso o papel não deve sofrer

qualquer tipo de pressão quando molhado, porque as fibras estão muito mais frágeis e se

colocarmos demasiado peso em cima da folha, estas podem ficar esmagadas e permanecer

nessa forma após secagem, o que não fortalece o papel137.

A mesa de sucção, desde a sua invenção em 1975 por Marilyn Weidner138 tem-se tornado

indispensável na maior parte dos tratamentos de conservação e restauro de documentos

gráficos; tem imensas vantagens na remoção de manchas e descolorações devido à sucção,

diminuindo significativamente a probabilidade de ocorrerem ondulações quando se fazem

tratamentos aquosos139. A planificação também é um dos tratamentos que se podem

realizar na mesa de sucção. É aconselhado que se use pouco poder de sucção, apenas o

suficiente para manter o papel naquela posição até que seque completamente. O papel deve

137 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &

Burford Publishers, 1987, pp. 100-101. 138 Marilyn Weidner - Marilyn Weidner fundou a Conservation Center for Art and Historic Artifacts

(CCAHA), é membro do Washington Conservation Guide e do American Institute for Conservation.

http://findingaid.winterthur.org/html/HTML_Finding_Aids/COL0745.htm) 6.Jun.2011. 139 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &

Burford Publishers, 1987, p. 84.

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ser colocado na mesa de sucção e protegido por baixo, por papel mata-borrão fino e

Reemay® (o Reemay® impede que o documento adira ao papel mata-borrão) que deve ser

mudado regularmente na primeira fase de secagem; como este processo se pode revelar

demorado, geralmente quando o papel está quase totalmente seco, é removido e aplicado

sobre placas e pesos. Por fim, a secagem sob pesos é realizada utilizando papel mata-

borrão e Reemay® para proteger o documento, enquanto se aplicam placas e pesos por

cima, até que o objecto seque; como referido os papéis mata-borrão devem ser mudados

regularmente na primeira fase de secagem, e o documento deve encontrar-se húmido e não

molhado, quando se aplicarem os pesos140.

Não existe uma regra para os tempos de secagem ou de planificação porque nunca sabemos

com 100 % certeza como é que determinado papel vai reagir, por isso todo o processo tem

de ser cuidadosamente monitorizado e o papel verificado em todas as fases de molhagem e

secagem para evitarmos danos irreparáveis.

Consolidação do miolo em papel - Depois de cada bifólio perfeitamente seco e

planificado, surge a fase de consolidação de rasgões e lacunas. O material recomendado é

papel japonês de restauro (Tengujo de gramagem fina para consolidação de rasgões e

Mulberry de gramagem semelhante à da folha do papel para reintegração do suporte nas

lacunas) e Tylose MH 300 a 4 %. O papel japonês não deve ser cortado com uma tesoura,

mas sim rasgado com as mãos ou com o auxílio de uma caneta de água, para que as fibras

fiquem soltas nas extremidades e adiram mais facilmente ao papel original. O rasgão deve

ser colocado na posição original, caso exista um rasgão em bisel; no papel japonês

aplicamos uma fina camada de Tylose a 4 % e aplicamos no lado do rasgão que disturbe

menos a leitura do livro. Neste caso os livros são escritos dos dois lados e pode surgir a

dúvida sobre qual o lado onde aplicar o restauro; outra dificuldade encontrada é o facto de

o adesivo ser à base de água e portanto poderá interferir com a tinta ferrogálica escrita nos

documentos. Nunca é demais repetir que qualquer tratamento tem prós e contras e ambos

devem ser avaliados antes da execução dos tratamentos. A secagem deve ser feita

protegendo o documento com Reemay® e papel mata-borrão sob pesos pequenos141. Todos

os rasgões, incluindo os furos no festo dos cadernos devem ser consolidados.

140 CLAPP, Anne F., Curatorial Care of Works of Art on Paper, Estados Unidos da América, Lyons &

Burford Publishers, 1987, pp. 101-102.

141 CLAPP, Anne F., op. cit, p. 105-107.

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A reintegração de suporte em lacunas só deverá ser realizado se a lacuna tiver uma

dimensão significativa ou se puser em risco a boa conservação do conjunto. Áreas de

maior tensão, como os cantos (muito manuseados para virar as páginas do livro) ou o festo

(onde está a costura) devem ser tratados com especial cuidado e consolidados sempre que

possível.

Por exemplo, no caso do doc. 189, em que uma parte significativa do livro está queimada

podemos optar por duas soluções - ou restituímos a forma original do livro com

preenchimentos em papel de gramagem semelhante ao papel original ou optamos por

consolidar apenas a extremidade das lacunas para não perdermos o resto de papel

queimado e fragilizado, assumindo as lacunas. De acordo com a ética da Intervenção

Mínima, é recomendado que se escolha a última opção apresentada; no entanto, se este

livro for requisitado frequentemente por utilizadores ou for manuseado de todo, deveria ter

uma consolidação que lhe restituísse a forma para evitar que as extremidades frágeis

estivessem susceptíveis ao rasgão ou perda de mais material. Como vemos, é complicado

realizar uma proposta de conservação e restauro geral, porque cada caso tem as suas

problemáticas específicas.

Para realizar a reintegração do suporte numa lacuna é necessário fazer uma pasta de pó de

papel com Tylose a 4 %; esta pasta não deve ser muito líquida, mas também não deve ser

muito rígida, ou seja, deve ter uma consistência que lhe permita ser moldada sem

dificuldade. O papel a reintegrar deve ser colocado em cima de papel mata-borrão e

Reemay®; na área de lacuna é aplicada a pasta e pressionada através de um quadradinho de

papel Reemay® com uma dobradeira para planificar. Se, provavelmente a pasta se

sobrepuser ao original devemos remover esse excesso com uma espátula ou bisturi, voltar a

planificar com a dobradeira e deixar secar sobre pesos, como mencionado acima. Muitas

vezes a cor do pó de papel é demasiado branca em relação à cor do papel e por isso

devemos tingi-lo antes da aplicação: para tingir o pó de papel utilizamos aguarelas,

adicionando um pouco de água e de cor ao pó, e misturamos muito bem até a cor ficar

homogénea; depois de seco poderá ser misturado ao adesivo para formar a pasta.

Existe um outro método para realizar a reintegração do suporte: com papel japonês de

gramagem semelhante (preferencialmente, de gramagem um pouco menor que a do

original). Recortamos a forma exacta da lacuna com o auxílio de uma sonda e de um

bisturi, tendo o cuidado de deixar as fibras soltas nas extremidades; a mesa de luz é uma

ajuda importante para conseguirmos recortar a forma da lacuna. O restauro em papel

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japonês deve sobrepor-se ligeiramente ao original e por isso devemos desbastar as

extremidades do papel a reintegrar para evitar que fique um grande volume nessa área.

Utiliza-se o mesmo adesivo mencionado e a secagem é realizada sob pesos.

Costura - A costura deve sempre ser idêntica à original e esta só deve ser refeita se for

absolutamente necessário porque uma costura refeita tem sempre tendência para engrossar

o livro e pode causar tensões entre a lombada e as pastas o que trará novos problemas no

futuro; por outro lado, um livro com nova costura acaba por perder o seu valor142. No caso

das Actas da Câmara Municipal de Portimão, o seu valor é puramente regional, não tendo

qualquer valor como obra de arte estética ou histórica (no que diz respeito à encadernação

e costura) por isso o problema da perda de valor não se coloca ao substituirmos a costura.

Por vezes não existe a necessidade de recoser o miolo, bastando uma reparação ou reforço

que acabam por ser menos consistentes que uma nova costura, mas a sua vantagem recai na

possibilidade de respeitar a originalidade da estrutura. No caso de folhas soltas ou festos

rasgados basta voltar a uni-los com uma encolagem na lombada; se os livros não forem

muito manuseados, como é o caso das actas, bastará recorrer a este tipo de soluções que

não implicam uma nova costura143.

Costura para um livro do século XVIII - Os livros encadernados com pergaminho têm o

miolo directamente aplicado na encadernação e por isso é necessário ter o pergaminho

devidamente planificado e consolidado nesta fase. Na bibliografia consultada não foi

possível encontrar o método de aplicação destas encadernações, nomeadamente em relação

à dobragem do pergaminho após planificação; o que encontramos foi a aplicação do

pergaminho como coberta em pastas de cartão para ser possível encaderná-lo, o que não se

aplica a este caso. A encadernação em pergaminho não está, originalmente, aplicada em

pastas de cartão e não será esse o método a seguir. Depois de seco e planificado o

pergaminho encontrar-se-á mais maleável, no entanto a sua dobragem deverá ser feita com

cuidado e humidificando ligeiramente as áreas a dobrar, para não corrermos o risco de

ruptura. As áreas de costura deveriam ser reforçadas com pergaminho novo, por dentro da

encadernação; a costura será feita com fio de algodão. Os bifólios devem ser furados e

encasados para serem colocados em cadernos dentro da encadernação em pergaminho,

142 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, Restauración de Libros, Espanha, Fundación Germán

Sánchez Ruipérez, Fundación y Ediciones Pirámide, S.A., Março 1992, p. 67-68. 143 IPERT, Stèphane, ROME-HYACINTHE, Michèle, op. cit, p. 67-70.

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conforme a sua ordem original. Basta então coser o miolo ao pergaminho conforme a

costura original.

Costura para um livro do século XIX e XX - Para realizar a costura é necessário voltar a

furar o festo, encasar os bifólios e prepará-los no tear com os nervos respectivos - sisal, fita

de nastro, etc. Depois da costura feita consoante a original, o miolo deve ser arredondado.

Primeiro coloca-se o miolo numa prensa de encadernador e aplica-se uma camada de cola

branca ou cola de amido; removemos o miolo da prensa quando o adesivo ainda estiver

ligeiramente húmido e com a ajuda de um martelo de encadernador arredondamos o miolo.

Antes da aplicação da coberta pode-se aplicar um reforço na lombada com tiras de tela nos

espaços entre os nervos. Com a encadernação já tratada e consolidada podemos aplicá-la

no miolo. Geralmente a aplicação da encadernação é feita a partir da colagem das guardas

do miolo, nas pastas da encadernação (com cola branca ou cola de amido) 144. Se as

guardas foram removidas juntamente com o miolo é possível realizar esta colagem; mas se

as guardas estavam demasiado deterioradas é necessário refazê-las ou aplicá-las no miolo

para ser possível unir as duas partes - miolo e encadernação.

144 Informação retirada das aulas de T.P.A. - Documentos Gráficos, no ano lectivo 2006/ 2007 com o

professor Miguel Fonseca.

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3.2.5. Preservação, Conservação e Restauro

Os tratamentos de conservação e restauro só foram possíveis em documentação com

problemas simples porque o arquivo não possui, neste momento, os equipamentos e

produtos necessários à realização de tratamentos de conservação e restauro mais

complexos. É muito importante que os documentos tratados sejam acondicionados longe

dos que ainda estão por tratar, de modo a evitar a propagação de eventuais ataques de

insectos, e para que não sofram com a humidade e outros problemas inerentes da

proximidade. Devem ser guardados num ambiente estável, sem oscilações de temperatura e

humidade relativa e com os níveis perto daqueles que seriam os ideais – 18oC e 45%.

Acondicionamento

Os documentos estavam acondicionados em “caixas francesas”, cada uma com um, dois ou

mais documentos, consoante a quantidade que cabia na caixa. Todas as caixas

apresentavam sinais de envelhecimento e degradação, como sujidade, descoloração e

acidez do cartão acompanhada de cheiro forte, o que indica a libertação de vapores,

resultado da sua degradação; cerca de 60 % das caixas apresentavam rasgões, lacunas e

tentativas de colagem com fita-cola castanha. Todos os documentos foram acondicionados

em caixas de cartão acid free, azul e branco, respeitando a mesma ordem em que estavam

acondicionados. Este projecto incluiu não só as Actas, mas toda a documentação

semelhante proveniente do CMP, pelo que as caixas foram renumeradas, começando as

actas no número 2.2. Houve o cuidado de se preservar o número da caixa antiga, pois esse

foi o número a que sempre estiveram associadas desde que foram depositadas em arquivo.

Iremos referir-nos ao número de caixa actual, indicando o número antigo entre parênteses.

Para além do cuidado com as caixas de acondicionamento, também deve existir um

cuidado no acondicionamento individual de cada livro, tendo em conta que cada caixa

alberga mais do que um documento, que se tocam entre si. Temos notado transferências de

cor de encadernação para encadernação e linhas de maré que se espalham pelos livros

adjacentes e por isso devemos tentar evitar ao máximo que os documentos estejam em

contacto. De momento os documentos estão protegidos com capilhas em papel fininho acid

free, mas este acondicionamento individual ainda permite que os documentos exerçam

peso uns sobre os outros, o que prolonga a deformação observada em muitas lombadas; é

recomendado que, depois de terem sofrido os tratamentos de conservação e restauro acima

propostos, sejam acondicionados em caixas de conservação individuais feitas em cartão de

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conservação, azul e branco. Deste modo os documentos não entram em contacto entre si e

não exercem peso directo uns sobre os outros: o único problema que pode surgir neste

acondicionamento é o espaço que as caixas individuais vão ocupar dentro das caixas

maiores onde estão acondicionados. Caso as caixas individuais não caibam nas caixas de

acondicionamento, seria necessário reformular o nº de caixas e mudar a numeração, no

entanto, esta seria a única opção razoável para dar um ambiente seguro e estável a cada

documento individual, após tratamento.

Higienização

Todos os documentos aqui referidos foram higienizados, utilizando uma escova de cerdas

suaves, de fabrico japonês. Cada livro foi colocado num berço em acrílico de modo a que o

ângulo de abertura não fosse demasiado grande, tentando assim minimizar os danos na

costura e lombada. Infelizmente, o acrílico provou ter muita electricidade estática, sendo

que muitas poeiras e partículas ficaram presas, e o berço teve de ser limpo entre cada

higienização. O processo de higienização passou pela escovagem dos cortes e de cada

folha, uma a uma, utilizando o auxílio de uma dobradeira para virar as páginas, de modo a

causar o menor dano possível às folhas. Também se procedeu à remoção pontual de

excrementos de insecto, de concreções nas folhas e encadernações, e de carcaças de

insectos, utilizando para o efeito, um bisturi. No final, foi medida a temperatura e

humidade relativa dentro do livro de modo a comparar, a diferença de valores antes e

depois da higienização – verificou-se sempre uma subida ou descida de ambas consoante a

temperatura verificada no ambiente de trabalho145. No total gastaram-se três escovas Hake

de cerdas macias, entre Dezembro de 2010 e Março de 2011 - espaço temporal em que se

realizou a higienização de todos os 97 livros.

Após a higienização, os livros foram acondicionados nas novas caixas de cartão azul e

branco já mencionadas.

145 Ver Apêndice Documental, Actas da Câmara Municipal de Portimão - Tabela do Registo da Humidade

Relativa dentro e fora dos livros, antes e depois da higienização, p. 141.

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Apenas dois documentos da totalidade dos 97 sofreram tratamentos de conservação e

restauro: dois cadernos sem encadernação, de costura simples - doc. 190 e doc. 191.

Doc. 190 – “Outubro 1750 a Agosto 1751”

Descrição

• Um caderno com 12 bifólios, sem encadernação.

• Etiqueta com a inscrição “Outubro 1750 a Agosto 1751”.

• Papel com marca de água, pontusais e vergaturas.

• Manuscrito com tinta ferrogálica.

Avaliação do estado de conservação

• A utilização da tinta ferrogálica resultou na oxidação do papel com perda ou risco

de perda de material.

• Manchas variadas: sujidade generalizada, manchas escuras de fuligem e derrame de

líquidos (linha de maré) e manchas causadas por substâncias gordurosas.

• Oxidação escura nos bifólios 3 e 4. Estes dois bifólios apresentam dobras que os

restantes não, e um estado de oxidação muito elevado, que escureceu muito o papel.

Provavelmente o documento sofreu uma molhagem e a descoloração escura que

observamos é resultado do espalhamento da tinta pela superfície, aumentando o

nível de oxidação, localmente. Existem vestígios de queimadura no canto superior

esquerdo.

• Dobras, rasgões e lacunas.

• Vestígios de ataque de insecto – galerias.

• Desvanecimento e migração da tinta ferrogálica.

• Presença de fungos no 2º bifólio, no verso.

Exames e Análises

• Análise de fibras de modo a identificar a pasta de papel e fibras com que foi feito o

papel, utilizando os corantes Herzberg e Lofton-Merrit. O papel é de origem

italiana devido à identificação da marca de água. As fibras demonstraram ser curtas

e difíceis de separar e foi possível identificar fibras de cânhamo em maior

quantidade, e sisal e algodão em menor quantidade; a pasta foi identificada como

sendo pasta de trapo com algum grau de lenhina.

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• Identificação da fibra do cordão da costura utilizando o corante Herzberg. As fibras

foram identificadas como sendo de cânhamo.

Proposta de Tratamento

• Contagem e numeração dos bifólios – lápis de carvão.

• Limpeza superficial – trincha de pêlo macio.

• Remoção da costura.

• Limpeza por via seca – Smoke Sponge.

• Limpeza por via húmida, por imersão – o banho de hidróxido de cálcio vai

neutralizar a acção oxidante da tinta ferrogálica e vai remover sujidades e algumas

manchas que o documento possui.

• Planificação – com placas e pesos para planificar folha a folha, e pontualmente se

necessário com ligeira humidificação e aplicação de pesos pequenos.

• Consolidação do suporte – papel japonês e Tylose MH 300 a 4%.

• Reintegração do suporte – pó de papel e Tylose MH 300 a 4 % ou com papel

japonês Mulberry.

• Costura dos bifólios – linha de algodão.

• Acondicionamento – capilha utilizando materiais acid free.

Tratamentos realizados

• Contagem e numeração dos bifólios, utilizando lápis, no canto inferior direito.

• Remoção da costura. Bastou puxar suavemente o cordão para que ele se soltasse,

tendo já em conta que apenas 3 dos 12 bifólios se encontravam presos pela costura.

• Limpeza superficial utilizando uma trincha de pêlos suaves – remoção de alguma

poeira superficial e de alguns excrementos de insecto.

• Limpeza por via seca utilizando pó de borracha e algodão. Não foi possível utilizar

primeiro a borracha Smoke Sponge porque o CDAH não possui este produto; no

entanto este teria sido o tratamento recomendado e que menos fricção causaria na

superfície do papel. Esta limpeza permitiu remover alguma sujidade aderente ao

papel, mas não removeu quaisquer manchas. Notou-se apenas um aligeiramento das

manchas pretas de fuligem, nas dobras e cantos do papel. Para se realizar esta

limpeza utilizou-se uma pequena bola de algodão para empurrar o pó de papel em

movimentos circulares sobre a superfície do papel. Repetiu-se este processo duas

vezes para cada bifólio, sendo que naqueles que apresentam as descolorações

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castanhas mencionadas acima notou-se a saída de maior sujidade, na segunda

passagem, que nos restantes.

• Planificação de dobras e rasgões. Dois dos bifólios (3 e 4) tinham dobras muito

marcadas e o papel encontrava-se rígido e sem elasticidade; nestes casos, foi

necessário recorrer a uma ligeira humidificação utilizando um cotonete, de modo a

facilitar o desdobramento e a planificação da dobra evitando a quebra ou ruptura do

papel. Os bifólios, depois de planificados, um a um, foram colocados sobre placas

de pesos durante uma semana, devidamente protegidos por papel Reemay® e papel

mata-borrão. Permaneceram sempre em planificação enquanto se tratava o doc. 191

e vice-versa.

• Recomenda-se uma limpeza por via húmida utilizando hidróxido de cálcio, não só

porque removeria algumas das manchas menos estéticas, mas principalmente,

porque iria parar a acção oxidante da tinta ferrogálica No entanto, não são possíveis

tratamentos aquosos no CDAH, actualmente.

• Como não foi possível realizar uma limpeza por via húmida, decidimos reforçar as

áreas de lacuna causadas pela tinta ferrogálica, utilizando papel japonês e

aplicando-o num dos lados do papel, preferencialmente aquele que causaria menos

perda de leitura e onde não tivesse de passar por cima da tinta ferrogálica. Notou-se

a saída de algum material preto proveniente da tinta devido à utilização de um

adesivo à base de água. Esta decisão pode vir a acarretar alguns problemas no

futuro, mas assim estamos a assegurar que não se perca mais material entretanto.

Quando o CDAH tiver as condições necessárias para realizar os tratamentos de

desacidificação será possível remover estes restauros (são totalmente reversíveis) e

proceder da melhor forma para neutralizar a oxidação, ou corremos o risco de

perder totalmente estes documentos.

• Também foi feita a consolidação do festo do primeiro bifólio, de um lado e de outro

com aplicação de tiras de papel japonês, que se encontrava quase praticamente

rasgado.

• Recorte dos excessos de papel japonês nos cantos e extremidades de cada bifólio,

utilizando um tapete de corte, x-acto e régua metálica.

• Dobragem dos bifólios pelo meio, de modo a poderem ser cosidos. Utilizámos a

dobradeira de osso e um papel Reemay® para proteger cada papel. Planificação dos

bifólios dobrados sobre pesos.

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• Furar o festo. Para furarmos o festo foi necessário realizar um molde em papel do

local exacto a furar. Embora o local dos furos estivesse visível, em muito casos,

encontrava-se rasgado e com a consolidação não era possível ter a certeza de que

iríamos furar todos os bifólios no mesmo local. Para isso, cortamos um rectângulo

de papel branco normal, onde fizemos as marcações, como indicado na figura 16,

abaixo:

Figura 16 - Esquema utilizado para realizar os furos nos festos dos cadernos nos documentos 190 e

191.

• Os furos foram feitos com uma agulha de ponta bicuda.

• Para coser utilizamos um fio de algodão de cor creme e uma agulha de ponta

redonda. Os bifólios foram encasados pela ordem correcta e o caderno cosido do

seguinte modo:

Figura 17 - Esquema da técnica de costura aplicada, segundo o original.

• Começamos por passar o fio de algodão de dentro para fora dos bifólios, dão-se

duas voltas em cada conjunto de furos e termina-se a costura dentro dos cadernos.

Corte superior

Corte inferior

29,7cm

7cm 7,35cm

3,5 cm 3,5 cm

Início

Fim

2 voltas

2 voltas

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• Por fim, foram dados dois pequenos nós no final de cada costura, ficando assim

escondidos no meio do caderno.

• O documento é então acondicionado numa capilha de quatro abas em papel branco

acid free e guardado dentro da caixa correspondente para ir para a reserva.

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4. Projecto para um Laboratório de Conservação e Restauro de

Documentos Gráficos no Centro de Documentação e Arquivo Histórico

do Museu de Portimão

4.1. Justificação para a realização deste projecto

Existem algumas ideias importantes que devem ser retidas. O Centro de Documentação e

Arquivo Histórico possui um espólio de elevado valor histórico e simbólico para a região,

nomeadamente no que diz respeito a fábricas de conservas e outras; mas também um

espólio documental sobre a própria história de Portimão, como as actas da Câmara

Municipal de Portimão, o foral de Portimão, entre outra documentação histórica. Fazem

ainda parte do espólio, inúmeras cartas e mapas da região, vegetais com projectos de

arquitecto, fotografias e negativos, entre outros.

A colecção que de momento está em reserva não é finita, visto que ainda tem de ser

incorporada documentação que se encontra em outros espaços da Câmara, e também

porque existe a possibilidade de adquirir doações ou outras colecções. Como tal, exige-se

um cuidado maior na divisão de documentos tratados e documentos por tratar e,

consequentemente, um local próximo da colecção, onde possamos realizar as primeiras

avaliações do estado de conservação.

Há ainda que ter em conta que, hoje em dia, a ética da conservação e restauro mudou muito

relativamente àquilo que era há 10 anos e que, portanto, nos guiamos por uma linha cada

vez mais próxima da prevenção dos danos e da preservação, ao invés da acção directa da

conservação e restauro sobre os documentos. Aquilo que se tem feito actualmente em

arquivos e instituições passa, em primeiro lugar, pelo controlo das condições ambientais

em que os documentos são depositados: temperatura, humidade relativa e qualidade do ar.

4.2. Proposta para o projecto

O que propomos tem como finalidade criar as condições para que se possam realizar os

tratamentos de conservação e restauro que o espólio requer. Com base na avaliação do

estado de conservação e na realização de propostas de tratamento para os documentos aqui

depositados, foi possível definir os equipamentos e materiais necessários para que seja

possível, no futuro, executar a correcta conservação e preservação dos mesmos.

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É importante realçar que muito daquilo que é necessário a uma boa preservação e

conservação dos documentos já está a ser feito, como é o exemplo da medição e controlo

da temperatura e humidade relativa dentro do arquivo histórico e fotográfico, a colocação

de detectores para determinação da vida animal presente, em toda a extensão do arquivo, e

a utilização de uma das salas para a realização de pequenos tratamentos de conservação e

restauro, como a higienização, consolidação e acondicionamento dos documentos.

Apesar disto, pretendemos aproveitar da melhor forma os espaços do CDAH, criando ali

um pequeno laboratório de conservação e restauro onde seja possível realizar todos os

tratamentos essenciais à boa conservação da documentação.

Relembramos que já existe uma Oficina de Conservação e Restauro no Museu, e que esse é

um importante espaço de tratamento de peças arqueológicas e industriais, principalmente, e

por onde passam todas as peças que vão para as exposições temporárias.

Segundo bibliografia consultada, a criação de oficinas de restauro só é recomendada

quando a colecção do museu é muito específica, como é o caso para os bens arqueológicos

e industriais. O restauro implica a existência de um corpo de técnicos altamente

especializados e também equipamentos dispendiosos e por isso, julga-se mais producente a

criação de institutos de restauro nacionais e regionais que sirvam vários museus em

simultâneo146. Tendo em conta que o Museu já possui um corpo de técnicos altamente

especializados e os espaços para tratamento da documentação, só existem vantagens no

melhor aproveitamento dessas salas e o seu adequamento às necessidades do espólio

documental.

Se olharmos para a planta do museu (figura 18) verificamos que as duas áreas - CDAH e

oficina de restauro - não são muito próximas; aliás, para a documentação sair dos depósitos

do CDAH e ir para a oficina de conservação e restauro, teria de passar por várias portas,

degraus e rampas, passando ainda por um local de garagem, e facilmente poderiam

acontecer acidentes e também, a contaminação por outros agentes. Não nos podemos

esquecer que o objectivo não é que haja uma completa separação entre a Oficina de

Conservação e Restauro do Museu, muito pelo contrário: ao criarmos as condições para a

realização de tratamentos nos espaços adjacentes ao arquivo, estaremos a aproximá-lo mais

da oficina geral, podendo haver um maior diálogo entre as várias partes, tendo em vista o 146 ROCHA-TRINDADE, Maria Beatriz, Iniciação à Museologia, Lisboa, Universidade Aberta, Março 1993,

p. 157.

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prolongamento da vida deste acervo, com todo o pessoal qualificado envolvido nesse

esforço.

Este projecto não contempla a realização de tratamentos que envolvam produtos químicos,

porque seria muito difícil criar as condições ideais para isso nos espaços do arquivo, e

porque a Oficina de Conservação e Restauro já possui uma hotte de química e todos os

sistemas de segurança pessoal necessários. Nesses casos, a documentação teria de ser

transportada até à oficina e iremos ver quais as melhores formas de o realizar na máxima

segurança.

Começaremos por estabelecer qual é o espaço do arquivo e quais as salas que existem para

podermos realizar este projecto.

4.3. A Oficina de Conservação e Restauro do Museu de Portimão

O Museu de Portimão foi planeado de raiz para possuir uma grande Oficina de

Conservação e Restauro, importantíssima para o seu funcionamento. No entanto, ela está

direccionada, principalmente, para a conservação e restauro de materiais arqueológicos e

industriais, bem como de madeiras; também é o local por onde passam todos os materiais e

equipamentos que serão utilizados em exposições temporárias, a acontecer ao longo de

todo o ano. Em 2008 uma parte da documentação chegou a ser tratada na oficina, tendo

toda a equipa contribuído activamente com os tratamentos de limpeza, consolidação, etc.

No entanto, foi uma ocasião muito específica, e desde aí foram poucos, ou mesmo

nenhuns, os tratamentos realizados a documentação do CDAH. A maior parte do trabalho

consiste em tratamentos de acondicionamento e limpeza superficial, como já foi

mencionado, no próprio CDAH.

Um dos problemas com que nos deparamos relativamente à Oficina de Conservação e

Restauro do Museu de Portimão prende-se, essencialmente, com o longo percurso que os

documentos teriam de fazer do CDAH até lá. Obrigaria os documentos a atravessar

ambientes diferentes, com temperatura e humidade relativas diferentes daquelas a que

estão habituados. A qualidade do ar também ficaria comprometida pois um dos locais de

passagem entre o CDAH e a Oficina de Conservação e Restauro é uma porta de garagem

que levanta verticalmente, e onde as condições ambientais não são controladas. No entanto

existe uma porta que, de momento não está a ser utilizada, que liga a sala G7 directamente

ao corredor que vai dar à oficina, podendo ser uma opção razoável para a deslocação da

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documentação, utilizando sempre um carrinho de biblioteca, o que previne eventuais

acidentes.

Outro dos problemas prende-se com o facto de a oficina estar permanentemente ocupada

com trabalhos essenciais ao funcionamento do Museu, como já referimos, de exposições

temporárias, e não haver um espaço funcional onde se pudesse ter apenas documentação. O

ideal seria que existisse um local onde apenas se realizassem tratamentos de conservação e

restauro a documentos gráficos, de uma forma contínua e segura, livre de contaminantes

provenientes de outros materiais.

Dentro desta linha de pensamento, faz todo o sentido que se criem as condições necessárias

para a realização de tratamentos de conservação e restauro deste espólio, e se pudermos

utilizar áreas mais próximas do arquivo, melhor. Como essas áreas existem, podemos

iniciar este projecto.

4.4. Planta Geral do Museu de Portimão

Figura 18 - Planta do piso 0 do Museu de Portimão. A castanho estão delineados os espaços de

exposição. A roxo está representado o Centro de Documentação e Arquivo Histórico, abrigando o

Arquivo Histórico e o Arquivo Fotográfico, a vermelho. A amarelo está representada a oficina de

Conservação e Restauro.

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Nesta planta ficamos com a ideia geral do Museu de Portimão: em cima a azul, está

representado um porto do rio Arade que fica de frente para a entrada principal do Museu.

A cafetaria/ restaurante, do lado direito, está totalmente equipada, mas ainda não se

encontra em funcionamento; logo abaixo temos o CDAH, que tem uma porta de entrada

para o público, mas também tem uma ligação interna, directa ao átrio principal do Museu.

Do lado esquerdo estão os espaços de exposição, de acesso ao público. A Oficina de

Conservação e Restauro fica virada para a estrada, e está muito perto das reservas gerais do

Museu, bem como da entrada técnica e da entrada para as peças, o que é ideal. Todo o

circuito de entrada de peças até ao local de exposição temporária está muito bem pensado e

organizado, sem desníveis a nível do chão, com portas e corredores largos.

Figura 19 - Museu de Portimão antes de qualquer intervenção. 2003.

Figura 20 - Museu de Portimão em construção. Abril 2006.

Figura 21 - Museu de Portimão actualmente. 2011.

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4.5. Planta do CDAH

Figura 22 - Planta do Centro de Documentação e Arquivo Histórico.

A partir da porta de entrada (assinalada com uma seta), temos o CDAH onde está a

biblioteca especializada com vários fundos sobre o Algarve e o seu património, consultável

pelo público geral. No piso superior (não representado nesta planta) está a Biblioteca João

Tavares, bibliófilo de Portimão, de quem o Museu adquiriu a colecção particular, também

consultável pelo público.

As reservas encontram-se no piso inferior: o Arquivo Histórico (AH) e o Arquivo

Fotográfico (AF). A sala que denominei G é o local onde se fazem pequenos tratamentos

de conservação, tais como acondicionamento e higienização preliminares, e onde estão

dois computadores para uso dos técnicos de arquivística. As duas outras salas já estão

denominadas como G7 e G8. A G7 é a única sala com acesso a canalização, com uma

torneira e lavatório, tem sido utilizada para arrumação de material e deposição de alguns

documentos. A G8 tem mesas com dois computadores, também para uso interno dos

técnicos, nomeadamente, para a base de dados da documentação. Será nestas três salas

adjacentes que irá recair o projecto.

Existem ainda dois outros espaços, que ligam o CDAH e a Oficina de Conservação e

Restauro, que poderão ser adaptados para alguns tratamentos específicos, no entanto, visto

ser um local de passagem e deposição de materiais arqueológicos e outros, existe sempre a

probabilidade de contacto com materiais orgânicos e inorgânicos, podendo levar a

contaminações indesejáveis.

AH AF

G

G7

G8

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Inicialmente, a sala G7, que de momento funciona como arrumação de material - papel

mata-borrão, papel japonês, Reemay®, material de acondicionamento, etc. - foi planeada

para ser a sala de expurgo ou quarentena, sendo que tem um pé direito muito alto, e uma

única janela que serviria para expelir os gases utilizados. No entanto, já funcionou como

sala de pequenos tratamentos de conservação e restauro, tendo a bateria de tinas e mesas de

trabalho por um breve período de tempo. Pretendemos que este espaço funcione como sala

de deposição da documentação assim que chega ao arquivo, onde se realizarão os exames

preliminares de avaliação do estado de conservação, higienização geral e decisão do

tratamento a realizar. Para além disso, esta é a sala ideal para colocarmos uma tina de

lavagem com ligação à canalização, onde se realizarão todos os tratamentos por via

húmida. Podemos considerar que esta será a "sala suja".

A sala G será planeada para ser o local onde se realizarão os tratamentos de conservação e

restauro - limpeza por via seca, consolidações, preenchimentos, secagem, planificação e

acondicionamento - ou seja, a "sala limpa". Neste momento está organizada com duas

mesas de trabalho, duas mesas com computadores, uma estante e um armário baixo

fechado.

A sala G8, neste momento, praticamente não está a ser utilizada, tendo duas mesas com

dois computadores, três armários baixos fechados, uma estante e um cabide. Será a sala

ideal para colocar aqueles equipamentos de "artes gráficas e papelaria", ou seja, uma

cisalha, uma máquina de selar a quente, um sistema para colocar rolos dos vários tipos de

papéis a utilizar nos tratamentos de conservação e restauro, e outros equipamentos

semelhantes de acondicionamento de material.

Portanto, podemos afirmar que, embora o espaço não seja muito grande, temos o essencial

para que se possam criar muito boas condições de realização de tratamentos de

conservação e restauro.

No que diz respeito à criação de uma sala escura para tratamento de negativos e

fotografias, existe uma sala fora do CDAH que havia sido pensada para esse fim; no

entanto, os tratamentos de duplicação, cópias e impressão teriam de ser realizados por um

fotógrafo experiente e seria mais razoável utilizar um serviço exterior do que criar as

condições dentro do Museu sem existir pessoal qualificado para o executar. Mas todos os

outros tratamentos são passíveis de ser realizados nas salas propostas.

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4.6. Hierarquia no CDAH

Para delinearmos da melhor forma este projecto precisamos de perceber a hierarquia e o

pessoal que trabalha diariamente no CDAH, bem como perceber quais são os serviços mais

urgentes que o espólio requer.

Para um arquivo funcionar a cem por cento têm de existir várias competências, sendo que

as mais importantes serão as dos bibliotecários e arquivistas, bem como as do conservador

restaurador.

Neste caso temos um Técnico Superior de Arquivística que coordena os diferentes

trabalhos que têm de ser feitos dentro do arquivo, e selecciona as prioridades. Para isso,

tem de ter um conhecimento profundo da área e do trabalho que cada empregado tem de

desenvolver.

Existe um Assistente Técnico que está sempre no balcão de recepção do CDAH, para

realizar o atendimento ao público. O CDAH, para além da biblioteca especializada de

consulta pública, também possui quatro computadores de acesso à Internet, muito

utilizados pelos jovens. Portanto, ao mesmo tempo que faz o atendimento ao público, esta

assistente vai colocando os dados dos livros na base de dados online, que já se encontra

disponível. Existem ainda dois Assistentes Operacionais que se encarregam da colocação

da informação referente à bibliografia na base de dados, bem como o acondicionamento da

documentação e pequenos tratamento de conservação e restauro.

Quem está encarregue de fazer a monitorização de temperatura e humidade relativa é o

Técnico Superior de Conservação e Restauro que, todas as semanas muda a folha do

termohigrógrafo e verifica a necessidade de utilização dos desumidificadores.

Esporadicamente o CDAH recebe estagiários, por variados períodos de tempo. No caso do

presente estágio, sendo um estágio curricular, teve a duração de sete meses, mas noutros

casos, podem ter a duração de apenas um mês. Nas alturas das férias escolares, muitos

jovens fazem voluntariado em vários serviços da Câmara, podendo desempenhar funções

básicas no Museu ou no CDAH, pelo que o arquivo pode receber diferentes pessoas, de

diferentes áreas que desenvolvem várias tarefas relacionadas com o Museu.

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4.7. Proposta para as salas G8, G e G7

4.7.1. Sala G8

A sala G8 é aquela cuja porta está directamente virada para a zona de acesso ao público do

CDAH, sendo que também possui uma porta de acesso à sala G, que se encontra de

momento, fechada à chave, não sendo utilizada. Na minha opinião deve ser essa a porta a

ser utilizada pelo pessoal do arquivo porque está directamente ligada ao espaço que será a

sala de tratamentos de conservação e restauro, evitando assim a passagem pela área comum

ao público.

O espaço possui uma janela que não abre, está totalmente selada, e um sistema de ar

condicionado. No entanto, por trás de um móvel baixo encontrámos cinco casulos de traça,

revelando que o espaço, mesmo com as janelas vedadas, tem de ser limpo regularmente

para evitar que os insectos se estabeleçam aí.

Neste momento a sala está composta por duas mesas com computadores, uma estante, três

móveis baixos fechados e um cabide. Em cima das mesas estão dois computadores, uma

impressora e um scanner Hp e ainda um sistema de digitalização profissional - Digital Ice

Photo Restoration, ScanMaker i900, da marca Microtek. Este último scanner seria ideal

para fazer a digitalização de negativos e fotografias; em relação à impressora e scanner Hp

que são perfeitamente dispensáveis, tendo em conta que existe uma máquina fotocopiadora

na recepção do CDAH.

Aquilo que pretendemos para esta sala é que ela seja utilizada pelos técnicos para a

colocação de dados no inventário e depósito de equipamento não directamente ligado à

conservação e restauro:

• Dois computadores com acesso à base de dados e ligação à máquina fotocopiadora

e ao digitalizador profissional;

• Máquina de selagem a quente para confeccionar bolsas de acondicionamento com

Melinex®, à medida;

• Cisalha e equipamento para cortar pass-partouts.

• Arquivador horizontal para arrumação de material diverso e de papel acid free e

mata-borrão, que tem de ser acondicionado horizontalmente;

• Dispensador de papel em rolo, de aplicação na parede ou na vertical.

Os dois computadores com ligação à máquina fotocopiadora e ao digitalizador já existem,

e serão os únicos computadores necessários. Em conversação com a Técnica Superior de

Arquivística chegou-se à conclusão que só serão necessários dois computadores, tendo em

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conta o número de técnicos que os utilizam e por isso, os outros dois computadores que se

encontram na sala G serão perfeitamente dispensáveis.

A máquina de selar a quente é necessária para realizar bolsas individuais com materiais de

qualidade, como é o Melinex® (poliéster) que existe em abundância no CDAH. Será

especialmente necessária para realizar bolsas em grande formato para os mapas que estão,

de momento, acondicionados em papel vegetal e sobrepostos em cima uns dos outros em

gavetas horizontais; e também para fazer o acondicionamento dos negativos e de outra

documentação avulsa que possa surgir. Por exemplo, nas Actas da Câmara Municipal de

Portimão a documentação avulsa pode ser acondicionada em bolsas de Melinex® ou em

capilhas em papel acid free. No entanto, neste momento, o CDAH tem maior quantidade

de Melinex® em relação a papel, e se pudermos trabalhar com os materiais que já existem,

seria o ideal.

A realização de pass-partouts dentro do contexto actual do CDAH pode não fazer muito

sentido, porque geralmente são utilizados quando queremos expor algum documento; no

entanto, como vimos no capítulo do Arquivo Francisco Oliveira, se existirem negativos

com a emulsão a descolar terá de se fazer um pass-partout que impeça o documento de

tocar na bolsa de acondicionamento. Este equipamento pode ser guardado numa estante e

quando for necessário utilizá-lo, trazemo-lo para a mesa de trabalho. No entanto, a

máquina de selar a quente e a cisalha, pelas suas dimensões, devem estar colocadas de

modo a serem sempre utilizáveis.

Seria ideal ter um arquivador horizontal nesta sala para arrumar os papéis de conservação,

bem como papel mata-borrão que é comercializado em folhas separadas. O tapete de corte

da Neschen também seria guardado no arquivador. Por cima deste existe um tampo liso,

perfeito para colocar a máquina de selar a quente e a cisalha, ficando assim suprimido o

problema de colocação desses equipamentos essenciais. A Futurdidact realiza estes

arquivadores por medida.

Em relação aos dispensadores para arrumar o Melinex®, o papel japonês e o Reemay,

comercializados em rolo, podemos utilizar um recipiente existente na sala G7 que

consegue suportar até 4 rolos com até 18cm de diâmetro cada. Este recipiente é o ideal em

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termos de ocupação de espaço, para colocar nesta sala, enquanto os dispensadores

encontrados no catálogo da PEL seriam demasiado grandes para caber no espaço147.

4.7.2. Sala G

A sala G será a sala de tratamentos de conservação e restauro. Tem uma porta de acesso

directo ao AF, outra à sala G8 e outra à sala G7. Possui ainda uma janela que vai até ao

chão e abre, dando directamente para um pequeno jardim. Para impedir que os insectos e

outros animais entrem por aí, é recomendado que a porta se mantenha sempre fechada e

bem vedada, e que se utilize o ar condicionado nos dias de calor; os espaços verdes devem

ser mantidos limpos e tratados regularmente.

Neste momento a sala está composta por uma estante aberta, duas mesas com

computadores, duas mesas de trabalho, um móvel baixo fechado, um arquivador de

rodinhas baixo, e três arquivadores altos.

Duas das paredes desta sala não podem ser utilizadas porque dão acesso a mecanismos

relacionados com a electricidade, canalizações e sistema de AVAC; no entanto, haverá

espaço suficiente para conseguir colocar:

• Duas mesas de trabalho com uma placa de acrílico cortada à medida por cima, para

evitar os desníveis e criar uma maior superfície de trabalho; quatro placas de

acrílico mais pequenas para planificar documentação.

• Estante para guardar o material necessário;

• Secadora de papel;

• Prensa vertical;

• Carrinho de biblioteca para transportar os livros de uma sala para a outra.

A estante aberta é muito útil e poderá ser utilizada para arrumar muito material. Neste

momento está ocupada com livros sem utilidade para o CDAH (serviam como pesos

quando era necessário) e outra documentação que tem de ser revista e arrumada. As mesas

com computadores e o arquivador de rodinhas serão dispensados, bem como os três

arquivadores altos que devem ser devidamente arrumados no AH, caso tenham

documentação relevante.

A placa em acrílico e cortada à medida das duas mesas de trabalho ajudará a criar uma

superfície de trabalho maior e mais estável.

147 Ver planta exemplificativa da planificação dos espaços, em Planificação dos Espaços do CDAH (G8, G e

G7), p.237.

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A secadora de papel é necessária para secar ao ar a documentação que tenha sofrido

tratamentos de limpeza e desacidificação, antes de ser colocada sobre pesos. Para os mapas

de grandes dimensões resulta bem porque é menos esse espaço na mesa que será ocupado;

no entanto, pode ser substituída por, por exemplo, carrinhos de cantina com tabuleiros,

servindo para colocar documentação de tamanho mais reduzido.

A prensa vertical é essencial não só para os tratamentos de secagem e planificação dos

documentos, mas também para a planificação de encadernações existentes e realização de

novas; a utilização de duas placas de acrílico mais pequenas na prensa permitirão planificar

documentos com dimensões superiores às da prensa.

Esta sala possui uma rampa que neste momento está a criar um desnível entre a sala G e a

sala G7; propõe-se que ela seja reconstruída para eliminar esse desnível, sendo possível a

utilização de um carrinho de biblioteca entre as diferentes salas, para transporte da

documentação148.

4.7.3. Sala G7

A sala G7 será a sala de análise preliminar do estado de conservação da documentação que

chega ao CDAH, higienização e tratamentos aquosos. Esta sala tem um pé direito muito

alto e por isso, seria possível criar um segundo andar neste espaço para deposição da

documentação que espera para ser avaliada, colocação de bolhas de anóxia, ou arquivo

frio, no entanto, para já, não contemplamos essa opção.

Esta sala tem uma porta que dá acesso à sala G e outra porta de maiores dimensões; esta

última é o acesso ideal para a entrada da documentação, evitando assim a entrada pelo

espaço público e a propagação de agentes biológicos no CDAH, caso se encontre infestada.

De momento a sala está cheia de estantes com documentação diversa, sem controlo

ambiental e com material de conservação já mencionado. Existe um estirador encostado à

porta de grandes dimensões, um recipiente para colocação de material em rolo e um

lavatório comum.

Nesta sala pretendemos implementar o seguinte:

• Um tanque de lavagem de grandes dimensões ou mesa de sucção;

• Implementação de um sistema de purificação da água corrente;

148 Ver planta exemplificativa da planificação dos espaços, em Planificação dos Espaços do CDAH (G8, G e

G7), p.237.

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• Uma mesa de trabalho;

• Recipiente fechado com hidróxido de cálcio;

• Uma estante ou móvel pequeno para arrumação de material necessário;

• Máquina de higienização de livros.

O tanque de lavagem terá de ter acesso à canalização e a água deve passar por um filtro

purificante que elimine os minerais, sais e impurezas que a água corrente possa apresentar

- sistema de purificação da água por osmose inversa, por exemplo. A mesa de trabalho

servirá para realizar a avaliação do estado de conservação da documentação preenchendo-

se uma ficha criada propositadamente para a avaliação de livros. Se for necessário realizar

uma higienização à documentação utilizaremos a máquina para higienização de livros. É

necessário que haja uma iluminação adequada nas mesas com colocação de candeeiros

com lupa, por exemplo. A mesa de sucção ajuda nos diferentes tratamentos aquosos, de

secagem e planificação, com risco menor para a documentação.

Existe uma pequena janela que está colocada num nível superior e deveria ser vedada e

tapada, no entanto, como esta sala não possui sistema integrado de ventilação pode tornar-

se muito escura e húmida. Pode ser aplicado um tecto falso com iluminação apropriada e

manter a janela aberta enquanto se trabalha dentro deste espaço.

Terão de ser adquiridos mais uma mesa de trabalho e duas cadeiras de trabalho

semelhantes às existentes na sala G149.

Para além dos equipamentos mencionados, ainda temos de encontrar uma solução para

acondicionar alguns documentos, nomeadamente, negativos, em baixas temperatura. A

criação de um arquivo frio será difícil pois seria necessário ter uma sala para implementar

todo o sistema de controlo do ar e humidade relativa e portas totalmente estanques. A

opção alternativa será adquirir uma arca frigorífica para acondicionar os negativos em

nitrato de celulose e para guardar a cola de amido, por exemplo, que caberia perfeitamente

no Arquivo Fotográfico. Teria de ser no frost, ou seja, que não criasse gelo; o mais difícil

seria controlar a humidade relativa dentro da arca, e para isso existem duas formas de

149 Ver planta exemplificativa da planificação dos espaços, em Planificação dos Espaços do CDAH (G8, G e

G7), p.237. e a exemplificação do percurso de um livro e de um documento avulso desde a sua chegada ao

CDAH até ao seu acondicionamento em Arquivo, p. 237. no Apêndice Documental apresentamos os prós e

contras de cada equipamento, material e produto a integrar no CDAH.

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acondicionamento. Uma das opções passa por intercalar os negativos com papel de

conservação e acondicioná-los dentro de sacos de polietileno; esse saco seria colocado

dentro de um segundo e entre os dois colocava-se um indicador de cobalto que nos indica a

humidade relativa dentro do 1º saco - quando o indicador muda de cor abrimos os sacos e

secamos tudo cuidadosamente (o que terá de acontecer de cinco em cinco anos,

aproximadamente). A outra opção consiste em acondicionar os negativos em sacos de

alumínio selados, o que os torna estanques à humidade e assim não é necessária qualquer

manutenção; no entanto, não teremos acesso directo ao negativos porque isso implicaria

destruir a embalagem e realizar uma nova. É uma alternativa de acondicionamento mais

permanente, mas que funciona com colecções que não sejam manuseadas

permanentemente150.

150 Informação cedida pelo Professor Luís Pavão na acção de formação em Conservação de Fotografia dia 25

de Fevereiro de 2011 no Arquivo Municipal de Lisboa/ Núcleo Fotográfico.

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Conclusão

Independentemente da concretização do projecto aqui apresentado, de planificação das

salas com os equipamentos e materiais necessários a um laboratório de conservação e

restauro, para que seja possível realizar os tratamentos que a documentação necessita tem

de haver uma equipa de profissionais liderada por um Conservador com sólidos

conhecimentos no tratamento de documentos gráficos, nomeadamente de documentos com

encadernação em pergaminho e tinta ferrogálica que requerem procedimentos muito

complexos, por vezes com resultados inesperados que se podem tornar catastróficos se

realizados por pessoas não habilitadas. Portanto, é muito importante que antes da

concretização do projecto se verifique se realmente os equipamentos terão utilidade dentro

do contexto do Museu de Portimão, com a equipa existente.

Dentro do Espólio Fotográfico Francisco Oliveira, concluímos que existe alguma urgência

no seu tratamento tendo em conta que alguns dos negativos já se encontram muito

deteriorados e a sua permanência no ambiente actual não irá parar o processo de

degradação, visto ser contínuo a partir de certa altura devido à libertação do ácido acético,

principalmente.

O estudo das marcas de água foi muito interessante porque foi possível identificar com

muita certeza, a maior parte das fábricas de papel de onde provem o papel das Actas da

Câmara Municipal de Portimão. No entanto, existe ainda muito por fazer no que diz

respeito às outras marcas de água encontradas na documentação avulsa e, provavelmente,

noutra documentação presente no CDAH. Este tipo de estudo permite traçar a proveniência

dos diferentes papéis, consoante a época, e elucida os contactos realizados entre os

diversos países na sua obtenção; para além disso, o próprio estudo dos desenhos das

marcas de água permite traçar a sua evolução dentro da própria fábrica de papel e, em caso

de dúvida, datar o documento.

O contacto feito com Birgit Reissland do The Netherlands Cultural Heritage Agency surtiu

muito interesse da parte deles em obter uma amostra das partículas de magnetite preta

encontradas nas Actas porque estão a realizar uma base de dados com amostras de

diferentes épocas e locais, destas areias que eram espalhadas nos livros para que a tinta

ferrogálica secasse mais depressa. Seria de todo o interesse doar uma amostra dessas

partículas e criar assim um contacto científico importante entre as duas instituições.

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Durante o período de estágio foram-se encontrando algumas limitações no que diz respeito

à bibliografia, em três aspectos: bibliografia sobre o estudo de insectos encontrados nos

arquivos e bibliotecas portugueses, bibliografia sobre a funcionalidade de sistemas

integrados de controlo ambiental em casos reais no território nacional, e bibliografia sobre

tratamentos de conservação e restauro utilizando novas tecnologias, também em Portugal.

Verifica-se que a bibliografia encontrada sobre insectos em arquivos é, na sua maioria,

internacional, o que não representa a realidade portuguesa; por outro lado, essa mesma

bibliografia só diz respeito aos insectos potencialmente nefastos para a documentação, o

que faz todo o sentido. No entanto, o que verificámos no CDAH foi a presença de outros

insectos para além daqueles que deterioram os documentos - Lepismas e coleópteros.

Encontrámos também aranhas, moscas e mosquitos, lacraus e até grilos; ou seja, alguns dos

detectados dizem respeito a determinadas alturas do ano, mas outros, como as aranhas e

moscas estão sempre presentes, pelo que podemos concluir que fazem parte do sistema

biológico inserido no arquivo. Desta forma, parece-me razoável que se realizem estudos

que abranjam também esses insectos para tentar perceber de que modo e porque surgem

nestes espaços, ou seja, descobrir qual é a sua função no sistema. Só assim poderemos

chegar a uma conclusão que nos permita eliminá-los de vez. E tudo isto, no contexto

português porque os insectos podem ser característicos de país para país, mas

principalmente, de região para região.

Em relação a bibliografia sobre sistemas integrados de controlo ambiental, de um modo

geral, não foi encontrada uma grande quantidade de estudos sobre isso e ainda menos em

território nacional. Não é conhecida a dimensão de museus e arquivos que possuam este

tipo de sistema, no entanto, seria interessante perceber de que modo está ou não a

funcionar noutros edifícios e que medidas são tomadas para o seu correcto funcionamento,

ainda que numa escala reduzida.

Por fim, se houvesse bibliografia sobre tratamentos de conservação e restauro em Portugal

utilizando novas tecnologias como por exemplo, a utilização de uma mesa de vácuo em

tratamentos de papel e pergaminho ou realização de secagem de documentos por selagem

em vácuo ou tratamentos de documentos com tinta ferrogálica com fitato, seria

extremamente vantajoso para todos os profissionais. Gostaria de encontrar estudos de casos

concretos, quais as vantagens e desvantagens da sua utilização, se tiveram sucesso ou não e

quais os passos a seguir. A causa desta falta de informação prende-se, talvez, com a não

realização destes tratamentos em Portugal, nem tão pouco, investigações no sentido de

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encontrar soluções inovadoras na área da Conservação e Restauro, o que denota a falta de

investimento nesta área da investigação.

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